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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brsuavam4he com o grande ramo simbólico, cuja haste ela mantinha sobre o peito,como quem segura o cabo de um estandarte. O Luiz, à sua esquerda, mostrava-se,ao contrário, muito senhor de si e quase petulante de ventura; vestia calça e paletóde pano preto, novo em folha; nada de colete; tinha grandes sapatos de bezerro,engraxados, chapéu de lebre e gravata branca de cetim com um alfinete de ouroatravessando o laço. O casaco fechava-se-lhe sobre o estômago, deixando ver umpeito de camisa, que era a última expressão da arte de reduzir o pano à madeira pormeio do polvilho e do ferro de engomar; de tão duro e violento, rompia por entre asgolas da roupa e abaulava-se arrogante numa só curva de alto a baixo; trêsbotõezinhos de osso tingido de vermelho desfrutavam a suprema honra deguarnecer esta preciosidade. Levava dobrado ao pescoço, para resguardar ocolarinho do suor, um lenço usado pela primeira vez, e no bolso do lenço trazia orelógio, com o trancelim bem à mostra por cima do peito. E todo ele recendia ao óleoe à brilhantina do barbeiro.Quando, ultimada a cerimônia religiosa, tornaram para casa, com a idéia noresistente almoço preparado. foram à porta da rua surpreendidos por um oficleide,um piston, um clarinete e um sax, que os perseguiam desd'aí até à sala de jantar,tocando furiosamente; era uma ovação feita ao recém-casado pelos seuscompanheiros de trabalho, que lá se achavam todos, mais ou menos endomingados.A refeição correu de princípio ao fim muito alegre e animada; não havia cerimônia;era comer e beber à vontade; fizeram-se os brindes do estilo e trocaram-se entrerisadas as clássicas chalaças, com que essa boa gentinha dos cortiços costumafrisar brejeiramente a vexada felicidade dos noivos. Rosinha teve de repetir, porvárias vezes a frase de repreensão: "Este sem vergonha!..." Depois da mesaengendrou-se um forrobodó e foi dançar pr'aí até o diabo dizer basta!Um pagodão! Só uma coisa contrariava ao cavouqueiro: era ver entre aquelasmoças, todas elas gente direita, a peste de uma bruaca que morava lá perto, uma talD. Helena Guimarães, a quem a velha Custódia se lembrara de convidar.— Ora pistolas!— Mas que mal te fez a pobre de Cristo? — perguntou-lhe a avó.— Não sei! E' mulher de má vida!— É, não senhor, foi! Hoje não tem o que se lhe diga...— Porque está canhão! Ninguém a quer para nada! Aparecesse um tolo... everíamos!— Coitada!— Um estupor, que parece estar metendo pela cara dos outros aquele vestidode seda mais velho que a Sé! Um raio de uma biraia toda cheia de não me toques,com uma cara de que tudo lhe fede, e a abanar-se como no teatro! Má peste a lamba!— São maneiras, filho!— Maneiras! Eu dava-lhas, mas havia de ser com um bom marmelo!Demônio de um calhamaço, que tisna as farripas e pinta os olhos para parecerbonita? Uma lata toda rebocada, que até faz nojo!E escarrou de esguelha. — Não! Com certeza seria melhor que ela cá nãoestivesse!E tinha razão. Ali, no meio daquela áspera gente do trabalho, gente dehonestidade feroz, entre a qual o adultério do homem é tão severamente punido comoo da esposa, a figura da tal I). Helena Guimarães destacava-se mais do que umanódoa de lama no meio de uma camisa de algodão lavado. Na roda das prostitutas,92

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