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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brCAPÍTULO XIXAssim chegou a véspera do casamento de Luiz com Rosinha. Haviamescolhido um domingo e achava-se tudo quase pronto para o grande regabofe: acasa foi esfregada por dentro e por fora com sabão e areia; não ficou um átomo depó nas paredes, um sinal de escarro no assoalho, nem uma teia de aranha no teto.Desde a porta da rua até à cozinha recamou-se o chão de folhas de mangueira etrevo cheiroso, pregaram-se arcos de verdura em todas as portas; pediram-secadeiras, louças, copos e talheres emprestados a amigos para que nada faltasse naocasião do banquete; mandaram-se vir dois garrafões, um de vinho e outro deparati, o tacho de açúcar não saiu do fogo e encheram-se compoteiras e tigelas dedoce de coco, de araçá, de leite, de ovos, de goiaba, marmelo, bananas, sem contarcom bolos e pudins — uma orgia de açúcar! O forno do padeiro, que lhes fornecia opão, prestou-se a assar um peru, um quarto de carneiro, um leitão e um grandealguidar de arroz, guarnecido de azeitonas e rodelas de lingüiça. Trabalhou-se até àmeia-noite em preparar o aposento dos noivos. A formidável cama lá estava,atravancando tudo; houve grandes discussões na ocasião de colocá-la porqueaqueles não queriam, por coisa nenhuma desta vida, ficar com os pés para o lado darua, "que era de mau agouro!" Resolveu-se a dificuldade condenando a porta daalcova e estabelecendo passagem por uma janela aberta sobre a salinha de jantar.Era um pouco maçante ter de entrar e sair do quarto aos pulos, lá isso era; mas,antes assim do que ficar com os pés para a rua. "Deus te livre!"A cama estava imponente: descia-lhe da cúpula um enorme cortinado delabirinto, que a avó do Luiz, em quando moça, recebera como presente de umasenhora. do Porto, a cujo filho amamentara antes de vir para o Brasil; arrepanhavamnopelas extremidades, à base das quatro colunas, grandes ramos de flores naturais,donde pendiam laços de cetim azul, baratinho, mas muito vistoso. Por cima da famosacolcha auri-verde com armas brasileiras figurava uma cerimoniosa cobertura derendas, sobre a qual se desfolharam rosas e bogaris; e lá no alto, por fora dosobrecéu, esparralhado contra o teto, um imenso feixe de tinhorões e crotons.— Que lindo! Diziam comovidos.Ao lado da cama. A que não se podia subir sem o auxílio de uma cadeira,estendeu-se um tapete já surrado, mas onde se distinguia ainda o desenho de umleão em repouso; a um canto do quarto uma retrete com braços, e de outro umapequena mesa de pinho, coberta de chita até aos pés, tendo em cima umalamparina de azeite e um econômico oratório de madeira pintada, com uma Virgemque desaparecia engolida no seu desproporcionado resplendor de prata. Não sepodia ir de uma à outra banda do aposento sem galgar por cima do leito.O casório fez-se no dia marcado, às dez da manhã, numa igreja do Andarai-Grande. Que pagode — Os noivos foram e voltaram a bonde, seguidos por umadúzia de convidados de ambos os sexos e mais os padrinhos e as madrinhas; todosem gala de domingo. Muita roupa de cor, muita água flórida, muita jóia maciça etosca, e muita pilhéria de tirar couro e cabelo. O tempo ajudava; fazia um belo sol deinverno, alegre e comunicativo. Rosinha, baixota, bem socada, parecia maisvermelha no seu vestido de cassa branca, e o enorme véu de cambraia poucotransparente e dura que a envolvia da cabeça aos pés, dava-lhe um feitio piramidalde pão de açúcar. Ia muito encalistrada sob a vista curiosa dos passageirosestranhos à festa; não ergueu os olhos durante toda a viagem e as mãos91

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