10.07.2015 Views

O Homem - Unama

O Homem - Unama

O Homem - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.brser se habituara, nem se com efeito houvera passado com ele as melhores noites dasua vida.Depois, viu surgir um pequenito ao lado do cavouqueiro; reconheceu o filho,e notou, sobressaltada, que este chorava de susto. Procurou o que metia medo àcriança, e descobriu então aos pés da cama, que atingira proporções colossais, trêsmulheres: uma muito moça, outra de meia idade e a terceira já bastante velha, etodas desesperadas por lhes não ser possível subir até onde estava Luiz. Magdaobservava isto do alto, imaginando-se no interior da cúpula do leito, cujo cetim azul apouco e pouco se estrelava, transformando-se em um céu, onde ela se mantinhasuspensa como se tivesse asas.E notou que a mais moça das três mulheres levantava aflitivamente para elao olhar afogado em lágrimas, pedindo-lhe por amor de Deus que lhe restituísse oseu noivo.— Ele não serve para a senhora, exclamava a mísera entre soluços; é umpobre-diabo muito à toa; muito grosseiro, só serve mesmo para uma rapariga decortiço como eu! Restitua-me o Luiz, senhora! Não lhe tire mais sangue! não o mate,não o mate, por tudo o que V. Ex. mais estima na vida! Se lhe desagrada vê-locomigo, juro-lhe que nunca estarei com ele; que não nos casaremos; prometo queiremos os dois cada um para seu lado; prometo o que a senhora quiser; tudo, tudo!mas, por amor de Deus, não o mate, não o mate, minha rica senhora!Magda riu-se, e a rapariga, vendo que as suas súplicas eram baldadas,atirou-se ao chão, estrangulada pelo pranto. Então a velhinha, ameaçando a filha doConselheiro com o punho fechado, gritou colérica:— Malvada, põe já p'ra cá o meu neto ou ruim praga te perseguirá parasempre! Larga o homem que não é teu! Entrega o seu a seu dono, ou que DeusNosso Senhor te rache a madre com o mal dos lázaros!E Luiz continuava a dormir. E Magda sorria, de má.A outra mulher enxugou os olhos e pegou então de falar, suplicante:— Senhora, minha senhora, tenha dó de uma pobre mãe!... Dê cá o meufilho, dê cá o meu querido Luiz! Ah, se vosmecê soubesse o que é ser mãe, comcerteza não mo negaria... Dê-mo, bem vê que o reclamo de joelhos... Se a suaquestão é de beber sangue, aqui estou eu — sou forte, muito mais forte do que ele...Repare para as minhas cores; veja como tenho as carnes rijas e socadas;comprometo-me a deixar que vosmecê me sugue até à última gota; mas, por quemé, poupe-me o rapaz, que o pobrezinho já não pode mais alimentá-la... Está muitofraco, está quase com a pele nos ossos!Magda sorriu ainda e Luiz não acordou; o pequenito é que parecia agoramuito intimidado por aqueles clamores: calara-se de medo, e, engatinhando, fora atéàs bordas do colchão, cuja superfície se havia por último coberto de relva Asmulheres, logo que deram com ele, começaram a atirar-lhes pedras; estas, porém,não chegavam ao seu destino, porque a cama, sempre a crescer, era já um grandemorro plantado de bambus. E, como os lados do leito se transformaram em declivesde montanha, as três puseram-se a subir, chamando por Luiz e correndo em direçãoao menino; este abriu de novo a chorar, fugindo; e Magda, percebendo-o em risco,89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!