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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brJá a gaiola de um papagaio, que havia na parede, tinha ido pelos ares,levando o louro preso na corrente, a gritar como se o estivessem matando; umpequeno, filho de uma lavadeira, berrava com um trompásio que apanhara semsaber de quem. "Era bem feito, para não ser intrometido!" O cão da casa, junto comos da vizinhança, protestava energicamente contra a invasão daquele monstro dejacarandá que tudo revolucionava. Fazia-se um catatau infernal; todosaconselhavam; todos queriam mandar; todos falavam ao mesmo tempo; mas, pormelhor que gritassem: "Arrea! — Torce! — Levanta! — Agasta! — Agüenta! —Pára!" o monstro não passava do quintal e, mesmo para chegar lá, fora precisoarrancarem-se algumas estacas da cerca que separava a casa do cortiço.Afinal, um marceneiro do bairro, quieto até aí a presenciar a função com umsuperior e mudo desdém, disse, torcendo o cavaignac: "que se quisessem, eledesmancharia aquela caranguejola e comprometia-se a armá-la no quarto, tal qualcomo a entregassem". Surgiram logo mil opiniões; umas contra e outras a favor daproposta, e só depois de calorosa discussão, em que o marceneiro não deu palavra,resolveram desarmar o monstro.— Ora, que pena! Lamentavam.— Que lástima não entrar armada!A cama foi levada para o meio do quintal, e o homem do cavaignac, quetinha feito vir já a sua ferramenta, meteu mãos à obra, cercado de gente por todosos lados. Rebentaram de novo, ao redor, os comentários, as chufas e os ditérios.Luiz, ao lado da noiva, acotovela-a, sorrindo e piscando o olho para o ladodos colchões.— Ali em cima é que eu te quero pilhar!... Considerou, dando-lhe umapontada no bojo do quadril.Rosinha conteve o riso e resmungou, abaixando os olhos:— Este sem vergonha!...Não obstante, entre todos os curiosos que presenciavam a espetaculosachegada do leito nupcial do cavouqueiro, o mais impressionado não estava ali, nemna rua, estava sim lá defronte, na casa de S. Ex., espiando por detrás das grades deuma das janelas do sobrado.Era Magda.Estranho abalo punha-lhe nos sentidos aquela escandalosa exibição decama em pleno ar livre. Vendo-a, como a viu, publicamente armada e feita,patenteando sem o menor escrúpulo o seu largo colchão para dois, com travesseirosduplos, afigurava-se-lhe ter defronte dos olhos um altar que se trazia de longe, paraa ementa e religiosa cerimonia do desfloramento de uma virgem. Havia algumacoisa de pagão e bárbaro em tudo aquilo; alguma coisa que a levava a pensar naparadisíaca impudência dos seus sonhados amores; alguma coisa que a levava derastros, puxada pelos cabelos, para a vermelha sensualidade dos seus delírios.A cama, apesar de recolhida ao cortiço, não desapareceu para ela, quecontinuou a vê a com a imaginação, já muito maior, fantasticamente grande. Depois,viu surgir, deitado de barriga para o ar sobre o colchão, a dormir, completamente nu,como nos primeiros dias da ilha, o Luiz — esse homem com quem afinal todo o seu88

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