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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brEra toda de jacarandá com embutidos de madeira amarela, muito larga;tinha forma de caixão, e o espelho de cabeceira media nunca menos de dez palmosde altura. Dos quatro cantos erguiam-se colunas oitavadas, de uns três metros decomprimento, sustentando uma formidável cúpula de feitio de um chapéu do Chile, aque quadrassem as abas, forrada por dentro e por fora de cetim azul já desbotado.No alto das colunas, e sobressaindo dos ângulos do sobrecéu, aprumavam-se doispares de respeitáveis maçanetas que pareciam quartinhas da Bahia.Foi um sucesso em todo o quarteirão a chegada desta velha relíquia dosbons tempos: os vizinhos de Luiz assomaram à janela, atraídos pelo grosseiro cantodos africanos; o cortiço inteiro agitou-se; as lavadeiras abandonaram as tinas e oscoradouros e vieram ruidosamente ao portão da estalagem, com os braços nus,saias arrepolhadas no quadril, mostrando pernas sem meias e grossos pés metidosem tamancos; a pequenada descalça acompanhava os carregadores numa grandealgazarra; o homem da venda acudiu em camisa de meia, o peito muito cabeludoaparecendo; pretos e pretas, que andavam nas compras do jantar, estacionaram emfrente ao cortiço com a cesta no braço; negras minas pararam para olhar,monologando em voz alta, o tabuleiro na cabeça, e na mão um banquinho de pau;algumas traziam ainda um filho escarranchado atrás, nos rins, e encueirado numatoalha, cujas pontas elas amarravam na cintura. A velha Custódia apareceu, levandoenfiada nos dedos uma meia, que serzia; a tia Zefa e mais a Rosinha, essas não sepuderam conter, e foram logo ao encontro dos carregadores, gritando, ralhando,afastando com berros a molecagem que não se arredava nem à mão de DeusPadre; Luiz, lá do alto da pedreira, onde estava trabalhando a essas horas, malcompreendeu pelo movimento da rua que a sua cama chegava, desgalgou o morro eprecipitou-se de carreira para o cortiço, nu da cintura para cima, muito suado ecoberto do pó branco da pedra.Os carregadores chegaram por fim defronte do portão da estalagem,pararam a um só tempo, e, depois, com uma certa manobra especial, volveram parao lado da entrada, continuando sempre a cantar; seguiram enfim, e os curiososseguiram atrás deles. O cortiço foi invadido por muita gente e então principiou averdadeira balbúrdia. Destacavam-se os gritos do Luiz, da tia Zefa e da Rosinha.— Olha como a viras. estupor! Queres quebrar-lhe as maçanetas?— Força mais para a esquerda, com os diabos!— Arriba!— Vira!— Abaixa!— Olha a árvore!Todos se metiam a ajudar, mas o demonhão da cama não entrava, nemmesmo pelos fundos da casa.— Também não sei p"ra que um espantalho deste tamanho!— E o que tem você com isso. Meta-se lã com a sua vida!— Ali dormem seis casais à larga— Podia caber-lhe a família toda em riba!— Arrea!— Livra!— Torce!87

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