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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brdesprezada como sou, seria mulher para dar por ele a minha vida, ao passo que asenhora, só com o fim de se fazer bonita, lhe tem roubado todo o sangue!— Cala-te, miserável!— Ah, pensavas que eu não sabia...? Bem te conheço, vampiro! Não é à toaque o pobre rapaz ultimamente anda tão fraco, que nem pode subir à pedreira semficar cansado! Ele, o Luiz, dantes mais rijo e mais ágil que um potro! Ah, mas contoque a tia Zefa há de descobrir que lhes estás matando o filho! Livre-te Deus de quea velha Custódia suspeite de longe o que se tem passado com o neto! Aquelavelhinha, ali onde a vês, é capaz de arrancar-te a língua pela boca, ladra fementida!E a rapariga do cortiço, dando em Magda um empuxão que lhe abalou ocorpo inteiro, exclamou terrível:— Vai! Vai! Casa-te com o Luiz! Farta-te, loba! A festas estão prontas! Oaltar está armado! A cama está juncada de flores! Vai, deita-te, mais ele, e logo queo tenhas embebedado com o teu almíscar de cobra traiçoeira, suga-lhe o resto dosangue, sorve-lhe a última gota! Vai, agora és a dona do homem, como és a rainhadesta ilha! Vai; mas eu te juro, sanguessuga, que te hei de perseguir mesmo depoisda tua morte!— Então, Magda! Então! Disse o noivo, aparecendo por entre duas moitasde crotons. Há boas horas que te esperamos lá em cima para a celebração dasnossas núpcias, e tu aqui a conversares com esta sujeita. Anda, vamos, meu amor;estou farto de procurar-te!Ele vinha vestido de veludo carmesim com botões de ouro, calção largo,blusa apertada na cintura, donde lhe pendia uma espada cintilante de pedraria;polainas pretas de couro envernizado; chapéu cinzento de abas largas com umagrande pluma branca que lhe ia até ao pescoço, destacando-se do ébano brilhantedos seus cabelos encaracolados, como um a pena de garça entre entremetida naasa de um pássaro negro; capa escura com forro cor de sangue e em volta do colouma reluzente cadeia de esmeraldas, safiras e rubis.Deu-lhe o braço Magda; pousando a cabeça sobre o ombro dele. E puseramseambos a subir a montanha, salpicados pelo sol que se peneirava por entre asfolhas e chicoteados por um olhar ameaçador de Rosinha, que resmungava:bravo!— Vão, vão, mas que a cama de vocês dois se transforme num espinheiroCAPÍTULO XVIIDepois destes delírios, tão complexos, que em parte foram sofridos duranteo sono e parte durante as letargias, agora mais repetidas e prolongadas, Magdapiorou consideravelmente. Ouviam-se-lhe já no meio da conversa palavras de umsentido estranho, que ninguém compreendia; por exemplo: querendo certa vez daridéia de um grande estampido, disse: "Fez tamanho estrondo, que nem um rioquando se transforma em mar". Os que a escutavam olharam-se entre sidisfarçadamente. Outra ocasião, falando de um susto que apanhara, usou destafrase: "Assustei-me ainda mais do que no dia em que o Fernando me foi visitar àilha". E, como estas, fugiam-lhe muitas referências à sua vida fantástica; coisas que83

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