www.nead.unama.brcomo um lírio levado pelo vento; mas, quando alcançou a campina, já Fernando iadistante.— Atende! Atende! Gritou atrás dele.O espectro não atendeu e lá foi por diante, agitando às brisas do mar a suatúnica solta.— Fernando! Irmão meu amado de minha alma, não me fujas!E o lírio precipitava-se pelo vaie, sem conseguir alcançar a sombra dos seusamores.Venceram assim toda a floresta; a sombra sempre a fugir e o lírio apersegui-la; até que chegaram às margens da ilha, e Magda viu estender-se ooceano defronte de seus olhos. E a sombra, a fugir-lhe sempre, ganhou as águas,andando por sobre elas, como Jesus sobre o lago de Genezaré.A sonhadora parou na praia, resignada e triste, e o seu olhar acompanhouaquela estremecida sombra fugitiva que se fazia ao largo, até vê-la desaparecer detodo no infinito das ondas."Eu como sol a buscar-te... Tu como sombra a fugir-me!..." pensou, tornandoentão sobre seus passos, e ajoelhando-se de vez em quando, para beijar emêxtases as pegadas que Fernando deixara na areia. Afinal penetrou de novo namata e, caminhando distraidamente, chegou à fralda da montanha sem dar por isso,de tão preocupada que ia.Uns soluços que vinham do fundo do vale despertaram-na do seu enlevo.Encaminhou-se para lá, e descobriu Rosinha, deitada de bruços à sombra de umafigueira brava, chorando, com o rosto escondido nos braços.Aproximou-se dela e tocou-lhe no ombro; a outra pôs-se de pé e teve umgesto de cólera quando reconheceu a rival.— Está zangada comigo?... — perguntou a filha do Conselheiro, fazendo-semeiga.— E a senhora ainda mo pergunta? Rouba-me o noivo e pergunta se estouzangada! Tem graça!Magda procurou acalmá-la, dizendo-lhe com extrema brandura que o Luiz,que Rosinha conhecia do cortiço, o moço da pedreira, era um ser fantástico, ummito; e que o único verdadeiro Luiz, o existente, era o da ilha, o poderoso monarca,o senhor daqueles domínios, um ente superior, um ente privilegiado por Deus, quelhe concedera o dom de tomar na terra a encarnação que lhe aprouvesse. Rosinhaque se conformasse com a sorte, coitada! que se resignasse, que tivesse paciência;mas o Luiz, o legítimo, o único, o rei da ilha, esse lhe pertencia a ela, Magda, enunca seria de nenhuma outra mulher.— Isso é o que veremos! — replicou a moça do cortiço, lívida de raiva —Não é a mim que a senhora convence de que este Luiz não é aquele mesmo que mehavia prometido casamento! Ah, eu não tenho, bem sei, os seus segredos para oenfeitiçar, mas também juro-lhe que o verdadeiro amor, o amor que ele me inspirou,sincero e ardente, é capaz de tudo e é mais poderoso do que quantos artifíciospossam imaginar as bruxas da sua espécie! O que lhe afianço pelo menos é que eu,82
www.nead.unama.brdesprezada como sou, seria mulher para dar por ele a minha vida, ao passo que asenhora, só com o fim de se fazer bonita, lhe tem roubado todo o sangue!— Cala-te, miserável!— Ah, pensavas que eu não sabia...? Bem te conheço, vampiro! Não é à toaque o pobre rapaz ultimamente anda tão fraco, que nem pode subir à pedreira semficar cansado! Ele, o Luiz, dantes mais rijo e mais ágil que um potro! Ah, mas contoque a tia Zefa há de descobrir que lhes estás matando o filho! Livre-te Deus de quea velha Custódia suspeite de longe o que se tem passado com o neto! Aquelavelhinha, ali onde a vês, é capaz de arrancar-te a língua pela boca, ladra fementida!E a rapariga do cortiço, dando em Magda um empuxão que lhe abalou ocorpo inteiro, exclamou terrível:— Vai! Vai! Casa-te com o Luiz! Farta-te, loba! A festas estão prontas! Oaltar está armado! A cama está juncada de flores! Vai, deita-te, mais ele, e logo queo tenhas embebedado com o teu almíscar de cobra traiçoeira, suga-lhe o resto dosangue, sorve-lhe a última gota! Vai, agora és a dona do homem, como és a rainhadesta ilha! Vai; mas eu te juro, sanguessuga, que te hei de perseguir mesmo depoisda tua morte!— Então, Magda! Então! Disse o noivo, aparecendo por entre duas moitasde crotons. Há boas horas que te esperamos lá em cima para a celebração dasnossas núpcias, e tu aqui a conversares com esta sujeita. Anda, vamos, meu amor;estou farto de procurar-te!Ele vinha vestido de veludo carmesim com botões de ouro, calção largo,blusa apertada na cintura, donde lhe pendia uma espada cintilante de pedraria;polainas pretas de couro envernizado; chapéu cinzento de abas largas com umagrande pluma branca que lhe ia até ao pescoço, destacando-se do ébano brilhantedos seus cabelos encaracolados, como um a pena de garça entre entremetida naasa de um pássaro negro; capa escura com forro cor de sangue e em volta do colouma reluzente cadeia de esmeraldas, safiras e rubis.Deu-lhe o braço Magda; pousando a cabeça sobre o ombro dele. E puseramseambos a subir a montanha, salpicados pelo sol que se peneirava por entre asfolhas e chicoteados por um olhar ameaçador de Rosinha, que resmungava:bravo!— Vão, vão, mas que a cama de vocês dois se transforme num espinheiroCAPÍTULO XVIIDepois destes delírios, tão complexos, que em parte foram sofridos duranteo sono e parte durante as letargias, agora mais repetidas e prolongadas, Magdapiorou consideravelmente. Ouviam-se-lhe já no meio da conversa palavras de umsentido estranho, que ninguém compreendia; por exemplo: querendo certa vez daridéia de um grande estampido, disse: "Fez tamanho estrondo, que nem um rioquando se transforma em mar". Os que a escutavam olharam-se entre sidisfarçadamente. Outra ocasião, falando de um susto que apanhara, usou destafrase: "Assustei-me ainda mais do que no dia em que o Fernando me foi visitar àilha". E, como estas, fugiam-lhe muitas referências à sua vida fantástica; coisas que83
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