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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brlatas de bolacha inglesa E vieram também aparelhos de porcelana e lanternas ecandeeiros, muitas caixas de velas, jarros, quadros, um piano, colchão, colchaslavradas e roupas de toda a espécie, não esquecendo as jóias, os livros e maisobjetos de que se privara Magda ao partir com o cavouqueiro.— Mas isto é uma mudança completa! Meu pai não deixou nada em terra...!— observou ela, notando as coisas que desembarcavam e reconhecendo-as umapor uma.Com efeito, vinha tudo; lá estavam as louças da Saxônia, os candelabrosbizantinos, as peles da Sibéria. as velhas tapeçarias do salão de Botafogo, oscaprichosos kakimanos, os espelhos, os damascos bordados a ouro e prata, e osconsolos com mosaicos de Florença. É que o Conselheiro, uma vez que a filha nãoestivesse resolvida a acompanhá-lo, voltaria à vida inconstante do mar, para nuncamais se desprender do seu navio.Pronta e armada a casa, principiou-se a fazer defronte dela um altar ao arlivre, com uma imensa cruz de cedro tosco entre duas palmeiras e fincada numgrande pedestal de troncos d'árvores, cujos degraus não se viam, era tal a profusãode flores que os carregava de alto a baixo. Arranjaram-se faróis para iluminar toda ailha, e a tripulação de bordo saiu, em parte armada de espingardas, a caçar pelafloresta, e em parte carregada de redes para a pescaria. Engendrou-se uma soberbatenda destinada ao banquete, embandeirou-se tudo e pregaram-se lanternaschinesas em volta da habitação.No dia das bodas cinqüenta peças de caça e outras tantas de pescarechinavam e lourejavam sobre braseiros e fogueiras; grandes tachos de cobreluziam ao fogo, soprando nuvens de vapor odorante; fabricavam-se os doces maisestimados; batiam-se as massas mais delicadas. E os marinheiros, agora de aventalbranco e carapuça de cozinheiro, cruzavam-se no morro, ora levando largasbraçadas de frutas, ora carregando enormes travessões de assado, ou conduzindopara & mesa ânforas de prata cheias de vinho. Havia uma grande atividade; a velhaCustódia e a tia Zefa não descansavam um segundo, iam e vinham azafamadas, asaia enrodilhada na cintura, os braços arremangados, tão depressa a enchergarrafas e cangirões, como preparando ramilhetes para os jarros ou pejando ascorbelhas com frutas que lhe traziam os marujos. O Conselheiro, sempre de farda,dirigia todo o serviço tal qual como se manobrasse um navio; só dava as suasordens apitando ou então gritando por um porta-voz de que se não separava nunca.E ao seu comando afestoava-se toda a ilha, com uma rapidez de serviço de bordo.A cerimônia religiosa estava marcada para o meio-dia em ponto e devia serseguida por uma salva de vinte tiros de canhão, toque de caixa e corneta, repiquesde sino e vivas da marinhagem. O capelão havia chegado já, acompanhado por doismarujos vestidos de batina e sobrepeliz, vendo-se-lhes por debaixo as botas decouro cru, sentindo-se-lhes ranger o cinturão e adivinhando-se-lhes a navalhagrudada aos largos quadris. Os turíbulos e a caldeirinha pareciam em risco deesfarelar-se entre os seus dedos grossos como cabos de enxárcia. Aquelas carasmarcadas, com a barba feita de fresco e uma faixa branca no lugar da testa em queo boné não deixara que o sol as encardisse, não pareciam de gente, e, no entanto,coisa singular! ambas lembravam a carranca do Dr. Lobão. Magda, ao vê-las,retraiu-se intimidada e não se animou a dar palavra, nem a mexer-se do lugar emque estava. Ficou tolhida, a fitá-las por muito tempo.80

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