www.nead.unama.brO primeiro a apresentar-se foi um tal Martinho de Azevedo, rapaz de vinte epoucos anos, filho de um cônsul em que em não sei que parte da Europa; ares defidalgo; bigode louro e olhos de mulher; não tinha nada de feio; ao contrário,chegava a ser impertinente com a sua inalterável boniteza risonha; e vestia-se comoninguém, graças a alguns anos que passara em Paris estudando um curso que nãochegara a concluir.Magda esteve quase a desenganá-lo, antes mesmo que o sujeito se lhedeclarasse; resolveu, porém, deixar isso ao cuidado do pai, que não se embirravamenos com ele. Com quem o Conselheiro não embirrou, e mostrou até simpatizar,foi um certo ministro argentino, levado à sua casa por um colega que já lá se dava;mas este segundo pretendente não foi feliz que o primeiro, nem que os outrosapresentados depois.Todavia as festas continuavam, e por fim a casa do Conselheiro PintoMarques era tida e havida entre a melhor gente como das mais distintas e bemfreqüentadas do Rio de Janeiro; e Magda classificada ao lado das estrelas maisrutilantes do empíreo de Botafogo.Assim se passou o resto do ano.Ah! Com que ansiedade contou a pobre menina os dias que precederam àformatura do irmão! Como aquele coraçãozinho palpitou de susto e de esperança aolembrar-se de que em breve o seu Fernando, o único que aos olhos dela pareciabom, delicado, inteligente e sincero, tinha com uma só palavra de apagar todas asdúvidas que a torturavam, ou destruir-lhe por uma vez todos os sonhos de ventura.Sim, porque a filha do Conselheiro, agora nos seus dezessete anos, estavabem certa de que amava Fernando; mais se convencera dessa verdade nessesúltimos tempos em que ele se mostrara indiferente e esquivo. Só agora podia avaliaro bem que lhe faziam aquelas tranqüilas palestras que tantas vezes desfrutara comele, ora nos bancos da chácara, ora assentados junta à janela, perto um do outro, ouem volta da pequena mesa de viex-chêne que havia numa saleta ao lado dogabinete do Conselheiro, e onde ela costumava ler e estudar no bom tempo em queFernando se comprazia em dar-lhe lições de preparatórios.As lições!... Quanto desvelo de parte a parte! Com que gosto ele ensinava ecom que gosto ela aprendia!Magda, logo ao deixar o colégio das irmãs de caridade, entrou a estudar como irmão, e foi nesse contato espiritual de três horas diárias que os dois mais sefizeram um do outro, e mais se amaram, e mais se respeitaram. Todavia, nesse tempoela ainda não lhe tinha observado as feições, nem notado a inteireza de caráter nem adelicadeza do gênio; habituara-se a estimá-lo, e aceitava-o quase que pela fatalidadeda convivência ou pela natureza efetiva do seu próprio temperamento; mas depois,quando teve ocasião de compará-lo com outros, amou-o por eleição, por entender queele era o melhor de todos os homens, o mais digno de preferência.Agora, depois daqueles frios meses de retraimento, Fernando parecia-lheainda mais belo e mais desejável; aquela transformação inesperada foi como umadolorosa ausência em que as boas qualidades do rapaz ganharam novo prestígio noespírito da irmã, assumindo proporções excepcionais. Magda esperava pelo dia daformatura, como se aguardasse a chegada do noivo; tinha lá para si que o seuamado reapareceria então como dantes, meigo, comunicativo e amigo de estar aolado dela. Agora idolatrava-o; todo o grande empenho do Conselheiro em substituí-lopor outro apenas conseguia encarecê-lo ainda mais, fazendo-o mais desejável, maisinsubstituível. Ela já não podia compreender como é que por aí se amavam outrosque não eram Fernando; outros que não tinham aquela mesma barba, aqueles olhos8
www.nead.unama.brtão inteligentes e tão doces, aquela mesma estatura bem conformada, forte sem sergrosseira, aquela boca tão limpa, tão bem tratada, que logo se via não poder servirde caminho à mentira ou a uma palavra feia. E muita coisa, que até então não lhenotara, agora a impressionava; a voz, por exemplo, o metal de sua voz, em quehavia uma certa harmonia corajosa; aquela voz velada, discreta, mas muitointeligível; uma voz que não chamava a atenção de ninguém, mas que prendia atodo aquele que por qualquer circunstância a escutava. — E a cor do seu rosto?Aquele moreno suave, de pele muito fina, em que ia tão bem, o cabelo preto? — Eaquele modo inteligente de sorrir, quando ele descobria um ridículo noutrem? Aquelear condescendente com que Fernando ouvia as frioleiras do Martinho de Azevedo ouas bazófias do ministro argentino? Aquele sorriso inteiriço, de alma virgem, onde nãohavia o menor vislumbre de inveja a ninguém, nem contentamento próprio porvaidade; aquele sorriso, que ela supunha ser a única a compreender.A própria indiferença de Fernando agora a seduzia e namorava; achava-opor isso mesmo fora do vulgar dos outros homens um pouco misterioso, como queguardando no fundo do coração alguma coisa muito superior, muito excelente, queele não queria expor às vistas dos profanos e só pertenceria àquela que escolhessepara inseparável companheira de sua vida.Ah, Magda contava que aquele segredo ainda seria também o seu; sua almaestava aberta de par em par e não se fecharia enquanto não houvesse recolhidotodo o conteúdo daquele coração misterioso; só se fecharia para melhor guardar emdepósito as gemas preciosíssimas que dentro de sua alma despejasse a alma doseu amado. — Oh, quanto não seria bom ser a esposa daquele homem, ser a suacriatura, ser a testemunha de todos os seus instantes! E ainda lhe passara pelamente a hipótese de uma traição por parte dele!... Mas onde tinha então a cabeça?...Pois Fernando lá seria capaz algum dia de dizer uma coisa e fazer outra?... Pois elanão via logo o modo pelo qual nos bailes de seu pai todas as moças solteirasprocuravam requestá-lo, sem nada conseguir, nem mesmo alterar-lhe aquela friaabstração de homem superior?... Oh, sim, sim! A única que ele queria, a única queele amava, era ela ainda e sempre! Tudo lho dizia: tudo lho confirmava! Nem podiaser que tamanho sentimento continuasse a crescer e aprofundar-se no seu coraçãode donzela, se, do fundo da aparente indiferença de Fernando não viesse um raio decalor manter-lhe a vida!Amparando-se nestes raciocínios, Magda viu chegar a véspera da formatura,quase tranqüila de todo. Nesse dia recolheu-se mais cedo que de costume;ajoelhou-se diante de um crucifixo de marfim, herdado de sua mãe, e do qual nuncase separara, e rezou, rezou muito, pedindo ao pai do céu, pelas chagas do seudivino corpo, que a protegesse e fizesse feliz. Falou-lhe em voz baixa e amiga,segredando-lhe ternuras e confidências, como se dirigisse a um velho camarada deinfância, bonacheirão, que a tivesse trazido ao colo em pequenina e que ainda sebabasse de amores por ela. E contou-lhe o quanto adorava o seu Fernando equanto precisava de casar com ele. — Deus não havia de ser tão mau que, só paracontrariá-la, estorvasse aquela união!...No dia seguinte Fernando estava formado e a casa do Conselheiro toda empreparos de festa; Magda que havia muito não se animava a dirigir-lhe palavra, foiter com ele e, depois de lhe dar os parabéns, interrogou-o com um olhar cheio deansiedade. O moço fez que não entendeu, mas ficou perturbado.— Então! Disse Magda.— Então o que, minha amiguinha?— Pois não estás formado afinal?9
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