10.07.2015 Views

O Homem - Unama

O Homem - Unama

O Homem - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.brdepois de o examinar com o rosto muito carregado, arremessou-o de encontro à lajeda janela. O grupo representava em miniatura: "Amor e Desejo", de Miguel Ângelo— Um casal de quinze anos preso pelos lábios em um beijo ideal e ardente. —Quando o Conselheiro, deveras contrariado, perguntou quem havia quebrado aescultura, ela respondeu sem se alterar:— Foi a Justina, papai, mas não lhe diga nada, coitada!Sim, por último dera para isto: pregar destas pequenas mentiras e, se acasoqueriam provar o contrário do que afirmava, punha-se furiosa, acabando sempre pordesabafar em soluços a sua contrariedade. Assim, tendo uma vez matado um casalde rolas que havia na sala de jantar, só porque o surpreendera em flagrante delitode procriação, não só fugiu à responsabilidade do ato como ainda afetou grandedesgosto pela morte dos brutinhos, chegado a revolucionar toda a casa paradescobrir o suposto assassino.Entretanto, os sonhos com Luiz continuavam sem interrupção, e Magda, acontra gosto, habituava-se com a sua existência em duplicata, ajeitando-se pouco apouco ao contraste daquelas duas vidas tão diversas e tão inimigas. Não podia sermais feliz do que era ao lado do seu fantástico amante; ah! mas bem caro pagavadepois essa felicidade, quando, acordada, o seu orgulho de mulher honesta abriaem luta contra as degradantes lubricidades do sono.Viviam nus desde o fatal momento em que se prenderam na ilha doSegredo. Luiz construíra uma cabana de bambu, coberta de pindoba, e fez algunsutensílios domésticos; já tinham cama, bancos, um armário para guardar frutas, edois ou três potes para conservar o mel das abelhas, o vinho do caju e o leite deuma cabra que apanharam no monte.Cercaram a choupana com valentes toros de madeira e, quando anoitecialevantavam uma fogueira defronte da porta. É que já se não sentiam tão seguroscomo dantes; Luiz temia até qualquer invasão, porque, logo que o rio se converteuem mar, estava franqueada a ilha.E, com efeito, um belo dia, passeavam os dois na praia, secando os cabelosao sol depois do banho, quando avistaram no horizonte uma vela que seaproximava. Ficaram ambos transidos de sobressalto; Luiz ordenou a Magda que semetesse em casa e não saísse sem ser chamada por ele.A filha do Conselheiro obedeceu, mas ficou espiando lá de dentro.Daí a pouco viu chegar num escaler, tripulado por quatro marinheiros, ummagote de seis pessoas que, pela distância, não podia reconhecer, distinguindoapenas que havia quatro mulheres no grupo; que um dos homens trazia farta deoficial de marinha e que o outro estava todo envolvido numa enorme capa negra,que lhe dava aparências de espectro.O oficial saltou a ilha e fez apeiarem-se as mulheres. Estas, logo que sepilharam em terra, correram de braços abertos sobre Luiz, soltando gritos decontentamento. E, depois de muitos beijos e abraços, puseram-se todos a caminharna direção da palhoça, acompanhados pelos quatro marinheiros que vinhamarmados de escopetas e machadinhas de abordagem.Magda reconheceu então que o oficial era o Conselheiro, vestido e remoçadocomo num retrato a óleo, que ele tinha no seu gabinete de trabalho em Botafogo.Tremeu, quis fugir, mas lembrou-se da ordem de Luiz e deixou-se ficar. Emuma das mulheres descobriu Justina; em outra Rosinha; nas outras a mãe e a avódo moço da pedreira. Vinham todas com as roupas do domingo; as duas velhas77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!