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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brparede, como forcejando para despregar-se da cruz, e que afinal descia, pisava nochão, encaminhava-se para ela e tocava-lhe de leve com a mão no ombro,aproximando a boca, para lhe falar ao ouvido. Magda sentiu rescender o cheiro damurta.— Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem! A mangueira começou adar as suas primeiras mangas; as flores do caju lançaram já o seu cheiro! Vem,pomba minha: nos segredos do teu quarto mostra-me a tua face; soe a tua vozdentro dos meus ouvidos, porque a tua voz é doce e a tua face graciosa!A moça ergueu a cabeça.Ele beijou-a, prosseguindo, com o rosto unido ao dela: — Sim, Magda, minhairmã, minha esposa, minha amada, teus olhos de tão belos se parecem com os olhosde Maria Santíssima; são ternos, são negros, humildes o majestosos; tuas mãosbrancas relembram os lírios da Virgem e os teus dedos distilam a mirra mais preciosa;as faces do teu rosto rescendem como as rosas do amor divino; os teus cabelosexcedem no cheiro aos aromas excelentes do seu altar; os teus peitos são brancoscomo duas ovelhas gêmeas e tão rijos como os jacintos da sua coroa de rainha doscéus; a tua carne é tão macia como o cetim do seu manto e o cheiro dos teus vestidosé como o cheiro do incenso; o sorrir da tua boca é tão lindo como o dela, mas eugosto mais do teu, por menos divino e etéreo e porque mais me enfeitiça e me abrasade amor; o teu hálito, minha pomba, é melhor que os perfumes do país de Cedar; tuagarganta é de sândalo; tua voz é um aroma; a luz dos teus olhos é um diamantelíquido; teus dentes são pérolas de orvalho entre pétalas de rosa. Tu, entre asmulheres da terra, és a mais bonita, a mais sedutora e a mais amável; entre asmulheres tu és como a palmeira entre as outras árvores: não tens igual; és majestosacomo os cedros do Líbano e delicada e cheirosa como os eloendros de JerusalémMagda deixava-se embalar pela música sensual e mística destas palavras eo cheiro de murta. E, já sem medos nem sobressaltos, quedava-se imóvel ecomovida, como se estivesse conversando em êxtases com um Cristo só dela, umCristo destronado e sem orgulhos de Deus, um Cristo seu amante, fraco, de carne,submisso e humano.E a voz ainda lhe disse, entrando-lhe pelos ouvidos, pela boca, por todos osporos, com o seu aroma agreste e afrodisíaco: — Levanta-te, minha amada, e tornacomigo ao nosso ninho de amor! Eu te busquei esta noite a meu lado, busquei-te enão te encontrei! Ergui-me à luz das estrelas e rodeei como um louco a ilha, e não teachei! Busquei-te pelas matas, pelos vales e pelo monte, e não te descobri! Chameite:"Magda! Magda! Magda!" e não me respondeste! Perguntei às águas do mar, àsarvores do campo, aos ventos do espaço, se tinham visto aquela a quem amaminh'alma; e todos eles não souberam dar novas tuas; e eu aqui estou; eu vim buscarte,e não tornarei sem te levar comigo! Vem! Na tua ausência fiz um leito de madeirasaromáticas e alcatifei-o todo de flores, para te receber; colhi os mais saborosos frutospara a tua chegada, e fermentei a uva mais doce para nos embriagarmos com ela!— Sim, sim, respondeu afinal Magda, entregando-se a ele; leva-me! Eu teacompanho de novo para onde bem quiseres! Carrega-me, querido! Preciso ir beberdo teu vinho, comer dos teus frutos, amor do teu amor e reviver com o teu sangue!Leva-me! Aqui me tens! Sou tua!75

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