www.nead.unama.brcarne às garras do lobo imundo! Esconde-me à tua sombra; protege-me como ofizeste com a outra Madalena, menos merecedora do que eu, que sou donzela esempre te amei e servi com a mesma candura! Lembra-te, querido de minh'alma, deque estou enferma e fraca e só tenho força e ânimo para te amar! Vê que não meposso defender só por mim! Ajuda-me! Tem pena de quem te quer e adora acima detodas as coisas! Vê como tremo e choro! Se és o pai dos humildes, vale-me agora,salva o meu pudor e não consintas que de hoje em diante a minha virgindade sehaja ainda de retrair corrida e envergonhada! Vem e acompanha-me nos meussonhos, conduz-me pela tua mão, como fazias com as crianças que encontravasperdidas no caminho; se te vir a meu lado não sonharei desatinos e sujidades queme matam de vexame e nojo contra mim própria! Vem ter comigo e exorciza dedentro de mim o demônio que habita minha carne e enche de fogo todas as veias domeu corpo! Não deixes que a luxúria esverdie minha alma com a baba do seuveneno! Reabilita-me, para que eu me estime e preze como dantes! Lava-me dacabeça aos pés com a luz da tua divina graça; perfuma-me com os teus aromascelestiais; sopra teu hálito sobre mim, para que não me fique vestígio de terra napele e nos cabelos; beija minha boca, para lhe apagar o gosto de pecado que a põeamarga e suja; beija meus olhos, para que eles não enxerguem o que não devemver; beija meus ouvidos, para que eles não escutem o que não devem ouvir; beijametoda, para que toda eu me purifique e me faça digna do teu amor! Sacode emcima de mim o orvalho do teu manto e as gotas do teu cabelo, para que eu meacalme e abrande; traça com a tua mão pura uma cruz sobre a minha testa, paraafastar por uma vez os maus pensamentos, e passeia três voltas em torno do meucorpo para que a fera nunca mais se aproxime de mim! Vem, vem! que ela aí torna ecomeça a uivar de novo! Acode-me, Senhor, acode-me!Estremeceu toda num arrepio mortal, escondendo o rosto, sacudida pelossoluços. E, como em resposta às suas súplicas, não descia dos céus nenhum alívio,ela revoltou-se afinal contra Jesus: — Para que então servis? Interrogou — Para queentão sois Deus, se não baixais em meu socorro, quando eu tanto preciso de amparoe de defesa?! Que é feito então do extremoso amigo das mulheres e das crianças, aoqual me ensinaram a amar desde o berço? Que é feito desse ente apaixonado ecasto, que tinha dantes consolações para toda a desgraça, e um raio de luz parasecar a mais escondida lágrima dos que padeciam? Que é feito do sudário cor de lírioem que se enxugava o pranto dos desamparados? Que é feito dessas bênçãos depai, que apaziguavam a terra e confortavam o coração dos pobres? Para onde sevoltaram aqueles olhos misericordiosos, que dantes enchiam o mundo com o eflúvioda sua ternura? Como para sempre se fecharam aquelas entranhas de piedade,aquele peito de amor, onde a mísera humanidade se refugiava, como num templo deouro e marfim? Se não vierdes imediatamente em meu socorro, acreditarei no quedizem os contrários da vossa igreja, ou que desertastes de vez para os céus,esquecidos de todo das vossas criaturas! Se não vierdes já e já, acreditarei que estaisoutro e que já não sois aquele mesmo Jesus, terno, humilde, casto, bom, fiel eonipotente! acreditarei que viveis no egoísmo e na indiferença, amarrado ao trono,ébrio de orgulho e vaidade, como qualquer miserável monarca da terra!E interrogou a imagem com um olhar em que havia súplica e ameaça. Malsoltou logo um rugido surdo, apontando para o crucifixo e balbuciando, cheia deterror: — Não! Já não sois vós quem aí está crucificado! Quem está aí agora é ooutro! É ele! É o demônio!E caiu do bruços no chão, com um grito. E logo em seguida, sem ânimo deerguer a cabeça, transida de medo, sentiu distintamente que o Cristo se agitava na74
www.nead.unama.brparede, como forcejando para despregar-se da cruz, e que afinal descia, pisava nochão, encaminhava-se para ela e tocava-lhe de leve com a mão no ombro,aproximando a boca, para lhe falar ao ouvido. Magda sentiu rescender o cheiro damurta.— Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem! A mangueira começou adar as suas primeiras mangas; as flores do caju lançaram já o seu cheiro! Vem,pomba minha: nos segredos do teu quarto mostra-me a tua face; soe a tua vozdentro dos meus ouvidos, porque a tua voz é doce e a tua face graciosa!A moça ergueu a cabeça.Ele beijou-a, prosseguindo, com o rosto unido ao dela: — Sim, Magda, minhairmã, minha esposa, minha amada, teus olhos de tão belos se parecem com os olhosde Maria Santíssima; são ternos, são negros, humildes o majestosos; tuas mãosbrancas relembram os lírios da Virgem e os teus dedos distilam a mirra mais preciosa;as faces do teu rosto rescendem como as rosas do amor divino; os teus cabelosexcedem no cheiro aos aromas excelentes do seu altar; os teus peitos são brancoscomo duas ovelhas gêmeas e tão rijos como os jacintos da sua coroa de rainha doscéus; a tua carne é tão macia como o cetim do seu manto e o cheiro dos teus vestidosé como o cheiro do incenso; o sorrir da tua boca é tão lindo como o dela, mas eugosto mais do teu, por menos divino e etéreo e porque mais me enfeitiça e me abrasade amor; o teu hálito, minha pomba, é melhor que os perfumes do país de Cedar; tuagarganta é de sândalo; tua voz é um aroma; a luz dos teus olhos é um diamantelíquido; teus dentes são pérolas de orvalho entre pétalas de rosa. Tu, entre asmulheres da terra, és a mais bonita, a mais sedutora e a mais amável; entre asmulheres tu és como a palmeira entre as outras árvores: não tens igual; és majestosacomo os cedros do Líbano e delicada e cheirosa como os eloendros de JerusalémMagda deixava-se embalar pela música sensual e mística destas palavras eo cheiro de murta. E, já sem medos nem sobressaltos, quedava-se imóvel ecomovida, como se estivesse conversando em êxtases com um Cristo só dela, umCristo destronado e sem orgulhos de Deus, um Cristo seu amante, fraco, de carne,submisso e humano.E a voz ainda lhe disse, entrando-lhe pelos ouvidos, pela boca, por todos osporos, com o seu aroma agreste e afrodisíaco: — Levanta-te, minha amada, e tornacomigo ao nosso ninho de amor! Eu te busquei esta noite a meu lado, busquei-te enão te encontrei! Ergui-me à luz das estrelas e rodeei como um louco a ilha, e não teachei! Busquei-te pelas matas, pelos vales e pelo monte, e não te descobri! Chameite:"Magda! Magda! Magda!" e não me respondeste! Perguntei às águas do mar, àsarvores do campo, aos ventos do espaço, se tinham visto aquela a quem amaminh'alma; e todos eles não souberam dar novas tuas; e eu aqui estou; eu vim buscarte,e não tornarei sem te levar comigo! Vem! Na tua ausência fiz um leito de madeirasaromáticas e alcatifei-o todo de flores, para te receber; colhi os mais saborosos frutospara a tua chegada, e fermentei a uva mais doce para nos embriagarmos com ela!— Sim, sim, respondeu afinal Magda, entregando-se a ele; leva-me! Eu teacompanho de novo para onde bem quiseres! Carrega-me, querido! Preciso ir beberdo teu vinho, comer dos teus frutos, amor do teu amor e reviver com o teu sangue!Leva-me! Aqui me tens! Sou tua!75
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