www.nead.unama.brJustina estendeu o braço, intrigada.Magda examinou-o todo, minuciosamente, mas não descobriu nele a menorescoriação.— Porque vosmecê me revista o braço? ...— Cale-se!E, depois de fitá-la de novo: — O que é que você me tem dado a beberdurante o sono? Mas não minta!— Ó minha senhora, eu já disse, como não? A água pura ou com açúcar eflor de laranja, ou quando não, aquele remédio de frasco maior, que o Doutormandou dar, quando vosmecê acordasse à noite com os seus incômodos.Magda pediu o tal frasco para ver e, apanhando uma gota do remédio com alíngua, ficou a tomar-lhe o sabor.Qual! Não era dali que vinha o gosto de sangue!Bateu meia noite no relógio da sala de jantar.— Olhe, minh'ama, meia noite!— Já sei! Vá lá abaixo buscar um pouco de presunto com pão.— Que diz, minh'ama ? Não caia nessa! Vosmecê tem visto o mal que lhefaz a comida fora d'horas...— Não me aborreça! Veja o que lhe disse!Justina saiu do quarto, resmungando, e a senhora logo que se achousozinha, teve um tremor de medo. A criada felizmente não se demorou muito.— Cá está, minh'ama. Vosmecê quer vinho?— Não.— Magda gulosou algumas febras de presunto, bebeu mais café e atirou-seaos seus jornais ilustrados, disposta a não ceder um passo na resolução tomada.— Porque vosmecê não se vai deitar, minh'ama? E' melhor! Agasalhe-se!Daqui a pouco está aí a friagem da madrugada! Já passa de uma hora!A filha do Conselheiro não respondeu e ferrou a vista, com uma fixidez deteima, no desenho que tinha debaixo dos olhos.— Vosmecê nunca se deitou tão tarde..— Cale-se, que diabo!— É que lhe pode fazer mal...— Pior!A criada calou-se, bocejou traçando com a mão uma cruz, mais sobre onariz do que sobre a boca, e daí a nada pediu, quase de olhos fechados, que su'amaentão lhe deixasse encostar a cabeça um instante. "Ela estava a cair de canseira".Pois sim, que fosse, mas que ficasse alerta."Como não?" Mal porém. encostou a cabeça, dormiu logo a sono solto.No entanto, a senhora parecia bem entretida com as suas ilustrações.Correu meia hora — e ela sempre a ver os desenhos e a ler. De repente teve umacontração nervosa, muito rápida.72
www.nead.unama.br— Mau!... Disse, e procurou segurar melhor a atenção no que estava lendo.Mas com pouco um calefrio empolgou-lhe os ombros e foi lhe descendo pelodorso, até fazer vibrar-lhe o corpo inteiro— Justina! Justina!A criada não se abalou, e o silêncio e a solidão da noite começaramprontamente a fazer das suas. A histérica estremeceu de novo, olhando para oslados, aterrada, sem poder mais articular palavra. Um pânico apoderou-se dela,pondo-lhe estranha agitação no sangue.Teve uma idéia — rezar.Ergueu-se desvairada, com os cabelos em pé, e encaminhou-se para ocrucifixo. Nisto ouviu distintamente uma voz dizer ao seu ouvido:— Magda!Voltou-se com um gemido rouco e caiu de joelhos defronte da imagem, todatrêmula e gelada.Tinha reconhecido a voz do seu amante fantástico. E principiou logo a vertudo avermelhado como nos sonhos: o que era branco fazia-se cor de rosa; o queera cor de rosa tingia-se de escarlate; o amarelo tomava a cor de laranja e o azularroxeava-se.Ela arfava; levou a mão à testa: os dedos voltaram úmidos de suor frio; quisgritar, e não pôde. E o seu corpo escaldava em febre; e suas fontes latejavam.Contudo não tinha perdido ainda de todo a razão e mentalmente suplicava a Deusque a amparasse, que a socorresse naquele horroroso transe:— Pois não me será dado escapar a esta maldita perseguição?... Ó meu paimisericordioso, que irá me suceder? Que irá me suceder agora?Mas os objetos difundiam-se já e transformavam-se em torno de seus olhos,que só viam a imagem de Cristo — de braços abertos, e a crescer, a crescer,enchendo a parede.E, naquela palpitação nervosa, Magda sentia as palavras borbotarem no seuespírito e derramarem-se pelos seus lábios com a verbosidade e a inspiração de umpoeta ébrio.— Preciso não sonhar! Preciso arrancar aqui de dentro esta dolorosaloucura que me absorve, gota a gota, toda a substância da minha vida!E, de joelhos, o rosto levantado, as mãos erguidas para o céu, as lágrimas adesfiarem-lhe uma a uma pelas faces, ela acrescentou depois da oração que lheensinara a tia Camila: — Jesus, meu amado, meu esposo, acode-me, acode-medepressa, que a fera já aí está comigo! Vem, que ela me farisca e me cercarosnando! Vem, que lhe ouço o respirar assanhado e já sinto o seu bafo e o cheirocarnal que ela solta de si! Vem, que a maldita me acompanha por toda a parte e mecheira como o cão à cadela! Vem de pressa; não a deixes saciar no meu corpo devirgem os seus apetites lascivos! Não me deixes assim, amado do meu coração, cairtão feiamente em pecado de impureza e luxúria! Não me atires como um pedaço de73
- Page 4 and 5:
www.nead.unama.brSegundo o que sabi
- Page 6 and 7:
www.nead.unama.brMagda afastou-se,
- Page 8 and 9:
www.nead.unama.brO primeiro a apres
- Page 10 and 11:
www.nead.unama.br— E daí?— Da
- Page 12 and 13:
www.nead.unama.brO velho sentia o s
- Page 14 and 15:
www.nead.unama.br— Dezessete anos
- Page 16 and 17:
www.nead.unama.brmarido prático, u
- Page 18 and 19:
www.nead.unama.br— É o diabo!...
- Page 20 and 21:
www.nead.unama.brMuito mais! E com
- Page 23 and 24: www.nead.unama.brgraça que a Sra.
- Page 25 and 26: www.nead.unama.brUma conduta irrepr
- Page 27 and 28: www.nead.unama.brgarganta e, depois
- Page 29 and 30: www.nead.unama.brroupa e apenas enf
- Page 31 and 32: www.nead.unama.brexistência! Que a
- Page 33 and 34: www.nead.unama.bruma mesinha cobert
- Page 35 and 36: www.nead.unama.brNunca entravam em
- Page 37 and 38: www.nead.unama.br— Vamos lá?...
- Page 39 and 40: www.nead.unama.brcorpo, nem que se
- Page 41 and 42: www.nead.unama.br— Piedade, meu p
- Page 43 and 44: www.nead.unama.bràs histéricas, s
- Page 45 and 46: www.nead.unama.brAo perceber uma pe
- Page 47 and 48: www.nead.unama.br— Vou comprara u
- Page 49 and 50: www.nead.unama.bracompanhou-lhe log
- Page 51 and 52: www.nead.unama.brúnico dever. Desd
- Page 53 and 54: www.nead.unama.brde suspiros estala
- Page 55 and 56: www.nead.unama.brE, uma vez deitado
- Page 57 and 58: www.nead.unama.brE notava agora na
- Page 59 and 60: www.nead.unama.brde quem admira; Ma
- Page 61 and 62: www.nead.unama.brE, apesar dos esfo
- Page 63 and 64: www.nead.unama.br— Sim, sim, mas
- Page 65 and 66: www.nead.unama.br— Voltemos para
- Page 68 and 69: www.nead.unama.brimensa túnica de
- Page 70 and 71: www.nead.unama.brE respirava alto,
- Page 74 and 75: www.nead.unama.brcarne às garras d
- Page 76 and 77: www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIEsta
- Page 78 and 79: www.nead.unama.brtraziam lenços de
- Page 80 and 81: www.nead.unama.brlatas de bolacha i
- Page 82 and 83: www.nead.unama.brcomo um lírio lev
- Page 84 and 85: www.nead.unama.brela dizia com a ma
- Page 86 and 87: www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIIIE e
- Page 88 and 89: www.nead.unama.brJá a gaiola de um
- Page 90 and 91: www.nead.unama.brprecipitou-se do a
- Page 92 and 93: www.nead.unama.brsuavam4he com o gr
- Page 94 and 95: www.nead.unama.brbrancas. Metia gos
- Page 96 and 97: www.nead.unama.brFoi ter à janela
- Page 98 and 99: www.nead.unama.brreminiscência. Af
- Page 100 and 101: www.nead.unama.br— Agora... Depoi
- Page 102 and 103: www.nead.unama.br— Estava como lo
- Page 104 and 105: www.nead.unama.br— Agora vai busc
- Page 106 and 107: www.nead.unama.brO populacho do cor
- Page 108 and 109: www.nead.unama.brOs marinheiros tin