www.nead.unama.brE respirava alto, com insistência. — Sim, sim, é o mesmo perfume! Ora esta!Parece que tudo tresandava a magnólia! Será muito bonito se eu, de agora emdiante, não puder livrar-me, nem acordada, de semelhante perseguição!...Todo esse dia, entretanto, se passou assim: o cheiro de magnólia e o gostode sangue não a deixaram um segundo. Nunca estivera tão nervosa, tão excitada;achando em tudo um pretexto para implicar, chorando sem causa aparente,irrequieta, a passarinhar pela casa, com um desassossego de ave quando está parafazer o ninho. O Dir. Lobão conversou com o Conselheiro e os olhos deste seencheram d’água.— Acha então que ela está pior, Doutor?... Acha que está muito mal?.,..— Está entrando já no terceiro período da moléstia. Esse desassossego quesobreveio agora é um terrível sintoma... Mas não desanime! Não desanime!E, para o consolar, afiançou que Magda era o caso mais bonito de histeriaobservado por ele.Á noite a enferma pediu café.— Café?Houve um espanto. Não lho quiseram dar; afinal, depois de grande disputa,consentiram em ceder-lhe meia chávena, muito fraco.— Não, não, não! Ela não queria assim! Queria um bulezinho cheio e decafé forte.— Mas, minha filha, lembra-te do estado melindroso em que tens os nervos!Se o café em grandes doses faz mal a qualquer um, quanto mais a ti.Magda chorou, arrepelou-se, arrancou cabelos. O médico, porém, voltando ànoite, aconselhou que a deixassem tomar todo o café que lhe apetecesse— Deixem-na beber à vontade! Pode ser até que isso lhe produza umareação favorável sobre os nervos! Nada de contrariá-la!Foi levada uma cafeteira para o quarto de Magda. Esta assentou-se àmesinha defronte do candieiro e começou a ler, depois de tomar uma chávena decafé, que se lhe conservou no estômago.— Você, ordenou à criada, não durma, hein? Nem me deixe dormir também,compreende?— Como, minh'alma ? Pois vosmecê não tenciona dormir tão cedo?...— Tenciono passar a noite em claro.— Jesus! Mas isso lhe há de fazer muito mal! Ora como não?— Vá buscar-me aqueles jornais ilustrados e aqueles álbuns de desenho,que estão lá na sala, e ponha-me tudo aí em cima da mesa.Justina afastou-se trejeitando esgares de lástima.Magda sentia-se agora menos inquieta; fazia-lhe bem o empenho com queela queria pregar um logro ao sonho, faltar à entrevista com o moço da pedreira.Sentia gosto em enganar alguém. Era uma preocupação e por conseguinte um70
www.nead.unama.brdivertimento. Ardia de impaciência por ver passada aquela noite; afigurava-se-lheque, depois disso, poderia dormir à vontade, tranqüilamente, sem cair nunca maisnas garras do seu maldito perseguidor.A Justina é que daí a pouco cabeceava, sem conseguir abrir olhos. Magdaobrigou-a a tomar uma xícara de café, o que não impediu que a boa mulher umahora depois ressonasse, ali mesmo, de pé, encostada à ombreira da porta, com osbraços cruzados.A senhora sacudiu-a, frenética.— Eu não lhe disse, criatura, para ficar acordada?A pobre respondeu com bocejos.— Vamos! Ponha-se esperta! Tome outra xícara de café!A senhora que a desculpasse; havia, porém, um 'rôr de tempo que ela nãodormia direito e puxava muito pelo corpo durante o dia...— E porque você não tem dormido direito?— Ora! Porque é necessário estar sempre meio acordada, para ver quandominh'ama precisa de alguma coisa... Como não?— Eu então não tenho o sono tranqüilo?— Tranqüilo? Quem lho dera! Vosmecê durante o sono tem arrepios de vezem quando; doutras parece que está ardendo em calor; que sente comichões pelocorpo: coça-se, remexe-se, abraça-se e esfrega-se nos travesseiros; geme, suspira;tão depressa dá p'ra chorar, como p'ra rir; ora se encolhe toda, ora atira com aspernas e com os braços e quer lançar-se fora da cama! Pois então? E' preciso que agente a endireite; que lhe dê o remédio do frasco maior ou uma pouca d’água comflor de laranja... De quantas e quantas feitas eu não tenho deitado a vosmecê nomeu colo, para sossegá-la?...— E não falo quando durmo?— Ás vezes, como não? E muito! Mas não se entende patavina; fala entredentes. Ainda ontem, foi muito boa! vosmecê, lá pela volta das duas da madrugada,deu p'ra embirrar por tal modo com a roupa, que eu tive de sacar-lhe fora a camisa.— Pois você me despiu, mulher?— E tornei a vestir depois, sim senhora.— E eu não acordei! ...— Ah! Vosmecê agora tem um sono muito ferrado. Quer parecer que acorda,mas qual! está dormindo que é um gosto! abre os olhos, isso abre; passa a mão pelatesta; se lhe dou a água — bebe-a; às vezes levanta-se, quer andar, eu não deixo.Uma ocasião, quando dei fé, já minh'ama se tinha safado da cama e estava a procurarnão sei o que naquele canto do quarto... Por sinal que me pregou um tal 'susto, credo!Magda ficou a cismar com as palavras da criada, estalando sempre a línguacontra o céu da boca. Uma idéia extravagante atravessava-lhe o espírito nessemomento: "E quem sabia lá se aquela mulher não lhe tinha dado sangue a beber?..."Fitou Justina, e com tal insistência, que a rapariga perguntou:— Sente alguma coisa, minh'ama?...— Deixe ver o seu braço.71
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