10.07.2015 Views

O Homem - Unama

O Homem - Unama

O Homem - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.brimensa túnica de veludo verde-negro, que a montanha arrastava, estendendo-asobranceiramente pelo vale. Afinal declinou a luta era a noite que vinha já, com osseus cabelos sempre molhados, a sacudi-os, orvalhando estrelas pelo espaço eapaziguando a terra debaixo das suas asas.Ah! Como Magda amava agora tudo isso! Como estremecia aquelamontanha em que vivera os seus primeiros dias com Luiz! Era lá a pátria da suafelicidade!E ficou a cismar embevecida neste devaneio, revendo-se na sua fraqueza deentão, quando ainda lhe não era permitido dar um passo sem o auxilio do amante. Eveio-lhe uma grande saudade, uma forte vontade desensofrida de rever no mesmoinstante aquele lugar querido, onde ela tanto padecera e gozara ao mesmo tempo!Ao seu lado, Luiz parecia tomado dos mesmos enlevos; e tão distraídos estavamambos, que a moça, sem reparar, colhera uma das tais florzinhas feiticeiras, e ele adeixara colher sem dar por isso.Mal, porém, a flor se desprendeu da haste, um medonho estampido ecooupelo espaço, deslocando o ar e abalando a terra. Magda estremeceu, soltou um gritoe viu, em menos de um segundo, o rio que cercava a ilha levantar-se com ímpeto e,enovelando-se, arrojar-se para cima das margens opostas e rebentar em pororocas,engolindo a terra. E a montanha, com a sua túnica real, e os monarcas da floresta,com os seus diademas cravejados de pedraria, e os prados com as suas cândidasboninas, e os vales com os seus lírios tímidos. tudo defronte dos seus olhos seconvertera rapidamente num oceano sem fim, onde enorme sol vermelho e trôpegose atufava, arquejante, ensangüentando as águas.E Magda, vendo a ilha isolada no meio de tamanho mar, atirou-se ao chão,escabujando em gritos e soluços, e por alguns instantes perdeu de todo os sentidos.Voltou a si chamada por uma voz meiga que lhe dizia:— Magda, minha filha! Valha-me Deus! Valha-me Deus! Até o demôniodaquela pedreira havia de ficar defronte justamente aqui do quarto!.E, reconhecendo a voz do Conselheiro, reconheceu também a da Justina.que exclamava:— Pestes! Atacarem fogo à pedreira sem prevenir nada, sabendo que háaqui uma pobre doente neste estado! É maldade, como não ?Magda, quando abriu os olhos, percebeu que estava nos braços do pai.— Ora graças! Ora graças, minha filha, que recuperas os sentidos!CAPÍTULO XVDe todos os seus sonhos este foi até aí o que a deixou mais vencida pelafadiga e pela vergonha. Duas horas depois de acordada, ainda permanecia nacama, a cismar, sem ânimo de se erguer. Aquele incidente da ilha, em que ela se viacompletamente nua, punha-lhe o espírito em dura revolta, contra a qual adesgraçada antejulgava que não encontraria consolações.68

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!