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www.nead.unama.br— Não sei, é segredo! Foi Deus que assim o quis... Repara: não sedescobre uma só dessas flores pelo chão, e também a gente não as vê nascer;quando vão murchando mudam de cor e revivem.— E não dão fruto!— Nunca.— É esquisito.— E perigoso...— Mas como é que elas prendem a quem lhes toca?...— Pois se é um segredo, como queres tu que eu saiba?...— E nunca tiveste desejos de descobri-lo!— Para que! Sou perfeitamente feliz sem isso...— Não és curioso.— Sou, mas tenho medo de tornar-se desgraçado.Nesta conversa haviam chegado à fralda de um oiteiro coberto de murta eempenachado por um frondoso bosque de bambus.— Este morro divide a ilha em duas partes, explicou Luiz. — Queres subir?Magda consentiu, posto se visse já bastante fatigada e fraca; tanto que, domeio para o fim da viagem, foi preciso que o rapaz a carregasse. Sentia-se quasedesfalecida.— Meu Deus, como estás pálida! Disse ele, pousando-a à sombra dosbambus. — Vou buscar e um pouco d’água ali à fonte. Espera um instante; eu voltojá.— Não, não! Gemeu a moça, segurando-o com ambas as mãos. — Não teafastes de mim! Não é de água que eu preciso, é de um pouco de vida! Sintofugirem-me as últimas forças! Eu preciso de sangue.E fazia-se cor de cera, e fechava os olhos, e entreabria os lábios, como umorfãozinho abandonado que morre à míngua do leite materno.Cortava o coração— Magda! Meu amor! Minha vida! Exclamou Luiz, tomando-a nos braços. —Não desfaleças! Não fiques assim! Desperta!Ela soergueu as pálpebras, e murmurou baixinho, quase imperceptivelmente:— Sangue! Sangue! Sangue, senão eu morro!...— Ah! Fez o moço com vislumbre. E sem sair donde estava, quebrou umespinho de palmeira e com ele picou uma artéria do braço. — Toma! disse,apresentando à amante a gota vermelha que havia orvalhado na brancura da suacarne. — Bebe!Magda precipitou-se avidamente sobre ela e chupou-a com volúpia. Não seergueu logo; continuou a sugar a veia, conchegando-se mais ao amigo, agarrandose-lheao corpo, toda grudada nele, apertando os olhos, dilatando os poros, arfando,suspirando desafogadamente pelas narinas, como se matasse uma velha sededevoradora.66