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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brde quem admira; Magda olhou indiferentemente o teto de cimento, as grossasestalactites pingando sobre as estalagmites com um aprazível ruído de noite deinverno. A umidade da gruta fez-lhe sede; o Conselheiro procurou uma bica edescobriu afinal uma caneca pendurada a um canto, donde jorravam goteiras maisgrossas.— Eu bebo aí mesmo. disse Magda, correndo para ele e arrepanhando assaias, porque o chão era nesse lugar muito encharcado. O Conselheiro notou aimpropriedade daquelas estalactites numa rocha que fingia ser de granito; Magdanão prestou nota à observação científica do pai e enfiou por um corredor àesquerda. Foi dar lá em cima; assentou-se cansada no rebordo onde está a entradapara a caixa d’água. O velho ficou de pé.— Aqui está bom, não achas? Perguntou.Ela não deu resposta. Olhava. A voz de um sujeito, que tinha subida pelolado oposto, espantou-a; a nervosa soltou um pequenino grito e ficou ligeiramentetrêmula.— E' melhor descermos... Aconselhou S. Ex., vendo que dois vagabundosse aproximavam com as suas calças de boca muito larga, a cabeleira maior que aaba do chapéu e grossos porretes na mão.Voltaram pelos fundos da cascata. Um bêbado dormia aí, estendido porterra, meio descomposto, uma garrafa ao lado. O Conselheiro fez um trejeito decontrariedade e seguiu mais apressado com a filha. Quando se acharam fora dagruta, o sol declinava já e as ruas do parque enchiam-se de sombra. Corria entãoum fresco agradável. Anilavam-se as verduras mais distantes; desfolhavam-se osheliotrópios ao tépido soprar da tarde; as amendoeiras desfloreciam, recamando otapete verde de pontos amarelos. Havia uma surda transformação nas plantas;reviviam as flores amigas da noite e começavam a murchar os miosótis e aspapoulas; as árvores sacudiam-se, rejubilavam, aliviadas do mal que lhes fazia tantosol; ouviam-se nas moitas suspiros de desabafo. Os patos e os gansos deslizavamagora vitoriosamente, rasgando com o peito a brunida superfície dos lagos;chilreavam pássaros, saracuras assustadas cortavam de vez em quando o caminho,olhando para os lados; ouviam-se grasnar marrecos e frangos d’água. Tudo estavamais satisfeito. Uma nuvem de gaivotas pairava sobre os tabuleiros verdes,debicando na relva; as cambaxilras saltitavam por toda a parte. Via-se aparecer aolonge, por detrás dos horizontes de folhagem, a agulha da igreja de S. Gonçalo,destacando-se do límpido azul do céu toda esmaltada pelo sol das cinco e meia.Principiava a chegar gente; surgiam homens de palito na boca, o coletedesabotoado sobre o ventre; calcinhas brancas, curtas e mal feitas, mostrando botasempoeiradas; gorduras feias dos climas abrasados; hidroceles obscenas; chapéusaltos ensalitrados de suor. Mulheres da Cidade Nova, com umas caras reluzentes,vermelhas como se acabassem de ser esbofeteadas; portuguesas monstruosas,com umas ancas que pediam palmadas, os pés túrgidos cm sapatos de pano pretosem feitio. "Uma gente impossível!" Magda via-os a todos, um por um, enjoada, como narizinho torcido e cheia de uma secreta vontade de chicoteá-los.Deteve-se para contemplar o grupo muito pulha de L. Despret, logo à direitade quem sai da gruta; um homem, auxiliado por um cão, a lutar com um tigre; mas ohomem corta o peito da fera como se estivesse talhando pão-de-ló, e o cão raspa59

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