www.nead.unama.br— Onde o passeio?— Onde quiseres; em qualquer parte. Está dito?Ela aceitou, com grande contentamento do Conselheiro; e a surpresa destesubiu ao zênite quando viu a filha ordenar ao copeiro que lhe servisse um poucodum roast-beef que estava sobre a mesa.— Bravíssimo! BravíssimoMagda, porém, logo que percebeu sangue no assado, repeliu o prato, aestalar a língua; mas exigiu que lhe dessem sardinhas de Nantes e comeu depoismeia costeleta de carneiro, um pouco de pão, queijo com mostarda, um gole devinho e ainda tomou uma chávena de chá preto. E não sentiu náuseas.O pai ficou louco de contente.— O xarope está produzindo efeito!... raciocinou ele, esfregando as mãos.Ela pôs um vestido de cor, o que havia muito tempo não fazia; e daí a poucoembarcava no carro com o Conselheiro.Mandou tocar para o lado da cidade. — Ah! Estava farta de árvores e deflorestas; agora precisava ver casas, ruas com gente, movimento de povo; paradeserto bastava-lhe o paraíso dos seus sonhos!Durante o caminho mostrou-se de magnífica disposição, conversou bastante,chegou a rir mais de uma vez. Ao passar pelo Campo de Santana apeteceu-lhe entrarno jardim. O carro ficou à espera defronte da Estação de Bombeiros.Eram três horas da tarde quando penetraram no parque. Fazia calor; a areiados caminhos estava quente; os lagos reluziam e os côncavos tabuleiros de grama,que dão vontade à gente de rolar por eles, tinham reflexos de esmeralda nos pontosem que lhes batia o sol; os patos e os gansos amoitavam-se nas touceiras de verdura,à beira d’água, procurando sombra; a mole compacta dos crotons parecia formada deincontáveis retalhozinhos de seda de várias cores; os gordos cactos e as broméliascintilavam como se fossem de aço polido. Mas toda esta natureza simétrica, medidacomo que metrificada e até rimada, parecia mesquinha em confronto com asluxuriantes paisagens, que Magda sonhara naquelas últimas noites. Todavia, nem porisso deixou de impressioná-la, trazendo-lhe ao espírito recordações vexativas; pormais de uma vez sentiu a moça subir4he o sangue às faces, à maneira do seu delito;mas não falou em retirar-se; apenas propôs ao pai que descansassem um pouco.O Conselheiro levou-a até à cascata. Aí estava com efeito muito maisagradável; fazia inteira sombra, e a água, que caía lá do alto, esfarelando-se contraos pedregulhos artificiais, refrescava o ar e punha-lhe um tom úmido de beira depraia. Magda ficou um instante à entrada da gruta, apoiada na corrente da ponte,entretida a olhar os peixinhos vermelhos que nadavam em cardumes por entre asilhotas de pedra. O velho esperava ao lado, em silêncio, sem nenhuma expressãona fisionomia, com uma paciência de pai; ao penetrarem na gruta, ele percebeu queo braço da filha tremia.— Sentes alguma coisa?...— Não. E' que isto escorrega tanto...Lá dentro havia um casal que se retirou com a chegada deles, conversandoem voz baixa e afetando grande interesse na conversa. S. Ex. teve um gesto largo58
www.nead.unama.brde quem admira; Magda olhou indiferentemente o teto de cimento, as grossasestalactites pingando sobre as estalagmites com um aprazível ruído de noite deinverno. A umidade da gruta fez-lhe sede; o Conselheiro procurou uma bica edescobriu afinal uma caneca pendurada a um canto, donde jorravam goteiras maisgrossas.— Eu bebo aí mesmo. disse Magda, correndo para ele e arrepanhando assaias, porque o chão era nesse lugar muito encharcado. O Conselheiro notou aimpropriedade daquelas estalactites numa rocha que fingia ser de granito; Magdanão prestou nota à observação científica do pai e enfiou por um corredor àesquerda. Foi dar lá em cima; assentou-se cansada no rebordo onde está a entradapara a caixa d’água. O velho ficou de pé.— Aqui está bom, não achas? Perguntou.Ela não deu resposta. Olhava. A voz de um sujeito, que tinha subida pelolado oposto, espantou-a; a nervosa soltou um pequenino grito e ficou ligeiramentetrêmula.— E' melhor descermos... Aconselhou S. Ex., vendo que dois vagabundosse aproximavam com as suas calças de boca muito larga, a cabeleira maior que aaba do chapéu e grossos porretes na mão.Voltaram pelos fundos da cascata. Um bêbado dormia aí, estendido porterra, meio descomposto, uma garrafa ao lado. O Conselheiro fez um trejeito decontrariedade e seguiu mais apressado com a filha. Quando se acharam fora dagruta, o sol declinava já e as ruas do parque enchiam-se de sombra. Corria entãoum fresco agradável. Anilavam-se as verduras mais distantes; desfolhavam-se osheliotrópios ao tépido soprar da tarde; as amendoeiras desfloreciam, recamando otapete verde de pontos amarelos. Havia uma surda transformação nas plantas;reviviam as flores amigas da noite e começavam a murchar os miosótis e aspapoulas; as árvores sacudiam-se, rejubilavam, aliviadas do mal que lhes fazia tantosol; ouviam-se nas moitas suspiros de desabafo. Os patos e os gansos deslizavamagora vitoriosamente, rasgando com o peito a brunida superfície dos lagos;chilreavam pássaros, saracuras assustadas cortavam de vez em quando o caminho,olhando para os lados; ouviam-se grasnar marrecos e frangos d’água. Tudo estavamais satisfeito. Uma nuvem de gaivotas pairava sobre os tabuleiros verdes,debicando na relva; as cambaxilras saltitavam por toda a parte. Via-se aparecer aolonge, por detrás dos horizontes de folhagem, a agulha da igreja de S. Gonçalo,destacando-se do límpido azul do céu toda esmaltada pelo sol das cinco e meia.Principiava a chegar gente; surgiam homens de palito na boca, o coletedesabotoado sobre o ventre; calcinhas brancas, curtas e mal feitas, mostrando botasempoeiradas; gorduras feias dos climas abrasados; hidroceles obscenas; chapéusaltos ensalitrados de suor. Mulheres da Cidade Nova, com umas caras reluzentes,vermelhas como se acabassem de ser esbofeteadas; portuguesas monstruosas,com umas ancas que pediam palmadas, os pés túrgidos cm sapatos de pano pretosem feitio. "Uma gente impossível!" Magda via-os a todos, um por um, enjoada, como narizinho torcido e cheia de uma secreta vontade de chicoteá-los.Deteve-se para contemplar o grupo muito pulha de L. Despret, logo à direitade quem sai da gruta; um homem, auxiliado por um cão, a lutar com um tigre; mas ohomem corta o peito da fera como se estivesse talhando pão-de-ló, e o cão raspa59
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