www.nead.unama.br— Em breve estarás perfeitamente boa e serás completamente feliz! disse ooutro, e soltou-lhe um beijo na boca. Magda percebeu então que o hálito do moçotinha o perfume de murta, e que as barbas dele eram agora mais macias do que osarminhos da sua saída de baile. E, encantada com a descoberta, notou ainda que asmãos do cavaqueiro já não eram tão duras e mal tratadas, mas bem torneadas e deuma flexibilidade muito enérgica e nervosa; que o cheiro do seu corpo já nãotresandava a cavalo suado, mas rescindia a um odor fecundo de carne sadia elimpa, lembrando o cheiro de leite fresco; que os seus dentes eram alvos e puroscomo as areias da praia; que o seu peito era mais branco e mais rijo que o granitoda pedreira; que os seus cabelos, roçando nela, acordavam desejos, e que seusbraços eram cadeias de fogo em que toda ela se abrasava de amor.— Gostas de me ter a seu lado?... Perguntou ele.— Tu restitues-me a vida... Respondeu Magda, cingindo-o pelos rins epousando o rosto abatido e frio sobre o colo vigoroso e largo do amigo. — Oh!balbuciou depois, aconchegando-se mais — como eu me sinto bem assim! Com acabeça aqui! A gozar nos meus peitos o calor do teu corpo! Deixa-me ficar ainda!Deixa-me ficar um instante, meu senhor e meu amado!E apertava-o nos míseros braços, fechando os olhos e aspirando com força,como se quisesse sorver de um só hausto, a vitalidade que ele de si exalava, maiscapitosa que o vapor de um vinho velho fervendo ao fogo.— Tu és só meu?— Todo teu e para sempre!— Nunca amarás outra mulher?— Não, Magda, nunca!— Se me esqueces por outra, eu morreria de ciúmes, antes que as feras medevorassem aqui! Olha! vê como, só com pensar nisto, tremo toda...Ele puxou-a de vez para o seu colo e afagou-a.— Não chores, disse. — Descansa, que nunca mais nos separaremos. Euserei eternamente o teu companheiro, o teu amigo, o eu esposo! Quando te sentirescom força, irás a pé, pelo meu braço, passear ao outro lado da montanha, que aindaé mais belo do que este. Depois chegaremos até lá em baixo, no vale, ondeencontrarás tudo o que de melhor há na vida: os mais saborosos frutos, as floresmais mimosas, as aves mais lindas, as águas mais puras, o sol mais carinhoso e osseres mais benfazejos da natureza. Lá tudo é nosso amigo; tudo nos ama; nenhumaente da terra te fará mal, porque aqui tu és rainha e eu sou o rei. Não tenho para teoferecer aposentos como os de teu pai; não tenho carruagens, nem sedas, nembaixelas de prata; mas, em compensação, nenhuma outra te disputará o poder sobreestes teus domínios, nem o amor deste teu escravo! Quando sentires vontade decomer, eu irei buscar os pomos mais suculentos e gostosos; quando tiveres sede, eutrarei nas minhas mãos a água mais cristalina das nossas fontes; quanto te sentirescansada, eu te carregarei nos meus braços. Eu percorrerei o mundo inteiro para tematar um desejo! E, quando dormires, estarei a teu lado, pedindo a Deus que te dêbons sonhos e encha tua alma de consolações.— Como sou feliz agora, meu amigo...— Sim, tu serás muito feliz, porque aqui não haverá ódios nunca, neminvejas, nem ambições, nem vícios; aqui só o amor existe! Este é o seu reino; nadaaqui vive senão dele e para ele! Amarmo-nos será o nosso único destino e o nosso50
www.nead.unama.brúnico dever. Desde que o não fizéssemos, seríamos logo expulsos deste paraíso porindignos e maus, e teríamos de ir chorar a nossa miséria lá na outra existência, ondeos homens se detestam e atraiçoam a todo momento. Vês estas árvores, estespássaros, todo este mundo alegre e feliz que canta em torno dos nossos beijos! poistodo ele vive só para se amar! Vê! repara como todos crescem aos pares; comoconcebem e como produzem! Olha para cima da tua cabeça; olha para debaixo dosteus pés; olha para os lados e observa! — Está tudo amando? Em cada beijo quedamos, um infinito de vidas se forma entre nossos lábios!— E há quanto tempo vives aqui neste reino encantado do amor?— Não sei; não me lembra como vim ao mundo, nem conheci o autor dosmeus dias; porém, à força de pesquisas, cheguei a crer que sou o mais recenteproduto de uma geração privilegiada, que chegou mais depressa do que as suascongêneres ao meu estado de aperfeiçoamento. O fundador da minha dinastia erade sílex, nasceu com o mundo, e, no entanto, meu pai era já nada menos que umquadrúmano; de mim não sei ainda o que sairá...— Mas tu estão não é o moço da pedreira?...— Tolinha! Aquilo foi um disfarce que tomei para te poder alcançar.-— Como assim?— Desejei-te e jurei que havia de possuir-te. Mas como me aproximar deti?... Lembrei-me da pedreira que fica defronte da tua janela, tomei a forma de umcavouqueiro e comecei a namorar-te, a empregar todos os meios para atrair-te. Tu aprincípio te negaste; eu, porém, não desanimei e todos os dias te chamavacantando. Afinal, uma bela tarde, não pudeste mais resistir, e lá foste. Estava ganhaa vitória! Fiz logo com que perdesses os sentidos; ofereci-me a teu pai paratransportar-te nos meus braços e, assim que te pilhei no colo, penetrei-te com o meudesejo e com o meu amor; enleei-te toda no meu querer, e então, quando já te nãopossuía, fui buscar-te num sonho, e hoje és minha para sempre!— Sim, sou tua. toda tua, não há mais dúvida; és o meu dono, pertenço-te;mas uma coisa não compreendo...— Que é?— A razão porque, para me seduzires, tomaste a forma de um grosseirotrabalhador de pedreira e não de elegante e gentil cavalheiro, que houvessepenetrado nas salas de meu pai e de mim se apossado licitamente, por meio docasamento...— Tão tolo sou eu que caísse na asneira de namorar-te sob a forma de umhomem de sociedade; porque, se assim o fizesse, lograria apenas impressionar-te oespírito, já tão viciado pela própria sociedade; e não conseguiria por em jogo os teussentidos, como obtive disfarçado em simples trabalhador, de corpo nu, forte, inteiro,e de homem para toda a mulher! Se eu tomasse a forma de um janota, não estariasa estas horas aqui comigo, porque tu não me seguiste seduzida pela minhainteligência, que te não mostrei; nem pela minha riqueza de caráter, que escondi;vieste pura e simplesmente arrastada pela minha beleza varonil e pelamasculinidade do meu corpo! Se eu me tivesse apresentado a ti sob a forma de umelegante rapaz, desconfiarias de mim, como desconfiaste de tantos que tepretenderam; havias de supor-me tão corrompido e tão inutilizado como os outros;não acreditarias na integridade do meu sangue, na sinceridade de minha saúde, eainda menos na do meu amor. E, quanto ao fato de justificar a nossa união pelocasamento, para que e porque semelhante formalidade pueril e ridícula... Ocasamento é a prova pública do amor, e nós por enquanto não temos público! Deixa51
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