www.nead.unama.brSegundo o que sabia, toda a gente, este Fernando era um afilhado, que oSr. Conselheiro adotara por compaixão e a quem mandara instruir; o certo é que oestimava muito e não menos verdade era que o rapaz merecia esta estima; derasempre boas contas de si, e desde o colégio já se adivinhava nele um homem útil ehonrado. Um belo dia, porém, quando andava no penúltimo ano de medicina, opadrinho chamou-o ao seu gabinete e disse-lhe que, de algum tempo àquela parte,observava-lhe com referência a Magda uma certa ternura, que não lhe pareciainspirada só pela amizade.Fernando sorriu-lhe e fez-se um pouco vermelho.— Com efeito, confessou, havia já bastante tempo que sentia pela filha doseu padrinho muito mais do que simples amizade. E toda a sua ambição, todo o seudesejo, era vir a desposá-la logo que se formasse; tanto assim, que tencionava, malconcluísse os estudos, pedi-la em casamento.— Isto é impossível!— Impossível? Interrogou o rapaz erguendo os olhos para o Conselheiro. —Impossível, como?O velho fez um gesto de resignação e acrescentou em voz sumida:— Magda é tua irmã.— Minha irmã...?Houve um constrangimento entre os dois. No fim de alguns segundos, oConselheiro declarou que não tencionava fazer tão cedo semelhante revelação, eque nem a faria se a isso o não obrigassem as circunstâncias.Fernando estava abismado. Sua irmã. Visto isto — toda essa história, queele conhecia desde pequeno; essa história, em que figurava como filho de um pobremarinheiro viúvo, falecido a bordo, era...— Uma fábula, concluiu o pai de Magda, sempre de olhos baixos. —Inventei-a para esconder a minha culpa.O moço teve um ar de censura.— Bem sei que fiz mal, prosseguiu o velho, hesitando em levantar a cabeça.— Mas não podia declarar-me teu pai sem prejuízo de tua parte e sem enxovalhar amemória daquela que te deu o ser. Era casada com outro e tu nasceste ainda emvida de minha mulher. O marido de tua mãe estava ausente quando vieste aomundo; ignorou sempre a tua existência, e enviuvou quando tinhas apenas doisanos de idade. Eu então carreguei contigo para casa, inventei o que até aquisupunhas verdade e nunca mais te abandonei.Fernando deixou-se cair numa cadeira. O pai continuou, aproximando-semais, e falando-lhe em surdina:— Minha intenção era esconder esse segredo até no dia em que depois deminha morte, viesses a saber que estavas perfilado por mim e contemplado nasminhas disposições testamentárias; mas — o homem põe e Deus dispõe — parameu castigo, quis a fatalidade que te agradasses de tua irmã e, como bem vês, só4
www.nead.unama.brme restava agora confessar francamente a situação. Ficas, por conseguinte,prevenido de que, de hoje em diante, deves empregar todos os meios para afastardo espírito de Magda qualquer esperança de casamento, que ela por venturamantenha a teu respeito...Fernando declarou que preferia desaparecer dali. Partiria no primeiro vaporque encontrasse.Não! Isso seria loucura! Ele estava bem encaminhado e pouco lhe faltavapara terminar a carreira... Que se formasse e partiria depois.— Olha, concluiu o velho, passado um instante — caso prefiras estudarainda um pouco na Europa, vê o lugar que te serve e conta comigo. Não sou rico,mas também não és extravagante; apenas o que te peço é que, de modo algum,reveles a tua irmã o que acabas de saber. Será talvez uma questão detemperamento, mas creio que morreria se o fizesse.Quando o Conselheiro terminou, Fernando chorava.— E o marido de minha mãe? Perguntou.— Há dez anos que morreu; não deixou parentes.E o pai de Magda, vendo que o filho parecia sucumbido, passou-lhe o braçonas costas: — Então! Vamos, nada de fraquezas! Um abraço! E que esta conversafique aqui entre nós dois.O rapaz prometeu e jurou que ninguém, e muito menos Magda, ouviria desua boca uma só palavra sobre aquele assunto. O velho agradeceu o protesto comum aperto de mão; e ficaram ainda alguns momentos estreitados um contra o outro,até que o Conselheiro se retirou, a limpar os olhos, e o rapaz caiu de novo nacadeira, dobrando os cotovelos sobre uma mesa e escondendo no lenço os seussoluços, que agora lhe rebentavam desesperadamente.Foi Magda quem veio despertá-lo dali a meia hora, depois de o haverprocurado embalde por toda a casa.— Ora, muito obrigado... Ia dizer, mas deteve-se, intimidada pela expressãoque lhe notara na fisionomia. — Que era aquilo?... Ele estava chorando?...— Ó senhores! Hoje nesta casa estão todos amuados! Ao outro encontrochorando, que nem um bebê; este diz-me que não está bom e que eu entretenha-mecom a tia Camila! Ora já se viu!O pai afagou-lhe a cabeça. — Esta tolinha!...— Mas, papai, que tem o Fernando?— Não sei, minha filha.— Diz que um amigo dele está muito mal...— Pois aí tens...— E você, papai, por que está triste? — Não estou triste, apenaspreocupado. Não é nada contigo. Política, sabes? Mas vai, vai lá para dentro, quetenho que fazer agora.— Política!...5
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