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O Homem - Unama

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www.nead.unama.br— Vou comprara um bilhete inteiro! Deliberou consigo Luiz, guardando acédula na algibeira.Luiz era filho da tia Zefa, e morava com esta, mais a avó e mais a Rosinha,irmã de Justina e noiva dele, na tal casita de duas janelas, com entrada pelaestalagem que ficava em frente da chácara do Sr. Conselheiro. Viera novo para oBrasil, onde se achava perfeitamente aclimado; não sabia ler nem escrever; tinha,porém, força e saúde, "que é o principal para quem deseja ganhar a vida". O seucasamento estava já para se realizar havia um ano, porque Luiz queria fazer coisaaceiada. "Não! Que para um homem atrasar a vida, junto com a da mulher, antesfique solteiro! A pequena que esperasse , que o que tinha de ser dela às mãos lhechegaria! Com outra não se casava — isso é que era dos livros! Ah! se a fortuna selembrasse dele, já tudo estaria feito; mas o diabo da sorte andava arisca; todos osvigésimos da loteria, que ele comprara às ocultas da mãe e da avó, saíram-lhebrancos... Só mesmo podia contar com o triste peculiozinho do trabalho; overdadeiro, por conseguinte, era ir se preparando aos poucos — hoje com umacoisa, amanhã com outra, conforme desse o cobre e conforme as pechinchas queaparecessem. Seu padrinho de batismo, um velhote apatacado que emprestavadinheiro a juros, esse prometera entrar com uma famosa cama de jacarandá, quetinha em casa e da qual não se servia desde a morte da mulher. Ah! esse não era oComendador! Muito seguro, muito apertado, não havia dúvida! mas, também,prometendo, podia a gente contar com o bruto — a cana era certa! Ora, pois, com odinheiro que lá estava na Caixa Econômica, ele teria um fato novo e um arranjo deroupa branca. Vinte e cinco mi réis seriam para um relógio de prata dourada, dosmodernos. — Isso era sagrado! Porque ele não admitia que ninguém se casassesem ter relógio e corrente. Corrente já tinha — cordão de ouro que foi do pai e quevivia fechado na cômoda da tia Zefa ao lado dos ouros da família."E estava a ver defronte dos seus olhos todo aquele tesouro: grandes rosetasredondas e abertas, do tamanho de moedas de vintém; anelões de chapa em cima;um crucifixo de trazer ao pescoço em dias de festa; uma figa que era uma riqueza,no peso; um alfinete de peito representando um anjo a tocar trombeta; três pulseiraslisas e polidas; outras de coral com fecho de ouro; vários objetos de filigrama deprata fabricados no Porto; um paliteiro e dois castiçais também de prata, sem contarcom dois diamantezinhos que a vovó ganhara aos vinte anos, quando se casou, eque fazia questão de levá-los às orelhas para a sepultura. "Era lá mania da velhinha— respeitava-se!""Ora... a Rosinha, além de tudo, tinha também os seus cobritos juntos; porconseguinte, Luiz, com mais algum tempo de economias, bem que podia casar comela". Foi sacudido por este risonho raciocínio que o cavouqueiro, já de volta doserviço, entrou em casa às sete da noite, mais satisfeito que de ordinário, graças àgorjeta do pai de Magda, e talvez por haver tomado depois do trabalho algunsmartelos de vinho com os companheiros.A pequena sentiu-lhe cheiro de bebida logo que ele entrou.— An... an...! Você hoje entortou o cotovelo, hein, seu Luiz? Muito bonito!— Um nada! Foi para beber à saúde da moça dali defronte...— A filha do Conselheiro... Ah! E deram a molhadura?— Já se deixa ver que sim, Mas aviem-me esse jantar, que estou a tinir!47

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