www.nead.unama.br— Nesse caso, porque não aceitou o Conde do Valado?— Um libertino!— Não é tanto assim.— Um vicioso comum que, se deixa de falar um instante em cavalos, é paradiscutir cocotes.— Que exagero! Não direi que os seus costumes sejam tão puros como osdo comendador José Furtado ou como os do Dr. Tolentino, mas é um mocó ilustre,descendente em linha reta de uma das mais importantes casas de Portugal. Seusavós figuraram todos na história e o seu nome tornaria fidalga a mulher que opossuísse!— Eu não preciso de nobreza!— Não precisas de nobreza; não precisas de ciências; não precisas dedinheiro! Então de que diabo precisas tu?— De um homem...— Um homem! Quanta desfaçatez! De que precisavas, grandíssimadesavergonhada, era de uma boa carga de pau, para te apagar o fogo do rabo!E o velho, possuindo-se de novo acesso de cólera, estendeu o braço,enxotando a filha e mais o moço da pedreira.— Já! Rua seus bandalhos! E que eu nunca mais lhes ponha a vista emcima! Estão amaldiçoados!— Meu pai! Meu pai!— Aqui já não há pai, nem mãe! Não sou pai de mulheres à-toa! Ponham-sea andar, e que sejam muito felizes! Boa viagem!— Deixe-me ao menos ir lá dentro buscar as minhas jóias, um pouco deroupa e os meus livros...— Jóias, roupas, livros! Para que? A senhora já não tem tudo quanto deseja,para que mais?... As boas roupas fizeram-se para os nobres, as jóias para os ricos eos livros para os sábios! A senhora nada tem que ver com esta gente e com estascoisas! Só queria "um homem", pois já o tem! É andar! Ele que lhe compre jóias; quese encarregue de vesti-la, de sustentá-la e de consolá-la. Tem obrigação disso; e, senão dispõe de meios, invente-os — trabalhe! Se não puder tratá-la a bicos derouxinol, comam feijão com carne seca, que a senhora tem obrigação de contentarsecom o que ele lhe der! É o "seu homem" e, por conseguinte, é quem de hoje emdiante a governa com direito de vida e de morte! Acompanhe-o submissa para ondeele for, seja para o inferno ou seja para o paraíso! A partir desse momento— o seudestino é o dele! E deixem-me!— Meu pai!— Foi tempo! Nada mais há de comum entre nós! Para continuar a ser seupai, seria preciso que eu me fizesse pai também daquele pedaço d’asno; e eu nãoquero ter filhos de tal espécie!E S. Ex,. notando que Magda não se resolvia a largar-lhe as pernas econtinuava a chorar, ordenou, voltando-se para o cavouqueiro:— Olá, seu coisa!Tome conta dessa mulher! É sua! Pode levá-la para onde bem entender!— Ah! Exclamou a filha, caindo por terra, de borco, com os braçosestendidos no chão, enquanto o velho, arrepanhando a sua túnica da cor simpática42
www.nead.unama.bràs histéricas, se afastava para casa, muito fresquinho e senhor de si, assoviando, decabeça impertigada, nem como se a coisa tivera sido com ele.Magda permanecia de bruços, a soluçar. Então o mocó da pedreira inclinousesobre ela e deu-lhe com toda delicadeza um ósculo nos cabelos. Depois tomou-aao colo e pôs-se a caminhar, vagarosamente, muito vagarosamente, na direção dafatal montanha onde ele trabalhava. E toda a natureza, que parecia haver entristecidoe tomado luto com a maldição do velho, começou a reanimar-se, a rir de novo,tingindo-se de luz purpúrea e entoando em voz baixa epitalâmios sensuais. E os dois,abraçados, formando um só grupo, lentamente penetraram numa deliciosa alamedade laranjeiras, cujos galhos se vergavam na sua passagem para lhes beijar a fronte,derramando-lhes sobre a cabeça uma odorífera chuva de flores desfolhadas. E do céubaixava doce harmonia religiosa, que parecia balbuciada por uma nuvem de anjos.Nisto — despertou.Circunscreveu o olhar em torno de si, reconhecendo a custo a própriaalcova. O seu pequeno relógio Luiz XV, de bronze dourado, marcava, no mostradorde porcelana de Sèvres esmaltada, meia hora depois do meio-dia. Uma cortinacinzenta, de seda de Leão, quebrava na janela a luz que batia de fora, e dava aoquarto o tom opalino de um crepúsculo de inverno. Magda suspirou, espreguiçandose.O drama fantástico de toda aquela noite dissolveu-se: teatro e personagensdesapareceram. Mal ouvia-se, ainda, bem distintamente, o tal coro religioso quebaixara dos céus para solenizar a sua passagem na encantada alameda; a moçasoergueu-se no leito, concheando a mão no ouvido que ficava do lado da janela e,meio maravilhada, pôs-se a escutar com atenção aquela tristonha cantilena quepersistia ali, na vida real, como um prolongamento do sonho.Caiu logo em si: era a toada melancólica dos trabalhadores que minavam apedreira. E ali deixou-se tombar de novo sobre os travesseiros e aí permaneceu,com os olhos muito quietos, enquanto duas lágrimas lhe serpeavam ao compridodas faces.Oh! Sentia-se profundamente envergonhada do que sonhara a noite inteira.— Minha’alma, rosnou a nova criada, afastando o reposteiro da porta com acabeça — o senhor mandou perguntar como vosmecê passou de ontem p’ra hoje.—Diga-lhe que pode vir daqui a pouco, e você volte já para me vestir.Quando se achou preparada, foi esperar o pai na sal contígua à sua alcova.— Então, minha filha, como passaste a noite.— Bem, respondeu ela, beijando-lhe a mão.— Dormiste?— Bastante.— Pareces-me, no entanto, fatigada... Como te sentes hoje de humor! — Nomesmo.— Aquela loucura de ontem...Magda estremeceu e abaixou as pálpebras. Dir-se-ia que o pai lhe lançavano rosto uma falta humilhante.— Ficaste tão apreensiva com a tal subida da pedreira que...— É melhor não falarmos mais nisso...43
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