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O Homem - Unama

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www.nead.unama.br— Piedade, meu pai! Piedade!— Qual piedade, nem qual carapuças! Não fosse tão assanhada!— Tenha compaixão de dois infelizes, cuja falta foi só uma e única...— E acha pouco, sua desavergonhada? Acha talvez que esta não bastapara me fazer subir ao arame! Tem graça!E, enquanto a filha soluçava, sem erguer os olhos: — Ingrata! Eu a matar-mepara a fazer gente; para lhe ar uma certa educação — e ela a meter-me os pés! Criaruma filha com tanto carinho, para vê-la depois entregue a um homem de pedreira!...— Perdoe, meu pai!— Não perdôo nada!— Juro-te que não tenho culpa do que sucedeu...— Perversa! Eu a sacrificar-me a instruí-la e arranjar-lhe um futuro, e ela asujar-se de lama e a cobrir-me de vergonhas!— Não fui eu, papai, foi a minha natureza; foi a minha carne; foram os meussentidos!...— Qual carne, nem qual sentidos! A patifaria tem sempre desculpas!Fez uma pausa e prosseguiu depois, comovendo-se, mal grado seu: — Deilhetudo o que se podia desejar! Foi já o professor de piano; foi já o professor decanto; foi já o mestre de desenho! E venha o explicador de francês! E venha outropara história e geografia pátria! E outro para isto! E outro para aquilo! E compre-semais este dicionário! E assine-se mais este jornal! E corra-se aos Castelões a buscaro camarote do Lírico! E olhe o carro que não esqueça! E veja essa luva de vintebotões que saia! E venha a bela da jóia! E venha o belo vestido de seda! E olhe ochapéu à Sarah Bernhardt! E olhe as regatas! E olhe as corridas! E dêem-se festastodos os meses! E façam-se viagens à Europa! — E tudo isto afinal p’ra que? —Sim! Tudo isto p’ra que?! Só quero que me digam de que serviu tanto sacrifício!— Perdoe-me!— Não! Não perdôo, nem devo perdoar! Se queria casar, há muito tempoque o podia ter feito; o que não lhe faltou foram pretendentes! A senhora torceu onariz a todos! E, logo que o Dr. Lobão me fez ver a necessidade urgente de uni-la aalguém, trouxe-lhe o meu amigo José Furtado!— Um velho!— Não será uma criança, mas também não é nenhum bisavô! Outraqualquer a teria agarrado com unhas e dentes! Um homem de conta, peso e medida!— Pudera! Principiou a vida a limpar pesos e balanças!— E que tem isso? Um homem honrado, trabalhador e econômico. Entrouna vida com um barril nas costas, mas hoje é uma das mais sólidas fortunas do Riode Janeiro!— Não é de dinheiro que eu preciso!— Pois então casasse com o Dr. Tolentino...— Um defunto!— Defunto! Não terá uma saúde perfeita, coitado, mas é uma das mais bemconstituídas cabeças do Brasil. Muito talentoso, muito ilustrado! Membro daSociedade de Geografia de Lisboa, e consta até que vai receber diploma de sócionão sei que importante congregação científica da Bélgica!— Também não é de ciência que eu preciso!41

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