www.nead.unama.br— Ah!... Respirou, igual ao cego que obtém, depois de grandes esforços,chegar ao ponto que deseja. E olhou à toa para os fundos do céu que se estendiamlá por detrás do horizonte. E seu olhar errou pelo espaço, perdido como andorinhadoida a que roubassem o ninho, percorrendo inquieta e tonta, de um só vôo, léguase léguas de azul, até ir afinal cair prostrada, de asas bambas, no cimo da pedreiraque lhe enfrontava com a janela.Prendeu-lhe toda a atenção o que se passava ali; os trabalhadoressuspendiam por instante o serviço, alvoroçados com a chegada de uma raparigonaque lhes levava o jantar. Que alegria! A cachopa era sem dúvida mulher de umdeles, o mais alto e mais barbado, porque ela, mal soltou no chão o cesto decomida, lhe arrumou uma carícia de gado grosso um murro nos rins, e retraiu-selogo, a rir, toda arrepiada, esperando que o macho correspondesse. Este cascalhouuma risada de gozo alvar e ferrou-lhe na anca a sua mão bruta de cavouqueiro, tãoescrostada e escamosa, que se não podia abrir de todo. Depois; acercaram-se deum pedaço de pedra, em que a mulher foi depondo o que trouxera na cesta; e decócoras, ao lado uns dos outros, puseram-se todos a comer sofregamente, no meiode muito rir e palavrear de boca cheia.Magda, sem conseguir escutar o que eles tanto conversavam, não lhestirava os olhos de cima, profundamente entretida em ver aquilo. E, coisa estranha,em tal momento daria de bom grado os melhores diamantes que possuía para ter alium pouco do que eles comiam lá no alto da pedreira com tamanha vontade. Ela, quejá não podia sofrer os imaginosos acepipes da mesa de seu pai, sentia vir-lhe águaà boca pela comida dos trabalhadores, e até parece incrível, tinhas desejos de beberda mesma garrafa em que eles bebiam pelo gargalo, fazendo questão para quenenhum lograsse ao outro.No dia seguinte, justamente àquelas horas, apresentou-se ao pai, já vestidae pronta para sair.— Bravo! Exclamou o Conselheiro, surpreendido pela novidade — Bravo!Muito bem!E marcou apressado a página do livro que estava lendo e, como se temesseque a filha mudasse de resolução, correu logo a buscar o chapéu e a bengala. "Oraaté que enfim aquela preguiçosa se resolvia a passear!"Quando se achavam na rua, Magda foi tomando a direção da pedreira; o paiacompanhou-a sem proferir palavra. Só pararam lá perto.O morro, com as suas entranhas já muito à mostra, arrojava-se para o céu,como um gigante de pedra violentado pela dor; via-se-lhe o âmago cinzentoreverberar à luz do sol, que parecia estar doendo. E enormes avalanches de granito,ruídas e arremessadas pela explosão da pólvora, acavalavam-se em ciam à base darocha, lembrando estranha cachoeira que houvera-se petrificado de súbito. Cá embaixo, daqui e dali, ouviam-se retinir ainda o picão e o macete, e lá no alto, noescalavrado cume do penhasco, quatro homens, agarrados com todos os dedos aum imenso furão de ferro, abriam penosamente uma nova mina no granito, gemendoem tom monótono e arrastando uma toada lúgubre.De cada vez que eles suspendiam a formidável barra de ferro paradeixarem-na cair novamente dentro do furo, recomeçava o choro lamentoso que, detão triste, parecia uma súplica religiosa.36
www.nead.unama.br— Vamos lá?... Propôs Magda ao pai, depois de admirar de perto aquelemonstro que ela contemplava todos os dias da janela gradeada do seu quarto.— Onde, minha filha?... Perguntou o Conselheiro, sem ânimo de acreditar noque ouvia.— Lá em cima, onde aqueles homens estão brocando a pedra. Quero veraquilo.— Estás sonhando, ou me supões tão louco que consinta em taltemeridade? Esta pedreira é muito alta!— Não faz mal...— Sentirás vertigens antes de chegar ao fim!— Mas eu quero ir!— Deixa-te disso.— Ora que me hão de contrariar em tudo!— É que é uma imprudência sem nome o que desejas fazer, minha filha!Já amuada, soltou-se do braço do pai e correu para os lados por onde sesubia à montanha.— Espera aí! Gritou o velho tentando alcançá-la! Espera aí, caprichosa! Eute acompanho!A caprichosa havia galgado o primeiro lance de pedra.A subida foi penosa.Ah! O caminho era muito estreito, irregular e coberto de calhaus. O pé àsvezes não encontrava resistência, porque o cascalho rodava debaixo dele.Mas subiam. Magda, sem querer dar parte de fraca, segurava-se arquejanteao braço do pai; este mesmo, porém, sabe Deus com que heroísmo conseguia nãoperder o equilíbrio.— Vamos adiante! Vamos adiante! Dizia ela, quase sem fôlego.— Descansemos um pouco, minha filha.Não, ela não descansaria, enquanto não alcançasse o morro. Felizmente ocaminho em cima era quase plano e com pequeno esforço chegava-se daí ao lugaronde trabalhavam os quatro homens. Mais um arranco, e lá estariam.Afinal conseguiram chegar. Mas, ah! Quando a pobre Magda, toda trêmula eexausta de forças, já no tope da pedreira, defrontou com o pavoroso abismo debaixode seus pés, soltou um grito rápido, fechou os olhos, e teria caído para trás, se oConselheiro não lhe acode tão a tempo.— Magda, minha filha! Então! Então!Ela não respondeu.— Está aí! Está aí o que eu receava! Lembrar-se do subir a estas alturas!...E agora a volta...?— Pode voscência ficar tranqüilo por esse lado, arriscou um doscavouqueiros, que se havia aproximado, a coçar a cabeça. — Se voscência quiser,eu cá estou para por esta senhora lá em baixo, sem que lhe aconteça a ela a menorlástima.— Ainda bem! Respondeu S. Ex. com um suspiro de desabafo.37
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