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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brque só amam depois de grandes sacrifícios; depois de muita noite perdida e muitosono interrompido. Nascera enfermeira, nascera para os fracos; gostava deencarregar-se de crianças e, quanto mais achacadinhas fossem estas tanto melhor.Os raquíticos, os aleijados, eram gente da sua predileção. Com o leite do seu últimopequeno criara um fedelho, que estava morre-não-morre quando lhe foi parar àsmãos; pois ela, depois de salvar-lhe a vida, a custo de longos meses de desvelosem descanso, tomou-lhe tal carinho que o queria mais do que ao próprio filho, ummaroto este, forte e sadio como um bezerro. "Um coisinha ruim! Afirmava sorrindo.—Não há mal que lhe entre! Nunca vi! — nem chora, o brutinho, Deus me perdoe!"Magda quis saber onde é que ela estivera até então empregada; qual a casadonde vinha.— Em parte alguma, não senhora. Morava com a tia Zefa ali mesmodefronte, naquela casinha de duas janelas com entrada pela estalagem.— Que gente vem a ser essa?— A tia Zefa é filha da velha Custódia; lavadeiras, como não? Vem já de trásestas amizades! Nós, por bem dizer, fomos criados pela tia Zefa; foi de lá que eu saípara casar, e minha mana, a Rosinha, vosmecê não conhece, essa ainda mora comela.— Ah! Tem uma irmã...— Então! Muito mais nova do que eu. Solteira, mas já tem o seu noivo. Nãoé por ser minha irmã, porém é uma rapariga que se pode ver! O Luiz...— Bem, bem! Você então traz um filho em sua companhia!— Ora coitado! Não há de incomodar... E, se fizer tolo, carrego-o logo lá p’radefronte, que a velha é perdida por ele. Se o é! Dá-lhe um tudo! Não viu vosmecêaquele chapeuzinho de pluma com que ele veio ontem? Pois quem foi que o deu?Foi ela!E riu-se toda.— Bem, bem, trate de ir buscar o que é seu e tome conta desse quarto aí aopé, porque, não sei se sabe, você tem de fazer-me companhia à noite. Ando muitodoente e às vezes é preciso que me dêem o remédio, compreende?— Como não, minh’alma? Pode vosmecê ficar descansada por esse lado,que esta que aqui está não lhe dará razões de queixa!E já parecia radiante com aquela expectativa de ter uma enferma à suaguarda. Uma enferma nas condições da filha do Conselheiro era o seu ideal. E, porcima de tudo, "bom ordenado, comida com fartura, seu copo de vinho ao jantar e daíaté, quem sabe? Talvez seu vestidinho de vez em quando..."— Não há dúvida, foi um bom achado!Um achado! Ela é que foi um bom achado para Magda. Esta nunca houveratido criada tão alegre, tão amorosa e tão diligente no serviço..Além do que: muito sã, muito limpa e muito séria. Perto daquela figurasocada, de carne esperta e luzente, a pobre senhora ainda parecia mais magra emais pálida; gostava, porém, de senti-la ao seu lado, aquecer-se naquele calor desaúde, parasitar um pouco daquele húmus ressumbrante de seiva, sorver aquelaforte exalação sangüínea de fêmea refeita e bem adubada.34

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