www.nead.unama.br— Então, ao menos, que acordasse mais cedo, fosse para baixo conversarcom ele na chácara; tomar leite mungido na ocasião; ver o pombal que se estavafazendo; dar uma vista-d’olhos pelo galinheiro e pela horta.Magda prometia, resmungava: — Que sim, que sim, porque não? Do outrodia em diante estaria de pé logo ao amanhecer!Mas, no dia seguinte, quando iam chamá-la ao quarto, à uma hora da tarde,respondia de mau humor:— Deixem-me em paz! Oh!— Nesse caso vamos de novo para Botafogo! Exclamou afinal oConselheiro, perdendo a paciência. — Eu, se vim enfurnar-me aqui, foi naesperança de fazer-te mudar de regime e com isso alcançar-te algumas melhoras!Vejo, porém, que é muito pior a emenda que o soneto!Ela teve um tremor de músculos, e ficou muito impressionada com o tomquase áspero que o pai pusera nestas palavras.— Não sei que desejam de mim!... Disse.— Desejo que fiques boa. Aí tens tu, o que desejo!...— Só parece que julgam que me faço doente para contrariar os outros! Seestivesse em minhas mãos, seria mais agradável a todos; não me ponho melhor ebem disposta, porque não posso!...— Está bom, está bom, balbuciou o Conselheiro, acarinhando-a,arrependido por não ter sido tão amável desta vez como das outras. — Não vásagora afligir-te com o que eu disse... Aquilo não teve a intenção de magoar-te...Ela prosseguiu em tom infeliz e ressentido: — Se vim para cá, foi porque metrouxeram... Não reclamei nada... Não me queixei de coisa alguma... Sinto-me aquiperfeitamente... Dou-me até muito bem, e só peço e suplico que não me contrariem;que me deixem em paz pelo amor de Deus; que não me apoquentem; que...Vieram os soluços e Magda principiou a excitar-se.— Então, minha filha, que tolice é essa?— É que eu não posso ouvir falar assim comigo!... Bem sabem que estounervosa! Bem sabem que estou doente!— Sim, sim, tens razão... Passou! Passou!E o Conselheiro, deveras surpreso com aquelas esquisitices da filha,espantado por vê-la fazer-se tão humilde, tão coitadinha, puxou-a brandamente parajunto de si e afagou-a como se estivesse a consolar uma criança.— Acabou! Acabou!Magda chorava com a cabeça pousada no colo dele.— Então, então, não te mortifiques... Aqui ninguém faz senão o que for doteu gosto... Vamos, não chores desse modo...Qual! O resultado foi passar pior esse dia e aumentarem as suas rabugices nodia imediato; — Que desejava morrer! — Acabar logo com aquela miserável30
www.nead.unama.brexistência! Que ali todos já estavam fartos de a suportar! Que todos se aborreciamcom ela e procuravam meios e modos de contrariá-la, só para ver se a despachavammais depressa! Que bem quisera recolher-se a um convento, mas não lhe deixaram!Pois antes tivessem consentido, porque agora até a própria criada parecia fazer-lheum grande obséquio, quando era obrigada a ter um pouco mais de trabalho com ela.No fim de contas apareceu-lhe de novo a tal febre de caráter especial;agora, porém, com delírios e movimentos luxuriosos, sobrevindo uma profundaletargia, contra a qual eram inúteis todos os recursos do médico.Parecia morta. No fim de longas horas de esforços, o Dr. Lobão, jádesesperado, teve, a contra gosto, de aceitar o conselho de um colega ainda moço ede idéias modernas — a compressão do ovário.Efeito pronto: Magda tornou a si depois da operação, livre já dasimpertinências e infantis rabugices, que tivera antes da febre. Voltara à sua habitualgravidade, às suas maneiras austeras de fidalga enferma; mas começou a sentir-sevagamente magoada nos melindres do seu pudor: queria parecer-lhe adivinhavaque, durante a inconsciência da sua anestesia, o insolente do médico a devassaratoda; sentia ainda nos lugares mais vergonhosos do corpo a impressão de mãosestranhas que os apalparam e comprimiram. E a idéia de que alguém a viradescomposta e que lhe tocara nas carnes, revoltou-a como imperdoável ultraje feitaà sua honra e ao seu orgulho de mulher pura. Todavia não se achava com coragemde interrogar ninguém a esse respeito, e, foi tal o seu vexame, que a infelizescondeu-se no quarto, a chorar de acanhamento e raiva.— Oh! Exclamou o doutor, enquanto o Conselheiro lhe deu conta disto: —Eu punha-a esperta e sã em pouco tempo, se me dessem carta branca para isso! Aquestão dependia toda do enfermeiro que lhe arranjasse! Aquelas lamúrias eaquelas lágrimas ir-se-iam logo embora com a primeira semana de lua de mel!No entanto, Magda continuava a sofrer: a tosse não a deixava senão quandoela se recolhia à cama; deitada não tossia nunca, mas, em compensação, aparecialheuma espécie de asma. Agora, uma das suas manias era pôr-se à janela doquarto e aí permanecer horas e horas esquecidas, a ver o serviço da pedreira queficava defronte, olhando muito entretida para os cavouqueiros, e ouvindo a toadaque eles gemem quando estão minando a rocha para lhe tocar fogo. Parecia gostarde ver os trabalhadores; como se lhe aprazia aquela rica exibição de músculos tesosque saltavam com o peso do macete e do furão de ferro, e daqueles corpos nus esuados, que reluziam ao sol como se fossem de bronze polido.E, quando alguém ia chamá-la para a mesa ou para conversar com o pai,respondia zangada, sem tirar os olhos da pedreira:— Não posso ir! Deixem-me!E se insistiam: — Ó senhores, que maçada! Não posso ir, já disse! Estoudoente! Oh!Depois do ataque de letargia, foram voltando pouco a pouco s esquisiticesde gênio e os caprichos de crianças estragadas com mimos; quase nunca sedesprendia do quarto e, nas poucas vezes que lhe surgia por lá alguma camaradados bons tempos, por tal modo se mostrava seca e até grosseira, que a amigatratava de abreviar a visita e saía sem a menor intenção de voltar.31
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