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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brMuito mais! E com um belo prestígio de homem de talento e um futurão naadvocacia, se os seus pulmões lho permitissem.Sim senhor, porque o Dr. Tolentino não gozava boa saúde. Era ainda joveme parecia velho; extremamente magro, vergado, um pouco giboso, olhos fundos,faces cavadas, cabelo pobre e uma tosse de a cada instante. Todo ele respiravalongas noites de estudo, sobre grossos livros de direito ou defronte das carunchosaspilhas dos autos; todo ele estava a pedir, com seu magro pescocinho, um longocache-nez bem quente, e as suas mãos, extensas e magras, queriam luvas de lã; eos seus pés, longos e espalmados, exigiam sapatos de borracha. Não produzia lámuito bom efeito o vê-lo assim desalmado, muito comprido dentro da suasobrecasaca abotoada de cima a baixo, olhando tristemente para a vida por detrásdos seus óculos de míope.Muito bom efeito — não, não produzia; mas também não produzia muito mal,graças à delicadeza dos seus gestos e à expressão inteligente do seu rosto cor depalha de milho. Cheirava a doença; mas, palavra de honra, falava que nem o JoséBonifácio.Não! Definitivamente merecia a fama de homem ilustre!O seu namoro à filha do Conselheiro foi calmo, correto e persistente. Poréminútil: Magda, depois de muita negaça, muita hesitação e muito constrangimento,resolveu não o aceitar.Já lá se ia entretanto quase que meio ano depois do primeiro ataque, e elacomeçava a torcer o nariz à comida, a fazer-se mais magra, mais irritável e maissujeita a sobressaltos nervosos.Abatia.O drama, a música triste, o romance amoroso, provocavam-lhe agora umchoro, que principiava pelas simples lágrimas e acabava sempre em convulsivos. Aodepois — aí estavam as pontadas no alto da cabeça, o embrulhamento doestômago, os terrores infundados, o exagero de todos os seus atos e em estranhodesassossego do corpo e do espírito, que a fazia andar inquieta por toda a casa semparar três segundos no mesmo ponto.— Temo-la travada! Exclamava o seu médico; até que, uma ocasião,avançando furioso de punho fechado contra o Conselheiro, gritou-lhe, cerrando osdentes e arreganhando-os: — Que diabo, homem! Casa esta pobre rapariga, seja lácom quem for!— É boa! Respondeu o outro! — Ainda mais esta!... Pois você acha que, sehouvesse aparecido com quem, eu já não a teria casado?— Ora o que, meu amigo! As minhas observações não me enganam: elatem qualquer amor contrariado, que não me confessa; e você com certeza sabe detudo e cala o bico por conveniência... É que para o sujeito, naturalmente, é um tiposem eira nem beira!... Ah! Eu compreendo estas coisas... Mas, em todo o caso, fiquesabendo para o seu governo que você está mas é preparando uma doida deprimeira ordem! Ora aí tem!O Conselheiro deu a sua palavra que não sabia de nada, e afirmou em boafé que a filha não tinha namoro oculto, nem claro; se o tivera, já ele o houveradescoberto.— Pois se não tem, é preciso arranjá-lo e arranjá-lo já!Surgiu então o Conde do Valado.20

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