www.nead.unama.br— É o diabo!... Praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto atravessavao corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às pressas o seu inseparável sobretudode casimira alvadia. — É o diabo! Esta menina já devia ter casado!— Disso sei eu... Balbuciou o outro. — E não é por falta de esforços deminha parte, creia!— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para procriar, sesacrifique deste modo! Enfim — ainda não é tarde; mas se ela não casar quantoantes — um um! Não respondo pelo resto!— Então o doutor acha que... ?O Lobão inflamou-se: Oh o Conselheiro não podia imaginar o que eramaqueles temperamentozinhos impressionáveis!... Eram terríveis, eram violentos,quando alguém tentava contrariá-los! Não pediam — exigiam! — reclamavam!— E se não lhes dá o que reclamam, prosseguiu, — aniquilam-se,estrangulam-se, como leões atacados de cólera! É perigoso brincar com a fera queprincipia a despertar... O monstro já deu sinal de si; e, pelo primeiro berro, você bempode calcular o que não será quando estiver deveras assanhado!— Valha-me Deus! Suspirou o pobre Conselheiro, que eu hei de fazer, nãodirão?— Ora essa! Pois já não lhe disse! É casar a rapariga quanto antes!— Mas com quem?— Seja lá com quem for! O útero, conforme Platão, é uma besta que quer atodo custo conceber no momento oportuno; se lho não permitem — dana! Ora aí tem!— Não! Alto lá! Isso não! A histeria pode ter várias causas, nem sempre éproduzida pela abstinência; seria asneira sustentar o contrário. Convenho mesmocom alguns médicos modernos em que ela nada mais seja do que uma nevrose doencéfalo e não estabeleça a sua sede nos órgãos genitais, como queriam osantigos; mas isso que tem a ver com o nosso caso? Aqui não se trata de curar umahistérica, trata-se de evitar a histeria. Ora, sua filha é uma delicadíssimasensibilidade nervosa; acaba de sofrer um formidável abalo com a morte de umapessoa que ela estremecia muito; está, por conseguinte, sob o domínio de umaimpressão violenta; pois o que convém agora é evitar que esta impressãopermaneça, que avulte e degenere em histeria; compreende você? Para isso épreciso, antes de mais nada, que ela contente e traga em perfeito equilíbrio certosórgãos, cuja exacerbação iria alterar fatalmente o seu sistema psíquico; e, como ocasamento é indispensável àquele equilíbrio, eu faço grande questão do casamento.— De acordo, mas...— Casamento é um modo de dizer, eu faço questão é do coito! — Elaprecisa de homem! — Ora aí tem você!O Conselheiro suspirou com força, coçou a cabeça. Os dois penetraram nogabinete, e se o doutor, depois de escrever a sua receita, acrescentou, como se nãotivesse interrompido a conversa: — Noutras circunstâncias, sua filha não sofreriatanto... Nada disso teria até conseqüências perigosas; mas, impressionável como é,com a educação religiosa que teve. E com aquele caraterzinho orgulhoso e cheio deintransigências, se não casar quanto antes, irá padecer muito; irá vive em luta abertaconsigo mesma!— Em luta? Como assim, doutor?18
www.nead.unama.br— Ora! A luta da matéria que impõe e da vontade que resiste; a luta que setrava sempre que o corpo reclama com direito a satisfação de qualquer necessidade,e a razão opõe-se a isso, porque não quer ir de encontro a certos preceitos sociais.Estupidez humana! Imagine que você tem uma fome de três dias e que, para comer,só dispões de um meio — roubar! Que faria neste caso?— Não sei, mas com certeza não roubava...— Então — morria de fome... Todavia um homem, de moral mais fácil que asua não morreria, porque roubava... Compreende? Pois aí tem!CAPÍTULO VDepois do ataque, Magda sentiu um grande quebramento de corpo epontadas na cabeça. O Conselheiro, quando a viu em estado de conversar, falou-lhecom delicadeza a respeito de casamento, apresentando-lhe as doutrinas do Dr.Lobão, vestidas agora de um modo mais conveniente.— Mas eu estou de acordo! Repontou ela, estou perfeitamente de acordo! Aquestão é haver um noivo! Eu não posso casar sem um noivo!— Tens rejeitado tantos!— Porque não me convinha nenhum dos que me apresentaram; hoje,porém, estou resolvida a ser mais fácil de contentar, e creio que me casarei.— Ainda bem, minha filha, ainda bem!E abriram-se de novo as salas do Sr. Conselheiro, e começaram de novo asfestas, e de novo começou aquela canseira de arranjar um — marido.E espalhem-se convites para todos os lados! E corre a gente à confeitaria eaos armazéns de bebidas! E contrate-se orquestra! E chama-se a costureira! Eature-se o cabeleireiro! — Que maçada! Que insuportável maçada!Entre os novos arrebanhados, apareceu o Sr. Comendador José Furtado daRocha, velhote bem disposto, orçando pelos cinqüenta, mas dando tinta ao cabelo eescanhoando-se com muita perfeição. Era português, e havia-se opulentado nocomércio, onde principiara brunindo pesos e balanças. Magda aceitou-lhe a cortequase por brincadeira, a rir; ou talvez para não contrariar o pai, que se mostravamuito afeiçoado por ele; ou, quem sabe? Talvez ainda na esperança de ver surgir deum momento para outro novo pretendente.O velho parecia adorá-la e falava, com meias palavras e sorrisos demisteriosa intenção, em arranjar títulos, deixar palácio, correr a Europa inteira ecomprar objetos de arte.Um anjo! Mas, quando o Conselheiro, em nome do amigo, perguntou à filhase estava resolvida a casar com ele, Magda sorriu, espreguiçou-se e, afinal, paranão deixar o pai sem resposta, tartamudeou:— Não digo que não, mas... Sabe?... É cedo para decidir... Havemos de ver!Havemos de ver!...Três meses depois, o Comendador, já desenganado, casava-se em SãoPaulo com uma viúva ainda moça, professora de piano.Apresentou-se então, solicitando a mão de Magda, para o Dr. Tolentino. Nãotinha a metade do dinheiro do outro, mas em compensação era muito mais novo.19
- Page 4 and 5: www.nead.unama.brSegundo o que sabi
- Page 6 and 7: www.nead.unama.brMagda afastou-se,
- Page 8 and 9: www.nead.unama.brO primeiro a apres
- Page 10 and 11: www.nead.unama.br— E daí?— Da
- Page 12 and 13: www.nead.unama.brO velho sentia o s
- Page 14 and 15: www.nead.unama.br— Dezessete anos
- Page 16 and 17: www.nead.unama.brmarido prático, u
- Page 20 and 21: www.nead.unama.brMuito mais! E com
- Page 23 and 24: www.nead.unama.brgraça que a Sra.
- Page 25 and 26: www.nead.unama.brUma conduta irrepr
- Page 27 and 28: www.nead.unama.brgarganta e, depois
- Page 29 and 30: www.nead.unama.brroupa e apenas enf
- Page 31 and 32: www.nead.unama.brexistência! Que a
- Page 33 and 34: www.nead.unama.bruma mesinha cobert
- Page 35 and 36: www.nead.unama.brNunca entravam em
- Page 37 and 38: www.nead.unama.br— Vamos lá?...
- Page 39 and 40: www.nead.unama.brcorpo, nem que se
- Page 41 and 42: www.nead.unama.br— Piedade, meu p
- Page 43 and 44: www.nead.unama.bràs histéricas, s
- Page 45 and 46: www.nead.unama.brAo perceber uma pe
- Page 47 and 48: www.nead.unama.br— Vou comprara u
- Page 49 and 50: www.nead.unama.bracompanhou-lhe log
- Page 51 and 52: www.nead.unama.brúnico dever. Desd
- Page 53 and 54: www.nead.unama.brde suspiros estala
- Page 55 and 56: www.nead.unama.brE, uma vez deitado
- Page 57 and 58: www.nead.unama.brE notava agora na
- Page 59 and 60: www.nead.unama.brde quem admira; Ma
- Page 61 and 62: www.nead.unama.brE, apesar dos esfo
- Page 63 and 64: www.nead.unama.br— Sim, sim, mas
- Page 65 and 66: www.nead.unama.br— Voltemos para
- Page 68 and 69:
www.nead.unama.brimensa túnica de
- Page 70 and 71:
www.nead.unama.brE respirava alto,
- Page 72 and 73:
www.nead.unama.brJustina estendeu o
- Page 74 and 75:
www.nead.unama.brcarne às garras d
- Page 76 and 77:
www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIEsta
- Page 78 and 79:
www.nead.unama.brtraziam lenços de
- Page 80 and 81:
www.nead.unama.brlatas de bolacha i
- Page 82 and 83:
www.nead.unama.brcomo um lírio lev
- Page 84 and 85:
www.nead.unama.brela dizia com a ma
- Page 86 and 87:
www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIIIE e
- Page 88 and 89:
www.nead.unama.brJá a gaiola de um
- Page 90 and 91:
www.nead.unama.brprecipitou-se do a
- Page 92 and 93:
www.nead.unama.brsuavam4he com o gr
- Page 94 and 95:
www.nead.unama.brbrancas. Metia gos
- Page 96 and 97:
www.nead.unama.brFoi ter à janela
- Page 98 and 99:
www.nead.unama.brreminiscência. Af
- Page 100 and 101:
www.nead.unama.br— Agora... Depoi
- Page 102 and 103:
www.nead.unama.br— Estava como lo
- Page 104 and 105:
www.nead.unama.br— Agora vai busc
- Page 106 and 107:
www.nead.unama.brO populacho do cor
- Page 108 and 109:
www.nead.unama.brOs marinheiros tin