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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brparecia apto para casar com a filha; e tanto, que a roda dos seus amigos crescialargamente, e as suas festas amiudavam-se, e suas despesas reproduziam-se.Uma notícia má veio, porém, enlutar a casa e fechar-lhe as portas por algumtempo — a morte de Fernando. O rapaz nas últimas cartas já se queixava da saúde;dizia que andava à procura de ares mais convenientes aos seus brônquios. Fugirada Alemanha para a França, de França para a Itália, desta para a Espanha, e foramorrer, afinal, em Portugal.O Conselheiro ficou fulminado com a notícia, aparentemente mais sentido doquem a própria Magda. Esta recebeu-a como se já a esperasse: saltaram-lhe aslágrimas dos olhos, mas não teve um grito, uma exclamação, um gemido; apenasficou muito apreensiva, aterrada, com medo do escuro e da solidão. Durante noitesseguidas foi perseguida por terríveis pesadelos, nos quais o morto representavasempre o principal papel, mas, durante o dia, não tinha uma palavra com referênciaa ele.Não obstante, duas semanas depois, passeando na chácara, viu pular diantede si um sapo; e foi o bastante para que explodisse a reação dos nervos.Estremeceu com um grande abalo, soltou um grito agudo e sentiu logo na boca doestômago uma pressão violenta. Era a primeira vez que lhe dava isto; acudiram-na ecarregaram-na para o quarto. Ela, porém, não sossegava; o peso do estômagocomo que se enovelava e subia-lhe por dentro até a garganta, sufocando-a numdesabrido estrangulante. Esteve assim um pouco; afinal perdeu os sentidos ecomeçou a espolinhar-se na cama, em convulsões que duraram quase uma hora.Tornou a si nos braços das amigas da vizinhança, atraídas ali pelosformidáveis gritos que ela soltava. O pai e o Dr. Lobão também estavam a seu lado;o doutor, muito expedito, com os óculos na ponta do nariz, suando, rabujavaenquanto a socorria:— Que dizia eu? Ora aí tem! É bem feito! Acho ainda pouco! Quem corre porseu gosto não cansa! Se fizessem o que recomendei, nada disso sucederia! Agora omédico que a ature!...E, voltando-se para uma das vizinhas que, por ficar muito perto dele, lheestorvava às vezes o movimento do braço, exclamou com arremesso: — Saia daí!Também não sei o que tem a cheirar cá! Melhor seria que estivessem em casacuidando das obrigações!— Cruzes! Disse a moça, fugindo do quarto. — Que bruto! Deus te livre!Por esse tempo Magda era acometida por uma explosão de soluços, echorava copiosamente, o peito muito oprimido.— Ora até que enfim! Rosnou o doutor. E, erguendo-se, soprou para oConselheiro, a descer as mangas da camisa e da sobrecasaca, que haviaarregaçado: — Pronto! Estes soluços continuarão ainda por algum tempo, e depoisela sossegará. Naturalmente há de dormir. O que lhe pode aparecer é a cefalalgia...— Como?— Dores de cabeça. Mas para isso você lhe dará o remédio que vou receitar.E saíram juntos para ir ao escritório.17

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