www.nead.unama.br— Dezessete anos.— É...! Mas não convém que esta menina deixe o casamento para muitotarde. Noto-lhe uma perigosa exaltação nervosa que, uma vez agravada, porinteressar-lhe os órgão encefálicos e degenerar em histeria...— Mas, doutor, ela parece tão bem conformada, tão...— Por isso mesmo. Ah! Eu leio um pouco pela cartilha antiga. Quanto melhorfor a sua compleição muscular, tanto mais deve ser atendida, sob pena de sentir-seirritada e esbravejar por aí, que nem o diabo dará jeito! E adeus. Passe bem!Mas voltou para perguntar: — E a barata velha, como vai?— Minha irmã...? Ao mesmo, coitada! Enfermidades crônicas...— Ela que vá continuando com as colheradas de azeite todas as manhãs eque não abandone os clisteres. Hei de vê-la, noutra ocasião; hoje não tenho maistempo. Adeus, adeus!carro:E saiu com os seus movimentos de carniceiro, resmungando ao entrar no— Não tratam da vida enquanto são moças e agora, depois de velhas, omédico que as ature! Súcia! Não prestam p’ra nada! Nem p’ra parir!A festa de Fernando realizou-se na véspera da sua partida. Magda nucapareceu tão alegre nem tão bem disposta de saúde; pôs um vestido de cassa corde-rosa,todo enfeitado de margaridas, deixando ver em transparência a ebúrneariqueza do colo e dos braços.Estava fascinadora: toda ela era graça, beleza e espírito; causou delírios deadmiração. Nessa noite dançou muito, cantou e, durante o baile inteiro, mostrou-separa com Fernando de uma solicitude, em que não se percebia a menor sombra deressentimento; dir-se-ia até que estimava haver descoberto que era sua irmã.Conversaram muito; ela contou-lhe, ora rindo, ora falando a sério, as declarações deamor que recebera; citou nomes, apontou indivíduos, pediu-lhe conselhos sobre ahipótese de uma escolha e declarou, mais de uma vez, que estava resolvida a casar.No dia seguinte apresentaram-se alguns amigos para o bota-fora. Magda foià bordo, chorou, mas não fez escarcéu; em casa compareceu ao jantar, comeuregularmente e até a ocasião de se recolher falou repetidas vezes do irmão, sempatentear nunca na sua tristeza desesperos de viúva, nem alucinações de mulherabandonada.Só dois meses depois foi que notaram que estava tanto mais magra e umtanto mais pálida; e assim também que o seu riso ia perdendo todos os dias certafrescura sangüínea, que dantes lhe alegrava o rosto, e tomando aos poucos uma friaexpressão de inexplicável cansaço.Alguns meses mais, e o que havia de menina desapareceu de todo, par sóficar a mulher. Fazia-se então muito grave, muito senhora, sem todavia parecertriste, nem contrariada; as amigas iam vê-la com freqüência e encontravam-nasempre em boa disposição para dar um passeio pela praia, ou para fazer música,dançar, cantar; tudo isto, porém, sem o menor entusiasmo, friamente, como quemcumpre um dever. Vieram-lhe depois intermitências de tédio; tinha dias de muitobom humor e outros em que ficava impertinente ao ponto de irritar-se coma menorcontrariedade. Não obstante, continuava a ser admirada, querida e invejada, graças14
www.nead.unama.brao seu inalterável bom gosto, à sua altiva de procedimento e à sua aristocráticabeleza. O pai votava-lhe já essa reverente consideração, que nos inspiram certasdamas, cuja pureza de hábitos e extrema correção nos costumes se tornamlendárias entre os grupos com que convivem; tanto assim que, vendo o Militãoforçado a retirar-se com a família par uma fazenda que ia administrar, o Conselheironão os substituiu por ninguém, e a casa ficou entregue a Magda.Quanto à saúde — assim, assim... Às vezes passava muito bem semanasinteiras; outras vezes ficava aborrecida, triste, sem apetite; apareciam-lhe nevralgias,acompanhadas de grande sobreexcitação nervosa. Então, qualquer objeto ouqualquer fato repugnante indispunha-a de um modo singular; não podia versanguessugas ,rãs, morcegos ,aranhas; o movimento vermicular de certos répteiscausava-lhe arrepios de febre; se à noite não estando acompanhada, encontrava umgato em qualquer parte da casa, tinha um choque elétrico, perfeitamente elétrico, enão podia mais dormir tão cedo.Uma madrugada, em que a tia foi acometida de cólicas horrorosas esobressaltou a família com os seus gritos, Magda sofreu tamanho abalo que,durante dois dias, pareceu louca. Desde essa época principiou a sofrer de umadores de cabeça, que lhe produziam no ato do crânio, que ora a impressão de umapedra de gelo, ora a de um ferro em brasa.Agora também o barulho lhe fazia mal aos nervos: ouvindo músicadesafinada, sentia-se logo inquieta e apreensiva; o mesmo fenômeno se dava com oaroma ativo de certas flores e de certos extratos: o sândalo, por exemplo,quebrantava-lhe o corpo; o perfume da magnólia enfreneziava-a; o almíscarproduzia-lhe náuseas. Ainda outros cheiros a incomodavam: o fartum que se exalada terra quando chove depois de uma grande soalheira, o fedor do cavalo suado, ode certos remédios preparados com ópio, mercúrio, clorofórmio; tudo isto agora lhefazia mal, porém de um modo tão vago, que ela muita vez sentia-se indisposta e nãoatinava por que.Notava-se-lhe também certa alteração nos gostos com respeito à comida;preferia agora os alimentos fracos e muito adubados; tinha predileções esquisitas;voltava-se toda para a cozinha francesa; gostava mais de açúcar, mas queria o cháe o café bem amargosAs cartas de Fernando não a alteraram absolutamente; a primeira,entretanto, fora recebida com exclamações de contentamento. Ele dizia-se feliz edivertido, apoquentamento apenas pelas saudades da família. Magda escrevia-lhede irmã para irmão, afetando muita tranqüilidade, procurando fazer pilhéria, citandoanedotas, dando-lhe notícias do Rio de Janeiro, falando em teatros e cantores.E assinava sempre "Tua irmãzinha que te estremece — Madalena".CAPÍTULO IVDecorreu uma no. O incidente romanesco do namoro entre os dois irmãos iacaindo no rol das puerilidades da infância; Magda se lembrava dele com umcriterioso sorriso de indulgência.— Criancices! Criancices!Agora, no seu todo de senhora refeita, com as suas intransigências de donade casa, com as suas preocupações de economia doméstica, ela estava a pedir um15
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