www.nead.unama.brO velho sentia o suor gelar-lhe o corpo.— Custe o que custar, eu me casarei antes da partida daquele miserável! Semeu pai não fizer o que eu disse, o escândalo será maior! Ao menos falo com estafranqueza — Não tenho "mistérios"!Ela havia-se desprendido das mãos do Conselheiro e passeava agora peloquarto, muito agitada, com as faces em fogo, os lábios secos e os olhos aindaúmidos das últimas lágrimas. E em todos os seus movimentos nervosos, em todosos seus gestos, sentia-se uma resolução enérgica, altiva e orgulhosa.— Não há outro remédio! Pensou o velho, limpando a fronte orvalhada e friada neve, não há outro remédio!E aproximou-se da filha, para lhe dizer quase em segredo, com a vozestrangulada pela vergonha:— Fernando não se casa contigo, porque é teu irmão...Magda retraiu-se toda, como se lhe tivesse passado por diante dos olhosuma faísca elétrica, e fitou-os sobre o pai, que abaixou a cabeça num angustiosoresfolegar de delinqüente.— Ora aí tens... Balbuciou ele, depois de uma pausa, durante a qual só seouviam os soluços de Magda que se lhe havia atirado nos braços. — Já vês queaqui o único culpado sou eu; nunca devia ter consentido que vocês se criassemjuntos, sem lhes ter exposto a verdade. Tua mãe ignorou sempre que Fernandofosse meu filho...— Vá ter com ele... Pediu Magda chorando. — Que me perdoe! Que meperdoe! Diga-lhe que eu não sabia de nada, e que sou muito desgraçada!Quando o Conselheiro saiu do quarto, ela tornou à cama, e daí a poucodelirava com febre.Transferiu-se a festa; mandou-se chamar logo o Dr. Lobão, que receitou; e,só à tarde do dia seguinte, a enferma deu acordo de si, depois de um sono profundoque durou muitas horas.Despertou tranqüila, um pouco abstrata. — Tinha sonhado tanto!...Levou um bom espaço a cismar, por fim soltou um profundo suspiroresignado e pediu que conduzissem o irmão à sua presença. Ele foi logo,acompanhado pelo Conselheiro, e assentou-se, sem dizer palavra, numa cadeira aolado da cabeceira da cama. Magda tomou-lhe as mãos em silêncio, beijou-asrepetidas vezes, e em seguida levou uma delas ao rosto e ficou assim por algumtempo, a descansar a cabeça contra a palma da mão de Fernando. Como porencanto, a sua meiguice havia se transformado da noite para o dia: já não eram denoiva os seus carinhos, mas perfeitamente de irmã. Não por isso menos expansivos,antes parecia agora muito mais em liberdade com ele; pelo menos nunca lhe haviatomado as mãos daquele modo. Ainda fez mais depois: pousou a face contra o seucolo e cingiu-lhe o braço em volta da cintura.12
www.nead.unama.br— E eu que cheguei a supor que eras um homem mau!... Balbuciou, comuma voz tão arrependida, tão humilde e tão meiga, que o rapaz a apertou contra oseio e deu-lhe um beijo no alto da cabeça.Magda estremeceu todo, teve um novo suspiro, e deixou-se cair sobre ostravesseiros, com os olhos fechados e a boca entreaberta. Chorava.— Então, agora estão feitas as pazes?... Perguntou o Conselheiro, alisandocom os dedos o cabelo da filha.Esta ergueu as pálpebras vagarosamente e deu em resposta um sorrisosofredor e triste.— E ainda pensas no Martinho de Azevedo?... Interrogou o velho, afetandobom humor.Ela voltou seu sorriso para Fernando, como lhe pedindo perdão daquelavingança tão tola e tão imerecida.Todo o resto desse dia se passou assim, sem uma nuvem que o toldasse; apaz era completa, pelo menos na aparência. Magda não se queixava de coisaalguma. O Dr. Lobão, quando foi à noite, encontrou-a de pé, muito esperta,conversando com a gente de Brito. O médico desta vez olhou para a rapariga commais atenção e fez-lhe um cúmulo de perguntas à queima-roupa: — Se era muitoimpressionável; se era sujeita a enxaquecas e dores de cabeça; o que costumavacomer ao almoço e ao jantar; se tinha bom apetite; se usava o espartilho muitoapertado; desde que idade freqüentava os bailes; se as suas funções intestinaiseram bem reguladas; e, como estas, outras e outras perguntas, a que Magdarespondia por comprazer, afinal já importunada.Ela sempre embirrara com o Dr. Lobão; tinha-lhe velha antipatia; achava-osistematicamente grosseiro, rude, abusando da sua grande nomeada de primeirocirurgião do Brasil, maltratando os seus doentes, cobrando-lhes um despropósitopelas visitas, a ponto de fazer supor que metia na conta as descomposturas quelhes passava.— A senhora tem tido muitos namorados? Interrompeu ele, depois deestudar, medindo-a de alto a baixo, por cima dos óculos.Magda sentiu venetas de virar-lhe as costas e retirar-se.— Não ouviu? Pergunto se tem tido muitos namorados!— Não sei!E ela afastou-se, enquanto o cirurgião resmungava:— Que diabo! Para que então me fazem vir cá?...Ia já a sair, quando o Conselheiro foi ter com ele:— Então?— Não é coisa de cuidado; um abalo nervoso. Que idade tem ela?13
- Page 4 and 5: www.nead.unama.brSegundo o que sabi
- Page 6 and 7: www.nead.unama.brMagda afastou-se,
- Page 8 and 9: www.nead.unama.brO primeiro a apres
- Page 10 and 11: www.nead.unama.br— E daí?— Da
- Page 14 and 15: www.nead.unama.br— Dezessete anos
- Page 16 and 17: www.nead.unama.brmarido prático, u
- Page 18 and 19: www.nead.unama.br— É o diabo!...
- Page 20 and 21: www.nead.unama.brMuito mais! E com
- Page 23 and 24: www.nead.unama.brgraça que a Sra.
- Page 25 and 26: www.nead.unama.brUma conduta irrepr
- Page 27 and 28: www.nead.unama.brgarganta e, depois
- Page 29 and 30: www.nead.unama.brroupa e apenas enf
- Page 31 and 32: www.nead.unama.brexistência! Que a
- Page 33 and 34: www.nead.unama.bruma mesinha cobert
- Page 35 and 36: www.nead.unama.brNunca entravam em
- Page 37 and 38: www.nead.unama.br— Vamos lá?...
- Page 39 and 40: www.nead.unama.brcorpo, nem que se
- Page 41 and 42: www.nead.unama.br— Piedade, meu p
- Page 43 and 44: www.nead.unama.bràs histéricas, s
- Page 45 and 46: www.nead.unama.brAo perceber uma pe
- Page 47 and 48: www.nead.unama.br— Vou comprara u
- Page 49 and 50: www.nead.unama.bracompanhou-lhe log
- Page 51 and 52: www.nead.unama.brúnico dever. Desd
- Page 53 and 54: www.nead.unama.brde suspiros estala
- Page 55 and 56: www.nead.unama.brE, uma vez deitado
- Page 57 and 58: www.nead.unama.brE notava agora na
- Page 59 and 60: www.nead.unama.brde quem admira; Ma
- Page 61 and 62: www.nead.unama.brE, apesar dos esfo
- Page 63 and 64:
www.nead.unama.br— Sim, sim, mas
- Page 65 and 66:
www.nead.unama.br— Voltemos para
- Page 68 and 69:
www.nead.unama.brimensa túnica de
- Page 70 and 71:
www.nead.unama.brE respirava alto,
- Page 72 and 73:
www.nead.unama.brJustina estendeu o
- Page 74 and 75:
www.nead.unama.brcarne às garras d
- Page 76 and 77:
www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIEsta
- Page 78 and 79:
www.nead.unama.brtraziam lenços de
- Page 80 and 81:
www.nead.unama.brlatas de bolacha i
- Page 82 and 83:
www.nead.unama.brcomo um lírio lev
- Page 84 and 85:
www.nead.unama.brela dizia com a ma
- Page 86 and 87:
www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIIIE e
- Page 88 and 89:
www.nead.unama.brJá a gaiola de um
- Page 90 and 91:
www.nead.unama.brprecipitou-se do a
- Page 92 and 93:
www.nead.unama.brsuavam4he com o gr
- Page 94 and 95:
www.nead.unama.brbrancas. Metia gos
- Page 96 and 97:
www.nead.unama.brFoi ter à janela
- Page 98 and 99:
www.nead.unama.brreminiscência. Af
- Page 100 and 101:
www.nead.unama.br— Agora... Depoi
- Page 102 and 103:
www.nead.unama.br— Estava como lo
- Page 104 and 105:
www.nead.unama.br— Agora vai busc
- Page 106 and 107:
www.nead.unama.brO populacho do cor
- Page 108 and 109:
www.nead.unama.brOs marinheiros tin