10.07.2015 Views

O Homem - Unama

O Homem - Unama

O Homem - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.brOs marinheiros tinham a feroz catadura de quem vê a morte face a face.Praguejaram maldições, blasfêmias; depois abriram a chorar, como duas mulheres.E Magda sorria com a idéia de que, se expirasse afogada, o seu cadáverseria levado pelo oceano aos braços do milagroso amante, que a faria ressuscitarimediatamente.Os dois homens rezaram, para morrer.Redobrou a fúria da corrente. O barco rodopiava, que nem um tronco que avoragem sorveu. Magda já não sentia ponto de apoio, já não via ninguém a seu lado,arrebatada por um turbilhão de vagas que a sufocavam.Remoinhou nessa aflição alguns instantes; de súbito, ouviu um estrondo deonda que espoca e sentiu-se rolar na praia, cuspida numa golfada de espumas.Correu até onde nascia a relva e deixou-se cair aí, prostrada.Assim esteve longo tempo, descansando ofegante sobre a grama fresca emacia, completamente nua, os olhos fechados; toda ela penetrada por um capitosoperfume de magnólia. Este aroma, que dantes tanto a importunava, dava-lhe agorainefáveis consolações; era esse o perfume da sua ilha querida; esse o aroma doparaíso de amor, onde nascera o ente que ela mais estremecia no mundo.Todavia a prostração não a deixava ainda correr ao encontro do filho; e seuslábios estalavam de sede pelos beijos dele, e toda ela ardia na impaciência da saudade.— Maldito abatimento!Entardeceu. Um vento fresco agitava agora os carnaúbais em melancólicossussurros; a patativa gemia na mata, chamando o companheiro; e toda a ilha sepurpurava na fúlgida congestão do sol poente.Magda ergueu-se a meio na relva, admirada de que o marido ainda nãotivesse dado por falta dela e não fosse à sua procura: "Não era aquela a hora emque todos os casais se recolhiam ao aconchego dos ninhos?..."Ficou a cismar.— Teria acontecido alguma desgraça?... Disse consigo. E então, a idéia doenvenenamento de Luiz e Rosinha veio-lhe à lembrança com o pânico de um sonhopressagio.Teve um arrepio. Recordou-se de os ter visto mortos, ao lado um do outro,lívidos e enrijados pela estricnina Seu coração encheu-se com um pressentimentohorrível. Levantou-se logo e tomou aflita a direção da casa.A porta estava aberta. Foi entrando.Achou tudo deserto e silencioso.Estremeceu aterrada.— Luiz! Gritou ela.Ninguém respondeu.— Luiz! Ó Luiz!A sua voz perdia-se nos surdos murmúrios da tarde.Sem ânimo de fazer uma conjetura, correu ao berço do filho.Encontrou-o vazio.Apalpou-lhe as roupas, levou-as à face — nenhum calor as aquecia.108

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!