10.07.2015 Views

O Homem - Unama

O Homem - Unama

O Homem - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.brele envergonhado de ser tão feliz, envergonhado como um pobre-diabo que ésurpreendido a comer às escondidas um manjar delicadíssimo e digno da boca depríncipes.Magda ainda mais o confundia, porque não lhe tirava a vista de cima;considerava-o da cabeça aos pés; parecia estudar-lhe os menores traços dafisionomia, como se intimamente o comparasse com alguém.— Então, com que sempre se casaram...? Perguntou afinal, mordendo olábio inferior e achinezando. os olhos.Os dois, que até aí guardavam um silêncio espesso, apressaram-se aresponder juntos, dando um pequeno passo para a frente:— Casamos, sim senhora.— E desde quando se gostam? Há muito tempo já?...— Ora há que tempo!... Resmungou Luiz, olhando de soslaio para a mulher.Esta soltou uma risadinha e disse:— Eu ainda bem não tinha acabado a muda e já ele andava atrás de mim..— E agora... Estimam-se deveras?...Os manganões não responderam, olharam um para o outro, apertando osbeiços, e afinal duas gargalhadas espocaram ao mesmo tempo, sem que ambospudessem mais trocar um olhar entre si; esfogueados por aquele riso escandaloso,aquele riso que denunciava o que só eles, os brejeiros, lá sabiam.Houve um silêncio, em que Magda parecia meditar, muito séria; depois —fez um quase imperceptível movimento de ombros e ordenou à criada que fosse láem baixo buscar uma garrafa de vinho: "Vinho bom, heim?"Justina saiu correndo e de passagem atirou aos noivos um gesto que dizia:"Vocês agora é que vão ver o que é uma boa pinga!"A histérica passou ao quarto de dormir e foi buscar o frasco de xarope deEaston, aberto havia pouco; enquanto Luiz, vendo-se a sós com a mulher, ferrou-lheum beliscão na cinta.— Fica quieto! Segredou a moçoila, indicando com o polegar a porta poronde saíra a filha do Sr. Conselheiro.Esta tornou a aparecer e propôs-lhe, com uma das mãos escondida atrásdas costas:— Porque não entram aí para essa outra sala!... Sentem-se lá... Estejam àvontade...Os dois seguiram, um após outro, para o compartimento contíguo, e aenferma acompanhou-os com estranho olhar, em que havia um duro ressaibo decólera invejosa. Chispava-lhe na pupila o mesmo rábido fulgor com que ela vira umavez matrimoniar-se o casalzinho de rolas da sala de jantar e com que, de outra,fitara a voluptuosa miniatura do "Amor e Desejo", que seu pai tanto estimava.Justina voltou, trazendo uma bandeja com uma garrafa já aberta e três copos.103

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!