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O Homem - Unama

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www.nead.unama.br— Estava como louca, disse a visionária; lembra-me bem de que, numaocasião em que me fazia a passear pelo braço de meu pai na chácara da Tijuca, vium regador de folha pintado de encarnado; pois queres acreditar que eu não podiaatinar com o que aquilo era?...— Tem graça!— O que mais me admira, porém, de tudo isto, é que eu sonhe com todas aspessoas da minha convivência: contigo, com papai, com a nossa criada Justina, coma família desta, e jamais com meu filho... Nunca sonhei com ele!— Como não, se não pensas noutra coisa enquanto dormes? Pelo menosassim acabas de o afirmar...— Sim, mas nunca o vejo a meu lado...— Vem a dar na mesma.E assim cavaqueando, foram até à hora do chá, às dez, depois da qual,Magda deu de mamar ao seu bebe. Em seguida lavou-se, tomou a sua roupa dealcova e afinal recolheu-se à cama com o marido, muito prosaicamente, a cantarolarum estribilho banal, feliz na convicção de que tinha ali mesmo a seu lado, ao maiscurto alcance, tudo de quanto precisava para satisfazer as suas necessidades demulher moça.Foi então que ela tornou a si, na vida real. Estivera dezesseis horas emestado letárgico; havia caído em torpor às cinco da tarde e só acordara às nove damanhã do dia seguinte. Tomou a custo uma colherinha de xarope, que lhe deu aJustina, de um frasco novo que acabava de ser aberto, e ficou a olhar para a criada,fixamente, sem expressão, como uma figura de cera.— Minh'ama ainda se lembra do que me disse ontem?...— Que foi?— Que eu falasse à Rosinha para vir cá, junto com o marido.— Ah! Lembro-me perfeitamente...— Pois eles estão aí fora...Magda conservou-se estática; não teve a mais ligeira contração nosemblante. A criada acrescentou, depois de vesti-la:— Quer vosmecê que eu os faça entrar para esta saleta aí ao pé?...— Pois bem.Justina saiu do quarto, nadando em satisfação, e desceu de carreira àchácara, onde o Luiz a esperava ao lado da mulher.— Daí a pouco eram estes dois conduzidos à presença da filha doConselheiro. O rapaz trazia a sua fatiota nova do casamento conservando a gravatade cetim; a outra um vestido de fustão branco, sarapintado de florzinhas azuis echeirando à malva. Era ele agora quem estava muito vexado, e Rosinha não. Esta, aocontrário, resplandecia de contentamento expansivo; abria-lhe as pétalas da boca umsorriso largo de rosa ao desabrochar. Era a alegria vitoriosa da carne dos vinte anos,o riso da vontade satisfeita, o canto alegre da pomba depois do primeiro arrulho.O sorriso do Luiz já era outro; um sorriso de sonso, de felizardo conscienteda largueza da sua fortuna e da escassez do seu próprio merecimento. Nãolevantava o rosto e não olhava de frente como a esposa; tinha os olhos em terra etorcia e destorcia entre os dedos calejados o seu chapéu novo de abas largas; todo102

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