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arquivo em pdf - Claudio Di Mauro

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9administrativas da Frente Rio Claro, na área cultural, previa areformulação desse espaço e a implantação de cursos de formaçãocultural como teatro, instrumentos musicais, dança, capoeira,artesanato, desenho, entre outros.Esses cursos foram criados e, até o presente momento,ampliados e diss<strong>em</strong>inados para outros locais da cidade. Porém, omais significativo é que o público beneficiado pelas atividadesassumiu as dependências do Centro Cultural como espaço desocialização, fato que dissipou o constrangimento. O teatro e ocin<strong>em</strong>a passaram a ser utilizados também para a realização deconferências, simpósios, palestras e treinamentos, beneficiandovários segmentos da comunidade rio-clarense. A biblioteca foiinformatizada, incr<strong>em</strong>entando as suas atividades. 10A vinculação entre governo municipal e comunidade culturalestá agindo no sentido de permitir que cada rio-clarense, através dofortalecimento de sua identidade, exerça sua cidadania cultural, s<strong>em</strong>a qual o desenvolvimento social é inviável. Sobretudo, é inegável quea Cultura t<strong>em</strong> se revelado como agregadora das relações na cidade,reunindo pessoas sob a sua égide, independent<strong>em</strong>ente da idade,crenças religiosas e convicções políticas.Significando, com isso, que os diversos segmentos sociaisexistentes no município estão sendo beneficiados pelad<strong>em</strong>ocratização. A consciência de que esse é o caminho a ser seguidoa fim de estabelecer redes de relações solidárias, de que essas redessão a conseqüência natural de histórias <strong>em</strong> comum e formas de ver omundo compartilhadas, sendo o fruto da confiança que cresce nocotidiano de pessoas que se encontram e têm projetos s<strong>em</strong>elhantespara o futuro, está permeando todas as ações de gestão cultural.Qualquer política pública que vise ao desenvolvimento não pod<strong>em</strong>enosprezar estes aspectos.Acreditamos, ainda, que o Estado (administração pública), aopriorizar a d<strong>em</strong>ocratização educacional e cultural, proporcionandocondições para o crescimento individual de cada cidadão, seja atravésda escola ou de quaisquer outros meios formativos, está promovendoa igualdade de oportunidades, a superação das desigualdadeseconômicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidadee do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedadee de responsabilidade, visando ao progresso social e à participaçãod<strong>em</strong>ocrática na vivência coletiva.A atitude positiva, por parte do poder público, no sentido deincentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos à fruição ecriação cultural, <strong>em</strong> colaboração com os órgãos de comunicaçãosocial, as associações e fundações de fins culturais, os produtoresculturais do município, as associações de defesa do patrimônio


10cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais,concorre para a conquista da cidadania cultural de cada rio-clarense.O alvo que pretend<strong>em</strong>os atingir é a transformação da cidade deRio Claro num espaço essencialmente cultural, afinal, “toda grandeobra é local”. 11O projeto para a criação do “Corredor de Cidadania e Cultura”,envolvendo as Secretarias de Turismo e Cultura, ao qual está sendoimprimido grande impulso nesse ano de 2002, consiste também numesforço da administração pública municipal, contando com incentivofinanceiro federal, no sentido de continuar trilhando os caminhos dad<strong>em</strong>ocracia cultural. 12O projeto pretende criar um corredor linear, com funçõesmúltiplas, englobando uma seqüência de atividades diversas comolazer, cultura e esportes, b<strong>em</strong> como instalar <strong>em</strong> edificações diversasexistentes algumas Secretarias de Administração Pública (SegurançaPública e Turismo) com o intuito de facilitar o desenvolvimento desuas atividades e melhorar a qualidade no atendimento aos usuários.No Corredor de Cidadania e Cultura haverá uma área destinadaao funcionamento das antigas feiras livres que aconteciam no centrourbano e que têm estreita ligação com o fazer cultural no cotidiano,revitalizando-se, assim, toda uma rede de relações solidárias, detroca de informações, de conversas de rua.No setor turístico e cultural, alguns espaços serão adaptadospara a construção de museus (Ferroviário, Imigrantes) resgatando am<strong>em</strong>ória da ferrovia e da imigração <strong>em</strong> Rio Claro, fatos que foramimportantes para o desenvolvimento econômico e social da região.Em alusão aos aspectos da tradição, cultura e economia da cidade eregião, serão criadas a Praça dos Imigrantes, Praça dos Eucaliptos,Praça Ferroviária, Praça das Charretes, Praça Cívica e Praça dasOrquídeas.Em toda a área será desenvolvido projeto paisagístico,utilizando grande diversidade de espécies vegetais nativas da região,b<strong>em</strong> como frutíferas, que, além do sombreamento e beleza, atrairãoao Corredor várias espécies de pássaros. Essas características,agregadas à implantação de um espelho d’água, otimizam omicroclima do entorno.A primeira etapa do processo de recuperação pelo qual passouo prédio da Estação Ferroviária, já permitiu o desenvolvimento deuma série de atividades culturais e de lazer para a comunidade,tornando o local um novo pólo cultural do município. A experiênciapositiva com o restauro e ocupação de parte da Estação Ferroviáriafoi ponto fundamental na decisão de se ampliar a recuperação eocupação de toda a área proposta neste projeto. A continuidade das


11obras deverá acontecer na medida <strong>em</strong> que recursos financeirosmunicipais e federais for<strong>em</strong> liberados.A implantação de um centro permanente de atividadesturísticas e culturais no prédio da Estação ferroviária contribuirá paraa revitalização de todo o centro histórico do município. São açõesrevestidas de singular importância, pois um dos componentesprincipais da cultura é o ambiente cotidiano, que abrange aquilo quese convencionou chamar de “ambiente arquitetônico”. 13 A qualidadeestética deste ambiente produz a elevação do nível cultural dosresidentes.A educação das crianças deverá encontrar aí novos recursos;será, também, mais um espaço disponível para fazer com que apopulação local se aproprie da iniciativa cultural e que esta, mesmovinda de fora, reforce a identidade e a coesão social.O Corredor de Cidadania e Cultura é um dentre os muitosprojetos que, atualmente, estão sendo impulsionados pelo poderpúblico. L<strong>em</strong>bramos, também, que estão sendo desenvolvidas asetapas para a construção do “M<strong>em</strong>orial Ulysses Guimarães” <strong>em</strong> açãoconjunta com o governo federal. Trata-se de um projeto arquitetônicoaudacioso assinado por Oscar Ni<strong>em</strong>eyer.O prédio abrigará o acervo referente à m<strong>em</strong>ória desse grandeestadista brasileiro, cuja força vital foi continuamente dirigida nosentido de triunfar sobre quaisquer inimigos da d<strong>em</strong>ocracia. A históriade sua vida confunde-se com a história do Brasil e nada mais justoque Rio Claro, sua cidade natal, possa prestar-lhe essa homenag<strong>em</strong>.14Entend<strong>em</strong>os que a d<strong>em</strong>ocratização da cultura é um primeiropasso para que alcanc<strong>em</strong>os a verdadeira d<strong>em</strong>ocracia cultural. Açõescomo investimento no trabalho com bibliotecas e videotecasmunicipais, a mobilização dos artistas locais, a formação de agentesculturais e de mediadores de leitura, implantação de rádios etelevisões comunitárias que facilit<strong>em</strong> o acesso à informação cultural,aliadas a uma postura política que dê primazia à formação integral docidadão, são os caminhos que, trilhados com perseverança,conduzirão ao nosso alvo.A realização, neste mês de maio, do Fórum Regional dePolíticas Culturais, <strong>em</strong> Rio Claro, certamente impulsionará as açõesque já v<strong>em</strong> sendo <strong>em</strong>preendidas visando à conquista da d<strong>em</strong>ocraciacultural. Consideramos que a influência exercida pelo Fórum serádefinitiva no sentido de consolidar a participação da sociedade noprocesso de gestão cultural, contribuindo, ainda, para ofortalecimento da política de apoio às entidades culturais rioclarenses,para a continuidade e ampliação das ações que favorec<strong>em</strong>


12a descentralização das atividades culturais e para revitalizar oturismo cultural <strong>em</strong> nossa cidade e região. 15Papel da Comunicação na D<strong>em</strong>ocracia CulturalPrimeiramente, é preciso que se diga que d<strong>em</strong>ocracia,comunicação e cultura dev<strong>em</strong> ser analisadas a partir de umaabordag<strong>em</strong> integradora; no Brasil, s<strong>em</strong>pre ocorreu uma dicotomiaentre “comunicação” e “cultura”, no sentido <strong>em</strong> que os termos não seinterpenetravam. Essa dicotomia se exprimia nas Artes, na produçãocientífica e tecnológica e nas políticas públicas.O termo “comunicação” s<strong>em</strong>pre esteve associado à mídia, aosmeios de comunicação social, enquanto “cultura” associava-se àAntropologia, às Artes, ao Patrimônio Histórico e às manifestaçõespopulares, como as folclóricas, por ex<strong>em</strong>plo. A partir da década de 90começou a ocorrer uma mudança de paradigma e os termos“comunicação e cultura” começaram a surgir juntos, sugerindo quehavia uma nova leitura dessas questões. Ou seja, a visão dicotômica,muito lentamente, começou a se transformar <strong>em</strong> uma visãotransdisciplinar, capaz de agregar ambos os conceitos e as práticascorrespondentes a eles.Estava alavancada a busca da d<strong>em</strong>ocracia cultural, pois,partindo dessa visão agregadora, a Cultura começou a ser entendidacomo um território transdisciplinar. 17“Ao nível da prática, só se poderá falar <strong>em</strong> d<strong>em</strong>ocraciacultural se a comunicação e a cultura passar<strong>em</strong> a sertratadas dentro de um único projeto para o país, já queambos os campos faz<strong>em</strong> parte da mesma probl<strong>em</strong>áticasocial e política, aquela <strong>em</strong> que a burguesia nacional etransnacional concentra <strong>em</strong> suas mãos a quasetotalidade dos meios de produção material e simbólicae o poder político” 18Entend<strong>em</strong>os, então, que para se viabilizar<strong>em</strong> os objetivosd<strong>em</strong>ocráticos torna-se necessário incr<strong>em</strong>entar cada vez mais asações que conduzam à d<strong>em</strong>ocratização dos meios de comunicação.Isso implicaria na crescente descentralização das concessões de<strong>em</strong>issoras de rádio e de TV, destinando grande parte delas paraentidades da sociedade civil, no estabelecimento de um limite deconcentração da propriedade dos canais de rádio e de TV e noaumento do controle dos meios de comunicação por parte dapopulação.A disponibilização da telerradiodifusão a serviço da educação,da cultura e da informação jornalística d<strong>em</strong>ocrática, b<strong>em</strong> como apossibilidade de veiculação da produção local nos canais decomunicação de massa, abririam os caminhos da d<strong>em</strong>ocracia,permitindo o exercício dos direitos culturais. Estamos falando da


13presença da população na mídia: suas formas expressivas, suasnecessidades, as práticas b<strong>em</strong>-sucedidas, enfim, o seu dia-a-dia.Essas ações facilitariam a implantação daquilo que chamar<strong>em</strong>os de“justiça cultural”.Dentro de todo esse contexto, surgiu, <strong>em</strong> 1995, a lei queregulamenta a TV a cabo no Brasil, fruto de uma longa e acirrada lutatravada pelas mais variadas lideranças da sociedade civil <strong>em</strong> favor dad<strong>em</strong>ocratização da comunicação e da cultura.Segundo a lei, as operadoras ficam obrigadas a ceder<strong>em</strong>,gratuitamente, seis canais de utilidade pública, destinados aentidades s<strong>em</strong> fins lucrativos. Esses canais subdivid<strong>em</strong>-se doseguinte modo: um canal educativo, um universitário, trêslegislativos e um comunitário.O canal comunitário nas operações de TV a cabo constitui-se noespaço reservado para a divulgação de assuntos do interesse dascomunidades locais. Em Rio Claro, o canal comunitário começou adelinear-se a partir de uma reunião com entidades nãogovernamentaise s<strong>em</strong> fins lucrativos, ocorrida <strong>em</strong> janeiro de 2001.Entretanto, muitas dificuldades foram enfrentadas, sendo a principaldelas a resistência ao próprio conceito de TV comunitária.Porém, superados os obstáculos relativos à concepção do queseja um canal comunitário, formou-se a Associação das EntidadesUsuárias do Canal Comunitário de Rio Claro e, apesar das enormesdificuldades enfrentadas, o canal está para iniciar as suastransmissões. 19Formação do Conselho Municipal de Cultura – Prós eContrasO projeto de formação de um Conselho Municipal de Cultura, decaráter consultivo, está incluído nas propostas para formulação doplano de governo municipal na área de cultura (gestão 2001-2004).20“O Conselho Municipal de Cultura é um órgãocoletivo, com participação do poder público e dasociedade civil, que colabora na elaboração,execução e fiscalização da política cultural dogoverno municipal.” 21É claro que o estabelecimento do Conselho é um processo queexige extr<strong>em</strong>a diligência, já que o mesmo des<strong>em</strong>penharia funções d<strong>em</strong>ediador entre a sociedade e o governo, no campo da cultura.Embora o Conselho possa ser um canal facilitador da d<strong>em</strong>ocratizaçãoda cultura, é importante salientar que, dependendo da forma de suaimplantação, poderia gerar mais probl<strong>em</strong>as do que contribuir parasolucioná-los.


14Os maiores perigos ficam por conta do estabelecimento derepresentantes de entidades que não possuam verdadeirarepresentatividade no contexto municipal. Outro probl<strong>em</strong>a grave, oqual já ocorreu <strong>em</strong> alguns municípios, liga-se ao fato de não haverimparcialidade por parte dos representantes das entidades culturaisdo município no que se refere à distribuição das verbas e incentivos,ou seja, cada representante “puxaria a sardinha para sua brasa”.Esse fato implicaria um retorno ao sist<strong>em</strong>a clientelista.Provavelmente, um modelo eficaz de Conselho envolveria apresença do Secretário de Cultura como presidente, além daparticipação efetiva de diretores da área cultural, coordenadores dossist<strong>em</strong>as de bibliotecas públicas, museus e centros culturais, gestoresligados ao campo da preservação patrimonial e d<strong>em</strong>ais dirigentes efuncionários municipais que atuass<strong>em</strong> no âmbito cultural eeducacional.A participação da sociedade civil poderia ser minoritária,majoritária ou mesmo paritária; o essencial é que os representantesda sociedade civil, provavelmente representantes da entidades quedesenvolv<strong>em</strong> ações culturais no município, sejam escolhidos pelosseus pares através de votação e que haja uma garantia de queexercerão o seu papel de modo isento, imparcial. Do expostodepreend<strong>em</strong>os que a implantação de um Conselho Municipal deCultura é um projeto que exige muita preparação e uma participaçãorazoável do poder público. 22D<strong>em</strong>ocratização e Redes de Convivência CulturalO universal não pode ser abstraído de nenhuma cultura <strong>em</strong>especial, refere-se a tudo que surge da vivência e da comunicaçãodas experiências de todos os povos do mundo, cada um dos quaisafirmando a sua identidade. Sendo assim, identidade cultural ediversidade cultural não pod<strong>em</strong> ser dissociadas. Entend<strong>em</strong>os que aspeculiaridades de cada cultura dev<strong>em</strong> favorecer o compartilhamentodos valores universais e que o pluralismo cultural, quandodesprezado, implica no <strong>em</strong>pobrecimento da humanidade.A defesa da nossa identidade não implica <strong>em</strong> negar o processode globalização, ou seja, o encontro de várias culturas no mundo,mas <strong>em</strong> defender nossas tradições s<strong>em</strong> nos encerrarmos noisolacionismo. A d<strong>em</strong>ocratização cultural passa, também, pelacompl<strong>em</strong>entaridade conquistada pelas redes de relações solidáriasestabelecidas com várias culturas. Na busca da d<strong>em</strong>ocratização, RioClaro não está isolada nos cenários regional, nacional e internacional.No ano de 1997, através de um projeto pioneiro do entãoSecretário Municipal de Cultura e vice-prefeito de Rio Claro, Dr.Cláudio Zerbo, foi criado <strong>em</strong> nossa região um corredor geográfico


15cultural – o Corredor Intermunicipal de Cultura, incluindo as cidadesde Rio Claro, Araras, Piracicaba, Limeira, Santa Bárbara e Americana.Os objetivos fundamentais seriam a promoção do intercâmbio culturalentre as cidades e a valorização da produção cultural local.O projeto do Corredor se constituiu <strong>em</strong> um grande sucesso,atingindo suas metas através de ações nas mais diversas áreas dofazer cultural de cada município envolvido. Foram desenvolvidostrabalhos na área de Literatura, inclusive um concurso literárioenvolvendo os escritores das cidades participantes do Corredor, oqual resultou no lançamento de uma Antologia reunindo as obrasselecionadas <strong>em</strong> cada cidade. Muitos são os eventos desenvolvidospelo Corredor: exposições, mostras de teatro, festivais de música,entre outros.A união dos municípios do Corredor, visando à realização deações conjuntas, acarretou inúmeros benefícios s<strong>em</strong> diminuir aautonomia de cada cidade, funcionando, principalmente, como ummecanismo de fomento das atividades culturais. Facilitou, também, ointercâmbio e a convivência entre os produtores culturais de cadalocalidade.É importante salientar, ainda, que a Secretaria Municipal deCultura é filiada à Rede Mercosul Cultural, que reúne animadores,produtores e administradores culturais de países m<strong>em</strong>bros doMercosul, além do Chile e da Bolívia.Rio Claro também faz parte da Unidade T<strong>em</strong>ática de Cultura daRede de Mercocidades, participando ativamente das reuniões e dosintercâmbios, além de participar, através do CREC – Centro Rio-Clarense de Estudos Cin<strong>em</strong>atográficos, da entidade conhecida como“La Red de Productores Culturales de Latino América y el Caribe”.Nos cenários estadual e nacional, Rio Claro também t<strong>em</strong> sedestacado por desenvolver ações e pela realização de eventosimportantes, como o PRODANSP, o Encontro de Escritores e o Festivalde MPB, eventos que reún<strong>em</strong> atores culturais de todo o Estado deSão Paulo e mesmo de outros Estados do país.A cidade mantém excelentes relações com o Ministério daCultura, marcando presença, também, nos projetos culturaisdesenvolvidos pelo governo do Estado de São Paulo, como é o casodo Mapa Cultural Paulista que conta com representantes rio-clarenses<strong>em</strong> suas várias modalidades. Exist<strong>em</strong> laços de convivência culturalcom algumas entidades muito importantes no cenário culturalbrasileiro, como a UBE – União Brasileira de Escritores, a REBRA –Rede de Escritoras Brasileiras e o Fórum Intermunicipal de Cultura,ligado ao Instituto Pólis. 23


16Acreditamos que a realização do Fórum Regional de PolíticasCulturais, prevista para os dias 27, 28 e 29 de maio, consolidará aimag<strong>em</strong> de Rio Claro como um município que valoriza a Cultura comoo verdadeiro sist<strong>em</strong>a nervoso central desse organismo vivo quechamamos cidade.Notas de Referência1- CARLACCIO, Edmundo. Administração Cultural de Municípios deGrande Porte. São Paulo, 2000.2- COUTINHO, Carlos Nelson. Cultura e Sociedade no Brasil. Rio de Janeiro:Ed. UFRJ. 2000.3- Op. Cit.4- PAULICS, Veronika. Desenvolvimento Local e Redes de Solidariedade.Revista <strong>Di</strong>cas. São Paulo. 20015- TOURAINE, Alain. Programa Roda Viva. Rede de Televisão Cultura. Exibido<strong>em</strong> 22/04/2002.6- PEREIRA, Dulce Maria. D<strong>em</strong>ocracia Racial: O mito, o desejo, a história.http://www.mre.gov.br/revista/numero06/facenegra.htm (captado <strong>em</strong>07/04/2002)7- TOURAINE, Alain. Recomec<strong>em</strong>os a partir do indivíduo. Micromega, Lisboa,1996.8- PRADO, Carlos Eduardo. Comunicação, Cultura e D<strong>em</strong>ocracia: UmaAbordag<strong>em</strong> Integradora. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo,1998.9- Relatórios da Secretaria Municipal de Cultura. Gestão 1997-2001.10- Documento de Projeto das Políticas Públicas Culturais da Frente Rio Claro.199711- SUASSUNA, Ariano. Teleconferências Educativas do Departamento Nacional,SESC. 30/05/2000.12- Documento de Projeto da Secretaria Municipal de Turismo.13- Caderno de Documentos n.º 3 – "Cartas Patrimoniais"-Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –IPHAN. Brasília, 199514- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com Rocco Caputo. <strong>Di</strong>retor do PatrimônioHistórico Municipal. 12/04/2002.15- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com João Baptista Pimentel Neto. <strong>Di</strong>retor de<strong>Di</strong>fusão Cultural. 12/04/2002.16- PRADO, Carlos Eduardo. Comunicação, Cultura e D<strong>em</strong>ocracia: UmaAbordag<strong>em</strong> Integradora. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo,1998.17- Op. Cit.


1718- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Rogério da Cunha. <strong>Di</strong>retor técnico e deProdução da Televisão comunitária. 05/05/2002.19- Documento do Fórum Intermunicipal de Cultura. Instituto Pólis. 1999.20- Documento da Frente Rio Claro (Área de Cultura)Gestão 2001-2004.21- Documento do Fórum Intermunicipal de Cultura. Instituto Pólis.22- Op. Cit23- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do <strong>Di</strong>retor de <strong>Di</strong>fusão Cultural daSecretaria Municipal de Cultura – João Batista Pimentel Neto. 20/05/2002.


18AÇÃO CULTURAL DESCENTRALIZADAA construção da d<strong>em</strong>ocracia cultural passa, obrigatoriamente,pelas ações que permit<strong>em</strong> a descentralização da cultura, facultando atodos os cidadãos o acesso às atividades de formação, àprogramação artística e aos projetos culturais.A descentralização das ações culturais da Secretaria ou dequaisquer outros departamentos administrativos ligados à Culturaconstitui-se num mecanismo que coopera no sentido de tornartransparente e dar visibilidade às ações governamentais nessa área.Ao desconcentrarmos as atividades culturais, t<strong>em</strong>os uma dinamizaçãodas potencialidades artísticas da comunidade, tornando viável osurgimento de grupos criativos.Não é um trabalho fácil n<strong>em</strong> passível de ser realizado a curtoprazo; para que ocorra uma verdadeira ação descentralizadora éfundamental a compreensão de que não basta levar os espetáculos eos eventos para ser<strong>em</strong> apresentados na periferia, esse seria apenasum tímido primeiro passo na direção do alvo.Consideramos que, primeiramente, a cidade teria que seranalisada sob o ponto de vista da pluralidade cultural das váriaslocalidades; essa ação envolveria o trabalho conjunto de pessoasligadas ou não à administração municipal que atuariam no sentido decoletar informações, registrar as práticas culturais existentes nacidade, pesquisar a existência de grupos criativos que pudess<strong>em</strong> serfortalecidos e, por outro lado, também agiriam como formadores deopinião, diss<strong>em</strong>inadores de informações culturais que consigamincutir na população a certeza de que qualidade de vida t<strong>em</strong> tudo aver com cultura. Todas essas ações, na verdade, deveriam culminarno mapeamento da diversidade cultural do município.Do ponto de vista dos governos locais, o essencial é que haja acompreensão de que fazer cultura é negócio do povo; o poder públicodeveria posicionar-se, s<strong>em</strong>pre, como incentivador e parceiro,disponibilizando equipamentos, adequando espaços, oferecendoformação, repassando verbas, enfim, transformando-se num pontode apoio sólido e confiável para os produtores culturais dacomunidade.Cumpre-nos afirmar que uma das principais ferramentas dadescentralização é a divulgação das atividades e dos cursos deformação, enfim, de toda a movimentação cultural que acontece nacidade; no caso do município de Rio Claro, as informações sãorepassadas para a população através das várias modalidades d<strong>em</strong>ídia atuantes na cidade, e também da veiculação do Calendário deEventos, o qual fica à disposição do público <strong>em</strong> inúmeros locais:bibliotecas dos bairros, Centro Cultural, Museu etc.


19Um dos objetivos da atual política cultural implantada <strong>em</strong> RioClaro é priorizar as ações inter-secretariais, otimizando aadministração cultural e favorecendo o estreitamento de relaçõescom organismos da sociedade civil. 1 Principalmente, o processo dedescentralização conduz a uma revitalização das atividadesrelacionadas às expressões culturais das periferias das cidades, dosbairros mais afastados e dos distritos, como é o caso dos projetos “ACultura vai aos <strong>Di</strong>stritos” e “A Cultura vai aos Bairros” 2 , jáimplantados <strong>em</strong> Rio Claro. Os bairros e distritos favorecidos pelosprojetos de formação e difusão cultural, atualmente, são:Jardim Guanabara: as atividades desenvolvidas estãoconcentradas no Centro Comunitário: oficinas de dança de rua,capoeira e desenho <strong>em</strong> quadrinhos. Além do mais, são realizadasreuniões de casais, visando abordar t<strong>em</strong>as como a probl<strong>em</strong>áticasócio-cultural e familiar. A Secretaria de Esportes apóia a realizaçãode aulas de ginástica voltadas para o público f<strong>em</strong>inino. Nas tarde dedomingo (quinzenalmente) acontece um show musical na praça <strong>em</strong>frente ao CAIC, evento denominado “Música e Amizade na Praça”. Asações são inter-secretariais, envolvendo também as Secretarias deEsportes, Ação Social, Saúde e Educação. 3Parque Mãe Preta: nesse bairro realiza-se o projeto deformação cultural “Acolher com Arte”, que teve início <strong>em</strong> agosto de2001 e cujas atividades desenvolv<strong>em</strong>-se de segunda a sexta-feira naparte da tarde. O projeto constitui-se numa ação inter-secretarialenvolvendo o Gabinete do Prefeito, as Secretarias de Saúde, Cultura,Educação e Ação Social, além do Fundo Social de Solidariedade e deuma representante do Clube de Mães do bairro Mãe Preta. Faz partede um programa de ações sociais muito abrangente, o “ProjetoAcolher”, relacionado às áreas cujas Secretarias citadas encontram-seenvolvidas.O projeto, como um todo, surgiu para atender a camadasmenos favorecidas da população; a designação “Acolher com Arte”retrata a preocupação <strong>em</strong> estimular e garantir a produção intelectuale artística desses indivíduos, estabelecendo condições sócio-culturaisque promovam a inclusão social. O projeto busca desenvolveratividades que despert<strong>em</strong> a sensibilidade artística, b<strong>em</strong> comoincentivar quaisquer outras ações pré-existentes nessas comunidadesda periferia.De modo geral, os objetivos do projeto envolv<strong>em</strong> a valorizaçãoda produção cultural local, propiciando condições favoráveis para adescoberta e desenvolvimento de qualidades e aptidões entre ascrianças e adolescentes beneficiados. Pretende, ainda, induzir àconscientização acerca da importância da participação coletiva <strong>em</strong>ações que possam melhorar a qualidade de vida nos grupos dos quais


20faz<strong>em</strong> parte, fato que coopera para o resgate da dignidade dosindivíduos e da comunidade.A metodologia de implantação do projeto realizou-se através docadastramento prévio de crianças entre 05 e 14 anos (númeromáximo de 35 crianças por grupo), residentes nos bairros Mãe Preta,Vila industrial e Arco Íris. A concretização das ações está ocorrendomediada por oficinas administradas por monitores da PrefeituraMunicipal, supervisionados pela coordenadoria pedagógica daSecretaria Municipal de Educação, além de contar<strong>em</strong> também com asupervisão das Secretarias de Cultura e Ação social. Relacionamos,<strong>em</strong> seguida, as oficinas realizadas:TEATRO: as atividades desenvolvidas pretend<strong>em</strong> estimular acriatividade e o aperfeiçoamento de habilidades artísticas através dedramatizações, confecção de bonecos e máscaras, improviso e dança;os objetivos são melhorar a auto-estima dos participantes, promovera socialização e o senso de responsabilidade.CAPOEIRA: as oficinas permit<strong>em</strong> inculcar nos participantesnoções de união, humildade, respeito ao próximo, ao mesmo t<strong>em</strong>poque estimulam a auto-confiança. São administradas, também, aulasteóricas que explicam as origens dessa arte e como ocorreu suaintrodução no Brasil.CIRCO-TEATRO NA RUA: proporciona noções básicas deexpressão corporal, interpretação, monociclo, perna-de-pau,malabares, acrobacias e d<strong>em</strong>ais atividades circenses, permitindo odesenvolvimento da coordenação motora e do senso de trabalhocoletivo, os quais serão úteis no cotidiano.RECREAÇÃO – POESIA E HORTA: atividade lúdica que valorizao ato de brincar, visando o entrosamento social e desenvolver orespeito pelo meio-ambiente.HIP-HOP: estimula a produção cultural na área das ArtesPlásticas através do grafitismo além de promover a saúde física <strong>em</strong>ental mediada pelo aprendizado das chamadas “danças de rua”.ORIENTAÇÃO ESCOLAR: atividade de apoio ao aprendizado; osparticipantes contam com auxílio para confeccionar as tarefasescolares diárias e, caso os pais solicit<strong>em</strong>, é oferecido reforço escolar.Cumpre-nos ressaltar que é realizado um acompanhamentomédico, o qual t<strong>em</strong> por objetivo transmitir noções de nutrição ehigiene, além de acompanhar o desenvolvimento físico e mental dosparticipantes. Os recursos para a manutenção do projeto advém dasdiversas secretarias envolvidas. São realizadas reuniões quinzenaisentre os monitores e a coordenadoria geral do projeto para aferiçãodos resultados. 4


21Centro da Cidade: inúmeras são as atividades culturais quedesbordam para o centro da cidade, promovendo a ocupação depraças, da estação ferroviária, do Gabinete de Leitura, MuseuHistórico e Pedagógico “Amador Bueno da Veiga”, Centro Cultural“Roberto Palmari”, entre outros.No Jardim Público, por ex<strong>em</strong>plo, no período de 31 de outubroa 17 de nov<strong>em</strong>bro de 2001, ocorreu um polievento de culturapopular, articulado pela Secretaria Municipal de Cultura, <strong>Di</strong>retoria deFormação Cultural e pela Cia Quanta de Artes Cênicas, envolvendo osartistas locais, preparados pelos cursos administrados pelosmonitores contratados pela Secretaria de Cultura. Participaram dasmanifestações a Banda União dos Artistas Ferroviários, os Violeiros doJardim Guanabara, os grupos ligados à Cultura Hip-Hop, os alunos dedança de rua e capoeira, também do Jardim Guanabara, as bandas“Facamolada” e “Zig-Zira”. O Teatro de Rua atingiu o ponto alto coma montag<strong>em</strong> de “Jesus Hom<strong>em</strong>” de Plínio Marcos, representado pelosalunos do Curso de Teatro do Centro Cultural e os alunos dos cursosdo Jardim Guanabara, Ferraz e Assistência. 5Aos domingos pela manhã, também no Jardim Público,acontec<strong>em</strong> os encontros dos Seresteiros; socialização e música deexcelente qualidade são o ponto alto desses eventos que, pela suapopularidade, já se tornaram essenciais para os rio-clarenses.O projeto “Raízes Musicais”, envolvendo bandas que tenhamalguma pesquisa na área musical, acontece aos sábados, ainda noJardim Público, no Coreto “Fábio Marasca”. Trata-se de uma açãocoordenada entre a Secretaria de Turismo e a <strong>Di</strong>retoria de Eventos. 6A Praça Dalva de Oliveira também é palco de atividadesculturais ligadas à música, promovidas pela <strong>Di</strong>retoria de Eventos eSecretaria Municipal de Turismo; aos domingos, por volta das 18horas, um grande público comparece ao local para desfrutar d<strong>em</strong>omentos agradáveis ao som dos Seresteiros, grupos de Chorinho ecantores de MPB. Além de valorizar nossos artistas, possibilitandoque divulgu<strong>em</strong> seu trabalho, essas ações favorec<strong>em</strong> o entrosamentoda população. 7A Estação Ferroviária, que atualmente passa por um processode restauração, iniciado no ano 2000, t<strong>em</strong> se transformado numespaço privilegiado de manifestações culturais. Constant<strong>em</strong>ente sãorealizadas exposições, feiras de artesanato, eventos os maisvariados, como por ex<strong>em</strong>plo a Festa de San Gennaro, que, tendo sidocriada <strong>em</strong> 1997, atingiu seu ponto alto no ano de 2001 compresença recordista de público; os bailes carnavalescos, showsmusicais, Festival de Música Gospel, Encontro de Ufólogos e Místicosde Rio Claro, entre muitas outras atividades abrangendo as maisvariadas áreas culturais. 8


22O Centro Cultural “Roberto Palmari”, sobre o qual jádiscorr<strong>em</strong>os detalhadamente no capítulo anterior, transformou-senuma verdadeira referência no que se refere à formação e difusãocultural; ali são oferecidos cursos de teatro, desenho, cursos dedanças brasileiras, capoeira, teclado, dança do ventre, violão,atividades ligadas à cultura Hip-Hop, pesquisa folclórica.Destacar<strong>em</strong>os alguns fatos que, pela sua relevância, d<strong>em</strong>onstramcomo ao longo desses últimos anos a utilização do local tornou-secada vez mais otimizada. 9A implantação do “Projeto Férias”, <strong>em</strong> 1997, colaborousignificativamente para a apropriação do espaço do Centro Culturalpelas crianças <strong>em</strong> idade escolar; no encalço delas vieram os irmãosmais velhos, os pais, que foram tomando conhecimento dasatividades oferecidas, passaram a envolver-se, a participar. Dessaforma, uma parcela da população que se encontrava excluída docircuito cultural foi sendo agregada, produzindo-se uma mudançabastante positiva no processo cultural do município. O projeto, queteve sua sexta edição <strong>em</strong> 2002, conta atualmente com enormeadesão de público.As exposições, conferências, feiras, espetáculos teatrais, showsmusicais, apresentações de dança, acontec<strong>em</strong> ininterruptamente,sendo que o público é extr<strong>em</strong>amente variado, composto por inúmerossegmentos da comunidade rio-clarense.O Projeto “A Cultura vai aos <strong>Di</strong>stritos” 10 cont<strong>em</strong>pla atualmenteos seguintes locais:Ajapi: atividades desenvolvidas aos sábados, no centro Rural.No momento está disponível o curso de desenho <strong>em</strong> quadrinhos; estáprogramada uma exposição dos trabalhos.Assistência: têm sido realizadas atividades de teatro, aossábados; planejam-se caravanas culturais para apresentações com osalunos do curso de teatro do Centro Cultural.Ferraz: planeja-se a realização de oficinas de teatro e estáprogramada para o final de 2002 uma mostra do trabalho que seráapresentada no Centro Comunitário local.Projeto “Estação Azul”O projeto “Estação Azul”, idealizado pelo Sist<strong>em</strong>a deBibliotecas Públicas, está des<strong>em</strong>penhando um papel fundamental noprocesso de descentralização, agilizando o acesso à leitura e àinformação cultural. O documento de projeto coloca como áreas de


23atuação a comunidade rio-clarense, priorizando a periferia, osdistritos e a zona rural. 11O documento enfatiza que, no contexto brasileiro, não bastaque a pessoa seja alfabetizada, é importantíssimo que sejam<strong>em</strong>preendidas ações que facilit<strong>em</strong> o acesso à produção didática eliterária, cujo objetivo final seria a formação de leitores críticos, aptosao exercício pleno da cidadania. O processo de inclusão social nãopode prescindir da diss<strong>em</strong>inação do livro.O ônibus-biblioteca possui <strong>em</strong> seu acervo um númeroconsiderável de obras, abordando as mais variadas t<strong>em</strong>áticas.Segundo dados obtidos através de entrevista com funcionárias doGabinete de Leitura que acumulam a função de monitoras do ônibus,são quatro os bairros atualmente beneficiados pelo projeto: JardimNovo Wenzel, Jardim das Flores, Jardim Guanabara e Jardim Brasília,além dos distritos de Ajapi e Batovi. 12 O ônibus, que opera duasvezes por s<strong>em</strong>ana, visita quinzenalmente os bairros e distritoscitados, porém, segundo as entrevistadas, a d<strong>em</strong>anda é maior.A receptividade da população é “maravilhosa, as pessoas ficamfelizes, as crianças nos abraçam e beijam, as mulheres contam suas13dificuldades; eles se sent<strong>em</strong> importantes, privilegiados.”Depreend<strong>em</strong>os da declaração da entrevistada que estão sendoestabelecidas redes de solidariedade entre os funcionários e apopulação.Logo que o projeto foi implantado, <strong>em</strong> 2001, as dificuldadeseram enormes, pois a maioria das pessoas nunca antes havia tidocontato com uma biblioteca; inclusive, foi necessário criar um novosist<strong>em</strong>a de classificação que pudesse ser assimilado por eles. Hoje,um ano após a implantação, os resultados são gratificantes: o ônibusconta com aproximadamente 1.200 sócios cadastrados; a maioria dosusuários são crianças, adolescentes e mulheres.Ocorreu uma mudança no modo de falar das pessoas, melhoraconsiderável na auto-estima, os índices de pesquisa escolaraumentaram gradativamente, os moradores descobriram-seincentivados a estudar e inscrever-se para concursos, o que implicanuma melhoria da qualidade de vida. S<strong>em</strong> dúvida, pod<strong>em</strong>os afirmarque o projeto “Estação Azul”, através do ônibus-biblioteca, estámudando a organização social dos bairros.Por outro lado, as nossas entrevistadas também revelam umalto nível de satisfação pessoal com as atividades que des<strong>em</strong>penhamcomo monitoras do ônibus. Acreditamos que cursos de formação, dotipo mediadores de leitura, otimizariam o trabalho dessas pessoas,beneficiando ainda mais a população.


24Avaliando as declarações, entend<strong>em</strong>os que o potencial doônibus-biblioteca é imenso; pode ser utilizado, numa ação intersecretarial,para realizar campanhas de conscientização sobreassuntos importantes para a comunidade, como já aconteceu <strong>em</strong>outubro de 2001, durante a “S<strong>em</strong>ana da Amamentação”, desenvolverprojetos de formação cultural, atividades educacionais e recreativas ecolaborar no mapeamento da diversidade cultural do município.Núcleo de Cultura PopularAs atividades <strong>em</strong>preendidas pelo Núcleo de Cultura Popular,baseado na Floresta Estadual “Navarro de Andrade”, tambémcontribu<strong>em</strong> para o fortalecimento da descentralização, b<strong>em</strong> como oprojeto “Música no Horto” e a instalação da Biblioteca MonteiroLobato no local. 14 O objetivo fundamental é resgatar o local,importante patrimônio natural do município e colocá-lo a serviço dacomunidade.Festas PopularesOutro fato importante que contribui para a descentralizaçãocultural além de promover a socialização das comunidades envolvidasrefere-se à realização de festas populares <strong>em</strong> determinados bairros,festas ligadas ao imaginário da população local. Citamos:Eventos do Carnaval: as atividades desenvolvidas durante osfestejos carnavalescos pretend<strong>em</strong>, sobretudo, resgatar a cultura evalorizar as manifestações populares através da realização deeventos que englob<strong>em</strong> toda a comunidade. Os bailes e desfilesdesbordam para vários locais da cidade. T<strong>em</strong>os o desfile datradicional Banda do Veneno, desfiles de blocos no Jardim Público,bailes e shows na Estação Ferroviária e na praça Dalva de Oliveira.Destacamos o projeto Cidadão Carnavalesco, desenvolvidopelas Secretarias de Cultura e de Turismo, além da <strong>Di</strong>retoria deEventos; trata-se de uma homenag<strong>em</strong> aos grandes foliões docarnaval rio-clarense que, na ocasião, receb<strong>em</strong> o <strong>Di</strong>ploma de“Cidadão Carnavalesco”. 15Festa de São Francisco do Canindé: acontece no mês deoutubro no Bairro Cervezão, mais especificamente na Lagoa Seca. Éfato que uma grande parcela da população desse bairro é provenienteda região de Canindé, no nordeste do país; sendo assim, buscandopreservar as tradições culturais e religiosas dessas pessoas, a subprefeiturado bairro resolveu incentivar a realização da festa, que, noano de 2001, teve sua 3 a . edição, apresentando, inclusive, umaexposição fotográfica referente à cidade de Canindé e à Romaria deSão Francisco. 16


25Festa de San Gennaro: surgiu <strong>em</strong> 1997 com a finalidade deatender aos pedidos de um segmento da população rio-clarense cujasraízes r<strong>em</strong>ontam ao norte da Itália; são filhos, netos e bisnetos dosimigrantes que contribuíram para o desenvolvimento de nossa região.Desde sua primeira edição o <strong>em</strong>preendimento provou ser um grandesucesso. O evento caracteriza-se por oferecer comidas típicas, numambiente permeado por canções italianas e pela camaradag<strong>em</strong>. 17Festa de Santo Antônio: acontece há três anos, na FlorestaEstadual “Edmundo Navarro de Andrade” (antigo Horto). Atualmente,a festa conjugou-se a um outro evento, o Encontro de Cowboys,ambos realizados no mês de junho. As atividades inclu<strong>em</strong> desfile decavaleiros e bailes no estilo country. 18Arraial Azul: é realizado no mês de julho, há treze anos, nochamado Espaço Livre da Avenida Visconde do Rio Claro. Encerra ociclo de festividades juninas <strong>em</strong> nossa região. O evento é bastantefreqüentado pela população e possui um cunho filantrópico, pois asbarracas de comidas típicas são comandadas por entidades voltadaspara a ação social. 19Festa das Nações: essa tradicional festa já está <strong>em</strong> sua 27 a .edição. A festa de 2001 contou com o retorno das colônias síria,italiana e japonesa, as quais estavam ausentes do evento há pelomenos 4 anos. Também possui cunho filantrópico. 20Todas essas ações t<strong>em</strong> procurado devolver a voz a essascomunidades da periferia, as quais têm tido a oportunidade deexpressar o seu “fazer cultural”, desenvolvendo o potencial regionale cooperando para a preservação da identidade cultural.Muitas outras atividades são desenvolvidas, conformeapuramos mediante consulta aos relatórios das diversas secretarias,b<strong>em</strong> como aos jornais locais que dão cobertura aos eventosrealizados. Algumas dessas atividades objetivam enfatizar datasimportantes para a sociedade de modo geral.É o caso da S<strong>em</strong>ana da Mulher, evento que t<strong>em</strong> sido realizadodesde 1998, tendo tomado impulso devido ao <strong>em</strong>penho da vereadoraRaquel Picelli. Envolve as ações coordenadas de várias secretarias edepartamentos, como o Fundo Social de Solidariedade, as secretariasde Cultura, Turismo e Educação, além de contar com o apoio deinúmeras entidades da sociedade civil e da iniciativa privada. Asatividades realizam-se <strong>em</strong> vários pólos da cidade, além do centrocultural. São realizadas palestras, concurso de poesias com o t<strong>em</strong>a daS<strong>em</strong>ana, exposições de arte e saraus t<strong>em</strong>áticos. 21Outras datas significativas com<strong>em</strong>oradas com eventos especiaissão, respectivamente, a S<strong>em</strong>ana do Meio-Ambiente, S<strong>em</strong>ana UlyssesGuimarães, S<strong>em</strong>ana do Índio, entre outras. 22


26Concluindo a exposição e ao mesmo t<strong>em</strong>po buscando umaavaliação quantitativa e qualitativa dos objetivos e ações que t<strong>em</strong>sustentado o esforço da administração pública visando àdescentralização cultural, apontamos para o fato, transparente, deque o desenvolvimento local resulta da sinergia das forças ecapacidades locais com os meios exógenos, investimentos privados,além dos créditos públicos.Isto vale para todos os setores. E vale também para o setorcultural: na dinâmica do sist<strong>em</strong>a de desenvolvimento, o setor culturalestá estreitamente ligado aos outros, à iniciativa local, ao potencialhumano, à política etc. A cultura, simplificando as coisas, é, a estenível, o patrimônio, a natureza e a criação, as tradições orais, ossaberes, enfim, as expressões locais.Finalizando, acreditamos que <strong>em</strong> Rio Claro a cultura t<strong>em</strong> serevelado como um poderoso agente favorecedor da plena realizaçãodas personalidades, tendo se transformado num dos mais eficazesvetores do desenvolvimento local.Notas de Referência1- Documento de Projeto da Frente Rio Claro – Gestão 2001-2004.2- Documento de Projeto da <strong>Di</strong>retoria de <strong>Di</strong>fusão Cultural. 1999.3- Op. Cit.4- Documento do projeto “Acolher”. 1999.5- Relatórios da Secretaria Municipal de Cultura – <strong>Di</strong>retoria de Eventos.2001.6- Op. Cit.7- Op. Cit.8- Relatórios da Secretaria de Turismo e <strong>Di</strong>retoria de Eventos. 2001.9- Relatórios das <strong>Di</strong>retorias de Eventos e <strong>Di</strong>fusão Cultural. 1997-2001.10- Documento do projeto. <strong>Di</strong>retoria de Formação Cultural. 2000.11- Documento do projeto. Sist<strong>em</strong>a de Bibliotecas Públicas. 2000.12- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com as monitoras do projeto – CristianeP. de Melo Bortolozi e Sônia Regina E.L. Francisco - 16/04/2002.13- Depoimento da monitora do projeto Cristiane P. de MeloBortolozi.16/04/2002.14- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com <strong>Di</strong>retor de <strong>Di</strong>fusão Cultural JoãoBaptista Pimentel Neto. 30/04/2002.15- Documento de projeto. Secretarias de Cultura e Turismo. 2001.


2716- Relatórios da Secretaria Municipal de Cultura.2001.17- Relatórios da Secretaria Municipal de Turismo e <strong>Di</strong>retoria de Eventos.2001.18- Op. Cit.19- Op. Cit.20- Op. Cit.21- Relatórios da Secretaria Municipal de Cultura. 2001.22- Calendário de Eventos da Secretaria Municipal de Cultura. 1997-2002.


28CONSTRUINDO A IDENTIDADE CULTURALComo já enfatizamos no primeiro capítulo, a globalização aoexpandir-se por todos os continentes atropelou e descaracterizou ariqueza de inúmeras culturas, mercantilizando relações que, outrora,possuíam como esteio a vida comunitária, a gratuidade, as trocasafetivas, enfim, toda a simbologia referente ao imaginário depopulações distintas.O fato de que uma economia globalizada não só estimule comotambém constranja os indivíduos a aceitar<strong>em</strong> a mundialização desseimaginário pode ser considerado uma forma de violência contra asculturas locais. Daí o surgimento de movimentos de resistênciacultural, de re-apropriação das heranças culturais locais, de defesadas tradições, pois, “no local está a essência e no global aaparência”. 1Entend<strong>em</strong>os que lutar pela preservação da identidade culturalnão significa negar o processo de globalização, mas, sim, tomar umaatitude de proteção das “cores” da localidade, compreendendo que éno contexto local que os seres humanos criam, e somente partindodessa visão de criação local é possível falar <strong>em</strong> multiculturalidade.A valorização das raízes, etnias e raças, religiões, históriapartilhada, manifestações culturais, expressões artísticas, devefundamentar a estruturação dos processos de preservação deidentidade. A defesa do patrimônio cultural e artístico também é fatordeterminante nessas questões.Se acreditamos que cada cultura simboliza um conjunto devalores ímpar e insubstituível, t<strong>em</strong>os que nos engajar na luta pelapreservação desses valores, aceitando que qualquer forma desubordinação ou negação dos mesmos destrói o senso de identidade.Segundo a Declaração do México, resultante da Conferência MundialSobre as Políticas Culturais (1982):“A identidade cultural é uma riqueza quedinamiza as possibilidades de realização daespécie humana ao mobilizar cada povo e cadagrupo a nutrir-se de seu passado e a colher ascontribuições externas compatíveis com a suaespecificidade e continuar, assim, o processo desua própria criação. Todas as culturas faz<strong>em</strong>parte do patrimônio comum da humanidade. Aidentidade cultural de um povo se renova eenriquece <strong>em</strong> contato com as tradições e valoresdos d<strong>em</strong>ais. A cultura é um diálogo, intercâmbiode idéias e experiências, apreciação de outrosvalores e tradições; no isolamento, esgota-se <strong>em</strong>orre.” 2


29Quando falamos <strong>em</strong> identidade cultural estamos nos r<strong>em</strong>etendoà formação e projeção de nossa personalidade histórica através dost<strong>em</strong>pos. Essa personalidade histórica é representativa de nossoideário, composto pelos hábitos, costumes, padrões decomportamento, criações artísticas, literárias e folclóricas.Inexistindo o cuidado <strong>em</strong> preservar esse ideário, a sociedadeperde o rumo, deixando de ser norteada por suas próprias raízesculturais e, conseqüent<strong>em</strong>ente, colocando <strong>em</strong> xeque a nossa própriaidentidade cultural. Portanto, não pod<strong>em</strong>os aceitar a mundializaçãodos valores culturais dominantes, elitizados.Sintetizando as pr<strong>em</strong>issas e definições acerca de cultura,poderíamos afirmar que o sentido de cultura excede uma produçãoelaborada e elitizada:“Cultura é o cotidiano das populações, que a produzpara resolver seus probl<strong>em</strong>as de sobrevivência, para seentender dentro do mundo e estabelecer suas relaçõesentre pessoas. É o conceito sócio-antropológico queestá no fazer, no pensar das populações humanas”. 3Nesse sentido, a política cultural praticada no contexto domunicípio deverá ser formatada de modo a refletir os processoscriativos dessa população, viabilizando o resgate do senso depertencer.Torna-se necessário enfatizar que não somos avessos aocontato com outras culturas, ao enriquecimento que é fruto desseintercâmbio; tão somente pretend<strong>em</strong>os zelar para que não ocorra adescaracterização cultural. Como nos diz a "Carta aos Candidatos",do Fórum Intermunicipal de Cultura:“Um dos resultados negativos da globalização é umamplo desenraizamento que desfaz modos de vidaslocais, expropria milhões de seres humanos de suasreferências culturais e de suas próprias vidas. Assim,todo um processo cultural entra <strong>em</strong> decadência e, <strong>em</strong>troca, é oferecido um padrão fabricado pelo consumo,que t<strong>em</strong> na mídia um <strong>em</strong>ulador permanente,pasteurizando todo e qualquer tipo de diferença". 4É contra isso que nos posicionamos; é no sentido de evitar queisso ocorra que a atual administração pública municipal de Rio Clarot<strong>em</strong> priorizado ações que visam fortalecer os trabalhos <strong>em</strong>preendidospela <strong>Di</strong>retoria do Patrimônio Histórico e pelo Arquivo Público eHistórico do Município de Rio Claro, ao mesmo t<strong>em</strong>po que valoriza eapóia os grupos criativos atuantes na cidade.Esclarec<strong>em</strong>os que à <strong>Di</strong>retoria do Patrimônio Histórico compete aresponsabilidade pelas ações de preservação e recuperação dopatrimônio histórico-arquitetônico e cultural pertencente ao município


30e o Arquivo Municipal atua como guardião da documentaçãoproduzida na cidade. Em seguida abordar<strong>em</strong>os, detalhadamente, amissão do Arquivo e os trabalhos desenvolvidos nos prédios quecompõ<strong>em</strong> o patrimônio municipal.Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro“Oscar de Arruda Penteado” – Espaço de CidadaniaO Arquivo do município, entidade autárquica, foi criado <strong>em</strong>1979 e, desde sua implantação, atua na área de preservação dopatrimônio documental relativo à cidade de Rio Claro. O objetivofundamental é o recolhimento e a preservação dos documentosproduzidos pelos órgãos municipais (Executivo e Legislativo).Todavia, segundo o ato que define sua personalidade jurídica(Lei Municipal no. 1573, de 11 de outubro e 1979), fica estabelecidoque ao Arquivo compete, também, a coleta de documentos nãooficiais, seja através de doações, custódia, permuta ou compra,organizando-se, assim, um acervo de grande importância no que serefere à reconstituição da história regional e à proteção dosinteresses dos cidadãos e da administração pública.O Arquivo é administrado por uma Superintendência à qualestão subordinados os setores de Arquivo Intermediário, ArquivosPrivados, Arquivo Permanente, Biblioteca, H<strong>em</strong>eroteca, ApoioAdministrativo, Finanças e Recursos Humanos. Existe a supervisãoefetuada por um Conselho Superior, composto por nove m<strong>em</strong>bros.O Arquivo Municipal é uma referência quando se trata depesquisa histórica regional, garantindo, também, o acesso àsinformações contidas no acervo documental que custodia. A entidadetambém chama a si a responsabilidade de registrar expressõesculturais de interesse para o município através de publicações,microfilmag<strong>em</strong> de documentos e registros orais.São três as palavras-chave que têm norteado as ações e osprojetos do Arquivo do Município, principalmente nos últimos anos:resgate, recuperação e preservação. Para atingir essas metas oArquivo está incentivando pesquisadores, intensificando os cursos eimplantando treinamentos nas áreas de recuperação e preservaçãodocumental. A microfilmag<strong>em</strong> e informatização do acervo são açõesque brev<strong>em</strong>ente serão impl<strong>em</strong>entadas.Entretanto, o Arquivo Público, depois de cumpridas suasfunções precípuas, de conformidade com as políticas culturaisimplantadas na cidade, também se constitui <strong>em</strong> um espaçoprivilegiado de socialização, onde t<strong>em</strong> lugar várias manifestaçõesculturais: exposições de Artes Plásticas, lançamentos de livros e CDs,


31conferências e apresentações musicais, sendo utilizado plenamentepela comunidade rio-clarense. 5Quando abordamos a t<strong>em</strong>ática da preservação documental earquitetônica de Rio Claro t<strong>em</strong>os que citar o grupo Banzo para aCultura e o Meio Ambiente. O grupo, a mais antiga ONG (organizaçãonão governamental) da cidade, foi fundado <strong>em</strong> 1976. T<strong>em</strong> comoobjetivos principais e norteadores de sua ação promover a efetivacolaboração entre pessoas, grupos e instituições, visando àotimização das manifestações ecológicas e culturais.O grupo também está <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> fomentar atividadeseducacionais que contribuam para a construção de sociedadessustentáveis e, para alcançar esse propósito, dedica-se à pesquisa eprodução de materiais educativos e à difusão de práticas etecnologias apropriadas para a recuperação, conservação e melhoriado meio ambiente e da cultura, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que exercevigilância no sentido de impedir quaisquer tipos de violência contra opatrimônio natural, histórico, artístico e cultural.Nos seus 26 anos de existência o grupo Banzo t<strong>em</strong> participadointensamente da vida da cidade. Formou e difundiu um acervo comfotos antigas, documentos que abrang<strong>em</strong> o período compreendidoentre o século XIX e o início do século XXI; partituras históricas,utilizadas pela Orquestra de Fábio Marasca; todo o acervo da antigaRádio Clube de Rio Claro, além de uma importante videotecaregistrando os mais variados t<strong>em</strong>as locais, desde 1982 até os diasatuais.Muitas outras ações marcam a vida do grupo, desde pedidos detombamentos encaminhados ao CONDEPHAAT, a realização do 1 o .Encontro Paulista de Preservação Municipal, a criação do primeiroMuseu de Rua do Estado de São Paulo e a criação do ConselhoComunitário de Rio Claro. O grupo Banzo, por sua atuação efetiva nasquestões que tanto interessam à comunidade, é, s<strong>em</strong> dúvida,instrumento da construção da identidade cultural do povo rioclarense.6Gabinete de LeituraA valorização da cultura local e a conseqüente construção daidentidade cultural d<strong>em</strong>andam a restauração e revitalização denossos importantes patrimônios histórico-arquitetônicos. O Gabinetede Leitura, cuja construção data do século XIX, é um dos prédiosmais antigos da cidade; sua grande importância histórica relaciona-seao fato de que foi uma das primeiras construções do país a utilizarmão-de-obra livre, tendo sido, sob o ponto de vista arquitetônico,uma das primeiras construções do país a introduzir o tijolo. 6


32É digno de ser ressaltado que, dentre os edifícios históricos doEstado de São Paulo, o Gabinete de Leitura é o único que aindafunciona com o mesmo objetivo para o qual foi criado. No início doséculo XX, reuniam-se no Gabinete intelectuais de expressão nacidade e <strong>em</strong> todo o país; a entidade possuía, inclusive, sua própriarevista – “Revista do Gabinete”, substituída, depois, pela revista“Idéia”. 7Em 1975, instalou-se no prédio a primeira biblioteca públicamunicipal de Rio Claro. 8 Atualmente, abriga parte do acervo doSist<strong>em</strong>a de Bibliotecas Públicas.O Gabinete de Leitura, que já recebeu figuras ilustres dahistória do Brasil, como o Imperador D. Pedro II, foi construído com oobjetivo de incr<strong>em</strong>entar a vida cultural da comunidade, além desuprir a carência escolar do município. Devido à sua importância nocenário histórico-cultural, não apenas do município, mas do Estado eda própria nação, <strong>em</strong> 1985 o prédio foi tombado como patrimôniohistórico pelo CONDEPHAAT. 9O Gabinete de Leitura, que s<strong>em</strong> dúvida é um referencial dam<strong>em</strong>ória afetiva de muitas gerações de rio-clarenses, permaneceufechado por catorze anos, tendo sido reaberto ao público <strong>em</strong> 1997,após cuidadosos processos de restauração e reforma.Hoje, o Gabinete incorporou-se com toda força à vida culturaldo município. Seu acervo é composto por 26 mil livros, sendo que 4mil são consideradas obras raras. Possui 12 mil sócios cadastrados eatende a média de 4 mil usuários ao mês. É um espaço de pesquisa einteratividade que atingirá maior excelência na prestação de serviçosà comunidade com o processo de informatização que já começou aser impl<strong>em</strong>entado. Além disso, abriga as sedes da FundaçãoMunicipal Ulysses da Silveira Guimarães e do Centro Literário RioClaro. 10Por detrás daquelas portas tão antigas renasceu a voz poéticada cidade de Rio Claro: são realizados saraus que contam com umaassistência surpreendente; as pessoas vêm para desfrutar<strong>em</strong> daterapêutica da poesia, da música, do encontro. Espaço histórico que,reassumindo seu papel na vida da comunidade, abriu-se todo àd<strong>em</strong>ocratização da cultura.Museu Histórico e Pedagógico“Amador Bueno da Veiga”O nosso museu integra a rede de Museus Históricos ePedagógicos do Estado de São Paulo; foi criado através do DecretoEstadual nº. 33.980, de 1958. Logo depois, através da Lei Municipalnº. 835, do mesmo ano, a Prefeitura Municipal autorizou que o


33museu fosse instalado no prédio conhecido como o “Sobrado daBaronesa”. O prédio, que até os dias atuais abriga o Museu Histórico,foi tombado no ano de 1963 pelo Serviço de Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (SPHAN). 11Não pretend<strong>em</strong>os, neste texto, repassar informações quepod<strong>em</strong> ser encontradas no livro “Rio Claro Sesquicentenária”,publicado <strong>em</strong> 1978; desejamos, apenas, ressaltar a importânciahistórico-arquitetônica da construção. O casarão, localizado na regiãocentral da cidade, foi construído no ano de 1863 pelos escravos deJosé Luiz Borges, Barão de Dourados. Sua construção está ligada aoapogeu do ciclo do café, período marcado pelo enorme progresso denossa região. 12 Além da importância da construção <strong>em</strong> si, ex<strong>em</strong>plo d<strong>em</strong>onumento oitocentista, seus proprietários, o Barão e a Baronesa –Senhora Amália Carolina de Mello Oliveira, foram personagensdestacados da história de nosso município. 13Por ocasião do Decreto Estadual que criava o Museu Histórico, oprédio estava <strong>em</strong> péssimas condições; havia, portanto, uma d<strong>em</strong>andaurgente pela restauração. Esta foi iniciada <strong>em</strong> 1967, porém só tomouimpulso verdadeiro <strong>em</strong> 1972, devido ao <strong>em</strong>penho pessoal do PrefeitoDr. Álvaro Perin e da Professora Ilara Luz Machado, designada paraotimizar a restauração do prédio, a formação do acervo e d<strong>em</strong>aisatividades do Museu. O museu foi aberto à visitação pública <strong>em</strong> 1973e, desde então, tornou-se um pólo difusor de cultura na cidade de RioClaro.Entre as ações <strong>em</strong>preendidas pelo Museu nos últimos anos,destacamos o concurso “Fotografe Azul” (desde 1995), o projeto“Música no Museu” (1995), a realização de importantes oficinas,como por ex<strong>em</strong>plo a oficina de confecção de papel artesanal (1995),de preservação de materiais fotográficos, de fotografia (1996), aoficina de grafitismo, o curso de paleografia (1997), entre outras.Realizam-se, periodicamente, exposições abrangendo as maisvariadas t<strong>em</strong>áticas; destacamos algumas: “Mário Poeta e PauloSetúbal”, “Assim nasceu Rio Claro”, “Modos e Modas”, datadas de1995; “Po<strong>em</strong>as Sobre Papel”, “Terceira idade”, “Sigmund Freud”,“Natal Brasileiro”, datadas de 1996. 14 Como espaço de convivênciadas diversas culturas que interag<strong>em</strong> no município, o Museu t<strong>em</strong>produzido belas exposições, fruto de pesquisa séria e sist<strong>em</strong>ática.Consideramos importante citar algumas delas, as quais, inclusive,tiveram ampla cobertura da mídia local pelo caráter de preservaçãoda m<strong>em</strong>ória social da cidade.•Museu de Rua “Nostra Gente” (2000), contando a história dosimigrantes italianos <strong>em</strong> nossa região. 15


34••A exposição “A História da Música <strong>em</strong> Rio Claro” (2000),valorizando nossos artistas, resgatando a l<strong>em</strong>brança dosmúsicos rio-clarenses que através do seu talento eexpressividade tornaram o nome de Rio Claro conhecido <strong>em</strong>todo o Brasil. 16A exposição “Japoneses <strong>em</strong> Rio Claro” (2001), revelando ofazer cultural que se exprime no cotidiano desses imigrantes,d<strong>em</strong>onstrando a diversidade cultural presente no município.Juntamente com a exposição, foram realizadas palestras,oficinas de Bonsai, oficina de Haicai, espetáculos de dançaButô, Cerimônia do Chá. Um evento muito interativo, marcadopelo entrelaçamento de culturas. 17• “Famílias Afro-descendentes” (2001). O objetivo fundamentaldessa exposição, inaugurada na abertura da S<strong>em</strong>ana daConsciência Negra, foi promover uma reflexão, mediada peloresgate de fatos que contam a trajetória da comunidade negrade Rio Claro, acerca do racismo, discriminação, xenofobia eintolerância; além de exaltar aspectos da cultura afroassimilados pela convivência secular. 18Paralelamente a essas atividades, são realizados trabalhosinternos importantíssimos para a manutenção da vida do Museu:organização, triag<strong>em</strong> e catalogação do acervo; pesquisas relativas aoacervo, como a que foi feita com a coleção de mineralogia, a qual foiestudada por alunos do PET – Programa Especial de Treinamento –da UNESP, supervisionados por seus orientadores. Também sãorealizados cursos de restauração e conservação voltado para orestauro das peças do próprio Museu.Em relação ao prédio, também têm sido <strong>em</strong>preendidas açõesmuito necessárias. Atualmente, há uma equipe técnica especializada<strong>em</strong> conservação e restauro de bens culturais executando umaprospecção arquitetônica do prédio, com a finalidade de diagnosticaras patologias da construção e implantar os procedimentos pararestauração, segundo as normas do IPHAN e CONDEPHAAT. Inclusive,já tiveram início as obras no telhado e o controle de pragas, serviçosconsiderados urgentes.Destacamos, também, a existência de um projeto derevitalização do Museu. O projeto inclui a re-adequação das salasvisando d<strong>em</strong>onstrar o processo histórico da cidade através deexposições permanentes ou de longa duração, resgatando-se assim am<strong>em</strong>ória do povo rio-clarense. A orientação dessa etapa do projetofoi feita pela historiadora Profª. Dra. Liliana Bueno dos Reis Garcia,reconhecida autoridade acerca da história de Rio Claro.


35O projeto prevê, ainda, a construção de uma cúpula geodésica,entrada para um espaço subterrâneo onde seriam instaladasexposições permanentes: “A Evolução dos transportes” e “A EvoluçãoTecnológica do Trabalho”, utilizando peças bastante grandes epesadas que compõ<strong>em</strong> o acervo do Museu e que o prédio nãocomporta.Com a impl<strong>em</strong>entação do projeto será possível colocar o Museuentre os mais importantes do Estado de São Paulo, atendendo atodas as funções que um Museu deve ter: prestação de serviços parapesquisadores, manter oficinas e cursos, programas de conservaçãopreventiva, digitalização do acervo de fotografias e documentos,excelência nas condições de armazenamento da reserva técnica,melhores condições de oferecer eventos para a comunidade.Transformando-se, desse modo, num importante pólo do turismocultural na região.O documento de projeto para revitalização do museu t<strong>em</strong> sidoencaminhado para inúmeras <strong>em</strong>presas de Rio Claro e região, <strong>em</strong>busca de apoio e patrocínio, tendo sido elaborada uma campanha d<strong>em</strong>arketing a fim de captar recursos da iniciativa privada.Entre os projetos que já estão <strong>em</strong> andamento destacamos duaspublicações: um livro relatando o processo histórico de Rio Claro,inovador, pois está sendo escrito <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> jornalística, e umapublicação acadêmica, referente ao estudo histórico-arquitetônico docasarão, envolvendo estilo arquitetônico, técnicas construtivas,el<strong>em</strong>entos decorativos e a questão utilitária. 19Não somente o prédio e o acervo do Museu Histórico ePedagógico “Amador Bueno da Veiga” – bens culturais tangíveis –foram e são relevantes para a população de Rio Claro enquantopatrimônio, mas, na construção da identidade de nosso povo eles seconstitu<strong>em</strong> num poderoso referencial afetivo. Destacamos que omuseu des<strong>em</strong>penha múltiplos papéis na vida da cidade, sendo, aomesmo t<strong>em</strong>po, um t<strong>em</strong>plo da m<strong>em</strong>ória, um espaço de convivência einteratividade, um pólo de pesquisa e difusão de informação, umreduto de diss<strong>em</strong>inação do conhecimento.Sobretudo, é fundamental que reiter<strong>em</strong>os que as instituiçõescomo os museus históricos, que têm a responsabilidade de transmitira história de uma determinada sociedade, assum<strong>em</strong> uma granderelevância na formação da identidade do indivíduo, no sentido dedizer-lhe de onde veio, mostrar-lhe suas raízes, seus iguais e seusdesiguais. Isto servirá não apenas para que o indivíduo seja qu<strong>em</strong> é,mas também para que, sabendo isso, possa instrumentalizar-se paraconstruir seu futuro.


36Dentro desse contexto, observamos, analisando as atividadesque vêm sendo priorizadas pela gestão do Museu Histórico ePedagógico “Amador Bueno da Veiga”, que o mesmo t<strong>em</strong> procuradocumprir sua função social, desenvolvendo projetos que visambeneficiar a maior parcela de população possível e não apenaspequenas minorias, ao mesmo t<strong>em</strong>po que cumpre sua vocaçãoeducacional, contribuindo para a defesa da identidade da comunidadena qual está inserido, além de garantir a continuidade de nossahistória, preservando e protegendo o patrimônio para o usufruto dasgerações vindouras.Estação FerroviáriaOutro importante patrimônio histórico-arquitetônico localizado<strong>em</strong> Rio Claro é o prédio da antiga estação ferroviária. Situado nocoração da cidade, ele teve papel muito destacado nodesenvolvimento econômico e social do município. As edificações, queatualmente passam por um processo de restauração, datam de 1910.Sua importância histórica guarda estreita relação com o períododo apogeu da lavoura cafeeira; a d<strong>em</strong>anda para que a estrada deferro se estendesse de Campinas a Rio Claro era enorme, pois havianecessidade de otimizar o escoamento da colheita do Vale doCorumbataí, onde existiam riquíssimas fazendas de café. 20 Aimplantação da ferrovia contribuiu para desencadear um período degrande prosperidade; Rio Claro foi um dos primeiros municípios doEstado de São Paulo a possuir um trecho ferroviário, favorecendo,assim, o desenvolvimento econômico e sócio-cultural.Devido justamente à importância histórica do prédio, no queconcerne ao desenvolvimento de uma das mais destacadas regiões doEstado, a Secretaria de Estado da Cultura decretou seu tombamento,<strong>em</strong> 1985. Porém, com o notável abandono do transporte ferroviáriode passageiros, ocorrido <strong>em</strong> todo o país, culminando com a totaldesativação dessa modalidade de transporte <strong>em</strong> nossa região, desde1999, o prédio de propriedade da Rede Ferroviária Federal (RFFSA)foi disponibilizado para a Prefeitura de Rio Claro, a qual assumiu ocompromisso de restaurá-lo e recuperá-lo para o uso da população.A Prefeitura de Rio Claro iniciou imediatamente as obras derestauração das edificações que, atualmente, abrigam a sede daSecretaria Municipal de Turismo e um Centro de Atividades Culturaise Turísticas. Segundo informações captadas junto à SecretariaMunicipal de Turismo, a obra de restauro terá continuidade, sendoimplantados no local um Posto de informações ao turista, a Casa doArtesão e o Museu da M<strong>em</strong>ória Ferroviária.Salientamos que todo investimento na recuperação <strong>em</strong>anutenção dos importantes patrimônios históricos municipais


37corroboram para a preservação da m<strong>em</strong>ória social da comunidade,isso s<strong>em</strong> falar no papel educativo que esses patrimôniosdes<strong>em</strong>penham, promovendo o saber, a criatividade, o conhecimentodo ambiente e a história como verdadeiros legados da população.O espaço histórico-cultural, como é o caso da EstaçãoFerroviária, do Gabinete de Leitura, do Museu “Amador Bueno daVeiga”, do Arquivo Municipal “Oscar de Arruda Penteado”, entreoutros, t<strong>em</strong> que ser concebido, conceituado e trabalhado comounidade funcional social, centros dinâmicos de difusão cultural eeducacional, absolutamente vinculados à realidade do mundocont<strong>em</strong>porâneo. Enfim, é necessário que haja um inalienávelcompromisso com o processo educacional, tanto no âmbito daeducação formal quanto na informal, des<strong>em</strong>penhando uma açãocultural e educativa permanente.Pinacoteca “Pimentel Júnior”A cidade de Rio Claro foi dotada por uma pinacotecamunicipal no ano de 1966. A iniciativa de reunir um acervo queexprimisse o talento dos artistas rio-clarenses partiu de José Pimentelde Oliveira Júnior, auxiliado por Nicola Petti. A primeira sede dapinacoteca foi o Gabinete de Leitura, porém, na década de 70 apinacoteca foi transferida para as dependências do Museu Histórico ePedagógico “Amador Bueno da Veiga”. 21Atualmente, a Pinacoteca está instalada <strong>em</strong> prédio próprio econta com a assessoria permanente da artista plástica e exímiarestauradora Olga Carolina Cristofoletti de Oliveira Faneco.Dedicando-se à restauração há quinze anos, Olga Faneco é umareferência na área, sendo considerada uma restauradora completa,capaz de atuar <strong>em</strong> todas as etapas do processo de restauro, desde alimpeza das peças até os retoques na pintura.Revitalização do Centro Histórico UrbanoExiste, ainda, um t<strong>em</strong>a importante relacionado à questão dopatrimônio cuja abordag<strong>em</strong> consideramos importante. Trata-se darevitalização do centro histórico do município.“O sítio histórico urbano – SHU – é parteintegrante de um contexto amplo que comportaas paisagens natural e construída, assim como avivência de seus habitantes num espaço devalores produzidos no passado e no presente,<strong>em</strong> processo dinâmico de transformação,devendo os novos espaços urbanos serentendidos na sua dimensão de test<strong>em</strong>unhosambientais <strong>em</strong> formação”. 22O sítio histórico urbano é um espaço que guarda ostest<strong>em</strong>unhos do fazer cultural da cidade, <strong>em</strong> suas múltiplas


38manifestações. É óbvio que não pod<strong>em</strong>os deixar de analisá-lo sob umenfoque multidisciplinar, abrangendo o patrimônio histórico, artísticoe natural, sendo, sobretudo, um espaço de vivência, sobrevivência econvivência.O centro histórico de Rio Claro compreende os prédios daEstação Ferroviária, do Museu “Amador Bueno da Veiga”, do Gabinetede Leitura, do Arquivo Municipal “Oscar de Arruda Penteado”, sobreos quais já discorr<strong>em</strong>os, além da Matriz de São João Batista. Qual aimportância de investir <strong>em</strong> projetos que recuper<strong>em</strong> e revitaliz<strong>em</strong> osítio histórico urbano? Ora, os prédios que compõ<strong>em</strong> o centrohistórico da cidade se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> nosso Patrimônio Cultural;juntamente com o patrimônio intangível, formam a nossa m<strong>em</strong>óriasocial.É dever de patriotismo preservar os recursos materiais e ascondições ambientais <strong>em</strong> sua integridade, sendo exigidos métodos deintervenção capazes de respeitar o elenco de el<strong>em</strong>entos componentesdo Patrimônio Cultural, justamente por respeito a essa m<strong>em</strong>óriasocial, pois o que o hom<strong>em</strong> é está diretamente relacionado à suahistória, ao seu modo de vida, nas relações sociais estabelecidas, nasua identificação com o ambiente com o qual interage. Noutraspalavras, isto supõe que o hom<strong>em</strong>, antes de ter, deve ser. É este serque no seu ambiente natural vai procurar afirmar a sua existênciatendo <strong>em</strong> conta os outros seres e as suas necessidades.“O objetivo último da preservação é amanutenção e potencialização de quadros ereferenciais necessários para a expressão econsolidação da cidadania. É nessa perspectivade reapropriação política do espaço urbano pelocidadão que a preservação incr<strong>em</strong>enta aqualidade de vida”. 23T<strong>em</strong>os definido o patrimônio como tangível e intangível.Tangível, pensamos logo no patrimônio construído. Intangível,r<strong>em</strong>ete-nos às tradições orais, às conversas de rua, culinária típica,as relações de afetividade estabelecidas com a cidade, enfim, àm<strong>em</strong>ória social. Concordamos, todos, que esse patrimônio deve serpreservado, até como primeira condição da ação cultural. Nessecontexto, as ruas são importantes, as praças, os bares tradicionais,afinal, qu<strong>em</strong> não se l<strong>em</strong>bra com saudade do restaurante “A Toca”?Entend<strong>em</strong>os que um dos objetivos da revitalização dos centroshistóricos, <strong>em</strong> geral, é o incr<strong>em</strong>ento do turismo cultural. Mas aquestão da valorização comercial do patrimônio e da sua relação como desenvolvimento econômico deve gerar uma reflexão: o restauro deuma igreja, a renovação de uma praça, a recuperação de um edifício,a re-adequação de um espaço, não pod<strong>em</strong> fazer sentido apenas seprovocar<strong>em</strong> um afluxo turístico.


39A meta fundamental das ações preservacionistas deveria ser odesenvolvimento cultural da localidade, dos cidadãos. Porque um doscomponentes principais da cultura é o ambiente cotidiano, que muitasvezes é o ambiente arquitetônico. A qualidade estética desteambiente, com certeza, eleva o nível cultural dos munícipes,mantendo acesa a chama da identidade cultural e, comoconseqüência, não como alvo, atrai turistas.Casa do Barão de Grão Mogol“A Casa do Barão”, como é conhecido o sobrado construído <strong>em</strong>meados de 1880 por Gualter Martins Pereira, constitui-se num“ex<strong>em</strong>plar atípico da arquitetura rural paulista” 24 , ass<strong>em</strong>elhando-seaos sobrados baianos da região urbana. Em sua construção foiutilizada mão-de-obra escrava, minera e baiana.A importância histórico-arquitetônica e cultural do prédio, paratodo o Estado de São Paulo, é inegável, tendo sido tombado peloCONDEPHAAT - Patrimônio Cultural Paulista, no ano de 1984. 25Porém, nunca foi tomada providência alguma no sentido de preservaresse patrimônio que conta, através de sua existência, fatos de umaépoca que marcaram a história de nossa região e de nosso Estado.C<strong>em</strong>itério Municipal de São João BatistaEm meados da década de 90 a coordenadoria do PatrimônioHistórico e Cultural do município de Rio Claro elaborou um projetopostulando a preservação e conservação das quadras mais antigas doc<strong>em</strong>itério municipal, inaugurado <strong>em</strong> 1875, devido à importânciahistórica e pelo fato de constituir-se <strong>em</strong> patrimônio artístico, comsignificativos ex<strong>em</strong>plares da arte escultórica mortuária. 26O projeto, o qual foi aprovado, recomendava a implantação deações urgentes visando impedir que os mausoléus foss<strong>em</strong> d<strong>em</strong>olidosou reformados s<strong>em</strong> critérios. Os trabalhos de conservação e restaurotêm sido realizados.Floresta Estadual “Edmundo Navarro de Andrade”O Horto Florestal de Rio Claro começou a ser formado <strong>em</strong> 1909e seu desenvolvimento está estreitamente ligado ao pioneirismodessa importante figura histórica que foi Edmundo Navarro. Aimportância histórica desse patrimônio está, s<strong>em</strong> dúvida,indelevelmente ligada a esse hom<strong>em</strong> das ciências, estudioso quededicou sua vida à pesquisa.Nossa floresta abriga um Museu do Eucalipto que não possuisimilar <strong>em</strong> qualquer parte do mundo, relatando aspectos daexploração da planta e contendo <strong>em</strong> seu acervo uma coleçãoentomológica com aproximadamente 34 mil ex<strong>em</strong>plares, fruto de um


40trabalho realizado por Edmundo Navarro que cobriu um período de 39anos. 27Os fatos relatados, ainda que muito resumidamente, conduz<strong>em</strong>à constatação de que a Floresta Estadual de Rio Claro é o maior <strong>em</strong>ais significativo patrimônio histórico-cultural e natural do municípioe da região. Embora localizado no município, é administrado pelaSecretaria de Estado de Meio-Ambiente e, nas décadas de 80 e 90,apresentava um quadro de acelerada deterioração.<strong>Di</strong>ante disso, a prefeitura de Rio Claro, mesmo s<strong>em</strong> deter ocontrole da área, mas, consciente da necessidade de intervir nasituação, iniciou processos de recuperação do então Horto Florestal,sendo que, após a iniciativa da administração pública municipal,firmou-se uma parceria entre a Secretaria de estado do Meio-Ambiente e a Secretaria Municipal de Cultura, no sentido deincentivar o desenvolvimento do turismo cultural na área.Ficou definido como prioridade que seriam oferecidas atividadesculturais populares que pudess<strong>em</strong> incluir todas as camadas sociais;os objetivos têm sido alcançados. Foi instalada no local a biblioteca“Monteiro Lobato”, recuperando-se, assim, um acervo deaproximadamente 5 mil livros que se encontravam abandonados. Abiblioteca funciona de terça a domingo, entre 8 e 17 horas.Além da biblioteca, há uma hospedaria b<strong>em</strong> organizada, comcapacidade de alojar 40 pessoas; foi recuperado o auditório para 200pessoas e o centro de convivência, sendo que o local t<strong>em</strong> sidobastante aproveitado para a realização de eventos culturais, como oEncontro de Escritores (1999 e 2001), atividades relacionadas àQuinzena do meio-Ambiente, o projeto “Música no Horto” queprivilegia os artistas e grupos locais.A Floresta Estadual também está sediando o centro deDocumentação e M<strong>em</strong>ória gerenciado pelo grupo “Banzo”, a maisantiga ONG de Rio Claro. Portanto, o objetivo fundamental do projetode revitalização está sendo atingido: resgatar o local e colocá-lo aserviço da comunidade. 28Analisando o relato dos projetos e das ações <strong>em</strong>preendidas pelaatual administração municipal, pod<strong>em</strong>os enumerar as prioridades dogoverno na preservação da identidade cultural do rio-clarense.Citamos:• Recuperar e atribuir cada vez maior valor ao PatrimônioHistórico, Artístico, Cultural, Ambiental e da M<strong>em</strong>ória local,envolvendo o governo e organismos da sociedade civil.


41• Valorizar o patrimônio cultural intangível, reforçando oimaginário da população através da representatividade, sobvários enfoques, das histórias locais e regionais.• Apoiar projetos pedagógicos que vis<strong>em</strong> à educação para apreservação do patrimônio cultural.• Fortalecer os trabalhos e projetos do Arquivo Público Municipal,do Museu Histórico e de outros centros de preservação dam<strong>em</strong>ória, colocando ênfase na pesquisa e na d<strong>em</strong>ocratizaçãoda informação.• Criar políticas de incentivo à preservação dos patrimônios.• Facilitar a realização de atividades culturais nos espaços depreservação histórica, restaurando ou re-adequando osentornos desses espaços.• Priorizar a valorização do patrimônio afetivo, ou seja, dosespaços de convivência eleitos de forma espontânea pelaprópria população.Desenvolvendo a consciência de que a busca do universal passapelo local, de que os indivíduos se reconhec<strong>em</strong> naquilo que criam eaprend<strong>em</strong> a amar, que é através do imaginário que o ser humanot<strong>em</strong> a possibilidade de projetar-se para as futuras gerações,entend<strong>em</strong>os como é essencial lutar pela construção de um ideáriocoletivo que conduza à construção de uma sociedade mais fraterna esolidária.Notas de Referência1- SANTOS, Milton. Pátria da Mediocridade. Revista Educação. São Paulo,2000.2- Declaração do México. Conferência Mundial Sobre Políticas Culturais. México.1982.3- TAVARES, Regina Márcia Moura. Cultura, Desenvolvimento e inclusão Social.Revista brasileira de Comunicação. São Paulo,no. 58. 1999.4- FARIA, Hamilton. Fórum Intermunicipal de Cultura. Revista <strong>Di</strong>cas. SãoPaulo, 1996.5- Documento de Planejamento Anual do Arquivo Público e Histórico doMunicípio de Rio Claro “Oscar de Arruda Penteado”. 2002.6- Histórico dos objetivos e atividades do Grupo Banzo, compilado por PauloRodrigues.7- Relatório da Secretaria Municipal de Turismo. 2002.8- RODRIGUES FILHO, Luiz Martins. Literatura e Vida Literária. In: Rio ClaroSesquicentenária. Rio Claro, 1978. p.221.9- Op. Cit.10- Relatório da Secretaria Municipal de Turismo. 2002.11- Op. Cit.


12- LUZ, Milton Jose Hussni Machado. Museu Histórico e Pedagógico “AmadorBueno da Veiga”. In: Rio Claro Sesquicentenária. Rio Claro, 1978. p.349-368.13- Op. Cit.14- Op. Cit.15- Relatórios do Museu Histórico e Pedagógico “Amador Bueno da Veiga” 1995-2002.16- Op. Cit.17- Op. Cit.18- Op. Cit.19- Documento de Projeto da autoria da <strong>Di</strong>retora do MHP “Amador Bueno daVeiga”, Ilídia Maria de Oliveira Faneco.20- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com <strong>Di</strong>retora do MHP “Amador Bueno daVeiga” – Ilidia Faneco, <strong>em</strong> 16/04/2002 .21- PENTEADO, Oscar de Arruda. Como nasceu e cresceu Rio Claro. In: RioClaro Sesquicentenária, 1978. p.61-63.22- MACHADO, Ilara Luz. A Pintura e a Escultura. In: Rio ClaroSesquicentenária, 1978.23- Caderno de Documentos n.º 3 "Cartas Patrimoniais" –Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –IPHAN. Brasília, 1995.24- Op. Cit.25- BANCHI, Julio César. Casa do Barão de Grão Mogol – 1883. Rio Claro,2000.26- Op. Cit.27- Documento de Projeto. Elaborado por Maria Antônia Gardenal Molon. 199028- PLATINETTI, Armando Jr. O Horto Florestal Navarro de Andrade. In: RioClaro Sesquicentenária. 1978. p.295-308.29- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com <strong>Di</strong>retor de <strong>Di</strong>fusão Cultural JoãoBaptista Pimentel Neto. 30/04/2002.42


43REINVENTANDO A CIDADE ATRAVÉS DA ARTE“Que cidade é esta/ que me expõe,/ <strong>em</strong> extrato,/ portodos os cantos/ por onde passo/ o encanto de amigosabstratos,/ retratos todos azuis?” Magda LeardiniNo capítulo anterior, abordamos as questões relativas à busca efortalecimento da identidade cultural, enfatizando os aspectosanálogos à preservação do patrimônio cultural. Entretanto, ocomplexo processo de construção identitária, do indivíduo e dacoletividade, está alicerçado, também, no fazer artístico local, na Arteenquanto produto de uma <strong>em</strong>oção social e humana, ao mesmo t<strong>em</strong>po<strong>em</strong> que se constitui num poderoso instrumento de desenvolvimentosocial.O escritor Domenico de Masi, <strong>em</strong> seu livro “A <strong>em</strong>oção e aRegra”(1999) 1 procede a uma análise sobre os grupos criativosexistentes na Europa, entre 1850 e 1950. Salvaguardando as devidasproporções, histórico-culturais e geográficas, depreend<strong>em</strong>os daleitura e posterior reflexão acerca dos pressupostos explanados, queos fatores que influenciaram sobr<strong>em</strong>aneira o êxito desses gruposrelacionavam-se à preservação da identidade, a interdisciplinaridade,a afinidade cultural dos m<strong>em</strong>bros e, principalmente, a capacidade deconcentrar os esforços de cada um no objetivo comum.Traduzindo-se isso para vida comunitária poderíamos dizer quea valorização das relações culturais que estruturam e dão sentido àsformas de ser e de agir de localidades específicas constitu<strong>em</strong>-se nabase da identidade dessas populações, tendo como conseqüência odespertar da criatividade. “A criatividade é o maior capital dos paísesricos”. 2O incentivo ao fazer artístico local reforça o conceito de que,mais importante que disponibilizar atrações culturais, a ação dosgestores culturais do município deve permitir que os m<strong>em</strong>bros dacomunidade particip<strong>em</strong> dos processos culturais, desenvolvendo suaspróprias práticas criativas.Nietzsche defendia o pressuposto de que somente a arte teria opoder de produzir representações da existência que nos permitiriamviver. Enquanto atividade lúdica, oferece alegria e lazer, mas,principalmente, faculta ao hom<strong>em</strong> a possibilidade de refletir acerca desi mesmo, de tomar consciência de si próprio, do outro, do universo. 3“Não existe uma sociedade s<strong>em</strong> poesia n<strong>em</strong> uma poesia s<strong>em</strong>sociedade”. 4 Nesse contexto, entenda-se poesia <strong>em</strong> seu sentido maisamplo, a “poiésis” do grego, significando o povoamento do mundopela arte. 5 Esse pressuposto deve permear a reinvenção da cidadeatravés da Arte. Desejamos fazer parte de uma comunidade criadora,


44livre e solidária; para que isso seja viável é necessário um ato davontade, tanto individual como coletivo, apoiado por políticasculturais pró-ativas.As políticas culturais pró-ativas são aquelas elaboradas por umaadministração cultural que prioriza a liberdade de pensamento e deexpressão, absolutamente necessárias à atividade criadora do artistae do intelectual.“É imprescindível estabelecer as condições sociais eculturais que facilit<strong>em</strong>, estimul<strong>em</strong> e garantam a criaçãoartística e intelectual, s<strong>em</strong> discriminação de caráterpolítico, ideológico e social.” 6A cidade t<strong>em</strong> uma linguag<strong>em</strong> peculiar, captada pelos seusartistas. Em outras palavras, o artista lê a cidade, expressando-aatravés da sua criação.“Uma sociedade criadora (...) seria livre porque, donade si, nada exceto ela mesma poderia determiná-la; esolidária porque a atividade humana não consistiria,como hoje, na dominação de uns sobre outros (ou narebelião contra esse domínio) mas buscaria oreconhecimento de cada um por seus iguais ou, melhor,por seus s<strong>em</strong>elhantes". 7Traduzindo os conceitos explanados para a realidade vivenciada<strong>em</strong> Rio Claro, pod<strong>em</strong>os dizer que têm sido envidados esforços porparte da administração pública atual, que estão possibilitando areinvenção da cidade pela Arte, tornando-a não apenas uma arena deluta pela sobrevivência diária, mas um espaço de utopia, por assimdizer, onde os grupos criativos são valorizados, onde são implantadosprojetos de formação cultural que beneficiam toda a população.Nossa abordag<strong>em</strong>, para fins didáticos, será subdividida <strong>em</strong>tópicos, referentes às várias manifestações artísticas que têmexpressividade no município.TEATROOs primeiros grupos amadores de teatro que se formaram <strong>em</strong>Rio Claro surgiram após a inauguração do teatro São João, ocorrida<strong>em</strong> 1864. Consta que nosso teatro foi um dos primeiros da provínciae recebeu todas as grandes companhias nacionais e estrangeiras daépoca. Mais tarde, o teatro foi re-inaugurado com o nome de Phenix.8S<strong>em</strong>pre houve movimentação no âmbito teatral, na cidade;destacamos como fase áurea o período compreendido entre 1910 e1920, fase na qual multiplicaram-se os autores rio-clarenses, a qualfoi marcada pela inauguração do Teatro Variedades. Posteriormente,as décadas de 60 e 70 também merec<strong>em</strong> destaque, tendo surgido,


45inclusive, a Associação do Teatro Amador Rio-Clarense. Entre 1968 e1971, o grupo M 3 exerceu influência definitiva sobre nosso teatro. 9Mesmo com a decadência do Cine Teatro Variedades, o movimentoteatral manteve acesa a sua chama na cidade.Entre o final da década de 70 e meados da década de 80atuava na cidade o Grupo Dramático Indaiá, do qual derivou a Cia.Palanque. Os grupos envolviam pessoas que s<strong>em</strong>pre lutaram pelamanutenção do fazer teatral na cidade. A inauguração do teatro doCentro Cultural, <strong>em</strong> 1986, permitiu que tornáss<strong>em</strong>os a recebergrandes espetáculos teatrais, revivendo, de certa forma, o climateatral do início do século XX. 10Na década de 90, citamos a realização da “Mostra de TeatroEstudantil Cérjio Mantovani” (1998), cujo objetivo principal era criarcondições que permitiss<strong>em</strong> unir e apoiar toda iniciativa relacionada àarte teatral no município. Seguindo essa mesma visão, o “ProjetoTIRC” – Teatro Infantil de Rio Claro –, atendendo a crianças na faixaetária de 03 a 10 anos, também foi impl<strong>em</strong>entado. 11Os resultados foram bastante promissores. O sucesso dessesprojetos fortaleceu as manifestações teatrais na cidade.Cia Quanta de Artes CênicasA Cia Quanta surgiu <strong>em</strong> 1997, tendo como suporte de suasatividades o incentivo da Secretaria Municipal de Cultura. No mesmoano, alcançaram muita repercussão com a montag<strong>em</strong> de “MadameBlavatsky”, de Plínio Marcos, com direção de Jefferson Primo, um dosfundadores da companhia. Com esse espetáculo o grupo ganhou seisprêmios no Mapa Cultural Paulista Regional, além de muitos outrosprêmios <strong>em</strong> vários festivais; a peça fez carreira <strong>em</strong> inúmeras cidadesda região.É digno de nota que o grupo tenha conquistado a admiração dopróprio Plínio Marcos, autor do texto, que acabou por conceder aodiretor Jefferson Primo os direitos autorais de outra peça: “JesusHom<strong>em</strong>”, a qual já foi montada <strong>em</strong> Rio Claro pela Cia Quanta. Porvolta da mesma época foi criado o Projeto Girassol, visando levar asmanifestações artísticas, teatro, literatura, dança, às criançasfreqüentadoras dos Centros de Convivência da prefeitura.A Cia Quanta participa ativamente da vida sócio-cultural domunicípio; além de manter<strong>em</strong> um curso de teatro no Centro CulturalRoberto Palmari, atuam como monitores de projetos sociais quevisam beneficiar jovens e adolescentes procedentes das camadasmenos favorecidas da população, como é o caso dos projetos“Acolher com Arte” e “Rio Claro <strong>em</strong> Cena”, além do trabalhodesenvolvido por Juliana D’Urso, juntamente com a Fundação


46Municipal de Saúde, que beneficia os pacientes do Núcleo de AtençãoPsicossocial (NAPs).Des<strong>em</strong>penham também um papel importante no carnaval rioclarenseorganizando oficinas nas quais ensinam como confeccionarfantasias, conceitos de maquiag<strong>em</strong>, preparação de acessórios ebonecos, os quais depois serão utilizados por um bloco que elesmesmos conduz<strong>em</strong> à rua. No ano de 2001 tiveram papel destacadona I Mostra de Formação Cultural, apresentando cinco espetáculos. 12Atualmente, muitos projetos têm sido desenvolvidos, visando àintegração social dos jovens e adolescentes da periferia à vidacultural do município, seguindo os princípios da d<strong>em</strong>ocratização.PROJETO RIO CLARO EM CENAO Projeto “Teatro Estudantil – Rio Claro Em Cena, 2002”,compõe um programa de trabalho mais abrangente que pretende arealização do 1 o . Festival Estudantil de Teatro de Rio Claro. O públicoalvo é constituído pelos alunos de diversas escolas, convidadas pelaSecretaria Municipal de Cultura para participar<strong>em</strong> desse projeto deformação cultural. Os objetivos que se visam alcançar são osseguintes:• Desenvolvimento da cidadania• Ação pela paz• O teatro como instrumento pedagógico• <strong>Di</strong>fusão Cultural• Oferecer subsídios para a implantação de grupos teatraispermanentes nas escolas• Orientação profissional• Formação de público de teatroSão 20 escolas públicas envolvidas, sendo que o númeroestimado de participantes gira <strong>em</strong> torno de 4300; as oficinas sãoministradas por 9 monitores, <strong>em</strong> horários que não interfer<strong>em</strong> com operíodo escolar. Os alunos participantes são divididos <strong>em</strong> grupos de30 por período (<strong>em</strong> média). Mesmo os alunos que não participar<strong>em</strong>das oficinas farão parte do grupo teatral sediado na escola, podendoexercer atividades relacionadas às montagens teatrais realizadas.As oficinas acontec<strong>em</strong> s<strong>em</strong>analmente, divididas <strong>em</strong> doisperíodos de 4 horas, nas próprias escolas, <strong>em</strong> locais alternativospróximos e no Centro Cultural “Roberto Palmari”. A dinâmica dessasoficinas é da responsabilidade de cada monitor, que possui liberdade


47de ação para <strong>em</strong>pregar a metodologia que julgar mais eficiente faceàs necessidades das escolas e dos alunos participantes.O cronograma de ações prevê que entre os meses de fevereiroe maio ocorram atividades teatrais preparatórias, objetivando umaprimeira mostra interna de resultados no mês de junho, comapresentações realizadas na própria escola, abertas ou não aopúblico, de acordo com os critérios do grupo. Entre os meses dejunho e outubro deverá ocorrer a preparação dos espetáculos queparticiparão do 1 o . Festival, que t<strong>em</strong> data marcada para nov<strong>em</strong>bro. Amostra será competitiva, aberta ao público com cobrança de ingressosimbólico. 13Em reunião com os monitores do projeto pud<strong>em</strong>os observar oentusiasmo com que estão <strong>em</strong>penhados na ação. Transcrev<strong>em</strong>os, <strong>em</strong>seguida, depoimentos de monitores acerca do desenvolvimento dostrabalhos.“A oficina ministrada nessas escolas t<strong>em</strong>, como maiorfundamento, criar público de teatro, criar uma novavisão do mundo e da arte através do teatro. Usandocomo ferramenta depoimentos de autores e diretoresde teatro, textos teatrais e poesias. Outro objetivo d<strong>em</strong>inha oficina seria descobrir pessoas com interesse dese profissionalizar no teatro, pois durante as oficinassão administrados exercícios utilizados por gruposprofissionais”. 14“Minha meta primordial é, s<strong>em</strong> dúvida, a de sensibilizarpequenos seres humanos. Através de exercícios queestimulam a criatividade, a imaginação, o toque e todosos outros sentido do corpo. (...) Resumindo, fazer acriança perceber o mundo à sua volta através do seupróprio corpo. (...) Enfim, reeducar o ser humano,tornando-o mais humano.” 15Conversando com os monitores do projeto, ficou nítida acerteza da importância de <strong>em</strong>preendimentos como esse. Todos sãounânimes <strong>em</strong> afirmar que os adolescentes e jovens envolvidosd<strong>em</strong>onstram melhora na auto-estima, sent<strong>em</strong>-se valorizados aoperceber<strong>em</strong> que são alvos do interesse da administração pública e dacomunidade que procura interagir com eles através dasmanifestações culturais, tend<strong>em</strong> a estabelecer relações de confiançacom os monitores e adquir<strong>em</strong> uma perspectiva mais esperançosa <strong>em</strong>relação ao futuro.MÚSICAA música s<strong>em</strong>pre se constituiu num referencial de culturaimportante para Rio Claro. A orquestra mais antiga da cidade data de1871, e <strong>em</strong> 1879 criou-se a “Philarmonica Rio-Clarense”, quedurantes longos anos foi o sustentáculo da música no município.


48Muitos foram os corais, as associações musicais, as bandas,orquestras e conjuntos que aqui encontraram terreno fértil paras<strong>em</strong>ear sua música. Informações detalhadas que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aosséculos XIX, início do século XX até meados da década de 70, pod<strong>em</strong>ser encontradas no livro Rio Claro Sesquicentenária. 16Em nosso trabalho, priorizamos a pesquisa e diss<strong>em</strong>inação deinformações atualizadas que, adicionadas àquelas, possamcompl<strong>em</strong>entar a visão histórica dessa forma de expressão artísticaque, s<strong>em</strong> dúvida, é um dos grandes patrimônios afetivos da cidade,senão o maior.Orquestra Filarmônica de Rio ClaroFundada <strong>em</strong> outubro de 1995, a Orquestra Filarmônica de RioClaro foi considerada como de utilidade pública através do projeto deLei nº. 75/96. Desde sua fundação, o princípio que norteia aorquestra, sendo sua principal característica, relaciona-se ao fato deque a mesma não contrata os serviços de um maestro fixo. Essapostura permite uma verdadeira diversificação, além de ser bastanteprodutiva e muito d<strong>em</strong>ocrática.A diversidade talvez seja o maior benefício, ocorrendo variaçãode autores, obras e regentes, permitindo que a orquestra tenha umperfil multicultural, mais abrangente. O repertório engloba todos ostipos de música, privilegiando, inclusive, os autores da músicaclássica e popular brasileira. Essa filosofia administrativa tambémfavorece o aprimoramento técnico e artístico dos músicos e, no quese relaciona à comunidade, permite o contato com grandes regentes,de renome nacional e internacional.O sucesso da Orquestra foi notório, desde o início de suasatividades, como foi amplamente registrado pela mídia.“O espetáculo aconteceu completo. Música damelhor qualidade, prova de confiança nospróprios passos e valorização da auto-estimafizeram o show plenamente reconhecido pelopúblico que não foi modesto ao manifestar suaadmiração pela proeza, assinada com orgulhopor seus protagonistas.” 17Ao iniciar suas atividades a Orquestra contou com o apoio dainiciativa privada, o que foi realmente definitivo no sentido deconsolidar a presença da mesma no cenário artístico musical rioclarense.Desde 1997, a Prefeitura Municipal de Rio Claro,reconhecendo o valor dos músicos e das propostas da equipe, t<strong>em</strong>apoiado o desenvolvimento da Orquestra que participa ativamente davida sócio-cultural comunitária, s<strong>em</strong>pre com o intuito de d<strong>em</strong>ocratizaro acesso à música de qualidade e divulgar o seu próprio trabalho.


49É importante destacar que a Orquestra Filarmônica, com seuperfil inovador, é reconhecidamente uma das mais prestigiadas daregião e mesmo do Estado de São Paulo. No que se refere àpreservação da m<strong>em</strong>ória cultural de nossa cidade, cumpre ressaltarque foi, até hoje, a única entidade que se propôs a realizar umconcerto somente com obras de autores rio-clarenses (2001), projetoao qual pretende dar continuidade.Outro projeto, considerado de importância vital para aOrquestra, é a fundação de uma escola de música que pretendefavorecer a população mais carente, permitindo a profissionalização eposterior inserção no mercado de trabalho, sendo, então, um fatordeterminante da inclusão social de adolescentes e jovens, alvosprincipais do projeto.Entretanto, a própria Orquestra precisa, para o seu crescimentocontínuo, transmitir conhecimento, formar novas gerações d<strong>em</strong>úsicos que possam seguir com o trabalho.“A escola é o oxigênio dasorquestras”. 18 Essa é uma tendência mundial, o que prova que nossaOrquestra Filarmônica está antenada com a realidade cultural.Nesses seis anos <strong>em</strong> que está atuando <strong>em</strong> Rio Claro e região, aOrquestra t<strong>em</strong> obtido como resultado de seu trabalho a concretizaçãode seus objetivos fundamentais: cativar público, mostrar repertório ecolocar <strong>em</strong> relevo os autores brasileiros e rio-clarenses. “A orquestrafilarmônica é a manifestação cultural mais destacada atualmente nacidade”. 19Orquestra Sinfônica de Rio ClaroA orig<strong>em</strong> da Orquestra Sinfônica de Rio Claro r<strong>em</strong>onta ao anode 1981, sendo que o primeiro concerto, sob a regência do MaestroPedro Cameron, correu <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 1982. Visando à implantaçãoda Orquestra, inicialmente, foi firmado um convênio entre aprefeitura municipal e o SESC, incluindo a manutenção da Orquestra,o apoio para as apresentações e desenvolvimento de cursos. Porém,<strong>em</strong> 1984, devido a dificuldades relativas ao incentivo financeiro,foram organizados grupos visando à continuidade do projeto,surgindo assim a entidade civil s<strong>em</strong> fins lucrativos.Esse período foi marcado pelo apoio financeiro da iniciativaprivada e houve o desenvolvimento de muitos outros projetos como aCamerata Dente-de-Leite (Orquestra pró-Sinfônica), o projeto Sopro,com aulas de flauta-doce, entre outros. Entre os objetivosfundamentais da Orquestra Sinfônica, definidos pelo Estatuto, está adifusão da música e ampliação da cultura musical da população, alémde promover e incentivar programas de formação, como é o caso daEscola Livre de Música, a qual surgiu <strong>em</strong> meados da década de 90.


50O ano de 1995 foi marcado pela cisão da Orquestra e pelosprobl<strong>em</strong>as decorrentes da mesma, entretanto a continuidade dostrabalhos não foi comprometida. 20No ano de 1997, o Maestro Mário César Candiani assumiu afrente da Orquestra como regente titular, imprimindo à mesma o seuestilo administrativo: reestruturou totalmente a programação relativaaos ensaios, os quais passaram a ter muita regularidade (os músicosensaiam três vezes por s<strong>em</strong>ana, durante três horas) e se tornaramobrigatórios, ou seja, o músico que não comparecer aos ensaios nãose apresenta nos concertos. Quanto aos monitores, novas diretrizestambém foram implantadas, no sentido de que os mesmos parades<strong>em</strong>penhar<strong>em</strong> suas funções deverão ser formados ou estar<strong>em</strong>cursando universidades de música.Segundo Candiani, quando assumiu a regência titular daOrquestra a mesma apresentava probl<strong>em</strong>as graves relacionados àdisciplina nos ensaios e até mesmo no des<strong>em</strong>penho dos monitores,pois faltava dedicação aos estudos, probl<strong>em</strong>as que, hoje, o Maestroconsidera sanados. A grande marca administrativa do MaestroCandiani é, justamente, a exigência da dedicação ímpar ao estudo,s<strong>em</strong> o qual não se ultrapassa o patamar da mediocridade <strong>em</strong> carreiraalguma.O objetivo fundamental que atualmente direciona a Orquestra éo incentivo à profissionalização:“Nos <strong>em</strong>penhamos para que a Orquestra, b<strong>em</strong> como aEscola de Música, foss<strong>em</strong> as responsáveis pela criaçãode profissionais na área de música e, graças a Deus,vários alunos já freqüentam universidades de música.”21Quanto às dificuldades enfrentadas, a mais significativa refereseà situação financeira, já que os recursos são insuficientes.Atualmente, a subvenção para a preservação da Sinfônica de RioClaro está por conta da prefeitura municipal, através de verbasdestinadas ao fomento de ações culturais, contando, também, comum débil incentivo da iniciativa privada. Além disso, a Orquestrarecebe o imprescindível apoio do SESC, que <strong>em</strong>presta osinstrumentos utilizados nos estudos práticos realizados pela EscolaLivre de Música e nas apresentações da Orquestra Sinfônica. Há quese mencionar, ainda, o apoio da imprensa local que muito t<strong>em</strong>prestigiado a Orquestra.A Sinfônica de Rio Claro não é norteada por interessesfinanceiros, não são cobrados ingressos para os concertos e o ritmode atividades da Orquestra é constante, sendo, segundo os padrõesdas orquestras de seu porte, bastante intenso. Realiza-se umconcerto mensal, agendado no Calendário Cultural do município; a


51Orquestra apresenta-se também <strong>em</strong> várias cidades da região, <strong>em</strong>escolas, e <strong>em</strong> quaisquer outros eventos nos quais seja solicitada asua atuação, de forma inteiramente gratuita. Participa, ainda, comum percentual de músicos mais reduzido, <strong>em</strong> pequenos concertosmensais patrocinados pela UNESP/Rio Claro.É importante relatar que, de 1997 até hoje, foram executadasdezoito sinfonias de Mozart, duas de Schubert, além de Beethoven,Haydn e dos cont<strong>em</strong>porâneos, Faure e Elgar, fato inédito na Sinfônicade Rio Claro e que t<strong>em</strong> contribuído para a formação de públicoapreciador de música erudita, já que a média de presença aosconcertos gira <strong>em</strong> torno de 200-300 pessoas, 60% das quais nuncaantes haviam tido contato com esse estilo musical.Escola Livre de Música “Fábio Marasca”A Escola Livre de Música surgiu <strong>em</strong> meados da década de 90 edesde 1993 está vinculada à Orquestra Sinfônica de Rio Claro. Oscursos são pagos, porém pod<strong>em</strong> ser concedidas bolsas de estudos. Aconcessão das bolsas d<strong>em</strong>anda duas exigências: que o aluno seja,comprovadamente, carente de condições financeiras e que o mesmoseja muito dedicado aos estudos. O aluno poderá pleitear o direito àbolsa de estudos após três meses de freqüência à Escola e a mesmanunca será concedida <strong>em</strong> caráter permanente; dependerá, s<strong>em</strong>pre,do grau de aplicação aos estudos do beneficiário. Tais critérios foramestabelecidos pelo Maestro Candiani.Normalmente, as atividades de formação cultural encontramdificuldades financeiras, não é diferente <strong>em</strong> relação à Escola Livre deMúsica, que enfrenta probl<strong>em</strong>as devido à insuficiência de recursospara a manutenção das suas atividades. Um dos aspectos maispositivos da Escola é o fato de que a Orquestra Sinfônica de Rio Clarocapta a grande maioria de seus integrantes entre os músicosformados na própria Escola, o que v<strong>em</strong> comprovar como é importanteque se prioriz<strong>em</strong> as atividades de formação. Atualmente, a escolaconta com 33 alunos, distribuídos <strong>em</strong> diversos cursos deinstrumentos, além de receber<strong>em</strong> aulas de Teoria Musical. 22Coral Municipal “O Mensageiro”Rio Claro s<strong>em</strong>pre possuiu e ainda possui muitos corais,particularmente aqueles relacionados às nossas igrejas, como é ocaso do Coral Jov<strong>em</strong> da Igreja Matriz de São João Batista e dosmuitos corais atuantes nas igrejas evangélicas da cidade. Têmproliferado, também, os corais escolares, o que contribui paradiss<strong>em</strong>inar a cultura musical no âmbito do município.Em janeiro de 1995 foi fundado o Coral Municipal “OMensageiro”, por iniciativa do maestro Daniel dos Santos Pedroso.Desde seu início, o Coral desenvolve um trabalho de cunho musical-


52pedagógico, sendo que seu principal objetivo é divulgar e aprimorar ocanto coral. Buscando realizar esse objetivo são ministradas,s<strong>em</strong>analmente, aulas de técnica vocal e coral, trabalho desenvolvidopor uma fonoaudióloga especializada. Além disso, investe também<strong>em</strong> um trabalho de comunicação e expressão corporal.As áreas de atuação do Coral são muito diversificadas; omesmo participa ativamente da vida comunitária, realizandoapresentações <strong>em</strong> escolas, indústrias, praças, tendo se apresentadocom várias orquestras e regentes renomados, inclusive com o Coraldo Estado de São Paulo. T<strong>em</strong> participado de vários festivais etambém do Mapa Cultural Paulista, sendo que, no ano de 2001, foipr<strong>em</strong>iado na fase regional com a melhor voz e solistas.Atualmente, o Coral “O Mensageiro” conta com trintacomponentes e seu regente é o mesmo da época de sua fundação, ouseja, o maestro Daniel. O Coral é mantido pela prefeitura municipal econta ainda com a colaboração da Câmara Municipal, que cedeespaço para a realização dos ensaios e das aulas. 23Conjuntos, Bandas e D<strong>em</strong>ais ManifestaçõesSendo a cidade de Rio Claro tão aberta à expressão artísticamusical, não é de admirar que <strong>em</strong> nosso solo germin<strong>em</strong> as s<strong>em</strong>entesdas mais expressivas manifestações. Certamente, faltaria espaçopara mencionar e contar a história dos grupos, conjuntos e bandasatuantes no município, o que não diminui o valor dos trabalhos poreles realizados.Citar<strong>em</strong>os como referencial o grupo dos Seresteiros, cujoscantores <strong>em</strong>balam as manhãs de domingo no Jardim Público,traduzindo <strong>em</strong> harmonia uma das mais singelas tradições da nossaRio Claro. Quando as vozes se levantam, preenchendo o espaço aoderredor, é refeita a mágica da Rio Claro de ont<strong>em</strong> e de s<strong>em</strong>pre,trazendo à l<strong>em</strong>brança dos presentes as figuras de inesquecíveispoetas e seresteiros rio-clarenses, como Florideu Gervásio, Ruy Fina,Nestor Penteado, Roberto Palmari, entre tantos outros.Quanto às bandas e conjuntos, não poderíamos deixar d<strong>em</strong>encionar a banda “União dos Artistas Ferroviários”. A Banda é umdos mais queridos patrimônios afetivos da cidade de Rio Claro, fazparte de nossa m<strong>em</strong>ória e através de seus músicos continua fazendopulsar <strong>em</strong>ocionado o coração dos rio-clarenses. Sua orig<strong>em</strong> r<strong>em</strong>ontaaos idos de 1896, quando um grupo de senhores, amantes damúsica, fundaram a Sociedade Musical “União dos Artistas”.A Banda saía pelas ruas, levando alegria à população econcentrando suas atividades principalmente no Jardim Público. Noinício do século XX a fama da Banda era enorme, a presença dos seusmúsicos era considerada obrigatória nos eventos públicos. Todavia,


53entre as décadas de 30 e 50, a Banda passou por várias dificuldades,até que, com o apoio da antiga Cia Paulista de Estradas de Ferro,superou os t<strong>em</strong>pos difíceis e, com o nome que conserva até os diasde hoje, “União dos Artistas Ferroviários”, voltou a impregnar osrecantos da cidade com sua música.Atualmente, a Banda conseguiu reestruturar a Escola Gratuitade Música, possuindo professores especializados <strong>em</strong> cada instrumentoe contando com mais de 60 alunos, das mais variadas faixas etárias.Com trabalho, <strong>em</strong>penho e muita dedicação a Banda adentrou o séculoXXI trazendo <strong>em</strong> seu esteio a própria história da Cidade Azul. 24Outro destaque fica por conta do Conjunto Melorrítmico,fundado <strong>em</strong> 1960 pela irmã Hermínia Maria Zago, o qual v<strong>em</strong>atravessando décadas privilegiando a música de qualidade impecávele a técnica irrepreensível, aliadas à sensibilidade de suascomponentes.Projetos de <strong>Di</strong>fusão e Formação MusicalEntre os projetos desenvolvidos na área de música, objetivandoa formação cultural e a descentralização das manifestações musicais,permitindo o acesso de todas as camadas da população, pod<strong>em</strong>osrelacionar como um dos mais importantes o Projeto Quatro e Meia (4½), criado <strong>em</strong> 1994. O Projeto 4 ½, que acontece às quatro e meiada tarde dos domingos no Lago Azul, transformou-se <strong>em</strong> umaverdadeira incubadora de bandas e conjuntos; devido à sua influênciapositiva, Rio Claro tornou-se a cidade da região com o maior númerode bandas atuando <strong>em</strong> todo o cenário regional e estadual. O projetotambém colocou <strong>em</strong> relevo músicos de qualidade, que, pelo seutalento, hoje integram conjuntos e bandas famosas. 25Os projetos Música no Horto, Música nos Bairros e RaízesMusicais também têm contribuído para o desenvolvimento potencialdos músicos e cantores rio-clarenses, facilitando também adivulgação dos trabalhos que realizam. Toda essa movimentação nocampo da música culminou com a criação do Festival de MPB de RioClaro, implantado no ano 2000, o qual está atraindo compositores detodo o país. Para dar uma idéia do sucesso que o projeto estáalcançando, o nosso festival já integra vários canais de divulgação dainternet, participando, assim, do circuito de festivais do Brasil. 26Têm sido desenvolvidos vários cursos de formação musical:teclado, canto e piano clássico e aperfeiçoamento <strong>em</strong> piano. Segundodepoimento do Professor <strong>Claudio</strong>nor Luiz Fonseca, a tendência daatualidade é a busca da profissionalização, o que exigiu uma novametodologia na ministração das aulas, otimizando o aprendizado. Asmensalidades dos cursos oferecidos são muito acessíveis, visto que


54existe uma parceria com a prefeitura, o que facilita o acesso dapopulação de menor poder aquisitivo.Os resultados obtidos nesses cinco anos de implantação doscursos são bastante positivos, muitos dos alunos já estão seguindocarreira profissional, tanto como cantores como instrumentistas.Outro ponto a ser assinalado é a restauração do grupo “Nilo Amaro eseus Cantores de Ébano”, agora com o nome de “A Escola doscantores de Ébano”. Artistas que são fruto do curso também têmalcançado destaque, caso de uma jov<strong>em</strong> rio-clarense que chegou àsquartas de final de um concurso nacional veiculado por umaimportante rede de televisão.Vinculado aos cursos, está sendo desenvolvido o projeto “Oscantores da Terra Serena”, beneficiando cantores muito especiais: osdeficientes visuais. O projeto conta com a parceria do CEMAC –Centro Municipal de Apoio ao Cego. É uma bela iniciativa que propiciaa integração de pessoas que, de outra forma, poderiam estarexcluídas da vida cultural da cidade. 27LITERATURAFalando <strong>em</strong> Literatura, nada mais pertinente do quereiterar a citação de uma citação, feita pelo Mestre Luiz MartinsRodrigues Filho: “Literatura é linguag<strong>em</strong> carregada de significado”. 28É tarefa impossível separar a vida da linguag<strong>em</strong>, já que ambas seretroalimentam, fecundando e sendo fecundadas. “De todas as partesflu<strong>em</strong> vozes e o mundo inteiro ressoa”. 29 É justamente essa afluênciade vozes que fundamenta a percepção criadora daquele que escreve.A Literatura, então, além de apossar-se de todos os sons, t<strong>em</strong> osublime poder de captar imagens, texturas, sabores, saberes efazeres, transformando tudo <strong>em</strong> letra e <strong>em</strong>oção. Analisandoprincipalmente os aspectos relacionados aos saberes e fazeres, t<strong>em</strong>osque aceitar que o conceito de Literatura é extr<strong>em</strong>amente abrangente.Instigados por essa visão multifacetada e abrangente é quepretend<strong>em</strong>os relacionar Literatura e Cidade.Rio Claro s<strong>em</strong>pre foi uma cidade habitada por escritores,portanto, a própria cidade habita a Literatura. O espaço social urbanono qual conviv<strong>em</strong>os t<strong>em</strong> sido constant<strong>em</strong>ente poetizado, isto é, acidade alimenta seus escritores com suas histórias, com suarealidade, e os escritores, escrevendo, participam da construção dossentidos de sua cidade. Toda centelha de vida, tudo o que pode estaroculto para olhares e ouvidos desavisados é percebido e retido poreles, transformando-se <strong>em</strong> matéria-prima de prosa e poesia.São muitos os autores rio-clarenses que têm se destacado nasúltimas décadas, cronistas, contistas, ensaístas e poetas. Citar<strong>em</strong>oscomo expoente maior das letras e, particularmente, da poesia <strong>em</strong> Rio


55Claro, o saudoso Professor Luiz Martins Rodrigues Filho, autor depoesias e textos <strong>em</strong> prosa de grande qualidade literária. Embora sejaextensa sua produção intelectual, Luiz Martins Rodrigues Filho nãochegou a publicar toda sua obra.Publicou Suor do T<strong>em</strong>po e Ofício de Viver, páginas de purapoesia, retratando os mistérios da vida e da morte, os enigmas dohom<strong>em</strong> e de Deus.“Tento dialogar com a vida./Esta, poucosolícita,/finge que não me escuta./Berro,enrouqueço,/perco a voz./A vida,/muda,/nãomuda de proceder./E, quando enfim resolvecomunicar-se/comigo,/nada consigo/dizer.” 30Este ano ainda será publicada uma obra póstuma de LuizMartins, “O Rio da M<strong>em</strong>ória.” Aguardamos ansiosos que, através desua poética penetrante, ressoe mais uma vez, sob os céus da cidadeazul, a voz do querido Mestre.Outro nome que não pod<strong>em</strong>os deixar de citar é o da escritoraIvanira Bohn Prado. Cronista e poetisa, nascida <strong>em</strong> São Paulo, fixouse<strong>em</strong> Rio Claro onde exerceu o magistério por tinta e cinco anos.Publicou dois livros de poesia: Inventário (1986) e Lâmina Breve(1988). Sua poesia revela-nos que a linguag<strong>em</strong> é o prumo do mundo,possui o impacto das verdades mais simples ditas da forma maisabsoluta. A poetisa Ivanira escreve apenas o que não se pode maiscalar, não se perdendo <strong>em</strong> discursos vãos.“Uma palavra apenas/- lâmina breve/ e fria./ E oque era/vulcão/se fez cinza/e gelo.” 31Antes de mais nada, Ivanira Bohn Prado é um poderosoreferencial de leitura, fato comprovado por sua preciosa obra “CertosLivros” (2000), seleção de resenhas publicadas ao longo de catorzeanos nos jornais locais. “Certos Livros” é uma obra de referência nacategoria Resenhas e Crônicas Literárias, revelando-nos a reflexãocrítica, o entrosamento perfeito entre texto e leitora, culminando coma exposição concisa e produtiva não apenas das conclusões deIvanira, mas, sobretudo, do ideário do escritor cuja obra resenhou.A poesia de Manuel Correia Leitão também merece a relevânciaque de fato possui. Publicou, até o momento, três importantes obras:Palavra Lavrada (1987), A Face do Imperfeito (1995) e O Cardo e aMostarda (1997), seu texto revela “Inspiração elevada, sensibilidade,talento inventivo e uma palavra acentuadamente poética e plástica(...)”. 32Jaime Leitão é outro nome que não pode ficar s<strong>em</strong> menção, jáque o escritor rio-clarense ocupa lugar destacado no cenário dasletras; professor, autor de livros didáticos: Propostas de Redação e


56Aprenda com os Escritores; autor teatral: Os Gordos e A Última Cena;poeta consagrado: Mira/Mirag<strong>em</strong>, Vinte Po<strong>em</strong>as contra a Morte, ARegião do Maduro, Po<strong>em</strong>as na Rede, 20 Po<strong>em</strong>as para o Século 20;cronista: A Moça das Seis e Quinze.A versatilidade de Jaime Leitão, sua autenticidade, seu talentocriativo pod<strong>em</strong> ser comprovados cotidianamente através da crônicasdiárias publicadas no jornal Cidade de Rio Claro. Porém, há algo quesobressai no poeta e cronista Jaime Leitão, algo que se imprime d<strong>em</strong>odo indelével no seu texto: seu gosto pela vida.Pela possibilidade do dia, pelo prazer extraído de cada singularmomento, pela liberdade – poética e ideológica. Jaime é o hom<strong>em</strong>“pronto para o instante”, 33 o poeta transparente <strong>em</strong> cuja alma “háipês amarelos <strong>em</strong> floração permanente”, 34 e que sabe, com aquelesaber intracelular, que “A força da gravidade/ nada pode/ perto daimaginação”. 35Jovelina Morateli é outro nome que não pod<strong>em</strong>os esquecerquando falamos na arte da escrita. Cronista, colaboradora assídua daimprensa local; poetisa, que desvenda através da palavra sua própriahistória e a história da cidade que tanto amou - Rio Claro.“Aquela cidade/que me brilhava tão esplendorosa/ecomovidamente no céu límpido/impregnava o coraçãodas pessoas/com qu<strong>em</strong> convivi um dia./ (...) Minhasaudade quer vagar nas ruas/meus pés quer<strong>em</strong> sentirseu chão/caminhando passo a passo/até o fim.” 36A seara literária rio-clarense é farta. Muitos outros nomespoderiam ser citados, entre poetas, contistas e cronistas, expandidos<strong>em</strong> palavras, multiplicando-se <strong>em</strong> letras, incorporando a vivênciaurbana e reinventando a Cidade Azul, portanto, para não incorrer noerro de esquecer alguém, preferimos nos eximir de citar outrosnomes.Centro Literário Rio ClaroO CLIRC – Centro Literário Rio Claro, iniciou suas atividades <strong>em</strong>outubro de 1997, recebendo o apoio da Secretaria Municipal deCultura através do Sist<strong>em</strong>a de Bibliotecas Públicas, maisespecificamente do Gabinete de Leitura, sede do grupo. Reúnepoetas, contistas e cronistas, que se encontram quinzenalmente parapartilhar<strong>em</strong> os seus textos e suas experiências. As característicasmais marcantes do grupo são a informalidade, a diversidade, asolidariedade.Informal, no sentido de que não t<strong>em</strong> pretensões elitistas;quanto à diversidade, reflete-se no fato de que os m<strong>em</strong>brospertenc<strong>em</strong> a ambos os sexos (com prevalência do sexo f<strong>em</strong>inino), àsmais variadas faixas etárias (entre 15 e 84 anos), possu<strong>em</strong> os mais


57diversificados graus de escolaridade e exerc<strong>em</strong> inúmeras profissões,não necessariamente ligadas à Literatura. Solidário, pois,intermediada pela afinidade artística nasceu uma rede de relaçõesque extrapolou os limites das reuniões.O grupo mantém uma relação bastante afetiva com acomunidade, costuma ser convidado para participar de inúmeroseventos sócio-culturais e educacionais, utilizando a linguag<strong>em</strong> poéticapara abordar t<strong>em</strong>as como a importância da amamentação, o papel damulher na sociedade, cultura da paz, meio-ambiente, entre outros.O grupo também se preocupa <strong>em</strong> manter viva a l<strong>em</strong>brança dospoetas rio-clarenses; o projeto “Poetário” (1999), através de umvaral de poesias montado no Jardim Público e de um recital, deu voza muitos poetas cujas obras andavam esquecidas.Patrocinadas pela Prefeitura Municipal, mediante ação daSecretaria Municipal de Cultura, foram lançadas três antologiasreunindo os trabalhos dos m<strong>em</strong>bros do grupo, sendo que um quartolivro já está pronto para ser lançado. Contando com o mesmo apoio,publicam, mensalmente, um alternativo literário chamado “Pé-da-Letra”. É importante ressaltar que os escritores do CLIRC têmconquistado vários prêmios <strong>em</strong> concursos literários, tanto regionaiscomo nacionais, e até mesmo internacionais.Objetivando incentivar as atividades do grupo e beneficiar apopulação de modo geral, a administração pública t<strong>em</strong> envidadoesforços para a realização de Encontros Regionais de Escritores,eventos que trouxeram à cidade personalidades do mundo literário daaltura de Lygia Fagundes Telles, Antônio Cícero, Nelson de Oliveira,Deonísio da Silva, entre outros.“Através da poesia revela-se um mundo e cria-se outro”. 37Nesse sentido, os poetas do CLIRC, através de sua sensibilidade, têmcontribuído para enriquecer o imaginário local, desenvolvendo umacomunidade de <strong>em</strong>oções.ARTES PLÁSTICASSaborear o mundo e a vida. Eis o que a Arte nos permite.Com todas as implicações do verbo saborear que está vinculado, <strong>em</strong>sua forma mais antiga, ao verbo saber. O sentido estético s<strong>em</strong>prepermeou a civilização.“Aprender a ver atrás da fachada./Aprender areconhecer as forças subjacentes./Aprender aexaminar as profundezas, a desnudar./Aprendera organizar o movimento <strong>em</strong> relaçõeslógicas./Aprender o que é a lógica. Aprender oque é um organismo. 38


58O texto transcrito acima revela-nos a necessidade pr<strong>em</strong>entede desenvolver a sensibilidade, desenvolver o sentido estético. Oespaço urbano é um amálgama de signos representativos dasrelações entre hom<strong>em</strong> e hom<strong>em</strong>, hom<strong>em</strong> e natureza, hom<strong>em</strong>consigo-mesmo e toda essa simbologia se reflete na linguag<strong>em</strong>plástica dos artistas, na sensibilidade com que expõ<strong>em</strong> a si mesmosatravés da obra.Não é diferente <strong>em</strong> relação à cidade de Rio Claro: nossosartistas “contam” a cidade, eternizando suas paisagens, suas ruas,seus portais; “contam” mais ainda, quando <strong>em</strong> traços abstratosdesvendam o cotidiano da comunidade, impregnado na vivênciapessoal de cada um.É difícil citar nomes, pois muitos são os artistas que sedestacam; mas não poderíamos deixar de mencionar a maior artistaacadêmica da cidade e ao mesmo t<strong>em</strong>po grande mestra dedicada aoensino das artes, a professora Ilara Machado Luz.Outro artista que t<strong>em</strong>os que mencionar é Percy de Oliveira,conhecido pelos seus sapinhos, verdadeiro “patrimônio afetivo” dacidade; Percy também é um exímio desenhista <strong>em</strong> bico de pena,tendo produzido pranchas que retratam os casarões de época,contribuindo para a preservação do patrimônio histórico de Rio Claroatravés da sua arte.Seguindo a tradição, t<strong>em</strong>os também muitos mestres atuandona área, os quais, através do ensino, buscam a perpetuação dessaimportante manifestação cultural na cidade.Outro fato que merece relevância está ligado à Arte Postal; oartista plástico Sechi, também artista postal e participante deexposições e catálogos ao redor de todo o mundo, lançou váriosprojetos inovadores na cidade. O projeto “Onde Você Mora” (1999)contou com a participação de 23 países, incluindo artistas locaistambém. A exposição, subproduto do projeto, contou com 68participantes.O projeto “Só Objetos de Uso Pessoal” (2000) foi maisabrangente ainda, contando com a participação de 43 países e 355participantes; a exposição resultante foi considerada uma dasmaiores da América Latina nos últimos anos, transformando a cidadede Rio Claro <strong>em</strong> uma verdadeira referência na área. Vale uma críticaconstrutiva: infelizmente o projeto, tão instigante <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>a e nacomplexidade das obras enviadas, não contou com divulgaçãoapropriada, conforme merecia.O projeto “Pense Aqui”, cujo resíduo é uma revista de artepostal criada e editada pelo artista, já conta com a contribuição de 54


59países, com mais de mil trabalhos recebidos. O projeto ainda está <strong>em</strong>desenvolvimento e já gerou a publicação de 51 números da revista.“Minha primeira experiência no território da arte postalaconteceu <strong>em</strong> 1994, quase que involuntariamente, nomomento <strong>em</strong> que eu me fazia a primeira perguntasobre o que seria a mail-art. Desde então, as questõessobre arte postal e sobre o papel da Arte na sociedadecont<strong>em</strong>porânea só fizeram crescer e, enquantoprocurava respostas, já estava despertando potenciaisna comunidade rio-clarense, transformando nossacidade, s<strong>em</strong>pre representada nos mais longínquoscantos do planeta onde houver uma exposição de artepostal, numa referência internacional no universo daarte-correio.” 39Quanto aos Salões e Mostras, realizados tradicionalmente nomunicípio, merec<strong>em</strong> destaque o SAPLARC – Salão de Artes Plásticasde Rio Claro, o qual já se encontra <strong>em</strong> sua 25 a . edição. O Salão,nesses últimos anos, t<strong>em</strong> recebido inscrições de renomados artistasda região, do Estado e de todo o país, sua estrutura foiredimensionada buscando a excelência e colocando o mesmo nocircuito dos melhores Salões de Arte do Estado.A Mostra “Novos Olhares”, idealizada pelo Arquivo Público eHistórico do Município de Rio Claro, a qual está <strong>em</strong> sua 5 a . edição,t<strong>em</strong> por objetivo fundamental apresentar a Arte como sustentáculoda História. No caso, resgatando a m<strong>em</strong>ória social, histórica earquitetônica da cidade de Rio Claro. A proposta, que começoutímida, alcançou grande destaque, e hoje a Mostra integra ocalendário oficial de eventos do município.“Quanto aos “Novos Olhares” eu teria prazer <strong>em</strong>dizer que nasceu timidamente de uma exposiçãoindividual minha, abrindo-se já no ano seguinte,a todos os artistas para que, tomando nossacidade como musa ou modelo, apresentass<strong>em</strong>suas interpretações pessoais. Através dessesalão, muitos artistas têm se revelado. Obrascriadas especialmente para ele vêm levantandoprêmios <strong>em</strong> salões oficiais de outros municípiosde nosso Estado, evidenciando a qualidade denossos artistas.” 40Os artistas, enquanto leitores das nossas ruas, das nossaspraças, das relações sociais, do entrelaçamento hom<strong>em</strong>-ambiente,através de desenhos e pinturas revelam Rio Claro <strong>em</strong> toda suamágica urbana.Núcleo de Artistas Plásticos de Rio Claro e Região - n.ArteO Núcleo de Artistas Plásticos de Rio Claro e Região – n.Arte foifundado <strong>em</strong> março de 1997. Nesses quase cinco anos de atividades


60reuniu cerca de 50 associados e v<strong>em</strong> realizando um trabalho muitoimportante, não só <strong>em</strong> Rio Claro, mas <strong>em</strong> toda região. O grupo,atualmente, está se reunindo no prédio do Museu “Amador Bueno daVeiga”.Gostaríamos de apontar para o fato de que os artistasplásticos associados ao n.Arte participam intensamente da vidacultural da cidade, marcando presença <strong>em</strong> eventos variados eprogramações artísticas, divulgando seus trabalhos e, principalmente,enriquecendo a vida comunitária.A formação do grupo mostrou ter sido um fator decrescimento para os artistas envolvidos, já que a realização deoficinas locais, os cursos desenvolvidos, o intercâmbio com outrosartistas, as palestras ministradas, além das viagens e visitas às maisdiversas exposições, contribuíram grand<strong>em</strong>ente para oaperfeiçoamento individual. A troca de informações foi reforçada,ocorrendo reciclag<strong>em</strong> do aprendizado, culminando com a melhora e oamadurecimento, sob o ponto de vista técnico, de todos os artistas.Outro fator realmente significativo diz respeito à relação dosartistas com a cidade; como eles foram absorvidos pela roda-vivacultural do município que já não pode prescindir da presença delespara a realização dos eventos. Para citar fatos mais recentes, <strong>em</strong>2001 o n.Arte participou do Encontro Regional de Escritores no entãoHorto Florestal, das Manhãs de Arte, patrocinadas pelo ArquivoPúblico “Oscar de Arruda Penteado”, da S<strong>em</strong>ana da Mulher, doprojeto “Arte na Estação”, de uma exposição reunindo 35 obrasdoadas por artistas associados ao grupo, à Santa Casa deMisericórdia de Rio Claro, participando, ainda, da organização da VMostra “Novos Olhares”, uma realização do Arquivo Público “Oscar deArruda Penteado”.O Núcleo de Artistas Plásticos realiza uma mostra anual,expondo trabalhos de artistas de Rio Claro e região. Consideramosrelevante destacar que os artistas associados têm sido pr<strong>em</strong>iados nosmais importantes salões da região e do Estado de São Paulo,elevando o nome de nossa cidade e, sobretudo, colaborando paraimpulsionar os fazeres criativos locais. 41“ A convivência no n.ARTE, desde seu início, t<strong>em</strong>sido gratificante e enriquecedora, tanto nosaspectos humanos e artísticos, experimentadosnas relações com os amigos associados, comono contato mais próximo e freqüente com opúblico apreciador das artes <strong>em</strong> geral,instigando nosso potencial criativo. Resultantede nossa existência como núcleo, vimosconsolidando as motivações iniciais <strong>em</strong>conquistas, reconhecendo o apoio e o espaço anós dedicados”. 42


61DANÇAA dança s<strong>em</strong>pre foi considerada uma manifestação cultural daselites, principalmente o balé clássico. Concorria para essa visão aquase que total falta de apoio dos órgãos públicos ligados à Cultura,talvez devido aos altos custos de manutenção dos corpos de baile,das acad<strong>em</strong>ias, enfim, de toda a estrutura dos projetos. O estigmaprevaleceu até alguns anos atrás, quando a explosão da dançacont<strong>em</strong>porânea, enfocando com sua simbologia o caos socialinstalado no país, acabou permitindo a assimilação das populaçõesmenos favorecidas.No contexto da cidade de Rio Claro, as acad<strong>em</strong>ias de dançasurgiram há aproximadamente trinta anos. Inicialmente, o trabalhodesenvolvido enfocava a parcela da população que podia pagar poralgo que era considerado supérfluo por muitos. Como as acad<strong>em</strong>iastinham a renda das mensalidades, quase não havia apoio da iniciativaprivada n<strong>em</strong> dos órgãos públicos. Esse fato se deve à prevalência deuma mentalidade equivocada.Atualmente, são muitas as acad<strong>em</strong>ias existentes na cidade; afilosofia da inclusão social permeia o trabalho desenvolvido e, d<strong>em</strong>odo geral, t<strong>em</strong> alcançado várias camadas da população. Os ventosda d<strong>em</strong>ocratização cultural permitiram que o poder público fosse, aospoucos, mudando a postura <strong>em</strong> relação à necessidade de patrocinareventos que, promovendo a dança como importante manifestaçãocultural, fizeram-na mais conhecida e, portanto, mais apreciada.Um evento que d<strong>em</strong>onstra essa mudança de mente é o “RioClaro Dança”, o qual <strong>em</strong> 2002 teve sua terceira edição. Embora nãoofereça prêmio aquisitivo, constitui-se <strong>em</strong> um incentivo para asacad<strong>em</strong>ias e bailarinos. Cumpre ressaltar que os grupos de Rio Clarotêm destaque no cenário regional, <strong>em</strong>bora não haja divulgação naimprensa dos troféus conquistados, e essa falta de informação acabaobscurecendo o trabalho. Todavia, as atividades das acad<strong>em</strong>ias têmcrescido <strong>em</strong> qualidade e o balanço final é bastante positivo <strong>em</strong>relação às décadas passadas. 43Projeto “Luz do Oriente”Rio Claro t<strong>em</strong> projetos sociais incentivados pela prefeituramunicipal na área da dança. O projeto “Luz do Oriente”, iniciado <strong>em</strong>1999, visa ao atendimento de crianças e adolescentes cujas idadesvariam entre 7 e 17 anos, através de aulas de dança do ventre.Desde 2001, o projeto utiliza o espaço do Centro Cultural RobertoPalmari.Prioriza-se o atendimento às crianças carentes, e aquelas commelhores condições financeiras pagam uma pequena taxa mensal queauxilia as primeiras na compra de materiais para confecção de trajes,


62instrumentos e CD’s, além de material para a Biblioteca MirimAlexandria. O projeto só aceita crianças e adolescentes devidament<strong>em</strong>atriculadas no Ensino fundamental ou Médio e o des<strong>em</strong>penhoescolar das bailarinas é levado <strong>em</strong> conta, sendo que notas baixasacarretam suspensão das aulas e apresentações.O projeto também conta com o apoio técnico de uma professorade educação física e de uma psicóloga, além do apoio das mães queconfeccionam trajes e acompanham <strong>em</strong> viagens. Os resultadospod<strong>em</strong> ser aferidos pelo depoimento da professora:“Após os primeiros meses de participação percebe-senas meninas uma significativa mudança deatitudes.(...) Através da dança as meninas(...)descobr<strong>em</strong> seu valor enquanto pessoas, desenvolv<strong>em</strong>senso crítico e passam a desejar uma vida eoportunidades melhores para si.(...) É como pegar umaplanta murcha e dar-lhe luz e água fresca e vê-ladesabrochar e florescer! É mágico e encantador!” 44CINEMAO cin<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> Rio Claro, teve como seu expoente máximo afigura histórica de Roberto Palmari, hom<strong>em</strong> de gênio, como se diziaantigamente, pessoa <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ática, cineasta dos melhores e umgrande agitador cultural, quando n<strong>em</strong> sequer existia tal conceito.T<strong>em</strong>os, na pessoa e obra de Palmari, um dos maiores referenciais dacultura cin<strong>em</strong>atográfica <strong>em</strong> Rio Claro.O auge do cineclubismo na cidade talvez tenha ocorrido nasdécadas de 60 e 70; o bar “A Toca”, ponto de encontro dos cinéfilosrio-clarenses, borbulhava com a conversa inteligente, com adiscussão dos t<strong>em</strong>as, das obras, enfim, havia um “climacin<strong>em</strong>atográfico”.Atualmente, o projeto CREC – Centro Rio-Clarense de EstudosCin<strong>em</strong>atográficos, que nasceu informalmente <strong>em</strong> 1984, fruto doprojeto Intercine e do “Plano de Interiorização do Cin<strong>em</strong>a Cultural”desenvolvido pela Federação de Cineclubes com o apoio da Secretariade Estado da Cultura, e cujo objetivo era fortalecer os cineclubes,busca resgatar essa parte de nossa história.Em 1986, o CREC foi formalizado como entidade cultural s<strong>em</strong>fins lucrativos. Atualmente, mantém na cidade atividades de cunhocineclubista envolvendo projeções periódicas de filmes. A entidadepreocupa-se também com a difusão e produção cin<strong>em</strong>atográfica, b<strong>em</strong>como com o resgate da história do cin<strong>em</strong>a no município.Desde 1997 veicula uma intensa programação s<strong>em</strong>anal, comexibição gratuita de filmes nas 3 as . 4 as . e 5 as ., e também aos


63domingos. Realiza, ainda, oficinas de vídeo e organiza debates comcineastas, mantendo viva a chama do cin<strong>em</strong>a na cidade. 45Concluindo esse capítulo, no qual relatamos algumas daslinguagens artísticas que se exprim<strong>em</strong> <strong>em</strong> Rio Claro, tornando-a umaCidade Viva, sagrada <strong>em</strong> seus sentidos e motivos, desejamosreafirmar que a Arte é inerente à condição humana e, portanto, ohom<strong>em</strong> se conceitua como ser criador. Enquanto criar corresponde aexercer o poder de transformar as coisas, tornando-as plenas designificados, de sentidos. Quando transforma as coisas através daArte o próprio hom<strong>em</strong> se transforma e, transformado vai, mais umavez, reiniciar o processo de transformação.Esse processo de transformação, que está s<strong>em</strong>pre começando eque começa no hom<strong>em</strong>, é que nos revela que a Arte é inseparável darealidade social, pois através dela viabiliza-se a humanização dodesenvolvimento, a conquista da dignidade individual e apossibilidade de resgatar o sentido profundo da experiência culturalde cada povo.Notas de Referência1- MASI, Domenico de. (organização) A Emoção e a Regra. Os GruposCriativos na Europa de 1850 a 1950. Rio de Janeiro: José Olympio,1999.2- Op. Cit.3- NIETZCHE, Friedrich. O nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhiadas Letras, 1993.4- PAZ, Octavio. Los signos en rotación y otros ensayos. Madrid, 1971.5- Op. Cit.6- Declaração do México. Conferência Mundial Sobre Políticas Culturais. México,1982.7- HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio deJaneiro: DP&A Editora, 1999.8- FITTIPALDI, Fernando Cilento. O Teatro – Síntese Histórica. In: Rio ClaroSesquicentenária, 1978.9- Op. Cit.10- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Odécio Penteado. 05/05/200211- Documento de Projeto da Secretaria Municipal de Cultura.12- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Juliana D’Urso. 10/05/2002.13- Documento do Projeto “Rio Claro <strong>em</strong> Cena” .14- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Fabiano Carlos Franco. 15/04/2002.15- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Marcos Paulo Callegari. 15/04/2002.16- ZERBO, Douglas Renegildo. A Música. In: Rio Claro Sesquicentenária. RioClaro, 1978.17- Jornal cidade/editorial/3 a feira 07/11/95.18- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de William Nagib Filho. 30/04/2002.19- Op. Cit.20- Documento da Orquestra Sinfônica de Rio Claro.21- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do Maestro Mário César Candiani.20/05/200222- Op. Cit.23- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do Maestro Daniel Pedrozo. 07/05/2002.24- Histórico da Banda cedido pelo Professor Paulo Luiz Martiniano.


25- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de René Neubauer – <strong>Di</strong>retor de Eventosda Secretaria Municipal de Cultura. 10/05/2002.26- Documentos de Projetos da Secretaria Municipal de Turismo e <strong>Di</strong>retoria deEventos.27- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de <strong>Claudio</strong>nor Luiz Fonseca.30/04/2002.28- RODRIGUES FILHO, Luiz Martins. Literatura e Vida Literária. In: Rio ClaroSesquicentenária. Rio Claro, 1978.29- KANDINSKY, Vassili. Do Ponto e da Linha sobre o Plano. In: NovoManual Nova Cultural. São Paulo, 1994.30- RODRIGUES FILHO, Luiz Martins. Ofício de Viver. Rio Claro, 1985.31- PRADO, Ivanira Bohn. Lâmina Breve. São Paulo, 1988.32- PRADO, Ivanira Bohn. Certos Livros. Rio Claro, 2000.33- LEITÃO, Jaime. Po<strong>em</strong>as na Rede. Rio Claro, 2001.34- Op. Cit.35- Op. Cit.36- Morateli, Jovelina. Ciranda Luar na Varanda. Piracicaba, 1986.37- PAZ, Octavio. Los signos en rotación y otros ensayos. Madrid, 1971.38- KLEE, Paul. Teoria da Arte Moderna. In: Novo Manual Nova Cultural.São Paulo, 1994.39- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do artista plástico Sechi. 11/05/2002.40- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento da Profa. Dra. Lucila de Oliveira Maciel.13/05/200241- Histórico do Núcleo de Artistas Plásticos de Rio Claro. Compilado porSebastião Luiz Miotto, aquarelista e fotógrafo.42- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Sebastião Luiz Miotto. 18/05/2002.43- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Entrevista com professoras das acad<strong>em</strong>ias Cadênciae Sônia Vasques. 05/05/200244- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Professora Idalina Arndt. 30/04/200245- Comunicação <strong>Di</strong>reta. João Batista Pimentel Neto. Coordenador do CREC.05/05/200264


65COEXISTÊNCIA CULTURALÉ característico de cada cultura possuir seus próprios signos,sua linguag<strong>em</strong> singular, sua forma toda peculiar de compreender omundo e a vida. A partir do momento <strong>em</strong> que esses signos e essalinguag<strong>em</strong> são transmitidos de geração <strong>em</strong> geração, vai seconsolidando o imaginário das diversas culturas. Isso faz com quevivamos num mundo multicultural.Buscando entender melhor a relação entre as diferentesculturas e, principalmente, o conceito de coexistência cultural,transcrev<strong>em</strong>os uma abordag<strong>em</strong> bastante interessante:(...) a relação entre as diferentes culturas t<strong>em</strong>sido inspirada pelo amour propre ou amour de soi.Amour propre é o amor que sentimos pelo quepossuímos. Amour de soi é o amor que sentimospelo que somos. O processo de aculturação damaioria das sociedades tribais tinha por objetivodesenvolver o amour propre: apenas algumaspreferiam cultivar o amour de soi. (...) Quando oamour propre prevalece a diversidade cultural, <strong>em</strong>vez de se tornar uma fonte de alegria,transforma-se numa fonte de conflito”. 1Depreend<strong>em</strong>os, desse breve parágrafo, que o chamado “amourpropre” – o amor pelo que possuímos – é o alicerce da sociedadeconsumista; sendo esta apenas uma das leituras possíveis do texto;pelo contrário, o “amour de soi” – amor pelo que somos – alicerça aconstrução de uma sociedade solidária, na qual diferentes culturaspod<strong>em</strong> conviver <strong>em</strong> paz, preservando cada qual a sua identidade,interpenetrando-se e produzindo o crescimento espiritual, <strong>em</strong>ocionale intelectual dos indivíduos.Para abordar com pertinência o assunto da diversidade cultural,torna-se desejável enfocar um pouco da história do Brasil. Sob oponto de vista histórico, o processo de desenvolvimento do Brasils<strong>em</strong>pre teve como marca a exclusão social das minorias. Desde oDescobrimento, quando o colonizador português tentou escravizar osindígenas e, posteriormente, a implantação do sist<strong>em</strong>a escravocrata,ficam nítidas as marcas da intolerância. Não se tratava apenas daquestão racial, mas, notadamente, social e religiosa. O colono,inclusive, só poderia possuir terras caso professasse a religiãocatólica. Essa pr<strong>em</strong>issa, por si só, já excluía índios e negros –politeístas, como colonos holandeses – protestantes. 2Sob o ponto de vista da organização da sociedade, os indígenasviviam numa sociedade s<strong>em</strong> classes, na qual a divisão de trabalhoera orgânica, baseada no sexo e na idade; não conheciam a


66propriedade privada da terra, a produção era coletiva e havia umarelação de cooperatividade, a despeito das lutas intertribais. 3Quanto ao sist<strong>em</strong>a escravista, t<strong>em</strong>os que entender que omesmo foi introduzido como modo de produção e organização social,o que equivale a dizer que a escravidão constituía-se <strong>em</strong> umainstituição legal, sob os pontos de vistas social e econômico, tendodeterminado o estilo de vida do Brasil Colônia. Isso significa que osist<strong>em</strong>a escravista gerou estruturas que visavam à sua própriapermanência e, para conseguir implantá-las, criou uma visão d<strong>em</strong>undo e de governo segundo a qual o negro não era um serinteiramente humano. 4Essa visão ficou tão profundamente entranhada na sociedadebrasileira que, mesmo após 350 anos de coexistência cultural, ainda émuito difícil lutar contra a desqualificação do negro no país.Confirmando essa declaração, t<strong>em</strong>os centenas de estatísticasapontando para o fato de que negros, ocupando a mesma posiçãoque brancos no mercado de trabalho, receb<strong>em</strong> salários menores. Noâmbito educacional também se reflete essa desigualdade. T<strong>em</strong>os queadmitir que houve prevalência da exclusão racial no país ao longo dosséculos e que o estigma dessa exclusão permeia toda a sociedadebrasileira.Atualmente, cerca de 44,2% da população brasileira écomposta por afro-brasileiros. A escravidão produziu desigualdadeshistóricas que se perpetuaram e se consolidaram devido ainexistência de políticas para a inclusão do negro brasileiro noprocesso de desenvolvimento, o que colocou a população negra nasposições mais inferiores da pirâmide social. Na década de 90, pelaprimeira vez, foram efetivamente formuladas políticas voltadas para asuperação das desigualdades raciais, buscando-se criar no país umasituação favorável à inclusão do negro nas mais diversas áreas dasociedade. Estamos no início de uma “luta” talvez mais significativa,sob alguns aspectos, do que aquela <strong>em</strong>preendida pelos abolicionistasno século XVIII, já que buscamos a erradicação de um paradigma denacionalidade que promovia a exclusão, b<strong>em</strong> como sua substituiçãopor um novo modelo que faculte o reconhecimento e a valorizaçãoda presença negra <strong>em</strong> todo o processo desenvolvimentista brasileiro.5A nossa abordag<strong>em</strong> pretende ressaltar a desqualificação dasreferências culturais da população negra, as quais foramrepetidamente repudiadas.“Em 1814, o governo geral do Rio de Janeirorecomenda ao governador da Bahia: 'Determina SuaAlteza Real que V. Exa. prohiba absolutamente osajuntamentos de Negros chamados vulgarmentebatuques, não só de dia, mas muito particularmente de


67noite, pois ainda que se lhes permitisse isto para osfazer contentes não deve continuar esta espécie dedivertimento, depois de ter<strong>em</strong> abusado tanto dela.'’’ 6O reconhecimento da importância da cultura negra no cenárionacional, a atribuição de valor às dinâmicas sociais positivasprocedentes da comunidade negra, o estabelecimento de um conceitode nacionalidade inclusivo, são fatores decisivos para garantir aonegro o exercício da cidadania plena.É importante salientar que a Fundação Cultural Palmares, órgãovinculado ao Ministério da Cultura e que possui responsabilidadesrelativas à impl<strong>em</strong>entação de políticas culturais que favoreçam ainclusão da população negra no processo de desenvolvimento, após arealização de um extenso estudo sobre as dinâmicas das relaçõessociais no país, estudo que abrangeu a indústria cultural, apreservação dos bens culturais e a defesa da diversidade das culturasnacionais, concluiu que existe a pr<strong>em</strong>ente necessidade deinstrumentalizar o acesso dos promotores culturais afro-brasileirosaos recursos para a cultura e aos meios de comunicação social, alémde facilitar a divulgação, no mercado, das atividades culturaisdesenvolvidas pelos negros.Essa investigação culminou com a criação de projetos quevisam ao aprimoramento dos produtores culturais negros nas maisdiversas áreas da gestão cultural e do desenvolvimento artístico. 7Acreditamos que, à medida <strong>em</strong> que expandir-se a consciênciade que o multiculturalismo é representativo da riqueza social de umpaís, cada vez mais ecoarão os sons triunfantes dos tambores, dobatuque que outrora esteve proibido, celebrando o nascimento deuma nação mais solidária.Rio Claro e a <strong>Di</strong>versidade CulturalContextualizando as questões da diversidade e da coexistênciacultural no âmbito do município de Rio Claro, t<strong>em</strong>os que destacar asimportantes ações que vêm ocorrendo e que têm corroborado aimpl<strong>em</strong>entação de políticas culturais municipais cujo objetivo principalé a valorização da pluralidade cultural da cidade.Antes de mais nada, destacamos a difusão de atividadesculturais e festas populares promovidas na cidade, fundamentadas nofazer cultural dos imigrantes que aqui se estabeleceram. Porém,nossa análise deve incluir um t<strong>em</strong>po mais r<strong>em</strong>oto, quando Rio Claroera a Terra dos Indaiás, quando a posse da terra pertencia aosindígenas.Nossa cidade possui importantes sítios arqueológicos, os quais,quando pesquisados, revelaram muitos aspectos culturais dassociedades tribais que aqui estavam estabelecidas. Intentando


68valorizar essas raízes culturais tão expressivas foi implantada aQuinzena do Índio, evento que acontece no mês de abril.Na verdade, por ocasião das com<strong>em</strong>orações dos 500 anos doDescobrimento, tendo como metas o respeito à diversidade e avalorização da cultura nacional, um grande movimento ocorreu nacidade, o qual teve repercussão regional. Os índios Xavantes daAldeia Nossa Senhora Auxiliadora, de Barra do Garça/Mato Grosso,foram trazidos para Rio Claro, onde permaneceram poraproximadamente um mês.Os indígenas se estabeleceram na Floresta, e a população afluiupara o local onde atividades diárias foram realizadas. Houve enormeadesão das escolas ao projeto; foram realizadas visitas monitoradasaos índios, eles mantiveram contato pessoal com crianças, jovens eadolescentes, que, desse modo, tiveram uma oportunidade rara decompartilhar a vivência de um grupo étnico tão diferente, cuja culturaé muito rica. Como fruto desse contato educativo foi levado a termoum concurso de redação; muitas escolas participaram e os alunosque se saíram melhor forma pr<strong>em</strong>iados, como forma de incentivo. 8Manifestações FolclóricasAs manifestações folclóricas que ocorr<strong>em</strong> na cidade tambémsão indicadoras da preocupação <strong>em</strong> valorizar o fazer cultural deoutras regiões de nosso país. O folclore brasileiro é riquíssimo e suasexpressões muito belas. Têm sido desenvolvidas atividadeseducativas e culturais que fortalec<strong>em</strong> essas expressões. Em Rio Clarodesenvolve-se a “catira” e a umbigada, além de ações culturais, comoo evento “Em Rio Claro a Criança Canta o Folclore” – Encontro deCorais Infantis, privilegiando a música com t<strong>em</strong>ática folclórica. Sãorealizadas, também, atividades no Museu “Amador Bueno da Veiga”,s<strong>em</strong>pre com a finalidade de preservar as tradições. 9Manifestações Culturais – Comunidade negraQuanto à cultura negra, é nítido o <strong>em</strong>penho por parte dosadministradores culturais no sentido de encontrar formas e métodosatravés dos quais a mesma possa ser valorizada, assimilada edivulgada, mantendo a tradição da cidade que s<strong>em</strong>pre esteve navanguarda dos movimentos abolicionistas, tendo sido uma dasprimeiras províncias de São Paulo a libertar seus escravos.Todavia, como já ficou claro <strong>em</strong> nossa exposição, o preconceitoracial e a discriminação dele procedente não são fáceis de eliminar.Consideramos que Rio Claro confirmou que continua na vanguardadas ações que permit<strong>em</strong> a inclusão sócio-cultural da população negraquando realizou a I Conferência Municipal da Comunidade Negra, noano de 2001. A principal conseqüência da Conferência foi a formaçãodo Conselho Municipal da Comunidade Negra.


69O Conselho Municipal da Comunidade Negra de Rio Claro t<strong>em</strong>,entre seus objetivos, defender os interesses sociais, econômicos,políticos, educacionais, habitacionais e culturais da sociedade rioclarense,sobretudo, dos Afro-Descendentes. Para alcançar seusobjetivos, o Conselho pretende envolver <strong>em</strong> suas atividades todas aspessoas e entidades que estejam, de alguma forma, efetivamenteligadas aos propósitos da luta contra a discriminação. Sendo assim,terá a sua atuação assessorada pelo poder público local.Acreditamos que a formação do Conselho permitirá que seampli<strong>em</strong> as discussões sobre desigualdade racial, não só <strong>em</strong> nossomunicípio mas <strong>em</strong> toda região, discussões que culminarão,esperamos, <strong>em</strong> ações concretas para evitar a exclusão social, adescaracterização cultural, e todas as formas de abuso. Conhec<strong>em</strong>oso valor da diversidade cultural e o enriquecimento pessoal ecomunitário acarretados por ela, portanto é importante abrircaminhos para as manifestações culturais afro-brasileiras <strong>em</strong> nossacidade. 10CapoeiraDentre essas manifestações, aquela que mais t<strong>em</strong> se destacadoé a Capoeira. No ano de 1988 começou a ser desenvolvido umprojeto nas escolas “Hamilton Prado” e “Oscália”. Um projeto tímido,mas que contava com a garra de um monitor determinado, que hojeatende pelo título de Mestre Geraldo. Não havia apoio social e muitomenos incentivo financeiro, entretanto o projeto se manteve <strong>em</strong> pé,apesar do preconceito enfrentado.No ano de 1996, veio para Rio Claro o grupo Yúna e, partindodisso, começaram a proliferar acad<strong>em</strong>ias de capoeira no centro dacidade; <strong>em</strong> 1997, a determinação e a força de vontade do MestreGeraldo conquistaram um espaço no Centro Cultural Roberto Palmari,o qual, nessa época, passava por um processo de reestruturaçãosocial visando transformá-lo <strong>em</strong> local mais acessível ao povo, menoselitista. A formação de turmas de capoeira no Centro Cultural expôs opreconceito de forma transparente, permitindo, então, que foss<strong>em</strong>exercidas ações no intuito de derrotá-lo.Foi a partir das aulas no Centro Cultural, com apoio daadministração pública, que a capoeira popularizou-se <strong>em</strong> Rio Claro,assimilando alunos da classe média, promovendo a quebra depreconceitos. Nos anos de 98 e 99 o trabalho desbordou para outroslocais, sendo desenvolvido, inclusive, no Shopping Center. Um grand<strong>em</strong>omento ocorreu quando o trabalho realizado no Centro Cultural foiapresentado na Argentina (2000), consolidando-se o triunfo da ação.Hoje, o grupo do Centro Cultural pode ser chamado de “célulamãe”dos inúmeros outros grupos que surgiram na cidade, na região


70e até mesmo <strong>em</strong> outro Estado – o Rio Grande do Sul, que implantouno município de São Leopoldo um programa nos moldes daquelerealizado <strong>em</strong> Rio Claro.Desde 1997, têm-se realizado <strong>em</strong> Rio Claro Encontros deCapoeira, regionais e nacionais, e, como ápice da vitória, <strong>em</strong> 2001surgiu a Liga Municipal de Capoeira, com estatuto próprio, o quefacultou a agregação dos grupos espalhados pela cidade, a excelênciana qualificação e o desenvolvimento de projetos. Com apoio daadministração cultural foram trazidos a Rio Claro, importantesmestres capoeiristas, incentivando a participação efetiva de maisjovens.Entre tantas notícias boas, Mestre Geraldo também destacaalgumas dificuldades, como a falta de apoio da iniciativa privada e opreconceito da mídia que não divulga os eventos. Conhecendo ahistória da Associação Afro Brasileira de Capoeira e a de MestreGeraldo, marcadas “por quinze anos de raça e cultura”, t<strong>em</strong>os certezaque as dificuldades serão superadas. 11O projeto “Acolher com Arte” também desenvolve aulas eoficinas de capoeira nos bairros; transcrev<strong>em</strong>os o depoimento de umdos monitores:“(...) Conhecimentos extraídos da própriacapoeira, conhecimentos que transformam, qu<strong>em</strong>oldam e que lapidam carácteres que, muitasvezes, por falta de oportunidade sedesvanec<strong>em</strong>.” 12Finalizamos rel<strong>em</strong>brando que o respeito a expressão dadiversidade é o fundamento de uma verdadeira d<strong>em</strong>ocracia cultural.Notas de Referência1- CASTORIADIS, Cornelius. Via s<strong>em</strong> saída?. In: O mundo fragmentado - Asencruzilhadas do Labirinto. Rio de janeiro, 1992.2- MATOS, Clarence José de; NUNES, César A. História do Brasil. São Paulo,1994.3- Op. Cit.4- GOULART, Maurício. A Escravidão Africana no Brasil. In: Novo ManualNova Cultural/História. São Paulo, 1994.5- PEREIRA, Dulce Maria. D<strong>em</strong>ocracia Racial: O mito, o desejo, a história.Captado <strong>em</strong> http://www.mre.gov.br/revista/numero06/facenegra/htm(07/04/2002)6- Op. Cit.7- Op. Cit.


718- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do <strong>Di</strong>retor de <strong>Di</strong>fusão Cultural daPrefeitura Municipal – João Batista Pimentel Neto. 05/05/2002.9- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento do <strong>Di</strong>retor de Eventos da PrefeituraMunicipal – René Neubauer. 13/04/2002.10- Documento de Projeto do Conselho Municipal da Comunidade Negra.11- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Mestre Geraldo Sidilei dos antos.30/04/2002.12- Comunicação <strong>Di</strong>reta. Depoimento de Rinaldo Prado - Mestre Gato Preto.Monitor do Projeto Acolher. 13/04/2002.


72GESTÃO CULTURAL DEMOCRÁTICAFace às questões já explanadas, envolvendo a probl<strong>em</strong>ática daglobalização, as dificuldades de implantação de um processopermanente de descentralização cultural, da construção de umaidentidade cultural com raízes na localidade e vinculada àpreservação patrimonial municipal, da conquista da verdadeirad<strong>em</strong>ocracia cultural no município, t<strong>em</strong>os, então, que abordar ost<strong>em</strong>as relativos à gestão cultural e às políticas culturais.O principal obstáculo à implantação de uma gestão culturald<strong>em</strong>ocrática é a visão errônea, que norteia muitos administradoresmunicipais, de que cultura é apenas uma atividade de somenosimportância, quando comparada à educação, saúde, desenvolvimentosocial. Porém, ao longo deste texto, t<strong>em</strong>os nos dedicado a provar queesse equívoco pode custar muito caro, pois não é possível desvinculardesenvolvimento de cultura.Outro <strong>em</strong>pecilho pode estar relacionado ao conflito deinteresses entre os produtores culturais do município e aos interessespolítico-partidários. Outra dificuldade enfrentada refere-se à escassezde pesquisas, através das quais poderia ocorrer a aferição e posteriorsist<strong>em</strong>atização das práticas culturais que já acontec<strong>em</strong> na cidade,objetivando o planejamento e a estruturação de políticas para a áreaque atendess<strong>em</strong> critérios pré-estabelecidos mediante as mesmaspesquisas. 1Observamos, todavia, que o entrave maior, que realmente teriao poder de paralisar as ações de formação e difusão cultural nomunicípio de Rio Claro, t<strong>em</strong> sido vencido, gradativamente e cada vezcom maior impulso. Ou seja, t<strong>em</strong>-se lutado muito contra a tradicionalforma de se estabelecer<strong>em</strong> diretrizes culturais fundamentadas <strong>em</strong>ações clientelísticas que beneficiam somente uma parcela muitorestrita da população.É inegável que os governos locais, incluindo os representantesdas câmaras municipais, não pod<strong>em</strong> se eximir da responsabilidade detratar essas questões com a relevância que elas merec<strong>em</strong>.“Governos e sociedade dev<strong>em</strong> trabalhar paraconstruir juntos uma cultura d<strong>em</strong>ocrática,componente central do desenvolvimentohumano, que supere o autoritarismo e oclientelismo e a privatização do b<strong>em</strong> público porgrupos de interesse, ainda muito presentes nosmunicípios brasileiros.” 2Definimos, então, que a implantação de políticas culturaisadequadas a cada município é indispensável para a transformação


73social, por isso, como produtores culturais vinculados à cidade de RioClaro, desejamos que a sociedade seja incluída e participe cada vezmais dos processos decisórios no que concerne às diretrizes culturais.Ansiamos por uma sociedade sustentável, na qual se prioriz<strong>em</strong> osvalores que promov<strong>em</strong> a humanização da coletividade.Partimos do pressuposto de que o setor cultural não pode maisser entendido como uma miscelânea de ações desarticuladas(exposições, festivais, shows etc.) s<strong>em</strong> a menor relação com a vidaafetiva da comunidade, circunstância que se reproduziu por longasdécadas <strong>em</strong> nossa cidade. É importante que haja um equilíbrio entredifusão e formação cultural.Sobretudo, é essencial que haja o reconhecimento de que ainfluência da cultura no desenvolvimento de um país, de uma região,de uma comunidade, dos indivíduos <strong>em</strong> geral, transformou-seradicalmente nas últimas décadas, colocando desafios inéditos eimensos a todos aqueles que, no setor público ou no setor privado,procuram novos caminhos, soluções e funções, tanto para ostradicionais, como para os novos territórios da cultura.Nesse contexto, a gestão ou administração cultural moderna ed<strong>em</strong>ocrática assume um papel preponderante, pois implica nasrelações complexas existentes entre criadores artísticos, poderespúblicos e mercado. Apontamos, ainda, para o fato de que na grand<strong>em</strong>aioria dos municípios brasileiros as ações de política cultural,normalmente, depend<strong>em</strong> apenas da prefeitura, raramente incluindo asociedade civil organizada na elaboração e execução dos projetos, oque facilita o clientelismo.Quando nos referimos à participação efetiva da sociedade civilnos processos de gestão cultural, pretend<strong>em</strong>os apontar para o fato deque o envolvimento das inúmeras comunidades atuantes nomunicípio possibilita uma estratégia de ação mais coerente com asnecessidades locais, auxiliando também na concretização das metasestabelecidas. Essa participação pode ocorrer através de fóruns,comitês, conselhos e conferências de cultura, contando comrepresentantes de todas as áreas culturais desenvolvidas na cidade.Essas ações abr<strong>em</strong> caminho para o estabelecimento de uma políticacultural mais d<strong>em</strong>ocrática.Obviamente, o processo todo deve ser acompanhado porgestores vinculados à prefeitura, tanto da área de cultura quanto deoutras áreas como administração, planejamento, finanças. Ainteração com a sociedade civil permite que o poder público trabalhecom dados mais completos, mais abrangentes, sobre o fazer culturallocal.


74Contextualizando, no que se refere ao município de Rio Claro,admitimos que não é tarefa fácil fugir da visão clientelística, pois elaestá profundamente vinculada ao enfoque centralizador das açõesculturais. Entretanto, t<strong>em</strong>os observado nos últimos anos um esforçopara superar os impedimentos até aqui relatados.Política Cultural – Conceituação e PrincípiosQuando nos referimos a política cultural, estamos falando sobrea ação do poder público fundamentada na execução deprocedimentos administrativos e orçamentários. A finalidade dessapolítica é oferecer melhor qualidade de vida aos indivíduospertencentes às várias camadas da população através de atividadesculturais, artísticas, sociais e recreativas.Por se tratar de uma ação muito abrangente, já que deveenglobar todo o município, necessita ser um propósito amplo. Apolítica cultural envolve ações relativas à preservação do patrimônionatural, histórico e cultural, atividades que promov<strong>em</strong> a formaçãocultural das pessoas, além de proporcionar o acesso aos bensculturais e aos eventos. Uma política cultural eficiente coloca acultura ao alcance de todos os cidadãos.Num segundo momento, uma política cultural voltada para ad<strong>em</strong>ocratização da cultura permite que esse mesmo cidadão seaproprie dos equipamentos e dos meios necessários para desenvolvere exercitar suas práticas culturais pessoais. Ou seja, a cultura localpassa a ser tão valorizada que o público começa a participar doprocesso cultural; já não é mais mero telespectador, mas alguémcom direito à exercer a criatividade inerente a cada ser humano. 3No contexto do município de Rio Claro t<strong>em</strong>os observado quealguns passos têm sido dados visando a esses alvos. Vejamos:• Os serviços culturais estão sendo gradativamentedescentralizados.• O acesso aos bens e equipamentos culturais está sendofacilitado.• Procura-se garantir infra-estrutura para atividades culturaiscomunitárias.• A difusão da informação cultural está otimizada.• Existe apoio financeiro e afetivo aos grupos criativos atuantesna cidade.• Prioriza-se o resgate de heranças culturais das minorias.• Estimula-se a apropriação cultural de espaços públicos.


75• Existe incentivo verdadeiro à formação cultural da população.• Procura-se formular uma política cultural que considere o perfilda população.Objetivando otimizar a impl<strong>em</strong>entação dessas ações, aprefeitura municipal de Rio Claro t<strong>em</strong> tomado atitudes práticas, comoa elaboração de projetos de lei de incentivo à cultura, além de buscarapoio nos governos estadual e federal, estabelecendo parcerias.LEIS MUNICIPAIS DE INCENTIVO À CULTURACertamente não poderíamos deixar de citar as questõesreferentes aos investimentos financeiros, já que a falta de recursos seconstitui numa das principais dificuldades enfrentadas pelos gestoresde política cultural, b<strong>em</strong> como por aqueles que estão <strong>em</strong>penhados naprodução cultural. É fato que os incentivos fiscais à culturacontribu<strong>em</strong> para que esses obstáculos sejam contornados,favorecendo o incr<strong>em</strong>ento da produção cultural local.As dificuldades na captação de recursos, s<strong>em</strong> depender quaseque exclusivamente de verbas estaduais e federais, culminou nacriação de leis municipais de incentivo à cultura. O princípio dessasleis fundamenta-se na renúncia da prefeitura <strong>em</strong> arrecadar impostoscujos valores correspondentes seriam aplicados no sentido definanciar ou patrocinar projetos e produtos culturais.Na cidade de Rio Claro está <strong>em</strong> vigência a Lei nº. 2621, de 27de dez<strong>em</strong>bro de 1993, a qual prevê o incentivo fiscal para opatrocínio de projetos culturas, que pode ser concedido a pessoafísica ou jurídica, domiciliada na cidade e cujos projetos sejamdesenvolvidos no próprio município. 4Todas as áreas e manifestações culturais são englobadas pelaLei que autoriza também a criação de uma Comissão de ProjetosCulturais, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, cujaincumbência seria avaliar os projetos apresentados. Desde suaimpl<strong>em</strong>entação a Lei beneficiou muitos grupos e projetos, porém,atualmente, passa por um processo de revisão que procura otimizá-latornando-a cada vez mais adequada à realidade cultural rio-clarense.Consideramos que o resultado mais visível da implantação deuma lei de incentivo fiscal à produção cultural é, naturalmente, oincr<strong>em</strong>ento dessa mesma produção e do acesso dos cidadãos aosbens culturais. Entretanto, é necessário reiterar que os objetivossomente serão amplamente atingidos se houver a possibilidade deque as camadas mais carentes da população tenham acesso àprodução desses eventos, os quais receberam o incentivo para queocorress<strong>em</strong>.


76Enfatizamos, ainda, que é de vital importância que o projeto delei de incentivo à cultura possa facultar os mesmos direitos, tanto aosprodutores culturais reconhecidos local ou regionalmente, como paraaqueles projetos advindos de pequenos produtores, ainda queamadores ou não profissionalizados. Esse é o caminho paravivenciarmos a d<strong>em</strong>ocracia cultural <strong>em</strong> sua plenitude.Entrevistando os dirigentes culturais da prefeitura de Rio Claro,fomos informados que a atual administração t<strong>em</strong> trabalhado nosentido de garantir maior percentual para a cultura no orçamentoglobal do município, o que está possibilitando a execução de políticasculturais mais eficientes. Inclusive, segundo esses mesmosdirigentes, Rio Claro está entre os municípios brasileiros que maisinvest<strong>em</strong> <strong>em</strong> cultura. Segundo valores da Secretaria Municipal deCultura, o orçamento previsto para 2001 alcançava o percentual de2,6%, porém, o orçamento executado atingiu 4,2%. 5Ora, os números são coerentes com a postura política doProfessor Cláudio Antonio de <strong>Mauro</strong>, atual prefeito, o qual ouvimosrepetir, inúmeras vezes, que “a cultura é revolucionária”. Em nossacidade, está se investindo <strong>em</strong> cultura como alicerce de um projetomais amplo que traz no seu cerne a construção da cidadania, aedificação de uma comunidade solidária, o respeito à diversidade, oresgate da paz e da convivência pacífica entre os homens, o fim damarginalidade social e o desenvolvimento sustentável.ORÇAMENTO DESTINADO À FORMAÇÃO E DIFUSÃOCULTURALEntrevistando os dirigentes culturais da prefeitura de Rio Clarofomos informados que a atual administração t<strong>em</strong> trabalhado nosentido de garantir maior percentual para a cultura no orçamentoglobal do município, o que está possibilitando a execução de políticasculturais mais eficientes. Inclusive, segundo esses mesmosdirigentes, Rio Claro está entre os municípios brasileiros que maisinvest<strong>em</strong> <strong>em</strong> cultura. Segundo valores da Secretaria Municipal deCultura o orçamento previsto para 2001 alcançava o percentual de2,6%, porém, o orçamento executado atingiu 4,2%. 5Durante as discussões realizadas no Fórum Regional de PolíticasCulturais, que contou com a presença de secretários de cultura deinúmeros municípios do estado de São Paulo, pud<strong>em</strong>os constatar queos investimentos <strong>em</strong> Cultura, na cidade de Rio Claro, têm sido ogrande diferencial qualitativo <strong>em</strong> relação aos d<strong>em</strong>ais municípios d<strong>em</strong>esmo porte, o que pode ser medido pelas ações desenvolvidas,descritas ao longo desse trabalho.Ora, os números do orçamento são coerentes com a posturapolítica do Professor Cláudio Antônio de <strong>Mauro</strong>, atual prefeito, o qual


77ouvimos repetir, inúmeras vezes, que “a cultura é revolucionária”. Emnossa cidade, está se investindo <strong>em</strong> cultura como alicerce de umprojeto mais amplo que traz no seu cerne a construção da cidadania,a edificação de uma comunidade solidária, o respeito à diversidade, oresgate da paz e da convivência pacífica entre os homens, o fim damarginalidade social e o desenvolvimento sustentável.POLÍTICAS CULTURAIS FOCADAS NA JUVENTUDEOutro aspecto bastante significativo que precisa, forçosamente,ser incluído nas discussões que resultam na elaboração das políticasculturais municipais relaciona-se à juventude. É essencial a criaçãode políticas específicas para os jovens e adolescentes,particularmente os da periferia, visando à inclusão social dosmesmos.Nesse sentido, é interessante que se busque estabelecerrelações de parceria com instituições, escolas e movimentos sociaisde jovens e para jovens. Se aceitamos que a juventude épotencialmente criativa, t<strong>em</strong>os que trabalhar para dar-lhe condiçõesde atingir a plenitude de suas potencialidades. 6Não nos compete, nesse trabalho, a crítica da escola brasileiraenquanto inibidora do potencial criativo dos adolescentes e jovens,todavia convém rel<strong>em</strong>brar que o fracasso da instituição “escola”, nãosomente no Brasil, é fruto da generalização, da padronização,conforme argumenta Alain Touraine, sociólogo francês. AfirmaTouraine:“É preciso individualizar segundo o contextosócio-cultural, visando reforçar o núcleo dapersonalidade do jov<strong>em</strong>.” 7Depreend<strong>em</strong>os do pensamento de Touraine que não é possívelprescindir da formação cultural da juventude, que não pod<strong>em</strong>os estartão aferrados aos nossos paradigmas que isso nos impeça decompreender a leitura que a juventude está fazendo da sociedade.Guardadas as devidas proporções, parece-nos relevante citar umapesquisa realizada recent<strong>em</strong>ente no norte da França, com jovenscujas idades variavam entre 18-20 anos.Perguntados sobre quais categorias de pessoas eles maisrepudiavam, um percentual significativo dos entrevistadosrespondeu: os policiais, os educadores e os assistentes sociais. Omotivo apresentado para a rejeição dessas categorias, justificou-secom a seguinte frase: “Eles desejam que nos integr<strong>em</strong>os a umasociedade que está se desintegrando”. 8Parece-nos alarmante que quaisquer jovens de quaisquer paísestenham essa visão da sociedade que estão herdando das geraçõespassadas! Se considerarmos que na opinião dos estudiosos da


78sociedade cont<strong>em</strong>porânea houve um recuo no que se refere àsconquistas no território dos direitos sociais constituídos, talvez nãonos pareça tão despropositado o resultado da citada pesquisa. 9No Brasil, as estatísticas criminais envolvendo jovens eadolescentes são assustadoras; cogita-se, inclusive, mudanças nocódigo penal objetivando alterar a idade da responsabilidade legal de18 para 16 anos. Os usuários de drogas são cada vez mais crianças,as prostitutas são cada vez mais meninas, os assassinos são cada vezmais jovens. Será possível recriar a civilização nesse mundo tãoselvag<strong>em</strong>? Quer<strong>em</strong>os crer que o exercício dos direitos culturais, odireito à arte, pode ser um caminho válido para defender e resgatar adignidade dos seres humanos."A arte é um modo de perdoar a maldade e o caos do mundo".A arte organiza as percepções do mau e do caótico,introduzindo a compreensão da vida de maneira tal que apresença do mal e do caos se converte na possibilidade d<strong>em</strong>inha iniciativa com respeito ao mundo, que leva <strong>em</strong> simesmo seu próprio b<strong>em</strong> e seu próprio mal. Para que possa serassim, a arte deve descobrir no mundo o que sua aparêncianão proporciona, ou seja, o encanto secreto de sua feiúra, adeformação oculta de sua graça, o ridículo de sua elevação, apobreza do luxo e o custo da pobreza; <strong>em</strong> uma palavra: devedescobrir todas as fibras secretas sufocadas pelas qualidades<strong>em</strong>píricas e que as convert<strong>em</strong> <strong>em</strong> partículas de nosso fracassoou de nosso orgulho." 10Algumas ações têm sido <strong>em</strong>preendidas pela administraçãomunicipal no sentido de priorizar a implantação de políticas quebenefici<strong>em</strong> a juventude. Muitos são os projetos desenvolvidos pelasvárias secretarias municipais visando à formação cultural dos jovensrio-clarenses e a inserção dos mesmos na sociedade.Já discorr<strong>em</strong>os sobre o projeto de teatro estudantil “RioClaro – Em Cena, 2002”, sobre o projeto “Acolher”, o projeto “Hip-Hop”, sobre as oficinas e cursos (de teatro, dança, capoeira,instrumentos musicais, grafitag<strong>em</strong> etc.) realizados tanto no CentroCultural como nos bairros da periferia. Os projetos são indicadores dapreocupação, por parte do poder público, <strong>em</strong> facilitar o acesso aosbens culturais e promover a educação pela arte, contextualizando asatividades artísticas e culturais num cenário de afirmação dacidadania de nossa juventude.Os resultados práticos, segundo depoimentos dos monitoresdas oficinas e cursos, apontam para uma mudança nocomportamento dos jovens participantes dos trabalhos, tais comomelhora da auto-estima e participação maior nas atividades escolarese na vida comunitária. 11Antes de mais nada, uma ação que consideramos de grandeimportância foi a criação da Assessoria Especial para a Juventude,


79criada através da Lei Compl<strong>em</strong>entar nº. 01, publicada <strong>em</strong> 27 de abrilde 2001 – Lei da Reforma Administrativa. A implantação efetiva daAssessoria ocorreu <strong>em</strong> meados de 2002 e o objetivo principal damesma consiste <strong>em</strong> assegurar, no âmbito municipal, o exercício dosdireitos garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.A Assessoria Especial para a Juventude pretende atuar lado alado com as diversas Secretarias Municipais, buscando viabilizar aformação de uma cultura de juventude, fundamentada norelacionamento do jov<strong>em</strong> com a cidade, tentando despertar nessesjovens e adolescentes reações pró-ativas <strong>em</strong> relação à comunidadena qual conviv<strong>em</strong>. Através da atuação da Assessoria, num segundomomento, aspira-se à formação de uma Comissão Municipal deJuventude, sendo esta um espaço de articulação e diálogo quepermitiria uma participação efetiva dos jovens na sociedade. 12Políticas Focadas na Cultura da Paz e da SolidariedadeDesejamos conviver <strong>em</strong> uma sociedade que reconheça aimportância da solidariedade, uma sociedade sustentável, cujosm<strong>em</strong>bros possam exercer o seu direito à cidadania cultural,indispensável para a construção da d<strong>em</strong>ocracia. Que tenha comoprioridade vencer a desigualdade sócio-cultural promovendo maiorequilíbrio, que valorize a diversidade, uma comunidade acolhedoraque respeita a autonomia das diversas manifestações culturais quenela se expressam. Parece uma utopia?“Uma meta menos um plano e menos uma açãoé igual um sonho; uma meta mais um plano <strong>em</strong>ais uma ação é igual a uma realidade” 13O pensamento transcrito acima reflete exatamente aquilo <strong>em</strong>que acreditamos: qu<strong>em</strong> possui metas precisa planejar e agir deacordo com elas, visando à concretização das mesmas. A sociedadeque definimos acima é permeada pela paz. Como conquistá-la?Planejando e agindo. Valorizando a cultura como agente aglutinadore, portanto, com poder para formar comunidades que se <strong>em</strong>penham<strong>em</strong> promover a convivência pacífica.Desenvolver políticas sociais e culturais que facilit<strong>em</strong> a inclusãoe a melhoria da qualidade de vida, através da criação deoportunidades de trabalho e renda voltados para o desenvolvimentolocal, resgatando e valorizando o saber local, auxilia na construçãodessa sociedade que não só desejamos mas estamos <strong>em</strong>penhados<strong>em</strong> construir."É responsabilidade de cada um colocar <strong>em</strong>prática os valores, as atitudes e formas deconduta que inspir<strong>em</strong> uma Cultura da Paz". 14


80Em nosso município, apesar dos graves probl<strong>em</strong>as relacionadosà criminalidade que t<strong>em</strong>os enfrentado, têm sido desenvolvidas ações,tanto de grupos organizados da sociedade civil como daadministração pública, visando combater a violência e transformar acidade num espaço de Paz. Destacamos o Movimento “Chega deViolência! A Paz é a gente qu<strong>em</strong> faz”, ação articulada pela PrefeituraMunicipal de Rio Claro aliada à inúmeros organismos da sociedadecivil e apoiada por todas as secretarias, diretorias e departamentosmunicipais.O Movimento possui grande abrangência e objetiva aimplantação de programas permanentes de prevenção à violência,principalmente envolvendo as escolas, os estudantes das maisvariadas faixas etárias. O projeto de teatro estudantil “Rio Claro – EmCena” está incluído entre as ações culturais que enriquec<strong>em</strong> oMovimento, assim como vários outros projetos vinculados àSecretaria Municipal de Cultura.A nossa abordag<strong>em</strong> do Movimento prioriza as ações culturaiscomo ferramentas para a promoção da paz, incluindo odesenvolvimento de atividades artísticas nas escolas que favoreçam atransformação e a troca dos símbolos da violência pelos símbolos dapaz.Por ocasião do lançamento do Movimento, <strong>em</strong> março de 2002,várias manifestações artísticas tiveram lugar: atividades lúdicasutilizando a poesia e apresentações musicais. Através da Arteestimula-se o diálogo entre as diversidades, disponibiliza-se umaalternativa aos comportamentos destrutivos, principalmente dosjovens e adolescentes, cria-se uma consciência acerca daresponsabilidade pessoal de cada um, enfim, as possibilidades dedesenvolver trabalhos são imensas.Apontamos para o fato de que a existência de espaços decultura, lazer e criatividade fortalec<strong>em</strong> a rede de relações sociais,ajudando as pessoas a pensar no futuro com esperança, contribuindopara o resgate da auto-estima, tanto individual como coletiva,através de atividades educativas e culturais, sendo, sobretudo, umaalternativa concreta aos adolescentes e jovens, afastando-os docrime organizado e do uso indevido de drogas.Exist<strong>em</strong> relatos de experiências b<strong>em</strong> sucedidas <strong>em</strong> algunsmunicípios com índices de criminalidade superiores aos nossos, nosquais foi implantado um programa de ação segundo o qual ospsicólogos da Secretaria de Saúde e da Promoção Social do Municípioencaminham seus pacientes para participar de oficinas culturais,patrocinadas pelo poder público, que funcionam como uma terapiaocupacional. 15


81Pod<strong>em</strong>os afirmar, com segurança, que facilitar o acesso dapopulação, principalmente os jovens, aos espaços e aos bensculturais facilita na busca de soluções para os probl<strong>em</strong>as que osaflig<strong>em</strong>, favorece a troca de experiências e o senso de “não estarsozinho nisso”. Aos poucos, cresce a percepção de que todos faz<strong>em</strong>parte da cidade e a cidade também faz parte de todos e, comoresultado, haverá a diminuição dos fatores que colaboram para adesagregação social e a violência urbana.Procedendo à uma síntese, visando concluir nossa explanação,t<strong>em</strong>os que admitir que na grande maioria dos municípios as ações depolítica cultural são unilaterais, dependendo apenas da vontadepolítica do governo local e quase nunca envolvendo a participação,indispensável, da sociedade civil. Em Rio Claro, observamos umesforço por parte do poder público no sentido de ampliar o diálogocom os grupos que produz<strong>em</strong> cultura localmente. T<strong>em</strong> sido concedidoapoio e patrocínio financeiro às entidades, como Orquestra Sinfônica,Orquestra Filarmônica, Centro Literário, Núcleo de Artistas Plásticos eoutras.Entend<strong>em</strong>os que o fator decisivo para impulsionar a produçãocultural local e as atividades de formação e difusão cultural na cidaderelaciona-se ao fato de que, <strong>em</strong> Rio Claro, a Cultura não é mais vistacomo atividade secundária ou supérflua, mas como o el<strong>em</strong>entoessencial para a construção da cidadania.A cidade, mais do que o país ou o território é, na nossacont<strong>em</strong>poraneidade, o núcleo central de toda a atividade social,concentrando <strong>em</strong> si a atenção e as práticas de investigaçãosociológicas, econômicas e culturais mais precisas. As cidades sãoespaços de populações e arquiteturas híbridas, multiculturais,constelações de quarteirões, bairros, serviços, redes diversas decirculação.A natureza dos atuais mecanismos de produção e circulação deinformação, a complexidade social das camadas de populações, adimensão gigantesca de muitas delas, o tipo de relação que mantêmcom outras redes de cidades, os novos mapas urbanistas, asdeslocações sucessivas das criações artísticas, as novas formas evalores dos objetos de culto exig<strong>em</strong> novos olhares sobre estarealidade, exigindo que todos os envolvidos na administração culturalde grandes municípios estejam aptos a desenvolver seus respectivostrabalhos da forma mais produtiva possível.Considerando, ainda, que o setor cultural caracteriza-se comoum setor de economia mista, cujas perspectivas são intrinsecamenteplurais e multidisciplinares, ou seja, abrang<strong>em</strong> vários saberes ecompetências indispensáveis àqueles que atuam na área, a busca da


82excelência no que se refere à gestão cultural assume maiorrelevância.A implantação de políticas culturais que prioriz<strong>em</strong> as atividadesde formação e que valoriz<strong>em</strong> e promovam a produção local, constituiseno alicerce que pode transformar a cidade toda <strong>em</strong> um espaçoprivilegiado de aprendizag<strong>em</strong> interdisciplinar, no qual os cidadãosinterajam produtivamente. S<strong>em</strong> dúvida, é o que desejamos para RioClaro.Notas de Referência2- CARLACCIO, Edmundo. Administração Cultural de Municípios deGrande Porte. São Paulo, 2000.3- Carta aos Candidatos, Fórum Intermunicipal de Cultura, Pólis, São Paulo,1999.4- CARLACCIO, Edmundo. Administração Cultural de Municípios deGrande Porte. São Paulo, 2000.5- RIO CLARO. Lei no. 2621, de 27 de dez<strong>em</strong>bro de 1993. <strong>Di</strong>spõe sobre asformas como serão concedidos benefícios fiscais à projetos culturaisdesenvolvidos no âmbito do município.6- Relatórios da Secretaria Municipal de Cultura/2001.7- GARDNER, Howard. O Verdadeiro, o Belo e o Bom. Rio de janeiro, 1999.8- TOURAINE, Alain. Programa Roda Viva. Rede de Televisão Cultura. Exibido<strong>em</strong> 22/04/2002.9- Op. Cit.10- Op. Cit.11- KOLAKOWSKI, Leszek. A Presença do Mito. Brasília, 1972.12- Entrevista com monitores dos projetos Acolher, Rio Claro <strong>em</strong> Cena e Luz doOriente.04/03/2002.13- Documento de Projeto da Assessoria Especial para a Juventude.14- BÍBLIA. Português. Bíblia Viva – Paráfrase. Cruzada Estudantil eProfissional para Cristo. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1981.15- Manifesto 2000 Por uma Cultura de Paz e Não Violência – UNESCO16- Fórum Intermunicipal de Cultura, Instituto Polis, 1999.


83CONCLUSÃOChegamos, finalmente, à conclusão desse trabalho. Mais queum trabalho, um verdadeiro desafio! Desafio que se revelou muitogratificante, pela possibilidade de interagir com tantos grupos queestão fazendo cultura <strong>em</strong> Rio Claro.Gratificante, principalmente, por observarmos como asmanifestações culturais permeiam a vida da cidade, transformando-a<strong>em</strong> um organismo vivo e pulsante, que a todos acolhe e traz para oaconchego do seu coração. Sim! Nossa cidade t<strong>em</strong> um coração quepulsa, vigorosamente, <strong>em</strong> cada uma de suas ruas, das suas praças,dos seus bairros. E porque o seu coração bate no compasso da<strong>em</strong>oção dos seus homens, mulheres, jovens e crianças é que a nossaRio Claro é uma Cidade Viva! Não apenas uma arena de luta pelasobrevivência diária, mas um espaço de vivência criadora, de sonho ede utopia.Descobrimos, à medida <strong>em</strong> que desenvolvíamos o trabalho,como é essencial <strong>em</strong> nossas sociedades não apenas a luta por umamelhor qualidade material de vida, pelo crescimento econômico, pelasuperação da pobreza, preservação do meio ambiente e a renovaçãodos paradigmas políticos, mas também o direito à cultura e àcidadania cultural. Nas sociedades cont<strong>em</strong>porâneas, esta deve seruma trincheira de luta permanente, pois os processos d<strong>em</strong>odernização e globalização tend<strong>em</strong> a criar uma cultura de mercadoque nega os ricos processos culturais das diversas localidades.Entend<strong>em</strong>os que cidadania cultural é o direito à liberdade decriação cultural, o direito à participação da sociedade nos processosde decisão cultural, o direito à informação, o direito à expressão dadiversidade como fundamento de uma verdadeira d<strong>em</strong>ocraciacultural. Nesse momento, a luta por sociedades justas e sustentáveisprecisa incluir a cidadania cultural como fator fundamental dosprocessos de mudança.Essa é a luta que travamos <strong>em</strong> favor da cidade de Rio Claro:que seja ela o abrigo de um povo consciente dos seus direitos e queos exerça com responsabilidade!


84RESPIRANDO CULTURADepoimento do Escritor Rio-Clarense Jaime LeitãoDesde a adolescência respiro cultura, e respirei-aprincipalmente <strong>em</strong> Rio Claro. N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre a cultura formal, doslivros, mas também a cultura informal dos cine-clubes, dasexperiências poéticas <strong>em</strong> praça pública, mostras de arte, GaleriaCave e muitas outras efervescências.S<strong>em</strong> recursos também se provoca cultura, se agita, se criacondição mesmo quando não há. Anos 70, exposição s<strong>em</strong>anal depoesia e artes plásticas na praça. Vanguarda pura. L<strong>em</strong>bro-me de umpintor, o Jorapimo, que pintava os seus quadros com o própriosangue, diante dos olhos atônitos de todos os presentes. Hoje, artistaal<strong>em</strong>ão causa polêmica <strong>em</strong> Londres com exposição de cadáveresenvernizados jogando xadrez e montando cavalos tambémenvernizados. Aqui, três décadas antes, artista quase anônimopintava com o próprio sangue e n<strong>em</strong> por isso foi noticiado na grandeimprensa.Eu me l<strong>em</strong>bro quando fiz a Primeira Noite de Poesia na Praça,com 15 anos, junto com o poeta Antônio Ventura, e a maiordificuldade que eu tive para arrumar um microfone. Só consegui naIgreja Matriz, isso porque um eletricista da comunidade na época,conhecido como Arnaldo Ligação, fez a gentileza de montar o sist<strong>em</strong>ana praça. Para nós, era uma superprodução: um microfone. Até hojet<strong>em</strong> gente que se l<strong>em</strong>bra daquele dia distante.E o Living Theatre? Rio Claro recebeu um dos grupos de teatromais vanguardistas nos Estados Unidos e Europa, nas décadas de 60e 70, veio para cá, com Julian Beck e Judith Malina, imprimindo umclima mágico <strong>em</strong> todo o centro. Depois disso, Troya, ator rioclarense,também poeta, arrumou as mochilas e foi <strong>em</strong>bora com oLiving. Mora até hoje <strong>em</strong> Nova York, onde atua como ator e até comofigurante <strong>em</strong> ópera.Rio Claro teve grupos de teatro que marcaram época. O qu<strong>em</strong>ais inovou foi o M 3 (M ao cubo), mas existiram muitos outros, qu<strong>em</strong>ontaram autores locais, nacionais e clássicos como Sófocles,Aristófanes e Ésquilo. Peças teatrais significativas de uma épocavieram para cá com atores de t<strong>em</strong>poradas que fizeram sucesso <strong>em</strong>São Paulo e Rio. "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos numa NoiteSuja", de Plínio Marcos, peças polêmicas e perseguidas pelo regim<strong>em</strong>ilitar, eu vi aqui, com 15 anos. A censura era para 21 e n<strong>em</strong> seicomo consegui entrar na Sociedade Italiana para assistir às peças.Tanta coisa vivida <strong>em</strong> Rio Claro. Curta-metrag<strong>em</strong> no Horto.Atuei como figurante. Eram centenas. O nome do filme? Alteri.


85Depois dos filmes de Godard, Bergman, Buñuel, a queassistíamos no Variedades, íamos para a Toca filosofar. Toca, barcultural, merecia um monumento. Foi lá que o Palmari nos brindoucom um frango múmia numa daquelas noites de ebulição e paposfora do comum. Foi lá também que conheci o Cláudio Mubarac, hojeum dos maiores artistas plásticos do país, gravador importante, jáexpôs na Europa várias vezes. Também conheci naquela época oFábio Gardenal, hoje pianista <strong>em</strong> Nova York, faz sucesso dandoconcertos nas noites de Manhatan.Além de cineasta dos bons, diretor de "<strong>Di</strong>ário da Província" e "OPredileto", que ganhou o Festival de Gramado, Palmari era tambémcozinheiro, historiador, iconoclasta, pessoa da noite, de idéiasincríveis, que agitavam Rio Claro de uma maneira inesquecível, juntocom Florideu Gervásio e outros amigos.Ivanira Prado, escritora de primeira cepa, ainda ativa na suaprodução literária, Luiz Martins, poeta, professor, pai, que me passoua literatura como herança maior, quantas pessoas, histórias circulampela m<strong>em</strong>ória desta cidade, que ainda não foram escritas, mas estãoinscritas na paisag<strong>em</strong>.Novos t<strong>em</strong>pos. De uns t<strong>em</strong>pos para cá, a cidade voltou aferver, a ser, depois de décadas, a cidade dos movimentos culturais:do n.Arte, do Clirc, do Museu, com as suas exposições de artesplásticas, fotografia, cultura japonesa e outras, do Arquivo, com osseus muitos eventos históricos, musicais, literários.A cidade está viva. No século XXI, pulsa e pulsará mais ainda.Respirar cultura, arte, é a vocação de Rio Claro. Atores novossurg<strong>em</strong>, bailarinas, exposições acontec<strong>em</strong> e acontecerão neste ano enos próximos. Duas orquestras: uma sinfônica e uma filarmônica.Quantas cidades deste país têm duas orquestras? Aqui, há clima paraisso. Vamos utilizar esse clima. De província. No bom sentido. Decidade que nunca foi e nunca será metrópole, mas que por issomesmo está aberta e receptiva à arte e à cultura daqui e de todas aspartes do país. E do mundo.Somos efervescência. Vamos continuar fazendo acontecer.Cada vez mais. Com a contribuição do poder público, que t<strong>em</strong> dadoparcela significativa de apoio ao que v<strong>em</strong> acontecendo aqui. Tambémdas <strong>em</strong>presas. Porque hoje as <strong>em</strong>presas têm também uma granderesponsabilidade de contribuir para que a cultura se fortaleça. Comincentivos da Lei Rouanet. Vamos <strong>em</strong> frente. Todos sintonizados nainteligência, na inovação, <strong>em</strong> propósitos que contribuam para amelhoria da condição de vida de todos.


86Revisão BibliográficaCARLACCIO, Edmundo. Administração Cultural de Municípios de GrandePorte. São Paulo, 2000.CASTORIADIS, Cornelius. Via s<strong>em</strong> saída?. In: O mundo fragmentado - Asencruzilhadas do Labirinto. Rio de janeiro, 1992.COUTINHO, Carlos Nelson. Cultura e Sociedade no Brasil. Rio de janeiro, 2000.FARIA, Hamilton. Fórum Intermunicipal de Cultura. Revista <strong>Di</strong>cas. São Paulo,1996FITTIPALDI, Fernando Cilento. O Teatro – Síntese Histórica. In: Rio ClaroSesquicentenária, 1978.FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. São Paulo, 1983.GARDNER, Howard. O Verdadeiro, o Belo e o Bom. Rio de janeiro, 1999GOULART, Maurício. A Escravidão Africana no Brasil. In: Novo Manual NovaCultural/História. São Paulo, 1994.HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&AEditora, 1999.KANDINSKY, Vassili. Do Ponto e da Linha sobre o Plano. In: Novo Manual NovaCultural. São Paulo, 1994.KLEE, Paul. Teoria da Arte Moderna. In: Novo Manual Nova Cultural. São Paulo,1994.KOLAKOWSKI, Leszek. A Presença do Mito. Brasília, 1972.LEITÃO, Jaime. Po<strong>em</strong>as na Rede. Rio Claro, 2001.LUZ, Milton Jose Hussni Machado. Museu Histórico e Pedagógico “AmadorBueno da Veiga”. In: Rio Claro Sesquicentenária. Rio Claro, 1978.MACHADO, Ilara Luz. A Pintura e a Escultura. In: Rio Claro Sesquicentenária,1978.MASI, Domenico de. (organização) A Emoção e a Regra. Os Grupos Criativos naEuropa de 1850 a 1950. Rio de Janeiro: José Olympio,1999.MATOS, Clarence José de; NUNES, César A. História do Brasil. São Paulo, 1994.MORATELI, Jovelina. Ciranda Luar na Varanda. Piracicaba, 1986.NIETZCHE, Friedrich. O nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhia dasLetras, 1993.PAULICS, Veronika. Desenvolvimento Local e Redes de Solidariedade. Revista<strong>Di</strong>cas. São Paulo, 2001.


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