A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB

A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB

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d o s e c o s s i s t e m a se da biodiversidadeA e c o n o m i aUm relatório preliminarA economia dos ecossistemas e da biodiversidade 1

d o s e c o s s i s t e m a se <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deA e c o n o m i aUm relatório preliminarA <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de 1


Fotos: Capa e título, to<strong>da</strong>s as imagens PNUMA/ Topham


d o s e c o s s i s t e m a se <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deA e c o n o m i aUm relatório preliminar


ISBN-13 978-92-79-089602© European Communities, 2008A reprodução é autoriza<strong>da</strong>desde que cita<strong>da</strong> a fonte.Traduzido e impresso com o apoio <strong>da</strong>Confederação Nacional <strong>da</strong> IndústriaFotos <strong>da</strong> capa (em sentido horário a partir do topo): IanMcAllister/UNEP/ Topham; Ian Johnson/UNEP/Topham;Alex Wong/UNEP/ Topham; Lim Kien Hock/UNEP/TophamUma obra de Banson, Cambridge – Reino Unido


PREÂMBULOAdiversi<strong>da</strong>de biológica é fonte de riqueza natural <strong>da</strong>Terra e proporciona a base para a vi<strong>da</strong> e prosperi<strong>da</strong>dede to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de. No entanto, a biodiversi<strong>da</strong>dedesaparece rapi<strong>da</strong>mente em todo o mundo. Estamos, porassim dizer, apagando o disco rígido <strong>da</strong> natureza sem aomenos saber quais os <strong>da</strong><strong>dos</strong> nele conti<strong>dos</strong>. O objetivo <strong>da</strong>Convenção sobre Diversi<strong>da</strong>de Biológica (CDB) e de seus 190Países Signatários é de reduzir signifi cativa men te a per<strong>da</strong>de biodiversi<strong>da</strong>de até 2010. Este é um objetivo ambiciosoque só será alcançado por meio do esforço conjunto deto<strong>dos</strong> os setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Portanto, é preciso queos tomadores de decisão, os cientistas, o público e osetor privado firmem alianças nacionais e internacionais.A partir <strong>da</strong>s discussões no âmbito <strong>da</strong> reunião entre osMinistros do Meio Ambiente do G8+5 realiza<strong>da</strong> em Pots<strong>da</strong>mem maio de 2007, decidimos lançar uma iniciativaconjunta para ressaltar os benefícios econômicos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee os custos de sua per<strong>da</strong> e <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>.O sucesso desta iniciativa conjunta depende <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s lideranças e por isto ficamos muito satisfeitos quandoPavan Sukhdev, Gerente Executivo do Departamento deMerca<strong>dos</strong> Globais do Deutsche Bank e fun<strong>da</strong>dor-diretordo projeto de “Contabili<strong>da</strong>de Verde” para a Índia, aceitouser o líder do estudo.Pavan Sukhdev e sua equipe tiveram o desafio de reunirum grande volume de informações em um curto períodode tempo. Felizmente, eles tiveram o apoio e a contribuiçãode várias organizações internacionais, bem como devários especialistas de renome.Os resulta<strong>dos</strong> <strong>da</strong> Fase I <strong>da</strong> iniciativa que lançamos umano atrás em Posts<strong>da</strong>m serão apresenta<strong>dos</strong> durante osegmento de alto nível <strong>da</strong> CDB COP 9. Convi<strong>da</strong>mos eincentivamos os Países Membros <strong>da</strong> CDB e as organizaçõesinternacionais a participarem ativamente <strong>da</strong> Fase IIdeste trabalho que será inicia<strong>da</strong> logo após a COP 9.Stavros DimasComissário para o Meio AmbienteComissão EuropéiaSigmar GabrielMinistro Federal do Meio AmbienteAlemanhaPreâmbulo 3


PREFÁCIOPavan Sukhdev, Líder do EstudoNem tudo que é muito útil custa caro (água, por exemplo)e nem tudo que custa caro é muito útil (como o diamante).Este exemplo expressa não um, mas dois <strong>dos</strong> principaisdesafios de aprendizagem que a socie<strong>da</strong>de enfrenta naatuali<strong>da</strong>de. Em primeiro lugar, estamos ain<strong>da</strong> descobrindoa “natureza do valor” conforme o nosso conceito de“capital” passa a incluir o capital humano, social e natural.Ao reconhecer e trabalharmos para desenvolver ou conservarestes outros “capitais”, estamos trabalhando emprol <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de.Em segundo lugar, ain<strong>da</strong> estamos buscando entender o“valor <strong>da</strong> natureza”. A natureza é fonte de muito valor nonosso dia-a-dia apesar de estar fora do mercado e ser difícilatribuir-lhe um preço ou um valor. Como temos percebido,a ausência de valoração está na raíz <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de.O nosso projeto acerca <strong>da</strong> “Economia <strong>dos</strong> Ecossistemase <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de” tem como enfoque este segundo desafioao defender de forma ampla e contundente a necessi<strong>da</strong>dede conservar os <strong>ecossistemas</strong> e a biodiversi<strong>da</strong>de.Uma Bússola Econômica Defeituosa?Alguns leitores ficarão surpresos ao descobrir que oexemplo acima é tão antigo quanto a própria <strong>economia</strong>.Ele foi retirado <strong>da</strong> obra clássica de A<strong>da</strong>m Smith publica<strong>da</strong>em 1776. Talvez um terceiro desafio seja, portanto, entenderpor que a humani<strong>da</strong>de levou 200 anos para entenderde fato os dois primeiros desafios!Duzentos e cinquenta anos atrás, havia terra em abundância,a energia não era um <strong>dos</strong> principais fatores noprocesso produtivo e o insumo de produção mais escassoera o capital financeiro. Os tempos mu<strong>da</strong>ram. QuandoA<strong>da</strong>m Smith desenvolveu as suas teorias econômicas, ocapital e o comércio mundial eram medi<strong>dos</strong> em milhõese não trilhões de dólares como hoje. Bill McKibben (2007)aponta a máquina a vapor e o “crescimento do PIB”como as descobertas mais importantes do século 18, emque ambas melhoraram a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de parcelasignificativa <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. O crescimento do PIB gerouempregos, evitou recessões e passou a ser o parâmetrode avaliação do progresso. No entanto, o crescimentodo PIB não reflete dimensões fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> riquezanacional e do bem-estar tais como a melhoria na quali-<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> serviços de saúde, a abrangência do sistemaeducacional e as mu<strong>da</strong>nças na quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de<strong>dos</strong> nossos recursos naturais.Pode-se dizer que estamos tentando navegar nas águasdesconheci<strong>da</strong>s e agita<strong>da</strong>s de hoje com uma bússolaeconômica antiga e defeituosa. E este não é apenas umproblema nacional de natureza contábil – é um problemade mensuração que permeia to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,desde o governo, passando pelos setores empresariaisaté chegar aos indivíduos, além de também afetarnossa capaci<strong>da</strong>de de criar uma <strong>economia</strong> sustentável emharmonia com a natureza.A Economia <strong>dos</strong> Ecossistemas e<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de – “<strong>TEEB</strong>”Em março de 2007, os Ministros do Meio Ambiente doG8+5 reuniram-se em Pots<strong>da</strong>m. Inspira<strong>dos</strong> pelo movimentopela pró-ativi<strong>da</strong>de e pela mu<strong>da</strong>nça na política promovi<strong>da</strong>pelo Relatório Stern <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong>s Mu<strong>da</strong>nçasClimáticas, eles expressaram a necessi<strong>da</strong>de de desenvolverum projeto semelhante a respeito <strong>dos</strong> aspectoseconômicos relaciona<strong>dos</strong> à per<strong>da</strong> de <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de. O Ministro do Meio Ambiente <strong>da</strong> Alemanha,Sigmar Gabriel, com o apoio do Comissário Europeupara o Meio Ambiente, Stavros Dimas, assumiu a liderançae aceitou o desafio de organizar tal estudo.O nível de complexi<strong>da</strong>de e o escopo <strong>da</strong> tarefa eram óbviose sua urgência era inegável. Em vista disso, fiquei aomesmo tempo honrado e um pouco apreensivo quandoo Comissário Dimas e o Ministro Gabriel me ofereceram ocargo de líder do estudo. Ain<strong>da</strong> estamos nos primórdios<strong>da</strong> ciência <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>. Seusbenefícios para a humani<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> não foram mapea<strong>dos</strong>e compreendi<strong>dos</strong> plenamente e a teoria econômicade valoração monetária é por vezes polêmica. No entanto,acreditava na visão que motivou este projeto, além deacreditar que sua realização era importante e oportuna, eassim foi com satisfação que aceitei o convite.Recordei-me <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de que senti quando, quatroanos atrás, alguns amigos e eu lançamos o ambiciosoprojeto de “Contabili<strong>da</strong>de Verde” para a Índia e seusesta<strong>dos</strong> com o objetivo de criar um parâmetro de “sustentabili<strong>da</strong>de”prático para suas <strong>economia</strong>s, ajustandoas medi<strong>da</strong>s clássicas do PIB e refletindo grandes exter-4 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


nali<strong>da</strong>des não considera<strong>da</strong>s, tais como as relativas aos<strong>ecossistemas</strong> e à biodiversi<strong>da</strong>de. A maior parte <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong>deste projeto já foi publica<strong>da</strong> (Fundo Verde do EstadoIndiano, 2004-2008) e alguns já foram utiliza<strong>dos</strong> emuma experiência produtiva <strong>da</strong> qual depreendemos muitaslições, dentre as quais, a importância de questionar asexpectativas <strong>da</strong>s pessoas, inclusive as nossas.Ao chegar ao final <strong>da</strong> Fase I do <strong>TEEB</strong>, gostaria de agradecero apoio e a participação de um grande número depessoas que contribuíram de to<strong>da</strong>s as partes do mundo(ver Agradecimentos, página 65).Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a to<strong>dos</strong> osmembros <strong>da</strong> nossa “equipe básica”, que trabalharam incansávele continuamente por semanas a fio, se ausentando<strong>dos</strong> seus locais de trabalho para compilar, avaliar,extrair e resumir grandes quanti<strong>da</strong>des de material quechegaram a nossas mãos e que colaboraram na re<strong>da</strong>çãodeste relatório preliminar. Gostaria de agradecer aos quecontribuíram com seu conhecimento e artigos acerca devários aspectos do tema; recebemos mais de 100 contribuiçõesem resposta à nossa solicitação em setembro de2007 e março de 2008. A nossa reunião-chave (Bruxelas,março de 2008) atraiu mais de 90 participantes de cercado mesmo número de instituições, muitos <strong>dos</strong> quais nosescreveram depois com informações e conselhos. Repassamosmuito do trabalho <strong>da</strong> Fase I para um conjuntode centros de pesquisa de renome que nos entregaramexcelentes meta-estu<strong>dos</strong> e artigos em um curto períodode tempo ao que gostaríamos de agradecer às equipesno FEEM, IEEP, Alterra, GHK, ECOLOGIC e IVM.Além disso, nossos colegas na EEA, IUCN e UFZ nosderam um apoio valioso na re<strong>da</strong>ção e na edição. Gostariade agradecer ao nosso notável Conselho Consultivo,tanto pela sua participação e por dedicar tanto tempo eme aconselhar acerca deste projeto. Finalmente, gostariade agradecer aos governos e instituições que apoiarameste projeto: G8+5, UNEP, IUCN, EEA e especialmenteàs equipes <strong>dos</strong> nossos anfitriões e patrocinadores DGEnvironment, Comissão Européia e BMU, Alemanha.Destaques <strong>da</strong> Fase ISurge um novo modelo: colegiado, colaborativo e global.Temos esperança de que este modelo seja também adotadodurante a Fase II e, de fato, pretendemos aumentare expandir a nossa base de contribuidores, prestadoresde serviço, parceiros e consultores.A Fase I do <strong>TEEB</strong> gerou cinco produtos principais e seusresumos estão disponíveis no Anexo do Relatório Preliminar.To<strong>dos</strong> estes meta-estu<strong>dos</strong> e artigos forneceramuma base sóli<strong>da</strong> de informações para a análise nas quaispodemos nos basear para lançar a Fase II.Gostaria, neste momento, de destacar três aspectos importantesdo nosso trabalho preliminar na Fase I e os objetivosque pretendemos alcançar na Fase II.O primeiro aspecto que verificamos é que a pobreza e odesaparecimento de <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>desão questões inexoravelmente relaciona<strong>da</strong>s. Os resulta<strong>dos</strong><strong>da</strong>s nossas investigações apontam os pobres comosendo os beneficiários diretos de muitos <strong>dos</strong> serviçosforneci<strong>dos</strong> pelos <strong>ecossistemas</strong> e pela biodiversi<strong>da</strong>de.Dentre as ativi<strong>da</strong>des econômicas mais afeta<strong>da</strong>s estão aagricultura de subsistência, a criação de animais, a pescae o extrativismo informal – ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s pelamaioria <strong>dos</strong> pobres no mundo. Esta conclusão (ver Capítulo3, “PIB <strong>dos</strong> Pobres”) deve ser objeto de estu<strong>dos</strong> maisaprofun<strong>da</strong><strong>dos</strong> para confirmação em nível global e pretendemosrealizar essa pesquisa durante a Fase II. A per<strong>da</strong>de capital natural que se dá anualmente é expressa empoucos pontos percentuais do PIB. Se, no entanto, expressarmosessa per<strong>da</strong> em termos humanos com baseno princípio <strong>da</strong> equi<strong>da</strong>de e do nosso conhecimento <strong>dos</strong>fluxos de benefícios, então o argumento para a reduçãode tais per<strong>da</strong>s ganha força considerável.Esta é uma questão relaciona<strong>da</strong> ao direito <strong>dos</strong> pobres desenvolveremuma ativi<strong>da</strong>de econômica deriva<strong>da</strong> <strong>da</strong> naturezaque responde por pelo menos metade de seu bemestare que seria impossível substituir. Devemos tambémargumentar que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênioestão hoje atrela<strong>dos</strong> a esta questão básica.O segundo aspecto está relacionado à ética – os riscos,a incerteza e o valor presente são questões que foramabor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo Relatório Stern. Na maioria <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong>de valoração que tivemos oportuni<strong>da</strong>de de examinar, astaxas de desconto estavam entre 3% e 5% ou mais altas.Uma taxa de desconto de 4% significa que um serviçoprestado pela natureza terá menos de quinze por cento<strong>da</strong> sua utili<strong>da</strong>de para nossos netos (em um prazo de 50anos). Esta é uma posição ética difícil de ser defendi<strong>da</strong>.Na Fase II, enfrentaremos essa questão ao aplicar umagama discreta de taxas de desconto que representamdiferentes perspectivas éticas.Finalmente, e talvez de forma mais importante, estamoscon venci<strong>dos</strong> de que ca<strong>da</strong> um <strong>dos</strong> aspectos <strong>da</strong> <strong>economia</strong><strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de que examinamos eincluímos aqui, assim como na Fase II, devem ter como enfoqueprincipal o usuário final – quer seja ele o formuladorde política, o administrador local, a empresa ou o ci<strong>da</strong>dão.Nossos objetivos para a Fase IIA Fase II do <strong>TEEB</strong> pretende arrematar o trabalho de investigaçãorealizado durante a Fase I e alcançar quatroimportantes objetivos. São eles:Preâmbulo 5


Sumário ExecutivoA Natureza nos fornece uma grande varie<strong>da</strong>de de benefíciostais como alimento, fibras naturais, água potável, solofértil, sequestro de carbono e muitos outros. Apesar deo nosso bem-estar estar diretamente vinculado ao fluxocontínuo destes “serviços ecossistêmicos”, eles são, deforma geral, bens públicos não-negocia<strong>dos</strong> e, portanto,não são registra<strong>dos</strong> pela nossa bússola econômica atual.Como resultado, a biodiversi<strong>da</strong>de está se reduzindo, nossos<strong>ecossistemas</strong> estão sendo continuamente degra<strong>da</strong><strong>dos</strong>e nós, consequentemente, estamos sofrendo.Inspira<strong>dos</strong> nas ideias desenvolvi<strong>da</strong>s pela Avaliação Ecossistêmicado Milênio, nossa iniciativa, a Economia Ecossistêmicae <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (<strong>TEEB</strong>), visa promover umamelhor compreensão do real valor econômico fornecidopelos serviços ecossistêmicos e disponibilizar ferramentaseconômicas que levem tais valores em consideração.Estamos certos de que os resulta<strong>dos</strong> do nosso trabalhoterão um impacto positivo na elaboração de políticasmais eficazes para a proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e parao alcance <strong>dos</strong> objetivos descritos na Convenção sobre aDiversi<strong>da</strong>de Biológica.O <strong>TEEB</strong> será desenvolvido em duas fases, sendo que opresente relatório apresenta um resumo <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong>obti<strong>dos</strong> na Fase I. Ele descreve o grande significado <strong>dos</strong><strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e discorre acerca <strong>da</strong>sameaças ao bem-estar <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de se nenhumaação for toma<strong>da</strong> para reverter os <strong>da</strong>nos e per<strong>da</strong>s atuais.A Fase II irá além para demonstrar como utilizar tal conhecimentopara desenvolver ferramentas e políticas ideais.Fase IGrande parte <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de do mundo já desapareceu.A recente alta <strong>dos</strong> preços <strong>da</strong>s commodities e <strong>dos</strong>alimentos demonstra as consequências desta per<strong>da</strong> paraa humani<strong>da</strong>de. Medi<strong>da</strong>s corretivas devem ser adota<strong>da</strong>scom urgência, pois a per<strong>da</strong> de espécies e a degra<strong>da</strong>ção<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> têm efeitos sobre o bem-estar humano.É claro que o crescimento econômico e a conversãode <strong>ecossistemas</strong> naturais em áreas de produção agrícolacontinuarão a acontecer. Não podemos – e não devemos– coibir as iniciativas legítimas <strong>dos</strong> países e <strong>dos</strong> indivíduosde alcançarem níveis mais altos de desenvolvimentoeconômico. No entanto, devemos assegurar que estedesenvolvimento ocorra levando em consideração o valorreal <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> naturais. Essa é uma questão im-portante tanto para o gerenciamento econômico quantoambiental.Os Capítulos 1 e 2 deste relatório descrevem como a per<strong>da</strong><strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a consequente per<strong>da</strong> de serviçosecossistêmicos continuarão a ocorrer no ritmo atual ouaté em ritmo mais acelerado caso políticas adequa<strong>da</strong>snão sejam efetiva<strong>da</strong>s. Na falta de tais políticas, alguns<strong>ecossistemas</strong> poderão ser degra<strong>da</strong><strong>dos</strong> a tal ponto quenão será possível recuperá-los. Pesquisas acerca do custo<strong>da</strong> inação sugerem que, se nos mantivermos no caminhoatual, em um cenário de business-as-usual, teremosque enfrentar sérias consequências até o ano 2050:• 11% <strong>da</strong>s áreas naturais que existiam no ano 2000 seriamperdi<strong>da</strong>s, principalmente por causa <strong>da</strong> conversãopara a agricultura, <strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> infraestruturae <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas;• quase 40% <strong>da</strong>s terras atualmente cultiva<strong>da</strong>s comagricultura de baixo impacto poderiam ser converti<strong>da</strong>spara uso intensivo, acarretando per<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong>maiores de biodiversi<strong>da</strong>de;• 60% <strong>dos</strong> recifes de coral seriam perdi<strong>dos</strong>, possivelmentejá em 2030, por causa <strong>da</strong> pesca, poluição, doenças,espécies invasoras exóticas e pelo branqueamentodo coral resultante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas.As tendências atuais verifica<strong>da</strong>s na terra e no mar demonstramque a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de gera gravesproblemas para a saúde e o bem-estar <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.As mu<strong>da</strong>nças climáticas estão agravando este quadro.Assim como com a mu<strong>da</strong>nça do clima, os mais pobresrepresentam o segmento mais afetado pela per<strong>da</strong> contínua<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. São eles os que dependem demodo mais direto <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos que estãosendo comprometi<strong>dos</strong> por uma análise econômica deficientee desacertos na política.O objetivo maior do nosso trabalho é fornecer as ferramentasnecessárias aos formuladores de política paraque possam incorporar o valor real <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicosem suas análises. Assim, por ser a <strong>economia</strong><strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> uma disciplina ain<strong>da</strong> em construção, oCapítulo 3 descreve as principais dificul<strong>da</strong>des em desenvolvere aplicar metodologias apropria<strong>da</strong>s. Em particular,há escolhas éticas que devem ser toma<strong>da</strong>s entre as geraçõesatuais e futuras e entre as populações de diferentespartes do mundo e em níveis distintos de desenvolvimen-Sumário executivo 9


to. Sem levar em conta esses aspectos, os Objetivos doMilênio não podem ser alcança<strong>dos</strong>.Algumas políticas promissoras já estão sendo postas emprática. O Capítulo 4 descreve várias políticas que surtemefeitos positivos e que poderiam ser amplia<strong>da</strong>s e/ou reproduzi<strong>da</strong>sem outros países. Os exemplos apresenta<strong>dos</strong>são de campos diferentes, mas transmitem as mesmasmensagens acerca do desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>economia</strong><strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de:• repensar os subsídios atuais para refletir priori<strong>da</strong>desfuturas;• enfatizar os serviços ecossistêmicos não reconheci<strong>dos</strong>atualmente e assegurar que os custos <strong>dos</strong> <strong>da</strong>nosaos <strong>ecossistemas</strong> sejam reconheci<strong>dos</strong> ao criar novosmerca<strong>dos</strong> e promover os instrumentos de política adequa<strong>dos</strong>;• compartilhar os benefícios de conservação;• medir os custos e os benefícios <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos.Fase IIA abor<strong>da</strong>gem econômica a ser trabalha<strong>da</strong> durante a FaseII será específica do ponto de vista espacial e será construí<strong>da</strong>a partir do conhecimento previamente adquiridoacerca <strong>da</strong> função e <strong>dos</strong> serviços forneci<strong>dos</strong> pelos <strong>ecossistemas</strong>.Também examinaremos como os <strong>ecossistemas</strong>e serviços correlatos responderão a políticas específicas.Basicamente, serão leva<strong>da</strong>s em conta as questõeséticas e de equi<strong>da</strong>de e os riscos e incertezas inerentesaos processos naturais e ao comportamento humano.A maioria <strong>dos</strong> benefícios <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>representa bens públicos que não são valora<strong>dos</strong>.Há diferentes abor<strong>da</strong>gens para solucionar este problema.Uma <strong>da</strong>s mais interessantes são as políticas que recompensama preservação do fluxo destes bens públicos.Outra é aquela que estimula os “merca<strong>dos</strong> obrigatórios”que estabelece um valor de troca para o fornecimentoou uso destes serviços. Os pagamentos pelos serviçosecossistêmicos (PSE), por exemplo, podem criar umademan<strong>da</strong> para corrigir os desequilíbrios que lesam a biodiversi<strong>da</strong>dee impedem o desenvolvimento sustentável. AFase II examinará a opção apresenta<strong>da</strong> pelo PSE, mastambém pelos outros novos e inovadores instrumentos.Há novos merca<strong>dos</strong> sendo constituí<strong>dos</strong> de forma a <strong>da</strong>rapoio e compensar a biodiversi<strong>da</strong>de e os serviços ecossistêmicos.Para serem bem-sucedi<strong>dos</strong>, eles necessitaminfraestrutura institucional adequa<strong>da</strong>, incentivos, financiamentoe governança: em resumo, necessitam investimentoe recursos. No passado, o Estado era consideradoo único responsável pela gestão <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>.Ca<strong>da</strong> vez mais, fica claro que os merca<strong>dos</strong> também têmum papel a desempenhar neste sentido – com a vantagemde prescindirem de dinheiro <strong>dos</strong> cofres públicos.O requisito principal é o desenvolvimento de um parâmetroeconômico mais eficaz do que o PIB para avaliar odesempenho <strong>da</strong> <strong>economia</strong>. O sistema de contabili<strong>da</strong>denacional deve ser mais inclusivo para conseguir medir osgrandes benefícios que os <strong>ecossistemas</strong> e a biodiversi<strong>da</strong>deproporcionam ao bem-estar humano. Ao reconhecertais benefícios, estes sistemas aju<strong>da</strong>riam os formuladoresde política a adotar medi<strong>da</strong>s condizentes e a elaborar mecanismosde financiamento adequa<strong>dos</strong> para a conservação.Os países, empresas e indivíduos precisam conhecer ocusto real de uso do capital natural <strong>da</strong> Terra e os efeitosque as políticas e as ações, quer sejam individuais, quersejam coletivas, têm sobre a capaci<strong>da</strong>de de recuperaçãoe <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> naturais.Acreditamos que políticas que expressem o valor real <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> naturais contribuirãopara o desenvolvimento sustentável ao garantir o fornecimento<strong>dos</strong> bens e serviços ecossistêmicos, sobretudoalimento e água, de modo transparente e equitativo. Issonão apenas protegerá a biodiversi<strong>da</strong>de, os <strong>ecossistemas</strong>e os serviços ecossistêmicos, como também aumentaráo bem-estar <strong>da</strong> geração atual e <strong>da</strong>s subsequentes.Se quisermos atingir nossos ambiciosos objetivos, teremosque nos valer do conhecimento, habili<strong>da</strong>des e talentode países, organismos internacionais, universi<strong>da</strong>des,empresas e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil em todo o mundo. Estamosprontos para trabalhar juntos e de forma flexível econstrutiva para obter ganhos ain<strong>da</strong> mais significativosem 2009 e 2010.10 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


A biodiversi<strong>da</strong>de e os1<strong>ecossistemas</strong> na atuali<strong>da</strong>de“O aquecimento global está nas manchetes de hoje.A degra<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> estará nas manchetes amanhã.”Corporate Ecosystems Services Review, WRI et al., março de 2008Recompensando a conservação florestalOs líderes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des que vivem nas florestas<strong>da</strong> América Latina reivindicam o direito de receber umacompensação econômica pelos serviços ambientais quesuas comuni<strong>da</strong>des fornecem ao conservar milhões dehectares de florestas nativas nos trópicos. E parece queestão sendo atendi<strong>dos</strong>: o governo do Brasil acaba de decidirque pagará os moradores <strong>da</strong> Amazônia pelos “ecoserviços”presta<strong>dos</strong> por eles na preservação <strong>da</strong> grandeárea verde do país.Terra Daily, 6 de abril de 2008Colapso do ecossistemaNo dia 27 de fevereiro de 2008, entre 500 e 700 tonela<strong>da</strong>sde peixes mortos foram encontra<strong>dos</strong> nas gaiolas <strong>dos</strong>criatórios localiza<strong>dos</strong> em Amvrakikos, na Grécia (Eleftherotypia20 de fevereiro de 2008). Os cientistas acreditamque a redução do fluxo de água doce para o golfo poderiaestar por trás destes incidentes. Estima-se que ocusto para recuperar parte <strong>da</strong>s funções <strong>da</strong> lagoa será emtorno de 7 milhões de euros.EC DG ENV 2008As notícias transcritas acima nos permitem vislumbrarum novo nexo emergente: a correlação entre anatureza, sua preservação e destruição, o bemestarhumano e, por fim, o dinheiro. Tradicionalmente, anatureza sempre teve o papel de prover as necessi<strong>da</strong>des<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de e a imagem de uma “mãe natureza” fazparte de rituais, épicos e crenças de socie<strong>da</strong>des de to<strong>da</strong>sas épocas. Durante os últimos cinquenta anos, no entanto,a complexa relação entre a riqueza humana, o bem-estare a biodiversi<strong>da</strong>de, os <strong>ecossistemas</strong> e seus serviços estãoca<strong>da</strong> vez mais sendo compreendi<strong>dos</strong> a partir de suadimensão ecológica e econômica. O nosso conhecimentoacerca <strong>da</strong>s muitas variáveis desta relação está aumentandoMerca<strong>dos</strong> emergentes para os serviços ambientaisUm fundo de investimentos recentemente adquiriu os direitosaos serviços ambientais gera<strong>dos</strong> por 370.000 hectares de reservaflorestal na Guiana por reconhecer que tais serviços – oarmazenamento de água, a manutenção de biodiversi<strong>da</strong>de ea regulação <strong>da</strong>s chuvas – algum dia terão um valor negociadonos merca<strong>dos</strong> internacionais. A receita será compartilha<strong>da</strong>,sendo que 80% serão repassa<strong>dos</strong> para a comuni<strong>da</strong>delocal. A reserva sustenta 7.000 pessoas e faz a captura de120 milhões de tonela<strong>da</strong>s de carbono. O presidente Jagdeo,<strong>da</strong> Guiana, citou este caso como um possível modelo parapagamento de to<strong>dos</strong> os serviços do gênero.www.iNSnet.org 4 de abril de 2008Verifica-se aumento do número de refugia<strong>dos</strong> ambientaisOs refugia<strong>dos</strong> ambientais já somam 25 milhões de pessoase estima-se que até o ano 2020, aproxima<strong>da</strong>mente 60milhões de pessoas se deslocarão <strong>da</strong>s áreas desertifica<strong>da</strong>s<strong>da</strong> África subsaariana em direção ao norte <strong>da</strong> África ou Europa.No entanto, esta migração sul-norte é ínfima quandocompara<strong>da</strong> às migrações internas que ocorrem dentro <strong>da</strong>própria África. A maioria <strong>dos</strong> refugia<strong>dos</strong> internos se estabelecenas já populosas megaci<strong>da</strong>des, uma tendência problemáticaem vista <strong>dos</strong> poucos recursos disponíveis, como aágua. Reféns de um ambiente em degra<strong>da</strong>ção, sem acessoà água potável e com os preços de alimentos ca<strong>da</strong> vez maisaltos, os refugia<strong>dos</strong> e as populações locais estão sujeitos àpobreza, doenças e a rebeliões.http://knowledge.allianz.com 19 de março de 2008rapi<strong>da</strong>mente. Concomitantemente, estamos mais conscientes<strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s naturais que vêm ocorrendo – ambientesdegra<strong>da</strong><strong>dos</strong>, declínio de espécies.Muitas espécies animais de maior destaque, como ospan<strong>da</strong>s, os rinocerontes e os tigres estão ameaça<strong>dos</strong> deA biodiversi<strong>da</strong>de e os <strong>ecossistemas</strong> na atuali<strong>da</strong>de 11


extinção, ao passo que as florestas tropicais, as áreasúmi<strong>da</strong>s, os recifes de coral e outros <strong>ecossistemas</strong> estãosendo afeta<strong>dos</strong> negativamente pela ativi<strong>da</strong>de humana.Desastres naturais como enchentes, secas e deslizamentosde terra passaram a ser ocorrências corriqueirasnos dias atuais, ao passo que a escassez de alimento ede água está dominando as manchetes em todo mundo.Apesar <strong>da</strong> percepção de que estes fenômenos estão dealguma maneira interliga<strong>dos</strong>, parece existir a expectativade que tudo será “normalizado” em breve. As diversasdimensões <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de ou a relação entrea per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, as mu<strong>da</strong>nças climáticas e odesenvolvimento econômico são ignora<strong>dos</strong>. O declínio<strong>da</strong>s espécies e a degra<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> estão intrinsecamenteliga<strong>dos</strong> ao bem-estar humano e, a menosque tomemos medi<strong>da</strong>s corretivas em caráter de urgência,a “normalização” <strong>dos</strong> serviços – no sentido de podermosusufruir os benefícios ofereci<strong>dos</strong> pelo meio ambiente – jamaisserá alcança<strong>da</strong>.Quadro 1.1: Termos-chave• Um ecossistema é um complexo dinâmico decomuni<strong>da</strong>des vegetais, animais e de microorganismose os seus ambientes inorgânicos interagindocomo uma uni<strong>da</strong>de funcional. Exemplosde <strong>ecossistemas</strong> incluem desertos, recifes decoral, áreas úmi<strong>da</strong>s, florestas tropicais, florestasboreais, pra<strong>da</strong>rias, parques urbanos e terrascultiva<strong>da</strong>s. Os <strong>ecossistemas</strong> compreendemtanto as áreas intoca<strong>da</strong>s pelos homens, comoas florestas tropicais virgens, ou áreas modifica<strong>da</strong>spela ação do homem.• Serviços ecossistêmicos são os benefícios queas pessoas obtêm <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>. Exemplosincluem alimento, água potável, lenha, regulaçãoclimática, proteção de desastres naturais,controle de erosão, matéria prima para afabricação de medicamentos e recreação.• A biodiversi<strong>da</strong>de é a quanti<strong>da</strong>de e a variabili<strong>da</strong>dede organismos vivos dentro de uma espécie(diversi<strong>da</strong>de genética), entre espécies e entre<strong>ecossistemas</strong>. A biodiversi<strong>da</strong>de não é por si sóum serviço ecossistêmico, mas garante o fornecimentode tais serviços. O valor atribuído àbiodiversi<strong>da</strong>de como tal é refletido pelo serviçoecossistêmico cultural denominado “valoreséticos”.Entra<strong>da</strong>s ambientais começam a fazer parte <strong>dos</strong>balanços patrimoniais. Talvez em breve as melhorescoisas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não sejam mais de graça21 de abril de 2005, Ci<strong>da</strong>de do PanamáO Economista, edição impressaA humani<strong>da</strong>de recebe incontáveis benefícios do ambientenatural na forma de bens e serviços (reuni<strong>dos</strong> sob o títulogeral de serviços ecossistêmicos) tais como alimento,madeira, água potável, energia, proteção contra enchentese erosão do solo (ver Quadro 1.1). Os <strong>ecossistemas</strong>naturais também são fonte de muitos medicamentos esão um repositório para os nossos resíduos, inclusive ocarbono. O desenvolvimento humano também é mol<strong>da</strong>dopelo meio ambiente e esta interligação tem grande importânciasocial, cultural e estética. O bem-estar de to<strong>da</strong>sas populações humanas do mundo depende diretamente<strong>dos</strong> serviços forneci<strong>dos</strong> pelos <strong>ecossistemas</strong>.No entanto, os níveis de muitos <strong>dos</strong> benefícios que derivamosdo meio ambiente caíram nos últimos 50 anos àmedi<strong>da</strong> que perdemos biodiversi<strong>da</strong>de em todo mundo.Vejam os exemplos a seguir:• ‌Nos últimos 300 anos, as áreas de cobertura florestalencolheram cerca de 40%. As florestas desaparecerampor completo em 25 países e outros 29 paísesperderam mais de 90% de sua cobertura florestal. Asper<strong>da</strong>s continuam a acontecer (FAO 2001; 2006).• ‌Desde 1900, o mundo perdeu cerca de 50% de suasáreas úmi<strong>da</strong>s. Apesar <strong>da</strong> maior parte desta per<strong>da</strong> terocorrido nos países setentrionais durante os primeiros50 anos do século 20, desde os anos 1950, hápressão crescente para a conversão de áreas alaga<strong>da</strong>stropicais e subtropicais (Moser et al 1996).• ‌Aproxima<strong>da</strong>mente 30% <strong>dos</strong> recifes de coral – que,em geral, têm níveis de biodiversi<strong>da</strong>de mais altos doque as florestas tropicais – foram irreparavelmente<strong>da</strong>nifica<strong>dos</strong> pela pesca, poluição, doenças e branqueamentode coral (Wilkinson 2004).• ‌Nas últimas duas déca<strong>da</strong>s, 35% <strong>dos</strong> mangues desapareceram.Alguns países perderam até 80% pormeio <strong>da</strong> conversão para aquicultura, super exploraçãoe tempestades (Millennium Ecosystem Assessment2005a).• ‌A ação do homem levou a uma taxa de extinção deespécies (antropogênica) estima<strong>da</strong> em 1.000 vezes oritmo de extinção “natural” <strong>da</strong> história de longo prazo<strong>da</strong> Terra (Millennium Ecosystem Assessment 2005b).A consequência de tais tendências é que cerca de 60%<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos <strong>da</strong> Terra que examinamosforam degra<strong>da</strong><strong>dos</strong> nos últimos 50 anos, sendo que a atuaçãohumana foi a principal causa deste fenômeno (Mil-12 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Mapa 1.1: Conflitos ambientaisIntensi<strong>da</strong>de do conflitoCrise diplomáticaManifestações (parcialmente violentas)Uso de violência (escopo nacional)Violência sistemática/coletivaCausa do conflitoÁguaTerra/soloPeixeBiodiversi<strong>da</strong>deFonte: WBGU, 2008lennium Ecosystem Assessment 2005c). Declínios ain<strong>da</strong>mais significativos devem ocorrer nas próximas déca<strong>da</strong>sem virtude de fatores como o crescimento populacional,mu<strong>da</strong>nça no perfil de exploração <strong>da</strong> terra, expansão econômicae mu<strong>da</strong>nça climática global. As principais organizaçõeseconômicas internacionais tais como o BancoMundial e a Organização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) reiteram estas previsões preocupantes.A OCDE descreveu um conjunto assustadorde desafios que devem ser enfrenta<strong>dos</strong> pela humani<strong>da</strong>de:enfrentar as mu<strong>da</strong>nças climáticas, interromper a per<strong>da</strong> debiodiversi<strong>da</strong>de, assegurar o fornecimento de água potávele saneamento básico e reduzir os impactos <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>çãoambiental para a saúde humana (OCDE 2008).A pressão se intensificou mesmo durante o curto períodode tempo transcorrido desde a publicação <strong>da</strong>s AvaliaçõesEcossistêmicas do Milênio em 2005. Em 2007, mais pessoasestavam vivendo em áreas urbanas do que em áreasrurais pela primeira vez na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Duranteos anos de 2007 e 2008, o esforço para desenvolveros biocombustíveis resultou em enormes mu<strong>da</strong>nças naforma de uso <strong>da</strong> terra e em um acelerado aumento depreços de alguns produtos alimentares básicos. As continua<strong>da</strong>staxas de crescimento acelerado em alguns <strong>dos</strong>grandes países em desenvolvimento resultaram em umademan<strong>da</strong> maior do que a oferta para várias commodities,o que colocou ain<strong>da</strong> maior pressão nos sistemas naturais.Pesquisas mais recentes sobre as mu<strong>da</strong>nças climáticassugerem impactos muito mais profun<strong>dos</strong> que as previsõesanteriores, incluindo o risco de conflitos humanos causa<strong>dos</strong>pela competição pelos recursos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de eserviços ecossistêmicos. (WBGU 2008).Estas tendências podem mu<strong>da</strong>r a nossa relação com anatureza, mas continuaremos a depender dela. Os recursosnaturais e os <strong>ecossistemas</strong> que os fornecem, estãona base <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas que desenvolvemos,<strong>da</strong> nossa quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> nossa coesão social. Noentanto, o modo como organizamos as nossas <strong>economia</strong>snão enfatiza o caráter de dependência desta relação– não existem <strong>economia</strong>s sem o meio ambiente, masexiste meio ambiente sem <strong>economia</strong>.Várias iniciativas buscam preencher estas carências aoatribuir um valor monetário para os serviços ecossistêmicos.Tais abor<strong>da</strong>gens têm o seu sentido, mas acima detudo, precisamos retomar uma postura de humil<strong>da</strong>de peranteo mundo natural. Assim como os povos tradicionais,precisamos tratar a natureza com deferência pela simplesrazão de que a natureza tem seus limites e regras próprios.Estamos consumindo a biodiversi<strong>da</strong>de e os <strong>ecossistemas</strong>em ritmo frenético e insustentável e nossas ações já estãocomeçando a ter sérios impactos socioeconômicos. Sepretendermos encontrar soluções para os problemas quenos defrontam, devemos entender o que está acontecendocom a biodiversi<strong>da</strong>de e os <strong>ecossistemas</strong> e como estasmu<strong>da</strong>nças afetam os bens e serviços que eles disponibili-A biodiversi<strong>da</strong>de e os <strong>ecossistemas</strong> na atuali<strong>da</strong>de 13


zam. Em segui<strong>da</strong>, teremos que avaliar a maneira que utilizamosas ferramentas econômicas para assegurar queas gerações futuras continuem a usufruir os benefíciosdestes bens e serviços.Este é um desafio de grande complexi<strong>da</strong>de – não obstante,deve ser enfrentado. No entanto, os últimos 100 anos <strong>da</strong>história demonstram que a humani<strong>da</strong>de geralmente agiu tími<strong>da</strong>e tardiamente face a ameaças semelhantes – amianto,CFCs, chuva áci<strong>da</strong>, diminuição <strong>dos</strong> cardumes, BSE (doença<strong>da</strong> vaca louca), contaminação <strong>dos</strong> Grandes Lagos e,mais recentemente e de forma mais dramática, as mu<strong>da</strong>nçasclimáticas. A destinação de apenas 1% do PIB mundialaté 2030 pode redun<strong>da</strong>r em melhorias significativasna quali<strong>da</strong>de do ar e <strong>da</strong> água e <strong>da</strong> saúde humana e podeassegurar o cumprimento <strong>da</strong>s metas climáticas. Como aOCDE observou: “Pode-se chamar isto do custo do seguro”(OCDE 2008). Ao voltarmos o nosso olhar para opassado, conseguimos reconhecer os erros cometi<strong>dos</strong> eextrair valiosas lições para o futuro (EEA 2001).A per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> é umaameaça para a sobrevivência do nosso planeta, denossa <strong>economia</strong> e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de humana. Somos <strong>da</strong>opinião de que este problema deve ser enfrentado o quantoantes. Não dispomos de to<strong>da</strong>s as respostas, masesperamos que as diretrizes descritas no restante destedocumento sejam capazes de angariar amplo apoio.ReferênciasEC DG ENV – European Commission DG Environment(2008) Wetlands: Good practices in Managing Natura2000 Sites: An Integrated Approach to Managingthe Amvrakikos Wetland in Greece. Disponível emhttp://ec.europa.eu/environment/nature/natura2000/management/gp/wetlands/04case_amvrakikos.html(acesso em 8 May 2008).EEA – European Environment Agency (2001) Late LessonsFrom Early Warnings: The Precautionary Principle1896-2000. Environmental issue report No 22.Eleftherotypia (20 February 2008) 700 tonnes of dead fish.Disponível em www.enet.gr/online/online_ text/c=112,dt=20.02.2008,id=85914648.FAO – Food and Agriculture Organization of the UnitedNations (2001) Global Forest Resources Assessment2000.FAO – Food and Agriculture Organization of the UnitedNations (2006) Global Forest Resources Assessment2005.Insnet (2008) www.insnet.org/printable.rxml?id= 9199&photo.Knowledge Alliance (2008) Water Conflicts: Fight or Flight?http://knowledge.allianz.com/en/globalissues/ climate_change/natural_disasters/water_conflicts.html.Millennium Ecosystem Assessment (2005a) Global AssessmentReport 1: Current State and Trends Assessment.Island Press, Washington DC.Millennium Ecosystem Assessment (2005b) LivingBeyond Our Means: Natural Assets and Human Wellbeing.Island Press, Washington DC.Millennium Ecosystem Assessment (2005c) Ecosystemsand Human Well-being: Synthesis. Island Press, WashingtonDC.Moser, M., Prentice, C. and Frazier, S. (1996) A Global Overviewof Wetland Loss and Degra<strong>da</strong>tion. Disponível emwww.ramsar.org/about/about_wetland_loss.htm (acessoem 6 maio 2008).OECD – Organisation for Economic Co-operation andDevelopment (2008) OECD Environmental Outlook to2030. ISBN 978-92-64-04048-9.Terra Daily (2008) Brazil to pay Amazon residents “ecoservices”.www.terra<strong>da</strong>ily.com/reports/brazil_ to_pay_amazon_residents_for_eco-services_minister_999.html.WBGU – German Advisory Council on Global Change(2008) World in Transition: Climate Change as a SecurityRisk, Earthscan, London.Wilkinson C. (ed.) (2004) Status of Coral Reefs of theWorld: 2004. Australian Institute of Marine Science,Townsville.WRI – World Resources Institute et al. (2008) The CorporateEcosystem Services Review: Guidelines for IdentifyingBusiness Risks & Opportunities Arising fromEcosystem Change. Disponível em http://pdf.wri.org/corporate_ecosystem_services_review.pdf (acessoem 8 maio 2008).14 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


2BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMASE BEM-ESTAR HUMANO“Nenhum lugar está a salvo, nem o árido Sahel <strong>da</strong> África, nemas regiões exportadoras de grãos <strong>da</strong> Austrália e nem as áreassujeitas a secas do sudoeste americano. Para combatê-las [asmu<strong>da</strong>nças climáticas], a comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ONU…começou autilizar um conjunto de recursos globais – conhecimento científicoe de engenharia, participação corporativa e liderança cívica.Começamos a nos <strong>da</strong>r conta que o impressionante know-howmundial pode solucionar questões aparentemente sem soluçãoquando enxergamos nossos problemas do ponto de vista correto.”Ban Ki-Moon, Secretário Geral <strong>da</strong> ONU, 2008Ofirme otimismo do Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU acercade nossa capaci<strong>da</strong>de para enfrentar as mu<strong>da</strong>nçasclimáticas também vale como uma convocaçãopara solucionar o problema <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de.Será de fato necessária uma resposta global e um esforçoconjunto por to<strong>da</strong>s as nações e por to<strong>dos</strong> os segmentossociais para alcançar o nosso objetivo.Este capítulo demonstra que a degra<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>pode ter consequências abrangentes, como porexemplo, os riscos para a saúde que a per<strong>da</strong> de uma espécievegetal pode acarretar. A conclusão, como expostona parte final do capítulo, é que não podemos continuar anos portar como atualmente, nem mesmo no curto prazo.Os padrões de consumo e produção atuais dependem<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> mundiais. Diversos tipos de políticapodem afetar a capaci<strong>da</strong>de de recuperação de <strong>ecossistemas</strong>naturais e também de <strong>ecossistemas</strong> modifica<strong>dos</strong>pela ação do homem. Do setor de transportes ao setorelétrico, passando pela agricultura e o bem-estar cultural,nossas políticas e ações podem ter muitas consequênciasnão previstas. Como demonstrado pela AvaliaçãoEcossistêmica do Milênio (Millennium EcosystemAssessment 2005a), o efeito <strong>da</strong>s pressões cumulativassobre os <strong>ecossistemas</strong> algumas vezes não é sentido porvários anos até que seja alcançado um ponto crítico apartir do qual ocorre uma sucessão de rápi<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasnão-lineares. Iniciamos este capítulo com exemplosespecíficos que demonstram vários efeitos deste tipo, <strong>da</strong>alimentação à saúde. Em segui<strong>da</strong>, identificamos algunsaspectos comuns aos exemplos apresenta<strong>dos</strong>, sobretudoo impacto desproporcional sobre os pobres.Figura 2.1: Preços <strong>da</strong>s commodities mundiaisJaneiro 2000 – Fevereiro 2008 (US$/ton)500400300200100MilhoTrigoArrozÓleo (escala <strong>da</strong> direita)00Jan-00 Jan-02 Jan-04 Jan-06 Jan-08100Fonte: Base de <strong>da</strong><strong>dos</strong> <strong>da</strong> FAO sobre Preços <strong>da</strong>s Commodities Internacionais;Base de <strong>da</strong><strong>dos</strong> do Panorama Econômico Mundial do FMI, 200790804020Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 15


Desculpe,estouocupa<strong>dos</strong>alvando oplaneta.Chappatte/International Herald TribuneQuadro 2.1: Biocombustíveisgeram muito debateA bioenergia tem um papel importante no combateàs mu<strong>da</strong>nças climáticas, especialmente quando abiomassa é usa<strong>da</strong> para geração de calor e eletrici<strong>da</strong>de.No entanto, os biocombustíveis também sãooutra fonte de competição para áreas com escassezde solo e a escala de conversão de terras potenciaispara o agrocombustível é extraordinária.O Fundo Monetário Internacional afirma que, “emboraos biocombustíveis ain<strong>da</strong> contabilizem apenas1,5% do fornecimento global de combustíveislíqui<strong>dos</strong>, eles foram responsáveis por quase metadedo aumento no consumo <strong>da</strong>s maiores safrasem 2006-2007, principalmente devido ao etanolproduzido a base de milho nos EUA”. Os relatóriosindicam que este padrão pode ser replicado emqualquer outro local do mundo.FMI, Abril de 2008A PRESSÃO SOBRE A BIODIVERSIDADE CONTINUA­RÁ E O BEM-ESTAR HUMANO SERÁ AFETADOAlimento é notícia em Terra…O aumento do preço <strong>dos</strong> alimentos causou revoltas emmuitos países. Em fevereiro de 2007, milhares de pessoasinvadiram as ruas <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do México para protestarcontra o aumento de 400% no preço do milho utilizadono preparo de tortillas – fato atribuído à crescentedeman<strong>da</strong> por biocombustíveis nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>. NaÁsia, muitos governos precisaram intervir para seguraro aumento vertiginoso <strong>dos</strong> preços do arroz e para administraros estoques, ao passo que nas Filipinas houvedistribuição de alimentos para as pessoas afeta<strong>da</strong>s nasáreas rurais.Há muitas explicações para o aumento <strong>dos</strong> preços <strong>dos</strong>alimentos. A deman<strong>da</strong> crescente por alimento e, em especial,carne (cuja produção requer mais terra por caloria),a alta <strong>dos</strong> preços de energia (que é um insumo importante)e o aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por biocombustíveis sãoto<strong>da</strong>s causas possíveis para o aumento de preços.Em 2007, o índice de preços <strong>dos</strong> alimentos calculadopela Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Agriculturae a Alimentação (FAO) aumentou cerca de 40% comparadoaos 9% de aumento no ano anterior (FAO 2008). Damesma forma, foi verificado um aumento dramático <strong>dos</strong>preços nos primeiros meses de 2008. Quase to<strong>da</strong>s ascommodities agrícolas fazem parte dessa tendência deaumento (FAO 2008). Conforme a deman<strong>da</strong> pelas commoditiesbásicas aumenta, também aumenta a pressãopara converter <strong>ecossistemas</strong> naturais em terras paracultivo agrícola e para intensificar a produção em terrasjá converti<strong>da</strong>s. Já se verifica que um maior consumo decarne é uma <strong>da</strong>s principais razões do desmatamento emtodo mundo (FAO 2006).Não há sinais de que a conversão de <strong>ecossistemas</strong>naturais para o cultivo agrícola diminuirá em um futuropróximo. A deman<strong>da</strong> por alimento crescerá conformeas populações aumentarem e aumentará também o seuconsumo de carne. A oferta não consegue acompanharo aumento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>, pois o rendimento <strong>da</strong>s colheitasnão cresce no mesmo ritmo. Além disso, o relatóriode 2007 do Painel Intergovernamental sobre Mu<strong>da</strong>nçasClimáticas (IPCC) prevê que até mesmo um pequeno aumentona temperatura global diminuiria a produtivi<strong>da</strong>deagrícola <strong>dos</strong> países tropicais e subtropicais (IPCC 2007).... e no MarA principal ou única fonte de proteína animal de maisde um bilhão de pessoas vem do mar, especialmentenos países em desenvolvimento (Millennium EcosystemAssessment 2005a). No entanto, metade <strong>da</strong>s espéciesmarinhas selvagens está esgota<strong>da</strong> e outros 25% jáforam super explora<strong>dos</strong> (FAO 2007). Temos “pescado arede alimentar”: quando os estoques de espécies maioresse exaurem, os pescadores passam para as espéciesmenores. Os peixes menores estão sendo utiliza<strong>dos</strong>para produzir farinha ou óleo de peixe para a aquiculturae na alimentação de galinhas e porcos. A aquicultura,que utiliza gaiolas móveis em mar aberto (e.g. para atumvermelho), está em expansão, em particular na China eno Mediterrâneo e foi responsável por 27% <strong>da</strong> produçãomundial de peixes em 2000 (Millennium Ecosystem Assessment2005a). A aquicultura, no entanto, ain<strong>da</strong> depende<strong>da</strong> pesca marinha para obter insumos e, do ponto16 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


European Communityde vista global, pode não reduzir a nossa dependênciana pesca marinha selvagem.“Pescar a rede alimentar” tem vários impactos sobre abiodiversi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> oceanos. Acredita-se que a proliferaçãode águas-vivas ocorri<strong>da</strong> na última déca<strong>da</strong> seja resultadodessa situação. As águas-vivas já são a principalespécie planctófaga em muitas áreas e há certa preocupaçãoque essa alteração não possa ser facilmentereverti<strong>da</strong> já que as água-vivas também se alimentam <strong>dos</strong>ovos <strong>dos</strong> peixes com os quais competem (Duffy 2007).A per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de pode prejudicar o abastecimentode frutos do mar para a população humana e terefeitos negativos sobre a <strong>economia</strong>. Há ca<strong>da</strong> vez maisindícios de que a diversi<strong>da</strong>de de espécies é importantepara a pesca marinha, tanto em curto prazo, ao aumentara produtivi<strong>da</strong>de, quanto em longo prazo, ao aumentar acapaci<strong>da</strong>de de recuperação <strong>da</strong>s espécies. A diversi<strong>da</strong>degenética é especialmente importante neste último sentido.Um estudo de 2006 (Worm et al. 2006) concluiu queto<strong>da</strong>s as empresas pesqueiras terão falido em menos de50 anos se as tendências atuais não forem reverti<strong>da</strong>s.O estudo descobriu que uma baixa diversi<strong>da</strong>de está as-Figura 2.2: Tendências globais <strong>dos</strong> estoquesmarinhos a partir de 1974Percentagem de estoques avalia<strong>dos</strong>6050403020Subexplorado + modera<strong>da</strong>mente explorado10Totalmente exploradoSuperexplorado + Esgotado + Em recuperação074 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06Fonte: FAO 2006Quadro 2.2: Recifes de CoraisRecifes de corais são os <strong>ecossistemas</strong> mais ricosem biodiversi<strong>da</strong>de (espécies por uni<strong>da</strong>de de área)do mundo, apresentando maior diversi<strong>da</strong>de queas próprias florestas tropicais. Sua saúde e resiliênciaestão em declínio devido à pesca excessiva,poluição, doenças e às mu<strong>da</strong>nças climáticas.Em três déca<strong>da</strong>s, os recifes de coral caribenhosforam reduzi<strong>dos</strong> em 80%. Como resultado, receitasadvin<strong>da</strong>s do turismo do mergulho (quase 20%<strong>da</strong> receita total do turismo) têm diminuído e prevêseuma per<strong>da</strong> de US$ 300 milhões por ano. Issoé mais do que o dobro do que se perde no setorde pesca, também altamente impactado (PNUMA,Fevereiro de 2008).A explicação para isto é que, em 1983, após váriosséculos de pesca excessiva de peixes herbívoros,houve uma repentina transferência dedomínio <strong>dos</strong> corais para as algas nos sistemas derecife <strong>da</strong> Jamaica. Com isso, a cobertura de algasfoi toma<strong>da</strong> praticamente por uma única espéciede ouriço-do-mar, cujas populações entraram emdeclínio após serem expostas a um patógeno específicopara aquela espécie. Quando essa populaçãode ouriços entrou em colapso, os recifessofreram alteração no seu estado (aparentementede forma irreversível), e passaram a ter baixacapaci<strong>da</strong>de de suporte <strong>dos</strong> recursos pesqueiros.Este é um excelente exemplo <strong>da</strong> segurança quese tem em <strong>ecossistemas</strong> biodiversos. A redução<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de herbívora não teve efeito imediatoaté que a população de ouriços-do-mar despencasse,ilustrando como o sistema havia se tornadovulnerável devido a sua dependência em umaúnica espécie.Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 17


André Künzelmann, UFZsocia<strong>da</strong> a taxas de produtivi<strong>da</strong>de pesqueira mais baixas,“colapsos” mais frequentes e uma capaci<strong>da</strong>de de recuperaçãomais baixa após a realização de pesca excessivado que sistemas naturalmente ricos em espécies.Pode-se fazer uma comparação entre a segurança quea biodiversi<strong>da</strong>de oferece e os merca<strong>dos</strong> financeiros. Umacarteira diversifica<strong>da</strong> de espécies, assim como de ações,fornece uma proteção contra as flutuações do meio ambiente(ou do mercado) que levam à que<strong>da</strong> de açõesisola<strong>da</strong>s. O efeito estabilizador de uma carteira “biodiversa”será especialmente importante conforme a mu<strong>da</strong>nçaambiental for acelera<strong>da</strong> pelo aquecimento global e peloimpacto humano.O abastecimento de água está em riscoOs recursos hídricos – tanto o abastecimento de águacomo a sua quali<strong>da</strong>de – também estão sob pressão. Váriaspartes do mundo já convivem com a escassez deágua. O risco de a água causar conflitos entre os povosfoi um <strong>dos</strong> principais temas do Fórum Econômico Mundialem Davos. As Nações Uni<strong>da</strong>s acreditam que há águaem quanti<strong>da</strong>de suficiente para atender as necessi<strong>da</strong>desde to<strong>dos</strong> – mas apenas se mantivermos estes mananciaislimpos, utilizando-os de forma sensata e compartilhandoosde maneira equitativa.Na Ásia, a água utiliza<strong>da</strong> na irrigação <strong>dos</strong> grãos que alimentama China e a Índia pode secar como resultado <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas. O aquecimento global derrete as geleirasque deságuam nos grandes rios <strong>da</strong> Ásia durante a estaçãoseca e é justamente neste período que a água é mais necessáriapara irrigar as plantações <strong>da</strong>s quais centenas demilhões de pessoas dependem. No exemplo acima, asmu<strong>da</strong>nças climáticas poderiam exacerbar os problemascrônicos associa<strong>dos</strong> à escassez de água. Alémdisso, o serviço ecossistêmico que fornece um suprimentoconstante de água potável seria comprometido.Em muitos lugares, os <strong>ecossistemas</strong> desempenham funçõesde regulação importantíssimas. As florestas e asvárzeas podem ter um papel importante na determinação<strong>dos</strong> níveis de precipitação (em nível regional e local), nacapaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra em absorver e reter essa água e nasua quali<strong>da</strong>de. Em outras palavras, os <strong>ecossistemas</strong> aju<strong>da</strong>ma determinar se teremos secas, enchentes ou águaprópria para consumo. Com frequência, essa função só évaloriza<strong>da</strong> depois de perdi<strong>da</strong>.A nossa saúde está em jogoO valor medicinal de certas plantas é conhecido há milharesde anos e a biodiversi<strong>da</strong>de contribuiu para aumentarnosso conhecimento sobre o corpo humano. Da mesmaforma, os <strong>ecossistemas</strong> fornecem enormes benefíciospara a saúde e, portanto, benefícios de ordem econômicatambém. O corolário é que a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>depode produzir prejuízos muito grandes e estamos ca<strong>da</strong>vez mais cientes deste fato (Conseil Scientifique du PatrimoineNaturel et de la Biodiversité – no prelo).Há uma relação direta entre a biodiversi<strong>da</strong>de e o sistemade saúde moderno (Newman and Cragg 2007):• ‌Aproxima<strong>da</strong>mente metade <strong>dos</strong> medicamentos sintéticostem origem na natureza, inclusive 10 <strong>dos</strong> 25 medicamentosmais vendi<strong>dos</strong> nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>.• ‌De to<strong>dos</strong> os medicamentos utiliza<strong>dos</strong> no tratamentodo câncer, 42% são de origem natural e 34% são deorigem seminatural.• ‌Na China, mais de 5.000 <strong>da</strong>s 30.000 espécies de plantassuperiores são utiliza<strong>da</strong>s para fins terapêuticos.• ‌Três quartos <strong>da</strong> população mundial dependem de medicamentosnaturais tradicionais.• ‌Os medicamentos deriva<strong>dos</strong> de recursos genéticosgeraram um faturamento total entre US$ 75 bilhões eUS$ 150 bilhões nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> em 1997.• ‌A árvore de gingko biloba levou à descoberta de substânciasaltamente eficazes no tratamento de doenças cardiovascularesque geram lucros de US$ 360 milhões por ano.18 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Mapa 2.1: Espécies de planta por eco-região (Kier et al. 2005, J. Biogeog. 32:1107)Número de espéciespor eco-região10.0000Mapa 2.2: Retorno agrícola (Strassburg et al. 2008, baseado nos <strong>da</strong><strong>dos</strong> de Naidoo & Iwamura. 2007. Biol. Conserv. 140: 40)US$ por hectare1.8000Apesar <strong>dos</strong> indiscutíveis benefícios para a saúde, asespécies vegetais estão desaparecendo rapi<strong>da</strong>mente eessa tendência continuará a menos que sejam toma<strong>da</strong>smedi<strong>da</strong>s em caráter de urgência. A Lista Vermelha deEspécies Ameaça<strong>da</strong>s <strong>da</strong> IUCN publica<strong>da</strong> em 2007 identificouum aumento significativo de espécies ameaça<strong>da</strong>sdurante esta déca<strong>da</strong>. O relatório estima que 70% <strong>da</strong>splantas em todo mundo estão ameaça<strong>da</strong>s (IUCN 2008).Um estudo recente de escopo mundial revela que centenasde plantas medicinais, cujos princípios ativossão utiliza<strong>dos</strong> por mais de 50% <strong>dos</strong> medicamentos,estão à beira <strong>da</strong> extinção. Essa situação levou os especialistasa fazerem a um apelo para “assegurar o futurodo sistema de saúde” (Hawkins 2008).A relação entre biodiversi<strong>da</strong>de e saúde também possuium aspecto referente à equi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> distribuição. É comumhaver um descompasso entre as regiões onde osbenefícios são produzi<strong>dos</strong>, onde são usufruí<strong>dos</strong> e ondesão assumi<strong>dos</strong> os custos de oportuni<strong>da</strong>de para sua conservação.As fontes vegetais de muitos <strong>dos</strong> novos medicamentossão quase sempre encontra<strong>da</strong>s nas regiõestropicais mais pobres (ver Mapa 2.1). Os beneficiáriosgeralmente se encontram nos países ricos onde os medicamentossão disponibiliza<strong>dos</strong> a preço acessível. Sãoas pessoas destes países que têm maior interesse emconservar os habitats naturais nas regiões ricas em biodiversi<strong>da</strong>de.No entanto, a conservação tem custos paraas populações locais, em particular custos de oportuni<strong>da</strong>decomo a per<strong>da</strong> de potenciais retornos agrícolas (verMapa 2.2) pela não conversão destes habitats. A transferênciade parte <strong>dos</strong> benefícios <strong>dos</strong> países ricos para aspopulações locais poderia ser uma forma de estimular aconservação <strong>dos</strong> habitats e <strong>da</strong>s espécies naturais quebeneficiam todo o mundo.Resta claro que se abusarmos <strong>da</strong>s funções naturais quesustentam o nosso planeta, comprometeremos a quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s gerações futuras – e dificultaremossobremaneira a vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> que já vivem à margem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 19


CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTOO crescimento populacional, o aumento <strong>da</strong> riqueza mundiale a mu<strong>da</strong>nça <strong>dos</strong> padrões de consumo estão nabase de muitas <strong>da</strong>s tendências descritas. Está claro queos países desenvolvi<strong>dos</strong> estão fazendo uso de recursosde forma insustentável. As pega<strong>da</strong>s ecológicas <strong>da</strong> Europa,<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e do Japão são muito maioresdo que as <strong>dos</strong> países em desenvolvimento. Além disso,as <strong>economia</strong>s emergentes já estão trilhando o mesmocaminho. Tanto a Índia quanto a China possuem pega<strong>da</strong>secológicas duas vezes maiores do que suas “biocapaci<strong>da</strong>des”(Goldman Sachs 2007) – o índice que indica acapaci<strong>da</strong>de de seus <strong>ecossistemas</strong> em fornecer recursosrenováveis. O Brasil, por outro lado, tem uma <strong>da</strong>s “biocapaci<strong>da</strong>des”mais altas do mundo, quase cinco vezeso tamanho de sua pega<strong>da</strong> ecológica, mas, infelizmente,esta vem diminuindo como resultado do desmatamento(Goldman Sachs 2007).Se as práticas atuais forem manti<strong>da</strong>s, não será possívelalimentar populações ca<strong>da</strong> vez maiores e mais ricas semque a biodiversi<strong>da</strong>de e os serviços ecossistêmicos sejamameaça<strong>dos</strong>. Com base apenas nas projeções populacionais,será preciso aumentar a produção de alimentosem 50% para atender a população mundial prevista parao ano de 2050 (Departamento <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s paraQuestões Econômicas e Sociais/Divisão Populacional2008). A produção de culturas irriga<strong>da</strong>s deverá aumentarem 80% até 2030 para atender a essa deman<strong>da</strong>.Calcula-se que 35% <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> Terra já foram converti<strong>dos</strong>para cultivo agrícola, limitando, assim, a produtivi<strong>da</strong>defutura de sistemas naturais (Millennium EcosystemAssessment 2005b). A maior parte <strong>da</strong> terra é utiliza<strong>da</strong>pelo setor pecuarista. As pastagens compreendem 26%<strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> Terra, ao passo que grãos para consumoanimal são cultiva<strong>dos</strong> em cerca de um terço <strong>da</strong> terraarável (FAO 2006). A ampliação <strong>da</strong> produção agrícola teráefeitos na biodiversi<strong>da</strong>de e nos serviços de ecossistemaconforme mais terra for converti<strong>da</strong> para a produção dealimentos. O setor pecuário competirá diretamente comos seres humanos pelas terras, a água e outros recursosnaturais. O setor pecuarista é o maior responsável pelacontaminação <strong>da</strong>s águas. É também o principal fator dodesmatamento: 70% <strong>da</strong> área desmata<strong>da</strong> na Amazôniasão utiliza<strong>dos</strong> para pastagem e os grãos para alimentaçãode animais são cultiva<strong>dos</strong> em grande parte <strong>da</strong>s demaisterras (FAO 2006).Mu<strong>da</strong>nças climáticas e biodiversi<strong>da</strong>deAs mu<strong>da</strong>nças climáticas estão por trás de muitas <strong>da</strong>squestões apresenta<strong>da</strong>s neste capítulo. O ciclo El Niño-LaNiña no oceano Pacífico demonstra claramente como abiodiversi<strong>da</strong>de é sensível ao clima. Um pequeno aumentona temperatura <strong>da</strong> superfície do mar em 1976 e 1998levou a uma série de fenômenos mundiais que fizeramo ano de 1998 ser conhecido como o “ano em que omundo pegou fogo”. Os <strong>da</strong>nos irreparáveis incluem (USDepartment of Commerce 2008):• ‌as florestas queima<strong>da</strong>s que não se recuperarão emuma escala de tempo relevante;• ‌um aumento na temperatura <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong>s águasno centro-oeste do oceano Pacífico de 19ºC para 25ºC;• ‌prevalência de espécies mais tolerantes ao calor vivendodentro <strong>dos</strong> corais;• ‌um deslocamento para o norte <strong>da</strong>s correntes de ar.Fenômenos complexos como os descritos acima demonstrama nossa vulnerabili<strong>da</strong>de a pontos de rupturapara além <strong>da</strong>queles diretamente relaciona<strong>dos</strong> com ascrescentes temperaturas e níveis de dióxido de carbono.As per<strong>da</strong>s de biodiversi<strong>da</strong>de também podem contribuirpara a mu<strong>da</strong>nça do clima de maneiras complexas. Hámuitos exemplos de como as supersafras ou mu<strong>da</strong>nçasnos padrões de uso <strong>da</strong> terra foram responsáveis por mu<strong>da</strong>nçassociais e econômicas que levaram a uma maiordependência de carbono.A drenagem <strong>da</strong>s turfeiras resulta em per<strong>da</strong> de carbono.No entanto, as mu<strong>da</strong>nças climáticas previstas poderiamresultar em altas taxas de liberação do carbono do solo,Quadro 2.3: Gênero, pobreza ebiodiversi<strong>da</strong>de em Orissa, IndiaO impacto <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, geralmentenão muito visível, tem sérias implicações na questão<strong>da</strong> redução de pobreza e bem-estar para asmulheres, uma vez que afeta gravemente seu papelcomo “coletoras”. Estu<strong>dos</strong> nas regiões tribaisde Orissa e Chattisgarth, esta<strong>dos</strong> <strong>da</strong> Índia que jáforam densamente cobertos por florestas, registraramcomo o desmatamento resultou em per<strong>da</strong> devi<strong>da</strong>s, em mulheres tendo que an<strong>da</strong>r o quádruplo<strong>da</strong> distância para colher produtos <strong>da</strong> floresta e nainabili<strong>da</strong>de de acesso às ervas medicinais, que foramexauri<strong>da</strong>s. Essa per<strong>da</strong> reduz ren<strong>da</strong>, aumenta otrabalho pesado e afeta a saúde física. Há tambémevidências que demonstram que o status relativo<strong>da</strong>s mulheres dentro <strong>da</strong> família é melhor nas vilascom cobertura florestal, onde sua contribuiçãopara a ren<strong>da</strong> familiar é maior do que nas vilas comescassez de recursos naturais.Sarojini Thakur, Chefe <strong>da</strong> Sessão de Gênero, Secretaria <strong>da</strong> Commonwealtht,comunicação pessoal, 15 de maio de 2008.20 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


mentar ain<strong>da</strong> mais. As estimativas <strong>dos</strong> custos ambientaismundiais em seis categorias principais, <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas até a sobrepesca, demonstram que os custossão gera<strong>dos</strong> pelos países de ren<strong>da</strong> alta e média, masseus efeitos são senti<strong>dos</strong> sobretudo nos países mais pobres(Srinivasan et al 2007).André Künzelmann, UFZcontribuindo, assim, para maiores concentrações de gásde efeito estufa na atmosfera (Bellamy et al. 2005). Sob asmesmas condições climáticas, pra<strong>da</strong>rias e florestas tendema ter estoques de carbono orgânico mais altos do queterras cultiva<strong>da</strong>s e são ti<strong>da</strong>s como sequestradores líqui<strong>dos</strong>de carbono. No entanto, o desmatamento e a intensificaçãode áreas cultiva<strong>da</strong>s estão em franca expansão.A fim de compreender plenamente essas complexi<strong>da</strong>desserá preciso mais do que modelos econométricos de enfoqueenergético. Precisaremos levar em consideração oconhecimento de como nos a<strong>da</strong>ptar e de como vulnerabili<strong>da</strong>despodem surgir a partir <strong>dos</strong> processos ecológicos.Para tanto, devemos estabelecer um diálogo muitomais amplo do que o atual entre economistas, cientistase ecologistas.Impacto sobre os pobresUm aspecto <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de é o seu alto,porém não reconhecido, impacto sobre as populaçõespobres. Por exemplo, se a mu<strong>da</strong>nça do clima resultarem uma seca que diminua a ren<strong>da</strong> do segmentomais pobre <strong>dos</strong> 28 milhões de etíopes pela metade,o balanço econômico global quase não seria afetado – oPIB mundial cairia em menos de 0,003%.O problema <strong>da</strong> distribuição <strong>dos</strong> efeitos nocivos é particularmentedifícil de ser equacionado porque os principaisresponsáveis pelo problema – os países ricos – não serãoos mais afeta<strong>dos</strong>, pelo menos no curto prazo.Os <strong>da</strong><strong>dos</strong> neste sentido são claros. As consequências<strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção de serviçosecossistêmicos – água, alimentos e peixes – não estãosendo compartilha<strong>da</strong>s de forma equitativa entre as populaçõesdo mundo. As áreas mais ricas em biodiversi<strong>da</strong>dee serviços ecossistêmicos encontram-se nos países emdesenvolvimento, onde bilhões de pessoas delas dependempara seu sustento. No entanto, os agricultores desubsistência, os pescadores, os pobres nas áreasrurais e as socie<strong>da</strong>des tradicionais são os mais afeta<strong>da</strong>spela degra<strong>da</strong>ção. E este desequilíbrio tende a au-Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) expressama intenção do mundo de reduzir a pobreza. Háfortes indícios de que estes objetivos só poderão ser atingi<strong>dos</strong>se houver boas práticas ambientais e governança.Um exemplo que sugere este vínculo é a situação do Haiti(ver Quadro 2.5), em que a degra<strong>da</strong>ção florestal e suasconsequências comprometeram o fornecimento de águae a produtivi<strong>da</strong>de agrícola a tal ponto que a erradicação<strong>da</strong> fome e <strong>da</strong> pobreza (ODM1) provou ser impossível, alémde terem afetado a saúde e a mortali<strong>da</strong>de infantil (ODM4,ODM5 e ODM6). Na Tabela 2.1, fazemos o mapeamento<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos em relação aos ODM.A relação entre eles é profun<strong>da</strong> e abrangente e, portanto,to<strong>dos</strong> os ODMs estarão comprometi<strong>dos</strong>, e nãoapenas o ODM7 sobre a sustentabili<strong>da</strong>de ambiental,caso a degra<strong>da</strong>ção do ecossistema e as per<strong>da</strong>s debiodiversi<strong>da</strong>de continuarem no ritmo atual.NÃO É POSSÍVEL MANTERMOSAS COISAS COMO ESTÃOCaso novas políticas não sejam implementa<strong>da</strong>s, a per<strong>da</strong>de biodiversi<strong>da</strong>de e de serviços ecossistêmicos continuará.Em alguns casos, essas per<strong>da</strong>s serão, inclusive, maisacirra<strong>da</strong>s. Em outros, o ecossistema será degra<strong>da</strong>do aponto de não ser possível recuperá-lo. Alguns efeitospossíveis <strong>da</strong> falta de ação são:• ‌Áreas naturais continuarão a ser converti<strong>da</strong>s em terraspara cultivo agrícola e serão afeta<strong>da</strong>s pela expansão<strong>da</strong> infraestrutura e pelas mu<strong>da</strong>nças climáticas. Até oano de 2050, 7.5 milhões de quilômetros quadra<strong>dos</strong>devem ser perdi<strong>dos</strong>, ou seja, 11% <strong>dos</strong> níveis de 2000(ver próxima seção) (Braat, ten Brink et al. 2008).• ‌A terra atualmente utiliza<strong>da</strong> para cultivo de produtosagrícolas de forma extensiva (baixo impacto), que forneceimportantes benefícios <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, seráca<strong>da</strong> vez mais utiliza<strong>da</strong> para a agricultura intensiva,com per<strong>da</strong>s de biodiversi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> maiores e com<strong>da</strong>nos ao meio ambiente. Quase 40% <strong>da</strong> terra sendoutiliza<strong>da</strong> para cultivo de produtos agrícolas de formaextensiva devem ser perdi<strong>da</strong>s até o ano de 2050 (Braat,ten Brink et al. 2008).• ‌60% <strong>dos</strong> recifes de coral podem morrer até 2030 emvirtude de <strong>da</strong>nos causa<strong>dos</strong> pela pesca, poluição, doençae invasão de espécies não nativas e do branqueamentode coral, ca<strong>da</strong> vez mais comum com amu<strong>da</strong>nça do clima. Com isso, serão perdi<strong>dos</strong> locaisde procriação vitais e também fontes de ren<strong>da</strong> importantespara muitos países (Hughes et al. 2003).Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 21


Quadro 2.4: A mu<strong>da</strong>nça no uso do soloe a transformação <strong>dos</strong> serviçosPor séculos, os seres humanos têm causado a per<strong>da</strong><strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (conforme mapas abaixo).Até o ano 2000, apenas cerca de 73% <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>denatural global remanesciam. Os maioresdeclínios <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de ocorreram nos campose florestas tempera<strong>da</strong>s e tropicais, onde as civilizaçõeshumanas se desenvolveram primeiro (Mc Neille Mc Neill 2003).Espera-se que outros 11% <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de terrestrese percam até 2050. Isto é uma média, e incluias regiões desérticas, tundras e polares. Em algunsbiomas e regiões, prevê-se a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deem 20%. Áreas naturais continuarão a ser converti<strong>da</strong>sem áreas agricultáveis, sendo a corrente expansão deinfra-estrutura e os crescentes efeitos <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas os maiores causadores <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.Para o mundo como um todo, estima-seque a per<strong>da</strong> de áreas naturais no período de 2000 a2050 seja de 7,7 milhões de quilômetros quadra<strong>dos</strong> oucerca de 750 milhões de hectares, que corresponde aotamanho <strong>da</strong> Austrália. Estes <strong>ecossistemas</strong> naturais devemsofrer transformações devido ao uso <strong>da</strong> terra pelohomem nas próximas déca<strong>da</strong>s. A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deno estudo Custo <strong>da</strong> Inação Política (Cost of PolicyMapa 2.3: Abundância Relativa de Espécies 1970 (MNP/OECD 2007)Mapa 2.4: Abundância Relativa de Espécies 2000 (MNP/OECD 2007)Legen<strong>da</strong> paraos mapas0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-10022 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Inaction – COPI) é medi<strong>da</strong> pelo indicador AbundânciaRelativa de Espécies (ARE), uma medi<strong>da</strong> confiável debiodiversi<strong>da</strong>de que foi reconheci<strong>da</strong> pela Convençãosobre Diversi<strong>da</strong>de Biológica.O impacto na maneira de viver é local e, portanto, nãose reflete necessariamente em números globais. Osmapas dão uma ideia mais clara e as figuras abaixomostram as alterações sofri<strong>da</strong>s pela biodiversi<strong>da</strong>debasea<strong>da</strong>s no indicador de Abundância Relativa de Espécies(ARE) nos anos de 1970, 2000, 2010 e 2050. Osmaiores impactos são previstos para a África, Índia,China e Europa (Braat, ten Brink et al. 2008).Figura 2.3: Per<strong>da</strong> global <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de(ARE) 2000-2050 e a contribuição<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des para essa per<strong>da</strong>Infra-estruturaMu<strong>da</strong>nças climáticasÁrea cultiva<strong>da</strong>FlorestasÁrea de pastoFragmentaçãoBiocombustíveis madeireirosDeposição de nitrogênioTotal-12 -10 -8 -6 -4 -2 0ARE (%)Fonte: MNP/OECD 2007Mapa 2.5: Abundância Relativa de Espécies 2010 (MNP/OECD 2007)Mapa 2.6: Abundância Relativa de Espécies 2050 (MNP/OECD 2007)Legen<strong>da</strong> paraos mapas0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-100Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 23


Tabela 2.1: Serviços ecossistêmicos e os Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio (ODM): Relações e trade-offs (compensações)Serviços EcossistêmicosServiços defornecimentoe regulaçãoServiços deáreas úmi<strong>da</strong>se florestasServiços de fornecimento(plantasmedicinais) eregulação (água)Serviços defornecimentoe regulaçãoServiços defornecimentoServiços defornecimentoe regulaçãoServiços defornecimentoe regulaçãoRelaçãocom ODMODM 1: Erradicarpobrezaextremae fomeODM 3:Promoverigual<strong>da</strong>de entreos gênerose capacitarmulheresODM 5:Aprimorar asaúde maternaODM 6:Combater HIV/AIDS, maláriae outrasdoençasODM 8: DesenvolverumaParceria Globalpara o DesenvolvimentoODM 4: Reduzirmortali<strong>da</strong>deinfantilODM 2: AlcançareducaçãoprimáriauniversalRelaçõescom as metasFornecimento diário deágua, madeira e alimentaçãoestabilizado: isso influenciao padrão material mínimona vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> pobres, aliviandoa pobreza e a fome.Madeira e água: proximi<strong>da</strong>dee disponibili<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>saju<strong>da</strong>riam alcançar igual<strong>da</strong>deentre os gêneros por reduziressa carga que recai principalmentenas mulheresMelhor disponibili<strong>da</strong>de de águapotável e serviços médicostradicionais criariam condiçõesviáveis (ver Quadro 2.3)Isto seria facilitado aumentando-sea disponibili<strong>da</strong>dede água potávelPráticas de troca justas e igualitáriase uma ordem econômicaglobal saudável refletiriamo custo real de exportação/importação na perspectiva<strong>dos</strong> serviços ambientaisCriando condições facilitadoras,por exemplo por meio deágua potável (veja Quadro 2.5)Fornecimento de serviçospode ser afetado pela expansãode infra-estrutura para aeducação (escolas e estra<strong>da</strong>s)ResultadoconflitanteMaiores conflitos pelaágua, exploração de recursosdo solo, costeirose marinhos e a resiliência<strong>da</strong> agrobiodiversi<strong>da</strong>depoderiam ser trade-offsPoderia haver maior extraçãode água subterrânea.O fortalecimento dedireitos sobre a terra paraas mulheres poderia, noentanto, garantir enormementea prevenção <strong>da</strong>per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deAvaliaçãoRelações fortes ediretas: a intervençãoprecisaser receptiva aosserviços ecossistêmicos,àbiodiversi<strong>da</strong>dee à resiliência<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>cultiva<strong>dos</strong>Relação indiretaRelação indiretaRelação indiretaRelação indiretaRelação indiretaRelação fracaou pouco clara• ‌Manguezais valiosos devem ser converti<strong>dos</strong> para usoparticular, muitas vezes com prejuízos para as populaçõeslocais. Áreas de procriação importantes serãoperdi<strong>da</strong>s, assim como as zonas de proteção contratempestades e tsunamis.• ‌Se a pesca continuar nos níveis atuais, várias empresaspesqueiras devem falir. O colapso <strong>da</strong> maioria<strong>da</strong>s empresas pesqueiras do mundo pode ocorreraté a segun<strong>da</strong> metade do século a menos que hajauma resposta política eficaz e fiscalização constante(Worm et al. 2006).24 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Quadro 2.5: Ciclo vicioso <strong>da</strong> pobrezae <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção ambiental: HaitiO Haiti é o país mais pobre do Hemisfério Oestee um <strong>dos</strong> mais ambientalmente degra<strong>da</strong><strong>dos</strong>. Maisde 60% de sua ren<strong>da</strong> deriva de aju<strong>da</strong> <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong>Uni<strong>dos</strong> e de outros países, e 65% de sua populaçãosobrevive com menos de US$ 1 por dia. Praticamentetodo o país era, originalmente, cobertopor florestas, mas hoje há menos de 3% de coberturaflorestal remanescente. Como consequência,de 1950 a 1990, a quanti<strong>da</strong>de de terra arávelreduziu em mais de dois quintos devido à erosãodo solo. Ao mesmo tempo, o desmatamento diminuiua evaporação para a atmosfera no país, e aquanti<strong>da</strong>de de chuva total em muitas locali<strong>da</strong>descaiu em mais de 40%, reduzindo o fluxo de água ea capaci<strong>da</strong>de de irrigação. O Sistema de Irrigaçãode Avezac suporta apenas metade <strong>dos</strong> 9.500 acres(3.845 hectares) inicialmente planeja<strong>dos</strong>. Quandohá chuva, os morros não conseguem mais reterou filtrar a água de maneira eficiente. Devido aodesmatamento, mesmo chuvas modera<strong>da</strong>s podemproduzir enchentes devastadoras. Águas correntese subterrâneas são carrega<strong>da</strong>s com sedimentos epoluição que degra<strong>da</strong>ram os <strong>ecossistemas</strong> estuáriose costeiros. Como consequência, quase 90%<strong>da</strong>s crianças haitianas têm infecção crônica causa<strong>da</strong>por parasitas intestinais presentes na águaque bebem. Devido às enchentes, o Haiti perdeumetade de seu potencial hídrico, uma vez que aBarragem de Peligre foi entupi<strong>da</strong> com sedimentos.O Haiti é um clássico exemplo do “círculo vicioso”de extrema pobreza e degra<strong>da</strong>ção ambiental. Umaboa parte <strong>da</strong> pobreza e do sofrimento humano nopaís resulta <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de suas florestas, e a própriapobreza extrema é uma <strong>da</strong>s causas do desmatamentoe uma poderosa barreira ao manejo florestalsustentável. A diminuição <strong>da</strong> pobreza deve ser aestratégia central para restaurar a biodiversi<strong>da</strong>de eas florestas do Haiti.AmorandChristensen2008• ‌Conforme o comércio e a mobili<strong>da</strong>de globais aumentam,também aumentarão os riscos de invasão deespécies não nativas prejudiciais à produção de alimentose madeira, infraestrutura e saúde.Se quisermos evitar essas consequências e salvaguar<strong>da</strong>ro nosso capital natural e o bem-estar de gerações futuras,não podemos continuar agindo como de costume,fazendo o business-as-usual. A falta de políticas tem umcusto muito alto.No entanto, algumas soluções já estão sendo postasem prática e a <strong>economia</strong> teria um importante papel adesempenhar. Apesar <strong>da</strong>s florestas estarem sob ameaçade serem converti<strong>da</strong>s para o cultivo agrícola, em pastosou para a produção de biocombustíveis, elas são importantessequestradores de carbono e repositórios de biodiversi<strong>da</strong>dee essa capaci<strong>da</strong>de poderia ser reconheci<strong>da</strong>por meio de um valor de mercado mais alto (ver REDDno Capítulo 4).QUAL O PRÓXIMO PASSO?Administrar a deman<strong>da</strong> por alimento, energia, água, medicamentose matéria-prima e ao mesmo tempo minimizaros impactos negativos sobre a biodiversi<strong>da</strong>de e osserviços de ecossistema é o principal desafio para a socie<strong>da</strong>deatual. Alcançar um equilíbrio adequado entre asdeman<strong>da</strong>s exige a compreensão do fluxo de recursos e<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de biológica necessária para sustentar estesfluxos e absorver os resíduos.A partir <strong>da</strong> visão geral acerca <strong>dos</strong> problemas que acometema biodiversi<strong>da</strong>de, os serviços de ecossistema e acadeia de bem-estar humano apresenta<strong>da</strong> neste capítulo,podemos identificar cinco vertentes. Essas vertentes podemaju<strong>da</strong>r na priorização <strong>dos</strong> temas apresenta<strong>dos</strong> emPots<strong>da</strong>m em março de 2007.1. O problema <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é ca<strong>da</strong> vezmais urgente em termos do ritmo, <strong>dos</strong> custos destaper<strong>da</strong> e <strong>dos</strong> riscos em cruzar os “pontos de ruptura”.2. A nossa compreensão crescente, ain<strong>da</strong> que difusa,proporciona subsídios suficientes para justificar açãoimediata.3. Ain<strong>da</strong> está em tempo de agirmos, mas a janela deoportuni<strong>da</strong>de está se fechando.4. Mu<strong>da</strong>nças aparentemente pequenas em um local podemter impactos imprevisíveis, porém significativos,em outros locais.5. Os pobres são sempre os que sofrem de forma maisagu<strong>da</strong> com essa situação.O clássico desafio de aumentar as oportuni<strong>da</strong>des econômicase fornecer bens e serviços continua atual, masagora há que se levar em consideração os limites ecológicosglobais. Da mesma forma, não alcançaremos ajustiça social se aumentarem as desigual<strong>da</strong>des entre osque usufruem os bens e serviços ecológicos e aquelesque não têm acesso a eles. O ressentimento ca<strong>da</strong> vezmaior em relação ao uso desigual <strong>dos</strong> recursos do planetapode prejudicar a colaboração e a confiança internacionais,comprometer os benefícios de uma <strong>economia</strong>global integra<strong>da</strong> e até mesmo ameaçar a sua existência.Biodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e bem-estar humano 25


É preferível agir de forma preventiva e reduzir os déficitsecológicos antes que tenhamos uma situação insustentável.Não haveria necessariamente um período de privaçõesse a deman<strong>da</strong> por recursos ecológicos diminuísse.Na ver<strong>da</strong>de, seriam até cria<strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de crescimentoeconômico e melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Poroutro lado, há muitos exemplos históricos que demonstramque quando as socie<strong>da</strong>des que operam com umdéficit ecológico são força<strong>da</strong>s a reduzir o uso de recursose utilizar apenas sua própria “biocapaci<strong>da</strong>de”, ocorre umdeclínio acentuado na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> (Diamond 2005).Ain<strong>da</strong> temos tempo de agir. Uma grande varie<strong>da</strong>de deestratégias e abor<strong>da</strong>gens já está sendo utiliza<strong>da</strong> paracriar soluções tecnológicas e organizacionais com vistasa reduzir o impacto do ser humano na natureza. Entreelas, podemos citar:• ‌Natural Step (www.naturalstep.org), biomimética(Benyus 1997);• ‌Factor 4/Factor 10 (www.factor10-institute.org);• ‌Natural Capitalism (Hawken et al. 1999);• ‌Cradle to Cradle Design (www.mbdc.com), ecologiaindustrial (www.is4ie.org);• ‌emissões zero (http://www.zeri.org/); and• ‌iniciativas em relação a resíduos, arquitetura sustentáveletc.Tecnologias sociais também estão sendo desenvolvi<strong>da</strong>s.Por exemplo, a reforma tributária ecológica cobra impostosa partir do volume de resíduos gera<strong>dos</strong> ao invés dotrabalho realizado (Pearce et al. 1989).Medi<strong>da</strong>s econômicas que não levam em conta as falhasdo mercado e <strong>da</strong> regulação, além de políticas que nãoconseguem alcançar níveis adequa<strong>dos</strong> de conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>, parecem estar nabase do crescimento insustentável <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Dessaforma, precisamos nos fazer duas perguntas básicas.Em primeiro lugar, quais são as ferramentas econômicasnecessárias para nos guiar em direção a um futuro sustentávele seguro do ponto de vista ecológico? Segundo,como essa “caixa de ferramentas” econômica pode nosaju<strong>da</strong>r a avaliar e a reformar políticas para garantir desenvolvimentosustentável, segurança ecológica e a consequenteconservação de <strong>ecossistemas</strong> e biodiversi<strong>da</strong>de?Os próximos capítulos tentam encontrar respostas paraestas perguntas fun<strong>da</strong>mentais. No Capítulo 3, examinamoscomo a <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>depode ser utiliza<strong>da</strong> para atribuir valor aos benefíciosdesconheci<strong>dos</strong> e aos custos <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.No Capítulo 4 investigaremos alguns exemplosbem-sucedi<strong>dos</strong> de como a <strong>economia</strong> pode nos auxiliar adesenvolver políticas para o futuro.ReferênciasAmor, D. and Christensen, N. (2008) Environmentaldegra<strong>da</strong>tion and poverty a vicious cycle: Haiti. DukeUniversity, Durham, personal communication,27 April 2008.Bellamy, P.H., Loveland, P.J., Bradley, R.I., Lark, R.M.and Kirk, G.J.D. (2005) Carbon losses from all soilsacross England and Wales 1978-2003, Nature 437:245-248.Benyus, J.M. (1997) Biomimicry: Innovation Inspired byNature. William Morrow & Co., New York.Braat, L., ten Brink, P. et al. 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(2003)26 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


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A Caminho de um Marco3de ValoraçãoOcapítulo anterior demonstrou as várias dimensõesdo declínio contínuo <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, o seu significativo impactosobre a humani<strong>da</strong>de e a necessi<strong>da</strong>de urgente de ações.Aqui consideramos como a falha de reconhecimento dovalor econômico <strong>da</strong> natureza contribuiu para este declíniocontínuo. Nós avaliamos o desafio de estabelecer valoreseconômicos advin<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> benefícios do ecossistema e<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de que não são leva<strong>dos</strong> em consideraçãoatualmente e consideramos questões vitais de ética e equi<strong>da</strong>deque precisam estar no cerne desta avaliação. Estecapítulo identifica as dificul<strong>da</strong>des em avaliar os serviçosecossistêmicos e os principais aspectos do trabalho quevamos realizar na Fase II, quando essas dificul<strong>da</strong>des serãoabor<strong>da</strong><strong>da</strong>s enquanto se firma um marco preferencial e asmetodologias para estimar os valores <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.MuitAs falhas, um único problemaA per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a degra<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>continuam, apesar de formuladores de política,administradores, ONGs e empresas no mundo todoestarem buscando formas de interromper a corrente.Existem várias razões para essa per<strong>da</strong>, mas motivadoreseconômicos perversos, como as falhas de mercado,assimetria de informação e falhas de políticas são fatoressignificativos. Os merca<strong>dos</strong> tendem a não alocar valoreseconômicos aos grandes benefícios públicos <strong>da</strong> conservação,mas o fazem quanto aos bens e serviços priva<strong>dos</strong>,cuja produção pode resultar em <strong>da</strong>no aos <strong>ecossistemas</strong>.O termo falha de mercado pode se referir a qualquercoisa desde falta de merca<strong>dos</strong> para bens e serviços públicos(chama<strong>da</strong> falha de bens públicos, por exemplo,ausência de “merca<strong>dos</strong>” para a conservação de espéciese para a maioria <strong>dos</strong> serviços de regulação e suporte<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>) até imperfeições estruturais e processuaisde mercado que geram ineficiência e distorção (porexemplo, pode-se argumentar que algumas distorçõesno preços do carbono atualmente sejam atribuí<strong>da</strong>s a tetosbaixos de emissões). Além disso, há potencial paraque instrumentos econômicos produzam resulta<strong>dos</strong> socialmenteinaceitáveis – pode-se dizer que os merca<strong>dos</strong>de carbono aju<strong>da</strong>ram a legitimar os níveis de emissão<strong>dos</strong> gases de efeito estufa (42 bilhões de tonela<strong>da</strong>s), oque talvez represente cinco vezes mais que a habili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> Terra em absorver estes gases (Stern, 2006).A dimensão do desafio <strong>da</strong> falha de mercado não deve sersubestima<strong>da</strong>: para alguns serviços, (por exemplo: belezacênica, funções hidrológicas e ciclos de nutrientes) é difícilaté mesmo de se obter um perfil sobre a deman<strong>da</strong> e aoferta. Há um elemento de falha de informação que levaà falha de mercado.Existem muitos casos no mundo em que a falha de informaçãoé supera<strong>da</strong> por medi<strong>da</strong>s como a Avaliação deImpacto Ambiental (AIA). É possível fornecer argumentosque levam a opções menos destrutivas. A viabili<strong>da</strong>de deprojetos de construção de estra<strong>da</strong>s que ligam México eGuatemala através <strong>da</strong> floresta Maia (veja quadro 3.1) foieconomicamente questiona<strong>da</strong>. Na Índia, a informaçãoforneci<strong>da</strong> ao Supremo Tribunal indiano a respeito do valor<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de ajudou a estabelecertaxas de compensação para a conversão <strong>da</strong> floresta,o que tornará mais difícil para as autori<strong>da</strong>des competentestomar decisões que destruam o valor público. No entanto,a falha de informação é comum. Por exemplo, asQuadro 3.1: Projetos de Estra<strong>da</strong> naFloresta Maia: falha de mercado apartir <strong>da</strong> falha de informaçãoOs projetos de construção <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> na Reserva<strong>da</strong> Biosfera Maia para ligar México e Guatemalaestiveram sujeitos a uma avaliação de custo-benefício.Uma área estima<strong>da</strong> em 311.000 hectares dohabitat do jaguar encontrava-se em risco de desmatamentodevido a estes projetos. Alguns <strong>dos</strong>projetos mostraram taxas negativas de retorno deinvestimento baseando-se no aspecto econômico,enquanto outros seriam negativos se levássemosem consideração apenas as emissões de dióxidode carbono (25 milhões de tonela<strong>da</strong>s em 30 anos).Uma avaliação mais completa, incluindo o valor<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, apresentaria conclusões maisfirmes em direção à continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conservaçãoDalia Amor CondeDuke University, Comunicado pessoal, 27 de abril de 2008A caminho de um marco de valoração 29


autori<strong>da</strong>des locais concedem licenças para a conversãodo solo, o que leva à fragmentação do habitat ou <strong>da</strong>nificao meio ambiente por causa de ganhos econômicospriva<strong>dos</strong> marginais. Com frequência, os tomadores dedecisão não possuem fatos, fun<strong>da</strong>mentos e argumentossuficientes ou mesmo apoio para tomar uma decisão diferentee evitar a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Isto é desastroso,uma vez que a biodiversi<strong>da</strong>de, hoje perdi<strong>da</strong>, trariamais benefícios para a região que os ganhos priva<strong>dos</strong>.Existem muitos casos de per<strong>da</strong> econômica local e socialem prol de ganhos priva<strong>dos</strong> a curto prazo.A falta de direitos de proprie<strong>da</strong>de bem estabeleci<strong>dos</strong> éoutra causa para a falha de mercado. Muitas pessoas empaíses em desenvolvimento podem ter ineficazes direitoslegais sobre a terra onde vivem e trabalham. Isto podese tornar um incentivo para destruir a terra ao invés degerenciar sua sustentabili<strong>da</strong>de.As falhas de política surgem devido a incentivos que encorajamuma ação prejudicial. Incentivos fiscais e subsídiospodem levar a que o mercado trabalhe para a destruiçãodo capital natural, até mesmo quando os ativosnaturais oferecem um fluxo sustentável de serviços para a<strong>economia</strong> e para a socie<strong>da</strong>de. Subsídios ambientalmenteprejudiciais (em inglês EHS – Environmentally harmfulsubsides, vide Capítulo 4, sobre subsídios) prejudicampráticas ambientais sóli<strong>da</strong>s, uma vez que encorajam outrasativi<strong>da</strong>des menos desejáveis. A pesca é um exemplo(veja quadro 3.2). Este tipo de subsídio com frequênciaé economicamente ineficiente, incitando uma crescentedeman<strong>da</strong> para reforma.Quadro 3.2: O efeito <strong>dos</strong> subsídios na pescaOs subsídios são considera<strong>dos</strong> um <strong>dos</strong> motivadoresmais importantes <strong>da</strong> pesca excessiva, e, portanto,motivadores indiretos <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção e doesgotamento <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de marinha.• Os subsídios financiam a expansão <strong>da</strong> pesca.Globalmente, o fornecimento de subsídios àindústria <strong>da</strong> pesca foi estimado em US$ 20-50bilhões anuais, o último aproxima<strong>da</strong>mente equivalenteao “valor final de mercado <strong>da</strong> pesca”.• Mais <strong>da</strong> metade <strong>dos</strong> subsídios no Atlântico Nortetêm efeitos negativos por causa do desenvolvimento<strong>da</strong>s frotas. Isto inclui subsídios deFalhas de política também ocorrem quando o sistemade incentivos fracassa em recompensar aqueles quetrabalham para melhorar o meio ambiente, ou em penalizaraqueles que causam os <strong>da</strong>nos ambientais. Muitaspráticas agrícolas podem incentivar a biodiversi<strong>da</strong>de dealto valor. Mas sem o reconhecimento apropriado, porexemplo, por meio de pagamentos pelos serviços ambientais(PSA), algumas boas práticas correm o risco dedesaparecer.A ausência de mecanismos compensatórios àqueles queperdem com os <strong>da</strong>nos ao meio ambiente é frequente.Normalmente, ativi<strong>da</strong>des de mineração não cobrem osprejuízos causa<strong>dos</strong> no curso <strong>dos</strong> rios, como a degra<strong>da</strong>çãode peixes e os <strong>da</strong>nos à saúde. Muito embora estasfalhas ain<strong>da</strong> sejam a regra, existem mu<strong>da</strong>nças em algunspaíses. A Costa Rica é um exemplo de quem pratica oPSA (veja o Capítulo 4, Quadro 4.3), embora a abor<strong>da</strong>gemseja amplamente usa<strong>da</strong> em países desenvolvi<strong>dos</strong> naforma de subsídios agro-ambientais. Afinal, compartilharbenefícios está se tornando um conceito mais aceitável epagamentos de passivo e compensação são ofereci<strong>dos</strong>em níveis que começam a atuar como incentivos reais.Estes aspectos serão abor<strong>da</strong><strong>dos</strong> mais profun<strong>da</strong>mente nopróximo capítulo.Por último, devido às pressões populacionais, à pobrezae à baixa efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de proteção, as políticasde desenvolvimento em alguns momentos resultamem <strong>ecossistemas</strong> naturais transforma<strong>dos</strong> em paisagensagrícolas ou urbanas, em situações que por razões sociaise ambientais não seriam as escolhas ideais. Esteé um exemplo de falha de política motiva<strong>da</strong> pela falhainstitucional e de informação. São necessárias redes formaise informais, além de regras para respal<strong>da</strong>r as respostasàs políticas para que gerenciem de forma eficazos serviços ecossistêmicos. Os custos destes marcosinstitucionais podem ser chama<strong>dos</strong> de custos <strong>da</strong> política.Retomaremos esse tópico posteriormente.Porém, antes de discutir e analisar os benefícios e custosgostaríamos de levantar três questões importantes – riscos,incertezas e o princípio de equi<strong>da</strong>de – que devemser abor<strong>da</strong><strong>dos</strong>. Não apenas porque estas questões influenciama análise, a avaliação e o planejamento de soluçõesdevido às várias falhas descritas acima, mas por-desguarnição, que normalmente ocorrem paramodernização <strong>da</strong>s frotas e aumento de seu dopoder de pesca.• Embora a quanti<strong>da</strong>de de embarcações de pescatenha se estabilizado no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de1990, os subsídios para combustível mantêmas frotas operando até mesmo quando os peixessão escassos.• A Política Comum de Pesca <strong>da</strong> União Europeia,por exemplo, permite que as embarcações sejamdesguarneci<strong>da</strong>s para reduzir o esforço dealguns países enquanto subsidiam simultaneamenteoutros para aumentar sua capaci<strong>da</strong>dede pesca.Avalição Ecossistêmica do Milênio 2005a: Capítulo 1830 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


que são, em essência, questões éticas profun<strong>da</strong>s que setraduzem em premissas subjacentes para o nosso marcoanalítico. Nós assinalamos que selecionar uma taxa dedesconto apropria<strong>da</strong>, um componente vital de qualqueranálise custo-benefício, é o resultado de escolhas éticasimplícitas ou explícitas.EconOmIA, ÉTICA E EqUIDADE“A <strong>economia</strong> é o mero arsenal;seus alvos são escolhas éticas.”Sanjeev Sanyal, Diretor, GAISPA <strong>economia</strong> desenvolveu técnicas para li<strong>da</strong>r com riscos,incertezas e questões de equi<strong>da</strong>de. O desconto é a ferramentachave em muitas análises econômicas convencionaisporque aju<strong>da</strong> a estimar o valor do fluxo de caixare sultante de decisões toma<strong>da</strong>s hoje. As abor<strong>da</strong>genseconômicas convencionais também podem ser importantespara valorar a biodiversi<strong>da</strong>de, mas não podem, necessariamente,ser aplica<strong>da</strong>s de forma rotineira devido aopotencial de consequências extremas de decisões sobre abiodiversi<strong>da</strong>de. Destacamos abaixo a complexi<strong>da</strong>de de aplicação<strong>da</strong> <strong>economia</strong> em campos como o <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.RECONHECER RISCOS E INCERTEZASO tratamento <strong>da</strong>do às mu<strong>da</strong>nças climáticas no RelatórioStern mencionou uma questão amplamentereconheci<strong>da</strong> porém ain<strong>da</strong> não conclusiva sem deixararestas: como avaliar resulta<strong>dos</strong> probabilísticos,quando um <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> é o extermínio <strong>da</strong> civilizaçãoque conhecemos?O dilema também se aplica quando se avaliam os riscosde colapso do ecossistema. A dificul<strong>da</strong>de foi ressalta<strong>da</strong>quando um estudo acadêmico (Costanza et al. 1997) estimouo valor econômico de serviços ecossistêmicos emUS$ 33 trilhões (comparado a US$ 18 trilhões do PIBglobal). Este resultado foi criticado, por um lado por sermuito alto, mas por outro lado, por ser “uma questão quesubestima significativamente o infinito” (Toman, 1998).Se expressa<strong>da</strong> na linguagem <strong>da</strong>s finanças, a <strong>economia</strong>global é uma “opção escassa” para as mu<strong>da</strong>nças climáticase a biodiversi<strong>da</strong>de e precisa pagar um ágio paracomprar proteção. O resultado mais citado do RelatórioStern é que 1% do custo anual seria necessário paraproteger a <strong>economia</strong> mundial de uma per<strong>da</strong> de até 20%do consumo global – este é um exemplo <strong>da</strong> menciona<strong>da</strong>“opção de ágio”.Tabela 3.1: Valorando a “opçãode biodiversi<strong>da</strong>de”Medi<strong>da</strong>s de:a) Valorcorrenteb) Nível deProteçãoc) Vi<strong>da</strong> útil <strong>da</strong>proteçãoOpçãoFinanceirad) Incerteza Volatili<strong>da</strong>deImplícita“Opção de Biodiversi<strong>da</strong>de”Preço Spot To<strong>da</strong>s as variáveis –estado atualPreço Strike To<strong>da</strong>s as variáveis –estado futuroExpiração Horizonte deconservaçãoIncertezamodela<strong>da</strong>e) Desconto Taxa de Juros Taxa dedesconto socialEsta analogia com opções financeiras ilustra comoseria complexo precificar uma “opção de biodiversi<strong>da</strong>de”.To<strong>da</strong>s as 5 variáveis de a) a e) para uma opçãofinanceira tem valores de mercado, e NENHUMA delasvalora a biodiversi<strong>da</strong>de.No caso <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>ecossistemas</strong>, aproporção destes ágios dependerá de vários aspectosdo ecossistema em questão: a sua situação atual, o pontolimite em que ocorre falha na provisão <strong>dos</strong> serviçosecossistêmicos, a sua meta para a conservação e a melhorestimativa <strong>da</strong>s incertezas (veja Tabela 3.1). Este é umexercício extremamente complexo, pois não há nenhumvalor de mercado para estas medi<strong>da</strong>s.Descrevemos no Capítulo 2 os riscos alarmantes do “business-as-usual”:a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> água doce devido ao desmatamento,erosão do solo e per<strong>da</strong> de nutrientes, per<strong>da</strong>sde produtivi<strong>da</strong>de agrícola, per<strong>da</strong> de pesca; problemasde saúde e a pobreza. A tentativa de valorar as per<strong>da</strong>slevanta dimensões éticas importantes, especialmente arespeito do valor do bem-estar humano no futuro comparadocom o presente. Acreditamos que a <strong>economia</strong> <strong>da</strong>incerteza e do desconto pode aju<strong>da</strong>r a tratar estas questõeséticas.TAXA DE DESCONTO E ÉTICACompreendemos questões (como a extinção de espécies)para as quais não há um consenso sobre o aspecto<strong>da</strong> ética mais adequado a ser aplicado. A natureza éticadessa questão é, no entanto, amplamente reconheci<strong>da</strong>.Um grupo de especialistas em ética (IUCN – Grupo deEspecialistas em Ética, 2007) recentemente descreveu aquestão <strong>da</strong> seguinte maneira:“Se o comportamento humano é a principal causa <strong>da</strong> crisede extinção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, a ética – que é a averiguaçãodo que pessoas e socie<strong>da</strong>des consideram corretoa ser feito em determina<strong>da</strong> situação – deve ser parte<strong>da</strong> solução. Entretanto, a ética raramente é aceita comoum ingrediente essencial e normalmente é descarta<strong>da</strong>como sendo uma questão muito teórica para aju<strong>da</strong>r comA caminho de um marco de valoração 31


Quadro 3.3: O desconto e o paradoxo otimistaHá duas razões principais para descontar. A primeiraé chama<strong>da</strong> de “preferência temporal” peloseconomistas. Refere-se à propensão <strong>dos</strong> indivíduosa optar por 100 uni<strong>da</strong>des de poder de comprahoje a 101, 105, ou mesmo 110 no próximo ano,não por causa <strong>da</strong> inflação de preços (que está excluí<strong>da</strong><strong>da</strong> justificativa), mas devido ao risco de ficardoente ou morrer e não ser capaz de usufruir<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> no ano seguinte. Independente <strong>da</strong> razãopara esta atitude, ela não deve ser aplica<strong>da</strong> a umanação ou socie<strong>da</strong>de com um horizonte de tempode milhares ou centenas de milhares de anos.Economistas, geralmente, criticam a “preferênciatemporal”. A crítica contrária mais famosa foi, provavelmente,a do economista de Cambridge, FrankRamsey em 1928.Neste contexto de teoria do crescimento, os economistasconcor<strong>da</strong>m com o desconto no futuropor outras razões. Eles podem concor<strong>da</strong>r com Ramseyquando diz que usufruir posteriormente debenefícios em razão de fazê-lo de forma imediata,é uma prática indefensável e surge, meramente,pela falta de imaginação”. Mas o abatimento ocorrerá,segundo o próprio Ramsey, porque se assumeque o investimento de hoje e a mu<strong>da</strong>nça técnicagerarão crescimento econômico. Os nossosdescendentes serão mais ricos do que nós. Elesterão três, quatro ou mesmo cinco carros por família.Portanto, a utili<strong>da</strong>de marginal, ou satisfaçãoincremental que obterão pelo terceiro, quarto ouquinto carro, será ca<strong>da</strong> vez mais baixa. Descontarà medi<strong>da</strong> que a utili<strong>da</strong>de marginal decresce podeser eticamente justificado.Crescimento é, portanto, a razão para menosprezaro consumo e os benefícios futuros. Seriatambém uma razão para desprezar futuras necessi<strong>da</strong>despara bens e serviços ambientais? Não,principalmente se pensarmos em eventos irreversíveis.O crescimento econômico pode produzirParques Temáticos Jurássicos para crianças eadultos, mas nunca vai conseguir a ressurreiçãodo tigre caso ele desapareça.A teoria do crescimento é teoria econômica. Nãoexclui de seus cálculos o valor <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> naturezae tampouco retira <strong>da</strong>s contas os gastos “defensivos”– aqueles gastos que ocorrem nas tentativasde compensar a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> natureza (construindodiques contra o aumento no nível do mar induzidopelas mu<strong>da</strong>nças climáticas ou vendendo água engarrafa<strong>da</strong>em áreas poluí<strong>da</strong>s).Se tentarmos calcular o aumento real <strong>da</strong> <strong>economia</strong>em razão de investimentos e mu<strong>da</strong>nças positivas(que ninguém negaria) e a per<strong>da</strong> de serviçosambientais causa<strong>da</strong> pelo cresci men to econômico,o equilíbrio seria duvi<strong>dos</strong>o. De fato, entramos naquestão de valores incomensuráveis.O desconto dá espaço para o surgimento do “paradoxodo otimista”. Os economistas modernosfavorecem o desconto não por causa <strong>da</strong> “preferênciapura”, mas por causa do decréscimo <strong>da</strong>utili<strong>da</strong>de marginal de consumo na medi<strong>da</strong> em queocorre o crescimento. A premissa do crescimento(medido pelo PIB) justifica usarmos uma maiorquanti<strong>da</strong>de de recursos e poluirmos ain<strong>da</strong> mais.Desta forma, nossos descendentes, que de acordocom a premissa, encontrariam-se em melhorcondição que nós, paradoxalmente, do ponto devista ambiental, enfrentarão situações piores queas atuais.Joan Martinez-Alier 2008problemas práticos e urgentes confrontando o conservacionismo.”Os economistas descontam qualquer benefício futuroquando comparado a um benefício atual. Por um lado, éapenas uma expressão matemática de uma visão de sensocomum que um benefício hoje vale mais que o mesmobenefício no futuro. Mas as considerações éticas surgem,por exemplo, quando consideramos desistir <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> atualem benefício <strong>da</strong>s gerações futuras, ou o oposto: ganharbenefícios agora à custa <strong>da</strong>s gerações futuras.A taxa de desconto financeiro considera apenas o valormomentâneo do dinheiro ou o preço pela sua escasseze relaciona o valor presente de um fluxo de caixa futurocom o seu valor nominal ou valor futuro. As taxas de descontosimples para bens e serviços consideram a preferênciapresente, ou em outras palavras, a preferência deum benefício atual ao invés de um benefício futuro. Astaxas de desconto social são mais complexas e incluemaspectos éticos de difícil escolha: consumir agora versusconsumir depois – maiores benefícios para a socie<strong>da</strong>deem si que para o indivíduo. As preferências embasa<strong>da</strong>snesta escolha cobrem o valor relativo de bens e serviçosfuturos podendo seu retorno ser maior ou menor que oatual e transferido a outra pessoa ou geração.O quadro 3.3, acima, explica o conceito básico de descontoe o paradoxo <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem econômica convencional.32 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


DESCONTO E EQUIDADE INTERGERACIONALO Relatório Stern ressaltou a importância crucial <strong>da</strong>escolha <strong>da</strong>s taxas de desconto em decisões de longoprazo que vão além <strong>dos</strong> cálculos econômicos convencionais.A taxa de desconto foi descrita como “a maiorincerteza de to<strong>da</strong> a <strong>economia</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas”(Weitzman, 2007).Isto acontece porque os eventos considera<strong>dos</strong> vão acontecerem 50 anos ou mais e o resultado de escolher diferentestaxas de desconto em perío<strong>dos</strong> tão longos detempo é significativo, como demonstra a tabela 3.2. Oefeito de apenas pequenas diferenças na taxa de desconto,aplicado a um fluxo de caixa de US$ 1 milhão em50 anos é dramático. Uma taxa de desconto zero significaque o custo ou o benefício vale o mesmo hoje doque em 50 anos, mas pequenos aumentos na taxa resultamem reduções substanciais do valor presente no fluxode caixa futuro. Uma taxa de desconto de 0.1% produzum valor presente de 95% do fluxo de caixa futuro (US$951.253). Descontando a 4%, o resultado é apenas 14%do fluxo de caixa futuro, somente US$ 140.713.Aplicar uma taxa de desconto de 4% em 50 anossignifica que a biovidersi<strong>da</strong>de futura ou determinadobenefício ecossistêmico vai valer para nossos netosapenas um sétimo do que vale para nós!Se a nossa abor<strong>da</strong>gem ética vê nossos netos valorandoa natureza <strong>da</strong> mesma forma que a nossa geraçãoe merecendo tanto quanto nós merecemos, a taxa dedesconto para valorar este benefício ao longo deste períodode tempo deve ser zero. Diferentemente de bensmanufatura<strong>dos</strong> e serviços que estão crescendo emquanti<strong>da</strong>de (por isso, o argumento de descontar futurasuni<strong>da</strong>des de mesma utili<strong>da</strong>de), os serviços <strong>da</strong> naturezanão são de fato propensos a serem produzi<strong>dos</strong> emmaiores quanti<strong>da</strong>des no futuro. Talvez a taxa de descontopara biodiversi<strong>da</strong>de e benefícios do ecossistema deveinclusive ser negativa basea<strong>da</strong> no fato de que geraçõesfuturas serão mais pobres em termos de meio ambientedo que aquelas que vivem hoje, como Paul Ehrlich(2008) sugeriu (vide também quadro 3.3). Isto levantaquestões importantes a respeito <strong>da</strong>s políticas atuais queassumem taxas de desconto positivas (Dasgupta, 2001;2008). Quando se espera que a ren<strong>da</strong> cresça, bens eserviços presta<strong>dos</strong> mais tarde são relativamente menosvalora<strong>dos</strong> (porque representam uma porção menor <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> futura). Isto respal<strong>da</strong> o usual fator de desconto positivo.O contrário é ver<strong>da</strong>de quando se espera que osvalores <strong>dos</strong> bens ou ren<strong>da</strong> diminuam – bens e serviçosfuturos se tornarão mais valora<strong>dos</strong> que no presente. Nocaso <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é questionável se será igual, maisou menos disponível no futuro e, portanto, até mesmo adireção <strong>da</strong> taxa de desconto é incerta.DESCONTO EM UM CONTEXTO DE BEM ESTARNa Economia do Bem-Estar o objetivo é maximizar obenefício social do consumo para to<strong>dos</strong> os indivíduos,sendo que o “consumo” deve cobrir uma ampla gamade bens e serviços, inclusive saúde, educação e meioambiente. Agregar utili<strong>da</strong>de social para os indivíduos éproblemático e propenso a juízos de valor, como, porexemplo, comparar o valor do consumo para uma pessoarica e para uma pobre.Quais são as taxas de desconto “apropria<strong>da</strong>s” para ascomuni<strong>da</strong>des e países com pobreza e dificul<strong>da</strong>des significativas?Considerando o alívio <strong>da</strong> pobreza agora, osbenefícios e custos do pobre de hoje são mais valora<strong>dos</strong>do que os <strong>da</strong>s futuras gerações (que poderão viver emmelhores condições). Este é um argumento ético paraaltas taxas de desconto!Mas o pobre de hoje confia diretamente na conservação <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de para suprimentos vitais como água doce emadeira. Portanto, é justificável fornecer mais opções deren<strong>da</strong> para o rico de hoje se isto prejudicasse estes suprimentosvitais? Considere alguns exemplos de trade-offseticamente indefesáveis. Um ecossistema florestal podeser essencial para o bem estar de agricultores pobres ajusante de um rio, por meio do fornecimento de fluxos denutrientes, aquíferos de recarga, regulação de fornecimentode água sazonal, prevenção de erosão do solo e contençãodo <strong>da</strong>no causado pelas enchentes e per<strong>da</strong>s devido àseca. Pode ser eticamente difícil justificar a destruição deuma bacia hidrográfica com significativa cobertura florestalpara gerar valor econômico que tem utili<strong>da</strong>de para osagentes desta destruição (por exemplo, lucros obti<strong>dos</strong> comminerais e madeira, ou com a geração de empregos, etc.),enquanto, por outro lado, os custos de restaurar benefíciosde <strong>ecossistemas</strong> destruí<strong>dos</strong> podem ser os mesmos ou menoresdo ponto de vista econômico, mas impossíveis deserem suporta<strong>dos</strong> em termos humanos na medi<strong>da</strong> em querecaem sobre estas comuni<strong>da</strong>des rurais menos favoreci<strong>da</strong>s(veja quadro 3.4). Nós vemos estas situações comoefeitos ruins <strong>dos</strong> objetivos econômicos – a <strong>economia</strong> éo mero arsenal, mas suas metas são escolhas éticas.Tabela 3.2: Taxas de desconto e resulta<strong>dos</strong>Fluxo deCaixafuturoTaxa dedescontoanualValor presentede fluxo decaixa futuro1.000.000 4 140.7131.000.000 2 371.5281.000.000 1 608.0391.000.000 0,1 951.2531.000.000 0 1.000.000A caminho de um marco de valoração 33


Quadro 3.4: “PIB <strong>dos</strong> pobres”O significado econômico completo <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee do ecossistema não figura nas estatísticasdo PIB, mas indiretamente a sua contribuiçãopara a subsistência e bem estar são reconheci<strong>dos</strong>.Contrariamente, o custo real de esgotamento oudegra<strong>da</strong>ção do capital natural (disponibili<strong>da</strong>de deágua, quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água, biomassa <strong>da</strong> floresta,fertilização do solo, solo arável, micro climas severosetc) se verifica no nível micro, mas não é registradoou levado à atenção <strong>dos</strong> formuladores depolíticas. Se levarmos em consideração os setoresagrícolas, criação de animais e silvicultura de formaapropria<strong>da</strong>, as per<strong>da</strong>s significativas do capitalnatural observado tem um impacto muito forte naprodutivi<strong>da</strong>de e riscos nestes setores. Coletivamente,nós denominamos estes setores (agricultura,criação animal e silvicultura informal) o “PIB<strong>dos</strong> Pobres” porque é a partir destes setores quemuitos <strong>dos</strong> pobres do mundo em desenvolvimentoobtêm a sua subsistência e emprego. Além disso,vemos que o impacto <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção do meio ambientee per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de afeta a proporçãodo PIB que chamamos de “PIB <strong>dos</strong> pobres”.O uso final <strong>da</strong>s valorações de <strong>ecossistemas</strong> e debiodiversi<strong>da</strong>de na Contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Ren<strong>da</strong> Nacional,ou por meio de contas satélites (físicas e monetárias)ou em contas ajusta<strong>da</strong>s do PIB (“ContasVerdes”) não garante que formuladores de políticaleram os sinais corretos para políticas com trade-offssignificativos. Um “foco no beneficiário”aju<strong>da</strong> a reconhecer melhor o significado humanodestas per<strong>da</strong>s. Explorando um exemplo (o projetoGAIS, Green Indian States Trust 2004-2008)para este relatório preliminar, descobrimos que osbeneficiários mais significativos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> floresta e serviços ecossistêmicos são ospobres e o impacto econômico predominante <strong>da</strong>per<strong>da</strong> ou negação destas entra<strong>da</strong>s é a segurançade ren<strong>da</strong> e bem estar do pobre. Se focarmos noprincípio <strong>da</strong> “equi<strong>da</strong>de” esta conclusão se fortaleceain<strong>da</strong> mais, já que a pobreza <strong>dos</strong> beneficiáriosfaz com que as per<strong>da</strong>s em serviços ecossistêmicossejam ain<strong>da</strong> mais agu<strong>da</strong>s (proporcionalmentea suas ren<strong>da</strong>s e subsistência) que para o povo <strong>da</strong>Índia como um todo. Descobrimos que o “PIB <strong>dos</strong>Pobres” per capita na Índia (utilizando cálculos ea taxa de câmbio de 2002/03) aumentou de US$60 para US$ 95 se incluirmos o valor <strong>dos</strong> serviçosambientais; do mesmo modo, se lhes são nega<strong>dos</strong>estes serviços, o custo de substituir estes meiosde subsistência perdi<strong>dos</strong>, ajustado segundo oprincípio <strong>da</strong> equi<strong>da</strong>de, subiria a US$120 per capita,o que é mais uma evidência do “ciclo vicioso” <strong>da</strong>pobreza e <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção ambiental.Exploraremos esta abor<strong>da</strong>gem para o mundo emdesenvolvimento mais amplamente na Fase II. Nósacreditamos que por meio do uso destas medi<strong>da</strong>ssetoriais e forçando uma reflexão do princípio <strong>da</strong>equi<strong>da</strong>de por meio do seu significado “humano”(uma vez que a maior parte <strong>dos</strong> 70% mais pobresdo mundo depende desse fator) deveremos <strong>da</strong>r aimportância adequa<strong>da</strong> na formulação de políticae contribuir para deter a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de.Gundime<strong>da</strong> e Sukhdev 2008DESCONTANDO AS PERDAS DA BIODIVERSIDADENós não sugerimos que haja sempre “trade-offs” (compensações)defensáveis para os <strong>ecossistemas</strong> e biodiversi<strong>da</strong>de,especialmente se <strong>ecossistemas</strong> significativospararem de funcionar em conjunto como provedores deserviços de abastecimento e de regulação, ou se a biodiversi<strong>da</strong>desofrer extinções significativas. A avaliação detrade-offs usando a análise custo-benefício e o descontofunciona melhor para escolhas marginais, envolvendo pequenasperturbações sobre um caminho de crescimentocomum. Entretanto, a reali<strong>da</strong>de é que há trade-offs, explícitosou implícitos, em qualquer escolha humana. Atémesmo quando se tenta estabelecer uma fronteira emque os trade-offs não se aplicam, isto já constitui umtrade-off.Os trade-offs envolvem a escolha entre alternativas e, nocaso <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, não há sempre alternativascomparáveis. Para que o desenvolvimento seja considera<strong>dos</strong>ustentável, uma condição limítrofe chama<strong>da</strong>“sustentabili<strong>da</strong>de fraca” é defini<strong>da</strong> como sendo a situaçãoem que qualquer capital, natural, humano e físico, nãopode ser diminuído. Mas também sugere que uma formade capital pode ser substituí<strong>da</strong> por outra, o que não éver<strong>da</strong>de: mais riqueza física nem sempre pode ser substituí<strong>da</strong>por um meio ambiente saudável, nem vice-versa.Entretanto, é importante que to<strong>dos</strong> os aspectos do “capitalnatural” do trade-off sejam, pelo menos, apropria<strong>da</strong>mentereconheci<strong>dos</strong>, valora<strong>dos</strong> e refleti<strong>dos</strong> na análisecusto-benefício, e mesmo isto ain<strong>da</strong> não está sendo feitona maioria <strong>da</strong>s decisões relaciona<strong>da</strong>s aos trade-offs.Existe uma condição limite chama<strong>da</strong> “sustentabili<strong>da</strong>deforte” o que requer a não diminuição do capital naturallíquido: isto é mais difícil de alcançar, muito embora esquemasde reflorestamento compensatório sejam exemplosde instrumentos desenha<strong>dos</strong> para alcançar sustentabili<strong>da</strong>deforte. Finalmente, qualquer trade-off precisa sereticamente defensável e não apenas economicamenteconsistente.34 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Com a biodiversi<strong>da</strong>de, não estamos apenas considerandohorizontes de longo prazo como é o caso <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas. A degra<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> já é extensivae observável e alguns de seus efeitos são dramáticos,como a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> água doce que já está causando tensãointernacional. Per<strong>da</strong>s significativas <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de eextinções de espécies estão acontecendo no presente eespécies emblemáticas como o tigre-de-bengala-real naÍndia estão sob ameaça. Uma taxa de desconto maior oumenor pode mu<strong>da</strong>r a quantificação do custo social deper<strong>da</strong>s iminentes, mas não mu<strong>da</strong>ria a natureza do resultado,per<strong>da</strong> de serviços ecossistêmicos vitais e <strong>da</strong> valiosabiodiversi<strong>da</strong>de.Nos documentos complementares <strong>da</strong> Fase I (IUCN, 2008),aproxima<strong>da</strong>mente 200 estu<strong>dos</strong> de valoração de florestasforam examina<strong>dos</strong>. Muitos deles incluíram o desconto defluxos anuais para poder calcular o valor agregado para ocapital natural. Vimos que a maioria <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> usou taxasde desconto de pelo menos 3-5% e nenhum abaixode 3%. A nossa intenção na Fase II é não descartar estetrabalho, mas recalcular seus resulta<strong>dos</strong> com diferentespressupostos de desconto.Portanto, na Fase II vamos propor um marco conceitualpara a <strong>economia</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>que inclui avaliações de sensibili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong>valores <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> para escolhas éticas. Anossa intenção é apresentar uma gama discreta deescolhas de descontos vincula<strong>dos</strong> com pontos devista éticos diferentes, possibilitando que o usuáriofinal faça uma escolha consciente.O DESAFIO DA AVALIAÇÃoA avaliação econômica pode esclarecer os trade-offs pormeio <strong>da</strong> comparação de benefícios e custos levando emconsideração os riscos. Isto pode ser aplicado para usosalternativos <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>. Mas existem muitas dificul<strong>da</strong>desmenciona<strong>da</strong>s nesta seção e que serão abor<strong>da</strong><strong>dos</strong>na Fase II.Antes que a valoração econômica possa ser aplica<strong>da</strong> énecessário avaliar as mu<strong>da</strong>nças do ecossistema em termosbiofísicos. A maioria <strong>dos</strong> benefícios forneci<strong>dos</strong> pelos<strong>ecossistemas</strong> é indireta e resulta de um processo ecológicoque com frequência envolve longos perío<strong>dos</strong> dedefasagem, assim como mu<strong>da</strong>nças não lineares (veja figura3.1). As pressões podem aumentar gra<strong>da</strong>tivamenteaté que certo limite seja alcançado, levando ao colapsode certas funções. Um exemplo típico é o “dieback” <strong>da</strong>floresta (redução <strong>da</strong> biomassa <strong>da</strong> floresta) causado pelaacidificação. Os impactos <strong>da</strong>s pressões nos <strong>ecossistemas</strong>,incluindo o papel <strong>da</strong>s espécies, a importância deto<strong>dos</strong> os níveis de biodiversi<strong>da</strong>de, o relacionamento entreos componentes biológicos e físicos do ecossistema e asconsequências com relação ao fornecimento de serviçossão difíceis de prever.Figura 3.1: A Conexão entre a biodiversi<strong>da</strong>de e o resultado de serviços ecossistêmicosManutenção ecusto de restauraçãoValores econômicose sociais (às vezesvalores de mercado)Estrutura biológicaou processo(ex. florestahabitat ou produtivi<strong>da</strong>delíqui<strong>da</strong> primária)Pressões de conexãovia ação de política?PressõesFunção(ex. lenta passagem<strong>da</strong> água, oubiomassa)Serviço(ex. proteção do alimento,ou produtoscultiva<strong>dos</strong>)Benefício (valor)(ex. disposiçãopara pagar pelaproteção <strong>da</strong> florestaou por mais florestasou por produtoscultiva<strong>dos</strong>)Produtos IntermediáriosProdutos finaisFonte: Roy Haines-Young, apresentado por J-L Weber, the Global Loss of Biological Diversity, 5-6 março de 2008, BruxelasA caminho de um marco de valoração 35


Figura 3.2: Valoração de serviços ecossistêmicosNão-especificadoMonetário: ex. custo de purificação <strong>da</strong> águaevitado, valor do fornecimento de água, valordo armazenamento do carbonoValoração monetáriaQuantitativo: ex. metros cúbicos de água purifica<strong>da</strong>,tonela<strong>da</strong>s de carbono armazenado, parcela <strong>da</strong> populaçãoafeta<strong>da</strong> pela per<strong>da</strong> do fornecimento de alimentoAvaliação quantitativaRevisão qualitativaQualitativo: gama e materiali<strong>da</strong>de de vários<strong>ecossistemas</strong> e benefícios de biodiversi<strong>da</strong>defornecido pela instância do ecossistemaavaliado e lacunas de conhecimentoGama completa de serviços ecossistêmicossustenta<strong>dos</strong> pela biodiversi<strong>da</strong>deFonte: P. ten Brink, Workshop sobre a Economia <strong>da</strong> Per<strong>da</strong> Global <strong>da</strong> Diversi<strong>da</strong>de Biológica, 5-6 março de 2008, BruxelasA valoração econômica agrega a compreensão biofísicae tem como objetivo medir as preferências <strong>da</strong>s pessoaspara os benefícios <strong>dos</strong> processos do ecossistema. Estesbenefícios podem incorrer em diferentes categorias <strong>da</strong>população em diferentes escalas geográficas e temporais.A nossa habili<strong>da</strong>de de avaliar os benefícios forneci<strong>dos</strong>pelos <strong>ecossistemas</strong> ou os custos de sua per<strong>da</strong> é limita<strong>da</strong>pela falta de informação em vários níveis. Provavelmente,existem benefícios que ain<strong>da</strong> não identificamos, e entãopodemos avaliar, até mesmo em termos quantitativos,apenas parte <strong>da</strong> gama total <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos.Será possível fazer uma avaliação quantitativa em termosbiofísicos apenas para parte destes serviços, aquelespara os quais as “funções produtivas” ecológicas sãorelativamente bem entendi<strong>da</strong>s e para os quais existem<strong>da</strong><strong>dos</strong> suficientes disponíveis. Devido à limitação de nossasferramentas, apenas uma pequena parte desses serviçospode ser valora<strong>da</strong> em termos monetários.Portanto, é importante não limitar as avaliações a valoresmonetários, mas incluir a análise qualitativa, assim como,de indicadores físicos. O diagrama <strong>da</strong> “pirâmide” na figura3.2 ilustra este ponto importante.As abor<strong>da</strong>gens de mensuração variam dependendo <strong>da</strong>medi<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong>. Para os serviços de abastecimento,(combustível, fibra, comi<strong>da</strong>, plantas medicinais, etc) mediros valores econômicos é relativamente direto, uma vezque estes serviços são amplamente comercializa<strong>dos</strong> nomercado. O preço de mercado <strong>da</strong>s commodities, assimcomo <strong>da</strong> madeira, <strong>dos</strong> produtos agrícolas ou do pescadofornece uma base tangível para a valoração econômica,muito embora possa estar significativamente distorci<strong>da</strong>devido a externali<strong>da</strong>des ou intervenções do governo etalvez requeira alguns ajustes no momento de fazer comparaçõesinternacionais.Para os serviços de regulação e culturais, que geralmentenão possuem nenhum preço de mercado (com exceçõescomo é o caso do sequestro de carbono) a valoraçãoeconômica é mais difícil. Entretanto, um conjunto detécnicas vem sendo utilizado por déca<strong>da</strong>s para estimaro valor de não-mercado <strong>dos</strong> bens ambientais, baseadoou em alguma informação de mercado que está indiretamenterelaciona<strong>da</strong> aos serviços (méto<strong>dos</strong> de preferênciarevela<strong>da</strong>) ou em merca<strong>dos</strong> simula<strong>dos</strong> (méto<strong>dos</strong> de preferênciadeclara<strong>da</strong>). Estas técnicas estão sendo aplica<strong>da</strong>sde forma convincente a muitos componentes <strong>dos</strong>serviços ecossistêmicos e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (uma visãogeral <strong>da</strong> adequabili<strong>da</strong>de destes méto<strong>dos</strong> para valorar osserviços ecossistêmicos é a Avaliação Ecossistêmica doMilênio (Millennium Ecosystem Assessment, 2005b), maso tema é controverso.Fun<strong>da</strong>mentalmente, existe a pergunta ética sobre atéque ponto algumas funções <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de que dãoapoio à vi<strong>da</strong> podem ser totalmente abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela valo-36 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


ação econômica e podem ser considera<strong>da</strong>s como partede um possível trade-off em vez de serem abor<strong>da</strong><strong>da</strong>scomo restrições ecológicas. Da mesma forma, a valoraçãoeconômica pode não ser apropria<strong>da</strong> para abor<strong>da</strong>rvalores espirituais. Considerando essas limitações, progressosexpressivos foram alcança<strong>dos</strong>, desde 1990, poreconomistas em parceria com cientistas (cientistas naturais)para aprimorar estes méto<strong>dos</strong>. Há um consensocrescente sobre as condições sob as quais tais méto<strong>dos</strong>podem ser usa<strong>dos</strong> e uma crescente confiança na comparação<strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong>. Estas técnicas são agora comumenteaplica<strong>da</strong>s para medir a ampla gama de valores,incluindo muitos valores indiretos e de não-uso.Outro conjunto de desafios diz respeito à avaliação <strong>da</strong>sconsequências <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> ecossistêmicosem larga escala. Em primeiro lugar, os méto<strong>dos</strong>de valoração normalmente não cobrem efeitos secundários<strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s para a <strong>economia</strong> como um todo.Para avaliar estes efeitos, o uso de modelos econômicosé necessário. Mesmo que existam algumas tentativaspromissoras (Pattanayak e Kramer, 2001, Gueorguieva eBolt, 2003, Munasinghe, 2001, Benhin e Barbier, 2001),ain<strong>da</strong> é uma área de pesquisa em an<strong>da</strong>mento. Em segundolugar, a maioria <strong>da</strong>s evidências em valoração vemde estu<strong>dos</strong> de caso individuais sobre um ecossistema ouespécie em particular. Alguns estu<strong>dos</strong> tentaram fazer umaavaliação global <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos mundiais(por exemplo, Costanza et al. 1997), mas mesmo sendoúteis em chamar atenção e em gerar discussão, sãocontroversos. Outros estu<strong>dos</strong> dão enfoque aos níveis deespécies ou de gêneros (Craft e Simpson 2001, Godoy etal. 2000, Pearce 2005, Small 2000). Qualquer avaliaçãointegral em uma escala mais ampla levanta dificul<strong>da</strong>dessubstantivas: como definir um marco coerente, como li<strong>da</strong>rcom a limitação <strong>dos</strong> <strong>da</strong><strong>dos</strong>, como agregar valorespara estimar os impactos globais nas mu<strong>da</strong>nças de longaescala nos <strong>ecossistemas</strong>.Na Fase II, esperamos confiar na lógica <strong>da</strong> “transferênciade benefícios”, isto é, usar um valor estimado em um determina<strong>dos</strong>ítio como um valor aproximado <strong>dos</strong> mesmos serviçosecossistêmicos de outro sítio. A transferência de benefícioé mais fácil para alguns valores homogêneos (comoa absorção do carbono que é um bem global), do que paraTabela 3.3: Projeção do benefício total dearmazenamento de carbono nas florestasEuropeiasLatitude35-45 45-55 65-65 65-71Valor porhectare(US$ 2005)728,56 1.272,85 468,00 253,33Fonte: ten Brink and Bräuer 2008, Braat, ten Brink et al. 2008Quadro 3.5: Os vários valoresdo recife de coraisOs recifes de corais fornecem uma ampla gamade serviços para aproxima<strong>da</strong>mente 500 milhõesde pessoas. Algo como de 9-12% <strong>dos</strong> peixes domundo vivem diretamente nos recifes (Mumby etal. 2007), mas os peixes que estão perto do litoraltambém dependem <strong>dos</strong> recifes de corais parareprodução, como viveiro ou alimentação (MillenniumEcosystem Assessment 2005c). Geralmenteo turismo é o benefício preponderante. A recreaçãonos recifes foi estima<strong>da</strong> em US$ 184 por visitaglobalmente (Brander et al. 2007) e US$ 231-2.700por hectare por ano no sudeste <strong>da</strong> Ásia (Burke etal. 2002) e US$ 1.654 por hectare por ano no Caribe(Chong et al. 2003). Os recifes de corais fornecemrecursos genéticos para pesquisa médica, peixesornamentais e a cultura <strong>da</strong> pérola é extremamenteimportante para as <strong>economia</strong>s de alguns esta<strong>dos</strong>insulares, como a Polinésia Francesa. Os recifesprotegem áreas litorâneas em muitas ilhas: o serviçovital foi estimado em US$ 55-1.100 por hectarepor ano no sudeste <strong>da</strong> Ásia (Burke et al. 2002).Fonte: Ministère de l’Ecologie, du Développementet de l’Aménagement durables 2008, Braat,ten Brink et al. 2008, Balmford et al. 2008.outros específicos do local ou dependentes do contexto(como a proteção de bacias hidrográficas). Entretanto, devemosreconhecer o trade-off entre fornecer uma avaliaçãoincompleta por um lado e usar estimativas inferi<strong>da</strong>s (ao invésde estimativas primárias basea<strong>da</strong>s em pesquisas).Tanto por razões ecológicas como econômicas, é necessárioprecaução no escalonamento e na agregação devalor estimado de mu<strong>da</strong>nças marginais pequenas paraavaliar o efeito de grandes mu<strong>da</strong>nças. Os <strong>ecossistemas</strong>com frequência respondem ao estresse de uma formanão linear. Grandes mu<strong>da</strong>nças nas condições ou no tamanhodo ecossistema podem ter um efeito abrupto noseu funcionamento, o qual não poderá ser extrapoladofacilmente a partir do efeito de pequenas mu<strong>da</strong>nças. Normalmente,como alguns serviços forneci<strong>dos</strong> pelos <strong>ecossistemas</strong>diminuem à medi<strong>da</strong> em que os usamos continuamente,a extrapolação de benefícios deve reconhecer eser limitado pela “lei de rendimentos decrescentes”.OS CUSTOS DA PERDA DA BIODIVERSIDADEExiste um conjunto substancial de evidências <strong>dos</strong> valoresmonetários vincula<strong>dos</strong> à biodiversi<strong>da</strong>de e aos <strong>ecossistemas</strong>,e, portanto, <strong>dos</strong> custos de sua per<strong>da</strong>. Uma sériede estu<strong>dos</strong> de caso recentes e contribuições gerais foramrecebi<strong>dos</strong> em resposta a uma chama<strong>da</strong> por evidênciaspara compor este informe (veja o website do <strong>TEEB</strong>A caminho de um marco de valoração 37


Quadro 3.6: Reunindo as informações – umexemplo de um estudo do Custo de Falta deAção Política na per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deEm novembro de 2007, um consórcio começou umtrabalho sobre o “Custo <strong>da</strong> Falta de Ação Política”,ou estudo COPI (Braat, ten Brink et al. 2008) sobre ocusto de não interromper a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.A abor<strong>da</strong>gem COPI é espelhar a imagem <strong>da</strong> valoração<strong>dos</strong> benefícios com o uso de análise de cenários.O seu termo de referência previu a construçãode uma figura quantitativa global entre agora e 2050,e tentar fazer esta valoração em termos monetários.Este projeto foi bem sucedido em estabelecer umaabor<strong>da</strong>gem apropria<strong>da</strong> (veja o diagrama), identificandoa lacuna de <strong>da</strong><strong>dos</strong> e problemas metodológicos efornecendo cifras indicativas. Alguns resulta<strong>dos</strong> interessantes,mesmo que ilustrativos, foram produzi<strong>dos</strong>.Modelo <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>deO modelo GLOBIO foi usado para projetar mu<strong>da</strong>nçasna biodiversi<strong>da</strong>de terrestre até 2050 (OCDE 2008).Os indicadores principais foram mu<strong>da</strong>nças no usoe na quali<strong>da</strong>de e a abundância relativa de espéciesoriginais de um ecossistema (ARE), para to<strong>dos</strong> osbiomas do mundo. O modelo fornece estimativasregionais para a conversão de floresta natural paramaneja<strong>da</strong>, agricultura extensiva e intensiva e para odeclínio de áreas naturais. As ativi<strong>da</strong>des que maisdeman<strong>da</strong>ram conversão de áreas foram as agrícolase as madeireiras, embora o desenvolvimentode infraestrutura, a fragmentação e as mu<strong>da</strong>nçasclimáticas estão previstos para se tornarem ca<strong>da</strong>vez mais importantes. A per<strong>da</strong> espera<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>deaté 2050 é de 10-15% (declínio em ARE),sendo a per<strong>da</strong> mais extrema na savana (cerrado) enos pra<strong>dos</strong>.Figura 3.3: Estabelecendo uma análise de cenárioCenáriolinha de base<strong>da</strong> OCDEPolíticasInternacionaisMu<strong>da</strong>nçano uso <strong>dos</strong>olo, clima,poluição, uso<strong>da</strong> águaMu<strong>da</strong>nçana Biodiversi<strong>da</strong>deMu<strong>da</strong>nçanos serviçosecossistêmicosMu<strong>da</strong>nçano valoreconômicoMu<strong>da</strong>nçanas funçõesdo ecossistemahttp://ec.europa.eu/environment/nature/biodiversity/economics/index_en.htmpara uma lista de submissões e orelatório síntese).O nosso Relatório COPI (Costs of Policy Inaction, “Custos<strong>da</strong> Inação Política”, Braat, ten Brink et al. 2008) <strong>da</strong> fase Ifez uma primeira revisão <strong>da</strong> literatura e bancos de <strong>da</strong><strong>dos</strong>sobre valoração geral e tentou construir uma visão quantitativaglobal <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de em termos biofísicose monetários (veja quadro 3.6). Também foi feitauma revisão mais direciona<strong>da</strong> <strong>da</strong> valoração em estu<strong>dos</strong>de caso sobre os <strong>ecossistemas</strong> (IUCN, 2008).Os estu<strong>dos</strong> de valoração existentes variam no seu escopo,quali<strong>da</strong>de, metodologia e adequabili<strong>da</strong>de para serusado em avaliação de longa escala. Com frequência, osvalores econômicos estima<strong>dos</strong> não são comparáveis porquepodem ser de natureza diferente ou expressa<strong>dos</strong> emuni<strong>da</strong>des diferentes, ou ain<strong>da</strong> as estimativas podem nãoestar claramente relaciona<strong>da</strong>s a um serviço específico ouuma área.É necessário um esforço especial para avaliar valoresindiretos de uso, especialmente aqueles de serviços deregulação, que estão recebendo ca<strong>da</strong> vez mais atenção38 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


O cenário utilizado foi em grande medi<strong>da</strong> desenvolvidopela OCDE e sua linha de base (OCDE 2008). Omesmo é amplamente coerente com outros exercíciosde modelagem como aqueles <strong>da</strong> FAO e de outrasagências <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. O modelo em si prevêuma taxa de per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de mais lenta na Europa(compara<strong>da</strong> com uma taxa crescente no mundo).AVALIANDO MUDANÇAS NOS SERVIÇOSECOSSISTÊMICOS E APLICANDOVALORES MONETÁRIOSAs mu<strong>da</strong>nças no uso do solo e na biodiversi<strong>da</strong>de sãotraduzi<strong>da</strong>s em mu<strong>da</strong>nças nos serviços ecossistêmicos.A avaliação encontra-se respal<strong>da</strong><strong>da</strong> em grande medi<strong>da</strong>na literatura de valoração e soluções criativas foram desenvolvi<strong>da</strong>spara a extrapolação no sentido de preencheras lacunas de informações. Está é uma área em quemais trabalho se faz claramente necessário na Fase II.A maior dificul<strong>da</strong>de tem sido encontrar estu<strong>dos</strong> paramonetizar as mu<strong>da</strong>nças nos serviços ecossistêmicos.Embora haja muitos estu<strong>dos</strong> de caso, nem to<strong>da</strong>s asregiões, <strong>ecossistemas</strong> e serviços são igualmente cobertos.Frequentemente, existem dificul<strong>da</strong>des na identificaçãode valores por hectare na transferência debenefício. Muitos estu<strong>dos</strong> estão basea<strong>dos</strong> em per<strong>da</strong>smarginais e os valores são, com frequência, específicospara as locali<strong>da</strong>des.Os resulta<strong>dos</strong> <strong>da</strong> valoraçãoNos primeiros anos do período de 2000 a 2050, estimaseque a ca<strong>da</strong> ano perdem-se serviços ecossistêmicoscom um valor equivalente de EUR 50 bilhões aproxima<strong>da</strong>mente,apenas para <strong>ecossistemas</strong> basea<strong>dos</strong> no solo(ressalta-se que esta é uma per<strong>da</strong> de bem estar, nãouma per<strong>da</strong> do PIB, uma vez que grande parte destesbenefícios não está incluí<strong>da</strong> no PIB). Per<strong>da</strong>s no nossoestoque natural são experimenta<strong>da</strong>s não apenas noano <strong>da</strong> per<strong>da</strong>, mas continuam ao longo do tempo, e sãoadiciona<strong>da</strong>s a per<strong>da</strong>s de mais biodiversi<strong>da</strong>de nos anossubsequentes. Essas per<strong>da</strong>s cumulativas no bemestarpoderiam ser equivalente a 7% no consumoanual em 2050. Esta é uma estimativa conservadora,pela seguinte razão:• é parcial, pois exclui várias categorias de per<strong>da</strong>sconheci<strong>da</strong>s, por exemplo, a biodiversi<strong>da</strong>demarinha, desertos, o Ártico e Antártica; algunsserviços ecossistêmicos também foram excluí<strong>dos</strong>(regulação de doença, polinização, serviçosornamentais etc), enquanto outros sãopoucos representa<strong>dos</strong> (controle de erosão), ousubrepresenta<strong>dos</strong> (turismo); per<strong>da</strong>s causa<strong>da</strong>spor espécies alienígenas invasivas também foramexcluí<strong>da</strong>s;• as estimativas <strong>da</strong> taxa <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do uso <strong>dos</strong>olo e per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de são globalmentebastantes conservadoras;• os efeitos negativos <strong>da</strong> retroalimentação <strong>da</strong>per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>no crescimento do PIB não estão plenamentecontabiliza<strong>dos</strong> neste modelo;• os valores não consideram a não lineari<strong>da</strong>de eefeitos limiares no funcionamento do ecossistema.Conclusões e próximos passosO estudo demonstrou que o problema é potencialmentesevero e economicamente significativo,mas sabemos pouco <strong>dos</strong> impactos econômicos eecológicos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> futura de biodiversi<strong>da</strong>de. Trabalhosposteriores estão sendo planeja<strong>dos</strong> para aFase II para abor<strong>da</strong>r os pontos menciona<strong>dos</strong> acima,e para trabalhar em um marco e metodologiaem linha com as nossas recomen<strong>da</strong>ções.1. O Custo <strong>da</strong> Inação <strong>da</strong> Política (COPI): o caso de não alcançar asmetas estabeleci<strong>da</strong>s para 2010 (ENV.G.1/ETU/2007/0044) foi elaboradopor um consórcio liderado por Alterra, juntamente com o Institutefor European Environmental Policy (IEEP) e mais a Ecologic, FEEM,GHK, NEAA/MNP, UNEP-WCMC e Witteveen & Bos.como consequência <strong>da</strong> Avaliação Ecossistêmica do Milênio.Para o sequestro de carbono, valores substanciaisforam encontra<strong>dos</strong>, embora variem dependendo do tipode floresta, por exemplo, se decídua ou conífera, e desua localização geográfica.Alguns valores significativos foram estima<strong>dos</strong> para a regulação<strong>da</strong> água, embora sejam altamente específicos.O valor <strong>da</strong> proteção <strong>da</strong> bacia fornecido por <strong>ecossistemas</strong>litorâneos intactos, como manguezais e outros pântanos,foi estimado em US$ 846 por hectare por ano na Malásiae US$ 1.022 por hectare no Havaí, Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> <strong>da</strong>América. De maneira geral, os valores <strong>dos</strong> serviços múltiplos<strong>da</strong> bacia hidrográfica tendem a variar de US$ 200 a1.000 por hectare por ano (Mullan and Kontoleon, 2008).O valor <strong>da</strong> polinização <strong>da</strong>s abelhas para a produção decafé foi estimado em US$ 361 por hectare por ano (Rickettset al., 2004), embora os benefícios sejam apenasconcedi<strong>dos</strong> para produtores a 1 quilometro de distância<strong>da</strong>s florestas naturais. Estas abor<strong>da</strong>gens estão sendorefina<strong>da</strong>s gradualmente, permitindo melhores avaliações<strong>dos</strong> trade-offs entre usos concorrentes <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>.(veja, por exemplo, Barier et al., 2008).A caminho de um marco de valoração 39


Ain<strong>da</strong> que existam evidências crescentes do valor de algunsserviços de regulação, muitos outros, como a regulação<strong>da</strong> saúde, têm sido pouco explora<strong>dos</strong> até agora,embora haja indícios que eles sejam significativos (Pattanayake Wendland, 2007).A importância econômica <strong>da</strong> contribuição <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deagrega<strong>da</strong> para a resiliência do ecossistema (a capaci<strong>da</strong>dede um ecossistema em absorver choques eestresses de formas construtivas) é provavelmente muitoalta, mas ain<strong>da</strong> não bem quantifica<strong>da</strong>, apesar de estu<strong>dos</strong>terem analisado aspectos como a contribuição <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de de culturas à produção agrícola e geração deren<strong>da</strong> (Di Falco and Perrings, 2005, Birol et al. 2005). Estaimportante lacuna no conhecimento reflete a dificul<strong>da</strong>dede quantificar os riscos do colapso de um sistema desdeuma perspectiva ecológica e medir a disposição a pagar<strong>da</strong>s pessoas pela redução de riscos que ain<strong>da</strong> não estãobem compreendi<strong>dos</strong>.O custo real <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>ecossistemas</strong>também inclui valores de opção. Embora sejam difíceisde medir, esses valores, atribuí<strong>dos</strong> à conservação <strong>dos</strong>recursos para possíveis usos futuros, são relevantes, poiso conhecimento tende a aumentar e também porqueparte <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços por elasustenta<strong>dos</strong> são irreversíveis. A metodologia preferencialpara medir valores de opção (especialmente valores debioprospecção) foi prepara<strong>da</strong> como parte do trabalhopreparatório <strong>da</strong> Fase I (Gundime<strong>da</strong>, 2008). Na Fase IIpropomos aprofun<strong>da</strong>r esta abor<strong>da</strong>gem.O CUSTO DA CONSERVAÇÃODA BIODIVERSIDADEPerder biodiversi<strong>da</strong>de e serviços ecossistêmicos podecausar um custo tremendo para a socie<strong>da</strong>de devido àper<strong>da</strong> subsequente de vários serviços regulatórios e deabastecimento como a produção de alimentos, regulação<strong>da</strong> água e resiliência <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças climáticas. Tudoisto cria os argumentos necessários para a proteção <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de, apesar <strong>da</strong> taxa de per<strong>da</strong> deman<strong>da</strong>r açõesurgentes. Mas a conservação também tem seu custo, queprecisa ser incluído na toma<strong>da</strong> de decisão. É importantesaber que estes custos fornecem a base para determinaro relacionamento entre custo e benefício e identificar asopções mais custo-efetivas para a conservação.Uma avaliação abrangente de custo precisa incluir váriostipos de custo: a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de pode requerero uso de restrições que levam a custos de oportuni<strong>da</strong>dede não se ter alcançado desenvolvimento econômico;custos de gestão surgem para medi<strong>da</strong>s como, por exemplo,programas de criação e reprodução; e os custos deTabela 3.4: Resulta<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> sobre custos de conservaçãoFonte Objeto CustosLevanta<strong>dos</strong>Frazee et al.2003Chomitz et al.2005Wilson et al.2005Ninan et al.2007Sinden 2004ComissãoEuropeia 2004Bruner et al.2004Conserving the Cape Floristic Region(África do Sul)Rede <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>protegi<strong>dos</strong> (Bahia, Brasil)Preservação <strong>da</strong> floresta tropical (certasregiões)Benefícios de floresta de produto não madeireiro(Nagarhole National Park, India)Proteção <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (BrigalowBelt, New South Wales)Proteção <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong>rede Natura 2000 (cobrindo 18% do território<strong>da</strong> União Europeia-25)Expansão <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> florestapara to<strong>da</strong>s as áreas prioritárias (mundotodo)OC + MCOCEstimativasInicial de US$ 522 milhões e despesasanuais de US$ 24.4 milhõesOC 10.000 haOC Sumatra: US$ 0.95/ha/anoBorneo: US$ 1.10/ha/anoSulawesi: US$ 0.76/ha/anoJava/Bali: US$ 7.82/ha/anoMalásia: US$ 27.46/ha/anoOC Valor presente líquido US$ 28.23por domicílio anualOC US$ 148.5 milhõesMC + TCOC MCEUR 6.1 bilhões anuais duranteum período de 10 anosUS$ 5.75/ha/ano por 10 anosOC= custos de oportuni<strong>da</strong>de TC= custos de transação MC= custos de manejo40 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


transação estão associa<strong>dos</strong> à elaboração, implementaçãoe controle de políticas para a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.Mundialmente, entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões sãoinvesti<strong>dos</strong> por ano na conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de(James et al. 2001, Pearce 2007); as áreas protegi<strong>da</strong>srecebem uma porcentagem significativa destes recursos.No nível global, devem ser necessários US$ 28 bilhõesanuais nos próximos 30 anos para expandir as áreasconsidera<strong>da</strong>s prioritárias pela IUCN para 10% <strong>da</strong> área deto<strong>dos</strong> os países (James et al. 2001). Esta estimativa decusto inclui custos de aquisição e de manejo <strong>dos</strong> atuaise futuros locais de reserva <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Se o sistemade área protegi<strong>da</strong> for expandido para cobrir espécieschaves atualmente desprotegi<strong>da</strong>s e atender às necessi<strong>da</strong>desbiológicas/ecológicas, seria necessário gastar atéUS$ 22 bilhões por ano em custos de gerenciamento(Bruner et al. 2004).Mas, proteger o fornecimento <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicose os benefícios <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de em áreas protegi<strong>da</strong>spoderia custar muito pouco: apenas duas ordens demagnitude a menos do que o valor do benefício proveniente<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Balmfordet al. (2002) utilizaram-se desta ideia e propuseram quecom um investimento anual de US$ 45 bilhões – cercade um sexto do necessário para conservar os serviçosecossistêmicos no mundo todo – poderíamos protegerserviços naturais que valem US$ 5 trilhões em áreas protegi<strong>da</strong>s:uma relação custo-benefício excelente (100:1).Os custos <strong>da</strong> conservação podem variar entre regiõesdevido a diferenças em suas <strong>economia</strong>s e estruturas decusto. Encontram-se custos de conservação tão baixosquanto US$ 0.01 por hectare em áreas remotas e tãoaltos quanto US$1.000 por hectare por ano em áreasdensamente povoa<strong>da</strong>s. Os benefícios de serviços provenientesde diferentes <strong>ecossistemas</strong> variam de algumascentenas de dólares para mais de US$ 5.000 por hectarepor ano, e, em alguns casos, muito mais. Um casoextremo é o do recife de corais, para o qual o PNUMAestimou um valor total <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos entreUS$100.000 e US$600.000 por quilômetro quadrado;baseado em uma estimativa de custo de US$775 por quilômetroquadrado para manter áreas marinhas protegi<strong>da</strong>s,o custo de manejo de recife de corais pode ser tão baixoquanto 0.2% do valor do ecossistema protegido (UNEP2007) – o custo de oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conservação do recifede corais não está incluído nesta comparação. Entretanto,para possibilitar uma conservação custo-efetiva<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos, é necessário conhecer adistribuição espacial <strong>dos</strong> benefícios e <strong>dos</strong> custos <strong>da</strong> proteção<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.Embora as cifras disponíveis até agora se apliquem auma pequena parte <strong>da</strong> natureza, os formuladores de políticaquerem a visão geral. Quando a rede Natura 2000de áreas protegi<strong>da</strong>s começou a surgir na União Europeia,uma linha de pensamento comum era o custo de gerenciare alcançar as metas. O custo de implementar estarede de proteção de áreas, que então representava 18%do território <strong>da</strong> União Europeia com 25 esta<strong>dos</strong>, foi estimadoem mais de 6 bilhões de Euros anuais (ComissãoEuropeia 2004). Estes custos incluíam o gerenciamento,restauração e fornecimento de serviços (como recreaçãoe educação), mas excluiam gastos <strong>da</strong> compra de terrapara a conservação <strong>da</strong> natureza. O custo total de conservaçãoé mais alto se incluirmos filantropia e subsídios. Porexemplo, nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> <strong>da</strong> América, a cari<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>ao “meio ambiente e animais” foi estima<strong>da</strong> em US$9 bilhões em 2005 (Giving, USA, 2006).As áreas protegi<strong>da</strong>s em países em desenvolvimento sãoconsidera<strong>da</strong>s, por hectare, mais baratas para se estabelecere serem gerencia<strong>da</strong>s do que em países desenvolvi<strong>dos</strong>.Além disso, embora os países desenvolvi<strong>dos</strong>representem 60% <strong>da</strong> área total de locais de reserva debiodiversi<strong>da</strong>de, a necessi<strong>da</strong>de real de orçamento para aconservação chega a apenas 10% do orçamento global(James et al. 1999).O custo de atingir uma determina<strong>da</strong> meta de conservaçãodepende <strong>dos</strong> instrumentos de política escolhi<strong>dos</strong> ede seu detalhamento. Durante o teste desta premissa,descobriu-se que a simples modificação no detalhamentodo instrumento de conservação pode redun<strong>da</strong>r emuma <strong>economia</strong> de até 80% para a proteção de uma determina<strong>da</strong>espécie. Um pré-requisito necessário, mas nãosuficiente, para despesas custo-efetivas é garantir que ogasto em conservação esteja de acordo com as priori<strong>da</strong>desatuais de conservação. Apenas 2-32% de padrõesde despesa pelas agências de conservação podem serexplica<strong>dos</strong> pelas diretrizes para a priorização <strong>da</strong> conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (Halpern et al. 2006).Outro aspecto a ser considerado é a distribuição de recursosentre as diversas partes <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Emtermos econômicos, parece que os custos marginais deinvestimentos em conservação estão aumentando, ouseja, embora as “primeiras uni<strong>da</strong>des” de conservaçãopossam ser compra<strong>da</strong>s a baixos custos, ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>deadicional tem valor mais alto. No entanto, pesquisadoresacreditam que existem “frutas ao alcance <strong>da</strong> mão” quan<strong>dos</strong>e trata <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Protegerum grande número de espécies é relativamente barato,mas os custos podem explodir na medi<strong>da</strong> em que asúltimas poucas espécies, habitats ou <strong>ecossistemas</strong> sãoincluí<strong>dos</strong> nas metas de conservação.A escassez generaliza<strong>da</strong> de estu<strong>dos</strong> apontando para osbenefícios e custos <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de,especialmente em âmbito local e regional, contribui para anão alocação de recursos suficientes para a conservaçãoe as que<strong>da</strong>s no orçamento observa<strong>da</strong>s. Apenas um nú-A caminho de um marco de valoração 41


Figura 3.4: Marco de Valoração Proposto: contrastando esta<strong>dos</strong> apropria<strong>dos</strong> do mundoMotivadores<strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de edegra<strong>da</strong>ção domeioAção políticapara interromper/reduziraper<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deedegra<strong>da</strong>ção doecossistemaMUNDO Bcom açãoQuantificar e mapearpeixes marinhos AQuantificar e mapearo risco para os peixes AQuantificar e mapearfornecimento de água AQuantificar e mapearo risco para o fornecimentode água AQuantificar e mapearpeixes marinhos BQuantificar emapear diferençasnos peixesQuantificar emapear diferenças norisco para produçãode peixesQuantificar emapear diferençasem fornecimentode águaQuantificar e mapearo valor econômico <strong>da</strong>sdiferenças <strong>dos</strong>peixesQuantificar emapear o valor econômico<strong>da</strong>s diferenças no risco<strong>da</strong> produção de peixesQuantificar e mapearo valor econômico <strong>da</strong>sdiferenças no fornecimentode águaMUNDO Asem açãoQuantificar e mapearo risco para os peixes BQuantificar e mapearfornecimento de água BQuantificar e mapearo risco para o fornecimentode água BQuantificar emapear diferençasno risco do fornecimentode águaQuantificar e mapearo valor econômico <strong>da</strong>sdiferenças no risco dofornecimento de águaQuantificare mapear oscustos <strong>da</strong>açãoQuantificar e mapear consequênciaseconômicas líqui<strong>da</strong>sde ação de reduzir/evitar aper<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deQuantificar e mapearo valor econômico <strong>da</strong>sdiferenças no riscoe fluxo de benefíciosChaveECOLOGIAComo afeta oPIB global?Como afeta oPIB nacional?Como afetaos objetivosde redução <strong>da</strong>pobreza?Como afeta aestabili<strong>da</strong>deregional?Como afeta aequi<strong>da</strong>de?ECONOMIAPOLÍTICAAvaliar as consequências socioeconômicas<strong>da</strong> ação para interromper/reduzir a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e<strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção do meio ambientemero limitado de estu<strong>dos</strong> avaliou simultaneamente os custose benefícios <strong>da</strong> proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e serviçosecossistêmicos em projetos de conservação específicos.Alguns estu<strong>dos</strong> foram específicos à área, como a avaliação<strong>da</strong> proteção <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos em Ma<strong>da</strong>gascar,que revelou que a biodiversi<strong>da</strong>de do país forneceuma gama de serviços que trazem benefícios em um valorduas vezes maior que os custos de gerenciamento <strong>dos</strong>recursos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de na ilha. Outros estu<strong>dos</strong> foramespecíficos ao setor, por exemplo: foi estimado que umsistema de área de proteção de marinha, que representaa diminuição de 20% <strong>da</strong> pesca total <strong>da</strong> área e resultou naper<strong>da</strong> de lucro de US$ 270 milhões por ano (Sumaila et al.2007), aju<strong>da</strong>ria a sustentar a pesca em um valor de US$70-80 bilhões por ano (FAO 2000) criando 1 milhão deempregos (Balmford et al. 2004). Além disso, a metodologiausa<strong>da</strong> para estu<strong>dos</strong> de custos de conservação, comfrequência não possui entendimento comum quanto aoquê incluir e como medir estes custos. A visão resultante<strong>da</strong> <strong>economia</strong> <strong>da</strong> conservação é incompleta e não há ummétodo explícito de distribuição espacial para distribuir ofinanciamento para a conservação (Bruner et al. 2008).Embora a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de seja economicamenterazoável, despesas globais atuais (estima<strong>da</strong>sem US$ 10-12 bilhões anuais) representam pouco paraas necessi<strong>da</strong>des espera<strong>da</strong>s. Uma vez que a conservação,principalmente em países em desenvolvimento, sofrecom a escassez de recursos financeiros, países emdesenvolvimento devem ser prioriza<strong>dos</strong> quando <strong>da</strong> alocaçãode recursos adicionais para a conservação global<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de de modo a aumentar a efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>smedi<strong>da</strong>s de proteção. Entretanto, como os objetivos deconservação <strong>dos</strong> países em desenvolvimento, com frequência,competem com seus objetivos de desenvolvimento,existem importantes questões sociais a serem abor<strong>da</strong><strong>da</strong>sno contexto local, como: direito de proprie<strong>da</strong>de versus oacesso a direitos de uso, direitos para residentes locaisversus direitos para migrantes e vizinhos pobres, subsistênciae questões de bem estar, e a persistência do “dociclo vicioso” <strong>da</strong> pobreza e degra<strong>da</strong>ção do meio ambiente.Ao abor<strong>da</strong>r estas questões na Fase II, precisamos reconhecera sobreposição de políticas que afetarão a viabili<strong>da</strong>dede um conjunto de ferramentas econômicas paraformuladores de política no mundo em desenvolvimento.42 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


MARCO DE VALORAÇão PropostoAs considerações feitas neste capítulo levaram a um marcode valoração (veja Figura 3.4) que pretendemos usarna Fase II, em conjunto com nossa meta-análise de estu<strong>dos</strong>de valoração, para que se possa preparar um marcoque seja globalmente abrangente e geograficamente específicoe uma estrutura estimativa para a valoração econômica<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. O marcoé baseado em estu<strong>dos</strong> científicos (Balmford et al. 2008)e em questões relaciona<strong>da</strong>s com a ética, equi<strong>da</strong>de e nataxa de desconto discuti<strong>da</strong>s anteriormente.Abaixo seguem os elementos chaves para o nosso marcoproposto:• ‌Examinar as causas <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de:planejar cenários apropria<strong>dos</strong> para avaliar as consequências<strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, o que significaincluir informações sobre o que causa essa per<strong>da</strong>.Por exemplo, a per<strong>da</strong> de peixes marinhos ocorrepelo excesso de pesca, então seria adequado compararum cenário de business-as-usual (excesso depesca contínuo) com um cenário em que a pescaseja maneja<strong>da</strong>. A evidência sugere que se perde biodiversi<strong>da</strong>dejustamente onde seria socialmente maisvantajoso preservá-la. A identificação <strong>da</strong>s falhas demercado, de informação e de política pode aju<strong>da</strong>r aidentificar soluções políticas.• ‌Avaliar políticas alternativas e estratégias confronta<strong>da</strong>spelos tomadores de decisão: a análise precisacontrastar dois ou mais “esta<strong>dos</strong>” ou cenáriosque correspon<strong>da</strong>m à ação alternativa (ou inação) parareduzir a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> ecosssitemas(Mundo A e Mundo B). Esta abor<strong>da</strong>gem também éusa<strong>da</strong> para a avaliação de impacto e análise custobenefíciopara assegurar que os tomadores de decisãotomem decisões informa<strong>da</strong>s basea<strong>da</strong>s em umaanálise sistemática de to<strong>da</strong>s as implicações <strong>da</strong>s váriasescolhas políticas.• ‌Avaliar os custos e benefícios <strong>da</strong>s ações para conservara biodiversi<strong>da</strong>de: a análise precisará abor<strong>da</strong>rdiferenças em benefícios obti<strong>dos</strong> pela conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (por exemplo, purificação <strong>da</strong> águaobti<strong>da</strong> pela proteção de florestas) e o custo incorrido(por exemplo, benefícios perdi<strong>dos</strong> pela conversão <strong>da</strong>sflorestas para cultivo agrícola).• ‌Identificar riscos e incertezas: há muitas coisas quenão sabemos sobre como a biodiversi<strong>da</strong>de é valiosapara nós, mas isto não significa que aquilo que nãose sabe não tenha valor – corremos o risco de perderserviços ecossistêmicos muito importantes, masain<strong>da</strong> não reconheci<strong>dos</strong>. A análise precisa identificarestas incertezas e avaliar estes riscos.• ‌Ser geograficamente explícito: a valoração econômicaprecisa ser espacialmente explícita porque a produtivi<strong>da</strong>denatural do ecossistema e o valor de seusserviços variam conforme sua localização. Além disso,os benefícios podem ser usufruí<strong>dos</strong> em locais diferentes<strong>da</strong>queles onde são produzi<strong>dos</strong>. Por exemplo, asflorestas de Ma<strong>da</strong>gascar têm produzido medicamentospara o tratamento do câncer que salvam vi<strong>da</strong>s emtodo o mundo. Ademais, a escassez relativa de umserviço, assim como fatores socioeconômicos locais,podem afetar os valores de forma substancial. Consideraras dimensões geográficas também permite ummelhor entendimento <strong>dos</strong> impactos <strong>da</strong> conservaçãoem objetivos de desenvolvimento e para a compreensão<strong>dos</strong> trade-offs entre benefícios e custos de váriasopções, e, assim, apontar regiões que podem oferecermelhor custo-benefício para a conservação.• ‌Considerar a distribuição <strong>dos</strong> impactos <strong>da</strong> per<strong>da</strong><strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e conservação: os beneficiáriosde serviços ecossistêmicos, com frequência não sãoos mesmos <strong>da</strong>queles a quem incorrem os custos <strong>da</strong>conservação. Incompatibili<strong>da</strong>des podem levar a decisõescorretas no âmbito local, mas inadequa<strong>da</strong>spara a socie<strong>da</strong>de como um todo. Políticas efetivas eequitativas reconhecerão estas dimensões geográficase as corrigirão com as ferramentas apropria<strong>da</strong>s, assimcomo pagamentos para os serviços ecossistêmicos.As figuras 3.5 e 3.6 ilustram a dimensão <strong>dos</strong> serviçosecossistêmicos e, portanto, a necessi<strong>da</strong>de de consideraro padrão geográfico na produção e no uso dessesserviços. Até mesmo grandes ci<strong>da</strong>des como Londres dependemde uma diversi<strong>da</strong>de de benefícios produzi<strong>da</strong> por<strong>ecossistemas</strong> e biodiversi<strong>da</strong>de, com frequência em umadistância considerável.Este marco será usado durante a Fase II, mas não serápossível coletar informação para elaborar mapas detalha<strong>dos</strong>para to<strong>dos</strong> os tipos de serviços ecossistêmicose biomas. Além disso, a avaliação dependerá em grandeparte <strong>da</strong> “transferência de benefícios”, tornando claras aspremissas e definindo as condições em que será possívelextrapolar as informações limita<strong>da</strong>s, considerando escalae dependência espacial <strong>dos</strong> vários serviços. As bases de<strong>da</strong><strong>dos</strong> geográficas serão utiliza<strong>da</strong>s, destacando-se ondeserá necessário preencher as lacunas de informaçãoexistentes.REUNINDO OS ASPECTOS ECONÔMICOS EECOLÓGICOS NO MARCO DE VALORAÇÃOA valoração <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> requer a integração de ecologiae <strong>economia</strong> em um marco interdisciplinar. A ecologiadeve fornecer a informação necessária na geração de serviçosecossistêmicos, enquanto a <strong>economia</strong> contribuiria comas ferramentas para a estimativa de seus valores (veja 3.4).A caminho de um marco de valoração 43


Figura 3.5: Benefícios ecossistêmicos de uma floresta protegi<strong>da</strong>, Ma<strong>da</strong>gascarBenefícios ecossistêmicos de uma floresta protegi<strong>da</strong>em um país com alta biodiversi<strong>da</strong>deParque Nacional de Masoala, Ma<strong>da</strong>gascar1Medicamentos. As florestastropicais de Ma<strong>da</strong>gascarpossuem uma diversi<strong>da</strong>dede plantas com altopoder medicinal e farmacêutico,tais como a rosyperiwinkle (vinca rósea),que é usa<strong>da</strong> por curandeirostradicionais e é utiliza<strong>da</strong>como insumo para medicamentoscontra o câncerna Europa, por exemplo.Valor estimado:US$1.577.800,002Controle de erosão.Florestas como a Masoalaprotegem o solo contraa erosão, o que aju<strong>da</strong> areduzir a sedimentaçãode arrozais e criadourosde peixes. Valor estimado:US$380.000,003Armazenamento decarbono. O desmatamentoevitado aju<strong>da</strong> a reduzir osimpactos <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nçasclimáticas, por exemplo,em Londres (elevação donível do mar) e na Namíbia(maior mortali<strong>da</strong>dedevido às mu<strong>da</strong>nças doclima). Valor estimado:US$105.110,004 Recreação. A impressionante diversi<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s florestas de Ma<strong>da</strong>gascar, comespécies únicas como o lêmur vermelho(red-ruffed lemur) atraiu mais de 3 mil turistaspara Masoala em 2006, a maioria amaioria de origem européia e <strong>da</strong> Américado Norte, mas 37% de Ma<strong>da</strong>gascar. Valorestimado: US$5.160.000,005Produtos <strong>da</strong> Floresta. Oito mil domicíliospróximos ao Parque Nacional de Masoalausam produtos <strong>da</strong> floresta em seudia-a-dia para alimentação, uso medicinale materiais de construção e tear.Valor estimado: US$4.270.000,00Fontes:1. Disposição a pagar estima<strong>da</strong> <strong>da</strong>s empresas farmacêuticas pela proteção <strong>da</strong> floresta em Ma<strong>da</strong>gascar (considerando o tamanho do Parque Nacional de Masoala como 2.300ha, de Kremenet al 2000); extraído de Simpson RD et al 1996 Valorando a biodiversi<strong>da</strong>de para uso em pesquisa farmacêutica. Jornal de Economia Política 104:163-1852-5. Valor presente líquido, calculado pela composição de um valor anual esperado do benefício ecossistêmico, descontado progressivamente no futuro (a taxa de desconto utiliza<strong>da</strong> foiconservadora, de 20% ao ano, por 30 anos). Extraído de: Kremen C et al. (2000), Incentivos econômicos para a conservação de florestas tropicais através de escalas. Science 288: 1828-18324. Fotos de turistas <strong>da</strong> l’Association Nationale pour la Gestion des Aires Protégées (ANGAP)5. Número de domicílio de http://news-services.stanford.edu/pr/00/forests67.htmlCréditos <strong>da</strong>s fotos: lêmur vermelho (red-ruffed lemur) Varecia rubra (Jenni Douglas, Wikimedia Commons), Imagens de Satélite (Nasa World Wind)Fonte: Balmford et al. 200844 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Figura 3.6: Benefícios ecossistêmicos para a ci<strong>da</strong>de Londres, Reino UnidoBenefícios ecossistêmicos para uma ci<strong>da</strong>de no mundo desenvolvidoO caso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Londres, Reino Unido1Medicamentos. Há cercade 392 crianças comleucemia ou linfomasem Londres. Em 1970,somente 127 teriam sobrevivido,mas, graças àmelhoria nos tratamentosutilizando a vinblastina evincristina deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>vinca rósea de Ma<strong>da</strong>gascar,312 destascrianças agoraapresentam altasexpectativas devi<strong>da</strong>.2Pesca<strong>dos</strong>. Os londrinosconsomem 72 mil tonela<strong>da</strong>sde peixe por ano, amaior parte advin<strong>da</strong> do Mardo Norte, mas também <strong>da</strong>região costeira banha<strong>da</strong>pelo Oceano Pacífico, quepossui as áreas de pescamais produtivas do mundo.3Café. Mais de 1,3 bilhão dexícaras de café são consumi<strong>da</strong>sem Londres to<strong>dos</strong> osanos. Abelhas nativas de florestastropicais impulsionama produtivi<strong>da</strong>de em 20% nasplantações de café adjacentes,o que aju<strong>da</strong> os agricultoresa suprirem a deman<strong>da</strong><strong>da</strong> segun<strong>da</strong> commodity maisconsumi<strong>da</strong> no mundo, após opetróleo. Quase 25% de todoo café consumido no ReinoUnido vem do Vietnã.4Enchentes. Na ci<strong>da</strong>de de Londres,1,2 milhão de pessoas 5vivem em áreas inundáveis, sobrisco crescente de elevação donível do mar. Londres emite 53milhões de tonela<strong>da</strong>s de CO 2 aca<strong>da</strong> ano, o que contribui para asmu<strong>da</strong>nças climáticas. As florestastropicais do Parque Nacional deMasoala em Ma<strong>da</strong>gascar capturam44 milhões de tonela<strong>da</strong>s de CO 2 .Valores de Existência. ASocie<strong>da</strong>de Real de Proteçãoàs Aves, com cerca de 120mil associa<strong>dos</strong> em Londres,trabalha para conservar101 mil hectares de florestatropical na Indonésia e 75mil hectares na Serra Leoa,além de 200 reservas noReino Unido.6 Saúde Físicae Mental. Em Londres,pelo menos 22.500crianças com até dez anosapresentam distúrbios comoa Hiperativi<strong>da</strong>de e o Déficitde Atenção, o que os tornamais propensos a abandonara escola e envolver-seem crimes. As crianças queinteragem com a natureza(por exemplo, no LondonWetlands Centre, que recebe180 mil visitantes a ca<strong>da</strong>ano) reduzem em 30% ossintomas desses distúrbios.Fontes:1. Vincristina e vinblastina são parte do tratamento padrão <strong>da</strong> leucemia infantil e do linfoma de Hodgkin. As estatísticas <strong>da</strong> incidência do câncer e de sobrevivência em Londres, com base no censo de 2001 (http://statics.gov.uk)2. http://citylimitslondon.com e Watson R. & Pauly D. (2001) Nature 414 534-5363. http://faostat.fao.org e Rickets TH et al. (2004) PNAS 101:12579-12582 e Clay J. (2004) World Agriculture and the Environment: A Commodity-by-Commodity Guide to Impact and Practices, Island Press4. http://environment-agency.gov.uk/regions/thames/ e http://www.wdm.org.uk/news/carbondioxideemissionsuk09012007.htm e Kremen at al. (2000)5. A Grande Londres abriga 12,2% <strong>da</strong> população do Reino Unido, <strong>dos</strong> quais eram membros <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Real para a Proteção de Aves (Royal Society for the Protection of Birds – RSPB em 2007 (http://www.rspb.org.uk)6. Comparado com aqueles engaja<strong>dos</strong> em ativi<strong>da</strong>des urbanas externas, conforme relatórios disponíveis em http://www.rspb.org.uk/ourwork/policy/health. Outras fontes: http://www.wwt.org.uk e http://www.environment-agency.gov.ukCréditos <strong>da</strong>s fotos: xícara de café (Wikimedia Commons). Imagens de Satélite (Nasa World Wind)Fonte: Balmford et al. 2008A caminho de um marco de valoração 45


A valoração de serviços ecossistêmicos regulatórios e dealguns serviços de abastecimento deve estar basea<strong>da</strong>em um entendimento <strong>dos</strong> processos físicos e biológicossubjacentes que levam ao fornecimento desses serviços.Por exemplo, para valorar a regulação <strong>da</strong> água forneci<strong>da</strong>por uma floresta, é necessário primeiramente ter informaçõessobre o uso do solo, a hidrologia <strong>da</strong> área e outrascaracterísticas, de modo que se tenha uma avaliação biofísicado serviço fornecido.Este tipo de entendimento torna possível estimar o custodo valor econômico, mas existem alguns desafios queprecisam ser trata<strong>dos</strong>:• ‌Medir a quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de de serviços forneci<strong>dos</strong>pelos <strong>ecossistemas</strong> e pela biodiversi<strong>da</strong>de em váriosesta<strong>dos</strong> possíveis é um desafio chave, e tambémuma oportuni<strong>da</strong>de para evitar falhas de generalização.A valoração é melhor aplica<strong>da</strong> condições ou situaçõesalternativas (como por exemplo os serviçospresta<strong>dos</strong> segundo práticas divergentes do uso <strong>dos</strong>olo, consequência <strong>dos</strong> diferentes cenários políticos).Exemplificando, a captação hídrica nas florestas tropicaispode fornecer benefícios líqui<strong>dos</strong> à conservação<strong>da</strong> água, comparando a mesma área se utiliza<strong>da</strong>para pastagem ou cultivo, mas estes benefícios nãopodem exceder os benefícios agroflorestais no mesmolote de terra (Chomitz and Kumari 1998, Konarska2002). Estimar a biodiversi<strong>da</strong>de existente nessesdiferentes cenários seria outro desafio. Seria importanteabor<strong>da</strong>r essa avaliação basea<strong>da</strong> em cenáriosde forma adequa<strong>da</strong> para garantir que o objetivo principal<strong>da</strong>s valorações (estimar os custos de benefícios<strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de) não fique perdidona modelação de usos alternativos do solo.• ‌A não lineari<strong>da</strong>de no fluxo de serviços precisa deuma atenção especial. Por exemplo, estu<strong>dos</strong> recentesem mangues no litoral <strong>da</strong> Tailândia levaram emconsideração que o serviço ecosssitêmico que forneceproteção ao litoral não varia ao longo <strong>da</strong> áreado mangue natural. Isto leva a conclusões políticas evalores significativamente diferentes <strong>da</strong>queles obti<strong>dos</strong>em estu<strong>dos</strong> prévios, em particular a combinação espera<strong>da</strong>entre conservação e desenvolvimento (Barbieret al. 2008). Outro aspecto importante é a existênciade efeitos limiares e a necessi<strong>da</strong>de de se avaliar dequanto tempo um ecossistema dispõe antes que algunsde seus serviços entrem em colapso. Ain<strong>da</strong> hágrandes lacunas no conhecimento científico sobre opapel <strong>da</strong>s espécies nos <strong>ecossistemas</strong> e quais fatoreschaves produzem fluxos de serviços benéficos queassegurem sua resiliência. Entretanto, para algunsserviços, há evidência <strong>da</strong> influência de certos indicadoresbiofísicos (áreas de habitat, indicadores de saúde,diversi<strong>da</strong>de de espécies, etc). O Estudo Explorandoa Ciência – Scoping the Science – (Balmford et al.2008) revisou como está o conhecimento ecológicosobre uma série de serviços ecossistêmicos e avaliouas informações disponíveis. As conclusões deste estu<strong>dos</strong>erão utiliza<strong>da</strong>s na Fase II e servirão de base paraa avaliação econômica por meio <strong>da</strong>:º º construção de cenários para o fornecimento <strong>da</strong>ca<strong>da</strong> serviço ecosssitêmico;º º definição de um método para pelo menos um conjuntode serviços de modo a gerar uma quantificaçãoglobal e o mapeamento do fornecimento <strong>dos</strong>erviço em diferentes cenários, no qual a valoraçãoeconômica será basea<strong>da</strong>;º º formulação de pressupostos razoáveis que permitama extrapolação de valores estima<strong>dos</strong> paracertos <strong>ecossistemas</strong> para que se possa preencheras lacunas <strong>dos</strong> <strong>da</strong><strong>dos</strong>;As relações entre os processos <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e osbenefícios que eles fornecem às pessoas variam emcomplexi<strong>da</strong>de. É necessário um sistema de classificação,que pode ser desenvolvido a partir do sistema elaboradono contexto <strong>da</strong> Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MillenniumEcosystem Assessment 2005b). Esse sistemaain<strong>da</strong> pode ser aprimorado de modo a fornecer uma boabase para a valoração econômica (seguindo, por exemplo,Boyd e Banzhalf 2007, Wallace 2007, Fisher et al. inpress). Parece ser útil fazer uma distinção entre serviço“final” (ex. fornecimento de culturas agrícolas e água limpa)que fornece benefícios diretamente importantes parao bem estar humano e serviços “intermediários” que servemcomo insumos para a produção de outros serviços(ex. polinização, regulação <strong>da</strong> água). O valor econômico<strong>da</strong> polinização, por exemplo, não pode ser avaliado separa<strong>da</strong>mentedo fornecimento de culturas. A perspectivado usuário final: o valor <strong>dos</strong> serviços intermediários podeapenas ser medido por meio de sua contribuição para aprodução <strong>dos</strong> benefícios ao usuário final. A intenção éestruturar a classificação <strong>dos</strong> serviços para a avaliaçãoque será feita na Fase II em torno desta perspectiva.PRINCÍPIOS-CHAVE DAS MELHORES PRÁTICASNA VALORAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOSEstes princípios baseiam-se nas recomen<strong>da</strong>ções feitasno Workshop <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong> Per<strong>da</strong> Global <strong>da</strong> Diversi<strong>da</strong>deBiológica organizado no contexto deste projeto emBruxelas em março de 2008 (ten Brink and Bräuer 2008).1. O foco <strong>da</strong> valoração deve ser em mu<strong>da</strong>nças marginaisao invés do valor “total” de um ecossistema.2. A valoração de serviços deve ser específica ao contexto,específica ao ecossistema e relevante ao estadoinicial do ecossistema.3. Boas práticas em “transferência de benefícios” precisamser a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à valoração <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de,46 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


na medi<strong>da</strong> em que é necessário mais estudo sobrecomo agregar os valores <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças marginais.4. Os valores devem ser guia<strong>dos</strong> pela percepção <strong>dos</strong>beneficiários.5. Abor<strong>da</strong>gens participativas e formas de incluir as preferências<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des locais podem ser usa<strong>da</strong>spara aju<strong>da</strong>r que a valoração seja mais aceita.6. As questões de irreversibili<strong>da</strong>de e resiliência não devemser negligencia<strong>da</strong>s.7. Conexões biofísicas substancias aju<strong>da</strong>m no exercíciode valoração e contribuem para a sua credibili<strong>da</strong>de.8. Existem incertezas inevitáveis na valoração de serviçosecossistêmicos, portanto, uma análise de sensibili<strong>da</strong>dedeve ser disponibiliza<strong>da</strong> para os tomadoresde decisão.9. A valoração tem o potencial de trazer esclarecimentossobre objetivos conflitantes e trade-offs, mas deve serapresenta<strong>da</strong> de forma conjunta com outras informaçõesqualitativas e quantitativas e talvez não seja aúltima palavra.Na Fase II, vamos explorar a literatura existente sobre valoraçãocom maior profundi<strong>da</strong>de e desenvolver uma metodologiaque permita selecionar técnicas de valoração eque inclua a aplicação de transferência de benefícios e aagregação. O trabalho terá como base o marco descritoneste capítulo e será refinado <strong>da</strong> seguinte forma:1. Irá focar na contribuição de serviços para benefíciosfinais para as pessoas, evitando, dessa forma, a duplacontagem.2. Existirá um “foco espacial” claro, nas locali<strong>da</strong>desonde os serviços e benefícios surgem.3. Identificará riscos, observando a fragili<strong>da</strong>de de umecossistema e se ele está perto de seu limiar; isso irárefletir na escolha de uma abor<strong>da</strong>gem de avaliação,reconhecendo as limitações <strong>da</strong> análise convencionalonde as mu<strong>da</strong>nças não são marginais.4. Da mesma forma, para a estimação de valores deopção <strong>dos</strong> fluxos de serviços ecossistêmicos, reconheceráas limitações do desconto quando nãoconsiderarmos as pequenas variações em uma determina<strong>da</strong>trajetória de crescimento..Finalmente, devemos afirmar aqui que a valoração não éum fim em si mesmo e deve ser orienta<strong>da</strong> para as necessi<strong>da</strong>des<strong>dos</strong> usuários finais. Isto inclui formuladores depolítica e tomadores de decisão em to<strong>dos</strong> os níveis dogoverno. Também inclui organizações corporativas e deconsumidores, uma vez que os atores do setor priva<strong>dos</strong>ão usuários significativos <strong>dos</strong> benefícios <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee potencialmente administradores de biodiversi<strong>da</strong>de e<strong>ecossistemas</strong>.Nosso esforço na Fase II será de engajar estes usuáriosfinais para assegurar que o resultado do trabalho, o relatóriofinal sobre a Economia <strong>dos</strong> Ecossistemas e <strong>da</strong>Biodiversi<strong>da</strong>de, seja relevante, comprometi<strong>da</strong> e efetivaem assegurar uma reflexão apropria<strong>da</strong> do valor econômico<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. A ênfase em usuários finais nosleva a enfocar a relevância política <strong>da</strong> avaliação econômicae parte do Capítulo 4 já é uma prévia de exemplos queapresentam boas estimativas econômicas e fun<strong>da</strong>mentosusa<strong>dos</strong> para apoiar melhores políticas para a conservação<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.Notas finais1.O Estudo Explorando a Ciência (Scoping the Science)teve como líder científico a Universi<strong>da</strong>de de Cambridge efoi feito em colaboração com o Instituto Europeu de PolíticaAmbiental (IEEP, na sigla em inglês), Programa <strong>da</strong>sNações Uni<strong>da</strong>s para o Meio Ambiente e Centro de Monitoramento<strong>da</strong> Conservação Mundial <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s(UNEP-WCMC) e o Centro de Pesquisa <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deAlterra-Wageningen.ReferênciasBalmford, A., Bruner, A., Cooper, P., Costanza, R.,Farber, S., Green, R.E., Jenkins, M., Jefferiss, P.,Jessamy, V., Madden, J., Munro, K., Myers, N.,Naeem, S., Paavola, J., Rayment, M., Rosendo,S., Roughgarden, J., Trumper, K. and Turner, R.K.(2002) Economic reasons for conserving wild nature,Science 297: 950-953.Balmford, A., Gravestock, P., Hockley, N., McClean, C.J.and Roberts, C.M. 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4DA ECONOMIA À POLÍTICAAimperfeição <strong>da</strong> bússola econômica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>depode ser repara<strong>da</strong> com uma abor<strong>da</strong>gemeconômica apropria<strong>da</strong> aplica<strong>da</strong> à informaçãocerta. Isso permitirá o aprimoramento <strong>da</strong>s políticasem vigor, a formulação de novas políticas e a criaçãode novos merca<strong>dos</strong>: to<strong>dos</strong> são fatores necessáriospara a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas eo restabelecimento <strong>da</strong> saúde do planeta.No último capítulo descrevemos como a biodiversi<strong>da</strong>deé seriamente afeta<strong>da</strong> pelas políticas – ou ausência delas.Uma vez que não existem merca<strong>dos</strong> para a maioria <strong>dos</strong>“bens e serviços públicos” <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>,seus custos e benefícios muitas vezes são distribuí<strong>dos</strong>entre diferentes atores ou em diferentes níveis, assimcomo qualquer “externali<strong>da</strong>de”. Há pouco ou nenhumreinvestimento privado na manutenção e conservaçãodesses recursos. Frequentemente, o poluidor não pagapor causar prejuízos a terceiros. A pesca subsidia<strong>da</strong> esgotaos estoques de peixes em níveis muito acima <strong>dos</strong> queocorreriam na ausência de tais subsídios. Serviços florestaisvitais – como regulação e abastecimento de água, retençãodo solo, fluxo de nutrientes, melhoria de paisagens– não recompensam os beneficiários e são forneci<strong>dos</strong> emníveis muito inferiores aos desejáveis. O benefício <strong>da</strong> conservaçãode uma espécie para gerações futuras é global,ao passo que os custos para a sua conservação são locaise não compensa<strong>dos</strong>, e por isso ocorre a extinção.Apesar de to<strong>dos</strong> esses “desencontros”, há espaço paraotimismo. Em nossos estu<strong>dos</strong> de Fase I, observamosvárias boas políticas já em vigor em muitos países queabor<strong>da</strong>m essas questões. No entanto, é necessário quese faça uma análise mais profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>economia</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee serviços ecossistêmicos para tornar essassoluções reproduzíveis em diferentes escalas e para quesejam funcionais após seus estágios iniciais, fases “piloto”e em outros locais que não os atuais.O relatório final sobre A Economia <strong>dos</strong> Ecossistemas e<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (<strong>TEEB</strong>) abor<strong>da</strong>rá sistematicamenteuma vasta gama de opções de políticas para melhorar aconservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos,e irá demonstrar como são gera<strong>da</strong>s melhoriasnas políticas a partir <strong>da</strong> aplicação e integração <strong>da</strong> nova<strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. A seguir,vamos <strong>da</strong>r alguns exemplos para ilustrar como osvalores econômicos <strong>dos</strong> benefícios e custos <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>podem ser internaliza<strong>dos</strong> e utiliza<strong>dos</strong> para aju<strong>da</strong>r amelhorar as políticas vigentes ou oferecer novas opções.Os exemplos vêm de diferentes áreas de políticas, mastransmitem quatro mensagens principais, detalha<strong>da</strong>s nasseções seguintes:• ‌repensar os subsídios de hoje para refletir as priori<strong>da</strong>desde amanhã;• ‌recompensar benefícios não reconheci<strong>dos</strong>, penalizaros custos não computa<strong>dos</strong>;• ‌compartilhar os benefícios <strong>da</strong> conservação;• ‌mensurar o que gerimos.REPENSAR OS SUBSÍDIOS DE HOJE PARA REFLE­TIR AS PRIORIDADES DE AMANHÃSubsídios existem em todo o mundo e nos diversossetores <strong>da</strong> <strong>economia</strong>. Eles afetam a to<strong>dos</strong> nós e muitosdeles afetam a saúde <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> do planeta.Os subsídios prejudiciais devem ser modifica<strong>dos</strong>de modo a frear a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e para possibilitaro manejo adequado <strong>dos</strong> recursos do planeta.Os subsídios podem apoiar a inovação social e ambiental,bem como o desenvolvimento tecnológico e econômico.Quadro 4.1: Subsídios prejudiciaisao meio ambienteA OECD define como subsídio “o resultado de umaação governamental que confere uma vantagemaos consumidores ou produtores, a fim de complementarsua ren<strong>da</strong> ou reduzir os seus custos”.No entanto, esta definição ignora as consequênciaspara os recursos naturais e não abrange osubsídio como resultado <strong>da</strong> inação. Subsídiosambientalmente prejudiciais são o resultado deuma ação ou omissão do governo que “confereuma vantagem aos consumidores ou produtores,a fim de complementar seus rendimentos oureduzir seus custos, mas que vai contra as boaspráticas ambientais”.Da <strong>economia</strong> à política 51


Quadro 4.2: Subsídios que distorcemo comércioAs políticas comerciais influenciam as tendênciasglobais de biodiversi<strong>da</strong>de. Dispositivos legais relativosao comércio agrícola e pesqueiro (por exemplo,tratamentos favoráveis ou tarifas preferenciais)podem ter um impacto significativo sobre ospadrões de utilização <strong>da</strong> terra e <strong>dos</strong> recursos nospaíses exportadores e importadores. Acor<strong>dos</strong> decomércio internacional, combina<strong>dos</strong> com políticasnacionais orienta<strong>da</strong>s para a exportação, podemlevar os países a concentrarem-se na exportaçãode recursos naturais em um nível insustentável.Por exemplo, os Acor<strong>dos</strong> de Pesca <strong>da</strong> União Europeialevaram ao esgotamento de recursos porAndré Künzelmann/UFZAcertar nos preços é uma regra fun<strong>da</strong>mental para uma<strong>economia</strong> saudável. Como geralmente os benefícios <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> constituem na ver<strong>da</strong>debens públicos que não têm preço, isso pode ser feiembarcações<strong>da</strong> UE fora <strong>da</strong> UE, resultando no usoinsustentável de recursos naturais nesses países.Por outro lado, podem resultar em ganhos priva<strong>dos</strong>, sembenefícios sociais e podem levar à ineficiência econômicae a distorções de mercado. Pior, eles podem resultar emper<strong>da</strong>s de biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>nos aos <strong>ecossistemas</strong>. Emalguns casos, o apoio racional a um objetivo social comoa segurança alimentar persiste por mais tempo que suafinali<strong>da</strong>de, resultando em custos econômicos e ambientaisdesnecessários.Os subsídios, em sua maioria, são intencionais e introduzi<strong>dos</strong>para um propósito claro e específico, como ospagamentos para o desenvolvimento <strong>da</strong> energia nuclearcomercial nas déca<strong>da</strong>s de 50 e 60, e os incentivos agrícolaspara reconstrução <strong>da</strong> agricultura europeia devasta<strong>da</strong>após a II Guerra Mundial. Muitos são dispositivospermanentes – insumos e produtos agrícolas geralmentesão subsidia<strong>dos</strong> diretamente, junto com energia, alimentação,transporte e água.Há subsídios menos óbvios que existem como traçosacidentais de políticas ou falta de políticas, o quesignifica que os custos <strong>dos</strong> <strong>da</strong>nos à biodiversi<strong>da</strong>de e aos<strong>ecossistemas</strong> são ignora<strong>dos</strong>. Por exemplo, raramente aágua capta<strong>da</strong> tem seu preço estabelecido consideran<strong>dos</strong>eu valor de recurso, empresas raramente pagam pelovalor do material genético que usam como base paraseus produtos, e geralmente os custos de <strong>da</strong>nos causa<strong>dos</strong>à floresta ou áreas costeiras não são pagos.Isso já começou a mu<strong>da</strong>r. Embora os subsídios existentessejam bem defendi<strong>dos</strong> por interesses escusos, osformuladores de políticas têm reconhecido a importânciade aperfeiçoá-los, por razões ambientais e econômicas.Dois caminhos têm se mostrado promissores. Os subsídiospodem ser extintos ou modifica<strong>dos</strong> de forma a promovera utilização <strong>dos</strong> recursos respeitando-se o meioambiente – como as mu<strong>da</strong>nças nos subsídios agrícolasrealiza<strong>da</strong>s nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> <strong>da</strong> América e na UniãoEuropeia. Os subsídios podem ser substituí<strong>dos</strong>, com autilização de recursos priva<strong>dos</strong> para manter fluxos financeirosdireciona<strong>dos</strong> a determina<strong>da</strong>s práticas de uso <strong>da</strong>terra, a exemplo do leilão <strong>da</strong> paisagem na Holan<strong>da</strong>. Aspaisagens são dividi<strong>da</strong>s em elementos distintos, comouma árvore, uma cerca viva ou um lago. Embora o proprietário<strong>da</strong> terra continue a ter proprie<strong>da</strong>de sobre o item,ci<strong>da</strong>dãos fazem lances em leilão para apoiar a conservaçãode um elemento específico e, assim, arreca<strong>da</strong>-sedinheiro para sua preservação. Assim, tanto a ren<strong>da</strong> <strong>dos</strong>agricultores quanto a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de podemser assegura<strong>da</strong>s sem subsídios estatais.RECOMPENSAR BENEFÍCIOS NÃO RECONHECI­DOS, PENALIZAR CUSTOS NÃO COMPUTADOSEuropean Commission –LIFE04NAT/HU/00011852 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


to de duas maneiras: instituindo-se políticas adequa<strong>da</strong>s(que recompensem a preservação do fluxo desses benspúblicos e penalizem sua destruição), e incentivando-semerca<strong>dos</strong> adequa<strong>dos</strong> (principalmente os “merca<strong>dos</strong> deconformi<strong>da</strong>de” que atribuem valores comerciais priva<strong>dos</strong>ao fornecimento ou utilização desses bens e criam estruturasde incentivos para pagar por eles). Destaca-se oexemplo de pagamentos por serviços ecossistêmicos, ealguns merca<strong>dos</strong> emergentes, que poderiam aproveitaro poder <strong>da</strong> oferta e <strong>da</strong> procura se houver infraestrutura,incentivos, governança e financiamento adequa<strong>dos</strong>.Pagamentos por serviçosecossistÊMICOSKlaus Henle, UFZOs pagamentos por serviços ecossistêmicos (PSE)podem criar deman<strong>da</strong>, uma força de mercado necessáriapara corrigir o desequilíbrio que prejudicaa biodiversi<strong>da</strong>de e dificulta o desenvolvimento sustentável.Os PSE são pagamentos por um serviço ou pelo uso<strong>da</strong> terra que viabilizam garantir tal serviço (UNEP/IUCN2007). Os governos estão criando ca<strong>da</strong> vez mais programasde incentivos que apoiam os proprietários queprotegem os serviços ecossistêmicos por meio <strong>da</strong> compensaçãopor receitas perdi<strong>da</strong>s (Millennium EcosystemAssessment 2005). Os pagamentos são particularmenteimportantes quando não é possível comprar e reservarterra para conservação, ou onde não é possível estabeleceráreas protegi<strong>da</strong>s.Os pagamentos podem ser internacionais (PSEI). Umexemplo importante é o Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo (MDL), que opera no âmbito do Protocolo deQuioto. A Conferência <strong>da</strong>s Partes realiza<strong>da</strong> em Bali concordouem considerar projetos REDD (Redução de Emissõespor Desmatamento e Degra<strong>da</strong>ção Florestal) comoparte do regime pós-2012. Este é um marco importante,pois engloba 18-20% <strong>da</strong>s emissões globais de gases deefeito de estufa gera<strong>da</strong>s pelo desmatamento de florestastropicais e mu<strong>da</strong>nças no uso <strong>da</strong> terra relaciona<strong>da</strong>s (Redede Ação pelo Clima, Rede CAN 2008). Evitar o desmatamentoe criar e restaurar florestas podem, simultaneamente,proteger a biodiversi<strong>da</strong>de e os serviços ecossistêmicos,bem como combater as mu<strong>da</strong>nças climáticas.Mas é preciso haver apoio financeiro significativo – possivelmenteUS$ 10 bilhões por ano para um impacto significativosobre as taxas de desmatamento (Dutschke eWolf 2007) – e ain<strong>da</strong> há incerteza sobre como implementarestratégias REDD e sobre o seu escopo (Miles 2007).É preciso elaborar mecanismos financeiros adequa<strong>dos</strong>para estimular a ativi<strong>da</strong>de. Uma opção é um mecanismobaseado no mercado que permitiria o comércio de créditospor desmatamento evitado. As vantagens de começarcedo com projetos-piloto devem ser pondera<strong>da</strong>scontra o risco de se empurrar a pressão do desmatamentopara florestas vizinhas.Iniciativas REDD podem reduzir significativamente asemissões de gases de efeito estufa a um custo baixo, eao mesmo tempo, aju<strong>da</strong>r a conservar as florestas e suabiodiversi<strong>da</strong>de. No entanto, é preciso considerar os riscospotenciais de efeitos em cadeia. É improvável queestratégias REDD incluam apoio a outros serviços ecossistêmicosalém de armazenamento de carbono, e outrosserviços podem ser <strong>da</strong>nifica<strong>dos</strong> por pressões de desmatamentodesloca<strong>da</strong>s. Por exemplo, as pressões para retira<strong>da</strong>de lenha e forragem de uma floresta degra<strong>da</strong><strong>da</strong> noâmbito de um projeto REDD poderiam se deslocar parauma área de floresta vizinha com <strong>ecossistemas</strong> mais saudáveise mais biodiversi<strong>da</strong>de, e a área vizinha seria entãoafeta<strong>da</strong>. Iniciativas REDD poderiam resultar em reduçõesde emissões, mas ao custo <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de.O PSE pode ser substancial e apoiar políticas convencionaisde biodiversi<strong>da</strong>de. O governo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>gasta mais de US$1,7 bilhão por ano em pagamentosdiretos a agricultores para a proteção do meio ambiente(Kumar 2005). Os pagamentos no âmbito do Programade Incentivo à Quali<strong>da</strong>de Ambiental do Ministério <strong>da</strong> Agriculturaincentivam o uso sustentável <strong>da</strong> irrigação, nutrientese fertilizantes, manejo integrado de pragas e proteção<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> selvagem. Da mesma forma, o mecanismo <strong>da</strong>União Europeia para promover a agricultura ecológica esilvicultura é parte importante <strong>dos</strong> programas de desenvolvimentorural <strong>da</strong> UE (Comissão Europeia 2005), quetotalizam cerca de 4,5 bilhões de euros por ano (ComissãoEuropeia 2007). Em 2005, esquemas agro-ambientaiscobriam uma área de 36,5 milhões de hectares naUE-27 (excluindo a Hungria e Malta), por meio de 1,9milhão de contratos com agricultores. O PSE pode <strong>da</strong>ràs comuni<strong>da</strong>des a oportuni<strong>da</strong>de de melhorar suas vi<strong>da</strong>spor meio do acesso a novos merca<strong>dos</strong>. Uma característicade sucesso é a combinação de “incentivos e punição”por meio <strong>da</strong> introdução de legislação de proteção juntoDa <strong>economia</strong> à política 53


Norma Neuheiser, UFZpor meio de merca<strong>dos</strong> de conformi<strong>da</strong>de, cria<strong>dos</strong> paraque as externali<strong>da</strong>des de custo possam ser computa<strong>da</strong>s,securitiza<strong>da</strong>s e nivela<strong>da</strong>s, a fim de serem negocia<strong>da</strong>s entrepoluidores, que arcam com um preço determinadopelo mercado para cobrir seus custos por poluírem. Essetema será abor<strong>da</strong>do na próxima seção.Criação de novos merca<strong>dos</strong>Já estão se formando novos merca<strong>dos</strong> que promoveme recompensam a biodiversi<strong>da</strong>de e os serviçosecossistêmicos. Alguns deles têm o potencial decrescer. Mas, para serem bem-sucedi<strong>dos</strong>, merca<strong>dos</strong>precisam de infraestrutura institucional, incentivos,governança e financiamento adequa<strong>dos</strong> – em suma,investimento.Tradicionalmente, o estado tem sido considerado o únicoresponsável pela gestão <strong>dos</strong> serviços públicos <strong>dos</strong><strong>ecossistemas</strong>, mas agora está claro que os merca<strong>dos</strong>também podem contribuir para essa tarefa, muitas vezessem gasto de dinheiro público. Abor<strong>da</strong>gens basea<strong>da</strong>s nomercado podem ser flexíveis e custo-efetivas – uma característicageralmente ausente <strong>da</strong>s políticas tradicionaiscom incentivos para a conservação. Isto pode ser particularmenteimportante para as populações de países emdesenvolvimento (ver Quadro 4.3).Estendendo o princípiodo “poluidor pagador”Há uma crescente tendência ao uso de avaliações de<strong>da</strong>nos para enfrentar a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos. Muitas vezes, o poluidor éobrigado a pagar pelos <strong>da</strong>nos causa<strong>dos</strong>, seja por meiodo pagamento pelos projetos de limpeza e restauraçãoem si, ou por meio de sentenças indenizatórias punitivasemiti<strong>da</strong>s por tribunais. Alguns exemplos importantes são:• ‌o derramamento de Exxon Valdez, – uma mancha deóleo de 7800 quilômetros quadra<strong>dos</strong> que ain<strong>da</strong> afetaa pesca no Alasca, tendo custado ao poluidor US$3,4bilhões em multas, custos de limpeza e indenização(Space Daily 2008).• ‌Rio Guadiamar – principal fonte de água <strong>da</strong>s marismasdo Parque Nacional de Doñana na Espanha, foiafetado pelo devastador rompimento de uma barragemna mina de Aznalcóllar, que liberou lamas tóxicascuja limpeza e recuperação geraram para as autori<strong>da</strong>desespanholas custos de mais de 150 milhões deeuros (Nuland e Cals, 2000).Estes incidentes estabeleceram grandes precedentespara a recuperação de custos basea<strong>da</strong> em eventos. Oprincípio do “poluidor-pagador” pode ain<strong>da</strong> ser ampliadoQuadro 4.3: Pagamentos por serviçosambientais na Costa RicaDe 1997 a 2004, a Costa Rica investiu cerca deUS$ 200 milhões em seu programa de PSE, protegendomais de 460 mil hectares de florestas eplantações florestais, e indiretamente contribuindopara o bem-estar de mais de 8.000 pessoas.Diversas associações e parcerias nos níveis nacionale internacional foram construí<strong>da</strong>s em tornodo programa, contribuindo para sua sustentabili<strong>da</strong>definanceira de longo prazo.O programa de PSE na Costa Rica é praticamenteuma estratégia nacional para a conservação florestale <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e o desenvolvimentosustentável. Tem sido uma poderosa ferramentapara demonstrar os valores adicionais <strong>dos</strong><strong>ecossistemas</strong> florestais além <strong>da</strong> madeira, e, assim,oferece incentivos aos produtores para queforneçam estes valores. A legislação garantecompensação por quatro serviços ambientais:redução <strong>da</strong> emissão de gases de efeito estufa,serviços de água, valor paisagístico e biodiversi<strong>da</strong>de.O programa de PSE contribuiu para a redução dodesmatamento, ao mesmo tempo em que reativoua indústria florestal.Portela e Rodriguez 200854 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


de conservação. Contudo, há dificul<strong>da</strong>des, uma vez que“os merca<strong>dos</strong> de serviços ambientais” podem ser imperfeitos,às vezes carecendo de profundi<strong>da</strong>de, liquidez, econcorrência. Geralmente, não é fácil estabelecer preços,pois a maioria <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos são serviçospúblicos, presta<strong>dos</strong> ampla e remotamente sob a formade externali<strong>da</strong>des positivas. Em alguns casos, os custosde transação não compensam os ganhos potenciais.Os governos podem aju<strong>da</strong>r a sanar algumas dessas deficiênciasfornecendo um marco institucional adequado,por exemplo, modificando as regras de imputabili<strong>da</strong>de,ou limitando o uso <strong>dos</strong> recursos e emitindo licenças negociáveispara permitir flexibili<strong>da</strong>de dentro do limite estabelecido.O Esquema de Comércio de Emissões <strong>da</strong>União Europeia para créditos de carbono (EU-ETS) é umexcelente exemplo de “mercado de conformi<strong>da</strong>de”. Osgovernos também podem facilitar a participação priva<strong>da</strong>para <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de aos serviços ecossistêmicos, porexemplo, por meio <strong>da</strong> rotulagem.Mecanismos e produtos financeiros têm sido desenvolvi<strong>dos</strong>para li<strong>da</strong>r com o passivo ambiental. Bancos de habitatse espécies (ver Quadro 4.4) estão entre os instrumentosmais inovadores, oferecendo créditos negociáveis.Merca<strong>dos</strong> para produtos que são produzi<strong>dos</strong> de formasustentável permitem aos consumidores expressar suaspreferências de proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e de <strong>ecossistemas</strong>de forma que as empresas compreen<strong>da</strong>m. Essesmerca<strong>dos</strong> estão crescendo rapi<strong>da</strong>mente – os merca<strong>dos</strong><strong>da</strong> agricultura orgânica, alimentos e produtos de madeiracertifica<strong>dos</strong> estão crescendo três vezes mais rápido doque a média e o mercado de commodities produzi<strong>da</strong>s deforma sustentável pode chegar a US$ 60 bilhões por anoaté 2010 (The Economist 2005). No Reino Floral do Cabona África do Sul – local muito rico em biodiversi<strong>da</strong>de queabriga quase 10 mil espécies de plantas – os produtoresde vinho que se comprometem a preservar pelo menos10% <strong>dos</strong> seus vinhe<strong>dos</strong> recebem o status de excelência,Quadro 4.4: A experiência com bancosde habitats, créditos de espéciesameaça<strong>da</strong>s e biobancosNos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, empresas ou indivíduos podemcomprar créditos ambientais <strong>dos</strong> Bancos deMitigação <strong>da</strong>s Áreas Úmi<strong>da</strong>s para pagar pela degra<strong>da</strong>çãode <strong>ecossistemas</strong> de áreas úmi<strong>da</strong>s causa<strong>da</strong>por ativi<strong>da</strong>des agrícolas ou de desenvolvimento.Mais de 400 bancos foram aprova<strong>dos</strong> atésetembro de 2005, quase três quartos <strong>dos</strong> quaispatrocina<strong>dos</strong> por enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s, ao passoque em 2006 o comércio de créditos bancários<strong>da</strong>s áreas úmi<strong>da</strong>s atingiu um montante de US$350 milhões (Bean et al. 2007).Um sistema cap-and-trade de biodiversi<strong>da</strong>de nosEsta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> criou “créditos de espécies ameaça<strong>da</strong>s”,que podem ser utiliza<strong>dos</strong> para compensaros impactos negativos de uma empresasobre as espécies ameaça<strong>da</strong>s e seus habitats.O volume de mercado em maio de 2005 foi superiora US$ 40 milhões, com 930 operaçõesrealiza<strong>da</strong>s e mais de 44.600 hectares de habitatde espécies ameaça<strong>da</strong>s protegi<strong>da</strong>s (Fox e Nino-Murcia 2005).Em 2006, a Austrália iniciou um projeto-pilotoem New South Wales por meio <strong>da</strong> Lei de Biobankingde 2006 para criar incentivos para protegerterras particulares com alto valor ecológico(Governo de New South Wales 2006). Oprojeto permitiu que imobiliárias comprassem“créditos de biodiversi<strong>da</strong>de” para compensar osimpactos negativos sobre a biodiversi<strong>da</strong>de. Essescréditos podem ser cria<strong>dos</strong> por meio <strong>da</strong> melhoriae proteção permanente <strong>da</strong> terra (Thompsone Evans, 2002).European Commission – LIFE05NAT/SK/000112que podem anunciar nos rótulos <strong>dos</strong> produtos. Eles tambémpodem aumentar as receitas do turismo ecológicodesde a criação <strong>da</strong> Eco-Rota Montanha Verde em 2005(Green Mountain 2008). Esta certificação e rótulos ecológicossão populares como instrumentos basea<strong>dos</strong> nomercado, embora possivelmente com menor potencialde longo prazo do que os esquemas de comércio e negociaçãodescritos aqui (ver Quadro 4.4).Se a per<strong>da</strong> <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos representar riscopara seu negócio, empresas também investirão na gestãodesses serviços mesmo sem vantagens diretas paraseus produtos ou sua reputação. Este já é um ponto claroa favor do pagamento com recursos priva<strong>dos</strong> por motivospuramente financeiros, como demonstra o exemplode Vittel (ver Quadro 4.6).Da <strong>economia</strong> à política 55


European Commission – LIFE04NAT/HU/000118COMPARTILHAR OS BENEFÍCIOSDA CONSERVAÇÃOÉ preciso compreender e explicitar melhor os valores econômicosproduzi<strong>dos</strong> pela conservação. A avaliação podeaju<strong>da</strong>r a informar as escolhas de políticas para a criaçãoou manutenção de áreas protegi<strong>da</strong>s. Exemplos como oSistema de Barragem Gabcikovo-Nagymaros na Hungriamostram que quando o valor <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é medidoem relação aos benefícios <strong>dos</strong> grandes projetos dedesenvolvimento, a possibili<strong>da</strong>de de proteger áreas sensíveisaumenta. Neste exemplo específico, a análise demonstrouque o capital natural envolvido excedia amplamenteo benefício do projeto de barragem proposto, queteria causado enormes impactos negativos sobre a biodiversi<strong>da</strong>denas áreas úmi<strong>da</strong>s de Szigetkov (OCDE, 2001).As comuni<strong>da</strong>des locais são as primeiras a arcar comos custos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de. Por isso, elasdevem compartilhar os benefícios <strong>da</strong> conservação.As comuni<strong>da</strong>des locais, bem como os governos locais,normalmente buscam o crescimento e o desenvolvimentoeconômico, atraindo mais pessoas e empresas,promovendo a construção civil e o desenvolvimento deinfraestrutura. Podem considerar as áreas protegi<strong>da</strong>scomo entraves ao desenvolvimento, especialmente ondea terra é escassa e seu uso é limitado. É o nível local quearca com os custos decorrentes <strong>da</strong>s restrições ao uso<strong>da</strong> terra, mas os benefícios tendem a se estender muitoalém <strong>da</strong>s fronteiras municipais.As áreas protegi<strong>da</strong>s poderiam produzir benefícios apartir de bens e serviços ecossistêmicos em valoresque variam entre US$4,4 e 5,2 bilhões por ano.Balmford et al. 2002É fun<strong>da</strong>mental compreender melhor a <strong>economia</strong> <strong>dos</strong>serviços ecossistêmicos para garantir e aumentar asáreas protegi<strong>da</strong>s, mostrando como perceber e compartilharseu valor com as comuni<strong>da</strong>des locais semcomprometer seus benefícios para a biodiversi<strong>da</strong>de.Mais de 11% <strong>da</strong> superfície terrestre do planeta já estálegalmente protegi<strong>da</strong>, graças a uma rede de mais de100.000 áreas protegi<strong>da</strong>s (UNEP-WCMC/IUCN-WCPA2008), que juntas contêm a maior parte <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dedo planeta. A rede Natura 2000 <strong>da</strong> UE é um exemplo,que representa cerca de 20% do território <strong>dos</strong> 27 membros<strong>da</strong> UE (UE 2008).Mas a rede de áreas protegi<strong>da</strong>s não está completa, e asque existem estão ameaça<strong>da</strong>s (Bruner et al. 2001) pelafalta de financiamento e apoio político. Especialmente nocontexto do nosso trabalho, as áreas protegi<strong>da</strong>s enfrentampressão financeira gera<strong>da</strong> pelos ganhos potenciaisadvin<strong>dos</strong> <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> madeira, <strong>da</strong> carne, <strong>dos</strong> biocombustíveise de outros recursos (CDB 2003, 2004; Terborgh1999).Essa incompatibili<strong>da</strong>de deve ser corrigi<strong>da</strong>, de preferênciapor meio <strong>da</strong> participação nas receitas oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s áreasprotegi<strong>da</strong>s, como em Ugan<strong>da</strong> (ver Quadro 4.7). Os custos<strong>da</strong> conservação comunitária, como as per<strong>da</strong>s agropecuárias,podem ser significativos e precisam ser administra<strong>dos</strong>pelas comuni<strong>da</strong>des, pelos conservadores <strong>da</strong>floresta e pelas ONGs. É comum a falta de indenizaçãoadequa<strong>da</strong>, embora existam outros exemplos recentesQuadro 4.5: Reflorestamentodo Canal do PanamáSeguradoras e grandes companhias de navegaçãoestão financiando um projeto de 25 anos para restauraros <strong>ecossistemas</strong> florestais ao longo <strong>dos</strong> 80quilômetros do Canal do Panamá. É a rota de navegaçãopreferi<strong>da</strong> entre os oceanos Atlântico e Pacífico,com mais de 14.000 navios tendo passadopelo canal em 2007. Mas seu funcionamento estásendo ca<strong>da</strong> vez mais afetado pelas cheias, abastecimentode água irregular e assoreamento comoresultado do desmatamento <strong>da</strong>s terras circunvizinhas(Gentry et al. 2007).Os custos de manutenção do canal estão aumentando,e há um risco crescente de que tenha queser fechado. As companhias de navegação enfrentavamprêmios de seguro ca<strong>da</strong> vez mais altos, atéque a ForestRe – enti<strong>da</strong>de seguradora especializa<strong>da</strong>foca<strong>da</strong> em riscos florestais – convenceu-as a financiara restauração do ecossistema (The Banker2007). As vantagens são menor erosão e um fluxomais controlado de água doce para o canal, o quereduz o risco de seguro para que as transportadoraspossam se beneficiar de prêmios mais baixos.56 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Quadro 4.6: O exemplo de VittelA empresa de água mineral Vittel (Nestlé Waters)estava preocupa<strong>da</strong> com a contaminação por nitratoscausa<strong>da</strong> pela intensificação de ativi<strong>da</strong>desagrícolas. Começou então a pagar agricultores localiza<strong>dos</strong>em sua área de captação para que tornassemsuas práticas mais sustentáveis. Um elementochave do sucesso dessa iniciativa foi que aVittel ganhou a confiança <strong>dos</strong> agricultores e manteveseus níveis de ren<strong>da</strong>, oferecendo-lhes pagamentosapropria<strong>dos</strong>. Ela também financiou to<strong>da</strong>sas alterações tecnológicas necessárias, poupandoos agricultores de gastarem do próprio bolso. Aempresa trabalhou intensivamente com os agricultorespara identificar práticas alternativas adequa<strong>da</strong>se incentivos mutuamente aceitáveis.Perrot-Maître 2006Assim, a valoração e o compartilhamento <strong>dos</strong> benefícios<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos podemaju<strong>da</strong>r as políticas de proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de a atenderas necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des locais de maneiramais efetiva. Se os benefícios se propagam para além donível local, transferências podem recompensar os esforços<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des e ajudá-las a encontrar os recurdesucesso (por exemplo, Bajracharya et al. 2008), ondeuma pesquisa com os moradores locais concluiu que osbenefícios socioeconômicos superaram os custos.Quando os benefícios são menos diretos do que noexemplo de Ugan<strong>da</strong> citado acima, transferências fiscaisentre governos central, regionais e locais podem garantirreceitas locais, que representariam uma parte <strong>dos</strong> benefíciosdo ecossistema. O Brasil também demonstra comoeste tipo de financiamento funciona. Desde 1992, municípiosno estado do Paraná recebem transferências intergovernamentaispor conta <strong>da</strong>s áreas protegi<strong>da</strong>s. Os indicadoresde quali<strong>da</strong>de que determinam os pagamentoslevam em consideração as metas de conservação alcança<strong>da</strong>s.Como resultado, houve um aumento no númeroe na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s áreas protegi<strong>da</strong>s. Modelos similaresforam desenvolvi<strong>dos</strong> em 12 <strong>dos</strong> 27 esta<strong>dos</strong> brasileiros eoutros estão considerando essa abor<strong>da</strong>gem (Ring 2008).Na Europa, Portugal lidera a utilização de transferênciasfiscais intergovernamentais para municípios em áreas <strong>da</strong>Rede Natura 2000 no âmbito <strong>da</strong>s Diretivas para Habitatse Aves <strong>da</strong> União Europeia.Os custos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> e degra<strong>da</strong>ção dependem do quantoas comuni<strong>da</strong>des locais dependem <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos. Muitas comuni<strong>da</strong>des indígenassão totalmente dependentes <strong>dos</strong> recursos locaispara sobreviverem. Especialmente nesses casos, “áreasde conservação comunitárias” basea<strong>da</strong>s em sistemas deutilização de recursos naturais tradicionalmente sustentáveisrepresentam mais uma alternativa, e podem ser maiseficazes do que as áreas protegi<strong>da</strong>s convencionais (IUCN2008). Elas podem ter estruturas de governança a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>sàs necessi<strong>da</strong>des locais, bem como às competênciase conhecimentos locais disponíveis.Quadro 4.7: Áreas protegi<strong>da</strong>s em Ugan<strong>da</strong>Desde 1995, a legislação de Ugan<strong>da</strong> deixou agestão de recursos naturais nas mãos <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>deslocais. Por conseguinte, a Ugan<strong>da</strong>n WildlifeAuthority (UWA), desembolsa 20% de to<strong>da</strong>sas receitas do turismo em áreas protegi<strong>da</strong>s (AP)para as comuni<strong>da</strong>des locais vizinhas às AP. Essepercentual foi estabelecido sem um retrato preciso<strong>da</strong> <strong>economia</strong> de APs, mas mesmo uma aproximaçãogrosseira <strong>dos</strong> custos e benefícios permitea melhoria <strong>da</strong> subsistência local, simultaneamentecontribuindo para a preservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.É claro que tal sistema de compartilhamentode benefícios só funciona a longo prazo se realmentecompensar as comuni<strong>da</strong>des locais pelasrestrições de uso impostas pela AP. Portanto, conhecermelhor os custos e benefícios envolvi<strong>dos</strong>permitirá conciliar a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deem curso e reforçar os meios de subsistênciarural (Ruhweza 2008).Algumas áreas protegi<strong>da</strong>s no âmbito do “Programade Compartilhamento de Receitas” <strong>da</strong> Ugan<strong>da</strong>nWildlife AuthorityParque Nacional Impenetrável de BwindiParque Nacional <strong>dos</strong> Gorilas MgahingaParque Nacional do Lago MburoParque Nacional Rainha ElizabethParque Nacional <strong>da</strong>s Montanhas RwenzoriParque Nacional KibaaleParque Nacional SemlikiParque Nacional <strong>da</strong>s Cataratas de MurchisonParque Nacional do Monte ElgonTendências populacionais de espécies seleciona<strong>da</strong>sno Parque Nacional do Lago MburoEspécies 1999 2002 2003 2004 2006Zebra 2.249 2.665 2.345 4.280 5.986Búfalo 486 132 1.259 946 1.115Antílope d’água 598 396 899 548 1.072Hipopótamo 303 97 272 213 357Impala 1.595 2.956 2.374 3.300 4.705Fonte: UWA 2005Da <strong>economia</strong> à política 57


sos necessários para a proteção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e aprestação de serviços ecossistêmicos.O que a <strong>economia</strong> DOS ECOSSISTEMASe <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de pode ofereceràs áreas protegi<strong>da</strong>sUma melhor compreensão <strong>da</strong> <strong>economia</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>decontribuirá para:• ‌Criar fluxo de caixa: a crônica escassez de financiamentopara áreas protegi<strong>da</strong>s totalizou US$ 38,5 bilhõesem 2001 (Balmford et al. 2002). Quantificar osbenefícios financeiros e não-financeiros <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>é a chave para obtenção de financiamento privadoe geração de ren<strong>da</strong> para as áreas protegi<strong>da</strong>s pormeio de pagamentos por serviços ecossistêmicos.• ‌Obter apoio político: a clareza sobre os benefícioseconômicos <strong>da</strong> manutenção <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicospode aumentar o apoio político até o pontonormalmente alcançado em setores como agricultura,desenvolvimento industrial e planejamento regional.• ‌Melhorar a formulação de políticas: o estabelecimentode valores para a biodiversi<strong>da</strong>de e serviços ecossistêmicosserá uma ferramenta de apoio à formulaçãode políticas sobre o uso <strong>da</strong> terra, com base naquantificação <strong>dos</strong> efeitos <strong>da</strong>s decisões e permitindoa comparação <strong>da</strong>s opções como níveis de pastagemou extração de madeira.• ‌Melhorar as estruturas de governança: as áreas protegi<strong>da</strong>ssão muitas vezes geri<strong>da</strong>s de acordo commodelos que não levam em conta a distribuição decompetências relevantes e as preocupações <strong>dos</strong> maisafeta<strong>dos</strong> pela proteção. Uma melhor compreensão<strong>dos</strong> custos e benefícios <strong>da</strong> conservação e do uso <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de pode aju<strong>da</strong>r a melhorar a distribuição deresponsabili<strong>da</strong>des na gestão (Birner e Wittmer 2004).MENSURAR O QUE GERIMOS: MÉTRICAPARA A SUSTENTABILIDADE“Como as Contas Nacionais se baseiam em transaçõesfinanceiras, elas não levam em conta a Natureza,para a qual não devemos na<strong>da</strong> em termos depagamentos, mas à qual devemos tudo em termosde meios de subsistência.”Bertrand de Jouvenel 1968Nossa bússola econômica está com defeito devido a externali<strong>da</strong>desnão contabiliza<strong>da</strong>s em to<strong>dos</strong> os níveis – nacional,corporativo e individual. A seguir, resumiremos ostrabalhos em curso para corrigir esta falha e descreveremoscomo podemos contribuir na Fase II.A inadequação <strong>da</strong> contabili<strong>da</strong>de nacional é reconheci<strong>da</strong>há pelo menos 40 anos. Hoje, é fun<strong>da</strong>mental ir“além do PIB”, já que métricas inadequa<strong>da</strong>s nos custarammuito caro em termos de crescimento não sustentável,<strong>ecossistemas</strong> degra<strong>da</strong><strong>dos</strong>, per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de, eaté mesmo em redução do bem-estar humano per capita,especialmente nos países em desenvolvimento.Aditi Halder, Confederation of Indian IndustryCourtesy of European ParliamentEm novembro de 2007, a Comissão Europeia, o ParlamentoEuropeu, o Clube de Roma, a WWF e a OCDEorganizaram uma importante conferência em Bruxelas,com o título Além do PIB. Estiveram presentes 650 formuladoresde políticas e formadores de opinião de todo omundo. A conferência enfocou a necessi<strong>da</strong>de de outrosparâmetros além do PIB como medi<strong>da</strong> do que a socie<strong>da</strong>devaloriza, evidencia<strong>da</strong> pelo fato de que a devastaçãoresultante de eventos como o furacão Katrina e o tsunamina Ásia aparecem como aumento do PIB, apesar <strong>da</strong>s tragédiashumanas e per<strong>da</strong>s materiais.O consenso <strong>da</strong> conferência é de que precisamos adicionarmedi<strong>da</strong>s ambientais e sociais à atual métrica do PIB(Além do PIB 2007). Estabelecer exclusivamente o clássicocrescimento do PIB como meta pode não ser degrande aju<strong>da</strong> para muitos <strong>dos</strong> nossos problemas maisurgentes. Por exemplo, pode não ser capaz de resolver apobreza persistente na África e na Ásia, nem nos equipar58 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


para enfrentar as mu<strong>da</strong>nças climáticas e o desenvolvimentoinsustentável.O chamado para ação não vem apenas <strong>dos</strong> formuladoresde políticas e especialistas, mas também do público. Emuma pesquisa (GlobeScan 2007) sobre medi<strong>da</strong>s de progressoalém do PIB, três quartos <strong>dos</strong> inquiri<strong>dos</strong> (em 10países, inclusive Austrália, Brasil, Canadá, França, Alemanhae Rússia) concluíram que os governos deveriam “olharpara além <strong>da</strong> <strong>economia</strong> e incluir estatísticas de saúde, sociaise ambientais na mensuração do progresso nacional “.André Künzelmann, UFZO Sistema de Contas Nacionais (SCN) utilizado amplamentenão reconhece muitas externali<strong>da</strong>des significativas nasáreas de recursos naturais, saúde e educação. Isto significaque as melhorias desejáveis em saúde e educação sãocontabiliza<strong>da</strong>s como despesas em vez de investimentos.Serviços ecossistêmicos valiosos que são fontes de ren<strong>da</strong>não são sequer reconheci<strong>dos</strong>, e o desmatamento nãoé registrado como uma forma de depreciação.Figura 4.1: Utilização de solo e águapara produção de diversos alimentosConsumo de solo, m 2 por kg de proteína200150100500SojaConsumo de soloNecessi<strong>da</strong>de de água equivalenteLeguminosasAzeite dedendêFrutascítricasCereaisCarne,aveCarne,suínaCarne,ovinaCarne,bovinaFonte: Programa Mundial de Avaliação <strong>dos</strong> Recursos Hídricos<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (2003)15129630Água equivalente, m 3 por kg de alimentosGerenciar melhorias na saúde, educação e quali<strong>da</strong>deambiental sem uma estrutura formal para estabelecerseu valor financeiro pode ser um exercício frustrante. Escolhase barganhas políticas subótimas tendem a surgirna ausência de um “critério de sustentabili<strong>da</strong>de”. A publicaçãode um indicador de “poupança ver<strong>da</strong>deira” pormuitos anos pelo Banco Mundial mostrou que era de fatopossível ir além <strong>da</strong> métrica do PIB, em nível mundial (BancoMundial 2008). No entanto, a utili<strong>da</strong>de desta métricafoi limita<strong>da</strong> por sua necessi<strong>da</strong>de de incluir padrões mínimosnos <strong>da</strong><strong>dos</strong> coleta<strong>dos</strong> em to<strong>dos</strong> os países, limitandoassim a gama de ajustes de capital natural que poderiamser incluí<strong>dos</strong> no cômputo <strong>da</strong> poupança ver<strong>da</strong>deira.O desenvolvimento de uma métrica mais inclusiva decontabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e <strong>da</strong> riqueza nacional deve seruma priori<strong>da</strong>de, especialmente para países mais propensosa per<strong>da</strong>s de <strong>ecossistemas</strong> e biodiversi<strong>da</strong>de. Podefazer a diferença entre uma trajetória viável e sustentável<strong>da</strong> <strong>economia</strong> e um desastre, não apenas para países emdesenvolvimento, mas para to<strong>dos</strong> nós.O Sistema Integrado de Contabili<strong>da</strong>de Ambiental e Econômica<strong>da</strong> ONU (UNSD 2008) pode ser um ponto departi<strong>da</strong> para a elaboração de uma contabili<strong>da</strong>de holística<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza nacional que reflita as externali<strong>da</strong>desnas áreas de recursos naturais, saúde e educação. Atualmente,poucos países produzem estatísticas holísticasde ren<strong>da</strong> nacional nessas bases, e não há comparabili<strong>da</strong>de,já que diversas áreas são abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, diferentesexternali<strong>da</strong>des são captura<strong>da</strong>s, e existem vários graus degranulari<strong>da</strong>de.Uma revisão do Sistema de Contas Nacionais de 1993está sendo finaliza<strong>da</strong> pela Comissão Estatística <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s, envolvendo um grande número de organizações-chave,inclusive o Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>spara o Meio Ambiente – PNUMA, Banco Mundial, FMI,OCDE, Comissão Europeia e institutos de estatística emtodo o mundo. Entendemos que um componente importante<strong>da</strong> revisão do SCN é o reconhecimento de uma versãomelhora<strong>da</strong> do SEEA como padrão. O processo derevisão do SEEA em curso, por iniciativa do Comitê deEspecialistas <strong>da</strong> ONU sobre Contabili<strong>da</strong>de Econômico-Ambiental (UNCEEA, na sigla em inglês), é uma medi<strong>da</strong>oportuna e necessária para que a métrica <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> nacionalavance para “além do PIB”. Acreditamos que os<strong>ecossistemas</strong>, a biodiversi<strong>da</strong>de e sua valoração merecemespecial atenção. É muito importante que o desenvolvimento<strong>da</strong> contabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> bio-Da <strong>economia</strong> à política 59


diversi<strong>da</strong>de em termos físicos e monetários seja promovidocomo uma priori<strong>da</strong>de-chave desde o iníciona revisão SEEA em curso, com base no trabalho <strong>da</strong>contabili<strong>da</strong>de econômico-ambiental e outros.No nível corporativo, há um reconhecimento gradual <strong>da</strong>necessi<strong>da</strong>de de se redefinir o sucesso <strong>da</strong>s empresas, ereforçar a avaliação de desempenho e a comunicaçãopara refletir uma visão mais ampla <strong>da</strong> empresa do que ade mera otimizadora de capital financeiro para seus acionistas.Modelos de tripolari<strong>da</strong>de (triple bottom line) e derelatórios de sustentabili<strong>da</strong>de estão sendo adota<strong>dos</strong> porum número crescente de empresas. A Global ReportingInitiative (GRI) apresentou orientações detalha<strong>da</strong>s parautilização nos relatórios de sustentabili<strong>da</strong>de. O CarbonDisclosure Project tem sido bem-sucedido em estimulara divulgação voluntária de um número crescente de empresase países ano após ano. To<strong>da</strong>s estas iniciativas são,no entanto, basea<strong>da</strong>s em divulgação voluntária, e não sãosegui<strong>da</strong>s por um número suficiente de empresas para seremconsidera<strong>da</strong>s como normas de mercado.Na Fase II, vamos nos aproximar de organizações envolvi<strong>da</strong>sna redefinição de métricas de desempenhocorporativo e normas de relatoria, pois pretendemosaprimorar as orientações de valoração do uso do capitalnatural pelas empresas, inclusive a mensuração<strong>da</strong> pega<strong>da</strong> de carbono.Os consumidores constituem uma importante fonte depressões para mu<strong>da</strong>nça do uso do solo de <strong>ecossistemas</strong>naturais, especialmente por meio <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> poralimentos. Diferentes tipos de alimentos têm “pega<strong>da</strong>secológicas” dramaticamente diversas (ver Figura 4.1). Édifícil para os consumidores incorporar esses fatores emsuas opções de compras, a menos que os produtos –especialmente os alimentos – divulguem com clareza suapega<strong>da</strong> ecológica no ponto de ven<strong>da</strong>. Uma metodologiapadrão confiável é um pré-requisito básico, que iremosexplorar mais com grupos de usuários finais na Fase II. Oobjetivo é identificar e desenvolver métricas padrãopara a pega<strong>da</strong> do consumidor (em termos de utilizaçãode terra, água e energia), basea<strong>da</strong>s em princípiosde ecologia e <strong>economia</strong> que sejam simples de entendere implementar pelos comerciantes.IMAGINANDO UM NOVO MUNDOAos poucos, tem sido aceito que <strong>ecossistemas</strong> saudáveisque mantém altos níveis de biodiversi<strong>da</strong>de são mais resistentesà pressão externa e, consequentemente, maiscapazes de manter a prestação de serviços ecossistêmicospara a socie<strong>da</strong>de humana. Países e ca<strong>da</strong> vez maisempresas e ci<strong>da</strong>dãos querem conhecer e compreendera reali<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> custos de utilização do capital natural <strong>da</strong>Terra e as consequências <strong>da</strong>s políticas sobre a resiliênciae sustentabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>.Ain<strong>da</strong> enfrentamos muitas lacunas no conhecimento sobrea situação e as tendências <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e osfatores e pressões que contribuem para a sua per<strong>da</strong>, masos cenários que esboçamos para a per<strong>da</strong> projeta<strong>da</strong> debiodiversi<strong>da</strong>de, <strong>ecossistemas</strong> e serviços ecossistêmicosapontam firmemente para o alto risco de mais per<strong>da</strong>spara o bem-estar e o desenvolvimento humano.Este capítulo destacou diferentes abor<strong>da</strong>gens para substituira bússola econômica antiga e quebra<strong>da</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>dee empregar uma nova bússola: repensar os subsídiosde hoje, elaborar políticas e estruturas de mercado querecompensam os benefícios reconheci<strong>dos</strong> e penalizamos custos não captura<strong>dos</strong>, e compartilhar os benefícios<strong>da</strong> conservação e <strong>da</strong>s áreas protegi<strong>da</strong>s de forma maisequitativa. Algumas peças do kit de ferramentas <strong>da</strong> nova<strong>economia</strong> e <strong>da</strong>s novas políticas já estão sendo utiliza<strong>da</strong>sem alguns países ou regiões, e outros ain<strong>da</strong> estão desenvolvendoestu<strong>dos</strong> de caso iniciais mostrando o seupotencial, mas de modo geral ain<strong>da</strong> há muito a ser feito.Imagine agora que essas medi<strong>da</strong>s não tenham sido aplica<strong>da</strong>sapenas em projetos-piloto ou um único país. Imagineque as minúsculas sementes planta<strong>da</strong>s agora estejamse tornando árvores majestosas. Imagine como elaspodem contribuir para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>em 2030 e <strong>da</strong>í por diante.Imagine um crescimento do bem-estar e <strong>da</strong> segurançahumana que não se baseie mais no PIB per capita ca<strong>da</strong>vez mais alto e catástrofes climáticas e ecossistêmicasca<strong>da</strong> vez mais graves sendo manchetes nos jornais to<strong>da</strong>sas manhãs.Imagine um mundo seguro e estável, com acesso universala água potável e alimentos saudáveis, com equi<strong>da</strong>deno acesso à educação e oportuni<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong>, e comsegurança social e política – um mundo que atinge e atévai além <strong>dos</strong> Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.Biodiversi<strong>da</strong>de e serviços ecossistêmicos são agora reconheci<strong>dos</strong>como infraestrutura vital para a realização dobem-estar humano. Estamos convenci<strong>dos</strong> de que A Economia<strong>dos</strong> Ecossistemas e <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de, se usa<strong>da</strong>com cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>a consideração <strong>da</strong>s opções éticas subjacentes,pode oferecer uma contribuição decisiva para apreservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos,melhorando o nosso bem-estar e o de geraçõesfuturas.“Um outro mundo não só é possível, ele está a caminho.Em um dia calmo, posso ouvir sua respiração.”Arundhati Roy, autora de The God of Small Things,no Fórum Social Mundial de 200360 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


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UMA PRÉVIA DA FASE IIA Fase II do estudo A Economia <strong>dos</strong> Ecossistemas e<strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (<strong>TEEB</strong>) pretende continuar o trabalhoiniciado na Fase I e buscará alcançar cinco importantesobjetivos. São eles:• Elaborar um marco científico e econômico, integrandoo conhecimento ecológico e econômico para aprodução de um modelo para a avaliação <strong>dos</strong> serviçosecossistêmicos em diferentes cenários.• Identificar “metodologias de valoração”, aplicáveis emdiferentes condições e pressupostos, para os valoreseconômicos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicosmais tangíveis e significativos, nos biomasmais importantes do mundo.• Examinar os custos econômicos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dee <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos em todo omundo, em um cenário onde o desenvolvimento nãoconsidera a biodiversi<strong>da</strong>de, e os custos e benefíciosde ações para reduzir a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de emcenários alternativos, com enfoque em uma perspectivade médio a longo prazo.• Elaborar uma “ferramenta política” que apoie reformaspolíticas e avaliações de impacto integra<strong>da</strong>s, para garantirque to<strong>da</strong> informação relevante seja considera<strong>da</strong>na análise <strong>dos</strong> prós e <strong>dos</strong> contras <strong>da</strong>s diferentes alternativas,de modo a fomentar o desenvolvimento sustentávele a melhor conservação <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de.• Promover o engajamento <strong>dos</strong> principais usuários <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de em um estágio inicial de suas ativi<strong>da</strong>desde forma a garantir que o resultado desse estudoconsidere suas necessi<strong>da</strong>des e seja acessível, prático,flexível e, acima de tudo, útil.Para entender o significado desses objetivos no escopodo trabalho desenvolvido na Fase II, algumas consideraçõessão lista<strong>da</strong>s abaixo, assim como pontos importantesa serem considera<strong>dos</strong> e ativi<strong>da</strong>des que deverão serconduzi<strong>da</strong>s:1 Marco científico e econômico: a estrutura conceitual,conforme apresenta<strong>da</strong> no Capítulo 3, deveráservir como uma base prática para a avaliação. Seráproposta a classificação <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos,estrutura<strong>da</strong> sob a perspectiva de um usuário. Aanálise do conhecimento ecológico deverá ser complementa<strong>da</strong>,de modo a incluir os serviços ecossistêmicosque não foram cobertos pela Fase I. A partirdessa revisão, serão defini<strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> (usando omodelo espacialmente explícito) para avaliar a provisão<strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos em termos biofísicossob diferentes cenários, de forma a servirem debase para sua valoração econômica. A devi<strong>da</strong> atençãoserá <strong>da</strong><strong>da</strong> para os riscos e incertezas associa<strong>da</strong>saos processos ecológicos, assim como ao comportamentohumano. Também será considera<strong>da</strong> a análise<strong>da</strong>s consequências de se aplicar diferentes taxas dedescontos no cálculo <strong>dos</strong> custos e benefícios.2 Metodologias de valoração: a extensa literaturasobre metodologias será avalia<strong>da</strong>, utilizando-se osexemplos forneci<strong>dos</strong> em resposta à nossa solicitaçãopor evidências, na Fase I. Alguns biomas (ex. oceanos)e alguns valores (ex. valores de opção e valoresde quase-opção) que não foram analisa<strong>dos</strong> a fundona Fase I serão avalia<strong>dos</strong> com maior profundi<strong>da</strong>de. Otrabalho <strong>da</strong> Fase II indicará as metodologias de valoraçãomais apropria<strong>da</strong>s para serem utiliza<strong>da</strong>s em diferentescondições, determina<strong>da</strong>s pelos biomas e pelocontexto econômico e político-social. A Fase II deveráconsiderar os pontos fortes e fracos <strong>da</strong>s diferentestécnicas, analisando seu grau de aplicabili<strong>da</strong>de e otipo de informação necessária. Os principais desafiosidentifica<strong>dos</strong> no Capítulo 3 deste relatório precisarãoser revistos. Isso inclui a definição de uma metodologiapara a transferência de benefícios e para a agregaçãocom credibili<strong>da</strong>de e que seja apropria<strong>da</strong> paraavaliações em larga escala. A Fase I também ilustrouo valor de utilizar indicadores biofísicos na construçãode métricas a partir <strong>da</strong> ecologia para a <strong>economia</strong> (ex.Abundância Relativa de Espécies – utiliza<strong>da</strong> no estudodo Custo <strong>da</strong> Ação Política). A Fase II deve avaliar asmedi<strong>da</strong>s qualitativas e quantitativas disponíveis quepossam ser usa<strong>da</strong>s na formulação, direcionamento eaplicação <strong>da</strong>s políticas, assim como nas avaliaçõeseconômicas.3 Custos <strong>da</strong> inação política e custos políticos: seráfinaliza<strong>da</strong> uma avaliação global <strong>da</strong>s consequênciaseconômicas <strong>da</strong> inação política e <strong>da</strong>s ações para reduzira per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> serviços ecos-A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de 63


sistêmicos, utilizando-se <strong>da</strong> literatura sobre valoraçãoe de avaliações prévias em larga escala e cenáriosglobais, inclusive o estudo COPI conduzido na Fase I.No entanto, para ser significativa, uma avaliação globalnão pode ser reduzi<strong>da</strong> a um único exercício dequantificação e será complementa<strong>da</strong> com níveis deanálise menos consoli<strong>da</strong><strong>dos</strong>, relevantes para o processode toma<strong>da</strong> de decisão.4 Ferramenta política: reconhecendo a importância<strong>da</strong> ação política, será elabora<strong>da</strong> uma ferramenta quetenha como base as políticas já em curso em algunspaíses e que, aparentemente, têm potencial de seremescalona<strong>da</strong>s no nível local ou replica<strong>da</strong>s para outroslugares. Essa ferramenta deve ser importante paratodo o mundo, de modo que possa ser útil aos tomadoresde decisão nos diversos países. Em to<strong>dos</strong> oscasos, a ferramenta deve considerar a questão econômica.Por exemplo, a <strong>economia</strong> <strong>da</strong>s áreas protegi<strong>da</strong>sterá um foco específico: o valor econômico <strong>da</strong>sáreas protegi<strong>da</strong>s no momento não é adequa<strong>da</strong>mentereconhecido e o fortalecimento <strong>da</strong>s políticas relaciona<strong>da</strong>snão é robusto nem dispõe de recursos financeirosadequa<strong>dos</strong>. A Fase II terá por objetivo demonstrarcomo as políticas podem ser modifica<strong>da</strong>s quando podemosconsiderar <strong>da</strong> melhor maneira os valores que abiodiversi<strong>da</strong>de tem para as pessoas e para a reconstruçãode uma socie<strong>da</strong>de desestrutura<strong>da</strong>.5 Interfaces com os usuários: para se chegar a umaescala global, são necessárias alianças entre to<strong>dos</strong>os setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Assim, é preciso estabelecerrelações com atores-chave como, por exemplo,grupos responsáveis pelo aprimoramento do SistemaIntegrado de Responsabili<strong>da</strong>de Ambiental e Econômica(SIRAE – 2003), por projetos de Economia Verde(ex. PNUMA), por sistemas de contabili<strong>da</strong>de nacional(ex. Comitê <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s de Especialistas emEconomia Ambiental), pelo financiamento <strong>da</strong>s áreasprotegi<strong>da</strong>s (Ex. PA NETWORK) e pelo desenvolvimentode sistemas de pagamento por serviços <strong>ecossistemas</strong>.Da mesma forma, será útil continuar com osesforços em an<strong>da</strong>mento que visam a melhorar osrelatórios de desempenho corporativo, de modo aincluir a questão <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de (ex. Global ReportingInitiative – GRI), organizações de consumidoresà frente <strong>da</strong>s escolhas sustentáveis, e os governosenvolvi<strong>dos</strong> em iniciativas similares (que, por exemplo,contabilizam as “pega<strong>da</strong>s de consumo”, disseminaçãode informações <strong>dos</strong> pontos de ven<strong>da</strong>, etc).A biodiversi<strong>da</strong>de deve se tornar responsabili<strong>da</strong>de de to<strong>dos</strong>que detém poder e recursos para agir. A Fase II, portanto,visa a fornecer informações relevantes sobre políticasque apoiem e acelerem a construção de políticaspara a conservação e uso sustentável <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>deem to<strong>da</strong>s as regiões do mundo. Visa ain<strong>da</strong> a incentivar odesenvolvimento de novas métricas de “sustentabili<strong>da</strong>de”que complementem as conheci<strong>da</strong>s métricas do ProdutoInterno Bruto (PIB) que tratam do crescimento e <strong>da</strong>rentabili<strong>da</strong>de corporativas. Os primeiros passos já foramtoma<strong>dos</strong>, e estamos confiantes que o relatório final do<strong>TEEB</strong> planejado para a Fase II será um trabalho apreciadopor to<strong>dos</strong> que o lerem.64 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


AGRADECIMENTOSA Fase I desse projeto foi apoia<strong>da</strong> pelo Ministério Federalpara o Meio Ambiente, Conservação <strong>da</strong> Natureza e SegurançaNuclear <strong>da</strong> Alemanha (BMU) e pela ComissãoEuropeia (Diretoria Geral de Meio Ambiente), junto coma Agência Europeia de Meio Ambiente (EEA), na iniciativado Sr. Jochen Flasbart, Diretor Geral de Conservação <strong>da</strong>Natureza do BMU, e do Sr. Ladislav Miko, Diretor de Proteçãodo Meio Ambiente Natural <strong>da</strong> Comissão Europeia.Membros do grupo principal e colaboradores desterelatório:Mark Schauer (BMU)Katarina Lipovska, Aude Neuville, Alexandra Vakrou,Stephen White (Comissão Europeia, Diretoria Geral deMeio Ambiente).Jock Martin (EEA)Heidi Wittmer and Christoph Schröter-Schlaack (Centropara Pesquisa Ambiental de Helmholtz – UFZ)Patrick ten Brink (Instituto para Políticas AmbientaisEuropeias – IEEP)Pushpam Kumar (Departamento de Geografia e Institutopara Água Sustentável, Gerenciamento Integrado ePesquisa Ecossistêmica, Universi<strong>da</strong>de de Liverpool)Haripriya Gundime<strong>da</strong> (Instituto de Teconlogia <strong>da</strong> Índia,Mumbai)Gostaríamos de agradecer aos seguintes especialistaspelas importantes contribuições ao relatório:Carlos M. Rodriguez and Rosimeiry Portela(Conservação Internacional)Alice Ruhweza (Forest Trends)John Hanks (Serviço de Conservação Internacional,África do Sul)Ronan Uhel, Hans Vos, Jean-Louis Weber, CharlottaColliander, and Charlotte Islev (EEA)Augustin Berghöfer, Florian Eppink, Carsten Neßhöver,Irene Ring, and Frank Wätzold (UFZ)Dalia Amor Conde and Norman Christensen(Universi<strong>da</strong>de de Duke)Roberto Constantino (Mexico)Pedro Pereira (Brasil)Aditi Halder (Confederação <strong>da</strong> Indústria <strong>da</strong> Índia)Sarojini Thakur (Commonwealth Secretariat)Timothy Patrick Fox (“Engage Carbon”, Chennai, India)Zoe Cokeliss (Context – Londres)Agradecemos aos membros do Painel Consultivo, queforneceu orientação e apoio desde o estágio inicialdo projeto:Joan Martinez-Alier, Giles Atkinson, Karl-Göran Mäler, PeterMay, Jacqueline McGlade, Julia Marton-Lefevre, HermanMulder, Lord Nicholas Stern, Achim Steiner.Agradecemos aos pesquisadores que conduziram osdiversos estu<strong>dos</strong> contrata<strong>dos</strong> durante a Fase I, por seutrabalho de alta quali<strong>da</strong>de em prazos tão exíguos. Estesestu<strong>dos</strong> estão disponíveis no página do <strong>TEEB</strong> na internet(veja http://ec.europa.eu/ environment/nature/biodiversity/economics/index_en.htm).Os custos <strong>da</strong> inação política: o caso de nãoalcançar as metas estabeleci<strong>da</strong>s para 2010(estudo COPI) – contrato com a Comissão EuropeiaParceiros e colaboradoresAlterra: Leon Braat (coordenador), Chris KlokIEEP: Patrick ten Brink (coordenador adjunto), MarianneKettunen, and Niele Peralta BezerraEcologic: Ingo Bräuer, Holger GerdesFEEM: Aline Chiabai, Anil Markandya, Paulo Nunes,Helen Ding, Chiara TravisiGHK: Matt RaymentMNP: Mark van Oorschot, Jan Bakkes, Michel Jeuken,Ben ten BrinkUNEP-WCMC: Matt Walpole, Katarina Bolt Witteveen &Bos: Ursula KirchholtesConsultoresAgência Federal Alemã para Conservação <strong>da</strong> Natureza:Horst KornInstituto para Estu<strong>dos</strong> Ambientais: Pieter van BeukeringAnálise do Estudo EXPLORANDO A CIÊNCIA –contrato com a Comissão EuropeiaParceiros e colaboradoresUniversi<strong>da</strong>de de Cambridge: Andrew Balmford (scientificleader), Ana S.L. Rodrigues, Rhys Green, James J.J.Waters, Kelly Flower, James Beresford, Hannah PeckIEEP: Patrick ten Brink, Marianne KettunenA <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de 65


Alterra: Rik Leemans, Rudolf de Groot, Leon Braat(UNEP/CMMC): Matt Walpole, Katie Bolt, Lera MilesCentro de Pesquisa Social e Econômica do MeioAmbiente Global, Universi<strong>da</strong>de de East Anglia: KerryTurner, Bren<strong>da</strong>n FisherWWF-EUA: Robin Naidoo, Taylor H. RickettsUniversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> California: Claire Kremen, Alexandra-Maria KleinBryn Mawr College: Neal M. WilliamsUniversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> British Columbia: Reg WatsonO estudo também teve contribuições de muitos especialistasque forneceram informações, sugestões e revisões;eles não podem to<strong>dos</strong> ser menciona<strong>dos</strong> aqui (cf o relatóriocompleto do estudo).Revisão <strong>dos</strong> Custos de Conservação e Priori<strong>da</strong>des deAção: Andrew Balmford, Aaron Bruner (Conservação Internacional),Robin Naidoo (WWF – EUA)Análise Econômica e Síntese – contrato com aComissão EuropeiaParceiros e colaboradoresFEEM: Anil Markandya, Paulo Nunes, Chiara Travisi,Aline Chiabi, Helen DingEcologic: Andreas R. Kramer, Ingo Bräuer, Aaron Best,Sören Haffer, Kaphengst Timo, Gerdes HolgerGHK: Matt RaymentIEEP: Patrick ten Brink, Marianne KettunenIVM: Pieter van Beukering, Onno J. Kuik, Luke Brander,Frans Oosterhuis, Dini HelmersContabili<strong>da</strong>de do Ecossistema para o Custo <strong>da</strong>s Per<strong>da</strong>sde Biodiversi<strong>da</strong>de: Estrutura e Estudo de Casopara as Áreas Úmi<strong>da</strong>s Costeiras Mediterrâneas – coordenadopela EEA, com doações do BMU (governo alemão)Parceiros e colaboradoresEEA: Jean-Louis Weber, Ronan Uhel, Rania SpyropoulouETCLUSI: Françoise Breton, Juan ArévaloETCBD: Dominique RichardUniversi<strong>da</strong>de de Nottingham: Roy Haines-Young, MarionPotschinUniversi<strong>da</strong>de se Liverpool: Pushpam KumarUniversi<strong>da</strong>de de Autonomous of Madrid: Berta Martin,Pedro Lomas, Erik GomezTour du Valat: Pere Tomas, Driss EzzineInstituto Nacional do Delta do Danúbio: Iulian Nichersu,Eugenia MarinEstudo <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>deFlorestal – coordenado pela AgênciaEuropeia para o Meio Ambiente/EEA, com doações doBMU (governo alemão)Parceiros e colaboradoresIUCN: Joshua Bishop, Sebastian WinklerUniversi<strong>da</strong>de de Cambridge: Katrina Mullan, AndreasKontoleonEEA: Ronan Uhel, Hans Vos, Jean-Louis Weber, JockMartinVárias organizações têm contribuido para a primeira fasedo projeto com recusos, estu<strong>dos</strong> ou experiência, notavelmenteo Departamento de Meio Ambiente, Alimentaçãoe Questões Rurais – DEFRA do Renio Unido, Ministériodo Desenvolvimento <strong>da</strong> França, IUCN, OECD, UNEP-WCMC e BfN. Em particular, somos gratos aos membrosdo grupo de trabalho pelo seu apoio e conselho: MartinBrasher, Andrew Balmford, Joshua Bishop, Pascal Blanquet,Eric Blencowe, Katie Bolt, Leon Braat, Guy Duke,Anantha Kumar Duraiappah, Robert Flies, Mark Hayden,Katia Karousakis, Marianne Kettunen, Ariane Labat, StefanLeiner, Katarina Lipovska, Anil Markandya, Robin Miège,Helen Mountford, Shaun Mowat, Jonathan Murphy,Paulo Nunes, Vanessa Nuzzo, Patrizia Poggi, Ana Rodrigues,Guillaume Sainteny, Hugo-Maria Schally, BurkhardSchweppe-Kraft, Martin Sharman, Anne Teller, RonanUhel, Hans Vos, Jean-Louis Weber, Sebastian Winkler,and Karin Zaunberger.Gostaríamos de agradecer em especial ao DEFRA doReino Unido, por fornecer os resulta<strong>dos</strong> de seus váriosestu<strong>dos</strong> em valoração econômica, inclusive “Um guia introdutóriopara valoração <strong>dos</strong> serviços ecossistêmicos” eao Ministério do Desenvolvimento <strong>da</strong> França, por forneceros resulta<strong>dos</strong> de seu estudo em recifes de corais “Lapréservation des écosystèmes coralliens: aspects scientifiques,institutionnels et socio-économiques”. Todo omaterial está disponível na página <strong>da</strong> internet do <strong>TEEB</strong>(veja http://ec.europa.eu/ environment/nature/biodiversity/economics/index_en.htm).Vários relatórios, artigos e outras contribuições têm sidorecebi<strong>dos</strong> em resposta à consulta por evidências feita nainternet, organiza<strong>da</strong> pela Comissão Europeia. Esse materialtambém será usado na Fase II do estudo. Gostaríamosde agradecer a to<strong>dos</strong> que participaram desta consulta.Sobrenome Nome InstituiçãoAlwi Tanya Borneo TropicalRainforest Foun<strong>da</strong>tionAzqueta Diego University of AlcaláBaumgärtner Stefan Leuphana University ofLüneburgBearzi Giovanni Tethys Research InstituteBellon Maurizio Conservation InternationalBernstein JohannahBerrisford KateBozzi Pierluigi University ofe Rome “LaSapienza”Brander KeithBrotherton Peter Natural England66 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


Sobrenome NomeInstituiçãoSobrenome NomeInstituiçãoBullock Craig OptimizeCarraro Carlo University of VeniceCerulus Tanya Departement Leefmilieu,Natuur en Energie (LNE)VlaanderenChalad Bruns Pakping Coordination Centrefor Natural Resources &Environment management& Environment partnershipsChristie Mike Aberystwyth UniversityCobra Jose European Cork ConfederationCokeliss Zoe Context, LondonCostanza Robert University of Maryland, USADanby Ian BASCDe Corte Pieter European LandownersOrganisation(ELO)Deke Oliver German AdvisoryCouncil on GlobalChange (WBGU)Dieterich Martin University of HohenheimDietzsch Laura Amazon Institute ofEnvironmentalResearch, BrazilEijs Arthur Ministry of Environment, NLFarooquee Nehal G.B. Pant Institute ofHimalayanEnvironment andDevelopmentGast Fernando Instituto Alexander vonHumboldtGauthier Sylvie Canadian Forestry ServiceGibby Mary Royal Botanic GardenGokhale Yogesh The Energy and ResourcesInstituteGraham Andrea National Farmers UnionGrieg-Gran Maryanne International Institute forEnvironmentand DevelopmentGroth Markus Leuphana UniversitätLüneburgGundime<strong>da</strong> Haripriya Indian Institute of Technology,IndiaHauser Andreas BAFU Federal Office For theEnvironmentHeikkilä Jaakko MTT Economic ResearchHenson Webb John IUCN UKHoppichler Josef Federal Institute for Less-Favoure<strong>da</strong>nd Mountainous AreasKälberer Achim Free Journalist, BerlinKirchholtes Ursula Witteveen+Bos, NLKumar Anil M S Swaminathan ResearchFoun<strong>da</strong>tionLa Notte Alessandra University of Torino, Dept. ofEconomicsLehmann Markus Convention on BiologicalDiversityLindhjem Henrik Norwegian University of LifeSciencesLüber Sigrid European Coalition for SilentOceansMacDonald Alistair Delegation of the EuropeanCommission to the PhilippinesMarthy WilliamMartín-López Berta Universi<strong>da</strong>d Autónoma deMadridMichalowski Arthur Wroclaw University ofEconomicsMoran Dominic Scottish Agricultural College(SAC)Mowat Shaun UK DefraMyers NormanNavrud Ståle Norwegian University of LifeSciencesNinan Karachepone Centre for EcologicalNEconomics and NaturalResources InstituteSocial and EconomicChangePerrings Charles Arizona State University andDIVERSITAS ecoSERVICESSmale Melin<strong>da</strong> International Food PolicyResearch InstituteSpijkerman Lilian Conservation InternationalSud Ridhima Development AlternativesThornberry Brian Biodiversity Policy Unit,National Parks & WildlifeService, IrelandTschirhart JohnVaissière Bernard INRA, LaboratoirePollinisation& Ecologie des Abeillesvan den HoveSybillevan Ham Chantal IUCN – The WorldConservationUnionWaliczky Zoltan Royal Society for the Protection ofBirds (RSPB), UKWätzold Frank Helmholtz Centre forEnvironmental ResearchWensing Daan Triple E, NLWhite Richard Devon Wildlife TrustWossink A<strong>da</strong> University of ManchesterYessekin Bulat National Council onSustainableDevelopment of theRepublicof KazakhstanYoung Carlos Instituto de Economia –Eduardo UFRJA <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de 67


Nota: alguns colaboradores responderam à consulta porconta própria.Mais de 90 especialistas em <strong>economia</strong>, ecologia e políticaparticiparam do workshop sobre a <strong>economia</strong> <strong>da</strong> per<strong>da</strong>global <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de biológica, realiza<strong>da</strong> nos dias 5 e 6 demarço em Bruxelas, Bélgica. Nós somos muito gratos pelaideias gera<strong>da</strong>s e pelas recomen<strong>da</strong>ções resultantes dessaoficina. Os procedimentos do evento e as apresentaçõesrealiza<strong>da</strong>s estão disponíveis na página do <strong>TEEB</strong> na internet:http://ec.europa.eu/environment/nature/bio diversity/eco nomics/index_en.htm, e no seguinte endereço: http://www.ecologic-events.de/eco-loss-biodiv/index.htm.Gostaríamos de agradecer especialmente aos coordenadores<strong>da</strong>s sessões – Kerry Turner, Pushpam Kumar,Ben ten Brink, Alistair McVittie, Patrick ten Brink, StåleNavrud, Joshua Bishop, Anantha Duraiappah, Anil Markandya,and Heidi Wittmer – e aos autores <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong>de caso – Salman Hussain, Katrina Mullan, and Jean-Louis Weber – pelas suas importantes contribuições.Agradecimento especial a Roger Cowe de Context,Londres, Jennifer Scarlott, <strong>da</strong> Iniciativas em ConservaçãoInternacional Nova Iorque, EUA, e David Skinner, <strong>da</strong>Comissão Europeia, pela edição; a Banson, Cambridge,Reino Unido, pela edição e lay-out; e a Manfred Heuser,de Welzel+Hardt, Wesseling, Alemanha, pela impressãosob prazos rigorosos.68 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de


SINOPSE DOS ESTUDOSCUSTO DA INAÇÃO POLITICA (COPI): O CASO DENÃO ALCANÇAR A META BIODIVERSIDADE 2010Braat L. (Alterra) and ten Brink, P. (IEEP) et al, Maio de2008 (para Diretoria Geral de Meio Ambiente, ComissãoEuropeia)O estudo apresenta os impactos do desenvolvimentoeconômico global de acordo com o cenário base <strong>da</strong> Organizaçãopara a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico(OCDE, março de 2008) sobre biodiversi<strong>da</strong>de terrestree <strong>dos</strong> oceanos, sobre os serviços ecossistêmicosassocia<strong>dos</strong> e sobre os sistemas social e econômico, emtermos quantitativos e monetários. A partir de um modelode mu<strong>da</strong>nça futura <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de (Global BiodiversityOutlook 2, CBD 2006) e na Avaliação Ecossitêmicado Milênio (2005), foram calcula<strong>da</strong>s as per<strong>da</strong>s anuais debem estar nos níveis global e regional devido a diminuição<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a per<strong>da</strong> de serviços ecossistêmicos.O estudo é investigativo, e identifica números preliminaresquanto aos impactos e à importância econômica deabor<strong>da</strong>r a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e de esclarecer abor<strong>da</strong>gensmetodológicas para uma análise mais ampla desuas implicações para o bem estar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Análise <strong>da</strong> <strong>economia</strong> <strong>da</strong> per<strong>da</strong><strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de: ESTUDOEXPLORANDO A CIÊNCIABalmford, A., Rodrigues, A. (Universi<strong>da</strong>de de Cambridge),Walpole, M. (WCMC), ten Brink, P., Kettunen,M. (IEEP), e Braat, L. e de Groot, R. (Alterra), Maio de2008 (para Diretoria Geral de Meio Ambiente, ComissãoEuropeia)Este estudo abordou duas questões principais. Primeiramente,desenvolveu um marco conceitual para estimar asreais consequências econômicas de ações políticas paraa conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>.Esse marco, que pode ser usado como um instrumentopara se testar pacotes de políticas em uma varie<strong>da</strong>dede escalas espaciais, conta com uma avaliação espacial<strong>da</strong> variação <strong>dos</strong> benefícios marginais e <strong>dos</strong> custos <strong>da</strong>conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. A segun<strong>da</strong> tarefa visoufornecer uma visão geral coerente sobre o conhecimentoexistente em ecologia, sobre o qual se baseou a parteeconômica do estudo. Para uma diversi<strong>da</strong>de de processosecológicos (como polinização e regulação de água) ede benefícios (ex. pesca, carne de caça), o projeto realizouuma revisão <strong>da</strong> literatura e consultou especialistas demodo a compreender: sua relação com o bem-estar humano;como a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e a degra<strong>da</strong>ção<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> podem influenciar a provisão de ca<strong>da</strong>processo ou benefício, inclusive em termos de resiliênciano longo prazo; quais desafios essas provisões enfrentam;e quais são as tendências atuais. Essencialmente,esse estudo investigou como o conhecimento atual estálonge de quantificar e mapear, em uma escala global, asestimativas de produção de ca<strong>da</strong> processo ou benefício,sob o qual uma valoração econômica espacial explícitapode se basear. O resultado é um quadro misto, comalgumas áreas suficientemente avança<strong>da</strong>s em conhecimento,de modo a formar a base <strong>da</strong> valoração econômica,enquanto em outras áreas ain<strong>da</strong> são necessáriasmuitas pesquisas.REVISÃO SOBRE A ECONOMIA DAPERDA DA BIODIVERSIDADE: ANÁLISEECONÔMICA E SÍNTESEMarkandya, A., Nunes, P.A.L.D. (FEEM), Brauer, I.(Ecologic), ten Brink, P. (IEEP), e Kuik, O. e Rayment.M. (GHK), Abril de 2008 (para Diretoria Geral de MeioAmbietne, Comissão Europeia)Este relatório revisou uma série de artigos e outros materiaissubmeti<strong>dos</strong> em resposta à “consulta por evidências”realiza<strong>da</strong> pela Comissão Europeia. Foram recebi<strong>da</strong>scento e dezesseis contribuições de 55 participantes. Aprincipal mensagem é que estamos testemunhando umaper<strong>da</strong> progressiva <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e que esta per<strong>da</strong> éa causa de grande redução do bem-estar. Em segundolugar, a valoração econômica <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>depode fazer sentido – quando se escolhe um nível claro<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de, quando se formula um cenário concretopara mu<strong>da</strong>nças na biodiversi<strong>da</strong>de, quando as alteraçõesestão dentro de determina<strong>dos</strong> limites, e quando a perspectivado valor <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de se torna explícita. Aconsulta por evidências também esclareceu que existeuma série de gargalos na literatura sobre valoração. Porexemplo: o valor do conhecimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>desindígenas sobre a conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong>carece de mais pesquisa, assim como o valor <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dede recursos marinhos, especialmente aquelesde locais mais profun<strong>dos</strong>, e também a valoração dematerial genético. Além disso, o estudo conclui que esti-A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de 69


mativas de valores econômicos devem ser considera<strong>da</strong>s.Na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, sabe-se o mínimo acerca <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de. Pesquisas devem priorizar mais estu<strong>dos</strong>de caso <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e formas práticas dese li<strong>da</strong>r com tal per<strong>da</strong> no nível local (país). Devem, ain<strong>da</strong>,explorar informações sobre valoração existentes e técnicasde transferência de valores. Mais importante, a biodiversi<strong>da</strong>denão deve ser um problema ambiental isolado esua importância no contexto <strong>da</strong>s questões econômicas eoutras questões globais, como as mu<strong>da</strong>nças climáticas,deve ser analisa<strong>da</strong> com maior profundi<strong>da</strong>de.ESTUDO SOBRE A ECONOMIA DE CONSERVAÇÂODA BIODIVERSIDADE DE FLORESTASKontoleon, A. et al., Universi<strong>da</strong>de de Cambridge, Deptde Economia <strong>da</strong> Terra, Março de 2008 (para IUCN)Este estudo examina evidências a partir de estu<strong>dos</strong> decaso existentes sobre os custos e os benefícios de seproteger a biodiversi<strong>da</strong>de de florestas, de modo a avaliarcomo esses valores podem aju<strong>da</strong>r no processo de toma<strong>da</strong>de decisão de políticas sobre biodiversi<strong>da</strong>de; e identificafalhas de informação. A pesquisa cobre quase 200estu<strong>dos</strong> que valoram uma gama de benefícios advin<strong>dos</strong><strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de de florestas, e 40 estu<strong>dos</strong> que estimamseus custos de conservação. To<strong>dos</strong> os tipos de florestasforam abor<strong>da</strong><strong>dos</strong>, embora tenham sido prioriza<strong>dos</strong> os estu<strong>dos</strong>relaciona<strong>dos</strong> a florestas com valor significativo debiodiversi<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>s as regiões geográficas que apresentaramevidências foram incluí<strong>da</strong>s, e os estu<strong>dos</strong> individuaisincluem uma mistura de estimativas locais, nacionais,regionais e globais. O estudo também avalia opçõesalternativas financeiras e de políticas para a conservação<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de de florestas: áreas protegi<strong>da</strong>s, regulamentaçõesde uso do solo e acesso à tecnologia; incentivos,como taxas de uso e pagamentos subsidia<strong>dos</strong>; e instrumentosde mercado como esquemas de certificação.Contabili<strong>da</strong>de ecossitêmica para ocusto <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de:marco e estudo de caso para as áreasúmi<strong>da</strong>s costeiras mediterrâneasUm estudo <strong>da</strong> Agência Europeia para o Meio Ambiente,Março de 2008 (Fase I)O estudo de caso sobre as áreas úmi<strong>da</strong>s mediterrâneasvisou demonstrar tanto a viabili<strong>da</strong>de de se elaborar balanços<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e seu interesse pela formulaçãode políticas. As questões por trás <strong>dos</strong> balanços <strong>dos</strong><strong>ecossistemas</strong> estão relaciona<strong>da</strong>s com a sustentabili<strong>da</strong>de<strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong>, com a quanti<strong>da</strong>de necessária parareinvestir na sua manutenção e restauração de modo amanter as funções e serviços no futuro e a valorar osserviços inexistentes no mercado e atualmente não contabiliza<strong>dos</strong>no consumo doméstico ou coletivo, e, que,portanto, não são considera<strong>dos</strong> um componente de seubem-estar. Dentre as principais conclusões, citam-se: obalanço deve ser conduzido fora de sistemas socioecológicosdomina<strong>dos</strong> por áreas úmi<strong>da</strong>s, e não em um nívelmais estreito; os valores <strong>da</strong>s funções ecológicas e <strong>dos</strong>serviços ecossistêmicos precisam ser medi<strong>dos</strong> em trêsescalas diferentes: micro, médio e macro, de modo a poderincluir serviços de alto valor regulatório; na escala micro,os gráficos do balanço poderiam ser elabora<strong>dos</strong> demodo a abranger as necessi<strong>da</strong>des <strong>dos</strong> atores locais; naescala global, balanços potenciais do ecossistema podemser feitos com o apoio de programas de observação<strong>da</strong> Terra; na escala média (países e regiões), o desenvolvimento<strong>dos</strong> balanços deve considerar o atual processode revisão do Sistema de Balanço Econômico Ambiental<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s.Informações detalha<strong>da</strong>s destes estu<strong>dos</strong> estão emHTTP://ec.europa.eu/environment/nature/biodiversity/economics/index_en.htm70 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de

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