Indicadores e Metas Gerais - Ministério da Cultura

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nacional está bem representada nas coleções públicas. Grande parte das instituições não consegue estabelecer uma política clara de aquisições, nem possui recursos suficientes para atuar no mercado internacional. É por meio de exposições temporárias que tais instituições apresentam a produção internacional, muitas vezes com projetos curatoriais importados e de custos elevados. Tanto no que se refere a suas coleções e programação quanto a sua visibilidade e reconhecimento em escala internacional. A venda da coleção de Adolfo Leirner para o Museu de Belas Artes de Houston, em 2007, é uma triste evidência da fragilidade das instituições brasileiras: nenhuma delas foi capaz de oferecer ao colecionador uma proposta melhor do que a feita pela instituição norte- americana, e aqui a referência não é somente ao preço, mas também às condições de exibição, conservação e pesquisa que envolvem a coleção. 3.5 Valor da arte e economia da cultura Para precisar a especificidade do valor das obras de arte contemporâneas, voltemos a Roberto Magalhaes Veiga: Se a arte é um juízo de valor e o preço é a expressão/sintoma de uma época, as obras que já passaram pelos crivos sucessivos de filtros/juízos de valor diacrônicos gozam de uma legitimidade reiterada pela comunidade de compradores e de vendedores profissionais que compõem o centro do mercado de arte e pautam critérios, ordenam e dão sentido às desigualdades e estabelecem os consensos coletivos (...). As desigualdades de preço, que para alguns beiram o despropósito, e a inconsistência do juízo de valor emitido e de sua confirmação futura – a curto termo, o que conta não é o que as coisas serão, mas o que os atores econômicos pensam que elas serão (Moulin, 1997), somadas ao papel dos especuladores e às práticas abusivas, levantam as questões de praxe sobre embuste e manipulações acintosos. O resultado é a dúvida no lugar da confiança. A margem de tempo para produção, circulação e apropriação das peças é muito curta, não há um recuo para existir uma avaliação consolidada, sobretudo de uma arte que não é necessariamente feita para durar.(...) Concomitantemente, assiste-se a uma preocupação com a contemporaneidade que começa a fazer sombra à procura e à coleção das formas tradicionais do patrimônio artístico e histórico, que, se ao contrário de perderem seu valor e seu preço observam a maré montante de ambos para as peças de destaque, veem as novas estrelas do ultracontemporâneo despontarem num mercado próprio cada dia mais estimulante, atraente e midiatizado. Artistas com as características de Damien Hirst e Jeff Koons encarnam à perfeição essa vertente.

À medida que as obras de arte se tornam mercadorias e eventualmente alternativas de investimento visando lucro a curto e médio prazo, ganham uma dimensão econômica que vem se somar e mesclar a seu valor simbólico. Por outro lado, não se pode esquecer que a arte sempre terá duas dimensões distintas de valor: uma simbólica e outra financeira. E que o funcionamento do sistema de arte depende de uma série de escolhas e mecanismos que vão além das questões orçamentárias. É por isso que propomos, no âmbito de nosso estudo, falar em economias da cultura e da arte no plural. 3.6 Arte Contemporânea e seus Usos: Fatores exógenos ao campo específico da arte: políticas urbanas. Interrelações entre: territórios e eventos nacionais e internacionais de arte contemporânea 25 . O termo arte contemporânea conforma uma pluralidade de sentidos. O que pôde ser mapeado como questão comum aberta por esta pesquisa para estes tantos sentidos é o que denomina-se arte na atualidade por trans-territorialidade. 26 Segundo Raquel Garbelotti e Jorge Menna Barreto, A partir da década de 90 do século passado, as práticas orientadas para um lugar específico começaram a operar a partir de perspectivas de impermanência, descontinuidade, ambigüidade e desterritorializações. O lugar e a obra transcendem a sua noção identitária, fixa e sedentária e adquirem um modelo nômade e itinerante cujas fronteiras são de difícil visibilidade. O exercício de pertencimento da obra em relação a esse lugar ganha novos contornos num território que é agora fluído e disperso. O lugar da obra deixa de ser somente um local literal e torna-se um informational site como caracteriza o autor James Meyer, que inclui desde o lugar físico (sem priorizá-lo), até fotografias, textos, vídeos e objetos que não se encontram 25 A palestra de Micael Herschmann apontou um processo que deverá também ser analisado no nosso grupo de pesquisa: os efeitos turísticos e de gentrificação acarretados pelas “vocações artísticas” num território. Se Herschman apontou em sua fala, a pesquisa sobre a evolução e consolidação do fenômeno musical da seresta na cidade de Conservatória, julgamos que não estamos muito distantes da experiência de Porto Alegre com a Bienal do Mercosul como paradigma de potencial de “cidade criativa” onde o elemento motor é a Arte Contemporânea. Assim, outras camadas de elementos já começaram a ser acrescentadas, como mais elementos explicativos para a dinâmica dos atores decisórios numa política pública para arte contemporânea tais como: Fatores exógenos ao campo específico da arte: políticas urbanas e Interrelações entre: territórios e eventos nacionais e internacionais de arte contemporânea. 26 Termo cunhado por Raquel Garbelotti a partir dos três paradigmas site-specific de Miwon Kwon. Ver: KWON, Miwon. One place after another: notes on site specificity. October 80, spring 1997. © October Magazine, Ltd. and Massachusetts Institute of Technology. Tradução de Jorge Menna Barreto. Arte & Ensaios: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA - UFRJ, número 17, dezembro de 2008, Rio de Janeiro.

nacional está bem representa<strong>da</strong> nas coleções públicas. Grande parte <strong>da</strong>s instituições não<br />

consegue estabelecer uma política clara de aquisições, nem possui recursos suficientes para<br />

atuar no mercado internacional. É por meio de exposições temporárias que tais instituições<br />

apresentam a produção internacional, muitas vezes com projetos curatoriais importados e de<br />

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visibili<strong>da</strong>de e reconhecimento em escala internacional.<br />

A ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> coleção de Adolfo Leirner para o Museu de Belas Artes de Houston, em<br />

2007, é uma triste evidência <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições brasileiras: nenhuma delas foi capaz<br />

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americana, e aqui a referência não é somente ao preço, mas também às condições de exibição,<br />

conservação e pesquisa que envolvem a coleção.<br />

3.5 Valor <strong>da</strong> arte e economia <strong>da</strong> cultura<br />

Para precisar a especifici<strong>da</strong>de do valor <strong>da</strong>s obras de arte contemporâneas, voltemos a<br />

Roberto Magalhaes Veiga:<br />

Se a arte é um juízo de valor e o preço é a expressão/sintoma de uma época, as obras<br />

que já passaram pelos crivos sucessivos de filtros/juízos de valor diacrônicos gozam de<br />

uma legitimi<strong>da</strong>de reitera<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de de compradores e de vendedores<br />

profissionais que compõem o centro do mercado de arte e pautam critérios, ordenam e<br />

dão sentido às desigual<strong>da</strong>des e estabelecem os consensos coletivos (...). As<br />

desigual<strong>da</strong>des de preço, que para alguns beiram o despropósito, e a inconsistência do<br />

juízo de valor emitido e de sua confirmação futura – a curto termo, o que conta não é o<br />

que as coisas serão, mas o que os atores econômicos pensam que elas serão (Moulin,<br />

1997), soma<strong>da</strong>s ao papel dos especuladores e às práticas abusivas, levantam as<br />

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lugar <strong>da</strong> confiança. A margem de tempo para produção, circulação e apropriação <strong>da</strong>s<br />

peças é muito curta, não há um recuo para existir uma avaliação consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

sobretudo de uma arte que não é necessariamente feita para durar.(...)<br />

Concomitantemente, assiste-se a uma preocupação com a contemporanei<strong>da</strong>de que<br />

começa a fazer sombra à procura e à coleção <strong>da</strong>s formas tradicionais do patrimônio<br />

artístico e histórico, que, se ao contrário de perderem seu valor e seu preço observam a<br />

maré montante de ambos para as peças de destaque, veem as novas estrelas do<br />

ultracontemporâneo despontarem num mercado próprio ca<strong>da</strong> dia mais estimulante,<br />

atraente e midiatizado. Artistas com as características de Damien Hirst e Jeff Koons<br />

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