Indicadores e Metas Gerais - Ministério da Cultura

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A curadora Kiki Mazuchelli em texto para a Revista Tatuí descreve sua própria experiência, de ser uma brasileira baseada há dez anos em Londres e trabalhando em diversos contextos. Em sua hipótese está neste trânsito o valor atual ou a economia das artes nesta década. Parto do pressuposto de que, justamente nesta década, houve uma expansão dos fluxos, trocas e intercâmbios no contexto da arte contemporânea para regiões além do eixo Europa-Estados Unidos, bem como sua intensificação nos países onde já ocorriam, o que ocasionou uma maior inserção da arte brasileira no circuito internacional. Internamente, no Brasil este foi também um período de aceleração de um processo interno de expansão do campo da arte contemporânea, em que se observou não apenas o surgimento de novas galerias comerciais – representando principalmente artistas jovens –, como também a ampliação regional do circuito, que passa a incluir outros importantes centros urbanos além de Rio de Janeiro e São Paulo. Embora sejam o produto de diferentes conjunturas cuja análise demandaria um ensaio mais extenso, observamos nesses dois movimentos de intensificação de fluxos um processo de descentralização tanto no âmbito externo, quanto interno. 15 Conforme analisa também Roberto de Magalhães Veiga: A arte contemporânea parece ter se convertido numa linguagem universal, cujo domínio revela-se um trunfo inestimável num mundo extremamente competitivo. Objetos e desempenhos sendo polissêmicos, seu “virtuosismo semiótico” (Canclini, 1999) permite-lhes ser também a materialização de todo um potencial altamente positivo creditado à atualidade e ao futuro. Enquanto discurso privilegiado sobre o real, o controle/posse da produção artística contemporânea torna-se indispensável na construção de imagens no processo de elaboração/reinvenção de identidades valorizadas ao extremo. Marcar as alteridades, as fronteiras, as hierarquias das identidades relacionais torna-se uma função cada dia mais notória – sem prejuízo das demais – para a produção estética contemporânea. 16 Levando a sério essa questão do fluxo e da circulação e, ao mesmo tempo, a noção de Sistema de Arte, acima mencionadas, iremos trabalhar com os diversos atores que constituem o campo dialógico de uma arte contemporânea internacional, ainda que produzida em provocando o alargamento do pensamento sobre território, nacionalidades e identidades, sem com isto tratar destes temas como pressupostos a priori, mas pelo diálogo estético das obras. 15 MAZUCHELLI, Kiki. LADO B| NÃO SEJA MARGINAL, NÃO SEJA HERÓI: a arte brasileira no exterior em tempos de mobilidade acelerada. Revista Tatuí. Disponível em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FBqc_CRdpUJ:revistatatui.com/revista/tatui-11/nao-sejamarginal-nao-seja-heroi-a-arte-brasileira-no-exterior-em-tempos-demobilidadeacelerada/+kiki+mazuchelli+revista+tatu%C3%AD&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em 15/10/20011. 16 Roberto de Magalhães Veiga

território brasileiro. Nesse contexto, dimensões como visibilidade, circulação, comercialização, parcerias e itinerâncias revelam-se fundamentais na análise da produção artística contemporânea e de seu impacto econômico. Num contexto onde as instituições não são o pilar mais forte e estável do sistema, como o caso brasileiro, a instância que vem assumindo um papel cada vez mais importante como propulsora desses processos é o mercado. Em contraponto, a atuação de espaços independentes e residências artísticas se multiplicam e contribuem para a construção de redes dinâmicas que escapam da lógica comercial e da morosidade institucional. Importante, portanto, estabelecer indicadores para cada uma das instâncias, pois embora interdependentes, cada qual possui dinâmicas próprias e interferem diferentemente no funcionamento do sistema. 3.2 O sistema de arte contemporânea e o cenário internacional Para melhor compreender a inserção da arte contemporânea brasileira no cenário internacional, e assim melhor direcionar as políticas públicas nessa área, é necessário considerar as determinantes de uma mudança do mapa mundial das artes, observada a partir dos anos 80. Segundo Ana Letícia Fialho, podemos identificar pelo menos duas fases bastante distintas no processo de expansão do mapa da arte contemporânea em escala global: a primeira se situa entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, quando ocorre uma renovação controlada da oferta (MOULIN, 2000), com a expansão de fronteiras do mapa das artes a partir do “centro” e com um foco na produção artística; a segunda começa no final da década de 1990 e ainda se encontra em curso, na qual observamos o início de uma descentralização e da multiplicação dos circuitos de legitimação 17 . A pesquisadora observa que, no final dos anos 1980, agentes da cena artística internacional, centralizada no eixo Europa Ocidental-Estados Unidos, começam a integrar cada vez mais artistas de regiões “periféricas” em seus discursos e práticas. Fora do eixo central, Bienais e outros eventos, assim como instituições de arte contemporânea começam a se multiplicar, e agentes que atuavam em escala regional passam a buscar visibilidade e inserção internacional, pressionando as fronteiras até então bem delimitadas do mainstream internacional. Num contexto histórico mais 17 FIALHO, Ana Letícia. O Brasil está no mapa? Reflexões sobre a inserção e a visibilidade do Brasil no mapa internacional das artes. Texto publicado em: FUNDAJ (org.), Depois do Muro, Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massagana, 2010.

A curadora Kiki Mazuchelli em texto para a Revista Tatuí descreve sua própria<br />

experiência, de ser uma brasileira basea<strong>da</strong> há dez anos em Londres e trabalhando em diversos<br />

contextos. Em sua hipótese está neste trânsito o valor atual ou a economia <strong>da</strong>s artes nesta<br />

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Parto do pressuposto de que, justamente nesta déca<strong>da</strong>, houve uma expansão dos<br />

fluxos, trocas e intercâmbios no contexto <strong>da</strong> arte contemporânea para regiões além do<br />

eixo Europa-Estados Unidos, bem como sua intensificação nos países onde já ocorriam,<br />

o que ocasionou uma maior inserção <strong>da</strong> arte brasileira no circuito internacional.<br />

Internamente, no Brasil este foi também um período de aceleração de um processo<br />

interno de expansão do campo <strong>da</strong> arte contemporânea, em que se observou não<br />

apenas o surgimento de novas galerias comerciais – representando principalmente<br />

artistas jovens –, como também a ampliação regional do circuito, que passa a incluir<br />

outros importantes centros urbanos além de Rio de Janeiro e São Paulo. Embora sejam<br />

o produto de diferentes conjunturas cuja análise deman<strong>da</strong>ria um ensaio mais extenso,<br />

observamos nesses dois movimentos de intensificação de fluxos um processo de<br />

descentralização tanto no âmbito externo, quanto interno. 15<br />

Conforme analisa também Roberto de Magalhães Veiga:<br />

A arte contemporânea parece ter se convertido numa linguagem universal, cujo<br />

domínio revela-se um trunfo inestimável num mundo extremamente competitivo.<br />

Objetos e desempenhos sendo polissêmicos, seu “virtuosismo semiótico” (Canclini,<br />

1999) permite-lhes ser também a materialização de todo um potencial altamente<br />

positivo creditado à atuali<strong>da</strong>de e ao futuro. Enquanto discurso privilegiado sobre o<br />

real, o controle/posse <strong>da</strong> produção artística contemporânea torna-se indispensável na<br />

construção de imagens no processo de elaboração/reinvenção de identi<strong>da</strong>des<br />

valoriza<strong>da</strong>s ao extremo. Marcar as alteri<strong>da</strong>des, as fronteiras, as hierarquias <strong>da</strong>s<br />

identi<strong>da</strong>des relacionais torna-se uma função ca<strong>da</strong> dia mais notória – sem prejuízo <strong>da</strong>s<br />

demais – para a produção estética contemporânea. 16<br />

Levando a sério essa questão do fluxo e <strong>da</strong> circulação e, ao mesmo tempo, a noção de<br />

Sistema de Arte, acima menciona<strong>da</strong>s, iremos trabalhar com os diversos atores que constituem<br />

o campo dialógico de uma arte contemporânea internacional, ain<strong>da</strong> que produzi<strong>da</strong> em<br />

provocando o alargamento do pensamento sobre território, nacionali<strong>da</strong>des e identi<strong>da</strong>des, sem com isto tratar<br />

destes temas como pressupostos a priori, mas pelo diálogo estético <strong>da</strong>s obras.<br />

15 MAZUCHELLI, Kiki. LADO B| NÃO SEJA MARGINAL, NÃO SEJA HERÓI: a arte brasileira no exterior em tempos de<br />

mobili<strong>da</strong>de acelera<strong>da</strong>. Revista Tatuí. Disponível em:<br />

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:FBqc_CRdpUJ:revistatatui.com/revista/tatui-11/nao-sejamarginal-nao-seja-heroi-a-arte-brasileira-no-exterior-em-tempos-demobili<strong>da</strong>deacelera<strong>da</strong>/+kiki+mazuchelli+revista+tatu%C3%AD&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br.<br />

Acesso em 15/10/20011.<br />

16 Roberto de Magalhães Veiga

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