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História do Brasil

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HISTÓRIA DO BRASIL<br />

3


Coordenação editorial: Estúdio Conejo, Zênite.<br />

Preparação de texto: Zênite, Carlos Tadeu Melo Botelho.<br />

Coordenação de design e projetos visuais: Pedro Yañez.<br />

Revisão: Geisa Teixeira.<br />

Impressão: Gráfica <strong>Brasil</strong>.<br />

Organiza<strong>do</strong>r: Estúdio Conejo<br />

Obra coletiva concebida, desenvolvida<br />

e produzida pelo estúdio Conejo, Zênite.<br />

Editor Executivo:<br />

Pedro Yañez.<br />

Livro <strong>do</strong> professor:<br />

CARLOS TADEU MELO BOTELHO<br />

4


Para a elaboração deste livro foram consultadas diversas obras historiográficas atuais,<br />

voltadas para o ensino médio. Selecionamos e organizamos mais de uma centena de<br />

questões de várias instituições de ensino superior <strong>do</strong> país, além daquelas elencadas ao<br />

ENEM.<br />

A seleção foi baseada nos seguintes critérios:<br />

a) Incidência: os temas e os tipos de questões que aparecem mais frequentemente no<br />

ENEM e nos vestibulares e durante mais tempo.<br />

b) Tendência: valorização de assuntos e questões que vem se tornan<strong>do</strong> mais frequentes.<br />

To<strong>do</strong>s os catorze capítulos estão dividi<strong>do</strong>s em três partes:<br />

a) Um texto básico e sintético com informações imprescindíveis a cada tema.<br />

b) textos e <strong>do</strong>cumentos históricos complementares, que permitem interpretações e problematizações<br />

<strong>do</strong> assunto estuda<strong>do</strong>.<br />

c) uma terceira parte onde são apresentadas questões <strong>do</strong> ENEM e de vestibulares para<br />

o aluno resolver.<br />

A organização deste livro evitou assuntos estranhos ao universo <strong>do</strong> vestibular, priorizan<strong>do</strong><br />

o auxilio direto a uma preparação intensa, objetiva e especifica, voltada exclusivamente<br />

para os exames a serem realiza<strong>do</strong>s.<br />

Bom estu<strong>do</strong>!<br />

;)<br />

5


SUMÁRIO<br />

I - AMÉRICA PORTUGUESA: O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO .....<br />

II – A SOCIEDADE NA AMÉRICA PORTUGUESA: DIVERSIDADE,<br />

DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA ............................................................<br />

III – REBELIÕES NATIVISTAS / NOVAS FRONTEIRAS ....................<br />

IV – MANIFESTAÇÕES DE CRISE DO SISTEMA COLONIAL ..........<br />

V – O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA (1808 – 1822) .....................<br />

VI - O PRIMEIRO REINADO (1822 - 1831) .........................................<br />

VII – O PERÍODO REGÊNCIAL (1831 – 1840) ....................................<br />

VIII – O SEGUNDO REINADO (1840 – 1889) .....................................<br />

IX – REPÚBLICA VELHA: IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO .............<br />

X - A REPÚBLICA VELHA: CONTRADIÇÕES E CONFLITOS ..........<br />

XI - VARGAS E O ESTADO NOVO NO BRASIL (1930 – 1945) ...........<br />

XII – A EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA (1946 – 1964) ......................<br />

XIII – A DITADURA MILITAR (1964 – 1985) ......................................<br />

XIV – O BRASIL COMTEPORÂNEO ..................................................<br />

REFERENCIAS .......................................................................................<br />

9<br />

33<br />

53<br />

61<br />

66<br />

70<br />

81<br />

91<br />

101<br />

107<br />

118<br />

135<br />

143<br />

154<br />

179<br />

7


I - AMÉRICA PORTUGUESA: O SENTIDO DA<br />

COLONIZAÇÃO<br />

Revista de <strong>História</strong> da biblioteca nacional.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Por cerca de 30 anos (1500-1530), a Coroa portuguesa<br />

não desenvolveu um projeto de colonização da Terra<br />

<strong>Brasil</strong>is.<br />

Uma das razões da ausência de um projeto dessa<br />

natureza pode ser percebida nas palavras <strong>do</strong> navega<strong>do</strong>r<br />

italiano Américo Vespúcio, que percorreu boa parte <strong>do</strong><br />

litoral brasileiro na primeira década <strong>do</strong> século XVI a<br />

serviço <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> português:<br />

“Pode-se dizer que não encontramos nada de proveito”<br />

De fato, para a Coroa e para a burguesia portuguesa,<br />

principais agentes da expansão ultramarina, as terras<br />

brasileiras não ofereciam possibilidades imediatas de<br />

exploração de acor<strong>do</strong> com as práticas mercantilistas que<br />

fundamentavam a montagem <strong>do</strong> sistema colonial.<br />

Aparentemente, inexistiam metais preciosos e não havia<br />

uma produção organizada voltada para o comércio e que<br />

pudesse complementar a economia metropolitana. Ao<br />

mesmo tempo, as atividades mercantis com as Índias,<br />

iniciadas a partir da expedição de Vasco da Gama<br />

(1498), apresentavam reais possibilidades de obtenção de<br />

lucros imediatos.<br />

Antropofagia<br />

No entanto, durante esse perío<strong>do</strong>, verificou-se a extração<br />

sistemática <strong>do</strong> pau-brasil, desde o início declara<strong>do</strong><br />

monopólio da Coroa, que transferiu para particulares os<br />

direitos de exploração dessa madeira, que era encontrada<br />

em abundancia na faixa litorânea, resguardan<strong>do</strong>-se os<br />

direitos tributários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

9


Apesar de o extrativismo <strong>do</strong> pau-brasil não ter<br />

contribuí<strong>do</strong> para o início efetivo da colonização, sua<br />

importância econômica não pode ser desprezada,<br />

conforme se pode perceber pela leitura <strong>do</strong> texto a seguir:<br />

“Se o valor daquele produto (o pau-brasil) era bem<br />

inferior ao das especiarias — já se calculou que uma nau<br />

de 120 toneladas carregada de especiarias valia sete<br />

vezes um igual carregamento de pau-brasil - não era, no<br />

entanto, desprezível. De fato, não se justificariam tantos<br />

cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo, se se tratasse de produto inferior na<br />

escala <strong>do</strong>s lucros auferi<strong>do</strong>s. O próprio interesse<br />

estrangeiro em participar deste comércio, com navios<br />

franceses, e em menor escala, ingleses e espanhóis,<br />

procuran<strong>do</strong> romper o monopólio lusitano, indica nesse<br />

senti<strong>do</strong>.”<br />

FRANCO JÚNIOR, Hilário; CHACON, Paulo Pan. Historia Económica Geral e<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. São Pauto: Atlas, 1980. p. 180.<br />

A extração <strong>do</strong> pau-brasil foi tremendamente predatória,<br />

com a utilização de mão-de-obra indígena e valen<strong>do</strong>-se<br />

da prática <strong>do</strong> escambo. O caráter predatório se revela na<br />

enorme quantidade de madeira que era transportada para<br />

a Europa — alguns cálculos indicam que, anualmente,<br />

eram extraídas cerca de 300 toneladas.<br />

A respeito dessa fase, denominada “pré-colonial” por<br />

muitos historia<strong>do</strong>res, o professor Luiz Roberto Lopez<br />

escreveu:<br />

“Durante os primeiros trinta anos da <strong>do</strong>minação<br />

portuguesa, o <strong>Brasil</strong> não foi, tecnicamente falan<strong>do</strong>, uma<br />

colônia, visto que não estavam presentes diversos<br />

elementos que (...) fazem parte da estrutura colonialista.<br />

É fato que existia uma riqueza da qual os portugueses se<br />

apropriavam. Mas inexistia um sistema monta<strong>do</strong> em<br />

função dessa apropriação (...). A apropriação da referida<br />

riqueza o pau-brasil dava-se dentro de moldes muito<br />

primitivos e a sociedade indígena que aqui existia não<br />

era afetada pelo relacionamento econômico imposto<br />

pelas necessidades de enriquecimento de Portugal. Em<br />

resumo, este da<strong>do</strong> nos mostra que se a simples<br />

<strong>do</strong>minação politica não configura a situação colonial, da<br />

mesma forma não a configura a apropriação pura e<br />

simples das riquezas de uma terra pela população de<br />

outra.”<br />

LOPEZ, Luz Roberto. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colonial. 2. ed. Porto Alegre: Merca<strong>do</strong><br />

Aberto, 1983. p. 17.<br />

A montagem <strong>do</strong> sistema colonial<br />

A partir de 1530, observou-se uma preocupação por parte<br />

da coroa em inserir as terras americanas no contexto <strong>do</strong><br />

mercantilismo, pelas seguintes razoes:<br />

Declínio <strong>do</strong> comércio das especiarias asiáticas,<br />

inclusive pela perda <strong>do</strong> monopólio desfruta<strong>do</strong> pelos<br />

portugueses no princípio <strong>do</strong> século XVI;<br />

Incursões de europeus de outras no litoral brasileiro,<br />

principalmente franceses.<br />

Compreensão de que o estabelecimento de simples<br />

feitorias em alguns pontos estratégicos <strong>do</strong> litoral não<br />

seria suficiente para garantir a efetiva posse <strong>do</strong><br />

território.<br />

Descoberta de metais preciosos na América<br />

espanhola, no eixo México - Peru.<br />

Aliás, a preocupação metalista encontrava-se presente<br />

desde as primeiras décadas da colonização. Em 1572, o<br />

cronista Pero de Magalhaes de Gândavo, em sua obra<br />

Trata<strong>do</strong> da Província <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, observou:<br />

“E também se espera desta província (<strong>Brasil</strong>) que por<br />

tempo floresça, tanto na riqueza como as Antilhas de<br />

Castella (Espanha), porque é certo ser em si a terra mui<br />

rica e haver nela muitos metais, os quais até agora senão<br />

descobrem (...).”<br />

GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. Tratada da Província <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeira: INI./MEC. 1965.<br />

Nesse processo de inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nos quadros <strong>do</strong><br />

Antigo Sistema Colonial, foi organizada a expedição de<br />

Martim Afonso de Souza (1530-1533), marco inicial <strong>do</strong><br />

processo de colonização <strong>do</strong> território brasileiro. Entre os<br />

principais objetivos de sua expedição, destacaram-se:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A busca de uma passagem terrestre ou fluvial entre o<br />

Atlântico e as minas de prata <strong>do</strong> Peru;<br />

A fundação de núcleos coloniais (por sua iniciativa,<br />

em 1532, foi funda<strong>do</strong> o primeiro núcleo colonial —<br />

São Vicente—, no litoral <strong>do</strong> atual esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo);<br />

Estabelecimento de uma proteção mais efetiva<br />

contra a presença de corsários franceses;<br />

Envio de expedições ao interior na expectativa da<br />

descoberta de metais preciosos;<br />

A verificação das possibilidades de adaptação da<br />

cana-de-açúcar ao clima e ao solo brasileiros.<br />

A organização administrativa<br />

A organização administrativa inicialmente foi montada<br />

de forma descentralizada, utilizan<strong>do</strong>-se o sistema de<br />

Capitanias Hereditárias ou <strong>do</strong>natárias:<br />

10


O território foi dividi<strong>do</strong> em 15 parcelas lineares de terra<br />

de, aproximadamente, 50 léguas (cerca de 300<br />

quilômetros) de faixa litorânea que se estendiam da costa<br />

até o meridiano de Tordesilhas. Elas então foram<br />

concedidas a pessoas (geralmente membros da pequena<br />

nobreza) interessadas em vir colonizar a região com seus<br />

próprios recursos, uma vez que a Coroa não dispunha<br />

destes, conforme observou o economista Celso Furta<strong>do</strong>:<br />

“Contu<strong>do</strong>, tornava-se cada dia mais claro que se<br />

perderiam as terras americanas a menos que fosse<br />

realiza<strong>do</strong> um esforço de monta para ocupá-las<br />

permanentemente (...). Sem embargo, os recursos de que<br />

dispunha Portugal para colocar produtivamente no <strong>Brasil</strong><br />

eram limita<strong>do</strong>s e dificilmente teriam si<strong>do</strong> suficientes para<br />

defender as novas terras por muito tempo.”<br />

FURTADO, Celso. Formação Econômica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Rio de Janeiro: Fun<strong>do</strong> de<br />

Cultura, 1961. p. 56.<br />

Dois <strong>do</strong>cumentos regiam o sistema: as Cartas de<br />

Doação e os Forais. A Carta de Doação era o <strong>do</strong>cumento<br />

por meio <strong>do</strong> qual a Coroa concedia a capitania ao<br />

<strong>do</strong>natário e especificava quais os poderes de que ele<br />

estava investi<strong>do</strong>. O Foral determinava os direitos e os<br />

deveres <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários.<br />

A partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI, objetivan<strong>do</strong><br />

incentivar o processo coloniza<strong>do</strong>r, o Esta<strong>do</strong> português<br />

optou pela criação <strong>do</strong> Governo-Geral (1548). Com isso,<br />

substituiu-se o projeto inicial, caracteriza<strong>do</strong> pela<br />

descentralização, por outro, marca<strong>do</strong> pela centralização<br />

administrativa. O Governo-Geral era encarrega<strong>do</strong> de<br />

prover apoio e coordenação às capitanias.<br />

O governa<strong>do</strong>r-geral seria auxilia<strong>do</strong> pelo prove<strong>do</strong>r-mor<br />

(responsável pela cobrança de impostos e provimento<br />

<strong>do</strong>s cargos), o ouvi<strong>do</strong>r-mor (responsável pela aplicação<br />

da justiça) e o capitão-mor da costa (responsável pela<br />

defesa da colônia).<br />

No mapa <strong>do</strong> século XVI, pode-se ver uma representação <strong>do</strong> território brasileiro<br />

dividi<strong>do</strong> em capitanias hereditárias. Registra<strong>do</strong> no Códice Quinhentista da<br />

Biblioteca da Ajuda, em Portugal, o mapa é um importante <strong>do</strong>cumento<br />

cartográfico que nos permite compreender como, na visão <strong>do</strong><br />

artista/cartográfico, o real e o imaginário se confundiam. O Rio da Prata, por<br />

exemplo, penetra no interior <strong>do</strong> continente e, segun<strong>do</strong> as concepções da época,<br />

seria um “caminho natural” para as minas de prata de Potosi.<br />

É importante ressaltar que a criação <strong>do</strong> Governo-Geral<br />

não implicou na extinção das capitanias hereditárias. O<br />

próprio Regimento, <strong>do</strong>cumento que instituiu o modelo<br />

centraliza<strong>do</strong>r, afirmava que o Governo-Geral havia si<strong>do</strong><br />

cria<strong>do</strong> “para dar ajuda e favor aos capitães <strong>do</strong>natários”.<br />

Dessa maneira, escolheu-se a Capitania da Bahia de<br />

To<strong>do</strong>s os Santos para ser a sede <strong>do</strong> governo. Já em 1549,<br />

foi fundada a cidade de Salva<strong>do</strong>r. Assim, essa capitania,<br />

uma vez readquiri<strong>do</strong>s por parte da Coroa os direitos de<br />

administração, passou a ser a primeira capitania real, isto<br />

é, administrada diretamente por um funcionário <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> português.<br />

Com o tempo, a tendência centraliza<strong>do</strong>ra foi se tornan<strong>do</strong><br />

mais marcante à medida que a metrópole foi<br />

transforman<strong>do</strong> as capitanias hereditárias em capitanias<br />

reais.<br />

Características <strong>do</strong> sistema colonial implanta<strong>do</strong><br />

A organização econômica se enquadrou dentro das<br />

características e necessidades <strong>do</strong> colonialismo<br />

mercantilista.<br />

Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r Caio Pra<strong>do</strong> Júnior, havia um<br />

“senti<strong>do</strong>” maior nesse modelo de colonização.<br />

11


“No seu conjunto, e vista no plano mundial e<br />

internacional, a colonização <strong>do</strong>s trópicos toma o aspecto<br />

de uma vasta empresa comercial, mais complexa que a<br />

antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela,<br />

destinada a explorar os recursos naturais de um território<br />

virgem em proveito <strong>do</strong> comércio europeu.<br />

É este o verdadeiro senti<strong>do</strong> da colonização tropical, de<br />

que o <strong>Brasil</strong> é uma das resultantes; e ele explicará os<br />

elementos fundamentais, tanto no social, como no<br />

econômico, da formação e evolução histórica <strong>do</strong>s<br />

trópicos americanos. Se vamos à essência da nossa<br />

formação, veremos que na realidade nos constituímos<br />

para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais<br />

tarde ouro e diamantes; depois algodão e em seguida café<br />

para o comercio europeu. Nada mais que isto.”<br />

PRADO JÚNIOR, Caio. <strong>História</strong> Económica da <strong>Brasil</strong>. 7. ad. São Pauto:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1962. p. 22-23.<br />

O modelo coloniza<strong>do</strong>r implanta<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong> apresentava<br />

as seguintes características:<br />

O caráter de complementaridade, uma vez que,<br />

assim como na América espanhola, a produção,<br />

tanto de metais como de gêneros tropicais,<br />

destinava-se à metrópole e ao merca<strong>do</strong> europeu;<br />

A organização da produção em larga escala e a<br />

baixo custo, aspectos que explicam, em grande<br />

parte, a estrutura latifundiária e a utilização da mãode-obra<br />

escrava, pre<strong>do</strong>minantemente de origem<br />

africana. A esse último ponto, inclusive,<br />

paralelizava-se o altamente lucrativo tráfico de<br />

escravos, expressivo componente <strong>do</strong> processo de<br />

acumulação de capital;<br />

A estruturação <strong>do</strong> processo coloniza<strong>do</strong>r com base no<br />

“pacto colonial”, expressão inadequada, embora<br />

consagrada, uma vez que a assimetria desse “pacto”<br />

era evidente, consideran<strong>do</strong>-se que ele favorecia a<br />

transferência de renda da colônia para o Esta<strong>do</strong><br />

metropolitano e para a burguesia mercantil;<br />

O caráter monocultor da agricultura de exportação,<br />

dependente de investimentos e financiamentos<br />

externos. Essa característica inviabilizou, inclusive,<br />

a montagem de um sistema colonial basea<strong>do</strong> em<br />

pequenas e medias propriedades e no trabalho<br />

assalaria<strong>do</strong> ou familiar, pois tais aspectos levariam à<br />

dinamização <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno e à distribuição de<br />

renda na colônia, fatores contraditórios em relação à<br />

dinâmica <strong>do</strong> sistema colonial mercantilista;<br />

A proibição da instalação de manufaturas na colônia,<br />

característica que garantia à burguesia mercantil<br />

metropolitana a venda, com elevadas margens de<br />

lucro, das merca<strong>do</strong>rias produzidas na Europa;<br />

<br />

O “exclusivo comercial”, que garantia à burguesia<br />

mercantil metropolitana a apropriação da maior parte da<br />

renda gerada na colônia.<br />

A respeito dessa última característica, o historia<strong>do</strong>r<br />

Fernan<strong>do</strong> Novais destacou:<br />

“É no regime <strong>do</strong> comércio entre metrópoles e colônias<br />

que se situa o elemento essencial desse mecanismo (<strong>do</strong><br />

Antigo Sistema colonial mercantilista).Reservan<strong>do</strong>-se a<br />

exclusividade <strong>do</strong> comercio com o Ultramar, as<br />

metrópoles europeias na realidade organizavam um<br />

quadro institucional de relações tendentes a promover<br />

necessariamente um estímulo à acumulação primitiva de<br />

capital na economia metropolitana a expensas das<br />

economias periféricas coloniais. O chama<strong>do</strong> monopólio<br />

colonial, ou mais corretamente e usan<strong>do</strong> um termo da<br />

própria época, o regime <strong>do</strong> ‘exclusivo’ metropolitano<br />

constituía-se pois no mecanismo por excelência <strong>do</strong><br />

sistema.”<br />

NOVAIS, Fernan<strong>do</strong> A. Portugal e <strong>Brasil</strong> na Crise <strong>do</strong> Antigo Sistema Colonial<br />

1777-1808. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1983. p. 72.<br />

A agromanufatura <strong>do</strong> açúcar<br />

A efetiva implementação <strong>do</strong> sistema colonial na América<br />

portuguesa se deu com a agromanufatura <strong>do</strong> açúcar.<br />

Entre os fatores que tradicionalmente levaram à “solução<br />

açucareira”, podem ser destaca<strong>do</strong>s os seguintes:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A grande margem de lucro que poderia ser obtida<br />

com a comercialização <strong>do</strong> produto no merca<strong>do</strong><br />

europeu;<br />

A ausência de concorrentes e a experiência anterior<br />

<strong>do</strong>s portugueses no cultivo da cana e na produção <strong>do</strong><br />

açúcar nas ilhas <strong>do</strong> Atlântico (Madeira e Cabo<br />

Verde);<br />

A participação <strong>do</strong> capital holandês, presente no<br />

financiamento da montagem <strong>do</strong>s engenhos, no<br />

transporte, no refino e na distribuição <strong>do</strong> açúcar na<br />

Europa;<br />

A qualidade <strong>do</strong> solo e as condições climáticas (clima<br />

quente e úmi<strong>do</strong>), particularmente na faixa litorânea<br />

entre Salva<strong>do</strong>r e Olinda, além da disponibilidade de<br />

grandes extensões de terras nessa região.<br />

A estrutura latifundiária, ainda hoje uma realidade <strong>do</strong><br />

Nordeste brasileiro, foi questionada por João Cabral de<br />

Meio Neto no poema “O Mar e o Canavial”. No<br />

fragmento a seguir, o autor relaciona “mar” e “canavial”,<br />

observan<strong>do</strong> que “o avançar em linha rasteira” <strong>do</strong><br />

canavial corresponde à expansão contínua da produção<br />

açucareira em regime de latifúndio, em especial no<br />

esta<strong>do</strong> de Pernambuco.<br />

12


“O que o canavial sim aprende <strong>do</strong> mar: o avançar em<br />

linha rasteira da onda, o espraiar-se minucioso, de<br />

líqui<strong>do</strong>, alagan<strong>do</strong> cova a cova onde se alonga. O que o<br />

canavial não aprende <strong>do</strong> mar: o desmedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> derramarse<br />

da cana; o comedimento <strong>do</strong> latifúndio <strong>do</strong> mar, que<br />

menos lastradamente se derrama.”<br />

MELO NETO, João Cabral de. O Mar e o Canavial In: A Educação Pela Pedra.<br />

Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. p. 09.<br />

A agromanufatura açucareira se estruturou com base na<br />

plantation, isto é, na grande unidade escravista de<br />

produção. Essa unidade compreendia <strong>do</strong>is setores<br />

produtivos: o agrícola e o manufatureiro.<br />

O setor agrícola dividia-se em um setor escravista<br />

<strong>do</strong>minante, produtor de cana-de-açúcar, e um setor<br />

produtor de alimentos, que abastecia os trabalha<strong>do</strong>res,<br />

sen<strong>do</strong> que esse último era subordina<strong>do</strong> ao primeiro.<br />

No setor produtor de alimentos, os escravos recebiam<br />

lotes em usufruto concedi<strong>do</strong>s pelo grande proprietário. A<br />

produção realizada nesses lotes garantia não apenas uma<br />

BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico <strong>Brasil</strong>:<br />

Colônia e Império. Belo Horizonte: O Autor, 2001. p. 27.<br />

Na gravura <strong>do</strong> alemão Johann Moritz Rugendas pode-se observar um detalhede<br />

um engenho colonial, destacan<strong>do</strong>-se a moenda, etapa inicial da agromanufatura<br />

açucareira. Escravos aparecem descarregan<strong>do</strong> um carro de boi repleto de canade-açucar<br />

cortada e preparada para a moagem. Numa etapa seguinte, o cal<strong>do</strong> ex<br />

extraí<strong>do</strong> da cana era leva<strong>do</strong> para a casa das caldeiras. Rugendas esteve no<br />

<strong>Brasil</strong> na década de 1820 e produziu mais de uma centena de ilustrações com o<br />

intuito de <strong>do</strong>cumentar a paisagem, o cotidiano e as varias atividades econômicas.<br />

O setor manufatureiro envolvia as inúmeras atividades de<br />

transformação da cana-de-açúcar realizadas no engenho.<br />

Apesar de escravistas, alguns autores consideram as<br />

atividades econômicas desenvolvidas no engenho<br />

colonial como manufatureiras devi<strong>do</strong> às seguintes<br />

razões:<br />

Divisão - inclusive sexual - <strong>do</strong> trabalho;<br />

melhor alimentação aos escravos e às suas famílias,<br />

como também diminuía o custo de manutenção destes<br />

por parte <strong>do</strong>s senhores.<br />

Esse modelo ficou conheci<strong>do</strong> pela expressão “brecha<br />

camponesa”.<br />

A respeito desse modelo, as professoras Ângela Botelho<br />

e Liana Reis escreveram em seu Dicionário Histórico<br />

<strong>Brasil</strong> — Colônia e Império:<br />

“Denominação dada pelos estudiosos atuais à prática <strong>do</strong>s<br />

senhores de conceder porções de terra a seus escravos,<br />

para que nelas cultivassem lavouras e criassem animais.<br />

Normalmente, o cultivo destas terras era feito aos<br />

<strong>do</strong>mingos e dias santos (...). Ao que tu<strong>do</strong> indica, essa<br />

prática foi comum no perío<strong>do</strong> colonial, especialmente no<br />

nordeste açucareiro. A<strong>do</strong>tada em regiões escravistas da<br />

América Central e sul <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, ficou<br />

conhecida na época como ‘costume <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>’.”<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Existência de atividades especializadas, exercidas<br />

por caldeireiros, purgadeiras, carpinteiros, etc.;<br />

Dissociação entre os produtores diretos (os escravos)<br />

e o produto final <strong>do</strong> trabalho;<br />

Produção visan<strong>do</strong> ao abastecimento de um merca<strong>do</strong><br />

crescente;<br />

Noção de que o produto final era o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

trabalho coletivo realiza<strong>do</strong> no engenho por muitos<br />

cativos.<br />

A maior expansão da agro manufatura açucareira ocorreu<br />

no final <strong>do</strong> século XVI e na primeira metade <strong>do</strong> século<br />

XVII, quan<strong>do</strong> a produção era realizada em mais de 250<br />

engenhos, coincidin<strong>do</strong> com o movimento acentua<strong>do</strong> de<br />

alta <strong>do</strong>s preços no merca<strong>do</strong> europeu.<br />

No entanto, a elevação <strong>do</strong>s preços não repercutiu no<br />

aumento da renda <strong>do</strong>s produtores coloniais em função <strong>do</strong><br />

regime de exclusivo comercial, como bem observou o<br />

historia<strong>do</strong>r Fernan<strong>do</strong> Novais:<br />

“O que é legítimo afirmar, comprova<strong>do</strong> pela<br />

<strong>do</strong>cumentação <strong>do</strong>s preços, é que com a fase de grande<br />

crescimento da economia açucareira assistimos ao seu<br />

enquadramento nas linhas de força <strong>do</strong> sistema colonial;<br />

os preços sobem pouco na colônia, a elevação é<br />

acentuada na metrópole, isto é, geram-se lucros<br />

excedentes — lucros monopolistas — que se acumulam<br />

entre os empresários metropolitanos”.<br />

NOVAIS, Fernan<strong>do</strong> A. Portugal e <strong>Brasil</strong> na Crise <strong>do</strong> Antigo Sistema Colonial.<br />

1777-1808. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1983. p. 80.<br />

13


14<br />

A presença <strong>do</strong>s holandeses no Nordeste<br />

açucareiro<br />

Na primeira metade <strong>do</strong> século XVII, foram feitas duas<br />

tentativas de ocupação de regiões <strong>do</strong> Nordeste açucareiro<br />

por parte <strong>do</strong>s holandeses: Bahia, em 1624, e<br />

Pernambuco, em 1630.<br />

Embora a primeira não tenha alcança<strong>do</strong> os objetivos<br />

pretendi<strong>do</strong>s, uma vez que em 1625 os holandeses foram<br />

expulsos, a segunda garantiu a posse de uma grande<br />

extensão <strong>do</strong> território (sete Capitanias) a eles até 1654.<br />

A presença <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Países Baixos (Holanda)<br />

explica-se em função <strong>do</strong> envolvimento destes na<br />

agromanufatura açucareira desde a implantação <strong>do</strong>s<br />

primeiros engenhos (financiamento, transporte, refino e<br />

comercialização <strong>do</strong> açúcar na Europa).<br />

Em função da União Ibérica (1580-1640) — perío<strong>do</strong> no<br />

qual Portugal e suas colônias, entre as quais o <strong>Brasil</strong>,<br />

estiveram sob administração espanhola —, os holandeses<br />

foram impedi<strong>do</strong>s de participar <strong>do</strong> “negócio açucareiro”.<br />

Esse embargo explica-se pelo conflito entre a Espanha e<br />

os Países Baixos <strong>do</strong> Norte em fins <strong>do</strong> século XVI.<br />

Tratou-se de um conflito que se inseriu no contexto da<br />

independência dessas regiões, então sob <strong>do</strong>mínio da<br />

Coroa espanhola e, também, em outro senti<strong>do</strong>, nas<br />

guerras de religião (católicos X protestantes) <strong>do</strong> século<br />

XVI.<br />

A respeito <strong>do</strong>s conflitos entre holandeses e espanhóis, a<br />

historia<strong>do</strong>ra Elsa Avancini escreveu:<br />

“Os holandeses, conheci<strong>do</strong>s também como flamengos,<br />

eram habitantes <strong>do</strong>s Países Baixos <strong>do</strong> Norte, que foram<br />

províncias espanholas até 1581, quan<strong>do</strong> deixaram de<br />

reconhecer a autoridade de Filipe II (rei da Espanha).<br />

Apoia<strong>do</strong>s pela Inglaterra, lutaram por sua independência<br />

e, em 1584, formaram um novo país, chama<strong>do</strong><br />

Províncias tinidas <strong>do</strong>s Países Baixos (ou República da<br />

Holanda), que passou a concorrer com a Espanha na<br />

disputa pelo seu imenso Império colonial no Oriente e<br />

nas Américas.”<br />

AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce Inferno: Açúcar, Guerra e Escravidão no<br />

<strong>Brasil</strong> Holandês. 1580-1554. 3. ed. São Paulo: Atual, 1991. p. 07.<br />

A partir da proibição imposta aos holandeses, estes<br />

reagiram crian<strong>do</strong> a Companhia de Comércio das Índias<br />

Orientais (1609), cujo objetivo era o de atuar no Oriente,<br />

isto é, na Ásia, em regiões <strong>do</strong> Pacífico, nas quais<br />

interesses mercantis haviam si<strong>do</strong> prejudica<strong>do</strong>s pela<br />

União Ibérica.<br />

Em 1621, outra companhia foi organizada: a Companhia<br />

de Comércio das Índias Ocidentais. Esta deveria atuar na<br />

América (Índias Ocidentais) e em regiões <strong>do</strong> Atlântico,<br />

também para preservar os interesses comerciais<br />

holandeses.<br />

As companhias eram sociedades por ações e seus<br />

acionistas pretendiam, por meio de incursões militares,<br />

garantir altas margens de lucro em suas atividades<br />

comerciais.<br />

Por não <strong>do</strong>minarem as sofisticadas técnicas de produção<br />

<strong>do</strong> açúcar, os holandeses da Companhia das Índias<br />

Ocidentais optaram pela ocupação de regiões <strong>do</strong> litoral<br />

nordestino brasileiro.<br />

Inicialmente, os senhores de engenho (portugueses e<br />

brasileiros) tenderam a resistir à invasão holandesa. Com<br />

a vinda de Maurício de Nassau, que administrou a “Nova<br />

Holanda” entre 1637 e 1644, verificou-se uma<br />

acomodação de interesses entre produtores e<br />

representantes da companhia.<br />

Essa acomodação foi o resulta<strong>do</strong> de uma política de<br />

conciliação a<strong>do</strong>tada pelo governante, cujos pontos<br />

principais foram:<br />

Tolerância religiosa;<br />

O perdão de dívidas;<br />

Empréstimos para os senhores de engenho;<br />

Melhorias urbanas;<br />

Os investimentos em infraestrutura.<br />

A modernização <strong>do</strong> Recife empreendida por Nassau pode ser vista através das<br />

pontes e canais construí<strong>do</strong>s nesse perío<strong>do</strong>, Recife, PE, Museu <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

A atuação de Nassau acabou por diminuir os lucros <strong>do</strong>s<br />

acionistas da companhia. Por pressão destes, Nassau foi<br />

obriga<strong>do</strong> a se demitir e retornou à Holanda em 1644. A<br />

partir de então, houve urna mudança nas diretrizes<br />

administrativas: impôs-se a cobrança de altos juros sobre<br />

os empréstimos contraí<strong>do</strong>s pelos senhores de engenho e<br />

o confisco de propriedades de inadimplentes.<br />

Ampliou-se, então, a reação contrária à presença<br />

holandesa no Nordeste, estimulada pela própria Coroa<br />

portuguesa, já livre da <strong>do</strong>minação espanhola. Essa reação


ficou conhecida como Insurreição Pernambucana (1645-<br />

1654) e culminou com a expulsão <strong>do</strong>s holandeses e o<br />

retorno <strong>do</strong> controle da região por parte de Portugal.<br />

Após a expulsão, os holandeses, ten<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong> as<br />

técnicas de produção durante o perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>minação,<br />

deram início à agromanufatura <strong>do</strong> açúcar nas Antilhas<br />

holandesas (Suriname e Curaçao). Dessa forma, rompeuse<br />

o monopólio da produção até então exerci<strong>do</strong> por<br />

Portugal estabelecen<strong>do</strong>-se, assim, poderosa concorrência<br />

à produção brasileira.<br />

A pecuária no <strong>Brasil</strong> Colônia: Sertão Nordestino<br />

A atividade econômica criatória foi introduzida à época<br />

da instituição das capitanias hereditárias, com rebanhos<br />

oriun<strong>do</strong>s das ilhas portuguesas <strong>do</strong><br />

Atlântico, particularmente de Cabo Verde.<br />

Duas regiões destacaram-se nessa atividade: o sertão<br />

nordestino e o extremo-sul.<br />

Inicialmente cria<strong>do</strong> próximo aos engenhos na faixa<br />

litorânea, o ga<strong>do</strong> era utiliza<strong>do</strong> como meio de transporte<br />

da cana-de-açúcar, <strong>do</strong>s canaviais aos engenhos, e<br />

também emprega<strong>do</strong> como força-motriz para acionar as<br />

moendas.<br />

Com a expansão <strong>do</strong>s rebanhos, o ga<strong>do</strong> passou a ocupar<br />

áreas propícias ao plantio de cana, atividade maior no<br />

contexto <strong>do</strong> sistema colonial mercantilista. Por essa<br />

razão, a Coroa portuguesa, em 1701, por meio de uma<br />

Carta Régia, proibiu a criação de ga<strong>do</strong> numa extensão de<br />

10 léguas (60 quilômetros), preservan<strong>do</strong> a faixa litorânea<br />

(Zona da Mata) para a ampliação <strong>do</strong>s canaviais.<br />

Mesmo antes, já se observava uma expansão pecuária em<br />

direção ao sertão <strong>do</strong> Nordeste, ten<strong>do</strong> como centros<br />

dispersores os <strong>do</strong>is principais polos de atividade<br />

açucareira: Olinda e Salva<strong>do</strong>r.<br />

Seguin<strong>do</strong> os cursos <strong>do</strong>s rios São Francisco e Parnaíba, a<br />

pecuária rapidamente se expandiu, e sua importância no<br />

contexto da economia colonial, ampliou-se pelas<br />

seguintes razões:<br />

Incorporação de uma vasta área, cujas condições<br />

naturais eram particularmente adversas (altas<br />

temperaturas, baixa pluviosidade, cursos de água<br />

irregulares, secas periódicas);<br />

Interiorização <strong>do</strong> processo coloniza<strong>do</strong>r;<br />

Desenvolvimento de um expressivo comércio<br />

interno, uma vez que a pecuária <strong>do</strong> sertão passou a<br />

abastecer os centros litorâneos;<br />

Utilização pre<strong>do</strong>minantemente, de mão-de-obra<br />

livre, inclusive indígena ou a de mestiços<br />

descendentes destes, o que contribuiu para o<br />

<br />

desenvolvimento, mesmo que relativo, de uma renda<br />

interna;<br />

Características da remuneração, que previa como<br />

forma de pagamento ao vaqueiro (ou “curraleiro”)<br />

um pequeno salário e, depois de quatro ou cinco<br />

anos de serviço, uma cria de cada quatro que<br />

nasciam.<br />

Segun<strong>do</strong> as professoras Ângela Botelho e Liana Reis, a<br />

pecuária gerou um tipo de sociedade marcada pela<br />

possibilidade de certa mobilidade e também acirrou os<br />

conflitos com populações indígenas, cujas terras<br />

localizavam-se no “caminho <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>”. A esse respeito,<br />

escreveram:<br />

“Assim, o (vaqueiro) podia iniciar seu próprio rebanho e<br />

sua fazenda criatória que, por ser extremamente simples,<br />

requeria pouco capital. (...) A sociedade que se organizou<br />

nas áreas de pecuária, denominada ‘civilização <strong>do</strong> couro’<br />

(expressão criada pelo historia<strong>do</strong>r Capistrano de Abreu,<br />

no século XIX), permitiu certa mobilidade social. No<br />

século XVIII, a descoberta de ouro nas Minas Gerais<br />

levou a pecuária a descer pelo curso <strong>do</strong> São Francisco,<br />

onde ocorreram lutas entre os índios, que tinham roças<br />

nas ilhas, e os vaqueiros, que viam nessas mesmas ilhas<br />

estábulos naturais para o ga<strong>do</strong>. A criação acompanhava<br />

ainda os cursos <strong>do</strong> Araguaia e <strong>do</strong> Tocantins.”<br />

BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórica <strong>Brasil</strong>:<br />

Colónia e Império. Belo Horizonte: O Autor, 2001. p. 136.<br />

Com o tempo, as características iniciais das relações de<br />

trabalho na pecuária se modificaram de maneira<br />

significativa. A estrutura fundiária colonial, centrada na<br />

grande propriedade, acabou por se consolidar também<br />

nessa atividade, conforme observaram as professoras<br />

Cândida Gancho e Vera Tole<strong>do</strong>:<br />

“As relações patrão-emprega<strong>do</strong> também são distintas: no<br />

engenho a presença de grande quantidade de escravos<br />

definiu uma sociedade de classes bem diferenciada. No<br />

sertão, não há tantas diferenças sociais, pelo menos a<br />

princípio, quan<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> e patrão se encarregam de<br />

queimar os campos, ferrar bezerros, (...) matar onças,<br />

cobras e morcegos, abrir bebe<strong>do</strong>uros e cacimbas, e<br />

conduzir o ga<strong>do</strong>. Tal sociedade, composta por patrões e<br />

emprega<strong>do</strong>s, uni<strong>do</strong>s nas dificuldades <strong>do</strong> trabalho, mu<strong>do</strong>u<br />

com o passar <strong>do</strong>s anos. (...) Mudam também as formas de<br />

pagamento: a tradicional partilha (...) é substituída pelo<br />

pagamento em salário, que pre<strong>do</strong>mina na pecuária<br />

nordestina de hoje. Apesar das transformações nas<br />

relações de trabalho, o tipo de vida <strong>do</strong> vaqueiro, bem<br />

como a criação de ga<strong>do</strong>, pouco mudaram no sertão ao<br />

15


16<br />

longo de três séculos. Isso significa dizer que subsistem<br />

as grandes propriedades de terra, poucos trabalha<strong>do</strong>res, e<br />

a criação extensiva de ga<strong>do</strong>.”<br />

GANCHO, cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos <strong>do</strong> Boi -<br />

Pecuária Bovina no <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1990, p. 18.<br />

Em 1681, o jesuíta italiano André João Antonil (1649-<br />

1716) veio para o <strong>Brasil</strong> e escreveu o livro Cultura e<br />

Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, que foi publica<strong>do</strong> em Lisboa, em<br />

1711. A edição, no entanto, foi destruída por ordem da<br />

Coroa portuguesa, temerosa da divulgação na Europa das<br />

riquezas existentes no <strong>Brasil</strong> Colonial, que foram muito<br />

bem detalhadas na obra de Antonil.<br />

No texto a seguir, extraí<strong>do</strong> dessa obra, o jesuíta cita as<br />

áreas criatórias <strong>do</strong> sertão nordestino, o número<br />

aproxima<strong>do</strong> de cabeças de ga<strong>do</strong> e a articulação entre os<br />

núcleos da pecuária e os centros litorâneos:<br />

“As fazendas e os currais de ga<strong>do</strong> se situam onde há<br />

largueza de campo e água (...), por isso os currais da<br />

Bahia estão postos na borda <strong>do</strong> rio de São Francisco (...).<br />

E, posto que sejam muitos os currais da parte da Bahia,<br />

chegam a muito maior número os de Pernambuco (...).<br />

Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de<br />

to<strong>do</strong>s estes vão boiadas para o Recife, Olinda e suas vilas<br />

para o fornecimento das fábricas <strong>do</strong>s engenhos (...). Só<br />

no rio de Iguaçu estão hoje mais de trinta mil cabeças de<br />

ga<strong>do</strong>. As da parte da Bahia se tem por certo que passam<br />

de meio milhão, e mais de oitocentas mil hão de ser as<br />

partes de Pernambuco.”<br />

ANTONIL. André João. Cultura e Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> 3. ed. Belo Horizonte:<br />

Itatiaia, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1982. p. 199.<br />

A pecuária no <strong>Brasil</strong> Colônia:extremo-sul<br />

Durante o século XVIII, a pecuária expandiu-se também<br />

no extremo-sul, mais precisamente na Capitania de São<br />

Pedro (Rio Grande <strong>do</strong> Sul), sen<strong>do</strong> o centro dispersor a<br />

Capitania de São Vicente. Essa expansão implicou a<br />

ruptura <strong>do</strong>s limites impostos pelo meridiano imaginário<br />

de Tordesilhas e na incorporação de regiões pertencentes<br />

à Espanha, segun<strong>do</strong> o trata<strong>do</strong> assina<strong>do</strong> em 1494.<br />

O interesse da Coroa portuguesa no efetivo povoamento<br />

de tais regiões se explica pelo fato de ser também uma<br />

área de fronteira — inclusive, esse interesse é anterior à<br />

expansão da pecuária.<br />

Já em 1680, o governo português fun<strong>do</strong>u a Colônia de<br />

Sacramento, nas margens <strong>do</strong> Rio da Prata, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto<br />

a Buenos Aires. Esse interesse também explica uma<br />

experiência única em to<strong>do</strong> o Perío<strong>do</strong> Colonial: o<br />

incentivo à vinda de famílias açorianas para ocupar as<br />

áreas litorâneas <strong>do</strong> extremo-sul.<br />

Na segunda metade <strong>do</strong> século XVIII, a criação de ga<strong>do</strong><br />

atingiu sua maior expansão na região durante o Perío<strong>do</strong><br />

Colonial, quan<strong>do</strong> a “indústria <strong>do</strong> charque” (carne seca),<br />

alcançou seu momento mais expressivo em função da<br />

necessidade de abastecer as regiões das minas, já<br />

densamente povoadas. A esse respeito, escreveram as<br />

professoras Cândida Gancho e Vera Vilhena:<br />

“A atividade minera<strong>do</strong>ra, nos primeiros anos <strong>do</strong> século<br />

XVIII, criou, nas regiões de Minas, Mato Grosso e<br />

Goiás, um grande merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r de carne. Por<br />

isso, muitos paulistas dedicaram-se a levar para lá<br />

boiadas <strong>do</strong>s campos de Curitiba ou de mais ao sul (<strong>do</strong><br />

Rio Grande). O ga<strong>do</strong> era aprisiona<strong>do</strong>, amansa<strong>do</strong>,<br />

quedan<strong>do</strong>-se algum tempo rias invernadas, numa espécie<br />

de estágio. Após a engorda, seguia andan<strong>do</strong> até Laguna,<br />

núcleo populacional mais importante <strong>do</strong> Sul. Dali era<br />

embarca<strong>do</strong> para o Rio de Janeiro e Santos, a fim de<br />

abastecer as regiões minera<strong>do</strong>ras. Em 1727, com a<br />

abertura da estrada que ligava Sorocaba (São Paulo) ao<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul, foi possível transportá-lo andan<strong>do</strong>.”<br />

GANCHO, cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos <strong>do</strong> Boi:<br />

Pecuária Bovina no <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1990. p. 24.<br />

Assim como no Sertão Nordestino, a pecuária <strong>do</strong><br />

extremo-sul repetiu a estrutura latifundiária, valen<strong>do</strong>-se,<br />

inclusive, da utilização <strong>do</strong> trabalho escravo de origem<br />

africana.<br />

O movimento bandeirantista<br />

Desde o início da colonização, foram organizadas<br />

expedições que, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> litoral, buscavam o interior<br />

com o objetivo de encontrar metais preciosos. A partir da<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XVII, o processo de<br />

interiorização tornou-se mais intenso com o movimento<br />

bandeirantista. Em relação a essa questão, é importante<br />

considerar a existência de três focos básicos <strong>do</strong><br />

bandeirantismo:<br />

Apresamento de índios (ou caça ao índio), pratica<strong>do</strong>,<br />

principalmente, no extremo-sul e na Região<br />

Amazônica;<br />

Sertanismo de contrato, particularmente intenso no<br />

Nordeste açucareiro, objetivan<strong>do</strong> a captura de<br />

escravos fugitivos;<br />

Pesquisa mineral (ou ciclo da mineração), que,<br />

partin<strong>do</strong> de São Paulo, dirigiu-se à região das minas,<br />

transpon<strong>do</strong> a Serra da Mantiqueira.<br />

Em relação ao movimento de apresamento de índios,<br />

Antônio Vieira, jesuíta português, manifestou seu<br />

repúdio a essa prática em uma carta datada de 1653:<br />

“Na primeira carta disse a V. Rev. a grande perseguição<br />

que padecemos índios, pela cobiça <strong>do</strong>s portugueses em<br />

os cativarem. Nada há de dizer de novo, senão que ainda<br />

continua a mesma cobiça e perseguição, a qual cresceu<br />

ainda mais. No ano de 1649 partiram os mora<strong>do</strong>res de


São Paulo para o sertão, em demanda de uma nação de<br />

índios distantes daquela capitania muitas léguas pela<br />

terra adentro, com a intenção de os arrancarem de suas<br />

terras e os trazerem às de São Paulo, e aí se servirem<br />

deles como costumam.”<br />

VIEIRA, Padre António. Carta ao Padre Provincial. Maranhão, 1653.<br />

Almeida Júnior - Estu<strong>do</strong> da Partida da Monção, 1897 (Bandeirantes)<br />

O fato de o bandeirantismo paulista ter contribuí<strong>do</strong> de<br />

maneira decisiva para a ampliação das fronteiras da<br />

Colônia além <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> meridiano de Tordesilhas<br />

levou muitos historia<strong>do</strong>res, em especial São Paulo, como<br />

Afonso Taunay, a exaltarem o papel <strong>do</strong>s bandeirantes.<br />

No intuito de legitimar a pujança atual <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo e o dinamismo de sua economia, construiu-se uma<br />

imagem mitificada e heroica <strong>do</strong>s bandeirantes. Eles são<br />

apresenta<strong>do</strong>s como desbrava<strong>do</strong>res, descobri<strong>do</strong>res de<br />

riquezas, funda<strong>do</strong>res de vilas e responsáveis pelo<br />

povoamento de vastas regiões.<br />

Entretanto, os aspectos negativos <strong>do</strong> bandeirantismo são,<br />

invariavelmente, camufla<strong>do</strong>s: a dizimação de povos<br />

indígenas, o deslocamento força<strong>do</strong> de populações nativas<br />

e a pura e simples escravização, que transformou o índio<br />

em merca<strong>do</strong>ria.<br />

A respeito desse tema, o historia<strong>do</strong>r Boris Fausto<br />

escreveu:<br />

“A figura <strong>do</strong> bandeirante e as qualidades da sociedade<br />

paulista <strong>do</strong> século XVII foram exaltadas principalmente<br />

por historia<strong>do</strong>res de São Paulo como Alfre<strong>do</strong> Ellis Jr. e<br />

Afonso Taunay, que escreveram suas obras entre 1920 e<br />

1950. Ellis jr. escreveu um livro intitula<strong>do</strong> Raça de<br />

Gigantes para exaltar a superioridade racial <strong>do</strong>s paulistas.<br />

Essa superioridade derivaria da existência, em número<br />

ponderável, de uma população branca, <strong>do</strong> êxito <strong>do</strong><br />

cruzamento com o índio e da tardia entrada <strong>do</strong> negro na<br />

região. Tu<strong>do</strong> não passava de fantasias, com pretensões<br />

científicas. (...) A exaltação <strong>do</strong>s bandeirantes, em São<br />

Paulo, está presente na nomenclatura de estradas,<br />

avenidas e monumentos. Monumentos que vão desde a<br />

bela obra <strong>do</strong> escultor Brecheret junto ao Parque <strong>do</strong><br />

Ibirapuera até o assusta<strong>do</strong>r Borba Gato, gigante de botas<br />

planta<strong>do</strong> no bairro de Santo Amaro. A estátua, aliás, é<br />

muito pouco realista, pois existem boas indicações de<br />

que muitos bandeirantes marchavam descalços, por<br />

terras, montes e vales (...). Na verdade, os paulistas não<br />

constituíram uma ‘raça especial’, mas um grupo de<br />

origem portuguesa ou mestiça que, por uma série de<br />

condições geográficas, sociais e culturais, se<br />

distinguiram de outros grupos. Sua coragem e arrojo, ou<br />

o tato de que tenham contribuí<strong>do</strong> para a extensão<br />

territorial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, estão fora de dúvida, mas o simples<br />

relato de suas façanhas mostra que eles não tinham nada<br />

a ver com a imagem de heróis civiliza<strong>do</strong>res.”<br />

FAUSTO, Boris. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Editora da universidade de<br />

São Paulo, 1995. p. 96.<br />

17


18<br />

A Mineração no <strong>Brasil</strong> Colônia<br />

Na gravura Solda<strong>do</strong>s Índios de Curitiba, de Jean Baptiste Debret (1768-1848),<br />

pintor e desenhista francês que esteve no <strong>Brasil</strong> entre 1816 e 1831, vê-se uma<br />

representação <strong>do</strong> aprisionamento de indígenas. Autor <strong>do</strong> livro Voyage<br />

Pittoresque au Brésil, Debret registrou, de maneira bastante detalhada, cenas <strong>do</strong><br />

cotidiano, tipos humanos, festas, flora, fauna e atividades econômicas. A obra de<br />

Debret é, em seu conjunto, portanto, um importante registro por apresentar<br />

evidencias históricas que permitem aos estudiosos uma melhor compreensão de<br />

um determina<strong>do</strong> contexto histórico.<br />

Em fins <strong>do</strong> século XVII e início <strong>do</strong> século XVIII, com a<br />

descoberta das minas, iniciou-se o ciclo da mineração,<br />

que mais tarde iria possibilitar a articulação direta entre<br />

duas regiões — São Paulo e Minas Gerais —, cujos<br />

contatos, até então, eram pouco significativos.<br />

A descoberta e a exploração das minas possibilitaram,<br />

também, um relativo enriquecimento e aumento<br />

populacional da própria região de São Paulo e áreas<br />

próximas, com destaque para Sorocaba e Taubaté. Essa<br />

maior riqueza <strong>do</strong>s sujeitos históricos que se dedicaram ao<br />

bandeirantismo e, num segun<strong>do</strong> momento, à própria<br />

exploração aurífera pode ser percebida por meio da<br />

leitura <strong>do</strong> texto de José de Alcântara Macha<strong>do</strong>, autor <strong>do</strong><br />

livro Vida e Morte <strong>do</strong> Bandeirante, no qual são cita<strong>do</strong>s<br />

os nomes de alguns bandeirantes que tiveram<br />

participação expressiva nesse processo:<br />

“Transposta a segunda metade <strong>do</strong> século XVII,<br />

chegamos ao tempo em que vivem Fernão Dias Paes<br />

Leme, Pedro Vaz de Barro (...) à era <strong>do</strong>s (...) poderosos<br />

em armas, homens de grande séquito. Já então, os<br />

inventários se tornam menos precisos e minuciosos e os<br />

avalia<strong>do</strong>res nomeiam somente o que lhes parece digno de<br />

estimativa (...). No arranjo e adereço <strong>do</strong>mésticos se<br />

reflete o aumento da riqueza privada, aumento que mais<br />

e mais se pronuncia à medida que se aproxima o ciclo da<br />

mineração.”<br />

MACHADO, José de Alcântara. Vida e Morte <strong>do</strong> Bandeirante. São Paulo:<br />

Martins, Brasília: INL, 1972. p. 62.<br />

No século XVIII, na região atualmente compreendida<br />

pelos esta<strong>do</strong>s de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás,<br />

iniciou-se a extração de ouro e de diamantes.<br />

Dezenas de milhares de pessoas de várias regiões da<br />

Colônia, principalmente de São Paulo, São Vicente, Rio<br />

de Janeiro, Bahia e Pernambuco, além de um número<br />

extremamente expressivo de portugueses, dirigiam-se<br />

rapidamente para a região aurífera à medida que a notícia<br />

da descoberta <strong>do</strong> ouro nas Minas Gerais se espalhava. A<br />

vinda de portugueses foi tão intensa que a Coroa<br />

estabeleceu rigorosa legislação, dificultan<strong>do</strong> a vinda de<br />

colonos.<br />

A exploração aurífera foi, portanto, decisiva não apenas<br />

na alteração <strong>do</strong> perfil demográfico da Colônia, mas<br />

também no próprio aumento populacional.<br />

Se em 1690, época em que ocorreu o início da descoberta<br />

das minas, a população total da Colônia era de<br />

aproximadamente 242 mil habitantes, excluí<strong>do</strong>s os povos<br />

indígenas, em fins <strong>do</strong> século XVIII, o “século <strong>do</strong> ouro”, a<br />

população havia ultrapassa<strong>do</strong> 3,2 milhões habitantes.<br />

Desse total, aproximadamente 500 mil habitantes<br />

concentravam-se nos povoa<strong>do</strong>, vilas e cidades que<br />

surgiram nas Minas Gerais.<br />

A exploração aurífera revitalizou a economia colonial,<br />

bastante comprometida em função <strong>do</strong> declínio da<br />

agromanufatura açucareira <strong>do</strong> Nordeste, consequência da<br />

expulsão <strong>do</strong>s holandeses em 1654.<br />

A economia portuguesa, debilitada desde a época da<br />

Restauração, em 1640, quan<strong>do</strong> Portugal recuperou sua<br />

independência em relação à Espanha, sofreu grandes<br />

transformações em função da descoberta <strong>do</strong> ouro.<br />

A ruptura <strong>do</strong>s vínculos comerciais com a Holanda havia<br />

fragiliza<strong>do</strong> ainda mais a economia portuguesa, já abalada<br />

pelos custos decorrentes da luta contra os holandeses no<br />

Nordeste brasileiro.<br />

É importante considerar que, para fazer frente às<br />

permanentes ameaças da Espanha à sua soberania,<br />

Portugal aproximara-se diplomática e politicamente da<br />

Inglaterra, com o intuito de obter apoio militar, se<br />

necessário. Essa aproximação consoli<strong>do</strong>u-se exatamente<br />

no momento em que se iniciou a exploração aurífera no<br />

<strong>Brasil</strong> e levou à assinatura <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Methuen<br />

(1703) entre Portugal e Inglaterra.<br />

Pode-se perceber, por meio da leitura de alguns <strong>do</strong>s<br />

termos <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong>, o seu significa<strong>do</strong> para a economia<br />

portuguesa:<br />

“Art. 1º:: Sua sagrada Majestade EI-Rei de Portugal<br />

promete, tanto em Seu próprio Nome, como no de Seus<br />

Sucessores, admitir para sempre daqui em diante, no<br />

Reino de Portugal, os panos de lã e mais fábricas de<br />

lanifício de Inglaterra, como era costume até o tempo em<br />

que foram proibi<strong>do</strong>s pelas leis, não obstante qualquer<br />

condição em contrário.


Art. 2º:: É estipula<strong>do</strong> que Sua Sagrada e Real Majestade<br />

Britânica, em Seu próprio Nome, e no de Seus<br />

Sucessores, será obrigada para sempre, daqui em diante,<br />

de admitir na Grã-Bretanha os vinhos <strong>do</strong> produto de<br />

Portugal.”<br />

O impacto <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Methuen sobre a economia<br />

portuguesa foi expressivo, poden<strong>do</strong>-se destacar os<br />

seguintes pontos:<br />

<br />

<br />

<br />

Colapso das manufaturas portuguesas, que vinham<br />

apresentan<strong>do</strong> um certo desenvolvimento desde a<br />

Restauração (1640);<br />

Crescente especialização da economia portuguesa na<br />

produção de vinhos. E importante ressaltar que a<br />

comercialização da maior parte <strong>do</strong> vinho produzi<strong>do</strong><br />

em Portugal estava sob controle <strong>do</strong>s próprios<br />

ingleses;<br />

Expressivos déficits comerciais, conforme pode-se<br />

perceber pelo estu<strong>do</strong> da tabela.<br />

A partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s na tabela, pode-se concluir<br />

que o Trata<strong>do</strong> de Methuen, ao gerar significativos<br />

déficits comerciais para Portugal, contribuiu para o<br />

processo de acumulação de capital na Inglaterra, uma vez<br />

que tais déficits eram cobertos com o ouro brasileiro.<br />

BALANÇA COMERCIAL ENTRE PORTUGAL<br />

E INGLATERRA (1701-1750)<br />

Anos<br />

Valor médio anual em centenas de libras<br />

Exportação<br />

Portugal/<br />

Inglaterra<br />

Exportação<br />

Inglaterra/<br />

Portugal<br />

Balança<br />

Fonte: SCHUMPETER, Elisabeth Boody. English Overseos Trade Statistics.<br />

1697-1808. Oxford,1960.p.17-18<br />

Não por acaso, a professora Mafalda Zamela afirmou que<br />

“não fosse o ouro brasileiro, dificilmente a Inglaterra<br />

seria a nação pioneira no processo de industrialização”.<br />

De fato, ao se considerar o volume de ouro extraí<strong>do</strong> ao<br />

longo <strong>do</strong> século XVIII, especialmente em Minas Gerais,<br />

pode-se perceber a intensidade desse processo de<br />

acumulação.<br />

Embora não haja consenso entre os estudiosos <strong>do</strong> tema,<br />

pesquisas mais recente indicam que o total da produção<br />

aurífera durante o século XVIII foi de,<br />

aproximadamente, 1,2 milhão de quilos.<br />

No entanto, como a carga tributária que incidia sobre a<br />

atividade era extremamente elevada, os especialistas<br />

supõem que um volume bastante significativo de ouro<br />

teria si<strong>do</strong> extraí<strong>do</strong>, desvia<strong>do</strong> da Capitania de Minas<br />

Gerais e contrabandea<strong>do</strong>. Logicamente que sobre isso<br />

não há <strong>do</strong>cumentação comprobatória.<br />

Pela análise da tabela a seguir, é possível perceber que o<br />

perío<strong>do</strong> de apogeu da mineração se deu entre 1735 e<br />

1755, quan<strong>do</strong> a média anual alcançou, aproximadamente,<br />

15 mil quilos. Do total da produção, ao longo <strong>do</strong> século<br />

XVIII, cerca de 70% dela foi obtida em Minas Gerais.<br />

Além da extração aurífera, teve significativa expressão a<br />

exploração <strong>do</strong>s diamantes, a partir de 1720, quan<strong>do</strong><br />

foram descobertas jazidas no Serro Frio, no Arraial <strong>do</strong><br />

Tejuco; na região da atual cidade de Diamantina, em<br />

Minas Gerais.<br />

1701-05<br />

1706-10<br />

1711-15<br />

1716-20<br />

1721-25<br />

1726-30<br />

1731-35<br />

1736-40<br />

1741-45<br />

1746-50<br />

242<br />

240<br />

252<br />

349<br />

387<br />

359<br />

326<br />

301<br />

429<br />

324<br />

610<br />

652<br />

638<br />

695<br />

811<br />

914<br />

1024<br />

1164<br />

1115<br />

1114<br />

-368<br />

-412<br />

-386<br />

-346<br />

-424<br />

-555<br />

-698<br />

-863<br />

-686<br />

-790<br />

Pesquisas recentes indicam que teriam si<strong>do</strong> extraí<strong>do</strong>s,<br />

aproximadamente, 3 milhões de quilates de diamantes<br />

(cerca de 615 quilos, entre pedras legalmente extraídas e<br />

as <strong>do</strong> garimpo clandestino). Essas descobertas, somadas<br />

à produção aurífera, injetaram grandes recursos na<br />

economia portuguesa, a qual, conforme se observou,<br />

apresentava uma difícil situação na segunda metade <strong>do</strong><br />

século XVII, em grande parte devi<strong>do</strong> ao declínio da<br />

agromanufatura açucareira.<br />

A atividade mineratória levou a um rápi<strong>do</strong> processo de<br />

povoamento da Região Centro-Oeste. Vilas e cidades se<br />

multiplicaram, destacan<strong>do</strong>-se Vila Rica (Ouro Preto),<br />

Mariana, Caeté, São João del-Rei, Sabará, Arraial <strong>do</strong><br />

Tejuco (Diamantina), entre outras.<br />

19


20<br />

Fonte: Mauro, Frederic (coord.). O Império luso-brasileiro. In: SERRADO, Joel;<br />

OLIVEIRA, Marques. A. H. (dir.) Nova história da expansão Portuguesa. Lisboa.<br />

Editorial Espanha, 1991. v. 7. P. 160.<br />

A grande densidade demográfica nessa região estimulou<br />

um intenso comércio interno que abastecia os centros<br />

mineratórios de gêneros alimentícios, produtos<br />

manufatura<strong>do</strong>s (ferramentas, roupas, utensílios, móveis,<br />

armas, etc.) e tropas de muares, animais resistentes às<br />

regiões montanhosas das Gerais.<br />

A descoberta <strong>do</strong> ouro na região que mais tarde recebeu o nome de Minas Gerais,<br />

ocorrida no final <strong>do</strong> século XVII, levou ao seu rápi<strong>do</strong> povoamento. A Vila Rica<br />

<strong>do</strong> Ouro Preto foi fundada a 8 de julho de 1711, pelo governa<strong>do</strong>r da recémcriada<br />

Capitania de São Paulo e Minas <strong>do</strong> Ouro.<br />

Importantes atividades artesanais desenvolveram-se nos<br />

núcleos mineratórios, ao mesmo tempo em que a Coroa<br />

portuguesa estabeleceu um rigoroso controle sobre a<br />

área, crian<strong>do</strong> um aparato intensamente fiscaliza<strong>do</strong>r.<br />

A regulamentação da atividade mineratória foi<br />

extremamente minuciosa, com a aprovação, em 1702, <strong>do</strong><br />

Regimento das Minas. Por esse <strong>do</strong>cumento, instituiu-se<br />

a Intendência das Minas, órgão especial diretamente<br />

subordina<strong>do</strong> ao Conselho Ultramarino, localiza<strong>do</strong> em<br />

Lisboa.<br />

Cabia à Intendência das Minas o controle, a fiscalização<br />

e a distribuição <strong>do</strong>s lotes auríferos (“datas”), levan<strong>do</strong> em<br />

consideração para esse fim o número de escravos que os<br />

minera<strong>do</strong>res possuíam, além da possibilidade <strong>do</strong><br />

aumento da tributação sobre a extração <strong>do</strong> ouro.<br />

Com o aumento da produção, ampliou-se também a<br />

carga fiscal sobre a atividade. A pressão tributária da<br />

Coroa portuguesa levou à montagem de um complexo<br />

aparato burocrático nos centros de mineração, cujo<br />

objetivo era, em última instância, estabelecer um rígi<strong>do</strong><br />

controle para se evitar a sonegação e ampliar ao máximo<br />

as receitas <strong>do</strong> próprio Esta<strong>do</strong>.<br />

Assim, uma série de impostos foram sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s,<br />

sen<strong>do</strong> os principais descritos a seguir:<br />

Capitação — imposto instituí<strong>do</strong> em 1703 e cobra<strong>do</strong><br />

sobre o número de escravos utiliza<strong>do</strong>s no garimpo.<br />

Fintas — sistema de cotas anuais de arrecadação <strong>do</strong><br />

quinto, instituí<strong>do</strong> em 1713, com seu valor fixa<strong>do</strong> em<br />

30 arrobas (450 quilos de ouro).<br />

Quinto régio <strong>do</strong> ouro — tributo cobra<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong><br />

sobre o ouro extraí<strong>do</strong> e que equivalia a 20% <strong>do</strong> total<br />

declara<strong>do</strong> pelo minera<strong>do</strong>r. Era cobra<strong>do</strong> nas Casas de<br />

Fundição (1719), onde to<strong>do</strong> o ouro produzi<strong>do</strong> na<br />

capitania deveria ser fundi<strong>do</strong>, quinta<strong>do</strong>, isto é,<br />

retirada a quinta parte pertencente à Coroa; em<br />

seguida, ele era transforma<strong>do</strong> em barras de tamanho<br />

e peso variáveis, que eram marcadas com o selo real<br />

e, posteriormente, devolvidas aos seus proprietários.<br />

As primeiras Casas de Fundição foram instaladas em<br />

Vila Rica, Sabará e São João dei-Rei.<br />

Bateia - instituí<strong>do</strong> em 1715, consistia num tributo<br />

por bateia (tipo de gamela utilizada para separar o<br />

ouro <strong>do</strong> cascalho e que foi o principal instrumento<br />

utiliza<strong>do</strong> na mineração), cobra<strong>do</strong> de cada minera<strong>do</strong>r<br />

e equivalente a 40 gramas de ouro em pó.<br />

Direito de entrada — cria<strong>do</strong> em 1710, era pago nas<br />

três passagens legais que vinham <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

São Paulo e Bahia; incidia sobre os produtos “secos”<br />

(material agrícola, ferramentas, teci<strong>do</strong>s, roupas,


mobiliário) e os “molha<strong>do</strong>s” (vinho, azeite e<br />

alimentos).<br />

Direito de passagem — cria<strong>do</strong> em 1711, era uma<br />

espécie de pedágio e incidia sobre os indivíduos e os<br />

animais em trânsito para as Minas Gerais.<br />

Derrama — instituí<strong>do</strong> em 1 765, consistia na<br />

cobrança oficial e forçada <strong>do</strong>s quintos em atraso<br />

que, a partir de 1750, deveriam alcançar, pelo<br />

menos, 100 arrobas (1,5 mil quilos) anuais para toda<br />

a Capitania de Minas Gerais.<br />

Em relação ao regime de tributação <strong>do</strong>s diamantes, até<br />

1771 a exploração das pedras era realizada por<br />

particulares (os contrata<strong>do</strong>res), que recebiam concessões<br />

da Coroa portuguesa mediante contrato (por um prazo<br />

determina<strong>do</strong>) e, em troca, pagavam à Real Fazenda uma<br />

quantia estipulada.<br />

Após 1771, estabeleceu-se o monopólio da Coroa sobre a<br />

exploração diamantífera com a criação da Real Extração.<br />

Ao mesmo tempo, editou-se o Regimento Diamantino,<br />

com o objetivo de impedir o contraban<strong>do</strong> de diamantes.<br />

Apesar de toda a repressão imposta pelas autoridades da<br />

Intendência <strong>do</strong>s Diamantes (criada em 1734), esse<br />

projeto tornou-se inviável. A Intendência era o órgão<br />

responsável pela vigilância e regulamentação da<br />

exploração.<br />

A necessidade de se exercer um controle rigoroso sobre a<br />

região diamantífera e no intuito de se evitar o<br />

contraban<strong>do</strong> e a sonegação, a Coroa se preocupou em<br />

isolar o Distrito Diamantino. A esse respeito, o<br />

historia<strong>do</strong>r Caio Pra<strong>do</strong> júnior escreveu:<br />

“Demarcou-se cuida<strong>do</strong>samente o território em que se<br />

encontravam os diamantes, isolan<strong>do</strong>-o completamente <strong>do</strong><br />

exterior. Este território, que se chamou o Distrito<br />

Diamantino, é o que circunda a atual cidade de<br />

Diamantina, em Minas Gerais. (,..) Verdadeiro corpo<br />

estranho enquista<strong>do</strong> na colônia, o Distrito Diamantino<br />

viva inteiramente isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> país, e com uma<br />

organização sul generis: não havia governa<strong>do</strong>res,<br />

câmaras municipais, juízes, repartições fiscais ou<br />

quaisquer outras autoridades ou órgãos administrativos.<br />

Havia apenas o Intendente e um corpo submisso de<br />

auxiliares que eram tu<strong>do</strong> aqui o ao mesmo tempo, e que<br />

se guiavam unicamente por um regimento coloca<strong>do</strong><br />

acima de todas as leis e que lhes dava a mais ampla e<br />

ilimitada competência. Na área <strong>do</strong> Distrito ninguém<br />

podia estabelecer-se, nem ao menos penetrar ou sair sem<br />

autorização especial <strong>do</strong> Intendente, e a vida de seus<br />

habitantes achava-se inteiramente nas mãos daquele<br />

pequeno régulo que punha e dispunha dela a seu talante.”<br />

PRADO JÚNIOR, caio. <strong>História</strong> Económica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 7. ed. São Paulo:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1962. p. 63.<br />

O viajante francês Saint-Hilaire, ao visitar, no século<br />

XIX, a região <strong>do</strong> Distrito <strong>do</strong>s Diamantes (Minas Gerais),<br />

revelou a sua perplexidade com o modelo implanta<strong>do</strong><br />

durante o Perío<strong>do</strong> Colonial:<br />

“Ten<strong>do</strong> o governo reconheci<strong>do</strong> que a extração de<br />

diamantes por arrenda<strong>do</strong>res era frequentemente<br />

acompanhada por fraudes e abusos, resolveu explorar por<br />

sua própria conta as terras diamantinas (...). O Distrito<br />

<strong>do</strong>s Diamantes ficou como que isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> por um poder<br />

absoluto, esse distrito foi submeti<strong>do</strong> a um despotismo<br />

ainda mais absoluto.”<br />

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem pelo Distrito <strong>do</strong>s Diamantes e Litoral <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da universidade de São Paulo,<br />

1974. v. 5. p. 14.<br />

O naturalista alemão Von Martius, ao visitar a localidade<br />

no início <strong>do</strong> século XIX, também se manifestou em<br />

relação ao modelo implanta<strong>do</strong> no Arraial <strong>do</strong> Tejuco:<br />

“Única na história esta ideia de isolar um território no<br />

qual todas as condições de vida civil de seus habitantes<br />

ficassem sujeitas à exploração de um bem da Coroa”.<br />

A decadência da atividade da mineração decorreu <strong>do</strong><br />

esgotamento natural das jazidas e das dificuldades<br />

técnicas para a extração em profundidade. Essa<br />

decadência tornou-se visível na redução <strong>do</strong> número de<br />

habitantes de vilas e cidades <strong>do</strong>s centros de mineração.<br />

Vila Rica, por exemplo, que chegou a ter, no auge da<br />

extração aurífera, cerca de 60 mil habitantes, passou a ter<br />

pouco menos de 10 mil habitantes em 1800.<br />

Quadro geral da economia<br />

Em fins <strong>do</strong> século XVIII, o quadro geral da economia<br />

colonial, já bastante diversifica<strong>do</strong>, apresentava as<br />

seguintes características:<br />

Agromanufatura açucareira - Era um <strong>do</strong>s setores<br />

<strong>do</strong>minantes da economia colonial (latifundiário e<br />

escravista), que, após um perío<strong>do</strong> de declínio em função<br />

da concorrência antilhana, experimentou uma<br />

recuperação expressiva.<br />

Em 1711, Antonil, em sua obra Cultura e Opulência <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, apresentou um quadro <strong>do</strong>s cinco produtos mais<br />

significativos da economia colonial, destacan<strong>do</strong> a<br />

importância da atividade açucareira.<br />

AÇUCAR<br />

OURO<br />

FUMO<br />

2.535:142$000 réis<br />

614400:400$ réis<br />

344:650$000 réis<br />

21


SOLAS (COURO)<br />

PAU BRASIL<br />

201:800$000 réis<br />

48:00$000 réis<br />

Se Antonil escrevesse no final <strong>do</strong> século XVIII, ele<br />

observaria a manutenção <strong>do</strong> açúcar em primeiro lugar na<br />

pauta de exportações, uma vez que, durante to<strong>do</strong> o<br />

Perío<strong>do</strong> Colonial, ele foi o principal produto agrícola de<br />

exportação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Entre 1796 e 1811, esse produto foi responsável por 35%<br />

das exportações brasileiras. A renda média gerada pela<br />

agromanufatura <strong>do</strong> açúcar, inclusive no século XVIII, o<br />

chama<strong>do</strong> “século <strong>do</strong> ouro”, foi maior <strong>do</strong> que a de<br />

qualquer outro setor da economia colonial.<br />

22<br />

Mineração de ouro e diamantes - nas regiões Sudeste e<br />

Centro-Oeste, a mineração de ouro e diamantes, embora<br />

em declínio desde o último quartel <strong>do</strong> século XVIII, se<br />

manteve como atividade <strong>do</strong>minante nessas regiões.<br />

Entretanto, a população da Capitania de Minas Gerais<br />

continuou a ser a maior da Colônia. A respeito das<br />

transformações socioeconômicas ocorridas nessa<br />

capitania, o historia<strong>do</strong>r Bons Fausto escreveu:<br />

“Os da<strong>do</strong>s de população da Capitania de Minas,<br />

levanta<strong>do</strong>s em 1776, mostram a esmaga<strong>do</strong>ra presença de<br />

negros e mulatos. Dos cerca de 320.000 habitantes, os<br />

negros representavam 52,2%; os mulatos, 25,7%; e os<br />

brancos, 22,1%. Ao longo <strong>do</strong>s anos, houve intensa<br />

mestiçagem de raças, cresceu a proporção de mulheres,<br />

que em 1776 era de 38% <strong>do</strong> total, e ocorreu um<br />

fenômeno cuja interpretação é um ponto de controvérsia<br />

entre os historia<strong>do</strong>res: o grande número de alforrias, ou<br />

seja, de libertação de escravos. Para se ter uma ideia da<br />

sua extensão, enquanto nos anos 1735-1749 os libertos<br />

representavam menos de 1,4% da população de<br />

descendência africana, em torno de 1786 passaram a ser<br />

41,4% dessa população e 34% <strong>do</strong> número total de<br />

habitantes da capitania. A hipótese mais provável para<br />

explicar a magnitude dessas proporções (...) é de que a<br />

progressiva decadência da mineração tornou<br />

desnecessária ou impossível para muitos proprietários a<br />

posse de escravos.”<br />

FAUSTO, Boris. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de<br />

São Paulo, 1995. p. 102 e 105.<br />

.<br />

Tabaco e algodão - Na Região Nordeste destacava-se,<br />

além da agromanufatura <strong>do</strong> açúcar, a produção de tabaco<br />

e algodão. O primeiro, ao longo <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Colonial, foi<br />

largamente utiliza<strong>do</strong> como “moeda” no tráfico de<br />

escravos, enquanto o segun<strong>do</strong> ganhou crescente<br />

importância em função <strong>do</strong> processo de industrialização,<br />

inicia<strong>do</strong> na Inglaterra a partir da década de 1780.<br />

Também nessas atividades pre<strong>do</strong>minou uma estrutura<br />

latifundiária e escravista.<br />

Setores subsidiários - Os setores subsidiários (pecuária<br />

extensiva e extrativismo das “drogas” amazônicas)<br />

utilizavam, em grande escala, uma mão-de-obra de<br />

menor custo. Esta era proveniente, notadamente, da<br />

mestiçagem de brancos, índios e negros. Os setores<br />

subsidiários continuaram a ter, no final <strong>do</strong> século XVIII,<br />

uma importância relativa no contexto da economia<br />

colonial. Com o declínio da extração de ouro e<br />

diamantes, a pecuária em Minas Gerais, Mato Grosso e<br />

Goiás expandiram-se e, já no século XIX, tornou-se a<br />

atividade pre<strong>do</strong>minante, aceleran<strong>do</strong> as lutas contra os<br />

povos indígenas e a consolidação de uma estrutura<br />

latifundiária, assim como já ocorrera no Sertão<br />

Nordestino e no extremo-sul.<br />

Comércio interno - Quanto ao comércio interno, vale<br />

destacar a articulação que ele propiciou entre os vários<br />

polos econômicos. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se um<br />

comércio ambulante em muitas cidades coloniais, com<br />

destaque para São Paulo e Rio de janeiro, realiza<strong>do</strong><br />

principalmente pelos “escravos de ganho” (escravos<br />

aluga<strong>do</strong>s a terceiros ou que dividiam os rendimentos<br />

auferi<strong>do</strong>s com seus senhores e que atuavam na<br />

construção civil, nos serviços <strong>do</strong>mésticos e em atividades<br />

artesanais).


TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

TEXTO 1 - A CARTA DE PERO VAZ DE<br />

CAMINHA A DOM MANUEL<br />

Pero Vaz de Caminha<br />

Pero Vaz de Caminha era o escrivão-mor da frota<br />

portuguesa que partiu de Lisboa a 9 de março de 1500<br />

para consolidar a rota marítima das índias. As mais de<br />

vinte páginas escritas pelo escrivão se transformaram no<br />

registro mais completo <strong>do</strong>s primeiros contatos entre<br />

portugueses e índios e das primeiras impressões sobre as<br />

terras “descobertas”.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. A descrição <strong>do</strong>s nativos, feita com base nos valores e<br />

nos costumes <strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res europeus, revela uma<br />

visão eurocêntrica <strong>do</strong> “encontro” entre culturas?<br />

Justifique sua resposta.<br />

2. Por meio da leitura <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, é possível concluir<br />

que Caminha percebeu as dificuldades para se realizar a<br />

inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nos quadros <strong>do</strong> sistema colonial<br />

mercantilista <strong>do</strong> século XVI? Justifique sua resposta.<br />

Eram par<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s nus, sem coisa alguma que cobrisse<br />

suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas.<br />

Vinham to<strong>do</strong>s rijamente sobre o batel, e Nicolau Coelho<br />

lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os<br />

pousaram (...).<br />

A feição deles é serem par<strong>do</strong>s, maneira de avermelha<strong>do</strong>s,<br />

de bons rostos e bons narizes, bem feitos (...). Não fazem<br />

o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas; e<br />

nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.<br />

Ambos traziam os beiços de baixo fura<strong>do</strong>s e meti<strong>do</strong>s<br />

neles seus ossos brancos e verdadeiros, <strong>do</strong> comprimento<br />

de una mão-travessa, da grossura dum fuso de algodão,<br />

agu<strong>do</strong> nas pontas como fura<strong>do</strong>r (...). Os cabelos são<br />

corredios.<br />

E andavam tosquia<strong>do</strong>s, de tosquia alta (...). E um deles<br />

trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás,<br />

uma espécie de cabeleira de penas de aves amarelas (...).<br />

Porém e com tu<strong>do</strong> isto andam muito bem cura<strong>do</strong>s e<br />

muito limpos (...). Isto me faz presumir que não têm<br />

casas nem moradas a que se acolham, e o ar, a que se<br />

criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora vimos casa<br />

alguma ou maneira delas (...).<br />

Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi nem vaca,<br />

nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra<br />

alimária, que costumada seja ao viver <strong>do</strong>s homens. Nem<br />

comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa<br />

semente de frutos, que a terra e as árvores de si lançam, e<br />

com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não<br />

somos nós tanto com quanto trigo e legumes comemos<br />

(...).<br />

Esta terra, senhor, será tamanha que haverá nela bem<br />

vinte ou 25 léguas por costa (...). Pelo sertão nos pareceu,<br />

vasta <strong>do</strong> mar, muito grande, porque a estender olhos, não<br />

podíamos ver senão terra com arvore<strong>do</strong>s, que nos parecia<br />

muito longa.<br />

Nela, até agora, não pudemos saber se há ouro, nem<br />

prata, nem coisa alguma de metal ou ferro nem o vimos.<br />

Porém, a terra em si é de muito bons ares, assim frios e<br />

tempera<strong>do</strong>s, como os de entre Doiro e Minho, porque<br />

nesse tempo de agora os achávamos como os de lá.<br />

As águas são muitas, infinitas. Em tal maneira e graciosa<br />

que, queren<strong>do</strong>-a aproveitar, dar-se-á nela tu<strong>do</strong>, por causa<br />

das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se<br />

pode tirar, me parece que será salvares a gente. E esta<br />

deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve<br />

lançar.<br />

E que aí não houvesse mais que ter esta pousada para<br />

esta navegação de Calicute, isso bastaria. Quanto mais<br />

disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa<br />

Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa<br />

santa fé.<br />

E nesta maneira, Senhor, <strong>do</strong>u aqui a Vossa Alteza conta<br />

<strong>do</strong> que nesta terra vi.<br />

Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje,<br />

sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.<br />

CORTESÃO, Jaime. A Carta de Pero Vai de Caminha. In: GASMAN, Lydinéa.<br />

Documentos Históricos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Fename, 1976. p. 23-24.<br />

TEXTO 2 - O PAU-BRASI NA HISTÓRIA<br />

COLONIAL<br />

Jean de Léry<br />

Os cronistas Franceses André de Thevet e Jean de Léry<br />

foram os responsáveis pelas primeiras referências ao<br />

pau-brasil em livros. Léry chegou ao <strong>Brasil</strong> em 1557,<br />

época em que Nicolas de Villegaignon tentou<br />

desenvolver o projeto de estabelecer no Rio de Janeiro a<br />

“França Antártica” uma colônia que serviria à exploração<br />

mercantil e abrigaria os protestantes persegui<strong>do</strong>s. No<br />

livro Viagem à Terra <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, Jean de Léry<br />

<strong>do</strong>cumentou as relações de trabalho entre europeus e<br />

índios e a incompreensão — segun<strong>do</strong> os coloniza<strong>do</strong>res<br />

— por parte <strong>do</strong> nativo, em relação à necessidade de<br />

acumulação de bens.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

23


1. Como eram as relações de trabalho entre europeus e<br />

índios?<br />

2. O <strong>do</strong>cumento apresenta de forma clara o choque<br />

cultural presente nas relações entre europeus e nativos?<br />

Justifique sua resposta.<br />

Das árvores... que a terra <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> produz... quero antes<br />

de descrever os costumes <strong>do</strong>s nossos selvagens (...) falar<br />

das plantas, frutos e raízes que se encontram nesse país.<br />

Devo começar pela descrição de uma das árvores mais<br />

notáveis e apregoadas entre nós por causa da tinta que<br />

dela se extrai: o pau-brasil que deu nome a essa região.<br />

Essa árvore, a que os selvagens chamam de arabutan (...).<br />

Quanto ao mo<strong>do</strong> de carregar os navios com esta<br />

merca<strong>do</strong>ria (pau-brasil), direi que tanto por causa de sua<br />

dureza, e consequente dificuldade em derrubá-la, como<br />

por não existirem cavalos, asnos nem outros animais de<br />

tiro para transportá-la, é ela arrastada por meio de muitos<br />

homens; e se os estrangeiros que por aí viajam não<br />

fossem ajuda<strong>do</strong>s pelos selvagens, não poderiam sequer,<br />

em um ano, carregar um navio de tamanho médio.<br />

Os selvagens, em troca de algumas roupas, camisas de<br />

linho, chapéus, facas, macha<strong>do</strong>s, cunhas de ferro e<br />

demais ferramentas trazidas por franceses e outros<br />

europeus, cortam, serram, racham, atoram e desbastam o<br />

pau-brasil transportan<strong>do</strong>-o nos ombros nus às vezes duas<br />

ou três léguas de distância, por montes, sítios escabrosos<br />

até a costa junto aos navios ancora<strong>do</strong>s, onde os<br />

marinheiros o recebem.<br />

Em verdade só cortam o pau-brasil depois que os<br />

franceses e portugueses começaram a frequentar o país;<br />

anteriormente, como me foi dito por um ancião,<br />

derrubavam as árvores deitan<strong>do</strong>-lhes fogo. Na Europa<br />

imaginam muitos que os toros re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s nos<br />

armazéns são da grossura natural das árvores; já observei<br />

que estas são muito grossas, por isso os selvagens<br />

desbastam os troncos e arre<strong>do</strong>ndam a fim de facilitar o<br />

transporte e o manejo <strong>do</strong>s navios (...).<br />

Os nossos tupinambás muito se admiram <strong>do</strong>s franceses e<br />

outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o<br />

seu arabutan (pau - brasil). Uma vez um velho<br />

perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e peros<br />

(franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para<br />

vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?<br />

Respondi que tínhamos muita mas não daquela<br />

qualidade, e que não queimávamos, como ele supunha,<br />

mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual e faziam<br />

eles com seus cordões de algodão e suas plumas.<br />

Retrucou o velho imediatamente: E por ventura precisais<br />

de muito?<br />

— Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem<br />

negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras,<br />

espelhos e outras merca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> que podeis imaginar e<br />

um só deles compra to<strong>do</strong> o pau-brasil com que muitos<br />

navios voltam carrega<strong>do</strong>s.<br />

— Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas,<br />

acrescentan<strong>do</strong> depois de bem compreender o que eu lhe<br />

dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não<br />

morre? — Sim, disse eu, morre como os outros.<br />

Mas os selvagens são grandes discursa<strong>do</strong>res e costumam<br />

ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me<br />

de novo: E quan<strong>do</strong> morrem para quem fica o que<br />

deixaram?<br />

— Para seus filhos, se os têm, respondi. Na falta destes<br />

para os irmãos ou parentes mais próximos.<br />

— Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não<br />

era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs sois<br />

grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes<br />

incômo<strong>do</strong>s, como dizeis quan<strong>do</strong> aqui chegais, e<br />

trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos<br />

filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a<br />

terra que vos nutrir suficiente para alimentá-los também?<br />

Temos pais, mães e filhos a quem amamos, mas estamos<br />

certos de que depois de nossa morte a terra que nos<br />

nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem<br />

maiores cuida<strong>do</strong>s.<br />

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. In: GASMAN, Lydnéa. Documentos<br />

Históricos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Fename, 1976. p. 25-27.<br />

TEXTO 3 - CARTA DE DUARTE COELHO<br />

Duarte Coelho<br />

Duarte Coelho era o <strong>do</strong>natário da Capitania de<br />

Pernambuco, uma das mais prósperas <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong><br />

Colonial. Juntamente com a exploração de pau-brasil,<br />

desenvolveu-se na capitania a pecuária, o cultivo de<br />

algodão e, principalmente, o cultivo da cana, devi<strong>do</strong> aos<br />

ricos solos de massapê da região.<br />

Em carta datada de 1542, o <strong>do</strong>natário solicita ao rei D.<br />

João III, negros da Guiné para os canaviais e relaciona<br />

alguns de seus problemas.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. Quais os sinais da prosperidade da capitania que<br />

podem ser percebi<strong>do</strong>s na carta?<br />

2. Estrangeiros e índios realmente representavam<br />

problemas para os <strong>do</strong>natários? Qual era a visão de Duarte<br />

Coelho a esse respeito?<br />

3. Como Duarte Coelho justifica o pedi<strong>do</strong> de trazer<br />

negros da Guiné para o trabalho nos canaviais?<br />

24


Senhor:<br />

Pelo Capitão <strong>do</strong>s navios que daqui mandei o mês de<br />

setembro passa<strong>do</strong>, dei conta a Vossa Alteza de minha<br />

viagem e chegada a esta Nova Lusitânia e <strong>do</strong> que aqui<br />

era passa<strong>do</strong>.<br />

Depois meti-me, Senhor, a dar ordem ao sossego e paz<br />

da terra, com dádivas a uns e apaziguan<strong>do</strong> a outros<br />

porque tu<strong>do</strong> é necessário. E assim dei ordem a se<br />

fazerem engenhos de açúcares que de lá trouxe<br />

contrata<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> quanto me reque eram e dan<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> o que me pediram, sem olhar a proveito nem<br />

interesse algum meu, mas a obra ir avante, como desejo.<br />

Temos grande soma de canas plantadas, to<strong>do</strong> o povo,<br />

com to<strong>do</strong> trabalho que foi possível, e dan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s a<br />

ajuda que a mim foi possível, e ce<strong>do</strong> acabaremos um<br />

engenho muito grande e perfeito, e an<strong>do</strong> ordenan<strong>do</strong> a<br />

começar outros. Praza ao Senhor Deus que me ajude<br />

segun<strong>do</strong> Sua grande misericórdia e minha boa intenção.<br />

Quanto, Senhor, às coisas <strong>do</strong> ouro, nunca deixo de<br />

inquirir e procurar sobre elas, e cada dia se esquentam<br />

mais as novas; mas, como sejam longe daqui pelo meu<br />

sertão adentro, e se há de passar por três nações de muito<br />

perversa e bestial gente e todas contrárias umas das<br />

outras, há de realizar-se esta jornada com muito perigo e<br />

trabalho, para a qual me parece, e assim a toda minha<br />

gente, que se não pode fazer sen<strong>do</strong> in<strong>do</strong> eu; e ir como se<br />

deve ir e empreender tal empresa, para sair com ela<br />

avante, e não para ir fazer aventuras, como os <strong>do</strong> Rio da<br />

Prata, onde se perderam mais de mi homens castelhanos,<br />

ou como os <strong>do</strong> Maranhão, que se perderam setecentos, e<br />

o pior é ficar a coisa prejudicada.<br />

E por isso, Senhor, espero a hora <strong>do</strong> Senhor Deus, na<br />

qual praza a Ele que me confie esta empresa, para seu<br />

santo serviço, e de Vossa Alteza, que este será o maior<br />

contentamento e ganho que eu disso queria ter.<br />

Isto, Senhor, tenho assenta<strong>do</strong> e manda<strong>do</strong> aí buscar coisas<br />

necessárias para a jornada e alguns bons homens, porque<br />

é necessário deixar aqui tu<strong>do</strong> provi<strong>do</strong> e a bom reca<strong>do</strong>,<br />

por todas as vias, em especial por os franceses, os quais,<br />

se sentirem não estar eu na terra, começaram a fazer suas<br />

velhacarias, pois há quatorze dias aqui quiseram fazer o<br />

que costumavam, mas não puderam. Man<strong>do</strong> a Vossa<br />

Alteza a notícia disso para que a veja, se for necessário.<br />

Em tu<strong>do</strong>, Senhor, eu tenho o cuida<strong>do</strong> que se deve ter nas<br />

coisas de seu serviço e Deus me ajude e me dê a Sua<br />

hora para tu<strong>do</strong> ir a bom fim.<br />

Pero de Góis e Luís de Góis, que ora por aqui passam,<br />

darão a Vossa Alteza as mais novas de mim e da terra e<br />

não me alargo porque para as coisas de tanta importância<br />

há necessidade de muitos grandes gastos e eu estou<br />

muito gasta<strong>do</strong> e endivida<strong>do</strong>, e não posso suportar tanta<br />

gente de sol<strong>do</strong> como até aqui suportei.<br />

Há já três anos que pedi a Vossa Alteza me fizesse mercê<br />

de me dar licença a maneira de haver alguns escravos de<br />

Guiné por resgate, e o ano passa<strong>do</strong> respondeu-se-me que<br />

até se acabar o cor trato que era feito nada se podia fazer,<br />

dan<strong>do</strong>-se-me a entender que, acaba<strong>do</strong>, seria provi<strong>do</strong>, pelo<br />

que já escrevi a Vossa Alteza sobre isso. Não sei se me<br />

fez esta mercê, porque os navios não são ainda chega<strong>do</strong>s.<br />

Peço a Vossa Alteza que, se me não concedeu esta<br />

licença, olhe quanto isto é <strong>do</strong> ser serviço e quão pouco<br />

dano e estorvo faz dar-me licença para obter alguns<br />

escravos para o servir melhor.<br />

A Dom Pedro de Moura e a Manuel de Albuquerque<br />

mande Vossa Alteza dar a provisão para isto.<br />

Desta Vila de Olinda, a 27 de abril de 1542.<br />

Servo de Vossa Alteza<br />

Duarte Coelho<br />

Carta de Duarte Coelho. In: GASMAN. Lydinéa. Documentos Históricos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Fename, 1976. p. 51.<br />

TEXTO 4 - O OURO BRASILEIRO E A<br />

REVOLUÇÂO INDUSTRIAL<br />

Manuel Maurício de Albuquerque<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, um dito popular, muito<br />

conheci<strong>do</strong> na Metrópole portuguesa, revelava, de<br />

maneira irônica, a crescente dependência de Portugal em<br />

relação à Inglaterra: “De todas as colônias inglesas, a<br />

melhor é o reino de Portugal”. Esse dito popular revela a<br />

situação em que se encontrava a economia portuguesa<br />

naquela época, em especial a enorme dependência em<br />

relação à economia inglesa. O historia<strong>do</strong>r Manuel<br />

Maurício de Albuquerque salienta, no texto a seguir, essa<br />

dependência, apresentan<strong>do</strong> também as mudanças<br />

ocorridas nas diretrizes econômicas durante a<br />

administração <strong>do</strong> Marquês de Pombal, na segunda<br />

metade <strong>do</strong> século XVIII.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Que relação existiu entre a mineração brasileira e a<br />

Revolução Industrial?<br />

A partir de 1750-60, a produção minera<strong>do</strong>ra começou a<br />

declinar. Tal mudança, articulada a outros elementos,<br />

determinou uma revisão da política mercantilista durante<br />

a administração <strong>do</strong> Marquês de Pombal, secretário de<br />

Esta<strong>do</strong> de D.José I.<br />

Com o objetivo de libertar a economia portuguesa da<br />

<strong>do</strong>minação britânica e tornar mais autônomo o Esta<strong>do</strong><br />

português1 Pombal tomou medidas muito severas para<br />

25


26<br />

impedir a evasão de capitais: protecionismo alfandegário,<br />

estímulo às manufaturas, companhias de comércio,<br />

instalação de refinarias de açúcar (...).<br />

Todas essas iniciativas foram impostas graças a um<br />

enrijecimento das práticas repressivas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que<br />

atingiram os setores sociais oposicionistas. No entanto, a<br />

partir de 1777, quan<strong>do</strong> passou a governa D. Maria I, a<br />

pressão inglesa articulada ao grupo mercantil (...)<br />

determinou (...) a restauração <strong>do</strong>s dispositivos <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong><br />

de Methuen. Essa mudança teve o nome popular de A<br />

Viradeira.<br />

O trata<strong>do</strong> de Methuen legalizou uma saída constante de<br />

capitais de Portugal para a Inglaterra. O ouro e o<br />

diamante brasileiros sustentaram as Importações de<br />

produtos ingleses e promoveram uma acumulação<br />

primitiva de capital que permitiu à burguesia<br />

manufatureira britânica aplicar recursos em inovações<br />

técnicas de que resultou a Revolução Industrial.<br />

ALBUQUERQUE, Manuel Mauricio de. Pequena <strong>História</strong> da Formação Social<br />

<strong>Brasil</strong>eira. 2. Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1981. p. 100.<br />

TEXTO 5 - O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO<br />

Fernan<strong>do</strong> Novais<br />

Para Caio Pra<strong>do</strong> Júnior, autor de Formação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Contemporâneo, livro publica<strong>do</strong> originalmente em 1942,<br />

e considera<strong>do</strong> uma obra clássica da historiografia<br />

brasileira,<br />

“to<strong>do</strong> povo tem em sua evolução, vista a distância, um<br />

certo ‘senti<strong>do</strong>’. Este se percebe não nos pormenores de<br />

sua história, mas no conjunto <strong>do</strong>s fatos e acontecimentos<br />

essenciais que a constituem num largo perío<strong>do</strong> de tempo<br />

(...). O ‘senti<strong>do</strong>’ da evolução brasileira, que é o que<br />

estamos aqui indagan<strong>do</strong>, ainda se afirma por aquele<br />

caráter inicial da colonização”.<br />

No texto seleciona<strong>do</strong>, que será objeto de estu<strong>do</strong>, o<br />

professor Fernan<strong>do</strong> Novais retoma o estu<strong>do</strong> da<br />

dependência em relação ao merca<strong>do</strong> externo que marcou<br />

o processo histórico brasileiro durante o Perío<strong>do</strong><br />

Colonial. O autor procura enfatizar a relação entre o<br />

Sistema Colonial e a acumulação primitiva de capitais<br />

então em curso na Europa <strong>do</strong> Antigo<br />

Regime.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. Qual a relação entre o “senti<strong>do</strong> da colonização”,<br />

aponta<strong>do</strong> por Caio Pra<strong>do</strong> Júnior e as observações de<br />

Fernan<strong>do</strong> Novais?<br />

2. Para o autor, como se daria a integração <strong>do</strong> Novo<br />

Mun<strong>do</strong> ao comércio europeu?<br />

3. Por que para Fernan<strong>do</strong> Novais a colonização moderna<br />

foi essencial para a aceleração da acumulação primitiva<br />

de capital?<br />

Enquanto tradicionalmente se procurava explicar os<br />

descobrimentos ultramarinos em função de fatores<br />

externos, extra-europeus, a colocação moderna <strong>do</strong><br />

problema encara a expansão ultramarina como produto<br />

das “condições particulares <strong>do</strong>s próprios países<br />

atlânticos”, isto é, são os problemas da economia da<br />

Europa Ocidental que levam ao esforço para a abertura<br />

de novas frentes de expansão comercial à abertura de<br />

novos merca<strong>do</strong>s — a expansão atlântica apresenta-se, de<br />

fato, como forma de “superação da crise” europeia <strong>do</strong><br />

fim da Idade Média.<br />

Mas, no processo de expansão, como é sabi<strong>do</strong>, os<br />

europeus acabaram por descobrir (ou redescobrir) o<br />

Novo Mun<strong>do</strong>; aqui as condições diferiam radicalmente<br />

daquelas encontradas no Oriente; seria impossível<br />

prosseguir na exploração puramente comercial <strong>do</strong><br />

ultramar, da<strong>do</strong> que inexistia nesta parte a produção<br />

organizada de produtos que interessassem ao merca<strong>do</strong><br />

europeu.<br />

Para integrar essas áreas nas linhas <strong>do</strong> comércio europeu<br />

(e para preservar a soberania sobre elas, da<strong>do</strong> que a<br />

expansão se dá no quadro da competição entre as<br />

potências europeias), havia mister organizar aí a<br />

produção para o merca<strong>do</strong> da economia central, Europeia;<br />

tornam-se indispensáveis ocupação, povoamento,<br />

valorização — colonização, em suma.<br />

Mas colonização de uma forma específica, dentro da<br />

expansão <strong>do</strong> capitalismo comercial e em conexão<br />

indissolúvel tom to<strong>do</strong>s os outros aspectos envolvi<strong>do</strong>s<br />

nesse processo.<br />

A colonização moderna significou, pois, no fun<strong>do</strong>, um<br />

des<strong>do</strong>bramento da expansão puramente comercial, a<br />

transição da órbita da circulação para o nível da<br />

produção econômica no ultramar.<br />

Todavia, as indagações que fizemos até aqui, cremos,<br />

permitem levar ainda mais longe a análise <strong>do</strong> “senti<strong>do</strong>”<br />

da colonização. Efetivamente, inserida no contexto mais<br />

geral <strong>do</strong> Antigo Regime — isto, no contexto da política<br />

mercantilista <strong>do</strong> capitalismo comercial executada pelo<br />

Esta<strong>do</strong> absolutista — a colonização da época moderna<br />

revela nos traços essenciais seu caráter mercantil e<br />

capitalista; queremos dizer, os empreendimentos<br />

coloniza<strong>do</strong>res se promovem e se realizam com vistas,<br />

sim, ao merca<strong>do</strong> europeu, mas, ten<strong>do</strong> em consideração a<br />

etapa em que isto se dá, a economia européia assimila<br />

esses estímulos coloniais, aceleran<strong>do</strong> a acumulação


primitiva, por parte da burguesia comercial. A aceleração<br />

da acumulação primitiva configura, pois, o senti<strong>do</strong><br />

último da colonização moderna.<br />

Situada neste contexto, articulada nos componentes <strong>do</strong><br />

Antigo Regime, a colonização moderna revela, portanto,<br />

como traços essenciais, aqueles mecanismos através <strong>do</strong>s<br />

quais o processo coloniza<strong>do</strong>r promove a aceleração da<br />

acumulação capitalista; a acumulação na economia<br />

europeia configura os fins; os mecanismos de exploração<br />

colonial, os meios, O conjunto desses mecanismos —<br />

processos econômicos e normas de política econômica<br />

— constituem o sistema colonial que integra e articula a<br />

colonização com as economias centrais europeias; tal<br />

sistema de relações torna-se, portanto a categoria<br />

fundamental de toda esta análise. Reformulan<strong>do</strong> agora: a<br />

colonização <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong> se dá nos quadros <strong>do</strong><br />

Antigo Sistema Colonial; isto é, o sistema colonial <strong>do</strong><br />

Antigo Regime. A colonização portuguesa no <strong>Brasil</strong> se<br />

desenrola dentro desse sistema de relações, que lhe<br />

imprime a sua marca determinan<strong>do</strong> as linhas defini<strong>do</strong>ras<br />

da estrutura socioeconômica que aqui se instaura, dan<strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong> às expressões “<strong>Brasil</strong>-colônia” e “perío<strong>do</strong><br />

colonial”.<br />

NOVAIS, Fernan<strong>do</strong> A. Colonização e sistema colonial: discussão de conceitos e<br />

perspectiva histórica. In: ANAIS <strong>do</strong> IV Simpósio <strong>do</strong>s Professores Universitários<br />

de <strong>História</strong>. São Paulo: ANPIJH, 1967. p. 231.<br />

TEXTO 6 - HERÓIS E REIS ESQUECIDOS<br />

Ronal<strong>do</strong> Vainfas<br />

Ronal<strong>do</strong> Vainfas é professor titular de <strong>História</strong> Moderna<br />

da Universidade Federal Fluminense. No texto<br />

seleciona<strong>do</strong>, são analisa<strong>do</strong>s alguns elementos que atuam<br />

na construção ou desconstrução da memória e na<br />

permanência ou esquecimento de alguns <strong>do</strong>s “heróis” da<br />

história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Por que o autor afirma que “a história e a memória<br />

vivem mesmo em conflito”?<br />

Dia da consciência negra, símbolo <strong>do</strong> Movimento Negro<br />

no <strong>Brasil</strong>. Zumbi, rei <strong>do</strong>s Palmares, morto em 20 de<br />

novembro de 1695, é hoje lembra<strong>do</strong> em memoriais pelo<br />

país afora. O dia em que morreu virou feria<strong>do</strong> em vários<br />

esta<strong>do</strong>s. Nas Alagoas, há verdadeira romaria para a Serra<br />

da Barriga, lugar <strong>do</strong>s antigos mocambos que enfrentaram<br />

o governo colonial no século XVII.<br />

Os historia<strong>do</strong>res <strong>do</strong> século XIX, sempre tão preocupa<strong>do</strong>s<br />

com os brasileiros ilustres, não deram a menor<br />

importância ao Zumbi.<br />

Varnhagen não lhe dedicou sequer uma linha na sua<br />

<strong>História</strong> Geral <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Em compensação, abriu espaço<br />

para o negro Henrique Dias, herói da Restauração<br />

Pernambucana, nomea<strong>do</strong> “governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s crioulos,<br />

negros e mulatos <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>”. De fato, Henrique Dias foi<br />

bom militar.<br />

Erigiu seu arraial <strong>do</strong>s pretos numa casa tomada aos<br />

holandeses, próxima à Cidade Maurícia. Um autêntico<br />

baluarte. Depois pontificou nas batalhas <strong>do</strong>s Guararapes.<br />

Recebeu comendas <strong>do</strong> rei e mais tarde o reconhecimento<br />

<strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro (IHGB)<br />

num tempo em que este servia à construção da<br />

brasilidade.<br />

A relação da história com a memória é complicada. A<br />

primeira serve à segunda, que por sua vez a recria,<br />

conforme a época. Daí o herói d hoje virar vilão amanhã<br />

e vice-versa. Voltan<strong>do</strong> à Restauração Pernambucana, um<br />

<strong>do</strong>s mais laurea<strong>do</strong>s pelos seus feitos foi o potiguar Felipe<br />

Camarão. Ganhou comendas del rei, como Henrique<br />

Dias, e tornou-se figura certa na galeria <strong>do</strong>s heróis<br />

nacionais. Afinal, chefiara o parti<strong>do</strong> brasiliano <strong>do</strong>s índios<br />

na guerra contra os flamengos. Mas ninguém se lembra<br />

<strong>do</strong>s índios potiguares que lutaram ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

holandeses.<br />

Pedro Poti é bom exemplo, pois se converteu ao<br />

calvinismo man<strong>do</strong>u cartas ao Camarão para mudar de<br />

la<strong>do</strong>, alegan<strong>do</strong> que os portugueses sempre haviam si<strong>do</strong><br />

um flagelo para a nação potiguar. Pedro Poti foi<br />

condena<strong>do</strong> ao ostracismo pela memória nacional.<br />

Quase o mesmo se deu em relação às inconfidências <strong>do</strong><br />

século XVIII. A Inconfidência Mineira foi celebrizada e<br />

Tiradentes transforma<strong>do</strong> em herói, em especial no início<br />

da República — 21 de abril, dia <strong>do</strong> Tiradentes, é feria<strong>do</strong><br />

nacional. Por outro la<strong>do</strong>, a Conjuração baiana, primeiro<br />

movimento a pôr em xeque a discriminação racial na<br />

Colônia, ficou muito tempo em segun<strong>do</strong> plano. E quase<br />

ninguém sabe de cor o nome <strong>do</strong>s quatro enforca<strong>do</strong>s e<br />

esquarteja<strong>do</strong>s em 1799, talvez porque fossem mulatos os<br />

líderes da sedição: Luis Gonzaga das Virgens, Manuel<br />

Faustino, Lucas Dantas e João de Deus.<br />

Mas nosso foco é Palmares, e como disse, Zumbi é hoje<br />

um monumento, e Ganga Zumba esqueci<strong>do</strong> ou<br />

hostiliza<strong>do</strong>. Há poucos <strong>do</strong>cumentos sobre o primeiro, ao<br />

contrário de Ganga Zumba, chefe que consoli<strong>do</strong>u<br />

Palmares e impingiu tremendas derrotas ao governo<br />

colonial. Tanto é que as elites lhe propuseram um<br />

armistício, em 1678: alforria para os pai-marianos, terras<br />

em Cucaú, foro de vassalos da Coroa. A contrapartida<br />

seria a colaboração na reescravização <strong>do</strong>s novos<br />

fugitivos. O acor<strong>do</strong> de Ganga Zumba lhe custaria caro.<br />

27


Morreu envenena<strong>do</strong> pelos rivais e foi depois toma<strong>do</strong><br />

como colabora<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s brancos.<br />

A história e a memória vivem mesmo em conflito. Mas a<br />

figura de Ganga Zumba não sumiu de vez. Em 1982, por<br />

exemplo, a Escola de Samba Beija-Flor saiu no carnaval<br />

com o enre<strong>do</strong> A Constelação das Estrelas Negras — saí<br />

exatamente na ala <strong>do</strong> Ganga Zumba. Certa vez, no<br />

barracão da Escola, um componente da ala me<br />

perguntou: “quem foi este tal de Ganga Zumba?”.<br />

Respondi sem hesitar: “foi rei de Palmares”. “Mas não<br />

era o Zumbi?” — replicou. Só me restou dizer: “também,<br />

o Zumbi também”. E assim terminou a conversa em<br />

Nilópolis: Palmares teve <strong>do</strong>is reis.<br />

VAINFAS, Ronal<strong>do</strong>. Heróis e rei esqueci<strong>do</strong>s. In: NOSSA HISTÓRIA. São Paulo:<br />

Vera cruz, ano 2. n. 13, nov. 2004. p. 29-30; p. 98.<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (UESB – 2008) A carta de Pero Vaz de Caminha<br />

retrata, entre vários outros aspectos, os objetivos<br />

econômicos da colonização <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, no contexto da<br />

política mercantilista.<br />

A alternativa que apresenta um trecho da carta que<br />

caracteriza essa política é a<br />

1) “Mostraram-lhes um papagaio par<strong>do</strong> que o Capitão<br />

traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram<br />

para aterra, como se os houvesse ali”.<br />

2) “E entraram todas as naus dentro, e ancoraram em<br />

cinco ou seis braças — ancora<strong>do</strong>uro que é tão<br />

grande e tão formoso de dentro, e tão seguro que<br />

podem ficar nele mais de duzentos navios e naus”.<br />

3) “E traziam cabaças d’água, e tomavam alguns barris<br />

que nós levávamos e enchiam-nos de água e<br />

traziam-nos aos batéis”.<br />

4) “Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive<br />

se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que<br />

pertence à sua salvação”.<br />

5) “Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata<br />

nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lhe<br />

vimos”.<br />

02. É correto afirmar que a prática da antropofagia entre<br />

algumas tribos indígenas brasileiras se devia:<br />

a) ao barbarismo daqueles povos, que não possuíam<br />

religião ou normas morais capazes de refrear seus<br />

instintos.<br />

b) à crença de que, ao devorarem os inimigos, os índios<br />

estariam incorporan<strong>do</strong> suas virtudes e qualidades.<br />

c) à influencia <strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>res europeus, uma vez<br />

que os índios, procuravam responder à crueldade <strong>do</strong>s<br />

brancos.<br />

d) a uma estratégia de apavorar os adversários, que<br />

ficavam com me<strong>do</strong> de combater os antropófagos.<br />

03. (PUC — MG) O enuncia<strong>do</strong> a seguir se refere a um<br />

trecho da obra de Pero de Magalhães Gândavo, escrita<br />

em 1375, no qual o cronista descrevia os hábitos <strong>do</strong>s<br />

índios da Terra de Santa Cruz.<br />

“Carece de três letras, convém a saber não se acha nela<br />

F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim<br />

não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem<br />

desordenadamente sem terem além disto conta, nem<br />

peso, rem medida”.<br />

GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. Trata<strong>do</strong> da Terra & <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, 12.<br />

ed. rev. e atual. Recife: FUNDAJ. Edit. Massangana, 1995. p. 100.<br />

A afirmativa de Gândavo expressa, exceto:<br />

a) a ideia <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r de que sociedades sem<br />

religião, justiça e governo, em oposição às<br />

europeias, são desordeiras.<br />

b) a visão preconceituosa e etnocêntrica <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r<br />

diante de uma cultura diferente, em tu<strong>do</strong>, da<br />

europeia.<br />

c) o espanto <strong>do</strong> português perante uma comunidade<br />

que ignora os padrões ti<strong>do</strong>s como ideais para a vida<br />

social.<br />

d) o reconhecimento de que a organização da<br />

comunidade indígena, a despeito de tantas ausências,<br />

era viável.<br />

04. (ENEM) Jean de Léry viveu na França na segunda<br />

metade <strong>do</strong> século XVI, época em que as chamadas<br />

guerras de religião opuseram católicos e protestantes. No<br />

texto abaixo, ele relata o cerco da cidade de Sancerre por<br />

tropas católicas.<br />

“(...) desde que os canhões começaram a atirar sobre nós<br />

com maior frequência, tornou-se necessário que to<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>rmissem nas casernas. Eu logo providenciei para mim<br />

um leito feito de um lençol ata<strong>do</strong> pelas suas duas pontas<br />

e assim fique suspenso no ar, à maneira <strong>do</strong>s selvagens<br />

americanos (entre os quais eu estive durante dez meses),<br />

o que foi imediatamente imita<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os nossos<br />

solda<strong>do</strong>s, de tal maneira que a caserna logo ficou cheia<br />

deles. Aqueles que <strong>do</strong>rmiram assim puderam confirmar o<br />

quanto esta maneira é apropriada tanto para evitar os<br />

vermes quanto para manter as roupas limpas (...).”<br />

Neste texto, Jean de Léry:<br />

a) despreza a cultura e rejeita o patrimônio <strong>do</strong>s<br />

indígenas americanos.<br />

b) revela-se constrangi<strong>do</strong> por ter de recorrer a um<br />

inverto de “selvagens”.<br />

c) reconhece a superioridade das sociedades indígenas<br />

americanas com relação aos europeus.<br />

d) valoriza o patrimônio cultural <strong>do</strong>s indígenas<br />

americanos, adaptan<strong>do</strong>-o às suas necessidades.<br />

e) valoriza os costumes <strong>do</strong>s indígenas americanos<br />

porque eles também eram persegui<strong>do</strong>s pelos<br />

católicos.<br />

28


05. (ENEM) A questão étnica no <strong>Brasil</strong> tem provoca<strong>do</strong><br />

diferentes atitudes:<br />

I. Instituiu-se o “Dia Nacional da Consciência Negra”<br />

em 20 de novembro, ao invés da tradicional celebração<br />

<strong>do</strong> 13 de maio. Essa nova data é o aniversário da morte<br />

de Zumbi, que hoje simboliza a crítica à segregação e à<br />

exclusão social.<br />

II. Um turista estrangeiro que veio ao <strong>Brasil</strong>, no<br />

Carnaval, afirmou que nunca viu tanta convivência<br />

harmoniosa entre as diversas etnias. Também sobre essa<br />

questão, estudiosos fazem diferentes reflexões:<br />

“Entre nós [brasileiros], (...) a separação imposta pelo<br />

sistema de produção foi a mais fluida possível. Permitiu<br />

constante mobilidade de classe para classe e até de uma<br />

raça para outra. Esse amor, acima de preconceitos de<br />

raça e de convenções de classe, <strong>do</strong> branco pela cabocla,<br />

pela cunhã, pela índia (...) agiu poderosamente na<br />

formação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, a<strong>do</strong>çan<strong>do</strong>-o.”<br />

FREIRE, Gilberto. O mun<strong>do</strong> que o português criou.<br />

“[Porém] o fato é que ainda hoje a miscigenação não faz<br />

parte de um processo de integração das “raças” em<br />

condições de igualdade social. O resulta<strong>do</strong> foi que (...)<br />

ainda são pouco numerosos os segmentos da ‘população<br />

de cor’ que conseguiram se integrar, efetivamente, na<br />

sociedade competitiva”.<br />

FERNANDES, Florestan. O negro no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s brancos.<br />

Consideran<strong>do</strong> as atitudes expostas acima e os pontos de<br />

vista <strong>do</strong>s estudiosos, é correto aproximar:<br />

a) a posição de Gilberto Freire e a de Florestan<br />

Fernandes igualmente às duas atitudes.<br />

b) a posição de Gilberto Freire à atitude I e a de<br />

Florestan Fernandes à atitude II.<br />

c) a posição de Florestan Fernandes à atitude I e a de<br />

Gilberto Freire à atitude II.<br />

d) somente a posição de Gilberto Freire a ambas as<br />

atitudes.<br />

e) somente a posição de Florestan Fernandes a ambas<br />

as atitudes.<br />

As questões de nº 5 e 6 referem-se ao texto abaixo. Leiao<br />

com atenção.<br />

“Eles foram os piratas <strong>do</strong> sertão (...) Eram grupos<br />

paramilitares rasgan<strong>do</strong> a mata e caçan<strong>do</strong> homens — para<br />

além da lei e das fronteiras; para aquém da ética. À sua<br />

passagem, restava apenas um rastro de cidades<br />

devassadas; velhos, mulheres e crianças passa<strong>do</strong>s a fio de<br />

espada; altares profana<strong>do</strong>s, sangue, lágrimas e chamas.<br />

Incendia<strong>do</strong>s pela ganância e em nome <strong>do</strong> avanço da<br />

civilização, escravizaram índios aos milhares”.<br />

HISTÓRIA DO BRASIL. 2. ed. Empresa Folha da Manhã e Zero Hora/RBS<br />

Jornal. São Paulo: 1997. p. 41.<br />

06. (PUC - MG) O trecho faz referência a<br />

empreendimento de caráter priva<strong>do</strong>, oriun<strong>do</strong> da região de<br />

São Paulo, no século XVII, que se relaciona com:<br />

a) a ampliação da agricultura.<br />

b) a expansão da pecuária.<br />

c) as entradas oficiais de caráter exploratório.<br />

d) o movimento bandeirante.<br />

07. (PUC - MG) Pelo exposto no texto é possível afirmar<br />

que aqueles homens, exceto:<br />

a) visavam expandir a fé cristã ao converter almas <strong>do</strong>s<br />

“índios selvagens”.<br />

b) eram sujeitos rudes e criminosos desconhecen<strong>do</strong>,<br />

muitas vezes, as leis régias.<br />

c) foram aprisiona<strong>do</strong>res de mão-de-obra indígena para<br />

seus empreendimentos.<br />

d) foram parcialmente responsáveis pela expansão das<br />

fronteiras <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

08. (FUVEST - SP) A exploração <strong>do</strong>s metais preciosos<br />

encontra<strong>do</strong>s na América portuguesa, no final <strong>do</strong> século<br />

XVII, trouxe importantes consequências tanto para a<br />

Colônia quanto para a Metrópole. Entre elas:<br />

a) o intervencionismo regula<strong>do</strong>r metropolitano na<br />

região das Minas, o desaparecimento da produção<br />

açucareira <strong>do</strong> Nordeste e a instalação <strong>do</strong> Tribunal da<br />

Inquisição na capitania.<br />

b) a solução temporária de problemas financeiros em<br />

Portugal, alguma articulação entre áreas distantes da<br />

Colônia e o deslocamento de seu eixo administrativo<br />

para o centro-sul.<br />

c) a separação e autonomia da Capitania das Minas<br />

Gerais, a concessão <strong>do</strong> monopólio da extração <strong>do</strong>s<br />

metais aos paulistas e a proliferação da profissão de<br />

ourives.<br />

d) a proibição <strong>do</strong> ingresso de ordens religiosas em<br />

Minas Gerais, o enriquecimento generaliza<strong>do</strong> da<br />

população e o êxito no controle <strong>do</strong> contraban<strong>do</strong>.<br />

e) o incentivo da Coroa à produção das artes, o<br />

afrouxamento <strong>do</strong> sistema de arrecadação de<br />

impostos e a importação <strong>do</strong>s produtos para a<br />

subsistência diretamente da Metrópole.<br />

09. (UFMG) Leia este trecho de <strong>do</strong>cumento:<br />

“... pois o <strong>Brasil</strong>, e não to<strong>do</strong> ele, senão três capitanias que<br />

são a de Pernambuco, a de Tamaracá e a da Paraíba, que<br />

ocupam pouco mais ou menos, no que delas está<br />

povoa<strong>do</strong>, cinquenta ou sessenta léguas de costa, as quais<br />

habitam seus mora<strong>do</strong>res, com se não alargarem para o<br />

sertão dez léguas, e somente neste -espaço de terra, sem<br />

adjutório de nação estrangeira, nem de outra parte,<br />

lavram e tiram os portugueses das entranhas dela, à custa<br />

de seu trabalho e indústria, tanto açúcar que basta para<br />

carregar, to<strong>do</strong>s os anos, cento e trinta ou cento e quarenta<br />

naus...”.<br />

Diálogos das grandezas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Texto anônimo escrito por volta de 1613-18.<br />

Com base na leitura desse trecho, é correto afirmar que o<br />

sistema de exploração econômica implanta<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong><br />

nos primeiros séculos de colonização caracterizou-se<br />

por:<br />

29


30<br />

a) concentrar, nos incipientes meios urbanos, toda a<br />

estrutura de controle e comercialização da cana-deaçúcar,<br />

produto, em geral, comercializa<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong><br />

bruto.<br />

b) distribuir contingentes populacionais ao longo de<br />

toda a costa brasileira e desenvolver, sobretu<strong>do</strong>, o<br />

extrativismo vegetal da espécie conhecida como<br />

pau-brasil.<br />

c) favorecer o desenvolvimento da agricultura baseada<br />

na exploração da cana-de-açúcar, estimulan<strong>do</strong> a<br />

fixação populacional, incialmente, na faixa da nata<br />

nordestina.<br />

d) incrementar o processo de colonização a partir <strong>do</strong><br />

estímulo à vinda e fixação de contingentes<br />

populacionais, que aqui se estabeleciam em<br />

pequenas propriedades agrícolas.<br />

10. (FGV) A descoberta de ouro em Minas Gerais trouxe<br />

importantes modificações na vida da Colónia, exceto:<br />

a) Uma sociedade com maior mobilidade social.<br />

b) O deslocamento da sede <strong>do</strong> governo colonial para<br />

São Vicente.<br />

c) Maior contato econômico entre diversas regiões <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>.<br />

d) Aumento <strong>do</strong> controle metropolitano na região.<br />

e) Formação de núcleos urbanos o interior <strong>do</strong> país.<br />

11. (FUVEST - SP) “os que trazem [o ga<strong>do</strong>] são brancos,<br />

mulatos e pretos, e também índios, que com este trabalho<br />

procuram ter algum lucro Guiam-se in<strong>do</strong> uns adiante<br />

cantan<strong>do</strong>, para serem segui<strong>do</strong>s pelo ga<strong>do</strong>, e outros vêm<br />

atrás das reses, tangen<strong>do</strong>-as, ten<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> que não<br />

saiam <strong>do</strong> caminho e se amontoem.”<br />

Antonil Cultura e opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, 1711.<br />

O texto expressa uma atividade econômica característica:<br />

a) <strong>do</strong> Sertão nordestino, dan<strong>do</strong> origem a trabalha<strong>do</strong>res<br />

diferencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> resto da Colônia.<br />

b) de regiões canavieiras onde se utilizava mão-de-obra<br />

disponível na entressafra <strong>do</strong> açúcar.<br />

c) de to<strong>do</strong> o território da América portuguesa onde era<br />

fácil’ obter mão-de-obra indígena e regra.<br />

d) das regiões <strong>do</strong> Nordeste, produtoras de charque, que<br />

empregavam mão-de-obra assalariada.<br />

e) <strong>do</strong> sul da Colônia, visan<strong>do</strong> abastecer de carne a<br />

região açucareira <strong>do</strong> Nordeste.<br />

12. (FUVEST — SP) Podemos afirmar sobre o perío<strong>do</strong><br />

da mineração no <strong>Brasil</strong>:<br />

a) Atraí<strong>do</strong>s pelo ouro, vieram para o <strong>Brasil</strong><br />

aventureiros de toda espécie, que inviabilizaram a<br />

mineração.<br />

b) A exploração das minas de ouro só trouxe benefícios<br />

para Portugal.<br />

c) A mineração deu origem a uma classe média urbana<br />

que teve papel decisivo na independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

d) O ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou<br />

a sua exploração.<br />

e) A mineração contribuiu para interligar as várias<br />

regiões <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

13. (USS-VASSOURAS - RJ) Em abril de 2000, no<br />

litoral da Bahia, mais de <strong>do</strong>is mil representantes de cento<br />

e oitenta e seis povos indígenas organizaram<br />

manifestações em defesa da causa indígena e contra a<br />

“invasão europeia”. O movimento se autodenominava<br />

“<strong>Brasil</strong>: Outros 500”, numa clara contestação da versão<br />

oficial das comemorações <strong>do</strong>s 500 anos <strong>do</strong><br />

“Descobrimento <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>”.<br />

Em manifesto publica<strong>do</strong> na imprensa, os índios<br />

afirmavam ter chega<strong>do</strong> ao continente há<br />

aproximadamente 40 mil anos e que, no momento da<br />

chegada <strong>do</strong>s portugueses, havia cinco milhões de índios<br />

no país pertencentes a novecentos e setenta povos<br />

diferentes. A expansão <strong>do</strong> Velho Mun<strong>do</strong> significou, para<br />

os índios, brutalidade e genocídio. Atualmente existem,<br />

aproximadamente, trezentos e trinta mil índios, de<br />

duzentos e cinquenta povos indígenas. Ao longo da<br />

história muitas vozes se levantaram para denunciar a<br />

opressão <strong>do</strong>s portugueses sobre os índios.<br />

Assinale a alternativa na qual é corretamente<br />

caracterizada essa defesa <strong>do</strong>s “<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s” no século<br />

XVII:<br />

a) Os padres Jesuítas, por questões humanitárias e<br />

religiosas, opuseram-se à escravidão <strong>do</strong>s indígenas e<br />

<strong>do</strong>s africanos.<br />

b) Os jesuítas, interessa<strong>do</strong>s em promover a catequese<br />

<strong>do</strong>s Índios conforme as determinações <strong>do</strong> Concílio<br />

de Trento, opuseram-se à escravidão indiscriminada<br />

<strong>do</strong>s indígenas.<br />

c) Os jesuítas, interessa<strong>do</strong>s em promover a catequese<br />

<strong>do</strong>s índios conforme as determinações <strong>do</strong> Concilio<br />

de Trento, apoiaram a escravidão indiscriminada <strong>do</strong>s<br />

indígenas.<br />

d) O governo português enfrentara-se violentamente<br />

com os bandeirantes, por causa das verdadeiras<br />

ações de caça ao indígena (bandeirismo de preação)<br />

que estes organizavam.<br />

e) Os interesses liga<strong>do</strong>s ao tráfico negreiro opuseramse<br />

à escravidão <strong>do</strong> índio para garantir o merca<strong>do</strong>.<br />

14. (UFMG) Sobre a economia <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Colonial, é<br />

correto afirmar Que:<br />

a) a economia aurífera se caracterizou pela imobilidade<br />

social, bipolarizada entre o senhor e o escravo.<br />

b) a pecuária se baseou na criação intensiva, assentada<br />

no latifúndio exporta<strong>do</strong>r e no trabalho escravo.<br />

c) a produção colonial foi orientada para a exportação<br />

de gêneros para o merca<strong>do</strong> externo.<br />

d) a produção açucareira fixou a população no litoral e<br />

criou urna expressiva camada média.<br />

15. (UNIFENAS - MG) “O Nordeste brasileiro é, na<br />

atualidade, uma das regiões mais subdesenvolvidas <strong>do</strong><br />

Hemisfério Ocidental. Gigantesco campo de<br />

concentração para trinta milhões de pessoas, padece hoje


a herança da monocultura (...). De suas terras nasceu o<br />

negócio mais lucrativo da economia agrícola colonial da<br />

América.”<br />

GALEANO, Eduar<strong>do</strong>. As veias Abertas da América Latina. Rio de janeiro: Paz e<br />

Terra.<br />

Ao afirmar no texto que nas terras <strong>do</strong> Nordeste “nasceu o<br />

negócio mais lucrativo da economia agrícola colonial”, o<br />

autor está se referin<strong>do</strong>:<br />

a) ao plantio de algodão para abastecer a Revolução<br />

Industrial europeia.<br />

b) à exploração predatória de pau-brasil ao longo <strong>do</strong><br />

litoral nordestino.<br />

c) à criação de ga<strong>do</strong> na região da Zona da Mata<br />

nordestina.<br />

d) ao cultiva açucarei o, utiliza<strong>do</strong> como solução para<br />

iniciar a ocupação das terras brasileiras.<br />

e) ao cultivo das riquezas denominadas drogas <strong>do</strong><br />

sertão.<br />

16. (UFMG) Leia estes trechos de <strong>do</strong>cumentos<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao <strong>Brasil</strong> Colonial, atentan<strong>do</strong> para os<br />

processos históricos a que se referem:<br />

I. “... a grande constância de outros, desprezan<strong>do</strong> as<br />

inclemências <strong>do</strong> tempo, desatenden<strong>do</strong> ao trabalho das<br />

marchas, vencen<strong>do</strong> os descômo<strong>do</strong>s da vida, e perden<strong>do</strong> o<br />

temor <strong>do</strong>s assaltos, continuavam a cortar bosques, a abrir<br />

caminhos, a penetrar sertões, a combater com o gentio<br />

bárbaro, fazen<strong>do</strong> a muitos e algumas mulheres<br />

prisioneiros...”<br />

II. “... quem vir na escuridão da noite aquelas fornalhas<br />

tremendas, perpetuamente ardentes; labaredas que estão<br />

sain<strong>do</strong> aos borbotões de cada uma pelas duas bocas, ou<br />

ventas, por onde respiram o incêndio; os etíopes, ou<br />

ciclopes, banha<strong>do</strong>s em suor tão negros como robustos<br />

que subministram a grossa e dura matéria ao fogo (...)<br />

não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etna e<br />

Vesúvio, que é uma semelhança de inferno.”<br />

III. ”Ali ignora-se o uso da verruma, o méto<strong>do</strong> de<br />

conhecer o interior e as diversas camadas de terras: as<br />

ciências naturais, a mineralogia, a química, o<br />

conhecimento da mecânica, das leis <strong>do</strong> movimento e da<br />

gravidade <strong>do</strong>s corpos, tu<strong>do</strong> está ali muito na infância; das<br />

máquinas hidráulicas apenas se conhece ainda muito<br />

imperfeita, a que, pela sua figura e construção, chamam<br />

rosário...”<br />

IV. “O conde enriqueceu e ornou com edifícios vilas e<br />

cidades. Construiu pontes e palácios para utilidade e<br />

beleza. Erigiu, em parte por sua munificência, um templo<br />

para a piedade e para o serviço divino. Teve consigo e<br />

favoreceu, na paz e na guerra, os mais eminentes artistas<br />

(...) para que eles mostrassem venci<strong>do</strong>s, (...) os lugares,<br />

as terras e as cidades que ele próprio vencesse.”<br />

Os trechos I, II, III e IV fazem referência,<br />

respectivamente:<br />

a) à ação <strong>do</strong>s quilombos, aos motins coloniais, às<br />

atividades agrícolas indígenas e à construção da<br />

cidade de Salva<strong>do</strong>r.<br />

b) à pecuária, ao batuque <strong>do</strong>s negros, à arte naval<br />

portuguesa e à transferência da Corte portuguesa<br />

para o Rio de Janeiro.<br />

c) ao bandeirantismo, aos engenhos de açúcar, às<br />

técnicas de mineração e à presença holandesa no<br />

Nordeste açucareiro.<br />

d) ao tráfico negreiro, aos rituais indígenas, às moendas<br />

de açúcar e à urbanização das vilas de Minas Gerais.<br />

17. (UFMG) Antonil, jesuíta que viveu no <strong>Brasil</strong>, no<br />

Perío<strong>do</strong> Colonial, destacou a importância da posse de<br />

escravos, descreven<strong>do</strong>-os como “as mãos e os pés <strong>do</strong><br />

senhor..”<br />

Na perspectiva da economia colonial, essa importância<br />

pode ser confirmada pela vinculação entre o número de<br />

escravos possuí<strong>do</strong>s e a <strong>do</strong>ação de:<br />

a) sesmarias, para exploração, de acor<strong>do</strong> com o<br />

Regimento de Tomé de Souza.<br />

b) títulos de nobreza, necessários à obtenção de terras<br />

para agricultura.<br />

c) capitanias hereditárias, lotes de terras em que foi<br />

dividida a Colônia.<br />

d) datas de ouro, lotes de terra destina<strong>do</strong>s à exploração<br />

mineral.<br />

18. (UFMG) Leia o trecho <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento.<br />

“Senhor. Sen<strong>do</strong> como a obrigação a primeira virtude,<br />

porque importa pouco zelar cada um o seu patrimônio, e<br />

descuida-se da utilidade alheia quan<strong>do</strong> lhe está<br />

recomendada, se nos faz preciso representar a Vossa<br />

Majestade a opressão universal <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res destas<br />

Minas involunta no arbítrio atual de se cobrarem os<br />

(impostos) de Vossa Majestade devi<strong>do</strong>s, poden<strong>do</strong> ser<br />

pagos com alguma suavidade de outra forma sem<br />

diminuição <strong>do</strong> que por direito está Vossa Majestade<br />

receben<strong>do</strong>, na consideração de que sejam lícitos os fim<br />

se devem abraçar os meios mais toleráveis...”<br />

Representação <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> da Câmara de Vila Rica ao Rei de Portugal, 26 de<br />

dezembro de 1742.<br />

Nesse trecho, os oficiais da Câmara de Vila Rica estão se<br />

referin<strong>do</strong> à cobrança <strong>do</strong>:<br />

a) quinto <strong>do</strong> ouro, imposto ‘obra<strong>do</strong> por meio da<br />

capitação, que taxava também outras atividades<br />

econômicas.<br />

b) subsídio voluntário, destina<strong>do</strong> a cobrir as despesas<br />

pessoais <strong>do</strong> rei de Portugal.<br />

c) dízimo eclesiástico, imposto que incidia sobre os<br />

diamantes extraí<strong>do</strong>s no Distrito Diamantino.<br />

d) foro enfitêutico, tributo cobra<strong>do</strong> proporcionalmente<br />

à extensão das sesmarias <strong>do</strong>s minera<strong>do</strong>res.<br />

31


19. (UFMG) Em 1711, Antonil apresentou um quadro<br />

<strong>do</strong>s cincos produtos mais importantes que, então, o<br />

<strong>Brasil</strong> exportava anualmente para Portugal, na seguinte<br />

ordem:<br />

Açúcar<br />

Ouro<br />

Fumo<br />

Solas (couros)<br />

Pau-brasil<br />

2535: 142$000 réis<br />

614: 400$000 réis<br />

344: 650$000 réis<br />

201: 800$000 réis<br />

48: 000$000 réis<br />

bebidas, usadas no cotidiano das populações das nações<br />

europeias.<br />

05) A integração da produção <strong>do</strong> sertão á economia<br />

regional se deu através da pecuária e da produção de<br />

couros e solas, que alcançava os portos <strong>do</strong> Recôncavo<br />

por via <strong>do</strong>s caminhos das boiadas.<br />

Se escrevesse cm 1790, ele anotaria:<br />

a) a espetacular queda <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> açúcar pela crise<br />

que, no século XVIII, afastou o produto brasileiro <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> mundial.<br />

b) a manutenção <strong>do</strong> açúcar em primeiro lugar, já que,<br />

durante o Perío<strong>do</strong> Colonial, ele foi o principal<br />

produto agrícola de exportação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

c) a presença de um novo produto de exportação, que,<br />

no sinal <strong>do</strong> século XVIII, <strong>do</strong>minava as exportações<br />

brasileiras: o café <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />

d) a superação <strong>do</strong> açúcar pelo ouro de Minas Gerais,<br />

que, durante a segunda metade <strong>do</strong> século XVIII, se<br />

tornou o principal produto de exportação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

e) a surpreendente presença <strong>do</strong>s diamantes da região <strong>do</strong><br />

Distrito Diamantino, que se tornaram o principal<br />

produto das exportações brasileiras.<br />

Exportação baianas<br />

Século XVI Século XVII Século XVIII<br />

Pau-brasil Açúcar Açúcar<br />

Algodão Algodão Fumo<br />

Açúcar Fumo Algodão<br />

Pau-brasil<br />

Madeiras<br />

Couro e solas<br />

Aguardente<br />

Ouro<br />

20. A analise da tabela e os conhecimentos sobre a<br />

evolução da economia baiana, nos séculos XVI, XVII e<br />

XVIII, permitem afirmar:<br />

01) O algodão produzi<strong>do</strong> na Bahia, ao longo <strong>do</strong>s<br />

séculos em destaque na tabela, provocou o<br />

desenvolvimento da indústria têxtil, desde o século XVI.<br />

02) O pau-brasil foi um produto valoriza<strong>do</strong>, que se<br />

destacou na pauta das exportações ao longo <strong>do</strong>s três<br />

séculos indica<strong>do</strong>s na tabela.<br />

03) O ouro explora<strong>do</strong> na Bahia, nos séculos XVI e<br />

XVII, era destina<strong>do</strong> exclusivamente á cunhagem de<br />

moedas locais, o que explica a ausência de registro de<br />

produção, na tabela nesses séculos.<br />

04) A expansão <strong>do</strong> consumo de aguardente, no merca<strong>do</strong><br />

europeu, resultou na substituição ao vinho e outras<br />

32


II – A SOCIEDADE NA AMÉRICA PORTUGUESA:<br />

DIVERSIDADE, DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA<br />

INTRODUÇÃO<br />

A sociedade que veio a se constituir no <strong>Brasil</strong> Colônia<br />

foi marcada essencialmente pela mestiçagem entre três<br />

grupos étnicos: brancos, índios e negros.<br />

Essa mestiçagem ganhou maior ou menor intensidade em<br />

função de processos históricos específicos, que variaram<br />

em decorrência de diversos fatores, ao longo <strong>do</strong>s séculos<br />

XVI, XVII e XVIII: natureza das atividades econômicas;<br />

localização geográfica; concentração demográfica; maior<br />

ou menor proximidade de portos; caráter urbano ou rural.<br />

O contingente populacional da América portuguesa — e<br />

que veio a se constituir na sociedade colonial — era<br />

forma<strong>do</strong>, basicamente, por brancos, índios e negros.<br />

Brancos — formavam um grupo étnico originário de<br />

Portugal e muito homogêneo, inclusive <strong>do</strong> ponto de vista<br />

cultural e religioso.<br />

Índios — formavam a população nativa, bastante<br />

diversificada nos aspectos étnicos e culturais. Dentre os<br />

povos indígenas que entraram em contato com os<br />

coloniza<strong>do</strong>res portugueses, destacaram-se os tupisguaranis,<br />

que habitavam a faixa litorânea que se<br />

estendia <strong>do</strong> atual esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará até o atual esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo. Dividi<strong>do</strong>s entre centenas de tribos, caracterizadas<br />

por enorme rivalidade entre si, tiveram reações diversas<br />

em relação aos portugueses e outros europeus que<br />

aportaram em alguns pontos da costa no século XVI,<br />

como os franceses.<br />

relações mais amistosas com os portugueses, foram<br />

qualifica<strong>do</strong>s de forma positiva, e os segun<strong>do</strong>s, hostis à<br />

presença portuguesa, de forma negativa.<br />

Negros - também entre os africanos trazi<strong>do</strong>s para a<br />

América portuguesa, a diversidade étnica e cultural era<br />

enorme.<br />

Originários principalmente <strong>do</strong>s atuais Congo, Guiné,<br />

Sudão, Angola, Moçam bique e outras regiões, possuíam<br />

uma heterogeneidade expressiva, uma vez que diversas<br />

eram as línguas, as tradições e as manifestações<br />

espirituais e muitos eram os costumes. No contexto dessa<br />

diversidade, acentuaram-se <strong>do</strong>is grandes ramos étnicos:<br />

os sudaneses, pre<strong>do</strong>minantes na África Ocidental, e os<br />

bantos, originários da África Equatorial e Tropical,<br />

notadamente Angola e Moçambique. Apesar dessa<br />

divisão, é importante considerar a multiplicidade de<br />

tribos ou reinos com suas próprias culturas, como os<br />

iorubas, jejes, tapas, halças, entre os sudaneses; e os<br />

angolas, bengalas, monjolos, Moçambiques, ente os<br />

bantos.<br />

Enquanto os tupiniquins, que viviam no litoral <strong>do</strong> atual<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro, estabeleceram boas relações<br />

com os portugueses, os tamoios, que viviam na mesma<br />

região, se aliaram aos franceses. Os religiosos,<br />

particularmente os jesuítas, com o avanço da colonização<br />

e com um melhor conhecimento <strong>do</strong>s hábitos e da cultura<br />

da população nativa, dividiram, de uma forma genérica e<br />

simplifica<strong>do</strong>ra, os povos indígenas em <strong>do</strong>is grupos: os<br />

tupis e os tapuias. Os primeiros, por terem estabeleci<strong>do</strong><br />

33


Rugendas se encantou particularmente com a ampla variedade de povos africanos no Rio de Janeiro, que captou em sua arte<br />

(ver figura). Como relata<strong>do</strong> por ele, “em um só golpe de vista o artista pode conseguir resulta<strong>do</strong>s que, na África, só<br />

atingiria através de longas e perigosas viagens a todas as regiões dessa parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”.<br />

Montagem (feita pelo colunista) de relatos de escravos de varias origens geográficas, pinta<strong>do</strong>s por Johann Moritz Rgendas no Rio de Janeiro, durante a década de 1820. Cada<br />

escravo(a) é indica<strong>do</strong>(a) por sua etnia, como se segue: (1) Angola, (2) Congo, (3) Benguela, (4) Monjolo, (5) Cabinda, (6) Quiloa, (7) Rebolo, (8) e (9) Moçambique, (10) Mina.<br />

As etnias de 1-5 e 7 são da África central, 8-9 são <strong>do</strong> su<strong>do</strong>este africano e 10 é da África ocidental. A presença de um escravo Quiloa é peculiar, pois essa é uma etnia da África<br />

Oriental, região da qual vieram muito poucos escravos para o <strong>Brasil</strong>. To<strong>do</strong>s, com exceção da escrava da Mina, falavam dialetos da família Bantu.<br />

Em relação à expressiva diversidade entre os negros que<br />

foram trazi<strong>do</strong>s para a América portuguesa durante o<br />

Perío<strong>do</strong> Colonial — e mesmo após a independência —, o<br />

historia<strong>do</strong>r Boris Fausto escreveu:<br />

“Os africanos foram trazi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> continente<br />

negro para o <strong>Brasil</strong> em um fluxo de intensidade variável.<br />

Os cálculos sobre o número de pessoas transportadas<br />

como escravos variam muito. Estima-se que entre 1550 e<br />

1855, entraram pelos portos brasileiros 4 milhões de<br />

escravos, na sua grande maioria jovens <strong>do</strong> sexo<br />

masculino. A região de proveniência dependeu da<br />

organização <strong>do</strong> tráfico, das condições locais na África e,<br />

em menor grau, das preferências <strong>do</strong>s senhores<br />

brasileiros. No século XVI, a Guiné (Bissau e Cacheu) e<br />

a Costa da Mina, ou seja, quatro portos ao longo <strong>do</strong><br />

litoral <strong>do</strong> Daomé, forneceram o maior número de<br />

escravos. Do século XVII em diante, as regiões mais ao<br />

sul da costa africana — Congo e Angola - tornaram-se os<br />

centros exporta<strong>do</strong>res mais importantes, a partir <strong>do</strong>s<br />

portos de Luanda, Benguela e Cabinda. Os angolanos<br />

foram trazi<strong>do</strong>s em maior número no século XVIII,<br />

corresponden<strong>do</strong>, ao que parece, a 70% da massa de<br />

escravos trazi<strong>do</strong>s para o <strong>Brasil</strong> naquele século.”<br />

FAUSTO, Boris. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de<br />

São Paulo, 1995. p. 51.<br />

A casa-grande e a <strong>do</strong>minação na sociedade<br />

açucareira<br />

A natureza das atividades econômicas contribuiu, em<br />

grande parte, para a diversidade da formação social <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> Colônia.<br />

No litoral nordestino, área de pre<strong>do</strong>mínio da<br />

agromanufatura açucareira, desenvolveu-se uma<br />

sociedade pre<strong>do</strong>minantemente patriarcal, rural e<br />

escravista.<br />

A vida social nessa região, caracterizada por uma<br />

estrutura rígida e de perfil aristocrático, concentrou-se na<br />

grande propriedade agrária, genericamente conhecida<br />

como engenho. Dele faziam parte a casa-grande,<br />

residência <strong>do</strong> senhor de engenho e de sua família; a<br />

senzala, local que abrigava os escravos; a capela, o<br />

engenho propriamente dito e as moradias de agrega<strong>do</strong>s e<br />

de homens livres que viviam nos <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> senhor e<br />

34


prestavam diversos serviços, como registro contábil e<br />

controle e fiscalização <strong>do</strong> trabalho escravo.<br />

A autoridade <strong>do</strong> senhor de engenho se fazia sentir não<br />

apenas sobre os seus familiares, mas também sobre os<br />

agrega<strong>do</strong>s e a massa de escravos.<br />

As relações de dependência de to<strong>do</strong>s em relação ao<br />

grande proprietário conferiam a essa sociedade um<br />

caráter patriarcal. Era ele, senhor de engenho, quem<br />

garantia os recursos financeiros para a manutenção <strong>do</strong>s<br />

serviços necessários à comunidade (construção, reforma<br />

e preservação de igrejas, atendimento na área de saúde,<br />

entre outros).<br />

A reprodução dessa estrutura patriarcal era garantida<br />

pelo direito de primogenitura: apenas ao filho mais velho<br />

<strong>do</strong> senhor de engenho cabia o direito de herança. To<strong>do</strong>s<br />

os demais membros da família, agrega<strong>do</strong>s e escravos se<br />

mantinham na mais estrita dependência <strong>do</strong> senhor de<br />

engenho. Uma das consequências dessa<br />

dependência/<strong>do</strong>minação foi o estabelecimento de uma<br />

estreita rede de proteção e de favores. Esse clientelismo,<br />

particularmente em zonas rurais de várias regiões<br />

brasileiras, perpetuou-se através <strong>do</strong>s tempos e, mesmo<br />

em menor escala, ainda hoje persiste. Seus<br />

des<strong>do</strong>bramentos são perceptíveis até mesmo na esfera<br />

política.<br />

No início <strong>do</strong> século XVIII, o religioso André João<br />

Antonil, em seu livro Cultura e Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

percebeu a <strong>do</strong>minação patriarcal inerente à sociedade<br />

açucareira e a importância dada ao “ser senhor de<br />

engenho”:<br />

“O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram,<br />

porque traz consigo o ser servi<strong>do</strong>, obedeci<strong>do</strong> e respeita<strong>do</strong><br />

de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal<br />

(homem que possui riquezas) e governo, bem se pode<br />

estimar no <strong>Brasil</strong> o ser senhor de engenho, quanto<br />

proporcionadamente se estimam os títulos entre os<br />

fidalgos <strong>do</strong> reino”.<br />

ANTONIL, André João. Cultura e Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 3. ed. Belo Horizonte:<br />

Itatiaia, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2982. p. 89.<br />

No século XX, a estrutura social <strong>do</strong> engenho foi estudada<br />

de forma inova<strong>do</strong>ra pelo soci6logo Gilberto Freyre<br />

(1900-1987). Segun<strong>do</strong> ele, o patriarcalismo, a <strong>do</strong>minação<br />

e a violência que caracterizaram as relações sociais no<br />

<strong>Brasil</strong> Colônia foram amenizadas pela miscigenação,<br />

pela “cordialidade” e pela tolerância moral.<br />

Em sua obra Casa-Grande e Senzala, publicada em 1933,<br />

Gilberto Freyre procurou compreender a dinâmica dessa<br />

sociedade patriarcal por meio <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das crenças,<br />

festas, tradições e <strong>do</strong>s costumes <strong>do</strong> mosaico étnico que a<br />

constituiu, salientan<strong>do</strong> que a miscigenação deu a ela um<br />

caráter único e diverso:<br />

“considerada de mo<strong>do</strong> geral, a formação brasileira tem<br />

si<strong>do</strong>, na verdade, (...) um processo de equilíbrio de<br />

antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura.<br />

A cultura européia e a indígena. A européia e a africana.<br />

A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril.<br />

A agrária e a mineira. O católico e o herege, o jesuíta e o<br />

fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O<br />

paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O<br />

grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabeto.<br />

Mas pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> sobre to<strong>do</strong>s os antagonismos, o mais<br />

geral e o mais profun<strong>do</strong>: o senhor e o escravo. É verdade<br />

que agin<strong>do</strong> sempre entre tantos antagonismos<br />

contundentes, amortecen<strong>do</strong>-lhes o choque ou<br />

harmonizan<strong>do</strong>-os, condições de confraternização e de<br />

mobilidade social peculiares ao <strong>Brasil</strong>: a miscigenação,<br />

(...) a fácil e frequente mudança de profissão e de<br />

residência, o fácil e frequente acesso a cargos e a<br />

elevadas posições políticas e sociais de mestiços e de<br />

filhos naturais, (...) a tolerância moral, a hospitalidade a<br />

estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes<br />

zonas <strong>do</strong> país.”<br />

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,<br />

1950. v. 1. p.170-171.<br />

Em relação aos escravos da região açucareira, que<br />

desempenhavam as mais diversas atividades (preparo da<br />

terra, plantio e corte da cana-de-açúcar, transporte desta<br />

até os engenhos, atividades inerentes ao fabrico <strong>do</strong><br />

açúcar, trabalhos <strong>do</strong>mésticos, etc.), o jesuíta Antonil<br />

ressaltou a importância deles para o conjunto da<br />

economia: “Os escravos são as mãos e os pés <strong>do</strong> senhor<br />

de engenho porque sem eles no <strong>Brasil</strong> não é possível<br />

fazer, conservar e aumentar fazendas nem ter engenho<br />

corrente”.<br />

Diversidade e <strong>do</strong>minação na região da<br />

mineração<br />

Durante o século XVIII, o centro de gravidade da<br />

economia colonial deslocou-se para as regiões Sudeste e<br />

Centro-Oeste em função da exploração <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong>s<br />

diamantes.<br />

Ao mesmo tempo, particularmente na Capitania de<br />

Minas Gerais, a economia se tornou mais diversificada<br />

com o desenvolvimento da agricultura, da pecuária, <strong>do</strong><br />

comércio e <strong>do</strong> artesanato.<br />

Tal diversificação contribuiu para a formação de uma<br />

sociedade pre<strong>do</strong>minantemente urbana, porém sem<br />

possibilidades reais de ascensão social, em especial para<br />

aqueles considera<strong>do</strong>s “desclassifica<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ouro”, ou seja,<br />

homens livres destituí<strong>do</strong>s de recursos.<br />

No entanto, é importante considerar que a vida urbana<br />

não teve início com a exploração <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong>s<br />

35


diamantes, durante o século XVIII. Desde o início <strong>do</strong><br />

processo coloniza<strong>do</strong>r, ainda no século XVI, vilas e<br />

cidades foram fundadas, essencialmente nas áreas<br />

litorâneas. Salva<strong>do</strong>r, por exemplo, foi fundada em 1549<br />

e, no princípio <strong>do</strong> século XVIII, era o maior centro<br />

urbano da Colônia. Contu<strong>do</strong>, a primazia acentuada da<br />

vida rural, principalmente nos séculos XVI e XVII,<br />

deixou em segun<strong>do</strong> plano a questão da urbanização. O<br />

pre<strong>do</strong>mínio da vida rural nos engenhos e nas fazendas de<br />

criação diminuiu a importância das cidades.<br />

Ao longo de to<strong>do</strong> o Perío<strong>do</strong> Colonial, diferente mente <strong>do</strong><br />

coloniza<strong>do</strong>r espanhol, não houve por parte <strong>do</strong><br />

coloniza<strong>do</strong>r português esforços no senti<strong>do</strong> de corrigir a<br />

paisagem natural — retificar o espaço geográfico. Pelo<br />

contrário, na América portuguesa não houve maior<br />

preocupação em se organizar o espaço urbano (projetos<br />

urbanísticos e arquitetônicos). As cidades coloniais<br />

brasileiras, em especial as que se desenvolveram nas<br />

áreas <strong>do</strong> garimpo, se caracterizaram pela sinuosidade e<br />

pela irregularidade <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> urbano, que acompanhava<br />

córregos e acidentes geográficos.<br />

Para o historia<strong>do</strong>r Sérgio Buarque de Holanda, as cidades<br />

da América portuguesa não resultaram de uma abstração<br />

por parte <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r, isto é, não houve um projeto de<br />

urbanização preconcebi<strong>do</strong>.<br />

As razões pelas quais isso ocorreu foram assim<br />

sintetizadas pelo historia<strong>do</strong>r:<br />

“A cidade que os portugueses construíram na América<br />

não é produto mental, não chega a contradizer o quadro<br />

da natureza, e sua silhueta se enlaça na linha da<br />

paisagem. Nenhum rigor, nenhum méto<strong>do</strong>, nenhuma<br />

previdência, sempre esse significativo aban<strong>do</strong>no que<br />

exprime a palavra ‘desleixo’ — palavra que o escritor<br />

Aubrey Bell considerou tão tipicamente portuguesa<br />

como ‘saudade’ e que, no seu entender, implica menos<br />

falta de energia <strong>do</strong> que uma íntima convicção de que<br />

‘não vale a pena’.”<br />

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 26. cd. São Paulo: companhia<br />

das Letras, 1995. p. 110.<br />

Sérgio Buarque observou também que “a construção de<br />

cidades foi o mais decisivo instrumento de <strong>do</strong>minação”.<br />

Afinal, nelas é que se implantaram os órgãos<br />

representativos <strong>do</strong> poder metropolitano que viabilizaram<br />

o controle, a fiscalização, a tributação, enfim, os<br />

instrumentos de poder da Coroa.<br />

Na sociedade da região das Minas Gerais havia uma<br />

porcentagem maior de homens livres, comparativamente<br />

à sociedade que se desenvolveu no Nordeste açucareiro,<br />

como revelam os da<strong>do</strong>s da população da capitania<br />

referentes ao ano de 1786:<br />

Fonte: FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da Memória; Cotidiano e trabalho da<br />

mulher em M. Gerais no século XVIII. R. de Janeiro: José Olympio, 1993. p.221.<br />

Nessa sociedade, pre<strong>do</strong>minantemente urbana, constituiuse<br />

uma elite formada por <strong>do</strong>nos de lavras e escravos,<br />

autoridades religiosas e militares, grandes comerciantes<br />

(inclusive traficantes de escravos) e por aqueles que<br />

ocupavam os altos cargos administrativos e que atuavam<br />

em consonância com os interesses da Coroa portuguesa.<br />

Outro aspecto marcante da diversidade existente entre as<br />

sociedades que se constituíram no Nordeste açucareiro e<br />

nas Gerais foi à existência de um expressivo grupo<br />

médio forma<strong>do</strong> por pequenos proprietários de terras,<br />

pequenos comerciantes, artesãos, artistas, profissionais<br />

liberais, funcionários de baixo escalão e oficiais de baixa<br />

patente, além de clérigos.<br />

Havia ainda uma massa de trabalha<strong>do</strong>res livres brancos,<br />

negros, índios e mestiços, que possuíam poucos recursos<br />

e que revelavam no seu cotidiano a pobreza e a miséria a<br />

que estava submetida a, maioria da população, em<br />

contraposição à opulência de uma minoria. Segun<strong>do</strong> a<br />

historia<strong>do</strong>ra Laura de Mello e Souza, essa massa de<br />

despossuí<strong>do</strong>s também fazia parte <strong>do</strong>s “desclassifica<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> ouro”.<br />

Quanto aos escravos, muitas eram as suas atividades na<br />

sociedade colonial. Nas Minas Gerais, por exemplo, nem<br />

to<strong>do</strong>s trabalhavam na extração <strong>do</strong> ouro e <strong>do</strong>s diamantes.<br />

Exerciam tarefas na construção de igrejas, residências,<br />

chafarizes, pontes e prédios públicos e trabalhavam<br />

também no comércio ambulante, Outros eram aluga<strong>do</strong>s<br />

por seus proprietários por tempo determina<strong>do</strong>, tanto para<br />

particulares quanto para a administração pública. Em<br />

razão da natureza de determinadas atividades, muitos<br />

deles circulavam livremente nas ruas e nas lavras,<br />

poden<strong>do</strong>, assim, auferir ganhos com os quais,<br />

eventualmente, compravam suas alforrias. Essa<br />

possibilidade era denominada “brecha urbana”.<br />

A luta diária pela sobrevivência obrigava também as<br />

mulheres forras (libertas) ou escravas a uma jornada de<br />

trabalho bastante árdua: eram criadas <strong>do</strong>mésticas,<br />

lavadeiras, parteiras, cozinheiras, <strong>do</strong>ceiras, tecelãs,<br />

costureiras, etc.<br />

36


população de Minas Gerais,68% de Pernambuco, 79% da<br />

Bahia e 64% <strong>do</strong> Rio de janeiro (...). Cativos trabalhavam<br />

nos campos, nos engenhos, nas minas, na casa-grande.<br />

Realizavam nas cidades tarefas penosas, no transporte de<br />

cargas, de pessoas, de dejetos malcheirosos ou na<br />

indústria da construção. Foram também artesãos,<br />

quitandeiros, vende<strong>do</strong>res de rua, meninos de reca<strong>do</strong>,<br />

etc.”<br />

FAUSTO, Bons. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de<br />

São Paulo, 1995. p. 58.<br />

A escravidão impregnou também os espaços urbanos no <strong>Brasil</strong> Colônia. Na<br />

pintura de Henry Chamberlain, elaborada no século XIX, vêem-se algumas<br />

atividades desempenhadas pelos chama<strong>do</strong>s “negros de ganho” (ou “escravos de<br />

ganho”), uma modalidade típica de exploração da mão-de-obra escrava no meio<br />

urbano. Essa modalidade pressupunha que o escravo pudesse circular nas vilas e<br />

cidades para executar determinadas tarefas, como a de carrega<strong>do</strong>res.<br />

Parte <strong>do</strong> fruto <strong>do</strong> trabalho de cozinheiras, <strong>do</strong>ceiras e<br />

quituteiras era comercializada nas ruas de vilas e cidades<br />

e nas lavras, locais onde se concentrava um grande<br />

número de trabalha<strong>do</strong>res. Essas mulheres eram<br />

denominadas “negras de tabuleiro”.<br />

Os recursos auferi<strong>do</strong>s com essa atividade eram<br />

destina<strong>do</strong>s ao pagamento de uma determinada quantia<br />

diária ao senhor, caso fossem escravas. No caso de<br />

mulheres forras, garantiam as condições mínimas de<br />

sobrevivência.<br />

No entanto, a atividade das “negras de tabuleiro” era<br />

condenada pelas autoridades locais, pois temia-se que<br />

essas mulheres, ao transitarem nas áreas de mineração,<br />

facilitassem o contraban<strong>do</strong> <strong>do</strong> ouro.<br />

A prostituição era outro recurso para a sobrevivência,<br />

mas que também era reprimi<strong>do</strong> com violência pelas<br />

autoridades. Muitos senhores utilizavam suas escravas<br />

para conseguir maior rendimento, obrigan<strong>do</strong>-as à<br />

prostituição. Outras vezes, eram as próprias mulheres<br />

escravas que, ten<strong>do</strong> que pagar diariamente uma<br />

determinada quantia ao seus senhores (essa quantia era<br />

chamada de “jornal”), é não conseguin<strong>do</strong> obter o total<br />

com a venda de tabuleiro, recorriam à prostituição com<br />

uma alternativa para complementar a quantia devida, A<br />

importância <strong>do</strong>s escravos para o conjunto da economia<br />

colonial foi, conforme se observou, decisiva para a<br />

formação da sociedade brasileira.<br />

A grande porcentagem de negros e mestiços em diversas<br />

regiões revela essa importância, conforme ressalta o<br />

historia<strong>do</strong>r Boris Fausto:<br />

“A significativa presença de africanos e afro-brasileiros<br />

na sociedade brasileira pôde ser constatada pelos<br />

Indica<strong>do</strong>res de população no fim <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial.<br />

Negros e mulatos representavam cerca de 75% da<br />

A resistência indígena à <strong>do</strong>minação no <strong>Brasil</strong><br />

Colônia<br />

Para os povos indígenas da América portuguesa, a<br />

violência da <strong>do</strong>minação imposta em função das<br />

necessidades <strong>do</strong> modelo de colonização da época<br />

mercantilista representou a destruição sistemática de seu<br />

universo cultural, material e espiritual. No início <strong>do</strong><br />

século XVI, no território que viria a se constituir no<br />

<strong>Brasil</strong>, existiam entre 5 e 6 milhões de “índios”,<br />

agrupa<strong>do</strong>s em várias nações, subdivididas em centenas<br />

de tribos.<br />

Embora a expressão “índios” esteja consagrada e tenha<br />

si<strong>do</strong> utilizada pelos europeus para designar a totalidade<br />

<strong>do</strong>s povos que viviam na América à época da expansão<br />

ultramarina, é preciso considerar que ela não traduz toda<br />

a complexidade social e a diversidade cultural desses<br />

povos.<br />

Como to<strong>do</strong> termo generalizante, a expressão “índios”<br />

camufla a identidade própria <strong>do</strong>s grupos humanos que<br />

viviam e que, em alguns casos, ainda vivem ria América.<br />

A perspectiva reducionista, generalizante e eurocêntrica<br />

acabou por se impor a partir <strong>do</strong> momento da chegada <strong>do</strong>s<br />

europeus. Por essas razões, os termos nações e povos<br />

indígenas também são utiliza<strong>do</strong>s.<br />

As relações entre brancos e índios<br />

No caso brasileiro, nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XVI,<br />

as relações entre “brancos” e “índios” foram<br />

relativamente amistosas. Isso se explica por que, naquele<br />

37


38<br />

momento, ainda não havia ocorri<strong>do</strong> a inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

no contexto <strong>do</strong> sistema colonial mercantilista.<br />

Com o avanço <strong>do</strong> processo coloniza<strong>do</strong>r, tanto o Esta<strong>do</strong><br />

português como a Igreja Católica passaram a se<br />

preocupar em evitar a escravização indígena.<br />

Em 1537, o papa Paulo III, por meio da Bula veritas ipsa<br />

e sob a justificativa de que os povos da América eram<br />

seres humanos como os outros homens e, portanto,<br />

“tinham alma”, declarou que os índios não poderiam ser<br />

escraviza<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong>, inclusive, direito à catequese e ao<br />

batismo.<br />

O Esta<strong>do</strong> português, por meio <strong>do</strong> Regimento, <strong>do</strong>cumento<br />

de 1548 que instituiu o Governo-Geral, legislou sobre a<br />

questão indígena, defenden<strong>do</strong> o direito <strong>do</strong>s povos às suas<br />

terras. No entanto, abriu-se uma perigosa exceção ao se<br />

autorizar o direito de escravização das tribos que se<br />

rebelassem contra os portugueses e não aceitassem a<br />

catequese. Tratava-se da chamada “guerra justa”. Ao agir<br />

dessa forma, a Coroa portuguesa simplesmente repetiu o<br />

modelo de <strong>do</strong>minação imposto pelos espanhóis.<br />

Na América espanhola, também se procurou legitimar a<br />

escravidão indígena. Para tal, elaborou-se um<br />

<strong>do</strong>cumento, em 1513, denomina<strong>do</strong> Requerimiento, no<br />

qual se afirmava que as terras da América pertenciam ao<br />

rei e ao papa. Esse <strong>do</strong>cumento, depois de traduzi<strong>do</strong>,<br />

deveria ser li<strong>do</strong> para os índios, exortan<strong>do</strong>-os a reconhecer<br />

o <strong>do</strong>mínio da Coroa e a aceitar a religião católica.<br />

Dependen<strong>do</strong> da reação <strong>do</strong>s índios, podia-se fazer contra<br />

eles a “guerra justa”, Com essa atitude, o governo<br />

espanhol acreditava estar legitiman<strong>do</strong> a escravidão<br />

indígena.<br />

De uma maneira geral, a visão <strong>do</strong>s europeus acerca <strong>do</strong>s<br />

povos indígenas foi marcada pela incompreensão e pelo<br />

preconceito. Documentos <strong>do</strong> século XVI, como textos de<br />

cronistas, revelam a intolerância e traduzem o<br />

eurocentrismo, reforçan<strong>do</strong>, desde um primeiro momento,<br />

a ideia de subalternidade da América e de seus<br />

habitantes.<br />

Em 1576, o cronista Pero de Magalhães Gândavo, em<br />

sua obra Trata<strong>do</strong> da Província <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, escreveu:<br />

“A língua que (os índios) usam toda pela costa é uma:<br />

ainda que em certos vocábulos difere em algumas partes;<br />

mas não de maneira que se deixem de entender (...).<br />

Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F,<br />

nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não<br />

tem Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem<br />

desordenadamente (...).”<br />

GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. Trata<strong>do</strong> da Província <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: INL/MEC. 1965.<br />

O não reconhecimento da pluralidade étnico-cultural<br />

levou Pero de Magalhães a negar a existência das<br />

manifestações espirituais <strong>do</strong>s indígenas, assim como das<br />

normas que regiam o seu cotidiano e da própria noção de<br />

autoridade.<br />

A historia<strong>do</strong>ra Laura de Mello de Souza, ao analisar as<br />

representações construídas pelos europeus ao longo <strong>do</strong>s<br />

séculos XVI e XVII sobre os povos indígenas, assim<br />

entendeu essa questão:<br />

“A percepção <strong>do</strong>s índios como uma outra humanidade,<br />

como animais e como demônios corresponde a três<br />

níveis possíveis através <strong>do</strong>s quais se expressaram as<br />

considerações européias acerca <strong>do</strong>s homens<br />

americanos.”<br />

MELLO E Souza, Laura de. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: Feitiçaria e<br />

Religiosidade no <strong>Brasil</strong> Colonial São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 56.<br />

A permanência <strong>do</strong>s estereótipos<br />

Ainda hoje, as representações elaboradas pelos “brancos”<br />

no <strong>Brasil</strong> sobre as populações indígenas são revela<strong>do</strong>ras<br />

da permanência de estereótipos e preconceitos diversos.<br />

É o que se pode perceber a partir da leitura <strong>do</strong> texto de<br />

José de Souza Martins:<br />

“No Mato Grosso, no Pará, em Goiás, no Tocantins,<br />

mestiços cristianiza<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s séculos referem-se<br />

aos índios seus vizinhos e, muito provavelmente, seus<br />

parentes, como ‘caboclos’. Longe <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> que os<br />

verbetes de dicionário dão a essa palavra, qual quer<br />

criança da região explica com facilidade, que a<br />

humanidade está dividida em ‘cristãos’ e ‘caboclos’,<br />

‘batiza<strong>do</strong>s’ e ‘não batiza<strong>do</strong>s’, ‘humanos’ e ‘não<br />

humanos’. Os habitantes desses sertões ainda usam as<br />

mesmas referências, para diferençar brancos de índios,<br />

que podem ser encontradas nas cartas Jesuíticas <strong>do</strong><br />

séculos XVI e XVII.”<br />

MARTINS, José de Souza. A vida privada nas áreas de expansão da sociedade<br />

brasileira. In: <strong>História</strong> da Vida Privada no <strong>Brasil</strong>: Contrastes da Intimidade<br />

Contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. v. 4. p. 660<br />

As missões jesuíticas<br />

Com a montagem da agromanufatura açucareira em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI, as relações entre os<br />

coloniza<strong>do</strong>res e os povos indígenas alteraram-se<br />

radicalmente. A tentativa de utilização da mão-de-obra<br />

nativa em larga escala na grande lavoura de exportação<br />

foi acompanhada de uma reorientação da política <strong>do</strong>s<br />

colonos: de uma relação relativamente amistosa, passouse<br />

a uma política de pura e simples escravização.<br />

Os conflitos intensificaram-se, e os aldeamentos<br />

jesuíticos, conheci<strong>do</strong>s como missões ou reduções,<br />

passaram a ser sistematicamente ataca<strong>do</strong>s. Índios já


converti<strong>do</strong>s ao catolicismo e mais integra<strong>do</strong>s ao<br />

costumes europeus que viviam nessas aldeias,<br />

administradas por padres jesuítas, tornaram-se as vítimas<br />

preferenciais <strong>do</strong>s colonos, num processo histórico que se<br />

reforçaria ainda mais na segunda metade <strong>do</strong> século XVII,<br />

devi<strong>do</strong> ao movimento bandeirante.<br />

Em relação às missões jesuíticas e à utilização <strong>do</strong><br />

trabalho indígena nestas, as historia<strong>do</strong>ras Ângela Botelho<br />

e Liana Maria Reis observaram:<br />

“Os índios das missões podiam trabalhar em suas<br />

próprias roças durante um mês, contanto que prestas sem<br />

serviços no mês seguinte aos senhores (missionários ou<br />

colonos) ou quan<strong>do</strong> necessário. To<strong>do</strong>s os indígenas, entre<br />

15 e 50 anos de idade, deveriam prestar esses serviços,<br />

executa<strong>do</strong>s de forma extenuante e sem respeito a horário<br />

de trabalho, poden<strong>do</strong> também ser castiga<strong>do</strong>s fisicamente.<br />

Muitos aldeamentos indígenas estabeleceram se próximo<br />

às vilas e povoa<strong>do</strong>s de portugueses, facilitan<strong>do</strong> assim a<br />

catequese. A servidão era a maneira de extrair o máximo<br />

<strong>do</strong> índio e ‘civilizá-lo’, pelo trabalho, disciplina, respeito<br />

e aceitação <strong>do</strong>s valores culturais <strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res. Os<br />

bairros de São Miguel Paulista e Pinheiros, na atual<br />

cidade de São Paulo, São Lourenço, em Niterói, e<br />

Caucaia, em Fortaleza, foram aldeias indígenas que<br />

mantiveram esse tipo de relação com as classes<br />

<strong>do</strong>minantes coloniais.”<br />

BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico <strong>Brasil</strong>:<br />

Colónia e Império. Beto Horizonte: O Autor, 2001. p. 69.<br />

A inviabilidade da escravidão indígena<br />

No entanto, na perspectiva <strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res, a<br />

escravidão indígena revelou-se pouco eficaz,<br />

particularmente nas, áreas da grande lavoura de<br />

exportação, pelos seguintes fatores:<br />

• a fuga em massa de tribos inteiras das áreas litorâneas<br />

para regiões de difícil acesso no interior ou mesmo para<br />

a área amazônica, redundan<strong>do</strong>, não raramente, em<br />

conflitos intertribais;<br />

• o aumento <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s índios cativos, em função da<br />

resistência crescente estabelecida por estes ou pelo fato<br />

de se encontrarem em regiões cada vez mais distantes<br />

<strong>do</strong>s centros de produção;<br />

• a inadaptação ao regime de trabalho agrícola na grande<br />

lavoura, caracteriza<strong>do</strong> por processos repetitivos, por uma<br />

rígida disciplina, por méto<strong>do</strong>s opressivos, pela<br />

mercantilização das relações humanas e por sua natureza<br />

absolutamente sem senti<strong>do</strong> para os índios;<br />

• os interesses maiores da burguesia mercantil<br />

metropolitana no tráfico negreiro, uma vez que a<br />

utilização em larga escala da mão-de-obra africana na<br />

grande lavoura açucareira garantiria uma significativa<br />

acumulação de capital em suas mãos.<br />

Assim, a utilização da mão-de-obra escrava indígena<br />

limitou-se, ao longo <strong>do</strong> processo coloniza<strong>do</strong>r, às áreas<br />

econômicas secundárias, isto é, de economias menos<br />

prósperas e não diretamente inseridas nos circuitos<br />

mercantilistas de exportação.<br />

Entre elas, destacaram-se o vale amazônico, o ser tão<br />

nordestino, o extremo-sul e São Paulo, onde os poucos<br />

recursos financeiros inviabilizaram o uso de escravos de<br />

origem africana.<br />

A resistência indígena<br />

A resistência <strong>do</strong>s indígenas à escravidão e a luta pela<br />

posse de suas terras apresentaram momentos<br />

extremamente significativos, entre os quais destacaramse<br />

os descritos a seguir:<br />

• Guerra <strong>do</strong>s Tamoios — Também conhecida como<br />

Confederação <strong>do</strong>s Tamoios, foi o primeiro movimento de<br />

resistência que reuniu diversos povos indígenas contra os<br />

portugueses. Organiza<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI,<br />

colocou em perigo o <strong>do</strong>mínio da Coroa no Rio de Janeiro<br />

e em São Vicente. Tratou-se de uma coligação da qual<br />

participaram tupinambás, Goitacazes e aimorés. Os<br />

tamoios, termo que significa “o mais velho <strong>do</strong> lugar” e<br />

que, segun<strong>do</strong> alguns estudiosos <strong>do</strong> tema, não designa<br />

nenhuma tribo em especial, estimulada pelos franceses<br />

— que tinham interesse no <strong>do</strong>mínio da região —,<br />

lutaram pela posse de suas terras e contra a sua<br />

escravização. O conflito só terminou em 1563, após<br />

mediação <strong>do</strong>s padres jesuítas Manoel de Nóbrega e José<br />

de Anchieta e com o estabelecimento de um trata<strong>do</strong> de<br />

paz. Este foi desrespeita<strong>do</strong> pelos portugueses, que, em<br />

seguida, mataram mais de 2 mil índios e escravizaram<br />

mais de 4 mil.<br />

• Guerra <strong>do</strong>s Bárbaros — Também conhecida como<br />

Guerra <strong>do</strong> Açu, foi uma série de conflitos ocorri<strong>do</strong>s a<br />

partir de 1554 na Região Nordeste, envolven<strong>do</strong> os índios<br />

cariris, caripus, icós e janduís e os bandeirantes. No<br />

século XVII, em função <strong>do</strong> avanço sistemático da<br />

colonização, cerca de 15 mil indígenas resistiram à<br />

ocupação de suas terras nas capitanias <strong>do</strong> Ceará, <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Norte, da Paraíba e de Pernambuco. Somente<br />

em fins <strong>do</strong> século XVII as autoridades coloniais<br />

conseguiram reprimir definitivamente a resistência<br />

indígena nessas regiões. Os janduís foram extermina<strong>do</strong>s<br />

e as demais tribos escravizadas.<br />

39


• Guerra Guaranítica — Conflito ocorri<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> século XVIII (1753-1756) no extremo-sul, motiva<strong>do</strong><br />

pela recusa <strong>do</strong>s índios guaranis em aban<strong>do</strong>nar suas terras<br />

na região <strong>do</strong>s Sete Povos das Missões. Em 1750,<br />

Portugal e Espanha assinaram o Trata<strong>do</strong> de Madri, que<br />

estabeleceu a demarcação das terras disputadas pelos<br />

colonos das respectivas metrópoles. De acor<strong>do</strong> com o<br />

trata<strong>do</strong>, os portugueses sairiam em definitivo da região<br />

<strong>do</strong> Rio da Prata, onde haviam se estabeleci<strong>do</strong> após a<br />

fundação da Colônia <strong>do</strong> Sacramento em 1680. Em<br />

contrapartida, receberiam a região <strong>do</strong>s Sete Povos, na<br />

qual padres jesuítas espanhóis haviam aldea<strong>do</strong> índios<br />

guaranis. A resistência destes à entrega de suas terras fez<br />

com que as Coroas portuguesa e espanhola enviassem<br />

expedições militares para conter a reação indígena. Ao<br />

final, a resistência foi vencida e milhares de índios foram<br />

mortos e outros tantos tornaram-se escravos.<br />

Jean-Baptiste Debret, artista francês que viveu no <strong>Brasil</strong> no principio <strong>do</strong> século<br />

XIX, retratou, na obra Sinal de Combate, índios coroa<strong>do</strong>s no exato instante em<br />

que se preparam para a guerra. A resistência indígena foi uma constante durante<br />

to<strong>do</strong> o Perío<strong>do</strong> Colonial, apesar da supremacia bélica <strong>do</strong>s colonos.<br />

A resistência indígena atravessou os séculos e, ainda<br />

hoje, faz parte <strong>do</strong> cotidiano de lutas <strong>do</strong>s cerca de 300 mil<br />

índios que vivem no território brasileiro.<br />

A resistência hoje não é uma luta contra a escravização,<br />

embora, ocasionalmente, essa questão esteja presente.<br />

Trata-se, no entanto, de uma luta pela preservação de<br />

suas terras, permanentemente ameaçadas por posseiros,<br />

garimpeiros, madeireiros e empresas ligadas ao chama<strong>do</strong><br />

agronegócio, A luta é também pela preservação de sua<br />

identidade cultural, de seus costumes e de suas tradições,<br />

como se pode perceber por meio da leitura de um trecho<br />

da Carta de Princípios da Sabe<strong>do</strong>ria Indígena, <strong>do</strong>cumento<br />

elabora<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> século XX:<br />

“Há quinhentos anos chegaram os invasores vin<strong>do</strong>s de<br />

longe; de lá até hoje, tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u no lugar em que<br />

vivemos, muitos <strong>do</strong>s nossos foram dizima<strong>do</strong>s por<br />

<strong>do</strong>enças ou guerras. Se no início éramos 6 milhões, hoje<br />

somos 300 mil. De nós levaram e levam a madeira, o<br />

ouro e a própria terra. Nossa grande mãe chora de<br />

tristeza e choramos juntos com ela. Quan<strong>do</strong> vamos no rio<br />

e ele está sujo, quan<strong>do</strong> vamos na mata e ela não mais<br />

existe, quan<strong>do</strong> queremos falar com os espíritos e eles não<br />

mais respondem porque uma máquina passou na sua<br />

morada.<br />

Temos certeza que a ‘civilização’ que nos foi imposta foi<br />

uma civilização que não deu certo, não deu certo para o<br />

nosso povo, e agora temos certeza de que não deu certo<br />

para o homem branco. Nós, índios, ainda resistimos,<br />

mantemos nossas tradições, mantemos respeito à grande<br />

mãe natureza, por isso somos chama<strong>do</strong>s de selvagens e<br />

preguiçosos.<br />

Não compreendemos a sabe<strong>do</strong>ria de vocês, não<br />

entendemos uma sabe<strong>do</strong>ria que destrói a mata, polui os<br />

rios, mata os peixes. Não compreendemos uma sabe<strong>do</strong>ria<br />

que aban<strong>do</strong>na seus velhos, maltrata suas mulheres e<br />

crianças. Não compreendemos a ânsia <strong>do</strong> homem branco<br />

em <strong>do</strong>minar o seu irmão, a natureza e as forças <strong>do</strong><br />

universo. To<strong>do</strong> esse poder, todas as armas, por outro<br />

la<strong>do</strong>, não têm feito de vocês um povo feliz. Muitas<br />

<strong>do</strong>enças, muitas <strong>do</strong>res que seus sábios não podem curar,<br />

sabemos o remédio. Muitas pragas nas plantações de<br />

vocês, nossa sabe<strong>do</strong>ria poderá resolver.”<br />

Adapta<strong>do</strong> de: Carta de Princípios da Sabe<strong>do</strong>ria Indígena, Aprovada pelo Primeiro<br />

Encontro Nacional de Pajés. caros Amigos. 16. ed. São Paulo: Casa Amarela. jul.<br />

1998. p. 15.<br />

A resistência negra à <strong>do</strong>minação no <strong>Brasil</strong><br />

Colônia<br />

Assim como os povos indígenas, os africanos e os<br />

afrodescendentes resistiram, de forma contínua, ao<br />

processo de escravização a que foram submeti<strong>do</strong>s<br />

durante o Perío<strong>do</strong> Colonial.<br />

No continente africano, antes <strong>do</strong> processo expansionista<br />

europeu, os povos nativos estavam dividi<strong>do</strong>s em<br />

múltiplas etnias e se organizavam em clãs, tribos, remos<br />

e unidades políticas de natureza e dimensões variáveis. A<br />

diversidade cultural, linguística, espiritual e mesmo em<br />

relação às características físicas era muito grande.<br />

40


Em muitos casos, a guerra intertribal fazia parte <strong>do</strong><br />

cotidiano desses povos africanos e, não raramente, os<br />

prisioneiros tornavam-se cativos <strong>do</strong>s vence<strong>do</strong>res. Mais<br />

tarde, no contexto da montagem <strong>do</strong> sistema colonial na<br />

América, os europeus valeram-se dessa particularidade<br />

para a obtenção de escravos, que foram transferi<strong>do</strong>s na<br />

forma de merca<strong>do</strong>ria para várias partes <strong>do</strong> continente<br />

americano.<br />

Durante o século XV, as expedições portuguesas que<br />

seguiram a “rota oriental”, ou “périplo africano”,<br />

possibilitaram um crescente conhecimento <strong>do</strong> litoral e de<br />

vários <strong>do</strong>s povos com os quais entraram em contato, à<br />

medida que foram estabelecen<strong>do</strong> feitorias em pontos<br />

estratégicos <strong>do</strong> litoral.<br />

Já em 1482, na Guiné, costa ocidental da África, foi<br />

ergui<strong>do</strong> o primeiro entreposto português destina<strong>do</strong> à<br />

comercialização de escravos.<br />

Retira<strong>do</strong>s de seu espaço natural e trazi<strong>do</strong>s para o <strong>Brasil</strong> a<br />

partir <strong>do</strong> século XVI, os escravos africanos tornaram-se<br />

um elemento indispensável para o funcionamento <strong>do</strong><br />

sistema colonial, Força de trabalho básica nos engenhos,<br />

nas minas e em várias outras atividades econômicas,<br />

inclusive urbanas, os escravos garantiam uma alta<br />

rentabilidade para senhores de terra, grandes minera<strong>do</strong>res<br />

e outros proprietários.<br />

Os tumbeiros — denominação dada aos navios<br />

responsáveis pelo transporte <strong>do</strong>s negros para a América<br />

— não ofereciam as mínimas condições de higiene. Cada<br />

tumbeiro (ou navio negreiro) carregava, em média, entre<br />

400 e 600 pessoas (homens, mulheres e crianças) em<br />

porões sem ventilação.<br />

As chances de sobrevivência de todas essas pessoas<br />

estavam relacionadas a diversos fatores: extensão e<br />

duração da viagem (de 35 a 50 dias em média, ou de 5 a<br />

6 meses, quan<strong>do</strong> as condições de navegação eram<br />

desfavoráveis); suprimento de água e comida; condições<br />

climáticas; etc.<br />

Não há um consenso entre os historia<strong>do</strong>res sobre as<br />

perdas humanas geradas pelas precárias condições de<br />

viagem. Alguns afirmam que no século XVI a taxa<br />

média de perda de vidas pode ter chega<strong>do</strong> a 25%, numa<br />

época em que uma taxa que ficasse entre 5% e 15% era<br />

considerada aceitável. Cálculos aproxima<strong>do</strong>s indicam<br />

que, durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de vigência <strong>do</strong> tráfico<br />

(mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI a mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX),<br />

aproximadamente 400 mil morreram na travessia <strong>do</strong><br />

Atlântico.<br />

Os traficantes obtinham os escravos na África em troca<br />

de, basicamente, cavalos, aguardente, tabaco, zimbo<br />

(pequena concha extraída das praias <strong>do</strong> sul da Bahia),<br />

armas, entre outros artefatos, num negócio que envolvia<br />

também um exame detalha<strong>do</strong> das condições de saúde e<br />

das aptidões <strong>do</strong> escravo.<br />

Uma vez nos portos brasileiros (Recife, Salva<strong>do</strong>r, Rio de<br />

Janeiro, etc.), os traficantes aguardavam um determina<strong>do</strong><br />

tempo para que as “peças” (de nominação dada aos<br />

escravos que se destinavam ao merca<strong>do</strong>) se recuperassem<br />

da longa viagem.<br />

Afinal, não era apenas a qualificação, a idade e o sexo<br />

que influenciavam na cotação <strong>do</strong> cativo. A saúde e a<br />

aparência contavam muito no momento de se determinar<br />

o preço final de venda.<br />

Esse preço variou bastante no Perío<strong>do</strong> Colonial, porém<br />

os lucros gera<strong>do</strong>s eram bastante significativos, conforme<br />

se pode depreender da leitura <strong>do</strong>s versos a seguir:<br />

“Seiscentas peças barganhei<br />

— Que pechincha! — No Senegal!<br />

A carne é rija, os músculos de aço,<br />

Boa liga <strong>do</strong> melhor metal.<br />

Em troca dei só aguardente,<br />

Contas, latão — um peso morto!<br />

Eu ganho oitocentos por cento<br />

Se a metade chegar ao porto.”<br />

HEINE, Heinrich. In: BOSI, Alfre<strong>do</strong>. Dialética da Colonização. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Nos portos brasileiros, esses homens e essas mulheres e<br />

crianças recebiam nomes cristãos, em especial nomes<br />

bíblicos, o que contribuía para a perda de sua própria<br />

identidade.<br />

A resistência negra foi constante durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong><br />

de vigência da escravidão no <strong>Brasil</strong> e refletiu o<br />

inconformismo <strong>do</strong>s cativos com a sua situação. Como<br />

afirmou o professor Luiz Roberto Lopez: “o negro nunca<br />

aceitou a sua condição <strong>do</strong>cilmente”.<br />

“Humilha<strong>do</strong>, espezinha<strong>do</strong>, maltrata<strong>do</strong>, submeti<strong>do</strong> a<br />

vexames e até sadismo inimagináveis, como salgamento<br />

de feridas produzidas por chicotadas, castração, corte de<br />

seios, quebra de dentes a martelada e emparedamento<br />

vivo, o negro nunca aceitou sua condição <strong>do</strong>cilmente,<br />

como tantas vezes se propalou. Nas palavras de Arthur<br />

Ramos, foi bom trabalha<strong>do</strong>r e mau escravo, O negro<br />

41


eagiu sempre que pôde e como pôde: fugin<strong>do</strong>,<br />

assassinan<strong>do</strong>, rebelan<strong>do</strong>-se. Mostrou, enfim, por to<strong>do</strong>s os<br />

meios ao seu alcance, o quanto aquela situação não lhe<br />

servia.”<br />

repressivas, no contexto <strong>do</strong> movimento bandeirantista <strong>do</strong><br />

“sertanismo de contrato”. Símbolo da resistência negra, a<br />

data da morte de Zumbi é hoje considerada Dia da<br />

Consciência Negra (20 de novembro).<br />

LOPEZ, Luiz Roberto. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colonial. 2. ed. Porto Alegre: Merca<strong>do</strong><br />

Aberto, 1983. p. 43.<br />

Resistência negra: formas individuais e coletivas<br />

As formas de resistência ao trabalho escravo foram<br />

individuais ou coletivas. Elas se traduziram, no primeiro<br />

caso, em suicídios, abortos voluntários e automutilações.<br />

No segun<strong>do</strong> caso, elas assumiram a forma de revoltas<br />

(com ataques aos engenhos, incêndios de propriedades,<br />

assassinatos de senhores, etc), de fugas em massa e<br />

formação de quilombos.<br />

Os quilombos (ou mocambos) eram locais onde os<br />

escravos.se refugiavam. Geralmente, eram forma<strong>do</strong>s em<br />

lugares de difícil acesso, como matas fechadas ou regiões<br />

montanhosas, para dificultar o trabalho de recaptura <strong>do</strong>s<br />

escravos pelos capitães-<strong>do</strong>-mato.<br />

42<br />

Os quilombos podem ser entendi<strong>do</strong>s também como<br />

mecanismos por meio <strong>do</strong>s quais os africanos e os<br />

afrodescendentes recuperavam parcialmente a sua<br />

identidade cultural e espiritual, uma vez que estas eram<br />

severamente reprimidas pelos proprietários e pelas<br />

autoridades civis e religiosas da Colônia.<br />

Ao longo da colonização portuguesa, e mesmo após a<br />

independência (1822), organizaram-se quilombos em<br />

várias regiões <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, entre os quais os mais<br />

expressivos foram os seguintes:<br />

• Quilombo <strong>do</strong> Buraco <strong>do</strong> Tatu (século XVIII) —<br />

Organiza<strong>do</strong> próximo a Salva<strong>do</strong>r, na Bahia. Para garantir<br />

a sobrevivência, os quilombolas procuravam obter<br />

armas; munição e gêneros de primeira necessidade,<br />

assaltan<strong>do</strong> fazendas e viajantes. Foi destruí<strong>do</strong> em 1763.<br />

• Quilombo <strong>do</strong> Ambrósio (século XVIII) — Organiza<strong>do</strong><br />

em Minas Gerais, próximo às atuais cidades de Ibiá e<br />

Campos Altos. Forma<strong>do</strong> por mais de duas mil pessoas,<br />

com reis e rainhas, foi destruí<strong>do</strong> em 1759.<br />

• Quilombo de Palmares (século XVII) — Organiza<strong>do</strong><br />

na região da Serra da Barriga, no interior <strong>do</strong> atual esta<strong>do</strong><br />

de Alagoas. Por sua duração (entre 1630 e 1694), seu<br />

número de habitantes (segun<strong>do</strong> alguns historia<strong>do</strong>res,<br />

alcançou, aproximadamente, 20 mil habitantes) e por sua<br />

estrutura política e militar, pode ser considera<strong>do</strong> o mais<br />

importante de to<strong>do</strong> o Perío<strong>do</strong> Colonial. Dirigi<strong>do</strong><br />

inicialmente por Ganga-Zumba, mais tarde substituí<strong>do</strong><br />

por Zumbi, foi destruí<strong>do</strong> por sucessivas expedições<br />

Guerra <strong>do</strong>s Palmares, um álbum de quadrinhos basea<strong>do</strong><br />

em fatos da história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, está renden<strong>do</strong> polêmica<br />

antes da publicação. O roteirista Carlos Ferreira (Os<br />

Sertões, Kardec).<br />

Outra face da resistência foi a que se revelou no âmbito<br />

cultural, conforme assinalaram as historia<strong>do</strong>ras Ângela<br />

Botelho e Liana Reis:<br />

“As manifestações culturais coletivas também foram<br />

maneiras de expressar a rebeldia, preservan<strong>do</strong> danças,<br />

rituais fetichistas africanos, a capoeira e a música. A<br />

feitiçaria é considerada, por alguns historia<strong>do</strong>res, como a<br />

dimensão mais agressiva desta resistência, pois os<br />

cativos, pressupon<strong>do</strong> deter o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>,<br />

acreditavam poder controlar as atitudes de seus senhores<br />

e determinar sua morte. Feiticeiros e feiticeiras eram<br />

muito temi<strong>do</strong>s, e alguns chegaram a causar enorme<br />

insegurança às populações locais nos núcleos urbanos<br />

coloniais e, particularmente, na Capitania de Minas<br />

Gerais, durante o século XVIII. Da mesma forma, os<br />

batuques causavam receio entre os brancos e as<br />

autoridades coloniais, ao criarem um clima de<br />

sobrenatural.”<br />

BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico <strong>Brasil</strong><br />

Colônia e Império. Beto Horizonte: o Autor, 2001. p. 153.


A resposta <strong>do</strong>s escravos à <strong>do</strong>minação não se fazia apenas<br />

pela rebeldia, assassinato de feitores, fugas, quilombos<br />

ou suicídios. Uma vasta e nova historiografia mostra<br />

variadas formas de luta e negociação <strong>do</strong>s escravos por<br />

melhores condições de vida.<br />

A respeito das negociações, o historia<strong>do</strong>r Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

Saraiva, observou:<br />

“Os novos estu<strong>do</strong>s, entretanto, têm destaca<strong>do</strong> novas<br />

formas de resistência como a possibilidade de os<br />

escravos comprarem, ganharem ou negociarem suas<br />

alforrias; ou a possibilidade de montarem famílias e<br />

permanecerem liga<strong>do</strong>s a elas; ou ainda o direito a uma<br />

produção autônoma de alimentos (que poderiam<br />

inclusive ser vendi<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong>), entre outras.<br />

Tentan<strong>do</strong> resumir o que é impossível de ser resumi<strong>do</strong>: a<br />

escravidão era um sistema violento, mas mesmo com<br />

esta violência havia espaço para negociação. Este é O<br />

cerne das grandes discussões que hoje ocorrem nas<br />

grandes universidades <strong>do</strong> país acerca da escravidão.”<br />

SARAIVA, Luiz Fernan<strong>do</strong>. Da pesquisa à prova. In: NOSSA HISTÓRIA. São<br />

Paulo: Vera Cruz, ano 2, n. 21, jul. 2005. p. 82.<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

TEXTO 1 - MARCAS DE MORTE E VIDA<br />

Ubiratan Castro de Araújo<br />

Neste texto, o professor Ubiratan Castro de Araújo, da<br />

Universidade Federal da Bahia e, em 2004, presidente da<br />

Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura,<br />

analisou e decodificou a “arqueologia corporal” <strong>do</strong>s<br />

negros chega<strong>do</strong>s ao <strong>Brasil</strong>, compreenden<strong>do</strong> que “é<br />

preciso ver nossos tetravôs não apenas agrupa<strong>do</strong>s em<br />

denominações étnicas impostas pelo tráfico, mas como<br />

indivíduos, de corpo e alma”.<br />

Enquanto você lê o texto, reflita sobre a seguinte<br />

questão:<br />

Qual a diferença entre o “simbólico” e o “mercantil”<br />

existente nas marcas e nos sinais presentes nos<br />

corpos <strong>do</strong>s africanos que foram trazi<strong>do</strong>s para o<br />

<strong>Brasil</strong>?<br />

A ferro quente, no braço, ventre, peito ou ombro <strong>do</strong><br />

negro, a escravidão produziu marcas não cicatrizadas da<br />

história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, muito diferentes das “marcas da terra”<br />

no corpo <strong>do</strong> negro livre: aquelas trazidas da África como<br />

uma história de vida, inscritas nos acasos da luta ou nos<br />

festejos rituais.<br />

A identificação da nação de origem e a descrição de cada<br />

indivíduo que chegava ao <strong>Brasil</strong> se faziam pelas marcas e<br />

sinais no corpo, a partir de um olhar acostuma<strong>do</strong> ao<br />

tráfico de escravos, mas cujo senti<strong>do</strong> profun<strong>do</strong> escapava<br />

aos relatórios. Pelo olhar da escravidão, a cultura <strong>do</strong>s<br />

filhos d’África era irrelevante. Tu<strong>do</strong> o que contava era a<br />

epiderme, a embalagem <strong>do</strong> corpo.<br />

Nos homens, a grande maioria das marcas de<br />

identificação grupal eram escarificações (pequenas<br />

incisões simultâneas e superficiais na pele) produzidas<br />

em rituais de passagem à idade adulta, segun<strong>do</strong><br />

características de suas respectivas culturas. Em muitos<br />

casos, no entanto, encontram-se marcas individuais que<br />

são traços de uma vida. Há muitas cicatrizes de<br />

ferimentos provavelmente em combates e em caçadas ou<br />

demais atividades quotidianas.<br />

Entre as mulheres, muitas marcas correspondem a uma<br />

identidade grupal e resultam de cerimônias de iniciação<br />

na vida adulta e de iniciação religiosa, como o rosto<br />

pinta<strong>do</strong> de azul ou com riscos e traços azuis na face. Era<br />

comum também inscrever em seus corpos cicatrizes que<br />

formavam desenhos descritos como borda<strong>do</strong>s, para<br />

serem vistos e toca<strong>do</strong>s pelos mari<strong>do</strong>s no erotismo de suas<br />

intimidades.<br />

Mas além de sinais tribais ou de cicatrizes da luta pela<br />

vida, havia também os monogramas com que, já nos<br />

portos de embarque, se registrava na pele, com ferro<br />

quente, a merca<strong>do</strong>ria, vinculan<strong>do</strong> o escravo a um<br />

proprietário. Num mesmo corpo, o simbólico e o<br />

mercantil de uma escritura com diferentes registros: o<br />

<strong>do</strong>s que marcavam por amor - para crer, embelezar,<br />

integrar - e os que o faziam por cobiça, para violentar e<br />

possuir.<br />

ARAÚJO, Ubiratan Castra de. Viagem à escravidão. In: NOSSA HISTÓRIA. São<br />

Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 3, Jan. 2004. p. 80.<br />

TEXTO 2 - VIDA DE ESCRAVO<br />

Luiz Roberto Lopez<br />

As condições de vida e parte <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s escravos<br />

de origem africana, particularmente na agromanufatura<br />

açucareira, são examinadas no texto a seguir pelo<br />

professor Luiz Roberto Lopez.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Identifique duas passagens nas quais estão presentes<br />

o conceito de “coisificação” <strong>do</strong> ser humano, ou seja,<br />

a perda da condição humana.<br />

43


44<br />

O escravo africano típico <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colônia foi o da<br />

grande lavoura — pés e mãos <strong>do</strong> engenho, na clássica<br />

definição de Antonil (...).<br />

No vocabulário de Antonil, o escravo “<strong>do</strong>eito” estava<br />

sen<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> com base nos três “p”, a saber, pão, pau e<br />

pano. Quase um século depois, o bispo Azere<strong>do</strong><br />

Coutinho acrescentaria apenas que o senhor deveria<br />

tratar melhor o escravo por se tratar de um investimento.<br />

Jesuíta Antonil e bispo Azere<strong>do</strong> Coutinho: eis aqui a<br />

ótica daquela Igreja ligada à classe <strong>do</strong>minante.<br />

Nada era mais miserável <strong>do</strong> que a vida <strong>do</strong>s escravos <strong>do</strong>s<br />

latifúndios. Trabalhavam de sol a sol, vigia<strong>do</strong>s de cima<br />

pelo feitor, um <strong>do</strong>s poucos trabalhos assalaria<strong>do</strong>s da<br />

estrutura latifundiária. O escravo estava inteiramente<br />

sujeito ao tratamento que o senhor lhe queria dar. Vivia<br />

na senzala e era alimenta<strong>do</strong> com carne seca e uma xícara<br />

de farinha. Coloca<strong>do</strong> como peça de uma vasta<br />

engrenagem de produção, foi força<strong>do</strong> a se submeter a ela.<br />

Ante a menor falta, podia ser vítima de revoltante<br />

brutalidade (...).<br />

Viven<strong>do</strong> na miséria e trabalhan<strong>do</strong> até a exaustão, o negro<br />

se debilitava rapidamente, o que provocava decréscimo<br />

em sua capacidade de trabalho (...)”.<br />

LOPEZ, Luiz Roberto. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colonial 2. cd. Porto Alegre; Merca<strong>do</strong><br />

Aberto, 1983. p. 39-40.<br />

TEXTO 3 - A MULHER NO PERÍODO COLONIAL<br />

Mary Dei Priore<br />

O texto da historia<strong>do</strong>ra Mary Dei Priore proporciona<br />

uma reflexão acerca da condição feminina não apenas no<br />

Perío<strong>do</strong> Colonial, mas também nos dias atuais. Por meio<br />

de uma leitura atenta, podem-se conhecer os limites que<br />

foram impostos às mulheres pela Igreja, com a utilização<br />

<strong>do</strong> discurso sobre o uso <strong>do</strong>s corpos femininos e seus<br />

prazeres. O que hoje é considera<strong>do</strong> senso comum, na<br />

realidade foi historicamente construí<strong>do</strong> a fim de<br />

<strong>do</strong>mesticar a mulher no âmbito <strong>do</strong> casamento.<br />

Discriminação e <strong>do</strong>minação se fundiram e nos dão a<br />

dimensão da opressão exercida sobre os desejos e os<br />

espaços femininos.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. Como foi construída a imagem ideal de mulher?<br />

2. Como essa construção entrava em contradição com a<br />

realidade da maioria das mulheres <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colônia?<br />

A importação da metrópole de um discurso moraliza<strong>do</strong>r<br />

sobre o uso <strong>do</strong>s corpos Instala-se na Terra de Santa Cruz<br />

de par com o desejo de cristianização e difusão da fé<br />

católica, bem como com a ânsia <strong>do</strong> sistema mercantil de<br />

constituir contingentes populacionais que habitassem as<br />

novas terras.<br />

A ideia de adestrar a sexualidade dentro <strong>do</strong> casamento<br />

decorre <strong>do</strong> interesse de fazer da família o eixo Irradia<strong>do</strong>r<br />

da moral crista.<br />

Mas eis que falta à mulher ideal para casar, e a Igreja vai<br />

despender séculos de pregação para formar, fora das<br />

elites, uma mentalidade de (...) castidade para mulheres<br />

para quem certas noções como virgindade, casamento e<br />

monogamia eram situações pouco comuns, em<br />

contrapartida à realidade mais forte: a das dificílimas<br />

condições materiais e insegurança econômica na colônia,<br />

que ditava regras e costumes próprios (...).<br />

Mas será certamente a constituição da família, como eixo<br />

de difusão da fé católica, assim como o papel da mulher<br />

enquanto propaga<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> catolicismo, que irá inspirar os<br />

prega<strong>do</strong>res coloniais (...).<br />

O casamento era considera<strong>do</strong> elemento de equilíbrio<br />

social, e dentro dele, a ausência de paixão, a obediência e<br />

a subordinação da mulher. A Igreja, mais minuciosa,<br />

fabrica através <strong>do</strong>s manuais de confissão um saber sobre<br />

a sexualidade feminina no passa<strong>do</strong> (,..) para controlá-la e<br />

puni-la.<br />

A hipocrisia deste sistema normativo — que quer eleger<br />

um modelo ideal de mulher para implantar, com sucesso,<br />

a família e a fé católica na colônia, — explicita-se<br />

claramente nos processos que desvendam as formas de<br />

contravenção às leis civis e eclesiásticas.<br />

Quão Distantes da pregação erudita e religiosa não se<br />

encontravam as mulatas e negras forras e as brancas<br />

empobrecidas, todas mulheres livres a lutar contra as<br />

dificuldades <strong>do</strong> cotidiano. Ao discurso repetitivo sobre<br />

seus comportamentos, ou os que deveriam ter, elas<br />

respondiam com praticas tidas por desabusadas, mas<br />

apenas resultantes de condições materiais de vida. Ao<br />

“público escândalo” de tantos concubinatos e mancebias<br />

somavam-se filhos ti<strong>do</strong>s “por fragilidade da carne<br />

humana”, fora de qualquer laço conjugal.<br />

A maternidade, além de sentimento, cuida<strong>do</strong>s com filhos<br />

e trabalho de parto, era um laço que unia mães e filhas<br />

num mesmo ofício: o da prostituição, com a bênção da<br />

pobreza e a conivência de pais e mari<strong>do</strong>s. (...)<br />

Descoladas, portanto, de uma pregação religiosa que as<br />

fantasiava virtuosas e puras, as mulheres coloniais são<br />

mais filhas de Eva <strong>do</strong> que de Maria; mergulhadas nas<br />

asperezas <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico, ou nos ofícios de rua e<br />

da lavoura, acabam por elaborar, mesmo enquanto<br />

rascunhos <strong>do</strong>s modelos eruditos, regras e éticas próprias.<br />

DEI. PRIORE, Mary. A mulher na história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> São Paulo: contexto, 1988.<br />

p. 15-21.


TEXTO 4 - A REAÇÂO DOS ESCRAVOS<br />

Jaime Pinsky<br />

O texto <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Jaime Pinsky analisa a questão da<br />

resistência <strong>do</strong> negro à escravidão. Ele enfatiza a<br />

constituição <strong>do</strong>s quilombos como expressão maior dessa<br />

resistência, uma vez que estes resgatavam a condição de<br />

dignidade <strong>do</strong>s africanos e <strong>do</strong>s afro-americanos.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Por que o quilombo era a única maneira de o negro<br />

obter a sua “liberdade real”?<br />

O fato é que o negro não tinha “jeito” ou “espírito” de<br />

escravo. Aliás, ninguém tem. O próprio <strong>do</strong> ser humano é<br />

a liberdade e não a escravidão. De to<strong>do</strong> e qualquer ser<br />

humano, qualquer que seja sua cor, idade, religião, sexo,<br />

classe social ou convicção política.<br />

Para provar isto, no que se refere aos escravos, convém<br />

apresentar, de forma clara e objetiva, algumas das<br />

manifestações de inconformismo <strong>do</strong>s escravos<br />

relativamente à sua situação (..).<br />

Registros de fugas de escravos têm si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s em<br />

diversas partes <strong>do</strong> país, a partir <strong>do</strong> século XVII até às<br />

vésperas da Abolição. (...)<br />

Por que fugiam?<br />

Para alguns autores, porque não se conformavam com os<br />

maus-tratos a eles dispensa<strong>do</strong>s. Para outros, porque<br />

queriam gozar a liberdade por algum tempo embora<br />

saben<strong>do</strong> que acabariam sen<strong>do</strong> captura<strong>do</strong>s.<br />

Não cremos que seja possível limitar a fuga <strong>do</strong>s escravos<br />

sempre a essas razões. Se quisessem gozar de uma<br />

liberdade fugidia não tratariam de alterar seus nomes,<br />

deixar crescer ou raspar barbas e cabelo, buscar uma<br />

integração econômica em alguma vila próxima. Ou,<br />

como em muitos casos, aquilomban<strong>do</strong>-se.<br />

Não se pode negar que alguns negros fugi<strong>do</strong>s ficassem<br />

rondan<strong>do</strong> a fazenda de origem, a qual às vezes<br />

assaltavam para conseguir comida, roupa e até<br />

companhia. Há casos de escravos fugi<strong>do</strong>s, recaptura<strong>do</strong>s<br />

nas próprias senzalas de origem ao visitar suas<br />

namoradas ou tentan<strong>do</strong> convencê-las à fuga. Esse fujão<br />

ribeirinho acabava sen<strong>do</strong> pego com mais facilidade. Há<br />

também os que nunca mais foram resgata<strong>do</strong>s,<br />

refugian<strong>do</strong>-se em quilombos quase inexpugnáveis.<br />

O mais famoso deles foi ode Palmares, canta<strong>do</strong> em prosa<br />

e em verso como um momento heroico <strong>do</strong> negro<br />

brasileiro. Cremos que, além disso, as revoltas <strong>do</strong>s<br />

escravos se constituem em atos de dignidade humana.<br />

Palmares, por exemplo, chegou a se constituir em<br />

verdadeiro esta<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, com relações<br />

econômicas estáveis, estrutura socioeconômica<br />

estabelecida e contatos comerciais com vilas próximas,<br />

em pleno século XVII e com duração total de 67 anos,<br />

segun<strong>do</strong> se crê. E isto no Nordeste brasileiro, área das<br />

mais povoadas e desenvolvidas da colônia na época. (...)<br />

Um quilombo era um foco de negros livres numa<br />

sociedade que se baseava em relações sociais de caráter<br />

escravista. Era, pois, um mau exemplo para outros<br />

escravos e uma esperança concreta para os fugi<strong>do</strong>s.<br />

É importante perceber que a fuga não era, em si, a<br />

libertação <strong>do</strong> negro, uma vez que, via de regra, ele não<br />

tinha para onde ir. Sua cor de pele logo o denunciava —<br />

o negro era escravo até prova em contrário a falta de um<br />

trabalho o levava multas vezes a assaltar para sobreviver,<br />

sua captura era apenas uma questão de tempo. O<br />

quilombo tornava-se uma alternativa viável para ele, uma<br />

forma de conseguir não apenas uma intervenção<br />

passageira <strong>do</strong> brutal cotidiano, mas urna liberdade real.<br />

A destruição de um quilombo representava, portanto,<br />

uma luta contra a agitação subversiva, uma vez que<br />

negros livremente congrega<strong>do</strong>s constituíam-se num<br />

flagrante desafio ao regime vigente - to<strong>do</strong> ele articula<strong>do</strong><br />

com o sistema escravista.<br />

O objetivo <strong>do</strong> escravo em sua fuga era a liberdade<br />

definitiva. Ao sistema cabia evitar que isso ocorresse. E é<br />

claro que o escravo não fugia apenas porque e quan<strong>do</strong><br />

era submeti<strong>do</strong> a maus-tratos. Rebelava-se contra sua<br />

condição de escravo.<br />

PINSKY, Jaime. A Escravidão no <strong>Brasil</strong>. 7. ed. São Paulo: contexto, 1988. p. 58.<br />

TEXTO 5 - IGREJA E ESCRAVIDÃO<br />

Gentil Avelino Titton<br />

O texto <strong>do</strong> professor Gentil Avelino revela a posição da<br />

Igreja em relação à escravidão, um assunto pouco<br />

discuti<strong>do</strong> e muitas vezes obscuro. Sabe-se que a Igreja<br />

tentou criar um consenso a respeito da questão da<br />

escravidão africana justifican<strong>do</strong>-a. O jesuíta Antônio<br />

Vieira (1608-1697), autor de Os sermões, formulou a<br />

“teologia da transmigração” bastante característica <strong>do</strong>s<br />

missionários que entraram em contato com a instituição<br />

escravocrata.<br />

De acor<strong>do</strong> com Vieira, a África era comparada ao<br />

inferno, pois lá o negro era escravo de “corpo e alma”. Já<br />

o <strong>Brasil</strong> era compara<strong>do</strong> ao purgatório, onde o negro<br />

obtinha a libertação da alma pelo batismo e a entrada no<br />

céu com a morte. Ou seja, o céu era o lugar da definitiva<br />

libertação, evidentemente, depois da morte.<br />

45


Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Quais passagens <strong>do</strong> texto comprovam a tentativa de<br />

uma associação entre a moral cristã e a escravidão?<br />

A posição da Igreja frente à escravidão foi dupla: por um<br />

la<strong>do</strong> combateu vigorosamente em favor da liberdade <strong>do</strong>s<br />

índios; por outro, aceitou pacificamente a escravidão <strong>do</strong>s<br />

africanos importa<strong>do</strong>s para o <strong>Brasil</strong>.<br />

O presente estu<strong>do</strong> não aborda por inteiro o tema Igreja e<br />

Escravatura no <strong>Brasil</strong>. Aborda apenas a posição <strong>do</strong><br />

Síno<strong>do</strong> (assembléia de padres convocada por um bispo)<br />

da Bahia de 1707 - através das Constituições Primeiras<br />

<strong>do</strong> Arcebispa<strong>do</strong> da Bahia nele promulgadas — com<br />

relação aos escravos negros. Essas Constituições foram<br />

a<strong>do</strong>tadas posteriormente pelas demais dioceses<br />

brasileiras, de mo<strong>do</strong> que representam, de mo<strong>do</strong> geral, a<br />

atitude oficial da Igreja no século XVIII e grande parte<br />

<strong>do</strong> século XIX.<br />

As Constituições contêm cerca de 40 cânones (normas,<br />

regras especiais) que tratam especificamente <strong>do</strong>s<br />

escravos. Deles podemos tirar as seguintes conclusões<br />

com relação à posição da Igreja:<br />

1º) Quanto à escravatura em si: A Igreja a aceita como<br />

uma instituição legítima, como parte integrante da<br />

estrutura social <strong>do</strong> seu tempo.<br />

2º) Quanto ao tratamento <strong>do</strong>s escravos: A Igreja quer um<br />

tratamento bom <strong>do</strong>s escravos. Denuncia abusos no<br />

tratamento por parte <strong>do</strong>s senhores. Não são, porém,<br />

denúncias tão enérgicas como a dura realidade exigiria.<br />

Limitam-se as Constituições quase só a denunciar os<br />

abusos que impedissem o cumprimento <strong>do</strong>s deveres<br />

religiosos <strong>do</strong>s escravos, como o trabalho aos <strong>do</strong>mingos e<br />

dias santos.<br />

3º) Quanto à catequese <strong>do</strong>s escravos: É grande o<br />

empenho em catequizar os escravos e introduzi-los na<br />

Igreja pelo batismo. Devi<strong>do</strong> à sua rudeza, exige-se deles<br />

menos <strong>do</strong> que <strong>do</strong>s fiéis em geral.<br />

4º) Quanto à recepção <strong>do</strong>s sacramentos: A principal<br />

insistência é posta ao batismo. É pelo batismo que a<br />

pessoa é incorporada à Igreja. Daí a grande preocupação<br />

em trazer to<strong>do</strong>s os escravos ao batismo, após um mínimo<br />

de instrução na <strong>do</strong>utrina cristã. Defende-se o direito de<br />

os escravos contraírem matrimônio, contra os abusos <strong>do</strong>s<br />

senhores nesta matéria.<br />

Conclusão: A Igreja aceitou como legítima a instituição<br />

da escravatura <strong>do</strong>s negros. Não a questiona, considera-a<br />

elemento integrante da sociedade colonial.<br />

A Igreja não deixou, porém, de advogar um tratamento<br />

humano para o escravo. Contu<strong>do</strong>, esperar-se-ia da<br />

autoridade eclesiástica uma atitude mais vigorosa neste<br />

particular.<br />

A maior preocupação da Igreja - como transparece das<br />

Constituições Primeiras - estava em promover a<br />

catequização, embora não muito aprofundada, <strong>do</strong>s<br />

escravos; em integrá-los na Igreja, como membros dela,<br />

pelo batismo; em procurar dar-lhes toda a assistência<br />

religiosa possível; em denunciar, ao menos em parte, os<br />

abusos <strong>do</strong>s senhores.<br />

TITTON, Gentil Avelino. O Síno<strong>do</strong> da Bahia (1707) e o escravatura. [s.n.t.].<br />

TEXTO 6 - A INQUISIÇÃO NO BRASIL COLÔNIA<br />

Caio César Boschi<br />

Em alguns momentos <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Colonial, o Tribunal da<br />

Inquisição se transferiu para o <strong>Brasil</strong> a fim de<br />

empreender um minucioso levantamento das “mazelas<br />

espirituais” e da “devassidão moral” <strong>do</strong>s súditos de Sua<br />

Majestade portuguesa. Por meio de interrogatórios,<br />

torturas, técnicas de persuasão e terror, o Tribunal<br />

obtinha depoimentos que devassavam a intimidade <strong>do</strong>s<br />

colonos. Feitiçaria, discriminação racial, perversões<br />

sexuais e heresias foram denunciadas, confessadas e<br />

punidas pelas “visitações” que ocorreram na Bahia, em<br />

Pernambuco e em Belém <strong>do</strong> Grão-Pará (durante a década<br />

de 60 <strong>do</strong> século XVIII). O texto <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Caio<br />

César Boschi revela a atuação inquisitorial na Capitania<br />

de Minas Gerais e cita alguns <strong>do</strong>s “motivos De<br />

denúncia” que deveriam ser considera<strong>do</strong>s.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Explique a seguinte afirmação: “o controle social<br />

consolidava o <strong>do</strong>mínio colonial”.<br />

O cumprimento à norma disciplina<strong>do</strong>ra tridentina<br />

(referência às decisões <strong>do</strong> Concilio de Trento, no século<br />

XVI) de que cabia ao bispo a responsabilidade e o<br />

empenho em realizar as visitas diocesanas nem sempre<br />

podia ser respeita<strong>do</strong> (...).<br />

Dessa forma, no impedimento ou na impossibilidade de o<br />

titular <strong>do</strong> bispo proceder às visitas aqui relatadas, tal<br />

como previsto na legislação ordinária, elas se realizavam<br />

por intermédio <strong>do</strong> Vigário Geral ou de sacer<strong>do</strong>tes<br />

virtuosos e qualifica<strong>do</strong>s, criteriosamente escolhi<strong>do</strong>s pelos<br />

prela<strong>do</strong>s titulares (...).<br />

Transforman<strong>do</strong>-se, enquanto nelas permaneciam, em<br />

suprema autoridade eclesiástica das localidades nas quais<br />

46


se instalassem, esses visita<strong>do</strong>res deviam tu<strong>do</strong> observar,<br />

vigiar, anotar e punir (se fosse o caso), em relação a tu<strong>do</strong><br />

o que encontrassem no percurso de seus trajetos entre<br />

uma e outra freguesia, capelas, oratórios (...) e<br />

sacer<strong>do</strong>tes, bem como usos, costumes e comportamentos<br />

da população (...).<br />

A visita se iniciava com o seu anúncio à comunidade <strong>do</strong>s<br />

fiéis da freguesia na qual se desenvolveria. (...)<br />

O edital explicitava os parâmetros pelos quais a visita se<br />

pautaria: “em virtude de Santa Obediência e sob pena de<br />

excomunhão (...) man<strong>do</strong> a todas as pessoas (...) que<br />

souberem de peca<strong>do</strong>s públicos e escandalosos, venham<br />

perante mim denunciar em termo de vinte e quatro horas<br />

e para que o faça como convém ao serviço de Deus os<br />

admoesto para que a denunciação que fizerem não seja<br />

movida por ódio, vingança (...).<br />

Cada um <strong>do</strong>s Reveren<strong>do</strong>s lerá aos seus fregueses na<br />

missa os interrogatórios seguintes:<br />

1º - Se sabem ou ouviram dizer que alguma pessoa<br />

cometeu o gravíssimo crime de heresia (...), ten<strong>do</strong>,<br />

cren<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong> ou fazen<strong>do</strong> alguma coisa contra a nossa<br />

Santa Fé Católica em to<strong>do</strong> ou em algum artigo dela (...);<br />

2º - se alguma pessoa tem ou lê livros de hereges, ou<br />

quaisquer outros defesos sem licença da Sé Apostólica<br />

(...);<br />

4º- se sabem que alguma pessoa seja feiticeira, faça<br />

feitiços ou uso deles para crer bem ou mal, para ligar ou<br />

desligar, para saber coisas secretas ou adivinhas ou para<br />

outro qualquer efeito, invoque os demônios ou com eles<br />

tenha pacto (...);<br />

6º - se algum homem está casa<strong>do</strong> com duas mulheres<br />

vivas ou mulheres com <strong>do</strong>is mari<strong>do</strong>s, ainda que disso não<br />

haja fama;<br />

7º - Se algum clérigo de ordens sacras, religioso ou<br />

religiosa professa estão casa<strong>do</strong>s, ainda que não haja fama<br />

pública <strong>do</strong> caso (...);<br />

14º - Se alguma pessoa usa de alcovitar mulheres ou<br />

escravas para homens (...);<br />

23º - Se alguns estão prometi<strong>do</strong>s de casar e co-habitam<br />

como se fossem recebi<strong>do</strong>s em face de Igreja; (...)<br />

25º - se há alguma pessoa que seja acostuma da a comer<br />

carne em dias proibi<strong>do</strong>s sem legítima causa ou licença ou<br />

seja costumada a não ouvir missa ou jejuar nos dias de<br />

obrigação (...);<br />

34º - se há alguma pessoa que não se confessasse e<br />

comungasse na quaresma passada ou seja acostumada a<br />

trabalhar nos <strong>do</strong>mingos e dias santos;<br />

35º - se há algumas pessoas que não pagam às igrejas ou<br />

aos ministros delas os dízimos, primícias (parte das<br />

colheitas) e benesses inteiramente como são obrigadas<br />

(...);<br />

40º - e finalmente se sabem de qualquer peca<strong>do</strong> público e<br />

escandaloso nos venha dizer.<br />

Observa-se assim que os interrogatórios da visita<br />

diocesana cobriam um amplo e diversifica <strong>do</strong> elenco de<br />

delitos, passan<strong>do</strong> em revista toda a vida social e cristã de<br />

cada paróquia, tanto quanto possível sondan<strong>do</strong> a fun<strong>do</strong> a<br />

pureza da fé, da religião e <strong>do</strong>s costumes de cada igreja e<br />

freguesia visitadas. (...)<br />

Quer seja para revigorar a fé, quer para redenção e alivio<br />

<strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s, quer ainda para garantir a sua salvação e a<br />

proteção divina livran<strong>do</strong>-se da terrível excomunhão, o<br />

homem colonial, particularmente aquele que vivia em<br />

uma sociedade tão promíscua como a da região<br />

minera<strong>do</strong>ra, diante <strong>do</strong> tom ameaça<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s editais de<br />

visita, não titubeava em cumprir prontamente os<br />

ordenamentos prescritos naqueles termos. Apresentavase<br />

ao visita<strong>do</strong>r, reconhecia-se culpa<strong>do</strong> ao lhe confessar<br />

seus peca<strong>do</strong>s ou seus delitos, nem por isso se isentan<strong>do</strong><br />

de, naquela oportunidade, denunciar outros faltosos ou<br />

peca<strong>do</strong>res.<br />

Não se pode desprezar o fato de que era grande o<br />

interesse <strong>do</strong> inculpa<strong>do</strong> em assumir de imediato a<br />

responsabilidade pelos seus erros, dentre outros motivos<br />

porque a sua antecipação em parte poderia neutralizar o<br />

des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong> seu processo. (...)<br />

Aliás, não é irrelevante o caráter nítida mente<br />

fiscaliza<strong>do</strong>r dessas visitas, porquanto periodicamente<br />

elas percorriam e palmilhavam o território da capitania,<br />

conhecen<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> de perto a realidade de cada<br />

uma das freguesias, averiguan<strong>do</strong> e punin<strong>do</strong> delitos tanto<br />

de natureza espiritual como temporal.<br />

É no conjunto dessas características que elas se impõem<br />

como partícipes diretas da política coloniza<strong>do</strong>ra,<br />

principalmente, insista-se, ao exercerem um rígi<strong>do</strong> e<br />

contínuo controle sobre o corpo social da região, ou, em<br />

outras palavras, exercen<strong>do</strong> uma forma de controle social<br />

e das consciências que só fazia consolidar o <strong>do</strong>mínio<br />

colonial.<br />

BOSCHI, Caio César. As visitas diocesanas e a Inquisição na Colónia. In: Revista<br />

<strong>Brasil</strong>eira de <strong>História</strong>. n. 14. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, 1987. p. 152, 157,<br />

164-6.<br />

TEXTO 7 - A EXCEPCIONALIDADE DO<br />

ARTISTA<br />

Sylvio de Vasconellos<br />

O professor e arquiteto Sylvio de Vasconcellos foi<br />

durante muitos anos diretor <strong>do</strong> antigo Serviço <strong>do</strong><br />

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em<br />

Minas Gerais. O seu livro Vida e Obra de Antônio<br />

Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é uma referência<br />

47


48<br />

clássica sobre as manifestações artísticas <strong>do</strong> Barroco<br />

Mineiro no século XVIII. Ao prefaciar o livro <strong>do</strong><br />

professor e médico Tancre<strong>do</strong> Furta<strong>do</strong>, O Aleijadinho e a<br />

Medicina, Sylvio d Vasconcellos debate os mitos que<br />

foram cria<strong>do</strong>s em torno da vida e da obra <strong>do</strong> mestre e<br />

amplia a análise da relação existente entre o valor da<br />

obra e as condições em que foi executada.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Porque Antônio Francisco Lisboa não escapou aos<br />

enre<strong>do</strong>s fantasiosos?<br />

A problemática que envolve a vida e obra de Antônio<br />

Francisco Lisboa está longe de esgotar-se. A cada novo<br />

ângulo que se enfoque o artista e sua produção, detalhes<br />

desconheci<strong>do</strong>s se apresentam, dúvidas, interpretações e<br />

teorias. Seus trabalhos perduram no tempo como objeto<br />

de observações e análises. A personalidade, não.<br />

Carece de elementos concretos revela<strong>do</strong>res de sua<br />

integral configuração. A admiração <strong>do</strong>s contemporâneos<br />

e o carinho <strong>do</strong>s pósteros inclinam-se a descrevê-la<br />

acrescida de legendas e escamoteada <strong>do</strong> atuar quotidiano,<br />

prosaico, seu próprio fundamento.<br />

No geral, o homem, frente a vácuos de seu<br />

conhecimento, inventa. Preenche os hiatos de sua<br />

inteligência das coisas com sua imaginação. Abomina o<br />

desconhecer e fantasia. Exagera indícios ou elimina-os<br />

conforme circunstâncias. As grandes personalidades da<br />

história são vítimas constantes desse proceder humano.<br />

Todas elas são antagonicamente descritas como gênios<br />

incontestes ou imbecis completos. Ambiciosos de<br />

proveitos ou benfeitores da humanidade.<br />

Os artistas no geral escapam às descrições opostas.<br />

Limitam-se às conclusões que lhes atribuem genialidade<br />

e mera loucura. Por inofensivos e cria<strong>do</strong>res de beleza,<br />

merecem na maioria das vezes referências elogiosas. E<br />

respeito. Contu<strong>do</strong> é essa mesma tendência à apreciação<br />

benévola que leva à hipertrofia da excepcionalidade<br />

deles, invocada com o intuito de valorizá-los, embora<br />

muitas vezes prejudican<strong>do</strong>-os, por desfigurar-lhes a<br />

realidade.<br />

Antônio Francisco Lisboa não escapa, nem podia<br />

escapar, aos enre<strong>do</strong>s fantasiosos. As poucas informações<br />

sobre sua pessoa as ensejam.<br />

Há quem Insista em sua ignorância absoluta,<br />

pretenden<strong>do</strong> enfatizar seu talento. Outros, pelo contrário,<br />

esforçam-se por demonstrar sua erudição. Há quem o<br />

imagine boêmio e sociável, segun<strong>do</strong> padrões românticos.<br />

Outros o fazem irascível e austero, conforme modelos<br />

renascentistas. Existe sempre uma tendência de se ligar a<br />

excepcionalidade da obra à singularidade de seu autor,<br />

como se fossem imprescindíveis mutuamente. Como se a<br />

arte se engrandecesse em decorrência da tipologia <strong>do</strong><br />

artista.<br />

No caso de Antônio Francisco Lisboa se Impôs quase a<br />

admiração de seus trabalhos porque executa<strong>do</strong>s por um<br />

aleija<strong>do</strong>. Como se só por isso, em virtude de terem si<strong>do</strong><br />

executa<strong>do</strong>s por pessoa desprovida de de<strong>do</strong>s - e até de<br />

mãos, pés e braços como entendem alguns —, tivessem<br />

valor.<br />

A obra de Antônio Francisco Lisboa dispensa<br />

perfeitamente as muletas de seus males. Tivesse si<strong>do</strong> o<br />

artista, preto, branco, Apoio ou Quasímo<strong>do</strong> (nome <strong>do</strong><br />

personagem cria<strong>do</strong> por Vitor Hugo, na obra O Corcunda<br />

de Notre Dame), nenhuma dessas possibilidades<br />

modificaria a realidade criada por seu talento,<br />

acrescentan<strong>do</strong>-lhe ou diminuin<strong>do</strong>-lhe méritos.<br />

Antônio Francisco Lisboa não é um mito ou milagre.<br />

Antes de tu<strong>do</strong> é uma pessoa, um homem como os<br />

demais, com alegrias e tristezas, fome e fastio, saúde e<br />

enfermidade, infância e velhice, ódios e amores.<br />

Distingue-o o inexcedível talento mas, embora, talento<br />

humano.<br />

VASCONCEILOS, Sylvio. Prefácio. In: FURTADO, Tancre<strong>do</strong>. O Aleijadinho e<br />

o Medicina. Belo Horizonte: Centro de Estu<strong>do</strong>s Mineiros da UFMG, 1970. p. 11-<br />

3.<br />

TEXTO 8 - A DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA DOS<br />

POVOS INDÍGENAS DA TERRA BRASILIS<br />

Luiz Carlos VilIalta<br />

A heterogeneidade étnico-cultural <strong>do</strong>s povos indígenas<br />

que habitavam a Terra Braslis à época da chegada <strong>do</strong>s<br />

portugueses foi abordada pelo historia<strong>do</strong>r Luiz Carlos<br />

VilIalta no artigo “Uma Babel colonial”, publica<strong>do</strong> em<br />

março de 2004. Consideran<strong>do</strong>-se que as línguas faladas<br />

pelas comunidades indígenas eram — e, em muitos<br />

casos, continuam a ser — parte integrante de sua cultura,<br />

a reflexão proposta pelo historia<strong>do</strong>r é instigante ao<br />

revelar a diversidade linguística <strong>do</strong>s indígenas nas terras<br />

recém-ocupadas.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Em que medida este texto pode nos ajudar a romper<br />

com o senso comum de homogeneidade cultural <strong>do</strong>s<br />

povos indígenas à época da chegada <strong>do</strong>s portugueses?<br />

Desde o momento em que os portugueses puseram o pé<br />

(e a boca) na Terra <strong>Brasil</strong>is, eles se depararam com mais<br />

de 300 línguas indígenas. O idioma português travou


uma luta de resistência e assimilação por três séculos,<br />

enfrentan<strong>do</strong> culturas, dialetos africanos e muitas línguas:<br />

francês, holandês, espanhol, latim, inglês, italiano,<br />

tupinambá, nheengatu. (...)<br />

De início, os portugueses encontraram aqui uma<br />

verdadeira Babel indígena. Na costa brasileira e na bacia<br />

<strong>do</strong>s rios Paraná e Paraguai, os índios pertenciam ao<br />

tronco linguístico Tupi, que reúne os Guarani, ao sul, e<br />

os Tupi, na costa, que falavam o Tupinambá ou línguas<br />

afins, mas não idênticas. Na região central <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

encontravam-se as línguas Macro-jê.<br />

Eram tantas as línguas na bacia amazônica, que o célebre<br />

padre Antônio Vieira, em 1683, escrevia que “houve<br />

quem chamou o rio das Amazonas rio Babel”, o que lhe<br />

pareceu pouco “porque na Torre de Babel, como diz São<br />

Jerônimo, houve somente setenta e duas línguas, e as que<br />

se falam no rio das Amazonas são tantas e tão diversas,<br />

que se lhes não sabe o nome, nem o número”. Do contato<br />

entre missionários, índios Tupi missiona<strong>do</strong>s e<br />

acultura<strong>do</strong>s, e não-índios, surgiram as línguas gerais, ou<br />

seja, comuns a diferentes grupos, ten<strong>do</strong> como base a<br />

língua <strong>do</strong> tronco Tupi — a língua geral paulista (ou <strong>do</strong><br />

Sul) e a língua geral amazônica. Ao final <strong>do</strong> século<br />

XVII, os jesuítas e missionários de outras ordens<br />

difundiram, na Amazônia, o Tupinambá, fala<strong>do</strong> pelos<br />

índios da região que vai <strong>do</strong> litoral <strong>do</strong> Maranhão até a foz<br />

<strong>do</strong> Tocantins. O Tupinambá, sob a influência de outras<br />

línguas da área, e da ação <strong>do</strong>s caboclos, deu origem ao<br />

nheengatu, a língua geral amazônica.<br />

VILLALTA, Luiz Carlos. Unia Babel colonial. In: NOSSA HISTÓRIA. São<br />

Paulo: Vera Cruz, ano 1, n. 5, mar. 2004. p. 58.<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (UNIFENAS — MG) A sociedade açucareira está na<br />

base de formação da sociedade brasileira.<br />

Dentre as alternativas abaixo, assinale a que não se refere<br />

à sociedade da cana-de-açúcar <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial<br />

brasileiro:<br />

a) Sociedade agrária e escravista.<br />

b) Sociedade organizada em torno de um complexo<br />

forma<strong>do</strong> pela casa-grande, capela e senzala.<br />

c) Sociedade patriarcal, centrada no poder <strong>do</strong> chefe da<br />

família rural.<br />

d) Sociedade em que o senhor de engenho desfrutava<br />

<strong>do</strong> poder político, econômico e militar.<br />

e) Sociedade de grande mobilidade social, na qual era<br />

frequente passar de um grupo para o outro.<br />

02. (FCMMG) Leia o texto abaixo.<br />

“Se vamos à essência da nossa formação, veremos que<br />

na realidade nos constituímos para fornecer açúcar,<br />

tabaco, alguns outros gêneros, mais tarde, ouro e<br />

diamantes; depois algodão e, em seguida, café para o<br />

comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal<br />

objetivo, objetivo exterior, volta<strong>do</strong> para fora <strong>do</strong> país e<br />

sem atenção a considerações que não tossem o interesse<br />

daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a<br />

economia brasileiras.”<br />

PRADO JÚNIOR, caia. Formação da <strong>Brasil</strong> Contemporâneo. 13. ed. São Pauto:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1973. p. 25.<br />

O texto acima nos permite perceber:<br />

a) a transposição da estrutura social européia para as<br />

áreas de colonização ibérica na América.<br />

b) a articulação da colonização portuguesa na América<br />

com a questão da acumulação de capital na área<br />

central, isto é, na Europa Ocidental.<br />

c) a constituição de um forte merca<strong>do</strong> interno na área<br />

da colonização portuguesa, em decorrência da<br />

influência europeia.<br />

d) a relação existente entre a colonização espanhola na<br />

América e o processo de consolidação <strong>do</strong><br />

feudalismo na Europa Ocidental.<br />

03. (UFPE) Na opinião <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Caio Pra<strong>do</strong> Jr.,<br />

to<strong>do</strong> povo tem na sua evolução, vista à distância, um<br />

certo senti<strong>do</strong>. Este se percebe não nos pormenores de sua<br />

história, mas no conjunto de fatos e acontecimentos<br />

essenciais.<br />

Assinale a alternativa que corresponde ao “senti<strong>do</strong>” da<br />

colonização portuguesa no <strong>Brasil</strong>.<br />

a) A colonização se estabeleceu dentre os padrões de<br />

povoamento e expansão religiosa.<br />

b) A colonização foi um fato isola<strong>do</strong>, portanto uma<br />

aventura que não teve continuidade.<br />

c) A colonização foi o resulta<strong>do</strong> da expansão marítima<br />

<strong>do</strong>s países da Europa e, desde o seu início, constituise<br />

numa sociedade de europeus sem nenhuma<br />

miscigenação.<br />

d) A colonização portuguesa teve, desde ce<strong>do</strong>, o<br />

objetivo de criar um merca<strong>do</strong> nacional no <strong>Brasil</strong>.<br />

04. (PUC — MG) A família patriarcal foi o modelo de<br />

organização social <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colônia. Sobre ela, é correto<br />

afirmar, exceto:<br />

a) A esposa deveria acatar as ordens <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>,<br />

administrar a casa e educar cristãmente os filhos.<br />

b) O senhor poderia se servir sexualmente das escravas,<br />

consideradas “território <strong>do</strong> prazer”.<br />

49


50<br />

c) O primogênito dividia o poder com o pai, pois aos<br />

homens cabiam as posições de man<strong>do</strong>.<br />

d) As filhas eram educadas para reproduzir o papel da<br />

mãe como esposas servis e submissas.<br />

e) A autoridade suprema era <strong>do</strong> pai, a quem to<strong>do</strong>s<br />

deviam respeito, obediência e subordinação.<br />

05. (FUVEST — SP) Na engrenagem <strong>do</strong> sistema<br />

mercantilista de colonização <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, fez-se opção pela<br />

mão-de-obra africana porque o tráfico negreiro:<br />

a) contribuía para o apresamento indígena como<br />

negócio interno da Colônia.<br />

b) estimulava a utilização de mão-de-obra de fácil<br />

acesso e baixa rentabilidade econômica.<br />

c) atendia às pressões exercidas pelos ingleses em<br />

relação à troca da produção açucareira pelo<br />

fornecimento de negros.<br />

d) abria novo e importante setor <strong>do</strong> comércio para os<br />

merca<strong>do</strong>res metropolitanos.<br />

e) era elemento fundamental no processo de expansão<br />

econômica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno.<br />

06. (TJFMG) Leia o texto.<br />

“..consideram-se os senhores de engenhos a parte mais<br />

importante e de mais prestígio da população da Bahia:<br />

eles próprios se julgam a nobreza <strong>do</strong> país, e, por sua<br />

extraordinária riqueza, ocupam os primeiros postos nas<br />

milícias, as quais aqui são muito bem organizadas.<br />

[...] Como as milícias da cidade são constituídas pela<br />

gente melhor e mais rica da sociedade, muito concorrem<br />

para a manutenção da ordem, sen<strong>do</strong> tanto mais uteis <strong>do</strong><br />

que a policia, porque essa é impotente, age sem<br />

consequência, por falta de meios e por causa da grande<br />

quantidade de negros, que podem ser contrata<strong>do</strong>s para<br />

qualquer mau intuito.”<br />

SPIX & MARTIUS. Viagem pelo <strong>Brasil</strong>. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. v. 1. p.<br />

153.<br />

O trecho <strong>do</strong> relato <strong>do</strong>s viajantes Spix e Martius refere-se:<br />

a) à formação de contingentes militares<br />

profissionaliza<strong>do</strong>s por influencia da Guerra <strong>do</strong><br />

Paraguai.<br />

b) a generalização de exércitos particulares de jagunços<br />

que serviam aos senhores de engenho.<br />

c) ao embrião de uma estrutura paramilitar que ajudava<br />

no controle da ordem politica e social.<br />

d) ao recrutamento de grande número de escravos para<br />

integrar os contingentes policiais.<br />

07. (PUC-MG) A questão abaixo se refere à empresa<br />

agrícola açucareira no <strong>Brasil</strong>. NÃO é característica dessa<br />

produção colonial:<br />

a) Foi o capital flamengo que financiou o transporte,<br />

refinação e a comercialização <strong>do</strong> açúcar na Europa.<br />

b) As características da produção canavieira estavam<br />

de acor<strong>do</strong> com os objetivos da política mercantilista<br />

que vigorava na época.<br />

c) Portugal, sem condições econômicas, não poderia<br />

investir sozinho em tamanho empreendimento e, por<br />

isso, recorreu a empréstimos estrangeiros.<br />

d) Para alimentar e vestir a população estabelecida nos<br />

latifúndios, e promover o transporte, e mover os<br />

engenhos, foram introduzi<strong>do</strong>s colonos europeus.<br />

e) O cultivo da cana-de-açúcar passou a ser,<br />

praticamente, a única atividade econômica da<br />

colônia; a monocultura foi, portanto, uma das<br />

características dessa empresa agrícola.<br />

08. (Cesgranrio-RJ) Apesar <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio da<br />

agromanufatura açucareira na economia colonial<br />

brasileira, a pecuária e a extração das "drogas <strong>do</strong> sertão"<br />

foram fundamentais. A esse respeito, podemos afirmar<br />

que:<br />

a) ocorreu uma grande absorção da mão-de-obra<br />

escrava negra, particularmente na pecuária.<br />

b) a presença <strong>do</strong> indígena na extração das "drogas <strong>do</strong><br />

sertão" foi essencial pelo conhecimento da geografia<br />

da região Nordeste.<br />

c) por serem atividades complementares, a força de<br />

trabalho não se dedicava integralmente a elas.<br />

d) ambas forma responsáveis pelo processo de<br />

interiorização <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> colonial.<br />

e) possibilitaram o surgimento de um merca<strong>do</strong> interno<br />

que se contrapunha às flutuações <strong>do</strong> comércio<br />

internacional.<br />

09. (PUCCAMP – SP) No Perío<strong>do</strong> Colonial <strong>Brasil</strong>eiro, a<br />

implantação <strong>do</strong> trabalho escravo <strong>do</strong>s africanos deveu-se:<br />

a) ao desconhecimento de técnicas de produção<br />

agrícola pelos indígenas, à fácil adaptação <strong>do</strong> negro<br />

às condições de trabalho e à necessidade de ocupar o<br />

território.<br />

b) à passividade <strong>do</strong> negro, à facilidade de produzir<br />

tabaco e aguardente e à aceitação por parte <strong>do</strong>s<br />

jesuítas <strong>do</strong> trabalho compulsório.<br />

c) à pouca distância entre o <strong>Brasil</strong> e a África, à<br />

belicosidade <strong>do</strong>s grupos indígenas e ao desinteresse<br />

<strong>do</strong>s portugueses na produção agrícola.<br />

d) ao pequeno crescimento demográfico da Metrópole,<br />

à proteção <strong>do</strong>s indígenas nas missões jesuíticas e à<br />

facilidade de extração <strong>do</strong> ouro de aluvião.


e) à abundância de terra, à necessidade de produzir em<br />

alta escala um produto de grande aceitação no<br />

merca<strong>do</strong> europeu e à alta lucratividade <strong>do</strong> tráfico.<br />

10. (UECE) No ano de 1996, comemoraram-se os 300<br />

anos da morte de Zumbi, o líder maior <strong>do</strong> Quilombo de<br />

Palmares. Segun<strong>do</strong> as historia<strong>do</strong>ras Elza Nadai e Joana<br />

Neves, "o século XVI foi marca<strong>do</strong> por uma guerra sem<br />

tréguas aos quilombos de Palmares". Sobre a resistência<br />

negra à escravidão no <strong>Brasil</strong>, é correto afirmar que:<br />

a) a única vez em que os negros escravos se insurgiram<br />

contra a escravidão foi sob a liderança de Zumbi,<br />

que organizou a comunidade de Palmares.<br />

b) além das revoltas e <strong>do</strong>s quilombos, os escravos<br />

cometiam assassinatos, crimes, suicídios, mutilações<br />

e outras formas de resistir à condição de escravo.<br />

c) os quilombos, centros de resistência negra que se<br />

constituíam nos matos e nas florestas, não<br />

mantinham qualquer contato com as populações das<br />

vilas e reproduziam fielmente a estrutura social das<br />

tribos da África.<br />

d) com exceção <strong>do</strong> quilombo de Palmares, a única<br />

forma de resistência encontrada pelos escravos foi o<br />

sincretismo religioso, em que conseguiam praticar<br />

sua religião ancestral.<br />

11. (UESB-2009) O Catolicismo era a religião oficial <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> Colônia.<br />

Isso quer dizer que não só era prega<strong>do</strong> pelos padres e<br />

pratica<strong>do</strong> pelos colonos como “verdadeira” religião, mas<br />

também que desfrutava <strong>do</strong> reconhecimento e apoio <strong>do</strong><br />

poder publico. De fato, o Esta<strong>do</strong> português e a igreja<br />

católica atuaram uni<strong>do</strong>s na conquista temporal e<br />

espiritual da colônia. Um <strong>do</strong>s laços dessa união era o<br />

Padroa<strong>do</strong>. (TEIXEIRA,2000,p. 113).<br />

A analise <strong>do</strong> texto e os conhecimentos sobre o papel<br />

oficial da igreja católica na historia <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> permitem<br />

afirmar:<br />

A igreja católica e o Esta<strong>do</strong>, em Portugal, mantiveram-se<br />

uni<strong>do</strong>s ao condenarem a escravidão <strong>do</strong> negro e a<br />

comercialização de africanos realizada pelos traficantes<br />

europeus.<br />

a) A população local, durante a presença holandesa no<br />

nordeste brasileiro, no século XVII, converteu-se ao<br />

calvinismo protestante, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> o catolicismo<br />

oficial.<br />

b) O “Padroa<strong>do</strong>” deu a igreja Católica o controle sobre<br />

o exercício da religião oficial no <strong>Brasil</strong> colonial e<br />

monárquico e ao esta<strong>do</strong> o direito de intervir política<br />

e burocraticamente na instituição religiosa,<br />

submeten<strong>do</strong>-se aos seus interesses.<br />

c) A reunião de povos indígenas em aldeamentos deu<br />

aos missionários da igreja católica a oportunidade de<br />

destruir as suas crenças, apagan<strong>do</strong>-as da memória<br />

desses povos até os dias atuais.<br />

d) A Igreja Católica, após a Proclamação da Republica,<br />

continuou a exercer o poder político no <strong>Brasil</strong>,<br />

controlan<strong>do</strong> os registros de nascimentos, casamentos<br />

e óbitos de toda a população.<br />

12. Sobre a diversidade cultural na Bahia e suas relações<br />

com a religião oficial, é correto afirmar:<br />

01) O batismo força<strong>do</strong> <strong>do</strong>s africanos escraviza<strong>do</strong>s<br />

garantiu á igreja e ao Esta<strong>do</strong> o rompimento <strong>do</strong>s laços<br />

daqueles povos com suas raízes culturais.<br />

02) A presença de uma ‘religião oficial” não impediu a<br />

constituição de práticas religiosas populares de matriz<br />

africana e indígena, atualmente reconhecidas, entre<br />

outros, nos diferentes terreiros de can<strong>do</strong>mblé <strong>do</strong><br />

território baiano.<br />

03) O completo extermínio de povos indígenas no<br />

perío<strong>do</strong> colonial na Bahia, foi responsável pelo<br />

desconhecimento hoje existente sobre esses povos, no<br />

Esta<strong>do</strong>.<br />

04) A permanência das culturas <strong>do</strong>s diferentes povos<br />

indígenas, em outras regiões <strong>do</strong> país, atualmente,<br />

deve-se, entre outras razões, á remodelagem de suas<br />

tradições, fruto da influência da cultura urbana.<br />

05) O aprendiza<strong>do</strong> da língua portuguesa pelos africanos<br />

escraviza<strong>do</strong>s sob a orientação da igreja impediu a<br />

influência das línguas africanas no português fala<strong>do</strong> no<br />

<strong>Brasil</strong>.<br />

13. [...] a palavra Escravidão [...] não significa somente a<br />

relação <strong>do</strong> escravo para com o senhor; significa muito<br />

mais: a soma <strong>do</strong> poderio, influência, capital e clientela<br />

<strong>do</strong>s senhores to<strong>do</strong>s; [...] a dependência em que o<br />

comercio, a religião, a pobreza, a indústria, o parlamento,<br />

a Coroa, o Esta<strong>do</strong>, enfim se acham perante o poder<br />

agrega<strong>do</strong> da minoria aristocrática, em cujas senzalas<br />

centenas de milhares de entes humanos vivem<br />

embruteci<strong>do</strong>s e moralmente mutila<strong>do</strong>s pelo próprio<br />

regime a que estão submeti<strong>do</strong>s. (NABUCO. In: ALENCAR ET AL,<br />

1996, p. 201.).<br />

A análise <strong>do</strong> texto e os conhecimentos sobre o tema da<br />

escravidão permitem afirmar que seu autor, Joaquim<br />

Nabuco:<br />

51


01) Comunga com o pensamento da igreja, quanto ao<br />

fato de ser o negro escravo um ente sem alma e sem<br />

inteligência.<br />

02) Denuncia a escravidão como uma pratica danosa,<br />

que degrada não apenas o negro, mas, também, toda a<br />

sociedade imperial.<br />

03) Aprova como estadista, a manutenção da escravidão<br />

no <strong>Brasil</strong>, como único meio de fortalecer o Esta<strong>do</strong> e a<br />

Coroa.<br />

04) Considera que o poder e o status garanti<strong>do</strong>s á<br />

aristocracia agrária justificavam a manutenção da<br />

instituição da escravidão.<br />

05) Aconselha a Coroa a transformar os escravos em<br />

clientes, livres, porém dependentes <strong>do</strong>s senhores, para<br />

que estes tenham assegura<strong>do</strong> o retorno de seus<br />

investimentos.<br />

14. (UESB-2010.2) A questão registrada em “O que<br />

explica a utilização <strong>do</strong> africano como escravo, se no<br />

<strong>Brasil</strong> havia mão de obra indígena em disponibilidade?<br />

(NADA; NEVES, 1993, p. 37) pode ser compreendida a partir<br />

01) <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong>s arrendatários de engenhos em<br />

manter os índios como guias, no processo de<br />

desbravamento <strong>do</strong> sertão.<br />

02) da engrenagem da política econômica mercantilista<br />

estabelecida, em que o tráfico de africanos<br />

escraviza<strong>do</strong>s garantia a oportunidade de criação de<br />

um "novo setor no comércio colonial".<br />

03) da organização econômica da maioria das nações<br />

indígenas, que se apresentava estruturada para<br />

participar <strong>do</strong> comércio com a metrópole.<br />

04) da experiência demonstrada pelas populações da<br />

África Oriental nas etapas de produção e<br />

comercialização <strong>do</strong> açúcar no exterior.<br />

05) <strong>do</strong> projeto inicial <strong>do</strong>s coloniza<strong>do</strong>res de agregar<br />

experiências favoráveis as culturas indígenas e<br />

africanas na defesa <strong>do</strong> território colonial.<br />

52


III – REBELIÕES NATIVISTAS / NOVAS FRONTEIRAS<br />

A Revolta <strong>do</strong>s Beckman no Maranhão, 1684<br />

Em 1682, Portugal criou a Companhia O Comercio <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão para apoiar o desenvolvimento<br />

econômico <strong>do</strong> norte <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, especialmente pelo<br />

incentivo à lavoura canavieira. Em troca <strong>do</strong> monopólio<br />

<strong>do</strong> comercio da região com a metrópole por vinte anos, a<br />

empresa comprometia-se a fornecer, aos proprietários e<br />

mora<strong>do</strong>res escravos africanos – 500 por ano, pelo menos,<br />

ferramentas utensílios a gêneros de consumo. Na pratica<br />

eram de sua responsabilidade, sobretu<strong>do</strong> escravos, a<br />

companhia ainda fraudava os pesos a medidas, os preços<br />

<strong>do</strong>s produtos e a contabilidade de seus negócios.<br />

Ao invés <strong>do</strong> melhorar a situação agravou-se. A<br />

economia, especialmente a agricultura exporta<strong>do</strong>ra<br />

dependente da mão de - obra escrava desorganizou-se.<br />

Os proprietários irrita<strong>do</strong>s a descontentes reagiram contra<br />

a companhia. Lidera<strong>do</strong>s pelos irmãos Manuel e Tomás<br />

Beckman, importantes <strong>do</strong>nos de terras e de engenhos, Os<br />

maranhenses rebelaram-se em São Luís 24 <strong>do</strong> fevereiro<br />

de 1684. Assumiram o controle <strong>do</strong> governo local e<br />

exigiram o fechamento da companhia enquanto Tornas<br />

Beckman era envia<strong>do</strong> a Lisboa pare assegurar a<br />

fidelidade <strong>do</strong>s maranhenses a Coroa com a apoio <strong>do</strong><br />

outras ordens religiosas coma carmelitas e franciscanos<br />

determinaram a expulsão para a Bahia <strong>do</strong>s padres<br />

Jesuítas contrários a escravização indígena uma velha<br />

pratica <strong>do</strong>s colonos.<br />

Antes que pudesse espalhar-se por outras capitanias, a<br />

rebelião foi contida pelas autoridades <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Maranhão Presos e sumariamente julga<strong>do</strong>s os irmãos<br />

Beckman foram enforca<strong>do</strong>s, juntamente com, Jorge<br />

Sampaio, enquanto outros chefes eram condena<strong>do</strong>s a<br />

longas penas de prisão em compensação, a metrópole<br />

viu-se obrigada a reconhecer as erros da companhia<br />

mercantil, que perdeu seus privilégios a foi extinta em<br />

1685.<br />

A Guerra <strong>do</strong>s Emboabas, 1708-1709<br />

No fim <strong>do</strong> século XVII, bandeirantes paulistas<br />

descobriram ouro no atual esta<strong>do</strong> das Minas Gerais. A<br />

descoberta desencadeou uma corrida de centenas, a<br />

depois milhares, de pessoas para a região, vindas de<br />

Portugal e de diversas capitanias os paulistas que se<br />

proclamaram, pioneiros na descoberta das minas e com<br />

direitos preferenciais sobre elas encaravam essas pessoas<br />

como rivais. Como várias delas usavam botas <strong>do</strong> cano<br />

alto, passaram a se chamar de emboabas, palavra<br />

provavelmente derivada <strong>do</strong> tupinambá, ave de perna alta.<br />

A tensão entre paulistas e forasteiros tornou-se então<br />

insuportável. Em 1708, o português Manuel Nunes<br />

Viana, intitula<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r das minas a frente de uma<br />

tropa de emboabas, atacou a expulsou os paulistas <strong>do</strong><br />

Arraial de Sabará.<br />

No ano seguinte, os paulistas contra-atacaram na região<br />

<strong>do</strong> rio das Mortes. Fortaleci<strong>do</strong>s pelos reforços envia<strong>do</strong>s<br />

por Nunes Viana, os emboabas propuseram uma trégua e<br />

prometeram uma anistia aos adversários que se<br />

rendessem. Um desses grupos, de cerca de 300 homens,<br />

aceitou a proposta. Mas, ao se entregar as forças de<br />

Bento Amaral Coutinho, foi impie<strong>do</strong>samente chacina<strong>do</strong><br />

no capão da Traição.<br />

A brutalidade <strong>do</strong> massacre levou o governo <strong>do</strong> Rio <strong>do</strong><br />

Janeiro a intervir com mais vigor para pacificar” as<br />

Minas Gerais. Nunes Viana foi destituí<strong>do</strong> <strong>do</strong> qualquer<br />

autoridade e, ainda 1709, era criada a capitania de São<br />

Paulo e Minas <strong>do</strong> Ouro. Quanto aos paulistas, depois de<br />

algumas tentativas frustradas de vingança, uns aceitaram<br />

restituição de suas lavras a outros, movi<strong>do</strong>s pela<br />

incerteza e pela insegurança, tomaram novos rumos. A<br />

direção, preferida por eles foram os territórios <strong>do</strong> Centro-<br />

Oeste onde, anos mais tarde, se confirmaria a existência<br />

de ricas jazidas de ouro em várias localidades <strong>do</strong>s atuais<br />

esta<strong>do</strong>s de Goiás e Mato Grosso.<br />

A Guerra Mascates, 1710-1712<br />

Em 1769, por intermédio de uma carta régia, o governo<br />

português aprovou a elevação <strong>do</strong> Recife a categoria de<br />

vila. Tal decisão era ansiosamente esperada pelos<br />

comerciantes portugueses ali estabeleci<strong>do</strong>s. Os senhores<br />

<strong>do</strong> engenho que moravam em Olinda não gostaram da<br />

medida. Eles desprezavam as comerciantes, nos quais<br />

puseram o apeli<strong>do</strong> de mascates. Queriam que a cidade<br />

maurícia, como também era chamada o Recife,<br />

permanecesse sob as ordens da câmara de Olinda.<br />

Desde a ocupação holandesa o porto <strong>do</strong> Recife<br />

enriquecera como principal centro econômico e<br />

comercial de Pernambuco. Por meio dele, os<br />

comerciantes e financistas portugueses controlavam o<br />

fluxo de merca<strong>do</strong>rias que saíam e entravam na capitania,<br />

açúcar, e escravos principalmente. Fixavam preços,<br />

manipulavam o crédito ofereci<strong>do</strong> aos proprietários,<br />

tiravam grande proveito, enfim, <strong>do</strong> movimento<br />

econômico <strong>do</strong> Nordeste adquirin<strong>do</strong> agora autonomia<br />

Político- administrativa e desvinculan<strong>do</strong>-se de Olinda —<br />

de cuja câmara até então não podiam participar os<br />

mascates, na maioria reinóis, consolidavam sua<br />

53


54<br />

hegemonia sobre os mazombos, <strong>do</strong>nos de engenhos, aos<br />

quais emprestavam dinheiro.<br />

Julgan<strong>do</strong>-se traí<strong>do</strong>s pela coroa, os olindenses reagiram.<br />

Em 1716, depois de os mascates terem ergui<strong>do</strong> o<br />

pelourinho no Recife, os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> engenho promoveram<br />

um atenta<strong>do</strong> contra o governa<strong>do</strong>r Sebastião de Castro e<br />

Caldas. Foi a senha para a rebelião.<br />

Jean-Baptiste Debret (Imagem: Museu Histórico Nacional).<br />

Forças da aristocracia Olindense invadiram o Recife,<br />

derrubaram o pelourinho e puseram em fuga o<br />

governa<strong>do</strong>r.<br />

Alguns lideres da rebelião, como Bernar<strong>do</strong> Vieira de<br />

Melo e Leonar<strong>do</strong> Bezerra Cavalcanti, chegaram a propor<br />

a formação <strong>do</strong> um governo independente uma republica<br />

com governo próprio, como chamaram na época. A<br />

proposta não foi aceita, decidin<strong>do</strong> a maioria <strong>do</strong>s senhores<br />

olindenses pela manutenção da lealdade a Portugal. Mas<br />

fizeram exigências: anulação da autonomia <strong>do</strong> Recife,<br />

renegociação das dívidas <strong>do</strong>s proprietários junta aos<br />

comerciantes, residência obrigatória das autoridades em<br />

Olinda, exclusão <strong>do</strong>s mascates <strong>do</strong>s altos cargos <strong>do</strong><br />

governo da capitania.<br />

Em mea<strong>do</strong>s de 1711, os mascates retomaram a iniciativa<br />

da luta Reunin<strong>do</strong> boas somas de dinheiro, recrutaram<br />

solda<strong>do</strong>s, armazenaram mantimentos e armas e<br />

prepararam a contra-ataque as posições fortificadas <strong>do</strong>s<br />

olindenses em tome da vila. Os combates foram<br />

violentos e sangrentos. Com algumas centenas de<br />

vitimas, entre mortos e feri<strong>do</strong>s, a luta terminou depois de<br />

poucos meses de desgastes <strong>do</strong>s conten<strong>do</strong>res e pela<br />

intervenção <strong>do</strong> governo-geral da Bahia. Para desespero<br />

<strong>do</strong>s olindenses, o Recife conservou sua autonomia<br />

municipal.<br />

Com a nomeação <strong>do</strong> um novo governa<strong>do</strong>r. Felix<br />

Macha<strong>do</strong> de Men<strong>do</strong>nça, e com a promessa de anistia<br />

política, esperava-se a pacificação da capitania. Para<br />

impedir que o espírito de rebelião se difundisse por<br />

outras regiões da colônia o governo português ordenou<br />

severa punição judicial contra os senhores olindenses,<br />

responsabiliza<strong>do</strong>s pela revolta. Em 1712 saiu a relação<br />

<strong>do</strong>s condena<strong>do</strong>s a prisão e ao exílio, num total de 160<br />

pessoas, que também tiveram seus bens confisca<strong>do</strong>s.<br />

Vila Rica, 1720<br />

No inicio <strong>do</strong> 1720, chegou à região das minas a notícia<br />

da criação das Casas <strong>do</strong> Fundição pela Coroa portuguesa.<br />

Os minera<strong>do</strong>res sabiam o que isso significava: restrição a<br />

livre circulação de ouro em pó, obrigatoriedade de se<br />

fundir to<strong>do</strong> o ouro extraí<strong>do</strong> e cobrança <strong>do</strong>s quintos pelas<br />

mesmas fundições oficiais. Para piorar a situação,<br />

noticiava-se também a extinção das Ordenanças tropas<br />

formadas em grande parte por gente da terra. Com a<br />

medida, permaneciam apenas os regimentos <strong>do</strong>s<br />

Dragões, compostos e comanda<strong>do</strong>s por solda<strong>do</strong>s e<br />

oficiais portugueses.<br />

As reações não tardaram. Junto com manifestações de<br />

indignação das camadas mais altas contra impostos e<br />

monopólios, ficaram-se protestos a desordens na maioria<br />

das vilas e povoa<strong>do</strong>s mineiros, envolven<strong>do</strong> as camadas<br />

mais baixas da população. Aos poucos, a sentimento de<br />

insatisfação popular assumiu proporções de rebelião.<br />

Em junho de 1720, a revolta eclodiu era Vila Rica. Sob a<br />

liderança de Filipe <strong>do</strong>s Santos um pequeno minera<strong>do</strong>r<br />

português, cerca <strong>do</strong> dais mil manifestantes marcharam<br />

sobre Ribeirão <strong>do</strong> Carmo (atual Mariana), onde se<br />

encontrava a sede <strong>do</strong> governo de Minas. Exigiam a<br />

suspensão das decisões anunciadas, redução <strong>do</strong>s quintos<br />

e <strong>do</strong>s registros nas estradas e a concessão de anistia geral<br />

para to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s.<br />

O governo <strong>do</strong> conde de Assumar, no entanto, depois de<br />

simular a aceitação das exigências determinou a imediata<br />

repressão <strong>do</strong> momento para acabar com todas as<br />

desordens. Vila Rica foi retomada pelos Dragões já em<br />

agosto e os principais chefes rebeldes foram presos.<br />

Felipe <strong>do</strong>s Santos sofreu a pena mais cruel.<br />

Sumariamente enforca<strong>do</strong> seu corpo foi amarra<strong>do</strong> a cauda<br />

de um cavalo e arrasta<strong>do</strong> pelas ruas da vila.<br />

Novas fronteiras<br />

Em 1680, Dom Manuel Lobo, governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, fun<strong>do</strong>u a Nova Colônia <strong>do</strong> Santíssimo<br />

Sacramento, na margem direita <strong>do</strong> estuário Platino, em<br />

frente à cidade de Buenos Aires.<br />

As fronteiras da América Portuguesa se ampliavam, e<br />

não por acaso Interesses econômicos inspiravam essa<br />

ação militar: a burguesia mercantil portuguesa queria<br />

continuar a colocar no merca<strong>do</strong> portenho as manufaturas<br />

europeias — especialmente teci<strong>do</strong>s ingleses — e<br />

produtos brasileiros, como tabaco, açúcar e algodão.


Esse ativo comércio de contraban<strong>do</strong>, através <strong>do</strong> qual se<br />

recebia a prata peruana, era acoberta<strong>do</strong> legalmente pelo<br />

asiento, que fora suprimi<strong>do</strong> com a Restauração, em 1640.<br />

Os estancieiros gaúchos também tinham interesses na<br />

fundação da colônia, uma vez que queriam diminuir a<br />

concorrência platina aos seus couros no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

de Janeiro.<br />

Para o Esta<strong>do</strong> português, a Colônia <strong>do</strong> Sacramento era<br />

vista como um marco fronteiriço importante, pois<br />

permitiria o acesso às regiões minera<strong>do</strong>ras hispanoamericanas,<br />

através de Buenos Aires.<br />

Montava-se, na verdade, com a fundação um centro de<br />

contraban<strong>do</strong> anglo-português: também a burguesia<br />

inglesa queria chegar com seus manufatura<strong>do</strong>s,<br />

diretamente, ao merca<strong>do</strong> platino, rompen<strong>do</strong> o monopólio<br />

espanhol. A população de Buenos Aires, por sua vez,<br />

estava interessada em “furar” as rotas Santa Fé –<br />

Cór<strong>do</strong>ba – Men<strong>do</strong>za – Santiago - Valparaiso e Corrientes<br />

– Assunção – Potosí - Arica.<br />

Ameaçada cai sua política colonialista, a Espanha vai<br />

atacar e ocupar constantemente a colônia, a partir de<br />

1680 mesmo.<br />

A Coroa portuguesa desenvolve um grande esforço de<br />

colonização no extremo Sul, para acabar com o<br />

isolamento da Nova Colônia <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento,<br />

cujo povoa<strong>do</strong> luso mais próximo era Laguna, a 150-<br />

léguas. Em 1737, na entrada da lagoa <strong>do</strong>s Patos, é<br />

funda<strong>do</strong> o Forte <strong>do</strong> Rio Grande de São Pedro.<br />

Como a simples força militar de apoio fosse insuficiente,<br />

Dom João V financia, a partir de 1740, a vinda de 4 000<br />

açorianos, dan<strong>do</strong> a cada família um pequeno, lote de<br />

terra, armas, instrumentos de trabalho agrícola, sementes,<br />

alimentos e até vacas e cavalos.<br />

Entre as vilas que surgiram nessa área de ocupação tão<br />

original, de lavra <strong>do</strong> trigo e da vinha em pequenas<br />

propriedades destaca-se Porto <strong>do</strong>s Casais, atual Porto<br />

Alegre, às margens <strong>do</strong> rio Guaíba,<br />

Tu<strong>do</strong> isso favoreceu a ocupação <strong>do</strong> Rio Grande, “o<br />

Continente”. As estâncias gaúchas já se estendiam pelos<br />

vastos pampas. Mas a oeste, na margem esquerda <strong>do</strong> rio<br />

Uruguai, os jesuítas espanhóis voltavam a organizar suas<br />

reduções: nasciam os Sete Povos das Missões Orientais<br />

<strong>do</strong> Uruguai. Novos conflitos se anunciavam.<br />

A superação prática de Tordesilhas e os atritos entre<br />

colonos espanhóis portugueses levaram as coroas<br />

ibéricas a negociar trata<strong>do</strong>s de limites:<br />

Trata<strong>do</strong> de Lisboa (1681). Trata da devolução da<br />

Colônia <strong>do</strong> Sacramento ocupada pelos espanhóis no ano<br />

de sua fundação. O apoio da Inglaterra foi decisivo para<br />

55


56<br />

Portugal conseguir essa vitória diplomática. A saída das<br />

forças espanholas só se dá efetivamente em 1683.<br />

Trata<strong>do</strong>s de Utrecht (1713 e 1715)<br />

O primeiro é firma<strong>do</strong> com a França e decide que o rio<br />

Oiapoque seria reconheci<strong>do</strong> como limite natural entre a<br />

Guiana e a capitania <strong>do</strong> Cabo <strong>do</strong> Norte. O segun<strong>do</strong> trata<br />

da segunda devolução da Colônia <strong>do</strong> Sacramento e,<br />

obviamente, é assina<strong>do</strong> com a Espanha. Define-se que o<br />

“cerco” espanhol a Sacramento seria delimita<strong>do</strong> pela<br />

distância alcançada por uma bala de canhão, aciona<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

centro o povoa<strong>do</strong>. A colônia continuaria sen<strong>do</strong> uma<br />

“ilha” portuguesa cercada de espanhóis por to<strong>do</strong>s os<br />

la<strong>do</strong>s... A Inglaterra foi media<strong>do</strong>ra em ambos os trata<strong>do</strong>s.<br />

E obteve da Espanha os direitos de asiento e de navio de<br />

permiso (um navio por ano nos portos das colônias<br />

espanholas) — brecha no bloqueio comercial — no mar<br />

das Antilhas.<br />

Trata<strong>do</strong> de Madri (1750)<br />

Este trata<strong>do</strong> procurou considerar, pela primeira vez, a<br />

realidade americana, isto é, levar em consideração a<br />

ocupação efetiva realizada aqui. Alexandre de Gusmão,<br />

paulista membro <strong>do</strong> Conselho Ultramarino, defendeu<br />

vários princípios vitoriosos. Portugal recebia os Sete<br />

Povos e passava a Colônia <strong>do</strong> Sacramento para o<br />

<strong>do</strong>mínio espanhol. O principio <strong>do</strong> usucapião (ou<br />

utipossidetis, isto é, a terra pertence a quem a ocupa) foi<br />

utiliza<strong>do</strong> nos demais casos, assim como a demarcação<br />

por limites naturais. Rios e canais limítrofes teriam<br />

navegação comum e sempre se tentaria isolar as colônias<br />

americanas <strong>do</strong>s conflitos europeus. Portugal garantia o<br />

controle da maior parte da bacia Amazônica, enquanto<br />

que a Espanha controlava a maior parte da bacia <strong>do</strong><br />

Prata.<br />

Foi muito mais fácil aos sereníssimos reis ibéricos pôr<br />

termo às disputas passadas e futuras no papel <strong>do</strong> que<br />

acabar efetivamente com os conflitos e fazer cumprir o<br />

trata<strong>do</strong>. Os interesses no intercâmbio com o Prata, a<br />

Guerra Guaranítica, desenvolvida pelos missionários e<br />

índios <strong>do</strong>s Sete Povos contra os exércitos de Portugal e<br />

Espanha, onde se destacou o cacique Sepé Tiaraju, morto<br />

em 1752, e o envolvimento das coroas em campos<br />

opostos, na Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos, a partir de 1758,<br />

levaram à anulação das decisões de Madri.<br />

Trata<strong>do</strong> de Santo Ildefonso (1777)<br />

O expansionismo espanhol chegou até a ilha de Santa<br />

Catarina. Esse trata<strong>do</strong> a devolve a Portugal, fican<strong>do</strong> a<br />

Espanha com o Sacramento e com a região <strong>do</strong>s Sete<br />

Povos.<br />

Trata<strong>do</strong> de Badajoz (1801)<br />

Os gaúchos atacam os Sete Povos e expulsam os<br />

Jesuítas espanhóis. A nova situação de fato pede<br />

negociações. Este último trata<strong>do</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial é,<br />

praticamente, um retorno às resoluções de Madri.<br />

TEXTO 01<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

“No Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, Senhor, não há outro ouro<br />

nem prata mais que o sangue e o suor <strong>do</strong>s índios: o<br />

sangue se vende nos que cativam e o suor se converte no<br />

tabaco, no açúcar demais drogas que com os ditos índios<br />

se lavram e fabricam. Com este sangue e suor se medeia<br />

a necessidade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res; e com este sangue e com<br />

este suor se enche e enriquece a cobiça insaciável <strong>do</strong>s<br />

que lá vão governar (.. .) Desde o princípio <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>,<br />

entran<strong>do</strong> o tempo <strong>do</strong>s Neros e Dioclecianos, se não<br />

executaram em toda a Europa tantas injustiças,<br />

crueldades e tiranias como executou a cobiça e<br />

impiedade <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Maranhão,<br />

nos bens, no suor, no sangue, na liberdade, nas mulheres,<br />

nos filhos, nas vidas e sobretu<strong>do</strong> nas almas <strong>do</strong>s<br />

miseráveis índios. (...) A primeira causa de todas as<br />

opressões, trabalhos e misérias que padecem os<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Maranhão são os peca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dito Esta<strong>do</strong> e<br />

as injustiças e tiranias com que desde seu princípio foi<br />

conquista<strong>do</strong> e funda<strong>do</strong> contra todas as leis de Deus, da<br />

Igreja, da razão e ainda da mesma natureza.” (VIEIRA, A.,<br />

1954,p. 210e 211)<br />

TEXTO 02<br />

“As lutas sulinas, que haviam si<strong>do</strong> fundadas<br />

particularmente na disputa <strong>do</strong>s rebanhos, cria<strong>do</strong>s soltos, à<br />

lei da natureza, bastan<strong>do</strong> as invernadas para,<br />

temporariamente, agrupar os animais e prepará-los para<br />

as longas jornadas rumo ao Centro-Sul, mudam de<br />

caráter, aparecen<strong>do</strong> agora as lutas fundadas na disputa<br />

das pastagens, em que as estâncias se multiplicam e, com<br />

as estâncias, os arama<strong>do</strong>s, e com os arama<strong>do</strong>s, o<br />

corre<strong>do</strong>r. Uma população de aventureiros livres,<br />

recrutada principalmente nos tropeiros paulistas,<br />

mestiçada de sangue indígena, empobrecer-se-ia,<br />

gradativamente, no curso dessas transformações,<br />

deven<strong>do</strong> o gaúcho, agora, pagar pela sua alimentação, até


aí encontrada no ga<strong>do</strong> cimarrão, abati<strong>do</strong> à hora em que a<br />

fome acutilava o cavaleiro. Ban<strong>do</strong>s de gaúchos passam a<br />

gravitar em tomo de chefes naturais, os estancieiros, que<br />

se tornam comandantes militares, e lutam pelas<br />

pastagens, empurran<strong>do</strong> os limites e amplian<strong>do</strong> a<br />

campanha.” (WERNECI( SODRÉ, N, 1973, p. 1034)<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (Vunesp) “Nossa milícia, Senhor, é diferente da<br />

regular que se observa em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Primeiramente<br />

nossas tropas com que vamos à conquista <strong>do</strong> gentio<br />

bravo desse vastíssimo sertão não é de gente matriculada<br />

no livro de Vossa Majestade, nem obrigada por sol<strong>do</strong>,<br />

nem por pagamento de munição.”<br />

Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.<br />

De acor<strong>do</strong> com o autor da Carta, pode-se afirmar que:<br />

a) os bandeirantes possuíam tropas de mercenários,<br />

pagas pela metrópole, com o objetivo de exterminar<br />

indígenas.<br />

b) havia proibição oficial de capturar índios para a<br />

escravização, e os bandeirantes pretendiam evitar ser<br />

puni<strong>do</strong>s pelos colonos e pelos espanhóis.<br />

c) os exércitos portugueses, organiza<strong>do</strong>s na colônia,<br />

tinham a particularidade de serem compostos por<br />

indígenas especializa<strong>do</strong>s em destruir quilombos.<br />

d) algumas tribos indígenas ameaçavam a segurança<br />

<strong>do</strong>s colonos, e as bandeiras eram tropas<br />

encarregadas de transportar os nativos para as<br />

reduções religiosas.<br />

e) muitas das bandeiras paulistas eram constituídas por<br />

exércitos particulares, especializa<strong>do</strong>s em exterminar<br />

e capturar indígenas para serem escraviza<strong>do</strong>s.<br />

02. (UFRJ) “Cada ano, vêm nas frotas quantidade de<br />

portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas.<br />

Das cidades, vilas e recôncavos e sertões <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, vão<br />

brancos par<strong>do</strong>s e pretos, e muitos índios, de que os<br />

paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de<br />

pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e<br />

ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos<br />

de diversos institutos, muitos <strong>do</strong>s quais não têm no <strong>Brasil</strong><br />

convento nem casa.”<br />

ANTONIL, André João. Das pessoas que andam nas minas e tiram ouro <strong>do</strong>s<br />

ribeiros. In: Cultura e opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, 1711.<br />

A corrida <strong>do</strong> ouro às minas brasileiras, ocorrida nas<br />

primeiras décadas <strong>do</strong> século XVIII, proporcionou<br />

significativas mudanças na economia e na sociedade<br />

coloniais.<br />

Identifique duas importantes transformações ocorridas na<br />

sociedade colonial a partir <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> ouro, em Minas<br />

Gerais, no século XVIII.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

___________________________________________<br />

03. (UFC-CE) Leia o trecho abaixo.<br />

“Na mineração, como de resto em qualquer atividade<br />

primordial da colônia, a força de trabalho era<br />

basicamente escrava, haven<strong>do</strong>, entretanto, os interstícios<br />

ocupa<strong>do</strong>s pelo trabalho livre ou semi livre.”<br />

SOUZA, Laura de M. Desclassifica<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ouro: pobreza mineira no século<br />

XVIII. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990. p. 68.<br />

Com base neste trecho sobre o trabalho livre pratica<strong>do</strong><br />

nas áreas minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> colônia, é correto<br />

afirmar que:<br />

a) devi<strong>do</strong> à abundância de escravos no perío<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

apogeu da mineração, os homens livres conseguiam<br />

viver exclusivamente <strong>do</strong> comércio de ouro.<br />

b) em função da riqueza geral proporcionada pelo ouro,<br />

os homens livres dedicavam-se à agricultura<br />

comercial, viven<strong>do</strong> com relativo conforto nas<br />

fazendas.<br />

c) persegui<strong>do</strong>s pela Igreja e pela Coroa, os homens<br />

livres procuravam sobreviver à custa da mendicância<br />

e da caridade pública.<br />

d) sem condições de competir com as grandes<br />

empresas minera<strong>do</strong>ras, os homens livres dedicavamse<br />

à “faiscagem” e à agricultura de subsistência.<br />

e) em função de sua educação, os homens livres<br />

conseguiam trabalho especializa<strong>do</strong> nas grandes<br />

empresas minera<strong>do</strong>ras, obten<strong>do</strong> confortáveis<br />

condições de vida.<br />

04. (Vunesp) “As minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> se vão de dia em dia<br />

acaban<strong>do</strong>, como mostra a experiência; muitas delas já<br />

não dão nem para as despesas; antigamente [...] tirava-se<br />

tanto que só a capitania das Minas Gerais pagava <strong>do</strong>s<br />

direitos <strong>do</strong>s quintos cem arroubas de ouro to<strong>do</strong>s os<br />

anos”.<br />

COUTINHO, J. 1. da Cunha Azere<strong>do</strong>. Discurso sobre o esta<strong>do</strong> atual das minas <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, 1804.<br />

a) Aponte uma das causas <strong>do</strong> declínio da produção<br />

aurífera na região das Minas Gerais na época em que o<br />

texto foi escrito.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

57


______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

b) Indique duas consequências econômicas da atividade<br />

minera<strong>do</strong>ra para a colônia.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

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______________________________________________<br />

05. (UFV-MG)<br />

“O ouro brasileiro deixou buracos no <strong>Brasil</strong>, templos em<br />

Portugal e fábricas na Inglaterra.”<br />

Eduar<strong>do</strong> Galeano<br />

Explique de que forma os fatos conti<strong>do</strong>s na frase anterior<br />

estão relaciona<strong>do</strong>s historicamente.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

____________________________________________<br />

06. (UFRN) A Guerra <strong>do</strong>s Emboabas, a <strong>do</strong>s Mascates e a<br />

Revolta de Vila Rica, verificadas nas primeiras décadas<br />

<strong>do</strong> século XVIII, podem ser caracterizadas como:<br />

a) movimentos isola<strong>do</strong>s em defesa de ideias liberais,<br />

nas diversas capitanias, com a intenção de se<br />

criarem governos republicanos.<br />

b) movimentos de defesa das terras brasileiras que<br />

resultaram num sentimento nacionalista, visan<strong>do</strong> à<br />

independência política.<br />

c) manifestações de rebeldia localizadas que<br />

contestavam aspectos da política econômica de<br />

<strong>do</strong>minação <strong>do</strong> governo português.<br />

d) manifestações das camadas populares das regiões<br />

envolvidas, contra as elites locais, negan<strong>do</strong> a<br />

autoridade <strong>do</strong> governo metropolitano.<br />

07. (Unicamp-SP) No <strong>Brasil</strong> colonial, além da produção<br />

açucareira escravista, o historia<strong>do</strong>r Caio Pra<strong>do</strong> Júnior<br />

(em Formação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> contemporâneo) enumera outras<br />

atividades econômicas importantes, como, por exemplo,<br />

a mineração <strong>do</strong> século XVIII, que era também uma<br />

atividade voltada para o comércio externo.<br />

a) Caracterize a mineração no século XVIII em termos<br />

de região geográfica, organização <strong>do</strong> trabalho e<br />

desenvolvimento urbano.<br />

b) Cite e caracterize duas outras atividades econômicas<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> colonial que não eram voltadas para o comércio<br />

externo.<br />

08. (Fuvest-SP) As interpretações históricas sobre o<br />

papel <strong>do</strong>s bandeirantes nos séculos XVII e XVIII<br />

apresentam, de um la<strong>do</strong>, a visão desses paulistas como<br />

heróis e, de outro, como vilões. A partir dessa afirmação,<br />

discorra sobre:<br />

a) os bandeirantes como heróis, ligan<strong>do</strong>-os à questão das<br />

fronteiras.<br />

b) os bandeirantes como vilões, ligan<strong>do</strong>-os à questão <strong>do</strong>s<br />

índios.<br />

09. (UEA-AM) Foi criada uma Companhia de Comércio<br />

Monopolista para o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, com a<br />

obrigação de fornecer 500 escravos por ano, durante 20<br />

anos, aos colonos nortistas, para conciliar as duas<br />

posições: a <strong>do</strong>s colonos, que queriam escravos, e a <strong>do</strong>s<br />

jesuítas, que queriam impedir a escravização <strong>do</strong>s índios.<br />

Anote em seu caderno a afirmativa correta a respeito da<br />

Revolta de Beckman, no Maranhão:<br />

a) Ao insurgir-se contra o monopólio português, a<br />

Revolta de Beckman foi o primeiro movimento a<br />

pretender a independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

b) A reação portuguesa contra a Revolta de Beckman,<br />

com duas execuções, entre outras punições,<br />

evidencia o risco que o movimento representava<br />

para a manutenção <strong>do</strong> pacto colonial.<br />

c) A Revolta de Beckman foi um movimento localiza<br />

<strong>do</strong> no Maranhão, sem intenções separatistas,<br />

pretenden<strong>do</strong> a expulsão <strong>do</strong>s jesuítas e o<br />

cumprimento, pela Companhia privilegiada, <strong>do</strong>s<br />

objetivos para os quais foi criada.<br />

d) A Revolta de Beckman foi mais radical <strong>do</strong> que os<br />

movimentos <strong>do</strong> século XVIII, inclusive a<br />

Conjuração Mineira, porque chegou ao confronto<br />

violento.<br />

e) A Revolta de Beckman, embora se insurgisse contra<br />

a Companhia de Comércio, fazia parte de um<br />

movimento maior e mais geral <strong>do</strong> Norte para proibir<br />

missões religiosas que restringissem a escravização<br />

<strong>do</strong>s índios.<br />

10. (Fuvest-SP) A exploração <strong>do</strong>s metais preciosos<br />

encontra<strong>do</strong>s na América portuguesa, no final <strong>do</strong> século<br />

XVII, trouxe importantes consequências tanto para a<br />

colônia quanto para a metrópole. Entre elas,<br />

58


a) o intervencionismo regula<strong>do</strong>r metropolitano na<br />

região das Minas, o desaparecimento da produção<br />

açucareira <strong>do</strong> Nordeste e a instalação <strong>do</strong> Tribunal da<br />

Inquisição na capitania.<br />

b) a solução temporária de problemas financeiros em<br />

Portugal, alguma articulação entre áreas distantes da<br />

colônia e o deslocamento de seu eixo administrativo<br />

para o Centro-Sul.<br />

c) a separação e autonomia da capitania das Minas<br />

Gerais, a concessão <strong>do</strong> monopólio da extração <strong>do</strong>s<br />

metais aos paulistas e a proliferação da profissão de<br />

ourives.<br />

d) a proibição <strong>do</strong> ingresso de ordens religiosas em<br />

Minas Gerais, o enriquecimento generaliza<strong>do</strong> da<br />

população e o êxito no controle <strong>do</strong> contraban<strong>do</strong>.<br />

e) o incentivo da Coroa à produção das artes, o<br />

afrouxamento <strong>do</strong> sistema de arrecadação de<br />

impostos e a importação <strong>do</strong>s produtos para a<br />

subsistência diretamente da metrópole.<br />

11. (Covest-PE) Conquistar as terras brasileiras exigia de<br />

Portugal a superação de muitas dificuldades. Uma delas<br />

está vinculada à administração <strong>do</strong>s conflitos da colônia.<br />

A Guerra <strong>do</strong>s Emboabas, ocorrida durante o perío<strong>do</strong> da<br />

mineração, no século XVIII, evidencia essas<br />

adversidades, pois:<br />

a) resultou numa luta entre nativos de São Paulo e de<br />

Pernambuco.<br />

b) registrou a violência, entre portugueses, pela disputa<br />

acirrada das riquezas.<br />

c) estava relacionada com a busca de sucesso na<br />

mineração, o que afetava o setor administrativo.<br />

d) aconteceu por falta de interesse de Portugal para se<br />

impor politicamente na região.<br />

e) provocou mudanças na divisão da colônia e a busca<br />

de caminhos alternativos para se achar o ouro.<br />

12. (Unicamp-SP) O aprisionamento de indígenas pelos<br />

bandeirantes foi uma forma de obter mão de obra para a<br />

lavoura e para o transporte. No litoral, o preço <strong>do</strong>s<br />

indígenas era bem menor que o <strong>do</strong>s escravos negros - o<br />

que interessava aos colonos menos abona<strong>do</strong>s, O sistema<br />

de apresamento consistia em manter boas relações com<br />

uma tribo indígena e aproveitar seu esta<strong>do</strong> de guerra<br />

quase permanente com seus adversários, para convencela<br />

a lhes ceder os venci<strong>do</strong>s, os quais costumeiramente<br />

eram devora<strong>do</strong>s em rituais antropofágicos.<br />

MESCRAVIS, Laima. De bandeirante a fazendeiro. In: PORTA, Paula (org.).<br />

<strong>História</strong> da cidade de São Paulo a cidade colonial, 1554-1822, v. 1. São Paulo:<br />

Paz e Terra, 2O0~Lp. 17. Com adaptações..)<br />

a) O que foram as bandeiras?<br />

b) Por que o aprisionamento <strong>do</strong>s indígenas interessava<br />

aos bandeirantes e aos colonos?<br />

c) O que eram rituais antropofágicos?<br />

13. (Fuvest-SP) Podemos afirmar sobre o perío<strong>do</strong> da<br />

mineração no <strong>Brasil</strong> que:<br />

a) atraí<strong>do</strong>s pelo ouro, vieram para o <strong>Brasil</strong> aventureiros<br />

de toda espécie, que inviabilizaram a mineração.<br />

b) a exploração das minas de ouro só trouxe benefícios<br />

para Portugal.<br />

c) a mineração deu origem a uma classe média urbana<br />

que teve papel decisivo na independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

d) o ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou<br />

sua exploração.<br />

e) a mineração contribuiu para interligar as várias<br />

regiões <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e foi fator de diferenciação da<br />

sociedade.<br />

14. (UFPEL-RS) No decorrer <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial no<br />

<strong>Brasil</strong> os interesses entre metropolitanos e colonos foram<br />

se amplian<strong>do</strong>.<br />

“O descontentamento se agravou quan<strong>do</strong>, a 1º de abril de<br />

1680, a Coroa estabeleceu a liberdade incondicional <strong>do</strong>s<br />

indígenas, proibin<strong>do</strong> taxativamente que fossem<br />

escraviza<strong>do</strong>s. Além disso confiou-os aos jesuítas, que<br />

passaram a ter a jurisdição espiritual e temporal das<br />

aldeias indígenas. Visan<strong>do</strong> solucionar o problema da<br />

mão de obra para as atividades agrícolas <strong>do</strong> Maranhão, o<br />

governo criou a Companhia <strong>do</strong> Comércio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Maranhão (1682). Durante 20 anos, a Companhia teria o<br />

monopólio <strong>do</strong> comércio importa<strong>do</strong>r e exporta<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão e <strong>do</strong> Grão-Pará. Cabia—lhe<br />

fornecer 10 mil escravos africanos negros, à razão de 500<br />

por ano, durante o perío<strong>do</strong> da concessão outorgada.”<br />

AQUINO, Rubim Santos Leão de. Sociedade <strong>Brasil</strong>eira: uma história através <strong>do</strong>s<br />

movimentos sociais. 3. cd. Rio de Janeiro: Record, 2000.<br />

Pelos elementos mercantilistas, geográficos e<br />

cronológicos, o conflito inferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> texto foi a Revolta:<br />

a) <strong>do</strong>s Emboabas<br />

b) <strong>do</strong>s Mascates<br />

c) de Ama<strong>do</strong>r Bueno<br />

d) de Filipe <strong>do</strong>s Santos<br />

e) de Beckman.<br />

15. (UESB 2010.2) A Companhia de Comércio <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, que se insere no contexto da<br />

Revolta de Beckman, em 1684, se caracterizou como:<br />

59


01) Uma Companhia cuja formação e cujos interesses<br />

monopolistas prejudicavam os grandes proprietários<br />

e comerciantes <strong>do</strong> então Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, tanto<br />

pelos preços <strong>do</strong>s produtos, quanto pela<br />

irregularidade no envio de navios.<br />

02) Uma organização constituída por países europeus,<br />

que desempenhou, ao longo <strong>do</strong> século XVII, o papel<br />

de concilia<strong>do</strong>ra nas relações entre os Esta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> e <strong>do</strong> Maranhão.<br />

03) Uma organização criada pela sociedade colonial<br />

local, destinada a defender os interesses <strong>do</strong>s<br />

traficantes de escravos negros e indígenas, <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

Esta<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>do</strong> Maranhão.<br />

04) Um exemplo de organização comercial<br />

internacional, que investia seus lucros em benefício<br />

<strong>do</strong>s camponeses livres <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão.<br />

05) Uma Companhia que, nos séculos XVII e XVIII,<br />

monopolizou o comércio <strong>do</strong> norte da colônia com<br />

poderes que ultrapassavam as orientações <strong>do</strong>s<br />

governantes <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

>>Site:<br />

Cidades Históricas <strong>Brasil</strong>eiras<br />

<br />

Portal que convida você a viajar pelo passa<strong>do</strong> colonial e<br />

pelo presente majestoso das vilas e cidades mineiras.<br />

Traz a história <strong>do</strong>s mais importantes núcleos urbanos<br />

nasci<strong>do</strong>s com a mineração e várias informações e<br />

imagens sobre o patrimônio histórico reuni<strong>do</strong> nas cidades<br />

mineiras.<br />

Amplian<strong>do</strong> o Conhecimento<br />

>> Leitura:<br />

PRIORE, Mary.Del. Mulheres no <strong>Brasil</strong> colonial. São<br />

Paulo: contexto 2000.(coleção Repensan<strong>do</strong> a historia).<br />

Neste livro, a historia<strong>do</strong>ra Mary Del Priore mostra como<br />

a atuação das mulheres no perío<strong>do</strong> colonial foi<br />

importante ao ponto de transformar suas condições de<br />

vida entre os séculos XVI e XVIII, rompen<strong>do</strong> as<br />

limitações e imposições que a sociedade patriarcal<br />

sempre procurou colocar sobre elas.<br />

>>Filmes:<br />

Chico Rei<br />

Direção de Walter Lima Jr. <strong>Brasil</strong>, 1985. 115 min.<br />

O filme conta a historia de Calanga, rei Congo que no rei<br />

<strong>do</strong> Congo que no século XVIII é aprisiona<strong>do</strong> e trazi<strong>do</strong> ao<br />

<strong>Brasil</strong> como escravo. Leva<strong>do</strong> para trabalhar nas minas de<br />

ouro de Vila Rica, consegue comprar a alforria e torna-se<br />

proprietário de uma mina aurífera.<br />

Xica da Silva<br />

Direção de Cacá Diegues. <strong>Brasil</strong>, 1976. 117 min.<br />

A historia <strong>do</strong> filme gira em tomo de um fidalgo<br />

português que se apaixona por uma escrava e a<br />

transforma em dama da sociedade no século XVlII na<br />

região das minas, especificamente no Distrito<br />

Diamantino.<br />

60


IV – MANIFESTAÇÕES DE CRISE DO SISTEMA<br />

COLONIAL<br />

A Inconfidência Mineira, 1789<br />

Na segunda metade <strong>do</strong> século XVIII, a produção <strong>do</strong> ouro<br />

começou a declinar em ritmo acentua<strong>do</strong>, afetan<strong>do</strong><br />

gravemente a vida da população mineira - cerca de 400<br />

mil pessoas. As dividas cresceram, a pobreza alastrou-se<br />

o desalento tomou conta das Minas Gerais. Enquanto o<br />

ouro diminuía, a metrópole aumentava sua pressão fiscal<br />

(cobrança de impostos) Sobre os minera<strong>do</strong>res, acusan<strong>do</strong>os<br />

<strong>do</strong>: sonegação e contraban<strong>do</strong>.<br />

Em 1750, o valor mínimo <strong>do</strong>s quintos a ser pagos<br />

anualmente pela capitania foi fixa<strong>do</strong> em too arrobas de<br />

euro (1 500 quilos), A partir dessa época, os impostos<br />

atrasa<strong>do</strong>s deviam ser cobra<strong>do</strong>s de vila em vila pelos<br />

funcionários da Junta da Fazenda, com uso da força<br />

policial. Não sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> aquele total, seria exigi<strong>do</strong><br />

um tributo especial que toda a população deveria pagar<br />

esse imposto ficou conheci<strong>do</strong>, e temi<strong>do</strong>, como derrama.<br />

Com a queda na produção <strong>do</strong> ouro, a partir de 1763 os<br />

quintos anuais passaram a ser pagos apenas em parte, Os<br />

impostos começaram a acumular-se. Em 1769, o<br />

governa<strong>do</strong>r da capitania proclamou a primeira derrama.<br />

Não chegou a execute-la por temer a revolta da<br />

população. Tentativas posteriores, feitas nos anos<br />

seguintes, igualmente não só concretizaram.<br />

Em 1788, a novo governa<strong>do</strong>r, visconde de Barbacena<br />

anunciou pare breve uma grande derrama, pela qual<br />

seriam cobra<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os quintos atrasa<strong>do</strong>s, soman<strong>do</strong><br />

596 arroubas de ouro o anúncio oficial aumentou a<br />

indignação da população.<br />

Havia já algum tempo que um grupo de intelectuais e<br />

outros membros da elite reuniamse<br />

secretamente para discutir a necessidade de libertar o<br />

país <strong>do</strong> jugo de Portugal Esses homens contribuíram<br />

fortemente para a formação de uma consciência critica<br />

em Minas Gerais. Na origem <strong>do</strong> seu pensamento estavam<br />

as ideias liberais propagadas na Europa pelos pensa<strong>do</strong>res<br />

iluministas e a exemplo da Revolução Americana de<br />

1776, que instaurou urna república na América <strong>do</strong> Norte,<br />

separan<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da Inglaterra.<br />

Tratava-se de um pequeno grupo, com menos de duas<br />

dezenas de pessoas, forma<strong>do</strong> principalmente per gente<br />

das camadas superiores da sociedade mineira. A única<br />

exceção era o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o<br />

Tiradentes, homem de poucas posses.<br />

Em seus encontros secretos, Os inconfidentes, traçaram<br />

os planos e objetivos da revolução: reunir homens e<br />

armas e buscar apoio dentro e fora de Minas para depor o<br />

governo aproveitan<strong>do</strong> a revolta popular que viria junto<br />

com a definição da data da derrama, constituir uma<br />

República, a qual deveriam aderir as demais capitanias,<br />

transferir a: capital para São João del-Rei, fican<strong>do</strong> Vila<br />

Rica como sede da primeira universidade brasileira,<br />

aumentar a valor <strong>do</strong> ouro e liberar a articulação <strong>do</strong>s<br />

diamantes, pro- mover o desenvolvimento industrial de<br />

Minas Gerais, com a instalação de fábricas e manufaturas<br />

de ferro, teci<strong>do</strong>s, pólvora, couros e outros produtos..<br />

Os planos acabaram frustra<strong>do</strong>s. Primeiro, pela delação de<br />

Joaquim Silvério <strong>do</strong>s Reis, um <strong>do</strong>s conjura<strong>do</strong>s, que<br />

revelou ao governa<strong>do</strong>r os preparativos <strong>do</strong> movimento em<br />

troca <strong>do</strong> perdão das suas dividas coma Fazenda Real.<br />

Pouco depois de ouvir a delação o visconde de<br />

Barbacena escreveu que “o caráter <strong>do</strong> denunciante, ti<strong>do</strong><br />

por homem orgulhoso e de mau coração e aperta<strong>do</strong> pelas<br />

contas e pagamentos <strong>do</strong> contrato (....), diminuía o crédito<br />

da noticia, ou a fazia suspeita”; mas que, mesmo assim,<br />

tratou-a “com o cuida<strong>do</strong> que ela merecia”. Suspendeu<br />

imediatamente a execução da derrama, marcada para<br />

fevereiro de 1789, e man<strong>do</strong>u prender os conjura<strong>do</strong>s.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar a Inconfidência fracassou por sua<br />

própria fragilidade política, apesar das boas intenções,<br />

Os conspira<strong>do</strong>res no foram além d ideias e propostas<br />

genéricas, sem muita penetração e capacidade de<br />

mobilização social sobre a abolição da escravidão, por<br />

exemplo, as opiniões dividiram-se, sem que fosse<br />

possível uma definição clara.<br />

61


Ainda antes <strong>do</strong> final de 1789: to<strong>do</strong>s os conjura<strong>do</strong>s<br />

estavam encarcera<strong>do</strong>s. Preso no Rio de Janeiro, onde se<br />

instalou a Devassa a para Onde os outros foram leva<strong>do</strong>s,<br />

Tiradentes foi acusa<strong>do</strong> pela Comissão Especial de<br />

Alçada como chefe da conspiração e condena<strong>do</strong> pelo<br />

crime <strong>do</strong> lesa-majestade, ou de falta traição ao Esta<strong>do</strong>.<br />

Foi enforca<strong>do</strong> a 21 <strong>do</strong> abril de 1792, no largo da<br />

Lampa<strong>do</strong>sa, sen<strong>do</strong> seu corpo esquarteja<strong>do</strong> e espalha<strong>do</strong> ao<br />

longo <strong>do</strong> Caminho Nova, entre o Rio <strong>do</strong> Janeiro Minas<br />

Gerais, e sua cabeça exposta no centro de Mis Rica. Os<br />

demais, que durante o processo tentaram safar-se como<br />

puderam, receberam penas de prisão ha Europa ou de<br />

banimento para a África;<br />

Apesar da severidade com que foi tratada pelas<br />

autoridades portuguesas da colônia e da metrópole, a<br />

Inconfidência Mineira só ganhou fama mais tarde. Sua<br />

importância histórica, posta em dúvida por historia<strong>do</strong>res<br />

como Capistrano de Abreu seria afirmada nas últimas<br />

décadas <strong>do</strong> século XIX durante a campanha republicana<br />

Na luta contra o Império, as propagandistas da campanha<br />

usaram as idéias <strong>do</strong>s inconfidentes de 1789 como prova<br />

da “vocação republicana” da nação e a figura <strong>do</strong><br />

Tiradentes, homem simples, honra<strong>do</strong> e destemi<strong>do</strong> diante<br />

<strong>do</strong> Opressor português, como símbolo <strong>do</strong> patriotismo <strong>do</strong><br />

povo brasileiro. Na República, Tiradentes tornou-se a<br />

primeiro grande herói nacional e a Inconfidência ganhou<br />

maior dimensão histórica.<br />

O nascimento da opinião pública no <strong>Brasil</strong><br />

colonial<br />

O século XVIII tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>, com muita<br />

propriedade o Século das Luzes. Em boa medida, esse<br />

nome derivou da palavra Iluminismo, ou Ilustração um<br />

movimento de idéias que varreu a Europa <strong>do</strong> ponta a<br />

ponta, pregan<strong>do</strong> a supremacia da razão sobre a fé, a<br />

tolerância religiosa e política, a luta contra o<br />

obscurantismo, o triunfo da liberdade e da democracia, a<br />

confiança no progresso, o fim <strong>do</strong> absolutismo.<br />

Por essa época, ocorreu na colônia portuguesa um amplo<br />

processo da integração nas grandes transformações pelas<br />

quais passava a mun<strong>do</strong> ocidental. Processo complexo,<br />

que envolvia mudanças em diversas esferas da vida<br />

social econômica, política e cultural. Par exemplo, a<br />

Inglaterra já começava sua Revolução Industrial que<br />

transformaria completamente a lace <strong>do</strong> planeta. Na<br />

França, por sua vez florescia o pensamento Iluminista<br />

que logo alimentaria a Revolução Francesa de 1789,<br />

contemporânea da Inconfidência Mineira. Essa<br />

integração luso-brasileira as grandes concorrentes da<br />

história foi chamada pelo historia<strong>do</strong>r Carlos Guilherme<br />

Mota, em seu livro Ideia de revolução no <strong>Brasil</strong> (1789-<br />

1801), da internacionalização <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Dois fatos notáveis verificaram-se então, segun<strong>do</strong> Mota,<br />

na colônia portuguesa. Um deles foi a tomada da<br />

consciência de um grupo <strong>do</strong>s indivíduos que, sob a<br />

Influência na Revolução Americana colocou foco da sua<br />

critica sobre todas as peças componentes da estruturação<br />

<strong>do</strong> Antigo Regime colonialismo, absolutismo, relações<br />

internacionais, religião, cultura.<br />

“Ao mesmo tempo esse é outro fato notável ode primeira<br />

vez na <strong>História</strong> da colônia, começava a se constituir uma<br />

opinião pública” cação to <strong>Brasil</strong> colonial <strong>do</strong> assumir<br />

posições criticas em relação ao estatuto colonial. Essa<br />

opinião pública era formada por um circulo<br />

relativamente amplo das pessoas escolarizadas da elite e<br />

das classes médias. Eram estudantes, alguns <strong>do</strong>s quais<br />

com formação universitária na Europa, profissionais<br />

liberais, fazendeiros, letra<strong>do</strong>s, militares, poetas, artistas,<br />

intelectuais, religiosos. Em torno desse círculo, havia um<br />

clima generaliza<strong>do</strong> de insatisfação popular contra os<br />

excessos da <strong>do</strong>minação portuguesa.<br />

Os inconfidentes acreditavam ser possível atrair apoio<br />

dessa opinião pública em gestação ao mesmo tempo,<br />

mobilizar as classes menos favorecidas para destruir o<br />

sistema colonial o instaurar uma República<br />

independente. A empreitada, como se sabe, não chegou a<br />

seu termo, mas semente por ela lançada continuaria a<br />

germinar pelas décadas seguintes.<br />

Os inconfidentes<br />

Entre os cerca de vinte envolvi<strong>do</strong>s na Inconfidência<br />

Mineira, destacam - se: Francisco <strong>do</strong> Paula Freire de<br />

Andrade, brasileiro, tenente-coronel, comandante <strong>do</strong><br />

Regimento <strong>do</strong> Cavalaria <strong>do</strong>s Dragões; militar da mais<br />

alta patente <strong>do</strong> movimento.<br />

Joaquim Silvério <strong>do</strong>s Reis e Jose Rodrigues de Mace<strong>do</strong><br />

portugueses contrata<strong>do</strong>res de impostos com grandes<br />

dívidas Junto a Fazenda Real.<br />

José Álvares Maciel, filho de família importante de Vila<br />

Rica, engenheiro recém forma<strong>do</strong> em Coimbra, entusiasta<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento industrial, Domingos Vidal de<br />

Barbosa medico recém forma<strong>do</strong> na França ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Jose Joaquim da Maia e outros estudantes brasileiros na<br />

Eu Os inconfidentes I- rua tentou obter o apoio <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> e Unida a conjuração por intermédio <strong>do</strong><br />

embaixa<strong>do</strong>r Thomas Jefferson em Paris.<br />

Padre Carlos Correia <strong>do</strong> Tole<strong>do</strong>, a vigário em São João<br />

del-Rei e rico proprietário de fazendas e lavras.<br />

Padre José da Silva Oliveira o Rolim, <strong>do</strong> Arraial <strong>do</strong><br />

Tijuco, muito rico com a exploração de diamantes.<br />

62


Cônego Luís Vieira, intelectual, cuja biblioteca estava<br />

repleta <strong>do</strong>s autores franceses, Ingleses e norteamericanos,<br />

inclusive uma coleção da enciclopédia<br />

dirigida por Denis Diderot a Joan le Rand D’Alembert.<br />

Tomás Antônio Gonzaga, português, jurista a poeta,<br />

autor <strong>do</strong> Marília de Dirceu: era ouvi<strong>do</strong>r-geral em Vila<br />

Rica, e a ele, junto com Luís Vieira a Claudio Manuel da<br />

Costa, caberia redigir o projeto da futura Constituição<br />

após a emancipação da colônia.<br />

Claudio Manuel da Costa proprietário a advoga<strong>do</strong> a<br />

versão oficial, suici<strong>do</strong>u-se logo após ser preso. Inácio de<br />

Alvarenga Peixoto era poeta, bacharel em direito<br />

aban<strong>do</strong>nou a magistratura, enriquecen<strong>do</strong> com a<br />

agricultura e a mineração na região <strong>do</strong> rio das Mortes,<br />

onde trabalhou pela causa da emancipação colonial.<br />

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, alferes <strong>do</strong><br />

regimento de Cavalaria; de origem modesta e pouca<br />

erudição, destacou-se por seu espírito prático, por seu<br />

ativismo e pelo fervor com que fazia propaganda das<br />

ideias da Inconfidência.<br />

1798: Conjuração na Bahia<br />

Ate 1797, as autoridades judiciárias não tinham<br />

concluí<strong>do</strong> os processos abertos em decorria direta ou<br />

indireta da Inconfidência Mineira. No Rio de Janeiro, por<br />

exemplo, ainda estavam presos vários membros da<br />

Sociedade Literária, acusa<strong>do</strong>s de ‘falar contra a religião e<br />

defender a rebelião <strong>do</strong>s franceses? Mas essa atmosfera<br />

repressiva não impediu a emergência de outra revolta,<br />

agora na Bahia, com o mesmo desfecho dramático.<br />

A 8 de novembro de 1799, quatro homens foram<br />

enforca<strong>do</strong>s na praça da Piedade, em Salva<strong>do</strong>r <strong>do</strong>is<br />

solda<strong>do</strong>s, Lucas Dantas de Amorim Torres e Luís<br />

Gonzaga das Virgens, e <strong>do</strong>is alfaiates, João de Deus <strong>do</strong><br />

Nascimento e Manuel Faustino <strong>do</strong>s Santos Lira. To<strong>do</strong>s<br />

eram par<strong>do</strong>s, ou seja, mestiços. Tinham si<strong>do</strong> condena<strong>do</strong>s<br />

à morte pelo Tribunal da Relação, acusa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> crime de<br />

conspiração, agitação e propaganda “<strong>do</strong>s abomináveis<br />

princípios franceses. Sobre eles recaia o peso maior da<br />

repressão a um movimento conspiratório que começara<br />

por volta de 1794.<br />

A partir dessa época, grupos de pessoas começaram a<br />

reunir-se secretamente nos arrabaldes de Salva<strong>do</strong>r para<br />

ouvir as (últimas novidades da Revolução Francesa e da<br />

revolta iniciada em 1792 pelos negros nos: <strong>do</strong>mínios<br />

franceses de São Domingos (Haiti). Discutiram<br />

sobretu<strong>do</strong>, as formas de aplicar na colônia as idéias<br />

revolucionárias das Luzes - os princípios iluministas de<br />

liberdade, igualdade, soberania e representação popular.<br />

Entre essas pessoas estavam alguns proprietários,<br />

comerciantes e religiosos (como o padre Agostinho<br />

Gomes), além de vários médicos, professores e<br />

intelectuais (entre Os quais o cirurgião Cipriano Barata e<br />

o professor de latim Moniz Barreto<br />

de Aragão). Mas a maIaria era de artesãos, oficiais de<br />

baba patente, solda<strong>do</strong>s, escravos e negros libertos.<br />

Na metade <strong>do</strong> ano de 1798, foram divulga<strong>do</strong>s em<br />

Salva<strong>do</strong>r folhetos revolucionários que as autoridades<br />

chamaram de “sediciosos”. ‘Animai-vos povo Bahiense<br />

que esta para chegar o tempo feliz da nossa liberdade, a<br />

tempo em que to<strong>do</strong>s seremos irmãos; a tempo em que<br />

seremos to<strong>do</strong>s iguais’, dizia um deles, garantin<strong>do</strong> já ter<br />

atraí<strong>do</strong> a apoio de centenas de pessoas para o “parti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

liberdade’.<br />

Outros panfletos anunciavam uma revolução para acabar<br />

com o péssimo jugo reinável da Europa. Em defesa <strong>do</strong><br />

livre comércio, garantiam que “viriam to<strong>do</strong>s os<br />

estrangeiros, ten<strong>do</strong> porto aberto, mormente da nação<br />

francesa”. Em resumo, proclamava-se o fim <strong>do</strong><br />

monopólio e da submissão a Portugal e o começo <strong>do</strong> uma<br />

era da liberdade, igualdade e felicidade.<br />

Passa<strong>do</strong> o espanto, as autoridades logo reagiram em<br />

pouco tempo, graças aos próprios folhetins escritos a<br />

mão, chegaram aos cabeças <strong>do</strong> movimento. Feitas as<br />

primeiras prisões e abertas as devassas, não foi difícil<br />

desbaratar a conspiração. O apoio anuncia<strong>do</strong> de muitos<br />

“homens gradua<strong>do</strong>s”, funcionários, militares a religiosos<br />

não aconteceu. Foram presas 41 pessoas e processadas<br />

35. Das seis condenadas a morte, quatro foram<br />

executadas. Entre os presos e processa<strong>do</strong>s, maioria era de<br />

solda<strong>do</strong>s artesãos, e escravos, pretos e mestiços - gente<br />

de íntima condição, como foi registra<strong>do</strong> nos autos <strong>do</strong>s<br />

processos.<br />

63


64<br />

Textos e contextos de 1789 a 1798<br />

A conspiração de Minas (...) nascera antes da revolução<br />

Francesa [iniciada em maio de 1789], mas as prisões, e<br />

os julgamentos e a condenação <strong>do</strong>s implica<strong>do</strong>s<br />

coincidiram com um grande crescente tumulto<br />

revolucionário na Europa. É importante a relação<br />

cronológica da conjuração de Minas com a Revolução<br />

Francesa. Os oligarcas e Minas tinham imagina<strong>do</strong> poder<br />

<strong>do</strong>minar e manejar a vontade o povo. Haviam toma<strong>do</strong><br />

para exemplo a Revolução América, pio a Revolução, na<br />

qual os reajustamentos políticos se efetuaram sem<br />

perturbações sociais.<br />

Mas a exemplo <strong>do</strong>s patriotas norte-americanos não os<br />

prepararam para as especulações repercussões da<br />

Revolução Francesa nas Américas. A revolta <strong>do</strong>s<br />

escravos da ilha açucareira francesa de São Domingos<br />

(Haiti), no ano de 1792, provocou um terrível despertar<br />

naqueles senhores de escravos que falavam<br />

ingenuamente de república e revolta ignoran<strong>do</strong> as<br />

consequências sociais e raciais de suas palavras. O<br />

Secretário de Esta<strong>do</strong> português e da Marinha e Ultramar<br />

reconheceu imediatamente a ameaça que a revolta de São<br />

Domingos representava para o <strong>Brasil</strong> Em 1792, preveniu<br />

os governa<strong>do</strong>res contra o pernicioso e perverso intento<br />

em que os clubes (associações políticas revolucionárias)<br />

estabeleci<strong>do</strong>s em franca procuram propagar as<br />

abomináveis e destrutivos princípios de liberdade a fim<br />

de realizar par esse meio a fatal revolução. E avisava-os<br />

de que tinham si<strong>do</strong> esses abomináveis princípios? A<br />

causar o fogo da revolta e insurreição que fizera os<br />

escravos erguerem-se contra os seus senhores em São<br />

Domingo’. ( ... )<br />

No clima de idéias que se seguiu a revolta de São<br />

Domingos, o descobrimento de planos para um levante<br />

arma<strong>do</strong> <strong>do</strong>s artífices mulatos <strong>do</strong> Bahia, no ano de 1798,<br />

teve um impacto muito especial; esses planos<br />

demonstravam aquilo que os brancos conscientes tinham<br />

JO começada a compreender: as idéias de igualdade<br />

social estavam a propagar-se numa saciedade em que só<br />

um terço da população era de broncos e iriam<br />

inevitavelmente ser interpretadas em termos raciais. O<br />

caso baiano revelava à politização de camadas da<br />

sociedade muito pouco ligadas a conspiração de Minas.<br />

Os advoga<strong>do</strong>s, magistra<strong>do</strong>s e sacer<strong>do</strong>tes de meio-idade<br />

de Minas Gerais (na sua maioria, opulentos membros de<br />

associações racialmente exclusivamente e senhores de<br />

escravos) estavam em níti<strong>do</strong> contraste com os jovens<br />

artífices, solda<strong>do</strong>s, parceiros agrícolas e mestres-escolas<br />

assalaria<strong>do</strong>s, mulatos, implica<strong>do</strong>s na conjura baiana. Os<br />

mulatos baianos exaspera<strong>do</strong>s e anticlericais opunham-se<br />

tanto aos brasileiros ricos quanta a <strong>do</strong>minação<br />

portuguesa (...) O alfaiate par<strong>do</strong>” João de Deus que, na<br />

altura em que foi preso, não tinha <strong>do</strong> seu mais <strong>do</strong> que 80<br />

reis e oito filhos declarava que to<strong>do</strong>s os (brasileiros) se<br />

fizessem franceses para viverem em igualdade e<br />

abundancia (...). Destituir ao mesmo tempo todas as<br />

pessoas públicas, atacar os mosteiros, franquear às portas<br />

aos que quisessem sair reduzin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> a uma inteira<br />

revolução, que to<strong>do</strong>s ficariam ricos, tira<strong>do</strong>s da miséria<br />

em que se achavam extintas a diferença da cor branca,<br />

preta e parda, porque uns e outros seriam sem diferença<br />

chama<strong>do</strong>s e admiti<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os ministérios e cargos”.<br />

Não eram os patriotas americanos que serviam de<br />

exemplo a João <strong>do</strong> Deus e aos seus companheiros. (Eram<br />

os sans-culottes as camadas populares da Revolução<br />

Francesa).<br />

Os artífices baianos foram apanha<strong>do</strong>s com a boca na<br />

botija muito antes de terem combina<strong>do</strong> um plano, mesmo<br />

rudimentar; mas a aparecimento <strong>do</strong>s manifestos no<br />

Bahia, a exigência de “liberdade, igualdade e<br />

fraternidade” e a composição racial <strong>do</strong> grupo<br />

conspiratório deram origem a uma reação<br />

desproporcionada com os incidentes em si.<br />

(Adapta<strong>do</strong> de: Kenneth Maxwell. Condi<strong>do</strong>nolismos da independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

In: Maria Nizza <strong>do</strong> Silva, coord. O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa,<br />

Editorial Estampa, 1986, p. 359-63.)<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (Fuvest-SP ) Nos movimentos denomina<strong>do</strong>s<br />

Inconfidência Mineira, de 1789, Conjuração Baiana, de<br />

1798, e Revolução Pernambucana, de 1817, identifique:<br />

a) os setores sociais neles envolvi<strong>do</strong>s;<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

___________________________________________<br />

b) os objetivos que possuíam em comum.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

____________________________________________<br />

02. (PUC-SP) Entre as propostas defendidas pela<br />

Inconfidência Mineira, pode-se indicar:<br />

a) a Independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e o estabelecimento de<br />

um governo republicano.<br />

b) o término das concessões especiais à Inglaterra,<br />

constantes <strong>do</strong>s Trata<strong>do</strong>s de Comércio e de Amizade.<br />

c) a mudança da sede <strong>do</strong> governo brasileiro da<br />

província da Bahia para a de Minas Gerais.<br />

d) a restrição da produção manufatureira, que impedia<br />

a concentração de recursos nas atividades<br />

minera<strong>do</strong>ras.


e) a abolição da escravatura no <strong>Brasil</strong>, mediante<br />

indenização aos proprietários.<br />

03. (Unifor-CE) Quan<strong>do</strong> se analisa a Inconfidência<br />

Mineira é correto afirmar que:<br />

a) recebeu influências <strong>do</strong> positivismo, introduzi<strong>do</strong> em<br />

Minas Gerais por uma burguesia intelectual e<br />

alimenta<strong>do</strong> por uma crise econômica.<br />

b) revelou nuances de rebeldia contra os rigores da<br />

política fiscal metropolitana sobre a Capitania das<br />

Minas, executada pela Casa de Contratação.<br />

c) apresentou caráter nativista, ideologicamente<br />

alimenta<strong>do</strong> pelos princípios mercantilistas,<br />

difundi<strong>do</strong>s pela maçonaria.<br />

d) visava a independência da colônia e pretendia<br />

concretizar-se quan<strong>do</strong> da cobrança <strong>do</strong>s impostos<br />

atrasa<strong>do</strong>s,<br />

e) apresentou caráter separatista, visava a<br />

independência da Colônia, manten<strong>do</strong> a monarquia e<br />

a capital no Rio de Janeiro.<br />

04. ( UFES) Sobre a Conjuração Baiana, ocorrida em<br />

1798, é correto afirmar que:<br />

a) foi uma revolta liderada pelos senhores de escravos,<br />

que contou com pouca mobilização população<br />

sobretu<strong>do</strong> das populações de cor.<br />

b) foi uma revolta anticolonial, com maior presença de<br />

camadas populares, que, entre outros objetivos,<br />

pretendia acabar com a escravidão e fundar uma<br />

república democrática.<br />

c) foi um movimento lidera<strong>do</strong> por intelectuais e<br />

escravos, comprometi<strong>do</strong> com a luta anticolonial,<br />

mas sem planos de revolta.<br />

d) foi um movimento contra as taxações excessivas<br />

sobre o fumo e o açúcar que não assumiu um caráter<br />

anticolonialista,<br />

e) foi uma revolta liderada pela elite baiana, que lutava<br />

pela permanência <strong>do</strong> sistema escravista.<br />

05. (PUC – SP) Entre os eventos que antecederam a<br />

independência política <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e propuseram ou<br />

criaram condições para a autonomia, podemos<br />

mencionar:<br />

a) as iniciativas da Coroa portuguesa no <strong>Brasil</strong>, no<br />

início <strong>do</strong> século XIX, como a permissão ao<br />

comércio internacional sem mediação da Metrópole<br />

e a criação de sistema bancário oficial.<br />

b) as revoltas ocorridas na região das Minas Gerais, no<br />

decorrer <strong>do</strong> século XVIII, com características e<br />

projetos, em to<strong>do</strong>s os casos, emancipacionistas e<br />

propositores de um Esta<strong>do</strong> brasileiro autônomo,<br />

c) as mudanças ocorridas no cenário europeu, entre o<br />

final <strong>do</strong> século XVIII e o início <strong>do</strong> XIX, com a<br />

ascensão de Napoleão ao trono francês e a conquista<br />

por suas tropas de toda a Europa Ocidental e de suas<br />

possessões coloniais;<br />

d) as ações de grupos de comerciantes da Colônia,<br />

desde o inicio <strong>do</strong> século XIX, desejosos de ampliar<br />

sua independência comercial e de estabelecer<br />

vínculos diretos com países <strong>do</strong> Ocidente europeu e<br />

<strong>do</strong> Extremo Oriente.<br />

e) as vitórias, no século XVIII, das lutas pela<br />

independência nas regiões de colonização espanhola,<br />

francesa e inglesa das Américas, geran<strong>do</strong> um<br />

conjunto de impérios autônomos possíveis parceiros<br />

comerciais para o <strong>Brasil</strong>.<br />

06. (UESB 2010.2) A análise <strong>do</strong> texto e os<br />

conhecimentos sobre a história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, no perío<strong>do</strong> de<br />

1808 a 1831, permitem afirmar que a criação <strong>do</strong> Reino<br />

Uni<strong>do</strong> de Portugal, <strong>Brasil</strong> e Algarves, em 1815,<br />

01) se deveu as pressões exercidas pela Franca<br />

bonapartista, favorável a autonomia <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> como<br />

nação independente.<br />

02) obedeceu aos acor<strong>do</strong>s e compromissos conti<strong>do</strong>s nas<br />

cláusulas <strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s de Comércio e Amizade,<br />

firma<strong>do</strong>s entre o <strong>Brasil</strong> e Inglaterra em 1810.<br />

03) contribuiu para a legalização <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

como sede da monarquia portuguesa, para a<br />

suspensão <strong>do</strong> papel de colônia e a posterior<br />

formação de um "parti<strong>do</strong> brasileiro" favorável a<br />

autonomia <strong>do</strong> país.<br />

04) atendeu aos compromissos firma<strong>do</strong>s com a<br />

"República de Pernambuco", no perío<strong>do</strong> da<br />

Revolução de 1817, e aos anseios <strong>do</strong> governo<br />

português.<br />

05) resultou <strong>do</strong>s des<strong>do</strong>bramentos da política pombalina,<br />

que se expandiu, em Portugal, com a Revolução <strong>do</strong><br />

Porto ë que acatou a plena autonomia colonial.<br />

65


V – O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA (1808 – 1822)<br />

Óleo s/ tela Geoff Hunt, RSMA/Coleção particular Kenneth Light/ Reprodução Paulo Scheuenstuh.<br />

66<br />

P<br />

ara fugir <strong>do</strong> cerco a Napoleão Bonaparte, a família real<br />

portuguesa veio para o <strong>Brasil</strong>, favorecen<strong>do</strong> a ruptura <strong>do</strong><br />

sistema colon<br />

Em 1799 Napoleão Bonaparte assumia governo da<br />

França com um golpe de Esta<strong>do</strong> pon<strong>do</strong> fim Revolução<br />

Francesa, mas, ao mesmo tempo, colocan<strong>do</strong> em prática<br />

uma politica expansionista. Seu projeto era transformar a<br />

França em uma potência econômica e militar. Entretanto,<br />

seus anseios esbarraram na Inglaterra que já havia se<br />

torna<strong>do</strong> a grande nação industrializada na Europa.<br />

Em 1806, a governo de Napoleão tentou reagir a<br />

repetência inglesa, impon<strong>do</strong> o Bloqueio continental, ou<br />

seja, os países europeus, alia<strong>do</strong>s ou da França, estavam<br />

proibi<strong>do</strong>s de manter relações comerciais com os<br />

britânicos tal medida atingiu diretamente o comércio<br />

externo português urna vez que a Inglaterra era a grande<br />

fornece<strong>do</strong>ra de produtos manufatura<strong>do</strong>s e<br />

industrializa<strong>do</strong>s para Portugal. O então príncipe regente<br />

Dom João estava em duvida sobre qual decisão tomar. O<br />

embaixa<strong>do</strong>r da Inglaterra em Lisboa Lorde Stangford<br />

sugeriu uma transferência as pressas para a América,<br />

antes que as tropas de Napoleão chegassem ao palácio.<br />

Se pare o governo lusitano á saída de Portugal era uma<br />

estratégia para assegurar a integridade <strong>do</strong> reino, para a<br />

Inglaterra essa mudança representou a oportunidade de<br />

consolidar, interesses econômicos e estendê-los até o<br />

<strong>Brasil</strong>. Finalmente, em novembro de 1807, família real<br />

portuguesa embarcou com destino ao <strong>Brasil</strong>.<br />

Enquanto ocorria a vaso de Portugal pelas tropas de<br />

Napoleão a corte Portuguesa se chegava o <strong>Brasil</strong><br />

trazen<strong>do</strong> nobres, clérigo e parte <strong>do</strong> exército real,<br />

totalizan<strong>do</strong> cerca de 12 mil pessoas. Com a chegada <strong>do</strong><br />

príncipe regente D. João ao Rio de Janeiro teve de ser<br />

aparelha<strong>do</strong> para tornar-se capital <strong>do</strong> Império.<br />

Os ataques que o território português passou a sofrer<br />

acabaram crian<strong>do</strong> uma situação favorável ao <strong>Brasil</strong> tanto<br />

pela mudança ia sede <strong>do</strong> governo metropolitano quanto<br />

pela necessidade de reajuste burocrático além da revisão<br />

da política mercantilista. Em outras palavras, a presença<br />

<strong>do</strong> governo português no <strong>Brasil</strong> favoreceu a ruptura <strong>do</strong><br />

sistema colonial.<br />

Com a vinda de D. João VI em 1808, escolta<strong>do</strong> pela<br />

marinha inglesa, ocorreu a assinatura, em 28 de Janeiro,<br />

<strong>do</strong> decreto de “abertura <strong>do</strong>s portos as nações amigas”,<br />

quan<strong>do</strong> da assinatura <strong>do</strong> decreto, as taxas alfandegárias<br />

eram de 16% para produtos portugueses e 24% para<br />

merca<strong>do</strong>rias que tivessem outra origem. Na pratica era o<br />

fim <strong>do</strong> pacto colonial.<br />

No mesmo ano foi aprova<strong>do</strong> o alvará que dava a<br />

liberdade para o estabelecimento de fábricas e


manufaturas na colônia, revogan<strong>do</strong>-se assim a obrigação<br />

de os colonos importaremos produtos de Portugal. Ainda<br />

em 1808, foi funda<strong>do</strong> o Banco <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

estas que ficaram conhecidas como beija-mão’ da Corte.<br />

Com derrota de Napoleão Bonaparte na Europa em 1805<br />

as potências vence<strong>do</strong>ras reuniram-se no Congresso de<br />

Viena e, por sugestão <strong>do</strong> Talleyrand, representante<br />

Frances, o <strong>Brasil</strong> foi promovi<strong>do</strong> a Reino Uni<strong>do</strong> a<br />

Portugal e Algares. Tal medida serviu para legitimar a<br />

presença da família real no <strong>Brasil</strong>.<br />

RIO DE JANEIRO 1808-1821 – de burgo provinciano a cidade imperial.<br />

Em 19 de junho de 1801, foram firma<strong>do</strong>s os Trata<strong>do</strong>s de<br />

Aliança e Amizade, comércio e navegação. Que davam à<br />

Inglaterra a condição da nação mais favorecida no<br />

comércio externo com os portugueses, já que todas as<br />

merca<strong>do</strong>rias estrangeiras pagariam taxas de 24% sobre<br />

seu valor e as portuguesas pagariam 16% e as inglesas,<br />

somente 15%. Com tais atos, os artigos da Inglaterra<br />

inundaram o merca<strong>do</strong> brasileiro, levan<strong>do</strong> a falência os<br />

concorrentes aqui instala<strong>do</strong>s. Apos a extinção <strong>do</strong> pacto<br />

colonial e o fim da proibição para o funcionamento <strong>do</strong><br />

fabricas de manufaturas, estas se multiplicaram na excolônia.<br />

Mas, ten<strong>do</strong> de enfrentar a concorrência <strong>do</strong>s<br />

produtos britânicos de qualidade superior e muito mais<br />

baratos, a maior parte dessas indústrias teve e encerrar<br />

suas atividades.<br />

Outras medidas significativas que foram tornadas e<br />

favoreceram diretamente a autonomia da colônia foi<br />

acareação da Academia Militar da Marinha, da<br />

Biblioteca Real e da Imprensa Régia. O Rio <strong>do</strong> Janeiro<br />

foi razoavelmente reurbaniza<strong>do</strong>, com o embelezamento<br />

das ruas e praças. E bem verdade que a ocupação que a<br />

nobreza portuguesa fez às pressas a cidade, não foi das<br />

mais pacificas. Sen<strong>do</strong> que muitas famílias tiveram de<br />

deixar suas residências para dar lugar a condes, duques e<br />

marqueses.<br />

Só que nem tu<strong>do</strong> era insatisfação muitos fazendeiros<br />

procuravam se instalar no Rio para poder estar porte <strong>do</strong><br />

circulo <strong>do</strong> poder’. Perceben<strong>do</strong> isso, Dom João deu inicio<br />

a uma distribuição <strong>do</strong>s títulos de nobreza e passou a<br />

promover festas que eram bastante concorridas festas<br />

Em 1816, Dona Maria, a ‘Rainha Louca’, faleceu. Nesse<br />

mesmo ano houve coroação <strong>do</strong> João VI coma nova rei de<br />

Portugal. Externamente, seu governo foi marca<strong>do</strong> per<br />

atritos envolven<strong>do</strong> fronteiras como no caso da invasão <strong>do</strong><br />

Guiana Francesa numa represália tardia ao governo<br />

napoleônico. Apos a derrota <strong>do</strong> Napoleão e a coroação<br />

<strong>do</strong> Luis XVIII como novo monarca Frances, a Guiana foi<br />

devolvida em 1817. No mesmo ano, as tropas joaninas<br />

invadiram a banda oriental das Províncias Unidas <strong>do</strong><br />

prata, que haviam consegui<strong>do</strong> a independência em<br />

relação a Espanha.<br />

Depois de derrotar as forças locais lideradas por Artigas,<br />

a região foi anexada ao <strong>Brasil</strong> em 1820, batizada com o<br />

nome de Província Cisplatina.<br />

Insurreição pernambucana (1817)<br />

A decadência da economia açucareira determinou a<br />

aumento das tensões entre os brasileiros e Os<br />

comerciantes portugueses. Essas tensões favoreceram o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s ideais liberais entre os brasileiros,<br />

principalmente pela ação de sociedades secretas como a<br />

maçonaria.<br />

Antes centro econômico <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> Colonial. Pernambuco<br />

vivia tempos difíceis de produção açucareira. No<br />

principio <strong>do</strong> citou XIX com a presença da família real<br />

portuguesa no <strong>Brasil</strong>, a condição de decadência<br />

econômica da região agravou-se, principalmente porque<br />

os impostos aram constantemente majora<strong>do</strong>s a fim de<br />

financiar a instalação <strong>do</strong> Corte no Rio <strong>do</strong> Janeiro. O<br />

governa<strong>do</strong>r da capitania, Caetano Montenegro<br />

antibrasileiro e autoritário alimentava ainda mais o<br />

ânimo revolucionário chegan<strong>do</strong> ate enfrentar o<br />

descontentamento das tropas.<br />

67


HEGEMONIA NAPOLÊONICA NA EUROPA<br />

68<br />

Dispostos a mudar tal situação, os membros das lojas<br />

maçônicas começaram a conspiração, inspira<strong>do</strong>s pelo<br />

Iluminismo. Saben<strong>do</strong> que havia urna revolta em curso e<br />

quem eram os responsáveis, o governa<strong>do</strong>r ordenou a<br />

prisão <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. Depois, chegou a notícia de que<br />

os enquadra<strong>do</strong>s haviam resisti<strong>do</strong> a prisão e que o oficial<br />

português encarrega<strong>do</strong> fora morto durante a ação. A<br />

partir dai, a revolta ganhou as ruas.<br />

Os rebeldes foram rapidamente às ruas <strong>do</strong> Recife e<br />

estabeleceram um governo provisório, forma<strong>do</strong> pelo<br />

comerciante Domingos José Martins o capitão <strong>do</strong><br />

exercito Domingos Teotônio Jorge, o a padre João<br />

Ribeiro o fazendeiro Manuel Correa Araújo e por José<br />

Men<strong>do</strong>nça encarrega<strong>do</strong> da justiça os presos políticos<br />

foram liberta<strong>do</strong>s.<br />

Criou-se a bandeirada Republica Pernambucana e foram<br />

extintos títulos da nobreza. Os lideres da revolta também<br />

enviaram diplomatas para as Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Argentina<br />

e Inglaterra, a fim de obter reconhecimento internacional.<br />

Outras províncias, <strong>do</strong> Nordeste como Bahia, Ceará, Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Norte e Paraíba, foram, convidadas a aliaramse<br />

a Pernambuco.<br />

O movimento de repressão, comanda<strong>do</strong> pelo próprio<br />

Dom João VI e pelo governa<strong>do</strong>r da Bahia o Conde D<br />

Arcos foi extremamente violento as forças oficiais<br />

cercaram Pernambuco ao sul e pelo litoral, e finalmente<br />

conseguiram cercar recife. Obrigan<strong>do</strong> os rebeldes a se<br />

renderam. Os principais chefes foram presos.<br />

Anos depois, após a independência brasileira, explodiria<br />

mais um movimento pernambucano de inspiração liberal<br />

e republicana: a confederação <strong>do</strong> equa<strong>do</strong>r.<br />

REVOLUÇÃO DO PORTO (1820)<br />

Apesar de certa aparência liberal a indefinição política<br />

era a marca principal de Dom João VI tanto como<br />

regente quanto come rei. Sujeito as pressões de<br />

comerciantes, funcionários público proprietários, nobres,<br />

ingleses, portugueses ou brasileiros, nunca soube come<br />

impor sua autoridade, tampouco atender a to<strong>do</strong>s da<br />

maneira satisfatória,<br />

Em 1820, a burguesia lusa, liderada por Manuel<br />

Fernandes Tomes a José <strong>do</strong> Silva Carvalho, finalmente<br />

conseguiu desalojar a ocupação inglesa mantida desde<br />

1808 por Lorde Beresford. O objetivo da Revolução<br />

Liberal Constitucionalista <strong>do</strong> Porto era fazer de Portugal<br />

uma monarquia constitucional, ou seja, acabar com e<br />

absolutismo.<br />

Mas o liberalismo <strong>do</strong>s revolucionários parava por ai, pois<br />

uma das exigências <strong>do</strong>e lideres era o imediato regresso<br />

<strong>do</strong> rei para Portugal e a recondução <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> a condição<br />

de colônia. Isso determinava a reativação <strong>do</strong> pacto<br />

colonial, que serviria para recuperar a economia<br />

portuguesa.<br />

Pressiona<strong>do</strong> a voltar para Portugal pela Revolução Dom<br />

João VI deixou o trono <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nas mãos de seu filho<br />

Dom Pedro I, que passou a exercer o cargo <strong>do</strong> Príncipe<br />

regente, chegan<strong>do</strong> a Lisboa, a rei foi obriga<strong>do</strong> a jurar<br />

obediência à nova Constituição portuguesa, elaborada<br />

pelas cortes (Parlamento português), perden<strong>do</strong> seus<br />

poderes absolutos.<br />

Com o retorno da família real a Portugal. O <strong>Brasil</strong> estava<br />

na iminência <strong>do</strong> voltar a ser uma colônia. O rei levara<br />

seu tesouro de volta a Portugal esvazian<strong>do</strong> os cofres <strong>do</strong>


Banco <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> o breve sonho <strong>do</strong> manter autonomia<br />

pública, mesmo ainda estan<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> a Portugal chegava<br />

ao fim.<br />

EMANCIPAÇÃO POLÍTICA<br />

Em outubro de 1821, as Cortes determinam a<br />

transferência <strong>do</strong> varies Órgãos <strong>do</strong> governo para Portugal<br />

e a volta <strong>do</strong> príncipe regente, que seria substituí<strong>do</strong> por<br />

um governa<strong>do</strong>r em cada província.<br />

Em dezembro <strong>do</strong> mesmo ano, chegou uma nova ordem<br />

<strong>do</strong>s Cortes para que a príncipe retornasse a Portugal. Em<br />

nove de janeiro de 1822, foi apresenta<strong>do</strong> a D. Pedro I um<br />

abaixo-assina<strong>do</strong> <strong>do</strong>s brasileiros, pedia <strong>do</strong> qual<br />

permanecesse aqui. Finalmente, D. Pedro I decidiu ficar<br />

em território brasileiro desafian<strong>do</strong> a autoridade das<br />

Cortes. Tal episodio ficou conheci<strong>do</strong> como o dia <strong>do</strong> fico.<br />

As medidas coloniza<strong>do</strong>ras das Cortes portuguesas<br />

começaram a se fazer sentir sobre o <strong>Brasil</strong>, anulan<strong>do</strong> os<br />

efeitos positivos <strong>do</strong> governo joanino. O <strong>Brasil</strong> tinha o<br />

direito de enviar 75 deputa<strong>do</strong>s como representantes das<br />

Províncias na assembleia das Cortes Constituintes,<br />

entretanto, antes mesmo de chegada destes, várias<br />

decisões importantes já tinham si<strong>do</strong> tomadas ou estavam<br />

a caminho, todas no senti<strong>do</strong> da recolonização.<br />

Se em Lisboa os deputa<strong>do</strong>s brasileiros não conseguiram<br />

conter o furor colonialista das Cortes, por aqui cresciam<br />

os protestos públicos. A partir dessa fase. Dom Pedro i já<br />

dava sinais <strong>do</strong> que tencionava no atender, as ordens que<br />

vinham de Lisboa. As Cortes decidiram, então, desligar<br />

as províncias da colônia das ordens da capital Rio de<br />

Janeiro. Em maio de 1822, em represália, D. Pedro I<br />

determinou ‘cumpra-se’, que era uma resolução pela qual<br />

nenhum decreto das. Corte de Portugal poda ria ser<br />

cumpri<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong> sem a concordância <strong>do</strong> regente.<br />

Aos poucos, Dom Pedro I se aproximava <strong>do</strong>s<br />

latifundiários brasileiros, principais’ interessa<strong>do</strong>s na<br />

manutenção da autonomia política <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. O<br />

responsável direto pela articulação da aproximação entre<br />

o regente a elite agrária nacional foi José Bonifácio de<br />

Andrade e Silva, que depois ficou conheci<strong>do</strong> como o<br />

Patriarca da Independência.<br />

José Bonifácio<br />

Mas nem to<strong>do</strong>s os que estavam interessa<strong>do</strong>s na<br />

independência pensavam da mesma forma, José<br />

Bonifica<strong>do</strong>, representante <strong>do</strong>s. Setores conserva<strong>do</strong>res<br />

viam a independência como algo que salvaguardasse a<br />

liberdade econômica. Já outro grupo, lidera<strong>do</strong> por<br />

homens como Joaquim Gonçalves Le<strong>do</strong> e Januário da<br />

Cunha Barbosa, que englobava maçons, jornalistas,<br />

bacharéis, militares, entre outros, viam a independência<br />

como o rompimento radical e definitivo <strong>do</strong>s laços<br />

coloniais.<br />

Juntamente com as camadas populares das vilas e<br />

cidades, asses <strong>do</strong>is grupos formavam o que se<br />

convencionou chamar de Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro ou Parti<strong>do</strong> da<br />

Independência o que demonstra o quão heterogêneos<br />

eram os interesses que permeavam as articulações<br />

políticas que culminaram no rompimento entre <strong>Brasil</strong> a<br />

Portugal.<br />

Depois <strong>do</strong> ter proibi<strong>do</strong> a entrada de novos contingentes<br />

militaras portugueses em terras brasileiras, Dom Pedro I<br />

recebia a título de Defensor Perpétuo <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. sen<strong>do</strong><br />

que, em Junho de 1822, foi convocada a primeira<br />

Assembleia constituinte brasileira.<br />

O processo de ruptura precipitou-se com a chegada ao<br />

<strong>Brasil</strong> de um ultimato <strong>do</strong> governo lusitano anulan<strong>do</strong> os<br />

atos <strong>do</strong> regente a ameaçan<strong>do</strong>-o com o envio de tropas<br />

caso não regressasse imediatamente a Portugal.<br />

Assim, diante da radicalização metropolitana o<br />

rompimento tornou-se inevitável. Em viagem pela<br />

Província de São Paulo, Dom Pedro 1 recebeu através de<br />

um mensageiro envia<strong>do</strong> par José Bonifácio a ultimato <strong>do</strong><br />

governo Português, bem como uma outra carta na qual<br />

recebeu <strong>do</strong> próprio Bonifácio e da princesa Leopoldina a<br />

sugestão de que era o momento de se proclamar a<br />

independência política <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, o que de fato ocorreu<br />

em 7 de setembro de 1822.<br />

Topas portuguesas estacionadas no <strong>Brasil</strong> e leais as<br />

Cortes resistiram à independência. O novo governo<br />

instituí<strong>do</strong> enviou tropas brasileiras e uma esquadra<br />

comandada por mercenários, destacan<strong>do</strong>-se o inglês<br />

Cochrane, que atacou as cidades de Salva<strong>do</strong>r. São Luis e<br />

Belém. No sul, a defesa da legitimidade da autonomia<br />

coube ao general Carlos Lecor, e Montevidéu teve de<br />

submeter-se a Dom Pedro 1. As chamadas guerras de<br />

independência só terminaram em 1823, com a rendição<br />

das tropas portuguesas em Montevidéu. Dom Pedro I já<br />

havia si<strong>do</strong> cora<strong>do</strong> primeiro Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

O <strong>Brasil</strong> realizara sua independência, sem que tivesse<br />

ocorri<strong>do</strong> derramamento de sangue. E mais: fora mantida<br />

a ordem social e econômica <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, isto é,<br />

latifúndio monocultor, produção para exportação e<br />

escravismo em larga escala.<br />

69


VI - O PRIMEIRO REINADO (1822 - 1831)<br />

Não temo que o <strong>Brasil</strong> se despotize, temo que se<br />

anarquize, Temo mais hoje os cortesãos da gentalha que<br />

aqueles que cheiram as capas ao monarca. (Evaristo da Veiga).<br />

“Gentalha”. Assim era vista a massa trabalha<strong>do</strong>ra,<br />

escrava ou livre, cuja força de trabalho era a sustentação<br />

econômica <strong>do</strong> país “Gentalha”, expressão<br />

antidemocrática daqueles que viam nascer um<br />

instrumento de manipulação que jamais deveria<br />

participar das decisões políticas.<br />

De fato o 7 de Setembro foi urna decisão da classe<br />

<strong>do</strong>minante para a classe <strong>do</strong>minante, formada por<br />

fazendeiros e comerciantes, ou seja, por homens liga<strong>do</strong>s<br />

a grande propriedade monocultora escravista e ao<br />

comércio importa<strong>do</strong>r e exporta<strong>do</strong>r.<br />

Essa elite assumiu o poder em 1822, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> a<br />

monarquia constitucional corno forma de governo capaz<br />

de defender o latifúndio e a manutenção da escravidão, e<br />

impedir qualquer tentativa popular de participação<br />

política. Era preciso que a ‘gentalha’ e seus<br />

representantes permanecessem marginaliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

processo, e qualquer tentativa de participação deveria ser<br />

reprimida com o rigor necessário.<br />

Dotada de uma ideologia conserva<strong>do</strong>ra e antidemocrática<br />

a elite impôs um regime centraliza<strong>do</strong> de governo, a<br />

.<br />

submissão da Igreja ao Esta<strong>do</strong> e instituiu o veto<br />

censitário, impedin<strong>do</strong> as massas populares de participar<br />

<strong>do</strong> processo eleitoral num país cuja população agrária se<br />

compunha de quase 95% de escravos e colonos pobres.<br />

Os choques políticos entre a elite <strong>do</strong>minante, o<br />

impera<strong>do</strong>r e seus segui<strong>do</strong>res marcaram o Primeiro<br />

Reina<strong>do</strong>, pois D. Pedro I, com suas tendências<br />

absolutistas, não admitia ser manipula<strong>do</strong> por ela. O<br />

resulta<strong>do</strong> final desses conflitos foi a abdicação <strong>do</strong><br />

impera<strong>do</strong>r em 7 abril de 1831.<br />

O fato de a confirmação da independência da política <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> ter si<strong>do</strong> uma manobra da aristocracia sem a<br />

participação da massa a singulariza quan<strong>do</strong> comparada a<br />

independência das colônias da América espanhola, onde<br />

a demorada luta contou com a participação, verdadeiros<br />

exércitos populares comanda<strong>do</strong>s por homens como<br />

Simon Bolívar e San Matín.<br />

Em síntese, o Esta<strong>do</strong> brasileiro cria<strong>do</strong> em 1822 foi<br />

monta<strong>do</strong> sobre a velha estrutura conserva<strong>do</strong>ra,<br />

agroexporta<strong>do</strong>ra, escravista e dependente <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s e<br />

<strong>do</strong> capital internacionais. Era um império escravista, bem<br />

ao gosto da aristocracia<br />

A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA<br />

70<br />

Quan<strong>do</strong> chegaram ao <strong>Brasil</strong> as primeiras noticias sobre a<br />

triunfante Revolução constitucionalista <strong>do</strong> Porto,<br />

brasileiros e portugueses se irmanaram no mesmo ideal<br />

constitucionalista, e juntos criaram em várias províncias<br />

brasileiras as Juntas Constitucionais.<br />

Contu<strong>do</strong> essa aliança se desfez logo que os brasileiros<br />

tomaram conhecimento das pretensões recoloniza<strong>do</strong>ras


das cortes portuguesas. Os portugueses, que fanavam<br />

maioria em algumas das Juntas recém-criadas,<br />

assumiram a posição de lutar em defesa das decisões<br />

oriundas de Lisboa. O acatamento <strong>do</strong>s decretos<br />

recoloniza<strong>do</strong>res das Cortes contrariava os interesses<br />

brasileiros. O conflito arma<strong>do</strong> tornou-se inevitável e<br />

explodiu em algumas províncias, principalmente na<br />

Bahia no Grão-Pará, no Maranhão, no Piauí e na<br />

Província Cisplatina.<br />

Nas lutas de independência a participação popular foi<br />

fundamental. Coube ao povo enfrentar a resistência<br />

portuguesa naquelas províncias, já que o <strong>Brasil</strong> não tinha<br />

um Exército estrutura<strong>do</strong> e treina<strong>do</strong> para tanto. Para<br />

reforçar as lutas populares contra as tropas lusitanas a<br />

governo <strong>do</strong> Rio de Janeiro contratou militares<br />

estrangeiros, comprou navios e reestruturou as milícias.<br />

As milícias eram compostas por civis e convocadas<br />

apenas em caso de necessidade não constituíam,<br />

portanto, entidades militares profissionais.<br />

Na Bahia a luta se iniciou antes mesmo <strong>do</strong>s 7 de<br />

Setembro. Em junho de 1822, a Câmara Municipal de<br />

Cachoeira largou independente em relação a Portugal; o<br />

movimento propagou-se pelo Recôncavo Baiano, ten<strong>do</strong> a<br />

frente a povo e as milícias.<br />

As forças populares brasileiras, reforçadas por forcas<br />

militares oficiais, cercaram Salva<strong>do</strong>r, onde estavam<br />

entrincheiradas as tropas portuguesas chefiadas por<br />

Madeira de Meio. Ataca<strong>do</strong> por terra pelas forças<br />

brasileiras e por mar pela esquadra <strong>do</strong> almirante<br />

Cochrane contrata<strong>do</strong> pelo governo brasileiro, Madeira de<br />

Meio se rendeu e voltou para Portugal em 2 Junho de<br />

1823.<br />

As forças populares brasileiras, reforçadas por forças<br />

militares oficias, cercaram Salva<strong>do</strong>r, onde estavam<br />

entrincheiradas as tropas portuguesas chefiadas por<br />

Madeira <strong>do</strong> Meio. Ataca<strong>do</strong> par terra pelas forças<br />

brasileiras e por mar pela esquadra de almirante<br />

Cochrane, contratada pelo governo brasileiro, Madeira<br />

de Meio se ten<strong>do</strong> e, voltou para Portugal em de julho de<br />

1823.<br />

No Pará, depois <strong>do</strong> algumas derrotas, as forces populares<br />

reassumiram a luta quan<strong>do</strong> O militar John Grenfeil, a<br />

serviço <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, chegou a Belém com um navio torna<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s portugueses e anunciou a aproximação da esquadra<br />

<strong>do</strong> almirante Cochrane. Era um estratagema para<br />

amedrontar os portugueses.<br />

A massa eufórica com a notícia invadiu o palácio <strong>do</strong><br />

governa<strong>do</strong>, impôs a aceita Ao da independência e<br />

entregou o poder nas mãos de líderes populares, entre Os<br />

quais se destacava a cônego Batista de Campos.<br />

Para a elite política e socialmente <strong>do</strong>minante, a audácia<br />

<strong>do</strong> povo tinha <strong>do</strong> ser reprimida com rigor. Obedecer das<br />

ordens <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Grenfeil prendeu Batista de<br />

Campos, fuzilou indiscriminadamente várias pessoas e,<br />

se no bastasse, prendeu trezentos paraenses no porão de<br />

um navio, Jogou cal sobre eles e man<strong>do</strong>u fechar as<br />

escotilhas. To<strong>do</strong>s morreram. A fúria assassina de<br />

Grenfell matara homens cujo único crime político fora<br />

ter luta<strong>do</strong> em prol da consolidação da independência <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>.<br />

Em 1823 também foram expulsas as tropas portuguesas<br />

<strong>do</strong> Piauí, <strong>do</strong> Maranhão e da Cisplatina. Do ponto de vista<br />

<strong>do</strong> enfrentamento militar aos portugueses, estava com<br />

solidada a independência política, bem como a utilidade<br />

territorial brasileira.<br />

Reconhecimento externo<br />

Outro problema sério que a <strong>Brasil</strong> enfrentou foi o <strong>do</strong><br />

reconhecimento externo da sua independência.<br />

Os governos latino-americanos retardaram o<br />

reconhecimento, desconfia<strong>do</strong>s das intenções <strong>do</strong> governo<br />

monárquico brasileiro, já que a monarquia - modelo<br />

europeu - era um regime político incompatível com o<br />

regime republicano a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os países<br />

americanos independentes. Por outro la<strong>do</strong>, questionavam<br />

a soberania <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> sabre a Província Cisplatina (atual<br />

Uruguai) e a insistência de D Pedro I em manter esse<br />

<strong>do</strong>mínio.<br />

Par sua vez, Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e as principais potências<br />

europeias buscavam ganhar tempo para tirar o Máximo<br />

proveito econômico <strong>do</strong> reconhecimento da<br />

independência brasileira.<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s foram o primeiro país a reconhecer o<br />

<strong>Brasil</strong> como independente em 1824. Apesar de o<br />

reconhecimento ser um ato de coerência com a Doutrina<br />

Monroe (“A América para o americano”), o que a<br />

governo norte-americano realmente pretendia era ampliar<br />

sua ação nos merca<strong>do</strong>s internacionais. O <strong>Brasil</strong> poderia<br />

ser um grande alia<strong>do</strong> na consolidação de um bloco<br />

comercial antieuropeu. A hegemonia comercial no<br />

continente era, portanto, o pretenso fundamental <strong>do</strong>s<br />

norte-americanos. A Inglaterra, mais interessada no<br />

reconhecimento, dadas as vantagens comerciais<br />

alcançadas com os trata<strong>do</strong>s de 1810, agilizou sua<br />

diplomacia para convencer Portugal, par sua vez, das<br />

vantagens que poderia tirar com o reconhecimento.<br />

71


Seguin<strong>do</strong> os planos ingleses, D. João Vou reconheceu a<br />

independência brasileira em 1825, porém exigiu o<br />

pagamento <strong>do</strong> 2 milhões de libras e o titulo honorário <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Foi bastante estranha a atitude de D. Pedro 1, aceitan<strong>do</strong><br />

pagar para que seu pai reconhecesse a independência de<br />

um país que já a consolidara havia quase três anos.<br />

Mais uma vez as vantagens foram canalizadas para a<br />

Inglaterra. Como o <strong>Brasil</strong> não tinha dinheiro para pagar a<br />

D. João, a Inglaterra o emprestou; como Portugal devia<br />

para a Inglaterra, o dinheiro nem chegou a sair <strong>do</strong>s cones<br />

britânicos. O único prejudica<strong>do</strong> foi o <strong>Brasil</strong>, que teve<br />

aumentada sua divida e a dependência em relação ao<br />

capital inglês.<br />

No mesmo ano de 1825 a Inglaterra reconheceu a<br />

independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, mas exigiu a assinatura de<br />

trata<strong>do</strong>s complementares. Em 1826 foi assina<strong>do</strong> um<br />

acor<strong>do</strong> entre as duas nações extinguin<strong>do</strong> o tráfico<br />

negreiro ate 1830 que ficou apenas no papal, pois a elite<br />

escravocrata não estava disposta a cumpri-lo. Em 1827<br />

foi assina<strong>do</strong> um outro trata<strong>do</strong>, referente a tarifas<br />

alfandegárias preferenciais, que, em síntese, era a<br />

renovação por mais quinze anos <strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s <strong>do</strong> 1810.<br />

Continuavam garantida as merca<strong>do</strong>rias inglesas a taxa de<br />

15% ad valorem nas alfândegas brasileiros, manten<strong>do</strong> se<br />

para as merca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong>s demais países os 24%.<br />

Em 1828 D. Pedro I decretou que to<strong>do</strong>s Os países se<br />

igualariam a Inglaterra, pagan<strong>do</strong> somente 15% de taxas<br />

alfandegárias. Mais um prejuízo para o <strong>Brasil</strong>, cuja<br />

incipiente indústria cada vez mais ficava impossibilitada<br />

<strong>do</strong> crescer.<br />

Assembleia Constituinte<br />

Na constituinte os democratas, acua<strong>do</strong>s pela autoridade<br />

de D. Pedro 1 e de José Bonifácio e suspeitos de<br />

republicanismo, Cederam timidez e calaram esmaga<strong>do</strong>s<br />

com a desconfiança, contra eles levantada, de<br />

mentecaptos, demagogos e desorganiza<strong>do</strong>res.<br />

(Raymun<strong>do</strong> Faro).<br />

Convocada pela primeira vez em junho de 1 822, a<br />

Assembleia Constituinte reuniu, finalmente, em maio de<br />

1823.<br />

Naquele momento, o clima político, no Rio de Janeiro<br />

era de conflito ideológico e da disputa pela liderança<br />

política entre diferentes facções.<br />

De um la<strong>do</strong> o Parti<strong>do</strong> Português, posto por uma elite <strong>do</strong>s<br />

funcionários públicos, militares que na maioria haviam<br />

pertenci<strong>do</strong> ao antigo exército português, principalmente,<br />

comandantes lusitanos; de outro, O Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro,<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por fazendeiros.<br />

O Parti<strong>do</strong> Português buscava impor sua influência para<br />

que a Constituição defendesse os interesses<br />

recoloniza<strong>do</strong>res das Cortes; a aristocracia agrária <strong>do</strong><br />

Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro pretendia impor sua hegemonia<br />

política sobre o bloco português. As disputas seriam<br />

acirradas.<br />

No Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro existiam duas alas: a ala<br />

democrata, que defendia a autonomia das províncias<br />

(federalismo), e a ala aristocrata, que pretendia a<br />

instalação de uma monarquia centralista A ala aristocrata<br />

era liderada pelo antidemocrata José Bonifácio, cujo<br />

objetivo era que. O poder político emanasse<br />

principalmente de suas mãos. E dele a frase: “Nunca fui<br />

nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei<br />

jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e<br />

caótica democracia”.<br />

Buscan<strong>do</strong> atingir seus objetivos políticos, José Bonifácio<br />

se indispôs com o Parti<strong>do</strong> Português e procurou eliminar<br />

as pretensões descentraliza<strong>do</strong>ras e nativistas da ala<br />

democrata <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro, mandan<strong>do</strong> fechar a<br />

maçonaria e prenden<strong>do</strong> homens como Cipriano Barata e<br />

Januário da Cunha Barbosa. Para não ser preso,<br />

Gonçalves Le<strong>do</strong> fugiu para Buenos Aires.<br />

-Na abertura <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong> Constituinte, o impera<strong>do</strong>r<br />

deixou claras suas tendências autoritárias só dizer.<br />

“Quero urna Constituição que seja digna <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> é de<br />

mim”.<br />

Em julho de 1823, durante elaboração <strong>do</strong> anteprojeto<br />

constitucional, os irmãos Andrada, José Bonifácio e<br />

Antônio Carlos, presidente da Assembleia Constituinte,<br />

foram força<strong>do</strong>s a se demitir <strong>do</strong> Ministério. Bonifácio se<br />

incompatibilizara com o impera<strong>do</strong>r ao decretar medidas<br />

restritivas aos Portugueses residentes no <strong>Brasil</strong> como,<br />

por exemplo, o projeto que proibia os estrangeiros <strong>do</strong><br />

assumirem cargos políticos. Par outro la<strong>do</strong> D. Pedro I<br />

temia que a influência política de José Bonifácio o<br />

ofuscasse.<br />

Demiti<strong>do</strong>s os Andrades passaram a oposição. Criaram o<br />

jornal o Tamoio e, através dele, passaram a atacar o<br />

impera<strong>do</strong>r.<br />

O anteprojeto da Constituição refletia a caráter classista<br />

<strong>do</strong>s constituintes, país criara mecanismos como a voto<br />

censitário, que marginalizava o povo <strong>do</strong> processo<br />

político. Estabelecia também que as eleições seriam <strong>do</strong>is<br />

graus, isto d, primeiro os eleitores <strong>do</strong> primeiro grau<br />

72


elegiam os eleitores privilegia<strong>do</strong>s, e estes elegeriam as<br />

deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res.<br />

Do acorda com o anteprojeto, para ser eleitor <strong>do</strong> primeiro<br />

grau a cidadão tinha <strong>do</strong> ter urna renda anual<br />

correspondente a 150 alqueires da mandioca proveniente<br />

de bens imóveis comércio, indústria ou artes. A renda<br />

mínima <strong>do</strong>s eleitores privilegia<strong>do</strong>s seria correspondente a<br />

250 alqueires, a <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s 500 e a <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res<br />

1.000. A escolha <strong>do</strong> produto levou a povo ironicamente a<br />

chamar a anteprojeto <strong>do</strong> Constituição da Mandioca.<br />

De forma geral a anteprojeto buscou reservar para a<br />

aristocracia a supremacia <strong>do</strong> poder político, e par isso<br />

assumiu medidas antiabsolutistas, limitan<strong>do</strong> as poderes<br />

<strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r. Essa limitação pode ser exemplificada nos<br />

decretos que determinava que a Câmara não poderia ser<br />

dissolvida, que o veto <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r aos projetos da<br />

Câmara teria apenas poder suspensivos e que as forças<br />

militares ficariam sujeitas ao Parlamento e não ao<br />

impera<strong>do</strong>r. Isso colocava a Poder Legislativo acima <strong>do</strong><br />

Executivo abefia<strong>do</strong> par D. Pedro I.<br />

As restrições levaram o impera<strong>do</strong>r a se articular com o<br />

Parti<strong>do</strong> Português, que defendia a absolutismo e a<br />

recolonização, provocan<strong>do</strong> a aumento das hostilidades<br />

entre a aristocracia e os portugueses.<br />

Um incidente banal acirrou os ânimos das forças<br />

políticas em conflito. O jornal Sentinela da liberdade<br />

ligada aos Andradas publicou um artigo ofensivo aos<br />

oficiais portugueses acantona<strong>do</strong>s no <strong>Brasil</strong>. Ofendi<strong>do</strong>s,<br />

esses militares agrediram o farmacêutico David<br />

Pamplona. Pensan<strong>do</strong> ser ale a autor <strong>do</strong> artigo. Na<br />

Assembleia, em represália a agressão os deputa<strong>do</strong>s<br />

proferiram discursos violentos contra Os portugueses a o<br />

impera<strong>do</strong>r, no qual foram aplaudi<strong>do</strong>s pela massa que<br />

lotava o recinto.<br />

D. Pedro I, que não admitia a limitação <strong>do</strong>s seus poderes,<br />

aproveitou-se <strong>do</strong> episódio a decretou a dissolução da<br />

Assembleia Constituinte (12 de novembro de 1823). Os<br />

constituintes passaram a noite deliberan<strong>do</strong> se resistiam<br />

ou não a medida. Esse episodio ficou conheci<strong>do</strong> coma a<br />

Noite da Agonia. O impera<strong>do</strong>r em pessoa coman<strong>do</strong>u as<br />

forças militares que o apoiavam no cerco no prédio da<br />

Assembleia. Vários deputa<strong>do</strong>s foram presos e os irmãos<br />

Andrada derrota<strong>do</strong>s.<br />

Constituição de 1824<br />

Depois <strong>do</strong> dissolver a Assembleia Constituinte, D. Pedro<br />

I nomeou um Conselho <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, forma<strong>do</strong> por dez<br />

homens escolhi<strong>do</strong>s por ele e que representavam o ideário<br />

conserva<strong>do</strong>r a absolutista, par elaborar a versão final da<br />

Constituição. Esse ato <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r simbolizava sua<br />

união com o Parti<strong>do</strong> Português a seu afastamento da<br />

aristocracia rural <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro.<br />

O Conselho <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> baseou-se no anteprojeto <strong>do</strong>s<br />

constituintes de 1823, mas na complementação da<br />

Constituição criou artigos que davam ao Executivo a<br />

soberania sobre o Legislativo a garantiam o absolutismo<br />

a o autoritarismo <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r.<br />

Finalmente a Constituição foi outorgada em 25 <strong>do</strong> marco<br />

de 1824 a determinava a existência de quatro poderes, a<br />

saber,<br />

• Poder Executivo - de competência <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r a <strong>do</strong>s<br />

ministros par ale escolhi<strong>do</strong>s. Tinha a função de fazer<br />

executar as leis i criadas pelo Legislativo,<br />

• Poder Legislativo - composto pelo s Sena<strong>do</strong> a pela<br />

Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s.<br />

• Poder Judiciário da alçada de juízes a tribunais; seu<br />

órgão Máximo era o Supremo Tribunal de Justiça.<br />

Imediatamente abaixo <strong>do</strong> Poder Modera<strong>do</strong>r encontravase<br />

o Conselho de Esta<strong>do</strong>, órgão assessor direto e<br />

composto por conselheiros <strong>do</strong> monarca.<br />

De acor<strong>do</strong> com o que fora defini<strong>do</strong> pelo anteprojeto, o<br />

voto continuava censitário. Isto é, basea<strong>do</strong> na renda,<br />

independente <strong>do</strong> nível de alfabetização <strong>do</strong> eleitor. O<br />

analfabeto podia votar desde que possuísse a renda<br />

exigida para tanto. Enfim, o direito ao voto se baseava no<br />

critério econômico e não cultural.<br />

As eleições seriam indiretas e em <strong>do</strong>is graus. (O<br />

mecanismo da eleição era o mesmo estabeleci<strong>do</strong> pelo<br />

anteprojeto: o primeiro eleitor (eleitor de Paróquia)<br />

elegia o eleitor privilegia<strong>do</strong> eleitor de Província) que<br />

elegia os deputa<strong>do</strong>s e seu Sobre a renda exigida houve<br />

urna modificação. A Carta estabelecia agora que para ser<br />

eleitor de Paróquia o cidadão devia ter uma renda liquida<br />

anual de 100 mil réis; para se tornar eleitor de Província,<br />

renda de 200 mil-réis, e para ser deputa<strong>do</strong> ou sena<strong>do</strong>r,<br />

renda de 400 e 800 mil réis, respectivamente.<br />

A representação popular estava, portanto, excluída.<br />

Os deputa<strong>do</strong>s eram eleitos pra um mandato de quatro<br />

anos e os sena<strong>do</strong>res eram vitalícios. Cada província<br />

elegia três sena<strong>do</strong>res. A lista <strong>do</strong>s três mais vota<strong>do</strong>s era<br />

levada ao impera<strong>do</strong>r que escolhia um entre os três<br />

nomeava para ocupar o cargo ate a morte.<br />

E claro que D. Pedro I escolhia aqueles que mais se<br />

ajustassem a seus interesses, cujas ideias fossem<br />

compatíveis com suas e que lhe dariam sustentação e<br />

73


apoio. O Sena<strong>do</strong> era por isso mesmo, um órgão de<br />

manipulação.<br />

Com a Constituição de 1824 ficava estabelecida uma<br />

monarquia unitária e hereditária e garanti<strong>do</strong> o direito a<br />

liberdade religiosa; a religião católica era reconhecida<br />

como oficial, fican<strong>do</strong> a Igreja submetida ao Esta<strong>do</strong>.<br />

Confederação <strong>do</strong> equa<strong>do</strong>r<br />

colocaram Pernambuco no centro de repulsa as<br />

arbitrariedades <strong>do</strong> poder central.<br />

A final, como foi dito nos manifestos Rebeldes<br />

constituições, as leis e todas as instituições humanas são<br />

feitas para os povos e não <strong>do</strong> povos para elas’.<br />

Os problemas econômicos também contribuíam para o<br />

acirramento das ideias revolucionarias. A situação<br />

econômica de Pernambuco era semelhante a de 1817. A<br />

produção <strong>do</strong> algodão e <strong>do</strong> açúcar continuava critica,<br />

devi<strong>do</strong> a constante queda das exportações. Como ocorria<br />

em 1817, a baixa produtividade e Os altos impostos<br />

resultaram no aumento de preços <strong>do</strong>s gêneros de<br />

primeira necessidade, oneran<strong>do</strong> principalmente as<br />

camadas mais pobres da população.<br />

O ambiente é de revolta. A imprensa, através <strong>do</strong>s jornais<br />

como o Sentinela da Uberdade na Guarita de<br />

Pernambuco, de Cipriano Barata, e o Tifis<br />

Pernambucano dirigi<strong>do</strong> pelo jornalista e carmelita frei<br />

Caneca, divulga as ideias revolucionárias e prega a<br />

rebelião.<br />

O impera<strong>do</strong>r insiste nas medidas absolutistas e<br />

intervencionistas e no direito de nomear os presidentes<br />

das províncias. Em fevereiro de 1824, nomeia Francisco<br />

Pai. Barreto governa<strong>do</strong>r da Província de Pernambuco Os<br />

eleitores não aceitam a nomeação e insistem para que o<br />

impera<strong>do</strong>r reconheça o presidente eleito pela província:<br />

Manuel Pais de Andrade.<br />

74<br />

Nenhum carrasco habilitou-se a executá-lo. Nem mesmo em troca da liberdade,<br />

presidiário algum aceitou a tarefa. A execução de frei Caneca (detalhe), óleo de<br />

Murilo la Greca.<br />

Morramos to<strong>do</strong>s, arrase-se Pernambuco! arda a guerra,<br />

mas (...) conservemos a dignidade da soberania <strong>do</strong>s<br />

povos. (Bra<strong>do</strong> de um rebelde pernambucano em 1824)<br />

Os ideais republicanos e federativos em Pernambuco não<br />

eram novos. A partir de 1823 esses ideais afloram com<br />

força revolucionária, motiva<strong>do</strong>s pelas medidas<br />

autoritárias e radicais de D. Pedro I como a dissolução da<br />

Assembleia constituinte e, em 1824, com a outorga de<br />

uma constituição centralista que colocava nas mãos <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>no <strong>do</strong> Poder Modera<strong>do</strong>r to<strong>do</strong>s os destinos da nação.<br />

A postura antidemocrática <strong>do</strong> monarca ao dissolver a<br />

Constituinte desfazia a ilusão de governo de<br />

representação nacional. Para a maioria <strong>do</strong>s constituintes<br />

nordestinos a dissolução foi um golpe que eles<br />

nâo5p6diam assimilar sem reagir, Era preciso lutar<br />

contra o arbítrio. A outorga da Constituição reforçou a<br />

reação nordestina e o acontecimento mais uma vez<br />

O monarca mantém a nomeações as tropas militares que<br />

lhe eram fies prédio Pais <strong>do</strong> Andrade. Pouco dito uma<br />

manifestação popular e militar reconduz Pais <strong>do</strong> Andrade<br />

ao poder A revolução estava em andamento.<br />

Em julho de 1824 Pais <strong>do</strong> Andrade proclamou a<br />

Confederação <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r, rompeu com o Rio <strong>do</strong> Janeiro<br />

e começou a pregar a união <strong>do</strong> algumas províncias <strong>do</strong><br />

Norte e Nordeste, a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> uma república federativa<br />

nos moldes <strong>do</strong> modelo republicano implanta<strong>do</strong> pelos<br />

demais países americanos; a instalação de um governo<br />

oxide haveria supremacia <strong>do</strong> Poder Legislativo.<br />

Até que ficasse pronta a Constituição da República <strong>do</strong><br />

Equa<strong>do</strong>r, os rebeldes a<strong>do</strong>tariam a Constituição da<br />

Colômbia. Pais de Andrade enviou emissários a todas as<br />

províncias, da Bahia ao Ceará, que, juntamente com<br />

Pernambuco, deveriam formar a Confederação <strong>do</strong><br />

Equa<strong>do</strong>r. Contu<strong>do</strong>, aderiram a Confederação apenas<br />

Pernambuco, Paraíba. Rio Grande <strong>do</strong> Norte e Ceará. Os<br />

revolucionários, precisan<strong>do</strong> <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> povo para se<br />

manter no poder; organizaram brigada s populares


compostas por brancas pobres, mestiços, negros livres e<br />

escravos e militares de baixa patente.<br />

As posições radicais dessas forças populares contra a<br />

aristocracia rural, a não obediência as ordens de<br />

coman<strong>do</strong>, a radicalização <strong>do</strong>s negros e mestiços que em<br />

protestos ameaçavam matar a população branca <strong>do</strong><br />

Recife, bem como a ideia de abolir a escravidão,<br />

defendida por alguns lideres, amedrontaram a elite<br />

latifundiária, que, por isso, retirou o apoio a revolução.<br />

A classe <strong>do</strong>minante temia que acontecesse no Nordeste o<br />

sucedi<strong>do</strong> vinte anos antes no Haiti, onde os negros<br />

lideraram o movimento de independência e assumiram o<br />

controle <strong>do</strong> poder político. Além disso, perder a mão-deobra<br />

escrava ser-lhe-ia extremamente prejudicial.<br />

O aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> movimento pelas elites rurais e ate por<br />

alguns de seus líderes, como os próprios Pais de<br />

Andrade, facilitou a vitória <strong>do</strong> governo central.<br />

A repressão oficial foi montada com ajuda militar<br />

externa e com o empréstimo de 1 milhão de libras<br />

esterlinas pela Inglaterra. Por terra e por mar seguiam as<br />

forcas da repressão. O brigadeiro Lima e Silva e o<br />

almirante Cochrane tinham ordens expressas de aniquilar<br />

o movimento. A tomada de Recife pelas tropas oficiais<br />

foi marcada por extrema violência, com saques e<br />

incêndio de grande parte das casas e massacre<br />

indiscrimina<strong>do</strong> da população.<br />

Alguns rebeldes, sob a liderança de frei Caneca,<br />

continuaram resistin<strong>do</strong>. Uma nova invasão militar<br />

revolucionária partiu de Olinda para juntar se aos<br />

rebeldes <strong>do</strong> Ceará, encontro, esse que, alias não<br />

aconteceu.<br />

Finalmente cansa<strong>do</strong>s e impossibilita<strong>do</strong>s de continuar a<br />

luta, os homens de frei Caneca se renderam e foram<br />

presos.<br />

“Abate-se sobre os venci<strong>do</strong>s o peso da majestade<br />

ofendida. Começa o tribunal militara sua missão (...). As<br />

execuções D. Pedro mostrou-se inexorável - vêm<br />

aumentar o quadro <strong>do</strong> martirológico nordestino na luta<br />

pela liberdade. Não houve apelo que o monarca<br />

atendesse, mostran<strong>do</strong>-se ate mesmo irrita<strong>do</strong> com a sua<br />

repetição.”<br />

Vários lideres foram condena<strong>do</strong>s a morte, inclusive frei<br />

Caneca. Corno as autoridades no conseguiram um único<br />

carrasco que se dispusesse a enforcá-lo, frei Caneca foi<br />

fuzila<strong>do</strong>.<br />

O governo imperial mais uma vez mostrava<br />

incompetência no trato com os problemas sociais e<br />

econômicos <strong>do</strong> país, e para esconder sua incompetência<br />

procurava impor se pelo autoritarismo repressivo e<br />

violento.<br />

Abdicação: fatores determinantes Crise politicoeconômico-financeira<br />

D. Pedro I abdicou (renunciou) ao trono <strong>Brasil</strong>eiro em 7<br />

de abril de. 1831, força<strong>do</strong> pela conjuntura politico<br />

econômico-financeira, em grande parte, por ele mesmo.<br />

Já vimos que o jovem monarca sempre se mostrou<br />

incompetente para solucionar Os problemas <strong>do</strong> país,<br />

principalmente no plano econômico é bem verdade que h<br />

crise econômica e financeira <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> precede o governo<br />

de Pedro I. A época da independência, os principais<br />

produtos de exportação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, o açúcar e o algodão,<br />

perdiam merca<strong>do</strong>, dada a concorrência internacional.<br />

A realidade é que, a partir da abertura <strong>do</strong>s portos e,<br />

especialmente, a partir <strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s de 1810. A balança<br />

comercial brasileira apresenta sempre deficitária, pois as<br />

importações superavam em muito as exportações.<br />

Essa situação se agravou após a independência devi<strong>do</strong> à<br />

desastrosa política econômico financeira <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r.<br />

Caracterizada por empréstimos externos e pelos<br />

investimentos feitos em setores cujo retorno de capital<br />

não era compensa<strong>do</strong>r.<br />

A partir de 1824 avolumavam-se os empréstimos<br />

externos, o que provocava graves perturbações na vida<br />

nacional. Naquele ano D. Pedro I conseguira uma parcela<br />

de 1 milhão de libras esterlinas de um total de 3 milhões<br />

pedi<strong>do</strong>s a Inglaterra. O dinheiro em vez de ser aplica<strong>do</strong><br />

em setores produtivos para amenizar a crise, foi usa<strong>do</strong><br />

para montar a repressão a Confederação <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r.<br />

Em 1825 outro empréstimo, de 2 milhões de libras, foi<br />

feito para pagar a D. João VI pets reconhecimento da<br />

independência brasileira. Ainda nesse ano o impera<strong>do</strong>r<br />

recebeu a segunda parcela <strong>do</strong> empréstimo feito em 1824.<br />

Os restantes 2 milhões de libras foram usa<strong>do</strong>s para<br />

reprimir a luta de independência da Província Cisplatina.<br />

D. Pedro I envolvia o <strong>Brasil</strong> numa guerra inútil e<br />

dispendiosa com os nacionalistas uruguaios e com a<br />

Argentina, que os apoiava.<br />

Finalmente, em 1828, a Inglaterra, que estava interessada<br />

no livre comércio na região platina, pressionou o <strong>Brasil</strong> a<br />

reconhecer a independência da Cisplatina, que passou a<br />

se chamar República Oriental <strong>do</strong> Uruguai.<br />

75


76<br />

A crise econômico-financeira e o desprestigio político <strong>do</strong><br />

impera<strong>do</strong>r, cada vez mais liga<strong>do</strong> ao Parti<strong>do</strong> Português, se<br />

acentuavam.<br />

Outro fato que gerou desgaste para a economia e para a<br />

popularidade <strong>do</strong> jovem monarca foi à questão da<br />

sucessão ao trono português. Por ser herdeiro natural de<br />

B. João VI, D. Pedro I deveria assumir o trono português<br />

em 8261 com a morte de seu pai; Entretanto pressiona<strong>do</strong><br />

pela opinião pública brasileira e a que no admitia a<br />

monarquia dual.<br />

D. Pedro teve de escolher entre o trono brasileiro e o<br />

português. Optan<strong>do</strong> pelo brasileiro, D. Pedro abdicou <strong>do</strong><br />

trono português em favor de sua filha, D. Maria da<br />

Gloria. Como esta ainda era uma menina, o trono<br />

português ficou sob a regência de D. Miguel, irmão de D.<br />

Pedro, que permaneceria submeti<strong>do</strong> a uma Constituição<br />

outorgada por D. Pedro I ate casar se com a sobrinha e<br />

assumir o trono como rei.<br />

Porém em 1828 D. Miguel deu um golpe, destituiu a<br />

sobrinha, anulou a Constituição e proclamou rei.<br />

Restaurava-se o absolutismo em Portugal. Muitos<br />

constitucionalistas portugueses se refugiaram no Rio de<br />

Janeiro, que passou a ser o centro da resistência a D.<br />

Miguel.<br />

Financian<strong>do</strong> a luta contra o irmão, D. Pedro aumentava a<br />

crise financeira <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e deixava clara que estava mais<br />

interessa<strong>do</strong> na sucessão portuguesa <strong>do</strong> que nos<br />

problemas brasileiros.<br />

Em 1829 a situação torna-se caótica a Banco <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

requer falência.<br />

Reação popular e abdicação<br />

Aproximava-se <strong>do</strong> fim o governo imperial de D Pedro I<br />

Os empréstimos as emissões de moeda, a falência <strong>do</strong><br />

Banco de <strong>Brasil</strong> e a inflação aumentavam o custo de vida<br />

e giravam protestos generaliza<strong>do</strong>s. Aos protestos da elite<br />

se juntaram as das camadas médias urbanas e <strong>do</strong> povo<br />

em geral.<br />

A imprensa atacava violentamente o impera<strong>do</strong>r. A<br />

grande maioria <strong>do</strong>s jornais era de oposição. O assassinato<br />

<strong>do</strong> jornalista opositor Líbero Badaró em 1830 foi o<br />

estopim para novas agitações, passeatas, discursos,<br />

quebra-quebras e ataques: aos portugueses.<br />

Tentan<strong>do</strong> recuperar o prestigio perdi<strong>do</strong>, D. Pedro 1<br />

resolve fazer uma viagem pelas províncias <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

começan<strong>do</strong> por Minas Gerais. Porem ao chegar a Ouro<br />

Preto, a recepção lhe foi desfavorável: em vez de saudar<br />

o impera<strong>do</strong>r, os mineiros preferiram homenagearam<br />

Libero Badaró O jornalista assassina<strong>do</strong>.<br />

A volta de D. Pedro I ao Rio de Janeiro foi festejada<br />

pelos portugueses. Aumentou a irritação <strong>do</strong>s brasileiros,<br />

que partiram para o conflito aberto com os portugueses.<br />

Na noite de 13 de marco de 1831 muitos brasileiros<br />

foram ataca<strong>do</strong>s a cacetadas e garrafadas, num episodio<br />

que ficou conheci<strong>do</strong> como A Noite das Garrafadas.<br />

No dia 19 de marco, D. Pedro I, pressiona<strong>do</strong> e acusa<strong>do</strong><br />

de ter participa<strong>do</strong> da agressão, foi força<strong>do</strong> a formar um<br />

novo ministério composto só de brasileiros. Como<br />

reflexo da crise política, D. Pedro I demitiu o Ministério<br />

<strong>do</strong>s <strong>Brasil</strong>eiros no dia 5 de abril, passa<strong>do</strong>s apenas quinze<br />

dias da sua formação, e nomeou um novo ministério<br />

composto por amigos pessoais: o Ministério <strong>do</strong>s<br />

Marqueses.<br />

No dia 6 de abril o povo e a tropa saíram as ruas. Uma<br />

multidão armada percorreu a cidade e, com o apoio da<br />

tropa, exigiu a readmissão <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong>s <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

D. Pedro I não cedeu aos insistentes pedi<strong>do</strong>s; preferiu<br />

renunciar a se submeter às exigências populares.<br />

Finalmente, no dia 7 de abril de 1831, o impera<strong>do</strong>r<br />

abdicou em favor <strong>do</strong> seu filho O. Pedro de Alcântara, um<br />

garoto de cinco anos de idade.<br />

A abdicação simbolizava a vitória <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro e<br />

consolidava, definitiva e historicamente, o poder <strong>do</strong>s<br />

grandes proprietários de terra a <strong>do</strong>s escravos.<br />

Titulo 8°<br />

LEITURA COMPLEMENTAR<br />

Constituição de 1824<br />

Das Disposições Gerais, e Garantias <strong>do</strong>s Direitos Civis, e<br />

Políticos <strong>do</strong>s Cidadãos <strong>Brasil</strong>eiro, Art. 179. A<br />

inviolabilidade <strong>do</strong>s Direitos Civis, e Políticos <strong>do</strong>s<br />

Cidadãos <strong>Brasil</strong>eiros que tem por base a liberdade, a<br />

segurança individual, e a propriedade, é garantida pela<br />

Constituição <strong>do</strong> Império, pela maneira seguinte<br />

1. Nenhum Cidadão pode ser obriga<strong>do</strong> a fazer, ou deixar<br />

de fazer alguma coisa, senão em virtude da Lei.<br />

II. Nenhuma Lei será estabelecida sem utilidade publica.<br />

III. A sua disposição não terá efeito r retroativo.<br />

IV. To<strong>do</strong>s podem comunicar Os seus pensamentos, por<br />

palavras, escritos e publicá-los e pela imprensa, sem<br />

dependência de censura; com p tanto que hajam de


esponder pelos abusos, que cometerem no exercício<br />

deste Direito nos casos, e pela forma, que a Lei<br />

determinar.<br />

V. Ninguém pode ser persegui<strong>do</strong> por motivo de Religião,<br />

uma vez que respeite a <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, e no ofenda a Moral<br />

Publica.<br />

VI. Qualquer pode conservar-se, ou sair <strong>do</strong> Império,<br />

como lhe convenha, levan<strong>do</strong> consigo os seus bens<br />

guarda<strong>do</strong>s os Regulamentos polícias, e salvo o prejuízo<br />

de terceiro.<br />

VII. To<strong>do</strong> o Cidadão tem em sua casa um asylo<br />

inviolável. De noite não se poder entrar nela, sen<strong>do</strong> por<br />

seu consentimento, ou para defendê-lo de incêndio, ou<br />

inundação: e de dia só será franqueada a sua entrada nos<br />

casos, a pela maneira, que a Lei determinar.<br />

VIII. Ninguém poderá ser preso sem culpa, formada,<br />

exceto nos casos declara<strong>do</strong>s na Lei; e nestes dentro de<br />

vinte e quatro horas contadas da entrada na prisão, sen<strong>do</strong><br />

em Cidades, Vilas ou outras Povoações próximas aos<br />

lugares da residência <strong>do</strong> Juiz; e nos lugares remotos<br />

dentro de, um prazo razoável, que a Lei marcará, atenta a<br />

extensão <strong>do</strong> território, o Juiz por uma Nota, par lhe<br />

assignada, fará constar ao Réo o motivo da prisão, os<br />

nomes <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>res, e os das testemunhas, haven<strong>do</strong> -<br />

IX. Ainda com culpa formada, ninguém será conduzi<strong>do</strong><br />

prisão, ou nela conserva<strong>do</strong> estan<strong>do</strong> já preso se prestar<br />

fiança idônea, nos cases, que a Lei admite: e em geral<br />

nos crimes, que no tiverem maior pena, <strong>do</strong> que a de seis<br />

meses de prisão, ou desterro para fora da Comarca,<br />

poderá o Réu livrar-se solto.<br />

X. A exceção de flagrante delito, a prisão não pode ser<br />

executada, senão per ordem escrita da Autoridade<br />

legitima. Se esta for arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem<br />

a tiver requeri<strong>do</strong> será puni<strong>do</strong> com as penas, que a Lei<br />

determinar, o que fica disposto acerca da prisão antes de<br />

culpa formada, não compreende as Ordenanças Militares,<br />

estabelecidas come necessárias a disciplina, e<br />

recrutamento <strong>do</strong> Exercito; nem os casos que não são<br />

puramente criminais, sem que a Lei determina todavia a<br />

prisão de alguma pessoa, per desobedecer aos manda<strong>do</strong>s<br />

da Justiça, ou não cumprir: alguma obrigação dentro de<br />

determina<strong>do</strong> prazo,<br />

XI. Ninguém será sentencia<strong>do</strong>, senão pela Autoridade<br />

competente, por virtude de Lei anterior, e na forma por<br />

ela prescrita.<br />

XII. Será mantida a independência <strong>do</strong> Poder Judicial.<br />

Nenhuma Autoridade poderá evocar as Causas<br />

pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos<br />

fin<strong>do</strong>s.<br />

XIII. A Lei será igual para to<strong>do</strong>s, quer proteja quer<br />

castigue, e recompensará em proporção <strong>do</strong>s<br />

merecimentos de cada um.<br />

F XIV. To<strong>do</strong> o Cidadão pode ser admiti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Cargos<br />

Públicos Civis, Políticos, ou Militares, sem outra<br />

diferença que não seja a <strong>do</strong>s seus talentos, e virtudes:<br />

XV. Ninguém será exemplo de contribuir para as<br />

despesas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em proporção <strong>do</strong>s seus haveres.<br />

XVI. Ficam aboli<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s Os Privilégios, que não<br />

forem essencial, e inteiramente liga<strong>do</strong>s aos Cargos, per<br />

utilidade publica.<br />

XVII. A exceção das Causas, que per sua natureza<br />

pertencem a Juízos particulares, na conformidade das<br />

Leis, não haverá Foro privilegia<strong>do</strong>, nem Comissões<br />

especiais as Causas cíveis, ou crimes.<br />

XVIII. Organizar-se-ha quanto antes um Código Civil, e<br />

Criminal, funda<strong>do</strong> nas solidas bases da Justiça, e<br />

Equidade.<br />

XIX. Desde já ficam aboli<strong>do</strong>s os acoites; as torturas a<br />

marca de ferro quente e todas as mais pena cruéis<br />

XX. Nenhuma pena passará da pessoa <strong>do</strong> delinquente Per<br />

tanto no haverá em case algum confiscação de bens, o<br />

em a infâmia <strong>do</strong>s Réus Se transmitirá aos parentes em<br />

qualquer grão, que seja.<br />

XXI. As Cadeias serão seguras, limpas, e bem arejadas.<br />

haven<strong>do</strong> diversas casas para separação <strong>do</strong>s Réus,<br />

conforme suas circunstâncias, ê natureza <strong>do</strong>s seus<br />

crimes.<br />

XXII. E garanti<strong>do</strong> o Direito de Propriedade em toda a<br />

sua plenitude. Se o bem publico legal mente verifica<strong>do</strong><br />

exigir o use, e emprego da Propriedade <strong>do</strong> Cidadão, será<br />

ele previamente indeniza<strong>do</strong> <strong>do</strong> valor dela. A Lei marcará<br />

os casos, em que terá lugar esta única exceção, e dará as<br />

regras para se determinar a indenização.<br />

XXIII. Também fica garantida a Divida Publica.<br />

XXIV. Nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria,<br />

ou comércio pode ser proibi<strong>do</strong>, uma vez que não se<br />

oponha aos costumes públicos, a segurança, e saúde <strong>do</strong>s<br />

Cidadãos.<br />

XXV Ficam abolidas as Corporações de Oficio, seus<br />

Juízes, Escrivães, e Mestres.<br />

XXVI Os inventores terão a propriedade das suas<br />

descobertas, ou das suas promoções. A Lei lhes<br />

77


assegurará um privilegia exclusive temporário, ou lhes<br />

remunerará em ressarcimento da perda, que hajam de<br />

sofrer pela vulgarização.<br />

XVII, O Segre<strong>do</strong> das Cartas é inviolável A<br />

Administração <strong>do</strong> Correio fica rigorosamente<br />

responsável per qualquer infração deste Artigo.<br />

XXVIII. Ficam garantidas as recompensas conferidas<br />

pelos serviços feitos ao Esta<strong>do</strong> quer Civis, quer<br />

Militares; assim como o direito adquiri<strong>do</strong> a ela na forma<br />

das Leis.<br />

XXIX. Os Emprega<strong>do</strong>s Públicos são estritamente<br />

responsáveis pelos abuses, e omissões praticadas no<br />

exercício das suas funções, e por não fazerem<br />

efetivamente responsáveis aos seus subalternes.<br />

XXX. To<strong>do</strong> o Cidadão poderá apresentar por escrito ao<br />

Poder Legislativo, e ao Executivo reclamações, queixas,<br />

ou petições; e ate expor qualquer inflação da<br />

Constituição, requeren<strong>do</strong> perante a competente<br />

Autoridade a efetiva responsabilidade <strong>do</strong>s infratores.<br />

XXXI A Constituição também garante as socorros<br />

públicos.<br />

XXXIL A Instrução primaria é gratuita a to<strong>do</strong>s os<br />

Cidadãos.<br />

XXXIII. Colégios, e Universidades, aonde serão<br />

ensina<strong>do</strong>s os elementos das ciências Belas Letras e Artes.<br />

XXXIV. Os Poderes Constitucionais não podem<br />

suspender a Constituição, no que diz respeito aos direitos<br />

individuais, salvo nos casos, e circunstâncias<br />

especificadas no parágrafo seguinte.<br />

XXXV. Nos casos de rebelião, ou invasão de inimigos,<br />

pedin<strong>do</strong> a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que se dispensem por<br />

tempo determina<strong>do</strong> algumas das formalidades, que<br />

garantem a liberdade individual, poder-se-ha fazer por<br />

ato especial <strong>do</strong> Poder Legislativo, Não se achan<strong>do</strong>,<br />

porém há esse tempo reunida a Assembleia, e corren<strong>do</strong> a<br />

Pátria perigo iminente, poderá o Governo exercer esta<br />

mesma providencia, como medida.<br />

TEXTO 01<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

A cena de uma rua é, a um só tempo, a mesma de to<strong>do</strong> o<br />

quarteirão. Os pés de chumbo (portugueses) deixam que<br />

a cabralhada se aproxime o mais possível. E,<br />

inesperadamente, de todas as portas, chovem garrafas<br />

inteiras e aos pedaços sobre os invasores. O sangue<br />

espirra. Testas, cabeças, canelas, peitos golpea<strong>do</strong>s.<br />

Gritos, gemi<strong>do</strong>s, uivos, guinchos.<br />

"E o inverossímil.<br />

E a marotada, de cacete em punho, vai malhan<strong>do</strong>,<br />

malhan<strong>do</strong>, como os garotos malham Judas em sába<strong>do</strong> de<br />

Aleluia. E corpos a cair ensanguenta<strong>do</strong>s sobre cacos<br />

navalhantes de garrafas.” (CORREIA, V., 1933, p. 42)<br />

TEXTO 02<br />

A situação criada exigia uma definição. Reuni<strong>do</strong>s na<br />

residência <strong>do</strong> deputa<strong>do</strong><br />

José Custódio Dias, 24 deputa<strong>do</strong>s brasileiros escolheram<br />

Evaristo da Veiga para redigir um manifesto ao<br />

impera<strong>do</strong>r exigin<strong>do</strong> reformas. Sentin<strong>do</strong>-se cada vez mais<br />

encurrala<strong>do</strong>, Dom Pedro nomeou um novo ministério<br />

mais liberal, que ficou conheci<strong>do</strong> como o “Ministério <strong>do</strong>s<br />

<strong>Brasil</strong>eiros”. Foi uma medida conciliatória, mas a essa<br />

altura <strong>do</strong>s acontecimentos, inútil.<br />

No dia 5 de abril, por se recusar a reprimir manifestações<br />

populares, esse mesmo ministério foi demiti<strong>do</strong> e<br />

substituí<strong>do</strong> por um outro, o “Ministério <strong>do</strong>s Marqueses”.<br />

Era integra<strong>do</strong> por alguns elementos <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Português<br />

que queriam o “impera<strong>do</strong>r sem trambolho”, isto é, sem<br />

câmaras. A esse fato o povo reagiu prontamente. Uma<br />

multidão concentrou-se no Campo da Aclamação (atual<br />

Campo de Sant’Ana), exigin<strong>do</strong> o retomo <strong>do</strong> “Ministério<br />

<strong>do</strong>s <strong>Brasil</strong>eiros”, ao que o impera<strong>do</strong>r respondeu: “Tu<strong>do</strong><br />

farei para o povo, mas nada pelo povo”. Não tinha<br />

condições, no entanto, para fazer nada nem por ele<br />

mesmo. A tropa já aderira ao povo.<br />

No dia 7 de abril, Dom Pedro apresentava sua renúncia.<br />

Era inevitável. O impera<strong>do</strong>r “desgastou-se<br />

profundamente, tomou-se progressivamente inváli<strong>do</strong><br />

para servir aos propósitos conserva<strong>do</strong>res da classe que<br />

empresara a autonomia e que dele se servira, chocan<strong>do</strong>se<br />

com muitos de seus melhores e mais poderosos<br />

representantes”. (WERNECK S0DRÉ, N., 1569, p. 189)<br />

A abdicação, por um la<strong>do</strong>, tornou definitiva a<br />

independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> em relação a Portugal. Por<br />

outro, efetivou e consoli<strong>do</strong>u o poder <strong>do</strong>s proprietários<br />

rurais, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> sudeste, que poderiam agora<br />

reconstruir o império à sua maneira.<br />

Através de seus representantes, fariam perpetuar-se a<br />

forma de governo centralizada e a escravidão.<br />

78


“Durante as discussões da Constituinte ficou manifesta a<br />

intenção da maioria <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s de limitar o senti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> liberalismo e de distingui4o das reivindicações<br />

democratizantes. To<strong>do</strong>s se diziam liberais, mas ao<br />

mesmo tempo se confessavam antidemocratas e<br />

antirrevolucionários. As ideias revolucionárias<br />

provocavam desagra<strong>do</strong> entre os constituintes. A<br />

conciliação da liberdade com a ordem seria o preceito<br />

básico desses liberais, que se inspiravam em Benjamim<br />

Constant e Jean Baptiste Say. Em outras palavras:<br />

conciliar a liberdade com a ordem existente, isto é.<br />

manter a estrutura escravista de produção, cercear as<br />

pretensões democratizantes. As palavras de Munia<br />

Tavares, antigo revolucionário de 1817, pronunciadas na<br />

sessão de 21 de maio de 1823 na Assembleia<br />

Constituinte, poderiam definir o pensamento da maioria:<br />

‘Causa-me horror só ouvir falar em revolução’. A.<br />

desconfiança em relação às camadas populares era tão<br />

generalizada na Assembleia quanto o horror a uma<br />

sublevação de escravos. A maioria <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s<br />

en<strong>do</strong>ssaria as palavras de Henrique de Rezende, outro<br />

revolucionário de 1817 acusa<strong>do</strong> ainda em 1823 de<br />

republicanismo, que fazia questão de declarar na Câmara<br />

ser ‘inimigo da democracia’. Liberalismo e democracia<br />

estavam assim dissocia<strong>do</strong>s no primeiro instante em que<br />

se procede à organização <strong>do</strong> pais independente. Por<br />

maiores que fossem as divergências <strong>do</strong>s políticos <strong>do</strong><br />

Primeiro Reina<strong>do</strong>, concordavam eles, entretanto, quanto<br />

à necessidade de manter a estrutura de produção e o<br />

trabalho escravo. A ideia de emancipação gradual <strong>do</strong>s<br />

escravos que alguns políticos europeiza<strong>do</strong>s tais como<br />

José Bonifácio defendiam não encontraria acolhida na<br />

época.” (ViOfli DA COSTA, E., 1977, p. 116-7).<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (VUNESP) A respeito da independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

pode-se afirmar que:<br />

a) consubstanciou os ideais propostos na Confederação<br />

<strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r.<br />

b) instituiu a monarquia como forma de governo, a<br />

partir de amplo movimento popular.<br />

c) propôs, a partir das idéias liberais das elites<br />

políticas, a extinção <strong>do</strong> trafico de escravos,<br />

contrarian<strong>do</strong> os interesses da Inglaterra.<br />

d) provocou, a partir da Constituição de 1824,<br />

profundas transformações nas estruturas econômicas<br />

e sociais <strong>do</strong> país.<br />

e) implicou na a<strong>do</strong>ção da forma monárquica de<br />

governo e preservou os interesses básicos <strong>do</strong>s<br />

proprietários de terras e de escravos.<br />

02. (Mack-SP) A abdicação <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r Pedro I<br />

representou a culminância <strong>do</strong>s diferentes problemas que<br />

caracterizam o Primeiro Reina<strong>do</strong>, a exemplo <strong>do</strong>(a):<br />

a) apoio inglês à política platina <strong>do</strong> Império.<br />

b) apoio das províncias à política <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong><br />

implanta da por D. Pedro i, após a morte de O. João<br />

VI.<br />

c) conflito entre os interesses <strong>do</strong>s produtores<br />

tradicionais de açúcar e os novos produtores de<br />

ouro.<br />

d) confronto entre os grupos políticos liberais e o<br />

governo centraliza<strong>do</strong> e com tendências despóticas de<br />

D. Pedro I<br />

e) crescente participação popular nas manifestações<br />

políticas, favorecidas pela abolição <strong>do</strong> tráfico.<br />

03. (Mack-SP) «Morre um liberal mas não morre a<br />

liberdade.”<br />

A frase acima, atribuída a Líbero Badaró, foi<br />

pronunciada na seguinte circunstância histórica.<br />

a) A dissolução da Constituinte pelo Impera<strong>do</strong>r em<br />

1823.<br />

b) As críticas ao absolutismo de Pedro I, através <strong>do</strong><br />

jornal O Observa<strong>do</strong>r Constitucional.<br />

c) A condenação à morte <strong>do</strong>s líderes da Confederação<br />

<strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r.<br />

d) A derrota brasileira na Guerra Cisplatina.<br />

e) A morte de patriotas brasileiros contra as forças<br />

portuguesas <strong>do</strong> General Madeira de Meio, na Bahia.<br />

04. (Cesgranrio - RJ) A Constituição imperial brasileira,<br />

promulgada em 1824, estabeleceu as linhas básicas da<br />

estrutura e <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> sistema político<br />

imperial, tais como o(a):<br />

a) equilíbrio <strong>do</strong>s poderes com o controle constitucional<br />

<strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r e as ordens sociais privilegiadas.<br />

b) ampla participação política de to<strong>do</strong>s os cidadãos,<br />

com exceção <strong>do</strong>s escravos.<br />

c) laicização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por influência das ideias<br />

liberais.<br />

d) pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> poder <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r sobre to<strong>do</strong> o<br />

sistema através <strong>do</strong> Poder Modera<strong>do</strong>r.<br />

e) autonomia das províncias e, principalmente, <strong>do</strong>s<br />

municípios, reconhecen<strong>do</strong>-se a formação<br />

regionalizada <strong>do</strong> país.<br />

79


80<br />

05. (Udesc) Durante o processo de Independência <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, na segunda década <strong>do</strong> século XIX, houve<br />

resistência e luta armada em diversas regiões.<br />

Assinale a única alternativa que indica onde ocorreu<br />

derramamento de sangue nesse perío<strong>do</strong> pela conquista da<br />

emancipação política:<br />

a) São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.<br />

b) Paraná, Santa Catarina e Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<br />

c) Goiás, Mato Grosso e Tocantins.<br />

d) Bahia, Maranhão e Pará.<br />

e) Alagoas, Pernambuco e Ceará.<br />

06. (UFMG) A opção pelo regime monárquico no <strong>Brasil</strong>,<br />

após a Independência, pode ser explicada:<br />

a) pela atração que os títulos nobiliárquicos exerciam<br />

sobre os grandes proprietários rurais.<br />

b) pela crescente popularidade <strong>do</strong> regime monárquico<br />

entre a elite colonial brasileira.<br />

c) pela pressão das oligarquias aliadas aos interesses da<br />

Inglaterra e pela defesa da entrada de produtos<br />

manufatura<strong>do</strong>s.<br />

d) pelo temor aos ideais abolicionistas defendi<strong>do</strong>s pelos<br />

republicanos nas Américas.<br />

e) pelas transformações ocorridas com a instauração da<br />

Corte Portuguesa no <strong>Brasil</strong> e pela elevação <strong>do</strong> país a<br />

Reino Uni<strong>do</strong><br />

07. (UFPE) A Independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> despertou<br />

interesses conflitantes tanto na área econômica quanto na<br />

área política. Qual das alternativas apresenta esses<br />

conflitos?<br />

a) Os interesses econômicos <strong>do</strong>s comerciantes<br />

portugueses se chocaram com o “liberalismo<br />

econômico» pratica<strong>do</strong> pelos brasileiros e<br />

subordina<strong>do</strong> à hegemonia da Inglaterra.<br />

b) A possibilidade de uma sociedade baseada na<br />

igualdade e na liberdade levou a jovem nação a<br />

abolir a escravidão.<br />

c) As colônias espanholas tornaram-se independentes<br />

dentro <strong>do</strong> mesmo modelo brasileiro: monarquia<br />

absolutista.<br />

d) A Guerra da Independência dividiu as províncias<br />

brasileiras entre o “parti<strong>do</strong> português” e o “parti<strong>do</strong><br />

brasileiro” levan<strong>do</strong> as Províncias <strong>do</strong> Grão-Pará,<br />

Maranhão, Bahia e Cisplatina a apoiarem, por<br />

unanimidade, a Independência.<br />

e) Os republicanos, os monarquistas constitucionalistas<br />

e os absolutistas lutaram la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> pela<br />

Independência, não deixan<strong>do</strong> que as suas diferenças<br />

dificultassem o processo revolucionário.<br />

08. (Ufes) “Confederação <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r Manifesto<br />

Revolucionário” “<strong>Brasil</strong>eiros <strong>do</strong> Norte! Pedro de<br />

Alcântara, filho de D. João VI rei de Portugal, a quem<br />

vós, após uma estúpida condescendência com os<br />

<strong>Brasil</strong>eiros <strong>do</strong> Sul, aclamastes vosso impera<strong>do</strong>r, quer<br />

descaradamente escravizar-vos. Que desafora<strong>do</strong><br />

atrevimento de um europeu no <strong>Brasil</strong>. Acaso pensará<br />

esse estrangeiro ingrato e sem costumes que tem algum<br />

direito à Coroa, por descender da casa de Bragança na<br />

Europa, de quem já somos independentes de fato e de<br />

direito? Não há delírio igual (...)”.<br />

(Ulysses de Carvalho Brandão. A Confederação <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r. Pernambuco:<br />

Publicações Oficiais, 1924.)<br />

O texto <strong>do</strong>s Confedera<strong>do</strong>s de 1824 revela um momento<br />

de insatisfação política contra a:<br />

a) extinção <strong>do</strong> Poder Legislativo pela Constituição de<br />

1824 e sua substituição pelo Poder Modera<strong>do</strong>r.<br />

b) mudança <strong>do</strong> sistema eleitoral na Constituição de<br />

1824, que vedava aos brasileiros o direito de se<br />

candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos<br />

portugueses.<br />

c) atitude absolutista de D. Pedro I, ao dissolver a<br />

Constituinte de 1823 e outorgar uma Constituição<br />

que conferia amplos poderes ao Impera<strong>do</strong>r.<br />

d) liberalização <strong>do</strong> sistema de mão-de-obra nas<br />

disposições constitucionais, por pressão <strong>do</strong> grupo<br />

português, que já não detinha o controle das grandes<br />

fazendas e da produção de açúcar.<br />

e) restrição às vantagens <strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> açúcar pelo<br />

reforço <strong>do</strong> monopólio português e aumento <strong>do</strong>s<br />

tributos conti<strong>do</strong>s na Carta Constitucional.<br />

09. (UESB -2010.2) Pode-se destacar como<br />

acontecimento relevante no perío<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> no texto, de<br />

1808 a 1831,<br />

01) o número de acor<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s firma<strong>do</strong>s pela<br />

delimitação <strong>do</strong>s territórios das capitanias<br />

subalternas.<br />

02) a pressão <strong>do</strong> governo imperial contra o abuso da<br />

liberdade de expressão <strong>do</strong> pensamento e de<br />

imprensa, especialmente de matérias que<br />

denunciavam as ações absolutistas <strong>do</strong> governo.<br />

03) a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> sistema republicano nas províncias <strong>do</strong><br />

sul e <strong>do</strong> sudeste <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> provincial, por imposição<br />

<strong>do</strong>s imigrantes europeus.<br />

04) a receptividade <strong>do</strong>s brasileiros a orientação <strong>do</strong>s<br />

diplomatas portugueses que se encontravam no<br />

coman<strong>do</strong> da política nacional.<br />

a liberdade de religião e de culto, resultante da separação<br />

entre o Esta<strong>do</strong> e a Igreja, que se estendeu aos imigrantes<br />

e aos demais habitantes <strong>do</strong> país.


VII – O PERÍODO REGÊNCIAL (1831 – 1840)<br />

REGÊNCIAS<br />

Pedro I abdicou <strong>do</strong> trono em favor de seu filho Pedro de<br />

Alcântara que tenha então apenas cinco nos de idade.<br />

Nessa situação, a constituição <strong>do</strong> Império estabelecia que<br />

o <strong>Brasil</strong> Fosse governa<strong>do</strong> por três regentes, eleitos pelo<br />

legislativo enquanto Pedro de Alcântara o atingisse a<br />

maioridade (18 anos).<br />

Durante o perío<strong>do</strong> das regências (1831 - 840), o <strong>Brasil</strong><br />

teve uma forma de governo que apresentava semelhanças<br />

com o regime republicano - por exemplo, eleição e a<br />

troca de governantes depois <strong>do</strong> cumprimento <strong>do</strong><br />

mandato.<br />

O perío<strong>do</strong> regencial foi marca<strong>do</strong> por graves turbulências<br />

que ameaçaram a unidade territorial <strong>do</strong> país. Na área<br />

política, a abdicação de Pedro I e a menoridade de Pedro<br />

de Alcântara (futuro impera<strong>do</strong>r) criaram certo vazio de<br />

poder, provocan<strong>do</strong> a acirradas disputas entre as facções<br />

políticas na área econômica, o país perdia<br />

competitividade com seus produtos de agro exportação:<br />

Na Área social rebeliões explodiam pelas províncias,<br />

canalizan<strong>do</strong> os anseios de diversos setores da sociedade<br />

por uma vida melhor.<br />

Facções políticas<br />

Da abdicação de D. Pedro I até 1834, a vida política <strong>do</strong><br />

país foi <strong>do</strong>minada por três grupos que disputavam o<br />

poder: restaura<strong>do</strong>res, liberais modera<strong>do</strong>s e Librais<br />

exalta<strong>do</strong>s.<br />

Vejamos, resumidamente, as tendências e os lideres de<br />

cada grupo no quadro da página seguinte.<br />

Origem de Liberais e Conserva<strong>do</strong>res<br />

A partir de 1834, após a morte <strong>do</strong> D. Pedro I em<br />

Portugal, os restaura<strong>do</strong>res e os liberais exalta<strong>do</strong>s tiveram<br />

seu poder cada vez mais reduzi<strong>do</strong>. A cena política<br />

braseira passou então a ser <strong>do</strong>minada pela ala <strong>do</strong>s<br />

progressistas e a <strong>do</strong>s regressistas, resultantes da cisão <strong>do</strong><br />

grupo <strong>do</strong>s modera<strong>do</strong>s.<br />

Eis as principais diferenças entre progressistas e<br />

regressistas:<br />

Progressistas - eram favoráveis a um P governo forte,<br />

centraliza<strong>do</strong> no Rio de Janeiro; mas estavam dispostos a<br />

fazer concessões aos liberais exalta<strong>do</strong>s. Por exemplo,<br />

delegar maior autonomia administrativa as províncias,<br />

medida que, alias, fora tomada pelo Ato Adicional de<br />

1834.<br />

Regressistas - não estavam dispostos a fazer concessões<br />

aos liberais exalta<strong>do</strong>s. Eram favoráveis ao fortalecimento<br />

<strong>do</strong> poder legislativo, centraliza<strong>do</strong> no Rio cia Janeiro, e<br />

contrários a liberdade administrativa das províncias.<br />

Lutavam pela manutenção da ordem publica.<br />

FASES REGENCIAIS<br />

Cumprin<strong>do</strong> a norma constitucional, tiveram início as<br />

regências, que foram marcadas por intensa agitação<br />

política e social.<br />

O perío<strong>do</strong> regencial (1831-1840) passou por três fases<br />

Regência Trina Provisória — governou O <strong>Brasil</strong> de 7 de<br />

abril a 7 de junho de 1831.<br />

Regência Trina Permanente - governou de 1831 a 1835;<br />

Regências Unas - compreendem as regências <strong>do</strong> padre<br />

Diogo Araújo Feijó, de 1835 a 1837 e de Araujo Lima,<br />

de 1838 a 1840.<br />

Regência trina provisória<br />

No dia 7 de abril de 1831 (data da abdicação), a<br />

Assembleia Nacional estava em férias. Não havia, no Rio<br />

de Janeiro, numero suficiente de deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res<br />

para eleger os três regentes que governariam o país,<br />

conforme estabelecia Constituição Os poucos políticos<br />

que se encontravam na cidade resolveram, então, eleger<br />

ama regência provisória para governar a nação ate que se<br />

elegesse a regência permanente<br />

A Regência Trina provisória governou o <strong>Brasil</strong> por<br />

aproximadamente três meses. Dela participaram Os<br />

sena<strong>do</strong>res José Carneiro de Campos, Nicolau Campos<br />

Vergueiro e o brigadeiro Francisco de Lima e Silva (pai<br />

<strong>do</strong> futuro Duque de Caxias).<br />

Começa o avanço liberal<br />

Entre as principais medidas tomadas pela Regência Trina<br />

Provisória, destacam-se:<br />

• volta <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong>s <strong>Brasil</strong>eiros, demiti<strong>do</strong> pelo<br />

impera<strong>do</strong>r em 5 de abril de 1831;<br />

• suspensão parcial <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> poder modera<strong>do</strong>r pelos<br />

regentes;<br />

• anistia as pessoas presas por motivos políticos;<br />

• convocação <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res para eleger, em<br />

Assembleia Geral, a Regência Trina Permanente.<br />

Apesar de manterem as estruturas políticas <strong>do</strong> Império,<br />

as primeiras medidas da Regência Provisória tinham<br />

Carter liberal e antiabsolutista. Era o início <strong>do</strong> avanço<br />

liberal que durou ate 1837.<br />

81


82<br />

Regência Trina Permanente:<br />

Reunin<strong>do</strong> deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res de to<strong>do</strong> o país a<br />

Assembleia Geral elegeu a Regência Trina Permanente,<br />

no dia 17 de junho de 1831.<br />

A nova regência era composta pelos deputa<strong>do</strong>s João<br />

Bráulio Muniz (político <strong>do</strong> Nordeste), Jose da Costa<br />

Carvalho (político <strong>do</strong> Sul) e pelo brigadeiro Francisco de<br />

Lima e Silva.<br />

De mo<strong>do</strong> geral, essa regência representava o grupo <strong>do</strong>s<br />

modera<strong>do</strong>s. A ela se opunham os liberais exalta<strong>do</strong>s e os<br />

restaura<strong>do</strong>res.<br />

Criação da guarda nacional<br />

Uma das figuras de maior destaque da Regência trina<br />

Permanente foi o padre Diogo Antonio Feijó, nomea<strong>do</strong><br />

para o cargo de Ministro da Justiça. Sua principal<br />

ocupação era garantir a ordem pública, acaban<strong>do</strong> com as<br />

agitações populares e os levantes militares, que<br />

ameaçavam os interesses <strong>do</strong>s modera<strong>do</strong>s.<br />

Para manter a ordem, o governo precisava de urna força<br />

militar fiel o Exército não era uma instituição muito<br />

confiável, pois contava com grande numero de oficiais<br />

portugueses, além de uma tropa composta de solda<strong>do</strong>s<br />

pobres, mal remunera<strong>do</strong>s e propensos a aliarem se as<br />

rebeliões urbanas.<br />

A solução proposta foi à criação da Guarda Nacional<br />

instituída em 18 de agosto de 1831. A Guarda Nacional<br />

foi transformada em instrumento conserva<strong>do</strong>r destina<strong>do</strong><br />

a controlar as classes populares e que participavam das<br />

revoltas regenciais. O governo concedia aos fazendeiros<br />

o titulo de coronel, posto de coman<strong>do</strong> mais alto da<br />

corporação, e Os Coronéis, por sua vez, indicavam seus<br />

homens de confiança para compor a Guarda.<br />

Assim, a principal função da Guarda Nacional era<br />

defender a ordem pública e a propriedade, combater as<br />

revoltas populares e manter a escravidão.<br />

A Guarda Nacional só foi extinta bem depois da<br />

proclamação da república em 1922.<br />

JUSTIÇA BRASILEIRA<br />

A Constituição de 1824 aboliu algumas penas que<br />

vigoravam no país até então, como a tortura, a mutilação<br />

e a marca de ferro. Porém preservou as penas de morte e<br />

de açoite.<br />

Anos depois, cogitou-se em acabar coma pena de morte.<br />

Mas muitos deputa<strong>do</strong>s decidiram mantê-la, pois<br />

acreditavam na suo eficiência pera intimidar a população<br />

miserável.<br />

Quem controlava de foto a justiça no <strong>Brasil</strong> eram os<br />

grandes fazendeiros que, acostuma<strong>do</strong>s a mondar<br />

impunham suas próprias leis e as executavam. Detinham,<br />

portanto poderes judiciais e policiais.<br />

Reforma na constituição <strong>do</strong> Império<br />

Em agosto de 1834, os políticos modera<strong>do</strong>s promoveram<br />

uma reforma na Constituição <strong>do</strong> Império, conhecida<br />

como Ato Adicional porque adicional porque ele<br />

adicionou artigos constitucionais.<br />

O Ato Adicional era uma tentativa de harmonizar as<br />

principais forças políticas que atuavam no País.<br />

• De acor<strong>do</strong> com o Ato Adicional de 1834:<br />

• O poder modera<strong>do</strong>r não poderia ser 1 exerci<strong>do</strong> durante<br />

a regência;<br />

• A regência seria exercida por uma única pessoa, com<br />

mandato de quatro anos.<br />

• extinguia-se o Conselho de Esta<strong>do</strong>, órgão que reunia os<br />

políticos mais tradicionais e conserva<strong>do</strong>res;<br />

• Criavam-se as Assembleias Legislativas das províncias,<br />

com poderes para fazer leis e lançar impostos locais e o<br />

direito de nomear e demitir funcionários públicos.<br />

A criação das Assembleias Legislativas oferecia maior<br />

liberdade administrativa as Províncias. Contu<strong>do</strong>, o<br />

<strong>Brasil</strong> Continuava sen<strong>do</strong> uma monarquia bastante<br />

centralizada, já que os presidentes das províncias eram<br />

nomea<strong>do</strong>s pelo governo da capital <strong>do</strong> Império. Apesar<br />

disso, o Ato Adicional foi considera<strong>do</strong> muito importante<br />

marco <strong>do</strong> avanço liberal durante o perío<strong>do</strong> regencial.<br />

Alguns conserva<strong>do</strong>res o chamavam de ‘código da<br />

anarquia’, pois concedia maior autonomia às províncias.<br />

Regência Una de Feijó<br />

Obedecen<strong>do</strong> ao Ato Adicional, novas eleições foram<br />

realizadas para a escolha Regência Una. O vence<strong>do</strong>r<br />

dessas eleições foi o padre Diogo Antônio Feijó que era<br />

liga<strong>do</strong> à ala progressista <strong>do</strong>s modera<strong>do</strong>s. Seu adversário,<br />

o deputa<strong>do</strong> pernambucano Francisco Holanda<br />

Cavalcanti, representava a ala regressista.<br />

Depois de eleito, o regente Feijó sofreu grande pressão<br />

<strong>do</strong>s regressistas, que o acusavam de no conseguir impor<br />

a ordem no país. Durante seu governo, explodiram<br />

rebeliões, como a Cabanagem, no Path, e a Farroupilha,<br />

no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<br />

Quan<strong>do</strong> ainda faltavam dais anos para terminar seu<br />

mandato, Feijó, com a saúde abalada, decidiu renunciar.<br />

Provisoriamente, a regência foi entregue a Pedro de<br />

Araújo Lima, sena<strong>do</strong>r pernambucano que representava<br />

Os regressistas.<br />

Realizaram se novas eleições e o nome de Araújo Lima<br />

foi confirmação como regente.<br />

A renúncia <strong>do</strong> Feijó e a vitória <strong>do</strong> Araújo Lima<br />

significaram o triunfo <strong>do</strong>s regressistas e também um


tratamento mais duro para revoltas provinciais, mais<br />

autoridade ao governo central.<br />

Regência de Araújo Lima<br />

Ao assumir poder, Araújo Lima organizou um ministério<br />

composto só de políticos regressistas, conheci<strong>do</strong> como<br />

Ministério das Capacidades.<br />

A regência de Araújo Lima caracterizou se pela violenta<br />

repressão as revoltas políticas nas províncias, que,<br />

segun<strong>do</strong> o governo, ameaçavam quebrar a unidade<br />

territorial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. As classes <strong>do</strong>minantes queriam a<br />

to<strong>do</strong> custo parar o carro da revolução, como dizia a<br />

Ministro da Justiça Bernar<strong>do</strong> Pereira <strong>do</strong> Vasconcelos.<br />

Durante essa regência, á autonomia administrativa das<br />

províncias’ foi reformulada Lei Interpretativa <strong>do</strong> Ato<br />

Adicional, de 12 de maio de 1840. Essa lei tinha como<br />

objetivo limitar a autonomia das províncias e promover<br />

uma nova centralização <strong>do</strong> poder político. A policia e a<br />

justiça ficariam sob o controle <strong>do</strong> poder central.<br />

D. Pedro II assume a poder<br />

Os políticos progressistas, opon<strong>do</strong>-se a regência de<br />

Araújo Lima passaram a defender a idéia de que o meio<br />

mais eficiente para preservar a unidade territorial <strong>do</strong><br />

lmp6No e acabar com a falta da autoridade <strong>do</strong> governo<br />

central seria transferir o poder para as mãos <strong>do</strong> Pedro de<br />

Alcântara. O príncipe, porém, ainda era menor de idade.<br />

A Assembléia Nacional, entretanto, tinha poderes para<br />

antecipar a maioridade de D. Pedro. Foi, então, funda<strong>do</strong><br />

o Clube da Maioridade, organização política que tinha<br />

como objetivo lutar pela antecipação da maioridade <strong>do</strong><br />

príncipe junto a Assembléia Nacional.<br />

A tese <strong>do</strong> Clube da Maioridade teve o apoio das classes<br />

<strong>do</strong>minantes e uniu políticos progressistas e parte <strong>do</strong>s<br />

regressistas. A elite política acreditava que a figura de<br />

um impera<strong>do</strong>r com fortes poderes seria essencial para<br />

liquidar as revoltas províncias e, desse mo<strong>do</strong>,<br />

restabelecer a ordem social que interessava aos grandes<br />

proprietários de terra e senhores de escravos.<br />

Em 1840 a Assembléia Nacional aprovou a tese da<br />

maioridade. “O episodio ficou conheci<strong>do</strong> come golpe da<br />

maioridade”. Pedro de Alcântara, com 15 anos<br />

incompletos, foi aclama<strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r, receben<strong>do</strong> o titulo<br />

de D. Pedro II, em 23 de julho de 1840. Iniciava-se o<br />

Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>, um per lo<strong>do</strong> que durou quase meio<br />

século (1840-1889).<br />

REVOLTAS PROVINCIAIS<br />

Crise econômica e insatisfação popular<br />

No perío<strong>do</strong> das regências, muitas revoltas explodiram<br />

pelas províncias brasileiras em decorrência da crise<br />

econômica e <strong>do</strong> descontentamento com a situação<br />

política. Preocupa<strong>do</strong>, o regente Feijó chegou a dizer. O<br />

vulcão da anarquia começava devorar o Império.<br />

No Primeiro Reina<strong>do</strong> e no perío<strong>do</strong> regencial, a estrutura<br />

econômica <strong>do</strong> país não sofreu grande alteração, pois<br />

permanecia assentada em duas grandes bases: a<br />

escravidão e a grande propriedade rural.<br />

A taxa privilegiada de 15% ad valorem, concedida a<br />

Inglaterra pelo Trata<strong>do</strong> de 1810, foi estendida as<br />

importações de outros países, através de lei promulgada<br />

em 1828. Praticamente sem barreiras alfandegárias, os<br />

produtos estrangeiros <strong>do</strong>minaram o merca<strong>do</strong> brasileiro<br />

estabelecen<strong>do</strong> fina concorrência que tornava impossível<br />

o desenvolvimento da produção nacional.<br />

Assim nossa economia reduzia-se cada vez mais a<br />

produção de alguns poucos gêneros tropicais destina<strong>do</strong>s<br />

à exportação, e ficava extremamente vulnerável a<br />

flutuação econômica <strong>do</strong> comércio internacional.<br />

A partir de 1831, refletin<strong>do</strong> essas flutuações econômicas,<br />

os produtos brasileiros de exportação passaram a<br />

enfrentar sérias dificuldades no merca<strong>do</strong> externo.<br />

O açúcar de cana perdeu preço devi<strong>do</strong> à concorrência <strong>do</strong><br />

açúcar antilhano, controla<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong><br />

açúcar de beterraba desenvolvi<strong>do</strong> na Europa.<br />

O algodão também sofreu concorrência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s que tinham técnicas produtivas mais avançadas e<br />

fretes mais baratos.<br />

O couro, por sua vez, também entrou num perío<strong>do</strong> de<br />

crise, face a produção de outros países latinos.<br />

Dessa forma, o país comprava mais <strong>do</strong> que vendia,<br />

resultan<strong>do</strong> em um desequilíbrio crônico da balança<br />

comercial.<br />

O comércio internacional <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> se torna quase<br />

permanentemente deficitário. Entre 1821 e 1860, só<br />

excepcionalmente ocorrem anos com balanços positivos.<br />

(Pra<strong>do</strong> Jr., 1975, p. 133)<br />

Outros fatores somaram-se ao desequilíbrio da nossa<br />

balança comercial, agravan<strong>do</strong> a crise econômica e<br />

financeira. Entre esses fatores. Destacam-se:<br />

• a indenização de 2 milhões de libras que o <strong>Brasil</strong> pagou<br />

a Portugal em troca <strong>do</strong> reconhecimento da<br />

independência;<br />

• as despesas com operações militares destinadas a conter<br />

conflitos externos.<br />

O déficit brasileiro foi provisoriamente contorna<strong>do</strong> com<br />

empréstimos toma<strong>do</strong>s de centros financeiros<br />

internacionais. Tais empréstimos foram simples<br />

paliativos que não eliminaram as causas <strong>do</strong> problema.<br />

Pelo contrário, a situação complicou se ainda mais, pois<br />

83


esses empréstimos implicavam pagamentos acresci<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s juros, dividen<strong>do</strong>s, amortizações etc.<br />

Tanto na cidade quanto no campo a vida cotidiana <strong>do</strong><br />

povo era miserável. Os alimentos eram caros. A riqueza<br />

e o poder concentravam-se nas mãos <strong>do</strong>s grandes<br />

fazendeiros e comerciantes portugueses. Em razão de os<br />

portugueses <strong>do</strong>minarem o comercia, acabavam sen<strong>do</strong><br />

aponta<strong>do</strong>s como os responsáveis pelos problemas que<br />

afligiam a população.<br />

Havia grande oposição a centralização <strong>do</strong> poder nas<br />

mãos <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> império. As províncias queriam<br />

mais autonomia, além <strong>do</strong> direito de eleger seus próprios<br />

presidentes e mais liberdade para fixar seus próprios<br />

tributos.<br />

Duas ondas de rebeliões<br />

As rebeliões regenciais estão ligadas as dificuldades das<br />

elites política de estabelecer um sistema nacional de<br />

<strong>do</strong>minação basea<strong>do</strong> na monarquia. Para realizar seu<br />

projeto, as elites precisavam preservar a unidade<br />

territorial <strong>do</strong> país e rechaçar certas forças separatistas ou<br />

divisionistas que se organizavam nas províncias.<br />

• As revoltas que aconteceram depois <strong>do</strong> Ato adicional se<br />

estenderam ate o Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>. (Murilo <strong>do</strong><br />

Carvalho, 1996).<br />

PRINCIPAIS REVOLTAS<br />

1831-1835 DURAÇÃO LOCALIZAÇÃO<br />

PARTICIPANTES<br />

PRINCIPAIS<br />

1. Seis<br />

rebeliões<br />

1831-32 Corte Tropa e povo<br />

2.<br />

Setembrizada<br />

1831 Recife Tropa<br />

3.<br />

Novembrizada<br />

1831 Recife Tropa<br />

4. Abrilada 1832 Pernambuco Tropa<br />

5. Pinto<br />

Madeira<br />

1831-35 Ceará Tropa<br />

6. Cabanos 1832-35 Alagoas<br />

Camponeses,<br />

índios e<br />

escravos<br />

7. Crise<br />

Federalista<br />

1832-33 Salva<strong>do</strong>r Tropa<br />

8. Sediação<br />

Ouro Preto<br />

1833 Ouro Preto Tropa<br />

9. Cameirada 1835 Recife Tropa Escravos<br />

10. Revolta<br />

<strong>do</strong>s Malês<br />

1835 Salva<strong>do</strong>r Escravos<br />

1835-1849 DURAÇÃO LOCALIZAÇÃO<br />

PARTICIPANTES<br />

PRINCIPAIS<br />

84<br />

Essas dificuldades relacionam-se as disputas <strong>do</strong>s grupos<br />

<strong>do</strong>minantes sobre o arranjo institucional mais<br />

conveniente aos seus interesses. Os temas da<br />

centralização ou descentralização polarizavam os debates<br />

políticos.<br />

Segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r José Murilo de Carvalho as<br />

revoltas regenciais, assim como outras revoltas’<br />

ocorridas no Império, podem ser divididas em <strong>do</strong>is<br />

grandes grupos:<br />

• as revoltas que vão desde a abdicação de D. Pedro até<br />

1835, um ano depois da promulgação <strong>do</strong> Ato adicional;<br />

Cabanagem 1835-40 Pará<br />

Camponeses,<br />

índios e<br />

escravos<br />

Farroupilha 1835-45 R. G. <strong>do</strong> Sul<br />

Estancieiros e<br />

Charquea<strong>do</strong>re<br />

s<br />

Sabinada 1837-38 Salva<strong>do</strong>r Tropa e povo<br />

Baianada 1838-41 Maranhão<br />

Proprietários,<br />

camponeses e<br />

escravos<br />

Revolta<br />

Liberal<br />

1842 S. P / R. J Proprietários<br />

Revolta<br />

Liberal<br />

1842 Minas Gerais Proprietários<br />

Praeira 1848-49 Pernambuco Proprietários<br />

José Murilo de Carvalho. A construção da ordem.<br />

A “primeira onda de revoltas” traduziu inquietação da<br />

população urbana nas principais capitais <strong>do</strong> império,<br />

ten<strong>do</strong> como protagonistas a tropa e o povo, isto é, os<br />

homens livres. Com exceção das capitais das províncias<br />

<strong>do</strong> Piauí e Santa Catarina, todas as outras foram cenário<br />

de levantes. Na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro capital <strong>do</strong><br />

Império a agitação foi mais intensa: houve cinco levantes<br />

entre 1831 e 1832. Em Salva<strong>do</strong>r, os seis levantes<br />

Ocorri<strong>do</strong>s em 1832 tinham como bandeira uma proposta


de federação (crise federalista). Recife foi palco de três<br />

levantes: a Setembrizada (1831), a Novembrizada (1831)<br />

e a Carneirada (1834-5).<br />

Esses levantes tenham como principais características a<br />

participação popular e uma postura nativista.<br />

Aproveita<strong>do</strong> a onda liberal e reformista <strong>do</strong> século XIX,<br />

as camadas populares e as classes médias urbanas<br />

reivindicavam seu direito de participar <strong>do</strong> poder político.<br />

A população urbana aliada aos membros <strong>do</strong> exército e<br />

aos pequenos comerciantes brasileiros protestava contra<br />

o alto custo de vida, a desvalorização da moeda (que<br />

encarecia as importações) e o controle <strong>do</strong> comércio pelos<br />

portugueses.<br />

Embora algumas dessas revoltas com a participação de<br />

escravos (ver tabela) a Revolta <strong>do</strong>s Malês (1835) foi a<br />

única a ter esse grupo como liderança e a reivindicar a<br />

abolição da escravatura em seu programa. Havia grande<br />

cuida<strong>do</strong> em não envolver escravos em revoltas.<br />

(Carvalho 1996). Mesmo contan<strong>do</strong> com partição de<br />

escravos nenhuma das outras revoltas tinha a abolição<br />

como objetivo. A revolta <strong>do</strong>s escravo malês ocorreu em<br />

Salva<strong>do</strong>r, na noite de 24 de janeiro de 1835. Reuniu<br />

cerca de quinhentos rebeldes que saíram pelas ruas e<br />

praças da cidade, procuran<strong>do</strong> atacar prisões e conquistar<br />

a adesão da população. Os rebeldes, entretanto, foram<br />

rapidamente enfrenta<strong>do</strong>s pelas forças governamentais<br />

que, atrav6s de trai<strong>do</strong>res, obtiveram informações sobre<br />

os planos de rebelião nos conflitos de rua, morreram c=a<br />

de setenta rebeldes.<br />

Embora a rebelião <strong>do</strong>s Malês durasse poucas hora,<br />

apavorou os senhores, mostran<strong>do</strong> o “perigo da<br />

concentração de tantos, escravos em Salva<strong>do</strong>r.<br />

A “segunda onda de revoltas” se deslocou para as áreas<br />

rurais, acompanhan<strong>do</strong> a descentralização <strong>do</strong> poder a<br />

partir <strong>do</strong> Mo Adicional (1834). Para Bons Fausto,... pode<br />

parecer estranho a surgimento de tantas revoltas nesse<br />

perío<strong>do</strong> já que a regência procurou dar alguma<br />

autonomia as Assembleias Provinciais e organizar a<br />

distribuição de rendas entre o governo central e as<br />

províncias. No entanto,... agin<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong>, os<br />

regentes acabaram incentivan<strong>do</strong> as disputas entre elites<br />

regionais pelo controle das províncias cuja importância<br />

crescia. Além disso, a governo perdera a aura de<br />

legitimidade que, bem ou mal, tivera enquanto um<br />

impera<strong>do</strong>r esteve no trono [...]. (Fausto, 1994, p. 165)<br />

Essas revoltas regenciais se caracterizavam por serem,<br />

inicialmente, conflitos entre elites, mas se tornaram,<br />

depois, rebeliões populares. Tiveram como cenário as<br />

províncias onde pre<strong>do</strong>minava a agricultura voltada para o<br />

merca<strong>do</strong> exterior ou a pecuária, importante para o<br />

merca<strong>do</strong>.<br />

Vejamos essas revoltas:<br />

Cabanagem (1835-1840-Pará)<br />

A Cabanagem foi uma grande revolta popular, que<br />

explodiu na província <strong>do</strong> Pará. ‘Dela participaram<br />

‘pessoas vindas das camadas mais pobre da sociedade.<br />

Os cabanos, assim chama<strong>do</strong>s par morarem em ‘cabanas a<br />

beira <strong>do</strong>s rios, eram, constituí<strong>do</strong>s por negros, índios e<br />

mestiços, que trabalhavam na extração de produtos da<br />

floresta. Quase to<strong>do</strong>s viviam em esta<strong>do</strong> de absoluta<br />

miséria.<br />

Luta contra a miséria<br />

A revolta <strong>do</strong>s cabanos representava ama tentativa de<br />

modificar a situação de injustiça social da qual eram<br />

vítimas. Para isso, era necessário tornar a poder da<br />

província. A principio as cabanas foram aponta<strong>do</strong>s por<br />

fazendeiros <strong>do</strong> Pará descontentes com a política <strong>do</strong><br />

governo imperial e com a falta de autonomia da<br />

província. Os fazendeiros desejavam mandar livremente<br />

no Pará e Em janeiro de 1835, as tropas <strong>do</strong>s exportar sem<br />

barreiras, Os produtos <strong>do</strong>s cabanos conquistaram a<br />

cidade de Belém região (cacau, madeira ervas<br />

aromáticas, (capital da província) e mataram da rebelião.<br />

Boa parte <strong>do</strong>s cabanos acabarem com a escravidão,<br />

distribuir terras para o povo e matar os explora<strong>do</strong>res.<br />

Um <strong>do</strong>s lideres <strong>do</strong> movimento foi o padre Batista<br />

Campos, que costumava benzer os pedaços de pau<br />

utiliza<strong>do</strong>s come armas pelos pobres. A Cabanagem teve<br />

muitos outros lideres populares, conheci por apeli<strong>do</strong>s<br />

curiosos, como João <strong>do</strong> Mato, Domingos Onça, MÃE da<br />

Chuva Gigante <strong>do</strong> Fumo.<br />

http://www.historiazine.com/2012/01/<br />

A tomada <strong>do</strong> poder em Belém<br />

Em janeiro de 1835 as tropas <strong>do</strong>s cabanos conquistaram<br />

a cidade de Belém (capital da província) e mataram<br />

85


86<br />

várias autoridades <strong>do</strong> governo, inclusive o presidente da<br />

província.<br />

Os cabanos tomaram o poder, mas tiveram grande<br />

dificuldade em governar. Faltava-lhes organização, havia<br />

muita briga entre os lideres <strong>do</strong> movimento, e a rebelião<br />

foi traída vários vezes. Tu<strong>do</strong> isso facilitou a lenta<br />

repressão comandada pelas tropas enviadas pelo governo<br />

central <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Os cabanos só foram<br />

completamente liquida<strong>do</strong>s em 1840, após muitos<br />

combates Calcula-se que mais de 30 mil cabanos <strong>do</strong><br />

Mato, morreram, e os sobreviventes foram presos e<br />

escraviza<strong>do</strong>s.<br />

Para Caio Pra<strong>do</strong> Junior, a revolta <strong>do</strong>s cabanos é: um<br />

<strong>do</strong>s mais senão o mais notável movimento popular <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. é o único em que as camadas mais inferiores da<br />

população conseguem ocupar o poder de toda uma<br />

província com certa estabilidade. Apesar de sua<br />

desorientação, apesar da falta de continuidade que<br />

caracteriza, fica-lhe contu<strong>do</strong> a glória de ter si<strong>do</strong> a<br />

primeira insurreição popular: que passou <strong>do</strong> simples<br />

agitação para uma tonada efetiva <strong>do</strong> poder. (1979, p. 69).<br />

A Revolução Farroupilha<br />

A Revolução Farroupilha, também chamada de Guerra<br />

<strong>do</strong>s Farrapos explodiu em 1835 no Rio Grande <strong>do</strong> Sal e<br />

foi a mais longa revolta <strong>Brasil</strong>ia.<br />

Entre suas principais causas estavam os problemas<br />

econômicos das classes <strong>do</strong>minantes gaúchas.<br />

Destaca, entre os principais líderes farroupilhas, Bento<br />

Gonçalves, Davi Canabarro e José Garibaldi.<br />

A Revolta <strong>do</strong>s Estancieiros<br />

A economia <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul baseava-se na criação<br />

de ga<strong>do</strong>, principalmente na produção <strong>do</strong> charque (carne<br />

seca). O charque era rendi<strong>do</strong> às diversas províncias<br />

braseiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e<br />

região Nordeste), pois era bastante utiliza<strong>do</strong> pelos<br />

escravos, em sua alimentação.<br />

Os produtores gaúchos <strong>do</strong>nos de enormes estâncias,<br />

reclamavam ao governo central maior proteção para seus<br />

negócios, pois sofriam a concorrência <strong>do</strong> Uruguai e da<br />

Argentina, países que também produziam e vendiam<br />

charque para as províncias brasileiras. Como os impostos<br />

de importação eram baixos, os produtos uruguaios e<br />

argentinos acabavam custan<strong>do</strong> menos que os produzi<strong>do</strong>s<br />

no Rio Grande <strong>do</strong> Sal.<br />

Os estancieiros também lutavam por maior liberdade<br />

administrativa para o Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<br />

Fundação de Piratini e Juliana<br />

Em 1835, Bento Gonçalves coman<strong>do</strong>u as tropas<br />

farroupilhas que <strong>do</strong>minaram Porto Alegre capital Da<br />

província. O governo central reagiu com firmeza, mas<br />

não teve forcas suficientes para derrubar os farroupilhas.<br />

A rebelião expandiu-se e, em 1836, foi fundada a<br />

República Rio Grandense, também chamada República<br />

de Piratini, e, em 1.839, a República Juliana, em Santa<br />

Catarina.<br />

A Revolução Farroupilha começou a ser contida a partir<br />

de1842, através da ação militar de Luís Alves de Uma e<br />

Silva, que posteriormente seria conheci<strong>do</strong> como Duque<br />

de Caxias. Além da ação militar, Caxias procurou fazer<br />

acor<strong>do</strong>s com os lideres farroupilhas.<br />

No dia 1º de marco de 1845, já durante o Segun<strong>do</strong><br />

Reina<strong>do</strong>, foi feito um acor<strong>do</strong> de paz entre as tropas<br />

imperiais, comandadas por Caxias, e as, forças<br />

farroupilhas. Os rebeldes assinaram a paz, mas, em troca<br />

exigiam que:<br />

• Os revoltosos no fossem puni<strong>do</strong>s, mas recebessem a<br />

anistia <strong>do</strong> governo;<br />

• as solda<strong>do</strong>s e oficiais <strong>do</strong> exército farroupilha passassem<br />

a fazer parte <strong>do</strong> exército imperial, com Os mesmos<br />

postos militares;<br />

• os escravos fugitivos que haviam luta<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

farroupilhas tivessem garanti<strong>do</strong> o seu direito a liberdade.<br />

A Guerra <strong>do</strong>s Farrapos não foi uma revolta das<br />

populações pobres. Foram, principalmente, os ricos<br />

estancieiros que lutaram por seus interesses econômicos<br />

e políticos. Não existiu entre os lideres farroupilhas<br />

desejo de acabar com as injustiças e com a miséria da<br />

maioria da população. Queriam apenas garantir a lucro as<br />

suas fazendas pecuárias, além de aumentar a liberdade<br />

administrativa e o poder político que possuíam na região.


Sabinada (1837 1838) — Bahia<br />

Em 1837, estourou na Bahia uma rebelião liderada pelo<br />

medico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira por<br />

isso conhecida como Sabinada. Seu objetivo principal<br />

era formar uma república baiana, enquanto o príncipe<br />

Pedro de Alcântara fosse menor de idade e não pudesse<br />

assumir o poder.<br />

Com o apoio de parte <strong>do</strong> exército baiano, os sabinos<br />

conseguiram tomar a poder em Salva<strong>do</strong>r, no dia 7 de<br />

novembro de 1837. Mas o movimento não empolgou a<br />

população, e as tropas imperiais, ajudadas pelos<br />

fazendeiros, logo começaram a combater a rebelião com<br />

fúria e violência.<br />

Inúmeras casas de Salva<strong>do</strong>r foram incendiadas, e muito<br />

revoltoso foram queima<strong>do</strong>s vivos. Mais de mil pessoas<br />

morreram na luta. Em marco de 1838, a rebelião estava<br />

totalmente esmagada.<br />

Apesar da violenta repressão, os principais líderes <strong>do</strong><br />

movimento não foram mortos. O medico Francisco<br />

Sabino Por exemplo, foi preso e degreda<strong>do</strong> para o Mato<br />

Grosso.<br />

A Balaiada (1838-1841) - Maranhão<br />

concorrência <strong>do</strong> algodão produzi<strong>do</strong> nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

mais barato e de melhor qualidade.<br />

Pobre Classe média<br />

As consequências <strong>do</strong>s problemas econômicos <strong>do</strong><br />

Maranhão recaíram sobre a população pobre, uma<br />

multidão formada por vaqueiros; sertanejos e escravos.<br />

Cansada de tantos sofrimentos, essa multidão queria lutar<br />

contra as injustiças sociais, a miséria, a fome, a<br />

escravidão e os maus-tratos. Além disso, a insatisfação<br />

política reinava entre a classe media maranhense da<br />

cidade, representada pelo grupo <strong>do</strong>s bem-te-vis. Esse<br />

grupo iniciou a revolta contra Os grandes fazendeiros <strong>do</strong><br />

Maranhão, contan<strong>do</strong> com a participação explosiva <strong>do</strong>s<br />

sertanejos.<br />

Os principais líderes populares da Balaiada foram:<br />

Manuel Francisco <strong>do</strong>s Anjos, faze<strong>do</strong>r de balaios dai o<br />

nome da revolta; Cosme Bento das Chagas, ex-escravo<br />

que liderava um quilombo Raimun<strong>do</strong> Comes, um<br />

vaqueiro.<br />

Apesar de desorganiza<strong>do</strong>s, os rebeldes conseguiram<br />

conquistar a cidade de Camas, uma das mais importantes<br />

<strong>do</strong> Maranhão. Mas os objetivos <strong>do</strong>s lideres populares não<br />

eram muito claros o poder foi entregue aos bem-te-vis,<br />

que então já passavam a se preocupar em conter a<br />

rebelião <strong>do</strong>s sertanejos.<br />

Para combater a revolta <strong>do</strong>s balaios, a governo enviou<br />

tropas comandadas pelo coronel Luís Alves de Lima e<br />

Silva. Nessa altura <strong>do</strong>s acontecimentos, os bem-te-vis já<br />

havia definitivamente aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> os sertanejos e<br />

passa<strong>do</strong> a apoiar as tropas governamentais.<br />

O combate aos balaios foi duro e violento A perseguição<br />

só terminou em 1841, quan<strong>do</strong> já tinham morri<strong>do</strong> cerca de<br />

12 mil sertanejos e escravos.<br />

Balaiada não tinha uma organização consistente e nem um projeto<br />

político defini<strong>do</strong>. Não foi um movimento único, mas um conjunto de<br />

ações que receberam o mesmo nome.<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

Feito por: Dimas A. S.<br />

A Balaiada foi uma revolta popular que explodiu na<br />

província <strong>do</strong> Maranhão.<br />

Nessa época, o Maranhão atravessava uma crise<br />

econômica. Sua principal riqueza o algodão, vinha<br />

perden<strong>do</strong> preço e merca<strong>do</strong> no exterior, devi<strong>do</strong> a forte<br />

“A insurreição de Manuel Balaio, pelo contrário, foi um<br />

movimento espontâneo — uma caçada ao branco. Sem<br />

planos, sem diretivas definidas, a insurreição resolveu-se<br />

na simples depredação de propriedades; na pilhagem de<br />

aldeias e vilas, mais tarde explorada pelos bem-te-vis<br />

(liberais) para a tomada da cidade de Caxias e para a<br />

marcha sobre a capital. O movimento revelou-se, desdeo<br />

Início, incontrolável — seja pelos seus próprios chefes,<br />

seja pelos elementos liberais. Foi com certa facilidade<br />

87


88<br />

que as armas legais:; dispersaram e em seguida<br />

aniquilaram essa grande massa de negros, aparentemente<br />

formidável mas na realidade debilitada pela falta de<br />

disciplina, pela falta de interesse e de objetivos em<br />

comum.” (CARNEIRO, E., 1966, p. 3).<br />

“A política brasileira tem a perturbá-la, intimamente,<br />

secretamente, desde os dias mais longínquos da<br />

Independência, o sentimento de que o povo é uma<br />

espécie de vulcão a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>. To<strong>do</strong> perigo está em<br />

desperta-lo. Nossa política nunca aprendeu a pensar<br />

normalmente o povo, a aceitar a expressão da vontade<br />

popular como base de vicia representativa. Os próprios<br />

liberais, inconformistas nas suas origens, submergem no<br />

jogo institucional, guardan<strong>do</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> apenas<br />

reminiscências vagas, o apaga<strong>do</strong> fermento e a nostalgia<br />

difusa.” (FAORO, 1975, v. 1,p. 323).<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (Unifesp) A independência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, quan<strong>do</strong><br />

comparada com a independência <strong>do</strong>s demais países da<br />

América <strong>do</strong> Sul, apresenta semelhanças e diferenças.<br />

Indique as principais:<br />

a) semelhanças.<br />

b) diferenças.<br />

02. (Enem-MEC) “Após a independência, integramo-nos<br />

como exporta<strong>do</strong>res de produtos primários à divisão<br />

internacional <strong>do</strong> trabalho, estruturada ao re<strong>do</strong>r da Grã-<br />

Bretanha. O <strong>Brasil</strong> especializou-se na produção, com<br />

braço escravo importa<strong>do</strong> da África, de plantas tropicais<br />

para a Europa e a América <strong>do</strong> Norte. Isso atrasou o<br />

desenvolvimento de nossa economia por pelo menos uns<br />

oitenta anos. Éramos um país essencialmente agrícola e<br />

tecnicamente atrasa<strong>do</strong> por depender de produtores<br />

cativos. Não se poderia confiar a trabalha<strong>do</strong>res força<strong>do</strong>s<br />

outros instrumentos de produção que os mais toscos e<br />

baratos. O atraso econômico forçou o <strong>Brasil</strong> a se voltar<br />

para fora. Era <strong>do</strong> exterior que vinham os bens de<br />

consumo que fundamentavam um padrão de vida<br />

civiliza<strong>do</strong>, marca que distinguia as classes cultas e<br />

‘naturalmente’ <strong>do</strong>minantes <strong>do</strong> povaréu primitivo e<br />

miserável. [...] E de fora vinham também os capitais que<br />

permitiam iniciar a construção de uma infraestrutura de<br />

serviços urbanos, de energia, transportes e<br />

comunicações”.<br />

SINGER, Paul. Evolução da economia e vinculação internacional. In: SACHS, 1.;<br />

WILLHEIM, J.; PINHEIRO, P. 5. (orgs.). <strong>Brasil</strong>: um século de transformações.<br />

São Paulo: Cia. das Letras, 2001. p. 80.<br />

Levan<strong>do</strong>-se em consideração as afirmações acima,<br />

relativas à estrutura económica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> por ocasião da<br />

independência política (1822), é correto afirmar que o<br />

país:<br />

a) se industrializou rapidamente devi<strong>do</strong> ao<br />

desenvolvimento alcança<strong>do</strong> no Perío<strong>do</strong> Colonial.<br />

b) extinguiu a produção colonial baseada na escravidão<br />

e fundamentou a produção no trabalho livre.<br />

c) se tornou dependente da economia europeia por<br />

realizar tardiamente sua industrialização em relação<br />

a outros países.<br />

d) se tornou dependente <strong>do</strong> capital estrangeiro, que foi<br />

introduzi<strong>do</strong> no país sem trazer ganhos para a<br />

infraestrutura de serviços urbanos.<br />

e) teve sua industrialização estimulada pela Grã-<br />

Bretanha, que investiu capitais em vários setores<br />

produtivos.<br />

03. (Mackenzie-SP) Do ponto de vista político, podemos<br />

considerar o perío<strong>do</strong> regencial como:<br />

a) uma época conturbada politicamente, embora sem<br />

lutas separatistas que comprometessem a unidade <strong>do</strong><br />

país;<br />

b) um perío<strong>do</strong> em que as reivindicações populares,<br />

como direito de voto, abolição da escravidão e<br />

descentralização política, foram amplamente<br />

atendidas;<br />

c) uma transição para o regime republicano que se<br />

instalou no país a partir de 1840;<br />

d) uma fase extremamente agitada, com crises e<br />

revoltas em várias províncias, geradas pelas<br />

contradições das elites, classe média e camadas<br />

populares;<br />

e) uma etapa marcada pela estabilidade política, já que<br />

a oposição ao impera<strong>do</strong>r Pedro I aproximou os<br />

vários segmentos sociais, facilitan<strong>do</strong> as alianças na<br />

Regência.<br />

04. (UFG-GO) O perío<strong>do</strong> regencial apresentou as<br />

seguintes características, menos:<br />

a) Durante as Regências surgiram nossos primeiros<br />

parti<strong>do</strong>s políticos: o Liberal e o Conserva<strong>do</strong>r.<br />

b) O Parti<strong>do</strong> Liberal representava as novas aspirações<br />

populares, revolucionárias e republicanas.<br />

c) Foi um perío<strong>do</strong> de crise econômica e social que<br />

resultou e revoluções como a Cabanagem e a<br />

Balaiada.<br />

d) Houve a promulgação <strong>do</strong> Ato Adicional à<br />

Constituição, pelo qual o regente passaria a ser


eleito diretamente pelos cidadãos com direito de<br />

voto.<br />

e) Formaram-se as lideranças políticas que teriam<br />

atuação marcante no Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>.<br />

05. (Uerj) “Fui liberal; então a liberdade era nova no<br />

pais [...]10 poder era tu<strong>do</strong>; fui liberal. Hoje [..j os<br />

princípios democráticos tu<strong>do</strong> ganharam [...] a sociedade,<br />

que então corria o risco pelo poder, corre o risco pela<br />

desorganização e pela anarquia.”<br />

Bernar<strong>do</strong> Pereira de Vasconcelos. In: TORRES, João Camilo de Oliveira. Os<br />

construtores <strong>do</strong> império. São Paulo: Nacional, 1968. p. 55.<br />

O discurso acima, proferi<strong>do</strong> pelo deputa<strong>do</strong> regressista em<br />

1838, demonstra o temor <strong>do</strong>s representantes da elite<br />

quanto aos rumos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> regencial (1831-1840).<br />

Pode ser considerada como causa desta preocupação:<br />

a) a supressão da Guarda Nacional.<br />

b) a política regencial de protecionismo alfandegário.<br />

c) as rebeliões ocorridas durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong><br />

regencial.<br />

d) a possibilidade de nova união entre as Coroas<br />

portuguesa e brasileira.<br />

e) a intenção <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Progressista em antecipar a<br />

maioridade de Pedro II.<br />

06. (UEL - PR) “[...] explodiu na província <strong>do</strong> Grão-Pará<br />

o movimento arma<strong>do</strong> mais popular <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> [...]. Foi<br />

uma das rebeliões brasileiras em que as camadas<br />

inferiores ocuparam o poder [...]”.<br />

Ao texto, podem-se associar:<br />

a) a Regência e a Cabanagem.<br />

b) o Primeiro Reina<strong>do</strong> e a Praieira.<br />

c) o Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong> e a Farroupilha.<br />

d) o Perío<strong>do</strong> Joanino e a Sabinada.<br />

e) a abdicação e a Noite das Garrafadas.<br />

07. (UFPI) “[...] Nasci e me criei no tempo da regência e<br />

nesse tempo o <strong>Brasil</strong> vivia, por assim dizer, muito mais<br />

na praça pública <strong>do</strong> que mesmo no lar <strong>do</strong>méstico”.<br />

Justiniano José da Rocha<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> comentário apresenta<strong>do</strong>, é correto afirmar<br />

que:<br />

a) a constante afluência às ruas resultava <strong>do</strong><br />

crescimento comercial, registra<strong>do</strong> durante a<br />

regência, nas principais cidades <strong>do</strong> país.<br />

b) a ociosidade da nobreza brasileira estimulava a<br />

valorização <strong>do</strong>s passeios constantes nas ruas e<br />

praças <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

c) o comércio ambulante, a cargo de escravos que eram<br />

transferi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> setor rural para as cidades,<br />

complementava a renda de seus senhores de<br />

engenho.<br />

d) a influência italiana nos usos e costumes da<br />

sociedade <strong>do</strong> Rio de Janeiro modificou a tradição da<br />

vida reclusa às residências,<br />

e) a turbulência política desse perío<strong>do</strong> se fazia presente<br />

através das revoltas e manifestações populares nas<br />

ruas da capital <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

08. (Fuvest-Sp) “[...] a carne, o couro, o sebo, a graxa,<br />

além de pagarem nas alfândegas <strong>do</strong> pais o duplo dízimo<br />

de que se propuseram aliviar-nos, exigia mais 15% em<br />

qualquer <strong>do</strong>s portos <strong>do</strong> império. Imprudentes legisla<strong>do</strong>res<br />

nos puseram desde esse momento na linha <strong>do</strong>s povos<br />

estrangeiros, desnacionalizaram a nossa província e de<br />

fato a separaram da Comunidade <strong>Brasil</strong>eira”.<br />

Esse texto se refere:<br />

a) ao problema <strong>do</strong>s altos impostos que recaíam sobre<br />

produtos <strong>do</strong> Maranhão e que ocasionaram a<br />

Balaiada.<br />

b) aos fatores econômicos que motivaram a Revolução<br />

Farroupilha, iniciada durante o perío<strong>do</strong> regencial.<br />

c) às implicações econômicas <strong>do</strong> movimento de<br />

independência da Província Cisplatina.<br />

d) às dificuldades econômicas <strong>do</strong> Nordeste, que<br />

justificaram a eclosão da Confederação <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r.<br />

e) aos problemas econômicos <strong>do</strong> Pará, que deram<br />

origem à Cabanagem.<br />

09. (PUC-RJ)<br />

Texto I - “Rebeldes, verdadeiros ou supostos, eram<br />

procura<strong>do</strong>s por toda parte e persegui<strong>do</strong>s como animais<br />

ferozes! Meti<strong>do</strong>s em troncos e amarra<strong>do</strong>s, sofriam<br />

suplícios bárbaros que muitas vezes lhes ocasionavam a<br />

morte. Houve até quem considerasse como padrão de<br />

glória trazer rosários de orelhas secas de cabanos.”<br />

Relato de Domingos Raiol acerca da repressão à<br />

Cabanagem.<br />

Texto II - “Reveren<strong>do</strong>! Precedeu a este triunfo<br />

derramamento de sangue brasileiro. Não conto como<br />

troféu desgraças de concidadãos meus, guerreiros<br />

dissidentes, mas sinto as suas desditas e choro pelas<br />

vítimas como um pai pelos seus filhos. Vá, Reveren<strong>do</strong>,<br />

vá! Em lugar de Te Deum, celebre uma missa de<br />

defuntos, que eu, com meu Esta<strong>do</strong> - Maior e a tropa que<br />

na sua igreja couber, irei amanhã ouvi-la, por alma de<br />

nossos irmãos iludi<strong>do</strong>s que pereceram no combate.”<br />

89


Pronunciamento <strong>do</strong> barão de Caxias acerca da<br />

comemoração da vitória sobre os farroupilhas.<br />

Os textos apresentam testemunhos sobre a repressão<br />

empreendida pelos dirigentes <strong>do</strong> governo a duas revoltas<br />

ocorridas no Império <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>: a Cabanagem (Grão-<br />

Pará, 1835-1840) e a Farroupilha (Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

1835- 1845). A partir da análise desses testemunhos;<br />

c) Cabanagem, no Maranhão, que reivindicava a<br />

autonomia provincial e o retorno de D. Pedro I como<br />

impera<strong>do</strong>r.<br />

d) <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong>, no Paraná, chefiada pelo beato José<br />

Maria, contra o poder político <strong>do</strong>s coronéis.<br />

e) da Chibata, no Rio de Janeiro, uma revolta <strong>do</strong>s<br />

marinheiros contra o excesso de violência aplica<strong>do</strong><br />

pelos oficiais aos recrutas.<br />

a) identifique os segmentos sociais pre<strong>do</strong>minantes na<br />

Cabanagem e na Farroupilha,<br />

b)explique porque os dirigentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> imperial<br />

trataram de forma diferenciada os rebeldes envolvi<strong>do</strong>s na<br />

Cabanagem e na Farroupilha.<br />

10. (UFC – CE) O Ato Adicional, decreta<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong><br />

das regências no <strong>Brasil</strong> pela Lei n.16, de 12 de agosto de<br />

1834, estabeleceu algumas modificações na Constituição<br />

de 1824. Acerca dessas alterações, copie em seu caderno<br />

a alternativa correta.<br />

a) O Conselho de Esta<strong>do</strong> foi reorganiza<strong>do</strong> para que<br />

fosse possível conter os conflitos provinciais.<br />

b) Os presidentes provinciais passaram a ser eleitos e a<br />

ter o poder de aprovar leis e resoluções referentes ao<br />

controle <strong>do</strong>s impostos.<br />

c) O estabelecimento da Regência Uma, em vez da<br />

Regência Trina, significou a eleição de um único<br />

regente, como mandato ate a maioridade de D. Pedro<br />

II.<br />

d) As assembleias legislativas provinciais forma<br />

criadas para proporcionar autonomia politica e<br />

administrativa às províncias no intuito de atender às<br />

demandas locais.<br />

e) A Corte, com sede <strong>do</strong> Rio de Janeiro, por meio da<br />

aliança entre progressistas e regressistas, continuou<br />

centralizan<strong>do</strong> as ações em defesa da Constituição de<br />

1824.<br />

11. (UESB – 2007) O Império <strong>Brasil</strong>eiro, durante o<br />

Perío<strong>do</strong> Regencial, presenciou a emergência de<br />

movimentos revolucionários, tais como a<br />

a) <strong>do</strong>s Malês, na Bahia, organizada por escravos de<br />

religião muçulmana e cultos que se revoltaram<br />

contra a escravidão e a imposição da religião<br />

católica.<br />

b) Praieira, em Pernambuco, que pretendeu o<br />

fortalecimento da monarquia, fragilizada com os<br />

dirigentes provisórios e a pouca idade <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r.<br />

90


VIII – O SEGUNDO REINADO (1840 – 1889)<br />

a- Parti<strong>do</strong> Conserva<strong>do</strong>r surgiu da ala regressista <strong>do</strong>s<br />

liberais modera<strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s aos restaura<strong>do</strong>res e ao grupo<br />

palaciano,<br />

b- Liberais: forma<strong>do</strong> pela ala progressista <strong>do</strong>s liberais<br />

modera <strong>do</strong>s Os remanescentes desse grupo, após as<br />

derrotas de 1842 e 1848, pouco se diferenciavam <strong>do</strong>s<br />

conserva<strong>do</strong>res<br />

A pacificação <strong>do</strong> país representou a consolidação da<br />

hegemonia política <strong>do</strong>s grandes proprietários de terra e<br />

<strong>do</strong> centralismo político. Estavam garanti<strong>do</strong>s o poder <strong>do</strong>s<br />

latifundiários, a ordem escravista e o regime monárquico.<br />

Dom Pedro II<br />

Vimos no capitulo anterior que o perío<strong>do</strong> regencial foi de<br />

crise econômica, instabilidade política e revoltas<br />

regionais. O Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>, ao contrário, foi de<br />

estabilidade política e desenvolvimento econômico.<br />

Os fatores que levaram a essas transformações foram as<br />

revoltas pulares foram esmagadas com extrema<br />

violência.<br />

Os liberais exalta<strong>do</strong>s, que lutavam por mudanças na<br />

ordem politica e social, foram varri<strong>do</strong>s da cena política<br />

na medida em que eram sufocadas as rebeliões regionais,<br />

b- a expansão da lavoura cafeeira e as condições<br />

favoráveis <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> externo para o produto recuperam<br />

a economia;<br />

c- a morte de D. Pedro II, em 1836, possibilitou a<br />

conciliação <strong>do</strong>s restaura<strong>do</strong>res com a aristocracia agrária<br />

brasileira,<br />

d- a antecipação da maioridade de D Pedro. II facilitou a<br />

pacificação <strong>do</strong> país e a conciliação entre as elites Criouse<br />

um mecanismo de alternância no poder entre os <strong>do</strong>s<br />

parti<strong>do</strong>s que se formam o Conserva<strong>do</strong>r e o Liberal,<br />

ambos representantes da aristocracia fundiária.<br />

Todavia, as agitações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> regencial ainda se<br />

prolongariam apos a subida de D. Pedro ao trono<br />

Tivemos ainda a Revolta Liberal de São Paulo e Minas,<br />

1842 e a Praieira em Pernambuco 1848.<br />

Com a eliminação, <strong>do</strong>s setores populares da política e a<br />

conciliação entre restaura<strong>do</strong>res e liberais modera<strong>do</strong>s, o<br />

quadro políticos ficou assim defini<strong>do</strong>:<br />

Golpe da Maioridade<br />

O fracasso <strong>do</strong> regente Feijó no combate as rebeliões<br />

provinciais levou a sua queda em setembro de 1837,<br />

sen<strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong> pelo conserva<strong>do</strong>r Araújo Lima.<br />

Os liberais, juntamente com pessoas de grande influência<br />

junto ao jovem herdeiro <strong>do</strong> trono, planejaram uma<br />

campanha para antecipar a maioridade <strong>do</strong> príncipe com a<br />

maioridade, o príncipe subiria ao trono pon<strong>do</strong> fim a<br />

regência e ao governo <strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r Araújo Lima. Os<br />

liberais contavam ainda com a mais que provável<br />

possibilidade de serem chama<strong>do</strong>s para formar o<br />

ministério.<br />

A campanha foi vitoriosa por várias razões. Primeiro<br />

porque a elite brasileira, assustada com as revoltas,<br />

acreditava que o impera<strong>do</strong>r traria a paz e a estabeleça de<br />

política. Segun<strong>do</strong>, que os próprios conserva<strong>do</strong>res no<br />

eram contrários a proposta, embora percebessem que era<br />

uma jogada politica <strong>do</strong>s liberais. Terceiro, o jovem<br />

príncipe se mostrou favorável, o que tomou qualquer<br />

oposição aberta ao projeto, desaconselhável<br />

politicamente.<br />

No dia 20 de julho de 1840, o Grupo da maioridade<br />

pressionou Assembleia e conseguiu seu intento: o<br />

príncipe foi declara<strong>do</strong> maior.<br />

No dia 23, D. Pedro. Jurou a constituição e foi aclama<strong>do</strong><br />

impera<strong>do</strong>r aos 14 anos de idade.<br />

O Parlamentarismo <strong>Brasil</strong>eiro<br />

“O parlamentarismo monárquico brasileiro ficou<br />

conheci<strong>do</strong> como parlamentarismo às avessas”. Neste<br />

regime, o parti<strong>do</strong> que obtém a maioria nas eleições<br />

indica o Primeiro Ministro e este escolhe os demais<br />

ministros, forman<strong>do</strong> o governo. Dessa forma, o<br />

legislativo faz o executivo. Quan<strong>do</strong> a câmara de<br />

91


deputa<strong>do</strong>s retira o apoio ao Primeiro Ministro, cal o<br />

governo. No <strong>Brasil</strong> dava-se ao contrário: era o executivo<br />

que fazia o legislativo. O impera<strong>do</strong>r, usan<strong>do</strong> as<br />

atribuições <strong>do</strong> Poder Modera<strong>do</strong>r, escolhia o Primeiro<br />

Ministro e este convocava novas eleições, compon<strong>do</strong><br />

uma câmara de deputa<strong>do</strong>s que o apoiasse. As eleições<br />

eram fraudulentas. Para garantir o resulta<strong>do</strong> eleitoral que<br />

convinha no momento, quem estava no poder cuidava de<br />

mudar, nas províncias, os ocupantes <strong>do</strong>s principais<br />

cargos, desde os presidentes provinciais ate funcionários<br />

e, evidentemente, o chefe da polícia. Desta forma, o<br />

impera<strong>do</strong>r mudava a composição <strong>do</strong> parlamento<br />

escolhen<strong>do</strong> um Primeiro Ministro <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> que estava<br />

na oposição. Este tratava de fabricar a necessária maioria<br />

parlamentar. Percebe-se que o impera<strong>do</strong>r era o<br />

verdadeiro árbitro da política nacional.<br />

Em marco de 1841, D. Pedro II dissolveu o ministério<br />

liberal, que havia conquista<strong>do</strong> o poder com o golpe da<br />

maioridade, e nomeou um ministro conserva<strong>do</strong>r. O novo<br />

gabinete restaurou o antigo Conselho e centralizou todas<br />

as atividades judiciais e policiais no Ministério da Justiça<br />

Com isto restringia mais ainda a autonomia das<br />

províncias, aumentan<strong>do</strong> o poder <strong>do</strong> governo central<br />

Contra este ato centraliza<strong>do</strong>r, as províncias de São Paulo<br />

e de Minas Gerais se rebelaram (1842). A revolta foi<br />

violentamente reprimida e, nina vez sufocada, D Pedro II<br />

dissolveu o ministério conserva<strong>do</strong>r e chamou novamente<br />

os liberais para formarem o gabinete. Revezavam-se,<br />

assim, no poder Os representantes das classes<br />

<strong>do</strong>minantes.<br />

O último ato de rebeldia contra o poder central,<br />

encerran<strong>do</strong> o ciclo revolucionário inicia<strong>do</strong> sem a<br />

Revolução Pernambucana de 1817, se deu também em<br />

Pernambuco: a praieira 1848.<br />

A Revolução Praieira<br />

A fértil Zona da Mata estava, desde os tempos da<br />

calúnia, <strong>do</strong>minada por vastos latifúndios que se<br />

encontravam nas mãos duas ou três famílias, entre elas<br />

os poderosos Cavalcanti. Estavam to<strong>do</strong>s, pequenos<br />

proprietários, trabalha<strong>do</strong>res livres, profissionais liberais<br />

submeti<strong>do</strong>s a esses grandes latifundiários.<br />

Da mesma forma no plano nacional, na província,<br />

liberais e conserva<strong>do</strong>res se revezavam no poder. Havia<br />

um grupo político forma<strong>do</strong> por antigos liberais radicais<br />

de tendências democráticas, que não se enquadrava em<br />

nenhum <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s oficias esse grupo era conheci<strong>do</strong><br />

como Parti<strong>do</strong> da Praia por reunir-se na sede <strong>do</strong> Diário<br />

Novo (localiza<strong>do</strong> na Rua da Praia na cidade <strong>do</strong> Recife),<br />

jornal que defendia as ideias mais radicais <strong>do</strong><br />

liberalismo.<br />

Os ventos revolucionários europeus (corria o ano de<br />

1848) chegavam a província de Pernambuco e<br />

entusiasmavam os membros mais radicais <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da<br />

Praia. Coincidentemente, naquele ano, nas eleições para<br />

a Assembleia Provincial, setores mais modera<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Parti<strong>do</strong> da Praia obtiveram maioria e Pernambuco passou<br />

a ser governada pelo praieiro Chichorro da Gama. O<br />

governo central, temeroso que a situação se radicalizasse,<br />

manobrou para substituir o praieiro por um representante<br />

das tradicionais famílias de liberais ou conserva<strong>do</strong>res.<br />

No dia: 7 de novembro de 1848, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

capitão de artilharia Pedro Ivo Silveira, a província se<br />

rebelou contra as determinações <strong>do</strong> governo central. O<br />

Manifesto ao Mun<strong>do</strong> (assim foi chama<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento <strong>do</strong>s<br />

rebeldes praieiros), lança<strong>do</strong> em janeiro de 1849, exigia<br />

voto universal, liberdade de imprensa, o fim <strong>do</strong> Poder<br />

Modera<strong>do</strong>r de D. Pedro II, o direito ao trabalho livre.<br />

Apoia<strong>do</strong>s pela população pobre urbana, pelos negros<br />

libertos e pelos mascates, soman<strong>do</strong> quase <strong>do</strong>is mil<br />

homens, os praieiros resistiram ao cerco das forcas <strong>do</strong><br />

poder central por vários meses Em mato de 1850 as<br />

forças <strong>do</strong> governo imperial conseguiram <strong>do</strong>minar os<br />

rebeldes. Ainda assim, o capitão Pedro Ivo, comandan<strong>do</strong><br />

um grupo guerrilheiro no interior, conseguiu resistir por<br />

mais alguns meses com a derrota da Praieira completavase<br />

a obra centraliza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> governo imperial.<br />

A Política Externa<br />

Conflitos na Região da Prata: a Campanha<br />

Contra Rosas e Oribe<br />

A bacia <strong>do</strong> rio da Prata era de especial interesse para a<br />

política externa brasileira: queríamos que se mantivesse<br />

o direito de livre navegação nos rios desta bacia<br />

hidrográfica. Isto provocou conflitos com uruguaios,<br />

argentinos e paraguaios, levan<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong> a realizar<br />

várias intervenções militares na região.<br />

Buenos Aires era o principal porto da bacia da Prata<br />

desde os tempos coloniais. o produto transporta<strong>do</strong><br />

através <strong>do</strong>s rios Paraná, Paraguai e Uruguai tinha que<br />

passar por Buenos Aires, o que lhe dava um verdadeiro<br />

monopólio sobre o comércio da região. Isto gerou nos<br />

grupos <strong>do</strong>minantes deste porto pretensões políticas<br />

hegemônicas, provocan<strong>do</strong> conflito entre as províncias<br />

argentinas e Buenos Aires: os caudilhos regionais não<br />

concordavam coma exploração e o <strong>do</strong>mínio que a capital<br />

exercia sobre as províncias.<br />

A tensão se agravou, no Uruguai, estourou a guerra civil<br />

entre Cobra<strong>do</strong>s e Blancos Tanto o <strong>Brasil</strong>, como a<br />

Argentina, interviram no conflito interno uruguaio. O<br />

<strong>Brasil</strong> apoiou os Cobra<strong>do</strong>s, que eram lidera<strong>do</strong>s por<br />

Frutuoso Rivera (representante <strong>do</strong>s comerciantes de<br />

92


Montevidéu), a Argentina apoiou os Blancos lidera<strong>do</strong>s<br />

por Manuel Oribe, (que representava os interesses <strong>do</strong>s<br />

cria<strong>do</strong>res de ga<strong>do</strong>). Quan<strong>do</strong> o caudilho Juan Manuel<br />

Rosas subiu ao poder em Buenos Aires, em 1829, o<br />

governo brasileiro temeu per seus interesses da região. O<br />

governo de Rosas apoiava abertamente Oribe que já<br />

<strong>do</strong>minava a maior parte <strong>do</strong> Uruguai. O <strong>Brasil</strong> passou a<br />

apoiar politicamente as províncias Argentinas que lutava<br />

contra o poder <strong>do</strong> Buenos Aires. Não tar<strong>do</strong>u para o apoio<br />

político transformar-se em Intervenção armada. Forças<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> lutaram ao la<strong>do</strong> da província argentina de<br />

Entre-Rios. Depois de longo perío<strong>do</strong> de luta, Os alia<strong>do</strong>s<br />

(<strong>Brasil</strong> + Entre - Rios) invadiram o Uruguai, a Argentina<br />

e depuseram Rosas (1852).<br />

Os novos governos da Argentina e <strong>do</strong> Uruguai eram<br />

alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e liberaram a navegação nos rios<br />

platinos.<br />

Depois de alguns anos de relativa calma, os blancos<br />

voltaram ao poder no Uruguai. Novamente o governo<br />

brasileiro passou a temer pelo direito de livre navegação<br />

e, pressionou o novo governo. Desta vez os blancos<br />

buscaram apoio de um novo alia<strong>do</strong>: o Paraguai. Estavam<br />

criadas as condições para um <strong>do</strong>s maiores conflitos da<br />

América <strong>do</strong> Sul.<br />

Antes da prolongada guerra com o Paraguai, o governo<br />

brasileiro entrou em conflito com a Inglaterra, a maior<br />

potencia da época. Foi à chamada Questão Christie.<br />

A Questão Christie<br />

Em 1861 e 1862, pequenos incidentes liga<strong>do</strong>s ao<br />

afundamento <strong>do</strong> navio inglês, Prince of Walles, a prisão<br />

de alguns marinheiros britânicos bêba<strong>do</strong>s, e as atitudes<br />

<strong>do</strong> arrogante o embaixa<strong>do</strong>r britânico, William Christie,<br />

levaram o <strong>Brasil</strong> a romper relações diplomáticas com a<br />

Inglaterra. O embaixa<strong>do</strong>r exigia que o <strong>Brasil</strong> respeitasse<br />

o direito de extraterritorialidade (direito de cidadãos<br />

ingleses serem julga<strong>do</strong>s pelas leis britânicas) é que<br />

pagasse uma indenização pelo saque da carga <strong>do</strong> navio<br />

afunda<strong>do</strong>. Para pressionar o governo brasileiro, a<br />

marinha britânica aprisionou alguns (cinco) navios<br />

mercantes nacionais.<br />

Leva<strong>do</strong> o caso ao arbitramento internacional, a decisão<br />

foi totalmente favorável ao <strong>Brasil</strong>. Mas os ingleses não a<br />

aceitaram, levan<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong> a romper as suas relações<br />

diplomáticas com eles as relações só foram<br />

restabelecidas quan<strong>do</strong> começou a Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

Para entender a hostilidade <strong>do</strong>s ingleses é preciso<br />

lembrar a longa desavença entre o <strong>Brasil</strong> e Inglaterra na<br />

questão <strong>do</strong> tráfico escravo. Os ingleses desde a vinda da<br />

família real para o <strong>Brasil</strong> pressionavam para que o tráfico<br />

fosse abolição. Apesar <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s e promessas, esta<br />

abolição só acontece em 1.850 com a Lei Eusébio de<br />

Queiros de Queirós. Isto depois que os ingleses terem<br />

aprova<strong>do</strong> nina lei (Bill Aberdeen), dan<strong>do</strong> poderes amplos<br />

para a marinha britânica reprimir o tráfico negreiro,<br />

inclusive desrespeitan<strong>do</strong> a soberania brasileira.<br />

Após a abolição <strong>do</strong> trafico sobram uma serie de questões<br />

legais para serem resolvidas em decorrência de prejuízos<br />

sofri<strong>do</strong>s por traficantes com a ação repressiva Inglesa. As<br />

ações de indenização contribuíram para azedar mais<br />

ainda as relações entre Os <strong>do</strong>is culminou essa série de<br />

desavenças.<br />

A Guerra <strong>do</strong> Paraguai<br />

Antecedentes<br />

Diferentemente das outras regiões de colonização<br />

espanhola e portuguesa; o Paraguai quase não teve o<br />

latifúndio como regime de propriedade. Sua economia<br />

era herança direta das missões jesuíticas na região. Os<br />

jesuítas como vimos, haviam implanta<strong>do</strong>, no século<br />

XVII, comunidades guaranis com um sistema produtivo<br />

quase autossuficiente. Por isso o Paraguai não uma<br />

camada de latifundiários interessa<strong>do</strong>s na exportação. Isto<br />

favoreceu o aparecimento de uma camada de<br />

camponeses livres. Praticamente isola<strong>do</strong>s, o Paraguai<br />

produzia quase tu<strong>do</strong> o que precisava: desde roupas e<br />

alimentos até armamentos e pólvora para defesa <strong>do</strong> país<br />

independente. A independência econômica era reforçada<br />

por uma política alfandegária protecionista, posta em<br />

prática pelo presidente Francisco Solano Lopes. Sua<br />

população desconhecia o analfabetismo e gozava de boas<br />

condições de vida se comparadas com a de outros países<br />

da América Latina.<br />

Toda esta situação contrariava os interesses imperialistas<br />

ingleses. Para submeter o Paraguai, a Inglaterra<br />

incentivou os antagonismos existentes na região.<br />

O Conflito<br />

Depois de longa negociação governo brasileiro obteve <strong>do</strong><br />

Paraguai, como livre navegação nos rios Paraguai e<br />

Paraná Inglaterra aproveitaram para vender suas<br />

merca<strong>do</strong>rias na região, a qual na parte paraguaia era<br />

protegida por barreiras alfandegárias, de acor<strong>do</strong> com a<br />

política nacionalista <strong>do</strong> governo paraguaio. Contan<strong>do</strong><br />

com apoio da população de sem país e <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Blanco<br />

<strong>do</strong> Uruguai, Solano Lopes exigiu providências <strong>do</strong><br />

governo brasileiro para estancar a entrada das<br />

merca<strong>do</strong>rias inglesas. Isto significava rever o acor<strong>do</strong> de<br />

livre trânsito. Dos navios brasileiros nos cita<strong>do</strong>s rios.<br />

Em fins de 1864, o governo de Lopes aprisionou o navio<br />

brasileiro Marques de Olinda e, no começo <strong>do</strong> ano<br />

seguinte, invadiu o Mato Grosso. Ao mesmo tempo,<br />

93


tropas paraguaias entravam na Argentina em apoio aos<br />

blancos uruguaios. Começava desta forma, a guerra com<br />

<strong>Brasil</strong>, Argentina e Uruguai, forman<strong>do</strong> a Tríplice<br />

Aliança, contra o Paraguai.<br />

A guerra durou de 1865 a 1870. O Paraguai foi arrasa<strong>do</strong>,<br />

apesar de ter o melhor exército da América Latina. O<br />

<strong>Brasil</strong> praticamente sem êxito teve que formar um às<br />

pressas. Com promessas de alforriar escravos contou<br />

com um grande número de negros em suas fileiras.<br />

Nº DE<br />

HABITANTES<br />

PARAGUAI BRASIL ARGENTINA<br />

Entre 800 mil e<br />

1 milhão<br />

Entre 5 e 8<br />

milhões<br />

Cerca de 2<br />

milhões<br />

SOLDADOS 60 mil 38 mil 14 mil<br />

ARMAS<br />

350 canhões<br />

Maior força<br />

naval: 42<br />

navios<br />

Sem da<strong>do</strong>s<br />

Consequências da Guerra<br />

O Paraguai se transformou numa das regiões mais pobres<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Sua população decresceu de 1 milhão de<br />

habitantes para 200 mil, das quais 90% <strong>do</strong> sexo<br />

feminino. Para o <strong>Brasil</strong>, Os principais resulta<strong>do</strong>s foram o<br />

aumento da divida externa e a formação <strong>do</strong> Exército<br />

nacional, que se tomou uma instituição importante na<br />

política interna.<br />

A Economia <strong>Brasil</strong>eira no Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong><br />

A Abolição <strong>do</strong> Tráfico Negreiro<br />

A economia brasileira, mesmo após a Independência,<br />

continuou dependen<strong>do</strong> da mão-de-obra escrava. Isto<br />

exigia um fluxo constante de escravos da África para o<br />

<strong>Brasil</strong>. Veja a tabela:<br />

SÉCULO<br />

NÚMERO DE<br />

ESCRAVOS<br />

XVI 10.0000<br />

XVII 600.000<br />

XVIII 1,300.000<br />

XIX 1,600.000<br />

Até o século XVIII, a Inglaterra foi um <strong>do</strong>s maiores<br />

traficantes de escravos para as Américas. Mas, no século<br />

XIX, o trabalho escravo contrariava Os interesses<br />

industriais ingleses: limitava o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e<br />

imobilizava desnecessariamente o capital. Por isso a<br />

Inglaterra forçou o fim <strong>do</strong> tráfico e da própria<br />

escravidão.<br />

Já em 1810, com a vinda da corte para o <strong>Brasil</strong>, D. João<br />

se comprometeu com a extinção <strong>do</strong> tráfico, O<br />

compromisso se renovou por ocasião da independência,<br />

mas não se cumpriu e a Inglaterra passou a perseguir os<br />

navios brasileiros que transportavam negros africanos.<br />

Em 1845, o parlamento inglês aprovou uma lei (o BilI<br />

Aberdeen) que dava direito a marinha inglesa de<br />

aprisionar os navios que fizessem o tráfico. Era uma<br />

ingerência nos assuntos internos de outros países em<br />

especial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, mas a lógica <strong>do</strong> imperialismo não leva<br />

em conta a soberania de outros países.<br />

Ceden<strong>do</strong> a essa tremenda pressão, a <strong>Brasil</strong>’ através da lei<br />

Euzébio de Queirós, extinguiu, em 4 de setembro de<br />

1850, o tráfico de escravos negros entre a África e nosso<br />

país. Observe a tabela:<br />

ANO<br />

NÚMERO<br />

1849 49.000<br />

1850 23.000<br />

1851 3278<br />

1852 700<br />

1856 Nenhum<br />

A Agricultura Cafeeira e o Problema da Mãode-obra<br />

O café começou a despertar interesse <strong>do</strong>s fazendeiros<br />

com a decadência da economia minera<strong>do</strong>ra e com a<br />

“falência” <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> renascimento agrícola <strong>do</strong>s fins <strong>do</strong><br />

século XVIII e começo <strong>do</strong> século XIX.<br />

Rio de Janeiro, Minas e São Paulo possuem clima e solo<br />

favoráveis ao cultivo <strong>do</strong> café, e o consumo <strong>do</strong> produto<br />

crescia na Europa e, mais tarde, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

Estes fatores favoreceram a expansão da economia<br />

cafeeira A partir da província <strong>do</strong> Rio de Janeiro, as<br />

lavouras de café, seguin<strong>do</strong> o vale <strong>do</strong> rio Paraíba, em<br />

direção ao sul, atingiram São Paulo, onde se encontrava<br />

o solo ideal para essa cultura. (a terra roxa, <strong>do</strong> italiano<br />

rossa), que, rapidamente, se tornou o motor produtor. Por<br />

volta de 1860, o porto <strong>do</strong> Santos já era o maior<br />

exporta<strong>do</strong>r de café.<br />

A cafeicultura, da mesma forma que o cultivo da canade-açúcar,<br />

exigia grandes extensões de terras e,<br />

logicamente, mão-de-obra suficiente a abolição <strong>do</strong><br />

tráfico negreiro, neste senti<strong>do</strong>, representava um problema<br />

para o desenvolvimento da economia cafeeira. Os<br />

cafeicultores passaram a comprar escravos <strong>do</strong> Nordeste<br />

para suprirem as suas necessidades crescentes de mãode-obra.<br />

94


Todavia, a mão-de-obra escrava era insuficiente para<br />

sustentar a expansão <strong>do</strong> café. A solução seria o trabalho<br />

livre. O grande fazendeiro paulista, Nicolau de Campos<br />

Vergueiro foi o primeiro a utilizar a mão-de-obra livre de<br />

colonos estrangeiros (europeus).<br />

A questão da mão-de-obra para a cafeicultura continuava<br />

um problema sem grandes soluções. O sistema de<br />

parceria introduzi<strong>do</strong> pelo sena<strong>do</strong>r Vergueiro havia<br />

fracassa<strong>do</strong>, pois os imigrantes que vin<strong>do</strong>s da Europa não<br />

admitiam serem trata<strong>do</strong>s como os escravos. Houve o<br />

caso, em 1857, da-revolta-<strong>do</strong>s colonos de Ibicaba<br />

(fazenda de Vergueiro) lidera<strong>do</strong>s por Thomaz Davatz.<br />

Por isso o sistema foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>.<br />

A solução era, já que não se podia mais contar com o<br />

trabalho escravo, incentivar a imigração de trabalha<strong>do</strong>res<br />

livres estrangeiros. Isto foi facilita<strong>do</strong> pelas condições<br />

econômicas e sociais da Europa, principalmente na Itália<br />

e na Alemanha. Os camponeses sem terra, desemprego e<br />

crise social obrigavam os trabalha<strong>do</strong>res europeus a<br />

emigrarem. Além disso, esses países e estavam em<br />

constante esta<strong>do</strong> de guerra no processo de suas<br />

respectivas unificações Procuran<strong>do</strong> fugir das guerras,<br />

muito camponês pobre se entusiasmavam com as<br />

facilidades para avinda ao <strong>Brasil</strong>. O colono tinha a<br />

passagem paga pelo governo brasileiro, diminuin<strong>do</strong> as<br />

despesas <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, e vantagens. A tabela abaixo<br />

demonstra o crescimento da imigração.<br />

ANO<br />

NÚMERO DE<br />

IMIGRANTES<br />

1886 30.000<br />

1887 55.000<br />

1888 a 1900 800.000<br />

(1854). Foi ele que construiu associa<strong>do</strong> ao capital inglês,<br />

a linha ligan<strong>do</strong> Jundiaí entrada da rica zona paulista de<br />

café - a Santos, principal ponto de escoamento <strong>do</strong><br />

produto para o merca<strong>do</strong> externo.<br />

Depois da proibição <strong>do</strong> tráfico negreiro, Os capitais,<br />

antes utiliza<strong>do</strong>s na compra e venda de escravos,<br />

passaram a ser emprega<strong>do</strong>s em outros setores da<br />

economia. Irineu Evangelista de Souza soube aproveitar<br />

dessa disponibilidade de capitais investin<strong>do</strong> em diversos<br />

setores da economia eletricidade, agricultura, companhia<br />

de gás.<br />

Outro fator que contribuiu para o breve surto<br />

industrializante, denomina<strong>do</strong> época Mauá, foi à<br />

aprovação da tarifa Alves Branco em 1844. Embora<br />

fosse uma medida fiscal para aumentar a arrecadação,<br />

acabou benefician<strong>do</strong> a produção interna de produtos<br />

similares aos importa<strong>do</strong>s, uma vez que encarecia as<br />

importações.<br />

Toda via um país fortemente arraiga<strong>do</strong> a agricultura não<br />

comportava o projeto modernizante <strong>do</strong> Barão de Mauá.<br />

Sem uma política industrialista <strong>do</strong> governo que apoiasse<br />

os seus empreendimentos, não conseguiu enfrentar a<br />

concorrência <strong>do</strong>s capitais ingleses, sem empresas<br />

quebraram.<br />

Panorama da Economia <strong>Brasil</strong>eira no Segun<strong>do</strong><br />

Império<br />

Nesta época a economia brasileira dependia basicamente<br />

das exportações de café. Outros produtos, com o açúcar,<br />

o algodão, a borracha, o cacau, o couro..., contribuíram<br />

para as exportações, mas não igualavam ao café em<br />

importância. A tabela abaixo mostra a porcentagem de<br />

cada desses produtos nas exportações brasileiras no<br />

perío<strong>do</strong> 1861-1890.<br />

A mão-de-obra escrava estava, assim, com seus dias<br />

conta<strong>do</strong>s.<br />

A Era Mauá<br />

Outro problema enfrenta<strong>do</strong> pela economia cafeeira foi o<br />

transporte. O volume da produção e a distância cada vez<br />

maior entre as zonas produtoras e Os portos de embarque<br />

exigiam meios de transporte mais modernos. As<br />

ferrovias resolveram o problema. O primeiro projeto<br />

ferroviário importante pretendia ligar o Rio de Janeiro<br />

São Paulo. O trecho paulista só foi inaugura<strong>do</strong> em 1876,<br />

quan<strong>do</strong> o café <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba já não tinha grande<br />

importância na produção nacional.<br />

O Barão de Mauá foi pioneiro na implantação de<br />

ferrovias no país, ligan<strong>do</strong> o Rio de Janeiro a Petrópolis<br />

PERIODO<br />

CAFÉ<br />

COURO<br />

AÇUCAR<br />

ALGODÃO<br />

BORRACHA<br />

% % % % %<br />

1861-1870 45,5 6 12,3 18,3 3,1<br />

1871-1880 56,6 5,6 11,8 9,5 5,5<br />

1881-1890 61,5 3,2 9,9 4,2 8,0<br />

95


O AVANÇO DO CAFÉ<br />

96<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

TEXTO 01<br />

Ao analisar a Revolução Praieira, Joaquim Nabuco<br />

comentava:<br />

“Não se pode deixar, de reconhecer no movimento<br />

praieiro a força de um turbilhão popular. Violento,<br />

indiferente a leis e princípios, incapaz de permitir em seu<br />

seio o mínimo de desacor<strong>do</strong>, empregan<strong>do</strong> sempre meios<br />

muito mais enérgicos <strong>do</strong> que as resistências exigiam,<br />

embriagan<strong>do</strong>-se com seus excessos de autoridade; tu<strong>do</strong><br />

isto é exato <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da Praia, e esses são os<br />

característicos da democracia- Mas a verdade é que a<br />

Praia era a maioria, era quase o povo pernambucano<br />

to<strong>do</strong>; e o povo julgava o seu direito tão extenso como a<br />

sua vontade, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> luta com classes que se<br />

servem das delongas infinitas da lei para conservarem os<br />

seus privilégios e perpetuarem os seus abusos. O povo<br />

acreditava ter <strong>do</strong>is inimigos que o impediam de ganhar a<br />

vida e adquirir algum bem-estar: esses inimigos eram os<br />

portugueses, que monopolizavam o comércio nas<br />

cidades, e os ser hores de engenho, que monopolizavam<br />

a terra no interior.<br />

A guerra <strong>do</strong>s praieiros era feita a esses <strong>do</strong>is elementos —<br />

o estrangeiro e o territorial: mais que um movimento<br />

político, era assim um movimento social. Além disso, ao<br />

contrário <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> da Ordem, a Praia<br />

dispunha da massa popular e tinha sempre prontos,<br />

esperan<strong>do</strong> o seu aceno, os elementos precisos para uma<br />

revolução” . (Apud (CHACON, V, p. 37)<br />

TEXTO 02<br />

“Na verdade, nos acostumamos à situação existente no<br />

<strong>Brasil</strong> e confundimos tolerância racial com democracia<br />

racial. Para que esta última exista não é suficiente que<br />

haja alguma harmonia nas relações sociais de pessoas<br />

pertencentes a estoques raciais diferentes ou que<br />

pertencem a “raças” distintas. Democracia significa,<br />

fundamentalmente, igualdade social, econômica e<br />

política. Ora, no <strong>Brasil</strong>, ainda hoje não conseguimos<br />

construir uma sociedade democrática nem mesmo para<br />

os “brancos” (...) É uma confusão, sob muitos aspectos<br />

farisaica, pretender que o nevo e o mulato contem com<br />

igualdade de oportunidades diante <strong>do</strong> branco, em termos<br />

de renda, <strong>do</strong> prestígio social e de poder.<br />

O padrão brasileiro da relação racial, ainda hoje<br />

<strong>do</strong>minante, foi construí<strong>do</strong> para uma sociedade escravista,<br />

ou seja, para manter o “negro” sob sujeição <strong>do</strong> “branco”.<br />

Enquanto esse padrão de relação racial não for aboli<strong>do</strong>, a<br />

distância econômica, social e política entre o “negro” e o<br />

“branco” será grande, embora tal coisa não seja<br />

reconhecida de mo<strong>do</strong> aberto, honesto e explícito.<br />

(...) essa propalada “democracia racial” não passa,<br />

infelizmente, de um mito social. E um mito cria<strong>do</strong> pela<br />

maioria, ten<strong>do</strong> em vista os interesses sociais e os valores<br />

morais dessa maioria: ela não ajuda o “branco” no


senti<strong>do</strong> de obrigá-lo a diminuir as formas existentes de<br />

resistência à ascensão social <strong>do</strong> “negro”; nem ajuda o<br />

“negro” a tomar consciência realista da situação e a lutar<br />

para modificá-la.” (FERNANDES, F., 1972, p. 40-1).<br />

TEXTO 03<br />

“O advento <strong>do</strong> trabalho livre, no entanto, separou a<br />

pessoa, <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r da sua capacidade de trabalho, de<br />

sua força de trabalho. Os mecanismos ideológicos que<br />

legitimavam a sujeição da pessoa e a desigualdade de<br />

que ela provinha perderam a sua eficácia. A sujeição da<br />

pessoa foi substituída pela sujeição <strong>do</strong> trabalho ao<br />

capital. Logo, o mito anterior da desigualdade de origem<br />

entre as pessoas já não servia para justificar e legitimar<br />

as novas relações, baseadas na compra e venda da força<br />

de trabalho. Através destas últimas instituía-se a<br />

igualdade formal entre burguês e o operário. Como,<br />

então, sen<strong>do</strong> eles formalmente iguais, um ficava cada vez<br />

mais rico e o outro não? Essa é a indagação oculta que<br />

norteia to<strong>do</strong> o debate sobre a abolição da escravatura.<br />

Como fazer com que o novo trabalha<strong>do</strong>r (isto é, o<br />

trabalha<strong>do</strong>r produzi<strong>do</strong> pela nova modalidade de sujeição<br />

ao capital) aceitaste, sob o pretexto da igualdade jurídica,<br />

a realidade da desigualdade econômica?<br />

O primeiro passo foi reconhecer abertamente aquilo que<br />

to<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r livre sabe, ao menos por intuição: o<br />

trabalho é a fonte da riqueza. Mas esse reconhecimento<br />

não ajudava em nada na legitimação e justificação da<br />

exploração <strong>do</strong> trabalho. Esse reconhecimento, na<br />

verdade, abria caminho para que o trabalha<strong>do</strong>r decidisse<br />

trabalhar para si mesmo, ocupan<strong>do</strong> ampla faixa de terras<br />

livres que o país então possuía. Para evitar que isso<br />

ocorresse já em 1850, quan<strong>do</strong> cessa quase<br />

completamente o tráfico negreiro (dificultan<strong>do</strong> o<br />

abastecimento das fazendas com mão-de-obra escrava), a<br />

mesma burguesia agrária obtém a aprovação de uma lei,<br />

a Lei nº 601, conhecida como Lei de Terras, que impedia<br />

o acesso às terras devolutas por outro meio que não fosse<br />

a compra. A Lei de Terras garantiu a mobilização das<br />

instituições jurídicas e policiais na defesa da propriedade<br />

fundiária, garantin<strong>do</strong>, ao mesmo tempo, o caráter<br />

compulsório <strong>do</strong> trabalho, da venda da força de trabalho<br />

ao fazendeiro por parte <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res que não<br />

dispusessem de outra riqueza senão a capacidade de<br />

trabalhar. (SOUZA MARTINS, J. de, 1979, p. 146 e 147).<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (UFSCar-SP) Considere a linha <strong>do</strong> tempo e cinco<br />

acontecimentos importantes na história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> no<br />

século XIX, relaciona<strong>do</strong>s a seguir.<br />

1824 1835 1836 1850 1870 <br />

I- Fim da Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

II- Abolição <strong>do</strong> tráfico negreiro.<br />

III- Revolta <strong>do</strong>s Malês na Bahia.<br />

IV- Primeira Constituição brasileira.<br />

V - Café começa a ser produzi<strong>do</strong> no Vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />

Seguin<strong>do</strong> a linha <strong>do</strong> tempo, os cinco acontecimentos que<br />

ocorreram ao longo <strong>do</strong> século XIX foram:<br />

a) I,II,III,IV,V<br />

b) II, III, IV, I,V.<br />

c) III,V, I,II,IV.<br />

d) V,II,IV,I,III.<br />

e) IV,III,V,Il,I.<br />

02. (Enem-MEC)<br />

ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA<br />

1850 1871 1885 1888<br />

Lei Eusébio<br />

de Queiroz<br />

(fim <strong>do</strong><br />

tráfico<br />

negreiro)<br />

Lei <strong>do</strong><br />

Ventre<br />

Livre<br />

(liberdade<br />

para os<br />

filhos de<br />

escravos<br />

nasci<strong>do</strong>s a<br />

partir dessa<br />

data)<br />

Lei <strong>do</strong>s<br />

Sexagenários<br />

(liberdade<br />

para os<br />

escravos<br />

maiores de<br />

60 anos)<br />

Lei Áurea<br />

(abolição da<br />

escravatura)<br />

Consideran<strong>do</strong> a linha <strong>do</strong> tempo acima e o processo de<br />

abolição da escravatura no <strong>Brasil</strong>, copie em seu caderno<br />

a opção correta.<br />

a) O processo abolicionista foi rápi<strong>do</strong> porque recebeu a<br />

adesão de todas as correntes políticas <strong>do</strong> país.<br />

b) O primeiro passo para a abolição da escravatura foi<br />

a proibição <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s serviços das crianças nasci<br />

das em cativeiro.<br />

c) Antes que a compra de escravos no exterior fosse<br />

proibida, decidiu-se pela libertação <strong>do</strong>s cativos mais<br />

velhos.<br />

d) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu<br />

o processo abolicionista, tornan<strong>do</strong> ilegal a<br />

escravidão no <strong>Brasil</strong>.<br />

e) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de<br />

Queiroz bloqueou a formulação de novas leis ante<br />

escravidão no <strong>Brasil</strong>.<br />

03. (Mackenzie-SP) Sobre a economia brasileira durante<br />

o Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong> (1840-1889), são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. A abolição <strong>do</strong> tráfico de escravos e os investimentos<br />

ingleses no <strong>Brasil</strong> deram à nossa economia uma feição<br />

97


eminentemente industrial, observável no pre<strong>do</strong>mínio<br />

demográfico <strong>do</strong> meio urbano sobre o rural.<br />

II. A ampliação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r externo de café<br />

(destacadamente, o norte-americano), na segunda metade<br />

<strong>do</strong> século XIX, representou um grande estímulo à<br />

expansão <strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong> produto no Centro-Sul <strong>do</strong> país.<br />

III. A instalação e o desenvolvimento <strong>do</strong> transporte<br />

ferroviário foram, em grande parte, determina <strong>do</strong>s pela<br />

crescente necessidade de escoamento da produção<br />

agrícola, como a de café das áreas de cultivo para os<br />

portos.<br />

Copie em seu caderno:<br />

a) se apenas I é correta.<br />

b) se apenas I e II são corretas.<br />

c) se apenas II e III são corretas.<br />

d) se apenas I e III são corretas.<br />

e) se I, II e III são corretas.<br />

04. (Unicamp-SP) “O progresso econômico no <strong>Brasil</strong> da<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XIX acarretou profun<strong>do</strong><br />

desequilíbrio entre poder econômico e poder político. Na<br />

década de 1880, o sistema político concebi<strong>do</strong> a partir de<br />

1822 parecia pouco satisfatório aos setores novos. O<br />

Parti<strong>do</strong> Republicano recrutou adeptos nesses grupos<br />

sociais insatisfeitos”.<br />

COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República momentos decisivos. São<br />

Paulo: Editorial Grijalbo, 1977. p. 15-16. (Com adaptações).<br />

a) Dê duas características <strong>do</strong> sistema político brasileiro<br />

concebi<strong>do</strong> em 1822.<br />

b) Quais as transformações ocorridas no <strong>Brasil</strong> da<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XIX que levaram ao<br />

desequilíbrio entre poder econômico e poder político?<br />

05. (Unicamp-SP) “Na década de 1840, com a<br />

perspectiva <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> tráfico negreiro, o governo<br />

brasileiro começou a interessar—se por fontes<br />

alternativas de mão de obra, encorajan<strong>do</strong> a imigração de<br />

“trabalha<strong>do</strong>res pobres, moços e robustos” e tentan<strong>do</strong><br />

fixá-los nas fazendas de café. Se os imigrantes tivessem<br />

de comprar terras e os preços fossem manti<strong>do</strong>s em alta,<br />

eles seriam obriga<strong>do</strong>s a trabalhar alguns anos antes de<br />

poderem comprar seu própria lote.<br />

A Lei de Terras foi aprovada em 18 de setembro de<br />

1850, duas semanas após a aprovação da lei contra o<br />

tráfico de escravos.”<br />

BETHELL, Leslie; CARVALHO, José Murilo de. O <strong>Brasil</strong> da Independência a<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX. In: BETHELL, Leslie (org.). <strong>História</strong> da América Latina<br />

da Independência a 1870, vol. III. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2001. p.<br />

753-754,766. (Com adaptações).<br />

a) Como se dava o acesso a terra antes e depois da<br />

promulgação da Lei de Terras de 1850?<br />

b) De que maneira a Lei de Terras de 1850 buscou<br />

promover o trabalho livre?<br />

06. (UFRJ) “Ora, dizei-se: não é isto uma farsa? Não é<br />

isto um verdadeiro absolutismo, no esta<strong>do</strong> em que se<br />

acham as eleições no nosso país? [...] O Poder<br />

Modera<strong>do</strong>r pode chamar a quem quiser para organizar<br />

ministérios; esta pessoa faz a eleição porque há de fazêla;<br />

esta eleição faz a maioria. Eis, aí está o sistema<br />

representativo <strong>do</strong> nosso país!”<br />

ARAÚJO, Nabuco de. Discurso ao Sena<strong>do</strong> (17 de julho de 1868), cita<strong>do</strong> no<br />

Manifesto Republicano de 1870.<br />

Ti<strong>do</strong> como ponto de partida para o movimento de 15 de<br />

novembro de 1889, o Manifesto, em sua crítica ao<br />

funcionamento das instituições políticas <strong>do</strong> império,<br />

questiona o Poder Modera<strong>do</strong>r e o sistema parlamentar<br />

vigentes na época.<br />

a) Aponte o responsável pelo exercício <strong>do</strong> Poder<br />

Modera<strong>do</strong>r, segun<strong>do</strong> a Constituição de 1824.<br />

b) Explique, a partir <strong>do</strong> texto, o porquê de diversos<br />

historia<strong>do</strong>res considerarem o sistema parlamentar<br />

brasileiro, de então, um “parlamentarismo às avessas”.<br />

07. (Vunesp) Entre 1864 e 1870 a chamadaTríplice<br />

Aliança enfrentou o Paraguai em um conflito que ficou<br />

conheci<strong>do</strong> como Grande Guerra ou Guerra <strong>do</strong> Paraguai.<br />

a) Quais os países que formavam a Tríplice Aliança?<br />

b) Como se deu o início <strong>do</strong> conflito entre o <strong>Brasil</strong> e o<br />

Paraguai?<br />

08. (Unicamp-SP) “Tanto nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s como no<br />

<strong>Brasil</strong>, a politica rural estava ligada a uma certa<br />

concepção de trabalho. Mas, enquanto a Lei <strong>Brasil</strong>eira de<br />

1850 dificultava a obtenção de terra pelo trabalha<strong>do</strong>r<br />

livre, o Homestead Act de 1862, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />

<strong>do</strong>ava terra a to<strong>do</strong>s os que desejassem nela se instalar.”<br />

COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República momentos decisivos. São<br />

Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1985. (Com adaptações).<br />

a) Compare as políticas de acesso à terra nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e no <strong>Brasil</strong> na segunda metade <strong>do</strong> século XIX,<br />

mostran<strong>do</strong> no que diferem.<br />

98


) Qual o impacto dessas políticas para o<br />

desenvolvimento agrícola e industrial no <strong>Brasil</strong> e nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s?<br />

09. (Unicamp-SP) “A fotografia assume um papel<br />

importante na construção da imagem de um <strong>Brasil</strong> muito<br />

mais liga<strong>do</strong> com o futuro imperial <strong>do</strong> que com o seu<br />

passa<strong>do</strong> colonial. A necessidade da experiência visual é<br />

uma constante no século XIX. Numa sociedade em que a<br />

grande maioria da população era analfabeta, tal<br />

experiência possibilitava um novo tipo de conhecimento,<br />

mais imediato, mais generaliza<strong>do</strong>, ao mesmo tempo que<br />

habilitava os grupos sociais a formas de<br />

autorrepre5entaçâo até então reservadas à pequena parte<br />

da elite que encomendava a pintura de um retrato.”<br />

MAUAD, Ana Maria. Imagem e autoimagem <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> reina<strong>do</strong>. In:<br />

ALENCASTRO, Luiz Felipe de Alencastro. (org.). <strong>História</strong> da vida privada no<br />

<strong>Brasil</strong>, v. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 187-189. (Com<br />

adaptações).<br />

a) Segun<strong>do</strong> o texto, quais eram as funções da fotografia<br />

no <strong>Brasil</strong> <strong>do</strong> século XIX?<br />

b) Cite duas características <strong>do</strong> “passa<strong>do</strong> colonial” que<br />

permaneceram durante o império.<br />

10. Na aristocrática, desigual e racista sociedade<br />

brasileira, até o início da década de 70 <strong>do</strong> século XIX, o<br />

exercício da plena cidadania era reserva<strong>do</strong> aos<br />

a) <strong>do</strong>nos de propriedade rural, patente militar, origem<br />

europeia.<br />

b) possui<strong>do</strong>res de renda mínima estabelecida por lei,<br />

nascimento livre e religião católica.<br />

c) habitantes das capitais das províncias, senhores de<br />

engenho, ex-escravos libertos.<br />

d) homens adultos independente de origem,<br />

alfabetiza<strong>do</strong>s, segui<strong>do</strong>res de qualquer religião cristã.<br />

e) homens e mulheres com direito de voto, solda<strong>do</strong>s de<br />

qualquer patente, mora<strong>do</strong>res das áreas urbanas.<br />

11. (UEFS 2011.1) Apesar de sua origem remontar a<br />

grupos étnicos específicos da África, na Bahia, o<br />

can<strong>do</strong>mblé se caracterizou por um movimento crescente<br />

de mistura cultural, étnica, racial e social. Isso começou<br />

entre os próprios africanos de diferentes etnias.<br />

Documentos relativos ao fim <strong>do</strong> século XVIII e à<br />

primeira metade <strong>do</strong> século XIX, ainda que escassos,<br />

sugerem a formação de identidades étnicas a partir dessa<br />

mistura. Em 1785, por exemplo, seis africanos foram<br />

presos em um calundu na vila de Cachoeira, no<br />

Recôncavo, onde danças, batuques e cantos eram<br />

frequentes.<br />

Foram identifica<strong>do</strong>s por uma testemunha africana no<br />

inquérito policial como <strong>do</strong>is “marris”, <strong>do</strong>is “jejes”, um<br />

“dagomé” e um “tapá” (termo yorubá que se usava, na<br />

Bahia, para designar os nupes, povo da África ocidental.<br />

(REIS, 2005, p. 28).<br />

De acor<strong>do</strong> com o texto, o can<strong>do</strong>mblé, uma das<br />

expressões religiosas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, caracteriza-se por ser<br />

a) a transposição para o <strong>Brasil</strong> <strong>do</strong> can<strong>do</strong>mblé já<br />

pratica<strong>do</strong> pelos povos africanos em toda a África.<br />

b) uma construção essencialmente brasileira, fruto da<br />

convivência intercultural de diferentes etnias<br />

africanas no <strong>Brasil</strong>.<br />

c) o resulta<strong>do</strong> da evangelização <strong>do</strong>s africanos<br />

escraviza<strong>do</strong>s pelos jesuítas portugueses, no percurso<br />

entre os portos africanos e o <strong>Brasil</strong>.<br />

d) uma terminologia religiosa utilizada em todas as<br />

áreas <strong>do</strong> território nacional onde se realizam rituais<br />

idênticos, em to<strong>do</strong>s os terreiros.<br />

e) uma construção religiosa vista com benevolência<br />

pelas autoridades brasileiras, desde o século XIX,<br />

por ser considerada lúdica e inofensiva.<br />

12. (UESB 2010.2) A estabilidade <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong><br />

Reina<strong>do</strong>, no que se refere a organização política,<br />

assentava-se no funcionamento <strong>do</strong> sistema<br />

parlamentarista, sob o qual se organizavam, basicamente,<br />

as relações entre o poder modera<strong>do</strong>r (monarca) e o poder<br />

executivo (ministros); entre o poder executivo e o poder<br />

legislativo (parlamentares, sena<strong>do</strong>res e deputa<strong>do</strong>s) e<br />

entre o parlamento e o monarca. (NADAI; NEVES, 1993, p. 152).<br />

A estabilidade politica propiciada pelo sistema<br />

parlamentarista, como referida no texto, dependia de uma<br />

prática politica que se baseava na<br />

01) ampla liberdade de organização partidária,<br />

comprovada pela existência <strong>do</strong> pluripartidarismo.<br />

02) realização de eleições livres, baseadas no sufrágio<br />

universal, ou seja, de to<strong>do</strong>s os cidadãos.<br />

03) eleição direta <strong>do</strong> Primeiro Ministro, chefe de<br />

Gabinete, pela população <strong>do</strong> país.<br />

04) alternância <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s Liberal e Conserva<strong>do</strong>r na<br />

chefla <strong>do</strong> Gabinete de Ministros.<br />

05) submissão <strong>do</strong>s poderes Executivo e Legislativo ao<br />

poder Modera<strong>do</strong>r.<br />

I. (UEFS 2011.1)<br />

O que é um conserva<strong>do</strong>r?<br />

99


É aquele para quem a <strong>História</strong> é uma carroçaaban<strong>do</strong>nada.<br />

Ele quer conservar a sociedade <strong>do</strong>jeito que a encontrou,<br />

evitan<strong>do</strong> mudanças. Isso élógico, a sociedade o favorece:<br />

— Se está boa para mim, deve estar para to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong> —<br />

pensa o conserva<strong>do</strong>r. [...]<br />

Não se pense que os conserva<strong>do</strong>res achavam o<strong>Brasil</strong> uma<br />

maravilha! Eles reconheciam osnossos problemas e<br />

julgavam saber os motivos:<br />

— O brasileiro é preguiçoso e atrasa<strong>do</strong>. Uma raçaruim,<br />

resulta<strong>do</strong> da mistura de negros e índios.<br />

Um povo mestiço, inferior. Ai <strong>do</strong> país se nãofôssemos<br />

nós, a elite!<br />

II.<br />

O que é um liberal?<br />

Como o nome diz, é a pessoa que defende aliberdade. Na<br />

<strong>História</strong> da Europa, os liberaissurgiram com a burguesia,<br />

lutan<strong>do</strong> contra asimposições <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> feudalismo e<br />

<strong>do</strong>absolutismo.<br />

Os liberais brasileiros eram liberais-conserva<strong>do</strong>res.<br />

Donos de fazendas de ga<strong>do</strong>, de açúcar ou decafé —<br />

como os conserva<strong>do</strong>res — os liberais daquinão podiam<br />

agir da mesma maneira que osliberais europeus, que<br />

surgiram na <strong>História</strong> comorevolucionários. Nem sempre<br />

a nossa aristocraciaconseguiu imitar a velha Europa!<br />

(ALENCAR;RIBEIRO; CECCON, 1986, p.137).<br />

13. Analisan<strong>do</strong>-se as características de conserva<strong>do</strong>res e<br />

liberais no Segun<strong>do</strong> Império brasileiro, descritas nos<br />

textos I e II, é possível afirmar que os<br />

a) conserva<strong>do</strong>res e os liberais partilhavam de uma<br />

origem comum: as classes <strong>do</strong>minantes.<br />

b) liberais e os conserva<strong>do</strong>res foram derrota<strong>do</strong>s, em<br />

to<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong>, pela força <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Republicano.<br />

c) liberais amavam a liberdade e, por isso, eram tão<br />

revolucionários quanto seus antecessores europeus.<br />

d) conserva<strong>do</strong>res acreditavam na capacidade de<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> povo brasileiro a partir <strong>do</strong>s seus<br />

próprios esforços.<br />

E) liberais e os conserva<strong>do</strong>res, quan<strong>do</strong> no poder,<br />

atuavam de forma diferenciada, em nada se<br />

assemelhan<strong>do</strong> nos seus méto<strong>do</strong>s políticos.<br />

100


IX – REPÚBLICA VELHA: IMPLANTAÇÃO E<br />

CONSOLIDAÇÃO<br />

A ABOLIÇÃO<br />

Vimos no capitulo anterior que o tráfico <strong>do</strong>s escravos Foi<br />

aboli<strong>do</strong> em 1850. Isto Bastaria para inviabilizar, em<br />

médio prazo, a escravidão no país. Além disso, em 1871<br />

foi aprovada a Lei <strong>do</strong> Ventre Livre, pela qual o filho<br />

dede cravos nasci<strong>do</strong>s a partir daquela data sejam livre se<br />

e, em 1885 foi aprovada a Lei <strong>do</strong> Sexagenário, dan<strong>do</strong><br />

liberdade aos escravos com mais de 60 anos. Assim,<br />

tentava-se acabar com a escravidão pela via legal.<br />

Bastariam estas leis para acabar com a escravidão no<br />

país. A Lei Áurea de 1888 apenas apressou o processo.<br />

Apontamos ainda no capitulo anteriores, outros fatores<br />

que minaram a instituição escravista o maior custo dessa<br />

mão de obra quan<strong>do</strong> comparada com o trabalho livre e a<br />

imigração. A Guerra <strong>do</strong> Paraguai também contribuiu<br />

para colocar fim na escravidão. Numerosos escravos e ex<br />

escravos lutaram nas fileiras das forças vitoriosas ira<br />

guerra. O número de negros era considerável nas fileiras<br />

<strong>do</strong> Exército. Os nossos solda<strong>do</strong>s conviveram no front<br />

com Os alia<strong>do</strong>s argentinos e Uruguaios que, além <strong>do</strong>s<br />

republicanos, já haviam aboli<strong>do</strong> a escravidão há muito.<br />

Aos olhos <strong>do</strong>s oficiais, que passaram a ter maior<br />

influência e prestigio 5ocial apos a guerra, a escravidão<br />

era urna ofensa a dignidade nacional. Par isso o Exército<br />

se recusou a colaborar na recaptura <strong>do</strong>s escravos fugi<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> foi solicitada a sua ajuda.<br />

As fugas <strong>do</strong>s escravos se tornaram mais constantes e<br />

passaram a contar com a ajuda <strong>do</strong>s abolicionistas<br />

radicais. Os Caifazes, por exemplo, um desses grupos<br />

radicais invadia fazendas para promover fugas,<br />

arrecadavam fun<strong>do</strong>s para alforriar escravos, escondiam e<br />

transportavam fugitivos para lugares seguros,<br />

principalmente para os quilombos.<br />

Os escravos sempre reagiram contra a escravidão: fugas<br />

individuais e coletivas, assassinato de senhores e feitores<br />

suicídios, abortos voluntários, sabotagem de bens e<br />

equipamentos. A essa luta secular se somaram, na<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XIX, as forças citadas acima.<br />

Embora os ex-escravos não recebessem nenhuma ajuda<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para se integrarem a vida social livre,<br />

extinguiu-se, ao final <strong>do</strong> século XIX, a forma de trabalho<br />

sob a qual se constituiu a sociedade brasileira.<br />

101


102<br />

A Proclamação da República<br />

Fatores da Proclamação<br />

O ideal republicano no <strong>Brasil</strong> não era novo. Os<br />

movimentos emancipacionistas no perío<strong>do</strong> colonial<br />

foram republicanos. Mas, como vimos, a independência<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nas circunstâncias em que ocorreu, levou à<br />

opção <strong>do</strong> país pela monarquia. Várias revoltas ocorridas<br />

após a independência também foram, republicanas,<br />

todavia o regime se manteve até o crepúsculo <strong>do</strong> XIX.<br />

Quais foram os fatores que levaram ao fim desse regime?<br />

Um fator importante foi que o republicanismo ganhou a<br />

adesão <strong>do</strong>s cafeicultores <strong>do</strong> Deste Paulista. Estes viam na<br />

República uma solução para os anseios de maior<br />

autonomia em relação ao poder central, para melhor<br />

defender os interesses da cafeicultura paulista.<br />

Outro foco <strong>do</strong> republicanismo era o Exército Tanto pela<br />

influência que os oficiais brasileiros receberam durante a<br />

Guerra <strong>do</strong> Paraguai, no convívio com uruguaios e<br />

argentinos, como pela forte presença das ideias<br />

positivistas, inspiradas na filosofia de Auguste Comte, na<br />

Escola Militar <strong>do</strong> Rio de Janeiro Benjamin Constant foi<br />

um oficial positivista de grande influência no Exército.<br />

Se que a república positivista era muito diferente da<br />

idealizada pelos cafeicultores paulistas, pois seria<br />

fortemente centralizada, uma verdadeira ditadura<br />

republicana.<br />

As ideias republicanas também atraiam as camadas<br />

médias e ate populares urbanos, especialmente no Rio de<br />

Janeiro.<br />

Em 3 <strong>do</strong> dezembro de 1870 foi lança<strong>do</strong> o Manifesto<br />

Republicano no jornal A República, da capital. O<br />

<strong>do</strong>cumento propunha para o país: regime republicano, a<br />

exemplo <strong>do</strong> todas as nações americanas; federalismo<br />

dan<strong>do</strong> maior autonomia às províncias; extinção <strong>do</strong><br />

sena<strong>do</strong> vitalício; e separação Igreja-Esta<strong>do</strong>. No manifesto<br />

prevaleceram às ideias <strong>do</strong> um Quintino Bocaiúva, que<br />

pregava a via pacífica para se chegar à república,<br />

opon<strong>do</strong>-se ao radicalismo de um Silva Jardim, que<br />

defendia uma revolução popular para se atingir o mesmo<br />

fim. Existiam, portanto, duas tendências no movimento<br />

republicano: Os evolucionistas e Os revolucionários.<br />

Em 1873 foi funda<strong>do</strong> o Parti<strong>do</strong>. Republicano Paulista.<br />

A derrocada final <strong>do</strong> império está ligada a <strong>do</strong>is episódios<br />

ocorri<strong>do</strong>s quase que simultaneamente, e que foram<br />

batiza<strong>do</strong>s pela historiografia da Questão Militar e<br />

Questão Religiosa.<br />

A Questão Religiosa<br />

A crise: aberta entre o governo imperial e a Igreja<br />

Católica, teve inicio em 1872, quan<strong>do</strong>. Vital, bispo de<br />

Olinda e D. Antônio Mace<strong>do</strong> Costa, bispo <strong>do</strong> Belém,<br />

pretenderam cumprir as determinações <strong>do</strong> papa com<br />

relação a Maçonaria o papa combatia os maçons,<br />

divulga<strong>do</strong>res de ideias revolucionárias como igualdade e<br />

liberdade. A bula papal Syllabus, na verdade condenava<br />

tu<strong>do</strong> o que parecesse moderno e que ferisse a tradição.<br />

Muitos católicos e membros <strong>do</strong> clero brasileiro<br />

frequentavam as lojas maçônicas e os bispos queriam<br />

puni-los. Todavia foram desautoriza<strong>do</strong>s pelo impera<strong>do</strong>r,<br />

o qual nutria simpatias.<br />

Maçonaria<br />

No <strong>Brasil</strong> o clero, pela: instituição <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong> estava<br />

subordinada ao Esta<strong>do</strong> constituin<strong>do</strong> uma espécie de<br />

funcionários públicos como tais deviam obediência ao<br />

impera<strong>do</strong>r.<br />

Abriu-se, assim, um conflito de autoridade entre o<br />

impera<strong>do</strong>r, que apoiava a maçonaria, e os bispos, que<br />

queriam seguir a ordem papa a insistência <strong>do</strong>s bispos<br />

acabou por levá-los à prisão, estremecen<strong>do</strong> as relações<br />

entre a Igreja e o Esta<strong>do</strong> Imperial Embora o clero não Se<br />

posicionasse em favor da república a monarquia perdeu<br />

um alia<strong>do</strong> tradicional em um momento de crise.<br />

A Questão Militar<br />

Para enfrentar as forças paraguaias convocaram-se<br />

militares de solda<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s, principalmente, das classes<br />

populares. Esta foi à razão mais profunda das<br />

divergências entre o Exercito e a Império de um la<strong>do</strong> a<br />

velha aristocracia, de outro, os solda<strong>do</strong>s que vinham <strong>do</strong><br />

povo.<br />

O ideal republicano e o abolicionismo, como vimos,<br />

sensibilizaram o Exército, Além disso, os militares<br />

queriam participar mais da vida política <strong>do</strong> país,<br />

principalmente depois <strong>do</strong> prestigio que tiveram com a<br />

vitória na Guerra <strong>do</strong> Paraguai Todavia, o sistema político<br />

continuava monopoliza<strong>do</strong> pela aristocracia tradicional.<br />

Para essa aristocracia o Exército continuaria em um<br />

plano secundário, subordina<strong>do</strong> aos políticos tradicionais<br />

Mesmo porque como vimos, tinha perigosas raízes<br />

populares.<br />

O tenente coronel Senna Madureira foi puni<strong>do</strong>, em 1884,<br />

exatamente porque defendeu, em um jornal, idéias<br />

republicanas e abolicionistas. Isto abriu o conflito entre o<br />

Exército e a governo imperial<br />

O Clube Militar, funda<strong>do</strong> em 1887, concentrou e<br />

coordenou a luta <strong>do</strong>s militares a favor da abolição e da<br />

república.<br />

A Proclamação da República<br />

Além das crises militar e religiosa, a governo imperial<br />

enfrentava, na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, manifestações


de descontentamento popular. A Revolta <strong>do</strong> Vintém,<br />

contra o aumento na tarifa <strong>do</strong>s bondes (puxa<strong>do</strong>s por<br />

burros), foi uma delas Cresciam as críticas ao Impera<strong>do</strong>r.<br />

O ministério chefia<strong>do</strong> pelo Visconde de Ouro Preto<br />

(Afonso Celso) tinha um programa de reformas que<br />

atendia alguns anseios oposicionistas: diminuição das<br />

atribuições <strong>do</strong> Conselho de Esta<strong>do</strong>, um <strong>do</strong>s principais<br />

instrumentos <strong>do</strong> poder imperial, liberdade de culta e<br />

maior autonomia para as províncias.<br />

Apresentadas em 11 de junho de- as propostas de Ouro<br />

Preto foram rejeitadas pela Câmara.<br />

Entre os dias 8 e 9 de novembro daquele ano, o tenente<br />

coronel Benjamin Constant iniciou um movimento<br />

golpista para derrubar a monarquia. Na tarde de 15 de<br />

novembro, o Marechal Deo<strong>do</strong>ro da Fonseca, a frente da<br />

tropa, depôs o ministério de Afonso Celso e, durante<br />

urna passeata pelas ruas da capital, proclamou a<br />

República. O império ainda tentou reagir, mas a atuação<br />

de radicais republicanos, corno Silva Jardim e José <strong>do</strong><br />

Patrocínio, que haviam toma<strong>do</strong> a Câmara, tornou a<br />

proclamação da republica irreversível.<br />

A República da Espada<br />

O Governo de Deo<strong>do</strong>ro da Fonseca<br />

O perío<strong>do</strong> 1889-1894 ficou conheci<strong>do</strong> corno a República<br />

da Espada, pois tivemos sucessivamente, <strong>do</strong>is marechais<br />

na Presidência Deo<strong>do</strong>ro da Fonseca e Floriano Peixoto.<br />

Deo<strong>do</strong>ro como proclama<strong>do</strong>r da Republica, se tomou<br />

presidente <strong>do</strong> governo provisório.<br />

O ministro escolhi<strong>do</strong> representava as forças militares e<br />

civis que haviam derruba<strong>do</strong> o império o Exército, os<br />

cafeicultores, principalmente os paulistas, e as camadas<br />

médias urbanas.<br />

Os governos militares representaram um perío<strong>do</strong> de<br />

transição. Ainda não estava defini<strong>do</strong> claramente qual <strong>do</strong>s<br />

grupos teria a hegemonia política. Havia como vimos<br />

diferenças sensíveis entre as idéias republicanas<br />

positivistas, muito influentes no meio militar, e o<br />

republicanismo <strong>do</strong>s cafeicultores paulista. Além das<br />

divergência entre civis e militares, havia também<br />

diferenças internas a estes grupos. No seu militar a<br />

divergência maior se dava entre a marinha, com uma<br />

oficialidade aristocrática e conserva<strong>do</strong>ra, e o Exército,<br />

com raízes populares. Entre os civis havia a contradição<br />

entre o republicanismo mais radical, liga<strong>do</strong> as classes<br />

médias urbanas, e das elites <strong>do</strong>s cafeicultores.<br />

Essas contradições se manifestavam no governo<br />

provisório.<br />

O ministro da fazenda, Rui Barbosa, tinha uma<br />

concepção avançada: a única forma <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> deixar de<br />

ser dependente <strong>do</strong> exterior era tornar-se industrializa<strong>do</strong>.<br />

Para isso era preciso dinheiro e o ministro começou uma<br />

política de emissão de papel-moeda. Com bastante<br />

dinheiro, os bancos, autoriza<strong>do</strong>s pelo governo, poderiam<br />

emprestar dinheiro a quem quisesse investir em<br />

atividades industriais e comerciais. Muitos aproveitaram<br />

a ocasião e fizeram fortunas. Não produzin<strong>do</strong> ou atuan<strong>do</strong><br />

no comércio, mas especulan<strong>do</strong>. Os negócios com ações,<br />

a maioria de empresas que nunca saíram <strong>do</strong> papel, se<br />

transformaram em um verdadeiro jogo de azar. Por essa<br />

razão, a política de Rui ficou conhecida como<br />

encilhamento, um termo turístico, fazen<strong>do</strong> referência as<br />

apostas em corridas de cavalo.<br />

Com isso fracassou a política de Rui Barbosa e o país<br />

mergulhou em uma crise econômico-financeira.<br />

Além <strong>do</strong>s problemas causa<strong>do</strong>s pela fracassada reforma<br />

de Rui Barbosa, Deo<strong>do</strong>ro teve que enfrentar sérios<br />

conflitos de ordem política.<br />

A centralização <strong>do</strong> poder desagradava os cafeicultores <strong>do</strong><br />

Parti<strong>do</strong> Republicano Paulista. A elaboração da primeira<br />

constituição republicana trouxe à tona as divergências<br />

entre os alia<strong>do</strong>s que derrubaram o regime monárquico:<br />

a) os positivistas <strong>do</strong> exercito queriam, como sabemos um<br />

regime centraliza<strong>do</strong>;<br />

b) Os grandes cafeicultores queriam um governo<br />

federalista, isto é, esta<strong>do</strong>s (nova denominação das antigas<br />

províncias) com maior independência.<br />

No dia 24 de fevereiro de 191 for promulgada a<br />

constituição republicana que tinha por base a<br />

constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s:<br />

a) federalismo: os esta<strong>do</strong>s teriam direito de fazer suas<br />

próprias constituições e eleger seus presidentes (mais<br />

tarde governa<strong>do</strong>res);<br />

b) eleições diretas para to<strong>do</strong>s os níveis: presidente <strong>do</strong><br />

país, presidentes <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s (governa<strong>do</strong>res), deputa<strong>do</strong>s e<br />

sena<strong>do</strong>res. Excepcionalmente a primeira eleição para<br />

presidente e vice-presidente da República seria indireta.<br />

A eleição realizou se no dia seguinte à promulgação da<br />

constituição. Deo<strong>do</strong>ro, corno presidente: <strong>do</strong> governo<br />

provisório, era candidato natural e representava ‘Os<br />

militares; Prudente de Morais foi o candidato civil <strong>do</strong>s<br />

chama<strong>do</strong>s republicanos histórico (ou <strong>do</strong>s grandes<br />

cafeicultores). Deo<strong>do</strong>ro foi eleito, mas o vice-presidente<br />

escolhi<strong>do</strong> foi o marechal Floriano. Peixoto, da chapa de<br />

Prudente de Morais.<br />

Logo depois das eleições seguiram-se grandes agitações<br />

políticas Deo<strong>do</strong>ro enfrentava os efeitos da desastrosa<br />

política econômica <strong>do</strong> encilhamento. No dia 2 de<br />

novembro o Congresso aprovou a Le das<br />

Responsabilidades pela qual o presidente teria seus<br />

poderes bastante restringi<strong>do</strong>s. Deo<strong>do</strong>ro reagiu fechan<strong>do</strong> o<br />

103


104<br />

Congresso, prenden<strong>do</strong> deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res e laçan<strong>do</strong><br />

um manifesto a nação se justifican<strong>do</strong>. Mas a reação ao<br />

golpe foi forte nos Esta<strong>do</strong>s, na Marinha e no próprio<br />

Exercito Diante disso renunciou no dia 23, de novembro<br />

de 1891, passan<strong>do</strong> o governo para as mãos <strong>do</strong> marechal<br />

Floriano Peixoto.<br />

O Governo de Floriano Peixoto<br />

For durante o governo Floriano que se deu a<br />

consolidação das instituições republicanas. As<br />

contestações ao novo regime foram sufocadas com mão<br />

de ferro pelo marechal.<br />

Um <strong>do</strong>s primeiros atos <strong>do</strong> novo governo for restaurar os<br />

direitos <strong>do</strong> legislativo, suspenden<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> de sítio<br />

decreta<strong>do</strong> por Deo<strong>do</strong>ro. Logo em seguida Floriano<br />

derrubou os presidentes de esta<strong>do</strong>s (governa<strong>do</strong>res) que<br />

haviam apoia<strong>do</strong> Deo<strong>do</strong>ro e os substituiu por políticos de<br />

sua confiança.<br />

Floriano atendeu a interesses das baixas camadas sociais<br />

urbanas (emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> comércio, funcionários<br />

públicos, consumi<strong>do</strong>res em geral e o nascente operana<strong>do</strong>)<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro Isto deu ao governo Floriano um<br />

caráter popular e por isso ficou conheci<strong>do</strong> como<br />

Republica Jacobina (referência 1 Revolução Francesa)<br />

Desde o inicio <strong>do</strong> seu governo Floriano enfrentou<br />

oposições. Alegou-se que o seu mandato era<br />

inconstitucional, pois não haviam decorri<strong>do</strong> <strong>do</strong>is anos da<br />

posse de Deo<strong>do</strong>ro, condição prescrita pela constituição<br />

para o vice assumir.<br />

Um motim, lidera<strong>do</strong> pelo sargento Silvino Mace<strong>do</strong>,<br />

mostrou que Floriano não tinha apoio unânime nem<br />

dentro <strong>do</strong> Exército.<br />

Em fevereiro de 1893, estourou no Rio Grande <strong>do</strong> Sul a<br />

Revolução Federalista: os maragatos, partidários <strong>do</strong><br />

império, contra os pica-paus, partidários <strong>do</strong> republica.<br />

Quase ao mesmo tempo, e conectada a Revolução<br />

Federalista, estourou a Revolta da Armada (marinha),<br />

que era controlada por partidários da monarquia. Os<br />

oficiais monarquistas <strong>do</strong>minaram os navios de guerra e<br />

bombardearam a capital da república. A dupla rebelião<br />

(da Armada e Federalista) foi esmagada com energia<br />

pelo marechal de ferro.<br />

Floriano, contra a vontade <strong>do</strong>s seus partidários que<br />

queriam a sua permanência no poder, entregou o governo<br />

ao presidente eleito Prudente de Morais, membro da<br />

oligarquia cafeeira paulista.<br />

A República Oligárquica<br />

Prudente de Morais, para completar a obra de pacificação<br />

<strong>do</strong> país, aceitou a colaboração <strong>do</strong>s elementos florianistas,<br />

apesar de ser hostiliza<strong>do</strong> pelos partidários <strong>do</strong> marechal.<br />

Prudente enfrentou ainda nina <strong>do</strong>s maiores rebeliões<br />

populares da historia nacional a Guerra de Canu<strong>do</strong>s.<br />

Trataremos desse episodio no próximo capitulo.<br />

Prudente, depois de pacificar o sul <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

ensanguenta<strong>do</strong> pela Revolução Federalista, e sufocar a<br />

rebelião <strong>do</strong> Canu<strong>do</strong>s, tratou de consolidar o pre<strong>do</strong>mínio<br />

político da oligarquia paulista planejan<strong>do</strong> a sua sucessão.<br />

O Governo Campo Sales e a Política <strong>do</strong>s<br />

Governa<strong>do</strong>res<br />

Campos Salles construiu mecanismos políticos que<br />

garantiram a continuidade no poder da oligarquia<br />

cafeeira ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> como República<br />

Velha.<br />

Esse mecanismo político ficou conheci<strong>do</strong> como Política<br />

<strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res. Basicamente, da consistia em nina<br />

aliança entre os governos estaduais e o governo federal.<br />

Esta aliança garantia o apoio <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e da Câmara <strong>do</strong>s<br />

deputa<strong>do</strong>s ao governo federal. Em troca o governo<br />

federal dava to<strong>do</strong> o apoio à oligarquia que estivesse no<br />

poder nos esta<strong>do</strong>s, inclusive impedin<strong>do</strong> a posse de<br />

deputa<strong>do</strong>s eleitos pela oposição usan<strong>do</strong> a Comissão <strong>do</strong><br />

Reconhecimento <strong>do</strong> Poder. Nomeações, verbas, obras e<br />

demais medidas <strong>do</strong> governo federal só se faziam<br />

orientadas pelos interesses <strong>do</strong>s poderes oligárquicos<br />

regionais.<br />

Por sua vez, o poder estadual dependia <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong>s<br />

“coronéis”, grandes fazendeiros que controlavam os<br />

votos de nina região (isto era feito por meio de favores,<br />

ajuda econômica, laços de compadrio e emprego da<br />

violência, além da fraude eleitoral). As relações entre as<br />

administrações locais, controladas pelos coronéis, e a<br />

administração estadual obedeciam ao mesmo critério de<br />

trocas de favores.<br />

Como Os cargos políticos eram eletivos, os esta<strong>do</strong>s com<br />

maior peso eleitoral, São Paulo e Minas Gerais tinham<br />

mais poder e influência. Eram justamente os<br />

representastes destes esta<strong>do</strong>s que ocupavam,<br />

sucessivamente, a presidência da República. Mineiros e<br />

paulistas se alternavam na chefia <strong>do</strong> poder executivo<br />

federal. E a isso que se denominou de Política <strong>do</strong> cafécom-leite,<br />

alusão a produção de leite de Minas e a de<br />

café de São Paulo.<br />

Joaquim Murtinho, ministro da fazenda de Campos<br />

Salles, deu inicio a uma política de saneamento<br />

econômico: retirou de circulação e queimou significativa<br />

quantia de papel-moeda para valorizar o inflaciona<strong>do</strong><br />

mil-réis, cortou despesas e aumentou a arrecadação e<br />

imposto paralisou obras públicas, incentivou a produção<br />

de café, desestimulou as atividades industriais Para<br />

Murtinho o <strong>Brasil</strong> tinha que cumprir seu papel de país


agroexporta<strong>do</strong>r na divisão internacional <strong>do</strong> trabalho.<br />

Nada de sonhos industrializantes. Campos Salles foi a<br />

Europa e negociou o escalonamento de nossas dividas,<br />

fundin<strong>do</strong>-as em uma só (o fundizng loan) Como parte <strong>do</strong><br />

acor<strong>do</strong><br />

a) os bancos danam um empr6stuno de dez milhões de<br />

libras ao <strong>Brasil</strong>. Os juros e a divida seriam pagos nos<br />

próximos governos;<br />

b) arrecadação da alfândega <strong>do</strong> Rio de Janeiro e as<br />

rendas da Estrada de Ferro Central e <strong>do</strong> serviço de<br />

abastecimento de águas da capital da República seriam<br />

dadas em garantia aos bancos cre<strong>do</strong>res.<br />

O peso dessa duvida caiu, como sempre, sobre a maioria<br />

da população a hegemonia política da oligarquia permitia<br />

ao governo federal impor essas medidas econômicas aos<br />

demais setores sociais.<br />

A situação <strong>do</strong> café no merca<strong>do</strong> internacional era bastante<br />

adversa, com quedas acentuadas no preço <strong>do</strong> produto<br />

Nos últimos anos <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, a preço <strong>do</strong> café<br />

havia baixa<strong>do</strong> de 4 libras Para 1/5 de libra por saca.<br />

Mas, graças às desvalorizações cambiais promovidas<br />

pelo governo, os fazendeiros mantinham as suas rendais<br />

em moeda nacional.<br />

No entanto, a política antinflacionária de Joaquim<br />

Murtinho, promoven<strong>do</strong> a valorização <strong>do</strong> mil-réis,<br />

equiparan<strong>do</strong>-o a libra, deteve esse mecanismo de<br />

proteção aos fazendeiros de café. O cafeicultor passou a<br />

receber cada vez menos o preço <strong>do</strong> café continuava a<br />

cair, pois a produção era maior <strong>do</strong> que o consumo<br />

mundial.<br />

Rodrigues Alves, o presidente que sucedeu Campos<br />

Sales, manteve a política de valorização <strong>do</strong> mil-réis.<br />

Ambos eram legítimos representantes da oligarquia<br />

paulista, mas a situação das finanças públicas impedia o<br />

governo federal de retomar a política de desvalorização<br />

cambial para proteger, Os cafeicultores.<br />

A Constituição de 1891 dava autonomia para os Esta<strong>do</strong>s<br />

contraíram empréstimos externos. Isto permitiu os<br />

governos de São Paulo Minas Gerais e Rio de Janeiro<br />

firmarem o chama<strong>do</strong> Convênio de Taubaté, em 1906. Por<br />

esse acor<strong>do</strong> Os governos estaduais emprestaram dinheiro<br />

de bancos estrangeiros (ingleses e americanos) e<br />

compraram o excedente de produção para estocá4o e,<br />

assim, manter o preço. Ao mesmo tempo, se tomou<br />

medidas para desestimular o plantio de novas lavouras de<br />

café e, com isso, diminuir a produção.<br />

O custo da operação, como sempre, recaiu sobre a<br />

maioria dá população, pois teria que ser coberto como<br />

aumento de impostos. Assim coma a desvalorização<br />

cambial, ‘tratava-se de uma socialização das perdas;<br />

A política de valorização <strong>do</strong> café, firmada pelo convenio<br />

de Taubaté, foi encampada pelo sucessor de Rodrigues<br />

Alves: o mineiro Afonso Pena.<br />

O Movimento Civilista e as “Salvações”<br />

A hegemonia de São Paulo e Minas Gerais a nível<br />

federal, manifestada na Política <strong>do</strong> café-com-leite, não<br />

deixou de ser contestada por outras oligarquias estaduais<br />

ao longo da República Velha.<br />

O Rio Grande <strong>do</strong> Sul, devi<strong>do</strong> ao seu peso eleitoral e a sua<br />

força militar (nascida nas disputas de fronteiras e nas<br />

constantes revoltas ocorridas no Esta<strong>do</strong>) tinha um peso<br />

considerável na política nacional, principalmente quan<strong>do</strong><br />

surgia alguma divergência entre os <strong>do</strong>is grandes esta<strong>do</strong>s:<br />

Minas e São Paulo. Foi o que ocorreu na sucessão de<br />

Afonso Pena, em 1910.<br />

O presidente tentou impor um candidato não aceito pelos<br />

mineiros o Rio Grande <strong>do</strong> Sul, através <strong>do</strong> sena<strong>do</strong>r<br />

Pinheiro Macha<strong>do</strong>, que tinha grande influência política,<br />

sugeriu outros nomes, dentre os quais o <strong>do</strong> marechal<br />

Hermes da Fonseca. Então Ministro da Guerra. A<br />

oligarquia mineira logo en<strong>do</strong>ssou o nome <strong>do</strong> militar.<br />

Para barrar a candidatura de Hermes, São Paulo<br />

desencadeou uma campanha antimilitarista, e lançou o<br />

nome de Rui Barbosa. A candidatura era apropriada, pois<br />

Rui já havia se manifesta<strong>do</strong> contra o serviço militar<br />

obrigatório, instituí<strong>do</strong> pelo ministro da guerra. Neste<br />

momento o presidente Afonso Pena já havia morri<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong> pelo vice Nilo Peçanha, cujas posições<br />

militaristas reforçavam a candidatura de Hermes da<br />

Fonseca.<br />

A campanha civilista, como ficou conhecida, pode ser<br />

considera<strong>do</strong> o primeiro grande atrito dentro da Política<br />

<strong>do</strong> café-com-leite. O marechal Hermes da Fonseca<br />

venceu. Pela primeira vez São Paulo ficou na “oposição”<br />

contra o candidato oficial temen<strong>do</strong> que a política <strong>do</strong><br />

militar não assegurasse as bases políticas de proteção<br />

cafeicultura.<br />

Hermes foi eleito contra a candidatura patrocinada por<br />

São Paulo. A aliança vitoriosa foi entre o oficialismo e a<br />

oligarquia gaúcha, reforçada pelo apoio militar.<br />

No entanto, dentro dessa aliança, podia-se constatar uma<br />

grande contradição. Os grupos militares, que se<br />

representavam no poder através de Hermes, queriam<br />

intervir nos esta<strong>do</strong>s para refrear o abuso <strong>do</strong> poder das<br />

oligarquias. Esperavam com isso salvar as instituições<br />

republicanas, daí o nome salvacionismo, como ficou<br />

conhecida tal política. Pinheiro Macha<strong>do</strong>, o líder riograndense,<br />

queria fazer o mesmo só que substituin<strong>do</strong> as<br />

velhas oligarquias, principalmente no Nordeste, por<br />

105


106<br />

outras afinadas aos seus propósitos Para isso, o líder<br />

gaúcho criou o Parti<strong>do</strong> Republicano Conserva<strong>do</strong>r.<br />

Uma intervenção desse tipo foi feita em Pernambuco e,<br />

depois, no Ceará onde a disputa pelo poder se<br />

transformou numa verdadeira guerra civil. O Ceará<br />

dividiu-se: de um la<strong>do</strong> a velha oligarquia <strong>do</strong>s Accioli,<br />

aliada a Pinheiro Macha<strong>do</strong>, e de outro la<strong>do</strong> a candidatura<br />

militar <strong>do</strong> coronel Marcos Franco Rabelo, A “guerra”<br />

entre as duas forças políticas envolveu o Padre Cícero,<br />

conheci<strong>do</strong> líder místico da região, que apoiava os<br />

Accioli. Somente a intervenção direta <strong>do</strong> governo federal<br />

pacificou o Esta<strong>do</strong>.<br />

Como veremos no próximo capitulo, as tentativas<br />

salvacionistas <strong>do</strong>s militares podem ser vistas como<br />

prenuncia<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> conflito, nos anos 20, entre a<br />

República <strong>do</strong>s Cafeicultores e os jovens militares<br />

conheci<strong>do</strong>s como “tenentes”.


X - A REPÚBLICA VELHA: CONTRADIÇÕES E<br />

CONFLITOS<br />

Café e Indústria<br />

Entre os fatores, liga<strong>do</strong>s ao café, que facilitaram a<br />

industrialização brasileira podemos citar:<br />

a) atraco de mão-de-obra estrangeira para o <strong>Brasil</strong> e a<br />

consequente substituição gradativa <strong>do</strong> trabalho escravo<br />

pelo assalaria<strong>do</strong>. Inicialmente usada na economia<br />

cafeeira, essa mão-de-obra se transferiu para o meio<br />

urbano e velo a constituir parte substancial <strong>do</strong> operaria<strong>do</strong><br />

industrial. Com o trabalho assalaria<strong>do</strong> ampliou-se o<br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r para produtos industriais.<br />

Inicialmente estes produtos eram to<strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>s, mas<br />

os que exigiam uma tecnologia menos sofisticada, caso<br />

<strong>do</strong>s bens de consumo não duráveis (roupas, calça<strong>do</strong>s,<br />

alimentos...), passaram a ser produzi<strong>do</strong>s com vantagem<br />

no pais: Diante a Primeira Guerra Mundial as<br />

dificuldades de importação aceleram esse processo de<br />

substituição de produtos importa<strong>do</strong>s por nacionais. O<br />

ramo industrial que mais se desenvolveu foi o<br />

alimentício por várias razões:<br />

- facilidade de fabricação local;<br />

- dificuldade de importação causada pelas possibilidades<br />

de deterioração <strong>do</strong>s produtos. Em segun<strong>do</strong> lugar, vinha a<br />

indústria têxtil, que contava com abundante matériaprima<br />

no próprio país.<br />

b) a expansão cafeeira criou urna rede moderna de<br />

transportes e um sistema de créditos. O volume <strong>do</strong> café<br />

exporta<strong>do</strong> e a distância, cada vez major, entre as zonas<br />

produtoras e os portos de embarque, exigiam um meio de<br />

transporte eficiente. Foi o que estimulou a implantação<br />

de ferrovias. Os negócios <strong>do</strong> café exigiam também um<br />

sistema de crédito para financiar a produção e a<br />

comercialização <strong>do</strong> produto. Ambos acabaram servin<strong>do</strong><br />

também ao nascente setor industrial:<br />

c) o café também foi responsável pela geração de capitais<br />

investi<strong>do</strong>s na indústria. A própria superprodução de café,<br />

crian<strong>do</strong> dificuldades para a colocação <strong>do</strong> produto no<br />

merca<strong>do</strong> internacional, limitava a sua expansão. Desta<br />

forma, muitos fazendeiros investiam os lucros obti<strong>do</strong>s<br />

com o café em outras atividades, entre elas a industrial;<br />

d) a expansão cafeeira intensificou o trabalho<br />

assalaria<strong>do</strong>, aumentou a renda nacional a fluxo<br />

monetário interno e a capacidade de Importar. Com isto<br />

se desenvolveram empresas importa<strong>do</strong>ras que, com o<br />

tempo, se tornaram também produtoras (substituição de<br />

importações). Grande parte dessas empresas foi criada<br />

por imigrantes e seus descendentes.<br />

Por outro la<strong>do</strong> pode apontar a economia cafeeira como<br />

limita<strong>do</strong>ra da industrialização no país. Governantes<br />

liga<strong>do</strong>s aos interesses agroexporta<strong>do</strong>res, não a<strong>do</strong>taram<br />

nina política industrial, o próprio sucesso da economia<br />

cafeeira reforça a tese que o país tinha nina “vocação<br />

agrícola”. O café gerava as divisas necessárias para<br />

importar os produtos industrializa<strong>do</strong>s e não criava atritos<br />

com Os países industrializa<strong>do</strong>s. Estes reservavam, a<br />

países como o <strong>Brasil</strong>, a papel de fornece<strong>do</strong>res de<br />

produtos tropicais e de matérias-primas e consumi<strong>do</strong>res<br />

de produtos industrializa<strong>do</strong>s. Era a denominada divisão<br />

internacional <strong>do</strong> trabalho. Essa mentalidade<br />

agroexporta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s nossos governantes impedia a<br />

a<strong>do</strong>ção de nina política industrialista coerente. Sem<br />

apoio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, os setores industriais que produzem<br />

matérias-primas básicas (caso da siderurgia, par<br />

exemplo) e bens de capital (maquinários) não se<br />

desenvolveram.<br />

Quan<strong>do</strong> o governo criava taxas para os produtos<br />

importa<strong>do</strong>s tornan<strong>do</strong>-os mais caros e benefician<strong>do</strong> os<br />

nacionais, isto visava mais o aumento da arrecadação e o<br />

equilíbrio das contas públicas <strong>do</strong> que a proteção da<br />

indústria nacional.<br />

Cacau e Borracha<br />

Durante a República Velha, ao mesmo tempo em que no<br />

Sudeste ocorria uma relativa modernização e<br />

industrialização, acentuava-se a crise da economia<br />

nordestina. Todavia tivemos na região sul da Bahia surto<br />

da economia cacaueira favoreci<strong>do</strong> por uma conjuntura <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> internacional. A lavoura de cacau estava<br />

organizada nos moldes da economia de raízes coloniais<br />

(grande propriedade, monocultura e exporta<strong>do</strong>ra), mas,<br />

se utilizava de mão-de-obra livre de nordestinos fugi<strong>do</strong>s<br />

da seca.<br />

O mesmo ocorreu na Região Norte com o surto da<br />

borracha Favorecida pelo advento da indústria<br />

automobilística, a extração <strong>do</strong> látex (matéria-prima<br />

básica para a fabricação da borracha) teve uma grande<br />

expansão Essa atividade absorveu significativos<br />

contingentes populacionais expulsos da região nordestina<br />

pela crise econômica agravada por longos perío<strong>do</strong>s de<br />

seca.<br />

107


108<br />

Tanto a economia cacaueira coma a da borracha<br />

entraram em decadência quan<strong>do</strong> não conseguiram<br />

concorrer com a produção mais eficiente das colônias<br />

europeias na Ásia.<br />

Isto mostrou a fragilidade de economias<br />

agroexporta<strong>do</strong>ras canto a brasileira.<br />

Urbanização e Modernização<br />

O dinamismo trazi<strong>do</strong> pelo café foi um fator de<br />

modernização. A cidade de São Paulo, por exemplo,<br />

situada na principal área produtora e exporta<strong>do</strong>ra de café<br />

teve um desenvolvimento notável. Além da<br />

industrialização, a cidade ganhou urna nova fisionomia<br />

com as luxuosas habitações <strong>do</strong>s ricos fazendeiros. Esta<br />

sofisticada burguesia cafeeira contribuiu para dinamizar<br />

as atividades culturais: teatros, jornais, bibliotecas,<br />

recitais...<br />

A cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro ate por ser capital <strong>do</strong> país,<br />

também sofreu uma sensível modernização na fase<br />

inicial <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> republicano: alargamento das ruas,<br />

novas avenidas, bondes, demolição <strong>do</strong>s cortiços <strong>do</strong><br />

centro da cidade. Essa reurbanização foi feita pelo<br />

engenheiro Pereira Passos que recebeu, para isto, amplos<br />

poderes <strong>do</strong> presidente Rodrigues Alves.<br />

O governo tratou também de erradicar as epidemias que<br />

assolavam a capital. O diretor da Saúde Pública,<br />

Oswal<strong>do</strong> Cruz, elaborou um programa de vacinação,<br />

obrigatória para toda a população <strong>do</strong> Rio de Janeiro, e de<br />

combate aos ratos e mosquitos; os principais<br />

transmissores de <strong>do</strong>enças.<br />

A insalubridade da capital federal prejudicava ate as<br />

nossas relações internacionais. Os navios de outros<br />

países evitavam Os nossos portos. O comércio e os<br />

próprios investimentos estrangeiros no <strong>Brasil</strong> eram<br />

desestimula<strong>do</strong>s pelas constantes epidemias que açulavam<br />

o Rio de Janeiro.<br />

A modernização brasileira esta ligada também aos<br />

investimentos externos. A Inglaterra, principalmente, na<br />

segunda metade <strong>do</strong> século XIX e inicio <strong>do</strong> século XX, se<br />

tornou também uma grande investi<strong>do</strong>ra de capitais no<br />

exterior. Além <strong>do</strong>s tradicionais empréstimos, os<br />

capitalistas estrangeiros passaram a fazer investimentos<br />

direto nos transportes, iluminação e energia em diversos<br />

países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O <strong>Brasil</strong>, graças à prosperidade trazida<br />

pela lavoura cafeeira, atraia estes investimentos.<br />

Também Os empréstimos concedi<strong>do</strong>s ao <strong>Brasil</strong><br />

acabavam servin<strong>do</strong> para estimular as exportações das<br />

nações industrializadas.<br />

Os investimentos estrangeiros no <strong>Brasil</strong> foram feitos<br />

muito mais nos setores <strong>do</strong>s serviços <strong>do</strong> que na indústria.<br />

Um exemplo desses investimentos foi o estabelecimento<br />

da empresa canadense São Paulo Railway Ligth & Power<br />

Co que produzia energia para fornecer para seus próprios<br />

bondes.<br />

A Revolta da Vacina<br />

No desenho de Leônidas, publica<strong>do</strong> na revista O Malho de 29 de outubro de<br />

1904, a legenda reproduzida a seguir antecipava a Revolta da Vacina, que viria a<br />

ocorrer dias depois, entre 12 e 15 de novembro, quan<strong>do</strong> a população enfrentou<br />

Oswal<strong>do</strong> Cruz e sua guarda: “Espetáculo para breve nas ruas desta cidade.<br />

Oswal<strong>do</strong> Cruz, o Napoleão da seringa e lanceta, à frente das suas forças<br />

obrigatórias, será recebi<strong>do</strong> e manifesta<strong>do</strong> com deno<strong>do</strong> pela população. O<br />

interessante <strong>do</strong>s combates deixará a perder de vista o das batalhas de flores e o da<br />

guerra russo-japonesa. E veremos no fim da festa quem será o vacina<strong>do</strong>r à<br />

força!...”<br />

Em E. de C. Falcão (org.). Oswal<strong>do</strong> Cruz Monumento Histórico: a<br />

incompreensão de uma época. Oswal<strong>do</strong> Cruz e a caricatura. <strong>Brasil</strong>iensia<br />

Documenta. Vol. VI. Tomo 1. São Paulo. Acervo da biblioteca da Casa de<br />

Oswal<strong>do</strong> Cruz. 1971.<br />

Os projetos modernizantes da nossa elite política não<br />

levavam em conta os interesses populares. Foi o que<br />

ocorreu no Rio de Janeiro. A demolição <strong>do</strong>s cortiços <strong>do</strong><br />

centro da cidade. Desalojou famílias, afastou<br />

trabalha<strong>do</strong>res das proximidades <strong>do</strong>s seus locais de<br />

trabalho, destruiu tradicionais espaços populares de<br />

sociabilidade e provocou uma alta espantosa <strong>do</strong>s<br />

aluguéis. Por tu<strong>do</strong> isso, o clima era de tensão quan<strong>do</strong><br />

Oswal<strong>do</strong> Cruz colocou em pratica o seu piano de vacina<br />

obrigatória. Some-se a isso a desinformação sobre os<br />

reais efeitos da vacina (o próprio Rui Barbosa se<br />

pronunciou contra ela) Setores militares, herdeiros <strong>do</strong><br />

florianismo jacobinista, se aproveitaram <strong>do</strong> episódio para<br />

organizar uma oposição ao governo <strong>do</strong>s cafeicultores,<br />

paulistas.


Soman<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> isso, teremos a explicação para a revolta<br />

que ocorreu na cidade Depois de uma semana de<br />

rebelião, com depredações, saques e várias mortes, as<br />

forças repressivas assumiram o controle da cidade no dia<br />

16 de novembro de 1904.<br />

A principal razão da Revolta da Vacina foi as condições<br />

de miséria que as elites <strong>do</strong>minantes impunham a<br />

população. Essa revolta foi nina das várias manifestações<br />

da resistência popular ao poder republicano oligárquico.<br />

Outros importantes exemplos dessa resistência, ocorri<strong>do</strong>s<br />

no mesmo perío<strong>do</strong>, foram a Guerra de Canu<strong>do</strong>s a Guerra<br />

<strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> e a Revolta da Chibata.<br />

A Guerra de Canu<strong>do</strong>s<br />

O processo de modernização nos últimos anos <strong>do</strong> século<br />

XIX atingiu, de forma diferenciada, as diversas regiões<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Vimos como esse processo agitou socialmente<br />

a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro: Também no Nordeste e no<br />

Sul, as tradicionais relações sociais foram abaladas pela<br />

modernização.<br />

A decadência nordestina se acentuou com a crise<br />

econômica iniciada na década de 1870. Uma série de<br />

Essa foi a Guerra de Canu<strong>do</strong>s que, entre 1896 e 1897,<br />

ensanguentou o sertão da Bahia.<br />

Conselheiro foi considera<strong>do</strong> um perigoso monarquista<br />

pelos representantes da república recém-instituída.<br />

Depois de um ano de resistência e várias derrotas<br />

impostas as forças repressivas da República, a ‘Aldeia<br />

Sagrada’, como ficou conheci<strong>do</strong> o ajuntamento de<br />

Canu<strong>do</strong>s, foi varrida <strong>do</strong> mapa Euclides da Cunha<br />

imortalizou o episódio no clássico Os Sertões.<br />

anos de seca só piorou a situação. Se até então, Os<br />

pequenos lavra<strong>do</strong>res, trabalha<strong>do</strong>res livres e vaqueiros<br />

encontravam trabalho e proteção <strong>do</strong>s grandes<br />

latifundiários, com a crise eles se viram aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s,<br />

sem trabalho e lugar para ficar a maioria da população<br />

sentia-se desamparada.<br />

Um <strong>do</strong>s efeitos da crise foi a formação de ban<strong>do</strong>s de<br />

cangaceiros que, numa rebeldia primitiva e violenta,<br />

atacavam e saqueavam vilas, cidades e fazendas o mais<br />

famoso ban<strong>do</strong> de cangaceiros foi o <strong>do</strong> Capitão Virgolino,<br />

ou Lampião, que chegou a ser arregimenta<strong>do</strong> pelas<br />

autoridades para combater a Coluna Prestes, o que<br />

acabou não acontecen<strong>do</strong>. O cangaço só foi debela<strong>do</strong> na<br />

década de 30. Também está ligada a crise o surgimento<br />

de grupos religiosos messiânicos. Uma resposta as<br />

mudanças de acor<strong>do</strong> com a mentalidade <strong>do</strong> sertanejo.<br />

Em Canu<strong>do</strong>s, um arraial no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Bahia,<br />

o líder religioso popular, Antonio Conselheiro, juntou<br />

milhares de segui<strong>do</strong>res, alarman<strong>do</strong> os fazendeiros, o<br />

clero católico e as autoridades. Por isso foram<br />

mobilizadas formidáveis forças repressivas contra o<br />

arraial<br />

os pequenos posseiros das terras onde viviam, pratican<strong>do</strong><br />

fina economia de subsistência.<br />

A Guerra <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong><br />

No Sul, mais especificamente em fina região<br />

reivindicada por Santa Catarina e pelo Paraná (daí o<br />

nome Contesta<strong>do</strong>), a população pobre sofreu o impacto<br />

da modernização. A construção da estrada de ferro da<br />

Brazthzan Railway e a implantação de serrarias da<br />

Southern Lwnber, ambas norte-americanas, expulsavam<br />

Os grandes latifundiários aproveitaram se da situação<br />

para aumentar suas propriedades à custa destes posseiros.<br />

109


Desta forma, rompiam-se as relações tradicionais de<br />

troca de favores entre os pobres trabalha<strong>do</strong>res da terra e<br />

os poderosos latifundiários. Da mesma forma que na<br />

região nordestina, essa situação de crise social deu<br />

origem a um movimento messiânico de trágicas<br />

consequências: a Guerra <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong>, ocorrida entre<br />

1912 e 1914.<br />

110<br />

Assim como os “fanáticos” de Canu<strong>do</strong>s, os segui<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

monge João Maria, (líder religioso que deu origem ao<br />

movimento, houve depois outro monge, liga<strong>do</strong> ao<br />

movimento, de nome José Maria) foram trata<strong>do</strong>s com<br />

feroz violência pelos poderes constituí<strong>do</strong>s. Foram<br />

também, considera<strong>do</strong>s fanáticos e monarquistas que<br />

conspiravam contra república. O Conflito <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong><br />

atingiu uma área mais extensa e durou mais que<br />

Canu<strong>do</strong>s. Os sertanejos, sob a liderança de diversos<br />

lideres religiosos/messiânicos, resistiram por quase<br />

quatro anos. Ate hoje não se sabe o número de mortos. O<br />

Exército brasileiro utilizou se, na fase final da guerra, ate<br />

de aviões para bombardear as posições <strong>do</strong>s sertanejos.<br />

Ao final, poucos sobraram. Mas a república <strong>do</strong>s<br />

cafeicultores estava salva.<br />

Sua sobrevivência se assentava sobre milhares de<br />

cadáveres de brasileiros pobres.<br />

A Revolta da Chibata<br />

Essa revolta foi mais um exemplo de resistência popular<br />

A Marinha brasileira. <strong>do</strong>minada pelos setores mais<br />

conserva<strong>do</strong>res e reacionários da sociedade, exigia uma<br />

disciplina férrea <strong>do</strong>s marinheiros, quase sempre de<br />

origem humilde. “A lei da chibata” era um castigo<br />

aplica<strong>do</strong> aos marinheiros por qualquer atitude<br />

considerada indisciplinada. Na noite de 22 de novembro<br />

de 1910, marinheiros <strong>do</strong> navio Minas Gerais, sob a<br />

liderança de João Cândi<strong>do</strong>, depois chama<strong>do</strong> o Almirante<br />

Negro se rebelaram e assumiram o coman<strong>do</strong> da<br />

embarcação matan<strong>do</strong> vários oficiais.<br />

Foto: de Augusto Malta. João Candi<strong>do</strong> len<strong>do</strong> o diário oficial já no fim da revolta<br />

quan<strong>do</strong> os marinheiros decidem negociar e confiar nas promessas <strong>do</strong> Congresso.<br />

O que eles queriam? “O fim da lei da chibata” Os<br />

marinheiros rebela<strong>do</strong>s ameaçaram bombardear a cidade<br />

<strong>do</strong> Rio <strong>do</strong> Janeiro, caso não fossem atendi<strong>do</strong>s. A<br />

princípio as reivindicações foram aceitas e os<br />

marinheiros anistia<strong>do</strong>s. No entanto, depois <strong>do</strong> depostas<br />

as armas eles foram duramente castiga<strong>do</strong>s De positivo<br />

resultou a abolição da chibata na Marinha e a prova da<br />

capacidade de organização e liderança de um homem <strong>do</strong><br />

povo.<br />

O Movimento Operário<br />

A onda migratória de trabalha<strong>do</strong>res europeus,<br />

impulsionada pelo café, atingiu também as cidades A<br />

presença <strong>do</strong>s operários estrangeiros tornou se comum nas<br />

fábricas e oficinas de São Paulo e <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

As condições de trabalho eram péssimas. As fábricas<br />

tinham aspecto de prisão: portões constantemente<br />

vigia<strong>do</strong>s per guardas arma<strong>do</strong>s e revistas sistemáticas.<br />

As instalações sanitárias e Os equipamentos eram<br />

inadequa<strong>do</strong>s e as jornadas de trabalho excessivas<br />

Acidentes graves eram frequentes Para pagar salários<br />

mais baixos se empregava largamente à mão-de-obra<br />

feminina e infantil. As primeiras organizações operárias<br />

foram às associações mutualistas. Elas tinham por<br />

objetivo ajudar operários em caso da <strong>do</strong>ença, morte,<br />

perda temporárias <strong>do</strong> trabalho Dessas associações se<br />

evoluiu para o movimento sindical e partidário, embora a<br />

organização em parti<strong>do</strong>s fosse condenada pela principal<br />

corrente <strong>do</strong> movimento operário durante a República<br />

Velha o anarquismo (em 1890 organizou se primeiro


parti<strong>do</strong> operário <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, no Rio <strong>do</strong> Janeiro; em 1902<br />

surgiu o Parti<strong>do</strong> Socialista; o Parti<strong>do</strong> Comunista <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> seria funda<strong>do</strong> em 1922). Os anarquistas<br />

propunham substituir o Esta<strong>do</strong> por uma direção coletiva<br />

da sociedade (outra característica importante <strong>do</strong><br />

anarquismo era o seu caráter anticlerical: a Igreja era<br />

vista como representante <strong>do</strong> atraso e <strong>do</strong> obscurantismo).<br />

Esses ideais libertários (sinônimo de anarquismo)<br />

chegaram ao <strong>Brasil</strong> com os imigrantes italianos e eram<br />

divulga<strong>do</strong>s por inúmeros jornais operários (pasquins) que<br />

circularam, principalmente na cidade de São Paulo,<br />

durante a República Velha.<br />

A grande greve de 1917 teve importante participação<br />

anarquista Neste ano. Os operários <strong>do</strong> Cotonifício<br />

Crespi, em São Paulo, iniciaram o movimento grevista<br />

que teve adesão de várias outras fábricas. No dia 9 de<br />

julho a Força Publica acabou matan<strong>do</strong> um sapateiro<br />

anarquista na ação repressiva, contribuin<strong>do</strong> para<br />

radicalizar a greve.<br />

Mesmo intensifican<strong>do</strong> a repressão, o governo não<br />

conseguiu debelar o movimento grevista. Os industriais<br />

tiveram que negociar e aceitar várias reivindicações<br />

operárias.<br />

A vigilância ao movimento operário era severa e se<br />

intensificou após a greve de 1917 A lei A<strong>do</strong>lfo Gor<strong>do</strong>, de<br />

1907 já previa a expulsão <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> de trabalha<strong>do</strong>res<br />

anarquistas que se envolvessem com atividades políticas.<br />

Organizaram minuciosos sistemas de identificação <strong>do</strong>s<br />

operários, inicialmente com o auxílio da policia, que<br />

serviam para a elaboração das “listas negras” que<br />

circulavam entre os empresários. A questão operária era<br />

tratada como ‘caso de policia’ e não como um problema<br />

social. A repressão era a uma resposta <strong>do</strong> patronato ao<br />

operaria<strong>do</strong>.<br />

Embora o número de operários fosse pequeno em relação<br />

aos demais trabalha<strong>do</strong>res, a ação organizada da massa<br />

operária significou uma ameaça ao poder constituí<strong>do</strong>.<br />

O Tenentismo<br />

Apesar de a agricultura ser ainda <strong>do</strong>minante, as<br />

atividades urbanas, principalmente a industrial, passaram<br />

a ter um peso importante. Cidades como São Paulo e.<br />

Rio de Janeiro ganhavam ares de metr6poie. A sociedade<br />

se tornava mais complexa: burguesia industrial, camadas<br />

médias (pequenos lojistas, funcionários públicos,<br />

professores) e um operaria<strong>do</strong> de origem imigrante que,<br />

como vimos, protestava contra as miseráveis condições<br />

de vida.<br />

A política econômica <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>s cafeicultores<br />

prejudicava não só Os operários, mas também as<br />

camadas médias urbanas. Foi desta camada que surgiu<br />

urna intensa oposição ao poder <strong>do</strong>s cafeicultores. De<br />

mo<strong>do</strong> geral, as reivindicações dessa camada se<br />

vinculavam as dissidências no interior das classes<br />

<strong>do</strong>minantes, como vimos, por exemplo, na Campanha<br />

Civilista de 1910.<br />

Em 1918, São Paulo e Minas, <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> com a poética<br />

<strong>do</strong> café-com-leite, comandaram a eleição de Rodrigues<br />

Alves (seria o seu segun<strong>do</strong> mandato) para a presidência<br />

da República. No entanto a morte <strong>do</strong> presidente eleito,<br />

antes mesmo da posse, obrigou a convocação de novas<br />

eleições. Desta vez a oligarquia não chegou a um<br />

consenso. Rui Barbosa, apoia<strong>do</strong> pelas camadas médias<br />

urbanas, novamente lançou nina candidatura de<br />

oposição, mal foi denota<strong>do</strong>. Mais uma vez vencia o<br />

candidato oficial: Epitácio Pessoa.<br />

O ano de 1920 marcou o inicio de urna crise econômica.<br />

Durante a guerra a balança comercia <strong>do</strong> país foi<br />

favorável, mas a retomada das importações de bens de<br />

consumo reduziu a produção industrial interna. Medidas<br />

protecionistas, através de barreiras alfandegárias,<br />

contrariavam os interesses <strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>res e<br />

exporta<strong>do</strong>res e o presidente vacilava em tomá-las. Os<br />

cafeicultores paulistas ficaram indigna<strong>do</strong>s com a ameaça<br />

<strong>do</strong> corte de recursos federais no financiamento da<br />

valorização <strong>do</strong> café.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, era patente o descontentamento <strong>do</strong>s<br />

militares com o governo de Epitácio. O presidente havia<br />

se oposto ao aumento <strong>do</strong>s sol<strong>do</strong>s.<br />

Em meio à crise, a campanha para a eleição <strong>do</strong> sucessor<br />

de. Epitácio Pessoa, em 1922, revelou as contradições e<br />

as fraquezas <strong>do</strong> sistema político oligárquico. A indicação<br />

<strong>do</strong> ministro Artur Bernardes provocou violentos<br />

protestos das oligarquias <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (ha muito<br />

alijada <strong>do</strong> jogo político), Bahia, Pernambuco e Rio de<br />

Janeiro.<br />

Estes Esta<strong>do</strong>s formaram a Reação Republicana e<br />

lançaram a candidatura de Nilo Peçanha, que contava<br />

com, as simpatias <strong>do</strong>s “jacobinistas” militares. Como<br />

Artur Bernardes foi acusa<strong>do</strong> de escrever cartas (na<br />

verdade as cartas eram falsas) que atentavam contra a<br />

honra <strong>do</strong> Exército, os militares ameaçaram intervir no<br />

jogo Político.<br />

Mesmo assim o candidato governista foi eleito,<br />

mostran<strong>do</strong> mais uma vez que a máquina de <strong>do</strong>minação<br />

oligárquica ainda funcionava.<br />

O Levante <strong>do</strong> Forte de Copacabana<br />

A ordem de fechamento <strong>do</strong> Clube Militar e a prisão <strong>do</strong><br />

marechal Hermes da Fonseca provocou a revolta entre<br />

jovens oficiais <strong>do</strong> Exército A ação político-militar desses<br />

111


112<br />

jovens oficiais na década de 20 passaria para a <strong>História</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> com o nome de “tenentismo”.<br />

Na madruga de- 5 <strong>do</strong> julho de 1922, vários oficiais<br />

acantona<strong>do</strong>s no Forte de Copacabana dispararam os<br />

canhões exigin<strong>do</strong> a renúncia <strong>do</strong> presidente recém eleito<br />

O alto coman<strong>do</strong>, fiel ao poder constituí<strong>do</strong> organizou a<br />

ação militar contra Os rebeldes. A maioria <strong>do</strong>s rebela<strong>do</strong>s<br />

se entregou, mas um pequeno grupo resolveu enfrentar as<br />

forças <strong>do</strong> governo o episódio ficou conhecida como os<br />

18 <strong>do</strong> Forte de Copacabana, alusão ao número <strong>do</strong>s que<br />

resistiram Com exceção <strong>do</strong>s tenentes Siqueira Campos e<br />

Eduar<strong>do</strong> Gomes to<strong>do</strong>s foram mortos.<br />

No ano seguinte, o presidente Bernardes teve que<br />

enfrentar uma guerra civil rio Rio Grande <strong>do</strong> Sul a luta<br />

entre chias facções oligárquica (Assis <strong>Brasil</strong> e Borges de<br />

Medeiros) ensanguentou o Esta<strong>do</strong> gaúcho. Mal o Sul foi<br />

pacifica<strong>do</strong>, em fins de 1923, já estourava outro<br />

movimento <strong>do</strong>s tenentes, que Se encontravam na<br />

clandestinidade.<br />

A Revolta de 1924 e a Coluna Prestes<br />

Os tenentes escolheram São Paulo, cidade industrial e<br />

centro da economia cafeeira como núcleo da nova<br />

rebelião. No dia 5 de julho de 1924 (<strong>do</strong>is anos depois <strong>do</strong><br />

levante <strong>do</strong> Forte de Copacabana) os jovens militares<br />

iniciaram a revolta. Toma<strong>do</strong>s de surpresa, os quase 700<br />

mil habitantes da cidade foram colhi<strong>do</strong>s entre <strong>do</strong>is fogos:<br />

o <strong>do</strong>s “tenentes”, entrincheira<strong>do</strong>s nos principais pontos<br />

da cidade, e o bombardeio das forças governistas.<br />

No dia 27 de julho, o coman<strong>do</strong> tenentista resolveu<br />

aban<strong>do</strong>nar a cidade com mais de 3 mil solda<strong>do</strong>s<br />

marchan<strong>do</strong> em direção ao Paraná, aonde iriam, mais<br />

tarde, se encontrar com uma coluna de rebeldes vinda <strong>do</strong><br />

sul.<br />

Começava a famosa Coluna Prestes que iria marcar a<br />

história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Luís Carlos Prestes e João Alberto organizaram a coluna<br />

militar que deveria percorrer o <strong>Brasil</strong>, esperan<strong>do</strong><br />

provocar uma revolução para derrubar o governo de<br />

Artur Bernardes. Sob o coman<strong>do</strong> de Prestes e Miguel<br />

Costa, oficial da Força Público de São Paulo que aderiu a<br />

revolta de 24, milhares de solda<strong>do</strong>s percorreram entre 20<br />

e 30 mil quilômetros durante <strong>do</strong>is anos de marcha.<br />

Em fevereiro de 1927 os membros da coluna se exilaram<br />

na Bolívia, depois de perceberem que não conseguiriam<br />

sensibilizar a população para um levante arma<strong>do</strong> de<br />

grande proporções.<br />

No exílio, Luís Carlos Prestes entrou em contato com a<br />

literatura marxista e com membros <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.(funda<strong>do</strong> em 1922). Depois de algum tempo, o<br />

líder tenentista, aban<strong>do</strong>nou o projeto <strong>do</strong>s jovens,<br />

militares e aderiu ao comunismo. Desta forma, através<br />

<strong>do</strong> marxismo, Prestes analisou a complexa realidade<br />

brasileira.<br />

O Significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tenentismo<br />

18 <strong>do</strong> Forte. Foto: Acervo <strong>do</strong> site oficial <strong>do</strong> Forte de Copacabana<br />

Os tenentes, que haviam tenta<strong>do</strong> tomar o poder ou<br />

provocar urna revolução contra os latifundiários no<br />

poder, eram herdeiros de uma tradição militar que vinha<br />

desde fins <strong>do</strong> Império. Muitos eram jovens originários<br />

das camadas médias urbanas e estavam imbuí<strong>do</strong>s da<br />

idéia de que era escolhi<strong>do</strong>s para a missão de salvar o<br />

<strong>Brasil</strong>, da corrupção e <strong>do</strong> atraso Isto significava que, para<br />

eles, o povo não tinha condições de participar da tarefa.<br />

A Coluna Prestes, embora não tenha sede vitoriosa,<br />

manteve o governo de Bernardes em constante esta<strong>do</strong> de<br />

pressão; e acabou chaman<strong>do</strong> a atenção da opinião<br />

pública para as desigualdades sociais gritantes existentes<br />

no <strong>Brasil</strong>.<br />

O Parti<strong>do</strong> Comunista<br />

O Parti<strong>do</strong> Comunista <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, funda<strong>do</strong> em 1922,<br />

interpretava de maneira diferente <strong>do</strong>s tenentes a situação<br />

social <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Pra os comunistas somente a unidade de<br />

to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res poderia por fim a opressão<br />

política e econômica. (A formação <strong>do</strong> BOC Bloco<br />

Operário Camponês), que participou de eleições, em<br />

1928 foi resulta<strong>do</strong> dessa estratégia política proposta<br />

pelos comunistas.<br />

A Contestação Estética:<br />

A Semana de Arte Moderna<br />

O Movimento modernista, inicia<strong>do</strong> no Teatro Municipal<br />

de São Paulo, em fevereiro de 1922, significou o<br />

rompimento com um conceito tradicional de estética.<br />

Liga<strong>do</strong> a modernização da sociedade brasileira, ele<br />

representou uma nova interpretação da nossa cultura.<br />

Ao esporem seus quadros, sua música, seus poemas e<br />

textos no Teatro Municipal da cidade mais moderno <strong>do</strong>


país, romperam com velhos paradigmas. Para Os<br />

modernistas, o romantismo (simboliza<strong>do</strong> pelo índio Peri)<br />

representava uma estética superada uma visão falsa <strong>do</strong><br />

nosso passa<strong>do</strong> e era preciso romper com este tipo de arte.<br />

De oxide viriam Os novos modelos? Da Europa<br />

modernista. Dos cubistas, <strong>do</strong>s expressionistas, <strong>do</strong>s<br />

futuristas. Isso sem desprezar as características da<br />

nacionalidade. Era na nossa cultura popular que se<br />

buscava inspiração para a produção artística.<br />

Tarsila <strong>do</strong> Amaral, Oswald de Andrade, Vilia Lobos e<br />

Mano de Andrade exploraram as características da<br />

cultura brasileira nas suas obras. Oswald criou o<br />

movimento Pau-<strong>Brasil</strong>. VilIa Lobos usou elementos <strong>do</strong><br />

nosso folclore para criar música erudita brasileira. Mano<br />

de Andrade criou uma das obras-primas da literatura<br />

brasileira:<br />

Macunaíma.<br />

Os Trata<strong>do</strong>s de Limites<br />

Os problemas fronteiriços entre o <strong>Brasil</strong> e seus vizinhos<br />

foram, de maneira geral, resolvi<strong>do</strong>s de forma pacífica. A<br />

maioria deles de forma favorável ao <strong>Brasil</strong>, em grande<br />

parte graças à atuação destacada <strong>do</strong> barão <strong>do</strong> Rio Branco<br />

A mais importante foi à divergência entre o <strong>Brasil</strong> e a<br />

Bolívia acerca <strong>do</strong> Acre.<br />

O território <strong>do</strong> atual Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Acre está assinala<strong>do</strong><br />

como uma das áreas em litígio com nossos vizinhos. Esta<br />

região foi reivindicada pelo <strong>Brasil</strong> depois que a atividade<br />

seringalista atraiu um grande numero de migrantes<br />

nordestinos que fugiram da seca. As pressões de grandes<br />

empresas (principalmente americanas) para afastar os<br />

seringalistas brasileiros da região, provocaram um<br />

movimento de resistência lidera<strong>do</strong> por Pláci<strong>do</strong> de Castro.<br />

Depois de alguns conflitos entre brasileiros e forcas<br />

bolivianas foi encontrada uma solução negociada (1903).<br />

Por ela, o Acre foi incorpora<strong>do</strong> ao território brasileiro.<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

TEXTO 01<br />

Consideran<strong>do</strong> que a ação operária constante, maleável e<br />

pronta, sujeita às diversas condições de tempo e de lugar<br />

seria grandemente embaraçada para uma centralização;<br />

Que a solidariedade deve ser consciente e o concurso de<br />

cada unidade só tem valor quan<strong>do</strong> voluntariamente da<strong>do</strong>;<br />

Que o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> poder nas mãos de poucos impediria<br />

o desenvolvimento da iniciativa e da capacidade <strong>do</strong><br />

proletaria<strong>do</strong> para se emancipar; com risco ainda de serem<br />

os seus interesses sacrifica<strong>do</strong>s aos <strong>do</strong>s seus diretores;<br />

Que o desenvolvimento da indústria faz-se no senti<strong>do</strong> de<br />

exigir de to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res, sem distinção de<br />

ofícios, uma solidariedade cada vez mais estreita,<br />

tenden<strong>do</strong> a abolir as barreiras que separam as<br />

corporações de ofícios;<br />

Que a união de sociedades por pacto federativo garante a<br />

cada uma a mais larga autonomia, deven<strong>do</strong> este princípio<br />

ser respeita<strong>do</strong> nos estatutos da Confederação Operária<br />

<strong>Brasil</strong>eira;<br />

O Congresso considera como único méto<strong>do</strong> de<br />

organização, compatível com o Irreprimível espírito de<br />

liberdade e com as imperiosas necessidades de ação e<br />

educação operária, o méto<strong>do</strong> federativo, a mais larga<br />

autonomia <strong>do</strong> indivíduo no sindicato, <strong>do</strong> sindicato na<br />

federação e da federação na confederação e, como<br />

unicamente admissível simples delegação de função sem<br />

autoridade.<br />

(Moção aprovada pelo Primeiro Congresso Operário no <strong>Brasil</strong> de 1906.)<br />

Quanto ao governo da República, é preciso fazer notar;<br />

desde logo, que o Exército Nacional não pode e não pôde<br />

nunca aceitar o governo <strong>do</strong> Dr. Artur Bernardes, no que<br />

diz peculiarmente respeito à sua pessoa. Não obstante os<br />

fatos conheci<strong>do</strong>s permanecem de pé as gravíssimas<br />

ofensas por ele dirigidas ao Exército.<br />

Entretanto, não visa a revolução a pessoa <strong>do</strong> Dr. Artur<br />

Bernardes, o que lhe diminuiria o caráter eleva<strong>do</strong> em que<br />

se inspirou e com o qual se apresenta ao povo brasileiro.<br />

Ela traz, como um <strong>do</strong>s seus objetivos, a substituição <strong>do</strong><br />

atual governo da República, por entenderem os seus<br />

chefes e orienta<strong>do</strong>res que esse governo não está à altura<br />

<strong>do</strong>s destinos <strong>do</strong> país e que, por fatos cuja citação é<br />

desnecessária, por muito notórios, tem demonstra<strong>do</strong><br />

praticamente ser a continuação <strong>do</strong>s governos eiva<strong>do</strong>s de<br />

vícios que têm dirigi<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong> nestes últimos lustros.<br />

Estes governos de nepotismo, de advocacia<br />

administrativa e de incompetência técnica na alta<br />

administração, de concessão em concessão, de acor<strong>do</strong>s<br />

113


114<br />

em acor<strong>do</strong>s, vêm arruinan<strong>do</strong> paulatinamente as suas<br />

forças vivas, aniquilan<strong>do</strong>-o interna e externamente.<br />

O Exército não tem ambições e não quer postos. Age<br />

abnegadamente, por altruísmo brasileiro e<br />

fundamentalmente patriótico e, nesse senti<strong>do</strong>, os chefes<br />

<strong>do</strong> movimento revolucionário querem dar o exemplo que<br />

empreste autoridade à sua crítica aos republicanos, que<br />

até agora, ocuparam os altos postos da administração <strong>do</strong><br />

país e que, com raras exceções, não souberam servi-lo<br />

nos seus interesses gerais.<br />

(Comunica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s chefes <strong>do</strong> movimento 10/7/1924.)<br />

a) Identifique, na primeira passagem em destaque, a que<br />

o “Comunica<strong>do</strong>” se refere.<br />

b) Faça o mesmo com a segunda passagem<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (Unitau-SP) O germe da crise oligárquica na<br />

República Velha encontra-se na industrialização e no<br />

crescimento da vida urbana, que fizeram surgir:<br />

a) novas forças sociais e políticas.<br />

b) o regime militar.<br />

c) a influência de valores políticos externos, vin<strong>do</strong>s com<br />

os imigrantes.<br />

d) a inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> como prioridade da revolução<br />

comunista Internacional.<br />

e) as grandes periferias urbanas formadas por imigrantes<br />

vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> interior.<br />

02 - (Cesgranrio-RJ) A industrialização brasileira no<br />

inicio <strong>do</strong> século XX é definida como um “processo de<br />

substituição de importações como pode ser observa<strong>do</strong> na:<br />

a) relação entre o crescimento da indústria e o declínio<br />

das vendas <strong>do</strong> café, após o Convênio de Taubaté.<br />

b) instalação de empresas multinacionais no <strong>Brasil</strong>,<br />

desde o século XIX, atraídas pelo fim da escravidão.<br />

c) a<strong>do</strong>ção de políticas protecionistas, desde o Império,<br />

tornan<strong>do</strong> proibitivas as importações.<br />

d) transferência maciça de mão-de-obra industrial e<br />

capitais norte-americanos para o <strong>Brasil</strong>.<br />

e) expansão industrial, durante a Primeira Guerra<br />

Mundial, quan<strong>do</strong> ficaram restritas as importações<br />

pelo <strong>Brasil</strong>.<br />

03. (UFMG) “O Avanti!, jornal socialista que se publica<br />

em S. Paulo, comentan<strong>do</strong> sobre a pouca concorrência<br />

que teve um comício contra os acidentes no trabalho,<br />

realiza<strong>do</strong> pela União <strong>do</strong>s Sindicatos da mesma<br />

localidade, diz que se o proletaria<strong>do</strong> não contribuiu para<br />

dar importância ao ato é porque está convenci<strong>do</strong> da<br />

inutilidade <strong>do</strong>s meios de luta revolucionários. (...) Se o<br />

proletaria<strong>do</strong> se compenetrou da inutilidade <strong>do</strong>s meios<br />

revolucionários, não alcançamos a compreender como,<br />

com o seu ‘bom senso’ não segue os socialistas<br />

parlamentares que há tanto tempo o convidam para guialo<br />

‘pelo bom caminho, justo e seguro, que conduz ao<br />

triunfo”<br />

(Notas de Polêmica. A Voz <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r. Órgão da Confederação Operária<br />

<strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1908. Ano 1, n. 4, p. 1.)<br />

Esse texto é ilustrativo da oposição política entre:<br />

a) Anarcossindicalistas versus Socialistas Utópicos.<br />

b) Anarcossindicalistas versus Socialistas.<br />

c) Anarquistas versus Comunistas.<br />

d) Mutualistas versus Socialistas.<br />

e) Socialistas versus Comunistas.<br />

04. (Fuvest-SP) No movimento operário brasileiro da<br />

Primeira República, a Greve Geral de 1917:<br />

a) localizou-se em São Paulo, reivindican<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção<br />

da jornada de oito horas de trabalho e a proibição <strong>do</strong><br />

trabalho feminino noturno.<br />

b) atingiu os principais núcleos urbanos e industriais <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, prolongan<strong>do</strong>-se devi<strong>do</strong> à recusa de<br />

negociações pelos grevistas.<br />

c) restringiu-se ao Rio de Janeiro, articulan<strong>do</strong>-se com<br />

movimentos militares de oposição ao governo<br />

Venceslau Brás.<br />

d) atingiu somente o Rio de Janeiro e São Paulo,<br />

sofren<strong>do</strong> dura repressão conjunta <strong>do</strong> Exército e da<br />

Marinha.<br />

e) paralisou a produção cafeeira, reivindican<strong>do</strong><br />

equiparação com os trabalha<strong>do</strong>res urbanos na<br />

jornada de oito horas de trabalho.<br />

05.(Cesgranrio-RJ) O anarquismo (anarcossindicalismo),<br />

uma das correntes políticas <strong>do</strong> movimento operário na<br />

República Velha (1889-1930), lutava:<br />

a) pela organização <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> urbano em parti<strong>do</strong>s<br />

políticos, como forma de pressionar o governo a<br />

a<strong>do</strong>tar uma legislação trabalhista que defendesse os<br />

direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res contra a exploração<br />

capitalista.<br />

b) pela eleição de lideres sindicais para o Congresso,<br />

onde poderiam defender melhor as reivindicações<br />

operárias contra os interesses oligárquicos e da<br />

burguesia industrial explora<strong>do</strong>ra.<br />

c) pela formação de sindicatos mais combativos e<br />

dispostos a negociar com a burguesia industrial a<br />

manutenção da propriedade privada e a participação<br />

<strong>do</strong>s operários nos lucros das fábricas.


d) pela cooperação com o Esta<strong>do</strong>, desde que este<br />

respeitasse o direito de greve, a livre negociação <strong>do</strong><br />

operaria<strong>do</strong> em sindicatos e aprovasse leis que<br />

defendessem melhores condições de trabalho nas<br />

fábricas.<br />

e) pelo fim <strong>do</strong> sistema capitalista, da divisão da<br />

sociedade em classes e da abolição da propriedade<br />

privada e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> através da ação direta <strong>do</strong><br />

operaria<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong> em sindicatos.<br />

06. (Faap-SP) “Governar é abrir estradas”— Lema <strong>do</strong><br />

governo de:<br />

a) Washington Luís.<br />

b) Campos SaIes.<br />

c) Rodrigues Alves.<br />

d) Venceslau Brás.<br />

e) Artur Bernardes.<br />

07. (FGV-SP) Qual foi a maneira como as oligarquias da<br />

República Velha se valeram da «Política <strong>do</strong>s<br />

Governa<strong>do</strong>res” para se manter no poder e garantir o<br />

controle pelo governo federal:<br />

a) os governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s apoiavam inúmeras<br />

emendas à Constituição Federal para garantir a<br />

centralização <strong>do</strong> poder na União;<br />

b) através da Comissão de Verificação de Poderes, que<br />

controlava os resulta<strong>do</strong>s das eleições, garantia-se a<br />

representação parlamentar <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res<br />

alinha<strong>do</strong>s com o governo federal;<br />

c) o governo federal favorecia menos os esta<strong>do</strong>s cujos<br />

governa<strong>do</strong>res não se alinhassem com a sua política,<br />

como quan<strong>do</strong> ele financiou em São Paulo a<br />

valorização <strong>do</strong> café através <strong>do</strong> Convênio de Taubaté;<br />

d) o poder da União só se interessava pelo apoio <strong>do</strong>s<br />

grandes esta<strong>do</strong>s, dai a pequena importância <strong>do</strong>s<br />

governa<strong>do</strong>res nordestinos no sistema de poder da<br />

República Velha.<br />

e) os governa<strong>do</strong>res indicavam os ministros de Esta<strong>do</strong> e<br />

os deputa<strong>do</strong>s federais, mediante apoio à política <strong>do</strong><br />

governo central.<br />

08. (UnB-DF) Com referência ao mun<strong>do</strong> político anterior<br />

à Revolução de 1930, julgue os seguintes itens:<br />

I. A chamada República Velha viveu o para<strong>do</strong>xo de ter<br />

um sistema político formal avança<strong>do</strong> e uma sociedade<br />

cujas práticas políticas eram anacrônicas.<br />

II. A existência de parti<strong>do</strong>s conferia verniz liberal à<br />

estrutura política da República Velha.<br />

III. O voto universal, que incluía analfabetos, mulheres e<br />

indígenas, foi uma das marcas <strong>do</strong> liberalismo das<br />

primeiras décadas da República.<br />

IV. A política <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res, o café-com-leite, o<br />

curral eleitoral e o voto de cabresto foram práticas<br />

marcantes da política brasileira na República Velha.<br />

Estão corretos:<br />

a) I, III, IV.<br />

b) I, II, IV.<br />

c) I, II, III.<br />

d) II, III, IV<br />

e) to<strong>do</strong>s.<br />

09. (Uerj) (...) Estão em greve presentemente, nesta<br />

capital, cerca de 15 mil operários, e à hora em que<br />

escrevemos, nada faz prever que esse número decresça<br />

tão ce<strong>do</strong>. Ao contrário, há justifica<strong>do</strong>s receios de que o<br />

movimento aumente ainda, caso não se encaminhem as<br />

desinteligências para um acor<strong>do</strong> satisfatório e equitativo.<br />

(O Esta<strong>do</strong> de 5. Paulo, 12/7/1917. Cita<strong>do</strong> por TREVISAN, Leonar<strong>do</strong>. A<br />

República Velha. São Paulo, Global, 1982.)<br />

O movimento operário, durante as primeiras décadas <strong>do</strong><br />

regime republicano no <strong>Brasil</strong>, caracterizou-se pela<br />

existência de:<br />

a) apoio de trabalha<strong>do</strong>res rurais, que participaram de<br />

várias greves organizadas.<br />

b) parti<strong>do</strong>s de tendência anarquista, que foram<br />

responsáveis pela greve geral de 1917.<br />

c) reivindicações políticas, que foram atendidas por<br />

legislação implantada na década de 20.<br />

d) lideranças de imigrantes europeus, que traziam a<br />

experiência de organização de seus passes de<br />

origem.<br />

10. (UFPE) Leia as afirmativas abaixo referentes aos<br />

anos vinte <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, no <strong>Brasil</strong>.<br />

1. Os anos vinte reforçaram o poder das oligarquias e não<br />

envolveram lutas por reivindicações políticas<br />

democráticas.<br />

2. O movimento tenentista expressava as insatisfações<br />

políticas <strong>do</strong> momento apenas <strong>do</strong> ponto de vista da<br />

estratégia militar<br />

3. O movimento modernista significou, entre outras<br />

coisas, uma reflexão sobre a identidade cultural<br />

brasileira, apesar das influências europeias modernistas.<br />

4. Apesar da importância da cultura <strong>do</strong> café, já existiam,<br />

nos anos 1920, investimentos em diversos setores da<br />

economia brasileira.<br />

115


116<br />

5. Os anos 1920 representaram a ascensão <strong>do</strong>s<br />

comunistas dentro <strong>do</strong> movimento operário da Primeira<br />

República.<br />

Estão corretas apenas:<br />

a) 1,2 e 4<br />

b) 2,3 e 4<br />

c) 1 e 3<br />

d) 3,4 e 5<br />

e) 1 e 5.<br />

11 . (UFRJ) A consolidação da República liberal (1889-<br />

1930) foi completada com a sucessão de Prudente de<br />

Morais (1894—1898) por outro paulista, Campos Sales<br />

(1898-1902), que em seu governo concebeu um arranjo<br />

conheci<strong>do</strong> como política <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res.”<br />

FAUSTO, Bons. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> São Paulo: Edusp, 1995. p. 258. (Com<br />

adaptações)<br />

Apresente duas características da chamada política <strong>do</strong>s<br />

governa<strong>do</strong>res.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

____________________________________________<br />

12. (UFPR) Sobre o movimento <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong>, ocorri<strong>do</strong><br />

entre 1912 e 1916, considere as afirmativas abaixo:<br />

1. No início <strong>do</strong> movimento, o monge José Maria, sua<br />

principal liderança, foi morto, mas suas orientações<br />

continuaram a exercer influência sobre os participantes.<br />

2. Esse movimento acabou por agregar diferentes<br />

segmentos sociais, como posseiros e sitiantes expulsos<br />

de suas terras, e comunidades negras e caboclas.<br />

3. O movimento <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> tinha características<br />

milenares e messiânicas, mas também políticas, de<br />

contestação social.<br />

4. Apesar <strong>do</strong> cunho contestatório, a simpatia para com a<br />

República é uma característica continuamente presente<br />

no movimento <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong>.<br />

5. Uma das principais causas <strong>do</strong> movimento foi o fato de<br />

os sertanejos — ou caboclos — terem si<strong>do</strong> expulsos de<br />

suas terras pela estrada de ferro construída na região.<br />

Copie em seu caderno a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas 3, 4 e 5 são verdadeiras.<br />

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.<br />

c) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras.<br />

d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.<br />

e) Somente as afirmativas 1,2,4 e 5 são verdadeiras<br />

13. (UESB-2009) Identifique as alternativas verdadeiras<br />

Durante o perío<strong>do</strong> de 1889 a 1930, destacam-se como<br />

acontecimentos responsáveis por alterações e mudanças<br />

políticas, sociais e econômicas, na sociedade mundial e<br />

brasileira,<br />

I. O Crescimento urbano, no <strong>Brasil</strong>, que aumentou a<br />

diferenciação da sociedade, em consequência <strong>do</strong><br />

desenvolvimento desigual, que fomentava a<br />

concentração regional da renda.<br />

II. A primeira guerra mundial, que resultou na decadência<br />

da Europa, mas beneficiou os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, que<br />

despontou como a mais poderosa potencia mundial <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong>.<br />

III. A unanimidade das comunidades internacionais quanto<br />

ao reconhecimento <strong>do</strong> sistema capitalista como meio de<br />

fomentar a paz e o entendimento entre as nações.<br />

IV. A afirmação das oligarquias brasileiras como<br />

organizações democráticas e o papel concilia<strong>do</strong>r que<br />

exerceram no processo de reforma agrária então<br />

realizada no país.<br />

V. A realização da Semana de Arte Moderna, no <strong>Brasil</strong>, que<br />

se destacou, sobremo<strong>do</strong>, pela aproximação entre<br />

intelectuais e artistas, ao direcionar sua produção para<br />

uma problemática bem mais próxima <strong>do</strong> povo.<br />

A alternativa que indica todas as afirmativas verdadeiras<br />

é a<br />

01) I e II.<br />

02) I, II e V.<br />

03) II, III e IV.<br />

04) III, IV e V.<br />

05) I, II, IV e V.<br />

14. (UESB – 2007) Em 1930, ocorreu no <strong>Brasil</strong> um<br />

movimento arma<strong>do</strong> que ficou conheci<strong>do</strong> como a<br />

“Revolução de 1930” e, segun<strong>do</strong> a historiografia<br />

tradicional, é um marco significativo, pois que<br />

determinaria o fim da “República Velha”, inauguran<strong>do</strong><br />

uma nova etapa <strong>do</strong> desenvolvimento nacional. (FARIA;<br />

MARQUES; BERUTTI, 1989, p.333)<br />

A partir da análise <strong>do</strong> texto e <strong>do</strong>s conhecimentos sobre a<br />

Revolução de 1930, identifique as afirmativas<br />

verdadeiras:<br />

I. O rompimento entre as oligarquias mineira e paulista,<br />

nas eleições para a sucessão de Washington Luís, foi um<br />

<strong>do</strong>s fatores que contribuíram para a revolução. A crise <strong>do</strong><br />

café, em 1929, provocou um enfraquecimento<br />

temporário <strong>do</strong>s setores agrários <strong>do</strong>minantes, agravan<strong>do</strong> o<br />

panorama pré-revolucionário.


III. O movimento integralista lidera<strong>do</strong> por Plínio<br />

Salga<strong>do</strong>, que pretendia instalar, no país, um governo<br />

ditatorial, recebeu apoio da classe média, aprofundan<strong>do</strong><br />

as divergências entre os vários grupos sociais, nessa fase.<br />

IV. A Aliança Liberal, lançan<strong>do</strong> uma chapa de oposição<br />

para as eleições de 1930, com o objetivo de acabar com a<br />

hegemonia política de São Paulo, conseguiu atrair o<br />

apoio <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong> urbano, de setores da burguesia,<br />

classe média e operaria<strong>do</strong>.<br />

V. A vitória de Getúlio Vargas, candidato a presidente<br />

pela Aliança Liberal, nas eleições, e o subsequente<br />

impedimento à sua posse, pelos líderes políticos<br />

paulistas, criaram as condições necessárias para a<br />

eclosão <strong>do</strong> movimento revolucionário de 1930.<br />

A alternativa que contém todas as afirmativas<br />

verdadeiras é a<br />

01) I e III<br />

02) II e IV<br />

03) IV e V<br />

04) I, II e IV<br />

05) I, II, III e V<br />

117


XI - VARGAS E O ESTADO NOVO NO BRASIL<br />

(1930 – 1945)<br />

Portinari e o Esta<strong>do</strong> Novo<br />

As constituições de 19314 e 1937 definiam que o Esta<strong>do</strong><br />

tinha a função de estimular e proteger a produção<br />

artística nacional, O então ministro da Educação,<br />

Gustavo Capanema, cumprin<strong>do</strong> esse princípio, garantiu<br />

apoio e financiamento a um grande grupo de artistas e<br />

Intelectuais.<br />

O pintor Candi<strong>do</strong> Portinari, que nasceu em Bro<strong>do</strong>wski,<br />

interior de São Paulo, em 1903, foi um <strong>do</strong>s beneficia<strong>do</strong>s<br />

por essa nova relação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com a intelectualidade.<br />

Além dele, Mano de Andrade, Heitor Villa-Lobos, Oscar<br />

Niemeyer e outros se valeram de vínculos como Esta<strong>do</strong><br />

Novo.<br />

Portinari recebeu diversos convites oficiais. Um <strong>do</strong>s mais<br />

importantes foi a encomenda de <strong>do</strong>ze painéis para<br />

decorar o moderno edifício <strong>do</strong> Ministério da Educação e<br />

Saúde. Os <strong>do</strong>ze afrescos, chama<strong>do</strong>s de Ciclos<br />

econômicos, cobriram as paredes <strong>do</strong> salão nobre e<br />

destacaram, junto com as atividades produtivas<br />

brasileiras, a figura <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res braçais,<br />

especialmente <strong>do</strong>s escravos, representa<strong>do</strong>s com pés e<br />

mãos aumenta<strong>do</strong>s.<br />

mais abruptas <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong> produto no merca<strong>do</strong><br />

internacional. Na expectativa de compensar as perdas,<br />

muitos produtores contraíram empréstimos para ampliar<br />

as lavouras de café e, dessa forma, aumentar o volume de<br />

vendas <strong>do</strong> produto.<br />

Mesmo assim, a crise económica mundial de 1929 levou<br />

muitos cafeicultores à ruína. Em função da retração <strong>do</strong><br />

consumo no merca<strong>do</strong> externo e da queda ainda maior <strong>do</strong>s<br />

preços, os estoques de café se acumularam.<br />

Os pedi<strong>do</strong>s de moratória das dívidas e de concessão de<br />

novos financiamentos feitos pelos produtores paulistas<br />

ao presidente Washington Luís foram nega<strong>do</strong>s.<br />

A ascensão de Vargas ao poder<br />

A hegemonia das elites cafeeiras de Minas Gerais e de<br />

São Paulo era contestada por vários setores. As classes<br />

médias e o operaria<strong>do</strong> urbano que se ampliavam em<br />

virtude da industrialização e da urbanização em curso no<br />

pais, organizavam-se e exigiam maior representação<br />

política, assim como alguns setores <strong>do</strong> exército,<br />

comerciantes, empresários e produtores rurais não<br />

vincula<strong>do</strong>s ao café. Nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

de Minas Gerais e da Paraíba, era grande a insatisfação<br />

das elites agrárias com a gestão <strong>do</strong> governo central.<br />

A campanha presidencial para a sucessão de Washington<br />

Luís, ocorrida em fins de 1929, foi bastante turbulenta.<br />

Embora pelo acor<strong>do</strong> entre São Paulo e Minas Gerais a<br />

tarefa de indicar o sucessor <strong>do</strong> então presidente coubesse<br />

a Minas Gerais, Washington Luís insistiu em indicar<br />

outro paulista para sucedê-lo, o governa<strong>do</strong>r de São Paulo<br />

Júlio Prestes. Em virtude disso, políticos de Minas<br />

Gerais, <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul e da Paraíba, descontentes,<br />

formaram a Aliança Liberal e lançaram a candidatura <strong>do</strong><br />

gaúcho Getúlio Vargas à presidência e <strong>do</strong> paraibano João<br />

Pessoa à vice-presidência.<br />

Cândi<strong>do</strong> Portinari<br />

A crise <strong>do</strong> liberalismo no <strong>Brasil</strong><br />

O <strong>Brasil</strong> e a crise de 1929<br />

Os anos de 1920 foram especialmente críticos para a<br />

República <strong>Brasil</strong>eira<br />

A economia <strong>do</strong> país, fortemente dependente da produção<br />

e da venda de café sofria com as oscilações cada vez<br />

Getúlio Vargas<br />

118


A Revolução de 1930<br />

Em março de 1830, as eleições sagraram vence<strong>do</strong>res os<br />

candidatos da situação, Júlio Prestes e o vice Vital<br />

Soares, O resulta<strong>do</strong>, porém, foi contesta<strong>do</strong> pela Aliança<br />

Liberal. Sem acor<strong>do</strong> político possível sobre como agir<br />

diante desse resulta<strong>do</strong>, a Aliança se dividiu e alguns<br />

alia<strong>do</strong>s de Vargas recusaram-se a aceitar a derrota<br />

eleitoral, claman<strong>do</strong> por uma revolução que restaurasse a<br />

moralidade republicana.<br />

O assassinato de João Pessoa serviu como pretexto<br />

politico para o movimento arma<strong>do</strong>. Mineiros, gaúchos,<br />

paraibanos e simpatizantes da candidatura Vargas em<br />

outras localidades brasileiras passaram à mobilização<br />

armada, que acabou por derrubar o presidente em<br />

exercício, Washington Luis, em outubro de 1830. O<br />

movimento que conduziu Vargas ao poder ficou<br />

tradicionalmente conheci<strong>do</strong> como Revolução de 1330.<br />

O Governo Provisório e a centralização <strong>do</strong> poder<br />

Conduzi<strong>do</strong> ao poder em caráter provisório, Vargas<br />

tomou uma série de decisões centraliza<strong>do</strong>ras que<br />

repercutiram na economia e na política <strong>do</strong> país, como a<br />

aplicação de medidas de proteção <strong>do</strong> setor cafeeiro [<strong>do</strong>c.<br />

2] a suspensão temporária das eleições, a dissolução <strong>do</strong><br />

Congresso Nacional e <strong>do</strong>s legislativos estaduais e<br />

municipais e o estabelecimento <strong>do</strong> Decreto nº 18.77O,<br />

que estabelecia regras para o funcionamento <strong>do</strong>s<br />

sindicatos e os tornava dependentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Durante o Governo Provisório, os interventores, homens<br />

de confiança indica<strong>do</strong>s pelo presidente, substituíram os<br />

governa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s. Para o governo de São Paulo,<br />

foi designa<strong>do</strong> o interventor João Alberto, militar não<br />

paulista. A decisão desapontou não só diferentes setores<br />

da burguesia paulista, adversários declara<strong>do</strong>s de Vargas,<br />

mas também os membros <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Democrático, o PD,<br />

funda<strong>do</strong> em 1826 em oposição ao tradicional Parti<strong>do</strong><br />

Republicano Paulista, o PRP o PD, que inicialmente<br />

havia apoia<strong>do</strong> Getúlio Vargas, sentiu-se traí<strong>do</strong> pelo<br />

governante, uma vez que havia um acor<strong>do</strong> para que o<br />

paulista Francisco Morato assumisse a direção de São<br />

Paulo.<br />

João Alberto demitiu-se <strong>do</strong> cargo em virtude <strong>do</strong> aumento<br />

da pressão interna <strong>do</strong>s democratas e <strong>do</strong>s republicanos<br />

paulistas. Entre novembro de 1831 e fevereiro de 1832,<br />

formou-se, então, a Frente Única Paulista (FUP), que<br />

reunia membros <strong>do</strong> PD e <strong>do</strong> PRP e se opunha ao<br />

fortalecimento <strong>do</strong> poder central. São Paulo concentrou o<br />

maior foco de reação contra o governo varguista. Mas<br />

também se formaram frentes únicas nos esta<strong>do</strong>s de<br />

Minas Gerais e Rio Grande <strong>do</strong> Sul, que se voltaram<br />

contra a excessiva centralização político-administrativa e<br />

pela volta de um regime constitucional para a nação.<br />

No inicio de 1832, o movimento radicalizou-se em São<br />

Paulo após a morte de estudantes durante uma<br />

manifestação popular. Formou-se, então, o movimento<br />

MMDC (sigla composta pelas iniciais <strong>do</strong>s sobrenomes de<br />

quatro <strong>do</strong>s estudantes mortos: Martins, Miragaia,<br />

Oráusio e Camargo), que mobilizou amplos setores<br />

paulistas à revolta [<strong>do</strong>c, 3].<br />

Cartão-postal de 1932 que homenageia o MMDC sigla com as iniciais <strong>do</strong>s nomes<br />

da quatro estudantes mortos na revolta paulista de 1932. FGV. Rio de Janeiro.<br />

A Politica <strong>do</strong> Café<br />

“O governo Vargas não aban<strong>do</strong>nou nem poderia<br />

aban<strong>do</strong>nar o setor cafeeiro. [...] Um decreto de fevereiro<br />

de 1931 estabeleceu que o governo federal compraria<br />

to<strong>do</strong>s os estoques existentes no pais em 30 de junho de<br />

1931 ao preço mínimo de 60 mil-réis, com exceção <strong>do</strong>s<br />

cafés adquiri<strong>do</strong>s por São Paulo. [..] Mas o problema de<br />

fun<strong>do</strong> subsistia: que fazer com parte <strong>do</strong>s estoques atuais<br />

e futuros que não encontravam colocação no merca<strong>do</strong><br />

internacional? A resposta surgiu em julho de 1931: O<br />

governo compraria o café com a receita derivada <strong>do</strong><br />

imposto de exportação, e <strong>do</strong> confisco cambial, ou seja,<br />

de uma parte da receita das exportações, e destruiria<br />

fisicamente uma parcela <strong>do</strong> produto. Tratava assim de<br />

reduzir a oferta e sustentar os preços. [..] A destruição <strong>do</strong><br />

café só terminou em julho de 1944. Em treze anos, foram<br />

elimina<strong>do</strong>s 78,2 milhões de sacas, ou seja, uma<br />

quantidade equivalente ao consumo mundial de três<br />

anos,”<br />

FAUSTO, Boris. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Edusp/ Fundação <strong>do</strong><br />

Desenvolvimento da Educação, 1995. p. 333 - 334<br />

119


O movimento constitucionalista<br />

A Revolução Constitucionalista de 1932<br />

Nos dias de julho de 1932, eclodiu em São Paulo uma<br />

revolta armada contra o governo federal, conhecida<br />

como Revolução Constitucionalista de 1932.<br />

Cartaz da revolução. FGV. RJ<br />

A participação direta e indireta da população de São<br />

Paulo no movimento foi ampla: profissionais liberais das<br />

classes médias, estudantes, intelectuais, clérigos,<br />

estrangeiros, mulheres, operaria<strong>do</strong>, negros e índios<br />

lutaram contra a “ditadura getulista” [<strong>do</strong>cs. 1 e 2].<br />

Os estudiosos têm chama<strong>do</strong> a atenção para a grande<br />

mobilização popular liderada pelas elites paulistas que,<br />

por meio de intensa propaganda - <strong>do</strong> rádio, da imprensa<br />

escrita, de cartazes, de associações civis e corporações<br />

profissionais - conseguiu congregar setores muito<br />

distintos em torno da luta em prol de São Paulo e da<br />

legalidade constitucional.<br />

O conflito durou três meses. Isoladas, as tropas paulistas<br />

foram cerca das em suas fronteiras. O porto de Santos foi<br />

fecha<strong>do</strong> pela marinha, o que impediu o acesso ao<br />

merca<strong>do</strong> externo. Apesar de serem muitos, os solda<strong>do</strong>s<br />

careciam de munição e de armas. Utilizaram, então,<br />

matracas para imitar o som das rajadas das balas de<br />

metralha<strong>do</strong>ras, na falta desse e de outros armamentos<br />

[<strong>do</strong>c. 3]. Não havia, também, alimentos, remédios e<br />

atendimento médico suficiente para os combatentes. Em<br />

outubro de 1932, os paulistas se renderam.<br />

A Constituição de 1934<br />

Os paulistas, derrota<strong>do</strong>s militarmente, consideraram-se<br />

vitoriosos <strong>do</strong> ponto de vista moral. Getúlio Vargas<br />

anistiou amplamente os revoltosos, cedeu às exigências<br />

de indicação de um interventor paulista reafirman<strong>do</strong> o<br />

nome <strong>do</strong> civil Pedro de Tole<strong>do</strong> e, sobre tu<strong>do</strong>, convocou,<br />

em 1933, eleições para a formação de urna Assembleia<br />

Nacional Constituinte, que elaboraria uma nova<br />

Constituição para o país [dcc.4].<br />

Em 16 de julho de 193L1, promulgou-se a Carta Magna,<br />

inspirada nos textos de outras constituições,<br />

principalmente a alemã de 1919 e a espanhola de 1931.<br />

A Constituição de 1931 mesclava princípios liberais e<br />

autoritários. Alguns pontos da legislação merecem<br />

destaque:<br />

• O <strong>Brasil</strong> permaneceu uma República Federativa.<br />

• Reafirmou-se a independência entre os poderes<br />

Executivo, Legislativo e Judiciário.<br />

• O voto tornou-se obrigatório (para os brasileiros<br />

alfabetiza<strong>do</strong>s maiores de 18 anos), universal e direto.<br />

• Introduziu-se o voto feminino [<strong>do</strong>c. 5]<br />

• Estabeleceu-se o ensino primário gratuito e obrigatório.<br />

• Reafirmou-se a obrigatoriedade <strong>do</strong> serviço militar.<br />

• Regulamentou-se a propriedade pública de recursos<br />

hídricos e minerais.<br />

Ainda que a Carta Constitucional de 193L4 estabelecesse<br />

eleições diretas para a presidência da república, Vargas<br />

acabou sen<strong>do</strong> eleito indiretamente pela Assembleia<br />

Nacional Constituinte para um mandato de quatro anos.<br />

Pela norma, Vargas ocuparia o poder até 1938, quan<strong>do</strong><br />

deveriam ser realizadas novas eleições presidenciais no<br />

país.<br />

120


Anos de conflito:<br />

O <strong>Brasil</strong> entre 1930-1837<br />

A primeira metade da década de 1930 foi marca da por<br />

um clima de grande agitação e mobilização políticas. Em<br />

1932, sob a direção <strong>do</strong> ex-tenente Plínio Salga<strong>do</strong>,<br />

organizou-se a Ação Integralista <strong>Brasil</strong>eira [AlB], que<br />

professava princípios antiliberais e antissemitas. A<br />

organização negava a pluralidade partidária e defendia a<br />

implantação de um Esta<strong>do</strong> integral, que seria constituí<strong>do</strong><br />

pelo chefe da nação, órgãos representativos das<br />

profissões e entidades culturais.<br />

O voto de saias<br />

“Há 76 anos a mulher brasileira ganhou o direito de votar<br />

nas eleições nacionais por meio <strong>do</strong> Código Eleitoral<br />

Provisório, de 24 de fevereiro de 1932. Mesmo assim, a<br />

conquista não foi completa. O código permitia apenas<br />

que mulheres casadas (com autorização <strong>do</strong><br />

mari<strong>do</strong>), viúvas e solteiras com renda própria pudessem<br />

votar.<br />

As restrições ao pleno exercício <strong>do</strong> voto feminino só<br />

foram eliminadas no Código Eleitoral de 1934. No<br />

entanto, o código não tornava obrigatório o voto<br />

feminino. Apenas o masculino. O voto feminino, sem<br />

restrições, só passou a ser obrigatório em 1946.<br />

O direito ao voto feminino começou pelo Rio Grande <strong>do</strong><br />

Norte. Em 1927, o Esta<strong>do</strong> se tornou o primeiro <strong>do</strong> país a<br />

permitir que as mulheres votassem nas eleições. Ainda<br />

em 1927, a professora Celina Guimarães, de Mossoró<br />

(RN), tornou-se a primeira brasileira a fazer o<br />

alistamento eleitoral. A conquista regional desse direito<br />

beneficiou a Luta feminina da expansão <strong>do</strong> ‘voto de<br />

saias’ para to<strong>do</strong> o país.<br />

INTEGRALISMO<br />

Atualmente, as mulheres não só estão à frente de vários<br />

ministérios como há uma Secretaria Especial de Políticas<br />

para as Mulheres [...]. Apesar <strong>do</strong> avanço feminino na<br />

política, [até as eleições presidenciais de 2006] o <strong>Brasil</strong><br />

ainda não teve nenhuma mulher eleita presidente [...].<br />

Direito de voto feminino completa 76 anos no <strong>Brasil</strong>. Correio <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2 fev.<br />

2008. Disponível em www.correio<strong>do</strong>brasil.combr Acesso em 8 fev. 2010.<br />

Símbolos e rituais<br />

Os integralistas criaram palavras de ordem e rituais,<br />

como a saudação “anauê”, vocábulo de origem tupi de<br />

significa<strong>do</strong> incerto, emprega<strong>do</strong> como cumprimento e<br />

bra<strong>do</strong> de luta entre guerreiros. O emblema <strong>do</strong><br />

Integralismo era a letra grega sigma (∑), que<br />

corresponde em português á letra “s”. Símbolo<br />

matemático da adição, a letra significava, no ideário<br />

integralista, a união e o fortalecimento da sociedade,<br />

mediante a obediência <strong>do</strong> indivíduo aos desígnios sociais<br />

[<strong>do</strong>c.6]<br />

A ANL e o Plano Cohen<br />

Em março de 1935, sob a direção <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> (PCB) e de seu líder, Luís Carlos Prestes,<br />

articulou-se a Aliança Nacional Liberta<strong>do</strong>ra (ANL),<br />

frente que aglutinava setores liberais e de esquerda e<br />

propunha o fortalecimento da democracia e mudanças<br />

radicais no <strong>Brasil</strong>. A ANL seguia de perto a política das<br />

frentes populares europeias, formadas para combater os<br />

governos fascistas em ascensão no velho continente.<br />

Participavam da ANL comunistas, liberais (progressistas<br />

e conserva<strong>do</strong>res), socialistas (reformistas e<br />

revolucionários e anarquistas de diversas correntes).<br />

Acusada de golpista, a ANL foi colocada na ilegalidade<br />

em julho de 1935, por meio da Lei de Segurança<br />

Nacional. A frente de esquerda começou a organizar,<br />

então, apesar da discordância <strong>do</strong>s liberais, levantes<br />

arma<strong>do</strong>s no Rio Grande <strong>do</strong> Norte, em Pernambuco e no<br />

Rio de Janeiro de combate ao conserva<strong>do</strong>rismo<br />

governamental e ao integralismo.<br />

A Intentona Comunista, nome da<strong>do</strong> pelo governo ao<br />

movimento da ANL, foi desarticulada e derrotada<br />

rapidamente, no mesmo ano de 1935. Seguiu-se intensa<br />

perseguição política e repressão a to<strong>do</strong>s os membros da<br />

ANL acusa<strong>do</strong>s de comunistas, golpistas, subversivos e<br />

inimigos <strong>do</strong> regime, apesar de seu varia<strong>do</strong><br />

posicionamento ideológico. Um <strong>do</strong>s lideres, Luís Carlos<br />

Prestes, foi condena<strong>do</strong> a trinta anos de detenção, e sua<br />

esposa, Olga Senário, judia alemã, foi presa e pouco<br />

depois deportada para a Alemanha, onde morreu em um<br />

campo de concentração.<br />

Nesse clima político repressivo, denunciou-se, em 1937,<br />

o Plano Cohen, um suposto plano comunista de tomada<br />

<strong>do</strong> poder. Muitas dúvidas pairam quanto à autoria desse<br />

projeto, atribuída aos integralistas e ao general Olímpio<br />

121


122<br />

Mourão Filho, que o teriam forja<strong>do</strong> para instituir no<br />

<strong>Brasil</strong> um regime forte e ditatorial sob a direção de<br />

Getúlio Vargas. Apesar das incertezas, as evidências<br />

históricas apontam para o uso político <strong>do</strong> obscuro plano<br />

para que Vargas continuasse no poder.<br />

Vocabulário histórico<br />

Lei de Segurança Nacional<br />

Também conhecida como “lei Monstro”, definia crimes<br />

contra a ordem social e política e suspendia direitos<br />

constitucionais. Estabelecida em 1935, a principal<br />

finalidade da lei era transferir para uma legislação<br />

especial os crimes contra a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

submeten<strong>do</strong>-os a um regime mais rigoroso. Sua<br />

aplicação foi reforçada em 1936, quan<strong>do</strong> foi instituí<strong>do</strong><br />

um tribunal de segurança civil e militar, o Tribunal de<br />

Segurança Nacional, que Julgava processos contra os<br />

indivíduos considera<strong>do</strong>s subversivos e suspeitos de<br />

ameaçar a Integridade nacional.<br />

O Esta<strong>do</strong> Novo<br />

O Golpe de 1937<br />

A divulgação <strong>do</strong> Plano Cohen serviu de justificativa para<br />

o enrijecimento <strong>do</strong> regime de Vargas. No dia 10 de<br />

novembro de 1937, foi publicada no Diário Oficial da<br />

União uma nova Constituição, redigida por Francisco<br />

Campos. Esse conjunto de leis legitimou a permanência<br />

de Vargas no poder, suspendeu as eleições, previstas<br />

para o ano seguinte, e colocou na ilegalidade as<br />

associações e os parti<strong>do</strong>s políticos.<br />

No mesmo dia da divulgação da nova Constituição, à<br />

noite, em transmissão radiofônica , Vargas anunciou a<br />

implantação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, nome que recebeu a<br />

ditadura que se iniciava no país. De acor<strong>do</strong> com alguns<br />

estudiosos desde a Lei de Segurança Nacional de 1935,<br />

reforçada em 1938 e 1942, arquitetava-se um modelo de<br />

governo inspira<strong>do</strong> em regimes fortes, conserva<strong>do</strong>res e<br />

autoritários.<br />

O Esta<strong>do</strong> Novo vigorou de 1937 a 1945. Algumas<br />

características foram ura determinantes durante esse<br />

perío<strong>do</strong>.<br />

• Centralização política, O poder <strong>do</strong> presidente da<br />

república foi amplia<strong>do</strong>, enquanto a autonomia <strong>do</strong> Poder<br />

Executivo <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s e municípios foi restringida, O<br />

governo central nomeou interventores para os esta<strong>do</strong>s,<br />

que deviam governar de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong><br />

presidente.<br />

• Intervenção econômica, O Esta<strong>do</strong> criou instrumentos<br />

de intervenção na economia nacional, por exemplo,<br />

fundan<strong>do</strong> empresas estatais.<br />

• Corporativismo. Inspira<strong>do</strong> no fascismo italiano, esse<br />

sistema previa a participação de representantes de classe<br />

(empresários e trabalha<strong>do</strong>res), nomea<strong>do</strong>s pelas<br />

respectivas associações, para participar da vida política<br />

nacional.<br />

A criação desses mecanismos resultou no fortalecimento<br />

<strong>do</strong> governo federal, em especial <strong>do</strong> presidente, que se<br />

colocava acima <strong>do</strong>s interesses de classe e das instituições<br />

de representação política.<br />

Repressão, censura e propaganda<br />

Com a extinção <strong>do</strong>s direitos democráticos, a vida<br />

partidária e eleitoral foi suspensa. Até mesmo antigos<br />

alia<strong>do</strong>s, como os integralistas, foram coloca<strong>do</strong>s na<br />

Ilegalidade em 1838. Ao reprimir os integralistas, o<br />

governo ditatorial mandava sua mensagem: toda e<br />

qualquer atividade ou agremiação política estava<br />

terminantemente proibida, independente de sua natureza<br />

Ideológica.<br />

Durante o Esta<strong>do</strong> Novo, Getúlio Vargas prosseguiu com<br />

a repressão política, aprimoran<strong>do</strong> os méto<strong>do</strong>s e os<br />

mecanismos repressivos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s no início <strong>do</strong> seu<br />

governo. Para isso, instituiu uma polícia secreta,<br />

responsável por vigiar e reprimir descontentes ou<br />

opositores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo. Além disso, criou um<br />

importante órgão institucional de censura e propaganda,<br />

o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),<br />

responsável pela formação de uma ampla opinião pública<br />

em favor <strong>do</strong> regime [<strong>do</strong>c. 11].<br />

DIP<br />

O Departamento de Imprensa e Propaganda foi cria<strong>do</strong><br />

em 1938 subordina<strong>do</strong> diretamente à presidência da<br />

república. O bacharel em direito e jornalista Lourival<br />

Fontes chefiou o órgão de 1937 a 1942 e recebeu apoio<br />

de importantes intelectuais <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> como Cândi<strong>do</strong><br />

Mota Filho e Cassiano Ricar<strong>do</strong>. As atribuições <strong>do</strong> DIP<br />

eram principalmente:<br />

• Controlar e exercer a propaganda <strong>do</strong> regime<br />

estabeleci<strong>do</strong> [<strong>do</strong>c. 2].<br />

• Promover manifestações cívicas e culturais.<br />

• Exercer a censura sobre a imprensa e os meios de<br />

comunicação em geral.<br />

• Promover exposições demonstrativas das atividades <strong>do</strong><br />

governo.<br />

• Produzir e divulgar o noticiário oficial.<br />

O DIP aju<strong>do</strong>u a afirmar o projeto político-ideológico de<br />

Vargas: filtrava e censurava qualquer produto, ideário,<br />

posição ou notícia desfavorável ao governo veiculan<strong>do</strong><br />

uma imagem sempre positiva <strong>do</strong> dita<strong>do</strong>r e de suas<br />

realizações.


A exaltação <strong>do</strong> líder<br />

Esta<strong>do</strong> Novo<br />

“Da mesma forma, a máquina da propaganda<br />

disseminava o rost pessoal <strong>do</strong> regime através de fotos,<br />

cartazes, lemas, dísticos, moedas, selos, placas<br />

comemorativas. Toda a sociedade parece olhar com os<br />

‘olhos Luminosos [...] de Getúlio’. Seu nome passa a ser<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong> a grandes instituições, provas esportivas,<br />

Logra<strong>do</strong>uros públicos; sua vida é recontada em detalhes,<br />

passan<strong>do</strong> através de ampla Literatura, escrita e<br />

encomendada, por uma reescrição mítica de suas<br />

qualidades pessoais de chefe predestina<strong>do</strong>. [,..]”.<br />

LENHARO, Alcir. Sacralização da política. Campinas, São Paulo:<br />

Papirus/unicamp, 1806. p. ‘47-50.<br />

A defesa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> interventor<br />

“O imperialismo <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> consiste em ampliar as suas<br />

fronteiras econômicas e integrar um sistema coerente, em<br />

que a circulação das riquezas e utilidades se faça Livre e<br />

rapidamente, baseada em meios de transporte eficientes,<br />

que aniquilarão as forças desintegra<strong>do</strong>ras da<br />

nacionalidade. [...j Desde que o merca<strong>do</strong> nacional tenha<br />

a sua unidade assegurada, acrescen<strong>do</strong>-se a sua<br />

capacidade de absorção, estará solidificada a federação<br />

política. A expansão econômica trará o equilíbrio<br />

deseja<strong>do</strong> entre as diversas regiões <strong>do</strong> país, evitan<strong>do</strong>-se<br />

que existam irmãos ricos ao La<strong>do</strong> de irmãos pobres. No<br />

momento nacional só a existência de um governo central<br />

forte, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de recursos suficientes, poderá trazer o<br />

resulta<strong>do</strong> deseja<strong>do</strong>.”<br />

Getúlio Vargas. A nova política <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938-<br />

1947. v. 5. p. 164-165. In: DEL PRIORE, Mary. Documentos de história <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>: de Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997. P. 93.<br />

A política econômica<br />

Ao longo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo promoveu-se uma<br />

diversificação ainda maior das atividades econômicas.<br />

Foram cria<strong>do</strong>s muitos órgãos governamentais de<br />

regulamentação e controle de vários setores produtivos<br />

agrícolas e industriais. Os institutos, autarquias e<br />

conselhos econômicos foram mecanismos cria<strong>do</strong>s para<br />

que o Esta<strong>do</strong> interviesse deforma mais ampla e integrada<br />

no conjunto da economia nacional (<strong>do</strong>o. 3). A<br />

industrialização e a urbanização continuaram se<br />

expandin<strong>do</strong> expressivamente, sem o aban<strong>do</strong>no, contu<strong>do</strong>,<br />

da agroexportação de produtos como café, açúcar e<br />

cacau. Vargas instituiu diversos órgãos para<br />

regulamentar e controlar a produção e a comercialização<br />

de insumos agrícolas e extrativos: Instituto Nacional <strong>do</strong><br />

Mate (1938). Instituto Nacional <strong>do</strong> Sal (1940), Instituto<br />

Nacional <strong>do</strong> Pinho (1941) etc.<br />

O Esta<strong>do</strong> tornou-se empresário em setores considera<strong>do</strong>s<br />

básicos ou essenciais para o desenvolvimento industrial.<br />

Criou companhias estatais como a Companhia<br />

Siderúrgica Nacional [1941) [<strong>do</strong>e. 4) e a Companhia<br />

Nacional de Álcalis (1843). Além disso, criou, em<br />

19142, a Companhia Vale <strong>do</strong> Rio Doce, em presa de<br />

capital misto, com controle acionário <strong>do</strong> governo federal.<br />

Hoje, é considerada a maior empresa privada <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Usina da CSN.<br />

Embora não se possa afirmar que o Esta<strong>do</strong> Novo tenha<br />

pratica<strong>do</strong> uma política preferencialmente<br />

industrializante, iniciou-se, nos anos 1830 e 1940, a<br />

transição de um sistema agroexporta<strong>do</strong>r para um sistema<br />

de base industrial, marca<strong>do</strong> por uma tendência à maior<br />

complexidade socioeconômica e maior competição<br />

política entre diferentes setores das elites nacionais.<br />

123


A valorização <strong>do</strong> trabalho<br />

Vargas construiu a Imagem de protetor <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res, graças ao uso intensivo <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação, O rádio servia eficientemente para<br />

espalhar a presença onipresente de Vargas pelo país.<br />

Foram célebres as suas palestras aos trabalha<strong>do</strong>res,<br />

sempre de teor intimista, via programas radiofônicos,<br />

Destacam-se, também, as cerimônias <strong>do</strong> dia 12 de maio,<br />

realizadas em grandes estádios, Nessas comemorações,<br />

Vargas costumava anunciar medidas que eram<br />

aguardadas pelos trabalha<strong>do</strong>res [<strong>do</strong>c. 6]<br />

O samba e o trabalho<br />

Wilson Batista (1913-1868) foi autor de <strong>do</strong>is sambas que<br />

expressavam em suas letras valores muito diferentes em<br />

relação ao trabalho.<br />

124<br />

Para os Ideólogos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, o trabalho era a única<br />

via para construir um país forte e bem--sucedi<strong>do</strong>. Os<br />

indivíduos ociosos ou sem ocupação regular, conheci<strong>do</strong>s<br />

como “malandros’, eram considera<strong>do</strong>s inimigos internos<br />

<strong>do</strong> regime e avessos ao trabalho e às leis e regras da<br />

ordem estabelecida [dcc. 5].<br />

O próprio desemprega<strong>do</strong> encontrava-se na posição<br />

ambígua e incômoda de ser considera<strong>do</strong> inimigo da<br />

pátria e de seus valores. Como a cidadania se definia<br />

pelo trabalho e não por direitos e deveres políticos, o<br />

cidadão era por excelência um trabalha<strong>do</strong>r. Aqueles que<br />

se encontravam marginaliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho,<br />

como os desemprega<strong>do</strong>s eram desqualifica<strong>do</strong>s e vistos<br />

como uma ameaça pelas autoridades.<br />

A política trabalhista <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo sistematizou<br />

algumas práticas que ocorriam no país desde a década de<br />

1930. Em 1930, Vargas Instituiu a Justiça <strong>do</strong> Trabalho,<br />

órgão que decidia questões trabalhistas; em logo, foi<br />

cria<strong>do</strong> o decreto-lei que estabelecia o salário-mínimo e o<br />

imposto sindical, uma contribuição anual que<br />

corresponde a um dia de trabalho e que serviu de<br />

instrumento para o financiamento <strong>do</strong>s sindicatos e para<br />

sua subordinação ao controle <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Em 1943, construiu a uma legislação social de proteção<br />

ao trabalho, a Consolidação das Leis <strong>do</strong> Trabalho (CLT).<br />

O <strong>do</strong>cumento estabelecia e ampliava importantes<br />

conquistas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res brasileiros, como a jornada<br />

de 8horas e férias remuneradas.<br />

No entanto, para poderem usufruir de direitos como a lei<br />

de férias, por exemplo, os trabalha<strong>do</strong>res tinham de ter<br />

carteira profissional, que só era expedida pelos sindicatos<br />

reconheci<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>.<br />

“Meu chapéu <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

Tamanco arrastan<strong>do</strong><br />

Lenço no pescoço<br />

Navalha no bolso<br />

Eu passo gingan<strong>do</strong><br />

Provoco e desafio<br />

Eu tenho orgulho<br />

Em ser tão vadio<br />

TEXTO 1<br />

TEXTO 2<br />

“Quem trabalha é que tem razão<br />

Eu digo e não tenho me<strong>do</strong> de errar<br />

O bonde São Januário<br />

Leva mais um operário:<br />

Sou eu que vou trabalhar<br />

Antigamente eu não tinha juízo<br />

Mas resolvi garantir meu futuro<br />

Vejam vocês:<br />

Sou feliz, vivo muito bem<br />

A boemia não dá camisa a ninguém [...]”<br />

Cotidiano e cultura<br />

Educação no Esta<strong>do</strong> Novo<br />

Getúlio Vargas buscou definir e uniformizar parâmetros<br />

e diretrizes educacionais. O objetivo era “nacionalizar”<br />

as iniciativas públicas voltadas à educação, isto é,<br />

padronizar o ensino público em seus diferentes níveis,<br />

em to<strong>do</strong> o território nacional, no que se referia às grades<br />

curriculares e aos conteú<strong>do</strong>s das matérias lecionadas.<br />

Enfatizou-se o ensino da educação física e da história <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> para reforçar, respectivamente, o espírito de<br />

disciplina e hierarquia entre os jovens e o respeito à<br />

figura de Vargas, que deveria ser visto como o dirigente


destina<strong>do</strong> a conduzir o <strong>Brasil</strong> à grandeza política e<br />

econômica [<strong>do</strong>c. 1].<br />

Gustavo Capanema, ministro da Educação <strong>do</strong> então<br />

Ministério de Educação e Saúde, procurou reordenar e<br />

reorganizar o ensino no país. O analfabetismo foi<br />

reduzi<strong>do</strong> e ampliou-se o acesso ao ensino primário,<br />

equivalente ao atual ensino fundamental de 1º ao 5º ano.<br />

Cinédia e Atlântida<br />

A produção cinematográfica brasileira era praticamente<br />

artesanal nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XX. Não havia<br />

conhecimentos técnicos, materiais a dinheiro suficiente<br />

para e realização de grandes obras. A indústria norteamericana<br />

ara a responsável pala maior parte das<br />

produções exibidas no país. No entanto, em fins da<br />

década de 1920, a sonorização <strong>do</strong>s filmes preocupava os<br />

distribui<strong>do</strong>res a apontava para um novo cenário das<br />

produções nacionais [<strong>do</strong>c. 2].<br />

Em 1930, Adhemar Gonzaga, diretor e crítico<br />

cinematográfico, fun<strong>do</strong>u a Cinédia, companhia que<br />

esperava conquistar o público <strong>do</strong> cinema norteamericano.<br />

A Cinédia consagrou o humor leve e<br />

irreverente de comunicação fácil e imediata com o<br />

público. Produziu<br />

uma série de comédias musicais, como Alô, Alô, Brasa<br />

Estudantes e Alô, Alô, Carnaval.<br />

Outra companhia cinematográfica que deu importante<br />

contribuição ao cinema brasileiro foi a Atlântida. Criada<br />

no dia 16 de outubro de 19141, produziu<br />

aproximadamente 66 filmes durante seus 21 anos de<br />

existência, num ritmo regular e com bom retorno de<br />

bilheteria. Os maiores astros da empresa foram Oscarito<br />

(1906-1970) e Grande Otelo (1915-1993).<br />

A esperança no cinema nacional<br />

“O aparecimento <strong>do</strong> [cinema] fala<strong>do</strong> parecia indicar que,<br />

finalmente, a situação tendia a inverter-se: o cinema<br />

estrangeiro seria preteri<strong>do</strong> em favor <strong>do</strong> brasileiro. O<br />

próprio cinema estrangeira cria uma barreira — a da<br />

língua — que iria afastar dele o público e permitir ao<br />

cinema brasileiro a ocupação <strong>do</strong> seu merca<strong>do</strong>.<br />

Acreditava-se que a desenvolvimento da produção<br />

nacional viria fatalmente como resulta<strong>do</strong> de um processo<br />

natural e necessário. A demanda <strong>do</strong> público faria com<br />

que se produzissem cada vez mais filmes; com o<br />

aumento da quantidade, os filmes iriam se aprimoran<strong>do</strong> e<br />

em pouco tempo se igualariam em qualidade aos<br />

estrangeiros. E mais: desenvolvida a cinematografia<br />

nacional, o <strong>Brasil</strong> poderia mesmo substituir os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s nos merca<strong>do</strong>s Latino-americanos - a proximidade<br />

das Línguas faria com que os filmes brasileiros tivessem<br />

aceitação garantida.”<br />

PIERUCCI. António Flávio de Oliveira e outros. <strong>História</strong> geral da civilização<br />

brasileira; o <strong>Brasil</strong> republicano — economia e cultura (1930-1964). 4 ed. Rio de<br />

Janeiro: Bertrand <strong>Brasil</strong>. 2007. v. 11 p. 569-570.<br />

A era de ouro <strong>do</strong> rádio<br />

As mudanças na estrutura socioeconômica <strong>do</strong> país<br />

repercutiram especialmente em cidades como Rio de<br />

Janeiro e São Paulo. Esses centros urbanos se<br />

transformaram em grandes metrópoles e núcleos<br />

irradia<strong>do</strong>res de novos padrões de comportamento, usos,<br />

costumes, hábitos e formas de lazer, O futebol, o cinema,<br />

o teatro nas suas diversas modalidades, particularmente o<br />

teatro de revista, tornaram-se divertimentos coletivos<br />

bastante populares nas grandes cidades. Já o rádio<br />

ocupava um lugar especial tanto no cotidiano das pessoas<br />

<strong>do</strong> campo quanto no das cidades.<br />

Em 1938, existiam no <strong>Brasil</strong> mais de 350 mil aparelhos,<br />

que ocupavam lugar de honra nas casas. Foi inegável o<br />

impacto <strong>do</strong> veículo no dia a dia, o rádio ditou moda,<br />

estimulou o consumo de produtos industrializa<strong>do</strong>s, criou<br />

novas formas de lazer e convivência e veiculou<br />

diferentes sensibilidades, valores e hábitos. Nos dias de<br />

hoje, mesmo com a grande oferta de meios de<br />

comunicação, como os aparelhos de televisão, os mp3<br />

players e a internet, o rádio continua a ser um importante<br />

veículo de informação e entretenimento.<br />

No espaço <strong>do</strong>méstico, o rádio constituía a grande<br />

diversão. Sua variada programação — noticiários,<br />

transmissões esportivas, shows musicais, programas<br />

humorísticos e novelas — congregava famílias, parentes<br />

e vizinhos. Nos bares, a população mais pobre se reunia<br />

em torno <strong>do</strong> rádio, a grande atração. Por meio da sua<br />

programação, a música e o humor caipiras conquistaram<br />

lugar de destaque tanto nos grandes centros urbanos<br />

como no interior.<br />

Vargas, saben<strong>do</strong> da importância <strong>do</strong> rádio como veículo<br />

de comunicação das massas, usou-o habilmente Em<br />

1940, o Esta<strong>do</strong> Novo estatizou a Rádio Nacional,<br />

empresa que pertencia ao grupo jornalístico A Noite,<br />

Vargas nomeou homens de sua confiança para a<br />

administração da empresa, que logo se tornou uma das<br />

rádios mais importantes da América Latina e um <strong>do</strong>s<br />

principais meios de divulgação das ideias e das<br />

realizações <strong>do</strong> regime varguista [<strong>do</strong>c. 3].<br />

Na música, o samba se popularizou, consagran<strong>do</strong><br />

inúmeros compositores e intérpretes como Noel Rosa,<br />

Wilson Batista, Ari Barroso, Lamartine Babo, Carmem<br />

Miranda, Oirce e Linda Batista, entre tantos outros [<strong>do</strong>c.<br />

4].<br />

125


números de dança e canto. Algumas apresentações<br />

faziam criticas sociais e politicas bem-humoradas.<br />

ANALISAR UM DOCUMENTO HISTÓRICO<br />

Quan<strong>do</strong> ocorrem tragédias naturais ou acontecimentos<br />

políticos, econômicos ou sociais de destaque, é comum,<br />

logo no dia seguinte, que jornais de grande circulação ou<br />

mesmo alguns altas veiculem desenhos, acompanha<strong>do</strong>s<br />

de textos ou não, que satirizam, ironizam ou criticam o<br />

personagem ou a situação de forma divertida e inusitada.<br />

A essas representações visuais de caráter humorístico e<br />

opinativo damos o nome das charges. As charges se<br />

caracterizam por ser um tipo de imagem de leitura rápida<br />

e que abordam temas relevantes <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong><br />

chargista, o artista responsável pela produção da obra.<br />

Normalmente, os textos que acompanham algumas<br />

charges completam ou explicitam o senti<strong>do</strong> da imagem.<br />

126<br />

Carmem Miranda<br />

As primeiras escolas de samba, fundadas nos anos 1920,<br />

foram alvo de manipulação política durante o governo<br />

Vargas, que buscava se legitimar por meio delas e<br />

reproduzir mitos políticos. No entanto, o espírito popular<br />

de humor e crítica social sobreviveu. A riqueza da<br />

música brasileira também se revelava em outros gêneros<br />

populares, como as marchinhas e os choros, e no campo<br />

erudito. Músicos como Heitor Villa-Lobos tentaram aliar<br />

o erudito ao popular, misturan<strong>do</strong> vários géneros<br />

musicais.<br />

A rádio pioneira<br />

“Afinal, em 31 de dezembro de 1942, a América Latina<br />

ganhara uma das cinco emissoras mais potentes <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>: a Nacional entrava no ar para transmitir<br />

programas diários em quatro idiomas, fazen<strong>do</strong> a<br />

divulgação metodizada da música e <strong>do</strong> folclore brasileiro<br />

La<strong>do</strong> a La<strong>do</strong> com a propaganda constante <strong>do</strong>s principais<br />

produtos <strong>do</strong> país (então o café, o algodão, a borracha e a<br />

madeira), por meio de uma estação de ondas curtas de<br />

50kw de potência e oito antenas instaladas pelas RCA<br />

Victor: duas dirigidas aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, duas à<br />

Europa, uma voltada para a Ásia”.<br />

SAROLOI, Luiz Carlos; MOREIRA, Bania virginia. Rádio Nacional: o <strong>Brasil</strong> em<br />

sintonia, 3. ad. Rio de Janeiro; Jorge Zahar, 2005. p. s8.<br />

Teatro de revista<br />

Também conheci<strong>do</strong> como revista, foi um gênero de<br />

apresentação teatral bastante popular até a década de<br />

1950. Contava com cenários e figurinos suntuosos,<br />

QUESTÕES:<br />

1. Descreva a cena e os personagens nela representa<strong>do</strong>s.<br />

2. A charge ressalta o poder <strong>do</strong> rádio no cotidiano de<br />

uma família na década de 1930. Que aspectos da relação<br />

entre rádio e cotidiano estão presentes na imagem?<br />

Justifique sua resposta.<br />

3. O rádio foi um <strong>do</strong>s primeiros meios de comunicação<br />

de massa. Sobre esse tema, que ironia a charge<br />

apresenta?<br />

4. As charges são importantes fontes históricas. Que<br />

informações podemos obter por meio da análise desse<br />

tipo de imagem?<br />

Uma charge da era <strong>do</strong> rádio<br />

Ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> primeiro governo Vargas, as<br />

charges foram importantes elementos de critica e<br />

denúncia de aspectos políticos <strong>do</strong> regime, além de<br />

registrar costumes e novos hábitos da sociedade<br />

brasileira. Muitas obras <strong>do</strong> cartunista Seth (pseudônimo<br />

de Álvaro Martins) fazem referência à grande penetração<br />

<strong>do</strong> rádio no espaço <strong>do</strong>mestico no Rio de Janeiro <strong>do</strong>s anos<br />

de 1930 e às transformações que esse veículo gerou no<br />

cotidiano das famílias.<br />

Para compreender o <strong>do</strong>cumento<br />

As transmissões de rádio no <strong>Brasil</strong> iniciaram-se na<br />

década de 1920, mas foi apenas a partir <strong>do</strong>s anos de 1930<br />

que houve um grande aumento no número de emissoras e<br />

de aparelhos nas casas brasileiras <strong>do</strong>s grandes centros<br />

urbanos. A crescente audiência e os patrocínios<br />

resultaram em uma programação mais variada:<br />

noticiários, transmissões esportivas, shows musicais e<br />

humorísticos e novelas. O rádio se tomaria uma das


principais fontes de diversão, informação e<br />

entretenimento das famílias. Havia programação para os<br />

mais varia<strong>do</strong>s grupos, juntan<strong>do</strong>, além <strong>do</strong>s membros da<br />

família, agrega<strong>do</strong>s, vizinhos, amigos etc.<br />

1. A cena representa a reunião de uma família em tomo<br />

de um rádio na sala de uma residência.<br />

2. Repare nos vários tipos humanos que fazem parte da<br />

cena na saia da casa.<br />

3. Observe a posição de destaque dada ao aparelho de<br />

rádio.<br />

4. O principal foco da cena é o pai (ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rádio), em<br />

claro contraste com o restante da família.<br />

O fim <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo<br />

As relações internacionais <strong>do</strong> regime Durante o Esta<strong>do</strong><br />

Novo, interesses econômicos e compromissos<br />

geopolíticos orientaram a política externa brasileira.<br />

Embora ideologicamente a ditadura varguista estivesse<br />

muito mais próxima <strong>do</strong>s regimes nazifascistas europeus,<br />

dada a admiração pelos governos fortes e antiliberais,<br />

mais afina<strong>do</strong>s com o projeto político brasileiro, o país<br />

não rompeu relações com as democracias liberais, e<br />

procurou tirar vantagem da rivalidade entre Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e Alemanha.<br />

O ministro das Relações Exteriores <strong>do</strong> governo de<br />

Vargas, Oswal<strong>do</strong> Aranha, assinou Importantes acor<strong>do</strong>s<br />

comerciais entre o <strong>Brasil</strong> e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s em<br />

1933,1937 e 1939 (<strong>do</strong>c. 1). Paralelamente, o <strong>Brasil</strong><br />

também negociava com a Alemanha. Desde a<br />

implantação <strong>do</strong> Terceiro Reich, em 1933,o governo<br />

nazista procurou acelerar o desenvolvimento industrial<br />

da Alemanha, necessitan<strong>do</strong>, para isso, de matériasprimas.<br />

O <strong>Brasil</strong> fornecia produtos primários e recebia,<br />

em troca, tecnologia militar da Alemanha. Era notória a<br />

admiração de alguns setores das Forças Armadas pelas<br />

ideias <strong>do</strong> regime nazista.<br />

A entrada <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na Segunda Guerra<br />

Coma eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1838,0<br />

governo brasileiro manteve uma neutralidade ambígua.<br />

Aproveitan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> esforço de guerra empreendi<strong>do</strong> pelas<br />

potências beligerantes, o <strong>Brasil</strong> enviou matérias-primas e<br />

produtos estratégicos, ora aos países <strong>do</strong> Eixo, ora aos<br />

países alia<strong>do</strong>s. Além disso, o governo brasileiro<br />

negociava seu alinhamento em troca de dinheiro e<br />

tecnologia para a instalação de um parque siderúrgico no<br />

país. Em lego, o presidente norte-americano Franklin O.<br />

Roosevelt concedeu um vantajoso empréstimo ao país,<br />

de aproximadamente 20 milhões de dólares, e apoio<br />

técnico para a construção da Companhia Siderúrgica<br />

Nacional<br />

(CSN). Em troca, o governo brasileiro permitiu que<br />

tropas norte-americanas se instalassem no Nordeste. Em<br />

19h42, rompeu relações diplomáticas com os países <strong>do</strong><br />

Eixo.<br />

Como represália, ainda em 18L42, submarinos alemães<br />

torpedearam cinco navios mercantes brasileiros. Esse<br />

fato gerou grandes manifestações populares e, poucos<br />

dias após os ataques, o <strong>Brasil</strong> declarou guerra às forças<br />

<strong>do</strong> Eixo.<br />

Autoridades britânicas e norte-americanas tentaram<br />

desencorajar o <strong>Brasil</strong> a participar diretamente <strong>do</strong><br />

conflito. Porém, Vargas insistiu no envio de tropas para a<br />

Europa e negociou com Roosevelt as condições para o<br />

ingresso <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na guerra.<br />

Duas instituições militares brasileiras atuaram no<br />

desenrolar <strong>do</strong>s acontecimentos <strong>do</strong> conflito mundial: a<br />

Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira (FAB) e a Força Expedicionária<br />

<strong>Brasil</strong>eira (FEO). A FAB, fundada em 1941, contou com<br />

a instrução e os equipamentos militares norteamericanos.<br />

A principal missão da Força Aérea<br />

<strong>Brasil</strong>eira foi o patrulhamento da costa nordestina, cujos<br />

portos haviam si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s ou moderniza<strong>do</strong>s com<br />

investimentos vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

A Força Expedicionária <strong>Brasil</strong>eira<br />

A Força Expedicionária <strong>Brasil</strong>eira, orlada em 1943, lutou<br />

ao la<strong>do</strong> de tropas norte-americanas e britânicas. Os<br />

pracinhas, solda<strong>do</strong>s que integravam a FEB, foram<br />

treina<strong>do</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s entre 1943 e 1944. Em<br />

1944, os solda<strong>do</strong>s brasileiros desembarcaram na Itália,<br />

sob a liderança <strong>do</strong> general Mascarenhas de Morais e sob<br />

o coman<strong>do</strong> geral <strong>do</strong> general norte-americano Mark<br />

Clark. Quase 30 mil brasileiros participaram <strong>do</strong>s<br />

combates na Itália, e mais de quinhentos pracinhas<br />

perderam a vida nos conflitos. A participação das tropas<br />

brasileiras foi estratégica para conter os alemães no norte<br />

da Itália e permitir o avanço <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s.<br />

127


A participação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nos combates da Segunda<br />

Guerra Mundial foi um <strong>do</strong>s fatores que levaram à<br />

derrocada e ao final <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo. Externamente, o<br />

<strong>Brasil</strong> lutava em prol da democracia e, internamente,<br />

vivia sob um regime ditatorial. Essa situação<br />

contraditória criou condições para que a oposição<br />

politica ao regime varguista encontrasse espaço para<br />

manifestar-se.<br />

A derrocada <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo<br />

A contradição provocada pela entrada <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na<br />

Segunda Guerra Mundial lutan<strong>do</strong> contra o totalitarismo<br />

nazista, enquanto se vivia no plano político interno uma<br />

ditadura, permitiu que, principalmente a partir de 1943,<br />

as oposições passassem a se proclamar abertamente<br />

contra o regime político vigente de então.<br />

Em 1943, o Manifesto <strong>do</strong>s Mineiros pedia o retorno à<br />

democracia. De teor bastante modera<strong>do</strong>, sua importância<br />

politica talvez tenha si<strong>do</strong> superestimada pelos estudiosos;<br />

em to<strong>do</strong> caso, o manifesto marcava o afastamento das<br />

elites de Minas Gerais <strong>do</strong> governo.<br />

A crise <strong>do</strong> regime varguista aprofun<strong>do</strong>u-se em 1941, em<br />

virtude das pressões da sociedade civil e <strong>do</strong>s<br />

desentendimentos entre Vargas e os militares da alta<br />

cúpula das Forças Armadas, que pouco a pouco<br />

retiravam seu apoio ao regime. No próprio seio <strong>do</strong><br />

governo ocorreram muitas desistências, como a de<br />

Oswal<strong>do</strong> Aranha, ministro das Relações Exteriores e<br />

amigo de Vargas.<br />

Em 1945, foram funda<strong>do</strong>s três parti<strong>do</strong>s políticos: a União<br />

Democrática Nacional (UON), antiga oposição liberal; o<br />

Parti<strong>do</strong> Social Democrático (P50), que reunia as elites<br />

rurais e a burocracia estatal; e o Parti<strong>do</strong> Trabalhista<br />

<strong>Brasil</strong>eiro (PTB), que tinha como base as massas<br />

trabalha<strong>do</strong>ras urbanas.<br />

massas às ruas. Em troca, algumas reivindicações <strong>do</strong>s<br />

comunistas foram atendidas: as relações diplomáticas<br />

com a União Soviética foram restabelecidas em abril de<br />

1945 e anistiaram-se os crimes políticos ocorri<strong>do</strong>s desde<br />

1934, acor<strong>do</strong> que resultou na libertação de Luís Carlos:<br />

Prestes e de mais uma centena de líderes comunistas.<br />

Em maio de 1945, foi cria<strong>do</strong> um novo Código Eleitoral,<br />

que estabeleceu a data da eleição presidencial para<br />

dezembro daquele ano. A UDN lançou a candidatura <strong>do</strong><br />

brigadeiro Eduar<strong>do</strong> Gomes à presidência da república,<br />

enquanto Vargas articulou e en<strong>do</strong>ssou a candidatura de<br />

Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD, contan<strong>do</strong> poder retirá-la<br />

caso permanecesse no poder.<br />

A deposição de Vargas<br />

Os meses de setembro e outubro de 1945 foram de<br />

intensa atividade política tanto <strong>do</strong> governo como das<br />

oposições, acirran<strong>do</strong>-se os conflitos entre simpatizantes e<br />

oposicionistas <strong>do</strong> regime.<br />

Um movimento de apoio à continuação <strong>do</strong> governo de<br />

Vargas, chama<strong>do</strong> queremismo alimentou a suspeita de<br />

que o presidente pudesse tramar um golpe.<br />

Com o lema “Queremos Getúlio”, o queremismo reúne<br />

políticos na defesa de que a transição para e democracia<br />

ocorresse sob o controle <strong>do</strong> presidente. A movimentação<br />

favorável a Vargas mobilizou a oposição, que passou a<br />

defender o afastamento <strong>do</strong> presidente como garantia de<br />

que as eleições ocorressem (<strong>do</strong>c. 2).<br />

O fator imediato para o fim <strong>do</strong> governo ditatorial de<br />

Vargas foi o afastamento de João Aberto de chefia da<br />

policia <strong>do</strong> Distrito Federal e a nomeação de Benjamin<br />

“Seio” Vergas, irmão <strong>do</strong> presidente, para o cargo, o que<br />

desagra<strong>do</strong>u profundamente os militares. Como Vargas<br />

não abriu mão de sua Indicação, as Forças Armadas<br />

mobilizadas forçaram a renúncia de Vargas em troca de<br />

garantias pessoais para ele e sua família. Na noite de 29<br />

de outubro de 1945, findava o Esta<strong>do</strong> Novo. No poder,<br />

ficava José Linhares, presidente <strong>do</strong> Supremo Tribunal<br />

Federal, até as eleições de 2 de dezembro de 1945.<br />

TEXTOS COMPLEMENTARES<br />

128<br />

Membros da Aliança Liberal no Rio de Janeiro, agosto de1929. FGV<br />

Com o fortalecimento da UDN, Vargas aproximou-se <strong>do</strong><br />

PCB, Interessa<strong>do</strong> na capacidade <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> de levar as<br />

TEXTO 1 - A Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1938<br />

A disputa da terceira Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, na França,<br />

mobilizaria grande parte da população durante o Esta<strong>do</strong><br />

Novo. Milhares de pessoas acompanhavam pelo rádio a<br />

transmissão <strong>do</strong>s jogos de futebol.<br />

Desde o início de 1938, três meses antes <strong>do</strong> início<br />

competição a expectativa que envolvia a participação<br />

brasileira era enorme. Media<strong>do</strong> pelos jornais e sobretu<strong>do</strong>


pelo rádio, o encontro da popularidade <strong>do</strong> futebol com os<br />

ideais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo contagiava e unia to<strong>do</strong> o país. Os<br />

joga<strong>do</strong>res eram vistos como nossos embaixa<strong>do</strong>res na<br />

Europa, e deles se esperava o mesmo que então se exigia<br />

de cada cidadão comum: coragem, disciplina e<br />

patriotismo acima de tu<strong>do</strong>. Eram esses os ingredientes<br />

que alimentavam o sonho de fazer <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> tanto uma<br />

grande nação quanto campeão mundial de futebol.<br />

Constantes referencia a Getúlio e aos altos interesses <strong>do</strong><br />

país legitimavam o caráter oficial da delegação,<br />

reforça<strong>do</strong> ainda pela escolha da filha <strong>do</strong> presidente,<br />

Alzira Vargas como madrinha dá equipe.<br />

Tamanha mobilização fez <strong>do</strong> embarque de seleção rumo<br />

à França, na tarde de 30 de abril, uma apoteose patriótica<br />

Segun<strong>do</strong> a cobertura <strong>do</strong> jornal Gazeta Esportiva,<br />

‘milhares de pessoas, enfrentan<strong>do</strong> o mau tempo, se<br />

dirigiram, ao cais Mauá para dizer o seu adeus aos ‘ases’<br />

patrióticos dan<strong>do</strong>-lhes um grande conforto moral na hora<br />

em que partiam para a terra estranha em busca de<br />

maiores glórias para o <strong>Brasil</strong> esportivo. [...] ao. se afastar<br />

o navio, a multidão em delírio, ovacionava<br />

freneticamente os ‘ases’ brasileiros, que, posta<strong>do</strong>s no<br />

convés, retribuíam as aclamações com o agitar de lenços.<br />

Só quan<strong>do</strong> o Arlanza desaparecia ao longe a mole<br />

humana deixou o cais, certa de que, em terras<br />

longínquas, os ‘ases’ patrícios jogarão com o<br />

pensamento na pátria distante, ouvin<strong>do</strong>, sempre, o grito<br />

de entusiasmo e de incitamento que partiu de milhares de<br />

brasileiros na hora <strong>do</strong> embarque e que é o grito Uníssono<br />

<strong>do</strong> país inteiro’.<br />

Quan<strong>do</strong> o campeonato começou, O <strong>Brasil</strong> inteiro parou<br />

para ouvir as irradiações de Gagliano Neto o locutor<br />

oficial da cadeia de emissoras Byington que conseguiria<br />

a exclusividade das transmissões diretas <strong>do</strong>s jogos da<br />

seleção.<br />

TEXTO 2 - O MITO GETÚLIO VARGAS<br />

Dias Gomes e Ferreira Gullar<br />

Construí<strong>do</strong> à época <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo pela máquina de<br />

propaganda <strong>do</strong> DIP, omito <strong>do</strong> getulismo encontrou<br />

grande ressonância no imaginário das massas urbanas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, inclusive, o uso <strong>do</strong> rádio exerceu um<br />

papel bastante relevante— não por acaso, nessa época foi<br />

criada a “a voz <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>”. A esse respeito, conforme<br />

observou o historia<strong>do</strong>r Alcir Lenharo:<br />

“O rádio servia eficazmente para se espalhar a imagem<br />

onipresente de Vargas por to<strong>do</strong> o país (...). Pelo rádio o<br />

poder se faz presente e personaliza a relação política com<br />

cada cidadão.”<br />

LENHARO, Alcir. Sacralização da politica. Campinas: Papirus, 1986. p. 42.<br />

O Esta<strong>do</strong> Novo soube utilizar com eficácia os meios de<br />

comunicação de massa e, nesse contexto, criou-se o mito<br />

<strong>do</strong> “pai <strong>do</strong>s pobres” ou o “pai <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res”.<br />

Os dramaturgos Dias Comes e Ferreira Gullar<br />

questionaram esse mito na peça “Dr. Getúlio, Sua Vida e<br />

Sua Glória”, publicada em 1968, momento em que o país<br />

vivia uma outra ditadura, que fora implantada em 1964.<br />

TEXTO 3 - O ÍDOLO MAL-AMADO<br />

Alice Beatriz da Silva Gor<strong>do</strong> Lang Ten<strong>do</strong> volta<strong>do</strong> ao<br />

poder em 1951, Vargas governou sob constante pressão<br />

até seu suicídio em 1954.<br />

Considera<strong>do</strong>, desde então, como um <strong>do</strong>s presidentes mais<br />

populares que o <strong>Brasil</strong> já teve, a socióloga Alice Beatriz<br />

da Silva Gor<strong>do</strong> Lang observa que, apesar de a memória<br />

de Vargas ainda hoje ser venerada, pesquisas com<br />

mulheres paulistas de origem burguesa o apontam como<br />

um governante detestável. Sem dúvida, as origens dessa<br />

resistência encontram-se na repressão à Revolução<br />

Constitucionalista de 1932.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Por que o forte sentimento de identidade de classe<br />

da burguesia paulista contribuiu para a rejeição ao<br />

mito <strong>do</strong> getulismo?<br />

FRANZINI, Fábio. Quan<strong>do</strong> a pátria calçou chuteiras. In: Revista de <strong>História</strong> da<br />

biblioteca Nacional. 30 jun. 2009. Disponíveis em<br />

Acesso em em jan 2010.<br />

Quan<strong>do</strong> Vargas se suici<strong>do</strong>u, em agosto de 1954, as<br />

reações em São Paulo também variaram. Uma comoção<br />

generalizada tomou conta das camadas populares, que<br />

sentiam a perda como a de um ente queri<strong>do</strong>, um protetor,<br />

cuja morte provocou choro e desespero. Para a camada<br />

favorecida, evidenciou-se uma reação de me<strong>do</strong> <strong>do</strong> que<br />

pudesse vir a ocorrer, um sentimento de insegurança face<br />

129


130<br />

a uma possível revolta popular. Em certos casos, houve<br />

até mesmo manifestações de alegria.<br />

A visão negativa de Getúlio como governante perverso,<br />

imagem recorrente em São Paulo, deve-se certamente à<br />

persistência de sentimentos que tiveram origem na<br />

Revolução Constitucionalista de 1932. O movimento foi<br />

desencadea<strong>do</strong> em nome da reconstitucionalização <strong>do</strong><br />

país, embora houvesse por trás outras causas, como o<br />

esgotamento <strong>do</strong> modelo econômico basea<strong>do</strong> na<br />

exportação <strong>do</strong> café, o crescimento da indústria, as<br />

consequências da quebra da Bolsa de Nova York e a<br />

perda da hegemonia política <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Motivações estas<br />

que não aparecem, contu<strong>do</strong>, nas narrativas coletadas.<br />

A revolução começou no dia 9 de julho de 1932,<br />

contan<strong>do</strong> com a adesão imediata da população paulista.<br />

A mobilização foi intensa. Jovens se alistaram forman<strong>do</strong><br />

batalhões constitucionalistas, a indústria foi direcionada<br />

para a fabricação de armamentos, serviços urbanos foram<br />

assumi<strong>do</strong>s pela população civil, trabalhos de retaguarda,<br />

como o preparo de fardamentos e alimentação para<br />

solda<strong>do</strong>s, ficaram por conta das mulheres, que se<br />

organizaram em oficinas. O comércio colaborou, até<br />

meninos trabalharam como estafetas (mensageiros).<br />

Lançou-se a Campanha <strong>do</strong> Ouro para custear as<br />

despesas. As pessoas que <strong>do</strong>avam valores recebiam em<br />

troca um anel — com a inscrição “Dei ouro para o bem<br />

de São Paulo” — que passavam a ostentar com orgulho.<br />

Revelou-se a revolução um fato extremamente marcante<br />

na memória das mulheres entrevistadas que dela<br />

participaram. Muitas décadas depois, o movimento<br />

permanece níti<strong>do</strong> na sua lembrança. Relatos belíssimos e<br />

emociona<strong>do</strong>s falam <strong>do</strong>s preparativos, da partida <strong>do</strong>s<br />

solda<strong>do</strong>s para o front, das atividades nas oficinas de<br />

costura e cozinhas itinerantes, da decepção que se seguiu<br />

à derrota. Impressiona o fato de os sentimentos terem<br />

perdura<strong>do</strong> por tanto tempo.<br />

Uma das entrevistadas evocou os comícios que<br />

precederam a revolução: “Então a gente ia para a Praça<br />

da Sé. Tio Alcântara tinha um escritório que dava para a<br />

Praça da Sé e nós ficávamos lá gritan<strong>do</strong>: ‘Abaixo<br />

Getúlio!’, ‘Morra Getúlio!’, empolgadíssimas. Aí eu<br />

descobri que eu não era brasileira, que eu era paulista”.<br />

Da mesma depoente: “Mamãe nunca pronunciou o nome<br />

de Getúlio Vargas, ela só dizia ‘o Chuchu”.<br />

LANG, Alice Beatriz da Silva Gor<strong>do</strong>, O í<strong>do</strong>lo mal-ama<strong>do</strong>. In: NOSSA <strong>História</strong>.<br />

São Pauto: Vera Cruz, ano 1, n.10, p. 27. Ago. 2004.<br />

TEXTO 4 - QUANDO A ECONOMIA LEMBRAVA<br />

UM PÊNDULO<br />

Roberto Gambini<br />

Quan<strong>do</strong> se analisa a economia brasileira na primeira<br />

metade <strong>do</strong> século XX, o que mais chama atenção é a<br />

questão <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio quase absoluta <strong>do</strong> café nos<br />

primeiros 30 anos e, a partir daí, o esforço<br />

industrializante. Não se deve pensar, no entanto, que essa<br />

mudança teria determina<strong>do</strong> uma ruptura: no contexto da<br />

inserção <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nos quadros da economia capitalista<br />

mundial. Para o sociólogo: Roberto Gambini, a economia<br />

brasileira durante o perío<strong>do</strong> 1937-1945 lembrava “um<br />

pêndulo” ora oscilan<strong>do</strong> para uma proposta de maior<br />

integração à economia norte-americana, ora tenden<strong>do</strong> a<br />

uma maior integração com a economia alemã. Essa<br />

tendência pendular <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo também se refletiu.:<br />

no quadro das relações internacionais a partir <strong>do</strong> início<br />

da Segunda Guerra Mundial.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Por que o <strong>Brasil</strong>, durante o Esta<strong>do</strong> Novo, se constituiu<br />

numa área estratégica, ainda que periférica, para as<br />

economias capitalistas norte-americana e alemã?<br />

A marca fundamental deixada pelo perío<strong>do</strong><br />

compreendi<strong>do</strong> entre a Crise de 1929 e a Segunda Guerra<br />

Mundial sobre nossa política externa consiste numa<br />

redefinição da posição ocupada pelo <strong>Brasil</strong> na ordem<br />

capitalista internacional. Esse processo é marca<strong>do</strong> por<br />

<strong>do</strong>is movimentos paralelos: ao mesmo tempo em que os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s gradativamente substituíam a Europa<br />

como centro de gravitação das economias periféricas <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> capitalista, o <strong>Brasil</strong> passou a orientar seu<br />

crescimento a partir das próprias responsabilidades que<br />

essa situação criava.<br />

Durante o Esta<strong>do</strong> Novo, os laços estabeleci<strong>do</strong>s entre os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e o <strong>Brasil</strong>, tanto na área comercial como<br />

nade cooperação militas, não representam uma<br />

transformação <strong>do</strong> tipo de relação tradicionalmente<br />

existente entre as economias centrais e periféricas, mas,<br />

antes, um reajuste das necessidades e prioridades ditadas<br />

pelo avanço <strong>do</strong> capitalismo. Incapaz de alterar essa<br />

estrutura de relações e de estabelecer alternativas<br />

políticas e econômicas próprias, o <strong>Brasil</strong>.<br />

Encontrou novas possibilidades de crescimento na<br />

brecha aberta pela confrontação entre os poderes<br />

capitalistas. Alimenta<strong>do</strong> pela crise da economia de<br />

exportação e regula<strong>do</strong> por estímulos e limitações<br />

externos, esse crescimento não poderia, portanto,<br />

transformar as relações básicas de <strong>do</strong>minação e<br />

dependência nas quais se apoiava.<br />

Vejamos, resumidamente, os principais pontos de<br />

inflexão da política externa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, procuran<strong>do</strong>


demonstrar as razões que moviam o pêndulo da<br />

oscilação.<br />

Entre dólares e marcos — A importância <strong>do</strong> comércio<br />

exterior para os países subdesenvolvi<strong>do</strong>s deriva <strong>do</strong> fato<br />

de corresponder a uma grande proporção da renda<br />

nacional, uma vez que a economia como um to<strong>do</strong> se<br />

orienta para a produção de produtos primários de<br />

exportação.<br />

Sua análise revela até que ponto o país depende da<br />

produção para o merca<strong>do</strong> externo, tornan<strong>do</strong>-se dessa<br />

forma vulnerável a pressões políticas e à flutuação de<br />

oferta e demanda. (...)<br />

Na década de 30, a América Latina em geral e o <strong>Brasil</strong><br />

em particular se defrontaram com o problema de<br />

diversificar a produção e os merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, em<br />

contrapartida ao declínio <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s produtos<br />

tropicais e à mudança de comportamento econômico por<br />

parte <strong>do</strong>s principais consumi<strong>do</strong>res. Correlatamente, os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e a Alemanha procuravam tornar a<br />

economia brasileira complementar à sua, estimulan<strong>do</strong>-a a<br />

produzir o que necessitavam e também a comprar o que<br />

ofereciam, ao mesmo tempo em que se confrontavam<br />

com o intuito de determinar o merca<strong>do</strong> por intermédio <strong>do</strong><br />

estabelecimento de concessões mútuas com o <strong>Brasil</strong> e da<br />

exclusão <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res. (...)<br />

Entre os alia<strong>do</strong>s e o eixo — Durante o perío<strong>do</strong> de<br />

vigência, ao invés de propor um projeto histórico<br />

autónomo para o <strong>Brasil</strong>, como repetidamente martelava<br />

sua demagógica retórica, o Esta<strong>do</strong> Novo refinou sua<br />

capacidade de explorar as vantagens temporárias criadas<br />

pela rivalidade entre os <strong>do</strong>is centros <strong>do</strong> capitalismo. Foi<br />

através dessa estratégia que o regime consoli<strong>do</strong>u sua<br />

posição, desde o golpe até a guerra. (...)<br />

A influência e a penetração nazista só eram possíveis na<br />

medida em que o Esta<strong>do</strong> Novo continuasse a relacionarse<br />

com a Alemanha como contrapartida aos avanços<br />

norte-americanos. (..)<br />

Os compromissos manti<strong>do</strong>s por Getúlio Vargas eram<br />

mutuamente exclusivos A seu favor, a Alemanha podia<br />

contar seja com o apoio de simpatizantes no <strong>Brasil</strong>, seja<br />

com a pressão diplomática. Em 1940, sua embaixada<br />

dispunha de um corpo de duzentos servi<strong>do</strong>res, enquanto<br />

a norte-americana utiliza quarenta.<br />

Porém, o fato decisivo era sua capacidade, por algum<br />

tempo utilizada com a máxima eficácia, de vender<br />

produtos industrializa<strong>do</strong>s a crédito — que os<br />

importa<strong>do</strong>res brasileiros desejavam e não podiam obter<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s — e de comprar excedentes<br />

agrícolas que os norte-americanos não comprariam, visto<br />

que os mesmos competiriam com sua própria produção.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estavam, no perío<strong>do</strong>,<br />

implementan<strong>do</strong> uma política de solidariedade<br />

Continental — a Política de Boa Vizinhança, e tinham<br />

uma aguda consciência da importância estratégica <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> no conflito internacional.<br />

GAMBINI, Roberto. Quan<strong>do</strong> a economia lembrava um pêndulo. In: Isto É, São<br />

Paulo: Três, p. 53-55, 9 nov. 1977.<br />

TEXTO 5 - VARGAS E A POLÍTICA<br />

TRABALHISTA<br />

Antônio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros Durante<br />

a chamada Era Vargas (1930-1945), o crescimento<br />

industrial foi significativo. Segun<strong>do</strong> os autores <strong>do</strong> texto a<br />

seguir, no perío<strong>do</strong> de 1933 a 1939,o crescimento<br />

industrial foi de 11,3% ao ano, enquanto os anos de<br />

1939-1945 apresentaram índices de 5,4% ao ano. Apenas<br />

para se ter uma idéia da importância <strong>do</strong> setor industrial, a<br />

agricultura crescia a taxas anuais de 1,7%. Paralelamente<br />

a esse grande crescimento, aumentava, na mesma<br />

proporção, o número de operários. A partir de 1930, o<br />

Esta<strong>do</strong> brasileiro, uma vez redefini<strong>do</strong> o seu papel como<br />

agente impulsiona<strong>do</strong>r <strong>do</strong> processo industrial, procurou<br />

absorver os conflitos entre o capital e o trabalho,<br />

controlar os sindicatos e fazer com que o Ministério <strong>do</strong><br />

Trabalho, Indústria e Comércio (cria<strong>do</strong> pelo Decreto<br />

número 19.770, de 19 de março de 1931) atuasse de<br />

forma incisiva no quadro das reivindicações sociais.<br />

Após a criação <strong>do</strong> ministério, foram regulamenta<strong>do</strong>s os<br />

sindicatos, a jornada de trabalho e o trabalho feminino,<br />

Já na Constituição de 1934, foram estabeleci<strong>do</strong>s o salário<br />

mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, o descanso<br />

semanal, etc.<br />

O texto a seguir analisa a política trabalhista durante a<br />

vigência <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo.<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (FUVEST — SP) Com respeito à Ação Integra lista<br />

no <strong>Brasil</strong>, na década de 1930, é correto afirmar que:<br />

a) Foi uma cópia fiel <strong>do</strong> fascismo italiano, inclusive<br />

nas cores escolhidas para o uniforme usa<strong>do</strong> nas<br />

manifestações públicas.<br />

b) Foi um movimento sem expressão política, pois não<br />

tinha lideres intelectuais nem adesão popular.<br />

c) Tinha como principais marcas o nacionalismo, a<br />

base sindical corporativa e a supremacia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

d) Elegeu católicos, comunistas e positivistas como<br />

antagonistas mais significativos.<br />

131


132<br />

e) Foi um movimento financia<strong>do</strong> pelo governo<br />

getulista, o que explica sua sobrevivência.<br />

02. (FUVEST— SP) A política cultural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo<br />

com relação aos intelectuais caracterizou-se:<br />

a) Pela repressão indiscriminada, por serem os<br />

intelectuais considera<strong>do</strong>s adversários de regimes<br />

ditatoriais.<br />

b) Por um clima de ampla liberdade, pois o governo<br />

cortejava os intelectuais para obter apoio ao seu<br />

projeto nacional.<br />

c) Pela indiferença, pois os intelectuais não tinham<br />

expressão e o governo se baseava nas forças<br />

militares.<br />

d) Pelo desinteresse com relação aos intelectuais, pois<br />

o governo se apoiava nos trabalha<strong>do</strong>res<br />

sindicaliza<strong>do</strong>s.<br />

Por unia política seletiva por meio da qual só os<br />

adversários frontais <strong>do</strong> regime foram reprimi<strong>do</strong>s.<br />

03. (UFMG) Leia o texto. “Os deputa<strong>do</strong>s das profissões<br />

serão eleitos na forma da lei ordinária, por sufrágio<br />

indireto das associações profissionais, compreendidas<br />

para este efeito, com os quatro grupos afins respectivos,<br />

nas quatro divisões seguintes: lavoura e pecuária;<br />

indústria; comércio e transportes; profissões liberais e<br />

funcionários públicos.”<br />

BRASIL. Constituição de 1934.<br />

A partir desse texto, pode-se afirmar que a Constituição<br />

<strong>Brasil</strong>eira de 1934 inspirou-se no:<br />

a) Anarquismo.<br />

b) Comunismo.<br />

c) Corporativismo.<br />

d) Sindicalismo.<br />

e) Socialismo.<br />

04. (UFMG) O integralismo foi uma proposta politica<br />

capaz de converter a Ação Integralista <strong>Brasil</strong>eira em<br />

agente social e político bem-sucedi<strong>do</strong>, durante parte <strong>do</strong>s<br />

anos 1930 no <strong>Brasil</strong>.<br />

Todas as afirmativas apresentam elementos que se<br />

relacionam com o integralismo, exceto:<br />

a) A defesa da propriedade, da iniciativa privada e da<br />

soberania financeira <strong>do</strong> país.<br />

b) A ênfase no conceito de família, encarada como a<br />

origem da nação e sustentáculo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

c) A intenção deliberada de conseguir sua base de<br />

apoio entre os elementos das classes populares.<br />

d) A perspectiva autoritária a respeito <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong><br />

poder político.<br />

e) A proposto de luta contra o comunismo e contra o<br />

obscurantismo <strong>do</strong> século XIX.<br />

05. (UFMG) “Em 1934, Getúlio Vargas criou o<br />

Departamento de Propaganda e Difusão Cultural junto ao<br />

Ministério da justiça, esvazian<strong>do</strong> o Ministério da<br />

Educação não só da propaganda, mas também <strong>do</strong> rádio e<br />

<strong>do</strong> cinema. A decisão tinha como objetivo colocar os<br />

meios de comunicação de massa a serviço direto <strong>do</strong><br />

Poder Executivo, iniciativa que tinha inspiração direta <strong>do</strong><br />

recém-cria<strong>do</strong> Ministério da Propaganda Alemão. Este foi<br />

o embrião <strong>do</strong> DIP (...). Em 1939, as atribuições <strong>do</strong><br />

extinto Departamento de Propaganda e Difusão Cultural<br />

passaram para o Departamento de Imprensa e<br />

Propaganda, cria<strong>do</strong> nesse ano.”<br />

CAPELATO, Maria Helena. Propaganda politica e controle <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação. In: PANDOLFI, DuLce (Org.). Repensan<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> Novo. Rio de<br />

Janeiro: Ed. FGV, 1999. p. 172.<br />

Com base nessas informações, é correto afirmar que,<br />

durante o Esta<strong>do</strong> Novo, o Departamento de Imprensa e<br />

Propaganda (DIP) foi responsável pela:<br />

a) Ampliação <strong>do</strong> raio de atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e das suas<br />

formas de intervenção no âmbito da cultura.<br />

b) Desativação <strong>do</strong> sistema de comunicação<br />

encarrega<strong>do</strong> da difusão das diretrizes econômicas <strong>do</strong><br />

regime.<br />

c) Restrição à utilização <strong>do</strong> rádio e da imprensa para a<br />

difusão da propaganda política esta<strong>do</strong>-novista.<br />

d) Utilização da cultura como um instrumento a serviço<br />

da divulgação <strong>do</strong>s ideais democráticos.<br />

06. (FUVEST — SP)<br />

“Com meu chapéu de la<strong>do</strong>, tamanco arrastan<strong>do</strong><br />

Lenço no pescoço, navalha no bolso<br />

Eu passo gingan<strong>do</strong>, provoco e desafio<br />

Eu tenho orgulho de ser vadio.”<br />

(Witson Batista, 1933)<br />

“Quem trabalha é quem tem razão<br />

Eu digo e não tenho me<strong>do</strong> de errar<br />

o bonde de São Januário<br />

leva mais um operário<br />

sou eu que vou trabalhar.”<br />

(Witson Batista / Atautfo Alves, 1940)<br />

Da comparação entre as letras desses sambas depreendese<br />

que:<br />

a) As mudanças visíveis nos conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s sambas<br />

sugerem adesão à ideologia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo.<br />

b) As mudanças significativas de conteú<strong>do</strong> decorrem<br />

da valorização <strong>do</strong> trabalho industrial no Rio de<br />

Janeiro.


c) As datas das composições correspondem ao mesmo<br />

perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> governo de Vargas, indican<strong>do</strong> que<br />

mudanças são mera coincidência.<br />

d) As mudanças das letras não são significativas, já que<br />

ambas as composições tratam de problemas de gente<br />

pobre e humilde.<br />

e) As letras das músicas estão distantes <strong>do</strong>s interesses<br />

políticos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, que não se preocupava em<br />

fazer propaganda.<br />

07. (FGV) “Em plena Avenida Rio Branco, nas tardes de<br />

sába<strong>do</strong>, pegávamos à força alguns atrevi<strong>do</strong>s integralistas<br />

que se apresentavam fantasia<strong>do</strong>s de camisa verde e os<br />

despojávamos das calças, largan<strong>do</strong>-os depois, em plena<br />

via pública apenas em fraldas de camisas. Não queriam<br />

eles andar de camisas verdes? Nós lhes fazíamos a<br />

vontade...” (Agil<strong>do</strong> Barata)<br />

A cena acima descrita refere-se aos:<br />

a) Enfrentamentos durante os comícios entre os<br />

integrantes da frente tenentista com a militância da<br />

Aliança Nacional Liberta<strong>do</strong>ra (ANL).<br />

b) Confrontos de rua entre integralistas e os tenentistas.<br />

c) Enfrentamentos públicos entre os integrantes da<br />

Aliança Nacional Liberta<strong>do</strong>ra (ANL) e os<br />

integralistas.<br />

d) Enfrentamentos entre os participantes da Aliança<br />

Liberta<strong>do</strong>ra Nacional (ALN , dirigida por Agil<strong>do</strong><br />

Barata, e os integralistas de Plínio Salga<strong>do</strong>.<br />

e) Confrontos públicos entre militares tenentistas e os<br />

comunistas da Aliança Liberta<strong>do</strong>ra Nacional (ALN).<br />

08. (FUVEST — SP) A política internacional <strong>do</strong> regime<br />

Vargas, entre 1930-1945, pode ser definida como de:<br />

a) Tentativa de formação de um pacto de aliança com<br />

os demais países da América Latina, visan<strong>do</strong> a<br />

garantir a neutralidade da região.<br />

b) Apoio à Alemanha, pelas afinidades <strong>do</strong> regime com<br />

o nazi-fascismo.<br />

c) Aproximação com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s porque este<br />

país era a potência hegemônica nas Américas.<br />

d) Desinteresse pelas relações internacionais, pois o<br />

<strong>Brasil</strong> buscava firmar o processo de industrialização,<br />

volta<strong>do</strong> para o merca<strong>do</strong> interno.<br />

e) Oscilação entre a Alemanha e as nações<br />

democráticas até optar pelas últimas.<br />

09. (FGV) Sobre a intervenção nas questões <strong>do</strong> trabalho<br />

durante o Esta<strong>do</strong> Novo é correto afirmar que:<br />

I. Apresenta uma clara inspiração na Carta del Lavoro<br />

(1927).<br />

II. Instituiu-se a obrigatoriedade <strong>do</strong> sindicato único por<br />

categoria profissional.<br />

III. A Consolidação das Leis <strong>do</strong> Trabalho (CLT) não é<br />

resulta<strong>do</strong> direto dessa intervenção.<br />

IV. As negociações entre emprega<strong>do</strong>s e emprega<strong>do</strong>res<br />

passam a ser tuteladas pelo Esta<strong>do</strong> através da chamada<br />

Justiça <strong>do</strong> Trabalho.<br />

V. As medidas são favoráveis principalmente para os<br />

sindicatos de orientação anarcossindicalista.<br />

a) Apenas I, lI e III são corretas.<br />

b) Apenas II, III e V são corretas.<br />

c) Apenas I, II e IV são corretas.<br />

d) Apenas III, IV e V são corretas.<br />

e) Apenas I, III e IV são corretas.<br />

10 – (Enem-MEC) “A partir de 1942 e estenden<strong>do</strong>-se até<br />

o final <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, o ministro <strong>do</strong> Trabalho, Indústria<br />

e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da<br />

Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no<br />

programa Hora <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. O objetivo declara<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

governo era esclarecer os trabalha<strong>do</strong>res acerca das<br />

inovações na legislação de proteção ao trabalho.”<br />

GOMES, A. C. A invenção <strong>do</strong> trabalhismo. Rio de Janeiro: Iuperj / Vértice. São<br />

Paulo: Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 1988. (Com adaptações).<br />

Os Programas Hora <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> contribuíram para<br />

a) conscientizar os trabalha<strong>do</strong>res de que os direitos<br />

sociais foram conquista<strong>do</strong>s por seu esforço, após<br />

anos de lutas sindicais.<br />

b) promover a autonomia <strong>do</strong>s grupos sociais, por meio<br />

de uma linguagem simples e de fácil entendimento.<br />

c) estimular os movimentos grevistas, que<br />

reivindicavam um aprofundamento <strong>do</strong>s direitos<br />

trabalhistas.<br />

d) consolidar a imagem de Vargas como um<br />

governante protetor das massas.<br />

e) aumentar os grupos de discussão política <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res, estimula<strong>do</strong>s pelas palavras <strong>do</strong><br />

ministro.<br />

11. (Fuvest-SP) A ascensão de Getúlio Vargas em 1930<br />

deu-se num contexto de crise mundial.<br />

a) Como essa crise afetou o <strong>Brasil</strong>?<br />

b) Comente as forças políticas que o apoiaram.<br />

133


AMPLIANDO O CONHECIMENTO<br />

>>Leitura:<br />

RAMOS, Graciliano. Memórias <strong>do</strong> cárcere. Rio de<br />

Janeiro: Record, 2001.<br />

Graças às perseguições políticas empreendidas pelo<br />

governo Vargas e pelo Tribunal de Segurança Nacional,<br />

em 1936 Graciliano Ramos foi deti<strong>do</strong> e conduzi<strong>do</strong> ao<br />

presidio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. O autor fez<br />

da sua experiência na prisão um relato das condições<br />

subumanas a que eram submeti<strong>do</strong>s os presos durante a<br />

Era Vargas.<br />

perseguida pela ditadura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo e deportada<br />

para a Alemanha nazista.<br />

Tempos de Paz<br />

Direção de Daniel Filho. <strong>Brasil</strong>, 2009. 80 min<br />

Em 18 abril de 1945, a Segunda Guerra Mundial já se<br />

encaminhava para seu término na Europa e o <strong>Brasil</strong> se<br />

aproximava <strong>do</strong>s EUA. Enquanto isso, em uma sala no<br />

setor de imigração da Alfândega <strong>do</strong> Porto <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro, um ex-policial <strong>do</strong> governo Vargas decide<br />

interrogar o polonês Clausewitz, suspeitan<strong>do</strong> de que ele é<br />

um espião nazista.<br />

134<br />

>>Filmes:<br />

Cinema, aspirina e urubus<br />

Direção de Marcelo Gomes. <strong>Brasil</strong>, 2005. 99 mm.<br />

O alemão Johann foge de seu país durante a Segunda<br />

Guerra e estabelece-se no <strong>Brasil</strong>. A narrativa mostra o<br />

cotidiano <strong>do</strong>s habitantes <strong>do</strong> sertão nordestino - marca<strong>do</strong><br />

pela seca, pelo poder <strong>do</strong>s latifundiários e pela miséria —<br />

e, ainda, a perseguição <strong>do</strong> governo Vargas aos<br />

estrangeiros provenientes de países que compunham o<br />

Eixo após a entrada <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na Segunda Guerra<br />

Mundial.<br />

Eternamente Pagu<br />

Direção de Norma Benguell. <strong>Brasil</strong>, 1988. 100 mm. O<br />

filme conta a história Patrícia Galvão, a Pagu, poetisa,<br />

militante comunista, ligada à vanguarda política e<br />

literária <strong>do</strong>s anos 1920 e 1930. Perseguida por sua<br />

atuação política, Pagu foi presa várias vezes pelo<br />

governo de Getúlio Vargas, mas a repressão não a<br />

impediu de dedicar sua vida à luta pela liberdade e pela<br />

justiça.<br />

Getúlio Vargas<br />

Direção de Ana Carolina. <strong>Brasil</strong>, 1974. 76 mm.<br />

• O filme mostra os fatos que marcaram a Era Vargas<br />

como a participação da Força Expedicionária<br />

<strong>Brasil</strong>eira(FEB) na Segunda Guerra Mundial e a<br />

comoção popular causada pelo suicídio de Vargas —,<br />

por meio de montagens de jornais cinematográficos<br />

produzi<strong>do</strong>s pelo DIP. Uma obra que discute o populismo<br />

varguista e a sua herança nos dias atuais.<br />

Olga<br />

Direção de Jayme Monjardim. <strong>Brasil</strong>, 2004. :141 min.<br />

Narrativa centrada na história de Olga Benário, que<br />

conheceu Luís Carlos Prestes na União Soviética e<br />

tornou-se sua mulher. Viven<strong>do</strong> na clandestinidade, foi


XII – A EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA<br />

(1946 – 1964)<br />

Populismo, e política de massas<br />

Muitas vezes encontramos nos jornais a palavra<br />

populismo e a caracterização de certas ações e práticas<br />

como populistas. O tema surgiu nos anos 1950 e, embora<br />

atualmente seja questiona<strong>do</strong> par diversos historia<strong>do</strong>res,<br />

continue sen<strong>do</strong> aplicada para caracterizar certos políticos<br />

e práticas políticas.<br />

O conceito de populismo foi utiliza<strong>do</strong> par autores que<br />

buscavam compreender o surgimento de propostas<br />

politicas voltadas para a melhoria das condições de vida<br />

e de trabalho das camadas populares, embora as<br />

mantivessem submissas a grandes lideres políticos.<br />

Segun<strong>do</strong> esses autores, o populismo correspondia ao<br />

momento de passagem de uma sociedade rural e agrária<br />

para uma sociedade urbana e industrializada. Getúlio<br />

Vargas (<strong>Brasil</strong>), Juan Domingo Perón (Argentina) ou<br />

Lázaro Cárdenas deI Rio [México) seriam alguns<br />

exemplos desses lideres (<strong>do</strong>c. 1).<br />

Desde a década de 1970, porém, a conceito vem senda<br />

questiona<strong>do</strong>, Novos trabalhos recusaram a ideia de que<br />

os setores populares dependiam de lideres externos a eles<br />

e insistiam que os <strong>do</strong>is modelos de sociedade (rural e<br />

urbana) não eram excludentes. Não haveria, portanto,<br />

transição de uma para outra, e sim relações e vínculos<br />

entre as duas faces das economias latino-americanas.<br />

Os novos trabalhos defendiam que cada experiência<br />

histórica fosse estudada em sua especificidade e numa<br />

perspectiva comparativa, Propunham, também, que as<br />

estratégias a<strong>do</strong>tadas em cada governo, como a <strong>do</strong><br />

varguismo, fossem analisadas detalhadamente, como a<br />

importância da propaganda na construção de uma relação<br />

forte com as massas trabalha<strong>do</strong>ras e a simbologia<br />

empregada pelos parti<strong>do</strong>s e pelos políticos.<br />

Nessa mudança historiográfica, ainda hoje em curso, o<br />

conceito de populismo passou a conviver com a noção de<br />

política de massas e com o estu<strong>do</strong> os mecanismos de<br />

exercício de poder que foram utiliza<strong>do</strong>s em tantas partes<br />

a América Latina entre as décadas de 1930 e 1960.<br />

Campanha de Getúlio Vargas para as eleições de 1950. Manaus (AM),<br />

25/10/1950. (Arq. GV foto 169/2)<br />

De Vargas a Dutra<br />

O general Eurico Gaspar Outra, candidato de Vargas,<br />

venceu a eleição presidencial de 19h45. No mesmo ano,<br />

foram realizadas eleições legislativas para a composição<br />

da Assembleia Constituinte. A nova Constituição,<br />

promulgada em 19146, afirmava os princípios <strong>do</strong><br />

federalismo e <strong>do</strong> equilíbrio entre os três poderes<br />

(Executivo, Legislativo e Judiciário). O esforço<br />

democratizante expressava-se, ainda, no estabelecimento<br />

de eleições diretas para o preenchimento de to<strong>do</strong>s os<br />

cargos <strong>do</strong>s poderes Executivo e Legislativo, nos pianos<br />

federal, estadual e municipal, e na extensão <strong>do</strong> direito de<br />

voto a to<strong>do</strong>s os brasileiros alfabetiza<strong>do</strong>s e autônomos<br />

maiores de 18 anos, sem distinção de sexo ou condição<br />

social.<br />

O reconhecimento da questão social e das reivindicações<br />

trabalhistas, ponto marcante <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> Vargas, apareceu<br />

no texto constitucional de 10146 de duas formas<br />

distintas. Por um la<strong>do</strong>, assegurava-se o direito de greve;<br />

por outro, mantinha-se o atrelamento <strong>do</strong>s sindicatos ao<br />

Esta<strong>do</strong>. Nos <strong>do</strong>is casos, a Constituição demonstrava a<br />

persistência de traços <strong>do</strong> governo anterior: os direitos <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res eram reconheci<strong>do</strong>s e ganhavam espaço<br />

legal de discussão, mas o Esta<strong>do</strong> garantia mecanismos de<br />

controle sobre as associações profissionais e sindicais.<br />

A redemocratização promovida pelas eleições e pela<br />

nova Constituição tinha limites. Em meio à chama da<br />

bipolaridade estratégica, o <strong>Brasil</strong> aprofun<strong>do</strong>u seus laços<br />

com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e incorporou o discurso<br />

anticomunista propagandea<strong>do</strong> pelo governo norte--<br />

135


americano e en<strong>do</strong>ssa<strong>do</strong>, após 19148, pela Organização<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Americanos (OEA). Isso levou o governo<br />

Dutra a limitar a liberdade de organização partidária e a<br />

declarar ilegal, em 10147, o Parti<strong>do</strong> Comunista <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CPCB). Os sindicatos também foram atingi<strong>do</strong>s pela<br />

perseguição, e algumas de suas lideranças foram presas,<br />

mesmo quan<strong>do</strong> não tinham influência ou orientação<br />

comunista. No ano seguinte, o rompimento das relações<br />

diplomáticas com a União Soviética reiterava a posição<br />

brasileira ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

A política econômica<br />

A política econômica <strong>do</strong> governo Outra caracterizou-se<br />

pelo alinhamento brasileiro com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. No<br />

primeiro ano <strong>do</strong> mandato, a a<strong>do</strong>ção de uma política<br />

liberal de estímulo à importação de bens estrangeiros<br />

possibilitou a entrada de muitos produtos norteamericanos<br />

no país. O objetivo era ampliar a<br />

concorrência no merca<strong>do</strong> interno e, assim, baratear os<br />

similares brasileiros.<br />

A partir de 18147,0 governo passou a estabelecer certo<br />

controle à entrada de produtos estrangeiros, restringin<strong>do</strong><br />

o ingresso de bens de consumo rápi<strong>do</strong> e estimulan<strong>do</strong> a<br />

compra de maquinaria para o avanço industrial<br />

brasileiro. Um programa de valorização da moeda<br />

nacional e o aumento dó preço <strong>do</strong> café, principal produto<br />

brasileiro de exportação, também auxiliaram na<br />

recuperação e no crescimento.<br />

A sucessão de Dutra<br />

O avanço democrático, mesmo limita<strong>do</strong>, e o crescimento<br />

econômico <strong>do</strong>s anos Dutra, porém, foram Insuficientes<br />

para diminuir o prestígio popular e a força política de<br />

Vargas. O ex-dita<strong>do</strong>r se recolhera, após a deposição de<br />

10145, em suas propriedades rurais em São Borja, no Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul, e lá recebia inúmeras lideranças políticas<br />

e sindicais interessadas em ouvir seus conselhos e<br />

orientações. Vargas afastara-se de Dutra e se preocupava,<br />

principalmente. em organizar seu parti<strong>do</strong>, o PTB, e<br />

compor alianças que lhe permitissem voltar à política<br />

[<strong>do</strong>c. 2].<br />

Vargas construiu uma base sólida para suceder Dutra na<br />

presidência. Nas eleições de 1950, concorreu com o<br />

brigadeiro Eduar<strong>do</strong> Gomes, novamente lança<strong>do</strong> pela<br />

União Democrática Nacional (UDN), com o candidato<br />

apoia<strong>do</strong> por Dutra e pelo PSD. Cristiano Macha<strong>do</strong>, e<br />

com João Mangabeira, <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Socialista <strong>Brasil</strong>eiro<br />

(P58). Durante a campanha, parte <strong>do</strong> PSD aban<strong>do</strong>nou seu<br />

candidato e passou a apoiar Vargas, repetin<strong>do</strong>,<br />

informalmente, a aliança que embasara a vitória de<br />

Outra, cinco anos antes, e facilitan<strong>do</strong> a vitória <strong>do</strong><br />

candidato <strong>do</strong> PTB. Getúlio estava de volta.<br />

Vocabulário histórico<br />

Organização <strong>do</strong>a Esta<strong>do</strong>s Americanos (OEA)<br />

A Organização <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Americanos foi criada em<br />

19148, na Conferência Pan-americana de Bogotá, e<br />

contou, Inicialmente, com o en<strong>do</strong>sso de 21 países das<br />

Américas, Inclusive o <strong>Brasil</strong>. Sua finalidade, no<br />

momento da fundação, era garantir o estabelecimento e a<br />

manutenção da democracia e ampliar o Intercâmbio e as<br />

parcerias comerciais entre os países-membros. No<br />

contexto da Guerra Fria, porém, acabou por reforçar a<br />

hegemonia norte-americana no continente.<br />

Vargas novamente no poder<br />

As principais medidas <strong>do</strong> novo governo de Vargas<br />

tinham como objetivo reduzir a inflação — para baratear<br />

os bens de primeira necessidade e aumentar a capacidade<br />

de consumo da população — e estimular a<br />

industrialização. As medidas anti-inflacionárias, no<br />

entanto, não surtiram o efeito deseja<strong>do</strong> e a inflação<br />

continuava a crescer, O incentivo ã captação externa de<br />

recursos também se mostrou insuficiente diante <strong>do</strong><br />

déficit que a balança comercial brasileira acumulava.<br />

Abria-se espaço para a volta da retórica nacionalista <strong>do</strong><br />

Vargas <strong>do</strong>s anos 1930, que, no plano econômico, fazia a<br />

defesa <strong>do</strong> nacional-desenvolvimentismo.<br />

O reforço <strong>do</strong> nacionalismo<br />

No princípio de 1932, o governo limitou em 10% a<br />

remessa ao exterior <strong>do</strong>s lucros das empresas estrangeiras<br />

que atuavam no pais. No mesmo ano, fun<strong>do</strong>u o Banco<br />

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social<br />

(BNDS), com a finalidade de financiar e incentivar o<br />

avanço industrial brasileiro. Em 1953, Vargas criou a<br />

136


Petrobras, empresa estatal que tinha o monopólio da<br />

exploração e <strong>do</strong> refino de petróleo em território nacional.<br />

A oposição política, liderada pela UDN, atacava as<br />

medidas de Vargas por considerá-las nocivas ao<br />

desenvolvimento nacional, uma vez que impedia a plena<br />

integração econômica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> ao bloco de países<br />

capitalistas lidera<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Já os<br />

defensores <strong>do</strong> nacionalismo varguista acusavam os<br />

udenistas de pretenderem facilitar o ingresso de capitais<br />

e de tecnologia estrangeira no país e, dessa forma,<br />

impedir o crescimento de uma economia autônoma.<br />

A morte de Vargas<br />

Vargas enfrentava reações à direita e à esquerda e tinha<br />

dificuldade de conduzir seu governo. Demitiu João<br />

Goulart, em fevereiro de 1954, para tentar diminuir as<br />

criticas da oposição, mas a medida foi insuficiente.<br />

Carlos Lacerda, então deputa<strong>do</strong> federal pelo Rio de<br />

Janeiro e principal voz da UON, denunciava atos<br />

corruptos de membros <strong>do</strong> governo, exigia a renúncia de<br />

Vargas e conclamava a sua destituição <strong>do</strong> posto de<br />

presidente.<br />

Em 5 de agosto de 195L4, Lacerda sofreu um atenta<strong>do</strong><br />

na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, e as Investigações<br />

posteriores identificaram o chefe da guarda presidencial,<br />

Gregório Fortunato, como mandante <strong>do</strong> crime, O<br />

envolvimento de um auxiliar tão próximo ao presidente<br />

no crime complicou ainda mais a situação de Vargas.<br />

Entre 22 e 23 de agosto, militares da aeronáutica e <strong>do</strong><br />

exército lançaram manifestos exigin<strong>do</strong> sua renúncia. Em<br />

24 de agosto, Vargas cometeu suicídio. Na cartatestamento<br />

que deixou, acusava seus opositores de<br />

pretenderem destruir as conquistas <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

alcançadas em seus perío<strong>do</strong>s de governo e de agirem<br />

contrariamente aos interesses nacionais.<br />

Multidão acompanha o cortejo fúnebre de Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, agosto<br />

de 1954, FGV, Rio de Janeiro. A morte de Getúlio Vargas provocou uma forte<br />

mobilização popular.<br />

Os nacionalistas e seus opositores<br />

“Esquematicamente, os nacionalistas defendiam o<br />

desenvolvimento basea<strong>do</strong> na industrialização,<br />

enfatizan<strong>do</strong> a necessidade de se criar um sistema<br />

econômico autônomo, independente <strong>do</strong> sistema<br />

capitalista internacional. [...]. No quadro das relações<br />

internacionais, os nacionalistas eram favoráveis a uma<br />

posição de distanciamento, ou mesmo de oposição,<br />

relativamente aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Seus opositores<br />

defendiam a necessidade de o <strong>Brasil</strong> se alinhar<br />

irrestritamente com os americanos, no combate mundial<br />

ao comunismo. Lembremos que, nos primeiros anos da<br />

década de 1950, uma série de acontecimentos empurrou<br />

os países <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong> a uma definição por um <strong>do</strong>s<br />

campos em Luta.”<br />

FAUSTO, Bons. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Edusp, 2008. p. i407.<br />

Os anos JK<br />

Juscelino Kubitschek<br />

A sucessão de Vargas<br />

Após a morte de Getúlio Vargas, o vice-presidente João<br />

Café Filho tomou posse na presidência com a função de<br />

conduzir o pais até as eleições presidenciais, que<br />

ocorreriam um ano e <strong>do</strong>is meses depois. O clima politico,<br />

no entanto, impedia que o processo transcorresse com<br />

tranquilidade. Dias antes <strong>do</strong> suicídio, Vargas era ataca<strong>do</strong><br />

por quase todas as partas da sociedade brasileira. A<br />

comoção causada pelo suicídio, porém, reavivou o ânimo<br />

de seus antigos adeptos a colocou seus adversários na<br />

defensiva.<br />

PSD e PTB retomaram a antiga aliança, que havia si<strong>do</strong><br />

bem-sucedida anteriormente, e lançaram uma chapa<br />

mista para a disputa presidencial. Para presidente, o<br />

governa<strong>do</strong>r de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de<br />

Oliveira, <strong>do</strong> PSD. Para vice, João Goulart, <strong>do</strong> PTB, que<br />

fora ministro <strong>do</strong> Trabalho de Vargas e surgia como seu<br />

principal herdeiro político. A UDN, pela terceira vez,<br />

lançou a candidatura de um militar, Juarez Távora.<br />

137


Juscelino Kubitschek, também conheci<strong>do</strong> como JK,<br />

venceu com 3.077.411 votos (35,7%). Inconforma<strong>do</strong>s<br />

com a derrota, a UDN e outros setores da oposição<br />

tentaram impugnar o resulta<strong>do</strong> das eleições, mas não<br />

tiveram êxito.<br />

O Plano de Metas<br />

A base <strong>do</strong> governo de Juscelino Kubitschek era o Plano<br />

de Metas, que defendia a modernização acelerada da<br />

economia, com aumento significativo <strong>do</strong> nível de<br />

industrialização e forte crescimento econômico nacional.<br />

Durante a campanha eleitoral, a proposta era simbolizada<br />

pelo leme de JK, “Cinquenta anos em cinco”: prometia<br />

fazer o país avançar cinco décadas nos cinco anos de seu<br />

mandato.<br />

O Plano de Metas organizou os investimentos<br />

governamentais em cinco eixos: energia, transporte,<br />

alimentação, indústria e educação. O tópico “Indústria”<br />

concentrava onze itens <strong>do</strong> plano. “Educação”, em<br />

contrapartida, era alvo de apenas uma das metas. Os <strong>do</strong>is<br />

primeiros eixos indicavam claramente o tipo de<br />

intervenção econômica que o novo governo pretendia<br />

fazer investir em setores estratégicos, que ofereceriam<br />

respal<strong>do</strong> e dariam agilidade para que a iniciativa privada<br />

ampliasse sua produção, criasse mais postos de trabalho<br />

a intensificasse a circulação de capitais e de merca<strong>do</strong>rias.<br />

A entrada e a atuação de empresas estrangeiras no <strong>Brasil</strong><br />

agora eram estimuladas pelo governo, que também<br />

oferecia vantagens tributárias, facilidade na importação<br />

de equipamentos e máquinas, reserva de merca<strong>do</strong> para<br />

seus produtos a benefícios na remessa de lucros para o<br />

exterior. O foco principal de JK estava na indústria de<br />

bens duráveis, que atenderia às necessidades e aos<br />

desejos da classe média urbana ansiosa pelo consumo,<br />

por exemplo, de eletro<strong>do</strong>mésticos e automóveis [<strong>do</strong>cs. 1<br />

e 2].<br />

O conjunto de medidas foi capaz da atrair empresas<br />

estrangeiras e o país passou a contar rapidamente com<br />

subsidiárias de multinacionais <strong>do</strong> setor farmacêutico,<br />

eletroeletrônico e petroquímico. Para a sociedade<br />

brasileira, no entanto, o que mais chamou a atenção foi o<br />

ingresso de multinacionais <strong>do</strong> setor automobilístico, que<br />

passaram a montar automóveis em território nacional.<br />

Produção Industrial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> no perío<strong>do</strong> JK<br />

“Há diferenças importantes entre a manufatura de bens<br />

de consumo imediato, como roupas e sapatos, por<br />

exemplo, e os bens duráveis, como os carros. No<br />

primeiro caso, a produção pode ser feita em pequena<br />

escala, por várias empresas que competem no merca<strong>do</strong>,<br />

sem requerer muitos capitais, tecnologia avançada ou<br />

gerenciamento profissional das fábricas. Exatamente o<br />

oposto ocorre no caso da indústria de automóvel e outros<br />

bens duráveis. Esta concentra grandes investimentos,<br />

técnicas sofisticadas, equipamentos modernos,<br />

administração de especialistas, monopólio <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

além de ser controlada não por um indivíduo ou família,<br />

mas por investi<strong>do</strong>ras.”<br />

LUCA, Tania Regina de, Indústria & trabalho no <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Contexto,<br />

2001. p. 70-71.<br />

O outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> crescimento<br />

Dois setores sociais se beneficiaram efetivamente com o<br />

crescimento. Em primeiro lugar, os empresários<br />

vincula<strong>do</strong>s às empresas e ao capital estrangeiro, que<br />

ingressava no país, e os grupos de Investi<strong>do</strong>res e<br />

empreende<strong>do</strong>res nacionais, que aproveitaram a<br />

oportunidade aberta pelas grandes obras bancadas pelo<br />

governo federal. Reforçava-se, assim, o poder de uma<br />

elite econômico-financeira e aumentava-se a diferença<br />

entre as classes. Além disso, a classe média urbana,<br />

principalmente <strong>do</strong> sul-sudeste, expandiu-se<br />

numericamente e aumentou seu poder de consumo. A<br />

inflação em alta, porém, corroía parte desse avanço e<br />

penalizava, ainda, as camadas populares, que não podiam<br />

usufruir plenamente os benefícios <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

(<strong>do</strong>c. 3).<br />

Os benefícios <strong>do</strong> crescimento econômico também não<br />

foram distribuí<strong>do</strong>s equitativamente em termos regionais.<br />

A maior parte das multinacionais que entraram no país<br />

concentrou-se na Região Sudeste, anteriormente já mais<br />

industrializada e onde também estava a capital federal. A<br />

região <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> ABC (Santo André, São Bernar<strong>do</strong><br />

São Caetano), em São Paulo, por exemplo, sediou a<br />

indústria automobilística e atraiu migrantes de outras<br />

partes <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Evolução <strong>do</strong>s preços de produtos básicos<br />

(1956-1959)<br />

Produto<br />

(quilograma)<br />

Preço em<br />

1956<br />

Preço em<br />

1958<br />

Arroz Cr$ 13,00 Cr$ 35,00<br />

Batata Cr$ 8,00 Cr$ 25,00<br />

Carne Cr$ 40,00 Cr$ 100,00<br />

Charque Cr$ 42,00 Cr$ 110,00<br />

Feijão Cr$ 10,00 Cr$ 80,00<br />

Manteiga Cr$ 74,00 Cr$ 190,00<br />

Fonte: VIEIRA, Eval<strong>do</strong>. Esta<strong>do</strong> e miséria social no <strong>Brasil</strong>: Getúlio e Geisel. São<br />

Paulo: Cortez. 1987.p. 94. Inc. LUCA, Tania Regina de.Indústria e tra-balho no<br />

<strong>Brasil</strong>. São Paulo: Contexto, 2001.p.70-71.<br />

138


Otimismo nacional<br />

A abertura <strong>do</strong> país à ampla entrada de Capital e de<br />

empresas multinacionais atendia aos desejos <strong>do</strong>s setores<br />

sociais e políticos que, representa<strong>do</strong>s pela UDN, haviam<br />

se oposto ao discurso nacionalista de Vargas e defendiam<br />

urna inserção maia ativa <strong>do</strong> país no merca<strong>do</strong><br />

internacionaliza<strong>do</strong>. Na prática, as novas bases da política<br />

econômica neutralizavam parcialmente as criticas da<br />

oposição, manten<strong>do</strong> traços <strong>do</strong> populismo que<br />

caracterizara os anos anteriores.<br />

A tecnologia passava a frequentar o cotidiano da classe<br />

média na forma de eletro<strong>do</strong>mésticos, rádios de pilha,<br />

automóveis e eleva<strong>do</strong>res, O otimismo, provoca<strong>do</strong> pelas<br />

taxas de crescimento econômico, ocultava o aumento <strong>do</strong><br />

déficit interno e da dívida externa e levava a maioria da<br />

população a acreditar que o <strong>Brasil</strong> construía um destino<br />

de potência moderna.<br />

A música brasileira assumia, com a bossa nova, o<br />

diálogo entre o nacional e o estrangeiro e ganhava<br />

difusão. Conquistas de esportistas brasileiros, como os<br />

títulos internacionais da tenista Maria Esther Bueno e a<br />

primeira vitória brasileira numa Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, em<br />

1958, reforçavam a sensação de que o <strong>Brasil</strong> chegava ao<br />

primeiro plano entre os países <strong>do</strong> Ocidente (<strong>do</strong>c. 4).<br />

A própria figura de JK confirmava a imagem de<br />

modernização, empreende<strong>do</strong>rismo e avanço. De origem<br />

pobre, ex-engraxate e filho de um caixeiro-viajante<br />

vitima<strong>do</strong> pela malária, JK ascendera politica<br />

socialmente e chegara à presidência. Representava a<br />

força <strong>do</strong> individuo, a possibilidade de superar as<br />

dificuldades e a capacidade de agir para transformar.<br />

QUESTÃO<br />

>>Quais foram as principais propostas <strong>do</strong> Plano de<br />

Metas? O que se pode observar a partir delas?<br />

A mudança da capital<br />

A Transferência da capital <strong>do</strong> Rio de Janeiro para o<br />

Centro-Oeste <strong>do</strong> país foi um <strong>do</strong>a pontos principais da<br />

campanha presidencial de Juscelino Kubitschek. Embora<br />

não constasse <strong>do</strong>s 31 itens <strong>do</strong> Plano de Metas, JK<br />

declarou que Brasília era a meta principal de seu<br />

governo. Os defensores da transferência da capital<br />

alardeavam que ela integraria mais o país e ampliaria o<br />

equilíbrio entre as regiões.<br />

O projeto da nova capital (plano urbanístico e<br />

edificações) foi feito pelos arquitetos Lúcio Costa e<br />

Oscar Niemeyer, segui<strong>do</strong>res <strong>do</strong> modernismo<br />

arquitetônico <strong>do</strong> suíço Le Corbusier. Os responsáveis<br />

pela obra apresentaram o projeto da cidade como<br />

equaliza<strong>do</strong>r, capaz de integrar não apenas regiões <strong>do</strong><br />

pais, mas também classes sociais.<br />

A construção, realizada em apenas três anos, implicou o<br />

deslocamento de uma grande quantidade de<br />

trabalha<strong>do</strong>res de outras regiões <strong>do</strong> país para o Planalto<br />

Central. A obra foi desenvolvida por grandes<br />

empreiteiras, consumin<strong>do</strong> milhões de dólares. Brasília<br />

foi inaugurada em 21 de abril de 1960.<br />

Texto 1<br />

“Os blocos de apartamento de uma superquadra são<br />

to<strong>do</strong>s iguais: a mesma fachada, a mesma altura, as<br />

mesmas facilidades, to<strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s sobre pilotis,<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de garagem e construí<strong>do</strong>s com o mesmo<br />

material, o que evita a odiosa diferenciação de classes<br />

sociais, isto é, todas as famílias vivem em comum, o alto<br />

funcionário público, o médio e o pequeno. Quanto aos<br />

apartamentos há uns maiores e outros menores em<br />

número de cômo<strong>do</strong>s, que são distribuí <strong>do</strong>s,<br />

respectivamente, para famílias conforme o número de<br />

dependentes. E por causa de sua distribuição e<br />

inexistência de discriminação de classes sociais, os<br />

mora<strong>do</strong>res de uma superquadra são força<strong>do</strong>s a viver<br />

como que no âmbito de uma grande família, em perfeita<br />

coexistência social, o que redunda em benefício das<br />

crianças que vivem, brincam e estudam num mesmo<br />

ambiente de franca camaradagem, amizade e saudável<br />

formação. [...] E assim é educada, no Planalto, a infância<br />

que construirá o <strong>Brasil</strong> de amanhã já que Brasília é o<br />

glorioso berço de uma nova civilização.”<br />

Brasília. Jornal da companhia Urbaniza<strong>do</strong>ra da Nova capital <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> —<br />

Novacap (1863). p. 15. In: KOLSTON, James. A cidade modernista: uma critica<br />

de Brasília e sua utopia. São Paulo: companhia das Letras, 1893. p. 28.<br />

Texto 2<br />

“Torna-se difícil aceitar a ideia de que Brasília foi<br />

projetada como ‘cidade socialista’, como uma utopia que<br />

pretenderia antecipar um futuro mais igualitário para a<br />

139


140<br />

sociedade brasileira. Implementa<strong>do</strong> como instrumento de<br />

controle social pelo Esta<strong>do</strong> [...], o plano urbanístico de<br />

Brasília trazia em suas origens e em sua concepção o<br />

louvor à autoridade, à hierarquia, à funcionalidade<br />

técnica (nos moldes da indústria moderna) <strong>do</strong>s espaços.”<br />

VESENTINI, José William. A capital da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986. P.<br />

148<br />

QUESTÕES:<br />

1. Como o autor <strong>do</strong> texto 1 caracteriza Brasília e as<br />

relações sociais e políticas no seu interior?<br />

2. É possível notar alguma crítica <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> texto 2 às<br />

concepções indicadas no texto 1? Que comparação é<br />

possível fazer entre o texto 1 e o texto 2?<br />

OS ANTECEDENTES DO GOLPE DE 1964<br />

O governo Jânio Quadros<br />

As eleições presidenciais de 1960 voltaram a acirrar as<br />

tensões entre grupos e parti<strong>do</strong>s políticos. PTB e PSD<br />

lançaram a candidatura <strong>do</strong> marechal da reserva Henrique<br />

Teixeira Lott. A grande novidade das eleições, porém,<br />

era Jânio Quadros; que fizera uma rápida carreira política<br />

em São Paulo onde foi verea<strong>do</strong>r prefeito da capital<br />

(1953-1954) e governa<strong>do</strong>r (1955-1959). Jânio Quadros<br />

insistia na necessidade de moralizar a política e afirmava<br />

que “varreria” os corruptos [<strong>do</strong>c. 1]. Apoia<strong>do</strong> pela UDN,<br />

que liderava uma aliança com o Parti<strong>do</strong> Democrata<br />

Cristão (PDC) e alguns parti<strong>do</strong>s pequenos, Jânio<br />

Quadros chegava à presidência.<br />

Jânio Quadros<br />

Personalista e preocupa<strong>do</strong> em preservar a imagem de<br />

moraliza<strong>do</strong>r que construíra em suas campanhas, Jânio<br />

expedia bilhetinhos com determinações e ordens para<br />

seus ministros e assessores. Fazia visitas-surpresas a<br />

repartições públicas e punia os funcionários que<br />

porventura tivessem falta<strong>do</strong> naquele dia. Regulamentou<br />

questões cotidianas, como a programação de cinemas e<br />

casas noturnas, proibiu brigas de galo, uso de biquíni em<br />

praia, corridas de cavalos nos dias úteis e lança-perfume.<br />

Afirmava repetidamente sua autonomia no campo<br />

internacional. Contu<strong>do</strong>, Jânio se reaproximou <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong><br />

Monetário Internacional (FMI) e assinou acor<strong>do</strong>s<br />

extremamente desfavoráveis aos interesses <strong>do</strong>s grupos<br />

industriais nacionais. Na política externa, também<br />

oscilou. Restabeleceu relações diplomáticas com países<br />

<strong>do</strong> Leste Europeu (Bulgária, Romênia e Hungria),<br />

criticou duramente o governo norte-americano de John<br />

Kennedy e condecorou Ernesto Che Guevara, mas não<br />

reatou relações com Cuba.<br />

Isola<strong>do</strong> daqueles que o elegeram e que agora temiam que<br />

seu governo caminhasse para a esquerda, Jânio tinha<br />

dificuldades para lidar com o Congresso Nacional e com<br />

as criticas que recebia <strong>do</strong>s próprios parti<strong>do</strong>s que o<br />

haviam apoia<strong>do</strong> nas eleições. Poucos dias antes de<br />

completar sete meses de governo, em 25 de agosto de<br />

1961, Jânio renunciou à presidência, no que parece ter<br />

Li<strong>do</strong> uma tentativa de criar uma situação que lhe<br />

permitisse ampliar seus poderes presidenciais.<br />

Uma tentativa fracassada<br />

O vice-presidente João Goulart estava em visita oficial à<br />

República Popular da China, e o Congresso, na<br />

iminência <strong>do</strong> final de semana, encontrava-se esvazia<strong>do</strong>.<br />

É possível que Jânio acreditasse que sua renúncia não<br />

seria votada no Parlamento até a segunda-feira. Talvez<br />

esperasse que os militares, temen<strong>do</strong> a ascensão <strong>do</strong> vice<br />

João Goulart ao poder, se esforçariam para mantê-lo no<br />

cargo, e manifestações populares e políticas pediriam a<br />

sua volta.<br />

Nada disso aconteceu. O Congresso se reuniu em caráter<br />

da urgência e aprovou a renúncia, empossan<strong>do</strong> Ranieri<br />

Mazzilli, presidente da Câmara <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s, como<br />

presidente interino na tarde <strong>do</strong> mesmo dia. Os militares<br />

mantiveram-se cala<strong>do</strong>s. Nenhuma manifestação pública<br />

em apoio a Jânio ocorreu no país. Efetivamente, ele sala<br />

da presidência.<br />

A posse de Jango<br />

João Goulart recebeu a noticia da renúncia de Jânio no<br />

dia 26 de agosto, já em Cingapura, preparan<strong>do</strong>-se para<br />

voltar ao <strong>Brasil</strong>. A UDN se recusava a aceitar que o vice,<br />

herdeiro político de Vargas e acusa<strong>do</strong> deter tendências<br />

esquerdistas, assumisse o controle <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro.<br />

Os três ministros militares divulgaram nota, no mesmo


dia 26 afirman<strong>do</strong> que a volta de Goulart ao pais era de<br />

“absoluta inconveniência”.<br />

Enquanto isso, Jango aguardava o desfecho da crise em<br />

Paris, onde se mantinha informa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s movimentos <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s. No Congresso, seus partidários buscavam um<br />

acor<strong>do</strong> político que permitisse sua volta. Os <strong>do</strong>is últimos<br />

dias de agosto foram tensos. Um projeto que implantava<br />

o parlamentarismo foi a solução encontrada. Na noite de<br />

V de setembro, finalmente, Goulart voltou para o <strong>Brasil</strong>,<br />

e no dia 7 de setembro tomou posse como presidente de<br />

uma república parlamentarista. Era o resulta<strong>do</strong> das<br />

negociações: ele assumira o cargo, mas com poderes<br />

limita<strong>do</strong>s.<br />

Jango buscou se apoiar no PTB e em sua base sindical<br />

para ampliar o apoio popular com que contava em alguns<br />

esta<strong>do</strong>s. Pretendia, assim, reverter a limitação de poderes<br />

que a saída parlamentarista provocara. Por meio de<br />

negociações, os partidários de Goulart ‘conseguirem que<br />

o Congresso aprovasse a antecipação de um plebiscito,<br />

originalmente marca<strong>do</strong> para 1965, sobre a manutenção<br />

<strong>do</strong> parlamentarismo ou a volta <strong>do</strong> presidencialismo. Em<br />

janeiro de 1953, os brasileiros votaram e, por ampla<br />

maioria, decidiram retornar ao sistema presidencialista.<br />

Jango assumia, além da chefia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a chefia <strong>do</strong><br />

governo brasileiro.<br />

O golpe Militar<br />

O encarecimento de bens de primeira necessidade<br />

aumentava as pressões populares, e as associações de<br />

trabalha<strong>do</strong>res recorriam a Jango, cuja imagem persistia<br />

ligada ao varguismo e ao seu perío<strong>do</strong> como ministro <strong>do</strong><br />

Trabalho, no último governo de Getúlio. Goulart várias<br />

vezes comprometeu--se a realizar as chamadas reformas<br />

de base, que incluíam transformações no regime de<br />

propriedade da terra e nas áreas da educação e <strong>do</strong>s<br />

tributos. Prometeu, também, ampliar o direito de voto<br />

aos analfabetos e regulamentar os direitos <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais.<br />

Movimentos de camponeses e de operários se<br />

articulavam para aumentar a pressão sobre o governo e<br />

cobrar de Jango fidelidade às promessas de reforma. Em<br />

Pernambuco e na Paraíba, as Ligas Camponesas<br />

reivindicavam ampla reforma agrária e organizavam<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais contra os grandes proprietários de<br />

terras. Estudantes se mobilizavam e também insistiam<br />

numa radicalização das iniciativas sociais <strong>do</strong> governo.<br />

Políticos da oposição denunciavam o “esquerdismo” <strong>do</strong><br />

presidente e conspiravam para sua derrubada. Os<br />

militares se mobilizavam e desenvolviam a hipótese<br />

golpista, já ensaiada em anos anteriores.<br />

A classe média urbana, temerosa de que Jango<br />

caminhasse de fato para o socialismo, saia às ruas para<br />

protestar.<br />

Momentos decisivos<br />

Em 31 de março de 1964, tropas <strong>do</strong> exército sediadas em<br />

Minas Gerais, sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> General Olímpio<br />

Mourão Filho, começaram a se deslocar para o Rio de<br />

Janeiro e receberam apoio de outras guarnições. O golpe<br />

militar começava e poucos se dispuseram a resistir. Na<br />

madrugada <strong>do</strong> dia 2 de abril, o Congresso empossou<br />

Ranieri Mazzilli como presidente provisório. O país era<br />

controla<strong>do</strong>, no entanto, por uma junta militar, composta<br />

de representantes das três instituições das Forças<br />

Armadas.<br />

No Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Leonel Brizola tentou garantir a<br />

legalidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e ofereceu apoio político e tropas<br />

contra o golpe. Jango saiu de Brasília e foi para o Sul,<br />

mas rapidamente aban<strong>do</strong>nou qualquer disposição de<br />

resistir e, no dia 4 de maio, voou para o exílio no<br />

Uruguai. Começava o regime militar brasileiro.<br />

QUESTÕES<br />

01. Quais foram os principais motivos que levaram Jânio<br />

Quadros a renunciar à presidência <strong>do</strong> país?<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

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______________________________________________<br />

REVISTA: Historia da Biblioteca Nacional/Agosto.2010<br />

02. Explique a situação política brasileira às vésperas <strong>do</strong><br />

golpe milhar de 1964.<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

______________________________________________<br />

141


03. (FUVEST — SP) Em 1947, o Parti<strong>do</strong> Comunista foi<br />

coloca<strong>do</strong> na ilegalidade no <strong>Brasil</strong>. Esta decisão se explica<br />

basicamente:<br />

a) Pela bipartição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em blocos antagônicos,<br />

consequência da Guerra Fria.<br />

b) Pela linha insurrecional <strong>do</strong>s comunistas que<br />

pretendiam iniciar uma revolução a curto prazo.<br />

c) Por ser o Parti<strong>do</strong> Comunista frágil e destituí<strong>do</strong> de<br />

expressão social.<br />

d) Por um acor<strong>do</strong> partidário firma<strong>do</strong> pela UDN, o PSD<br />

e o PTB.<br />

e) Pelo desejo de acalmar as Forças Armadas que<br />

ameaçavam interromper o jogo democrático. (SAIU DA<br />

PG 225)<br />

04. (UNEB 2011) A seca, na Região Nordeste, sempre<br />

foi motivo de atenção das autoridades governamentais,<br />

no desenrolar da história política brasileira, como se<br />

pode depreender das<br />

01) revoltas no Perío<strong>do</strong> Regencial, como a Cabanagem e<br />

a Balaiada, que ameaçavam a ruptura das estruturas<br />

coloniais e a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s princípios socialistas como<br />

mecanismo de superação <strong>do</strong> subdesenvolvimento.<br />

02) ações <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Liberal, no Perío<strong>do</strong> Imperial,<br />

defensor da a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> livre cambismo e de uma<br />

política industrializante para o nordeste brasileiro,<br />

visan<strong>do</strong>, assim, aumentar seu eleitora<strong>do</strong>.<br />

03) revoltas sociais rurais, na Primeira República, como<br />

os movimentos <strong>do</strong> Cangaço e Conselheirista, que<br />

propunham a luta armada para defender a<br />

distribuição de terras entre a população camponesa e<br />

diminuir as diferenças sociais entre o campo e a<br />

cidade.<br />

04) manifestações de apoio <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais ao<br />

governo, durante a Era Vargas, em função da criação<br />

de uma legislação social que agisse como<br />

mecanismo de superação <strong>do</strong> subdesenvolvimento.<br />

05) manifestações de apoio das Ligas Camponesas ao<br />

projeto de reforma agrária <strong>do</strong> governo João Goulart,<br />

proposta governamental que acelerou o golpe militar<br />

de1964 e que objetivava uma melhor distribuição de<br />

renda e a superação <strong>do</strong> subdesenvolvimento.<br />

142


XIII – A DITADURA MILITAR<br />

(1964 – 1985)<br />

Uma semana depois da vitória <strong>do</strong> movimento militar de<br />

1964, o denomina<strong>do</strong> Alto Coman<strong>do</strong> Revolucionário<br />

editou o Ato Institucional nº 1.<br />

Pelos dispositivos desse ato, caberia ao Congresso<br />

Nacional eleger o novo presidente, que completaria o<br />

mandato até 1966 (na prática, ele permaneceu até 1967).<br />

Definiram-se ainda a suspensão de direitos políticos, a<br />

cassação de mandatos de parlamentares comprometi<strong>do</strong>s<br />

com o governo Goulart e a intervenção governamental na<br />

União Nacional <strong>do</strong>s Estudantes (UNE) e nos sindicatos.<br />

O Ato Institucional é um <strong>do</strong>cumento que se sobrepõe à<br />

Constituição, isto é, passa a ter maior força <strong>do</strong> que ela.<br />

Segun<strong>do</strong> o Dicionário de Ciências Sociais, publica<strong>do</strong><br />

pela Fundação Getúlio Vargas, “os atos institucionais<br />

foram o instrumento jurídico de natureza excepcional de<br />

que se valeram as autoridades militares brasileiras para<br />

formalizar as diversas medidas que houveram por bem<br />

tomar em contrário à ordem constitucional vigente.”<br />

A respeito <strong>do</strong> golpe, o sociólogo Herbert de Souza<br />

afirmou:<br />

“Em 1964, a nação recebeu um tiro no peito. Um tiro que<br />

matou a alma nacional. Os personagens que pareciam<br />

fazer parte da história natural brasileira, ou da <strong>História</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> como nós imaginávamos, esses personagens<br />

sumiram. Ou fora <strong>do</strong> poder, ou presos e mortos. E em<br />

seu lugar surgiram outros, que eu nunca sequer percebera<br />

existir. Aí me veio à percepção clara de que o <strong>Brasil</strong><br />

tinha muda<strong>do</strong> para sempre.”<br />

In: BARROS. Edgard Luiz de. Os governos militares. São Paulo: Contexto, 1991.<br />

p. 13.<br />

Foi “eleito” presidente o marechal Humberto de Alencar<br />

Castello Branco. Em seu perío<strong>do</strong>, novos atos<br />

institucionais foram decreta<strong>do</strong>s. Assim, em 1965, o AI-2<br />

estabeleceu a extinção <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s políticos existentes e<br />

as eleições indiretas, agora em definitivo, para a<br />

presidência da República.<br />

Pela Lei Orgânica <strong>do</strong>s Parti<strong>do</strong>s, promulgada em seguida,<br />

definiram-se as normas para a criação de novos parti<strong>do</strong>s,<br />

sen<strong>do</strong> que apenas <strong>do</strong>is puderam ser articula<strong>do</strong>s: a<br />

ARENA (Aliança Renova<strong>do</strong>ra Nacional) e o MDB<br />

(Movimento Democrático <strong>Brasil</strong>eiro), o primeiro sen<strong>do</strong> o<br />

sustentáculo <strong>do</strong> governo e o segun<strong>do</strong>, de oposição,<br />

porém dentro de estreitos limites e consentida.<br />

Pelo Al-3, elabora<strong>do</strong> em 1966, determinou-se que as<br />

eleições para governa<strong>do</strong>res de esta<strong>do</strong>s e prefeitos de<br />

capitais seriam indiretas. O Al-4 estabeleceu a forma de<br />

ser votada a nova Constituição, o que foi feito em 1967.<br />

Para ter o controle sobre os opositores <strong>do</strong> regime, Criouse<br />

O Serviço Nacional de Informações (SNI), que se<br />

tornou um <strong>do</strong>s órgãos mais poderosos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> militar.<br />

As ideias fundamentais para legitimar a nova situação<br />

foram buscadas na Escola Superior de Guerra, criada ao<br />

final da década de 40 <strong>do</strong> século XX e que formulara a<br />

“<strong>do</strong>utrina de segurança nacional”.<br />

Em relação ao conceito de segurança, o historia<strong>do</strong>r<br />

Eval<strong>do</strong> Vieira escreveu:<br />

“O conceito de segurança nacional mu<strong>do</strong>u durante a<br />

década de 50, conforme se verifica nos Regulamentos de<br />

1949 e de 1954 da referida Escola. No início, uma guerra<br />

total entre o Ocidente e o Oriente conduziria a uma<br />

aliança entre os países ocidentais, lidera<strong>do</strong>s pelos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, visan<strong>do</strong> combater o comunismo.<br />

Principalmente com a Guerra da Coréia, nos anos 50,<br />

acrescentou-se outra hipótese de guerra: a <strong>do</strong> ‘inimigo<br />

interno’, na qual o comunismo aparece como<br />

manipula<strong>do</strong>r e incentiva<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s conflitos sociais<br />

presentes na sociedade brasileira.”<br />

VIEIRA, Eval<strong>do</strong>. A República brasileira. 1964-1984. São Paulo: Moderna, 1985.<br />

p. 17.<br />

A 15 de março de 1967 assumiu a presidência um novo<br />

general, Artur da Costa e Silva, que governaria até 1969.<br />

Esse perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong> por uma crescente reação ao<br />

regime autoritário, que mobilizou amplos setores da<br />

sociedade e até mesmo políticos que haviam apoia<strong>do</strong> o<br />

golpe de 64 na expectativa de que este fosse apenas<br />

“uma intervenção cirúrgica” destinada a afastar <strong>do</strong><br />

governo um presidente que, embora legalmente<br />

constituí<strong>do</strong>, representava uma “ameaça” à ordem<br />

constitucional.<br />

Para muitos <strong>do</strong>s segmentos da classe política que apoiara<br />

a ação militar, já em 1967 havia fica<strong>do</strong> claro que o<br />

projeto <strong>do</strong>s militares era de longo prazo. Foi nesse<br />

contexto que surgiu a Frente Ampla, formada por JK e<br />

Carlos Lacerda, entre outros, que procurou se articular,<br />

inclusive, com o ex-presidente João Goulart. Tratou-se,<br />

assim, de uma tentativa de se organizar uma oposição<br />

política ao regime militar. Este, no entanto, reagiu<br />

prontamente, decretan<strong>do</strong> a ilegalidade da Frente Ampla.<br />

No governo <strong>do</strong> general Costa e Silva, particularmente ao<br />

longo de 1968, observou-se uma contestação<br />

143


generalizada ao regime, a qual se manifestou por meio de<br />

passeatas estudantis, tentativas de organização de<br />

movimentos grevistas e manifestações de artistas e<br />

intelectuais. Mesmo no Congresso, cresceu, entre alguns<br />

deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> MDB, uma reação ao regime instaura<strong>do</strong> em<br />

1964.<br />

As manifestações contra a ditadura e que ganharam um<br />

ímpeto crescente ao longo de 1968, de certa forma,<br />

foram influenciadas pelo movimento estudantil que<br />

paralisou a França em maio de 1968.<br />

Comparan<strong>do</strong> o 1968 francês com o 1968 brasileiro, e<br />

fazen<strong>do</strong> referência à crescente onda de violência que<br />

tomou conta de muitas cidades <strong>do</strong> país, particularmente<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro, o jornalista Zuenir Ventura observou:<br />

“Em mea<strong>do</strong>s de Junho o governo estava seriamente<br />

preocupa<strong>do</strong> de se repetir no <strong>Brasil</strong> o maio francês. (...)<br />

As autoridades brasileiras continuavam achan<strong>do</strong> que<br />

havia um plano comunista de exportação das agitações<br />

estudantis. A matriz seria a chienlit (referência às<br />

manifestações contestatórias e às arruaças parisienses) da<br />

França. Uma serie de declarações criavam um clima de<br />

no pasaran (expressão utilizada pela esquerda na Guerra<br />

Civil Espanhola). No dia 12, Costa e Silva, patético,<br />

prometia: ‘Enquanto eu estiver aqui, não permitirei que o<br />

Rio se transforme em uma nova Paris’. Por ocasião da<br />

greve de Osasco (em São Paulo), o ministro <strong>do</strong> Trabalho,<br />

Jarbas Passarinho, também advertia: ‘O Tietê não é o<br />

Sena’. Alguns estudantes estimulavam essa paranoia.<br />

Luiz Raul Macha<strong>do</strong> dizia, durante a ocupação <strong>do</strong> CRUSP<br />

em São Paulo: ‘Os generais podem estar tranquilos que<br />

não se repetirá aqui o que houve na França Vai ser muito<br />

pior’.<br />

Durante os das 19, 20 e 21 — quarta, quinta e sexta-feira<br />

a promessa de Costa e Silva quase foi quebrada. Na<br />

sexta-feira, principalmente, conhecida como ‘a sextafeira<br />

sangrenta’, o Rio não ficou nada a dever à Paris das<br />

barricadas — e não por mimetismo, como temiam as<br />

autoridades militares. A motivação estava aqui mesmo.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> movimento francês, não se lutava no<br />

<strong>Brasil</strong> contra abstrações como a ‘sociedade de opulência’<br />

(...) mas contra uma ditadura de carne, osso e muita<br />

disposição para reagir. As barricadas de maio de Paris<br />

talvez não tenham causa<strong>do</strong> tantos feri<strong>do</strong>s quanto a<br />

‘sexta-feira sangrenta’ <strong>do</strong> Rio, para citar apenas um dia<br />

de uma semana que ainda teve uma quinta e uma quarta<br />

quase tão violentas.<br />

Nesse dia, quan<strong>do</strong> o povo — não só os estudantes —<br />

resolveu atacar a policia, o Centro da Cidade assistiu a<br />

uma sequência de batalhas campais corno nunca tinha<br />

visto antes e como não veria nos 20 anos seguintes. Nos<br />

seis governos militares pós-64, incluin<strong>do</strong> a Junta, foi o<br />

que mais se pareceu com uma insurreição popular.<br />

Durante quase dez horas, o povo lutou contra a polícia<br />

nas ruas, com paus e pedras, e <strong>do</strong> alto <strong>do</strong>s edifícios,<br />

jogan<strong>do</strong> garrafas, cinzeiros, cadeiras, vasos de flor e até<br />

uma máquina de escrever. (..,)<br />

No DOPS, à noite, amontoavam-se cerca de mil presos.<br />

‘O povo tomou parti<strong>do</strong>’, escreveu José Carlos Oliveira,<br />

enquanto assistia aos acontecimentos de um lugar<br />

privilegia<strong>do</strong>, o 3° andar <strong>do</strong> JB, então na Avenida Rio<br />

Branco. ‘Baderna por baderna, violência por violência, a<br />

<strong>do</strong>s garotos e mais simpática’, observou o cronista. (...)<br />

Se fosse possível precisar o momento exato em que o<br />

governo Costa e Silva perdeu definitivamente a batalha<br />

pela conquista da opinião pública, este momento estaria<br />

situa<strong>do</strong> entre os dias 19 20 e 21 de junho (...). Mais por<br />

insensatez própria <strong>do</strong> que por estratégia <strong>do</strong> adversário, as<br />

autoridades estaduais e federais, em três dias, atraíram<br />

para si o ódio da classe média, e aceleraram o que na<br />

época se chamava de ‘Ascenso <strong>do</strong> ME’.<br />

A morte de Edson Luiz já tinha provoca<strong>do</strong> uma grande<br />

comoção, (...) mas o que de fato levou a população a<br />

tomar parti<strong>do</strong>, a se revoltar, a entrar fisicamente na<br />

guerra, foi a ‘sexta-feira sangrenta’.<br />

Graças a ela, a cidade estava quase pronta para a<br />

Passeata <strong>do</strong>s Cem Mil.”<br />

VENTURA, Zuenir. 1968, o ano que não terminou: a aventura de uma geração. 9.<br />

ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. o. 133-134, 142.<br />

A repressão policial tornou-se ainda mais intensa. Em<br />

abri de 1968, no Rio de Janeiro, no restaurante<br />

universitário Calabouço, invadi<strong>do</strong> por forças militares, o<br />

estudante secundarista Edson Luiz foi assassina<strong>do</strong>. Esse<br />

episódio provocou uma grande comoção e as<br />

manifestações contra o regime culminaram na Passeata<br />

<strong>do</strong>s Cem Mil, na própria cidade <strong>do</strong> Rio de janeiro, em<br />

julho de 1968, convocada por entidades estudantis<br />

clandestinas e que reuniu estudantes, artistas,<br />

intelectuais, trabalha<strong>do</strong>res e mesmo amplos setores da<br />

classe média.<br />

As pressões <strong>do</strong>s setores mais “duros” <strong>do</strong> regime foram<br />

finalmente em 1968, com a implantação <strong>do</strong> AI-5, que<br />

reforçou definitivamente os poderes <strong>do</strong> regime militar.<br />

Entre suas principais medidas, e que poderiam ser<br />

exercidas pelo presidente, destacaram-se:<br />

•o direito de cassar mandatos políticos;<br />

• a possibilidade de suspender o direito de habeas corpus;<br />

• a possibilidade de aplicação da pena de morte e da<br />

prisão perpétua para crimes políticos;<br />

• o direito de decretar o fechamento <strong>do</strong> Congresso, das<br />

Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais;<br />

•o direito de suspender os direitos políticos de qualquer<br />

pessoa;<br />

144


• a possibilidade de privar o Poder judiciário de sua<br />

autonomia.<br />

Nesse contexto, a censura aos meios de comunicação<br />

passou a ser feita em caráter prévio. A partir de então,<br />

com a vitória <strong>do</strong>s militares adeptos da “linha dura”, não<br />

houve mais qualquer possibilidade de oposição, mesmo<br />

que mínima, ao regime: a ditadura tornava-se<br />

“escancarada”.<br />

A condição imposta pelo Al-5 foi assim descrita pelo<br />

historia<strong>do</strong>r Nelson Werneck Sodré:<br />

“Pelo A -5, o Executivo outorgou-se, entre outros, os<br />

poderes seguintes: decretar o recesso <strong>do</strong> Congresso;<br />

decretar a intervenção nos Esta<strong>do</strong>s e Municípios,<br />

nomean<strong>do</strong> os respectivos interventores; decretar a<br />

suspensão <strong>do</strong>s direitos políticos de qualquer cidadão, a<br />

cassação de mandatos federais, estaduais e municipais, a<br />

suspensão de garantias de vitaliciedade, inamobilidade e<br />

estabilidade, o esta<strong>do</strong> de sítio, o confisco de bens, a<br />

suspensão da garantia <strong>do</strong> habeas corpus, a exclusão de<br />

qualquer apreciação judiciária de to<strong>do</strong>s os atos pratica<strong>do</strong>s<br />

de acor<strong>do</strong> com o mesmo Ato e <strong>do</strong>s Atos Complementares<br />

dele decorrentes. Os poderes que o Executivo assumiu<br />

foram, assim, extraordinariamente amplia<strong>do</strong>s, os mais<br />

amplos que a história brasileira conheceu, aliás.”<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. Vida e morte da ditadura. 2. ed. Petrópolis: Vozes,<br />

1984. p. 116.<br />

Assim, o perío<strong>do</strong> inaugura<strong>do</strong> no dia 13 de dezembro de<br />

1968, com o Al-5, e que se estendeu até 1973, foi<br />

considera<strong>do</strong> o de maior truculência <strong>do</strong> regime militar.<br />

Foi corretamente denomina<strong>do</strong> de “anos de chumbo”,<br />

uma vez que a alguns grupos de oposição não restou<br />

outra alternativa a não ser a luta armada contra a<br />

ditadura, em que pese a disparidade das forças.<br />

Formaram-se guerrilhas urbanas e rurais. Em relação a<br />

estas últimas, destacaram-se as que se desenvolveram<br />

nas regiões <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Ribeira, da Serra <strong>do</strong> Caparaó e <strong>do</strong><br />

Araguaia.<br />

Nesse contexto, os aparelhos policiais e militares de<br />

repressão ampliaram-se e se articularam em to<strong>do</strong> o<br />

território por meio <strong>do</strong> Departamento de Operações<br />

Internas e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-<br />

Codi), órgão de repressão forma<strong>do</strong> por agentes da Polícia<br />

Federal, <strong>do</strong> Departamento de Ordem Política e Social<br />

(Dops) e <strong>do</strong> Exército. Paralelamente a essa ação<br />

repressiva “oficial”, foram cria<strong>do</strong>s também grupos<br />

paramilitares de direita, como o Coman<strong>do</strong> de Caça aos<br />

Comunistas (CCC), os Esquadrões da Morte e a<br />

Operação Bandeirantes (Oban), organizações que<br />

reuniam militares, policiais e civis e que foram<br />

responsáveis por diversos atenta<strong>do</strong>s contra teatros,<br />

artistas, órgãos de imprensa, sindicatos, bancas de<br />

revistas e entidades vinculadas à defesa <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos.<br />

UNE-Fotografia: Marcio Goldzweig<br />

Os diversos grupos guerrilheiros que se constituíram<br />

durante os “anos de chumbo” foram denomina<strong>do</strong>s<br />

“terroristas” pela imprensa de uma maneta geral, a qual,<br />

ao assumir essa expressão, acabou por reproduzir o<br />

discurso oficial da própria ditadura. Em relação a essas<br />

ações armadas, o líder comunista Luís Carlos Prestes<br />

expressou suas dúvidas quanto à eficácia delas: “Sabia<br />

que estavam preparan<strong>do</strong> a luta armada, mas não tinha<br />

ilusões: assaltos a bancos, sequestros de aviões, de<br />

embaixa<strong>do</strong>res, nada disso resolveria nada. Só<br />

contribuiria para aumentar a repressão e dar armas à<br />

reação”.<br />

Na foto, pode-se ver Lamarca, que terminou assassina<strong>do</strong><br />

pelas forças da repressão no dia 28 de agosto de 1971, no<br />

interior da Bahia.<br />

Em relação à atuação da imprensa durante os “anos de<br />

chumbo”, a historia<strong>do</strong>ra Beatriz Kushnir, em artigo<br />

intitula<strong>do</strong> Cães de guarda: entre jornalistas e censores,<br />

fez as seguintes observações:<br />

Carlos Lamarca ( na foto acima)<br />

145


146<br />

“Com a decretação <strong>do</strong> Al-5, muitos proprietários de<br />

empresas de jornal criam alternativas para se adaptarem<br />

aos ‘novos tempos’. Na mesma semana que o regime<br />

autoritário endureceu, em vários órgãos de imprensa os<br />

jornalistas mais combativos foram demiti<strong>do</strong>s. Jorge<br />

Miranda Jordão permaneceu à frente da Folha da Tarde<br />

por mais alguns meses e foi demiti<strong>do</strong> <strong>do</strong> Grupo nos<br />

primeiros dias de maio de 1969. O <strong>do</strong>no <strong>do</strong> jornal,<br />

Octávio Frias de Oliveira, chamou-o na sua sala e disse:<br />

‘não posso mais ficar com você’.<br />

Alguns jornalistas da Folha da Tarde eram simpatizantes<br />

da militância armada de esquerda, abrigan<strong>do</strong> reuniões em<br />

suas casas, hospedan<strong>do</strong> pessoas ou participan<strong>do</strong> da rede<br />

de apoio, como o próprio Miranda Jordão, que acabou<br />

sen<strong>do</strong> preso em agosto de 1969. Afora as demissões <strong>do</strong><br />

jornal, a repressão pós-Al-5 os surpreendeu com máxima<br />

violência, com invasões de <strong>do</strong>micílio e prisões ou<br />

forçan<strong>do</strong>-os à clandestinidade.<br />

(...). A ‘caça às bruxas’ intensificou-se após o sequestro<br />

<strong>do</strong> embaixa<strong>do</strong>r norte-americano, em 4/9/1969, e o cerco<br />

a Carlos Marighella, morto em São Paulo, exatamente<br />

<strong>do</strong>s meses depois.<br />

Nas alterações na direção <strong>do</strong> jornal, entre a saída de<br />

Miranda Jordão e a posse de Pimenta Neves, exerceu o<br />

cargo um prata da casa. Posteriormente, o editor<br />

responsável, ‘que andava com uma capanga armada pela<br />

redação, e fomos to<strong>do</strong>s demiti<strong>do</strong>s. A linha <strong>do</strong> jornal tinha<br />

muda<strong>do</strong> completamente, a ponto de que quan<strong>do</strong> fui<br />

demiti<strong>do</strong> por motivos políticos, junto com 8 colegas, em<br />

agosto de 1969, de toda a antiga equipe não restava mais<br />

ninguém’.<br />

A partir de julho de 1969, com o fim da equipe de<br />

redação formada a partir de outubro de 1967, o jornal,<br />

torna-se, nas palavras de Cláudio Abramo, sórdi<strong>do</strong>. O<br />

papel desempenha<strong>do</strong> pelo grupo Folha da Manhã durante<br />

os anos de 70 recebe muitas críticas. Para Freire, Almada<br />

e Ponce, ‘a imprensa, censurada aqui e ali, não oferecia<br />

resistência mais séria ao governo quan<strong>do</strong> se tratava das<br />

organizações de esquerda revolucionária. E aqui<br />

distinguimos muito bem os jornalistas <strong>do</strong>s <strong>do</strong>nos de<br />

jornal. É preciso que se diga, a bem da verdade, que<br />

muitos jornalistas arriscaram seus empregos e mesmo a<br />

vida, envian<strong>do</strong> notícias para o exterior e passan<strong>do</strong><br />

algumas informações apesar da censura jornais, como a<br />

Folha de S. Paulo, transformaram-se em porta-vozes <strong>do</strong><br />

governo militar e mesmo cúmplices de algumas ações.”<br />

KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: entre jornalistas e censores. In: REIS<br />

FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTIA, Rodrig Patto Sá (Orgs.). O<br />

golpe e o ditadura militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru: Edusc,<br />

2004. p. 255-256.<br />

O jornalista Elio Gaspari publicou, em 2001 e 2002, os<br />

<strong>do</strong>is primeiros livros — de um total de quatro - que, sob<br />

o subtítulo As Ilusões Armadas, analisam o processo<br />

histórico brasileiro desde a implantação da ditadura. No<br />

primeiro deles, ele trata <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> que se estende de<br />

1964 a 1968; no segun<strong>do</strong>, intitula<strong>do</strong> A Ditadura<br />

Escancarada, o perío<strong>do</strong> descrito se estende de 1969 a<br />

1974, ou seja, os chama<strong>do</strong>s “anos de chumbo”, O texto a<br />

seguir é a introdução <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> livro:<br />

“Escancarada, a ditadura firmou-se A tortura foi o seu<br />

instrumento extremo de coerção e o extermínio, o último<br />

recurso da repressão política que o Ato Institucional nº 5<br />

libertou das amarras da lega idade. A ditadura<br />

envergonhada foi substituída por um regime a um só<br />

tempo anárquico nos quarteis e violento nas prisões.<br />

Foram os Anos de Chumbo.<br />

Este livro trata <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> que vide 1969, logo <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />

Comunista <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, nas matas <strong>do</strong> Araguaia, em 74. Foi<br />

o mais duro perío<strong>do</strong> da mais dura<strong>do</strong>ura das ditaduras<br />

nacionais. Ao mesmo tempo, foi a época das alegrias da<br />

Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1970, <strong>do</strong> aparecimento da TV em<br />

cores, das inéditas taxas de crescimento econômico e de<br />

um regime de pleno emprego. Foi o Milagre <strong>Brasil</strong>eiro.<br />

O Milagre <strong>Brasil</strong>eiro e os Anos de Chumbo foram<br />

simultâneos. Ambos reais coexistiram negan<strong>do</strong>-se.<br />

Passa<strong>do</strong>s mais de trinta anos, continuam negan<strong>do</strong>-se.<br />

Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de<br />

admitir) que houve o outro.<br />

Nas páginas que vão adiante, estão os <strong>do</strong>is. Se nelas há<br />

mais <strong>do</strong> chumbo que <strong>do</strong> milagre, isso se deve à<br />

convicção <strong>do</strong> autor de que a tortura e a coerção política<br />

<strong>do</strong>minaram o perío<strong>do</strong>. A tortura envenenou a conduta<br />

<strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s da segurança pública, desvirtuou a<br />

atividade <strong>do</strong>s militares da época, e impôs<br />

constrangimentos, limites e fantasias aos próprios<br />

governos ditatoriais.<br />

Os oficiais-generais que ordenaram, estimularam e<br />

defenderam a tortura levaram as Forças Armadas<br />

brasileiras ao maior desastre de sua história. A tortura<br />

tornou-se matéria de ensino e prática rotineira dentro da<br />

máquina militar de repressão política da ditadura (...)”<br />

GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras,<br />

2002. p. 13 e 17.<br />

Em 1969, Costa e Silva afastou-se <strong>do</strong> poder, por motivo<br />

de <strong>do</strong>ença. O vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, foi<br />

impedi<strong>do</strong> de assumir a presidência pelos ministros<br />

militares, que constituíram, de acor<strong>do</strong> com o Ato<br />

Institucional nº 12, uma Junta Militar formada pelos<br />

ministros da Marinha de Guerra, Exército e Aeronáutica<br />

Militar. Com a morte <strong>do</strong> presidente, o Congresso foi<br />

reaberto em outubro e elegeu o general Emílio Médici,<br />

que governou até março de 1974.


Durante o governo Médici, verificou-se o acirramento da<br />

luta armada por parte <strong>do</strong>s grupos de esquerda. Ao mesmo<br />

tempo, intensificou-se a repressão às ações desses<br />

grupos, tanto por parte <strong>do</strong>s aparelhos oficiais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

quanto por parte <strong>do</strong>s grupos paramilitares de direita:<br />

prisões arbitrárias, inquéritos policiais-militares,<br />

violência contra lideranças estudantis e sindicais e contra<br />

entidades que lutavam pelos direitos humanos, torturas,<br />

assassinato depois da edição <strong>do</strong> Al-5, ao extermino da<br />

guerrilha e desaparecimentos de presos políticos.<br />

O cantor e compositor Gilberto Gil, também vítima da<br />

repressão, foi obriga<strong>do</strong> a exilar-se na Inglaterra. Ele<br />

denunciou a violência que se abateu sobre tantos que<br />

ousaram questionar a “nova ordem” que havia si<strong>do</strong><br />

implantada no país pelos militares. Na versão que fez da<br />

música de Bob Marley, No Woman, no 0% intitulada<br />

“Não Chore Mais”, em 1977, ele cita os bons tempos que<br />

haviam foca<strong>do</strong> para trás. O compositor, no entanto, deixa<br />

antever a sua esperança de que, apesar de tu<strong>do</strong>, “tu<strong>do</strong>,<br />

tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> vai dar pé”. Ela fornece evidências históricas<br />

importantes sobre esse perío<strong>do</strong> e possibilita uma melhor<br />

compreensão sobre esses tempos sombrios:<br />

“Bem que eu me lembro<br />

Da gente senta<strong>do</strong> ali<br />

Na grama <strong>do</strong> aterro, sob o sol<br />

Ob-observan<strong>do</strong> hipócritas<br />

Disfarça<strong>do</strong>s, rodan<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r<br />

Amigos presos<br />

Amigos sumin<strong>do</strong> assim<br />

Prá nunca mais<br />

Tais recordações<br />

Retratos <strong>do</strong> mal em si<br />

Melhor é deixar prá trás<br />

Não, não chore mais<br />

Não, não chore mais<br />

Bem que eu me lembro<br />

Da gente senta<strong>do</strong> ali<br />

Na grama <strong>do</strong> aterro, sob o céu<br />

Ob-observan<strong>do</strong> estrelas<br />

Junto à fogueirinha de papel<br />

Quentar o frio<br />

Requentar o pão<br />

E comer com você<br />

Os pés, de manhã, pisar o chão<br />

Eu sei a barra de viver<br />

Mas se Deus quiser<br />

Tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> vai dar pé (...)<br />

Não, não chore mais<br />

Não, não chore mais”<br />

GIL, Gilberto. Realce. Gilberto Gil. São PauLo: Warner Music, 1979. (LP). Gege<br />

Edições Musicais Ltda (<strong>Brasil</strong> e América <strong>do</strong> SuL)/Preta Music (Resto <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>).<br />

Em relação ao modelo econômico, os governos militares<br />

optaram pela política recomendada pelo Fun<strong>do</strong><br />

Monetário internacional, tentan<strong>do</strong> combater<br />

energicamente a inflação, ao mesmo tempo em que<br />

mantinham os salários em patamares baixos. Isso causou<br />

uma fase recessiva na economia, que se prolongou até o<br />

governo Médici, quan<strong>do</strong> ocorreu um crescimento<br />

considera<strong>do</strong> notável, ao qual se denominou “milagre<br />

brasileiro”, financia<strong>do</strong> em grande parte pelo capital<br />

externo.<br />

O Plano de Ação Econômica <strong>do</strong> Governo (Paeg),<br />

elabora<strong>do</strong> logo após o golpe, previa metas ambiciosas:<br />

elevar o <strong>Brasil</strong> à categoria de grande potência no espaço<br />

de uma geração; duplicar a renda per capita até 1980;<br />

permitir o crescimento <strong>do</strong> PIB em torno de 8 a 10%.<br />

O historia<strong>do</strong>r Eval<strong>do</strong> Vieira assim analisou esse<br />

processo:<br />

“O crescimento econômico <strong>do</strong> país repousava, em grande<br />

parte, no desempenho <strong>do</strong> setor industrial. Mas não foi<br />

apenas e principalmente o parque industrial que se<br />

responsabilizou pelo crescimento <strong>do</strong> Produto Interno<br />

Bruto. Houve também aumento <strong>do</strong> total de investimentos<br />

estrangeiros e estatais no <strong>Brasil</strong>. Este fato acabou<br />

provocan<strong>do</strong> a rápida subida da dívida externa, que<br />

passou de 3,9 bilhões de dólares em 1968, para além de<br />

12,5 bilhões de dólares em 1973.”<br />

VIEIRA, Eval<strong>do</strong>. A República brasileira. 1964-1984. São Paulo: - Moderna,<br />

1985. p. 38.<br />

Em relação à distribuição das riquezas, falava-se muito,<br />

na ocasião, em “fazer crescer o bolo, para depois repartilo”,<br />

segun<strong>do</strong> expressão <strong>do</strong> ministro da Fazenda <strong>do</strong><br />

governo Médici, Delfim Netto. Na realidade, o discurso<br />

passou a encobrir o mais violento processo de<br />

concentração de renda até então observa<strong>do</strong> no país,<br />

conforme se pode perceber pelos números a seguir:<br />

• o 1 % da população brasileira mais rica que, em 1960,<br />

detinha 11,7% da renda nacional, aumentou sua<br />

participação para 1 7,8% em 1970;<br />

• os 5% mais ricos aumentaram sua participação na<br />

renda, de 27,69% (1960) para 39% (1976);<br />

• os 50% mais pobres que, em 1960, detinham 27,8% da<br />

renda passaram, a deter apenas 13,1% em 1970, em<br />

plena época <strong>do</strong> “milagre”.<br />

Não por acaso, a esses indica<strong>do</strong>res econômicos<br />

somaram-se desastrosos indica<strong>do</strong>res sociais:<br />

• em 1970, momento de grande euforia no país em<br />

função das vitórias da Seleção na Copa <strong>do</strong> México, mais<br />

147


de 20 milhões de brasileiros, numa população total de 90<br />

milhões, viviam abaixo da linha de pobreza;<br />

• 75% da população não tinha acesso a água encanada;<br />

• aproximadamente 30% da população morava em<br />

favelas ou nas periferias das grandes cidades;<br />

• a mortalidade infantil apresentava índices alarmantes.<br />

Na década de 70 <strong>do</strong> século XX, aproximadamente 115<br />

crianças morriam antes de completarem 1 ano em cada<br />

grupo de 1000 nasci<strong>do</strong>s vivos. Em 1964, essa proporção<br />

era de 70 para cada 1000. Para se ter ideia da dimensão<br />

desses números, considere-se que, no ano 2000, de<br />

acor<strong>do</strong> com o Censo 2000 <strong>do</strong> ISGE, essa relação era de<br />

35 para 1000.<br />

Paralelamente à contenção salarial, os trabalha <strong>do</strong>res<br />

também perderam antigos direitos, como a estabilidade<br />

no emprego, que foi substituída pela contribuição ao<br />

FGTS (Fun<strong>do</strong> de Garantia por Tempo de Serviço).<br />

Evidenciava-se, assim, a preocupação da área econômica<br />

<strong>do</strong> regime militar em romper com o modelo trabalhista<br />

construí<strong>do</strong> à época de Vargas. Ao mesmo tempo, a<br />

sistemática repressão aos trabalha<strong>do</strong>res rurais e a plena<br />

consolidação de uma estrutura fundiária concentra<strong>do</strong>ra<br />

acentuaram o êxo<strong>do</strong> rural, provocan<strong>do</strong> o inchaço das<br />

periferias das grandes cidades. Sem dúvida, em grande<br />

parte, as raízes da atual violência que permeia os grandes<br />

centros urbanos brasileiros no início <strong>do</strong> século XXI<br />

encontram-se nessas graves distorções socioeconômicas.<br />

A partir de 1973, no contexto de uma nova crise <strong>do</strong><br />

capitalismo mundial desencadeada a partir <strong>do</strong> “choque<br />

<strong>do</strong> petróleo” e da elevação <strong>do</strong>s juros no sistema<br />

financeiro internacional, a economia brasileira conheceu<br />

uma nova fase de recessão.<br />

Chegou-se ao fim <strong>do</strong> “milagre econômico”, cujos limites<br />

estruturais ficaram evidencia<strong>do</strong>s. Os países que, como o<br />

<strong>Brasil</strong>, baseavam a infraestrutura de seu desenvolvimento<br />

na utilização maciça de petróleo, até então importa<strong>do</strong> a<br />

baixo preço, viram suas contas externas deteriorarem-se<br />

rapidamente, impactan<strong>do</strong> a já grave questão da dívida<br />

externa.<br />

Em um suplemento especial organiza<strong>do</strong> pelo jornal O<br />

Globo, essa crise foi assim analisada:<br />

“No dia 16 de outubro de 1973, em plena guerra <strong>do</strong> Yom<br />

Kippur(entre uma coalizão de países árabes e Israel), os<br />

países árabes descobriram um mo<strong>do</strong> menos violento de<br />

atingir seus objetivos. A Organização <strong>do</strong>s Países<br />

Exporta<strong>do</strong>res de Petróleo (OPEP), controlada pela<br />

Arábia Saudita, rã, Iraque e Kuwait, aumentou o preço<br />

<strong>do</strong> barril de US$ 3 para USS 5. Logo em seguida os<br />

países árabes decretaram boicote aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e<br />

Holanda, alia<strong>do</strong>s de Israel. No começo de novembro, os<br />

produtores da região cortaram sua produção em 25% e,<br />

na véspera <strong>do</strong> Natal, a OPEP fixou um novo preço para o<br />

barril: USS 11,60. Era o começo de uma crise que iria<br />

provocar recessão de alcance mundial, entre países ricos<br />

e pobres, com direito a inflação galopante e elevação<br />

absurda <strong>do</strong>s déficits públicos.”<br />

Suplemento especial O Globo 2000. Rio de Janeiro: O Globo. 2000, p. 613.<br />

Em 15 de março de 1974, assumiu um novo generalpresidente:<br />

Ernesto Geisel. Em seu governo, que se<br />

estendeu até 15 de março de 1979, o núcleo militar que<br />

detinha o poder, perceben<strong>do</strong> que o regime já não mais<br />

contava com o apoio da maioria da sociedade — em<br />

função da elevação <strong>do</strong> custo de vida, <strong>do</strong> arrocho salarial,<br />

sobretu<strong>do</strong> para as camadas trabalha<strong>do</strong>ras mais humildes,<br />

e pelo conhecimento, ainda que precário, <strong>do</strong>s excessos<br />

cometi<strong>do</strong>s pelos órgãos de repressão —, elaborou uma<br />

nova estratégia política.<br />

Iniciou-se um tími<strong>do</strong> processo de “distensão”, isto é, de<br />

abertura política, que deveria ser executada de forma<br />

“lenta, segura e gradual”, acompanhada de retrocessos<br />

políticos sempre que o regime entendeu serem<br />

necessários.<br />

As vitórias <strong>do</strong> MDB nas eleições legislativas de 1974,<br />

que refletiram o desencanto da classe média com os<br />

governos militares, fizeram com que o núcleo central <strong>do</strong><br />

poder se dividisse em duas tendências: a primeira,<br />

formada pelos militares da “Sorbonne”, grupo mais bem<br />

articula<strong>do</strong> intelectualmente, entendeu o reca<strong>do</strong> das urnas<br />

e percebeu ser necessário uma maior flexibilização<br />

política; a segunda, representada pelos militares da<br />

chamada “linha dura”, procurou agir no senti<strong>do</strong> de<br />

reprimir as expectativas de abertura política.<br />

O governo Geisel teve que se equilibrar entre essas duas<br />

tendências, ora fazen<strong>do</strong> concessões politicas, ora<br />

atenden<strong>do</strong> aos “duros” e seus retrocessos políticos. As<br />

dificuldades foram significativas.<br />

Afinal, conforme assinalou Elio Gaspari:<br />

“Dez anos depois da saída <strong>do</strong> marechal Castello Branco<br />

de sua casa de Ipanema para o palácio Laranjeiras o<br />

general Ernesto Geisel preparava-se para ocupar a<br />

Presidência da República. Receberia uma ditadura militar<br />

que apoiara, saben<strong>do</strong> que dentro dela está montada uma<br />

máquina de extermínio das ‘lideranças esquerdistas. Não<br />

havia mais guerrilha, muito menos terrorismo. Sobrara a<br />

máquina.”<br />

GASPARI Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.<br />

p. 464.<br />

Foi essa “máquina” citada por Elio Gaspari que, por<br />

diversas vezes, ao longo <strong>do</strong> governo Geisel e mesmo <strong>do</strong><br />

148


governo de seu sucessor, o general João Baptista<br />

Figueire<strong>do</strong> (1979 - 1985), deu mostras de que ainda<br />

estava apta para funcionar. Foi o que ocorreu em<br />

diversas oportunidades, como as seguintes:<br />

a morte, sob tortura, <strong>do</strong> jornalista e diretor <strong>do</strong><br />

departamento de telejornalismo da TV Cultura de<br />

São Paulo, Wladimr Herzog (1930-1975), no quartel<br />

<strong>do</strong> coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> II Exército em outubro de 1975, por<br />

agentes <strong>do</strong> DOl-Codi;<br />

a morte, novamente sob tortura, <strong>do</strong> metalúrgico<br />

Manuel Fiel, também nas dependências <strong>do</strong><br />

Departamento de Operações internas <strong>do</strong> II Exercito,<br />

em São Paulo;<br />

os atenta<strong>do</strong>s à bomba contras sedes da Associação<br />

<strong>Brasil</strong>eira de imprensa (ABI) e da Ordem <strong>do</strong>s<br />

Advoga<strong>do</strong>s <strong>Brasil</strong>eiros (OAB), no Rio de Janeiro,<br />

em agosto de 1976;<br />

o sequestro de <strong>do</strong>m Adriano Hypólito, bispo de<br />

Nova Iguaçu, sen<strong>do</strong> que, na oportunidade, seu carro<br />

foi explodi<strong>do</strong> em frente à Confederação Nacional<br />

<strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> (CNBB), órgão máximo da<br />

Igreja Católica no país em setembro de 1976;<br />

a explosão de urna bomba na sede da Editora<br />

Civilização <strong>Brasil</strong>eira, tradicionalmente conhecida<br />

pela publicação de obras de autores de esquerda, em<br />

dezembro de 1976;<br />

o assassinato de três dirigentes <strong>do</strong> PC<strong>do</strong>B em São<br />

Paulo, por agentes <strong>do</strong> Centre, de informações <strong>do</strong><br />

Exército (CIE) apoia<strong>do</strong>s pelo II Exército. Ocorri<strong>do</strong><br />

em dezembro de 1976, o episódio ficou conheci<strong>do</strong><br />

como “Massacre da Lapa”;<br />

a ocupação, por <strong>do</strong>is mil policiais da Universidade<br />

de Brasília, em junho de 1977;<br />

a detenção de 1 700 estudantes da PUC de São<br />

Paulo, após invasão de suas dependências por forças<br />

policiais em setembro de 1977.<br />

To<strong>do</strong> esse quadro gerou uma grande onda de indignação<br />

e protestos por parte de amplos segmentos da sociedade<br />

civil, particularmente a morte <strong>do</strong> jornalista Wladimir<br />

Herzog, uma vez que a “versão oficial” apresentada pelas<br />

autoridades militares após a instauração de um Inquérito<br />

Policial Militar (1PM) ter si<strong>do</strong> instaura<strong>do</strong> foi a de que ele<br />

havia cometi<strong>do</strong> suicídio.<br />

A constatação dessa insatisfação com o regime militar,<br />

que nesse momento estava totalmente soa<strong>do</strong>, se traduziu<br />

na realização de um culto ecumênico realiza<strong>do</strong> em São<br />

Paulo no dia 31 de outubro de 1975, em homenagem ao<br />

jornalista assassina<strong>do</strong> pela ditadura.<br />

A respeito desse episódio, o Jornalista Elio Gaspari<br />

observou:<br />

“No dia seguinte, Geisel resolveu retardar sua partida. Só<br />

regressaria a Brasília depois que o culto ecumênico na Sé<br />

terminasse. Pela manhã, a Censura proibiu que as rádios<br />

e televisões mencionassem a cerimônia. No inicio da<br />

tarde, <strong>do</strong>is secretários de Paulo Egydio (governa<strong>do</strong>r<br />

nomea<strong>do</strong> de São Paulo) procuraram o cardeal Arns em<br />

sua casa. Levavam-lhe um apelo para que não<br />

comparecesse à catedral:<br />

Pode haver tiroteios, mortes, o senhor será o responsável.<br />

— Lá estarei, pra evitar mortes. O pastor não aban<strong>do</strong>na<br />

as ovelhas quan<strong>do</strong> ameaçadas — respondeu d. Paulo.<br />

— Haverá mais de quinhentos policiais na praça com<br />

ordem de atirar ao primeiro grito — informaram os<br />

secretários.<br />

Com 385 barreiras espalhadas pela cidade, a policia<br />

armou-se para impedir a marcha das passeatas que temia.<br />

Produziu um <strong>do</strong>s maiores engarrafamentos da historia de<br />

São Paulo. Não houve passeatas. Oito mil pessoas<br />

chegaram em silencio à praça da Sé, transbordan<strong>do</strong> pelas<br />

escadarias da catedral. A maioria eram jovens<br />

universitários. (...)<br />

Entraram o cardeal, o rabino Henry Sobel, mais vinte<br />

sacer<strong>do</strong>tes, entre eles d. Helder Câmara, arcebispo de<br />

Olinda e Recife.<br />

D. Paulo Evaristo chegara ao seu encontro com a<br />

ditadura:<br />

— Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu<br />

<strong>do</strong> coração de Deus, para ser fonte de amor.<br />

— Não matarás. Quem matar, se entrega a si próprio nas<br />

mãos <strong>do</strong> Senhor da história e não será apenas maldito na<br />

memória <strong>do</strong>s homens, mas também no julgamento de<br />

Deus. (...)<br />

A um repórter que lhe pediu algumas palavras, d. Helder<br />

respondeu: “Para que falar em voz alta, meu filho, se<br />

to<strong>do</strong>s nós estamos conversan<strong>do</strong> em silêncio?”<br />

A multidão calada e altiva se dissolveu na praça.<br />

Levava consigo um sentimento de superioridade, de<br />

civilização.<br />

Na Praça da Sé, naquela tarde de 31 de outubro de 1975,<br />

a oposição brasileira passou a encarnar a ordem e a<br />

decência. A ditadura, com sua ‘tigrada’ e seu aparato<br />

policial, revelara-se um anacronismo que procurava na<br />

anarquia um pretexto para a própria reafirmação.”<br />

GASPARI Etio. A ditadura encurralada. São Paulo: companhia das Letras, 2004.<br />

p. 197-199.<br />

É importante considerar, no entanto, que o general<br />

Geisel, na presidência, procurou conter a ação da “linha<br />

dura”, afastan<strong>do</strong> o comandante <strong>do</strong> II Exército, em São<br />

Paulo, e até mesmo demitin<strong>do</strong>, em outubro de 1977, o<br />

ministro <strong>do</strong> Exército, o general Sílvio Frota, um <strong>do</strong>s<br />

principais representantes da “linha dura”.<br />

149


Durante o último ano de seu governo, em 1978,<br />

verificou-se a ampliação da mobilização popular contra o<br />

regime militar. Foi nesse contexto que ressurgiu,<br />

paralelamente ao crescimento eleitoral <strong>do</strong> MDB, o<br />

movimento sindical, ten<strong>do</strong> como líder o presidente <strong>do</strong><br />

Sindicato <strong>do</strong>s Metalúrgicos de São Bernar<strong>do</strong> e Diadema,<br />

Luiz lnácio da Silva, o “Lula”, que esteve à frente de<br />

diversos movimentos grevistas.<br />

Apesar <strong>do</strong> processo de abertura “lenta, segura e gradual”,<br />

algumas ações de autoritarismo ainda perduravam, entre<br />

as quais pode-se destacar a decretação <strong>do</strong> “recesso”, isto<br />

é, fechamento <strong>do</strong> Congresso Nacional, em abril de 1977.<br />

Nesse contexto, o governo impôs o chama<strong>do</strong> “Pacote de<br />

Abril”, um conjunto de medidas autoritárias que<br />

revelaram que a “abertura” era bem mais lenta <strong>do</strong> que a<br />

sociedade brasileira exigia. Entre as principais medidas<br />

desse “pacote”, destacaram-se:<br />

a determinação de que a eleição <strong>do</strong> próximo generalpresidente<br />

caberia a um “colégio eleitoral”,<br />

composto pelos membros <strong>do</strong> Congresso Nacional e<br />

representantes das Assembleias Legislativas<br />

estaduais;<br />

a extensão <strong>do</strong> mandato <strong>do</strong> próximo presidente para 6<br />

anos;<br />

a determinação de que um terço <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> seria<br />

eleito de forma indireta (sena<strong>do</strong>res biônicos), ou<br />

seja, pelas Assembleias Legislativas estaduais;<br />

a determinação de que os governa<strong>do</strong>res<br />

continuariam a ser eleitos indiretamente.<br />

Ao mesmo tempo, o governo Geisel cassou diversos<br />

mandatos parlamentares, enquanto se estabelecia um<br />

rigoroso controle da propaganda eleitoral com o objetivo<br />

de beneficiar os candidatos da ARENA, parti<strong>do</strong> que dava<br />

sustentação política à ditadura.<br />

Em 28 de agosto de 1978, já ao final <strong>do</strong> mandato de<br />

Geisel, revogou-se o Al-5 por meio da Emenda<br />

Constitucional nº 11. Também a censura prévia foi<br />

extinta.<br />

A abertura política teve prosseguimento e mesmo<br />

avançou durante o governo <strong>do</strong> último general-presidente,<br />

João Baptista Figueire<strong>do</strong>, que, ao tomar posse, reforçou<br />

seu compromisso com a transição democrática,<br />

afirman<strong>do</strong> que “prenderia e arrebentaria” quem fosse<br />

contra. Dan<strong>do</strong> continuidade ao processo de distensão, em<br />

28 de agosto de 1979 foi aprovada a Lei da Anistia, não<br />

da maneira que a sociedade civil e os movimentos<br />

organiza<strong>do</strong>s contra a ditadura exigiam, pois esta<br />

beneficiou to<strong>do</strong>s os suspeitos de tortura e assassinato e<br />

que, atuan<strong>do</strong> nos aparelhos de repressão,<br />

“desapareceram” com milhares de brasileiros. Com base<br />

nessa lei, eles não poderiam ser condena<strong>do</strong>s num futuro<br />

próximo.<br />

No contexto da anistia, permitiu-se também a volta <strong>do</strong>s<br />

exila<strong>do</strong>s políticos, muitos <strong>do</strong>s quais já estavam fora <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> havia 15 anos.<br />

Para o historia<strong>do</strong>r Bernar<strong>do</strong> Kucinski, a anistia significou<br />

o seguinte:<br />

“Era uma anistia pela metade, que atenda os propósitos<br />

<strong>do</strong> governo de permitir o retorno ao <strong>Brasil</strong> de antigos<br />

líderes políticos visan<strong>do</strong> implodir a frente oposicionista,<br />

sem que fossem necessariamente anistia<strong>do</strong>s antigos<br />

integrantes da uta armada, ou permitida a volta à política<br />

de to<strong>do</strong> parlamentar cassa<strong>do</strong>. Os cassa<strong>do</strong>s por atos<br />

institucionais, demiti<strong>do</strong>s de sindicatos e processa<strong>do</strong>s pela<br />

Lei de Segurança Nacional — mesmo ainda não julga<strong>do</strong>s<br />

— continuavam inelegíveis porque o governo não<br />

revogava a lei das inelegibilidades.”<br />

KUCINSKI, Bernar<strong>do</strong>. O fim da ditadura militar. São Paulo: Contexto, 2001.<br />

p106.<br />

O bipartidarismo foi extinto, seguin<strong>do</strong>-se uma<br />

reorganização partidária:<br />

a ARENA deu origem ao PDS (Parti<strong>do</strong> Democrático<br />

Social);<br />

o MDB fragmentou-se em várias agremiações: PP<br />

(Parti<strong>do</strong> Popular, cria<strong>do</strong> por Tancre<strong>do</strong> Neves e<br />

Magalhães Pinto, mas logo extinto); PMDB (Parti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Movimento Democrático <strong>Brasil</strong>eiro, lidera<strong>do</strong> por<br />

Ulysses Guimarães); PTB (Parti<strong>do</strong> Trabalhista<br />

<strong>Brasil</strong>eiro, sob a liderança de Ivete Vargas, sobrinha<br />

<strong>do</strong> ex-presidente); PDT (Parti<strong>do</strong> Democrático<br />

Trabalhista, de Leonel Brizola, líder trabalhista que<br />

fora exila<strong>do</strong> ainda em 1964).<br />

Em fevereiro de 1980 foi funda<strong>do</strong> o PT (Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

Trabalha<strong>do</strong>res), cujas referências eram o movimento<br />

sindical, particularmente significativo na região <strong>do</strong><br />

ABCD paulista, e ten<strong>do</strong> como principal líder Luiz Inácio<br />

Lula da Silva. Contan<strong>do</strong> com forte apoio de amplos<br />

setores da intelectualidade, como o historia<strong>do</strong>r Sérgio<br />

Buarque de Holanda, o economista Paul Singer, o jurista<br />

Hélio Bicu<strong>do</strong>, além de artistas, teatrólogos, professores e<br />

universitários, o PT, com claras tendências de esquerda,<br />

se apresentou como uma experiência realmente original<br />

no cenário político brasileiro da época, uma vez que não<br />

foi cria<strong>do</strong> “de cima para baixo” e sim <strong>do</strong> movimento<br />

popular.<br />

Em novembro de 1982, conforme estabeleci<strong>do</strong> em 1980,<br />

realizaram-se eleições diretas para governa<strong>do</strong>res de<br />

esta<strong>do</strong>s, as quais apontaram a vitória <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s<br />

oposicionistas em grandes esta<strong>do</strong>s, como Rio de Janeiro,<br />

Minas Gerais e São Paulo.<br />

150


Já em relação às eleições para a Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s e<br />

para o Sena<strong>do</strong>, o PDS, que representava o continuísmo,<br />

conseguiu uma votação expressiva, o que revelava sua<br />

força política, particularmente nas regiões Norte e<br />

Nordeste. Essas eleições foram assim comentadas pelo<br />

historia<strong>do</strong>r Bons Fausto:<br />

“Os resulta<strong>do</strong>s para o Congresso marcaram uma vitória<br />

<strong>do</strong> PDS no Sena<strong>do</strong>, onde esse parti<strong>do</strong> conquistou 46<br />

cadeiras, o PMDB, 21,0 PDT e o PTB, uma cadeira cada<br />

um. Na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, o PDS também foi o<br />

parti<strong>do</strong> mais vota<strong>do</strong>, mas não conseguiu maioria<br />

absoluta. Ficou com 235 cadeiras contra 200 <strong>do</strong> PMDB,<br />

24 <strong>do</strong> PDT 13 <strong>do</strong> PTB e 8 <strong>do</strong> PT.”<br />

FAUSTO, Bons. <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. 2. ed. São Paulo: Edusp/FDE, 1995. p. 508.<br />

É preciso considerar que a abertura política, ainda nessa<br />

época, encontrava resistências entre segmentos de direita<br />

vincula<strong>do</strong>s à “linha dura”.<br />

Estes, inconforma<strong>do</strong>s com a crescente mobilização da<br />

sociedade a favor da democracia, manifestaram-se em<br />

algumas oportunidades:<br />

a morte <strong>do</strong> operário Santo Dias da Silva, em 1979,<br />

em São Paulo, durante a repressão a um movimento<br />

grevista;<br />

o atenta<strong>do</strong> contra a sede da OAB, em 1980, no Rio<br />

de janeiro, que provocou a morte de uma pessoa e<br />

deixou vários feri<strong>do</strong>s;<br />

O sequestro e espancamento, em São Paulo, <strong>do</strong><br />

jurista Dalmo de Abreu Dailari, vincula<strong>do</strong> à<br />

Comissão de justiça e Paz;<br />

O atenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Riocentro, no Centro de Convenções,<br />

em maio de 1981, no Rio de janeiro.<br />

Na oportunidade, <strong>do</strong>is militares, um capitão e um<br />

sargento foram encarrega<strong>do</strong>s de colocar uma bomba de<br />

forte poder destrutivo sob o palco de um show musical<br />

de 1º de Maio. O atenta<strong>do</strong> seria atribuí<strong>do</strong> a grupos de<br />

esquerda com o intuito de indicar que estes ainda<br />

estavam ativos e, portanto, não havia clima político para<br />

o retorno à normalidade democrática.<br />

No entanto, a bomba explodiu no carro em que estavam<br />

os <strong>do</strong>is militares quan<strong>do</strong> estes a estavam preparan<strong>do</strong>,<br />

provocan<strong>do</strong> a morte <strong>do</strong> sargento e graves ferimentos no<br />

capitão. Realizou-se um inquérito policial-militar que,<br />

contra todas as evidências, chegou à conclusão de que o<br />

atenta<strong>do</strong> havia si<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> por grupos de esquerda.<br />

Em 2000, após a tentativa de uma comissão da Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s de reabrir o processo, este foi<br />

definitivamente arquiva<strong>do</strong> por ordem <strong>do</strong> Superior<br />

Tribunal Militar.<br />

Apesar dessas ações radicais <strong>do</strong>s grupos de extrema<br />

direita e de organizações paramilitares, a crescente<br />

mobilização da sociedade brasileira tornou-se ainda mais<br />

intensa no ano de 1984, desembocan<strong>do</strong> na campanha<br />

Diretas Já. Tratou-se de um amplo movimento a favor da<br />

aprovação da Emenda parlamentar proposta pelo<br />

deputa<strong>do</strong> federal Dante de Oliveira.<br />

O difícil contexto econômico da época, caracteriza<strong>do</strong><br />

pelo aumento brutal da dívida externa, pela elevação<br />

extraordinária da inflação e pelas dificuldades de<br />

pagamento <strong>do</strong>s juros da dívida, entre outros fatores,<br />

contribuíram para ampliar a reação popular contra o<br />

autoritarismo.<br />

A emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso,<br />

apesar das manifestações de apoio em to<strong>do</strong> o país.<br />

A campanha Diretas Já foi assim descrita pela<br />

historia<strong>do</strong>ra Marly Rodrigues:<br />

“Em to<strong>do</strong> o país, entre janeiro e abril de 1984,<br />

realizaram-se nas capitais e principais cidades comícios<br />

que reuniram multidões, O maior deles aconteceu no<br />

Anhangabaú, em São Paulo, ao qual compareceram cerca<br />

de 1,7 milhão de pessoas que, sob um clima de<br />

absoluto entusiasmo, entoaram o estribilho ‘um, <strong>do</strong>is,<br />

três, quatro, mil, queremos eleger o presidente <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

e o ‘Caminhan<strong>do</strong>’, música de Geral<strong>do</strong> Vandré, quase um<br />

hino da campanha.<br />

Comprovan<strong>do</strong> o dizer de Milton Nascimento, ‘to<strong>do</strong><br />

artista tem de ir aonde o povo está’, atores,<br />

apresenta<strong>do</strong>res de TV e cantores acompanharam os<br />

políticos aos palanques, emprestan<strong>do</strong> apoio ao<br />

movimento.”<br />

RODRIGUES, Marty. A década de 80. <strong>Brasil</strong>: quan<strong>do</strong> a multidão voltou às<br />

praças. São Pauto: Ática, 1992. p. 18-19.<br />

Transição para a democracia e sua consolidação<br />

As disputas dentro <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> governista pela indicação<br />

<strong>do</strong> nome <strong>do</strong> candidato à sucessão produziram uma<br />

ruptura: vários deputa<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res deixaram o PDS,<br />

forman<strong>do</strong>, juntamente com o PMDB, a “Aliança<br />

Democrática”, que apoiou o nome de Tancre<strong>do</strong> Neves<br />

contra o de Paulo Maluf, o candidato oficial.<br />

151


Nesse contexto de conciliação política, a vicepresidência<br />

<strong>do</strong> bloco oposicionista foi oferecida a José<br />

Sarney, ex-presidente <strong>do</strong> PDS, cujo apoio ao candidato<br />

Tancre<strong>do</strong> Neves, no Colégio Eleitoral, facilitou a vitória<br />

deste em 15 de janeiro de 1985;<br />

Finalmente, ainda que por meio ‘de uma eleição indireta,<br />

o <strong>Brasil</strong> tinha um presidente civil, depois de 21 anos.<br />

Um dia antes de sua posse, marcada para o dia 15 de<br />

março, Tancre<strong>do</strong> Neves, ex-governa<strong>do</strong>r de Minas Gerais,<br />

foi hospitaliza<strong>do</strong>, vin<strong>do</strong> a falecer no dia 21 de abril. O<br />

vice-presidente assumiu.<br />

EXERCÍCIOS<br />

01. (UESB-2009) O governo militar, no <strong>Brasil</strong>, baixou<br />

ao to<strong>do</strong> 17 Atos Institucionais. O primeiro foi decreta<strong>do</strong><br />

em 9 de abril de 1964, dez dias após o golpe militar. O<br />

último foi publica<strong>do</strong> em dezembro de 1969.To<strong>do</strong>s eram<br />

formas de aumentar os poderes <strong>do</strong> Executivo<br />

brasileiro,sen<strong>do</strong> que o AI-5, que vigorou de 1968 a<br />

1978,é um marco por ter oficializa<strong>do</strong> a ditadura. (LEÃO,<br />

2008, p. B3.).<br />

O Texto e os conhecimentos sobre o perío<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong><br />

permitem afirmar que o Ato Institucional N. 5 assumiu<br />

sua face ditatorial, entre outros, ao<br />

01) Excluir de julgamento e de apreciação por parte <strong>do</strong>s<br />

poderes Judiciário e Legislativo os atos pratica<strong>do</strong>s pelo<br />

presidente da Republica.<br />

02) Confiscar as terras <strong>do</strong>s grandes latifundiários, para<br />

redistribuí-las com o contingente de camponeses sem<br />

terra existentes no país.<br />

03) Impedir o funcionamento da Petrobras, por se tratar<br />

de empresa privada dependente <strong>do</strong> capital estrangeiro.<br />

04) Redefinir as fronteiras <strong>do</strong> país, excluin<strong>do</strong> da condição<br />

de esta<strong>do</strong>s, de forma arbitraria, os territórios <strong>do</strong> Acre e<br />

<strong>do</strong> Amapá.<br />

05) Proibir a atuação de empresas privadas no país, entre<br />

o perío<strong>do</strong> de 1968 a 1978, com a finalidade de assegurar<br />

o êxito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>,no projeto ‘o milagre brasileiro”.<br />

02. (UNIFACS 2014 .1) O desenvolvimento industrial<br />

brasileiro está relaciona<strong>do</strong> a ampliação das fontes de<br />

energia, como se pode identificar<br />

01) no Perío<strong>do</strong> Colonial, na medida em que o<br />

estabelecimento das manufaturas portuguesas exigiu<br />

a diversificação da economia colonial e a exploração<br />

de uma maior diversidade de recursos naturais, para<br />

alimentar esta nascente indústria.<br />

02) na Abertura <strong>do</strong>s Portos às Nações Amigas, que<br />

possibilitou a instalação de empresas estrangeiras no<br />

país e o surgimento de uma manufatura que utilizou,<br />

em larga escala, os recursos naturais nacionais.<br />

03) no primeiro perío<strong>do</strong> republicano, momento em que o<br />

surgimento da indústria paulista provocou o choque<br />

de interesses entre industriais e cafeicultores e<br />

contribuiu para a eclosão da Revolução de 1930, que<br />

alterou a estrutura econômica <strong>do</strong> pais, quan<strong>do</strong> se<br />

consoli<strong>do</strong>u a hegemonia <strong>do</strong> poder politico <strong>do</strong><br />

empresaria<strong>do</strong> industrial, na Era Vargas.<br />

04) na política de privatizações implementada pelo<br />

governo ditatorial militar, com a venda de estatais e<br />

a abertura para o capital estrangeiro da exploração<br />

das riquezas nacionais, como o petróleo.<br />

05) no surgimento das indústrias de base controladas<br />

pelo Esta<strong>do</strong>, durante o perío<strong>do</strong> populista, visan<strong>do</strong><br />

promover o desenvolvimento de um capitalismo<br />

nacional e autônomo, o que acarretou choques nas<br />

relações com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, no contexto da<br />

Guerra Fria.<br />

03. (UEFS – 2009) A década de 60, <strong>do</strong> século XX, ficou<br />

conhecida como “Os Anos Rebeldes” e, especificamente,<br />

no ano de 1968, ocorreram manifestações <strong>do</strong>s jovens na<br />

França, na Tchecoslováquia, no México, no <strong>Brasil</strong>, etc.<br />

Dentro desse quadro de rebeldia, destaca-se a revolta<br />

estudantil de maio de 1968, na França, que pode ser<br />

caracterizada pela frase<br />

a) “Um só fim de semana não-revolucionário é<br />

infinitamente mais sangrento que um mês de<br />

revolução permanente” — caracterizan<strong>do</strong> a defesa<br />

de uma revolução armada aos moldes <strong>do</strong><br />

bolchevismo russo.<br />

b) “Sejam realistas, exijam o impossível!” —<br />

caracterizan<strong>do</strong> a alienação política, o envolvimento<br />

com drogas e a inconsequência <strong>do</strong>s jovens franceses,<br />

totalmente despreocupa<strong>do</strong>s com as questões sociais.<br />

c) “Acabareis to<strong>do</strong>s por morrer de conforto” —<br />

caracterizan<strong>do</strong> a defesa intransigente <strong>do</strong> sistema<br />

capitalista e os benefícios materiais que essa<br />

sociedade trazia para o jovem em relação à ameaça<br />

comunista.<br />

d) “Trabalha<strong>do</strong>r: tu tens 25 anos, mas o teu sindicato é<br />

<strong>do</strong> outro século” — caracterizan<strong>do</strong> a crítica que os<br />

jovens faziam ao socialismo real e ao burocratismo<br />

das entidades trabalhistas.<br />

152


e) “A revolução deve ser feitas nos homens, antes de<br />

ser feita nas coisas” — caracterizan<strong>do</strong> o caráter<br />

extremamente individualista, burguês e egoísta <strong>do</strong>s<br />

jovens.<br />

04. A década de 60, <strong>do</strong> século XX, e, especificamente, o<br />

ano de 1968, foi marcada, no <strong>Brasil</strong>, pelo<br />

a) movimento para eleição direta para presidente,<br />

diante da vitoriosa campanha pelas “Diretas Já” e a<br />

oposição mundial aos regimes ditatoriais na América<br />

Latina.<br />

b) processo de “Abertura, Lenta e Gradual” em função<br />

da crise econômica que se estabeleceu no país,o que<br />

provocou a retirada <strong>do</strong> apoio político da classe<br />

trabalha<strong>do</strong>ra ao regime militar.<br />

c) fim <strong>do</strong> movimento guerrilheiro, que, diante das<br />

promessas <strong>do</strong> regime militar, aban<strong>do</strong>nou a luta<br />

armada e aderiu ao jogo parlamentar, a partir da sua<br />

reorganização em diversos parti<strong>do</strong>s políticos.<br />

d) “Milagre Econômico”, que propiciou um grande<br />

crescimento da economia brasileira pauta<strong>do</strong> na<br />

descentralização de renda, na abertura ao capital<br />

estrangeiro e nas privatizações das empresas<br />

estatais.<br />

e) crescimento da crítica ao regime militar e pela<br />

reação <strong>do</strong> governo com a decretação <strong>do</strong> AI-5, que<br />

colocou o país no auge da ditadura, desmantelan<strong>do</strong>,<br />

nos anos seguintes, a oposição ao regime.<br />

153


XIV – O BRASIL CONTEMPORÂNEO<br />

Caminhos e descaminhos<br />

A história recente <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> contemporâneo costuma ser<br />

contada a partir da transição democrática, quan<strong>do</strong> a<br />

ditadura militar chegou ao fim e Tancre<strong>do</strong> Neves foi<br />

eleito Indiretamente pelo Colégio Eleitoral, em 15 de<br />

janeiro de 1985. Desde esse momento de retorno da<br />

democracia ao país até a atualidade, muitas mudanças<br />

têm ocorri<strong>do</strong> em vários aspectos da realidade brasileira,<br />

Embora ainda existam muitas permanências, que têm<br />

origem em épocas mais longínquas da história <strong>do</strong> país,<br />

tornou-se lugar--comum afirmar que o <strong>Brasil</strong> já não é o<br />

mesmo.<br />

Em um perío<strong>do</strong> de pouco mais de vinte anos, o pais<br />

vivenciou experiências importantes: crises econômicas;<br />

estabilização da moeda nacional; jogo político<br />

democrático, que, por meio de conflitos, composição e<br />

reorganização de interesses, fortaleceu os mecanismos de<br />

participação <strong>do</strong>s cidadãos brasileiros na política<br />

nacional: inserção de setores sociais, antes<br />

marginaliza<strong>do</strong>s, na vida social e econômica <strong>do</strong> país e<br />

melhoria nos índices socioeconômicos.<br />

Muitos problemas da sociedade brasileira, contu<strong>do</strong>, ainda<br />

precisam ser supera<strong>do</strong>s: erradicar a miséria de<br />

contingentes significativos da população; aumentar a<br />

frequência de alunos em todas as etapas <strong>do</strong> ensino;<br />

distribuir a riqueza nacional de forma mais justa, com a<br />

correção de desigualdades sociais e regionais; eliminar a<br />

corrupção política e inibir qualquer tipo de preconceito.<br />

São muitas as tarefas a serem conduzidas para que se<br />

possa dizer, com segurança, que o <strong>Brasil</strong> é de to<strong>do</strong>s os<br />

brasileiros.<br />

A nova república<br />

A transição democrática<br />

O governo militar preparava o retorno à democracia de<br />

mo<strong>do</strong> “lento, gradual e progressivo”, com a realização de<br />

eleições indiretas para presidente.<br />

O escolhi<strong>do</strong> para ocupar o cargo, o político mineiro<br />

Tancre<strong>do</strong> Nevas, faleceu antes mesmo de ser empossa<strong>do</strong>,<br />

no dia 21 de abril de 1965. O vice-presidente José Sarney<br />

assumiu o poder como o 35º presidente <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e<br />

governou o país de 15 de março de 1865 até 15 de março<br />

de 1990.<br />

A emblemática imagem <strong>do</strong> presidente João Figueire<strong>do</strong><br />

sain<strong>do</strong> pelas portas <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto,<br />

sem entregar a feixe presidencial a José Sarney, mostrava<br />

o melancólico fim <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> ditatorial. Indicava,<br />

também, o inicio de outra fase na história da república<br />

brasileira, marcada pelo processo de redemocratização da<br />

sociedade e designada, desde logo, como Nova<br />

República.<br />

O governo Sarney<br />

José Sarney tomou medidas que pareciam acenar para a<br />

resolução de importantes problemas sociais como a<br />

questão agrária. Em junho de 1885,foi anuncia<strong>do</strong> o Plano<br />

Nacional de Reforma Agrária, que propunha a<br />

distribuição de cerca de 130 milhões de hectare de terra a<br />

aproximadamente 1,5 milhão de famílias. Sem bases<br />

políticas para sua efetivação, entretanto, o plano só foi<br />

aprova<strong>do</strong> por decreto em outubro. Da proposta inicial,<br />

pouco restava.<br />

Os conflitos de terra cresceram especialmente nas<br />

regiões Centro-Oeste e Norte <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Chico Mendes,<br />

morto em dezembro de 1868, foi uma de suas vítimas.<br />

Mandantes e assassinos permanecerem impunes na<br />

maioria das ocasiões. Casos como o de Dorothy Stang,<br />

missionária morta em fevereiro de 2005, evidenciam a<br />

violência presente nas regiões rurais <strong>do</strong> país ainda nos<br />

dias de hoje.<br />

Ao longo <strong>do</strong> mandato de Sarney, e instabilidade da<br />

moeda brasileira e os índices inflacionários preocupavam<br />

os analistas. Para solucionar esses problemas, forem<br />

cria<strong>do</strong>s e a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s alguns pianos econômicos. O<br />

primeiro deles, o Plano Cruza<strong>do</strong>, elabora<strong>do</strong> pelo então<br />

ministro da Fazenda, o empresário paulista Dilson<br />

Funaro, entrou em vigor em fevereiro de 1886 e previa a<br />

implantação de uma série de medidas (<strong>do</strong>c. 2).<br />

154


Plano Cruza<strong>do</strong><br />

● Reforma monetária: substituição <strong>do</strong> cruzeiro pelo<br />

cruza<strong>do</strong>, com corte de três zeros.<br />

● Congelamento de preços: por prazo indetermina<strong>do</strong>.<br />

● Congelamento de aluguéis e hipotecas: váli<strong>do</strong> por um<br />

ano.<br />

● Controle salarial: reajuste <strong>do</strong>s salários pelo valor médio<br />

<strong>do</strong>s últimos seis meses mais abono de 8%, preven<strong>do</strong>-se a<br />

partir a partir daí o seu surgimento.<br />

● Reajustes salariais: automáticos sempre que a inflação<br />

atingisse 20%, receben<strong>do</strong> esse dispositivo o nome de<br />

gatilho salarial.<br />

● Salário mínimo: aumento de 15%.<br />

● Estabelecimento <strong>do</strong> seguro-desemprego<br />

Fonte:Portal <strong>do</strong> Ministério da Fazenda 200 anos. Disponível em<br />

htpp//200anos.gov.br.Acesso em 15 set. 2010.<br />

Sucessão de planos econômicos<br />

O piano foi bem recebi<strong>do</strong> pelos brasileiros,<br />

especialmente os <strong>do</strong>s setores sociais médios. A<br />

população, convocada a ser “fiscal <strong>do</strong> Sarney”, passou a<br />

controlar os preços com a lista de produtos tabela<strong>do</strong>s<br />

pelo governo. Após o primeiro mês de aplicação <strong>do</strong><br />

choque econômico, a inflação mostrou-se negativa, o<br />

consumo cresceu rapidamente e as famílias brasileiras<br />

conseguiram planejar gastos, Inclusive com alimentação.<br />

Alguns produtos, porém, só podiam ser consegui<strong>do</strong>s com<br />

pagamento de taxa adicional sobre o seu preço (o<br />

“ágio”), caso, por exemplo, de automóveis e de gêneros<br />

alimentícios como a carne. Produtores e Intermediários,<br />

diante de lucros menores, deixaram de abastecer a<br />

população, e muitos produtos ficarem escassos ou<br />

desapareceram <strong>do</strong>s estabelecimentos comerciais.<br />

Em julho, o Plano Cruza<strong>do</strong> já perecia destina<strong>do</strong> ao<br />

fracasso, e o governo lançou um pacote coma Intenção<br />

de reprimir o consumo e incrementar investimentos e<br />

produção, buscan<strong>do</strong> acor<strong>do</strong>s com produtores e chegan<strong>do</strong><br />

mesmo a confiscar bois de cria<strong>do</strong>res de ga<strong>do</strong>. Depois das<br />

eleições, em novembro de 1888, e <strong>do</strong>s ótimos resulta<strong>do</strong>s<br />

eleitorais <strong>do</strong> PMDB, parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> presidente, o Plano<br />

Cruza<strong>do</strong> chegou ao fim.<br />

Os outros <strong>do</strong>is planos econômicos <strong>do</strong> governo Sarney,<br />

Bresser (1987) e Verão (1989), também não obtiveram<br />

sucesso. A inflação quadruplicou entre 1985 e 1988,<br />

atingin<strong>do</strong> o patamar da 1.000% ao ano.<br />

No término das votações da Constituinte, no Congresso Nacional.<br />

A Constituição cidadã<br />

Em 1987, elegeram-se congressistas que iriam compor a<br />

Assembleia Nacional Constituinte, cuja função era<br />

elaborar a Constituição brasileira da nova era<br />

democrática. A redação de um novo conjunto de normas<br />

que deveriam reger o <strong>Brasil</strong> completaria o processo de<br />

redemocratização, Vários problemas elementares e<br />

graves deveriam ser enfrenta<strong>do</strong>s: questões referentes à<br />

propriedade da terra, pagamento de salários dignas aos<br />

trabalha<strong>do</strong>res, liberdade e justiça para to<strong>do</strong>s, moradia<br />

própria, ensino, saúde e alimentação.<br />

A Constituição de 1988<br />

A Constituinte contou com amplo apoio popular e<br />

enorme participação de diferentes setores sociais, o que<br />

resultou na elaboração da mais democrática. Constituição<br />

brasileira, alcunhada de “cidadã” por Ulysses Guimarães,<br />

presidente da Assembleia Nacional Constituinte (<strong>do</strong>c. 3).<br />

Os especialistas em direito constitucional caracterizam a<br />

Constituição brasileira como escrita, promulgada, rígida,<br />

analítica e <strong>do</strong>gmática, Escrita, porque é um texto único;<br />

promulgada, por ter si<strong>do</strong> elaborada por um poder<br />

democraticamente eleito; rígida, por exigir um processo<br />

legislativo mala elabora<strong>do</strong> para ser alterada; analítica,<br />

porque descreve pormenorizadamente todas as normas<br />

estatais e to<strong>do</strong>s os direitos e garantias defendi<strong>do</strong>s por ela;<br />

finalmente, <strong>do</strong>gmática, por ser a sistematização das<br />

principais teorias políticas e <strong>do</strong> direito vigentes no<br />

perío<strong>do</strong>.<br />

A promulgação da Constituição, em 5 de outubro de<br />

1988, representou o fortalecimento das Instituições<br />

democráticas brasileiras, Apesar das mais de sessenta<br />

emendas constitucionais agregadas à Carta Magna até<br />

2010, ela não foi descaracterizada em sua essência.<br />

155


156<br />

O POVO NAS URNAS: ELEIÇÕES DIRETAS<br />

PARA PRESIDENTE<br />

A eleição de Fernan<strong>do</strong> Collor<br />

Como previa o novo texto constitucional, em 1869<br />

ocorreram eleições diretas para presidente. Muitos<br />

brasileiros escolheriam pela primeira vez em suas vidas<br />

um presidente para o país. No segun<strong>do</strong> turno, o candidato<br />

Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello obteve 53% <strong>do</strong>s votos,<br />

derrotan<strong>do</strong> Luiz Inácio Lula da Silva.<br />

Imediatamente após sua posse como presidente em 1990,<br />

Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello en<strong>do</strong>ssou um novo pacote de<br />

medidas econômicas. Em 16 de março, a ministra da<br />

Economia, Zélia Car<strong>do</strong>so de Mello, noticiava pelos<br />

meios de comunicação o maior choque econômico já<br />

experimenta<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong>. A partir daquela data, por<br />

dezoito meses, ficaram congela<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong>s 5<br />

trilhões de cruza<strong>do</strong>s que circulavam no pais, e foram<br />

bloquea<strong>do</strong>s os investimentos, a poupança e as contes<br />

correntes de cerca de 60 milhões de brasileiros.<br />

Ainda que perplexa, a maioria da população brasileira<br />

deu inicialmente seu voto de confiança a Collor, na<br />

esperança de que a economia brasileira conseguisse<br />

equilibrar-se. Embora a inflação realmente caísse nos<br />

primeiros meses <strong>do</strong> novo governo, inúmeros problemas<br />

continuavam a rondar a vida <strong>do</strong>s brasileiros, Apesar <strong>do</strong><br />

confisco de suas economias e da suspensão de seus<br />

projetos particulares, as questões econômicas<br />

fundamentais <strong>do</strong> país não foram resolvidas. Com as<br />

medidas, negócios foram desfeitos, empresas ficaram<br />

sem caixa, e o comércio se ressentiu da falte de dinheiro.<br />

Ao la<strong>do</strong> de seu radical plano econômico, o governo<br />

Collor, ten<strong>do</strong> em vista a modernização da economia<br />

nacional, abriu o merca<strong>do</strong> brasileiro ao comércio<br />

Internacional e permitiu e entrada <strong>do</strong> capital externo no<br />

país de forma quase irrestrita e bastante liberal. A ampla<br />

abertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro rompeu com a política de<br />

reserva de merca<strong>do</strong>, a<strong>do</strong>tada por governos anteriores, que<br />

visava proteger o empresaria<strong>do</strong> <strong>do</strong> poder das empresas<br />

estrangeiras, as transnacionais.<br />

Como aspectos negativos da abertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

brasileiro podem ser destaca<strong>do</strong>s a inibição da competição<br />

interna <strong>do</strong> investimento tecnológico e o fechamento de<br />

muitas empresas nacionais ou sua absorção pelas<br />

transnacionais, que entravam livremente no país. Em<br />

termos de propostas econômicas <strong>do</strong> governo Collor, deve<br />

ser lembra<strong>do</strong> também o inicio da privatização das<br />

empresas estatais, processo polêmico que gerou debate<br />

intenso entre parti<strong>do</strong>s políticos de diferentes posições<br />

ideológicas.<br />

A crise politica e a renúncia de Collor<br />

No perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1991 e 1922, os<br />

desman<strong>do</strong>s, os escândalos envolven<strong>do</strong> despesas públicas<br />

suntuosas e desnecessárias e as denúncias de corrupção<br />

administrativa não paravam de crescer.<br />

Revelações feitas à imprensa pelo irmão <strong>do</strong> presidente,<br />

Pedro Collor, em 27 de maio de 1992, agravaram a crise<br />

e levaram às ruas milhares de manifestantes que pediam<br />

o Impeachment <strong>do</strong> governante (<strong>do</strong>c. 2). A imprensa e<br />

uma Comissão Parlamentar de Inquérito [CPI]<br />

conseguiram revelar, pelo menos parcialmente, o amplo<br />

esquema de fraudes, comanda<strong>do</strong>, principalmente, por<br />

Paulo Cesar Farias — o PC, ex-tesoureiro da campanha<br />

presidencial de Collor—, além de desvio das verbas,<br />

propinas e apropriação indevida e criminosa de dinheiro<br />

público pelos ocupantes <strong>do</strong> poder.<br />

"CARAS PINTADAS"<br />

Sem outra saída política, Collor afastou-se <strong>do</strong> poder no<br />

dia 2 de outubro, teve seu impeachment aprova<strong>do</strong> pela<br />

Câmara e, antes que o Sena<strong>do</strong> julgasse definitivamente o<br />

seu caso, renunciou ao poder no dia 29 de dezembro de<br />

1992. Como punição, teve seus direitos políticos<br />

casea<strong>do</strong>s por oito anos. Seu vice, Itamar Franco, que<br />

havia assumi<strong>do</strong> o poder em outubro, passou a governar<br />

oficialmente o <strong>Brasil</strong>.<br />

O governo Itamar Franco<br />

Diante de uma nação traumatizada pela recente crise<br />

governamental e pelo insucesso <strong>do</strong>s planos econômicos<br />

coloca<strong>do</strong>s em prática desde 1985, a gestão de Itamar<br />

Franco mostrou-se moderada politicamente, mas<br />

determinada a resolver os problemas nacionais mais<br />

graves. Em maio de 1993, o sena<strong>do</strong>r por São Paulo e<br />

sociólogo, Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, assumiu o<br />

Ministério da Fazenda. Fernan<strong>do</strong> Henrique tinha por<br />

objetivo controlar a inflação e criar condições para um<br />

desenvolvimento econômico equilibra<strong>do</strong> e continuo.


O Plano Real<br />

Cercan<strong>do</strong>-se de uma equipe de economistas afina<strong>do</strong>s<br />

com propostas de desestatização da economia, corte de<br />

gastos públicos e renegociação da divida externa com os<br />

bancos cre<strong>do</strong>res, FHC, como passaria a ser chama<strong>do</strong>,<br />

preparou o caminho para um novo plano econômico, o<br />

Plano Real, que teve início entre maio e junho de 1993.0<br />

novo plano criou a Unidade Real de Valor (URV), um<br />

indexa<strong>do</strong>r de contratos, preços e salários que deveria<br />

acompanhar as flutuações <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> até que pudesse<br />

ser fixa<strong>do</strong>, para transformar-se em uma nova moeda, o<br />

real.<br />

Embora a moeda continuasse a ser o cruzeiro-real, a<br />

URV, uma espécie de moeda virtual, era o que alinhava<br />

os preços da economia.<br />

Em 1º de julho de 19914, foi lança<strong>do</strong> o novo padrão<br />

monetário brasileiro, o real. A unidade da nova moeda,<br />

R$ 1,00 lastreada nas reservas monetárias internacionais<br />

<strong>do</strong> país, equivalia a US$ 1,00. Embora tenha da<strong>do</strong> a<br />

partida para a montagem <strong>do</strong> Plano Real, Fernan<strong>do</strong><br />

Henrique já não era ministro da Fazenda no momento em<br />

que o real se estabeleceu.<br />

O novo plano aplica<strong>do</strong> à economia nacional revelou--se<br />

um sucesso e inflação caiu, os salários recuperaram o seu<br />

poder de compra e o merca<strong>do</strong> se aqueceu, com vendas<br />

expressivas, especialmente de bens de consumo. Por<br />

causa <strong>do</strong> êxito econômico, Itamar Franco pôde assegurar<br />

uma das mais tranquilas sucessões presidenciais da<br />

história republicana <strong>do</strong> país.<br />

Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, membro <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> da<br />

Socialdemocracia <strong>Brasil</strong>eira (PSDB), foi eleito<br />

presidente em 2 de outubro de 1994, derrotan<strong>do</strong> Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (PT).<br />

O PSDB, dissidência política <strong>do</strong> PMDB, foi funda<strong>do</strong> em<br />

1988 e coligou-se ao Parti<strong>do</strong> da Frente Liberal (PFL)<br />

para viabilizar a candidatura de FHC, que governou o<br />

<strong>Brasil</strong> durante os oito anos seguintes.<br />

Impeachment<br />

Renúncia de Collor<br />

Processo político criminal instala<strong>do</strong> por denúncia no<br />

congresso, Assembleias Legislativas Estaduais ou<br />

Câmaras de verea<strong>do</strong>res para apurar responsabilidade, por<br />

delito grave a má conduta no exercício de suas funções,<br />

<strong>do</strong> presidente de República, ministros <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal, funcionários de alto escalão, governa<strong>do</strong>res e<br />

prefeitos, poden<strong>do</strong> resultar na destituição <strong>do</strong> cargo, se<br />

comprovada a denúncia<br />

QUESTOES:<br />

1. Cite aspectos positivos e negativos da política<br />

econômica De Collor.<br />

2. Como os estudantes estão caracteriza<strong>do</strong>s na imagem?<br />

Contra quem eles se mobilizaram? Explique os Motivos<br />

que os levaram às ruas.<br />

3. Indique o grande êxito econômico <strong>do</strong> governo Itamar<br />

franco e as consequências desse êxito nos dias atuais.<br />

DE FHC A LULA<br />

>> O primeiro mandato de FHC<br />

Com a inflação em baixa acentuada no país, o novo<br />

presidente Iniciou seu governo com a necessária<br />

estabilidade para prosseguir com uma série de reformas<br />

na política econômica nacional, perseguin<strong>do</strong> a meta de<br />

modernização e desenvolvimento econômicos,<br />

No piano Interno, a gestão FHC combateu os contínuos<br />

déficits fiscais e buscou equilíbrio entre as despesas e as<br />

receitas nacionais; para tanto, iniciou um processo de<br />

cortes de despesas governamentais e de aumento <strong>do</strong>s<br />

recursos públicos. Nesse último aspecto, algumas<br />

mudanças foram Importantes: privatização de setores<br />

econômicos básicos — Elétrico, químico, metalúrgico,<br />

siderúrgico, transporte ferroviário e telecomunicações;<br />

reforma da previdência, que impôs novas regras tanto<br />

para a aposenta<strong>do</strong>ria pública quanto para a privada.<br />

No plano externo, Fernan<strong>do</strong> Henrique retomou o<br />

processo, inicia<strong>do</strong> por Collor, de abertura <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> à<br />

economia internacional, de forma a situar o país,<br />

favoravelmente, no capitalismo globaliza<strong>do</strong>. De mo<strong>do</strong> a<br />

garantir o equilíbrio das contas públicas e honrar o<br />

pagamento <strong>do</strong>s juros da divide externa, o governo FHC<br />

coibiu o aumento <strong>do</strong> consumo, elevan<strong>do</strong> as taxas de<br />

juros.<br />

Como resulta<strong>do</strong> dessa ação, tanto a dívida externa quanto<br />

a dívida interna cresceram significativamente. Assim,<br />

embora e moeda continuasse estável e mantivesse seu<br />

poder de compra, a euforia econômica inicial da gestão<br />

FHC deu lugar à recessão.<br />

157


A elevação <strong>do</strong>s juros teve outros efeitos recessivos<br />

marcantes: diminuição de investimentos produtivos,<br />

especulação financeira e ampliação <strong>do</strong>s níveis de<br />

desemprego. Embora a classe média brasileira tenha si<strong>do</strong><br />

afetada negativamente pelos reajustes <strong>do</strong> Plano Real, e<br />

sua renda tenha si<strong>do</strong> claramente reduzida, houve uma<br />

melhoria geral das condições de vida <strong>do</strong>s brasileiros<br />

durante o primeiro mandato de Fernan<strong>do</strong> Henrique. Com<br />

o controle da Inflação, 8 milhões de pessoas teriam saí<strong>do</strong><br />

de linha de pobreza e teriam ti<strong>do</strong> acesso a bens básicos<br />

de consumo.<br />

“- Ei, moço!? Tem um troca<strong>do</strong>?”, charge de Angeli, publicada em FHC, uma<br />

biografia não autorizada. São Paulo: Ensaio, 1995, contracapa.<br />

Melhorias em diversas áreas<br />

A miséria persistiu no <strong>Brasil</strong>, haven<strong>do</strong> a permanência de<br />

inúmeros problemas sociais. Contu<strong>do</strong>, inúmeros<br />

indica<strong>do</strong>res sociais <strong>do</strong> país melhoraram, como o aumento<br />

<strong>do</strong> número de crianças em idade escolar frequentan<strong>do</strong> o<br />

sistema educacional e a diminuição <strong>do</strong> analfabetismo e<br />

da mortalidade infantil em níveis nacionais. A economia<br />

brasileira passou a figurar entre as dez mais fortes<br />

economias mundiais, haven<strong>do</strong>, em decorrência,<br />

expressivos índices de melhora no padrão de vida das<br />

camadas populacionais mais pobres. No campo<br />

diplomático, o <strong>Brasil</strong> firmava-se como líder na política<br />

regional latino-americana, mostran<strong>do</strong> autonomia em face<br />

da política comercial <strong>do</strong>s países ricos.<br />

Na vida política, porém, as inúmeras crises e escândalos<br />

político-financeiros comprometeram irremediavelmente<br />

o governo. Os episódios mais rui<strong>do</strong>sos foram a quebra <strong>do</strong><br />

sigilo <strong>do</strong> painel eletrônico <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> e os desvios de<br />

verbas em órgãos públicos extintos, como a<br />

Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia<br />

(Sudam). Como consequência, <strong>do</strong>is presidentes <strong>do</strong><br />

Sena<strong>do</strong>, Antônio Carlos Magalhaes (PFL-BA) a Jader<br />

Barbalho (PMDB-PA), foram cassa<strong>do</strong>s.<br />

FHC não conseguiu fazer seu sucessor nas eleições<br />

presidenciais de 2002 em consequência das crises<br />

políticas, da recessão e <strong>do</strong>s vários escândalos ocorri<strong>do</strong>s<br />

em seu governo, Luiz Inácio Lula da Silva, derrota<strong>do</strong> em<br />

três sucessivas eleições (1809,19914,1998), finalmente<br />

foi eleito presidente <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, toman<strong>do</strong> posse em 12 de<br />

janeiro de 2003.<br />

158<br />

>>A reeleição de FHC<br />

No dia 4 de junho de 1997, foi promulgada a emenda<br />

constitucional que permitia aos ocupantes de cargos<br />

executivos concorrer a um segun<strong>do</strong> mandato, Essa<br />

polémica mudança na Constituição permitiu que<br />

Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so se candidatasse a um<br />

segun<strong>do</strong> mandato presidencial.<br />

Fernan<strong>do</strong> Henrique derrotou Luiz Inácio Lula da Silva<br />

no primeiro turno eleitoral, apesar <strong>do</strong>s altos índices de<br />

desemprego e de miséria social, da crise da saúde pública<br />

e de outros setores, como o educacional, O sucesso <strong>do</strong><br />

Piano Real e a relativa estabilidade econômica <strong>do</strong> país<br />

foram essenciais para a reeleição <strong>do</strong> presidente.<br />

No decorrer de to<strong>do</strong> o seu segun<strong>do</strong> mandato, FHC<br />

buscou manter a estabilidade econômica e controlar a<br />

inflação. Pare a obtenção dessa meta central em sua<br />

política econômica, novos empréstimos foram contraí<strong>do</strong>s<br />

com o FMI e novas práticas recessivas foram efetivadas.<br />

O primeiro mandato presidencial de Lula<br />

Lula e FHC


O PLANO REAL 1994<br />

Com a economia sob controle, o primeiro governo Lula<br />

procurou atacar decididamente o desemprego e a miséria<br />

nacionais, investin<strong>do</strong> pesadamente em uma pauta social<br />

(<strong>do</strong>c. 3). 0 primeiro programa social desenvolvi<strong>do</strong> pelo<br />

governo e lança<strong>do</strong> em 2003 foi o Programa Fome Zero,<br />

inspira<strong>do</strong> nas campanhas contra a fome, lideradas pelo<br />

sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. O Programa<br />

Fome Zero de Lula teve poucos resulta<strong>do</strong>s práticos e<br />

acabou incorpora<strong>do</strong> a outros projetos sociais, como o<br />

Bolsa Família, também cria<strong>do</strong> em 2003.<br />

O programa Bolsa Família obteve sucesso parcial, pois<br />

conseguiu efetivamente transferir alguma renda <strong>do</strong><br />

governo federal para a população brasileira mais pobre,<br />

especialmente da Região Nordeste, onde se concentra a<br />

metade <strong>do</strong>s segmentos sociais mais miseráveis. Em 2010,<br />

famílias com renda familiar de até RS 140,00 e com<br />

crianças e jovens em idade escolar recebiam por mês<br />

benefícios em dinheiro <strong>do</strong> governo para cada membro<br />

que frequentasse a escola. Famílias com renda de R$<br />

70,00 ou menos também recebiam ajuda,<br />

independentemente da existência de crianças e jovens em<br />

idade escolar.<br />

Alguns analistas e setores da oposição argumentam que o<br />

programa Bolsa Família não erradica a pobreza e<br />

favorece o acomodamento de grande parte da população,<br />

sem inseri-la na dinâmica produtiva da sociedade<br />

brasileira, Além disso, criticam a retirada da palavra<br />

“escola’ <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> programa.<br />

Durante o governo Fernan<strong>do</strong> Henrique, havia um<br />

programa que se chamava Bolsa Escola, que foi<br />

incorpora<strong>do</strong> ao Bolsa Família no governo Lula. Ao fazer<br />

isso, o programa teria perdi<strong>do</strong> sua ênfase na educação,<br />

fican<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por um caráter mais assistencialista.<br />

Denúncias de corrupção<br />

O primeiro mandato de Lula foi marca<strong>do</strong> por uma série<br />

de denúncias de corrupção. Inicialmente, houve o caso<br />

de Wal<strong>do</strong>miro Diniz, acusa<strong>do</strong> de pedir propina a um<br />

bicheiro em nome de seu chefe, José Dirceu, ministro<br />

chefe da Casa Civil. O dinheiro arrecada<strong>do</strong> financiaria<br />

campanhas eleitorais <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ministro. Diniz foi<br />

exonera<strong>do</strong>, mas o nome de José Dirceu ficou sob<br />

suspeita e continuou a ser investiga<strong>do</strong>.<br />

Em seguida, Roberto Jefferson, deputa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong><br />

Trabalhista <strong>Brasil</strong>eiro (PTB). parti<strong>do</strong> da base aliada <strong>do</strong><br />

governo, acusou Jose Dirceu de chefiar um esquema que<br />

veio a ser conheci<strong>do</strong> como “mensalão”. Por meio desse<br />

expediente, parlamentares receberiam dinheiro de<br />

empresas para garantir-lhes contratos públicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

ou de empresas estatais. Em decorrência das denúncias,<br />

José Dirceu foi afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> cargo em 2005, e a ministra<br />

Dilma Rousseff assumiu a chefia da Casa Civil.<br />

159


» O segun<strong>do</strong> mandato presidencial de Lula<br />

A popularidade <strong>do</strong> presidente não foi abalada, apesar <strong>do</strong>s<br />

vários escândalos políticos. Lula foi reeleito em outubro<br />

de 2006, com os votos de 80% <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong> brasileiro.<br />

Seu adversário, Geral<strong>do</strong> Alckmin, era nome conheci<strong>do</strong><br />

apenas no esta<strong>do</strong> de São Paulo, o que permitiu a Lula<br />

vencê-lo facilmente. Em seu discurso de posse, o<br />

presidente Lula avaliou positivamente a economia<br />

brasileira, mas admitiu a permanência de graves<br />

problemas nacionais.<br />

Logo no início de seu segun<strong>do</strong> mandato, Lula anunciou<br />

um novo plano para estimular o desenvolvimento<br />

econômico brasileiro, o Plano de Aceleração <strong>do</strong><br />

Crescimento (PAC). O PAC, um conjunto de medidas<br />

político-econômicas, tinha como finalidade garantir um<br />

aumento anual de, pelo menos, 5% <strong>do</strong> PIB, entre 2007 e<br />

2010. Para isso, previram-se Investimentos vultosos de<br />

cerca de R$ 500 bilhões, a serem feitos em sua maioria<br />

por empresas e empreendimentos priva<strong>do</strong>s, enquanto a<br />

União contribuiria com cerca de US$ 60 bilhões.<br />

O PAC foi objeto de muita polêmica, pois se questionou<br />

sua aplicação e operacionalidade. Muitos consideraram o<br />

plano de crescimento inviável. Entretanto, em 2007,0<br />

PIB cresceu 5,4%, fican<strong>do</strong> a inflação em ‘4,5%. No<br />

inicio de 2006, o <strong>Brasil</strong> pagou sua divida com o FMI, foi<br />

alça<strong>do</strong> à condição de cre<strong>do</strong>r externo e passou a ser<br />

considera<strong>do</strong> lugar de investimento seguro pelo merca<strong>do</strong><br />

financeiro internacional.<br />

A crise econômico-financeira que a partir de Nova York,<br />

centro <strong>do</strong> capitalismo internacional, abalou as bolsas, os<br />

merca<strong>do</strong>s e o sistema bancário no mun<strong>do</strong> inteiro, no final<br />

de 2007 e nos anos de 2008 e 2009, teve, evidentemente,<br />

efeitos no <strong>Brasil</strong>, mas estes foram administra<strong>do</strong>s<br />

satisfatoriamente pelo governo.<br />

A oposição, mesmo reconhecen<strong>do</strong> os méritos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

mandato presidencial de Lula, questiona o crescimento<br />

da violência, o combate insatisfatório ao tráfico de<br />

drogas, em especial na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, o<br />

encolhimento da classe média, a ausência de uma<br />

reforma tributária significativa, o péssimo desempenho<br />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> nas avaliações internacionais <strong>do</strong> ensino e o<br />

precário serviço de saúde nacional.<br />

O <strong>Brasil</strong> ainda enfrentará muitos desafios: melhorar os<br />

indica<strong>do</strong>res econômicos e sociais, reduzir a<br />

criminalidade urbana, estimular o desenvolvimento<br />

cientifico e tecnológico e criar politicas de fomento à<br />

educação e à cultura <strong>do</strong> país. Espera-se, também, um<br />

tratamento mais responsável em relação à questão<br />

ambiental. Práticas de uso sustentável <strong>do</strong>s recursos<br />

naturais precisam ser incentivadas, bem como politicas<br />

de desenvolvimento que aliem o respeito ao meio<br />

ambiente com a inclusão social (<strong>do</strong>c. 4).<br />

Oba-oba ou pessimismo?<br />

“Desde o Plano Real vêm sen<strong>do</strong> construídas as condições<br />

para um novo surto [de crescimento]. [...] As condições<br />

internas e externas parecem mais favoráveis <strong>do</strong> que<br />

nunca para a decolagem. Há, no entanto, um grande<br />

inimigo da vitória sobre o viralatismo: a invasão <strong>do</strong> obaobismo.<br />

Nada está garanti<strong>do</strong>. O crescimento econômico<br />

pode não deslanchar, a Copa e a Olimpíada podem<br />

fracassar, a abundância de petróleo pode transformar-se<br />

em maldição. Apesar de todas as grandes melhoras<br />

recentes, o país continua sen<strong>do</strong> campeão de<br />

desigualdades, apresenta índices vergonhosos de<br />

escolaridade, instituições pouco confiáveis, cidades<br />

<strong>do</strong>minadas pela violência, depredação da fantástica<br />

natureza. [...] Não haverá milagres. Nem pessimismo<br />

nem euforia Levam a Lugar nenhum.”<br />

CARVALHO, José Murilo de. Nem mito nem realidade. Folha de S,Paulo, 19<br />

out. 2009.<br />

QUESTÕES<br />

1. Caracterize as diretrizes da política econômica <strong>do</strong><br />

governo FHC.<br />

2. Responda que medidas foram a<strong>do</strong>tadas no governo<br />

Lula para combater a miséria e a pobreza e quais foram<br />

as criticas da oposição.<br />

Desafios <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> contemporâneo<br />

Os indígenas no <strong>Brasil</strong> atual<br />

Desde achegada <strong>do</strong>s europeus, no século XVI, os<br />

indígenas vêm sofren<strong>do</strong> um intenso processo de<br />

dizimação e expropriação cultural. Estu<strong>do</strong>s apontam que<br />

nos momentos iniciais da colonização portuguesa<br />

existiam cerca de mil povos indígenas, que constituíam<br />

uma população de 2 a 6 milhões de pessoas.<br />

Hoje, as estimativas <strong>do</strong> total de indígenas <strong>do</strong> país variam<br />

muito. Os índios seriam 270 mil, segun<strong>do</strong> o Instituto<br />

Socioambiental (1994); 306 mil de acor<strong>do</strong> com o IBGE<br />

(1991) ou 325 mil segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da FUNAI —<br />

Fundação Nacional <strong>do</strong> índio (1995), sem contar os<br />

residentes em cidades.<br />

Dos 206 povos indígenas existentes no <strong>Brasil</strong>, 162 estão<br />

na chamada Amazônia Legal, que engloba os atuais<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Amapá,<br />

Rondônia; Mato Grosso, Tocantins e parte <strong>do</strong> Maranhão.<br />

No entanto, a população indígena tem cresci<strong>do</strong> desde as<br />

últimas décadas <strong>do</strong> século XX. Novas etnias, fruto da<br />

160


miscigenação, reivindicam a condição de povos<br />

indígenas, principalmente na Região Nordeste.<br />

Desafios a serem enfrenta<strong>do</strong>s pelos povos<br />

indígenas<br />

Ao longo <strong>do</strong>s últimos quinhentos anos, os indígenas<br />

foram expulsos das terras em que viviam e confina<strong>do</strong>s<br />

em territórios cada vez menores. Para garantir o mo<strong>do</strong> de<br />

vida tradicional e a cultura desses povos, uma série de<br />

medidas vem sen<strong>do</strong> tomadas, como a demarcação das<br />

terras indígenas, ação que visa garantir a posse e o uso da<br />

terra por essas populações.<br />

Até o ano 2000, cerca de 60 milhões de hectares já<br />

haviam si<strong>do</strong> demarca<strong>do</strong>s na Amazônia Legal. A questão<br />

da posse dessas terras, contu<strong>do</strong>, tem posto em confronto<br />

povos indígenas e não índios: grandes empresários e<br />

proprietárias de terra, agricultoras, minera<strong>do</strong>res,<br />

pecuaristas, madeireiras etc., que desrespeitam as<br />

demarcações e ocupam os territórios indígenas, muitas<br />

vezes de mo<strong>do</strong> violento,<br />

Entre as principais demandas <strong>do</strong>s povos indígenas,<br />

atualmente, estão a demarcação de suas terras e a revisão<br />

<strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong> Índio. As comunidades espalhadas pelo<br />

país lutam ainda por muitos direitos: acesso à educação,<br />

à saúde, aos meios de comunicação, alimentação de<br />

qualidade, uso sustentável <strong>do</strong>s recursos <strong>do</strong> meio<br />

ambiente etc.<br />

O Esta<strong>do</strong>, as organizações não governamentais, as<br />

associações indígenas e outras instituições preocupadas<br />

com a situação <strong>do</strong> índio devem buscar conjuntamente<br />

novas perspectivas, ações e praticas diante <strong>do</strong> atual<br />

cenário <strong>do</strong>s grupos indígenas brasileiros [<strong>do</strong>c. 1]. O<br />

Esta<strong>do</strong> brasileiro precisa garantir que os direitos<br />

previstos na lei sejam de fato cumpri<strong>do</strong>s.<br />

Estatuto <strong>do</strong> Índio. Em 1979, a Lei n° 8.001, conhecida<br />

como Estatuto <strong>do</strong> Índio, que regula as relações <strong>do</strong>s povos<br />

indígenas com a sociedade e o Esta<strong>do</strong> brasileiro, foi<br />

redigida. Segunda o Estatuto, por exemplo, os Indígenas<br />

são considera<strong>do</strong>s relativamente capazes, ou seja, são<br />

inimputáveis pelas possíveis contravenções que venham<br />

a cometer.<br />

A afirmação da cultura africana no <strong>Brasil</strong><br />

A população negra capturada na África e obrigada a<br />

trabalhar como escrava no <strong>Brasil</strong> foi, por longo perío<strong>do</strong>,<br />

vista e avaliada unicamente como uma merca<strong>do</strong>ria.<br />

Mesmo com a abolição da escravidão no<br />

<strong>Brasil</strong>. em 1888, os negros brasileiros tiveram uma<br />

cidadania de segunda classe. Em consequência <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> escravo e de ideias provenientes das teorias<br />

racistas <strong>do</strong> século XIX, o menosprezo em relação aos<br />

negros manteve-se até o início <strong>do</strong> século XX.<br />

Esse quadro começou a se modificar com a criação de<br />

movimentos culturais e artísticos como o modernismo,<br />

na década de 1820, e a publicação de obras como Casagrande<br />

& senzala, de 1933, <strong>do</strong> escritor pernambucano<br />

Gilberto Freyre. O polêmico trabalho é considera<strong>do</strong> por<br />

muitos um olhar branco, elitista e paternalista da vida e<br />

da cultura <strong>do</strong>s negros e precursor da controvertida ideias<br />

de que no país teria havi<strong>do</strong> uma “democracia racial”, No<br />

entanto, a obra foi uma das primeiras a valorizar a<br />

cultura africana e atribuir papel de destaque aos negros<br />

na formação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> contemporâneo.<br />

As lutas da população negra no <strong>Brasil</strong><br />

A sociedade e os Esta<strong>do</strong>s brasileiros vêm apoian<strong>do</strong><br />

muitas lutas <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> movimento negro, que tem<br />

como objetivo a reparação de injustiças históricas<br />

cometidas contra a população negra e a valorização da<br />

cultura africana e afro-brasileira.<br />

Um exemplo é a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> sistema de cotas raciais para<br />

o ingresso de estudantes afrodescendentes em<br />

Instituições públicas de ensino. Inicialmente encampada<br />

por instituições de ensino no Rio de Janeiro, no início da<br />

década de 2000, outras universidades rapidamente<br />

seguiram o exemplo da medida e a<strong>do</strong>taram critérios<br />

particulares para a admissão da população negra no<br />

ensino superior. O Esta<strong>do</strong> brasileiro também estabeleceu<br />

resoluções para o estu<strong>do</strong> afirmativo da cultura afrobrasileira<br />

no sistema público nacional de ensino por meio<br />

<strong>do</strong> Conselho Nacional da Educação, que em 2004<br />

instituiu o “Ensino de história e cultura afro-brasileira e<br />

africana” na educação básica.<br />

CULTURA INDÍGENA<br />

161


Ecos culturais e musicais<br />

Na música, os ritmos negros, assim como os de povos<br />

indígenas, misturaram-se aos sons, ritmos a instrumentos<br />

musicais europeus desde o perío<strong>do</strong> colonial, geran<strong>do</strong><br />

uma musicalidade toda particular e ocupan<strong>do</strong> um lugar<br />

central na música popular brasileira contemporânea.<br />

Dos terreiros africanos, os sons da capoeira e <strong>do</strong>s<br />

batuque de negros criaram a partir <strong>do</strong> sáculo XVIII<br />

muitas modalidades musicais e danças como o lundu<br />

(mistura da umbigada <strong>do</strong>s rituais africanos de terreiro e o<br />

fandango ibérico) e o samba, impregnan<strong>do</strong><br />

decisivamente os maxixes, as marchinhas carnavalescas<br />

e as marchas de ranchos (<strong>do</strong>c. 2).<br />

Break é o estilo de dança que faz parte da cultura hip hop. (Foto: Eduar<strong>do</strong><br />

Freire/G1)<br />

162<br />

SAMBA Anita Malfati<br />

Danças e ritmos negros<br />

A partir <strong>do</strong> século XX, compositores negros e mulatos,<br />

como Sinhô, Caninha, João da Gente, Donga, Ismael<br />

Silva, Heitor <strong>do</strong>s Prazeres e muitos outros,<br />

popularizaram e disseminaram o samba nas cidades<br />

brasileiras. O samba, em várias de suas modalidades —<br />

por exemplo, o samba urbano, de raiz (o samba de<br />

parti<strong>do</strong>-alto, o pagode, o samba de roda etc.), o “sambachoro”,<br />

o samba de breque, o samba-canção, tornou-se a<br />

expressão por excelência da música popular brasileira.<br />

Em décadas recentes, o carnaval baiano criou várias<br />

novidades a partir de danças e ritmos musicais negros<br />

(como o deboche, o tititi, a dança <strong>do</strong> pezinho ou <strong>do</strong><br />

macaco). Misturada ao som <strong>do</strong> rock, a música <strong>do</strong>s trios<br />

elétricos, criada na década de 1940, continua presente<br />

nos carnavais atuais, arrastan<strong>do</strong> multidões ás ruas da<br />

Bahia e de to<strong>do</strong> o Nordeste, O rap e o hip-hop<br />

sintonizaram em tempos presentes a musicalidade negra<br />

brasileira à música negra internacional, em particular a<br />

norte-americana, imprimin<strong>do</strong> um teor crítico de protesto<br />

à situação <strong>do</strong> negro e das camadas pobres na atual<br />

sociedade brasileira (<strong>do</strong>c. 3).<br />

Carnaval Salva<strong>do</strong>r<br />

O <strong>Brasil</strong> no mun<strong>do</strong> pós-crise<br />

A grave crise financeira internacional de 2008 e 2009<br />

afetou merca<strong>do</strong>s, bolsas e o sistema bancário e financeiro<br />

de to<strong>do</strong>s os países integra<strong>do</strong>s no atual capitalismo<br />

globaliza<strong>do</strong>. Com o seu fim, governos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro<br />

deram início a um amplo processo de reestruturação das<br />

suas economias, visan<strong>do</strong> combater os efeitos da crise e<br />

prevenir novos colapsos financeiros.<br />

No <strong>Brasil</strong>, a crise chegou tarde, bem depois de setembro<br />

de 2009, e, aparentemente, foi embora ce<strong>do</strong>. Isso só foi<br />

possível pela condição estável da economia brasileira e<br />

da moeda nacional nos últimos quinze anos, ou seja,<br />

desde a implantação <strong>do</strong> Plano Real, em 1994, cujos<br />

ganhos mostram-se bem superiores a eventuais perdas e<br />

problemas, A atuação eficaz <strong>do</strong> governo e <strong>do</strong> Banco<br />

Central brasileiro foi decisiva para o pronto<br />

restabelecimento nacional em um mun<strong>do</strong> que ainda<br />

apresentava graves dificuldades econômicas em 2010,<br />

especialmente os países europeus.<br />

O <strong>Brasil</strong> atravessou o pior perío<strong>do</strong> econômico mundial<br />

<strong>do</strong>s últimos tempos sem maiores problemas internos e<br />

externos. O noticiário econômico, em geral cuida<strong>do</strong>so


em suas afirmações, apresenta--se cada vez mais<br />

otimista: a despeito <strong>do</strong>s temores <strong>do</strong> final <strong>do</strong> ano de 2008<br />

e da ameaça de que o desemprego voltasse a assombrar a<br />

economia, o país já estava em plena recuperação.<br />

Segun<strong>do</strong> Henrique Meirelles, presidente <strong>do</strong> Banco<br />

Central no governo Lula, o <strong>Brasil</strong> tinha em 2010 grande<br />

credibilidade internacional. Com taxa de desemprego de<br />

8%, os salários reais em alta e as commodities<br />

produzidas internamente em ascensão, o <strong>Brasil</strong> tem, para<br />

o futuro próximo, segun<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s Internacionais,<br />

previsão de crescimento, Juntamente a outros países,<br />

também exporta<strong>do</strong>res de produtos básicos, como Canadá<br />

e Austrália, o país deverá enriquecer.<br />

O cenário futuro para o <strong>Brasil</strong><br />

A descoberta <strong>do</strong> pré-sal é mais um elemento para a<br />

previsão de bom desempenho futuro da economia <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> [<strong>do</strong>c. 4). Além das commodities, a indústria<br />

brasileira diversificada e em crescimento mostra-se forte,<br />

apesar das dificuldades experimentadas por alguns de<br />

seus setores.<br />

Tirar proveito dessas riquezas e investir em educação,<br />

tecnologia e infraestrutura são, entretanto, tarefas<br />

imperativas Além disso, sanar disparidades regionais,<br />

equacionar melhor os desequilíbrios sociais e combater<br />

os problemas vivencia<strong>do</strong>s pelas grandes cidades<br />

brasileiras, como a degradação urbana, a violência e a<br />

criminalidade, também são importantes medidas que<br />

devem ser tomadas.<br />

O consenso geral atual é que o <strong>Brasil</strong>, além de líder<br />

político econômico na América <strong>do</strong> Sul, ocupa lugar de<br />

destaque entre as potências globais. A firme disposição<br />

<strong>do</strong> país em defender seus interesses específicos, sem,<br />

contu<strong>do</strong>, entrar em disputas cujos resulta<strong>do</strong>s pouco ou<br />

nada contribuem para a dinâmica politica <strong>do</strong> planeta,<br />

contribui para fortalecer essa imagem (<strong>do</strong>c. 5).<br />

A politica externa brasileira tem si<strong>do</strong> consistente e<br />

equilibrada, o que conte pare o crescimento futuro <strong>do</strong><br />

país. Um bom exemplo dessa postura foi a intervenção o<br />

presidente Lula junto ao governo da Turquia, na delicada<br />

questão de produção de energia nuclear <strong>do</strong> Ira. Apesar<br />

<strong>do</strong>s poucos avanços, o <strong>Brasil</strong> mostrou empenho e<br />

capacidade nas relações internacionais. Assim espera-se<br />

que o imenso potencial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> se materialize no<br />

presente imediato, e que o “pais <strong>do</strong> futuro” seja agora.<br />

A camada pré-sal<br />

“A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende<br />

ao longo de 800 quilômetros entre os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Espirito<br />

Santo e Santa Catarina, abaixo <strong>do</strong> Leito <strong>do</strong> mar, e<br />

engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo,<br />

Campos e Santos). O petróleo encontra<strong>do</strong> nesta área está<br />

a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de<br />

uma extensa camada de sal que, segun<strong>do</strong> geólogos,<br />

conserva a qualidade <strong>do</strong> petróleo (...).<br />

Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos<br />

no pré-sal, entre eles o de Tupi, o principal. [...]<br />

Um comunica<strong>do</strong>, em novembro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> [2009],<br />

de que Tupi tem reservas gigantes, fez com que os olhos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se voltassem para o <strong>Brasil</strong> e ampliassem o<br />

debate acerca da camada pré-sal. À época <strong>do</strong> anúncio, a<br />

ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chegou a dizer que<br />

o <strong>Brasil</strong> tem condições de se tornar exporta<strong>do</strong>r de<br />

petróleo com esse óleo. [...]”<br />

Entenda o que é a camada pré-sal. Disponível em www1.foIhe.uol.corn.br.<br />

Acesso em 30 abr. 2010.<br />

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos.<br />

Uma Politica Externa autônoma<br />

“Como se viu, a história nos revela que tanto o conceito<br />

de desenvolvimento quanto o de autonomia são<br />

socialmente construí<strong>do</strong>s. Seja como for, não há dúvida<br />

que, como ressalta<strong>do</strong> por alguns diplomatas e analistas, a<br />

busca de autonomia continuou sen<strong>do</strong> uma constante da<br />

nossa política externa mesmo que por tal se tenham<br />

definições bastante diferentes — autonomia na<br />

dependência, autonomia pela distância, autonomia pela<br />

participação ou autonomia pela integração. [...] Nota-se<br />

desde o inicio dessa gestão [<strong>do</strong> presidente Lula] uma<br />

tentativa de imprimir uma forte conotação politica aos<br />

rumos da politica externa. Assim, devemos estar atentos<br />

para examinar de que forma a herança deixada pelo<br />

governo FHC será reforçada ou substituída pelas novas<br />

prioridades <strong>do</strong>mésticas agora calcadas num declara<strong>do</strong><br />

projeto de centro-esquerda. Podemos também esperar<br />

que o viés autonomista mais uma vez se articule com o<br />

projeto de desenvolvimento e que, embora por meio de<br />

uma conduta pragmática, desta feita venha associa<strong>do</strong> a<br />

um projeto redistributivo. Um esforço, enfim, de tornar a<br />

politica externa mais um instrumento na busca de<br />

163


autonomia para a implantação de um projeto de<br />

desenvolvimento com justiça social.”<br />

PINHEIRO, Letícia. Política externa brasileira (1889-2002). Rio de Janeiro: Jorge<br />

Zahar, 2004. p. 68.<br />

QUESTÕES<br />

Com relação à atual situação <strong>do</strong> país, responda.<br />

a) Quais são as perspectivas para o futuro <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>?<br />

Quais são os problemas a serem enfrenta<strong>do</strong>s?<br />

b) Explique o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> último parágrafo <strong>do</strong> texto:<br />

“espera-se que o ‘país <strong>do</strong> futuro’ seja agora”. A que ideia<br />

essa frase remete?<br />

TEXTO 1 - A POLÍTICA EXTERNA<br />

INDEPENDENTE: 1961-1964<br />

Nilo Odália<br />

O texto a seguir representa parte de um trabalho <strong>do</strong><br />

professor Nilo Odália, intitula<strong>do</strong> O <strong>Brasil</strong> nas Relações<br />

Internacionais: 1945-1964. Ele foi incluí<strong>do</strong> em uma<br />

coletânea de textos que pro curou analisar a formação<br />

histórica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> em perspectivas diversas. Publicada<br />

pela primeira vez em 1968, essa coletânea foi<br />

denominada <strong>Brasil</strong> em Perspectiva e teve como<br />

organiza<strong>do</strong>r o historia<strong>do</strong>r Carlos Guilherme Mota. Nilo<br />

Odália buscou a compreensão das mudanças que<br />

ocorreram no campo das relações internacionais durante<br />

o perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre o final da Segunda Guerra<br />

Mundial e o golpe de 1964.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• A política externa poderia ser apontada como um <strong>do</strong>s<br />

fatores que propiciaram a eclosão <strong>do</strong> golpe de março de<br />

1964? Justifique.<br />

O perío<strong>do</strong> que se inicia com o final da Segunda Guerra<br />

Mundial e se estende até o movimento arma<strong>do</strong> de 1964<br />

apresenta, no que tange às relações exteriores, grande<br />

interesse. No seu decorrer, percebe-se a lenta maturação<br />

de uma consciência nacional voltada para os problemas<br />

específicos <strong>do</strong> país. (...)<br />

De 1945 a 1955, o elemento característico de nossa<br />

política exterior é sua despersonalização; a longa<br />

permanência da ditadura impossibilitara a formação de<br />

uma opinião pública, cônscia <strong>do</strong>s problemas nacionais e<br />

internacionais da nação; a tutela ditatorial condicionara<br />

integralmente a opinião pública, servin<strong>do</strong>-lhe os pratos<br />

que desejava, de maneira a impedir que a ela chegassem<br />

os fatos que lhe possibilitassem compreender a<br />

verdadeira realidade nacional e como ela se inseria no<br />

cenário internacional. (...)<br />

(A formação de uma opinião pública) começa a ocorrer<br />

no governo de Getúlio Vargas, quan<strong>do</strong> da campanha pela<br />

criação <strong>do</strong> monopólio estatal <strong>do</strong> petróleo. (...) À medida<br />

que o debate se amplia e aprofunda consegue galvanizar<br />

grandes extensões da opinião pública, abrin<strong>do</strong>-lhes novas<br />

perspectivas para a compreensão <strong>do</strong>s problemas<br />

nacionais, O petróleo é apenas um tema em torno <strong>do</strong> qual<br />

se agitam outros problemas de ordem política (formas de<br />

direção da coisa pública, experiência de outros países,<br />

etc.) e econômica (nacionalismo econômico, etc.) que<br />

permitem ao povo sentir pela primeira vez o esta<strong>do</strong> real<br />

de dependência em que se encontra o país em relação às<br />

potências <strong>do</strong>minantes. (...)<br />

A campanha presidencial de Jânio Quadros traz como<br />

novidade não limitar o debate aos problemas internos,<br />

mas tentar, em função destes, reformular nossa<br />

concepção de relações externas. (...) O desenvolvimento<br />

econômico não deveria ser alcança<strong>do</strong>, unilateralmente,<br />

através de um franqueamento abusivo <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

interno aos capitalistas estrangeiros, mas por intermédio<br />

de uma ‘maior participação <strong>do</strong> país no comércio<br />

internacional, melhoran<strong>do</strong> gradativamente os termos de<br />

troca de nossos produtos primários ou industrializa<strong>do</strong>s.<br />

Para tanto, impõe-se ‘uma posição de equidistância <strong>do</strong>s<br />

blocos que se empenham na guerra fria e a clara<br />

consciência de que os problemas <strong>do</strong> país se confundem<br />

com os problemas <strong>do</strong>s países <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>, a<br />

saber: vencer o subdesenvolvimento, através da<br />

industrialização intensiva, valorização <strong>do</strong>s termos de<br />

troca de suas matérias-primas, lutar pelo desarmamento<br />

geral, de maneira a permitir que os capitais libera<strong>do</strong>s da<br />

corrida armamentista possam ser aplica<strong>do</strong>s na luta pelo<br />

desenvolvimento, reconhecer que, ao encampar os<br />

temores de uma guerra atômica, só se está atrelan<strong>do</strong> o<br />

país aos interesses das potências atômicas. (...)<br />

A política externa independente iniciada com o<br />

presidente renunciante adquire consistência e maturidade<br />

nas mãos <strong>do</strong> professor San Thiago Dantas, primeiroministro<br />

das Relações Exteriores, <strong>do</strong> primeiro ministério<br />

parlamentarista, chefia<strong>do</strong> por Tancre<strong>do</strong> Neves.<br />

(...) No prefácio ao livro Política Externa Independente,<br />

assim sintetiza os principais tópicos da política exterior<br />

brasileira:<br />

a) contribuição à preservação da paz, através da política<br />

de coexistência e de apoio ao desarmamento geral e<br />

progressivo;<br />

b) reafirmação e fortalecimento <strong>do</strong>s princípios de não<br />

intervenção e autodeterminação <strong>do</strong>s povos;<br />

164


c) ampliação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> externo brasileiro mediante o<br />

desarmamento tarifário da América Latina e a<br />

intensificação das relações comerciais com to<strong>do</strong>s os<br />

países, inclusive os socialistas;<br />

d) apoio à emancipação <strong>do</strong>s territórios não autônomos<br />

seja qual for a forma jurídica utilizada para a sua<br />

sujeição à metrópole.<br />

A esses quatro pontos fundamentais agrega um quinto<br />

que seria a “política de auto formação <strong>do</strong>s planos de<br />

desenvolvimento econômico e de prestação e aceitação<br />

de ajuda internacional”.<br />

A concretização desses princípios exigia que a política<br />

externa brasileira passasse a ser regida não em<br />

consonância aos interesses de blocos ou de nações<br />

<strong>do</strong>minantes, mas em função <strong>do</strong>s interesses específicos<br />

nacionais, atenden<strong>do</strong> às suas condições e necessidades<br />

internas, O eixo da política externa desloca-se de fora<br />

para dentro (...).<br />

O suporte de tal política foi providencia<strong>do</strong> pelos<br />

acontecimentos que se desenrolaram desde a morte de<br />

Vargas até a ocupação da presidência por João Goulart.<br />

Não estávamos mais na fase de tateios democráticos,<br />

quan<strong>do</strong> as massas se prestavam, <strong>do</strong>cilmente, ao jogo <strong>do</strong>s<br />

tutela<strong>do</strong>res da opinião pública. A lição que ministrara a<br />

redemocratização, expon<strong>do</strong> as verdadeiras e trágicas<br />

condições em que se encontrava o país, servira para que<br />

o homem comum entendesse que não estávamos isola<strong>do</strong>s<br />

no mun<strong>do</strong>; que os nossos interesses nem sempre<br />

coincidiam com os interesses das superpotências, e que,<br />

de maneira mais frequente, eram conflitantes; que nosso<br />

destino não era o de uma sociedade de abundância por<br />

obra e graça das dádivas da natureza, mas que eram<br />

necessários o trabalho e a coesão com os países que<br />

padeciam <strong>do</strong>s mesmos males.<br />

Os acontecimentos mundiais da época puderam submeter<br />

à prova de sinceridade <strong>do</strong>s que defendiam uma posição<br />

nacional de independência. A invasão de Cuba, a<br />

projetada expulsão de Cuba da OEA, na conferência de<br />

Punta del Este, o restabelecimento das relações<br />

diplomáticas com a União Soviética, a atuação da<br />

delegação brasileira na Conferência de Desarmamento de<br />

Genebra, as posições brasileiras assumidas contra toda<br />

forma de colonialismo, dentro da ONU, foram momentos<br />

em que se reafirmaram concretamente os princípios<br />

postula<strong>do</strong>s teoricamente.<br />

ODÁLIA, Nilo. O <strong>Brasil</strong> nas relações internacionais: 1945 1964. : MOTA, Carlos<br />

Guilherme (Org.). <strong>Brasil</strong> em perspectiva. 12. ed. Sao Paulo - Rio de Janeiro:<br />

Difel, 1981. p. 350, 358. 360, 361, 363, 365-7.<br />

TEXTO 2 - ELE FEZ A MARSELHESA E NÃO<br />

SABIA DISSO<br />

Em 1980, a revista IstoÉ publicou uma reportagem sobre<br />

a utilização de uma das canções de Geral<strong>do</strong> Vandré em<br />

uma assembleia de metalúrgicos da região <strong>do</strong> ABC<br />

paulista. A canção era “Caminhan<strong>do</strong>” (nome pelo qual<br />

passou a ser conhecida a canção “Prá não dizer que não<br />

falei de flores”), que havia se torna<strong>do</strong> um símbolo da<br />

resistência aos governos militares. Composta em 1968,<br />

“Caminhan<strong>do</strong>” sobreviveu a to<strong>do</strong>s os atos que tinham<br />

como objetivo fazer com que o público a esquecesse. O<br />

autor da reportagem, Wagner Carelli, assim relacionou<br />

“Caminhan<strong>do</strong>” com o hino revolucionário francês,<br />

composto em 1792, quan<strong>do</strong> se radicalizou a reação<br />

externa contra a<br />

Revolução Francesa de 1789:<br />

“No ABC Caminhan<strong>do</strong> é hoje obrigatório nas<br />

assembleias e reuniões operárias. E a música tem halo de<br />

hino verdadeiro, daquele aprendi<strong>do</strong> sem que ninguém o<br />

ensinasse nas escolas ou fosse obriga<strong>do</strong> a decorá-lo às<br />

vésperas de cerimônias cívico-ufanístico-patrióticas,<br />

Aliás, aprendeu-se sob e apesar de férrea proibição, em<br />

corais improvisa<strong>do</strong>s pelas multidões.”<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Quais passagens da canção poderiam representar, na<br />

concepção da Censura Federal, “ameaças” ao regime<br />

militar? Justifique a sua resposta.<br />

Os opera<strong>do</strong>res de rádio ainda se lembram <strong>do</strong> comunica<strong>do</strong><br />

da Censura Federal — que em algumas emissoras era<br />

coloca<strong>do</strong> em frente ao pick-up — onde se proibia<br />

terminantemente a execução de qualquer música <strong>do</strong><br />

compositor Geral<strong>do</strong> Vandré. Particularmente,<br />

acrescentava “Pra não dizer que não falei de flores”, O<br />

compacto simples com a música fora recolhi<strong>do</strong> logo após<br />

ter si<strong>do</strong> lança<strong>do</strong>, alguns dias depois de ter si<strong>do</strong> cantada a<br />

plenos pulmões no Festival Internacional da Canção, no<br />

Maracanãzinho, em 68. E poucos conseguiram, no<br />

merca<strong>do</strong> negro, uma cópia que se tornaria histórica.<br />

No final <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> (1979), quan<strong>do</strong> ainda sopravam<br />

os ares da chamada “abertura”, as emissoras<br />

experimentaram tocar música — e como ninguém<br />

reclamou, continuaram tocan<strong>do</strong>. As grava<strong>do</strong>ras<br />

começaram a imprimir discos, com Vandré ou outros<br />

cantores, na esperança de colherem novamente os frutos<br />

desse merca<strong>do</strong>. Até que veio um despacho de Brasília,<br />

reconfirman<strong>do</strong> a proibição, ainda nos tempos <strong>do</strong> exministro<br />

Petrônio Portella. O público estranhou, houve<br />

165


166<br />

protestos. E, finalmente, convenceram o ministro a<br />

liberar a canção.<br />

Talvez por causa <strong>do</strong> longo perío<strong>do</strong> de hibernação, a letra<br />

da música não é conhecida em sua totalidade, até mesmo<br />

seu nome modificou-se, passan<strong>do</strong> a ser “Caminhan<strong>do</strong>”.<br />

Para os que ainda desconhecem, a letra original é esta:<br />

(Geral<strong>do</strong> Vandré)<br />

Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção<br />

Somos to<strong>do</strong>s iguais, braços da<strong>do</strong>s ou não.<br />

Nas escolas, nas ruas, campos, construções.<br />

Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />

Vem, vamos embora, que esperar não é saber.<br />

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.<br />

Pelos campos a fome em grandes plantações.<br />

Pelas ruas, marchan<strong>do</strong> indecisos cordões.<br />

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão.<br />

E acreditam nas flores vencen<strong>do</strong> o canhão.<br />

Vem, vamos embora...<br />

Aos solda<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s, ama<strong>do</strong>s ou não.<br />

Quase to<strong>do</strong>s perdi<strong>do</strong>s de armas na mão.<br />

Os quartéis lhes ensinam antigas lições.<br />

De morrer pela pátria e viver sem razão.<br />

Nas escolas, nas ruas, campos, construções.<br />

Somos to<strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s, arma<strong>do</strong>s ou não.<br />

Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />

Os amores na mente, as flores no chão.<br />

A certeza na frente, a história na mão.<br />

Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> e seguin<strong>do</strong> a canção.<br />

Aprenden<strong>do</strong> e ensinan<strong>do</strong> uma nova lição.<br />

Vem, vamos embora...<br />

IstoÉ, São Paulo: Três, p. 80, 30 maio 1980.<br />

TEXTO 3 - CARTA AO MARECHAL ARTHUR DA<br />

COSTA E SILVA<br />

Sobral Pinto<br />

Sobral Pinto é considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores juristas<br />

brasileiros de to<strong>do</strong>s os tempos. Defensor incansável <strong>do</strong>s<br />

direitos humanos e da legalidade, assumiu uma postura<br />

crítica em relação aos governos militares pós-1964,<br />

denuncian<strong>do</strong> atos ilegais em artigos nos jornais,<br />

defenden<strong>do</strong> aqueles que eram enquadra<strong>do</strong>s na Lei de<br />

Segurança Nacional e, até mesmo, envian<strong>do</strong> telegramas e<br />

escreven<strong>do</strong> cartas aos presidentes e ministros de Esta<strong>do</strong>.<br />

Uma de suas cartas mais emocionantes foi a escrita ao<br />

então presidente Costa e Silva, quan<strong>do</strong> da decretação <strong>do</strong><br />

AI-5. O seu conteú<strong>do</strong> reflete to<strong>do</strong> o inconformismo <strong>do</strong><br />

jurista diante da atitude <strong>do</strong> governo, que a partir de então<br />

passou a assumir um maior controle sobre a sociedade<br />

brasileira. Para Sobral Pinto, em 1968 o povo assistiu ao<br />

“golpe dentro <strong>do</strong> golpe”. O AI-5 conferiu poderes<br />

excepcionais ao governo. Para se ter uma idéia <strong>do</strong><br />

alcance <strong>do</strong> ato, o presidente da República poderia, por<br />

exemplo, decretar o recesso <strong>do</strong> Congresso Nacional, que<br />

só voltaria a funcionar por convocação <strong>do</strong> presidente.<br />

Outros aspectos <strong>do</strong> ato são apresenta<strong>do</strong>s pelo jurista em<br />

sua carta.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Qual é o ponto central das críticas <strong>do</strong> jurista<br />

Heráclito Fontoura Sobral Pinto?<br />

Exmo. Sr. Presidente da República, Marechal Arthur da<br />

Costa e Silva.<br />

Cumprimentos devi<strong>do</strong>s à sua alta dignidade e, também, à<br />

sua ilustre pessoa.<br />

Li, em Goiânia, o ATO INSTITUCIONAL Nº5, que V.<br />

Exa., substituin<strong>do</strong>-se indevidamente ao povo brasileiro,<br />

que não conferiu ao Chefe de Esta<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>eiro Poder<br />

Constituinte, baixou para tirar as garantias <strong>do</strong> Poder<br />

Judiciário, proibir a concessão <strong>do</strong> habeas corpus, e tornar<br />

possível a subtração da liberdade de toda e qualquer<br />

pessoa que resida no território nacional, brasileira e<br />

estrangeira.<br />

Através <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> Ato, V. Exa. instituiu, em nossa<br />

Pátria, a ditadura militar, contra a qual ninguém pode, no<br />

momento, lutar eficientemente.<br />

Fui, sou e serei homem <strong>do</strong> Direito, da Lei, da Justiça e da<br />

Ordem. Jamais conspirarei. Lutarei, porém, pela palavra,<br />

verdadeira, enérgica e vibrante, contra a opressão que<br />

desceu sobre a minha Pátria. Palavra franca, leal e<br />

desinteressada, que não quer Poder, posição e qualquer<br />

Dignidade, administrativa e eletiva. Quero, apenas,<br />

Ordem Jurídica decente, digna e respeita<strong>do</strong>ra da<br />

dignidade da pessoa humana, da liberdade individual, e<br />

das liberdades públicas, princípios estes que estão<br />

varri<strong>do</strong>s, presentemente, da minha e da Pátria de V. Exa<br />

(...)<br />

Com efeito, atente V. Exa., com serenidade e isenção de<br />

espírito, para o que fez com o referi<strong>do</strong> ATO<br />

INSTITUCIONAL Nº5: V. Exa., suprimiu, com a<br />

liberdade de opinião, também a garantia da Magistratura<br />

<strong>Brasil</strong>eira. Pouco importa que um cidadão seja honra<strong>do</strong>,<br />

decente e leal. Se ele cair no desagra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s governantes<br />

atuais, por que lhes disse a verdade a que estava<br />

obriga<strong>do</strong>, poderá ir imediatamente para o cárcere, sem<br />

que lhe reste meio e mo<strong>do</strong> de readquirir a sua liberdade.


Nenhum brasileiro, neste instante, pode revelar-se<br />

homem de caráter. Esta revelação provocara nos<br />

militares, que ocupam o Governo <strong>do</strong> País, a vontade de<br />

subtrair a sua liberdade, separan<strong>do</strong>-o da sua família e da<br />

sua profissão.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os Magistra<strong>do</strong>s perderam pelo ATO<br />

INSTITUCIONAL Nº 5, todas as suas garantias, o que<br />

lhes impedirá de dar qualquer garantia aos seus<br />

concidadãos, lesa<strong>do</strong>s nos seus direitos fundamentais. O<br />

Magistra<strong>do</strong>, que assiste a prisão de um concidadão<br />

decente e digno, ficará diante deste dilema, quan<strong>do</strong><br />

provoca<strong>do</strong> por um requerimento deste cidadão, que não<br />

aceita, em silêncio, a subtração injusta da sua liberdade:<br />

ou obedece às imposições de sua consciência, declaran<strong>do</strong><br />

que a prisão é injusta, mas que não a pode mudar, pela<br />

suspensão da medida <strong>do</strong> habeas corpus, e, neste caso,<br />

será demiti<strong>do</strong> ou aposenta<strong>do</strong>; ou para não perder o lugar<br />

que conquistou por concurso ou por suas virtudes<br />

excepcionais de cultura e honradez, terá de cruzar os<br />

braços diante da injustiça que está assistin<strong>do</strong>.<br />

É evidente, Sr. Presidente, que o ATO<br />

INSTITUCIONAL Nº 5, com as determinações nele<br />

contidas, é um Ato governamental que mesmo realiza e<br />

quebra o caráter <strong>do</strong> homem brasileiro, principalmente o<br />

<strong>do</strong>s Magistra<strong>do</strong>s. Se este Ato permanecer no nosso<br />

Direito, ninguém, nesta amargurada Pátria, ousara<br />

contrariar a deliberação e a vontade <strong>do</strong>s militares das<br />

nossas Forças Armadas e as de V. Exa. Porque estará,<br />

com a sua resistência, abrin<strong>do</strong> o caminho que o levará<br />

para o cárcere, sem que a Magistratura possa restituir-lhe<br />

a liberdade.<br />

Sou, Sr. Presidente, uma das vítimas <strong>do</strong> ATO<br />

INSTITUCIONAL Nº 5. A Polícia Federal de Goiás,<br />

invocan<strong>do</strong> o nome de V. Exa., deu-me ordem de prisão,<br />

ordem que não acatei, declaran<strong>do</strong> que nem V. Exa., nem<br />

ninguém neste País, é <strong>do</strong>no da minha pessoa e da minha<br />

liberdade. Nada fizera para esta perder. Recusava<br />

altivamente acatar ordem tão absurda e ilegal. Mal<br />

pronunciei estas palavras, quatro homens, de compleição<br />

gigantesca, lançaram-se sobre mim, como vespas sobre<br />

carniça, imobilizan<strong>do</strong>-me os braços e apertan<strong>do</strong>-me o<br />

ventre, pelas costas. Em seguida, empurraram-me, como<br />

um autômato, <strong>do</strong> quarto ao eleva<strong>do</strong>r, onde me<br />

empurraram. Deste até o cano, que se encontrava à porta<br />

<strong>do</strong> Hotel, fizeram idêntica manobra. Coloca<strong>do</strong> no carro,<br />

de manga de camisa, como me encontrava no quarto,<br />

conduziram-me a um Batalhão que fica nos arre<strong>do</strong>res de<br />

Goiânia. Neste permaneci durante uma hora, mais ou<br />

menos, depois de um atrito com o Comandante da<br />

Unidade, que tentara desrespeitar-me, sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> ao<br />

Quartel da Polícia <strong>do</strong> Exército, em Brasília, onde fiquei<br />

três dias, respeita<strong>do</strong> pela Oficialidade dessa Unidade,<br />

desde o Coronel-Comandante até o mais modesto <strong>do</strong>s<br />

Tenentes. (...)<br />

Os afazeres profissionais não me dão lazer para<br />

prosseguir na crítica ao ATO INSTITUCIONAL Nº 5.<br />

Oportunamente voltarei à presença de V. Exa., para<br />

formular novas críticas em <strong>do</strong>cumento que, como este,<br />

não é de natureza privada, uma vez que me reservo o<br />

direito de divulgá-lo pelos meios ao meu alcance. Tal<br />

divulgação é uma faculdade, que me é assegurada pela<br />

Declaração Americana <strong>do</strong>s Direitos e Deveres<br />

Fundamentais <strong>do</strong> Homem, promulgada em Bogotá, e<br />

pela Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos Humanos,<br />

promulgada pela ONU, em Paris. Divulgan<strong>do</strong> estas<br />

palavras, severas, mas respeitosas, estou unicamente a<br />

cumprir dever inerente à minha condição de membro da<br />

Família humana.<br />

Queira receber, Sr. Presidente, as homenagens leais e<br />

sinceras <strong>do</strong> seu modesto concidadão e humilde servi<strong>do</strong>r.<br />

H. sobra Pinto Rio, 21 de dezembro de 1968. SOBRAL PINTO, Heráclito<br />

Fontoura. Lições de Liberdade. 2. ed. Belo Horizonte: Editora<br />

Comunicação/universidade Católica de Minas Gerais, 1978. p. 130-135.<br />

TEXTO 4 - CARTA À REPÚBLICA<br />

Milton Nascimento e Fernan<strong>do</strong> Brant<br />

A canção “Coração de Estudante” foi composta por<br />

Wagner Tiso e Milton Nascimento para o filme Jango, de<br />

Sílvio Tendler. E a praticamente se tornou o hino da<br />

campanha pelas eleições diretas (Diretas Já) durante o<br />

ano de 1984. Milton Nascimento, assim como vários<br />

outros artistas, participou ativamente da campanha, até<br />

mesmo subin<strong>do</strong> aos palanques.<br />

A mobilização popular foi muito grande e vivia-se uma<br />

época de grandes esperanças. Com a morte de Tancre<strong>do</strong><br />

Neves, a canção foi exaustivamente utilizada pelas<br />

emissoras de rádio e televisão como fun<strong>do</strong> musical para<br />

as cerimônias fúnebres. Com isso, “Coração de<br />

Estudante” se transformou no hino da chamada “Nova<br />

República” apesar da oposição <strong>do</strong>s autores, como<br />

revelou posteriormente Wagner Tiso.<br />

No plano político, ocorreram grandes transformações,<br />

mas no socioeconômico não houve uma ruptura, um<br />

corte, e sim uma continuidade. Os grandes problemas<br />

brasileiros, como a dívida externa, a concentração de<br />

renda e a concentração fundiária, persistiram, enquanto<br />

alguns grupos se beneficiaram enormemente das<br />

“mudanças” ocorridas. A resposta de Milton Nascimento<br />

veio em 1987, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> lançamento <strong>do</strong> disco<br />

“Yauareté”. A canção “Carta à República” revelou a<br />

167


168<br />

frustração de muitos daqueles que lutaram por amplas<br />

mudanças e que não as viram, de fato, se realizar.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Quais são os aspectos positivos e negativos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

de transição para a democracia apresenta<strong>do</strong>s pelos<br />

autores?<br />

CARTA À REPÚBLICA<br />

(Milton Nascimento — Fernan<strong>do</strong> Brant)<br />

Sim, é verdade, a vida é mais livre<br />

O me<strong>do</strong> já não convive nas casas, nos bares,<br />

nas ruas<br />

com o povo daqui<br />

E até dá pra pensar no futuro<br />

E ver nossos filhos crescen<strong>do</strong> sorrin<strong>do</strong><br />

mas eu não posso esconder a amargura<br />

ao ver que o sonho anda pra trás<br />

e a mentira voltou<br />

ou será mesmo que não nos deixara?<br />

a esperança que a gente carrega<br />

É um sorvete em pleno sol<br />

o que fizeram da nossa fé?<br />

eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi<br />

eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri<br />

eu saí para sonhar meu País<br />

e foi tão bom, não estava sozinho<br />

a praça era alegria sadia<br />

o povo era senhor<br />

e só uma voz, numa só canção<br />

e foi por ter posto a mão no futuro<br />

que no presente preciso ser duro<br />

que eu não posso me acomodar<br />

quero um País melhor.<br />

NASCIMENTO, Milton; BRANT, Fernan<strong>do</strong>. Yauoretê. Milton Nascimento. São<br />

Pauto: CBS, 1987, 1 CD.<br />

TEXTO 5 - DESGOVERNABILIDADE<br />

O governo Collor foi assinala<strong>do</strong> por uma séria crise<br />

política, a partir das denúncias formuladas por seu irmão<br />

sobre o envolvimento <strong>do</strong> presidente como empresário<br />

Paulo César Farias, o “PC”. Na investigação levada a<br />

efeito pelo Congresso Nacional, ficaram comprova<strong>do</strong>s o<br />

envolvimento e a corrupção que grassava no Palácio <strong>do</strong><br />

Planalto, Isso levou à abertura de um processo de<br />

impeachment <strong>do</strong> presidente.<br />

Eleito sob o “signo da modernidade” e a partir das<br />

promessas de proteção aos “descamisa<strong>do</strong>s” e <strong>do</strong> combate<br />

aos “marajás” Collor conseguiu frustar a população, pois,<br />

nos quase mil dias em que ficou no poder, não apenas<br />

não realizou nada <strong>do</strong> que fora prometi<strong>do</strong>, como ainda<br />

conseguiu piorar as condições de vida <strong>do</strong>s mais pobres.<br />

O texto a seguir, extraí<strong>do</strong> de um editorial da revista<br />

IstoÉ, analisou o perío<strong>do</strong> Collor, fornecen<strong>do</strong> subsídios<br />

para uma compreensão de seu governo.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Qual o significa<strong>do</strong> da última frase <strong>do</strong> texto?<br />

Às vezes, tem-se a impressão de que este governo,<br />

prematuramente no ocaso, não tem política alguma. Nós<br />

to<strong>do</strong>s cultivamos a certeza de que o <strong>Brasil</strong> é um país<br />

perfeitamente governável, embora tenha si<strong>do</strong><br />

desgoverna<strong>do</strong>. De fato, a governabilidade, à sombra <strong>do</strong><br />

governo<br />

Collor foi por água abaixo. Redun<strong>do</strong>u a maior crise da<br />

história <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, e não somente política, mas também<br />

econômica, de costumes, etc. Parece que os empresários<br />

apreciam um sofrimento, e <strong>do</strong>s grandes, para não dizer<br />

<strong>do</strong>s insuportáveis.<br />

Fernan<strong>do</strong> Collor trouxe, decerto, ideias apreendidas no<br />

receituário da contemporaneidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Idéias<br />

óbvias, ainda que possam tilintar ousadia nas nossas<br />

latitudes provincianas. Idéias relacionadas com a<br />

liberdade de merca<strong>do</strong>, a redução <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, a<br />

superação de manifestações nacionalistas obsoletas. Isso<br />

tu<strong>do</strong> está muito bem, mas não passou da teoria, a não ser<br />

em relação a algumas privatizações e ao fim da reserva<br />

de merca<strong>do</strong> para a informática. Mesmo no caso da<br />

abertura das importações, é indubitável que as soluções<br />

deveriam ter si<strong>do</strong> melhor discutidas, O resto foi um<br />

desastre.<br />

Governabilidade, com Collor, foi desgovernabilidade. O<br />

monumental estrago causa<strong>do</strong> pela atuação collorida não<br />

conseguiu demonstrar, está claro, que o <strong>Brasil</strong> não é<br />

governável. Provou, apenas, que este governo não sabe<br />

governar. Ou, por outra, que, com Collor, o País perde<br />

condições de governabilidade, graças, inclusive, à<br />

incompetência de vários ministros, sem contar a<br />

extraordinária contribuição daqueles que tendem a<br />

considerar os cofres <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como de sua propriedade<br />

particular, enquanto, contingentemente, ocupam o poder.<br />

Os ministros que distribuem benesses em troca de apoio<br />

político, verbas especiais ou concessões de rádio e tevê<br />

que sejam, são tão corruptos quanto um presidente<br />

sustenta<strong>do</strong> pelo amigo especializa<strong>do</strong> em tráfico de<br />

influência e outras trambicagens. Todas de elevadíssimo<br />

porte, mensurável em dólares.<br />

O que move a Nação, aliás, é a prova da corrupção. É por<br />

isso que nos dispomos, enfim, a caminhar contra um


presidente que desonrou o cargo e o próprio exercício da<br />

política. Mas não foi o seu único peca<strong>do</strong>, apenas um<br />

aspecto <strong>do</strong> seu desgoverno. E, por este, ele não é o<br />

exclusivo responsável.<br />

IstoÈ. São Paulo: Editora Três, 2 set. 1992. p. 15.<br />

TEXTO 6 - O DESENVOLVIMENTO<br />

DEPENDENTE<br />

Maria Helena Moreira Alves<br />

O texto seleciona<strong>do</strong> analisa, de uma forma geral, a<br />

situação de dependência da economia brasileira, assim<br />

como as características e os reflexos de um<br />

desenvolvimento dependente. A autora procurou<br />

estabelecer o relacionamento entre o desenvolvimento<br />

capitalista local e a expansão de to<strong>do</strong> um sistema<br />

capitalista mundial. Um outro aspecto interessante da<br />

situação de dependência é a aliança entre as forças<br />

internas e externas, conforme observou o sociólogo<br />

Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, cita<strong>do</strong> pela autora <strong>do</strong> texto:<br />

“As relações entre forças internas e externas formam um<br />

to<strong>do</strong> complexo, cujos vínculos estruturais não se baseiam<br />

apenas em formas externas de exploração e coerção,<br />

enraizan<strong>do</strong>-se também em coincidências de interesses<br />

entre as classes <strong>do</strong>minantes locais e internacionais e<br />

sen<strong>do</strong>, por outro la<strong>do</strong>, questiona<strong>do</strong>s por grupos e classes<br />

locais <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s”:<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Por que a situação de dependência implica em um<br />

processo de desenvolvimento distorci<strong>do</strong>?<br />

A crescente penetração <strong>do</strong> capital internacional após<br />

mea<strong>do</strong>s da década de 50 configurou uma aliança entre o<br />

capital multinacional, o capital nacional associa<strong>do</strong>dependente<br />

e o capital de Esta<strong>do</strong>. Pelo final daquela<br />

década, o <strong>Brasil</strong> vivia um processo de desenvolvimento<br />

caracteriza<strong>do</strong> por situação de dependência baseada num<br />

“tripé econômico” que seria reforça<strong>do</strong> após o golpe<br />

militar de 31 de março de 1964.<br />

Um rápi<strong>do</strong> exame <strong>do</strong> conceito de “desenvolvimento<br />

dependente” permitirá avaliar melhor a importância<br />

desse contexto para os recentes processos de mudança<br />

social no <strong>Brasil</strong>. Em seu senti<strong>do</strong> econômico fundamental,<br />

“desenvolvimento” designa a expansão da capacidade<br />

produtiva de uma sociedade.<br />

Considera<strong>do</strong> de maneira mais ampla, o termo refere-se a<br />

to<strong>do</strong> o espectro de mudanças em procedimentos<br />

tecnológicos, sociais, políticos e culturais que<br />

acompanham e (em diversos graus) facilitam essa<br />

expansão. Um sistema econômico pode ser denomina<strong>do</strong><br />

“autônomo” quan<strong>do</strong> é capaz de gerar seu próprio<br />

crescimento, o que implica acima de tu<strong>do</strong> a faculdade de<br />

criar novas tecnologias, de expandir o setor de bens de<br />

capital e de controlar seu sistema financeiro e bancário.<br />

As economias dependentes, em contraste, funcionam na<br />

periferia <strong>do</strong> sistema mundial, afastadas <strong>do</strong> ponto de<br />

concentração de recursos para o crescimento autogera<strong>do</strong>.<br />

No caso mais extremo, a economia dependente está<br />

restrita ao papel de fornece<strong>do</strong>ra de matérias-primas às<br />

economias industriais avançadas. E mesmo quan<strong>do</strong> ela<br />

não está totalmente limitada a esta função, o merca<strong>do</strong><br />

internacional restringe drasticamente suas possibilidades<br />

de desenvolver a capacidade tecnológica, industrial e<br />

financeira necessária ao crescimento autogera<strong>do</strong>. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, a industrialização periférica manifesta-se como<br />

um reflexo distorci<strong>do</strong> da expansão das economias<br />

avançadas.<br />

A industrialização periférica baseia-se em produtos que<br />

no centro são consumi<strong>do</strong>s em massa, mas configuram,<br />

nas sociedades dependentes, típico consumo de luxo. Nas<br />

economias dependentes, a industrialização aumenta a<br />

concentração de renda ao mesmo tempo que agrava<br />

acentuadas diferenças de produtividade, sem generalizar<br />

esta tendência ao conjunto da economia: enquanto a<br />

produção de veículos, aparelhos de televisão, geladeiras<br />

e bens semelhantes baseia-se em tecnologia moderna,<br />

considerável parte <strong>do</strong>s produtos alimentares, têxteis e de<br />

outros bens que constituem o consumo básico das massas<br />

baseia-se ainda em tecnologias e relações de produção<br />

mais tradicionais.<br />

Os salários de técnicos, gerentes e trabalha<strong>do</strong>res<br />

especializa<strong>do</strong>s, embora não sejam diretamente<br />

determina<strong>do</strong>s pela produtividade, são<br />

incomparavelmente mais altos que os de camponeses ou<br />

trabalha<strong>do</strong>res emprega<strong>do</strong>s em setores tradicionais. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, a industrialização na periferia aumenta a<br />

disparidade de renda entre os assalaria<strong>do</strong>s, acentuan<strong>do</strong> o<br />

que tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> na América Latina de<br />

“heterogeneidade estrutural”.<br />

Frise-se que uma situação de dependência não significa<br />

necessariamente subdesenvolvimento permanente e<br />

estagnação econômica. O que ela efetivamente implica,<br />

na melhor das hipóteses, é um processo de<br />

desenvolvimento distorci<strong>do</strong>: mantêm-se sem solução<br />

consideráveis problemas sociais como as desigualdades<br />

regionais, graves disparidades na distribuição de renda,<br />

altos índices de desemprego e níveis de vida<br />

aberrantemente baixos para a maioria da população.<br />

ALVES. Maria Helena Moreira. Esta<strong>do</strong> e oposição no <strong>Brasil</strong>. 1964-1984. 2. ed.<br />

Petrópolis: Vozes, 1984. p. 19-20.<br />

169


170<br />

TEXTO 7 - O NEGRO NA SOCIEDADE<br />

BRASILEIRA<br />

Paulo Moreira Leite<br />

Em 1988, ano <strong>do</strong> “centésimo aniversário da abolição da<br />

escravidão”, jornais e revistas procuraram fazer um<br />

levantamento da situação <strong>do</strong> negro na sociedade<br />

brasileira contemporânea. Nesse mesmo ano, várias<br />

entidades ligadas ao movimento negro protestaram<br />

contra a natureza de algumas “comemorações” e<br />

procuraram questionar o real significa<strong>do</strong> da libertação<br />

<strong>do</strong>s cativos (Lei Áurea, <strong>do</strong> dia 13 de maio de 1888). Para<br />

estas, naquele momento, era muito mais importante<br />

debater a condição <strong>do</strong> negro <strong>do</strong> que “comemorar a<br />

abolição”. Em maio de 1988, a revista Veja publicou<br />

uma matéria especial sobre o “Centenário da Abolição da<br />

Escravatura”, com da<strong>do</strong>s que conduziram a uma reflexão<br />

sobre a questão.<br />

Desde então, essa questão tem si<strong>do</strong> amplamente<br />

debatida, em grande parte devi<strong>do</strong> à ação <strong>do</strong>s movimentos<br />

que atuam pela defesa da cidadania plena, como o<br />

Movimento Negro Unifica<strong>do</strong> (MNU), que, em 1995, em<br />

sua “Carta de Princípios” afirmava: “E consideramos,<br />

enfim, que nossa luta de libertação deve ser somente<br />

dirigida por nós, queremos uma nova sociedade onde<br />

to<strong>do</strong>s realmente participem, como não estamos isola<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> restante da sociedade brasileira nos solidarizamos<br />

com toda e qualquer luta reivindicativa <strong>do</strong>s setores<br />

populares da sociedade brasileira que vise a real<br />

conquista de seus direitos políticos, econômicos e<br />

sociais; e com a luta internacional contra o racismo. Por<br />

uma autêntica democracia racial! Pela libertação <strong>do</strong> povo<br />

negro!”<br />

Já em 1996, durante o governo Fernan<strong>do</strong> Henrique<br />

Car<strong>do</strong>so (1995-2002), o então presidente proferiu um<br />

importante discurso por ocasião da instalação de uma<br />

comissão de trabalho voltada para a valorização da<br />

população negra. Na oportunidade, ele afirmou:<br />

“Existe, sim, preconceito no <strong>Brasil</strong>. A valorização <strong>do</strong><br />

negro implica também na luta contra o preconceito,<br />

porque ele existe. Ele aparece muito objetivamente, em<br />

termos de discriminação de salário, de não utilização de<br />

pessoas, não só de negros, de certos grupos raciais, não é<br />

o único grupo discrimina<strong>do</strong>, há outros grupos.”<br />

A partir de 2003, com o governo Luiz Inácio Lula da<br />

Silva, verificou-se um grande avanço nas conquistas <strong>do</strong>s<br />

negros e no debate sobre a construção de uma cidadania<br />

plena.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as<br />

seguintes questões:<br />

1. Os números apresenta<strong>do</strong>s comprovam a colocação <strong>do</strong><br />

negro “na segunda classe” (título da matéria)?Justifique a<br />

resposta.<br />

2. Como o comportamento contraditório de alguns<br />

brasileiros, que é cita<strong>do</strong> pelo autor, se materializa no diaa-dia?<br />

Passa<strong>do</strong>s cem anos da Abolição, há no <strong>Brasil</strong> duas<br />

cidadanias distintas — a branca e a negra. Não é apenas<br />

uma questão de cor, é uma qualidade de vida. O negro,<br />

quan<strong>do</strong> nasce, tem 30% a mais de chances que o branco<br />

de morrer antes de completar 5 anos de idade. Quan<strong>do</strong><br />

cresce, tem o <strong>do</strong>bro das chances de sair da escola sem<br />

aprender a ler nem escrever. Quan<strong>do</strong> morre, acabou uma<br />

vida que se esperava de 50 anos.<br />

Se fosse branco, teria uma expectativa de vida de 63<br />

anos.<br />

O retrato formula<strong>do</strong> pelas estatísticas (Censo<br />

Demográfico de 1980) é deprimente, pelo que mostra em<br />

matéria de desigualdade. Também é didática, uma pessoa<br />

negra — quanto mais ela estuda para ter uma profissão<br />

bem remunerada, maior é a diferença entre seu salário e<br />

o de um branco.<br />

Exemplos dessa situação, com base em pesquisas<br />

realizadas nas cidades de São Paulo e Recife:<br />

— os rendimentos de um médico negro são 22% mais<br />

baixos que os de branco;<br />

— um engenheiro negro ganha 19% menos que um<br />

branco;<br />

— os professores negros ganham 18% menos que os<br />

brancos;<br />

— os motoristas brancos ganham 19% mais que os<br />

negros;<br />

- um metalúrgico torneiro mecânico negro recebe 12%<br />

menos que um branco;<br />

— o pedreiro negro ganha 11% menos que um branco.<br />

Ao longo <strong>do</strong> século XX, a elite nacional alimentou-se da<br />

retórica da democracia racial, varren<strong>do</strong> para baixo <strong>do</strong><br />

tapete da casa-grande os números da velha senzala. Até<br />

1976 os entrevista<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IBGE simplesmente não tinham<br />

cor para falar da maioria de seus problemas. Até 1980 o<br />

Censo — pago por to<strong>do</strong>s os contribuintes<br />

— não reparava nos negros.<br />

Pelo seu tamanho, a população negra, expressão que<br />

indica tanto a pessoa que tem a pele preta, com reflexos<br />

azuis, como aquela chamada de mulata, é uma minoria<br />

— são 60 milhões de pessoas, ou 44% de to<strong>do</strong>s os<br />

habitantes <strong>do</strong> país. Pelo ângulo da pobreza, no entanto, a


situação se inverte: entre os 10 milhões de famílias que<br />

sobrevivem, to<strong>do</strong>s os meses, com uma apertada renda<br />

mensal inferior a 26.100 cruza<strong>do</strong>s, os negros são 60%.<br />

Ou seja, de cada dez brasileiros quatro são pretos, mas<br />

em cada dez pobres os pretos são seis. Pelo raciocínio<br />

convencional da evolução econômica através da<br />

educação, os pretos caíram no círculo vicioso segun<strong>do</strong> o<br />

qual são pobres porque não estudam. O Censo informa<br />

que, para o negro, estudar ajuda, e muito, mas não<br />

resolve. Um médico preto ganha menos que um branco e<br />

uma secretaria negra recebe 40% menos de salário que a<br />

branca.<br />

No Centenário da Abolição, um país que produz um PIB<br />

de 313 bilhões de dólares paga um salário mínimo de 60<br />

dólares por mês. Há estu<strong>do</strong>s, na Faculdade de Saúde<br />

Pública da Universidade de São Paulo, que comprovam<br />

que o escravo — macho e útil — Tinha uma alimentação<br />

mais rica em proteínas e calorias <strong>do</strong> que a que se<br />

consegue comprar hoje, nas prateleiras <strong>do</strong>s<br />

supermerca<strong>do</strong>s, com 60 dólares mensais no bolso.<br />

Colocada na ilegalidade desde 1951, com a Lei Afonso<br />

Arinos, a discriminação é uma atividade integrada à vida<br />

cotidiana da população como um da<strong>do</strong> banal de<br />

paisagem. Seu fundamento não é um sistema jurídico<br />

passa<strong>do</strong> em cartório (...), mas um conjunto de regras<br />

informais que as pessoas cumprem de forma quase<br />

automática. No <strong>Brasil</strong>, o preconceito racial tem<br />

comportamento agressivo, mas o grande da<strong>do</strong> cultural <strong>do</strong><br />

aniversário da Abolição, contu<strong>do</strong>, reside no fato de que o<br />

racismo não é visto, até hoje, como aquilo que é — um<br />

crime —, mas como uma opção de comportamento, da<br />

qual as pessoas podem até se envergonhar, em publico,<br />

mas que alimentam, nas situações privadas.<br />

Observação: A Constituição <strong>Brasil</strong>eira, promulgada em<br />

outubro de 1988, tornou o racismo crime. Art. 5º XLII —<br />

a prática <strong>do</strong> racismo constitui crime inafiançável e<br />

imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos ternos da<br />

lei.<br />

LEITE, Paulo Moreira. Na segunda classe. Veja, São Paulo: Abril, p. 22, 25, 26 e<br />

28, 11 maio 1988.<br />

TEXTO 8 - FUNERAL DE UM LAVRADOR<br />

João Cabral de Melo Neto<br />

João Cabra! é considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s poetas mais<br />

importantes <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Nasceu em 1920, no Recife. Sua<br />

estréia literária data de 1942, com o livro Pedro <strong>do</strong> Sono.<br />

A temática de João Cabral está dividida em duas fases: a<br />

primeira não se relaciona diretamente com questões<br />

sociais; a poesia é abstrata e contém muitas imagens<br />

surrealistas; a maior preocupação com o social surgiu a<br />

partir de 1947, momento em que o poeta começou a<br />

exercera carreira diplomática no exterior. Nessa segunda<br />

fase, João Cabral destacou o personagem <strong>do</strong> retirante, o<br />

sertanejo que busca o litoral para fugir <strong>do</strong>s flagelos da<br />

seca e da opressão <strong>do</strong> latifúndio. Em 1955, ele escreveu<br />

Morte e Vida Severina, um auto de Natal no qual o<br />

personagem principal é “Severino retirante” um<br />

nordestino revolta<strong>do</strong> e oprimi<strong>do</strong> pela estrutura agrária da<br />

região.<br />

O grande público conheceu Morte e Vida Severina<br />

quan<strong>do</strong> o poema foi leva<strong>do</strong> para o teatro pelo TUCA<br />

(Grupo de Teatro da Universidade Católica de São<br />

Paulo), com música de Chico Buarque. O trecho<br />

seleciona<strong>do</strong> relaciona-se à estrutura fundiária e à<br />

necessidade da implementação de uma reforma agrária:<br />

Severino (personagem central) assiste ao enterro de um<br />

trabalha<strong>do</strong>r (lavra<strong>do</strong>r) e ouve o que dizem <strong>do</strong> morto os<br />

amigos que o levaram ao cemitério; somente nessa<br />

condição o lavra<strong>do</strong>r teria para si, “como sapato, camisa e<br />

morada” a terra que por muito lutou.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Quais são as passagens que nos mostram a necessidade<br />

da reforma agrária para o lavra<strong>do</strong>r?<br />

Assiste ao enterro de um trabalha<strong>do</strong>r de eito e ouve o<br />

que dizem <strong>do</strong> morto os amigos que o levaram ao<br />

cemitério<br />

— Essa cova em que estás,<br />

com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida,<br />

— E de bom tamanho,<br />

nem largo nem fun<strong>do</strong>,<br />

é a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

— Não é cova grande,<br />

é cova medida,<br />

é a terra que querias<br />

ver dividida.<br />

— É uma cova grande<br />

para teu pouco defunto,<br />

mas estarás mais ancho<br />

que estavas no mun<strong>do</strong><br />

— É uma cova grande<br />

para teu defunto parco,<br />

porém mais que no mun<strong>do</strong><br />

te sentirás largo<br />

— É uma cova grande<br />

para tua carne pouca,<br />

171


172<br />

mas a terra dada<br />

não se abre a boca.<br />

—Viverás, e para sempre,<br />

na terra que aqui aforas:<br />

e terás enfim tua roça.<br />

— Aí ficarás para sempre,<br />

livre <strong>do</strong> sol e da chuva,<br />

crian<strong>do</strong> tuas saúvas.<br />

— Agora trabalharás<br />

só para ti, não a meias,<br />

como antes em terra alheia.<br />

— Trabalharás uma terra<br />

da qual, além de senhor,<br />

serás homem de eito e trator.<br />

— Trabalhan<strong>do</strong> nessa terra,<br />

tu sozinho tu<strong>do</strong> empreitas:<br />

serás semente, adubo, colheita.<br />

— Trabalharás numa terra<br />

que também te abriga e te veste:<br />

embora com o brim <strong>do</strong> Nordeste.<br />

MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e outros poemas em voz<br />

alto. 23. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987. P~ 87’88.<br />

TEXTO 9 - SHOPPING CENTER: O LSD DA<br />

CLASSE MÉDIA<br />

Ciro Marcondes Filho<br />

Nas últimas décadas <strong>do</strong> século XX, a sociedade brasileira<br />

assistiu ao boom <strong>do</strong>s shoppings.<br />

Praticamente todas as grandes cidades já têm o “seu” e a<br />

tendência é que o número aumente a cada ano. É<br />

impressionante o número de pessoas que frequentam<br />

esses locais, mesmo nos finais de semana, quan<strong>do</strong> as<br />

lojas, em muitos deles, estão fechadas. Parece claro que<br />

não são apenas as compras que atraem frequenta<strong>do</strong>res de<br />

todas as idades, O texto <strong>do</strong> professor Ciro Marcondes<br />

Filho examina exatamente essa questão.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

• Por que o autor relaciona os shoppings com o LSD, um<br />

forte alucinógeno?<br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> deveria fazer pelo menos uma vez uma<br />

viagem pelo maravilhoso mun<strong>do</strong> aparente <strong>do</strong> Shopping<br />

Center Norte, na Marginal <strong>do</strong> Tietê, em São Paulo.<br />

Trata-se <strong>do</strong> correlato (sanciona<strong>do</strong>, socializa<strong>do</strong>, gratuito)<br />

da “viagem” por meio <strong>do</strong> LSD <strong>do</strong>s jovens e intelectuais<br />

da década de 60.<br />

Ás visões paradisíacas, o distanciamento da realidade, a<br />

contemplação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> consumo são ofereci<strong>do</strong>s por<br />

este espaço laboriosamente construí<strong>do</strong>, onde o mun<strong>do</strong><br />

real não entra. Ao atravessarmos a porta de ingresso no<br />

local, a impressão que se deseja transferir é a <strong>do</strong><br />

adentrar-se em um mun<strong>do</strong> puro. Puro de misérias, da<br />

pobreza, <strong>do</strong>s pedintes, <strong>do</strong>s assaltos e da violência de lá<br />

fora; é também puro da sujeira e <strong>do</strong> excesso de<br />

“brasilidade” de nossas cidades: excesso de tristeza, de<br />

decepções, definições e de aborrecimentos. Nesta viagem<br />

imaginária, deixa-se o mun<strong>do</strong> brutaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de<br />

fora.<br />

A viagem transcorre num país fictício. Composto da<br />

miscigenação <strong>do</strong> nosso barroco colonial com a paisagem<br />

<strong>do</strong> vilarejo alemão, entremea<strong>do</strong> com lanchonetes<br />

americanas e lojas italianas, aí se reproduz “o mun<strong>do</strong>”,<br />

mas não exatamente o mun<strong>do</strong> como ele é, mas o mun<strong>do</strong><br />

como as pessoas gostariam de vê-lo: cheio de cores e<br />

alegria, crianças brincan<strong>do</strong>, lojas em tons alegres,<br />

ostentan<strong>do</strong> belas roupas, organização e bem-estar em<br />

tu<strong>do</strong>. É a visão positivista que se esconde na ideologia<br />

que nos transmitem por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s, quer na<br />

comunicação maciça, quer nos “papos” com amigos,<br />

quer no nosso próprio proceder, train<strong>do</strong> pressupostos de<br />

uma outra ideologia. Mas, principalmente, transmiti<strong>do</strong>s<br />

pela cultura e na voz <strong>do</strong>s <strong>do</strong>minantes: a concepção <strong>do</strong><br />

que na sociedade rege a ordem, a disciplina, a limpeza, a<br />

organização, a racionalidade, a honestidade e tantas<br />

outras categorias idealistas desejadas da cultura.<br />

Como esse quadro não existe de fato, ou seja, não há<br />

ordem nem harmonia em parte alguma da sociedade, mas<br />

somente conflito, desordem, rebelião, insatisfação, os<br />

nossos “organiza<strong>do</strong>res da cultura”, esses homens de<br />

marketing que “adivinham” os sonhos das massas,<br />

planejam e constroem mun<strong>do</strong>s à parte.<br />

O shopping center é um deles; lá a natureza é<br />

reconstruída de acor<strong>do</strong> com as especificações <strong>do</strong> espaço<br />

e tu<strong>do</strong> obedece à mais calculada disciplina ambiental<br />

(...).<br />

A ideologia positivista, que é o suporte <strong>do</strong>s arquitetos<br />

desses “enclaves de prosperidade”, então, recria com fins<br />

merca<strong>do</strong>lógicos e de maximização de lucros o universo<br />

to<strong>do</strong> repleto desses signos que transmitem, pura e<br />

positivamente, a vida sem conflitos e materializam o<br />

mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos que povoa o imaginário destas nossas<br />

sofridas massas populares. (...)<br />

Os ambientes dessa viagem, entretanto, não servem<br />

somente ao visual. É preciso comsumir: comprar roupas,<br />

tomar café, comprar sorvete, sentar-se em um bar. Essa<br />

necessidade funciona como uma satisfação ao complexo<br />

de culpa <strong>do</strong> visitante deste mun<strong>do</strong>, diante de tantas<br />

ofertas gratuitas, que lhe aparecem, próximas à sua casa,<br />

quase como presente.


Deve-se agora pagar por isso; paga-se, porém,<br />

prazerosamente. Só o ato de poder passear lá dentro já é<br />

encara<strong>do</strong> por muitos pobres visitantes (velhos senhores e<br />

senhoras, crianças de colo com suas mães, casaizinhos de<br />

todas as idades) como uma dádiva: o aparente luxo, a<br />

organização, o “participar” das novidades da moda, da<br />

eletrônica, da culinária são ofereci<strong>do</strong>s gratuitamente. Os<br />

restaurantes demonstram, de forma particularmente<br />

flagrante, o luxo e a variedade dessa viagem: no<br />

“Terraço” encontram-se, um após o outro, o Churrasco<br />

(nacional), a Trattoria <strong>do</strong> Guappo, onde tu<strong>do</strong> é reforça<strong>do</strong><br />

com as cores peninsulares verde e vermelha, a cozinha<br />

árabe, o Munique, onde os garçons são vesti<strong>do</strong>s à moda<br />

da Baviera, e em to<strong>do</strong>s eles há mesas na calçada: o<br />

freguês sente-se como se estivesse na Piazza Santa Maria<br />

in Trastevere em Roma, na avenida <strong>do</strong>s Champs Elysées<br />

em Paris, ou mesmo, para os mais humildes, na Plaza<br />

Mayor, em Madri. Não é proibi<strong>do</strong> sonhar. Tu<strong>do</strong> ali<br />

convida para Osso; é a própria materialização <strong>do</strong> sonho.<br />

Essas experiências de “<strong>do</strong>mesticação” (no senti<strong>do</strong><br />

original, trazer para dentro de casa) <strong>do</strong> social, <strong>do</strong> público,<br />

<strong>do</strong> aberto permitem ao frequenta<strong>do</strong>r uma sensação<br />

parecida com a <strong>do</strong>s cafés europeus. Nada de esmolas,<br />

nada de me<strong>do</strong>s de assaltos, nada de preocupação com<br />

adaptação, língua, costumes etc.: “o shopping<br />

abrasileirou o estrangeiro para você”. Basta um<br />

“pulinho” que já se está lá. Enquanto em São Paulo os<br />

cafés de rua são suprimi<strong>do</strong>s e substituí<strong>do</strong>s por lojas,<br />

deixan<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> prazeroso da cidade, sua face<br />

“romântica”, progressivamente suplantada pelo comércio<br />

gastronômico ligeiro e desconfortável (nada existe aqui<br />

como os restaurantes europeus de tradição hispânica, por<br />

exemplo, que oferecem to<strong>do</strong> o conforto no café da<br />

manhã, com mesas e garçons, e utiliza ao mesmo tempo<br />

esse espaço e o pessoal para o almoço e o café da tarde),<br />

enquanto nossa vida urbana deteriora-se a olhos vistos,<br />

no mun<strong>do</strong> artificial <strong>do</strong> shopping isto retorna, agora<br />

“purifica<strong>do</strong>”, pasteuriza<strong>do</strong> das bactérias infestas de<br />

realismo ambiental.<br />

MARCONDES FILHO, Ciro. “Shopping center”: o LSD da classe nédia. In:___<br />

(Org.). Quem manipula quem? Poder e massas na indústria da cultura e da<br />

comunicação no <strong>Brasil</strong> Petrópolis: Vozes. 1986. p. 81-82; 84-85.<br />

TEXTO 10 - “MÁQUINA DE EXTERMÍNIO”: DA<br />

REPRESSÃO POLÍTICA À REPRESSÃO<br />

POLICIAL<br />

Caco Barcellos<br />

O jornalista Caco Barcellos, após cinco anos de<br />

pesquisas, publicou o livro Rota 66, que discorre sobre a<br />

história da polícia que mata, perceben<strong>do</strong> que esta, uma<br />

pequena parte da polícia de São Paulo, bastante ativa, por<br />

sinal, espécie de “esquadrão da morte oficial”, teve suas<br />

origens na máquina de extermínio de opositores<br />

construída nos porões da ditadura militar. Com o término<br />

<strong>do</strong> “perigo terrorista” e a eliminação <strong>do</strong>s grupos<br />

guerrilheiros, o “sistema mortal de extermínio” que havia<br />

si<strong>do</strong> monta<strong>do</strong> naquela época acabou sen<strong>do</strong> reorganiza<strong>do</strong><br />

e redireciona<strong>do</strong> para exercer outras funções,<br />

caraterizadas pela mesma violência anteriormente<br />

observada.<br />

Seu livro, uma denúncia em forma de reportagem, é<br />

revela<strong>do</strong>r da coragem e determinação de Caco Barcellos<br />

em investigar um tema tão polêmico numa época em que<br />

o regime militar ainda era atuante.<br />

Esse trabalho também é uma valiosa contribuição para a<br />

afirmação da cidadania plena, ao denunciar os abusos<br />

contra os direitos humanos.<br />

Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre a<br />

seguinte questão:<br />

Quais as evidências apresentadas no texto que permitem<br />

estabelecer uma relação entre a “máquina de extermínio”<br />

montada à época da ditadura militar e a “máquina de<br />

extermínio” que passou a agir contra outros “opositores”<br />

majoritariamente pessoas humildes?<br />

A leitura das primeiras 1725 edições <strong>do</strong> NP (jornal<br />

Notícias Populares, que, a partir <strong>do</strong>s boletins de<br />

ocorrência policiais, noticiava os casos de mortes<br />

envolven<strong>do</strong> policiais), resultaram na descoberta de 274<br />

pessoas mortas em supostos tiroteios pela cidade de 70 a<br />

75. É um número impressionante, mesmo se compara<strong>do</strong><br />

com a matança de grupos de extermínio. Significa mais<br />

<strong>do</strong> que o <strong>do</strong>bro das vítimas <strong>do</strong> temível Esquadrão da<br />

Morte de São Paulo, por exemplo, forma<strong>do</strong> por policiais<br />

civis, atuante no começo dessa mesma década de 70.<br />

Supera também o número de baixas de um perío<strong>do</strong> negro<br />

da repressão política no país, nas décadas de 60 e 70. Os<br />

agentes <strong>do</strong> Exército e da Polícia Civil, envolvi<strong>do</strong>s no<br />

combate a ativistas políticos, são acusa<strong>do</strong>s da execução<br />

de 269 pessoas — 144 oficialmente mortos, 125<br />

desapareci<strong>do</strong>s. O sal<strong>do</strong> da matança da PM, somente até<br />

1975, já é maior, portanto, que o número de mortos e<br />

desapareci<strong>do</strong>s políticos durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de 21<br />

anos de ditadura militar.<br />

Um outro da<strong>do</strong> revela<strong>do</strong>r (...) é o perfil <strong>do</strong>s homens que<br />

matam com maior frequência durante o policiamento. (..)<br />

Revelada a identidade, constato que alguns deles já<br />

prestaram serviço aos órgãos de segurança da ditadura.<br />

Antes de falar <strong>do</strong>s mata<strong>do</strong>res da PM devo observar o<br />

seguinte: a maioria <strong>do</strong>s 50 mil homens que forma a<br />

Polícia Militar de São Paulo em 1975, felizmente, não<br />

173


174<br />

costuma matar durante o policiamento. São homens que<br />

respeitam a lei.<br />

Mesmo muitas vezes envolvi<strong>do</strong>s em situações de risco da<br />

própria vida, por necessidade de repressão ao crime,<br />

costumam cumprir a sua obrigação: atirar só em último<br />

caso. A prioridade da imensa maioria é a prisão <strong>do</strong><br />

suspeito, leva-lo a julgamento da Justiça. Matar em<br />

supostos tiroteios, como vamos ver, é coisa de uma<br />

minoria. (...)<br />

Os policiais militares e colabora<strong>do</strong>res da Oban<br />

(Operação Bandeirantes) formam a força auxiliar de<br />

repressão política, em apoio aos tiras civis <strong>do</strong> Dops e<br />

agentes <strong>do</strong> Exército. São homens da chamada linha de<br />

frente. Usam trajes civis, metralha<strong>do</strong>ras, bombas, walkietallcies,<br />

Veraneios com chapa fria. Às vezes se infiltram nas<br />

organizações de esquerda para investigar.<br />

Mesmo nas operações tidas como regulares (...)<br />

costumam agir de forma sigilosa, sem respeitar os<br />

mínimos direitos de seus inimigos. (...)<br />

Muitos PMs são contemporâneos, portanto, aos agentes<br />

da repressão política, que costumavam forjar histórias,<br />

através de notas oficiais distribuídas à imprensa, para<br />

esconder a verdadeira circunstância em que matavam<br />

seus inimigos. No caso <strong>do</strong> jornalista Luiz Eduar<strong>do</strong> da<br />

Rocha Melino, por exemplo, várias pessoas<br />

testemunharam sua morte sob tortura nas dependências<br />

da Oban. Mas o histórico oficial registra “segun<strong>do</strong><br />

consta, vítima de atropelamento”. Há dezenas de<br />

exemplos semelhantes. (...)<br />

Uma observação mais detalhada (...) mostra que os<br />

mata<strong>do</strong>res da PM herdaram os méto<strong>do</strong>s <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Vencida a guerra contra a guerrilha, passaram a usar os<br />

mesmos méto<strong>do</strong>s contra os suspeitos da prática de crimes<br />

comuns. (...)<br />

Os supostos tiroteios deste ano de 75, se examina<strong>do</strong>s<br />

através das versões oficias da PM, têm uma grande<br />

semelhança com os tiroteios <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, em que as<br />

vítimas eram os guerrilheiros. A narrativa <strong>do</strong> histórico<br />

<strong>do</strong>s fatos tem geralmente a mesma sequência. O PM<br />

desconfia de alguém na escuridão. O suspeito foge<br />

disparan<strong>do</strong> a arma. O policial revida e atinge o suspeito.<br />

Socorri<strong>do</strong>, o feri<strong>do</strong> morre a caminho <strong>do</strong> hospital. A<br />

condição de vítima ou de agressor geralmente é invertida<br />

(...). O morto é o culpa<strong>do</strong> pela morte dele. (...)<br />

Minha investigação mostra que os PMs são alunos que<br />

aprenderam o pior <strong>do</strong>s seus professores <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Além de terem copia<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> brutal da repressão —<br />

o fuzilamento - ainda conseguem a proeza de<br />

desrespeitar a lei <strong>do</strong> direito à vida de forma mais insana.<br />

Enquanto os policiais da repressão política se baseavam<br />

em uma investigação para selecionar o inimigo a ser<br />

morto, os mata<strong>do</strong>res da PM agem espontaneamente, sem<br />

nenhum critério prévio. Escolhem suas vítimas a partir<br />

de uma simples desconfiança.<br />

Consigo fazer essa afirmação com segurança depois de<br />

ter examina<strong>do</strong> 33 tiroteios ocorri<strong>do</strong>s em 1975.<br />

Mas teriam os policiais de fato pratica<strong>do</strong> um crime? O<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> levantamento mostra, por exemplo, que<br />

cinco suspeitos, que não portavam <strong>do</strong>cumentos ao serem<br />

mortos, foram enterra<strong>do</strong>s como indigentes. Significa que<br />

foram fuzila<strong>do</strong>s sem se saber se eram criminosos ou não.<br />

Do total de 33 vítimas, apenas onze eram registra<strong>do</strong>s<br />

como ladrões nos arquivos da polícia. A grande maioria<br />

tinha ficha limpa: dezessete não eram criminosos. Cinco<br />

eram operários. Foram fuzila<strong>do</strong>s também um mecânico,<br />

um cozinheiro, um motorista, um sapateiro, um<br />

comerciante, um vigilante, um carpinteiro, um<br />

industriário, <strong>do</strong>is desemprega<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>is estudantes.<br />

To<strong>do</strong>s esses dezessete foram mortos sem terem si<strong>do</strong><br />

presos uma única vez na vida. (...)<br />

De imediato percebi que a falta de testemunhas — uma<br />

característica comum à maioria <strong>do</strong>s casos — seria o<br />

primeiro grande obstáculo. Com exceção <strong>do</strong>s três<br />

estudantes mora<strong>do</strong>res da região rica <strong>do</strong>s Jardins, todas as<br />

outras vítimas eram pobres, mortos em lugares ermos,<br />

geralmente durante a madrugada.<br />

BARCELLOS, caco. Rota 66. 25. ad. São Paulo: Globo, 1994. p. 68-75.<br />

VESTIBULAR/ENEM<br />

01. (UFMG) Os cinco anos o governo JK promoveram<br />

enormes mudanças na economia e na sociedade<br />

brasileira. Todas as alternativas apresentam<br />

características desse perío<strong>do</strong>, exceto:<br />

a) A dinamização <strong>do</strong> ISEB como o órgão responsável<br />

pelo delineamento de uma nova sociedade,<br />

comprometida com o progresso e com o<br />

desenvolvimento industrial.<br />

b) A intensa formulação de prolíficas econômicas, com<br />

ênfase na política cambial e no planejamento.<br />

c) A mudança no papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que se lança como<br />

empresário, financian<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

econômico e preparan<strong>do</strong> quadros para<br />

desempenharem novas funções econômicas.<br />

d) O entendimento, pelos agentes culturais vigentes, de<br />

que a essência <strong>do</strong> caráter popular deve ser<br />

preservada na modernidade.<br />

e) O investimento maciço na recuperação da rede de<br />

transporte ferroviário, entendi<strong>do</strong> como decisivo para<br />

o desenvolvimento industrial.


02. (UFMG) Consideran<strong>do</strong>-se o contexto brasileiro da<br />

década de 1950, é correto afirmar que:<br />

a) Era premente a questão <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

nacional, que fez girar em torno dela os principais<br />

impasses e polêmicas e contribuiu para o trágico<br />

desfecho <strong>do</strong> governo Vargas.,<br />

b) Foram grandes as divergências entre o governo e o<br />

exército quanto à criação da Petrobrás, o que acabou<br />

levan<strong>do</strong> Vargas a nova tentativa de golpe em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1950.<br />

c) Foram muitos os conflitos entre os trabalha<strong>do</strong>res e<br />

os governos que, a exceção <strong>do</strong> de Vargas, trataram<br />

sempre, a questão social com dura repressão.<br />

d) Era forte a oposição articulada pelo PSD a Vargas,<br />

que, embora eleito com expressiva maioria de votos,<br />

nunca conseguiu se adaptar ao jogo democrático.<br />

03. (UFMG) O golpe político-militar de 1964 acarretou<br />

transformações na economia brasileira originadas das<br />

mudanças nas relações <strong>do</strong> trabalho, das novas<br />

necessidades <strong>do</strong> desenvolvimento capitalista no país e<br />

das mudanças na conjuntura internacional. Todas as<br />

alternativas apresentam indica<strong>do</strong>res corretos das<br />

transformações na economia brasileira pós-64, exceto:<br />

a) A abertura <strong>do</strong> país às empresas multinacionais a<br />

partir da abolição das restrições à remessa de lucros<br />

para o exterior.<br />

b) A a<strong>do</strong>ção de uma nova política salarial e a<br />

implantação <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Garantia por Tempo de<br />

Serviço (FGTS) substituin<strong>do</strong> o sistema de<br />

estabilidade no emprego.<br />

c) A consolidação <strong>do</strong> setor industrial nacional através<br />

da elevação <strong>do</strong>s salários urbanos e <strong>do</strong> aumento da<br />

oferta e <strong>do</strong> consumo de bens não duráveis.<br />

d) A elevação <strong>do</strong> volume de impostos e a consequente<br />

falência de um grande número de pequenas e médias<br />

empresas.<br />

e) A expansão da indústria petroquímica, siderúrgica e<br />

<strong>do</strong> alumínio, realizada sob o patrocínio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

com a participação de conglomera<strong>do</strong>s nacionais e<br />

estrangeiros.<br />

04. (UFV - MG) Leia o texto abaixo:<br />

“Estaríamos brasileiros, ameaçan<strong>do</strong> o regime se nos<br />

mostrássemos sur<strong>do</strong>s aos reclamos que, de Norte a Sul,<br />

de Leste a Oeste, levantam o seu grande clamor pelas<br />

reformas de base e estrutura, sobretu<strong>do</strong> pela reforma<br />

agrária, que será o complemento da abolição <strong>do</strong> cativeiro<br />

de dezenas de milhões de brasileiros, que vegetam no<br />

interior, em revoltantes condições de miséria.” (Discurso <strong>do</strong><br />

presidente João Goulart, Comício da Central <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, 13 de março de 1964.)<br />

In: SILVA, Hélio. 1964: Golpe ou Contragolpe? Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1975. p. 457.<br />

Com base no texto acima e nos seus conhecimentos<br />

sobre os fatores que contribuíram para o Golpe Militar de<br />

31 de março de 1964, assinale a afirmativa incorreta.<br />

a) O Golpe Militar tinha como causa fundamental as<br />

profundas transformações que se haviam opera<strong>do</strong> na<br />

economia e na sociedade brasileiras, conhecidas<br />

como “milagre brasileiro”, alteran<strong>do</strong> as relações de<br />

forças entre os grupos sociais.<br />

b) O governo João Goulart aproximou-se de forças<br />

populares e nacionalistas, como a Confederação<br />

Geral <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (CGT), as Ligas<br />

Camponesas e o Movimento Estudantil, mas tinha<br />

uma base de sustentação parlamentar muito frágil.<br />

c) Militares e grupos civis de direita já haviam<br />

ameaça<strong>do</strong> a legalidade democrática em três<br />

tentativas anteriores de golpe: nos eventos que<br />

levaram ao suicídio de Vargas, na tentativa de<br />

impedimento da posse de Juscelino Kubitschek e na<br />

crise da renúncia de .Jânio Quadros.<br />

d) O programa nacionalista de João Goulart, com a<br />

regulamentação das remessas de lucros das empresas<br />

estrangeiras e as “reformas de base”, especialmente<br />

a reforma agrária, trazia descontentamento aos<br />

setores conserva<strong>do</strong>res <strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong> e das elites<br />

agrárias.<br />

e) A conjuntura da Guerra Fria, especialmente o<br />

momento seguinte à Revolução Cubana e à crise <strong>do</strong>s<br />

mísseis de 1962, intensificou a hostilidade <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s a governos nacionalistas e<br />

populistas na América Latina.<br />

05. (FUVEST — SP) A campanha eleitoral de Fernan<strong>do</strong><br />

Collor de Mello baseou-se, essencialmente, no tema da<br />

moralização administrativa e política. Que outro<br />

candidato à Presidência da República explorou, com<br />

preferência, a mesma temática?<br />

a) Eurico Gaspar Dutra.<br />

b) Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so.<br />

c) Tancre<strong>do</strong> Neves.<br />

d) Jânio Quadros.<br />

e) Getúlio Vargas.<br />

06. (PUC - RJ) Sobre as relações entre a Igreja Católica<br />

e o Esta<strong>do</strong>, ao longo da história da sociedade brasileira, é<br />

correto afirmar que:<br />

I. Durante o perío<strong>do</strong> imperial, o catolicismo era a<br />

religião oficial <strong>do</strong> Império. O direito <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r de<br />

nomear os membros <strong>do</strong> clero — Padroa<strong>do</strong> — contribuiu<br />

175


176<br />

para a ausência de divergências entre essas duas<br />

instituições.<br />

II. Com a implantação da República, ocorreram a<br />

separação entre Esta<strong>do</strong> e Igreja e a nacionalização <strong>do</strong>s<br />

bens eclesiásticos, o que propiciou conflitos entre essas<br />

instituições ao longo da República Velha,<br />

particularmente durante o governo de Floriano Peixoto<br />

(1891-1894), em função <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> clero católico aos<br />

líderes da Revolta da Armada.<br />

III. Entre 1930 e 1945, Getúlio Vargas buscou estreitar<br />

os laços com a Igreja Católica, visan<strong>do</strong> a transformá-la<br />

em importante base de apoio para o governo. A presença<br />

<strong>do</strong> presidente, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> arcebispo <strong>do</strong> Rio de Janeiro,<br />

Cardeal Leme, por ocasião da inauguração da estátua <strong>do</strong><br />

Cristo Redentor, pode ser entendida como marco<br />

simbólico dessa aproximação.<br />

IV. Durante os governos militares (1964-1985), as<br />

relações entre a Igreja e o poder de Esta<strong>do</strong> tenderam a<br />

tornar-se mais conflituosas, em especial, devi<strong>do</strong> ao<br />

posicionamento contrário de vários membros <strong>do</strong> clero<br />

quanto aos excessos da repressão e da censura política,<br />

ao longo da década de 1970.<br />

Assinale:<br />

a) Se somente a afirmativa IV está correta.<br />

b) Se somente as afirmativas I e II estão corretas.<br />

c) Se somente as afirmativas III e IV estão corretas.<br />

d) Se somente as afirmativas I, II e III estão corretas.<br />

e) Se todas as afirmativas estão corretas.<br />

07. (FUVEST — SP) A vitória <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> na Copa <strong>do</strong><br />

Mun<strong>do</strong> de 1970:<br />

a) Não teve qualquer repercussão no campo político,<br />

por se tratar de um acontecimento estritamente<br />

esportivo.<br />

b) Alentou o trabalho das oposições que deram<br />

destaque à capacidade <strong>do</strong> povo brasileiro de realizar<br />

grandes proezas.<br />

c) Propiciou uma operação de propaganda <strong>do</strong> governo<br />

Médici, tentean<strong>do</strong> associar a conquista ao regime<br />

autoritário.<br />

d) favoreceu o projeto de abertura <strong>do</strong> general Geisel, ao<br />

criar um clima de otimismo pelas realizações <strong>do</strong><br />

governo.<br />

e) alcançou repercussão muito limitada, pois os meios<br />

de comunicação não tinham a eficácia que têm hoje.<br />

08. (UFMG) “<strong>Brasil</strong> vivia guerra aberta no final de<br />

1969”.<br />

Essa afirmativa, que dá título a uma matéria <strong>do</strong> jornal<br />

Folha de S. Paulo de 12 de maio de 1996, refere-se:<br />

a) À disposição <strong>do</strong> governo Costa e Silva de lutar<br />

contra a inflação e a alta constante das taxas de<br />

juros.<br />

b) À disposição <strong>do</strong> governo de combater, a to<strong>do</strong> custo e<br />

por to<strong>do</strong>s os meios, a rede de narcotráfico.<br />

c) Ao enfrentamento arma<strong>do</strong>, naquele perío<strong>do</strong>, entre<br />

forças de esquerda e o governo militar no <strong>Brasil</strong>.<br />

d) Às ações táticas empreendidas pelos “sem terra”,<br />

que desejavam instaurar uma nova ordem no país.<br />

09. (UFMG) A Rede Globo exibiu a minissérie Anos<br />

Rebeldes, que procurou retratar o perío<strong>do</strong> da ditadura<br />

militar e a luta armada <strong>do</strong>s militantes de esquerda no<br />

<strong>Brasil</strong>. A contraofensiva armada da esquerda teve seu<br />

perío<strong>do</strong> decisivo a partir<br />

a) Da dissolução da Frente Ampla, que se apresentaria<br />

às eleições presidenciais previstas para 1965.<br />

b) Da edição <strong>do</strong> Ato Institucional nº 2 com a reforma<br />

<strong>do</strong> Poder Judiciário, eleições presidenciais previstas<br />

para 1965.<br />

c) Da política decisiva <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista<br />

<strong>Brasil</strong>eiro, que ordenou, desde 1922, todas as ações<br />

contrarrevolucionárias de esquerda.<br />

d) Do comício de 31 de março, que foi pretexto para a<br />

eclosão <strong>do</strong> golpe político-militar de 1964.<br />

e) Do recesso <strong>do</strong> Congresso e edição <strong>do</strong> Ato<br />

Institucional nº 5, que agudizou as medidas<br />

repressivas especialmente no governo Médici.<br />

10. (UFMG) Consideran<strong>do</strong>-se a atuação <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s<br />

políticos no <strong>Brasil</strong> entre 1964 e 1984, é incorreto afirmar<br />

que:<br />

a) O Movimento Democrático <strong>Brasil</strong>eiro (MDB) foi<br />

uma frente de oposição desde sua criação, nos anos<br />

1960, até os anos mais duros <strong>do</strong> Regime Militar, o<br />

que lhe rendeu perseguições e rígi<strong>do</strong> controle.<br />

b) O Parti<strong>do</strong> da Social Democracia <strong>Brasil</strong>eira (PSDB)<br />

foi cria<strong>do</strong>, no fim <strong>do</strong>s anos 1970, como opção para<br />

setores médios ansiosos pelo alinhamento à nova<br />

ordem mundial, capitaneada pelo FMI e pelo<br />

neoliberalismo.<br />

c) O Parti<strong>do</strong> Trabalhista <strong>Brasil</strong>eiro (PTB), cria<strong>do</strong> no<br />

início <strong>do</strong>s anos 1980, teve sua legenda disputada por<br />

diferentes segui<strong>do</strong>res de Vargas, mas, na prática,<br />

revelou-se distante <strong>do</strong> trabalhismo, histórico.<br />

d) A Aliança Renova<strong>do</strong>ra Nacional (ARENA), criada<br />

nos anos 1960, foi um <strong>do</strong>s principais esteios <strong>do</strong><br />

Regime Militar, sustentan<strong>do</strong> até atos que atentavam<br />

contra a liberdade <strong>do</strong> próprio Parlamento.


11. (UFMG) O Cinema Novo e o movimento de<br />

renovação teatral lidera<strong>do</strong> pelo Teatro de Arena e pelo<br />

Grupo Oficina foram expressões artísticas, com objetivos<br />

e características comuns, afinadas com o contexto<br />

brasileiro das décadas de 50 e 60 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>.<br />

Entre as características desses movimentos culturais, não<br />

se inclui a:<br />

a) Vinculação a grandes estúdios cinematográficos e a<br />

companhias teatrais já estabelecidas.<br />

b) Concepção da obra de arte como meio de<br />

conscientização política, influenciada por tendências<br />

de esquerda.<br />

c) Crítica à realidade brasileira, aos seus problemas e<br />

contradições, com forte conteú<strong>do</strong> social.<br />

d) Realização de produções de custos reduzi<strong>do</strong>s,<br />

caracterizadas pelo uso de novas linguagens e<br />

inovações cênicas.<br />

12. (UFMG) A partir <strong>do</strong> governo Sarney, foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

vários planos econômicos que tentaram controlar o<br />

aumento desenfrea<strong>do</strong> da inflação brasileira. Alguns<br />

desses planos apresentam características hetero<strong>do</strong>xas,<br />

tais como o congelamento de preços, confisco da<br />

poupança, tentativa de regulação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> através de<br />

medidas provisórias <strong>do</strong> Executivo.<br />

A alternativa que apresenta o plano econômico a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

no <strong>Brasil</strong>, pós-1985, de características hetero<strong>do</strong>xas, é:<br />

a) Plano Cruza<strong>do</strong>.<br />

b) Plano de Ação Econômica (PAEG).<br />

c) Plano de Metas.<br />

d) Plano SALTE.<br />

e) Plano Verão.<br />

13. (UESC – 2009) A soberania nacional brasileira<br />

sempre foi tema recorrente das discussões políticas ao<br />

longo da história nacional.<br />

Em relação a esse tema, pode-se afirmar:<br />

01) Os governos populistas defenderam o controle das<br />

riquezas naturais pelo Esta<strong>do</strong>, como mecanismo de<br />

garantia <strong>do</strong> desenvolvimento econômico nacional.<br />

02) Os anos JK foram marca<strong>do</strong>s pelo desenvolvimento<br />

industrial brasileiro, caracteriza<strong>do</strong> pela ruptura com<br />

a dependência econômica e financeira com o capital<br />

estrangeiro.<br />

03) O governo Jânio Quadros defendeu uma política<br />

externa independente, como mecanismo de<br />

autonomia em relação aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e de<br />

supressão <strong>do</strong> capitalismo.<br />

04) O regime militar, ao ampliar a atuação das empresas<br />

estatais na economia, chocou-se contra os interesses<br />

norteamericanos, forçan<strong>do</strong> a aproximação <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

com a URSS, para garantir a soberania nacional.<br />

05) O governo Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello, ao<br />

desenvolver uma política de cunho nacionalista, com<br />

a ampliação da participação estatal na economia,<br />

contribuiu para a diminuição da dependência<br />

externa.<br />

14. (UESC – 2009) As eleições presidenciais brasileiras,<br />

em que os veículos de comunicação tiveram papel<br />

fundamental na criação da imagem <strong>do</strong> candidato<br />

presidencial como os grandes heróis <strong>do</strong> combate à<br />

corrupção, foram aquelas concorridas por<br />

01) Getúlio Vargas e José Sarney.<br />

02) Juscelino Kubistchek e João Goulart.<br />

03) Jânio Quadros e Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello.<br />

04) Emílio G. Médici e Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so.<br />

05) Tancre<strong>do</strong> Neves e Luis Inácio Lula da Silva.<br />

15. (BAHIANA 2010.1) As constituições são um<br />

espelho <strong>do</strong> momento histórico vivi<strong>do</strong> pelas nações. A<br />

Constituição brasileira de 1988, promulgada em um<br />

perío<strong>do</strong> de redemocratização <strong>do</strong> país, após anos de<br />

ditadura militar,<br />

01) assemelha-se à Constituição <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, por ter<br />

si<strong>do</strong> aprovada em plebiscito pela sua característica<br />

centraliza<strong>do</strong>ra e populista.<br />

02) difere da Constituição de 1946, elaborada após a<br />

queda de Vargas, que estabeleceu uma ampla<br />

autonomia sindical, a reforma agrária e a república<br />

parlamentarista.<br />

03) ampliou e/ou defendeu o direito <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, a<br />

proteção ambiental, os direitos <strong>do</strong>s povos indígenas<br />

e a plena igualdade de gênero, no plano <strong>do</strong>s direitos<br />

políticos.<br />

04) consoli<strong>do</strong>u o sindicalismo, ao criar o imposto<br />

sindical, e abriu caminho para a expansão <strong>do</strong><br />

capitalismo nacional, obstacularizan<strong>do</strong> a entrada <strong>do</strong><br />

capital estrangeiro.<br />

05) foi a única constituição promulgada, fruto <strong>do</strong><br />

trabalho de uma Assembleia Constituinte, enquanto<br />

todas as demais constituições brasileiras foram<br />

outorgadas.<br />

177


16. (UESB 2011.2) ... teve como principio o<br />

congelamento de preços por um ano, os salários forma<br />

congela<strong>do</strong>s pelo valor médio <strong>do</strong>s últimos seis meses,<br />

mais um abono de 8%%. Também foi cria<strong>do</strong> o “gatilho<br />

salarial”: toda vez que a inflação atingisse ou<br />

ultrapassasse 20%,os salários teriam correção<br />

automática, com o mesmo índice, mais as diferenças<br />

negociadas nos dissídios coletivos das diferentes<br />

categorias. A correção monetária foi extinta, e foi cria<strong>do</strong><br />

o índice de preços ao Consumi<strong>do</strong>r (IPC), para correção<br />

das poupanças e de aplicações financeiras superiores há<br />

um ano.<br />

As medidas econômicas descritas no texto, a<strong>do</strong>tadas no<br />

<strong>Brasil</strong> em determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de sua historia,<br />

provocaram, em médio prazo, uma explosão <strong>do</strong><br />

consumo, o desabastecimento de merca<strong>do</strong>rias, e,<br />

consequentemente, a queda da popularidade <strong>do</strong> então<br />

presidente da Republica.<br />

Essa política econômica é conhecida como Plano:<br />

01) Salte<br />

02) Cruza<strong>do</strong><br />

03) De metas<br />

04) Collor<br />

05) Real<br />

as leis trabalhistas, retirou o direito <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

de assistência pública na área da saúde.<br />

04) a crítica <strong>do</strong>s meios de comunicação e da comunidade<br />

universitária em relação à criação <strong>do</strong> Sistema Único<br />

de Saúde (SUS), durante a campanha a favor <strong>do</strong><br />

impeachment <strong>do</strong> presidente Fernan<strong>do</strong> Collor de<br />

Mello.<br />

05) aos movimentos populares ocorri<strong>do</strong>s em 2013, para<br />

contestar aumentos nas tarifas de transporte público,<br />

o que deflagrou ondas de protestos contra os gastos<br />

públicos com a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de Futebol, a<br />

precariedade <strong>do</strong>s serviços públicos e a corrupção.<br />

17. (UNIFACS 2014.2)<br />

178<br />

A mensagem contida na foto pode ser corretamente<br />

relacionada, no <strong>Brasil</strong>,<br />

01) às reivindicações de Antônio Conselheiro que,<br />

pretenden<strong>do</strong> um pais mais justo, lutou pela<br />

implantação<strong>do</strong> sistema republicano, por conquistas<br />

sociais e pela reforma agrária no senão nordestino.<br />

02) aos protestos contra o precário atendimento à saúde<br />

durante a Revolta da vacina, que desencadeou uma<br />

revolta civil e, consequentemente, a renúncia <strong>do</strong><br />

então presidente da República.<br />

03) á oposição popular às mudanças sociais<br />

estabelecidas pelo Esta<strong>do</strong> Novo, que, ao consolidar


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

I - Alencar, Francisco. <strong>História</strong> da sociedade brasileira 2º grau / Francisco Alencar, Lucia Carpi Ramalho, Marcus Venicio<br />

Tole<strong>do</strong> Ribeiro. — 2ª ed. - Rio de Janeiro: Ao Livro Tecnico. 1985.<br />

II - Braick, Patrícia Ramos <strong>História</strong> : das cavernas ao terceiro milênio/ Patrícia Ramos Braick, Myriam Becho Mota. - 2.<br />

ed. — São Paulo : Moderna, 2010.<br />

III - <strong>História</strong>: texto e contexto: Ensino Médio, volume Único/ Roberto Catelli Junior: com a colaboração de Maria Soledad<br />

Más Gandini, Renata Lima Aspis. — São Paulo: Sciplone, 2006.<br />

IV - Koshiba, Luiz, 1945 - <strong>História</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> / Luiz Koshiba, Denise Manzi Frayse Pereira, -<br />

Paulo: Atual, 1996<br />

7. ed. rev. e atual. — São<br />

V – Pedro Antonio Historia da civilização Ocidental: ensino Médio: volume único/ Antonio Pedro, Lizanias de Souza<br />

Lima; colaboração especial Yone de carvalho – 2ª ed – São Paulo: FTD, 2005.<br />

VI - Vicentino. Cláudio. <strong>História</strong> geral <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. volume 3 / Claudio Vicentino Gianpaolo Dorigo — São Paulo: Scipione.<br />

2010.<br />

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