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REDAÇÃO

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<strong>REDAÇÃO</strong><br />

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<strong>REDAÇÃO</strong><br />

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Coordenação editorial: Estúdio Rabbit, Zênite<br />

Preparação de texto: Zênite, Ramone Costa.<br />

Coordenação de design e projetos visuais: Pedro Yañez<br />

Capa: Pedro Yañez<br />

Edição de arte: Jearlison Lacerda<br />

Revisão: Geisa Teixeira<br />

Pré-Impressão: Estúdio Rabbit<br />

Organizador: Estúdio Conejo<br />

Obra coletiva concebida, desenvolvida<br />

e produzida pelo estúdio Rabbit.<br />

Editor Executivo:<br />

Pedro Yañez<br />

Livro dos professores:<br />

RAMONE COSTA<br />

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Caro aluno,<br />

O esforço representa a vontade que temos em alcançar algo. Neste sentido,<br />

a primeira orientação que direcionaremos a você é esta: esforce-<br />

-se. Não importa o quanto sinta dificuldade em aprender, ler, escrever.<br />

Os melhores resultados foram alcançados por aqueles que traçaram<br />

metas e cumpriram-nas. E podemos auxiliá-lo na arte de “cortar palavras”,<br />

mas, inicialmente, é preciso querer. Certamente, escrever não é<br />

uma atividade das mais fáceis. Se isso, por um lado, pode desanimar os<br />

candidatos mais pessimistas, sob a alegação da artificialidade da língua<br />

escrita, da complexidade da gramática da Língua Portuguesa, dos tantos<br />

critérios para a confecção de um bom texto, por outro, pode estimular<br />

aqueles mais disciplinados em função, principalmente, da distinção<br />

conferida a um concorrente que domine as técnicas de produção de<br />

texto. Hoje, graças à disputa sempre muito acirrada do Vestibular ou<br />

Concurso Público, a diferença de um ponto em Redação entre dois candidatos<br />

concorrentes pode implicar perda ou ganho de dezenas e, em<br />

algumas situações extremas, até de mais de uma centena de posições. É<br />

o diferencial entre a aprovação e a eliminação. Portanto, investir tempo<br />

e disposição lendo, discutindo, praticando, escrevendo e reescrevendo<br />

até atingir um certo nível de confiança, certamente, é algo que vale a<br />

pena.<br />

O propósito deste material, das aulas e orientações e do material complementar<br />

que você irá receber ao longo de alguns meses, então, é exatamente<br />

o de facilitar o caminho para que você se torne um redator<br />

competente, capaz de produzir textos a partir de estímulos diversos.<br />

Bom estudo!<br />

;)<br />

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SUMÁRIO<br />

CAPÍTULO 1 A <strong>REDAÇÃO</strong> NO VESTIBULAR<br />

Textos mais solicitados................................................................<br />

Critérios avaliativos e critérios de desempate............................<br />

Apresentação visual do texto.......................................................<br />

Principais falhas..........................................................................<br />

Passo a passo................................................................................<br />

Tipologia e gênero textual...........................................................<br />

Texto argumentativo....................................................................<br />

Tese..............................................................................................<br />

Argumentos que se somam.........................................................<br />

Argumento e contra-argumento.................................................<br />

Texto dissertativo expositivo e dissertativo argumentativo.......<br />

A dissertação no ENEM..............................................................<br />

Introdução...................................................................................<br />

Desenvolvimento.........................................................................<br />

CAPÍTULO 2 PROGRESÃO DE IDEIAS<br />

Progressão de ideias no texto......................................................<br />

Progressão de ideias no parágrafo..............................................<br />

Conclusão.....................................................................................<br />

Um pouco mais de opinião..........................................................<br />

Artigo de opinião.........................................................................<br />

Carta argumentativa...................................................................<br />

Coesão e coerência textual..........................................................<br />

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CAPÍTULO 1<br />

A <strong>REDAÇÃO</strong> NO VESTIBULAR<br />

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APRESENTAÇÃO<br />

A ARTE DE CORTAR PALAVRAS<br />

Paulo de Faria Pinho<br />

É muita pretensão minha escrever sobre um tema tão complicado e complexo. Será que pensam que virei autoridade<br />

no assunto? Que passei a me achar um escritor importante?<br />

Nada disso. É simplesmente uma crônica baseada no que pensam grandes escritores, e que irá, acredito, nos ajudar,<br />

pobres aprendizes, a melhorar o que fazemos — ou por profissão, ou por diletantismo, ou ainda para passar o tempo.<br />

O grande poeta Manoel Bandeira dizia sempre que a linguagem tem que ser simples, por ser ela que representa a forma<br />

popular de se falar e de se fazer entender. Este conceito eu sempre segui.<br />

Quando vou comprar um livro, por mais recomendado que seja, por mais importante o autor, figurando ou não na<br />

lista dos mais vendidos, sempre abro a primeira página e vejo se está escrita na ordem indireta, repleta de exclamações e<br />

excesso de vírgulas e, o mais importante, se tem aquelas palavras esdrúxulas, que ninguém usa no dia-a-dia, que nem sei o<br />

que significam e me obrigam a recorrer ao velho “pai dos burros”. Esta falsa erudição é a maior prova de que autor e literatura<br />

nunca foram apresentados, e aquele gastou muito tempo buscando sinônimos em dicionários e compêndios. Fecho o livro e<br />

não compro, e se me emprestarem, digo que já li.<br />

Nosso maior romancista, na opinião de muitos críticos e na minha modesta também, Erico Veríssimo, era outro<br />

mestre que desdenhava a chamada complexidade de palavras desconhecidas. Seu estilo era puro, simples, direto e objetivo.<br />

E exatamente por estas qualidades é que seu O Tempo e o Vento é um dos melhores romances da nossa literatura, senão o<br />

melhor. E em todos os seus volumes.<br />

Zé Lins do Rego escrevia como conversava, sem frescura, sem essa retórica imbecil. O autor do extraordinário Fogo<br />

Morto é outro que sabia brincar com as palavras, talvez por ter tido sempre uma alma de criança.<br />

Outro mestre que adorava escrever como se estivesse sentado em uma mesa, saboreando uma suculenta moqueca, enquanto<br />

ia inventando histórias, é o baiano Jorge Amado.<br />

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Minha querida Rachel de Queiróz, que me chamava de primo, dizia sempre que eu deveria escrever como se falasse; e as<br />

vírgulas, ela as colocava como se estivesse respirando.<br />

Hoje em dia, quem tem este dom de escrever sem deixar você com a impressão de que é um analfabeto,<br />

acrescentando em seus textos sempre um comentário crítico e bem-humorado, é o jornalista e excepcional biógrafo, Ruy<br />

Castro.<br />

As frases curtas, com mais pontos do que vírgulas, sempre diretas ou claras, são a marca registrada do velho homem do mar,<br />

o genial Ernest Hemingway. O mesmo estilo usavam outros mestres da literatura, como Jack London, Joseph Conrad,<br />

Somerset Maugham, Erich Maria Remarque, John dos Passos, Graham Greene, Balzac, Guy de Maupassant, e outros que<br />

não citei para não transformar esta crônica em catálogo telefônico.<br />

Graham Greene, em seu livro Um americano tranquilo, usa o personagem que é seu alter ego — na adaptação<br />

cinematográfica interpretado por Michael Caine —, um correspondente de guerra, para fazer referência direta ao escritor<br />

mais fecundo da literatura mundial, considerado por críticos e vários de seus companheiros de letras como o maior romancista<br />

de todos os tempos: em um diálogo, o jornalista declara que seu sonho era poder escrever como Georges Simenon. O autor<br />

de 400 romances e contos — cerca de mil contos sob pseudônimos —, com mais de um bilhão e meio de livros vendidos em<br />

47 idiomas, 300 filmes e séries baseadas em seus livros, declarava nas quase 1.500 entrevistas que concedeu que seu estilo<br />

era direto, com frases curtas, raramente usava ponto de exclamação e sua linguagem a mais simples possível.<br />

Talvez por ter escrito tanto, e com surpreendente qualidade, é que Simenon era o romancista preferido do próprio<br />

Graham, de Cronin, de Henry Miller, de Camus, de Gide — que o chamava do Balzac do século XX —, de John Le Carré,<br />

de Scott Turow, da escritora inglesa Phyllis Dorothy James, e de diversos cineastas, como Jean Renoir, de seu grande amigo,<br />

o genial Federico Fellini, Claude Chabrol, Jules Dassin, Jacques Deray, Georges Clouzot, Bertrand Tavernier e muitos outros.<br />

No Brasil, voltando ao nosso querido Erico Veríssimo, em seu livro de memórias Solo de Clarineta declara<br />

textualmente, não me recordo em qual dos dois volumes, que “gostaria de saber escrever como Simenon”. O mesmo fez<br />

Carlinhos de Oliveira, em uma de suas crônicas.<br />

Sobre o escritor belga, sua obra e seu personagem mais popular, o “Commissaire Maigret”, existem mais de<br />

quatrocentos livros. Há uma unanimidade em torno do fato de que, além da análise profunda do ser humano, seu<br />

conhecimento de psiquiatria, de criminologia, de sua mente prodigiosa, o que o fez tão popular e tão conceituado ao mesmo<br />

tempo foi o estilo simples, o nenhum rebuscamento de palavras e sempre o uso da ordem direta.<br />

Simenon creditava essa qualidade de escrever de modo simples aos vinte anos de jornalismo, começados aos 17<br />

anos de idade e que se prolongaram durante muitos anos. Já famoso, rico e popular, não abria mão de fazer uma reportagem<br />

sobre um assunto palpitante. Aos novos escritores, aconselhava sempre que escrevessem seus livros como se escrevessem<br />

para leitores de jornais.<br />

E é isso o que penso da complicada e difícil arte de escrever. Devemos ser simples, diretos e objetivos. Para encerrar,<br />

fico com a frase do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é cortar palavras.”<br />

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<strong>REDAÇÃO</strong> NO VESTIBULAR<br />

TEXTOS MAIS SOLICITADOS<br />

Cada exame de vestibular varia de acordo com a instituição de ensino superior desejada pelo estudante. A grande maioria das<br />

universidades não cobra apenas testes, mas também uma prova de redação que varia de acordo com o gênero pedido. É<br />

importante, no entanto, que os estudantes saibam diferenciar os quatro modelos de textos que mais aparecem nas<br />

provas: dissertação, narração, carta e textos jornalísticos (artigo e reportagem). Estes modelos, que serão estudados por<br />

nós durante o ano, são apresentados de maneira sucinta a seguir.<br />

Dissertação<br />

É o tipo de texto mais exigido pelas universidades e tem o objetivo de defender um ponto de vista para o leitor acerca do<br />

assunto pedido. Em primeiro o lugar, o estudante deve expor a ideia para, em seguida, desenvolvê-la e, por fim, concluir o<br />

assunto. É fundamental fugir do lugar comum e contrapor argumentos. Geralmente esse gênero é feito na terceira pessoa do<br />

singular, mas não é proibido escrever em primeira pessoa.<br />

Narração<br />

O gênero narrativo consiste em apresentar uma história em um determinado contexto com personagens. O narrador pode<br />

estar dentro da trama ou onisciente (aquele que narra tudo o que acontece sem estar presente). É importante não se esquecer<br />

da estrutura do texto e apresentar os personagens, o local em que a história se passa e qual a situação que ocorre. É preciso<br />

também introduzir uma complicação, gerar um clímax, momento crítico da leitura e a solução da história. Lembre-se que<br />

nesse gênero não é necessário seguir uma ordem cronológica, mas o texto precisa ser coerente.<br />

Carta<br />

Esse tipo de texto pode ser usado tanto para fins pessoais, escrever a um amigo, quanto para reivindicações, apoios, pedidos<br />

e reclamações. A maioria dos vestibulares que cobra esse gênero o faz no formato carta argumentativa, em que se deve<br />

persuadir o leitor da necessidade do pedido escrito no documento. A grande diferença entre esse gênero e a dissertação é que,<br />

na carta, escreve-se para um leitor específico, portanto, há a necessidade de adequar a linguagem, enquanto a dissertação é<br />

destinada para um público geral. Mas não se esqueça que na hora de escrever a carta é preciso indicar data e local no topo da<br />

página, saudação de acordo com o destinatário, corpo do texto e assinatura.<br />

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Textos jornalísticos<br />

Nesse campo, os três modelos mais pedidos são as reportagens, os editoriais e os artigos. A diferença básica entre eles é que<br />

o primeiro tem um discurso neutro, enquanto os outros dois são opinativos. O editorial reflete a opinião do jornal ou veículo<br />

de comunicação, enquanto o artigo mostra a do autor. No caso da reportagem, é preciso escrever fatos e informações de forma<br />

objetiva, já nos outros, as informações são introduzidas para compor uma argumentação própria.<br />

APRESENTAÇÃO VISUAL DO TEXTO<br />

Alguns detalhes, apesar de não constituírem uma regra na produção textual, contribuem para uma boa apresentação visual do<br />

texto.<br />

1. Número de linhas<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

2. Número de parágrafos<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

3. Margens<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

4. Letra<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

5. Falhas ou rasuras<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

6. Título<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

PRINCIPAIS FALHAS COMETIDAS NAS REDAÇÕES<br />

Inadequação da linguagem ao gênero textual solicitado.<br />

No texto dissertativo, por exemplo, solicitado no ENEM, o uso de gírias e de expressões típicas da comunicação oral deve<br />

ser evitado. Embora utilizados no cotidiano, esses registros não fazem parte da norma culta da língua portuguesa, que é a<br />

avaliada pelos examinadores.<br />

Exemplos do que deve ser evitado:<br />

1. Registros típicos da oralidade e gírias:<br />

Não utilize "né", "daí", "então", "tá ligado", "cara", "tipo assim".<br />

2. Abreviações usadas em bate-papos da internet:<br />

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Não utilize "vc", "tb", "pq", "pra". Prefira "você", "também", "porque", "para".<br />

3. Uso de termos rebuscados e fora de contexto.<br />

O desejo de ostentar domínio da norma culta costuma levar candidatos a cometer outro erro: o de utilizar palavras “difíceis”<br />

cujo significado não seja claro. A orientação é simples: para não correr o risco de errar, é preferível escolher palavras e<br />

construções simples.<br />

• Erros ortográficos<br />

É necessário escrever as palavras corretamente. Caso tenha dúvida quanto a grafia dos vocábulos, utilize sinônimos ou outros<br />

recursos coesivos para concluir a ideia.<br />

• Falhas na regência e concordância verbal e nomimal.<br />

Na maioria dos casos, erros frequentes nestes aspectos da língua provocam falhas na coesão textual e deixam as frases<br />

confusas.<br />

• Períodos longos<br />

Frases longas devem ser evitadas, pois atrapalham a coesão do texto. O ideal é verificar no rascunho, antes de passar a limpo<br />

o texto, os períodos com mais de duas linhas e tentar organizar as ideias em frases mais curtas e objetivas. O mesmo cuidado<br />

deve ser tomado com os parágrafos para que não haja desequilíbrio entre eles. Atente-se, ainda, para a correta pontuação do<br />

texto.<br />

• Senso comum e generalizações<br />

Atenção redobrada para ideias consideradas clichês, aquelas que, usados à exaustão, perdem seu valor. "São exemplos disso<br />

apelos à consciência, culpar o capitalismo por todas as mazelas do mundo ou dizer que o governo não liga para o povo". O<br />

mesmo vale para generalizações. Seja cuidadoso ao usar palavras como "único", "sempre", "todos", "jamais".<br />

• Trechos desconexos ou falta de relação e progressão entre as ideias do texto<br />

É preciso observar a conexão entre as ideias e a evolução destas no texto. Períodos desconexos prejudicam a coerência textual;<br />

do mesmo modo, a circularidade de ideias provoca superficialidade na redação.<br />

• Outros:<br />

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CRITÉRIOS AVALIATIVOS E DE DESEMPATE<br />

Para nortearmos nosso trabalho de produção textual, tomaremos como exemplo alguns processos seletivos.<br />

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UESB (CONSULTEC): Critérios Avaliativos da Prova de Redação<br />

A Prova de Redação terá caráter eliminatório e será avaliada com base nos seguintes critérios:<br />

a) superestrutura, macroestrutura, coerência, coesão, situacionalidade, intencionalidade, conhecimento de mundo,<br />

informatividade e focalização;<br />

b) correção gramatical: adequação de vocabulário, ortografia, acentuação, pontuação, concordância, regência e colocação.<br />

Será anulada pela Banca Examinadora a Redação que:<br />

• Afastar-se do tema proposto;<br />

• for escrita a lápis;<br />

• for apresentada sob forma de verso;<br />

• não estiver articulada verbalmente (apenas com números, desenhos, palavras soltas, etc.);<br />

• estiver assinada.<br />

CRITÉRIOS DE DESEMPATE<br />

Ocorrendo igualdade de pontos entre os candidatos, na etapa final de classificação, terá preferência, pela ordem abaixo,<br />

o candidato que obtiver:<br />

a) maior escore na prova de Redação;<br />

b) maior escore na prova de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira;<br />

c) maior escore no conjunto das provas.<br />

A <strong>REDAÇÃO</strong> DO ENEM (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP)<br />

A matriz de redação do Enem considera cinco competências cognitivas, que servem de referência para a correção do texto<br />

elaborado pelos participantes do Exame. O texto referido é do tipo dissertativo-argumentativo e deve ter de sete até o máximo<br />

de trinta linhas. Essa matriz apresenta as seguintes competências:<br />

I- Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.<br />

II- Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro<br />

dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.<br />

III- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.<br />

IV- Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.<br />

V- Elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade<br />

sociocultural.<br />

A matriz tem um aspecto inovador no que se refere ao texto dissertativo-argumentativo: além de solicitar um ponto de vista<br />

da parte do autor, prerrogativa desse tipo textual, também requer a elaboração de uma proposta de intervenção social que<br />

respeite os direitos humanos (competência V).<br />

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A partir do tema apresentado para a redação o participante do Exame deve demonstrar a sua capacidade de refletir sobre<br />

questões sociais, culturais e políticas atuais e de propor intervenções, de acordo com argumentos que devem ser evidenciados<br />

ao longo do desenvolvimento do texto.<br />

O participante precisa saber ler em sentido amplo, pois é a partir da articulação das informações contextualizadas na proposta<br />

de redação que ele deverá construir um texto revelador de um autor crítico e propositivo. Para a correção da Redação do<br />

ENEM serão considerados seis níveis de proficiência de produção escrita, distribuídos nas cinco competências previstas na<br />

Matriz de Redação. A nota zero na redação poderá ser atribuída ao participante nas seguintes situações:<br />

Apresenta texto em branco - B (em branco)<br />

Apresenta texto com até 7 linhas (não incluindo título) – I (insuficiente)<br />

Apresenta texto em que haja a intenção clara do autor em anular a redação ou texto que desconsidera a competência V (fere<br />

explicitamente os direitos humanos) - N (nulo)<br />

Apresenta texto que não desenvolve a proposta de redação, considerando-se a competência II (desenvolve outro tema e/ou<br />

elabora outra estrutura textual - F (fuga ao tema/ não atendimento ao tipo textual)<br />

Observações:<br />

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PASSO A PASSO<br />

Durante o processo de elaboração do texto, no vestibular ou em outros processos seletivos, você deve seguir algumas<br />

orientações importantes que orientam a produção.<br />

1. Leia as instruções da prova;<br />

2. Analise a coletânea e destaque as principais ideias;<br />

3. Decodifique a proposta de produção;<br />

4. Selecione as ideias;<br />

5. Organize as ideias;<br />

6. Produza o rascunho a partir das ideias selecionadas;<br />

7. Corrija o rascunho antes de transcrever o texto;<br />

8. Verifique o conteúdo, a expressão e a estrutura;<br />

9. Transcreva o texto para a folha de redação.<br />

A DELIMITAÇÃO DO TEMA<br />

Muitas vezes você receberá como proposta de redação temas muito amplos que precisam ser delimitados.<br />

Por exemplo, imagine o tema “Poluição”. Ora, poderia ser escrito um livro sobre o tema e ele ainda não estaria esgotado.<br />

Numa redação de trinta linhas sobre “Poluição”, o máximo que se conseguiria fazer seria uma série de frases genéricas que<br />

revelariam uma abordagem muito superficial ou, então, um desconhecimento do assunto.<br />

Portanto, o tema “Poluição” deve ser delimitado. Veja algumas possíveis delimitações:<br />

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• Poluição sonora.<br />

• Poluição nos rios.<br />

• Poluição no ar.<br />

• Causas do aumento de poluição no ar da grande São Paulo<br />

• A atuação do governo no combate à poluição.<br />

• Poluição e educação.<br />

Veja que nesses itens algumas delimitações são mais precisas, mais específicas. Escolhendo uma delas, você pode fazer um<br />

texto que aborde o tema de forma mais detalhada, mais rica e mais interessante.<br />

EXERCÍCIO<br />

1. Proponha delimitações possíveis para os seguintes temas:<br />

ODUÇÃO DE TEXTO<br />

a) PUC MG - Neste trabalho de produção de texto, você deve assumir o papel de candidato a prefeito de uma cidade mineira<br />

de grande porte. Uma das estratégias de campanha consiste na redação de uma carta dirigida à população, apresentando-lhe<br />

propostas de um programa de restauração da qualidade de vida na cidade, focalizando, por exemplo, a revitalização de espaços<br />

públicos de convivência, a preservação e a ampliação do verde da cidade, etc. Para dar consistência à sua argumentação,<br />

selecione argumentos que busquem convencer seu potencial eleitor de que você tem a competência necessária para<br />

administrar uma cidade de grande porte e realizar as propostas descritas.<br />

b) PUC – MG - Leia os trechos a seguir, retirados de matéria publicada no jornal O Globo, em 02 de abril de 2004.<br />

— O ministro da Igualdade Racial, Édson Santos, defendeu as cotas: — Uma grande nação não se constrói em cima de<br />

desigualdades. Sem políticas específicas para os negros, segundo Santos, o Brasil precisaria de pelo menos três décadas<br />

para superar as disparidades raciais, caso fosse mantido o ritmo de crescimento econômico anterior à crise.<br />

O presidente da comissão, Demóstenes Torres (DEM-GO), apresentará voto em separado. Ele é contra a reserva de vagas<br />

para negros, sob o argumento de que estudantes pobres devem ter direito ao benefício, independentemente da cor.<br />

Demóstenes pensa em reduzir o percentual de vagas para cotas:<br />

— Vamos estudar até que ponto vai a autonomia universitária — declarou o senador.<br />

Acesso em 4/9/2009, http://www.andifes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1336&Itemid=104]<br />

A discussão sobre o sistema de reserva de cotas nas instituições universitárias públicas federais é um dos muitos momentos<br />

em que a sociedade brasileira toma a exclusão e o preconceito como tema de seus debates.<br />

c) PUC-PR Músicas ajudam a fixar conteúdos<br />

Professores usam composições próprias e paródias de canções famosas para auxiliar os alunos na preparação para o vestibular<br />

Há quem goste de estudar com uma melodia ao fundo e diga que ela ajuda a relaxar. Mas a música também pode facilitar a<br />

aprendizagem de outras maneiras. Para tornar os conteúdos cobrados no vestibular mais acessíveis aos estudantes, professores<br />

de cursinhos preparatórios criam versões de canções conhecidas (ou mesmo composições próprias) e as levam para a sala de<br />

aula. Pode ser Pink Floyd, Caetano Veloso ou “Atirei o pau do gato” – não existem restrições ou preconceitos quando o<br />

assunto é a disputa por uma vaga na universidade.<br />

Fonte: CAMPOS, Marcela. Gazeta do Povo, 11/05/2009. Caderno Vestibular, p. 4.<br />

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TIPOLOGIA TEXTUAL<br />

Antes de começarmos a trabalhar com os gêneros textuais mais solicitados nos principais processos seletivos, precisamos<br />

compreender a diferença entre tipo e gênero textual. De acordo com Luiz Antônio Marcuschi:<br />

Tipo Textual:<br />

Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de<br />

sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca<br />

de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, dissertação, descrição, injunção, diálogo, predição.<br />

Gênero Textual:<br />

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que<br />

encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,<br />

propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são<br />

inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete,<br />

reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de<br />

remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso,<br />

piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.<br />

1. Narração<br />

Tipologia Textual<br />

Modalidade em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos<br />

personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal<br />

predominante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que nos contam histórias infantis até às piadas do<br />

cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc.<br />

2. Descrição<br />

Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras<br />

mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se<br />

até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com<br />

palavras a imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se<br />

Pega. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância<br />

em gêneros como: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc.<br />

3. Dissertação<br />

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor,<br />

pode ter caráter expositivo ou argumentativo.<br />

3.1 Dissertação-Exposição<br />

Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre assuntos, expõe,<br />

reflete, explica e avalia ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um determinado assunto.<br />

A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos expositivos de revistas e<br />

jornais, etc.<br />

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3.1 Dissertação-Argumentação<br />

Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, além de explicar,<br />

também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias.<br />

Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese,<br />

ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas.<br />

4. Injunção/Instrucional<br />

Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no<br />

modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex:<br />

ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com<br />

regras de comportamento; textos de orientação (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos<br />

(de natal, aniversário, etc.).<br />

5. Predição<br />

Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda está por ocorrer. É o tipo<br />

predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas.<br />

6. Dialogal / Conversacional<br />

Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante nos gêneros: entrevista, conversa telefônica,<br />

chat, etc.<br />

TEXTO ARGUMENTATIVO<br />

COMUNICAR não significa apenas enviar uma mensagem e fazer com que nosso ouvinte/leitor a receba e a compreenda.<br />

Dito de uma forma melhor, podemos dizer que nós nos valemos da linguagem não apenas para transmitir ideias, informações.<br />

São muito frequentes as vezes em que tomamos a palavra para fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite o que estamos<br />

expressando (e não apenas compreenda); que creia ou faça o que está sendo dito ou proposto. Comunicar não é, pois, apenas<br />

um fazer saber, mas também um fazer crer, um fazer fazer. Nesse sentido, a língua não é apenas um instrumento de<br />

comunicação; ela é também um instrumento de estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a fazer crer, a mudar<br />

de opinião, a levar a uma determinada ação. Assim, é importante que saibamos o que é argumentar, como ocorre tal processo..<br />

Texto Argumentativo é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos<br />

os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela. Em um texto argumentativo, distinguem-se três<br />

componentes: a tese e os argumentos.<br />

TESE, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de<br />

opinião.<br />

ARGUMENTO: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é "fazer brilhar",<br />

"iluminar". Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê?<br />

21


Tomemos o texto abaixo como exemplo de texto argumentativo:<br />

O HOMEM E A NATUREZA<br />

A ideia de que a natureza existe para servir ao homem seria apenas ingênua se não fosse perigosamente pretensiosa.<br />

Essa crença lançou raízes profundas no espírito humano, reforçada por doutrinas que situam corretamente o homo<br />

sapiens no ponto mais alto da evolução, mas incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da criação. Podese<br />

dizer com segurança que nada na natureza foi feito para alguma coisa, para pode-se crer entre permuta e equilíbrio entre<br />

seres e coisas. A aquisição de características muito específicas, raciocínio lógico, memória pragmática, noção de tempo e<br />

capacidade de acumular não fizeram do homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais dotado para<br />

determinados fins.<br />

Isso não lhe confere autoridade para pretender que todo o resto do universo conhecido deve prestar-lhe vassalagem,<br />

como de fato ainda pretende a maioria das pessoas com poder decisório no mundo.<br />

Para escrever esse texto, o autor:<br />

1. Escolheu o assunto: a natureza;<br />

2. Especificou o ponto de vista: a relação entre o homem a natureza;<br />

3. Definiu o objetivo: mostrar que a natureza não existe para servir ao homem;<br />

Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde<br />

EXERCÍCIO<br />

Agora, destaque no texto qual é a tese do autor, os argumentos utilizados para defendê-la e a que conclusão ele chega.<br />

Analisemos também o texto do Renato Janine Ribeiro.<br />

SOBRE O ABORTO<br />

Nosso tempo tem suas questões éticas características. Uma delas é o aborto. A lei brasileira o proíbe,<br />

exceto em poucos casos. É praticado em enorme escala no território nacional, em condições de saúde precárias<br />

e sujeitando muitas mulheres a chantagem ou pressão por parte da polícia.<br />

Por isso, uma reivindicação importante do movimento feminista é pelo fim da punição penal a quem<br />

pratica aborto. Mas a questão é complexa. Os inimigos do aborto alegam que se põe fim a uma vida, e que<br />

portanto abortar é uma forma de matar. Daí que haja toda uma discussão sobre a questão de quando começa a<br />

vida, ou pelo menos a vida que merece ser chamada humana e protegida pela sociedade e pelo Estado.<br />

Penso, porém, que esse debate, ainda que importante, mascara outro, mais profundo, menos evidente.<br />

Para isso, preciso remeter a minha experiência pessoal, quando fui estudar na França, na época em que estava<br />

sendo discutida a liberação do aborto naquele país. Isto se deu nos anos 70.<br />

As paixões estavam exaltadas. E os jornais veiculavam posições pró e contra a descriminação do<br />

aborto. (Evito usar o termo “pró” e “contra” o aborto, porque não sei se alguém é “a favor” do aborto; o máximo<br />

que os defensores da liberdade de abortar pretendem é que esse ato deixe de ser crime; não conheço ninguém<br />

que defenda o aborto como ideal, como método, como prática).<br />

Vindo de um país como o Brasil da ditadura, no qual o debate público sobre qualquer assunto era<br />

barrado, eu não era a favor do aborto. Pensava, como ainda penso, que a maior parte dos abortos decorre de<br />

22


uma pobre educação sexual. Se for fácil o acesso a métodos anticoncepcionais e os jovens tiverem bom<br />

conhecimento de como evitar a gravidez, o aborto se tornará quase desnecessário. A gravidez indesejada decairá<br />

em número e o recurso ao aborto será apenas excepcional.<br />

Ora, fiquei espantado de não ler, nunca mesmo, este argumento nos jornais. Melhor dizendo, nunca vi<br />

ninguém, dentre os contrários ao aborto, falar algo parecido com isso, em meses de fóruns na imprensa. O<br />

normal, na argumentação contra o aborto, era – além de se falar em assassinato etc. – acrescentar: “teve prazer,<br />

agora pague pelo que fez”; “não pensou na hora, pense agora”; e por aí adiante.<br />

Em outras palavras, quem era contra o aborto acabava sendo contra a sexualidade.<br />

Para essa argumentação, é claro que nem a educação sexual nem métodos contraceptivos são bons.<br />

Esses recursos permitem o sexo sem seus efeitos colaterais, como a gravidez não desejada, a doença venérea, a<br />

AIDS. Eles fazem a sexualidade ser vivida como algo positivo, reduzindo seus riscos. Por isso, quem é contra<br />

a prática do sexo vê a gravidez como o castigo dele, como um sofrimento merecido – e por isso será contra tudo<br />

o que elimine essas penas.<br />

Talvez os mais jovens não tenham consciência da revolução que foi a pílula, há menos de meio século.<br />

Ela permitiu, numa escala inédita, separar o sexo do seu ônus, que era a gravidez – ou a doença venérea; se<br />

pensarmos na sífilis, basta lembrar que no começo do século XX seu tratamento era muito sofrido e sem garantia<br />

de cura. Hoje, o espectro da AIDS assusta, mas mesmo assim a mudança foi enorme.<br />

E no entanto convém, quando discutimos o aborto, pensar o que está em jogo. Volto a meu contato<br />

com a discussão francesa dos anos 70: os únicos preocupados em melhorar a educação sexual e em disponibilizar<br />

pílulas e preservativos eram, justamente, os defensores do direito de abortar. Pode soar paradoxal, mas somente<br />

eles contribuíam para reduzir o número de abortos – e isso porque o único meio de diminuir a interrupção<br />

voluntária da gravidez é evitar que essa última ocorra, e apenas se consegue isso com uma boa educação sobre<br />

o sexo.<br />

Paro por aqui. Voltarei ao assunto. Ele tem outros aspectos, como a discussão sobre a vida e a morte,<br />

opondo o direito do feto a viver e o da mulher a decidir sua gravidez. Como em todas as questões éticas, não é<br />

fácil ser irrestritamente a favor de um lado. Mas quis começar apontando motivações inconscientes ou ocultas,<br />

que compareciam na discussão francesa e me parecem estar presentes também no Brasil.<br />

Eu, que apoio a descriminação do aborto como um mal menor, tenho pleno respeito por quem se opõe<br />

ao direito de abortar, mas somente quando está realmente defendendo o feto e não quando o que quer é punir<br />

quem vive sua sexualidade e especialmente as mulheres, negando-lhes uma educação sexual ampla e aberta ou<br />

o acesso fácil a métodos anticoncepcionais bons e seguros. Mas retornarei ao tema.<br />

Fonte: http://www.renatojanine.pro.br/Etica/aborto.html<br />

EXERCÍCIO<br />

Analisando a estrutura do texto argumentativo.<br />

Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

23


Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Conclusão<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Agora, preencha o esquema abaixo apontando o seu ponto de vista sobre o aborto ou a descriminação dele. Você deve<br />

apresentar argumentos que se somam, ou seja, um único ponto de vista acerca da temática.<br />

Tese:______________________________________________________________________________________________<br />

Argumento1:________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Argumento2:________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Base argumentativa do texto:<br />

__________________________________________________________________________________________________,<br />

pois_______________________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________________________.<br />

Alémdisso,__________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

24


ARGUMENTOS E CONTRA-ARGUMENTOS<br />

A FORÇA DOS ARGUMENTOS<br />

TEXTO 01:<br />

CRÔNICA SOBRE AS CANÇÕES DE NINAR<br />

(Autoria desconhecida)<br />

Eu, uma brasileira morando nos Estados Unidos da América, para ajudar no orçamento, estou fazendo "bico" de<br />

babá e estudante. Ao cuidar de uma das meninas de quem eu "teoricamente" tomo conta, uma vez cantei "Boi da cara preta"<br />

para ela, antes dela dormir. Ela adorou e essa passou a ser a música que ela sempre pede para eu cantar ao colocá-la para<br />

dormir. Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que cantávamos (em Inglês) dizia algo como:<br />

Boa noite, linda menina, durma bem.<br />

Sonhos doces venham para você,<br />

Sonhos doces por toda noite"...<br />

(Que lindo, não é mesmo!?)<br />

Eis que um dia Mary Helen me pergunta o que as palavras, em português, da música "Boi da cara preta" queriam<br />

dizer em Inglês:<br />

Boi, boi, boi,<br />

Boi da cara preta,<br />

Pega essa menina<br />

Que tem medo de careta...<br />

(???)<br />

Como eu ia explicar para ela e dizer que, na verdade, a música "Boi da cara preta" era uma ameaça, era algo como<br />

"dorme logo, senão o boi vem te comer"? Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música<br />

que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina? Claro que menti para ela, mas comecei a pensar em outras<br />

canções infantis, pois não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda noite...<br />

Que tal...<br />

Nana neném<br />

Que a cuca vai pegar...<br />

Caramba... outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!<br />

Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro, que fosse positiva e de uma longa<br />

reflexão, descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma<br />

autoestima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para<br />

aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância! Trauma<br />

causado pelas canções da infância!<br />

Vou explicar: nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta<br />

porrada da vida e ficamos quietos.<br />

Exemplificarei minha tese:<br />

Atirei o pau no gato-to-to<br />

Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu<br />

Dona Chica-ca-ca<br />

Admirou-se-se<br />

25


Do berrô, do berrô que o gato deu<br />

Miaaau!<br />

Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre<br />

gato) e crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo<br />

dessa mulher sob a alcunha de "D. Chica". Uma vergonha!<br />

Eu sou pobre, pobre, pobre,<br />

De marré, marré, marré.<br />

Eu sou pobre, pobre, pobre,<br />

De marré de si.<br />

Eu sou rica, rica, rica,<br />

De marré, marré, marré.<br />

Eu sou rica, rica, rica,<br />

De marré de si.<br />

Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!!! É impossível não se lembrar do<br />

seu amiguinho rico da infância com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de<br />

plástico... Fala sério!<br />

Vem cá, Bitu! vem cá, Bitu!<br />

Vem cá, meu bem, vem cá!<br />

Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!<br />

Tenho medo de apanhar.<br />

Quem foi o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú...<br />

Marcha soldado,<br />

Cabeça de papel!<br />

Quem não marchar direito,<br />

Vai preso pro quartel.<br />

De novo, ameaça! Ou obedece ou você vai se f... Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa...<br />

A canoa virou,<br />

Quem deixou ela virar,<br />

Foi por causa de (nome de pessoa)<br />

Que não soube remar.<br />

Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a<br />

condenar um semelhante. Bate nele, mãe!<br />

Samba-lelê tá doente,<br />

Tá com a cabeça quebrada.<br />

Samba-lelê precisava<br />

É de umas boas palmadas.<br />

A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas,<br />

ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú...<br />

O anel que tu me deste<br />

26


Era vidro e se quebrou.<br />

O amor que tu me tinhas<br />

Era pouco e se acabou...<br />

Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?<br />

O cravo brigou com a rosa<br />

Debaixo de uma sacada;<br />

O cravo saiu ferido<br />

E a rosa despedaçada.<br />

O cravo ficou doente,<br />

A rosa foi visitar;<br />

O cravo teve um desmaio,<br />

A rosa pôs-se a chorar.<br />

Desgraça, desgraça, desgraça! E ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe). Precisamos lutar contra<br />

essas lembranças, meus amigos! Nossos filhos merecem um futuro melhor!<br />

27


A FORÇA DOS CONTRA-ARGUMENTOS<br />

TEXTO 02:<br />

INOCÊNCIA PERDIDA DAS CANÇÕES DE NINAR<br />

(Hélio Consolaro)<br />

Recebi de Manuel Raimundo de Souza Jr., o Nezito, que mora em São Paulo, o texto de uma notícia interessante<br />

veiculada pela rádio CBN. Outro e-mail atribui a autoria do texto à poetisa de Araçatuba Vilmara Bello, que mora em Londres.<br />

(...)<br />

Internautas não valorizam a autoria dos textos, por isso não se sabe quem é o verdadeiro autor dele. A crônica<br />

mostrava a linguagem politicamente incorreta das canções de ninar do Brasil e como suas letras formam a baixa autoestima<br />

das crianças.<br />

A autora (ou autor) do texto, que trabalha como babá em Londres, ficou com vergonha de traduzir as letras para a<br />

criança de quem cuidara, pois as canções de ninar inglesas são suaves e falam de coisas bonitas, enquanto as nossas ameaçam<br />

a criança que não quer dormir com boi da cara preta, cuca e caretas.<br />

Na verdade, a autora (ou autor) confundiu a classificação de algumas canções, classificando-as como de ninar.<br />

“Atirei o pau no gato”, por exemplo, é cantiga de roda. Outro erro da autora, mais grave, foi ignorar a cultura brasileira e que<br />

as histórias das canções de ninar brasileiras eram cantadas por escravas (mucamas) aos filhos da sinhá.<br />

A bem da verdade, ela não amava aquela criança. O seu trabalho era forçado, feito sem amor. E se escravos eram<br />

espancados, perseguidos, numa sociedade repressora ao extremo, as canções de ninar não podiam ser muito diferentes. Cada<br />

pessoa doa o que recebe.<br />

Se as canções de ninar eram cantadas aos filhos dos senhores, não causaram efeitos maléficos, pois não considero<br />

que a elite econômica do Brasil tenha baixa autoestima. Aliás, ela tem mesmo é o nariz bem empinado.<br />

Essa discussão é semelhante àquela da influência dos filmes de violência exibidos pela tevê, se deixa ou não a criança<br />

violenta. Na verdade, quem deixa a criança violenta é a própria sociedade que a circunda, da qual ela é testemunha.<br />

Apesar de a análise apresentada pelo texto ser bem feita, com inteligência, seu autor sofisma quando não considera<br />

os aspectos históricos, ignorando os componentes da nossa cultura e da alma dos brasileiros.<br />

Há na autora (ou autor) o deslumbramento de brasileiro por aquilo que é estrangeiro. Não podia ser diferente, pois<br />

ela foi tentar a vida lá fora, não teve as oportunidades aqui. Embora a tendência do brasileiro que more por algum tempo<br />

exterior, seja valorizar o Brasil.<br />

E, por último, quero dizer que, apesar da linguagem politicamente incorreta de nossas canções de ninar e de roda,<br />

às vezes, com incentivo à violência, ensinando a maltratar os animais, não se educaram aqui George W. Bush nem Tony<br />

Blair.<br />

28


COMENTÁRIOS IMPORTANTES:<br />

Os textos apresentados são dissertações argumentativas livres, isto é, textos que defendem ideias por meio de<br />

argumentos, mas seguem estruturas livres, diferentes das redações de concursos e vestibulares, justamente por não terem sido<br />

feitas com esse propósito.<br />

O texto I defende a tese de que “o brasileiro tem uma autoestima muito baixa devido a traumas causados por canções<br />

da infância”. A tese não é apresentada na introdução. O texto é iniciado com uma longa sequência narrativa: a autora narra<br />

um acontecimento em Londres que a motivou a escrever o texto, a dissertar sobre as canções infantis do folclore brasileiro e<br />

defender sua tese de que elas são nocivas às crianças. O que há de melhor nesse texto é o sistema de argumentaçãoexemplificação.<br />

A autora defende que as canções infantis são negativas e cita diversos exemplos dessas canções.<br />

O texto II está mais de acordo com um texto dissertativo, é mais bem estruturado e embasado. O texto II levanta<br />

alguns argumentos para derrubar a tese defendida pela autora do texto I:<br />

a) Argumento por evidência: as cantigas de ninar não causam baixa autoestima nas crianças. Evidência: nossa elite<br />

econômica não tem baixa autoestima, tem, na verdade, o nariz bem empinado.<br />

b) Argumento por analogia: as canções de ninar não deixam nossas crianças com baixa autoestima, da mesma forma<br />

que filmes violentos não deixam as crianças violentas.<br />

c) Argumento por evidência: é preciso analisar os aspectos históricos. As canções de ninar não foram criadas por<br />

mentes de mães doentias, mas por mucamas que não amavam as crianças de quem cuidavam.<br />

d) Argumento ad hominem: a autora é deslumbrada como todo brasileiro que vai tentar a vida no exterior. Esse tipo<br />

de argumento consiste em atacar o autor da ideia em vez de atacar a ideia. Em debates formais, tal tipo de atitude é<br />

desencorajada, e tal argumento é classificado na verdade como uma falácia, isto é, um erro de argumentação.<br />

e) Argumento por evidência: o fato de nossas canções serem violentas e as estrangeiras serem cândidas não<br />

significam que brasileiros se tornarão violentos e estrangeiros serão cândidos e pacíficos. Evidência: George W. Bush e Tony<br />

Blair não foram educados com canções violentas como as nossas, mas com canções puras e pacíficas dos folclores inglês e<br />

americano. O texto foi escrito na época da guerra contra o Afeganistão.<br />

Como visto, há diversas formas de argumentar: por analogia, por evidência, e outras não apresentadas no texto, mas<br />

simples, como o uso de dados estatísticos, pesquisas científicas, etc. O ideal, em um texto dissertativo-argumentativo, é que<br />

a redação não seja um amontoado de achismos, de opiniões infundadas. O autor deve embasar suas opiniões com argumentos,<br />

sejam eles quais forem.<br />

(Fonte: Guia Prático de Concursos Públicos, editora OnLine, pág. 24 a 26)<br />

29


Agora, elabore um esquema argumentativo sobre o aborto, apontando argumentos e contra-argumentos.<br />

Tese:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Argumento:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Contra-argumento:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Base argumentativa:<br />

__________________________________________________________________________________________________,<br />

pois_______________________________________________________________________________. Por outro<br />

lado,_______________________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________________________.<br />

Continue exercitando com os seguintes temas:<br />

• Racismo no Brasil.<br />

• Violência urbana.<br />

• Redução da Maioridade Penal.<br />

30


A dissertação é o tipo de texto no qual ideias e pontos de vista são defendidos acerca de determinado assunto. Contudo, há<br />

também a dissertação expositiva, na qual se apresenta ideias sobre um tema, mas não é necessário argumentar sobre elas.<br />

Veja os exemplos:<br />

Argumentação:<br />

Não há dúvida de que o advento da internet e do que se convencionou chamar de cibercultura gerou uma verdadeira<br />

revolução cultural no mundo. As facilidades engendradas pelo mais relevante avanço da informática são notórias, mas não<br />

se pode ignorar o fato de que, ao lado dos benefícios, vieram os aspectos negativos, entre os quais se destacam as informações<br />

inúteis disponíveis na rede e o nada salutar rompimento da linha que deveria separar a vida real da virtual.<br />

Exposição:<br />

"O coração merece cuidados”<br />

De que maneira podemos estar livres de problemas cardíacos? Uma nova cartilha, publicada em julho deste ano pela<br />

Associação Americana do Coração, revela que as precauções contra doenças cardiovasculares devem ser mais rígidas do que<br />

as que se adotavam há cinco anos. Ou seja, segundo o documento, nossa postura preventiva estava um tanto quanto<br />

"relaxada". Por outro lado, a ciência nos tem brindado com modernos recursos terapêuticos, que podem dar uma esperança a<br />

mais para quem sofre desses problemas.<br />

Contudo, o nosso foco é o texto argumentativo. Tipo textual cobrado no Enem, a dissertação apresenta<br />

especificidades que devem ser conhecidas e dominadas pelo candidato.<br />

Mas não é só no Exame Nacional do Ensino Médio que a dissertação é cobrada. Esse tipo de texto tem sido muito<br />

requisitado nas escolas como uma forma de preparar os alunos e exigir deles uma postura crítica e observadora diante dos<br />

diversos acontecimentos do dia a dia em nosso país e no mundo, já que a característica principal da dissertação é a defesa de<br />

uma ideia acerca de um determinado assunto. Para que as ideias sejam mais bem apresentadas e desenvolvidas, fique atento<br />

à estrutura do texto dissertativo:<br />

Introdução: A introdução é sua oportunidade de dar “boas-vindas” ao leitor. Nesse momento, você apresentará a<br />

ideia ou o ponto de vista que será defendido ao longo do seu texto. Um bom começo certamente garantirá o interesse e a<br />

adesão de quem está lendo;<br />

Desenvolvimento ou argumentação: Ao longo do desenvolvimento do seu texto, sua principal missão será<br />

convencer o leitor sobre a pertinência de seus argumentos, e isso só acontecerá se eles forem suficientemente fortes e<br />

convincentes. Por esse motivo, é importante dar exemplos e fornecer dados baseados em opiniões de especialistas para<br />

fomentar seu ponto de vista.<br />

31


Fique atento!<br />

O que você pode utilizar para fundamentar sua argumentação?<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Conclusão: No encerramento do seu texto, você deverá concluir a linha de raciocínio desenvolvida. É fundamental<br />

que, ao final da redação, seu posicionamento fique claro e coerente com o desenvolvimento.<br />

Quanto à linguagem, alguns cuidados devem ser tomados: O texto dissertativo deve ser objetivo, portanto, as<br />

palavras devem assumir seu sentido denotativo, ou seja, seu sentido literal. Dê preferência à ordem direta das orações, pois<br />

elas são mais bem compreendidas pelo leitor. A elaboração de um texto dissertativo está centrada na defesa de ideias e na<br />

maneira como essas ideias são articuladas. Para garantir uma boa articulação de seus argumentos, fique atento à coerência<br />

e à coesão textual, elementos que proporcionarão uma melhor relação de sentidos das ideias expostas.<br />

MODELO DE TEXTO DISSERTATIVO<br />

Tema: “Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?” (Enem 2001)<br />

“Em prol da sobrevivência, há milhares de anos, a caça e a pesca eram praticadas pelo homem. Hoje, em nome do<br />

Neoliberalismo, na atual conjuntura de perda dos sentimentos holísticos, desmatamos e poluímos a natureza na incessante<br />

busca do lucro, em detrimento do bem-estar da humanidade. Todavia, o homem parece ter esquecido que a natureza não é<br />

apenas mais um instrumento de alcance do desenvolvimento, mas a garantia de que é possível alcançá-lo.<br />

Primeiramente, é importante ressaltar o papel do meio-ambiente para o desenvolvimento econômico de uma<br />

sociedade. É notório que a extração de recursos minerais e de combustíveis fósseis é fundamental para a atração de indústrias<br />

e conseqüentemente para a solidez do setor produtivo da economia. No entanto, o uso indiscriminado desses bens naturais<br />

pela grande maioria das empresas não pode mais continuar. Cabe aos governantes e à própria população exigirem das mesmas<br />

a aplicação de parte do lucro obtido na manutenção de suas áreas de exploração e não permitir o “nomadismo” dessas<br />

indústrias.<br />

Nesse sentido, vale lembrar que os poderes político e econômico encontram-se intimamente ligados em uma relação<br />

desarmônica, que favorece o capital em detrimento do planeta em que vivemos. De fato, percebe-se que na atual conjuntura<br />

excludente, o poder do Estado Mínimo é medido de acordo com sua capacidade de atrair investimentos. Um exemplo disso<br />

é o grande número de incentivos fiscais e leis ambientais brandas adotados pela maioria dos países periféricos buscando atrair<br />

as indústrias dos países poluídos centrais. Enquanto isso, a população permanece alienada e inerte, não exigindo a prática da<br />

democracia, que deveria atuar para o povo e não para os macrogrupos neoliberais.<br />

Além disso, cumpre questionar o papel da sociedade nesse paradoxo desenvolvimento-destruição ambiental. É fato<br />

que a maioria da população se mantém à margem das questões ambientais, por absorver, erroneamente, a falácia de que a<br />

32


tecnologia pode substituir a natureza. Desse modo, os consumidores tecnológicos passam a exigir mais do setor produtivo,<br />

que, por sua vez, passa a exaurir o meio-ambiente. Estabelece-se, assim, um círculo vicioso que tem como elo principal um<br />

bem finito, que, se quebrado, terá conseqüências desconhecidas e catastróficas para a humanidade.”<br />

Agora que você já sabe o que é um texto dissertativo, começaremos a discutir como é estruturado cada parágrafo deste tipo<br />

de texto.<br />

INTRODUÇÃO<br />

• É o primeiro parágrafo:<br />

• Na dissertação argumentativa - deve-se apresentar a opinião (tese) a ser defendida.<br />

• Na dissertação expositiva - apresenta-se a ideia sobre a qual se quer informar o leitor.<br />

É essencial que a ideia ou opinião apresentada na introdução seja abordada na segunda parte, o desenvolvimento. Alguns<br />

escritores, por distração, esquecem-se de desenvolver alguma informação exposta na introdução. Esse problema é<br />

considerado grave. Por isso, uma dica importante:<br />

Faça um roteiro do texto antes de iniciar a produção propriamente dita. Você também pode iniciar o texto pelos parágrafos<br />

de desenvolvimento e depois sintetizá-los na introdução.<br />

MODELOS DE INTRODUÇÃO<br />

Diversas são as formas de iniciar um texto dissertativo. A seguir, alguns modelos.<br />

A partir dos modelos apresentados, estruture introduções sobre temas livres.<br />

1. TESE<br />

“ O crescimento da violência no Brasil pode ser explicado com base na análise das falhas cometidas pelas instituições<br />

sociais.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

2. INDAGAÇÃO<br />

“ É possível imaginar o Brasil como um país desenvolvido e com justiça social enquanto existir tanta violência?”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

33


3. ALUSÃO HISTÓRICA<br />

“ O passado histórico brasileiro, caracterizado pela colonização e exploração da mão-de-obra escrava, marcou este país<br />

com a cultura da violência que ainda perdura até os dias atuais.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

4. COMPARAÇÃO<br />

“No Brasil, o Artigo 104 do Estatuto da Criança e do Adolescente determina que são penalmente inimputáveis os menores<br />

de 18 anos; na maioria dos estados dos EUA, adolescentes com mais de 12 anos podem ser submetidos aos mesmos<br />

procedimentos dos adultos. Mas, afinal, qual a viabilidade da redução da maioridade penal em nosso país?”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

5. DEFINIÇÃO<br />

“ Menor: o mais pequeno, de segundo plano, inferior, aquele que não atingiu a maioridade. O uso da palavra “menor” para<br />

se referir às crianças no Brasil demonstra como muitas delas são tratadas: em segundo plano.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

6. CONTESTAÇÃO<br />

“O Brasil é o país do futuro. A criança é o futuro do país. Ora, se a criança no Brasil passa fome, é submetida às mais<br />

diversas formas de violência física, não tem escola, nem saúde, como pode ser esse o país do futuro?”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

________________________________________________________________________________________________<br />

34


7. NARRAÇÃO/ILUSTRAÇÃO<br />

“Pessoas lutam e se agridem em estádios de futebol. Ônibus é incendiado e criança morre no Maranhão. Conflitos entre<br />

protestantes e polícia deixam feridos em vários estados do país. Este é o retrato da violência no Brasil.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

8. ESTATÍSTICA<br />

“Segundo o Mapa da Violência 2013 – Homicídios e Juventude no Brasil- a taxa de homicídios no Brasil coloca o país em<br />

sétimo lugar entre aqueles onde mais se mata no mundo. São 27,1 mortes para cada 100 mil pessoas. Este é o retrato da<br />

expansão da violência, cujas causas são múltiplas.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

9. CITAÇÃO<br />

“ ‘Quem não tem moral, não tem direitos.’ Conforme afirmou Sêneca, a moral, ou a ética, determina os direitos do homem,<br />

uma vez que se constitui de princípios que controlam o bem-estar social.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

10. MISTA<br />

“Segundo relatório divulgado pela Unesco, o Brasil é o 8º país com o maior número de adultos analfabetos. Apesar dos<br />

avanços ocorridos nos últimos anos, o sistema educacional brasileiro ainda apresenta falhas relacionadas a outras questões<br />

sociais. Mas, afinal, quais investimentos devem ser feitos para que o direito básico à educação seja garantido?”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

35


11. DOIS ARGUMENTOS<br />

“ A violência tornou-se uma cultura na sociedade brasileira, pois, em muitos casos, a família não desenvolve de forma<br />

correta o seu papel educador. Além disso, há também uma omissão por parte do Estado no que se refere aos direitos básicos<br />

dos jovens, principais vítimas da violência no país.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

OUTROS MODELOS:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

PARÁGRAFO CENTRAL<br />

Os textos em prosa, sejam eles narrativos, descritivos ou dissertativos, são estruturados geralmente em unidades menores, os<br />

parágrafos, identificados por um ligeiro afastamento de sua primeira linha em relação à margem esquerda da folha. Possuem<br />

extensão variada: há parágrafos longos e parágrafos curtos. O que vai determinar sua extensão é a unidade temática, já que<br />

cada idéia exposta no texto deve corresponder a um parágrafo.<br />

Veja o que diz Othon M. Garcia a respeito do parágrafo:<br />

O parágrafo é uma unidade de composição, constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada<br />

idéia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente<br />

decorrentes dela. (GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 7. ed. Rio de Janeiro : FGV. 1978. p 203.)<br />

Nos textos argumentativos, o parágrafo central ou parágrafo padrão constitui-se da parte do texto em que se defendem as<br />

ideias propostas na introdução. Não há uma regra sobre a quantidade de parágrafos de um texto, contudo, é preciso manter a<br />

coesão e coerência entre eles para que a redação fique bem estruturada. Além disso, o parágrafo central de um texto<br />

argumentativo deve desenvolver as ideias de maneira satisfatória para que o leitor sinta-se satisfeito com a argumentação e<br />

para que não haja superficialidade. Assim, podemos pensar em uma ideia central e ideias secundárias que norteiam a<br />

discussão temática.<br />

36


IDEIA CENTRAL<br />

+<br />

IDEIA SECUNDÁRIA 1<br />

+<br />

IDEIA SECUNDÁRIA 2<br />

A ideia central é chamada de tópico frasal e orienta ou governa o resto do parágrafo; dela nascem outros períodos secundários<br />

ou periféricos; ela vai ser o roteiro do escritor na construção do parágrafo. A ideia central ou tópico frasal geralmente vem<br />

no começo do parágrafo, seguida de outros períodos que a explicam ou detalham.<br />

Veja a seguir um modelo de parágrafo central. Perceba que o trecho em destaque introduz o restante das ideias do parágrafo.<br />

“Muitas crianças e adolescentes de famílias carentes no Brasil são submetidas a condições degradantes de trabalho<br />

devido a questões sociais. Neste caso, as péssimas condições financeiras dos pais ou mesmo o abandono por parte destes<br />

forçam menores a trabalhar para completar a renda familiar. Isso ocorre, por exemplo, no Pará, na atividade de beneficiamento<br />

da castanha, e no interior da Bahia, na produção de fogos de artifício.”<br />

EXERCÍCIOS<br />

Estruture parágrafos de argumentação com base nos seguintes temas:<br />

A relação entre o homem e o meio ambiente;<br />

Tópico frasal:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Ideias secundárias:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

________________________________________________________________________________________________<br />

Ascensão da mulher na sociedade;<br />

Tópico frasal:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

_______________________________________________________________________________________________<br />

Ideias secundárias:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

37


Racismo no Brasil;<br />

Tópico frasal:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Ideias secundárias:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

CONCLUSÃO<br />

Um texto pode terminar quando todas as ideias foram expostas. Faz-se necessário um último parágrafo que “amarre” as ideias<br />

desenvolvidas, isto é, que sintetize e reforce a tese provada – é a conclusão.<br />

A conclusão pode tomar a forma de:<br />

conclusão-resumo<br />

conclusão-proposta<br />

conclusão-surpresa<br />

Conclusão-resumo<br />

Esta é a forma mais comum de concluir o texto. Resumem-se os aspectos abordados no desenvolvimento e apresenta-se (ou<br />

reforça-se) a tese.<br />

Exemplo:<br />

“Dessa maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve um série de variáveis que incluem a população,<br />

as indústrias e o Estado.”<br />

ou:<br />

“Portanto, o problema da poluição nos rios não é tão simples quanto possa parecer. Afeta-nos diretamente e faz-se necessária<br />

uma ação conjunta que envolva toda a comunidade.”<br />

Conclusão-proposta<br />

Este tipo de conclusão aponta soluções para o problema tratado, ou seja, procura saídas, medidas que possam ser tomadas.<br />

Em suma, é uma conclusão que aponta para o futuro.<br />

Exemplo:<br />

Como se nota pela dimensão do problema, algumas medidas fazem-se urgentes: é necessário investir em projetos de<br />

recuperação dos rios, tal como se fez na Inglaterra, com o rio Tamisa; por outro lado, devem-se desenvolver projetos que<br />

visem ao reaproveitamento dos esgotos. Ao lado disso, devem-se fazer maciças campanhas educativas para a população.<br />

Finalmente, há a necessidade de uma ampla fiscalização por parte das autoridades responsáveis.<br />

38


Conclusão-surpresa<br />

Bem como a introdução com exemplos, a conclusão-surpresa possibilita uma maior liberdade de criação por parte de quem<br />

escreve.<br />

Citações, pequenas histórias, um fato curioso, uma piada, um final poético, são conclusões inesperadas que surpreendem o<br />

leitor, introduzem um elemento novo e revelam alto grau de elaboração. Mas cuidado com este tipo de conclusão em textos<br />

dissertativos, para que não se perca o caráter mais formal desta proposta.<br />

Possíveis conclusões-surpresas para o texto sobre poluição nos rios:<br />

O grande físico inglês Isaac Newton disse: “A natureza não faz nada em vão”. E, assim, os rios vão reagindo à ação<br />

destruidora dos homens.<br />

ou:<br />

Talvez um dia casos como o do garoto C.A.C.M. não ocorram mais. Cabe a todos nós lutar por isso.<br />

ou ainda:<br />

Talvez possamos, no futuro, sentar à beira de um rio, beber da sua água cristalina, banhar-nos nas suas águas puras. Então<br />

descobriremos que o homem primitivo não era tão primitivo assim!<br />

Algumas expressões indicadoras de conclusão:<br />

Portanto, logo, assim, dessa forma, dessa maneira.<br />

PARA A CONCLUSÃO ENEM, PENSE NISSO:<br />

• Apresente uma proposta de intervenção para a questão-problema.<br />

• Fuja dos clichês ou superficialidades como: “É preciso conscientizar as pessoas...”; “ É preciso educar...”<br />

• Apresente propostas de intervenção que sejam possíveis e evite propor aquilo que já está sendo feito;<br />

• A responsabilidade social é de todos...<br />

Ao apontar uma proposta de intervenção, não pense apenas no papel que deve ser desempenhado pelo Governo, mas naquilo<br />

que deve ser feito por todos os cidadãos, pelas empresas particulares, pela família, pela escola, pela mídia...<br />

Conclusão nota 200 no Enem:<br />

“ Portanto, medidas precisam ser tomadas a fim de dirimir as perigosas consequências que a bebida alcoólica pode causar<br />

aos motoristas. É obrigação do Governo cobrar da Polícia Rodoviária Federal a intensificação da fiscalização da Lei Seca, e<br />

papel das escolas de direção ressaltarem, nas aulas, a importância dos alunos em cumprirem com esse dever. A mídia também<br />

pode colaborar, com campanhas e propagandas que incentivem o cidadão a respeitar essa lei. Dessa maneira, a sociedade<br />

brasileira poderá se tranquilizar e aguardar melhoria da conduta de suas futuras gerações no trânsito.”<br />

Algumas expressões importantes:<br />

“ Para que se promova o bem comum/ bem coletivo...”<br />

“ Para a consolidação dos Direitos Humanos, é necessário...”<br />

39


“ Para a consolidação da democracia/do Estado Democrático de Direito...”<br />

Cidadania<br />

Respeito<br />

Responsabilidade social<br />

Dignidade da pessoa humana.<br />

Outras:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CONCLUSÃO<br />

• Objetividade e coerência: não “faça rodeios”, a argumentação já foi encerrada, portanto, apenas encerre as ideias;<br />

• Clareza e concisão: sem repetir as ideias apresentadas, mas, a partir delas, encerrar a análise do texto.<br />

DEFEITOS COMUNS<br />

CONCLUSÃO MÁGICA: SEM CONSCIÊNCIA CRÍTICA, PROPÕE SOLUÇÕES IMPOSSÍVEIS, SEM<br />

RESPALDO NA REALIDADE:<br />

“ Assim, se todas as pessoas se unirem, a violência no mundo acabará.”<br />

“ Portanto, o governo deve motivar o profissional de segurança pública, oferecendo-lhe um salário mais adequado, um salário<br />

equivalente àquele recebido por deputados federais.”<br />

CONCLUSÃO COM INCERTEZAS:<br />

“ Talvez, se o governo investisse mais em educação, não haveria tantos jovens envolvidos com a criminalidade no Brasil.”<br />

“ Daqui a alguns anos, pode ser que o Brasil seja menos violento, caso o governo invista no profissional de segurança<br />

pública.”<br />

40


CONCLUSÃO QUE INTRODUZ UM ELEMENTO NOVO:<br />

“Portanto, o governo deve investir em educação para que os jovens brasileiros não façam parte das estatísticas de violência.<br />

Hoje, a taxa de homicídio de jovens de 15 a 19 anos é de 43,7 a cada 100 mil. Entre 20 e 24 anos, ela sobe para 60,9 e entre<br />

25 e 29, cai para 51,6.”<br />

CONCLUSÃO QUE REPETE A INTRODUÇÃO.<br />

“O governo investe pouco em educação, por esse motivo, muitos jovens estão envolvido com a criminalidade.”<br />

CONCLUSÃO COM MARCAS DE AGRESSIVIDADE E FALTA DE OBJETIVIDADE:<br />

“A situação mostrada no Mapa da Violência é uma vergonha. Mas não é fácil de ser enfrentada, pois requer dinheiro e<br />

determinação dos governantes”.<br />

CONCLUSÃO COM PANFLETAGEM E RADICALIZAÇÃO:<br />

“Devemos nos unir! Assim, poderemos reduzir a violência.”<br />

“Vamos votar em melhores governantes para que o país possa alcançar o desenvolvimento social.”<br />

AGORA É A SUA VEZ!<br />

Elabora uma conclusão modelo ENEM, com proposta de intervenção, sobre os temas:<br />

1. Violência contra a mulher:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

2. Violência urbana:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

41


RELAÇÃO ENTRE TÍTULO E CONCLUSÃO<br />

Uma estratégia eficiente de encerrar a argumentação é relacionar a conclusão das ideias ao título escolhido para a redação.<br />

Veja:<br />

Redação nota 1000 no ENEM 2013.<br />

42


PROGRESSÃO DE IDEIAS<br />

Um dos critérios adotados pelos corretores para avaliar as redações produzidas em processos seletivos diz respeito à<br />

organização ou progressão das ideias no texto. Assim, além de desenvolver os argumentos dentro de cada parágrafo, por<br />

meio do esquema de tópico frasal e ideias secundárias, o candidato deve, a cada parágrafo apresentar ideias novas e seguir<br />

uma ordem lógica de organização dessas ideias.<br />

PROGRESSÃO DENTRO DO PARÁGRAFO:<br />

TEMA: A importância de conciliar desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sustentável.<br />

TÓPICO FRASAL:<br />

O atual modelo de produção de bens de consumo é desenvolvido com base na exploração dos recursos naturais.<br />

IDEIAS SECUNDÁRIAS:<br />

I- Neste sentido, a geração de energia elétrica, por exemplo, ainda depende predominantemente da água; a construção de<br />

usinas, como a usina de Itaipu, no Sul do país, também exige o desmatamento de áreas verdes, o que pode comprometer a<br />

reserva de recursos naturais na região.<br />

II- Contudo, ao se conciliar o desenvolvimento econômico à preservação da natureza, como ocorre nos projetos da<br />

Binacional de Itaipu - reflorestamento, reposição da mata ciliar, conservação de espécies animais- garante-se o progresso da<br />

sociedade de forma sustentável, pois a matéria-prima natural é conservada.<br />

PARÁGRAFO COMPLETO<br />

O atual modelo de produção de bens de consumo é desenvolvido com base na exploração dos recursos naturais. Neste sentido,<br />

a geração de energia elétrica, por exemplo, ainda depende predominantemente da água; a construção de usinas, como a Usina<br />

de Itaipu, no Sul do país, também exige o desmatamento de áreas verdes, o que pode comprometer a reserva de recursos<br />

naturais na região. Contudo, ao se conciliar o desenvolvimento econômico à preservação da natureza, como ocorre nos<br />

projetos da Binacional de Itaipu - reflorestamento, reposição da mata ciliar, conservação de espécies animais- garante-se o<br />

progresso da sociedade de forma sustentável, pois a matéria-prima natural é conservada.<br />

43


Importante: a coesão e coerência do parágrafo dependem diretamente da forma como você organiza suas ideias: uso de<br />

conectivos, termos de referência (anafóricos e catafóricos), pontuação, tamanho dos períodos, repetição de palavras,<br />

concordância e regência verbal e nominal, etc. Fique atento a todos estes recursos da escrita.<br />

PROGRESSÃO NO TEXTO<br />

Para organizar as ideias em uma redação argumentativa, você pode adotar alguns esquemas que facilitam a progressão dos<br />

argumentos. Por exemplo:<br />

1. ARGUMENTO UM E ARGUMENTO DOIS;<br />

2. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS;<br />

3. PASSADO E PRESENTE;<br />

4. PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS;<br />

5. ASPECTOS FAVORÁVEIS E CONTRÁRIOS;<br />

Assim, há a possibilidade de, por exemplo, no primeiro parágrafo de desenvolvimento, apresentar as causas do problema<br />

exposto na temática e, no segundo parágrafo, apresentar as consequências. Veja o modelo:<br />

(D1) Ao examinarmos algumas das causas do êxodo rural no Brasil, verificamos que<br />

a vida no campo apresenta inúmeros problemas. A permanência do homem no<br />

interior é dificultada pela seca, um empecilho para o desenvolvimento da<br />

agropecuária; pela questão da distribuição da terra, que impossibilita, muitas vezes,<br />

a prática da agricultura de subsistência; e pela falta de incentivo à atividade agrária<br />

por parte do governo, uma vez que os pequenos produtores não possuem recursos<br />

próprios para produzir.<br />

(D2) Em consequência das dificuldades encontradas no campo, vemos, a todo<br />

instante, a chegada de um enorme contingente de trabalhadores rurais ao meio<br />

urbano. Contudo, as cidades encontram-se despreparadas para absorver esses<br />

migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de trabalho. Cresce, portanto,<br />

o número de pessoas vivendo à margem dos benefícios oferecidos por uma<br />

metrópole; por falta de opção, dirigem-se para as zonas periféricas e ocasionam a<br />

proliferação de favelas. Sem escolarização adequada, muitos vivem de subempregos<br />

e acabam se deslizando para a marginalização.<br />

DICA: Os parágrafos de um texto argumentativo devem apresentar ideias que se correlacionam para a comprovação da tese<br />

escolhida. Mas fique atento para que seus parágrafos não repitam o mesmo argumento e mantenham uma coesão individual.<br />

Na mudança de um parágrafo para o outro, você pode utilizar expressões que reforçam o seu esquema de progressão de ideias.<br />

Coesão individual do parágrafo:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

44


Expressões de progressão de ideias:<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

VEJA OS MODELOS A SEGUIR:<br />

ESQUEMAS DE DISSERTAÇÃO – ESQUEMA DE DISSERTAÇÃO 01<br />

1º Parágrafo TEMA + argumento 1 + argumento 2 + argumento 3 Introdução<br />

2º Parágrafo Desenvolvimento do argumento 1 Desenvolvimento<br />

3º Parágrafo Desenvolvimento do argumento 2 Desenvolvimento<br />

4º Parágrafo Desenvolvimento do argumento 3 Desenvolvimento<br />

5º Parágrafo<br />

Expressão inicial + reafirmação do TEMA +<br />

observação final<br />

Conclusão<br />

A QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE E NO CAMPO<br />

É de conhecimento geral que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em alguns aspectos, superior à da zona urbana,<br />

porque no campo inexiste a agitação das grandes metrópoles, há maiores possibilidades de se obterem alimentos adequados<br />

e, além do mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer relações humanas mais profundas e duradouras.<br />

Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso. O espírito de concorrência, a busca de se<br />

obter uma melhor colocação profissional, enfim, a conquista de novos espaços lança o habitante urbano em meio a um<br />

turbilhão de constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso torna a vida bastante agitada, ao contrário do que se<br />

poderia dizer sobre a vida dos moradores da zona rural.<br />

Além disso, nas áreas campestres há maior quantidade de alimentos saudáveis. Em contrapartida, o homem da cidade<br />

costuma receber gêneros alimentícios colhidos antes do tempo de maturação, para garantir maior durabilidade durante o<br />

período de transporte e comercialização.<br />

Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam nas zonas rurais. Ela difere da convivência habitual<br />

estabelecida pelos habitantes metropolitanos. Os moradores das grandes cidades, pelos fatores já expostos, de pouco tempo<br />

dispõem para alimentar relações humanas mais profundas.<br />

Por isso tudo, entendemos que a zona rural propicia a seus habitantes maiores possibilidades de viver com<br />

tranquilidade. Só nos resta esperar que as dificuldades que afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar<br />

com o passar do tempo.<br />

45


ESQUEMA DE DISSERTAÇÃO 02<br />

1º Parágrafo Apresentação do TEMA (com ligeira ampliação)<br />

Introdução<br />

2º Parágrafo Causa (com explicações adicionais) Desenvolvimento<br />

3º Parágrafo Conseqüência (com explicações adicionais) Desenvolvimento<br />

4º Parágrafo<br />

Expressão inicial + reafirmação do TEMA +<br />

observação final<br />

Conclusão<br />

O PROBLEMA DAS CORRENTES MIGRATÓRIAS<br />

Todos sabemos que, em nosso país, há muito tempo, observa-se um grande número de grupos migratórios, os quais,<br />

provenientes do campo, deslocam-se em direção às cidades, procurando melhores condições de vida.<br />

Ao examinarmos algumas das causas desse êxodo, verificamos que a zona rural apresenta inúmeros problemas, os<br />

quais dificultam a permanência do homem no campo. Podemos mencionar, por exemplo, a seca, a questão da distribuição da<br />

terra e a falta de incentivo à atividade agrária por parte do governo.<br />

Em conseqüência disso, vemos, a todo instante, a chegada desse enorme contingente de trabalhadores rurais ao meio<br />

urbano. As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de<br />

trabalho. Cresce, portanto, o número de pessoas vivendo à margem dos benefícios oferecidos por uma metrópole; por falta<br />

de opção, dirigem-se para as zonas periféricas e ocasionam a proliferação de favelas.<br />

Por tudo isso, só nos resta admitir que a existência do êxodo rural somente agrava os problemas do campo e da<br />

própria cidade. Fazem-se, portanto, necessárias algumas medidas para tentar fixar o homem na terra. Assim, os cidadãos<br />

rurais e urbanos deste país encontrariam, com certeza, melhores condições de vida.<br />

ESQUEMA DE DISSERTAÇÃO 03<br />

1º Parágrafo Apresentação do TEMA<br />

Introdução<br />

2º Parágrafo Análise dos aspectos favoráveis Desenvolvimento<br />

3º Parágrafo Análise dos aspectos contrários Desenvolvimento<br />

4º Parágrafo<br />

Expressão inicial + posicionamento pessoal em<br />

relação ao TEMA<br />

Conclusão<br />

46


A PENA DE MORTE<br />

Cogita-se, com muita frequência, da implantação da pena de morte no Brasil. Muitos aspectos devem ser analisados<br />

na abordagem dessa questão.<br />

Os defensores da pena de morte argumentam que ela intimidaria os assassinos perigosos, impedindo-os de cometer<br />

crimes monstruosos, dos quais costumeiramente temos notícia. Além do mais aliviaria, em certa medida, a superlotação dos<br />

presídios. Isso sem contar que certos criminosos, considerados irrecuperáveis, deveriam pagar com a morte por seus crimes<br />

bárbaros.<br />

Outros, porém, não conseguem admitir a ideia de um ser humano tirar a vida de um semelhante, por mais terrível<br />

que tenha sido o delito cometido. Há registros históricos de pessoas executadas injustamente, pois as provas de sua inocência<br />

evidenciaram-se após o cumprimento da sentença. Por outro lado, a vigência da pena de morte não é capaz de, por si,<br />

desencorajar a prática de crimes: estes não deixaram de ocorrer nos países em que ela é ou foi implantada.<br />

Por todos esses aspectos, percebemos o quanto é difícil nos posicionarmos categoricamente contra ou a favor da<br />

implantação da pena de morte no Brasil. Enquanto esse problema é motivo de debates, só nos resta esperar que a lei consiga<br />

atingir os infratores com justiça e eficiência, independentemente de sua situação socioeconômica. Isso se faz necessário para<br />

defender os direitos de cada cidadão brasileiro das mais diversas formas de agressão das quais é hoje vítima constante.<br />

A RETROSPECTIVA HISTÓRICA – ESQUEMA DE DISSERTAÇÃO 04<br />

1º Parágrafo Estabelecimento do TEMA<br />

Introdução<br />

2º Parágrafo Retrospectiva histórica (época mais distante) Desenvolvimento<br />

3º Parágrafo<br />

Retrospectiva histórica (época mais próxima e época<br />

atual)<br />

Desenvolvimento<br />

4º Parágrafo<br />

Expressão inicial + retomada do TEMA (agora sob uma<br />

perspectiva histórica)<br />

Conclusão<br />

NUM PISCAR DE OLHOS<br />

É indiscutível o espantoso avanço conseguido pelos meios de comunicação ao longo dos tempos. O<br />

desenvolvimento tecnológico deste século garantiu a eficiência e a rapidez na comunicação quer entre indivíduos quer através<br />

dos meios eletrônicos, que fazem a informação chegar aos povos de qualquer parte do planeta em questão de segundos.<br />

Em tempos passados, as pessoas dispunham basicamente do correio e do telégrafo. Todos sabem que ainda no<br />

século XIX passavam-se meses antes que alguém soubesse da morte de um parente ou amigo que estivesse na Europa. Isso<br />

ocorria porque a comunicação dependia basicamente dos meios de transporte. Quanto ao telégrafo, embora mais rãpido, ele<br />

restringia em muito a quantidade de dados transmitidos.<br />

Foi somente neste século que a comunicação foi grandemente impulsionada pelo avanço tecnológico. Surgiu o<br />

telefone e mais recentemente o fax. O rádio e a televisão foram inventos que, além de possibilitar a veiculação de notícias<br />

para uma grande massa, ainda permitiram uma melhor integração entre populações de diferentes estados ou países. Com a<br />

utilização de satélites nas transmissões, o mundo interligou-se. O futuro parece trazer a popularização da TV a cabo e do<br />

videofone.<br />

Dessa forma, entendemos que mudou a comunicação e, com ela, o próprio homem. Agora, cada indivíduo é um<br />

habitante do seu planeta e não mais de sua cidade ou país. Mais do que nunca, cada um de nós assiste, a todo o instante, ao<br />

desenrolar dos fatos que compõem a nossa História.<br />

47


A LOCALIZAÇÃO ESPACIAL - ESQUEMA DE DISSERTAÇÃO 05<br />

1º Parágrafo Estabelecimento do TEMA<br />

Introdução<br />

2º Parágrafo Análise do TEMA relacionado à área geográfica 1. Desenvolvimento<br />

3º Parágrafo Análise do TEMA relacionado à área geográfica 2 Desenvolvimento<br />

4º Parágrafo<br />

Expressão inicial + retomada do TEMA procedendo a<br />

uma análise comparativa referente à localização<br />

espacial<br />

Conclusão<br />

OS CONTRASTES REGIONAIS NO BRASIL<br />

país.<br />

Comenta-se com frequência a respeito do grande contraste que existe entre algumas das regiões geográficas do nosso<br />

A Região Nordeste caracteriza-se por grandes extensões de terras áridas, sofrendo longos períodos de seca, seguidos,<br />

às vezes, por inundações que assolam muitos pontos da região. As condições climáticas, associadas à atividade econômica,<br />

predominantemente agrícola, criam uma certa instabilidade. De lá saem freqüentemente correntes migratórias, em busca de<br />

melhores condições de trabalho e de vida.<br />

Por outro lado, a Região Sudeste abriga os maiores pólos industriais do nosso país. Sem precisar enfrentar as<br />

adversidades criadas pelas condições naturais, que nela ocorrem com menos freqüência e intensidade, seus habitantes, que<br />

têm acesso a um melhor padrão de vida e de educação, constroem diariamente o progresso, através de sua força de trabalho.<br />

Pela observação dos aspectos analisados, entendemos que existe um nítido contraste entre as regiões Nordeste e<br />

Sudeste. Este contraste manifesta-se em vários níveis. As condições climáticas, o padrão de vida desfrutado pelas populações<br />

e as características socioeconômicas colocam estas duas regiões em planos opostos. Entretanto, o sentimento de unidade<br />

nacional, o desejo de transformar esta realidade, poderá, em futuro próximo, desencadear soluções para levar o<br />

desenvolvimento às áreas menos favorecidas.<br />

48


Organize esquemas de progressão de ideias, preencha os quadros abaixo:<br />

TEMA: FOME E MISÉRIA<br />

CAUSAS<br />

CONSEQUÊNCIAS<br />

TEMA: DEFASAGEM E EVASÃO ESCOLAR<br />

CAUSAS<br />

CONSEQUÊNCIAS<br />

TEMA: RELAÇÃO ENTRE O HOMEM E A MULHER<br />

PASSADO<br />

PRESENTE<br />

49


TEMA: RESPEITO ÀS DIFERENÇAS E INCLUSÃO SOCIAL<br />

PASSADO<br />

PRESENTE<br />

TEMA: CRESCIMENTO DO COMÉRCIO ENTRE AS CIDADES E OS PAÍSES.<br />

POSITIVOS<br />

NEGATIVOS<br />

TEMA: AVANÇOS TECNOLÓGICOS<br />

POSITIVOS<br />

NEGATIVOS<br />

50


TEMA: REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL<br />

FAVORÁVEIS<br />

CONTRÁRIOS<br />

ESQUEMA DE DOIS ARGUMENTOS<br />

Nesse caso, desenvolvem-se dois argumentos que reforçam a tese apresentada na introdução. No primeiro parágrafo de<br />

desenvolvimento, discute-se o primeiro argumento, no segundo parágrafo de desenvolvimento, discute-se o segundo<br />

argumento.<br />

Por exemplo:<br />

INTRODUÇÃO:<br />

A educação é uma importante ferramenta de transformação social, pois contribui para a formação crítica do indivíduo e o<br />

exercício da cidadania. Além disso, ao adquirirem formação educacional voltada para o mercado de trabalho, muitas pessoas<br />

conseguem ascender socialmente.<br />

TEMA: “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade<br />

muda.” Paulo Freire.<br />

ARGUMENTO I – Desenvolvimento I<br />

51


ARGUMENTO II – Desenvolvimento II<br />

SUGESTÃO: ESCOLHA OUTROS TEMAS DE SUA PREFERÊNCIA E EXERCITE OS ESQUEMAS DE<br />

PROGRESSÃO DE IDEIAS.<br />

52


ARTIGO DE OPINIÃO<br />

Um artigo de opinião procura utilizar argumentos consistentes e bem fundamentados, pois são mais fortes e convincentes.<br />

Eles devem explicar aos leitores quais as razões que provocaram determinada posição, evitando motivos superficiais ou sem<br />

justificativa como: porque ninguém que eu conheço discorda, porque ouvi dizer, porque todo mundo pensa assim, porque na<br />

vizinhança todos dizem, pois são motivos frágeis. O autor precisa escolher os argumentos de acordo com o público para quem<br />

escreve. Um artigo para um jornal de economia, por exemplo, deverá conter dados estatísticos; um articulista, para defender<br />

uma lei que está sendo criada, precisa apresentar situações em que a sua aplicação trouxe melhorias, e assim por diante. É<br />

preciso trazer ideias de um especialista no assunto, exemplificar fatos ocorridos que se relacionem diretamente com a questão<br />

colocada; apresentar provas; referir-se conscientemente a valores éticos ou morais envolvidos na questão; explicitar a relação<br />

de causa e consequência.<br />

TIPOS DE ARGUMENTOS<br />

ARGUMENTOS<br />

De autoridade<br />

De exemplificação<br />

De provas<br />

De princípios ou crença<br />

pessoal<br />

De causa e<br />

consequência<br />

EXEMPLIFICAÇÃO<br />

Ajuda a sustentar sua posição, lançando mão da voz de um<br />

especialista, uma pessoa respeitável (líder, artista, político)<br />

uma instituição de pesquisa considerada autoridade no<br />

assunto;<br />

Relata um fato ocorrido para dar um exemplo de como o<br />

argumento defendido é válido<br />

Comprova seus argumentos com informações incontestáveis:<br />

dados estatísticos, fatos históricos, acontecimentos notórios;<br />

Refere-se a valores éticos ou morais supostamente<br />

irrefutáveis.<br />

Afirma que um fato ocorre em decorrência de outro<br />

53


ELEMENTOS ARTICULADORES<br />

ARGUMENTOS<br />

Tomada de posição<br />

Indicação de certeza<br />

Indicação de<br />

probabilidade<br />

Relação de causa e<br />

consequência<br />

Acréscimo de<br />

argumentos<br />

Indicação de restrição<br />

Organização geral do<br />

texto<br />

Introdução de<br />

conclusão<br />

EXEMPLIFICAÇÃO<br />

Do meu ponto de vista, na minha opinião, penso que,<br />

pessoalmente acho<br />

Sem dúvida, está claro que, com certeza, é indiscutível<br />

Provavelmente, me parece que, ao que tudo indica, é possível<br />

que<br />

Porque, pois, então, logo, portanto, consequentemente<br />

Além disso, também, ademais<br />

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, apesar de, não<br />

obstante<br />

Inicialmente, primeiramente, em segundo lugar, por um lado,<br />

por outro lado, por fim<br />

Assim, finalmente, para finalizar, concluindo, enfim, em<br />

resumo<br />

Fonte: Pontos de vista. Olimpíadas de Língua Portuguesa. CENPEC/MEC 2008<br />

PASSO A PASSO<br />

1. Estabeleça o objeto do enunciado (tema ou acontecimento);<br />

2. Apresente um locutor porta-voz do ponto de vista do autor, podendo-se representá-lo linguisticamente no texto, ou seja,<br />

na maioria das vezes, se usa a 1ª pessoa do singular ou do plural. Mas nada impede que o texto seja escrito na 3ª pessoa. Para<br />

saber qual a melhor perspectiva a ser adotada, leve em consideração a situação sociocomunicativa expressa na proposta;<br />

3. Construa a imagem do enunciador-autor, ou seja, ao argumentar, você deve deixar claro o ponto de vista assumido – se<br />

escreve como estudante ou como político ou advogado, etc.;<br />

4. Construa a imagem do interlocutor (observe o tipo de público a que se destina o seu texto, pois isso determina o modo<br />

como você vai abordar o tema);<br />

5. Posicione-se em relação ao objeto de enunciado: obrigatoriamente, no artigo, é necessário deixar explícita a sua opinião<br />

sobre o tema enfocado;<br />

6. Escreva em português padrão, mas você pode adotar algum grau de informalidade. Há utilização de adjetivos e advérbios<br />

que evidenciam a opinião do autor;<br />

7. Utilize uma linguagem clara, objetiva, modalizada pelo estilo do autor e adequada tanto ao enunciador (ponto de vista<br />

assumido – se estudante ou político ou advogado etc.) quanto ao portador (veículo em que vai ser publicado o texto);<br />

8. Interaja com o leitor;<br />

9. Coloque um título e assine (*Fique atento ao comando da proposta, pois assinatura não é permitida no vestibular. Adote<br />

como assinatura o que for pedido, fora isso, não assine)<br />

54


ROTEIRO<br />

1. Seu artigo se baseia em uma questão polêmica?<br />

2. Você informa ao leitor a origem dessa questão?<br />

3. Tomou uma posição?<br />

4. Introduziu sua opinião com expressões como “penso que”, “na minha opinião”?<br />

5. Levou em consideração os pontos de vista de opositores para construir seus argumentos? Por exemplo: “Para fulano de<br />

tal, a questão é sem solução. Ele exagera, pois...”<br />

6. Usou expressões que introduzem os argumentos, como “pois”, “porque”?<br />

7. Usou argumentos de autoridade, de exemplificação, de provas, de princípio /crença pessoal, de causa e consequência?<br />

8. Usou expressões para introduzir a conclusão, como “então”, “assim”, “portanto”?<br />

9. Concluiu o texto reforçando sua posição?<br />

10. Verificou se a pontuação está correta?<br />

11. Substituiu palavras desnecessariamente repetidas?<br />

12. Escreveu com letra legível para que todos possam entender?<br />

13. Corrigiu os erros de ortografia?<br />

14. Encontrou um bom título para o artigo?<br />

LEIA O TEXTO ABAIXO:<br />

COMO ESCREVER UM BOM ARTIGO<br />

Escrever um bom artigo é bem mais fácil do que a maioria das pessoas pensa. No meu caso, português foi sempre<br />

a minha pior matéria. Meu professor de português, o velho Sales, deve estar se revirando na cova.<br />

Ele que dizia que eu jamais seria lido por alguém. Portanto, se você sente que nunca poderá escrever, não desanime,<br />

eu sentia a mesma coisa na sua idade.<br />

Escrever bem pode ser um dom para poetas e literatos, mas a maioria de nós está apta para escrever um simples<br />

artigo, um resumo, uma redação tosca das próprias ideias, sem mexer com literatura nem com grandes emoções humanas.<br />

O segredo de um bom artigo não é talento, mas dedicação, persistência e manter-se ligado a algumas regras<br />

simples. Cada colunista tem os seus padrões. Eu vou detalhar alguns dos meus e espero que sejam úteis para você também.<br />

1. Eu sempre escrevo tendo uma nítida imagem da pessoa para quem eu estou escrevendo. Na maioria dos meus<br />

artigos para a Veja, por exemplo, eu normalmente imagino alguém com 16 anos de idade ou um pai de família.<br />

Alguns escritores e jornalistas escrevem pensando nos seus chefes, outros escrevem pensando num outro colunista<br />

que querem superar, alguns escrevem sem pensar em alguém especificamente.<br />

A maioria escreve pensando em todo mundo, querendo explicar tudo a todos ao mesmo tempo, algo na minha<br />

opinião meio impossível. Ter uma imagem do leitor ajuda a lembrar que não dá para escrever para todos no mesmo artigo.<br />

Você vai ter que escolher o seu público alvo de cada vez, e escrever quantos artigos forem necessários para convencer todos<br />

os grupos.<br />

O mundo está emburrecendo porque a TV em massa e os grandes jornais não conseguem mais explicar quase nada,<br />

justamente porque escrevem para todo mundo ao mesmo tempo. E aí, nenhum das centenas de grupos que compõem a<br />

55


sociedade brasileira entende direito o que está acontecendo no país, ou o que está sendo proposto pelo articulista. Os poucos<br />

que entendem não saem plenamente ou suficientemente convencidos para mudar alguma coisa.<br />

2. Há muitos escritores que escrevem para afagar os seus próprios egos e mostrar para o público quão inteligentes<br />

são. Se você for jovem, você é presa fácil para este estilo, porque todo jovem quer se incluir na sociedade.<br />

Mas não o faça pela erudição, que é sempre conhecimento de segunda mão. Escreva as suas experiências únicas,<br />

as suas pesquisas bem sucedidas, ou os erros que já cometeu.<br />

Querer se mostrar é sempre uma tentação, nem eu consigo resistir de vez em quando de citar um Rousseau ou Karl<br />

Marx. Mas, tendo uma nítida imagem para quem você está escrevendo, ajuda a manter o bom senso e a humildade. Querer<br />

se exibir nem fica bem.<br />

Resumindo, não caia nessa tentação, leitores odeiam ser chamados de burros. Leitores querem sair da leitura mais<br />

inteligentes do que antes, querem entender o que você quis dizer. Seu objetivo será deixar o seu leitor, no final da leitura,<br />

tão informado quanto você, pelo menos na questão apresentada.<br />

Portanto, o objetivo de um artigo é convencer alguém de uma nova ideia, não convencer alguém da sua inteligência.<br />

Isto, o leitor irá decidir por si, dependendo de quão convincente você for.<br />

3. Reescrevo cada artigo, em média, 40 vezes. Releio 40 vezes, seria a frase mais correta porque na maioria das<br />

vezes só mudo uma ou outra palavra, troco a ordem de um parágrafo ou elimino uma frase, processo que leva praticamente<br />

um mês.<br />

Ninguém tem coragem de cortar tudo o que tem de ser cortado numa única passada. Parece tudo tão perfeito, tudo<br />

tão essencial. Por isto, os cortes são feitos aos poucos.<br />

Depois tem a leitura para cuidar das vírgulas, do estilo, da concordância, das palavras repetidas e assim por diante.<br />

Para nós, pobres mortais, não dá para fazer tudo de uma vez só, como os literatos.<br />

Melhor partir para a especialização, fazendo uma tarefa BEM FEITA por vez.<br />

Pensando bem, meus artigos são mais esculpidos do que escritos. Quarenta vezes talvez seja desnecessário para<br />

quem for escrever numa revista menos abrangente. Vinte das minhas releituras são devido a Veja, com seu público<br />

heterogêneo onde não posso ofender ninguém.<br />

Por exemplo, escrevi um artigo "Em terra de cego quem tem um olho é rei". É uma análise sociológica do Brasil e<br />

tive de me preocupar com quem poderia se sentir ofendido com cada frase.<br />

O Presidente Lula, apesar do artigo não ter nada a ver com ele, poderia achar que é uma crítica pessoal? Ou um<br />

leitor achar que é uma indireta contra este governo? Devo então mudar o título ou quem lê o artigo inteiro percebe que o<br />

recado é totalmente outro?<br />

Este é o tipo de problema que eu tenho, e espero que um dia você tenha também.<br />

O meu primeiro rascunho é escrito quando tenho uma inspiração, que ocorre a qualquer momento lendo uma ideia<br />

num livro, uma frase boba no jornal ou uma declaração infeliz de um ministro. Às vezes, eu tenho um bom título e nada mais<br />

para começar. Inspiração significa que você tem um bom início, o meio e dois bons argumentos. O fechamento vem depois.<br />

Uma vez escrito o rascunho, ele fica de molho por algum tempo, uma semana, até um mês. O artigo tem de ficar de<br />

molho por algum tempo. Isso é muito importante.<br />

Escrever de véspera é escrever lixo na certa. Por isto, nossa imprensa vem piorando cada vez mais, e com a internet<br />

nem de véspera se escreve mais. Internet de conteúdo é uma ficção. A não ser que tenha sido escrito pelo próprio protagonista<br />

da notícia, não um intermediário.<br />

A segunda leitura só vem uma semana ou um mês depois e é sempre uma surpresa. Tem frases que nem você mais<br />

entende, tem parágrafos ridículos, mas que pelo jeito foi você mesmo que escreveu. Tem frases ditas com ódio, que soam<br />

exageradas e infantis, coisa de adolescente frustrado com o mundo. A única solução é sair apagando.<br />

O artigo vai melhorando aos poucos com cada releitura, com o acréscimo de novas ideias, ou melhores maneiras<br />

de descrever uma ideia já escrita.<br />

Estas soluções e melhorias vão aparecendo no carro, no cinema ou na casa de um amigo. Por isto, os artigos andam<br />

comigo no meu Palm Top, para estarem sempre à disposição.<br />

56


Normalmente, nas primeiras releituras tiro excessos de emoção. Para que taxar alguém de neoliberal, só para<br />

denegri-lo? Por que dar uma alfinetada extra? É abuso do seu poder, embora muitos colunistas fazem destas alfinetadas a<br />

sua razão de escrever.<br />

Vão existir neoliberais moderados entre os seus leitores e por que torná-los inimigos à toa? Vá com calma com<br />

suas afirmações preconceituosas, seu espaço não é uma tribuna de difamação.<br />

4. Isto leva à regra mais importante de todas: você normalmente quer convencer alguém que tem uma convicção<br />

contrária à sua. Se você quer mudar o mundo você terá que começar convencendo os conservadores a mudar.<br />

Dezenas de jornalistas e colunistas desperdiçam as suas vidas e a de milhares de árvores, ao serem tão sectários e<br />

ideológicos que acabam sendo lidos somente pelos já convertidos. Não vão acabar nem mudando o bairro, somente<br />

semeando ódio e cizânia.<br />

Quando detecto a ideologia de um jornalista eu deixo de ler a sua coluna de imediato. Afinal, quero alguém<br />

imparcial noticiando os fatos, não o militante de um partido. Se for para ler ideologia, prefiro ir direto na fonte, seja Karl<br />

Marx ou Milton Friedman. Pelo menos, eles sabiam o que estavam escrevendo.<br />

É muito mais fácil escrever para a sua galera cativa, sabendo que você vai receber aplausos a cada "Fora Governo"<br />

e "Fora FMI". Mas resista à tentação, o mercado já está lotado deste tipo de escritor e jornalista. Economizaríamos milhares<br />

de árvores e tempo se graças a um artigo seu, o Governo ou o FMI mudassem de ideia.<br />

5. Cada ideia tem de ser repetida duas ou mais vezes. Na primeira vez você explica de um jeito, na segunda você<br />

explica de outro. Muitas vezes, eu tento encaixar ainda uma terceira versão.<br />

Nem todo mundo entende na primeira investida, a maioria fica confusa. A segunda explicação é uma nova tentativa<br />

e serve de reforço e validação para quem já entendeu da primeira vez.<br />

Informação é redundância. Você tem que dar mais informação do que o estritamente necessário. Eu odeio aqueles<br />

mapas de sítio de amigo que se você errar uma indicação você estará perdido para sempre. Imagine uma instrução tipo: "se<br />

você passar o posto de gasolina, volte, porque você ultrapassou o nosso sítio".<br />

Ou seja, repeti acima uma ideia mais ou menos quatro vezes, e mesmo assim muita gente ainda não vai saber o que<br />

quer dizer "redundância" e muitos nunca vão seguir este conselho.<br />

Neste mesmo exemplo acima também misturei teoria e dois exemplos práticos. Teoria é que informação para ser<br />

transmitida precisa de alguma redundância, o posto de gasolina foi um exemplo.<br />

Não sei porque tanto intelectual teórico não consegue dar a nós, pobres mortais, um único exemplo do que ele está<br />

expondo. Eu me recuso a ler intelectual que só fica na teoria, suspeito sempre que ele vive numa redoma de vidro.<br />

6. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, o melhor é deixá-lo chegar à conclusão sozinho, em vez de você<br />

impor a sua. Se ele chegar à mesma conclusão, você terá um aliado. Se você apresentar a sua conclusão, terá um<br />

desconfiado.<br />

Então, o segredo é colocar os dados, formular a pergunta que o leitor deve responder, dar alguns argumentos<br />

importantes, e parar por aí. Se o leitor for esperto, ele fará o passo seguinte, chegará à terrível conclusão por si só, e se<br />

sentirá um gênio.<br />

Se você fizer todo o trabalho sozinho, o gênio será você, mas você não mudará o mundo, e perderá os aliados que<br />

quer ter.<br />

Num artigo sobre erros graves de um famoso Ministro, fiquei na dúvida se deveria sugerir que ele fosse preso e nos<br />

pagar pelo prejuízo de 20 bilhões que causou, uma acusação que poderia até gerar um processo na justiça por difamação.<br />

Por isto, deixei a última frase de fora. Mostrei o artigo a um amigo economista antes de publicá-lo, e qual não foi<br />

a minha surpresa quando ele disse indignado: "um ministro desses deveria ser preso". A última frase nem foi necessária.<br />

Portanto, não menospreze o seu leitor. Você não estará escrevendo para perfeitos idiotas e seus leitores vão achar<br />

seus artigos estimulantes. Vão achar que você os fez pensar.<br />

57


7. O sétimo truque não é meu, aprendi num curso de redação. O professor exigia que escrevêssemos um texto de<br />

quatro páginas. Feita a tarefa, pedia que tudo fosse reescrito em duas páginas sem perder conteúdo.<br />

Parecia impossível, mas normalmente conseguíamos. Têm frases mais curtas, têm formas mais econômicas, tem<br />

muita linguiça para retirar.<br />

Em dois meses aprendemos a ser mais concisos, diretos, e achar soluções mais curtas. Depois, éramos obrigados a<br />

reescrever tudo aquilo novamente em uma única página, agora sim perdendo parte do conteúdo.<br />

Protesto geral, toda frase era preciosa, não dava para tirar absolutamente nada. Mas isto nos obrigava a<br />

determinar o que de fato era essencial ao argumento, e o que não era.<br />

Graças a esse treino, a maioria das pessoas me acha extremamente inteligente, o que lamentavelmente não sou, fui<br />

um aluno médio a vida inteira. O que o pessoal se impressiona é com a quantidade de informação relevante que consigo<br />

colocar numa única página de artigo, e isto minha gente não é inteligência, é treino.<br />

Portanto, mãos à obra. Boa sorte e mudem o mundo com suas pesquisas e observações fundamentadas, não com<br />

seus preconceitos.<br />

Stephen Kanitz (colunista da Revista Veja)<br />

MODELO DE ARTIGO DE OPINIÃO<br />

Leia, a seguir, um artigo de opinião, de autoria da escritora Lya Luft:<br />

COTAS: O JUSTO E O INJUSTO<br />

O medo do diferente causa conflitos por toda parte, em circunstâncias as mais variadas. Alguns são embates<br />

espantosos, outros são mal-entendidos sutis, mas em tudo existe sofrimento, maldade explícita ou silenciosa perfídia, mágoa,<br />

frustração e injustiça.<br />

Cresci numa cidadezinha onde as pessoas (as famílias, sobretudo) se dividiam entre católicos e protestantes. Muita<br />

dor nasceu disso. Casamentos foram proibidos, convívios prejudicados, vidas podadas. Hoje, essa diferença nem entra em<br />

cogitação quando se formam pares amorosos ou círculos de amigos. Mas, como o mundo anda em círculos ou elipses, neste<br />

momento, neste nosso país, muito se fala em uma questão que estimula tristemente a diferença racial e social: as cotas de<br />

ingresso em universidades para estudantes negros e/ou saídos de escolas públicas. O tema libera muita verborragia populista<br />

e burra, produz frustração e hostilidade. Instiga o preconceito racial e social. Todas as "bondades" dirigidas aos integrantes<br />

de alguma minoria, seja de gênero, raça ou condição social, realçam o fato de que eles estão em desvantagem, precisam desse<br />

destaque especial porque, devido a algum fator que pode ser de raça, gênero, escolaridade ou outros, não estão no desejado<br />

patamar de autonomia e valorização. Que pena.<br />

Nas universidades inicia-se a batalha pelas cotas. Alunos que se saíram bem no vestibular – só quem já teve filhos<br />

e netos nessa situação conhece o sacrifício, a disciplina, o estudo e os gastos implicados nisso – são rejeitados em troca de<br />

quem se saiu menos bem mas é de origem africana ou vem de escola pública. E os outros? Os pobres brancos, os remediados<br />

de origem portuguesa, italiana, polonesa, alemã, ou o que for, cujos pais lutaram duramente para lhes dar casa, saúde,<br />

educação?<br />

A ideia das cotas reforça dois conceitos nefastos: o de que negros são menos capazes, e por isso precisam desse<br />

empurrão, e o de que a escola pública é péssima e não tem salvação. É uma idéia esquisita, mal pensada e mal executada.<br />

Teremos agora famílias brancas e pobres para as quais perderá o sentido lutar para que seus filhos tenham boa escolaridade<br />

e consigam entrar numa universidade, porque o lugar deles será concedido a outro. Mais uma vez, relega-se o estudo a<br />

qualquer coisa de menor importância.<br />

Lembro-me da fase, há talvez vinte anos ou mais, em que filhos de agricultores que quisessem entrar nas faculdades<br />

de agronomia (e veterinária?) ali chegavam através de cotas, pela chamada "lei do boi". Constatou-se, porém, que verdadeiros<br />

filhos de agricultores eram em número reduzido. Os beneficiados eram em geral filhos de pais ricos, donos de algum sítio<br />

próximo, que com esse recurso acabaram ocupando o lugar de alunos que mereciam, pelo esforço, aplicação, estudo e nota,<br />

58


aquela oportunidade. Muita injustiça assim se cometeu, até que os pais, entrando na Justiça, conseguiram por liminares que<br />

seus filhos recebessem o lugar que lhes era devido por direito. Finalmente a lei do boi foi para o brejo.<br />

Nem todos os envolvidos nessa nova lei discriminatória e injusta são responsáveis por esse desmando. Os alunos<br />

beneficiados têm todo o direito de reivindicar uma possibilidade que se lhes oferece. Mas o triste é serem massa de manobra<br />

para um populismo interesseiro, vítimas de desinformação e de uma visão estreita, que os deixa em má posição. Não entram<br />

na universidade por mérito pessoal e pelo apoio da família, mas pelo que o governo, melancolicamente, considera deficiência:<br />

a raça ou a escola de onde vieram – esta, aliás, oferecida pelo próprio governo.<br />

Lamento essa trapalhada que prejudica a todos: os que são oficialmente considerados menos capacitados, e por isso<br />

recebem o pirulito do favorecimento, e os que ficam chupando o dedo da frustração, não importando os anos de estudo, a<br />

batalha dos pais e seu mérito pessoal. Meus pêsames, mais uma vez, à educação brasileira.<br />

(Veja, nº 2046)<br />

PRODUZINDO O ARTIGO DE OPINIÃO<br />

Prepare-se para também produzir um artigo de opinião. Para isso, leia o painel de textos que segue e observe como<br />

são estruturadas as opiniões.<br />

1. Corajoso o artigo de Lya Luft sobre as cotas nas universidades (Ponto de vista, 6 de fevereiro). Ela aborda com propriedade<br />

aspectos do tema que são sistematicamente empurrados para debaixo do tapete pelos entusiastas da idéia. Se não bastassem<br />

os argumentos da articulista, pergunta-se ainda, como já perguntou VEJA: cotas para quê? Pesquisas realizadas em várias<br />

universidades públicas demonstram claramente que na maior parte dos cursos de graduação predominam alunos provenientes<br />

de escolas de ensino médio públicas. As exceções são óbvias: apenas cursos de grande demanda no vestibular têm maioria<br />

de alunos provenientes de escolas privadas, a exemplo de medicina, direito, odontologia, computação e poucos mais. (H. P.<br />

M. - João Pessoa, PB)<br />

2. Como mãe de três filhos, abri mão de muitas coisas para proporcionar-lhes uma boa educação. Vale ressaltar que,<br />

colocando meus filhos em escolas particulares, tirei a responsabilidade do governo de nos oferecer as vagas nas escolas<br />

públicas, mesmo tendo direito a elas. Neste ano, um dos meus filhos fez 74 pontos no vestibular e não conseguiu entrar na<br />

universidade, enquanto a maior pontuação alcançada pelo aluno que entrou por sistema de cotas foi de 52 pontos. Não<br />

precisamos oficializar mais discriminações do que a que a renda proporciona em nosso país. Não é uma questão de raça ou<br />

econômica que impede o acesso à educação. É uma questão de pouca-vergonha dos governos que sempre buscam resolver<br />

os problemas tratando seus efeitos e não suas causas. (L..S. - Cuiabá, MT)<br />

3. Venho de família humilde, com pai que estudou somente até a 4ª série primária e mãe até a 8ª série ginasial. Mas eles<br />

trabalharam duro, meu pai como caminhoneiro e minha mãe como costureira, e sempre nos incentivavam e cobravam nosso<br />

desempenho nos estudos. Eu e minha irmã estudamos em escolas públicas, sem ajuda de cota nenhuma, e mesmo assim<br />

conseguimos entrar na universidade e nos formar. Estou terminando meu MBA e minha irmã pretende fazer um também.<br />

Portanto, fica muito claro que o sistema de cotas é extremamente injusto com as pessoas que trabalham e lutam para conseguir<br />

algo através do esforço, da dedicação e do empenho. (M. M.- Jaraguá do Sul, SC)<br />

4. Sou negro, servidor público, universitário e nunca tive privilégio algum em minha carreira profissional ou estudantil. Mas<br />

sou completamente favorável às cotas. A única forma de nos igualarmos às classes média e alta do Brasil é através das cotas<br />

universitárias e dos concursos públicos. Somos tão capazes quanto pessoas de qualquer etnia, mas temos quase 120 anos de<br />

pura exclusão. (M. J. C. - Blumenau, SC)<br />

5. Sou negro e sou contra as cotas em universidades públicas para negros, mas sou a favor das cotas para alunos que vieram<br />

do ensino público. No meu entender, não são necessárias cotas para negros, visto que boa parte dos alunos de escola pública<br />

é de negros. Essas cotas causam mal-estar, tanto para os brancos quanto para os negros. Não somos menos inteligentes que<br />

ninguém. Quando nos é dada uma chance, sabemos muito bem aproveitá-la, e, mesmo quando não nos dão essa chance,<br />

corremos atrás de nosso desenvolvimento. (E. J. L. - São Paulo, SP)<br />

59


6. Duas derrotas para as cotas - Enquanto o Congresso não vota o projeto de lei que trata das cotas para ingresso nas<br />

faculdades, estudantes de todo o país estão sujeitos às interpretações de promotores, juízes e reitores. Na semana passada,<br />

decisões judiciais derrubaram os sistemas de reserva de vagas para negros, índios e estudantes de escolas públicas em duas<br />

universidades federais. O primeiro caso foi no dia 18, quando uma juíza deu uma sentença favorável à ação movida desde<br />

2005 pela estudante Elis Wendpap, de 20 anos. A garota foi aprovada no vestibular de Direito da Universidade Federal do<br />

Paraná (UFPR) naquele ano, mas não entrou porque sua vaga acabou sendo destinada às cotas. Acabou tendo de entrar numa<br />

faculdade particular, onde cursa o 3º ano. A outra decisão judicial contra as cotas saiu no dia 21. Um juiz suspendeu o sistema<br />

de reserva de vagas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ação, movida pelo Ministério Público, questionava<br />

a constitucionalidade do sistema. Na decisão, o juiz disse que a universidade não tem autonomia para implantar cotas e<br />

afirmou que elas ferem o artigo 5 da Constituição, segundo o qual “todos são iguais perante a lei”. O procurador Davy<br />

Lincoln, autor da ação contra UFSC, acredita que os resultados influenciarão novas decisões: “Há setores do Ministério<br />

Público em vários Estados que são contra as cotas e também poderiam ir à Justiça”. Só a UFPR já enfrentou 76 ações<br />

questionando as cotas. A universidade venceu 66 vezes e perdeu em dez ocasiões. Está recorrendo em todas.<br />

(T. C. Época, nº 506, Editora Globo)<br />

VERDADE X OPINIÃO<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Nos gêneros argumentativos em geral, o autor sempre tem a intenção de convencer seus interlocutores. Para isso, precisa<br />

apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

Consideram-se verdades tanto as afirmações universalmente aceitas (por exemplo, o fato de a Terra girar em torno do Sol, a<br />

poluição prejudicar o meio ambiente) quanto dados científicos em geral, como estatísticas, resultados de pesquisas sociais ou<br />

de laboratório, entre outras. Já as opiniões são fundamentadas em impressões pessoais doa autor do texto e, por isso, são mais<br />

fáceis de contestar.<br />

60


PROPOSTAS DE <strong>REDAÇÃO</strong> EM VESTIBULARES:<br />

(PUC 2008) [...] escreva um artigo de opinião, destinado a ser publicado em jornal de circulação nacional, em que você,<br />

assumindo o ponto de um(a) jornalista recém-formado(a), discuta sobre:<br />

“A função da mídia na nossa sociedade: papel e limites da sua atuação”.<br />

Considere que esse artigo será publicado em caderno especial do jornal, organizado para a discussão da temática a partir da<br />

contribuição de jornalistas experientes e recém-formados bem como de intelectuais vinculados a diferentes áreas do<br />

conhecimento.<br />

Na redação de seu texto, considere que a argumentação a ser desenvolvida deve levar em conta:<br />

a) o tipo de enunciador proposto e sua relação com a temática;<br />

b) a natureza do veículo de comunicação e do caderno em que o texto será publicado;<br />

c) a abrangência do público-leitor.<br />

(PUC 2010) A discussão sobre o sistema de reserva de cotas nas instituições universitárias públicas federais é um dos muitos<br />

momentos em que a sociedade brasileira toma a exclusão e o preconceito como tema de seus debates.<br />

Para a produção de texto, considere a seguinte orientação:<br />

a) você deverá assumir a condição de representante dos alunos de ensino médio da sua escola, escrevendo texto opinativoargumentativo,<br />

destinado a ser publicado em jornal de circulação nacional, em caderno especial sobre a temática;<br />

b) o texto a ser escrito deverá defender, de forma consistente, o ponto de vista do grupo que você representa;<br />

c) deverá ser adotado o padrão culto da língua.<br />

(UFMG 2010) Com base nas informações contidas nesses trechos, REDIJA um artigo de opinião para um jornal ou revista,<br />

posicionando-se com relação à educação a distância. Apresente argumentos relevantes e coerentes, que fundamentem seu<br />

ponto de vista.<br />

(UFV 2010) [...] produza um artigo de opinião, entre 25 e 30 linhas, a ser publicado no site da MTV, para esclarecer os que<br />

ainda são “eco-alienados”, sobre a relação entre qualidade de vida, sustentabilidade e meio ambiente.<br />

CARTA ARGUMENTATIVA<br />

Algumas universidades, como a UESB, UEL e a Unicamp, têm cobrado nos exames vestibulares uma modalidade de texto<br />

muito interessante: a carta argumentativa.<br />

Ao contrário do que pensam muitos vestibulandos, não há segredo algum na elaboração da carta. Aliás, ela é, segundo alguns,<br />

bem mais simples que a dissertação tradicional, haja vista que é um tipo de texto bem próximo à realidade dos alunos.<br />

Vejamos, então, as principais características da carta cobrada pelos vestibulares.<br />

a) Estrutura dissertativa: costuma-se enquadrar a carta na tipologia dissertativa, uma vez que, como a dissertação tradicional,<br />

apresenta a tríade introdução / desenvolvimento / conclusão. Logo, no primeiro parágrafo, você apresentará ao leitor o ponto<br />

de vista a ser defendido; nos dois ou três subsequentes (considerando-se uma carta de 20 a 30 linhas), encadear-se-ão os<br />

argumentos que o sustentarão; e, no último, reforçar-se-á a tese (ponto de vista) e/ou apresentar-se-á uma ou mais propostas.<br />

b) Argumentação: como a carta não deixa de ser uma espécie de dissertação argumentativa, você deverá selecionar com<br />

bastante cuidado e capricho os argumentos que sustentarão a sua tese. É importante convencer o leitor de algo.<br />

Apesar das semelhanças com a dissertação, que você já conhece, é claro que há diferenças importantes entre esses dois tipos<br />

de redação. Vamos ver as mais importantes:<br />

a) Cabeçalho: na primeira linha da carta, na margem do parágrafo, aparecem o nome da cidade e a data na qual se escreve.<br />

Exemplo: Vitória da Conquista, 03 de março de 2015.<br />

61


) Vocativo inicial: na linha de baixo, também na margem do parágrafo, há o termo por meio do qual você se dirige ao leitor<br />

(geralmente marcado por vírgula). A escolha desse vocativo dependerá muito do leitor e da relação social com ele<br />

estabelecida. Exemplos: Prezado senhor Fulano, Excelentíssimo Senhor Presidente Fulano de Tal, Senhor Deputado Fulano<br />

de Tal, Caro Deputado Sicrano, etc.<br />

c) Interlocutor definido: essa é, indubitavelmente, a principal diferença entre a dissertação tradicional e a carta. No texto<br />

dissertativo geralmente não se indica aquele que irá lê-lo. Na carta, isso muda: estabelece-se uma comunicação particular<br />

entre um eu definido e um você definido. Logo, você terá que ser bastante habilidoso para adaptar a linguagem e a<br />

argumentação à realidade desse leitor e ao grau de intimidade estabelecido entre vocês dois. Imagine, por exemplo, uma carta<br />

dirigida a um presidente de uma associação de moradores de um bairro carente de determinada cidade. Digamos que esse<br />

senhor, do qual você não é íntimo, não tenha o Ensino Médio completo. Então, a sua linguagem, escritor, deverá ser mais<br />

simples do que a utilizada numa carta para um juiz, por exemplo, (as palavras podem ser mais simples, mas a Gramática<br />

sempre deve ser respeitada...). Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade<br />

dele. Mas, da mesma maneira que a competência do interlocutor não pode ser superestimada, não pode, é claro, ser<br />

menosprezada. Você deve ter bom senso e equilíbrio para selecionar os argumentos e/ou informações que não sejam óbvios<br />

ou incompreensíveis àquele que lerá a carta.<br />

d) Necessidade de dirigir-se ao leitor: na dissertação tradicional, recomenda-se que você evite dirigir-se diretamente ao leitor<br />

por meio de verbos no imperativo (“pense”, “veja”, “imagine”, etc.). Ao escrever uma carta, essa prescrição cai por terra.<br />

Você até passa a ter a necessidade de fazer o leitor “aparecer” nas linhas. Se a carta é para ele, é claro que ele deve ser<br />

evocado no decorrer do texto. Então, verbos no imperativo – que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor – e vocativos<br />

são bem-vindos. Observação: é falha comum entre os alunos-escritores “disfarçar” uma dissertação tradicional de carta<br />

argumentativa. Alguns escrevem o cabeçalho, o vocativo inicial, um texto que não evoca em momento algum o leitor e, ao<br />

final, a assinatura. Tome cuidado! Na carta, vale reforçar, o leitor “aparece”.<br />

e) Expressão que introduz a assinatura: terminada a carta, é de praxe produzir, na linha de baixo (margem do parágrafo), uma<br />

expressão que precede a assinatura do autor. A mais comum é “Atenciosamente”, mas, dependendo da sua criatividade e das<br />

suas intenções para com o interlocutor, será possível gerar várias outras expressões, como “De um amigo”, “De um cidadão”,<br />

De alguém que deseja ser atendido”, etc.<br />

Obs.: A expressão atenciosamente é indicada para pessoas de mesmo nível hierárquico; respeitosamente, nível hierárquico<br />

superior.<br />

f) Assinatura: um texto pessoal, como é a carta, deve ser assinado pelo autor. Nos vestibulares, porém, costuma-se solicitar<br />

ao aluno que não escreva o próprio nome por extenso. Na Unicamp, por exemplo, ele deve escrever a inicial do nome e dos<br />

sobrenomes (J. A. P. para João Alves Pereira, por exemplo). Na UEL, somente a inicial do prenome deve aparecer (J. para o<br />

nome supracitado). Essa postura adotada pelas universidades é importante para que se garanta a imparcialidade dos corretores<br />

na avaliação das redações.<br />

UM EXEMPLO DE CARTA<br />

Leia agora uma carta argumentativa baseada num tema proposto pela UEL em 2002. Preste muita atenção ao que foi pedido<br />

no enunciado e aos textos de apoio (suprimiu-se, por questões de espaço, um trecho do texto b). Note que os elementos da<br />

estrutura da carta foram respeitados pelo autor:<br />

A partir da leitura crítica dos textos de apoio, escreva uma carta dirigida a um jornal da cidade, sugerindo medidas para conter<br />

a violência em Londrina.<br />

a) A violência, quem diria, já não é o que mais preocupa o brasileiro. Chegamos à era da selvageria.<br />

(Marcelo Carneiro e Ronaldo França)<br />

62


Não é preciso ser especialista em segurança pública para perceber que o crime atingiu níveis insuportáveis. Hoje, as vítimas<br />

da violência têm a sensação quase de alívio quando, num assalto, perdem a carteira ou o carro - e não a vida.<br />

Essa espiral de insegurança gerou uma variante ainda mais assustadora. É o crime com crueldade. A morte trágica de Tim<br />

Lopes, o repórter da Rede Globo que realizava uma reportagem sobre tráfico de drogas e exploração sexual de menores em<br />

um baile funk numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, é apenas o exemplo mais recente de uma tragédia que se repete<br />

a toda hora. Desta vez, com uma questão ainda mais aguda: por que um bandido precisa brutalizar as suas vítimas?<br />

O fato de as cenas mais chocantes da brutalidade estarem quase sempre associadas a regiões pobres das áreas metropolitanas<br />

das capitais brasileiras criou, em alguns especialistas, a ideia de que boa parte dos problemas de segurança poderia ser<br />

resolvida com investimentos maciços na área social. Trata-se de um equívoco.<br />

Um levantamento do jornal O Globo mostra que, desde 1995, a prefeitura do Rio já investiu quase 2 bilhões de reais em<br />

projetos de urbanização, saneamento e lazer em favelas. Isso não impediu que, nos últimos dez anos, houvesse um<br />

crescimento de 41% no número de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, na maioria moradores de áreas carentes.<br />

O aumento da criminalidade desafia qualquer lógica que vincule, de modo simplista, indicadores sociais a baixos índices de<br />

violência. Desde a década de 80, quando o tráfico de drogas passou a se estabelecer definitivamente nas principais cidades<br />

brasileiras, os números relativos à educação, saúde e saneamento só fazem melhorar no país.<br />

O investimento dos governos estaduais em segurança também é crescente. Só neste ano, o governador paulista, Geraldo<br />

Alckmin, prometeu destinar 190 milhões de reais para o combate à criminalidade, a construção de três penitenciárias e a<br />

aquisição de novos veículos - um recorde.<br />

"Vincular violência somente a problemas sociais, por exemplo, é um erro. O crime organizado e a brutalidade que ele gera<br />

são um fenômeno internacional", diz a juíza aposentada Denise Frossard. Os códigos de crueldade das organizações<br />

criminosas chinesas, com mutilações do globo ocular, ou da máfia italiana, especializada em decepar a língua dos traidores,<br />

não diferem em nada do "microondas", criação dos traficantes cariocas para incinerar seus inimigos.<br />

As soluções para tentar diminuir a espiral da brutalidade também podem ser encontradas no exterior. Criado em 1993, o<br />

projeto de Tolerância Zero, da prefeitura de Nova York, tinha desde o início o objetivo de combater os violentos crimes de<br />

homicídio por tráfico de drogas. Descobriu-se que o furto de veículos, um crime mais leve, tinha relação direta com os<br />

assassinatos.<br />

Combatendo-se o furto, caía também o número de mortes. Assim feito, ao mesmo tempo que uma faxina nas delegacias<br />

eliminou centenas de policiais corruptos. São medidas que, no Brasil, ainda estão no campo da discussão. Quando finalmente<br />

se decidir pela ação, talvez já seja tarde. Por enquanto, a sociedade se pergunta, perplexa, como pode uma parte dela<br />

comportar-se de modo tão bárbaro. (Veja, jun. de 2002)<br />

b) Iniciativas contra sete gatilhos da violência urbana<br />

É imprescindível discutir a violência quando ocorre um homicídio por hora só na grande São Paulo. A cifra prova que o<br />

poder público fracassou numa das principais obrigações determinadas pela Constituição: garantir a segurança dos cidadãos.<br />

Este artigo apresenta iniciativas que tentam minimizar algumas causas da violência como as detalhadas no quadro abaixo.<br />

Elas atuam sobre sete fatores que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania, qualidade de<br />

vida, identidade e família.<br />

Exemplo de carta<br />

Londrina, 10 de setembro de 2002<br />

Prezado editor,<br />

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para<br />

chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de "sorte"<br />

para constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas<br />

63


autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranqüilidade<br />

na terceira cidade mais importante do Sul do país.<br />

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no<br />

início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego,<br />

tem beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus,<br />

Cantagalo e Parada de Lucas.<br />

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma<br />

do exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero,<br />

adotado pela prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.<br />

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção<br />

inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de<br />

assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de<br />

homicídios.<br />

Convenhamos, senhor editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se<br />

espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países,<br />

que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.<br />

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que,<br />

como todos os londrinenses, deseja viver tranqüilamente em nossa cidade.<br />

Atenciosamente,<br />

M.<br />

Percebeu como a estrutura da carta é dissertativa? No primeiro parágrafo – releia e confira – é apresentada a tese a ser<br />

defendida (a de que a situação da violência é grave, mas não irremediável); nos dois parágrafos subsequentes (o<br />

desenvolvimento), são apresentadas, obedecendo ao que se pediu no enunciado, propostas para combater a violência na<br />

cidade de Londrina; e no último parágrafo, a conclusão, propõe-se que as autoridades sigam exemplos como os citados no<br />

desenvolvimento.<br />

O leitor, o editor do jornal, “apareceu” no texto, o que é muito positivo em uma carta. E, como não poderia deixar de ser,<br />

foram respeitados os elementos pré-textuais (cabeçalho e vocativo) e pós-textuais (expressão introdutora de assinatura e<br />

assinatura).<br />

ALGUNS TEMAS DE CARTA-ARGUMENTATIVA<br />

Treinar e ler são as melhores oportunidades de aprender a escrever bem!<br />

64


TEMA I<br />

(UFMS/1999) Leia o trecho a seguir e faça a atividade proposta:<br />

O Pantanal, por suas características peculiares, exerce estranho fascínio na mente de todos que o visitam. A beleza dos rios,<br />

das matas, das lagoas, com verdes de todos os tons, compõe uma paisagem que as mais modernas lentes não conseguem<br />

captar com plenitude. A variedade de animais de toda espécie, os contrastes naturais: secas/enchentes, aglomerados humanos<br />

em torno das sedes das fazendas e imensos vazios preenchidos por milhares de cabeças de gado, a cultura do patrão e a do<br />

vaqueiro, o poder econômico do fazendeiro e a pobreza do peão, a situação de isolamento, em que se acham confinados<br />

ranchos e fazendas, tudo isso determinou o surgimento de uma cultura única, que surpreende os pesquisadores e fascina os<br />

artistas. (...)<br />

Nos corixos, baias e várzeas, alternam-se lagoas salobras com praias brancas, lagoas doces com vegetação nas margens, por<br />

onde voam e cantam pássaros de todas as cores e tamanhos. Garças, colhereiros, tuiuiús, baguaris, tucanos, araras azuis, bemte-vis,<br />

emas, gaviões enfeitam o mais lindo pôr-do-sol. Jacarés de olhos esbugalhados enterram-se na lama dos corixos, num<br />

exercício de paciência que desafia a lentidão das horas. Onças ferozes deslizam sorrateiras, cervos elegantes espreitam de<br />

longe qualquer sinal de perigo. Tatus, antas, pacas, lontras e macacos sentem-se senhores do espaço, donos das matas. Sucuris<br />

povoam a imaginação dos pantaneiros, que contam historias fantásticas da cobra capaz de engolir bois e pessoas (...) (ROSA,<br />

Maria da Gloria Sá. O artesanato como força representativa do pluralismo sul-mato-grossense. In: Catalogo do Ministério da<br />

Cultura/Funarte, 1995)<br />

Apoiando-se nas informações que você obteve acima, elabore uma carta-argumentativa sobre o Pantanal, com o objetivo de<br />

persuadir algum brasileiro de sua escolha a valorizar e visitar o turismo nacional.<br />

TEMA II<br />

(UNAMA–2006.II) Proposta temática a: carta argumentativa<br />

Em importante periódico da imprensa brasileira, a jornalista Mônica Bérgamo produziu a seguinte chamada para uma<br />

reportagem:<br />

“1000 LUGARES PARA CONHECER ANTES DE MORRER”, best-seller mundial da americana Patrícia Schulz, lançado<br />

no Brasil pela Sextante, traz cerca de 20 paradas obrigatórias no país.<br />

(Folha de São Paulo, 23 de abril de 2006)<br />

Entre essas 20 “paradas obrigatórias” brasileiras, duas estão localizadas no estado do Pará: o Ver-o-Peso e o Marajó. Mas<br />

certamente você, habitante de outras regiões do Brasil, conhece vários lugares, também merecedores, na sua opinião, de<br />

serem conhecidos por pessoas de qualquer lugar do mundo. Propõe-se, então, que você escolha um desses lugares e escreva<br />

uma carta argumentativa a um estrangeiro, real ou fictício, para convencê-lo a vir conhecer o lugar que você eleger. Em sua<br />

argumentação, ressalte as características físicas e/ou humanas que fazem dele um lugar muito especial. Não se esqueça de<br />

obedecer às seguintes recomendações:<br />

1. DESTINATÁRIO: estrangeiro, residente em outro país.<br />

2. TRATAMENTO: tu, você, senhor ou senhora.<br />

3. REMETENTE: um (a) morador (a) local.<br />

TEMA III<br />

UFPR (Universidade Federal do Paraná)<br />

O texto abaixo é a síntese de notícias publicadas na Folha de S. Paulo, em 17/07/2001, e naVeja, em 25/07/2001.<br />

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MORTE DE FUMANTE AJUDA ECONOMIA, DIZ PHILIP MORRIS<br />

A Philip Morris, gigante americana da indústria do tabaco, divulgou em 16/07/2001, no jornal econômico The Wall<br />

Street Journal, um relatório no qual ressalta os benefícios econômicos do cigarro para as finanças públicas da República<br />

Tcheca. O relatório aponta o impacto positivo do tabagismo nas finanças do país, incluindo a economia de gastos na área da<br />

saúde em virtude da mortalidade precoce e os ganhos obtidos pela arrecadação de impostos. A morte precoce de fumantes na<br />

República Tcheca, segundo o relatório, ajudou o governo a economizar em gastos na área da saúde, em cuidados geriátricos,<br />

no sistema de pensão e previdenciário.<br />

Em uma carta-argumentativa direcionada à empresa, faça uma crítica aos argumentos usados pela Philip Morris no<br />

relatório.<br />

TEMA IV<br />

(VUNESP/98) Leia os textos abaixo e, a seguir, elabore uma CARTA-ARGUMENTATIVA para o Ministro da Educação<br />

em que você explicite sua opinião sobre a necessidade da realização do concurso vestibular para ter acesso à universidade,<br />

desenvolvendo argumentos adequados para defender seu ponto de vista. Dê-lhe um título. É necessário assinar a carta com<br />

as suas iniciais. Não ultrapasse 30 linhas.<br />

Texto 1<br />

“A faculdade, hoje, é tábua de salvação das famílias de classe média, que não conseguem acumular bens e precisam recompor<br />

seu patrimônio a cada geração”, explica a socióloga Gisela Taschener, da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo.<br />

Atualmente, 8% dos brasileiros possuem diploma universitário”. “A universidade é valorizada porque, no mundo de hoje, o<br />

capital do cidadão médio é sua escolaridade”, completa Gisela. Para as famílias que se equilibram com dificuldade entre a<br />

prestação da casa e a possibilidade de trocar o carro no final do ano, a faculdade dos filhos é o único patrimônio que se pode<br />

deixar. Para os filhos das famílias humildes, o diploma é uma das poucas esperanças de ascensão social. (Veja, Escravos da<br />

Angústia, 12/11/1997)<br />

Texto 2<br />

O vestibular, embora considerado injusto por muitos, especialmente aqueles indolentes e incapazes de superá-los, é um<br />

instrumento democrático, que proporciona aos concorrentes igualdade de condições. (Vladimir Antonini, Curitiba, PR, Veja,<br />

Cartas, 19/11/97)<br />

Texto 3<br />

Considero o vestibular a maior prova de ineficácia do sistema educacional brasileiro. Não se pode analisar um nível de<br />

conhecimento em apenas “uma tarde de domingo”. Principalmente porque estão presentes aspectos emocionais que podem<br />

ser decisivos. (Rodrigo Frank de Souza Gomes, Fortaleza, CE, Veja, Cartas, 19/11/97)<br />

Texto 4<br />

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há um teste depois do 2º grau, mas a avaliação depende de várias outras coisas, entre<br />

elas o histórico escolar, cartas de recomendação e o resultado de entrevistas na universidade. (...) Na França, quem conclui o<br />

2º grau tem direito à faculdade desde que seja capaz de aguentar o ritmo puxado dos estudos superiores, responsável pelo<br />

abandono do curso por mais da metade dos matriculados. (Veja, Escravos da Angústia, 12/11/97)<br />

TEMA V<br />

(VUNESP) Há alguns anos, quando os acidentes de trânsito começaram aumentar assustadoramente, começou-se a pensar<br />

seriamente na educação para o trânsito. A tentativa de conscientização da necessidade de obedecer à sinalização, ao limite<br />

66


de velocidade, enfim de usar o veículo como um meio de ida e não como uma possibilidade de morte ganhou dimensão<br />

nacional, incluindo a orientação nas escolas. No entanto, as estatísticas mostravam que a violência no trânsito crescia cada<br />

vez mais. Agora, com a implantação da nova lei, a imprensa noticia a diminuição do número de acidentes, de mortes e de<br />

multas, em até 40%. Mera coincidência?<br />

A partir das considerações dadas, faça uma carta-argumentativa para alguma publicação jornalística ou responsáveis pelo<br />

setor no país, emitindo a sua opinião sobre o fato e, principalmente, sobre a nova lei do trânsito recentemente implantada no<br />

Brasil. É necessário assinar a carta com o pseudônimo “Brasileiro Consciente”.<br />

TEMA VI<br />

(UNICAMP) Durante o ano de 1995, intensificou-se no Rio de Janeiro a onda de violência e seqüestros. Uma das respostas<br />

a essa onda de violência foi a Manifestação Reage Rio, realizada no dia 28 de novembro como um grande ato público a favor<br />

da paz. Na semana seguinte, em artigo publicado na página 2 da Folha de S. Paulo, o jornalista Josias de Souza escreveu a<br />

esse propósito:<br />

“O Rio que paga a carreirinha de coca é o mesmo Rio que foge do seqüestro, eis a verdade. Diz-se que a violência vem do<br />

morro. Bobagem, tolice. Como a passeata do Reage Rio, a violência também é obra do carioca bem-posto. (...) Dois dos<br />

objetivos palpáveis do Reage Rio são o reaparelhamento da polícia e a urbanização das favelas. Erraram de alvo. Estão<br />

mirando na direção errada. (...) Pouco adianta dar novos 38 à polícia se não for interrompido o fluxo de dinheiro que<br />

garante os AR-15 do tráfico.” ( “O Rio cheira e berra”, 5/12/95).<br />

Essa análise é polêmica e você deverá levá-la em consideração ao optar por uma das duas tarefas abaixo:<br />

• concordando com a opinião do jornalista, escreva-lhe uma carta, apresentando argumentos que o apóiem;<br />

• ou se você acha que o ato público cumpriu seus objetivos, escreva uma carta aos organizadores, elogiando a iniciativa,<br />

defendendo sua validade e rebatendo os argumentos do jornalista.<br />

Todos os textos transcritos a seguir foram publicados na imprensa, alguns dias depois da Manifestação Reage Rio, e são<br />

relevantes para que você possa formar uma opinião. Ao escrever sua carta, considere os argumentos expostos nessa coletânea<br />

e outros que você achar pertinentes.<br />

1. Cerca de 70 mil pessoas participaram da manifestação Reage Rio, um apelo para que acabem a violência e os seqüestros<br />

no Rio de Janeiro. Os organizadores, entre eles o Movimento Viva Rio, esperavam 1 milhão de pessoas. Mas a chuva<br />

atrapalhou. A caminhada, na Avenida Rio Branco, reuniu representantes de toda a sociedade civil. “Foi um sucesso”, disse o<br />

sociólogo Herbert de Souza, o “Betinho”. O governador Marcello Alencar e o prefeito César Maia não participaram. Nos<br />

últimos nove meses, a polícia registrou 6.664 assassinatos no Rio. (Clipping do Estadão, Destaques de Novembro/95)<br />

2. “Foi um extraordinário marco a marcha no Rio, onde, pela primeira vez, a politização da violência ganhou ares populares.<br />

Mesquinho e subdesenvolvido restringir o debate ao número de participantes. Mais importante, muito mais, foi o debate que<br />

suscitou e a sensação de que o combate ao crime não é apenas um problema oficial.” (Gilberto Dimenstein, “Chute no Saco”,<br />

Folha de S. Paulo, 10/12/95)<br />

3. “Houve uma grande ausência na passeata de terça feira passada no Rio de Janeiro. Faltou uma palavra mágica, aquela que<br />

daria sentido a toda aquela movimentação. (...) A palavra que faltou é: DROGAS. A passeata era contra a violência. Ora,<br />

qual a causa magna da violência no Rio, a causa das causas? Resposta: drogas. (...) A originalidade do Rio está em ter<br />

realizado uma passeata contra a escalada do crime, a incrível escalada que, sob o impulso e o império da droga, ocorre em<br />

várias partes, sem dar nome ao problema. E não se deu o nome porque, se se desse, não haveria passeata.(...) O que aconteceria<br />

se se anunciasse uma passeata contra as drogas? Muitos não iriam. No mínimo para não parecer careta, ou seja, ridículo. Mas<br />

também porque muita gente não é contra - é a favor das drogas. (...) Sendo assim, como fazer uma passeata contra a droga?<br />

Melhor é fazê-la contra a ‘violência’ e pela ‘paz’. Quem pode ser contra a paz?” (Roberto Pompeu de Toledo, “Faltou dizer<br />

por que não se tem paz”, Veja, 6/12/95)<br />

67


4. “O lado bom do Rio é a natureza fantástica, o povo que é alegre e descontraído, aceita e vive a vida como ela é. O lado<br />

ruim é a miséria que se alastra por toda a cidade, exigindo uma solução, com nossos irmãos trepados em barracos pobres,<br />

olhando a cidade dos ricos como uma miragem a seus pés. E a solução não está nas brigas políticas de superfície, mas na<br />

revolução; a revolução que não pode ser feita agora. (...)<br />

Fui à passeata Reage Rio porque me convidaram. Queriam que fosse num carro, mas preferi andar no meio das pessoas. A<br />

caminhada não foi propriamente um protesto mas uma advertência sobre o que está acontecendo, sem solução. Enfim, o<br />

problema da miséria é grave e uma pessoa com um pouco de sensibilidade não pode se sentir feliz diante disto.” (Silvio<br />

Cioffi, “Só revolução resolve a miséria, diz Niemeyer”, Folha de S. Paulo, 21/12/1995)<br />

5. “Quem não acredita na força do pensamento positivo ganhou na quinta-feira, 30, um bom motivo para mudar de idéia.<br />

Menos de 48 horas depois da Caminhada pela Paz, que parou a cidade e mobilizou milhares de pessoas contra a violência -<br />

60 mil, segundo a polícia, e 150, segundo os organizadores -, foi resgatado o estudante Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira<br />

Filho, seqüestrado trinta e seis dias antes. (...) A mãe de Eduardo Eugênio elogiou a atuação da polícia mas dedicou especial<br />

gratidão aos participantes da caminhada.” (Eliane Lobato, “Guerrinha pela paz”, Isto É, 6/12/95)<br />

Atenção: ao assinar a carta, use apenas as iniciais de seu nome.<br />

68


Nos textos de toda ordem, há elementos invisíveis para uma pessoa que não tem habilidade com técnicas gramaticais e<br />

textuais, mas existem elementos dispersos na gama de letras e ideias que traduzem a compreensão e a clareza de entendimento<br />

entre as partes que compõem uma redação.<br />

A microestrutura textual é a parte interna do texto ligada à gramática e ao léxico. Por isso, o raciocínio exposto não pode<br />

apresentar lapsos, deslocamentos abruptos das informações e excesso incoerente de ideias. Já a macroestrutura textual é a<br />

relação lógica e harmônica entre as ideias ordenadas e interligadas de maneira clara, que formam uma unidade.<br />

Fala-se que um texto é coeso quando há conexão entre as palavras através de elementos formais que assinalam o vínculo<br />

entre os seus componentes. Para que um texto apresente coesão, devemos escrever de maneira que as ideias se liguem umas<br />

às outras, formando um fluxo lógico e contínuo. Quando um texto está coeso, sua leitura se dá com facilidade.<br />

A conexão entre vários enunciados não é, obviamente, fruto do acaso, mas sim das relações de sentido que existem entre eles,<br />

sobretudo, por certa categoria de palavras, denominadas conectivos ou elementos de coesão: preposições (a, de, para, por,...);<br />

conjunções (que, para que, quando, embora, mas, e, ou,...); pronomes (ele, sua, este, aquele, que, o qual, cujo,...); advérbios<br />

(aqui, lá, assim, aí,...); e vocabulário (sinônimo, hiperônimo, hipônimo e perífrase).<br />

A coerência trata da relação que se estabelece entre as diversas partes do texto, criando uma unidade de sentido. Está,<br />

portanto, ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou lê. Para um texto ser coerente, é<br />

necessário que todas as ideias se amarrem textualmente, formando uma unidade que se prende ao título e ao tema. Os assuntos<br />

discutidos devem ser concordantes e articulados conforme a necessidade de seu autor na exposição do assunto abordado.<br />

Dessa forma, as remissões estão presentes para auxiliar a coerência. Veja algumas remissões:<br />

Remissão anafórica referencial: ocorre por meio de pronomes em geral, além de outras palavras.<br />

Exemplos:<br />

1. Os Titulares do 1º Distrito Policial e a 2ª Delegacia Seccional de Polícia foram homenageados: esta, porque desvendou<br />

crimes sérios contra o patrimônio; aquele, porque prendeu o maior estuprador de todos os tempos.<br />

2. Rio de Janeiro é uma cidade onde há muitos casos de homicídio.<br />

3. Há muitos escritores cujas obras lemos com prazer.<br />

4. Tenho várias tarefas a cumprir, isso é importante para a elucidação do crime.<br />

Remissão anafórica sequencial: estabelece relações lógicas entre as ideias do texto. Para tanto, utilizamos os chamados<br />

colaboradores textuais (conjunções).<br />

69


Exemplos:<br />

1. Ela é muito estudiosa, por isso passou no concurso. (consequência, conclusão)<br />

2. Ela conseguiu a aprovação, já que é muito estudiosa. (causa)<br />

3. Paulo se preparou para o concurso, porém, no dia da prova, acidentou-se. (oposição)<br />

4. Você pode ter êxito nos vestibulares, desde que estude com afinco. (condição)<br />

Remissão anafórica lexical: permite evitar a repetição de palavras e, também, unir partes de um texto. Pode ser alcançada<br />

utilizando-se sinônimos, hiperônimos, hipônimos e perífrases.<br />

1. O presidente do clube afirmou que o time tem todas as condições para ganhar o campeonato. Segundo o dirigente, o troféu<br />

já está reservado. (sinônimo)<br />

2. Ana estava na poltrona do cinema esperando o filme começar, quando, de repente, no assento da frente, uma pessoa passou<br />

mal. (hiperônimo e hipônimo)<br />

3. A vigilância policial nos estádios de futebol é necessária, pois as torcidas às vezes agem com violência. Na verdade, não<br />

é mais possível a realização de qualquer campeonato sem a presença de profissionais treinados para garantir não só a ordem,<br />

mas também proteger a segurança dos cidadãos que desejam acompanhar o jogo em tranquilidade. (perífrase)<br />

Observação:<br />

Hiperônimo tem sentido abrangente e pertence ao mesmo campo semântico. A palavra animal está associada a todas as<br />

espécies de animais: mamífero etc.<br />

Hipônimo tem sentido mais restrito que os hiperônimos, ou seja, hipônimo é um vocábulo mais específico. Exemplo:<br />

mamífero.<br />

Exemplos:<br />

1. meios de transporte (hiperônimo): ônibus (hipônimo);<br />

2. casa (hiperônimo): cozinha (hipônimo);<br />

3. profissão (hiperônimo): médico (hipônimo);<br />

4. doença (hiperônimo): câncer (hipônimo).<br />

Paralelismo – Uma questão de estilo textual<br />

COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS<br />

Antes de tudo, reflitamos sobre a estrutura de um texto: parágrafos devidamente organizados e interligados entre si por<br />

meio de harmoniosa junção de elementos coesivos, ideias dispostas em uma dada sequência lógica, de modo a formar<br />

um “todo” coerente. Contudo, há que se mencionar acerca de alguns entraves que porventura tendem a surgir, implicando<br />

diretamente na falta dessa perfeição. Para sermos mais precisos, voltemos nosso foco para a última das considerações<br />

70


supracitadas, retratadas por “ideias dispostas em uma dada sequência lógica, de modo a formar um ‘todo’ coerente”. Esse<br />

todo deixa de ser coerente quando há a ruptura de similaridade entre os elementos textuais<br />

Ressaltemos, pois, as palavras de Othon M. Garcia proferidas em seu Comunicação em Prosa Moderna, as quais ele revela<br />

sobre tal ruptura:<br />

“Se coordenação é, como vimos, um processo de encadeamento de valores sintáticos idênticos, é justo presumir que<br />

quaisquer elementos da frase – sejam orações, sejam termos dela–, coordenados entre si, devam – em princípio, pelo<br />

menos – apresentar estrutura gramatical idêntica, pois –como, aliás, ensina a gramática de Chomsky – não se podem<br />

coordenar frases que não comportem constituintes do mesmo tipo. Em outras palavras: as ideias similares devem<br />

corresponder forma verbal similar. Isso é o que se costuma chamar paralelismo ou simetria de construção”.<br />

Diante de tais pressupostos, podemos dizer que o paralelismo se caracteriza pelas relações de semelhança entre palavras e<br />

expressões, materializadas por meio do campo morfológico (quando as palavras pertencem a uma mesma classe gramatical),<br />

sintático (quando as construções das frases ou orações são semelhantes) e semântico (quando há correspondência de sentido).<br />

De forma a constatá-los, analisemos os casos nos quais se detecta a falta de paralelismo de ordem morfológica:<br />

Sua saída se deve a mágoas, humilhações, ressentimentos e a agressores que tanto pretendiam ocupar seu cargo dentro<br />

da empresa.<br />

Constatamos que há uma ruptura de ordem morfológica, evidenciada pela troca de um substantivo por um adjetivo, ou seja,<br />

o termo “agressores” em detrimento a “agressões”. Portanto, o discurso carece de uma reformulação, evidenciada por:<br />

Sua saída se deve a mágoas, humilhações, ressentimentos e a agressões por parte daqueles que tanto pretendiam<br />

ocupar seu cargo dentro da empresa.<br />

No campo sintático:<br />

A preservação do meio ambiente representa não só um dever de cidadania e é para que o planeta sobreviva.<br />

Aqui, o correto seria utilizarmos a conjunção aditiva “mas também” em vez do conectivo “e”, visto que o discurso revela a<br />

ideia de adição no que se refere às consequências oriundas de tais ações. Assim, a mensagem se evidenciaria da seguinte<br />

forma:<br />

A preservação do meio ambiente representa não só um dever de cidadania, mas também contribui para que o planeta<br />

sobreviva.<br />

No campo semântico:<br />

Há um trecho retirado da obra machadiana, retratado por: Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.<br />

Mesmo sabendo das reais intenções do autor, Machado de Assis, detectamos uma quebra de sentido em relação ao tempo,<br />

uma vez que para ironizar o interesse de Marcela, ele introduz outra ideia, desta vez relacionada não mais à noção de tempo,<br />

mas à quantidade propriamente dita.<br />

Baseados em tais conhecimentos, partamos para conferir alguns casos representativos de paralelismo.<br />

quanto mais...tanto mais.<br />

Atualmente, quanto mais nos qualificamos, (tanto) mais conseguimos uma boa colocação no mercado de trabalho.<br />

• Ambas as estruturas paralelísticas foram utilizadas no sentido de indicar uma progressão entre os termos constituintes.<br />

71


seja... seja; quer...quer; ora...ora.<br />

Cuide sempre de suas atitudes, seja em casa, seja no trabalho.<br />

Quer queiras, quer não, terás de aproveitar essa oportunidade.<br />

• Constatamos que o paralelismo se deveu à noção de alternância (primeiro exemplo), como também à de posição (segundo<br />

exemplo).<br />

não... e não/nem.<br />

Não conseguimos viajar nesse ano, nem no anterior.<br />

• Tal recurso é utilizado na intenção de enfatizar uma sequência de ações negativas.<br />

por um lado..., por outro.<br />

Se por um lado agradou aos convidados, por outro desagradou à família.<br />

• Constata-se que o emprego das estruturas paralelísticas foi na intenção de estabelecer uma comparação, aludindo a aspectos<br />

negativos e positivos mediante uma ação.<br />

tanto...quanto.<br />

A despedida é extremamente ruim, tanto para quem parte, quanto para quem fica.<br />

• Identificamos que as estruturas introduzem tanto a ideia de adição quanto de equiparação ou equivalência.<br />

Tempos verbais.<br />

Se todos comparecessem, haveria mais cooperação.<br />

Se todos comparecerem, haverá mais cooperação.<br />

Inferimos que o emprego do pretérito imperfeito do subjuntivo (comparecessem) se adéqua ao futuro do pretérito do<br />

indicativo (haveria), bem como o futuro do subjuntivo se adéqua ao futuro do presente.<br />

72


RELACIONANDO IDEIAS<br />

Os processos básicos de relacionar as orações num período a fim de formar frases complexas são a coordenação e a<br />

subordinação de ideias.<br />

A COORDENAÇÃO DE IDEIAS<br />

Na coordenação, juntamos orações independentes do ponto de vista sintático (as chamadas orações coordenadas), mas que<br />

se relacionam através do sentido.<br />

Observe no texto abaixo como Ivan Ângelo utilizou o processo da coordenação para relacionar ideias.<br />

O menino voltou com um canequinho na mão, foi até a arapuca, levantou-a e despejou debaixo dela um pouco do conteúdo<br />

do canequinho, fubá grosso, e ajeitou ao lado meio jiló, iguarias de passarinho.<br />

(ÂNGELO, Ivan. O lado de dentro da gaiola. In: O ladrão de sonhos e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994.)<br />

Observe que, na coordenação de ideias, as orações podem estar simplesmente justapostas, isto é, sem a presença de uma<br />

conjunção, ou ligadas por conjunções coordenativas (e, mas, porém, logo, portanto, etc.), que se prestam a estabelecer<br />

relações de adição, oposição, conclusão, explicação, etc.<br />

COORDENANDO AS IDÉIAS<br />

Apresentamos, a seguir, frases isoladas que você deverá reunir em um único período, estabelecendo entre elas relações de<br />

coordenação:<br />

a) O trânsito estava caótico. Ninguém chegou atrasado à reunião.<br />

b) Não poderei comparecer à inauguração da nova loja. Não contem com minha ajuda.<br />

c) Por favor, devolva-me o livro. Estou precisando dele.<br />

d) Luciana tira sempre boas notas. Luciana estuda muito pouco.<br />

e) Luciana é muito inteligente. Luciana se serve de meios ilícitos.<br />

A SUBORDINAÇÃO DE IDEIAS<br />

Na subordinação, a relação entre as orações é mais íntima, já que entre elas, além de haver uma dependência semântica (isto<br />

é, de sentido), há também dependência sintática, ou seja, uma oração é o termo de outra oração.<br />

A relação de subordinação entre as orações normalmente é estabelecida pelas conjunções subordinativas (quando, embora,<br />

como, porque, se, etc.), pelos pronomes relativos (que, o qual, cujo, etc.) ou pelas formas nominais do verbo (gerúndio,<br />

particípio e infinitivo).<br />

Observe no texto seguinte como o processo da subordinação foi utilizado para relacionar ideias:<br />

Se os sinais de VHF e UHF chegam à sua casa através de duas antenas separadas, você precisará juntar as duas antenas numa<br />

só para conectá-las à TV.<br />

(Manual do Usuário da TV Mitsubishi TC2999. p. 14.)<br />

A ideia central do texto, expressa pela oração principal, é: “você precisará juntar as duas antenas numa só”. A ela se agregam<br />

duas outras orações: uma para exprimir condição (“se os sinais de VHF e UHF chegam à sua casa através de duas antenas<br />

separadas”) e outra para exprimir finalidade (“para conectá-las à TV”).<br />

73


SUBORDINANDO IDEIAS<br />

Apresentamos, a seguir, orações isoladas. Reúna-as em um único período, estabelecendo entre elas uma relação de<br />

subordinação.<br />

a) Era extremamente tímido. Não o convidaram para ser o orador.<br />

b) Morava em uma cidade litorânea. Nunca ia à praia.<br />

c) O passageiro não pôde embarcar. O passaporte do passageiro extraviou-se.<br />

d) Marco comprou o ingresso com muita antecedência. Marco queria conseguir um ótimo lugar na plateia.<br />

e) Você vai arrumando a sala. Eu vou arrumando a cozinha.<br />

f) Os remédios foram queimados. O prazo de validade dos remédios estava vencido.<br />

PAPEL DAS CONJUNÇÕES<br />

É preciso que se dê muita importância às conjunções, que não devem ser vistas como meros conectivos (palavras<br />

aparentemente sem carga significativa que ligam outras palavras ou orações), mas como elementos capazes de estabelecer<br />

relações de significado.<br />

A troca de uma conjunção por outra muda completamente a relação de significado existente entre as orações de uma frase.<br />

Observe:<br />

Todos os seres humanos são iguais, nenhum é superior ou inferior aos outros.<br />

Nesse caso, as duas orações estão simplesmente justapostas, isto é, não estão relacionadas por nenhuma conjunção.<br />

A presença de uma conjunção ligando as orações vai estabelecer entre elas um nexo lógico, ou seja, uma relação de<br />

significado.<br />

Todos os seres humanos são iguais e nenhum é superior ou inferior aos outros.<br />

(a conjunção e estabelece entre as orações uma relação de adição)<br />

Todos os seres humanos são iguais, portanto nenhum é superior ou inferior aos outros.<br />

(a conjunção portanto estabelece entre as orações uma relação de conclusão)<br />

Todos os seres humanos são iguais, porque nenhum é superior ou inferior aos outros.<br />

(a conjunção porque estabelece entre as orações uma relação de causa e efeito)<br />

O uso de uma conjunção poderá comprometer o sentido da frase. Se, por exemplo, as orações acima estivessem relacionadas<br />

pela conjunção mas (Todos os seres humanos são iguais, mas nenhum é superior ou inferior aos outros), teríamos uma frase<br />

incoerente, já que as ideias constantes nas duas orações não permitem uma relação de contradição.<br />

TRABALHO COM CONJUNÇÕES<br />

Uma mesma conjunção (ou locução conjuntiva) pode estabelecer relações diferentes entre duas orações. Atentando bem para<br />

o sentido das frases abaixo, indique que tipo de relação lógica é estabelecida pela conjunção ou locução conjuntiva.<br />

a) Eles não paravam de falar desde que o filme começou.<br />

b) Conseguirei assistir ao filme, desde que eles parem de falar<br />

c) Como todos esperavam, ele não compareceu.<br />

d) Como estivesse chovendo, resolvemos não acampar.<br />

e) Faz mais de dez anos que ele se formou.<br />

f) Choveu tanto que as ruas ficaram alagadas.<br />

g) Não mexia uma palha que não obtivesse lucro com isso.<br />

74


AGORA, ESCREVA PERÍODOS DISSERTATIVOS A PARTIR DOS ESTÍMULOS TEMÁTICOS E DOS<br />

CONECTIVOS PROPOSTOS.<br />

Prioridade, Relevância<br />

Tempo<br />

(frequência, duração,<br />

ordem, sucessão,<br />

anterioridade<br />

Posterioridade)<br />

Semelhança,<br />

Comparação,<br />

Conformidade<br />

Condição, hipótese<br />

Adição,<br />

Continuação<br />

Dúvida<br />

Certeza, ênfase<br />

Surpresa, imprevisto<br />

Ilustração,<br />

Esclarecimento<br />

Propósito, Intenção,<br />

Finalidade<br />

Em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, primordialmente,<br />

sobretudo.<br />

Então, enfim, logo, depois, imediatamente, logo após, pouco, a princípio,<br />

pouco pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por<br />

fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, freqüentemente, constantemente,<br />

às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente,<br />

não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio<br />

tempo, enquanto, quanto, antes que, depois que, todas as vezes que) cada<br />

vez que, apenas, já, mal.<br />

Igualmente, da mesma forma, assim, também, do mesmo modo,<br />

similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira<br />

idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o<br />

mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, bem como,<br />

como se.<br />

Se, caso, eventualmente.<br />

Além disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais, ainda por cima,<br />

também, e nem, não só... mas também, não apenas ... como também, não<br />

só... como também, não só... bem como.<br />

Talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é<br />

certo, se é que.<br />

Decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem<br />

dúvida, inegavelmente, com toda certeza.<br />

Inesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente,<br />

imprevistamente, surpreendentemente.<br />

Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber, ou<br />

seja.<br />

Com o fim de, a fim de, com o propósito de, para que, a fim de que.<br />

Lugar, Proximidade,<br />

Distância<br />

Resumo, Recapitulação,<br />

Conclusão<br />

Causa,<br />

Consequência,<br />

Explicação<br />

Contraste, Oposição,<br />

Restrição, Ressalva<br />

Alternativa<br />

Perto de, próximo a/de, junto a/de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além,<br />

acolá, lá, ali, mais algumas preposições e pronomes demonstrativos.<br />

Em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim,<br />

dessa forma, dessa maneira, logo, pois.<br />

Por conseqüência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de,<br />

em virtude de, assim, de fato, com efeito, tão/tanto/tamanho ... que, porque,<br />

porquanto, pois, já que, uma vez que, visto que, como (= porque), de tal<br />

sorte que, de tal forma que.<br />

Pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, contudo,<br />

todavia, entretanto, no entanto, embora, apesar de, ainda que, mesmo que,<br />

posto que, conquanto, se bem que, por mais que, por menos que.<br />

Ou... ou, ora ... ora, quer ... quer, seja... seja, já ... já, nem ... nem.<br />

75


A<br />

Em primeiro lugar, a corrida presidencial 2010 ganhou uma<br />

nova configuração com a entrada, no páreo, da ex-petista,<br />

ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Embora ainda<br />

desconhecida do grande eleitorado brasileiro, a possível<br />

candidata do PV surge como um fantasma a perseguir Dilma<br />

Roussef, candidata de Lula, em função da semelhança do<br />

perfil político de ambas. No entanto, com o Governo como<br />

cabo eleitoral, Dilma sempre aparece na frente de Marina<br />

nas pesquisas de intenção de voto. Em segundo lugar, ...<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

Os textos seguintes apresentam algum tipo de incoerência. Sua tarefa será apontá-la e explicá-la.<br />

a) Naquela manhã Paulo ligou para o amigo, cumprimentando-o, leu no jornal que seu amigo havia entrado na faculdade e<br />

acordou bem cedo.<br />

b) A ciência já demonstrou que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas é extremamente prejudicial à saúde.<br />

Adolescentes, aos dezesseis anos, ainda não têm maturidade suficiente para avaliar os malefícios que o consumo imoderado<br />

de bebidas alcoólicas lhes poderá causar. Além disso, nessa idade, gostam de novidades e, como muitas vezes são tímidos,<br />

utilizam-se de bebidas alcoólicas para ficar extrovertidos sem pensar nas conseqüências nefastas desse tipo de atitude. Por<br />

esses motivos a lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de dezoito anos deveria ser revogada.<br />

76


c) A reunião para o acerto da venda das ações ocorreu num jantar, em um elegante e caro restaurante, que era o preferido dos<br />

altos executivos de empresas do ramo de telecomunicações. Enquanto os empresários, em voz baixa, selavam o acordo, um<br />

grupo musical cantava música sertaneja e pagode. Na mesa ao lado, crianças comemoravam um aniversário, deliciando-se<br />

com os hambúrgueres servidos e as batatas fritas, sobre as quais colocavam bastante catchup.<br />

d) Machado de Assis é, sem dúvida, um dos maiores escritores brasileiros, pois sua obra não só enfoca a vida urbana do Rio<br />

de Janeiro como também tem por cenário outras regiões do país. É o que se pode observar em seus romances regionais.<br />

O texto abaixo descreve o arraial de Canudos logo após sua destruição em 5 de outubro de 1987.<br />

“Os urubus eram tantos que formavam nuvens negras e nem assim davam conta de devorar os milhares de cadáveres. Muitos<br />

secavam ao sol, impregnando o sertão de um cheiro indescritivelmente podre. Cachorros, cujos donos também jaziam mortos<br />

ali, acostumaram-se a comer carne humana e apavoraram os poucos desavisados que ousarem visitar a região. Do arraial,<br />

restavam escombros, onde antes havia duas igrejas, e montes de cinzas, no lugar das casas de barro.” (BURGIERMAN, Denis<br />

Russo. In: Superinteressante, ano 14. n.2 fev. 2000. p. 37.)<br />

Trata-se de uma descrição coerente ou incoerente? Justifique.<br />

Os textos seguintes são trechos de redações de alunos citados por Maria Thereza Fraga Rocco em seu livro Crise na<br />

linguagem; a redação no vestibular. Neles há algum tipo de incoerência. Aponte-a comente-a.<br />

a) “Pela tarde chegou uma carta a mim endereçada, abri-a correndo sem nem tomar fôlego. O envelope não tinha nada dentro,<br />

estava vazio. Dentro só tinha uma folha, em branco.”<br />

b) “Eu não ganhei nenhum presente, só ganhei uma folha em branco, meu retrato de pôster e um disco dos Beatles.”<br />

c) “Pela manhã recebi uma carta repleta de conselhos. Era uma carta em branco e não liguei para os conselhos já que conselhos<br />

não interessam para mim pois sei cuidar da minha vida.”<br />

UM POUCO MAIS DE COESÃO<br />

MECANISMOS DE COESÃO<br />

Segundo Halliday e Hasan (1976 in KOCH, 2004) existem cinco mecanismos de coesão:<br />

a) Referência – itens da língua que não podem ser interpretados semanticamente por si mesmos, mas remetem a outros itens<br />

do discurso necessários a sua interpretação. A referência pode ser situacional, ligada a uma situação fora do texto, neste caso<br />

exofórica e pode ser textual, endofórica.<br />

b)<br />

77


• Referência pessoal – por pronomes pessoais e possessivos<br />

• Referência demonstrativa – pronomes demonstrativos e advérbios indicativos de lugar<br />

• Referência comparativa – efetuada por via indireta, por meio de identidade e similaridade.<br />

Exemplos:<br />

• Você não se arrependerá de ter lido este anúncio. (exóforica)<br />

• Paulo e José são excelentes advogados. Eles se formaram na Academia do Largo de<br />

São Francisco. (referência pessoal anafórica)<br />

• Realizara todos os seus sonhos, menos este: o de entrar para a Academia.<br />

(Referência demonstrativa catafórica)<br />

• É um exercício igual ao de ontem. (referência comparativa endofórica.)<br />

c) Substituição – consiste, para Haliday e& Hasan, na colocação de um item em lugar de outro(s) elemento(s) do texto, ou<br />

até mesmo de uma oração inteira.<br />

Exemplos:<br />

• Pedro comprou um carro novo e José também.<br />

• O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso assim.<br />

• O Padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.<br />

• Minha prima comprou um Gurgel. Eu também estou querendo um.<br />

d) Elipse – uma substituição por zero. Omite-se um item lexical, um sintagma, uma oração ou todo um enunciado, facilmente<br />

recuperável pelo contexto.<br />

Exemplos:<br />

• Paulo vai conosco ao leilão?<br />

• Vai conosco o leilão?<br />

• Ø Vai Ø<br />

e) Conjunção – permite estabelecer relações significativas específicas entre elementos ou orações do texto. Trata-se de<br />

diversos tipos de conectores e partículas de ligação como e, mas depois, assim etc. Haliday e Hasan apresentam como<br />

principais tipos de conjunção, a aditiva, a adversativa, a causal, a temporal, e a continuativa.<br />

f) Coesão lexical – é obtida por meio de dois mecanismos: a reiteração (por sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos) e a<br />

colocação (uso de termos pertencentes ao mesmo grupo significativo).<br />

Exemplos:<br />

• O avião ia levantar vôo. O aparelho fazia um ruído ensurdecedor.<br />

• Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportavam os<br />

feridos.<br />

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. Mecanismos. (adaptação) p. 18 a 22 . Contexto.<br />

78


EXERCÍCIOS:<br />

1. Observe o texto abaixo, onde não foram usados os mecanismos de coesão. Procure substituir os termos repetidos<br />

por sinônimos ou expressões adequadas, você também pode omiti-los:<br />

a) As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para vender os automóveis mais caro. O cliente<br />

vai à revendedora de automóveis com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o<br />

automóvel, e as revendedoras de automóveis têm prejuízo. (Revendedoras pode ser substituído por concessionárias, agência<br />

etc. e automóveis, por carros, veículos, mercadoria, produto)<br />

b) Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e até há pouco nenhum oceanógrafo ou biólogo era capaz<br />

de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em<br />

razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticariam uma espécie de eutanásia instintiva. Segundo<br />

outra, as baleias se desorientariam por influência das tempestades magnéticas ou de correntes marítimas.<br />

Agora dois pesquisadores do Departamento de História Natural do Museu Britânico, com sede em Londres, encontraram uma<br />

resposta científica para o suicídio das baleias. De acordo com Katharine Parry e Michael Moore, as baleias são desorientadas<br />

de suas rotas em alto-mar para as águas do litoral por ação de um minúsculo verme de apenas 2,5 centímetros de comprimento.<br />

Ele se aloja no ouvido das baleias, impedindo que as baleias se orientem pelo eco da voz.<br />

2. Use como recurso de coesão um substantivo abstrato derivado ou sinônimo do verbo grifado:<br />

a) A professora afirmou que o conteúdo da avaliação já estava apresentado.<br />

b) Os alunos participaram da entrega do Prêmio Professor Esteves.<br />

c) A epidemia de dengue pode acontecer a qualquer momento.<br />

d) “A Eletronuclear estuda construir uma pequena central hidrelétrica em Angra dos Reis.”<br />

3. Use o mecanismo da coesão que estabelece relações significativas redigindo uma nova versão dos textos abaixo:<br />

a) Os alunos se comunicam bem oralmente, mas não escrevem textos com a mesma facilidade. (Com articuladores sintáticos<br />

de oposição – coordenação adversativa e com articuladores sintáticos de concessão – subordinação concessiva)<br />

b) No interior do texto devem existir elementos coesivos para que o discurso seja bem sucedido. (Com articuladores sintáticos<br />

de fim - subordinação final)<br />

c) Como não se tem conhecimentos específicos da língua para a escrita nem sempre produzimos textos eficientes. (Com<br />

articuladores sintáticos de causa – subordinação causal)<br />

d) Você estuda bastante, conseguirá, pois, ser um bom profissional. (Com articuladores sintáticos de conclusão –<br />

subordinação conclusiva)<br />

79


A Importância da Pontuação<br />

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual, além de ressaltar<br />

especificidades semânticas e pragmáticas. São recursos típicos da língua escrita, porque esta dispõe do ritmo e da melodia da<br />

língua falada.<br />

Uma vírgula, por exemplo, faz toda diferença se foi usada ou não em determinados textos. E até mesmo o local onde foi<br />

colocada pode mudar o sentido da frase.<br />

Exemplo:<br />

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.<br />

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER. Mas se for homem, colocou a vírgula depois de<br />

TEM...<br />

É fácil observar a importância da pontuação no exemplo já tradicional que fala do testamento que foi deixado por um senhor<br />

rico, mas que em seu texto não foi utilizado nem um sinal, e que os interessados foram pontuando à medida que fossem sendo<br />

beneficiados.<br />

O testamento dizia o seguinte:<br />

Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres.<br />

1. O sobrinho fez a seguinte pontuação:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.<br />

2. A irmã chegou em seguida e pontuou assim:<br />

Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.<br />

3. O padeiro pediu cópia do original e puxou a brasa pra sardinha dele:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.<br />

4. Aí chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:<br />

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.<br />

Tem-se, então, a concepção da pontuação e sua funcionalidade de sentido textual, mas, além disso, é preciso conhecer os<br />

sinais de pontuação e seu emprego em um texto.<br />

80


2. Vírgula – é empregada: "na separação de orações ou termos coordenados sem a utilização de conectivo (coordenação<br />

assindética); aposição explicativa ou circunstancial em geral; separação do vocativo; separação de adjunto adverbial<br />

anteposto; antecipação (topicalização) de um termo que será retomado por pronome; uso de palavras e locuções que<br />

expressam conexões discursivas em geral; elipse do verbo em estruturas de coordenação; separação de oração coordenada<br />

que não seja aditiva; acréscimo de oração justaposta para o registro de algum ato de fala; emprego de coordenações por<br />

processo correlativo em geral; separação de orações reduzidas que não sejam constituintes imediatos de um termo da oração<br />

principal";<br />

ATENÇÃO ESPECIAL PARA A VÍRGULA!!!<br />

Quanto ao emprego, a vírgula provoca muitas dúvidas, pois apresenta várias funções.<br />

O uso da vírgula no interior de orações:<br />

• Separar elementos que exercem a mesma função sintática.<br />

Ex: “Tivera pai, mãe, marido, dois filhos. Todos aos poucos tinham morrido.” (nesse exemplo a vírgula separa uma série de<br />

objetos diretos do verbo “ter”.) LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira.<br />

Quando elementos que têm mesma função sintática aparecem unidos pelas conjunções e, nem e ou, não se usa vírgulas, a não<br />

ser que as conjunções apareçam repetidas:<br />

Ex: Tenho muito cuidado com meus livros e meus CD’s.<br />

Ou você, ou sua esposa deve comparecer à escola de seu filho.<br />

• Para indicar que uma palavra, geralmente verbo, foi suprimida.<br />

Ex: Patrícia, a todos os seus irmãos, deu um presente de Natal; ao marido, apenas um beijo. (A vírgula após “marido" está<br />

indicando a supressão do verbo “dar”.)<br />

• Isolar vocativo.<br />

Ex: - E agora, meu irmão, aceito ou não o emprego?<br />

• Isolar aposto.<br />

Ex: Fortaleza, capital do Ceará, é uma cidade que tem belas praias.<br />

• Isolar complemento verbal ou nominal antecipados.<br />

Ex: Um medo terrível, eu senti naquele momento. (inversão do objeto direto)<br />

De escorpião, eu morro de medo! (inversão do complemento nominal)<br />

• Isolar adjunto adverbial antecipado.<br />

Ex: “Dizem muito que, no Brasil, os corruptos ficam soltos enquanto os ladrões de galinha vão para a cadeia.”<br />

VERISSIMO, Luis Fernando. Novas comédias da vida pública – A versão dos afogados.<br />

81


• Isolar nome de lugar, quando se transcrevem datas.<br />

Ex: Bahia, 11 de janeiro de 2013.<br />

• Isolar conjunções intercaladas.<br />

Ex: A ferida já foi tratada. É preciso, porém, cuidar para que não infeccione.<br />

• Intercalar expressões como “em suma”, “isto é”, “ou seja”, “vale dizer”, “a propósito”.<br />

Ex: Preciso dar uma maquiada no texto, ou seja, subentender algumas idéias.<br />

• Uso da vírgula entre orações<br />

A vírgula é usada para:<br />

Separar as orações coordenadas assindéticas e as sindéticas que não sejam introduzidas pela conjunção e:<br />

Ex: Cheguei, peguei minha roupa, voltei correndo para o chuveiro.<br />

Há aqueles que se esforçam muito, porém nunca são reconhecidos.<br />

• É aconselhável usar a vírgula quando a conjunção e:<br />

Aparece repetida no período:<br />

Ex: Passaram aqui para perguntar, e questionar, e amolar, e comprometer.<br />

• Aparece entre orações de sujeitos diferentes:<br />

Ex: O tempo estava chuvoso, e o piloto desistiu do voo.<br />

• Nnão tem sentido de adição:<br />

Ex: A senhora apertou a campainha, e ninguém veio atender. ( o e tem valor de conjunção adversativa)<br />

• Isolar orações intercaladas.<br />

Ex: E o ladrão, perguntei eu, foi condenado ou não?<br />

• Isolar orações adjetivas explicativas.<br />

Ex: As frutas, que estavam maduras, caíram no chão.<br />

• Isolar orações adverbiais.<br />

Ex: “Fiquei tão alegre com esta ideia, que ainda agora me treme a pena na mão.” (Machado de Assis)<br />

• Isolar orações reduzidas.<br />

Ex: “Para serenar a roda, propus novo chope.” (Cyro dos Anjos)<br />

82


1. Ponto e Vírgula – é empregado: "para separar partes coordenadas de um período quando pelo menos uma delas apresenta<br />

divisão interna indicada por vírgula; para separar orações coordenadas que tenham certa extensão em um período longo cujas<br />

partes constituem um todo significativo";<br />

2. Dois Pontos – "marcam uma suspensão do discurso a que se segue: a reprodução, como discurso direto, da fala de alguém;<br />

a especificação, comprovação ou detalhamento de uma informação; a transcrição de discurso alheio, como citação; uma<br />

informação ou comentário a título de conclusão ou justificativa";<br />

3. Ponto – "assinala normalmente o fim de uma sequência declarativa de sentido completo sob a forma de período sintático";<br />

4. Reticências – "assinalam interrupções e hesitações em geral";<br />

5. Travessão – tem os seguintes empregos: "indica a fala do personagem em discurso direto; indica o ato de fala do narrador;<br />

serve para delimitar um adendo, um comentário, uma ponderação que se intercala no discurso";<br />

6. Parênteses – é empregado: "na indicação de uma fonte bibliográfica; nas indicações cênicas; para esclarecer algo ou para<br />

informar o significado de alguma palavra ou expressão; empregam-se, ainda, como alternativa ao travessão, quando o<br />

enunciador insere no discurso um comentário, uma ressalva, uma ponderação";<br />

7. Aspas – "tem a função de delimitar: trechos que estejam sendo citados textualmente; a fala de algum personagem;<br />

expressões que o enunciador, embora incorporando-as ao seu discurso, queira caracterizar como de autoria alheia; expressão<br />

que o enunciador decida destacar por alguma outra razão discursiva";<br />

8. Ponto de Interrogação – "indica uma pausa com entonação ascendente para expressar uma interrogação direta";<br />

9. Ponto de Exclamação – "marca a entonação variável para um variado espectro de sentimentos – tristeza, surpresa, espanto,<br />

alegria, entusiasmo, súplica, decepção, dor, etc. – que só podem ser reconstituídos graças ao contexto".<br />

PARTE I<br />

Reescreva as orações, pontuando adequadamente e fazendo pequenas modificações, quando necessário:<br />

a) Maria Rita menina pobre do interior chegou a São Paulo assustadaO encanador sorriu e disse se a senhora quiser eu posso<br />

trocar também a torneira dona<br />

b) Quando tudo vai mal nós devemos parar e pensar onde é que estamos errando desta maneira podemos começar a melhorar<br />

isto é a progredir.<br />

c) Socorro alguém me ajude<br />

d) Ao voltar para casa encontrei um ambiente assustador móveis revirados roupas jogadas pelo chão lâmpadas quebradas e<br />

torneiras abertas<br />

e) De MPB eu gosto mas de música sertaneja<br />

f) Não critique seu filho homem de Deus dê o apoio que ele necessita e tudo terminará bem se você não apoiá-lo quem irá<br />

fazê-lo<br />

83


g) Os nossos sonhos não são inatingíveis a nossa vontade deve torná-los realidade<br />

h) O computador que é uma invenção deste século torna a nossa vida cada dia mais fácil<br />

i) Eu venderei todas as minhas terras mesmo que antes disso a lavoura se recupere<br />

j) Naquele instante quando ninguém mais esperava de longe avistamos uma figura estranha que se aproximava quando<br />

chegou bem perto ele perguntou o que fazem aqui neste fim-de-mundo e nós respondemos graças a Deus o senhor apareceu<br />

estamos perdidos nesta mata há dias<br />

k) Quando lhe disserem para desistir persista quando conseguir a vitória divida com seus amigos a sua alegria<br />

l) Quanta burocracia levei dois meses para tirar um documento de identidade<br />

m) Você tem duas opções desiste da carreira ou do casamento<br />

n) O presidente pode se tiver interesse colocar na cadeia os corruptos ou seja aqueles que só fazem mal ao país<br />

PARTE II<br />

1. Assinale a opção em que o trecho apresenta pontuação correta.<br />

a) Em um estado com área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, o segundo maior da Federação brasileira, e com 20% da<br />

população - de 7 milhões de habitantes - na capital, já destituída de função produtiva de significação, o tema da redivisão<br />

territorial deveria ser fundamental. Mas, contrariando a lógica e o bom senso, isso não ocorre no Pará.<br />

b) A eventualidade do retalhamento do estado, para a formação de novos estados emerge apenas episodicamente. Quando<br />

surge, é tratada como urgência e emergência. Uma vez cessado o risco de mudança, a letargia devolve, o tema, quase à estaca<br />

zero, ao ponto de partida.<br />

c) À semelhança de quase toda a elite local a imprensa se assustou, mais uma vez com a possibilidade de desmembramento<br />

do Pará. Em vez de examinar o problema racionalmente, a mídia, simplesmente se danou a dar gritos de alerta, e a bradar<br />

contra a ameaça.<br />

d) O mote fundamental da posição contrária ao desmembramento do estado é congênito: quem nasceu no Pará atual, não<br />

quer morrer em um Pará diferente. Dificilmente razão desse porte, conseguirá deter o avanço da reivindicação e da<br />

mobilização, pela criação de novos estados dentro do que hoje, é área única do Pará.<br />

2. Assinale a alternativa em que o trecho - No entanto, quando a Suprema Corte decidiu ouvir o apelo do caso, em<br />

1980, o panorama da biologia molecular havia mudado radicalmente. - reescrito, encontra-se corretamente pontuado.<br />

a) No entanto, em 1980, quando a Suprema Corte, decidiu ouvir o apelo do caso o panorama da biologia molecular havia<br />

mudado radicalmente.<br />

b) Quando a Suprema Corte decidiu ouvir o apelo do caso, em 1980, no entanto, o panorama da biologia molecular havia<br />

mudado radicalmente.<br />

c) No entanto, o panorama da biologia molecular havia mudado radicalmente, quando a Suprema Corte, decidiu ouvir o apelo<br />

do caso, em 1980.<br />

d) Quando, no entanto, em 1980, a Suprema Corte decidiu ouvir o apelo do caso, o panorama da biologia molecular, havia<br />

mudado radicalmente.<br />

2. Assinale o período de pontuação correta:<br />

a) Se alguém vier com perguntas a que você não sabe responder, será mais honesto dizer que vai estudar o assunto.<br />

b) Se alguém, vier com perguntas a que você não sabe, responder, será mais honesto dizer que vai estudar o assunto.<br />

c) Se alguém vier, com perguntas a que você não sabe responder será, mais honesto, dizer que vai estudar o assunto.<br />

d) Se, alguém vier com perguntas, a que você não sabe responder, será, mais honesto, dizer que vai estudar o assunto.<br />

3. A frase em que deveria haver uma vírgula é:<br />

a) Comi frutas e legumes.<br />

b) Comprei batatas bananas e pastéis.<br />

c) Ela tem lábios e nariz vermelhos.<br />

d) Não limparam a sala.<br />

84


4. A pontuação está inteiramente adequada na frase:<br />

a) Recebi, via Internet, de um amigo que há muito não vejo, uma série de fotografias da Terra, tiradas de um satélite.<br />

b) Tanto os astrônomos antigos como os teólogos, não erravam, na opinião do autor, quando consideravam que, a Terra, essa<br />

poeira ínfima, era o centro do universo.<br />

c) Nada mais central na casa para os pais, que o lugar onde está o berço do filhinho, nada tendo a ver esse centro afetivo, com<br />

o geométrico da casa edificada.<br />

d) Será que Niezstche interrompia a cada belo crepúsculo, suas leituras e seus escritos, sobretudo estes que, tanto peso tiveram<br />

nas ideias de seu tempo?<br />

5. (IBGE) Assinale a seqüência correta dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas da frase abaixo. Não<br />

havendo sinal, O indicará essa inexistência: Na época da colonização.... os negros e os indígenas escravizados pelos<br />

brancos ..... reagiram ..... indiscutivelmente ..... de forma diferente.<br />

a) O - O - vírgula – vírgula<br />

b) O - dois pontos - O – vírgula<br />

c) O - dois pontos - vírgula - vírgula<br />

d) vírgula - vírgula - O – O<br />

e) vírgula - O - vírgula - vírgula.<br />

6. (CESGRANRIO) Assinale o texto de pontuação correta:<br />

a) Não sei se disse, que, isto se passava, em casa de uma comadre, minha avó.<br />

b) Eu tinha, o juízo fraco, e em vão tentava emendar-me: provocava risos, muxoxos, palavrões.<br />

c) Estes, porém, o mais que pode acontecer é que se riam deles os outros, sem que este riso os impeça de conservar as suas<br />

roupas e o seu calçado.<br />

d) Na civilização e na fraqueza ia para onde me impeliam muito dócil muito leve, como os pedaços da carta de ABC,<br />

triturados soltos no ar.<br />

e) Conduziram-me à rua da Conceição, mas só mais tarde notei, que me achava lá, numa sala pequena.<br />

7. (BB) "Os textos são bons e entre outras coisas demonstram que há criatividade". Cabem no máximo:<br />

a) 3 vírgulas<br />

b) 1 vírgula<br />

c) 4 vírgulas<br />

d) 5 vírgulas<br />

e) 2 vírgulas<br />

8. (PUCC) Observe as frases:<br />

I - Ele foi, logo eu não fui;<br />

II - O menino, disse ele, não vai;<br />

III - Deus, que é Pai, não nos abandona;<br />

IV - Saindo ele e os demais, os meninos ficarão sós.<br />

Assinale a afirmativa correta:<br />

a) Em I há erro de pontuação<br />

b) Em II e III as vírgulas podem ser retiradas sem que haja erro.<br />

c) Na I, se se mudar a vírgula de posição, muda-se o sentido da frase<br />

d) Na II, faltam dois pontos depois de disse<br />

e) n.d.a.<br />

9. (ABC-SP) Assinale a alternativa cuja frase está corretamente pontuada:<br />

a) O sol que é uma estrela, é o centro do nosso sistema planetário.<br />

b) Ele, modestamente se retirou.<br />

85


c) Você pretende cursar Medicina; ela, Odontologia.<br />

d) Confessou-lhe tudo; ciúme, ódio, inveja.<br />

e) Estas cidades se constituem, na maior parte de imigrantes alemães.<br />

10. (TTN) Das redações abaixo, assinale a que não está pontuada corretamente:<br />

a) Os candidatos, em fila, aguardavam ansiosos o resultado do concurso.<br />

b) Em fila, os candidatos, aguardavam, ansiosos, o resultado do concurso.<br />

c) Ansiosos, os candidatos aguardavam, em fila, o resultado do concurso.<br />

d) Os candidatos ansiosos aguardavam o resultado do concurso, em fila.<br />

e) Os candidatos, aguardavam ansiosos, em fila, o resultado do concurso.<br />

11. Assinale a série de sinais cujo emprego corresponde, na mesma ordem, aos parênteses indicados no texto:<br />

“Pergunta-se ( ) qual é a ideia principal desse parágrafo ( ) A chegada de reforços ( ) a condecoração ( ) o escândalo da<br />

opinião pública ou a renúncia do presidente ( ) Se é a chegada de reforços ( ) que relação há ( ) ou mostrou seu autor<br />

haver ( ) entre esse fato e os restantes ( )”.<br />

a) , , ? ? ? , , , .<br />

b) : ? , , ? , ___ ___ ?c) ___ ? , , . ___ ___ ___ .<br />

c) : ? , . ___ , , , ?<br />

d) : . , , ? , , , .<br />

12. Assinale o item em que as vírgulas estão empregadas corretamente:<br />

I - Foi ao fundo da farmácia, abriu um vidro, fez um pequeno embrulho e entregou ao homem.<br />

II - A sua fisionomia estava serena, o seu aspecto tranquilo.<br />

III - E o farmacêutico, sentindo-se aliviado do seu gesto, sentira-se feliz diante de suas lembranças.<br />

IV - Quando, vi que não servia, dei às formigas, e nenhuma morreu.<br />

a) I - IV;<br />

b) II - III;<br />

c) II - IV;<br />

d) I - II;<br />

e) I - III.<br />

13. Observe:<br />

I - depois de muito pedir ( ) obteve o que desejava;<br />

II - se fosse em outras circunstâncias ( ) teria dado tudo certo;<br />

III - exigiam-me o que eu nunca tivera ( ) uma boa educação;<br />

IV - fez primeiramente seus deveres ( ) depois foi brincar;<br />

Assinale a alternativa que preencha mais adequadamente os parênteses:<br />

a) (;) (,) (:) (;);<br />

b) (,) (;) (:) (;);<br />

c) (,) (,) (:) (;);<br />

d) (?) (,) (,) (:);<br />

e) (,) (;) (.) (;).<br />

14. Assinale o exemplo em que há emprego incorreto da vírgula:<br />

a) como está chovendo, transferi o passeio;<br />

b) não sabia, por que todos lhe viravam o rosto;<br />

86


c) ele, caso queira, poderá vir hoje;<br />

d) não sabia, por que não estudou;<br />

e) o livro, comprei-o por conselho do professor.<br />

15. Assinale a opção em que a supressão das vírgulas alteraria o sentido do anunciado:<br />

a) os países menos desenvolvidos vêm buscando, ultimamente, soluções para seus problemas no acervo cultural dos mais<br />

avançados;<br />

b) alguns pesquisadores,que se encontram comprometidos com as culturas dos países avançados, acabam se tornando menos<br />

criativos;<br />

c) torna-se, portanto, imperativa uma revisão modelo presente do processo de desenvolvimento tecnológico;<br />

d) a atividade científica, nos países desenvolvidos, é tão natural quanto qualquer outra atividade econômica;<br />

e) por duas razões diferentes podem surgir, da interação de uma comunidade com outra, mecanismos de dependência.<br />

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:<br />

TEXTO IV<br />

O dia abriu seu para-sol bordado<br />

O dia abriu seu para-sol bordado<br />

De nuvens e de verde ramaria.<br />

E estava até um fumo, que subia,<br />

Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.<br />

Depois surgiu, no céu azul arqueado,<br />

A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.<br />

Na rua, um menininho que seguia<br />

Parou, ficou a olhá-la admirado...<br />

Pus meus sapatos na janela alta,<br />

Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta<br />

Pra suportarem a existência rude!<br />

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,<br />

Que são dois velhos barcos, encalhados<br />

Sobre a margem tranquila de um açude..<br />

MARIO QUINTANA. Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978.<br />

16. (Uerj 2009) Há no poema de Mario Quintana um mesmo sinal de pontuação – o ponto de exclamação – que<br />

aparece em versos diferentes e com sentidos distintos.<br />

Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal em cada um dos versos.<br />

17. (Fgv) Nas frases abaixo, em cada um dos parênteses, você pode colocar ou não um sinal de pontuação. Quando<br />

decidir usar ponto, não é necessário corrigir, com letra maiúscula, a palavra seguinte.<br />

Habituada a alardear previsões catastróficas(__) nem sempre confirmadas(__) a Organização Mundial de Saúde(__)<br />

OMS(__) resolveu promover(__) um tardio acerto de contas(__) com as conquistas(__) forjadas no interminável duelo da<br />

humanidade(__) contra a morte(__) o relatório anual da entidade(__) divulgado neste mês(__) conclui o seguinte(__) "a<br />

população mundial(__) nunca teve uma perspectiva(__) de vida tão saudável(__) o século XXI não traz simplesmente a<br />

probabilidade de uma vida mais longa(__) mas também(__) uma qualidade de vida superior(__) com menos doenças(__)"<br />

87


18. (Ita) Leia o texto seguinte:<br />

Levantamento inédito com dados da Receita revela quantos são, quanto ganham e no que trabalham OS RICOS<br />

BRASILEIROS QUE PAGAM IMPOSTOS. (...)<br />

Entre os nove que ganham mais de 10 milhões por ano, há cinco empresários, dois empregados do setor privado, um que<br />

vive de rendas. O outro, QUEM DIRIA, é servidor público. ("Veja", 12/7/2000.)<br />

a) A ausência de vírgula no trecho em destaque, no primeiro parágrafo, afeta o sentido? Justifique.<br />

b) Por que o emprego da vírgula é obrigatório no trecho em destaque, no segundo parágrafo? O que esse trecho permite<br />

inferir?<br />

19. (EPCAR) “Bem-aventurado, pensei eu comigo, aquele em que os afagos de uma tarde serena de primavera no<br />

silêncio da solidão produzem o torpor dos membros.” (Herculano)<br />

No período acima, usaram-se as vírgulas para separar:<br />

a) uma oração pleonástica;<br />

b) uma oração coordenada assindética;<br />

c) um adjunto deslocado;<br />

d) elementos paralelos;<br />

e) uma oração intercalada.<br />

20. (ITA) Assinale a alternativa incorreta quanto às normas da pontuação:<br />

a) Usa-se a vírgula no interior da oração para separar elementos que exercem a mesma função sintática.<br />

b) O ponto-e-vírgula denota em geral uma pausa suspensiva, suficiente para indicar que o período está concluído.<br />

c) As conjunções conclusivas, quando pospostas a um dos termos da oração, podem vir entre vírgulas.<br />

d) Usa-se o ponto-e-vírgula para separar orações de um período, das quais um dos seus termos já esteja subdividido por<br />

vírgula.<br />

e) Usa-se a vírgula para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal.<br />

21. (ITA) Assinale a alternativa cujos sinais, indicados entre parênteses, não permitem uma pontuação correta:<br />

a) Uns trabalham esforçam-se cansam-se outros folgam dormem descuidam-se e não pensam no futuro. (4 vírgulas e 1 pontoe-vírgula)<br />

b) A sua volta tudo lhe parece chorar as árvores o capim os insetos. (3 vírgulas e dois pontos)<br />

c) Campinas Santos Guarulhos são cidades do Estado de São Paulo Caxias Canoas Uruguaiana do Rio Grande do Sul. (5<br />

vírgulas e 1 ponto-e-vírgula)<br />

d) Prometeu-nos quando dele precisássemos que embora suas atividades fossem múltiplas jamais deixaria de atender-nos. (3<br />

vírgulas)<br />

e) A metade de 247 mais 36 são 159,5. (2 vírgulas)<br />

88


GABARITO PARTE II:<br />

1) A<br />

2) B<br />

3) A<br />

4) B<br />

5) A<br />

6) E<br />

7) C<br />

8) E<br />

9) C<br />

10) C<br />

11) E<br />

12) B<br />

13) E<br />

14) C<br />

15) D<br />

16) B<br />

17) 1ª ocorrência: surpresa, perplexidade. 2ª ocorrência: lástima, pesar.<br />

18) Habituada a alardear previsões catastróficas [_] [,] nem sempre confirmadas [,] a Organização<br />

Mundial de Saúde [,] OMS [,] resolveu promover [_] um tardio acerto de contas [_] com as<br />

conquistas [_] forjadas no interminável duelo da humanidade [_] contra a morte [.] o relatório anual<br />

da entidade [,] divulgado neste mês [,] conclui o seguinte [:] "a população mundial [_] nunca teve<br />

uma perspectiva [_] de vida tão saudável [.] [;] o século XXI não traz simplesmente a probabilidade<br />

de uma vida mais longa [,] mas também [_] uma qualidade de vida superior [,] com menos doenças<br />

[.]"<br />

19)<br />

a) Sim, pois com a ausência de vírgula faz-se a seguinte leitura: "são todos os ricos brasileiros e<br />

todos eles pagam impostos". Com a presença da vírgula, tem-se que somente dos ricos brasileiros<br />

que pagam impostos".<br />

b) No trecho "quem diria" é obrigatório o uso da vírgula, pois funciona como uma intromissão do<br />

jornalista; uma expressão de surpresa diante de fato inusitado.<br />

20) E<br />

21) B<br />

22) E<br />

89


PARTE III<br />

COESÃO E COERÊNCIA<br />

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO<br />

1. Organize as frases abaixo em um texto. Empregue os articuladores (elementos de coesão) adequados e faça as<br />

adaptações necessárias. Você poderá usar pronomes que retomem (ou resumam) as ideias anteriores.<br />

a) O exemplo dos pais que praticam a leitura é importante.<br />

b) A criança encara a leitura como uma atividade comum em seu cotidiano.<br />

c) Será produzida na criança a ideia de que a leitura é importante como lazer e como meio de procurar respostas a suas<br />

próprias perguntas.<br />

Os textos abaixo necessitam de conectores para sua coesão. Empregue os termos que estão entre parêntese no lugar<br />

adequado. Transcreva o texto.<br />

(Assim, mesmo que, para que)<br />

Uma alimentação variada é fundamental seu organismo funcione de maneira adequada. Isso significa que é obrigatório comer<br />

alimentos ricos em proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais minerais. Esses elementos são essenciais. Você esteja<br />

fazendo dieta para emagrecer, não elimine carboidratos, proteínas e gorduras do seu cardápio. Apenas reduza as quantidades.<br />

Você emagrece sem perder saúde.<br />

3- Junte as duas sentenças, subordinando a segunda à primeira. É necessário escolher os pronomes relativos corretos.<br />

Exemplo:<br />

Eu conheço uma pessoa inteligente. Esta pessoa faria o trabalho com perfeição.<br />

Eu conheço uma pessoa inteligente que faria o trabalho com perfeição.<br />

a. O plano era excelente. Concebemos o plano em nossa última sessão.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

b. A partida não foi nada interessante. Tivemos a oportunidade de ver a partida pela televisão.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

90


c. O número de pessoas influiu na decisão do diretor. Estas pessoas freqüentam o clube.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

d. A oferta é das mais vantajosas. Você me fez a oferta ontem.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

e. Não pudemos participar da competição. A competição realizou-se hoje de manhã.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

f. Jamais aceitaremos as ideias. Você adotou as ideias sem refletir.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

g. As roupas não me serviram. Comprei as roupas pelo reembolso postal.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

h. Não concordei com o presidente. O ponto de vista do presidente não foi correto.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

i. Ninguém recusaria esta oferta. Você recusou a oferta.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

4) Preencha as lacunas com o pronome relativo adequado, precedido ou não de preposição.<br />

a) Não conheço o aluno você fez referências.<br />

b) Meus professores apresentaram argumentos discordo totalmente.<br />

c) Ele é o escritor foi elogiado pela crítica.<br />

d) Ela é a professora aulas sempre me lembro.<br />

e) Muitas pessoas somos obrigados a conviver no trabalho têm um modo de pensar muito diferente do nosso.<br />

f) É justo o ideal vêm lutando os sem-terra.<br />

g) São cenas de infância recordo muito bem.<br />

5) Transforme os dois períodos simples num só período composto, empregando corretamente o pronome relativo.<br />

Comece pela expressão entre parênteses e faça as adaptações necessárias.<br />

a) A punição foi inadequada. O diretor aplicou a punição. (A punição)<br />

91


) A reunião foi muito cansativa. Vocês participaram da reunião. (A reunião)<br />

c) A rua é muito movimentada. Moro na rua. (A Rua)<br />

d) Vivemos em um país. Sua distribuição de renda está entre as piores do mundo. (Vivemos)<br />

6) Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando em relação à palavra Vera, os mecanismos de coesão que<br />

julgar adequados.<br />

“Desde cedo o rádio noticiava: um objeto voador não identificado estava provocando pânico entre os moradores de Valéria.<br />

A primeira reação de Vera foi sair da cama e correr para o porto. Fazia seis meses que Vera andava trabalhando em Parintins.<br />

Vera levantava cedo todos os dias e passava a manhã inteira conversando com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores<br />

Rurais. Vera estava em Parintins, tentando convencer os trabalhadores a mudar a técnica do plantio da várzea.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

7- As frases abaixo apresentam problemas de coesão textual. Identifique o problema e depois reescreva as frases,<br />

tornando-as coesas.<br />

a) Mais de cinquenta mil pessoas compareceram ao estádio para apoiar o time onde seria disputada a partida final.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

b) Não concordo em nenhuma hipótese com seus argumentos, pois eles vão ao encontro dos meus.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

c) A casa, que ficava em uma região em que fazia bastante frio durante o inverno.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

d) A plateia, conquanto reconhecesse o enorme talento do artista, ao final do espetáculo aplaudiu-o de pé por mais de cinco<br />

minutos.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

e) Durante todo o interrogatório, em nenhum momento o acusado não negou que tivesse sido ele o autor do delito.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

8- (UGMG) Sem alterar o sentido do período, reescreva-o, eliminando as palavras em destaque e fazendo as<br />

adaptações necessárias.<br />

O que é indispensável é que se conheça o princípio que se adotou para que se avaliasse a experiência que se realizou ontem,<br />

a fim de que se compreenda a atitude que tomou o grupo que foi encarregado do trabalho.<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

92


___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

9- Quanto à sintaxe, constitui erro frequente usar o pronome demonstrativo mesmo(a) sem acompanhamento de<br />

substantivo, não se podendo esquecer que mesmo não tem por função substituir ele(a) ou este(a). Identifique as orações<br />

em que o uso de o(a) mesmo(a) foi feito de maneira incorreta e reescreva-as de maneira adequada.<br />

a) “O réu foi até à vítima e falou com a mesma”.<br />

b) “Consultou tais autores, e os mesmos lhe indicaram a adequada solução.”<br />

c) “O mesmo se há de dizer...”<br />

d) “A caridade, pois, não é o mesmo que a filantropia.”<br />

e) “Não dê carona a pessoas desconhecidas, porque as mesmas podem ser assaltantes.”<br />

f) “Não suportando mais a dor, procurei o dentista, mas o mesmo tinha viajado.”<br />

g) “Elas mesmas fizeram a prova.”<br />

h) Eu mesmo preparei o seminário.<br />

i) Estou com a mesma dor de ontem.<br />

10- Em muitos casos, os períodos longos dificultam o entendimento do texto por parte do leitor, pois a coesão e<br />

coerência tornam-se falhas. Analise o período seguinte e reestruture-o de modo a mantê-lo coerente e coeso. Atendese<br />

para aspectos como o uso dos gerúndios e a pontuação.<br />

"A Violência em nosso país esta a cada dia que passa se acentuando mais, podendo citar como causa o fator econômico a<br />

ganância do homem pelo dinheiro, o desemprego dos pais, a falta de moradias, alimentação e educação impedindo de criar<br />

seu filhos dignamente daí a grande violência da sociedade o menor abandonado, não tendo sem ter uma mão firme que o<br />

conduza pela vida, partindo para o crime e roubo na tentativa de sobreviver.”<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________________________________<br />

93


CAPÍTULO 2<br />

PROGRESSÃO DE IDEIAS<br />

95


MÓDULO II<br />

APROFUNDANDO CONHECIMENTO<br />

Caro aluno,<br />

para que você possa aprofundar os seus conhecimentos sobre diversos temas, separamos alguns textos para leitura. Mas, além<br />

destes, você pode e deve buscar novas fontes de conteúdo em livros, revistas, sites.<br />

A água é o próximo petróleo<br />

A poluição e o desperdício estão acabando com esse recurso natural precioso e finito. Segundo especialistas, a água será o<br />

pivô das próximas guerras. Prepare-se para poupar e cuidar melhor desse tesouro antes que ele evapore. Marília Scalzo<br />

Revista Claudia - 07/2007<br />

O alerta está lançado: as próximas guerras serão desencadeadas pelo acesso a água, comida e energia. Com isso, abre-se um<br />

novo capítulo na era dos conflitos bélicos por recursos naturais, que começou em 1990, quando o Iraque invadiu o pequeno<br />

Kuwait em busca do controle do petróleo. Especialistas como Michael T. Klare, professor de estudos sobre paz e segurança<br />

mundial do Hampshire College, nos Estados Unidos, acreditam que questões políticas, religiosas ou ideológicas ficarão em<br />

segundo plano e a briga será por essas riquezas essenciais à sobrevivência das populações. Já no ano passado, o ministro do<br />

Interior britânico, John Reid, ressaltava que conflitos como os que ocorrem na região de Darfur, no sudoeste do Sudão, desde<br />

2003, já se davam pelo acesso à água e a terras cultiváveis. Os piores cenários pintados como conseqüência das mudanças do<br />

clima mostram países inteiros assolados por catástrofes e populações famintas e sedentas.E a escassez de água não será só<br />

um problema dos países pobres, dizem os especialistas. A busca por recursos vitais vai se tornar um problema global, que<br />

exigirá soluções globais. Para resolver as questões urgentes que garantirão a preservação da água no planeta, cada um terá<br />

que fazer a sua parte.No Brasil, temos uma situação maravilhosa se comparada a outros países. Somos os reis da água doce,<br />

com a maior reserva do planeta. Só para dar uma idéia: o Brasil dispõe anualmente de 45570 metros cúbicos de água per<br />

capita, enquanto o Kuwait, um dos reis do petróleo, tem apenas 10. O Kuwait, aliás, importa água há mui tos anos do Iraque,<br />

e essa é uma questão estratégica, pois ali chove pouco e o solo vem se deteriorando de vido ao uso de água salgada para<br />

irrigação.Mesmo com sua situação privilegiada, o Brasil não pode bobear. Muito da nossa água já está contaminada e em<br />

várias regiões a população sofre com a falta dela ou com péssimas condições de saneamento. Os números divulgados nos<br />

últimos relatórios da Organização das Nações Unidas e de ONGs que se dedicam a esse problema são realmente assustadores.<br />

É hora de arregaçar as mangas e fechar as torneiras. Cada litro poupado é importante, por isso não é o caso de esperar apenas<br />

por ações governamentais. Embora seja necessário batalhar por políticas públicas sustentáveis, cada uma de nós pode começar<br />

97


a sua luta particular. E o primeiro passo é a conscientização. QUESTÕES VITAISNo Brasil<br />

- Somos o país mais rico do mundo em reservas hídricas, contendo 13,7% da água doce disponível na Terra<br />

- 40 milhões de brasileiros não têm acesso à água.<br />

- 70% das internações hospitalares são causadas por doenças relacionadas à contaminação da água.<br />

- Em São Paulo, estima-se que 70% da poluição das águas é de origem doméstica e 30% de origem industrial.<br />

- O índice de desperdício de água no Brasil chega 40%, contando o setor de produção e as residências. No mundo<br />

- 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso água potável em quantidade suficiente.<br />

- As doenças diarréicas e a malária, que podem ser combatidas com saneamento básico, mataram cerca de 3,1 milhões de<br />

pessoas em 2002; 80% das vítimas eram crianças com menos de 5 anos.<br />

- Há dez anos, a ocorrência de catástrofes naturais se intensificou e 90% delas estão ligadas à água. Duas em cada cinco<br />

pessoas vivem hoje em zonas suscetíveis à inundação.<br />

- Diariamente, são utilizados 600 litros de água por pessoa nos Estados Unidos; 358 na Itália; 9,3 em Moçambique; e 4,5 em<br />

Gâmbia.O QUE FAZERJÁ.<br />

- Tome banhos mais curtos.<br />

- Se fechar a torneira na hora de escovar os dentes ou lavar as mãos, gastará até 2 litros de água. Caso contrário,<br />

consumirá 12 litros.<br />

- Se fechar a torneira da pia da cozinha enquanto ensaboa a louça, economizará 70 litros. Antes de lavar pratos e panelas,<br />

remova bem a sujeira e não deixe restos de comida ou de óleo irem pelo ralo.<br />

- Troque válvulas de descarga por caixas econômicas. Cada descarga com válvula consome entre 10 e 30 litros de água; a<br />

caixa gasta cerca de 6 litros.<br />

- Conserte as torneiras que estão pingando. Cada uma pode perder mais de 40 litros por dia. Reutilize a água usada na lavagem<br />

de roupas para limpar pisos e calçadas. Troque o esguicho por vassoura e balde.<br />

- Use a máquina de lavar roupas com a carga máxima.<br />

por Elton Alisson - Agência Fapesp<br />

98


Lincoln Barbosa/Creative Commons<br />

A Amazônia possui uma reserva de água subterrânea com volume estimado em mais de 160 trilhões de metros<br />

cúbicos, de acordo com Francisco de Assis Matos de Abreu, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), durante a<br />

66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que terminou no dia 27 de julho, no campus<br />

da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco.<br />

O volume é 3,5 vezes maior do que o do Aquífero Guarani – depósito de água doce subterrânea que abrange os<br />

territórios do Uruguai, da Argentina, do Paraguai e principalmente do Brasil, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados de<br />

extensão.<br />

“A reserva subterrânea representa mais de 80% do total da água da Amazônia. A água dos rios amazônicos, por<br />

exemplo, representa somente 8% do sistema hidrológico do bioma e as águas atmosféricas têm, mais ou menos, esse mesmo<br />

percentual de participação”, disse Abreu durante o evento.<br />

O conhecimento sobre esse “oceano subterrâneo”, contudo, ainda é muito escasso e precisa ser aprimorado tanto<br />

para avaliar a possibilidade de uso para abastecimento humano como para preservá-lo em razão de sua importância para o<br />

equilíbrio do ciclo hidrográfico regional.<br />

De acordo com Abreu, as pesquisas sobre o Aquífero Amazônia foram iniciadas há apenas 10 anos, quando ele e<br />

outros pesquisadores da UFPA e da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram um estudo sobre o Aquífero Alter do<br />

Chão, no distrito de Santarém (PA).<br />

O estudo indicou que o aquífero, situado em meio ao cenário de uma das mais belas praias fluviais do país, teria um<br />

depósito de água doce subterrânea com volume estimado em 86,4 trilhões de metros cúbicos.<br />

“Ficamos muito assustados com os resultados do estudo e resolvemos aprofundá-lo. Para a nossa surpresa,<br />

descobrimos que o Aquífero Alter do Chão integra um sistema hidrogeológico que abrange as bacias sedimentares do Acre,<br />

Solimões, Amazonas e Marajó. De forma conjunta, essas quatro bacias possuem, aproximadamente, uma superfície de 1,3<br />

milhão de quilômetros quadrados”, disse Abreu.<br />

Denominado pelo pesquisador e colaboradores Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga), o sistema<br />

hidrogeológico começou a ser formado a partir do período Cretáceo, há cerca de 135 milhões de anos.<br />

Em razão de processos geológicos ocorridos nesse período foi depositada, nas quatro bacias sedimentares, uma<br />

extensa cobertura sedimentar, com espessuras da ordem de milhares de metros, explicou Abreu.<br />

“O Saga é um sistema hidrogeológico transfronteiriço, uma vez que abrange outros países da América do Sul. Mas<br />

o Brasil detém 67% do sistema”, disse.<br />

99


Uma das limitações à utilização da água disponível no reservatório, contudo, é a precariedade do conhecimento<br />

sobre a sua qualidade, apontou o pesquisador. “Queremos obter informações sobre a qualidade da água encontrada no<br />

reservatório para identificar se é apropriada para o consumo.”<br />

“Estimamos que o volume de água do Saga a ser usado em médio prazo para abastecimento humano, industrial ou<br />

para irrigação agrícola será muito pequeno em razão do tamanho da reserva e da profundidade dos poços construídos hoje na<br />

região, que não passam de 500 metros e têm vazão elevada, de 100 a 500 metros cúbicos por hora”, disse.<br />

Como esse reservatório subterrâneo representa 80% da água do ciclo hidrológico da Amazônia, é preciso olhá-lo<br />

como uma reserva estratégica para o país, segundo Abreu.<br />

“A Amazônia transfere, na interação entre a floresta e os recursos hídricos, associada ao movimento de rotação da<br />

Terra, cerca de 8 trilhões de metros cúbicos de água anualmente para outras regiões do Brasil. Essa água, que não é utilizada<br />

pela população que vive aqui na região, representa um serviço ambiental colossal prestado pelo bioma ao país, uma vez que<br />

sustenta o agronegócio brasileiro e o regime de chuvas responsável pelo enchimento dos reservatórios produtores de<br />

hidreletricidade nas regiões Sul e Sudeste do país”, avaliou.<br />

VULNERABILIDADES<br />

De acordo com Ingo Daniel Wahnfried, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), um dos principais<br />

obstáculos para estudar o Aquífero Amazônia é a complexidade do sistema.<br />

Como o reservatório é composto por grandes rios, com camadas sedimentares de diferentes profundidades, é difícil<br />

definir, por exemplo, dados de fluxo da água subterrânea para todo sistema hidrogeológico amazônico.<br />

“Há alguns estudos em andamento, mas é preciso muito mais. É necessário avaliarmos, por exemplo, qual a<br />

vulnerabilidade do Aquífero Amazônia à contaminação”, disse Wahnfried, que realizou doutorado direto com Bolsa da<br />

FAPESP.<br />

Diferentemente do Aquífero Guarani, acessível apenas por suas bordas – uma vez que há uma camada de basalto<br />

com dois quilômetros de extensão sobre o reservatório de água –, as áreas do Aquífero Amazônia são permanentemente<br />

livres.<br />

Em áreas de floresta, essa exposição do aquífero não representa um risco. Já em áreas urbanas, como nas capitais<br />

dos estados amazônicos, isso pode representar um problema sério. “Ainda não sabemos o nível de vulnerabilidade do sistema<br />

aquífero da Amazônia em cidades como Manaus”, disse Wahnfried.<br />

Segundo o pesquisador, tal como a água superficial (dos rios), a água subterrânea é amplamente distribuída e<br />

disponível na Amazônia. No Amazonas, 71% dos 62 municípios utilizam água subterrânea (mas não do aquífero) como a<br />

principal fonte de abastecimento público, apesar de o estado ser banhado pelos rios Negro, Solimões e Amazonas.<br />

Já dos 22 municípios do Estado do Acre, quatro são totalmente abastecidos com água subterrânea. “Apesar de esses<br />

municípios estarem no meio da Amazônia, eles não usam as águas dos rios da região em seus sistemas públicos de<br />

abastecimento”, avaliou Wahnfried.<br />

Algumas das razões para o uso expressivo de água subterrânea na Amazônia são o acesso fácil e a boa qualidade<br />

desse tipo de água, que apresenta menor risco de contaminação do que a água superficial.<br />

Além disso, o nível de água dos rios na Amazônia varia muito durante o ano. Há cidades na região que, em períodos<br />

de chuva, ficam a poucos metros de um rio. Já em períodos de estiagem, o nível do rio baixa 15 metros e a distância dele para<br />

a cidade passa a ser de 200 metros, exemplificou.<br />

Como escolhi a escola dos meus filhos<br />

Autor: Gustavo Ioschpe<br />

Nos últimos dois anos, culminando no fim do ano passado, eu e minha mulher passamos pelo processo angustiante<br />

de escolher a escola em que nossos filhos estudarão. Ao longo dos anos, muitos leitores e conhecidos me perguntam onde<br />

meus filhos estudam, e, ainda que ache que a escola que escolhemos é pouco relevante para terceiros, por motivos que<br />

explicito a seguir, talvez o processo que trilhamos ajude quem está nessa encruzilhada.<br />

O cenário é bem distinto dependendo se o aluno cursará uma escola pública ou privada. Para os pais que matricularão<br />

os filhos em escola pública, a sugestão é simples: matricule seu filho na escola com o Ideb mais alto que você conseguir.<br />

100


Como o currículo é teoricamente igual em todas as escolas da rede, o Ideb é o melhor indicador da qualidade da instrução<br />

que a escola oferece. Ele é medido para o 5º e o 9º anos, o que permite dar uma boa ideia da qualidade ao longo do Ensino<br />

Fundamental.<br />

Para quem pode mandar o filho para uma escola particular, a escolha é um pouco mais complicada. O único indicador<br />

objetivo e externo de qualidade é o ENEM (escolas particulares não participam da Prova Brasil e, assim, não têm Ideb). O<br />

ENEM é um teste feito para medir o aprendizado do aluno, não a performance da escola. No Estado de São Paulo e em alguns<br />

outros em que até recentemente as universidades públicas não usavam o ENEM em seu processo seletivo, muitos alunos dos<br />

colégios top tinham pouco incentivo para ir bem no teste, o que reduzia a média da escola. Outro problema do ENEM é que<br />

ele só avalia o aluno no último ano do ensino médio. É possível, ainda que pouco provável, que uma escola manipule a<br />

entrada de alunos em seu último ano selecionando alunos excelentes, o que faz com que uma escola ruim apareça bem na<br />

foto por na verdade ter arregimentado os melhores alunos (digo que isso é pouco provável porque é difícil que os melhores<br />

alunos optem por uma escola ruim).<br />

Tudo isso, porém, é de relevância menor, porque o fato que vem sendo demonstrado inescapavelmente pela pesquisa<br />

há décadas é que o impacto da escola sobre o aprendizado é menor do que a maioria dos pais imagina. Cerca de 80% da<br />

variação de desempenho escolar dos alunos é explicada pelas condições econômicas e, especialmente, culturais/educacionais<br />

de seus pais. À escola cabem os outros 20%. Não que isso seja pouco relevante: em um cenário muito competitivo, mesmo<br />

5% de diferença na formação pode fazer a pessoa entrar ou não na universidade ou no emprego dos sonhos. Mas a escola tem<br />

menos poder de mudança do que os pais imaginam.<br />

Por isso, minha recomendação principal aos afortunados que podem escolher onde o filho estudará é: prefiram a<br />

escola cuja proposta e valores mais se encaixem com aqueles da família. Não existe “a melhor” escola; existe a melhor escola<br />

para a demanda daqueles pais. O importante é saber qual o foco principal. É o lado acadêmico? A formação religiosa? É ser<br />

bilíngue? É a preparação para a cidadania? O desenvolvimento da criatividade? A segunda coisa importante é saber que<br />

nenhuma escola vai alcançar a excelência em todas essas dimensões. Porque o tempo letivo é finito; toda escola tem<br />

prioridades. Cabe aos pais saber o que procuram – e ficar de olho aberto em relação às escolas que dizem ser possível assobiar<br />

e chupar cana ao mesmo tempo.<br />

O mais importante, especialmente para quem mora em cidade grande, com ampla oferta educacional, é decidir aquilo<br />

que você não quer. Ninguém consegue visitar dezenas de escolas, então o primeiro passo é filtrar aquelas que não se encaixam<br />

no que você procura.<br />

No nosso caso, tomamos algumas decisões. A primeira é que não seguiríamos o ditado, proferido por alguns<br />

conhecidos, de que “escola boa é a escola mais perto de casa”. A escola dos meus filhos é uma decisão importante demais<br />

para ficar sujeita à conveniência do meu deslocamento. É verdade que uma distância maior entre a casa e a escola é um fator<br />

que impacta negativamente o aprendizado (fontes em twitter.com/gioschpe), mas o jeito de resolver isso é mudando de casa,<br />

não de escola. Meu avô se mudou de cidade para que meu pai pudesse estudar em escolas melhores; no meu caso, por já<br />

morar em uma cidade com muitas ótimas escolas, só preciso mudar de bairro. Decidimos não circunscrever nossas buscas a<br />

nenhuma área específica, portanto.<br />

Por isso, minha recomendação principal aos afortunados que podem escolher onde o filho estudará é: prefiram a<br />

escola cuja proposta e valores mais se encaixem com aqueles da família<br />

A segunda decisão importante é que buscaríamos uma escola “normal”. Eu e minha mulher somos judeus e fizemos<br />

universidade nos EUA; a maioria dos nossos amigos imaginava que nossos filhos estudariam em uma escola judaica e/ou<br />

bilíngue. Negativo. Não escolhi escola judaica porque sou um racionalista, ateu e cosmopolita. Acho que uma escola deve<br />

defender a supremacia e a universalidade do saber. Em uma escola religiosa, por mais light que seja, sempre haverá um<br />

conflito entre o dogma religioso e a curiosidade ilimitada do pensamento. Como é possível que uma escola ensine ao mesmo<br />

tempo que descendemos de primatas e de Adão e Eva? Não pode. Um dos dois está mentindo. Também acho que uma escola<br />

deve abrir portas, não construir muros. Não quero colocar meus filhos em um ambiente em que estejam rodeados de iguais,<br />

mas sim que aprendam a conviver com a diferença.<br />

Sobre as bilíngues: ainda que seja de fundamental importância o domínio de línguas estrangeiras, não acho que essa<br />

deveria ser a principal função da escola. Há muitas maneiras de adquirir fluência em um idioma. Tanto eu quanto minha<br />

mulher nunca estudamos em escola bilíngue e entramos em boas universidades americanas. A questão relevante aqui é se o<br />

benefício da educação bilíngue compensa os custos. Quais são eles? Há o financeiro: escolas internacionais viraram grife e,<br />

como toda grife, podem cobrar um premium por suas marcas. Mais importante: há o desenraizamento. Conheço bastante<br />

gente que estudou em escola internacional e domina pouco o português, não conhece a história do país etc. E, ao mesmo<br />

101


tempo, não é americano, nem suíço ou francês. Fica num limbo, não é nem uma coisa nem outra. Alguém já escreveu que<br />

árvores sem raízes não dão frutos. Concordo. Espero que meus filhos conquistem o mundo, mas sabendo muito bem de onde<br />

vieram. Finalmente, o problema de muitas escolas bilíngues e internacionais é que não têm uma medição externa de qualidade.<br />

A maioria dos alunos não faz o ENEM, nem faz vestibulares concorridos. Certamente deve haver excelentes escolas<br />

internacionais espalhadas pelo país, mas é mais difícil separar o joio do trigo.<br />

Feitas essas exclusões, como escolher, então, a escola ideal para nós? Meu pensamento foi escolher a escola que<br />

melhor suprisse aquilo que nós, pais, não conseguimos suprir, e que não se arrogasse tarefas que são de nossa alçada. Não<br />

procuramos, portanto, uma escola que dê uma educação de valores ou que esteja preocupada em “formar o cidadão crítico e<br />

consciente”: isso é tarefa nossa, da qual não abrimos mão. Procuramos uma escola forte academicamente, que desenvolva<br />

em nossos filhos o gosto pelo saber e a capacidade de raciocínio analítico. Especialmente na área de exatas, já que, se um<br />

filho meu não gostar de ler, eu vou mandar fazer teste de DNA…<br />

Usamos o ENEM como o, primeiro corte, procurando as melhores escolas da cidade. (Usamos o ENEM, digamos,<br />

“pra valer”: descartamos uma escola que faz parte de uma rede grande e seleciona os melhores alunos de toda a rede e os<br />

concentra em uma unidade. Aí o mérito é mais do aluno do que da escola). O segundo corte foi feito utilizando os critérios<br />

acima. Selecionamos, então, três escolas para visitar e conversar com a equipe. As três me pareceram academicamente<br />

excelentes.<br />

A primeira é muito repressora. Não permite namoros no pátio, política estudantil etc. Nós somos muito liberais e,<br />

além disso, acho que dificilmente o pensamento pode ser livre e questionador em um ambiente tão controlado. Não era a<br />

escola para a gente, portanto. A segunda é uma escola muito tradicional, linda, liberal, de altíssima qualidade. Poderia colocar<br />

meus filhos lá. Só duas coisas incomodavam um pouco. Primeiro, a maioria dos alunos é filha de ex-alunos, o que não só<br />

gera um ambiente pouco arejado como ajuda a inflar os resultados do ENEM. Segundo, é uma escola de padres, e, ainda que<br />

não fosse estritamente religiosa, essa associação com o plano superior nos causava algum desconforto. A terceira foi a que<br />

mais nos agradou. Muito rigorosa academicamente, sem ser repressora. Ótimo resultado no ENEM, especialmente em<br />

matemática, uma área em que mesmo as boas escolas brasileiras patinam. Um ambiente estimulante – salas de aula<br />

abarrotadas de livros, materiais escolares e trabalhos de alunos. Até o pátio da pré-escola, com coelhos, peixes e tartarugas,<br />

é um ambiente de estimulação, de abertura para o mundo. Havia uma consistência muito grande entre o discurso e a prática,<br />

e via-se que havia atenção ao detalhe (até o tipo de bolo que o aluno pode trazer em seu dia de aniversário é pensado. Essa<br />

atenção ao detalhe é um bom indicador da qualidade de qualquer instituição). E a grande maioria dos alunos entra na escola<br />

por sorteio. Ainda que obviamente haja um recorte por renda, já que a mensalidade não é barata, é um bom sinal: é mais<br />

difícil ter um bom desempenho acadêmico quando a origem dos alunos não é tão controlada. Essa, então, foi a escola que<br />

escolhemos, mesmo que o sorteio não nos tenha sido generoso (levamos dois anos para conseguir entrar).<br />

Por mais que esse processo tenha sido longo e angustiante, sei que ele marca o começo dessa caminhada, não o seu<br />

fim. Pretendo ser um pai presente, que acompanha o que se passa no dia a dia da escola e discute com os filhos, como a<br />

pesquisa recomenda. Mas de casa, a distância, sem fazer a tarefa dos meninos, deixando que eles quebrem um pouco a cabeça,<br />

frustrem-se, que se esforcem muito, que entendam o valor do trabalho, da perseverança, da paciência e do foco. Pelo menos<br />

esse é o meu plano racional. Se o coração de pai vai deixar, isso eu conto para vocês daqui a uns anos.<br />

Fonte: Veja (Edição de 19 de fevereiro de 2014)<br />

1 – Revista Scientific American<br />

PACTO VERDE GLOBAL<br />

O new deal verde global não é uma utopia. Ele é possível, mas deve ser construído em cada país<br />

Sérgio Abranches<br />

Mais de 2 mil cientistas se reuniram este ano em Copenhague para o congresso internacional sobre mudança<br />

climática. Quem achou que o encontro fosse gerar uma visão cataclísmica sobre o aquecimento global, errou o alvo. O<br />

congresso acendeu um alerta vermelho sobre o risco crescente de que a mudança climática acelere e provoque eventos<br />

abruptos e muito danosos. Mas não parou nas conclusões adversas.<br />

102


Deixou, ao final, uma mensagem curta, com suas conclusões fundamentais, combinando alertas duros e propostas<br />

viáveis de solução. Essa mensagem diz que as tendências observadas de aquecimento estão numa trajetória inaceitável e que<br />

há o risco de que acelerem e terminem por levar a mudanças climáticas abruptas e irreversíveis. As sociedades, especialmente<br />

as mais pobres, se mostram vulneráveis mesmo a efeitos modestos de mudanças climáticas e não teriam como suportar os<br />

resultados de temperaturas médias superiores a 2o C. É necessário criar uma rede de proteção para as nações mais pobres,<br />

contra os efeitos tremendamente desiguais da mudança climática. O potencial de disrupção social desse quadro de<br />

aquecimento global não pode ser desprezado.<br />

Metas fracas de redução das emissões para 2020 dificultariam a realização de propostas mais ambiciosas para 2050.<br />

A mitigação efetiva das emissões precisa começar imediatamente e demandará coordenação global e regional, numa<br />

estratégia de longo prazo.Temos os instrumentos necessários para enfrentar o desafio climático e os recursos para ampliar<br />

sua escala. A descarbonização das economias nacionais trará muitos benefícios. Vai criar empregos em atividades<br />

econômicas de baixo carbono em setores da economia e da sociedade, além de reduzir o risco de danos à saúde e perdas<br />

econômicas no futuro. Difícil discordar.<br />

Quando os governos se reunirem em Copenhague para as negociações formais, em dezembro, ouvirão os ecos dessa<br />

mensagem. Alguns fatores novos vão pesar muito nas decisões. Um deles é contextual, como nós, politólogos, dizemos.<br />

Trata-se da recessão global, que fará o pano de fundo das decisões. Outro, o novo governo dos Estados Unidos, que deverá<br />

remover o veto a um adequado acordo sobre o clima. Muitos tentarão usar a crise como álibi para adotar metas menos<br />

ambiciosas de redução das emissões. Mas, como argumentou Nicholas Stern, do “relatório Stern”, em Copenhague, ela reduz<br />

os custos do início da transição para um novo regime. Também permite que as medidas de reversão da crise global ofereçam<br />

os incentivos certos para estimular a descarbonização, como fizeram Estados Unidos e Inglaterra. Essas políticas de<br />

investimento e geração de emprego podem estimular o crescimento da “economia verde”, das tecnologias e energias limpas,<br />

dando-lhes firme vantagem competitiva. A idéia de um new deal verde e global é apresentada em vários círculos do diálogo<br />

climático.<br />

Para que cheguemos a esse “pacto verde global” será preciso que o presidente Obama assuma na COP 15 o<br />

compromisso de seu país com metas ousadas de redução das emissões. Tudo indica que fará isso. Ele tem adotado o desafio<br />

climático como baliza de suas principais decisões econômicas. A liderança dos Estados Unidos enfraquecerá muito o time<br />

dos “bloqueadores” da mudança. Pode conquistar agentes influentes e ativos do veto à mudança para o time dos que votam<br />

para mudar o status quo.<br />

Mas a troca de posição, de “bloqueador” para “transformador”, é um processo determinado por forças<br />

fundamentalmente domésticas. Não se pode esperar que ocorra em grande escala apenas no plano multilateral ou global. Os<br />

exemplos dos Estados Unidos e da Austrália ilustram bem como ele se dá. Nos dois casos, teve origem nas escolhas das<br />

sociedades locais, em eleições que levaram ao poder governantes comprometidos com a mudança das políticas domésticas e<br />

global do clima. Antes, eram governos que bloqueavam os avanços e contribuíam ativamente para o impasse.<br />

Negociações bilaterais, como a iniciada pela secretária de Estado Hillary Clinton, com a China, ajudam. Mas o que levará a<br />

China, um desses atores críticos, a adotar a mudança climática como prioridade é o desafio que ela já enfrenta internamente.<br />

Desastres associados a fenômenos climáticos têm causado, todo ano, prejuízos diretos da ordem de US$ 30 bilhões, afetado<br />

negativamente a vida de 400 milhões de pessoas e provocado mais de 4 mil mortes anuais. Esses dados foram apresentados<br />

ao Congresso chinês pela meteorologista Qingchen Chao, vice-diretora geral do departamento de desenvolvimento da ciência<br />

e tecnologia, da administração meteorológica da China. A China pode não mudar de “bloqueadora” a “transformadora” já<br />

em Copenhague. Mas já está mudando e provavelmente não terá a mesma atitude de veto, que se escorava, em grande medida,<br />

na posição dos Estados Unidos, o maior dos emissores de gases de efeito estufa.<br />

Direitos da Mulher: Uma história de dominação e lutas<br />

Desde sua origem, ninguém passou incólume pelo feminismo. Considerado um divisor de águas na história da humanidade,<br />

o movimento, apesar de possuir correntes diferentes, está diretamente ligado à luta pela igualdade de direitos.<br />

Por Carmem Sílvia Moretzsohn Rocha<br />

103


IGUALDADE DE DIREITOS<br />

Em pleno século XXI, por definição, a mulher<br />

muçulmana deve ser submissa. Sobre elas, em<br />

qualquer nível social, o domínio ainda é forte.<br />

Seus direitos estão garantidos em lei, mas a luta<br />

para fazê-los valer na prática é grande)<br />

Desde a Antiguidade até o final do século XVII, a mulher era considerada imperfeita por natureza. O "modelo do sexo único",<br />

descrito minuciosamente por Thomas Laqueur e dominante até a Revolução Francesa, situava a mulher num degrau abaixo<br />

do homem na hierarquia social. Mulheres ou "homens invertidos", ontologicamente inexistentes, impotentes como as crianças<br />

ou escravos, iniciaram sua luta por reconhecimento paralelamente aos esforços dos conservadores para justificar sua exclusão<br />

dos primórdios da cidadania moderna ocidental, porque era politicamente necessário legitimar como natural o domínio do<br />

homem sobre a mulher. A construção do indivíduo racional pela teoria liberal pretendeu excluir a mulher da sociedade civil<br />

em formação, enfatizando a dicotomia entre os sexos e a separação entre as esferas pública e privada. Em contrapartida, deu<br />

início ao discurso feminista da diferença, inaugurando uma história de resistências repleta de questões, ambivalências, tensões<br />

e desdobramentos.<br />

O dia internacional da mulher teria sido criado no século XX, como protesto de mulheres que, empregadas<br />

na indústria têxtil, reivindicaram melhores condições de trabalho e salários<br />

A luta inicial das mulheres pela igualdade de direitos nasce pela afirmação das diferenças dando início a uma ambivalência<br />

(igualdade versus diferença) que acompanha toda a trajetória do(s) feminismo(s) e fundamenta a idéia de identidade do sujeito<br />

feminino. O direito de votar foi uma das primeiras reivindicações das feministas denominadas sufragistas que, embora<br />

excluídas da esfera pública sob domínio masculino, buscavam participar desta por meio do voto. Alegavam, principalmente,<br />

que na condição de mães e educadoras daqueles que integravam as arenas decisórias teriam, portanto, o direito de votar. A<br />

Nova Zelândia foi o primeiro país a conceder o direito ao sufrágio feminino em 1893, portanto, final do século XIX.<br />

104<br />

O SÉCULO XX é conceitualmente marcado por três correntes feministas fundamentais, fruto de questionamentos<br />

decorrentes da diversidade intra-sexo. A primeira, nos anos 1960, teve como reivindicação principal uma distribuição mais<br />

igualitária do poder por meio da idéia de igualdade de oportunidades e de condições para ambos os sexos. Denominado<br />

"Feminismo Igualitário", "Liberal" ou "Universalista" tem como princípio o pensamento liberal em que os instrumentos são<br />

a educação, o trabalho e a política para uma ação transformadora. A segunda corrente, o "Feminismo Radical", faz uma crítica<br />

à sociedade patriarcal e ao liberalismo e impera nos anos 1970.


A socióloga Francine Decarries esclarece que o uso da palavra "radical", cujo significado é aquilo que busca as "raízes",<br />

pretende abordar as desigualdades geradas nas sociedades de cunho liberal. O feminismo radical pode ser subdividido em<br />

quatro tendências, a saber: Feminismo "Materialista", "Socialista", "da Especificidade ou Autonomista" e "Lesbiano". A<br />

primeira faz uma oposição clara à "classe dos homens" como opressores; na segunda, há vínculo direto entre o capitalismo e<br />

o sistema patriarcal; a terceira se volta para a questão das mulheres na família e no trabalho doméstico e, por fim, o Feminismo<br />

Lesbiano encara o modelo heterossexual como opressor e tem na homossexualidade feminina uma opção política. As<br />

polêmicas, aproximações e distanciamentos entre os discursos dos feminismos emergentes evidenciaram a complexidade das<br />

relações de poder, a diversidade das experiências femininas e a consciência da centralidade do conceito de patriarcado nas<br />

lutas e pesquisas empreendidas no âmbito do(s) gênero(s). A socióloga Sylvia Walby defende que, além de ser um conceito<br />

descritivo e útil para a análise da dominação masculina, o "patriarcado" é um sistema que se articula com o capitalismo,<br />

porém, é autônomo. "É um sistema de estruturas e práticas sociais nas quais os homens dominam, oprimem e exploram as<br />

mulheres", define.<br />

Nos anos 1980, as mulheres reivindicaram uma revalorização da experiência feminina ligada à maternidade e aspectos<br />

biológicos característicos das mulheres - constituindo, assim, uma terceira corrente chamada Feminismo da "Feminitude",<br />

que enfatiza, novamente, a diferença entre os sexos.<br />

Existe no mundo contemporâneo a demanda por uma noção de cidadania mais abrangente, onde a diversidade cultural é um<br />

mote contínuo.<br />

Nos anos 1980, as solicitações eram por<br />

revalorização feminina ligada à<br />

maternidade e aspectos biológicos<br />

IGUALDADE DE DIREITOS<br />

Direito ao voto foi uma das primeiras reivindicações das mulheres. No<br />

Brasil, isso ocorre em 1932, depois de Getúlio Vargas fazer alterações<br />

na Justiça Eleitoral<br />

O debate atual expressa os conflitos entre duas<br />

correntes principais que dialogam<br />

permanentemente:<br />

Universalismo<br />

(Igualitarismo) versus Multiculturalismo<br />

(Comunitarismo). Críticos do Universalismo<br />

afirmam que, por ser uma doutrina que prioriza<br />

o geral em detrimento do particular, acaba por<br />

invisibilizar as diferenças, produzindo e<br />

reificando as desigualdades sociais. Em<br />

resposta a este efeito, os grupos sociais em<br />

desvantagem têm clamado por uma "cidadania<br />

diferenciada" que permita a construção de<br />

sociedades mais inclusivas. No passado,<br />

alguns marxistas e liberais consideraram as<br />

desigualdades sociais como fruto,<br />

fundamentalmente, de aspectos econômicos.<br />

No entanto, pensadores contemporâneos<br />

afirmam que a questão é bem mais complexa e<br />

não se reduz às desigualdades econômicas,<br />

embora interajam.<br />

OS ADEPTOS do chamado<br />

Multiculturalismo lutam por uma política do<br />

reconhecimento que tem por base a identidade<br />

de grupo. Teóricos e militantes desta linha de pensamento argumentam que membros de uma comunidade política ou nação<br />

105


(cidadãos) nem sempre compartilham as mesmas comunidades culturais. Há três tipos de multiculturalismo:<br />

multiculturalismo como comunitarismo, multiculturalismo dentro de uma estrutura liberal e multiculturalismo como uma<br />

resposta à construção do Estado. O primeiro pode ser descrito a partir da idéia de minorias versus a concepção do<br />

individualismo liberal. Alguns isolacionistas querem defender seu estilo de vida incondicionalmente e são considerados<br />

radicais. O extremismo desta corrente pode levar a restringir as liberdades individuais e, conseqüentemente, à opressão de<br />

alguns grupos dentro das comunidades culturais. Por exemplo, em algumas culturas as mulheres são forçadas a se casar e<br />

obrigadas a ficar em casa. A segunda linha de pensamento e ativismo defende que os grupos em desvantagem devem ser<br />

incluídos socialmente, no entanto, sem abrir mão de suas diferenças. Neste caso, o multiculturalismo é compatível com a<br />

democracia e os princípios liberais. Os adeptos do terceiro tipo defendem a criação de instrumentos específicos para<br />

"pluralizar" o Estado que, na verdade, não é neutro e gera a dominância de um grupo homogêneo e a exclusão de todos os<br />

outros. Neste caso, dois pontos principais devem ser resguardados e respeitados: as liberdades individuais dentro dos grupos<br />

e as relações igualitárias entre os diferentes grupos.<br />

As cotas para as mulheres no espaço de representação política são<br />

exemplos emblemáticos de ações afirmativas. No Brasil, elas podem ser<br />

aplicadas pela legislação e adotadas pelos partidos políticos por<br />

iniciativa voluntária<br />

OS GRUPOS que estão em posição de desvantagem<br />

social em relação a outros não devem adotar o ponto de<br />

vista dominante. Ao contrário, é possível manterem suas<br />

identidades formadas a partir de experiências específicas<br />

e, ao mesmo tempo, compartilharem um espírito público<br />

mais abrangente e estarem abertos a ouvir e perceber os<br />

interesses de outros. A cientista política norte-americana<br />

Iris Young descreve cinco características que configuram<br />

uma relação de opressão de um grupo em relação a outro:<br />

(1) exploração: quando os benefícios do trabalho e<br />

energia de alguns são apropriados por outros sem<br />

reciprocidade; (2) marginalização: quando um grupo é<br />

excluído de atividades sociais em larga escala, em geral,<br />

da esfera do mercado de trabalho; (3) destituição de<br />

poder: viver e trabalhar sob a autoridade de outros e ter<br />

pouca autonomia e autoridade sobre outros; (4)<br />

imperialismo cultural: gera grupos sociais estereotipados<br />

e, ao mesmo tempo, invisíveis no que diz respeito à expressão de suas experiências e acesso a oportunidades; (5) sofrer<br />

violência ou perseguição por ser considerado membro de um grupo que é odiado ou temido socialmente. A autora cita, entre<br />

outros, alguns grupos que são oprimidos em um ou mais destes aspectos: mulheres, negros, homossexuais, operários, pobres,<br />

idosos e portadores de necessidades especiais. Em Inclusion and Democracy, ela afirma que o sujeito constrói a própria<br />

identidade individual, mas a partir de condições sociais já estabelecidas. As relações sociais, instituições e estruturas estão<br />

acima das subjetividades.<br />

A FILÓSOFA Nancy Fraser observa que existem no mundo contemporâneo dois tipos de reivindicação por justiça social.<br />

O primeiro é o redistributivo ou igualitário e existe há mais de 150 anos. O segundo tipo, o qual o feminismo pode ser<br />

considerado um de seus pilares fundamentais, é o das "políticas de reconhecimento", movimentos sociais que lutam para que<br />

as diferenças sejam mais aceitas e respeitadas. Segundo a autora, há atualmente uma predominância deste último e um esforço<br />

para "desenvolver um novo paradigma de justiça que coloque o reconhecimento em seu centro". Fraser aponta a queda do<br />

comunismo, a expansão do mercado e das "políticas de identidade" como elementos causais inerentes a este processo. Os<br />

seguidores do paradigma igualitário classificam de "falsa consciência" o modelo do reconhecimento que, por sua vez, rechaça<br />

o primeiro julgando-o ultrapassado e inadequado para dar conta do contexto atual.<br />

Existe no mundo moderno a demanda<br />

pela cidadania, em que a diversidade<br />

cultural é um mote contínuo<br />

106


A proposta da autora consiste em elaborar uma teoria alternativa, capaz de conciliar os dois modelos a fim de superar<br />

a oposição e lidar com a complexidade da questão da justiça na realidade contemporânea. Fraser identifica dois problemas<br />

no paradigma do reconhecimento. Em primeiro lugar, a retificação das identidades que reforçariam o separatismo e<br />

comunitarismo repressivo e, em segundo, a oposição entre reconhecimento e redistribuição, cuja integração considera<br />

fundamental.<br />

Segundo Fraser é imprescindível distinguir reconhecimento de identidade. Por essa razão, ela propõe um "modelo<br />

de status" a fim de alcançar um "reconhecimento recíproco e status de igualdade". A injustiça significa, neste modelo,<br />

"reconhecimento inapropriado e subordinação de status" que seriam consequência de uma assimetria nas interações sociais.<br />

Em termos conceituais, a autora define a estrutura de classes como fruto de mecanismos econômicos e a hierarquia<br />

de status gerida por valores culturais. Como alternativa teórica, Fraser sugere o "dualismo perspectivo". "Aqui, redistribuição<br />

e reconhecimento não correspondem a dois domínios sociais substantivos, quais sejam: economia e cultura. Antes, constituem<br />

duas perspectivas analíticas que podem ser assumidas com respeito a qualquer domínio."<br />

Outra importante referência no debate feminista contemporâneo, a filósofa e cientista política turca Seyla Benhabib<br />

(2002) critica o Multiculturalismo e sua ênfase na identidade. Segundo ela, o esforço por reconhecimento pode vir a negar a<br />

alteridade como um elemento social construtivo. "O 'outro' está sempre dentro de nós também e é um de nós". Benhabib<br />

defende que é possível criar instituições imparciais na democracia igualitária e que o reconhecimento das diferenças culturais<br />

pode existir sem dominação.<br />

Benhabib observa o aumento do uso do argumento cultural "my culture made me do it" nos tribunais norteamericanos<br />

ao tratar de casos relativos a imigrantes. A autora afirma que este tipo de procedimento enfatizou a<br />

vulnerabilidade de certos membros dos grupos, em geral, mulheres e crianças. É interessante notar que, embora tanto a<br />

corrente universalista quanto a multiculturalista apresentem discursos antagônicos em prol da justiça, nos casos comentados<br />

há uma injustiça consensual ocorrendo na prática judiciária.<br />

Segundo o cientista político Norberto Bobbio, a tolerância "é a virtude da moderna democracia pluralista".<br />

Tolerância versus intolerância, igualdade versus desigualdade, homogeneidade versus diferença,<br />

individualismo versus coletivismo são oposições constituintes do debate e da política contemporânea em diversas áreas do<br />

conhecimento, assim como do senso comum. Para ele, é fundamental formular duas questões em relação ao princípio da<br />

igualdade. Em primeiro lugar, igualdade entre quem e em segundo, igualdade em quê? A idéia de que "todos são iguais,<br />

porém alguns são mais iguais do que outros" é crucial para a proposição de que se faz necessário "tratar os desiguais de forma<br />

desigual", por meio de políticas e ações afirmativas. O objetivo principal das ações afirmativas é restituir ou atingir uma<br />

igualdade que foi rompida ou jamais existiu<br />

O deslocamento do predomínio do "individualismo" em favor do "coletivismo" e da "política de idéias" em favor da<br />

"política de presença" está presente nas ações afirmativas, políticas públicas adotadas e em desenvolvimento num contexto<br />

universal. As cotas para as mulheres no espaço de representação política e para negros nas universidades são casos<br />

emblemáticos destas políticas. No caso das mulheres, há cotas aplicadas pela legislação e aquelas em que os partidos políticos<br />

adotam por iniciativa voluntária. No caso brasileiro, há três aspectos estruturantes das desigualdades de gênero na arena<br />

política. Em primeiro lugar, os longos períodos de autoritarismo (1937-1945 e 1964-1984) da história política. Em segundo,<br />

o clientelismo como cultura política reinante nas elites e, em terceiro, a desigualdade socioeconômica profunda entre homens<br />

e mulheres.<br />

São inegáveis os efeitos perversos das<br />

discriminações sociais de gênero, etnicidade e<br />

orientação sexual.<br />

107


Embora seja indiscutível que a diferença quantitativa entre homens e mulheres na representação política seja fruto<br />

da histórica dominação masculina, existem muitas contradições e questões interessantes a serem investigadas. Será que as<br />

mulheres que se elegem representarão os interesses das mulheres? E ainda, quais interesses e de quais mulheres? E mais, o<br />

que é, afi- nal, ser mulher? Apesar de a opressão ser construída por dominantes e dominados e vitimar dominantes e<br />

dominados, são inegáveis os efeitos perversos das discriminações sociais referentes a categorias como gênero, cor/raça,<br />

etnicidade, orientação sexual, etc. Se as políticas de reconhecimento confi- guram e instrumentalizam identidades a fim de<br />

justificar interesses específicos, não o fizeram/fazem também os universalistas? Há que se considerar, porém, os abusos<br />

cometidos em nome de justas reivindicações, cujo risco é a deslegitimação destas.<br />

Em 1887, Ferdinand Tönnies cunhou os conceitos Gemeinschaft e Gesellschaft que traduziam o espírito de<br />

transformação da época e o cerne da era moderna. Segundo o Dicionário do Pensamento Social do Século XX,<br />

Gemeinschaft quer dizer comunidade, "uma forma social caracterizada por relações pessoais, intenso espírito emocional,<br />

constituída por cooperação, costume e pequenas comunidades urbanas"; e Gesellschaft quer dizer sociedade, "uma<br />

organização de grande escala, como cidade, Estado ou nação, baseada em relações impessoais, interesses particulares, direito<br />

e opinião pública". Estes princípios antagônicos que priorizam a hierarquia ou a igualdade balizaram a maioria dos esforços<br />

analíticos e políticos das sociedades humanas.<br />

HÁ, PORTANTO, diversas oposições e oscilações fundamentais em torno das quais foram travados importantes<br />

debates, dentre elas: homens versus mulheres, igualdade versus diferença, esfera pública versus esfera privada,<br />

heterossexualidade versushomossexualidade, individualismo versus coletivismo, poder como um valor a ser<br />

rechaçado versus poder como um valor a ser conquistado, liberdade versus aprisionamento,<br />

redistribuição versus reconhecimento, política de ideias versus política de presença, universalismo versus multiculturalismo,<br />

tolerância versus intolerância, etc. Tanto Walby (1990) quanto Benhabib (1996) identificaram a dominação masculina em<br />

sistemas econômicos e políticos diversos e sua presença em práticas sociais embasadas por correntes de pensamento<br />

aparentemente opostas. Como instrumento de análise mais abrangente de forma a superar as dicotomias, Fraser (2002) propõe<br />

o "dualismo perspectivo", buscando lidar com a complexidade do mundo contemporâneo.<br />

O objetivo das ações afirmativas é restituir ou<br />

atingir uma igualdade que foi rompida ou jamais<br />

existiu<br />

108


Juntamente com a idéia de identidade, individual e/ou coletiva e na corda bamba entre o discurso da diferença e a<br />

afirmação da isonomia nasceu o movimento que marcou a passagem da visão do sexo único para a oposição dicotômica<br />

homem/mulher. Foi capaz de gerar polêmicas e inspirar outras lutas. Congregou homens e mulheres para compartilhar seus<br />

anseios. Apesar de suas contradições e paradoxos aparentemente insolúveis, se vê representado na política, no mundo<br />

acadêmico, na mídia, nas artes e no cotidiano, mentes e corpos. Desde sua origem, ninguém passou incólume por este<br />

movimento, a favor ou contra, engajado ou alienado, que de alguma forma tocou a todos. É ao mesmo tempo conservador e<br />

progressista, local e universal, micro e macro, público e doméstico. O feminismo é, indubitavelmente, um divisor de águas e<br />

referência constante na história da humanidade.<br />

A MÃE DOS DIREITOS CIVIS<br />

Na década de 1950, uma costureira negra desencadeou um dos maiores manifestos civis da história dos Estados Unidos.<br />

Rosa Parks, falecida em 2005 aos 92 anos, tornou-se símbolo da luta anti-racista e feminista nos EUA quando, em 1955,<br />

negou-se a levantar para um branco tomar seu lugar.<br />

Na época vigorava a lei Apartheid, política de segregação racial inicializada na África do Sul pelos europeus que estavam<br />

colonizando a região. Dentre as várias restrições impostas pelos colonizadores brancos aos negros estavam o não acesso<br />

ao voto e a proibição de se candidatarem a cargos públicos.<br />

Parks foi presa e multada por não ter cedido seu lugar no ônibus, pois,<br />

segundo a lei vigente, os brancos tinham preferência, algo como<br />

possuem hoje idosos, obesos e grávidas em transportes públicos. Sua<br />

detenção provocou a reação da comunidade negra local (Alabama),<br />

marcando o início da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados<br />

Unidos.<br />

Foi então organizado pelo pastor da Igreja Batista, até então<br />

desconhecido, Martin Luther King Jr, um boicote de 381 dias ao sistema<br />

de ônibus. A manifestação atingiu seu auge em 1964, culminando na Lei<br />

Federal dos Direitos Civis, que baniu todo tipo de discriminação racial<br />

em qualquer estabelecimento público. Outras conquistas foram<br />

precedidas de atentados até que, em 1965, Luther King, junto de 25 mil<br />

pessoas, realizou uma marcha reivindicatória, resultando na lei que<br />

garantia aos negros o direito ao voto, assinada pelo presidente Lyndon<br />

Johnson.<br />

Para Parks, após sua soltura, existiu uma grande dificuldade para<br />

encontrar trabalho no Alabama, além de receber constantes ameaças de<br />

morte. Em 1957 decidiu se mudar para Detroit, onde trabalhou como<br />

assistente no escritório de um congressista democrata e se tornou uma<br />

figura reverenciada. Em 1996 foi premiada com a "Medalha<br />

Presidencial pela Liberdade" e, em 1999, durante o governo do<br />

democrata americano Bill Clinton, foi outorgada a ela a Medalha de<br />

Ouro, considerada a mais alta honraria civil dos EUA.<br />

Rosa Parks tornou-se o símbolo da luta antiracista<br />

e feminista nos EUA<br />

109


RELÓGIO DAS CULTURAS<br />

O que é o tempo? A resposta varia, dependendo da sociedade<br />

Atrase uma hora no Brasil e ninguém nem irá se importar muito.<br />

Mas, na Suíça, deixe alguém esperando mais que cinco ou dez<br />

minutos e terá muito a explicar. Em algumas culturas o tempo é<br />

elástico, em outras, monolítico. De fato, o modo como membros<br />

de uma cultura percebem e usam o tempo reflete as prioridades<br />

da sociedade e até sua visão do mundo.<br />

Cientistas sociais registraram grande diferença no ritmo de vida<br />

em vários países e em como as sociedades percebem o tempo:<br />

se como uma flecha penetrando o futuro ou como uma roda em<br />

movimento, onde passado, presente e futuro giram sem parar.<br />

Algumas culturas combinam tempo e espaço: o conceito dos<br />

aborígenes australianos do “tempo de sonhos” abrange não só o<br />

mito da criação, mas também o método de se localizar no<br />

campo. Mas algumas visões de tempo interessantes, como o<br />

conceito de ser aceitável uma pessoa poderosa manter alguém<br />

de status inferior esperando, parecem desconhecer diferenças<br />

culturais. Elas são universais.<br />

Pelos editores<br />

Gavin Hellier Corbis; Bart omeu Amengual age<br />

Fotostock; Johnny Stockshooter Aurora Photos; Oscar<br />

Okapi Aurora Photos<br />

O estudo de tempo e sociedade pode ser dividido em pragmático e cosmológico. Do ponto de vista prático, nos anos 50, o<br />

antropólogo Edward T. Hall escreveu que as regras de tempo social compõem uma “linguagem silenciosa” para determinada<br />

cultura. As regras nem sempre são explícitas, analisou ele, mas “subentendidas... Ou são cômodas e familiares, ou erradas e<br />

estranhas”.<br />

Em 1955, ele descreveu na Scientific American como percepções diferentes de tempo podem levar a mal-entendidos entre<br />

pessoas de culturas diversas. “Um embaixador que espera um visitante estrangeiro mais que meia hora deve entender que se<br />

este último ‘mal murmura uma desculpa’ isto não é necessariamente um insulto”, exemplifica. “O sistema de tempo no país<br />

estrangeiro pode ser composto de unidades básicas diferentes, então o visitante não está tão atrasado quanto parece. Deve-se<br />

conhecer o sistema de tempo do país, para saber a partir de que ponto as desculpas são realmente necessárias... Culturas<br />

diferentes atribuem valores diversos para as unidades de tempo.”<br />

A maioria das culturas do mundo agora usa relógios e calendários, unindo a maior parte do globo no mesmo ritmo geral de<br />

tempo. Mas isso não significa que todos acertem o mesmo passo. Algumas pessoas se estressam com o ritmo da vida moderna<br />

e o combatem com o movimento “slow food” enquanto em outras sociedades as pessoas sentem pouca pressão no<br />

gerenciamento do tempo.<br />

“Uma das curiosidades do estudo de tempo está no fato de ele ser uma janela para a cultura”, avalia Robert V. Levine,<br />

psicólogo social na California State University em Fresno. “É possível obter respostas sobre valores e crenças culturais: uma<br />

boa ideia do que importa para as pessoas.”<br />

Levine e seus colegas fizeram estudos do “ritmo de vida” em 31 países. Em A geography of time, publicado pela primeira<br />

vez em 1997, Levine descreve a classificação dos países usando três medidas: velocidade para andar nas calçadas urbanas,<br />

rapidez de um funcionário do correio em vender um simples selo e a precisão dos relógios públicos. Baseado nessas curiosas<br />

variáveis ele concluiu que os cinco países mais rápidos são Suíça, Irlanda, Alemanha, Japão e Itália e os cinco mais lentos,<br />

Síria, El Salvador, Brasil, Indonésia e México. Os Estados Unidos ocupam a 16º lugar, próximo ao mediano.<br />

Kevin K. Birth, antropólogo no Queens College, examinou a percepção de tempo em Trinidad. Seu livro, Any time is Trinidad<br />

time: social meanings and temporal consciousness, de 1999, se refere à desculpa comum dada para atrasos. Naquele país,<br />

observa Birth, “se você marcar um encontro para as 18h00, as pessoas aparecem às 18h45 ou 19h00 e dizem: ‘Qualquer hora<br />

é hora em Trinidad’”. Quando se trata de negócios, porém, esse enfoque informal do tempo só se aplica para os poderosos.<br />

110


Um chefe pode chegar tarde e usar o refrão, mas é esperado que subalternos sejam mais pontuais. Para eles, “horário é<br />

horário”. Birth acrescenta que a paridade tempo-poder existe em muitas outras culturas.<br />

A natureza obscura do tempo pode dificultar a tarefa dos antropólogos e psicólogos sociais. “Não se pode simplesmente<br />

chegar numa sociedade, se aproximar de alguém e perguntar: ‘Qual é a sua noção de tempo?’”, adverte Birth. “As pessoas<br />

não terão resposta. Então, tente outros meios para descobrir isso.”<br />

Birth tentou descobrir o valor do tempo para os trinitinos, explorando a proximidade entre o tempo e o dinheiro na sociedade.<br />

Avaliou populações rurais e descobriu que fazendeiros, cujos dias eram ditados por eventos naturais, como o nascer do sol,<br />

não reconheciam o provérbio “tempo é dinheiro”, “economizar o tempo” ou “gerenciar o tempo”, embora tivessem TV por<br />

satélite e estivessem familiarizados com a cultura popular ocidental. Já os alfaiates das mesmas áreas tinham essa noção.<br />

Birth concluiu que o trabalho assalariado alterou o ponto de vista dos alfaiates. “As ideias de associar tempo a dinheiro não<br />

são globais”, esclareceu ele, “mas atreladas à profissão e à pessoa que a exerce.”.<br />

A forma de lidar com o tempo no cotidiano não está relacionada ao conceito de tempo como entidade abstrata. “Muitas vezes<br />

há uma separação entre como uma cultura encara a mitologia do tempo e como as pessoas pensam a respeito do tempo em<br />

suas vidas,” relata Birth. “Não pensamos sobre as teorias de Stephen Hawking do mesmo modo que sobre a rotina diária.”<br />

Algumas culturas não distinguem claramente passado do presente e do futuro. Os aborígenes australianos, por exemplo,<br />

acreditam que seus ancestrais rastejaram para fora da Terra na época do tempo dos sonhos. Os ancestrais “cantaram” o mundo<br />

para criá-lo, nomeando cada característica e ser vivo, o que os fez existir. Mesmo hoje uma entidade não existe a menos que<br />

um aborígene a “cante”.<br />

Ziauddin Sardar, autor e crítico britânico muçulmano, escreveu sobre o tempo e culturas islâmicas, especialmente a seita<br />

fundamentalista wahhabista. Os muçulmanos “sempre carregam o passado consigo”, afirma Sardar, editor da<br />

revista Futures e professor convidado de estudos pós-coloniais da City University, em Londres. “No Islã o tempo é uma<br />

tapeçaria que incorpora o passado, o presente e o futuro. O passado é sempre presente.” Os seguidores do wahhabismo, muito<br />

difundido na Arábia Saudita e entre os membros da Al Qaeda, buscam recriar os dias idílicos da vida do profeta Maomé. “A<br />

dimensão mundana do futuro foi suprimida” por eles, segundo Sardar. “Eles romancearam uma visão particular do passado.<br />

Tudo o que fazem é tentar repetir o passado.”<br />

Sardar afirma que o Ocidente “colonizou” o tempo ao divulgar a expectativa de que a vida deveria se tornar melhor conforme<br />

o tempo passa: “Ao colonizar o tempo, se coloniza o futuro. Acreditando- se que o tempo é uma flecha, então o futuro seria<br />

o progresso, seguindo uma direção. Mas pessoas diferentes podem desejar futuros diferentes.”<br />

ESTADO EM QUE O CIDADÃO ESTÁ MAIS ARMADO É O MENOS VIOLENTO DO PAÍS<br />

Edição 2031<br />

O relatório do Mapa da Violência, do Instituto Sangari, revela que Santa Catarina é o Estado menos violento do<br />

Brasil. Detalhe: trata-se da unidade de Federação em que as pessoas de bem mais se armam<br />

Na semana que passou, duas notícias chamaram a atenção no campo da segurança pública: uma, sem maiores<br />

consequências, mas de efeito didático, espera-se, para a mais alta autoridade encarregada do assunto, o ministro da Justiça,<br />

José Eduardo Cardozo. Outra, bastante grave, didática para todos nós, brasileiros.<br />

Vamos à primeira: sofreram tentativa de assalto, felizmente frustrada e sem danos pessoais, a ex-esposa e a filha de<br />

José Eduardo Cardozo. Foi na noite do dia 29 de maio, no Morumbi, em São Paulo. As familiares do ministro, que usavam<br />

um carro blindado e tinham seguranças da Polícia Federal (algo fora do alcance de 99,9% dos brasileiros), foram cercadas<br />

por quatro homens armados, que acabaram fugindo. Deveria Cardozo refletir sobre o fato: estamos todos cada vez mais<br />

inseguros, mesmo na capital de São Paulo, um dos Estados mais bem policiados do Brasil. Sairiam ilesas suas parentas se<br />

fossem pessoas comuns?<br />

111


E o Estatuto do Desarmamento não serviu para desarmar esses bandidos? José Eduardo Cardozo é um dos defensores<br />

desse Estatuto, que — diziam — reduziria substancialmente a violência. Sentir-se-á ele confortável vendo que a criminalidade<br />

só aumentou desde sua implantação em 2003, como previam todas as cabeças sensatas? A sensatez via nos honestos<br />

desarmados vítimas fáceis. Percebiam isso não só as cabeças sensatas, mas também as mentes delinquentes, mas astutas, dos<br />

bandidos. Acabavam os marginais de ganhar uma lei que os beneficiava. Só não percebiam que a lei nascia equivocada os<br />

obcecados pela ideologia e os remunerados de fora para sua defesa. Ou, se percebiam, faziam que não.<br />

De pouco ou nada adiantou um caro referendo, feito em 2005, que mostrou dois terços da população contrários ao<br />

desarmamento dos bons em benefício dos maus. Em vez de respeitar a vontade popular, cada vez mais os governos petistas<br />

aprofundaram o desarmamento do cidadão enquanto descuraram na mesma proporção, de combater o crime, organizado ou<br />

não.<br />

E vamos à outra notícia. Ela vem no bojo do relatório Mapa da Violência, estatística anual que o Instituto Sangari,<br />

uma ONG de Brasília, divulga sobre violência de dois anos atrás. O Mapa da Violência, divulgado na semana passada, diz<br />

respeito, pois, ao ocorrido em 2012, comparado com anos anteriores. Mais uma vez, desde a implantação do malfadado<br />

Estatuto, o já absurdo número de homicídios aumentou: foram mais 56.000 em 2012, com um crescimento superior a 7% em<br />

relação a 2011. Já é um lugar comum: morreram mais pessoas no Brasil do que nos países em guerra. Já se estima um número<br />

próximo dos 60.000 assassinatos para 2013, e — pergunta-se — já que não se vê preocupação governamental com isso —<br />

quantos perecerão violentamente em 2014? Em 2012 foram mortas no Brasil 30 pessoas para cada grupo de 100.000<br />

habitantes. Na Alemanha e no Canadá, esse índice é próximo da unidade.<br />

E ao esmiuçar o relatório do Instituto Sangari, chegamos a algumas constatações: uma delas é a de que apenas três<br />

Estados apresentaram índices de assassinatos menos exagerados, menores que 20 homicídios por 100.000 habitantes, mais<br />

próximos daqueles observados em países desenvolvidos. Esses Estados são Santa Catarina (12,8), São Paulo (15,1) e Piauí<br />

(17,2).<br />

Outras constatações: Santa Catarina e São Paulo estão entre os quatro Estados de maior renda interna por habitante.<br />

São Estados ricos. Já o Piauí, que durante anos foi o de menor renda, hoje é o penúltimo (só fica à frente do Maranhão dos<br />

Sarney). É um Estado indiscutivelmente pobre. Deduz-se daí que o argumento brandido pela extrema esquerda, de que a<br />

violência vem da pobreza, é falso. Além de falso, é preconceituoso, pois os pobres sempre foram, tanto quanto os ricos,<br />

capazes de fazer sua escolha ética, e optar pelo trabalho em vez do crime. Está aí a grande massa trabalhadora brasileira para<br />

prová-lo.<br />

Embora não sejamos uma nação rica, não somos uma nação de delinquentes; a minoria delinquente é que está à<br />

solta, muito ativa, por uma série de deficiências institucionais, das quais a maior é a impunidade. Administrações mais<br />

cuidadosas, que valorizam suas polícias, e não adotam o ranço esquerdista de tratar bandidos como vítimas sem opção de<br />

trabalho (o que, convenhamos, é uma grossa mentira), e que cuidam de prendê-los, por certo têm melhor resultado na luta<br />

contra o crime. É o que ocorre com Santa Catarina, São Paulo e Piauí.<br />

CAMPEÕES DOS ASSASSINATOS<br />

Examinemos agora os campeões dos assassinatos: Alagoas (índice de 64,6 assassinatos por grupo de 100.000<br />

habitantes em 2012), Espírito Santo (47,3) e Ceará (44,6). Números assustadores. Só pode na realidade entender a magnitude<br />

dessa desgraça quem perdeu um membro da família morto para roubo de um mero telefone celular ou baleado fatalmente por<br />

um bandido que se apossava de seu carro. Não raro, destrói-se uma família num acontecimento como esses. Só podemos<br />

imaginar o contingente de infelizes, marcados para o resto da existência pela perda de um filho, pai, irmão ou irmã, e que<br />

hoje carregam suas lembranças ombreadas com a tristeza.<br />

Outra observação pode ser extraída dos números do Mapa da Violência 2012: São Paulo e Alagoas tinham índices<br />

praticamente iguais de homicídios em 2003, ano da implantação do Estatuto do Desarmamento (35,9 e 35,7 por 100.000<br />

habitantes, respectivamente). Nestes nove anos, São Paulo reduziu para menos da metade (15,1) esse marcador, enquanto em<br />

112


Alagoas ele praticamente dobrou (64,6). Uma prova cabal de que o Estatuto do Desarmamento, válido igualmente nos dois<br />

Estados, não tem absolutamente nada a ver com queda ou aumento da criminalidade.<br />

Seria apenas coincidência o fato do governo de São Paulo nesses anos tratar a questão da segurança de forma<br />

conservadora, em que o bandido é o mal e deve ir para a cadeia e o cidadão e a polícia são o bem, e Alagoas não? Em Alagoas<br />

o governador (embora do PSDB) sempre pertenceu — ou pretendeu pertencer — à esquerda mais radical, que vê bandido<br />

como vítima da sociedade. O número de presos em São Paulo em relação à população é quatro vezes maior do que em<br />

Alagoas, informa o próprio Ministério da Justiça. Um bom marcador para explicar a violência quatro vezes maior, hoje, em<br />

Alagoas do que em São Paulo. E não se diga que faltam ali recursos para a Segurança. Alagoas é feudo de Renan Calheiros,<br />

figura das mais influentes no governo federal, que dele obtém, querendo, qualquer coisa. É bem verdade também que Renan<br />

pertenceu ao PCdoB antes de se render às delícias do capitalismo, e possivelmente vê até hoje bandidos como vítimas.<br />

Para desespero dos desarmamentistas, outra constatação: Santa Catarina, o Estado menos violento da Federação,<br />

reportou o jornal “Diário Catarinense” no mês passado, foi um dos que mais se armaram desde 2003. Santa Catarina tem<br />

apenas 3,3% da população brasileira, mas tem 12,5% das armas registradas. É quatro vezes mais armado do que o Brasil<br />

como um todo. Eis aí um argumento sólido o bastante para calar os furibundos das ONGs Vivo Rio e Sou da Paz, que buscam<br />

no número de armas legais a explicação para a violência. E se armas geram crimes, como querem os defensores do<br />

desarmamento, Santa Catarina é o mais importante centro do Esporte do Tiro no Brasil, e São Paulo é também um Estado<br />

importante nesse particular. Assim, deveriam ostentar altos índices de criminalidade, ao contrário do que acontece.<br />

Em poucas palavras, o Estatuto do Desarmamento é um fiasco. Além de um fiasco, uma farsa das esquerdas para<br />

manter refém do governo uma população indefesa. A sabedoria popular já sabia disso, quando o condenou no referendo de<br />

2005. Mas os governos petistas insistem nele. É da crença, da ideologia, e não da lógica e nem dos fatos esse comportamento.<br />

Como acontece com outros contrassensos que nos querem fazer engolir. Como a censura à imprensa, outra obsessão de<br />

petistas e afins, que virá também, leitores, como veio o desarmamento, se não houver reação.<br />

CULTURA DA VIOLÊNCIA<br />

Resolvendo os conflitos por meio da violência. Esta é a tendência que temos observado no Brasil. De acordo com o<br />

Mapa da Violência 2013 – Mortes Matadas por Armas de Fogo, estudo finalizado recentemente pelo sociólogo Julio Jacobo<br />

Waiselfisz, a violência continua crescendo de forma preocupante no Brasil, sendo comparável a países que vivem em conflitos<br />

e guerra.<br />

O estudo, que abrangeu as últimas três décadas, de 1980 a 2010, constatou que houve um aumento percentual<br />

significativo do número de assassinatos no país, sendo as armas de fogo o meio responsável pela quase totalidade dos casos.<br />

Somente no ano de 2010, 38.892 pessoas foram mortas por armas de fogo (AF) no Brasil, o que resulta num número<br />

de 108 mortes por dia. Vítimas de homicídio atingiram cerca de 94% de casos em 2010, sendo que em 1980, os homicídios<br />

como causa de morte por AF eram 70% dos casos. Outras causas de mortes por AF são o suicídio, os acidentes etc.<br />

De acordo com o estudo, tivemos, nesses 30 anos, um crescimento de cerca de 502% na taxa de homicídios no Brasil<br />

e também um aumento definitivo do uso de armas de fogo como meio quase que exclusivo para os assassinatos. Isso mostra<br />

que a violência armada indiscriminada no Brasil transformou-se num caso extremamente sério, sendo comparável ou, muitas<br />

vezes, superior a países que vivem em guerra, que passam por genocídios, conflitos étnicos, entre outros motivos.<br />

O próprio autor do estudo utiliza um relatório publicado em 2011 pelo Secretariado da Declaração de Genebra,<br />

Relatório sobre o Peso Mundial da Violência Armada, como forma de comparação para entendermos os números da violência<br />

no Brasil. O relatório mostra todos os 62 conflitos armados (entre esses: Afeganistão, Colômbia, Somália, Israel-Palestina,<br />

Iraque, Sudão, etc) que ocorreram no mundo, entre 2004 e 2007. O número de mortes total foi de 208.349. Nesse mesmo<br />

período, o número de homicídios no Brasil foi de 192.804. No Brasil alcançamos, praticamente, o mesmo número de<br />

assassinatos por arma que todos os conflitos armados juntos no mesmo período.<br />

113


AMBIENTES PROPÍCIOS DE VIOLÊNCIA<br />

Seguindo a descentralização produtiva e econômica e a formação de novos centros econômicos no interior do país,<br />

a violência tem se disseminado pelo Brasil. Assim, os grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro,<br />

apresentaram quedas nas taxas de vítimas por AF – mesmo que sejam ainda os principais centros em números absolutos -,<br />

enquanto que outros núcleos econômicos emergentes menores têm tido um crescimento muito preocupante na violência e no<br />

uso de armas de fogo.<br />

De 2000 a 2010, o estudo mostra que as taxas de evolução da mortalidade por AF foram diferentes em cada<br />

região. Na região Norte houve um severo aumento de 195% nas mortes por AF, sendo as piores elevações no Pará, Amapá<br />

e no Amazonas. Na Nordeste o aumento foi alto (92%), sendo Maranhão, Alagoas, Bahia, Ceará e Paraíba as mais<br />

representativas. Na região Sul houve um moderado aumento de cerca de 53%, sendo os mais altos índices no Paraná e em<br />

Santa Catarina. Na Centro-Oeste manteve-se estável. A única região onde houve decréscimo (-39%) foi a Sudeste, devido à<br />

queda dos índices no Rio de Janeiro e, especialmente, em São Paulo.<br />

Além dos novos centros produtivos, existem outros ambientes propícios à violência, constatados no estudo, que<br />

podem ser vistos em maior detalhe para permitir reflexões e entendimentos. Todos os municípios apresentam características<br />

peculiares que são propícias para o crescimento ou a manutenção da violência. São eles de fronteira, nos quais ocorre o tráfico<br />

de armas, de produto pirata e de drogas; do Arco do Desmatamento Amazônico, que abriga trabalho escravo, madeireiras<br />

ilegais, fazem pressão sobre comunidades indígenas, grilagem de terras, turismo predatório, que ficam localizados,<br />

especialmente, na orla marítima e que atraem um turismo flutuante forte nos fins de semana; e os “Municípios de Violência<br />

Tradicional”, como o “polígono da maconha”, de Pernambuco, ou grotões de clientelismo político.<br />

VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA<br />

Outro dado preocupante, segundo o estudo, é que os jovens têm sido os mais envolvidos e as maiores vítimas do uso<br />

das AF.<br />

“As armas de fogo se constituem, de longe, na principal causa de mortalidade dos jovens brasileiros, bem longe da<br />

segunda causa, os acidentes de transporte, que representam 20% da mortalidade juvenil”, alerta Waiselfisz no estudo. “Dois<br />

entre cada três vítimas fatais das armas foi um jovem”, conclui.<br />

Sobre as causas do aumento de mortes por AF entre os jovens, Waiselfisz disse à Agência Brasil: “Hoje temos 9<br />

milhões de jovens que não estudam, não trabalham e que estão vulneráveis a situações de violência”. Isso mostra como as<br />

deficiências e falhas de acomodação dos jovens do nosso modelo sócio-político-econômico estão na base desse grave<br />

problema.<br />

CAUSAS DE MORTALIDADE POR ARMA DE FOGO<br />

Segundo Waiselfisz, considerando em termos gerais, o aumento de mortalidade por AF no Brasil tem os seguintes fatores<br />

principais implicados:<br />

Facilidade de acesso a armas de fogo<br />

Mesmo depois da Campanha do Desarmamento, iniciada pelo governo em 2004, ainda 15,2 milhões de brasileiros possuíam<br />

armas de fogo em 2010 (ano final do estudo), sendo 3,8 milhões em poder de criminosos, o que mostra a facilidade de acesso<br />

a armas de fogo pelas pessoas.<br />

Impunidade<br />

A falta de elucidação dos crimes e a consequente inexistência das punições que seriam resultantes levam à sensação de<br />

impunidade dos criminosos e à incapacidade de inibir novos homicídios por parte dos órgãos responsáveis. De acordo com<br />

o estudo de Waiselfisz, “O índice de elucidação dos crimes de homicídio é baixíssimo no Brasil. Estima-se, em pesquisas<br />

114


feitas, inclusive a da Associação Brasileira de Criminalística em 2011, que varie entre 5% e 8%. Esse percentual é 65% nos<br />

Estados Unidos, no Reino Unido é 90% e na França é 80%.”<br />

Cultura da Violência<br />

Esse é o fator, segundo o autor, sem o qual a facilidade de acesso às armas teria pouco significado. Waiselfisz diz que temos<br />

sido criados dentro de uma cultura de violência, que é o que gera a forma do uso de AF na resolução de todo tipo de conflitos.<br />

“Mas não é só essa farta disponibilidade de armas de fogo, e as facilidades existentes para sua aquisição, que levaram os<br />

níveis de violência letal do Brasil a limites insuspeitados e insuportáveis. É também a decisão de utilizar essas armas para<br />

resolver qualquer tipo de conflito interpessoal, na maior parte dos casos, banais e circunstanciais. A mistura da<br />

disponibilidade de armas de fogo e a cultura da violência vigente gerará o caldo para a produção e reprodução da violência<br />

homicida no Brasil.”<br />

Diferentemente do que se supunha, boa parte dos homicídios que ocorrem no Brasil não advém do crime ou das drogas, mas<br />

deve-se a motivos banais, como brigas de trânsito, conflitos amorosos, desentendimentos entre vizinhos, violências<br />

domésticas, brigas de rua, enfim.<br />

Alberto Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social.<br />

O Cilindro de Ciro (539 a.C.)<br />

UMA BREVE HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS<br />

Em 539 a.C., os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade da Babilônia. Mas foram<br />

as suas ações posteriores que marcaram um avanço muito importante para o Homem. Ele libertou os escravos, declarou que<br />

todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade racial. Estes e outros decretos<br />

foram registrados num cilindro de argila na língua arcádica com a escritura cuneiforme.<br />

Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, este registo antigo foi agora reconhecido como a primeira carta dos direitos<br />

humanos do mundo. Está traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e as suas estipulações são análogas aos quatro<br />

primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.<br />

A Divulgação dos Direitos Humanos<br />

Com início na Babilônia, a ideia de direitos humanos espalhou–se rapidamente para a Índia, Grécia e por fim chegou a Roma.<br />

Ali surgiu o conceito de “lei natural”, na observação do fato de que as pessoas tendiam a seguir certas leis não escritas no<br />

curso da vida, e o direito romano estava baseado em ideias racionais tiradas da natureza das coisas.<br />

Os documentos que afirmam os direitos individuais, como a Carta Magna (1215), a Petição de Direito (1628), a Constituição<br />

dos Estados Unidos (1787), a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração dos Direitos<br />

dos Estados Unidos (1791) são os precursores escritos para muitos dos documentos de direitos humanos atuais.<br />

A Carta Magna (1215)<br />

A Carta Magna, ou a “Grande Carta”, foi possivelmente a influência inicial mais significativa no amplo processo histórico<br />

que conduziu à regra de lei constitucional hoje em dia no mundo anglófono.<br />

Em 1215, depois do Rei João da Inglaterra ter violado um número de leis antigas e costumes pelos quais a Inglaterra tinha<br />

sido governada, os seus súditos forçaram–no a assinar a Carta Magna, que enumera o que mais tarde veio a ser considerado<br />

como direitos humanos. Entre eles estava o direito da igreja de estar livre da interferência do governo, o direito de todos os<br />

cidadãos livres possuírem e herdarem propriedade e serem protegidos de impostos excessivos. Isto estabeleceu o direito das<br />

viúvas que possuíam propriedade a decidir não voltar a casar–se e estabeleceu os princípios de processos devidos e igualdade<br />

perante a lei. Isto também contém provisões que proíbem o suborno e a má conduta oficial.<br />

115


Amplamente visto como um dos documentos legais mais importantes no desenvolvimento da democracia moderna, a Carta<br />

Magna foi um ponto de viragem crucial na luta para estabelecer a liberdade.<br />

Petição de Direito (1628)<br />

O seguinte marco milenar registrado no desenvolvimento dos direitos humanos foi a Petição de Direito, feita em 1628 pelo<br />

Parlamento Inglês e enviada a Carlos I como uma declaração de liberdade dos civis. A rejeição pelo Parlamento de financiar<br />

a política exterior impopular do rei tinha causado que o seu governo exigisse empréstimos forçados e aquartelasse tropas nas<br />

casas dos súditos como uma medida econômica. Prisão arbitrária e aprisionamento por oposição a estas políticas produziram<br />

no Parlamento uma hostilidade violenta a Carlos e a Jorge Villiers, o Duque de Buckingham. A Petição de Direito, iniciada<br />

por Sir Edward Coke, baseou–se em estatutos e cartas anteriores e afirmou quatro princípios: (1) Nenhum tributo pode ser<br />

imposto sem o consentimento do Parlamento, (2) Nenhum súdito pode ser encarcerado sem motivo demonstrado (a<br />

reafirmação do direito de habeas corpus), (3) Nenhum soldado pode ser aquartelado nas casas dos cidadãos, e (4) a Lei<br />

Marcial não pode ser usada em tempo de paz.<br />

Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776)<br />

Em 4 de julho de 1776, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Declaração de Independência. O seu principal autor,<br />

Thomas Jefferson, escreveu a Declaração como uma explicação formal do porquê o Congresso ter votado no dia 2 de julho<br />

para declarar a independência da Grã–Bretanha, mais de um ano depois de irromper a Guerra Revolucionária Americana, e<br />

como uma declaração que anunciava que as treze Colônias Americanas não faziam mais parte do Império Britânico. O<br />

Congresso publicou a Declaração de Independência de várias formas. No começo foi publicada como uma folha de papel<br />

impressa de grande formato que foi largamente distribuída e lida pelo público.<br />

Filosoficamente, a Declaração acentuou dois temas: os direitos individuais e o direito de revolução. Estas ideias tornaram–<br />

se largamente apoiadas pelos americanos e também se difundiram internacionalmente, influenciando em particular a<br />

Revolução Francesa.<br />

A Constituição dos Estados Unidos da América (1787) e a Declaração dos Direitos (1791)<br />

Escrita durante o verão de 1787 em Filadélfia, a Constituição dos Estados Unidos da América é a lei fundamental do sistema<br />

federal do governo dos Estados Unidos e o documento de referência do mundo Ocidental. Esta é a mais antiga constituição<br />

nacional escrita que está em uso e que define os órgãos principais de governo e suas jurisdições e os direitos básicos dos<br />

cidadãos.<br />

As dez primeiras emendas da Constituição, a Declaração dos Direitos, entraram em vigor no dia 15 de dezembro de 1791,<br />

limitando os poderes do governo federal dos Estados Unidos e para proteger os direitos de todos os cidadãos, residentes e<br />

visitantes no território americano.<br />

A Declaração dos Direitos protege a liberdade de expressão, a liberdade de religião, o direito de guardar e usar armas, a<br />

liberdade de assembleia e a liberdade de petição. Esta também proíbe a busca e a apreensão sem razão alguma, o castigo<br />

cruel e insólito e a auto–inculpação forçada. Entre as proteções legais que proporciona, a Declaração dos Direitos proíbe que<br />

o Congresso faça qualquer lei em relação ao estabelecimento de religião e proíbe o governo federal de privar qualquer pessoa<br />

da vida, da liberdade ou da propriedade sem os devidos processos da lei. Em casos de crime federal é requerida uma acusação<br />

formal por um júri de instrução para qualquer ofensa capital, ou crime infame, e a garantia de um julgamento público rápido<br />

com um júri imparcial no distrito em que o crime ocorreu, e proíbe um duplo julgamento.<br />

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)<br />

Em 1789 o povo de França levou a cabo a abolição da monarquia absoluta e o estabelecimento da primeira República<br />

Francesa. Somente seis semanas depois do assalto à Bastilha, e apenas três semanas depois da abolição do feudalismo, a<br />

116


Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (francês: Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen) foi adotada<br />

pela Assembleia Constituinte Nacional como o primeiro passo para o escrito de uma constituição para a República da França.<br />

A Declaração proclama que todos os cidadãos devem ter garantidos os direitos de “liberdade, propriedade, segurança, e<br />

resistência à opressão”. Isto argumenta que a necessidade da lei provém do facto que “… o exercício dos direitos naturais de<br />

cada homem tem só aquelas fronteiras que asseguram a outros membros da sociedade o desfrutar destes mesmos direitos”.<br />

Portanto, a Declaração vê a lei como “uma expressão da vontade geral”, que tem a intenção de promover esta igualdade de<br />

direitos e proibir “só acções prejudiciais para a sociedade”.<br />

A Primeira Convenção de Genebra (1864)<br />

Em 1864, dezesseis países europeus e vários estados americanos assistiram a uma conferência em Genebra, a convite do<br />

Conselho Suíço Federal, com a iniciativa do Comité de Genebra. A conferência diplomática foi celebrada com o objetivo de<br />

adotar uma convenção para o tratamento de soldados feridos em combate.<br />

Os princípios fundamentais foram estabelecidos na Convenção e foram mantidos pelas Convenções posteriores de Genebra<br />

especificando a obrigação de ampliar o cuidado, sem discriminação, ao pessoal militar ferido ou doente, mantendo o respeito<br />

para com eles e com a marca de transportes de pessoal médico e equipa distinguidos pela cruz vermelha sobre um fundo<br />

branco.<br />

As Nações Unidas (1945)<br />

A Segunda Guerra Mundial tinha alastrado de 1939 até 1945, e à medida que o final se aproximava, cidades por toda a Europa<br />

e Ásia estendiam–se em ruínas e chamas. Milhões de pessoas estavam mortas, milhões mais estavam sem lar ou a passar<br />

fome. As forças russas estavam a cercar o remanescente da resistência alemã na bombardeada capital alemã de Berlim. No<br />

Oceano Pacífico, os fuzileiros estado–unidenses ainda combatiam firmemente as forças japonesas entrincheiradas em ilhas<br />

tais como Okinawa.<br />

Em abril de 1945, delegados de cinquenta países reuniram–se em San Francisco cheios de optimismo e esperança. O objetivo<br />

da Conferência das Nações Unidas na Organização Internacional era formar um corpo internacional para promover a paz e<br />

prevenir futuras guerras. Os ideais da organização foram declarados no preâmbulo da sua carta de proposta: “Nós os povos<br />

das Nações Unidas estamos determinados a salvar as gerações futuras do flagelo da guerra, que por duas vezes na nossa vida<br />

trouxe incalculável sofrimento à Humanidade”.<br />

A Carta da nova organização das Nações Unidas entrou em efeito no dia 24 de outubro de 1945, uma data que é comemorada<br />

todos os anos como o Dia das Nações Unidas.<br />

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)<br />

Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas tinha captado a atenção mundial. Sob a presidência<br />

dinâmica de Eleanor Roosevelt, a viúva do presidente Franklin Roosevelt, uma defensora dos direitos humanos por direito<br />

próprio e delegada dos Estados Unidos nas Nações Unidas, a Comissão elaborou o rascunho do documento que viria a<br />

converter–se na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Roosevelt, creditada com a sua inspiração, referiu–se à<br />

Declaração como a Carta Magna internacional para toda a Humanidade. Foi adotada pelas Nações Unidas no dia 10 de<br />

dezembro de 1948.<br />

No seu preâmbulo e no Artigo 1.º, a Declaração proclama inequivocamente os direitos inerentes de todos os seres humanos:<br />

“O desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da<br />

Humanidade, e o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da<br />

miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem... Todos os seres humanos nascem livres e iguais em<br />

dignidade e em direitos.”<br />

117


Os Estados Membros das Nações Unidas comprometeram–se a trabalhar uns com os outros para promover os trinta artigos<br />

de direitos humanos que, pela primeira vez na história, tinham sido reunidos e codificados num único documento. Em<br />

consequência, muitos destes direitos, de várias formas, são hoje parte das leis constitucionais das nações democráticas.<br />

VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS<br />

Os promotores dos direitos humanos estão de acordo em que, anos depois da sua emissão, a Declaração Universal dos Direitos<br />

do Homem ainda é mais um sonho que uma realidade. Existem violações da mesma em qualquer parte do mundo. Por<br />

exemplo, o Relatório Mundial de 2009 da Amnistia Internacional, Relatório Mundial e de outras fontes mostram que os<br />

indivíduos são:<br />

• Torturadas ou maltratadas em pelo menos 81 países<br />

• Enfrentam julgamentos injustos em pelo menos 54 países<br />

• A sua liberdade de expressão é restringida em pelo menos 77 países<br />

As mulheres e as crianças, em especial, são marginalizadas de muitas formas, a imprensa não é livre em muitos países e os<br />

dissidentes são silenciados, com frequência de forma permanente. Ainda que tenham sido conseguidas algumas vitórias em<br />

6 décadas, as violações dos direitos humanos ainda são uma praga no nosso mundo atual.<br />

ARTIGO 3.º — O DIREITO À VIDA<br />

“Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”<br />

Estima–se que milhares de pessoas foram mortas em combate armado no Afeganistão. Centenas de civis também foram<br />

mortos em ataques suicidas por grupos armados.<br />

No Uganda, 1500 pessoas morrem a cada semana nos acampamentos de pessoas internamente refugiadas. De acordo com a<br />

Organização Mundial da Saúde, 500.000 morreram nestes acampamentos.<br />

As autoridades vietnamitas levaram à força pelo menos 75.000 dependentes de drogas e prostitutas para 71 acampamentos<br />

de “reabilitação” superlotados, qualificando os detidos como “de alto risco” de contrair HIV/SIDA, mas sem prover nenhum<br />

tratamento.<br />

ARTIGO 4.º — NÃO À ESCRAVIDÃO<br />

“Ninguém deverá ser mantido em escravidão ou trabalho forçado; a escravidão e o comércio de escravos foram proibidos em<br />

todas as suas formas.”<br />

No Uganda do norte, as guerrilhas do LRA (sigla do inglês de Lord’s Resistance Army que em português significa Exército<br />

da Resistência do Senhor) sequestraram 20.000 crianças nos últimos anos e forçaram–nas a servir como soldados ou como<br />

escravos sexuais do exército.<br />

Na Guiné–Bissau, traficam–se crianças tirando–as do país para trabalhar em campos de algodão no Senegal do sul ou como<br />

mendigos na capital. No Gana, crianças de 5 a 14 anos são enganadas com falsas promessas de educação e futuro para<br />

trabalhos perigosos, e sem remuneração na indústria pesqueira.<br />

Na Ásia, o Japão é o maior país–destino para mulheres traficadas, especialmente mulheres oriundas das Filipinas e Tailândia.<br />

A UNICEF estima que haja 60.000 crianças na prostituição nas Filipinas.<br />

O Departamento de Estado dos EUA estima que entre 600.000 a 820.000 homens, mulheres e crianças são traficados nas<br />

fronteiras internacionais todos os anos, metade dos quais são menores e incluindo um número recorde de mulheres e crianças<br />

118


a fugir do Iraque. Em quase todos os países, incluindo Canadá, EUA e Reino Unido o exílio ou a perseguição são as respostas<br />

usuais do governo, sem nenhum serviço de ajuda para as vítimas.<br />

ARTIGO 5.º — NÃO À TORTURA<br />

“Ninguém deverá ser submetido à tortura ou a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.”<br />

Em 2008, as autoridades dos EUA continuaram a manter 270 prisioneiros na Baía de Guantánamo, Cuba, sem acusação ou<br />

julgamento, sujeitos a "water–boarding," uma tortura que simula o afogamento. O antigo Presidente, George W. Bush,<br />

autorizou a CIA a continuar com a detenção e interrogação secretas, apesar das mesmas violarem a le internacional.<br />

Em Darfur a violência, as atrocidades e o sequestro são predominantes, e a ajuda externa está praticamente cortada. Em<br />

especial as mulheres são vítimas de ataques incessantes, com mais de 200 violações na vizinhança de um acampamento de<br />

pessoas refugiadas num período de 5 semanas sem nenhum esforço por parte das autoridades para castigar os autores.<br />

Na República Democrática do Congo serviços de segurança do governo e grupos armados cometem rotineiramente atos de<br />

tortura e maltrato, incluindo espancamentos contínuos, facadas e violação dos que estão detidos por eles. Os detidos são<br />

mantidos incomunicáveis, às vezes em lugares de detenção secretos. Em 2007 a Guarda Republicana (guarda presidencial) e<br />

a divisão de polícia de Serviços Especiais em Kinshasa deteve e torturou arbitrariamente numerosas pessoas qualificadas<br />

como críticas do governo.<br />

ARTIGO 13.º — LIBERDADE DE MOVIMENTO<br />

“1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.<br />

“2. Todos têm o direito a abandonar qualquer país, incluindo o seu próprio, e de voltar a seu país.<br />

Em Myanmar, milhares de cidadãos foram detidos, incluindo 700 prisioneiros de consciência, destacando a prêmio Nobel<br />

Daw Aung San Suu Kyi. Em retaliação às suas atividades políticas, nos últimos dezoito anos ela tem estado, no total, doze<br />

anos presa ou sob prisão domiciliária, e recusou todas as ofertas do governo de libertação que exigissem que ela abandonasse<br />

o país.<br />

Na Argélia, refugiados e pessoas em procura de asilo são vítimas frequentes de detenção, expulsão ou maus tratos.<br />

No Quênia as autoridades violaram a lei internacional de refugiados quando fecharam a fronteira a milhares de pessoas que<br />

fugiam do conflito armado na Somália. Os que procuravam asilo foram detidos ilegalmente na fronteira do Quênia, sem<br />

acusações ou julgamento e foram devolvidos à força para a Somália.<br />

No norte do Uganda, 1,6 milhões de cidadãos permaneceram em campos de deslocados. Na sub–região de Acholi, a área<br />

mais afectada pelo conflito armado, 63 porcento dos 1.1 milhões de pessoas deslocadas em 2005 ainda viviam em campos<br />

em 2007, com apenas 7.000 que regressaram definitivamente aos seus lugares de origem.<br />

Um objetivo mundial em matéria de igualdade de gênero, direitos e empoderamento das mulheres.<br />

“Embora as mulheres tenham conquistado verdadeiros avanços, os fatos nos recordam continuamente que ainda<br />

falta muito para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade.”<br />

DAS MARGENS AO CENTRO<br />

Não passa um único dia sem que vejamos nas notícias a violação dos direitos das mulheres. Nos últimos meses,<br />

horríveis episódios de violência contra mulheres e meninas, ocorridos desde Nova Deli até Joanesburgo e Cleveland,<br />

provocaram a indignação pública e deram margem a manifestações pelo fim dos abusos.<br />

Em Bangladesh e Camboja, a escandalosa perda de vidas de trabalhadores do setor têxtil, entre eles muitas mulheres,<br />

desatou um debate mundial sobre como garantir empregos seguros e decentes em nossa economia globalizada. Na Europa<br />

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seguem estampando manchetes sobre o impacto desproporcional que os cortes de austeridade tiveram sobre as mulheres,<br />

assim como o uso do sistema de cotas para que as mulheres ocupem postos em diretorias corporativas.<br />

Embora as mulheres tenham conquistado verdadeiros avanços, os fatos nos recordam continuamente que ainda falta<br />

muito para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade.<br />

Quando assinaram a visionária Declaração do Milênio no ano 2000, as e os líderes mundiais reconheceram que a<br />

discriminação e a violência contra as mulheres e meninas são onipresentes. Entre os oito Objetivos de Desenvolvimento do<br />

Milênio (ODMs) incluíram o que se refere a promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.<br />

Estes objetivos têm como data estipulada de cumprimento o ano de 2015, e por isso estamos agora em uma<br />

verdadeira corrida para alcançá-los. Também nos encontramos em meio a um diálogo mundial sobre o que deveria substituílos.<br />

Chegou o momento de que as mulheres saiam das margens e passem a ocupar o centro.<br />

Em uma nova agenda de desenvolvimento posterior a 2015, devemos aproveitar as conquistas dos ODM e evadir<br />

suas carências. Todas e todos estão de acordo em que os Objetivos impulsaram progressos para reduzir a pobreza e a<br />

discriminação, e promover a educação, a igualdade de gênero, a saúde e o acesso à água potável e saneamento.<br />

O objetivo da igualdade de gênero e empoderamento das mulheres fez um seguimento dos avanços em relação a<br />

matrículas escolares, participação das mulheres no trabalho remunerado e porcentagem de mulheres nos parlamentos,<br />

atraindo atenção mundial, além de estimular a implementação de diversas medidas. Permitiu exigir a rendição de contas aos<br />

governos, mobilizar os recursos necessários, fomentar a promulgação de novas leis e a execução de políticas e programas de<br />

compilação de dados.<br />

Entretanto, há omissões manifestas. É notório que falta uma referência à erradicação da violência contra mulheres e<br />

meninas. Outros assuntos fundamentais também estão ausentes, por exemplo, o direito das mulheres a ser proprietárias de<br />

bens e a divisão desigual das responsabilidades domésticas e de cuidado da família.<br />

Ao não abordar as causas estruturais da discriminação e a violência contra as mulheres e meninas, o progresso rumo<br />

à igualdade se deteve. De todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o que obteve menor progresso foi o ODM 5:<br />

reduzir a mortalidade materna. O fato de que este seja o objetivo mais difícil de alcançar é uma prova da profundidade e<br />

alcance da desigualdade de gênero.<br />

Para promover um progresso maior, a ONU Mulheres propõe a adoção de um objetivo independente que aborde a<br />

realização da igualdade de gênero, os direitos das mulheres e seu empoderamento, que se apoie nos direitos humanos e<br />

confronte as relações de poder desigual. Concebemos três áreas que requerem medidas urgentes.<br />

Em primeiro lugar, acabar com a violência contra as mulheres e meninas deve ser uma prioridade. Desde a violência<br />

sexual nos acampamentos do Haiti, Síria e na República Democrática do Congo, até a violência pelas mãos de um<br />

companheiro sentimental nos Estados Unidos ou em outros países, a violência contra a mulher causa danos físicos e<br />

psicológicos incalculáveis. Esta é uma das violações mais generalizadas dos direitos humanos e traz enormes custos para os<br />

indivíduos, famílias e sociedades.<br />

Em segundo lugar, mulheres e homens devem ter igualdade de oportunidades, recursos e responsabilidades para<br />

tornar a igualdade uma realidade. Devem ser abordadas com urgência renovada a paridade de acesso à terra e ao crédito,<br />

recursos naturais, educação, serviços de saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, trabalho decente e igualdade de<br />

remuneração. São necessárias políticas públicas, tais como as relativas ao cuidado de crianças, licença maternidade ou<br />

paternidade, para aliviar a dupla jornada das mulheres com emprego remunerado, para que mulheres e homens possam<br />

desfrutar de igualdade no trabalho e em casa.<br />

Em terceiro lugar, devemos ouvir as vozes das mulheres. Chegou o momento de que as mulheres participem<br />

igualmente nas esferas de decisão em casa, no setor privado e nas instituições governamentais. Apesar dos progressos<br />

realizados nos últimos anos, as mulheres ainda ocupam apenas 20% dos assentos parlamentares e 27% dos cargos judiciais<br />

no mundo. Para que a democracia seja significativa e inclusiva é necessário amplificar as vozes das mulheres e sua liderança<br />

em todos os níveis, públicos e privados.<br />

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