História Geral
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HISTÓRIA GERAL<br />
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Coordenação editorial: Estúdio Conejo, Zênite.<br />
Preparação de texto: Zênite, Joab Costa Cruz.<br />
Coordenação de design e projetos visuais: Pedro Yañez.<br />
Revisão: Geisa Teixeira.<br />
Impressão: Gráfica Brasil.<br />
Organizador: Estúdio Conejo<br />
Obra coletiva concebida, desenvolvida<br />
e produzida pelo estúdio Conejo, Zênite.<br />
Editor Executivo:<br />
Pedro Yañez.<br />
Livro do professor:<br />
JOAB COSTA CRUZ<br />
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Caros alunos<br />
quero que saibam, que antes de tornar-me autor e organizador desse<br />
material, fui primeiro professor; reforço essa condição para que saibam<br />
que não me ative apenas a recursos historiográficos e concepções<br />
teóricas, mas considerei especialmente as experiências que vocês me<br />
ajudaram a construir em sala de aula; assim, o principal objetivo desse<br />
trabalho é que ele atenda as dúvidas, interesses e necessidades práticas<br />
da apreensão do Ensino de <strong>História</strong>, facilitando os melhores resultados<br />
da relação mediada por seus professores.<br />
Vivemos um tempo em que as mudanças são tão bruscas, que as experiências<br />
se tornam passado e <strong>História</strong> com uma velocidade jamais pensada<br />
por nossos predecessores; assim, sob nenhuma hipótese, considero<br />
que esta seja uma obra final ou impassível à crítica, como também não<br />
posso considerá-la plenamente acabada. Assim como a historiografia<br />
permite modificações do discurso sobre o passado, suas críticas sinceras<br />
e suas necessidades em seu tempo serão o guia para as intervenções<br />
que permitam complemento a esse material, consulta a discursos alternativos<br />
e, porque não, a remodelagem deste trabalho que chega às suas<br />
mãos.<br />
Bom estudo!<br />
;)<br />
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SUMÁRIO<br />
CIVILIZAÇÃO GREGA ..........................................................................<br />
CIVILIZAÇÃO GREGA – PARTE II* PERÍODO CLÁSSICO (do século<br />
VI ao IV a.C.) .......................................................................................<br />
CULTURA NA GRÉCIA ANTIGA ..........................................................<br />
CIVILIZAÇÃO ROMANA .......................................................................<br />
CIVILIZAÇÃO ROMA – PARTE II .........................................................<br />
IDADE MÉDIA ........................................................................................<br />
BAIXA IDADE MÉDIA SÉC. XI-XV .......................................................<br />
A TRANSIÇÃO DO MEDIEVO À MODERNIDADE E A EXPANSÃO<br />
COMERCIAL E MARÍTIMA EUROPEIA ..............................................<br />
MERCANTILISMO .................................................................................<br />
REFORMA PROTESTANTE ...................................................................<br />
O ESTADO ABSOLUTISTA ...................................................................<br />
CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS .................................................<br />
COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ESPANHOLA .....................................<br />
COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA ...........................................<br />
REVOLUÇÃO INGLESA ........................................................................<br />
ILUMINISMO ..........................................................................................<br />
A INDEPENDÊNCIA DOS EUA ............................................................<br />
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................<br />
REVOLUÇÃO FRANCESA .....................................................................<br />
ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA ............................<br />
REVOLUÇÕES LIBERAIS DO SÉCULO XIX ........................................<br />
IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX ............................................................<br />
EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA AMÉRICA ESPANHOLA ..................<br />
ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX ..................................................<br />
IMPERIALISMO ......................................................................................<br />
REFERENCIAS ........................................................................................<br />
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CIVILIZAÇÃO GREGA<br />
1. ASPECTOS GERAIS<br />
O termo Grécia é a designação que os romanos<br />
utilizaram para descrever a região chamada pelos gregos<br />
de Hélade, especialmente situada em sua fase inicial na<br />
porção sul da Península Balcânica; com a expansão dos<br />
romanos pelo Mediterrâneo Oriental e a conquistas das<br />
regiões da Hélade a partir do século II a.C., a região<br />
passou definitivamente a ser chamada de Grécia.<br />
Do ponto de vista da identificação das áreas ocupadas<br />
pelos gregos desde as suas origens mais remotas ao ápice<br />
de sua expansão, podemos dividi-la em Grécia<br />
Continental ou Peninsular, Grécia Insular, Grécia<br />
Asiática e Magna Grécia. A sua porção continental<br />
incluía a parte meridional dos Balcãs, fixando fronteiras<br />
ao norte com a Ilíria, atuais regiões de Servia,<br />
Montenegro, Croácia, Bósnia e Herzegovina etc., a leste<br />
com o Mar Egeu, oeste com o Mar Jônico e ao sul com o<br />
mar Mediterrâneo. O conjunto de ilhas no mar Egeu,<br />
destacando-se Creta, Rodes e Delos compunham a<br />
Grécia Insular. A extensão das povoações gregas na Ásia<br />
Menor, na costa ocidental da Anatólia constituíam a<br />
Grécia Asiática. E, por fim, a ampliação territorial dos<br />
gregos promovida após a Segunda Diáspora grega, com a<br />
fundação de diversas colônias na orla mediterrânica ao<br />
sul da Península Itálica, daria origem à Magna Grécia.<br />
De um modo geral, por toda a Hélade, o relevo tanto nas<br />
penínsulas e ilhas era marcado pelo aspecto montanhoso,<br />
entrecortado de pequenas e férteis planícies, com<br />
ocorrência de planícies mais extensas apenas na Magna<br />
Grécia, no extremo norte da Grécia Continental e na Ilha<br />
de Creta. As áreas montanhosas facilitaram o relativo<br />
isolamento entre as populações helênicas, influenciando<br />
o caráter autônomo das cidades gregas; por sua vez, a<br />
incidência de um litoral bastante recortado favoreceu as<br />
navegações e a comunicação pelo mar.<br />
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Quanto ao povoamento da região o que se sabe é que<br />
desde o período Neolítico a região será habitada por<br />
populações sedentarizadas de língua não grega, os<br />
pelasgos. A partir dos anos 2000 a.C, tem início uma<br />
onda de migrações e invasões de populações de origem<br />
indo europeia para a região, que em fusão com as<br />
populações autóctones dariam origem ao que se<br />
convencionou chamar de civilização grega; foram eles,<br />
os aqueus, originados das estepes russas, a partir de 1950<br />
a.C., buscando melhores pastagens para seus rebanhos e<br />
que incidiram por quase todo o território original dos<br />
gregos. Em contato com os cretenses dariam origem à<br />
civilização micênica. Os jônios e eólios chegariam por<br />
volta de 1500 a.C., estabelecendo-se na Ática e Ásia<br />
Menor. A última população a chegar ao território seriam<br />
os dórios (1200ª.C), se estabelecido na Península do<br />
Peloponeso e responsáveis pela destruição da civilização<br />
micênica.<br />
2. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA<br />
Para melhor compreensão da trajetória histórica da<br />
civilização grega, os historiadores convencionaram<br />
dividir seu estudo a partir da seguinte periodização:<br />
- Período pré-homérico (2500 a.C. a 1200 a.C.)<br />
corresponde ao período de apogeu das civilizações<br />
(Civilização Cretense e Civil içam Creto-micênica) que<br />
antecederam e serviram de base ao que chamamos<br />
civilização grega, coincidindo também com o período de<br />
recepção das diversas populações indo europeias ao<br />
território da Hélade.<br />
- Período Homérico (Séculos XII ao VIII a.C) –<br />
período de constituição propriamente dita do povo grego,<br />
marcado pela organização dos genos, isto é,<br />
comunidades patriarcais organizadas em clãs). Tal<br />
nomenclatura do período está associado ao poeta<br />
Homero e aos seus relatos na obra Ilíada e Odisseia,<br />
escritas provavelmente no período posterior, o Período<br />
Arcaico.<br />
- Período Arcaico (Séculos VIII ao VI a. C) – período<br />
marcado pela consolidação das polis gregas, intensas<br />
agitações sociais e políticas e pelo expansão do projeto<br />
colonizador grego, denominado Segunda Diáspora.<br />
- Período Clássico (Séculos VI ao IV a.C) – período<br />
marcado pelo auge do desenvolvimento das polis gregas.<br />
Destaque para o acirramento das rivalidades entre<br />
Athenas e Esparta, ocorrência de grandes conflitos<br />
externos, como as Guerras Greco-pérsicas, incremento<br />
da escravidão e desenvolvimento da arquitetura, teatro,<br />
filosofia e democracia ateniense.<br />
- Período Helenístico (Séculos IV ao II a.C) – período<br />
posterior ao enfraquecimento das polis ocorrido no fim<br />
do período clássico, que os vulnerabilizaram ao domínio<br />
macedônico. Esses, apesar da dominação político<br />
territorial sobre os gregos, assimilaram grande parte de<br />
sua cultura e expandiram para um processo de fusão com<br />
elementos diversos da cultura oriental, dando origem à<br />
Cultura helenística. Se encerraria com o domínio romano<br />
no século II a.C.<br />
3. PERÍODO PRÉ-HOMERICO<br />
Nesse período desenvolveu-se a chamada civilização<br />
cretense ou civilização minoica. Configurada a partir da<br />
maior ilha grega no Mar egeu, a ilha de Creta. Sua<br />
povoação se dá desde o final do Neolítico, levando a<br />
constituir uma poderosa civilização insular no Terceiro<br />
Milênio a.C. Organizada a partir da construção de<br />
grandes palácios em Cnossos, Faistos e Mailás, suas<br />
cidades-estados, configurou uma sociedade<br />
especialmente urbana. No segundo milênio a. C, Creta já<br />
havia se tornado o principal centro cultural e comercial<br />
da Europa, graças ao sofisticado comercio de produtos<br />
como vinhos, pedrarias, azeites cerâmicas e tecidos,<br />
favorecida por sua poderosa frota. Isso os colocou em<br />
contato com as civilizações egípcias e do Oriente Médio<br />
e, em posição de concorrência no comercio marítimo<br />
com os antigos fenícios.<br />
Organizaram-se politicamente a partir de uma<br />
talassocracia, com apogeu concentrado na cidade de<br />
Cnossos e sob o governo de seus reis denominados<br />
Minos. Seu imenso poder lhes permitiu dominar os<br />
primitivos habitantes da Grécia, os pelasgos, que sem<br />
conseguir se opor aos cretenses, se submetiam ao<br />
pagamento de tributos e tudo o mais quanto lhes fosse<br />
exigido.<br />
Muitas das características estruturais da cultura cretense<br />
se permeiam de influencias estéticas da Antiguidade<br />
Oriental, fato que provavelmente se deve ao intenso<br />
contato comercial com o Egito e as cidades fenícias.<br />
Suas formas de escrita desenvolveram-se em dois tipos<br />
básicos, a escrita linear A e a Linear B, além de uma<br />
terceira forma, conhecida como pictográfica ou<br />
hieroglífica cretense; as duas primeiras permanecem sem<br />
tradução. Suas cidades, segundo contribuições da<br />
pesquisa arqueológica, apresentam rebuscada arquitetura,<br />
10
com grandes palácios e outros edifícios de completo<br />
sistema de saneamento e canalização de agua.<br />
Outro aspecto considerável da cultura cretense é o<br />
singular papel desempenhado pela mulher nessa<br />
sociedade. Representações da mulher em exibições<br />
perigosas e de grande habilidade, assim como nas festas<br />
e expressões religiosas, são muito frequentes em suas<br />
pinturas em cerâmica e em seus afrescos, denotando a<br />
importância peculiar que estas provavelmente assumiram<br />
em Creta. Também na religião há indícios do culto à<br />
Grande Mãe, representação feminina do sagrado gerador<br />
de todas as coisas, com santuários identificados em<br />
cavernas e montanhas ou grandes templos; também há<br />
grande sofisticação de sepultamentos de mortos em<br />
grandes túmulos e mausoléus urbanos. Na arte, a<br />
cerâmica se destacou por apresentar diversidade de<br />
formas e funções, ampla variedade de técnicas e<br />
refinamento e acabamento virtuosos. Nas imagens estão<br />
registros do cotidiano, como plantas e animais<br />
domésticos. Nos afrescos, pinturas com cenas como<br />
casamento, festas, colheitas, cerimonias diversas ficaram<br />
registradas nas ruinas de seus palácios por séculos. Os<br />
seus trabalhos em metal, sobretudo ouro, pedras<br />
preciosas tornaram se notáveis em detalhamento e se<br />
tornaram artigos de exportação bastante desejados. Nas<br />
escavações de Creta foram encontradas muitas imagens<br />
de mulheres, em posições sociais variadas, como<br />
sacerdotisa, dançarinas, esportistas e damas da nobreza,<br />
evidenciando que na sociedade minoica elas possuíam<br />
grande importância n cotidiano das cidades.<br />
A partir do século XV a.C., os aqueus, populações sendo<br />
europeias que desde os anos 1900 a.C haviam migrado<br />
para a Península Balcânica e já haviam fundado<br />
importantes núcleos populacionais como Micenas,<br />
Tirinto e Argos, dominaram os cretenses, assimilando<br />
profundamente a sua cultura e dando origem ao que<br />
chamamos de civilização creto-micênica. Caracterizados<br />
por uma aristocracia de guerreiros, dominaram quase<br />
todos os povos do Mediterrâneo Oriental, transferiram o<br />
centro de poder de Cnossos para Micenas, e foram os<br />
responsáveis pela escrita de importantes documentos no<br />
idioma Linear B. A expansão micênica que destruiu<br />
Cnossos, expandiu-se também pelo Mar egeu m direção<br />
ao mar Negro, onde Troia foi destruída, como conta<br />
Homero na Ilíada. Em seus escritos, a guerra de Troia é<br />
associada ao rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de<br />
Esparta, pelo príncipe troiano Paris. Na verdade, a<br />
destruição de Troia é mais um episódio da expansão<br />
micênica que já havia atingido Cnossos.<br />
Por volta de 1200 a.C. já ocorrendo disputas internas<br />
entre os centros urbanos micênicos, chegou à Grécia o<br />
povo dórico, também ariano, de nível cultural menos<br />
complexo, mas possuidor de armas de ferro e habilidade<br />
guerreira bem superiores aos micênicos. Insurgiram<br />
contra Micenas, destruíram cidade e promoveram a<br />
Primeira Diáspora Grega, em direção à Ásia Menor.<br />
Dentro da Grécia, a população passou a viver<br />
isoladamente em grupos clínicos chamados genos. Tal<br />
fato define o fim do período Pré Homérico e o início do<br />
período Homérico, assim chamado porque muito do que<br />
se sabe desse período é atribuído as obras Ilíada e<br />
Odisseia, cuja autoria e atribuída ao poeta Homero.<br />
4. PERÍODO HOMÈRICO<br />
Situado entre os séculos XII e VIII a.C., o período<br />
homérico corresponde ao intervalo entre o ocaso da<br />
civilização creto-micênica e o surgimento das cidades-<br />
Estado gregas. Com a violência generalizada promovida<br />
pelos invasões e saques das populações dórias, a<br />
organização citadina do período anterior entra em<br />
colapso e, assiste-se a um progressivo quadro de êxodo<br />
urbano que levou a Grécia a regredir para uma<br />
organização social e econômica bastante rudimentar; a<br />
escrita cai em desuso, de modo que o sabemos sobre esse<br />
período provam dos achados arqueológicos e da tradição<br />
oral dos AEDOS e RAPSODOS, artistas que cantavam<br />
ou recitavam as epopeias, tipo de poesia épica de<br />
narrativa curta lendária ou mitológica. Entre as mais<br />
importantes, destacam-se a Ilíada e Odisseia, geralmente<br />
atribuída ao poeta Homero, maior contribuição para a<br />
compreensão da dinâmica desse período.<br />
O processo de ruralização das sociedades gregas após as<br />
invasões dóricas fizeram dos GENOS a forma<br />
predominante de organização social entre os gregos. As<br />
comunidades gentílicas patriarcais se tornariam assim<br />
a unidade econômica, social, política e religiosa daquilo<br />
que podemos chamar de povo grego. O grupo ligava-se<br />
por relações consanguíneas, casamentos entre si e<br />
solidariedade entre seus membros. Colocavam-se sob<br />
autoridade do PATER (patriarca), responsável por<br />
manter os bens de produção (terras, sementes,<br />
instrumentos) e o trabalho sob responsabilidade coletiva<br />
do clã, além de aplicar a justiça costumeira (Direito<br />
consuetudinário) e comandar as milícias dos genos.<br />
Entre os membros do clã não se observava diferenças<br />
econômicas; restringiam-se a hierarquizações de acordo<br />
com maior ou menor proximidade em relação ao pater.<br />
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No final do Período Homérico, entretanto, alterações<br />
internas da própria realidade gentílica seriam<br />
responsáveis pela desintegração da ordem dos genos. O<br />
crescimento da população em descompasso com a<br />
capacidade de crescimento da produção agrícola levou à<br />
escassez de terras férteis para o pleno sustento das<br />
comunidades.<br />
Assim, muitos dos pater optaram pela divisão das terras<br />
coletivas, beneficiando os parentes mais próximos,<br />
passando a serem chamados de eupátridas, apropriando<br />
se das melhores terras (Pédium); os parentes mais<br />
afastados herdariam terras menos férteis, periféricas, de<br />
relevo acidentado e pedregoso (Diácria), constituindo a<br />
classe dos georgois. Por su vez, aqueles que não<br />
obtiveram terras nessa partilha, formariam um grupo<br />
marginalizado, chamado thetas, quase sempre submetido<br />
ao trabalho para as demais classes.<br />
Os eupátridas herdaram além das melhores terras, a<br />
tradição dos paters e o monopólio do poder político,<br />
constituindo-se numa aristocracia de base fundiária.<br />
Esses aristocratas constituíam-se as fratrias, que uma vez<br />
reunidos formavam as tribos, reunidos sobre a autoridade<br />
militar do basileus. A reunião de várias tribos deu origem<br />
aos demos (povoados), que atingidos pela crescente<br />
rivalidades, disputas internas e externas se juntavam<br />
formando pequenos Estados locais ou póleis (cidades-<br />
Estado). Em meados do século X a.C., a Grécia contava<br />
com cerca de 160 cidades independentes, comandadas<br />
por um rei (basileus), cujo poder era limitado pelos<br />
conselho aristocrata de eupátridas. Tentando evitar o<br />
fortalecimento excessivo desses monarcas, os Conselhos<br />
de Aristocratas costumavam indicar magistrados<br />
(Arcontes) para substituírem os reis depostos.<br />
A crise do sistema gentílico decorrente da alteração<br />
interna dos genos e o desenvolvimento da propriedade<br />
privada da terra, do qual decorreu a formação da<br />
aristocracia eupátrida e a formação das primeiras<br />
cidades-estados gregas indicam a transição do período<br />
homérico ao período Arcaico.<br />
5. PERIODO ARCAICO<br />
Período marcado pela consolidação da polis gregas, por<br />
intensas agitações de cunho social e política e pelo<br />
processo de colonização grego denominada Segunda<br />
Diáspora, o período Arcaico corresponde a um dos mais<br />
importantes na trajetória histórica dessa civilização.<br />
12<br />
A privatização das terras e a dissolução da comunidade<br />
gentílica levaram a profundas transformações no interior<br />
das sociedades gregas, com destaque para a concentração<br />
das terras nas mãos de uma elite privilegiada, o<br />
crescimento demográfico, com a diminuição das guerras<br />
e invasões, a escassez de terras férteis, o incremento da<br />
escravidão por dívidas e a concentração da produção<br />
excedente nas propriedades da aristocracia, exigindo<br />
novos mercados para serem comercializados.<br />
Os fatores citados contribuíram para um processo de<br />
êxodo rural dispersão dos gregos para várias partes do<br />
Mediterrâneo, procedendo o chamado Processo de<br />
Colonização Grego ou Segunda Diáspora grega, entre<br />
os séculos VIII e VI a.C. Vários entrepostos comerciais e<br />
colônias seriam fundadas pelos gregos, especialmente no<br />
sul da península Itálica (Magna Grécia), costa norte da<br />
África, Península Ibérica e em torno do mar Negro e<br />
Ásia Menor.<br />
A colonização obedecia a um certo planejamento, que<br />
implicava na escolha do local a ser colonizado, após<br />
consulta ao Oraculo de Apolo em Delfos, a indicação de<br />
comandantes das expedições que conquistariam e<br />
governariam a colônia. Tais colonizadores levavam da<br />
cidade mãe o fogo sagrado e os elementos culturais e<br />
políticos desta, como a língua, o alfabeto e os cultos e<br />
calendário. O comercio entre essas áreas baseava-se na<br />
exportação de azeite, vinho e peças de artesanato gregas<br />
e na importação de artigos como trigo, metais preciosos,<br />
cobre, ferro e madeira das regiões mediterrâneas.<br />
A colonização grega não deve ser entendida em paralelo<br />
idêntico às formas de colonização empreendida pela<br />
Europa na Modernidade ou na Era Contemporânea, uma<br />
vez que a colônia não tinha qualquer tipo de dependência<br />
política e econômica obrigatórias m relação à Metrópole.<br />
Existiam entre elas laços cordiais, sendo chocante a<br />
ocorrência de guerras entre elas e, essas colônias<br />
poderiam fundar outras e, os gregos que se fixassem<br />
nelas permanentemente perdiam a cidadania na cidade de<br />
onde eram originários.<br />
Com o desenvolvimento da colonização, o comercio até<br />
então vista como atividade secundaria em relação à<br />
agricultura preponderante passa a ganhar destaque,<br />
gerando novas configurações sociais que alterariam a<br />
ordem política nas póleis.<br />
O afluxo elevado de cereais das colônias e a importância<br />
da exportação de vinho e azeite das metrópoles levou as<br />
classes mais abastadas a substituírem o cultivo de trigo<br />
pelo de vinho e oliveiras, prejudicando os camponeses
menores, incapazes de concorrer com a produção<br />
colonial e de se transferirem para os novos cultivos, que<br />
necessitavam de mais tempo para a obtenção de<br />
resultados. Endividados, ao parte desses camponeses<br />
passavam a constituir um contingente cada vez maior de<br />
escravos por dividas, enquanto, no lado oposto,<br />
beneficiados pelo comercio, surgia uma classe cada vez<br />
mais poderosa, a dos demiurgos, sedentos por ambições<br />
políticas e buscando se impor na pose das terras por mio<br />
das compras. Preocupados em ficar em segundo plano, a<br />
nobreza entra na corrida pela compra de terras, numa<br />
competição que contribuiu para concentrar ainda mais a<br />
propriedade e empobrecer ainda mais os pequenos<br />
proprietários.<br />
Do ponto de vista físico, as cidades gregas tinhas suas<br />
sedes organizadas da seguinte maneira. Eram formadas<br />
pela ASTEY, a parte urbana da polis; essa, por sua vez,<br />
era constituída pela ACROPOLE, localizada na parte<br />
mais elevada da cidade, onde se erguia o templo de culto<br />
ao deus ou deusa patrono da cidade. A AGORA, era a<br />
parte mais pública da cidade, onde em seu entorno<br />
estavam os mercados e prédios administrativos. A Agora<br />
configurava-se como praça principal da pólis, espaço das<br />
assembleias do povo. A KHORA, correspondia à parte<br />
rural da cidade, onde viviam o camponeses e onde eram<br />
cultivados os alimentos.<br />
5.1 ESPARTA<br />
Fundada no século IX pelos dórios, Esparta ou<br />
Lacedemônia localizava-se na Planície do Peloponeso,<br />
na planície fértil da Lacônia, protegida por cadeias de<br />
montanhas e isolada das regiões vizinhas. No século VII<br />
os dórios dominaram a Messênia e, reafirmaram seu<br />
caráter organizacional de guerreiros e conquistadores,<br />
marcando sua peculiaridade essencial em relação a outras<br />
polis.<br />
Suas terras férteis eram divididas em lotes iguais,<br />
disponibilizados aos cidadãos espartanos. O cultivo<br />
dessas terras cabiam aos hilotas, espécie de servos do<br />
estado destinados a trabalharem a serviço dos<br />
esparciatas. Eram dedicados ao serviço militar e<br />
consideravam o comercio uma atividade indigna, que<br />
ficou restrita aos poucos estrangeiros na cidade e aos<br />
marginalizados sociais denominados periecos. A<br />
constituição da cidade, que regia suas regras e valores de<br />
convivência são atribuídos ao legislador mítico Licurgo,<br />
que segundo os espartanos não deveria ser alterada,<br />
perpetuando a ordem aristocrático-oligárquica na cidade<br />
ao longo dos tempos.<br />
De maneira geral, a sociedade espartana se define por<br />
seu caráter agrário, rural, patriarcal, aristocrática,<br />
estratificada, xenófoba e militarista. Destacavam-se em<br />
primeiro plano, na sua configuração essencial, os<br />
esparciatas, aristocracia espartana originada dos<br />
fundadores dórios, que monopolizavam as instituições<br />
políticas, militares e religiosas, assim como o uso das<br />
melhores terras, sendo os únicos considerados detentores<br />
da cidadania. Os periecos, embora homens livres,<br />
estavam destituídos da cidadania, dedicados<br />
especialmente ao comercio e artesanato, atividades<br />
desprezadas pelos esparciatas, habitando os arredores da<br />
cidade e banidos da possibilidade da formação militar.<br />
Por fim, em maior quantidade, estavam os hilotas,<br />
geralmente considerados escravos, mas mais próximos<br />
da condição de servos do estado, já que estavam presos à<br />
terra que cultivavam e não podiam se transferir, sendo<br />
considerados propriedades do estado; eram mantidos sob<br />
rígido controle da especialização militar dos cidadãos,<br />
obrigado à rígida obediência sob a ameaça do terror da<br />
Kripta, ritual da maioridade utilizado pelos jovens<br />
espartanos que consistia na matança de hilotas como<br />
conclusão de seu processo de formação militar.<br />
A estrutura política dos espartanos manteve se<br />
praticamente inalterável ao longo de sua trajetória<br />
histórica. Marcada por uma rede de privilégios e<br />
orientada pela legislação de Licurgo, organizava-se da<br />
seguinte maneira:<br />
Diarquia – a cidade Estado possuía dois reis, das<br />
famílias mais importantes da polis, transferindo a<br />
posição hereditariamente ao filho primeiro nascido após<br />
consagrar-se rei. Tinham poderes iguais em deliberações<br />
religiosas, politicas, administrativas e judiciarias,<br />
podendo aplicar jurisdição familiar em caso de direito<br />
fundamentado na religião. Nos períodos de guerra, erma<br />
comandantes supremos do exército e do sacerdócio e,<br />
13
enquanto um rei protegia a cidade, o outro ia para o<br />
combate. Seu poder era essencialmente militar, estando<br />
sujeito ao comando executivo e fiscalização de conduta<br />
pelos éforos. Eram também eles quem presidiam a<br />
Gerúsia, tinhas suas discordâncias apaziguadas pelos<br />
éforos, possuíam as melhores terras, territórios nas áreas<br />
dos periecos e recebiam despojos de guerra.<br />
Gerúsia – o Conselho dos Anciãos de Esparta era<br />
constituído por 28 gerontes, com mais de 60 anos, de<br />
cargo vitalício, indicados pela Apela. Possuíam função<br />
legislativa, cabendo-lhes discutir e preparar os projetos<br />
submetidos à aprovação pela Apela, a assembleia dos<br />
cidadãos esparciatas. Também possuíam função<br />
judiciaria e, no caso dos reis serem acusados pelos<br />
éforos, sobre eles recaiam o direito de julgamento sobre<br />
os reis.<br />
Apela – era assembleia dos esparciatas, compota por<br />
todos os cidadãos dessa classe com mais de 30 anos, que<br />
elegiam os membros da Gerúsia e, a quem cabia aprovar<br />
ou rejeitar as leis preparadas pelo Conselho de Anciãos.<br />
Também era a Apela que deliberava sobre a guerra e a<br />
paz e, eram esses aristocratas que elegiam os cinco<br />
éforos para mandatos anuais. Por sua vez, a Gerúsia tinha<br />
poder de veto sobre as decisões da Apela.<br />
Eforato – Conselho executivo formado por cinco éforos<br />
eleitos anualmente, sem reeleição para o papel de fiscais<br />
da vida pública, incluindo a atuação dos reis. Com o<br />
tempo, os éforos passaram a presidir a Gerúsia, se<br />
sobrepondo aos reis em definitivo. Dois éforos<br />
acompanhavam o exército na batalha, podendo prender o<br />
rei em caso de desacordo entre suas ações e o cargo que<br />
ocupavam.<br />
EDUCAÇÃO ESPARTANA<br />
A Agogê: Em seu próprio significado, a palavra que<br />
os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo:<br />
Agogê (agoge), isto é, “adestramento”, “treinamento”.<br />
Viam-na como um recurso para o adestramento dos seus<br />
jovens. O objetivo maior dela era formar soldados<br />
educados no rigor para defender a polis. Assim sendo,<br />
temos que entendê-la como um serviço militar estendido<br />
à infância e à adolescência.<br />
Em termos genéricos, podemos ver que a educação<br />
desenvolvida em Esparta estava intimamente ligada ao<br />
caráter militarista. Desde tenra idade a formação do<br />
indivíduo era reconhecida como uma função a ser<br />
obrigatoriamente assumida pelo próprio Estado. Os<br />
espartanos viam cada novo ser como um soldado em<br />
potencial.<br />
O caráter era eugênico (controle social que podem<br />
melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras<br />
gerações seja física ou mentalmente). Ao nascer, a<br />
criança era minuciosamente observada por um grupo de<br />
anciãos. Caso ela não apresentasse uma boa saúde ou<br />
tivesse algum problema físico, era invariavelmente<br />
lançada do cume do monte Taigeto. Se fosse considerada<br />
saudável, ela poderia ficar com a sua mãe até os sete<br />
anos de idade. Depois disso, passava a ficar sob a tutela<br />
do governo espartano para assim receber todo o<br />
conhecimento necessário à sua vindoura trajetória<br />
militar.<br />
Entre os sete e os doze anos a criança recebia os<br />
conhecimentos fundamentais para que conhecesse a<br />
organização e as tradições de seu povo. Depois disso, era<br />
dado início a um rigoroso treinamento militar onde seria<br />
colocado em uma série de provações e testes que<br />
deveriam aprimorar as habilidades do jovem. Nessa fase,<br />
o aprendiz era solto em um campo onde deveria obter o<br />
seu próprio sustento por meio da coleta, da caça de<br />
animais ou, em alguns casos, por meio do furto.<br />
Nessa mesma época, os aprendizes eram colocados<br />
para realizarem longas marchas e lutarem uns com os<br />
outros. Dessa maneira, aprendiam a combater<br />
eficazmente. Além disso, havia uma grande preocupação<br />
em expor esse soldado a situações provadoras que<br />
atestassem a sua resistência a condições adversas e<br />
obediência aos seus superiores. Cada vez que não<br />
cumprisse uma determinada missão, esse soldado em<br />
treinamento era submetido a terríveis punições físicas.<br />
Quando estavam entre dezesseis e dezessete anos de<br />
idade, o jovem recruta espartano era submetido a um<br />
importante “teste final”: a kriptia. Funcionando como<br />
uma espécie de jogo de esconde-esconde, os jovens<br />
espartanos se escondiam de dia em um campo para, ao<br />
anoitecer, saírem à caça do maior número de hilotas<br />
possível. Quem sobrevivesse a esse processo de seleção<br />
já estaria formado para integrar as fileiras do exército e<br />
teria direito a um lote de terras.<br />
Com relação às mulheres, devemos salientar que essa<br />
mesma tutela exercida pelo Estado também era dirigida a<br />
elas. De acordo com a cultura espartana, somente uma<br />
mulher fisicamente preparada teria condições de gerar<br />
filhos que pudessem lutar bravamente pela defesa de sua<br />
cidade-Estado. Além disso, durante sua vida civil ela<br />
14
poderia adquirir o direto de propriedade e não estava<br />
necessariamente sujeita à autoridade de seu marido.<br />
Quando alcançava os trinta anos de idade, o soldado<br />
espartano poderia galgar a condição de cidadão. A partir<br />
desse momento, ele participava das decisões e leis a<br />
serem discutidas na Ápela, assembleia que poderia vetar<br />
a criação de leis e indicava os indivíduos que comporiam<br />
a classe política dirigente de Esparta. Quando atingia a<br />
idade de sessenta anos, o indivíduo poderia sair do<br />
exército e integrar a Gerúsia, o conselho de anciãos<br />
responsável pela criação das leis espartanas.<br />
5.2 ATENAS<br />
Situada na península Balcânica, na região da Ática, a 5<br />
km do mar Egeu, a polis ateniense apresenta paisagem<br />
montanhosa entremeada de vales férteis – Pédium<br />
(planícies férteis), Diácria (região montanhosa, irregular<br />
e árida) e a Parália (regiões litorâneas); a ocupação<br />
inicial da Ática foi pelos povos aqueus, chegando<br />
posteriormente os eólios e jônios, esses últimos<br />
responsáveis pela fundação de Atenas. A proximidade do<br />
Mar Egeu e a proteção natural das montanhas impediu a<br />
invasão dos dórios e estimulou intensa atividade<br />
comercial marítima.<br />
Fundada no século X, no final do Período Homérico,<br />
Atenas possuía economia essencialmente rural,<br />
complementada por atividades incipientes de artesãos e<br />
pequenos comerciantes. Nesse período, os grupos sociais<br />
predominantes eram os eupátridas, considerados bem<br />
nascidos, filhos das elites e famílias tradicionais,<br />
detentores das melhores terras e que formavam a<br />
aristocracia governante da pólis, detendo a condição de<br />
cidadãos, e a propriedade de terras e escravos; os<br />
georgois, segunda camada social composta por pequenos<br />
proprietários das terras da Diácria, que trabalhavam com<br />
seus familiares e produziam para subsistência. Embora<br />
atenienses, por não pertencerem às famílias tradicionais<br />
não eram considerados cidadãos, estando excluídos da<br />
vida política da pólis; os thetas correspondiam aos<br />
atenienses de camada inferior, destituídos de qualquer<br />
propriedade de terra, geralmente trabalhadores braçais<br />
utilizados nas terras dos demais grupos; por serem<br />
camponeses marginalizados econômica e politicamente,<br />
também não eram considerados cidadãos. Por fim,<br />
tínhamos em menor quantidade nesse período, a<br />
incidência de escravos, que ainda não eram a base<br />
fundamental da produção, predominando o trabalho<br />
familiar e dos thetas; esses poucos escravos eram<br />
oriundos de guerras e dividas.<br />
Em suas origens, a polis ateniense organizou-se<br />
politicamente como uma monarquia, com a sociedade<br />
submetida à chefia de um basileus, assessorado por um<br />
Conselho de Arcontes indicados pela assembleia de<br />
eupátridas. Na transição para o período arcaico, a<br />
aristocracia derruba a autoridade real e o conselho de<br />
nove arcontes passa a designar as funções executivas da<br />
pólis, restringindo a autoridade política aos interesses<br />
aristocratas.<br />
No período arcaico, alterações significativas da realidade<br />
econômica ateniense levaram ao surgimento de novos<br />
grupos sociais e posições políticas conflitantes que<br />
acarretaram importantes mudanças na organização da<br />
polis. A escassez das terras férteis, resultante da<br />
concentração dos melhores espaços nas mãos dos<br />
eupátridas e pelo aumento populacional, impulsionaram<br />
a Segunda Diáspora Grega, que definiu o<br />
estabelecimento de colônias para fins comerciais e<br />
povoamento em pontos variados do Mediterrâneo. Com<br />
o incremento do comercio decorrente desse processo,<br />
muitos georgois e thetas emigraram em expedições<br />
colonizadoras ou se deslocaram das regiões agrarias da<br />
pólis para suas áreas urbanas, se beneficiando da<br />
atividade comercial e configurando novas designações<br />
sociais.<br />
Surgiriam assim os demiurgos, segmento social oriundo<br />
das classes anteriormente citadas, que constituídos em<br />
artesãos e pequenos comerciantes viram-se enriquecidos<br />
e passaram a exigir direitos políticos e sociais,<br />
pressionando o governo aristocrático do Arcontado a<br />
realizar importantes reformas sociais. Outro segmento<br />
social destacado a partir de então seria o dos metecos,<br />
15
formado por estrangeiros marginalizados atraídos pela<br />
rica e dinâmica economia de Atenas, podendo ser gregos<br />
de outras cidades ou não gregos. Esses, embora livres,<br />
dedicavam-se ao artesanato e comercio, pagavam<br />
tributos ao Estado ateniense e, jamais tiveram direitos<br />
políticos em Atenas. Incrementou-se também a mão de<br />
obra escrava, até alcançar o seu auge no Período<br />
Clássico; o incremento desse trabalho esteve associado<br />
ao aumento dos prisioneiros de guerra obtidos no<br />
processo de expansão territorial e, no endividamento de<br />
georgois e thetas mantidos no campo com os eupátridas,<br />
que acabavam se submetendo a escravidão quando<br />
impossibilitados de honrar seus compromisso<br />
financeiros.<br />
As referidas transformações sociais somadas ao governo<br />
da aristocracia eupátrida que apenas protegia e<br />
privilegiava os interesses da aristocracia provocaram o<br />
conflito de interesses, conflitos e impasses que marcaram<br />
o período arcaico em Atenas. O Partido Pediano era<br />
formado pelos eupátridas, de posicionamento<br />
conservador, que se esforçavam por manter o monopólio<br />
da cidadania ateniense; os paralianos eram compostos<br />
pelos demiurgos, de posição moderada que buscavam<br />
equiparação política com os eupátridas; e ainda haviam<br />
os diacrianos, constituídos por georgois ou thetas, que<br />
assumindo posição radical defendiam amplas reformas<br />
de ordem política e econômica. Esses últimos eram<br />
duramente prejudicados pelo aumento do fluxo de<br />
escravos que dificultava o aproveitamento do trabalho<br />
livre e forcava thetas e até mesmo georgois a contrair<br />
dívidas junto aos cidadãos modo que não conseguindo<br />
honrar seus empréstimos acabavam escravizados.<br />
Com o agravamento desse quadro de tensões sociais, o<br />
Arcontado eupátrida se posicionou em favor de assegurar<br />
reformas que pudessem amenizar o clima de<br />
intranquilidade. Algumas mudanças internas<br />
significativas foram garantidas por legisladores que<br />
alcançaram o Arcontado. Os exemplos mais<br />
significativos são da reforma de Drácon (621a.C.), que<br />
estabeleceu uma primeira tentativa de institui um direito<br />
comum a todos, por meio da escrita das leis, já que o<br />
Direito em Atenas se configurava consuetudinário desde<br />
as suas origens. A intenção era que toda a população<br />
pudesse ter conhecimento do código fixo de leis, embora<br />
não tenha sido capaz de apaziguar os ânimos de<br />
exaltação social por mudanças, pois ainda que escritas,<br />
tais leis mantinham inalterados os privilégios dos<br />
eupátridas; as leis de Dragon foram reconhecidas por sua<br />
severidade e, estabeleceu ainda a proibição das vendetas,<br />
vinganças privadas encomendadas e comuns à época.<br />
Outro reformador importante foi Sólon, que tornou-se<br />
arconte em 694 a.C. embora aristocrata, desde cedo<br />
estava envolvido com as atividades de comercio e com as<br />
viagens ao exterior, aproximando-se dos demiurgos. A<br />
ele foi atribuída a importante medida de abolição da<br />
escravidão por dividas (Lei Seisacteia), que buscava<br />
amenizar as reclamações de thetas e georgois<br />
endividados; também promovera a alteração das<br />
condições de cidadania m Atenas, outrora baseado na<br />
origem, por um sistema de base censitária, que dividia<br />
a sociedade a partir de suas rendas anuais, o que igualou<br />
eupátridas e demiurgos no acesso às instituições<br />
políticas. É também dele proposição da criação da Bulé<br />
(conselho composto de 400 membros, cuja função seria<br />
elaborar e propor as leis à assembleia dos cidadãos), a<br />
plena atuação da Eclésia (assembleia dos cidadãos<br />
atenienses maiores de 21 anos e com renda que votavam<br />
as medidas apresentadas pela Bulé) e o Helieu (espécie<br />
de tribunal de justiça aberto a todos os cidadãos).<br />
Apesar da importância das reformas de Sólon, elas não<br />
eram de agrado a todos; os eupátridas se viam<br />
prejudicados com a sua perda de privilégios, enquanto os<br />
setores populares esperavam por mudanças mais<br />
profundas. A aristocracia, por ainda deter o comando das<br />
magistraturas criou serias dificuldades e restrições a<br />
organização e atuação das novas assembleias e, as<br />
severas críticas apresentadas na Agora passaram a ganhar<br />
apoio e aclamação (apoio oral das massas), levando o<br />
governo aristocrático a nomear tais oradores como<br />
governantes de Atenas, dando origem às tiranias de<br />
Atenas. Na Grécia Antiga, as tiranias tinham sentido<br />
diferente do uso atual do termo. Um tirano era alguém<br />
que governava em situações excepcionais, com poder<br />
ilimitado, porem enquanto representassem a vontade<br />
popular. Os mais importantes no fim do período arcaico<br />
em Atenas foram Psístrato e seus filhos, Hiparco e<br />
Hipias.<br />
A queda da tirania abriu caminho para que os dois<br />
partidos tradicionais da cidade, o dos ricos, chefiado por<br />
Iságoras, e o dos populares, liderado por Clístenes,<br />
passassem a disputar o controle de Atenas. Iságoras,<br />
apoiado pelo rei espartano Cleômenes, conseguiu<br />
desterrar Clístenes.<br />
Mas o povo se sublevou e conseguiu trazer o líder de<br />
volta, dando-lhe plenos poderes para elaborar uma nova<br />
constituição. A tirania havia perseguido os partidários da<br />
aristocracia, enfraquecendo a nobreza urbana, criando-se<br />
assim as condições para a implantação de um regime<br />
novo. A monarquia, por sua vez, já fora abolida há<br />
16
muitos séculos e o título de rei (basileus) era mantido<br />
apenas por tradição. O regime oligárquico, por seu lado,<br />
também sucumbira à tirania de Psístrato. Abriam-se as<br />
portas, depois da expulsão do descendente do tirano, para<br />
uma experiência inédita: o regime governado<br />
diretamente pelos cidadãos, a democracia.<br />
Clístenes foi um nobre ateniense que, além de liderar<br />
uma revolta popular, reformou a constituição da antiga<br />
Atenas em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o<br />
pai da democracia, por tê-la implantado, porém convém<br />
lembrar que a instituição do novo modelo político deveuse<br />
ao resgate e ampliação das medidas iniciadas pelo<br />
reformador Sólon.<br />
Uma das primeiras medidas de Clístenes Foi a redivisão<br />
de Atenas em dez demos, em lugar das quatro anteriores.<br />
A divisão era censitária e dessa forma, foi neutralizado o<br />
domínio exclusivo do poder pelos eupátridas.<br />
Reorganizou e ampliou a função dos órgãos públicos<br />
criados por Sólon. A Bulé passou a contar com<br />
quinhentos membros (50 escolhidos em cada demo), os<br />
arcontes passaram de nove para dez (1 escolhido por<br />
cada demo), a Eclésia, assembleia dos cidadãos, teve<br />
seus poderes ampliados, pois, além de votarem as<br />
medidas elaboradas e proposta pela Bulé, passavam a<br />
fiscalizar a atuação das demais instituições políticas de<br />
Atenas. A Eclésia tinha também o poder de votar o<br />
ostracismo (perda temporária de propriedades e direitos<br />
políticos por dez anos) contra todos aqueles que de<br />
alguma maneira colocassem em perigo as instituições<br />
democráticas. Após dez anos o exilado pelo ostracismo<br />
poderia ter restituídos o direito político e os bens<br />
perdidos.<br />
É importante lembrar que a democracia instituída pelas<br />
reformas de Clístenes era um sistema político do qual só<br />
participavam os atenienses adultos (a partir de 21 anos),<br />
filhos de pai e mãe atenienses. Estavam excluídos os<br />
escravos, metecos (estrangeiros) e as mulheres, ou seja, a<br />
maior parte da população. Daí a afirmação “Democracia<br />
escravista”, pois, o cidadão tinha o ócio, tempo<br />
disponível, graças à mão-de-obra escrava.<br />
17
CIVILIZAÇÃO GREGA – PARTE II*<br />
PERÍODO CLÁSSICO (do século VI ao IV a.C.)<br />
1. A DEMOCRACIA ATENIENSE<br />
Durante o período clássico, no conjunto das cidades<br />
gregas, certamente Atenas foi aquela que obteve maior<br />
destaque. Projetou-se economicamente, aprimorou sua<br />
capacidade militar, converteu-se no principal centro<br />
cultural e político do mundo grego.<br />
Entre os aspectos que mais contribuíram para o prestígio<br />
da cidade, destaca-se a sua original forma de governo, a<br />
democracia. Resultado de uma série de alterações na<br />
ordem política, esse sistema garantiu aos cidadãos,<br />
especialmente os direitos de isonomia, isocracia e<br />
isegoria.<br />
• a igualdade perante a lei ou ISONOMIA. A nenhum<br />
cidadão são concebidos privilégios baseados na<br />
riqueza ou no prestígio da sua família.<br />
• a igualdade de acesso aos cargos políticos ou<br />
ISOCRACIA. Todo o cidadão ateniense tinha o<br />
18<br />
direito e o dever de participar no governo da polis.<br />
Todos tinham igual direito de voto.<br />
O igual direito de todos ao uso da palavra ou<br />
ISEGORIA. Nas assembleias, nos tribunais ou no<br />
exército das magistraturas, todos podiam defender<br />
livremente as suas opiniões.<br />
No funcionamento da democracia grega não haviam<br />
representações por meio de partidos políticos, como<br />
conhecemos atualmente, nem havia um corpo<br />
burocrático de juízes ou altos funcionários do Estado<br />
institucionalizados. Cada pessoa com as condições da<br />
cidadania poderia atuar nos cargos que garantiam o pleno<br />
funcionamento do trato dos assuntos relativos à pólis.<br />
Tratava-se, portanto, de uma democracia direta, onde<br />
todos os cidadãos votavam diretamente, na Ágora, as<br />
proposições feitas pela Bulé; todos aqueles que se
desinteressavam pelos assuntos públicos eram malvistos<br />
pela sociedade ateniense.<br />
No processo de decisões sobre a pólis, era marcante a<br />
importância da oratória, defendida pelos filósofos<br />
sofistas, como o instrumento de convencimento essencial<br />
daqueles que exerciam a ação política. A oratória era o<br />
dom da palavra que permitia convencer interesses e todo<br />
o cidadão devia estar preparado para apresentar<br />
propostas e discuti-las na Eclésia. Os oradores brilhantes<br />
desfrutavam de um elevado prestigio, eram os<br />
demagogos.<br />
Para os filósofos Sofistas o discurso era fundamental, ou<br />
seja, o poder da fala e a capacidade para convencer, não<br />
importando a veracidade do que era dito. A verdade dos<br />
discursos não era, necessariamente, o mais importante,<br />
pois o bom discurso, o discurso verdadeiro era aquele<br />
que conseguia convencer o maior número, ou seja, a<br />
capacidade de convencimento das palavras. O mais<br />
importante seria convencer ao público que o adversário<br />
não tinha razão. Ou convencer o próprio adversário.<br />
Assim sendo, esses filósofos eram defensores da forma<br />
de governo democrática.<br />
O modelo democrático ateniense, no entanto, conhecia<br />
seus limites; não era extensivo ao conjunto de toda a<br />
população, estando restrito ainda a privilégios tais,<br />
embora dissociados exclusivamente das condições<br />
aristocráticas de nascimento e de riqueza. No Período<br />
Clássico, a região da Ática teria, uma população de cerca<br />
de 400.000 habitantes. Destes, apenas 40.000 eram tidos<br />
como cidadãos atenienses. Juntamente com as mulheres<br />
e filhos, os atenienses deveriam formar um conjunto de<br />
120 000 pessoas. Mas as mulheres não participavam<br />
politicamente, ou seja, não eram cidadãs. Os metecos<br />
atingiam de 70.000 a 90.000 habitantes. Os metecos por<br />
vezes opinavam na política, mas não eram cidadãos e,<br />
consequentemente não podiam votar. Por fim, em maior<br />
quantidade, 200.000 escravos, despojados de todos os<br />
direitos e até da sua condição de ser humano.<br />
As mulheres dedicavam-se aos trabalhos domésticos<br />
e a educação das crianças. Não lhes era reconhecido o<br />
direito de autonomia ou de administrar os seus bens.<br />
Quando viúvas, ficavam sob a autoridade do filho mais<br />
velho, ou, se não tivessem filhos, do parente mais<br />
próximo. Nas casas abastadas, as mulheres habitavam<br />
numa zona específica, o gineceu (divisão, existente nas<br />
casas da antiga Grécia, reservada às mulheres. Já o<br />
androceu era, na Grécia antiga, onde os guerreiros da<br />
cidade ficavam instalados ou a parte da casa destinada<br />
aos homens), onde acompanhadas pelas escravas<br />
passavam a maior parte da vida. Com exceção das<br />
grandes festas religiosas, em que participavam só muito<br />
raramente, saíam a rua. Não iam sequer ao mercado. As<br />
compras eram tarefa e privilégio masculino. A sua maior<br />
virtude era passarem despercebidas.<br />
Diferenciando-se dos aspectos essenciais da educação<br />
espartana, a educação ateniense era voltada para o<br />
exercício público do poder. Em Atenas, acreditavam na<br />
necessidade de converter os jovens em homens cultos,<br />
corajosos, sensíveis ao belo e empenhados na vida<br />
política da cidade. Até os 7 anos, as crianças eram<br />
educadas pela mãe no gineceu. A partir daí eram<br />
orientadas para os papéis que, mais tarde, deveriam<br />
assumir na sociedade: as moças ficavam em casa, onde<br />
aprendiam todas as tarefas que competiam à mulher. Os<br />
rapazes iam à escola e preparavam-se para serem<br />
cidadãos. O Estado recomendava que aprendessem a<br />
nadar, a ler, a escrever e que praticassem exercícios<br />
físicos. O currículo baseava-se na aprendizagem da<br />
leitura, da escrita e da aritmética.<br />
A educação intelectual, entretanto, não se dissociava da<br />
preparação física, que constituía seu complemento<br />
essencial. Exercitar o corpo era considerado tão<br />
necessário quanto exercitar a mente. O cidadão tinha um<br />
serviço militar a cumprir, e, por isso deveria estar pronto<br />
para defender a sua polis sempre que necessário. A<br />
preparação física continuava, a partir dos 15 anos, em<br />
escolas próprias, os ginásios. Nos ginásios ensinavam-se<br />
também matemática e filosofia.<br />
No decurso do século V. a.C. correspondendo às<br />
necessidades oratórias abertas pela democracia, surgiram<br />
os sofistas, professores itinerantes que andavam de<br />
cidade em cidade, fazendo conferências e dando aulas<br />
remuneradas.<br />
Embora Clístenes seja considerado o pai da democracia<br />
ateniense, no período clássico a figura mais importante<br />
na sustentação desse modelo político foi o estratego<br />
Péricles (495-429 a.C.) que governou Atenas entre 461 e<br />
429 a.C. Foi a maior personalidade política do século V<br />
a.C., caracterizando a Era de Ouro de Atenas, e sua<br />
presença foi tão marcante que o período compreendido<br />
entre o final das Guerras Médicas (448 a.C.) e sua morte<br />
(429 a.C.) é chamado o Século de Péricles.<br />
Nascido numa família da nobreza ateniense, descendeu<br />
do líder reformista Clístenes, responsável pela introdução<br />
19
20<br />
da maioria das instituições democráticas, durante a<br />
revolução de 510 a.C. Eleito e reeleito várias vezes como<br />
estratego-chefe (estrategos-arconte), acumulou a chefia<br />
civil e a liderança militar da cidade, fazendo com que<br />
Atenas alcançasse a maior projeção política, econômica e<br />
cultural de toda a sua história.<br />
Embora fosse aristocrata de nascença, deu maior<br />
amplitude à democracia ateniense, permitindo o ingresso<br />
e a participação política de parcelas da população antes<br />
excluídas. Atenienses de baixa renda, envolvidos no<br />
trabalho constante para garantir a sobrevivência, não<br />
podiam dedicar-se à política. Entre as reformas políticas<br />
estão a instituição do Misthoy, soldo ou remuneração<br />
para os integrantes do exército e também para as funções<br />
e cargos públicos exercidos por cidadãos de baixa renda.<br />
Foi o responsável por muitos dos projetos de construção<br />
que incluem as estruturas sobreviventes da acrópole,<br />
tendo encarregado o escultor ateniense Fídias como o<br />
supervisor do programa de embelezamento da cidade.<br />
Assim, entre as grandes construções realizadas<br />
destacaram-se o PARTENON (templo a deusa Atena), O<br />
ERECTÉION (templo consagrado a Atena, Poseidon e<br />
Erecteu, mítico rei ateniense.) e a reconstrução das<br />
MURALHAS DE ATENAS.<br />
O próprio Péricles persuadiu a cidade a construir<br />
muralhas de mais de 4 milhas até ao porto de Atenas, o<br />
Pireu. Reconstruiu Atenas, que havia sido destruída nas<br />
Guerras Médicas confiscando os recursos da Liga de<br />
Delos. Sua realização menos notável talvez tenha sido a<br />
exploração de outras cidades como forma de subsidiar o<br />
florescimento da democracia ateniense, tal prática<br />
caracterizou o “imperialismo” ou hegemonia<br />
ateniense.<br />
2. Conflitos externos no Período Clássico - AS<br />
GUERRAS MÉDICAS OU GRECO-PERSICAS<br />
(491-449 a.C.)<br />
O florescimento do mundo grego no período clássico<br />
chamou à atenção de povos expansionistas estrangeiros,<br />
o que acirrou as rivalidades e levou à eclosão de uma<br />
série de conflitos externos. Sem dúvida, o mais i<br />
importante e duradouro foi aquele que opôs as<br />
civilizações grega e persa, a que chamamos de Guerras<br />
Médicas, Guerras Pérsicas ou Guerras Greco-Persas.<br />
A principal causa dessas guerras foi a luta pela<br />
independência das cidades jônicas, colônias gregas na<br />
Anatólia (região da atual Turquia), que os persas em sua<br />
expansão territorial passaram a dominar e que se<br />
intensificou a partir do governo do imperador persa<br />
Dario I, comprometendo o comércio grego na região. A<br />
vitória da Grécia garantiu-lhe o controle comercial da<br />
região, imortalizou seus heróis e impôs ao mundo o<br />
modelo ocidental de se fazer a guerra.<br />
A maior parte dos historiadores divide os conflitos em<br />
duas fases: a 1 ª Guerra Médica, em 490 a.C. e a 2 ª<br />
Guerra Médica, entre 480 e 479 a.C. Mas, como as<br />
rivalidades entre gregos e persas só terminaram em 449<br />
a.C., com a Paz de Cálias ou Paz de Címon, alguns<br />
estudiosos falam em uma 3 ª etapa das Guerras Médicas.<br />
Esta região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas<br />
durante a expansão persa em direção ao Ocidente, este<br />
poderoso império conquistou estas diversas colônias<br />
gregas da Ásia Menor, entre elas Mileto. As colônias<br />
lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas,<br />
tentaram sem sucesso libertar-se do domínio persa,<br />
promovendo uma revolta. Estas revoltas levaram o<br />
imperador persa Dario I a lançar seu poderoso exército<br />
sobre a Grécia continental, dando início às Guerras<br />
Médicas. O que estava em jogo era o controle marítimo<br />
comercial na região. Após várias derrotas para os persas,<br />
os gregos conseguiram uma primeira e importante reação<br />
na Batalha de Maratona.<br />
Na batalha de Maratona, ocorrida durante a Primeira<br />
Guerra Médica (490 a.C.), os persas desembarcaram suas<br />
tropas próximo a Atenas, que chegou a solicitar ajuda de<br />
Esparta - mas argumentaram que, por razões de festejos<br />
religiosos, não poderiam fazê-lo antes de seis dias –<br />
levando o comandante Milcíades a se lançar ao ataque<br />
contra os persas com os contingentes que dispunha,<br />
provavelmente, entre 10 e 15 mil atenienses. Apesar da<br />
supremacia numérica dos persas, que tinham entre vinte<br />
e cem mil homens os gregos cercaram-nos, sendo<br />
respondidos com uma chuva de flechas. Mesmo com as<br />
adversidades, os gregos avançaram contra o inimigo e<br />
adotaram uma estratégia que impediu a ação da cavalaria<br />
persa. As tropas persas, derrotadas, regressaram à Ásia,<br />
mas isto não significava que o conflito estava<br />
solucionado, pois logo ocorreria uma nova guerra. O<br />
mensageiro Feidípides, segundo conta a lenda, foi<br />
mandado por Milcíades para mais uma missão, correr os<br />
42 quilômetros que separavam a planície de Maratona da<br />
polis de Atenas para anunciar a vitória grega. Após<br />
anunciá-la com a frase "Alegrai-vos, atenienses, nós<br />
vencemos!", teria caído morto devido ao esforço.<br />
A guerra teria continuidade com os persas liderados por<br />
Xerxes (486/465 a.C.), filho de Dario, que comandou<br />
dez anos depois (480 a.C.) uma invasão à Grécia em
grande escala. Algumas cidades gregas, lideradas por<br />
Atenas e Esparta, formaram uma coalização para<br />
enfrentar o invasor. Outras, como Tebas, submeteram-se<br />
aos persas. Inicialmente, os persas venceram os gregos<br />
na batalha das Termópilas e em Artemision; a seguir,<br />
invadiram e saquearam Atenas. A frota ateniense, porém,<br />
comandada por Temístocles (524 a.C./459 a.C.),<br />
conseguiu destruir a frota persa na batalha de Salamina e<br />
mudou o rumo da guerra. Meses depois, comandada pelo<br />
espartano Pausânias (510/467 a.C.), o exército da<br />
coalização grega venceu o exército persa na batalha de<br />
Platéia e pôs fim à invasão. Os gregos conseguiram,<br />
certamente, impedir a presença dos persas em seu<br />
território. Eles continuaram, porém, influindo no<br />
relacionamento entre as cidades gregas durante todo o<br />
Período Clássico.<br />
Na Batalha das Termópilas - um estreito desfiladeiro<br />
de 15 metros de largura - (480 a.C.) os persas<br />
encontraram uma das mais preparadas forças militares<br />
gregas: as falanges de Esparta. Os espartanos, que se<br />
lamentavam por não terem participado da grandiosa<br />
vitória em Maratona, se comprometeram a defender o<br />
restante das cidades gregas e marcharam ao encontro do<br />
exército persa. Um dos dois reis espartanos, Leônidas,<br />
com sua guarda pessoal composta por 300 homens (os<br />
300 das Termópilas) e com o apoio de mais de 6 mil<br />
gregos, aguardava os persas numa situação geográfica<br />
que lhes dava certa vantagem: no meio do desfiladeiro de<br />
Termópilas o pequeno número de gregos poderia<br />
suportar o imenso exército persa.<br />
Xerxes esperou quatro dias pela chegada da cavalaria e<br />
da infantaria pesada da Pérsia. Nesse meio tempo enviou<br />
um mensageiro para convencer o general Leônidas a<br />
entregar suas armas. A resposta do espartano foi:<br />
"Venham buscá-las".<br />
No quinto ou sexto dia, Xerxes ordenou o ataque.<br />
Acredita-se que 10 mil soldados da Pérsia morreram no<br />
primeiro dia de combate, sem causar danos substanciais<br />
aos gregos. Até que um traidor grego, Efialtes, ensinou<br />
aos persas um caminho através das montanhas que<br />
levaria até o outro lado do desfiladeiro. Informado sobre<br />
essa manobra, Leônidas ordenou que a maior parte dos<br />
gregos voltasse para um lugar seguro, enquanto ele, seus<br />
300 espartanos e mais um grupo selecionado de aliados,<br />
totalizando em torno de 2 mil homens, ficaram para<br />
enfrentar o exército inimigo. Leônidas teria dito antes de<br />
iniciar a batalha final: "Almoçamos aqui, jantaremos no<br />
Hades" (Hades é denominação da divindade e da terra<br />
dos mortos na cultura grega).<br />
A batalha de Termópilas (agosto de 480 a.C.) foi a única<br />
derrota grega durante as Guerras Médicas, que<br />
transformou seus bravos soldados em lenda para toda a<br />
história. Os persas exterminaram até o último grego e<br />
decapitaram Leônidas. Tal resistência dos espartanos<br />
resultou em inúmeros benefícios para a Grécia:<br />
Temístocles, arconte ateniense, mobilizou rapidamente a<br />
marinha grega e ordenou a evacuação de Atenas. Dessa<br />
maneira, apesar da derrota, os gregos intensificaram sua<br />
reação contra os persas.<br />
Batalha de Salamina (480 a.C.): Poucos dias após a<br />
derrota em Termópilas, um vendaval afundou um<br />
número considerável de embarcações persas, o que<br />
possibilitou aos gregos a vitória sobre a marinha inimiga<br />
na batalha de Artemisium (agosto de 480 a.C.). Xerxes<br />
avançou pela Grécia, tomando e incendiando Atenas.<br />
Temístocles estava decidido a tentar uma estratégia para<br />
reconquistar sua pólis: atrair a marinha persa para um<br />
estreito canal, de 2 km de largura, entre a ilha de<br />
Salamina e o continente e, assim poder vencer a armada<br />
inimiga. Os espartanos resistiram em aceitar tal plano,<br />
pois queriam uma fortificação no istmo de Corinto, que<br />
defenderia o Peloponeso (sul da Grécia). Por fim Os<br />
espartanos foram convencidos e as forças de Xerxes<br />
foram atraídas para Salamina.<br />
Estima-se que 360 embarcações gregas enfrentaram mais<br />
de 600 embarcações persas na batalha de Salamina. A<br />
armada persa não tinha espaço para se locomover,<br />
enquanto os gregos manobravam rapidamente suas<br />
trirremes (trata-se de uma embarcação estreita e longa.<br />
Mede cerca de 40 metros de comprimento por 5 metros<br />
de largura. Possui um mastro e uma vela principais,<br />
baixados antes do combate e às vezes substituídos por<br />
um mastro e uma vela menores. Levava uma tripulação<br />
de 200 homens. Cerca de170 remavam, enquanto os<br />
demais ficavam livres para atacar e revezar com os<br />
remadores) e atacavam os persas com seus aríetes (forte<br />
tronco de madeira resistente, com uma testa de ferro ou<br />
de bronze).<br />
Xerxes acreditava que várias embarcações gregas<br />
bateriam em retirada e ordenou que a experiente armada<br />
egípcia esperasse ao longe, o que piorou em muito sua<br />
situação. Depois de oito horas de combate, o mar estava<br />
coberto por destroços de navios e corpos lacerados.<br />
Calcula-se que 40 mil homens, 1/3 dos marinheiros<br />
persas, morreram. Xerxes, que assistiu sua derrota<br />
sentado num trono próximo a água, poucos dias depois<br />
voltou a Pérsia, deixando Mardônio responsável pela<br />
retirada de suas tropas para a Tessália, para ali se<br />
21
eorganizar e tentar nova investida contra os gregos no<br />
ano seguinte. Mardônio se refugiou na Tessália e em<br />
poucos meses marchou novamente em direção ao sul,<br />
acampando em Platéia, na Boécia, com seus 250 mil<br />
homens. Do outro lado, sob a liderança de Pausânias,<br />
general espartano, e Aristides, general ateniense, 70 mil<br />
gregos montaram acampamento próximo aos persas. E<br />
por vários dias esperaram o combate.<br />
Batalha de Platéia (479 a.C.): Dessa vez o território era<br />
aberto e os gregos não poderiam contar com proteções<br />
naturais como tinham feito nas outras batalhas. Mas os<br />
persas também estavam em desvantagem, pois, seus<br />
melhores homens tinham morrido em Salamina e não<br />
poderiam contar com nenhum tipo auxílio, por mar ou<br />
por terra. A batalha de Platéia (julho de 479 a.C.)<br />
iniciou-se quando Mardônio ordenou o ataque, pois<br />
acreditou que uma das falanges gregas estava se<br />
retirando, quando na realidade estava somente fazendo<br />
uma mudança de posição. Pausânias, militar dos mais<br />
brilhantes, comandando o maior contingente militar que<br />
a Grécia reuniu até aquele momento, aniquilou os<br />
inimigos. Os espartanos atacaram impiedosamente os<br />
persas, 50 mil homens do exército persa foram mortos no<br />
local, inclusive o próprio Mardônio, enquanto o restante<br />
bateu em retirada, morrendo outros milhares durante a<br />
fuga.<br />
Logo em seguida navios gregos partiram em direção a<br />
Ásia Menor. Em agosto de 479 a.C., aconteceu a batalha<br />
de Mícale, na qual os gregos destruíram a armada persa e<br />
libertaram as cidades jônicas, pondo fim a ameaça do<br />
Império Persa sobre os gregos. Xerxes desistiu de seus<br />
planos imperialistas sobre o Ocidente. O pequeno<br />
contingente militar grego venceu o imenso exército<br />
formado por vários povos submetidos aos persas. As<br />
Guerras Médicas entraram para a história militar<br />
exatamente por que a vitória grega parecia impossível. A<br />
determinação política e militar deu ao exército grego sua<br />
unidade e seu motivo para o combate. Mas foi a forma<br />
extremamente violenta de os gregos travarem seus<br />
combates que lhes rendeu a vitória final.<br />
Apesar da extrema rivalidade entre as pólis e das muitas<br />
discórdias sobre onde e quando se travariam os<br />
combates, as falanges gregas, quando decididas,<br />
lutavam sob uma voz de comando que unificava todos<br />
os homens numa ação coletiva. No decorrer do conflito<br />
desenvolveram um objetivo muito claro: a manutenção<br />
de sua liberdade, já que durante as Guerras Médicas<br />
eram os persas os invasores do solo helênico.<br />
22<br />
Os soldados gregos contavam com o seu general na<br />
frente de batalha, o que os estimulava a continuar<br />
lutando, enquanto o imperador persa ficava de fora,<br />
observando e punindo os que não correspondiam a suas<br />
expectativas. Era uma vergonha pra um grego fugir do<br />
combate, pois isso significava que ele estaria desistindo<br />
do seu bem mais precioso: a posse de suas terras, sua<br />
independência e liberdade política. Os espartanos,<br />
conhecidos por sua cultura militarista, quando saiam em<br />
suas campanhas militares, ouviam de suas mães e<br />
esposas: "Volte com seu escudo, ou sobre ele", pois os<br />
cadáveres dos gregos tombados em combate eram<br />
devolvidos as suas famílias em cima de seus escudos.<br />
3. A HEGEMONIA ATENIENSE<br />
Uma das principais consequências da guerra entre<br />
helenos e persas foi a hegemonia de Atenas sobre as<br />
demais cidades gregas. Essa preponderância política,<br />
econômica e cultural, aparece, sobretudo, no período em<br />
que Atenas está sob o governo de Péricles. Dois<br />
acontecimentos caracterizam a <strong>História</strong> de Atenas<br />
imediatamente após a guerra com os persas: a<br />
reconstrução da cidade e a criação de seu império<br />
marítimo. A fortificação do porto do Pireu era um sinal<br />
dos novos tempos. O instrumento da expansão marítima<br />
de Atenas foi a Liga ou Confederação de Delos. Esta<br />
surgiu quando as cidades insulares de Quios, Samos e<br />
Lesbos ofereceram aos atenienses o comando de suas<br />
esquadras. Coube a Aristides a organização da liga, em<br />
476 a.C., na qual logo ingressaram numerosas outras<br />
cidades helênicas (principalmente, situadas nas ilhas do<br />
mar Egeu) que se tornaram reféns da proteção de Atenas.<br />
Esparta e suas aliadas do Peloponeso no primeiro<br />
momento entraram na liga, mas depois consideraram que
a ameaça persa havia passado e abandonaram a liga. As<br />
grandes cidades forneceram tropas e navios, enquanto as<br />
menores pagaram uma contribuição provisória, para os<br />
tempos de guerra (phoros = tributos), ao tesouro de<br />
Delos. Depois da vitória contra os persas, Atenas forçou<br />
as cidades-Estado aliadas a continuarem na liga, e<br />
transformou a contribuição provisória em permanente,<br />
além de passar a dominar as principais rotas comerciais<br />
do mar egeu (rotas do trigo, azeite e vinho, que era a<br />
base da alimentação dos gregos).<br />
Como sede da Confederação foi escolhida a pequena ilha<br />
de Delos onde existia um importante santuário de Apolo.<br />
O tesouro da liga, produto da contribuição dos aliados,<br />
seria também guardado em Delos. Na realidade o Pireu<br />
era o verdadeiro centro da Confederação e essa liderança<br />
ateniense foi, durante algum tempo, aceita de boa<br />
vontade pelos aliados.<br />
A liga de Delos obteve uma retumbante vitória sobre a<br />
frota persa na desembocadura do rio Eurimedonte em<br />
468 a.C. A partir de então começa um período da<br />
<strong>História</strong> de Atenas conhecido como: "Imperialismo<br />
Armado" (462-446). Durante esse período Atenas se<br />
lança em guerras de conquista transformando a<br />
Confederação de Delos em um instrumento belicoso de<br />
suas aspirações de domínio político e econômico.<br />
:As pretensões de Atenas levaram à intensificação das<br />
rivalidades com Esparta e suas aliadas. Atenas tentou<br />
ampliar seu domínio fora da Grécia, atacando o domínio<br />
persa no Egito. A derrota ateniense no Delta do Nilo<br />
(456-454) provocou uma grave crise na liga de Delos.<br />
Atenas endurece ainda mais seu domínio e transfere o<br />
tesouro da liga para a Acrópole de Atenas. Em 449,<br />
Calias, governante ateniense. Foi encarregado de firmar<br />
um tratado de paz com o imperador persa Ataxerxes, a<br />
Paz de Cálias, que favoreceu o comércio entre Atenas e o<br />
Oriente. Até navios fenícios traziam mercadorias ao<br />
Pireu onde passam a falar os idiomas: persa e aramaico.<br />
Na época clássica, em circunstâncias particulares, a<br />
Acrópole foi o ponto central de discussões de ordem<br />
financeira. O tesouro da Liga de Delos serviu para<br />
Péricles financiar os trabalhos de reconstrução e de<br />
embelezamento da Acrópole entre 450 e 430 a.C.,<br />
aproximadamente. As cidades sob o domínio ateniense<br />
tinham que pagar tributos cada vez mais elevados,<br />
gerando descontentamentos internos na Liga de Delos e a<br />
oposição das demais polis gregas lideradas por Esparta.<br />
4. Conflitos internos no Período Clássico - A<br />
GUERRA DO PELOPONESO (431-404 a.C.)<br />
A Guerra do Peloponeso foi um conflito armado entre<br />
Atenas (centro político e civilizacional por excelência do<br />
mundo do século V a.C.) e Esparta (cidade de tradição<br />
militarista e costumes austeros), de 431 a 404 a.C. A<br />
história dessas guerras foi detalhadamente registrada<br />
pelos historiadores gregos, da Antiguidade, Tucídides e<br />
Xenofonte. De acordo com eles, a razão fundamental da<br />
guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor<br />
que o mesmo despertava entre os espartanos e seus<br />
aliados. A cidade de Corinto foi especialmente atuante,<br />
pressionando Esparta a fim de que esta declarasse guerra<br />
contra Atenas e a sua Liga de Delos.<br />
Diante da postura hegemônica ateniense, Esparta e outras<br />
cidades gregas decidiram formar outra confederação<br />
militar, conhecida como a Liga do Peloponeso ou Liga<br />
Lacedemônica. Essa divisão criou um contexto de<br />
tensões que logo viria a desembocar na realização de um<br />
conflito maior. A gota d’água se deu quando a colônia da<br />
Córcira, integrante da Liga de Delos, resolveu se voltar<br />
contra a cidade de Corinto, membro da Liga do<br />
Peloponeso.<br />
As cidades de Esparta, Corinto, Tebas e Mégara aliaramse<br />
contra Atenas e sua Liga. Tebas, aliada de Esparta na<br />
Grécia Central, atacou Platéia, antiga aliada de Atenas,<br />
dando início à Guerra do Peloponeso, que durou 27 anos<br />
e envolveu quase todas as cidades-estados gregas,<br />
provocando o enfraquecimento da Grécia.<br />
Em sua primeira etapa, a guerra estendeu-se durante dez<br />
anos e foi marcada por visível equilíbrio entre as forças<br />
lideradas por Atenas e Esparta. No ano de 421 a.C., a<br />
assinatura da Paz de Nícias estipulava uma trégua de<br />
cinquenta anos entre os dois lados do conflito. Contudo,<br />
o acordo só foi cumprido em seus oito primeiros anos,<br />
quando o líder ateniense, Alcebíades, encorajou a<br />
realização de novas investidas militares que tomariam<br />
Siracusa, região controlada pela Liga do Peloponeso.<br />
Nesse retorno, os atenienses foram humilhados com uma<br />
terrível derrota, a qual resultou na prisão e escravização<br />
de 20 mil soldados atenienses. Nos anos seguintes, os<br />
espartanos venceram a grande parte dos conflitos que<br />
deram continuidade à Guerra do Peloponeso. Em 404<br />
a.C., na região de Egos-Pótamos, o general espartano,<br />
Lisandro, impôs a derrota definitiva aos atenienses. A<br />
partir de então, a hegemonia dos espartanos viria a<br />
imperar sobre grande parte das cidades-Estado gregas.<br />
Após a derrota na batalha de Egos-Pótamos, Atenas foi<br />
obrigada a entregar seus navios, demolir suas<br />
fortificações e renunciar ao seu domínio territorial.<br />
23
Inicia-se o período de tentativa de hegemonia espartana<br />
entre 404 e 393 a.C. A hegemonia espartana não se<br />
consolida em virtude da oposição liderada por Tebas.<br />
A cidade de Tebas, localizada no estreito de Corinto<br />
organizou uma oposição armada contra Esparta sob a<br />
liderança dos generais Epaminondas e Pelópidas e foram<br />
vitoriosos na batalha de Leutras, em 371 a.C. A partir de<br />
então é Tebas quem busca estabelecer uma hegemonia<br />
sobre toda a Grécia, gerando novos conflitos.<br />
As disputas entre as principais cidades-Estado<br />
impuseram a consolidação de um grande desgaste em<br />
todo o mundo grego. Naturalmente, o envolvimento em<br />
tantas batalhas acabou promovendo a ruína econômica de<br />
várias cidades outrora consideradas poderosas.<br />
Aproveitando dessa situação, o rei macedônico, Filipe II,<br />
promoveu a organização de um grande exército que<br />
conquistou os territórios gregos ao longo do século IV<br />
a.C.<br />
PERÍODO HELENÍSTICO<br />
(do século IV ao II a.C.)<br />
Foi o período marcado pelo domínio macedônico e pelo<br />
contato entre a cultura helênica (grega) e as culturas<br />
orientais.<br />
O Período helenístico normalmente é entendido como<br />
um momento de transição entre o esplendor da cultura<br />
grega e o desenvolvimento da cultura romana. Tal<br />
concepção está associada a uma visão eurocêntrica de<br />
cultura e portanto torna secundários os elementos de<br />
origem oriental, persa e egípcia, apesar de ter esses<br />
elementos como formadores da cultura helenística. O fim<br />
do período clássico e o início do período helenístico<br />
As constantes guerras que envolveram as cidades gregas<br />
foram responsáveis por grande mortalidade, gastos e<br />
destruição, enfraquecendo o "mundo grego" e<br />
consequentemente, facilitando as invasões estrangeiras.<br />
A conquista do território grego pelos macedônios<br />
combinou a decadência grega e a ascensão do Reino de<br />
Filipe II. Dois anos após a vitória contra os gregos, na<br />
Batalha de Queronéia em 338 a.C., Filipe II foi<br />
assassinado e seu filho, Alexandre III (Alexandre “o<br />
grande”), o sucedeu.<br />
Em 336 a.C., Alexandre “o Grande”, tornou-se rei da<br />
Macedônia e dois anos depois senhor de toda a Grécia.<br />
Durante o seu curto reinado de treze anos (entre 336 e<br />
323 a.C.), Alexandre realizou a conquista de territórios<br />
mais rápida e espetacular da Antiguidade.<br />
Após conquistar a Grécia Alexandre empreendeu<br />
campanhas objetivando a conquista do Império Persa<br />
Aquemênida de Dario III, que na época governava<br />
praticamente todo o Médio Oriente. Em apenas quatro<br />
anos e três batalhas (Granico, Issus e Gaugamela) para<br />
derrotou o Império Persa. Os três anos que se seguiram,<br />
até 327 a.C., foram dedicados à conquista das satrapias<br />
(províncias persas) da Ásia Central. Por volta de 325 a.C.<br />
Alexandre já se achava no Vale do rio Indo, na Índia. Ao<br />
tudo indica, o Alexandre pretendia ir até o território do<br />
rio Ganges, mas seus generais recusaram-se a avançar<br />
mais, e Alexandre foi forçado a ordenar o regresso.<br />
Alexandre buscou associar as antigas classes do Império<br />
Aquemênida à estrutura de governo do seu império.<br />
Pretendia assim criar um grande estado multiétnico, onde<br />
a herança grega e macedônia coexistiria com a herança<br />
persa e asiática. A morte prematura do rei, aos trinta e<br />
três anos, levou à fragmentação do seu vasto Império e a<br />
divisão entre seus principais generais: Cassandro,<br />
Ptolomeu, Lisímaco, Selêuco e Antígono. Os reinos<br />
helenísticos acabaram por ser progressivamente<br />
dominado pelo Império Romano, a partir do século II<br />
a.C.<br />
24
CULTURA NA GRÉCIA ANTIGA*<br />
Os gregos tinham conflitos e diferenças entre si, mas<br />
muitos elementos culturais em comum. Falavam a<br />
mesma língua (apesar dos diferentes dialetos e sotaques)<br />
e tinham religião comum, que se manifestava na crença<br />
nos mesmos deuses. Em função disso, reconheciam-se<br />
como helenos (gregos) e chamavam de bárbaros os<br />
estrangeiros que não falavam sua língua e não tinham<br />
seus costumes, ou seja, os povos que não pertenciam ao<br />
mundo grego (Hélade).<br />
RELIGIÃO<br />
OS TITÃS: São 12 seres sobrenaturais que, segundo a<br />
mitologia, nasceram no início dos tempos. Eles foram os<br />
ancestrais dos futuros deuses olímpicos (como Zeus,<br />
Afrodite, Apolo...) e também dos próprios mortais. Os<br />
titãs nasceram da união entre Urano, que representava o<br />
Céu, e Gaia, que seria a Terra. "Os titãs eram seres<br />
híbridos, nenhum era humano por completo e todos<br />
tinham o poder de se transformar em animais", afirma a<br />
historiadora Renata Cardoso Beleboni, da Universidade<br />
Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em<br />
mitologia. O poeta grego Hesíodo, que viveu no século<br />
VII a.C., foi um dos principais autores da Antiguidade a<br />
narrar o mito do surgimento dos titãs, numa obra clássica<br />
chamada TEOGONIA. Esse e outros textos épicos<br />
contam que tais seres mitológicos ajudaram na formação<br />
do mundo.<br />
Segundo o mito, no início dos tempos, Urano fazia<br />
seguidos filhos em Gaia, mas, como não se afastava dela,<br />
seus descendentes, entre<br />
eles os titãs, permaneciam presos no ventre da mãe.<br />
Insatisfeita com a situação, Gaia incentivou um de seus<br />
filhos, o titã chamado Crono, a decepar os órgãos<br />
genitais de Urano, fazendo com que este se afastasse<br />
dela. Essa metáfora mitológica é uma original maneira de<br />
explicar a separação entre o Céu e a Terra, que teria<br />
permitido o início da vida. Mas não foram só as<br />
iniciativas heróicas que marcaram os titãs. Após mutilar<br />
e derrotar Urano, Crono reinou e tornou-se um pai<br />
terrível para seus filhos. O poder dele e de outros titãs<br />
sobre o mundo só acabou após eles terem sido derrotados<br />
por Zeus, o futuro chefe dos deuses olímpicos, numa<br />
sangrenta guerra chamada TITANOMAQUIA.<br />
O TERRÍVEL CRONO<br />
O mais importante titã, e também o mais jovem,<br />
costumava ser representado com uma foice na mão, com<br />
a qual teria mutilado seu pai, Urano. Crono se uniu a<br />
uma de suas irmãs, Réia, com quem teve vários filhos.<br />
Como tinha medo de que os descendentes desafiassem<br />
seu poder sobre o mundo, ele engolia todos os seus<br />
filhos. Mas um deles, Zeus, contou com a ajuda da mãe<br />
para escapar desse destino trágico. Após crescer e se<br />
tornar forte, Zeus decidiu resgatar seus irmãos, dando<br />
uma poção para o pai que fez este vomitar todos os filhos<br />
engolidos. Com a ajuda dos irmãos, Zeus derrotou Crono<br />
e outros titãs numa grande batalha e passou a ser o<br />
grande chefe de todos os deuses gregos. Crono e seus<br />
aliados foram presos para sempre no TÁRTARO, o<br />
mundo subterrâneo para onde iam os mortos.<br />
Além dos 12 titãs, Urano e Gaia tiveram três filhos<br />
chamados CICLOPES. Eles eram gigantes, com só um<br />
olho na face, que lutaram ao lado de Zeus na guerra<br />
contra Crono. Os relâmpagos usados por Zeus na batalha<br />
foram forjados por eles.<br />
Outro grupo de seres que foi gerado por Urano e Gaia<br />
foram os HECATONQUIROS, seres com 100 braços e<br />
50 cabeças. Os textos épicos divergem. Em alguns, eles<br />
são aliados de Crono; em outros, de Zeus.<br />
OS DEUSES GREGOS<br />
Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão<br />
perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os<br />
primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera,<br />
Hades, Poseidon e Zeus), mas logo os devorou enquanto<br />
nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas<br />
Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu<br />
escapar e travou uma guerra contra seu pai, cujo<br />
vencedor ganharia o trono dos deuses. Ao final, com a<br />
força dos Cíclopes, Zeus venceu e condenou Cronos e os<br />
outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai<br />
a vomitar seus irmãos. Para a mitologia clássica, depois<br />
dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e<br />
deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam<br />
os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze<br />
parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga.<br />
25
Os deuses residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus.<br />
Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que<br />
os gregos adoravam: existiam uma variedade de<br />
divindades rupestres, como o deus-cabra Pã, as ninfas:<br />
Náiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos<br />
das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar).<br />
Sátiros e outras criaturas fantásticas residiam em<br />
florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas,<br />
existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou<br />
Fúrias) que habitavam o submundo e cuja função era<br />
perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar,<br />
heresia ou perjúrio.<br />
Os deuses gregos, embora poderosos e dignos de<br />
homenagem, eram essencialmente humanos, praticavam<br />
violência, tinham ciúme,<br />
coléra, ódio e inveja, ou seja, tinham virtudes e vícios<br />
humanos, embora fossem donos de corpos físicos ideais.<br />
Os deuses da Grécia eram como pessoas, e não<br />
abstrações, idéias ou conceitos, independentemente de<br />
suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas<br />
habilidades fantásticas, sendo as mais importantes eram:<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
ter a condição de ser imúne a doenças, feridas e ao<br />
tempo;<br />
ter a capacidade de se tornar invisível;<br />
viajar longas distâncias instantaneamente e falar<br />
através de seres humanos sem estes saberem.<br />
a imortalidade, que era assegurada pela alimentação<br />
constante de ambrosia (era o manjar dos deuses do<br />
Olimpo, era tão poderoso que se um mortal a quem<br />
era vetado, a comesse, ganharia a imortalidade) e<br />
pela ingestão de néctar.<br />
OS PRINCIPAIS DEUSES GREGOS:<br />
Zeus - deus de todos os deuses, senhor do Céu.<br />
Hera - esposa de Zeus era a deusa dos casamentos e da<br />
maternidade.<br />
Afrodite - deusa do amor, sexo e beleza.<br />
Poseidon - deus dos mares.<br />
Hades - deus das almas dos mortos, dos cemitérios e do<br />
subterrâneo.<br />
Apolo - deus da luz e das obras de artes.<br />
Artemis - deusa da caça.<br />
Ares - divindade da guerra.<br />
Atena - deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da<br />
cidade de Atenas.<br />
Cronos - deus da agricultura que também simbolizava o<br />
tempo.<br />
Hermes - divindade que representava o comércio e as<br />
comunicações. Hefestos - divindade do fogo e do<br />
trabalho.<br />
OUTROS SERES MITOLÓGICOS DA<br />
GRÉCIA ANTIGA ERAM:<br />
Heróis: seres mortais, filhos de deuses com seres<br />
humanos. Exemplos: Herácles ou Hércules e Aquiles.<br />
Ninfas: seres femininos que habitavam os campos e<br />
bosques, levando alegria e felicidade.<br />
Sátiros: figura com corpo de homem, chifres e patas de<br />
bode.<br />
Centauros: corpo formado por uma metade de homem e<br />
outra de cavalo.<br />
Sereias: mulheres com metade do corpo de peixe<br />
atraíam os marinheiros com seus cantos sedutores e<br />
irresistíveis.<br />
Górgonas: mulheres, espécies de monstros, com cabelos<br />
de serpentes. Exemplo: Medusa, Quimeras: mistura de<br />
leão e cabra, soltavam fogo pelas ventas.<br />
Hidra: tinha corpo de dragão e nove cabeças de serpente<br />
cujo hálito era venenoso que podiam se regenerar<br />
(algumas versões falam em sete cabeças e outras em<br />
números maiores).<br />
O PARAÍSO E O INFERNO NA MITOLOGIA<br />
GREGA<br />
Na mitologia grega, os Campos Elíseos é o paraíso, um<br />
lugar do mundo dos mortos governado por Hades, oposto<br />
ao Tártaro (lugar de eterno tormento e sofrimento). Nos<br />
Campos Elíseos os homens virtuosos repousavam<br />
dignamente após a morte, rodeados por paisagens verdes<br />
e floridas, dançando e se divertindo. Neste lugar só<br />
entram as almas dos heróis, sacerdotes, poetas e deuses.<br />
As pessoas que residiam nos Campos Elíseos tinham a<br />
oportunidade de regressar ao mundo dos vivos.<br />
Em algumas versões é cercado por um muro gigantesco<br />
para separá-lo do Tártaro. Lá também havia um vale por<br />
onde corria o rio Lete, o rio do esquecimento.<br />
26
O MITO DE PROMETEU<br />
Prometeu (em grego: "antevisão") é um personagem da<br />
mitologia grega, um titã, filho do também titã Jápeto e de<br />
Ásia, também chamada de Clímene. Seu mito foi<br />
mencionado por dois dos principais autores gregos,<br />
Hesíodo e Ésquilo. Pai de Deucalião, foi o titã que criou<br />
os homens, com seu irmão Epimeteu, e que também<br />
roubou o fogo dos deuses para presentear às suas<br />
criações.<br />
Segundo Hesíodo foi dado a Prometeu e a seu irmão<br />
Epimeteu a tarefa de criar os homens e todos os animais.<br />
Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregouse<br />
de supervisioná-la. Na obra, Epimeteu atribuiu a cada<br />
animal os dons variados de coragem, força, rapidez,<br />
sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça<br />
protegendo um terceiro, e assim por diante. Porém,<br />
quando chegou a vez do homem, formou-o do barro. Mas<br />
como Epimeteu gastara todos os recursos nos outros<br />
animais, recorreu a seu irmão Prometeu. Este então<br />
roubou o fogo dos deuses e o deu aos homens. Isto<br />
assegurou a superioridade dos homens sobre os outros<br />
animais. Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Como<br />
castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto (Hefesto ou<br />
Hefaísto foi um deus da mitologia grega, filho de Hera e<br />
Zeus, conhecido como Vulcano na mitologia romana.<br />
Era a divindade do fogo, dos metais e da metalurgia) que<br />
o acorrentasse no cume do monte Cáucaso, onde todos os<br />
dias uma águia (ou corvo) dilacerava seu fígado que,<br />
todos os dias, regenerava-se. Esse castigo devia durar<br />
30.000 anos.<br />
Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules<br />
que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicouse<br />
a aventuras. No lugar de Prometeu, o centauro Quíron<br />
deixou-se acorrentar no Cáucaso, pois a substituição de<br />
Prometeu era uma exigência para assegurar a sua<br />
libertação. A história foi teatralizada pela primeira vez<br />
por Ésquilo no século V a.C. com o título de “Prometeus<br />
desmotes” (Prometeu Agrilhoado/Acorrentado).<br />
O MITO DE PANDORA<br />
Na mitologia grega, Pandora (do grego: "a que tudo dá"<br />
ou "a que possui tudo") foi a primeira mulher, criada por<br />
Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã<br />
Prometeu em roubar dos céus o segredo do fogo.<br />
Foi criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os<br />
deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma<br />
qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de<br />
outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a<br />
meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais.<br />
Hermes, porém pôs no seu coração a traição e a mentira.<br />
Feita à semelhança das deusas imortais, Zeus a destinou<br />
para a espécie humana, como punição por terem os<br />
homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada<br />
a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não<br />
recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a<br />
radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito<br />
pelo irmão e a tomou como esposa.<br />
Epimeteu tinha em seu poder uma caixa que outrora lhe<br />
haviam dado os deuses, que continha todos os males.<br />
Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu<br />
à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais<br />
depressa que providenciasse fechá-la, somente conservou<br />
um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os<br />
homens afligidos por todos os males.<br />
ARQUITETURA GREGA<br />
Um dos templos gregos mais conhecidos é a Acrópole<br />
de Atenas, que foi construído no ponto mais alto da<br />
cidade, entre os anos de 447 a 438 a.C. Além das funções<br />
religiosas, o templo era utilizado também como ponto de<br />
observação militar. As colunas deste templo seguiram o<br />
estilo arquitetônico dórico (veja as colunas a seguir).<br />
A arquitetura grega antiga pode ser dividida em três<br />
estilos: 1-Dórico: estilo com poucos detalhes,<br />
transmitindo uma sensação de firmeza.<br />
2-Jônico: este estilo transmitia leveza, em função dos<br />
desenhos apresentados, principalmente nas colunas das<br />
construções. Outra característica deste estilo era o uso de<br />
base circular.<br />
3-Coríntio: pouco utilizado pelos arquitetos gregos,<br />
caracterizava-se pelo excesso de detalhes. Os capitéis das<br />
colunas eram, geralmente, decorados com o formato de<br />
folhas.<br />
Tipos de Capitéis Gregos: Dórico, Jônico e Coríntio.<br />
PINTURA GREGA<br />
A pintura grega também foi muito importante nas artes<br />
da Grécia Antiga. Os pintores gregos representavam<br />
cenas cotidianas, batalhas, religião, mitologias e outros<br />
aspectos da cultura grega. Os vasos, geralmente de cor<br />
preta, eram muito utilizados neste tipo de representação<br />
27
artística. Estes artistas também pintavam em paredes,<br />
principalmente de templos e palácios.<br />
•Miron, autor do Discóbolo - homem arremessando o<br />
disco.<br />
ESCULTURA GREGA<br />
A estatuária grega representa altos padrões. Teve como<br />
principais características: o antropomorfismo (esculturas<br />
de formas humanas); o equilíbrio e perfeição das formas;<br />
o aspecto de movimento.<br />
No Período Arcaico os gregos começaram a esculpir em<br />
mármores, grandes figuras de homens. Primeiramente<br />
aparecem esculturas simétricas, em rigorosa posição<br />
frontal, com o peso do corpo igualmente distribuído<br />
sobre as duas pernas. Esse tipo de estátua é chamado<br />
Kouros (palavra grega: homem jovem).<br />
No Período Clássico passou a procurar movimento nas<br />
estátuas, para isto, se começou a usar o bronze que era<br />
mais resistente do que o mármore, podendo fixar o<br />
movimento sem se quebrar. Surge o nu feminino, pois no<br />
período arcaico, as figuras de mulher eram esculpidas<br />
sempre vestidas.<br />
No Período Helenístico podemos observar o crescente<br />
naturalismo: os seres humanos não eram representados<br />
apenas de acordo com a idade e a personalidade, mas<br />
também segundo as emoções e o estado de espírito de<br />
um momento. O grande desafio e a grande conquista da<br />
escultura do período helenístico foram a representação<br />
não de uma figura apenas, mas de grupos de figuras que<br />
mantivessem a sugestão de mobilidade e fossem bonitos<br />
de todos os ângulos que pudessem ser observados. Os<br />
principais mestres da escultura clássica grega são:<br />
•Praxíteles, celebrado pela graça das suas esculturas, pela<br />
lânguida pose em “S” (Hermes com Dionísio menino),<br />
foi o primeiro artista que esculpiu o nu feminino.<br />
•Policleto, autor de Doríforo - condutor da lança, criou<br />
padrões de beleza e equilíbrio através do tamanho das<br />
estátuas que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho da<br />
cabeça.<br />
•Fídias, talvez o mais famoso de todos, autor de Zeus<br />
Olímpico, sua obra-prima, e Atenéia. Realizou toda a<br />
decoração em baixos relevos do templo Partenon: as<br />
esculturas dos frontões, métopas e frisos.<br />
•Lisipo, representava os homens “tal como se vêem” e<br />
“não como são” (verdadeiros retratos). Foi Lisipo que<br />
introduziu a proporção ideal do corpo humano com a<br />
medida de oito vezes a cabeças.<br />
Arcaico<br />
Arcaico Clássico Helenístico<br />
TEATRO GREGO<br />
Um dos aspectos mais significativos da cultura grega<br />
antiga foi o teatro. Os gregos o desenvolveram de tal<br />
forma que até os dias atuais, artistas, dramaturgos e<br />
demais envolvidos nas artes cênicas sofrem as suas<br />
influências. Diversas peças teatrais criadas na Grécia<br />
Antiga são até hoje encenadas. Tal fato se deve ao<br />
caráter universalista e existencialista dos temas do teatro<br />
grego.<br />
Contexto histórico da origem do teatro grego - O teatro<br />
grego surgiu a partir da evolução das artes e cerimônias<br />
gregas como, por exemplo, a festa em homenagem ao<br />
deus Dionísio (deus do vinho e das festas). Nesta festa,<br />
os jovens dançavam e cantavam dentro do templo deste<br />
deus, oferecendo-lhe vinho. Com o tempo, esta festa<br />
começou a ganhar certa organização, sendo representada<br />
para diversas pessoas.<br />
Aspectos do teatro grego antigo - Durante o período<br />
clássico (século V a.C.) foram estabelecidos os estilos<br />
mais conhecidos de teatro:<br />
a tragédia e a comédia. Ésquilo e Sófocles são os<br />
dramaturgos de maior importância desta época. A ação,<br />
diversos personagens e temas cotidianos foram<br />
representados nos teatros gregos desta época.<br />
Nesta época clássica foram construídos diversos teatros<br />
ao ar livre. Eram aproveitadas montanhas e colinas de<br />
pedra para servirem de suporte para as arquibancadas. A<br />
acústica (propagação do som) era perfeita, de tal forma<br />
que a pessoa sentada na última fileira (parte superior)<br />
28
podia ouvir tão bem a voz dos atores, quanto quem<br />
estivesse sentado na primeira fileira.<br />
Os atores representavam usando máscaras e túnicas de<br />
acordo com o personagem. Muitas vezes, eram montados<br />
cenários bem decorados para dar maior realismo à<br />
encenação. Mulheres não podiam atuar, os homens<br />
representavam os papéis femininos.<br />
Os temas mais representados nas peças teatrais gregas<br />
eram: tragédias relacionadas a fatos cotidianos,<br />
problemas emocionais e psicológicos, lendas e mitos,<br />
homenagem aos deuses gregos, fatos heróicos e críticas<br />
humorísticas aos políticos. Os atores, além das máscaras,<br />
utilizam muito os recursos da mímica. Muitas vezes a<br />
peça era acompanhada por músicas reproduzidas por um<br />
coral.<br />
Ésquilo é reconhecido frequentemente como o pai da<br />
tragédia. e é o mais antigo dos três trágicos gregos (os<br />
outros são Sófocles e Eurípedes). Aumentou o número de<br />
personagens usados nas peças para permitir conflitos<br />
entre eles; anteriormente, os personagens interagiam<br />
apenas com o coro. Apenas sete de um total estimado de<br />
setenta a noventa peças feitas pelo autor sobreviveram à<br />
modernidade; uma destas, Prometeu Acorrentado, é tida<br />
hoje em dia como sendo de autoria de um autor posterior.<br />
Pelo menos uma das obras de Ésquilo foi influenciada<br />
pela invasão persa da Grécia, ocorrida durante sua vida.<br />
Sua peça Os Persas continua sendo uma grande fonte de<br />
informação sobre este período da história grega. A guerra<br />
teve tamanha importância para os gregos e para o próprio<br />
Ésquilo que, na ocasião de sua morte, por volta de 456<br />
a.C., seu epitáfio celebrava sua participação na vitória<br />
grega em Maratona e não seu sucesso como dramaturgo.<br />
Aristófanes, (447 a.C.-385 a.C.) é considerado o maior<br />
representante da Comédia Antiga. Escreveu mais de<br />
quarenta peças, das quais apenas onze são conhecidas.<br />
Conservador, revela hostilidade às inovações sociais e<br />
políticas e aos deuses e homens responsáveis por elas.<br />
Seus heróis defendem o passado de Atenas, os valores<br />
democráticos tradicionais, as virtudes cívicas e a<br />
solidariedade social. Violentamente satírico, critica a<br />
pomposidade, a impostura, os desmandos e a corrupção<br />
na sociedade em que viveu.<br />
FILOSOFIA GREGA<br />
A palavra filosofia é de origem grega e significa amor à<br />
sabedoria. Ela surge desde o momento em que o homem<br />
começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do<br />
universo, buscando uma solução para as grandes<br />
questões da existência humana. Os pensadores, inseridos<br />
num contexto histórico de sua época, buscaram diversos<br />
temas para reflexão. A Grécia Antiga é conhecida como<br />
o berço dos pensadores, sendo que os sophos (sábios em<br />
grego) buscaram formular, no século VI a.C.,<br />
explicações racionais para tudo aquilo que era explicado,<br />
até então, através da mitologia.<br />
Apesar de reconhecermos a importância de sábios que<br />
viveram no século VI a.C., na China (Confúcio e Lao<br />
Tsé), na Índia (o Buda Sidarta Gautama) e na Pérsia<br />
(Zoroastro ou Zaratustra), essas doutrinas têm uma<br />
profunda vinculação com o caráter místico-religioso,<br />
distanciando-se da reflexão racional proposta pela<br />
filosofia grega.<br />
“O milagre grego”: No período arcaico surgem os<br />
primeiros filósofos gregos, entre os séculos VII e VI<br />
a.C.. A passagem da mentalidade mítica para o<br />
pensamento crítico, racional e filosófico, é denominada<br />
por alguns autores como “milagre grego”. Porém, o<br />
desenvolvimento da filosofia grega não é fruto de um<br />
salto do “milagre” realizado por um povo privilegiado,<br />
mas, é a culminação do processo gestado através dos<br />
tempos e que, portanto, tem sua dívida com o passado<br />
mítico.<br />
Algumas novidades do período arcaico ajudam a<br />
transformar a visão que o mito oferecia sobre o mundo e<br />
a existência humana. Essas novidades são a invenção da<br />
escrita e da moeda, a lei escrita, a consolidação das polis,<br />
todas elas como condição para o surgimento do filósofo.<br />
Os Filósofos Pré-Socráticos<br />
Escola de Mileto ou Milesiana: foi a escola de<br />
pensamento iniciada no Século VI a.C. na vila jônia de<br />
Mileto, na costa da Anatólia, e representada,<br />
principalmente, pelos filósofos: Tales de Mileto,<br />
Anaximandro e Anaxímenes. Podemos afirmar que foi a<br />
primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia<br />
Antiga.<br />
Esses pensadores são os fundadores da filosofia no<br />
sentido específico, pois lançaram as bases dos problemas<br />
filosóficos discutidos até hoje no Ocidente: a verdade, a<br />
totalidade, a ética e a política. Os filósofos desta Escola<br />
explicavam o mundo como resultante do<br />
desenvolvimento cíclico de uma natureza comum a tudo<br />
o que existe. Acreditavam na existência de um princípio,<br />
um elemento que é a origem de tudo o que existe. Esse<br />
29
elemento é chamado de arché (seria um princípio que<br />
deveria estar presente em todos os momentos da<br />
existência de todas as coisas; no início, no<br />
desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual<br />
tudo vem a ser).<br />
Tales era considerado "o pai da filosofia" por ser o<br />
primeiro importante pensador grego. Tales queria<br />
descobrir um elemento fisico que fosse constante em<br />
todas as coisas, algo que fosse o princípio unificador de<br />
todos os seres. Tales concluiu que a água é a substância<br />
primordial, a origem única de todas as coisas, para ele<br />
somente a água permanece basicamente a mesma, em<br />
todas as transformações dos corpos, apesar de assumir<br />
diferentes estados como: sólido, líquido e gasoso. O<br />
elemento primordial de todas as coisas segundo<br />
Anaximandro era o "apeiron" ("Apeiron" significa o<br />
"indeterminado" ou "ilimitado", sendo sua origem grega,<br />
pode ser entendido, também, como o "devir" ou vir a<br />
ser). Já para Anaxímenes o elemento primordial era a<br />
"pneuma" (ar). Xenófanes elege a "terra" enquanto<br />
cumpridora deste papel e Heráclito, considerava o fogo.<br />
Advém dessas concepções a idéia de que a matéria é<br />
composta pelos quatro elementos (Água, terra, fogo e ar).<br />
Escola Pitagórica: recebe o nome do fundador, Pitágoras.<br />
Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau,<br />
Arquitas, Alcmeón; a matemática Theano, que foi,<br />
possivelmente, casada com Pitágoras. Esses pensadores<br />
manifestam ao mesmo tempo tendências<br />
místicoreligiosas e tendências científico-racionais.<br />
A escola teve como ponto de partida a cidade de<br />
Crotona, sul da Itália, e difundiu-se vastamente. Trata-se<br />
da escola filosófica grega mais influenciada<br />
exteriormente pelas religiões orientais, e que por isso<br />
mais se aproximou das filosofias dogmáticas regidas pela<br />
idéia de autoridade. O pitagorismo influenciou o futuro<br />
platonismo, o cristianismo e ainda foi invocado por<br />
sociedades secretas que atravessaram o tempo até<br />
alcançarem os dias de hoje. O símbolo da Escola<br />
Pitagórica era o pentagrama, uma estrela de cinco pontas.<br />
Pitagoras ficou conhecido também como o "filósofo<br />
feminista", visto que na escola havia muitas mulheres<br />
discípulas e mestres, tais como Theano.<br />
Suas instruções aos seguidores eram formuladas em duas<br />
grandes divisões: a ciência dos números e a teoria da<br />
grandeza. A ciência dos números incluía dois ramos: a<br />
aritmética e a harmonia musical. A teoria da grandeza<br />
era subdividida também em dois ramos: da grandeza em<br />
repouso - a geometria; da grandeza em movimento - a<br />
astronomia. As mais notáveis peculiaridades das suas<br />
doutrinas estavam relacionadas com as concepções<br />
matemáticas, as idéias numéricas e simbolizações sobre<br />
as quais se apoiava a sua filosofia.<br />
Supunha que os princípios que governavam os Números<br />
eram os princípios de todas as Existências Reais. Dessa<br />
forma, como os Números são os componentes primários<br />
das Grandezas Matemáticas e, ao mesmo tempo,<br />
apresentaram muitas analogias com várias realidades,<br />
deduzia-se que os elementos dos Números eram os<br />
elementos das Realidades.<br />
Heráclito (da Escola Jônia) x Parmênides (Escola<br />
Eliática): Heráclito procura explicar o mundo pelo<br />
desenvolvimento de uma natureza comum a todas as<br />
coisas e em eterno movimento. Ele afirma a estrutura<br />
contraditória e dinâmica do real. Para ele, tudo está em<br />
constante modificação. Daí sua frase "Não nos banhamos<br />
duas vezes no mesmo rio", já que nem o rio nem quem<br />
nele se banha são os mesmos em dois momentos<br />
diferentes da existência. Parmênides, ao contrário, diz<br />
que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não<br />
passa de aparência. Para Parmênides, o ser é ainda<br />
completo, eterno e perfeito.<br />
Os Atomistas e o Atomismo: foi a doutrina filosófica que<br />
considerava toda a realidade como matéria constituída<br />
por uma combinação fortuita de partículas indivisíveis,<br />
chamadas átomos. O atomismo surge na antiga Grécia<br />
com Leucipo e Demócrito.<br />
Esta teoria atômica (átomo vem de "atomon" =<br />
indivisível) foi iniciada por Leucipo em meados do sec.V<br />
e foi desenvolvida mais tarde por Demócrito, cerca de 30<br />
anos depois. Estes dois filósofos eram naturais da Ásia<br />
Menor. Leucipo foi um dos fundadores da Escola de<br />
Eléia. A idéia do atomismo teria surgido como reação às<br />
ideias de Parmênides.<br />
Período Socrático<br />
Os séculos V e IV a.C. (período clássico) na Grécia<br />
Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e<br />
científico. O esplendor de cidades como Atenas, e seu<br />
sistema político democrático, proporcionou o terreno<br />
propício para o desenvolvimento do pensamento. É a<br />
época dos sofistas e do grande pensador Sócrates.<br />
Os Sofistas: foram os primeiros filósofos do período<br />
socrático. Os sofistas se opunham à filosofia présocrática<br />
dizendo que estes ensinavam coisas<br />
contraditórias e repletas de erros que não apresentavam<br />
utilidade para as polis. Dessa forma, substituíram a<br />
30
natureza que antes era o principal objeto de reflexão pela<br />
arte da persuasão e tendo o ser - humano como eixo<br />
principal de análise (caráter antropocêntrico).<br />
Dentre os sofistas, pode-se destacar: Protágoras, Górgias,<br />
Hípias, Isócrates, Pródico, Crítias, Antifonte e<br />
Trasímaco, sendo que destes, Protágoras, Górgias e<br />
Isócrates foram os mais importantes. Estes, assim como<br />
os outros sofistas, prezavam pelo desenvolvimento do<br />
espírito crítico e pela capacidade de expressão. Uma<br />
conseqüência importante que se fez pelos sofistas foi a<br />
abertura da filosofia para todas as pessoas das polis que<br />
antes era somente uma seita intelectual fechada formada<br />
apenas por aristocratas. Protágoras difundiu a frase: “O<br />
homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são,<br />
enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”.<br />
Por meio dela e de outras, foi acusado de ateísta tendo<br />
seus livros queimados em praça pública, o que o fez fugir<br />
de Atenas e refugiar-se na Sicília.<br />
Os sofistas, entre eles Górgias e Leontinos, defendiam<br />
uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de<br />
um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente<br />
para o crescimento da cidade. Os sofistas cobravam por<br />
seus ensinamentos. Dentro desta proposta pedagógica, os<br />
jovens deveriam ser preparados para falar bem (retórica),<br />
pensar e manifestar suas qualidades artísticas. Defendiam<br />
a DEMOCRACIA.<br />
Afirma-se que Sócrates teria se rebelado contra os<br />
sofistas dizendo que desrespeitavam a verdade e o amor<br />
pela sabedoria e de que eram contraditórios ao afirmarem<br />
que não havia verdade absoluta. Os sofistas criaram no<br />
meio filosófico o relativismo e o subjetivismo.<br />
preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber<br />
ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática<br />
ou moral. Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a<br />
preocupação dos filósofos pré-socráticos em explicar a<br />
natureza e se concentrou na problemática do homem. No<br />
entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates opunha-se,<br />
por exemplo, ao relativismo em relação à questão da<br />
moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses<br />
particulares. Embora tenha sido, em sua época,<br />
confundido com os sofistas, Sócrates travou uma<br />
polêmica profunda com estes, pois procurava um<br />
fundamento último para as interrogações humanas (O<br />
que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?),<br />
enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir<br />
dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se<br />
preocupar com a investigação de uma essência da<br />
virtude, da justiça, do bem etc., a partir da qual a própria<br />
realidade empírica pudesse ser avaliada.<br />
A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era:<br />
o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que<br />
o homem é a sua alma, entendendo-se "alma", aqui,<br />
como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a<br />
consciência intelectual e a consciência moral, e que,<br />
portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres<br />
da natureza. Por isso, autoconhecimento era um dos<br />
pontos fundamentais da filosofia socrática. "Conhece-te<br />
a ti mesmo", frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a<br />
recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.<br />
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos<br />
com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser<br />
divididos em dois momentos básicos: a IRONIA e a<br />
MAIÊUTICA.<br />
Os Filósofos Socráticos<br />
Nascido em Atenas, Sócrates (469 - 399 a.C.) é<br />
tradicionalmente considerado e um marco divisório da<br />
história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o<br />
antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o<br />
sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates,<br />
porém, não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de<br />
seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de<br />
seus adversários. Conta-se que Sócrates era filho de uma<br />
parteira.<br />
O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se,<br />
exteriormente, ao dos sofistas, embora não "vendesse"<br />
seus ensinamentos. Desenvolvia<br />
o saber filosófico em praças públicas, conversando com<br />
os jovens, sempre dando demonstrações de que era<br />
A IRONIA: na linguagem cotidiana, a ironia tem um<br />
significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas<br />
não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia<br />
quer dizer "interrogação". De fato, Sócrates interrogava<br />
seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O<br />
que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a<br />
piedade? São exemplos de algumas perguntas feitas por<br />
ele. No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável<br />
as respostas de seus interlocutores. Com habilidade de<br />
raciocínio, procurava evidenciar as contradições<br />
afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada<br />
resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos,<br />
o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A<br />
primeira virtude do sábio é adquirir consciência da<br />
própria ignorância. "Sei que nada sei", dizia Sócrates. A<br />
ironia socrática tinha um caráter purificador porque<br />
31
levava os discípulos a confessarem suas próprias<br />
contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam<br />
possuir certezas e clarividências. Nesta fase do diálogo, a<br />
intenção fundamental de Sócrates não era propriamente<br />
destruir o conteúdo das respostas dadas pelos<br />
interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda<br />
de suas próprias respostas, das consequências que<br />
poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes<br />
repletas de conceitos vagos e imprecisos.<br />
A MAIÊUTICA: libertos do orgulho e da pretensão de<br />
que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o<br />
caminho da reconstrução de suas próprias idéias.<br />
Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de<br />
questões habilmente colocadas. Nesta segunda fase do<br />
diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos<br />
a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava<br />
para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe,<br />
Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças<br />
ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático,<br />
destinada à concepção de idéias, era chamada de<br />
maiêutica, termo grego que significa "arte de trazer à<br />
luz".<br />
UM CORRUPTOR DA JUVENTUDE? Sócrates não<br />
dava importância à posição socioeconômica de seus<br />
discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e<br />
escravos. O que importava eram as condições interiores,<br />
psicológicas de cada pessoa, pois essas condições eram<br />
indispensáveis ao processo de autoconhecimento.<br />
Para a democracia ateniense, da qual não participava a<br />
maioria da população, composta de escravos,<br />
estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado<br />
subversivo. Representava uma ameaça social, na medida<br />
em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas<br />
atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe<br />
ou posição social. Interessado tão-somente na prática da<br />
virtude e na busca da verdade contrariava os valores<br />
dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a<br />
acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de<br />
corromper a juventude. No final do processo, por se<br />
recusar a negar suas idéias, foi condenado a beber cicuta<br />
(veneno extraído de uma planta do mesmo nome).<br />
Sócrates buscou pensar e refletir sobre o homem,<br />
buscando entender o funcionamento do Universo dentro<br />
de uma concepção crítica. Para ele, a verdade está ligada<br />
ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou<br />
outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as<br />
32<br />
idéias de Sócrates através dos relatos deixados por seu<br />
discípulo Platão.<br />
Platão: cujo verdadeiro nome era Aristócles, nasceu em<br />
Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347<br />
a.C.. Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de<br />
que o homem está em contato permanente com dois tipos<br />
de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a<br />
realidade imutável, igual a si mesma. A segunda são<br />
todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades<br />
dependentes, mutáveis e são imagens das realidades<br />
inteligíveis.<br />
Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as idéias<br />
formavam o foco do conhecimento intelectual. Os<br />
pensadores teriam a função de entender o mundo da<br />
realidade, separando-o das aparências.<br />
Platão não deixou uma obra filosófica sistemática,<br />
organizada de forma lógica e abstrata. As obras de Platão<br />
foram escritas em forma de diálogo, em que diferentes<br />
personagens discutem acerca de um determinado tema.<br />
Aliás, o diálogo não é apenas a forma como o filósofo se<br />
expressa, mas também o cerne de seu método filosófico<br />
de descoberta da verdade. Para Platão, o conhecimento é<br />
resultado do convívio entre homens que discutem de<br />
forma livre e cordial.<br />
Aristóteles 384 a.C. - 322 a.C.: desenvolveu os estudos<br />
de Platão e Sócrates. Foi Aristóteles quem desenvolveu a<br />
lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao<br />
conhecimento científico. A sistematização e os métodos<br />
devem ser desenvolvidos para se chegar ao<br />
conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos<br />
gerais para os específicos. Foi discipulo de Platão e<br />
professor de Alexandre, o Grande, considerado um dos<br />
maiores pensadores de todos os tempos.<br />
Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas<br />
áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética,<br />
política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia,<br />
retórica, zoologia, biologia, história natural.<br />
Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma<br />
introdução para as ciências e para o conhecimento e<br />
baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente<br />
estruturado que supõe certas premissas colocadas<br />
previamente para que haja uma conclusão necessária. O<br />
silogismo é dedutivo, parte do universal para o<br />
particular; a indução, ao contrário, parte do particular<br />
para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as<br />
premissas, a conclusão, logicamente, também será.
Período Pós-Socrático<br />
Esta época vai do final do período clássico (320 a.C.) até<br />
o começo da Era Cristã, em um contexto histórico que<br />
representa o final da hegemonia política e militar da<br />
Grécia marcada pelo domínio macedônico. É o período<br />
da filosofia helenística. Podemos destacar:<br />
CETICISMO: de acordo com os pensadores céticos, a<br />
dúvida deve estar sempre presente, pois o ser humano<br />
não consegue conhecer nada de forma exata e segura.<br />
Seu principal representante foi Pirro.<br />
EPICURISMO: os epicuristas, seguidores do pensador<br />
Epicuro, defendiam que o bem era originário da prática<br />
da virtude. O corpo e a alma não deveriam sofrer para,<br />
desta forma, chegar-se ao prazer.<br />
Epicuro de Samos, filósofo do século IV a.C., foi<br />
seguido por outros filósofos, chamados epicuristas.<br />
Epicuro acreditava que o maior bem era a procura de<br />
prazeres moderados de forma a atingir um estado de<br />
tranquilidade (ATARAXIA) e de libertação do medo,<br />
assim como a ausência de sofrimento corporal<br />
(APONIA) através do conhecimento do funcionamento<br />
do mundo e da limitação dos desejos. A combinação<br />
desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma<br />
mais elevada. Embora o epicurismo seja doutrina muitas<br />
vezes confundida com o HEDONISMO (distorção do<br />
epicurismo que declara o prazer como o único valor<br />
intrínseco), a sua concepção da ausência de dor como o<br />
maior prazer e a sua apologia da vida simples tornam-no<br />
diferente do que vulgarmente se chama “hedonismo”.<br />
A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas<br />
sim prática. Buscava, sobretudo, encontrar a<br />
tranquilidade necessária para uma vida feliz e aprazível,<br />
na qual os temores perante o destino, os deuses ou a<br />
morte estavam definitivamente eliminados. Para isso<br />
fundamentava-se em uma teoria do conhecimento<br />
empirista, em uma física atomista e na ética.<br />
ESTOICISMO: os sábios estóicos como, por exemplo,<br />
Zenon de Citium (334-262 a.C), defendia a razão como<br />
elemento fundamental. Os fenômenos exteriores a vida<br />
deviam ser deixados de lado, como a emoção, o prazer e<br />
o sofrimento. A verdade só seria alcançada por meio da<br />
virtude, do rigor e da disciplina. No pensamento dos<br />
estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o<br />
prazer, a felicidade, mas a virtude; que não é concebida<br />
como necessária condição para alcançar a felicidade, e<br />
sim como sendo ela própria um bem imediato. Com o<br />
desenvolvimento do estoicismo, todavia, a virtude acaba<br />
por se tornar meio para a felicidade da tranqüilidade, da<br />
serenidade, que nasce da virtude negativa da apatia, da<br />
indiferença universal. A felicidade do homem virtuoso é<br />
a libertação de toda perturbação, a tranqüilidade da alma,<br />
a independência interior, a autarquia.<br />
Como o bem absoluto e único é a virtude, assim o mal<br />
único e absoluto é o vício. E não tanto pelo dano que<br />
pode acarretar ao vicioso, quanto pela sua irracionalidade<br />
e desordem intrínseca, ainda que se acabe por repudiá-lo<br />
como perturbador da indiferença, da serenidade, da<br />
autarquia do sábio. Tudo aquilo que não é virtude nem<br />
vício, não é nem bem nem mal, mas apenas indiferença;<br />
pode tornar-se bem se for unido com a virtude, mal se for<br />
ligado ao vício; há o vício quando à indiferença se ajunta<br />
a paixão, isto é, uma emoção, uma tendência irracional,<br />
como geralmente acontece.<br />
A paixão, na filosofia estóica, é sempre e<br />
substancialmente má; pois é movimento irracional,<br />
morbo (mal, doença) e vício da alma - quer se trate de<br />
ódio, quer se trate de piedade. De tal forma, a única<br />
atitude do sábio estóico deve ser o aniquilamento da<br />
paixão, até a apatia. O ideal ético estóico não é o<br />
domínio racional da paixão, mas a sua destruição total,<br />
para dar lugar unicamente à razão: maravilhoso ideal de<br />
homem sem paixão, que anda como um deus entre os<br />
homens. Daí a guerra justificada do estoicismo contra o<br />
sentimento, a emoção, a paixão, donde derivam o desejo,<br />
o vício, a dor, que devem ser aniquilados.<br />
A virtude estóica é, no fundo, a indiferença e a renúncia<br />
a todos os bens do mundo que não dependem de nós, e<br />
cujo curso é fatalmente determinado. Por conseguinte, o<br />
pensamento, a sabedoria, a virtude, constituem os únicos<br />
bens verdadeiros. Assim sendo, prega a indiferença e a<br />
renúncia: à vida e à morte, à saúde e à doença, ao<br />
repouso e à fadiga, à riqueza e à pobreza, às honras e à<br />
obscuridade, numa palavra, ao prazer e ao sofrimento -<br />
pois o prazer é julgado insana vaidade da alma.<br />
O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos<br />
e Crisipo de Solis, sendo levada a Roma no ano 155 a.C.<br />
por Diógenes de Babilônia. Ali seus continuadores foram<br />
Marco Aurélio, Séneca, Epiteto e Lucano.<br />
33
EXERCICÍOS<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 1:<br />
A construção da narrativa histórica é feita não só por<br />
meio de consulta a acervos oficiais, mas também por<br />
depoimentos e interpretações do significado da cultura<br />
produzida na sociedade humana. Nesse sentido, na<br />
Grécia, escrevendo suas narrativas sobre a época,<br />
Heródoto:<br />
a) enfatizou o heroísmo dos atenienses, destacando o<br />
valor da pesquisa como base para o rigor científico,<br />
à semelhança de historiadores positivistas.<br />
b) seguiu o modelo de análise estruturado,<br />
relacionando causas e consequências, como nos<br />
relatos de Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso.<br />
c) preocupou-se em ressaltar o valor da memória na<br />
vida dos povos estudados pela <strong>História</strong>, para evitar o<br />
esquecimento dos seus feitos.<br />
d) afirmou a existência de uma superioridade racial dos<br />
gregos, fortalecendo o etnocentrismo comum na<br />
Antiguidade europeia.<br />
e) aproveitou suas viagens para colher depoimentos<br />
importantes e escrever suas narrativas, preocupado<br />
em focalizar os costumes dos povos.<br />
(UERN) - Universidade do Estado do Rio Grande do<br />
Norte - Questão 2:<br />
ACRÓPOLE. Acrópole significa cidade alta. De modo<br />
geral, toda cidade grega possuía a sua acrópole, isto é, a<br />
parte alta em contraste com a parte baixa. Não era<br />
comum que a acrópole ficasse situada no centro da<br />
cidade, como no caso de Atenas. A posição da acrópole a<br />
transformava no baluarte natural de defesa e,<br />
primitivamente (séculos XVIII-XII a.C.), na sede do<br />
poder político.<br />
Conquistar a acrópole era derrotar a cidade. No século<br />
VI a.C., quando os tiranos tomam o poder, eles o fazem<br />
dominando a acrópole.<br />
ÁGORA. Praça pública das cidades gregas, parte<br />
essencial da polis, sendo ponto convergente de inúmeras<br />
atividades sociais, econômicas, religiosas e culturais. Sua<br />
função dominante, porém, era política, e o lugar,<br />
democrático por excelência. No decorrer da época<br />
arcaica (séculos VIII-VI a.C.), a vida política da cidade<br />
transferiu-se lentamente da acrópole para a ágora que,<br />
rapidamente, se tornou o centro de toda a comunidade.<br />
Na ágora concentravam-se as assembleias, os tribunais e<br />
demais edifícios administrativos e políticos.<br />
Concomitantemente, cresceu sua significação no plano<br />
religioso: ali podiam ser encontrados altares, santuários,<br />
túmulos de heróis. Várias cerimônias populares e cívicas<br />
se desenrolavam também na ágora, como, por exemplo,<br />
as dionisíacas. (AZEVEDO,1990, p. 13 -16).<br />
O deslocamento do poder político da acrópole para a<br />
ágora faz parte, no contexto da evolução dos sistemas<br />
democráticos, da Antiguidade aos dias atuais, da<br />
a) permanência, na Grécia Antiga, de uma sociedade<br />
desigual, dividida em classes, que separava a população<br />
por critérios de cidadania.<br />
b) transferência do modelo da democracia direta da<br />
Grécia Antiga para as sociedades hoje existentes.<br />
c) separação entre interesses políticos e econômicos,<br />
tanto na Grécia Antiga quanto nas sociedades<br />
contemporâneas.<br />
d) defesa da democracia pelos países ricos como<br />
mecanismo para independência econômica das nações<br />
em desenvolvimento.<br />
(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão 3:<br />
Relacione os deuses da mitologia grega, indicados na<br />
Coluna A, às características que os identificam, listadas<br />
na Coluna B.<br />
COLUNA A<br />
1. Afrodite<br />
2. Ártemis<br />
3. Deméter<br />
4. Posseidon<br />
COLUNA B<br />
( ) Deusa da fertilidade, das frutas e<br />
das colheitas.<br />
( ) Deus dos oceanos e das águas.<br />
( ) Deusa da lua e da caça, protetora<br />
dos animais e das crianças.<br />
( ) Deusa da beleza e do amor.<br />
Assinale a alternativa que completa correta e<br />
respectivamente os parênteses, de cima para baixo.<br />
a) 1, 2, 3, 4<br />
b) 3, 4, 2, 1<br />
c) 4, 3, 2, 1<br />
d) 2, 4, 1, 3<br />
e) 3, 4, 1, 2<br />
34
(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />
Grande do Sul - Questão 4:<br />
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere as<br />
afirmativas abaixo, sobre a cidade-estado (polis), base da<br />
organização sociopolítica da Grécia Antiga.<br />
I. Esparta, que englobava as regiões da Lacônia e da<br />
Messênia, e Atenas, que correspondia a toda a região da<br />
Ática, eram exceções quanto à grande dimensão<br />
territorial, se comparadas à maioria das demais cidadesestado.<br />
II. As cidades-estado consolidaram suas estruturas<br />
fundamentais no chamado período arcaico da história<br />
grega e conheceram sua máxima expressão política e<br />
cultural durante o período clássico.<br />
III. A acrópole, parte alta da zona urbana da polis,<br />
concentrava as atividades econômicas essenciais para o<br />
sustento material da cidade, suplantando a produção<br />
agrícola da zona rural nesse setor.<br />
IV. As cidades-estado formavam unidades politicamente<br />
autônomas e economicamente autossuficientes, não<br />
tendo desenvolvido processos significativos de expansão<br />
territorial por colonização de novas áreas até o período<br />
helenístico.<br />
Estão corretas apenas as afirmativas<br />
a) I e II.<br />
b) II e III.<br />
c) III e IV.<br />
d) I, II e IV.<br />
e) I, III e IV.<br />
(UFRGS) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul -<br />
Questão 5:<br />
Considere o enunciado abaixo e as três propostas para<br />
completá-lo.<br />
Para um grande número de historiadores, a Atenas do<br />
século V a.C. tornou-se um modelo de democracia e de<br />
liberdade. Entretanto, esse modelo de democracia tem<br />
sido questionado, porque, em Atenas,<br />
1 – a sociedade era dividida em três classes distintas:<br />
cidadãos, metecos e escravos.<br />
2 – a democracia e a liberdade eram limitadas a uma<br />
minoria composta por homens adultos nascidos em solo<br />
ateniense.<br />
3 – a ação da Assembleia Popular era limitada pelo<br />
Conselho dos Quinhentos, que preparava os projetos de<br />
lei a serem votados.<br />
Quais propostas estão corretas?<br />
a) Apenas 1.<br />
b) Apenas 2.<br />
c) Apenas 3.<br />
d) Apenas 1 e 2.<br />
e) 1, 2 e 3.<br />
(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina<br />
- Questão 6:<br />
Entre os pobres muitos se dirigem a terras estranhas,<br />
vendidos e cobertos de correntes [...].<br />
Quantos dos que tinham sido vendidos, uns injustamente,<br />
outros com justiça, fiz voltar para Atenas, sua pátria,<br />
fundada pelos deuses [...].<br />
Dei liberdade a outros que, aqui mesmo (em Atenas),<br />
sofriam servidão indigna e tremiam diante do humor dos<br />
patrões.<br />
Eis o que realizei, graças à soberania da lei, fazendo com<br />
que a força e a justiça agissem concordemente.<br />
Sólon, Elegias. Apud HOLANDA, S. Buarque de. <strong>História</strong> da Civilização. 6. ed.<br />
São Paulo: Nacional, 1979. p. 58.<br />
Com base no texto acima e nos seus conhecimentos<br />
sobre a sociedade e a democracia ateniense, assinale a(s)<br />
proposição(ões) CORRETA(S).<br />
1 - Na experiência democrática vivida pelos atenienses<br />
durante o período helenístico, a escravidão foi eliminada<br />
através da legislação elaborada por Sólon, sobrevivendo<br />
apenas a servidão voluntária.<br />
2 - As leis de Sólon, consideradas avançadas para a<br />
época da sua promulgação, admitiam a escravização dos<br />
endividados ou filhos de escravos, pois a perda de<br />
direitos individuais não feria os princípios da democracia<br />
ateniense.<br />
4 - Na sociedade ateniense, as três principais classes<br />
sociais eram representadas por: cidadãos nobres, homens<br />
livres nascidos de pai e mãe ateniense; metecos,<br />
estrangeiros autorizados a viver na Ática; e escravos,<br />
prisioneiros de guerra ou filhos de escravos.<br />
8 - Drácon publicou as primeiras leis escritas em Atenas<br />
e com elas reforçou o direito dos nobres de interpretar as<br />
35
leis segundo as próprias conveniências, dando origem à<br />
tirania e ao adjetivo “draconiano”, que significa severo,<br />
rígido.<br />
16 - As manifestações de descontentamento com as leis<br />
de Drácon fez com que a administração de Atenas fosse<br />
confiada ao arconte Sólon, que realizou importantes<br />
reformas: proibiu a escravização de pessoas endividadas<br />
e perdoou as dívidas dos pequenos lavradores,<br />
devolvendo-lhes as terras perdidas.<br />
32- As reformas implantadas por Sólon foram rechaçadas<br />
pelos tiranos, nobres empobrecidos pelas decisões<br />
democráticas, tomadas em praça pública e com a<br />
participação de toda a população de Atenas.<br />
(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />
Mackenzie - Questão 7:<br />
Frank Miller inspirou-se na verdadeira Batalha de<br />
Termópilas, ocorrida em 438 a.C, na Grécia, para<br />
escrever “Os 300 de Esparta”. A adaptação da história<br />
em quadrinhos de Miller foi levada ao cinema, em 2006,<br />
pelo diretor Zack Snyder, com o título “300”. A respeito<br />
do contexto das Guerras Médicas (500-479 a.C), tema<br />
abordado no filme, assinale a alternativa correta.<br />
a) O domínio e a expansão naval fenícia ameaçavam a<br />
hegemonia da Grécia sobre o mar Egeu, o que<br />
ocasionou a formação de uma aliança defensiva<br />
grega.<br />
b) Desenvolvendo uma política imperialista, Atenas<br />
entrou em conflito com Esparta que, agrária e<br />
oligárquica, permaneceu fechada à expansão<br />
territorial.<br />
c) O expansionismo persa, que já havia dominado<br />
cidades gregas da Ásia Menor e estabelecido o<br />
controle persa sobre rotas comerciais do Oriente,<br />
ameaçava a soberania da Grécia, tornando inevitável<br />
o conflito grego-pérsico.<br />
d) Esparta, por priorizar a formação física e militar,<br />
cultivando no indivíduo o patriotismo incondicional<br />
ao Estado, liderou a ofensiva grega contra os<br />
assírios, que ameaçavam as instituições<br />
democráticas gregas.<br />
e) O forte espírito militarista presente na cultura<br />
helenística e difundido em todas as pólis gregas<br />
permitiu que, no conflito contra os medos, a Grécia<br />
obtivesse a supremacia militar e se sagrasse<br />
vencedora.<br />
36<br />
(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />
8:<br />
Analise o texto abaixo que representa a história dos<br />
deuses gregos Perséfone (Deusa das estações do ano) e<br />
Hades (Dono do mundo subterrâneo ou do inferno).<br />
Mito de Perséfone: Perséfone foi raptada do Olímpo por<br />
Hades. Sua mãe, Demétris (deusa da agricultura),<br />
entristeceu e acabou por se descuidar de suas tarefas,<br />
deixando as terras tornaram-se estéreis. Também<br />
Perséfone recusou-se a ingerir qualquer alimento, em<br />
sinal de sua não aceitação a Hades. Deméter, junto com<br />
Hermes, foram buscá-la do mundo dos mortos. Contudo,<br />
Perséfone havia comido uma romã e daí concluiu-se que<br />
não tinha rejeitado inteiramente Hades. Assim,<br />
estabeleceu-se um acordo: ela passaria metade do ano<br />
junto a seus pais, quando seria a eterna adolescente cheia<br />
de vida, e o restante do ano com Hades, quando se<br />
tornaria a sombria Perséfone. Este mito justifica o ciclo<br />
anual das estações do ano e das colheitas para os antigos<br />
gregos.<br />
(Tradução livre da www.wikipedia.<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pers%C3%A9fone acessada em 30/05/2009).<br />
Por seus conhecimentos e pelo texto acima, é correto<br />
afirmar que, para os gregos, as diferentes estações do ano<br />
significavam épocas em que:<br />
a) às vezes se plantava e colhia com abundância (no<br />
verão quando imperava o casamento de Hades e<br />
Perséfone no fogo do inferno) e às vezes não se fazia<br />
nada (quando Perséfone estava no Olimpo com sua<br />
mãe e a terra vivia o inverno).<br />
b) igualmente se plantava e colhia em todas as<br />
estações. Isto se justifica, porque Perséfone, ao<br />
comer a romã, trouxe fertilidade ao reino de Hades<br />
e, no Olimpo, ela já existia devido à presença de<br />
Demétris, deusa da agricultura.<br />
c) ora existia vida, calor e fertilidade na terra (quando<br />
Perséfone estava junto com sua mãe Demétris), ora<br />
havia tristeza, frio e infertilidade na terra (quando a<br />
mesma deusa ia para o trono de Hades).<br />
d) havia momentos de tristeza e do uso do trabalho<br />
escravo para se plantar na terra (no inverno quando<br />
Perséfone melancólica estava ao lado de sua mãe no<br />
Olimpo) e outra época das pragas e frio na terra<br />
quando Perséfone ia para o reino de Hades e não se<br />
podia plantar nada.
(UEPA) - Universidade do Estado do Pará - Questão 9:<br />
“Atenas era uma cidade extraordinariamente<br />
cosmopolita. Um ateniense poderia observar milhares de<br />
imigrantes temporários e permanentes de outras cidades<br />
gregas ou de terras não gregas trabalhando a sua volta,<br />
muitas vezes fazendo exatamente o mesmo trabalho que<br />
ele, sem, contudo, compartilhar de nenhum de seus<br />
direitos de cidadão. A característica mais marcante da<br />
cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos<br />
limites de sua própria pólis, era imediatamente privado<br />
de seus direitos políticos”.<br />
(JONES, Peter V. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica<br />
ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 156) (Grifo do Autor)<br />
No que se refere à democracia ateniense, é correto<br />
afirmar que:<br />
a) apesar da não inclusão de estrangeiros na cidadania<br />
ateniense, as leis da pólis ateniense eram amplas e<br />
incluíam direitos e deveres dos metecos.<br />
b) o cosmopolitismo ateniense contribuiu para diversos<br />
avanços intelectuais e econômicos da cidade-estado<br />
ateniense, mas não interferiu na constituição de um<br />
sistema político democrático que realmente incluísse<br />
estrangeiros, mulheres e escravos na cidadania.<br />
c) a manutenção da escravidão durante a vigência da<br />
democracia ateniense foi um fator impeditivo e<br />
desestruturante do regime democrático na cidadeestado.<br />
d) a transição da Aristocracia para a Democracia, na<br />
Atenas do período clássico, se baseou nas reformas<br />
de Drácon e Sólon, que pretendiam restringir o<br />
poder dos eupátridas (nobres), em favor da<br />
ampliação dos direitos dos cidadãos: homens,<br />
mulheres, nativos e estrangeiros.<br />
e) a cosmopolita sociedade ateniense do século V a.C.<br />
deu origem à democracia como regime político<br />
derivado da convivência multicultural de nativos<br />
atenienses e estrangeiros, chamados metecos,<br />
oriundos de civilizações mediterrâneas diversas.<br />
(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 10:<br />
O texto abaixo analisa o mundo do trabalho na Grécia<br />
Antiga.<br />
“Ao lidarmos com escravos, não deveríamos permitir<br />
que fossem insolentes para conosco, nem deixá-los<br />
totalmente sem controle. Aqueles que cuja posição está<br />
mais próxima das dos homens livres deveriam ser<br />
tratados com respeito; aqueles que são trabalhadores<br />
deveriam receber mais comida. Já que o consumo de<br />
vinho também torna homens livres insolentes [...], é claro<br />
que o vinho jamais deveria ser dado a escravos, ou só<br />
muito raramente.”<br />
Aristóteles (Século IV a.C.) In: CARDOSO, Ciro Flamarion. O trabalho<br />
compulsório na antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 108.<br />
Sobre esse mundo do trabalho, é correto afirmar que<br />
a) a sociedade grega era extremamente rigorosa no<br />
tratamento com os escravos, embora fossem brandos<br />
quando se tratava daqueles que trabalhassem em<br />
vinícolas.<br />
b) embora a mão de obra escrava fosse predominante<br />
na Grécia Antiga, os trabalhadores livres também<br />
constituíam a força de trabalho.<br />
c) os gregos consideravam que a comida era uma<br />
expressão de respeito ao trabalhador que vendia a<br />
sua força de trabalho.<br />
d) os homens livres eram tidos como sustentáculo da<br />
economia grega, especialmente na cidade-estado de<br />
Esparta.<br />
e) foi à custa do trabalho escravo que a cidade<br />
ateniense se tornou o maior exemplo de teocracia do<br />
mundo antigo.<br />
(IFTO) - Instituto Federal do Tocantins - Questão 11:<br />
Levando-se em consideração os conhecimentos acerca da<br />
historiografia grega na antiguidade, julgue os itens<br />
abaixo colocando V para os itens verdadeiros e F para os<br />
falsos e em seguida assinale a alternativa correta:<br />
1 – A estrutura político-administrativa de Esparta diferia<br />
da estrutura social de Atenas, haja vista que a primeira<br />
estava organizada da seguinte maneira: Diarquia,<br />
Gerúsia, Ápela, Éforos, enquanto na segunda<br />
observamos a divisão em três classes sociais distintas:<br />
Eupátridas, Metecos e Escravos.<br />
2 – A DEMOCRACIA ateniense pode ser classificada<br />
como sendo elitista, patriarcal e escravista. Elitista,<br />
porque só os eupátridas tinham direitos políticos;<br />
patriarcal, porque excluía as mulheres e escravista,<br />
porque eram os escravos que sustentavam a glória dos<br />
senhores.<br />
3 – Quanto à vida econômica na Grécia, de um modo<br />
geral, observa-se para a prática agrícola um solo<br />
desfavorável. Com exceção de algumas planícies férteis,<br />
o solo é pobre, árido e as chuvas são raras.<br />
37
4 – A investigação intelectual e o espírito de curiosidade<br />
foram grandes características da mente grega. Foi assim<br />
que nasceu entre eles a filosofia (do grego filos =<br />
amizade; sofia = sabedoria). É na filosofia grega que<br />
encontramos, por exemplo, figuras como Sócrates,<br />
Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomas de Aquino que<br />
tanto marcaram o pensamento Ocidental;<br />
5 –Na religião grega, podemos destacar duas<br />
características fundamentais: o politeísmo (adoração a<br />
um único deus – Zeus) e o antropomorfismo (os deuses<br />
retratados como figuras de animais que assumiam forma<br />
e comportamento semelhantes aos dos homens).<br />
6 – Traçando um quadro comparativo entre Atenas e<br />
Esparta, observaremos as seguintes distinções:<br />
A) enquanto em Atenas o regime político adotado era a<br />
democracia em Esparta era a oligarquia e, B) Quanto aos<br />
povos fundadores: Atenas foi fundada pelos jônios e<br />
Esparta pelos dórios.<br />
a) 1 – V; 2 – V; 3 – V; 4 – F; 5 – F; 6 - V.<br />
b) 1 – F; 2 – V; 3 – V; 4 – F; 5 – F; 6 - F.<br />
c) 1 – V; 2 – F; 3 – V; 4 – F; 5 – V; 6 – V.<br />
d) 1 – V; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F; 6 - V.<br />
e) 1 – F; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F; 6 – F.<br />
(IFG/GO) - Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />
Tecnologia de Goiás - Questão 12:<br />
A Grécia Antiga não conheceu um Estado centralizado.<br />
Organizou-se por meio de cidades-estados, denominadas<br />
pólis. A esse respeito, assinale a alternativa incorreta.<br />
a) A pólis era uma construção social e política<br />
autodeterminada; todavia, a disputa pela hegemonia<br />
na antiga Grécia a movia.<br />
b) Na pólis, não havia espaço para cultos, deuses e<br />
santuários, nem mesmo para consulta aos oráculos<br />
anteriormente à tomada de decisões.<br />
c) A pólis expressava uma cultura e uma identidade<br />
próprias, marcadamente urbanas, denominadas de<br />
ethos.<br />
d) Nas pólis, a norma jurídica (lei), promulgada nos<br />
regimes democráticos ou outorgada nos regimes<br />
aristocráticos, era reconhecida como ato orientado<br />
pela razão e, portanto, humano.<br />
e) A experiencialização social e cultural que o grego<br />
antigo viveu nas pólis permitiu a capacidade de<br />
explicar os problemas da comunidade no âmbito<br />
dela própria, fundamentalmente apartada dos deuses.<br />
38<br />
(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba - Questão<br />
13:<br />
“Uma das principais expressões da arte grega, o teatro,<br />
tem suas origens ligadas às Dionisíacas, festas em<br />
homenagem a Dioniso, deus do vinho.”<br />
(Myriam Mota e Patrícia Braick, <strong>História</strong> das Cavernas ao Terceiro Milênio,<br />
2002. p. 65.)<br />
Dois gêneros clássicos do teatro grego originaram-se<br />
destes festivais, são eles:<br />
a) melodrama e tragédia<br />
b) drama e pantomima<br />
c) tragédia e drama<br />
d) vaudeville e comédia<br />
e) tragédia e comédia<br />
(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba - Questão<br />
14:<br />
No 5ọ século antes de Cristo, Atenas emergiu como uma<br />
proeminente cidade-estado (polis) grega. Marque a única<br />
alternativa que condiz com a organização política e<br />
econômica ateniense.<br />
a) O modelo de democracia ateniense é uma criação da<br />
era moderna. Uma sociedade escravocrata, onde<br />
mulheres nada decidem e só os homens com posses<br />
é que podem votar e ser votados não pode ser<br />
mesmo aceita como democrática.<br />
b) Atenas não conseguiu fazer crescer o comércio<br />
terrestre e marítimo, mesmo tendo desenvolvido seu<br />
sistema político-democrático, já que, ao contrário<br />
das outras cidades-estado gregas, não se situava na<br />
costa.<br />
c) A formação de uma economia escravista contribuiu<br />
para o florescimento da civilização urbanodemocrática<br />
ateniense, pois liberou os cidadãos<br />
livres do trabalho, dando-lhes tempo para se<br />
dedicarem à vida política e social da polis.<br />
d) Ao contrário de todas as outras cidades-estado<br />
gregas, em Atenas se aceitava que estrangeiros<br />
participassem das assembleias que decidiam o<br />
funcionamento da sociedade. Isto a colocava como a<br />
polis mais democrática de toda a Grécia clássica.<br />
e) A existência de clãs e tribos alfabetizados,<br />
independentes econômica e militarmente, pouco<br />
contribuiu para o desenvolvimento da democracia, já<br />
que defendiam formas de governos tiranos ou<br />
autocratas.
(UNCISAL/AL) - Universidade Estadual de Ciências da<br />
Saúde de Alagoas - Questão 15:<br />
No território da Antiga Grécia, existiam dezenas de<br />
cidades-estados, destacando-se Atenas, Tebas, Mégara,<br />
Esparta, Corinto, Mileto e Argos.<br />
Acerca das cidades-estados, é correto afirmar que:<br />
a) compunham um mosaico de experiências e eram<br />
politicamente autônomas.<br />
b) possuíam uma organização econômica solidária.<br />
c) mantinham política e administração comuns.<br />
d) possuíam princípios religiosos antagônicos.<br />
e) estavam unidas na política de organização do<br />
Mediterrâneo.<br />
(URCA/CE) - Universidade Regional do Cariri -<br />
Questão 16:<br />
Canto de guerra espartano composto no século VII a.C.:<br />
“É belo que o homem bravo, combatendo por sua pátria,<br />
tombe na primeira fila; mas o que deserta de sua cidade e<br />
dos seus campos férteis e vai mendigar, errando com sua<br />
querida mãe, seu velho pai e seus filhos, é o mais<br />
miserável dos homens...<br />
Nós, corajosamente, combatemos por esta terra,<br />
morremos por nossos filhos, não poupamos nossa vida.<br />
Ó jovens, combatei, unidos uns aos outros, não temais<br />
senão a vergonha da fuga, estimulai no vosso coração<br />
uma valente e sólida coragem, e não vos inquietais com a<br />
vida lutando contra o inimigo.”<br />
Sobre a vida na sociedade espartana é correto afirmar:<br />
a) Se dava grande valor às artes e ao conhecimento em<br />
geral, apesar do militarismo imperante.<br />
b) As mulheres gozavam de certos direitos, inclusive o<br />
da participação militar no exército.<br />
c) A nobreza tinha o privilégio de ser isenta do serviço<br />
militar, destinado somente aos homens comuns.<br />
d) Os cidadãos eram livres e seu regime democrático<br />
permitia a todos a participação no poder político<br />
independentemente da renda ou origem.<br />
e) Se priorizava a formação física e militar e a vida<br />
familiar estava subordinada ao convívio coletivo.<br />
(UDESC) - Fundação Universidade do Estado de Santa<br />
Catarina - Questão 17:<br />
Na antigüidade clássica greco-romana, os cidadãos<br />
participavam ativamente da vida pública, social, religiosa<br />
e militar, sempre exercendo as funções de comando e<br />
liderança.<br />
Em relação a esse fato, assinale a alternativa incorreta:<br />
a) A era helenística marcou a transição da civilização<br />
grega para a romana.<br />
b) O cristianismo conseguiu se converter em religião<br />
oficial do Estado somente no ano mil.<br />
c) As olimpíadas foram criadas pelos gregos, como<br />
forma de homenagem à sua divindade suprema,<br />
Zeus.<br />
d) Na sociedade espartana, a rigorosa disciplina e a<br />
educação militarizada tinham claros objetivos<br />
políticos.<br />
e) A exemplo do Coliseu, os anfiteatros romanos foram<br />
cenários de festas e espetáculos, vulgarizados na<br />
prática do pão e circo.<br />
(UFGD/MS) Universidade Federal da Grande Dourados<br />
- Questão 18:<br />
Com relação aos regimes sociais e políticos da Grécia<br />
Antiga, é CORRETO afirmar que:<br />
a) os gregos protagonizaram a experiência democrática<br />
mais plena da história, uma vez que a democracia se<br />
estendia para o âmbito econômico, social e religioso.<br />
b) a democracia grega possibilitava às mulheres o<br />
direito ao voto, ao exercício de cargos políticos do<br />
executivo e a participação efetiva nas assembleias<br />
legislativas.<br />
c) na sociedade ateniense, apenas os cidadãos tinham<br />
direitos políticos, e somente era considerado cidadão<br />
o indivíduo do sexo masculino, maior de idade,<br />
nascido em Atenas e filho de pais atenienses.<br />
d) a filosofia grega, sobretudo a de Aristóteles,<br />
defendia a plena igualdade entre todos os indivíduos,<br />
independentemente de classe social, gênero ou etnia.<br />
e) embora somente Atenas tenha desenvolvido em sua<br />
plenitude os ideais democráticos, todas as demais<br />
cidades gregas adotaram instituições e princípios<br />
básicos idênticos aos dos atenienses.<br />
(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />
- Questão 19:<br />
A cultura grega contribuiu diretamente na inauguração<br />
de várias manifestações artísticas, filosóficas e<br />
científicas. Também marcou a origem da Mitologia, que<br />
39
uscava a explicação para as principais questões da<br />
existência humana, da natureza e da sociedade. Sobre a<br />
história política da Grécia, na Antiguidade Clássica,<br />
pode-se dizer que esta se caracterizou:<br />
a) pela alternativa de dinastia hegemônica.<br />
b) por uma federação estável, que era regida de forma<br />
ditatorial.<br />
c) por uma organização imperial.<br />
d) pela existência de cidades-estados que atuavam,<br />
politicamente, como unidades autônomas.<br />
e) por uma organização teocrática.<br />
(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />
Grande do Sul - Questão 20:<br />
Responder à questão com base nas afirmativas abaixo,<br />
sobre a Grécia Antiga no Período Clássico.<br />
I. As Guerras Médicas opuseram o Império Persa em<br />
expansão às cidades-estados gregas, pelo controle da<br />
Ásia Menor e das rotas comerciais nos mares Egeu e<br />
Negro.<br />
II. A vitória das cidades-estados gregas sobre o Império<br />
Persa marca o início da hegemonia ateniense na Grécia e<br />
o apogeu da democracia.<br />
III. O "Século de Péricles" alternou a democracia,<br />
caracterizada pela extensão dos direitos políticos aos<br />
comerciantes estrangeiros e o fim da escravidão, com o<br />
imperialismo ateniense sobre as outras cidades-estados<br />
gregas.<br />
IV. A hegemonia ateniense não encontrou resistência<br />
entre as outras cidades-estados gregas, mas sucumbiu<br />
diante da falta de apoio militar para enfrentar a invasão<br />
da Grécia por Alexandre da Macedônia.<br />
Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente são<br />
corretas:<br />
a) I e II<br />
b) I e III<br />
c) II e III<br />
d) II e IV<br />
e) III e IV<br />
(UFRN/RN) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />
Norte - Questão 21:<br />
O período helenístico foi marcado por grandes<br />
transformações na civilização grega. Entre suas<br />
características, podemos destacar:<br />
40<br />
a) O desenvolvimento de correntes filosóficas que,<br />
diante do esvaziamento das atividades políticas das<br />
cidades-Estado, faziam do problema ético o centro<br />
de suas preocupações visando, principalmente, o<br />
aprimoramento interior do ser humano.<br />
b) Um completo afastamento da cultura grega com<br />
relação às tradições orientais,decorrente, sobretudo,<br />
das rivalidades com os persas e da postura<br />
depreciativa que considerava bárbaros todos os<br />
povos que não falavam o seu idioma.<br />
c) A manutenção da autonomia das cidades-Estado, a<br />
essa altura articuladas primeiro na Liga de Delos,<br />
sob o comando de Atenas e, posteriormente, sob a<br />
Liga do Peloponeso, liderada por Esparta.<br />
d) A difusão da religião islâmica na região da<br />
Macedônia, terra natal de Felipe II, conquistador das<br />
cidades-Estado gregas.<br />
e) O apogeu da cultura helênica representado,<br />
principalmente, pelo florescimento da filosofia e do<br />
teatro e o estabelecimento da democracia ateniense.<br />
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 22:<br />
"... tendo-se posto à frente do povo no quarto ano após a<br />
queda dos tiranos, sob o arcontado de Iságoras, começou<br />
primeiramente por repartir todos os Atenienses em dez<br />
tribos, em lugar de quatro, querendo misturá-los, a fim<br />
de que mais pessoas participassem na politeia [...].<br />
Depois estabeleceu que a Boulé teria quinhentos<br />
membros, em vez de quatrocentos. [...] Dividiu o<br />
território da cidade em trinta grupos de demos, dez<br />
consagravam os demos urbanos, dez os de Parália, dez os<br />
da Masogeia e deu a estes grupos o nome de trítias."<br />
(ARISTÓTELES, Athenaiôn Politeia XXI. In: MOSSE, C. As instituições gregas.<br />
Lisboa: Edições 70, 1985, p. 38.)<br />
Ao texto podem ser associadas:<br />
a) as reformas arquitetônicas de reconstrução e<br />
embelezamento de Atenas, promovidas por Péricles;<br />
b) as reformas legais de organização e registro, por<br />
escrito, das leis, promovidas por Drácon;<br />
c) as reformas públicas, gerando emprego a thetas e<br />
georgóis descontentes, promovidas por Psístrato;<br />
d) as reformas sociais entre as quais se destacava o fim<br />
da escravidão por dívidas, promovidas por Sólon;<br />
e) as reformas políticas que deram fim à ditadura e<br />
inauguraram a democracia, promovida por Clístenes.
(IFPI) - Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />
Tecnologia do Piauí - Questão 23:<br />
Das afirmativas seguintes, indique aquelas que você<br />
considera corretas.<br />
I. Situada na península da Ática, mais interiorana do que<br />
a maioria das cidades gregas, Esparta foi colonizada<br />
pelos dórios, de forte tradição guerreira, e seu modelo de<br />
educação e disciplina militar exerceram, em última<br />
instância, influência em todo o mundo grego.<br />
II. A tradição mítico-religiosa jamais desapareceu na<br />
Grécia, mas coexistiu com um crescente racionalismo,<br />
com a ideia da investigação sistemática, de que o mundo<br />
é regido por leis da natureza, não por deuses cheios de<br />
caprichos, um modelo que duvida de tudo, investigador e<br />
experimental.<br />
III. Ao franquear a Assembleia a todos os cidadãos<br />
homens e ao tirar os cargos do domínio exclusivo dos<br />
grandes proprietários de terra, Licurgo, o legislador<br />
mítico, enfraqueceu os direitos tradicionais da<br />
aristocracia hereditária e deu início às transformações<br />
políticas de Atenas, de uma oligarquia aristocrática em<br />
uma democracia.<br />
IV. A tirania era comum nas cidades-estados gregas. Os<br />
tiranos geralmente apareciam como defensores dos<br />
pobres em sua luta contra os aristocratas. Indício de que<br />
o governo devia levar em consideração as necessidades<br />
de toda a comunidade.<br />
a) II e III<br />
b) I e II<br />
c) II e IV<br />
d) III e IV<br />
e) I e III<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 24:<br />
Assinale (V) se for Verdadeiro e (F) se for Falso.<br />
Na Grécia, durante a chamada Antiguidade Clássica,<br />
houve a formação de culturas diferentes que defendiam<br />
sociedades com práticas políticas, muitas vezes, em<br />
confronto. A cidade de Esparta, uma das mais<br />
importantes, tinha:<br />
a) uma legislação social flexível, preocupada com a<br />
ética e a justiça social.<br />
b) uma estrutura social hierarquizada onde dominavam<br />
práticas militaristas.<br />
c) uma sociedade sem escravos, apesar da presença de<br />
rigidez social.<br />
d) uma aliança política com Atenas, em defesa da<br />
monarquia eletiva.<br />
e) um conselho de anciãos, defensores da democracia<br />
entre os periecos.<br />
(UEM/PR) - Universidade Estadual de Maringá -<br />
Questão 25:<br />
Sobre a civilização grega antiga, assinale o que for<br />
correto.<br />
1 - O Período Arcaico é considerado o momento mais<br />
democrático da <strong>História</strong> Grega, principalmente pela<br />
participação dos eupátridas, que representavam o povo<br />
nos conselhos que escolhiam o rei.<br />
2 - Uma das características da sociedade ateniense era a<br />
forma que dispensava à vida militar. Nela, os jovens<br />
eram preparados militarmente desde os sete anos para se<br />
dedicarem aos ofícios do Estado. Após completarem<br />
trinta anos, podiam casar e participar da Assembleia e, ao<br />
completarem sessenta anos, retiravam-se das atividades<br />
militares e podiam tomar parte do Conselho dos Anciãos<br />
(gerontocracia).<br />
4 - Em Atenas, uma das práticas políticas adotadas pelos<br />
governos tirânicos para se manterem no poder eram as<br />
concessões de benefícios às camadas populares.<br />
8 - O Helenismo, um intenso processo de difusão da<br />
cultura grega no Oriente, caracteriza-se por uma<br />
oposição ao universalismo cultural e uma restrição ao<br />
sincretismo religioso.<br />
16 - A democracia espartana caracterizava-se pela forma<br />
representativa nas decisões políticas. Exceto escravos,<br />
mulheres e estrangeiros, todos os seguimentos sociais<br />
tinham seus representantes nas assembleias.<br />
(UFV/MG) - Universidade Federal de Viçosa - Questão<br />
26:<br />
Sobre a Pólis grega, é INCORRETO afirmar que:<br />
a) possuía instituições e governo próprios, que<br />
expressavam a vontade dos cidadãos.<br />
b) em sua origem, uma das funções da Polis era<br />
conservar a aliança dos cidadãos com as divindades.<br />
c) em Atenas, as reformas de Sólon permitiram o<br />
enfraquecimento da aristocracia e o surgimento da<br />
democracia.<br />
41
d) apesar da tradição guerreira, Esparta tratava os<br />
cidadãos das cidades conquistadas como cidadãos<br />
espartanos.<br />
(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />
Questão 27:<br />
A aspiração máxima do escravo, obtido por guerra, era<br />
alcançar a alforria. Vários textos aconselhavam a<br />
promessa de liberdade como estímulo. A decisão de<br />
libertar o escravo partia do senhor na imensa maioria dos<br />
casos e, com frequência, o candidato à alforria pagava<br />
seu preço ao dono.<br />
(CARDOSO, C. O trabalho compulsório na antiguidade. Adaptado. Rio de<br />
Janeiro: Graal, 2003. p. 57)<br />
Em Atenas, no século V a.C., normalmente quando o<br />
escravo de um particular era libertado, ele passava a ser<br />
considerado:<br />
a) cidadão com plenos direitos.<br />
b) indivíduo que obrigatoriamente participava do<br />
exército da cidade.<br />
c) meteco, estrangeiro livre residente na cidade.<br />
d) escravo do Estado, sujeito a trabalhos forçados.<br />
e) indivíduo que ameaçava a cidade, sendo, portanto,<br />
expulso.<br />
(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />
Grande do Sul - Questão 28:<br />
No Período Homérico, da <strong>História</strong> Antiga da Grécia (séc.<br />
XII a.C. – VIII a.C.), já existiam formas precoces de<br />
cidades, comunidades agrárias, coletivistas, como<br />
apontam as pesquisas arqueológicas. Mas foi no Período<br />
Arcaico (séc. VIII a.C. – VI a.C.) que as cidades-estado<br />
gregas, definidas como pólis ou urbes, desenvolveramse.<br />
Essas cidades-estado tinham como características<br />
políticas ___________entre si e governos<br />
_________________, que representavam<br />
_________________.<br />
a) dependência – centralizados – os cidadãos livres e os<br />
monarcas hereditários<br />
b) dependência – centralizados – os deuses e as figuras<br />
mitológicas<br />
c) independência – centralizados – os cidadãos livres<br />
d) independência – centralizados – os monarcas<br />
hereditários e a corte<br />
e) dependência – descentralizados – os nobres, os<br />
sacerdotes e os estrangeiros<br />
42<br />
(UFRN/RN) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />
Norte - Questão 29:<br />
Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a Grécia. Seu<br />
filho Alexandre, o Grande, consolidou as conquistas do<br />
pai e expandiu o Império em direção à Ásia, chegando<br />
até a Índia.<br />
Na perspectiva histórica, a obra de Alexandre e de seus<br />
sucessores imediatos foi importante porque:<br />
a) substituiu a visão mística do mundo, presente nos<br />
povos orientais, pelo conhecimento intelectual<br />
proveniente da razão e do raciocínio lógico.<br />
b) favoreceu a difusão do modelo político das cidadesestados<br />
da Grécia pelas regiões conquistadas no<br />
Oriente, estimulando um governo fundamentado na<br />
liberdade e na democracia.<br />
c) suplantou o poder despótico predominante nos<br />
grandes impérios orientais, os quais atribuíam aos<br />
governantes uma origem divina.<br />
d) possibilitou o intercâmbio de culturas, difundindo as<br />
tradições gregas nas terras do Oriente, enquanto as<br />
mesopotâmicas, egípcias, hebraicas e persas<br />
expandiam-se para o Ocidente.<br />
(FFFCMPA/RS) Fundação Faculdade Federal de<br />
Ciências Médicas de Porto Alegre - Questão 30:<br />
No período clássico grego (Séc. V–IV a.C) Atenas com<br />
sua ordem democrática, seu desenvolvimento econômico<br />
e sua expansão pelo mar Egeu, destacou-se como a mais<br />
importante entre as cidades-estados da Grécia antiga. O<br />
fortalecimento grego-ateniense apoiado numa forte<br />
política expansionista deflagrou inúmeros conflitos com<br />
o Império Persa, outra potência que disputava com os<br />
Gregos o controle da Jônia (região costeira da Ásia<br />
Menor). Posteriormente, deflagraram-se as guerras entre<br />
as polis gregas contra a hegemonia ateniense, fortalecida<br />
ainda mais após as guerras com os Persas. Dessas lutas<br />
entre cidades-estados, a derrota de Atenas significou o<br />
declínio da sociedade grega clássica.<br />
A quais acontecimentos, respectivamente, se refere o<br />
texto acima?<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Guerras Médicas e Batalha de Pelusa.<br />
b) Guerra do Peloponeso e Batalha de Pelusa.<br />
c) Guerras Púnicas e Guerra do Peloponeso.<br />
d) Guerras Médicas e Guerra do Púnicas.<br />
e) Guerras Médicas e Guerra do Peloponeso.
(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 31:<br />
Sólon, legislador ateniense, iniciou uma reforma que<br />
mediou as lutas sociais, entre os ricos e os pobres, que<br />
eclodiram na Ática, na virada do século VI. Entre as<br />
medidas desse reforma, está a abolição da servidão por<br />
dívidas no campo, o que significou o fim do<br />
a) privilégio da nobreza, que monopolizava os cargos<br />
políticos e controlava a produção do campo e a sua<br />
força de trabalho, no caso, os escravos.<br />
b) mecanismo pelo qual os pequenos camponeses<br />
caiam nas mãos dos grandes proprietários fundiários<br />
e se tornavam seus cultivadores dependentes.<br />
c) conflito entre cidadãos e plebeus, que culminou com<br />
o aumento da produção de cereais, tornando o<br />
campo uma potência nas relações comerciais<br />
atenienses.<br />
d) regime servil, fato que transformou a Ática no maior<br />
exemplo de democracia, na qual todos os habitantes<br />
da região eram considerados cidadãos.<br />
e) crescimento das propriedades dos nobres e o<br />
alargamento das conquistas sociais, o que resultou<br />
numa reforma agrária ampla, geral e irrestrita.<br />
A primeira maratona dos Jogos Olímpicos modernos foi<br />
realizada no ano de 1896. A maratona moderna originouse<br />
da lenda segundo a qual um herói grego sacrificou a<br />
sua vida para percorrer os 40 km entre as cidades de<br />
Maratona e Atenas, na Grécia. O corredor era<br />
Pheidíppides, que correu essa distância para levar a<br />
notícia da vitória grega sobre os persas, na Batalha de<br />
Maratona, no ano de 490 antes de Cristo. Em 1908, nos<br />
Jogos Olímpicos de Londres, o percurso da maratona<br />
sofreu uma alteração. Para que a família real britânica<br />
pudesse assistir ao início da prova do jardim do Castelo<br />
de Windsor, o comitê organizador aferiu a distância total<br />
em 42.195 metros, que continua até hoje. Atualmente o<br />
recorde mundial pertence ao marroquino, naturalizado<br />
americano, Khalid Khannouchi, de 30 anos, que, no dia<br />
14 de abril de 2002, em Londres, estabeleceu o tempo de<br />
2h5min38s, média de 2min57s por quilômetro<br />
(1h2min42s nos 21 km iniciais). O primeiro resultado<br />
oficial de uma mulher a correr uma maratona pertence à<br />
inglesa Violet Piercy, com o tempo de 3h40min22s, no<br />
ano de 1926.<br />
(Disponível em: . Acesso em: 21 ago 2007. Adaptado.)<br />
(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />
Questão 32:<br />
O sistema de pólis caracterizou o mundo grego em seu<br />
período clássico (V – IV a.C.). Sobre a pólis, analise as<br />
afirmativas.<br />
I - Seu regime político era apenas a democracia.<br />
II - Suas instituições políticas eram a Assembléia, o<br />
Conselho e as Magistraturas.<br />
III - Sua cidadania abrangia os homens e as mulheres,<br />
excluídos os estrangeiros e os escravos.<br />
IV - Sua consolidação ocorreu paralelamente à expansão<br />
do uso da mão-de-obra escrava.<br />
Estão corretas as afirmativas<br />
a) II e IV, apenas.<br />
b) I e III, apenas.<br />
c) I, II e III, apenas.<br />
d) II, III e IV, apenas.<br />
e) I, II, III e IV.<br />
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 33:<br />
SAÚDE E ESPORTE<br />
A Batalha de Maratona foi um episódio importante no<br />
contexto das guerras greco-pérsicas. Em consequência<br />
dessas guerras,<br />
a) Atenas conquistou a liderança e a hegemonia no<br />
mundo grego.<br />
b) a expansão persa foi contida e se iniciou a expansão<br />
da Macedônia.<br />
c) o poder de Esparta saiu fortalecido e o de Micenas<br />
entrou em crise e decadência.<br />
d) a expansão persa foi contida na direção do Norte e<br />
foi direcionada para o Oriente.<br />
e) Esparta e a liga de Delos, por ela liderada, passaram<br />
a ter hegemonia no mundo grego.<br />
(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas - Questão<br />
34:<br />
Muito do que se conhece sobre os primórdios da<br />
civilização grega deve-se à obra literária atribuída a<br />
Homero. Um dos eventos mais marcantes desse período<br />
foi a Guerra de Troia cuja motivação primária:<br />
a) Foi a disputa pelas rotas comerciais entre a<br />
península do Peloponeso e os povos micênicos,<br />
opondo as esquadras de Ulisses e Agamenon.<br />
43
) Deveu-se a invasão troiana nas colônias gregas da<br />
Ásia Menor por Ulisses, provocando a reação de<br />
Aquiles, rei da Tessália.<br />
c) Foi o rapto feito por Páris, filho de Príamo, rei de<br />
Troia, da jovem Helena, esposa de Menelau, rei de<br />
Esparta, motivando a reação deste último.<br />
d) Derivou das disputas pela hegemonia da Grécia<br />
entre as principais cidades-estados, lideradas por<br />
Ulisses, Aquiles e Paris.<br />
e) Foi a constituição de uma aliança militar entre<br />
Esparta e Troia, visando restringir a expansão<br />
Ateniense na região.<br />
(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão 35:<br />
O filme 300, que fez grande sucesso nos cinemas de todo<br />
o mundo em 2007, tematiza uma das batalhas mais<br />
importantes das Guerras Médicas. Tal evento pode ser<br />
caracterizado como um conflito que:<br />
a) foi causado pelo processo de expansão territorial do<br />
império persa, que ambicionava expandir seus<br />
domínios sobre os gregos.<br />
b) enfraqueceu as cidades-Estado gregas e persas,<br />
facilitando o domínio macedônico sobre a região.<br />
c) culminou no domínio dos gregos sobre os persas e<br />
no florescimento cultural de Esparta.<br />
d) marcou o processo de unificação entre medas e<br />
persas, garantindo a sua supremacia econômica na<br />
região da Mesopotâmia.<br />
(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />
Mackenzie - Questão 36:<br />
Verdadeiros fundadores da filosofia, os pensadores “présocráticos”<br />
inauguraram, a partir do século VI a.C., uma<br />
nova atitude mental ante a realidade material,<br />
substituindo progressivamente as elaborações de cunho<br />
mitológico por especulações de caráter científicofilosófico.<br />
A propósito desse importante momento da<br />
história da filosofia, são feitas as seguintes afirmações:<br />
I) Segundo a tradição, Tales de Mileto foi o primeiro<br />
filósofo a tratar a questão da origem e transformação de<br />
todas as coisas. Para ele, “a água era o princípio de<br />
tudo”.<br />
II) Atribui-se a Pitágoras de Samos (e a seus seguidores)<br />
a ideia de que “ todas as coisas são como os números”,<br />
ou seja, de que todo o mundo – inclusive a alma – se<br />
forma segundo uma estrutura harmônica.<br />
44<br />
III) Os atomistas (Leucipo de Mileto e Demócrito de<br />
Abdera) afirmavam ser toda a matéria formada por<br />
átomos, ou seja, pó “partículas minúsculas, eternas e<br />
indivisíveis”, que, em movimento, se chocavam entre si,<br />
provocando assim o nascimento, a mudança e<br />
aniquilamento de todas as coisas.<br />
Assinale:<br />
a) se apenas I é correta.<br />
b) se apenas II é correta.<br />
c) se apenas III é correta.<br />
d) se apenas I e II são corretas.<br />
e) se I, II e III são corretas.<br />
(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />
Mesquita Filho - Questão 37:<br />
É preciso dizer que, com a superioridade excessiva que<br />
proporcionam a força, a riqueza, [...] [os muitos ricos]<br />
não sabem e nem mesmo querem obedecer aos<br />
magistrados [...] Ao contrário, aqueles que vivem em<br />
extrema penúria desses benefícios tornam-se demasiados<br />
humildes e rasteiros. Disso resulta que uns incapazes de<br />
mandar, só sabem mostrar uma obediência servil e que<br />
outros, incapazes de se submeter a qualquer poder<br />
legítimo, só sabem exercer uma autoridade despótica.<br />
(Aristóteles, A Política)<br />
Segundo Aristóteles (384–322 a.C.), que viveu em<br />
Atenas e em outras cidades gregas, o bom exercício do<br />
poder político pressupõe:<br />
a) o confronto social entre ricos e pobres.<br />
b) a coragem e a bondade dos cidadãos.<br />
c) uma eficiente organização militar do Estado.<br />
d) a atenuação das desigualdades entre cidadãos.<br />
e) um pequeno número de habitantes na cidade.<br />
(UTFPR/PR) Universidade Tecnológica Federal do<br />
Paraná - Questão 38:<br />
“Desde o século VII a.C. Atenas conheceu grande<br />
desenvolvimento econômico, ampliando suas relações<br />
comerciais a partir do Porto do Pireu, e a escravidão na<br />
produção agrícola. Como conseqüência, a luta de classes<br />
tornou-se mais acirrada, forçando mudanças políticas,<br />
que determinaram a perda do monopólio, que beneficiou<br />
as camadas populares, mas em especial os mercadores,<br />
pequenos proprietários e artesãos.”<br />
O texto refere-se ao apogeu de Atenas e sobre este<br />
período é correto afirmar que:
a) o conceito de democracia para os antigos atenienses<br />
se restringia a menos de 10% dos habitantes da<br />
polis.<br />
b) o advento da democracia possibilitou a integração de<br />
toda Hélade em torno de um único soberano.<br />
c) a economia de mercado fez com que os atenienses<br />
montassem um gigantesco império comercial, sem<br />
encontrar descontentamentos das outras cidades.<br />
d) na sua evolução, a democracia ateniense acabou<br />
estendendo a participação política às mulheres e aos<br />
estrangeiros.<br />
e) o escravismo foi abolido definitivamente com a<br />
dominação macedônica.<br />
(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 39:<br />
O nome perieco, em grego [perioikos], significava<br />
morador “em torno da casa” e servia para designar uma<br />
classe com várias obrigações de Estado, entre elas a do<br />
serviço militar. Com base nestas obrigações estatais dos<br />
periecos em Esparta antiga, é correto afirmar que estes<br />
homens socialmente eram reconhecidos como:<br />
a) cidadãos espartanos que cumpriam o dever cívico<br />
desde o nascimento, servindo como guerreiros e<br />
sustentando a ordem dentro e fora da militarizada<br />
cidade-Estado de Esparta.<br />
b) homens livres, mas com direitos limitados, estando<br />
politicamente submetidos aos esparciatas, os<br />
cidadãos espartanos, os quais definiam o lugar dos<br />
periecos na guerra.<br />
c) trabalhadores servos, presos à terra e sem direitos<br />
políticos, estando sob a autoridade direta dos hilotas,<br />
os cidadãos espartanos, que os levavam para a<br />
guerra como escravos.<br />
d) escravos de uma categoria superior a dos hilotas. Os<br />
periecos recebiam alforria com mais facilidade e não<br />
podiam ser maltratados por seus senhores, pois<br />
serviam na guerra.<br />
e) pequenos proprietários rurais que ganharam<br />
cidadania espartana depois da guerra do Peloponeso,<br />
quando Esparta teve que convocar mais homens<br />
além dos seus cidadãos.<br />
(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />
Questão 40:<br />
"Ao mesmo tempo conseqüência da crise agrária, para a<br />
qual constituía uma saída e fator de um progresso<br />
econômico diversificado, a colonização grega foi um dos<br />
acontecimentos essenciais dos séculos arcaicos, embora<br />
com ímpeto menor e algumas modificações se<br />
estendessem igualmente aos séculos clássicos (V e IV<br />
a.C.).<br />
(CARDOSOS, C.F. A cidade-estado antiga. São Paulo: Ática, 1990, p.25)<br />
Sobre o tema, assinale o que for correto.<br />
1 - A colônia grega típica, ou apoikia, era uma cidade-<br />
Estado independente, fundada por uma metrópole que<br />
enviava um guia ou fundador (oikistés) e financiava a<br />
expedição; esta, no entanto, podia contar com<br />
contingentes de várias póleis.<br />
2 - A relação dos gregos com os povos nativos era<br />
normalmente pacífica, com tendências ao igualitarismo.<br />
4 - O processo colonizatório grego possibilitou um<br />
prodigioso movimento de multiplicação das póleis<br />
gregas cujo número ultrapassaria 1500.<br />
8 - A criação de colônias no Mediterrâneo Ocidental, no<br />
norte da África, no Mar Negro e outros locais prendia-se,<br />
exclusivamente, a motivos agrários.<br />
16 - A intervenção das autoridades metropolitanas era<br />
clara: não se tratava de migrações espontâneas<br />
organizadas em caráter privado; a penalidade para quem<br />
se negasse a partir era a morte, acompanhada de confisco<br />
de bens.<br />
(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />
Mineiro - Questão 41:<br />
Temos um regime que nada tem a invejar das leis<br />
estrangeiras. Somos, antes, exemplos que imitadores.<br />
Nominalmente, como as coisas não dependem de uma<br />
minoria, mas, ao contrário, da maioria, o regime se<br />
denomina democracia. No entanto, se, em matéria de<br />
divergências particulares, a igualdade de todos diante da<br />
lei é assegurada, cada um, em virtude das honras devidas<br />
à posição ocupada, é julgado naquilo que pode ocasionar<br />
sua distinção: no que se refere à vida pública, as origens<br />
sociais contam menos que o mérito, sem que a pobreza<br />
dificulte a alguém servir à cidade por causa da humildade<br />
de sua posição (...)<br />
Uma pessoa pode, ao mesmo tempo, ocupar-se de seus<br />
assuntos e dos do Estado e a multiplicidade das<br />
ocupações não impede o julgamento dos assuntos<br />
públicos. Somos os únicos a taxar, efetivamente, aqueles<br />
que não fazem parte dos ativos, mas dos inúteis.<br />
Tucídides, <strong>História</strong> da Guerra do Peloponeso.<br />
45
Tratando da democracia ateniense, o autor destaca, nesse<br />
texto:<br />
a) a influência que outros modelos políticos exerceram<br />
sobre Atenas;<br />
b) a importância do princípio da isonomia entre os<br />
cidadãos;<br />
c) seu desprezo por aqueles que se dedicavam à vida<br />
pública;<br />
d) o critério censitário que determinava a participação<br />
política;<br />
e) a exigência de dedicação exclusiva aos assuntos<br />
públicos.<br />
(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />
Questão 42:<br />
Ao povo dei tantos privilégios quantos lhe bastam à sua<br />
honra; nada tirei nem acrescente; mas os que tinham<br />
poder e eram admirados pelas riquezas, também neles<br />
pensei que nada tivessem de infamantes... Entre uma e<br />
outra facção, a nenhuma permitiu vencer injustamente.<br />
(Sólon, século VI a.C.)<br />
No governo de Atenas, o autor procurou:<br />
a) Restringir a participação política de ricos e pobres,<br />
para impedir que suas demandas pusessem em<br />
perigo a realeza.<br />
b) Impedir que o equilíbrio político existente, que<br />
beneficiava a aristocracia, fosse alterado no sentido<br />
da democracia.<br />
c) Permitir a participação dos cidadãos pobres na<br />
política para derrubar o monopólio dos grandes<br />
proprietários de terras.<br />
d) Abolir a escravidão dos cidadãos que se<br />
endividavam, ao mesmo tempo em que mantinha sua<br />
exclusão da vida política.<br />
e) Disfarçar seu poder tirânico com concessões e<br />
encenações que davam aos cidadãos a ilusão de que<br />
participavam da política.<br />
(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 43:<br />
Através da cultura, a sociedade humana constrói seu<br />
conhecimento sobre a natureza e procura decifrar os<br />
mistérios do universo. A produção cultural foi um dos<br />
Destaques da Grécia na Antiguidade. Na época, o teatro<br />
grego:<br />
46<br />
a) conseguiu sintetizar as preocupações religiosas da<br />
sociedade, criticando as concepções mitológicas<br />
dominantes.<br />
b) teve suas encenações ao ar livre bastante admiradas,<br />
com atores do sexo masculino, usando máscaras nas<br />
representações.<br />
c) divertiu o povo com suas comédias cheias de ironia<br />
filosófica, evitando a representação de temas sobre<br />
as angústias humanas.<br />
d) representou a vida confusa dos deuses gregos,<br />
contribuindo para esvaziar o poder dos mitos e da<br />
aristocracia.<br />
e) foi à expressão das preocupações filosóficas do seu<br />
povo, divulgando uma ética democrática sem<br />
ligações com a religião.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 44:<br />
A sociedade grega criou seus mitos e deuses, mas<br />
também elaborou um pensamento filosófico que<br />
expressava sua preocupação com a verdade e a ética.<br />
Além de Aristóteles, Platão e Sócrates, muitos<br />
pensadores merecem ser citados e discutidos, como os<br />
sofistas, que:<br />
a) formularam princípios éticos, revolucionários para a<br />
época e de grande significado para o pensamento de<br />
Platão.<br />
b) defenderam a liberdade de expressão, embora<br />
estivessem ligados à aristocracia ateniense, contrária<br />
à ampliação da cidadania.<br />
c) construíram reflexões sobre o comportamento<br />
humano que serviram de base para Aristóteles<br />
pensar a sua metafísica.<br />
d) criticaram a existência de verdades absolutas,<br />
afirmando ser o homem a medida de todas as coisas.<br />
e) ajudaram a consolidar o pensamento conservador<br />
grego, reafirmando a importância da mitologia.<br />
(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão 45:<br />
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas /<br />
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça da Atenas /<br />
Quando amadas, se perfumam / Se banham com leite, se<br />
arrumam / Suas melenas / Quando fustigadas não choram<br />
/ Se ajoelham, pedem, imploram / Mais duras penas /<br />
Cadenas<br />
Buarque, Chico. "Mulheres de Atenas". Disponível em:<br />
www.mundocultural.com.br. Acesso em: 11 set. 2006.
O papel desempenhado pela mulher na <strong>História</strong> foi, por<br />
muito tempo, negligenciado pelos historiadores. Apenas<br />
a partir da segunda metade do século XX, os<br />
historiadores, despertados pelas contestações feministas,<br />
passaram a interessar mais pela atuação da mulher. Sobre<br />
a mulher na antiguidade, analise a validade das<br />
proposições a seguir.<br />
I. A mulher no Egito Antigo teve um status privilegiado<br />
em comparação com outras civilizações antigas, pois<br />
possuía direitos sociais e jurídicos que lhe garantiam<br />
uma significativa liberdade.<br />
II. As mulheres hebraicas possuíam direitos políticos e<br />
sociais equivalentes aos dos homens, derivados dos<br />
preceitos religiosos do Pentateuco, os quais defendiam<br />
que os homens e as mulheres são iguais, pois ambos são<br />
filhos de Deus.<br />
III. A mulher ateniense casada vivia grande parte do seu<br />
tempo confinada ao lar, estando submissa a um regime<br />
de quase reclusão, privada de uma participação efetiva<br />
nas decisões políticas.<br />
IV. A sociedade guerreira espartana privada as mulheres<br />
de qualquer participação no exército e na política,<br />
restringindo suas funções à educação dos seus filhos e de<br />
suas filhas.<br />
a) As proposições I e III são verdadeiras.<br />
b) As proposições I e IV são verdadeiras.<br />
c) As proposições II e III são verdadeiras.<br />
d) As proposições III e IV são verdadeiras.<br />
c) Permitir a participação dos cidadãos pobres na<br />
política para derrubar o monopólio dos grandes<br />
proprietários de terras.<br />
d) Abolir a escravidão dos cidadãos que se<br />
endividavam, ao mesmo tempo em que mantinha sua<br />
exclusão da vida política.<br />
e) Disfarçar seu poder tirânico com concessões e<br />
encenações que davam aos cidadãos a ilusão de que<br />
participavam da política.<br />
(UNICAMP/SP) - Universidade Estadual de Campinas -<br />
Questão 47:<br />
As figuras escavadas em pedra nos mármores de Elgin,<br />
que circundavam o Parthenon, encorajavam as<br />
esperanças dos atenienses. Assim batizadas em honra do<br />
nobre inglês que as levou para Roma no século XIX, elas<br />
podem ser apreciadas hoje no Museu Britânico. Nos<br />
mármores estão esculpidas cenas em honra da fundação<br />
de Atenas e aos seus deuses. Celebrava-se o triunfo da<br />
civilização sobre o barbarismo.<br />
(Adaptado de Richard Sennett, A pedra e a carne. O Corpo e a Cidade na<br />
civilização Ocidental. Rio de Janeiro: Record. 2003. p. 37.)<br />
a) O que significa "bárbaro" na Atenas Clássica?<br />
b) Segundo o texto o que o Parthenon e seus mármores<br />
significavam?<br />
c) Explique por que a apropriação desses mármores pelos<br />
ingleses se dá no século XIX.<br />
(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />
Questão 46:<br />
Ao povo dei tantos privilégios quantos lhe bastam à sua<br />
honra; nada tirei nem acrescente; mas os que tinham<br />
poder e eram admirados pelas riquezas, também neles<br />
pensei que nada tivessem de infamantes... Entre uma e<br />
outra facção, a nenhuma permitiu vencer injustamente.<br />
(Sólon, século VI a.C.)<br />
No governo de Atenas, o autor procurou:<br />
a) Restringir a participação política de ricos e pobres,<br />
para impedir que suas demandas pusessem em<br />
perigo a realeza.<br />
b) Impedir que o equilíbrio político existente, que<br />
beneficiava a aristocracia, fosse alterado no sentido<br />
da democracia.<br />
(UDESC) - Fundação Universidade do Estado de Santa<br />
Catarina - Questão 48:<br />
Na antiguidade clássica greco-romana, os cidadãos<br />
participavam ativamente da vida pública, social, religiosa<br />
e militar, sempre exercendo as funções de comando e<br />
liderança.<br />
Em relação a esse fato, assinale a alternativa incorreta:<br />
a) A era helenística marcou a transição da civilização<br />
grega para a romana.<br />
b) O cristianismo conseguiu se converter em religião<br />
oficial do Estado somente no ano mil.<br />
c) As olimpíadas foram criadas pelos gregos, como<br />
forma de homenagem à sua divindade suprema,<br />
Zeus.<br />
d) Na sociedade espartana, a rigorosa disciplina e a<br />
educação militarizada tinham claros objetivos<br />
políticos.<br />
47
e) A exemplo do Coliseu, os anfiteatros romanos foram<br />
cenários de festas e espetáculos, vulgarizados na<br />
prática do pão e circo.<br />
(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />
Questão 49:<br />
Atenas viveu, após as reformas implementadas por<br />
Clístenes em 508 a.C., sob um regime democrático. As<br />
reformas na distribuição dos cidadãos por tribos,<br />
ampliadas de 4 para 10 e a repartição de cada tribo em<br />
três demos, um na cidade, um no litoral e outro na área<br />
rural, foram as bases para as reformas posteriores. Sobre<br />
o assunto, assinale a afirmativa incorreta:<br />
a) O ostracismo, aplicado pela primeira vez no período<br />
488 – 487 a.C., estabelecia a expulsão do cidadão<br />
denunciado como politicamente perigoso e a<br />
cassação de seus direitos políticos por um prazo de<br />
dez anos.<br />
b) Entre as reformas implementadas por Péricles, a<br />
criação da mistoforia – remuneração ao exercício de<br />
cargos e à participação nas assembléias – permitiu<br />
que os cidadãos mais pobres pudessem participar da<br />
política sem colocar em risco a sua subsistência<br />
material.<br />
c) Todos os habitantes de Atenas, maiores de dezoito<br />
anos, de qualquer gênero, de qualquer procedência,<br />
ou de qualquer classe de riqueza podiam votar na<br />
assembléia popular – Eclésia.<br />
d) Na Atenas do século IV a.C., a Eclésia era o centro<br />
de vida política, englobando entre suas funções as<br />
dimensões legislativa, executiva, judiciária e<br />
eleitoral.<br />
e) Ao longo do século IV a.C., a democracia ateniense<br />
enfrentou dificuldades para manter suas instituições,<br />
dentre elas as advindas do volume de recursos para<br />
sustentar as remunerações dos cidadãos, como a<br />
mistoforia.<br />
(UFG/GO) - Universidade Federal de Goiás - Questão<br />
50:<br />
Leia os trechos do poema de Murilo Mendes:<br />
Eu quis acender o espírito da vida, / Quis refundir meu<br />
próprio molde, / Quis conhecer a verdade dos seres, dos<br />
elementos; / Me rebelei contra Deus. / [...] / Então o<br />
ditador do mundo / Mandou me prender no Pão de<br />
Açúcar: / Vem, esquadrilhas de aviões / Bicar o meu<br />
48<br />
pobre fígado. / Vomito bílis em quantidade, / [...] / Mas<br />
não posso pedir perdão.<br />
Citado por RODRIGUES, Antonio Medina. As utopias gregas. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1988. p. 51-52.<br />
A poesia de Murilo Mendes reatualiza o mito grego,<br />
apresentando uma percepção do mundo contemporâneo.<br />
Identifique e caracterize a narrativa mítica grega a qual o<br />
poema se refere.<br />
(UFC) - Universidade Federal do Ceará - Questão 51:<br />
A tirania foi uma das formas de regime político que<br />
surgiu em algumas cidades gregas, como Atenas, no<br />
século VI a.C., e antecedeu a consolidação da<br />
democracia.<br />
a) Por que a tirania que existiu na Grécia difere do que se<br />
entende, atualmente, por tirania?<br />
b) Por que o mecanismo do ostracismo foi importante<br />
para a manutenção da democracia na Grécia Antiga?<br />
(UECE) - Universidade Estadual do Ceará - Questão 52:<br />
“Atenas (...) mais atenta a alargar o seu império marítimo<br />
do que a usufruí-lo, com um governo político em que os<br />
rendimentos públicos eram distribuídos pelo povo<br />
enquanto os ricos eram oprimidos, nunca chegou a fazer<br />
esse grande comércio que lhe prometiam o trabalho nas<br />
suas minas, a multidão dos seus escravos, o grande<br />
número dos seus homens do mar, a sua autoridade sobre<br />
as cidades gregas e, mais do que tudo isso, as belas<br />
instituições de Sólon,”<br />
Fonte: Montesquieu in O Espírito das Leis. (1748).<br />
Tomando por base o conteúdo apresentado, é correto<br />
afirmar:<br />
a) O interesse ateniense em expandir o seu domínio se<br />
consolidou com a organização da Confederação de<br />
Delos, durante o período helenístico.<br />
b) A expansão do comércio ateniense decorreu do<br />
intercâmbio mantido com os fenícios, que<br />
controlavam o comércio marítimo no Mediterrâneo.<br />
c) A valorização dos direitos do cidadão, que<br />
expressava a base da democracia ateniense, era mais<br />
reconhecida do que as atividades comerciais.<br />
d) O espírito de conquista territorial dos atenienses, no<br />
Mar Egeu, decorreu do fortalecimento de Esparta<br />
como pólo comercial.
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 53:<br />
Os poemas homéricos são fontes históricas para se<br />
conhecerem os primeiros tempos da cultura e da<br />
sociedade grega. No chamado período homérico:<br />
a) a sociedade grega tinha na religião sua grande base<br />
de poder;<br />
b) os gregos conservaram formas de governo sem<br />
intervenção da religião;<br />
c) essa sociedade viveu as primeiras experiências<br />
democráticas;<br />
d) observa-se uma grande atuação dos principais<br />
filósofos gregos;<br />
e) os gregos valorizaram o pacifismo e o teatro épico<br />
de Aristófanes.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 54:<br />
A Grécia conviveu com formas políticas de governo<br />
variadas que contribuíram para debates significativos<br />
sobre a ética e a cidadania. A experiência política dos<br />
gregos, no período governado por Péricles, em Atenas:<br />
a) reforçou a monarquia eletiva, com a ampliação da<br />
cidadania para os estrangeiros asiáticos, garantindo<br />
um sistema democrático na escolha dos governantes;<br />
b) promoveu a divisão da população da Ática em dez<br />
tribos, contribuindo para o fortalecimento de<br />
práticas democráticas, de acordo com as condições<br />
da época;<br />
c) consolidou o poder da nobreza, influenciando o<br />
surgimento da tirania e do ostracismo e excluindo os<br />
estrangeiros da participação política;<br />
d) trouxe uma maior consolidação da democracia, com<br />
a existência de uma assembléia, onde votavam os<br />
cidadãos atenienses, revelando um grande interesse<br />
pelos debates políticos;<br />
e) garantiu maior poder para os cidadãos,<br />
transformando a Bulé no órgão mais importante do<br />
governo, garantindo novos rumos para as relações<br />
políticas da época, em toda a Grécia, e condenando<br />
o imperialismo dos persas.<br />
(UNEB/BA) - Universidade do Estado da Bahia -<br />
Questão 55:<br />
Os conhecimentos sobre o papel representado pelas<br />
cidades na história do mundo ocidental permitem<br />
afirmar:<br />
a) A cidade-estado grega cresceu a partir do<br />
desenvolvimento das trocas e do artesanato,<br />
tornando-se um centro de exploração do trabalho<br />
escravo e de camponeses pobres, pois também<br />
incluía as terras e os campos vizinhos.<br />
b) As cidades européias, durante a época feudal,<br />
tornaram-se grandes centros culturais e religiosos,<br />
sendo formadas por uma população diversificada,<br />
que incluía intelectuais humanistas e burgueses<br />
envolvidos na atividade comercial, em plena<br />
expansão nesse período.<br />
c) O crescimento urbano, no início da Idade Moderna,<br />
resultou da expansão da ideologia socialista e do<br />
crescimento do proletariado.<br />
d) A industrialização inglesa do século XVIII<br />
intensificou a urbanização, baseada, exclusivamente,<br />
em um proletariado originário das próprias cidades.<br />
e) As cidades coloniais brasileiras nasceram a partir de<br />
um traçado urbano originário da Metrópole,<br />
privilegiando os sistemas de esgotamento sanitário e<br />
de abastecimento de água.<br />
(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul -<br />
Questão 56:<br />
A respeito do desporto na Grécia Antiga, é correto<br />
afirmar que:<br />
a) o desporto grego, apesar de bastante competitivo,<br />
muito raramente era sangrento e mortal, haja vista<br />
que tinha caráter religioso e comemorava a paz entre<br />
Atenas e Esparta;<br />
b) por volta de 500 a.C., os maiores festivais atléticos<br />
estavam em completa decadência, deixando de<br />
conferir prestígio e glória às grandes familias e às<br />
cidades de origem dos atletas;<br />
c) em seus primórdios, as mais antigas competições em<br />
Olímpia tinham um significado meramente<br />
desportivo, ao passo que no século VIII a.C.<br />
passaram a ter um sentido estritamente religioso;<br />
d) os gregos acreditavam no valor do desporto como<br />
treino, sobretudo para a guerra, haja vista que<br />
ambos, guerra e desporto, tinham para eles muito em<br />
comum;<br />
e) nos tempos de Homero, vários atletas adquiriram<br />
grande prestígio e glória em suas cidades natais,<br />
chegando mesmo a serem vistos como deuses, cujas<br />
estátuas podiam fazer milagres e, por esse motivo,<br />
eram cultuadas publicamente.<br />
49
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 57:<br />
Na construção da sociedade ocidental, há um destaque,<br />
dado por muitos historiadores, aos feitos da civilização<br />
grega, nos setores mais diversos da sua vida. Muitos<br />
feitos culturais dos gregos:<br />
a) permanecem atuantes na contemporaneidade,<br />
contribuindo para o pensamento ocidental, inclusive<br />
na formulação de seus valores éticos e políticos;<br />
b) distanciam-se totalmente dos princípios dos nossos<br />
tempos, não sendo retomados pelos pensadores do<br />
mundo atual;<br />
c) estão restritos aos tempos da Antiguidade Clássica,<br />
onde predominavam os interesses da aristocracia<br />
comercial de Atenas;<br />
d) são diferentes dos feitos dos romanos e dos de<br />
outros povos da Antiguidade, pela universalização<br />
das suas práticas democráticas e estéticas;<br />
e) ficaram restritos às conquistas estéticas da<br />
arquitetura e da escultura, onde se salientava a<br />
harmonia das formas como princípio estético.<br />
(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 58:<br />
A arte grega construiu espaço significativo na história do<br />
mundo ocidental. Sobre esta arte, pode-se afirmar que:<br />
a) privilegiou a pintura e a música, inspirando os<br />
artistas do tempo medieval e do renascimento;<br />
b) teve, na arquitetura, obras de destaque, em que um<br />
dos princípios básicos era a harmonia das formas;<br />
c) se destacou com originalidade, na música da<br />
antigüidade, influenciando depois os grandes artistas<br />
modernistas;<br />
d) se preocupou em seguir os ensinamentos realistas de<br />
Platão – o filósofo maior da cultura grega que se<br />
dedicou ao estudo da estética;<br />
e) não teve penetração na vida cotidiana das grandes<br />
cidades gregas, sendo apenas admirada pelas escolas<br />
elitizadas.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 59:<br />
O teatro trouxe expressões artísticas importantes para a<br />
formação do povo grego, as quais repercutiram<br />
historicamente no mundo ocidental. As tragédias gregas<br />
tinham, assim, notável força dramática e:<br />
50<br />
a) possuíam grande conteúdo ético, embora fossem<br />
distantes das manifestações religiosas;<br />
b) tiveram repercussões na construção da filosofia e na<br />
cultura;<br />
c) se restringiam às grandes ações dos mitos ligados às<br />
elites;<br />
d) expressavam momentos de conflito dos homens com<br />
a sua existência;<br />
e) são iguais às tragédias modernas, explorando a<br />
ironia e o humor.<br />
(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />
Questão 60:<br />
Na sociedade espartana, o hilotismo era elemento<br />
constitutivo de sua organização social. Sobre os hilotas,<br />
assinale o que for correto:<br />
1 - Eram responsáveis pelo comércio e artesanato locais.<br />
2 - Eram respeitados pela classe dominante espartana,<br />
tendo a possibilidade de acumular pequenas fortunas<br />
com as quais comprovam títulos de cidadania.<br />
4 - Eram submetidos aos kriptios, forma de repressão e<br />
extermínio, para impedir o crescimento demográfico e<br />
rebeliões.<br />
8 - Constituíam a camada social subjugada econômica e<br />
politicamente e pertenciam ao Estado.<br />
16 - Eram expropriados através da cobrança de impostos<br />
extorsivos e sofriam violências por parte dos esparciatas.<br />
(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />
Questão 61:<br />
Com o fim do domínio gentílico sobre a terra, os<br />
parentes mais próximos do pater apropriaram-se das<br />
terras mais ricas, passando a ser conhecidos como<br />
eupátridas (os bem nascidos). O restante da terra foi<br />
dividido entre os georgoi (agricultores); os mais<br />
prejudicados por esta divisão foram os thetas<br />
(marginais), excluídos da partilha. Os novos grupos<br />
sociais, a propriedade privada da terra e o surgimento<br />
dos demos marcaram o advento da pólis (cidade-estado)<br />
grega. Sobre a pólis grega, é correto afirmar:<br />
a) Em razão da abundância de terras na pólis, os<br />
excedentes populacionais balcânicos continuaram a<br />
lutar por terras em torno da acrópole.<br />
b) O poder ampliado do pater na administração da<br />
família e da casa enfraqueceu o individualismo, pois
eneficiou igualmente filhos e parentes distantes na<br />
partilha dos bens.<br />
c) Os georgoi produziram grandes riquezas em suas<br />
terras devido às boas colheitas e, com isso,<br />
despertaram a cobiça dos eupátridas.<br />
d) Com a pólis, o urbano constituiu-se como a base da<br />
sociedade e seu elemento de união, e a cidade-estado<br />
passou a ser liberada por um conselho de eupátridas.<br />
e) Os demiurgos tornaram-se o grupo social dominante<br />
em cada pólis, compartilhando o poder político com<br />
os eupátridas.<br />
A lei visava:<br />
a) diminuir a participação dos cidadãos na vida política<br />
da cidade;<br />
b) obrigar os cidadãos a participar da vida política da<br />
cidade;<br />
c) aumentar a segurança dos cidadãos que participavam<br />
da política;<br />
d) deixar aos cidadãos a decisão de participar ou não da<br />
política;<br />
e) impedir que conflitos entre os cidadãos<br />
prejudicassem a cidade.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />
Questão 62:<br />
Os gregos antigos colocaram o Estado acima da religião,<br />
valorizaram os ideais da liberdade humana e glorificaram<br />
o homem como a mais importante criatura do universo.<br />
Analise as afirmações sobre a civilização grega:<br />
I. A vitória dos gregos sobre os persas na batalha do<br />
desfiladeiro das Termópilas deu a Esparta o controle<br />
sobre toda a Grécia.<br />
II. As reformas de Sólon favoreceram o surgimento da<br />
democracia em Atenas.<br />
III. A civilização helenística surgiu do amálgama da<br />
civilização grega com a romana.<br />
IV. A democracia ateniense era direta e não se estendia a<br />
toda população de Atenas.<br />
São afirmações corretas:<br />
a) apenas I e II;<br />
b) apenas II e IV;<br />
c) I, II e III;<br />
d) apenas II e III;<br />
e) II, III e IV.<br />
(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />
Vestibular - Questão 63:<br />
"Vendo Sólon [que] a cidade se dividia pelas disputas<br />
entre facções e que alguns cidadãos, por apatia, estavam<br />
prontos a aceitar qualquer resultado, fez aprovar uma lei<br />
específica contra eles, obrigando-os, se não quisessem<br />
perder seus direitos de cidadãos, a escolher um dos<br />
partidos". Aristóteles, em A Constituição de Atenas.<br />
(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />
Questão 64:<br />
[...] "Polis" é a palavra grega que traduzimos por<br />
"cidade-estado". É uma tradução, porque a pólis normal<br />
não se assemelhava muito a uma cidade e era muito mais<br />
do que um Estado. Mas a tradução, como a política, é a<br />
arte do possível [...]<br />
(KITTO, 1980, p. 107.).<br />
Sobre a "polis" grega, assinale o que for correto:<br />
1 - A Democracia, invenção grega, possibilitou, desde a<br />
época arcaica, uma tendência à participação eqüânime da<br />
população na propriedade da terra, superando as<br />
barreiras de riqueza e de sangue.<br />
2 - As primeiras poleis, ao que parece, teriam surgido na<br />
Grécia asiática, local de chegada de jônios e eólios<br />
expulsos pelos invasores dórios e que, mediante um<br />
processo de sinecismo topográfico e político, formaram<br />
cidadelas com governos próprios.<br />
4 - As cidades formaram um conjunto de estados<br />
autônomos, que podiam se opor entre si, ou estabelecer<br />
alianças e coligações, mas nunca chegaram a submeterse<br />
a um único governo.<br />
8 - Os poemas, como a "Ilíada" e a "Odisséia", deram aos<br />
gregos o sentimento de que, a despeito das suas<br />
divergências, faziam parte de um conjunto; o sentimento<br />
de uma unidade nacional-espiritual que os opunha aos<br />
bárbaros, àqueles que não compreendiam a língua grega,<br />
embora dividida em dialetos, e que não tinham as<br />
mesmas crenças que eles.<br />
16 - A Guerra do Peloponeso, embora tivesse causado<br />
algumas fraturas entre espartanos e atenienses, serviu<br />
para garantir a hegemonia grega no Mediterrâneo.<br />
51
(UFC) - Universidade Federal do Ceará - Questão 65:<br />
Leia o texto abaixo:<br />
“(...) Os homens comuns desaparecem com a morte, no<br />
terrível esquecimento do Hades tornam-se anônimos,<br />
sem-nome. Somente o indivíduo heróico, aceitando<br />
enfrentar a morte na flor de sua juventude, vê seu nome<br />
perpetuar-se gloriosamente de geração em geração. Sua<br />
figura singular fica para sempre inscrita na vida<br />
comum...”<br />
(VERNANT, Jean Pierre. L’individu, la mort, l’amour: soi-même et l’autre en<br />
Grèce ancienne. Paris: Gallimard, 1989. p. 217.)<br />
Assinale a alternativa correta quanto à construção da<br />
imagem do guerreiro na Grécia Antiga:<br />
a) As epopéias eram narrativas da vida de indivíduos<br />
comuns durante o período homérico.<br />
b) A Ilíada e a Odisséia foram as narrativas que<br />
consolidaram o ideal de guerreiro.<br />
c) A Ilíada é a narrativa que desconstruiu a idealização<br />
do guerreiro.<br />
d) Para os gregos a imortalidade era conquistada<br />
através das ações cotidianas.'<br />
e) A morte dos deuses do Olimpo era uma forma de<br />
perpetuar a imagem dos guerreiros.<br />
(UnB/DF) - Universidade de Brasília - Questão 66:<br />
O mundo greco-romano não se estruturava como os<br />
Estados Nacionais Contemporâneos, mas de modo bem<br />
distinto, como Cidades-Estados. Estas, que conhecemos<br />
pela tradição escrita, pela epigrafia ou pelas fontes<br />
arqueológicas, eram muito diferentes entre si: nas<br />
dimensões territoriais, nas riquezas, em suas histórias<br />
particulares e nas diferentes soluções obtidas, ao longo<br />
dos séculos, para os conflitos de interesses entre seus<br />
componentes. A maioria delas nunca ultrapassou a<br />
dimensão de pequena unidade territorial, abrigando<br />
alguns milhares de habitantes – não mais que cinco mil,<br />
quase todos envolvidos com o meio rural. Outras, de<br />
porte médio, chegaram a congregar vinte mil pessoas.<br />
Algumas poucas, portos comerciais ou centros de<br />
grandes impérios, atingiram a dimensão de verdadeiras<br />
metrópoles, com mais de cem mil habitantes – e, por<br />
vezes, como na Roma imperial, chegaram à escala de um<br />
milhão de habitantes.<br />
(GUARINELLO, Luiz N. Cidades-Estados na Antiguidade clássica. In: PINSKY<br />
Jaime; PINSKY Carla B. (Orgs.). <strong>História</strong> da cidadania. São Paulo: Contexto,<br />
2003. p. 30 [com adaptações]).<br />
52<br />
Julgue os itens seguintes considerando as estruturas<br />
lingüísticas e idéias do texto acima, bem como a<br />
organização das cidades ao longo da <strong>História</strong>, e diga qual<br />
está incorreta:<br />
a) No texto, conhecer "pela epigrafia" significa<br />
conhecer pela grafia de epigramas.<br />
b) sujeito de "eram muito diferentes entre si" é "Estas",<br />
pronome que se refere a "Cidades-Estados".<br />
c) Ao longo dos séculos, a cultura greco-latina<br />
influenciou a literatura brasileira, notadamente no<br />
Arcadismo e no Parnasianismo.<br />
d) Atenas é exemplo típico de Cidade-Estado grega:<br />
pequeno território e reduzida população,<br />
comparativamente às Cidades-Estados da sua época,<br />
não impediram que o comércio nela florescesse e<br />
que, no século V a.C., atingisse a plenitude de seu<br />
desenvolvimento cultural e do exercício da<br />
democracia.<br />
e) Em Esparta, um dos modelos de pólis grega, o<br />
desenvolvimento das instituições políticas foi<br />
prejudicado pelo acentuado militarismo imposto e<br />
conduzido pela classe dominante, razão pela qual<br />
sua experiência democrática ficou aquém da<br />
ateniense.<br />
f) Roma, Cidade-Estado que conheceu uma trajetória<br />
distinta da verificada pelas Cidades-Estados<br />
helênicas, a partir da República, procedeu à<br />
conquista da península italiana e, ao derrotar<br />
Cartago, assumiu o controle do Mediterrâneo, ponto<br />
de partida para a constituição do Império Romano.<br />
g) De forma geral, o panorama europeu da Alta<br />
IdadeMédia, que sucedeu à crise final do Império<br />
Romano, mostrou-se essencialmente ruralizado e,<br />
ainda que convivendo com eventuais impérios,<br />
como foi o caso do império de Carlos Magno,<br />
tendeu à fragmentação do poder político.<br />
h) Na Baixa Idade Média, compondo o cenário de<br />
esgotamento que prenunciou o declínio do<br />
feudalismo, o renascimento da vida urbana indicava,<br />
entre outros aspectos, a retomada da atividade<br />
mercantil em níveis de crescente intensidade.<br />
i) No mundo contemporâneo, algumas cidades se<br />
estendem por grandes regiões, formando as<br />
megalópoles: redes de cidades integradas social e<br />
espacialmente por meios de transporte, sistemas de<br />
comunicações e fluxos de pessoas, mercadorias,<br />
capitais e informações.<br />
j) Nas metrópoles atuais, nota-se um total<br />
desvinculamento com o mundo rural, isto é, as<br />
relações campo – cidade deixaram de existir.
(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />
- Questão 67:<br />
A religião grega era, sobretudo, antropomórfica, desta<br />
forma seus deuses tinham:<br />
a) as fraquezas, as paixões e as virtudes humanas, mas,<br />
apesar de serem eternos e mais felizes do que os<br />
mortais, não fugiam ao fatalismo do destino, por<br />
vezes cruel;<br />
b) as conquistas latinas, as paixões esvoaçantes, e eram<br />
conhecidos como Zeus, Era e Atena;<br />
c) as mortes precoces, os amores prematuros, e eram<br />
Mercúrio, Netuno e Dionísio;<br />
d) as populações com culto de origem oriental, era o<br />
deus do vinho, das águas e celestial;<br />
e) as deusas, os deuses, as festas, a sabedoria.<br />
importantes, os quais eram obrigados a jurar<br />
lealdade à constituição espartana;<br />
c) o Estado espartano regulava estritamente o sistema<br />
educacional dos cidadãos, razão pela qual as<br />
crianças do sexo masculino eram, aos 7 anos de<br />
idade, retiradas do convívio familiar para receberem<br />
uma formação militar coletiva;<br />
d) o conselho espartano (gerúsia) era formado por<br />
trinta membros, cabendo-lhe a tarefa de elaborar os<br />
projetos de lei a serem submetidos à assembléia, e<br />
atuava como a mais alta instância da justiça<br />
criminal;<br />
e) a assembléia espartana (ecclesia), da qual fazia parte<br />
o conjunto da população da Lacedemônia<br />
(espartanos, periecos e hilotas), era soberana<br />
sobrepondo-se à capacidade decisória da gerúsia.<br />
(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />
- Questão 68:<br />
Assinale o principal conflito no qual os gregos se<br />
envolveram contra outro povo:<br />
a) Guerras Púnicas.<br />
b) Confederação de Delos.<br />
c) Liga do Peloponeso.<br />
d) Guerras Médicas.<br />
e) Guerra de Tróia.<br />
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 69:<br />
O conjunto das reformas políticas que se encontravam na<br />
origem da polis dos lacedemônios estava reunido em um<br />
documento proveniente do oráculo de Delfos<br />
denominado “Grande Retra”, muito provavelmente um<br />
decreto-lei primitivo, anterior ao século VI a.C., sobre o<br />
governo espartano.<br />
De acordo com esse documento:<br />
A respeito da organização política de Esparta no período<br />
clássico (séculos V e IV a.C.), não é correto afirmar que:<br />
a) o corpo cívico era constituído por indivíduos de sexo<br />
masculino, nascidos de pai e mãe espartanos, os<br />
assim denominados homoioi ou “iguais”.<br />
b) a polis era uma oligarquia que, de modo atípico,<br />
conservava a instituição da realeza, representada por<br />
dois reis escolhidos entre as famílias mais<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />
Questão 70:<br />
Denominamos de “civilização helenística” à civilização<br />
que resultou:<br />
a) da unificação cultural do Oriente, após as conquistas<br />
de Ciro I;<br />
b) da fusão de elementos culturais gregos e persas, ao<br />
fim das Guerras Médicas;<br />
c) da fusão de elementos culturais atenienses e<br />
espartanos ao fim da Guerra do Peloponeso;<br />
d) da fusão dos elementos culturais gregos e romanos<br />
nas áreas conquistadas por Roma;<br />
e) da fusão de elementos culturais gregos e orientais<br />
nas regiões conquistadas por Alexandre Magno.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 71:<br />
As conquistas de Alexandre significaram a expansão da<br />
cultura grega a sua influência sobre as regiões<br />
conquistadas. Decorrentes dessa expansão, o incremento<br />
foi provocado:<br />
a) pela criação de bibliotecas nos grandes centros<br />
manufatureiros;<br />
b) pela ruptura das fronteiras nacionais permitindo<br />
maior intercâmbio;<br />
c) pela introdução da trírreme no Mediterrâneo;<br />
d) pela substituição do papiro pelo pergaminho, o que<br />
facilitou a popularização da escrita;<br />
e) por ter sido a língua grega tornada oficial em todo o<br />
Oriente, o que facilitou o intercâmbio entre os<br />
mercadores.<br />
53
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 72:<br />
Depois de conquistar o Oriente, Alexandre incorporou os<br />
vencidos ao seu exército, promoveu casamentos entre<br />
gregos e persas e adotou cerimônias políticas orientais<br />
com o fim de:<br />
a) empreender a conquista da África;<br />
b) agradar aos chineses conquistados;<br />
c) consolidar seu domínio com as cidades gregas<br />
conquistadas;<br />
d) criar um império de caráter universal integrando<br />
gregos e bárbaros;<br />
e) deter a expansão romana no Oriente.<br />
(VUNESP) - Fundação Vunesp - Questão 73:<br />
Entre os legados dos gregos da Antiguidade Clássica que<br />
se mantêm na vida contemporânea, podemos citar:<br />
a) a concepção de democracia com a participação do<br />
voto universal;<br />
b) a promoção do espírito de confraternização por<br />
intermédio do esporte e de jogos;<br />
c) a idealização e a valorização do trabalho manual em<br />
todas suas dimensões;<br />
d) os valores artísticos como expressão do mundo<br />
religioso e cristão;<br />
e) os planejamentos urbanísticos segundo padrões das<br />
cidades-acrópoles.<br />
(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />
Mesquita Filho - Questão 74:<br />
“A conseqüência mais aparente das invasões foi a<br />
destruição quase integral da civilização micênica. No<br />
espaço de um século, as criações orgulhosas dos<br />
arquitetos aqueus, palácios e cidadelas, não são mais do<br />
que ruínas. Ao mesmo tempo vemos desaparecer a<br />
realeza burocrática, a escrita, que não passava de uma<br />
técnica de administração, e todas as criações artísticas...”<br />
(Pierre Lévèque, A aventura grega.)<br />
O texto refere-se às invasões:<br />
a) persas;<br />
b) germânicas;<br />
c) macedônicas;<br />
d) dóricas;<br />
e) cretenses.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 75:<br />
Para entender a <strong>História</strong>, é importante buscar meios, a<br />
fim de explicá-la e poder compreender melhor as<br />
relações sociais e os mistérios do mundo. Na<br />
Antigüidade, a filosofia grega muito contribuiu para a<br />
reflexão e, mesmo nos dias atuais, sua produção tem<br />
acentuado destaque no pensamento ocidental. Com<br />
relação à contribuição dos filósofos gregos, podemos<br />
afirmar que:<br />
a) as teorias de Platão sedimentaram as bases do<br />
idealismo, pois defendiam o relativismo político e se<br />
contrapunham aos ensinamentos de Sócrates;<br />
b) as reflexões dos sofistas causaram grande impacto<br />
na sociedade da época, com seu relativismo e seus<br />
questionamentos sobre a existência da verdade;<br />
c) a filosofia de Aristóteles sintetizou o pensamento do<br />
mundo antigo, contribuindo para afirmar a<br />
possibilidade do relativismo e a necessidade de<br />
certezas absolutas;<br />
d) as reflexões de Sócrates sobre a ética e a virtude não<br />
foram sistematizadas e eram totalmente contrárias às<br />
reflexões de Aristóteles;<br />
e) a compreensão que os pré-socráticos tinham da<br />
formação do universo pouco significou para o<br />
pensamento filosófico, sobretudo as teorias de<br />
Demócrito e Parmênides.<br />
(UNICAP/PE) - Universidade Católica de Pernambuco -<br />
Questão 76:<br />
A organização socioeconômica e política da Grécia<br />
antiga se evidencia como um conjunto de transformações<br />
originárias do seu processo de colonização, iniciado no<br />
século VII a.C., durando, aproximadamente, dois<br />
séculos. Das alternativas, qual a incorreta?<br />
a) 1 - A intensa colonização tornou várias cidades<br />
dependentes do comércio marítimo, desenvolvendo<br />
o artesanato.<br />
b) 2 - Na agricultura, as transformações levaram<br />
grandes e pequenos proprietários à procução de<br />
oliveira e vinha.<br />
c) 3 - A escravidão diminuiu com os escravos, sendo<br />
usados apenas em trabalhos de construção.<br />
d) 4 - O uso dos escravos no artesanato e na agricultura<br />
prejudicou enormemente o padrão de vida das<br />
populações pobres.<br />
e) 5 - Nas cidades, os comerciantes e artesãos<br />
enriqueceram com a economia monetária, em<br />
detrimento da economia natural.<br />
54
(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />
Campinas - Questão 77:<br />
Na Grécia Antiga, um dos mais importantes<br />
representantes dos sofistas foi Protágoras de Abdera, que<br />
afirmava que "o homem é a medida de todas as coisas."<br />
No contexto histórico que marcou o século V a.C., os<br />
sofistas:<br />
a) forneceram elementos fundamentais para o<br />
desenvolvimento da democracia, por terem<br />
valorizado sobretudo o espírito crítico, a palavra e as<br />
técnicas de argumentação;<br />
b) desempenharam um papel importante na difusão das<br />
obras de Homero, ao reforçarem a importância da<br />
mitologia e dos deuses como elementos unificadores<br />
do povo grego;<br />
c) contribuíram para o fortalecimento do sistema<br />
monárquico, visto que idealizaram um sistema de<br />
leis que beneficiou amplamente a aristocracia rural,<br />
principalmente nas cidades de Tebas e Atenas;<br />
d) foram perseguidos e condenados à morte, uma vez<br />
que pregavam o monoteísmo e questionavam<br />
qualquer tipo de Estado, de lei e de autoridade sobre<br />
os homens;<br />
e) exerceram grande influência sobre os legisladores<br />
gregos, que adotaram medidas drásticas para a<br />
unificação do poder político e para o<br />
desaparecimento das cidades-estado.<br />
(UFSCAR/SP) - Universidade Federal de São Carlos -<br />
Questão 78:<br />
O legado da Grécia à filosofia ocidental é a filosofia<br />
ocidental. (Bernard Williams. In: Finley M. I. O legado da Grécia, 1998.)<br />
A afirmação baseia-se no fato de que:<br />
a) a filosofia moderna ocidental, apesar de ter deixado<br />
o pensamento filosófico grego para trás, recupera<br />
como princípio básico o legado mítico dos helenos;<br />
b) os filósofos gregos foram lidos pelos romanos,<br />
depois negados pela tradição romântica medieval e,<br />
posteriormente, recuperados por iluministas, como<br />
Voltaire e Diderot;<br />
c) os gregos foram os criadores de quase todos os<br />
campos importantes do conhecimento filosófico,<br />
como a metafísica, a lógica, a ética e a filosofia<br />
política;<br />
d) os sofistas, como Sócrates e Platão, responsáveis<br />
pela produção de obras no campo da mitologia,<br />
consolidaram os princípios da filosofia ocidental<br />
moderna;<br />
e) a metafísica de Platão tem estruturado, até hoje, as<br />
bases conceituais e filosóficas do pensamento<br />
científico e tecnológico contemporâneo ocidental.<br />
(UNIFESP/SP) - UFSP - Questão 79:<br />
Quando, a partir do final do último século a. C., Roma<br />
conquistou o Egito, e áreas da Mesopotâmia, encontrou<br />
nesses territórios uma forte presença de elementos<br />
gregos. Isto foi devido:<br />
a) ao recrutamento de soldados gregos pelos monarcas<br />
persas e egípcios;<br />
b) à colonização grega, semelhante à realizada na<br />
Sicília e Magna Grécia;<br />
c) à expansão comercial egípcia no Mediterrâneo<br />
Oriental;<br />
d) à denominação persa na Grécia durante o reinado de<br />
Dario;<br />
e) ao helenismo, resultante das conquistas de<br />
Alexandre o Grande.<br />
(FGV/SP) - Fundação Getúlio Vargas - São Paulo -<br />
Questão 80:<br />
O período helenístico foi marcado por grandes<br />
transformações na civilização grega. Entre suas<br />
características, podemos destacar:<br />
a) O desenvolvimento de correntes filosóficas que,<br />
diante do esvaziamento das atividades políticas das<br />
cidades-Estado, faziam do problema ético o centro<br />
de suas preocupações visando, principalmente, o<br />
aprimoramento interior do ser humano.<br />
b) Um completo afastamento da cultura grega com<br />
relação às tradições orientais, decorrente, sobretudo,<br />
das rivalidades com os persas e da postura<br />
depreciativa que considerava bárbaros todos os<br />
povos que não falavam o seu idioma.<br />
c) A manutenção da autonomia das cidades-Estado, a<br />
essa altura articuladas primeiro na Liga de Delos,<br />
sob o comando de Atenas e, posteriormente, sob a<br />
Liga do Peloponeso, liderada por Esparta.<br />
d) A difusão da religião islâmica na região da<br />
Macedônia, terra natal de Felipe II, conquistador das<br />
cidades-Estado gregas.<br />
e) O apogeu da cultura helênica representado,<br />
principalmente, pelo florescimento da filosofia e do<br />
teatro e o estabelecimento da democracia ateniense.<br />
55
(UNAERP/SP) - Universidade de Ribeirão Preto -<br />
Questão 81:<br />
O solo grego não produzia alimento suficiente para uma<br />
população em crescimento e, cada vez mais, as poucas<br />
terras férteis concentravam-se nas mãos de poucos que,<br />
ao mesmo tempo, usufruíram do poder político. O<br />
camponês pobre recorria ao grande proprietário, para<br />
obter empréstimos, e tinha que dar uma parte do que<br />
produzisse ao rico proprietário. O camponês que pedia<br />
empréstimos era conhecido como:<br />
a) eupátrida;<br />
b) geomore;<br />
c) arconte;<br />
d) hoplita;<br />
e) hiparco.<br />
(USF/SP) - Universidade São Francisco - Questão 82:<br />
A pobreza do solo, a situação geográfica e a<br />
concentração de terras nas mãos das grandes famílias<br />
foram fatores responsáveis, na Grécia Antiga pela:<br />
a) expansão territorial;<br />
b) hegemonia ateniense;<br />
c) guerra do Peloponeso;<br />
d) conquista de Cartago;<br />
e) dominação tebana.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 83:<br />
A Civilização Ocidental tem na Grécia Antiga uma de<br />
suas fontes mais ricas.<br />
Um dos seus legados mais expressivos foi o termo e a<br />
noção de democracia.<br />
A respeito da prática da democracia entre os gregos da<br />
Antiguidade, é correto afirmar:<br />
1 - Na democracia ateniense, participavam com plenos<br />
direitos políticos apenas os cidadãos.<br />
2 - Havia um grande número de indivíduos que não eram<br />
considerados “cidadãos” e, por conseguinte, não tinham<br />
os mesmos direitos que eles.<br />
4 - Entre os que eram atingidos pela restrição dos direitos<br />
políticos figuravam os metecos (estrangeiros) em Atenas.<br />
56<br />
8 - Os escravos, recrutados entre populações livres<br />
endividadas ou tomadas como presas de guerra, não<br />
gozavam de direitos políticos.<br />
16 - Os escravos conseguiram melhores condições de<br />
vida após promoverem constantes revoltas, em particular<br />
aquela liderada por Crixus, Oenomaus e Spartacus em<br />
73-71 a.C.<br />
32 - Muito embora o regime democrático tenha<br />
funcionado com perfeição em Atenas, jamais foi<br />
admitida a participação direta do “cidadão” no governo.<br />
(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina -<br />
Questão 84:<br />
A educação espartana visava ao (à):<br />
a) aprimoramento físico e ao aprimoramento da<br />
conversação;<br />
b) formação de guerreiros hábeis também na prática da<br />
engenharia e administração;<br />
c) formação de soldados, quanto aos rapazes, e de<br />
“boas parideiras” para as moças;<br />
d) formação de um espírito cívico da época;<br />
e) desenvolvimento do corpo e da mente, numa<br />
interação harmô-nica, objetivando o bem coletivo.<br />
(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />
Mesquita Filho - Questão 85:<br />
Os eupátridas integravam a sociedade ateniense na<br />
condição de:<br />
a) membros da camada dirigente, aristocrática,<br />
possuidora das melhores terras.<br />
b) descendentes de pais estrangeiros e mães atenienses.<br />
c) membros da plebe, sem direitos políticos ou posses.<br />
d) servos dedicados ao trabalho doméstico.<br />
e) escravos na mais completa sujeição econômica.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />
Questão 86:<br />
“Um deus, parece, se ocupou de vós: prevendo o futuro,<br />
implantou duas estirpes gêmeas de reis, em lugar de uma<br />
única (...) introduziu o comedimento do sábio poder<br />
exercido pela velhice na força arrogante que se apoiava<br />
sobre o nascimento, tomando a competência dos vinte e<br />
oito Gerontes igual à dos Reis na votação dos assuntos<br />
mais importantes (...) Constatando que o governo ainda
era cheio de orgulho e desconfiança, impôs-lhe à guisa<br />
de freio a soberania dos Éforos (...)”<br />
Platão, As Leis.<br />
O texto de Platão e o conhecimento da conservadora<br />
organização política da Cidade-Estado ou Pólis<br />
Espartana permite afirmar corretamente:<br />
l. No lugar de uma monarquia existia uma diarquia, ou<br />
seja, dois reis, certamente para evitar a autocracia.<br />
ll. Os componentes do Senado ou Gerúsia eram anciãos,<br />
em número de vinte e oito, com mais de sessenta anos e<br />
competia-lhes fazer as leis.<br />
lll. O texto de Platão omite a existência da Assembléia<br />
do Povo ou Ápela, formada por cidadãos de mais de<br />
trinta anos, que ratificava ou não as decisões da Gerúsia.<br />
Está correta ou estão corretas:<br />
a) apenas l e lll;<br />
b) apenas ll e lll;<br />
c) apenas ll;<br />
d) apenas l;<br />
e) todas.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 87:<br />
As Cidades-Estados, na Grécia:<br />
a) eram politicamente autônomas.<br />
b) apresentavam organização econômica solidária.<br />
c) estavam unidas na política de colonização do<br />
Mediterrâneo.<br />
d) possuíam princípios religiosos antagônicos.<br />
e) mantiveram política comercial comum.<br />
(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />
Mackenzie - Questão 88:<br />
Atenas e Esparta são referências sempre destacadas<br />
quando a Grécia Antiga é mencionada. A respeito delas é<br />
válido afirmar que:<br />
a) Atenas se destacou pelas práticas militares que em<br />
Esparta tiveram pouca influência.<br />
b) tiveram evolução política semelhante e com ambas a<br />
forma democrática foi a mais adotada.<br />
c) os constantes conflitos entre elas levou à divisão, ao<br />
enfraquecimento e à posterior dominação da Grécia<br />
pelos macedônios.<br />
d) desunidas nas Guerras Médicas, possibilitaram a<br />
vitória e a dominação dos persas sobre o território<br />
grego.<br />
e) a forte união dessas duas Cidades-Estados garantiu a<br />
centralização política grega.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 89:<br />
“Nossa constituição política não segue as leis de outras<br />
cidades, antes lhes serve de exemplo. Nosso governo se<br />
chama democracia, porque a administração serve aos<br />
interesses da maioria e não de uma minoria”<br />
(Trecho do Discurso de Péricles. Citado por AQUINO, R.S. et alli. <strong>História</strong> das<br />
sociedades; das comunidades primitivas às sociedades medievais. R.J., Livro<br />
Técnico, 1980 p. 201).<br />
Identifique as proposições verdadeiras e as falsas sobre<br />
aquele tempo:<br />
1 - O trecho acima refere-se a Atenas, no período da<br />
Grécia Clássica.<br />
2 - Na Grécia daquele tempo, a cidade fazia parte de um<br />
estado mais amplo, administrativamente centralizado.<br />
4 - A citada Democracia se fazia por um governo<br />
participativo de todos os cidadãos.<br />
8 - Na maioria democrática estavam incluídos homens e<br />
mulheres, livres ou escravos.<br />
16 - A estrutura política caracteriza-se pela centralização<br />
teocrática.<br />
(CEFET/PR) - Centro Federal de Educação Tecnológica<br />
do Paraná - Questão 90:<br />
A 1ª Cultura Clássica dos povos da Antiguidade é a<br />
“Cultura Grega”. Ao lado desse classicismo, os<br />
legisladores atenienses sugeriram a melhor forma de<br />
governo para o povo, a Democracia, que chegou até nós.<br />
chamado “Pai da Democracia”:<br />
a) Drácon;<br />
b) Sólon;<br />
c) Péricles;<br />
d) Clístenes;<br />
e) Homero.<br />
57
(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />
Questão 91:<br />
“... na Grécia Arcaica, o aedo (isto é, poeta cantor)<br />
representava o máximo poder da comunicação. Toda<br />
visão do mundo e consciência de sua propria história é,<br />
para os gregos, conservada e transmitida pelo canto do<br />
poeta.”<br />
Dois importantes nomes que correspondem à descrição<br />
de poeta a que o texto se refere são:<br />
a) Tucídides e Heródoto;<br />
b) Platão e Heráclito;<br />
c) Pitágoras e Ulisses;<br />
d) Homero e Hesíodo;<br />
e) Aquiles e Teseu.<br />
(UNIFAE/PR) - Centro Universitário Franciscano do<br />
Paraná - Questão 92:<br />
Os poemas atribuídos a Homero – a Ilíada e a Odisséia –<br />
falam, respectivamente:<br />
a) das histórias de Zeus, rei dos deuses gregos, e do<br />
herói Teseu, que matou o Minotauro;<br />
b) da sociedade ateniense e da sociedade espartana;<br />
c) da Eclésia, o órgão mais importante da democracia<br />
ateniense, e do Areópago,<br />
d) o tribunal mais antigo de Atenas;<br />
e) da guerra de Tróia e da viagem de Ulisses;<br />
f) da Lei das Doze Tábuas e do cavalo de Tróia.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 93:<br />
Com relação à Grécia Antiga, assinale as afirmações<br />
corretas:<br />
1 - As colônias gregas eram politicamente independentes<br />
das cidades fundadoras.<br />
2 - Eólios, dórios, aqueus e jônios foram tribos gregas<br />
primitivas.<br />
4 - Os gregos antigos descendem do povo semita.<br />
8 - A Ilíada e a Odisséia são poemas atribuídos ao poeta<br />
Homero.<br />
16 - O tema principal da Ilíada é a evolução da<br />
Democracia.<br />
(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />
Mackenzie - Questão 94:<br />
“A partir do século VIII, os gregos viveram um segundo<br />
processo de dispersão, espalhando-se pelo Mediterrâneo<br />
e fundando, no litoral da Itália, França e Espanha,<br />
inúmeras colônias, cidades que mantinham uma série de<br />
laços, principalmente culturais, com os lugares de origem<br />
dos colonizadores.”<br />
O texto diz respeito à fundação de colônias na Grécia<br />
Antiga; o fator determinante para essas migrações foi:<br />
a) o crescimento populacional e a escassez de terras<br />
cultiváveis no território grego;<br />
b) o expansionismo político, defendido pelo regime<br />
democrático das cidades gregas;<br />
c) a invasão dos persas e a conseqüente destruição das<br />
cidades na Grécia Continental;<br />
d) a derrota grega na Guerra de Tróia, responsável pelo<br />
declínio econômico da Grécia;<br />
e) o desenvolvimento da navegação e a busca de<br />
recursos minerais.<br />
(FCMSCSP) - Faculdade de Ciências Médicas Santa<br />
Casa São Paulo - Questão 95:<br />
A vida econômica da Grécia, no Período Homérico<br />
(século XII a VIII a.C.), tinha como um dos seus traços<br />
marcantes o fato de:<br />
a) basear-se fundamentalmente na criação de animais,<br />
especialmente o cavalo, por sua importância militar.<br />
b) explorar o trabalho escravo, por ser o trabalho<br />
considerado uma atividade indigna pelos<br />
proprietários (hipei).<br />
c) dedicar-se ao comércio marítimo, estabelecendo<br />
ligações entre vários pontos do continente europeu.<br />
d) apresentar uma característica doméstica,<br />
concentrando-se quase que exclusivamente no<br />
pastoreio e na agricultura.<br />
e) explorar numerosas colônias, sobretudo na Magna<br />
Grécia, tendo em vista a pobreza do solo continental.<br />
Questão 96:<br />
Com sua impressionante produção intelectual, artística e<br />
religiosa, a civilização grega influenciou de maneira<br />
decisiva todas as civilizações posteriores. Sobre a<br />
civilização grega, assinale as alternativas corretas:<br />
58
1 - A maior contribuição da cultura grega foi o<br />
humanismo, isto é, a valorização do homem como a mais<br />
importante criatura do universo.<br />
2 - Embora divididos politicamente, pois cada cidade-<br />
Estado gozava de total autonomia, os gregos tinham uma<br />
unidade cultural representada pela mesma língua, pela<br />
mesma religião e por muitos costumes semelhantes.<br />
4 - Os gregos eram politeístas. Acreditavam que seus<br />
deuses tinham forma humana<br />
e eram dotados de qualidade e defeitos como os homens.<br />
8 - Havia também os heróis, considerados semideuses,<br />
que realizavam grandes proezas.<br />
16 - De acordo com a mitologia grega, os deuses<br />
moravam no Olimpo, a montanha mais alta da Grécia;<br />
Zeus era o soberano.<br />
04) Médico, é considerado o Pai da Medicina.<br />
05) Sábio grego, ensinava que tudo na natureza derivava<br />
de um elemento básico – a água.<br />
( ) Sócrates<br />
( ) Hipócrates<br />
( ) Tales de Mileto<br />
( ) Tucídides<br />
( ) Demóstenes<br />
a) 3, 5, 2, 1, 4<br />
b) 3, 4, 5, 1, 2<br />
c) 3, 4, 5, 2, 1<br />
d) 5, 4, 3, 1, 2<br />
e) 3, 5, 1, 4, 2<br />
Questão 97:<br />
É bem provável que o médico tenha que utilizá-lo para<br />
vencer a resistência do paciente durante o inquérito e<br />
apressar o diagnóstico. Trata-se de um método no qual se<br />
chega à verdade pela exploração dos erros e contradições<br />
do interrogado. É, em última análise, O MÉTODO<br />
SOCRÁTICO, adotado nos diálogos de Platão.<br />
A “parturição” das verdades encerradas nos espíritos, a<br />
habilidade de interrogar usando a técnica de Sócrates,<br />
são conhecidas como:<br />
a) hermenêutica;<br />
b) propedêutica;<br />
c) maiêutica;<br />
d) prosódia;<br />
e) eudemônica.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />
Questão 98:<br />
A herança grega constitui uma das bases do pensamento<br />
ocidental. Enumere os parênteses conforme a<br />
correspondência adequada e, depois, aponte a alternativa<br />
que contém a seqüência correta:<br />
01) Historiador, narra a história da Guerra do<br />
Peloponeso.<br />
02) Orador, opôs-se aos planos de Filipe da Macedônia<br />
com relação à Grécia.<br />
03) Filósofo, divulgou a máxima: “Conhece a ti mesmo”.<br />
(UTP/PR) - Universidade Tuiuti do Paraná - Questão<br />
99:<br />
Sobre a religião dos gregos podemos afirmar que:<br />
I. Era uma religião antropomórfica, ou seja, os deuses,<br />
além da forma, tinham direitos e virtudes humanos.<br />
II. Era grande o número de deuses, que mais se<br />
assemelhavam aos heróis lendários.<br />
III. Era uma religião prática, cujos seguidores pediam<br />
ajuda para a atividade e não para a salvação de sua alma.<br />
IV. Não havia dogmas.<br />
a) Todas as afirmativas estão corretas.<br />
b) Somente a alternativa I está correta.<br />
c) As afirmativas I e II estão corretas.<br />
d) As afirmativas II e IV estão corretas.<br />
e) Nda.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />
100:<br />
Escreveram peças para teatro, durante o Século de<br />
Péricles (V a.C.):<br />
a) Homero, Tucídides, Heródoto e Xenofonte;<br />
b) Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes;<br />
c) Sócrates, Protágoras, Platão e Aristófanes;<br />
d) Eratóstenes, Arquimedes, Euclides e Pitágoras;<br />
e) Píndaro, Alceu, Safo e Hesíodo.<br />
59
GABARITO:<br />
Questão 1: C, E<br />
Questão 2: A<br />
Questão 3: B<br />
Questão 4: A<br />
Questão 5: E<br />
Questão 6: 20 (corrigido)<br />
Questão 7: C<br />
Questão 8: C<br />
Questão 9: B<br />
Questão 10: B<br />
Questão 11: A<br />
Questão 12: B<br />
Questão 13: E<br />
Questão 14: C<br />
Questão 15: A<br />
Questão 16: E<br />
Questão 17: B<br />
Questão 18: C<br />
Questão 19: D<br />
Questão 20: A<br />
Questão 21: A<br />
Questão 22: E<br />
Questão 23: C<br />
Questão 24: B<br />
Questão 25: 4<br />
Questão 26: D<br />
Questão 27: C<br />
Questão 28: C<br />
Questão 29: D<br />
Questão 30: E<br />
Questão 31: B<br />
Questão 32: A<br />
Questão 33: A<br />
Questão 34: C<br />
Questão 35: A<br />
Questão 36: E<br />
Questão 37: D<br />
Questão 38: A<br />
Questão 39: B<br />
Questão 40: 21<br />
Questão 41: B<br />
Questão 42: B<br />
Questão 43: B<br />
Questão 44: D<br />
Questão 45: A<br />
Questão 46: B<br />
Questão 47:<br />
a) Para os atenienses, "bárbaro" era todo aquele que não<br />
fosse grego ou aquele que não possuísse a cultura grega.<br />
De modo pejorativo, o termo designava a inferioridade<br />
cultural dos que pertencessem a outros povos, quando<br />
comparados com o termo "helênico" (grego).<br />
b) De acordo com o texto, o Parthenon e seus mármores<br />
simbolizavam a superioridade da cultura helênica em<br />
relação aos demais povos, considerados pelos gregos<br />
como bárbaros.<br />
c) Durante a fase imperialista das potências industriais<br />
no século XIX, as principais potências, em particular<br />
Inglaterra e França, devido ao poder e à pretensa<br />
superioridade cultural em relação aos demais povos, se<br />
apropriaram dos tesouros arqueológicos e artísticos dos<br />
países considerados mais fracos, sobretudo onde se<br />
desenvolveram grandes civilizações na antiguidade.<br />
Fonte: http://mestresdahistoria.blogspot.be/2012/08/saiba-mais-sobre-historia-daarte-grega.html<br />
Questão 48: B<br />
Questão 49: C<br />
Questão 50:<br />
Questão 51:<br />
60
a) O tirano usurpava o poder apoiado por parte dos<br />
setores populares, e impunha limites ao poder exercido<br />
pelos aristocratas. Eles não eram necessariamente<br />
autoritários e, geralmente, faziam importantes obras<br />
públicas em favor do povo.<br />
b) O ostracismo consistia em banir por dez anos da<br />
cidade qualquer pessoa que representasse uma ameaça à<br />
democracia. Os cidadãos depositavam em uma urna o<br />
nome de quem julgavam que deveria ser expulso da<br />
cidade.<br />
Questão 52: C<br />
Questão 53: A<br />
Questão 54: D<br />
Questão 55: A<br />
Questão 56: D<br />
Questão 57: A<br />
Questão 58: B<br />
Questão 59: B, D<br />
Questão 60: 28<br />
Questão 61: D<br />
Questão 62: B<br />
Questão 63: A<br />
Questão 64: 14<br />
Questão 65: B<br />
Questão 66: J<br />
Questão 67: A<br />
Questão 68: D<br />
Questão 69: E<br />
Questão 70: E<br />
Questão 78: C<br />
Questão 79: E<br />
Questão 80: A<br />
Questão 81: B<br />
Questão 82: A<br />
Questão 83: 15<br />
Questão 84: C<br />
Questão 85: A<br />
Questão 86: E<br />
Questão 87: A<br />
Questão 88: C<br />
Questão 89: 5<br />
Questão 90: D<br />
Questão 91: D<br />
Questão 92: D<br />
Questão 93: 11<br />
Questão 94: A<br />
Questão 95: D<br />
Questão 96: 31<br />
Questão 97: C<br />
Questão 98: B<br />
Questão 99: A<br />
Questão 100: B<br />
Questão 71: B<br />
Questão 72: D<br />
Questão 73: B<br />
Questão 74: D<br />
Questão 75: B<br />
Questão 76: C<br />
Questão 77: A<br />
61
CIVILIZAÇÃO ROMANA*<br />
1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E<br />
POVOAMENTO DA PENÍNSULA ITÁLICA<br />
Do ponto de vista geográfico, podemos delimitar a<br />
Península Itálica em quatro regiões principais: ao norte,<br />
uma região montanhosa, entrecortada de rios; a planície<br />
do rio Pó; a região Apenina; e a costa litorânea dos mares<br />
Adriático e Tirreno. O solo dessa península era mais<br />
fértil do que o solo grego, o que tornou possível o<br />
atendimento das necessidades alimentares dos primeiros<br />
romanos dentro da própria Itália.<br />
Em relação ao processo de povoamento da península,<br />
destacamos a sua complexidade, a partir da distinção de<br />
diversas populações que ali se estabeleceram, em<br />
distintos momentos. As populações de origem indoeuropeia,<br />
por sua vez, teriam chegado à Itália por volta<br />
de 2200 a.C., tendo os povos denominados itálicos ou<br />
italiotas ocupado o centro-sul da península, e a Sicília.<br />
Os dois principais subgrupos dos itálicos eram os<br />
samnitas e os latinos.<br />
Os samnitas habitavam a parte sul da Itália, próximo às<br />
colônias fundadas pelos gregos a partir de sua expansão,<br />
entre os séculos VIII e VI a.C.; organizados em clãs<br />
pastoris, que se reuniam em tribos, viviam em constante<br />
luta contra os gregos, na disputa pela riquíssima região<br />
da Campânia. Essas disputas e, consequentemente, os<br />
contatos com o mundo grego, levaram ao<br />
desenvolvimento do seu poderio bélico, à fortificação de<br />
cidades, à conquista de colônias gregas e à expulsão dos<br />
etruscos.<br />
Os latinos habitavam o curso inferior do rio Tibre, região<br />
que jamais foi conquistada pelos etruscos ou pelos<br />
gregos. Nas montanhas habitavam também os équos e<br />
sabinos, tribos que viviam do pastoreio e do saque,<br />
também subgrupos dos itálicos. Já os etruscos, outro<br />
povo que colonizou a Itália, é de origem até hoje<br />
desconhecida. Seu território inicial estava localizado<br />
62
entre o mar Tirreno, a oeste, e os montes Apeninos, a<br />
leste, entre o rio Arno, ao norte, e o Timbre, ao sul.<br />
Já por volta do século VII a.C., os etruscos estavam<br />
organizados em um império que constituía, na prática,<br />
uma liga de várias cidades-estados.<br />
Ocupavam-se da agricultura, do pastoreio, do trabalho<br />
manufaturado e do comércio, que não podia ser separado<br />
da pirataria. Eram comerciantes ativos no mar<br />
Mediterrâneo, aliados à cidade fenícia de Cartago. Seus<br />
produtos metalúrgicos e têxteis chegavam a todo o<br />
Oriente e a todo o Mundo Grego por intermédio dos<br />
cartagineses e dos colonos gregos. O povoamento da<br />
Itália se completou com a chegada dos gauleses, no<br />
início do século IV a.C., que se estabeleceram ao norte,<br />
na Gália Cisalpina.<br />
2. ROMA E SUAS ORIGENS<br />
De acordo com essa tradição lendária, Roma teria sido<br />
fundada em meados do século VIII a.C. por Rômulo,<br />
juntamente com Remo, filhos gêmeos da princesa latina<br />
Réia Sílvia e do deus Marte (Ares para os gregos).<br />
Rômulo teria sido então o iniciador da realeza romana.<br />
As pesquisas arqueológicas têm confirmado alguns<br />
dados apresentados pela tradição, como por exemplo, a<br />
época de fundação da cidade. Em meados do século VIII<br />
a.C. já existia no local da cidade de Roma uma aldeia<br />
latina que não se comparava, entretanto, em brilho e<br />
importância, às cidades etruscas e gregas existentes na<br />
península Itálica, no mesmo período. Os latinos,<br />
habitantes da primitiva Roma, eram basicamente povos<br />
agricultores e pastores, mas que realizavam algumas<br />
trocas com outros povos da região.<br />
A partir do final do século VII a.C., acentuou-se a<br />
urbanização de Roma, com o aparecimento de templos e<br />
edifícios públicos, abertura de ruas mais regulares e<br />
pavimentação rudimentar. Portanto, já teria existido em<br />
Roma um processo de urbanização anterior à dominação<br />
etrusca, que corresponderia ao período lendário dos reis<br />
latinos e sabinos.<br />
A acelerada urbanização dessa aldeia latina se justifica<br />
pela sua posição geográfica estratégica, no baixo vale do<br />
rio Tibre, representando o ponto de confluência de várias<br />
rotas de comunicação com as regiões vizinhas,<br />
particularmente com a Etrúria e a Magna Grécia. A<br />
presença de mercadores etruscos e gregos já era<br />
acentuada no século VI a.C. Foi exatamente sua posição<br />
estratégica que levou os etruscos à conquista de Roma,<br />
em meados do século VI a.C., o que a transformou na<br />
principal cidade da região do Lácio.<br />
Uma das mais importantes versões sobre a fundação de<br />
Roma é aquela atribuída ao poeta romano Virgílio, em<br />
sua obra Eneida. A obra foi escrita no início do Período<br />
Imperial, sob encomenda do Imperador Otávio Augusto<br />
e é considerada, simultaneamente, uma obra de tom<br />
mitológico e histórico: mitológico porque narra a história<br />
do herói Enéias e seus descendentes, utilizando-se de<br />
lendas tradicionais do povo romano; histórico, porque<br />
utiliza este argumento para exaltar Roma e o imperador<br />
Augusto, procurando valorizar tanto os feitos do<br />
imperador quanto os feitos mais remotos do seu povo. É<br />
considerada a epopeia latina por excelência, capaz de<br />
equiparar-se à Ilíada e à Odisseia, consagradas epopeias<br />
homéricas.<br />
3. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA DA<br />
CIVILIZAÇÃO ROMANA<br />
MONARQUIA 753 - 509 a.C.<br />
REPÚBLICA 509 - 27 a.C.<br />
IMPÉRIO 27 a.C.- 476 d.C.<br />
SUBDIVISÃO DO PERÍODO IMPERIAL<br />
ROMANO<br />
ALTO IMPÉRIO OU PRINCIPADO 27 a.C. – 235 d.C.<br />
(séc. I a.C.- III d.C.)<br />
63
BAIXO IMPÉRIO OU DOMINATO 235 - 476 d.C. (séc.<br />
III - V d.C.)<br />
4. A MONARQUIA ROMANA (753 a.C. a 509<br />
a.C.)<br />
Considera-se que a fase da Realeza ou período<br />
monárquico em Roma, coincide com a própria fundação<br />
da cidade e findaria em 509 a. C., quando uma revolta<br />
aristocrática depôs o monarca Tarquínio e estabeleceu a<br />
República, com a ascensão política do Senado.<br />
Enquanto Roma fora uma monarquia, a base essencial de<br />
sua sociedade foi a gens (COMUNIDADES<br />
GENTÍLICAS PATRIARCAIS), definida como uma<br />
comunidade formada por extenso grupo de pessoas<br />
associadas por uma ancestralidade comum, que<br />
pautavam sua vida econômica e social e a produção de<br />
sua sobrevivência em laços de solidariedade e<br />
subsistência. Diferente do que acontecia na gens grega,<br />
não persistiam traços de comunidade igualitária, já que a<br />
propriedade de bens, como escravos, por exemplo,<br />
definiam o caráter aristocrático e hierárquico entre seus<br />
membros.<br />
Um mecanismo era adotado pelos chefes políticos para a<br />
assegurar a preservação de propriedades e fortunas no<br />
interior das gens; tratava-se da definição do direito<br />
paterno, que excluía as mulheres do direito de herança,<br />
de maneira que ao se casarem com outros membros de<br />
outros gens, passavam a integrar o gens do marido sem<br />
transmitir herança a seu novo marido.<br />
A vinculação com uma gens criava laços de<br />
solidariedade obrigatórios. A gens tinha uma sepultura<br />
comum para os seus mortos, cultos particulares aos seus<br />
antepassados míticos (denominados LARES) e o hábito<br />
de reuniões para tomada de decisões coletivas.<br />
A organização em gens era restrita à população nativa da<br />
cidade. Seus membros eram conhecidos como<br />
PATRÍCIOS, denominação derivada da palavra latina<br />
pater, que significa pai ou chefe da família, elemento que<br />
tinha direito de vida e morte sobre os outros membros. A<br />
reunião de dez gens constituía uma cúria, e da reunião de<br />
dez cúrias formava-se uma tribo. Cada cúria tinha suas<br />
práticas religiosas, seus santuários e seus sacerdotes. Das<br />
tribos saía o chefe militar e grande sacerdote. O conjunto<br />
das três tribos formava o POPULUS ROMANUS (povo<br />
romano). Só pertencia ao povo romano o membro de<br />
uma gens, que era, também, a partir desta, membro de<br />
uma cúria e de uma tribo.<br />
Os membros das tribos submetidas pela população<br />
romana nativa não faziam parte das gens e eram<br />
chamados de PLEBEUS. Embora constituíssem homens,<br />
podendo inclusive possuir propriedades, pagavam<br />
impostos e prestavam serviços militares, sem, no entanto,<br />
terem o direito de exercer funções públicas ou partilhar<br />
da repartição das terras conquistadas pelo Estado<br />
Romano. Os plebeus, portanto, não eram cidadãos e sim<br />
súditos de Roma.<br />
Além dos patrícios e plebeus existiam os CLIENTES,<br />
homens livres, mas dependentes de um aristocrata<br />
romano, em virtude de algum favorecimento<br />
(OBSEQUIUM) político ou material concedido por um<br />
patrício (PATRONUS).<br />
Os escravos, embora ainda em quantidade restrita, eram<br />
já nesse período, constituídos, sobretudo por prisioneiros<br />
de guerra e por aqueles que não conseguindo pagar suas<br />
dívidas colocavam sua liberdade a disposição de um<br />
senhor. Se no período monárquico os escravos eram<br />
pouco numerosos, a República garantiu seu aumento<br />
progressivo associado ao expansionismo e guerras de<br />
conquista do período.<br />
4.1DIVISÃO SOCIAL ROMANA NA<br />
MONARQUIA<br />
PATRÍCIOS - grandes proprietários de terras,<br />
rebanhos e escravos. Detentores de direitos políticos e<br />
exercício de altas funções públicas no exército, na<br />
religião, na justiça ou na administração. Eram os<br />
cidadãos romanos.<br />
PLEBEUS -homens e mulheres livres que se<br />
dedicavam ao comércio, ao artesanato e aos trabalhos<br />
agrícolas. Apesar da conotação do nome, em<br />
determinados momentos da história romana, teremos<br />
grande contingente de plebeus enriquecidos.<br />
CLIENTES - homens livres que se associavam aos<br />
patrícios, prestando-lhes diversos serviços pessoais em<br />
64
troca de auxílio econômico e proteção jurídica e social<br />
(obsequium).<br />
ESCRAVOS - Representavam uma propriedade, e,<br />
assim, o senhor tinha o direito de castigá-los, de vendêlos<br />
ou de alugar seus serviços. Nesse período a<br />
escravidão era incipiente; predominava a escravidão por<br />
dívidas (nexum).<br />
4.2.1 INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DA<br />
MONARQUIA ROMANA<br />
REX - O Rei era indicado pelo Senado e aprovado<br />
pela Assembleia Curiata. Acumulava funções legislativa,<br />
militar, judicial e religiosa.<br />
4.2 ESTRUTURA POLITICA DA<br />
MONARQUIA<br />
Quanto à organização política da monarquia romana,<br />
podemos afirmar que Roma era governada por um rei,<br />
que tinha o título de REX SACRORUM. Era ao mesmo<br />
tempo chefe militar, juiz supremo e sumo sacerdote,<br />
sendo escolhido entre os chefes militares e religiosos<br />
saídos das três tribos romanas.<br />
O conselho dos anciãos formava o SENADO, que<br />
prestava assistência ao rei. Seus membros eram<br />
recrutados entre as mais ricas e nobres famílias romanas.<br />
Todos os homens adultos pertencentes ao populus<br />
romanus reuniam-se em assembleias, por cúrias -<br />
COMITIA CURIATA -, onde elegiam os chefes,<br />
declaravam a guerra ou firmavam a paz.<br />
Segundo a tradição, a monarquia romana teve sete reis,<br />
sendo:<br />
• Rômulo (753-716 a.C.);<br />
Quatro de origem latina<br />
• Numa Pompílio (716-673 a.C.);<br />
• Túlio Hostílio (673-641 a.C.);<br />
• Anco Márcio (641-616 a.C.)<br />
Três de origem etrusca<br />
• Tarquínio Prisco (616-578 a.C.);<br />
• Sérvio Túlio (578-534 a.C.);<br />
• Tarquínio “o Soberbo” (534-509 a.C.)<br />
SENADO ROMANO – constituía o Conselho dos<br />
Anciãos romanos, com seus membros retirados apenas<br />
das famílias patrícias, que constituíam a aristocracia<br />
romana. Era função do senado escolher o rex (rei),<br />
discutir as propostas apresentadas pelo monarca e vetálas,<br />
caso violassem as tradições e os interesses dos<br />
patrícios. Seus membros recebiam, provavelmente, a<br />
designação de pater.<br />
ASSEMBLEIA CURIATA (CURIAE) compunhase<br />
de todos os cidadãos em idade militar; também era<br />
dominada pelos patrícios. Cabia à assembleia aprovar o<br />
nome do rex sacrorum escolhido pelo senado, declarar<br />
guerra e firmar paz. Também lhe era creditado o poder<br />
de aprovar e rejeitar leis. Contudo, conforme a tradição,<br />
as decisões do soberano não eram contestadas.<br />
A presença dos reis etruscos em Roma reflete as lutas<br />
entre as cidades-Estado pela hegemonia na Península<br />
Itálica. Durante todo o período de reinado etrusco, estes<br />
reis tentaram limitar o poder dos patrícios, aliando-se aos<br />
comerciantes plebeus, destacando-se as reformas de<br />
Sérvio Túlio.<br />
Sérvio Túlio dividiu a população em cinco classes, de<br />
acordo com a renda de cada indivíduo. Cada classe<br />
deveria contribuir com certo número de soldados para o<br />
exército. As questões militares passaram a ser decididas<br />
nas assembleias das centúrias, que eram divisões do<br />
exército romano em cem homens, comandados pelo<br />
centurião. As centúrias patrícias conseguiam impor sua<br />
posição porque eram em maior número. A reforma<br />
implementada por Sérvio Túlio parece Ter concedido<br />
alguns direitos aos plebeus, entre eles o acesso ao serviço<br />
militar. A partir de então as questões militares passaram<br />
a ser decididas nas ASSEMBLEIAS DAS CENTÚRIAS<br />
65
– (Comitia Centuriata) divisões do exército romano com<br />
cem homens, comandados por um centurião. As<br />
centúrias patrícias conseguiam impor sua vontade porque<br />
eram em maior número.<br />
5. A REPÚBLICA ROMANA (509 a.C. a 31<br />
a.C.)<br />
Ainda em acordo com a tradição lendária, a deposição do<br />
último rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, em 509 a.C.,<br />
daria início à importante fase republicana da trajetória<br />
histórica dos povos romanos. A partir de então, o Senado<br />
assumiria a plenitude do poder, convertendo-se na mais<br />
poderosa força política do mundo conhecido naquele<br />
contexto.<br />
Apesar do novo regime político, mantinha-se se a<br />
estrutura aristocrática nos privilégios de governo, já que<br />
a classe patrícia continuava a ser a classe detentora do<br />
domínio da vida econômica e política da cidade,<br />
reforçando ainda mais a estratificação social, em relação<br />
ao período anterior. Esse período foi marcado por uma<br />
acentuada expansão territorial e um progressivo<br />
endividamento dos pequenos proprietários, levando ao<br />
aumento cada vez maior do número de cativos,<br />
trabalhadores servis e clientes.<br />
O enriquecimento de parte dos plebeus acirrou o conflito<br />
por direitos civis e a disputa política com os patrícios, do<br />
qual decorreu importante alterações em sua ordem social<br />
e política. Deve-se salientar, que nem todos os plebeus<br />
seriam beneficiados, evidenciando uma estratificação<br />
cada vez maior dentro do próprio grupo social: os<br />
plebeus pobres passaram a lutar pela abolição das<br />
dívidas, da servidão por dívidas e pela repartição das<br />
terras, enquanto os plebeus mais ricos preocupavam-se<br />
principalmente com o acesso aos cargos públicos.<br />
Já o processo expansionista ocorreria em duas etapas:<br />
internamente, atingindo a própria Península Itálica,<br />
quando a cidade de Roma, após consolidar sua<br />
hegemonia sobre a liga das cidades do Lácio, passou a<br />
organizar lutas contra seus vizinhos, os volscos, équos e<br />
hérnicos. As lutas tinham inicialmente caráter defensivo,<br />
passando depois a um caráter nitidamente expansionista,<br />
visando o controle de toda a Itália meridional; e,<br />
posteriormente, em caráter externo, quando as<br />
possessões em torno do Mediterrâneo Ocidental e<br />
Oriental passariam ao seu controle.<br />
66<br />
5.1 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DA<br />
REPÚBLICA<br />
Na base primordial da República Romana estava o<br />
Senado, composto por trezentos patrícios, com a<br />
responsabilidade de propor leis. Seus cargos eram<br />
vitalícios, e congregavam ainda as funções de garantir a<br />
integridade da tradição e da religião, supervisionar as<br />
finanças públicas, conduzir a política externa e<br />
administrar as províncias. <strong>Geral</strong>mente o comando do<br />
Senado, a sua presidência, era exercida por aquele que<br />
tinha poder para convoca-lo, geralmente um magistrado<br />
que poderia ser um cônsul, um pretor ou um tribuno.<br />
Até o século III a.C., quando se iniciou a expansão<br />
romana pelo Mediterrâneo Ocidental, a República<br />
possuiu um caráter essencialmente aristocrático, ou seja,<br />
os patrícios mantinham a direção das instituições do<br />
Estado.<br />
Apesar da predominância do Senado, mantinham-se as<br />
assembleias encarregadas de votar as leis sugeridas pelo<br />
órgão máximo. A Assembleia Curiata perdeu muita da<br />
sua importância associada ao período monárquico,<br />
restringindo-se quase exclusivamente às questões de<br />
ordem religiosa durante a República. Por sua vez, a<br />
Assembleia Centuriata, criada durante a reforma serviana<br />
no período final da Monarquia, dada a importância do<br />
exército e das conquistas expansionistas, cresceu cada<br />
vez mais em importância politico administrativa. Eram<br />
formada pelas centúrias<br />
(Divisões políticas e militares compostas por cem<br />
cidadãos), a quem cabia de fato discutir e votar as<br />
propostas. Cada centúria possuía um voto, embora,<br />
apesar dos plebeus poderem participar dessa assembleia,<br />
internamente a hegemonia sob o controle dos patrícios. A<br />
Assembleia Centuriata elegia os Cônsules e votava as<br />
leis. A Assembleia Popular teve sua importância política<br />
aumentada, pois, de simples órgão que registrava os<br />
editos reais, passou a votar as questões que lhe eram<br />
apresentadas pelos cônsules.<br />
O exercício do poder Executivo ficava entregue a um<br />
corpo de MAGISTRADOS, pertencentes, na maioria das<br />
vezes, à classe dos patrícios. Com exceção do censor,<br />
todos os magistrados eram eleitos pela Assembleia<br />
Centuriata para um mandato de um ano. Coletivas, as<br />
magistraturas exigiam a presença de dois ou mais<br />
magistrados para cada cargo.<br />
As principais magistraturas eram as seguintes:
CÔNSULES: certamente era a magistratura que<br />
detinha o maior poder, quase equivalente ao dos reis na<br />
fase monárquica. Eleitos em dupla, com mandatos de um<br />
ano, eram encarregados de comandar o Exército,<br />
convocar o Senado e presidirem os cultos públicos. Em<br />
períodos de crise, a exemplo das guerras, era indicado<br />
um DITADOR, que exercia o poder de forma absoluta<br />
durante o período máximo de seis meses;<br />
PRETORES: esses magistrados exerciam a função<br />
de administrar a justiça, sendo posto privativo dos<br />
patrícios até 337 a.C, quando finalmente os plebeus<br />
puderam ascender ao cargo. Também possuía caráter<br />
vitalício e erma responsáveis por presidirem as<br />
audiências do fórum, tendo sido aumentados ao longo do<br />
tempo, devido às crescentes necessidades administrativas<br />
da República Romana. Havia vários tipos de pretores,<br />
entre eles o "Pretor Urbano", que cuidava da cidade de<br />
Roma, e o "'Pretor Peregrino", que cuidava da zona rural<br />
e da relação com os peregrine (as comunidades sem<br />
cidadania romana). Os "Pretores Provinciais" destinados<br />
a governar os países conquistados e comandar os<br />
exércitos, quando havia vários campos de operação. O<br />
cargo de pretor detinha uma escolta de 6 litores.<br />
Litores cuidavam da segurança eram encarregados de ir a<br />
frente de um magistrado com feixes de varas<br />
denominados fasces, abrindo espaço para que esse<br />
passasse. O seu número variava de acordo com o grau de<br />
importância do magistrado. Eram também encarregados<br />
de convocar o réu, quando fosse solicitado pelo<br />
magistrado, para solução da lide.<br />
CENSORES: eram eleitos em número de dois pela<br />
Assembleia das Centúrias. A função dos censores incluía<br />
o recenseamento dos cidadãos, com base em sua riqueza,<br />
a elaboração do Álbum Senatorial (lista que designava as<br />
pessoas em condições de serem escolhidas para o<br />
Senado), orientação da construção pública e fiscalização<br />
da conduta moral dos cidadãos;<br />
QUESTORES: eram responsáveis pela<br />
administração da fazenda pública, ou seja, controle o<br />
erário do Estado e cobrança dos tributos;<br />
EDIS (EDIL): eram encarregados da preservação da<br />
cidade, do abastecimento, da polícia dos mercados e das<br />
ações penais correlatas, bem como da jurisdição civil<br />
contenciosa nas questões ali ocorridas.<br />
TRIBUNOS DA PLEBE: era o magistrado<br />
PLEBEU que atuava junto ao Senado em defesa dos<br />
direitos e interesses da plebe. (Foi cargo conquistado<br />
pelos plebeus a partir de 494 a.C.).<br />
5.2 A LUTA DE CLASSES ENTRE<br />
PATRICIOS E PLEBEUS<br />
A melhor compreensão da luta de classe entre patrícios e<br />
plebeus na Republica Romana prescinde da compreensão<br />
da estrutura econômica e social predominante e das<br />
mudanças que a expansão territorial geraram naquela<br />
realidade.<br />
Na Realeza, a agricultura era a atividade básica,<br />
predominando a pequena propriedade rural, cultivada<br />
pelo próprio dono, às vezes auxiliado por escravos<br />
obtidos majoritariamente por dividas. Com a expansão<br />
territorial republicana, as terras pertencentes ao Estado –<br />
ager publicus – aumentavam consideravelmente.<br />
Esperava-se que essas terras fossem cedidas aos<br />
membros da comunidade, de modo que os terrenos<br />
desocupados fossem cedidos como pastos, e os terrenos<br />
já ocupados, na época da conquista, estariam sujeitos ao<br />
pagamento de taxas. No entanto, a maior parte das novas<br />
terras incorporadas foram gradativamente sendo ocupada<br />
por particulares, sem o pagamento de qualquer taxa.<br />
Condição em que a aristocracia patrícia sempre levava<br />
vantagem, principalmente porque eram seus membros<br />
que ocupavam os principais cargos públicos. O senado e<br />
a magistratura eram, como dito, monopólio dos patrícios.<br />
Apesar da participação dos plebeus na COMITIA<br />
CENTURIATA (assembleia da centúria), sua posição era<br />
puramente formal, pois a aristocracia detinha o poder de<br />
decisão, uma vez que as centúrias patrícias eram mais<br />
67
numerosas. Os plebeus também não podiam casar com<br />
patrícios nem podiam ser sacerdotes.<br />
À medida que os plebeus passaram a ser a maior<br />
composição nas formações militares, e com crescente<br />
intensificação dessas, muitos desse pequenos<br />
proprietários, que se mantinham por longas temporadas<br />
fora de suas propriedades, ficavam sujeitos à ruína,<br />
enquanto as propriedades dos patrícios eram aumentadas,<br />
progressivamente, com as novas conquistas.<br />
Insatisfeitos com essa condição que os endividavam<br />
drasticamente, no ano de 494 a.C., os plebeus<br />
abandonaram Roma e foram para o Monte Sagrado,<br />
próximo à cidade. Essa retirada significou em<br />
enfraquecimento do exército romano, o que levou os<br />
patrícios a admitirem uma série de concessões aos<br />
plebeus. A principal concessão foi o direito de eles<br />
elegerem um tribuno da plebe, com poder de veto sobre<br />
as decisões dos magistrados, com exceção das decisões<br />
militares. Esses tribunos, inicialmente em número de<br />
dois e mais tarde de dez, gozavam de inviolabilidade<br />
pessoal e residencial, pois suas casas eram consideradas<br />
lugares de “asilo”. Tornaram-se verdadeiros protetores<br />
da plebe, já que, além das atribuições já citadas, podiam<br />
impedir qualquer ação do Estado contra os plebeus,<br />
através da simples oposição a essa medida – intercessio.<br />
As leis romanas eram até aquele momento baseadas na<br />
tradição e interpretadas pelos patrícios. Os plebeus, num<br />
processo semelhante ao ocorrido na Grécia, passaram a<br />
exigir leis escritas, o que levou ao aparecimento, em 450<br />
a.C., do primeiro código de leis escrito da história<br />
romana – a Lei das Doze Tábuas -, redigido por uma<br />
comissão de decuriões composta de patrícios e plebeus.<br />
Uma década depois, por proposta dos tribunos da plebe<br />
Licínio e Séxtio, os plebeus conseguiram conquistar o<br />
direito de um dos cônsules ser de origem plebeia. Mais<br />
tarde, obtiveram também o direito de ocupar o cargo de<br />
ditador.<br />
A aristocracia romana, porém, soube absorver as<br />
conquistas sociais e políticas dos plebeus e manteve o<br />
controle do Estado, fosse através do sistema de votação<br />
na comitia centuriata, que inviabilizava a participação<br />
dos cidadãos mais pobres, fosse através da<br />
arregimentação dos clientes, que foi perdendo seu caráter<br />
de base eleitoral.<br />
Em 445 a.C., foram permitidos os casamentos entre<br />
plebeus e patrícios, o que levou a uma associação entre<br />
as famílias plebeias mais ricas e os patrícios, fazendo<br />
surgir uma nova aristocracia – a nobilitas -, composta de<br />
um número reduzido de famílias que, durante muito<br />
tempo, controlaram o acesso aos mais elevados cargos do<br />
Estado.<br />
Com a expansão militar romana, novas magistraturas<br />
foram criadas: os pretores, que cuidavam dos assuntos<br />
judiciários; os censores, que dividiam os cidadãos<br />
segundo os bens e preparavam a lista dos senadores; os<br />
edis, que cuidavam do abastecimento e da vigilância da<br />
cidade de Roma; os questores, que administravam o<br />
tesouro público. Os plebeus conseguiram ter acesso a<br />
todos esses cargos, porém, cada vez mais se acentuava a<br />
divisão interna da camada plebeia entre pobres e ricos.<br />
5.2.1 QUADRO DAS PRINCIPAIS<br />
CONQUISTAS DOS PLEBEUS<br />
494 a.C. O primeiro passo foi a conquista de um<br />
órgão político de defesa de seus interesses, O<br />
TRIBUNATO DA PLEBE. Essa conquista ocorreu<br />
depois que os plebeus ameaçaram criar, em 494 a. C.,<br />
uma sociedade plebeia separada da dos patrícios, nas<br />
vizinhanças de Roma.<br />
471 a.C. Concilium Plebis ou Comitia Plebis,<br />
assembleia que legislava apenas para os plebeus.<br />
Conquistaram, também, o direito de eleger 10 tribunos<br />
da plebe.<br />
450 a.C. Lex Duo Décima Tabularum ou Lei das<br />
Doze Tábuas, primeiro código de leis escritas em Roma.<br />
445 a.C. Lei Canuléia, permitia o casamento entre<br />
patrícios e plebeus.<br />
367 a.C. Leis Licinias-Sextias, dividiu o Consulado<br />
entre patrícios e plebeus; determinaram a divisão de<br />
terras públicas, o ager publicus; proibiram que o corpo<br />
fosse garantia de dívidas.<br />
326 a.C. Lex Poetelia Papiria, aboliu definitivamente<br />
os escravos por dívidas.<br />
300 a.C. Lei Olgúnia, determinou a igualdade<br />
religiosa, isto é, plebeus seriam eleitos para o cargo de<br />
Pontífice. Pontífice era o magistrado eleito para cuidar<br />
dos cultos públicos romanos, tem mandato de um ano e é<br />
68
parte de um Colégio Pontifício, liderado pelo Pontífice<br />
Máximo.<br />
286 a.C. Lei Hortência, determinou que todas as<br />
resoluções aprovadas pelo plebeus na comitia plebis, o<br />
plebiscito, adquirissem força de lei e, portanto, aplicada a<br />
todos os cidadãos sem requerer a aprovação do Senado<br />
Romano.<br />
6. PROCESSO DE EXPANSÃO ROMANA<br />
Foi durante o período republicano que Roma se<br />
transformou de simples cidade- estado em um grande<br />
domínio territorial, voltando-se inicialmente para a<br />
conquista da Itália e mais tarde de todo o mundo<br />
mediterrâneo. A expansão imperialista provocou<br />
profundas transformações na vida econômica, social e<br />
política de Roma, podemos identificar diferentes fatores<br />
para justificá-la em épocas determinadas da história<br />
romana.<br />
Para simplificar o estudo desses fatores, dividiremos a<br />
expansão em duas fases: a primeira, que se estende até o<br />
século III a.C., identificada com a conquista da Itália; e a<br />
Segunda, que corresponde à formação do poderoso<br />
domínio mediterrâneo.<br />
Na primeira fase, o fator determinante da expansão foi a<br />
necessidade de novas terras cultiváveis, numa sociedade<br />
onde o desenvolvimento das forças produtivas era<br />
limitado e o conflito entre aristocracia e pequenos<br />
proprietários bastante acentuado. A disputa pelas terras<br />
do Estado, que aumentava, ao mesmo tempo em que<br />
encontrava na conquista uma válvula de escape e uma<br />
motivação para a luta, acirrava as lutas internas entre a<br />
aristocracia e a plebe. A aristocracia rural, através da<br />
conquista, ampliava seus domínios territoriais e seu<br />
poder político e militar, estabelecendo alianças com as<br />
aristocracias dos Estados conquistados aumentando os<br />
contingentes de seu exército, uma vez que Roma<br />
integrou, progressivamente, as regiões conquistadas ao<br />
seu sistema político, admitindo seus habitantes como<br />
cidadãos romanos, em graus diferenciados<br />
Na Segunda fase imperialista, quando os latifúndios<br />
escravistas (propriedades aristocráticas, com mão-deobra<br />
escrava e produção especializada, voltada para o<br />
mercado) dominaram a economia romana, o fator<br />
determinante do expansionismo militar passou a ser<br />
recrutamento da mão-de-obra escrava, obtida a partir das<br />
populações vencidas. Estudaremos mais detalhadamente<br />
esse período na transição da República para o Império e<br />
na fase imperial.<br />
6.1 EXPANSÃO INTERNA: CONQUISTA DA<br />
ITÁLIA<br />
No início do século V a.C., o objetivo fundamental da<br />
aristocracia romana era manter sua hegemonia na região<br />
do Lácio, o que preocupava as cidades etruscas.<br />
As populações latinas que viviam próximas à cidade de<br />
Roma sabiam que sem a ajuda romana não poderiam<br />
conter nova dominação etrusca. Formaram, então, uma<br />
liga das cidades latinas, a Liga Latina, sob o comando de<br />
Roma. Em 449 a.C., os sabinos foram derrotados pelos<br />
romanos, que se apoderaram de boa parte do seu<br />
território. Pouco depois, os latinos venceram os volscos,<br />
que queriam isolá-los do mar, e novas colônias romanas<br />
foram instaladas nos territórios ocupados.<br />
Em 395 a.C., os romanos venceram a cidade etrusca de<br />
Veios, numa luta iniciada pelo controle da foz do rio<br />
Tibre. Após essa vitória seguiu-se uma derrota, por volta<br />
de 390 a.C., quando os gauleses que organizavam<br />
expedições de saque às regiões do sul da Etrúria<br />
chegaram ao território romano, saquearam a população e<br />
exigiram o pagamento de resgate, em dinheiro, para a<br />
libertação da cidade.<br />
A invasão dos gauleses levou as cidades latinas a<br />
refazerem a aliança com Roma, que andava bastante<br />
abalada. Até meados do século IV a.C., a expansão<br />
deveu-se à Liga Latina, dissolvida em 340 a.C., quando a<br />
sublevação das cidades latinas levou Roma a submetê-las<br />
totalmente à sua hegemonia. A partir daí, a conquista<br />
passou a ser feita sob o controle absoluto de Roma, mas<br />
as colônias instaladas tinham um caráter latino.<br />
De 327 a 290 a.C., Roma guerreou contra os samnitas<br />
pelo domínio da fértil região da Campânia. A maior parte<br />
dos samnitas acabou se aliando aos romanos.<br />
Posteriormente, Roma submeteu o norte da Etrúria, cujos<br />
domínios compreendiam a Itália central e parte da Itália<br />
setentrional. Quando a supremacia romana se estendeu<br />
ao sul da Itália, algumas cidades gregas, como Nápoles,<br />
aliaram-se a Roma, enquanto outras, como Tarento,<br />
declararam-lhe guerra.<br />
Em 272 a.C., o sul da Itália, inclusive Tarento, se rendeu.<br />
Toda a península Apenina, exceto o vale do Pó, passou<br />
ao domínio romano<br />
69
Ao conquistarem uma região italiana, pelo menos um<br />
terço do território ocupado era apropriado pelo Estado –<br />
ager publicus – e distribuído aos cidadãos romanos, para<br />
várias finalidades: instalação de colônias, distribuição de<br />
lotes individuais ou ocupação pela aristocracia, que tinha<br />
os meios disponíveis para o seu aproveitamento.<br />
6.1 EXPANSÃO EXTERNA: CONQUISTA DO<br />
MEDITERRÂNEO<br />
A expansão fora do território italiano teve início com as<br />
Guerras Púnicas (264-146 a.C.), contra Cartago, antiga<br />
colônia fenícia, localizada ao norte da África, que por<br />
volta do século III a.C. dominava o comércio do<br />
Mediterrâneo possuindo colônias na Sicilia, Sardenha,<br />
Córsega, “Espanha” e em toda a costa setentrional da<br />
África.<br />
Os conflitos entre Roma e Cartago se iniciaram a partir<br />
da expansão romana pela sul da Itália, quando Roma<br />
anexou os portos italianos do sul e os interesses de<br />
Nápoles e Tarento (colônias gregas rivais de Cartago)<br />
que se tornaram interesses romanos, tornando a guerra<br />
inevitável.<br />
Era quase certo que Roma, como líder dos gregos<br />
ocidentais, iria intervir na luta secular entre sicilianos e<br />
cartagineses. A maior parte da ilha da Sicília era habitada<br />
por cartagineses, em luta constante com as colônias<br />
gregas ali existentes. Os romanos intervieram nessa luta<br />
e uma de suas legiões ocupou a cidade de Messina. Os<br />
cartagineses declararam guerra a Roma. As forças das<br />
duas potências eram bastante equilibradas, pois o poderio<br />
de ambas era sustentado por uma comunidade de<br />
cidadãos e um poderoso exército, apoiado por aliados em<br />
caso de guerra.<br />
Nas três Guerras Púnicas (de 264 a.C. a 146 a.C.), os<br />
romanos venceram os cartagineses, impondo seu<br />
domínio na Sicília, Córsega e<br />
Sardenha, além da “Espanha”, que só foi totalmente<br />
integrada ao império romano após a total submissão dos<br />
celtiberos, em 133 a.C. “Portugal’, por sua vez, caiu sob<br />
o domínio romano em 140 a.C., quando os lusitanos,<br />
liderados por Viriato, foram vencidos pelas tropas<br />
romanas. Parte do norte da África também foi dominada<br />
pelos romanos, a partir da queda e destruição de Cartago,<br />
em 146 a.C. Todo o Mediterrâneo Ocidental passou para<br />
o domínio romano (Mare Est Nostrum).<br />
Ao mesmo tempo em que estava envolvida com as<br />
Guerras Púnicas, Roma voltou sua atenção para o<br />
Mediterrâneo Oriental, região dos reinos helenísticos. A<br />
Macedônia, aliada a Cartago na Segunda Guerra Púnica,<br />
foi derrotada em 197 a.C., tornando-se protetorado<br />
romano. Posteriormente, com a revolta dos macedônios,<br />
Roma dominou totalmente a região, transformando-a em<br />
província romana, em 168 a.C.<br />
A Síria foi vencida em 189 a.C., seguindo-se depois a<br />
conquista da Grécia e da Ásia Menor e o estabelecimento<br />
de um protetorado romano no Egito. Com a conquista da<br />
Gália Transalpina, efetivada por Júlio César (51 a.C.), a<br />
Roma republicana transformou-se no maior império da<br />
Antiguidade.<br />
7. CONSEQÜÊNCIAS DA EXPANSÃO<br />
ROMANA<br />
A expansão romana exigiu uma nova forma de<br />
administrar as terras conquistadas e, no plano interno,<br />
trouxe profundas modificações na sociedade.<br />
A partir da conquista de terras fora da península<br />
Apenina, Roma passou a agrupar os territórios anexados<br />
em províncias, cujo sistema de exploração sofreu<br />
profundas transformações. Enquanto na expansão inicial<br />
dava-se ênfase à conquista das terras incorporadas ao<br />
ager publicus, às alianças políticas e ao fornecimento de<br />
soldados, na fase posterior da expansão romana<br />
destacava-se a cobrança de tributos anuais, em espécie<br />
ou moeda, o pagamento de indenizações de guerra, a<br />
exclusividade na exploração das minas e principalmente<br />
o recrutamento de escravos entre a população dominada.<br />
70
Nas regiões dominadas ficavam o exército e os<br />
governadores, que controlavam o poder civil e militar. A<br />
arrecadação dos impostos provinciais era arrendada pelo<br />
Estado romano a particulares - os publicanos - que se<br />
tornaram um poderoso grupo, de grande importância nas<br />
lutas sociais travadas no final do período republicano. A<br />
expansão romana provocou transformações radicais na<br />
vida econômica e social de Roma, sem, no entanto,<br />
alterar sua estrutura política.<br />
Assim, Roma continuava sendo uma Cidade-estado<br />
governada pela aristocracia, através do seu principal<br />
órgão político - o Senado. A camada aristocrática havia<br />
alterado sua composição, com a incorporação dos<br />
plebeus ricos, mas não havia alterado suas concepções<br />
nem seus objetivos de controle exclusivo do poder.<br />
Mesmo essa nova aristocracia - a nobilitas - só muito<br />
lentamente recrutava novos quadros entre as camadas de<br />
maior renda, os équites ou cavaleiros, que passavam a<br />
ser conhecidos como "homens novos", discriminados<br />
pela oligarquia que tradicionalmente controlava o poder.<br />
Por outro lado, os plebeus sofreram profunda<br />
estratificação interna, e os tribunos da plebe,<br />
pertencentes às camadas plebeias ricas, afastavam-se<br />
cada vez mais das camadas populares.<br />
Os pequenos proprietários, devido à mobilização<br />
permanente para a guerra, foram prejudicados e<br />
passaram a ter dificuldades de readaptação na vida<br />
agrícola, o que levou grandes contingentes populacionais<br />
a migrar para as grandes cidades, enquanto outros grupos<br />
de pequenos proprietários arruinados passaram a<br />
trabalhar como camponeses contratados por grandes<br />
proprietários – os coloni.<br />
A concentração de propriedades rurais levou ao<br />
aparecimento do latifúndio. Havia, portanto, em Roma,<br />
capital abundante nas mãos da aristocracia e mão-deobra<br />
disponível, principalmente com o aumento do<br />
número de escravos. A especialização agrícola, com<br />
produção voltada para o mercado, passou a dominar a<br />
vida econômica romana.<br />
Foram essas transformações que geraram tensões,<br />
responsáveis pela crise da República: disputa entre a<br />
aristocracia da cidade de Roma e as elites provinciais;<br />
tensões no interior do exército, que necessitava do<br />
recrutamento dos camponeses, mas cuja ação só<br />
beneficiava os senadores e os équites; tensões de caráter<br />
étnico e cultural, agravadas pela escravização das<br />
populações submetidas.<br />
71
CIVILIZAÇÃO ROMA – PARTE II*<br />
72<br />
1. A CRISE DA REPÚBLICA<br />
Apesar do expansionismo e da projeção alcançados pelo<br />
mundo romano na fase republicano, esses mesmos<br />
fatores revelarem contradições com o modelo político<br />
vigente e com as estruturas sociais no âmbito de uma<br />
nova realidade econômica, que levaram ao colapso do<br />
modelo republicano. Disputas de poder entre os grupos<br />
tradicionais e os grupos sociais em ascensão, revoltas<br />
escravas, e as disputas entre os generais são fatores que<br />
marcaram a transição da República ao Império.<br />
Não seria possível determinar com precisão quando a<br />
sociedade romana passou a ser plenamente escravista,<br />
uma vez que essa pratica era recorrente desde os tempos<br />
monárquicos. O certo, porém, e que o expansionismo<br />
romano transformou a escravidão na base do sistema<br />
produtivo de Roma. A evidencia do predomínio desse<br />
tipo de trabalho trouxe alterações significativas na<br />
estrutura social, seja na substituição dos trabalhadores<br />
clientes no campo pelos escravos, seja pela formação de<br />
uma nova classe de proletários nas cidades, dispensados<br />
do campo e evocando o êxodo rural como meio de<br />
sobrevivência. Também foram persistentes as revoltas<br />
dos escravos, mais explosivas e constantes no meio rural.<br />
Dentre elas destacam-se as ocorridas na Sicília, entre 136<br />
e 133 a.C., onde os escravos chegaram a tomar o poder,<br />
estabelecendo um governo monárquico. Também no<br />
reino de Pérgamo, na Ásia Menor, escravos e cidadãos<br />
pobres, liderados por Aristônico, revoltaram-se contra<br />
Roma, sendo derrotados em 130 a.C. Essas revoltas<br />
preocuparam a aristocracia romana, mas não abalaram o<br />
sistema escravista, que se consolidava cada vez mais. Os<br />
escravos urbanos também participaram das lutas<br />
políticas, particularmente daquelas travadas no final da<br />
República, mas não como uma camada social portadora<br />
de reivindicações e sim como massa de manobra de<br />
grupos políticos.<br />
1.1 A questão da terra e a reforma agrária dos<br />
irmãos Graco<br />
Outro fator de desajuste social nos séculos finais da<br />
República estava relacionado à disputa pelas terras<br />
adquiridas no processo expansionista, envolvendo<br />
especialmente os aristocratas e os pequenos camponeses<br />
empenhados no exército. Durante a primeira metade do<br />
século II a.C., o Senado ainda manteve uma política de<br />
colonização intensa na Gália Cisalpina e na parte Sul da<br />
Itália, mas não na Itália Central, onde já predominavam<br />
os latifúndios escravistas. Mas a distância entre regiões<br />
colonizadas, a pequena extensão dos lotes e os poucos<br />
recursos disponíveis levaram os colonos a abandonar as<br />
zonas de colonização, partindo para as cidades, na<br />
expectativa de melhorar suas condições de vida.<br />
A intensificação do êxodo urbano e a proletarização, ou<br />
seja, constituição de uma plebe urbana despossuída,<br />
ampliou as tensões sociais, exigindo soluções que<br />
poderiam ser alcançadas pela via reformista. Alguns<br />
elementos progressistas da aristocracia romana,<br />
influenciados pela cultura grega, bastante forte nesse<br />
período, pensaram em reformas sociais que pudessem<br />
amenizar esse quadro.<br />
Um exemplo desse esforço reformista foi a ação do<br />
tribuno da plebe Tibério Graco, que preparou, em 133<br />
a.C., um projeto visando melhorar a combatividade do<br />
exército romano, melhorando as condições de vida dos<br />
camponeses, que a essa época constituíam a base do<br />
exército romano. Assim, resolveu conceder terras<br />
àqueles que não às possuíam em quantidade suficiente<br />
para sobreviver.<br />
Como tal proposta só poderia ser aprovada pela<br />
assembleia popular, e só os tribunos podiam apresentar<br />
projetos, ele candidatou-se a esse posto e venceu as<br />
eleições. O projeto de Tibério Graco limitava a<br />
quantidade máxima de terras públicas que uma família<br />
poderia possuir em 500 iugera (uma iugera corresponde a<br />
aproximadamente a 2.500 m2) para o chefe e 250 por<br />
filho (até o máximo de dois). Essas terras se tornariam<br />
propriedade dos seus concessionários, porém aquelas<br />
concedidas aos pobres não se tornariam propriedade<br />
particular, pois não poderiam ser vendidas e estavam<br />
sujeitas ao pagamento de taxas de arrendamento.<br />
No dia da votação do projeto, uma multidão de<br />
camponeses reuniu-se em Roma. Os senadores,<br />
inconformados com a possibilidade de perderem o seu<br />
monopólio sobre as terras, para não perderem a votação<br />
nos comícios populares, recorreram a um antigo recurso<br />
constitucional romano – o veto de um tribuno a qualquer<br />
lei. O veto foi dado por outro Tribuno da plebe. Tibério
ecorreu a um meio inconstitucional e pediu à plebe que<br />
afastasse tal tribuno e aprovasse a lei.<br />
Para a execução da lei era necessário o apoio dos<br />
tribunos, que eram eleitos anualmente. Tibério<br />
candidatou-se novamente para o posto, além de procurar<br />
eleger outros candidatos seus. Como a reeleição de um<br />
tribuno era contrária à tradição romana, a aristocracia<br />
passou a acusá-lo de pretender instalar um governo<br />
tirano. No dia das eleições houve um conflito armado,<br />
onde Tibério e muitos de seus partidários foram mortos.<br />
Com o fracasso da tentativa de reforma agrária de<br />
Tibério, Caio Graco, seu irmão, foi eleito tribuno em<br />
124 a.C., e apresentou um projeto de reformas muito<br />
mais amplo à assembleia. Entre suas propostas, incluíamse<br />
uma lei que estendia a todo o mundo romano as terras<br />
concedidas aos pobres; um programa de obras públicas<br />
para dar ocupação à plebe urbana; uma reforma<br />
judiciária que favorecia camadas intermediárias, tirando<br />
o papel de juiz dos senadores e transferindo-o para os<br />
cavaleiros (comerciantes), que passaram também a<br />
exercer importante papel nas finanças públicas com o<br />
arrendamento da cobrança dos impostos provinciais.<br />
Com a lei frumental, iniciou-se a distribuição de trigo<br />
para a população romana, subvencionada pelo Estado.<br />
Esse hábito assumiu grande importância no século I a.C.,<br />
tornando-se totalmente gratuito a partir do ano de 58 a.C.<br />
Caio Graco, em sua campanha à reeleição, sugeriu que a<br />
Assembleia estendesse os direitos de cidadania a todos<br />
os aliados de Roma, mas o projeto foi derrotado e o<br />
senado ordenou a expulsão de todos aqueles que não<br />
eram cidadãos romanos. Tentando derrubar Caio Graco,<br />
os aristocratas denunciaram-no como sendo inimigo da<br />
religião e da pátria, alegando que ele havia fundado, em<br />
Cartago, uma colônia numa região considerada<br />
amaldiçoada. Caio Graco foi perseguido e seus<br />
partidários foram derrotados pelo senado. Temendo<br />
tornar-se prisioneiro, pediu a um escravo que o matasse.<br />
Frustrava-se assim os esforços de reforma capazes de<br />
atender à população empobrecida de Roma, mantendo-se<br />
portanto, os fatores essenciais da grave crise que atingia<br />
a República.<br />
Os únicos beneficiários das reformas dos Graco foram os<br />
cavaleiros, que há muito pretendiam participar das<br />
estruturas efetivas de poder do Estado. Os camponeses,<br />
porém, continuaram a perder suas terras e os latifúndios<br />
continuaram sua expansão. As tentativas de reforma não<br />
conseguiram restaurar a propriedade camponesa nem a<br />
estrutura do exército, baseada no recrutamento dos<br />
cidadãos. O exército passou, progressivamente, a ser<br />
profissional, composto por mercenários que faziam da<br />
vida militar seu meio de sobrevivência.<br />
1.2 A disputa entre os generais: A guerra civil<br />
entre os generais Mario e Sila<br />
Com a dificuldade de reversão da crise pelas medidas<br />
institucionais e, em um quadro onde o exército ganhava<br />
cada vez mais prestígio associado às guerras de<br />
conquista, muitos generais passaram a ambicionar o<br />
fortalecimento de sua autoridade individual, chegando a<br />
poder e colocando em risco o próprio funcionamento da<br />
República e a autoridade senatorial.<br />
Uma das grandes investidas do exército romano foi sobre<br />
a Numídia, ao norte da África. Mas os generais romanos,<br />
mais preocupados com seus interesses particulares do<br />
que com os do Estado, eram subornados pelo rei daquela<br />
região e a guerra se tornava indefinida. A conquista<br />
definitiva da Numídia aconteceu quando a assembleia<br />
romana elegeu como chefe das tropas africanas o<br />
incorruptível Caio Mário, que foi reeleito cônsul e<br />
general-chefe.<br />
Mário iniciou uma série de reformas no exército, ao<br />
perceber que sua base de recrutamento - os camponeses -<br />
não tinha grande interesse em lutar, o que provocava<br />
indisciplina e deserção. Passou também a convocar a<br />
classe dos proletarii (indivíduos sem bens e com prole<br />
para sustentar), contrariando a tradição romana, que<br />
restringia o recrutamento militar aos proprietários. Os<br />
soldados passaram a ser assalariados, passo decisivo para<br />
a profissionalização militar.<br />
Nessa época, a situação de Roma era dificultada ainda<br />
pela eclosão de revoltas escravas e rebeliões de<br />
populações itálicas que se ressentiam de não serem<br />
portadores de cidadania romana, apesar de serem seus<br />
aliados desde a primeira fase de expansão interna de<br />
Roma.<br />
Os dois principais generais romanos, Mário e Sila, foram<br />
enviados para submeter os revoltosos. A luta durou três<br />
anos, e Roma só pôde vencê-la após uma série de<br />
expedientes para dividir os aliados. Antes do final da<br />
revolta dos itálicos, Roma teve de enfrentar outro<br />
adversário, Mitridates, rei do Ponto, que conseguiu<br />
reunir boa parte do Oriente helenizado e massacrar toda a<br />
população latina da Ásia Menor. Roma preparou-se para<br />
enviar tropas contra Mitridates. Os partidos popular e<br />
aristocrático apresentaram, como candidatos ao comando<br />
das tropas, Mário e Sila, respectivamente. O vencedor foi<br />
Sila, que partiu para o Oriente.<br />
73
Aproveitando-se de sua ausência, Mário e seus<br />
seguidores se apossaram do poder em Roma. No entanto,<br />
no Oriente, Sila fez um acordo com Mitridates e retornou<br />
a Roma, onde derrotou Mário e seus partidários. A partir<br />
daí (82 a.C.) instaurou uma ditadura em Roma, tornandose<br />
ditador vitalício.<br />
Durante essa ditadura, Sila anulou o poder dos tribunos,<br />
limitou os direitos da assembléia popular e entregou o<br />
controle da justiça à aristocracia senatorial. Em 79 a.C.<br />
abdicou, retirando-se para a Sicília.<br />
A presença ditatorial dos militares no comando da<br />
República Romana não significou a retomada da<br />
estabilidade; em contrário, acirrou as rivalidades entre as<br />
diferentes faccoes políticas. É importante notar que essas<br />
lutas eram disputas entre a classe aristocrática romana e<br />
as elites provinciais. Mas, na desorganização provocada<br />
por essas disputas, setores das camadas mais pobres e os<br />
próprios escravos também manifestavam sua<br />
insatisfação.<br />
Foi o que ocorreu, por exemplo, na Campânia, no ano 70<br />
a.C., quando milhares de escravos, liderados por<br />
Espártaco e ajudados pelos proletários rurais da Itália,<br />
se rebelaram. Essa rebelião foi reprimida por Crasso,<br />
homem rico, saído da classe dos cavaleiros.<br />
Também no Oriente, Roma conseguiu se impor a<br />
Mitridates, vencido por Pompeu, que anexou a Síria e a<br />
Palestina. O partido popular, liderado por Júlio César e<br />
financiado por Crasso, voltou a se manifestar em Roma,<br />
para tentar controlar o poder na cidade.<br />
1.3 O primeiro triunvirato<br />
Em 60 a.C., César, Pompeu e Crasso firmaram um pacto<br />
secreto, supostamente em nome da ordem e da<br />
amenização das tensões, para dividir o governo. Esse<br />
acordo denominou-se triunvirato (governo de três<br />
pessoas). Com a ajuda de Pompeu e Crasso, César<br />
conseguiu ser eleito cônsul e tornou-se o elemento<br />
encarregado da execução de medidas propostas pelos<br />
três. Distribuiu terras da Campânia para os soldados de<br />
Pompeu; apoiou os partidários de Crasso na expulsão de<br />
Cícero, senador aristocrático contrário às reformas de<br />
Roma; fez com que as soluções adotadas por Pompeu,<br />
em relação ao Oriente, fossem confirmadas pela<br />
assembléia. Para si, garantiu o governo das Gálias<br />
cisalpina e transalpina. Toda a Gália foi subjugada por<br />
César, o que lhe permitiu conquistar uma reputação<br />
militar e recursos materiais ilimitados, que tornaram<br />
possível comprar a devoção dos seus soldados. Nessa<br />
fase de acirrada disputa política, os soldados mantinhamse<br />
fiéis aos seus generais, em função dos interesses<br />
clientelísticos que estes pudessem lhes garantir.<br />
Durante a campanha da Gália, César procurou manter o<br />
triunvirato. Após a morte de Crasso (53 a.C.),<br />
aumentaram os conflitos entre César e Pompeu. César<br />
não respeitava as limitações constitucionais do seu cargo<br />
e voltava-se contra o senado, que também o temia. Com<br />
a expiração do mandato de César nas Gálias, o senado<br />
propôs-lhe que retornasse a Roma, onde seria candidato a<br />
cônsul, e que dispersasse seu exército, o que ele se<br />
recusou a fazer, pois sabia que isso significava perder<br />
seu poder e ser destruído pelo senado.<br />
César invadiu a Itália e marchou sobre Roma. Os<br />
senadores abandonaram a cidade e Pompeu retirou-se<br />
para a península Balcânica, onde, pouco tempo depois,<br />
foi abatido por César, que também derrotou seus<br />
exércitos na Espanha. O Egito, onde havia uma disputa<br />
pelo poder entre os herdeiros, também foi alvo de César.<br />
Ele colocou a rainha Cleópatra no poder e deixou o Egito<br />
em 47 a.C.<br />
ALEA JACTA EST significa, em português, "Os<br />
dados estão lançados", mas traduzido comumente como<br />
"A sorte está lançada". Foi a frase em latim supostamente<br />
proferida por Júlio César ao tomar a decisão de cruzar<br />
com suas legiões o rio Rubicão, que delimitava a divisa<br />
entre a Gália Cisalpina (Gália ao sul dos Alpes, que hoje<br />
corresponde ao território do norte da Península Itálica) e<br />
o território da Itália. Pela lei romana, não era permitido<br />
às legiões ingressar no território italiano devido a<br />
episódios anteriores em que generais romanos como<br />
Mário e Sila haviam usado seus exércitos para tomar o<br />
poder em Roma. Devido a estes precedentes, era<br />
proibido a um governador provincial, um Proconsul<br />
como César, cruzar com suas legiões a divisa com o<br />
território italiano. O rio Rubicão demarcava esta divisa<br />
entre a Gália, governada por César, e a Itália e ao cruzálo<br />
César declarava um conflito aberto contra o Senado<br />
romano e Pompeu.<br />
VENI, VIDI, VICI, em português: "Vim, vi, venci"<br />
é uma famosa frase latina supostamente proferida pelo<br />
general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C. César<br />
utilizou a frase numa mensagem ao Senado Romano<br />
74
descrevendo sua recente vitória sobre Farnaces II rei do<br />
Ponto (localizado a norte da península da Anatólia, na<br />
atual Turquia) na Batalha de Zela. A frase serviu tanto<br />
para proclamar seu feito, como também alertar aos<br />
senadores de seu poder militar.<br />
1.4 A ditadura de César<br />
Ao retornar a Roma, César tornou-se o chefe do Estado<br />
romano, ocupando, ao mesmo tempo, o cargo de tribuno<br />
e de cônsul. Procurou manter o funcionamento formal<br />
das instituições republicanas, mas submetendo-as<br />
totalmente ao seu controle. Na luta contra o senado,<br />
apoiou-se nas camadas mais baixas da assembléia<br />
popular e nos veteranos do exército das províncias<br />
ocidentais.<br />
César foi assassinado pela facção republicana do Senado,<br />
em 44 a.C., mas seu desaparecimento não restituiu o<br />
poder ao senado, que, representando a oligarquia, era<br />
combatido pelo exército, pela plebe e pelas camadas<br />
ricas, que não partilhavam do poder.<br />
1.5 O segundo triunvirato<br />
Com a morte de César, seus seguidores Marco Antônio e<br />
Lépido controlaram as tropas e impediram qualquer<br />
domínio político por parte do senado, que aceitou o<br />
acordo proposto por Marco Antônio para garantir todos<br />
os atos de César, mas a disputa entre os seguidores deste<br />
e a classe senatorial continuou. Bruto e Cássio, senadores<br />
que lideraram a conspiração contra César, escaparam<br />
para o Oriente, onde controlaram parte do exército<br />
sediado na Macedônia, enfraquecendo a posição de<br />
Antônio.<br />
Na Itália, Otávio, sobrinho de César, exigiu participação<br />
no governo e devolução do dinheiro retirado do espólio<br />
de seu tio. Antônio recusou-se a aceitar as exigências<br />
impostas e os veteranos de guerra de César ficaram com<br />
Otávio, que ofereceu seus serviços ao senado, sendo<br />
aceito. A maior parte dos soldados do senado passou<br />
para o comando de Otávio, que recebeu o título de cônsul<br />
e condenou os assassinos de César.<br />
O esperado choque entre Antônio e Otávio não ocorreu.<br />
Como nenhum deles conseguiria governar sozinho,<br />
acabaram entrando em acordo e formaram, juntamente<br />
com Lépido, o segundo triunvirato. Pelo acordo,<br />
dividiram entre si as principais províncias ocidentais do<br />
império e receberam poder ilimitado, por cinco anos,<br />
para reorganizar o Estado. O acordo foi ratificado pela<br />
assembléia popular.<br />
Para garantir a "reorganização do Estado" instaurou-se o<br />
terror em Roma, com o objetivo de eliminar a oposição e<br />
levantar fundos para o pagamento dos soldados. Antônio<br />
e Otávio dirigiram-se para a Macedônia, onde derrotaram<br />
o exército de Bruto e Cássio. Antônio foi para o oriente e<br />
Otávio retornou à Itália, onde começou a expropriar<br />
terras para doá-las a seus soldados.<br />
O governo autocrático, instaurado por Antônio no<br />
Oriente, reabilitou Otávio junto à população romana,<br />
revoltada com os confiscos de terra. Quando Marco<br />
Antônio começou a doar províncias romanas aos<br />
herdeiros de Cleópatra, sua favorita, Otávio apresentou-o<br />
aos romanos como traidor de seus ideais. O senado<br />
apoiou Otávio, e toda a aristocracia da Itália e das<br />
províncias lhe jurou fidelidade.<br />
Em 31 a.C., na batalha de Áctium, Marco Antônio foi<br />
derrotado pelo exército romano e, após sua morte e o<br />
suicídio de Cleópatra, o Egito transformou-se em<br />
província romana. Começava a nascer a Roma Imperial.<br />
1.6 A transição entre a república e o império - o<br />
principado e a centralização do poder<br />
Durante as guerras civis, acumularam-se grandes<br />
fortunas em Roma. A anarquia nas províncias e a falta de<br />
eficiência do governo central propiciaram o<br />
enriquecimento extraordinário dos generais e<br />
governadores de províncias. Os governadores,<br />
juntamente com os équites, enriquecidos com a<br />
espoliação das províncias, passaram a fazer parte da<br />
classe senatorial.<br />
Roma transformou-se no maior centro comercial e<br />
financeiro do mundo antigo. O envio de riquezas do<br />
Oriente enriqueceu ainda mais a península. Os pequenos<br />
proprietários se arruinavam, pois os cereais eram<br />
importados das províncias a preços ínfimos.<br />
Graças à grande entrada de capitais vindos das<br />
províncias, houve grande desenvolvimento da<br />
manufatura, principalmente após a chegada de escravos<br />
especializados, vindos da Grécia e do Oriente. Ao<br />
mesmo tempo em que Roma florescia, as províncias se<br />
empobreciam, devido à espoliação dos governadores e<br />
dos cavaleiros.<br />
As classes dominantes de Roma, juntamente com os<br />
cidadãos romanos, diante da anarquia gerada pelas<br />
guerras civis, sentiram necessidade de reformas para<br />
integrar efetivamente o enorme território imperial,<br />
75
mantendo uma relativa paz e progresso interno, sem<br />
perder sua situação privilegiada. Otávio expressou e<br />
interpretou esse desejo, estabelecendo um governo<br />
centralizador e autocrático – o principado, isto é, o<br />
governo do primeiro homem do Estado (princeps).<br />
Entre 31 a 27 a.C., Otávio passou a acumular os<br />
principais títulos romanos, entre eles:<br />
• PRINCEPS SENATUS era o líder do Senado<br />
romano. Este cargo era considerado de grande prestígio.<br />
Originalmente era atribuído por períodos de cinco anos<br />
passíveis de renovação, escolhido pelos censores, entre<br />
os senadores patrícios ex-cônsules. Entre as tarefas de<br />
um princeps senatus incluíam: declarar a abertura e<br />
encerramento das sessões do senado; decidir a ordem de<br />
trabalhos e o local do encontro; impor a ordem e demais<br />
regras do senado; representar o senado em reuniões com<br />
embaixadas de outros países; escrever as cartas e os<br />
despachos do senado. Depois da queda da República<br />
Romana, o princeps senatus ou princeps passou a ser um<br />
cargo exclusivo do imperador.<br />
• IMPERATOR era um título conferido a alguns<br />
generais da República Romana, tradicionalmente,<br />
conferidas pelas tropas ao seu general, depois de uma<br />
batalha ou campanha bem sucedida. Esta aclamação<br />
conferia o direito do general pedir a realização de uma<br />
parada triunfal ao Senado, sendo o triunfo uma das<br />
grandes ambições de qualquer político; a história é rica<br />
em exemplos de legiões subornadas para chamar alguém<br />
de imperator. Depois de Otávio estabelecer o Império<br />
Romano, o título imperator ficou restrito à pessoa do<br />
imperador e a membros da sua família.<br />
• PONTIFEX MAXIMUS ou SUMO PONTIFEX<br />
(literalmente "Máximo construtor de pontes" ou<br />
"supremo construtor de pontes") designava o sacerdote<br />
supremo do colégio dos sacerdotes, a mais alta dignidade<br />
na religião romana. Inicialmente somente os patrícios<br />
podiam ocupá-lo, até um plebeu ser designado para o<br />
cargo em 254 a.C.. De posto religioso durante a<br />
República, foi gradualmente politizado até ser<br />
incorporado pelo imperador, a partir de Otávio.<br />
76<br />
• AUGUSTUS tinha o significado de Majestade ou<br />
Venerável. Nesta acepção, o cognome Augusto servia<br />
para identificar a pessoa na qual se concentravam os<br />
vários ramos do poder do imperador, caracterizando<br />
também seu poder como divindade. Com esse título o<br />
Estado romano passa a se caracterizar como uma<br />
teocracia, em virtude da apoteose. A apoteose na Roma<br />
Antiga era um rito funerário da religião romana,<br />
porventura o mais honorífico, e que elevava o falecido à<br />
categoria dos deuses. A apoteose era marcada pelo vôo<br />
de uma águia desde o leito fúnebre até à morada celeste<br />
dos deuses. O morto recebia o qualificativo de divinus<br />
(divino). Otávio foi o primeiro a receber a apoteose<br />
segundo a decisão do Senado romano.<br />
• CAIUS JULIUS CAESAR OTAVIANUS, Otávio<br />
visando absorver a aura de poder e prestígio do nome de<br />
seu tio, incorporou-o ao seu nome.<br />
2. O IMPÉRIO ROMANO (27a.C. a 476 d.C.)<br />
A partir de 27 a.C., Otávio foi acumulando poderes e<br />
títulos, entre eles o de augusto, e o de imperador. Otávio<br />
Augusto tornou-se, na prática, senhor absoluto de Roma.<br />
Mas não assumiu oficialmente o título de rei e permitiu<br />
que as instituições republicanas (Senado, Comício<br />
Centurial e Tribal etc.) continuassem existindo na<br />
aparência.<br />
O Principado é a fase convencionada pelos<br />
historiadores para designar o Império Romano desde 27<br />
a.C., quando o senado investiu Otaviano - o futuro<br />
Augusto - no poder supremo com a denominação de<br />
príncipe ou princeps (primeiro em latim), até 285 d.C.,<br />
quando iniciou-se o dominato por Diocleciano. Durante<br />
esse período, a verdadeira natureza do regime era<br />
escondida atrás de conceitos republicanos e os<br />
imperadores eram muitas vezes relutantes por falsa<br />
modéstia em se assumir como tal.<br />
O principado apresentava dupla faceta em Roma e<br />
nas províncias. Em Roma, era monarquia mitigada, pois<br />
o príncipe era apenas oprimeiro cidadão, que respeita as<br />
instituições políticas da república. Nas províncias<br />
imperiais, era verdadeira monarquia absoluta, porque o<br />
princeps tinha, lá, poderes discricionários.
Em face das peculiaridades que apresenta o<br />
principado, há controvérsia entre os autores sobre a<br />
natureza desse regime. Alguns entendem que ele seja<br />
uma diarquia: de um lado o príncipe, e, do outro, o<br />
senado. Para outros, seria um protetorado, em que o<br />
príncipe é o protetor e o Estado Romano o protegido. Há<br />
ainda aqueles que vêem nele a superposição de um novo<br />
órgão (o princeps) às instituições republicanas.<br />
Sob o principado, o governo autocrático do<br />
imperador era ainda escrupulosamente mascarado por<br />
formas e convenções herdadas do período político da<br />
República Romana, sob o lema Senatus Populesque<br />
Romanus ou SPQR. Inicialmente a teoria implicava que<br />
o "primeiro cidadão" tinha que ganhar sua extraordinária<br />
posição de poder por mérito, no estilo que o próprio<br />
Augusto ganhou a posição de auctoritas (ostenta a<br />
auctoritas aquela personalidade ou instituição, que tem<br />
capacidade moral para emitir uma opinião qualificada<br />
sobre uma decisão). A propaganda imperial desenvolveu<br />
uma ideologia paternalista, apresentando o princeps<br />
como a real encarnação de todas as virtudes atribuídasao<br />
governante ideal, tais como clemência e justiça, e em<br />
troca motivando o princeps a desempenhar o papel<br />
desejado na sociedade romana, tanto na segurança<br />
política como no dever moral. O que era especificamente<br />
desejado do princeps parece ter variado ao longo do<br />
tempo.<br />
Augusto. O século I, em que transcorreu seu governo,<br />
ficou conhecido como “PAX ROMANA”.<br />
Após a morte de Otavio Augusto , o trono romano foi<br />
ocupado por vários imperadores, que pode ser agrupados<br />
em quatro dinastias:<br />
DINASTIA DOS JULIOS-CLAUDIUS (14-68) –<br />
Tibério, Calígula, Claudio e Nero;<br />
DINASTIA DOS FLÁVIOS (69-96) –Vespasiano e<br />
Domiciano;<br />
DINASTIA DOS ANTONINOS (96-192) – Nerva,<br />
Trajano, Adriano, Marco Arélio, Antinino Pio e<br />
Cômodo;<br />
DINASTIA DOS SEVEROS (193-235) – Sétimo,<br />
Severo, Caracala, Macrino, Heliogábalo e Severo<br />
Alexandre<br />
2.1.1 Perseguições religiosas no Alto Império<br />
2.1 ALTO IMPÉRIO ( 27 a.C. - 235 d.C)<br />
Durante o longo governo de Otávio Augusto (27 a.C.-<br />
14 d.C.), uma série de reformas sociais administrativas<br />
foi realizada. Roma ganhou em prosperidade econômica.<br />
Suas primeiras medidas tinham por finalidade<br />
reestruturar a administração do novo Estado Imperial:<br />
restringiu as funções do Senado; criou uma nova<br />
ordem administrativa (as prefeituras); melhorou as<br />
formas de cobranças de impostos; instituiu a guarda<br />
pretoriana com a função de garantir a proteção do<br />
imperador.<br />
Na economia, Otávio incentivou a produção e protegeu<br />
as rotas comerciais. Empreendeu a construção de várias<br />
obras públicas, o que gerou muitos empregos aos<br />
plebeus. Para ganhar popularidade, Otávio adotou a<br />
política do “pão e circo”. A paz, a prosperidade e as<br />
realizações artísticas marcaram o governo de Otávio<br />
Os romanos não eram dados a perseguir as religiões de<br />
outros povos, ao contrário, as absorvia. Porém, como<br />
exceção, perseguiram o judaísmo e o cristianismo.<br />
A perseguição aos Judeus tem início na fase final da<br />
República, em 63 a.C., quando os romanos dominaram a<br />
região de Israel e estabeleceram no reino judeu um<br />
protetorado. Entretanto, a prática da religião hebraica era<br />
constantemente reprimida pelos romanos, que<br />
interferiam na administração do Templo e atacavam e<br />
profanavam os locais de culto.<br />
Durante o domínio romano, o nacionalismo dos hebreus<br />
fortaleceu-se, levando-os a se revoltar contra Roma. No<br />
ano 70 d.C., o imperador romano Tito, sufocou uma<br />
rebelião hebraica e destruiu o segundo templo de<br />
Jerusalém. Os hebreus, então, iniciaram sua dispersão<br />
por várias regiões do mundo. Esse episódio ficou<br />
conhecido como Diáspora.<br />
Adriano foi Imperador romano de 117 a 138 d.C. sua<br />
política encontraria sua maior contestação entre os<br />
judeus. Adriano, por volta de 131 d.C., mandara<br />
77
econstruir Jerusalém (destruída por Tito em 70 d.C.)<br />
como uma cidade grega. Os judeus sentiram que a sua<br />
cidade sagrada estava sendo profanada por estrangeiros.<br />
Diante das rebeliões dos judeus, Adriano determinou que<br />
as legiões localizadas nas províncias vizinhas atacassem<br />
os judeus e os destruíssem. Roma decretou a exclusão<br />
dos judeus de Jerusalém, que foi reconstruída como<br />
cidade grega e passou a chamar-se Aelia Adriana. No<br />
lugar do antigo templo judaico ergueu-se a estátua de<br />
Zeus e junto ao Gólgota (onde foi crucificado Jesus)<br />
ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite. A antiga<br />
província da Judéia passou a chamar-se Palestina - forma<br />
de tentar apagar a memória da presença judaica na região<br />
pela recordação dos filisteus, também antigos inimigos<br />
dos judeus. Tal fato intensificou o processo da diáspora<br />
judaica que havia se iniciado em 70 d.C. Os judeus<br />
dispersaram pelo mundo com a promessa de manterem<br />
as suas tradições e de um dia retornarem à terra do<br />
Monte Sião.<br />
Entre os principais motivos das perseguições dos<br />
romanos aos judeus:<br />
1 – O judaísmo professa o monoteísmo e se recusa a<br />
adorar o imperador romano como divindade;<br />
2 – O judaísmo é mais que uma religião, representa a<br />
própria identidade nacional do povo judeu e é o seu<br />
principal instrumento de resistência em relação aos<br />
seus dominadores.<br />
3 – A resistência dos judeus poderia servir de<br />
exemplo para outros povos sob o domínio romano.<br />
Também os cristãos seriam duramente perseguidos pelos<br />
romanos; tal perseguição encontra explicações tanto de<br />
ordem politica, histórica quanto religiosas. Quando<br />
Jesus Cristo nasceu, por volta do ano 4 a.C, na pequena<br />
cidade de Belém, próxima a Jerusalém, os romanos<br />
dominavam a Palestina. Os judeus viviam sob a<br />
administração de governadores romanos e, por isso,<br />
aspiravam pela chegado do Messias (criam que seria um<br />
grande homem de guerra e que governaria<br />
politicamente), apontado na Toráh como o enviado que<br />
os libertaria da dominação romana.<br />
Até os 30 anos Jesus não tivera expressão e vivia em<br />
Nazaré, cidade situada no norte do atual Israel. Em<br />
pouco tempo, aproximadamente três anos, reuniu<br />
seguidores (os 12 apóstolos) e percorreu a região<br />
pregando sua doutrina e, segundo a crença, fazendo<br />
milagres, como ressuscitar pessoas mortas e curar cegos,<br />
logo tornou-se conhecido de todos e grandes multidões o<br />
seguiam.<br />
78<br />
Mas, para as autoridades religiosas judaicas ele era um<br />
blasfemo, pois autodenominava-se o Messias. Segundo a<br />
elite judaica dos fariseus ele não tinha aparência e poder<br />
para ser o líder que libertaria a região da dominação<br />
romana. Ele apenas pregava paz, amor ao próximo. Para<br />
os romanos, era um agitador popular.<br />
As ações e os ensinamentos de Jesus entraram em<br />
conflito com os interesses da elite judaica. Tal fato levou<br />
a prisão, ao julgamento e a execução de Jesus.<br />
Acompanhado por um grupo de homens armados, Judas<br />
chegou ao jardim enquanto Jesus orava, para prendê-lo.<br />
Ao beijá-lo na face, revelou a identidade de Jesus e este<br />
foi preso. Por parte de seus seguidores houve um<br />
princípio de resistência, mas depois todos se dispersaram<br />
e fugiram.<br />
Os soldados levaram Jesus para a casa do Sumo<br />
Sacerdote Caifás. A lei judaica não permitia que o<br />
Sinédrio, a suprema corte judaica, se reunisse durante o<br />
Pessach. Jesus foi acusado primeiramente de ameaçar<br />
destruir o templo, mas as testemunhas entraram em<br />
desacordo.<br />
Depois, perguntaram a Jesus se ele era o Messias, o Filho<br />
de Deus e rei dos judeus. Jesus respondeu que era, e foi<br />
então acusado de blasfemar ao dizer-se Deus. Após isso,<br />
os líderes judeus levaram Jesus à presença do Pró-Cônsul<br />
Pôncio Pilatos, que então governava a província romana<br />
da Judéia. Acusavam-no de estar traindo Roma ao dizerse<br />
rei dos judeus. Como Jesus era galileu, Pilatos enviouo<br />
a Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, que<br />
governava a Galileia. Segundo o evangelista Lucas,<br />
Herodes zombou de Jesus, recusou-se a julgá-lo,<br />
vestindo-o com um manto real, e devolveu-o a Pilatos.<br />
Era de praxe os governantes romanos libertarem um<br />
prisioneiro judeu por ocasião do Pessach. Pilatos expôs<br />
Jesus e um assassino condenado, de nome Barrabás, na<br />
escadaria do palácio, e pediu à multidão que escolhesse<br />
qual dos dois deveria ser posto em liberdade. A multidão,<br />
manipulada pela elite judaica, escolheu Barrabás. Pilatos<br />
(lavou as mãos para eximir os romanos de qualquer<br />
responsabilidade) entregou então Jesus para morrer na<br />
cruz. A crucificação era uma forma comum de execução<br />
romana, aplicada, em geral, aos criminosos de classes<br />
inferiores. Aqueles que acreditam que Jesus ressuscitou<br />
ao terceiro e que voltará para julgar os vivos e os mortos<br />
deram origem ao CRISTIANISMO.<br />
Com o tempo o cristianismo foi crescendo,<br />
principalmente entre a massa de miseráveis de Roma. O<br />
governo imperial se incomodava com o crescimento e
com os “mistérios” que envolviam os cristãos, que se<br />
negavam a participar das cerimônias religiosas regulares<br />
realizadas pelos romanos, bem como aceitar que o<br />
imperador fosse adorado como um deus.<br />
Entre os principais motivos das perseguições dos<br />
romanos aos Cristãos:<br />
Baixo Império Cristão (306-476) – nesse período,<br />
destacou-se o reinado de Constantino, que através do<br />
Edito de Milão, concedeu liberdade religiosa aos<br />
cristãos. Consciente dos problemas de Roma,<br />
Constantino decidiu mudar a capital do império para a<br />
parte oriental. Para isso remodelou a antiga Bizâncio<br />
(cidade fundada pelos gregos) e fundou Constantinopla,<br />
que significava "cidade de Constantino".<br />
Religiosos: As reuniões dos cristãos despertavam<br />
suspeitas, por isso foram acusados de praticarem atos<br />
imorais e criminosos durante a celebração da Ceia do<br />
Senhor. Eles se reuniam antes do nascer do sol, ou então<br />
à noite, quase sempre em cavernas ou nas catacumbas<br />
subterrâneas. Eram acusados de incesto, de canibalismo e<br />
de práticas desumanas, a ponto de serem acusados de<br />
infanticídio em adoração ao seu Deus. A saudação com o<br />
ósculo santo (beijo) foi transformado em forma de<br />
conduta imoral.<br />
Políticos: Os cristãos rejeitavam a escravidão e a<br />
adoração ao imperador. A adoração ao imperador era<br />
considerada prova de lealdade. Havia estátuas de<br />
imperadores reinantes nos lugares mais visíveis para o<br />
povo adorar. Só que os cristãos não faziam essa<br />
adoração. Pelo fato de cantarem hinos e louvores e<br />
adorarem a “outro Rei, um tal Jesus”, eram considerados<br />
pelo povo como desleais e conspiradores de uma<br />
revolução. Dentro da crença cristã misturavam escravos<br />
com o povo, não havia a divisão: senhor e escravo, os<br />
dois eram tratados de forma igual. Além do mais o<br />
cristianismo tornava-se cada vez mais um fenômeno de<br />
massa que escapava ao controle do Estado Romano.<br />
2.2 BAIXO IMPÉRIO ou DOMINATO (235-<br />
476)<br />
O Baixo império corresponde à fase final do período<br />
imperial. Costuma ser subdividido em:<br />
2.2.1 Crise do Império Romano<br />
O Baixo Império foi sendo corroído por uma longa crise<br />
social, econômica e política. Entre os fatores que<br />
contribuíram para essa crise, destacam-se:<br />
CRISE DO EXPANSIONISMO ROMANO:<br />
• Crise do abastecimento de mão-de-obra escrava;<br />
• Elevados gastos públicos para sustentar a imensa<br />
estrutura administrativa e militar;<br />
• Aumento dos impostos para custear as despesas do<br />
exército e da burocracia administrativa;<br />
• Crise da política de pão e circo;<br />
• Crescimento do número de miseráveis entre a plebe,<br />
os comerciantes e os camponeses;<br />
• Desordens sociais e políticas provocadas por<br />
rebeliões tanto das massas internas quanto dos povos<br />
submetidos.<br />
• Crise da política de acordos com os bárbaros<br />
federados;<br />
• Intensificação das disputas entre os generais<br />
(anarquia militar);<br />
• Enfraquecimento das defesas romanas;<br />
• Ondas ou vagas de invasões bárbaras que se<br />
estenderam do século III ao século X.<br />
Baixo Império Pagão (235-305) – período em que<br />
dominava as religiões não-cristãs. Destacou-se o reinado<br />
de Diocleciano, que dividiu o governo do enorme<br />
império entre quatro imperadores (tetrarquia) para<br />
facilitar a administração. Esse sistema de governo,<br />
entretanto não se consolidou.<br />
No processo de decadência do Império Romano, a partir<br />
do século III, com a diminuição das guerras de conquista,<br />
esgotou-se a principal fonte fornecedora de escravos.<br />
Teve início a crise do escravismo que abalou seriamente<br />
a economia, provocou o ÊXODO URBANO e fez surgir<br />
o COLONATO (relação de trabalho servil que se<br />
79
80<br />
desenvolveu nas vilas, no processo de crise do<br />
escravismo romano). Além disso, houve disputas pelo<br />
poder e as legiões diminuíram. Enfraquecido, o Império<br />
Romano foi dividido em dois e a parte ocidental não<br />
resistiu às invasões dos bárbaros germânicos no século<br />
V, destacamos três imperadores:<br />
2.2.1.1 GOVERNO DE DIOCLECIANO (284-<br />
305)<br />
Imperador romano cujas reformas contribuíram para<br />
adiar o declínio de Roma e criaram as bases do que mais<br />
tarde viria a ser o Império Bizantino. Inicialmente<br />
dividiu o império em dois (285): do Ocidente e do<br />
Oriente, com dois augustos e dois césares, com seu<br />
homem de confiança, Maximiano, a quem entregou a<br />
metade ocidental do Império, enquanto ficava com a<br />
parte oriental. Em seguida, repartiu mais ainda o poder<br />
num sistema chamado TETRARQUIA (governo de<br />
quatro membros), implantado para acabar com as<br />
agitações nas sucessões imperiais (293), porém com<br />
indiscutível predomínio de sua autoridade e uma<br />
progressiva centralização de poder.<br />
Embora tenha sido relativamente bem-sucedido enquanto<br />
esteve em vigor, o sistema tetrárquico de Diocleciano<br />
ruiu logo após sua abdicação. No campo executivo<br />
limitou os poderes do Senado, fortaleceu e ampliou o<br />
exército imperial e promoveu reformas tributárias e<br />
legislativas. No campo judiciário, determinou que se<br />
realizassem duas compilações de leis imperiais, os<br />
códigos gregoriano e hermogeniano. Estabeleceu<br />
EDITO SOBRE OS PREÇOS MÁXIMOS, em 301,<br />
foi a tentativa de controlar a inflação através do controle<br />
de preços. A medida fracassou, pois, as mercadorias<br />
passaram a serem vendidas no mercado paralelo com<br />
ágio. Portanto, tal medida foi malsucedida,<br />
contraproducente e rapidamente ignorado.<br />
No campo religioso, tornou obrigatório o culto a Júpiter,<br />
com quem se identificou, e ordenou uma violenta<br />
perseguição aos cristãos (303), que se estenderia por<br />
mais de dez anos, na Itália, África e no Oriente. Muito<br />
doente, abdicou a 1 de maio (305).<br />
2.2.1.1 GOVERNO DE CONSTANTINO (306 -<br />
337)<br />
Constantino cresceu na corte do imperador Diocleciano e<br />
teve educação esmerada. Em 305, juntou-se ao pai, então<br />
nomeado "césar" do Ocidente, e participou das<br />
campanhas da Britânia (Grã-Bretanha). Em 313, após<br />
muitas batalhas e lutas políticas, Constantino conseguiu<br />
derrotar seus oponentes, passando a dividir o Império<br />
com Licínio. No mesmo ano, foi promulgado o EDITO<br />
DE MILÃO, reconhecendo a legalidade da religião<br />
cristã e estabelecendo a liberdade de culto.<br />
Constantino e Licínio conseguiram revezar-se no poder,<br />
junto com os filhos, até 324, quando entraram em<br />
conflito. Com Licínio derrotado, Constantino tornou-se<br />
chefe único do Império Romano.<br />
Em 325, Constantino convocou o CONCÍLIO<br />
ECUMÊNICO DE NICÉIA, que normatizou os<br />
dogmas cristãos. Foram convocados mais de 300 bispos<br />
ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja<br />
de uma doutrina padrão, pois as divisões, dentro da nova<br />
religião que nascia, ameaçavam sua autoridade e<br />
domínio. Trezentos Bispos se reúnem para decidir se<br />
Cristo era um ser criado (doutrina de Arius) ou não<br />
criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai (doutrina<br />
de Atanásio). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de<br />
que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, e<br />
afirmou que Ele era da mesma "substância" ou<br />
"essência" (isto é, a mesma entidade existente) do Pai.<br />
Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente<br />
um Deus, não dois; a distância entre Pai e Filho está<br />
dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no mesmo<br />
sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são<br />
"de uma substância", e que o Filho é "gerado" ("único<br />
gerado, ou unigênito"), mas "não feito", o Credo Niceno,<br />
estabelece a Divindade do homem da Galiléia, embora<br />
essa conclusão não tenha sido unânime. Os Bispos que<br />
discordaram, foram simplesmente perseguidos e<br />
exilados. Com a subida da Igreja ao poder, discussões<br />
doutrinárias passaram a ser tratadas como questões de<br />
Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um<br />
obstáculo grande à realização da idéia de Constantino de<br />
um Império universal que deveria ser alcançado com a<br />
uniformidade da adoração divina.<br />
Constantino aprovaria com facilidade, tudo aquilo que<br />
fosse do seu interesse. As sessões regulares, no entanto,<br />
começaram somente com a chegada do Imperador. Após<br />
Constantino ter explicitamente ordenado o curso das<br />
negociações, ele confiou o controle dos procedimentos a<br />
uma comissão designada por ele mesmo, consistindo<br />
provavelmente nos participantes mais proeminentes<br />
desse corpo. O<br />
Imperador manipulou, pressionou e ameaçou os<br />
partícipes do Concílio para garantir que votariam no que
ele acreditava, e não em algum consenso a que os bispos<br />
chegassem. Dois dos bispos que votaram a favor de<br />
Arius foram exilados e os escritos de Arius foram<br />
destruídos. Constantino decretou que qualquer um que<br />
fosse apanhado com documentos arianistas estaria sujeito<br />
à pena de morte. Mas a decisão da Assembléia não foi<br />
unânime, e a influência do imperador era claramente<br />
evidente quando diversos bispos de Egito foram expulsos<br />
devido à sua oposição ao credo. Na realidade, as decisões<br />
de Nicéia foram fruto de uma minoria.<br />
Em 326, o imperador iniciou a construção de<br />
Constantinopla (atual Istambul), com o fim de transferir<br />
para lá a sede oficial do governo, que sempre havia sido<br />
Roma. A nova cidade foi inaugurada em 330. Dali,<br />
Constantino governou até a morte, em 337. Constantino<br />
ganhou fama de soldado brilhante, pois nunca perdeu<br />
uma batalha, mas seu feito mais notável foi ter sido o<br />
primeiro imperador a reconhecer e oficializar a fé cristã.<br />
Apesar disso, ele só se deixou batizar no final da vida.<br />
2.2.1.3 GOVERNO DE TEODÓSIO (379 - 395)<br />
O imperador Graciano nomeou Teodósio co-imperador<br />
do Império Romano do Oriente em 378, após a morte do<br />
imperador Valente, morto pelos godos na Batalha de<br />
Adrianópolis (378). Teodósio, após algumas campanhas<br />
inconclusivas, acabou por fazer um tratado pelo qual os<br />
godos preservavam sua independência política no<br />
interior do Império Romano em troca da obrigação de<br />
fornecerem tropas ao exércitoimperial. Este tratado seria<br />
uma das causas do enfraquecimento militar romano que<br />
levaria ao saque de Roma pelos mesmos godos em 410.<br />
Após a morte do filho de Graciano, Valentiniano II em<br />
392, a quem ele tinha apoiado contra várias usurpações,<br />
Teodósio acabou por tomar o Ocidente do império e<br />
governou como imperador único, após derrotar o<br />
usurpador Eugênio em 394, na Batalha do Rio Frigidus.<br />
O edito de Tessalônica, também conhecido como<br />
"Cunctos Populos" ou De Fide Catolica foi decretado por<br />
Teodósio a 27 de fevereiro de 380 pelo qual estabeleceu<br />
que a "religião católica" tornar-se-ia a religião de Estado<br />
exclusiva do Império Romano, abolindo todas as práticas<br />
politeístas dentro do Império e fechando templos pagãos<br />
Teodósio teve dois filhos, Arcádio e Honório. Com a<br />
morte do pai em 395, Arcádio foi o seu herdeiro no<br />
Oriente e Honório no Ocidente. Estava consolidada<br />
definitivamente a divisão do Império Romano. Império<br />
Romano do Ocidente, com sede em Roma e Império<br />
Romano do Oriente, com sede em Constantinopla.<br />
A finalidade dessa divisão era fortalecer cada uma das<br />
partes do império para vencer a ameaça das invasões<br />
Bárbaras. Entretanto, o Império Romano do Ocidente<br />
não teve organização interna para resistir aos sucessivos<br />
ataques dos povos bárbaros.<br />
Os bárbaros tinham exército eficientes, que contavam<br />
com soldados guerreiros, coesão interna das tropas e<br />
boas armas metálicas. Apesar de rudes, os bárbaros<br />
exibiam ideal e vigor. Roma, por sua vez, mostrava-se<br />
corrompida pela discórdia, pela indisciplina no exército e<br />
pela falta de entusiasmo das populações miseráveis. É<br />
por isso que cerca de quinhentos mil bárbaros<br />
conseguiram desestabilizar o um império com mais de<br />
oitenta milhões de pessoas. Em 476, o ultimo imperador<br />
de Roma, Romulo Augusto, foi deposto por Odoacro, rei<br />
do hérulos, um dos povos bárbaros.<br />
Quanto ao Império Romano do Oriente, embora com<br />
transformações, sobreviveu até 1453, ano em que os<br />
turcos conquistaram Constantinopla.<br />
EXERCICÍOS<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 1:<br />
A grandiosidade do Império Romano criava muitos<br />
problemas administrativos e conflitos de poder,<br />
dificultando a ação dos seus governantes. Na arte, os<br />
romanos seguiram soluções práticas para facilitar sua<br />
vida urbana.<br />
A arquitetura romana, por exemplo, foi:<br />
a) marcada pela influência dos etruscos no uso do arco<br />
e da abóbada.<br />
b) definida pelas influências grega e egípcia, o que<br />
resultou em construções grandiosas em homenagem<br />
aos deuses.<br />
c) marcada pela utilização de pedras e tijolos,<br />
utilizados em grandes edifícios públicos.<br />
d) suntuosa nas construções públicas, que eram de<br />
grande originalidade para a época.<br />
e) baseada no uso exclusivo do arco, graças à<br />
influência dos mesopotâmicos.<br />
81
(UFSM/RS) UF de Santa Maria - Questão 2:<br />
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das<br />
afirmações sobre o desenvolvimento tecnológico das<br />
sociedades da Antiguidade.<br />
1. ( ) A prática da agricultura, além de permitir aumentar<br />
a produção de alimentos, impulsionou inovações em<br />
diversos campos do conhecimento, como os sistemas de<br />
escrita, a matemática e a astronomia, com a utilização de<br />
calendários para organizar a vida social, religiosa e<br />
produtiva nas diversas estações.<br />
2. ( ) As civilizações do Crescente Fértil aprimoraram<br />
conhecimentos para garantir o emprego adequado do<br />
solo, empregaram sistemas de irrigação para melhor<br />
aproveitar as águas dos rios, promoveram o conveniente<br />
armazenamento das safras, além de alcançarem notáveis<br />
avanços na arquitetura e engenharia com a construção de<br />
templos religiosos e funerários monumentais.<br />
3. ( ) Mesmo sem terem desenvolvido grandes<br />
conhecimentos no campo da matemática e das ciências<br />
da natureza – como a biologia, a física e a cosmologia –<br />
as polis ou cidades-estados da Grécia antiga<br />
notabilizaram-se por legarem ao mundo posterior a<br />
filosofia e a democracia, concretizando os princípios de<br />
justiça social, igualdade política e cidadania para todos<br />
seus habitantes, independente de serem estrangeiros,<br />
escravos, mulheres, iletrados ou pobres.<br />
4. ( ) O Império Romano, além de aprimorar a<br />
tecnologia da guerra para expandir suas conquistas<br />
militares, efetivou avanços significativos na arquitetura e<br />
na engenharia com a construção de estradas, portos,<br />
aquedutos, termas, circos, mercados, edifícios públicos e<br />
redes de esgoto e de água para as cidades.<br />
A sequência correta é<br />
a) V - F - V - F.<br />
b) F - F - F - V.<br />
c) V - V - V - V.<br />
d) F - F - V - F.<br />
e) V - V - F - V.<br />
(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa<br />
- Questão 3:<br />
A antiguidade Greco-romana tornou a escravidão<br />
absoluta na forma e dominante na extensão,<br />
convertendo-se maciça e generalizada na Grécia (séculos<br />
V e IV a.C.) e em Roma (entre II a.C. e II d.C.). Nesse<br />
contexto, assinale o que for correto.<br />
1 - A escravidão e a liberdade helênicas eram<br />
indivisíveis, pois uma era a condição estrutural da outra;<br />
uma condição polarizada da perda completa de liberdade<br />
justaposta a uma nova liberdade sem impedimentos.<br />
2 - Embora solidamente enraizado na sociedade clássica<br />
antiga, o sistema escravista foi sendo paulatinamente<br />
abolido no período.<br />
4 - Os escravos conseguiram melhores condições de vida<br />
após promoverem constantes revoltas, como a de<br />
Spartacus (73-71 a.C.), que liderou o último movimento<br />
rebelde contra Roma.<br />
8 - Nesse período assistiu-se ao aparecimento de uma<br />
classe média de proprietários rurais e o desaparecimento<br />
do latifúndio.<br />
16 - Foi na República romana que se efetivou a união<br />
entre a grande propriedade agrícola e a escravidão em<br />
grande escala, ou seja, sua sistematização por uma<br />
aristocracia urbana, cujo resultado foi a instituição rural<br />
do latifúndio escravo extensivo.<br />
(UFPR) – UF do Paraná - Questão 4:<br />
Toda a Gália está dividida em três partes, uma habitada<br />
pelos belgas, outra pelos aquitanos, a terceira por aqueles<br />
que nós chamamos de gauleses (em sua língua, celtas).<br />
Essas nações diferem entre si pela língua, pelos costumes<br />
e pelas leis.<br />
(Júlio César, Guerra das Gálias.)<br />
Esse trecho de Júlio César se refere às conquistas da<br />
Roma Antiga e à maneira como os romanos viam os<br />
povos que conquistavam. Sobre as conquistas romanas, é<br />
correto afirmar:<br />
a) O exército romano era composto somente por<br />
escravos.<br />
b) Os povos conquistados eram considerados incultos e<br />
menosprezados pelos romanos.<br />
c) As estruturas administrativas construídas pelos<br />
romanos foram pouco duráveis, o que limitou a sua<br />
capacidade de expansão.<br />
d) Os romanos não tinham uma política de destruição,<br />
nem de integração cultural dos povos conquistados,<br />
preservando a posição das elites que se aliassem a<br />
eles.<br />
e) Durante as guerras de conquista, houve uma<br />
diminuição do número de escravos capturados pelos<br />
romanos.<br />
82
(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />
Vestibular - Questão 5:<br />
Cesarismo/cesarista são termos utilizados para<br />
caracterizar governantes atuais que, à maneira de Júlio<br />
César (de onde o nome), na antiga Roma, exercem um<br />
poder<br />
a) teocrático.<br />
b) democrático.<br />
c) aristocrático.<br />
d) burocrático.<br />
e) autocrático.<br />
(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />
Mineiro - Questão 6:<br />
Os romanos deram o nome de pax romana ao período de<br />
estabilização das fronteiras. Nesse período, 300 mil<br />
soldados, deslocando-se rapidamente pelas estradas do<br />
Império, defenderam as fronteiras junto aos rios Reno e<br />
Danúbio contra as incursões das tribos germânicas,<br />
contiveram invasões orientais e sufocaram rebeliões<br />
internas. A paz romana foi, antes de tudo, uma “paz<br />
armada”, o maior símbolo do apogeu do Império, que, no<br />
entanto, já carregava em seu interior os sinais de sua<br />
decadência.<br />
(Flavio de Campos e Renan Garcia Miranda, A escrita da <strong>História</strong>).<br />
O fim das conquistas romanas<br />
a) fortaleceu os plebeus, em especial os mais ricos, que<br />
conquistaram a instituição do tribunato da plebe e a<br />
permissão do casamento com os patrícios.<br />
b) provocou a guerra de Roma contra Cartago – as<br />
Guerras Púnicas –, pois os cartagineses colocaram<br />
em risco as conquistas romanas na Sicília e no norte<br />
da África.<br />
c) gerou o término do suprimento de escravos,<br />
decorrendo disso todo um processo de desordem<br />
econômica em Roma, com a fragilização do Exército<br />
e o avanço dos germanos.<br />
d) estabeleceu uma nova condição jurídica para os<br />
plebeus, que não podiam mais ser vítimas da<br />
escravização por dívidas e foram beneficiados com a<br />
distribuição de terras.<br />
e) motivou o crescimento dos espaços urbanos no<br />
Império, com o consequente aumento das atividades<br />
manufatureiras e comerciais, além do crescimento<br />
da população.<br />
(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />
Questão 7:<br />
A partir do século III assiste-se ao longo processo de<br />
crise do Império Romano do Ocidente e ao<br />
desenvolvimento das instituições feudais, que daria<br />
início ao período medieval. Assinale o item que NÃO se<br />
enquadra nesse contexto.<br />
a) A expansão do Império Romano do Ocidente<br />
cessou, levando ao decréscimo da obtenção de<br />
escravos e riquezas.<br />
b) As fronteiras pouco controladas devido à fragilidade<br />
romana possibilitaram a invasão dos povos bárbaros<br />
e a fragmentação territorial do Império.<br />
c) O poder político exercido pelas grandes cidades se<br />
manteve, levando a um crescimento da urbanização<br />
e desenvolvimento das instituições comerciais.<br />
d) Desenvolveu-se o sistema de colonato através do<br />
qual escravos e plebeus empobrecidos passaram a<br />
trabalhar como colonos nas terras dos grandes<br />
proprietários.<br />
e) Iniciaram-se as relações de suserania e vassalagem<br />
baseadas em fidelidade e prestação de serviços dos<br />
vassalos para com os senhores.<br />
(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />
Questão 8:<br />
Nos últimos anos, a indústria hollywoodiana investiu em<br />
filmes sobre a Antiguidade Clássica que se tornaram<br />
grandes sucessos. Heróis como Máximo em “Gladiador”<br />
ou Aquiles em “Troia” não deixam de representar um<br />
estímulo para um conhecimento aprofundado desse<br />
momento histórico. A respeito do referido período você<br />
pode afirmar que:<br />
I. No século V a.C. os gregos consideravam a polis como<br />
o único contexto em que o homem podia realizar as suas<br />
capacidades espirituais, morais e intelectuais, ou seja, a<br />
sua cidadania.<br />
II. O princípio de liberdade política, fundamental à<br />
política grega e estranho à experiência política do<br />
Oriente Próximo, era vital para a conformação do ideal<br />
democrático no Ocidente.<br />
III. A grande realização de Roma foi transcender a<br />
estreita orientação política da cidade-Estado e criar um<br />
Estado universal que unificou as diferentes sociedades do<br />
mundo mediterrâneo.<br />
IV. Entre os resultados do imperialismo romano<br />
sobressaem-se o afluxo de capitais, desenvolvimento de<br />
83
uma economia monetária, a concentração da propriedade<br />
fundiária e o crescimento da mão de obra servil.<br />
Com relação a estas afirmativas, você pode concluir que:<br />
a) Todas as proposições estão corretas;<br />
b) Apenas as proposições II, III e IV estão corretas;<br />
c) Apenas as proposições I, II e IV estão corretas;<br />
d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas;<br />
e) Todas as proposições estão erradas.<br />
(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />
Questão 9:<br />
Tal como a história dos gregos, também a dos romanos<br />
começou pelo desenvolvimento de instituições políticas<br />
assentadas na cidade e elaboradas em benefício de uma<br />
comunidade de homens livres – os cidadãos –<br />
proprietários de terras e que reivindicavam a<br />
descendência direta dos fundadores de sua pátria. Em<br />
ambos os casos, estes cidadãos privilegiados<br />
conseguiram, no momento em que a vida urbana<br />
começou ganhar certa amplitude e consistência, eliminar<br />
a monarquia (cuja origem se confudia com a própria<br />
origem da pátria) dando início a instituições capazes de<br />
assegurar o seu domínio.<br />
FLORENZANO, M. B. O Mundo Antigo: economia e sociedade. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1986, p. 56.<br />
O texto aponta que os cidadãos romanos percorreram<br />
uma trajetória política singular.<br />
Sobre as instituições latinas ao longo deste processo<br />
podemos destacar:<br />
I. O Senado, instituição mais importante do período<br />
republicano, que, no plano legislativo, aprovava as leis<br />
votadas nas assembleias, propunha novas leis para serem<br />
submetidas ao voto do povo, além de decidir sobre<br />
medidas excepcionais, como a de atribuir o poder<br />
supremo aos cônsules.<br />
II. A Ditadura ou uma magistratura extraordinária,<br />
dotada de poderes excepcionais, substitutiva do Império,<br />
ao qual se recorria em momentos de particular gravidade.<br />
III. O Tribunato da Plebe, cuja função era defender<br />
indivíduos e propriedades da plebe e administrar os jogos<br />
públicos, sendo o poder dos tribunos derivado do fato de<br />
serem invioláveis.<br />
a) Apenas II é correta.<br />
b) Apenas I é correta.<br />
c) Apenas III é correta.<br />
d) I, II e III são corretas.<br />
e) I, II, e III são incorretas.<br />
(UFAC) - Universidade Federal do Acre - Questão 10:<br />
Um legislador, em 621 a.C., na Grécia Antiga,<br />
selecionou, organizou e registrou na forma escrita leis<br />
que, até então, eram transmitidas pela oralidade e sob o<br />
domínio apenas de alguns. Mesmo produzindo um<br />
Código bastante severo, mantinha privilégios políticos e<br />
sociais para alguns grupos.<br />
Assinale a alternativa correta que indica o nome desse<br />
legislador:<br />
a) Sólon;<br />
b) Péricles;<br />
c) Helieu;<br />
d) Drácon;<br />
e) Demiurgo;<br />
(UNIR/RO) - Fundação Universidade Federal de<br />
Rondônia - Questão 11:<br />
O texto abaixo faz referência à tentativa do tribuno da<br />
plebe Tibério Sempronio Graco de coibir um dos<br />
principais desdobramentos da expansão romana dos<br />
séculos III e II a.C.<br />
Foi, então, quando Tibério Sempronio Graco, cidadão<br />
nobre animado por uma grande ambição [...] pronunciou<br />
[...] um discurso de extrema gravidade para os povos da<br />
Itália; falou de como povos particularmente aptos para a<br />
guerra e vizinhos dos romanos pelo sangue, mas em via<br />
de deslizar pouco a pouco para a miséria [...] Depois de<br />
pronunciar este discurso, pôs em vigor a lei que proibia a<br />
posse de mais de 500 medidas de terras.<br />
(APIANO. Guerras civis, I, 9, 35-36.)<br />
Qual desdobramento intencionou-se coibir?<br />
a) Crescimento de latifúndios<br />
b) Uso de escravos no exército romano<br />
c) Aumento do poder pessoal dos generais romanos<br />
d) Favorecimento econômico aos aliados em<br />
detrimento dos senadores romanos<br />
e) Aumento de impostos para a plebe romana<br />
84
(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />
12:<br />
A partir do texto que se segue e de seus conhecimentos,<br />
assinale qual das alternativas abaixo descreve<br />
corretamente como eram percebidas a escravidão e as<br />
revoltas escravas na Roma antiga.<br />
“Tolere, contudo a desonra das revoltas dos escravos;<br />
embora o destino os faça de joguete, trata-se afinal de<br />
uma espécie de homens de segunda categoria, dos quais<br />
podemos dispor por causa de nossa liberdade”.<br />
(Floro, século III. – retirado de Jaime Pinski. 100 textos de história antiga. São<br />
Paulo: Contexto, 1988, p. 13).<br />
a) No texto, a revolta escrava era algo intolerável para<br />
os senhores romanos, porque estes escravos eram<br />
conhecidos como uma espécie de cidadãos de<br />
segunda categoria, com pouco prestígio ou vontade<br />
própria.<br />
b) O autor entende que as revoltas escravas eram bem<br />
vistas no mundo romano, porque os deuses se<br />
divertiam com elas. Estes deuses sabiam que os<br />
escravos lutavam por uma causa justa: sua liberdade<br />
e que as revoltas escravas eram punições para os<br />
patrícios.<br />
c) O texto comprova que os escravos na Roma antiga<br />
eram cidadãos de segunda categoria e que suas<br />
revoltas eram lutas em vão, porque os Deuses<br />
romanos só atuavam em favor dos cidadãos de elite,<br />
os patrícios.<br />
d) A revolta escrava estava relacionada com a vontade<br />
do Destino. Contudo, os deuses que controlavam o<br />
destino, justificavam a escravidão, já que os<br />
patrícios não podiam viver como cidadãos livres<br />
sem o trabalho de seus escravos.<br />
(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />
Sul - Questão 13:<br />
Sobre a história de Roma, é correto afirmar:<br />
1 - Paralelamente à versão lendária da fundação de Roma<br />
pelos irmãos gêmeos Rômulo e Remo, descobertas<br />
arqueológicas atestam que, antes de 753 a.C., a região do<br />
Lácio já era habitada por povos de diferentes etnias,<br />
organizados em comunidades agrícolas e pastoris, entre<br />
eles os etruscos que, entre os séculos VII e VI a.C.,<br />
expandiram seu território e controlaram a monarquia em<br />
Roma.<br />
2 - O período republicano foi marcado por lutas entre<br />
patrícios e plebeus, as quais resultaram na criação de<br />
magistrados especiais, conhecidos como Tribunos da<br />
Plebe, encarregados de defender os interesses jurídicos,<br />
políticos e sociais da plebe junto ao Senado.<br />
4 - A expansão dos domínios romanos, na Península<br />
Itálica e em torno do Mar Mediterrâneo, acarretou uma<br />
desaceleração do processo de concentração fundiária nas<br />
mãos da aristocracia patrícia, haja vista que o Estado<br />
romano estabeleceu uma série de medidas visando<br />
distribuir terras aos pequenos e médios proprietários e à<br />
plebe urbana empobrecida.<br />
8 - Entre as maiores heranças culturais dos romanos, para<br />
a civilização ocidental, estão o Direito, bem como a<br />
língua latina, que serviu de matriz linguística a inúmeros<br />
idiomas modernos.<br />
16 - Deterioração do exército, crise de suprimento da<br />
mão de obra escrava, inflação, instabilidade política,<br />
instituição do colonato, como novo tipo de relação de<br />
trabalho, foram algumas das características que<br />
marcaram o período da história romana conhecido como<br />
Diarquia, instaurada entre os séculos III e V d.C.<br />
(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />
Questão 14:<br />
Os visigodos, ou seja, aqueles outros aliados e<br />
cultivadores do solo ocupado estavam aterrados como o<br />
haviam estado seus parentes e não sabiam que fazer, por<br />
causa do povo dos Hunos [...] enviaram embaixadores à<br />
România [...] para dizer que se lhes dessem uma parte da<br />
Trácia ou da Mésia a fim de cultivarem, eles se<br />
submeteriam às suas leis e decisões. E para que pudesse<br />
ter maior confiança neles, prometeram tornar-se cristãos<br />
[...] Quando [imperador] Valente ouviu isto, concedeu<br />
alegre e prontamente o que ele próprio havia tencionado<br />
pedir [aliança romana/visigótica].<br />
(JORDANES apud PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. <strong>História</strong> da Idade Média.<br />
Textos e testemunhas. São Paulo: UNESP, 2000.)<br />
Sobre o assunto abordado no texto, assinale a afirmativa<br />
correta.<br />
a) O paganismo ou a heresia ariana professada pelos<br />
invasores germânicos foi um elemento que impediu<br />
qualquer possibilidade de assimilação ou negociação<br />
com os romanos.<br />
b) O Império Romano necessitava de mão de obra, por<br />
isso iniciou uma política de incorporação das tribos<br />
85
germânicas que foram escravizadas para atender aos<br />
interesses dos latifundiários.<br />
c) O avanço dos povos germânicos no Império<br />
Romano aconteceu tanto de modo violento, por meio<br />
da conquista militar, quanto de maneira pacífica, por<br />
intermédio dos pactos de federação.<br />
d) O esgotamento do solo do Império Romano, em<br />
decorrência dos muitos séculos de cultivo intensivo,<br />
tornou a agricultura pouco rentável, o que permitiu<br />
que amplas regiões fossem entregues aos<br />
germânicos em troca de impostos.<br />
e) Os pequenos e médios proprietários romanos não<br />
apoiaram a política do Imperador Valente de<br />
conceder terras aos germânicos, pois significava a<br />
perda de parte de suas propriedades.<br />
(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão<br />
15:<br />
O primeiro Triunvirato foi um sinal inequívoco da crise<br />
vivida pela República romana. Apenas três homens,<br />
Pompeu, César e Crasso, acumularam quase todos os<br />
títulos e cargos importantes. O fim dessa aliança,<br />
marcado pela morte de Crasso em 53 a.C., representou<br />
imediatamente<br />
a) o aumento da rivalidade entre os dois sobreviventes,<br />
César e Pompeu, que resultou em uma violenta<br />
guerra civil.<br />
b) o enfraquecimento da influência de César, em<br />
virtude do fracasso de sua campanha militar na<br />
Gália.<br />
c) o assassinato de César por membros da aristocracia<br />
romana dentro do próprio senado.<br />
d) a formação de um novo triunvirato, constituído por<br />
Otávio, Marco Antônio e Lépido.<br />
(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão<br />
16:<br />
O advento do cristianismo representou uma revolução na<br />
história ocidental, ultrapassando a dimensão religiosa.<br />
Ele influenciou de maneira decisiva as estruturas<br />
políticas, sociais, culturais e econômicas do Ocidente.<br />
Tendo sido perseguido de forma implacável durante um<br />
longo período, o cristianismo foi incorporado pelo<br />
Império Romano no governo de Constantino. Ao longo<br />
do processo histórico que propiciou a expansão do<br />
movimento cristão, observa-se que<br />
86<br />
a) a ampliação e consolidação do Império Romano<br />
resultaram essencialmente de sua aliança precoce<br />
com o movimento cristão, sendo que este<br />
representou um instrumento formidável de<br />
sustentação para o governo imperial.<br />
b) o cristianismo proporcionou a dinamização da<br />
economia do Império Romano, acelerando o<br />
processo do colonato que havia sido iniciado na<br />
crise do século III, garantindo a hegemonia de Roma<br />
sobre todo o mundo mediterrâneo.<br />
c) o cristianismo apresentava um caráter herético e<br />
subversivo, na medida em que rompia com os<br />
dogmas judaicos e, ao mesmo tempo, representava<br />
um fator de desestruturação social e política para o<br />
governo de Roma.<br />
d) o Império Romano apresentou uma forte expansão<br />
de suas fronteiras a partir da conquista da Gália e da<br />
Germânia, tendo sido favorecido nesse processo pela<br />
conversão das populações dessas regiões ao<br />
cristianismo.<br />
(UCSAL/BA) - Universidade Católica de Salvador -<br />
Questão 17:<br />
O Império Romano ampliou seus domínios em torno do<br />
Mediterrâneo. Esse fato tornou possível, entre outros<br />
aspectos, a comunicação, as transações comerciais e o<br />
deslocamento de tropas para as diversas regiões romanas.<br />
Sobre a expansão em questão, é correto afirmar que
a) as conquistas propiciaram, pela primeira vez na<br />
Antiguidade, a combinação entre o trabalho escravo<br />
em larga escala e o latifúndio, associação que<br />
constituiu uma alavanca de acumulação econômica<br />
graças às campanhas militares romanas.<br />
b) a conquista de novos territórios desacelerou o<br />
processo de concentração fundiária nas mãos da<br />
aristocracia patrícia, uma vez que o Estado romano<br />
estabeleceu um conjunto de medidas que visava<br />
distribuir terras aos pequenos e médios proprietários<br />
e à plebe urbana empobrecida.<br />
c) apesar da conquista do Mediterrâneo, os romanos<br />
não conseguiram estabelecer a integração das<br />
diversas formações sociais ao sistema escravista<br />
nem tampouco se dispuseram a criar mecanismos de<br />
cooptação social e política dos seus respectivos<br />
grupos dominantes.<br />
d) as conquistas militares acabaram por solucionar o<br />
problema agrário em Roma, colocando em xeque as<br />
medidas defendidas por líderes como os irmãos<br />
Graco, que postulavam a expropriação das terras<br />
particulares dos patrícios e sua repartição entre as<br />
camadas sociais empobrecidas.<br />
e) a expansão militar levou os romanos a empreender<br />
um duro processo de latinização dos territórios<br />
situados a leste, o que se tornou um elemento de<br />
constante instabilidade político-social durante a<br />
República e também à época do Império.<br />
(UFAL) - Universidade Federal de Alagoas - Questão<br />
18:<br />
A fim de controlar as inúmeras revoltas dos escravos e o<br />
descontentamento popular entre os plebeus, o Imperador<br />
romano Otávio Augusto adotou a seguinte medida:<br />
a) A criação do Primeiro Triunvirato e a concessão de<br />
cidadania aos plebeus.<br />
b) Redividiu as terras e criou novas colônias para<br />
acabar com a desocupação da plebe urbana e atraí-la<br />
para o trabalho rural.<br />
c) Determinou que os latifundiários fossem obrigados a<br />
empregar pelo menos um terço dos trabalhadores<br />
livres.<br />
d) Usou uma política chamada pelos romanos de Pão e<br />
Circo, na qual o governo organizava os espetáculos<br />
públicos onde se distribuía porções de trigo à<br />
população.<br />
e) A criação em 493 a.C., do Tribunato da Plebe,<br />
assembleia formada exclusivamente por plebeus.<br />
(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba -<br />
Questão 19:<br />
Dentre os movimentos sociais que marcaram a República<br />
Romana, podemos destacar as lutas entre patrícios e<br />
plebeus.<br />
Sobre estas lutas, é correto afirmar:<br />
a) O casamento entre patrícios e plebeus não foi<br />
permitido, apesar das conquistas do povo romano<br />
nas lutas contra os patrícios.<br />
b) Apesar da marginalização política, não havia<br />
discriminação entre patrícios e plebeus.<br />
c) Os plebeus conquistaram, em 367 a.C, o direito de<br />
participar do consulado com a promulgação da Lei<br />
Licínia, que também regulamentou a exploração das<br />
terras públicas.<br />
d) Quando um patrício tornava-se insolvente, sem<br />
condições de pagar dívidas, tinha de se submeter ao<br />
nexum. Este foi um dos fatores que causou os<br />
conflitos entre plebeus e patrícios.<br />
e) Em 450 a.C, foi publicada a Lei das Doze Tábuas,<br />
um dos fundamentos do Direito Romano, que não<br />
assegurou a igualdade jurídica entre patrícios e<br />
plebeus.<br />
(URCA/CE) - Universidade Regional do Cariri -<br />
Questão 20:<br />
Considerada a área do conhecimento mais aperfeiçoada<br />
pelos romanos na Antiguidade, a área do Direito foi uma<br />
de suas maiores contribuições para a cultura da chamada<br />
“civilização ocidental”. Após longa e complexa<br />
evolução, o Direito atingiu seu apogeu na época do<br />
Principado. No entanto, no período monárquico (753 a.C.<br />
– 509 a.C.) e no início do período republicano, o Direito<br />
Romano era todo oral e baseado nos costumes. Diversos<br />
conflitos entre patrícios e plebeus surgiram por causa<br />
dessa situação.<br />
O Direito Romano passou a ser escrito com:<br />
a) A criação das Leis das XII Tábuas em 450 a. C.<br />
b) A criação da Lei Licínia em 367 a.C.<br />
c) As reformas políticas de Tibério e Caio Graco, em<br />
133 a. C. e 121 a.C.<br />
d) A criação do Principado de Otávio Augusto, a partir<br />
de 30 a.C.<br />
e) A criação do Corpus Júris Civilis, de Justiniano.<br />
87
(UECE) - Universidade Estadual do Ceará - Questão<br />
21:<br />
As fronteiras do grandioso Império Romano foram, aos<br />
poucos, ocupadas. Ao longo dos Rios Reno e Danúbio,<br />
se instalaram grandes massas de Germanos. Sobre as<br />
principais causas dessa ocupação é correto afirmar que<br />
os Germanos<br />
a) almejavam o controle dos itinerários e das rotas<br />
comerciais do mar Mediterrâneo que conduziam à<br />
Ásia.<br />
b) ocuparam as fronteiras do Império Romano, pois<br />
foram derrotados, pressionados e expulsos de suas<br />
terras pelos Partos.<br />
c) eram ambiciosos e tinham aversão e desprezo pelo<br />
modo de vida dos romanos, especialmente sobre<br />
suas práticas políticas corruptas.<br />
d) foram pressionados por povos oriundos da Ásia<br />
central e para fugir da miséria e da guerra<br />
expandiram-se para o Ocidente.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 22:<br />
O poder político dos romanos não foi uma sucessão de<br />
vitória e de crescimento de riquezas sem limites. A<br />
expansão do Império trouxe problemas e dificultou os<br />
governos, trazendo um aumento constante de conflitos<br />
políticos.<br />
Na época de Rômulo Augusto houve:<br />
a) a redução do poder dos sacerdotes e da Igreja<br />
católica.<br />
b) a adoção oficial da religião cristã em todo o Império.<br />
c) a divisão administrativa do Império para fortalecer<br />
sua força militar.<br />
d) a construção de uma aliança política com os<br />
muçulmanos.<br />
e) queda de Roma, em 476, com a invasão dos<br />
chamados bárbaros, fragmentando o Império.<br />
(UFRPE/PE) Universidade Federal Rural de<br />
Pernambuco - Questão 23:<br />
No governo de Otávio Augusto, ocorreu em Roma:<br />
a) um massacre dos povos insubordinados<br />
culturalmente.<br />
b) um aumento majestoso dos gastos militares.<br />
c) negociação entre os povos cristãos e o imperador.<br />
d) a decadência administrativa e a crise militar.<br />
e) um tratamento político mais diplomático com os<br />
povos vencidos.<br />
(UESPI) - Universidade Estadual do Piauí - Questão<br />
24:<br />
A preocupação romana, com as guerras e a manutenção<br />
do império, não evitou que a religião tivesse grande<br />
importância na vida cotidiana. Nas suas crenças<br />
religiosas, os romanos:<br />
a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do<br />
cristianismo.<br />
b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que<br />
lembravam a falta de ética.<br />
c) imitaram os gregos em muitos princípios e na<br />
aceitação das divindades.<br />
d) desprezavam os cultos familiares, considerados<br />
supersticiosos e vazios.<br />
e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta,<br />
com rituais rígidos.<br />
(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />
Questão 25:<br />
A expansão imperial romana resultou, a partir do século I<br />
d.C., na utilização do trabalho escravo em grande escala<br />
e no aumento significativo do número de plebeus<br />
desocupados, aos quais se juntaram levas de pequenos<br />
agricultores arruinados. Isso incrementou o êxodo rural e<br />
provocou o inchamento das cidades, especialmente de<br />
Roma. Para amenizar o problema social dessas massas, o<br />
Estado passou a dar-lhes subsídios.<br />
Essa política caracterizou-se pela distribuição de:<br />
a) terras para os desocupados, caracterizando uma<br />
verdadeira reforma agrária, conhecida como a<br />
política agrária, de Licínio.<br />
b) dinheiro para a aquisição de roupas e alimentos,<br />
combatendo a inflação que assolava a República,<br />
provocada pela política de Tucídides.<br />
c) grãos a preços baixos e espetáculos públicos<br />
gratuitos, conhecida como a política do pão e circo,<br />
de Augusto.<br />
d) sementes, instrumentos agrícolas e escravos para o<br />
cultivo de terras na Sicília e no norte da África: a<br />
política de colonização, de Suetônio.<br />
e) escravos para estimular a agricultura da Península<br />
Ibérica, conhecida como a política agrícola, de<br />
Cláudio.<br />
88
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />
26:<br />
No ano 313 d.C., o Imperador Constantino reconheceu o<br />
cristianismo como religião oficial do Império Romano,<br />
por meio do Édito de Milão. Sobre o cristianismo na<br />
Antiguidade, é INCORRETO afirmar:<br />
a) Os primeiros cristãos sofreram grandes perseguições<br />
por motivos políticos.<br />
b) Por serem politeístas, os romanos inicialmente<br />
resistiram em aceitar o monoteísmo cristão.<br />
c) Durante a Antiguidade, ocorreram conversões ao<br />
cristianismo de muitos povos chamados “bárbaros”.<br />
d) No início de sua formação, a Igreja Cristã baseou<br />
sua estrutura na organização do Império Romano,<br />
reproduzindo também sua divisão de poder.<br />
e) A partir do Édito de Milão, ficou estabelecido que<br />
somente autoridades religiosas poderiam determinar<br />
os rumos da Igreja.<br />
(UESPI) - UE do Piauí - Questão 27:<br />
A preocupação romana, com as guerras e a manutenção<br />
do império, não evitou que a religião tivesse grande<br />
importância na vida cotidiana. Nas suas crenças<br />
religiosas, os romanos:<br />
a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do<br />
cristianismo.<br />
b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que<br />
lembravam a falta de ética.<br />
c) imitaram os gregos em muitos princípios e na<br />
aceitação das divindades.<br />
d) desprezavam os cultos familiares, considerados<br />
supersticiosos e vazios.<br />
e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta,<br />
com rituais rígidos.<br />
(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão<br />
28:<br />
A mais notável contribuição romana à cultura ocidental<br />
ocorreu no campo do Direito. Até hoje, os Códigos de<br />
Leis romanos permanecem entre os fundamentos do<br />
Direito contemporâneo.<br />
Analise a veracidade (V) ou falsidade (F) das<br />
proposições abaixo, com relação ao Direito Romano.<br />
( ) Era um código que tratava apenas da esfera pública,<br />
pois o Direito Privado, tal como entendemos hoje, estava<br />
ausente da preocupação dos juristas romanos.<br />
( ) As leis romanas foram criadas para dar uma solução<br />
prática aos problemas decorrentes das lutas entre os<br />
grupos sociais e pelas guerras de conquista.<br />
( ) Estava dividido em Civil, que regulamentava a vida<br />
dos cidadãos; Estrangeiro, aplicado aos que não eram<br />
cidadãos; e Natural, que regulamentava a vida de todos<br />
os habitantes de Roma.<br />
Assinale a alternativa que preenche corretamente os<br />
parênteses, de cima para baixo.<br />
a) V – V – V<br />
b) V – F – F<br />
c) V – V – F<br />
d) F – F – V<br />
e) F – V – V<br />
(UERN) - Universidade do Estado do Rio Grande do<br />
Norte - Questão 29:<br />
Em Roma havia uma nítida distinção entre o Direito<br />
Público – que regulava as relações entre o cidadão e o<br />
Estado – e o Direito Privado – que tratava das relações<br />
dos cidadãos entre si. Deve-se acrescentar que as<br />
mulheres não eram passíveis de ser julgadas pelos<br />
tribunais públicos. Competia ao pater famílias exercer o<br />
direito de justiças, na sua própria casa, sobre os membros<br />
da família subordinados à sua autoridade.<br />
(AQUINO ET AL, 1980, p. 263).<br />
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a<br />
cultura da Antiguidade Clássica, pode-se afirmar:<br />
a) A nítida distinção entre o Direito Público e o<br />
Privado, transplantada da era romana para o Novo<br />
Mundo, tem sido aplicada no Brasil, desde a<br />
oficialização da colonização e do povoamento.<br />
b) O Direito Público, instituído na Roma Antiga,<br />
permaneceu restrito à normatização das relações<br />
entre cidadãos de procedência patrícia e à categoria<br />
de escravos por dívidas.<br />
c) A diferenciação evidente entre os dois tipos de<br />
direito resultou das exigências dos cristãos que<br />
compuseram os quadros do governo durante a<br />
República Romana.<br />
d) O fato de ser o pater famílias apto a exercer o direito<br />
de justiça sobre os membros da família subordinados<br />
à sua autoridade comprova que a sociedade da Roma<br />
Antiga tinha como suporte a família patriarcal.<br />
89
(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />
Questão 30:<br />
[...] não era a falta de mecanização [na Grécia e em<br />
Roma] que tornava indispensável o recurso à escravidão;<br />
ocorrera exatamente o contrário: a presença maciça da<br />
escravidão determinou a “estagnação tecnológica” grecoromana.<br />
(Aldo Schiavone. Uma história rompida: Roma antiga e ocidente moderno. São<br />
Paulo: Edusp, 2005.)<br />
A escravidão na Grécia e na Roma antigas<br />
a) baseava-se em características raciais dos<br />
trabalhadores.<br />
b) expandia-se nos períodos de conquistas e domínio<br />
de outros povos.<br />
c) dependia da tolerância e da passividade dos<br />
escravos.<br />
d) foi abolida nas cidades democráticas.<br />
e) restringia-se às atividades domésticas e urbanas.<br />
(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />
Questão 31:<br />
Durante sua primeira fase, os romanos assentavam sua<br />
organização política na forma monárquica de poder, mas<br />
já ali existia o Senado, uma das instituições políticas<br />
mais antigas de Roma.Neste momento inicial, o Senado:<br />
a) Era formado pelos centuriões que, nomeados pelo<br />
rei, representavam as 100 mais importantes famílias<br />
patrícias de Roma.<br />
b) Alcançou notável autonomia, limitando<br />
frequentemente o poder régio através do veto, o que<br />
ocorria quando dois terços de seus membros<br />
manifestavam-se contrários as decisões do monarca.<br />
c) Funcionava como uma assembleia aristocrática de<br />
assessoramento às deliberações do Rei e era<br />
constituído pelos mais velhos (seniores), sendo<br />
vedada a presença de plebeus.<br />
d) Composto por representações paritárias de patrícios<br />
e plebeus, restringiu suas funções à prática<br />
legislativa, elaborando o corpus jurídico do estado<br />
romano.<br />
e) Funcionava como uma espécie de Assembleia de<br />
Notáveis que impunha obediência ao monarca e<br />
definia as ações estratégicas do Estado.<br />
(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />
Mineiro - Questão 32:<br />
“Mesmo para um cidadão romano, seria impossível<br />
dizer, com certeza, se o sistema, em seu conjunto, era<br />
aristocrático, democrático ou monárquico. Com efeito, a<br />
quem fixar a atenção no poder dos cônsules, a<br />
constituição romana parecerá totalmente monárquica; a<br />
quem fixar no Senado parecerá aristocrática, e a quem se<br />
fixar no poder do povo, parecerá claramente<br />
democrática.<br />
(...) cada uma das três partes [do Estado] é capaz, se<br />
desejar, de criar obstáculos ás outras, ou de colaborar<br />
com elas (...) Nenhum dos poderes predomina sobre os<br />
outros nem pode desprezá-los.” (Políbio, <strong>História</strong>, século II a.C.)<br />
De acordo com o historiador grego, Políbio, a<br />
Constituição de Roma, que favorecera as conquistas no<br />
Mediterrâneo, era:<br />
a) baseada no predomínio do Senado sobre a<br />
autoridade dos cônsules e do povo.<br />
b) certamente democrática, por entregar aos plebeus a<br />
maior parte dos poderes.<br />
c) marcada pelo conflito entre os diferentes poderes<br />
que compunham o Estado.<br />
d) claramente aristocrática, por concentrar o poder nas<br />
mãos dos cônsules.<br />
e) caracterizada pelo equilíbrio de poder entre os<br />
cônsules, o Senado e o povo.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />
Paraná - Questão 33:<br />
As lutas por riquezas e territórios sempre estiveram<br />
presentes na <strong>História</strong>. Na Antiguidade, o Mediterrâneo<br />
foi disputado nas Guerras Púnicas por:<br />
a) romanos e cartagineses.<br />
b) gregos e persas.<br />
c) macedônicos e romanos.<br />
d) romanos e germânicos.<br />
e) gregos e romanos.<br />
(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina<br />
- Questão 34:<br />
“ELEFANTES – Vendo. Para circo ou zoológico.<br />
Usados mas em bom estado. Já domados e com baixa do<br />
exército. Tratar com Aníbal.” (p. 143)<br />
“TORRO TUDO – E toco cítara. Tratar com Nero.”<br />
(p.144)<br />
VERISSIMO, Luis Fernando. O Classificado através da <strong>História</strong>. In: Comédias<br />
para se ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2001.<br />
90
Sobre Roma na Antigüidade, é CORRETO afirmar que:<br />
1 - Aníbal foi um conhecido comandante de Cartago, que<br />
combateu os romanos durante as Guerras Púnicas.<br />
2 - as Guerras Púnicas, que envolveram Cartago e Roma,<br />
aconteceram no contexto da expansão territorial romana.<br />
4 - a expansão territorial acabou se revelando um<br />
fracasso. Isto pode ser percebido pela ausência de<br />
alterações nos hábitos da sociedade romana nos períodos<br />
que se sucederam.<br />
8 - o domínio de Roma no Mediterrâneo favoreceu o fim<br />
da República e a ascensão do Império.<br />
16 - Nero foi um governante de Roma conhecido pelo<br />
apoio que prestou aos cristãos, sendo responsável por<br />
elevar o Cristianismo a religião oficial do Império<br />
Romano.<br />
32 - o período de governo de Nero é conhecido como um<br />
momento de decadência do Império Romano, cujos<br />
motivos estão, entre outros, nos graves problemas sociais<br />
causados pela existência de uma cidadania restrita e<br />
pelos abusos administrativos.<br />
64 - a escravidão, embora presente, nunca foi<br />
economicamente relevante na sociedade romana.<br />
(UEPA) - Universidade do Estado do Pará - Questão<br />
35:<br />
“O Homem e o mundo”.<br />
O homem e o mundo De ciência avançada / O homem e<br />
o mundo Mas também de AIDS / e fome / Que mundo? /<br />
De guerra, de terror./ Onde a paz se faz ausente / Mundo<br />
de pobres / E a violência presente Mundo de ricos / Que<br />
violência? Mundo, imundo, sujo e / Do campo? Onde<br />
morrem poluído. / os lavradores. Enfim ... Homem / Da<br />
cidade? Onde o homem / É este o mundo que tens / sofre<br />
horrores Para nele viver, procriar e /<br />
Mundo de ontem, devagar morrer. / Mundo de hoje,<br />
apressado, De que? / Mundo de nets, sites, e De velhice,<br />
de doença, de / email. fome ou mesmo vítima da /<br />
violência.<br />
Lenora Maria<br />
Dado o questionamento da autora no verso “Que mundo?<br />
De guerra, de terror, onde a paz se faz ausente e a<br />
violência presente” é possível refletir sobre o quadro<br />
político que caracterizou a Roma Antiga, no período<br />
republicano. Neste cenário, a instituição da guerra:<br />
a) representou a luta por conquistas políticas dos<br />
plebeus, a qual resultou nas leis agrárias aprovadas<br />
pelo Senado, no estabelecimento do Tribuno da<br />
Plebe, e na difusão da Pax Romana nos territórios<br />
conquistados.<br />
b) enfraqueceu o desenvolvimento da política do pão e<br />
circo, que atendia aos anseios da plebe romana, o<br />
que provocou ondas de terror e de violência que<br />
resultaram na queda da República e a ascensão do<br />
Principado.<br />
c) contribuiu para a expansão e conquistas territoriais,<br />
aumentando as tensões entre os povos conquistados<br />
e também entre a plebe e o patriciado romano, os<br />
quais reivindicavam maior participação política.<br />
d) favoreceu a criação da Assembléia Centuriata, na<br />
qual se destacava a figura do centurião romano que,<br />
a partir daí, se fortaleceu politicamente, facilitando o<br />
acesso dos chefes legionários às magistraturas<br />
romanas.<br />
e) permitiu a anexação de Reinos do Antigo Oriente,<br />
destacando-se o Egito dos Selêucidas, alcançado<br />
depois das guerras púnicas, quando os romanos<br />
venceram o exército dos cartagineses e dominaram o<br />
Mediterrâneo.<br />
(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 36:<br />
Leia o texto abaixo.<br />
“Todos os caminhos levam a Roma!" O ditado é famoso.<br />
Mas, nos dias de hoje, a que Roma essas palavras<br />
estariam se referindo? À Roma atual, metrópole<br />
cosmopolita, capital da Itália, um dos mais importantes<br />
países da Europa? Ou à Roma antiga, capital de um dos<br />
mais poderosos impérios conhecidos pela humanidade?<br />
Ou, ainda, à Roma cristã, que tem no Vaticano a sede da<br />
Igreja Católica?”.<br />
(Trecho retirado de um site de turismo:<br />
(http://www.ardus.com.br/inf/guia/roma.htm )<br />
Nos dias de hoje, podemos duvidar sobre qual Roma<br />
visitar no final da Idade Antiga, no entanto, quando o<br />
ditado acima transcrito se popularizou, Roma era uma<br />
cidade única. Sobre esta especificidade de Roma antiga,<br />
é correto afirmar que esta cidade era:<br />
a) conhecida como a sede do poder cristão, tendo o<br />
Vaticano e o Papa como ícones máximos do mundo<br />
cristão.<br />
b) na Antiguidade uma “metrópole cosmopolita”, onde<br />
produtos de todas as partes circulavam de forma<br />
capitalista.<br />
91
c) a principal cidade do Império Romano Ocidental,<br />
local central do exercício do poder político e da<br />
efetivação da cidadania romana.<br />
d) a capital da Itália e símbolo da unificação européia<br />
centralizada desde a época Imperial.<br />
e) conhecida por cidade luz, pois abrigava diferentes<br />
tipos de pessoas e nacionalidades que conviviam<br />
democraticamente como cidadãos.<br />
(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />
37:<br />
“Em Roma a “voz do sangue” falava muito pouco; o que<br />
falava mais alto era a voz do nome de família”.<br />
VEYNE, Paul. <strong>História</strong> da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, v. I, p.<br />
25.<br />
A partir da frase anterior, e de seus estudos históricos, é<br />
correto afirmar que os romanos:<br />
a) escolhiam seus herdeiros em função do<br />
reconhecimento e legitimidade dos filhos, podendo<br />
deixar bens tanto para os filhos de sangue, quanto<br />
para os adotados.<br />
b) distribuíam seus bens de acordo com o nascimento<br />
de seu filho, valorizando o primogênito e<br />
descartando os demais, sobretudo as mulheres;<br />
c) selecionavam seus herdeiros de acordo com a<br />
educação recebida, cabendo aos homens e mulheres,<br />
com melhor desempenho escolar, a herança maior;<br />
d) escolhiam seus herdeiros de acordo com o nome de<br />
família, ou seja, aqueles que eram de linhagem<br />
nobre eram os herdeiros, nada cabendo aos bastardos<br />
e aos adotados.<br />
(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do<br />
Sul - Questão 38:<br />
A Pax Romana, que caracterizou os dois primeiros<br />
séculos da Era Cristã, marca um período de controle das<br />
guerras civis, das revoltas coloniais e dos conflitos<br />
urbanos.<br />
A adoção dessa política ocorreu no governo de:<br />
a) Caio Júlio César;<br />
b) Otávio;<br />
c) Nero;<br />
d) Calígula;<br />
e) Tibério.<br />
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 39:<br />
O oficial romano Orestes, tendo tomado o comando do<br />
exército, partiu de Roma ao encontro dos inimigos e<br />
chegou a Ravena, onde parou para fazer imperador seu<br />
filho, Rômulo Augusto. [...] Porém, pouco depois de<br />
Rômulo Augusto ter sido estabelecido imperador de<br />
Ravena por seu pai, Odoacro, rei dos turcilingos, tendo<br />
consigo cirus, hérulos e auxiliares de diversas tribos,<br />
ocupou a Itália. Orestes foi morto e seu filho, Rômulo<br />
Augusto, expulso do reino e condenado à pena de exílio<br />
no Castelo Luculano, na Campânia. Assim, o Império do<br />
Ocidente do povo romano, que o primeiro dos augustos –<br />
Otaviano Augusto – tinha começado a dirigir no ano 709<br />
da fundação da cidade de Roma, pereceu com Rômulo<br />
Augusto no ano de 522 do reinado dos seus antecessores<br />
imperadores. Desde aí, Roma e a Itália foram governadas<br />
pelos reis dos godos.<br />
Jordanes, in: PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. <strong>História</strong> da Idade Média. São Paulo:<br />
Editora Unesp, 2000, p. 39-40. Adaptado.<br />
O texto acima, escrito por Jordanes, um autor do século<br />
VI d.C., nos informa sobre os acontecimentos políticos<br />
que marcaram o início e o fim do Império Romano do<br />
Ocidente: a ascensão de Otávio Augusto ao poder e a<br />
deposição de Rômulo Augusto por Odoacro, no contexto<br />
das invasões bárbaras. Tendo em vista essas<br />
considerações, explique<br />
a) a importância da atuação política de Otávio Augusto<br />
para a criação do Império Romano.<br />
b) dois fatores que contribuíram para a desagregação do<br />
Império Romano do Ocidente.<br />
(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />
Questão 40:<br />
A civilização romana conheceu a seguinte evolução<br />
política:<br />
a) Império, Monarquia e República;<br />
b) Monarquia, Império e República;<br />
c) Monarquia, República e Império;<br />
d) Império, República e Monarquia;<br />
e) República, Monarquia e Império.<br />
92
(UEA/AM) Universidade do Estado do Amazonas -<br />
Questão 41:<br />
Na Roma republicana, “o tribunal e a assembléia tribal<br />
foram simplesmente acrescentados às instituições<br />
centrais existentes no Senado, Consulado e Assembléia<br />
centuriada: não significavam uma abolição interna do<br />
complexo oligárquico de poder que guiava a República.”<br />
(Anderson)<br />
Assinale a alternativa correta a respeito da organização e<br />
do processo sociopolítico na Roma Antiga republicana:<br />
a) A luta de classes em Roma foi por vezes violenta e<br />
prolongada, produziu desempenhos heróicos, como<br />
os de Caio e Tibério Graco, e alterações que<br />
beneficiavam a plebe, mas jamais aboliu ou<br />
substituiu a estrutura cívica de poder da nobreza<br />
hereditária.<br />
b) O Senado Romano só teve poder no início da<br />
República e era constituído pelos indivíduos<br />
considerados mais capazes, independentemente de<br />
sua origem familiar.<br />
c) Embora a democracia provenha da Grécia, a escolha<br />
dos magistrados em Roma era feita do modo mais<br />
democrático possível para os padrões da<br />
Antiguidade: eram escolhidos por todos os<br />
habitantes da cidade, em assembléia na praça<br />
pública.<br />
d) Quem governava, na Roma republicana, era o<br />
cônsul, enquanto o Senado se constituía numa<br />
simples representação honorífica de família.<br />
e) A plebe romana representava-se por uma assembléia<br />
tribal, que reunia os representantes das aldeias<br />
estrangeiras dominadas e ainda organizadas em<br />
comunidade primitiva.<br />
(PUC-RS) - PUC do Rio Grande do Sul - Questão 42:<br />
Para responder à questão 5, considere o texto abaixo:<br />
“Depois de meio século de lutas internas, Caio Júlio<br />
César, um general aristocrata que se dizia descendente de<br />
Vênus e Enéias, conquistou em poucos anos a Gália, uma<br />
enorme área que corresponde, mais ou menos, à atual<br />
França, Suíça, Bélgica e parte da Alemanha. Quando o<br />
Senado não lhe quis permitir que continuasse a comandar<br />
as tropas, César recusou-se a obedecer (...) e tornou-se<br />
ditador em seguida”. FUNARI, Pedro P. Grécia e Roma. São Paulo:<br />
Contexto, 2001, p. 89.<br />
Considerando a história política da Roma Antiga, o<br />
contexto refere-se a uma culminância da crise:<br />
a) da Realeza;<br />
b) da República;<br />
c) do Principado;<br />
d) do Alto Império;<br />
e) do Baixo Império.<br />
(UFRGS) - UF do Rio Grande do Sul - Questão 43:<br />
Por cerca de cinco séculos, a Roma Antiga reinou sobre<br />
uma imensa formação imperial. Em relação aos<br />
elementos constitutivos desse Império, assinale com V<br />
(verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo:<br />
( ) O sistema econômico imperial repousava sobretudo<br />
na exploração de tributos impostos ao mundo<br />
conquistado (as províncias) em proveito dos<br />
conquistadores romanos.<br />
( ) O uso do latim na administração e no Exército fez<br />
dessa língua o instrumento oficial de comunicação na<br />
parte ocidental do Império.<br />
( ) A crise final do Império esteve ligada ao aumento<br />
excessivo do trabalho escravo, que arruinou os pequenos<br />
proprietários rurais e os camponeses pobres.<br />
( ) O Édito de Caracala concedeu a cidadania a todos os<br />
homens livres do Império.<br />
( ) Em nome da Pax Romana, os estrangeiros eram<br />
rigorosamente proibidos de entrar na capital do Império.<br />
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de<br />
cima para baixo, é:<br />
a) F – F – V – V – V.<br />
b) V – V – F – F – F.<br />
c) V – V – F – V – F.<br />
d) V – F – V – F – V.<br />
e) F – F – V – F – V.<br />
(UFG/GO) - UF de Goiás - Questão 44:<br />
Leia o texto abaixo:<br />
93
O texto oferece subsídios para a compreensão do<br />
processo de:<br />
a) fixação de colônias romanas nas regiões<br />
conquistadas;<br />
b) cobrança dos tributos em escravos e em espécie para<br />
Roma;<br />
c) expansão romana em direção ao Norte, no final do<br />
período republicano;<br />
d) estabelecimento de alianças políticas de Roma com<br />
os povos vencidos;<br />
e) fortalecimento do poder senatorial romano em<br />
relação ao poder imperial.<br />
(UFSCAR/SP) - UF de São Carlos - Questão 45:<br />
Considere os acontecimentos da história romana.<br />
I. Construção da Muralha de Adriano.<br />
II. Início da República romana.<br />
III. Revolta dos Escravos liderada por Espártaco.<br />
IV. A cidadania romana é concedida a todos os<br />
habitantes do Império.<br />
V. Primeira Guerra Púnica.<br />
Esses acontecimentos, colocados na ordem cronológica<br />
correta, são:<br />
a) I, II, III, IV e V.<br />
b) III, IV, V, II e I.<br />
c) II, V, III, I e IV.<br />
d) V, IV, III, II e I.<br />
e) II, I, IV, V e III.<br />
(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 46:<br />
Os impérios da Antiguidade conseguiram dominar<br />
extensas áreas territoriais com força militar e<br />
negociações políticas. A grandeza dos romanos é sempre<br />
ressaltada, quando se refere ao domínio de outros povos.<br />
Os romanos:<br />
a) construíram um império baseado apenas na sua<br />
expressiva força militar, decorrente de um numeroso<br />
e combativo exército;<br />
b) dominaram toda península Ibérica, não conseguindo<br />
derrotar povos de outras regiões da Europa;<br />
c) conseguiram construir uma complexa administração<br />
para manter seu império, com feitos administrativos<br />
seguidos pela cultura ocidental;<br />
d) fracassaram na tentativa de dominar os gregos que<br />
resistiram nas lutas realizadas no Mar Mediterrâneo;<br />
e) não se preocuparam com a cultura dos outros povos,<br />
mantendo sua identidade cultural e religiosa,<br />
basicamente ocidental.<br />
(UFPE) - UF de Pernambuco - Questão 47:<br />
Na história política de Roma, durante os governos<br />
monárquicos, os plebeus:<br />
a) possuíam latifúndios, exercendo influência sobre as<br />
relações políticas existentes na época;<br />
b) não eram cidadãos romanos, mas tinham poderes<br />
políticos destacados, inclusive na escolha dos<br />
monarcas;<br />
c) dominavam o núcleo central do poder, obtendo<br />
vitória nas eleições em face dos seus privilégios<br />
políticos;<br />
d) gozavam de privilégios diferentes daqueles<br />
concedidos aos patrícios, pois não eram vistos como<br />
descendentes dos fundadores de Roma;<br />
e) tornaram-se grandes proprietários de terra e<br />
exportadores da produção agrícola de Roma para a<br />
Grécia.<br />
(ACAFE/SC) - Associação Catarinense das<br />
Fundações Educacionais - Questão 48:<br />
O Império Romano constituiu-se como um dos mais<br />
importantes da Antiguidade, tanto pela área de sua<br />
abrangência quanto pelas heranças culturais deixadas<br />
para a posteridade do mundo ocidental, nas áreas de<br />
conhecimento e nos diversos campos de atividades.<br />
Acerca do exposto, todas as alternativas estão corretas,<br />
exceto:<br />
a) Na Palestina, alvo de conflitos interétnicos que estão<br />
na ordem do dia, surgiu o cristianismo, que se<br />
tornou a religião oficial do Império Romano.<br />
b) O Direito Romano dividia-se em dois ramos<br />
fundamentais, o Direito Público e Direito Privado,<br />
classificação ainda usada na atualidade.<br />
c) O termo mecenato, usado até os dias atuais, referiase<br />
à proteção do estado romano para as instituições<br />
de crédito que promoviam obras sociais.<br />
d) Abóbadas, arcos e cúpulas, freqüentemente<br />
utilizados em obras da arquitetura moderna, eram de<br />
uso comum no estilo funcional das construções<br />
romanas.<br />
94
e) As terminologias científicas utilizadas<br />
internacionalmente para a denominação de insetos,<br />
animais, doenças e medicamentos derivam, em<br />
grande parte, do latim.<br />
(ACAFE/SC) - Associação Catarinense das<br />
Fundações Educacionais - Questão 49:<br />
Analise as afirmações a seguir:<br />
I. A Igreja Cristã, perseguida pelos romanos,<br />
transformou-se na instituição religiosa oficial do Império<br />
Romano, a partir do século IV d.C.<br />
II. Inspiradas na cultura grega, a mitologia, a religião e<br />
as artes romanas consagraram uma unidade que<br />
caracterizou o mundo ocidental grecoromano.<br />
III. Controlando um império de proporções gigantescas,<br />
os romanos criaram e mantiveram um exército forte e<br />
bem treinado, além de uma estrutura jurídica ampla e<br />
eficiente.<br />
IV. A República Romana se caracterizou por um<br />
governo centralizado e monárquico em que os<br />
imperadores controlavam toda a política, fechando<br />
instituições como o Senado.<br />
V. A economia romana era totalmente voltada ao<br />
comércio com o Oriente. A agricultura era desenvolvida<br />
nas províncias do Império Romano, sendo que elas<br />
produziam somente o que ele desejasse e determinasse.<br />
A alternativa que contém todas as afirmações corretas é:<br />
a) I – II – IV – V<br />
b) I – II – V<br />
c) II – III – IV<br />
d) III – IV – V<br />
e) I – II – III<br />
(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />
Sul - Questão 50:<br />
Sobre reconhecimento do Cristianismo no contexto da<br />
história do Império Romano, é correto afirmar que:<br />
após ter sido batizado por Paulo III, em 275, o imperador<br />
Constantino I declarou o Cristianismo como religião<br />
oficial do Império Romano;<br />
a) temendo que os cristãos pudessem estimular ainda<br />
mais as rebeliões de escravos e, com isso,<br />
aprofundar a crise do sistema econômico escravista,<br />
o Império reconheceu o Cristianismo como religião<br />
em 330, mas cuidou de transferir seus seguidores<br />
para Constantinopla, recém-fundada capital do<br />
Império Romano do Oriente;<br />
b) como nova religião, o Cristianismo gradualmente<br />
ganhou um caráter universal; a defesa da igualdade e<br />
a promessa de salvação após a morte deram, de<br />
início, um novo sentido à vida de setores populares<br />
urbanos e logo se estenderam aos campos e às<br />
classes de proprietários. Aos poucos, o Cristianismo<br />
adotou uma organização hierárquica, nos moldes do<br />
sistema administrativo imperial, até que, em 313,<br />
pelo Edito de Milão, o Estado romano reconheceu<br />
oficialmente a religião cristã;<br />
c) o caráter público das reuniões mantidas pelos<br />
cristãos, seu apego às categorias sociais e honras<br />
terrenas, sua participação no culto imperial, a<br />
propaganda exaltada em defesa da vida militar e o<br />
apoio à escravidão, tudo isso levou o Cristianismo a<br />
ser reconhecido como a religião oficial do Império<br />
Romano;<br />
d) após a morte de Jesus, rapidamente o Cristianismo<br />
se propagou em Roma, até ser, em 46, declarado<br />
como religião oficial do Império, tendo à frente<br />
Pedro, o pescador da Galiléia, como o primeiro papa<br />
da Igreja Católica Apostólica Romana.<br />
(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />
Questão 51:<br />
Intensos conflitos fronteiriços com povos bárbaros,<br />
desvalorização da moeda, vazio de poder, desintegração<br />
do sistema de impostos, revoltas no campo, falta de mãode-obra<br />
escrava, tendência à ruralização,<br />
auto-suficiência dos domínios e insegurança<br />
principalmente nas cidades. O quadro descrito refere-se<br />
ao:<br />
a) declínio do Império Romano e à passagem da<br />
Antigüidade ao feudalismo;<br />
b) processo de transição do feudalismo ao capitalismo;<br />
c) período que marcou o surgimento das cidades e o<br />
ressurgimento do comércio;<br />
d) aparecimento de uma sociedade caracterizada pela<br />
propriedade coletiva da terra e centrada nas cidades;<br />
e) declínio da sociedade urbana na Idade Média e ao<br />
surgimento de comunidades aldeãs.<br />
95
(UNEMAT/MT) - Universidade do Estado de Mato<br />
Grosso - Questão 52:<br />
Leia atentamente um fragmento de Suetônio (1990, p.<br />
51) sobre a história de Júlio César e julgue as<br />
alternativas:<br />
“(...) Não existem distinções que não recebessem<br />
segundo seu capricho e que não concedesse da mesma<br />
maneira. Cônsul pela terceira e quarta vez, se limitou a<br />
ostentar o título, e se contentou em exercer a ditadura<br />
que haviam concedido com os consulados; (...) durante<br />
os quais só reuniu comícios para eleição de tribunos e<br />
éditos do povo. Estabeleceu prefeitos em lugar de<br />
pretores, para administrarem abaixo das suas ordens”.<br />
a) César limita-se aos poderes de ditador e cônsul da<br />
República Romana.<br />
b) César nunca chegou a ser imperador, foi assassinado<br />
antes de receber de Roma essa honra.<br />
c) César, como bem mostra o fragmento, já goza dos<br />
poderes de imperador.<br />
d) O Consulado e a Ditadura são cargos típicos da<br />
República Romana, unificados por César no final da<br />
sua vida.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />
Paraná - Questão 53:<br />
A importância de Otávio Augusto em Roma Antiga<br />
concentra-se principalmente no seu esforço para:<br />
a) solucionar a crise agrícola decorrente da falta de<br />
pequenas propriedades;<br />
b) vencer as guerras púnicas, trazendo paz para a<br />
sociedade romana;<br />
c) estruturar um império com governo centralizado,<br />
apoiado em instituições republicanas;<br />
d) impedir que as reformas introduzidas pelos Gracos<br />
alterassem a estrutura agrária de Roma;<br />
e) favorecer a expansão do cristianismo, conciliando<br />
seus princípios com a filosofia romana.<br />
(UEG) - UEde Goiás - Questão 54:<br />
Desenvolveu-se nos homens primeiro a sede do dinheiro,<br />
em seguida o amor ao poder; tais desejos foram, por<br />
assim dizer, as fontes de todos os males... mais tarde<br />
quando o contágio se propagou como uma epidemia, a<br />
cidade mudou de aspecto; e o seu governo, até esse<br />
momento tão justo e virtuoso, tornou-se cruel e<br />
insuportável.<br />
96<br />
SALÚSTIO. The Conspiracy of Catiline. Baltimore: Penguin Books, 1963. p.<br />
181.<br />
Salústio (86-34 a.C.) escreveu essas palavras<br />
condenando o colapso dos valores e do regime<br />
republicano. As observações do historiador romano<br />
devem ser inseridas no quadro de desorganização geral<br />
da vida social romana. Sobre a decadência do regime<br />
republicano, identifique a alternativa incorreta:<br />
a) Nas longas guerras empreendidas pelos romanos<br />
contra os cartagineses, as pequenas propriedades<br />
rurais foram arruinadas, obrigando seus proprietários<br />
a vendê-las a baixos preços, provocando a formação<br />
de grandes latifúndios.<br />
b) A introdução do trabalho escravo nas plantações<br />
chamadas latifundia provocou um grande êxodo<br />
rural dos pequenos camponeses para Roma,<br />
favorecendo a formação de uma camada urbana<br />
marginalizada e miserável.<br />
c) Em 133 a.C., Tibério Graco, representante da plebe,<br />
foi eleito tribuno. A reforma agrária empreendida<br />
em seu governo, apoiada pela classe senatorial,<br />
conseguiu amenizar durante algum tempo as tensões<br />
no campo.<br />
d) As revoltas dos escravos aumentaram as tensões em<br />
Roma. A mais famosa delas foi liderada pelo<br />
gladiador Espártaco, sendo duramente reprimida.<br />
e) O exército deixou de ser um instrumento da<br />
República para se tornar patrimônio particular dos<br />
generais, cujo poder acabou ameaçando a autoridade<br />
do Senado.<br />
(FTC/BA) - Faculdade de Tecnologia e Ciências -<br />
Questão 55:<br />
(...) no final do Período Imperial, a administração<br />
romana já não tinha condições de impor sua autoridade<br />
em todas as regiões do império. Com o enfraquecimento<br />
do poder central, os grandes proprietários de terra foram<br />
adquirindo crescentes poderes locais. (Cotrim, p. 147.)<br />
A situação descrita no texto favoreceu a instalação:<br />
a) do trabalho assalariado nas atividades comerciais;<br />
b) da mão-de-obra escrava no campo;<br />
c) de práticas clientelistas e do colonato;<br />
d) de manufaturas e das corporações de ofício;<br />
e) de uma administração fortemente centralizada e do<br />
controle político da burguesia.
(UNIFOR/CE) - U de Fortaleza - Questão 56:<br />
Na Antiguidade, o expansionismo romano engendrou<br />
grandes transformações sociais e econômicas e<br />
proporcionou condições para a “grandeza” de Roma, mas<br />
possibilitou, ao mesmo tempo, a eclosão de lutas sociais<br />
que abalaram a República Romana. As origens dessas<br />
lutas sociais estavam relacionadas, entre outras:<br />
a) à ampliação dos mecanismos democráticos de poder,<br />
com a extensão do direito de voto aos estrangeiros,<br />
medida que contrariou os interesses da plebe<br />
romana;<br />
b) à ruína de grande parte dos camponeses, em razão<br />
do processo de concentração da terra nas mãos da<br />
aristocracia e de setores que se enriqueceram com as<br />
guerras;<br />
c) às leis criadas pelos irmãos Tibério e Caio Graco,<br />
que reduziam as possibilidades de acesso das<br />
camadas populares à terra, já que eram<br />
representantes da nobreza latifundiária;<br />
d) às ocupações das terras dos camponeses pelas<br />
famílias dos militares, que almejavam a ascensão<br />
social por meio<br />
e) às insurreições estimuladas por Espártaco, que era<br />
um gladiador que defendia os interesses do exército<br />
e das camadas dominantes do território romano.<br />
(UECE) - UE do Ceará - Questão 57:<br />
Em relação à <strong>História</strong> Romana, assinale a opção<br />
verdadeira:<br />
a) A República Romana possuía um caráter<br />
democrático, em virtude da adoção do voto livre.<br />
b) A vitória de Roma sobre Cartago, nas Guerras<br />
Púnicas, garantiu aos romanos o controle das rotas<br />
do Mediterrâneo.<br />
c) O poder do Senado se sobrepunha ao do Imperador<br />
durante o apogeu do regime imperial.<br />
d) Os plebeus participavam das decisões políticas, na<br />
época da realeza, em virtude do acordo celebrado<br />
com os patrícios.<br />
(UFG/GO) – UF de Goiás - Questão 58:<br />
O governo da República romana estava dividido em três<br />
corpos tão bem equilibrados em termos de direitos que<br />
ninguém, mesmo sendo romano, poderia dizer, com<br />
certeza, se o governo era aristocrático, democrático ou<br />
monárquico. Com efeito, a quem fixar a atenção no<br />
poder dos cônsules a constituição romana parecerá<br />
monárquica; a quem fixá-la no Senado ela mais parecerá<br />
aristocrática e a quem fixar no poder do povo ela<br />
parecerá claramente democrática. (POLÍBIOS. <strong>História</strong>. Brasília:<br />
Ed. da UnB, 1985. Livro VI, 11. p. 333.)<br />
Políbios descreve a estrutura política da República<br />
romana (509-27 a.C.), idealizando o equilíbrio entre os<br />
poderes. Não obstante, a prática política republicana<br />
caracterizou-se pela:<br />
a) organização de uma burocracia nomeada a partir de<br />
critérios censitários, isto é, de acordo com os<br />
rendimentos;<br />
b) manutenção do caráter oligárquico com a ordem<br />
eqüestre dos homens novos assumindo cargos na<br />
administração e no exército;<br />
c) adoção da medida democrática de concessão da<br />
cidadania romana a todos os homens livres das<br />
províncias conquistadas;<br />
d) administração de caráter monárquico com o poder<br />
das assembléias baseado no controle do exército e da<br />
plebe;<br />
e) preservação do caráter aristocrático dos patrícios que<br />
controlaram o Senado, a Assembléia centuriata e as<br />
magistraturas.<br />
(UEG) – UE de Goiás - Questão 59:<br />
A inscrição gravada em honra de Otávio Augusto em um<br />
escudo na Cúria Juliana afirmava a importância do<br />
Princeps: "em consideração pela sua justiça e pela sua<br />
piedade". Em relação ao principado de Augusto, no<br />
início do Império Romano, marque a alternativa<br />
incorreta:<br />
a) Durante o principado, o imperador passou a<br />
acumular todos os poderes, embora continuassem a<br />
existir vários órgãos da República. Otávio conseguiu<br />
reconciliar a monarquia militar com as instituições<br />
republicanas.<br />
b) Foi graças ao poder e à estabilidade iniciada no<br />
principado que Roma pôde desfrutar de um período<br />
de grande prosperidade, constituindo a Pax Romana.<br />
c) Na literatura, o período de governo de Otávio<br />
Augusto ficou conhecido como a época de ouro,<br />
graças a seu ministro Mecenas que, por seu interesse<br />
pelas artes, apoiou escritores como Horácio e<br />
Virgílio, entre outros.<br />
d) Augusto promoveu reformas e melhorias em todo o<br />
império, ampliando a burocratização do Estado e a<br />
organização de um poderoso exército de mais de 300<br />
mil homens.<br />
97
e) O caráter piedoso de Augusto estava associado ao<br />
fim da perseguição aos cristões e ao estabelecimento<br />
de uma era de tolerância religiosa em Roma.<br />
(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />
Sul - Questão 60:<br />
Nos séculos III e IV, uma série de crises atingiu o<br />
Império Romano, culminando, no século seguinte, na<br />
queda de seu último imperador. Durante esse período de<br />
crises, desenvolveram-se alguns elementos fundamentais<br />
para a estruturação de uma nova forma de organização da<br />
sociedade europeia, a qual se manteve em vigor durante<br />
vários séculos.<br />
Entre as alternativas abaixo, qual (is) delas<br />
caracteriza(m) corretamente as estruturas dessa nova<br />
sociedade europeia?<br />
1 - A exploração do trabalho plebeu, o retorno da<br />
população para o meio rural e o fortalecimento dos<br />
poderes regionais.<br />
2 - A centralização política e administrativa nos Estados<br />
Nacionais Europeus e o fortalecimento acelerado do<br />
poder da Igreja Católica.<br />
4 - A intensificação da produção e o crescimento das<br />
exportações de manufaturas produzidas nos feudos.<br />
8 - O relacionamento amistoso entre todos os senhores<br />
feudais e o estabelecimento do regime de trabalho<br />
assalariado em vários países da Europa.<br />
16 - A ruralização da sociedade ocidental, ao mesmo<br />
tempo que foi registrado o declínio das atividades<br />
mercantis e artesanais urbanas.<br />
(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />
Vestibular - Questão 61:<br />
A história da Antiguidade Clássica é a história das<br />
cidades, porém, de cidades baseadas na propriedade da<br />
terra e na agricultura.<br />
(K. Marx. Formações econômicas pré-capitalistas.)<br />
Em decorrência da frase de Marx, é correto afirmar que:<br />
a) os comerciantes eram o setor urbano com maior<br />
poder na Antiguidade, mas dependiam da produção<br />
agrícola;<br />
b) o comércio e as manufaturas eram atividades<br />
desconhecidas nas cidades em torno do<br />
Mediterrâneo;<br />
98<br />
c) as populações das cidades greco-romanas<br />
dependiam da agricultura para a acumulação de<br />
riqueza monetária;<br />
d) a sociedade urbana greco-romana se caracteriza pela<br />
ausência de diferenças sociais;<br />
e) os privilégios dos cidadãos das cidades gregas e<br />
romanas se originavam da condição de proprietários<br />
rurais.<br />
(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />
Vestibular - Questão 62:<br />
Ao longo de toda a Idade Média e da Moderna, a Sicília<br />
foi invadida e ocupada por bizantinos, muçulmanos,<br />
normandos e espanhóis. Na Antiguidade, por sua:<br />
a) fertilidade e posição estratégica no Mediterrâneo<br />
Ocidental, a ilha foi disputada e dominada por<br />
gregos, cartagineses e romanos;<br />
b) fertilidade e posição estratégica, a ilha tornou-se o<br />
centro da dominação etrusca no Mediterrâneo<br />
Ocidental;<br />
c) aridez e pobreza, a ilha, apesar de visitada por<br />
gregos, cartagineses e romanos, não foi por estes<br />
dominada;<br />
d) extensão e fertilidade, a ilha foi disputada pelas<br />
cidades gregas até cair sob domínio ateniense depois<br />
da Guerra do Peloponeso;<br />
e) proximidade do continente, aridez e ausência de<br />
riquezas minerais, a ilha foi dominada somente pelos<br />
romanos.<br />
(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />
Questão 63:<br />
Durante séculos, o Mar Mediterrâneo foi o centro<br />
comercial do mundo conhecido. Dominá-lo significava<br />
também exercer plena hegemonia política e militar. São<br />
exemplos da busca pelo controle do Mediterrâneo e de<br />
sua importância:<br />
a) as Guerras Púnicas, nos séculos III e II a.C., entre<br />
Roma e Cartago, que determinaram a plena<br />
expansão dos romanos e asseguraram-lhes o<br />
domínio do norte da África;<br />
b) as atividades mercantis, na Alta Idade Média, de<br />
cidades italianas, como Veneza ou Gênova, que se<br />
empenharam no estabelecimento de novas rotas<br />
oceânicas para o Oriente;<br />
c) as colonizações desenvolvidas em território<br />
americano, a partir do século XV, por Portugal e
Espanha, cujo objetivo era ligar a Atlântico ao<br />
Pacífico;<br />
d) as guerras napoleônicas na Península Ibérica no<br />
princípio do século XIX, que ampliaram o comando<br />
francês sobre o norte e o centro do território<br />
africano;<br />
e) as Guerras do Peloponeso, nos séculos V e IV a.C.,<br />
que envolveram as cidades gregas de Atenas e<br />
Esparta, na busca pelo controle total da Península<br />
Balcânica.<br />
(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />
Campinas - Questão 64:<br />
Teodósio estabeleceu que, após a sua morte, ocorrida em<br />
395, o Império, para ser melhor administrado, deveria<br />
ser:<br />
a) fracionado em quatro partes, com dois Imperadores<br />
e dois Césares;<br />
b) dividido em duas partes: Império do Ocidente e o<br />
Império do Oriente;<br />
c) atrelado ao paganismo e direcionar uma operação<br />
para destruir as catacumbas;<br />
d) aliado dos árabes para defendê-los contra os hunos<br />
que se avizinhavam de Roma e de Meca;<br />
e) dividido em áreas denominadas condados e doadas,<br />
em caráter hereditário, a seus sucessores.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />
Paraná - Questão 65:<br />
A grande realização de Roma foi transcender a estreita<br />
orientação política da Cidade-Estado e criar um Estado<br />
Universal que unificou diferentes nações do mundo<br />
mediterrâneo. (Marvin Perry)<br />
Com relação à antiga civilização romana:<br />
I. Os cônsules romanos eram encarregados da<br />
administração da justiça e da cobrança de impostos.<br />
II. A principal herança da civilização romana para o<br />
mundo foi o seu sistema de leis.<br />
III. A civilização helenística surgiu da fusão das<br />
civilizações grega e romana.<br />
IV. Após Otávio ter posto ordem na anarquia, Roma<br />
atingiu a idade de ouro com os imperadores. Por quase<br />
duzentos anos o mundo mediterrâneo desfrutou a "pax<br />
romana", com ordem, eficiência e prosperidade.<br />
São corretas as afirmações:<br />
a) Apenas I e III.<br />
b) Apenas I e IV.<br />
c) I, II e III.<br />
d) I, II e IV.<br />
e) Apenas II e IV.<br />
(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />
Campinas - Questão 66:<br />
Na Roma Antiga, a expressão "até tu Brutus?" foi<br />
atribuída a Julio César que, de acordo com fontes<br />
históricas, a teria proferido no momento de seu<br />
assassinato, em 44 a.C. Nesse contexto da história de<br />
Roma, Julio César tornou-se conhecido porque:<br />
a) iniciou o processo de expansão romana,<br />
desencadeando as chamadas guerras púnicas, por<br />
meio das quais Roma se converteu em potência<br />
marítima;<br />
b) criou o primeiro código escrito, denominado "Leis<br />
das Doze Tábuas", que tratava de assuntos referentes<br />
ao Direito Civil e ao Direito Penal;<br />
c) adquiriu grandes poderes e privilégios especiais,<br />
como os títulos de ditador perpétuo e de censor<br />
vitalício, suscitando lutas políticas pelo poder,<br />
sobretudo no Senado Romano;<br />
d) contribuiu, com as suas leis abolicionistas, para crise<br />
geral do escravismo romano, que abalou as<br />
atividades agrícolas de todo o Império Romano;<br />
e) propôs à Assembléia Romana o seu projeto de<br />
reforma agrária, limitando a ocupação de terras<br />
públicas aos cidadãos romanos.<br />
(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />
Vestibular - Questão 67:<br />
Em verdade é maravilhoso refletir sobre a grandeza que<br />
Atenas alcançou no espaço de cem anos depois de se<br />
livrar da tirania... Mas acima de tudo é ainda mais<br />
maravilhoso observar a grandeza a que Roma chegou<br />
depois de se livrar de seus reis.<br />
(Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio)<br />
Nessa afirmação, o autor:<br />
a) critica a liberdade política e a participação dos<br />
cidadãos no governo;<br />
b) celebra a democracia ateniense e a República<br />
romana;<br />
c) condena as aristocracias ateniense e romana;<br />
99
d) expressa uma concepção populista sobre a<br />
Antiguidade Clássica;<br />
e) defende a pólis grega e o Império Romano.<br />
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 68:<br />
A importância do Edito de Milão reside no fato de:<br />
a) ter cristianizado o Império Romano, por decisão do<br />
imperador Constantino;<br />
b) ter restaurado o antigo culto no Império Romano;<br />
c) possibilitar uma reação mais consistente ao<br />
movimento iconoclasta;<br />
d) consolidar o cesaropapismo;<br />
e) ter se constituído no ponto alto da reação católica ao<br />
movimento reformista.<br />
Questão 69:<br />
Diocleciano (284-305) e Constantino (312- 337)<br />
destacaram-se na história do Império Romano por terem:<br />
a) conquistado e promovido a romanização da<br />
Lusitânia, incorporando-a ao Império;<br />
b) introduzido costumes religiosos e políticos dos<br />
etruscos na cultura de Roma;<br />
c) concedido à plebe defensores especiais – os tribunos<br />
da plebe, que protegiam seus direitos;<br />
d) consolidado o direito romano na chamada Lex<br />
Duodecim Tabularum;<br />
e) estabelecido medidas, visando a deter a crise que<br />
enfraquecia o Império.<br />
Questão 70:<br />
Teodósio, militar de origem espanhola, elevou o<br />
cristianismo à categoria de religião do Estado. Ao<br />
morrer, seu Império foi dividido entre seus dois filhos,<br />
que se responsabilizaram pelas seguintes áreas<br />
respectivamente:<br />
a) Arcádio com o Oriente e Honório com o Ocidente;<br />
b) Arcádio com o Ocidente e Honório com o Oriente;<br />
c) Arcádio com o Sul e Honório com o Norte;<br />
d) Arcádio com o Norte e Honório com o Sul.<br />
(UP/PR) - Universidade Positivo - Questão 71:<br />
Sobre o imperador Diocleciano (284-305), é correto<br />
afirmar que:<br />
a) deu liberdade de culto aos cristãos;<br />
b) transformou o Império Romano numa Diarquia;<br />
c) procurou frear a onda especulativa através do Edito<br />
Máximo (tabelamento de preços);<br />
d) procurou governar de forma democrática;<br />
e) permitiu que os bárbaros ocupassem a maior parte<br />
do Império.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />
72:<br />
Na Antiguidade, Roma estendeu amplamente seu<br />
território e dominou povos diversos, criando um império<br />
em redor do Mar Mediterrâneo. São marcas dessa<br />
expansão e contatos:<br />
1 - a elaboração do “Jus Gentium” (“direito das gentes”);<br />
2 - a organização de províncias como unidades<br />
administrativas de governo;<br />
4 - a implantação de extensa rede de estradas e difusão<br />
do latim como língua oficial;<br />
8 - a democratização da propriedade da terra;<br />
16 - a concessão de cidadania romana apenas aos que<br />
tivessem pai e mãe romanos.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />
73:<br />
Sobre as invasões dos “bárbaros” na Europa Ocidental,<br />
ocorridas entre os séculos III e IV, é correto afirmar que:<br />
a) foi uma ocupação militar violenta que, causando<br />
destruição e barbárie, acarretou a ruína de todas as<br />
instituições romanas.<br />
b) se, por um lado, causaram destruição e morte; por<br />
outro, contribuíram, decisivamente, para o<br />
nascimento de uma nova civilização, a da Europa<br />
Cristã.<br />
c) apesar dos estragos causados, a Europa conseguiu,<br />
afinal, conter os bárbaros, derrotando-os<br />
militarmente e, sem solução de continuidade,<br />
absorveu e integrou os seus remanescentes.<br />
d) se não fossem elas, o Império Romano não teria<br />
dasaparecido, pois, superada a crise do século III,<br />
passou a dispor de uma estrutura socioeconômica<br />
dinâmica e de uma constituição política centralizada.<br />
e) os godos foram os povos menos importantes, pois<br />
quase não deixaram marcas de sua presença.<br />
100
(UnB/DF) - Universidade de Brasília - Questão 74:<br />
A penetração dos bárbaros no Império Romano:<br />
a) foi realizada sempre através de invasões armadas;<br />
b) realizou-se a partir do século VI, quando o Império<br />
entrou em decadência;<br />
c) verificou-se inicialmente através de invasões<br />
pacíficas e posteriormente através de violência;<br />
d) foi realizada sempre de maneira pacífica;<br />
e) verificou-se principalmente entre os séculos II e III.<br />
(PUC-SP) - Pontifícia Universidade Católica de São<br />
Paulo - Questão 75:<br />
Sobre as invasões dos povos bárbaros, que destruíram a<br />
organização imperial romana no século V, sabemos que:<br />
a) tornaram-se possíveis devido à capacidade de<br />
liderança de Átila, que organizou os governos em<br />
um grande exército conquistador;<br />
b) foram precipitadas pela pressão dos hunos sobre os<br />
bárbaros germanos, obrigando-os a deslocarem-se<br />
em direção ao Império;<br />
c) puderam alcançar seus objetivos de conquista graças<br />
ao fato de os romanos desconhecerem os costumes e<br />
a organização político-militar desses povos;<br />
d) tornaram-se possíveis graças à solidariedade<br />
existente entre as tribos bárbaras, organizadas em<br />
uma federação estável;<br />
e) alcançaram seus objetivos graças à superioridade<br />
cultural e organizacional dos bárbaros frente aos<br />
romanos.<br />
(USP) - Universidade de São Paulo - Questão 77:<br />
“Contemplei a plebe com 300 sestércios por cabeça, em<br />
execução do testamento de meu pai; dei em meu quinto<br />
consulado 400 sestércios; no meu décimo-primeiro<br />
consulado, distribuí doze vezes trigo comprado à minha<br />
custa; no meu décimo-segundo Poder Tribunício dei, por<br />
três vezes, 400 sestércios por cabeça.<br />
Nunca houve menos de 250 000 indivíduos para eu<br />
beneficiar com essas liberalidades.<br />
No ano de meu décimo-oitavo Poder Tribunício e de meu<br />
segundo consulado, dei a cada homem da plebe 60<br />
dinheiros por cabeça. Durante o meu décimo-terceiro<br />
consulado, dei 60 dinheiros aos cidadãos inscritos no<br />
circo para divertir a plebe”.<br />
(Suetônio, Vida dos Doze Césares)<br />
a) O texto demonstra a continuidade da política de pão<br />
e circo na República e no Império Romano.<br />
b) Percebemos, nas somas e quantias distribuídas, o<br />
empenho do príncipe em demonstrar sua caridade<br />
cristã.<br />
c) O Poder Tribunício e o Poder Consular eram<br />
exercidos pela mesma pessoa e esse fato explica o<br />
poder absoluto dos governantes romanos.<br />
d) O importante era somente a distribuição de moedas<br />
ao povo e não o trigo e os espetáculos circenses,<br />
como se diz tradicionalmente.<br />
e) O Imperador faz questão de acentuar o caráter legal<br />
de seu poder, que advém de uma herança deixada<br />
por César.<br />
(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio<br />
de Mesquita Filho - Questão 76:<br />
As “invasões” dos povos germânicos destruíram o<br />
Império Romano do Ocidente no século V. d.C.<br />
Entre as causas desses deslocamentos, não podemos<br />
citar:<br />
a) a busca de novas terras para o cultivo e a criação de<br />
gado;<br />
b) as riquezas e atrativos da civilização do Império<br />
Romano;<br />
c) a chegada dos hunos às planícies da Europa Central;<br />
d) a incapacidade de os romanos, nessa época,<br />
guarnecerem todas as fronteiras do Império;<br />
e) a unificação das tribos árabes pelo islamismo e sua<br />
expansão pelo território europeu, influenciadas pelo<br />
princípio da Guerra Santa.<br />
Questão 78:<br />
“Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?<br />
Quanto tempo ainda o teu furor ousará insultar-nos?<br />
Qual o termo onde parará essa audácia desavergonhada”?<br />
O texto refere-se à história de Roma e pode ser<br />
identificado como sendo de:<br />
a) César, atacando seus opositores no Senado Romano;<br />
b) Cícero, denunciando uma conjuração de natureza<br />
social;<br />
c) Demóstenes, advertindo sobre o imperialismo<br />
macedônico;<br />
d) Catão, combatendo a indiferença do povo em<br />
relação às guerras púnicas;<br />
e) Augusto, criticando a arrogância dos membros da<br />
nobreza romana.<br />
101
(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />
Campinas - Questão 79:<br />
A civilização romana exerceu uma definida influência<br />
sobre as sociedades ulteriores.<br />
Assinale a afirmação correta:<br />
a) A ciência do Direito foi utilizada na Idade Média e<br />
na Época Contemporânea; países europeus<br />
incorporaram parte dela em seus códigos.<br />
b) A arquitetura foi conservada nas igrejas luteranas.<br />
c) A literatura romana influenciou o surgimento do<br />
Iluminismo.<br />
d) A escultura romana do tempo de Péricles foi<br />
lembrada nas estátuas e colunas da Europa<br />
Medieval.<br />
e) Nda.<br />
(USP) - Universidade de São Paulo - Questão 80:<br />
Sobre o Direito Romano, NÃO podemos afirmar que:<br />
a) foi o mais importante legado cultural de Roma;<br />
b) estabeleceu o conceito de jurisprudência;<br />
c) a lei de Roma e de seus cidadãos estava incluída no<br />
“Jus Civile”;<br />
d) o “Jus Civile” somente foi estabelecido durante o<br />
Império;<br />
e) dividia o Direito em três grandes ramos.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />
81:<br />
Nos séculos III d.C. e IV d.C., o Império Romano viveu<br />
uma fase de crise e de profundas transformações.<br />
A respeito disso, é correto afirmar que:<br />
1 - pela dificuldade de se encontrar mão-de-obra escrava,<br />
pois não havia mais guerras de conquistas que<br />
trouxessem escravos;<br />
2 - pela abolição total da escravatura;<br />
4 - pelo fato de a expansão do cristianismo ter gerado a<br />
diminuição do número de escravos – libertados por ato<br />
de piedade cristã – divulgando-se atitudes<br />
antiescravistas;<br />
8 - pela evolução urbana – que fez da cidade o centro da<br />
vida no Império Romano – e o abandono dos campos;<br />
16 - pela subdivisão de muitos latifúndios em pequenas<br />
propriedades, pela dificuldade de manter escravos<br />
numerosos de pouco valor, além das invasões de<br />
bárbaros seguidas de fuga de escravos.<br />
(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />
82:<br />
Nos séculos III d.C. e IV d.C., o Império Romano viveu<br />
uma fase de crise e de profundas transformações. A<br />
respeito disso, é correto afirmar que:<br />
1 - as cidades do Ocidente Romano tornaram-se centros<br />
econômicos do Império em florescente processo de<br />
urbanização;<br />
2 - antes religião perseguida, o cristianismo passou a ser<br />
aceito e veio a tornar-se a religião oficial do Império<br />
Romano, em substituição ao paganismo;<br />
4 - os povos bárbaros invadiram o Império e se<br />
estabeleceram em seus territórios, contribuindo para a<br />
crise do mundo romano;<br />
8 - a divisão político-administrativa do Império fez surgir<br />
o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do<br />
Oriente.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />
83:<br />
Várias razões explicam as perseguições sofridas pelos<br />
cristãos no Império Romano, entre elas:<br />
a) a oposição à religião do Estado Romano e a negação<br />
da origem divina do Imperador, pelos cristãos;<br />
b) a publicação do Edito de Milão, que impediu a<br />
legalização do cristianismo e alimentou a repressão;<br />
c) a formação de heresias, como a do Arianismo, de<br />
autoria do bispo Ário, que negava a natureza divina<br />
de Cristo;<br />
d) a organização dos Concílios Ecumênicos, que<br />
visavam promover a definição da doutrina cristã;<br />
e) o fortalecimento do paganismo sob o imperador<br />
Teodósio, que mandou martirizar milhares de<br />
cristãos.<br />
(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />
Paraná - Questão 84:<br />
Em 63 a.C., as tropas de Pompeu tomaram Jerusalém,<br />
ficando os judeus sob dominação romana. Na época do<br />
Império, rebeliões dos judeus contra os romanos<br />
acabaram levando à eliminação de Israel e Judá.<br />
102
Neste quadro tivemos:<br />
a) Rebeliões contra Júlio César, que deixa o Egito e<br />
esmaga os revoltosos em 59 a.C.; e contra Otávio,<br />
em 24 d.C.<br />
b) Rebeliões em 70 d.C. e 136 d.C., nos governos de<br />
Vespasiano e Adriano, a última delas levando à<br />
dispersão total dos hebreus.<br />
c) Rebeliões em 167 a.C., e 69 d.C., envolvendo os três<br />
grupos político-religiosos dos fariseus, saduceus e<br />
essênios.<br />
d) Morte de meio milhão de judeus e a venda dos que<br />
escaparam ao massacre, provocando a total<br />
dispersão do que restara de Israel e Judá, em meio a<br />
rebeliões no governo de Teodósio.<br />
e) Revolta contra Ptolomeu, Filopator, representante<br />
romano na Província da Síria, que esmagará<br />
totalmente os hebreus.<br />
Questão 85:<br />
Quanto à <strong>História</strong> de Roma, pode-se considerar que:<br />
a) Roma conheceu apenas duas formas de governo:<br />
República e Império.<br />
b) na passagem da República para o Império, Roma<br />
deixou de ser uma democracia e tornou-se uma<br />
oligarquia.<br />
c) os Irmãos Graco foram dois tribunos da plebe que<br />
lutaram pela redistribuição das terras do Estado<br />
entre os plebeus.<br />
d) no Império Romano, todos os homens livres eram<br />
proprietários de terras.<br />
e) no Império, os romanos viviam com base numa<br />
economia industrial.<br />
(UP/PR) - Universidade Positivo - Questão 86:<br />
– “As casas vacilavam depois de freqüentes e graves<br />
tremores de terra; abaladas em seus alicerces, pareciam<br />
balançar de um lado para outro. Ao ar livre, por outro<br />
lado, temia-se a queda de pedras-pomes, embora fossem<br />
leves e porosas. Foi a isto que todos preferiram depois de<br />
compararem os perigos. Quanto a meu tio, a proposta<br />
mais razoável venceu: quanto aos outros, venceu o medo<br />
maior. Colocando travesseiros sobre a cabeça,<br />
amarraram-nos com fronhas e lençóis: isto servia de<br />
proteção contra tudo que caía do alto.” (Plínio, o Jovem)<br />
O texto se refere à erupção de um vulcão ocorrida em 79<br />
d.C., no Império Romano. Relacionar corretamente: o<br />
nome do vulcão, uma cidade destruída e o Imperador<br />
romano da época:<br />
a) Vesúvio, Herculano e Nero.<br />
b) Etna, Pompéia e Vespasiano.<br />
c) Vesúvio, Pompéia e Tito.<br />
d) Miseno, Somma e Vespasiano.<br />
e) Vesúvio, Pisa e Tito.<br />
Questão 87:<br />
Associe corretamente as colunas e assinale a alternativa<br />
correta:<br />
I. Autoridade máxima da República romana<br />
II. Administravam a justiça em Roma<br />
III. Organizavam jogos e festividades públicas em Roma<br />
IV. Autoridade máxima da Monarquia romana<br />
V. Título de Júlio César<br />
( ) Ditador perpétuo<br />
( ) Senado<br />
( ) Pretores<br />
( ) Edis<br />
( ) Rei<br />
a) V - I - II - III - IV<br />
b) V - II - III - I - IV<br />
c) V - IV - III - II - I<br />
d) I - IV - III - V - II<br />
e) IV - V - I - II - III<br />
(CEFET/PR) - Centro Federal de Educação<br />
Tecnológica do Paraná - Questão 88:<br />
Eram funções básicas dos CÔNSULES, os mais<br />
importantes magistrados durante a República Romana:<br />
a) administrar as finanças públicas;<br />
b) administrar a justiça;<br />
c) comandar o exército, dirigir o Estado e convocar o<br />
Senado;<br />
d) cuidar do recenseamento dos cidadãos e da<br />
vigilância dos costumes;<br />
e) administrar aspectos da vida da cidade de Roma<br />
como: abastecimento, festas públicas, edifícios<br />
públicos, policiamento e outros.<br />
103
(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />
Questão 89:<br />
Na administração da Roma Antiga, o pretor era<br />
encarregado de:<br />
a) chefiar os exércitos nas campanhas militares;<br />
b) promover o censo qüinqüenal;<br />
c) fiscalizar a execução orçamentária;<br />
d) ministrar justiças;<br />
e) zelar pelo abastecimento.<br />
(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />
90:<br />
A expansão de Roma durante a república, com o<br />
consequente domínio da bacia do Mediterrâneo,<br />
provocou sensíveis transformações sociais e econômicas,<br />
dentre as quais:<br />
a) marcado processo de industrialização, êxodo urbano,<br />
endividamento do Estado.<br />
b) fortalecimento da classe plebeia, expansão da<br />
pequena propriedade, propagação do cristianismo.<br />
c) crescimento da economia agropastoril,<br />
intensificação das exportações e aumento do<br />
trabalho livre.<br />
d) enriquecimento do Estado romano, aparecimento de<br />
uma poderosa classe de comerciantes, aumento do<br />
número de escravos.<br />
e) diminuição da produção nos latifúndios, acentuado<br />
processo inflacionário, escassez de mão-de-obra<br />
escrava.<br />
Questão 91:<br />
Uma das mais importantes contribuições dos romanos<br />
para a posteridade foi o Direito. Sobre a famosa “Lei das<br />
Doze Tábuas”, analise as afirmativas abaixo e, a seguir,<br />
assinale a alternativa correta:<br />
I. Trata-se de lei editada no período de Júlio César.<br />
II. Considera-se a primeira lei escrita e sistematizada do<br />
Direito Romano.<br />
III. Permitia o casamento entre patrícios e plebeus.<br />
IV. Foi elaborada pelos decênviros.<br />
V. Admitia, ainda, a pena de Talião.<br />
Estão corretas as afirmativas:<br />
a) I, III, IV;<br />
b) II, IV, V;<br />
c) I, IV, V;<br />
d) II, III, V;<br />
e) II e III.<br />
(PUC-SP) - Pontifícia Universidade Católica de São<br />
Paulo - Questão 92:<br />
A monarquia romana terminou quando:<br />
a) os bárbaros invadiram Roma, em 476;<br />
b) o Senado atribuiu a Otávio o título de imperador;<br />
c) Teodósio dividiu o império entre seus dois filhos,<br />
em 395 d.C.;<br />
d) Tarquínio o Soberbo foi deposto pelos patrícios;<br />
e) Ocorreu a oficialização do cristianismo, pelo Edito<br />
de Tessalônica.<br />
(ULBRA/RS) - Universidade Luterana do Brasil -<br />
Questão 93:<br />
Em ano de eleição discute-se a importância das<br />
instituições que alicerçam a organização política<br />
brasileira. A república é sempre lembrada como<br />
fundamento de explicação para as características<br />
políticas do nosso país. Na história, a República é<br />
estudada como fazendo parte do desenvolvimento das<br />
relações políticas do mundo romano. Sobre a<br />
organização da República romana, podemos dizer que:<br />
I. o cargo de senador era vitalício, implicando ações<br />
consultivas, legislativas e administrativas, no aspecto<br />
tocante as províncias;<br />
II. inicialmente os plebeus eram discriminados quanto a<br />
participação nas questões do Estado romano, porém com<br />
a ação de revoltas conseguiram o tribunato da plebe, que<br />
lhes garantia o reconhecimento de sua importância<br />
social;<br />
III. o presidente da República era empossado após um<br />
plebiscito, articulado em todas as províncias e<br />
organizado pela Sátrapa que possuísse a maior graduação<br />
da península.<br />
Assinale a alternativa correta:<br />
a) Apenas a proposição I está correta.<br />
b) Apenas as proposições I e II estão corretas.<br />
c) Apenas as proposições I e III estão corretas.<br />
d) Apenas as proposições II e III estão corretas.<br />
e) As proposições I, II e III estão corretas.<br />
104
(UFRGS) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />
Sul -<br />
Questão 94:<br />
O assunto tratado na revista em quadrinhos Asterix diz<br />
respeito à relação entre romanos e:<br />
a) germanos, no século IV d.C.<br />
b) gauleses, no século I a.C.<br />
c) anglo-saxões, no século II d.C.<br />
d) etruscos, no século IV a.C.<br />
e) gregos, no século I d.C.<br />
(UFBA) - Universidade Federal da Bahia - Questão<br />
95:<br />
Os Romanos mostraram-se extraordinariamente<br />
inventivos no domínio do urbanismo. As "cidades<br />
novas", construídas durante a época imperial, muitas<br />
vezes a partir de acampamentos militares, espalharam a<br />
ordem romana até aos confins do Império. Esta<br />
concepção de cidade planejada, edificada com uma<br />
finalidade muito concreta e, por vezes, quase<br />
simultaneamente em cada uma das suas partes, só a<br />
voltaremos a encontrar no século XX.<br />
(UPJOHN et al., p. 48)<br />
Com base na análise do texto e nos conhecimentos sobre<br />
a arquitetura na Antigüidade Oriental e na Clássica,<br />
pode-se afirmar:<br />
1 - A arquitetura romana concentrou-se na construção de<br />
edifícios com finalidade religiosa, descuidando-se das<br />
obras de infra-estrutura e de atendimento às necessidades<br />
das populações urbanas.<br />
2 - As cidades romanas do Período Imperial obedeciam a<br />
modelos urbanísticos voltados para "finalidade muito<br />
concreta", enquanto as cidades-estado da Grécia e da<br />
Fenícia funcionavam para atender ao conjunto de ações<br />
necessárias ao exercício da vida social.<br />
4 - A sobrevivência, até os dias atuais, de templos e<br />
palácios construídos pelos gregos e pelos egípcios<br />
decorre do uso de materiais resistentes e da aplicação de<br />
princípios arquitetônicos científicos conhecidos na<br />
época, fazendo-os resistir à ação do tempo e dos homens.<br />
8 - A sobrevivência, até os dias atuais, de templos e<br />
palácios construídos pelos gregos e pelos egípcios<br />
decorre do uso de materiais resistentes e da aplicação de<br />
princípios arquitetônicos científicos conhecidos na<br />
época, fazendo-os resistir à ação do tempo e dos homens.<br />
16 - A arquitetura romana expressava o caráter<br />
burocrático e pragmático da cultura dominante, enquanto<br />
a arquitetura grega se voltava para a representação dos<br />
elementos que fundamentavam sua mitologia e sua<br />
concepção de mundo.<br />
32 - As catedrais de Colônia, na Alemanha, e de Notre<br />
Dame, em Paris, representam a arte gótica que<br />
predominou na Europa Medieval e reproduzem os<br />
princípios arquitetônicos construídos pelos gregos e<br />
pelos romanos.<br />
(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />
Questão 96:<br />
Sobre o sistema político de Roma no período<br />
republicano, assinale a alternativa incorreta:<br />
a) A estrutura administrativa inicialmente criada<br />
garantiu aos patrícios o controle sobre os principais<br />
cargos públicos da cidade.<br />
b) A organização de movimentos sociais e de uma série<br />
de leis escritas, a partir do século V a.C., limitaram<br />
fortemente os direitos dos plebeus que constituíam a<br />
maior parte da população.<br />
c) O Senado era a instituição política mais importante<br />
do período, estando entre as suas atribuições<br />
principais: a elaboração de leis, a condução da<br />
política externa e das finanças públicas.<br />
d) O sistema previa a divisão de poderes, como por<br />
exemplo, as magistraturas, que tinham seus<br />
integrantes renovados periodicamente.<br />
e) O século I a.C. foi marcado por uma ampla crise<br />
política, representada pelo esgotamento do sistema<br />
republicano e pelo fortalecimento do poder pessoal,<br />
manifesto nos sucessivos confrontos entre<br />
importantes generais.<br />
(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />
Questão 97:<br />
Em uma casa romana aristocrática, habitada pelo pai da<br />
família, sua mulher, esposa em justas bodas, filhos,<br />
filhas, escravos e ex-escravos libertos, cada um tinha seu<br />
papel definido. Sobre os costumes das filhas de uma<br />
família aristocrática romana, é correto afirmar que:<br />
105
a) a jovem herdava o orgulho do pai, acrescido da<br />
fortuna que lhe cabia, a qual geralmente não era<br />
transmitida ao marido;<br />
b) em geral, as filhas de um nobre romano não tinham<br />
direitos iguais aos filhos homens que herdavam mais<br />
bens patrimoniais;<br />
c) cabia ás filhas da nobreza romana apenas a clientela<br />
pertencente à sua estirpe;<br />
d) em caso de morte dos pais, as jovens aristocráticas<br />
solteiras não poderiam comandar uma casa romana;<br />
elas só mantinham suas posições de poder através de<br />
casamentos;<br />
e) ligações amorosas ou casamentos com viúvas da<br />
aristocracia romana eram proibidos pela legislação<br />
romana, fundamentada no pátrio poder.<br />
(UERGS) - Universidade Estadual do Rio Grande do<br />
Sul - Questão 98:<br />
No contexto das Guerras Púnicas, Roma sofreu em<br />
Canas a mais sombria das derrotas. A desforra viria<br />
tempos depois, quando Cipião o Africano emprestou seu<br />
gênio às legiões, levando-as à vitória. Aliás, os conflitos<br />
púnicos entre romanos e cartagineses tiveram como<br />
causa principal:<br />
a) a invasão de Roma por Aníbal Barca, depois de<br />
cruzar os Alpes;<br />
b) a disputa pela posse estratégica do Mediterrâneo;<br />
c) o secular ódio que nutriam os romanos pelos povos<br />
semitas;<br />
d) a ameaça que representava para Roma a<br />
concentração de povos guerreiros ao norte;<br />
e) o estímulo cartaginês a rebeliões de escravos<br />
romanos contra os seus senhores.<br />
(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão<br />
99:<br />
Após as Guerras Púnicas (264 - 146 a.C.) - Conflito entre<br />
Roma e Cartago pela disputa comercial do Mediterrâneo<br />
-, os romanos abriram caminho para a dominação de<br />
regiões do Mediterrâneo Ocidental (Gália, Península<br />
Ibélica) e Oriental (Macedônia, Grécia, Ásia Menor). O<br />
Mar Mediterrâneo foi inteiramente controlado pelos<br />
romanos, que o chamavam de mare nostrum ("nosso<br />
mar"). A expansão romana foi acompanhada de<br />
importantes transformações econômicas, sociais,<br />
políticas e culturais. Entre elas destacam-se:<br />
a) o fortalecimento do sistema assalariado, o<br />
enfraquecimento dos cavaleiros, a consolidação das<br />
instituições republicanas e a adoção dos deuses<br />
gregos com nomes latinos;<br />
b) o fim do trabalho escravo, a concentração<br />
populacional no campo, o desaparecimento dos<br />
latifúndios e a mudança no estilo de vida romano,<br />
que se tornou mais simples e sóbrio;<br />
c) o crescimento do escravismo, o empobrecimento da<br />
plebe, o desenvolvimento do comércio, o<br />
fortalecimento dos chefes militares e o<br />
enfraquecimento das instituições republicanas;<br />
d) o abandono dos centros urbanos, a adoção do<br />
trabalho servil, a ruralização da produção e o<br />
fortalecimento dos chefes militares e das instituições<br />
republicanas;<br />
e) o aumento do trabalho escravo, a implantação de<br />
minifúndios, a instabilidade política interna, o<br />
fortalecimento da família e o enfraquecimento dos<br />
chefes militares.<br />
(UESC/BA) - Universidade Estadual de Santa Cruz -<br />
Questão 100:<br />
Seja qual for a cidade, o fato fundamental da sociedade<br />
do Império Romano é a convicção de que existe uma<br />
distância social intransponível entre os notáveis "bemnascidos"<br />
e seus inferiores (...) As classes superiores<br />
procuram diferenciar-se das inferiores através de um<br />
estilo de cultura e vida moral cuja mensagem mais<br />
vibrante é que não pode ser partilhado pelos outros.<br />
(Veyne (org.), p. 230)<br />
A distância social referida no texto relaciona-se à<br />
distinção entre:<br />
a) romanos e bárbaros;<br />
b) bárbaros e guerreiros;<br />
c) sacerdotes e guerreiros;<br />
d) cidadãos patrícios e plebeus;<br />
e) tribunos da plebe e sacerdotes.<br />
106
GABARITO:<br />
Questão 1: A, C<br />
Questão 2: E<br />
Questão 3: 17<br />
Questão 4: D<br />
Questão 5: E<br />
Questão 6: C<br />
Questão 7: C<br />
Questão 8: D<br />
Questão 9: B<br />
Questão 10: D<br />
Questão 11: A<br />
Questão 12: D<br />
Questão 13: 11<br />
Questão 14: C<br />
Questão 15: A<br />
Questão 16: C<br />
Questão 17: A<br />
Questão 18: D<br />
Questão 19: C<br />
Questão 20: A<br />
Questão 21: D<br />
Questão 22: E<br />
Questão 23: E<br />
Questão 24: C<br />
Questão 25: C<br />
Questão 26: E<br />
Questão 27: C<br />
Questão 28: E<br />
Questão 29: D<br />
Questão 30: B<br />
Questão 31: C<br />
Questão 32: E<br />
Questão 33: A<br />
Questão 34: 43<br />
Questão 35: C<br />
Questão 36: C<br />
Questão 37: A<br />
Questão 38: B<br />
Questão 39:<br />
Questão 40: C<br />
Questão 41: A<br />
Questão 42: B<br />
Questão 43: C<br />
Questão 44: C<br />
Questão 45: C<br />
Questão 46: C<br />
Questão 47: D<br />
Questão 48: C<br />
Questão 49: E<br />
Questão 50: C<br />
Questão 51: A<br />
Questão 52: A, B<br />
Questão 53: C<br />
Questão 54: C<br />
Questão 55: C<br />
Questão 56: B<br />
Questão 57: B<br />
Questão 58: E<br />
Questão 59: E<br />
Questão 60: 17<br />
Questão 61: E<br />
Questão 62: A<br />
Questão 63: A<br />
Questão 64: B<br />
Questão 65: E<br />
Questão 66: C<br />
Questão 67: B<br />
Questão 68: A<br />
Questão 69: E<br />
Questão 70: A<br />
Questão 71: C<br />
Questão 72: 7<br />
Questão 73: B<br />
Questão 74: C<br />
Questão 75: B<br />
Questão 76: E<br />
Questão 77: E<br />
Questão 78: B<br />
Questão 79: A<br />
Questão 80: D<br />
Questão 81: 5<br />
Questão 82: 14<br />
Questão 83: A<br />
Questão 84: B<br />
Questão 85: C<br />
Questão 86: C<br />
Questão 87: A<br />
Questão 88: C<br />
Questão 89: D<br />
Questão 90: D<br />
Questão 91: B<br />
Questão 92: d<br />
Questão 93: b<br />
Questão 94: b<br />
Questão 95: 30<br />
Questão 96: b<br />
Questão 97: a<br />
Questão 98: b<br />
Questão 99: c<br />
Questão 100: d<br />
107
IDADE MÉDIA<br />
108<br />
1. HISTORIOGRAFIA: CONCEITO E<br />
CRONOLOGIA<br />
O período que se estende entre os séculos V d.C. e XV<br />
d.C. - marcos convencionais da queda do Império<br />
Romano do Ocidente 476 d.C. e tomada de<br />
Constantinopla pelos turco-otomanos 1494 d.C. -<br />
definido como Idade Média ou Medievo, tem sido um<br />
dos mais revisitados pela recente historiografia ocidental;<br />
são repensados os conceitos, classificações e<br />
nomenclaturas relacionadas às dinâmicas históricas das<br />
sociedades ocidentais, especialmente europeias.<br />
<strong>Geral</strong>mente, o estudo sobre esse período histórico<br />
privilegia a compreensão dos processos de formação,<br />
apogeu e crise do chamado sistema feudal.<br />
Embora esta ainda seja a orientação preponderante,<br />
inclusive nesse trabalho, devemos considerar esse<br />
enfoque como resultado de uma tendência eurocêntrica<br />
da <strong>História</strong>, que em muito tem privilegiado as dinâmicas<br />
do Velho Mundo como padrões ao conhecimento de<br />
quase toda a humanidade. Assim, chamamos à atenção<br />
de que embora muito associado à Idade Média, o<br />
Feudalismo não deve ser considerado um processo<br />
ampliado em escala global, mas localizado<br />
temporalmente e espacialmente à Europa Ocidental,<br />
no período supracitado. Desse modo, a compreensão das<br />
demais sociedades nesse período deve perpassar a<br />
observação de dinâmicas bastante divergentes dessa<br />
realidade ocidental, a exemplo das sociedades africanas<br />
medievais, do Império Bizantino e das comunidades<br />
árabes.<br />
Desafio importante dessa nova historiografia é<br />
desvincular o período de uma infinidade de preconceitos<br />
que a ele estiveram quase que naturalmente associados.<br />
A própria caracterização dessa Idade como ‘média’,<br />
revela esse aspecto, ao consagrar sua condição como de<br />
mera intermediária, entre a grandeza da Idade Antiga e a<br />
pujança renovadora da Idade Moderna. Essa<br />
nomenclatura é fruto da própria concepção desses<br />
homens da Modernidade, não sendo por tanto uma<br />
identificação dos homens do Medievo, mas uma<br />
classificação criada a posteriori; esses mesmos homens<br />
modernos, não cuidaram apenas de identificar o período,<br />
mas de adjetivá-lo de forma detratora, associando o<br />
período a termos como “Idade das Trevas”,” Longa<br />
Noite dos Mil Anos”, “Sono Feudal”, enfatizando uma<br />
suposta obscuridade, ignorância e nulidade de padrões<br />
culturais, uma vez que estavam excessivamente<br />
relacionados à intensa religiosidade típica do período.<br />
Hoje em dia, embora a historiografia considere as<br />
dificuldades materiais do período, reconhece sua intensa<br />
produção cultural e rejeita esses arraigados preconceitos<br />
ainda associados ao imaginário comum sobre o Medievo.<br />
Para tanto, enfatiza-se os avanços da ciência no período,<br />
especialmente aqueles associados às inovações trazidas<br />
pelos muçulmanos ou o incremento das técnicas de<br />
produção na Baixa Idade Média; as artes, com o<br />
reconhecimento do valor da arte sacra e da produção<br />
literária descritiva dos valores medievais, bem como da<br />
própria origem medieval do Renascimento Cultural; a<br />
Filosofia, com a preservação e ressignificação do<br />
pensamento clássico a partir das obras, destacando Santo<br />
Agostinho e São Tomás de Aquino; e, em outros<br />
diversos campos tem se revelado a sofisticação das<br />
produções medievais e o respeito às condições<br />
específicas em que foram produzidas, rejeitando juízos<br />
de valor.<br />
No entanto devemos salientar, que nem sempre a<br />
imagem do Período Medieval foi corrompida apenas por<br />
seus detratores. Também tivemos prejuízos de<br />
compreensão criados pela excessiva idealização, como<br />
ocorreu no século XIX, especialmente pelo movimento<br />
artístico do Romantismo, que numa critica às sociedades<br />
industriais, sobrevalorizou o Medievo de forma<br />
exagerada e deturpada, a serviço da construção do<br />
nacionalismo e de identidades europeias em formação<br />
naquele período. No século XX, o próprio regime<br />
nazista, por exemplo, buscaria nas origens medievais do<br />
Estado alemão, a suposta preponderância sobre as<br />
demais populações.<br />
Assim, o grande desafio que se impõe é o de evitar essas<br />
desordenações de sentido e buscar compreensão e<br />
entendimento desse período, revelando suas nuances a<br />
partir de uma conjunção complexa e não simplesmente<br />
detratada ou idealizada a partir de interesses dissociados<br />
de seu próprio tempo.<br />
A extensa cronologia da Idade Média Ocidental de 10<br />
séculos levou os historiadores a convencionarem a<br />
divisão periódica em Alta Idade Média e Baixa Idade<br />
Média, a partir da própria dinâmica das transformações
que ocasionaram a formação e a deterioração do sistema<br />
feudal.<br />
A variedade da formação dos reinos germânicos, as<br />
rivalidades entre as diversas populações, a instabilidade<br />
dos confrontos e disputas territoriais e a inexperiência<br />
desses estrangeiros com a organização centralizada de<br />
poder, impediram a consolidação de formas estáveis e<br />
duradouras de dominação política, exceto na região da<br />
atual França, onde o Reino dos Francos se instalou.<br />
2. ALTA IDADE MÉDIA – A CONSTRUÇÃO<br />
DA ORDEM FEUDAL<br />
Convencionalmente, corresponde aos séculos iniciais do<br />
Período Medieval, estendendo-se do século V ao IX,<br />
associado às condições que forjaram o ápice da ordem<br />
feudal a partir do século X. A este momento vinculamos<br />
a violência das ocupações de povos germânicos na<br />
antiga porção ocidental do Império Romano e a<br />
formação de numerosos reinos “bárbaros”. Os<br />
choques e integrações entre populações romanas e povos<br />
invasores, resultariam numa nova configuração social,<br />
politica e produtiva, que sob a sedimentação ideológica<br />
da Igreja Católica, viriam a constituir aquilo que<br />
chamamos de Feudalismo.<br />
Já desde o século III a grave crise estrutural que se<br />
abateu sobre o Império Romano abriria precedentes à<br />
força das invasões estrangeiras ocorridas a partir do<br />
século V. A desordem e a violência associadas,<br />
determinaram ainda mais a já ocorrente migração dos<br />
espaços urbanos às áreas rurais e a formulação de<br />
vínculos de dependência que resultaria nas formas de<br />
trabalho tipicamente feudais. Esse processo de<br />
ruralização, entretanto, não significou expansão<br />
produtiva, mas uma considerável retração da produção<br />
de alimentos e da circulação de mercadorias,<br />
prejudicando seriamente o comércio e estimulando a<br />
autossuficiência sem fins à produção de excedentes.<br />
2.1 IMPÉRIO CAROLÍNGIO – SEC. V AO IX<br />
Embora se saliente à exaustão o caráter fragmentado das<br />
estruturas politicas das monarquias feudais, e a curta<br />
duração das experiências dos reinos germânicos da Alta<br />
Idade Média, é importante considerar a exceção do<br />
Reino Franco; este conseguiu manter certa estabilidade<br />
ao longo do período e representou um importante<br />
esforço de centralização política medieval.<br />
Os francos ocuparam a região da antiga Gália, atual<br />
França, e constituíram o Reino Franco, que forjou a<br />
partir de sua expansão o Império Carolíngio, com<br />
duração do século V ao IX, quando fragmentou se por<br />
meio do Tratado de Verdun. A maior estabilidade dos<br />
francos está associada à precocidade de sua<br />
centralização política e pela aproximação imediata<br />
com a Igreja Católica. Sob a liderança de Clovis I,<br />
ocorreu a unificação das tribos francas, dando inicio à<br />
dinastia Merovíngia. Esse monarca se tornaria ainda o<br />
primeiro dos soberanos “bárbaros” a se converter à<br />
religião cristã, facilitando a integração às populações da<br />
109
área dominada e recebendo da Igreja Católica importante<br />
contribuição na organização de uma estrutura politica<br />
centralizada.<br />
Iluminura medieval de representação do batismo de Clóvis<br />
A morte de Clovis revelou a inabilidade de seus<br />
sucessores na manutenção de seu legado e no<br />
aprofundamento da estruturação do poder. As disputas<br />
internas e os interesses particulares levaram esses reis<br />
serem identificados como “reis indulgentes” e, abriu<br />
espaço ao fortalecimento do major domus ou prefeito do<br />
Paço, funcionário que de tal modo se destacou na<br />
administração que passou a ter funções hereditárias,<br />
como os próprios monarcas. O mais importante entre<br />
eles, seria Carlos Martel, que liderou a resistência dos<br />
cristãos francos à expansão muçulmana pela Europa<br />
Central, na célebre Batalha de Poitiers de 1732.<br />
Com apoio da Igreja Católica, formar-se-ia uma nova<br />
dinastia, iniciada em 751 com Pepino, o Breve e, que<br />
teve como seu maior expoente, o imperador Carlos<br />
Magno. Seu governo representou o auge da expansão<br />
dos francos, com a retomada de territórios aos<br />
muçulmanos e de outros povos germânicos, com a<br />
evidente intenção de retomar as antigas fronteiras<br />
territoriais do Império Romano do Ocidente. À frente do<br />
agora Império Carolíngio, o imperador Carlos Magno,<br />
além da expansão territorial, promoveu ainda uma<br />
sofisticação das estruturas administrativas, com a criação<br />
das capitulares, leis redigidas em capítulos e validadas<br />
em toda a extensão territorial do Império, cujo<br />
110<br />
cumprimento era fiscalizado pelos funcionários reais, os<br />
missi dominici, geralmente vinculados à Igreja.<br />
A expansão territorial do Império deu-se à custa de<br />
enorme empenho da nobreza franca e sua ação militar,<br />
que em troca recebiam áreas de atuação administrativa<br />
privilegiada, como os condados, ou as marcas (essas<br />
áreas de demarcação fronteiriça, como a Marca da<br />
Espanha, que delimitava o limite com as possessões<br />
islâmicas na Península Ibérica), fortalecendo a nobreza<br />
medieval, criando suas titulações e, enfatizando as<br />
relações de comitatus e beneficium, típicas dos<br />
germânicos e que mais tarde se converteriam nas<br />
recorrentes práticas feudais de suserania e vassalagem.
Representação iconográfica medieval da ritualização típica de suserania e<br />
vassalagem<br />
Do ponto de vista cultural coube a Carlos Magno um<br />
importante fortalecimento da fé católica em seus<br />
territórios, em recompensa ao apoio recebido por essa<br />
instituição aos monarcas carolíngios e à titulação<br />
concedida pelo Papa Leão III ao próprio Carlos, que se<br />
tornara então Imperador Romano do Ocidente, numa<br />
tentativa de reaver os tempos de grandeza do Antigo<br />
Império Romano. Essa aliança rendeu ainda o estímulo a<br />
cultura que se identificou como Renascimento<br />
Carolíngio, no qual as atividades intelectuais nos<br />
mosteiros, a escrita da história dos francos, a preservação<br />
do legado greco-romano e a produção artística foram<br />
bastante estimulados.<br />
A enorme expansão territorial, a diversidade de povos<br />
dominados, a intensão de ampliação de autoridade local<br />
por parte dos nobres, a morte de Carlos Magno, os<br />
enfrentamentos com muçulmanos e uma nova onda de<br />
invasões barbaras no século IX contribuíram para<br />
fragilizar o Império a partir da sucessão de Luís, O<br />
Piedoso, culminando com a disputa dinástica entre seus<br />
filhos, que em 843 teriam dividido entre si o território<br />
carolíngio através do Tratado de Verdun. Essa<br />
fragilidade da autoridade central, as constantes ondas de<br />
ameaças e a pulverização do poder nas mãos da nobreza<br />
dariam o formato final àquilo que se convencionou<br />
chamar de ordem feudal propriamente dita.<br />
Originada na palavra latina feudum, que significa posse<br />
ou domínio, o Feudalismo é a definição do sistema que<br />
se estruturou na Europa a partir do século IX, numa<br />
decorrência do longo processo de fusão de<br />
características germânicas e romanas e da imediata<br />
condição do agravamento da insegurança gerada pela<br />
nova onda de invasões bárbaras e da aceleração do<br />
processo de fragmentação politica decorrente da<br />
fragmentação do Império Carolíngio. A autoridade dos<br />
nobres aumentou a partir da posse de suas terras e da sua<br />
capacidade militar de defesa das mesmas, os<br />
trabalhadores e camponeses colocaram-se sob sua tutela,<br />
numa relação de obediência e prestação de serviços, ao<br />
mesmo tempo em que se consagravam as relações de<br />
dependência e fidelidade no meio aristocrático.<br />
Embora seja possível apresentar certas características<br />
desse sistema, uma conceituação inquestionável e<br />
definitiva do feudalismo não é recomendada entre os<br />
historiadores. Desse modo, nesse trabalho, propõem-se<br />
os conceitos explicativos de Marc Bloch e Jacques Le<br />
Goff.<br />
“Um campesinato mantido em sujeição; uso generalizado<br />
do serviço foreiro (isto é, o feudo) em vez de salario (...);<br />
a supremacia de uma classe de guerreiros especializados;<br />
vínculos de obediência e proteção que ligam homem a<br />
homem e, dentro da classe guerreira, assumem a forma<br />
especifica denominada vassalagem; fragmentação da<br />
autoridade (...).<br />
BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1987<br />
“O feudalismo é o conjunto de laços pessoais que unem<br />
entre si, hierarquicamente, os membros das camadas<br />
dominantes da sociedade. Tais laços apoiam se numa<br />
base real: o benefício que o senhor concede a seus<br />
vassalos em troca de certo número de serviços e de um<br />
juramento de fidelidade. Em sentido estrito, o feudalismo<br />
é a homenagem e o feudo.”<br />
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005. P.<br />
84<br />
3.1 ESTRUTURA POLÍTICA FEUDAL<br />
3. A EUROPA FEUDAL<br />
No auge do sistema feudal, embora os reis<br />
representassem as monarquias medievais, mantinham sua<br />
autoridade pulverizada na ação crescente da nobreza<br />
proprietária de terra; tal processo iniciou-se com a<br />
própria crise do mundo romano, que desencadeou um<br />
acentuado processo de migração das cidades ao campo,<br />
abrindo precedente ao fortalecimento dos grandes<br />
proprietários; o fracasso da experiência centralizadora do<br />
111
Império Carolíngio e os constantes conflitos com outras<br />
populações impediram o pleno retorno e manutenção da<br />
unidade politica centralizadora do mundo antigo.<br />
A fragilidade de um Estado representativo e o clima<br />
preponderante de tensão e desordem levou os indivíduos<br />
à consagração de vínculos e relações de dependência<br />
pessoal, que entre os camponeses e os aristocratas se<br />
pautou nas relações de temor e sobrevivência e entre os<br />
aristocratas nas relações de fidelidade herdada das<br />
tradições guerreiras germânicas. Entre os germânicos,<br />
identificava se como comitatus o vinculo de fidelidade<br />
que relacionava os guerreiros a um chefe tribal ou<br />
comandante militar, estabelecendo entre eles obrigações<br />
mútuas. Com as vitórias alcançadas, era comum o<br />
estabelecimento do beneficium, isto é, a concessão do<br />
direito ao uso da terra como remuneração a um<br />
determinado serviço.<br />
Tais relações ganhariam afirmação à época do governo<br />
de Carlos Magno e continuariam a ser na ordem feudal o<br />
principal instrumento de transmissão de propriedade<br />
e manutenção da autoridade entre os nobres medievais.<br />
Ressignificada na relação de suserania e vassalagem, os<br />
antigos costumes germânicos citados restringiam-se à<br />
classe nobre, constituindo laços contratuais entre dois<br />
homens livres. O suserano tinha garantida a prestação<br />
leal de serviços militares para conquista de novas terras e<br />
defesa das suas posses, enquanto o vassalo, prestador do<br />
serviço militar, recebia o beneficio das terras, o feudo,<br />
tornando-se um senhor feudal. Tal relação contribuiu<br />
ainda mais para a dissolução da autoridade real e a<br />
consolidação da autoridade local, em que esses senhores,<br />
em suas propriedades podiam aplicar a justiça, segundo<br />
orientação do direito consuetudinário, isto é, baseado<br />
nos costumes e tradições particulares, proteção,<br />
administração e fiscalização das atividades produtivas.<br />
3.2 ECONOMIA FEUDAL<br />
No feudalismo a produção econômica deve ser<br />
caracterizada por um evidente processo de retração e<br />
estagnação. Tanta a atividade agrícola se mostrou<br />
rudimentar, quanto a produção artesanal e o comércio<br />
demonstraram-se bastante restritos. A redução<br />
demográfica resultante das ondas de violência, a<br />
persistência de uma realidade conflituosa e o fechamento<br />
do Mediterrâneo a partir da dominação muçulmana no<br />
norte africano contribuiram para uma produção de<br />
subsistência e brusca diminuição da atividade comercial.<br />
As atividades produtivas estavam majoritariamente<br />
restritas ao campo, decorrência do intenso processo de<br />
ruralização do período.<br />
O feudo, espaço privilegiado das atividades produtivas e<br />
das relações sociais, tinha dimensões territoriais variadas<br />
e eram geralmente propriedades dos nobres ou de<br />
membros do clero. O senhorio tinha seu espaço físico<br />
organizado e dividido de modo a reproduzir em seu uso e<br />
apropriação as próprias hierarquias sociais vigentes.<br />
Representação de um feudo medieval<br />
O manso senhorial correspondente a cerca de um terço<br />
do feudo, encontravam-se as terras de melhor qualidade,<br />
o castelo, residência fortificada do senhor e os espaços<br />
produtivos, como moinhos, fornos, celeiros. A produção<br />
ficava a encargo dos camponeses, que cumpriam a<br />
corveia, trabalho não remunerado nas terras do senhor,<br />
no cultivo e outros serviços como construção,<br />
manutenção e reparos diversos; ao senhor e sustento de<br />
sua família destinava toda a colheita.<br />
O manso servil ou gleba identificava a faixa de terras<br />
dividida em lotes e destinada sob arrendamento para os<br />
camponeses fixarem residências, produzirem sua<br />
subsistência e o pagamento em produtos dos muitos<br />
impostos fixados por seu senhor. O usufruto da terra por<br />
esses camponeses era taxado pelo senhor, que cobrava<br />
lhes a talha, ou seja, percentagem da produção entregue<br />
pelos camponeses ao senhor.<br />
Já o manso comunal correspondia às terras do feudo<br />
onde era garantido o uso compartilhado de senhores e<br />
servos, constituído por bosques, pomares, áreas de<br />
112
pastagens, garantindo o fornecimento de alimentos como<br />
leite e mel, lenha, madeira para construções, lã para<br />
fiação e a exclusividade da caca aos nobres.<br />
A relação contratual entre os senhores e os camponeses<br />
forjou a servidão como forma principal de trabalho do<br />
Medievo ocidental. Originado nas relações de trabalho<br />
do antigo colonato à época da crise do Império Romano,<br />
o servo medieval vinculava-se diretamente à terra, como<br />
propriedade dela, embora devesse cumprir obrigações em<br />
relação ao senhor dessa terra, pela proteção recebida e<br />
direito a nela residir. Além da corveia e talha citados,<br />
destacava-se ainda as banalidades, taxas pelo uso de<br />
moinho, fornos, e outras instalações e instrumentos de<br />
trabalho do senhor, a mão morta, cobrado pela<br />
transferência hereditária para permitir que o filho do<br />
camponês permanecesse na terra, e mais obrigação de<br />
conceder hospedagem ao senhor e fornecer produtos para<br />
custeio de dotes e festividades.<br />
Diferença entre escravidão e servidão<br />
a terra). Os servos são trabalhadores rurais que estão<br />
vinculados à terra, formando a classe social mais baixa<br />
da sociedade feudal. À diferença dos escravos, os servos<br />
não eram propriedade de ninguém e não podiam ser<br />
vendidos, pois não eram como escravos, que eram<br />
propriedade dos donos. A servidão implica o trabalho<br />
forçado dos servos nos campos dos senhores de terras,<br />
em troca de proteção e do direito arrendar terras para<br />
subsistência. Ademais do trabalho na terra, os servos<br />
executavam diversos trabalhos relacionados com<br />
agricultura, como silvicultura, transporte (por terra e por<br />
rio), artesanato e mesmomanufatura.<br />
A servidão evoluiu a partir da estrutura fundiária do<br />
Baixo Império Romano, caracterizada pela existência<br />
delatifúndios nos quais a mão-de-obra era formada por<br />
arrendatários que trabalhavam nos campos do<br />
proprietário e recebiam um lote de terra para a sua<br />
subsistência, mediante aluguel. Com a instabilidade do<br />
Império nos séculos III e IV d.C., diversos pequenos<br />
proprietários passaram a vender suas terras para os<br />
grandes senhores de terras e a empregar-se nos<br />
latifúndios como arrendatários, em troca de proteção.<br />
A servidão disseminou-se na Europa no século X e<br />
tornou-se a forma predominante de organização do<br />
trabalho agrário europeu durante toda a Idade Média.<br />
Sobreviveu na Inglaterra até o século XVII, na França<br />
até a Revolução Francesa (1789) e, na maioria dos países<br />
europeus, até o início do século XIX. Na Rússia, a<br />
servidão durou até1861, tendo sido o último país do<br />
mundo a libertar seus servos.<br />
A servidão praticamente não existiu em Portugal, devido<br />
à existência de terra livre abundante nas regiões<br />
conquistadas aos árabes no sul do país. A fuga dos<br />
camponeses para essas terras — cujos novos senhores,<br />
para atrair trabalhadores, davam boas condições de<br />
trabalho — o<br />
norte, impedindo o desenvolvimento da servidão da<br />
gleba.<br />
Escravidão & Servidão<br />
A servidão é o status legal e econômico dos camponeses<br />
("servos") no feudalismo, especialmente no âmbito do<br />
sistema econômico da "senhoria" (direitos feudais sobre<br />
A escravidão (denominada também escravismo,<br />
escravagismo e escravatura) é a prática social em que um<br />
ser humano assume direitos de propriedade sobre outro<br />
designado por escravo, ao qual é imposta tal condição<br />
por meio da força. Em algumas sociedades, desde os<br />
tempos mais remotos, os escravos eram legalmente<br />
definidos como uma mercadoria. Os preços variavam<br />
conforme as condições físicas, habilidades profissionais,<br />
a idade, a procedência e o destino.<br />
113
O dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou<br />
trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer<br />
qualquer direito e objeção pessoal ou legal, mas isso não<br />
é regra. Não era em todas as sociedades que o escravo<br />
era visto como mercadoria: na Idade Antiga, haja vista<br />
que os escravos de Esparta, os hilotas, não podiam ser<br />
vendidos, trocados ou comprados, isto pois ele eram<br />
propriedade do Estado espartano, que podia conceder a<br />
proprietários o direito de uso de alguns hilotas; mas eles<br />
não eram propriedade particular, não eram pertencentes a<br />
alguém, o Estado que tinha poder sobre eles. A<br />
escravidão da era moderna está baseada num forte<br />
preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico ao qual<br />
pertence o comerciante é considerado superior, embora<br />
já na Antiguidade as diferenças raciais fossem bastante<br />
exaltadas entre os povos escravizadores, principalmente<br />
quando havia fortes disparidades fenotípicas. Na<br />
antiguidade também foi comum a escravização de povos<br />
conquistados em guerras entre nações. Enquanto modo<br />
de produção, a escravidão assenta na exploração do<br />
trabalho forçado da mão-de-obra escrava. Os senhores<br />
alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto<br />
restante do trabalho destes<br />
http://sociologiaeducao.blogspot.com.br/2011/05/escravidao-servidao.html<br />
3.3 SOCIEDADE FEUDAL<br />
Hierarquização e desigualdade se configuraram nas<br />
principais caracterizações da sociedade feudal.<br />
Propriedade da terra, nascimento e ocupações<br />
estabeleceram os privilégios e hierarquias entre os<br />
homens do mundo feudo-medieval. A pouca mobilidade<br />
social e dificuldade de movimentação vertical na<br />
pirâmide social, sustentou-se especialmente na<br />
justificativa ideológica da Igreja Católica, que<br />
consolidou uma visão daquela sociedade, segundo uma<br />
ordem divina, dividida em três ordens ou estamentos<br />
sociais, com funções previamente determinadas pela<br />
vontade do Altíssimo.<br />
“[Deus] fez ordens, que instituiu em vista das diversas<br />
missões a realizar neste mundo. Instituiu uns os clérigos<br />
e monges para que rezassem pelos outros (...). Instituiu<br />
os camponeses para que eles (...) com o seu trabalho,<br />
assegurassem a sua própria subsistência e a dos outros.<br />
A outros, por fim, os guerreiros, instituiu-os para que<br />
(...) defendessem dos inimigos, (...) os que oram e os que<br />
cultivam a terra.” Bispo Eadmer de Canterbury, séc XI<br />
3.3.1 CLERO MEDIEVAL<br />
Idade da Fé, assim ficou também designada a Idade<br />
média. Tal fato definiu-se pela crescente importância que<br />
a Igreja Medieval e os membros do clero assumiram. A<br />
Igreja ofereceu o exemplo de estabilidade e centralização<br />
em meio a uma autoridade e realidade fragmentadas,<br />
exercendo papéis variados que vão desde a ordenação<br />
moral, representação espiritual entre Deus e os homens,<br />
proprietários materiais, preservação e determinação<br />
cultural, ações filantropas e controle de comportamento,<br />
recorrendo inclusive ao uso da violência.<br />
Em meio a tantas diferenças regionais, a fé cristã era o<br />
elemento que formava o pertencimento de uma grande<br />
comunidade supranacional na Europa Medieval. Isso<br />
explica a importância do batismo como marco na<br />
inserção do homem na comunidade dos crentes e a<br />
excomunhão como condição para a perda inclusive de<br />
direitos civis e políticos, além da salvação espiritual.<br />
Foi da responsabilidade da Igreja e de seus mosteiros o<br />
importante papel de preservação do conhecimento da<br />
Antiguidade, bem como da restrição do acesso a esse<br />
conhecimento a seus membros e da ressignificação e<br />
adequação a seus interesses e formas de controle através<br />
de suas autoridades. Prestaram ainda importante auxílio<br />
aos doentes, órfãos e miseráveis de todos os tipos,<br />
através de uma ação filantrópica com eco ainda hoje em<br />
suas atividades. O próprio cotidiano, festividades e<br />
ritmos de trabalho eram definidos a partir dos<br />
calendários litúrgicos e das concepções eclesiásticas de<br />
tempo.<br />
114
3.3.2 A NOBREZA MEDIEVAL<br />
O grupo dos nobres era constituído pelos membros da<br />
aristocracia guerreira e proprietária dos feudos, divididos<br />
em várias titulações hierárquicas como duques,<br />
marqueses e barões, os senhores feudais propriamente<br />
ditos. Vinculava-se a esse grupo uma suposta vocação<br />
guerreira, condição definida por uma suposta função<br />
divina, o que levava esse grupo social a constituição da<br />
importante instituição da cavalaria.<br />
A cavalaria medieval se constituiu como principal<br />
mecanismo de defesa para a proteção dos interesses da<br />
nobreza durante o feudalismo. A cavalaria era<br />
exclusivamente formada por nobres. De acordo com a<br />
sociedade de ordens na Idade Média, a divisão social era<br />
composta pelos que oravam (clero), os que trabalhavam<br />
(servos) e os que guerreavam (nobres).<br />
Segundo estudiosos do feudalismo, os nobres se<br />
ocupavam da guerra permanentemente. Os componentes<br />
de uma cavalaria geralmente eram filhos de nobres que<br />
não tinham o direito há heranças patrimoniais, sobretudo<br />
nas famílias com maior número de pessoas, nas quais o<br />
filho primogênito seria o herdeiro. Essa prática era<br />
denominada primogenitura (quando o filho mais velho<br />
herdava todos os bens da família) e seu principal objetivo<br />
era evitar a divisão dos bens patrimoniais da família.<br />
leal, destemido e generoso (protegiam os fracos e<br />
oprimidos).<br />
A formação de um cavaleiro acontecia durante toda a<br />
sua vida, não era de um momento para outro que alguém<br />
se tornava membro de uma cavalaria. Para conseguir esse<br />
feito, os homens tinham que dedicar suas vidas.<br />
Quando a criança completava 7 anos de idade, estava<br />
começando sua vida de cavaleiro, ou seja, era quando a<br />
criança começava a cavalgar e a ter lições de boas<br />
maneiras. Ao completar 14 anos, ela se tornava escudeira<br />
(sua principal função era levar o escudo do senhor até a<br />
zona de batalha).<br />
Ao completar 18 anos, o aprendiz de cavaleiro se<br />
tornava cavaleiro. Na cerimônia de investidura no cargo<br />
ele recebia a espada, o capacete e o escudo. A partir daí<br />
iniciava-se o ritual de formação do cavaleiro: primeiro<br />
acontecia o jejum de 24 horas, posteriormente tomava<br />
um banho purificador para rezar.<br />
Após o cavaleiro realizar a oração, ele era<br />
vestido de uma túnica e era levado até o sacerdote para<br />
ser abençoado com a sua espada. Finalizando o ritual, o<br />
cavaleiro se ajoelhava escutando as leis da cavalaria e<br />
jurava sobre a Bíblia proteger o rei, defender os cristãos<br />
contra os infiéis (mulçumanos, pagãos), ser leal à Igreja e<br />
ao rei e ter generosidade.<br />
Leandro Carvalho.<br />
Disponivel em: http://www.brasilescola.com/historiag/cavalaria-medieval.htm<br />
Acesso em 03 de novembro de 2014<br />
3.3.3 A CLASSE PRODUTIVA<br />
A Igreja Católica exerceu enormes influências no<br />
processo de composição das cavalarias e designou que as<br />
ações dos cavaleiros seriam efetivadas para defender a<br />
moralidade da religião cristã.<br />
Para que um nobre se tornasse cavaleiro na Idade<br />
Média era realizada uma cerimônia religiosa seguida por<br />
um juramento, em que o cavaleiro se comprometia a<br />
seguir os princípios da fé e da moralidade cristã. O<br />
cavaleiro medieval até hoje está presente em nossa<br />
mentalidade ocidental como a figura de um homem forte,<br />
115
Os trabalhadores medievais na Europa Ocidental feudal<br />
foram essencialmente camponeses, que segundo a<br />
justificativa católica do período, deveriam cumprir a<br />
função produtiva em retribuição à salvação conduzida<br />
pelo clero e à proteção garantida pelos nobres. Eram em<br />
sua maioria servos, explorados diretamente por seus<br />
senhores.<br />
Entretanto, a camada produtiva de trabalhadores<br />
medievais não deve ser restrita apenas àqueles<br />
condicionados à servidão. A escravidão, por exemplo,<br />
embora pouco recorrente, ainda ocorria no ocidente,<br />
especialmente em trabalhos domésticos nos castelos e em<br />
regiões de dominação muçulmana. Outro grupo<br />
destacável é o dos vilões, categoria de trabalhadores<br />
livres, que vagavam pelos feudos oferecendo certos<br />
serviços especializados, que poderiam inclusive adquirir<br />
pequenas propriedades, mas que ainda assim pagavam<br />
banalidades ou dependiam da proteção de grandes<br />
senhores.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
OS TIPOS HUMANOS:<br />
- dos pares ao esquema tri-funcional: o monge, o<br />
cavaleiro, o camponês.<br />
As sociedades esforçam-se por descrever as suas<br />
estruturas com a ajuda de esquemas que satisfaçam duas<br />
condições: corresponder às realidades sociais concretas e<br />
oferecer àqueles que queiram refletir sobre essas<br />
sociedades e/ ou governá-las, meios intelectuais<br />
apropriados.<br />
A sociedade medieval foi, mais do que muitas outras,<br />
uma sociedade de oposições e, se recusou o<br />
maniqueísmo doutrinal, praticou um maniqueísmo de<br />
fato através de oposições de tipo bons/maus, ou então, de<br />
tipo superior/inferior.<br />
A cristandade foi, assim, representada muitas vezes<br />
por esquemas binários, por pares antitéticos, sendo o<br />
mais geral, e o mais importante, a oposição<br />
clérigos/leigos, normal numa sociedade dominada por<br />
uma religião gerida pelo clero. O poder também foi uma<br />
importante linha divisória. Na Alta Idade Média, isso<br />
traduziu-se na oposição potens/pauper, poderoso/pobre,<br />
substituída, a partir do século XIII, pela oposição<br />
rico/pobre, que refletia a evolução da economia<br />
monetária e a promoção da riqueza como fonte ou<br />
consequência do poder.<br />
Todavia, o fato de terem tomado consciência de que a<br />
sociedade se ia tornando mais complexa, levou os<br />
homens da Idade Média a preferirem esquemas mais<br />
articulados do que o simplista sistema binário. Assim<br />
podiam explicar melhor um jogo social mais complexo.<br />
Um dos primeiros esquemas desse tipo foi o que<br />
introduziu, simplesmente, uma classe intermediária, a<br />
classe de quem se situava entre as classes extremas do<br />
grande e dos pequenos: majores, medíocres, minores.<br />
Este esquema foi particularmente válido no inicio do<br />
século XII, quando os burgueses das cidades se<br />
apresentavam como medíocres entre a aristocracia dos<br />
grandes, leigos e eclesiásticos, e a massa dos camponeses<br />
e dos citadinos.<br />
Mas o esquema que mais sucesso teve entre os<br />
clérigos e o que mais sucesso tem, atualmente, entre os<br />
historiadores, é o tri funcional que Georges Dumézil<br />
distinguiu como uma das estruturas fundamentais da<br />
cultura indo-europeia. Esse esquema reconhece a<br />
existência, no espírito e nas instituições das sociedades<br />
que são herdeiras dessa cultura, de três funções<br />
necessárias ao seu bom funcionamento: uma primeira<br />
função, de soberania mágica e jurídica, uma segunda de<br />
força física, e uma terceira, de fecundidade. Ausente na<br />
Bíblia, surge no Ocidente cristão nos séculos IX-X e<br />
impõe-se a partir de um texto do bispo Adalberon de<br />
Laon no seu Poème au Roi Robert (le Pieux), por volta<br />
de 1030. Adalberon distingue três componentes na<br />
sociedade cristã: oratores, bellatores e laboratores, ou<br />
seja, os que rezam, os que combatem e os que trabalham,<br />
o que corresponde ao panorama social a seguir ao ano<br />
mil. Em primeiro lugar, estão os clérigos e, mais em<br />
especial, os monges, cuja função é a oração, que os põe<br />
em ligação com o mundo divino e lhes dá um enorme<br />
poder espiritual na terra; depois, os guerreiros e,<br />
nomeadamente, o novo estrato social dos que combatem<br />
a cavalo e que virá a transformar-se numa nova nobreza,<br />
a cavalaria, que protege pelas armas as outras duas<br />
classes; finalmente, o mundo do trabalho, representado<br />
essencialmente pelos camponeses, cujas condições<br />
jurídico-sociais tendem a unificar-se e que, com o<br />
produto de seu trabalho, possibilitam a vida das outras<br />
duas classes. Sociedade aparentemente harmônica,<br />
complementar, onde os trabalhadores gozam de uma<br />
promoção, se não social, pelos menos ideológica. De<br />
fato, o esquema ideológico não tardará a juntar-se à<br />
realidade social, reforçando-a: a aplicação do esquema<br />
bíblico dos três filhos de Noé ao esquema tri-funcional<br />
permite subordinar a terceira classe às outras duas; tal<br />
como Caim, o mais irreverente nas suas relações com o<br />
116
pai, se tornou escravo dos dois irmãos, Sem e Iafet. O<br />
esquema, aparentemente igualitário, reforça a<br />
desigualdade social existente entre as três classes.<br />
Os monges tinham pretensão à hegemonia social e<br />
uma mentalidade elitista. Apresentam-se como os únicos<br />
herdeiros autênticos da Igreja primitiva e descrevem as<br />
condições de vida dos homens segundo uma hierarquia<br />
de moralidade e de mérito no vértice da qual se colocam<br />
a eles próprios. Vivendo mais sujeito a uma regra do que<br />
como eremita, isolado e independente, o monge encarna<br />
os ideais de obediência e disciplina. Se procura Deus na<br />
oração e na solidão, também procura a tranquilidade e a<br />
paz. Reza pela salvação dos outros homens, mas<br />
pretende adquirir acima de tudo a perfeição e a sua<br />
salvação pessoal. O mosteiro surge-nos como uma ilha,<br />
um oásis e, simultaneamente, uma cidade, uma cidade<br />
santa. O monge tem uma relação tanto com Deus como<br />
com o Diabo, de quem é a presa privilegiada. Perito nas<br />
agressões de Satanás, protege os outros homens do<br />
“antigo inimigo”. É igualmente um especialista da morte,<br />
através das necrologias que existem nos mosteiros e que<br />
constituem cadeias de oração pelos defuntos. É um<br />
conselheiro e um mediador, sobretudo dos grandes. E<br />
também é um homem de cultura, um conservador da<br />
cultura clássica, um perito na leitura e na escrita, graças<br />
ao scriptoium dos mosteiros, à biblioteca e oficina de<br />
cópia e decoração dos manuscritos. Reúne em si o “vigor<br />
intelectual e a exuberância emotiva” e “uma sabedoria da<br />
escrita que sabe exprimir e matizar sensações, desvios,<br />
sutis atenções e segredos”. O mosteiro é a antecâmara do<br />
paraíso e o monge é o mais habilitado para se tornar um<br />
santo.<br />
O cavaleiro vive entre a violência e a paz, o sangue e<br />
Deus, a rapina e a proteção dos pobres. Desde que<br />
aparece, pela primeira vez, na biografia de S. <strong>Geral</strong>do<br />
d´Aurillac, do abade Odon de Cluny, no século X, tende<br />
a transformar-se no miles Christi, no cavaleiro de Cristo.<br />
A “Reconquista” espanhola e as cruzadas abrem um<br />
vasto campo ao seu espírito de aventura, à sua devoção e<br />
ao seu lugar no mundo da fantasia. É ele o herói dos<br />
primeiros grandes textos literários em língua vulgar,<br />
desde a Chanson de Roland ao Mio Cid. Cria - e criamlhe<br />
- uma ética cavaleiresca que oscila entre a coragem<br />
guerreira e a prudência, a sabedoria: “Rolando é bravo,<br />
mas Olivier é prudente”. O cavaleiro desempenha um<br />
papel essencial na descoberta do amor moderno e o seu<br />
comportamento sexual oscila entre a violência obscena e<br />
o requinte da “gioia” de amor, do amor longínquo. É<br />
também o protagonista da promoção dos “jovens”.<br />
Animado por um furor guerreiro e de um impulso<br />
místico, é, simultaneamente “santo e carniceiro”. A<br />
cristianização dos antigos ritos bárbaros da entrega das<br />
armas cria um rito de passagem essencial para o jovem<br />
guerreiro: a investidura. No século XII, S. Bernardo<br />
abençoou o nascimento de uma nova cavalaria: a dos<br />
monges guerreiros das ordens militares. Como o monge,<br />
o cavaleiro é um herói da pugna spiritu-alis, da luta<br />
contra o demônio. Como Parsifal, o cavaleiro torna-se<br />
um místico e a aventura cavaleiresca transforma-se na<br />
busca religiosa do Graal. O imaginário cavaleiresco, que<br />
perdurará até Cristóvão Colombo, conquistador místico,<br />
apoia-se num fundo “mítico-folclórico” e nas miragens<br />
do Oriente.<br />
O imaginário cavaleiresco exprime-se na caça, na<br />
heráldica, nos bestiários e, nos torneios, contra os quais a<br />
Igreja acaba por se revelar sobretudo impotente, após<br />
uma proibição de um século (1215-1316). As instituições<br />
e a cultura cavaleirescas foram um dos principais<br />
motores do “processo de civilização” descrito por Nobert<br />
Elias. O camponês medieval situa-se em duas grandes<br />
vertentes da demografia que, no início do século XIV, vê<br />
duplicar a população do Ocidente do ano mil, reduzida<br />
depois, até meados do século XV, pela peste, pela<br />
carestia e pela guerra. Essas duas vertentes são a<br />
diversidade das paisagens agrárias e dos tipos de habitat,<br />
densos ou disseminados, e a luta contra a natureza, que<br />
se manifestou pelos arroteamentos. (cultivo de terras<br />
antes incultas) e pela criação dos polders (planícies antes<br />
ocupadas pelas águas). Apresenta-se angustiado, à<br />
procura da estabilidade alimentar e preocupado com a<br />
sua autossuficiência, mais inclinado, portanto, para a<br />
multiplicidade das culturas e privilegiando o cultivo dos<br />
cereais. O camponês é, acima de tudo, um produtor de<br />
pão, numa sociedade onde a primeira hierarquia é a da<br />
cor, mais ou menos branca, e da qualidade do pão que<br />
cada um come. É um trabalhador ameaçado pela<br />
fragilidade da agricultura em relação à natureza e pela<br />
escassez dos rendimentos. Pode também ser o homem<br />
das culturas especializadas, ricas ou pobres, da vinha, da<br />
oliveira, da castanha, ou alguém que se dedica à<br />
exploração dos bosques. A camponesa é, sobretudo, uma<br />
trabalhadora têxtil, uma fiandeira. Mal descrito nos<br />
textos, o camponês destacou-se nas espantosas<br />
representações artísticas dos trabalhos dos meses.<br />
Homem que vive de preferencia ao ar livre, no Inverno<br />
mata o porco e come-o, lentamente, à volta da lareira.<br />
Socialmente, o camponês evoluiu entre o senhor e a<br />
comunidade rural. Como afirma Cherubini, por um lado,<br />
é o habitante de uma aldeia desde os tempos antigos e<br />
mesmo pré-históricos; outros, porém, situam apenas no<br />
117
século IX a generalização do reagrupamento em aldeias.<br />
O senhor sobrecarrega-os com as corveias, depois com as<br />
dívidas em dinheiro, com as cobranças feitas o âmbito da<br />
senhoria banal (banalidades) e, em especial, com a<br />
sujeição ao monopólio senhorial do moinho. Oprimido,<br />
os camponeses é alguém que se empenha na luta social,<br />
que, na maioria dos casos, exerce uma resistência<br />
passiva, mas que, por vezes, explode em revoltas<br />
violentas. Entre os homens da Idade Média, o camponês<br />
está na primeira linha da luta contra os animais<br />
selvagens: o lobo, o urso, a raposa. É, sobretudo, através<br />
de fontes judiciárias que conhecemos a sua mentalidade.<br />
As fontes literárias manifestam desprezo e até ódio em<br />
relação ao camponês, analfabeto que, como alguém<br />
sugere, se situa entre o homem e o animal. É ele o<br />
principal praticante dessa religiosidade chamada<br />
“popular” e que a Igreja denominava “superstição”. Não<br />
há qualquer dúvida de que era um adepto das crenças e<br />
dos ritos a que chamamos “mágicos”. Por isso, esta<br />
personagem predominante numa sociedade agarrada à<br />
terra é, para a cultura e para a ideologia dominantes, um<br />
elemento marginal, apesar de ser um frequentador<br />
assíduo da igreja da aldeia. Mas, o desprezo que a<br />
sociedade lhe manifesta é retribuído. Em certos<br />
documentos e a partir de algumas de suas atitudes,<br />
transparece a sua aversão pelos senhores, pelos<br />
burgueses e pelos habitantes das cidades. As jacqueries a<br />
explosão de rancores antigos.<br />
EXERCÍCIOS<br />
01 - (UEL PR) Embora a ideia de transformação seja<br />
uma característica da modernidade, nos períodos<br />
anteriores, na Europa, ocorreram diversas mudanças nos<br />
campos político, econômico, científico e cultural. Podese<br />
afirmar que, com o declínio do Império Romano na<br />
Europa Ocidental, constituíram-se novas relações sociais<br />
entre os habitantes desses territórios, momento que foi<br />
denominado pelos historiadores como Período Medieval<br />
Com relação a esse período, considere as afirmativas a<br />
seguir.<br />
I. Carlos Magno libertou o seu império do poderio papal<br />
por intermédio de alianças militares realizadas com a<br />
nascente nobreza mercantil de Veneza.<br />
118<br />
II. Os camponeses possuíam o direito de deixar as terras<br />
em que trabalhavam e migrar para os burgos pelo acordo<br />
consuetudinário com os suseranos.<br />
III. Os chefes guerreiros comandavam seus seguidores<br />
no Comitatus por meio de juramentos de fidelidade. Os<br />
nobres também realizavam esse pacto entre si.<br />
IV. O grande medo da população era ocasionado pelas<br />
invasões de bárbaros, pelas epidemias e pela fome. A<br />
crença em milagres se propagava rapidamente entre a<br />
população.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.<br />
02 - (UFJF MG) Observe a ilustração e leia a citação<br />
abaixo. Em seguida, responda ao que se pede.<br />
Coroação de Carlos Magno como imperador do Sacro<br />
Império Romano-Germânico, em dezembro de 800 d.C.,<br />
pelo papa Leão III.<br />
Fonte: Disponível em: http://www.suapesquisa.com./historia (Acesso em:8 out.<br />
2011).<br />
Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia aos<br />
poucos preenchendo os vazios deixados por ele até, em<br />
fins do século IV, identificar-se com o Estado, quando o<br />
cristianismo foi reconhecido como religião oficial. (...)
Estreitavam-se, portanto, as relações Estado-Igreja. (...)<br />
No Império Carolíngio, a aliança entre os reis e a Igreja<br />
foi fundamental para a consolidação de ambos os<br />
poderes e, por vezes, a Igreja assumia funções que hoje<br />
consideramos ser do Estado e este por sua vez interferia<br />
nos assuntos religiosos.<br />
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente. São Paulo:<br />
Brasiliense, 2001. p.67,71<br />
Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período<br />
medieval, responda:<br />
a) Qual a importância da Igreja Católica na<br />
administração dos reinos e impérios?<br />
b) De que maneira o poder régio contribuiu para a<br />
expansão da fé cristã?<br />
03 - (UEPG PR) Com relação à Igreja medieval,<br />
assinale o que for correto.<br />
01. A Igreja exerceu um verdadeiro monopólio do saber,<br />
uma vez que controlava o ensino. As escolas existentes<br />
pertenciam às paróquias e os professores, geralmente<br />
clérigos, difundiam uma visão de mundo teocêntrica.<br />
02. Apesar de todo o poder da Igreja medieval, não há<br />
registros sobre a sua interferência nas questões<br />
econômicas daquele período. As questões relacionadas<br />
aos princípios da usura e do lucro, por exemplo, não<br />
fizeram parte das preocupações da Igreja nos séculos<br />
medievais.<br />
trazidas pelos povos germanos para a formação de uma<br />
nova sociedade.<br />
(OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Antiguidade Tardia. São Paulo: Editora Ática,<br />
1990).<br />
Sobre as modificações ocorridas nesse período de<br />
transição, analise as afirmativas a seguir:<br />
I. No século IV, no Ocidente, a Igreja triunfara e se<br />
tornara, na prática, a dirigente das mentalidades no<br />
Império.<br />
II. As manifestações artísticas da época, a presença de<br />
cenas e de figuras ligadas ao cristianismo passam a ser<br />
dominantes.<br />
III. Os germanos destruíram a cultura romana e<br />
adaptaram a sua à nova sociedade, mudando<br />
completamente o cenário.<br />
IV. O surgimento do latim vulgar foi utilizado como<br />
língua franca, principalmente pelos proprietários, pelos<br />
cobradores de impostos e pelos bispos, o qual vai dar<br />
origem às línguas neolatinas.<br />
V. As principais estruturas germânicas que entraram na<br />
composição do feudalismo foram: colonato, vilas<br />
romanas, direito consuetudinário.<br />
Estão CORRETAS<br />
a) I, II e III. b) I, IV e V.<br />
c) I, II e IV. d) II, III e IV.<br />
e) III, IV e V.<br />
04. A Inquisição foi um dos mais poderosos instrumentos<br />
de controle empregados pela Igreja medieval. Forma<br />
extrema de reação contra as heresias que se opunham aos<br />
dogmas católicos, a Inquisição foi uma tentativa da<br />
Igreja em demonstrar força espiritual e material.<br />
08. Além dos assuntos religiosos, a Igreja também<br />
interferia nas chamadas questões mundanas,<br />
estabelecendo mecanismos de coerção para impor a sua<br />
autoridade para além do universo espiritual.<br />
04 - (UPE) Até o início do século XX, os historiadores<br />
davam pouca importância ao período final do chamado<br />
Mundo antigo, ainda deslumbrados com a grandeza<br />
alcançada pela civilização criada pelos gregos e romanos<br />
e entristecidos ante à trágica visão de uma Europa<br />
barbarizada. Pouco se reconhecia das contribuições<br />
05 - (UFBA) A Idade Média, na Europa, foi<br />
caracterizada pelo aparecimento, apogeu e decadência de<br />
um sistema econômico, político e social denominado<br />
“feudalismo”.<br />
Esse sistema começou a se estruturar na Europa, ao final<br />
do Império Romano do Ocidente (século V), atingiu seu<br />
apogeu no século X e registrou-se o seu declínio ao final<br />
do século XV. (MELLO; COSTA, 1994, p. 235).<br />
De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre o<br />
sistema econômico e político-administrativo que<br />
caracterizou o feudalismo na Europa, indique uma<br />
característica do seu apogeu, no século X, e um fator<br />
responsável pelo seu declínio no final do século XV.<br />
•Século X — apogeu:<br />
•Século XV — declínio:<br />
119
06 - (PUC RS) No ano de 800, Carlos Magno foi<br />
coroado imperador, na condição simbólica de sucessor<br />
dos Augustos. Esse ato, representativo da reconstituição<br />
de um sistema imperial no ocidente europeu, consolidava<br />
a aliança tradicional entre o reino dos _________ e a<br />
_________, vínculo fortalecido pelo combate à expansão<br />
_________ naquela região do continente.<br />
a) Francos; seita cristã albigense; bizantina<br />
b) Lombardos; Igreja cristã ortodoxa; islâmica<br />
c) Francos; Igreja cristã romana; islâmica<br />
d) Lombardos; seita cristã albigense; bizantina<br />
e) Francos; Igreja cristã romana; bizantina<br />
07 - (PUC SP) “O modo de produção feudal, tal como<br />
apareceu na Europa ocidental, deixava em geral aos<br />
camponeses apenas o espaço mínimo para aumentarem<br />
o produto de que dispunham dentro das duras limitações<br />
do sistema senhorial.”<br />
Perry Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. Porto: Afrontamento,<br />
1980, p. 208. Adaptado.<br />
O texto caracteriza o modo de produção feudal,<br />
destacando que<br />
a) havia classes distintas e opostas no feudalismo,<br />
embora a luta social fosse atenuada pelas amplas<br />
oportunidades de lucro que os senhores ofereciam<br />
aos camponeses.<br />
b) as relações de suserania e vassalagem e o caráter<br />
rural do feudalismo eliminaram as cidades e<br />
provocaram o declínio do comércio e das atividades<br />
de serviço.<br />
c) a possibilidade de melhoria da condição econômica<br />
dos camponeses era bastante restrita, devido ao<br />
conjunto de obrigações que estes deviam prestar aos<br />
senhores.<br />
d) as longas jornadas de trabalho nas lavouras e a<br />
ampla gama de impostos impediam os camponeses<br />
de ascenderem socialmente e provocavam a ruína<br />
dos senhores de terras.<br />
e) havia oportunidades de transformação social no<br />
feudalismo, embora os camponeses raramente as<br />
aproveitassem, pois preferiam se dedicar<br />
prioritariamente ao trabalho.<br />
08 - (UFTM MG) Identifique a afirmação correta sobre<br />
a Idade Média Ocidental.<br />
a) Os “mendicantes” que circulam pelas cidades e<br />
pelos campos são sempre religiosos que se dedicam<br />
à obtenção de recursos para peregrinações à Terra<br />
Santa.<br />
b) As pessoas que, dada sua origem, ocupam as<br />
posições sociais mais elevadas recebem o nome de<br />
“senhores”, porque as terras que possuem são<br />
designadas “senhorias”.<br />
c) As relações de vassalagem e de servidão ocorrem no<br />
interior da nobreza e definem a submissão<br />
hierárquica dos senhores perante os reis.<br />
d) São vedadas as práticas de escravidão por dívida e<br />
guerra, mas os camponeses podem ser considerados<br />
propriedade dos senhores.<br />
e) Os religiosos são os únicos que têm direito de<br />
receber rendas e tributos pagos pelos camponeses.<br />
09 - (IFGO) Leia a descrição abaixo.<br />
Esses homens não recebiam salário, mas trabalhavam em<br />
troca de moradia e proteção. Eles trabalhavam em terras<br />
que não eram suas, mas de um proprietário que exigia<br />
parte da produção. Ali viviam até a morte, nunca<br />
podendo abandonar seu trabalho. Porém, eles não<br />
poderiam ser negociados ou expulsos da propriedade.<br />
Esse trabalhador descrito identifica-se como<br />
a) um homem que viveu sob o regime de parceria,<br />
trabalho típico da segunda metade do século XIX no<br />
Brasil.<br />
b) um escravo da Antiguidade romana, que não recebia<br />
salário nem terras, vivendo ao lado de seu<br />
proprietário.<br />
c) um servo feudal, preso à terra e às tradições<br />
medievais. Morava no feudo de seu senhor e pagava<br />
pela proteção recebida, a talha e a corveia.<br />
d) um colono que, após 20 anos de trabalho, recebia a<br />
propriedade da terra, através da Lei de Terras de<br />
1850.<br />
e) um vassalo que jurava obediência ao seu senhor, seu<br />
suserano. Além dos serviços agrícolas prestados,<br />
esse vassalo ia à guerra, defendendo os interesses de<br />
seu senhor.<br />
10 - (UFTM MG) As catedrais são imensas mas, acima<br />
de tudo, são altas, para impressionar aquele que as vê e<br />
as visita, e fazer com que sinta uma coisa muito<br />
importante: a altura do lugar reflete a altura de Deus no<br />
céu. As catedrais são dedicadas a ele, são a sua casa. E<br />
120
seu prestígio se estende àquele que o representa na<br />
terra: o bispo. Um outro aspecto mais banal teve<br />
certamente sua importância: as catedrais estão quase<br />
sempre situadas nas cidades, que concorrem entre si<br />
para ver qual delas terá a maior, a mais alta, a mais<br />
bela catedral.<br />
(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007. Adaptado.<br />
Segundo o texto, as catedrais medievais<br />
a) demonstram o poder de Deus na Terra e consolidam,<br />
por meio dos bispos, a supremacia do poder<br />
temporal sobre o poder religioso.<br />
b) revelam a impossibilidade humana de superar<br />
limites e barreiras na adoração a Deus e na<br />
edificação arquitetônica.<br />
c) têm importante caráter simbólico na construção e<br />
manutenção da fé religiosa e nas disputas políticas<br />
entre cidades.<br />
d) manifestam o despojamento e a pobreza sem<br />
ostentação dos líderes religiosos e políticos, pois a<br />
edificação das catedrais é justificada como prova do<br />
amor a Deus.<br />
e) são destituídas de significados religiosos, pois a<br />
principal preocupação de seus edificadores é<br />
confirmar o poder dos bispos e dos líderes políticos<br />
locais.<br />
11 - (UCS RS) O feudalismo substituiu o escravismo<br />
antigo, estabelecendo novas relações de trabalho,<br />
baseadas na mão de obra servil. No sistema feudal, os<br />
servos:<br />
a) poderiam ser vendidos como mercadorias e eram<br />
obrigados a trabalhar o tempo inteiro para o senhor<br />
feudal.<br />
b) estavam subordinados aos senhores feudais, por<br />
meio de obrigações, tais como: a corveia e as<br />
banalidades.<br />
c) eram trabalhadores livres, podendo pedir demissão e<br />
procurar outro emprego sempre que quisessem.<br />
d) eram, na sua maioria, prisioneiros de guerra,<br />
podendo ser trocados e vendidos nos mercados<br />
locais.<br />
e) recebiam salário compatível com o trabalho<br />
executado: quanto mais trabalhassem, mais<br />
ganhavam.<br />
12 - (Fac. Direito de Sorocaba SP) Portanto, a cidade<br />
de Deus, que se crê única, está dividida em três ordens:<br />
alguns rezam, outros combatem, outros trabalham. Estas<br />
três ordens vivem juntas e não suportariam uma<br />
separação. Adalberto, Bispo de Laon. O texto se refere:<br />
a) à República romana, em que sacerdotes pagãos<br />
controlavam a religião, generais comandavam o<br />
exército e escravos trabalhavam na terra.<br />
b) ao final do Império Romano, quando o cristianismo<br />
tornou-se a religião oficial, o exército ganhou<br />
importância e o escravismo atingiu o seu apogeu.<br />
c) à sociedade feudal, em que o clero fazia o serviço<br />
religioso, a nobreza guerreava e os servos<br />
trabalhavam na terra para os seus senhores feudais.<br />
d) ao final da Idade Média, em que a Igreja tinha muito<br />
poder, os exércitos eram constituídos por servos e os<br />
burgueses trabalhavam com o comércio.<br />
e) ao Antigo Regime, no qual o direito divino conferia<br />
legitimidade ao Absolutismo, as guerras eram<br />
religiosas e a nobreza vivia na corte, em torno do rei.<br />
13 - (FUVEST SP) A palavra “feudalismo” carrega<br />
consigo vários sentidos. Dentre eles, podem-se apontar<br />
aqueles ligados a<br />
a) sociedades marcadas por dependências mútuas e<br />
assimétricas entre senhores e vassalos.<br />
b) relações de parentesco determinadas pelo local de<br />
nascimento, sobretudo quando urbano.<br />
c) regimes inteiramente dominados pela fé religiosa,<br />
seja ela cristã ou muçulmana.<br />
d) altas concentrações fundiárias e capitalistas.<br />
e) formas de economias de subsistência pré-agrícolas.<br />
14 - (MACK SP) A <strong>História</strong> nos mostra que as<br />
concepções acerca do trabalho, suas funções e<br />
significações se transformaram ao longo do tempo. A<br />
esse respeito, leia o texto que se segue:<br />
“(...) conforme o esquema trifuncional indo-europeu<br />
estruturado por Georges Dumézil, a partir do século XI,<br />
a sociedade cristã é frequentemente descrita como<br />
composta de homens que oram (oratores, os clérigos), de<br />
homens que guerreiam (bellatores, os guerreiros) e,<br />
enfim, de homens que trabalham (laboratores, na época,<br />
essencialmente camponeses). Mesmo que vários textos<br />
enfatizem que os laboratores são inferiores aos oratores<br />
e bellatores, o surgimento dos trabalhadores no esquema<br />
121
constitutivo da sociedade exprime a promoção do<br />
trabalho e daqueles que o praticam”.<br />
Jacques Le Goff. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, v.II, pp.568-569.<br />
Pela análise do trecho, é incorreto afirmar que<br />
a) a crise do feudalismo, a partir do século XI,<br />
promoveu alterações na mentalidade medieval<br />
acerca do trabalho, uma vez que, mesmo depreciado,<br />
reconhecia-se sua importância para a própria<br />
existência do mundo feudal.<br />
b) mesmo que a Idade Média seja, tradicionalmente,<br />
um período de depreciação do trabalho manual,<br />
houve inegáveis mudanças nesse sentido,<br />
principalmente a partir do século XI, como apontado<br />
no texto.<br />
c) os bellatores, terceira ordem feudal, responsáveis<br />
pela defesa dos camponeses, determinavam todas as<br />
concepções acerca do trabalho, uma vez que eram os<br />
donos das terras e os responsáveis pela produção<br />
agrícola.<br />
d) a divisão tradicional da sociedade medieval em três<br />
ordens revela a importância que o trabalho adquiria<br />
naquele momento, mas também nos mostra a<br />
necessidade de se justificar o domínio sobre os<br />
camponeses.<br />
e) diferentes civilizações, ao longo da <strong>História</strong>,<br />
necessitam de justificativas e de padrões culturais<br />
aceitos pelo conjunto da sociedade, com o intuito de<br />
garantir o domínio, de certas parcelas, sobre o<br />
conjunto da população.<br />
15 - (UNESP SP) (...) o elemento religioso não limitou<br />
os seus efeitos ao fortalecimento, no mundo da<br />
cavalaria, do espírito de corpo; exerceu também uma<br />
ação poderosa sobre a lei moral do grupo. Antes de o<br />
futuro cavaleiro receber a sua espada, no altar, era-lhe<br />
exigido um juramento, que especificava as suas<br />
obrigações. (Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)<br />
O texto mostra que os cavaleiros medievais, entre outros<br />
aspectos de sua formação e conduta.<br />
a) mantinham-se fieis aos comerciantes das cidades, a<br />
quem deviam proteger e defender na vida cotidiana e<br />
em caso de guerra.<br />
b) privilegiavam, na sua formação, os aspectos<br />
religiosos, em detrimento da preparação e dos<br />
exercícios militares.<br />
c) valorizavam os torneios, pois neles mostravam seus<br />
talentos e sua força, ganhando prestígio e poder no<br />
mundo medieval.<br />
d) agiam apenas de forma individual, realizando<br />
constantes disputas e combates entre si.<br />
e) definiam-se como uma ordem particular dentro da<br />
rígida estrutura feudal, mas mantinham vínculos<br />
profundos com a Igreja.<br />
16 - (UECE) Leia com bastante atenção a “Fórmula de<br />
Tours”, relativa ao séc. VIII d.C., que expressa um<br />
juramento pelo qual um homem livre se encomendava a<br />
um senhor.<br />
“Ao magnífico Senhor [...], eu [...]. Sendo bem sabido<br />
por todos quão pouco tenho para me alimentar e vestir,<br />
apelei por esta razão para a vossa piedade, tendo vós<br />
decidido permitir-me que eu me entregue e encomende<br />
ao vosso mundoburdus; o que fiz nas seguintes<br />
condições: devereis ajudar-me e sustentar-me tanto em<br />
víveres como em vestuário, enquanto vos puder servir e<br />
merecer; e eu, enquanto for vivo, deverei prestar-vos<br />
serviço e obediência como um homem livre, sem que me<br />
seja permitido em toda a minha vida, subtrair-me ao<br />
vosso poder e mundoburdus, mas antes deverei<br />
permanecer, para todos os dias da minha vida, sob o<br />
vosso poder e defesa. Logo, fica combinado que, se um<br />
de nós quiser deixar esta convenção, pagará [...] soldos<br />
à outra parte e o acordo permanecerá firme. Parece-nos<br />
pois conveniente que as duas partes interessadas façam<br />
entre si e confirmem dois documentos do mesmo teor, o<br />
que assim fizeram.”<br />
Espinosa, F. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa<br />
Editora, 1972.<br />
Esse juramento era proferido em um ritual que<br />
fundamentava o sistema feudal. Após proferi-lo, um<br />
homem passava a ser<br />
a) senhor feudal.<br />
b) vassalo de um senhor.<br />
c) domínio de um senhorio.<br />
d) suserano de um feudo.<br />
122
17 - (UEMA) Sobre o posicionamento da Igreja Católica<br />
durante o período conhecido como Idade Média (séculos<br />
V a XV), leia as assertivas abaixo.<br />
I. Era contra a ingerência dos leigos nas questões<br />
religiosas e, por isso, com a Reforma Gregoriana, proibiu<br />
essa interferência e exigiu a moralização do clero,<br />
tornando o celibato obrigatório.<br />
II. Foi a principal responsável pelo ensino através da<br />
criação das universidades, onde se aprendiam o trivium<br />
(Gramática, Retórica e Lógica) e o quadrivium<br />
(Aritmética, Geometria, Astronomia e Música).<br />
III. Era contra a venda de dinheiro a juros, usura,<br />
também considerada como a venda do tempo de Deus.<br />
Os que exerciam essa atividade eram aconselhados pelos<br />
clérigos a fazer penitências e doações para evitar o<br />
inferno após a morte.<br />
IV. Justificava a desigualdade social, afirmando que<br />
Deus quis que uns rezassem e outros trabalhassem; os<br />
camponeses só atingiriam a felicidade na outra vida, após<br />
terem sustentado com o seu trabalho os oratores e<br />
bellatores.<br />
V. Aprovava a convivência pacífica entre todas as<br />
religiões: cristã, judaica e muçulmana e, por esse motivo,<br />
condenou as Cruzadas, movimento cristão que também<br />
possuía interesses econômicos e políticos.<br />
Estão corretas as alternativas<br />
a) I, II, III e IV apenas.<br />
b) I, II, III, IV e V.<br />
c) I, II e III apenas.<br />
d) III, IV e V apenas.<br />
e) I, III e V apenas.<br />
18 - (UEM PR) Leia o fragmento seguinte e assinale a(s)<br />
alternativa(s) correta(s) sobre a Crise do Império<br />
Romano e a formação da Europa Medieval.<br />
“A presença romana deixaria marcas indeléveis em toda<br />
a Europa. No leste, porém, o Império Bizantino acabaria<br />
gravitando em torno de problemas asiáticos, ao passo que<br />
no oeste as instituições romanas e germânicas iriam<br />
lentamente se fundir, fornecendo os fundamentos<br />
histórico-culturais do que hoje normalmente designamos<br />
por ‘Europa Ocidental’. E como é sabido, nesse processo<br />
a Igreja Católica cumpriu o papel de agente unificador<br />
fundamental, como que compensando a fragmentação<br />
política e a pulverização da economia existente.”<br />
(MARTIN, A. R. As fronteiras na Idade Média. In:Repensando as fronteiras e<br />
nações. SãoPaulo: Editora Contexto, 1992, p. 30)<br />
01. Com a divisão do Império Romano em duas<br />
entidades políticas autônomas, o Império Oriental adotou<br />
a religião muçulmana como crença oficial.<br />
02. Como uma das mais importantes instituições da<br />
Idade Média, a Igreja Católica Romana legitimava a<br />
estrutura social e econômica da época.<br />
04. Os contatos religiosos e culturais entre a Europa<br />
Ocidental e o Império Bizantino, afastados desde as<br />
invasões germânicas, só foram retomados após a<br />
Conquista de Constantinopla pelos turcos no século XV.<br />
08. Ainda que o território do antigo Império Romano<br />
tivesse se fragmentado em pequenos territórios<br />
politicamente independentes, o cristianismo passou a<br />
atuar como um componente de identidade comum entre<br />
os reinos.<br />
16. Com o desenvolvimento do cristianismo no ocidente,<br />
a Igreja Católica ocidental eliminou tanto a cultura<br />
romana como a germânica.<br />
19 - (UFJF MG) A partir do século III assiste-se ao<br />
longo processo de crise do Império Romano do Ocidente<br />
e ao desenvolvimento das instituições feudais, que daria<br />
início ao período medieval. Assinale o item que NÃO se<br />
enquadra nesse contexto.<br />
a) A expansão do Império Romano do Ocidente<br />
cessou, levando ao decréscimo da obtenção de<br />
escravos riquezas.<br />
b) As fronteiras pouco controladas devido à fragilidade<br />
romana possibilitaram a invasão dos povos bárbaros<br />
e a fragmentação territorial do Império.<br />
c) O poder político exercido pelas grandes cidades se<br />
manteve, levando a um crescimento da urbanização<br />
e desenvolvimento das instituições comerciais.<br />
d) Desenvolveu-se o sistema de colonato através do<br />
qual escravos e plebeus empobrecidos passaram a<br />
trabalhar como colonos nas terras dos grandes<br />
proprietários.<br />
e) Iniciaram-se as relações de suserania e vassalagem<br />
baseadas em fidelidade e prestação de serviços dos<br />
vassalos para com os senhores.<br />
123
20 - (UFG GO) Leia o texto a seguir.<br />
Origens do regime feudal, diz-se. Onde buscá-las?<br />
Alguns responderam em “Roma”. Outros “na<br />
Germânia”. As razões dessas miragens são evidentes<br />
[…]. Das duas partes, sobretudo, eram empregadas<br />
palavras – tais como “benefício” (beneficium) para os<br />
latinos, “feudo” para os germanos – das quais essas<br />
gerações persistiram em se servir, ainda que lhes<br />
conferindo, sem se dar conta, um conteúdo quase<br />
inteiramente novo. Pois, para o grande desespero dos<br />
historiadores, os homens não têm o hábito, a cada vez<br />
que mudam o costume, de mudar de vocabulário. BLOCH,<br />
Marc. Apologia da <strong>História</strong> ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar. p.<br />
58. (Adaptado).<br />
Neste fragmento, Marc Bloch discute de que forma os<br />
historiadores lidam com a questão das origens, indicando<br />
que a<br />
a) origem dos fenômenos históricos deve ser buscada<br />
no encadeamento dos acontecimentos, o que confere<br />
à <strong>História</strong> um sentido de continuidade.<br />
b) origem é o ponto de partida da mudança que<br />
demarca a ruptura com as formas históricas<br />
precedentes.<br />
c) ideia de origem desconsidera a cronologia,<br />
ferramenta metodológica que concede sentido à<br />
explicação histórica.<br />
d) busca da origem dos fenômenos históricos encobre a<br />
relação entre as forças de conservação e de mudança<br />
que compõem a vida social.<br />
e) origem dos fenômenos históricos pode ser<br />
encontrada na permanência dos costumes e do uso<br />
do vocabulário.<br />
21 - (UFTM MG) As origens do sistema feudal podem<br />
ser encontradas na decadência do Império Romano do<br />
Ocidente. A esse respeito, explique:<br />
a) como a crise do escravismo romano está relacionada<br />
com a servidão medieval.<br />
b) como as invasões germânicas contribuíram para a<br />
formação do feudalismo na Europa Ocidental.<br />
22 - (UFRR) Com a decadência do Império Romano, a<br />
Europa se ruralizou. As atividades comerciais estavam<br />
reduzidas e concentradas em algumas regiões. O poder<br />
político estava pulverizado nas mãos de nobres e de<br />
proprietários rurais, que também controlavam os<br />
exércitos locais, as fortificações e os castelos. Na Europa<br />
feudal a vida girava em torno da grande propriedade<br />
rural, o feudo, que tendia para a autossuficiência, tendo<br />
em vista que produzia quase tudo que precisava. Sobre o<br />
Feudalismo é correto afirmar:<br />
a) Na sociedade feudal os servos, como os escravos,<br />
não tinham qualquer direito, viviam presos à terra e<br />
dela não podiam sair.<br />
b) O Feudalismo desenvolveu-se da mesma forma e<br />
com as mesmas características em toda a Europa.<br />
c) Na época feudal, a Igreja era uma instituição fraca,<br />
pois não tinha uma influência significativa nas<br />
relações entre senhores e servos.<br />
d) A sociedade feudal era estamental, ou seja, era<br />
fundamentada na origem e nas funções sociais<br />
exercidas pelas pessoas.<br />
e) Ainda que o poder local fosse controlado pela<br />
nobreza, no sistema feudal a autoridade absoluta era<br />
exercida pelo rei.<br />
23 - (UEM PR) Leia o texto escrito por um religioso<br />
medieval e assinale a alternativa incorreta sobre a Igreja<br />
cristã daquela época. “Deus quis que, entre os homens,<br />
uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que<br />
os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e<br />
que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu<br />
senhor...” (ANGERS, St. Laud de. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e<br />
documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975. Apud VICENTINO, Claudio.<br />
<strong>História</strong> <strong>Geral</strong>, 2002, p.111).<br />
a) O texto mostra uma concepção que prega a<br />
igualdade jurídica entre os homens medievais, pois a<br />
desigualdade é estabelecida por Deus e não pelos<br />
homens.<br />
b) Ao longo da Época Medieval (séculos V ao XV), a<br />
Igreja cristã se transformou em uma sólida e<br />
importante instituição, estabelecendo normas,<br />
orientando comportamentos e disseminando uma<br />
visão teocêntrica do mundo.<br />
c) O trecho acima mostra a concepção do clero cristão<br />
que contribuiu para o fortalecimento do domínio dos<br />
senhores feudais no período medieval.<br />
d) Os mosteiros transformaram-se nos centros culturais<br />
da Idade Média, pois, sem suas bibliotecas, que<br />
reuniam um grande número de obras, muitos textos<br />
escritos na Antiguidade teriam desaparecido.<br />
e) A Igreja teve um papel importante na vida da<br />
sociedade medieval, não somente na condução das<br />
almas para a salvação, mas também no domínio<br />
material, quando se identificou com a própria<br />
sociedade feudal.<br />
124
24 - (UEPG PR) Os trabalhadores medievais<br />
congregavam uma grande diversidade de elementos,<br />
desde camponeses livres até escravos. A forma de<br />
trabalho característica do feudalismo foi a servidão,<br />
condição intermediária entre o escravo e o operário da<br />
era capitalista.<br />
A respeito deste tema, assinale o que for correto.<br />
01. No século XI, setores da Igreja elaboraram uma<br />
concepção tripartite de sociedade (os que oram, os que<br />
guerreiam, os que trabalham), inspirada naquilo que eles<br />
concebiam como sendo a ordenação do universo.<br />
02. Todo camponês, embora dispusesse de instrumentos<br />
de trabalho e do usufruto de uma exploração, se<br />
encontrava ligado a um proprietário, o senhor, por uma<br />
série de compromissos pessoais e de tributos.<br />
04. A servidão teve dupla origem: de um lado, os servi<br />
casati da época carolíngia (escravos que tinham recebido<br />
uma casa e terra para cultivar); de outro, colonos e<br />
demais homens livres submetidos ao poder de grandes<br />
proprietários rurais.<br />
08. A cobrança das banalidades, taxas referentes ao<br />
atendimento exclusivo de uma necessidade pública, era<br />
compreendida e aceita pelos camponeses.<br />
TEXTO: 1 - Comum à questão: 25<br />
Ter Gutenberg escolhido a Bíblia como primeiro livro a<br />
ser divulgado amplamente foi um gesto revolucionário;<br />
foi colocar o sagrado em mãos profanas. Mas vai ser no<br />
século XVIII, com o Iluminismo, aprofundando algumas<br />
questões colocadas pelo Renascimento, que a leitura<br />
avança ainda mais, pois passou a traduzir para as<br />
línguas ocidentais muitas das obras clássicas até então<br />
acessíveis apenas em grego e latim, decorrendo daí uma<br />
maior popularização da tradição cultural do Ocidente e<br />
do Oriente. (Affonso Romano de Sant´Anna. Ler o mundo.<br />
S.Paulo: Global, 2011. p. 144)<br />
25 - (PUC Camp SP) A concepção, expressa no termo<br />
Iluminismo, de que o período em que este movimento<br />
cultural ocorreu corresponderia ao das “luzes”<br />
contrapondo-se à visão preconceituosa da Idade Média<br />
como uma “Idade das Trevas”, considerava que, durante<br />
a época medieval,<br />
a) a Europa havia se tornado subdesenvolvida,<br />
politicamente frágil e empobrecida graças à ação dos<br />
bárbaros, povos que destruíram as civilizações<br />
existentes e exerceram seu poderio por dezenas de<br />
séculos.<br />
b) o processo de ruralização, a predominância do poder<br />
político e cultural da Igreja e o impacto da Peste<br />
Negra teriam sido fenômenos de um período trágico,<br />
com pouca produção cultural e desenvolvimento<br />
científico.<br />
c) a desagregação do feudalismo, que conferia alguma<br />
organização ao mundo medieval, somada à escassez<br />
de universidades, e de centros urbanos comporiam<br />
um cenário de decadência e crise material.<br />
d) a explosão demográfica descontrolada, as rebeliões<br />
camponesas causadas pela servidão e o fracasso das<br />
cruzadas teriam resultado em uma situação “negra”<br />
de convulsão social e profunda instabilidade<br />
política.<br />
e) a falência do poder da Igreja decorrente do<br />
predomínio de ordens mendicantes, o pouco<br />
desenvolvimento tecnológico e a pobreza dos estilos<br />
românico e gótico expressariam um período<br />
medíocre da história da humanidade.<br />
TEXTO: 2 - Comum à questão: 26<br />
Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros,<br />
sonharam com a pan-Europa que, com a inclusão de<br />
mais dez países, se tornou uma realidade irreversível. Os<br />
antecedentes da União Europeia são assim, alguns mais<br />
respeitáveis do que outros. Durante muito tempo depois<br />
da tentativa de Carlos Magno de substituir o império<br />
romano pelo seu, uma identidade europeia se definia<br />
mais pelo que não era do que pelo que era: cristã e não<br />
muçulmana, civilizada em vez de bárbara (e, portanto,<br />
com o direito de subjugar e europeizar os bárbaros –<br />
isto é, o resto do mundo).(Luis Fernando Verissimo.O mundo é<br />
bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008)<br />
26 - (PUC Camp SP) O imperador medieval, a que o<br />
texto de Luis Fernando Veríssimo se refere, estimulou a<br />
criação de escolas em todo o império, provocando uma<br />
intensa renovação cultural, chamada de renascimento<br />
carolíngio. A efervescência cultural dessa época<br />
possibilitou<br />
a) o intercâmbio de ideias, notícias e formas de<br />
comportamento que mudaram a vida política e a<br />
prática religiosa no mundo feudal.<br />
b) o avanço em diversas áreas do conhecimento, como<br />
a invenção de novos métodos para a construção de<br />
canais de irrigação.<br />
125
c) a difusão da cultura letrada, contribuindo assim para<br />
a preservação de diversas obras da antiguidade<br />
greco-romana.<br />
d) a fusão da cultura greco-romana com a cultura<br />
carolíngia, transformando uma e outra em uma nova<br />
forma de cultura: a medieval.<br />
e) a substituição da concepção clássica de que “o<br />
homem é a medida de todas as coisas” pelo<br />
teocentrismo cristão da Igreja Católica.<br />
126
GABARITO:<br />
1) Gab: C<br />
2) Gab:<br />
a) O candidato poderá destacar, dentre outras: que a<br />
Igreja era um poderoso senhor feudal e, nesta condição,<br />
administrava vastos territórios (senhorios e cidades),<br />
exercendo a justiça e cobrando impostos.<br />
b) O candidato poderá destacar, dentre outros elementos:<br />
a formação e envio de religiosos para promover a<br />
conversão de pagãos; a organização e participação no<br />
movimento cruzadístico para combater os infiéis.<br />
3) Gab: 13<br />
4) Gab: C<br />
5) Gab:<br />
Século X – apogeu:<br />
Características:<br />
• vigência das relações de suserania e vassalagem;<br />
• complexa hierarquia feudal, baseada nas relações de<br />
dependência entre os diferentes papéis representados<br />
pela nobreza;<br />
• confirmação do poder figurativo dos reis;<br />
• fortalecimento da sociedade estamental, legitimada pela<br />
ideologia católica expressa na “Cidade de Deus” de<br />
Santo Agostinho.<br />
• fortalecimento do feudalismo como modo de produção:<br />
terra/servidão/economia fechada e autossuficiente.<br />
Século XV – declínio:<br />
Fatores responsáveis:<br />
• crescimento demográfico na Europa Ocidental criando<br />
novas demandas de consumo;<br />
• renascimento das cidades e ocorrência de lutas visando<br />
à autonomia por parte das mais fortes e desenvolvidas;<br />
•revolução comercial na área europeia/mediterrânea,<br />
trazendo novas práticas financeiras e comerciais;<br />
• mudanças na estrutura social com a formação da<br />
burguesia comercial;<br />
• guerra dos Cem Anos;<br />
• peste Negra;<br />
•formação das monarquias nacionais e expansão<br />
marítimo-comercial.<br />
6) Gab: C<br />
7) Gab: C<br />
8) Gab: B<br />
9) Gab: C<br />
10) Gab: C<br />
11) Gab: B<br />
12) Gab: C<br />
13) Gab: A<br />
14) Gab: C<br />
15) Gab: E<br />
16) Gab: B<br />
17) Gab: A<br />
18) Gab: 10<br />
19) Gab: C<br />
20) Gab: D<br />
21) Gab:<br />
a) A partir do momento em que surge em Roma o<br />
sistema de colonato, introduzido pelo imperador<br />
Constantino, como medida salutar que salva–guardaria a<br />
segurança dos plebeus e patrícios nas zonas rurais do<br />
Império, bem como o próprio território do Império,<br />
contra as invasões bárbaras, abriu–se margem para os<br />
laços feudais de servidão. Isto porque ao mesmo tempo<br />
em que patrícios teriam sua sobrevivência, bem como a<br />
sobrevivência do Império assegurada pelo trabalho dos<br />
plebeus nas zonas rurais, estes teriam moradia,<br />
alimentação e proteção assegurada nas propriedades dos<br />
patrícios.<br />
b) As invasões germânicas amedrontavam, aterrorizavam<br />
as populações, que se ruralizaram, se encastelaram<br />
exatamente para se proteger do caos que se instaurava<br />
em Roma. E na medida em que os germânicos<br />
penetravam o Império Romano, se fixavam e fundavam<br />
seus reinos, consolidavam também suas práticas e<br />
127
instituições sócio–políticas, que influenciaram grande<br />
parte do oriente europeu, originando o feudalismo.<br />
22) Gab: D<br />
23) Gab: A<br />
24) Gab: 15<br />
25) Gab: B<br />
26) Gab: C<br />
128
BAIXA IDADE MÉDIA SÉC. XI-XV<br />
1. TRANSFORMAÇÕES INTERNAS –<br />
EXPANSÃO FEUDAL<br />
Se até o século XI, a instabilidade gerada pela<br />
fragmentação do Império Carolíngio e pela onda de<br />
invasões bárbaras do século IX configuraram a plenitude<br />
da ordem feudal, marcada pela produção material<br />
limitada à subsistência majoritariamente rural, com<br />
mínima prática comercial, a partir do século XI, o<br />
sistema feudal incorporará aspectos de uma realidade de<br />
expansão, geradora dos pressupostos de transformação<br />
do próprio feudalismo.<br />
Com o fim das invasões violentas e a incorporação de<br />
melhorias técnicas, a Europa conheceu um quadro de<br />
estabilidade entre os séculos XI e XIII; decorrente de<br />
inovações técnicas, garantiu o aumento da produtividade,<br />
o crescente aumento demográfico e a dinamização das<br />
atividades comerciais e urbanas. Também<br />
desencadearia as condições materiais para a realização<br />
das Cruzadas e alterações de ordem sociais bastante<br />
significativas, como o surgimento da classe burguesa e<br />
os movimentos camponeses de libertação da condição<br />
servil.<br />
Cessadas as invasões dos magiares, vikings e<br />
muçulmanos e, com o próprio esforço católico em<br />
reduzir a violência, com a instituição da Trégua ou Paz<br />
de Deus, a onda de violência agravada nos séculos IX e<br />
X sofre um recuo significativo. O quadro de diminuição<br />
de conflitos permitiu um avanço nas inovações técnicas,<br />
que reduziriam o desgaste do trabalho e ampliaria a<br />
capacidade produtiva, combinando novos instrumentos<br />
de trabalho à ocupação de terras virgens ou ainda não<br />
aproveitadas ao cultivo.<br />
O uso do arado de ferro ou charrua, a difusão dos<br />
moinhos de vento ou hidráulicos e a expansão dos<br />
sistemas de agricultura de três campos, bem como a<br />
incorporação dos campos virgens, pela derrubada de<br />
bosque ou drenagem de pântanos, foram determinantes<br />
para o aumento da oferta de alimento e para a maior<br />
sobrevida de trabalhadores, resultante da redução do<br />
esforço e a diminuição da incidência da fome. A<br />
população europeia de cerca de 20 milhões no século X,<br />
chegaria aos 54 milhões no início do século XIV.<br />
2. REVIGORAMENTO URBANO OMERCIAL<br />
Esse crescimento demográfico definiu um excesso de<br />
camponeses nos limites dos feudos, que dispensados<br />
pelos senhores, recorriam ou às práticas banditistas como<br />
salteadores nos caminhos da Europa medieval, ou fariam<br />
o caminho de retorno às cidades, dedicando-se ao<br />
comércio ou ao artesanato. Até o século XI e XII, as<br />
cidades perderam seu papel de espaço fundamental das<br />
relações sociais, restringindo à condição de cidades<br />
episcopais, sedes de bispados etc., sem deixar, no<br />
entanto, de existirem completamente. A partir desse<br />
momento, passam a ter sua ocupação novamente<br />
estimulada pelo crescimento populacional e abrigo das<br />
atividades comerciais e artesanais, relacionando campo e<br />
cidade numa relação direta de complementaridade<br />
mercantil.<br />
Além da ocupação das cidades já existentes, novos<br />
núcleos urbanos se formariam, combinando a expansão<br />
da atividade produtiva à constituição de um excedente<br />
comercializável, que associara renascimento comercial<br />
e urbano como faces de uma mesma moeda na<br />
renovação do mundo feudal. No auge do feudalismo, as<br />
relações comerciais que nunca cessaram completamente,<br />
geralmente ocorriam em feiras temporárias, de instalação<br />
irregular, garantindo a obtenção de produtos<br />
fundamentais não produzidos no interior dos feudos,<br />
como metais e sal, ou produtos de luxo da aristocracia.<br />
129
Convivendo com o mundo feudal, essas cidades<br />
acelerariam as transformações sociais do período; não<br />
apenas por viabilizar a formação de outros grupos sociais<br />
a partir da diversificação das atividades econômicas, mas<br />
também por terem se tornado um importante atrativo<br />
para a população rural, que fugiam em busca de ascensão<br />
econômico-social; em algumas cidades, um servo fugido<br />
não reclamado no tempo de um ano era plenamente<br />
incorporado como cidadão, submetido às especificidades<br />
daquela cidade, confirmando a máxima do ditado que<br />
dizia “o ar da cidade liberta”.<br />
Ilustração das feiras medievais<br />
Na Baixa Idade Média, o recrudescimento da atividade<br />
comercial levou artesãos e mercadores a fixassem suas<br />
feiras em rotas e entroncamentos comerciais marítimos<br />
ou terrestres, com preferência a instalarem-se próximos a<br />
castelos ou catedrais, de onde negociavam proteção e<br />
segurança à atividade comercial através do pagamento de<br />
tributos aos próprios senhores feudais. Constituíam-se<br />
assim, os burgos e, solidificavam uma classe urbana<br />
cada vez mais vinculada ao comercio identificada como<br />
burguesia.<br />
Ilustração dos Burgos Medievais<br />
A aglomeração desses comerciantes exigiu o<br />
atendimento de profissionais diversos e indispensáveis,<br />
capazes de garantir a plenitude do comércio, como as<br />
casas de câmbio, ou ferradores de cavalos, fabricantes de<br />
rodas e eixos para as carroças, abastecimento de<br />
alimentos, diversificando as atividades e estimulando o<br />
trabalho da mão-de-obra especializada urbana que mais<br />
tarde passaria a ser organizada pelas corporações de<br />
oficio, no caso do artesanato.<br />
130<br />
A expansão econômica dos burgos conduzia sua<br />
população ao natural esforço de desligamento dos<br />
senhores feudais ao qual estavam submetidos. As<br />
comunas eram associações de ricos comerciantes, que<br />
através da negociação de cartas de franquia, buscavam<br />
obter sua liberdade de organização. Em caso de<br />
desinteresse do senhor na negociação das cartas, não era<br />
raro que os comerciantes contratassem mercenários para<br />
o enfrentamento, nas chamadas rebeliões comunais, a<br />
fim de garantirem a própria administração de suas<br />
cidades independentes. Muitos monarcas apoiaram esses<br />
movimentos, no evidente interesse de enfraquecer a<br />
nobreza medieval e garantir o apoio da burguesia ao que<br />
mais tarde viria se configurar na centralização política<br />
dos Estados Nacionais.<br />
Independentes, essas cidades organizam-se de forma<br />
autônoma, com sistemas próprios de medida e pesagem,<br />
sistema monetário particular, assim como os sistemas<br />
judiciais e administrativos. Surgidas especialmente em<br />
função das atividades comerciais e mercantis,<br />
organizaram instituições próprias com o objetivo de<br />
proteger e estimular tais atividades.
Nas corporações de oficio, cada setor artesanal<br />
organizava-se de acordo com sua especialização<br />
(ferreiros, pedreiros, alfaiate, marceneiro etc.),<br />
objetivando evitar a concorrência, fixar preços de<br />
produtos e serviços prestados, salários pagos e controlar<br />
qualidade e quantidade de mercadorias. Organizavam-se<br />
por uma rígida hierarquia, em que se distinguiam os<br />
mestres (donos de oficinas), oficial ou jornaleiro<br />
(trabalhador assalariado que dominava o oficio) e o<br />
aprendiz (este recebia alimento e moradia em troca do<br />
trabalho, enquanto aprendia o oficio); nesse novo tipo de<br />
relação, a mobilidade social definia-se a partir do<br />
aprendizado deum ofício e do acúmulo de recebimento<br />
de salário, evidenciando as origens dos princípios<br />
fundamentais da ordem capitalista.<br />
Os comerciantes também organizaram suas associações,<br />
seja para a obtenção de mercadorias a longa distância,<br />
pela proteção de rotas de comércio, ou mesmo para<br />
definir áreas de atuação; identificadas como guildas ou<br />
hansas, algumas delas se destacam na Europa da Baixa<br />
Idade Média, como a Liga Hanseática, reunindo<br />
comerciantes de varias cidades da região de Flandres,<br />
principal eixo comercial do norte da Europa, e a Liga<br />
Teutônica, englobando cidades da Europa Central, atual<br />
Alemanha.<br />
O revigoramento comercial evidente no interior da<br />
Europa determinou a necessidade de atividades<br />
financeiras capazes de estruturar a ação comercial.<br />
Assim, práticas como a concessão de cartas de crédito, o<br />
surgimento de financiadores de capital a juros, a<br />
instalação de casas de câmbio e a atividade dos<br />
banqueiros garantiram um aumento circunstancial da<br />
monetarização da economia medieval. Toda essa nova<br />
dinâmica comercial, financeira, organizacional, urbana e<br />
social, embora ainda convivessem com práticas<br />
tipicamente feudais, reafirmavam a condição de uma<br />
realidade em transição, que passaria a incompatibilizarse<br />
com a ordem político-social do feudalismo.<br />
3. CRUZADAS<br />
As transformações da Baixa Idade Média coincidiram e<br />
em parte foram determinadas pelo próprio movimento<br />
das Cruzadas. Tratou-se essencialmente de uma intensa<br />
mobilização de liderança católica e composição da<br />
nobreza medieval europeia em direção ao Oriente, no<br />
combate aos infiéis muçulmanos, justificando pela<br />
necessidade afirmada de retomar a Terra Santa<br />
(Jerusalém) aos infiéis.<br />
Apesar da iniciativa católica e da insistência no objetivo<br />
de combate aos infiéis, outros atores e outros interesses<br />
se associaram ao desenvolvimento das Cruzadas. Reis,<br />
nobres e comerciantes enxergaram no empreendimento<br />
direcionado ao Oriente, a possibilidade de ganhos e<br />
atendimento de intenções diversas.<br />
A nobreza, também alvo do crescimento demográfico<br />
decorrente da expansão entre os séculos XI e XIII, viu<br />
tornarem se insuficientes as terras da Europa para<br />
legitimar sua condição privilegiada. Assim, sua atividade<br />
guerreira voltou-se para conflitos internos que<br />
colocavam em xeque a ordem feudal. A Igreja, ao<br />
convocá-los à luta contra os infiéis, desviava o foco<br />
violento da Europa e, buscava assegurar aos nobres a<br />
conquista de terras que poderiam converter se em novos<br />
feudos e herança aos descendentes não primogênitos.<br />
Muitos desses nobres também se motivaram por um forte<br />
compromisso religioso cristão, assim como pela<br />
perspectiva de perdão de dívidas materiais com a Igreja<br />
ou de promessa da salvação.<br />
Aos comerciantes coube o financiamento e patrocínio da<br />
estrutura necessária ao empreendimento e deslocamento<br />
das Cruzadas, interesse definido a partir de objetivos<br />
mercantis; especialmente a classe burguesa viu nesse<br />
projeto a possibilidade de ganhos no comércio das<br />
mercadorias orientais de grande valor no Ocidente e a<br />
possibilidade de restringir a dominação muçulmana nas<br />
áreas de circulação mediterrânea; exemplo notável dessa<br />
perspectiva foi a Quarta Cruzada, que sequer destinou-se<br />
a Jerusalém, mas a Constantinopla, acusada de heresia<br />
pela ruptura do Cisma do Oriente e, que garantiu a<br />
comerciantes venezianos o controle dessa importante<br />
rota mercantil por décadas.<br />
131
A Quarta Cruzada, no entanto, não parou por aí.<br />
Alexis, filho do imperador bizantino Isaac II Ângelo, foi<br />
destronado por ordem de seu tio, Alexis III Ângelo, que<br />
ainda mandou prender seu pai. O príncipe Alexis propôs<br />
então aos latinos outra troca: pagaria a dívida dos<br />
cruzados com Veneza se eles o ajudassem a reaver o<br />
trono e expulsar o usurpador.<br />
Libertar os locais sagrados cristãos ocupados pelos<br />
muçulmanos não foi o único objetivo dessas expedições<br />
Todas as Cruzadas visavam a Terra Santa – FALSO<br />
Olivier Tosseri.<br />
132<br />
Nem todas as oito cruzadas promovidas entre 1095 e<br />
1270 tiveram como objetivo a luta contra os muçulmanos<br />
ou a libertação dos locais sagrados. Em 1198, o papa<br />
Inocêncio III convocou a Quarta Cruzada, mas depois do<br />
fracasso da anterior sua ideia não gerou grande<br />
entusiasmo. O objetivo era conquistar o Egito, que<br />
poderia servir de moeda de troca para recuperar<br />
Jerusalém, reconquistada alguns anos antes por Saladino.<br />
Quem aceitou montar uma frota para transportar 30<br />
mil homens foi a toda-poderosa República de Veneza,<br />
principal potência comercial do Mediterrâneo. Em<br />
meados de 1202, as tropas cruzadas se reuniram sob as<br />
ordens de Bonifácio de Montferrat, mas o contingente<br />
era bem menos numeroso do que o previsto. O doge de<br />
Veneza, Enrico Dandolo, não aceitou que os navios<br />
saíssem do porto sem que a soma fixada pela viagem<br />
fosse paga com antecedência. Endividados, os cruzados<br />
aceitaram o negócio que lhes foi proposto: em troca do<br />
adiamento do pagamento, eles se comprometiam a<br />
conquistar o porto cristão de Zara, na costa da Dalmácia,<br />
e entregá-lo aos venezianos. Apesar do receio provocado<br />
pela ideia de lutar contra outros cristãos, a cidade foi<br />
tomada, o que provocou a excomunhão dos cruzados por<br />
Inocêncio III.<br />
Os venezianos mais do que gostaram da ideia.<br />
Convencidos de que os bizantinos não tinham apoiado o<br />
suficiente a luta contra os muçulmanos e de que<br />
deveriam ser punidos, os cruzados tomaram<br />
Constantinopla de assalto em 1203. Alexis III fugiu e foi<br />
substituído por Alexis IV, nomeado coimperador, com<br />
seu pai, Isaac II. Mas o novo soberano, considerado um<br />
traidor pela população, não conseguiu impor sua<br />
autoridade. Além disso, como seu predecessor havia<br />
esvaziado os cofres antes de fugir às pressas, ele não<br />
tinha como cumprir a promessa feita aos cruzados. Estes,<br />
por sua vez, mantinham relações cada vez mais tensas<br />
com os bizantinos, que suportavam mal sua presença e<br />
cobiça.<br />
A situação culminou com uma conjuração que<br />
derrubou e assassinou Alexis IV. Constantinopla foi<br />
tomada pelos cruzados em 12 de abril de 1204 e<br />
saqueada durante três dias seguidos. O acontecimento, de<br />
uma extrema brutalidade, chocou o mundo cristão e<br />
cristalizou o cisma que desde 1054 opu-nha católicos a<br />
ortodoxos.<br />
Um Império Latino do Oriente foi então fundado,<br />
enquanto os venezianos garantiam o monopólio<br />
comercial do império. Esse novo Estado latino oriental,<br />
porém, não era estável e foi rapidamente reconquistado<br />
pelos gregos. Qual foi o balanço dessa cruzada, em que<br />
os cristãos não enfrentaram um único muçulmano? Uma<br />
cristandade dividida e um Império Bizantino que, apesar<br />
de restabelecido, permaneceria por muito tempo<br />
enfraquecido, frente à ameaça otomana.<br />
Apesar de não ter conseguido assegurar a plena retomada<br />
do Oriente Médio aos cristãos, as Cruzadas<br />
ressignificaram sobre vários aspectos a realidade<br />
medieval. Do ponto de vista cultural, incorporou hábitos<br />
de consumos das mercadorias exóticas do Oriente,<br />
estimulando um comércio internacional com a Europa;<br />
reforçou a rivalidade entre cristãos e muçulmanos, que<br />
até os nossos dias se mantém latente, sob variadas<br />
ressignificações históricas; favoreceu um importante
intercâmbio cultural e dinamização de informações<br />
outrora restritas ao clero, estimulando o Renascimento<br />
Cultural.<br />
Do ponto de vista político, as Cruzadas foram<br />
determinantes no enfraquecimento da aristocracia<br />
feudal, especialmente pelo empobrecimento de parte<br />
dessa classe. Ademais, teve impacto significativo no<br />
progressivo fortalecimento do poder real, tendo alguns<br />
deles se destacado como lideranças das Cruzadas.<br />
Entretanto, do ponto de vista econômico, talvez tenha<br />
revelado sua maior contribuição. O prolongamento<br />
temporal das incursões dos cruzados ao Oriente<br />
desencadearia progressivamente a reabertura do Mar<br />
Mediterrâneo, garantindo uma dinâmica comercial<br />
ampliada. Destacaram-se especialmente as cidades<br />
italianas, cuja burguesia se tornaria a mais privilegiada<br />
da Baixa Idade Média, como grandes intermediários do<br />
comércio de especiarias.<br />
4. CRISE GERAL DO SÉCULO XIV<br />
O processo de expansão registrado entre os séculos XI e<br />
XIII sofreriam um grave revés no século XIV, marcado<br />
por uma situação de crise geral. A combinação de<br />
redução drástica de produção, situações contagiantes<br />
de fome, redução demográfica, expansão da Peste<br />
Negra, situação de conflito generalizado na Guerra dos<br />
Cem Anos e rebeliões camponesas mergulhariam a<br />
Europa numa crise sem precedentes.<br />
A produtividade agrícola esteve seriamente prejudicada<br />
pela ausência de novas terras a serem incorporadas ao<br />
circuito produtivo, combinado a uma série de fatores de<br />
instabilidade climática variados, como geadas ou<br />
estiagens prolongadas, que ao diminuírem a oferta de<br />
alimento geram carestia ou quadros de fome entre os<br />
mais pobres. A menor oferta de alimento não apenas<br />
iniciou a redução demográfica, como fragilizou os<br />
sobreviventes na vulnerabilidade à epidemia da Peste<br />
Negra, que a partir do Leste europeu expandiu-se pelo<br />
continente e responsabilizou-se pela dizimação de mais<br />
de um terço da população europeia.<br />
Drauzio Varella<br />
A PESTE NEGRA<br />
Foi a mais mortal das epidemias. Entre 1347 e 1351,<br />
a peste negra dizimou metade da população europeia.<br />
Embora haja desacordo, as estimativas são de 75 a<br />
200 milhões de mortes. Estudiosos mais conservadores<br />
estimam que a população mundial de 450 milhões teria<br />
caído para 350 a 370 milhões.<br />
A bactéria causadora da epidemia teve origem na<br />
China ou na Ásia Central, de onde viajou pela rota da<br />
seda, nos intestinos das pulgas que infestavam os ratos.<br />
Chegando ao Mediterrâneo, os ratos se encarregaram de<br />
levá-las para os navios, que disseminaram a doença pelos<br />
portos em que atracavam.<br />
Relatos históricos dão conta do sofrimento humano.<br />
O poeta Boccaccio, que viveu em Florença nessa época,<br />
fez a seguinte descrição:<br />
“Em homens e mulheres, ela se manifesta pela<br />
emergência de certos tumores nas virilhas e axilas,<br />
alguns dos quais chegam ao tamanho de uma maçã;<br />
outros, ao de um ovo… Dessas duas regiões do corpo<br />
esses tumores mortais logo começam a propagar-se e a<br />
espalhar-se em todas as direções; depois disso, a<br />
apresentação se modifica, em muitos casos manchas<br />
negras ou lívidas aparecem nos braços, nas coxas e<br />
outras partes, de início poucas e grandes, mais tarde<br />
pequenas e numerosas. Assim como os tumores, as<br />
manchas negras são sinais infalíveis de que a morte se<br />
aproxima daqueles nos quais se manifestam”.<br />
Faltou dizer que a febre atingia 41 graus, os vômitos<br />
eram sanguinolentos, e que alguns desenvolviam<br />
complicações pulmonares, enquanto outros se curavam<br />
espontaneamente. Cerca de 80% iam a óbito em uma<br />
semana, proporção que aumentava para 90% quando<br />
havia comprometimento pulmonar e beirava 100% nos<br />
casos de septicemia.<br />
As explicações para as epidemias de peste que<br />
já afligiam a Europa nos tempos de Justiniano, no século<br />
8, eram imaginativas: conjunção de três planetas que<br />
espalharia pestilência no ar, terremotos, mendigos,<br />
peregrinos, estrangeiros, envenenamento dos poços de<br />
água pelos judeus (sempre eles), suposições que<br />
justificavam massacres sangrentos.<br />
Foi apenas em 1894, quando um grupo de<br />
bacteriologistas visitou Hong Kong, que o agente<br />
etiológico, a Yersinia pestis, foi identificado por<br />
Alexandre Yersin.<br />
Curiosamente, mesmo antes dos antibióticos, os casos<br />
mais recentes de peste não provocavam mortalidade<br />
elevada. As bactérias daqueles tempos seriam mais<br />
virulentas ou as pessoas mais fracas e desnutridas?<br />
133
134<br />
O advento de técnicas modernas de sequenciamento<br />
de DNA tem ajudado a decifrar essa questão. Um grupo<br />
de canadenses e americanos extraiu o DNA encontrado<br />
em dentes e ossos de pessoas enterradas no cemitério de<br />
East Smithfield, em Londres, última morada das vítimas<br />
da peste do século 14.<br />
Em 2011, os resultados publicados na revista Nature<br />
mostraram que a Yersinia pestis daquela época está<br />
extinta, de fato. O genoma desse ancestral, no entanto, é<br />
bastante similar ao da bactéria de hoje.<br />
Trabalhando com amostras antigas e recentes da<br />
bactéria, outros grupos observaram que a peste europeia<br />
foi causada por uma das 11 cepas que já circulavam na<br />
época de Justiniano. Entre os séculos 6 e 8, teria ocorrido<br />
um “big bang” de diversidade entre as yersínias,<br />
surgindo cepas novas dotadas de agressividade variável.<br />
De acordo com esse modelo, deslocamentos humanos<br />
como os das Cruzadas e outras guerras, teriam criado<br />
pressões seletivas para que as bactérias se adaptassem<br />
rapidamente a ambientes estranhos e novos hospedeiros.<br />
Nessa luta pela sobrevivência, teriam levado vantagem<br />
as yersínias mais virulentas.<br />
A partir de 1351, quando a epidemia europeia<br />
arrefeceu, a cepa virulenta que lhe havia dado origem<br />
pôde replicar-se com menos frequência, tornando-se<br />
mais estável, portanto mais semelhante às que circulam<br />
hoje entre seres humanos e roedores.<br />
Estudos como esses têm sido realizados com os<br />
agentes de enfermidades responsáveis pelas mortes em<br />
massa do passado: varíola, tuberculose, hanseníase,<br />
sífilis e até o da praga da batata que matou de fome um<br />
milhão de irlandeses, entre 1845 e 1852.<br />
Na santa ignorância em que viviam, quando nossos<br />
antepassados medievais imaginariam que, séculos mais<br />
tarde, desvendaríamos os segredos mais íntimos dos<br />
germes que lhes tiraram a vida?<br />
A fuga de trabalhadores das áreas infectadas e a redução<br />
drástica da produção instalaria uma quadro de crise geral.<br />
A carência dificultava o comércio, as cidades tomadas<br />
por epidemia se esvaziavam e a nobreza se esforçava por<br />
explorar ainda mais os servos sobreviventes, estimulando<br />
uma onda de frequentes rebeliões camponesas, que na<br />
França foram genericamente conhecidas como jaqueries.<br />
Embora muitas dessas revoltas camponesas tenham sido<br />
derrotadas, como na jaquerie francesa que teve prejuízo<br />
de mais de 20 mil camponeses mortos, estava evidente à<br />
nobreza medieval a dificuldade em manter a ordem<br />
social. Também nessa perspectiva, alguns nobres<br />
recorrerão à liderança monárquica em apoio à projeção<br />
de sua autoridade centralizada, a fim de garantir a<br />
contenção das revoltas populares.<br />
Outro fator de instabilidade nos anos da Baixa Idade<br />
Média foi a eclosão do prolongado conflito da Guerra<br />
dos Cem Anos. Opondo as monarquias feudais das<br />
Inglaterra e Franca, em decorrência especial do<br />
agravamento de tensões sucessórias e disputa pelo<br />
controle da afortunada região de Flandres, gerou sério<br />
prejuízo ao comércio, além de estimular a partir da<br />
formação de exércitos profissionais e do sentimento de<br />
nacionalidade, a crise das autoridades feudais em<br />
detrimento do fortalecimento do monarca.<br />
FRANÇA E INGLATERRA: MAIS DE UM<br />
SÉCULO DE LUTAS<br />
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) durou, na<br />
verdade, muito mais que o limitado e arbitrário quadro<br />
cronológico de cem anos de lutas, escaramuças e<br />
batalhas entre a França dos Valois e a Inglaterra dos<br />
Plantagenetas.<br />
Durante os séculos XIV e XV, cinco reis franceses se<br />
defrontaram sucessivamente com outros tantos monarcas<br />
ingleses. Três gerações inteiras viveram, se não<br />
guerreando sempre, pelo menos num constante clima de<br />
mobilização geral. A Guerra dos Cem Anos consistiu, de<br />
fato, numa série de conflitos, com um longo intervalo de<br />
35 anos de trégua. Porém, mesmo na trégua, não havia<br />
paz: quando cessavam as batalhas, seguiam-se as<br />
pilhagens, a escassez de alimentos. E até uma terrível<br />
epidemia assolou a Europa – a peste negra.<br />
A França saiu vitoriosa desse duelo secular, que<br />
deixou ambos os países profundamente modificados.<br />
OS DECÊNIOS MAIS NEGROS DA FRANÇA<br />
Ao morrer, em 1314, Filipe, o Belo, deixou três filhos<br />
– Luís X, Filipe V e Carlos IV –, que reinaram<br />
sucessivamente sem deixar herdeiros, extinguindo-se<br />
assim a dinastia capetíngia.
Mas, na realidade, havia ainda uma capetíngia direta,<br />
que não aceitava absolutamente a extinção da dinastia:<br />
era a filha de Filipe, o Belo, que tinha se casado com o<br />
rei da Inglaterra. Eduardo III. Assim, se uma mulher<br />
pudesse transmitir a herança da coroa, esta deveria, sem<br />
dúvida, pertencer ao rei inglês. Mas os franceses,<br />
logicamente, não aceitavam essa possibilidade.<br />
O INÍCIO DA INTERMINÁVEL GUERRA<br />
Para acabar com a pretensão inglesa, os magistrados<br />
franceses invocaram a antiga lei sílica, dos francos, que<br />
excluía as mulheres (e, claro, seus descendentes do trono.<br />
E deram a coroa a um dos sobrinhos de Carlos IV, Filipe<br />
de Valois, que recebeu o nome de Filipe VI e reinou de<br />
1328 a 1350. Nada disso perturbou Eduardo III, que<br />
colocou em seu brasão a flor-de-lis francesa junta-mente<br />
com o leopardo inglês. Quando Filipe VI reto-mau o<br />
ducado de Guiena, Eduardo III iniciou a guerra: era o<br />
ano de 1337.<br />
UM FLAGELO PARA TODOS: A PESTE<br />
Além da guerra, outro flagelo abateu-se não somente<br />
sobre a França, mas sobre toda a Europa: a peste.<br />
Trazida do Oriente pelos navios mercantes e pelos<br />
peregrinos, foi disseminada pelos ratos, alimentada pelas<br />
péssimas condições de higiene das cidades (cada vez<br />
mais populosas), difundindo-se rapidamente a partir de<br />
1347. O contágio era imediato e mortífero, mesmo<br />
porque grande parte da população vivia em condições<br />
miseráveis.<br />
Punha-se a culpa nas conjunções astrológicas<br />
nefastas. Posteriormente, encontraram até um bode<br />
expiatório: os judeus. Nas cidades de Estrasburgo,<br />
Espira, Mogúncia e Worms, acusados de espalhar<br />
deliberadamente o contágio, milhares deles foram<br />
massacrados ou queimados. Outros viam na peste um<br />
castigo divino e propunham a expiação das culpas<br />
através de missas e outros sacramentos. Por volta da<br />
metade do século, assim como surgiu, a peste também<br />
desapareceu, inesperadamente. Ceifou, porém, um terço<br />
da população euro-peia da época.<br />
AS PRIMEIRAS DERROTAS<br />
A desproporção entre os dois países beligerantes era<br />
óbvia. Com uma população acima de 16 milhões de<br />
habitantes, a França era o país mais populoso da Europa.<br />
A Inglaterra contava pouco mais de 4 milhões de<br />
habitantes. Mas Eduardo III levava uma vantagem:<br />
suaorganização estatal e militar era muito mais moderna.<br />
O elemento principal do exército inglês era a infantaria,<br />
recrutada entre os homens mais vigorosos e que mais<br />
bem atiravam. Sua organização era perfeita: os arqueiros<br />
dispunham-se em fileiras cerradas, e atiravam<br />
alternadamente, de modo a provocar uma constante<br />
"chuva de flechas”.<br />
Quando os franceses quiseram assumir o controle da<br />
cidade de Flandres, cuja prosperidade provinha dos<br />
tecidos confeccionados com a lã importada da Inglaterra,<br />
Eduardo III enviou sua frota para interceptar os navi-os<br />
franceses. No encontro de Écluse (1340), a esquadra da<br />
flor-de-lis foi aniquilada. Seis anos mais tarde, o rei<br />
inglês desembarcou na França e venceu o exército inimigo<br />
em Crécy. Meses depois, tomou o porto de Calais,<br />
no canal da Mancha. Em 1356, veio o golpe mais duro: o<br />
exército francês foi destroçado em Poitiers. Quatro anos<br />
depois, sem uma parte de seu território (o sul do Loire,<br />
Calais e o estuário do Sena), a França assina a paz.<br />
UMA REVOLUÇÃO FRUSTRADA<br />
A devastação da guerra e da peste, bem como a<br />
carestia crescente dos gêneros, exasperaram os ânimos.<br />
A França estava à beira de uma revolução.<br />
Em Paris, a burguesia e os plebeus (sob a liderança<br />
de Etienne Marcel, chefe da corporação dos mercadores)<br />
insurgiam-se contra os nobres. Exigiam a abolição dos<br />
privilégios assegurados à nobreza (constituída pelos<br />
donos de terra), o controle sobre os impostos e sobre as<br />
despesas do rei e uma reforma judiciária. Contra o perigo<br />
da revolução aliaram-se a nobreza e a alta burguesia.<br />
O restante da burguesia parisiense também não estava<br />
todo a favor da revolução: afinal, havia a suspeita de que<br />
Étienne Marcel simpatizava com os ingleses. E ele foi<br />
assassinado em 1358.<br />
No campo, a revolta explodiu com violência. Durante<br />
semanas, saques e incêndios de castelos foram comuns<br />
na França. Essa insurreição foi chamada de Jaqueria,<br />
nome tirado de Jacques Bonhomme, apelido dado pelos<br />
nobres aos camponeses.<br />
A França caiu numa espantosa anarquia e o rei era<br />
tachado publicamente de incapaz. Mas a repressão por<br />
parte da nobreza e da alta burguesia veio violentíssima.<br />
A revolução foi derrotada. Assim, quando em 1364<br />
135
136<br />
Carlos V subiu ao trono, a França encontrava-se<br />
exaurida.<br />
O COMEÇO DO FIM<br />
Duas construções podem dar uma idéia da<br />
personalidade do novo soberano, filho e sucessor de João<br />
II – Carlos V, chamado "o Sábio”. A primeira é sua<br />
residência em Paris, o famoso Louvre, construído por<br />
Filipe Augusto para servir de fortaleza. Carlos V<br />
ampliou-a, transformando-a num majestoso palácio. A<br />
segunda é uma fortaleza: a sinistra Bastilha, que ele<br />
construiu para garantir-se contra eventuais revoltas da<br />
própria população.<br />
É significativo que em 1789, no início da Revolução<br />
Francesa, o povo tenha destruído a Bastilha.<br />
A RECONQUISTA FRANCESA<br />
Esse soberano culto, que colecionava manuscritos<br />
raros e obras de arte e gostava do convívio de escritores,<br />
pintores e músicos, foi o artífice da primeira revanche<br />
francesa.<br />
Com um novo imposto sobre o sal (a gabela),<br />
conseguiu dinheiro e restabeleceu as arruinadas finanças<br />
da coroa. Utilizando enérgica ação policial, limpou o<br />
reino dos assaltantes, que o infestaram durante anos.<br />
Com inteligência, reorganizou o exército e suas<br />
lideranças. E ajudado pelo chefe-mor do exército, Du<br />
Guesclin, um notável “general”, renovou a arte militar<br />
francesa. Não mais a “cavalgada” épica dos barões<br />
feudais e os perigosos encontros frontais. Mas uma<br />
milícia moderna, treinada para utilizar uma nova tática:<br />
fazer guerra de escaramuças e, ao mesmo tempo,<br />
guarnecer bem as cidades, tentando isolar as tropas<br />
inglesas e dificultando-lhes o abastecimento e o repouso.<br />
Em poucos meses, o novo exército francês atacou<br />
uma a uma as várias guarnições inglesas, derrotando<br />
praticamente todas. Do início da campanha, em 1369, até<br />
a morte de Du Guesclin, em 1380, a França havia<br />
recuperado quase todo o território perdido. À Inglaterra<br />
restavam Calais, Cherburgo, Brest, Bordéus e Bayonne.<br />
Mas, em 1380, morrem o cérebro e o braço da<br />
reconquista: Carlos V e Du Guesclin.<br />
UMA NOVA INVASÃO<br />
Ao rei "sábio” sucedeu Carlos VI, o “louco”, incapaz,<br />
portanto, de governar. O duque de Borgonha e Luís de<br />
Orléans começam, então, a lutar pelo poder, levando a<br />
França a uma guerra civil. Em junho de 1415,<br />
aproveitando-se do caos interno, o rei da Inglaterra,<br />
Henrique V, desembarca na França. E em quatro meses<br />
recupera tudo e impõe uma dura derrota ao inimigo em<br />
Azincourt. A situação piorou nos anos seguintes. O<br />
poderoso duque de Borgonha aliou-se aos invasores. A<br />
nobreza, desorientada e dividida, não teve condições de<br />
impedir que o rei inglês desposasse Catarina, a filha de<br />
Carlos VI, e fosse reconhecido como herdeiro do trono<br />
pelo Tratado de Troyes, em 1420. E o delfim Carlos,<br />
sucessor designado por Carlos VI, que perdera todo o<br />
poder, foi expulso para Bourges, ao sul do rio Loire.<br />
Mas quando tudo parecia indicar que a França estava<br />
condenada a ser uma possessão inglesa, entra em cena<br />
uma moça, camponesa, chamada Joana d’Arc.<br />
A “DONZELA DE ORLÉANS”<br />
Uma camponesa iletrada, com pouco menos de 18<br />
anos, visionária e fanaticamente religiosa: esse é o retrato<br />
que todos faziam de Joana d’Arc no início de sua<br />
trajetória. Ela afirmava ter tido visões e ouvido vozes do<br />
céu que ordenavam que se dirigisse ao “verdadeiro” rei,<br />
o humilhado Carlos VII, para ajudá-lo a reconquistar o<br />
reino.<br />
A princípio tornaram-na por louca. Mas sua<br />
obstinação levou a melhor. No dia 6 de março de 1429,<br />
conseguiu que o rei a recebesse em Chinon. E, por fim,<br />
chegou convencê-lo a retomar a luta. Sob o comando<br />
dela, evidentemente.<br />
Juntando a ação às suas palavras, Joana vestiu uma<br />
armadura de soldado e conseguiu infundir tanta força<br />
moral aos poucos franceses fiéis a Carlos VII, que eles<br />
realizaram campanhas incríveis e seu número se<br />
multiplicou. Joana d’Arc recebeu o encargo de conduzir<br />
um exército em socorro de Orléans, assediada pelos<br />
ingleses.<br />
A 8 de maio, derrotados, os ingleses não somente<br />
abandonam a cidade, mas todo o vale do Loire. No dia<br />
18 de junho, são novamente derrotados em Patay. Um<br />
mês mais tarde, Carlos VII é solenemente coroado rei da<br />
França, na catedral de Reims.<br />
Joana d’Arc soube incutir nos franceses não apenas<br />
entusiasmo e confiança, mas sobretudo a consciência da
própria França co-mo nação (nacionalismo). O exército,<br />
sob a bandeira da flor-de-lis, consegue libertar Lyon,<br />
Soissons e Campiègne. Mas, nesta última, a 23 de abril<br />
de 1430, a famosa “Donzela de Orléans" é capturada<br />
pelas tropas do duque de Borganha, chefe de um grupo<br />
francês que simpatizava com os ingleses. Encarcerada,<br />
Joana d’Arc é, após longo processo, condenada à<br />
fogueira como herege. Sua execução deu-se' no dia 30 de<br />
maio de 1431, na praça pública de Rouen.<br />
Os ingleses pensaram que sua morte esvaziaria sua<br />
popularidade, mas aconteceu exatamente o contrário.<br />
Transformaram a heroína em mártir. Joana d’Arc se<br />
tornou mais poderosa depois da morte, e guiou os<br />
franceses à vitória.<br />
UM FINAL APAGADO<br />
Firmada uma trégua com o duque de Borgonha, que<br />
se retirava da luta, Carlos VII pôde retornar a Paris em<br />
1436. Treze anos depois, reconquistou a Normandia. Em<br />
1453, os ingleses que haviam se concentrado em Guiena<br />
foram massacrados. A luta continuou até que restou à<br />
Inglaterra só o porto de Calais. E a Guerra dos Cem<br />
Anos foi terminando de maneira quase imperceptível.<br />
Dessa longa luta restaram dois países duramente<br />
castigados. Mas em ambos a antiga nobreza feudal ainda<br />
era poderosa e pouco disposta a obedecer ao soberano.<br />
No entanto, havia um fato novo: a partir da Guerra dos<br />
Cem Anos começava a surgir um forte sentimento<br />
nacional, que tanto na Inglaterra como na França uniria a<br />
burguesia e a plebe em torno da monarquia. Assim, a<br />
consumação desse processo de modernização assinala a<br />
transição da antiga estrutura feudal para o Estado<br />
moderno, com organização administrativa, arrecadação<br />
de impostos e exército permanente.<br />
Em razão do longo período de guerras, da peste negra e<br />
das inúmeras revoltas camponesas, a grave situação da<br />
Europa levou o sistema feudal ao esgotamento. A crise<br />
social da nobreza tornou-se também política, de modo<br />
que com o apoio da burguesia e de parte da nobreza<br />
assustada com os movimentos rebeldes, a autoridade dos<br />
reis fez-se cada vez mais presente, como alternativa à<br />
estabilização do caos. Estava assim, garantido o<br />
precedente à formação das Monarquias Nacionais, golpe<br />
final nas estruturas medievais feudais já tão alteradas ao<br />
longo da Baixa Idade Média.<br />
RENASCIMENTO CULTURAL<br />
Nos séculos finais do Medievo as transformações<br />
econômicas foram responsáveis por uma ampla<br />
modificação da sociedade e pela emergência de valores<br />
renovados, que se materializaram na explosão cultural da<br />
arte e das demais representações renascentistas. A<br />
Península Itálica, com suas cidades e repúblicas, tornarse-ia<br />
o espaço privilegiado para essas inovações,<br />
reunindo uma série de condições econômicas, sociais e<br />
culturais favoráveis.<br />
1. AS ORIGENS DO RENASCIMENTO<br />
CULTURAL<br />
A Itália, por sua localização privilegiada, tornou-se<br />
intenso centro de comércio com a retomada da atividade<br />
mercantil ampliada pela movimentação das Cruzadas e<br />
pela interligação de tradicionais rotas entre o Oriente e o<br />
interior da Europa. Suas cidades reuniam importantes<br />
companhias de comércio e grupos financeiros que<br />
configuravam uma economia cada vez mais dinâmica e<br />
pujante.<br />
A classe burguesa, portanto, encontrava-se em condições<br />
materiais bastante favoráveis, e não hesitou em utilizarse<br />
do capital disponível em favor de sua afirmação<br />
social, junto aos quadros da aristocracia de sangue.<br />
Desse modo, compreendemos a recorrente prática de<br />
financiamento dos artistas propiciada pelos mecenas,<br />
com grandes investimentos em palácios, quadros,<br />
gravuras, afrescos, retratos pessoais etc.<br />
O mecenato é originariamente uma prática de<br />
estímulo à produção cultural e artística, que consiste no<br />
financiamento de artistas e de suas obras. Além disso, os<br />
artistas passavam a viver exclusivamente desse<br />
incentivo, ganhando ainda proteção política e prestígio<br />
social.<br />
A palavra deriva de Caius Mecenas, político romano,<br />
ministro e conselheiro do Imperador Otávio Augusto.<br />
Mecenas era um membro da classe dos cavaleiros e um<br />
rico cidadão romano que foi incumbido pelo imperador a<br />
financiar a produção artística e literária de vários nomes<br />
de vulto da cultura romana, como os poetas Virgílio,<br />
Horácio e Ovídio, bem como o historiador Tito Lívio.<br />
Durante o período das ações de incentivo à produção<br />
cultural de Mecenas e Otávio Augusto, conhecido como<br />
137
138<br />
o “Século de Augusto”, Roma conheceu importantes<br />
mudanças em seu cenário urbano. Templos, teatros,<br />
anfiteatros e esculturas foram construídos na capital do<br />
Império Romano. Otávio teria dito a seguinte frase sobre<br />
essas mudanças: “Orgulho-me de ter encontrado uma<br />
cidade de tijolos e ter deixado uma cidade de mármore”.<br />
A prática de incentivar a produção cultural e sustentar<br />
materialmente os artistas para que se dedicassem<br />
exclusivamente ao desenvolvimento de suas capacidades<br />
entrou em declínio com a Idade Média. Porém, durante o<br />
Renascimento Cultural europeu e com o enriquecimento<br />
de uma parcela dos comerciantes que habitava cidades da<br />
Península Itálica durante esse período, a prática do<br />
mecenato foi reavivada.<br />
Artistas como Leonardo Da Vince, Sandro Boticelli,<br />
Michelangelo Buonarotti, Rafael Sanzio, entre outros,<br />
foram financiados pelos mecenas do Renascimento.<br />
Esses eram homens enriquecidos com as atividades<br />
comerciais ou bancárias e, entre eles, destacaram-se<br />
Lourenço de Médici, Cosme de Médici, Galeazzo Maria<br />
Sforza (duque de Milão) e mesmo Francisco I, rei da<br />
França. A Igreja católica também atuou como importante<br />
mecenas no período, financiando, por exemplo,<br />
Michelangelo para a criação dos afrescos da Capela<br />
Sistina.<br />
Além de incentivar a produção cultural, o mecenato<br />
tem também um objetivo de dar projeção política aos que<br />
destinam recursos financeiros para as produções<br />
culturais. O poder político e econômico seria trabalhado<br />
de forma articulada com o incentivo cultural, dando<br />
projeção social ao mecenas, o que garantia ainda que seu<br />
nome fosse ligado durante muito tempo às belas obras de<br />
arte produzidas.<br />
A partir do século XIX, com as grandes fortunas<br />
proporcionadas pelo capitalismo industrial e financeiro,<br />
novamente o mecenato passou a ser realizado com mais<br />
intensidade pelos grandes burgueses. Nomes como<br />
Guggenheim, Whitney, Rockfeller e Ford investiram<br />
fortunas no incentivo cultural nos Estados Unidos,<br />
criando fundações que existem até os dias atuais.<br />
BRASIL ESCOLA<br />
Outro fator que também estimularia a afirmação<br />
renascentista na Itália, além do confirmado poder<br />
econômico, é a disputa de prestigio entre suas cidades,<br />
que embora tenham conseguido livrar-se da tutela feudal,<br />
não foi capaz de precocemente se organizarem em um<br />
único Estado Nacional, mas em várias cidades-Estados,<br />
ou repúblicas; frequentemente disputavam entre si<br />
hegemonia local e prestígio político, rivalizavam quanto<br />
ao controle do comércio internacional, protagonizavam<br />
disputas militares internas e externas, e, frequentemente,<br />
valeram-se da arte e do estímulo a essa produção para a<br />
garantia de legitimação e a glorificação de seus líderes,<br />
de origem nobre ou burguesa; desse modo, podemos<br />
assegurar que as disputas entre essas cidades,<br />
configuraram-se num importante estímulo às artes na<br />
Itália.<br />
Assim como as citadas condições econômicas e políticas<br />
da Itália favoreceram o Renascimento, consideramos<br />
ainda a sua condição de depositário de uma infinidade<br />
de tradições culturais de inspiração clássica, base da<br />
construção do ideário renascentista. Exemplares da<br />
arquitetura, escultura, templos, monumentos e<br />
manuscritos da arte da Antiguidade encontravam-se ali<br />
preservados e disponíveis à inspiração dos intelectuais e<br />
artistas do renascimento. Esse vigor intelectual seria<br />
reforçado ainda mais pelo afluxo de sábios cultos à<br />
Itália, que desde o início das ameaças dos turcos à<br />
Constantinopla, receberam exílio e proteção para si e<br />
seus documentos.<br />
A partir do século XV, com a difusão da Imprensa no<br />
ocidente, por Gutenberg, a afirmação das Monarquias<br />
Nacionais e a expansão das atividades comerciais<br />
financeiras para outras regiões da Europa, a renovação<br />
artística expandiu-se e ganharam novas identidades em<br />
regiões como os Países Baixos, Península Ibérica, França<br />
e Inglaterra.<br />
2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO<br />
RENASCIMENTO<br />
Os protagonistas do Renascimento Cultural<br />
consideravam-se anunciadores de um novo tempo, que<br />
consideravam renovado e superior com relação à época<br />
imediatamente anterior, identificada com as condições<br />
medievais. Na afirmação de um tempo novo, identificouse<br />
profundamente com as influências do pensamento<br />
antigo e sua produção intelectual e artística,<br />
ressignificando-a à luz das potencialidades da Era<br />
Moderna.<br />
Ao mesmo tempo, o movimento opôs-se profundamente<br />
à Idade Média, questionando a validade e negando a<br />
importância de uma produção cultural considerada<br />
teocêntrica, dogmática e destituída de racionalidade e<br />
valor.
Foram severos críticos do misticismo, coletivismo,<br />
antinaturalismo, teocentrismo e geocentrismo<br />
tipicamente medievais. Em oposição às explicações<br />
místico-religiosas e dogmáticas do pensamento<br />
medieval, afirmaram o racionalismo como única<br />
perspectiva a ser considerada na explicação da realidade.<br />
Daí decorreria a evolução dos métodos experimentais e<br />
a própria observação cientifica, reproduzindo no<br />
conhecimento da natureza a racionalidade já percebida<br />
no pragmatismo burguês das atividades financeiras e<br />
comerciais e na organização político-administrativa<br />
racional dos Estados Nacionais em formação.<br />
O racionalismo estimularia ainda uma crescente postura<br />
crítica que pôs em xeque a rigidez dos dogmas da Igreja<br />
e alimentou a desconfiança em relação ao pensamento<br />
tradicional, gerando alguns conflitos entre o clero e os<br />
pensadores renascentistas.<br />
Já o individualismo contrastou com as identificações<br />
coletivas dos homens do medievo (cavalaria,<br />
comunidade crista, grupo dos servos, grupo da nobreza,<br />
famílias etc.), acentuando de maneira otimista a crença<br />
na própria potencialidade e talentos particulares de cada<br />
homem, independente dos designadores de pertença<br />
coletiva. Esse homem novo da Modernidade se considera<br />
capaz de deter características especifica que o<br />
diferenciava dos demais; exemplo tácito dessa nova<br />
condição é o fato de as obras de arte desses autores<br />
passarem a identificar seus autores e seu talento a partir<br />
de suas assinaturas registradas, ou a busca pessoal de<br />
glória de muitos navegadores nas grandes viagens<br />
marítimas.<br />
Também se identifica com a postura renascentista o<br />
naturalismo, perspectiva de análise, percepção e<br />
descoberta da natureza, com vias à sua dominação<br />
pragmática e de seus fenômenos. Na Idade Média, a<br />
natureza revelou-se como fonte de medo ou do próprio<br />
mistério divino, condicionando a pouca compreensão de<br />
seus aspectos mais essenciais. Em compensação,<br />
elementos sobrenaturais, como o milagre, o castigo, o<br />
Paraíso, os feitiços, a magia, eram bastante identificadas<br />
com a realidade cultural da época. Essa redescoberta da<br />
natureza, atrelada ao estimulo racional de sua<br />
compreensão, faria dos renascentistas grandes<br />
contribuidores do entendimento sobre a natureza do<br />
corpo humano e da própria organização do Universo.<br />
Dentre as maravilhas da Natureza, unanimemente<br />
consideradas como graças divinas, o homem é<br />
considerado como sua obra-prima. Decorre daí o<br />
antropocentrismo, como pressuposto fundamental do<br />
movimento renascentista. O homem é alçado ao centro<br />
das preocupações de estudo, com suas condições físicas,<br />
necessidades sociais, políticas e religiosas e suas<br />
angústias existenciais, além da valorização de suas<br />
múltiplas potencialidades criativas.<br />
Deve-se salientar, entretanto, que a racionalidade<br />
aplicada aos estudos da natureza e valorização dos feitos<br />
humanos não significa que os temas religiosos tenham<br />
sido completamente abandonados pelos artistas<br />
renascentistas, ou que se configuraram ateus; em<br />
contrário, os temas religiosos continuaram valorizados,<br />
mas sob uma nova perspectiva de representação e, todos<br />
os pensadores renascentistas confirmavam a magnânima<br />
natureza criadora de Deus, confirmada na própria<br />
complexidade de funcionamento da natureza.<br />
Rafael Sanzio, Cristo Abençoando, 1506.<br />
A representação das figuras sacras continua a ser um<br />
tema privilegiado, entretanto numa perspectiva<br />
naturalista e antropocêntrica, como evidencia a<br />
imagem e a ênfase na exposição natural do corpo de<br />
Cristo.<br />
139
3. HUMANISMO<br />
intelectual, e a difusão da atividade crítica humanista são<br />
determinantes na projeção das produções renascentistas.<br />
Rafael Sanzio, A Escola de Atenas. A obra revela aspectos técnicos<br />
inovados pela arte renascentista, como as noções de perspectiva e<br />
profundidade; também revela a admiração do homem moderno aos<br />
grandes pensadores clássicos, ao reproduzir a Escola de Atenas e<br />
varias figuras célebres como Aristóteles, Ptolomeu etc.<br />
Se a renovação renascentista nos séculos finais do<br />
Medievo e início da Modernidade se materializou em<br />
importantes obras artísticas, esse movimento fora<br />
precedido por uma significativa renovação filosóficoteológica<br />
do próprio conhecimento. Chamamos de<br />
Humanismo o amplo movimento iniciado na Itália e<br />
expandido pela Europa, que reconsiderou as perspectivas<br />
de compreensão de Deus, da natureza e do próprio<br />
homem.<br />
Os estudos da Humanidade criticaram o predomínio do<br />
pensamento escolástico, hegemônico desde o século XIII<br />
nos meios universitários e retomou a valorização do<br />
platonismo, com ênfase na experiência sensível<br />
criticando o moralismo e o rigor doutrinário e<br />
institucional dos teólogos católicos.<br />
Propôs ainda a modificação dos programas de estudos,<br />
tentando incluir poesia, filosofia, história, matemática e<br />
eloquência no rígido esquema medieval restrito ao<br />
direito, medicina e teologia. O interesse nos estudos<br />
sobre humanidades conduziu esses pensadores à releitura<br />
dos textos de autores da Antiguidade, como Heródoto,<br />
Platão e Homero, permitiu reinterpretações dos estudos<br />
bíblicos e exaltaram o papel do indivíduo, dos feitos<br />
históricos e da capacidade e vontade da ação humana na<br />
determinação da realidade.<br />
O intercâmbio dessas ideias, a troca de conhecimento e<br />
informações, as publicações a partir dessa renovação<br />
4. PRODUÇÃO LITERÁRIA RENASCENTISTA<br />
Dante Alighieri– A Divina Comédia- síntese do<br />
mundo medieval com severa crítica à suas estruturas<br />
mentais e eclesiásticas; escrito no dialeto toscano,<br />
abrindo precedente à afirmação das línguas nacionais;<br />
forma de escrita inspirada nas epopeias antigas, com a<br />
saga de Dante contada em versos.<br />
Francesco Petrarca – Cancioneiro e De África–<br />
considerado o criador da poesia lírica moderna.<br />
Giovanni Bocaccio –De Cameron – obra<br />
construída no gênero novela, ambientado na crise da<br />
Peste Negra no século XIV, revela a hipocrisia medieval<br />
apesar das imposições religiosas de moral nos costumes.<br />
Erasmo de Roterdã – O Elogio da Loucura – o<br />
escritor holandês usa sua obra para apresentar severa<br />
crítica à Igreja, denunciando especialmente a ganância,<br />
imoralidade e formalismo do clero e o comércio de<br />
relíquias e indulgências;<br />
François Rabelais – Gargântua e Pantagruel – o<br />
autor francês sintetizou diversos gêneros narrativos ao<br />
humor popular e satirizou a Filosofia Escolástica e o<br />
ascetismo católico, elogiando prazeres como a comida,<br />
bebida e o sexo.<br />
Michel de Montaigne – Ensaios – Obra marcado<br />
pelo acentuado caráter cético, abalando profundamente<br />
certos dogmas consolidados da fé católica.<br />
Thomas Morus – Utopia – grande nome da<br />
literatura inglesa, imaginou uma sociedade plena, sem<br />
tensões ou conflitos sociais, considerada ideal. O gênero<br />
inspiraria a obra Nova Atlântida de Francis Bacon,<br />
constituindo se num verdadeiro gênero de criação<br />
literária.<br />
William Shakespeare – escreveu especialmente<br />
textos dramatúrgicos, estimulados pela corte elisabetana<br />
e identificado com a burguesia londrina. Enfatizou em<br />
obras como Romeu e Julieta, MacBeth, Sonhos de Uma<br />
Noite de Verão, Hamlet, Henrique IV, as paixões<br />
humanas, a ordem social contra o caos anárquico e<br />
permearam suas obras de elementos místicos da era<br />
medieval, como bruxas, fantasmas etc.<br />
Miguel de Cervantes - o autor espanhol narra às<br />
aventuras do fidalgo Dom Quixote de La Mancha e seu<br />
fiel escudeiro Sancho Pança, satirizando o feudalismo e<br />
os costumes da cavalaria medieval.<br />
140
Luís de Camões – Os Lusíadas – o poema épico<br />
de Camões narra e exalta as façanhas dos portugueses no<br />
empreendimento das Grandes Navegações.<br />
5. O RENASCIMENTO E ARTES PLÁSTICAS<br />
Na Idade Média o estilo românico, o gótico e a arte<br />
bizantina possuíam, numa sociedade majoritariamente<br />
analfabeta, função meramente didática, com forte apelo<br />
visual e predomínio dos temas da salvação. A partir do<br />
século XIII, com as inovações propostas por Giotto,<br />
inovações técnicas e de representação temática dariam o<br />
tom das artes plásticas renascentistas. O apelo à<br />
sensibilidade humana e o apuro naturalista da<br />
representação de objetos, pessoas, interiores e paisagens<br />
desafiavam outros sentidos, além do visual apenas.<br />
Do ponto de vista técnico, novas concepções de espaço, a<br />
partir das noções de perspectiva e profundidade, revelarse-iam<br />
inovadores, especialmente pela racionalidade<br />
matemático-geométrica rigidamente definidos. Domínio<br />
sobre cores, tons, materiais, jogos de luz e sombra,<br />
óptica, conhecimentos de anatomia, fizeram da arte uma<br />
cultura superior, em que elementos artísticos e científicos<br />
se integravam, transformando o pintor numa espécie de<br />
“cientista da arte”. Este artista tornara se ainda um<br />
criador individualizado, cujo prestígio se reconhecera no<br />
apoio dos mecenas e nas distinções e prestígios sociais<br />
que recebe nos meios onde circula.<br />
Fase inicial da produção renascentista, em que se<br />
destacam na literatura as já citadas produções de Dante,<br />
Petrarca e Bocaccio. Nas artes plásticas, a inovação ficou<br />
por conta de Giotto, que em oposição à rigidez da arte<br />
medieval, manteve os temas religiosos de composição,<br />
mas inovou explorando cores, movimentos, profundidade<br />
dos cenários e representações do elemento humano que<br />
privilegiavam a expressividade dos personagens.<br />
Florença é o grande destaque e, ocorreram nesse período<br />
o aperfeiçoamento das técnicas de aprofundamento do<br />
espaço e a incorporação do espaço natural dos campos e<br />
cidades emergindo o elemento essencial da paisagem.<br />
Giovanni Bellini, Anunciação, 1489. O quadro evidencia a novidade dos usos<br />
de projeção de distancia permitidos pela perspectiva.<br />
6. FASES DO RENASCIMENTO ITALIANO<br />
6.1 TRECENTO – Século XIV<br />
6.2 QUATROCENTO – Sec. XV<br />
Embora a temática se mantenha religioso, o uso de cores<br />
e a evidência do movimento precipitam as<br />
transformações técnicas da arte renascentista.<br />
A arte renascentista será fortemente potencializada pelo<br />
estímulo da prática de mecenato, especialmente dos<br />
Médici e dos trabalhos da Escola Florentina. Na pintura,<br />
destaca-se Masaccio, com a obra A Expulsão de Adão e<br />
Eva do Paraíso e pelo desenvolvimento da técnica de<br />
esfumaçamento, em que se garante menor nitidez nas<br />
formas mais distantes na composição da tela. Destaca-se<br />
ainda Lippi, com Adoração e Sandro Botticelli com<br />
Alegoria da Primavera. A crise florentina nos finais<br />
desse século dimensionaria Veneza, como novo centro<br />
de destaque da reprodução da arte renascentista, onde<br />
destacaria a fabulosa obra de Ticiano. Desse momento<br />
também é a incorporação de técnicas estrangeiras, como<br />
o uso de tinta a óleo, gerando maravilhosos efeitos<br />
cromáticos e luminosos, já utilizado por artistas na região<br />
dos Países Baixos.<br />
141
Sandro Botticelli, Alegoria da Primavera.<br />
Também relacionado ao Quatrocento é a pintura de<br />
cavalete, que garantiu a transformação da arte num bem<br />
móvel, de fácil circulação, reduzindo a predominância<br />
dos afrescos; a vocação antropocêntrica também se<br />
manifestou na obsessão pelo registro natural das formas<br />
humanas e pela valorização da nudez reveladora da<br />
perfeição anatômica, mesmo em temas religiosos, como<br />
em O Suplicio de São Sebastião. O costume do retrato e<br />
o registro das cenas domésticas e em família<br />
recrudescem<br />
Rafael Sanzio Retrato de Elizabetta Gonzaga<br />
Batista Dossi, Retrato de Alfonso I D’Este, 1534.<br />
Bartolomeu Maineri, São Sebastião, 1492.<br />
6.3 CINQUECENTO – Século XVI<br />
O último período do Renascimento Italiano, momento de<br />
maior elaboração da arte moderna, coincidiu com a<br />
afirmação de Roma como seu principal centro,<br />
142
fortemente marcado pelo mecenato eclesiástico e pela<br />
crise econômica da Península Itálica, associado ao<br />
expansionismo marítimo ibérico. Desta época<br />
destacamos a construção da Basílica de São Pedro e a<br />
decoração do palácio do Vaticano.<br />
Produziram obra monumental nesse período, Leonardo<br />
da Vinci, que sobrepujou as técnicas de oposição de luz e<br />
sombra, técnica de esfumaçamento e deu, inclusive,<br />
tratamento psicológico às figuras retratadas. A Virgem<br />
dos Rochedos, Monalisa e A Última Ceia revelam bem<br />
esses aspectos e a confirmação das tendências<br />
antropocêntricas do Renascimento.<br />
intumescia das veias revela seu profundo conhecimento<br />
de anatomia e o profundo realismo de suas pinturas e<br />
esculturas, como em Pietá, Davi, Moisés, O Escravo<br />
Acorrentado ou em suas pinturas e afrescos na Capela<br />
Sistina. Rafael Sanzio, com trabalhos mais suaves e<br />
harmoniosos, também se destacou, especialmente por<br />
suas madonas, como a Madona Sistina.<br />
Leonardo da Vinci, A Última Ceia, 1452.<br />
Moisés, Michelangelo Buonarotti<br />
Leda e o Cisne, Leonardo da Vinci<br />
Michelangelo, considerado um dos maiores expoentes da<br />
genialidade humana, foi beneficiado pelo mecenato<br />
papal, tendo sido pintor, escultor, arquiteto, músico etc.<br />
As saliências dos músculos e o enrugamento da pele e<br />
La Pietá, de Michelangelo<br />
143
atmosfera caótica de homens e mulheres bestificados em<br />
situações insólitas.<br />
Davi, de Michelangelo<br />
O olhar mostra segurança. O corpo, uma nudez sem<br />
pudor. A musculatura, relaxada, uma anatomia perfeita.<br />
A figura toda é uma procura de graça e beleza. A estátua<br />
é de um personagem, Davi, o pastor que virou rei de<br />
Israel por volta do ano 1000 a.C. Mas sua forma lembra<br />
antes um jovem deus pagão da mitologia. A beleza é<br />
fortemente idealizada, mas ainda assim<br />
indiscutivelmente humana. Sob a rigidez do mármore, há<br />
palpitação de vida. Diante do Davi de Michelangelo,<br />
esculpido na virada do século XVI, não há dúvida de que<br />
se está contemplando um mundo diferente do da Idade<br />
Média.<br />
Fora da Itália, as artes plásticas encontrariam grandes<br />
expoentes também nos Países Baixos, territórios alemães<br />
e Espanha. A rica burguesia flamenga, de caráter menos<br />
aristocratizante e mais pragmático para a disciplina e o<br />
trabalho, buscou registrar a realidade social, em sua<br />
plena autenticidade, evidenciando o convívio entre<br />
opulência e miséria, oficinas e residências, objetos,<br />
naturezas-mortas e paisagens. Foram bastante profícuos<br />
no desenvolvimento de técnicas inovadoras, como a<br />
pintura a óleo, e na técnica do retrato, especialmente o de<br />
perfil e o retrato conjugal.<br />
O destaque recai sobre os irmãos Jan e Hubert Van Eick,<br />
tendo sido o primeiro, autor da célebre pintura O Casal<br />
Arnolfini; Rogier van der Weiden traria intensa<br />
dramaticidade e reflexões sobre a fragilidade humana,<br />
como na pintura Descida da Cruz. Já Hieronymus Bosch<br />
usaria suas obras O Jardim das Delicias, As tentações de<br />
Santo Antonio e A Carroça de Feno para criar uma<br />
O Casal Arnolfini, de Jan Van Eick<br />
Parte de O Jardim das Delícias, de Bosch<br />
Nos territórios alemães a gravura sobre madeira e metal<br />
teve como destaque Albrecht Durer, que reuniu<br />
elementos do gótico, a cor dos pintores flamengos e as<br />
técnicas geométricas dos italianos, presente em obras<br />
como Adoração dos Reis Magos e Natividade.<br />
144
Adoração dos Reis Magos, de A. Durer.<br />
Na Espanha, El Greco seria a figura mais destacada,<br />
anunciando os elementos que seriam dominantes no<br />
Barroco. Pentecostes e Enterro do Conde Orgaz são suas<br />
obras mais destacadas.<br />
partir da influencia do racionalismo e do exercício da<br />
observação e experimentação.<br />
Uma importante revelação dessa novidade no<br />
conhecimento é a polêmica que se desenvolveu em torno<br />
do dogma medieval da concepção geocêntrica da Terra,<br />
através do qual a Igreja afirmava a centralidade do nosso<br />
planeta no Universo, com a movimentação dos demais<br />
corpos celestes em sua órbita. Nicolau Copérnico e<br />
Galileui Galilei, questionaram a condição fixa da Terra,<br />
afirmando ser essa um corpo móvel com órbita em torno<br />
do Sol, consolidando a defesa da chamada teoria<br />
heliocêntrica.<br />
O custo do questionamento do firme dogma católico,<br />
para Galileu foi a perseguição da Igreja Católica, que<br />
conduziu-o ao julgamento mediante o Tribunal de Santo<br />
Ofício, ameaçando sua própria integridade a fim de que o<br />
cientista retrocedesse em suas convicções. Apenas por<br />
ter afirmado a infinitude do universo e recusar-se a abrir<br />
mão de seus pensamentos, Giordano Bruno havia sido<br />
julgado e morto pela Igreja, o que serviria de exemplo a<br />
Galileu para retratar-se com a Igreja.<br />
Nos estudos de anatomia do corpo humano e da ciência<br />
médica, destaca-se o médico Vesálio e Harvey e Servet<br />
por suas contribuições sobre circulação sanguínea.<br />
Paracelso seria responsável pela codificação de diversas<br />
drogas medicinais e Paré, pela técnica de ligação de<br />
artérias para estancar o sangue.<br />
Enterro do Conde de Orgaz, El Greco.<br />
RENASCIMENTO CIENTÍFICO<br />
As muitas transformações propiciadas pela renovação do<br />
pensamento através do Renascimento acarretariam<br />
mudanças não apenas na produção artística, como<br />
também em outras áreas do conhecimento humano,<br />
abrindo visível precedente ao desenvolvimento daquilo<br />
que chamamos de Ciências Modernas. Esse<br />
Renascimento Científico concentrou seus estudos<br />
especialmente a respeito do funcionamento da natureza,<br />
dos movimentos cósmicos e da condição humana, a<br />
Michelangelo Buonarotti, Juízo Final, Capela Sistina.<br />
145
EXERCÍCIOS<br />
01 - (UFRN) Os historiadores fazem distinção entre o<br />
período medieval e a modernidade na Europa Ocidental.<br />
As imagens a seguir evidenciam essa nova concepção de<br />
mundo, característica da modernidade.<br />
BRUNO, Giordano. Tratado da magia, 1591. Apud JOB, Nelson. Ontologias em<br />
devir: confluências entre magia e ciência. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14<br />
nov. 2012.<br />
Tal como demonstra a citação de Giordano Bruno,<br />
sentenciado pela Inquisição à morte na fogueira, a magia<br />
despertava o interesse de pensadores e cientistas que<br />
estudavam as formas de intervir nas forças da natureza,<br />
no período entre os séculos XV e XVI. Com base no<br />
exposto,<br />
a) explique como a citação de Giordano Bruno contraria<br />
os princípios que sustentaram a ação da Inquisição;<br />
b) relacione a citação de Giordano Bruno aos valores<br />
renascentistas sobre o conhecimento humano.<br />
03 - (FPS PE)<br />
146<br />
Essas imagens remetem a aspectos da mentalidade do<br />
mundo moderno, que era caracterizado<br />
a) pela reafirmação da visão aristotélica do universo e<br />
do homem, afirmando um padrão de círculos<br />
perfeitos no movimento dos astros.<br />
b) pela subordinação à visão clerical, que valorizava a<br />
iluminação divina para chegar à verdade sobre o<br />
homem, a mais perfeita realização de Deus.<br />
c) por um esquema do universo baseado no modelo<br />
heliocêntrico e por uma exaltação das capacidades<br />
humanas para chegar à verdade.<br />
d) por um ideal que partia da valorização do homem e,<br />
por consequência, via a Terra como centro do<br />
universo.<br />
02 - (UFG GO) Leia a citação a seguir.<br />
Mago designa um homem que alia o saber ao poder de<br />
agir para a criação de mundos desejáveis.<br />
O Renascimento trouxe mudanças na forma de pensar as<br />
relações sociais e foi importante para redefinir e produzir<br />
a cultura. Houve grande influência da cultura clássica nas<br />
redefinições acontecidas. Na pintura, por exemplo<br />
observa-se:<br />
a) a prevalência do sentimento religioso, com a<br />
manutenção de princípios estéticos que afirmavam o<br />
uso de cores sombrias.<br />
b) a ousadia na temática que divergia das formas<br />
estéticas da Idade Média com uso de histórias da<br />
mitologia grega.<br />
c) a falta de originalidade na produção, apesar das<br />
transformações na aplicação das cores e a relação<br />
com a renovação na forma.<br />
d) a falta de interesse por temas que tivessem<br />
articulação com a religião católica e as crenças dos<br />
tempos medievais.<br />
e) a manutenção de padrões do mundo antigo, com<br />
quadros que ressaltavam a vida dos santos e<br />
glorificavam a burguesia de época.
04 - (UCS RS) Com o renascimento comercial e urbano,<br />
o aparecimento da burguesia, classe ligada ao comércio,<br />
e a formação das monarquias nacionais, a cultura<br />
europeia também sofreu alterações. Essas<br />
transformações culturais aprofundaram-se nos séculos<br />
XIV-XVI, ficando conhecidas como Renascimento.<br />
Representavam os valores da burguesia, classe social em<br />
ascensão. Manifestaram-se na literatura, artes plásticas,<br />
filosofia e ciência.<br />
(MELLO, Leonel I.; COSTA, Luís César. <strong>História</strong> moderna e contemporânea.<br />
São Paulo: Scipione, 1993. p. 31.)<br />
Relacione os artistas renascentistas, apresentados na<br />
COLUNA A, às características que os identificam,<br />
elencadas na COLUNA B.<br />
COLUNA A<br />
1. Leonardo Da Vinci (1452-1519)<br />
2. Michelangelo Buonarotti (1475-1564)<br />
3. Sandro Botticelli (1445-1510)<br />
4. Rafael Sanzio (1483-1520)<br />
COLUNA B<br />
( ) Projetou a cúpula da Basílica de São Pedro e decorou<br />
a Capela Sistina (ambas no Vaticano) com algumas das<br />
mais conhecidas pinturas renascentistas, entre elas “A<br />
Criação de Adão”.<br />
( ) Pintor, arquiteto, botânico, cartógrafo, engenheiro,<br />
escultor, físico, geólogo, químico e inventor, era o típico<br />
humanista. Uma de suas obras mais famosas foi o<br />
“Homem Vitruviano”, retratando a beleza e precisão da<br />
simetria humana.<br />
( )Rompeu com a tradição medieval ao enfatizar a<br />
liberdade de movimentos do corpo, em sintonia com o<br />
dinamismo renascentista. Uma de suas telas mais<br />
famosas é “O Nascimento da Vênus”.<br />
( )Tornou-se o artista mais popular do Cinquecento,<br />
expressando sentimentos religiosos e transferindo para<br />
suas obras equilíbrio, doçura e piedade. Entre suas obras<br />
mais importantes estão “Escola de Atenas” e “Madona<br />
Sistina”.<br />
Assinale a alternativa que preenche corretamente os<br />
parênteses, de cima para baixo.<br />
a) 1 – 3 – 2 – 4<br />
b)2 – 1 – 4 – 3<br />
c) 4 – 2 – 3 – 1<br />
d) 2 – 1 – 3 – 4<br />
e) 3 – 2 – 4 – 1<br />
05 - (UEM PR) Leia o texto a seguir e assinale a(s)<br />
alternativa(s) correta(s).<br />
“No decurso do tempo, a humanidade teve de aguentar,<br />
das mãos da ciência, duas grandes ofensas a seu ingênuo<br />
amor-próprio. A primeira foi quando percebeu que a<br />
Terra não era o centro do universo, mas apenas um<br />
pontinho num sistema de magnitude dificilmente<br />
compreensível. A segunda quando a pesquisa biológica<br />
lhe roubou o privilégio de ter sido criada especialmente,<br />
e relegou o homem a descendente do mundo animal.”<br />
(FREUD, S. O mal-estar na civilização. In:VICENTINO,C; DORIGO, G.<br />
<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e doBrasil. São Paulo:Scipione, 2010, p. 39)<br />
01. O texto faz referência indireta às pesquisas que, no<br />
século XIX, propuseram a teoria da evolução das<br />
espécies, segundo a qual a espécie humana evoluiu ao<br />
longo dos tempos por um processo de seleção natural.<br />
02. Segundo o texto, os estudos científicos contribuíram<br />
para valorizar o papel atribuído a Deus na construção do<br />
Universo.<br />
04. A ideia de que a Terra não é o centro do universo foi<br />
desenvolvida no início da modernidade por pensadores<br />
como Galileo Galilei e Copérnico.<br />
08.O texto reafirma a teoria heliocêntrica, pois mostra<br />
que o Sol é o centro do Universo.<br />
16.Segundo o texto, a diminuição do amor-próprio dos<br />
homens é resultado dos equívocos da ciência e, para<br />
recuperá-lo, faz-se necessária uma reaproximação da<br />
humanidade com Deus.<br />
06 - (UEPG PR) Movimento marcado por grandes<br />
mudanças culturais ocorrido na Europa Ocidental entre<br />
os séculos XIV e XVI, o Renascimento se caracteriza<br />
pela retomada de valores da cultura greco-romana. A<br />
respeito de Leonardo da Vinci, um dos expoentes do<br />
Renascimento, assinale o que for correto.<br />
01. "Monalisa" e "A Última Ceia" figuram entre os<br />
principais quadros pintados por da Vinci.<br />
147
02. Como cientista e inventor, da Vinci foi um dos<br />
primeiros a projetar uma máquina voadora e um<br />
paraquedas.<br />
04. Florença, na Itália, foi a cidade em que mais<br />
Leonardo da Vinci realizou seus trabalhos.<br />
08. Crítico do humanismo, da Vinci evitou ao máximo o<br />
uso de temas humanos em suas telas, optando,<br />
predominantemente, pela exposição e valorização de<br />
figuras celestiais.<br />
16. O talento de Leonardo da Vinci foi reconhecido<br />
apenas no século XX. Em vida, nunca gozou de prestígio<br />
e reconhecimento por parte de artistas e intelectuais.<br />
07 - (Fac. Direito de Sorocaba SP) Sabe-se hoje que a<br />
visão retrospectiva da Europa medieval como uma<br />
“idade das trevas” esteve condicionada por uma<br />
perspectiva racionalista, num momento em que ser<br />
humanista significa colocar em questão os pressupostos<br />
teocêntricos defendidos pelos representantes da Igreja.<br />
(José Rivair Macedo, Repensando a Idade Média no ensino de <strong>História</strong>. In:<br />
Leandro Karnal (org.), <strong>História</strong> na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.<br />
Adaptado)<br />
Essa visão da Idade Média foi elaborada no contexto<br />
a) do século XIX, em que o positivismo afirmou pela<br />
primeira vez a crença na ciência.<br />
b) das Revoluções Burguesas, na tentativa de superar<br />
as heranças da Antiguidade.<br />
c) do Antigo Sistema Colonial, para legitimar o<br />
colonialismo europeu.<br />
d) da Revolução Industrial, como mecanismo de<br />
superação da economia feudal.<br />
e) do Renascimento, como forma de ruptura com a<br />
sociedade medieval.<br />
08 - (UPE) Analise a imagem a seguir:<br />
Disponível em: http://www.infoescola.com/pintura/onascimento-de-venus.<br />
148<br />
O quadro O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, é<br />
uma das grandes realizações da arte renascentista.<br />
Sobre essa obra e seu contexto histórico, assinale a<br />
alternativa CORRETA.<br />
a) A temática pagã da obra, baseada na mitologia<br />
greco-romana, constituiu-se numa ousadia que<br />
destoava do restante da produção artística do<br />
Renascimento.<br />
b) A nudez representada no quadro também aparece em<br />
obras de outros artistas da época, como<br />
Michelangelo.<br />
c) Botticelli, personagem símbolo do ideal humanista,<br />
também foi arquiteto, engenheiro, músico e poeta.<br />
d) O nascimento de Vênus, assim como a Última Ceia<br />
de Da Vinci, é uma pintura de temática bíblica.<br />
e) Botticelli destacou-se por sua produção em<br />
escultura.<br />
09 - (UFPE) Sobre o movimento historicamente<br />
reconhecido como Renascimento, que se difundiu na<br />
Europa a partir do final do século XV, analise as<br />
proposições abaixo.<br />
00. Em contraposição à teoria geocêntrica, de Ptolomeu,<br />
difundida nas universidades medievais, a teoria<br />
heliocêntrica, de Copérnico, representou uma revolução<br />
no conhecimento humano.<br />
01. A expansão marítima europeia do século XV está<br />
diretamente relacionada aos novos conceitos de homem e<br />
de mundo que caracterizam o movimento renascentista.<br />
02. Embora tenha sido um movimento restrito ao campo<br />
das artes plásticas, o Renascimento provocou grandes<br />
mudanças no modo de pensar de homens e mulheres da<br />
Europa.<br />
03. Com o Renascimento, o comércio europeu via<br />
Mediterrâneo foi alargado, propiciando um maior<br />
intercâmbio de mercadorias e ideias entre Oriente e<br />
Ocidente.<br />
04. A visão de mundo renascentista era também<br />
caracterizada pelo antropocentrismo, o que significa que<br />
o homem ocupava uma posição central nas preocupações<br />
humanas.
10 - (UFSC) Sobre o Renascimento, é CORRETO<br />
afirmar que:<br />
03. a aceitação incondicional de crenças religiosas<br />
próprias do Cristianismo, anulando as tradições clássicas<br />
predominantes no mundo das artes.<br />
04. a busca por espaços literários renovadores, com obras<br />
expressivas, como Dom Quixote de La Mancha,<br />
importantes para afirmação das línguas nacionais<br />
europeias.<br />
12 - (UFJF MG) As imagens abaixo ilustram alguns<br />
procedimentos utilizados por um novo modo de conhecer<br />
e explicar a realidade que se estruturou entre os séculos<br />
XVI e XVIII.<br />
Disponível em: . Acesso<br />
em: 31 ago. 2012.<br />
01. uma das características mais importantes do<br />
Renascimento foi a ruptura com a Antiguidade Clássica.<br />
02. os estudos astronômicos desenvolvidos por Nicolau<br />
Copérnico durante o Renascimento permitiram a<br />
conclusão de que os planetas giravam em torno da Terra.<br />
04. os mecenas foram personagens importantes no<br />
Renascimento, pois sua oposição aos artistas fez com que<br />
estes exercessem com mais afinco sua criatividade.<br />
08. Leonardo da Vinci, artista de grande versatilidade e<br />
inúmeros interesses, é um representante do Humanismo.<br />
16. o período renascentista se beneficiou da preservação<br />
de textos antigos pelos monges e da criação de<br />
universidades.<br />
Ilustração do Sistema solar no manuscrito de Copérnico na obra “Das Revoluções<br />
das esferas celestes” Fonte: Disponível em: . Acesso em:<br />
8 out. 2011.<br />
32. as cruzadas, que incrementaram o intercâmbio entre<br />
muçulmanos e cristãos, bem como o domínio mouro na<br />
Península Ibérica, contribuíram para o Renascimento.<br />
11 - (UFPE) O Renascimento – um importante período<br />
na história da vida europeia – trouxe:<br />
00. a ruptura da nobreza com o poder da Igreja,<br />
reforçando o fim do domínio político do papa e o<br />
crescimento das aspirações republicanas, relacionadas<br />
com as reflexões de Maquiavel.<br />
01. as redefinições no mundo das artes, com mudanças<br />
na sensibilidade e na percepção do pensamento e dos<br />
valores da época.<br />
02. o fortalecimento do saber científico, com mudanças<br />
nas concepções da astronomia e da matemática, que<br />
contribuíram para a secularização da cultura.<br />
Ilustração de Andreas Vesalius na obra “Da Organização do Corpo Humano”.<br />
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 8 out. 2011.<br />
149
Com base nas informações acima e em seus<br />
conhecimentos, responda ao que se pede:<br />
a) Que processo histórico pode ser identificado pelas<br />
referências acima?<br />
b) Cite e analise uma característica desse novo modo de<br />
conceber o conhecimento.<br />
c) Explique o impacto desse novo modo de conceber o<br />
conhecimento sobre os dogmas religiosos vigentes na<br />
época.<br />
13 - (UNIRG TO) O movimento artístico e cultural que<br />
floresceu na Itália a partir do século XIV é conhecido<br />
como Renascimento ou Renascença. Pode ser<br />
caracterizado como uma tendência cultural laica que se<br />
estendeu até o século XVI. Inspirado na cultura gregoromana,<br />
rejeitava os valores feudais a ponto de<br />
considerar o período medieval a "Idade das Trevas".<br />
Assinale a alternativa que NÃO tem característica(s) do<br />
Renascimento:<br />
a) No período renascentista, valorizava-se o ser<br />
humano como ser racional, isto é, dotado de um dom<br />
quase divino, a razão, e por isso mesmo capaz de<br />
interpretar e conhecer a natureza.<br />
b) No Renascimento a aproximação dos seres humanos<br />
com Deus se fazia por meio da criatividade e da<br />
genialidade, atributos que lhe davam a imagem e a<br />
semelhança do Criador, possibilitando-lhes emergir<br />
das trevas da sujeição escolástica para exercer sua<br />
verdadeira humanidade.<br />
c) O naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo são<br />
características do Renascimento. O naturalismo<br />
prega a volta à natureza; a filosofia hedonista<br />
defende o prazer individual como único bem<br />
possível; e o neoplatonismo, por sua vez, defende<br />
uma elevação espiritual, uma aproximação com<br />
Deus por meio da interiorização, da busca espiritual,<br />
em detrimento de qualquer desejo material.<br />
d) É característica do Renascimento a oposição ao<br />
humanismo, no sentido da valorização do ser<br />
humano, criação privilegiada de Deus. O<br />
Renascimento coadunava também, ao teocentrismo<br />
medieval, que tinha Deus como centro de todas as<br />
coisas e enxergava o ser humano como ser inferior,<br />
corrompido pelo pecado.<br />
14 - (UFTM MG) Leia a definição de renascença.<br />
1. Ato ou efeito de renascer; renascimento 2. Qualquer<br />
movimento caracterizado pela ideia de renovação, de<br />
restauração; retorno 3. Nova vida, nova existência.<br />
(Dicionário Houaiss da língua portuguesa)<br />
O termo renascença é utilizado para caracterizar a arte,<br />
no mundo ocidental, entre os séculos XIV e XVI. A<br />
escolha do termo pode ser explicada<br />
a) pelo fato de a produção artística ocidental nascer, de<br />
fato, neste período.<br />
b) pela revalorização de ideais estéticos vigentes na<br />
Antiguidade Clássica.<br />
c) pela renovação da pintura, fruto da difusão dos<br />
ideais protestantes.<br />
d) pelo contato com a arte africana, descoberta graças<br />
às viagens marítimas.<br />
e) pelo fim da política do mecenato, que financiava a<br />
recuperação das obras de arte.<br />
15 - (Unemat MT) Um momento histórico, surgido<br />
durante o século XV, teve, de início, sentido religioso,<br />
significando a revitalização da alma por meio dos<br />
sacramentos. No século XVI, o termo foi empregado<br />
para se referir às mudanças de consciência e de formas<br />
de expressão artística do período. Seu início é marcado<br />
pelo apogeu das cidades italianas do século XV e pela<br />
renovação das expressões artísticas ligadas às mudanças<br />
de mentalidade do período, com a ascensão da burguesia.<br />
Assinale a alternativa que indica esse momento histórico.<br />
a) Iluminismo<br />
b) Renascimento<br />
c) Absolutismo<br />
d) Liberalismo<br />
e) Relativismo Cultural<br />
16 - (UNESP SP) Os centros artísticos, na verdade,<br />
poderiam ser definidos como lugares caracterizados<br />
pela presença de um número razoável de artistas e de<br />
grupos significativos de consumidores, que por<br />
motivações variadas — glorificação familiar ou<br />
individual, desejo de hegemonia ou ânsia de salvação<br />
eterna — estão dispostos a investir em obras de arte uma<br />
parte das suas riquezas. Este último ponto implica,<br />
evidentemente, que o centro seja um lugar ao qual<br />
afluem quantidades consideráveis de recursos<br />
150
eventualmente destinados à produção artística. Além<br />
disso, poderá ser dotado de instituições de tutela,<br />
formação e promoção de artistas, bem como de<br />
distribuição das obras. Por fim, terá um público muito<br />
mais vasto que o dos consumidores propriamente ditos:<br />
um público não homogêneo, certamente (...).<br />
(The rise of Islam, 1991.)<br />
3. Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp.<br />
(Carlo Ginzburg. A micro-história e outros ensaios, 1991.)<br />
Os “centros artísticos” descritos no texto podem ser<br />
identificados<br />
a) nos mosteiros medievais, onde se valorizava<br />
especialmente a arte sacra.<br />
b) nas cidades modernas, onde floresceu o<br />
Renascimento cultural.<br />
c) nos centros urbanos romanos, onde predominava a<br />
escultura gótica.<br />
d) nas cidades-estados gregas, onde o estilo dórico era<br />
hegemônico.<br />
e) nos castelos senhoriais, onde prevalecia a arquitetura<br />
românica.<br />
17 - (Fac. Santa Marcelina SP) Analise as imagens.<br />
1. Unção de doente por sacerdotes na Idade Média.<br />
(Medieval Life,1997.)<br />
2. Médico muçulmano com paciente na Idade Média.<br />
(Rembrandt, 1632. www.mauritshuis.nl)<br />
A partir das imagens e de seus conhecimentos, é correto<br />
afirmar que<br />
a) a ideia de que o corpo humano era uma obra divina e<br />
intocável predominou tanto no mundo muçulmano<br />
como no cristão, na Idade Média e na Moderna,<br />
como provam as três imagens.<br />
b) os cristãos foram estimulados a estudar o corpo<br />
humano nas universidades medievais, por influência<br />
decisiva dos médicos islâmicos radicados na<br />
península ibérica, como se observa nas imagens 1 e<br />
2.<br />
c) a Igreja católica impediu, com sucesso, o estudo de<br />
ciências médicas na Idade Média e na Moderna, o<br />
que é confirmado nas imagens 1 e 3, ao contrário<br />
dos muçulmanos, que as desenvolveram.<br />
d) a dissecação de cadáveres era proibida na Idade<br />
Média, o que atrapalhou a medicina islâmica; apenas<br />
no Renascimento tal prática teve início, estimulada<br />
pelos católicos, como mostra a imagem 3.<br />
e) a forte religiosidade limitava as ciências na Europa<br />
Medieval, enquanto a medicina alcançou progresso<br />
com os muçulmanos e com os europeus da Idade<br />
Moderna, como aparece nas imagens 2 e 3.<br />
18 - (UNICAMP SP) De uma forma inteiramente<br />
inédita, os humanistas, entre os séculos XV e XVI,<br />
criaram uma nova forma de entender a realidade. Magia<br />
e ciência, poesia e filosofia misturavamse e auxiliavamse,<br />
numa sociedade atravessada por inquietações<br />
religiosas e por exigências práticas de todo gênero.<br />
(Adaptado de Eugenio Garin, Ciência e vida civil no Renascimentoitaliano. São<br />
Paulo: Ed. Unesp, 1994, p. 11.)<br />
151
Sobre o tema, é correto afirmar que:<br />
a) O pensamento humanista implicava a total recusa da<br />
existência de Deus nas artes e na ciência, o que<br />
libertava o homem para conhecer a natureza e a<br />
sociedade.<br />
b) A mistura de conhecimentos das mais diferentes<br />
origens - como a magia e a ciência - levou a uma<br />
instabilidade imprevisível, que lançou a Europa<br />
numa onda de obscurantismo que apenas o<br />
Iluminismo pôde reverter.<br />
c) As transformações artísticas e políticas do<br />
Renascimento incluíram a inspiração nos ideais da<br />
Antiguidade Clássica na pintura, na arquitetura e na<br />
escultura.<br />
d) As inquietações religiosas vividas principalmente ao<br />
longo do século XVI culminaram nas Reformas<br />
Calvinista, Luterana, Anglicana e finalmente no<br />
movimento da Contrarreforma, que defendeu a fé<br />
protestante contra seus inimigos.<br />
19 - (UEL PR) Analise a figura a seguir.<br />
Figura 27: Sandro Botticelli. O Nascimento de Vênus, 1482. Têmpera sobre tela.<br />
172,5 x 278,5 cm. Galeria dos Uffizi, Florença (Itália).<br />
Com base nos conhecimentos sobre a pintura no período<br />
do Renascimento e na obra de Sandro Botticelli (Fig.<br />
27), considere as afirmativas a seguir.<br />
I. Há, nessa obra renascentista, a preocupação com o<br />
naturalismo, a proporção e o efeito de profundidade,<br />
sendo o pintor florentino Sandro Botticelli um dos<br />
principais representantes do Quattrocento.<br />
II. Essa obra marca o início da Arte Moderna na Itália ao<br />
retratar o conflito entre o homem e a natureza, expresso<br />
na ação do vento que afeta os principais elementos da<br />
composição.<br />
III. Essa obra tem como temática um episódio<br />
mitológico que aborda o nascimento de uma deusa,<br />
152<br />
apresentando a movimentação do ar como um importante<br />
elemento para expressar leveza.<br />
IV. O Renascimento é um período histórico<br />
caracterizado pelo teocentrismo e a obra O Nascimento<br />
de Vênus é emblemática por apresentar o sopro divino<br />
como temática da composição.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.<br />
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.<br />
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.<br />
20 - (UNIFICADO RJ) O Renascimento foi, de certa<br />
forma, a expressão do movimento humanista nas artes,<br />
letras, filosofia, música e ciência. O estudo do homem e<br />
da natureza conduziu ao Renascimento Científico, nele<br />
enfatizando-se a ciência experimental.<br />
Nesse contexto específico do Renascimento Científico,<br />
se inclui o(a)<br />
a) Antropocentrismo, de Michelângelo<br />
b) Evolucionismo, de Charles Darwin<br />
c) Heliocentrismo, de Nicolau Copérnico<br />
d) Naturalismo, de Alexander Von Humboldt<br />
e) Bacteriologia, de Louis Pasteur<br />
21 - (FUVEST SP) O olho é o senhor da astronomia,<br />
autor da cosmografia, conselheiro e corretor de todas as<br />
artes humanas (...). É o príncipe das matemáticas; suas<br />
disciplinas são intimamente certas; determinou as<br />
altitudes e dimensões das estrelas; descobriu os<br />
elementos e seus níveis; permitiu o anúncio de<br />
acontecimentos futuros, graças ao curso dos astros;<br />
engendrou a arquitetura, a perspectiva, a divina pintura<br />
(...). O engenho humano lhe deve a descoberta do fogo,<br />
que oferece ao olhar o que as trevas haviam roubado.<br />
Leonardo da Vinci, Tratado da pintura.<br />
Considere as afirmações abaixo:<br />
I. O excerto de Leonardo da Vinci é um exemplo do<br />
humanismo renascentista que valoriza o racionalismo<br />
como instrumento de investigação dos fenômenos<br />
naturais e a aplicação da perspectiva em suas<br />
representações pictóricas.
II. Num olho humano com visão perfeita, o cristalino<br />
focaliza exatamente sobre a retina um feixe de luz vindo<br />
de um objeto. Quando o cristalino está em sua forma<br />
mais alongada, é possível focalizar o feixe de luz vindo<br />
de um objeto distante. Quando o cristalino encontra-se<br />
em sua forma mais arredondada, é possível a focalização<br />
de objetos cada vez mais próximos do olho, até uma<br />
distância mínima.<br />
III. Um dos problemas de visão humana é a miopia. No<br />
olho míope, a imagem de um objeto distante formase<br />
depois da retina. Para corrigir tal defeito, utilizase uma<br />
lente divergente.<br />
c) o desejo de renovar a fé cristã mediante a tradução e<br />
circulação dos textos sagrados.<br />
d) a retomada do patrimônio cultural e literário da<br />
Antiguidade Clássica.<br />
e) o otimismo em relação aos avanços humanos no<br />
campo da educação.<br />
23 - (UERJ)<br />
“O casal Arnolfini”<br />
Está correto o que se afirma em:<br />
a) I, apenas.<br />
b) I e II, apenas.<br />
c) I e III, apenas.<br />
d) II e III, apenas.<br />
e) I, II e III.<br />
22 - (PUC RJ) “Meu falecido pai, de memória<br />
abençoada, fez todo esforço para que eu pudesse alcançar<br />
excelência mental e técnica. O fruto dos meus estudos e<br />
trabalhos alcançou o seu desejo mais querido. Mas você<br />
pode perceber que, para a educação, as condições não<br />
eram favoráveis como são hoje. Nem eu tive professores<br />
tão capazes como você.<br />
Nós ainda estávamos na idade das trevas. (...) Agora,<br />
pela graça de Deus, a luz e a dignidade foram restituídas<br />
às letras e eu vivi para vê-lo.<br />
Hoje as antigas ciências estão restauradas (...). As<br />
línguas restituídas: o grego (...); o hebraico e o latim (...).<br />
Hoje o mundo está repleto de homens sábios (...).<br />
Mas lembre-se disso, a sabedoria de nada lhe servirá se<br />
você não amar e temer a deus (...).<br />
Seu pai, Gargantua.”<br />
François Rabelais, Carta de Gargantua a Pantagruel, 1532<br />
São características do humanismo renascentista indicadas<br />
nesse texto, EXCETO:<br />
a) a crítica à Idade Média, percebida como período de<br />
trevas.<br />
b) a valorização de uma educação laica e a abertura das<br />
bibliotecas monásticas.<br />
JAN VAN EYCK (1389-1441) http://upload.wikimedia.org<br />
Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a imagem<br />
que nos vem à mente é a dos grandes artistas e de suas<br />
obras mais famosas. Isso nos coloca a questão: por que<br />
razão o Renascimento implica esse destaque tão grande<br />
dado às artes visuais? De fato, as artes plásticas<br />
acabaram se convertendo num centro de convergência de<br />
todas as principais tendências da cultura renascentista. E<br />
mais do que isso, acabaram espelhando os impulsos mais<br />
marcantes do processo de evolução das relações sociais e<br />
mercantis.<br />
NICOLAU SEVCENKO Adaptado de O Renascimento. São Paulo:<br />
Atual;Campinas: Ed. Unicamp, 1984.<br />
As diversas manifestações da cultura renascentista na<br />
Europa ocidental, entre os séculos XIV e XVI, estiveram<br />
relacionadas à criação de novos valores e práticas sociais<br />
que se confrontaram com aqueles da sociedade medieval.<br />
Cite dois aspectos da cultura renascentista que<br />
justifiquem a sua importância para o início dos Tempos<br />
Modernos.<br />
153
24 - (UCS RS) O Renascimento representou uma ruptura<br />
com o pensamento predominante na Idade Média.<br />
Assinale a alternativa que melhor caracteriza essa<br />
situação.<br />
a) As universidades surgiram com o Renascimento.<br />
Desde o início, elas estiveram envolvidas com a<br />
produção do conhecimento.<br />
b) O latim foi abandonado, sendo substituído pelo<br />
inglês, predominante entre os escritores<br />
renascentistas de toda a Europa.<br />
c) Somente após o movimento renascentista, os<br />
europeus entraram em contato com as obras da<br />
Antiguidade clássica. Inclusive os monges<br />
ignoravam a cultura helênica, restringindo-se à<br />
literatura sacra.<br />
d) Os renascentistas acreditavam que a verdade era<br />
revelada, sendo, portanto, mais uma questão de fé do<br />
que de investigação.<br />
e) Para os renascentistas, o homem deveria ser o centro<br />
de tudo, em oposição ao pensamento medieval, que<br />
privilegiava o teocentrismo.<br />
25 - (UFTM MG) Observe a imagem, que ilustra a capa<br />
de um manuscrito inglês do século XVI.<br />
(www.bridgemanart.com)<br />
É correto relacionar a imagem<br />
a) com práticas em vigor desde a Idade Média, período<br />
no qual se incentivou o estudo do corpo humano por<br />
meio da dissecação.<br />
b) às práticas de bruxaria então em voga, que<br />
garantiam ser possível determinar a localização<br />
exata da alma humana.<br />
154<br />
c) aos processos inquisitoriais e às torturas impostas<br />
aos acusados, que eram considerados possuídos pelo<br />
demônio.<br />
d) à crença na razão e na capacidade humana de<br />
compreender os processos naturais e biológicos,<br />
postura típica do Renascimento.<br />
e) às práticas astrológicas e mágicas, ampliadas nos<br />
séculos XV e XVI, graças ao contato com as<br />
sociedades indígenas das Américas.
GABARITO:<br />
1) Gab: C<br />
2) Gab:<br />
a) Os princípios que sustentaram a ação da Inquisição<br />
eram baseados no combate a toda e qualquer forma de<br />
oposição aos dogmas da Igreja Católica. Esses princípios<br />
eram efetivados por meio de práticas como: vigilância e<br />
controle do comportamento moral dos fiéis e severa<br />
censura às produções culturais e às inovações científicas.<br />
A citação de Giordano Bruno contraria esses princípios<br />
por exaltar o “saber” e o “poder de agir” do homem,<br />
avaliado, então, como ator capaz de dominar a natureza<br />
para criar “mundos desejáveis”. A citação se refere ao<br />
trabalho desenvolvido pelo mago. No período citado,<br />
seus conhecimentos provinham de fontes não aprovadas<br />
pela Igreja, que resultavam em práticas consideradas<br />
ocultas por ameaçarem os dogmas religiosos. Em virtude<br />
dessa compreensão por parte da Igreja, a Inquisição<br />
reservaria aos hereges (dentre eles, os magos) denúncias,<br />
investigações, julgamentos e condenações, com penas<br />
como prisão perpétua e morte na fogueira (o caso de<br />
Giordano Bruno).<br />
b) A citação está associada aos valores renascentistas<br />
porque se refere a um tipo distinto de poder e de saber,<br />
que ultrapassa os limites impostos pelos dogmas da<br />
Igreja Católica, na medida em que essa instituição tem a<br />
revelação divina como fonte única do saber. Três pontos<br />
associam a citação a esses valores: 1) a eleição do<br />
homem como agente; 2) a referência a uma ação<br />
racionalmente elaborada para transformar a realidade, o<br />
que remete à criação de novos mundos; 3) o registro de<br />
que os mundos a serem criados dependeriam da vontade<br />
humana. Assim, os pontos mencionados explicitam os<br />
seguintes valores do Renascimento: o humanismo e o<br />
antropocentrismo (valorização do homem e de seu poder<br />
de ação, o que resultava em colocar o homem no centro<br />
da ação e conferir-lhe vontade e desejo para a<br />
intervenção na natureza); o racionalismo (a valorização<br />
da razão humana).<br />
3) Gab: B<br />
4) Gab: D<br />
5) Gab: 05<br />
6) Gab: 07<br />
7) Gab: E<br />
8) Gab: B<br />
9) Gab: VVFFV<br />
10) Gab: 56<br />
11) Gab: FVVFV<br />
12) Gab:<br />
a) Revolução Científica. Também serão aceitos:<br />
renascimento científico, renascimento da ciência<br />
moderna.<br />
b) O candidato poderá destacar, dentre outras: o<br />
racionalismo, empirismo, o antropocentrismo, a<br />
experimentação, a observação.<br />
c)O candidato poderá destacar, dentre outros: o choque<br />
entre as concepções teocêntricas e da Igreja Católica e as<br />
baseadas no empirismo e no racionalismo. Também será<br />
considerada a identificação das reações que este processo<br />
produziu na Igreja, a exemplo do acirramento das<br />
perseguições aos adeptos desta nova forma de pensar e<br />
da condenação de diversas obras de intelectuais da<br />
época.<br />
13) Gab: D<br />
14) Gab: B<br />
15) Gab: B<br />
16) Gab: B<br />
17) Gab: E<br />
18) Gab: C<br />
19) Gab: B<br />
20) Gab: C<br />
21) Gab: B<br />
22) Gab: B<br />
23) Gab: Dois dos aspectos:<br />
valorização do indivíduo<br />
abandono do teocentrismo<br />
defesa dos ideais humanistas<br />
defesa dos valores burgueses<br />
valorização da liberdade individual<br />
utilização da razão na explicação do mundo visão mais<br />
natural e humanizada da religião<br />
24) Gab: E<br />
25) Gab: D<br />
155
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
I. O LADO PROSAICO DAS GRANDES<br />
NAVEGAÇÕES<br />
Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional.<br />
29/8/2007<br />
Quando se fala nos feitos heroicos dos navegadores<br />
portugueses, em geral se omitem, talvez por cortesia, as<br />
condições muito pouco épicas com que esses bravos<br />
homens singravam os mares e descobriam novas terras.<br />
Se as caravelas constituíam, por um lado, prodígios da<br />
tecnologia marítima, cujos segredos eram disputados<br />
pelos espiões das potências europeias, por outro lado<br />
eram , verdadeiros lixões flutuantes, tal a sujeira com que<br />
os navegantes tinham de conviver durante suas longas<br />
viagens.<br />
Os recursos de higiene disponíveis não proporcionavam,<br />
ao contrário do que acontece hoje no interior das<br />
modernas naves espaciais, a possibilidade de se manter<br />
as naus limpas. Os porões eram infestados de ratos e<br />
baratas, que se multiplicavam a cada dia, sendo esses os<br />
locais onde os tripulantes faziam suas necessidades<br />
quando o enjoo marítimo dificultava a subida ao convés.<br />
A comida ruim, às vezes até estragada, e a água salobra<br />
eram racionadas. Padecia-se a bordo de uma moléstia<br />
muito comum entre os marinheiros antigos: o escorbuto,<br />
causado pela carência de vitamina C.<br />
A doença provocava enfraquecimento geral,<br />
hemorragias, hálito fétido, inchaço, sangramento nas<br />
gengivas e finalmente o óbito. A única maneira de<br />
atenuar o cheiro reinante era desinfetar os cómodos à<br />
base de vinagre, o que não eliminava as causas da<br />
imundície. Isso tudo pode soar depreciativo, mas, pelo<br />
contrário, só serve para dignificar ainda mais os<br />
admiráveis jeitos dos navegadores.<br />
II. UMA LUZ SOBRE A NAVEGAÇÃO<br />
Antes do debate a respeito de seu caráter científico, a<br />
Astrologia foi fundamental para a orientação dos<br />
descobridores.<br />
<strong>Geral</strong>do Barbosa Neto. 30/11/2011<br />
156<br />
Os estágios do céu, em manuscrito francês de 1377. A descrição das estrelas foi<br />
referência para as navegações no séculos XV e XVI. No alto, detalhe de Tratado<br />
da esfera, de 1543. (Biblioteca Nacional da França)<br />
Cristóvão Colombo (1451-1506) ficou com a pulga atrás<br />
da orelha. Como era possível, pensou, que em pouco<br />
tempo houvesse tamanha mudança no céu? O genovês<br />
foi tomado por espanto e dúvida ao navegar entre os<br />
hemisférios Sul e Norte. E anotou tudo no diário de sua<br />
terceira viagem para a América, em 1498.<br />
Os portugueses também pouco ou quase nada<br />
entenderam. Enquanto seus barcos se agitavam em altomar,<br />
eles podiam ver tudo, menos um sinal, qualquer<br />
sinal, de terra firme. A Estrela do Norte indicava a<br />
direção do polo setentrional. Mas quando cruzavam o<br />
Atlântico, na altura da linha do equador, não é que ela<br />
baixava cada vez mais na linha do horizonte? Baixava<br />
tanto que desaparecia, deixando os marinheiros sem pai<br />
nem mãe em pleno mar por absoluta falta de alguma<br />
referência que viesse lá de cima.<br />
Enquanto os descobridores singravam os oceanos às<br />
cegas, em busca do novo mundo, o auxílio luxuoso de<br />
um conhecimento milenar foi determinante para as<br />
tripulações terem consciência de onde estavam e, mais<br />
importante, em que direção navegavam. Foi a Astrologia<br />
que apontou o Sol como saída para aquela situação<br />
excepcional. Primeiro, por se tratar do astro mais visível<br />
e luminoso. Depois, pela simplicidade de seu<br />
movimento, que poderia ser organizado no período de<br />
um ano. Finalmente, por poder ser visto nos dois<br />
hemisférios, ao contrário das estrelas.<br />
Quem primeiro descreveu o método de localização solar,<br />
desenvolvido na costa brasileira, foi o cosmógrafo real<br />
João Faras, em 27 de abril de 1500. Ele ancorou na costa<br />
baiana com a frota de Pedro Álvares Cabral. Faras<br />
contou que, junto com dois pilotos, desceu em terra<br />
firme, de onde observou a posição do Sol, munido de um
astrolábio. Ao obter a medição e consultar a tabela de sua<br />
declinação, constatou estar 17 graus afastado da linha do<br />
equador. A técnica foi chamada de “tomar a altura do<br />
Sol”.<br />
Pela mudança da posição solar no céu no decorrer de um<br />
ano – fenômeno conhecido como “declinação do sol” –,<br />
a técnica de tomar sua altura se somava à antecipação do<br />
movimento solar apresentado em tabelas astronômicas.<br />
Essa compreensão foi fundamental para a navegação:<br />
garantiu a precisão na localização das expedições no<br />
ultramar.<br />
Um estudo matemático sobre os movimentos e as<br />
posições dos corpos celestes também muito contribuiu<br />
para o avanço náutico, pois inspirou a construção de<br />
tabelas astronômicas consultadas por cosmógrafos nas<br />
regiões ultramarinas. Trata-se de O Grande Compêndio,<br />
também chamado de Almanaque Perpétuo, lançado em<br />
1478 por Abraão Zacuto, astrólogo castelhano de<br />
ascendência judaica, que trabalhou na corte portuguesa.<br />
Não resta dúvida de que o trabalho de Zacuto não faz<br />
qualquer alusão ao tema navegação. É notório que o<br />
Almanaque sempre esteve muito mais próximo dos<br />
estudos da Astrologia do que propriamente das técnicas<br />
de marinharia. Mas, ao tabular e organizar o movimento<br />
anual do Sol em um calendário que abrangeu o intervalo<br />
entre os anos 1473 e 1476, o autor certamente inspirou<br />
estudiosos portugueses da navegação. Foi com base em<br />
seus cálculos, que permitiram a ordenação do movimento<br />
solar e seu uso em períodos posteriores, que Portugal<br />
avançou significativamente nas questões náuticas. Os<br />
autores dos Guias Náuticos de Munique e de Évora,<br />
obras publicadas aproximadamente entre 1509 e 1516,<br />
beberam na fonte do astrólogo. Na versão castelhana do<br />
Almanaque, Zacuto abriu caminho para as eleições,<br />
prática astrológica que identificava, pela interpretação do<br />
espaço celeste, um período propício para a realização de<br />
algum objetivo.<br />
GERALDO BARBOSA NETO é mestrando do Programa de Pós-Graduação<br />
em <strong>História</strong> da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.<br />
As Grandes Navegações transformaram a economia,<br />
criaram o mundo globalizado e ainda fizeram surgir<br />
uma nova concepção do gênero humano.<br />
Rodrigo Elias 1/9/2012<br />
Mapa de Cantino, como ficou conhecida a primeira carta a representar com<br />
clareza, para os padrões técnicos da época, os resultados dos descobrimentos. Sob<br />
as ordens do duque de Ferrara, Alberto Cantino teria conseguido o mapa em 1502<br />
em Portugal, ao custo de 12 ducados de ouro. (Biblioteca Estense, moderna -<br />
Itália)<br />
Quando o espanhol Rodrigo de Triana, marinheiro a<br />
bordo da caravela Pinta, avistou as Bahamas às duas<br />
horas da manhã do dia 12 de outubro de 1492, estava<br />
dando início àquela que provavelmente foi a maior<br />
transformação já ocorrida no globo. A chegada das<br />
caravelas ao Novo Mundo pôs os europeus em contato<br />
com novos produtos, novos hábitos e novas<br />
necessidades. A incorporação dessas regiões à esfera de<br />
influência da Europa teve grande importância<br />
econômica, política e estratégica.<br />
Não restam dúvidas sobre a dimensão desse impacto do<br />
lado ocidental do Atlântico: as populações nativas<br />
sofreram perdas incalculáveis, a começar pela drástica<br />
redução populacional causada por doenças – os índios<br />
eram vulneráveis a várias das enfermidades do Velho<br />
Mundo – guerras e escravidão. Além disso, passaram por<br />
uma profunda alteração nos seus modos de vida em<br />
consequência de uma nova lógica econômica, religiosa e<br />
política. Mesmo aquelas parcelas ou grupos nativos que<br />
se enquadraram na nova ordem se viram em uma<br />
situação bastante diferente daquela anterior ao final do<br />
século XV. A integração da África e da Ásia a esse<br />
sistema mundial com base no Atlântico, que vai conhecer<br />
seu auge entre os séculos XVII e XVIII, levou essas<br />
alterações, com altíssimo custo humano (aliás,<br />
desumano) às outras partes do planeta.<br />
A Europa, ou parte dela, foi beneficiária no processo – se<br />
levarmos em consideração que suas elites políticas e<br />
157
econômicas, que variaram ao longo de cinco séculos, do<br />
XV ao XIX, estiveram à frente da empreitada colonial.<br />
Os bônus foram variados: a consolidação de Estados<br />
nacionais, de dinastias, de casas e grupos comerciais,<br />
ligados quase sempre a produtos oriundos das colônias,<br />
como o açúcar de cana; de uma nova classe social<br />
vinculada ao início e ao desenvolvimento da<br />
industrialização; e de um sofisticado sistema bancário –<br />
tudo com base nas relações ultramarinas.<br />
Ao lado desse óbvio enriquecimento, como é de se supor,<br />
há também uma generalização da pobreza, não só no<br />
campo, mas, principalmente, nos crescentes centros<br />
urbanos. A multidão inglesa nas grandes cidades da<br />
revolução industrial, entre os séculos XVIII e XIX –<br />
época da incontestável primazia da Grã-Bretanha no<br />
cenário econômico mundial –, é a mais perfeita forma da<br />
miséria humana em todos os tempos. A fome e a<br />
indignidade que atingiram os trabalhadores pobres do<br />
centro do capitalismo formaram o caldo humano que<br />
alimentou as ideologias de esquerda mais ou menos<br />
radicais, e seu gosto amargo não foi totalmente<br />
esquecido nos nossos dias. O legado americano à<br />
Europa, entretanto, não se restringe às riquezas materiais<br />
que estão na base da expansão capitalista. Além do ouro,<br />
da prata e das pedras preciosas, os produtos coloniais<br />
também ganharam espaço naquele continente e alteraram<br />
a vida da cristandade. A começar pelo estômago: para se<br />
ter uma ideia da contribuição americana, dois dos quatro<br />
principais vegetais consumidos no mundo têm suas<br />
origens na região. A batata – injustamente chamada de<br />
“inglesa” – é originária dos Andes peruanos, onde já era<br />
cultivada havia cerca de 7.000 anos para alimentação<br />
humana. Foi levada pelos colonizadores europeus<br />
primeiramente como curiosidade, mas logo se espalhou e<br />
se tornou uma das bases da alimentação mundial. O<br />
milho, por sua vez, era cultivado inicialmente na<br />
América Central, e quando os europeus chegaram, entre<br />
os séculos XV e XVI, já era consumido em todo o<br />
continente americano. Devido à facilidade de adaptação<br />
e às muitas variedades, tornou-se elemento indispensável<br />
na dieta humana.<br />
A sobremesa não poderia ficar de fora: o chocolate,<br />
vedete do paladar do Ocidente ao Oriente, estrela das<br />
mais refinadas gastronomias, personagem principal de<br />
datas especiais nos nossos dias, é igualmente originário<br />
das Américas. Quando os conquistadores espanhóis<br />
chegaram ao México, perceberam que a iguaria era para<br />
poucos: era servida, por exemplo, ao imperador asteca,<br />
Montezuma II (1466-1520). Além disso, o cacau era<br />
158<br />
utilizado em cerimônias religiosas e servia também como<br />
moeda. Entre os séculos XVII e XVIII, virou sensação na<br />
Europa e nunca mais deixou de ser associado à<br />
sofisticação do paladar [ver RHBN no 43].<br />
Outro hábito emprestado dos nativos americanos, e que<br />
acabou sendo considerado civilizado séculos depois, foi<br />
o consumo do tabaco. Introduzido na Península Ibérica<br />
no século XVI, foi levado pelo representante diplomático<br />
francês em Portugal, Jean Nicot, à corte francesa – daí a<br />
homenagem no gênero do arbusto, nicotiana, e no nome<br />
do princípio ativo, a nicotina. Entre os séculos XVIII e<br />
XIX, como toda moda adquirida da nobreza europeia,<br />
fumar virou sinônimo de sofisticação mundana, e os<br />
grandes centros “civilizados” do Velho Mundo<br />
promoveram a difusão do hábito – ou vício – em amplas<br />
camadas da sociedade, principalmente a partir da<br />
industrialização dos cigarros, no final do século XIX.<br />
Até bem entrado o século XX, mesmo com todas as<br />
provas científicas sobre os malefícios dessa toxicomania,<br />
fumar foi considerado um símbolo de modernidade,<br />
independência e civilidade.<br />
Mas o grande impacto dos descobrimentos se deu mesmo<br />
no plano mental: entrar em contato com novas formas de<br />
organização social, estruturas políticas, hábitos<br />
alimentares, religiosidades, enfim, com novas culturas,<br />
trouxe aos europeus a noção de que os homens eram, em<br />
sua natureza, muito moldáveis. Levados para fora da<br />
Europa por um impulso ao mesmo tempo econômico e<br />
religioso, como rescaldo das intolerantes Cruzadas<br />
medievais, esses aventureiros acabaram se dando conta<br />
de que não havia apenas uma forma de se relacionar com<br />
o mundo, com os outros seres humanos e mesmo com as<br />
divindades.<br />
Confrontados com uma diversidade inimaginável, que<br />
incluía canibais nus vivendo em formações tribais<br />
nômades ou vastos impérios territoriais que se<br />
dedicavam à construção de pirâmides e sacrifícios<br />
humanos, todos dotados de complexas cosmogonias,<br />
calendários e efetivas medicinas tradicionais, os oriundos<br />
da Europa cristã logo foram obrigados a reconhecer a<br />
humanidade de seres muito diferentes deles. Teólogos,<br />
filósofos e escritores produziram intensamente, por meio<br />
de debates falados e escritos, reflexões sobre o que seria<br />
a essência da humanidade, abrindo as portas para o que<br />
mais tarde, no século XVIII, seria formulado como<br />
“natureza humana”, rejeitando – ou, pelo menos, se<br />
abrindo à possibilidade para tal – a superioridade dos<br />
cristãos europeus sobre a totalidade dos grupos dispersos<br />
no globo.
Este impacto fica claro na mais famosa obra do inglês<br />
Thomas Morus, Utopia (1516). Trata-se de um relato<br />
ficcional sobre uma ilha recém-descoberta, onde os<br />
habitantes viviam em uma república perfeita, não<br />
conheciam a ideia de propriedade privada, colocavam a<br />
felicidade pública acima da individual, todos<br />
trabalhavam e, portanto, não havia exploração... Enfim,<br />
uma anti-Inglaterra, localizada convenientemente na<br />
América. Se pudesse haver uma forma perfeita de<br />
organização social – em tempos de divisões profundas na<br />
Europa, assolada por conflitos políticos e religiosos,<br />
agravados por por transformações econômicas – isto<br />
seria possível no Novo Mundo.<br />
Se era aceitável a existência de uma formação política<br />
superior (mesmo que utópica) entre homens que não<br />
guardavam quaisquer relações com os do Velho Mundo,<br />
como rejeitar a humanidade dos americanos? O<br />
dominicano espanhol Bartolomeu de las Casas (1474-<br />
1566), bispo de Chiapas, no México, estava convencido<br />
da completa injustiça da escravização dos indígenas.<br />
Defensor de um modelo de colonização bem diverso<br />
daquele praticado pelos seus compatriotas, enfrentou<br />
políticos e teólogos, denunciou as atrocidades cometidas<br />
pelos espanhóis no Novo Mundo e morreu aos 92 anos<br />
como um autêntico humanista, na mais nobre acepção do<br />
termo.<br />
Um humanismo que entrou definitivamente na pauta dos<br />
filósofos europeus pela pena de Michel de Montaigne,<br />
cujos Ensaios (1580-1588) tomavam como certa a<br />
universalidade do homem, e via como construções<br />
artificiais as instituições e os costumes do seu tempo.<br />
Esta visão, a longo prazo, abalaria as estruturas políticas,<br />
religiosas e sociais da Europa. Dele a Rousseau (1712-<br />
1778), passando por todos os livre-pensadores franceses,<br />
os homens começaram a ser vistos como iguais em sua<br />
essência, embora variados em seus valores e modos de<br />
vida.<br />
Os marinheiros de Colombo não sabiam, mas naquela<br />
viagem acabaram descobrindo um elemento até então<br />
incogitado: o homem.<br />
Rodrigo Elias é professor das Faculdades Integradas Simonsen e<br />
pesquisador da Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional.<br />
159
A TRANSIÇÃO DO MEDIEVO À MODERNIDADE E A<br />
EXPANSÃO COMERCIAL E MARÍTIMA EUROPEIA<br />
1. CONDIÇÕES ESTRATÉGICAS DA EUROPA<br />
ENTRE A TRANSICAO MEDIEVAL E A<br />
MODERNIDADE<br />
Após um grave processo de retração identificado com a<br />
crise geral do século XIV, marcado essencialmente pela<br />
incidência das secas, fomes, pestes, revoltas e guerras, a<br />
Europa Medieval retomaria a partir do século XV o ritmo<br />
de crescimento iniciado pelas Cruzadas, que evidenciaria<br />
as contradições típicas de um período de transição e a<br />
necessidade de solução às novas dificuldades impostas à<br />
expansão comercial.<br />
No século XV, a população europeia voltava a crescer,<br />
especialmente nas áreas urbanas; no entanto, a condição<br />
feudal ainda permanente nas áreas rurais impedia a<br />
ampliação da produção, resultando na evidente falta de<br />
alimentos para o pleno abastecimento dos centros<br />
urbanos dinamizados pela atividade comercial e<br />
manufatureira. A produção artesanal urbana, também não<br />
encontrava nas áreas estacionárias rurais o mercado<br />
suficiente para o pleno consumo de sua demanda,<br />
arriscando a paralisação das atividades e reduzindo a<br />
oferta de empregos.<br />
Acrescente-se ainda às dificuldades desse século a<br />
condição do comércio internacional europeu,<br />
concentrado especialmente no comércio dos valiosos<br />
produtos orientais identificados como especiarias, que<br />
se tornaram comuns no mercado europeu especialmente<br />
com o avanço do movimento cruzadista. Comércio feito<br />
a partir de um longo e complexo trajeto até chegar ao<br />
Ocidente, este se via dificultado pelo controle dos árabes<br />
ao norte da África, sociedades em condição de plena<br />
animosidade com os cristãos europeus; também<br />
dificultaria esse trajeto, a tomada de Constantinopla,<br />
importante rota de acesso às especiarias, pelos turcos<br />
otomanos em meados do século XV. Ademais, o<br />
caminho marítimo pelo Mediterrâneo, mais convencional<br />
das rotas comerciais, encontrava-se no controle de<br />
poderosas guildas mercantis das cidades italianas, que ao<br />
exercerem papel intermediário nesse processo, encarecia<br />
de sobremaneira os preços, num momento em que a<br />
classe senhorial, potencial consumidora, contraía-se em<br />
dificuldades econômicas.<br />
160<br />
A natureza e o sentido do comércio das especiarias,<br />
orientando-se em sentido único no qual a Europa<br />
figurava essencialmente como consumidora, concentrou<br />
muitas das reservas de metais preciosos da Europa no<br />
continente asiático. Associado ao esgotamento natural<br />
dessas reservas definiu-se ainda uma grave crise das<br />
moedas, que ainda mais viriam dificultar o<br />
desenvolvimento do comércio e tornavam forçosa a<br />
busca por novos meios de aquisição de metais<br />
preciosos.<br />
Desse modo, urgia à Europa da transição entre o<br />
medievo e a modernidade, buscar soluções a esse<br />
estreitamento de mercado que pudessem garantir a<br />
continuidade da expansão econômica. Daí decorreu a<br />
solução pautada no alargamento do mercado europeu,<br />
procedido por meio da ampliação do comércio através<br />
da expansão marítima, capaz de garantir novos<br />
mercados consumidores de produtos artesanais, áreas<br />
fornecedoras de produtos alimentícios, novas fontes de<br />
metais preciosos para aliviar a falta de moedas ou novas<br />
rotas alternativas às tradicionais de acesso ao mercado<br />
oriental das especiarias, baixando seus preços e<br />
ampliando o consumo em camadas de poder aquisitivo<br />
menor.
1. CONDIÇÕES GERAIS PARA<br />
REALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO<br />
A magnitude do empreendimento das Grandes<br />
Navegações e a importância de seus determinantes deve<br />
ser considerada não apenas como o resultado de um<br />
esforço movido pela curiosidade pelo novo ou pelo<br />
espirito aventureiro de seus empreendedores; uma<br />
conjunção de fatores estruturais tornou possível, naquele<br />
momento e naquela realidade europeia, a execução de<br />
tais feitos.<br />
à busca pelo desconhecido; também se emprenhavam em<br />
encontrar o Jardim do Éden, supostamente localizado em<br />
alguma região em direção ao Oriente Médio e a busca<br />
pelo lendário reino cristão e abundante em riquezas do<br />
Preste João.<br />
Do ponto de vista econômico a expansão marítima<br />
expressou essencialmente os objetivos da classe<br />
mercantil em expansão, sequiosa em garantir a<br />
ampliação de suas margens de lucros. No plano político,<br />
os interesses dessa classe convergiram no apoio ao<br />
processo de centralização do poder do Estado, que<br />
necessitava da ampliação das rendas, garantindo o<br />
armamento e seus exércitos permanentes e o<br />
preenchimento e sustentação de seus quadros<br />
burocráticos.<br />
Entre os pioneiros desse processo, os Estados ibéricos<br />
Portugal e Espanha, não se pode desconsiderar o aspecto<br />
ideológico de conotação religiosa que também os<br />
motivaram; viram-se, naquele momento inicial, como na<br />
continuação da Guerra de Reconquista de espirito<br />
cruzadista que estavam envolvidos, esforçando-se em<br />
combater os muçulmanos na África e expandir ao<br />
Oriente a fé cristã. Mais tarde, tal princípio se efetivaria<br />
como prioridade, no envio de jesuítas à catequese dos<br />
gentios nas áreas expandidas.<br />
Do ponto de vista cultural, é imprescindível pensar a<br />
expansão comercial e marítima como decorrência<br />
também das próprias inovações promovidas pelo<br />
Renascimento, movimento renovador do fim da Idade<br />
Média. Novas concepções sobre o formato da Terra, a<br />
convicção de poder ir a qualquer parte seguindo em linha<br />
reta e as condições técnicas de aprimoramento de<br />
instrumentos de localização e meios de navegação, até a<br />
própria concepção inovadora do homem em sua<br />
individualidade e busca por grandeza, se associaram para<br />
motivar tal empreendimento.<br />
Apesar dos ideais modernos que pareciam apresentar um<br />
novo tempo, elementos do imaginário medieval<br />
estiveram presentes também no maravilhamento que<br />
induziriam aqueles homens às longas viagens. Relatos<br />
como o do navegador veneziano Marco Polo ao Oriente e<br />
suas descrições maravilhosas de mundos e seres<br />
estranhos, abundantemente ricos, norteavam navegadores<br />
Neste mapa-múndi do século XV, o mundo aparece<br />
dividido entre os três filhos de Noé. A Ásia, ao alto,<br />
pertence a Sem; a Europa, a esquerda, a Javé; a África, à<br />
direita, a Cam, o filho maldito. A Ásia fica no alto<br />
porque ali se encontram Jerusalém e o paraíso terrestre.<br />
Apesar do comércio crescente com a Ásia, as<br />
construções cartográficas revelam o quão pouco os<br />
europeus sabiam sobre o Oriente e, quanto suas<br />
convicções estavam impregnadas do pensamento<br />
medieval. Os mapas-múndi representavam o mundo<br />
numa perspectiva cristã, quase sempre figurando<br />
Jerusalém, como o centro do mundo. O Oriente era<br />
apresentado como o espaço do paraíso terrestre, onde<br />
teriam vivido Adão e Eva. Figurava como um paraíso<br />
perdido, repleto de flores, árvores frondosas, rios de leite<br />
e mel, cuja precisão de localização por não ser exata,<br />
presumia se encontrar numa confluência entre os rios<br />
Nilo, Ganges, Eufrates e Tigre. Além da construção<br />
idílica, essas terras eram também idealizadas como muito<br />
ricas. O livro das Maravilhas, de Marco Polo, dava conta<br />
de governantes com mantos de pérolas e pedras<br />
preciosas, luxo, ouro por toda a parte. (...) Para os<br />
europeus, esse ‘outro mundo’ além de abrigar o paraíso e<br />
fontes inesgotáveis de riqueza, era um lugar de sonho,<br />
161
em que os desejos e fantasias de abundância do homem<br />
medieval projetavam a oposição a suas misérias e<br />
doenças de sua própria realidade. Por outro lado, também<br />
era fonte de medos e pesadelos, associados ao fato de<br />
crerem ser um mundo habitado por monstros, homens<br />
sem cabeça, com rabo, olhos e narizes no peito, cabeça<br />
de bode ou de cão, gigantes de um olho só, pigmeus<br />
traiçoeiros e canibais ferozes.<br />
práticas dos muçulmanos outrora residentes na região, ou<br />
do contato com chineses através de comerciantes<br />
genoveses e venezianos e então repassados aos<br />
portugueses. Tais técnicas também foram favorecidas<br />
pelo empenho pessoal do nobre da Casa de Borgonha, o<br />
infante Dom Henrique, que atraiu para Sagres<br />
astrônomos, cartógrafos, pilotos, construtores navais e<br />
toda sorte de gente experimentada na arte de navegar.<br />
Destacamos a difusão do uso da bússola, o<br />
desenvolvimento do quadrante, que permitia calcular<br />
latitudes, e o aperfeiçoamento do astrolábio, instrumento<br />
essencial para medir a altura dos astros em relação ao<br />
horizonte no curso da navegação. Também deve se<br />
destacar o desenvolvimento das embarcações de<br />
navegação oceânica, como as caravelas que permitiam<br />
navegação à vela mesmo em sentido contrário ao vento.<br />
DOS SANTOS, Georgina, FARIA Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge,<br />
VAINFAS, Ronaldo. Conecte <strong>História</strong> 01. São Paulo: Saraiva 2012. P. 140-150.<br />
2. O PIONEIRISMO PORTUGUÊS<br />
Embora Portugal fosse um pequeno país na periferia da<br />
Europa em fins da Idade Média, conseguiu reunir<br />
condições excepcionais para garantir a primazia no<br />
processo de expansão. Poderíamos destacar:<br />
Excelente posicionamento geográfico, a sudoeste da<br />
Europa, voltado para o Oceano Atlântico, com favoráveis<br />
correntes marinhas que tornavam facilitado há algum<br />
tempo o contato com o norte africano; contava ainda com<br />
portos tradicionais de atividade pesqueira e manutenção<br />
de atividades comerciais intensas com o norte da Europa.<br />
O desenvolvimento de importantes técnicas de<br />
navegação e conhecimento náuticos, aprimorados das<br />
A caravela, um tipo de navio desenvolvido pelos portugueses, se constituía numa<br />
adaptação de uma antiga embarcação denominada caravo, já conhecida pelos<br />
árabes. Ela possibilitava a navegação contra o vento, uma vez que se utilizava de<br />
velas latinas, panos triangulares com extremidades rígidas capazes de gerar uma<br />
força propulsora na direção oposta a do vento. Na construção de uma caravela,<br />
eram consumidos cerca de 4 mil troncos de árvores. Uma caravela, tinha cerca de<br />
20 metros de comprimento e pesava, aproximadamente, 20 toneladas. Seu casco<br />
esguio permitia fáceis manobras e possibilitava à embarcação alcançar expressiva<br />
velocidade. Na imagem acima, vê-se uma representação de algumas das caravelas<br />
que compunham a expedição de Pedro Álvares Cabral.<br />
162
considerada como fator de estímulo do Estado<br />
português ao seu pioneirismo nas grandes viagens.<br />
ORIGENS DO ESTADO PORTUGUÊS E A<br />
REVOLUÇÃO DE AVIS<br />
O astrolábio, instrumento astronômico inventado na Antiguidade pelos gregos e<br />
difundido pelos árabes durante a Idade Média, foi aperfeiçoado pelos astrônomos<br />
da “Escola de Sagres”. Esta, na verdade, nunca existiu como um centro de<br />
estudos ou um observatório astronômico localizado no sul de Portugal. Ao<br />
contrario do que muitos pensam na atualidade, essa escola não existiu no sentido<br />
físico. Na realidade, tratava-se de um grupo de pessoas ligadas à arte náutica que<br />
desenvolvia um pensamento em comum, sob a liderança, inicialmente, do infante<br />
D. Henrique, filho de D. João I, primeiro rei da dinastia de Avis. O astrolábio era<br />
o principal instrumento utilizado pelos navegadores para determinar a latitude.<br />
Ressalte-se que ele não funcionava muito bem com os navios em movimento,<br />
provocando erros de até 5º na medição da latitude.<br />
<br />
<br />
<br />
Disponibilidade de capitais, investidos seja pelo<br />
Estado Português, como os fundos monetários da<br />
Ordem de Cristo, ou de mercadores estrangeiros,<br />
como genoveses, ingleses e flamengos instalados em<br />
Portugal e que incialmente apostaram no<br />
empreendimento. Ao longo do século XV, a própria<br />
burguesia lusitana, garantiu o autofinanciamento das<br />
grandes viagens, graças aos lucros auferidos do<br />
intenso comércio praticado no norte e costa atlântica<br />
africana, o que garantiria a própria longevidade das<br />
viagens portuguesas.<br />
A plena centralização política concluída no Reino<br />
de Portugal, que garantiu a aquele Estado vantagem<br />
na capacidade organizacional de um<br />
empreendimento daquela natureza; ainda mais<br />
quando os interesses políticos do Estado<br />
convergiram aos interesses mercantis da classe<br />
burguesa após a Revolução de Avis, com a ascensão<br />
de D. Joao I.<br />
A solução do conflito interno, a completa expulsão<br />
de mouros de seu território e a ausência de<br />
enfrentamentos externos também deve ser<br />
O território que viria a constituir-se em Nação<br />
Portuguesa pertenceu originalmente ao que desde a<br />
Antiguidade se considerava a Lusitânia, antiga província<br />
romana, habitada por iberos e celtas, e que já a essa<br />
altura chamou se de Portus Cale, à sua vila original,<br />
próximo ao Rio Douro.<br />
Na Idade Média, com o esfacelamento do domínio<br />
romano, a região se tornaria alvo da dominação dos<br />
visigodos e, a partir do século VIII, incorporado como<br />
boa parte da Península Ibérica ao domínio muçulmano,<br />
na agora Andaluzia.<br />
As origens do Reino Português, entretanto, remontam às<br />
Guerras de Reconquista, iniciadas no século XI e<br />
estendidas até o século XV e que envolveu pequenos<br />
reinos católicos das Astúrias, ora isoladamente ou em<br />
conjunto, no esforço de expulsão dos muçulmanos da<br />
região.<br />
Como desdobramento desses conflitos, o nobre francês<br />
Henrique de Borgonha prestou serviços militares ao Rei<br />
Afonso I de Leão, aos quais seria recompensado com o<br />
recebimento do Condado de Portucalense, entre o Minho<br />
e o Douro, além da concessão da mão da filha do<br />
monarca em casamento ao nobre. Em 1143, o herdeiro<br />
Afonso Henrique de Borgonha seria responsável pelo<br />
enfrentamento contra o reino do próprio avô,<br />
163
empenhando-se na autonomia do Condado; com o apoio<br />
do papa Alexandre III, Afonso Henriques é coroado rei<br />
de Portugal, iniciando a dinastia de Borgonha, que se<br />
estendeu até 1383. A emancipação do Reino não garantiu<br />
a plena estabilidade do Reino, frequentemente ameaçada<br />
pela ameaça de incorporação pelos vizinhos castelhanos<br />
e pela diversidade de poderes, especialmente entre os<br />
grandes proprietários de terra. Em 1383, com a morte do<br />
monarca D. Fernando, Portugal mergulharia numa grave<br />
guerra civil envolvendo a disputa pelo trono. A viúva,<br />
dona Leonor, favorecia o casamento da herdeira Beatriz<br />
com o monarca de Castela, o que desagradava parte da<br />
burguesia lusitana e os pequenos proprietários, que viam<br />
nessa ação a ameaça à autonomia do Reino Português.<br />
Desse modo, parte substancial da sociedade lusitana,<br />
especialmente a arraia miúda – referência às camadas<br />
populares, a classe mercantil e os pequenos e médios<br />
proprietários de terra, confluíram o apoio ao trono em<br />
torno do Mestre de Avis, irmão bastardo de D. Fernando.<br />
Em 1385, na Batalha de Aljubarrota, a guerra contra<br />
Castela definiu-se em favor do Mestre de Avis, que seria<br />
coroado com D. Joao I. A Revolução de Avis marca o<br />
nascimento do Estado Nacional moderno em Portugal, e<br />
a aproximação do centro de poder aos interesses<br />
mercantis, essencial à expansão territorial e comercial<br />
propiciada através das Grandes Navegações.<br />
DOS SANTOS, Georgina, FARIA Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge,<br />
VAINFAS, Ronaldo. Conecte <strong>História</strong> 01. São Paulo: Saraiva 2012. P. 151<br />
3. ETAPAS DO EXPANSIONISMO<br />
PORTUGUÊS<br />
O marco inicial das viagens portugueses é o ano de<br />
1415, quando uma expedição de mais de 20 mil<br />
soldados, em uma frota de 110 navios e sob comando da<br />
própria casa real portuguesa, de forte inspiração na<br />
164<br />
continuidade da Guerra de Reconquista, atacaram a<br />
cidade de Ceuta, importante polo convergente das rotas<br />
transaarianas de comércio. Ali fundaram uma catedral<br />
em lugar de uma importante mesquita muçulmana e,<br />
objetivava recolher informações sobre regiões africanas<br />
de onde pudessem ser extraídos ouro e metais preciosos,<br />
evidenciando precoces interesses das viagens marítimas,<br />
anteriormente citados.<br />
Nas décadas posteriores seguiram se a essa ação de<br />
conquista uma série de viagens de curta distância pelo<br />
Atlântico, margeando a costa ocidental africana, das<br />
quais se tomou conhecimento das ilhas e arquipélagos<br />
como Madeira (1419), Cabo Verde (1445), Açores (entre<br />
1427 e 1431) e São Tomé; regiões onde seriam<br />
desenvolvidas atividades como produção açucareira, uso<br />
de trabalho escravo africano, produção de trigo para<br />
abastecimento do reino, criação de gado e outras culturas<br />
cereais.<br />
Em 1434, o navegador Gil de Eannes seria o responsável<br />
por outra importante etapa das navegações portuguesas,<br />
que permitiram o contorno do Cabo Bojador. Depois de<br />
15 tentativas sem sucesso, prejudicadas pelos nevoeiros<br />
intensos, ruídos ensurdecedores dos ventos a sudoeste e<br />
ondas de mais de 15 metros nos penhascos, garantia-se a<br />
superação do grande obstáculo em direção ao sul do<br />
continente africano.<br />
Ao longo da década de 1440, os portugueses alcançaram<br />
a região do rio do Ouro e do Rio Senegal, onde passou a<br />
estabelecer feitorias que permitiu proveitoso comercio na<br />
região, envolvendo o ouro sudanês, marfim, pimenta e<br />
escravos geralmente negociados com os chefes africanos<br />
em troca de armas, cobre, cavalos e tecidos.<br />
Durante o reinado de D. João II, ao longo da década de<br />
1480, um novo desafio se impôs, o de contornar o<br />
extremo sul africano, alcançando o Oceano Índico e<br />
garantindo o acesso às Índias e suas especiarias, objetivo<br />
inicial e primordial das viagens, garantindo uma rota<br />
alternativa a essas mercadorias. Diogo Cão alcançaria a<br />
foz do Rio Congo em 1481, avançando nos três anos<br />
seguintes cada vez mais em direção ao sul. Entre 1487 e<br />
1488 era a vez do navegador Bartolomeu Dias alcançar o<br />
Cabo das Tormentas, no extremo sul africano,<br />
renomeado a partir de então Cabo da Boa Esperança e<br />
abrindo definitivamente os caminhos às riquezas<br />
orientais.<br />
Dez anos depois, a conquista de uma rota alternativa para<br />
as Índias através do Atlântico Sul confirmava-se com a<br />
viagem de Vasco da Gama, concluída em Calicute nas
Índias. Convertida num dos maiores feitos da<br />
humanidade, o regresso da expedição do navegador<br />
garantiu lucros de até 6000% no comercio de produtos<br />
trazidos, como pimenta, cravo, gengibre, e noz moscada,<br />
bem como a existência de uma nova rota alternativa aos<br />
caminhos tradicionais, terrestres ou marítimos, ligados<br />
ao Mar Mediterrâneo.<br />
Em 1500, o nobre português Pedro Alvares Cabral<br />
viajaria para as Índias, comandando uma esquadra de<br />
mais de 1500 homens, com a missão de estabelecer<br />
contatos diplomáticos e assegurar possíveis privilégios<br />
comerciais naquela região. Pouco mais de 40 dias depois,<br />
entretanto, a esquadra alcançaria, no Atlântico Sul, o<br />
vasto território que tornaria- se mais tarde o Brasil, de<br />
onde seguiria às Índias, prosseguindo a exploração<br />
comercial iniciada por Vasco da Gama.<br />
Importa destacar que a viagem de Cabral não foi a última<br />
realizada pelos portugueses, tendo esses, posteriormente,<br />
alcançado o sudeste asiático, em 1511, na região de<br />
Malaca; em 1517, chegariam à China, onde em 1555, sob<br />
autorização do imperador chinês, se estabeleceram na<br />
ilha de Lampcaco, rebatizada em 1557, de Macau. No<br />
ano de 1543, os portugueses alcançaram ainda a região<br />
de Tanegashima, no Japão, possibilitando rentáveis<br />
negócios no comercio d prata. As sucessivas viagens que<br />
se prosseguiram ao Oriente abriram caminho para a<br />
lucrativa “Carreira das Índias", viagem anual realizada<br />
de Lisboa a Goa, na Índia, cidade fortificada e controlada<br />
por portugueses e que centralizava boa parte do comércio<br />
entre o Oriente e o Ocidente .<br />
4. AS NAVEGAÇÕES ESPANHOLAS<br />
João II, rei de Portugal, a possibilidade de se chegar às<br />
Índias navegando em linha reta na direção ocidental.<br />
Com a recusa de Portugal, Colombo buscaria apoio na<br />
monarquia espanhola, representada pelos reis católicos<br />
Fernando e Isabel, em início da década de 90 daquele<br />
século.<br />
A iniciativa de Colombo marca o início da participação<br />
espanhola no processo expansionista, processo<br />
coincidente com a consolidação do estado Nacional<br />
Moderno, a partir da unificação dos reinos de Castela e<br />
Aragão no casamento de seus monarcas na década de 60<br />
e, na vitória sobre os mouros na última etapa da Guerra<br />
de Reconquista que os expulsaram da região de Granada.<br />
A acentuada religiosidade dos monarcas espanhóis<br />
também influenciou o sentido cruzadista daquelas<br />
expedições, assim como os interesses econômicos<br />
despertados pelas riquezas adquiridas pelo reino vizinho<br />
em suas viagens já bem adiantadas.<br />
Objetivando alcançar o Oriente pelo Ocidente (el levante<br />
por el poniente), as três embarcações de Colombo<br />
financiadas pelos monarcas espanhóis, alcançaram um<br />
novo continente – constatação posterior – a 12 d outubro<br />
de 1492, ao América ou Novo Mundo. Nas três viagens<br />
subsequentes, mantendo o equívoco da primeira viagem<br />
Colombo imaginava está no Oriente, o que acirrou<br />
conflitos entre as duas potências expansionistas quanto à<br />
divulgação da suposta chegada dos espanhóis às Índias.<br />
O papa Alexandre VI, em 1493, determinou a divisão das<br />
terras descobertas, das rotas marítimas e terras a<br />
descobrir, por meio de um meridiano que passava a 100<br />
léguas a Oeste de Cabo Verde, através da Bula Inter<br />
Coetera. Presumindo o suposto prejuízo de sua rota<br />
oriental, os portugueses resistiram àquela medição, sendo<br />
oficializado em 1494, o Tratado de Tordesilhas, que<br />
deslocaria os limites de exploração para 370 léguas a<br />
oeste de Cabo Verde, ampliando as possessões<br />
portuguesas.<br />
Na década de 80 do século XV, prestes à data em que os<br />
portugueses contornariam o Cabo da Boa Esperança<br />
(1488), em 1484, Cristóvão Colombo teria proposto a D.<br />
165
Considerado uma vitória portuguesa, o Tratado de<br />
Tordesilhas garantiu o controle sobre a rota oriental, o<br />
predomínio português no Atlântico Sul e a posse de<br />
terras que a Coroa Portuguesa suspeitava existirem.<br />
O projeto expansionista espanhol não se restringiu aos<br />
empreendimentos de Colombo, devendo ser considerada,<br />
a viagem de Fernão de Magalhaes, que em 1519 retomou<br />
a rota para o oriente direcionada pelo ocidente, através<br />
da qual o navegador seguiu em direção ao Atlântico Sul,<br />
transpôs o Estreito de Magalhães e em 1521 chegaria às<br />
Filipinas, onde foi morto em conflito com nativos. A<br />
viagem deu prosseguimento e em 1522 a tripulação<br />
sobrevivente retornou a Espanha, concluindo a primeira<br />
viagem de circum-navegação.<br />
dizimação de enorme contingente de populações<br />
autóctones das áreas encontradas, grave prejuízo às<br />
culturas locais e a intersecção de novos padrões<br />
culturais, predominantemente euro-ocidentais; esses<br />
impérios também garantiriam o pleno desenvolvimento<br />
do capitalismo comercial, garantindo grande afluxo de<br />
riqueza que permitiria a acumulação primitiva de<br />
capitais necessária à fase industrial de consolidação do<br />
capitalismo.<br />
ARRUDA, José Jobson. Moderna e Contemporânea, Vol. 1. Bauru: EDUSC,<br />
2006<br />
BRAICK, Patrícia, MOTA, Myriam Brecho. <strong>História</strong> das Cavernas ao Terceiro<br />
Milênio. São Paulo: Editora Moderna, 2013.<br />
CAMPOS, Flávio de, CLARO, Regina. Oficina de <strong>História</strong>. São Paulo: Editora<br />
Leya, 2012<br />
MARQUES, Adhemar. Pelos Caminhos da <strong>História</strong>. Curitiba: Editora Positivo,<br />
2006<br />
VAINFAS, Ronaldo, FARIA, Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge, SANTOS<br />
dos, Georgina. Conecte <strong>História</strong> 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.<br />
Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional, Ano 07, Número 84, Setembro de<br />
2012<br />
EXERCÍCIOS<br />
5. PRINCIPAIS EFEITOS DA EXPANSÃO<br />
COMERCIAL<br />
Os resultados dessas navegações seriam determinantes<br />
na afirmação da Modernidade Ocidental, como também<br />
revolucionários em escala global.<br />
Essencialmente, devemos salientar o processo de<br />
mundialização, ou primeira globalização, que definiu<br />
através das terras encontradas por aqueles navegadores,<br />
um impactante processo de integração das partes do<br />
planeta, multidimensionado na mobilização de pessoas,<br />
mercadorias, culturas, contatos e choques entre<br />
populações, que antecipou o fenômeno comunicador de<br />
nossa globalização atual.<br />
Outro elemento fundamental seria a própria<br />
transferência do eixo econômico do Mediterrâneo,<br />
mantido por toda a Antiguidade e Medievo, para o<br />
Atlântico, que se tornaria, por excelência, o oceano<br />
integrador das partes conhecidas da Terra.<br />
Também considerável foi a formação de vastos<br />
impérios coloniais pelos países europeus, resultando na<br />
01 - (FUVEST SP) Deve-se notar que a ênfase dada à<br />
faceta cruzadística da expansão portuguesa não implica,<br />
de modo algum, que os interesses comerciais estivessem<br />
dela ausentes – como tampouco o haviam estado das<br />
cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e<br />
financiadas pela burguesia das repúblicas marítimas da<br />
Itália. Tão mesclados andavam os desejos de dilatar o<br />
território cristão com as aspirações por lucro mercantil<br />
que, na sua oração de obediência ao pontífice romano,<br />
D. João II não hesitava em mencionar entre os serviços<br />
prestados por Portugal à cristandade o trato do ouro da<br />
Mina, “comércio tão santo, tão seguro e tão ativo” que<br />
o nome do Salvador, “nunca antes nem de ouvir dizer<br />
conhecido”, ressoava agora nas plagas africanas…<br />
Luiz Felipe Thomaz, “D. Manuel, a Índia e o Brasil”. Revista de <strong>História</strong> (USP),<br />
161, 2º Semestre de 2009, p.16-17. Adaptado.<br />
Com base na afirmação do autor, pode-se dizer que a<br />
expansão portuguesa dos séculos XV e XVI foi um<br />
empreendimento<br />
a) puramente religioso, bem diferente das cruzadas dos<br />
séculos anteriores, já que essas eram, na realidade,<br />
grandes empresas comerciais financiadas pela<br />
burguesia italiana.<br />
166
) ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era<br />
comum, à época, a concepção de que a expansão da<br />
cristandade servia à expansão econômica e viceversa.<br />
c) por meio do qual os desejos por expansão territorial<br />
portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista de<br />
novos mercados para a economia europeia mostrarse-iam<br />
incompatíveis.<br />
d) militar, assim como as cruzadas dos séculos<br />
anteriores, e no qual objetivos econômicos e<br />
religiosos surgiriam como complemento apenas<br />
ocasional.<br />
e) que visava, exclusivamente, lucrar com o comércio<br />
intercontinental, a despeito de, oficialmente,<br />
autoridades políticas e religiosas afirmarem que seu<br />
único objetivo era a expansão da fé cristã.<br />
Figura 3: Globo Terrestre<br />
(CARRARO, Fernando. Atividades com mapa. São Paulo: FTD, 1996.)<br />
02 - (UERJ) Uma questão acadêmica, mas interessante,<br />
acerca da “descoberta” do Brasil é a seguinte: ela<br />
resultou de um acidente, de um acaso da sorte? Não, ao<br />
que tudo indica. Os defensores da casualidade são hoje<br />
uma corrente minoritária. A célebre carta de Caminha<br />
não refere a ocorrência de calmarias. Além disso, é<br />
difícil aceitar que uma frota com 13 caravelas, bússola e<br />
marinheiros experimentados se perdesse em pleno<br />
oceano Atlântico e viesse bater nas costas da Bahia por<br />
acidente.<br />
Rejeitado o acaso como fonte de explicação no que tange<br />
aos objetivos da “descoberta”, fica de pé a seguinte<br />
pergunta: qual foi, portanto, a finalidade, a intenção da<br />
expedição de Cabral?<br />
Adaptado de LOPEZ, Luiz Roberto. <strong>História</strong> do Brasil colonial.<br />
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.<br />
Os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI<br />
foram processos importantes para a construção do mundo<br />
moderno. A chegada dos portugueses ao Brasil decorre<br />
dos projetos que levaram diferentes nações europeias às<br />
grandes navegações.<br />
Formule uma resposta à pergunta do autor, ao final do<br />
texto: qual foi a finalidade da expedição de Cabral?<br />
Em seguida, cite dois motivos que justificam as grandes<br />
navegações marítimas nos séculos XV e XVI.<br />
03 - (UEL PR) Observe as figuras 3 e 4 a seguir.<br />
Figura 4: Planisfério<br />
(CARRARO, Fernando. Atividades com mapa. São Paulo: FTD, 1996.)<br />
Oceanos abrigaram, uniram e separaram povos no<br />
decorrer do tempo. Representações artísticas, literárias,<br />
cartográficas e narrativas históricas sobre os oceanos<br />
contribuíram para ampliar a sua compreensão.<br />
Com base no enunciado e nos conhecimentos históricos,<br />
considere as afirmativas a seguir.<br />
I. Grande parte das terras banhadas pelo Mediterrâneo,<br />
denominado Mare Nostrum pelos antigos romanos, foi<br />
por eles colonizada no decorrer do seu Império.<br />
II. Os portugueses, nos séculos XV e XVI, dominaram<br />
oceanos com caravelas e conhecimentos náuticos,<br />
anotando, em suas viagens, as rotas marítimas.<br />
III. As narrativas sobre as criaturas míticas que<br />
habitavam os oceanos apavoraram o homem no período<br />
medieval, retardando as Grandes Navegações.<br />
IV. No período colonial brasileiro, os holandeses, através<br />
de seus empreendimentos de navegação, conquistaram a<br />
capitania do Rio de Janeiro, por meio século.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.<br />
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.<br />
167
04 - (UFSC)<br />
Universalis Cosmographia Secundum Ptholomei Traditionem e Et Americi<br />
Vespucci Aliorum Lustrationes (mapa mundo) – Martin Waldseemüller, 1507.<br />
Disponívelem:www.novomilenio.inf.br/santos/major18.htm> Acesso em: 19 set.<br />
2011.<br />
As grandes navegações foram responsáveis por<br />
transformações importantes, tanto na Europa como nas<br />
Américas.<br />
Sobre as grandes navegações, assinale a(s) proposição<br />
(ões) CORRETA(S).<br />
01. Portugal possui um grande litoral e,<br />
consequentemente, só poderia se dedicar ao comércio<br />
marítimo: o pioneirismo português nas navegações se<br />
deu exclusivamente a uma dádiva natural.<br />
02. Dois importantes concorrentes portugueses nas<br />
grandes navegações foram França e Inglaterra que, assim<br />
como Portugal, foram países favorecidos pela paz<br />
reinante em seus territórios durante os séculos XIV e<br />
XV.<br />
04. São consequências importantes das grandes<br />
navegações o crescimento de operações comerciais e a<br />
diversificação de produtos provenientes das Américas,<br />
como o tabaco, o milho, a batata e o cacau.<br />
08. A conquista espanhola nas Américas ocorreu de<br />
forma pacífica, uma vez que os incas tiveram a liberdade<br />
de exercer suas atividades culturais e econômicas de<br />
modo independente da Espanha.<br />
16. Dentre os habitantes das Américas estavam astecas,<br />
incas e maias. Os maias desenvolveram um sistema<br />
matemático e astronômico bastante apurado.<br />
05 - (PUC RJ) “Historicamente, a incorporação de<br />
novos espaços à economia mundial tem levado à<br />
decadência dos eixos econômicos tradicionais e ao<br />
surgimento de novos polos econômicos e de poder. Até o<br />
século XV o Mediterrâneo era o centro das sociedades<br />
ocidentais, em seguida a hegemonia passou para o eixo<br />
Atlântico, que atualmente está sob a ameaça de um eixo<br />
emergente na bacia do Oceano Pacífico”. Adaptado de PIRES,<br />
M. Cordeiro. O deslocamento do eixo econômico mundial in Revista PUC VIVA,<br />
32, 2008.<br />
Sobre esses processos, NÃO É CORRETO afirmar que:<br />
a) o deslocamento do eixo comercial para o Oceano<br />
Atlântico relacionou-se às<br />
b) Grandes Navegações e à Colonização da América,<br />
pelos europeus.<br />
c) no século XIX, a abertura do Canal de Suez permitiu<br />
um acesso mais rápido ao Pacífico e a emergência<br />
de novos países industrializados, como a Coréia do<br />
Sul e Cingapura, entre outros.<br />
d) entre os séculos XVI e XIX, a navegação atlântica<br />
conectou a África à Europa e à América, permitindo<br />
acesso às riquezas do Oriente e a captura de milhões<br />
de africanos.<br />
e) o crescimento econômico da Coréia do Sul, da<br />
China e Índia colaborou para o incremento de<br />
relações comerciais na Bacia do Pacífico.<br />
f) no século XX, a hegemonia econômica norteamericana<br />
suplantou a hegemonia europeia,<br />
reafirmando o Oceano Atlântico como principal<br />
cenário do comércio mundial.<br />
06 - (PUC SP) “Enquanto as caravelas cruzavam os<br />
mares obedecendo a cálculos precisos, multidões se<br />
deliciavam, na Corte, com os espetáculos de Gil Vicente,<br />
onde se abria espaço às práticas cotidianas do povo<br />
comum, eivadas de magismo e de maravilhoso. Os<br />
processos quinhentistas da Inquisição atestam como era<br />
corriqueiro o recurso a filtros e poções mágicas, e<br />
difundida a crença nos poderes extraordinários do<br />
Demônio.” Laura de Mello e Souza. Inferno atlântico. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1993, p. 21-22<br />
O texto caracteriza a época da expansão marítima<br />
europeia (séculos XV e XVI) e destaca<br />
a) a vitória definitiva do pensamento racional sobre os<br />
valores religiosos e obscurantistas que<br />
caracterizavam a Idade Média.<br />
b) uma cruzada religiosa contra os infiéis e a tentativa<br />
cristã de libertar Jerusalém do domínio islâmico.<br />
c) a convivência entre pensamento racionalista e<br />
diversas formas de crenças no caráter maravilhoso<br />
do mundo.<br />
d) um esforço europeu para impor sua hegemonia<br />
militar, política e comercial sobre a América e o<br />
litoral atlântico da África.<br />
168
e) a ampliação do poder da Igreja, que passava a<br />
controlar as manifestações artísticas populares e<br />
perseguia os hereges.<br />
07 - (ESCS DF) A expansão marítima e comercial<br />
portuguesa foi fruto de um amplo processo de<br />
transformações no continente europeu a partir da crise<br />
final do sistema feudal entre o século XIV e o século<br />
XV. A formação do estado absolutista português através<br />
da Revolução de Avis (século XIV) permitiu as<br />
condições mínimas para a aventura portuguesa sobre os<br />
continentes africano, asiático e americano. Os principais<br />
objetivos da expansão marítima e comercial portuguesa<br />
foram:<br />
a) a necessidade de conquistar mercado consumidor<br />
para os produtos industriais portugueses e pela<br />
exportação de mão de obra excedente de Portugal;<br />
b) a grande quantidade de capitais excedentes em<br />
Portugal, interessados em novos investimentos, e o<br />
avanço dos ideais liberais no país;<br />
c) a necessidade de obter um novo mercado de<br />
matérias-primas e a elevada carga tributária cobrada<br />
pelos turco-otomanos no comércio do mediterrâneo;<br />
d) o interesse da Igreja Luterana, que se consolidou em<br />
Portugal com a Revolução de Avis, e a necessidade<br />
de novas rotas de comércio;<br />
e) o interesse dos portugueses em exportar produtos<br />
agrícolas para novos mercados fora da Europa e a<br />
necessidade de obtenção de mão-de-obra escrava.<br />
08 - (UPE) A conquista e a colonização da América não<br />
estavam unicamente ligadas ao processo de expansão<br />
mercantilista da Europa moderna. Faziam parte, também,<br />
da ação da igreja tridentina no combate ao<br />
protestantismo e na luta em prol da ampliação do número<br />
de fiéis católicos. Nessa perspectiva,<br />
a) a catequese dos povos americanos não teve destaque<br />
na ação das coroas portuguesa e hispânica no Novo<br />
Mundo.<br />
b) a instituição do padroado régio na Espanha e em<br />
Portugal assim como em suas possessões no alémmar<br />
comprova o caráter religioso da conquista da<br />
América.<br />
c) a ação dos jesuítas na catequese dos ameríndios e na<br />
colonização ibérica na América se restringiu aos<br />
territórios hispânicos.<br />
d) a presença massiva de protestantes na América<br />
colonial sob a tutela das monarquias ibéricas ressalta<br />
a pequena atuação da igreja católica na colonização<br />
do Novo Mundo.<br />
e) na América Portuguesa, os jesuítas não tiveram<br />
espaço para a atuação catequética, cabendo essa<br />
ação, nos territórios lusos da América, a outras<br />
ordens, como os franciscanos e beneditinos.<br />
09 - (UNICAMP SP) Referindo-se à expansão marítima<br />
dos séculos XV e XVI, o poeta português Fernando<br />
Pessoa escreveu, em 1922, no poema “Padrão”:<br />
“E ao imenso e possível oceano<br />
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,<br />
Que o mar com fim será grego ou romano:<br />
O mar sem fim é português.”<br />
(Fernando Pessoa, Mensagem – poemas esotéricos. Madri: ALLCA XX, 1997, p.<br />
49.)<br />
Nestes versos identificamos uma comparação entre dois<br />
processos históricos. É válido afirmar que o poema<br />
compara<br />
a) o sistema de colonização da Idade Moderna aos<br />
sistemas de colonização da Antiguidade Clássica: a<br />
navegação oceânica tornou possível aos portugueses<br />
o tráfico de escravos para suas colônias, enquanto<br />
gregos e romanos utilizavam servos presos à terra.<br />
b) o alcance da expansão marítima portuguesa da Idade<br />
Moderna aos processos de colonização da<br />
Antiguidade Clássica: enquanto o domínio grego e<br />
romano se limitava ao mar Mediterrâneo, o domínio<br />
portuguêsexpandiu-se pelos oceanos Atlântico e<br />
Índico.<br />
c) a localização geográfica das possessões coloniais<br />
dos impérios antigos e modernos: as cidades-Estado<br />
gregas e depois o Império Romano se limitaram a<br />
expandir seus domínios pela Europa, ao passo que<br />
Portugal fundou colônias na costa do norte da<br />
África.<br />
d) a duração dos impérios antigos e modernos:<br />
enquanto o domínio de gregos e romanos sobre os<br />
mares teve um fim com as guerras do Peloponeso e<br />
Púnicas, respectivamente, Portugal figurou como a<br />
maior potência marítima até a independência de suas<br />
colônias.<br />
169
10 - (UFT TO) Vendo do mar, o sertão nos pareceu<br />
muito grande, porque, ao estender os olhos, não<br />
podíamos ver senão terras com arvoredos a perder de<br />
vista. Até agora não pudemos saber que haja aqui ouro,<br />
prata, ou alguma coisa de metal ou ferro, nem o vimos.<br />
Porém, a terra em si tem um ótimo clima, frio e<br />
temperado (...) As águas são muitas, infindas. E esta terra<br />
é tão graciosa, que, querendo aproveitá-la, tudo dará, em<br />
razão das águas que tem. Porém, o melhor fruto que se<br />
pode tirar desta terra me parece ser salvar essa gente. E<br />
esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza deve<br />
lançar nesta terra.<br />
AUSTURIANO, P. e MATIAS, R. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Versão<br />
ilustrada em linguagem atual. São Paulo: FTD, 2000, p. 75-77.<br />
Sobre as Grandes Navegações, considere as alternativas<br />
abaixo:<br />
I. As viagens de Colombo provocaram desavenças entre<br />
os reis de Portugal e da Espanha. Ambos afirmavam ter<br />
direitos sobre as terras que fossem descobertas. A<br />
questão foi solucionada com a assinatura do Tratado de<br />
Madri, em 07 de junho de 1494, que dividia o mundo<br />
entre os dois países.<br />
II. Em 1498, o português Vasco da Gama chegou à<br />
Calicute, na Índia. Estava descoberto o caminho para o<br />
Oriente e suas riquezas. Em 1500, a esquadra de Pedro<br />
Álvares Cabral partiu com a missão de chegar<br />
novamente à Índia, comprar grande quantidade de<br />
especiarias e firmar acordos com os comerciantes<br />
indianos.<br />
III. Os descobrimentos iniciados pelos portugueses<br />
provocaram profundas mudanças na visão de mundo dos<br />
europeus. Ampliou-se o conhecimento da Geografia<br />
Física. O contato direto com diversas civilizações,<br />
algumas muito antigas e complexas, como as da China e<br />
da Índia, e com culturas tão diferentes, como as da<br />
América, da África e da Oceania, abriu caminho para o<br />
nascimento de uma ideia mais ampla de humanidade.<br />
IV. A chegada dos portugueses à América não provocou<br />
o mesmo entusiasmo da Viagem de Vasco da Gama às<br />
Índias. Durante as três primeiras décadas do século XVI,<br />
o Brasil, praticamente, serviu ao reino português apenas<br />
como local para abastecimento dos navios em viagem<br />
para as Índias.<br />
V. Após a chegada de Colombo à América, os reis da<br />
Espanha apressaram-se em garantir seus direitos de posse<br />
sobre as novas terras. Para isso pediram a intervenção do<br />
Papa Alexandre VI, que por meio de um documento,<br />
conhecido pelo nome de Tratado de Tordesilhas,<br />
assinado em 04 de maio de 1493, estabeleceu que as<br />
novas terras descobertas seriam divididas entre as coroas<br />
de Portugal e Espanha.<br />
Assinale a alternativa que contém apenas as informações<br />
CORRETAS em relação às Grandes Navegações:<br />
a) II, III e IV<br />
b) II, III, e V<br />
c) I, III e V<br />
d) I, II, e V<br />
e) I, II, e IV<br />
11 - (UEM PR) Leia o fragmento abaixo e assinale a(s)<br />
alternativa(s) correta(s) sobre os Tempos Modernos.<br />
“Os chamados Tempos Modernos que, para os países do<br />
Mediterrâneo Ocidental e da orla atlântica do continente<br />
europeu, nasceram da crise do sistema feudal e da<br />
gestação do capitalismo conheceram o primeiro<br />
momento de expansão transoceânica da história<br />
ocidental. Com o descobrimento dos caminhos<br />
marítimos, para o controle do comércio oriental, e a<br />
colonização da América, formaram-se os impérios<br />
mercantilistas dos séculos XVI, XVII e XVIII.”<br />
(LINHARES, M. Y. Em face do Imperialismo e do Colonialismo. In: SILVA, F.<br />
C. T; CABRAL, R.; MUNHOZ, S. (org.). Impérios na <strong>História</strong>. Rio de Janeiro:<br />
Elsevier, 2009, p. 235).<br />
01.Com o objetivo de preservar a economia<br />
mercantilista, os monarcas ingleses do século XVII<br />
incentivaram o desenvolvimento de fábricas que<br />
utilizavam a energia a vapor como força motriz.<br />
02.O fortalecimento dos Estados Nacionais vincula-se às<br />
determinações e às práticas mercantilistas estabelecidas<br />
pelos Reis.<br />
04.Ao longo do período de predomínio das ideias e das<br />
práticas mercantilistas, ocorreu, na Inglaterra, um<br />
crescimento da produção e do comércio de produtos<br />
têxteis.<br />
08.Com a exportação de produtos manufaturados para a<br />
Europa, houve uma maior distribuição de renda nas<br />
colônias.<br />
16.As ideias dos iluministas da Revolução Francesa<br />
serviram de base para fundamentar os Estados<br />
Absolutistas e a prática da economia mercantilista.<br />
170
12 - (FUVEST SP) BALANÇAS COMERCIAIS DA<br />
FRANÇA E INGLATERRA NO SÉCULO XVIII<br />
(EM MILHÕES DE LIBRAS)<br />
d) estabeleciam a lei da oferta e da procura para<br />
garantir a livre concorrência e eliminar os entraves<br />
ao desenvolvimento comercial.<br />
e) utilizavam políticas intervencionistas para regular o<br />
funcionamento da economia e obter uma balança<br />
comercial favorável.<br />
14 - (UFGD MS) Assinale a alternativa correta acerca<br />
das relações entre nativos e europeus no que diz respeito<br />
à exploração do Novo Mundo:<br />
Fernand Braudel, Civilização material, economia e capitalismo, Vol. II, Lisboa,<br />
Teorema, 1992, p. 175. Adaptado.<br />
Considerando os dois gráficos acima,<br />
a) defina e explique o significado geral de uma balança<br />
comercial “favorável” ou “desfavorável” para um<br />
determinado país;<br />
b) compare os papéis político-econômicos da França e da<br />
Inglaterra na competição internacional do século XVIII,<br />
bem como a importância desses países para as regiões<br />
coloniais americanas da época.<br />
a) A consolidação de novas relações de dominação não<br />
se deu por meio do aproveitamento de formas de<br />
trabalho compulsórios já existentes no Novo Mundo.<br />
b) Portugueses e espanhóis construíram acerca da<br />
América visões que destacavam a fertilidade e<br />
riqueza da terra e a inocência dos povos nativos.<br />
c) Conflitos e epidemias ocorreram. No entanto, não<br />
explicam a redução demográfica das populações<br />
indígenas.<br />
d) A catequização das populações indígenas, baseada<br />
na ideia da tolerância religiosa, facilitou a<br />
solidificação dos valores europeus, o que explica o<br />
caráter benigno dessa exploração.<br />
e) A construção de acordos bélicos entre nativos e<br />
europeus, possibilitados pelas rivalidades internas,<br />
contribuiu para a conquista do Novo Mundo,<br />
excetuando-se o Brasil, onde não existiam<br />
rivalidades entre populações indígenas.<br />
15 - (UFSC)<br />
13 - (FATEC SP) O Mercantilismo pode ser definido<br />
como um conjunto de práticas e doutrinas econômicas<br />
adotadas pelo Estado absolutista, na Idade Moderna, com<br />
o objetivo de obter e acumular riqueza. Partindo do<br />
princípio de que a riqueza de uma nação era determinada<br />
pela quantidade de metais preciosos mantidos dentro de<br />
seu território, os estados absolutos desse período<br />
a) proibiam as atividades manufatureiras e desviavam<br />
os capitais assim liberados para o desenvolvimento<br />
de frotas comerciais.<br />
b) criavam cooperativas multinacionais para dividir os<br />
custos de empreendimentos, como a colonização de<br />
áreas periféricas.<br />
c) eliminavam a livre iniciativa, submetendo as<br />
atividades econômicas rurais e urbanas ao<br />
monopólio estatal.<br />
“A expansão marítima teve ligações com os<br />
questionamentos e as inovações que acompanharam o<br />
Renascimento e, politicamente, com a formação do<br />
Estado moderno na Europa. Assim, é impossível analisála<br />
sem mencionar as mudanças econômicas, a<br />
intensificação das atividades comerciais, o fascínio pelas<br />
especiarias, a luta da burguesia para consolidar sua<br />
riqueza.”<br />
171
REZENDE, Antônio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da <strong>História</strong>:<br />
<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e do Brasil. São Paulo: Atual, 2001. p. 158. Gravura do sec. XVI,<br />
de Theodore de Bry. p. 157-158.<br />
Sobre a expansão marítima e comercial europeia:<br />
a)Explique (em no máximo 4 linhas) duas razões para o<br />
pioneirismo do reino português.<br />
b)Considerando que o mercantilismo é um conjunto de<br />
práticas econômicas relacionadas ao processo de<br />
expansão marítima, explique (em no máximo 6 linhas)<br />
duas de suas características citadas abaixo:<br />
- Metalismo<br />
- Protecionismo<br />
- Balança Comercial Favorável<br />
- Colonialismo<br />
16 - (PUC RJ) Observe o gráfico das tendências<br />
econômicas de alguns países europeus (1500-1700):<br />
e) o controle dos mares, as grandes reservas de carvão<br />
e o uso de energia a vapor para mecanizar a<br />
produção manufatureira explicam a expansão<br />
constante da economia inglesa entre 1550 e 1700.<br />
17 - (UFMG) Leia este trecho:<br />
Este fluxo de prata é despejado em um país protecionista,<br />
barricado de alfândegas. Nada sai ou entra em Espanha<br />
sem o consentimento de um governo desconfiado, tenaz<br />
em vigiar as entradas e as saídas de metais preciosos. Em<br />
princípio, a enorme fortuna americana vem, portanto,<br />
terminar num vaso fechado. Mas o fecho não é perfeito<br />
[...] Ou dir-se-ia tão comumente que os Reinos de<br />
Espanha são as “Índias dos outros Reinos Estrangeiros”.<br />
BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico à época de<br />
Felipe II. Lisboa: Martins Fontes, 1983-1984, v.1, p. 523-527.<br />
1. IDENTIFIQUE a prática econômica a que se faz<br />
referência nesse texto.<br />
2. CITE o principal objetivo dessa prática.<br />
3. Mas o fecho não é perfeito [...] Ou dir-se-ia tão<br />
comumente que os Reinos de Espanha são as “Índias dos<br />
outros Reinos Estrangeiros”.<br />
EXPLIQUE o sentido histórico dessa frase.<br />
18 - (UCS RS) Sobre a colonização do Brasil por<br />
Portugal, é correto afirmar que<br />
CIPOLLA, Carlo M. <strong>História</strong> econômica da Europa pré-industrial. Lisboa: Ed.<br />
70, 2000, p. 278.<br />
Sobre as causas dessas tendências, é CORRETO afirmar<br />
que:<br />
a) a prata americana deu à Espanha do século XVI um<br />
poder de compra que acabou provocando o<br />
desenvolvimento manufatureiro holandês e inglês no<br />
século seguinte.<br />
b) as guerras religiosas incentivaram a produção de<br />
armas e permitiram o crescimento econômico dos<br />
principados luteranos da Europa central, em meados<br />
do século XVI.<br />
c) o afluxo dos tesouros americanos permitiu à<br />
Espanha ter um período de enriquecimento e<br />
expansão no século XVII.<br />
d) a estreita relação entre comércio externo e setor<br />
manufatureiro e a manutenção da união com a<br />
Espanha foram as bases do “milagre” holandês do<br />
século XVII.<br />
a) mesmo tendo a Metrópole se afastado dos princípios<br />
econômicos do sistema colonial, os seus objetivos<br />
foram plenamente alcançados.<br />
b) a montagem da empresa colonial obedecia aos<br />
princípios do mercantilismo e, nesse sentido, Lisboa<br />
preocupou-se em incentivar, na Colônia, as<br />
atividades complementares à economia<br />
metropolitana.<br />
c) apesar de o Brasil ser uma colônia de exploração, os<br />
princípios mercantilistas não foram aplicados aqui<br />
com rigor, o que possibilitou o desenvolvimento de<br />
atividades que visavam ao crescimento da Colônia.<br />
d) apesar de a colonização atender aos princípios<br />
mercantilistas, estes, em grande parte, não foram<br />
respeitados, uma vez que a economia colonial se<br />
voltou mais para o comércio interno.<br />
e) a metrópole se interessava pelo desenvolvimento<br />
econômico da Colônia e, por isso, preocupava-se em<br />
incentivar toda a atividade que explorasse os<br />
recursos que viessem a beneficiar a terra.<br />
172
19 - (PUC RJ) “Para o progresso do armamento<br />
marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />
proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />
segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />
mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />
ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />
Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />
América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />
pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />
por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />
com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />
poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />
lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />
seus bens e mercadorias [...]”.<br />
Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />
Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.<br />
conflitos marcam o passado e o presente de diversos<br />
povos africanos. [...].<br />
Desde o século XV, a África é subjugada pelos europeus.<br />
Por quatro séculos, Portugal, Espanha e Inglaterra<br />
levaram para o continente americano mão de obra<br />
escrava capturada na África. [...].<br />
Mesmo controlando o tráfico negreiro, os europeus<br />
mantinham presença discreta no continente, limitada a<br />
entrepostos comerciais na região costeira. [...] Porém, no<br />
fim do século XIX, as potências europeias iniciaram uma<br />
corrida imperialista para controlar o continente, em<br />
busca de novas fontes de matérias-primas e de mercados<br />
para seus produtos manufaturados.<br />
Era o auge da II Revolução Industrial. (ÁFRICA..., 2010, p.28).<br />
Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />
inglês:<br />
a) estabelecia que todas as mercadorias<br />
comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />
transportadas por navios ingleses.<br />
b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />
a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />
presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />
c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />
privilegiada de intermediária comercial em nível<br />
mundial.<br />
d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />
expandia o Império, abrindo novos mercados<br />
internacionais ao seu excedente agrícola.<br />
e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />
manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />
dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />
preciosos no Reino inglês.<br />
TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />
Em janeiro, a seleção de Togo seguia de ônibus até a<br />
província de Cabinda, em Angola, onde disputaria a<br />
Copa Africana de Nações. Mas a viagem foi<br />
interrompida por uma dissidência das Forças de<br />
Libertação do Estado de Cabinda (Flec), que metralhou o<br />
ônibus, matando três pessoas da delegação e deixando<br />
jogadores feridos [...].<br />
Se o episódio de Cabinda lançou uma sombra sobre a<br />
Copa da África do Sul, é porque as tensões internas e os<br />
20 - (UNEB BA) A história da África colonial é<br />
marcada por relações econômicas e culturais e, também,<br />
por conflitos internos e/ou relacionados às nações<br />
europeias, podendo-se afirmar que, no<br />
01. processo de libertação colonial, durante a Guerra<br />
Fria, se verificou forte oposição por parte dos Estados<br />
Unidos e da União Soviética, temerosos de que a<br />
fragmentação política do continente fortalecesse o bloco<br />
dos não alinhados.<br />
02. processo de dominação colonial, durante a expansão<br />
imperialista, se incentivaram as guerras entre as diversas<br />
etnias, o que resultou na criação de fronteiras que<br />
respeitavam as divisões culturais e na submissão dos<br />
reinos africanos.<br />
03. processo de expansão mercantilista, os europeus<br />
ocuparam entrepostos na costa africana, enquanto, na<br />
colonização imperialista, ocorreu a dominação e a<br />
submissão do interior do continente, onde se localizavam<br />
os estados africanos.<br />
04. período de exploração do comércio negreiro, os<br />
países que não participavam dessa atividade a acusavam<br />
de ser um empecilho à acumulação primitiva do capital,<br />
contribuindo para o subdesenvolvimento econômico do<br />
continente.<br />
05. processo de colonização mercantilista, assim como<br />
durante a dominação imperialista do século XIX, a<br />
exploração de riquezas agrícolas e de escravos tornaramse<br />
a principal razão da conquista dos povos africanos.<br />
173
GABARITO:<br />
1) Gab: B<br />
2) Gab:<br />
Garantir a posse de terras a oeste do Atlântico que<br />
pertenceriam a Portugal, segundo o Tratado de<br />
Tordesilhas, como estratégia para controle da rota<br />
atlântica que levava às Índias.<br />
Dois dos motivos:<br />
• busca de especiarias<br />
• propagação da fé católica<br />
• busca de metais preciosos<br />
• busca de terras pela nobreza decadente<br />
• busca de matérias-primas rentáveis para o comércio<br />
europeu<br />
• afirmação do poder territorial por parte dos Estados<br />
modernos recém-implantados<br />
3) Gab: D<br />
4) Gab: 20<br />
5) Gab: B<br />
6) Gab: C<br />
7) Gab: C<br />
8) Gab: B<br />
9) Gab: B<br />
10) Gab: A<br />
11) Gab: 06<br />
12) Gab:<br />
a) O termo “balança comercial” refere-se à diferença<br />
entre as exportações e as importações realizadas por um<br />
país. Exportações maiores que as importações indicam<br />
uma balança comercial favorável — o que significava a<br />
entrada de divisas e a possibilidade de um maior<br />
acúmulo de capital e, consequentemente, maior<br />
fortalecimento dos estados nacionais. Dentro dessa<br />
lógica, obter uma balança comercial desfavorável<br />
(importações maiores que as exportações) configurava<br />
uma situação indesejável.<br />
b) Ao longo do século XVIII, as preocupações com a<br />
obtenção de uma balança comercial favorável<br />
dominavam as políticas econômicas europeias, no rastro<br />
de três séculos de mercantilismo. Se, por um lado, o<br />
comércio internacional francês apresentava oscilações, o<br />
inglês, por outro, tendia a ser constantemente alimentado<br />
por um setor manufatureiro em franca expansão. Como<br />
principais potências político-econômicas europeias,<br />
França e Inglaterra mantinham intenso comércio com a<br />
América e sentiram os efeitos da crise do antigo sistema<br />
colonial no final do século.<br />
13) Gab: E<br />
14) Gab: B<br />
15) Gab:<br />
a) Razões para o pioneirismo português na expansão<br />
marítima.<br />
1. Posição geográfica favorável.<br />
2. Paz interna, relativa estabilidade política.<br />
3.Formação/reunião de navegadores, matemáticos,<br />
geógrafos e astrônomos.<br />
4. Tradição marítima: experiência com atividade<br />
pesqueira.<br />
5. Pioneirismo na formação do Estado Nacional<br />
Moderno<br />
b) Características do Mercantilismo<br />
1. Metalismo: acumulação de metais preciosos dentro do<br />
território nacional. Identificação entre a riqueza de um<br />
país e a quantidade de moedas em circulação no seu<br />
território.<br />
2. Protecionismo: direito exclusivo dos governos sobre a<br />
comercialização de certos produtos em todos os seus<br />
domínios, principalmente nas colônias (pacto colonial).<br />
Imposição de barreiras tarifárias aos produtos<br />
estrangeiros.<br />
3. Balança comercial favorável: A balança comercial é<br />
favorável quando se exporta mais que importa. Estímulo<br />
à produção manufatureira e diminuição das importações.<br />
Posse de colônias de exploração como forma de garantir<br />
a balança comercial favorável.<br />
174
4. Colonialismo: Conquista e domínio de territórios<br />
ultramarinos. A colônia como uma economia<br />
complementar à metrópole, com produção totalmente<br />
voltada à exportação.<br />
16) Gab: A<br />
17) Gab:<br />
1. Metalismo, prática dominante do mercantilismo<br />
ibérico.<br />
2. O acúmulo de metais preciosos seria condição básica<br />
para o fortalecimento de poder real por meio da<br />
consolidação do aparato político, burocrático e militar<br />
das monarquias.<br />
3. A citação faz referência aos problemas decorrentes da<br />
política mercantilista ibérica. A prioridade dada à<br />
acumulação de metais para a sustentação de uma<br />
sociedade fortemente aristocrática impediu o<br />
desenvolvimento econômico interno espanhol. Essa<br />
situação exigiu a importação de bens agrícolas e<br />
manufaturados em grande quantidade, provocando o<br />
escoamento das riquezas americanas para outros países.<br />
Neste sentido, a Espanha era as “Índias de outros Reinos<br />
Estrangeiros”.<br />
18) Gab: B<br />
19) Gab: B<br />
20) Gab: 03<br />
175
MERCANTILISMO<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
No decorrer do período Moderno – séculos XV a XVIII<br />
– a economia definiu-se pela fase do capitalismo<br />
comercial, expressão utilizada para designar a troca de<br />
mercadorias e as atividades comerciais como principais<br />
mecanismos da acumulação de capital. A maior<br />
eficiência dessa prática orientou-se a partir da adoção de<br />
uma série de medidas econômicas, variáveis no tempo e<br />
nas realidades específicas daqueles Estados, que no<br />
século XIX seriam designados sob o conceito de<br />
Mercantilismo. Objetivamente, a política mercantilista<br />
buscava em primeiro instante o fortalecimento das<br />
economias nacionais, o que determinava o próprio<br />
fortalecimento do Estado moderno e da autoridade<br />
real; indiretamente, garantiria ainda o enriquecimento<br />
da classe burguesa, classe mediadora da atividade<br />
comercial controlada pela burocracia estatal.<br />
O privilégio das atividades comerciais através do<br />
mercantilismo, embora variável segundo a realidade<br />
específica de cada Nação, reuniu certas elementos<br />
característicos, com o objetivo de proteção e<br />
desenvolvimento do comércio.<br />
À época, considerava-se como senso comum entre os<br />
pensadores da economia, a perspectiva de que as<br />
riquezas seriam estáticas em escala mundial, de modo<br />
que ao considerá-la constante, entendiam que<br />
inevitavelmente, alguém precisaria perder, ou<br />
empobrecer, para que outro ganhasse, ou acumulasse<br />
riqueza. Daí decorre a preocupação em estabelecer a<br />
acumulação metalista, isto é, a garantia da maior<br />
acumulação de moedas dentro do país, o que garantia o<br />
objetivo alcançado do ganho e a maior possibilidade de<br />
estabelecer transações comerciais. O recurso para a<br />
garantia desse acúmulo consistia essencialmente no<br />
esforço de manutenção de uma balança comercial<br />
favorável, alcançado por meio do esforço do Estado em<br />
garantir mercados externos crescentes às exportações e<br />
proteção da economia interna, estabelecendo limites às<br />
importações.<br />
Para tanto, apresentava-se o Estado como essencialmente<br />
interventor na economia, desenvolvendo práticas<br />
monopolistas, uma vez que ao monarca recaía o direito<br />
exclusivo sobre a esse setor, aplicado em privilégios<br />
concedidos na Metrópole ou no controle comercial nas<br />
áreas coloniais. O esforço de assegurar esses<br />
monopólios, esse acúmulo de moedas e a eficiência da<br />
maior exportação em relação à pratica de importação<br />
levou monarca e administradores a empreenderem o<br />
protecionismo sobre o comércio local, através da<br />
elevação de tarifas alfandegárias, medidas fiscais, ou<br />
mesmo militares.<br />
Apesar do conjunto doutrinário de aspectos comuns que<br />
costumamos relacionar ao Mercantilismo,<br />
evidentemente, essas práticas adequaram-se de maneira<br />
variada de país a país, sempre de acordo às condições<br />
locais mais coerentes de utilização dessas práticas. A<br />
forma clássica do Metalismo, ou bulionismo, ou seja, o<br />
acúmulo de metais preciosos, pode ser bem percebida na<br />
experiência dos espanhóis e, posteriormente, dos<br />
portugueses, no século XVIII. Possuidores de um vasto<br />
império colonial, ao qual se descobriu muito cedo a<br />
abundância de metais preciosos, ouro e prata em<br />
especial, os espanhóis viram-se na confortável condição<br />
de importar alimentos e variados artigos manufaturados,<br />
convencidos de que a posse de suas fontes fornecedoras<br />
de metais garantiria a balança comercial sempre<br />
favorável. O enorme afluxo de metais das América<br />
espanhola à Europa desencadeou uma grave crise<br />
inflacionaria nesse continente, que se identificou como<br />
“revolução dos preços” e garantiu ganhos significativos<br />
àquelas nações que se especializaram na diversificada<br />
produção de manufaturas. Em longo prazo, o desestímulo<br />
espanhol à produção agrícola e manufatureira seria<br />
desastroso à economia espanhola, a despeito da redução<br />
da exploração de metais a partir do século XVII.<br />
Mulher pesando ouro, Johannes Vermer. Óleo sobre tela, c 1664.<br />
176
2. O INDUSTRIALISMO OU COLBERTISMO<br />
FRANCÊS<br />
Os embaixadores franceses, de Hans Holbein, 1533. Observe a variedade de<br />
tipos de manufaturas que aparecem representados na obra: tecelagem,<br />
tapeçaria, bordados, joias, mosaicos, marcenaria, alfaiataria, artes em couro<br />
etc.<br />
Na França, a economia ajustou-se ao desenvolvimento de<br />
manufaturas de luxo (perfumes, móveis, tecidos,<br />
porcelanas, cristais e tapetes), bastante estimuladas pela<br />
opulência da Corte Francesa e da propaganda divulgada<br />
como sinal de requinte e bom gosto; no intuito de manter<br />
um alto padrão de qualidade, estabelecia-se uma intensa<br />
regulamentação do Estado sobre essas chamadas<br />
“indústrias de luxo”. Além da especialização em exportar<br />
tais produtos, o ministro Colbert – ministro das Finanças<br />
entre 1661 e 1683, do governo de Luís XIV (1661-1675)<br />
- seria responsável ainda pela adoção de práticas<br />
protecionistas da economia local, através de uma política<br />
fiscal que elevava os impostos de alfândega de produtos<br />
importados, valorizando o consumo de produtos das<br />
manufaturas internas. Outra prática desenvolvida pelos<br />
franceses foi a pirataria e a ação dos corsários,<br />
especialmente na interceptação das riquezas minerais dos<br />
espanhóis e mesmo em pretensões comerciais na costa da<br />
América Portuguesa.<br />
A Inglaterra, tendo desenvolvido a atividade de<br />
navegação e de colonização tardiamente, empenhou-se<br />
na produção de manufaturas diversas e de primeiras<br />
necessidades, diferenciando-se da especificidade do<br />
mercado de luxo dos franceses. Buscava fornecer<br />
mercadorias essenciais, como cereais, tecidos etc.,<br />
alcançando mercados externos europeus e coloniais,<br />
garantindo uma balança comercial favorável. Foi<br />
marcante na realidade desse país, o monopólio exercido<br />
inicialmente por variadas companhias de comércio –<br />
atuantes na Índia, Indonésia, Pérsia, Bombaim, Antilhas<br />
e nas Treze Colônias - e pelo estímulo interno a<br />
produção têxtil através das leis de cercamentos, que<br />
privilegiavam a produção de matéria prima a esse nicho<br />
de produção. As revoluções inglesas do século XVII<br />
extinguiriam esses monopólios internos, mas<br />
conduziriam os ingleses a buscarem vantagens em<br />
monopólios sobre o comércio externo, como os Atos de<br />
Navegação à época de Cromwell - definia a<br />
exclusividade da entrada de mercadorias na Inglaterra<br />
transportadas por navios do próprio país - expondo ao<br />
conflito direto com a Holanda e, a exploração colonial no<br />
norte da América.<br />
Para garantir o vasto comércio em tão longínquas<br />
distancias, essa política expansionista inglesa exigiu<br />
desde cedo um intenso desenvolvimento da marinha<br />
mercante britânica, eficiente tanto no transporte de<br />
mercadorias, quanto na afirmação militar, especialmente<br />
com a vitória inglesa sobre a Invencível Armada<br />
Espanhola.<br />
O processo conhecido como enclausure ou cercamentos<br />
explicitou o processo inglês de transição de uma<br />
agricultura de bases comunitário-feudais para uma<br />
agricultura moderna, para fins empresariais, com a<br />
produção realizando-se cada vez mais em bases<br />
capitalistas modernas. As antigas terras comunais,<br />
essenciais à sobrevivência de milhares de camponeses<br />
passaram a ser cercadas por novos proprietários ou seus<br />
arrendatários, sob estímulo do Estado.<br />
Prestar-se-iam a partir de então, à criação de<br />
ovelhas, cuja lã era vendida às manufaturas têxteis,<br />
demandando um número restrito de trabalhadores,<br />
expulsando milhares de trabalhadores do campo, gerando<br />
problemas sociais de graves proporções, como aumento<br />
da mendicidade, do banditismo etc. Outro efeito desse<br />
processo foi a intensificação da emigração de<br />
camponeses às áreas coloniais inglesas na América<br />
Setentrional como alternativa à miséria no campo inglês.<br />
MARQUES, Adhemar, Pelos Caminhos da <strong>História</strong>.<br />
Editora Positivo: Curitiba, 2006, p. 104<br />
177
3. MERCANTILISMO NA HOLANDA<br />
Embora tenha tardado a consolidar sua condição de<br />
Estado Nacional (processo concluído somente no século<br />
XVII após prolongados enfrentamentos com a Espanha),<br />
entre os holandeses, foi possível desenvolver uma<br />
articulada e desenvolvida atividade mercantil. Mesmo<br />
não possuindo possessões coloniais, os holandeses<br />
lucravam com diversas atividades que tinham relações<br />
diretas com as atividades relacionadas ao<br />
desenvolvimento do mercantilismo, através de uma<br />
promissora burguesia instalada em seus territórios.<br />
Exemplo denotativo dessa prática foi o papel<br />
desempenhado na economia açucareira no Brasil, em que<br />
atuaram realizando a distribuição do produto pela Europa<br />
e fornecendo crédito para que os portugueses<br />
financiassem a construção de engenhos e a formação de<br />
lavouras. Além disso, também tiveram grande destaque<br />
no acabamento de produtos têxteis oriundos da<br />
Inglaterra, no corte de pedras preciosas, fabricação de<br />
instrumentos de navegação e na preparação de bebidas<br />
destiladas e fermentadas.<br />
A garantia da organização e lucro dos holandeses com<br />
tais atividades pautou-se em alguns fatores essenciais<br />
deles. O primeiro, a criação de associações comerciais<br />
importantes, as chamadas Companhias de Comércio,<br />
responsáveis por decisões relacionadas à compra e venda<br />
de produtos, e a futura exploração de seus territórios<br />
coloniais. Logo em seguida, destacamos as ações de<br />
crédito e controle de fluxo monetário promovido pelo<br />
Banco de Amsterdã e, finalmente, a eficiente frota de<br />
navios por eles controlada.<br />
Assim, o mercantilismo holandês pode ser definido como<br />
um mercantilismo comercial e financeiro, que garantiu<br />
aos holandeses que mesmo sem um vasto território<br />
colonial, apostarem na realização de atividades que<br />
mostravam o alto grau de complexidade que o comércio<br />
atingia na Europa. A realização dos transportes e o<br />
processamento final de várias manufaturas podem ser<br />
vistas como a grande prova disso.<br />
4. CAMERALISMO OU MERCANTILISMO<br />
NA ALEMANHA*<br />
Ocorrida na época de transição do feudalismo para o<br />
capitalismo, entre os séculos XVI e XVIII, esta doutrina,<br />
conhecida pelo nome de "cameralismo", é dominada por<br />
uma filosofia e por uma situação política que diferem<br />
daquelas da França, Inglaterra e Espanha, já que<br />
permanecia dividida, sem integração territorial, onde<br />
grande número de principados lutavam entre si para<br />
impor sua soberania, constituindo pequenos Estados<br />
isolados na sua economia e opostos pela sua política.<br />
Como o mercantilismo favorecia a existência de um<br />
governo centralizado forte para garantir a<br />
regulamentação dos negócios, adotou-se essa política<br />
econômica, a fim de promover o rendimento interno do<br />
Estado através do aumento dos tributos, da proibição das<br />
exportações de matéria-prima e da proibição das<br />
importações de manufaturados. Sendo assim,<br />
caracterizou-se pela união dos capitalistas que<br />
desenvolveram atividades ligadas ao comércio marítimo<br />
e às finanças das Câmaras de Comércio.<br />
No século XVII um dos mais importantes cameralistas<br />
foi Ludwig von Seckendorff (1626–1692), partidário de<br />
uma população numerosa, pregava medidas para<br />
aumentar a produtividade da agricultura e das<br />
manufaturas. Insistia na necessidade de leis que<br />
reduzissem as importações dos bens não necessários, e<br />
reservasse a mão-de-obra e as matérias primas às<br />
produções indispensáveis.<br />
Propôs rígidas medidas para lutar contra a ociosidade e<br />
que favorecessem os trabalhadores empenhados nas<br />
atividades mais produtivas, notadamente aqueles que<br />
contribuíam para a exportação, um dos maiores<br />
princípios do mercantilismo.<br />
Johan Joachim Becker (1625-1685) insistia nos<br />
problemas do comércio; condenava a importação e<br />
exportação quando realizadas em proveito dos<br />
particulares, já que estes importam produtos que podem<br />
ser obtidos no próprio país, contribuindo assim para a<br />
"destruição de sua própria comunidade".<br />
É, pois, o Estado que deve tomar conta do comércio<br />
exterior, recomendando a constituição de sociedades<br />
comerciais estatizadas. Os produtos exportados deveriam<br />
ser vendidos pelo menor preço possível, pois via a venda<br />
de produtos manufaturados no estrangeiro uma fonte<br />
abundante de metal precioso.<br />
Tanto na forma como no fundo, a obra dos cameralistas<br />
carece de síntese. É uma análise de casos particulares,<br />
não atingindo a clareza e o alcance de grande número de<br />
Tratados e de Ensaios de mercantilistas ingleses e<br />
franceses. O que não quer dizer, porém, que não tenham<br />
exercido importante influência na solução dos problemas<br />
políticos e econômicos da Alemanha. Ao contrário, as<br />
explicações da doutrina cameralista contribuíram de<br />
maneira decisiva para garantir a evolução estrutural da<br />
178
economia alemã, criando – quando o mercantilismo<br />
deixou de se manifestar e quando, a partir de 1848, se<br />
realizou a unidade política dos Estados da Confederação<br />
Germânica – as condições favoráveis ao progresso rápido<br />
de sua industrialização e, posteriormente o crescimento<br />
do sistema bancário interno e internacional e a formação<br />
de uma sociedade competitiva.<br />
*O texto sobre mercantilismo na Alemanha não é de autoria do Professor Joab<br />
Cruz; encontra-se disponível no site.<br />
http://amigonerd.net/humanas/direito/mercantilismo-2 , em consulta de 12 de<br />
março de 2013.<br />
179
REFORMA PROTESTANTE<br />
Em meio às grandes transformações estruturais da<br />
Europa Ocidental na Idade Moderna, a espiritualidade<br />
não se manteve imune àquelas mudanças. A Reforma<br />
Protestante do século XVI se configuraria na grande<br />
renovação espiritual daquele período, como decorrência<br />
de um acentuado processo de secularização em curso.<br />
Mais do que uma simples reforma, significou a ruptura<br />
da cristandade ocidental e alterou radicalmente a<br />
estrutura eclesiástica convencional e a própria doutrina<br />
da salvação herdadas do período medieval.<br />
Apesar das implicações decorrentes da Reforma serem<br />
mais evidentes no campo da religiosidade, sua eclosão<br />
deve ser associada a outros fatores de ordem econômica,<br />
política e social que lhe foram determinantes.<br />
1. AS CONDIÇÕES ESTRUTURAIS PARA A<br />
REFORMA<br />
Do ponto de vista das relações produtivas, a Idade<br />
Moderna consolidou a transição da ordem feudal para<br />
a ordem capitalista, onde a busca pelo lucro decorrente<br />
das atividades comerciais tornar-se-iam o grande<br />
objetivo de enriquecimento da classe burguesa. A Igreja<br />
Católica, contudo, desde a Idade Média, a partir dos seus<br />
pressupostos de usura e justo preço, condenavam a<br />
inclusão do lucro sobre os preços e criticava as<br />
transações de empréstimos a juros, essenciais à ordem<br />
capitalista.<br />
A classe burguesa prescinde, portanto de uma nova ética<br />
religiosa que fosse capaz de conciliar sua prática de<br />
acumulação com a consciência religiosa tranquila, ainda<br />
que para isso fosse necessário vincular-se a outra<br />
vertente religiosa que estimulasse a obtenção do capital.<br />
No plano político, por sua vez, o processo de formação<br />
das Monarquias Nacionais e a expectativa da<br />
construção de um Estado centralizado forte, encontrava<br />
obstáculos na configuração transnacional da influência<br />
que a Igreja Católica continuava a exercer. Aos reis,<br />
interessava sobrepor sua autoridade nacional acima das<br />
interferências católicas, mantendo suas autoridades sob<br />
sua tutela e, uma convulsão religiosa, dar-lhe-ia ainda a<br />
oportunidade de confisco de muitos de seus bens,<br />
exemplo notado nas condições da Reforma Anglicana<br />
entre os ingleses.<br />
Embora inegável que as condições políticas e<br />
econômicas criaram o ambiente favorável ao<br />
acolhimento das pretensões da Reforma, não são<br />
suficientes para explicarem-se como causa fundamental<br />
do movimento; na verdade, razões espirituais e culturais<br />
daquele período devem ser consideradas como cerne<br />
essencial à ruptura da hegemonia católica ocidental.<br />
No século XVI, a religião marcava presença em quase<br />
todos os aspectos da vida social, desde o ensino à<br />
política, mas era também evidente a incapacidade do<br />
clero de corresponder às expectativas dos fiéis, homens<br />
em pleno processo de transformação. O caráter mundano<br />
do clero com deturpações de comportamento e acúmulo<br />
excessivo de bens materiais geravam críticas particulares<br />
que passaram a ser associadas às próprias doutrinas<br />
oficiais e institucionais da Igreja, abrindo precedente à<br />
ruptura.<br />
Nesse momento, a imagem do Papado estava fortemente<br />
abalada pela corrupção e má reputação, especialmente do<br />
pontificado de Alexandre VI (1492/1503), quando<br />
corrupção, política secular e vida mundana tomaram a<br />
corte papal em Roma. Quadros eclesiásticos compostos<br />
por incapacitados de todos os tipos, negociações dos<br />
cargos eclesiásticos mais bem postos na hierarquia<br />
pelos nobres, cobrança financeira para ministérios dos<br />
sacramentos, comércio de relíquias sagradas,<br />
imoralidade generalizada, prioridade da política secular<br />
entre os papas e o escândalo da venda de indulgências<br />
configuraram em abusos grotescos do clero; tal<br />
combinação minaria a sua unanimidade enquanto guia da<br />
salvação, em meio a uma sociedade na qual a crítica<br />
renascentista e o avanço da consciência religiosa dos<br />
fiéis se mostrava cada vez mais evidente.<br />
Essa nova experiência religiosa dos fiéis deve muito ao<br />
Humanismo, que pautou uma nova perspectiva de fé<br />
baseada na leitura e na interpretação individual da<br />
Bíblia por eruditos laicos; questionavam o monopólio<br />
interpretativo do alto clero católico, permitindo um<br />
análise crítica dos textos sagrados e a liberdade de<br />
pensamento como elementos de aproximação entre o ser<br />
humano e Deus.<br />
Devemos considerar, no entanto, que essa liberdade de<br />
pensamento, em Lutero, não implicou em liberdade de<br />
escolha religiosa, pois não permitia discussão quanto à<br />
180
essência da graça divina, de modo que o ateísmo ou<br />
outras correntes religiosas não cristãs não eram<br />
vislumbrados como caminhos de experiência religiosa a<br />
serem considerados; o que Lutero defende é a liberdade<br />
individual na compreensão da palavra de Deus, por<br />
meio de sua leitura sem intermediários, o que explica sua<br />
crítica aos rituais católicos, ao uso exclusivo do latim e<br />
justifica sua tradução da Bíblia para o alemão em 1522.<br />
Exemplos notáveis dessa experiência crítica são os<br />
escritos de Erasmo de Roterdã, pensador humanista que<br />
foi autor de uma edição nova dos Evangelhos, onde<br />
condenava o clero e sua ignorância e imoralidade, bem<br />
como o aspecto exterior do culto católico e a defesa de<br />
um retorno à simplicidade dos primeiros cristã, ou<br />
mesmo as numerosas edições da Bíblia propagadas e<br />
divulgadas graças ao incremento da imprensa no<br />
Ocidente.<br />
2. EXPERIÊNCIAS PRECURSORAS DA<br />
RUPTURA NA CRISTANDADE OCIDENTAL<br />
Embora a Reforma iniciada por Lutero tenha se<br />
configurado na mais ampla demonstração da<br />
descontinuidade do cristianismo católico, não deve ser<br />
considerada como a única experiência de questionamento<br />
de sua hegemonia. Em outros momentos, na própria<br />
Idade Média, tivemos recorrentes ameaças ao discurso<br />
religioso de Roma. Mais intensas a partir do século XII,<br />
mas com ocorrências anteriores, as heresias medievais,<br />
são um bom exemplo dessas discordâncias. Contestavam<br />
aspectos da doutrina religiosa, assumiram cunho<br />
essencialmente popular em sua composição e<br />
reclamavam as posturas éticas das autoridades católicas.<br />
Destacamos entre as mais conhecidas, a dos cátaros ou<br />
albigenses, os valdenses e os franciscanos.<br />
Questionando os dogmas, sacramentos e autoridade<br />
moral espiritual do clero, os cátaros receberam apoio de<br />
parte da nobreza e exerceu forte influência na região de<br />
Languedoc, ao sul da França, por quase um século. Sua<br />
repressão foi violenta, promovida pelo Papa Inocêncio<br />
(1160-1216), organizador de uma verdadeira cruzada que<br />
massacrou o grupo e entregou a região de sua atuação à<br />
coroa francesa, fiel ao papado e à ortodoxia dos dogmas<br />
católicos.<br />
A crítica à opulência e acumulação de riqueza do clero<br />
sofreu forte oposição de ordens defensoras da pobreza e<br />
do desapego material, do qual o exemplo mais marcante<br />
foi o de São Francisco de Assis e dos fiéis seguidores de<br />
seu exemplo. Os franciscanos enfatizavam a pobreza e a<br />
vida junto à natureza como elementos de renovação<br />
espiritual. Outro grupo, inspirado em São Domingos,<br />
defendia a pregação militante e o despojamento de<br />
qualquer pompa material. Se inicialmente tais grupos<br />
foram considerados heréticos, a partir do século XIII,<br />
quando as transformações econômicas, sociais e políticas<br />
da Baixa Idade Média impunham desafios ao catolicismo<br />
*, às ordens mendicantes** seriam reconhecidas pela<br />
Igreja Católica, pois poderiam representar uma maior<br />
aproximação das camadas populares e uma<br />
demonstração de renovação da fé.<br />
*O crescimento das camadas urbanas decorrente da<br />
intensa reativação comercial, tornavam os habitantes das<br />
cidades mais propensos aos maus costumes, pois teriam<br />
maiores informações do que as populações rurais<br />
isoladas. O aumento da circulação da riqueza urbano<br />
também poderia favorecer o ressurgimento da vida<br />
intelectual fora dos mosteiros e do controle da Igreja.<br />
**Ordem Franciscana (1209) e Ordem Dominicana<br />
(1216) seriam reconhecidas pelo Papado e muito<br />
importantes para criar uma imagem de renovação<br />
espiritual do clero. Os dominicanos foram responsáveis<br />
como principais delegados da Santa Inquisição<br />
No século XIV, John Wicliff, intelectual e professor de<br />
Oxford, na Inglaterra, também colocou em choque a<br />
hegemonia católica; fez a primeira tradução da Bíblia<br />
para a língua inglesa e acusava a organização hierárquica<br />
da Igreja de ser desnecessária, bem como alegou que a<br />
salvação seria obtida apenas através da fé e não da<br />
obrigatoriedade do cumprimento aos sacramentos. Teve<br />
sua produção intelectual destruída e, mesmo depois de<br />
morto, teve o corpo exumado para ser incendiado em<br />
praça pública. Na Boemia, surgiria ainda o movimento<br />
hussita, sob a influência de Jan Huss, também<br />
considerado outro precursor do movimento reformista.<br />
Seu discurso pautou-se especialmente na denúncia a<br />
corrupção do clero, no luxo desmedido de seus ministros,<br />
e na oposição à venda de indulgencias ou negociação do<br />
perdão mediante pagamento material. Também não<br />
escapou à violência da Igreja, tendo sido condenado e<br />
executado em 1415.<br />
Ao considerar esses exemplos precursores de oposição à<br />
Igreja Católica e sua capacidade de serem contornados<br />
pela Instituição, nos damos conta do quanto à<br />
181
confluência do início da Idade moderna, no século XVI e<br />
a própria fragilidade moral institucional de Roma<br />
tornaram aquele momento propício às dimensões que a<br />
Reforma Protestante alcançou.<br />
3. REFORMA LUTERANA<br />
O Sacro Império Romano Germânico, grande complexo<br />
político territorial da Europa Central, se tornaria o espaço<br />
privilegiado da eclosão da Reforma. A ideia de um<br />
grande império cristão com o aval do Papado romano<br />
surgiu em 962, tentando unificar o território romano e<br />
germânico, com o primeiro soberano Oto I; a intenção<br />
original era de unificar a Europa inteira sob um poder<br />
político centralizado e tutelado pela Igreja Católica<br />
Romana.<br />
Entretanto, estabelecera-se um grave conflito em torno<br />
da nomeação das autoridades clericais, gerando a<br />
chamada Querela das Investiduras, entre o monarca<br />
Henrique IV e o Papa Gregório VII. O imperador<br />
julgava-se no direito de nomear bispos, no que era<br />
criticado pela Igreja, acusando esses indicados de falta de<br />
preparo para o exercício da liderança religiosa.<br />
Para a resolução de tal questão, o papa Gregório VII,<br />
promulgou o Dictatus Papae (1075), dando<br />
continuidade à Reforma Gregoriana, iniciada pelo Papa<br />
Leão X, em 1049. Entre os objetivos dessa Reforma<br />
estava à normatização das condutas sociais e religiosas<br />
do clero, a separação entre os atributos do poder político<br />
civil e a autoridade espiritual eclesiástica; reiterou o<br />
direito exclusivo do Papa para nomear, transferir e depor<br />
bispos, fundar abadias, excomungar infiéis, depor<br />
imperadores, reafirmando a infalibilidade da Igreja e a<br />
obrigatoriedade dos fieis de obedecê-la para permanecer<br />
a comunidade cristã. Essa afirmação da supremacia de<br />
Roma sobre os cristãos já havia desagradado os<br />
patriarcas de origem grega, que através do Cisma do<br />
Oriente (1054) haviam fundado a Igreja Ortodoxa, mas<br />
assegurou a proeminência do Papa no ocidente.<br />
No século XVI, a região do Sacro Império Romano<br />
Germânico, especialmente em sua porção hoje<br />
correspondente à Alemanha, mantinha-se ainda, em<br />
contraposição a outras regiões da Europa, marcado por<br />
uma forte fragmentação territorial e política. Apesar da<br />
dinastia Habsburgo, representada por Carlos V, esforçarse<br />
pela centralização do poder, encontrava empecilho na<br />
grande quantidade de príncipes germânicos da nobreza<br />
que exerciam forte autoridade fragmentada em suas<br />
possessões de influência. Os Habsburgo, também<br />
reinantes na Espanha, reino de forte orientação católica,<br />
viam no Papado as condições de uma aliança que<br />
182<br />
pudesse se fortalecer e neutralizar a força política dos<br />
principados.<br />
Em resistência, esses nobres alemães, passaram a<br />
desenvolver uma relação de hostilidade e desconfiança<br />
com a Igreja, interessada em evitar a unificação<br />
centralizadora e em apropriar-se da grande quantidade de<br />
terras e direitos de exploração tributária que a Igreja<br />
concentrava naquela área.<br />
Na segunda década do século XVI, a edificação da<br />
Basílica de São Pedro em Roma, levou o Papa Leão X a<br />
acenar com uma fonte de recursos pautada na<br />
possibilidade de conceder o perdão divino a todos os<br />
pecadores por meio da autorização à venda de<br />
indulgências, fonte considerável de renda ao papado.<br />
Em 1517, o início da cobrança das indulgências em<br />
território germânico, em Wittenberg, colocou em choque<br />
o monge agostiniano Marthinho Lutero e a autoridade<br />
papal, pois este questionou publicamente a validade das<br />
indulgências, os limites da autoridade papal na<br />
questão da salvação e o real significado da absolvição<br />
divina.<br />
O monge era doutor em teologia, profícuo intelectual e<br />
estudioso da Bíblia, de onde retirou as bases para<br />
questionar a doutrina cristã católica, afirmando que a
salvação decorreria exclusivamente da fé no sacrifício<br />
do Cristo e não nas boas obras dos fiéis, preconizadas<br />
pelo catolicismo. Nesse mesmo ano foram afixadas à<br />
porta da catedral de Wittenberg as 95 Teses, em que<br />
Lutero reunia um resumo essencial de suas discordâncias<br />
com a Igreja.<br />
No ano seguinte, as 95 teses foram traduzidas do latim<br />
para o alemão, expandindo se com facilidade através do<br />
uso da imprensa e gerando preocupação das autoridades<br />
religiosas. Já em 1520, Lutero, inicialmente apenas<br />
preocupado com a reforma de alguns pressupostos da<br />
Igreja, com forte apoio e fama entre humanistas, nobres e<br />
príncipes, radicalizava seu pensamento em três pontos<br />
específicos: todo cristão batizado tornava-se seu próprio<br />
sacerdote, esvaziando o poder mediador do clero, a<br />
Bíblia como expressão unânime da palavra de Deus é<br />
considerada infalível, retirando essa adjetivação das<br />
decisões e orientações papais e apontando como caminho<br />
para salvação a própria fé e, não as obras ou as<br />
indulgências negociadas pela Igreja.<br />
Lutero receberia recomendação da Igreja para retroceder<br />
em seus princípios sob pena de ser afastado dos quadros<br />
católicos e submetido à pena máxima da excomunhão.<br />
Convicto, Lutero recusou-se a desconsiderar sua crítica,<br />
sendo excomungado em 1521. Em seguida, sob<br />
influência do Papa, o imperador Carlos V, reuniria a<br />
Dieta de Worms, assembleia constituída pelos<br />
governantes locais do Sacro Império que exigiria a<br />
retratação de Lutero mediante a ameaça do poder secular.<br />
Dali também Lutero mantém se rebelde e foi condenado<br />
a procrastinação, mas protegeu-se sob o exílio do<br />
Príncipe Frederico da Saxônia. No exílio, Lutero daria a<br />
formatação concreta de uma nova doutrina luterana e<br />
traduziria a Bíblia para a língua alemã, facilitando a<br />
consulta individual da palavra pelos fiéis.<br />
4. RELIGIÃO E CRISE SOCIAL<br />
O embate entre os príncipes apoiadores de Lutero e suas<br />
pretensões de ruptura com o clero, enfrentariam a<br />
oposição coordenada do Papado e do Imperador Carlos<br />
V, abrindo caminho para um quadro de desordem e<br />
instabilidade no Sacro Império. Terras e bens da Igreja<br />
foram tomados de assalto por membros da nobreza,<br />
inspirando camponeses miseráveis a também se<br />
mobilizarem a fim de tirar proveito da situação de<br />
conflito que se impôs.<br />
Entre 1522 e 1525, membros da pequena nobreza e<br />
essencialmente camponeses, sentindo-se excluídos pela<br />
grande nobreza das apropriações dos bens eclesiásticos,<br />
promoveram uma série de pequenas revoltas sociais, que<br />
combinavam o discurso religioso inspirado nas ideias<br />
que Lutero inicialmente promoveu. Em 1525, uma<br />
assembleia sintetizou as reivindicações do pensamento<br />
camponês, através de um documento identificado como<br />
Petição dos XII Artigos. Reivindicava o direito à<br />
participação na eleição dos pastores da Igreja Luterana,<br />
abolição dos dízimos e dos impostos feudais, assim como<br />
o direito à caça nas terras comunais e o fim da servidão;<br />
o documento, enviado a Lutero, não obteve seu apoio,<br />
considerando que este se comprometia com a alta<br />
nobreza que lhe favorecera das perseguições do Império<br />
e do Papado. A principal liderança do movimento<br />
camponês foi Thomas Munzer, teólogo radical da<br />
Reforma que rompera com Lutero em 1521.<br />
Para Lutero, “qualquer homem contra o qual se possa<br />
provar sedição está fora da lei de Deus e do Império, de<br />
modo que o primeiro que puder matá-lo e está agindo<br />
acertadamente e bem”. Considerou os grupos rebeldes<br />
camponeses como hordas salteadoras e assassinas e não<br />
aceitava que o espírito igualitário de sua reforma se<br />
183
transformasse em senha para investir contra as<br />
hierarquias sociais estabelecidas.<br />
luteranismo, confirmam ali o princípio da salvação pela<br />
fé, a condição individual do sacerdócio e a dissolução da<br />
hierarquia eclesiástica, o direito à tradução e livre<br />
interpretação da Bíblia, condenação do culto aos santos e<br />
uso de imagens e relíquias, fim do celibato clerical,<br />
restrição dos sacramentos somente ao batismo e<br />
eucaristia, negação do milagre da transubstanciação e<br />
condenação do pressuposto da infalibilidade papal.<br />
Nesse contexto, não tardou para que o conflito aberto de<br />
base religiosa se configurasse, com os protestantes<br />
criando a Liga Smalkade, uma força militar que pudesse<br />
resistir à ameaça violenta das tropas imperiais e papais,<br />
estendendo o conflito entre 1530 e 1555, quando com a<br />
Paz de Augsburgo; nesse acordo em nome da paz, o<br />
imperador reconhecia o direito de cada príncipe de<br />
estabelecer a seus súditos a religião que esse mesmo<br />
professasse em cada região do Sacro Império Romano<br />
Germânico.<br />
5. CALVINISMO<br />
Os anabatistas de Munzer acreditavam que o batismo<br />
devia ocorrer apenas na fase adulta, garantindo que a<br />
adesão religiosa fosse livre e consciente, defendiam<br />
autoridades civis e religiosas de escolha comunitária e<br />
exigiam a separação entre Igreja e Estado, sendo<br />
acusados de heréticos e duramente perseguidos por<br />
católicos e protestantes, nobres e burgueses, como no<br />
episódio da batalha de Frankenhausen, onde pelo menos<br />
cinco mil camponeses foram mortos, inclusive Thomas<br />
Munzer.<br />
184<br />
Garantida a ordem social no combate às agitações<br />
camponesas, fora realizada em 1529 a Dieta de Spira,<br />
quando o imperador propôs a tolerância aos príncipes já<br />
convertidos aos princípios luteranos desde que se<br />
firmasse o compromisso de cessar a divulgação dos<br />
preceitos reformadores. A recusa da maioria dos<br />
príncipes em aceitar essa determinação levou-nos a<br />
protestar contra a medida, dando origem à expressão<br />
protestante, corriqueira para conceituar boa parte dos<br />
cristão não católicos a partir daquele momento.<br />
Em 1530, considerada a amplidão das ideias de Lutero, o<br />
imperador Carlos V convocou a Dieta de Augsburgo,<br />
onde expôs os principais pontos da doutrina luterana. No<br />
ano seguinte, a Confissão de Augsburgo, oficializava o<br />
reconhecimento de uma nova fé e uma nova religião<br />
doutrinaria na Alemanha. Entre os principais pontos do<br />
João Calvino<br />
Outra vertente importante, talvez a que mais tenha se<br />
expandido na Europa, é o calvinismo. Sua origem está<br />
associada ao intelectual humanista João Calvino, de<br />
origem francesa, que desde 1533 iniciou a crítica à Igreja<br />
Católica em seu país. A partir de 1534, com a chegada de<br />
um católico fervoroso ao poder no país, Francisco I, a<br />
França iniciou uma violenta pratica intolerante ao<br />
protestantismo, o que desencadeou o exílio de Calvino<br />
em Genebra, na Suíça. Por ser uma cidade independente<br />
que aderiu ao protestantismo em 1536, Lutero encontrou
ali as condições para a formulação teórica da doutrina<br />
calvinista.<br />
Constituiu uma organização doutrinaria religiosa a partir<br />
das Ordenações Eclesiásticas, a partir de leis bastante<br />
rígidas e radicais. Organizou uma Igreja composta por<br />
fiéis a qual estaria submetido o pastor dirigente do culto,<br />
orientados por um conselho de anciãos, fie idosos que<br />
orientavam a pratica religiosa. Como Lutero, acreditava<br />
nas Escrituras como única fonte de verdade e na salvação<br />
obtida pela fé, mas distanciava se deste ao radicalizar o<br />
pressuposto da predestinação. Acreditava que todos os<br />
seres humanos são pecadores, como decorrência do mal<br />
original de Adão e Eva, mas os “eleitos de Deus”<br />
estariam predestinados à salvação.<br />
De acordo com o calvinismo, Deus concedia alguns<br />
sinais visíveis a seus eleitos, como o trabalho honesto, a<br />
simplicidade e a austeridade, a frequência ao culto, o<br />
cuidado com a família e a vida honrada. O culto seria<br />
ainda amais simplificado, com meras reflexões e<br />
comentários sobre passagens da Bíblia conduzidos por<br />
sacerdotes sem paramentos, em igrejas simples e sem<br />
adornos de imagens. Preservaram apenas o batismo e a<br />
eucaristia como sacramentos e considerava a Igreja útil à<br />
salvação, mas não indispensável.<br />
Entre os calvinistas, a valorização do trabalho e da<br />
acumulação advinda deste, levou a uma forte<br />
identificação desta vertente reformista com a classe<br />
burguesa em expansão, que passou a ser predominante<br />
em seus quadros. Expandiu-se rapidamente pela Europa,<br />
como na Inglaterra, onde identificados como puritanos<br />
sofreram forte oposição anglicana e seria fundamentais<br />
nas revoluções inglesas do século XVII; na Escócia,<br />
foram chamados de presbiterianos e, na França, seriam<br />
os huguenotes, também envolvidos em violentos<br />
conflitos religiosos naquele país. Nos Países baixos, a<br />
expansão do protestantismo também seria o pivô de<br />
intensa perseguição espanhola, motivando às lutas de<br />
emancipação daquele território, que dariam origem os<br />
futuros estados da Bélgica e Holanda.<br />
Em 1531, o clero inglês é conclamado a romper com a<br />
autoridade papal e seguir as instruções do monarca<br />
inglês. Em 1534, o Parlamento inglês aprova o Ato de<br />
Supremacia, através do qual se constituiu a Igreja<br />
Anglicana, combinando elementos da estrutura ritual da<br />
Igreja de Roma a pressupostos teológicos do calvinismo,<br />
chefiados pelo soberano Henrique VIII. Seguiu-se a esse<br />
processo o confisco das propriedades da Igreja em nome<br />
do estado e a apropriação dos impostos outrora<br />
recolhidos pela Santa Sé.<br />
Na Inglaterra, portanto, os desdobramentos que levaram<br />
à reforma são facilmente compreendidos como parte do<br />
esforço para reforçar o poder pessoal dos reis,<br />
culminando na prática da ordem absolutista.<br />
7. CONTRARREFORMA – A REAÇÃO DO<br />
CATOLICISMO<br />
Enfraquecidos do ponto de vista religioso e político, o<br />
papado e a Igreja não ficaram imóveis mediante o<br />
questionamento e a ruptura promovida pela Reforma<br />
Protestante. Entre 1545 a 1563, na cidade de Trento,<br />
realizou-se o Concílio <strong>Geral</strong> da Igreja Católica,<br />
buscando dar soluções à corrupção do clero, retomar os<br />
fiéis perdidos e estancar o avanço protestante.<br />
6. ANGLICANISMO<br />
Na Inglaterra, o pressuposto da afirmação da autoridade<br />
nacional sobre a autoridade eclesiástica configurou-se na<br />
principal causa para a reforma. O monarca Henrique VIII<br />
valeu-se do pretexto da recusa papal em anular seu<br />
casamento com Catarina de Aragão, sob a justificativa de<br />
que esta não havia concedido filhos homens herdeiros do<br />
trono.<br />
Reunião do Concílio de Trento<br />
Muitos abusos do clero foram condenados, sendo<br />
proibida a comercialização de indulgências, definindose<br />
critérios de formação e vocação para os que<br />
desejassem ingressar o clero e a fiscalização do comércio<br />
185
186<br />
das relíquias. No entanto, se tivemos alterações na<br />
organização estrutural do clero católico, suas concepções<br />
dogmáticas de natureza doutrinária, não foram<br />
alteradas, pelo contrário, foram reafirmados.<br />
Mantinha-se, portanto, a validade dos sete sacramentos<br />
(batismo, eucaristia, confirmação, matrimônio,<br />
ordenação do sacerdote, penitencia e unção dos<br />
enfermos), como sinais da graça divina e celebrados pela<br />
Igreja, a manutenção da prática do celibato clerical, o<br />
reforço do culto aos exemplos dos santos e a preservação<br />
de suas imagens nos templos, a reafirmação do dogma da<br />
infalibilidade papal em assuntos religiosos, instituição de<br />
seminários de formação e catecismo etc.<br />
Ainda entre as decisões daquele Concílio, se deu a<br />
instituição da censura de obras consideradas heréticas,<br />
através da nomeação de títulos pelo Index Librorium<br />
Proibitorium, que tornou inacessível aos católicos,<br />
obras de personagens como Dante, Maquiavel e Galileu,<br />
por exemplo, mantida até a metade do século XX.<br />
Reativou o Tribunal de Santo Ofício, que incluiu o<br />
protestantismo entre as outras heresias a serem<br />
denunciadas pelos fiéis e com forte atuação<br />
especialmente em países católicos, como Portugal e<br />
Espanha e, até mesmo, Visitações do S. Ofício nas<br />
colônias espanholas e portuguesa na América.<br />
Ainda nesse contexto, a Igreja católica tornou a<br />
Companhia de Jesus, ordem itinerante inspirada nos<br />
exemplos de Ignácio de Loyola, em seu principal braço<br />
de recuperação de fiéis. Desse modo, os inacianos ou<br />
jesuítas foram remetidas a distantes regiões na África,<br />
Ásia e, especialmente América, onde tiveram papel<br />
primordial na educação e na catequese e conversão de<br />
populações nativas.<br />
EXERCÍCIOS<br />
01 - (FUVEST SP) “O senhor acredita, então”, insistiu<br />
o inquisidor, “que não se saiba qual a melhor lei?”<br />
Menocchio respondeu: “Senhor, eu penso que cada um<br />
acha que sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a<br />
melhor; mas, porque meu avô, meu pai e os meus são<br />
cristãos, eu quero continuar cristão e acreditar que essa<br />
seja a melhor fé”. Carlo Ginzburg. O queijo e os vermes. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1987, p. 113.<br />
O texto apresenta o diálogo de um inquisidor com um<br />
homem (Menocchio) processado, em 1599, pelo Santo<br />
Ofício. A posição de Menocchio indica<br />
a) uma percepção da variedade de crenças, passíveis de<br />
serem consideradas, pela Igreja Católica, como<br />
heréticas.<br />
b) uma crítica à incapacidade da Igreja Católica de<br />
combater e eliminar suas dissidências internas.<br />
c) um interesse de conhecer outras religiões e formas<br />
de culto, atitude estimulada, à época, pela Igreja<br />
Católica.<br />
d) um apoio às iniciativas reformistas dos protestantes,<br />
que defendiam a completa liberdade de opção<br />
religiosa.<br />
e) uma perspectiva ateísta, baseada na sua experiência<br />
familiar.<br />
02 - (FGV) Leia o fragmento.<br />
Um famoso escândalo político foi o de Antônio Perez,<br />
que em 1571 era secretário de Estado de Felipe II, tendo<br />
alcançado um dos postos mais importantes na<br />
monarquia. Por rivalidades, viu-se envolvido em intrigas<br />
internacionais. Conhecia todos os segredos da coroa,<br />
tendo absoluto controle sobre o Tesouro. Foi acusado de<br />
vender cargos, de suborno e de trair segredos do Estado.<br />
Felipe viu um caminho para atingi-lo: a Inquisição.<br />
Tinha de ser acusado de heresia. Foi difícil encontrar<br />
provas contra seu catolicismo, mas o confessor do rei<br />
conseguiu-as. Mesmo sendo íntimo amigo do inquisidormor<br />
e tendo o apoio da população de Saragoça, Perez foi<br />
acusado de herege. Conseguiu fugir e morreu em Paris,<br />
e, conforme testemunhou o núncio apostólico da região,<br />
sempre viveu como fiel católico.<br />
(Anita Novinsky, A inquisição)<br />
A partir do texto, é correto concluir que a Inquisição<br />
espanhola<br />
a) ampliou as suas prerrogativas nas nações europeias<br />
menos fiéis ao poder do papado, com o intuito de<br />
ampliar o número de seguidores.<br />
b) perdeu parte de suas atribuições e poderes a partir da<br />
Contrarreforma católica, conforme deliberação do<br />
Concílio de Trento.<br />
c) manteve, durante a sua existência secular, vínculos<br />
essenciais com a questão religiosa,<br />
excepcionalmente confundindo-se com a questão<br />
política.<br />
d) resumiu sua atuação a alguns poucos casos<br />
exemplares, com o intuito de evitar a propagação do<br />
islamismo e das igrejas reformadas.<br />
e) apesar de sua fundamentação religiosa, esteve<br />
vinculada ao Estado e serviu aos interesses de<br />
grupos ligados ao poder.
03 - (UDESC SC) Em 1545, o papa convocou uma<br />
reunião entre os membros mais importantes da Igreja<br />
Católica a fim de debater sobre questões doutrinárias e<br />
disciplinares. O Concílio de Trento, como ficou<br />
conhecida esta reunião, durou 18 anos e foi motivado<br />
pelos questionamentos à Igreja Católica os quais se<br />
tornaram cada vez mais frequentes no início do século<br />
XVI, e que levaram à Reforma Protestante.<br />
Analise as proposições em relação ao contexto.<br />
I. A Reforma Protestante difundiu-se em várias regiões<br />
da Europa, entre as quais as regiões que atualmente<br />
compõem a Alemanha, Suíça, Inglaterra e Holanda.<br />
II. Martinho Lutero foi um crítico da Igreja Católica.<br />
Após a publicação das suas críticas, conhecidas como 95<br />
teses, que foram afixadas na porta da Igreja de<br />
Wittenberg, ele foi excomungado pelo Papa Leão X.<br />
III. Entre as novas doutrinas que surgiram com a<br />
Reforma Protestante estão o Luteranismo, o Calvinismo<br />
e o Anglicanismo.<br />
IV. A Reforma Protestante ocorreu juntamente com<br />
outras mudanças, como o aumento do poder dos reis e o<br />
fortalecimento dos Estados Nacionais.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.<br />
b) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.<br />
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.<br />
d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.<br />
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.<br />
04 - (UFTM MG) Podemos afirmar que um dos<br />
instrumentos da Contrarreforma, no século XVI, foi<br />
a) o estímulo à venda de indulgências.<br />
b) a tradução livre da Bíblia para as línguas nacionais.<br />
c) a supressão do Tribunal do Santo Ofício.<br />
d) a extinção da Companhia de Jesus e de outras ordens<br />
religiosas.<br />
e) a criação de uma lista de livros proibidos.<br />
05 - (UEPG PR) Movimentos antagônicos e, ao mesmo<br />
tempo, complementares, a Reforma Protestante e a<br />
Contrarreforma Católica marcaram profundamente a<br />
história ocidental no século XVI. A respeito desse tema,<br />
assinale o que for correto.<br />
01. O descompasso filosófico e ideológico entre a Igreja<br />
Católica e as mudanças generalizadas ocorridas na<br />
Europa do século XVI, ajudam a entender a deflagração<br />
do movimento da Reforma Protestante.<br />
02. Entre as motivações religiosas que contribuíram para<br />
o processo de ruptura e ocorrência da Reforma<br />
Protestante está a venda de indulgências.<br />
04. A defesa do princípio do preço justo e a condenação<br />
ao lucro excessivo estão entre os princípios que<br />
integraram as teses defendidas pelos promotores da<br />
Reforma Protestante.<br />
08. Uma das principais teses defendidas pela<br />
Contrarreforma era a liberdade de interpretação bíblica.<br />
A capacidade de refletir e criticar por parte dos fiéis<br />
tornou-se uma questão de princípio para os reformistas<br />
católicos.<br />
16. A chamada nova ética protestante, decorrente da<br />
Reforma, se assentava na crítica aos avanços da<br />
burguesia e do capitalismo, vistos pelos protestantes<br />
como elementos nocivos ao desenvolvimento humano.<br />
06 - (Fac. de Ciências da Saúde de Barretos SP) Na<br />
primeira metade do século XVI, os questionamentos<br />
sobre a atuação da Igreja Católica deram origem, na<br />
Europa, aos movimentos conhecidos pelo nome de<br />
Reforma Protestante. Em reação, o catolicismo<br />
desencadeou a Contrarreforma. Entre os princípios dos<br />
reformistas protestantes e dos contrarreformistas,<br />
podemos destacar, respectivamente:<br />
a) são fundados seminários de teologia, para aprimorar<br />
a formação do clero; a Bíblia deve ser interpretada<br />
livremente pelos fiéis.<br />
b) é revogado o celibato clerical; é confirmado o<br />
dogma da transubstanciação, o reconhecimento da<br />
transformação do pão e do vinho em corpo e sangue<br />
de Cristo.<br />
c) o Tribunal do Santo Ofício é reorganizado com o<br />
fim de julgar e punir as heresias; são mantidos<br />
apenas os sacramentos do batismo e da eucaristia.<br />
d) a salvação é consequência das obras, entendidas<br />
como as boas ações orientadas pelas autoridades<br />
eclesiásticas; são mantidos a hierarquia e o celibato<br />
do clero.<br />
e) o papa só pode perdoar as penas que ele tenha<br />
imposto por sua vontade; a fé constitui a única e<br />
verdadeira fonte de salvação.<br />
187
07 - (UPE) No início da Idade Moderna, a Europa<br />
Ocidental experimentou uma profunda mudança na<br />
vivência religiosa do cristianismo. Sobre a Reforma<br />
Religiosa do século XVI, analise as afirmativas<br />
seguintes:<br />
I. O pensamento de Jan Huss influenciou as ideias de<br />
Lutero.<br />
II. Sobre a questão da salvação dos fiéis, Calvino e<br />
Lutero consideravam a teoria da predestinação.<br />
III. Muitos franceses se converteram ao calvinismo,<br />
tornando-se conhecidos como huguenotes.<br />
IV. A reforma anglicana teve início por meio das ações<br />
do monarca britânico Henrique VIII.<br />
V. A Rússia converteu-se ao luteranismo durante o<br />
reinado de Pedro Romanov.<br />
Estão CORRETAS<br />
a) I, III e IV.<br />
b) I, II e V.<br />
c) I, II e III.<br />
d) II, IV e V.<br />
e) III, IV e V.<br />
08 - (UEM PR) No início da modernidade, ao longo do<br />
século XVI, ocorreu uma série de transformações nas<br />
instituições religiosas e na espiritualidade dos cristãos<br />
ocidentais. Tais transformações deram origem à<br />
Reforma. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s)<br />
correta(s).<br />
01. Segundo os estudiosos, a reforma religiosa relacionase<br />
à busca, por parte dos humanistas, de um cristianismo<br />
revigorado e rejuvenescido que fosse ao encontro das<br />
necessidades dos indivíduos.<br />
02. A ética cristã escolástica condenava a usura e o lucro;<br />
sendo assim, havia necessidade de uma nova ética<br />
adequada aos novos tempos de crescimento das<br />
atividades mercantis.<br />
04. A reforma católica, ou contrarreforma, foi uma<br />
tentativa da Igreja Romana de se apropriar dos novos<br />
princípios teológicos estabelecidos por Lutero e por<br />
Calvino.<br />
08. As contradições entre o universalismo da Igreja e os<br />
interesses dos nascentes Estados Nacionais motivaram<br />
um conflito entre o poder temporal e o espiritual; esse<br />
conflito foi um elemento importante para a disseminação<br />
da Reforma.<br />
16. Na Península Ibérica, o “Padroado Régio” se<br />
constituiu no principal braço da Reforma luterana.<br />
09 - (UEPG PR) As Reformas protestante e católica (ou<br />
Contrarreforma) foram movimentos religiosos que<br />
sacudiram a Europa no século XVI. A respeito de tais<br />
movimentos, assinale o que for correto.<br />
01. O Concílio de Trento, onde se iniciou a reação<br />
católica à Reforma protestante, foi um acontecimento<br />
decisivo para a eliminação do Index Librorum<br />
Prohibitorum (índice dos livros proibidos) que, durante o<br />
período medieval, regeu as ações e os princípios<br />
teológicos católicos.<br />
02. A venda de indulgências pela Igreja Católica pode<br />
ser apontada como um dos principais motivos para a<br />
deflagração da Reforma protestante.<br />
04. Ao questionarem práticas adotadas pela Igreja<br />
Católica, John Wycliffe e Jan Huss tornaram-se<br />
precursores da Reforma protestante.<br />
08. A Companhia de Jesus foi instituída pela Igreja<br />
Católica durante o movimento da Contrarreforma com o<br />
objetivo de estabelecer um diálogo com as religiões<br />
protestantes que se originaram a partir do século XVI,<br />
dando início ao princípio do ecumenismo.<br />
10 - (IFGO) No século XVI aconteceu uma série de<br />
movimentos que recebeu o nome de Reforma Religiosa.<br />
Essa rompeu a unidade do cristianismo existente na<br />
Europa com a chamada Reforma Protestante e deu<br />
origem a uma reação da Igreja Católica, que é<br />
comumente chamada de Contrarreforma.<br />
Sobre os acontecimentos que caracterizaram a Reforma<br />
Religiosa, marque a alternativa incorreta.<br />
a) Martinho Lutero (1483-1546) tinha como ideia<br />
central a salvação pela fé. Mas também questionava<br />
a venda de indulgências e a supremacia da Igreja<br />
sobre o Estado.<br />
b) O combate ao lucro e à usura, bases da vida<br />
comercial e financeira que se dinamizava ao final da<br />
Idade Média, mostrava o descompasso da Igreja<br />
Católica em relação às transformações ocorridas na<br />
sociedade.<br />
188
c) Exaltando o trabalho e a poupança na conduta<br />
humana, Calvino consagrava valores morais e<br />
políticos defendidos pela burguesia mercantil.<br />
d) Frente ao avanço do protestantismo, a Igreja<br />
Católica iniciou a Contrarreforma, que propôs uma<br />
reorganização das doutrinas da Igreja com base em<br />
princípios liberais para reconquistar mais fiéis,<br />
sobretudo, no Novo Mundo.<br />
e) O comprometimento de Lutero com o quadro<br />
socioeconômico alemão, que atraia o apoio da<br />
nobreza (príncipes), refletiu poderosamente em suas<br />
pregações.<br />
11 - (Unemat MT) Analise as afirmativas sobre a<br />
Reforma Religiosa.<br />
I. A Igreja Anglicana conservou a estrutura e os dogmas<br />
da Igreja Católica, com pequenas alterações. Não foi<br />
feita uma reforma profunda nos costumes do clero, que<br />
passou a ser visto pela população como um aliado da<br />
Coroa, o que facilitou o surgimento e a disseminação de<br />
uma série de religiões puritanas e protestantes,<br />
normalmente perseguidas pelos reis ingleses.<br />
II. Lutero era um admirador dos escritos de João Huss,<br />
herege queimado pela Igreja em 1415, especialmente de<br />
suas ideias sobre a liberdade da Igreja diante dos papas,<br />
sobre a liberdade de consciência individual diante do<br />
concílio e sobre a necessidade de reconduzir o mundo<br />
cristão à simplicidade apostólica.<br />
III. Um aspecto importante do calvinismo é a<br />
valorização moral do trabalho e da poupança, que resulta<br />
numa situação de bem-estar social e econômico, o que<br />
poderia ser interpretado como sinal favorável de Deus à<br />
salvação do indivíduo.<br />
IV. O Anabatismo e o Puritanismo representam<br />
movimentos religiosos que estavam em convergência<br />
com os poderes locais e proclamavam o princípio da<br />
individualidade, enfatizavam o discurso da propriedade<br />
privada, assemelhando-se ao Calvinismo, que<br />
determinava a desigualdade social, através da teoria da<br />
predestinação.<br />
Assinale a alternativa que indica a (s) afirmativa (s)<br />
correta (s).<br />
a) I<br />
b) II e III<br />
c) I, II e IV<br />
d) I, II e III<br />
e) II e IV<br />
12 - (UEPG PR) Ao pregar as 95 teses que criticavam<br />
aspectos da doutrina católica na porta da igreja de<br />
Wittenberg (Alemanha), em 1521, Martinho Lutero deu<br />
início à chamada Reforma Protestante. A reação da<br />
Igreja Católica não tardou e, assim, teve início à<br />
chamada Reforma Católica (ou Contrarreforma). A<br />
respeito da Reforma Católica, assinale o que for correto.<br />
01. As ações da Reforma Católica foram traçadas a partir<br />
do Concílio de Trento, sendo a catequização de terras<br />
descobertas, a retomada da Inquisição e a criação de um<br />
índice de livros proibidos, as principais medidas<br />
adotadas no Concílio.<br />
02. Juntamente com a Reforma Católica, emergiu na<br />
Europa um forte sentimento de intolerância religiosa, que<br />
resultou conflitos entre católicos e protestantes, sendo a<br />
Noite de São Bartolomeu um dos episódios exemplares<br />
desse cenário.<br />
04. A Companhia de Jesus foi uma ordem criada com o<br />
objetivo de levar o catolicismo para regiões coloniais,<br />
como o caso da América portuguesa e espanhola.<br />
08. A venda de indulgências (perdão parcial ou total de<br />
pecados fora dos sacramentos) foi fartamente estimulada<br />
e praticada pelo clero no contexto da Reforma Católica.<br />
O objetivo era atrair novos fiéis com a promessa do<br />
perdão divino.<br />
16. A reafirmação da autoridade do Papa, que a partir de<br />
então passou a ter a palavra final sobre os dogmas da<br />
Igreja Católica, foi outra decisão tomada pela Reforma<br />
Católica e visava unificar todos os fiéis sob a autoridade<br />
do Pontífice, fortalecendo a identidade e a fé católicas.<br />
13 - (FGV) Luteranismo, anglicanismo e calvinismo são<br />
expressões religiosas ligadas à chamada Reforma<br />
Protestante, iniciada na Europa a partir do século XVI.<br />
a) Aponte uma característica de cada uma dessas<br />
expressões religiosas.<br />
b) Por que luteranismo e calvinismo espalharam-se por<br />
diversas regiões da Europa e o anglicanismo concentrouse<br />
sobretudo na Inglaterra?<br />
c) Quais relações podem ser estabelecidas entre o<br />
calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo?<br />
189
14 - (UFRN) Ao comentar a Reforma Protestante do<br />
século XVI, Márcio Ferrari afirma:<br />
O nascimento do protestantismo teve profundas<br />
implicações sociais, econômicas e políticas. Na<br />
educação, o pensamento de Lutero produziu uma<br />
reforma global do sistema de ensino alemão, que<br />
inaugurou a escola moderna. [...]<br />
A ideia da escola pública e para todos, organizada em<br />
três grandes ciclos (fundamental, médio e superior) e<br />
voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de<br />
Lutero.<br />
FERRARI, Márcio. Martinho Lutero: o criador do conceito de educação útil.<br />
Nova escola. n. 187, nov. 2005. p. 30.<br />
A proposta educacional de Lutero, referida nocomentário<br />
acima, está diretamente relacionada<br />
a) à defesa, por parte dos reformadores, da liberdade de<br />
interpretar a Bíblia, de modo que qualquer fiel<br />
tivesse acesso às fontes da doutrina.<br />
b) ao desejo de facilitar para os fiéis a leitura da<br />
Vulgata, tradução da Bíblia em latim, aceita como<br />
versão oficial da Igreja Luterana.<br />
c) ao projeto de melhoria da instrução do povo para<br />
que este pudesse compreender a doutrina luterana,<br />
cujo ensino era de competência exclusiva dos<br />
sacerdotes.<br />
d) à proposta de difusão da leitura entre o povo, para<br />
que este conhecesse os catecismos produzidos no<br />
Concílio de Trento.<br />
ideias luteranas e pela perseguição de seus<br />
seguidores.<br />
d) Trata-se da decisão tomada pelos monarcas<br />
Habsburgos no sentido de banir os protestantes do<br />
território do império espanhol.<br />
e) Trata-se do massacre de cerca de 30 mil huguenotes,<br />
que intensificou, na França, a animosidade entre<br />
católicos e protestantes.<br />
16 - (UEL PR) A Inquisição Portuguesa, ou Tribunal do<br />
Santo Ofício de Portugal, que esteve nas mãos do poder<br />
real, utilizou-se da coerção para obter a confissão de<br />
culpa. Uma vez condenado, um dos rituais consistia na<br />
execução pública do acusado na fogueira como forma de<br />
purificação.<br />
Sobre esta instituição, é correto afirmar:<br />
a) A Inquisição atuou mais contra os inimigos da<br />
pessoa do Papa do que sobre os inimigos da Igreja.<br />
b) A Inquisição durou em Portugal até meados do<br />
século XX, tendo sido abolida pelo Concílio<br />
Vaticano II.<br />
c) A Inquisição, por intermédio de seu braço papal, o<br />
Tribunal do Santo Ofício, poupava judeus e<br />
muçulmanos da execução.<br />
d) No Brasil, a Inquisição atuou por intermédio das<br />
Visitações detendo judeus, mulheres e sodomitas, os<br />
quais eram julgados em Portugal.<br />
e) O Tribunal do Santo Ofício, após as reformas<br />
religiosas ocorridas no século XIX, transformou-se<br />
na Encíclica Rerum Novarum.<br />
15 - (FGV) Diversas tensões e diversos conflitos<br />
europeus ocorridos nos séculos XVI e XVII foram<br />
motivados ou intensificados por questões de natureza<br />
religiosa. Dentre eles, um dos mais conhecidos episódios<br />
é a “Noite de São Bartolomeu”, de 24 de agosto de 1572.<br />
A esse respeito, é correto afirmar:<br />
a) Trata-se do massacre de judeus, em Amsterdã, por<br />
católicos holandeses, que precedeu o<br />
estabelecimento do Tribunal do Santo Ofício nas<br />
Províncias Unidas.<br />
b) Trata-se da noite de celebração, na França, do<br />
acordo entre protestantes e católicos, que pôs fim a<br />
anos de intensos conflitos entre seguidores das duas<br />
religiões.<br />
c) Trata-se da cerimônia de encerramento do Concílio<br />
de Trento, quando se decidiu pela condenação das<br />
17 - (UEPG PR) A reforma protestante foi iniciada por<br />
Martinho Lutero, monge agostiniano alemão, cujo<br />
pensamento sofreu influência de São Paulo, Santo<br />
Agostinho e do humanista Éramos de Roterdã. A respeito<br />
da reforma protestante, assinale o que for correto.<br />
01. A venda de indulgências por parte do vaticano pode<br />
ser considerada como uma das causas que levaram<br />
Lutero a escrever e a divulgar suas "95 Teses", criticando<br />
a igreja católica e condenando tal procedimento.<br />
02. A disseminação das ideias de Lutero fez com que<br />
outros líderes religiosos também intensificassem a crítica<br />
ao catolicismo e propusessem a criação de novas<br />
religiões. O francês João Calvino aderiu às críticas de<br />
Lutero e dinamizou o movimento reformista com a<br />
criação do calvinismo.<br />
190
04. Na Inglaterra coube ao rei Henrique VIII liderar o<br />
movimento de separação da igreja católica e da criação<br />
da igreja anglicana.<br />
08. É possível afirmar que a reforma protestante<br />
contribuiu para o fortalecimento dos nacionalismos<br />
europeus contra o internacionalismo político do papado.<br />
16. A perseguição a reformadores e a criação de ordens<br />
religiosas com objetivo de catequizar e expandir o<br />
catolicismo pelo mundo foram algumas das atitudes<br />
tomadas pelo papado para tentar conter o avanço<br />
protestante.<br />
18 - (UESPI) A Igreja Católica teve seus poderes<br />
abalados pela Reforma, que provocou mudanças nas<br />
relações de poder na Europa. No entanto, é preciso<br />
ressaltar também que a Reforma foi:<br />
a) importante para algumas políticas da modernidade e<br />
para a renovação de crenças e costumes.<br />
b) decisiva para o fim do domínio do catolicismo em<br />
toda a Europa, com seus ataques ao clero e ao papa.<br />
c) localizada em alguns países, embora não tivesse uma<br />
dimensão internacional; limitou-se a controlar seus<br />
mais fanáticos seguidores.<br />
d) defendida pelos conservadores da nobreza, sem<br />
apoio da burguesia e de outros grupos sociais.<br />
e) destacada por alterar a base do absolutismo na<br />
Inglaterra e livrá-lo da tirania dos reis.<br />
19 - (UFPR) As guerras de religião na França (século<br />
XVI) e a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648) marcaram<br />
profundamente as sensibilidades coletivas e exerceram<br />
uma influência considerável na reflexão política<br />
produzida por católicos e protestantes. Sobre as relações<br />
entre religião e poder político no contexto de<br />
consolidação dos Estados monárquicos modernos, é<br />
correto afirmar:<br />
a) Os conflitos religiosos desencadeados com a<br />
Reforma Protestante estão na origem dos poderes<br />
teocráticos das monarquias modernas.<br />
b) Desde que a tolerância religiosa se consolidou nos<br />
domínios do Sacro Império Romano Germânico, sob<br />
o poder de Carlos V, houve um enfraquecimento do<br />
poder papal, que ficou restringido somente ao<br />
Vaticano.<br />
c) Autores como Maquiavel, Montaigne e Jean Bodin<br />
foram defensores da religião protestante, e seus<br />
escritos constituíram um ataque à monarquia<br />
centralizada.<br />
d) Apesar da violência crescente contra os protestantes,<br />
Lutero e Calvino defenderam a autoridade civil e<br />
condenaram qualquer forma de resistência aos<br />
poderes legitimamente instituídos.<br />
e) As guerras de religião foram desencadeadas pelas<br />
classes populares (artesãos urbanos e camponeses),<br />
em luta contra a nobreza e a monarquia.<br />
TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />
A F-1 começou a perder as características que<br />
encantaram gerações nos anos 1990 quando o salto<br />
tecnológico tornou o piloto quase um coadjuvante no<br />
cockpit. “Os carros de corrida são equipamentos e não<br />
mais automóveis. No volante, há mais de 100 botões. O<br />
condutor virou um operador de máquinas”, reclama Bird<br />
Clemente, 72 anos, primeiro brasileiro a guiar,<br />
profissionalmente, um carro de corrida. No passado, esse<br />
esporte dependia muito mais do talento do piloto para<br />
regular um carro. Hoje, espremido no cockpit como mais<br />
um funcionário de um negócio que movimenta bilhões<br />
de dólares, o piloto cumpre religiosamente as regras do<br />
mercado.<br />
(Adaptado de: CARDOSO, R.; LOES, J., O Esporte Perdeu. Revista Isto É, 4 ago.<br />
2010, ano 34, n. 2125, p. 84-85.)<br />
20 - (UEL PR) A lógica do esporte e da fruição é<br />
englobada pela lógica do mercado. A importância dada<br />
ao negócio (negar o ócio), conforme análise de Max<br />
Weber em sua “Ética Protestante e o Espírito do<br />
Capitalismo”, revela que<br />
I. o trabalho atende às regras do mercado, destacando a<br />
prevalência do negócio, em razão da necessidade de<br />
produção capitalista.<br />
II. a dimensão religiosa, presente nos primórdios do<br />
capitalismo, na figura do protestantismo de orientação<br />
luterana, valoriza o caráter sagrado da atividade fabril,<br />
em detrimento do trabalho braçal.<br />
III. o negócio, quando praticado de acordo com os<br />
preceitos divinos, viabiliza a distribuição igual e<br />
solidária das riquezas produzidas.<br />
IV. o ato de negociar, próprio do comércio, depende da<br />
força produtiva, conectada à divisão social do trabalho<br />
no mundo secularizado.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
191
192<br />
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
GABARITO:<br />
1) Gab: A<br />
2) Gab: E<br />
3) Gab: E<br />
16) Gab: D<br />
17) Gab: 31<br />
18) Gab: A<br />
19) Gab: D<br />
20) Gab: B<br />
4) Gab: E<br />
5) Gab: 03<br />
6) Gab: B<br />
7) Gab: A<br />
8) Gab: 11<br />
9) Gab: 06<br />
10) Gab: D<br />
11) Gab: D<br />
12) Gab: 23<br />
13) Gab:<br />
a) Luteranismo: salvação da alma por meio da fé e livre<br />
interpretação da Bíblia.<br />
Anglicanismo: reconhecimento do rei como chefe<br />
supremo da Igreja da Inglaterra.<br />
Calvinismo: salvação da alma por meio da predestinação<br />
e adequação do cristianismo ao capitalismo nascente, por<br />
meio da justificação do lucro e da usura.<br />
b) O luteranismo apoiava-se na nobreza de origem feudal<br />
e por isso expandiu-se pela Europa Setentrional, onde<br />
aquela camada ainda possuía grande influência; e o<br />
calvinismo expandiu-se por diversos países porque<br />
encontrou grande receptividade junto à burguesia, à qual<br />
interessava a postura de Calvino favorável às práticas<br />
capitalistas. Já o anglicanismo se concentrou na<br />
Inglaterra porque reconhecia o soberano inglês como<br />
chefe supremo da Igreja Anglicana.<br />
c) Além de justificar o lucro, a usura e considerar a<br />
riqueza um indício de salvação da alma, o calvinismo, ao<br />
valorizar o trabalho, a poupança e a prática de uma moral<br />
rigorosa, criou uma ética que estimulava a acumulação<br />
capitalista.<br />
14) Gab: A<br />
15) Gab: E<br />
193
O ESTADO ABSOLUTISTA<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Entre os séculos XVI e XVIII a Europa Ocidental<br />
concluiu os contornos finais do mundo moderno;<br />
organizou-se a partir de uma lógica econômica baseada<br />
no capitalismo comercial e orientada pelos princípios da<br />
política mercantilista, amplamente beneficiada pela<br />
exploração do sistema colonial. Do ponto de vista<br />
social, a classe nobre foi rearranjada na nova ordem,<br />
mantendo muito dos privilégios feudais, a partir da<br />
participação nas instituições do Estado Moderno,<br />
enquanto a classe burguesa projetava-se economicamente<br />
como a mais rica daqueles Estados. O Clero, por sua vez,<br />
esforçava-se por manter a hegemonia católica,<br />
desencadeando uma prática de intolerância religiosa que<br />
descambou para guerras sangrentas, mas não impediu a<br />
ruptura protestante e a crescente racionalização e<br />
laicização cultural a partir da renovação renascentista.<br />
Essa realidade, teoricamente conceituada na expressão<br />
Antigo Regime, sustentou-se no Estado Absolutista,<br />
seu traço mais marcante e elemento unificador das<br />
estruturas mentais e econômicas do período. Nele, o<br />
Estado corporifica-se na figura do soberano que exerce o<br />
poder de forma autocrática, sustentado em condições<br />
materiais e militares, nas alianças de interesses com os<br />
grupos sociais dominantes e numa tradição mística de<br />
origem do poder que encontra suas raízes na explicação<br />
religiosa e na própria Idade Média.<br />
A absolutização do poder real correspondeu à<br />
culminância de um processo de evolução da autoridade<br />
real, que no medievo não conseguia exercer-se de fato,<br />
em meio à fragmentação da autoridade entre os membros<br />
da nobreza. Entre os séculos XV e XVI, na transição do<br />
Medievo à Modernidade, o monarca com apoio da classe<br />
burguesa esforça-se para sobrepor aos seus vassalos e<br />
centralizar a autoridade, criando instituições como<br />
burocracia administrativa, forças militares, conselhos de<br />
justiça, que determinaram o surgimento dos chamados<br />
Estados Nacionais. Entre os séculos XVI e XVIII, a<br />
racionalização e burocratização do Estado Moderno<br />
alcançam seu apogeu, afirmadas no pleno poder<br />
decisório do monarca, exercido de maneira absoluta.<br />
A França e a Inglaterra tiveram evidente o melhor<br />
acabamento do Estado Absolutista; Espanha e Portugal,<br />
embora precoces no processo de centralização política,<br />
foram menos enfáticos na absolutização da autoridade<br />
real. Na Europa Central, a força política das cidades<br />
independentes italianas impediria a unificação política,<br />
retardada até o século XIX, como também ocorreria com<br />
as possessões alemãs, prejudicadas por lutas religiosas e<br />
rebeliões camponesas. A Holanda tornar-se-ia a grande<br />
exceção europeia, já que uma vez independente da<br />
dominação espanhola no século XVII, constituiu-se<br />
numa República, imune às determinações da forma de<br />
governo monárquica típica da Europa moderna.<br />
Na França, onde o Absolutismo se tornou uma referência<br />
histórica, a crise social da Baixa Idade Média, marcada<br />
especialmente pelas revoltas camponesas – jacqueries –<br />
e urbanas que puseram em xeque a autoridade das classes<br />
dominantes contribuíram para o crescente apoio desses<br />
grupos em torno do fortalecimento e controle definitivo<br />
da autoridade real, capaz de sufocar as rebeliões sociais e<br />
garantir a estabilidade econômica.<br />
2. AS BASES SOCIAIS DO PODER<br />
ABSOLUTO<br />
A compreensão do processo de absolutização da<br />
autoridade real perpassa pelo entendimento da<br />
complexidade do vínculo que os monarcas estabeleceram<br />
com os variados grupos sociais da Idade Moderna,<br />
beneficiando-se da divergência de seus interesses e das<br />
relações conflituosas entre eles, cooptando para si o<br />
benefício da condição de mediador através de sua<br />
governança. Clero, nobreza, burguesia, artesãos e<br />
camponeses formavam um mosaico de arranjos sociais,<br />
que o Rei, a seu modo buscou organizar em favor de seu<br />
pleno poder.<br />
Ao clero católico, fragilizado pela ameaça das rupturas<br />
protestantes, a aproximação com o Rei poderia ser a<br />
garantia de sua oficialidade no Reino e da tutela real.<br />
Tornou-se detentor de privilégios variados, desde a<br />
constituição dos próprios tribunais e assembleias, isenção<br />
de tributos até o direito de cobrança dos dízimos aos fiéis<br />
e, mesmo, cargos de confiança na burocracia estatal.<br />
Desse modo não fica difícil compreender o importante<br />
papel de justificativa ideológica preconizada pelo clero<br />
na justificação do Absolutismo, especialmente na França.<br />
194
Os membros da nobreza, categoria a qual pertencia o<br />
próprio Rei, viram-se destituídos da centralidade do<br />
exercício do poder político com a formação dos Estados<br />
Nacionais. No entanto, não tardariam a perceber que<br />
poderiam obter vantagens na organização da nova ordem<br />
política estabelecida, se fossem capazes de garantir apoio<br />
à legitimação da autoridade real. Desse modo,<br />
mantiveram privilégios sociais, como a isenção de<br />
impostos, julgamentos especiais, cobrança de impostos<br />
aos camponeses e ocupação dos principais postos<br />
burocráticos e militares; poderiam integrar a nobreza<br />
cortesã, donos dos principais postos, sustentados com<br />
pensões do Tesouro Real e residentes em sua órbita, nas<br />
sofisticadas Cortes modernas; os nobres de toga, de<br />
origem burguesa, que recebiam nobilitação mediante<br />
compra ou por algum tipo de compensação real,<br />
ocupando principalmente cargos nas magistraturas de<br />
justiça. Os nobres de sangue ou de província, eram os<br />
tradicionais, com heranças de nobreza dos ascendentes<br />
medievais, proprietários de terra e ainda explorando seus<br />
camponeses com taxas feudais e buscando vantagens<br />
econômicas nos casamentos com membros da classe<br />
burguesa.<br />
A burguesia moderna, por sua importância econômica<br />
crescente, não poderia ser ignorada pelo monarca em seu<br />
esforço de legitimação de autoridade. Especialmente a<br />
alta burguesia, formada pelos industriais e grandes<br />
comerciantes, eram beneficiados pelo monarca através<br />
das concessões de monopólio internas, controle sobre as<br />
corporações de oficio dos artesãos e das vantagens no<br />
comércio da exploração colonial, garantindo seu<br />
enriquecimento e o apoio para a afirmação do poder dos<br />
reis.<br />
Os camponeses e pequenos produtores mantinham-se<br />
prejudicados pela exploração das classes superiores e<br />
pelos mecanismos controladores do Estado. Incapazes de<br />
serem incorporados à rede de privilégios atribuídos às<br />
demais classes, eram postos sob controle e obrigados à<br />
subalternidade pela legitimidade da violência exercida<br />
pelo Estado e por seus representantes.<br />
decisão final era do Rei, o exercício e a delegação de seu<br />
poder ocorriam através de ministros, Conselhos,<br />
assessores, tesoureiros, chefes militares etc.<br />
Ao Rei cabiam ações como baixar leis, organizar a<br />
justiça, proceder a cobrança de impostos, manter<br />
exércitos, nomear funcionários, garantir rendas ao<br />
Estado, tudo em nome da grandeza e estabilidade do<br />
Reino.<br />
3. TEORIAS JUSTIFICADORAS DO PODER<br />
ABSOLUTO DOS REIS<br />
Para a justificação da governabilidade legitima e<br />
inquestionável que deveria ser exercida pelo Rei,<br />
forjaram-se a partir de intelectuais e religiosos da<br />
Modernidade, importantes teorias que deram<br />
sustentação ideológica ao Absolutismo Monárquico.<br />
Entre as figuras mais destacadas estão o pensamento de<br />
Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, Jean Bodin e<br />
Jacques Bossuet.<br />
O florentino Nicolau Maquiavel, sensibilizado pela<br />
fragmentação da Península Itálica e instabilidade<br />
decorrente das ameaças externas e das dissensões<br />
internas, escreveria sob encomenda, o clássico O<br />
Príncipe, uma das principais obras da argumentação do<br />
governo racional absolutista dos reis. Nessa obra,<br />
Maquiavel empenhou-se na definição de conceitos<br />
importantes à governabilidade, rompendo<br />
definitivamente com a orientação da moral cristã ao<br />
bom governo.<br />
A percepção sobre os arranjos estabelecidos pelo Rei a<br />
partir da variação dos interesses dos principais grupos<br />
sociais ajuda a compreender que a manutenção de seu<br />
poder e o exercício de sua ação decisória, portanto, não<br />
ocorria de forma meramente caprichosa de sua vontade,<br />
mas respeitando o equilíbrio entre esses grupos. A<br />
prática política, dado as dimensões dos territórios e a<br />
complexidades das funções de Estado, exigia a formação<br />
de um vasto aparelho burocrático para governar. Se a<br />
Nicolau Maquiavel<br />
195
Por conseguinte, não é necessário que um príncipe<br />
possua todas as qualidades mencionadas, mas convém<br />
que aparente tê-las. Atrever-me-ei a dizer antes que, têlas<br />
e observá-las sempre, é prejudicial e que aparentar têlas<br />
é útil: como parecer piedoso, fiel, humano, íntegro,<br />
religioso, etc., mas ter sempre o ânimo preparado para,<br />
na altura que convenha, tu poderes e saberes fazer o<br />
contrário.<br />
Deve ter-se presente que um príncipe, e sobretudo um<br />
príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas<br />
pelas quais os homens têm fama de bons, tendo mesmo<br />
necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a<br />
fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a<br />
religião. E preciso mesmo que tenha o ânimo disposto a<br />
mudar segundo o que lhe mandem os ventos e as<br />
variações da fortuna e, como acima disse, não se separar<br />
do bem podendo fazê-lo, mas saber entrar no mal se for<br />
necessário.<br />
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1999.<br />
Segundo Maquiavel a força militar poderia ser eficiente<br />
na conquista do poder, mas a estabilidade do poder<br />
alcançado só poderia ser assegurada a partir de uma ação<br />
racional eficiente, baseada na astúcia, em que se<br />
passava da violência intimidadora à relação em que os<br />
governados desejem a submissão ao seu domínio.<br />
Definiu o conceito de fortuna, referindo-se à realidade<br />
da governança, em que imprevistos, crises internas,<br />
ameaças externas, sublevações, e todo tipo de imbróglio<br />
não previsível, precisaria de uma ação virtuosa (conceito<br />
de virtú), que corresponde a uma pratica racional,<br />
planejada e eficiente, embora não necessariamente ética,<br />
moral ou pacífica, para garantir a estabilidade; assim, a<br />
ruptura da ética cristã medieval com a ação racional<br />
de governar defendida por Maquiavel, passaria a se<br />
constituir num dos princípios elementares da política<br />
moderna.<br />
Outro Maquiavel<br />
Um pensador da ética<br />
Num dia de dezembro de 1513, um homem escreve a<br />
um amigo. Está no campo, banido. Foi preso e torturado.<br />
Mas não se queixa. Conta que passa o dia com os<br />
camponeses, gritando, jogando. À noite, porém, troca de<br />
roupa. Veste os melhores trajes. Lê os autores antigos e,<br />
espanto!, dialoga com eles. Ouve suas opiniões, suas<br />
ideias. (Essa passagem é sempre citada, quando se quer<br />
explicar a Renascença). Quase no final, informa que<br />
gastou algumas semanas escrevendo um livrinho, De<br />
principatibus Dos principados), "onde me aprofundo<br />
tanto quanto posso nas cogitações desse tema...".<br />
Gastou nisso umas poucas semanas, que definirão<br />
para a posteridade o seu nome – Nicolau Maquiavel ou,<br />
em italiano, Niccolò Machiavelli. A elas Maquiavel<br />
deverá a glória: seu nome gerará um adjetivo que todos<br />
conhecem. De uns trinta grandes filósofos, apenas dois –<br />
ele e Platão – chegaram a tanto. Mesmo quem nunca os<br />
leu tem noção do que é amor platônico ou ação<br />
maquiavélica. Não importa que nós, professores de<br />
filosofia, provemos que os adjetivos convêm mal aos<br />
dois filósofos. Eles pegaram. O renome de Maquiavel é<br />
maior que ele próprio.<br />
Mas é um mau renome, uma má fama, infâmia. O<br />
Príncipe foi lido, bem cedo, como um livro de conselhos<br />
aos governantes, para quem os fins justificariam os<br />
meios (essa frase, aliás, não é de Maquiavel). Ele<br />
defenderia o despotismo e a amoralidade dos príncipes.<br />
Há aqui, porém, um problema. Maquiavel escreveu O<br />
Príncipe de um jato só, enquanto se dedicou vários anos<br />
a outro projeto – os Discursos sobre a primeira década de<br />
Tito Lívio, um longo comentário ao historiador de Roma<br />
antiga.<br />
Ora, os Discursos são uma obra republicana. E, se<br />
Maquiavel foi torturado a mando dos Médici, que<br />
acabavam de retomar Florença, isso se deveu a ter sido<br />
ele um dos líderes da República florentina. O Maquiavel<br />
mais extenso é republicano – e sobre ele temos um livro<br />
notável de Newton Bignotto, Maquiavel republicano<br />
(1991). Mas talvez o autor d’O Príncipe seja o<br />
Maquiavel mais intenso: essas semanas no campo<br />
emancipam a política da moral cristã.<br />
Daí, questões sérias. Rousseau, dois séculos e meio<br />
depois d’O Príncipe (isto é, a meio caminho entre<br />
Maquiavel e nós), sugere: tudo seria uma enorme<br />
paródia. Republicano da gema, nosso autor teria contado<br />
– como a sério – todo o mal que os reis fazem, para<br />
fazer-nos odiá-los. Há um enigma Maquiavel. Ainda<br />
maior, porque O Príncipe é talvez a obra filosófica que<br />
parece mais fácil de ler. Nenhuma dificuldade para<br />
entender cada linha ou página. Só para saber o que,<br />
afinal, ele quis dizer.<br />
196
Maquiavel começa distinguindo repúblicas e<br />
monarquias: falará delas. Dos reinos, uns são antigos e<br />
outros novos: só tratará dos novos. E, destes, uns foram<br />
conquistados por armas próprias e outros, com armas<br />
alheias e graças à fortuna (no sentido de sorte) –<br />
interessam-lhe estes. Como um novo governante, que<br />
não se beneficia da opinião favorável que a idade dá a<br />
um regime, pode conseguir ser aceito por seu povo? eis a<br />
questão. Isto é: como passar da força bruta ou da<br />
violência ao poder, que depende do consentimento dos<br />
dominados.<br />
E com isso Maquiavel é um dos raros pensadores da<br />
política a pensar, não só o exercício, mas a tomada, do<br />
poder – não a continuidade, mas a novidade. Não é<br />
fortuito que o marxista italiano Antonio Gramsci tenha<br />
escrito sobre ele: Maquiavel pode ser revolucionário.<br />
Responderei, contudo, que cada Estado deve ter<br />
costumes próprios, por meio dos quais os populares<br />
possam satisfazer sua ambição, sobretudo nas cidades<br />
onde os assuntos importantes são decididos com a<br />
interveniência do povo.<br />
O desejo que sentem os povos de ser livres raramente<br />
prejudica a liberdade, porque nasce da opressão ou do<br />
temor de ser oprimido.<br />
Sejamos, portanto, avaros de críticas ao governo<br />
romano; atentemos para o fato de que tudo o que de<br />
melhor produziu essa república provém de uma boa<br />
causa. Se os tribunos devem sua origem à desordem, essa<br />
desordem merece elogios, pois o povo, dessa forma,<br />
assegurou participação no governo. E os tribunos foram<br />
os guardiões das liberdades romanas [...].<br />
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. 3 ed.<br />
Brasília: Editora da UNB, 1994<br />
O inglês Thomas Hobbes, contemporâneo do<br />
conturbado momento político da Revolução Inglesa,<br />
seria o autor de O Leviatã, obra que sustentou no<br />
contratualismo entre a sociedade e o Estado, a<br />
autoridade absoluta a ser exercida pelos monarcas. A<br />
base de seu pensamento é a oposição da condição<br />
humana entre o estado de natureza e o estado de<br />
civilização; essa primeira condição, não situada<br />
historicamente, caracteriza-se pela ausência de um poder<br />
controlador sobre os homens, do qual decorre o caos<br />
social da luta entre os indivíduos pela satisfação de seus<br />
desejos. Assim, somente a partir do estágio do estado de<br />
civilização, os homens definem um contrato social<br />
reabilitador e determinante da própria continuidade da<br />
existência, em que sua liberdade absoluta é suprimida<br />
pela autoridade do Estado como garantia de<br />
sobrevivência. Somente esse Estado civil, monstruoso<br />
como O Leviatã e poderoso em sua vontade absoluta,<br />
poderia garantir a ordem e a estabilidade que impeçam a<br />
autodestruição.<br />
“... durante o tempo em que os homens vivem sem<br />
um poder comum capaz de os manter a todos em<br />
respeito, eles se encontram naquela condição a que se<br />
chama guerra; (...)<br />
Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de<br />
guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o<br />
mesmo é válido também para o tempo durante o qual os<br />
homens vivem sem outra segurança senão a que lhes<br />
pode ser oferecida por sua própria força e sua própria<br />
invenção. Numa tal situação não há lugar para a<br />
indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não<br />
há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das<br />
mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há<br />
construções confortáveis, nem instrumentos para mover e<br />
remover as coisas que precisam de grande força; não há<br />
conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo,<br />
nem letras; não há sociedades; e o que é pior do que<br />
tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a<br />
vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e<br />
curta” (Cap. XIII).<br />
“O fim último, causa final e desígnio dos homens<br />
(que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre<br />
os votos), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos<br />
sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com<br />
a sua própria conservação e com uma vida mais<br />
satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera<br />
condição de guerra que é a consequência necessária<br />
(conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens,<br />
quando não há um poder visível capaz de os manter em<br />
respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao<br />
cumprimento dos seus pactos e ao respeito àquelas leis<br />
de natureza...”<br />
HOBBES, T. das causas, geração e definição de um Estado. In: Leviatã. 2 ed. São<br />
Paulo: Abril Cultural, 1979, p.103<br />
197
Contudo, o mais importante entre todos os teóricos<br />
absolutistas, foi sem dúvida, o abade francês Jacques<br />
Bossuet, autor da obra Política Segundo as Sagradas<br />
Escrituras. Para ele, a autoridade real é sagrada porque<br />
emanaria do próprio Deus, de modo que a discussão de<br />
sua legitimidade deveria constituir em sacrilégio, ou seja,<br />
pecado contra a própria Divindade. Os súditos deveriam<br />
submeter se aos governantes, que por sua vez, devem<br />
atuar com poder incontestável; trata-se da configuração<br />
da teoria do direito divino dos reis.<br />
Ilustração da primeira publicação de O Leviatã<br />
O francês Jean Bodin, em Seis Livros sobre a República,<br />
mergulhou nos estudos da República romana para<br />
justificar a monarquia como opção natural de<br />
governo. Segundo ele, na república imperam os<br />
interesses pessoais e a corrupção, enquanto na<br />
Monarquia, a escolha do governante supremo é natural,<br />
dada a condição da hereditariedade, estando em última<br />
instância sob vontade inteligente da providência divina.<br />
Negou a necessidade do Poder Legislativo, defendendo a<br />
plena autoridade do Rei e a máxima submissão de seus<br />
súditos; afirmava que a autoridade real assemelhava-se a<br />
autoridade do próprio pai no seio da família, sendo por<br />
isso ilimitada. Assegurava que a ordem pública só<br />
poderia ser alcançada com a soberania dos reis em criar<br />
leis, revogá-las e modificá-las.<br />
A expansão das ideias de Bossuet é reveladora da<br />
importância mental que a religião continuava a exercer<br />
no mundo moderno, apesar da crescente laicização do<br />
pensamento. Tanto que se retomou na Idade Moderna a<br />
crença medieval na condição sagrada do rei, capaz de<br />
curar e promover fortuna ao simples toque. Também se<br />
sustentou a tese da crença nos dois corpos do Rei, sendo<br />
um natural, físico e naturalmente passível de morte, dor e<br />
sofrimento como os homens comuns e, o corpo místico<br />
do rei, não sujeito à morte, pois tem sua permanência<br />
garantida na hereditariedade e que nunca erra,<br />
diferenciando-se por isso dos demais.<br />
"Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem<br />
como ministros de Deus e seus representantes na terra.<br />
Consequentemente, o trono real não é o trono de um<br />
homem, mas o trono do próprio Deus. (...) Os reis são<br />
deuses e participam de alguma maneira da independência<br />
divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve<br />
acreditar-se que ele vê melhor."<br />
(Jacques Bossuet, Política tirada das palavras da Sagrada Escritura, 1709.)<br />
Não há necessidade de insistir muito para mostrar que a<br />
monarquia é a melhor, visto que... tem somente um<br />
chefe; e todas as leis da natureza nos guiam para a<br />
monarquia; seja observando um pequeno mundo que é<br />
nosso corpo, no qual existe para todos os membros um só<br />
chefe do qual dependem a vontade, o movimento e o<br />
sentimento; seja observando esse grande mundo, que tem<br />
um soberano Deus; seja observando o céu, que tem um<br />
só Sol.<br />
BODIN, Jean. Los seis libros de La Republica. Madrid: Tecnos, 1992<br />
4. O ABSOLUTISMO NA FRANÇA<br />
Embora a centralização política francesa tenha sido<br />
retardada pela eclosão da Guerra dos Cem Anos e,<br />
posteriormente pela gravidade dos conflitos religiosos<br />
que tomaram o país, em meados do século XVII,<br />
constituiu-se naquele país o mais bem acabado modelo<br />
de absolutismo monárquico, com a ascensão da Dinastia<br />
Bourbon e especial destaque ao reinado de Luís XIV<br />
(1643/1675).<br />
A introdução do protestantismo de orientação calvinista<br />
na França gerou um acentuado quadro de intolerância<br />
198
católica e expandiu ao campo político as disputas<br />
religiosas. Desde o século XVI, o surgimento dos<br />
primeiros reformadores, dividiu a sociedade em grupos<br />
opositores em torno do Partido Papista e do Partido<br />
Huguenote; em torno desse último reuniu-se os<br />
perseguidos religiosos, quadros da burguesia francesa e<br />
parte da nobreza opositora da centralização do poder<br />
real.<br />
Desde o governo de Francisco II (1559-1560), a família<br />
católica dos Guise exercia uma proeminente influência<br />
política, responsabilizando-se pelas primeiras ações<br />
violentas contra protestantes que tentavam atrair o Rei<br />
para a órbita de seu partido. O indisfarçável caráter<br />
político dessas diferenças religiosas tornou a guerra entre<br />
católicos e protestantes inevitável e prolongada, embora<br />
intermitente, mesclando momentos de trégua e de<br />
agravamento do conflito.<br />
Com a chegada de Carlos IX ao poder, ainda criança, a<br />
regência de sua mãe, Catarina de Médici, daria novos<br />
contornos à situação político-religiosa na França. Num<br />
suposto esforço para amenizar a instabilidade francesa,<br />
Catarina concederia em 1562 o Edito de Saint<br />
Germain, que garantia aos protestantes o direito de<br />
celebrarem seus cultos no subúrbio de algumas cidades,<br />
bem como de constituírem praças fortificadas, como a<br />
destacada La Rochelle. Fazia parte da trégua ainda o<br />
casamento entre Margarida de Valois, irmã do monarca e<br />
o príncipe protestante de Navarra, Henrique de Bourbon,<br />
a fim de selar a paz entre os católicos e protestantes e<br />
fortalecer os Valois no poder, contra a crescente<br />
influência dos Guise.<br />
As liberdades concedidas aos protestantes, a presença de<br />
seus militares em Paris e a presença de um Príncipe<br />
protestante na Corte colocaram Catarina de Médici em<br />
desconfiança quanto ao fortalecimento excessivo do<br />
grupo. Desse modo, buscara apoio na figura de Henrique<br />
de Guise, líder do partido papista, para planejar o<br />
assassinato do Almirante de Coligny, principal chefia<br />
militar dos huguenotes. O rei Carlos IX exigiu a<br />
apuração do ocorrido e fora convencido pela mãe da<br />
existência de uma conspiração huguenote a ser reprimida<br />
a todo custo. Em 24 de Agosto de 1572, a Noite de São<br />
Bartolomeu, uma onda de violência católica se abateria<br />
sobre os protestantes, resultando na morte de milhares de<br />
pessoas, fazendo ressurgir a guerra em moldes<br />
extremamente violentos.<br />
Ilustração do Massacre da Noite de São Bartolomeu<br />
Com a morte de Carlos IX dois anos depois, seu irmão<br />
Henrique III chega ao trono, dando início à disputa de<br />
poder chamada Guerra dos Três Henriques. Sequioso<br />
pelo poder, Henrique de Guise fundou a Liga Católica,<br />
exercendo junto com a rainha Catarina de Médici forte<br />
influência sobre Henrique III. Esforçando se para manter<br />
sua soberania, Henrique III autorizou o assassinato de<br />
Henrique de Guise, ocasionando a oposição da Liga<br />
Católica para depô-lo do trono. Essa condição o<br />
aproximaria do cunhado Henrique de Bourbon para o<br />
cerco a Paris, o que não impediu que o herdeiro Valois<br />
também fosse assassinado em 1589. Henrique de<br />
Navarra, feito sucessor por Henrique III, assumiria o<br />
trono como Henrique IV, sob forte pressão da Liga<br />
Católica. A fim de garantir a estabilidade, converteu-se<br />
ao catolicismo , ocasião em que proferira a celebre frase<br />
“Paris bem vale uma missa”, dando início à dinastia<br />
Bourbon.<br />
Embora tenha mantido a religião católica como religião<br />
oficial, Henrique IV promulgou o Edito de Nantes, que<br />
garantia a liberdade religiosa aos huguenotes, tolerância<br />
religiosa que só seria rompida no reinado de Luis XIV.<br />
Seu mandato foi marcado ainda pela crescente<br />
centralização administrativa, estímulo ao comércio e<br />
agricultura e pela concessão de títulos de nobreza aos<br />
grandes comerciantes para garantir recursos ao Estado.<br />
Morreu de forma trágica, assassinado por um fanático<br />
religioso.<br />
Seu sucessor Luís XIII, também chegou ao trono criança,<br />
fortemente influenciado pela regência de sua mãe<br />
Catarina de Médici e pela ação política do Cardeal<br />
Richilieu. As guerras de religião foram retomadas, com<br />
perseguição intensa aos protestantes e a tomada da<br />
fortaleza de La Rochelle, além da restrição dos direitos<br />
políticos desse grupo, mantendo apenas o seu direito de<br />
culto. No plano interno, buscou limitar a autonomia da<br />
nobreza, criando um eficiente corpo de funcionários, os<br />
intendentes, para garantir a centralização do poder.<br />
199
200<br />
Buscou ainda fortalecer a posição hegemônica dos<br />
franceses dentro do continente europeu, mergulhando o<br />
pais na Guerra dos 30 Anos (1630/1648), visando<br />
neutralizar os Habsburgo e promover a projeção dos<br />
Bourbon.<br />
Após a morte de Richilieu em 1642 e de Luís XIII no<br />
ano seguinte, chegaria ao poder o célebre monarca Luís<br />
XIV, também criança e inicialmente influenciado por sua<br />
mãe Ana de Áustria e pelo Cardeal Mazzarino. Os<br />
aumentos dos impostos e acrescente centralização do<br />
poder provocou a reação de grupos da nobreza e da<br />
burguesia contra o Rei, as chamadas frondas, duramente<br />
reprimidas pelo poder real.<br />
Adulto e plenamente posto no trono, Luís XIV deu os<br />
contornos finais do aprimoramento do Absolutismo<br />
francês, marcado pelo aprimoramento da máquina<br />
burocrática e pela criação da portentosa Corte de<br />
Versalhes. Imediatamente após sua posse, acumulou as<br />
funções de Rei e Ministro, esvaziou o Conselho, um dos<br />
principais órgãos burocráticos do governo anterior e se<br />
tornou responsável direto pela nomeação dos principais<br />
cargos administrativos.<br />
A economia francesa foi amplamente beneficiada pelo<br />
aprimoramento no controle dos sistemas de cobranças de<br />
impostos e pelas práticas econômicas empreendidas pelo<br />
ministro Colbert, sustentados nos pressupostos da<br />
política mercantilista. Tal riqueza acumulada permitiu o<br />
oferecimentos de luxo, pensões e a própria construção do<br />
palácio de Versalhes e a disputa com ingleses e<br />
holandeses por áreas caribenhas e no Atlântico Norte,<br />
além do envolvimento na guerra pela sucessão de poder<br />
na Espanha.<br />
Luís XIV – O Rei-Sol<br />
Sua morte em 1715 coincidiu com o fim da própria<br />
supremacia francesa no continente, destacando-se a<br />
Inglaterra e evidenciando as contradições internas que<br />
levariam a derrocada do Absolutismo francês com a<br />
Revolução de 1789.<br />
A Vida na Corte – Etiqueta<br />
Os reis absolutistas franceses, como Luís XIV, viviam<br />
rodeados de numerosos membros da nobreza, os<br />
cortesãos. Para obter o reconhecimento do monarca,<br />
estes deviam frequentar regularmente as residências reais<br />
e respeitar a Etiqueta. Se os súbditos mostrassem uma<br />
disponibilidade total, eram recompensados através de<br />
pensões e gratificações financeiras reais, alojamento no<br />
palácio de Versalhes e convites frequentes para festas e<br />
cerimônias.<br />
“Toda a França estava organizada em torno do Rei". A<br />
grande área de Versalhes acomodava uma numerosa<br />
corte que dependendo das circunstâncias ia de 3000 a<br />
10000 pessoas. Organizava-se segundo uma sociedade<br />
heterogênea e estritamente hierarquizada. Uns estavam lá<br />
por direito de nascença, outros por obrigação social,<br />
outros por interesse, outros por curiosidade, enfim para<br />
ganhar a vida, disputando a atenção e os benefícios reais.<br />
Os cortesãos tinham a obrigação de seguir uma etiqueta<br />
definidas rigorosamente. Essas regras definiam quem e<br />
quando se podia aproximar das pessoas de estatuto mais<br />
elevado da Corte. A linguagem e as atitudes eram<br />
também codificadas e variavam segundo a posição social<br />
e as circunstâncias: o estatuto social traduzia-se tanto na<br />
maneira de se dirigir a uns e outros como no direito de se<br />
sentar numa poltrona, cadeirão, cadeira, ou banquinho.<br />
A Vida na Corte era estritamente regulada pela etiqueta.<br />
Luís XIV definiu regras de etiqueta que incluíam o<br />
seguinte:<br />
1 - As pessoas que queriam falar com o rei não podiam<br />
bater à sua porta. Em vez disso, usando o dedo mindinho<br />
da mão esquerda, tinham que arranhar suavemente a<br />
porta, até que lhes fosse dada permissão para entrar.<br />
Como resultado, muitos cortesãos deixavam crescer mais<br />
as suas unhas.<br />
2 - Uma dama nunca segura as mãos ou abraça um<br />
cavalheiro. Além de ser de mau gosto, esta prática seria<br />
impossível devido às largas saias que as rodeavam. Em<br />
vez disso, punha a mão no cotovelo do cavalheiro<br />
quando passeavam pelos jardins ou salas de Versalhes.
Também era mencionado que as damas só podiam tocar<br />
com as pontas dos dedos nos cavalheiros.<br />
3- Quando um cavalheiro se senta, desliza o seu pé<br />
esquerdo em frente do outro, pousa as mãos dos lados da<br />
cadeira e suavemente desce. Esta prática tinha uma razão<br />
muito simples: se um cavalheiro se sentasse rapidamente,<br />
as suas calças apertadas podiam rasgar.<br />
4- As mulheres e os homens não tinham a permissão de<br />
cruzar as pernas em público.<br />
5- Quando um cavalheiro passava por outro conhecido<br />
na rua, tinha de tirar o chapéu até que a outra pessoa<br />
passasse.<br />
6- Um cavalheiro não tinha de fazer mais nenhum<br />
trabalho a não ser escrever cartas, discursar, praticar<br />
esgrima ou dança. Como desportos podia praticar tiro<br />
com arco, ténis e caça.<br />
intensa perseguição violenta a esse grupo, o que lhe<br />
rendeu a alcunha de Bloody Mary, Maria, a Sanguinária.<br />
Com a morte de Maria, grupos da nobreza anglicana e da<br />
burguesia se empenharam em conduzir ao trono a<br />
herdeira de Henrique VIII e Ana Bolena, a jovem<br />
Elizabeth. O longo governo de Elizabeth que se estendeu<br />
de 1558 a 1603 concluiu a absolutização do poder real.<br />
Reafirmou a oficialidade da Igreja Anglicana, reforçando<br />
seu aspecto calvinista em detrimento de seus aspectos<br />
católicos, reduzindo a importância da nobreza papista e<br />
assegurando o apoio da burguesia reformada. Concentrou<br />
os poderes em torno de si e de um Conselho Privado,<br />
restrito aos conselheiros de sua mais alta confiança,<br />
protelando a convocação do Parlamento estipulado pela<br />
Magna Carta.<br />
http://www.chateauversailles.fr/lhistoire/versailles-au-cours-des-siecles<br />
5. O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA<br />
Na Inglaterra, o território inglês alcançou a ordem<br />
política absolutista com a ascensão dos Tudor ao poder.<br />
Configurou-se num tipo de absolutismo muito particular,<br />
tendo em conta que desde 1215 contava com a Magna<br />
Carta, documento que originou o Parlamento e que<br />
deverias significar restrições ao poderio real. Pouco<br />
convocado entre os séculos XIII e XVI, o Parlamento<br />
precisou ser cooptado pelos reis absolutistas, em favor da<br />
legitimação de sua autoridade.<br />
A guerra dos Cem Anos contra a França e o conflito<br />
interno da Guerra das Duas Rosas dificultou a<br />
precocidade da centralização política; o processo seria<br />
retornado com a Dinastia Tudor, que teve em Henrique<br />
VII o seu primeiro monarca. Com o seu sucessor,<br />
Henrique VIII, a centralização do poder delinearia seus<br />
aspectos absolutistas, a partir da ruptura do Rei com o<br />
Papado, com a criação da Igreja Anglicana; tal medida,<br />
não apenas limitou a influência católica, como garantiu a<br />
apropriação pelo Estado dos bens da Igreja e a chefia do<br />
monarca sobre a nova Igreja reformada.<br />
A morte de Henrique VIII procedeu a um período de<br />
instabilidade na sucessão do poder, marcado pelo curto<br />
reinado de seu filho Eduardo VI, cuja morte precoce fez<br />
ascender ao trono sua meia-irmã Maria. Casada com<br />
Filipe II de Espanha, a rainha retirou privilégios<br />
concedidos aos anglicanos convertidos e promoveu<br />
Elizabeth I também foi eficiente no enfrentamento às<br />
oposições, como ficou claro ao mandar decapitar sua<br />
prima, rainha deposta da Escócia, Maria Stuart, que<br />
apoiada pelo Papa e pelo monarca espanhol Filipe II<br />
objetiva destroná-la. Mais prestigio ainda seria alcançado<br />
pela soberana ao derrotar, em 1588, a Invencível<br />
Armada, poderosa esquadra espanhola de seu cunhado<br />
inimigo, inaugurando uma nova fase no palco das<br />
hegemonias europeias.<br />
Foi ainda responsável por um notável desenvolvimento<br />
econômico, marcado pelo estimulo à exploração da<br />
manufatura de tecidos de lã e da exploração das minas de<br />
201
carvão. Para o sucesso do comercio internacional e das<br />
ações de corsário legitimadas pelo Estado, promoveu<br />
acentuado estimulo à construção naval. Também<br />
desenvolveu companhias de comercio, ingressou na<br />
exploração comercial do trafico de escravos da África<br />
para a América, fixou monopólios a grandes<br />
comerciantes e protegeu a indústria local com a elevação<br />
de tarifas alfandegárias.<br />
Tal prosperidade econômica teve implicações sociais<br />
significativas, como a formação da gentry, estrato da<br />
nobreza que passou a produzir no campo para fins<br />
comerciais e manufatureiros e a aprovação das Leis de<br />
Cercamentos, para beneficiar a disponibilidade de<br />
matéria prima ao setor têxtil. A burguesia mercantil das<br />
cidades passou a ganhar destaque no parlamento, através<br />
da Câmara dos Comuns, e dificuldades sociais<br />
envolvendo os pobres do campo e da cidade tornaram-se<br />
evidentes. De toda sorte, seu reinado antecipou as<br />
condições essenciais para a configuração da Inglaterra<br />
em uma potência econômica.<br />
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />
ARRUDA, José Jobson. Moderna e Contemporânrea, Vol. 1. Bauru:EDUSC,<br />
2006.<br />
FANTAGUSI, Alexandre, Absolutismo Módulo 05, Frente AEditora Bernoulli,<br />
2013.<br />
EXERCÍCIOS<br />
“O Estado sou eu”, frase atribuída ao rei francês Luís<br />
XIV, traduzia o grau de centralização de poderes típica<br />
dos Estados absolutistas europeus. Tal forma de<br />
organização política destacava a figura do monarca como<br />
bem caracteriza a imagem acima.<br />
Assinale a alternativa correta que expressa o papel da<br />
monarquia absolutista.<br />
a) O regente, ao aparecer publicamente com trajes<br />
suntuosos, exprimia a união entre o poder temporal e<br />
o espiritual, apoiado publicamente pelo Papa em<br />
cada aparição pública.<br />
b) O monarca, ao se utilizar da pompa e da<br />
suntuosidade, sintetizava os anseios da própria<br />
nação e dos diversos grupos religiosos existentes no<br />
território francês.<br />
c) A exposição pública da figura do monarca<br />
enfraquecia a nobreza e as tradições aristocráticas,<br />
ao mesmo tempo em que fortalecia os interesses<br />
burgueses.<br />
d) O rei, ao simbolizar o próprio Estado francês,<br />
consegue articular o anseio do grupo mercantil em<br />
ascensão, articulando-os com os interesses da<br />
nobreza nacional.<br />
e) Eliminar as revoltas camponesas francesas,<br />
recorrendo ao luxo e majestade configurados na<br />
imagem do monarca, garantia estabilidade a nação.<br />
02 - (Fac. Direito de Franca SP)<br />
01 - (MACK SP)<br />
"A etiqueta foi, nos séculos do seu apogeu (do XV ao<br />
XVIII), minucioso cerimonial regendo a vida em<br />
sociedade: roupas, formas de tratamento, uso da<br />
linguagem, distribuição no espaço, tudo isso esteve<br />
determinado pela lei e pelo costume."<br />
Renato Janine Ribeiro. A etiqueta no Antigo Regime.<br />
São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 7.<br />
O papel da etiqueta no Antigo Regime pode ser<br />
associado<br />
a) ao esforço da realeza para impedir a exposição<br />
pública da ostentação e da pompa que orientavam<br />
sua vida privada.<br />
b) à dinâmica política do Estado absolutista, em que os<br />
governantes deviam acolher no seu espaço privado<br />
representantes de todas as classes sociais.<br />
c) à disposição, natural na burguesia mercantil<br />
metropolitana, de buscar o luxo e a ostentação.<br />
202
d) à lógica hierarquizadora da sociedade, em que cada<br />
pessoa devia conhecer seu lugar, sua posição e seu<br />
papel social.<br />
e) ao papel regrador da sociedade, exercido pela Igreja<br />
Católica, que determinava o vestuário adequado dos<br />
fiéis.<br />
então intocáveis, de que gozam certas classes,<br />
corporações e indivíduos; e pela falta de uma<br />
fiscalização central dos amplos e heterogêneos corpos de<br />
funcionários.<br />
(Leon Pomer, O surgimento das nações. Apud Adhemar Marques et al,<strong>História</strong><br />
Moderna através de textos)<br />
03 - (UERJ) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser<br />
amado que temido ou temido que amado. Responde-se<br />
que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é<br />
difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que<br />
amado, quando haja de faltar uma das duas. Deve,<br />
todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que, se não<br />
adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito<br />
bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que<br />
sempre conseguirá desde que respeite os bens dos seus<br />
concidadãos e dos seus súditos porque os homens<br />
esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do<br />
patrimônio.<br />
Mas quando um príncipe está com os exércitos e tem<br />
uma multidão de soldados sob o seu comando, então é de<br />
todo necessário que não se importe de passar por cruel;<br />
porque sem esta fama não se mantém um exército unido,<br />
nem disposto a qualquer feito.<br />
O Príncipe, de Nicolau Maquiavel Adaptado de www.arqnet.pt<br />
Nicolau Maquiavel foi um pensador florentino que viveu<br />
na época do Renascimento. Ele é considerado um dos<br />
fundadores do pensamento político moderno e suas<br />
ideias serviram de base para a constituição do<br />
Absolutismo monárquico.<br />
Identifique no texto duas práticas do Absolutismo<br />
monárquico.<br />
04 - (FGV) Leia o fragmento.<br />
(...) entre os séculos XVII e XVIII ocorreram fatos na<br />
França que é preciso recordar. Entre 1660-1680, os<br />
poderes comunais são desmantelados; as prerrogativas<br />
militares, judiciais e fiscais são revogadas; os privilégios<br />
provinciais reduzidos. Durante a época do Cardeal<br />
Richelieu (1585-1642) aparece a expressão “razão de<br />
Estado”: o Estado tem suas razões próprias, seus<br />
objetivos, seus motivos específicos. A monarquia<br />
francesa é absoluta, ou pretende sê-lo. Sua autoridade<br />
legislativa e executiva e seus poderes impositivos, quase<br />
ilimitados, de uma forma geral são aceitos em todo o<br />
país. No entanto... sempre há um “no entanto”. Na<br />
prática, a monarquia está limitada pelas imunidades,<br />
No contexto apresentado, entre as “imunidades de que<br />
gozam certas classes”, é correto considerar<br />
a) os camponeses e os pequenos proprietários urbanos<br />
eram isentos do pagamento de impostos em épocas<br />
de secas ou de guerras de grande porte.<br />
b) a burguesia ligada às transações financeiras com os<br />
espaços coloniais franceses não estava sujeita ao<br />
controle do Estado francês, pois atuava fora da<br />
Europa.<br />
c) a nobreza das províncias mais distantes de Paris<br />
estava desobrigada de defender militarmente a<br />
França em conflitos fora do território nacional.<br />
d) os grandes banqueiros e comerciantes não<br />
precisavam pagar os impostos devido a uma tradição<br />
relacionada à formação do Estado francês.<br />
e) o privilégio da nobreza que não pagava tributos ao<br />
Estado francês, condição que contribuiu para o<br />
agravamento das finanças do país na segunda<br />
metade do século XVIII.<br />
05 - (FGV) “Essencialmente, o absolutismo era apenas<br />
isto: um aparelho de dominação feudal alargado e<br />
reforçado, destinado a fixar as massas camponesas na sua<br />
posição social tradicional (...) Por outras palavras, o<br />
Estado absolutista nunca foi um árbitro entre a<br />
aristocracia e a burguesia, ainda menos um instrumento<br />
da burguesia nascente contra a aristocracia: ele era a<br />
nova carapaça política de uma nobreza atemorizada (...).”<br />
ANDERSON, Perry, Linhagens do Estado Absolutista. Trad. Porto:<br />
Afrontamento, 1984, pp. 16-17.<br />
a) Na perspectiva de Anderson, o Estado absolutista<br />
significou um rompimento drástico com relação à<br />
fragmentação política característica do período<br />
feudal? Justifique.<br />
b) Na visão de Anderson, qual era o grupo social<br />
dominante nos quadros do Estado absolutista?<br />
Justifique.<br />
c) Além dos elementos apontados no texto, ofereça<br />
mais duas características constitutivas dos chamados<br />
Estados absolutistas.<br />
203
06 - (UEM PR) No século XVII, na Inglaterra, e no<br />
final do século XVIII, na França, ocorreram processos<br />
revolucionários que são conhecidos como revoluções<br />
burguesas. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s)<br />
correta(s).<br />
01. Na França do Antigo Regime, o primeiro e o segundo<br />
estados, clero e nobreza detinham direitos exclusivos,<br />
tais como a isenção de pagamento de impostos.<br />
02.Tanto na Inglaterra quanto na França, era disseminada<br />
a crença no caráter sagrado do poder dos reis.<br />
04. Embora realizada em nome da liberdade e da<br />
igualdade, os revolucionários franceses mantiveram os<br />
privilégios jurídicos da nobreza.<br />
08. A revolução gloriosa, no final do século XVII,<br />
estabeleceu a república na Inglaterra. Somente no início<br />
do século XVIII, a monarquia foi restaurada e se<br />
estabeleceu o parlamentarismo.<br />
16. Na obra O Leviatã, Thomas Hobbes defendeu o<br />
primado da razão sobre a fé, o direito à autodeterminação<br />
dos povos e fez a defesa da república.<br />
07 - (UFPR) Tenho insistido também que a monarquia<br />
deve ser atribuída exclusivamente aos varões, já que a<br />
ginecocracia vai contra a lei natural; esta deu aos homens<br />
a força, a prudência, as armas, o poder. A lei de Deus<br />
ordena explicitamente que a mulher se submeta ao<br />
homem, não só no governo de reinos e impérios, mas<br />
também na família. (...) Também a lei civil proíbe à<br />
mulher os cargos e ofícios próprios ao homem. (...) É<br />
extremamente perigoso que uma mulher ostente a<br />
soberania. (...) No caso de uma rainha que não contraia o<br />
matrimônio – caso de uma verdadeira ginecocracia –, o<br />
Estado está exposto a graves perigos procedentes tanto<br />
dos estrangeiros como dos súditos, pois caso seja um<br />
povo generoso e de bom ânimo suportará mal que uma<br />
mulher exerça o poder.<br />
(Jean Bodin, Los seis libros de la republica. Edição espanhola de 1973, p. 224.)<br />
A citação extraída do livro do jurista francês Jean Bodin<br />
(1530-1596), publicado em 1576, refere-se ao exercício<br />
do poder soberano por mulheres, algo que seria contrário<br />
às leis da natureza, à lei de Deus e às leis civis, de acordo<br />
com o pensamento político da época. Contudo, uma<br />
importante monarca contemporânea a Bodin, Elizabeth<br />
Tudor, exerceu o poder político em condições adversas e<br />
muitas vezes ameaçadoras à sua integridade física, e seu<br />
longo reinado foi considerado pelos historiadores como a<br />
“época dourada” da Inglaterra. Sobre a monarquia e o<br />
exercício do poder soberano, é correto afirmar:<br />
a) Durante o século XVI, o poder soberano das<br />
monarquias europeias foi enfraquecido, devido ao<br />
renascimento dos impérios e do papado.<br />
b) A lei sálica, presente nas constituições de alguns<br />
reinos europeus, permitia que as mulheres<br />
exercessem o poder soberano, e é contra essa lei que<br />
se coloca Jean Bodin.<br />
c) O conceito de poder soberano foi determinante para<br />
o exercício da tirania dos reis absolutistas no século<br />
XVI, que governaram sozinhos ao fechar os<br />
parlamentos.<br />
d) Elizabeth exerceu o poder soberano por tanto tempo<br />
porque aceitou dividi-lo com a Igreja Anglicana.<br />
e) O poder soberano de monarcas como Elizabeth se<br />
fundamentava no princípio de não reconhecer poder<br />
superior ao do rei, a não ser o poder divino.<br />
08 - (UFRN) Entre os teóricos que defenderam o<br />
Absolutismo monárquico estava Jacques Bossuet, que<br />
declarou:<br />
“O trono real não é o trono de um homem, mas o trono<br />
do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de<br />
alguma maneira da independência divina. O rei vê de<br />
mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê<br />
melhor, e deve obedecer-se-lhe sem murmurar, pois o<br />
murmúrio é uma disposição para a sedição.”<br />
Jacques Bossuet, Política tirada da Sagrada Escritura. FREITAS, Gustavo de. 900<br />
textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, [1977]. v. 2, p. 201. [Adaptado]<br />
Analisando os conflitos políticos da Inglaterra no século<br />
XVII, o historiador Christopher Hill escreveu:<br />
“A partir das vitórias militares sobre os Cavaleiros, [os<br />
Cabeças Redondas] conseguiram a rendição do rei em<br />
1646. Entretanto, Carlos I reorganizou seus soldados e<br />
recomeçou a guerra, sendo derrotado definitivamente<br />
pelos Cabeças Redondas de Cromwell. Preso, Carlos I<br />
foi julgado pela Alta Corte de Justiça, a mando do<br />
Parlamento, sendo condenado à morte. Em janeiro de<br />
1649, o rei foi decapitado em frente ao palácio de<br />
Whitehall, em Londres.”<br />
HILL, Christopher. O eleito de Deus. São Paulo:Companhia das Letras, 1988. p.<br />
179.<br />
204
Analisando a afirmação teórica de J. Bossuet e<br />
relacionando-a com os fatos narrados por C. Hill, podese<br />
corretamente afirmar que a execução de Carlos I<br />
assinalou<br />
a) um momento decisivo na história europeia, por ter<br />
posto em xeque um princípio político central do<br />
Estado Moderno e lançado as bases políticas liberais<br />
contemporâneas.<br />
b) uma etapa fundamental na evolução do Parlamento<br />
inglês, pois, a partir daí, os burgueses tiveram acesso<br />
à Câmara dos Comuns.<br />
c) a reação da facção liberal no Parlamento, que,<br />
dominada pelos puritanos, defendia o direito divino<br />
dos reis.<br />
d) a implantação definitiva da monarquia parlamentar<br />
inglesa, pois, daí por diante, a sucessão real seria<br />
decidida pelo Parlamento.<br />
09 - (UEFS BA) O absolutismo que se instalou na<br />
Europa Ocidental, a partir do século XVI, construiu-se<br />
sobre uma base social caracterizada pela<br />
a) desigualdade dos diferentes grupos sociais perante a<br />
lei.<br />
b) divisão da soberania do Estado entre o rei, a Igreja e<br />
a nobreza feudal.<br />
c) confirmação da autonomia do senhor feudal dentro<br />
de suas propriedades.<br />
d) aceitação da liberdade religiosa dos cidadãos,<br />
mesmo em desacordo com a religião do rei.<br />
e) supremacia da autoridade da Igreja sobre as<br />
populações dos reinos europeus ocidentais.<br />
10 - (MACK SP) Na França de Luís XIV, o Estado<br />
dinástico atingiu maturidade e começou a evidenciar<br />
algumas de suas características clássicas: burocracia<br />
centralizada; proteção real para impor fidelidade;<br />
sistema de tributação universal, mas aplicado de<br />
maneira injusta; supressão da oposição política pelo uso<br />
do protecionismo ou, se necessário, da força e cultivo<br />
das artes e ciências como meio de aumentar o poderio e<br />
prestígios nacionais. Essas políticas permitiram à<br />
monarquia francesa alcançar estabilidade política,<br />
implantar um sistema uniforme de leis e canalizar a<br />
riqueza e os recursos nacionais a serviço do Estado<br />
como um todo.<br />
M. Perry, Civilização Ocidental<br />
O texto apresenta características importantes a respeito<br />
do Antigo Regime (XV-XVIII). Dessa forma, é correto<br />
afirmar que tal período foi marcado pela tríade<br />
a) Iluminismo-mercantilismo-sociedade estamental.<br />
b) Absolutismo-liberalismo-sociedade estamental.<br />
c) Absolutismo-mercantilismo-sociedade estamental.<br />
d) Iluminismo-mercantilismo-sociedade sectária.<br />
e) Absolutismo-capitalismo-monopolista-sociedade<br />
estamental.<br />
11 - (UNESP SP) O fim último, causa final e desígnio<br />
dos homens (...), ao introduzir aquela restrição sobre si<br />
mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o<br />
cuidado com sua própria conservação e com uma vida<br />
mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela<br />
mísera condição de guerra que é a consequência<br />
necessária (…) das paixões naturais dos homens,<br />
quando não há um poder visível capaz de os manter em<br />
respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao<br />
cumprimento de seus pactos (...).<br />
(Thomas Hobbes. Leviatã, 1651. In: Os pensadores, 1983.)<br />
De acordo com o texto.<br />
os homens são bons por natureza, mas a sociedade<br />
instiga a disputa e a competição entre eles.<br />
a) as sociedades dependem de pactos internos de<br />
funcionamento que diferenciem os homens bons dos<br />
maus.<br />
b) os castigos permitem que as pessoas aprendam<br />
valores religiosos, necessários para sua convivência.<br />
c) as guerras são consequências dos interesses dos<br />
Estados, preocupados em expandir seus domínios<br />
territoriais.<br />
d) os Estados controlam os homens, permitindo sua<br />
sobrevivência e o convívio social entre eles.<br />
12 - (UFU MG) Leia o texto a seguir.<br />
O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro<br />
e religioso, bastando que aparente possuir tais<br />
qualidades. [...] Um príncipe não pode observar todas as<br />
coisas a que são obrigados os homens considerados bons,<br />
sendo frequentemente forçado, para manter o governo, a<br />
agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião [...].<br />
O príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas<br />
deve estar pronto a fazer o mal, se necessário.<br />
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1986.<br />
205
Sobre o pensamento político de Maquiavel e o contexto<br />
histórico em que se insere, assinale a alternativa correta.<br />
a) Os reis precisavam de autonomia e não poderiam<br />
estar submetidos a nenhuma instituição para<br />
alcançar a plenitude política.<br />
b) Os princípios da representação popular e dos ideais<br />
democráticos eram amplamente defendidos.<br />
c) A ação violenta por parte dos governantes contra os<br />
seus súditos era censurada.<br />
d) A política estava desvinculada dos princípios<br />
cristãos, mantendo-se a legitimidade dos reis pelos<br />
princípios da representatividade.<br />
13 - (UFJF MG) Acerca do início da Idade Moderna,<br />
leia a afirmação abaixo. Em seguida, com base na citação<br />
e em seus conhecimentos, responda ao que se pede.<br />
Atividades econômicas, estruturas e relações sociais,<br />
formas políticas, ideologias, manifestações culturais,<br />
tudo afinal se modificou em maior ou menor grau,<br />
embora em ritmos e proporções bastante diferenciados<br />
entre si. Tal conjunto permite-nos considerar essa época<br />
o começo de um período distinto do medieval, quaisquer<br />
que tenham sido as permanências e continuidades então<br />
verificadas. Explica-se assim o hábito há muito<br />
difundido entre os historiadores de procurar sintetizar<br />
todas as transformações do período que então se iniciava<br />
utilizando a noção de moderno.<br />
Fonte: FALCON, Francisco;RODRIGUES, Antonio E. A formação do mundo<br />
moderno: a construção do Ocidente dos séculos XIV ao XVIII. 2ed. Rio de<br />
Janeiro: Elsevier, 2006. P.2.<br />
Sobre as diversas modificações ocorridas no período,<br />
marque a alternativa INCORRETA.<br />
a) O movimento conhecido como Renascimento<br />
Cultural tinha como uma de suas características<br />
centrais o antropocentrismo.<br />
b) O desenvolvimento dos Estados Modernos foi<br />
caracterizado pela crescente descentralização dos<br />
poderes, que enfraqueceu o poder dos monarcas.<br />
c) O movimento da Reforma Protestante criticou as<br />
práticas da Igreja Católica e dividiu a Cristandade<br />
Ocidental.<br />
d) Ocorreu a propagação de importantes correntes de<br />
pensamento tais como as teorias de direito divino<br />
dos Reis.<br />
e) O surgimento de avanços tecnológicos como a<br />
bússola e o astrolábio colaborou para a realização<br />
das grandes navegações.<br />
14 - (UEM PR) No início da Idade Moderna, ocorre, na<br />
Europa Ocidental, um processo de centralização política<br />
que deu origem aos atuais Estados nacionais. A respeito<br />
do processo que levou ao surgimento dos Estados<br />
nacionais, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).<br />
01. A expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica<br />
tornou possível a unificação de antigos reinos cristãos de<br />
onde se originou a Espanha, no final do século XV.<br />
02. A unificação da Itália enfrentou a oposição da Igreja<br />
Católica, que só passou a aceitar o Estado italiano<br />
unificado com a celebração do Tratado de Latrão, em<br />
1929, entre o Papa Pio XI e Mussolini.<br />
04. A unificação da Alemanha ocorreu na segunda<br />
metade do século XIX, sob a hegemonia da Prússia.<br />
08. A centralização política de Portugal foi precoce,<br />
quando comparada a outros Estados europeus. Já no<br />
século XIII, o Reino de Portugal se encontrava<br />
politicamente centralizado.<br />
16. Em razão da homogeneidade e identidade cultural<br />
resultante da unificação espanhola, desde o século XVII<br />
não existem mais tensões e conflitos internos de caráter<br />
nacionalista na Espanha.<br />
15 - (UEPG PR) Sobre os Estados Nacionais Modernos,<br />
assinale o que for correto.<br />
01. Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes e Jean Bodin<br />
figuram entre os teóricos que construíram as concepções<br />
gerais nas quais se assentam os Estados Nacionais<br />
Modernos.<br />
02. No caso do Estado inglês, o que mais o caracterizou<br />
durante sua criação foi a negação ao absolutismo e a sua<br />
proximidade com a Igreja Católica.<br />
04. Na França, o Estado Nacional se formou, a partir do<br />
século XII, defendendo a República e combatendo os<br />
princípios monárquicos.<br />
08. A reconquista da Península Ibérica, luta travada<br />
contra os muçulmanos que ocupavam aquela região<br />
desde a Idade Média, favoreceu ao processo de<br />
unificação e de formação do Estado Nacional espanhol.<br />
16. Em termos gerais, a noção de cidadania, a divisão<br />
dos três poderes (executivo, legislativo, judiciário), dos<br />
direitos civis e da representatividade política estão<br />
presentes na gênese dos Estados Nacionais Modernos.<br />
206
16 - (FGV) A denominada Sociedade do Antigo Regime,<br />
tipo de organização social peculiar à maior parte da<br />
Europa, na Idade Moderna, teve como característica<br />
jurídica principal:<br />
a) A tributação exclusiva das camadas mais pobres,<br />
formadas por artesãos, servos e pequenos<br />
proprietários.<br />
b) O desenvolvimento de uma cultura correspondente<br />
aos valores da burguesia, que adaptou o poder, a<br />
arte, a ciência e a filosofia aos ideais de trabalho e<br />
geração de riquezas.<br />
c) O princípio da desigualdade, com o estabelecimento<br />
de direitos e privilégios de acordo com a posição<br />
social de seus membros, definida por nascimento.<br />
d) A monarquia absolutista, consolidada com base no<br />
poder econômico da alta burguesia, a adoção do<br />
parlamentarismo constitucional e a implementação<br />
dos direitos fundamentais do cidadão.<br />
e) A tolerância religiosa e a elaboração de leis que<br />
estabeleceram monarquias laicas que coibiram<br />
perseguições religiosas e políticas.<br />
17 - (UEPB) É difícil imaginar sociedades sem Estado.<br />
Hoje, como ontem, os Estados podem se fundar em<br />
princípios jurídicos, ideológicos ou religiosos e culturais,<br />
com governos eleitos ou ditatoriais. Analise as questões<br />
abaixo e aponte, com F ou V, as falsas e as verdadeiras.<br />
Assinale a alternativa correta:<br />
a) V, V, F, V<br />
b) V, F, V, F<br />
c) F, F, V, V<br />
d) V, F, F, V<br />
e) V, F, V, V<br />
18 - (UNIR RO) “O Estado sou eu”. A célebre frase<br />
atribuída ao rei francês Luís XIV, também conhecido<br />
como Rei-Sol, sintetiza o período absolutista na Europa<br />
moderna. Em relação ao Estado absolutista, assinale a<br />
afirmativa correta<br />
a) A política econômica do absolutismo estava baseada<br />
no livre comércio que era controlado pela burguesia.<br />
b) A nobreza havia perdido seus privilégios políticos e<br />
sociais devido às constantes guerras entre os Estados<br />
absolutistas.<br />
c) Os poderes de governos e a autoridade política<br />
encontravam-se centralizados nas mãos do soberano.<br />
d) A burocracia foi reduzida em decorrência da atuação<br />
burguesa que defendia a diminuição da presença<br />
estatal na vida dos súditos.<br />
e) As diversas revoltas camponesas, ocorridas naquele<br />
momento, conquistaram melhorias nas condições de<br />
trabalho no meio rural.<br />
( ) A ideia de Estado vem do Renascimento, quando se<br />
refletia sobre a relação entre governantes e governados.<br />
Aqui surge a lógica que diz que o Estado não tem que<br />
necessariamente recorrer ao uso da força para ser<br />
respeitado, e que ele legitimasse quando é autorizado<br />
pelo povo para comandar.<br />
19 - (UFV MG) Observe a imagem abaixo:<br />
( ) O Estado é apenas um dos elementos da natureza.<br />
Ele é um instrumento que os homens herdam<br />
naturalmente para que possam resolver seus conflitos e<br />
organizar a vida em comunidade.<br />
( ) Não existe qualquer diferença entre os conceitos de<br />
Estado, administração e governo. O Estado é apenas uma<br />
criação filosófica, já o governo é a única face visível do<br />
poder público.<br />
( ) Uma das principais características do Estado<br />
moderno é possuir o monopólio da violência e ter a<br />
autoridade necessária para fazer cumprir a lei que<br />
garante os direitos e deveres do cidadão.<br />
207
A imagem apresentada no frontispício da edição de 1651<br />
do Leviatã de Thomas Hobbes representa diversos<br />
aspectos da ordem política moderna europeia. A<br />
alternativa que CORRETAMENTE identifica uma das<br />
características representadas pela imagem a respeito do<br />
Estado Moderno europeu é:<br />
a) a natureza divina do poder real, com a consequente<br />
submissão ao poder universal do papado e das<br />
autoridades eclesiásticas.<br />
b) a preponderância das demandas oriundas das<br />
organizações locais urbanas e rurais, subordinando a<br />
autoridade dos reis.<br />
c) o papel de árbitro desempenhado pelo monarca<br />
diante dos diversos corpos e órgãos formadores da<br />
sociedade política.<br />
d) a fragmentação da soberania régia e sua submissão<br />
ao poder e aos interesses da aristocracia encastelada<br />
nas cortes régias.<br />
TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />
A história do Reino Unido (ex-Império Britânico)<br />
registra o governo de três rainhas – rainha Elisabeth I<br />
(Isabel Tudor) / rainha Vitória / rainha Elisabeth II – em<br />
cujos governos importantes questões de caráter políticoeconômico<br />
foram estabelecidas e cujos desdobramentos<br />
influenciaram não apenas a própria história inglesa,<br />
como também o resto do mundo.<br />
20 - (UEFS BA) No reinado de Elisabeth I, embora<br />
existisse a instituição do Parlamento,<br />
a) o absolutismo monárquico foi fortalecido, como<br />
resultado, em parte, da articulação política entre a<br />
Coroa e a Igreja Anglicana, que foi declarada a<br />
Igreja oficial.<br />
b) o Reino Unido aliou-se à Espanha e à França para<br />
apoderar-se das terras conquistadas por Portugal no<br />
litoral africano.<br />
c) a Inglaterra tornou-se parlamentarista, confirmando<br />
os limites ao poder monárquico no plano político.<br />
d) a burguesia mercantil foi excluída do processo<br />
político, resultando no atraso dos ingleses na<br />
expansão colonial.<br />
e) a nobreza assumiu o controle do Estado, reduzindo o<br />
poder do monarca ao papel figurativo.<br />
208
GABARITO:<br />
1) Gab: D<br />
2) Gab: D<br />
3) Gab:<br />
Duas das práticas:<br />
• monopólio do exercício da força<br />
• formação de um exército regular<br />
• respeito às leis fundamentais do reino<br />
• concentração de poder político nas mãos do soberano<br />
4) Gab: E<br />
5) Gab:<br />
a) Não significou um rompimento drástico, se pensarmos<br />
que, para Perry Anderson, a nobreza mantém-se como<br />
grupo dominante no Absolutismo, que ganha a conotação<br />
de “Estado feudal transformado e ampliado”. Opera-se<br />
uma centralização do poder nas mãos do rei, cuja<br />
significação é garantir a estrutura social, a dominação da<br />
nobreza e sua hegemonia sobre os demais setores,<br />
sobretudo para se opor às ameaças dos camponeses<br />
(rebeliões). Os privilégios estamentais do clero e da<br />
nobreza são mantidos e esses grupos é que participam da<br />
gestão do novo Estado.<br />
- afirmação das línguas nacionais dentro das fronteiras<br />
estabelecidas.<br />
6) Gab: 03<br />
7) Gab: E<br />
8) Gab: A<br />
9) Gab: A<br />
10) Gab: C<br />
11) Gab: E<br />
12) Gab: A<br />
13) Gab: B<br />
14) Gab: 15<br />
15) Gab: 09<br />
16) Gab: C<br />
17) Gab: D<br />
18) Gab: C<br />
19) Gab: C<br />
20) Gab: A<br />
b) O grupo dominante era a nobreza – juntamente com o<br />
clero -, que manteve os privilégios sociais e passou a<br />
exercer o controle da burocracia por meio da ocupação<br />
dos cargos do aparelho de Estado. Garantiu-se, assim, a<br />
submissão de camponeses e burgueses ao poder real<br />
centralizado.<br />
c) São características do Estado Absolutista:<br />
- centralização do poder político nas mãos do rei<br />
absoluto;<br />
- Direito Divino como fundamento do poder real;<br />
- política econômica mercantilista e colonialista;<br />
- manutenção de uma estrutura social estamental;<br />
- unificação de pesos, medidas e tributos;<br />
- formação de exércitos permanentes sob o comando do<br />
rei;<br />
209
CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Em pleno século XXI, sustenta-se ainda a noção de<br />
superioridade cultural de um povo sobre outro,<br />
impregnando práticas e discursos etnocêntricos que<br />
alimentam conflitos de diferentes intensidades.<br />
Frequentemente julgamo-nos superiores e melhores do<br />
que muitos povos ou etnias cujos valores diferem dos<br />
nossos. Acreditamos que o nosso modo de vida,<br />
sustentado no consumo desenfreado, na competição<br />
acirrada, na acumulação de bens, na alta tecnologia deva<br />
ser o padrão para o planeta. Será que não estamos<br />
pensando exatamente como os colonizadores de 500 anos<br />
atrás?<br />
Antecedendo a chegada do homem europeu e do<br />
estabelecimento de suas práticas coloniais no território<br />
que passou a ser chamado de América, conviveram<br />
muitos povos com culturas e organizações diferenciadas.<br />
Esses povos chamados genericamente de précolombianos,<br />
por existirem antes de Colombo aportar em<br />
2.1 Civilização Maia<br />
solo americano, portavam suas próprias organizações<br />
sociais e foram um verdadeiro desafio à compreensão do<br />
conquistador espanhol. Nos relatos dos cronistas que<br />
acompanharam as primeiras décadas da conquista e da<br />
colonização, eles eram retratados de diversas formas:<br />
como inocentes frágeis, como “bestas animais”, como<br />
dissimulados e traidores. Enfim, esses relatos expunham<br />
uma visão heterogênea, mas marcada pelo conceito dos<br />
europeus sobre povos que eram diferentes nos aspectos<br />
mais visíveis como etnia, cultura, língua, religião, forma<br />
de organização social, etc.<br />
Sem dúvida o predomínio militar espanhol e a dizimação<br />
de milhares indígenas constituíram o ponto mais<br />
impactante das conquistas europeias; no entanto, em<br />
paralelo, esses conquistadores incorporaram muitas<br />
características dos povos indígenas e tiveram que se<br />
adaptar às realidades das imensas regiões do “novo”<br />
continente. Por isso, é fundamental estudarmos as<br />
dinâmicas das relações entre os indígenas americanos e<br />
os espanhóis, mas, antes de tudo, devemos recuperar os<br />
processos de formação das antigas civilizações<br />
americanas e identificar suas características, visto que<br />
algumas delas continuam presentes nas atuais sociedades<br />
da América espanhola.<br />
210<br />
Não é fácil o esclarecimento acerca da plenitude de todos<br />
os aspectos relacionados aos povos pré-colombianos, que<br />
ainda são controversos e estimulam um debate contínuo<br />
sobre, por exemplo, o número de habitantes nas<br />
Américas durante a chegada dos europeus, o número de<br />
mortos resultante das lutas com os conquistadores, o que<br />
teria acontecido para que um exército muito menor,<br />
como era o caso dos espanhóis quando dominaram os<br />
astecas, vencesse um poderoso governante etc. Enfim,<br />
estas são questões que alimentam discussões e estudos<br />
sobre as origens desse período histórico. Graças às<br />
pesquisas arqueológicas, aos relatos feitos pelos cronistas<br />
que deixaram registros sobre esse período, aos estudos<br />
dos historiadores, tem-se um número cada vez maior de<br />
informações sobre as antigas civilizações americanas.<br />
2. OS MAIAS, ASTECAS E INCAS.<br />
A antiga civilização Maia floresceu e desenvolveu-se na<br />
península do Iucatã, situada ao sul do México, e<br />
territórios atualmente pertencentes à Guatemala,<br />
Honduras, Belize e El Salvador, entre os séculos III e<br />
XII. Desenvolveram a capacidade de organizar uma<br />
civilização complexa, instaladas em múltiplas cidades<br />
que competiam entre si, nos campos comercial e militar.<br />
Palenque, na selva do Iucatã, por exemplo, era governada<br />
por um chefe que dirigia a política e administrava a<br />
cidade.<br />
Os maias eram um povo essencialmente agrícola, que<br />
cultivava principalmente o milho. Os agricultores<br />
moravam na zona rural, buscando a cidade geralmente
por ocasião dos rituais religiosos e para fazer negócios.<br />
Eram exímios arquitetos, engenheiros, matemáticos e<br />
astrônomos. Desenvolveram sistemas de irrigação que<br />
eram fundamentais para as plantações. Elaboraram<br />
complexos cálculos matemáticos, inclusive com o uso do<br />
zero; conheciam profundamente a Astronomia e<br />
construíram observatórios para melhor estudar o céu,<br />
seus astros e movimentos, além de terem confeccionado<br />
calendários muito sofisticados.<br />
Em suas cidades, havia campos de esportes e majestosas<br />
construções em pedra, como pirâmides, que serviam de<br />
altares para os rituais e sacrifícios religiosos.<br />
Estima-se que a população maia tenha alcançado os 2<br />
milhões de habitantes. No século XVI, quando os<br />
espanhóis chegaram ao território maia, entretanto, essa<br />
civilização estava decadente, à beira do esfacelamento.<br />
Não se sabe com precisão o que levou a essa<br />
desintegração: alguns estudiosos falam de uma grande e<br />
prolongada seca que teria castigado a região, provocando<br />
a ruína de colheitas e a fome, desestruturando a<br />
sociedade. Outros, como o mexicano Frederico<br />
Navarrete, afirmam que os mais foram vítimas de sua<br />
própria grandeza; com elevado crescimento populacional<br />
e limitada produção de alimentos, acirrou-se a rivalidade<br />
entre as regiões e inúmeras disputas ocorreram entre elas,<br />
com a afirmação do domínio de uma área sobre as outras.<br />
À medida que um grupo se consagrava vitorioso havia a<br />
edificação de grandes construções para afirmar o seu<br />
poderio e, com isso reduzia-se a mão-de-obra disponível<br />
para o trabalho na agricultura. Viver nas cidades passara<br />
a ter um custo muito alto: pelos tributos e pelas ameaças<br />
de guerras constantes. Isto levou muitos camponeses a se<br />
refugiarem em áreas mais distantes, onde ficavam livres<br />
de tributos e guerras, podiam se dedicar à agricultura e<br />
migrar em direção ao sul.<br />
2.2 Civilização Asteca<br />
Onde atualmente se ergue a Cidade do México,<br />
permanecem ainda imponentes vestígios da grandiosa<br />
capital do Império asteca, chamada Tenochtitlan,<br />
fundada em 1325. Esses vestígios, como a pirâmide do<br />
Sol e da Lua, até hoje impressionam por sua beleza e<br />
imponência. Quando os espanhóis chegaram, o domínio<br />
asteca estava em seu apogeu, com uma população de<br />
aproximadamente 12 milhões de habitantes, espalhada<br />
por uma área na porção central e sul do México.<br />
Os astecas (também chamados de mexicas),<br />
diferenciando-se dos maias, estabeleceram uma<br />
organização política mais centralizada, que se consagrou<br />
partir de campanhas militares que impuseram seus<br />
sistemas tributários, comerciais e religiosos às<br />
confederações de diferentes povos que eles lideravam.<br />
Os astecas tinham um soberano, o thlatoani, que assumia<br />
as autoridades religiosas, judiciária e militar. A<br />
consolidação desse império aconteceu sob o comando de<br />
Montezuma I (1440-1469) e Montezuma II (1502-1519).<br />
Em seu processo de expansão, dominaram grupos que<br />
habitavam áreas circunvizinhas, cobrando impostos dos<br />
vencidos e usando a força militar para assegurar suas<br />
conquistas. A base econômica do império era a<br />
agricultura, praticada com sistemas de irrigação e<br />
orientada pelo calendário solar, que marcava as épocas<br />
de plantio, conforme as estações, além de estabelecer os<br />
períodos do ano. Plantavam milho, algodão, frutas, entre<br />
outros produtos agrícolas. Desconheciam a propriedade<br />
individual da terra, sendo as áreas agrícolas cultivadas<br />
coletivamente, como também era distribuído o fruto do<br />
trabalho. Praticavam o comércio, com mercados diários<br />
nas grandes cidades e semanais nas menos importantes.<br />
A produção artesanal também era uma das atividades<br />
econômicas destacáveis dos astecas.<br />
A religião asteca era politeísta, destacando-se o deus<br />
Quetzalcóalt, a serpente emplumada, que representava a<br />
força e a sabedoria. Os rituais religiosos, sobretudo os<br />
sacrifícios, eram muito valorizados, pois na concepção<br />
de mundo dos astecas, estes estavam relacionados com as<br />
origens e o funcionamento do Universo. Os astecas<br />
acreditavam que o mundo já havia sido destruído<br />
anteriormente e renascera com os sacrifícios feitos pelos<br />
deuses; por isso era necessário a continuidade de<br />
sacrifícios pelos humanos, para a preservação da vida.<br />
A organização social e política do mundo<br />
mesoamericano era composta pelos senhores<br />
(tlatocayotl) que dominavam diversos calpulli (unidades<br />
territoriais baseadas no parentesco). Na cidade de<br />
Tenochitlan havia mais de 50 calpulli. Em cada calpulli<br />
211
havia divisões entre nobres (pipiltin) e o restante da<br />
população (macehualtin). As pessoas simples, com<br />
dificuldades financeiras, podiam vender a si ou a seus<br />
familiares, tornando-se servos (tlatlacotin). O tlatoani,<br />
como Montezuma, era escolhido por um grupo restrito<br />
dos principais nobres.<br />
A atividade guerreira tinham grande destaque na<br />
sociedade asteca em virtude das guerras de conquista que<br />
praticavam. Os astecas possuíam grandes conhecimentos<br />
de Matemática, Astronomia, Engenharia e Arquitetura,<br />
deixando um legado riquíssimo nessas áreas do<br />
conhecimento. Um aspecto muito importante a ser<br />
observado entre os astecas é que, apesar do aumento de<br />
seu poderio, eles não dominaram toda a Mesoamérica.<br />
Havia rivalidades com outros povos e esse aspecto nos<br />
ajuda a compreender as alianças dos espanhóis com<br />
grupos indígenas que se opunham ao domínio asteca.<br />
2.3 Civilização Inca<br />
Na costa oeste da América, ao longo da cordilheira dos<br />
Andes, desenvolveu-se o Império Inca, que corresponde<br />
à parte dos atuais territórios da Bolívia e Peru, tendo<br />
atingido também o Equador, o Chile e parte da Argentina<br />
andina. Essa grande extensão territorial chegou a abrigar<br />
cerca de 15 milhões de pessoas.<br />
Os primórdios dessa civilização remontam ao século II,<br />
mas somente no século XIII ela se expandiu, a partir da<br />
região de Cuzco, nos Andes peruanos, liderada pelos<br />
imperadores do povo inca ou quíchua.<br />
212<br />
Cuzco, capital, era o centro administrativo e a cidade<br />
sagrada do império. Foi fundada em meados do século<br />
XV e lá habitaram imperadores, nobres, sacerdotes,<br />
funcionários do governo e também artesãos, camponeses,<br />
escravos e soldados. Estima-se que, em 1531, pouco<br />
antes da chegada do colonizador espanhol, a população<br />
que aí vivia era de aproximadamente 100 mil habitantes.<br />
Os incas adoravam vários deuses. Adoravam o Sol, Inti,<br />
e a Lua, Quilla, e o maior de todos eles era Virachocha, o<br />
deus criador do Sol e da Lua.<br />
Essa sociedade também era bastante estratificada, sendo<br />
dirigida por uma elite formada por nobres, sacerdotes,<br />
funcionários do governo que estavam abaixo apenas do<br />
Imperador, poder máximo político e religioso,<br />
considerado o filho do deus Sol. Nas camadas inferiores<br />
estavam os camponeses e, por último, os escravos, que<br />
geralmente eram prisioneiros de guerra.<br />
A base de sua economia também era agrícola, sendo a<br />
batata e o milho seus principais produtos. Não havia<br />
propriedade privada da terra. Mesmo vivendo na<br />
cordilheira dos Andes, com um terreno muito acidentado,<br />
com altas montanhas e picos que atingiam até 6.000<br />
metros de altura, os incas conseguiram superar as<br />
dificuldades de ocupação, construindo uma extensa e<br />
eficiente rede de estradas e pontes sobre profundos vales,<br />
além de criarem um sistema de terraços que permitia o<br />
melhor aproveitamento dos terrenos para a agricultura.<br />
Parte de sua arquitetura foi erguida com pedras<br />
encaixadas uma sobre as outras, sem nenhum tipo de<br />
argamassa para uni-las. Grande parte está até hoje<br />
preservada, como em Cuzco e na cidade de Machu<br />
Pichu, esta última ainda um grande mistério para os<br />
estudiosos. Machu Pichu está localizada no monte<br />
Huayana Pichu, próximo ao rio Urubamba, não muito<br />
distante da antiga capital inca.<br />
Não se sabe com certeza qual a função desse aglomerado<br />
urbano. Acredita-se que fosse um posto avançado de<br />
observação para proteger a cidade sagrada, como<br />
também um local com funções religiosas. Incrustada no<br />
topo da montanha, dava a seus habitantes uma visão de<br />
360º, o que lhes dava grande vantagem sobre os inimigos<br />
que, porventura, estivessem invadindo seu território.<br />
Além disso, sua localização não permite que fosse vista<br />
do sopé das montanhas que a cercam, permanecendo<br />
despercebida por aqueles que estivessem se aproximando<br />
pelo vale do rio Urumbamba. Assim, ao menor sinal de<br />
presença inimiga ao longe, os incas podiam armar suas<br />
defesas e, graças a um intrincado sistema de trilhas e
pontes suspensas que interligavam as duas cidades,<br />
chegavam a Cuzco.<br />
Os incas também sucumbiram perante o invasor espanhol<br />
que ficou maravilhado com as peças de ouro usadas para<br />
adornar os sacerdotes, bem como com as joias, estátuas e<br />
outros objetos. A destruição desse império foi facilitada<br />
por estarem em guerra civil quando da chegada dos<br />
colonizadores.<br />
3. O PROCESSO DA CONQUISTA<br />
ESPANHOLA<br />
Depois de chegarem à América, várias expedições foram<br />
organizadas no século XVI, pela Coroa Espanhola, com<br />
o intuito de reconhecer e tomar posse das terras<br />
americanas. Muitos foram os confrontos com os nativos,<br />
causando mortes e destruição, para dominar os povos que<br />
habitavam a América.<br />
A conquista da América pode ser dividida em duas<br />
etapas: a primeira, desde a chegada de Colombo até os<br />
primeiros anos do século XVI; e a segunda, a partir da<br />
conquista do México, feita por Hernán Cortez, em 1519.<br />
Na primeira etapa da conquista não foram atingidas<br />
grandes porções territoriais, nem houve contato com as<br />
sociedades que possuíam organizações políticas mais<br />
definidas, como foi o caso do segundo período, quando<br />
os espanhóis adentraram em regiões como a<br />
Mesoamérica (vale do México e parte da atual América<br />
Central) e os Andes, onde se localizavam maias, astecas<br />
e incas, respectivamente.<br />
Entre 1492 e 1507, durante os 15 primeiros anos de<br />
presença espanhola na América, a ilha Espanhola,<br />
também conhecida como ilha de São Domingos, foi o<br />
único lugar do Novo Mundo habitado por espanhóis. Ali,<br />
os colonos instituíram governo, conventos, escolas, sede<br />
episcopal e dali saíram expedições para explorar,<br />
conquistar, povoar e evangelizar outras regiões. […]<br />
Com as novas disputas internacionais, a América passava<br />
a interessar cada vez mais aos europeus. Entre os anos de<br />
1517 e 1518, partiram de Cuba duas expedições que<br />
confirmariam a existência de uma região extensa e rica a<br />
oeste da ilha. A primeira delas foi comandada por<br />
Francisco Fernandes de Córdoba e resultou na descoberta<br />
da grande cidade maia Champatón (atualmente cidade de<br />
Campeche), na Península do Iucatã (no México). O<br />
contato com os povos de idioma maia surpreendeu os<br />
espanhóis, pois nunca tinham visto tamanho grau de<br />
organização social e política, mantinham elaboradas<br />
crenças religiosas e anotavam profecias num livro<br />
chamado Chilam Balam. Grandes construções,<br />
verdadeiras cidades, comércio intenso, pirâmides, “lagos<br />
sagrados” (os cenótes) e templos religiosos faziam parte<br />
dessa paisagem. Nos campos, eram cultivados entre<br />
outros, o milho, a batata e o tomate. O consumo do cacau<br />
também era popular. Além disso, os mais detinham<br />
sofisticados conhecimentos matemáticos, tinham a noção<br />
do número zero e observavam os astros. Assim como<br />
outros povos da Mesoamérica, eram fascinados pelos<br />
mistérios do céu e sentiam-se poderosamente<br />
influenciados pelas estrelas. As estações do ano e sua<br />
interferência na agricultura, além da alternância entre o<br />
dia e a noite, a lua e o sol, também faziam com que<br />
muitos desses indígenas acreditassem que o tempo era<br />
cíclico. Achavam que os acontecimentos futuros podiam<br />
ser revelados de antemão e que o que ocorreu um dia iria<br />
se repetir no futuro. Com isso, mediram com enorme<br />
precisão os movimentos aparentes dos corpos celestes.<br />
Apesar das diferenças marcantes quanto aos modos de<br />
expressão entre os habitantes das diversas partes da<br />
península e, às vezes, mesmo de uma cidade para outra,<br />
certa unidade cultural se fez sentir dentro da área central<br />
maia, onde monumentos datados – como as pirâmides –<br />
eram construídos periodicamente. Em 1518, um ano<br />
depois da reveladora expedição de Córdoba, foi<br />
organizada armada para explorar melhor a região maia,<br />
comandada por Diego Velásquez, com cerca de duzentos<br />
espanhóis e quatro navios, sob a responsabilidade de seu<br />
sobrinho, Juan de Grijalva.<br />
[…] A expedição de Velásquez estabeleceu contatos<br />
com os índios, efetuou trocas e adquiriu ouro, objetos de<br />
algodão e plumas coloridas. Além disso, descobriu a ilha<br />
de Cozumel. Ao passar pelo rio Bandeiras, perto de São<br />
João de Ulúa, Grijalva recebeu os mensageiros de um<br />
grande senhor indígena, até então desconhecido dos<br />
espanhóis, chamado Montezuma, poderoso líder de uma<br />
grande cidade que se localizava ainda mais ao interior do<br />
continente. O soldado Bernal Dias de Castilho relatou o<br />
episódio afirmando que naquele dia os espanhóis<br />
estavam sentados debaixo de algumas árvores,<br />
descansando, quando se aproximaram cerca de trinta<br />
índios trazendo-lhes peixes assados, galinhas, frutas e<br />
pão de milho. Os mensageiros colocaram no chão uma<br />
esteira, estenderam sobre ela uma tolha e presentearam<br />
os europeus com joias de ouro e mantas, dando tudo de<br />
bom grado. Antes de partir, disseram que, em direção ao<br />
pôr do sol, ficava Tenochtitlán, um domínio bastante<br />
213
temido e poderoso. Tenochtitlán era, até então, algo<br />
totalmente desconhecido dos conquistadores. O fato de<br />
saberem que um grande senhor dominava uma vasta<br />
região indígena não dissuadiu os espanhóis. Pelo<br />
contrário, como viam o seu monarca e imperador Carlos<br />
V como o único senhor a ser temido, acreditavam que os<br />
indígenas, assim como vários povos da Europa, deveriam<br />
se tornar súditos do rei espanhol e ovelhas da Igreja<br />
Católica. O capitão Juan de Grijalva agradeceu a Deus<br />
pelo contato com os mensageiros de Montezuma, pois<br />
revelava a existência de um grande reino, rico em ouro, a<br />
ser conquistado. Para Montezuma, o “recado” enviado<br />
por ele deveria ter como consequência o fim do avanço<br />
espanhol. Para os europeus, entretanto, era apenas o<br />
começo.<br />
Fonte: MORAIS, Marcos. V. Hernán Cortez: civilizador ou genocida? São<br />
Paulo: Editora Contexto, 2011; p. 37, 43-45.<br />
3.1 A conquista sobre os astecas<br />
Entre as expedições que saíam das ilhas do Caribe em<br />
direção ao continente, uma delas, comanda por Hernán<br />
Cortez, em 1519, saiu de Cuba e desembarcou na<br />
península do Iucatã, no México. Montezuma II, ao<br />
inteirar-se do fato, mandou emissários pedindo que se<br />
retirassem de seus territórios, mas não foi atendido.<br />
O comandante espanhol fez alianças com povos<br />
descontentes com a dominação asteca e seguiu sua<br />
marcha em direção à capital dos astecas. Depois de<br />
alguns meses chegou a Tenochtitlan, prendeu<br />
Montezuma e o obrigou a reconhecer os reis da Espanha<br />
como soberanos do México, portanto, subordinando o<br />
domínio asteca à Coroa Espanhola. Com isso,<br />
Montezuma foi obrigado a abrir sua administração,<br />
inclusive documentos estratégicos e contábeis.<br />
Cortez ausentou-se por um período curto de tempo em<br />
fevereiro de 1520 e seu encarregado promoveu um<br />
grande massacre contra a nobreza asteca: cerca de 2.000<br />
pessoas morreram. A partir daí a guerra foi inevitável.<br />
Valendo-se das armas de fogo, os espanhóis travaram<br />
batalhas sangrentas contra os nativos. Cortés fechou as<br />
entradas e saídas da capital e não mandou retirar os<br />
corpos dos mortos nas batalhas da cidade, o que trouxe<br />
doenças letais aos sobreviventes e contaminou a água.<br />
Essa atitude facilitou-lhe a vitória e, em agosto de 1521,<br />
a capital estava sob controle total dos espanhóis.<br />
214<br />
Cortés imaginara um roteiro pacífico: Montezuma<br />
reconheceria sem combate a suserania do imperador<br />
Carlos e ordenaria que se pagasse tributo a ele; o<br />
conquistador todo-poderoso conseguiria fazer com que<br />
se reconhecesse sua autoridade por todo lugar,<br />
conseguiria impor suas imagens divinas – ou seja, o<br />
cristianismo - e se dedicaria a fazer um levantamento das<br />
riquezas da região. Esta é a história que Cortés deixa<br />
para a posteridade como sendo uma versão autêntica dos<br />
fatos que ele escreve em sua Segunda Carta.<br />
A partir do momento em que se tornou refém dos<br />
conquistadores, Montezuma teria aceito a maioria das<br />
exigências dos invasores. O que aconteceu na realidade?<br />
A situação que prevaleceu durante meses deveu-se<br />
muito, sem dúvida, às incompreensões acumuladas de<br />
ambas as partes. Os espanhóis devem ter interpretado a<br />
atitude de Montezuma no sentido que esperavam, e os<br />
índios devem ter se enganado sobre as exigências de uma<br />
suserania misteriosa sobre a qual desconheciam tudo (…)<br />
A superioridade tecnológica dos europeus era<br />
amplamente compensada pela superioridade numérica<br />
dos indígenas e muitos truques foram inventados para<br />
atrapalhar o deslocamento dos cavalos: os indígenas<br />
acostumaram-se a cavar fossas profundas nas quais<br />
espetavam paus em que as montarias eram empaladas.<br />
Mais tarde, em 1521, canos “encouraçadas” resistiriam<br />
às armas de fogo. A tática indígena evoluiu e adaptou-se<br />
às práticas do adversário: os mexicas, contrariamente ao<br />
costume, armaram ataques noturnos ou em terreno<br />
coberto. Por outro lado, se as epidemias de varíola já<br />
estavam dizimando as tropas de México- Tenochtitlán,<br />
também não poupavam os índios de Tlaxcala ou de<br />
Texcoco, que apoiavam os espanhóis.<br />
Fonte: BERNAND, C; GRUZINSKI, S. <strong>História</strong> do Novo Mundo. São Paulo:<br />
Edusp, 1997; p. 350-351.<br />
3.3 A conquista sobre os incas<br />
Na América andina, o espanhol Francisco Pizarro foi o<br />
grande responsável pelo domínio e conquista do Império<br />
Inca. Fascinados pelo ouro, os espanhóis tentaram<br />
dominar os nativos militarmente por duas vezes, sem<br />
sucesso. Em 1531, o Império Inca passou por disputas<br />
internas pelo seu comando que o enfraqueceram, tendo<br />
se saído vencedor Atahualpa.<br />
Foi nesse mesmo ano que uma grande expedição<br />
comandada por Pizarro dirigiu-se para a região. Quando
o comandante espanhol chegou à capital inca, Cuzco, ela<br />
estava vazia. A ordem de abandoná-la partiu de<br />
Atahualpa. Depois de negociações, o imperador<br />
concordou em encontrar-se com Pizarro.<br />
O invasor exigia que o chefe inca aceitasse a religião<br />
cristã, a supremacia do papa e do rei de Espanha sobre o<br />
território inca. Atahualpa não aceitou, foi preso e os<br />
espanhóis exigiram ouro e prata para libertá-lo.<br />
Os incas conseguiram reunir o que Pizarro exigia, mas de<br />
nada adiantou, pois os espanhóis condenaram Atahualpa<br />
à morte e ele foi executado. Em 1533, os espanhóis<br />
tomaram as cidades de Cuzco e Quito.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
Euro, etno e outros centrismos<br />
A <strong>História</strong> ocidental é bastante etnocêntrica. Revisá-la é<br />
uma forma de enxergar o que negamos e restituir o lugar<br />
da alteridade<br />
Urpi Montoya Uriarte 1/12/2012<br />
Uns fumam, outros bebem álcool, alguns ingerem<br />
infusões. Ao longo da <strong>História</strong>, diversos povos do mundo<br />
inventaram meios variados para atingir o que no<br />
Ocidente se convencionou chamar de “estados alterados<br />
de consciência”. Eles são geralmente vistos como<br />
normais pela sociedade que os provoca: os indianos têm<br />
consumido tradicionalmente a folha da cannabis sem<br />
considerá-la uma droga, assim como os habitantes da<br />
região andina plantaram e consumiram durante milhares<br />
de anos a folha da coca sem que esses atos fossem<br />
tratados como ilegais.<br />
No noroeste peruano, foram encontrados resíduos de<br />
folha de coca mastigada, datados em mais de 8.000 anos.<br />
Esse consumo se reveste de diversos sentidos para o<br />
homem andino – energético, terapêutico, religioso,<br />
identitário. Mas, de repente, o costume milenar se<br />
transforma: de “legal” passa a ser “ilegal”. E o<br />
etnocentrismo é um importante elemento dessa<br />
transformação.<br />
Em 1950, preocupadas com o crescimento, nos países<br />
ocidentais, do consumo de cocaína – um dos<br />
componentes químicos presentes naquela planta –, as<br />
Nações Unidas formaram a chamada “Comissão da<br />
Folha da Coca”, que tinha como meta a elaboração de<br />
um informe sobre a produção e o consumo de coca nos<br />
países andinos. Esse informe criou um consenso com<br />
relação à nocividade da folha da coca, e o ato de<br />
mastigá-la passou a ser enxergado como um vício<br />
indígena que precisava ser extinto. Afinal, provocava<br />
“alterações psíquicas”, “introspecção”, “prostração<br />
moral”, “escassa capacidade de atenção”, e, portanto,<br />
“grande prejuízo econômico”. O documento serviu de<br />
sustentação para a Convenção Única de Estupefacientes,<br />
assinada em 1961, que normatizou, entre os países<br />
assinantes, a erradicação do cultivo da coca e do hábito<br />
de mastigação num prazo de 25 anos.<br />
O etnocentrismo daquela Comissão se manifestou<br />
num pequeno detalhe: a população que fazia uso da<br />
planta havia milênios sequer foi consultada. Todos os<br />
supostos efeitos da coca sobre o corpo e a mente foram<br />
avaliados a partir de uma série de prejulgamentos e<br />
especulações dos membros da Comissão, todos educados<br />
numa cultura alheia aos andinos e distante deles. Sempre<br />
que nos deparamos com costumes diferentes e os<br />
interpretamos a partir da nossa própria cultura, estamos<br />
cometendo um ato etnocêntrico.<br />
O gravíssimo problema do etnocentrismo é que ele<br />
não nos permite enxergar a lógica, as razões ou as<br />
motivações daquele que é diferente de nós, simplesmente<br />
porque não admitimos conceder-lhe a palavra, achando<br />
que bastam a nossa opinião, impressão ou julgamento.<br />
Um exemplo claro é o surgimento do nome Yucatán para<br />
designar a península do México, no século XVI. Os<br />
conquistadores perguntaram aos nativos, em língua<br />
espanhola, como se chamava aquele lugar em que tinham<br />
acabado de desembarcar. Os nativos, em sua própria<br />
língua, responderam algo que os espanhóis entenderam<br />
por “Yucatán”. E assim batizaram o local. Na verdade,<br />
o que os nativos disseram foi: “Não te entendo”. Para os<br />
colonizadores, qualquer resposta serviria, e, graças<br />
àquela incompreensão básica, o nome erroneamente dado<br />
por eles é até hoje um monumento ao etnocentrismo:<br />
“Não te entendo”.<br />
Para o etnocentrismo, tudo o que é diferente se torna<br />
inferior, feio, ridículo, injusto, cruel, selvagem ou<br />
irracional. Ao julgar as distinções de forma negativa, o<br />
etnocêntrico passa a querer modificar os costumes ou<br />
crenças diferentes, em nome da superioridade dos seus<br />
próprios costumes ou crenças. Dito de outra forma: ser<br />
etnocêntrico é acreditar que só existe uma verdade (a<br />
nossa) e uma beleza (a nossa), assim como também só<br />
existem a nossa justiça e a nossa racionalidade. Em O<br />
que é etnocentrismo, o antropólogo Everardo Rocha<br />
escreve: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o<br />
nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e<br />
215
todos os outros são pensados e sentidos através dos<br />
nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que<br />
é a existência”.<br />
Todos os povos do mundo tendem a ser<br />
etnocêntricos. Os cheyenes (índios das planícies norteamericanas)<br />
se autodenominavam “os entes humanos”;<br />
os akuáwas, grupo tupi do sul do Pará, consideram-se “os<br />
homens”; os navajos, grupo indígena norte-americano,<br />
também se intitulavam “o povo”; os xavantes acreditam<br />
que seu território tribal está situado bem no centro do<br />
mundo, tanto quanto os incas dos Andes peruanos<br />
achavam que sua capital, Q’osqo (ou Cuzco, como foi<br />
pronunciada a palavra pelos conquistadores espanhóis),<br />
era o “umbigo do mundo”.<br />
Por que tendemos ao etnocentrismo? Na medida em<br />
que todos os indivíduos são educados em uma cultura, e<br />
que toda cultura distingue o bem do mal, o feio do<br />
bonito, o certo do errado, é natural sermos etnocêntricos<br />
quando deparamos com outros povos. Mas há diversos<br />
graus de etnocentrismo. Alguns povos simplesmente<br />
menosprezam quem é diferente e dele quer se afastar.<br />
Outros, além de menosprezar, acham que têm o dever de<br />
transformá-lo, e chamam isso de “civilizar” ou<br />
“evangelizar”. E há aqueles que vão ainda mais longe:<br />
menosprezam e não acreditam que seja possível<br />
transformar quem é diferente. Ele deve ser eliminado.<br />
Durante a Idade Média – após a queda do Império<br />
Romano e com o fechamento do Mediterrâneo pela<br />
expansão islâmica nos territórios que o margeiam –, a<br />
Europa se encerrou em si mesma, trazendo como<br />
resultado uma nova forma de conceber o Outro. Sem<br />
possibilidades de conhecer esse Outro, os europeus<br />
passam a imaginá-lo, mas sempre de forma deturpada,<br />
“anormal”. Surgem, assim, as imagens dos povos de<br />
gigantes, pigmeus, amazonas, canibais, entre outros.<br />
Com a expansão das navegações nos séculos XV e<br />
XVI, os europeus acabaram se defrontando com um<br />
continente até então desconhecido para eles: a América.<br />
Pensando inicialmente que tinham desembarcado nas<br />
Índias, chamaram os nativos de “índios”. E mesmo tendo<br />
percebido logo que não estavam nas Índias, isso não os<br />
impediu de continuar chamando os que aqui moravam<br />
com esse nome imposto e equivocado, “índios”.<br />
Quanto etnocentrismo por trás de denominações<br />
generalizantes que uns acham que podem impor aos<br />
outros! Tupis, Chibchas, Cheyenes, Astecas, Incas,<br />
Mapuches, Maias, Dakotas, Sioux, Inuits e tantos<br />
milhares de outros povos foram todos colocados numa<br />
216<br />
única categoria porque não interessava ao europeu<br />
conhecer suas particularidades ou singularidades.<br />
Conhecer o Outro não estava entre as prioridades do<br />
europeu conquistador. Ver e tratar alguém como inferior<br />
autorizou os europeus a nomear (mudando os nomes que<br />
os povos davam a si mesmos), excluir, conquistar,<br />
dominar, matar, sempre em nome de sua suposta<br />
superioridade cultural e religiosa.<br />
Ao não se permitirem perguntar, escutar e dialogar,<br />
os etnocêntricos se veem privados de aprender sobre os<br />
povos diferentes, e, assim, aprender sobre si mesmos. Ao<br />
ver no Outro apenas um “índio”, os europeus dos séculos<br />
XVI e XVII não acharam necessário perguntar, por<br />
exemplo, o que era aquela série de canais subterrâneos,<br />
para que servia, como funcionava. Simplesmente<br />
deixaram o assunto pra lá – porque era “coisa de índio” –<br />
, enquanto se enchiam de pó, terra e lama durante<br />
séculos. Hoje, sabemos que esses canais foram<br />
construídos pelos incas com uma altíssima tecnologia<br />
hidráulica, para irrigar locais onde agora há apenas<br />
desertos (a estreita franja litorânea do Peru atual).<br />
Lamentavelmente, não temos mais a quem perguntar<br />
como é que eles conseguiam juntar água (e de onde) para<br />
fazê-la passar por esses canais. O etnocentrismo passado<br />
alimenta nossa ignorância no presente.<br />
Urpi Montoya Uriarteé professora de Antropologia da Universidade Federal da<br />
Bahia e autora de Entre fronteras: convivencia multicultural, Lima, siglo XX.<br />
Sur/Concytec, 2002).<br />
1. (Ufpel)<br />
EXERCÍCIOS
De acordo com o mapa, os povos que viviam nas regiões<br />
identificadas pelas letras "A", "B" e "C", são,<br />
respectivamente,<br />
a) astecas, incas e maias.<br />
b) incas, maias e astecas.<br />
c) astecas, maias e incas.<br />
d) maias, astecas e incas.<br />
e) maias, incas e astecas.<br />
2. (UFES) "Quando as embarcações de Colombo<br />
aportaram na América, de fato não a descobriram , pois<br />
muita gente já vivia em nosso continente. O que de fato<br />
ocorreu foi a integração da América ao continente<br />
europeu, ou, mais exatamente, à sociedade mercantil. Há<br />
quem pense que essa integração foi um favor que os<br />
europeus civilizados prestaram aos indígenas bárbaros.<br />
Isto não é verdade. As sociedades nativas eram<br />
socialmente muito complexas e desenvolvidas e sua<br />
incorporação teve custos humanos imensos, graças a<br />
massacres cruéis perpetrados pelos cristãos civilizados<br />
da Europa."<br />
(PINSKY, J. et al. "<strong>História</strong> da América através de textos". São Paulo: Contexto,<br />
1991, p. 11)<br />
Acerca das "Altas Culturas" pré-colombianas, NÃO é<br />
correto afirmar que<br />
a) os maias e os astecas situavam-se na região<br />
denominada Meso-América (México e América<br />
Central), ao passo que os incas ocupavam a Zona<br />
Andina.<br />
b) a economia era basicamente agrária, com destaque<br />
para a produção do milho, e se utilizavam técnicas<br />
elaboradas de irrigação, a exemplo dos chinampas<br />
astecas e dos canais incas.<br />
c) a utilização da escrita pelos governantes representou<br />
um notável impulso à centralização do poder, como<br />
comprovam as listas reais incaicas, grafadas no<br />
dialeto andino "quipu", e os tratados políticos maias<br />
e astecas.<br />
d) a estrutura social era de tipo classista, com a<br />
existência de uma elite composta por militares,<br />
sacerdotes e altos funcionários, que tributava as<br />
comunidades aldeãs, sob a forma de trabalho<br />
compulsório ou de produtos.<br />
e) a política e a religião se encontravam intimamente<br />
unidas, razão pela qual a monarquia se revestia de<br />
um caráter sagrado, a exemplo da eleição do<br />
Tlatoani asteca, realizada sob inspiração divina, e do<br />
título de Filho do Sol, atribuído ao soberano inca.<br />
3. (Fatec) Considere as afirmações:<br />
I. Os incas constituíam um vasto império, integrado por<br />
povos de diferentes culturas, localizados nas mais<br />
variadas regiões que se estendiam em faixas paralelas à<br />
cordilheira dos Andes.<br />
II. Entre os astecas, a ausência de chuvas combinada<br />
com um clima quente e úmido permitia o<br />
desenvolvimento em grande escala da agricultura.<br />
III. Os monumentos maias eram tão imponentes que<br />
custava a muitos estudiosos acreditar que tivessem sido<br />
obra dos índios americanos.<br />
IV. Uma construção notável dos índios norte-americanos<br />
foi a cidade fortificada de Machu Picchu, a cerca de<br />
600km de Cuzco.<br />
Sobre as asserções anteriores deve-se afirmar que estão<br />
corretas apenas<br />
a) I e II.<br />
b) I e III.<br />
c) II e III.<br />
d) I e IV.<br />
e) III e IV.<br />
4. (Cesgranrio) Os "índios" encontrados pelos espanhóis<br />
ao "descobrirem" a América formavam um contingente<br />
numeroso com características culturais variadas, tais<br />
como:<br />
I - a maioria era constituída de grupos tribais em estágios<br />
diversos de desenvolvimento - nômades ou sedentários;<br />
II - Astecas e Incas constituíam verdadeiras civilizações,<br />
com estruturas políticas e sociais complexas;<br />
III - no caso dos Maias, a sedentarizarão possibilitou a<br />
constituição de uma sociedade agrícola e o surgimento<br />
de cidades;<br />
IV - predominavam as comunidades de guerreiros, que<br />
dividiam com os sacerdotes a posse das melhores terras.<br />
217
Assinale se estão corretas apenas:<br />
a) I e II<br />
b) II e III<br />
c) I e IV<br />
d) I, II e III<br />
e) I, III e IV<br />
5. (Ufscar) Observe as imagens, que pertencem ao<br />
manuscrito de um cronista inca, "Guaman Poma de<br />
Ayala" (1526-1614).<br />
I. Na civilização asteca, a escravização dos prisioneiros<br />
de guerra era comum.<br />
II. Entre os incas, o trabalho dominante baseava-se na<br />
escravidão dos agricultores.<br />
III. Na civilização inca, as atividades mineradoras<br />
constituíram a base da economia.<br />
IV. Entre os astecas, a monarquia teocrática e militar<br />
predominava na organização política.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Somente I é verdadeira.<br />
b) Somente I e II são verdadeiras.<br />
c) Somente II e III são verdadeiras.<br />
d) Somente I e IV são verdadeiras.<br />
e) Somente III e IV são verdadeiras.<br />
7. (UNICAMP)<br />
Leia as afirmações seguintes, a respeito dos incas.<br />
I. Praticavam a agricultura da batata.<br />
II. Utilizavam arado de tração animal.<br />
III. Homens e mulheres trabalhavam nas atividades<br />
agrícolas.<br />
IV. Tinham calendário agrícola, respeitando épocas de<br />
plantar e colher.<br />
V. Tinham uma escrita própria, desenvolvida desde o<br />
século XIV.<br />
Estão corretas as afirmações:<br />
a) I, II e III, apenas.<br />
b) I, III e IV, apenas.<br />
c) II, IV e V, apenas.<br />
d) I, III, IV e V, apenas.<br />
e) I, II, III, IV e V.<br />
6. (UFPI) Quando da chegada do colonizador europeu,<br />
as civilizações ameríndias apresentavam as seguintes<br />
características:<br />
Arquivo: Murais Rivera - Markt em Tlatelolco 3.jpg Tenochtitlán - Mural de<br />
Diego Rivera.<br />
a) A respeito dos Astecas, comente as características<br />
urbanas de Tenochtitlán.<br />
b) Por que foi fundamental para os espanhóis construir a<br />
cidade do México sobre Tenochtitlán?<br />
8. "Os guerreiros constituíam um dos grupos mais<br />
importantes na sociedade asteca. No início, eram<br />
escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e valentes<br />
do povo. Com o tempo, entretanto, a função de guerreiro<br />
começou a ser passada de pai para filho, e apenas<br />
algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o direito de<br />
ter guerreiros entre os seus membros."<br />
(KARNAL, Leandro. A CONQUISTA DO MÉXICO. São Paulo: FTD, 1996. p.<br />
13.)<br />
218
O texto faz referência à sociedade asteca, no século XV,<br />
a qual era:<br />
a) guerreira e sacerdotal, formada de uma elite política<br />
que governava com tirania a massa de trabalhadores<br />
escravos negros.<br />
b) igualitária e guerreira, não reconhecendo outra<br />
autoridade senão a sacerdotal, que também era<br />
guerreira.<br />
c) comunal, com estruturas complexas, sendo dirigida<br />
por um Estado que contava com um aparelho<br />
administrativo, judiciário e militar.<br />
d) hierarquizada e guerreira, visto que o Imperador era,<br />
ao mesmo tempo, o general do exército asteca e o<br />
sumo pontífice sacerdotal.<br />
e) igualitária, guerreira e sacerdotal: todo guerreiro era<br />
um sacerdote e todo sacerdote era um guerreiro.<br />
9. (G1) Leia o trecho abaixo.<br />
Uma das civilizações mais brilhantes que se desenvolveu<br />
na América, anteriormente à conquista espanhola, foi a<br />
dos maias, que floresceu e encontrou seu declínio entre<br />
os séculos IV e XVI. À época da chegada dos espanhóis,<br />
esta civilização já apresentava evidentes sinais de<br />
decadência, tendo sido completamente arrasada no início<br />
do século XVI.<br />
FLÁVIO, Ricardo e Adhemar. <strong>História</strong> e Companhia. p.106<br />
Sobre a civilização maia, é INCORRETO afirmar:<br />
a) Os maias organizavam-se em cidades–Estado como<br />
Palenque e Tical.<br />
b) A chegada dos espanhóis levou a civilização maia à<br />
decadência.<br />
c) A sociedade maia era estamental e rigidamente<br />
estratificada.<br />
d) A civilização maia se desenvolveu na Península<br />
deYucatan.<br />
propriedades do imperador. Na aldeia, o curaca<br />
centralizava poder e riqueza, impondo o trabalho<br />
forçado.<br />
VICENTINO, Cláudio. <strong>História</strong> Integrada – 6ª série, Editora Scipione, São<br />
Paulo,1996, p. 64,65.<br />
Marque a única alternativa CORRETA sobre os incas:<br />
a) O território que compreendia o Império Inca era uma<br />
extensa faixa de terra banhada pelo Oceano<br />
Atlântico.<br />
b) O imperador – o Sapa Inca– tinha poderes limitados,<br />
já que os sacerdotes eram os verdadeiros detentores<br />
do poder.<br />
c) Os curacas eram os escravos que trabalhavam<br />
nosayllus e, nas obras públicas geralmente<br />
prisioneiros de guerra.<br />
d) Os incas foram os únicos entre os povos précolombianos<br />
que praticavam a domesticação e a<br />
criação de animais.<br />
11. (G1) Quando os europeus chegaram à América, as<br />
terras já eram ocupadas por povos que possuíam<br />
diferentes culturas e diversas formas de organização<br />
econômica e social, grande diversidade de língua,<br />
religião e costumes. Entre outros, os astecas, os incas e<br />
os maias: os chamados povos pré-colombianos.<br />
Sobre essas civilizações podemos afirmar:<br />
a) A sociedade inca, além de ser rigidamente<br />
estratificada, possuía um caráter estamental.<br />
b) Diferentemente dos astecas e dos incas, a sociedade<br />
maia não desenvolveu a escravidão.<br />
c) Os incas eram regidos por um conselho hereditário,<br />
formado por imperadores magistrados.<br />
d) A nobreza Inca era constituída por elementos de<br />
confiança do imperador, que exerciam cargos de<br />
governantes, chefes militares, sacerdotes e juízes.<br />
10. (G1) Leia o trecho abaixo.<br />
Foi na região peruana de Cuzco, mais ao sul, que uma<br />
reunião de povos, por volta de 1200, deu início a uma<br />
civilização sob o domínio quíchua ou inca. No Império<br />
Inca estabeleceu-se um poder político em que o<br />
imperador passou a ser considerado um semi deus pelos<br />
súditos (era o “filho do Sol”). (...) Na base da sociedade<br />
estava a aldeia, chamada de ayllu,comandada por um<br />
curaca, encarregado de distribuir as terras, consideradas<br />
12. (UFSM) Analise as afirmações sobre as sociedades<br />
americanas:<br />
I. Os povos americanos, durante milhares de anos antes<br />
da chegada dos europeus, ocuparam a grande variedade<br />
dos ecossistemas do continente, desenvolvendo uma<br />
multiplicidade de culturas com as especificidades<br />
próprias da sua adaptação ao meio ambiente.<br />
II. Astecas e Incas, na medida em que aproveitaram e<br />
aprimoraram o legado das inúmeras culturas que os<br />
219
precederam nos ecossistemas da Mesoamérica e América<br />
Andina, puderam desenvolver civilizações sofisticadas<br />
com alto índice de urbanização.<br />
III. A exploração exaustiva dos recursos naturais, como<br />
a devastação das florestas para a extração da madeira<br />
usada na construção e ampliação dos templos religiosos,<br />
provocou significativas mudanças ambientais que<br />
contribuíram para acelerar o declínio da civilização<br />
Maia.<br />
IV. É possível encontrar, na história da América<br />
portuguesa, registros da ocorrência de alianças entre<br />
índios e negros que resistiram à escravidão e construíram<br />
alternativas à sociedade e à economia coloniais, como os<br />
quilombos, núcleos com ampla adaptação a regiões<br />
isoladas e mais seguras no interior, dotados de uma<br />
produção mais diversificada e uma sociedade mais<br />
horizontal que a da casa grande e da senzala.<br />
Estão corretas<br />
a) apenas I e II.<br />
b) apenas I e III.<br />
c) apenas II e IV.<br />
d) apenas III e IV.<br />
e) I, II, III e IV.<br />
13. (UNESP 2010) Observe o mapa.<br />
220<br />
A região que aparece no mapa corresponde ao território<br />
que os Incas dominaram por alguns séculos antes da<br />
chegada dos espanhóis ao continente americano. Esse<br />
povo ficou conhecido por saber aproveitar todos os<br />
recursos naturais, inclusive de áreas distantes ou de<br />
condições climáticas não muito favoráveis à agricultura.<br />
A forma como esse povo conseguiu lidar com a natureza,<br />
extraindo dela os recursos naturais necessários ao seu<br />
abastecimento está relacionada com<br />
a) o uso de avançados instrumentos de ferro na<br />
agricultura e de animais de tração para auxiliar nas<br />
atividades de plantio e colheita.<br />
b) o conhecimento dos mais variados pisos ecológicos,<br />
onde podiam caçar, pescar e coletar pequenos frutos<br />
silvestres, visto que desconheciam a agricultura.<br />
c) a sabedoria xamânica sobre astronomia, técnicas<br />
hidráulicas e fertilização química de solos, que lhes<br />
permitia alcançar grande produção agrícola.<br />
d) o domínio de irrigação, conhecimento dos solos e da<br />
hibridização de sementes e técnica de construção de<br />
degraus para plantio nas encostas da Cordilheira dos<br />
Andes.<br />
e) a perfeita relação do homem com a natureza, que<br />
permitia a produção abundante de alimentos sem<br />
grande participação de mão de obra humana.<br />
14. (ENEM 2010) O Império Inca, que corresponde<br />
principalmente aos territórios da Bolívia e do Peru,<br />
chegou a englobar enorme contingente populacional.<br />
Cuzco, a cidade sagrada, era o centro administrativo,<br />
com uma sociedade fortemente estratificada e composta<br />
por imperadores, nobres, sacerdotes, funcionários do<br />
governo, artesãos, camponeses, escravos e soldados. A<br />
religião contava com vários deuses, e a base da economia<br />
era a agricultura. principalmente o cultivo da batata e do<br />
milho.<br />
A principal característica da sociedade inca era a<br />
a) ditadura teocrática, que igualava a todos.<br />
b) existência da igualdade social e da coletivização da<br />
terra.<br />
c) estrutura social desigual compensada pela<br />
coletivização de todos os bens.<br />
d) existência de mobilidade social, o que levou à<br />
composição da elite pelo mérito.<br />
e) impossibilidade de se mudar de extrato social e a<br />
existência de uma aristocracia hereditária.
15. (FGV 2009) "(...) a religião desempenhava papel<br />
central nas relações entre o Estado e a sociedade. A<br />
guerra era sagrada, pois através dela se obtinham<br />
escravos para o sacrifício humano, elemento central na<br />
ligação entre a comunidade e o Estado. (...) reinavam<br />
sobre um império aberto a dois oceanos (...) Em 1519<br />
(...), com cerca de 5 milhões de habitantes, era a maior<br />
concentração urbana do mundo".<br />
(Flavio de Campos e Renan Garcia Miranda, Oficina de <strong>História</strong> - <strong>História</strong><br />
integrada)<br />
O texto apresenta características dos:<br />
a) tupis.<br />
b) incas.<br />
c) maias.<br />
d) mexicas<br />
e) araucanos<br />
16. (UEL 2009) Os astecas sacrificavam prisioneiros de<br />
guerra para alimentar seus deuses. O capturado tinha seu<br />
coração arrancado, era decapitado e tinha seu sangue<br />
bebido pelo captor que, depois, levava o corpo para casa,<br />
esfolava-o, comia-o com milho e vestia sua pele.<br />
c) Um grande número de sacrifícios representava um<br />
reforço do abastecimento alimentar, evitando a<br />
carestia<br />
d) O captor do prisioneiro se vingava do inimigo,<br />
comendo suas carnes e vestindo sua pele.<br />
e) Os deuses exigiam oferendas do bem mais precioso<br />
que os homens possuíam, a vida, para que o mundo<br />
fosse preservado.<br />
17. (PITÁGORAS) Leia o trecho, escrito por um<br />
espanhol, que descreve aspectos da vida cotidiana dos<br />
astecas.<br />
[...] "Quando lá chegamos, ficamos atônitos com a<br />
multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim<br />
como a vasta quantidade de mercadorias... Cada espécie<br />
tinha seu lugar particular que era distinguido por um<br />
sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias,<br />
plumas, mantas, chocolate, peles curtidas ou não,<br />
sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta,<br />
grande número de escravos homens e mulheres, muitos<br />
dos quais estavam atados pelo pescoço, com<br />
gargalheiras, a longos paus. O mercado de carne vendia<br />
aves domésticas, caça e cachorros. Vegetais, frutas,<br />
comida preparada, sal, pão, mel e massas doces, feitas de<br />
várias maneiras, eram também lá vendidas. [...] Muitas<br />
mulheres vendiam peixes em pequenos 'pães' feitos de<br />
uma determinada argila especial que eles achavam no<br />
lago e que se assemelhavam ao queijo".<br />
In: PINSKY, Jaime. "<strong>História</strong> da América através de textos". São Paulo,<br />
Contexto. 2004.<br />
Através do documento<br />
É correto afirmar que estes rituais no mundo dos astecas<br />
eram de ordem simbólica, uma vez que:<br />
a) Os vencidos deveriam pagar um tributo de sangue<br />
aos astecas, que viam a si próprios como deuses.<br />
b) Os sacerdotes astecas exigiam oferendas de sangue<br />
para que não faltasse alimento em seus templos.<br />
a) são citadas diversas riquezas coloniais oriundas da<br />
América Central que foram exploradas pela<br />
metrópole portuguesa.<br />
b) é percebida uma das motivações do expansionismo e<br />
da exploração mercantilista ibérica: o metalismo.<br />
c) são indicados diversos produtos que equilibraram a<br />
balança de comércio entre a Coroa espanhola e suas<br />
colônias na América.<br />
d) é constatada a necessidade espanhola de importação<br />
de mão-de-obra escrava para suas manufaturas<br />
frente à concorrência americana.<br />
e) são demonstrados os benefícios gerados pela<br />
administração hispânica na América Central,<br />
iniciada logo após a viagem de Colombo.<br />
221
18. (PITÁGORAS) Observe a imagem a seguir e o texto<br />
que a acompanha abaixo.<br />
Guatemala. O nome de seu soberano Motecuhzoma era<br />
venerado ou temido de uma ponta a outra daquele vasto<br />
território. Seus comerciantes com suas caravanas de<br />
carregadores percorriam o país em todos os sentidos. [...]<br />
Em Tenochtitlán (México), sua capital, a arquitetura e a<br />
escultura haviam alcançado um impulso extraordinário,<br />
enquanto o luxo crescia no vestuário, à mesa, nos jardins<br />
e na ourivesaria."<br />
SOUSTELLE, J. A civilização asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987: 7.<br />
São características da civilização asteca, exceto:<br />
222<br />
A chegada dos espanhóis na América. Theodore de Bry, 1594.<br />
www.novahistorianet.<br />
O testemunho de Bartolomeu de las Casas<br />
Hoje temos conhecimento das atrocidades cometidas<br />
pelos espanhóis contra os povos nativos da América<br />
através de relatos como o do frei Bartolomeu de las<br />
Casas (1474-1566):<br />
“Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos,<br />
pela tirania e diabólicas ações dos espanhóis, morreram<br />
injustamente mais de 12 milhões de pessoas, homens,<br />
mulheres e crianças; e verdadeiramente eu creio, e penso<br />
não ser absolutamente exagerado, que morreram mais de<br />
15 milhões...<br />
A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade<br />
de almas foi unicamente não terem outra finalidade<br />
ultima senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo;<br />
enfim, não foi senão pela avareza que causou a perda<br />
desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos<br />
foram tão fáceis de subjugar.”<br />
(LAS CASAS, Bartolomeu de. Brevíssima relação da destruição das Índias: o<br />
paraíso destruído, 1552.)<br />
CITE e EXPLIQUE dois motivos que os Espanhóis<br />
tinham para realizar tantas barbaridades na América<br />
Espanhola.<br />
19. (UFES) "Os astecas (azteca) ou mexicanos (mexica)<br />
dominavam com esplendor a maior parte do México<br />
quando os conquistadores espanhóis ali chegaram, em<br />
1519. Sua língua e sua religião tinham-se imposto sobre<br />
imensas extensões de terra desde o Atlântico até o<br />
Pacífico e das regiões áridas setentrionais até a<br />
a) A unidade social básica era o calpulli, comunidade<br />
residencial com direitos comuns sobre a terra e uma<br />
organização interna de tipo administrativo,<br />
judiciário, militar e fiscal.<br />
b) Tenochtitlán, a capital asteca, segundo a tradição,<br />
fundada em 1325, era o centro de um comércio de<br />
longa distância e pólo de atração para artesãos e<br />
vendedores, tendo-se convertido em uma das<br />
maiores cidades do mundo a expansão do poderio<br />
asteca.<br />
c) A economia era de base agrícola e fundamentada na<br />
cultura do milho e do feijão, sendo o cultivo por<br />
chinampas (pequenas ilhas artificiais construídas<br />
mediante o acúmulo de lama e plantas aquáticas<br />
junto às margens pantanosas dos lagos), a técnica<br />
mais inovadora empregada na agricultura irrigada.<br />
d) A sociedade asteca era dominada por uma dupla<br />
hierarquia: a dos dignitários (indivíduos investidos<br />
de altas funções militares ou civis) e a dos<br />
sacerdotes, sendo que no ápice encontramos o rei<br />
(Huey Tlatoani), cujo cargo era eletivo.<br />
e) A monarquia asteca, embora possuísse origem<br />
divina, era constantemente desafiada pela população<br />
rural por conta da sobrecarga de tributos exigidos,<br />
razão pela qual, quando da chegada de Cortez ao<br />
México, Tenochtitlán era palco de uma violenta<br />
guerra civil liderada por camponeses dos distritos<br />
vizinhos.<br />
20. (UFRJ) A civilização asteca tinha por centro a região<br />
que hoje corresponde:<br />
a) ao México;<br />
b) ao Caribe;<br />
c) ao litoral pacífico dos EUA;<br />
d) ao Peru;<br />
e) à Venezuela.
21. (RICAFONTE) RELACIONE corretamente os<br />
termos apresentados na coluna da direita com os povos<br />
pré-colombianos citados na coluna da esquerda.<br />
(1) Civilização MAIA<br />
(2) Civilização ASTECA<br />
(3) Civilização INCA<br />
( ) A fundação de Tenochtitlán sobre uma das ilhas do<br />
Lago Texcoco deu início a um império que se impôs<br />
militarmente sobre todos os povos que habitavam a<br />
região.<br />
( ) A mita era o recrutamento entre os elementos da<br />
aldeia para trabalho temporário na construção, de obras<br />
como pontes, estradas, templos e canais de irrigação.<br />
( ) Essa civilização desenvolveu, na Matemática, a<br />
criação de um sistema estabelecendo um símbolo para o<br />
zero e elaborou um sistema de escrita que infelizmente<br />
ainda não foi decifrado completamente.<br />
( ) O comércio funcionava através do sistema de<br />
escambo, ou seja, troca de mercadorias e alguns<br />
produtos, por serem mais valorizados como pedras<br />
preciosas ou favas de cacau, podiam ser utilizados como<br />
moedas.<br />
( ) Apesar de não possuírem um sistema de escrita,<br />
criaram um sistema de numeração decimal chamado<br />
quipu, desenvolvido a partir de cordões com diferentes<br />
nós presos a um cordão principal.<br />
A ordem CORRETA é:<br />
a) 2, 3, 1, 2, 3<br />
b) 2, 1, 3, 1, 2<br />
c) 1, 2, 2, 3, 1<br />
23. (RICAFONTE) Leia o texto a seguir.<br />
O sacrifício humano é um dos pilares da religião e da<br />
sociedade asteca. (...) A sua dimensão é verificada pela<br />
existência de diversos templos construídos para sua<br />
prática, e pela estrita regulamentação, que exige<br />
sacerdotes especializados. É preciso poupar as vítimas de<br />
um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />
Entre as modalidades de sacrifício, a mais comum é a<br />
morte florida, quando a vítima, vestida com uma tanga<br />
de papel branco, é pintada com giz, e depois, levada ao<br />
cume do templo, onde lhe arrancam o coração. O mais<br />
espetacular deles, entretanto, é o sacrifício dos<br />
gladiadores (...) O cativo é amarrado a uma corda que<br />
limita seus movimentos. Ele deve se esquivar do golpe<br />
dos guerreiros. Ao primeiro ferimento, é sacrificado.<br />
AUTOR. <strong>História</strong> Viva. Duetto Editorial, nº 6, Abril 2004. p.80<br />
a) COPIE do texto o trecho que mostra que com<br />
sacrifício não era um inimigo que se eliminava, mas um<br />
mensageiro que se enviava aos deuses para alimentá-los.<br />
b) RESPONDA: Por que os astecas promoviam os<br />
sacrifícios humanos?<br />
24. (RICAFONTE) A civilização maia se desenvolveu<br />
na América Central, numa região onde estão hoje o sul<br />
do México, a Guatemala, El Salvador, Belize e Honduras<br />
(veja o mapa). Os maias não formaram um império. A<br />
maioria deles vivia em aldeias nômades independentes.<br />
d) 3, 2, 1, 1, 3<br />
22. (RICAFONTE) Os guerreiros constituíam um dos<br />
grupos mais importantes na sociedade asteca. No início,<br />
eram escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e<br />
valentes do povo. Com o tempo, entretanto, a função de<br />
guerreiro começou a ser passada de pai para filho, e<br />
apenas algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o<br />
direito de ter guerreiros entre os seus membros."<br />
(KARNAL, Leandro. A Conquista do México. São Paulo: FTD, 1996. p. 13)<br />
fonte:http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/0702420.jpg<br />
A partir da leitura do trecho acima, EXPLIQUE a<br />
estrutura da sociedade asteca, no século XV, a qual era:<br />
CARACTERIZE a civilização Maia nos aspectos<br />
econômico, política e cultural.<br />
223
25. (RICAFONTE) A conquista da América<br />
aprofundou as transformações que vinham ocorrendo na<br />
vida européia desde antes de 1492 e gerou novas<br />
mudanças.<br />
EXPLIQUE a afirmativa acima utilizando dois (2)<br />
argumentos históricos.<br />
CITE pelo menos duas (02) semelhanças entre os povos<br />
astecas, incas e maias.<br />
28. (RICAFONTE) Veja o organograma que apresenta a<br />
sociedade INCA:<br />
26. (RICAFONTE) O texto abaixo é um discurso<br />
dirigido a um imperador asteca durante a cerimônia de<br />
sua posse. Leia-o com atenção.<br />
Discurso feito a um imperador asteca<br />
224<br />
Senhor, (...) és tu agora que vais levar o peso, o encargo<br />
deste Estado! Tu vais pôr sobre as tuas costas o pesado<br />
fardo do governo. O nosso deus depõe nos teus ombros,<br />
no teu seio e nos teus braços o cuidado de governar o<br />
povo, que é instável e pronto à cólera. És tu senhor que,<br />
durante alguns anos, vais sustentar este povo e cuidar<br />
dele como uma criança no berço... Pensa, senhor, que a<br />
partir de agora vais caminhar num cume muito alto, num<br />
caminho muito estreito, ladeado à direita e à esquerda<br />
por abismos profundos... Sê moderado no exercício do<br />
teu poder, não mostres os dentes nem as garras... Alegra<br />
e diverte o povo com jogos e passatempos honestos, pois<br />
assim serás célebre e amado... Teu povo está ao abrigo<br />
sob tua sombra, pois tu és como o pochotl ou o<br />
ahuehuetl, que dá uma sombra imensa e redonda, e as<br />
multidões são protegidas pelos teus ramos.<br />
(SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas às vésperas da conquista<br />
espanhola. p. 288. Adaptado)<br />
O GOVERNO ASTECA É TEOCRÁTICO.<br />
a) JUSTIFIQUE com uma passagem do texto a<br />
afirmativa acima.<br />
b) TRANSCREVA a passagem do texto onde é dado um<br />
ensinamento ao imperador.<br />
27. (RICAFONTE) Leia o trecho a seguir:<br />
“Assim como os demais habitantes das Américas na<br />
época do “descobrimento”, os incas, maias e astecas<br />
foram, de forma geral, chamados de índios pelos<br />
europeus. No entanto, apesar de muitas diferenças, havia<br />
semelhanças entre esses povos.”<br />
http://cienciahoje.uol.com.br<br />
A partir do que foi apresentado, elabore um parágrafo<br />
corretamente estruturado sobre essa sociedade,<br />
destacando possíveis semelhanças com a sociedade<br />
brasileira atual.<br />
29. (RICAFONTE) Leia o texto abaixo e responda às<br />
questões.<br />
OS MAIAS NO SÉCULO XXI<br />
Indígenas e camponeses<br />
O idioma dos maias, cujas raízes têm três mil anos, e as<br />
línguas derivadas (quiché, cakchiquel, tztzal, entre<br />
outras), são falados por muitos habitantes do sul do<br />
México, Guatemala, Honduras e Belize. Destacam-se os<br />
habitantes da selva Lacandona em Chiapas e Guatemala,<br />
que conservam as tradições culturais e resistem à<br />
influência do mundo ocidental. Os homens cultivam os<br />
prédios familiares, mantêm as redes comerciais de longa<br />
distância e as mulheres continuam tecendo seus trajes<br />
típicos com elaborados desenhos de brocado, produzindo<br />
utensílios de barro para o uso doméstico e a venda<br />
turística. Os camponeses maias ainda rendem culto às<br />
suas divindades, apesar de que muitos já não são<br />
realizados, ou mudaram. A religiosidade popular<br />
incorpora formas mestiças e elementos provenientes do<br />
cristianismo. A palavra e a oração cotidiana mantêm sua
importância na comunicação com o mundo sobrenatural.<br />
Na sua economia de subsistência, eles respeitam a<br />
natureza e a preservação do meio ambiente e da<br />
biodiversidade. Cada tarefa agrícola é acompanhada de<br />
um ritual, seja o corte de uma árvore até a colheita de<br />
milho. A vida e o trabalho em comunidade continuam<br />
sendo valores centrais dos maias atuais, em vez da<br />
individualidade.<br />
http://www.klepsidra.net/tawantinsuyu.html<br />
tudo isso que é precioso<br />
nada foi levado em conta.<br />
(...)<br />
Chorai, amigos meus,<br />
Compreendei que com estes fatos<br />
perdemos a Nação Mexicatl.<br />
A água azedou, se azedou a comida. (...)<br />
a) GRIFE no texto uma passagem que comprova uma<br />
influência do mundo ocidental na cultura dos maias do<br />
século XXI.<br />
b) COMPROVE, utilizando informações do texto, a<br />
permanência de traços culturais da civilização maia précolombiana<br />
entre os “Maias do século XXI”.<br />
30. (RICAFONTE) O texto abaixo é a reunião de<br />
estrofes de dois poemas astecas do século XVI chamados<br />
por eles de “Cantos tristes”. Os versos descrevem a<br />
cidade de Tenochtitlán, às vésperas de sua rendição, em<br />
agosto de 1521.<br />
(In: Coletânea de documentos de história da América para o 2º grau – 1ª série. 2ª<br />
ed. São Paulo: SE/CENP, 1985. p.7)<br />
A leitura do poema nos permite afirmar que:<br />
a) a destruição da cidade de Tenochtitlán não trouxe<br />
consequências psicológicas para os astecas.<br />
b) a queda da cidade não chegou a afetar a vida da<br />
população ali concentrada.<br />
c) o poema descreve a utilização da escravidão pelos<br />
povos dominadores.<br />
d) o poema é um lamento de guerra, porém, não indica<br />
a derrota da população da cidade dominada.<br />
Os astecas narram a conquista<br />
Pelos caminhos jazem<br />
(flechas) partidas;os cabelos estão espalhados.<br />
As casas estão destelhadas,<br />
seus muros avermelhados.<br />
Germes se espalham por ruas e praças,<br />
e as paredes estão salpicadas de miolos.<br />
As águas estão rubras, tintas [de sangue),<br />
e quando a bebemos,<br />
é como se bebêssemos água salgada.<br />
(...)<br />
Nos puseram preço.<br />
Preço de jovem, de sacerdote,<br />
de criança e de donzela.<br />
(...)<br />
Ouro, jade, ricas mantas,<br />
plumas de quetzal;<br />
225
GABARITO<br />
21.A<br />
1. C<br />
2.C<br />
3. B<br />
4. D<br />
5. B<br />
6.D<br />
7. RESPOSTA:<br />
a) Principal centro urbano-político da cultura asteca,<br />
possuía grandes construções tais como palácios, templos<br />
e uma urbanização bastante evoluída para os padrões da<br />
época (século XVI), chegando a contar com uma grande<br />
concentração populacionais, tendo mais habitantes do<br />
que a principal cidade espanhola nesse período.<br />
b) A intenção era de sobreposição, mostrando-se como<br />
cultura dominante.<br />
8.D<br />
9.B<br />
10.D<br />
11.D<br />
12.E<br />
13.D<br />
14.E<br />
15.D<br />
16.E<br />
17.B<br />
18. Resposta:<br />
Os espanhóis justificaram a exploração colonial da<br />
América com o pretexto de civilizar os povos<br />
americanos, por meio da cultura e da fé cristã. Mas seu<br />
objetivo era a busca de metais e especiarias.<br />
19.E<br />
20.A<br />
22. RESPOSTA:<br />
- A sociedade dos astecas era hierarquizada e guerreira,<br />
visto que o Imperador era, ao mesmo tempo, o general<br />
do exército asteca e o sumo pontífice sacerdotal.<br />
- Sua religião era politeísta.<br />
- Seu comércio era comandado pelos pochtecas.<br />
- Seus sacerdotes se entregavam a penitências e jejuns.<br />
- Dividiam o ano em 18 meses de 20 dias.<br />
23. RESPOSTA:<br />
a) ...exige sacerdotes especializados. É preciso poupar as<br />
vítimas de um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />
b) Para merecer os benefícios divinos.<br />
...exige sacerdotes especializados. É preciso poupar as<br />
vítimas de um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />
b) Para merecer os benefícios divinos.<br />
24. RESPOSTA:<br />
A economia dos Maias baseava-se principalmente no<br />
cultivo de milho, feijão e batata-doce. Eles não<br />
conheciam o uso do ferro, da roda, do arado e do<br />
transporte por animais. A sociedade era dirigida por<br />
poderosos sacerdotes. Construíram grandes templos,<br />
pirâmides e observatórios de astronomia; criaram um<br />
calendário e um sistema de escrita; desenvolveram a<br />
pintura mural e a arte cerâmica.<br />
25. RESPOSTA:<br />
Transformou a sociedade com fortes características<br />
imperialistas, mercantilistas e colonialistas.<br />
26. RESPOSTA:<br />
a) “Nosso deus depõe nos teus ombros, no teu seio e nos<br />
teus braços o cuidado de governar o povo, que é instável<br />
e pronto à cólera.”<br />
b) “Sê moderado no exercício do teu poder, não mostres<br />
os dentes nem as garras... Alegra e diverte o povo com<br />
226
jogos e passatempos honestos, pois assim serás célebre e<br />
amado...”<br />
27. RESPOSTA:<br />
Eram povos que valorizavam o sentimento religioso,<br />
adoravam vários deuses, portanto eram politeístas; a base<br />
da economia era a agricultura.<br />
28. RESPOSTA:<br />
Sociedade escravocrata, os Incas eram povos que<br />
conheciam a desigualdade social. A sociedade Inca pode<br />
ser também caracterizada como elitista, uma vez que a<br />
maioria da população estava subordinada aos interesses<br />
de uma minoria que detinha o controle sobre todos. No<br />
Brasil de hoje, apesar de não termos mais a instituição da<br />
escravidão oficial, também encontramos características<br />
semelhantes: desigualdade social e elitismo.<br />
29. RESPOSTA:<br />
a) “A religiosidade popular incorpora formas mestiças e<br />
elementos provenientes do cristianismo”.<br />
b) Os camponeses maias ainda rendem culto às suas<br />
divindades.<br />
30. C<br />
227
COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ESPANHOLA<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Figura 7 – Divisão administrativa e independência da América luso-espanhola.<br />
ARRUDA, Jose Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2008. p.<br />
22. Mapa original(sem escala; sem identificação de norte geográfico).<br />
Uma vez superada a fase das conquistas militares sobre<br />
as populações nativas da América, deu-se início a um<br />
complexo processo de institucionalização da presença<br />
espanhola na América. As antigas formas estruturais de<br />
organização dos antigos domínios pré-colombianos<br />
começariam a ser densamente alterados pelos espanhóis.<br />
Os desafios associados a esse processo se impuseram não<br />
apenas às populações conquistadas, como também aos<br />
próprios colonizadores espanhóis e às funções que a cada<br />
um recairiam no processo de rearranjo das prioridades<br />
econômicas, relações sociais e estruturas administrativas<br />
que vigorariam na região.<br />
Temporalmente, podemos datar a data de 1521, com a<br />
vitória de Hernán Cortez sobre Montezuma, o processo<br />
institucional da conquista espanhola na América.<br />
228<br />
Inicialmente, a primeira questão a se impor no processo<br />
de elaboração das instituições jurídico-políticas<br />
espanholas, e que se estendeu pelas décadas seguintes do<br />
século XVI, foi a estratégia de garantir a conciliação<br />
entre as recompensas a serem asseguradas aos colonos<br />
para cá transferidos, sem desconsiderar a parte essencial<br />
a ser garantida ao Estado Espanhol.<br />
Devemos considerar que os colonos não vieram para a<br />
América como meros representantes da Coroa, eles eram<br />
portadores de interesses particulares na exploração<br />
dessas novas terras. Era preciso definir que sua<br />
autonomia não deveria se sobrepor ao papel do rei<br />
espanhol, desafiando as autoridades a encontrar um<br />
ponto de equilíbrio entre os interesses dos colonos e da<br />
Coroa.<br />
Entre os primeiros colonos, podemos dividir os membros<br />
das expedições espanholas em dois grupos: os chefes de<br />
expedição e as tropas. Os primeiros eram geralmente<br />
homens de pequena nobreza sem muitas poses em seus<br />
reinos de origem. A esse grupo pertencia os pioneiros<br />
conquistadores, como Hernán Cortés, Pedro de Alvarado<br />
e Pedro de Valdivia. O segundo grupo era formado<br />
geralmente por pequenos camponeses, infantes (peones),<br />
soldados pobres e plebeus de todos os níveis. Eram<br />
integrantes de camadas inferiores da sociedade espanhola<br />
que, estando desocupados desde a guerra da Reconquista,<br />
quando os espanhóis expulsaram os árabes de seus terras,<br />
foram direcionados para as terras descobertas.<br />
Para muitos desses homens, a estadia em terras do Novo<br />
Mundo, poderiam representar uma possibilidade de<br />
tornar-se nobre, dono de terra e de ter vassalos a seu<br />
serviço, o que era portentosamente difícil na Europa. A<br />
aspiração à nobreza somou-se ao gosto pela aventura,<br />
potencializado pelos romances de cavalaria.<br />
Quase sempre, ao considerarmos que busca por terras na<br />
América correspondeu a um projeto estatal, geralmente<br />
pensamos que a “mão forte” do Rei esteve presente<br />
desde as primeiras conquistas, pois os próprios<br />
conquistadores se reportavam à Coroa com a intenção de<br />
transmitir informações sobre o que se passava. Assim,<br />
temos a impressão de que o Rei possuía plena ciência e<br />
controle de todas as ações e reações de seus enviados,<br />
ainda que à longa distância.
Porém, um outro traço pessoal dos conquistadores nos<br />
induz a uma percepção diferente. A cobiça, denunciada<br />
com intensidade pelos religiosos que foram para as áreas<br />
de colonização, revela a prevalência dos interesses dos<br />
conquistadores, que, como vimos, eram pessoas de<br />
poucas posses, em detrimento dos projetos estatais<br />
espanhóis. Por isso havia um conflito de interesses,<br />
sintetizado em uma máxima atribuída aos colonos: “Deus<br />
está no céu, o rei está longe e eu mando aqui”.<br />
2. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA<br />
COLONIAL NA AMÉRICA ESPANHOLA<br />
As divergências de interesses entre a Coroa espanhola e<br />
os colonos tiveram suas origens desde as primeiras<br />
viagens de Colombo, em virtude dos privilégios<br />
concedidos pelo Rei na forma das Capitulações. Estas<br />
eram um instrumento que outorgava o direito de explorar<br />
as terras, colocando os custos sob responsabilidade dos<br />
aventureiros, mas que também concedia autonomia às<br />
iniciativas privadas, com a única restrição aos metais<br />
preciosos encontrados, dos quais um quinto deveria ser<br />
entregue à Coroa. (Regime de adelantatados)<br />
Não tardou para o Estado Espanhol repensar as medidas<br />
iniciais de presença colonial na América, quando já na<br />
segunda viagem de Colombo, essa medida foi repensada<br />
e restringida. Desde o início do século XVI o Estado já<br />
se fazia presente de uma maneira contundente, criando<br />
assim uma máquina administrativa mais organizada e<br />
que colocava as ações sob os olhares atentos das<br />
instituições espanholas, presentes tanto na Metrópole<br />
quanto nas áreas coloniais.<br />
Para a Coroa Espanhola, o desafio que se impunha era o<br />
de como controlar as atividades do nosso lado do<br />
Atlântico e, ao mesmo tempo, garantir certos privilégios<br />
aos colonos, impedindo o desânimo e a desistência do<br />
empreendimento colonizador.<br />
Um dispositivo essencial que regularia as relações entre<br />
colonos e a Espanha foi a encomienda. Ela constituía na<br />
repartição e atribuição de terras e índios a um colono.<br />
Enquanto os nativos forneciam a mão-de-obra e pagavam<br />
um tributo aos encomenderos, estes eram responsáveis<br />
pelos indígenas e tinham o dever de cristianizá-los, o que<br />
justificava a necessidade de um clérigo nas<br />
proximidades.<br />
Ainda antes da metade do século XVI, as encomiendas<br />
foram alvos de intensas críticas por parte dos religiosos e<br />
questionadas pelas autoridades reais. A exploração dos<br />
indígenas era gigantesca e a cristianização, relegada<br />
pelos encomenderos. Os indígenas trabalhavam sem<br />
recebimento de quaisquer remunerações em terras que<br />
originalmente eram suas.<br />
O esforço oposicionista dos clérigos levariam, em 1542 à<br />
instituição das Leis Novas, pelas quais foi decretado o<br />
fim da escravidão indígena e a proibição de concessão<br />
de novas encomiendas Na sequência dessas restrições<br />
surgiu outra instituição espanhola em terras americanas:<br />
o corregimiento. Ele era um desdobramento das<br />
encomiendas, quando estas foram revertidas ao Estado<br />
espanhol, ficando sob a tutela dos corregedores ou<br />
alcaides maiores. Era mais do que um freio às ações<br />
individualistas dos colonos, constituindo-se em uma<br />
sistematização da presença do Estado nas atividades<br />
desenvolvidas na América.<br />
A partir do corregimiento, novas esferas de poder foram<br />
criadas e estenderam, dessa forma, os tentáculos da<br />
Coroa. Por exemplo, verifica-se a criação dos cabildos,<br />
uma espécie de municipalidade que respondia pela<br />
ordem nas vilas, ao estilo do modelo espanhol. Apesar<br />
desses novos poderes não terem plena autonomia, eles<br />
eram responsáveis por todas as questões locais<br />
(propriedades, mercados, cadeias).<br />
A suspensão das encomiendas desagradou aos colonos<br />
espanhóis, que viram restringida a sua autonomia. A<br />
constituição de poderes políticos nos cabildos, que se<br />
reportavam aos vice-reinados, era uma forma de<br />
institucionalizar um modelo administrativo europeu na<br />
América.<br />
Na organização política da Monarquia espanhola havia<br />
ainda a Casa de Contratação, criada em 1503,<br />
responsável pelo controle do comércio com as colônias,<br />
que instituiu o sistema de frotas e a política de porto<br />
único, a fim de coibir o contrabando e a ação frequente<br />
de piratas e corsários inimigos. Já o Conselho de Índias,<br />
de 1524, que exercia funções políticas, como a nomeação<br />
dos vice-reinos e ouras autoridades. Essas duas<br />
instituições eram incumbidas, na Espanha, de administrar<br />
as novas colônias, chamadas inicialmente de Índias,<br />
graças ao equívoco de Colombo.<br />
Na América Espanhola, a principal estrutura os órgãos<br />
mais importantes do governo eram os Vice-Reinados<br />
(inicialmente os de Nova Espanha e do Peru, depois<br />
foram criados os do Rio da Prata e de Nova Granada), as<br />
Audiências (que tinham funções judiciárias e<br />
posteriormente administrativas), e as Capitanias Gerais<br />
229
230<br />
(áreas estratégicas econômicas e militares – Venezuela,<br />
Chile, Cuba e Guatemala).<br />
As regiões coloniais espanholas apresentaram ainda,<br />
duas peculiaridades que a distinguem essencialmente das<br />
áreas coloniais espanholas: a fundação precoce de<br />
universidades, sob o controle de ordens religiosas e que<br />
serviam à instrução dos ibéricos e seus filhos aqui<br />
nascidos e, os tribunais de inquisição, que serviram à<br />
repressão dos movimentos considerados heréticos pela<br />
Igreja no Novo Mundo.<br />
3. IMPACTOS INICIAIS DA COLONIZAÇÃO<br />
As estruturas coloniais introduzidas pelos espanhóis na<br />
América provocaram mudanças significativas no modo<br />
de vida dos indígenas. A violência e a diminuição<br />
populacional, com os “traumas” da conquista, são alguns<br />
dos pontos mais perceptíveis. A alteração do modelo de<br />
urbanização foi outra característica que marcou os<br />
primeiros tempos da colonização espanhola.<br />
3.1 A queda demográfica<br />
Em função dos interesses de exploração econômica e das<br />
necessidades de controle nas áreas americanas tuteladas,<br />
os espanhóis impuseram novas formas de viver que<br />
causou impactos entre as sociedades indígenas. Estes<br />
manifestaram-se nos aspectos físicos quanto psicológicos<br />
naquelas comunidades, revestindo-se de crucial<br />
importância para a compreensão daquilo que os<br />
historiadores consideraram “trauma da conquista”,<br />
bastante perceptível, por exemplo, na conquista do<br />
México.<br />
Um dos pontos mais perceptíveis foi a queda<br />
demográfica da população indígena em curto espaço de<br />
tempo. Existem diversas causas para explicá-la.<br />
A primeira delas decorreu do contato entre índios e<br />
espanhóis, por ocasião das guerras de conquista. Embora<br />
em menor número – mas contando com o auxílio de<br />
outros grupos indígenas, como os tlaxcaltecas – os<br />
espanhóis empreenderam um massacre sobre os<br />
domínios astecas. A força das tropas espanholas consistia<br />
no armamento que era desconhecido dos índios e no<br />
medo causado pelos cavalos. Mesmo que se leve em<br />
consideração o número de mortos, alguns autores<br />
consideram que o impacto primeiro das guerras de<br />
conquista ficou restritas a poucas localidades,<br />
circunscritas ao altiplano central do México. Porém, é<br />
importante ressaltar que, por conta da desorientação em<br />
virtude da presença dos espanhóis, houve diversas<br />
guerras entre as próprias populações indígenas, mesmo<br />
antes da conquista de Tenochititlan, o que resultou em<br />
alguns milhares de mortos.<br />
As formas de exploração do trabalho, que incluíram<br />
variadas utilizações de trabalho forçado e escravidão,<br />
também deram capital contribuição contribuíram para a<br />
diminuição populacional. A cobiça pelo ouro levou<br />
muitos encomenderos a escravizar os índios. As mortes<br />
tornaram-se uma constante no cotidiano, porém a<br />
abundância de mão-de-obra servia de contrapeso às<br />
perdas. Se um índio morria, bastava “capturar” outro.<br />
Essa situação foi denunciada pelos religiosos que, de<br />
alguma forma, participaram das etapas iniciais da<br />
conquista. Bartolomé de Las Casas destacou-se nas<br />
denúncias dos maus tratos aos nativos.<br />
As atividades ligadas ao trabalho forçado tiveram<br />
influências sobre as demais causas. Por exemplo, a<br />
diminuição de filhos por família foi ocasionada por conta<br />
do excesso de trabalho e a falta de tempo para o lar,<br />
justificando a baixa nas taxas de natalidade.<br />
A fome foi outro aspecto relacionado, pois com quase<br />
todo o tempo ocupado em trabalhar nas minas, construir<br />
edifícios, transportar armas e outros materiais, os<br />
indígenas não tinham tempo para se dedicar às atividades<br />
agrícolas. A produção de alimentos para a sobrevivência<br />
viu-se um franco declínio e, juntamente com ela, houve a<br />
queda na qualidade e na quantidade de alimentação.<br />
Existiam outras formas de dizimação da população<br />
ameríndia, e nem todas resultaram de ações diretas dos<br />
espanhóis, tendo sido causadas indiretamente, como a<br />
transmissão de doenças e a propagação de epidemias.<br />
Entre as doenças que tomaram os corpos dos ameríndios<br />
estavam a varíola, a febre amarela, a malária, o sarampo<br />
e a gripe. Os índios eram vulneráveis às doenças<br />
transmitidas pelos europeus. Além de não possuírem<br />
resistência biológica, eles desconheciam as ervas capazes<br />
de curar.<br />
As mortes por epidemias foram uma constante e<br />
constituíram-se um dos principais fatores para se<br />
compreender as baixas demográficas.<br />
3.2 O trauma da conquista<br />
Muito além dos efeitos físicos de redução demográfica e<br />
violência gerados de imediato, a conquista espanhola em<br />
médio prazo também acarretaria uma desestruturação da
visão do mundo indígena. Para o historiador Héctor Bruit<br />
houve uma conquista visível e outra invisível. A visível<br />
configurou-se na conquista militar, na derrubada dos<br />
mundos indígenas, na evangelização, na extirpação das<br />
idolatrias, na luta contra o demônio, na exploração, entre<br />
outros aspectos. A invisível está ligada à destruição dos<br />
referenciais simbólicos, que desnortearam as trajetórias<br />
de vida e distanciaram os indígenas de sua história. Isso<br />
provocou, sobretudo, um colapso nos seus sistemas de<br />
crenças e nas formas de interpretar o mundo, que<br />
deveriam ser substituídos pelos princípios do<br />
catolicismo. Muitos indígenas optaram pelo suicídio,<br />
como forma de resistência.<br />
Em ilustrações editadas por Theodor de Bry, a partir de<br />
1950, para a obra de Bartolomé de Las Casas, são<br />
representados os trabalhos forçados, as perseguições dos<br />
espanhóis montados em seus cavalos e o enforcamento<br />
de indígenas, assim como as queimadas e a destruição<br />
das habitações daquele povo.<br />
4. EXPLORAÇÃO ECONÔMICA NA<br />
AMÉRICA ESPANHOLA<br />
Desde muito cedo, a estrutura econômica da América<br />
Espanhola que tornou necessário o complexo sistema<br />
administrativo aqui instalado, seguiu os princípios<br />
básicos da orientação mercantilista. Desse modo, o ideal<br />
metalista serviu d orientação para as ações econômicas<br />
especialmente voltadas para o desenvolvimento da<br />
mineração, assim como a busca por uma balança<br />
comercial favorável estimulou a grande produção<br />
agrícola antilhana de produtos tropicais para exportação<br />
nas haciendas da América. Internamente, as<br />
necessidades locais de abastecimento às populações para<br />
cá atraídas, foram fundamentais no estímulo ao<br />
desenvolvimentos das estancias de criação de gado,<br />
especialmente na região platina.<br />
4.1 Trabalho e escravidão na América espanhola<br />
O documento mais antigo provando a existência de um<br />
carregamento mercantil de negros africanos introduzidos<br />
na América espanhola como escravos é de 1518. Antes<br />
disso, eles vieram como empregados domésticos dos<br />
amos espanhóis, trazidos clandestinamente, ou pela<br />
própria Coroa. A última data de entrada de negros<br />
escravos, e sobre a qual há provas contundentes, é de<br />
1873 em Cuba, há pouco mais de cem anos.<br />
Quantos negros vieram para o Novo Mundo? Sem muito<br />
rigor, há estimativas de 1. 552.000 negros. Essa cifra é<br />
menor que a calculada para o Caribe britânico<br />
(1.665.000) e Antilhas francesas (1.600.000), e muito<br />
mais baixa que a estimada para o Brasil: 3.646.000.<br />
Outra pergunta interessante: quantos negros, capturados<br />
na África, foram embarcados? Vários autores dão<br />
números diferentes, mas há consenso em que teriam<br />
oscilado em torno de 12 milhões. De qualquer maneira<br />
uma coisa é certa: milhões morrem na travessia do<br />
Atlântico.<br />
Cabe indagar também que tipos de empresas utilizam<br />
mais escravos. Ninguém discute que foram - e isto é<br />
válido para toda América, não só espanhola - em<br />
primeiro lugar, as plantações tropicais. O estudioso<br />
cubano Moreno Fraginals estima que as plantações de<br />
açúcar absorveram 65% dos escravos.<br />
Outras plantações tropicais, mais uns 15%. Isto é, as<br />
plantações teriam absorvido 80% da mão-de-obra<br />
escrava. Pode-se afirmar, então, que a demanda europeia<br />
de açúcar, cacau, tabaco, café, algodão, etc., significou,<br />
para dois continentes uma gigantesca tragédia social e,<br />
adicionalmente, para a África um desastre demográfico.<br />
Além disso, no continente africano, a caça de escravos<br />
desarticulou, desagregou e corrompeu inúmeras<br />
organizações sociais.<br />
Os negros também estiveram presentes na produção de<br />
minérios preciosos, mas como já demonstrado<br />
anteriormente, as plantations exportadoras é que mais<br />
demandaram seu trabalho.<br />
O trabalho nas minas, concentrado especialmente no<br />
altiplano andino e no México, com destaque para a<br />
produção de Prata em Potosí, atual Bolívia,<br />
extremamente duro, consumia rapidamente a mão-deobra,<br />
de modo que os espanhóis preferiam os índios, cuja<br />
morte prematura não lamentavam, pois não pagavam<br />
nada por eles. A base da mão de obra indígena utilizada<br />
na mineração, tanto no Peru quanto no México,<br />
organizou-se através da mita, sistema de trabalho<br />
adaptado dos antigos incas, que se orientava pela<br />
exploração temporária de certo número de cativos, por<br />
meio de um sorteio, quando eram remunerados com<br />
recursos de subsistência.<br />
Frente à terrível mortandade dos índios nas minas de<br />
Potosi, a autoridade sugeriu a introdução massiva de<br />
escravos negros. Em regiões como Nova Granada<br />
(Colômbia) utilizou-se quase que exclusivamente negros<br />
na extração de minérios, pois não havia índios<br />
231
disponíveis. Na área espanhola do Caribe (mas também<br />
nas colônias inglesas, francesas e holandesas) empregouse<br />
a escravidão na agricultura comercial: plantações com<br />
grande inversão de capital, cujo produto era destinado<br />
quase que exclusivamente à exportação. Havia também a<br />
escravidão doméstica, que era um sinal de status social<br />
para o proprietário.<br />
Nas fazendas de criação de gado e, em geral, no trabalho<br />
com o gado, utilizou-se muito menos escravos. Nos<br />
engenhos açucareiros cubanos, os donos permitiam que<br />
os escravos trabalhassem um pedaço de terra para obter<br />
seu alimento; porém, isto era permitido somente quando<br />
a produção se detinha para repor peças gastas das<br />
máquinas, fazer trabalhos de limpeza, etc. Era uma<br />
maneira de evitar a ociosidade ocasional e forçada,<br />
utilizando a mão-de-obra na atividade produtiva. Em São<br />
Domingos, onde o trabalho escravo foi utilizado na<br />
fazenda, a produção de alimentos não era uma tarefa<br />
marginal como o foi na plantação cubana. O escravo<br />
trabalhava para o amo e para si próprio.<br />
O ritmo de reprodução biológica do escravo era muito<br />
lento; em todo caso, menor que as necessidades de<br />
reposição de mão-de-obra. Na América espanhola não<br />
havia nada parecido com os criadores de escravos da<br />
Virgínia e Carolina do Sul (Estados Unidos) destinados à<br />
venda para plantações de algodão localizadas mais ao<br />
sudoeste. Pelo contrário: era notória a alta taxa de<br />
abortos provocados deliberadamente pelas mulheres<br />
escravas, ou então como consequência das duras<br />
condições de trabalho. Além disso, para o proprietário,<br />
uma mulher grávida era mão-de-obra forçada a trabalhar<br />
menos. Assim, para não perder os dias de trabalho, os<br />
amos preferiam que as mulheres abortassem.<br />
No geral, tendeu-se - e não somente nas colônias<br />
espanholas - a importar muito mais homens negros que<br />
mulheres, sendo o homem preferido por razões<br />
produtivas. No que se refere às crianças que nasciam, a<br />
enorme mortalidade existente nas plantações fazia com<br />
que somente 10% delas chegassem à idade adulta.<br />
5. SOCIEDADE NA AMÉRICA ESPANHOLA<br />
Óbvio está que os indígenas e os escravos africanos<br />
compunham a população marginalizada e sujeita à<br />
exploração dos grupos marginalizados na América<br />
Espanhola, enquadrados como força de trabalho para o<br />
enriquecimento da elite que aqui se constituiu.<br />
As estruturas sociais de hierarquização que se<br />
constituíram no território colonial espanhol nas<br />
Américas, reproduziu o domínio econômico vigente<br />
nessas áreas. Dentro dessa hierarquização, em diametral<br />
oposição aos escravos e indígenas, estavam os<br />
chapetones ou peninsulares, expressão usada para<br />
designar os brancos nascidos na Espanha que aqui<br />
ocupavam os principais postos da administração colonial.<br />
Aqueles que desses descendiam, nascidos aqui na<br />
América, constituíram os criollos, que representavam a<br />
elite econômica colonial, proprietários de minas, terras e<br />
escravos, mas destituídos das representações políticas<br />
dos altos postos administrativos. Sua ação política<br />
limitava-se ao exercício do poder local nos cabildos, o<br />
que justifica o papel importante que desempenharam nos<br />
processos posteriores de emancipação na América<br />
Espanhola.<br />
Em posições intermediarias, encontravam-se os<br />
mestiços, em sua maioria, resultantes da integração entre<br />
brancos e índios, atuantes em atividades intermediárias<br />
livres. Apesar da existência dos mestiços, a Coroa<br />
Espanhola empenhou-se densamente em evitar a<br />
miscigenação, adotando rígidas políticas de pureza de<br />
sangue.<br />
6. A CRISTIANIZAÇÃO DA AMÉRICA<br />
Um outro aspecto da ação espanhola que não pode ser<br />
esquecido: a cristianização do Novo Mundo. No contexto<br />
das expulsões de muçulmanos e judeus na Espanha, os<br />
reis Católicos, Isabel e Fernando, possuíam uma visão da<br />
232
unidade cristã. Os ibéricos, que por séculos haviam<br />
lutado contra os “infiéis”, tinham um fé militante, uma<br />
perspectiva guerreira e acreditavam que cumpriam um<br />
desígnio divino. Os espanhóis que vieram para a<br />
América eram marcados pelo desejo de obter bens e<br />
conquistas materiais, mas também tinham a missão de<br />
submeter os povos não-cristãos ao cristianismo.<br />
A Igreja atuou, quase sempre, ao lodo das autoridades<br />
civis e esforçou-se em criar dispositivos que pudessem<br />
garantir a conquista militar. As etapas de conquista e<br />
conversão não foram projetos conflitantes. As<br />
divergências localizavam-se em questões pontuais<br />
quanto ao modelo do projeto, mas não quanto aos<br />
objetivos.<br />
Parte das divergências entre os espanhóis referia-se a<br />
como estava sendo realizado o processo de catequização.<br />
Os colonizadores recebiam a incumbência de doutrinar<br />
os indígenas e fazer a defesa do reino. Muitas vezes esse<br />
processo significou a profunda violência, não apenas<br />
física, mas também interferiu nas crenças e valores dos<br />
grupos nativos. As ações para transformar os nativos em<br />
espanhóis cristãos foram intensas, mas se chocaram com<br />
a resistência por parte dos índios.<br />
No entanto, algumas estratégias de cristianização tiveram<br />
êxito, como, por exemplo, a transformação de um antigo<br />
local de culto a uma deusa asteca em um local cristão,<br />
graças ao culto difundido da Virgem de Guadalupe, a<br />
padroeira do México, que teria aparecido a um índio,<br />
Juan Diego, em 1542. Inicialmente as autoridades<br />
religiosas rejeitaram o episódio, mas posteriormente a<br />
história foi reconhecida pela Igreja e difundida entre os<br />
próprios indígenas, que tinham na Virgem de Guadalupe<br />
a demonstração do reconhecimento de que eles faziam<br />
parte do universo cristão. Os espanhóis também deram<br />
crédito à história, pois viam no episódio um sinal de que<br />
a cristianização estava acontecendo e eles estavam<br />
cumprindo seu papel.<br />
Por diversos caminhos, ibéricos e indígenas produziram<br />
suas próprias formas de convivência no Novo Mundo.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
O trabalho e a religião: questões culturais do mundo<br />
americano Os aspectos culturais indígenas são muito<br />
fortes dentro das sociedades hispano-americanas ainda<br />
hoje. A historiadora Janice Teodoro escreve sobre as<br />
estratégias de sobrevivência dos indígenas, que incluía a<br />
imitação e transformação da cultura. As populações<br />
indígenas da América, trabalhando para os europeus,<br />
procurava obedecer ao ritmo de vida na forma exigida<br />
pelos seus senhores. Nas missões os padres ensinavam as<br />
populações nativas a obedecer ao sino e a acompanhar os<br />
ofícios religiosos. A repetição de gestos em cerimônias<br />
religiosas e o longo processo de catequização favoreciam<br />
o aprendizado de novos costumes (…) Ao erguer novos<br />
palácios, ao construir igrejas, o indígena aprendia a<br />
imitar. Aprendia o ofício, tornava-se um bom artesão,<br />
sobrevivia. Sua conduta deveria sugerir sempre o<br />
abandono de seus ídolos e a crença absoluta em Deus.<br />
(…) Ocorre que para as culturas indígenas da América<br />
era possível incorporar outros deuses ao panteão sem<br />
excluir nada. O resultado desse conflito não é difícil de<br />
imaginar. Ocorreram sobrevivências culturais indígenas<br />
que permanecem encobertas nesse processo aparente de<br />
imitação dos costumes europeus. O indígena, enraizado<br />
em suas tradições politeístas, pode manter parte de seu<br />
patrimônio cultural, ao contrário do europeu, sempre a<br />
exclusão. (…) Contudo, o resultado não foi uma<br />
interação verdadeira, mas a manutenção de diversos<br />
planos sempre capazes de se adaptarem de acordo com as<br />
exigências do momento. (…)<br />
Fonte: THEODORO, J. Descobrimentos e<br />
Renascimento. São Paulo: Contexto, 1996; p. 51-52.<br />
Las Casas e a denúncia da destruição Na brevíssima<br />
Relação de Destruição das Índias, de 1542, o Frei<br />
Bartolomé de Las Casas denunciou a ação destruidora<br />
dos espanhóis. Nesse breve relato, ele responsabiliza o<br />
comandante da expedição à Guatemala. Os indígenas<br />
eram atraídos para os barcos, feitos prisioneiros e,<br />
depois, executados. Os espanhóis exigiam ouro, que os<br />
índios não tinham, já que a região não era área de<br />
extração. Vendo que apesar de se oferecerem como<br />
servos eram vitimados, decidiram enfrentar os espanhóis<br />
com uma defesa precária, sendo por eles derrotados. Eis<br />
o trecho final do relato de Las Casas: Oh, quanto órfãos<br />
foram feitos, quantos [o massacre] tirou de seus filhos,<br />
quantos privou de suas mulheres, quantas mulheres<br />
deixou sem maridos, quantos adultérios, estupros e<br />
violências causou! Quantos privou de sua liberdade, de<br />
quantas angústias e calamidades padeceu tanta gente!<br />
Quantas lágrimas fez derramar, quantos suspiros,<br />
quantos gemidos, quanta solidão nesta vida (…) e quanto<br />
castigo eterno causou na outra vida, não só ao índios, que<br />
foram infinitos, mas de infelizes cristãos de cujo<br />
consórcio se favoreceu de tantos insultos, gravíssimos<br />
pecados e abominações tão execráveis!<br />
Fonte: LAS CASAS, B. Tratados. México: FCE, 1997. v. I, p. 93.<br />
233
EXERCÍCIOS<br />
1. (Uel) A administração colonial hispânica estava<br />
centralizada de forma a permitir o controle da Coroa<br />
sobre seus territórios americanos. O órgão máximo da<br />
política administrativa colonizadora da Monarquia<br />
Espanhola era denominado<br />
a) Casa de Contratação.<br />
b) Audiência.<br />
c) Consulado.<br />
d) "Pueblo".<br />
e) Conselho Real e Supremo das Índias.<br />
(PITÁGORAS) O trecho a seguir é referência para as<br />
questões 2 e 3.<br />
Logo após a “descoberta” da América, o governo da<br />
Espanha começou a conquista para garantir a posse e a<br />
exploração das riquezas da região.<br />
2. (PITÁGORAS) Para garantir a posse de riquezas, o<br />
governo espanhol criou as capitulações.<br />
As capitulações eram:<br />
a) Acordos feitos com particulares para que estes<br />
cuidassem da conquista.<br />
b) Contratos feitos com os conquistados para evitar o<br />
contrabando de ouro.<br />
c) Acordos feitos com países da Europa para evitar o<br />
fim dos monopólios.<br />
d) Contratos entre espanhóis e nativos para<br />
regulamentar a exploração<br />
3. (PITÁGORAS) Para reafirmar a autoridade espanhola<br />
no continente, os espanhóis criaram os adelantados.<br />
Os adelantados eram:<br />
a) Contratos que permitiam uma exploração temporária<br />
no novo continente.<br />
b) Parceria entre governo espanhol e nativos rebelados<br />
contra a Espanha.<br />
c) Conquistadores espanhóis com a missão de dominar<br />
a região em nome da Coroa espanhola.<br />
d) Conquistadores espanhóis com a missão de<br />
fortalecer a escravidão na América espanhola.<br />
234<br />
4. (PITÁGORAS) Leia o trecho na seguir:<br />
POLÍTICA COLONIAL<br />
Nas colônias o poder dos adelantados foi eliminado com<br />
a formação dos Vice-Reinos e posteriormente dos<br />
Capitães gerais. O território colonial foi dividido em<br />
quatro Vice-Reinos -- Nova Espanha, Peru, Rio da Prata,<br />
e Nova Granada -- e posteriormente foi redividido,<br />
surgindo as Capitanias Gerais, áreas consideradas<br />
estratégicas ou não colonizadas. Os Vice-Reis eram<br />
nomeados pelo Conselho das Índias e possuíam amplos<br />
poderes, apesar de estarem sujeitos à fiscalização das<br />
Audiências.<br />
www.mundoeducacao.uol.br<br />
As Audiências eram tribunais superiores que<br />
a) exerciam funções de justiça.<br />
b) exerciam funções militares.<br />
c) exerciam funções fazendárias.<br />
d) regulamentavam o trabalho.<br />
5. (Unirio) A administração colonial na América<br />
Espanhola estava centralizada de forma a permitir o<br />
controle da Coroa sobre seus territórios americanos. O<br />
órgão representante da política administrativa<br />
colonizadora da Coroa Espanhola era a(o):<br />
a) Casa de Contratação.<br />
b) "Audiência".<br />
c) Consulado.<br />
d) "Pueblo".<br />
e) Conselho Real e Supremo das Índias.<br />
6. (Fuvest) "As aldeias de índios estão forçadas a<br />
entregar certa quantidade de seus membros aptos para<br />
realizar trabalhos (...), durante um prazo determinado.<br />
Esses índios são compensados com certa quantidade de<br />
dinheiro e destinados aos mais variados tipos de<br />
serviços."<br />
Esse trecho da obra de Sérgio Bagú, ECONOMIA DA<br />
SOCIEDADE COLONIAL, apresenta as condições de<br />
trabalho compulsório<br />
a) dos diversos grupos indígenas das áreas colonizadas<br />
por espanhóis e portugueses.<br />
b) dos grupos indígenas das áreas espanholas<br />
submetidos à instituição da "mita".
c) dos grupos indígenas das áreas portuguesas<br />
submetidas às regras da "guerra justa".<br />
d) dos grupos indígenas das áreas agrícolas de<br />
colonização espanhola submetidos ao regime de<br />
"encomienda".<br />
e) dos grupos indígenas das áreas portuguesas e<br />
espanholas originários das "missões" dos jesuítas.<br />
7. (Cesgranrio) Na América Colonial Espanhola, no<br />
século XVI, as populações nativas foram utilizadas em<br />
diversas relações de trabalho. Dentre essas, uma das mais<br />
rentáveis para a Coroa foi a que permitia aos espanhóis<br />
cobrarem tributos dos nativos em gêneros ou prestações<br />
de trabalhos nos campos. Essa forma de trabalho era<br />
denominada:<br />
a) "Mita".<br />
b) "Obrajes".<br />
c) "Cabildos".<br />
d) "Encomienda".<br />
e) "Ayuntamientos".<br />
8. (Fatec) "Em trezentos anos, a rica montanha de Potosí<br />
queimou (...) oito milhões de vidas. Os índios eram<br />
arrancados das comunidades agrícolas e empurrados,<br />
junto com suas mulheres e seus filhos, rumo às minas.<br />
De cada dez que iam aos altos páramos gelados, sete<br />
nunca regressavam. Luís Capoche, dono de minas e de<br />
engenhos, escreveu que os caminhos estavam tão<br />
cobertos que parecia que se mudava o reino. Nas<br />
comunidades, os indígenas viram voltar muitas mulheres<br />
aflitas, sem maridos, e muitos órfãos sem seus pais,<br />
sabiam que na mina esperavam mil mortes e desastres.<br />
Os espanhóis percorriam centenas de quilômetros em<br />
busca de mão-de-obra. Muitos dos índios morriam pelo<br />
caminho, antes de chegar a Potosí (...). A conquista<br />
rompeu as bases daquelas civilizações. Piores<br />
consequências do que o sangue e o fogo da guerra teve a<br />
implantação de uma economia mineira."<br />
(Galeano, E. VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA)<br />
De acordo com o texto, a forma de trabalho compulsório<br />
imposta aos indígenas era:<br />
a) "mita".<br />
b) "encomienda".<br />
c) corvéia.<br />
d) sesmarias.<br />
e) capitação.<br />
9. (UFRRJ) "1785 Cidade do México Sobre a Literatura<br />
de Ficção na Época Colonial<br />
O vice-rei do México, Matias de Gálvez, assina um novo<br />
decreto a favor dos trabalhadores índios. Receberão os<br />
índios salário justo; bons alimentos e assistência médica;<br />
e terão duas horas de descanso, ao meio dia, e poderão<br />
mudar de patrão quando quiserem."<br />
(GALEANO, Eduardo. "As Caras e as máscaras." Rio, Nova Fronteira, 1985.<br />
p.107.)<br />
O autor procura ironizar com o título dado ao texto as<br />
práticas desenvolvidas pelos espanhóis na América, já<br />
que<br />
a) os indígenas trabalhavam legalmente como escravos<br />
dos espanhóis sendo falsa a idéia de "salário justo" e<br />
"boas condições de vida e trabalho".<br />
b) apesar das várias legislações sobre o assunto,<br />
ocorria, na prática, uma super exploração do<br />
trabalho indígena sob os regimes da mita ou da<br />
encomienda.<br />
c) a situação dos indígenas americanos era, na época,<br />
bem melhor do que propunha o decreto do vice-rei<br />
do México pela pressão exercida a favor deles pela<br />
Igreja Católica.<br />
d) os indígenas não podiam nunca mudar de patrão pois<br />
este sempre fora o rei da Espanha, que não abria<br />
mão dessas prerrogativas.<br />
e) o decreto não tinha razão de ser, pois os indígenas<br />
mexicanos tinham sido completamente dizimados<br />
pela conquista e pelo trabalho de exploração mineral<br />
no século XVI.<br />
10. (UFMG) Leia estes trechos em que se trata das<br />
relações de trabalho nas colônias espanholas da América:<br />
I. As aldeias eram distribuídas entre os conquistadores,<br />
"que passavam a explorar-lhes o sobretrabalho sem,<br />
contudo, escravizar os índios. [...] podiam exigir tributos<br />
em gêneros [...] ou prestações de trabalho..." Os<br />
colonizadores deveriam, em contrapartida, defender as<br />
aldeias e evangelizar os índios.<br />
II. "Cada comunidade deveria fornecer, periodicamente,<br />
uma quantidade de trabalhadores para as atividades<br />
coloniais [principalmente nas minas]. [...] Pelo trabalho<br />
[...], os índios deveriam receber um salário, parte do qual<br />
obrigatoriamente em moeda (ou metal), a fim de que<br />
pudessem pagar o tributo régio."<br />
235
III. "Na hacienda praticou-se, largamente, o sistema de<br />
endividamento de trabalhadores, a fim de retê-los na<br />
propriedade. [...] o trabalhador recebia como salário um<br />
crédito na tienda de raya (onde retirava alimentos,<br />
roupas, etc.), além de um lote mínimo de subsistência."<br />
VAINFAS, Ronaldo. Economia e sociedade na América Espanhola. Rio de<br />
Janeiro: Graal, 1984. p. 61-4.<br />
Considerando-se as formas de exploração do trabalho<br />
indígena neles descritas, os trechos I, II e III referem-se,<br />
respectivamente, a<br />
a) peonaje, ejidos e plantation.<br />
b) ayllu, plantation e obrajes.<br />
c) encomienda, mita e peonaje.<br />
d) obrajes, ayllu e ejidos.<br />
11. (Uerj) Ao longo dos primeiros duzentos anos de<br />
dominação colonial, os espanhóis desenvolveram um<br />
setor mineiro que permitiu a manutenção da economia<br />
metropolitana (...). Os enclaves necessitavam de grande<br />
quantidade de mão-de-obra indígena que, recrutada por<br />
sorteio, era encaminhada periodicamente às minas,<br />
retornando a seguir às comunidades de origem para ser<br />
substituída por novos contingentes requisitados de igual<br />
maneira.<br />
(PINSKY, Jaime (coord.). <strong>História</strong> da América: através de textos. Campinas:<br />
Editora da Unicamp, 1986.)<br />
O texto acima descreve a seguinte forma de trabalho<br />
nativo utilizada pelos espanhóis na América:<br />
a) hacienda<br />
b) encomienda<br />
c) contratación<br />
d) repartimiento<br />
12. (Unicamp 2007) "Depois da conquista da América<br />
pelos espanhóis, ocorreu uma explosão populacional de<br />
gado, porcos, carneiros e cabras, os quais causaram<br />
grandes danos às plantações de milho indígenas, que não<br />
eram protegidas. As medidas tomadas pela população<br />
indígena eram, muitas vezes, ineficazes. Os<br />
conquistadores preferiam o gado. Bois e carneiros eram<br />
protegidos pela lei, pelos costumes e pelo sentimento<br />
espanhóis. As leis que protegiam a pecuária na Península<br />
Ibérica foram exportadas para o México e permitiam que<br />
o gado pastasse em propriedade alheia. Os animais<br />
236<br />
destruidores eram, afinal, propriedade dos vitoriosos; a<br />
agricultura, dos derrotados."<br />
(Adaptado de Kenneth Maxwell, Morte e sobrevivência. "Folha de S. Paulo",<br />
11/08/2002, Mais! p. 8.)<br />
a) Segundo o texto, por que a agricultura indígena foi<br />
prejudicada após a conquista da América?<br />
b) Indique dois outros efeitos da conquista da América<br />
sobre as populações indígenas.<br />
c) O que foi a "encomienda", utilizada pela colonização<br />
espanhola na América?<br />
13. (UNESP 2007) A conquista sanguinária da América<br />
espanhola é dominada por [uma] paixão frenética. Rio da<br />
Prata, Rio do Ouro, Castela do Ouro, Costa Rica, assim<br />
se batizavam as terras que os conquistadores<br />
desvendavam ao mundo...<br />
(Paulo Prado. Retrato do Brasil. 1928.)<br />
A “paixão frenética” da conquista da América a que se<br />
refere o autor está relacionada<br />
a) à irracionalidade da expansão comercial e marítima<br />
europeia, realizada sem conhecimentos tecnológicos<br />
adequados.<br />
b) às condições de crise econômica das populações<br />
nativas dominadas pelo império dos astecas e dos<br />
incas.<br />
c) à ação da burguesia espanhola que agiu<br />
isoladamente, dado o desinteresse do governo<br />
espanhol pelos territórios americanos.<br />
d) ao acordo entre banqueiros e sábios europeus para<br />
ampliar o conhecimento científico e facilitar a<br />
exploração econômica da região.<br />
e) ao esforço de solucionar a crise da economia<br />
europeia motivada pela escassez do meio circulante.<br />
14. (Puc-rio) A conquista e a colonização européias na<br />
América, entre os séculos XVI e XVIII, condicionaram a<br />
formação de sociedades coloniais diversas e particulares.<br />
Sobre tais sociedades podemos afirmar que:<br />
I - nas áreas de colonização espanhola, explorou-se,<br />
exclusivamente, a força de trabalho das populações<br />
ameríndias, sob a forma de relações servis, como a<br />
"mita" e a "encomienda".
II - nas áreas de colonização portuguesa, particularmente<br />
nas regiões destinadas ao fabrico do açúcar, foi<br />
empregada, em larga escala, a mão-de-obra escrava de<br />
negros africanos e/ou de indígenas locais.<br />
III - ao norte do litoral atlântico norte-americano, área de<br />
colonização inglesa, houve o estabelecimento de<br />
pequenas e médias propriedades, nas quais se utilizou<br />
tanto o trabalho livre quanto a servidão por contrato.<br />
IV - na região do Caribe, em áreas de colonização<br />
inglesa e francesa, assistiu-se à implantação da grande<br />
lavoura, voltada para a exportação e assentada no uso<br />
predominante da mão-de-obra de escravos africanos.<br />
Assinale a alternativa correta.<br />
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.<br />
b) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.<br />
c) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.<br />
d) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.<br />
e) Todas as afirmativas estão corretas.<br />
15. (Uel 2007) Leia o texto a seguir: "A causa pela qual<br />
os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi<br />
unicamente não terem outra finalidade última senão o<br />
ouro, para enriquecer em pouco tempo, subindo de um<br />
salto a posições que absolutamente não convinham a<br />
suas pessoas; enfim, não foi senão sua avareza que<br />
causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e<br />
tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os<br />
índios acreditaram encontrar algum acolhimento<br />
favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que<br />
animais e como se fossem menos ainda que o<br />
excremento das ruas; e assim morreram, sem Fé e sem<br />
Sacramentos, tantos milhões de pessoas.[...]."<br />
Fonte: LAS CASAS, B. de. "O paraíso destruído". Tradução de Heraldo Barbuy.<br />
Porto Alegre: L & PM, 1985. p. 30.<br />
Com base no texto, é correto afirmar:<br />
a) Bartolomé de Las Casas voltou-se contra a Coroa<br />
Espanhola ao perceber que a conquista da América<br />
sufocaria as possibilidades de evangelização dos<br />
habitantes do novo continente.<br />
b) No episódio da conquista da América, o Frei<br />
Dominicano Bartolomé de Las Casas ficou<br />
conhecido como defensor incondicional dos índios,<br />
ao ressaltar a crueldade dos conquistadores.<br />
c) Os conquistadores da América hispânica e da<br />
portuguesa rechaçaram o discurso do Frei Las Casas<br />
por considerarem que seus pensamentos<br />
representavam os princípios da Igreja Católica,<br />
contrária à expansão territorial.<br />
d) O Frei Dominicano defendeu a dignidade e a<br />
liberdade dos indígenas até sua morte,<br />
transformando-se, assim, em ícone do livre-arbítrio<br />
nas Américas de colonização espanhola, portuguesa<br />
e inglesa.<br />
e) O discurso de Las Casas em defesa dos indígenas<br />
era uma das diversas estratégias de conquista, uma<br />
vez que ele representava nas colônias os interesses<br />
da Coroa Espanhola.<br />
16. (UFPR 2008) "O que podia acontecer a estes<br />
bárbaros mais conveniente ou mais saudável do que<br />
serem submetidos ao domínio daqueles cuja prudência,<br />
virtude e religião os converterão de bárbaros, tais que<br />
mal mereciam o nome de seres humanos, em homens<br />
civilizados o quanto podem ser, de facinorosos em<br />
probos, de ímpios e servos do demônio em cristãos e<br />
cultores da verdadeira religião? [...] E se recusarem o<br />
nosso domínio poderão ser coagidos pelas armas a<br />
aceitá-lo, e esta guerra será, como acima declaramos com<br />
autoridade de grandes filósofos e teólogos, justa pela lei<br />
da natureza, muito mais ainda do que a que fizeram os<br />
romanos para submeter a seu império todas as demais<br />
nações, assim como é melhor e mais certa a religião<br />
cristã do que a antiga dos romanos, sendo maior o que<br />
em engenho, prudência, humanidade, fortaleza de alma e<br />
de corpo e toda virtude os espanhóis fazem a estes<br />
homúnculos do que os antigos romanos faziam às outras<br />
nações."<br />
(As justas causas de guerra contra os índios, segundo o<br />
tratado de Demócrates Alter, de Juan Ginés de<br />
Sepúlveda. In: SUESS, Paul (coord.). "A conquista<br />
espiritual da América Espanhola". Petrópolis: Vozes,<br />
1992, p. 534-535.)<br />
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a<br />
conquista da América, é correto afirmar que Juan Ginés<br />
de Sepúlveda:<br />
a) ficou ao lado de Bartolomé de Las Casas na defesa<br />
dos índios da América, adotando uma posição<br />
fundada na teoria da desigualdade natural dos<br />
homens, que afirmava ser injusto os povos<br />
superiores escravizarem os inferiores.<br />
b) criticou o expansionismo espanhol na América com<br />
base na teologia cristã, que afirmava ser a<br />
escravidão um pequeno preço a pagar diante os<br />
237
enefícios da inserção do indígena na civilização<br />
europeia e, portanto, na comunidade cristã.<br />
c) traçou as diretrizes gerais do Estado espanhol em<br />
relação à política indigenista na América, na medida<br />
em que defendia a ideia de que caberia à igreja<br />
Católica, sob a supervisão da Coroa, promover a<br />
conversão dos conquistados para a religião cristã.<br />
d) defendeu a tese de que a Coroa Espanhola deveria<br />
estabelecer uma política centralizada em relação à<br />
conversão dos indígenas americanos, pois ficou<br />
incomodado com as narrativas das atrocidades<br />
cometidas pelos conquistadores espanhóis em<br />
relação aos incas e astecas.<br />
e) foi um representante do renascimento ibérico, na<br />
medida em que combina em seu pensamento<br />
elementos da teologia cristã e da filosofia da<br />
antiguidade greco-romana, dentre eles a idéia de<br />
guerra justa, justificando assim o domínio espanhol<br />
na América.<br />
17. (UFMG) "Quando, em 1556, os soberanos da<br />
Espanha proibiram o uso das palavras conquista e<br />
conquistadores em relação à América, elas<br />
desapareceram dos atos oficiais, mas ficaram nos fatos".<br />
(Romano, Ruggiero. REVOLUÇÕES. São Paulo. Ed. Três, 1974. v.2. n°16)<br />
Com respeito à colonização espanhola da América,<br />
INDIQUE<br />
a) Dois aspectos relativos à imposição de novas<br />
estruturas políticas nas colônias.<br />
b) Duas estratégias adotadas na organização econômica<br />
das colônias.<br />
c) Uma característica da estrutura religiosa imposta às<br />
colônias.<br />
18. (UFPR) Sobre a sociedade, a economia e a estrutura<br />
político-administrativa da América Espanhola Colonial,<br />
é correto afirmar que:<br />
(01) Entre os séculos XVI e XVIII, a Espanha<br />
estabeleceu um rígido controle da navegação e do<br />
comércio com suas colônias da América, instituindo a<br />
"Casa de Contratação" e os sistemas de "portos únicos" e<br />
de "frotas anuais".<br />
(02) Através da "mita" e da "encomienda", explorava-se<br />
a mão-de-obra indígena.<br />
238<br />
(04) Entre a minoria branca que constituía a população<br />
das colônias, havia os "chapetones" (brancos nascidos na<br />
Espanha) e o "criollos" (brancos nascidos na América).<br />
(08) A máquina burocrática era exclusivamente<br />
controlada pela Igreja.<br />
(16) No início do século XVIII, existiam quatro "Vice-<br />
Reinos" (Nova Espanha, Nova Castela, Nova Granada e<br />
Rio da Prata), sob o comando de Vice-Reis que<br />
concentravam muito poder.<br />
(32) Os "cabildos" ou "ayuntamientos" (câmaras<br />
municipais), de que faziam parte os Regedores,<br />
mantiveram viva a tradição de autogoverno, fator<br />
significativo quando se desencadeou o processo de<br />
independência.<br />
Soma = ( )<br />
19. (Fatec) A colonização espanhola:<br />
a) fundamentou-se na divisão da colônia em vicereinos<br />
diretamente ligados à Espanha, destacando-se<br />
a Casa de Contratação e o Conselho das Índias.<br />
b) utilizou quase que exclusivamente a mão-de-obra<br />
negra, devido ao fato de a população indígena ter<br />
sido dizimada durante a conquista.<br />
c) desenvolveu nas colônias uma produção<br />
diversificada, produzindo-se manufaturas na região<br />
setentrional e algodão na região meridional.<br />
d) baseou-se nas culturas tropicais de exportação, nos<br />
minifúndios e na mão-de-obra servil.<br />
e) criou uma organização administrativa centralizada<br />
com sede em Lima.<br />
20. (UFF) Durante o Renascimento, o Mundo Ibérico<br />
caracterizou-se por sua política de descobrimentos e de<br />
colonização do Novo Mundo. Sobre as relações coloniais<br />
na área de expansão espanhola no Novo Mundo, afirmase:<br />
I) A Casa de Contratación era uma entidade com sede<br />
em Sevilha que se encarregava de organizar o comércio<br />
na América e cobrar a parte real nas transações com<br />
metais preciosos (o quinto).<br />
II) O domínio espanhol sobre Portugal foi parte da<br />
política expansionista de Felipe II. III) A criação dos<br />
vice-reinos teve como um dos objetivos manter os<br />
colonizadores sob a direção metropolitana.
IV) A enorme extensão dos domínios da Espanha na<br />
América e a força dos interesses particulares dos colonos<br />
prejudicaram a política descentralizadora de Castela.<br />
As afirmativas que estão corretas são as indicadas por:<br />
a) I, II e III b) I e III c) I, III e IV<br />
d) I e IV e) II, III e IV<br />
21. (UFMG) Na Hispano-América Colonial, a<br />
administração municipal centralizou-se:<br />
a) nas intendências que, até o século XVIII,<br />
controlavam a vida dos funcionários da Coroa.<br />
b) nos Vice-Reinos, que se localizavam nas áreas de<br />
maior valor econômico.<br />
c) nas Audiências, verdadeiros tribunais judiciários,<br />
onde atuavam os ouvidores.<br />
d) nos Cabildos, que possuíam poderes legislativos e<br />
judiciários.<br />
e) nas Capitanias-Gerais, localizadas em territórios<br />
estrategicamente importantes.<br />
23. (UFPR) A empresa colonial espanhola na América<br />
teve na exploração dos metais preciosos sua principal<br />
base econômica.<br />
Aponte as principais implicações desse fato na prática<br />
econômica da Espanha.<br />
24. (Unesp) "Em uma esquematização levada ao<br />
extremo, pode-se dizer que os primeiros cento e<br />
cinqüenta anos da presença espanhola nas Américas<br />
foram marcados por grandes êxitos econômicos para a<br />
Coroa e para a minoria espanhola que participou<br />
diretamente da conquista, e pela destruição de grande<br />
parte da população indígena preexistente..."<br />
(Celso Furtado, FORMAÇÃO ECONÔMICA DA AMÉRICA LATINA.)<br />
a) A que principal atividade ligam-se "os grandes êxitos<br />
econômicos"?<br />
b) A que se deve "a destruição de grande parte da<br />
população indígena preexistente"?<br />
22. (UNIRIO-2000) “Ao longo dos duzentos primeiros<br />
anos de dominação colonial, os espanhóis desenvolveram<br />
um setor mineiro que permitiu a manutenção da<br />
economia metropolitana e da posição internacional<br />
espanhola em meio às demais nações da Europa<br />
ocidental. As primeiras descobertas ocorreram no<br />
México e no Peru, no curto período de vinte anos (1545-<br />
65). Os enclaves necessitavam de grande quantidade de<br />
mão-de-obra indígena, que, recrutada por sorteio, era<br />
encaminhada periodicamente às minas, retornando a<br />
seguir às comunidades de origem para ser substituída por<br />
novos contingentes requisitados de igual maneira.”<br />
(STANLEY, J. S. e STEIN, B. “A herança colonial na América Latina”. Rio de<br />
Janeiro, Paz e Terra, 1976, p.29-35)<br />
O texto nos remete a uma especificidade da economia<br />
colonial da América Espanhola, qual seja, a utilização<br />
em larga escala do trabalho compulsório indígena. A este<br />
respeito, atenda ao solicitado a seguir.<br />
a) Justifique a utilização, na América Hispânica, da mãode-obra<br />
indígena, preferencialmente, em relação à mãode-obra<br />
negra africana.<br />
b) Cite e explique duas formas de utilização da mão-deobra<br />
indígena na América Espanhola.<br />
25. (Uerj) Na Espanha, o fato de não possuir ascendentes<br />
judeus ou árabes constitui uma espécie de título de<br />
nobreza; na América, a cor da pele (mais ou menos<br />
branca) indica a posição social do indivíduo.<br />
(HUMBOLDT, A. von. "Ensaio político sobre o reino da Nova Espanha". 1807.<br />
Apud S. Stein & B. Stein. A HERANÇA COLONIAL DA AMÉRICA LATINA.<br />
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1 977.)<br />
O trecho acima demonstra que a conquista e a<br />
colonização da América hispânica possibilitaram a<br />
formação de uma sociedade hierarquizada, em que, além<br />
do "pureza de sangue" e da renda, a cor constituía-se em<br />
outro critério básico para o pertencimento à elite social.<br />
Nessa perspectiva, a sociedade do América colonial<br />
hispânica pode ser caracterizada pela:<br />
a) incorporação da nobreza ameríndia à elite peninsular<br />
e criolla<br />
b) proibição legal da miscigenação entre peninsulares e<br />
ameríndios<br />
c) impedimento à ascensão dos criollos aos altos<br />
cargos administrativos<br />
d) importância do clero ameríndio nas principais<br />
cidades mineiras e portuárias<br />
239
26. (Uerj) Uma comparação superficial entre as<br />
sociedades ibéricas e ibero-americanas por volta de 1700<br />
sugere que os ibéricos haviam logrado reproduzir no<br />
México, no altiplano andino e ao longo das costas<br />
brasileiras, uma réplica (pelo menos um simulacro) de<br />
suas próprias sociedades.<br />
(STANLEY, J. S. e STEIN, B. A Herança Colonial na América Latina. Rio de<br />
Janeiro, Paz e Terra, 1979.)<br />
a) Cite duas características da sociedade colonial da<br />
América portuguesa.<br />
b) Estabeleça uma diferença quanto à participação<br />
política dos "chapetones" e "criollos" nas colônias<br />
espanholas da América.<br />
240
GABARITO<br />
01.E<br />
02.A<br />
03.C<br />
04.A<br />
05.B<br />
06.B<br />
07.D<br />
08.A<br />
09.B<br />
10.C<br />
11.D<br />
12. Resposta: a) Segundo o professor Kenneth Maxwell,<br />
a expansão da criação de bois, porcos, carneiros e cabras<br />
acabou por destruir plantações de milho dos indígenas,<br />
<br />
as plantações aos vencidos.<br />
b) Perda da identidade cultural e decréscimo<br />
populacional indígena.<br />
c) Trabalho indígena em troca de proteção e<br />
catequização.<br />
13.E<br />
14. C<br />
15.B<br />
16.E<br />
17. Resposta: a) Divisão da América em vice-reinados e<br />
capitanias gerais e Implantação de audiências e de Casas<br />
de Contratação.<br />
b) Estruturação das colônias no modelo de exploração.<br />
c) Expansão do catolicismo.<br />
18.55<br />
19.A<br />
20.A<br />
21.D<br />
22. Resposta: a) Os espanhóis encontraram nas suas<br />
áreas de colonização na América, uma maior densidade<br />
demográfica com relação às populações indígenas, que já<br />
possuíam toda uma estrutura produtiva de exploração<br />
baseada no trabalho coletivo (a exemplo da mita), que<br />
foi aproveitada pelo colonizador hispânico bastando<br />
apenas sujeitá-la `a dominação e aos moldes das<br />
ambições econômicas da Europa.<br />
b) O colonizador espanhol utilizou-se da Mita e da<br />
Encomienda como forma de estabelecer a exploração dos<br />
nativos. Através da mita o colonizador europeu sujeita o<br />
nativo a uma forma de trabalho compulsório, utilizado<br />
geralmente nas áreas de mineração, e que consistia no<br />
recrutamento por sorteio da mão-de-obra entre as<br />
comunidades indígenas. Pelo fato desse recurso se valer<br />
de uma irrisória remuneração, os nativos muitas vezes,<br />
contraíam dívidas junto ao conquistador, fato este que<br />
determinava o estabelecimento de vínculos definitivos<br />
entre explorado e explorador. Pela encomienda - forma<br />
- onde um dignatário<br />
espanhol (o encomendero) recebia o controle sobre uma<br />
determinada comunidade indígena com a obrigação de<br />
protegê-la militarmente, educá-la e catequizá-la. Em<br />
troca, o encomendero poderia exigir da comunidade o<br />
pagamento de tributos na forma de trabalho ou em<br />
espécie.<br />
23. Resposta: O mercantilismo espanhol que apoiou-se<br />
no metalismo, desenvolveu um senso de prioridade pela<br />
busca e entesouramento de metais. A exploração de<br />
metais preciosos (ouro e prata) em território americano,<br />
permitiu o desenvolvimento de um processo de<br />
favorecimento econômico do Estado espanhol já no<br />
século XVI por conta das grandes quantidades desses<br />
metais extraídos de suas colônias na América. No<br />
entanto, a Espanha não priorizou dinamizar as atividades<br />
manufatureiras e mercantis em seu território colocandose<br />
sob a dependência, sobretudo da Inglaterra, tanto para<br />
o abastecimento metropolitano quanto colonial. As<br />
fragilidades econômicas da Espanha forçaram-na a abrir<br />
concessões feitas aos ingleses que, pelo Tratado de<br />
Utrecht de 1713, deu aos britânicos o direito de vender<br />
mercadorias sem respeitar as taxações aduaneiras - era o<br />
navio de permisso. Os ingleses ainda tiveram condições<br />
de vender , sob forma de monopólio, escravos africanos<br />
que fossem necessários - era o asiento, e através de seu<br />
cumprimento puderam penetrar em portos, estabelecer<br />
feitorias, além de introduzirem ilegalmente outras<br />
mercadorias<br />
24. Resposta: a) Os espanhóis beneficiaram-se da<br />
exploração colonial por conta da primazia e sucesso da<br />
extração de metais.<br />
b) No processo de dominação e conquista da América, os<br />
europeus combinaram vários elementos que<br />
possibilitaram a destruição das estruturas sociais locais.<br />
As armas de fogo (mosquetes, arcabuzes, pistolas e<br />
canhões ) proporcionavam uma vantagem tripla para o<br />
conquistador: permitiam combater à distância,<br />
241
provocavam ferimentos de morte ou inutilização do<br />
adversário, além de causarem terror psicológico<br />
acentuado por conta do espanto que o nativo<br />
demonstrava ao verificar o efeito da utilização desses<br />
instrumentos. O uso do cavalo deu ao conquistador<br />
grande mobilidade nos combates e despertava o temor no<br />
ameríndio já que o animal não era conhecido na<br />
América. Os espanhóis foram favorecidos também pela<br />
existência de lendas, crenças e superstições locais que<br />
chegavam a divinizar a figura dos conquistadores. A<br />
imposição da cristandade e valores europeus<br />
contribuíram para subjugar os nativos que, por serem<br />
considerados inferiores e “sem fé”, tiveram seus valores<br />
desprezados e alterados pelo conquistador. E, por fim, a<br />
proliferação de várias doenças como tifo, sarampo,<br />
varíola, febre, por exemplo, das quais os nativos não<br />
possuíam capacidade imunológica.<br />
25. C<br />
26. Resposta:<br />
a) A sociedade que se estabeleceu na colônia portuguesa<br />
mostrou-se aristocrática e patriarcal, utilizando-se do<br />
trabalho forçado predominantemente negro- africano.<br />
Valores religiosos centrados nas concepções da<br />
cristandade ocidental determinaram a conduta moralreligiosa<br />
da sociedade em questão.<br />
b) Aos chapetones, brancos nascidos no Reino, era<br />
permitido o acesso aos mais importantes cargos<br />
administrativos, militares e eclesiásticos coloniais. Aos<br />
criollos, embora constituíssem as aristocracias regionais<br />
no universo colonial, não lhes eram permitidos tais<br />
cargos. Tinham sua participação política restrita quase<br />
exclusivamente aos cabildos.<br />
242
COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA<br />
iniciaram a colonização da América em meio à expansão<br />
marítima e comercial. Isso não significou, porém, que os<br />
ingleses mostrassem desinteresse pelas terras<br />
americanas. Foi recorrente a atuação de piratas ou<br />
corsários ingleses na exploração de riquezas nas áreas<br />
americanas ibéricas. E tão logo terminaram a Guerra dos<br />
Cem Anos (1453) e a Guerra das Duas Rosas (1485), os<br />
monarcas da dinastia Tudor, cuja ascensão coincidiu com<br />
a implantação do absolutismo e o início da política<br />
econômica mercantilista, estimularam a ida de<br />
expedições à América do Norte.<br />
A tela "Descoberta do Mississipi" (1847), de William<br />
Powell, que está no Capitólio dos EUA, narra um<br />
acontecimento da história americana com uma<br />
perspectiva etnocêntrica.<br />
O retardo da sociedade inglesa em promover o pleno<br />
processo de centralização de seu Estado Nacional<br />
impediu a Inglaterra de empreender uma atividade<br />
ultramarina sistemática quando Portugal e Espanha<br />
Incentivados pelas riquezas orientais, buscaram a<br />
passagem do Noroeste que, ultrapassando o continente<br />
americano, permitisse chegar às Índias. Velejando ao<br />
longo do litoral da América do Norte, embarcações<br />
inglesas atingiram as águas geladas e cheias de icebergs<br />
do oceano Glacial Ártico ou penetraram em baías e rios<br />
americanos buscando uma rota para a Ásia. Atraídos pela<br />
revelação das riquezas encontradas pelos espanhóis,<br />
ingleses ou navegadores italianos, a serviço da Coroa<br />
inglesa, navegaram para a América autorizada a fundar<br />
243
estabelecimentos colonizadores nas terras que<br />
descobrissem.<br />
Com a ascensão da Rainha Elizabeth I ao poder, a<br />
crescente rivalidade com a Espanha de Filipe II,<br />
caracterizou-se pelo impulso dado à construção naval e<br />
ao comércio marítimo, envolvendo também a atividade<br />
corsária. Nesse contexto intensificaram-se as viagens<br />
inglesas ao Novo Mundo, seja para saquear as<br />
embarcações e colônias espanholas ou para em<br />
empreender lucrativo contrabando nas Antilhas, seja para<br />
começar a colonização.<br />
No entanto, a oficialidade de uma presença inglesa na<br />
América coincide com a permissão da rainha para que<br />
Walter Raleigh organizasse três sucessivas expedições à<br />
América do Norte, em 1584, 1585 e 1587. Essas<br />
expedições procuraram colonizar a Virgínia, nome dado<br />
à terra descoberta (Carolina do Norte), e à ilha de<br />
Roanoke, mas seus intentos não foram atingidos, devido,<br />
entre outras coisas, aos ataques dos indígenas aos<br />
colonizadores.<br />
O começo da guerra com a Espanha e a ameaça de<br />
invasão da Inglaterra, em parte afastada pela destruição<br />
da Invencível Armada (1588), paralisaram as atividades<br />
ultramarinas inglesas até ascensão da dinastia Stuart<br />
(1603). O impulso colonizador inglês seria retomado,<br />
portanto, no século XVII.<br />
No século XVII a Inglaterra vivia uma nova conjuntura<br />
favorável a uma ação colonizadora sistemática em<br />
territórios da América do Norte e das Antilhas. O<br />
poderio espanhol fora quebrado e a decadência dos<br />
Habsburgo de Madri contrastava com o desenvolvimento<br />
inglês. A burguesia e a monarquia inglesas dispunham de<br />
uma poderosa frota e abundavam os capitais privados<br />
acumulados, a fim de multiplicar-se mediante novos<br />
investimentos, como o comércio e a colonização em<br />
terras do ultramar.<br />
O primeiro monarca da dinastia Stuart, rei Jaime I<br />
autorizou o funcionamento da Companhia de Londres e<br />
da Companhia de Plymouth, cujos acionistas pertenciam<br />
à burguesia londrina e à de Plymouth. Por carta régia, a<br />
Companhia de Plymouth recebeu o monopólio do<br />
comércio e a colonização das terras localizadas entre a<br />
Flórida (ao sul) e o rio Potamac (ao norte), enquanto a<br />
Companhia de Londres teve direitos idênticos para os<br />
territórios situados entre Fear e Nova Iorque, em uma<br />
região que veio a ser conhecida como Nova Inglaterra.<br />
Tais medidas evidenciam um aspecto bastante peculiar<br />
da colonização inglesa, que se deu através das<br />
concessões de exploração a companhias privadas de<br />
comércio, contrastando com o que ocorreu nas regiões<br />
ibéricas, onde a presença do Estado se impôs de maneira<br />
mais intensa.<br />
A ação colonizadora da Companhia de Londres e da<br />
Companhia de Plymouth foi facilitada pela crise<br />
econômica e social que ocorria na Inglaterra no século<br />
XVII, quando da transição plena da economia feudal<br />
para a economia de mercado tipicamente capitalista. Essa<br />
mudança foi acelerada na zona rural com o cercamento<br />
dos campos (enclousure lands), mediante o qual se<br />
formaram as grandes propriedades individuais<br />
capitalistas; para isso, destruiu-se o modo de produção<br />
feudal mediante a abolição de terras comuns, dos<br />
sistemas parcelário e comunitário de cultivo, da servidão<br />
camponesa, introduzindo-se o trabalho assalariado e a<br />
produção para o mercado. Essas transformações<br />
implicaram a anulação dos preexistentes contratos de<br />
arrendamento para o cultivo da terra pelos camponeses,<br />
sendo estes expulsos dos lotes onde trabalhavam.<br />
Com isso, formava-se numeroso contingente<br />
populacional que, não encontrando trabalho no campo e<br />
nos centros urbanos, poderia ser atraído para a América,<br />
onde haveria facilidades para a obtenção de terras. Afinal<br />
de contas, as terras eram dos indígenas, que, não sendo<br />
cristãos, podiam ser expropriados, sem que isso fosse<br />
considerado pecado ou ilegal pelas leis inglesas.<br />
Entretanto, o grau de miséria dos camponeses era tal que<br />
não dispunham de recursos para o custeio da sua viagem.<br />
Por isso, a fim de viajar juntamente com a sua família,<br />
assinavam um contrato comprometendo-se a trabalhar,<br />
geralmente por sete anos, a fim de resgatar a dívida<br />
assumida com o seu transporte para a América. Era a<br />
chamada servidão por dívidas, que foi bastante<br />
generalizada nas Treze colônias e predominante na Nova<br />
Inglaterra. Segundo alguns autores, cerca de 70% dos<br />
imigrantes para as colônias foram na condição de servos<br />
por contrato.<br />
A servidão branca também ocorreu contra a vontade<br />
dos indivíduos. Nas próprias colônias muitos foram<br />
forçados a se tornar servos para não ser presos por<br />
dívidas ou então porque haviam sido condenados por<br />
delitos, como o furto e o desemprego ilegal. A servidão<br />
involuntária também foi imposta às “vítimas do rapto,<br />
geralmente as crianças de famílias muito pobres, e de<br />
condenados britânicos poupados à morte ou a sentenças<br />
muito longas de prisão (…) durante sete a quatorze anos,<br />
alguns por toda a vida”.<br />
244
Outra justificativa para o fluxo migratório contou ainda<br />
com famílias, geralmente burguesas ou nobres, que<br />
saíram da Inglaterra devido a perseguições movidas pelas<br />
autoridades aos opositores políticos e aos dissidentes<br />
religiosos: puritanos, presbiterianos, quakers, católicos,<br />
etc. Um dos episódios mais conhecidos desse tipo de<br />
colonizador foi o dos peregrinos do Mayflower que, a<br />
bordo do Mayflower, atingiram o litoral de<br />
Massachusetts, onde fundaram New Plymouth (1620):<br />
eram pouco mais de uma centena de puritanos que<br />
haviam partido de Plymouth, após obter uma concessão<br />
da Companhia de Londres. Embora a maioria dos<br />
colonos fosse de origem inglesa, as Treze Colônias<br />
receberam imigrantes irlandeses, escoceses, alemães e<br />
suíços, chegados principalmente no século XVIII. Como<br />
os demais, buscaram a América do Norte devido a<br />
perseguições político-religiosas em suas pátrias ou por<br />
causa de dificuldades econômicas.<br />
A imigração teve outra fonte na própria América: muitos<br />
colonos procederam das Antilhas, onde a consolidação<br />
da grande propriedade resultou na expropriação de<br />
muitos pequenos e médios proprietários, o que os levou a<br />
se deslocar para as Treze Colônias. A massa migratória<br />
foi engrossada ainda pelos escravos negros trazidos,<br />
sobretudo da costa oeste da África, desde o norte de<br />
Senegâmbia até o sul da Angola, os quais se converteram<br />
na mão-de-obra essencial à economia das colônias do<br />
sul.<br />
O crescimento tremendamente rápido da população é<br />
uma característica marcante da <strong>História</strong> Colonial.<br />
Excluindo os índios, havia 2.500 pessoas nas colônias<br />
em 1620; 114.000 em 1670; quase 300.000 em 1720; e<br />
acima de 2.500.000 (com cerca de 500.000 escravos<br />
negros) em 1775. E, nessa última data, cerca de um terço<br />
da população branca não era de origem inglesa.<br />
1. TIPOS DE COLÔNIA<br />
Como apresentado anteriormente, durante os séculos<br />
XVII e XVIII, milhares de ingleses, escoceses,<br />
irlandeses, alemães e holandeses deixaram suas terras<br />
natais e se dirigiram para a costa leste do território que<br />
hoje chamados de Estados Unidos da América,<br />
formando, naquela época, as chamadas Treze Colônias.<br />
Nas colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra,<br />
os colonizadores estabeleceu-se de forma diferenciada,<br />
com relação ao sul dos Estados Unidos e mesmo se<br />
comparados à América espanhola e portuguesa,<br />
prevalecendo à policultura em pequena propriedade<br />
familiar; o uso de mão-de-obra livre e atividades<br />
realizadas por artesãos e comerciantes. Essas colônias<br />
tinham, portanto, sua produção voltada para o mercado<br />
interno, pois dadas suas condições climáticas,<br />
localizavam-se em uma área que dificilmente poderia<br />
oferecer produtos diferentes do que a Inglaterra produzia.<br />
Nas colônias do sul, por outro lado, com clima mais<br />
quente, favorável à agricultura, predominaram as grandes<br />
propriedades monocultoras, com o uso de mão-de-obra<br />
negra escrava, com produção voltada para a exportação,<br />
sobretudo a de tabaco. A vinculação dos produtores das<br />
colônias do sul com a metrópole inglesa fez com que eles<br />
resistissem à ideia de separação política, pois supunham<br />
que deixariam de lucrar se perdessem seu mercado<br />
consumidor, a Inglaterra, que garantia seus lucros. Essa<br />
sociedade do sul dos atuais Estados Unidos caracterizouse<br />
por grandes desigualdades econômicas. Boa parte dos<br />
colonos do Norte fugiu da Europa devido à perseguição<br />
religiosa.<br />
A chegada dos puritanos (protestantes calvinistas) em<br />
1620, na região de Massachusetts, vindos ao navio<br />
Mayflower, é um episódio muito citado para explicar a<br />
importância da religião no processo de colonização<br />
inglês. Os ingleses, recém-chegados, afirmavam estarem<br />
cumprindo um desígnio divino de construir um novo país<br />
(daí o nome de Nova Inglaterra para as colônias do<br />
Norte), pois tinham “sido escolhidos por Deus para criar<br />
uma nova sociedade”. Nessa região, em virtude da<br />
dinâmica do povoamento e da economia que aí se<br />
estabeleceram, as colônias alcançaram maior autonomia<br />
em relação à Inglaterra, além de terem desenvolvido um<br />
importante mercado interno.<br />
Durante aproximadamente 150 anos, colonos e ingleses<br />
conviveram relativamente bem, sem grandes transtornos<br />
245
246<br />
entre colônia e metrópole. As colônias do norte<br />
prosperaram, em parte, pelo desinteresse da própria<br />
metrópole que, no século XVII, enfrentava disputas<br />
políticas internas. Com o passar do tempo, os<br />
descendentes dos imigrantes que se estabeleceram na<br />
América foram incrementando seus negócios, formando<br />
uma elite norte-americana, cujos anseios eram diferentes<br />
daqueles estabelecidos pela dominação colonial inglesa.<br />
Por essa razão, a Coroa adotou um controle mais<br />
rigoroso da colônia do século XVIII.<br />
Com a pacificação interna, a Inglaterra começou<br />
a estabelecer maior presença na colônia, para buscar<br />
mercados e também pela necessidade de demonstrar seu<br />
domínio. A partir de 1760, a Revolução Industrial em<br />
território britânico aumentou a produção industrial, o que<br />
consequentemente gerou a necessidade de maiores<br />
vendas ou, em outras palavras, de ampliação do mercado.<br />
A Inglaterra passou a ver sua colônia com outros olhos,<br />
considerando ser ela rica, já ter um mercado interno<br />
próspero e, portanto, ser um mercado promissor para os<br />
seus produtos, além de ser fornecedora de matériasprimas<br />
para as manufaturas e indústrias que<br />
proliferavam. Quando Londres tentou imitar Lisboa e<br />
Madrid, já era tarde demais, e o resultado foi um levante<br />
que deu origem a Independência das Treze Colônias e a<br />
formação dos Estados Unidos da América.<br />
2. SISTEMA ADMINISTRATIVO<br />
A maneira como se processou a colonização, resultante<br />
muito mais da ação de particulares que empreenderam o<br />
movimento colonizador, sendo mínima a interferência do<br />
Estado, contribuiu para a montagem da máquina políticoadministrativa<br />
mais simples do que a organização nas<br />
áreas coloniais ibéricas da América. Na América<br />
Colonial inglesa todas as colônias possuíam suas<br />
próprias autoridades, que funcionavam independentes<br />
uma das outras e teoricamente subordinadas diretamente<br />
à metrópole.<br />
Durante o período colonial três tipos de colônias se<br />
constituíram:<br />
As colônias de companhias de comércio, cujos<br />
habitantes possuíam seus direitos assegurados por uma<br />
carta real; geralmente atribuíam aos colonos o direito de<br />
escolher seus funcionários e demais autoridades<br />
coloniais; conhecidas também como colônias<br />
corporativas foram das primeiras a ser fundadas: Virginia<br />
e Massachusetts.<br />
As colônias de proprietários eram aquelas dadas<br />
em concessão a um indivíduo da nobreza ou da burguesia<br />
que, hereditariamente, assumia todos os direitos sobre o<br />
território doado e, livre de qualquer taxação,<br />
comprometia-se a organizar a colonização; oito colônias<br />
foram fundadas por proprietários: Maryland, New<br />
Hampshire, Nova Jérsei, Carolina do Norte, Carolina do<br />
Sul, Pensilvânia, Nova Iorque e Geórgia.<br />
“As colônias régias, também chamadas de colônias da<br />
Coroa, foram aquelas em que o rei assumiu o encargo de<br />
prosseguir o processo colonizador por desistência dos<br />
primeiros concessionários: o proprietário ou a companhia<br />
do comercio. A primeira colônia desse tipo foi Virginia.<br />
No século XVII e boa parte do século XVIII constituíram<br />
o tipo menos comum das Treze Colônias. As mudanças<br />
ocorridas na Inglaterra, com a implantação do<br />
parlamentarismo e o aceleramento do avanço do<br />
capitalismo implicaram nova política metropolitana para<br />
as colônias: as colônias da coroa passaram a constituir a<br />
maioria, com exceção de Maryland, Delaware,<br />
Connecticut e Rhode Island.<br />
Em cada colônia havia um governador, que era<br />
nomeado nas colônias da Coroa e nas de proprietários.<br />
Representante dos interesses metropolitanos dispunha de<br />
poderes amplos, inclusive o de vetar leis votadas pelas<br />
assembleias locais. Nas colônias das companhias de<br />
comercio, o governador era eleito pelos próprios colonos,<br />
geralmente com mandato de um ano e sem dispor do<br />
direito de veto. Cada colônia dispunha de um conselho<br />
ou câmara alta, cujos integrantes eram nomeados dentre
os colonos mais influentes ou ricos, a não ser em<br />
Massachusetts, Connecticut e Rhode Island, onde os<br />
conselheiros eram escolhidos por eleição. Funcionava<br />
como órgão assessor do governador para assuntos<br />
coloniais.<br />
As Treze Colônias tinham suas assembleias eleitas pelos<br />
homens livres, ou seja, os colonos que podiam votar ou<br />
ser votados. O critério para tal qualificação variava<br />
bastante: ser proprietário de terras, possuir determinada<br />
renda, pertencer a certa religião. Chamadas de<br />
Legislativa ou Câmara dos Representantes cabia-lhes<br />
elaborar as leis e fixar os impostos cobrados aos<br />
habitantes da colônia. A manutenção dessas atribuições<br />
durante a maior parte do período colonial contribuiu para<br />
reforçar os sentimentos de autogoverno dos colonos.<br />
Já no século XVIII, o abandono da política de<br />
Negligência Salutar pela metrópole implicou a<br />
aprovação de leis no Parlamento que fixaram tributos a<br />
ser cobrado aos colonos, o que provocou violenta reação<br />
das Treze Colônias.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
Comparações incômodas por que os Estados Unidos<br />
são tão ricos e nós não? Essa pergunta já provocou muita<br />
reflexão. Desde o século XIX a explicação dos norteamericanos<br />
para seu “sucesso” diante dos vizinhos da<br />
América hispânica e portuguesa foi clara: havia um<br />
“destino manifesto”, uma vocação dada por Deus a eles,<br />
um caminho claro de êxito em função de ser um “povo<br />
escolhido”. No Brasil sempre houve desconfiança sobre<br />
a ideia de um “destino manifesto que privilegiasse o<br />
governo de Washington”. Porém, muito curiosamente,<br />
criou-se aqui uma explicação tão fantasiosa como aquela.<br />
A riqueza deles e nossas mazelas decorriam de dois<br />
modelos históricos: as colônias de povoamento e as de<br />
exploração. As colônias de exploração seriam as ibéricas.<br />
As áreas colonizadas por Portugal e Espanha existiriam<br />
apenas para enriquecer as metrópoles. Nesse modelo, as<br />
pessoas sairiam da Europa apenas para enriquecer e<br />
retornar ao país de origem. A América ibérica seria um<br />
local para suportar um certo período, extrair o máximo e<br />
retornar à pátria europeia. Da mesma forma que<br />
aventureiros e degredados que enchiam nossas praias, o<br />
Estado ibérico também só tinha o interesse na exploração<br />
do Novo Mundo e obter os maiores lucros no menor<br />
prazo possível. Sobre portugueses e espanhóis corruptos<br />
e ambiciosos pairava um Estado igualmente corrupto e<br />
ambicioso. O escritor Manoel Bonfim consagrou, no<br />
início do século XX, a metáfora desse Estado: a coroa<br />
ibérica seria idêntica a um certo molusco que só possuía<br />
sistema para entrada e saída de alimentos. Estado sem<br />
cérebro, sem método, sem planejamento: apenas com<br />
aparelho digestivo-excretor – essa era a imagem<br />
consagrada do português que nos pariu. O oposto das<br />
colônias de exploração seriam as de povoamento. Para lá<br />
as pessoas iriam para morar definitivamente. A atitude<br />
não era predatória, mas preocupada com o<br />
desenvolvimento local. Isso explicaria o grande<br />
desenvolvimento das áreas anglo-saxônicas como os<br />
EUA. Famílias bem constituídas, pessoas de alto nível<br />
intelectual e sólida base religiosa: tais seriam os colonos<br />
que originaram o povo norte-americano. Há uma ideia<br />
associada a essa que versa sobre a qualidade dos colonos.<br />
Para as colônias de exploração, as metrópoles enviariam<br />
o “refugo”: aventureiros sem valor que chegariam aqui<br />
com olhos fixos no desejo de ascensão. As colônias de<br />
povoamento receberiam o que houvesse de melhor nas<br />
metrópoles, gente de valor que, perseguida na Europa,<br />
viria com seus bens e cultura para o Novo Mundo<br />
trazendo na bagagem apenas a honradez e a Bíblia.<br />
Pronto! A explicação é perfeita! Somos pobres porque<br />
fomos fundados pela escória da Europa! Os Estados<br />
Unidos são ricos porque tiveram o privilégio da<br />
colonização de alto nível da Inglaterra. Adoramos<br />
explicações polares: Deus e o diabo, povoamento e<br />
exploração, preto e branco. Os livros didáticos<br />
consagram isso e o bloco binário povoamentoexploração<br />
penetrou como um amplo e lógico conceito<br />
em muitos corações. Os EUA foram destinados por Deus<br />
ao sucesso e os latinos condenados ao fracasso pelo peso<br />
da origem histórica. Ambos deixavam de serem agentes<br />
históricos para serem submetidos ao peso insuperável da<br />
vontade divina e da carga do passado. (…) Não é,<br />
certamente, nessa explicação simplista de exploração e<br />
povoamento que encontraremos as respostas para as tão<br />
gritantes diferenças na América. Entender a<br />
especificidade das colônias inglesas na América do Norte<br />
significa falar da Inglaterra moderna.<br />
KARNAL, Leandro. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século<br />
XXI<br />
A Educação e a religião nas Treze Colônias<br />
A educação formal escolar adquiriu um caráter todo<br />
especial nas colônias. A existência de muitos<br />
protestantes colaborou para isso. Uma das origens da<br />
Reforma religiosa na Europa tinha sido a defesa da livre<br />
247
interpretação da Bíblia. Tal como Lutero traduzira a<br />
Bíblia para o alemão e os calvinistas para o francês em<br />
Genebra, os ingleses tinham várias versões do texto na<br />
sua língua, especialmente a famosa versão do rei James<br />
desde 1611. Essa preocupação levou a medidas bastante<br />
originais no contexto das colonizações da América. É<br />
certo que em toda a América espanhola houve um grande<br />
esforço em prol da educação formal. A Universidade do<br />
México havia sido fundada em 1553 e havia similares em<br />
Lima e em quase todos os grandes centros coloniais<br />
hispânicos. No entanto, um sistema tão organizado de<br />
escolas primárias e a preocupação de que todos<br />
aprendessem a ler e escrever é algo mais forte nas<br />
colônias protestantes do Norte.<br />
Em 1647, Massachusetts publica uma lei falando da<br />
obrigação de cada povoado com mais de cinquenta<br />
famílias em manter um professor. O texto dessa lei tornase<br />
interessante por suas justificativas:<br />
“Sendo um projeto principal de o Velho Satanás<br />
manter os homens distantes dos conhecimentos das<br />
Escrituras, como em tempos antigos quanto às tinham<br />
numa língua desconhecida (...) se decreta para tanto que<br />
toda municipalidade nesta jurisdição, depois que o<br />
Senhor tenha aumentado sua cifra para cinquenta<br />
famílias, dali em diante designará a um dentre seu povo<br />
para que ensine a todas as crianças que recorram a ele<br />
para ler e escrever, cujo salário será pago pelos pais, seja<br />
pelos amos dos meninos seja pelos habitantes em geral.”<br />
É importante notar que os documentos sobre educação<br />
nas colônias inglesas apresentam um caráter religioso,<br />
mas não clerical. As propostas são, na verdade, leigas. A<br />
educação será feita e paga por membros da comunidade.<br />
Um grupo que se pretendia eleito por Deus deveria<br />
voltar-se também para a educação superior. As<br />
instituições de caráter superior faziam parte dessa<br />
preocupação com a religião, já que se destinavam<br />
notadamente à formação de elementos para a direção<br />
religiosa das colônias. (…) Em todos os documentos<br />
sobre a educação há a mesma preocupação: o<br />
conhecimento das coisas relativas à religião. Do ensino<br />
primário ao superior, o conhecimento da Bíblia parece<br />
ter orientado todo o projeto educacional das colônias<br />
inglesas. (…)<br />
O grande interesse pela educação tornou então as 13<br />
colônias uma das regiões do mundo onde o índice de<br />
analfabetismo era dos mais baixos. Apesar das variações<br />
regionais (o sistema educacional na Nova Inglaterra era<br />
melhor do que em outras áreas) e raciais (poucos negros<br />
eram alfabetizados), as 13 colônias tinham um nível de<br />
educação formal bastante superior à realidade dos<br />
séculos XVII e XVIII, seja na Europa ou no restante da<br />
América. Ainda assim, é inegável que havia mais<br />
alfabetizados brancos homens e ricos do que mulheres,<br />
negros, indígenas e pobres. A situação religiosa da<br />
Inglaterra era marcada pela diversidade quando da<br />
colonização da América do Norte. Essa diversidade<br />
colaborou para o que chamamos de um pensamento mais<br />
“moderno” na Inglaterra e posteriormente, nas 13<br />
colônias. Imagine-se uma cidade no México colonial. Lá<br />
todos são católicos e só encontramos igrejas católicas.<br />
Em toda a colônia a missa é rezada com o mesmo ritual<br />
romano, na mesma língua e por um grupo que, em traços<br />
gerais, teve uma formação semelhante: os padres. Todo o<br />
ensino está nas mãos da Igreja e a noção de Deus é<br />
imposta como igual por toda a colônia. As diversidades<br />
são consideradas crime e heresia, punida com a<br />
Inquisição. Judeus e protestantes são queimados.<br />
O oposto ocorre nas aldeias e cidades das colônias<br />
inglesas. Aqui puritanos, lá batistas, mais adiante<br />
quakers, por vezes também católicos, além de uma<br />
infinidade de pequenas seitas protestantes também de<br />
outras partes da Europa. Unidade? Genericamente, todos<br />
acreditam em Jesus. Daí por diante o caleidoscópio muda<br />
de forma com grande variação. É natural também<br />
imaginar a dificuldade de absolutizar as posições<br />
religiosas desse universo. O confronto permanente com<br />
outras formas de crença obriga o crente ou a radicalizar<br />
suas posições (e, por vezes, isso aconteceu) ou a assumir<br />
de forma mais crítica sua fé. As posições protestantes<br />
têm outro efeito: a leitura individual da Bíblia. Em<br />
permanente processo de reciclagem pessoal das<br />
narrativas bíblicas, o protestante cria uma relação<br />
diferente com o sagrado. O institucional (a igreja<br />
estabelecida) diminui sua importância diante do pessoal.<br />
A importância de ler a Bíblia determina até, como vimos,<br />
um impulso educacional forte nas colônias. A igreja<br />
formal protestante é um apoio à salvação e não o canal<br />
insubstituível como no mundo católico.<br />
KARNAL, Leandro. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, p.<br />
47-51.<br />
248
REVOLUÇÃO INGLESA<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Para a história da Inglaterra, o século XVII é decisivo.<br />
Essa afirmação se relaciona com a ocorrência da<br />
Revolução Inglesa, representação da primeira grande<br />
manifestação de crise do sistema político da época<br />
moderna, identificado com o absolutismo. Como<br />
resultado final dos conflitos que se estenderam ao longo<br />
do século, o poder monárquico, severamente limitado,<br />
cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao Parlamento<br />
e instaurou-se o regime parlamentarista que permanece<br />
até hoje. O processo começou com a Revolução<br />
Puritana de 1640 e terminou com a Revolução<br />
Gloriosa de 1688. As duas fazem parte de um mesmo<br />
processo revolucionário, daí a denominação de<br />
Revolução Inglesa do século XVII e não Revoluções<br />
Inglesas.<br />
Ao final desse processo revolucionário, a Inglaterra criou<br />
as condições indispensáveis para a Revolução<br />
Industrial do século XVIII, reafirmando as condições<br />
necessárias para o avanço do capitalismo. A ascensão de<br />
novos grupos políticos ao poder e os interesses de<br />
emancipação da economia dos privilégios e monopólios<br />
do Estado foram determinantes para as consequências<br />
materiais na Inglaterra do século XVIII. Deve ser<br />
considerada a primeira revolução burguesa da história da<br />
Europa, antecipando em 150 anos a Revolução Francesa.<br />
2. ANTECEDENTES DO PROCESSO<br />
REVOLUCIONÁRIO<br />
A Inglaterra atingiu no século XVII notável<br />
desenvolvimento, favorecido pela monarquia absolutista.<br />
Os governos de Henrique VIII e Elizabeth I foram<br />
importantes na consolidação do processo de<br />
centralização política e no domínio político sobre a<br />
nobreza; afastaram a ingerência papal, ao promoverem a<br />
Reforma Anglicana, através da qual confiscaram bens da<br />
Igreja Católica, além de garantir a hegemonia sobre os<br />
tradicionais inimigos espanhóis.<br />
Tais condições em muito agradaram à burguesia, grande<br />
beneficiada do estímulo do Estado ao desenvolvimento<br />
do comércio, exploração colonial e fortalecimento naval<br />
para o incremento mercantil. A mercantilização das<br />
estruturas agrárias, seja no comércio direto de gêneros<br />
agrícolas, ou na produção da matéria prima à<br />
complementaridade das manufaturas, permitiu a<br />
configuração de novas formações sociais, que aos poucos<br />
evidenciou divergência de interesses com o Estado<br />
absolutista.<br />
A persistente intervenção estatal na economia passava a<br />
tornar-se incômoda, pois grande parte dos recursos do<br />
Estado vinham da negociação de monopólios, como<br />
aqueles instituídos sobre comércio exterior e produção de<br />
sal, sabão, alúmen, arenque e cerveja, que beneficiavam<br />
um pequeno grupo, a burguesia financeira. Prejudicavam<br />
consideravelmente setores em ascensão da burguesia<br />
comercial, desprovidos da liberdade para suas atividades,<br />
e os artesãos, que pagavam caro por alúmen e produtos<br />
indispensáveis a seu trabalho. Ao mesmo tempo, a<br />
garantia de privilégios às corporações de ofício impedia<br />
o aumento da produção industrial, pois eles limitavam a<br />
entrada de novos produtores nas áreas urbanas.<br />
Também no campo, outras questões delicadas de ordem<br />
econômica e social se impunham, agravando o quadro de<br />
tensões que culminaria no processo revolucionário. A<br />
alta de preços, decorrência do grande afluxo de metais<br />
preciosos da América à Europa, estimulou a produção<br />
agrícola e provocou um crescente processo de<br />
especulação sobre os valores da terra; a crescente<br />
expansão do consumo de alimentos e matérias-primas,<br />
como a lã, também contribuíram nesse processo de<br />
valorização das áreas rurais, que passaram a atrair a<br />
cobiça de grandes produtores rurais.<br />
Muitos proprietários foram beneficiados no aumento de<br />
suas posses através dos cercamentos, isto é, o esforço de<br />
transformar em propriedade privada as terras coletivas,<br />
devolutas ou sobre as quais havia uma posse precária, de<br />
usufruto especialmente dos camponeses pobres. . Tais<br />
ações expulsavam posseiros e criavam grandes<br />
propriedades, nas quais se investia capital para aumentar<br />
a produção. A decorrência social desse processo foi<br />
especialmente o processo de assalariamento de<br />
trabalhadores rurais, ou a migração de seus excedentes<br />
empobrecidos às cidades, agravando problemas como a<br />
mendicância, vadiagem e a violência nos centros<br />
urbanos. Quando o Estado se deu conta desses efeitos<br />
devastadores e objetivou preservar o equilíbrio social<br />
restringindo os cercamentos, atraiu contra si dois setores<br />
249
poderosos: a burguesia mercantil e a nobreza progressista<br />
rural, a gentry.<br />
No plano político, havia o conflito entre Rei e<br />
Parlamento. Instituído pela Carta Magna de 1215, o<br />
órgão deveria funcionar como instrumento de restrição à<br />
autoridade real e de representatividades dos grupos<br />
sociais ingleses. Com a ascensão e fortalecimento dos<br />
Tudor no poder, essas representatividades foram<br />
cooptadas pelos monarcas, de modo a garantir aos reis o<br />
pleno exercício de decisão e governo, pouco convocando<br />
o órgão parlamentar. No século XVII, com as novas<br />
configurações de ordem social, novos grupos passaram a<br />
exigir o fortalecimento de suas representatividades por<br />
meio do Parlamento, reclamando o direito dessa<br />
instituição de transpor o poder de direito para o exercício<br />
do poder de fato. O rei, especialmente com a ascensão<br />
dos Stuart, correu a legitimar seu poder, que era de fato,<br />
espelhando-se no modelo francês, que considerava o<br />
poder real de origem divina.<br />
A luta política amalgamou-se ainda ao campo religioso e<br />
os reis procuraram manipular a religião para aumentar<br />
seu poder. No século XVI, os Tudor haviam dado ênfase<br />
ao conteúdo protestante do anglicanismo, isto é, seu lado<br />
calvinista, favorecendo a burguesia comprometida com<br />
os benefícios da Reforma. Agora, a chegada dos Stuart<br />
ao poder permitiu ressaltar as estruturas católicas do<br />
anglicanismo, identificando-se com a aristocracia<br />
tradicional, contra a burguesia; claro, através do<br />
catolicismo era mais fácil justificar a origem divina do<br />
poder real. O Parlamento, dominado pela burguesia<br />
mercantil e a gentry, especialmente na Câmara dos<br />
Comuns, radicalizou suas posições e identificou-se com<br />
o puritanismo (forma mais radical do calvinismo), que<br />
rejeitava o anglicanismo.<br />
A Revolução Puritana foi o resultado da luta entre<br />
burguesia e realeza pelo controle político do país, como<br />
também o resultado de tensões religiosas entre o<br />
anglicanismo oficial e o puritanismo.<br />
1605 (pretendiam explodir Westminster durante um<br />
discurso do rei). Para tanto, constituíram-se os Tribunais<br />
Eclesiásticos, conduzida pelo arcebispo Laud, figura que<br />
se tornou bastante impopular. Muitos descontentes<br />
passaram a recorrer à emigração para a América.<br />
A oposição entre Rei e Parlamento ficou evidente a partir<br />
de 1610, quando o monarca, valendo-se de seus preceitos<br />
absolutistas, aumentou impostos e concedeu monopólios<br />
sobre diversos produtos a seus aliados; também<br />
divergiram quanto à ocupação da Irlanda, na qual o<br />
monarca visava reforçar uma ocupação feudal, que<br />
privilegiasse grupos aristocratas conservadores, enquanto<br />
setores da gentry e da burguesia, eram partidários de uma<br />
ocupação mercantil das terras. A política fiscal<br />
autoritária, repressão religiosa e a política externa de<br />
aproximação com a Espanha católica foram fatores de<br />
permanente desgaste na relação entre o primeiro monarca<br />
Stuart e o Parlamento.<br />
Após a sua morte em 1625, sobe ao trono seu filho<br />
Carlos I, que manteve a política autoritária e os<br />
mecanismos de repressão política e religiosa de seu pai.<br />
Aumentou os gastos com a Corte e buscou atrair a<br />
Câmara dos Pares através da concessão de privilégios<br />
aos nobres, além de impor medidas fiscais excessivas,<br />
como a obrigatoriedade dos súditos de concederem<br />
empréstimos à Coroa e a extensão do ship money,<br />
imposto antes restrito às zonas portuárias e agora<br />
estendido a todo o país. Em 1628, guerras no exterior o<br />
obrigam a convocar um Parlamento hostil, que lhe impõe<br />
a Petição dos Direitos. Os membros da casa exigiam o<br />
controle da política financeira, controle da convocação<br />
do Exército e regularidade na convocação do<br />
Parlamento, já que lhe negaram a aprovação de rendas<br />
fixas. Inicialmente o Rei se submeteu às medidas, mas<br />
logo após alcançar o financiamento necessário, dissolveu<br />
o Parlamento, que só voltaria a reunir-se em 1640, ano<br />
da Revolução.<br />
250<br />
3. DINASTIA STUART E A TENSÃO PRÉ-<br />
REVOLUCIONÁRIA<br />
Com a morte da Rainha Elizabeth em 1603, a ausência<br />
de herdeiros levou ao trono Jaime I, primeiro rei da<br />
Dinastia Stuart. No poder, se esforçou para reforçar seu<br />
poder pessoal e registrou um reforço na orientação<br />
católica da Igreja Anglicana, provocando reações dos<br />
puritanos. Em resposta, perseguiu seitas radicais e até os<br />
católicos, que organizaram a Conspiração da Pólvora em
Carlos I apoiou-se na Câmara Estrelada, tribunal ligado<br />
ao Conselho Privado do Rei. Dentre seus assessores,<br />
destacaram-se o Conde de Strafford e o arcebispo Laud,<br />
de Canterbury, responsáveis pela repressão violenta do<br />
período; cresceu a emigração para a América. Como a<br />
forma de enquadrar os dissidentes era a política religiosa,<br />
Carlos tentou uniformizar o reino, impondo o<br />
anglicanismo aos escoceses, calvinistas presbiterianos,<br />
em sua maioria, que se rebelaram e invadiram o norte<br />
inglês em 1640. O Rei, então, convocou o Parlamento<br />
em abril de 1640, na tentativa de aumentar impostos para<br />
a organização do Exército, para o qual o Parlamento<br />
voltou a exigir uma série de restrições ao poder real,<br />
levando o monarca a dissolvê-lo em seguida.<br />
Em novembro, mediante vexatória derrota das tropas<br />
inglesas para a Escócia, sem opções, o Rei viu-se forçado<br />
a convocar novamente o Parlamento. Foi o Longo<br />
Parlamento, pois se manteve até 1653.<br />
4. REVOLUÇÃO PURITANA 1640 - 1649<br />
O Parlamento aproveitou a ocasião para se impuser<br />
perante o rei. Destruiu a Câmara Estrelada. Strafford foi<br />
executado em 1641 e Laud, em 1645; o rei não poderia<br />
mais ter exército permanente e o Parlamento se reuniria a<br />
cada três anos independentemente de convocação real, a<br />
fim de conduzir a política tributária e religiosa. Acusou o<br />
rei de responsável pelo levante na Irlanda católica em<br />
1641 e lhe dirigiu a Grande Remonstrance<br />
(repreensão). Em janeiro de 1642, com o agravamento<br />
das tensões e críticas, o rei foi ao Parlamento e exigiu a<br />
prisão de cinco líderes oposicionistas, resultando em<br />
reação violenta, sustentada nas milícias urbanas<br />
convocadas em apoio ao Parlamento.<br />
Era o início de uma longa e sangrenta guerra civil, que<br />
opunha partidários do rei e representações do Parlamento<br />
inglês. O rei fez de Oxford seu quartel-general e<br />
convidou o príncipe Rupert para comandar cerca de 20<br />
000 homens do exército de cavaleiros, apoiado por<br />
aristocratas do oeste e norte, bem como burgueses<br />
inquietos com a desordem popular. Do lado oposto, no<br />
exército rebelde, Oliver Cromwell organizou em novo<br />
estilo de milícia do Parlamento, o new model army,<br />
composto, sobretudo por camponeses, com apoio da<br />
burguesia londrina e da gentry: a ascensão se dava não<br />
por nascimento, mas por merecimento, estimulando-se<br />
entre os soldados a participação em comitês que<br />
debatiam os problemas e prioridades da ação militar. Os<br />
cabeças redondas (porque não usavam perucas) foram<br />
decisivos na batalha final de Naseby, em 1645. Carlos I<br />
se refugiou na Escócia, foi preso e vendido pelo<br />
Parlamento escocês ao Parlamento inglês.<br />
O vazio de poder deixado pela vacância do trono inglês<br />
deu início a um longo e complexo conflito entre diversas<br />
facções políticas formadas durante o processo<br />
revolucionário. Criou-se novo problema: setores do<br />
Parlamento, achando oportuno o momento para um<br />
acordo vantajoso com a realeza, passaram a conspirar<br />
com o rei contra o exército, idealizando pôr em marcha a<br />
contrarrevolução. Grupos mais conservadores do<br />
Parlamento desejavam diminuir a influência do Exército,<br />
considerando a necessidade desmobilizá-lo ou enviá-lo<br />
para conter uma rebelião iniciada na Irlanda, de modo a<br />
retomar a ordem institucional.<br />
O Exército parlamentar estava organizado e influenciado<br />
por radicais, como os niveladores, que queriam evitar a<br />
desmobilização e o não pagamento dos salários, como<br />
pretendia o Parlamento. Aprofundou-se a diferença entre<br />
os grandes do exército e suas bases de niveladores, com<br />
projeto avançado para a época (extinção da Câmara dos<br />
Lordes, sufrágio universal masculino, livre comércio, fim<br />
dos monopólios, execução do Rei). Eles tentaram<br />
assumir o controle do exército em 1647 e o rei<br />
aproveitou para fugir de novo. Sob a iniciativa de Oliver<br />
Cromwell, o exército se reunificou, prendeu o rei e<br />
depurou o Parlamento. Foram presos 47 deputados e<br />
excluídos 96: era o Parlamento Coto (Rump). Carlos I foi<br />
decapitado em 30 de janeiro de 1649, a Câmara dos<br />
Lordes abolida e a República proclamada em 19 de maio.<br />
5. A REPÚBLICA DE CROMWELL (1649-<br />
1660)<br />
251
Após a execução do Rei, o comando da Nação recaiu<br />
sobre o líder da facção vitoriosa na guerra Oliver<br />
Cromwell, que submeteu o Parlamento e o próprio<br />
exército a uma nova depuração, tentando eliminar<br />
facções mais radicais como os levellers e diggers. Um<br />
Conselho de Estado, com 41 membros, passou a exercer<br />
o Poder Executivo, embora o poder estivesse de fato nas<br />
mãos e decisão de Cromwell; ele procurou eliminar a<br />
reação realista que, com apoio escocês, tentava pôr no<br />
trono Carlos II, filho de Carlos I; também eliminou os<br />
radicais do exército, com os líderes niveladores sendo<br />
executados; os escavadores, do movimento proletário<br />
rural que pretendia tomar terras do Estado, da nobreza e<br />
do clero anglicano, foram dizimados. Liquidado o<br />
movimento mais democrático dentro da Revolução<br />
Inglesa, os menos favorecidos ficaram sem esperanças e<br />
aderiram a movimentos religiosos radicais, como os<br />
ranters e os seekers.<br />
Em 1653, foi dissolvido o que restava do Longo<br />
Parlamento e uma nova Constituição deu a Cromwell o<br />
título de Lorde Protetor. Tinha poderes tão tirânicos<br />
quanto os da monarquia e, simbolicamente, o Parlamento<br />
oferecera-lhe a coroa, mas ele recusou, embora na prática<br />
governasse como um soberano e podia até fazer o<br />
sucessor.<br />
Deu grande contribuição ao avanço econômico inglês,<br />
quando em disputa com os rivais holandeses, buscou<br />
fortalecer o comércio exterior inglês, baixando o Ato de<br />
Navegação. Por meio dele, as mercadorias inglesas<br />
somente podiam entrar em portos ingleses em navios<br />
ingleses ou nas embarcações dos seus países de origem.<br />
Cromwell governou com rigidez e intolerância; ao<br />
morrer, em 1658, seu filho Richard Cromwell o<br />
substituiu, mas a sua falta de habilidade política<br />
dificultou e impediu sua continuidade no poder. O temos<br />
de novos conflitos pelos grupos conservadores e a<br />
possível emergência de novos grupos radicais gerou as<br />
condições necessárias para o retorno da Dinastia Stuart,<br />
restaurando a monarquia na Inglaterra.<br />
OLIVER CROMWELL, O MAL-AMADO<br />
Cromwell, herói ou tirano? O dicionário Petit Robert,<br />
que cita seu “poder ditatorial” e seu “fanatismo de uma<br />
crueldade particular”, decidiu. A história, contudo, ainda<br />
hesita, posto que o percurso desse puritano para derrubar<br />
a monarquia inglesa ilustra as ambiguidades de todo<br />
processo revolucionário.<br />
Por Bernard Cottret<br />
Na França, conhecemos Oliver Cromwell na escola.<br />
Porém, mais frequentemente durante uma aula de<br />
literatura francesa, e não, como se poderia esperar, em<br />
uma de história, é que se tem toda a dimensão do<br />
personagem. Vitor Hugo não dedicou, em 1827, uma de<br />
suas mais famosas peças de teatro ao revolucionário<br />
inglês do século XVII? Ao mencionar a “união fecunda<br />
do tipo grotesco com o tipo sublime” em seu prefácio, o<br />
dramaturgo francês fornecia elementos de uma longa<br />
meditação sobre o lugar dos grandes homens na história.<br />
Confrontada à queda do Império e à Restauração, a<br />
jovem geração romântica não podia deixar de estabelecer<br />
um paralelo incisivo entre Cromwell e Napoleão. No<br />
entanto, é preciso salientar que o Cromwell de Vitor<br />
Hugo nada mais é que um Napoleão Bonaparte que<br />
nunca se tornaria rei ou imperador. Ou seja, um monarca<br />
republicano.<br />
Em 1642, quando realizou uma revolução, a<br />
Inglaterra achava que se encaminharia para uma reforma<br />
religiosa. Em virtude de qual delírio os “cabeças<br />
redondas” puritanos, alimentados pelo relato bíblico,<br />
puderam confundir a esse ponto o Rio Tâmisa com o rio<br />
Jordão? Como alguns ingleses, contemporâneos de<br />
Cromwell, puderam acreditar que Jesus Cristo desceria<br />
do seu lugar, à direita do Pai, para dar à Grã-Bretanha o<br />
rei de que precisava?<br />
As Ilhas Britânicas conheceram nos anos de 1640<br />
uma terrível crise de crescimento. A Inglaterra, a Escócia<br />
e a Irlanda eram reinos separados. E, sob vários ângulos,<br />
antagônicos. Na falta de promover eficientemente a<br />
unificação dos três reinos, Carlos I tentou impor aos<br />
escoceses, presbiterianos, a conformidade religiosa com<br />
a Igreja anglicana. Mas Edimburgo levantou-se e os<br />
escoceses atravessaram o Rio Tweed, que separa os dois<br />
países. Diante da ameaça, o rei não teve outra saída<br />
senão convocar o Parlamento a contragosto.<br />
Os parlamentares pediam reformas. O rei os mandou<br />
embora uma primeira vez, mas precisou convocá-los<br />
novamente. A revolta dos católicos irlandeses dessa vez<br />
foi o estopim: os parlamentares dirigiram ao rei sua<br />
“Grande Remontrance” [Grande Repreensão] em<br />
novembro de 1641 e, menos de um ano mais tarde, a<br />
guerra civil estourou entre Carlos I e o Parlamento (no<br />
verão de 1642). Ninguém, nem mesmo Cromwell,<br />
pensava ainda em república. A revolução inscreveu-se<br />
252
primeiro na lógica abstrata da necessidade. Cromwell,<br />
em sua psicologia mais íntima, estava atento às<br />
mensagens de sua consciência. No processo<br />
revolucionário – do qual se tornou pouco a pouco um dos<br />
principais protagonistas –, ele decifrou o propósito<br />
providencial de Deus.<br />
Este escolheu Cromwell pelo menos tanto quanto<br />
Cromwell escolheu Deus. Esse Deus, evidentemente, era<br />
o senhor dos exércitos, o eterno Sabaoth. Mas era<br />
permitido perguntar-se se não era também o dos ingleses.<br />
Cromwell estava de acordo com seu tempo e encontrou<br />
na revolução o sentido de sua vocação. Deus o chamou e<br />
lhe concedeu a vitória contra seus inimigos – os<br />
monarquistas, os parlamentares “presbiterianos”, os<br />
escoceses e os irlandeses. O exército era sua única e<br />
verdadeira Igreja.<br />
Nascido em 1599, no leste da Inglaterra,<br />
Cromwell levou uma existência modesta de proprietário<br />
rural desencantado e falido. Lia a Bíblia e se interessava<br />
por cavalos: essa era sua única formação. Porém, o que é<br />
bom para os cavalos também pode ser bom para os<br />
homens. Quando a revolução estourou, ele organizou a<br />
cavalaria, cansado dos debates do Parlamento do qual<br />
participava desde 1640. Era um homem de ação,<br />
briguento, mais à vontade quando se tratava de dar<br />
ordens nos campos de batalha do que quando precisava<br />
discorrer na Câmara dos Comuns. Diferentemente de<br />
Napoleão, Cromwell tinha mais de 40 anos quando se<br />
tornou soldado. Ele queimou as etapas: capitão, coronel,<br />
e finalmente em 1644, tenente-general. Era<br />
oficiosamente o segundo comandante da New Model<br />
Army. Mas era o melhor, e isso começou a se saber.<br />
Como Napoleão, Cromwell se tornaria imperador?<br />
Quem sabe? Até lá, ainda era preciso ganhar muitas<br />
batalhas, fazer o processo do rei, proclamar a república...<br />
Sem esquecer-se de reprimir as cabeças quentes do<br />
exército e da revolução – eram frequentemente as<br />
mesmas – que podiam fazer tudo ir por água abaixo em<br />
razão de seu esquerdismo insensato.<br />
O Senhor Protetor da República<br />
Niveladores e escavadores, levellers e diggers,<br />
desejavam uma representação política mais justa e uma<br />
melhor distribuição das riquezas. Cromwell não estava<br />
de acordo. Como tantos outros, este revolucionário era,<br />
no fundo, um conservador.<br />
Levaram todo mundo. Em janeiro de 1649, Carlos I<br />
foi executado; em maio do mesmo ano, esmagaram os<br />
niveladores. A república seria conservadora, ou não<br />
seria. Aliás, a partir de dezembro de 1653, ela se tornou<br />
Protetorado. O Protetorado era uma ditadura provisória –<br />
como o são, em princípio, todas as ditaduras – mas que<br />
se inventou uma legitimidade dando-se, pela única vez<br />
na história inglesa, uma Constituição escrita. O “Senhor<br />
Protetor da República da Inglaterra, da Escócia e da<br />
Irlanda” não era ninguém mais que Cromwell.<br />
Pois é. Constituíram lhe um título sob medida?<br />
Cromwell tentou dar garantias para a opinião pública:<br />
convocou um primeiro Parlamento do Protetorado,<br />
depois um segundo, sem nunca conseguir chegar a um<br />
entendimento durável com esses homens que discorriam<br />
e o entediavam, clamando pela caça impiedosa aos<br />
blasfemadores, heréticos, alcoólicos e fornicadores com<br />
a mesma sanha.<br />
Era a retórica sem fundo da moral majority, sempre<br />
presente na Inglaterra. Cromwell estava desolado com<br />
tanta maldade e estreiteza de espírito, pretensamente a<br />
serviço do evangelho. Para Cromwell, mais valia<br />
convocar o cardeal franco-italiano Monsenhor Mazarin,<br />
o qual encantava literalmente Sua Alteza o Lorde<br />
Protetor. Este o convidou a tirar férias no país do<br />
pudding se a Fronde (guerra civil francesa, ocorrida entre<br />
1648 e 1653) persistisse e se reascendesse. E pediu como<br />
preço de seus serviços que (o pequeno) Luís XIV se<br />
dignasse a chamá-lo de “Senhor meu irmão”. O rei da<br />
França se limitaria a um pudico “Senhor Protetor”.<br />
Porém, com seu senso de grandeza inato, Luís XIV<br />
guardaria uma excelente imagem do revolucionário<br />
puritano que, revelaria ele, teria desejado “em segredo a<br />
qualidade de rei que recusava em público”. Em todo<br />
caso, a aliança franco-inglesa permitiria rechaçar os<br />
espanhóis. E lhes tomar a cidade de Dunquerque, inglesa<br />
e finalmente francesa em 1662.<br />
Cromwell morreu em setembro de 1658. A revolução<br />
sobreviveu-lhe apenas alguns meses, pois, em 1660, os<br />
Stuart subiram novamente ao trono. O Lorde Protetor foi,<br />
de acordo com o rótulo que lhe conferiu um adversário<br />
monarquista, Lorde Clarendon, um “bravo homem mau”.<br />
Nosso “protetor” tinha o coração mole e não deixava de<br />
derramar algumas lágrimas na companhia de um dos<br />
“entusiastas” que mandara encarcerar. Os quakers o<br />
seduziam e o exasperavam ao mesmo tempo. No fundo,<br />
Cromwell era partidário da tolerância. Muito mais,<br />
considerando-o como um todo, que a maioria de seus<br />
contemporâneos. Mas o homem da ordem se agitava<br />
253
assim que ameaçavam atingir a propriedade ou as<br />
instituições civis. Esse fervoroso cristão nunca admitiu o<br />
zelo daqueles que dividem – mas era de uma notável<br />
abertura teológica com os batistas ou com seus irmãos<br />
“independentes”, adeptos da autogestão das igrejas<br />
contra o sistema presbítero-sinodal dos reformados.<br />
Cromwell era incontestavelmente protestante. Como<br />
alguns outros, tinha muitas dificuldades para se encontrar<br />
em uma igreja; não esqueceu suas convicções quando se<br />
inflamou a favor dos vaudois1ou quando exigiu a<br />
readmissão dos judeus na Inglaterra, de onde foram<br />
expulsos em 1290. Certamente, ele não era tão<br />
compreensivo com os “papistas” irlandeses ou os<br />
anglicanos. O que não era de se espantar nesse século de<br />
ferro e de fogo.<br />
Fazer uma biografia de Cromwell, sem complacência,<br />
sem heroicização póstuma, sem culto aos santos, mesmo<br />
puritanos, é escrever uma historia da fé, muito mais do<br />
que doutrinas políticas e religiosas. É preciso reencontrar<br />
toda a verdade de um homem, de um destino, de uma fé<br />
e de uma época. Que outro objeto atribuir à história<br />
senão essa confluência entre a convicção e a ação?<br />
Bernard Cottret. Professor de história na Universidade de Versailhes - Saint-<br />
Quentin-en-Yvelines. Autor de "Cromwell. Paris: Fayard, 1992" e "Historie de<br />
l'Angleterre. Paris: tallandier, 2011"<br />
6. A RESTAURAÇÃO E A REVOLUÇÃO<br />
GLORIOSA<br />
Com apoio dos grupos conservadores, o Parlamento-<br />
Convenção proclamou Carlos II rei em 1660. Com<br />
poderes limitados, ele se aproximou de Luís XIV da<br />
França, tornando-se suspeito para o Parlamento. Uma<br />
onda contrarrevolucionária sobreveio favorecida por um<br />
Parlamento de Cavaleiros, composto por nobres realistas<br />
e anglicanos em sua maioria. O corpo de Cromwell foi<br />
desenterrado e pendurado na forca. O poeta Milton foi<br />
julgado e condenado. Carlos II baixou novos atos de<br />
navegação em favor do comércio inglês e sua ligação<br />
com Luís XIV levou-o a envolver-se na Guerra da<br />
Holanda. O Parlamento baixou então, em 1673, a Lei do<br />
Teste, pela qual todos os que exercessem função pública<br />
deveriam professar seu antianglicanismo. Surgiram dois<br />
partidos: os whigs, contra o rei e pró-Parlamento; os<br />
tories, defensores das prerrogativas reais.<br />
Com uma postura mais radical que a de seu antecessor,<br />
Jaime II, irmão de Carlos II, subiu ao trono mesmo sendo<br />
católico. Buscou restaurar abertamente o absolutismo e o<br />
catolicismo, punindo os revoltosos, aos quais negava o<br />
habeas-corpus. Indicou católicos para funções<br />
importantes do governo e garantiu privilégios fiscais aos<br />
adeptos dessa religião<br />
A tensão política gerada pela intransigência de Jaime II e<br />
a ameaça de uma nova guerra civil levaram parte da elite<br />
dominante e do clero anglicano a promover um golpe<br />
palaciano. Em 1688, o Parlamento convocou Maria<br />
Stuart, filha de Jaime II e mulher de Guilherme de<br />
Orange, governador das Províncias Unidas, para ocupar<br />
o trono. Foi um movimento pacífico. Jaime II refugiouse<br />
na França e um novo Parlamento proclamou<br />
Guilherme e Maria rei e rainha da Inglaterra. Era a<br />
Revolução Gloriosa.<br />
Os novos soberanos tiveram de aceitar a Declaração dos<br />
Direitos, baixada em 1689, que decretava: o rei não<br />
podia cancelar leis parlamentares e o Parlamento poderia<br />
dar o trono a quem lhe aprouvesse após a morte do rei;<br />
haveria reuniões parlamentares e eleições regulares; o<br />
Parlamento votaria o orçamento anual; inspetores<br />
controlariam as contas reais; católicos foram afastados da<br />
sucessão; a manutenção de um exército em tempo de paz<br />
foi considerada ilegal.<br />
Os ministros passaram a tomar as decisões, sob<br />
autoridade do lorde tesoureiro. Funcionários passaram a<br />
dirigir o Tesouro e, em época de guerra, orientavam a<br />
política interna e externa. Em 1694, formou-se o tripé<br />
fundamental para o desenvolvimento do país, com a<br />
criação do Banco da Inglaterra: o Parlamento, o Tesouro<br />
e o Banco.<br />
Abriam-se as condições para o avanço econômico que<br />
resultaria na Revolução Industrial. De um lado, uma<br />
revolução na agricultura através dos cercamentos que<br />
beneficiou a gentry. De outro, a expansão comercial e<br />
marítima garantida pelos Atos de Navegação, que<br />
atendiam aos interesses da burguesia mercantil. Assim se<br />
fez a Revolução Gloriosa, que assinalou a ascensão da<br />
burguesia ao controle total do Estado.<br />
EXERCÍCIOS<br />
1. (FGVRJ 2013) A Reforma, a despeito de sua<br />
hostilidade à magia, estimulara o espírito de profecia. A<br />
abolição dos intermediários entre o homem e a<br />
divindade, bem como a ênfase na consciência individual,<br />
deixavam Deus falar diretamente a seus eleitos. Era<br />
254
obrigação destes tornar conhecida a Sua mensagem. E<br />
Deus não fazia acepção de pessoas: preferia falar a John<br />
Knox do que à sua rainha, Maria Stuart da Escócia. O<br />
próprio Knox agradeceu a Deus ter-lhe dado o dom de<br />
profetizar, que assim estabelecia que ele era um homem<br />
de boa-fé.<br />
Na Inglaterra, as décadas revolucionárias deram ampla<br />
difusão ao que praticamente constituía uma profissão<br />
nova – a do profeta, quer na qualidade de intérprete dos<br />
astros, ou dos mitos populares tradicionais, ou, ainda, da<br />
Bíblia. HILL, Christopher, O mundo de ponta-cabeça. Ideias radicais durante a<br />
Revolução Inglesa de 1640. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo, Companhia<br />
das Letras, 1987, p. 103.<br />
O texto se refere ao ambiente político e religioso da<br />
Inglaterra no século XVII. A esse respeito é CORRETO<br />
afirmar:<br />
a) A insatisfação popular na Inglaterra era decorrente<br />
da perspectiva protestante de manter os sacerdotes<br />
como intermediários entre Deus e os homens.<br />
b) Os revolucionários basearam-se em princípios<br />
estritamente racionais e científicos, em uma nítida<br />
ruptura com as crenças e o profetismo da época.<br />
c) Apesar de todas as disputas religiosas dos séculos<br />
XVI e XVII, os monarcas ingleses mantiveram-se<br />
neutros, o que permitiu a preservação da monarquia.<br />
d) Para os revolucionários ingleses, Deus considerava<br />
apenas os parlamentares como pessoas aptas a<br />
transmitir a doutrina e indicar os caminhos da<br />
salvação.<br />
e) A movimentação revolucionária esteve vinculada<br />
aos conflitos religiosos decorrentes da chamada<br />
Reforma Protestante iniciada no século XVI.<br />
2. (Unesp 2012) A Revolução Puritana (1640) e a<br />
Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra<br />
do século XVII. Sobre o conjunto de suas realizações,<br />
pode-se dizer que<br />
a) determinaram o declínio da hegemonia inglesano<br />
comércio marítimo, pois os conflitos internos<br />
provocaram forte redução da produção e exportação<br />
de manufaturados.<br />
b) resultaram na vitória política dos projetos populares<br />
e radicais dos cavadores e dos niveladores, que<br />
defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos<br />
nobres.<br />
c) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com<br />
as disputas políticas e sociais, desembocaram na<br />
retomada do poder pelos católicos e em<br />
perseguições contra protestantes.<br />
d) geraram um Estado monárquico em que o poder real<br />
devia se submeter aos limites estabelecidos pela<br />
legislação e respeitar as decisões tomadas pelo<br />
Parlamento.<br />
e) precederam as revoluções sociais que, nos dois<br />
séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as<br />
colônias na América, provocando a ascensão política<br />
do proletariado industrial.<br />
3. (UPF 2012) A Revolução Inglesa de fins do século<br />
XVII pode ser considerada como a primeira revolução<br />
burguesa no continente Europeu. Sobre esta revolução é<br />
correto afirmar:<br />
a) O Parlamento e os monarcas tinham a mesma<br />
posição em relação à necessidade de impostos para a<br />
manutenção do Estado e a confiança de que o rei<br />
decidia sobre essa questão.<br />
b) Jaime I e Carlos I reorganizaram o Estado com seu<br />
comando forte e centralizador, deixando o legado da<br />
eficiência para os próximos monarcas.<br />
c) As condições econômicas e políticas estiveram<br />
estáveis durante o período pré-revolucionário.<br />
d) A Carta dos Direitos sagrou-se como documento de<br />
valor constitucional e foi aceita pelo casal<br />
Guilherme e Maria, novos monarcas por declaração<br />
do Parlamento.<br />
e) As divergências entre anglicanos e calvinistas foram<br />
um elemento essencial do processo revolucionário,<br />
que findou com a aceitação da mesma religião por<br />
todos.<br />
4. (Enem 2012) Que é ilegal a faculdade que se atribui à<br />
autoridade real para suspender as leis ou seu<br />
cumprimento.<br />
Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem<br />
o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa,<br />
ou em época e modo diferentes dos designados por ele<br />
próprio.<br />
Que é indispensável convocar com frequência os<br />
Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para<br />
corrigir, afirmar e conservar as leis.<br />
Declaração dos Direitos. Disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em:<br />
20 dez. 2011 (adaptado).<br />
255
No documento de 1689, identifica-se uma particularidade<br />
da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na<br />
Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime<br />
político que predominavam na Europa continental estão<br />
indicados, respectivamente, em:<br />
a) Redução da influência do papa — Teocracia.<br />
b) Limitação do poder do soberano —Absolutismo.<br />
c) Ampliação da dominação da nobreza —República.<br />
d) Expansão da força do presidente —<br />
Parlamentarismo.<br />
e) Restrição da competência do congresso —<br />
Presidencialismo.<br />
5. (UFU 2012) Entre os eventos que merecem destaque<br />
na consolidação do absolutismo inglês estão o embate<br />
entre os York e os Lancaster, na Guerra das Duas Rosas,<br />
o controle dos nobres por Henrique VII e, finalmente, as<br />
ações de Henrique VIII, que rompeu com o papa e<br />
fundou a Igreja Anglicana, mantida sob sua tutela. Com a<br />
morte de Henrique VIII e a ascensão de Elizabeth I, o<br />
absolutismo inglês conheceu seu período de maturidade.<br />
As ações de Elizabeth I e de seus sucessores, adotando<br />
medidas mercantilistas, criando companhias de<br />
comércio, dissolvendo o Parlamento, exigindo pensão<br />
vitalícia e criando taxas, marcaram acontecimentos que<br />
culminaram, décadas mais tarde, numa página da história<br />
da sociedade inglesa conhecida como Revolução<br />
Gloriosa. Neste cenário,<br />
a) a economia inglesa, diante da instabilidade política,<br />
teve um desenvolvimento irregular no século XIX,<br />
atrasando sua industrialização frente a outros países.<br />
b) a monarquia absolutista inglesa, reconhecendo suas<br />
limitações, tomou a iniciativa na criação do Bill of<br />
Rights, evitando novas guerras civis no país.<br />
c) as medidas absolutistas insuflaram questionamentos<br />
na sociedade inglesa, favorecendo mudanças e<br />
rupturas na estrutura política do país.<br />
d) as características absolutistas da monarquia inglesa a<br />
afastavam do modelo constitucional que, desde o<br />
final da Idade Média, predominava na Europa.<br />
6. (G1 - IFCE 2011) A Revolução Inglesa do século<br />
XVII foi um movimento com características religiosas,<br />
políticas, econômicas e sociais. Do ponto de vista<br />
institucional, ou seja, político, foi uma luta entre<br />
a) a burguesia e a nobreza progressista.<br />
b) o Parlamento e o Estado absolutista.<br />
c) os católicos e os anglicanos.<br />
d) a pequena burguesia mercantil e a alta burguesia<br />
industrial.<br />
e) a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.<br />
7. (UFV 2010) Sobre as Revoluções Inglesas do século<br />
XVII, é CORRETO afirmar que:<br />
a) Oliver Cromwell evitou a centralização do poder<br />
quando se tornou o Lorde Protetor da Inglaterra em<br />
1653, pois repudiava o poder absolutista.<br />
b) após a guerra civil da década de 1640, o rei Carlos I<br />
foi executado e a República na Inglaterra foi<br />
estabelecida temporariamente.<br />
c) Guilherme de Orange, um dos líderes do Exército<br />
Revolucionário que lutou na década de 1640 contra<br />
o poder absolutista do rei Carlos I, foi coroado como<br />
o novo rei inglês.<br />
d) a Revolução Gloriosa (1688) representou a ascensão<br />
ao poder dos grupos sociais mais radicais que<br />
aboliram a propriedade privada.<br />
8. (PUCRJ 2010) “Para o progresso do armamento<br />
marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />
proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />
segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />
mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />
ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />
Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />
América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />
pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />
por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />
com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />
poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />
lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />
seus bens e mercadorias [...]”.<br />
Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />
Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.<br />
Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />
inglês:<br />
a) estabelecia que todas as mercadorias<br />
comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />
transportadas por navios ingleses.<br />
b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />
a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />
presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />
256
c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />
privilegiada de intermediária comercial em nível<br />
mundial.<br />
d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />
expandia o Império, abrindo novos mercados<br />
internacionais ao seu excedente agrícola.<br />
e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />
manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />
dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />
preciosos no Reino inglês.<br />
9. (UECE 2008) Sobre as Revoluções Burguesas, são<br />
feitas as seguintes afirmações:<br />
I. Consolidam o liberalismo e marcam mudanças nas<br />
estruturas econômicas, políticas e sociais de suas<br />
respectivas sociedades.<br />
II. Têm como base a defesa do Antigo Regime e iniciam<br />
a transição do feudalismo para o capitalismo.<br />
III. Seus exemplos mais expressivos são: Revolução<br />
Inglesa (1644), Revolução Americana (1776) e<br />
Revolução Francesa (1789).<br />
Assinale o correto.<br />
a) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.<br />
b) Apenas as afirmações I e III são falsas.<br />
c) Apenas as afirmações II e III são falsas.<br />
d) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.<br />
e) ele representou uma fase de distensão entre a<br />
Inglaterra e as oposições irlandesas e escocesas.<br />
11. (UFSCar) As revoluções contra o poder absolutista<br />
dos reis atravessaram grande parte da história moderna<br />
da Europa. Houve, no entanto, diferenças entre as<br />
revoluções francesa e inglesa. Assinale a alternativa<br />
correta.<br />
a) Na França, a oposição ao absolutismo implicou, ao<br />
contrário do que ocorreu na Inglaterra, o<br />
estabelecimento de um regime republicano, mesmo<br />
que passageiro.<br />
b) A revolução inglesa, diferentemente da francesa,<br />
reivindicou os direitos do Parlamento contra o<br />
arbítrio real, expressos por documentos escritos que<br />
remontavam à Idade Média.<br />
c) A revolução inglesa, ao contrário da francesa,<br />
contou com o apoio popular na luta contra os reis<br />
absolutistas, desvinculando-se de disputas entre<br />
facções religiosas.<br />
d) A luta contra o absolutismo na França distinguiu-se<br />
do processo que se desenvolveu na Inglaterra pela<br />
violência e execução do monarca absolutista.<br />
e) A revolução francesa removeu os obstáculos<br />
impostos à economia pelo antigo regime,<br />
industrializando o país no século XVIII; na<br />
Inglaterra, ao contrário, a revolução conteve o<br />
crescimento econômico.<br />
10. (UFRGS 2008) Ao longo da Revolução Inglesa,<br />
ocorrida no século XVII, emergiu um regime<br />
republicano, que durou cerca de uma década, sob o<br />
comando de Oliver Cromwell, o "Lord Protector" da<br />
Inglaterra.<br />
Sobre esse período republicano, é correto afirmar<br />
a) a Inglaterra, enfraquecida pela transição de regime,<br />
ficou à mercê das demais potências europeias, às<br />
quais foi obrigada a conceder uma série de<br />
vantagens comerciais.<br />
b) Cromwell, no intuito de proteger a economia<br />
interna, elaborou diversas restrições comerciais que<br />
o colocaram em conflito direto com os holandeses.<br />
c) a morosidade com que Cromwell implantou sua<br />
política econômica contribuiu para a curta duração<br />
de seu governo.<br />
d) ele teve como particularidade o retrocesso do<br />
puritanismo religioso, característica marcante nos<br />
tempos do monarca Carlos I.<br />
12. (Mackenzie) A burguesia tinha como projeto político<br />
a defesa da propriedade privada e os camponeses<br />
defendiam a propriedade coletiva. Ambas as classes<br />
combatiam a ordem monárquica absolutista, que lutou<br />
pelos interesses da aristocracia que a sustentava. O<br />
principal ideólogo do pensamento burguês da época foi<br />
John Locke que afirmava: A preservação da propriedade<br />
é o grande e principal objetivo da união dos homens em<br />
comunidade, colocados sob governo.<br />
Assinale a alternativa que corresponde a essa etapa do<br />
processo de consolidação da burguesia.<br />
a) Revolução Francesa.<br />
b) Revolução Inglesa.<br />
c) Revolução Russa.<br />
d) Revolução Americana.<br />
e) Revolução Alemã.<br />
257
13. (UNESP) "... o período entre 1640 e 1660 viu a<br />
destruição de um tipo de Estado e a introdução de uma<br />
nova estrutura política, dentro da qual o capitalismo<br />
podia desenvolver-se livremente."<br />
(Christopher Hill , A Revolução Inglesa de 1640)<br />
O autor do texto está se referindo:<br />
a) à força da marinha inglesa, maior potência naval da<br />
Época Moderna.<br />
b) ao controle pela coroa inglesa de extensas áreas<br />
coloniais.<br />
c) ao fim da monarquia absolutista, com a crescente<br />
supremacia política do parlamento.<br />
d) ao desenvolvimento da indústria têxtil,<br />
especialmente dos produtos de lã.<br />
e) às disputas entre burguesia comercial e agrária, que<br />
caracterizaram o período.<br />
14. (UFMG) Durante a Revolução Inglesa, no século<br />
XVII, foi formado o Exército de Novo Tipo, liderado por<br />
Oliver Cromwell, de que participavam, além da classe<br />
mercantil, da gentry, dos pequenos proprietários<br />
camponeses e de trabalhadores urbanos, segmentos mais<br />
radicais, que defendiam reformas profundas no Estado<br />
inglês.<br />
É CORRETO afirmar que esses segmentos eram<br />
constituídos.<br />
a) pelos tories, que visavam ao fechamento do<br />
Parlamento e à instituição de um governo popular, e<br />
pelos whigs, defensores da abolição da propriedade<br />
privada.<br />
b) pelos levellers, que reivindicavam a democratização,<br />
a extensão do sufrágio e uma maior igualdade<br />
perante a lei, e pelos diggers, defensores da posse<br />
comum das terras.<br />
c) pelos landlords, que buscavam a implantação do<br />
sufrágio universal e a extensão do voto às mulheres,<br />
e pelos warlordists, que pregavam a luta armada do<br />
povo contra o Parlamento.<br />
d) pelos saint-simonistas, que defendiam o fim do<br />
sistema monárquico, e pelos owenistas, defensores<br />
da abolição da Câmara dos Lordes.<br />
15. (UFRRJ) Leia o texto a seguir, sobre algumas das<br />
razões que levaram à chamada Revolução Gloriosa, e<br />
responda à questão a seguir.<br />
Satisfeitos com a política de Carlos II contra a Holanda,<br />
os capitalistas ingleses não se sentiam entretanto<br />
contentes com a sua atitude, e ainda menos com a de<br />
Jaime II, em relação à França, que se transformara na<br />
mais temível concorrente da Inglaterra no comércio e nas<br />
colônias. (...) A luta econômica contra a França, a luta<br />
por uma religião mais adaptada ao espírito capitalista,<br />
provocaram a revolução de 1688.<br />
MOUSNIER, R. "<strong>História</strong> geral das civilizações". Os séculos XVI e XVII. São<br />
Paulo: Difel, 1973. v. 9 p.324.<br />
Sobre a Revolução Gloriosa de 1688/1689, pode‐se<br />
afirmar que ela<br />
a) representou a vitória de setores reacionários no<br />
espectro político inglês e o retorno à<br />
descentralização política típica do mundo medieval.<br />
b) significou, após a afirmação temporária de governos<br />
protestantes, um retorno à tradição britânica de<br />
governos católicos.<br />
c) foi o momento no qual o anglicanismo afirmou‐se<br />
definitivamente como religião de Estado na<br />
Inglaterra.<br />
d) representou uma derrota da teoria do direito divino e<br />
o triunfo da teoria do contrato entre o soberano e o<br />
povo.<br />
e) representou a vitória da teoria da separação dos três<br />
poderes e de um estado democrático baseado no<br />
sufrágio.<br />
16. (FATEC) O Bill of Rights estabeleceu limitações ao<br />
poder real na Inglaterra. Sobre essas limitações é<br />
CORRETO dizer que<br />
a) instituíram um ministério composto pela nobreza<br />
latifundiária e a burguesia urbana.<br />
b) instituíram o anglicanismo como religião oficial da<br />
Inglaterra e a tolerância a todos os cultos, o que foi<br />
confirmado pelo rei, apesar de ele ser católico<br />
extremado.<br />
c) combatiam a liberdade de imprensa, a liberdade<br />
individual e a propriedade privada.<br />
d) dispensavam a aprovação das Câmaras para o<br />
aumento de impostos.<br />
e) configuravam um conjunto de medidas que acabou<br />
por substituir a monarquia absoluta vigente por uma<br />
monarquia constitucional.<br />
258
17. (PUCCAMP) Os conflitos político-sociais do século<br />
XVII foram o meio pelo qual a Inglaterra<br />
a) transformou o Absolutismo de direito em<br />
Absolutismo de fato.<br />
b) promoveu a substituição do Estado liberal -<br />
capitalista pelo Estado Absolutista.<br />
c) organizou o Exército do Parlamento, conferindo<br />
postos de comando segundo o critério de origem<br />
familiar e não pelo merecimento militar.<br />
d) consolidou os interesses da nobreza agrária<br />
tradicional rompendo com os ideais da burguesia.<br />
e) diluiu os obstáculos para o avanço capitalista,<br />
marcando o início da desagregação do Absolutismo<br />
Monárquico.<br />
18. (UNESP 2012) A Revolução Puritana (1640) e a<br />
Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra<br />
do século XVII.<br />
Sobre o conjunto de suas realizações, pode-se dizer que<br />
a) determinaram o declínio da hegemonia inglesa no<br />
comércio marítimo, pois os conflitos internos<br />
provocaram forte redução da produção e exportação<br />
de manufaturados.<br />
b) resultaram na vitória política dos projetos populares<br />
e radicais dos cavadores e dos niveladores, que<br />
defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos<br />
nobres.<br />
c) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com<br />
as disputas políticas e sociais, desembocaram na<br />
retomada do poder pelos católicos e em<br />
perseguições contra protestantes.<br />
d) geraram um Estado monárquico em que o poder real<br />
devia se submeter aos limites estabelecidos pela<br />
legislação e respeitar as decisões tomadas pelo<br />
Parlamento.<br />
e) precederam as revoluções sociais que, nos dois<br />
séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as<br />
colônias na América, provocando a ascensão política<br />
do proletariado industrial.<br />
19. (UNICAMP - 2011) Na Inglaterra, por volta de<br />
1640, a monarquia dos Stuart era incapaz de continuar<br />
governando de maneira tradicional. Entre as forças<br />
sociais que não podiam mais ser contidas no velho<br />
quadro político, estavam aqueles que queriam obter<br />
dinheiro, como também aqueles que queriam adorar a<br />
Deus seguindo apenas suas próprias consciências, o que<br />
os levou a desafiar as instituições de uma sociedade<br />
hierarquicamente estratificada.<br />
(Adaptado de Christopher Hill, “Uma revolução burguesa?”. Revista Brasileira de<br />
<strong>História</strong>, São Paulo, vol. 4, nº 7, 1984, p. 10.)<br />
a) Conforme o texto, que valores se contrapunham à<br />
forma de governo tradicional na Inglaterra do século<br />
XVII?<br />
b) Quais foram as consequências da Revolução Inglesa<br />
para o quadro político do país?<br />
20. (PUC-RJ – 2010) “Para o progresso do armamento<br />
marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />
proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />
segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />
mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />
ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />
Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />
América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />
pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />
por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />
com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />
poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />
lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />
seus bens e mercadorias [...]”.<br />
(Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />
Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.)<br />
Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />
inglês:<br />
a) estabelecia que todas as mercadorias<br />
comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />
transportadas por navios ingleses.<br />
b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />
a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />
presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />
c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />
privilegiada de intermediária comercial em nível<br />
mundial.<br />
d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />
expandia o Império, abrindo novos mercados<br />
internacionais ao seu excedente agrícola.<br />
e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />
manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />
dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />
preciosos no Reino inglês.<br />
259
21. (PITÁGORAS) A caricatura holandesa de 1658,<br />
intitulada O Horrível Homem-Rabo, representa<br />
mercadores holandeses tentando cortar a cauda do Oliver<br />
Cromwell recheada de dinheiro.<br />
A partir da leitura dos elementos da gravura ao lado e da<br />
sua contextualização histórica, assinale a opção que<br />
melhor expressa o espírito da gravura.<br />
a) Diante da débil marinha mercante inglesa, a Holanda<br />
apropriava-se de parte do lucro obtido pela<br />
Inglaterra com o comércio internacional.<br />
b) Os atos ilícitos praticados durante o Protetorado de<br />
Cromwell tornaram o governo inglês refém de<br />
aproveitadores e chantagistas.<br />
c) Os Atos de Navegação promulgados por Cromwell<br />
prejudicaram o comércio holandês, fortalecendo a<br />
economia britânica.<br />
d) A pesada tributação imposta pelo governo britânico<br />
penalizava os comerciantes holandeses que<br />
dominavam o comércio inglês.<br />
22. (VUNESP) <strong>Geral</strong>d Winstanley, líder dos escavadores<br />
da Revolução Puritana na Inglaterra (1640-1660), definiu<br />
a sua época como aquela em que "o velho mundo está<br />
rodopiando como pergaminho no fogo". Embora os<br />
escavadores tenham sido vencidos, a Revolução Inglesa<br />
do século XVII trouxe mudanças significativas, dentre as<br />
quais destacam-se a<br />
a) instituição do sufrágio universal e a ampliação dos<br />
direitos das Assembleias populares.<br />
b) separação entre Estado e religião e a anexação das<br />
propriedades da Igreja Anglicana.<br />
c) liberação das colônias da Inglaterra e a proibição da<br />
exploração da mão-de-obra escrava.<br />
d) abolição dos domínios feudais e a afirmação da<br />
soberania do Parlamento.<br />
e) ampliação das relações internacionais e a concessão<br />
de liberdade à Irlanda.<br />
23. (FEI) A Revolução Gloriosa marca a passagem da<br />
monarquia absoluta para a monarquia limitada. Qual é o<br />
sentido dos adjetivos "gloriosa" para a revolução e<br />
"limitada" para a monarquia?<br />
24. (FGV 2009) A linha mais secular associa-se com os<br />
levellers e os diggers os quais, embora seus programas<br />
diferissem muito, ofereciam soluções políticas e sociais<br />
para os males terrenos.<br />
Tais grupos surgiram dos acalorados debates, realizados<br />
em Putney em 1647, entre oficiais do exército<br />
(favoráveis aos grandes comerciantes e donos das<br />
propriedades rurais) e os “agitadores”, que<br />
representavam as fileiras da tropa.<br />
George Rude, Ideologia e protesto popular. in Adhemar Marques et alli, <strong>História</strong><br />
contemporânea através de textos.<br />
No contexto das revoluções inglesas do século XVII, os<br />
levellers se constituíam em um grupo:<br />
a) moderado, ligados à pequena nobreza rural, e<br />
defensores da articulação entre os interesses do rei<br />
Carlos I e do Parlamento, além de reivindicarem o<br />
poder religioso para os presbiterianos.<br />
b) extremista, com representantes entre os camponeses<br />
sem terra, aliados aos presbiterianos, defensores de<br />
uma sociedade que abolisse a propriedade privada e<br />
o dízimo pago à Igreja Anglicana.<br />
c) moderado, ligados a médios proprietários rurais, e<br />
aliados ao Novo Modelo de Exército liderado por<br />
Oliver Cromwell, defendiam o controle sobre o<br />
poder real e ampliação do poder do Parlamento.<br />
d) radical, pertencentes à pequena burguesia urbana,<br />
que defendiam uma série de transformações sociais,<br />
como a restrição às grandes propriedades e<br />
separação entre Igreja e Estado.<br />
e) conciliador, formado pela grande burguesia urbana,<br />
aliados da gentry e dos independentes, eram<br />
defensores da ampliação do poder do Parlamento e<br />
da liberdade econômica.<br />
25. (ENEM 2012) Que é ilegal a faculdade que se atribui<br />
à autoridade real para suspender as leis ou seu<br />
cumprimento.<br />
Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem<br />
o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa,<br />
ou em época e modo diferentes dos designados por ele<br />
próprio.<br />
Que é indispensável convocar com frequência o<br />
Parlamento para satisfazer os agravos, assim como para<br />
corrigir, afirmar e conservar as leis.<br />
Declaração de Direitos. Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em:<br />
20/12/2011 – Adaptado.<br />
260
No documento de 1689, identifica-se uma particularidade<br />
da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na<br />
Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime<br />
político que predominavam na Europa continental estão<br />
indicados, respectivamente, em:<br />
a) Redução da influência do papa – Teocracia.<br />
b) Limitação do poder do soberano – Absolutismo.<br />
c) Ampliação da dominação da nobreza – República.<br />
d) Expansão da força do presidente – Parlamentarismo.<br />
e) Restrição da competência do congresso –<br />
Presidencialismo.<br />
26. (FGV 2008) As idéias expressas nos excertos abaixo<br />
vieram a público na Inglaterra do século XVII,<br />
formuladas num documento fundamental da história do<br />
direito e do pensamento político; após lê-las e analisá-las<br />
atenciosamente, responda aos subitens da Questão.<br />
“Quando um cidadão inglês é preso, deve ele, nas vinte e<br />
quatro horas seguintes, receber a notificação escrita do<br />
delito que lhe é imputado.<br />
À exceção dos atos de alta traição ou de delitos<br />
excepcionalmente graves, qualquer pessoa presa pode<br />
obter sua liberdade provisória, através de fiança.<br />
[...]<br />
Todo oficial de justiça, magistrado ou carcereiro, que<br />
violar de qualquer maneira o “Habeas Corpus” deverá<br />
pagar 500 libras de indenização à parte lesada.”<br />
“Bill do Habeas Corpus” - 1679, in Mosca, Gaetano, “<strong>História</strong> das doutrinas<br />
políticas”<br />
a) Quais os fatos mais marcantes da vida social e política<br />
na Inglaterra no período em que tal documento foi<br />
elaborado?<br />
b) Depois da Guerra Civil (1646-1650), em que o rei<br />
Carlos I foi executado, como podemos caracterizar<br />
politicamente o período de governo do partido puritano<br />
de Oliver Cromwell e as suas relações com o Parlamento<br />
e a burguesia comercial?<br />
c) Explique o que foi a chamada Revolução Gloriosa de<br />
1689 e qual o seu significado para o poder dos reis, para<br />
o Parlamento e para as leis — como a do “Habeas<br />
Corpus” — que estabeleciam garantias individuais na<br />
Inglaterra.<br />
261
262<br />
GABARITO<br />
Resposta da questão 1:[E]<br />
Comentário da questão:<br />
As revoluções inglesas do século XVII ocorreram devido<br />
a uma mistura de interesses políticos e socioeconômicos,<br />
insuflados,em grande medida, pelas questões religiosas<br />
que atingiram a Inglaterra a partir de meados do século<br />
XVI. Em 1640, foram os puritanos (calvinistas ingleses)<br />
que lideraram a luta que levou à queda de Carlos I e à<br />
instalação da República de Cromwell. E em 1688 a<br />
reação à monarquia católica dos Stuart foi decisiva na<br />
aliança que possibilitou a Revolução Gloriosa que pôs<br />
fim ao absolutismo na Inglaterra.<br />
Resposta da questão 2:[D]<br />
Comentário da questão:<br />
As “Revoluções Inglesas”, do século XVII, foram as<br />
primeiras revoluções burguesas de caráter antiabsolutista<br />
na Europa. A Revolução Puritana derrubou a dinastia<br />
Stuart e implantou uma República Parlamentar, depois<br />
ditatorial, sob o comando de Oliver Cromwell, que<br />
reprimiu os movimentos populares e impulsionou o<br />
comércio inglês a partir do Ato de Navegação (1651).<br />
Com a Revolução Gloriosa, a burguesia inglesa se<br />
libertou do Estado absolutista definitivamente, que com<br />
seu permanente intervencionismo era uma barreira para<br />
um mais amplo acúmulo de capital. O novo rei,<br />
Guilherme de Orange se subordinou ao Bill of Rights.<br />
Dessa forma, a burguesia, aliada à aristocracia rural,<br />
passou a exercer diretamente o poder político através do<br />
Parlamento.<br />
Resposta da questão 3:[D]<br />
Comentário da questão:<br />
No século XVII a Inglaterra vivenciou duas revoluções:<br />
a Revolução Puritana, marcada pela Guerra Civil e pela<br />
decapitação do rei, e, no final do século, a Revolução<br />
Gloriosa, que extinguiu a dinastia Stuart e o absolutismo,<br />
sendo que o novo rei, Guilherme de Orange, teve de se<br />
submeter às imposições do Parlamento.<br />
Resposta da questão 4:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
A Declaração dos Direitos ou “Bill of Rights” foi um<br />
documento produzido com o desfecho da Revolução<br />
Gloriosa, que eliminou o absolutismo da Inglaterra e<br />
fortaleceu o papel do Parlamento enquanto instituição de<br />
governo no país.<br />
Resposta da questão 5:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
Depois da Revolução Puritana (1641-1649), as camadas<br />
populares não tiveram suas reivindicações atendidas pela<br />
República de Cromwell, que buscou atender<br />
principalmente reivindicações da burguesia puritana.<br />
Com a ascensão de Carlos II ao trono, em 1685, teve<br />
início uma tentativa de reimplantar no Reino Unido o<br />
absolutismo de fato e de direito. Divididos entre<br />
absolutistas e constitucionalistas, os parlamentares<br />
ingleses temiam uma nova guerra civil, pois sabiam que<br />
nenhum dos dois grupos conseguiria ter a confiança das<br />
camadas populares. A saída encontrada foi a destituição<br />
de Carlos II e a entronação de seu genro, Guilherme de<br />
Orange, mediante a aceitação da Bill of Rights<br />
(Declaração de Direitos), que limitava o poder real e<br />
instaurava na Inglaterra a Monarquia Constitucional<br />
Resposta da questão 6:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
A Revolução Inglesa (Puritana e Gloriosa) representou o<br />
choque entre as tendências absolutistas dos reis Stuart’s e<br />
o Parlamento, no qual havia o predomínio da ideologia<br />
burguesa, que pretendia manter o poder real limitado.<br />
Resposta da questão 7:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
Após um longo período de guerra civil na década de<br />
1640 (Revolução Puritana), foi instalada uma República<br />
na Inglaterra, liderada por Oliver Cromwell que apoiado<br />
pelo exército, se impôs sobre o Conselho de Estado<br />
(poder Executivo) e o Parlamento. Em 1653, sob o título<br />
de Lorde Protetor, transformou-se em ditador vitalício e<br />
hereditário.<br />
Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda<br />
existentes na Inglaterra foram eliminadas. As terras dos<br />
partidários do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas<br />
e vendidas aos produtores rurais. Legalizou-se a<br />
propriedade absoluta da terra e o cercamento dos campos
para produzir para o mercado. O liberalismo econômico<br />
entrava em vigor na prática. Porém, não foram atendidas<br />
reivindicações dos niveladores, segmento popular que<br />
apoiou Cromwell e assim chamado porque, segundo seus<br />
adversários, porque pretendiam nivelar as condições<br />
sociais, exigindo a completa liberdade religiosa e a<br />
igualdade de todos perante a lei.<br />
Resposta da questão 8:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
A afirmativa (A) está incorreta, pois o Ato de Navegação<br />
estabelecia regras para as mercadorias comercializadas<br />
com a Inglaterra;<br />
A afirmativa (C) está incorreta, pois o enfrentamento<br />
militar foi com a Holanda, e não com a França;<br />
A afirmativa (D) está incorreta, pois o Ato de Navegação<br />
promoveu a abertura de mercados aos produtos<br />
manufaturados ingleses;<br />
A afirmativa (E) está incorreta, pois estimulava e não<br />
dificultava a exportação dos manufaturados ingleses.<br />
Resposta da questão 13: [C]<br />
c) Ao fim da monarquia absolutista, com a crescente<br />
supremacia política do parlamento.<br />
Comentário da questão:<br />
O Parlamento passou a uma liderança no governo da<br />
Inglaterra, com a deposição dos Stuarts e a promulgação<br />
do Bill of Rights, que transferiu o poder executivo para o<br />
Parlamento.<br />
Resposta da questão 14: [B]<br />
b) pelos levellers, que reivindicavam a democratização, a<br />
extensão do sufrágio e uma maior igualdade perante a<br />
lei, e pelos diggers, defensores da posse comum das<br />
terras.<br />
Comentário da questão:<br />
Esses movimentos representavam os seguimentos sociais<br />
populares que reivindicavam uma demonstração do<br />
poder tanto político como econômico.<br />
Resposta da questão 9:[D]<br />
Resposta da questão 10:[B]<br />
Resposta da questão 11: [B]<br />
b) A revolução inglesa, diferentemente da francesa,<br />
reivindicou os direitos do Parlamento contra o arbítrio<br />
real, expressos por documentos escritos que remontavam<br />
à Idade Média.<br />
Comentário da questão:<br />
A política e a sociedade inglesa sempre exigiram dos reis<br />
direitos que desde a Baixa Idade Média restringiam seus<br />
poderes. Exemplo dessa situação foi a promulgação da<br />
Magna Carta no século XIII.<br />
Resposta da questão 12: [B]<br />
b) Revolução Inglesa.<br />
Comentário da questão:<br />
A primeira revolução de caráter burguesa ocorreu na<br />
Inglaterra, quando aquela classe decidiu reagir contra as<br />
pretensões absolutistas dos Stuarts.<br />
resposta da questão 15: [D]<br />
d) representou uma derrota da teoria do direito divino e o<br />
triunfo da teoria do contrato entre o soberano e o povo.<br />
Comentário da questão:<br />
A influência da teoria do Contrato Direito Civil de John<br />
Locke foi o referencial para a derrubada do direito divino<br />
dos reis na Inglaterra do século XVII.<br />
Resposta da questão 16: [E]<br />
e) configuravam um conjunto de medidas que acabou por<br />
substituir a monarquia absoluta vigente por uma<br />
monarquia constitucional.<br />
Comentário da questão:<br />
A afirmação caracteriza o significado do documento<br />
emitido para restringir o poder dos reis ao final do século<br />
XVII.<br />
Resposta da questão 17: [E]<br />
e) diluiu os obstáculos para o avanço capitalista,<br />
marcando o início da desagregação do Absolutismo<br />
Monárquico.<br />
263
Comentário da questão:<br />
Esses conflitos enfraqueceram a monarquia absolutista à<br />
mediada que os interesses da sociedade não eram<br />
compatíveis com os interesses dos Stuarts.<br />
sangue: por outro lado, a monarquia é qualificada de<br />
"limitada" porque, ao promulgar o Bill of Rights de<br />
1689, o Parlamento se sobrepôs definitivamente ao poder<br />
real, dando origem à máxima inglesa de que "o rei reina<br />
mas não governa".<br />
Resposta da questão 18:[D]<br />
Comentário da questão:<br />
A Revolução Puritana derrubou a dinastia Stuart e<br />
implantou uma República Parlamentar, depois ditatorial,<br />
sob o comando de Oliver Cromwell, que reprimiu os<br />
movimentos populares e impulsionou o comércio inglês<br />
a partir do Ato de Navegação (1651). Com a Revolução<br />
Gloriosa, a burguesia inglesa se libertava do Estado<br />
absolutista definitivamente, que com seu permanente<br />
intervencionismo era uma barreira para um mais amplo<br />
acúmulo de capital. O novo rei, Guilherme de Orange se<br />
subordinou ao Bill of Rights. Dessa forma a burguesia,<br />
aliada a aristocracia rural, passou a exercer diretamente o<br />
poder político através do Parlamento.<br />
Resposta da questão 19:<br />
a) De acordo com o texto de Christopher Hill, os valores<br />
que inspiravam a oposição à tradicional monarquia<br />
inglesa dos Stuart eram: “a busca por dinheiro”, que<br />
caracterizava as práticas capitalistas da burguesia<br />
mercantil, e a adoração a Deus baseada no<br />
individualismo e na livre interpretação da Bíblia típica,<br />
de alguns grupos protestantes, como os puritanos.<br />
b) A Revolução Inglesa transforma em definitivo a<br />
estrutura política do país, na medida em que converte-o<br />
em uma monarquia parlamentar, em que o poder<br />
legislativo estaria sob controle de representantes eleitos,<br />
fortemente influenciados por interesses da ascendente<br />
burguesia, e as atribuições do monarca e os direitos dos<br />
cidadãos estariam definidos em uma Constituição, a “Bill<br />
of Rights”.<br />
Resposta da questão 20: [B]<br />
Resposta da questão 21:[C]<br />
Resposta da questão 22: [D]<br />
Resposta da questão 23:<br />
A Revolução Gloriosa de 1688 é adjetivada de "gloriosa"<br />
porque, além de depor o último rei absolutista da dinastia<br />
Stuart (Jaime II), não provocou derramamento de<br />
Resposta da questão 24:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
Os chamados levellers ou “niveladores” constituíam um<br />
grupo político revolucionário inglês do século XVII,<br />
formado principalmente por representantes das camadas<br />
médias (médios proprietários de terra e baixa burguesia).<br />
Tinham como principal liderança John Lilburne (tenentecoronel<br />
do exército parlamentar). Participaram da<br />
Revolução Puritana, apoiando o exército de modelo novo<br />
liderado por Oliver Cromwell que, em nome do<br />
Parlamento, enfrentava o absolutismo Stuart.<br />
Reivindicavam o sufrágio universal, a abolição do<br />
dízimo, o fim dos monopólios, as reformas jurídicas, o<br />
fim dos cercamentos e a liberdade religiosa.<br />
Embora algumas de suas lideranças tenham se<br />
posicionado a favor da distribuição de terras, da<br />
igualdade de propriedade e da criação de uma república<br />
de pequenos proprietários (daí o termo “niveladores”), o<br />
movimento leveller adotava uma linha moderada,<br />
opondo-se às idéias coletivistas e à abolição da<br />
propriedade privada, como exigiam os grupos mais<br />
radicais, como os diggers ou true levellers, formados por<br />
pobres sem propriedade.<br />
Deve-se ressaltar que, tradicionalmente, nos materiais de<br />
Ensino Médio, tanto levellers quanto diggers são<br />
apresentados como facções “radicais” no contexto da<br />
Revolução Inglesa, em comparação, principalmente, com<br />
os membros da alta burguesia, gentry etc., o que poderia<br />
confundir o aluno bem preparado quanto à avaliação das<br />
alternativas B e D. Porém, a postura moderada dos<br />
levellers, em relação à dos radicais diggers, pode ser<br />
confirmada pela leitura do texto do historiador George<br />
Rude, Ideologia e protesto popular – Levellers e Diggers<br />
o radicalismo na Revolução Inglesa, cujo trecho serviu<br />
de base para o enunciado da questão e que se encontra na<br />
coletânea “<strong>História</strong> Contemporânea através de Textos”,<br />
de Adhemar Marques, Flávio Berutti e Ricardo Faria.<br />
Observe o texto a seguir:<br />
“Tais grupos surgiram dos acalorados debates, realizados<br />
em Putney em 1647, entre oficiais do exército<br />
(favoráveis aos grandes comerciantes e donos de<br />
264
propriedades rurais) e os “agitadores”, que<br />
representavam as fileiras da tropa. Alguns levellers<br />
pediam, a princípio, a igualdade da propriedade,<br />
merecendo assim o rótulo de leveller (nivelador) a eles<br />
aplicado pelos seus críticos. Mas, com a continuação do<br />
debate, o grupo principal de levellers (inclusive John<br />
Lilbume, seu principal porta-voz) rejeitou as ideias<br />
coletivistas, embora continuasse, em suas petições e<br />
manifestos, a condenar o monopólio, a pedir a abolição<br />
do dízimo (com compensação para os proprietários,<br />
porém) e da prisão por dívidas, e a reivindicar a reforma<br />
jurídica e o fim do cercamento das terras comuns e não<br />
usadas. Tiveram, portanto, uma política social de âmbito<br />
considerável, calculada para granjear o apoio dos<br />
pequenos proprietários, embora ficasse muito aquém da<br />
aspiração mais radical dos pobres sem propriedades - os<br />
criados, os miseráveis, os trabalhadores e os que não<br />
eram economicamente livres.”<br />
b) O governo de Oliver Cromwell marcou a chegada da<br />
burguesia inglesa ao poder do Estado por meio da ação<br />
armada. Demonstrando tratar-se de um representante das<br />
aspirações burguesas, Oliver Cromwell instituiu a<br />
República e suprimiu a Câmara dos Lordes, reduto da<br />
aristocracia tradicional, governando em consonância com<br />
a Câmara dos Comuns, composta sobretudo por<br />
burgueses.<br />
c) Após a restauração da Monarquia dos Stuarts, em<br />
decorrência da morte de Cromwell e da inabilidade<br />
política de seu filho, a Revolução Gloriosa,<br />
essencialmente burguesa, consolidou a Monarquia<br />
Parlamentar como forma política que superou o<br />
Absolutismo. Acompanhando tais transformações<br />
políticas, houve a cristalização da igualdade jurídica e da<br />
noção de direitos dos cidadãos, dentre eles o “Habeas<br />
Corpus”.<br />
George Rude, Ideologia e protesto popular. in Adhemar<br />
Marques et alli, <strong>História</strong> contemporânea através de<br />
textos.<br />
Resposta da questão 25:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
Na Idade Moderna, predominou na Europa Ocidental o<br />
regime político denominado Absolutista, caracterizado<br />
pela isenção de restrições legais ao poder régio. Na<br />
Inglaterra, por sua vez, após a Revolução Gloriosa, os<br />
membros do parlamento obrigaram Guilherme III a<br />
aceitar o Bill Of Rights — ou Declaração de Direitos —<br />
por meio do qual ficaram estabelecidas as bases do que<br />
viria a ser a monarquia constitucional. De acordo com o<br />
documento, ficava estabelecido que o Parlamento,<br />
reunindo-se regularmente, teria poder maior do que o rei,<br />
que não poderia tomar diversas medidas sem a aprovação<br />
do Parlamento.<br />
Resposta da questão 26:<br />
a) O contexto que envolveu a Inglaterra no século XVII<br />
caracteriza-se pela disputa política entre a burguesia<br />
ascendente economicamente e a nobreza tradicional, que<br />
controlava o poder político. Tal disputa evidenciou as<br />
transformações econômicas e sociais que marcaram a<br />
transição da sociedade estamental, que respalda o poder<br />
tradicional dos nobres, para a sociedade de classes<br />
tipicamente burguesa.<br />
265
ILUMINISMO<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Apresentado como o grande movimento de renovação<br />
intelectual do século XVIII, que se expandiu para as<br />
reflexões sobre política, economia e sociedade, expondo<br />
a crise do Antigo Regime, o Iluminismo apresentava<br />
como crença comum entre seus autores, a crença na<br />
possibilidade de empreender uma passagem da<br />
obscuridade à luz, ou das trevas da ignorância à<br />
sabedoria. Para isso, impunha-se como maior desafio,<br />
definir um método que realizasse tal proeza. Este tal<br />
método priorizava a razão e a experiência, e não mais as<br />
verdades reveladas nas Sagradas Escrituras e propagadas<br />
por autoridades religiosas ou pela perpetuação da<br />
tradição.<br />
Deve-se salientar, entretanto, que a concordância entre<br />
esses autores não era uma regra. Os pensadores da época<br />
nunca chegaram a uma doutrina comum, capaz de<br />
abarcar todas as outras em seu interior. Defendiam<br />
diferentes concepções filosófico-políticas. Em resumo,<br />
não houve uma unidade de pensamento no século das<br />
Luzes, mas sim muitas vozes dissonantes. Por isso é que<br />
o Iluminismo não pode ser qualificado como uma<br />
doutrina ou unidade teórica.<br />
A própria palavra “Iluminismo” não existia no século<br />
XVIII. Nas línguas ibéricas, só apareceu no século<br />
seguinte, e a primeira ocorrência em um dicionário na<br />
língua portuguesa é de 1836. Difícil acreditar, já de<br />
saída, que o século XVIII tenha apresentado um conjunto<br />
coeso de ideias, ou uma ideologia unitária que possamos<br />
classificar com o sufixo “ismo”.<br />
Ainda assim, geralmente, o fenômeno do<br />
Esclarecimento é apresentado como um sistema de<br />
valores que deu origem ao mundo contemporâneo,<br />
estando na base das grandes transformações políticas,<br />
econômicas e sociais a partir do século XVIII. As noções<br />
modernas de igualdade, democracia e liberdade são<br />
geralmente apresentadas como invenções dos filósofos<br />
iluministas, que teriam se desdobrado em vários campos<br />
nos séculos posteriores. Segundo o historiador norteamericano<br />
Robert Darnton, o Iluminismo está cada vez<br />
mais em todos os lugares e pode explicar qualquer coisa<br />
em qualquer área de realização humana a partir do século<br />
XVIII – trata-se, portanto, de um conceito tão alargado<br />
que corre o risco de perder completamente seu poder<br />
explicativo.<br />
De toda sorte, podemos considerar algumas<br />
características gerais que norteavam as transformações<br />
vislumbradas por aquela renovação do pensamento na<br />
Europa Moderna. Entre as quais:<br />
• Valorização da razão, considerada o mais importante<br />
instrumento para se alcançar qualquer tipo de<br />
conhecimento;<br />
• Valorização do questionamento, da investigação e da<br />
experiência como forma de conhecimento tanto da<br />
natureza quanto da sociedade, política ou economia;<br />
• Crença nas leis naturais, normas da natureza que regem<br />
todas as transformações que ocorrem no comportamento<br />
humano, nas sociedades e na natureza;<br />
• Crença nos direitos naturais, que todos os indivíduos<br />
possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens<br />
materiais;<br />
• Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos<br />
privilégios da nobreza e do clero;<br />
• Defesa da liberdade política e econômica e da<br />
igualdade de todos perante a lei;<br />
• Crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse a<br />
crença em Deus.<br />
A classe burguesa constituiu-se na principal interessada<br />
em promover os princípios dessa filosofia renovada, pois<br />
apesar do evidente poder material adquirido nos<br />
266
primeiros séculos da Era Moderna, encontravam sérias<br />
restrições à prática política nos quadros do Antigo<br />
Regime. Na França do século XVIII, a persistência dos<br />
mecanismos do Antigo Regime estava sustentada no<br />
vigoramento da ordem absolutista, que garantia à figura<br />
real a concentração do poder decisório. Ademais, a<br />
sociedade mantinha-se organizada por rígidas hierarquias<br />
definidas por critérios de nascimento, que regulavam<br />
privilégios e exclusões baseados na tradição e que<br />
passavam a ser duramente questionados pela classe<br />
burguesa. Ainda do ponto de vista econômico, a classe<br />
burguesa insistia em maior autonomia com relação aos<br />
mecanismos de controle impostos pelo Estado, como a<br />
determinação de privilégios a certos grupos, na defesa de<br />
uma economia autorreguladora por leis naturais.<br />
colocará paulatinamente o próprio exercício da razão<br />
como uma prática incompatível com a velha política<br />
tradicional.<br />
2. PRINCIPAIS FILÓSOFOS ILUMINISTAS<br />
Gravura da época da Revolução Francesa critica os poderes tradiconais /<br />
Biblioteca Nacional da França<br />
O teor crítico dessas ideias e dessa nova posturaresvalou<br />
para um constante antagonismo em relação à esfera<br />
política absolutista. A Enciclopédia, que começou a ser<br />
publicada em 1751, sofreu perseguições do Estado<br />
francês em 1752 e 1759. Voltaire teve todos os seus<br />
escritos proibidos, e viajava de um lado para o outro<br />
fugindo das autoridades.<br />
A postura crítica, que valoriza as transformações no<br />
processo do conhecimento e na reestruturação do mundo<br />
Montesquieu - Cartas persas (1721) e Espírito das Leis<br />
(1748) foram às obras de Montesquieu que deram início<br />
ao Iluminismo. A primeira é redigida a partir de dois<br />
protagonistas que vêm de longe, de um contexto não<br />
europeu e, portanto, estranho aos valores, aos costumes e<br />
às instituições do Velho Mundo. Esta é a maneira que o<br />
autor encontra para criticar o seu tempo e apresentar a<br />
sua concepção de um mundo melhor. Escrever na forma<br />
de romance era característica de muitos filósofos daquele<br />
século, inspirados no que Montesquieu havia inaugurado.<br />
É uma maneira de tornar a leitura da filosofia leve,<br />
prazerosa e acessível. Ela penetra nas consciências sem<br />
que o leitor perceba que está se deparando com filosofia<br />
e com as questões áridas que tradicionalmente ela se<br />
propõe a tratar. O filósofo autor de romances tem,<br />
portanto, a esperança de mudar opiniões, atuando<br />
pedagogicamente junto ao leitor e transformando o<br />
267
mundo ao seu redor. Tornar o mundo melhor é, por sinal,<br />
outra ambição comum aos pensadores iluministas.<br />
Montesquieu é partidário de uma concepção de<br />
República muito próxima do modelo dos romanos,<br />
diferente do que entendemos hoje deste conceito. Sua<br />
concepção filosófico-política apresenta a convicção na<br />
forma institucional de se governar, com divisão de<br />
poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo) e respeito<br />
às leis instituídas ou à Constituição do Estado. Mas a<br />
virtude política que sustenta é semelhante àquela que<br />
encontramos nos antigos, como Sócrates, e inclui a<br />
noção de sacrifício, abnegação e autocontenção. A vida<br />
política ou republicana, para este pensador, depende da<br />
capacidade daqueles que desempenham o poder político<br />
de terem a virtude necessária para tanto. Do contrário,<br />
teremos um mau governo. Montesquieu também era um<br />
filósofo deísta, ou seja, mantinha a crença em Deus.<br />
Voltaire (1694-1778) - também um deísta, admirador da<br />
seita religiosa Quaker, que tem origem na Inglaterra e se<br />
propaga nos Estados Unidos. Ao escrever principalmente<br />
na forma de panfletos e de contos, pretende alcançar a<br />
opinião pública em geral, mudá-la, enfim, transformar o<br />
mundo. E ele de fato se tornou um filósofo bastante<br />
influente e popular, interferindo nos acontecimentos de<br />
sua época. A concepção filosófico-política de Voltaire<br />
baseia-se no despotismo esclarecido, em que há a<br />
confiança num monarca que segue a orientação da razão<br />
em suas tomadas de decisão e maneira de governar.<br />
Denis Diderot (1713-1784) - O despotismo esclarecido<br />
também norteia a sua filosofia. A diferença é que este<br />
pensador era materialista e ateu. Escreveu romances,<br />
alguns deles de literatura libertina. Sua principal obra foi<br />
um grande projeto editorial, desenvolvido em parceria<br />
com D’Alembert (1717-1783), ao qual se dedicou por<br />
muitos anos e que o levou à prisão. Trata-se da<br />
Enciclopédia, uma obra inacabada, cujos verbetes foram<br />
escritos por vários autores e que se transformou no<br />
principal símbolo do pensamento do século XVIII.<br />
Na Enciclopédia, o espírito sistemático, o uso da razão e<br />
a dúvida permanentemente posta em ação constituem o<br />
método para alcançar as verdades comprovadas e<br />
demonstráveis. Ao contrário das filosofias do século<br />
XVII, que são doutrinas ou grandes sistemas acabados e<br />
perfeitos, as filosofias do século XVIII seguem o<br />
caminho da investigação constante. São filosofias<br />
capazes de sustentar verdades pontuais sobre este ou<br />
aquele assunto, mas não têm a pretensão de tratar de<br />
todos os domínios já percorridos pelo espírito humano.<br />
268<br />
A Enciclopédia, maior fenômeno editorial do<br />
Esclarecimento, tinha no método, e não no conteúdo de<br />
ideais, a sua essência: o conhecimento parte dos<br />
fenômenos, que são os dados, para as leis. D’Alembert,<br />
que dividiu a organização da obra com Diderot, anunciou<br />
no “Discurso preliminar”, que precedeu o primeiro<br />
volume da obra: “Todos os nossos conhecimentos diretos<br />
reduzem-se aos que recebemos pelos sentidos; de onde<br />
se conclui que é às nossas sensações que devemos todas<br />
as nossas ideias”.<br />
Se há uma novidade filosófica neste princípio – que<br />
norteia a organização da obra – é a sua adoção como<br />
programa em todas as áreas do conhecimento. Da física à<br />
teologia, passando ao mundo da política. Esta atitude<br />
representaria não a enunciação de uma verdade universal<br />
no sentido tradicional, o que seria incongruente com o<br />
próprio clima intelectual do Esclarecimento, mas uma<br />
constatação sobre a impossibilidade de conhecer o<br />
mundo sem experimentá-lo.<br />
No interior da própria Enciclopédia é possível<br />
verificar as diferenças, muitas vezes profundas, que<br />
marcam os autores do período. Em suas contribuições<br />
pontuais, cada qual apresenta distintos posicionamentos<br />
sobre um mesmo assunto. Um importante exemplo desta<br />
divergência entre os autores está no verbete “Genebra”,<br />
redigido por D’Alembert. Nele, o autor elogia o teatro<br />
parisiense e a trupe de comediantes franceses. Ao fazer<br />
isso, critica a república de Genebra por ter proibido a<br />
entrada de atores franceses e a exibição do teatro<br />
parisiense na cidade. Rousseau, em resposta, escreve<br />
“Carta a d’Alembert”, opondo-se a este filósofo e ao<br />
elogio que faz ao teatro parisiense. Rousseau defende a<br />
posição do governo genebrino de censurar este gênero de<br />
espetáculo, argumentando que a exibição que há nele de<br />
vícios e costumes corrompidos, presentes nas grandes<br />
cidades como Paris, a um povo virtuoso e de bons<br />
costumes como o genebrino poderia levá-lo à
degeneração e à decadência moral, estando assim correta<br />
a censura que lhe havia sido imposta.<br />
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) - um dos mais<br />
ilustres representantes do período – talvez o maior deles<br />
– é ainda o filósofo que mais demarca as diferenças do<br />
seu pensamento em relação aos demais. Enquanto<br />
Voltaire e Diderot confiam na razão como a faculdade<br />
humana que, posta em ação, conduz necessariamente ao<br />
progresso, ao bem-estar geral e à felicidade entre os<br />
homens, para Rousseau ocorre o contrário. A razão,<br />
segundo ele, leva os homens a se distanciarem da<br />
natureza e a se corromperem, degenerando-se, inserindose<br />
no vício e caminhando para a infelicidade. Quanto<br />
mais o homem se aperfeiçoa com base na razão, mais ele<br />
decai e degenera. Com isso, Rousseau é quase uma<br />
antítese do seu século, se quisermos insistir em<br />
enquadrá-lo numa definição.<br />
Rousseau não acreditava que o império das leis era o<br />
bastante para que se instaurasse a igualdade. Para ele, a<br />
lei dos homens pode ser um instrumento de dominação<br />
por parte de governantes corruptos: “Tal foi ou deve ter<br />
sido a origem da sociedade e das leis que deram novos<br />
entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram<br />
irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para<br />
sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram<br />
de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para<br />
lucro de alguns ambiciosos, daí por diante sujeitaram<br />
todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à<br />
miséria”.<br />
3. DESPOTISMO ESCLARECIDO<br />
O Despotismo Esclarecido foi uma forma reformista de<br />
governar característica da Europa; era apoiada por<br />
princípios iluministas e desenvolveu-se no especialmente<br />
no leste europeu e Península Ibérica, espaços onde a<br />
economia ainda era relativamente atrasada e a burguesia<br />
pouco combativa ou inexistente. O despotismo<br />
esclarecido visava acelerar o processo de modernização<br />
de alguns países e assim aumentar seu poder e prestígio a<br />
fim de enfraquecer a oposição ao seu governo.<br />
Argumentam que governavam em nome da felicidade<br />
dos povos.<br />
Os principais déspotas esclarecidos foram:<br />
Frederico II: foi o principal déspota esclarecido<br />
prussiano onde reformou o sistema penal, aboliu as<br />
torturas praticadas por seu pai, fundou escolas<br />
promovendo a educação, incentivou a produção cultural<br />
comercial e manufatureira, decretou a tolerância<br />
religiosa.<br />
Catarina II: estrangeira da Prússia assumiu a Rússia e<br />
construiu escolas, hospitais, reformou e modernizou<br />
cidades, racionalizou a administração pública e limitou a<br />
ação da igreja.<br />
José II: imperador da Germânia aboliu a servidão e a<br />
tortura, secularizou seus bens, fundou escolas, hospitais e<br />
asilos, concedeu liberdade de culto a toda crença<br />
religiosa, criou impostos para o clero e a nobreza, limitou<br />
feriados e peregrinações, tornou a língua alemã como<br />
obrigatória. Marquês de Pombal: conde português que<br />
iniciou reformas administrativas econômicas e sociais<br />
desenvolveu o comércio colonial, isentou impostos para<br />
exportações, fundou o banco real, expulsou os jesuítas de<br />
Portugal, modernizou o exército.<br />
EXERCÍCIOS<br />
01. A crença liberal no equilíbrio espontâneo do<br />
mercado foi reforçada em 1803 pela "lei de Say".<br />
Formulada pelo francês Jean-Baptiste Say, essa lei<br />
afirmava que toda oferta cria a sua demanda e<br />
inversamente, de tal modo que excluía a possibilidade de<br />
crise de superprodução no capitalismo.<br />
Qual, dentre os seguintes acontecimentos, constitui a<br />
refutação mais importante e direta da "lei de Say"?<br />
a) Revolução Russa de 1917.<br />
269
c) Movimento de independência da América Latina.<br />
d) Unificação da Alemanha.<br />
e) Ascensão dos Estados Unidos depois da Segunda<br />
Grande Guerra.<br />
02. O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela<br />
algumas características de uma determinada corrente de<br />
pensamento.<br />
“Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme<br />
dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e<br />
posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que<br />
abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu<br />
império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer<br />
outro poder?<br />
Ao que é óbvio responder que, embora no estado de<br />
natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito<br />
incerta e está constantemente exposto à invasão de<br />
terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele,<br />
todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco<br />
observadores da eqüidade e da justiça, o proveito da<br />
propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e<br />
muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a<br />
abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de<br />
temores e perigos constantes; e não é sem razão que<br />
procura de boa vontade juntar-se em sociedade com<br />
outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a<br />
mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a<br />
que chamo de propriedade.” (Os Pensadores. São Paulo: Nova<br />
Cultural, 1991).<br />
Do ponto de vista político, podemos considerar o texto<br />
como uma tentativa de justificar:<br />
a) a existência do governo como um poder oriundo da<br />
natureza.<br />
b) a origem do governo como uma propriedade do rei.<br />
c) o absolutismo monárquico como uma imposição da<br />
natureza humana.<br />
d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos<br />
bens e aos direitos.<br />
e) o poder dos governantes, colocando a liberdade<br />
individual acima da propriedade.<br />
03. Leia com atenção o texto abaixo, baseado em Das<br />
trevas medievais (...) de Carlo Ginzburg: Em 1965, a<br />
cidade de Nova York mergulhou numa imensa escuridão<br />
devido à pane de uma central hidrelétrica, situada nas<br />
cataratas do Niágara. A cidade foi lançada bruscamente<br />
270<br />
b) Crise de 1929.<br />
nas trevas e os jornais, confeccionados manualmente,<br />
perceberam a extrema vulnerabilidade da sociedade<br />
industrial. Um escritor se inspirou nesse acontecimento e<br />
fez um livro de ficção chamado “Uma nova Idade Média<br />
de amanhã”.<br />
a) Que formas de energia estão envolvidas no processo<br />
de geração numa hidrelétrica?<br />
b) Qual o sistema de pensamento do século XVIII que<br />
fez a associação entre a luz e o progresso científico?<br />
c) Segundo esse sistema de pensamento, quais as<br />
características da Idade Média?<br />
04. Instalada em Nova Iorque em 1886, a Estátua da<br />
Liberdade foi oferecida pelos franceses como um gesto<br />
de amizade republicana para com os Estados Unidos. Por<br />
toda a França, houve subscrição pública para levantar<br />
fundos, considerando-se que a idéia de liberdade dos<br />
filósofos franceses tinha sido exportada para a América e<br />
inspirado a Guerra de Independência. Assim, seria<br />
adequado comemorar o seu centenário com uma estátua<br />
francesa. Com o tempo, associou-se à estátua a imagem<br />
de “mãe dos exilados”.<br />
(Traduzido e adaptado de Marina Warner, Monuments and maidens — the<br />
allegory of the female form. Londres: Vintage, 1996, p. 6-7).<br />
a) Segundo o texto, quais significados foram associados<br />
à Estátua da Liberdade?<br />
b) Identifique três relações que podem ser estabelecidas<br />
entre a Guerra da Independência Americana e a<br />
Revolução Francesa.<br />
05. Marat foi um importante personagem na Revolução<br />
Francesa (1789). Seu assassinato teve várias<br />
representações. Uma delas foi o quadro de David A<br />
Morte de Marat, um símbolo do movimento<br />
revolucionário e de grande importância para a história da<br />
arte.
Em relação a essa obra, é correto afirmar que:<br />
a) David ressaltou características da história pessoal de<br />
Marat, ou seja, um revolucionário de origem<br />
humilde e camponesa.<br />
b) Marat foi retratado como um símbolo dos radicais<br />
girondinos, responsáveis pela expulsão dos<br />
montanheses da Convenção e execução de seus<br />
líderes.<br />
c) David inaugurou a pintura histórica, mítica e<br />
heróica, apresentando a eternidade do personagem.<br />
d) David retratou Marat de uma forma não épica,<br />
diferenciando sua obra do idealismo da arte<br />
acadêmica aristocrática.<br />
e) David transformou Marat em personagem das<br />
tragédias gregas e sua morte em um ato romântico<br />
da revolução.<br />
06. Além do descontentamento com as medidas<br />
adotadas pela Inglaterra, a elite intelectual norteamericana<br />
e muitos colonos eram influenciados pelos<br />
ideais iluministas. Essas pessoas sonhavam com a<br />
formação de um novo país, independente e livre.<br />
José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti.<br />
Na independência das Treze Colônias da América, o<br />
pensamento iluminista serviu como suporte ideológico<br />
para a ruptura entre metrópole e colônia. Sobre o<br />
assunto, é correto afirmar que:<br />
a) todos os pensadores iluministas acreditavam que a<br />
sociedade havia sido precedida de um “estado de<br />
natureza”, onde o indivíduo já nascia com seu<br />
potencial e isso acarretava diferenças sociais.<br />
b) os iluministas eram inimigos da intolerância,<br />
valorizavam a razão e a liberdade do ser humano,<br />
cabendo, ao governo, não exercer a opressão e<br />
garantir os direitos naturais de cada cidadão.<br />
c) apesar de defenderem a igualdade social e buscarem<br />
corrigir as desigualdades sociais, os iluministas<br />
defendiam a permanência da escravidão, já que o<br />
escravo era uma propriedade que deveria ser<br />
protegida.<br />
d) na área econômica, o iluminista Adam Smith<br />
pregava a liberdade de comércio e acreditava que a<br />
verdadeira riqueza de uma nação proviesse da<br />
atividade agrícola, conforme o que havia sido<br />
elaborado em A riqueza das nações.<br />
e) os iluministas prezavam a razão como instrumento<br />
indispensável para o estudo da natureza e da<br />
sociedade e nisto eram auxiliados pela Igreja<br />
católica, que pregava que Deus estava presente em<br />
todos os seres vivos.<br />
07. Leia este trecho, em que se faz referência à<br />
construção do mundo moderno:<br />
... os modernos são os primeiros a demonstrar que o<br />
conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho<br />
interior realizado pela razão, graças a seu próprio<br />
esforço, sem aceitar dogmas religiosos, preconceitos<br />
sociais, censuras políticas e os dados imediatos<br />
fornecidos pelos sentidos.<br />
CHAUÍ, Marilena. Primeira filosofia. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 80.<br />
A partir da leitura desse trecho, é CORRETO afirmar<br />
que a formação do mundo moderno se caracteriza por<br />
a) nova postura com relação ao conhecimento, a qual<br />
transforma o modo de entendimento do mundo e do<br />
próprio homem.<br />
b) ruptura com as concepções antropocêntricas, a qual<br />
modifica as relações hierárquicas senhoriais.<br />
c) ruptura com o mundo antigo, a qual caracteriza um<br />
distanciamento do homem face aos diversos<br />
movimentos religiosos.<br />
d) adaptações do pensamento contemplativo, as quais<br />
reafirmam a primazia do conhecimento da natureza<br />
em relação ao homem.<br />
08. A partir do século XVIII e ao longo do XIX, o<br />
mundo foi percorrido, de fora a fora, por pesquisadores,<br />
oriundos sobretudo do Continente Europeu, que<br />
procuravam mapear e conhecer os mais diferentes<br />
aspectos da natureza e costumes do mundo extraeuropeu.<br />
Considerando-se essas iniciativas, é CORRETO afirmar<br />
que<br />
a) expressaram simultaneamente o desejo europeu de<br />
conhecer, típico do Iluminismo então vigente, e<br />
alguns interesses do sistema capitalista, em<br />
acelerado processo de expansão.<br />
b) foram financiadas por grandes corporações<br />
financeiras desejosas de implantar indústrias em<br />
novas regiões e conquistar novos mercados<br />
consumidores.<br />
c) lançaram os fundamentos de uma nova ordem<br />
mundial, que acabaria resultando em um<br />
entendimento mais harmônico entre os diferentes<br />
grupos étnicos e povos.<br />
271
d) contaram com grande receptividade, principalmente<br />
na África, continente povoado por etnias<br />
interessadas em se tornar conhecidas e em ser<br />
incorporadas ao mundo ocidental.<br />
09. Que os tiranos de todos os países, que todos os<br />
opressores políticos ou sagrados saibam que existe um<br />
lugar no mundo onde se pode escapar aos seus grilhões,<br />
onde a humanidade desonrada reergueu a cabeça; (...);<br />
onde as leis não fazem mais que garantir a felicidade;<br />
onde (...) a consciência deixou de ser escrava (...).<br />
(RAYNAL (abade). A Revolução da América. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,<br />
1993.)<br />
A posição apresentada pelo abade Raynal sintetiza<br />
alguns aspectos da Ilustração política.<br />
A) A partir do texto, indique, com suas próprias palavras,<br />
dois princípios do pensamento iluminista.<br />
B) Para o autor do texto, a independência das treze<br />
colônias inglesas foi um processo revolucionário, razão<br />
pela qual denomina-a de Revolução Americana. Cite e<br />
explique um fator que contribuiu para essa Revolução.<br />
10. As mulheres ricas para as quais o prazer constitui o<br />
maior interesse e a única ocupação, não são as únicas que<br />
consideram a propagação da espécie humana como um<br />
preconceito dos velhos tempos; hoje em dia, os segredos<br />
funestos, desconhecidos de todos os animais exceto do<br />
homem, chegaram aos camponeses; engana-se a natureza<br />
até nas aldeias. (Moheau, 1778.)<br />
O texto, ao revelar a difusão de práticas contraceptivas,<br />
indica o:<br />
a) crescimento da distância que separava o mundo rural<br />
do mundo urbano.<br />
b) aumento da ação do Estado, preocupado com a<br />
explosão demográfica.<br />
c) conformismo com o domínio da nobreza, por parte<br />
dos camponeses.<br />
d) prestígio dos filósofos iluministas que<br />
e) pregavam a igualdade sexual.<br />
f) declínio da dominação da Igreja sobre a sociedade<br />
como um todo.<br />
11. O que queremos dizer com a Revolução? A guerra?<br />
Isso não foi parte da Revolução; foi apenas um efeito e<br />
consequência dela. A Revolução estava nas mentes das<br />
pessoas e foi levada a cabo de 1760 a 1775, no curso de<br />
quinze anos, antes que uma gota de sangue fosse<br />
derramada em Lexington.<br />
(John Adams para Jefferson, 1815.)<br />
O texto:<br />
a) considera que a Independência dos Estados Unidos<br />
se fez sem idéias.<br />
b) confirma que a guerra entre os Estados Unidos e a<br />
Inglaterra foi uma revolução.<br />
c) sustenta que na Independência dos Estados Unidos<br />
não houve ruptura.<br />
d) defende que a criação dos Estados Unidos foi<br />
precedida de uma revolução.<br />
e) demonstra que os norte-americanos não aceitaram as<br />
concessões inglesas.<br />
12. Leia o texto.<br />
O governo arbitrário de um príncipe justo [...] é sempre<br />
mau. Suas virtudes constituem a mais perigosa das<br />
seduções:<br />
habituam o povo a amar, respeitar e servir ao seu<br />
sucessor, qualquer que seja ele. Retira do povo o direito<br />
de deliberar, de querer ou de não querer, de se opor à<br />
vontade do príncipe até mesmo quando ele deseja fazer o<br />
bem. O direito de oposição [...] é sagrado. Uma das<br />
maiores infelicidades que pode advir a uma nação seria a<br />
sucessão de dois ou três reinados de um todo poderoso<br />
justo, doce, [...] mas arbitrário: os povos seriam<br />
conduzidos pela felicidade ao esquecimento completo de<br />
seus privilégios, a mais perfeita escravidão.<br />
(D. Diderot. Refutação de Helvétius, 1774.)<br />
a) Como se denomina a forma de regime monárquico a<br />
que se refere Diderot?<br />
b) O texto apresentou uma concepção de cidadania que<br />
teve reflexos, quase imediatos, nas revoluções do século<br />
XVIII e permaneceu nas experiências democráticas e no<br />
horizonte político dos séculos seguintes. Quais aspectos<br />
de cidadania são defendidos por Diderot ao afirmar que,<br />
sem esses direitos, “os povos seriam conduzidos a mais<br />
perfeita escravidão”?<br />
13. (...) os deputados do povo não são, nem podem ser,<br />
seus representantes; não passam de seus comissários,<br />
nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei<br />
que o povo diretamente não ratificar e, em absoluto, não<br />
é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana,<br />
pois o é somente durante a eleição dos membros do<br />
272
parlamento; logo que estes são eleitos, ele é escravo, não<br />
é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o<br />
uso que dela faz mostra que bem merece perdê-la.<br />
Sobre as ideias e o autor do texto, é correto afirmar que<br />
são:<br />
a) discussões filosóficas renascentistas de Bodin, em<br />
defesa do absolutismo monárquico e contra a<br />
representatividade do povo no parlamento.<br />
b) reflexões sobre a legitimidade de representação do<br />
povo inglês no parlamento, feitas por Locke, durante<br />
a fase mais radical da Revolução Francesa.<br />
c) análise do poder, feita por Maquiavel, defendendo a<br />
constituição de um Estado forte, fundado na relação<br />
de representação direta do povo diante do poder do<br />
príncipe.<br />
d) críticas filosóficas iluministas feitas por Rousseau ao<br />
sistema político de representação, com a defesa da<br />
participação direta do povo nas decisões do Estado.<br />
e) estudo crítico socialista de Marx sobre a importância<br />
da participação direta do proletariado na organização<br />
do sistema político de representação parlamentar<br />
inglês.<br />
14. “ Dois acontecimentos que fizeram época marcam o<br />
inicio e o fim do absolutismo clássico. Seu ponto de<br />
partida foi a guerra civil religiosa. . O Estado moderno<br />
ergue-se desses conflitos religiosos mediante lutas<br />
penosas, e só alcançou sua forma e fisionomia plenas ao<br />
superá-los. Outra guerra civil – a Revolução Francesa –<br />
preparou seu fim brusco.”<br />
Fonte: KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro, Eduerj &<br />
Contraponto, 1999, p. 19.<br />
sociais e econômicas tanto na Europa quanto nas<br />
Américas.<br />
As afirmativas abaixo apresentam algumas dessas<br />
transformações. Examine-as.<br />
I. As treze colônias inglesas da América do Norte<br />
proclamaram-se independentes da Inglaterra, formando<br />
uma república federalista e presidencialista - os Estados<br />
Unidos da América do Norte.<br />
II. Em São Domingos (atual Haiti), em 1794, a<br />
revolução dos negros escravos deu início à “era da<br />
Abolição” nas Américas, que se completaria quase um<br />
século depois com a abolição da escravidão no Brasil.<br />
III. Na França revolucionária de 1789, a Declaração dos<br />
Direitos do Homem e do Cidadão além de proclamar que<br />
“os homens nascem livres e iguais” perante a lei, pondo<br />
fim às hierarquias e privilégios que distinguiam a<br />
sociedade do Antigo Regime, afirmava que a<br />
propriedade privada era um direito natural, sagrado,<br />
inalienável e inviolável.<br />
IV. As conjurações e inconfidências lideradas pelos<br />
colonos, quer na América espanhola quer na América<br />
portuguesa, não se orientaram, em qualquer momento,<br />
pelas ideias e princípios defendidas pelos filósofos<br />
iluministas.<br />
Assinale a alternativa correta:<br />
a) Somente a afirmativa II está correta.<br />
b) Somente as afirmativas I, e IV estão corretas.<br />
c) Somente as afirmativas I, II, e III estão corretas.<br />
d) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.<br />
e) Todas as afirmativas estão corretas.<br />
a) Identifique dois aspectos que caracterizavam o<br />
exercício da autoridade pelo Estado Absolutista.<br />
b) Em 1651, em meio às guerras religiosas que<br />
assolavam a Europa, o filósofo inglês Thomas Hobbes<br />
defendia a necessidade de um Estado forte como forma<br />
de controlar os sentimentos anti-sociais do homem.<br />
Pouco mais de um século depois, o filósofo J.J.<br />
Rousseau, em sua obra Contrato Social (1762),<br />
apresentou uma outra visão sobre o mesmo problema.<br />
Comente uma característica da concepção de Estado<br />
presente em Rousseau.<br />
15. As últimas décadas do século XVIII foram<br />
assinaladas por profundas transformações políticas,<br />
16. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos<br />
grandes expoentes do movimento de idéias que se<br />
forjaram ao longo do século XVIII. Embora recusado por<br />
grande parte dos membros da alta burguesia, seu<br />
pensamento acabou por influenciar tanto os<br />
revolucionários franceses de 1789 quanto os pensadores<br />
clássicos do liberalismo econômico.<br />
Considere os trechos abaixo:<br />
I. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão o<br />
exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se, e que<br />
o soberano, que nada é senão um ser coletivo, só pode<br />
ser representado por si mesmo. O poder pode transmitirse;<br />
não, porém, a vontade. (Do contrato social)<br />
273
274<br />
II. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o<br />
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de<br />
dizer: Isto é meu!, e encontrou pessoas suficientemente<br />
simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,<br />
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero<br />
humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o<br />
fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos<br />
de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes<br />
que os frutos são de todos, e que a terra não pertence a<br />
ninguém! (Discurso sobre a desigualdade entre os<br />
homens)<br />
III. Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser<br />
amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que se<br />
desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil reunir<br />
ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles<br />
resultados, é muito mais seguro ser temido que amado,<br />
quando se tenha que falhar numa das duas. (O príncipe)<br />
IV. Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da<br />
companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um<br />
enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de<br />
manter a todos em respeito. Porque cada um pretende<br />
que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele<br />
se atribui a si próprio e, na presença de todos os sinais de<br />
desprezo ou de subestimação, naturalmente se esforça, na<br />
medida em que a tal se atreva (o que, entre os que não<br />
têm um poder comum capaz de os submeter a todos, vai<br />
suficientemente longe para leválos a destruir-se uns aos<br />
outros), por arrancar de seus contendores a atribuição de<br />
maior valor, causando-lhes dano, e dos outros também,<br />
através do exemplo. (Leviatã)<br />
Pertencem a obras desse filósofo:<br />
a) apenas I e II.<br />
b) apenas II e III.<br />
c) apenas I e IV.<br />
d) apenas I, II e IV.<br />
e) I, II, III e IV.<br />
17. Características do Iluminismo, exceto:<br />
a) derrubada dos conceitos tradicionais, apoiada na<br />
ascensão da burguesia, que pretendia a instalação de<br />
uma sociedade de classes.<br />
b) revisão da Teoria do Direito Divino como ilegítima<br />
e irracional.<br />
c) crítica à Igreja, base de sustentação teórica e<br />
material do absolutismo.<br />
d) governo nacional seria o voltado para o povo e para<br />
a satisfação de seus desejos. Envolvimento de<br />
Locke, Voltaire e Rousseau.<br />
e) Teocentrismo, em coincidência com o ideal Barroco.<br />
18. "Quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de<br />
magistrados, o poder legislativo se junta ao executivo,<br />
desaparece a liberdade... Não há liberdade se o poder<br />
judiciário não está separado do legislativo e do<br />
executivo... Se o judiciário se unisse com o executivo, o<br />
juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria<br />
perdido se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres,<br />
de notáveis, ou de populares, exercesse os três poderes: o<br />
de fazer as leis, o de ordenar a execução das resoluções<br />
públicas e o de julgar os crimes e os conflitos dos<br />
cidadãos".<br />
[Montesquieu, DO ESPÍRITO DAS LEIS, 1748]<br />
a) Qual o tema do texto?<br />
b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.<br />
19. "Mesmo se o alvo perseguido não tivesse sido<br />
alcançado, mesmo se a constituição por fim fracassasse,<br />
ou se voltasse progressivamente ao Antigo Regime... tal<br />
acontecimento é por demais imenso, por demais<br />
identificado aos interesses da humanidade, tem<br />
demasiada influência sobre todas as partes do mundo<br />
para que os povos, em outras circunstâncias, dele não se<br />
lembrem e não sejam levados a recomeçar a<br />
experiência."<br />
(Kant, O CONFLITO DAS FACULDADES, 1798).<br />
O texto trata:<br />
a) do iluminismo e do avanço irreversível do<br />
conhecimento filosófico; revelando-se falso nos seus<br />
prognósticos sobre o futuro político- constitucional.<br />
b) do retorno do Antigo Regime, na Europa, depois do<br />
fracasso da Revolução francesa, revelando-se<br />
incapaz de vislumbrar o futuro da história.<br />
c) da Revolução Francesa, dos seus desdobramentos<br />
políticos e constitucionais, revelando a clarividência<br />
do autor sobre sua importância e seu futuro.<br />
d) da Revolução inglesa, do impacto que causou no<br />
mundo, com seus princípios liberais e<br />
constitucionais, revelando-se profético sobre seu<br />
futuro.<br />
e) do despotismo ilustrado, dos seus princípios<br />
filosóficos e constitucionais e de seu impacto na<br />
política européia, revelando caráter premonitório.
20. A respeito do Estado Moderno, o pensador político<br />
inglês John Locke (1632-1704) escreveu:<br />
"Considero poder político o direito de fazer leis para<br />
regular e preservar a propriedade". (Citado por Kazumi Munakata,<br />
A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL, 1984)<br />
a) Explique a função do estado segundo essa tese de<br />
Locke.<br />
b) Como a partir dessa tese se explica a relação do<br />
Estado Moderno com a acumulação de capital?<br />
21. Diferentes concepções teóricas de Estado foram<br />
elaboradas na Inglaterra, em momentos distintos, por<br />
Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704).<br />
Descreva as idéias fundamentais características do<br />
pensamento de Hobbes e Locke, explicando o que<br />
diferencia fundamentalmente as teses dos mencionados<br />
pensadores, com relação à organização do Estado.<br />
22. A Revolução Gloriosa de 1688, na Inglaterra, teve<br />
como desfecho a assinatura da Declaração de Direitos<br />
por Guilherme de Orange. As medidas abaixo fazem<br />
parte do conteúdo da Declaração, com exceção de:<br />
a) a orientação religiosa do rei poderia ser católica ou<br />
protestante;<br />
b) os impostos só poderiam ser aumentados ou criados<br />
com a aprovação do Parlamento;<br />
c) garantia do direito de expressão dos membros do<br />
Parlamento;<br />
d) o rei não poderia impedir que as leis aprovadas pelo<br />
Parlamento entrassem em vigor;<br />
e) ilegalidade da manutenção de um exército<br />
permanente mobilizado em tempo de paz.<br />
23. As idéias "iluministas" atingiram até mesmo alguns<br />
monarcas absolutos, que trataram de empreender<br />
reformas inspiradas pelas Luzes. Dentre os soberanos<br />
apontados abaixo, qual não pode ser considerado um<br />
"déspota esclarecido"?<br />
a) Catarina, a Grande, da Rússia;<br />
b) José II, da Áustria;<br />
c) Frederico II, da Prússia;<br />
d) Gustavo Adolfo, da Suécia;<br />
e) Carlos III, da Espanha.<br />
24. Leia o texto.<br />
"Enriquecendo os cidadãos ingleses, o comércio<br />
contribuiu para torná-los mais livres e, por sua vez, a<br />
liberdade ampliou o comércio. A grandeza do Estado<br />
veio como conseqüência e tornou os ingleses senhores<br />
dos mares." (VOLTAIRE. CARTAS INGLESAS)<br />
Todas as alternativas estão relacionadas com o texto,<br />
EXCETO:<br />
a) Leis dos Cercamentos / Revolução Industrial.<br />
b) Parlamentarismo / Mercantilismo.<br />
c) República de Cromwell / Atos de Navegação.<br />
d) Revolução Gloriosa / Expansão Comercial.<br />
e) Revolução Inglesa / Comercialismo.<br />
25. "(...) A fábrica, na Europa, e o engenho de açúcar,<br />
nas colônias, não foram resultados imediatos de um<br />
desenvolvimento crucial das bases técnicas de produção,<br />
mas, ao contrário, representaram formas peculiares de<br />
organização social do trabalho para a obtenção, sob<br />
garantia absoluta, do lucro capitalista ( . . . ) . " (DE DECCA,<br />
In : CAMPOS, p. 73)<br />
A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre o<br />
tema nele tratado, pode-se afirmar:<br />
(01) As duas formas de organização do trabalho, citadas<br />
no texto, tiveram como característica comum a<br />
concentração de trabalhadores em um determinado<br />
espaço.<br />
(02) O proletariado industrial, ao contrário dos escravos<br />
dos engenhos, detinha a propriedade dos meios de<br />
produção.<br />
(04) A produção em larga escala, obtida nas duas<br />
unidades de produção referidas, atendia a propósitos<br />
mercantis.<br />
(08) O escravo não era remunerado, sendo também<br />
coisificado, como uma mercadoria, enquanto o<br />
trabalhador, no sistema fabril, vendia sua força de<br />
trabalho.<br />
(16) O operariado procurou se organizar, formando,<br />
inclusive, associações e sindicatos, visando reagir à<br />
exploração da burguesia industrial, porém os escravos<br />
não ofereceram qualquer forma de resistência.<br />
(32) O tráfico de escravos foi um fator de acumulação<br />
primitiva de capital, que se constituiu uma das précondições<br />
do pioneirismo inglês na Revolução Industrial.<br />
(64) O capital industrial britânico pressionou o Império<br />
Brasileiro no sentido de manter o tráfico negreiro.<br />
275
26. Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara,<br />
nos trechos, as guerras das sociedades Tupinambá com<br />
as chamadas “guerras de religião” dos franceses que, na<br />
segunda metade do século XVI, opunham católicos e<br />
protestantes.<br />
“(…) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que<br />
dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual<br />
considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. (…)<br />
Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de<br />
crueldade [o canibalismo] mas que o fato de condenar<br />
tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos.<br />
Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do<br />
que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um<br />
homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos<br />
poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de<br />
devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos<br />
ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em<br />
verdade é bem mais grave do que assar e comer um<br />
homem previamente executado. (…) Podemos portanto<br />
qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas<br />
ouvidos à inteligência, mas nunca se compararmos a nós<br />
mesmos, que os excedemos em toda sorte de<br />
barbaridades.” MONTAIGNE, Michel Eyquem de, Ensaios, São Paulo:<br />
Nova Cultural, 1984.<br />
De acordo com o texto, pode-se afirmar que, para<br />
Montaigne,<br />
a) a idéia de relativismo cultural baseia-se na hipótese<br />
da origem única do gênero humano e da sua religião.<br />
b) a diferença de costumes não constitui um critério<br />
válido para julgar as diferentes sociedades.<br />
c) os indígenas são mais bárbaros do que os europeus,<br />
pois não conhecem a virtude cristã da piedade.<br />
d) a barbárie é um comportamento social que<br />
pressupõe a ausência de uma cultura civilizada e<br />
racional.<br />
e) a ingenuidade dos indígenas equivale à<br />
racionalidade dos europeus, o que explica que os<br />
seus costumes são similares.<br />
27.<br />
I – Para o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o<br />
estado de natureza é um estado de guerra universal e<br />
perpétua. Contraposto ao estado de natureza, entendido<br />
como estado de guerra, o estado de paz é a sociedade<br />
civilizada.<br />
Dentre outras tendências que dialogam com as idéias de<br />
Hobbes, destaca-se a definida pelo texto abaixo.<br />
II– Nem todas as guerras são injustas e correlativamente,<br />
nem toda paz é justa, razão pela qual a guerra nem<br />
sempre é um desvalor, e a paz nem sempre um valor.<br />
BOBBIO, N. MATTEUCCI, N PASQUINO, G. Dicionário de Política, 5ª ed.<br />
Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.<br />
Comparando as idéias de Hobbes (texto I) com a<br />
tendência citada no texto II, pode-se afirmar que<br />
a) em ambos, a guerra é entendida como inevitável e<br />
injusta.<br />
b) para Hobbes, a paz é inerente à civilização e,<br />
segundo o texto II, ela não é um valor absoluto.<br />
c) de acordo com Hobbes, a guerra é um valor absoluto<br />
e, segundo o texto II, a paz é sempre melhor que a<br />
guerra.<br />
d) em ambos, a guerra ou a paz são boas quando o fim<br />
é justo.<br />
e) para Hobbes, a paz liga-se à natureza e, de acordo<br />
com o texto II, à civilização.<br />
28. Examinando as mudanças que marcaram a passagem<br />
do século 17 para o 18, o historiador francês Paul Hazard<br />
disse que os novos filósofos tentaram substituir uma<br />
civilização baseada na “ideia de dever” por uma<br />
civilização baseada na “ideia de direito”.<br />
Com base nas afirmações acima, e utilizando seus<br />
conhecimentos de <strong>História</strong>, explique o que o autor quer<br />
dizer com<br />
a) “ideia de dever”?<br />
b) Civilização baseada na “ideia de direito”?<br />
29. Fundado em 1793, no auge da Revolução Francesa,<br />
o museu do Louvre era a materialização da liberdade,<br />
igualdade e fraternidade. O museu foi estabelecido em<br />
um palácio real transformado em palácio do povo; sua<br />
coleção de pinturas, esculturas e desenhos foi confiscada<br />
da Igreja, da Coroa e dos aristocratas exilados e<br />
nacionalizada.<br />
(Traduzido de Andrew McClellan, A Brief History of the Art Museum Public, em<br />
Andrew McClellan (org.), Art and its Publics. Museum Studies at the Millenium.<br />
Oxford: Blackwell Publishing, 2003, p. 5).<br />
a) O que é um museu?<br />
b) Como se pode considerar o confisco mencionado no<br />
texto como um gesto revolucionário?<br />
c) Explique a importância dos museus na construção da<br />
identidade nacional.<br />
276
30. Sendo os homens, conforme (...) dissemos, por<br />
natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém<br />
pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao<br />
poder de outrem sem dar consentimento.<br />
(John Locke, Segundo tratado sobre o governo.)<br />
O patrimônio do pobre reside na força e destreza de suas<br />
mãos, sendo que impedi-lo de utilizar essa força e essa<br />
destreza da maneira que ele considerar adequada, desde<br />
que não lese o próximo, constitui uma violação pura e<br />
simples dessa propriedade sagrada.<br />
(Adam Smith, A riqueza das nações.)<br />
A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que<br />
a) John Locke defende a democracia, isto é, a<br />
igualdade política entre os homens, ao passo que<br />
Adam Smith privilegia o trabalho, portanto a<br />
desigualdade.<br />
b) John Locke funda sua teoria política liberal na<br />
defesa da propriedade privada, em sintonia com a<br />
defesa da livre iniciativa proposta por Adam Smith.<br />
c) o consentimento para evitar o poder centralizado do<br />
rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de<br />
intervenção econômica, segundo Adam Smith.<br />
d) a monarquia absolutista é a base da teoria política de<br />
John Locke, enquanto o Estado não intervencionista<br />
é o suporte da teoria econômica de Adam Smith.<br />
e) para John Locke, o consentimento é garantido pela<br />
divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa<br />
da propriedade coletiva de Adam Smith.<br />
31. Durante o século XVIII, na Europa, constituíram-se<br />
dois pólos dinâmicos: um de dimensão cultural,<br />
representado pela França, e outro de dimensão<br />
econômica, representado pela Inglaterra.<br />
A Leiteira (c.1658-1660), de Johannes Veermer, é uma<br />
das obras-primas da pintura holandesa do século XVII,<br />
que gradativamente define um estilo próprio,<br />
representando com austero realismo cenas familiares,<br />
paisagens urbanas, situações da vida cotidiana e retratos<br />
de pessoas comuns. A vida urbana e comercial é o<br />
cenário dessa nova forma de representação do mundo,<br />
que caracteriza a cristalização de uma cultura burguesa.<br />
Das características abaixo, assinale aquela que NÃO se<br />
aplica à cultura burguesa urbana da era moderna.<br />
a) A estética barroca, caracterizada por uma<br />
representação do mundo saturada de excessos e<br />
movimento.<br />
b) A atribuição de valor moral ao trabalho honesto e<br />
disciplinado, com raízes na religião reformada.<br />
c) O profundo desprezo pelas classes populares,<br />
consideradas como dissolutas e avessas ao trabalho.<br />
d) A vida doméstica centrada na definição de uma<br />
esfera privada restrita à família nuclear.<br />
e) A aversão ao complexo jogo de etiqueta e honra da<br />
sociedade de corte e dos aristocratas em geral.<br />
Descreva aspectos referentes ao<br />
a) primeiro pólo.<br />
b) segundo pólo.<br />
32. Observe a figura abaixo:<br />
33. “Certo gentil-homem francês sempre se assoa com a<br />
mão; coisa muito avessa a nosso costume. Defendendo<br />
seu gesto (e ele era famoso por seus bons achados),<br />
perguntou-me que privilégio tinha esse excremento sujo<br />
para que lhe preparássemos um belo pano delicado a fim<br />
de recebê-lo e depois, o que é mais, o dobrássemos e<br />
guardássemos conosco; (...) e o costume não me permitiu<br />
perceber essa estranheza, a qual, no entanto,<br />
consideramos tão horrível quando nos é relatada sobre<br />
outro país.”<br />
277
(MONTAIGNE, citado por CHARTIER, Roger (Org.) <strong>História</strong> da vida privada 3:<br />
da Renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.<br />
184.)<br />
Essa narrativa de Montaigne, nos seus Ensaios, I, XXIII,<br />
refere-se às transformações nos costumes entre os<br />
séculos XV e XVIII, que se efetuaram na Europa em<br />
ritmos e cronologias variáveis. Sobre esse movimento, é<br />
correto afirmar:<br />
a) As expressões de espontaneidade biológicas,<br />
afetivas e emocionais dos indivíduos permaneceram<br />
livres do controle coletivo e das proibições sociais.<br />
b) Formas de sociabilidade, tal como o ato de comer à<br />
mesa, aceitavam à época comensais com apetites<br />
indiscretos, com seus ruídos e humores sem<br />
controle.<br />
c) A aprendizagem das boas maneiras e das máximas<br />
morais esteve ausente das preocupações e dos<br />
conselhos dos pensadores.<br />
d) Houve uma maior adequação às normas, que<br />
repousavam nas pressões exercidas pelo grupo mais<br />
prestigiado sobre cada indivíduo, mas também, e<br />
cada vez mais, na incorporação das regras sociais<br />
por parte deste.<br />
e) A exigência do decoro foi banida das regras sociais,<br />
e os indivíduos podiam expor publicamente suas<br />
paixões e suas maneiras de agir na intimidade.<br />
278
GABARITO<br />
01. Resposta: B<br />
02. Resposta: D<br />
03. a) Uma usina hidrelétrica gera eletricidade a partir da<br />
transformação de energia potencial mecânica (água) em<br />
energia elétrica.<br />
b) Foi o pensamento Iluminista.<br />
c) Segundo o Iluminismo, a Idade Média teria<br />
correspondido à "Idade das Trevas", época marcada pelo<br />
obscurantismo e superstição.<br />
04.<br />
a) Basicamente, o ideal republicano, a liberdade, o<br />
iluminismo e as idéias de abrigo para os excluídos e de<br />
terra das oportunidades.<br />
b) Crises do Antigo Regime e do Sistema Colonial;<br />
influência da ideologia iluminista (liberalismo);<br />
agravamento da crise financeira francesa (o que acelerou<br />
a eclosão da Revolução de 1789), devido aos gastos com<br />
a ajuda militar da França aos norte-americanos; e, ainda,<br />
o fato de que tanto a independência dos Estados Unidos<br />
como a Revolução Francesa pertencem ao contexto das<br />
Revoluções Burguesas, bem como a presença do ideal<br />
republicano em ambos os processos.<br />
05. Resposta: D<br />
06. Resposta: B<br />
07. Resposta: A<br />
08. Resposta: A<br />
09.<br />
a) Dois dentre os princípios:<br />
tolerância religiosa<br />
liberdade de expressão<br />
condenação à escravidão<br />
liberdade de pensamento<br />
crítica ao governo absoluto<br />
b) Um dentre os fatores e sua respectiva explicação:<br />
Imposição de novos impostos por parte da Inglaterra às<br />
colônias americanas.<br />
Os colonos consideravam que apenas suas assembleias<br />
coloniais tinham de consentir a cobrança de qualquer<br />
novo imposto.<br />
Fim da “negligência salutar”.<br />
A perda de autonomia dos colonos constituiu-se em um<br />
empecilho para a continuação do desenvolvimento das<br />
elites das colônias.<br />
As ideias de liberdade oriundas do pensamento da<br />
Ilustração.<br />
As ideais de liberdade levaram os colonos a questionar a<br />
aplicação do pacto colonial.<br />
Insatisfação dos colonos em relação à Linha da<br />
Proclamação Régia.<br />
Por meio desta a Coroa Inglesa estabelecia o monopólio<br />
sobre as terras obtidas em decorrência do Tratado de<br />
Paris.<br />
10. Resposta: E<br />
11. Resposta: D<br />
12.<br />
a) O texto de Diderot faz referência ao absolutismo<br />
monárquico.<br />
b) Segundo Diderot, o povo seria conduzido à escravidão<br />
caso se visse privado do direito à liberdade, a qual<br />
incluía a possibilidade de escolher os governantes e<br />
substituí-los, com a prática de alternância de<br />
governantes. Tais direitos formariam a base das<br />
democracias liberais nos séculos seguintes.<br />
13. Alternativa: D<br />
14.<br />
a) O Estado ampliou sua autoridade por meio do<br />
monopólio do poder militar e da justiça, da formação de<br />
uma burocracia estatal e da interferência na economia. O<br />
candidato poderá ainda, apoiado na moderna<br />
279
historiografia sobre o assunto, afirmar que o Estado do<br />
Antigo Regime baseava sua autoridade nas contínuas<br />
negociações com os poderes locais (como a aristocracia e<br />
as Comunas Urbanas), e no exercício da justiça como<br />
forma de garantir a ordem social e política.<br />
b) Rousseau considera que o Estado fora criado pelo<br />
homem para preservar sua liberdade, o povo é o<br />
depositário do poder e os governantes constituem apenas<br />
seus funcionários. As leis devem ser aprovadas por<br />
todos, a soberania do povo deve ser absoluta e se<br />
manifestar através da vontade geral, pois a liberdade só<br />
existe quando há igualdade entre os componentes da<br />
sociedade.<br />
15. Alternativa: C<br />
16. Alternativa: A<br />
17. Resposta: E<br />
18. A formação do Estado moderno e da divisão dos<br />
poderes. Este texto está inserido na consolidação do<br />
Estado burguês moderno e mudança do pensamento<br />
político.<br />
19. Resposta: A<br />
20. A função do Estado para Locke é o de preservar os<br />
direitos naturais do homem. Com o Estado defendo a<br />
propriedade privada com leis, ele está garantindo ao<br />
capitalista uma base legal para o acumulo de capital.<br />
21. Hobbes acreditava em um Estado despótico e<br />
centralizador, uma grande entidade pela qual todos os<br />
cidadãos deviam obediência, para ele este tipo de Estado<br />
era necessário para se contrapor ao Estado de natureza<br />
que o homem vivia e que poderia levar ao caos social.<br />
Enquanto que Locke acreditava em um Estado que<br />
deveria preservar os direitos naturais do homem (vida,<br />
liberdade e propriedade) mas sem tornar-se um Estado<br />
autoritário, para ele a sociedade civil estava acima do<br />
Estado.<br />
22. Resposta: A<br />
23. Resposta: D<br />
24. Resposta: A<br />
25. Resposta: 08+32 = 40<br />
26. Resposta: B<br />
27. Resposta: B<br />
28. Resposta: B<br />
29. A "idéia do dever" associa-se à Europa do Antigo<br />
Regime, caracterizada, entre outros aspectos, pela<br />
existência de uma sociedade altamente hierarquizada,<br />
com pouca mobilidade social e a existência de formas<br />
absolutistas de governo com uma significativa<br />
centralização político-administrativa. Nessa sociedade, o<br />
poder político era concentrado na figura do monarca, os<br />
membros da sociedade eram considerados seus súditos e<br />
precisamente lhe "deviam obediência", não podendo<br />
contestar seu poder absoluto.<br />
A civilização baseada na "idéia de direito" corresponde à<br />
época a partir do Iluminismo (séculos XVII e XVIII) no<br />
Ocidente Europeu. No lugar do poder absoluto dos<br />
monarcas, prega-se a existência de formas<br />
representativas de governo sob o preceito do exercício da<br />
"soberania popular", consagrada na fórmula: "Todo<br />
poder emana do povo e em seu nome será exercido".<br />
Propunha-se, desta forma, contestar a idéia da origem<br />
divina do exercício do poder absoluto dos reis. Nesse<br />
contexto, os antigos "súditos" são considerados<br />
cidadãos" de pleno direito, que podem votar e ser<br />
votados, e desta forma escolher seus governantes. Este<br />
novo ordenamento supõe, portanto, a existência de um<br />
"Estado de Direito" com a definição de<br />
responsabilidades, direitos e deveres dos governantes e<br />
dos governados.<br />
30.<br />
a) Local destinado à preservação do passado histórico e<br />
cultural, mediante a organização de um acervo<br />
específico.<br />
b) Porque ele representa uma contestação ao absolutismo<br />
monárquico e aos privilégios da nobreza e do clero – ou<br />
seja, aos elementos que constituíam a base do Antigo<br />
Regime. Outrossim, trata-se de um gesto revolucionário<br />
também em seu intuito de tornar acessíveis ao povo<br />
elementos culturais até então restritos aos grupos<br />
dominantes.<br />
280
c) O museu guarda obras artísticas e objetos que<br />
identificam os momentos da história de uma nação e da<br />
própria evolução do homem.<br />
31. Alternativa: B<br />
32.<br />
a) A França no século XVIII era um centro irradiador de<br />
idéias liberais que condenavam o Antigo Regime e<br />
inspiraram as revoluções burguesas. Essas propostas<br />
revolucionárias integraram a doutrina filosófica<br />
denominada Iluminismo e se expressaram por diversos<br />
meios, como discursos filosóficos, manifestos, obras<br />
literárias, etc.<br />
b) A Inglaterra no século XVIII era o pólo dinâmico do<br />
capitalismo em que se desenvolveu a industrialização.<br />
Tal transformação, além de favorecer avanços<br />
tecnológicos, consolidou o processo de acumulação<br />
capitalista, o que desencadeou inúmeras transformações<br />
no século XIX.<br />
33. Resposta: A<br />
34. Resposta: D<br />
281
A INDEPENDÊNCIA DOS EUA<br />
282<br />
A importância da independência das colônias inglesas na<br />
América, que formariam os Estados Unidos, é<br />
incontestável, pois foi o primeiro grande ato de colônias<br />
contra suas metrópoles. Elas se colocaram contra a<br />
submissão econômica e política dos imigrantes e seus<br />
descendentes, que haviam formado outra sociedade, e<br />
que passaram a ter interesses diferentes dos<br />
representados pelos diversos grupos metropolitanos.<br />
A lógica colonial estava em crise, afetando as relações<br />
entre as metrópoles e suas colônias, que estavam<br />
diretamente ligadas às profundas transformações<br />
estruturais europeias, motivadas pelas ideias e filosofias<br />
iluministas. A independência americana teve<br />
repercussões importantes na própria Europa, inclusive na<br />
Inglaterra, que perdia sua principal área colonial, na<br />
França, que anos depois também teria uma grande<br />
Revolução, e nos territórios coloniais ibéricos do Novo<br />
Mundo.<br />
1. OS CONFLITOS NO PROCESSO<br />
COLONIAL<br />
A mudança de interesses entre colonizadores e<br />
colonizados trouxe então um aumento da tensão entre<br />
eles. A situação se agravou com a Guerra dos Sete Anos<br />
(1756-1763) entre a França e a Inglaterra, pois os<br />
combates também aconteceram em território norteamericano.<br />
Os colonos travaram lutas junto com os<br />
soldados britânicos contra os franceses e os venceram,<br />
tomando territórios que estavam sob domínio francês,<br />
como a Louisiana francesa, localizada as margens do rio<br />
Mississipi. Ao findar a guerra, mesmo a Inglaterra tendo<br />
conseguido tomar extensas áreas dos franceses, sua<br />
situação financeira estava bastante fragilizada em virtude<br />
dos altos custos da guerra. Os ingleses, necessitando de<br />
maiores fontes de recursos, decidiram criar novos<br />
impostos para solucionar seus problemas econômicos.<br />
Em 1764, o parlamento inglês aprovou a primeira de<br />
uma série de leis que taxavam produtos comerciados<br />
pelos norte-americanos: a Lei do Açúcar. Por ela, o<br />
melaço que os norte-americanos consumiam e que<br />
também era um componente importante do rum, usado<br />
como moeda de troca no tráfico negreiro, vindo das<br />
Antilhas, passou a ser pesadamente taxado. Estabelecia<br />
também direitos sobre diversos artigos de luxo, como<br />
vinho, seda, café, entre outros. No ano seguinte, em<br />
1765, foi promulgada a Lei do Selo (Stamp Act) pela<br />
qual os documentos comerciais e jornais deveriam exibir<br />
um selo inglês, comprado na metrópole. A reação de<br />
oposição da elite norte-americana foi imediata e exigiu<br />
uma revisão da Lei. Os colonos norte-americanos<br />
alegaram que não tinham representação no Parlamento<br />
inglês e que não admitiam taxações impostas por<br />
Londres sem sua representação.<br />
Diante da grande pressão vinda da colônia, os ingleses<br />
revogaram a Lei do Selo, mas, em compensação,<br />
impuseram outras em seu lugar, com os mesmos<br />
objetivos, taxando o papel, o vidro, o chumbo e o chá.<br />
Mais uma vez, os colonos se opuseram às medidas<br />
legais; os parlamentares ingleses, com medo que a<br />
rebeldia se espalhasse, recuaram, menos na questão do<br />
chá.<br />
A situação se complicou para valer em 1773, quando foi<br />
concedido à Companhia Inglesa das Índias o monopólio<br />
da venda de chá em todas as colônias inglesas. Essa<br />
medida prejudicava enormemente os norte-americanos<br />
que o compravam em outras áreas. Diante da proibição<br />
de comércio, passaram a contrabandeá-lo. Os dirigentes<br />
da Companhia, então, baixaram o preço do chá, o que<br />
enfureceu ainda mais os colonos. Eles resistiram à<br />
taxação e, em 1773, um grupo disfarçado de índios<br />
abordou um navio ancorado no porto de Boston, jogando<br />
ao mar uma grande quantidade de chá inglês que estava a<br />
bordo. Esse acontecimento ficou conhecido como a<br />
Festa do Chá de Boston.<br />
A reação inglesa foi dura, pois os colonos tinham<br />
cometido um crime, destruindo uma valiosa carga de<br />
chá. Para erradicar esse tipo de ação os ingleses<br />
promulgaram, em 1774, as Leis Intoleráveis<br />
(Intolerable Act). Uma delas fechava o porto de Boston<br />
até que os colonos cobrissem integralmente o prejuízo<br />
causado pelo chá jogado ao mar, como também<br />
substituía autoridades e funcionários eleitos pelos<br />
colonos por novos mandatários e funcionários<br />
designados pela Inglaterra. Os colonos de Massachusetts<br />
(onde Boston está situada) e de outras colônias<br />
entenderam que a atitude inglesa era de tirania. O clima<br />
de revolução pairava no ar.
2. A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA<br />
Em 1774, os representantes das colônias (com exceção<br />
da Geórgia) reuniram-se no Primeiro Congresso<br />
Continental, em Filadélfia. Foi enviada uma petição ao<br />
rei da Inglaterra e aprovada uma Declaração de Direitos<br />
e Agravos. Renovou-se o boicote ao comercio inglês e<br />
formaram-se comitês de inspeção para fiscalizar as<br />
alfândegas e confiscar as importações de comerciantes<br />
que violassem o acordo.<br />
O Primeiro Congresso Continental representou um<br />
ultimato ao poder inglês, para que, através de concessões<br />
mutuas, se encontrasse uma solução. Entretanto, a<br />
Inglaterra não estava disposta a negociar, nem a fazer<br />
alianças.<br />
A intransigência real apressou a mobilização da<br />
resistência anticolonialista. Intensificou-se a campanha<br />
política em favor da independência, devido sobretudo ao<br />
trabalho dos comitês e dos líderes populares. Os<br />
legalistas ou tories eram perseguidos como traidores. Ao<br />
mesmo tempo, os patriotas ou whigs armazenavam<br />
armas e munições, preparando-se para o inevitável<br />
conflito armado. A Guerra de Independência teve início<br />
com os ataques ingleses a Lexington e Concord, em<br />
1775. Embora vitoriosas, as tropas inglesas do general<br />
Thomas Gage sofreram consideráveis perdas humanas,<br />
devido a resistência organizada da população.<br />
Nesse mesmo ano, reuniu-se o Segundo Congresso<br />
Continental de Filadélfia, presidido por John Hancock<br />
e contando com a presença de destacados líderes, como<br />
Samuel Adams, Thomas Jefferson, Benjamim Franklin e<br />
outros. Apesar da situação de guerra aberta, ainda havia<br />
muitos elementos vacilantes que não aceitavam a ideia<br />
de uma separação completa da Inglaterra. Na verdade,<br />
embora declaradas em estado de rebelião pelo rei George<br />
III, as colônias ainda faziam parte do Império Britânico.<br />
Para alguns, o rei estaria acima dos conflitos, sendo a<br />
opressiva política colonial obra dos ministros e do<br />
Parlamento. A estreiteza da visão política de alguns<br />
setores coloniais não lhes permitia enxergar nada além<br />
dos seus limitados interesses imediatos.<br />
Mesmo assim, o Segundo Congresso Continental<br />
conseguiu aprovar uma Declaração das Causas e<br />
Necessidades de Pegar em Armas e nomear George<br />
Washington, grande proprietário rural, como<br />
comandante-em-chefe das tropas norte-americanas. A<br />
obra mais importante do Segundo Congresso de<br />
Filadélfia foi, porém, a Declaração de Independência,<br />
aprovada em 4 de julho de 1776. Redigido em sua maior<br />
parte por Thomas Jefferson, esse documento formalizava<br />
a Independência e tornava possível aos norte-americanos<br />
pedir e receber auxílio estrangeiro. Seu significado<br />
político e, porém, mais amplo e profundo: enunciava<br />
uma filosofia de liberdade (individual), que teve<br />
influência marcante não só na organização da federação<br />
norte-americana, mas também nos movimentos<br />
emancipacionistas das áreas de dominação francesa,<br />
espanhola e portuguesa na América. A guinada que<br />
permitiu ao movimento de resistência colonial passar a<br />
ofensiva decorreu de vários fatores:<br />
A inflexibilidade do governo inglês em<br />
promover qualquer conciliação com os revoltosos;<br />
O trabalho desenvolvido pelas forças<br />
democráticas, através da propaganda (como, por<br />
exemplo, a publicação do Senso comum, de Thomas<br />
Paine) e da formação de governos extralegais nas<br />
colônias.<br />
A situação internacional que opunha a Franca, a<br />
Espanha e a Holanda a Inglaterra, devido a posição<br />
hegemônica desta como potência colonial e comercial.<br />
A verdadeira essência da filosofia política da<br />
Declaração e a ideia democrática da soberania popular.<br />
Inspirada em John Locke (Segundo Tratado do governo<br />
civil), James Harrington e em outros filósofos dos<br />
séculos XVII e XVIII, a Declaração de Independência<br />
assimilou-lhes os conceitos e os ampliou, tornando-se<br />
uma síntese das ideias liberais e democráticas da época,<br />
e, no entanto, profundamente original. Consiste em três<br />
ideias básicas: 1) o ser humano ¡V essencialmente igual<br />
em atributos, necessidades, obrigações e desejos ¡V tem<br />
o direito básico a Vida, a Liberdade e a Busca da<br />
Felicidade; 2) para a obtenção desses direitos, o homem<br />
criou os governos; 3) o governo que não respeita esses<br />
direitos e tirano; tal governo pode e, na verdade, deve ser<br />
alterado ou abolido pelo povo que, então, tem o direito e<br />
o dever de criar a forma de governo que .a seu ver,<br />
pareça-lhe mais adequado a promover sua segurança e<br />
felicidade..<br />
Convém notar que, devido as pressões dos grandes<br />
proprietários rurais da Carolina do Sul e da Geórgia, e de<br />
alguns comerciantes de escravos da Nova Inglaterra, o<br />
trecho da Declaração que denunciava e criticava a<br />
escravidão foi retirado do documento em sua redação<br />
final.<br />
283
3. E O MUNDO VIROU DO AVESSO<br />
A Guerra de Independência durou cerca de seis anos.<br />
Desde 1775, verificaram-se combates entre as tropas<br />
inglesas e norte-americanas. A princípio, os norteamericanos<br />
sofreram sérias derrotas. O objetivo das<br />
forças inglesas era tomar os portos e vias fluviais,<br />
cortando as comunicações entre as colônias e isolandoas.<br />
Assim aconteceu em Nova Iorque em 1776,<br />
obrigando o exército de Washington a retirar-se para<br />
Filadélfia. Às vitórias dos norte-americanos sobre as<br />
tropas inglesas e de mercenários alemães em Trenton e<br />
Princeton (1777) seguiu-se a tomada de Filadélfia pelos<br />
ingleses.<br />
A primeira grande batalha ocorreu no final de 1777, em<br />
Saratoga. A vitória norte-americana deu outro ruma à<br />
guerra, pois significou o apoio da França (1778) e da<br />
Espanha, unidas por Pactos de Família contra a<br />
Inglaterra. A Grã-Bretanha declarou prontamente guerra<br />
à França, e a Guerra de Independência tornou-se guerra<br />
mundial. A Espanha entrou nela como aliada da França<br />
em 1779 e foi de grande utilidade para a causa americana<br />
porque transformou Nova Orleans em base para corsários<br />
e por se haver apoderado dos postos militares ingleses na<br />
Flórida Ocidental. A Holanda, nação à qual tinha valido<br />
uma fortuna considerável sua condição de principal<br />
potência marítima neutra, viu-se obrigada pela Inglaterra<br />
a entrar na guerra em 1780; e Catarina II da Rússia<br />
formou uma Liga da Neutralidade Armada que estorvou<br />
bastante as operações da esquadra inglesa contra os<br />
comerciantes neutros. Se os inimigos da Inglaterra se<br />
houvessem unido, seria impossível a resistência contra<br />
ele; mas somente a França e a América do Norte agiram<br />
de comum acordo, e ainda só a partir de 1780.<br />
A entrada da França na guerra ao lado dos norteamericanos<br />
foi decisiva para a vitória final. A França,<br />
interessada em debilitar o poderio da Inglaterra que,<br />
desde 1763, a desalojara do continente americano, e<br />
também vislumbrando a possibilidade de conquistar<br />
mercados consumidores, colaborou com homens, armas,<br />
dinheiro e navios. Entre os oficiais franceses,<br />
destacaram-se o marquês de Lafayette, Saint-Simon e o<br />
general Rochambeau.<br />
A partir de 1778, o teatro da guerra deslocou-se do Norte<br />
para o Sul, onde os ingleses capturaram o porto de<br />
Charleston, a Geórgia e a Carolina do Sul, em 1780. Nas<br />
lutas para recuperar esses territórios, teve grande<br />
importância a tática da guerra de guerrilhas. Entretanto,<br />
foi o poder naval francês que tornou possível a vitória<br />
norte-americana sobre as tropas do general Cornwallis,<br />
em 1781, em Yorktown, na costa da Virgínia, o que<br />
marcou o fim da resistência militar inglesa. Durante a<br />
rendição, a banda dos soldados ingleses tocou O mundo<br />
virou de cabeça para baixo. Não deixava de ser um<br />
sintoma dos novos tempos, que a vitória dos patriotas<br />
norte-americanos anunciava… Embora os exércitos<br />
britânicos tenham sido capturados, o reconhecimento da<br />
independência norte-americana só se deu em 1783,<br />
quando foi assinado o Tratado de Versalhes entre a<br />
antiga colônia e sua ex-metrópole.<br />
4. A ORGANIZAÇÃO DO NOVO GOVERNO<br />
Em 1787 foi aprovada a Constituição norte-americana,<br />
tendo sido elaborada a partir do republicanismo e do<br />
federalismo, estabelecendo o poder tripartite<br />
independente: executivo, judiciário e legislativo. O texto<br />
da Carta Magna americana é enxuto e prevalece até hoje,<br />
embora tenha sofrido emendas ao longo do tempo.<br />
Alterar a Constituição norte-americana é um processo<br />
moroso e que precisa ser muito bem estudado para o<br />
conseguir. George Washington foi eleito o primeiro<br />
presidente dos Estados Unidos da América em 1789. As<br />
repercussões da Independência<br />
O primeiro país atingido pela Independência dos Estados<br />
Unidos foi a Inglaterra. O rei Jorge III, que vinha<br />
tentando uma maior concentração de poderes, ficou<br />
extremamente desacreditado com a separação das 13<br />
colônias. A derrota inglesa e o Tratado de Versalhes<br />
abalaram momentaneamente a expansão inglesa. A<br />
França absolutista de Luís XVI também foi atingida. Os<br />
soldados franceses que haviam lutado na Independência<br />
voltaram para a Europa com ideias de liberdade e<br />
república. Haviam lutado contra uma tirania na América<br />
e, de volta à pátria, reencontravam um soberano<br />
absoluto. No entanto, só 13 anos depois da<br />
Independência norte-americana esse germe de liberdade<br />
frutificará na França.<br />
As despesas do Estado francês com a guerra no além-mar<br />
foram elevadas, fazendo o já debilitado tesouro francês<br />
sofrer bastante. As vantagens obtidas pelo Tratado de<br />
Versalhes só supriram parte do déficit. Dessa forma<br />
também, a Revolução Americana colaborou para<br />
enfraquecer o poder real e desencadear a Revolução<br />
Francesa. Para o resto da América, os Estados Unidos<br />
serviriam como exemplo. Uma independência concreta e<br />
possível passou a ser o grande modelo para as colônias<br />
ibéricas que desejavam separar-se das metrópoles. Os<br />
princípios iluministas, que também influenciavam a<br />
284
América ibérica, demonstraram ser aplicáveis em termos<br />
concretos. Soberania popular, resistência à tirania, fim do<br />
pacto colonial; tudo isso os Estados Unidos mostravam<br />
às outras colônias com seu feito.<br />
Para os índios, a Independência foi negativa, pois, a<br />
partir dela, aumentou a pressão expansionista dos<br />
brancos sobre os territórios ocupados pelas tribos<br />
indígenas. Para os negros escravos, foi um ato que em si<br />
nada representou. Temos notícia de um grande aumento<br />
do número de fugas durante o período da Guerra de<br />
Independência. Thomas Jefferson declarou que, em<br />
1778, a Virgínia perdeu trinta mil escravos pela fuga. No<br />
entanto, nem à Inglaterra (que dependia do trabalho<br />
escravo em áreas como a Jamaica) nem os colonos – os<br />
sulinos em particular – interessavam que a Guerra de<br />
Independência se transformasse numa guerra social entre<br />
escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu.<br />
Com todas as suas limitações, o movimento de<br />
independência significava um fato histórico novo e<br />
fundamental: a promulgação da soberania “popular”<br />
como elemento suficientemente forte para mudar e<br />
derrubar formas estabelecidas de governo, e da<br />
capacidade, tão inspirada em Locke, de romper o elo<br />
entre governantes e governados quando os primeiros não<br />
garantissem aos cidadãos seus direitos fundamentais.<br />
Existia uma firma esfera da liberdade, a princípio<br />
limitada, mas que se foi estendendo em diversas áreas. Já<br />
nas dez primeiras emendas à Constituição, em 1791, os<br />
direitos e liberdades individuais são esclarecidos e<br />
aprofundados. Essas emendas, chamadas Bill of Rights,<br />
são muitas vezes consideradas mais importantes do que<br />
todo o texto da Constituição.<br />
A primeira emenda proíbe que se estabeleça uma religião<br />
oficial ou se limite o exercício de qualquer religião. A<br />
liberdade de expressão e a de imprensa são declaradas<br />
fundamentais e o povo tem direito de reunir-se<br />
pacificamente e fazer petições contra um ato<br />
governamental que não lhe agrade. A Segunda Emenda<br />
garante o direito de cada cidadão ao porte de armas. A<br />
Terceira trata da proibição de se alojar soldados nas<br />
casas sem consentimento do proprietário. Outras<br />
emendas falam do direito ao júri, do direito a um<br />
julgamento público e rápido, proíbem multas excessivas<br />
e penas cruéis, e – no máximo do cuidado democrático –<br />
a Nona Emenda afirma que todos os direitos garantidos<br />
nas emendas não significam que outros, não escritos, não<br />
sejam válidos também.<br />
Surgia um novo país que, apesar de graves limitações aos<br />
olhos atuais (permanência da escravidão, falta de voto de<br />
pobres e de mulheres), causava admiração por ser uma<br />
das mais avançadas democracias do planeta naquela<br />
ocasião. Essas realidades encantariam um pensador<br />
francês em visita aos Estados Unidos no século XIX,<br />
Alexis de Tocqueville, que, entusiasmado, afirmou: Há<br />
países onde um poder, de certo modo exterior ao corpo<br />
social, age sobre ele e o força a marchar em certa<br />
direção. Outros há em que a força é dividida, estando ao<br />
mesmo tempo situada na sociedade e fora dela. Nada de<br />
semelhante se vê nos Estados Unidos; ali, a sociedade<br />
age sozinha e sobre ela própria […]. O povo reina sobre<br />
o mundo político americano como Deus sobre o<br />
universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas, tudo<br />
sai de seu seio e tudo se absorve nele. Entretanto, o<br />
mesmo Tocqueville, vindo de uma sociedade<br />
aristocrática não deixa de tecer críticas à maneira de ser<br />
da jovem nação. Em passagem venenosa, o autor declara:<br />
Frequentemente observei nos Estados Unidos que não é<br />
fácil fazer uma pessoa compreender que sua presença<br />
pode ser dispensada, e as insinuações nem sempre<br />
bastam para afastá-la. Se contradigo um americano a<br />
cada palavra que diz, para lhe mostrar que sua conversão<br />
me aborrece, ele logo se esforça com redobrado impero<br />
para me convencer; se mantenho um silencio mortal, ele<br />
julga que estou meditando profundamente nas verdades<br />
que prefere; e se por fim fujo de sua companhia, ele<br />
supõe que algum assunto urgente me chama para outro<br />
lugar. Esse homem nunca compreenderá que me cansa<br />
mortalmente, a não ser que eu diga, e, assim, a única<br />
maneira de me ver livre dele é transformá-lo em meu<br />
inimigo pela vida inteira.<br />
Como vemos, a admiração pela política do novo país não<br />
era ampliada para a admiração pela conversa dos novos<br />
cidadãos. Estava mais uma vez registrada a ambiguidade<br />
permanente do mundo com relação aos EUA.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
A Declaração de Independência dos Estados Unidos<br />
Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna<br />
necessário um povo dissolver laços políticos que ligavam<br />
a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição<br />
igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza<br />
e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões<br />
dos homens exige que se declarem as causas que os<br />
levam a essa separação. Consideramos estas verdades<br />
como evidentes por si mesmas, que todos os homens<br />
foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de<br />
285
certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a<br />
liberdade e a busca da felicidade. Que a fim de assegurar<br />
esses direitos, governos são instituídos entre os homens,<br />
derivando seus justos poderes do consentimento dos<br />
governados; que, sempre que qualquer forma de governo<br />
se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de<br />
alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o<br />
em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela<br />
forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe<br />
a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência<br />
recomenda que não se mudem os governos instituídos há<br />
muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim<br />
sendo, toda experiência tem mostrado que os homens<br />
estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são<br />
suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a<br />
que se acostumaram. Mas quando uma longa série de<br />
abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o<br />
mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao<br />
despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como<br />
o dever, de abolir tais governos e instituir novos-Guardas<br />
para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento<br />
paciente destas colônias e tal agora a necessidade que as<br />
força a alterar os sistemas anteriores de governo. A<br />
história do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de<br />
repetidos danos e usurpações, tendo todos por objetivo<br />
direto o estabelecimento da tirania absoluta sobre estes<br />
Estados. (…) Nós, por conseguinte, representantes dos<br />
Estados Unidos da América, reunidos em Congresso<br />
<strong>Geral</strong>, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela<br />
retidão de nossas intenções, em nome e por autoridade<br />
do bom povo destas colônias, publicamos e declaramos<br />
solenemente: que estas Colônias unidas são e de direito<br />
tem de ser Estados livres e independentes, que estão<br />
desoneradas de qualquer vassalagem para com a Coroa<br />
Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-<br />
Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que,<br />
como Estados livres e independentes, tem inteiro poder<br />
para declarar guerra, concluir paz, contratar alianças,<br />
estabelecer comércio e praticar todos os atos e ações a<br />
que tem direito os estados independentes. E em apoio<br />
desta declaração, plenos de firme confiança na proteção<br />
da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas<br />
vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra.<br />
Disponível em: http://www.embaixada-americana.org.br Acesso em 15 de<br />
maio de 2006.<br />
Um presente francês…<br />
A Estátua da Liberdade, cujo nome oficial é A<br />
Liberdade Iluminando o Mundo é um monumento<br />
inaugurado em 28 de outubro de 1886, construído em<br />
uma ilha na entrada do Porto de Nova Iorque. O<br />
Monumento comemora o centenário da assinatura da<br />
Declaração da Independência dos Estados Unidos e é um<br />
gesto de amizade da França para com os Estados Unidos.<br />
Projetada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric<br />
Auguste Bartholdi (1834-1904), que baseou-se no<br />
Colosso de Rodes para edificá-la. Para a construção da<br />
estrutura metálica interna da estátua, Bartholdi contou<br />
com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel,<br />
mesmo engenheiro da Torre Eiffel.<br />
A estátua, que tem altura total 92,9m, sendo 46,9m<br />
correspondendo à altura da base e 46m à altura da estátua<br />
propriamente dita, foi um presente dado por Napoleão<br />
III, como uma forma de premiação aos Estados Unidos,<br />
após uma vitória em batalha travada contra a Inglaterra.O<br />
historiador francês Edouard de Laboulayefoi quem<br />
primeiro propôs a ideia do presente, e o povo francês<br />
arrecadou os fundos necessários para que, em 1875, a<br />
equipe do escultor Frédéric Auguste Bartholdi<br />
começasse a trabalhar na estátua de dimensões colossais.<br />
O projeto sofreu vários atrasos porque naquela época não<br />
era conveniente do ponto de vista político que, na França<br />
imperial, se comemorassem as virtudes da ascendente<br />
república norte-americana. Não obstante, com a queda do<br />
Imperador Napoleão III, em 1871, revitalizou-se a ideia<br />
dum presente aos Estados Unidos. Em julho daquele ano,<br />
Bartholdi fez uma viagem aos Estados Unidos e<br />
encontrou o que ele julgava ser o local ideal para a futura<br />
estátua - uma ilhota na baía de Nova Iorque,<br />
posteriormente chamada Ilha da Liberdade (batizada<br />
oficialmente como Liberty Island em 1956). Cheio de<br />
entusiasmo, Bartholdi levou avante seus planos para uma<br />
imponente estátua. Tornou-se patente que ele incorporara<br />
símbolos da Maçonaria em seu projeto - a tocha, o livro<br />
em sua mão esquerda, e o diadema de sete espigões em<br />
torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração<br />
ligada à deusa Sophia, que compõem o monumento<br />
como um todo. Isto, talvez, não era uma grande surpresa,<br />
visto ele ser maçom. Segundo os iluministas, por meio<br />
desta foi dado "sabedoria" nos ideais da Revolução<br />
Francesa. O presente monumental foi, portanto, uma<br />
lembrança do apoio intelectual dado pelos americanos<br />
aos franceses na sua revolução, em 1789. A estátua foi<br />
montada em solo francês e ficou pronta em 1884, sendo<br />
então desmontada e enviada para os Estados Unidos em<br />
navios, para ser remontada em seu lugar definitivo. A<br />
construção do pedestal que serve como base do<br />
monumento ficou a cargo dos norte-americanos. Em 28<br />
de outubro de 1886, milhares de pessoas acompanharam<br />
286
a cerimônia de inauguração do monumento. A estátua<br />
funcionou como farol de 1886 a 1902, tendo sido<br />
pioneiro na utilização elétrica dentre os faróis, tendo em<br />
vista que até então utilizavam-se tochas no lugar de<br />
lâmpadas elétricas. Inicialmente os visitantes podiam<br />
subir por escadas até a tocha da estátua, entretanto em<br />
1916, durante a Primeira Guerra Mundial, houve um ato<br />
de sabotagem coordenado pelo governo alemão que<br />
danificou a tocha e um pedaço do vestido da estátua.<br />
Após o episódio, que ficou conhecido como "explosão<br />
Black Tom", não foi mais permitida a visitação da tocha.<br />
A estátua sofreu uma grande reforma em comemoração<br />
do seu centenário, sendo reinaugurada em 3 de julho de<br />
1986. Essa reforma teve custo de 69,8 milhões de<br />
dólares. Foi feita uma limpeza geral na estátua e na sua<br />
coroa, corroída pelo tempo, foi substituída. A coroa<br />
original está exposta no saguão. Depois do atentado<br />
terrorista contra o World Trade Center, em 11 de<br />
setembro de 2001, que resultou no desabamento das<br />
torres gêmeas, a subida à coroa foi proibida por motivos<br />
de segurança. Porém, em 4 de julho de 2009, a visitação<br />
da coroa foi reaberta, depois de 8 anos fechada ao<br />
público.<br />
Disponível em:<br />
Acessado em 14<br />
de setembro de 2013. Referências: NETO, José A. F.; TASINAFO, Célio R.<br />
<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e do Brasil. São Paulo: Editora Harbra, 2006.; p. 381-385.<br />
KARNAL, Leandro; PURDY, Sean; FERNANDES, Luis E.; MORAIS, Marcus<br />
V. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Editora<br />
Contexto, 2011; p. 81-82, 94-97. OSCAR, Aquino J. <strong>História</strong> das Sociedades<br />
Americanas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004; p. 181-190.<br />
EXERCÍCIOS<br />
1. (PUCPR) Leia o texto a seguir e extraia a ideia<br />
central:<br />
"São verdades incontestáveis para nós: todos os homens<br />
nascem iguais; o Criador lhes conferiu certos direitos<br />
inalienáveis, entre os quais os de vida, o de liberdade e o<br />
de buscar a felicidade; para assegurar esses direitos se<br />
constituíram homens-governo cujos poderes justos<br />
emanam do consentimento dos governados; sempre que<br />
qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins,<br />
assiste ao povo o direito de mudá-la ou aboli-la,<br />
instituindo um novo governo cujos princípios básicos e<br />
organização de poderes obedeçam às normas que lhes<br />
pareçam mais próprias para promover a segurança e a<br />
felicidade gerais." (Trecho da "Declaração de Independência dos Estados<br />
Unidos da América", Ministro das Relações Exteriores, EUA.)<br />
A ideia central do texto é:<br />
a) A forma de governo estabelecida pelo povo deve ser<br />
preservada a qualquer preço.<br />
b) A realização dos direitos naturais independem da<br />
forma, dos princípios e da organização do governo.<br />
c) Cabe ao povo determinar as regras sob as quais será<br />
governado.<br />
d) Todos os homens têm direitos e deveres.<br />
e) Cabe aos homens-governo estabelecer as regras para<br />
o povo.<br />
2. (Cesgranrio) No século XVIII, a revogação da Lei do<br />
Selo causou grande tristeza aos políticos ingleses, o que,<br />
entretanto, contrastava com a alegre movimentação dos<br />
trabalhadores na beira do cais, em decorrência da<br />
reabertura dos armazéns de manufaturados e da partida<br />
para a América de inúmeros navios carregados de<br />
mercadorias.<br />
Assinale a opção que explica corretamente a "tristeza"<br />
dos políticos com a revogação da Lei do Selo.<br />
a) A revogação da Lei do Selo representou um golpe<br />
nas pretensões inglesas de arrecadação, mediante<br />
impostos, nas colônias americanas.<br />
b) A revogação da Lei do Selo significou a vitória dos<br />
norte-americanos que, assim, não mais precisariam<br />
pagar impostos sobre o chá, o ferro e o açúcar.<br />
c) A pressão popular sobre o Parlamento aumentou, já<br />
que, com a revogação da Lei do Selo, do Chá e do<br />
Açúcar, os membros das Câmaras dos Lordes e dos<br />
Comuns voltaram a ficar submetidos ao rei inglês.<br />
d) Em meados do século XVIII, a metrópole inglesa<br />
perdeu cerca da metade de seu mercado consumidor<br />
de manufaturas, face ao crescimento da produção<br />
colonial.<br />
e) As Treze Colônias criaram impedimentos à atuação<br />
inglesa no continente americano, delimitando a ação<br />
da metrópole exclusivamente às áreas de plantation<br />
do sul.<br />
3. (Fatec) A Lei do Açúcar (1764), a Lei do Selo (1765)<br />
e a Lei Townshend (1767) representaram, quando<br />
implementadas, para<br />
a) os EUA, um estopim à declaração de guerra à<br />
França, aliada, incondicionalmente, aos interesses<br />
ingleses.<br />
287
) a França e a Inglaterra, formas de arrecadação e<br />
controle sobre o Quebec e sobre as Treze Colônias.<br />
c) os EUA, uma excepcional oportunidade, pela<br />
cobrança destes impostos, à ampliação de seus<br />
mercados interno e externo.<br />
d) as Treze Colônias, uma medida tributária que<br />
possibilitou a expansão dos negócios da burguesia<br />
de Boston na Europa, marcando, assim, o início da<br />
importância dos EUA no cenário mundial.<br />
e) a Inglaterra, uma alternativa para um maior controle<br />
sobre as Treze Colônias, e, também, uma medida<br />
tributária que permitisse saldar as dívidas contraídas<br />
na guerra com a França.<br />
4. (FGV) Uma forma de arrecadação de imposto e de<br />
censura foi imposta pela metrópole inglesa aos colonos<br />
das Treze Colônias, em 1765, através da(s):<br />
a) leis denominadas, pelos colonos, intoleráveis;<br />
b) Lei do Selo;<br />
c) Lei Townshend;<br />
d) criação de um tribunal metropolitano de averiguação<br />
de preços e documentos na colônia.<br />
e) permissão de circulação exclusiva de jornais<br />
ingleses metropolitanos.<br />
5. (FUVEST) "O puritanismo era uma teoria política<br />
quase tanto quanto uma doutrina religiosa. Por isso, mal<br />
tinham desembarcado naquela costa inóspita, (...) o<br />
primeiro cuidado dos imigrantes (puritanos) foi o de se<br />
organizar em sociedade".<br />
Esta passagem de A DEMOCRACIA NA AMÉRICA, de<br />
A. de Tocqueville, diz respeito à tentativa:<br />
a) malograda dos puritanos franceses de fundarem no<br />
Brasil uma nova sociedade, a chamada França<br />
Antártida.<br />
b) malograda dos puritanos franceses de fundarem uma<br />
nova sociedade no Canadá.<br />
c) bem sucedida dos puritanos ingleses de fundarem<br />
uma nova sociedade no Sul dos Estados Unidos.<br />
d) bem sucedida dos puritanos ingleses de fundarem<br />
uma nova sociedade no Norte dos Estados Unidos,<br />
na chamada Nova Inglaterra.<br />
e) bem sucedida dos puritanos ingleses, responsáveis<br />
pela criação de todas as colônias inglesas na<br />
América.<br />
6. (FUVEST) Pode-se dizer que o ponto de partida do<br />
conflito, entre as colônias inglesas da América do Norte<br />
e a Inglaterra, que levou à criação dos Estados Unidos<br />
em 1776, girou em torno da reivindicação de um<br />
princípio e de uma prática que tinham uma longa<br />
tradição no Parlamento britânico. Trata-se do princípio e<br />
da prática conhecidos como:<br />
a) um homem, um voto (one man, one vote);<br />
b) nenhuma tributação sem representação (no taxation<br />
without representation);<br />
c) Declaração dos Direitos (Bill of Rights);<br />
d) equilíbrio entre os poderes (checks and balances);<br />
e) liberdade de religião e de culto (freedom of religion<br />
and worship).<br />
7. (Mackenzie) Cremos, como verdades evidentes por si<br />
próprias, que todos os homens nasceram iguais e que<br />
receberam do seu Criador alguns direitos inalienáveis<br />
[que seria injusto retirar], como a vida, a liberdade e a<br />
busca da felicidade. Thomas Jefferson<br />
O fragmento de texto acima integra um importante<br />
documento da <strong>História</strong> da humanidade, e inspirou muitos<br />
combates pela liberdade na Europa e nas Américas. Esse<br />
documento é,<br />
a) A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.<br />
b) A Declaração das Nações Unidas.<br />
c) A Doutrina Monroe.<br />
d) A Declaração de Independência dos E.U.A.<br />
e) A Declaração de Libertação dos Escravos.<br />
8. (Mackenzie) Assim como nos governos absolutos o<br />
rei é a lei, nos países livres, a lei deve ser o rei; e não<br />
existirá outro (Thomas Paine).<br />
Considero o povo que constitui a sociedade ou nação<br />
como a fonte de toda autoridade (...) sendo livre para<br />
conduzir seus interesses comuns através de quaisquer<br />
órgãos que julgue adequados (...) (Thomas Jefferson).<br />
A Independência das Treze Colônias Inglesas da<br />
América significou:<br />
a) o primeiro grande indicador histórico da ruína do<br />
Antigo Regime.<br />
b) o fim da Era das Revoluções.<br />
c) a superação do capitalismo monopolista.<br />
d) a consolidação econômica da política mercantilista.<br />
e) o desdobramento natural da Doutrina Monroe e do<br />
Destino Manifesto.<br />
288
9. (PUCCAMP) Primeira colônia americana a se tornar<br />
independente, em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos<br />
assumiram no século XIX<br />
a) uma posição estimulante aos movimentos<br />
revolucionários, contestando as estruturas<br />
tradicionais do poder vigente em grande parte da<br />
Europa.<br />
b) uma intransigente defesa da intervenção do Estado<br />
nas atividades econômicas, visando a controlar os<br />
abusos da burguesia.<br />
c) a identificação do Estado com a religião puritana,<br />
que seria obrigatória a todos os cidadãos.<br />
d) dentro do continente americano, uma política<br />
imperialista, impondo seus interesses econômicos às<br />
demais nações.<br />
e) uma política de expansão colonial em direção à<br />
África e à Oceania.<br />
10. (PUCSP) Sobre a independência dos Estados<br />
Unidos, podemos afirmar que<br />
a) envolveu um conflito armado entre Inglaterra e<br />
França, a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), e<br />
chegou ao fim com a conquista do Oeste, na metade<br />
do século XIX.<br />
b) contou com mobilizações e ações armadas contra a<br />
cobrança de taxas e impostos, como a "Festa do Chá<br />
de Boston" (1773), e completou-se com a<br />
presidência de Abraham Lincoln.<br />
c) iniciou-se sob influência da Revolução Francesa<br />
(1789) e das independências nas Américas<br />
Portuguesa e Espanhola, lideradas, respectivamente,<br />
por D. Pedro I e Simón Bolívar.<br />
d) resultou da união das colônias inglesas nos<br />
Congressos da Filadélfia (1774 e 1775) e da<br />
influência das ideias de Maquiavel e de Hobbes,<br />
defensores do Estado republicano forte.<br />
e) sofreu influência do pensamento iluminista francês e<br />
a declaração de independência (1776), redigida por<br />
Thomas Jefferson, antecedeu a obtenção da<br />
autonomia, conquistada por via militar.<br />
11. (UFES) A Declaração de Independência das 13<br />
Colônias Inglesas da América do Norte, em 4 de julho de<br />
1776, da qual Thomas Jefferson foi relator, consagrou,<br />
em seu texto, o princípio do (a)<br />
a) direito de reação à tirania, inspirado em Locke.<br />
b) negação do contrato social, nos termos expostos por<br />
Rousseau.<br />
c) separação da Igreja do Estado, conforme o<br />
pensamento de Mably.<br />
d) ilustração monárquica, defendido por Diderot.<br />
e) utilitarismo, preconizado por Benthan, Mill e<br />
William James.<br />
12. (UFF) "Consideramos evidentes as seguintes<br />
verdades: que todos os homens foram criados iguais; que<br />
receberam de seu Criador certos direitos inalienáveis;<br />
que entre eles estão os direitos à vida, à liberdade e à<br />
busca da felicidade." (Declaração de Independência dos Estados Unidos<br />
da América, 2 de julho de 1776.)<br />
Esta passagem denota<br />
a) o desejo do Congresso Continental de delegados das<br />
Treze Colônias no sentido de empreender reformas<br />
profundas na sociedade do novo país.<br />
b) a utilização de categorias do Direito Natural<br />
Racional, no contexto das ideias do Iluminismo.<br />
c) que o Congresso Continental, apesar de rebelde à<br />
Inglaterra, permanecia fiel ao ideário do<br />
absolutismo, pois deste emanavam os ideais que<br />
defendia.<br />
d) influência das reformas empreendidas no século<br />
XVIII pelos chamados "déspotas esclarecidos" da<br />
Europa.<br />
e) que os delegados das Treze Colônias tinham uma<br />
concepção ingênua e equivocada das sociedades<br />
humanas.<br />
13. (Uff) Os processos de ocupação do território<br />
americano do Norte simbolizam, para muitos<br />
historiadores, a presença do ideário europeu no Novo<br />
Mundo. Os pioneiros ingleses do Mayflower construíram<br />
uma sociedade baseada na justiça e no cumprimento dos<br />
valores religiosos e morais protestantes. Essa base<br />
fundadora teve papel essencial na formação dos Estados<br />
Unidos da América.<br />
Assinale a opção que contém a relação correta entre a<br />
fundação e a formação dos Estados Unidos.<br />
a) A Revolução Americana de 1776 representou, nos<br />
Estados Unidos, a presença dos valores da<br />
Revolução Francesa, mostrando como os americanos<br />
estavam sintonizados com a Europa e não queriam<br />
se separar da Inglaterra.<br />
289
290<br />
b) A Revolução Americana de 1776 foi o episódio que<br />
representou, de forma mais cabal, a presença da<br />
tradição dos primeiros colonos, através do sentido de<br />
liberdade e da ideia de "destino manifesto".<br />
c) A Revolução Americana de 1776 apresentou valores<br />
que eram oriundos das culturas indígenas da região<br />
americana e por isso garantiu a expressão radical de<br />
liberdade, na revolução.<br />
d) A revolução de 1776 foi um episódio isolado na<br />
história dos Estados Unidos, pois fundamentou-se<br />
em valores de unidade que não foram capazes de<br />
fazer dos Estados Unidos um país americano.<br />
e) A Revolução Americana de 1776 foi apenas um<br />
ensaio do que ocorreria no século XIX nos Estados<br />
Unidos, por isso, podemos pensá-la como um<br />
apêndice da Guerra de Secessão, esta sim, vinculada<br />
à Revolução Francesa.<br />
14. (PUCRS) Ao longo do século XIX, após o processo<br />
das independências políticas, os países latino-americanos<br />
assumem novas funções na economia mundial, as quais<br />
se articulam, externa e internamente, a partir de um novo<br />
"Pacto Colonial" com os países centrais. A estruturação<br />
interna desse novo "Pacto Colonial", de modo geral<br />
NÃO apresentava como característica<br />
a) a importação em larga escala de produtos<br />
industrializados.<br />
b) os "déficits" crônicos na balança comercial.<br />
c) o endividamento do setor público.<br />
d) a adoção planejada de medidas protecionistas para o<br />
setor industrial.<br />
e) as concessões para grupos estrangeiros nos setores<br />
de mineração, transporte e energia.<br />
15. (UFPB) Sobre o processo de Independência dos<br />
Estados Unidos, é correto afirmar que<br />
a) as leis do Parlamento inglês, reforçando o controle<br />
comercial-tributário da metrópole, contribuíram para<br />
convencer os colonos da necessidade de separação.<br />
b) a situação das colônias americanas tornou-se muito<br />
difícil quando a monarquia francesa resolveu dar<br />
apoio militar ao reino inglês.<br />
c) os colonos perceberam a inevitabilidade da<br />
independência logo que realizaram o Primeiro<br />
Congresso Continental de Filadélfia.<br />
d) as ideias liberais de John Locke inspiraram o<br />
pensamento de Jefferson e outros líderes, mas pouco<br />
influenciaram a Declaração da Independência.<br />
e) os colonos encontraram no Iluminismo o suporte<br />
ideológico para defenderem a igualdade social e<br />
recusarem qualquer influência religiosa.<br />
16. (FGV) As disputas entre França e Inglaterra<br />
mantiveram-se fora do continente europeu. A Guerra dos<br />
Sete Anos (1756-1763) é um desses momentos que teve<br />
por origem a(s):<br />
a) áreas na América do Norte, principalmente a leste<br />
do Mississipi.<br />
b) áreas na América do Sul - as Guianas;<br />
c) intolerância religiosa praticada pelos colonos<br />
ingleses;<br />
d) autonomia das Treze Colônias Inglesas não<br />
reconhecida pela França;<br />
e) solução para o impasse do trono irlandês sob tutela<br />
de Elizabeth I desde a morte de Mary Stuart<br />
desaprovada pelo governo francês;<br />
17. (Unifesp) O que queremos dizer com a Revolução?<br />
A guerra? Isso não foi parte da Revolução; foi apenas um<br />
efeito e consequência dela. A Revolução estava nas<br />
mentes das pessoas e foi levada a cabo de 1760 a 1775,<br />
no curso de quinze anos, antes que uma gota de sangue<br />
fosse derramada em Lexington. (John Adams para Jefferson, 1815.)<br />
O texto<br />
a) considera que a Independência dos Estados Unidos<br />
se fez sem ideias.<br />
b) confirma que a guerra entre os Estados Unidos e a<br />
Inglaterra foi uma revolução.<br />
c) sustenta que na Independência dos Estados Unidos<br />
não houve ruptura.<br />
d) defende que a criação dos Estados Unidos foi<br />
precedida de uma revolução.<br />
e) demonstra que os norte-americanos não aceitaram as<br />
concessões inglesas.<br />
18. (Unirio) O processo de independência das 13<br />
colônias da América do Norte, que culminou com a<br />
Declaração de Independência em 1776, relaciona-se à:<br />
a) adoção de uma política liberal pelo Parlamento<br />
Inglês, que favoreceu o desenvolvimento colonial ao<br />
encerrar o monopólio comercial da Companhia das<br />
Índias Orientais sobre a venda do chá (1773).
) intensificação do controle sobre as colônias da<br />
América do Norte, devido à crise econômica inglesa<br />
ao final da Guerra dos Sete Anos (1756-63).<br />
c) proibição da cobrança do "imposto do selo",<br />
decretada pela Inglaterra, o que extinguiu a principal<br />
fonte de renda do governo colonial americano<br />
(1763).<br />
d) sublevação dos colonos, frente às decisões do<br />
Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, que<br />
reforçava o controle político da metrópole inglesa<br />
sobre as 13 colônias (1774).<br />
e) intervenção militar na luta pela independência e ao<br />
auxílio econômico fornecido por outras colônias<br />
americanas, tais como o México e o Canadá, que<br />
expulsaram os ingleses do território americano após<br />
a Declaração de Independência (1776).<br />
América, os criollos rebelaram-se contra:<br />
a) as rivalidades franco-inglesas.<br />
b) a ideologia nacionalista assumida pela burguesia<br />
europeia.<br />
c) o liberalismo econômico.<br />
d) a igualdade de todos perante a lei.<br />
e) as restrições mercantilistas.<br />
19. (FGV) A conquista colonial inglesa resultou no<br />
estabelecimento de três áreas com características<br />
diversas na América do Norte.<br />
a) Com relação às chamadas "colônias do sul" é correto<br />
afirmar:<br />
b) Baseava-se, sobretudo, na economia familiar e<br />
desenvolveu uma ampla rede de relações comerciais<br />
com as colônias do Norte e com o Caribe.<br />
c) Baseava-se numa forma de servidão temporária que<br />
submetia os colonos pobres a um conjunto de<br />
obrigações em relação aos grandes proprietários de<br />
terras.<br />
d) Baseava-se numa economia escravista voltada<br />
principalmente para o mercado externo de produtos,<br />
como o tabaco e o algodão.<br />
e) Consolidou-se como o primeiro grande pólo<br />
industrial da América com a transferência de<br />
diversos produtores de tecidos vindos da região de<br />
Manchester.<br />
f) Caracterizou-se pelo emprego de mão-de-obra<br />
assalariada e pela presença da grande propriedade<br />
agrícola monocultora.<br />
20. (UNESP) As transformações na Europa Ocidental do<br />
Século XVIII produziram e propagaram novas ideias<br />
econômicas, sociais, políticas e culturais. Esse contexto<br />
serviu de pano de fundo para a crise do antigo sistema<br />
colonial. O processo de libertação das Treze Colônias<br />
Inglesas repercutiu como sopro revolucionário. E, no<br />
decurso da desagregação do Império Espanhol na<br />
291
GABARITO<br />
1.C<br />
2.A<br />
3.E<br />
4.B<br />
5.D<br />
6.B<br />
7.D<br />
8.A<br />
9.D<br />
10.E<br />
11.A<br />
12.B<br />
13.B<br />
14.D<br />
15.A<br />
16.A<br />
17.D<br />
18.B<br />
19.C<br />
20.E<br />
292
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
custos da produção, ao tempo em que multiplicou a<br />
produção disponível.<br />
A principal fonte de energia utilizada nessa primeira fase<br />
da industrialização foi a energia a vapor, para o qual era<br />
imprescindível o uso do carvão mineral. O ferro, era a<br />
principal matéria prima das primeiras máquinas, uma vez<br />
que ainda não era utilizado o aço. O setor mais<br />
desenvolvido da produção nesse período, foi sem dúvida,<br />
a produção têxtil, que centrada na Inglaterra atendia<br />
consumidores nos demais países europeus e em suas<br />
colônias em África, Ásia e américa.<br />
A expressão Revolução Industrial foi concebida no<br />
século XIX por Karl Marx, que assim se referiu para<br />
definir um conjunto de transformações técnicas e<br />
econômicas no modo de fabricação europeu dos produtos<br />
consumidos pelo homem, que garantiu a consolidação da<br />
ordem capitalista. Situado temporalmente na segunda<br />
metade do século XVIII, na Inglaterra, o processo se<br />
expandiria pela Europa e algumas regiões restritas do<br />
mundo durante o século XIX. O surgimento das fábricas<br />
(em lugar das antigas manufaturas), a produção em série<br />
e o trabalho assalariado, a ampliação dos mercados, a<br />
divisão social e técnica do trabalho e a introdução da<br />
máquina no processo produtivo são as características<br />
mais essenciais dessas transformações. Essa mudança<br />
alterou profundamente as relações sociais e a paisagem<br />
geográfica que passou por um novo desenvolvimento<br />
urbano.<br />
2. FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL<br />
Em sua primeira fase, a Revolução industrial foi a<br />
disseminação do modelo fabril pela Inglaterra durante o<br />
período que abrange aproximadamente os anos entre<br />
1780 a 1840. Esse modelo fabril é constituído pelo uso<br />
conjugado da mão-de-obra humana (assalariada)<br />
associada ao uso de máquinas. A industrialização pode<br />
ser considerada uma etapa mais elaborada da produção<br />
artesanal nas manufaturas, já que a utilização das novas<br />
descobertas tecnológicas como a máquina a vapor,<br />
dinamizaram a velocidade da produção e diminuíram os<br />
Em sua segunda etapa (1860 - 1970), a Revolução<br />
Industrial caracteriza-se pela expansão para outros países<br />
da Europa Central e Oriental, atingindo países como<br />
Bélgica, França, Alemanha, Itália e Rússia. Para além<br />
da Europa, o processo de industrialização alcançaria<br />
também os Estados Unidos e o Japão. Nessa etapa, as<br />
principais inovações técnicas foram a utilização do aço,<br />
superando o ferro; o aproveitamento da energia elétrica<br />
e dos combustíveis petrolíferos passaram a se impor<br />
sobre o uso da energia a vapor, enquanto setores como o<br />
farmacêutico, petroquímico e automobilístico se<br />
desenvolviam para além do tradicional setor têxtil.<br />
Inventos como o motor a combustão, o processo<br />
Bessemer de transformação do ferro em aço e os veículos<br />
automotores, foram destaque nessa nova etapa das<br />
transformações técnicas.<br />
Acompanhando tais mudanças, ocorreu uma<br />
considerável ampliação dos investimentos na indústria,<br />
negociados em escala global a partir de instituições<br />
financeiras como os bancos e bolsas de valores,<br />
consolidando o mercado acionário sobre as grandes<br />
indústrias.<br />
Essas duas fases da Revolução Industrial foram<br />
imprescindíveis na consolidação da ordem capitalista,<br />
iniciada entre a transição do medievo à modernidade. Na<br />
primeira fase, o capitalismo industrial orientou-se pelo<br />
aspecto livre-concorrencial entre as indústrias, enquanto,<br />
na segunda, retorna-se a uma fase monopolista, embora<br />
não preconizada pelos Estados, mas por grandes<br />
conglomerados industriais, através da fusão de várias<br />
empresas, com vistas à dominação dos mercados.<br />
Surgem organizações como os trustes, os cartéis e os<br />
holdings. Nos cartéis, dispensando fusão administrativa,<br />
293
associações de empresa, geralmente concorrentes, se<br />
associam para dominar o mercado através da combinação<br />
de preços. Já nos trustes, empresas geralmente se unem<br />
em fusão para constituir uma ainda maior; os holdings,<br />
constituem empresas criadas para administrar outras<br />
existentes.<br />
3. PIONEIRISMO INGLÊS<br />
Em sua primeira fase, a Revolução Industrial encontrou<br />
na Inglaterra o espaço privilegiado para seu<br />
desenvolvimento pioneiro. Uma combinação de fatores e<br />
condições históricas foram determinantes para que a<br />
Inglaterra estivesse à frente dessas transformações<br />
técnicas. Podemos citar:<br />
* precocemente a Inglaterra foi capaz de constituir uma<br />
burguesia bastante capitalizada, detentora de uma<br />
vasta acumulação de capitais que permitiu os<br />
investimentos na maquinofaturas; tais lucros foram<br />
auferidos com as atividades comerciais da época<br />
mercantilista, seja através dos saques de pirataria a<br />
navios espanhóis e ingleses, como também, pelo<br />
estimulo ao comercialismo, forma bem sucedida de<br />
comercialização de seus produtos em áreas coloniais de<br />
outras Metrópoles europeias. Associado a essa atividade,<br />
tivemos importantes acordos comerciais firmados com as<br />
nações ibéricas, como o monopólio de asiento com a<br />
Espanha, que permitiu ganhos vultosos com a venda de<br />
escravos em suas áreas coloniais, assim como o Tratado<br />
de Metchuen, com Portugal, que permitiu a destinação de<br />
grande afluxo de ouro para o território inglês, garantindo<br />
maior acumulação para o investimento na indústria.<br />
* Favorabilidade política à modernização econômica<br />
– com a Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a contar<br />
294<br />
com um quadro de liberalismo político, que privilegiou o<br />
parlamento em sua capacidade decisória e os interesses<br />
da classe burguesa na composição desse órgão.<br />
Instalados no poder, a burguesia inglesa não poupou<br />
esforços para abolir os entraves mercantilistas, direcionar<br />
investimentos e fomentar posições sociais em favor da<br />
disponibilidade de mão de obra as fábricas recém criadas<br />
* A disponibilidade de matéria prima também<br />
favoreceu a Inglaterra, uma vez que essa possuía grandes<br />
jazidas de carvão e minério de ferro em seu território,<br />
matérias-primas indispensáveis à confecção de máquinas<br />
e geração de energia; também contava com<br />
disponibilidade assegurada de algodão, matéria prima à<br />
indústria têxtil, que continuou a ser disponibilizada da<br />
América do Norte, mesmo após o processo de<br />
independência das Treze Colônias; ainda na indústria<br />
têxtil, a confecção de tecidos pesados era favorecida pela<br />
oferta de lã, estimulada pelo Estado através do<br />
direcionamento das terras comuns â criação de ovelhas<br />
na chamada política de cercamentos.<br />
* concentração abundante de mão-de-obra nas<br />
cidades, resultado do forte êxodo rural verificado na<br />
Idade Moderna. Nesse período, a lã inglesa conquistou<br />
um espaço considerável no mercado europeu e muitas<br />
das antigas propriedades agrícolas comunais<br />
transformaram-se em cercamentos, isto é, áreas cercadas<br />
de criação de ovelhas. Tal atividade, porém, demandava<br />
reduzido número de trabalhadores, expulsando a mão-deobra<br />
excedente, que se dirigia às cidades. A grande oferta<br />
de mão-de-obra provocava seu barateamento e,<br />
consequentemente, reduzia os custos da produção<br />
industrial, ampliando os lucros.<br />
* Um vasto mercado consumidor, também se colocava<br />
à disposição dos ingleses. Como tratava-se do único país<br />
mergulhado nesse processo modernizador, as demais<br />
nações da Europa se constituíam em seus potenciais<br />
consumidores de industrializados, para si e para suas<br />
áreas colônias. A necessidade de expansão desse<br />
mercado, seria na posteridade, justificador do apoio<br />
inglês às emancipações na América, no combate à<br />
escravidão e, de uma política imperialista na África e<br />
Adia no século XIX.<br />
4. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DA<br />
PRODUÇÂO<br />
Visando garantir maiores lucros e lucrar êxito em<br />
produtividade, a indústria considerou diferentes formas<br />
organizacionais de produção.
No início do século XX duas formas de organização de<br />
produção industrial provocaram mudanças significativas<br />
no ambiente fabril: o taylorismo e o fordismo. Esses dois<br />
sistemas visavam à racionalização extrema da produção<br />
e, consequentemente, à maximização da produção e do<br />
lucro.<br />
O engenheiro mecânico americano Frederick Winslow<br />
Taylor (1856 – 1915), propunha um método de separação<br />
entre o trabalho intelectual e o trabalho braçal, visando<br />
evitar a morosidade no trabalho fabril. De acordo com o<br />
taylorismo, o funcionário deveria apenas exercer sua<br />
função/tarefa em um menor tempo possível durante o<br />
processo produtivo, não havendo necessidade de<br />
conhecimento da forma como se chegava ao resultado<br />
final.<br />
Sendo assim, o taylorismo aperfeiçoou o processo de<br />
divisão técnica do trabalho, sendo que o conhecimento<br />
do processo produtivo era de responsabilidade única do<br />
gerente, que também fiscalizava o tempo destinado a<br />
cada etapa da produção. Outra característica foi a<br />
padronização e a realização de atividades simples e<br />
repetitivas.<br />
No início do século XX, outro engenheiro estadunidense<br />
chamado Henry Ford (1863 – 1947), desenvolveu o<br />
sistema de organização do trabalho industrial<br />
denominado fordismo. Buscando aprimorar o taylorismo,<br />
apresentou como principal característica a introdução das<br />
linhas de montagem, na qual cada operário ficava em um<br />
determinado local realizando uma tarefa específica,<br />
enquanto o automóvel (produto fabricado) se deslocava<br />
pelo interior da fábrica em uma espécie de esteira. Com<br />
isso, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho.<br />
O funcionário da fábrica se especializava em apenas uma<br />
etapa do processo produtivo e repetia a mesma atividade<br />
durante toda a jornada de trabalho, fato que provocava<br />
uma alienação física e psicológica nos operários, que não<br />
tinham noção do processo produtivo do automóvel. Essa<br />
racionalização da produção proporcionou a redução dos<br />
custos com a produção, permitiu relativo aumento dos<br />
salários, de modo que os trabalhadores pudessem<br />
adquiri-lo, gerando a popularização do automóvel.<br />
Tanto o taylorismo quanto o fordismo tinham como<br />
objetivos a ampliação da produção em um menor espaço<br />
de tempo e dos lucros dos detentores dos meios de<br />
produção através da exploração da força de trabalho dos<br />
operários. O sucesso desses dois modelos fez com que<br />
várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por<br />
Taylor e Ford, sendo utilizadas até os dias atuais por<br />
algumas indústrias.<br />
Na segunda metade do século XX, um novo processo de<br />
otimização da produção foi apresentado, criticando o<br />
fordismo e visando propor o fim dos estoques e da<br />
padronização, assegurando ainda maiores lucros. Tratase<br />
do Toyotismo, modo de produção caracterizado pela<br />
produção de acordo com a demanda.<br />
Esse modelo industrial foi aplicado inicialmente no<br />
Japão em virtude das limitações territoriais existentes<br />
nesse país, que é extremamente dependente da<br />
importação de matérias-primas e dispõe de pouco espaço<br />
para armazenar os seus produtos.<br />
O Toyotismo é caracterizado por romper com o padrão<br />
fordista de produção em massa, que se destacava pela<br />
estocagem máxima de matérias-primas e de produtos<br />
maquinofaturados. Com esse novo modo de produção, a<br />
fabricação passou a não prezar mais pela quantidade,<br />
mas pela eficiência: produz-se dentro dos padrões para<br />
atender ao mercado consumidor, ou seja, a produção<br />
varia de acordo com a demanda.<br />
Com isso, foi implantado o sistema just-in-time (em<br />
tradução literal: “em cima da hora”). Nesse sistema, a<br />
importação das matérias-primas e a fabricação do<br />
produto acontecem de forma combinada com os pedidos<br />
dos consumidores, com prazo de entrega a ser cumprido.<br />
Dessa forma, a oferta de produtos nunca será maior do<br />
que a demanda, o que acarreta na diminuição dos<br />
produtos em estoque e dos riscos da queda de lucros dos<br />
investidores.<br />
À medida que a implantação do sistema toyotista foi se<br />
ampliando no mundo do mercado industrial, mais notória<br />
foi a desregulamentação das condições e dos direitos<br />
295
trabalhistas. Ao contrário do fordismo, em que um<br />
trabalhador realizava somente uma única função, agora<br />
um mesmo trabalhador é responsável por funções<br />
diversas, executando-as conforme as necessidades da<br />
empresa. Em razão dessa flexibilidade, o toyotismo<br />
passou a ser chamado também de acumulação flexível.<br />
Além disso, observou-se um aumento das terceirizações<br />
no processo de produção, pois se tornou mais barato<br />
pagar outra empresa para fazer um determinado serviço<br />
do que uma única corporação comandar todo o processo<br />
produtivo. Isso ampliou o aumento do desemprego e da<br />
formação do exército de reserva de trabalhadores,<br />
proporcionando a diminuição média dos salários e o<br />
aumento da precarização do trabalho.<br />
1. DESDOBRAMENTOS DA<br />
REVOLUÇÂO INDUSTRIAL<br />
Não apenas na produção técnica, como também na<br />
organização social e espacial, a Europa sofreu sensíveis<br />
repercussões a partir doa Revolução Industrial. Entre as<br />
quais, podemos destacar:<br />
A polarização entre duas classes sociais<br />
principais, a saber, a burguesia industrial, proprietária<br />
dos recursos necessários à produção e, a classe operária.<br />
Esta última, principalmente por ex-camponeses e exartesãos,<br />
não dispõe mais de recursos próprios para<br />
trabalhar, expropriados das suas terras ou incapazes de<br />
competir com seus produtos artesanais contra a produção<br />
das nascentes indústrias; assim, passam a vender sua<br />
força de trabalho em troca de um salário tornando-se<br />
assalariados.<br />
<br />
Urbanização – uma importante alteração na<br />
ordem espacial europeia associada à Revolução<br />
industrial foi a formação de grandes núcleos urbanos,<br />
geralmente constituídas em torno das fabricas recém<br />
criadas. Muitas das moradias dos operários eram<br />
construídas pelas próprias empresas, o que facilitava o<br />
controle dos empresários sobre os trabalhadores. A não<br />
submissão desses trabalhadores a seus patrões, podiam<br />
determinar a perda não só do trabalho, como das próprias<br />
moradias. Eram marcadas por uma enorme<br />
desestruturação organizacional, quanto por um<br />
agravamento de tensões e problemas sociais como a<br />
criminalidade e a prostituição.<br />
Crescimento demográfico – o<br />
desenvolvimento da indústria química e os avanços na<br />
indústria farmacêutica de remédios e vacinas, garantiu a<br />
erradicação de certas epidemias, favorecendo a maior<br />
expectativa e vida. O incremento agrícola, com a<br />
utilização de adubos químicos e maquinas na agricultura,<br />
também garantia a maior disponibilidade na oferta de<br />
alimentos. Assim, entre os anos de 1500 e 1780, apenas<br />
na Inglaterra, houve um aumento populacional de cerca<br />
de 3 milhões de habitantes para 8 milhões. Em 1880, este<br />
índice já estava em mais de 30 milhões.<br />
Surgimento de movimentos e ideologias da<br />
classe operária, em oposição à super exploração das<br />
industrias e ao próprio capitalismo; sim, faziam se<br />
necessários, pois apesar do progresso técnico, as<br />
condições de trabalho eram degradantes, como jornadas<br />
estafantes de trabalho, salários baixos, instalações<br />
insalubres e projeção da exploração do trabalho feminino<br />
e infantil.<br />
296
6. O MOVIMENTO OPERÁRIO EUROPEU<br />
A inevitável contradição entre aprimoramento técnico e<br />
exploração da classe trabalhadora pelos primeiros<br />
industriais, desencadeou uma série de movimentos que<br />
caracterizaram um esforço coletivo dos trabalhadores em<br />
assegurar direitos, ou mesmo alterar a ordem social e<br />
econômica para melhorar as condições de vida da<br />
população. Organizações mais radicais do proletariado e<br />
intelectuais, inspiradas em ideias anarquistas e<br />
comunistas, lideraram historicamente revoluções sociais<br />
cujo objetivo era criar um novo tipo de sociedade.<br />
Na fase inicial do movimento, os trabalhadores<br />
industriais dirigiram toda sua agressividade contra as<br />
máquinas, às quais culpavam pelo desemprego e pela<br />
piora de suas condições de vida. O movimento destruidor<br />
de máquinas chamou-se ludismo e foi duramente<br />
reprimido, inclusive com a imposição de pena de morte<br />
àqueles flagrados envolvidos na destruição das<br />
maquinas.<br />
A própria celebração do dia do Trabalho, que se<br />
comemora em primeiro de maio em quase todos os<br />
países do mundo, rememora um dos episódios mais<br />
violentos da história do movimento operário. Em 1º de<br />
maio de 1889, militantes anarcossindicalistas que se<br />
manifestavam a favor da jornada de trabalho de oito<br />
horas foram executados nas ruas de Chicago. A partir do<br />
ano seguinte, por iniciativa da central sindical conhecida<br />
como Segunda Internacional, instituiu-se esse dia como<br />
data máxima dos trabalhadores organizados.<br />
A luta de trabalhadores contra a exploração já havia se<br />
manifesto em outros grandes movimentos, e em<br />
diferentes momentos históricos, como as rebeliões<br />
camponesas medievais, os esforços escravistas por<br />
libertação, ou as ondas generalizadas de violência<br />
promovidas na franca por camponeses e sans-culottes.<br />
Antes da Revolução Industrial, os movimentos de<br />
protesto de origem urbana ou rural caracterizavam-se<br />
pela escassa coesão ideológica e por seu caráter violento<br />
e efêmero.<br />
Após a Revolução Industrial, as práticas violentas<br />
também foram utilizadas como mecanismo de lutas, mas<br />
ocorreram sistematizações racionais de organização da<br />
luta dos trabalhadores, sob inspiração de ideologias de<br />
oposição ao capitalismo, revelando uma mais apurada<br />
organização a partir de uma consciência de classe.<br />
Estavam na ordem do dia, para aqueles trabalhadores, a<br />
oposição à desumanização do trabalho, provocada pela<br />
introdução das primeiras máquinas, além da exploração<br />
expressa no prolongamento da jornada de trabalho, a<br />
redução dos salários, o emprego de mulheres e crianças<br />
em atividades insalubres, a falta de higiene e de medidas<br />
de segurança nas fábricas e outros problemas.<br />
Tendo sido a Inglaterra a primeira nação industrializada<br />
do mundo, é natural que ali tenham surgido as primeiras<br />
organizações operárias, empenhadas em defender os<br />
trabalhadores das penosas condições em que viviam e<br />
protestar coletivamente contra elas.<br />
Outro importante movimento de organização operaria,<br />
assumindo um caráter mais organizado, foi o cartismo,<br />
também forjado no calor da luta operária. Em 1837, foi<br />
publicada a Carta do povo, entregue ao Parlamento<br />
britânico, em 1838, que reunia uma série de<br />
reivindicações: estas eram de natureza organizacional do<br />
trabalho, como redução de jornada de trabalho, melhorias<br />
salarias, mas também requisitavam conquistas políticas,<br />
que incluíam o sufrágio universal, representação política<br />
dos trabalhadores no parlamento e remuneração a esses<br />
representantes. Assim, podemos considerar que o<br />
cartismo assumiu feição mais organizada e complexa ao<br />
incluir na luta dos trabalhadores alterações estruturais na<br />
organização política inglesa. Tais reivindicações não<br />
seriam consideradas, enfraquecendo o movimento, mas<br />
abriu precedente a maior complexidade de organização<br />
dos trabalhadores a partis dos sindicatos.<br />
Desde 1824, pressionado por esse nascente movimento<br />
operário, o governo inglês garantiu à classe operaria o<br />
direito de greve, além do direito de associação, o que deu<br />
origem às trade unions, criadas pelos trabalhadores para<br />
assegurarem auxilio mutuo, já que não podiam contar<br />
com governos e patrões na garantia de seus direitos.<br />
297
Foram os primórdios dos sindicatos, organizações mais<br />
tradicionais da representação operaria, que se<br />
caracterizaram por unificar reivindicações dos operários<br />
de uma mesma categoria, representando-os juridicamente<br />
e buscando fortalecer o poder de negociação junto aos<br />
patrões a partir de ações organizadas.<br />
Fordlândia: A Derrapada do Ford<br />
O americano Henry Ford popularizou o automóvel e<br />
criou a linha de montagem. Mas se deu mal ao inventar<br />
uma cidade na Amazônia para tentar produzir borracha.<br />
Maria Fernanda Ziegler | 01/09/2008 00h00<br />
Em 1927, o americano Henry Ford era “o” cara. Sua<br />
empresa, a Ford Motors Company, inaugurara um<br />
método inovador para produzir veículos. Os<br />
funcionários, especializados, ficavam em fila e cada um<br />
repetia a mesma tarefa o dia inteiro em diferentes<br />
automóveis, que se locomoviam até eles em esteiras. A<br />
linha de produção passou a ser chamada de “fordismo” e<br />
foi o marco de uma nova era na indústria: os produtos<br />
saíam em grande quantidade, de forma mais veloz e por<br />
preço mais baixo.<br />
Por isso, o Ford T, criado em 1908, vendia uma<br />
beleza. Foram 15007033 automóveis em 19 anos de vida,<br />
marca só superada mais tarde pelo Fusca, fabricado entre<br />
1938 e 2003 (que vendeu 307 unidades a mais). Em<br />
1921, mais da metade dos carros que entravam em<br />
circulação no mundo era da marca Ford.<br />
Os carros da linha de produção do gênio, claro,<br />
exigiam pneus e diversas outras peças feitas de borracha.<br />
Só entre 1920 e 1922, a quantidade de matéria-prima<br />
necessária para fabricação de pneus saltou de 19400 para<br />
67100 toneladas, segundo o livro Grande Capital e<br />
Agricultura na Amazônia – A Experiência Ford no<br />
Tapajós, de Francisco de Assis Costa. A borracha, obtida<br />
do látex extraído de seringueiras plantadas na Ásia, era<br />
monopólio inglês. E Ford tentou driblá-lo. Aproveitou<br />
um estudo feito havia quatro anos pelo governo<br />
americano sobre a possibilidade de obter látex no Brasil,<br />
chamado American Rubber Mission, e resolveu criar um<br />
braço amazônico para sua companhia. A idéia<br />
megalomaníaca incluiu a construção de duas cidades à<br />
beira do rio Tapajós, no Pará. Mas foi marcada por uma<br />
sucessão de erros que culminaram em 18 anos de<br />
trabalho jogados fora e um prejuízo de 9 milhões de<br />
298<br />
dólares da época (ou mais de 130 milhões de reais<br />
atuais).<br />
O fracasso começou na largada, já na obtenção do<br />
terreno. Sabendo do interesse americano por terras<br />
amazônicas, o cafeicultor Jorge Dumont Villares ganhou<br />
do governo do Pará áreas em sete pontos diferentes. Ao<br />
recepcionar a comitiva de funcionários da Ford enviados<br />
ao estado, mostrou apenas seus próprios terrenos ao<br />
longo do rio Tapajós. A concessão de 1 milhão de<br />
hectares (equivalente ao tamanho da cidade de Goiânia)<br />
poderia ter sido obtida gratuitamente direto com o<br />
governo, assim como Villares havia conseguido. Mas<br />
Henry Ford pagou 125 mil dólares ao cafeicultor. A<br />
Fordlândia nascia, dessa forma, de um golpe dado pelo<br />
brasileiro no americano em cima de um terreno<br />
montanhoso – e ainda por cima impróprio para<br />
seringueiras.<br />
Uma cidade foi erguida no meio da floresta<br />
amazônica. Os navios Lake Ormoc e Lake Farge<br />
trouxeram dos Estados Unidos os materiais necessários<br />
para a construção do povoado, como madeira, telhas e as<br />
próprias mudas das seringueiras. Uma das embarcações<br />
foi preparada para suprir temporariamente a aldeia de<br />
energia e servir de hospital. A floresta começou a ser<br />
derrubada em 1928, as casas foram construídas e as<br />
árvores, plantadas. Grande parte da terra foi ocupada<br />
pelos seringais, divididos milimetricamente, segundo<br />
Elaine Lourenço, professora de <strong>História</strong> no Centro<br />
Universitário Nove de Julho e autora da tese Americanos<br />
e Caboclos: Encontros e Desencontros em Fordlândia e<br />
Belterra/PA.<br />
Gente de toda parte foi procurar emprego em<br />
Fordlândia. O alvoroço repercutia no Rio de Janeiro, e o<br />
jornal O País registrou: “Todos são admitidos nas<br />
fábricas, exceto os dementes e loucos”. A verdade era<br />
que o recrutamento de novos trabalhadores já sofria de<br />
um problema que perseguiu a empresa nos 18 anos<br />
seguintes: a falta de mão-de-obra. Os anúncios nos<br />
jornais chamavam gente interessada, fosse especializada<br />
ou não, mas o exame médico barrava metade dos que ali<br />
apareciam por não terem boas condições de saúde.<br />
Mesmo assim, o negócio foi tomando forma. A<br />
cidade tinha um dos melhores hospitais da região e a<br />
Vila Americana, composta pelas casas dos<br />
administradores vindos dos Estados Unidos, era de alto<br />
nível: possuía gramados para golfe, quadras de tênis,<br />
piscina, campos de futebol, clube e cinema. Os<br />
funcionários ficavam em vilas bem mais modestas. O<br />
salário não era de se reclamar: bem maior que o de outras
cidades da região, era pago a cada 15 dias e em dinheiro,<br />
prática pouco comum por aquelas bandas. Se por um<br />
lado o bolso estava cheio, por outro a paciência deles se<br />
esgotava. A cidade americana seguia regras americanas.<br />
Havia relógios de ponto por toda parte. Uma sirene<br />
dividia o dia em turnos e marcava os horários de<br />
descanso. Os caboclos, acostumados a acompanhar o<br />
tempo conforme o ciclo do sol, estranharam. Para<br />
completar, a Fordlândia proibia bebida alcoólica em seus<br />
limites.<br />
A rigidez de costumes fazia com que a cidade<br />
deixasse de ser um lugar interessante para morar. A<br />
rotatividade entre os trabalhadores era, assim, muito<br />
grande. Mas, para os que lá ficavam, havia formas de<br />
diversão às escondidas, como a cachaça contrabandeada<br />
(vinha dentro de melancias pelo rio) e as festinhas<br />
animadas na chamada “ilha dos inocentes”, do outro lado<br />
do Tapajós – que de ilha e de inocente não tinha nada.<br />
Lá, bebida e prazer eram liberados. Para isso, prostitutas<br />
chegavam de Santarém e de Belém.<br />
Eu quero é farinha<br />
E foi ali, no coração da Amazônia e por causa das<br />
diferenças culturais, que ocorreu talvez o único motim<br />
antiespinafre da <strong>História</strong>. Em 1930, explodiu no<br />
refeitório da Companhia Ford Industrial do Brasil uma<br />
rebelião, conhecida como “quebra-panelas”. Os caboclos<br />
se revoltaram contra a obrigatoriedade de comer<br />
espinafre quase que diariamente – queriam peixe, feijão e<br />
farinha. Em meio a gritos de “abaixo o espinafre”,<br />
colocaram os americanos para correr e prometeram fazer<br />
greve. “Em uma noite, os dirigentes da Ford Motor<br />
Company aprenderam mais sociologia que em anos de<br />
universidade”, afirma o escritor e advogado Clodoaldo<br />
Vianna Moog em Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo<br />
entre Duas Culturas.<br />
Na mesma época, a plantação de seringueiras foi<br />
atacada pelo mal-das-folhas, fungo que reduzia a<br />
produção de látex e acabava até por matar a árvore.<br />
Estudos anteriores à implantação de Fordlândia<br />
indicavam que a floresta era capaz de proteger a árvore<br />
dessa praga. Isso porque a distância entre uma<br />
seringueira e outra diminuía a intensidade do ataque.<br />
Mas isso não acontecia no local. “Eles plantaram as<br />
árvores como se fossem eucaliptos, bem diferente da<br />
estrutura de uma floresta”, afirma Marinho Andrade,<br />
produtor do documentário Fordlândia, ainda sem data de<br />
estréia no cinema.<br />
O ritmo da implantação dos seringais também era<br />
baixo. Em 1929, havia 400 hectares de plantação. Em<br />
1931, o volume cresceu apenas para 900. Muito inferior<br />
ao planejamento inicial: 200 mil hectares de seringueiras<br />
e rendimento médio de 1500 quilos de borracha por<br />
hectare. Só em 1932, depois do fracasso da baixa<br />
produtividade, a companhia decidiu contratar um<br />
especialista no cultivo de borracha. Chegou por<br />
lá o botânico James R. Weir, que havia trabalhado na<br />
American Rubber Mission.<br />
Weir sugeriu, em 1936, a troca da área de Fordlândia<br />
por outra em Belterra, a 48 quilômetros de Santarém. Lá,<br />
o terreno era mais bem drenado, com mais vento e menos<br />
umidade – condições desfavoráveis à propagação do<br />
mal-das-folhas. Um outro núcleo urbano foi construído e<br />
alguns erros, reparados. O traçado das plantações ainda<br />
era retilíneo, mas as mudas não eram locais, e sim<br />
trazidas do antigo Ceilão (atual Sri Lanka). O projeto<br />
ganhou novo fôlego. Mesmo assim, a produção era<br />
baixa, os trabalhadores reclamavam da alimentação e da<br />
falta de liberdade. Uma vila vizinha a Belterra fazia as<br />
vezes da “ilha dos inocentes”, e a falta de mão-de-obra<br />
permaneceu.<br />
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muita coisa<br />
havia mudado. O principal – e determinante – fator para<br />
o fim do sonho de Ford no Brasil foi o surgimento da<br />
borracha sintética, que passou a ser largamente<br />
produzida em países como Japão, Alemanha e Rússia e<br />
que tornou a borracha natural menos interessante. Além<br />
disso, a idéia de terceirização surgia e já não era mais<br />
necessário se preocupar com o todo da produção de um<br />
automóvel. Em 1945, Henry Ford, sem nunca ter pisado<br />
em suas terras brasileiras, resolveu deixar de lado a<br />
Amazônia e vendeu por 250 mil dólares as cidades ao<br />
governo brasileiro, com tudo o que restava nelas. Hoje,<br />
Fordlândia está praticamente abandonada, tomada pelo<br />
mato. Belterra, pela proximidade com Santarém, tornouse<br />
um município um tanto maior, com cerca de 17 mil<br />
habitantes.<br />
In:http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/fordlandia-derrapadafor436290.shtml<br />
299
EXERCÍCIOS<br />
1. (UNESP 2013) Todo processo de industrialização é<br />
necessariamente doloroso, porque envolve a erosão de<br />
padrões de vida tradicionais. Contudo, na Grã-Bretanha,<br />
ele ocorreu com uma violência excepcional, e nunca foi<br />
acompanhado por um sentimento de participação<br />
nacional num esforço comum. Sua única ideologia foi a<br />
dos patrões. O que ocorreu, na realidade, foi uma<br />
violência contra a natureza humana. De acordo com uma<br />
certa perspectiva, esta violência pode ser considerada<br />
como o resultado da ânsia pelo lucro, numa época em<br />
que a cobiça dos proprietários dos meios de produção<br />
estava livre das antigas restrições e não tinha ainda sido<br />
limitada pelos novos instrumentos de controle social.<br />
Não foram nem a pobreza, nem a doença os responsáveis<br />
pelas mais negras sombras que cobriram os anos da<br />
Revolução Industrial, mas sim o próprio trabalho.<br />
(Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa, vol. 2, 1987.<br />
Adaptado.)<br />
O texto afirma que a Revolução Industrial<br />
a) aumentou os lucros dos capitalistas e gerou a<br />
convicção de que era desnecessário criar<br />
mecanismos de defesa e proteção dos trabalhadores.<br />
b) provocou forte crescimento da economia britânica e,<br />
devido a isso, contou com esforço e apoio plenos de<br />
todos os segmentos da população.<br />
c) representou mudanças radicais nas condições de<br />
vida e trabalho dos operários e envolveu-os num<br />
duro processo de produção.<br />
d) piorou as condições de vida e de trabalho dos<br />
operários, mas trouxe o benefício de consolidar a<br />
ideia de que o trabalho enobrece o homem.<br />
e) preservou as formas tradicionais de sociabilidade<br />
operária, mas aprofundou a miséria e facilitou o<br />
alastramento de epidemias.<br />
2. (UNESP 2012)<br />
Noite após noite, quando tudo está tranquilo<br />
E a lua se esconde por trás da colina,<br />
Marchamos, marchamos para realizar nosso desejo.<br />
Com machado, lança e fuzil!<br />
Oh! meus valentes cortadores!<br />
Os que com golpes fortes<br />
As máquinas de cortar destroem.<br />
Oh! meus valentes cortadores! (...).<br />
(Canção popular inglesa do início do século XIX. Citada por: Luzia Margareth<br />
Rago e Eduardo F. P. Moreira. O que é Taylorismo, 1986.)<br />
A canção menciona os “quebradores de máquinas”, que<br />
agiram em muitas cidades inglesas nas primeiras décadas<br />
da industrialização. Alguns historiadores os<br />
consideram“rebeldes ingênuos”, enquanto outros os<br />
veem como“revolucionários conscientes”.<br />
Justifique as duas interpretações acerca do movimento.<br />
3. (Unicamp 2011) Na Europa, até o século XVIII, o<br />
passado era o modelo para o presente e para o futuro. O<br />
velho representava a sabedoria, não apenas em termos de<br />
uma longa experiência, mas também da memória de<br />
como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de<br />
como deveriam ser feitas. Atualmente, a experiência<br />
acumulada não é mais considerada tão relevante. Desde o<br />
início da Revolução Industrial, a novidade trazida por<br />
cada geração é muito mais marcante do que sua<br />
semelhança com o que havia antes.<br />
(Adaptado de Eric Hobsbawm, O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade<br />
contemporânea?, em: Sobre <strong>História</strong>. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.<br />
37-38.)<br />
a) Segundo o texto, como a Revolução Industrial<br />
transformou nossa atitude em relação ao passado?<br />
b) De que maneiras a Revolução Industrial dos séculos<br />
XVIII e XIX alterou o sistema de produção?<br />
4. (Unicamp 2006) Um dos mandamentos do século<br />
XIX, na Europa, era o evangelho do trabalho. Para os<br />
ideólogos da classe média, o ideal do trabalho implicava<br />
autodisciplina e sentido atento do dever. Até mesmo os<br />
mais devotos ousavam modificar a palavra de Deus. As<br />
Escrituras haviam considerado o trabalho como castigo<br />
severo imposto por Deus a Adão e Eva. Mas para os<br />
ideólogos burgueses, o trabalho era prevenção contra o<br />
pecado mortal da preguiça. O evangelho do trabalho era<br />
quase exclusivamente um ideal burguês. Em geral, os<br />
nobres não lhe davam valor. O desprezo aristocrático<br />
pelo trabalho era um resquício feudal.<br />
(Adaptado de Peter Gay, O século de Schnitzler. São Paulo: Companhia das<br />
Letras, 2002, p. 210-1, 214 e 217-8.)<br />
a) Segundo o texto, como o trabalho era visto pela<br />
Bíblia, pela burguesia e pela aristocracia?<br />
b) Como a burguesia buscou disciplinar os trabalhadores<br />
no contexto da Revolução Industrial?<br />
300
6. (Unicamp) No turbilhão da primeira era industrial, o<br />
nacionalismo tornou-se o principal meio pelo qual o<br />
governo podia garantir a unidade da população.<br />
Conforme encorajado pelos Estados Europeus, o<br />
nacionalismo implicava convencer a população de que<br />
ela devia sentir-se agressivamente orgulhosa do país em<br />
que vivia. Da metade do século XIX em diante, a febre<br />
nacionalista infiltrou-se em todas as formas culturais<br />
europeias afetando a educação, as artes e a literatura.<br />
(Traduzido e adaptado de Paul Greenhalgh, Ephemeral Vistas: the Expositions<br />
Universelles, Great Exhibitions and World´s Fairs. Manchester: Manchester<br />
University Press, 1988, p. 112-3).<br />
a) Caracterize a primeira era industrial, iniciada em fins<br />
do século XVIII.<br />
b) A partir do texto, explique quais as características do<br />
nacionalismo?<br />
c) De que forma o sentimento nacional foi expresso na<br />
literatura brasileira do mesmo período?<br />
7. (Unesp 2013) Leia.<br />
Todo processo de industrialização é necessariamente<br />
doloroso, porque envolve a erosão de padrões de vida<br />
tradicionais. Contudo, na Grã-Bretanha, ele ocorreu com<br />
uma violência excepcional, e nunca foi acompanhado<br />
por um sentimento de participação nacional num esforço<br />
comum. Sua única ideologia foi a dos patrões. O que<br />
ocorreu, na realidade, foi uma violência contra a natureza<br />
humana. De acordo com uma certa perspectiva, esta<br />
violência pode ser considerada como o resultado da ânsia<br />
pelo lucro, numa época em que a cobiça dos<br />
proprietários dos meios de produção estava livre das<br />
antigas restrições e não tinha ainda sido limitada pelos<br />
novos instrumentos de controle social. Não foram nem a<br />
pobreza, nem a doença os responsáveis pelas mais negras<br />
sombras que cobriram os anos da Revolução Industrial,<br />
mas sim o próprio trabalho.<br />
(Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa, vol. 2, 1987.<br />
Adaptado.)<br />
O texto afirma que a Revolução Industrial:<br />
a) aumentou os lucros dos capitalistas e gerou a<br />
convicção de que era desnecessário criar<br />
mecanismos de defesa e proteção dos trabalhadores.<br />
b) provocou forte crescimento da economia britânica e,<br />
devido a isso, contou com esforço e apoio plenos de<br />
todos os segmentos da população.<br />
c) representou mudanças radicais nas condições de<br />
vida e trabalho dos operários e envolveu-os num<br />
duro processo de produção.<br />
d) piorou as condições de vida e de trabalho dos<br />
operários, mas trouxe o benefício de consolidar a<br />
ideia de que o trabalho enobrece o homem.<br />
e) preservou as formas tradicionais de sociabilidade<br />
operária, mas aprofundou a miséria e facilitou o<br />
alastramento de epidemias.<br />
8. (Fuvest 2013) Maldito, maldito criador! Por que eu<br />
vivo? Por que não extingui, naquele instante, a centelha<br />
de vida que você tão desumanamente me concedeu? Não<br />
sei! O desespero ainda não se apoderara de mim. Meus<br />
sentimentos eram de raiva e vingança. Quando a noite<br />
caiu, deixei meu abrigo e vagueei pelos bosques. (...) Oh!<br />
Que noite miserável passei eu! Sentia um inferno<br />
devorar-me, e desejava despedaçar as árvores, devastar e<br />
assolar tudo o que me cercava, para depois sentar-me e<br />
contemplar satisfeito a destruição. Declarei uma guerra<br />
sem quartel à espécie humana e, acima de tudo, contra<br />
aquele que me havia criado e me lançara a esta<br />
insuportável desgraça!<br />
Mary Shelley. Frankenstein. 2ª ed. Porto Alegre: LPM, 1985.<br />
O trecho acima, extraído de uma obra literária publicada<br />
pela primeira vez em 1818, pode ser lido corretamente<br />
como uma:<br />
a) apologia à guerra imperialista, incorporando o<br />
desenvolvimento tecnológico do período.<br />
b) crítica à condição humana em uma sociedade<br />
industrializada e de grandes avanços científicos.<br />
c) defesa do clericalismo em meio à crescente<br />
laicização do mundo ocidental.<br />
d) recusa do evolucionismo, bastante em voga no<br />
período.<br />
e) adesão a ideias e formulações humanistas de<br />
igualdade social.<br />
9. (Feevale 2012) A Revolução Industrial, ocorrida na<br />
Inglaterra a partir de meados do século XVIII, pode ser<br />
compreendida como uma revolução sem precedentes,<br />
que resultou em transformações de ordem econômica e<br />
social.<br />
Sobre essa Revolução, são feitas algumas afirmações.<br />
I. Implicou em um processo de mecanização do campo,<br />
alterando costumes e paisagens.<br />
301
II. Implicou em mudanças de grande amplitude, como a<br />
nova organização das relações trabalhistas.<br />
III. Implicou em uma nova concepção de tempo,<br />
vinculada à produção e ao trabalho nas fábricas.<br />
d) Espírito regenerador dos valores cristãos praticados<br />
pela Contra Reforma na Inglaterra.<br />
e) Exaltação da classe operária inglesa e suas<br />
propensões naturais para o socialismo e a revolução.<br />
302<br />
Marque a alternativa correta.<br />
a) Apenas a afirmação I está correta.<br />
b) Apenas a afirmação II está correta.<br />
c) Apenas a afirmação III está correta.<br />
d) Apenas as afirmações II e III estão corretas.<br />
e) Todas as afirmações estão corretas.<br />
10. (PUCRJ 2012) Entre 1837 e 1839, o escritor inglês<br />
Charles Dickens publicou o romance “Oliver Twist”.<br />
Abaixo, estão reproduzidos os primeiros parágrafos<br />
desse texto de Dickens:<br />
“Dentre os vários monumentos públicos que enobrecem<br />
uma cidade de Inglaterra, cujo nome tenho a prudência<br />
de não dizer, e à qual não quero dar um nome<br />
imaginário, um existe comum à maior parte<br />
das cidades grandes ou pequenas: é o asilo da<br />
mendicidade.<br />
Lá em certo dia, cuja data não é necessário indicar, tanto<br />
mais que nenhuma importância tem, nasceu o pequeno<br />
mortal que dá nome a este livro.<br />
Muito tempo depois de ter o cirurgião dos pobres da<br />
paróquia introduzido o pequeno Oliver neste vale de<br />
lágrimas, ainda se duvidava se a pobre criança viveria ou<br />
não; se sucumbisse, é mais que provável que estas<br />
memórias nunca aparecessem, ou então ocupariam<br />
poucas páginas, e deste modo teriam o inapreciável<br />
mérito de ser o modelo de biografia mais curioso e exato<br />
que nenhum país em nenhuma época jamais produziu.”<br />
(Charles Dickens, Oliver Twist, Tradução de Machado de Assis e Ricardo Lísias,<br />
1ª. ed., São Paulo, Hedra, 2002.)<br />
Considerando a passagem acima, assinale a alternativa<br />
que indica corretamente as características do período a<br />
que Dickens se refere.<br />
a) Crescimento urbano e pobreza que acompanharam o<br />
desenvolvimento material da revolução industrial.<br />
b) Revolução comercial, reforma protestante e<br />
surgimento de uma nova ética de trabalho.<br />
c) Crise econômica do feudalismo e ascensão das<br />
ideias científicas do liberalismo.<br />
11. (G1 - IFSP 2011) A Revolução Industrial, ocorrida<br />
na Inglaterra no final do século XVIII e no século XIX<br />
a) trouxe a substituição da maquinofatura pela<br />
manufatura e pelo trabalho artesanal.<br />
b) provocou profundas transformações sociais, pois os<br />
salários masculinos subiram vertiginosamente,<br />
levando as mulheres a voltarem ao seu papel<br />
tradicional de mãe e esposa.<br />
c) rapidamente se espalhou pelo restante da Europa,<br />
sendo a Alemanha o segundo país a se industrializar.<br />
d) mudou substancialmente a vida do homem, que não<br />
mais era dono de seu tempo, como os mestres<br />
artesãos o eram.<br />
e) provocou mudanças políticas ao trazer a substituição<br />
da monarquia absolutista pela monarquia<br />
parlamentarista, regime em vigor até hoje.<br />
12. (UFTM 2011) Leia o texto.<br />
Em 1801, em todo o continente [europeu], não havia<br />
mais de 23 cidades com mais de 100 mil habitantes,<br />
agrupando menos de 2% da população da Europa. Em<br />
meados do século, seu número já se elevava para 42; em<br />
1900 eram 135 e, em 1913, 15% dos europeus moravam<br />
em cidades. Quanto às cidades com mais de 500 mil<br />
habitantes que, na época, pareciam monstros, só existiam<br />
duas no início do século XIX: Londres e Paris. Às<br />
vésperas da Primeira Guerra Mundial, elas já eram 149.<br />
(René Rémond. Introdução à história do nosso tempo – O Século XIX, 1976.)<br />
A situação descrita pode ser explicada pela (o)?<br />
a) pela pressão dos senhores feudais, que substituíram<br />
os antigos servos por trabalhadores livres.<br />
b) pela descoberta dos antibióticos, que contribuiu para<br />
erradicar doenças e aumentar a expectativa média de<br />
vida.<br />
c) pelo crescimento da publicidade, que incentivava o<br />
deslocamento de populações por todo o continente.<br />
d) pelo processo de industrialização, que concentrou a<br />
produção e a mão de obra nos centros urbanos.<br />
e) pela política armamentista, que incentivava o<br />
serviço militar obrigatório e o crescimento do<br />
exército nas áreas urbanas.
13. (ETEC SP 2010) “Desta vala imunda a maior<br />
corrente da indústria humana flui para fertilizar o mundo<br />
todo. Deste esgoto imundo jorra ouro puro. Aqui a<br />
humanidade atinge o seu mais completo<br />
desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a<br />
civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se<br />
quase um selvagem.”<br />
(HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1979.)<br />
Esta observação, feita por Alexis de Tocqueville em<br />
1835, descreve a cidade de Manchester (Inglaterra)<br />
durante a Revolução Industrial.<br />
A leitura do texto permite afirmar que o autor:<br />
a) tinha um ponto de vista teocêntrico, pois a ação<br />
humana era compreendida como um verdadeiro<br />
milagre.<br />
b) exaltava o processo de industrialização, que tornaria<br />
ainda melhores os seres humanos e a natureza ao seu<br />
redor.<br />
c) fazia uma defesa da política mercantilista, que tinha<br />
como prioridades o metalismo e as inovações<br />
tecnológicas.<br />
d) constatava que a industrialização poderia trazer,<br />
como consequência, a degradação socioambiental.<br />
e) defendia que a vida selvagem era melhor que a vida<br />
desenvolvida nas cidades industrializadas.<br />
14. (Vunesp 2003) Tempos difíceis é um romance do<br />
escritor inglês Charles Dickens, publicado em 1854. A<br />
história se passa na cidade de Coketown, em torno de<br />
uma fábrica de tecidos de algodão: Umas tantas centenas<br />
de operários na fábrica, umas tantas centenas de cavalosvapor<br />
de energia (...) O dia clareou e mostrou-se lá fora<br />
(...) As luzes apagaram-se e o trabalho continuou. Lá<br />
fora, nos vastos pátios, os tubos de escapamento do<br />
vapor, os montes de barris e ferro velho, os montículos<br />
de carvão ainda acesos, cinzas, por toda parte,<br />
amortalhavam o véu da chuva e do nevoeiro.<br />
a) Qual a importância do carvão e do ferro na 1ª<br />
Revolução Industrial?<br />
b) Comente as condições de trabalho nas fábricas<br />
inglesas no século XIX, a partir do texto apresentado.<br />
15. (Fuvest) "O fato relevante do período entre 1790 e<br />
1830 é a formação da classe operária". "Os vinte e cinco<br />
anos após 1795 podem ser considerados como os anos da<br />
contra-revolução". [Durante esse período] "o povo foi<br />
submetido, simultaneamente, à intensificação de duas<br />
formas intoleráveis de relação: a exploração econômica e<br />
a opressão política." Essas frases, extraídas de A<br />
FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA do<br />
historiador E. P. Thompson, relacionam-se ao quadro<br />
histórico decisivo na formação do mundo<br />
contemporâneo, no qual se situam<br />
a) a revolução comercial e a reforma protestante.<br />
b) o feudalismo e o liberalismo.<br />
c) a revolução industrial e a revolução francesa.<br />
d) o capitalismo e a contra-reforma.<br />
e) o socialismo e a revolução russa.<br />
16. (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema<br />
fabril na Inglaterra do século XVIII, é correto afirmar<br />
que ela:<br />
a) foi adotada não somente para promover maior<br />
eficácia da produção, como também para realizar a<br />
dominação capitalista, na medida que as máquinas<br />
submeteram os trabalhadores a formas autoritárias<br />
de disciplina e a uma determinada hierarquia.<br />
b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa<br />
tecnológica de ponta, feito pelos industriais que<br />
participaram da Revolução Industrial.<br />
c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas<br />
universidades.<br />
d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários<br />
estimulavam os operários a desenvolver novas<br />
tecnologias.<br />
e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade<br />
de algumas gerações de inventores, tendo sido<br />
adotada pelos industriais que estavam interessados<br />
em aumentar a produção e, por conseguinte, os<br />
lucros.<br />
17. (Fuvest) Ao descrever o crescimento urbano que<br />
acompanhou a Revolução Industrial na Europa, Munford<br />
observou que "os principais elementos do novo<br />
complexo urbano foram a fábrica, a estrada de ferro e o<br />
cortiço. Em si mesmos, eles constituíam a cidade<br />
industrial."<br />
Explique a relação existente entre esses três elementos<br />
que, de um modo geral, caracterizaram o processo de<br />
desenvolvimento das cidades industriais.<br />
303
18. (Unitau) O capitalismo, com base na transformação<br />
técnica, atinge seu processo específico de produção,<br />
caracterizado pela produção em larga escala, onde há<br />
uma radical separação entre o trabalho e o capital. Esta<br />
afirmativa está tratando:<br />
a) da separação entre capitalismo e socialismo.<br />
b) da Revolução Industrial.<br />
c) do advento do Mercantilismo.<br />
d) da Revolução comunista na Rússia.<br />
e) do plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial.<br />
c) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus<br />
capitais e suas ferramentas em oficinas ou<br />
domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos<br />
domésticos de produção.<br />
d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de<br />
financiar a monarquia e ser também, uma instituição<br />
geradora de empregos.<br />
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas<br />
favorecendo a organização do mercado de trabalho,<br />
de maneira a assegurar emprego a todos os<br />
assalariados.<br />
19. (Fuvest) Identifique, entre as afirmativas a seguir, a<br />
que se refere a consequências da Revolução Industrial:<br />
a) redução do processo de urbanização, aumento da<br />
população dos campos e sensível êxodo urbano.<br />
b) maior divisão técnica do trabalho, utilização<br />
constante de máquinas e afirmação do capitalismo<br />
como modo de produção dominante.<br />
c) declínio do proletariado como classe na nova<br />
estrutura social, valorização das corporações e<br />
manufaturas.<br />
d) formação, nos grandes centros de produção, das<br />
associações de operários denominadas "trade<br />
unions", que promoveram a conciliação entre<br />
patrões e empregados.<br />
e) manutenção da estrutura das grandes propriedades,<br />
com as terras comunais, e da garantia plena dos<br />
direitos dos arrendatários agrícolas.<br />
22. (Cesgranrio) A industrialização acelerada de<br />
diversos países, ao longo do século XIX, alterou o<br />
equilíbrio e a dinâmica das relações internacionais. Com<br />
a Segunda Revolução Industrial emergiu o Imperialismo,<br />
cuja característica marcante foi o (a):<br />
a) substituição das intervenções militares pelo uso da<br />
diplomacia internacional.<br />
b) busca de novos mercados consumidores para as<br />
manufaturas e os capitais excedentes dos países<br />
industrializados.<br />
c) manutenção da autonomia administrativa e dos<br />
governos nativos nas áreas conquistadas.<br />
d) procura de especiarias, ouro e produtos tropicais<br />
inexistentes na Europa.<br />
e) transferência de tecnologia, estimulada por uma<br />
política não intervencionista.<br />
20. (Unicamp) A Revolução Industrial ganhou projeção<br />
a partir do século XIX expressando a evolução<br />
tecnológica, a disponibilidade de capitais e mão-de-obra,<br />
além dos ideais de uma nova classe social.<br />
Comente os principais problemas enfrentados pelos<br />
trabalhadores. Qual o primeiro setor industrializado na<br />
Inglaterra?<br />
23. (Unirio) Na segunda etapa da Revolução Industrial,<br />
iniciada por volta de 1860, caracterizou-se um(a):<br />
a) fortalecimento das corporações de mercadores.<br />
b) aumento da utilização da mão-de-obra servil.<br />
c) supremacia do capitalismo financeiro.<br />
d) intensificação das trocas comerciais através das<br />
feiras.<br />
e) predominância do sistema familiar de produção.<br />
21. (PUCCAMP) Dentre as consequências sociais<br />
forjadas pela Revolução Industrial pode-se mencionar:<br />
a) o desenvolvimento de uma camada social de<br />
trabalhadores, que destituídos dos meios de<br />
produção, passaram a sobreviver apenas da venda de<br />
sua força de trabalho.<br />
b) a melhoria das condições de habitação e<br />
sobrevivência para o operariado, proporcionada pelo<br />
surto de desenvolvimento econômico.<br />
24. (Faap) "A crise do antigo sistema colonial ocorrida<br />
na segunda metade do século XVIII foi provocada por<br />
fatores endógenos, particularmente às contradições do<br />
próprio sistema. Afinal, embora o objetivo da<br />
colonização fosse a exploração econômica da colônia em<br />
benefício da metrópole, era impossível explorar sem<br />
desenvolver." O texto trata da desintegração do antigo<br />
colonialismo que se operou numa conjuntura de crises<br />
mais global, marcada por várias revoluções, como:<br />
304
a) a revolução russa<br />
b) a revolução industrial<br />
c) a revolução praieira<br />
d) a guerra de secessão<br />
e) a revolução puritana<br />
25. (UFPE) Simultaneamente ao processo de<br />
acumulação de capitais, provenientes do comércio de<br />
escravos, pirataria e da descoberta das minas na<br />
América, a Inglaterra reaplicou seus lucros entrando<br />
numa era de grandes transformações que se denominou<br />
de Revolução Industrial. O(s) fator(es) que levou(aram)<br />
às grandes mudanças foi(foram):<br />
( ) A pequena propriedade inglesa, na época dos<br />
cercamentos, transformou-se em latifúndio, que<br />
empregava mão-de-obra assalariada e produzia grandes<br />
quantidades de alimentos;<br />
( ) Do aumento de produção agrícola destacaram-se<br />
alimentos destinados ao mercado externo e o algodão<br />
que atendia às colônias americanas;<br />
( ) o uso das máquinas atraiu às cidades um grande<br />
número de camponeses que, transformados em operários<br />
urbanos, vão participar de uma era de bonança e<br />
melhoria de vida material;<br />
( )a revolução industrial possibilitou a explosão dos<br />
centros urbanos, a concentração do capital, não<br />
modificando, entretanto, a precariedade das condições de<br />
moradia a alimentação do operário urbano;<br />
( )a revolução industrial modifica o cenário das classes<br />
sociais: a aristocracia que estava no topo da pirâmide,<br />
cede o seu lugar à burguesia industrial que agora ocupa o<br />
seu espaço.<br />
26. "Por volta de 1850, a Grã-Bretanha era a primeira<br />
entre as nações industrializadas, tendo evoluído de uma<br />
economia de base agrária para uma predominantemente<br />
industrial. Durante a Segunda Revolução Industrial (a<br />
partir de 1870), continuou em posição de destaque, mas a<br />
Alemanha (...) passou a determinar o ritmo da corrida<br />
pela supremacia industrial."<br />
(Atlas Histórico, FOLHA DE S. PAULO.)<br />
Para que a Grã-Bretanha e a Alemanha ocupassem as<br />
posições descritas pelo texto anterior, concorreram<br />
fenômenos tais como:<br />
a) a prática do chamado comércio triangular,<br />
envolvendo colônias na América, na Índia e na<br />
África, no primeiro caso; e o sucesso dos seguidos<br />
planos quinquenais de desenvolvimento industrial,<br />
praticados pelo Estado desde 1810, no outro caso.<br />
b) a adoção de uma economia de livre mercado com<br />
estímulo à competitividade, no primeiro caso; e a<br />
política de cercamento das terras comunais, gerando<br />
mão-de-obra para a indústria, no outro caso.<br />
c) a atração que o mercado financeiro britânico exercia<br />
sobre os investimentos mundiais, no primeiro caso; e<br />
a moral materialista, fruto da adoção, por parte do<br />
Estado, do anglicanismo como religião oficial, no<br />
outro caso.<br />
d) a tardia estruturação de um Estado-nação que<br />
possibilitou a concentração de capitais nas mãos de<br />
verdadeiros empreendedores, no primeiro caso; e o<br />
apoio financeiro e logístico recebido da França,<br />
arqui-rival da Inglaterra, no outro caso.<br />
e) a intensa atividade mercantil desenvolvida nas<br />
relações coloniais, no primeiro caso; e a unificação<br />
política que consolidou as alianças econômicas já<br />
praticadas entre os estados germânicos, no outro<br />
caso.<br />
27. (PUCSP) "...o produto da atividade humana é<br />
separado de seu produtor e açambarcado por uma<br />
minoria: a substância humana é absorvida pelas coisas<br />
produzidas, em lugar de pertencer ao homem..." A partir<br />
do texto pode-se afirmar que a Revolução Industrial<br />
a) produziu a hegemonia do capitalista na produção<br />
social.<br />
b) tornou a manufatura uma alternativa para o<br />
artesanato.<br />
c) introduziu métodos manuais de trabalho na<br />
produção.<br />
d) tornou o homem mais importante que a máquina.<br />
e) valorizou o produtor autônomo.<br />
28. (UFMG) Leia os textos.<br />
"Se alguém for visto falando com outra pessoa,<br />
assobiando ou cantando, será multado em 6 pence."<br />
(Documentos Humanos da Revolução Industrial).<br />
"O tempo não me pertence por isso amanhã não poderei<br />
ir à sua casa, mas se você puder ir à Praça da Bolsa, entre<br />
duas e duas e meia, nós nos encontraremos como<br />
sombras miseráveis nas bordas do inferno." (um marceneiro<br />
francês em 1848).<br />
305
"Pelo que sei do ofício, acredito que hoje um homem<br />
trabalha quatro vezes mais que antes. A oficina onde<br />
trabalho se assemelha em tudo a uma prisão - o silêncio é<br />
aqui aplicado tal qual numa prisão".<br />
(marceneiro inglês em 1849).<br />
A partir desses textos é possível concluir que a<br />
Revolução Industrial<br />
a) impôs uma rígida disciplina ao trabalhador<br />
assalariado no espaço da fábrica, não interferindo<br />
em seu dia-a-dia.<br />
b) introduziu a divisão do trabalho, buscando maior<br />
eficiência e permitindo que o trabalhador dominasse<br />
o conhecimento das etapas de produção.<br />
c) permitiu a organização do trabalho fabril, buscando<br />
uma maior comunicação entre os operários, cujo<br />
resultado final foi o aumento da eficiência e da<br />
lucratividade.<br />
d) provocou uma transformação social inserindo o<br />
trabalhador em novas formas de trabalho, e não foi<br />
uma mera aceleração do ritmo econômico.<br />
e) simplificou o trabalho ao máximo, reduzindo-o a<br />
simples tarefas manuais, o que diminuiu a<br />
exploração do trabalhador.<br />
com novas invenções, resultaram em transformações<br />
extraordinárias, fazendo surgir a indústria moderna,<br />
alterando as condições de vida, bem como a estrutura da<br />
sociedade. Indique algumas das transformações sociais<br />
ocorridas em países europeus do século XIX, decorrentes<br />
da revolução industrial, em particular aquelas relativas às<br />
condições de vida e de trabalho.<br />
29. (UFMG) Todas as alternativas apresentam mudanças<br />
que caracterizam a Revolução Industrial na Inglaterra do<br />
século XIX, EXCETO:<br />
a) A aplicação sistemática e generalizada do moderno<br />
conhecimento científico ao processo de produção<br />
para o mercado.<br />
b) A consolidação de novas classes sociais e<br />
ocupacionais, determinada pela propriedade de<br />
novos fatores de produção.<br />
c) A especialização da atividade econômica, dirigida<br />
para a produção e para o consumo paroquial e<br />
familiar.<br />
d) A expansão e despersonalização da unidade típica de<br />
produção, até então baseada principalmente nas<br />
corporações de ofício.<br />
e) O redirecionamento da força de trabalho das<br />
atividades relacionadas à produção de bens<br />
primários para a de bens manufa<br />
306<br />
30. (UFPR) A revolução industrial começou na<br />
Inglaterra no século XVIII e atingiu o continente europeu<br />
no século XIX. Novas fontes de energia, combinadas
GABARITO<br />
1:[C]<br />
Comentário da questão:<br />
A questão remete mais uma vez à Revolução Industrial,<br />
exigindo que o candidato leia atentamente o excerto e<br />
interprete a noção de violência que o autor engendra ao<br />
processo capitalista de produção. Bem como a noção de<br />
trabalho degradante durante o período da “formação da<br />
classe operária”. As informações dão conta de que as<br />
jornadas de trabalho durante o período podiam ser de 14<br />
a 16 horas, as fábricas podiam incluir até mesmo<br />
crianças como mão-de-obra e o trabalho era realizado em<br />
locais insalubres, sem existir nenhuma regulação ou<br />
fiscalização por parte das autoridades. O que leva o autor<br />
do trecho a concluir que o processo, na verdade, foi<br />
realizado unicamente sob a “ideologia dos patrões”.<br />
2:<br />
A questão trata dos “luddistas”, que agiram<br />
intermitentemente, na Inglaterra de fins do século XVIII<br />
e início do XIX, atacando instalações fabris e destruindo<br />
máquinas. Eles podem ser avaliados como “rebeldes<br />
ingênuos” se considerarmos a irreversibilidade da<br />
industrialização, absolutamente necessária para a<br />
afirmação do modo de produção capitalista, coroando um<br />
pro cesso iniciado séculos antes, na Baixa Idade Média.<br />
Por outro lado, interpretar os luddistas como<br />
“revolucionários conscientes” implica situá-los como<br />
precursores das lutas sociais do proletariado então em<br />
formação, atribuindo-lhes uma visão prospectiva dos<br />
males do capitalismo – visão essa consolidada pela<br />
análise científica elaborada anos depois por Marx e<br />
Engels.<br />
3:<br />
a) Segundo o texto, desde o início da Revolução<br />
Industrial, a novidade e a criatividade de cada geração é<br />
mais marcante do que os modelos do passado. Assim, o<br />
passado é descartado como memória de como as coisas<br />
deveriam ser feitas.<br />
b) A Revolução Industrial alterou de forma significativa<br />
o sistema de produção. Nesse sentido podemos destacar:<br />
• Antes da Revolução Industrial o trabalhador possuía os<br />
meios de produção. Com a industrialização, ocorre a<br />
separação entre o trabalho e a propriedade dos meios de<br />
produção. Estes passam a pertencer ao empresário<br />
industrial.<br />
• Antes, predominava a utilização de ferramentas<br />
implicando que a produção dependia da disposição,<br />
habilidade e destreza do trabalhador. Com a Revolução<br />
Industrial, é implantado o sistema fabril com a utilização<br />
de máquinas no sistema produtivo. Diferentemente da<br />
ferramenta, a máquina possui uma fonte uniforme de<br />
energia (por exemplo, a energia a vapor) que impõe um<br />
ritmo de produção ao qual o trabalhador deve se<br />
subordinar.<br />
• Antes da Revolução Industrial, a divisão do trabalho<br />
praticamente inexiste. O produtor é o artesão que<br />
confecciona a peça toda, o que requer aquelas qualidades<br />
que apontamos no item anterior para converter a matériaprima<br />
em produto manufaturado. Cada peça é única e a<br />
quantidade produzida é pequena. Era uma produção<br />
limitada, característica das corporações de ofício. Com a<br />
indústria, esse sistema de produção "doméstico" é<br />
destruído e em seu lugar instaura-se o sistema fabril.<br />
Impõe-se a divisão social do trabalho e da produção.<br />
• Com a introdução do sistema fabril, ocorre a<br />
generalização do trabalho assalariado e a consequente<br />
expansão do mercado de consumo, por intermédio da<br />
monetarização da economia.<br />
• A adoção do sistema fabril dá origem a um processo<br />
intenso de inovação tecnológica. Cada inovação<br />
engendra modificações em outros setores da produção e<br />
da própria organização do trabalho e das tarefas<br />
produtivas, o que contrasta significativamente com a<br />
atividade artesanal que até então existia.<br />
5:<br />
a) Essa questão requer capacidade de interpretação do<br />
texto, devendo o candidato apontar os diferentes<br />
significados do trabalho para a Bíblia, a burguesia e a<br />
aristocracia, respectivamente. Assim, na Bíblia, trabalho<br />
era sinônimo de castigo e sacrifício em razão dos<br />
pecados. Para a burguesia e seus ideólogos, o trabalho<br />
era uma atividade positiva, que purificava a alma e<br />
distanciava homens e mulheres do pecado da preguiça. A<br />
aristocracia nutria profundo desprezo pelo trabalho, visto<br />
como atividade destinada exclusivamente às chamadas<br />
“ordens não privilegiadas” da sociedade (burgueses,<br />
camponeses, artesãos etc.).<br />
307
308<br />
b) Espera-se que o candidato reconheça no trabalho<br />
fabril um dos principais mecanismos de disciplinarização<br />
do trabalhador no contexto da Revolução Industrial. A<br />
disciplina podia ser obtida, por exemplo, por meio de<br />
multas, horários fixos e a vigilância dos contramestres. O<br />
candidato também pode se referir à ética protestante do<br />
trabalho.<br />
03 – Comentários<br />
Essa questão aborda um dos temas clássicos do ensino de<br />
história, a Revolução Industrial e o trabalho nas fábricas<br />
e procurou medir, principalmente, a capacidade de leitura<br />
e entendimento de texto dos candidatos. Dividida em 2<br />
itens, a resposta do primeiro estava dada no enunciado,<br />
bastando que o candidato o lesse atentamente para<br />
perceber os diferentes significados do trabalho para a<br />
Bíblia, a burguesia e a aristocracia.<br />
O item b, contudo, exigia do candidato conhecimentos<br />
específicos sobre o período e capacidade de reconhecer<br />
no trabalho fabril um dos principais mecanismos de<br />
disciplinarização do trabalhador no contexto da<br />
Revolução Industrial. Para obter os dois pontos da<br />
questão era preciso citar pelo menos duas formas de se<br />
obter a disciplina fabril, por exemplo, por meio de<br />
multas, horários fixos e vigilância dos contramestres.<br />
Algumas respostas também se referiram às questões<br />
religiosas como a ética protestante do trabalho, a<br />
influência do calvinismo e da reforma.<br />
Dadas as características das questões formuladas nos<br />
dois itens, o resultado foi uma avalanche de notas 3, uma<br />
vez que houve grande acerto nas respostas do item a,<br />
enquanto que no item b verificou-se uma dificuldade por<br />
parte dos candidatos de entender a ideia de disciplina. Na<br />
maioria das vezes a disciplinarização foi confundida com<br />
a descrição das péssimas condições de trabalho dentro<br />
das fábricas - o que acarretou uma pequena margem de<br />
acerto no item e, consequentemente, um índice pouco<br />
expressivo de notas 4 e 5, assim como de notas 1 e 2.<br />
6:<br />
a) O estudante poderia apontar pelo menos três aspectos<br />
centrais como características da primeira era industrial<br />
que se desenvolveu especialmente na Inglaterra: o uso da<br />
tecnologia e a alteração das formas de produção, com a<br />
expansão da indústria têxtil, uso da<br />
energia a vapor, processo de substituição da manufatura;<br />
exploração dos trabalhadores com precárias condições de<br />
trabalho, incluindo a exploração do trabalho infantil; a<br />
busca de mercados consumidores especialmente nas<br />
colônias americanas.<br />
b) Conforme indicado no enunciado, o nacionalismo era<br />
o principal meio para os Estados garantirem a unidade da<br />
população; caracterizava-se pela agressividade e orgulho<br />
pelo país em que se vivia e interferia em aspectos<br />
culturais como a educação, as artes e a literatura.<br />
c) No Brasil, o sentimento nacional na literatura<br />
expressou-se, por exemplo, no romantismo (indianismo),<br />
quando valorizou-se o indígena e a natureza do país.<br />
COMENTÁRIOS<br />
A questão envolvia conteúdos e temporalidades distintas<br />
como a Revolução Industrial, o nacionalismo em suas<br />
caracterizações e sua expressão na literatura brasileira. O<br />
conteúdo, particularmente no item c), envolvia<br />
conhecimentos presentes na <strong>História</strong> e na Literatura.<br />
Todos os temas são presentes nos conteúdos escolares e<br />
as abordagens podiam ser feitas a partir de diversos<br />
referenciais que os estudantes possuem,<br />
contextualizando-os nas especificidades das questões. No<br />
item a, ao abordar as condições da primeira era<br />
industrial, era possível apontar o desenvolvimento<br />
tecnológico e as alterações no mercado de trabalho. A<br />
questão permitiu, além da caracterização das relações<br />
produtivas, o impacto social que elas tiveram no período.<br />
Dessa forma, as condições de trabalho e a exploração dos<br />
trabalhadores eram algumas das alternativas de resposta.<br />
O item b solicitava o conceito de nacionalismo a partir<br />
do texto, exigindo a leitura e o reconhecimento de<br />
características que o nacionalismo adquiriu nos países<br />
europeus. O item c estava associado a uma das<br />
caracterizações do item anterior (a febre nacionalista na<br />
literatura) e a questão foi inovadora por buscar a<br />
aproximação entre a <strong>História</strong> e a Literatura, e sua<br />
identificação do nacionalismo na literatura brasileira,<br />
num momento específico (século XIX). A questão foi<br />
amplamente respondida, o que demonstra que os<br />
vestibulandos obtêm bons resultados com a aproximação<br />
interdisciplinar que tem sido almejada pelas propostas<br />
educacionais mais recentes.<br />
7:[C]<br />
Comentário da questão:<br />
A questão remete mais uma vez à Revolução Industrial,<br />
exigindo que o candidato leia atentamente o excerto e
interprete a noção de violência que o autor engendra ao<br />
processo capitalista de produção. Bem como a noção de<br />
trabalho degradante durante o período da “formação da<br />
classe operária”. As informações dão conta de que as<br />
jornadas de trabalho durante o período podiam ser de 14<br />
a 16 horas, as fábricas podiam incluir até mesmo<br />
crianças como mão-de-obra e o trabalho era realizado em<br />
locais insalubres, sem existir nenhuma regulação ou<br />
fiscalização por parte das autoridades. O que leva o autor<br />
do trecho a concluir que o processo, na verdade, foi<br />
realizado unicamente sob a “ideologia dos patrões”.<br />
8:[B]<br />
A obra Frankenstein de Mary Shelley trata-se de um<br />
clássico da literatura romântica europeia, período<br />
histórico marcado pela disseminação da Revolução<br />
Industrial e pela consolidação do tecnicismo. O romance<br />
destaca como essas novas perspectivas afastavam o<br />
homem de sua plenitude, do desenvolvimento de seus<br />
sentimentos e da vida em meio a uma natureza<br />
idealizada, ameaçada pelo avanço da industrialização.<br />
9: [E]<br />
Comentário da questão:<br />
Todas corretas; no entanto, vale ressaltar que as<br />
transformações no campo são consequências da<br />
Revolução Industrial em médio prazo, pois em um<br />
primeiro momento, as grandes transformações ocorrem<br />
nas cidades. Ao apresentar as mudanças no campo, a<br />
questão tende a confundir o estudante. A partir da<br />
Revolução, consolidou-se o trabalho assalariado e as<br />
relações capitalistas de produção e o trabalhador perdeu<br />
completamente o controle sobre o tempo, determinante<br />
para a ampliação da produção.<br />
10: [A]<br />
Comentário da questão:<br />
(A) Crescimento urbano e pobreza que acompanharam o<br />
desenvolvimento material da revolução industrial.<br />
B) Incorreta. A Revolução comercial é um processo que<br />
antecede o período tratado no texto, além disso o extrato<br />
da obra Oliver Twist que foi selecionado não trata de<br />
aspectos ligados ao comércio.<br />
C) Incorreta. A Inglaterra do século XIX não estava<br />
passando pela crise econômica do feudalismo.<br />
D) Incorreta. No século XIX, a Igreja Anglicana não<br />
estava passando por uma crise religiosa relacionada a<br />
Contra Reforma.<br />
E) Incorreta. O texto não faz referências ao socialismo<br />
ou a movimentos revolucionários. A opção correta é<br />
aquela que relaciona crescimento urbano e pobreza com<br />
o desenvolvimento material da revolução industrial.<br />
Portanto a opção A está correta.<br />
11:[D]<br />
12:[D]<br />
13:[D]<br />
14:<br />
a) O carvão foi uma importante fonte de energia<br />
primária, além de ter sido matéria-prima indispensável<br />
na metalurgia do ferro nos primórdios da Revolução<br />
Industrial. O ferro, por sua vez, foi um dos mais<br />
importantes insumos industriais da primeira Revolução<br />
Industrial, pois era utilizado na construção de máquinas e<br />
bens de consumo duráveis.<br />
b) As condições de trabalho nas fábricas eram precárias.<br />
Podemos destacar, entre outras: longas jornadas, baixos<br />
salários, muitos acidentes de trabalho, poucas condições<br />
de segurança, utilização generalizada do trabalho infantil<br />
e feminino em operações de risco, insegurança quanto à<br />
estabilidade do emprego, repressão a qualquer<br />
possibilidade de discussão sobre as péssimas condições<br />
de trabalho. Dentre essas, são explicitamente<br />
mencionadas no texto a insalubridade das fábricas e as<br />
longas jornadas de trabalho.<br />
15:[C]<br />
16:[A]<br />
17:<br />
Com a Revolução Industrial os principais elementos do<br />
novo complexo urbano foram a fábrica, a estrada de ferro<br />
e o cortiço. Tais aglomerações urbanas podiam expandirse,<br />
e de fato expandiam-se cem vezes, sem adquirir mais<br />
que vestígios das instituições que caracterizam uma<br />
cidade. A fábrica passou a ser o núcleo do novo<br />
organismo urbano. Todos os demais detalhes da vida<br />
ficaram subordinados a ela. Os lugares destinados à<br />
309
moradia eram, muitas vezes, situados dentro dos espaços<br />
que sobravam entre fábricas, galpões e pátios<br />
ferroviários. As casas costumavam ser construídas bem<br />
junto das usinas siderúrgicas, fábricas de tintas,<br />
gasômetros ou cortes ferroviários. Era muito freqüente<br />
serem construídas em terras cheias de cinzas, vidros<br />
quebrados e restos, onde nem mesmo a grama podia<br />
deitar raízes; podiam estar ao pé de uma pirâmide de<br />
detritos ou junto de uma enorme pilha permanente de<br />
carvão e escória; dia após dia, o mau cheiro dos dejetos,<br />
o negro vômito das chaminés e o ruído das máquinas<br />
martelantes ou rechinantes, acompanhavam a rotina<br />
doméstica. Nascia ali o cortiço. Assim, a ferrovia levava<br />
ao coração da cidade não apenas o ruído e a imundície,<br />
mas o que se produzia nas fábricas. O desperdício de<br />
espaço pelos pátios ferroviários no coração da cidade<br />
somente aumentava sua mais rápida expansão fora dela.<br />
Já quanto à própria habitação, as alternativas eram<br />
simples. Nas cidades industriais que cresceram com base<br />
em fundações antigas, os trabalhadores foram<br />
inicialmente acomodados pela transformação das velhas<br />
casas familiares em alojamentos de aluguel. Nessas<br />
casas reconstruídas, cada quarto passava agora a abrigar<br />
toda uma família: o sistema de um quarto para cada<br />
família vigorou por muito tempo. O amontoamento de<br />
camas, com três até oito pessoas de diferentes idades a<br />
dormir no mesmo catre, agravava muitas vezes o<br />
congestionamento dos quartos, nesses chiqueiros<br />
humanos. Assim, as fábricas da Revolução Industrial<br />
chegaram trazendo consigo uma relação estreita com a<br />
estrada de ferro que transportavam os produtos, e os<br />
cortiços sem qualquer estrutura para abrigar um ser<br />
humano.<br />
24:[B]<br />
25:V F F V V<br />
26:[E]<br />
27:[A]<br />
28:[D]<br />
29:[C]<br />
30:<br />
- Surgimento da burguesia industrial;<br />
- Exploração do proletariado urbano;<br />
- Exploração do trabalho feminino e infantil;<br />
- Surgimento dos movimentos de luta operária;<br />
18:[B]<br />
19:[B]<br />
20:<br />
Os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores<br />
eram as horas excessivas e as péssimas condições de<br />
trabalho, falta de assistência médica e etc. O primeiro<br />
setor industrializado na Inglaterra foi a Indústria têxtil.<br />
310<br />
21:[A]<br />
22:[B]<br />
23:[C]
REVOLUÇÃO FRANCESA<br />
1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA FRANÇA<br />
PRÉ – REVOLUCIONÁRIA<br />
1.1 Sociedade<br />
permitiam o controle sobre as terras, as chefias no<br />
exército e os principais cargos administrativos; eram<br />
ainda da beneficiados por isenção fiscal, sustento a partir<br />
de rendas obtidas através do dízimo, exploração dos<br />
direitos servis e recursos do Estado. Ao Terceiro Estado,<br />
por sua vez, recaíam obrigações como o sustento do<br />
Estado, a partir do pagamento de pesados impostos aos<br />
reis ou cumprir as obrigações servis, uma vez que 80%<br />
da população desta ordem vivia no campo. Eram ainda<br />
submetidos a uma justiça diferenciada e desconsiderados<br />
em mérito nas possibilidades de ocupar cargos públicos,<br />
impondo-se a ordem de nascimento e o pertencimento às<br />
estratificações sociais pré-definidas.<br />
1.2 Crise econômico-financeira<br />
Representação do Terceiro Estado sustentando o Primeiro e Segundo<br />
Estados.<br />
Na segunda metade do século XVIII, a marca substancial<br />
da sociedade francesa era a rígida estratificação de sua<br />
população em três ordens principais: Ao Primeiro<br />
Estado, incluíam-se os membros do clero, enquanto no<br />
Segundo Estado, congregava-se os nobres do país. A<br />
maioria esmagadora da população, compostos pela alta<br />
burguesia (banqueiros, grandes comerciantes,<br />
armadores), a pequena burguesia (comerciantes,<br />
pequenos proprietários e profissionais liberais),<br />
trabalhadores urbanos (sans-culottes, - trabalhadores das<br />
manufaturas) e os trabalhadores rurais (arrendatários,<br />
trabalhadores assalariados e camponeses submetidos a<br />
relações próxima à servidão), compunham o Terceiro<br />
Estado, marcado por uma evidente heterogeneidade em<br />
sua composição.<br />
Os dois primeiros estados, apesar de constituírem menos<br />
de 20% da população, contavam com uma gama de<br />
privilégios juridicamente justificados, o que lhe<br />
Com a ascensão da dinastia Bourbon ao longo do século<br />
XVII, e os esforços de estimulo à produção<br />
manufatureira de artigos de luxo, a economia francesa<br />
alcançou um período de relativo crescimento, com o<br />
desenvolvimento do comércio interno e no incremento<br />
do comércio colonial. Entretanto, ainda mediante esse<br />
quadro, permanecia como um país ainda fortemente<br />
sustentado na produção agrícola (o que explica que os<br />
camponeses sejam a maioria esmagadora na composição<br />
de sua sociedade).<br />
Diferente da indústria inglesa em plena expansão, a<br />
incipiente indústria francesa encontrava entraves ao seu<br />
pleno desenvolvimento. Encontravam-se divididas em<br />
grandes Corporações de Ofício, nos moldes medievais,<br />
que impedindo a livre concorrência restringiam a<br />
produção a pequenos grupos, impedindo a ampliação da<br />
produção industrial nos moldes do livre mercado.<br />
Destacavam-se ainda, as Manufaturas Reais, que<br />
exploradas pelo Estado, dedicavam-se à produção de<br />
artigos de luxo para exportação ou para população,<br />
porém com rígido controle sobre preços e direitos de<br />
distribuição entre os comerciantes franceses. Faltava,<br />
portanto, em decorrência do excessivo controle<br />
mercantilista, estimulo à ampliação e modernização da<br />
produção industrial francesa, mantendo a economia ainda<br />
arraigada a padrões de produção bastante arcaicos.<br />
Ademais, o comércio era ainda dificultado pelas<br />
alfândegas internas (pedágios) que impediam a<br />
circulação e a integração entre campo e cidade. Já o<br />
311
comércio externo estava em declínio em virtude de<br />
perdas coloniais (como Antilhas, Canadá e as Índias) que<br />
fez diminuir as matérias primas para as maquinofaturas.<br />
Além da difícil situação econômica do país, a crise<br />
financeira do Estado Francês também contribuía para<br />
criar a atmosfera necessária às insatisfações que<br />
culminariam com o processo revolucionário; desde o<br />
governo de Luís XV, a derrota francesa para a Inglaterra<br />
na Guerra dos 07 Anos, o rei precisou governar com<br />
dificuldades orçamentárias e grave crise financeira até a<br />
sua morte em 1774.<br />
GUERRA DOS 07 ANOS – 1767 -1773<br />
A Guerra dos Sete anos foi um conflito travado entre<br />
diversas monarquias nacionais europeias em torno do<br />
controle de regiões de exploração colonial. Um dos lados<br />
dessa guerra era liderado pela França que, com o apoio<br />
militar dos austríacos, procurava rivalizar contra a<br />
supremacia exercida pelos britânicos nas regiões da<br />
América do Norte e na Índia. Além disso, esse mesmo<br />
conflito também foi marcado pelas disputas hegemônicas<br />
entre os Estados do antigo Sacro-Império Germânico.<br />
Em um primeiro momento desse conflito, os<br />
exércitos prussianos realizaram uma aliança militar com<br />
a Inglaterra, que fazia franca oposição ao apoio que os<br />
austríacos tinham por parte das forças francesas. Ao<br />
mesmo tempo em que esses exércitos se enfrentavam<br />
dentro da Europa, França e Inglaterra promoviam<br />
conflitos paralelos pelo controle de regiões da América<br />
do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mar<br />
Mediterrâneo, Canadá e Caribe.<br />
A fase colonial da guerra teve início com a invasão<br />
francesa à ilha britânica de Minorca, ocorrida em 1756.<br />
As ações tomadas pelos franceses foram contra-atacadas<br />
pelas poderosas tropas inglesas, que realizaram o<br />
bloqueio britânico nas regiões de Toulon e Brest. Depois<br />
de sucessivas vitórias, os ingleses conquistaram as<br />
regiões de Quebec, Montreal, Cabo Bretão e Grandes<br />
Lagos. Na África, conseguiram derrubar o controle<br />
francês em Senegal e Gâmbia.<br />
A derrota dos franceses foi completada com a entrada<br />
da Espanha, que conseguiu tomar a região da Louisiana<br />
do Império Colonial Francês. A vitória britânica nesse<br />
conflito acabou realizando uma grande transformação no<br />
cenário colonial norte-americano. Inicialmente, os<br />
britânicos passaram a enrijecer suas relações com os<br />
colonos norte-americanos com a cobrança de impostos e<br />
a limitação na exploração das terras conquistadas.<br />
Além disso, o acordo empreendido entre as poderosas<br />
nações envolvidas nesse conflito garantiu à Rússia e à<br />
Prússia o controle político sobre algumas regiões do<br />
Velho Continente. Em contrapartida, O Império<br />
Austríaco perdeu sua posição hegemônica entre os<br />
fragmentados Estados Germânicos tendo os prussianos<br />
enquanto concorrentes. Entre todas as nações envolvidas,<br />
a França foi contundentemente afetada com a entrega de<br />
várias áreas coloniais para os ingleses. Com o fim do<br />
conflito, a Inglaterra saiu como grande vitoriosa, mas os<br />
custos gerados pela guerra enfraqueceram a sua<br />
economia. Dessa forma, a Coroa Inglesa decidiu impor<br />
diversos tributos para os colonos norte-americanos com o<br />
claro objetivo de ressarcir o prejuízo econômico<br />
produzido pela guerra. Entretanto, essa medida tencionou<br />
as relações com os colonos norte-americanos que, pouco<br />
tempo depois, lutaram pelo fim da dominação colonial<br />
britânica, dando início às Guerras de Independência dos<br />
EUA.<br />
Por Rainer Sousa - Equipe Brasil Escola<br />
Seu sucessor, Luís XVI, assumiu, portanto, um Estado<br />
falido, seriamente prejudicado pelos gastos com uma<br />
Corte parasitária, além do crescimento vertiginoso de sua<br />
dívida externa, face a empréstimos contraídos junto a<br />
banco estrangeiros. Apesar de ter obtido vantagens<br />
territoriais como decorrência do apoio militar concedido<br />
às Treze Colônias no processo de Independência dos<br />
Estados Unidos, a participação francesa nesse<br />
empreendimento selou a crise financeira do tesouro<br />
nacional.<br />
O Estado, mantendo sua característica intervencionista e<br />
autoritário (não existia liberdade de imprensa e de<br />
comércio ou econômica e o Estado era quem decidia<br />
sobre salários, preços) para tentar superar a crise, dispôsse<br />
a promover reformas, sem pôr em risco sua autoridade<br />
absoluta, que pudessem fortalecer as finanças reais. Em<br />
1787, o governo chegou a propor uma reforma tributária,<br />
a partir da qual os impostos passariam a ser cobrados<br />
também aos nobres e ao clero. A proposição redundou<br />
em fracasso, dada a rígida oposição dos grupos<br />
privilegiados, que se recusaram com veemência a<br />
partilhar os prejuízos da recuperação financeira do<br />
Estado.<br />
312
Diante da recusa dos nobres em se submeter à tributação,<br />
o ministro Jacques Necker sugeriu ao Rei a convocação<br />
da Assembleia dos Estados Gerais, representação das<br />
três ordens sociais – não reunida desde 1614 – a fim de<br />
apresentar proposições à reversão da crise.<br />
1.3 Liderança burguesa e influência iluminista<br />
no desfecho revolucionário<br />
A ação do Estado Absolutista francês na aplicação da<br />
política mercantilista e no estimulo à corrida colonial e<br />
desenvolvimento das manufaturas e o comércio interno e<br />
externo, contribuía para acumular capital nas mãos de<br />
uma parte de sua burguesia. No entanto, em fins do<br />
século XVIII, as restrições e regulamentações<br />
mercantilistas eram indesejadas pela burguesia, que<br />
buscava maior liberdade de ação, buscando limitar a ação<br />
excessiva do Estado. Esta classe social buscava também<br />
acabar com os resquícios feudais dos privilégios do<br />
nascimento da nobreza e criar uma sociedade fundada na<br />
igualdade jurídica.<br />
Para orientar e inspirar a ação da classe burguesa, os<br />
princípios fundamentais do Iluminismo permitiram a esta<br />
classe transformar seus interesses particulares em<br />
interesses universais de toda sociedade francesa, uma vez<br />
que a luta contra o mercantilismo, o absolutismo e os<br />
privilégios do clero e da nobreza passavam a ser<br />
pregados como interesse de toda a sociedade.<br />
2. O Processo Revolucionário<br />
A Tomada da Bastilha<br />
A convocação dos representantes dos Estados Gerais<br />
gerou expectativas diferenciadas nos variados grupos<br />
sociais. Parte da nobreza e do clero buscou organizar-se<br />
e encontrar apoio na alta burguesia, a fim de limitar o<br />
poder real e preservar o privilégio do não pagamento de<br />
impostos, como já havia sido proposto anteriormente. A<br />
classe burguesa interessava-se na composição da<br />
Assembleia para assegurar conquistas de maior<br />
autonomia econômica em relação ao Estado e a<br />
suspensão dos privilégios de ordem fiscal e jurídica<br />
conferidos ao clero e à nobreza; também dotados de<br />
grande esperança de igualdade e alterações da ordem<br />
social excludente estavam os grupos populares, também<br />
situados no Terceiro Estado, a exemplo dos camponeses<br />
super explorados no campo e dos sans-culottes urbanos.<br />
Após grande inquietação, reunia-se a 05 de maio de 1789<br />
a Assembleia dos Estados Gerais, marcada por grande<br />
diversidade e embate de interesses e personagens; alguns<br />
burgueses privilegiados sustentavam seu apoio ao rei e<br />
aos nobres, outros nobres mais esclarecidos se<br />
colocavam em favor das reformas; o alto clero firmava<br />
posições conservadoras, mas parte do baixo clero tendia<br />
em apoiar reformas sociais; o rei insistia na restrição da<br />
Assembleia a tratar de questões meramente econômicofinanceiras.<br />
Após o início das reuniões, a primeira conquista dos<br />
grupos oposicionistas foi o aumento concedido por Luís<br />
XVI, do número de representantes do Terceiro Estado. A<br />
exigência do Terceiro Estado sustentava-se no<br />
tradicional regimento da Assembleia dos Estados Gerais,<br />
que definia as votações por Estado, e não por cabeças;<br />
como o primeiro e segundo estados possuíam interesses<br />
conservadores da ordem convergentes, tenderiam sempre<br />
a serem vitoriosos nas proposições.<br />
Com o novo esquema de votação que considerava o<br />
número de cabeças por deputados representantes, o<br />
Terceiro estado considerava que as dissidências entre a<br />
nobreza liberal e o clero ligado às forças populares,<br />
poderiam assegurar algumas conquistas para o terceiro<br />
estado.<br />
Com o impasse estabelecido, o Rei sinalizava para o<br />
fechamento da Assembleia dos Estados Gerais; em<br />
resposta, os delegados do Terceiro Estado se colocaram<br />
como representantes da Nação, buscando constituir um<br />
poder independente dos demais da França; temerosa, a<br />
aristocracia se reaproximou plenamente do Rei e o<br />
incentiva ao fechamento da Assembleia. Reunidos no<br />
313
314<br />
salão de jogos, os deputados se recusaram a se<br />
desmobilizarem e firmaram um compromisso de só<br />
abandonarem o recinto após elaboração de um<br />
documento constitucional ao país. Era o Juramento da<br />
Sala do Jogo de Péla.<br />
O monarca reafirmava sua posição intransigente em<br />
relação aos acontecimentos e, considerando inaceitável<br />
uma limitação ao seu poder, começou a mobilizar tropas<br />
para o cerco de Paris e Versalhes, alegando a<br />
manutenção da ordem e proteção da Assembleia. Os<br />
deputados do Terceiro Estado radicalizaram suas<br />
posições, buscaram apoio externo de outros setores<br />
sociais e, em 09 de julho, constituíram-se numa<br />
Assembleia Nacional Constituinte, se auto delegando o<br />
direito de decretar as leis que formariam a nova<br />
Constituição.<br />
A repercussão externa da movimentação e o temor de<br />
mergulhar a Franca numa guerra civil, levou o monarca e<br />
a nobreza a moderar suas posições, buscando integrar<br />
suas representações dentro da Assembleia recém<br />
constituída. Nas ruas, entretanto, especialmente entre os<br />
sans-culottes, as tensões sociais chegaram ao seu ápice,<br />
em apoio à Constituinte, quando no dia 14 de julho, a<br />
recém criada milícia burguesa atacou a cadeia da<br />
Bastilha, símbolo do absolutismo francês. Tal episódio se<br />
consagraria no marco inicial da Revolução Francesa.<br />
Os sans-culottes eram artesãos, trabalhadores e até pequenos<br />
proprietários que viviam nos arredores de Paris. Recebiam esse<br />
nome porque não usavam os elegantes calções que a nobreza vestia,<br />
mas uma calça de algodão grosseira.<br />
2.1 1º fase - Assembleia Nacional Constituinte<br />
Com a repercussão urbana da Tomada da Bastilha, as<br />
jornadas populares de mobilização se expandiram para o<br />
campo, onde uma onda de agitações violentas com o<br />
assalto às propriedades, invasão de habitações, saques de<br />
depósitos de alimentos e a destruição de documentos que<br />
comprovavam dividas dos camponeses com senhores<br />
espalharam o terror nas áreas rurais. Era o Grande<br />
Medo, que levou à fuga de milhares de nobres para os<br />
países vizinhos, na expectativa de organizar a<br />
contrarrevolução.<br />
Buscando conter a violência instaurada no campo e<br />
manter o controle político do processo revolucionário, a<br />
burguesia na representação institucional do Terceiro<br />
Estado se apressou em tomar medidas que favorecessem<br />
esse estrato camponês mais radical da revolução. Em 04<br />
de agosto de 1789, aboliu os direitos e privilégios<br />
feudais. Em 26 de agosto, a Assembleia Nacional<br />
Constituinte apresentava aos franceses, a Declaração<br />
dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consagrava<br />
novas conquistas liberais, como a liberdade religiosa, e<br />
de imprensa, além da igualdade civil e jurídica<br />
(extinguindo os estamentos e os tribunais especiais),<br />
assegurando o direito e inviolabilidade da propriedade<br />
privada, a defesa da soberania da lei como expressão da<br />
vontade geral, a igualdade de oportunidades na ocupação<br />
de postos administrativos e outros cargos e a<br />
legitimidade da derrubada de governos considerados<br />
tirânicos.<br />
Outra importante medida tomada pela recém constituída<br />
Assembleia Nacional Constituinte foi o confisco dos<br />
bens da Igreja Católica francesa, que se constituiria ao<br />
longo da revolução em lastro para a emissão de títulos –<br />
os assignats – usados como instrumento de compra em<br />
meio à grave crise financeira. A reação e mobilização do<br />
clero contra tais medidas levou a Assembleia a decretar,<br />
em julho de 1790, a Constituição Civil do Clero, que<br />
institucionalizou a ruptura entre o Estado e a Igreja, e<br />
submeteu seus membros à condição de funcionalismo<br />
público, além de abolir o dízimo eclesiástico e impor a<br />
prisão como pena aos membros rebeldes do clero.<br />
Em meio à desordem e agitação instalada, o monarca<br />
francês comunicou-se como os nobres emigrados à<br />
Prússia e Áustria, na tentativa de conspirar por uma
eação que garantisse a invasão da França e a derrubada<br />
do governo revolucionário, assegurando o retorno da<br />
ordem absolutista. As movimentações em torno da nova<br />
Constituição eram tão restritivas ao Rei, que Luís XVI<br />
via sua ação restringir-se a escolher e demitir ministros,<br />
o que o impulsionara a tentar fugir para a Áustria a fim<br />
de organizar a contrarrevolução; descoberto a meio<br />
caminho por camponeses, em Varennes (fronteira com os<br />
Países Baixos), o rei é escoltado de volta a Paris como<br />
prisioneiro.<br />
Em setembro do ano corrente (1791), finalmente seria<br />
votada e aprovada a Constituição de 1791. Por meio<br />
desta, confirmava-se a abolição dos impostos senhoriais<br />
sobre o campesinato, dos dízimos eclesiásticos, definiase<br />
pela proibição da venda de cargos públicos e<br />
suspendia-se em definitivo os privilégios de isenção<br />
fiscal da nobreza. Tal constituição estabelecia, na França,<br />
a Monarquia Constitucional Parlamentar, ou seja, o Rei<br />
ficaria limitado pela atuação da Constituição e do poder<br />
legislativo (Parlamento - Assembleia Nacional).<br />
2.2 1 fase – Monarquia Constitucional<br />
A composição da Assembleia Nacional, por notificação<br />
da Constituição, era escolhido através do voto<br />
censitário, o que equivalia dizer que o poder continuava<br />
nas mãos de uma minoria masculina, capaz de<br />
comprovar renda ou propriedade, embora incluindo uma<br />
parte privilegiada da burguesia. Resumindo, o que temos<br />
é uma Monarquia Parlamentar dominada pela alta<br />
burguesia e pela aristocracia liberal, com total<br />
afastamento do povo francês, excluindo trabalhadores e<br />
despossuídos, além das mulheres.<br />
A ordem constitucional, entretanto, não significou a<br />
restauração da ordem ou da normalidade; os setores<br />
populares mantinham-se descontentes, porque<br />
continuavam ainda sob o jugo do despotismo, não o da<br />
monarquia absoluta mas o despotismo dos homens do<br />
dinheiro; setores tradicionais da nobreza e do clero<br />
conspiravam, com a anuência do Rei, para tentar<br />
restaurar o Antigo Regime. Aos poucos, as forças<br />
revolucionárias presentes na Assembleia Nacional foram<br />
se dividindo e definindo posições políticas.<br />
Os grupos políticos organizavam-se para definir suas<br />
posições: No recinto da Assembleia, sentava-se à<br />
esquerda o partido liderado por Robespierre, adeptos da<br />
continuidade de implementação de mudanças radicais e<br />
com base de apoio popular: eram os Jacobinos ou<br />
Montanheses (assim chamados por se sentarem nas<br />
partes mais altas da Assembleia); destacavam-se entre as<br />
lideranças dos Jacobinos, nomes como Jean Paul Marat,<br />
Georges Danton, Herbert, Saint Just e outros (alguns<br />
desses personagens, ao se posicionarem em favor da<br />
República e do sufrágio universal masculino, mais<br />
radicais, portanto, eram chamados de Cordeliers); no<br />
lado oposto, à direita, sentavam-se os republicanos<br />
constitucionalistas, defensores da alta burguesia,<br />
identificados como Girondinos, defensores de posições<br />
mais moderadas, temerosos da radicalização da<br />
revolução; na extrema direita, encontram-se alguns<br />
remanescentes da aristocracia que ainda não emigrara,<br />
conhecidos pelo nome de negros ou aristocratas, que<br />
pretendiam a restauração do poder absoluto. Haviam<br />
ainda os Feuillants, monarquistas constitucionais, que<br />
representavam os interesses da burguesia financeira.<br />
A situação externa também gerava preocupação e<br />
apreensão na Franca. Em Agosto de 1791, os governos<br />
da Áustria e da Prússia, motivados pela nobreza francesa<br />
emigrada a seus territórios, anunciavam a intenção de<br />
intervir na França para estancar o processo<br />
revolucionário. Ao Rei, uma declaração de guerra era<br />
necessária por parte da Franca, pois em caso de derrota<br />
de seu país, isso significaria o próprio retorno à ordem<br />
absolutista. Parte da burguesia, especialmente os<br />
girondinos, também se colocavam em favor da guerra,<br />
desfocando os riscos de radicalização da revolução e<br />
buscando obter ganhos e lucros com o conflito. Os<br />
jacobinos, inicialmente desconfiados com o risco de<br />
serem derrotados, entenderem que, somente a expansão<br />
da revolução poderia assegurar as vitórias já<br />
conquistadas.<br />
A Assembleia Legislativa francesa exigiu da Áustria e da<br />
Prússia um compromisso de não invasão e, como não foi<br />
atendida pelas monarquias absolutas, declarou guerra à<br />
20 de abril de 1792. Luís XVI exultava, pois esperava<br />
que os exércitos franceses fossem derrotados para que<br />
ele pudesse voltar ao poder como Rei absoluto; dessa<br />
forma, o Rei e a Rainha, a famosa Maria Antonieta,<br />
entram em contato com os inimigos, contribuindo aos<br />
exércitos inimigos com segredos militares.<br />
De início, sem a disposição das camadas populares para<br />
a luta, a atuação dos exércitos franceses foi um fracasso<br />
no campo de batalha. Enquanto as tropas invasoras<br />
avançavam no território francês, Robespierre denuncia<br />
na Assembleia, de forma exaltada, as suspeitas de traição<br />
do Rei e dos generais ligados a ele, que também estavam<br />
interessados na derrota da França Revolucionaria; o Rei<br />
a família seriam presos em agosto de 1792.<br />
315
Num discurso aos jacobinos, Robespierre dizia:<br />
Não! Eu não me fio nos generais e, fazendo exceções<br />
honrosas, digo que quase todos têm saudades da velha<br />
ordem, dos favores de que dispõe a Corte. Só confio no<br />
povo, unicamente o povo.”<br />
Nas ruas de Paris e das grandes cidades, os sans-culottes<br />
(maneira como os pobres das cidades se identificavam)<br />
se agitavam pedindo a prisão dos responsáveis pelas<br />
derrotas da França diante dos exércitos austríacos e<br />
prussianos. Foi grande a mobilização dos camponeses e<br />
sans-culottes na reação aos exércitos invasores,<br />
motivados pelo discurso das lideranças jacobinas de ser<br />
essa a única condição de preservação de suas conquistas.<br />
A 2 de setembro de 1792, chegou a Paris a notícia de que<br />
Verdun estava sitiada; Verdun era a última fortaleza<br />
entre Paris e a fronteira. Imediatamente, foi lançada uma<br />
proclamação aos cidadãos, “À s armas cidadãos, às<br />
armas! O inimigo está às portas!”, que estimulou<br />
numerosos batalhões populares a se empenharem pela<br />
salvação da revolução. Vários prisioneiros, suspeitos de<br />
ligação com o antigo regime, foram massacrados pela<br />
população e, a 20 de setembro de 1792, na Batalha de<br />
Valmy, consagrou –se a vitória dos exércitos franceses<br />
sobre o exército prussiano. Ainda sob o calor da vitória<br />
militar, foi oficializada a proclamação da República, a<br />
primeira da França. Agora, o órgão que governaria a<br />
França passaria a ser a Convenção, eleita por voto<br />
universal.<br />
girondinos, de tendência mais moderada, queriam mantêlo<br />
vivo, consideravam sua execução excessivamente<br />
radical e bastava-lhe a retirada do poder e a prisão; os<br />
jacobinos, atendendo às inquietações populares que<br />
consideravam o Rei um traidor e, apelando ao discurso<br />
da igualdade jurídica sem privilégios, defendiam a<br />
execução do monarca Luís XVI por crime de traição à<br />
Pátria. A proposta jacobina saiu vencedora e o Rei foi<br />
guilhotinado a 21 e janeiro de 1793, enquanto em<br />
outubro do mesmo ano seria a vez de sua esposa. Os<br />
jacobinos tornavam-se cada vez mais populares,<br />
ampliavam seu prestígio e eram apoiados pelos sansculottes.<br />
HINRICHTUNG LUDWIG SEC XVI. Execução de Luís XVI<br />
2.3 Segunda Fase – República – Convenção<br />
Nacional<br />
Com o monarca preso e acusado de traição, instituiu-se a<br />
Primeira República Francesa, representada pela<br />
Convenção, eleita pelo sufrágio universal, inicialmente<br />
com maioria girondina. Nessa segunda fase, a situação<br />
dos “partidos” políticos ficou mais nítida no interior da<br />
nova Assembleia. À direita, o grupo dos girondinos<br />
defendendo os interesses da burguesia, que nesse<br />
momento estava dominando a Convenção. No centro, o<br />
grupo da planície (ou pântano), defendendo os<br />
interesses da burguesia financeira, mas tendo uma atitude<br />
oportunista, em que oscilavam suas posições à esquerda<br />
ou à direita a partir de seus interesses específicos. À<br />
esquerda e no alto, a montanha (jacobinos), defensores<br />
dos interesses da pequena burguesia e dos populares.<br />
A primeira questão que se impôs à recém constituída<br />
Convenção dizia respeito ao que fazer com o Rei? Os<br />
O novo governo revolucionário francês fez reformas de<br />
vários níveis, mas todas elas extremamente moderadas,<br />
de tal forma que não questionassem o poder dos<br />
girondinos. As notícias da execução do Rei e as<br />
pretensões dos exércitos franceses em expandir os ideais<br />
revolucionários levaram os exércitos estrangeiros a se<br />
reorganizarem na Primeira Coligação contra a Franca,<br />
reavivando o conflito armado externo. Os girondinos no<br />
poder viam na guerra uma forma de aumentarem suas<br />
fortunas e, recorriam à especulação nos preços dos<br />
produtos (alimentos, roupas), ampliando seus ganhos. Na<br />
verdade, eram eles que os vendiam e quem os comprava<br />
era o povo que, em sua extrema pobreza, não podia<br />
comprar mercadorias caras. Assim explica-se parte da<br />
impopularidade dos girondinos.<br />
Enquanto isso, nas ruas os sans-culottes, nas bradavam<br />
por reformas, controle dos preços, mercadorias mais<br />
baratas e melhorias salariais. Nesse momento, os<br />
316
jacobinos (montanheses) começam a liderar as<br />
reivindicações e conseguem que se forme a Comissão de<br />
Salvação Publica, tendo por objetivo inicial controlar os<br />
preços e denunciar os abusos feitos pelos altos<br />
comerciantes girondinos.<br />
Agravando ainda mais a instabilidade interna, eclodiu em<br />
Março de 1793 a Revolta da Vendeia, levante camponês<br />
estimulado por padres refratários, no qual trabalhadores<br />
do campo se erguiam contra o recrutamento militar<br />
forçado contra a ação dos países absolutistas; os<br />
jacobinos acusaram o movimento de ser uma ameaça<br />
contrarrevolucionaria interna e valeu-se dessa<br />
instabilidade para declararem a necessidade de endurecer<br />
o regime, instalando o despotismo da liberdade, cujo<br />
maior objetivo seria conter a crise econômica e combater<br />
os inimigos internos e externos da revolução.<br />
REVOLTA DA VENDEIA<br />
Vendeia: revolução contra revolução<br />
Numa província no interior da França, camponeses,<br />
monarquistas e religiosos, tentaram deter a revolução<br />
republicana. Mais de 250 mil deles acabaram mortos,<br />
num dos maiores massacres da história contemporânea<br />
José Francisco Botelho | 01/04/2005 00h00<br />
Nos primeiros meses de 1793, quatro anos após o<br />
início da Revolução Francesa, a região da Vendeia, no<br />
oeste do país, encontrava-se em estado de alerta. Por<br />
todos os lados, circulava a notícia de que o governo da<br />
República (estabelecida após a queda da monarquia, em<br />
1792) acabava de ordenar o recrutamento de 300 mil<br />
homens. Em cada cidade e aldeia, os combatentes seriam<br />
sorteados entre os solteiros de 16 a 40 anos – e os<br />
recrutadores teriam a ajuda da Guarda Nacional para<br />
garantir que suas ordens fossem cumpridas. O motivo<br />
para essas medidas era bem claro: a França estava sendo<br />
atacada por uma poderosa coalizão de países europeus,<br />
que pretendiam, entre outras coisas, derrubar a República<br />
e restabelecer a monarquia no país. Essas razões, no<br />
entanto, pouco importavam para os artesãos e<br />
camponeses da Vendeia. Gente simples, trabalhadora e<br />
profundamente religiosa, os vendeanos sabiam que quem<br />
partisse para aquela guerra tinha pouquíssimas chances<br />
de voltar com vida. Murmúrios de descontentamento<br />
espalharam-se como um incêndio, tomando conta dos<br />
bosques, fazendas e vilarejos da província. Em 10 de<br />
março de 1793, dia marcado para o recrutamento, a<br />
insatisfação se transformou em violência. Armados de<br />
foices, facas e porretes, 3 mil camponeses reuniram-se ao<br />
toque dos sinos, invadiram as vilas de Machecoul e<br />
Saint-Florent-le-Viel e massacraram centenas de<br />
soldados republicanos. Em menos de uma semana a<br />
insurreição se espalhou por quase toda a província e<br />
várias regiões vizinhas, como Maine-et-Loire e Deux-<br />
Sèvres. Agora, não havia como voltar atrás: a Vendeia<br />
tornara-se o inimigo número um dos partidários da<br />
Revolução. O que começara como um levante de<br />
camponeses descontentes em breve se transformaria na<br />
mais sangrenta guerra civil que a França já vira.<br />
Até hoje, a revolta da Vendeia permanece um dos<br />
episódios mais obscuros e polêmicos da Revolução.<br />
Afinal de contas, como se explica um levante popular tão<br />
vasto e violento contra uma Revolução que acabou com<br />
as instituições feudais e extinguiu os privilégios da<br />
nobreza? Durante mais de um século, os defensores do<br />
governo revolucionário torceram o nariz diante desse<br />
dilema. A opinião do escritor Jules Michelet, autor de<br />
<strong>História</strong> da Revolução Francesa, é um bom exemplo<br />
desse desconforto: para ele, a revolta da Vendeia não<br />
passou de “um monstruoso mal-entendido, um incrível<br />
fenômeno de ingratidão, absurdidade e injustiça”.<br />
A verdade é que o recrutamento forçado serviu apenas<br />
como estopim da insurreição: as principais causas para o<br />
levante da “inexplicável Vendeia”, como foi apelidada<br />
pelos republicanos, eram muito mais profundas e<br />
complexas. Para os habitantes das zonas rurais, os<br />
primeiros meses da Revolução haviam representado a<br />
promessa de um mundo mais justo e de uma vida menos<br />
árdua. No entanto, as reformas de 1789 foram dominadas<br />
pela burguesia das grandes cidades – e quem mais lucrou<br />
com elas foram os proprietários e comerciantes urbanos.<br />
“A República não estava resolvendo os problemas<br />
imediatos da população rural. Pelo contrário, estava<br />
agravando-os”, diz a historiadora Beatriz Franzen, da<br />
Universidade do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.<br />
“Os impostos continuavam a subir e as pessoas<br />
continuavam passando fome. Por isso, os camponeses<br />
sentiam que a Revolução os havia deixado de lado.” Em<br />
1790, o descontentamento político aliou-se à indignação<br />
religiosa. Com o intuito de diminuir a influência da<br />
Igreja Católica sobre a população, o governo decretou<br />
que todos os padres deveriam jurar fidelidade à<br />
Constituição da República. Aqueles que se recusassem<br />
seriam expulsos de suas paróquias e proibidos de rezar a<br />
missa. A medida foi condenada pelo papa Pio VI e o<br />
governo revolucionário passou a ser tachado de inimigo<br />
317
da religião. Para os camponeses da Vendeia, católicos<br />
fervorosos, essa foi a gota d’água. “Nas zonas rurais, a<br />
Igreja exercia um papel de assistência social”, diz<br />
Beatriz. “Quando o estado e a Igreja se desentenderam, o<br />
povo sentiu-se abandonado e desprotegido.” A tensão<br />
cresceu sem parar durante os dois anos seguintes, até<br />
estourar de uma vez por todas em março de 1793. Como<br />
fariam os seguidores de Antônio Conselheiro durante a<br />
Guerra de Canudos, quase um século depois, os rebeldes<br />
vendeanos estavam dispostos a matar e morrer em nome<br />
de Deus.<br />
Para o governo da República – e para vários<br />
historiadores – a revolta da Vendeia representou uma<br />
cruzada da velha França, atrasada e reacionária, contra os<br />
valores dos novos tempos. Mas há quem discorde.<br />
“Embora se colocassem a favor do sistema monárquico,<br />
os camponeses não estavam simplesmente defendendo a<br />
velha ordem das coisas”, diz Alain Gérard, diretor do<br />
Centro Vendeano de Pesquisas Históricas. “Eles lutavam<br />
pelos mesmos valores que os revolucionários: igualdade,<br />
liberdade e fraternidade. O fato é que a Revolução havia<br />
se mostrado infiel a esses princípios, deixando de lado as<br />
aspirações da população rural e dando mostras de<br />
autoritarismo e brutalidade. Em vez de se manterem ao<br />
lado de uma revolução que os havia decepcionado, os<br />
camponeses resolveram lutar contra ela.”<br />
In:http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/vendeia-revolucaorevolucao-434168.shtml<br />
Entre maio e junho de 1793, o povo se levanta em Paris,<br />
cerca o prédio da Convenção e exige a prisão dos<br />
Deputados traidores, isto é, dos girondinos. Os jacobinos<br />
(montanheses) aproveitaram as manifestações de apoio<br />
dos sans-culottes e depuseram os girondinos, instaurando<br />
um novo governo.<br />
2.4. A fase do terror - a ditadura dos jacobinos<br />
Em busca do apoio do campesinato, os jacobinos recém<br />
alçados ao poder previram o loteamento de terras dos<br />
nobres emigrados e facilidades para que os camponeses<br />
pudessem adquiri-las, surgindo condições para o<br />
aparecimento de três milhões de pequenas propriedades<br />
na França. Para obter o apoio das camadas urbanas,<br />
foram votadas leis rigorosas contra especulação do trigo<br />
e os preços dos gêneros de primeira necessidade foram<br />
tabelados, a partir da Lei do Máximo.<br />
318<br />
No plano político, acresceram à Declaração dos Direitos<br />
do Homem e do Cidadão, o direito à insurreição, além de<br />
confirmar o regime republicano, através da nova<br />
Constituição de junho de 1793, que reafirmou o sufrágio<br />
universal e foi referendada por milhões de votos por<br />
meio de plebiscito. Essa Constituição estabeleceu a<br />
obrigatoriedade do ensino público gratuito e, até mesmo<br />
a imposição de um novo calendário, de caráter<br />
anticlerical.<br />
CALENDÁRIO REVOLUCIONÁRIO FRANCÊS<br />
Com a instauração da República através da formação<br />
da Convenção Nacional em 20 de setembro de 1792 e,<br />
principalmente, depois da chegada dos jacobinos ao<br />
poder, em 2 de julho de 1793, a Revolução Francesa se<br />
radicalizou, buscando transformar completamente a<br />
sociedade francesa. Uma das medidas usadas para<br />
empreender essa transformação profunda foi a criação de<br />
um novo calendário, diferente do calendário gregoriano,<br />
símbolo do cristianismo e do Antigo Regime<br />
Monárquico que havia sido extinto. Ele foi adotado a<br />
partir de 1793, mas seu início marcaria a data de 22 de<br />
setembro de 1792, dia da instauração da República.<br />
O objetivo era iniciar a marcação de uma nova era de<br />
ruptura com as tradições cristãs e mais próxima ao<br />
racionalismo burguês. O ano I, iniciado em 1792, era o<br />
ano da adoção da Constituição que havia instituído o<br />
sufrágio universal, a democratização.<br />
A elaboração do calendário foi obra do matemático<br />
Gilbert Romme, que manteve a divisão do ano em 12<br />
meses, mas com profundas alterações nas demais<br />
marcações. Os meses seriam compostos por trinta dias,<br />
divididos em semanas de 10 dias, que foram chamadas<br />
de decêndios. Os dias eram numerados de um a dez,<br />
recebendo os seguintes nomes: primidi, duodi, tridi,<br />
quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e décadi.<br />
Posteriormente, cada dia receberia um nome específico,<br />
retirado de elementos da natureza como plantas, animais,<br />
pedras etc. A quantidade de dias dentro desses meses<br />
somava 360 dias. E havia ainda a defasagem entre o<br />
tempo do calendário e o tempo dos movimentos da terra<br />
e dos demais astros celestes. Para isso instituiu-se cinco<br />
dias de feriados, os dias dos sans-culottes, mantendo<br />
ainda a utilização do dia bissexto a cada quatro anos.<br />
A marcação do tempo dentro de um dia também foi<br />
alterada com o estabelecimento do dia de 10 horas,<br />
contando cada hora com 100 minutos e cada minuto com
100 segundos. Pode-se perceber que a base do cálculo<br />
era a numeração decimal.<br />
Para a denominação dos meses, os revolucionários<br />
pediram que o poeta Fabre d’Eglantine criasse uma nova<br />
denominação para cada um deles. Sua inspiração foi<br />
encontrada na referência às estações do ano, ficando da<br />
seguinte forma o calendário:<br />
Outono<br />
Vindimiário (vendémiaire, remetendo à colheita da<br />
uva): 22 de setembro a 21 de outubro;<br />
Brumário (brumaire, remetendo às brumas, aos<br />
nevoeiros): 22 de outubro a 20 de novembro;<br />
Frimário (frimaire, remetendo às geadas): 21 de<br />
novembro a 20 de dezembro.<br />
Inverno<br />
Nivoso (nivôse, remetendo à neve): 21 de dezembro a<br />
19 de janeiro;<br />
Pluvioso (pluviôse, remetendo às chuvas): 20 de<br />
janeiro a 18 de fevereiro;<br />
Ventoso (ventôse, remetendo aos ventos): 19 de<br />
fevereiro a 20 de março.<br />
Primavera<br />
Germinal (germinal, remetendo à germinação): 21 de<br />
março a 19 de abril;<br />
Florial (floréal, remetendo às flores): 20 de abril a 19<br />
de maio;<br />
Prairial (prairial, remetendo aos prados): 20 de maio<br />
a 18 de junho.<br />
Verão<br />
Messidor (messidor, remetendo às colheitas): 19 de<br />
junho a 18 de julho;<br />
Termidor (thermidor, remetendo ao calor): 19 de<br />
julho a 17 de agosto;<br />
Frutidor (fructidor, remetendo ao fruto, à<br />
frutificação.): 18 de agosto a 20 de setembro.<br />
Os dias dos sans-culottes seriam entre 17 de setembro<br />
e 21 de setembro.<br />
Este calendário eliminou ainda os feriados religiosos,<br />
bem como os domingos utilizados pelos cristãos como<br />
dia de adoração a Deus. O resultado foi a oposição da<br />
população ao calendário, já que a sua maioria era cristã.<br />
Com a chegada de Napoleão ao poder, foram ordenados<br />
o fim da utilização do calendário revolucionário e a volta<br />
do calendário gregoriano a partir de 31 de dezembro de<br />
1805. O calendário revolucionário francês seria<br />
reutilizado somente nos dois meses de vigência da<br />
Comuna de Paris, em 1871.<br />
In:http://www.mundoeducacao.com/historiageral/calendario-revolucionariofrances.htm<br />
Os jacobinos, nos entanto, divergiam entre si, dividindose<br />
em facções discordantes quanto ao enfrentamento das<br />
oposições externas e as reformas internas. O grupo mais<br />
radical era comandada por Jean Paul Marat, chamados de<br />
enraivecidos; em oposição, defendendo maior moderação<br />
no enfrentamento dos opositores, estavam os indulgentes<br />
liderados por Danton. No centro, bastante interessado na<br />
manutenção do poder, estava o grupo liderado por<br />
Robespierre, à frente do Tribunal revolucionário, que se<br />
opôs aos demais grupos rivais.<br />
No dia 13 de julho de 1793, o ídolo popular Marat é<br />
assassinado por uma mulher membro do partido<br />
girondino. A popularidade do líder causou enorme<br />
comoção popular e, serviu de justificativa ao<br />
fortalecimento de Robespierre, que passou a empreender<br />
uma pratica violenta, que permitiu chamar o período de<br />
Fase do terror. Através da Lei de Suspeitos e da ação do<br />
Tribunal Revolucionário, milhares de pessoas foram<br />
conduzidas à morte, acusadas de contrarrevolução:<br />
nobres, camponeses, intelectuais, girondinos, membros<br />
do clero e, até mesmo, lideres jacobinos, como Danton.<br />
"Marat assassinato" di Jacques-Louis David<br />
A fúria da guilhotina sob o comando do líder<br />
Robespierre conduziu a revolução a um momento de<br />
fúria autodestrutiva, que grou um clima de profunda<br />
insegurança e desgaste do governo jacobino mesmo entre<br />
seus partidários e representações mais leais. Apesar de a<br />
319
ditadura dos jacobinos ter conseguido uma série de<br />
êxitos, como liquidar a contrarrevolução da Vendeia e<br />
obter várias vitórias contra os inimigos externos da<br />
revolução (entre esses inimigos, contava-se não só a<br />
Prússia e a Áustria, mas também a poderosa Inglaterra),<br />
isolou-se politicamente e tornou-se alvo da ação os<br />
grupos burgueses ligados à planície.<br />
A alta burguesia financeira, que na sua posição<br />
oportunista dentro do partido da planície, conseguiu<br />
sobreviver ao período do terror, conspirava contra o<br />
governo jacobino. Robespierre apela para os sansculottes,<br />
a fim de salvar seu governo. Mas onde estavam<br />
os líderes que podiam mobilizá-los? Todos executados.<br />
O governo jacobino estava só.<br />
No dia 27 de julho de 1794 (9 do Termidor, pelo novo<br />
calendário revolucionário), ao iniciar-se mais uma<br />
reunião da Convenção, Robespierre e seus partidários<br />
foram impedidos de falar, e contra eles foi<br />
imediatamente decretada a prisão. Seus partidários ainda<br />
fizeram uma desesperada tentativa de salvá-los,<br />
conclamando os sans-culottes para se manifestarem<br />
publicamente e pegarem em armas contra o golpe de<br />
Estado que estava sendo dado. Mas poucos atenderam<br />
aos seus apelos. No dia seguinte, Robespierre seria<br />
guilhotinado com mais 19 partidários, seguidos de mais<br />
71 lideres jacobinos nos dias seguintes, impondo-se o<br />
que foi chamado de Terror Branco e pondo fim à fase<br />
mais radical da Revolução Francesa, enquanto a<br />
burguesia mais conservadora reassumia o controle da<br />
Revolução.<br />
Maximilien de Robespierre<br />
320<br />
O novo governo apressa-se em tomar uma série de<br />
medidas para salvaguardar seus interesses: restaura a<br />
escravidão nas colônias (havia sido abolida<br />
anteriormente), acaba com a Lei do Máximo, que<br />
regulava os preços das mercadorias, (agora, poder-se-ia<br />
vender as mercadorias a preços os mais altos possíveis),<br />
e proíbe que se cante nas ruas a Marselhesa, o hino da<br />
revolução.<br />
2.5 Terceira Fase - O Diretório<br />
Em setembro de 1795, prepara-se a nova Constituição. A<br />
Convenção Revolucionaria desaparecia e cedia lugar a<br />
um tipo de governo exercido por um Diretório, composto<br />
por cinco membros representando o poder executivo, e<br />
duas Câmaras; uma delas era o Conselho dos Anciãos, e<br />
a outra, o Conselho dos Quinhentos, ambos<br />
representando o poder legislativo. O governo do<br />
Diretório suprimiu o voto universal, implementado pela<br />
Convenção e restabeleceu o voto censitário. Isto significa<br />
que todos os esforços feitos pela maioria do povo francês<br />
foram aproveitados pelas novas classes ricas.<br />
Internamente, a política do Diretório era totalmente<br />
voltada às novas classes ricas. O comércio ficou<br />
totalmente liberado e sem restrições, significando que os<br />
setores pobres da população arcavam com a alta dos<br />
preços e com a inflação. A corrupção havia se tornado<br />
quase oficial. A alta burguesia jogava desenfreadamente<br />
na bolsa para auferir lucros cada vez maiores.<br />
Alguns antigos militantes jacobinos, liderados por Graco<br />
Babeuf, exprimiam suas insatisfações no jornal A<br />
Tribuna do Povo, de propriedade do líder. Esse jornal<br />
clamava pela volta da Constituição de 1793 e pelo fim<br />
dos privilégios. Pedia também que o que fora proposto<br />
na Declaração dos Direitos do Homem não continuasse<br />
só no papel, como até então. Babeuf começa a conspirar<br />
e a organizar uma grande rebelião popular para tomar o<br />
poder e estabelecer uma sociedade mais justa e sem<br />
privilégios.<br />
Mas, um dos seus agentes militares denunciou a<br />
Conjuração dos Iguais (movimento assim conhecido).<br />
No dia l0 de maio de 1796, imediatamente, Babeuf e seu<br />
companheiro Buonarotti foram presos. Depois de um<br />
ano, Babeuf foi condenado à morte pela guilhotina. Esta<br />
tentativa de estabelecer um governo popular na França<br />
foi violentamente reprimida pelas altas classes<br />
enriquecidas.
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
Revolução francesa e feminina<br />
Mulheres lutaram ao lado dos homens pelos ideais<br />
revolucionários, enfrentando também o preconceito.<br />
Tania Machado Morin 8/12/2010<br />
Mulheres combatem ao lado de homens durante<br />
o período revolucionário, em 1793. Arquivos franceses<br />
registram dados biográficos de oitenta dessas guerreiras.<br />
Graco Babeuf<br />
A política externa do Diretório, por sua vez, política<br />
pautava-se pela tentativa de vencer os inimigos da<br />
França e, se possível, aumentar os domínios franceses na<br />
Europa, numa tentativa de anexação dos territórios<br />
conquistados, principalmente a leste (pedaços da atual<br />
Alemanha até o Rio Reno) e ao sul (a anexação de uma<br />
região chamada Lombardia, ao norte da Itália). O militar<br />
encarregado dessas anexações foi o jovem e habilidoso<br />
General Napoleão Bonaparte, que cumpriu perfeitamente<br />
a missão expansionista, já delineada nessa nova fase do<br />
capitalismo. Napoleão garantiu todos esses territórios ao<br />
governo do Diretório assinando um tratado com a<br />
Áustria, na cidade de Campo Fórmio, no qual esta<br />
reconhecia o direito da França de se apossar dessas<br />
regiões em troca de outras concessões.<br />
A situação era extremamente grave. A burguesia, em<br />
geral, apavorada com a instabilidade, esquecia seus<br />
ideais de liberdade, pregados alguns anos antes, e<br />
pensava num governo forte, numa ditadura, se fosse<br />
preciso, para restaurar a lei e a ordem, para restabelecer<br />
as condições de se ganhar dinheiro de uma forma segura.<br />
Todos sabiam que a única pessoa que poderia exercer um<br />
governo desse tipo deveria ser um elemento de prestigio<br />
popular e ao mesmo tempo forte o suficiente para manter<br />
com mão de ferro a estabilidade exigida pela burguesia.<br />
Nesse momento, quem reunia essas condições era o<br />
jovem general que tantas glórias já havia trazido para a<br />
França (e outras mais ainda estavam por ser<br />
conseguidas): Napoleão Bonaparte. No dia 10 de<br />
novembro de 1799 (18 de Brumário, pelo calendário<br />
revolucionário), Napoleão retorna do Egito, e, com o<br />
apoio de dois outros políticos, dissolvem o Diretório e<br />
estabelecem um governo conhecido pelo nome de O<br />
Consulado.<br />
“Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra<br />
como um bravo!”, declarou Marie-Henriette Xaintrailles<br />
em carta ao imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821).<br />
Indignada por lhe recusarem pensão de ex-combatente do<br />
Exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando<br />
fez sete campanhas do Reno como ajudante de campo, o<br />
que importava era o cumprimento do dever, e não o sexo<br />
de quem o desempenhava.<br />
Madame Xaintrailles não foi um caso isolado.<br />
Em 1792, quando a França declarou guerra à Áustria,<br />
voluntárias se alistaram no Exército para lutar ao lado<br />
dos homens contra as forças da coalizão austro-prussiana<br />
que ameaçavam invadir o país. Muitas se apresentaram<br />
com identidades falsas e disfarçadas de homem. Além de<br />
conseguirem se alistar, protegiam-se do risco da<br />
violência sexual. Quem eram as mulheres-soldados e por<br />
que se engajaram no conflito armado? E quais foram os<br />
motivos de sua relativa aceitação por parte de líderes<br />
revolucionários e companheiros de armas?<br />
Não se conhece o número exato de mulheressoldados<br />
durante o período revolucionário francês (1789-<br />
1799). Há oitenta casos registrados nos arquivos<br />
parlamentares, militares e policiais, e informações<br />
biográficas esparsas sobre apenas quarenta e quatro.<br />
Entretanto, existem muitas referências em imagens e<br />
testemunhos da época. O deputado Grégoire (1750-1831)<br />
as elogiou oficialmente: “E vós, generosas cidadãs que<br />
participaram da sorte dos combates”. Essas constatações<br />
nos permitem supor que elas eram mais numerosas e bem<br />
integradas à vida militar do que pode parecer. Quase<br />
todas vinham de meios sociais modestos. Eram filhas de<br />
pequenos camponeses e artesãos, e tinham apelidos<br />
como Felicité Vai-de-bom-coração ou Maria Cabeça-depau.<br />
A maioria era muito jovem, como Ana Quatrovinténs,<br />
que se alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na<br />
artilharia montada.<br />
As irmãs Fernig, com 17 e 22 anos, foram<br />
exceções: eram nobres, e combateram vestidas de<br />
321
homem no Exército do general Dumouriez (1739-1823),<br />
na fronteira da atual Bélgica. Fora da batalha, passeavam<br />
com roupas de mulher e carabina ao ombro. Tornaram-se<br />
heroínas nacionais. Quando sua casa foi arrasada pelos<br />
“ferozes austríacos”, o governo da Convenção Nacional<br />
(1792-1795) propôs que a reconstrução ficasse por conta<br />
da República.<br />
Antes da Revolução, os oficiais da nobreza<br />
desprezavam os soldados. Já os líderes revolucionários<br />
valorizaram o serviço militar como a forma mais elevada<br />
de compromisso do cidadão com o Estado. O discurso da<br />
defesa dos homens livres contra os tiranos da Europa<br />
atraiu as cidadãs mais destemidas que aliavam o<br />
sentimento patriótico ao gosto pela aventura. Era<br />
também uma forma de integração oficiosa à cidadania.<br />
Reine Chapuy, de 17 anos, declarou que se alistara pelo<br />
desejo ardente de combater os tiranos e compartilhar da<br />
glória de fulminá-los. Outras foram à guerra para<br />
acompanhar os maridos, amantes e irmãos, e acabaram<br />
lutando ao lado deles, unindo o sacrifício pela pátria ao<br />
devotamento conjugal e familiar. Algumas haviam<br />
“nascido na caserna”, e a carreira militar era seu caminho<br />
natural. As circunstâncias da Revolução tiveram também<br />
um aspecto de liberação. Quando tudo estava em jogo, as<br />
mulheres puderam inventar novos papéis para si<br />
próprias.<br />
Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados<br />
por parte dos companheiros de armas. O capitão Dubois<br />
e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhão de Paris.<br />
Ao ser ferido, sua esposa foi designada vice-capitã pelos<br />
outros soldados. Aos 19 anos, Liberté Barreau serviu<br />
com o marido no Regimento dos Pirineus Ocidentais. Foi<br />
intrépida na batalha: perseguiu os inimigos até sua<br />
debandada, e depois voltou para transportar o marido<br />
ferido para o hospital militar com a ajuda dos<br />
companheiros. Liberté impressionou pela coragem e pela<br />
devoção ao esposo. Rose Bouillon não foi menos<br />
heroica: continuou lutando na batalha mesmo após a<br />
morte do marido. Depois pediu dispensa do Exército para<br />
cuidar dos filhos do mesmo modo como havia se<br />
dedicado ao marido e à pátria. A Convenção Nacional<br />
lhe concedeu uma pensão de 300 libras e mais 150 para<br />
cada um de seus filhos em agosto de 1793.<br />
Mas havia vozes discordantes: alguns cidadãos<br />
se queixavam abertamente das mulheres promovidas a<br />
oficial, alegando que os soldados tinham vergonha de<br />
receber suas ordens. Diminuindo o mérito das<br />
combatentes, explicavam aquela coragem como exceção,<br />
atribuindo-a ao milagre da Liberdade. Apesar de seus<br />
serviços, as soldadas foram incluídas em decreto<br />
governamental que dispensava e excluía do Exército<br />
todas as “mulheres inúteis” ao esforço de guerra, isto é,<br />
todas que não eram cantineiras nem lavadeiras. Lazare<br />
Carnot (1753-1823), membro da Convenção Nacional<br />
que organizou o recrutamento em massa de 1793,<br />
lamentava o flagelo que destruía os exércitos<br />
revolucionários: as mulheres que acompanhavam as<br />
tropas. Elas atrapalhavam a marcha dos batalhões,<br />
consumiam uma parte necessária dos alimentos,<br />
quebravam a disciplina e eram fonte da dissolução dos<br />
costumes de todos os militares.<br />
O decreto nunca foi cumprido: as esposas e<br />
companheiras dos soldados continuaram seguindo as<br />
tropas, e a maioria das combatentes permaneceu no<br />
Exército como se nada tivesse acontecido. O capitão da<br />
sra. Fartier, canhoneira no 10º batalhão dos Federados<br />
Nacionais de Paris, autorizou-a por escrito a continuar<br />
servindo na companhia em junho de 1793, após a<br />
promulgação da lei. Em 26 de fevereiro de 1794, Ana<br />
Quatro-vinténs foi aplaudida no Clube dos Jacobinos,<br />
que fizeram uma coleta em seu favor. O Conselho<br />
Militar não viu razões para excluir do Exército a cidadã<br />
Felicité Vai-de-bom-coração, devido ao seu<br />
comportamento irrepreensível. Houve mulheres-soldados<br />
até nas guerras napoleônicas (1799-1815). Um exemplo<br />
desse período foi Madame Xaintrailles, que se tornou<br />
ajudante de campo do general Menou (1750-1810) com a<br />
recomendação do próprio Lazare Carnot em 1795, dois<br />
anos depois da lei de exclusão.<br />
O número expressivo de prêmios e aplausos às<br />
soldadas atesta a boa vontade dos chefes militares e até<br />
dos governantes em Paris. Mesmo levando-se em conta<br />
que elas transgrediam as normas de comportamento<br />
feminino, apropriando-se de atributos inerentemente<br />
masculinos como as armas e o serviço militar. As<br />
mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque<br />
tinham moral elevada, dignidade e bons costumes; eram<br />
combatentes, e não libertinas. Embora a violência não<br />
seja normalmente associada à mulher, na guerra elas<br />
matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um<br />
serviço à nação. Eram discretas, e muitas vezes seu sexo<br />
só era descoberto quando feridas na batalha. Essas<br />
qualidades eram importantes numa época em que o<br />
presidente do Comitê de Segurança Pública declarou que<br />
“sem moral não há República” (outubro de 1793)<br />
Muitas das guerreiras protagonizaram episódios<br />
de coragem incomum, como Marie-Angélique<br />
Duchemin-Brulon (1772-1859). Sargento do 42º<br />
322
egimento de Infantaria na Córsega, salvou o Forte<br />
Gesco sitiado pelos inimigos conseguindo um<br />
suprimento de pólvora no meio da noite, em maio de<br />
1794. Em agosto de 1851, aos 79 anos de idade, foi a<br />
primeira mulher a receber a Legião de Honra e a<br />
Medalha de Santa Helena do futuro Napoleão III.<br />
Chamam atenção as descrições sempre exaltadas dos<br />
feitos marciais das soldadas. A impressão é que elas<br />
foram mitificadas para figurar no panteão dos exemplos<br />
patrióticos de que a Revolução tanto precisava no<br />
dramático ano II – no calendário revolucionário,<br />
setembro de 1793 a setembro de 1794. Nesse período<br />
marcado pela radicalização política do terror, a nação<br />
também enfrentava a guerra externa, guerra civil,<br />
inflação, penúria e revoltas urbanas. O exemplo das<br />
guerreiras podia inspirar os cidadãos.<br />
De todo modo, as soldadas encarnavam as virtudes<br />
republicanas. Não era pouco. Por essa razão, Liberté<br />
Barreau e Rose Bouillon figuravam na Coletânea de<br />
Ações Heroicas e Cívicas dos Republicanos Franceses,<br />
publicada em 30 de dezembro de 1793. Enfrentando a<br />
morte, também deram a vida, dedicaram-se com amor<br />
aos maridos e filhos. Cuidaram de doentes e feridos com<br />
a doçura e o altruísmo associados à imagem feminina.<br />
Sacrificaram-se pela pátria sem esquecer as virtudes de<br />
seu sexo. Eis aí o grande mérito. Numa República<br />
marcada por apelos à moral, as mulheres-soldados<br />
contribuíram com um modelo de comportamento<br />
feminino positivo.<br />
Tania Machado Morin é autora da dissertação “Práticas e Representações das<br />
Mulheres na Revolução Francesa – 1789-1795” (USP, 2009).<br />
Saiba Mais - Bibliografia<br />
MARAND-FOUQUET, Catherine. A mulher no tempo da revolução. Lisboa:<br />
Inquérito 1993.<br />
BERTAUD, Jean-Paul, « Les femmes et les armées » IN La vie quotidienne des<br />
soldats de la Révolution, Paris Hachette, 1985.<br />
GODINEAU, Dominique, Citoyennes Tricoteuses – Les femmes du peuple à<br />
Paris pendant la Révolution Française, Paris, Editions Alinea, Perrin, 2004.<br />
Saiba Mais - Internet<br />
MARTIN, J.C., « Travestissements, impostures et la communauté historienne. A<br />
propos des femmes soldats de la révolution et de l’Empire », Politix 2006/2, no.<br />
74, p. 31-48. www.cairn.info/article.php?ID<br />
323
ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA<br />
324<br />
1. Introdução<br />
Nos anos finais do século XVII, o continente europeu<br />
passava por uma profunda instabilidade, marcada<br />
especialmente pelos desdobramentos violentos do<br />
processo revolucionário francês. Colocavam-se em lados<br />
opostos, a burguesia sequiosa por mudanças de ordem<br />
liberal e as ameaças conservadoras de grupos<br />
monarquistas; no entanto, radicalizações jacobinas de<br />
representações populares, ampliavam ainda mais a<br />
intranquilidade daquele período. Se na França o<br />
movimento se consagrava, as monarquias tradicionais<br />
europeias, temerosas do avanço dos ideais<br />
revolucionários em seus países, aliaram-se para lutar<br />
contra o expansionismo francês.<br />
Com o golpe de 18 Brumário (10 de novembro de<br />
1799) que marcou o final do processo revolucionário<br />
francês, iniciou-se um novo e destacado período<br />
identificado como a Era Napoleônica. Após derrubar o<br />
governo do Diretório, Napoleão Bonaparte tornou-se a<br />
figura central da organização política francesa,<br />
governando por um período de aproximadamente 15<br />
anos, quando estendeu sua influência por boa parte do<br />
território europeu e acarretou modificações inclusive do<br />
outro lado do Atlântico.<br />
O período de governo de Napoleão Bonaparte pode ser<br />
dividido em: Consulado (1799 - 1804), Império (1804 -<br />
1815) e Governo dos Cem Dias.<br />
Vejamos os principais acontecimentos que marcaram<br />
cada uma dessas etapas.<br />
2. Consulado<br />
Após a derrubada do Diretório, a República Francesa<br />
passou a ser administrada pelo Consulado, constituído<br />
por três cônsules (Napoleão, Roger Ducos e Sieyès), que<br />
deveriam ocupar mandato temporário de 05 anos.<br />
Porém, ao final de 1799, foi votada uma Constituição,<br />
que elevou Napoleão ao status de primeiro-cônsul da<br />
República, estendendo seu mandato para dez anos e<br />
dando-lhe poder efetivo de decisão, enquanto aos outros
ecaía apenas funções consultivas. Teve início, então,<br />
uma verdadeira ditadura militar, disfarçada pelas<br />
instituições aparentemente democráticas criadas pela<br />
Constituição (Senado, Tribunal, Corpo Legislativo e<br />
Conselho de Estado).<br />
Durante o governo do Consulado, a alta burguesia<br />
consolidou-se como classe dirigente da França.<br />
Atendendo aos interesses dos grupos privilegiados da<br />
burguesia, Napoleão combateu internamente os projetos<br />
de radicalização popular, coibindo as reuniões e<br />
associações de trabalhadores e buscando diminuir as<br />
insatisfações das classes empobrecidas urbanas por meio<br />
da oferta de empregos e dos trabalhadores rurais por<br />
meio de financiamentos para a produção agrícola. Por<br />
meio de uma severa censura à imprensa e da ação<br />
violenta dos órgãos policiais, as oposições políticas do<br />
governo foram aniquiladas.<br />
Ainda nessa fase, em paralelo ao fortalecimento de sua<br />
autoridade, Napoleão tomou medidas para promover a<br />
recuperação econômica da França e pela sua<br />
reorganização jurídica e administrativa. Destacamos a<br />
centralização da cobrança dos impostos, a criação do<br />
Banco da França para direcionar os investimentos em<br />
áreas estratégicas e a adoção do franco como novo<br />
padrão monetário. Buscando modernizar a estrutura<br />
produtiva, Napoleão criou a Sociedade de Fomento à<br />
Industria, que tinha como objetivo estimular o<br />
desenvolvimento industrial do país. Por meio dela e de<br />
uma vasta reforma educacional, Napoleão estimulou<br />
concursos de invenções e formações técnicas em seus<br />
liceus, criando um corpo de funcionários competentes às<br />
funções públicas e à modernização industrial do país.<br />
Também nesse período, Napoleão retomou a relação com<br />
o Papado, ao promover a Concordata com a Igreja que<br />
reconheceu o catolicismo como religião oficial e colocou<br />
as ordens religiosas sob proteção do Estado. Na<br />
restruturação jurídico administrativa, foi aprovado o<br />
Código Civil Napoleônico; tratou-se do principal<br />
instrumento de afirmação dos interesses burgueses no<br />
novo governo francês, reafirmando princípios liberais<br />
como a garantia das liberdades individuais e da<br />
igualdade jurídica, a supremacia de um Estado secular,<br />
proteção à propriedade privada, instituição do casamento<br />
civil e a proibição de greves e organização de<br />
associações de trabalhadores.<br />
Os sucessos do governo de Napoleão entusiasmavam as<br />
classes dominantes francesas, levando Napoleão a se<br />
esforçar por mais um mecanismo de centralização<br />
política em 1802, quando tornou-se cônsul vitalício e<br />
ganhou o direito de indicar seu sucessor. Na prática,<br />
essa medida representava a instituição de um regime<br />
monárquico, o que veio a ser confirmado em 1804,<br />
quando por plebiscito, a população francesa votou pela<br />
nomeação do general como Imperador.<br />
3. Império<br />
Sagração do Imperador Napoleão I<br />
Com o sucesso inicial de seu governo, Napoleão<br />
mobilizou a opinião pública para a implantação<br />
definitiva do Império. Em 1804, foi realizado um<br />
plebiscito, pelo qual quase 60% dos votantes<br />
confirmaram o estabelecimento da monarquia e a<br />
indicação de Napoleão para Imperador. Imediatamente,<br />
Napoleão conferiu títulos de nobreza a seus familiares,<br />
nomeando-os para os mais altos cargos do império,<br />
constituindo uma nova aristocracia ligada ao Imperador,<br />
acompanhado de um aumento circunstancial da censura e<br />
repressão. Formou-se uma nova Corte com membros da<br />
elite militar, alta burguesia e antiga nobreza. Como<br />
símbolo do poder do Império Napoleônico, construíramse<br />
grandes obras, como o Arco do Triunfo (inspirado na<br />
arquitetura clássica romana).<br />
Além da crescente centralização imperial, valendo-se do<br />
enorme prestigio entre os militares, Napoleão como<br />
imperador e comandante supremo das forças armadas,<br />
moveu uma série de guerras para expandir o domínio da<br />
França em outras regiões, sob a desculpa de divulgar os<br />
ideais liberais da Revolução Francesa.<br />
O exército francês foi fortalecido em armas e em<br />
soldados, tornando-se o mais poderoso da Europa<br />
Continental. Já desde o final do século XVIII, os países<br />
europeus de orientação política absolutista formaram<br />
325
coligações para resistir à difusão das ideias<br />
revolucionarias. Agora, no começo do século XIX, era<br />
necessário resistir também ao expansionismo<br />
napoleônico. Desse modo, Áustria, Prússia e Rússia,<br />
lideradas pela Inglaterra, formaram várias coligações<br />
para conter o império, francês.<br />
O envolvimento da Inglaterra no combate às pretensões<br />
expansionistas da franca não estava relacionado aos<br />
interesses liberais que eram propagados, mas na disputa<br />
entre as duas nações pelo mercado de industrializados,<br />
realçando as históricas rivalidades entre ingleses e<br />
franceses.<br />
Em outubro de 1805, Napoleão tentou empreender uma<br />
derrota militar contra a Inglaterra, mas a marinha<br />
francesa foi derrotada pelos ingleses, comandados pelo<br />
almirante Nelson, na Batalha de Trafalgar.<br />
Recuperando-se rapidamente dessa derrota marítima,<br />
Napoleão direcionou-se para o centro e leste da Europa,<br />
onde conseguiu brilhantes vitórias sobre a Áustria<br />
(dezembro de 1805), e sobre os exércitos prussianos<br />
(1806) e russos (1807).<br />
Inconformado com a derrota para os ingleses, Napoleão<br />
procurou outros meios para enfraquecer a Inglaterra. Em<br />
1806, decretou o Bloqueio Continental à Inglaterra,<br />
determinando que todos os países do continente europeu<br />
fechassem seus portos ao comércio inglês. A ordem<br />
napoleônica, de modo geral, foi acatada, pois boa parte<br />
da Europa estava sob domínio ou influência da França. O<br />
objetivo de Napoleão era arruinar economicamente a<br />
Inglaterra, provocando uma crise em seu comércio e sua<br />
indústria, ao mesmo tempo que abria um novo mercado à<br />
indústria francesa em gestação.<br />
Assinando com a França a Paz de Tilsit (julho de 1807),<br />
o czar russo Alexandre também aderiu ao Bloqueio.<br />
Portugal, depois de muita indefinição, não aderiu ao<br />
Bloqueio Continental, o que levou as tropas francesas,<br />
comandadas pelo general Junot, a invadirem a capital do<br />
país, obrigando D. João a fugir para o Brasil.<br />
Por volta de 1812, o Império Napoleônico atingiria sua<br />
máxima extensão, dominando quase toda a Europa<br />
Ocidental. Compreendia cerca de 150 departamentos<br />
administrativos, com uma população global estimada em<br />
50 milhões de habitantes (toda a Europa possuía,<br />
aproximadamente, 175 milhões de habitantes).<br />
Apesar da incontestável supremacia militar de Napoleão<br />
nos embates por terra, e do sucesso de sua ação<br />
expansionista, devemos considerar que ela jamais<br />
ocorreu sem contestação, que se fortaleceu especialmente<br />
a partir de 1810 nas áreas dominadas. Até mesmo na<br />
França, a população lamentava os milhares de soldados<br />
sacrificados nos campos de batalha, enquanto a reação<br />
nacionalista dos povos conquistados se mantinha, a<br />
exemplo da Guerra Peninsular na Península Ibérica.<br />
No plano econômico, o Bloqueio Continental imposto à<br />
Inglaterra não surtiu todos os efeitos desejados. A<br />
indústria francesa não estava em condições plenas de<br />
abastecer todos os mercados da Europa, levando grande<br />
parte dos países a envolver-se no contrabando dos<br />
produtos com a Inglaterra<br />
Melhor exemplo do desgaste do Bloqueio, ocorreu com a<br />
Rússia, país basicamente agrícola, foi obrigada a<br />
abandoná-lo em dezembro de 1810. Enfrentando grave<br />
crise econômica, precisava negociar sua produção de<br />
cereais por produtos industriais ingleses, enfrentando as<br />
imposições francesas e proibição do comercio. Em<br />
1812, Napoleão decidiu invadir a Rússia, organizando,<br />
para isso, um poderoso exército composto de<br />
aproximadamente 600 mil homens e 180 mil cavalos.<br />
Mapa ilustrativo do Bloqueio Continental de 1806<br />
Napoleão chegou a atingir a cidade de Moscou e ocupou<br />
o Kremlin (palácio do czar), porém suas tropas, mal<br />
alimentadas e extremamente cansadas, começaram a ser<br />
vitimadas pelo rigoroso inverno russo. O desgaste das<br />
tropas francesas com o prolongamento inesperado da<br />
ofensiva na Rússia e prejudicados pela destruição de<br />
abrigos e fontes de alimentos e agua pelas tropas russas,<br />
levaram ao recuo do território russo. Teve início à<br />
dramática retirada do exército de Napoleão, mas a<br />
maioria dos soldados morreu na viagem de volta. Dos<br />
600 mil soldados que partiram para a Rússia, apenas 30<br />
326
mil conseguiram regressar, famintos e esfarrapados, à<br />
capital francesa.<br />
A desastrosa campanha do exército francês na Rússia<br />
estimulou outros países europeus a reagirem contra a<br />
dominação napoleônica. Com a fragilidade dessas<br />
tropas, os franceses seriam derrotados na famosa<br />
Batalha das Nações, em Leipzig pelos exércitos<br />
combinados da Áustria, Rússia, Prússia e Suécia. A<br />
ofensiva continuou em perseguição às tropas em retirada,<br />
levando os inimigos a avançarem até a tomada de Paris,<br />
em 6 de abril de 1814, um grande exército composto por<br />
ingleses, russos, austríacos e prussianos invadiu Paris.<br />
Napoleão foi derrubado do poder. O trono francês foi<br />
assumido por Luís XVIII, irmão de Luís XVI, que fora<br />
guilhotinado durante a Revolução Francesa. Obrigado a<br />
abdicar, Napoleão perdeu controle sobre regiões como<br />
Bélgica, Holanda, Suíça e Espanha, e foi exilado na ilha<br />
de Elba, onde viveria com pensão garantida pelo Estado<br />
francês.<br />
forjada por uma coligação de forças internacionais, que<br />
rapidamente se reorganizou e marchou contra a França,<br />
conseguindo derrotar definitivamente Napoleão, na<br />
Batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Preso<br />
pelos ingleses, Napoleão foi exilado na ilha de Santa<br />
Helena, no Atlântico Sul, onde permaneceu até a morte<br />
(1821). Luís XVIII foi reconduzido ao trono francês,<br />
ainda em 1815.<br />
5.Reação conservadora - Congresso de Viena<br />
Charge ilustrativa do Congresso de Viena<br />
Imagem ilustrativa da derrota das tropas napoleônicas em sua retirada da Rússia<br />
4. Governo dos Cem Dias<br />
Em março de 1815, contando com o apoio de boa parte<br />
dos oficiais, Napoleão Bonaparte fugiu da ilha de Elba<br />
decidiu regressar à França, prometendo reformas<br />
democráticas. O rei era impopular e as tropas enviadas<br />
para prender Napoleão acabaram unindo-se a ele aos<br />
gritos de Viva o Imperador!<br />
Chegando a Paris como herói, Napoleão instalou-se no<br />
poder, em março de 1815, expulsando Luís XVIII e<br />
iniciando o “Governo dos Cem Dias”. Sua curta<br />
permanência no poder foi decorrência de uma reação<br />
Após a derrota de Napoleão Bonaparte, os dirigentes dos<br />
países vencedores organizaram o Congresso de Viena<br />
(1814-1815). Embora fossem muitos os países<br />
representados, cinco potencias estiveram à frente daquele<br />
encontro diplomático (França, Inglaterra, Áustria, Rússia<br />
e Prússia). O objetivo básico do Congresso era propor<br />
medidas para restabelecer o equilíbrio político do<br />
continente europeu, tendo em vista os interesses das<br />
monarquias conservadoras. Derrotada, a França teve que<br />
se submeter a uma série de imposições. Por exemplo:<br />
pagar uma indenização de 700 milhões de francos aos<br />
vencedores, em razão dos prejuízos da guerra, além de<br />
perder os territórios do Sarre, Sabéia e Tobago<br />
Entre as principais propostas firmadas no Congresso de<br />
Viena, destacam-se:<br />
327
Restauração - retorno à situação política europeia que<br />
prevalecia no Antigo Regime, objetivando retomar a<br />
ordem absolutista e os privilégios do clero e nobreza.<br />
Essa medida reflete o espírito conservador que marcou o<br />
Congresso de Viena;<br />
Legitimidade - devolução do governo de cada país<br />
aos herdeiros das antigas monarquias absolutistas. Por<br />
isso, Luís XVIII, da dinastia dos Bourbon, reassumiu o<br />
trono francês; também na Espanha, os Bourbons<br />
retornaram ao poder e, garantia-se o direito dos Braganca<br />
em Portugal.<br />
Equilíbrio – O Congresso elaborou um novo mapa<br />
europeu, baseado em princípios de compensações, em<br />
nome de um suposto equilíbrio a ser assegurado na<br />
Europa. A Prússia anexou a Saxônia, West falia, parte da<br />
Polônia e a região do Rio Reno, retirada da Franca.<br />
A Áustria incorporou regiões da península Balcânica,<br />
mas perdeu a Bélgica, incorporada a Holanda formando<br />
o reino dos Países Baixos e, foi obrigada a aceitar a<br />
Confederação Germânica, conjunto de 38 estados<br />
independentes que mais tarde se uniria à Prússia na<br />
formação da Alemanha. À Rússia, coube parte da<br />
Bessarábia, e territórios da Polônia e Finlândia. A<br />
Inglaterra, visando uma projeção mais ampla em regiões<br />
estratégicas do globo, adquiriram a ilha de Malta, no<br />
mediterrâneo, a colônia de Cabo, no extremo sul africano<br />
e o Ceilão, no Indico.<br />
Solidariedade - aliança político-militar entre as<br />
tradicionais monarquias europeias, com o objetivo de<br />
reprimir a onda liberal e democrática lançada pela<br />
Revolução Francesa.<br />
Para garantir, em termos práticos, a aplicação das<br />
medidas conservadoras do Congresso de Viena, o czar<br />
Alexandre I propôs, em 1815, a criação da Santa<br />
Aliança. A Santa Aliança era formada por países<br />
cristãos, que se comprometiam a se defender<br />
mutuamente e a combater movimentos liberais<br />
revolucionários. Sua base política e ideológica era a<br />
aliança entre duas forças tradicionais: o trono e o altar,<br />
isto é, a monarquia e a Igreja. Os monarcas da Áustria,<br />
da Rússia, da Prússia e de algumas outras nações<br />
europeias aderiram à Santa Aliança, assumindo o direito<br />
de intervir em qualquer país onde surgisse um<br />
movimento revolucionário inspirado no liberalismo<br />
democrático.<br />
328<br />
O objetivo da Santa Aliança era conter, a qualquer<br />
preço, os movimentos nacionalistas que despontavam<br />
em várias regiões da Europa e os movimentos<br />
emancipacionistas nas colônias da América.<br />
A Inglaterra negou-se a participar da Santa Aliança<br />
porque apoiava os movimentos de independência na<br />
América Latina, pois visava mercados para seus produtos<br />
industriais. Desenvolvendo a economia industrial, a<br />
Inglaterra era defensora do liberalismo e contrária às<br />
intervenções militares propostas pelos conservadores da<br />
Santa Aliança.<br />
Napoleão<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
Retratado de muitas formas, ele já foi Cristo e o<br />
Diabo. Conheça sua iconografia. Adriano Belizário<br />
26/4/2010<br />
Garoto-propaganda de maionese, baixinho careca,<br />
nome para peça de fuscas e galã conquistador. Napoleão<br />
já foi retratado de muitas maneiras. Em meio a esta<br />
diversidade, a historiadora da USP Raquel Stoiani<br />
apresentou imagens do Imperador, discutindo o contexto<br />
político que influenciou as representações. Já Lúcia<br />
Maria Bastos, pesquisadora da Universidade Estadual do<br />
Rio de Janeiro, tratou das biografias escritas sobre<br />
Bonaparte, no debate de abril do projeto Biblioteca<br />
Fazendo <strong>História</strong>.<br />
Stoiani contou que seu interesse em pesquisar a<br />
iconografia de Napoleão surgiu quando ela conheceu<br />
“General Bonaparte na Ponte de Arcole”, quadro do<br />
artista francês Antoine-Jean Gros que retrata o<br />
comandante de modo pouco usual. “Não conseguia<br />
imaginar como esse rapaz esbelto e cheio de energia<br />
fosse também aquele retratador por Jacques-Louis<br />
David”, disse.<br />
A imagem de Napoleão em seu gabinete com a mão<br />
dentro do casaco se tornou um paradigma para a<br />
representação de outros grandes estadistas, como Stálin e<br />
D. Pedro II, que possuem quadros com “poses<br />
napoleônicas”. “Há quem diga que ele sofria de úlceras e<br />
a mão poderia estar como que aliviando as dores, mas<br />
não existe nada categórico afirmando isto”, explica a<br />
historiadora.
Ele aparece tocando vítimas da peste, enquanto um<br />
de seus oficiais parece recomendar que ele se afaste.<br />
Depois de anos de revolução, Napoleão aparece como o<br />
imperador taumaturgo. Não é mais o homem que mata, é<br />
aquele que toca, que vem curar”, analisou Stoiani.<br />
Como não poderia deixar de ser, uma das questões<br />
levantadas pela plateia para as especialistas tentava<br />
descobrir qual foi afinal a posição em que Napoleão<br />
perdeu a guerra. Raquel Stoaini apresentou duas<br />
anedotas sobre o assunto que são conhecidas na <strong>História</strong>.<br />
“A primeira conta que muitos soldados franceses<br />
morreram congelados e caiam duros com o bumbum para<br />
cima. Já outra diz que Napoleão teve um desarranjo<br />
intestinal durante a batalha de Waterloo”, disse. Ao que<br />
Lúcia relembrou de um episódio semelhante em nossa<br />
história: “Também dizem que D. Pedro também teve um<br />
problema parecido e, por isso, foi ao rio Ipiranga. Será<br />
que ele estava imitando Napoleão até nisso?”, brincou.<br />
Outro quadro de Gros destacado por Stoaini foi o<br />
"Bonaparte visitando as vítimas da peste de Jaffa". A<br />
obra retrata um episódio polêmico da vida de Napoleão.<br />
Em 1799, o estrategista ordenou a morte de milhares de<br />
soldados otomanos que haviam se rendido em troca da<br />
garantia de continuarem vivos. O massacre durou três<br />
dias e se tornou uma das maiores manchas na biografia<br />
de Bonaparte.<br />
Cinco anos depois, Napoleão solicitou a Gros um<br />
quadro sobre sua passagem por Jaffa. Mas o que se vê<br />
nele está longe de ser o general impiedoso descrito nos<br />
livros de <strong>História</strong>. “Gros se inspirou nas pinturas<br />
renascentistas de Lázaro e mostra Napoleão como um<br />
Jesus Cristo.<br />
Já no Brasil, a imagem de Napoleão no Brasil não era<br />
nada cristã. Segundo Maria Bastos, existem cerca de<br />
cinco mil escritos da época que circularam no Rio de<br />
Janeiro mencionando o Imperador. Nas críticas, havia de<br />
tudo. “Dizia-se que ele era demônio vomitado pelo<br />
inferno, um castigo de Deus contra os homens por<br />
estarem se afastando da Igreja Católica. Existiam até<br />
receitas para se fazer Napoleão com ingredientes como<br />
unha de tigre, calda de pavão e etc.”, relata a<br />
historiadora.<br />
Mesmo no caso de obras sob encomenda, nem<br />
sempre o resultado era o ideal. A escultura de Napoleão<br />
como “Marte Pacificador”, do artista italiano Antonio<br />
Canova, por exemplo, não agradou o Imperador, que<br />
rejeitou a obra depois de pronta. A proposta por trás do<br />
título da obra é clara: demonstrar Bonaparte como um<br />
estrategista que usa a guerra para instaurar a paz, uma<br />
retórica viva até hoje entre as grandes potências.<br />
Canova levou a sério a inspiração em Marte e<br />
esculpiu Napoleão nu, quase como um deus grego.<br />
“Bonaparte ficou horrorizado com aquela idealização<br />
física. Depois falam que Photoshop é coisa de hoje em<br />
dia. Napoleão já tinha uma barriguinha e não tinha nada<br />
daquele porte da estátua”, comentou Raquel Stoaini.<br />
329
EXERCÍCIOS<br />
1. (Fuvest 2013) As guerras napoleônicas, entre o final<br />
do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX,<br />
tiveram consequências diretas muito importantes para<br />
diversas regiões do mundo.<br />
Mencione e explique uma delas, relativa<br />
a) ao leste da Europa;<br />
b) ao continente americano.<br />
2. (UEG 2012) Em 1804, Napoleão Bonaparte recebeu o<br />
título de Imperador, mediante um plebiscito. Durante sua<br />
cerimônia de coroação, ele retirou do Papa a coroa e<br />
colocou-a em sua cabeça com as próprias mãos.<br />
Esse gesto ousado representou<br />
O que não se sabe é se isto teria sido intencional, para<br />
“alfinetar” o Imperador, uma vez que Canova se<br />
ressentia pela espoliação artística de Napoleão durante a<br />
conquista da Itália. Tanto que, após a queda do militar, o<br />
artista foi encarregado pelo Papa de repatriar as obras.<br />
“Napoleão como Marte Pacificador” teve um destino<br />
inusitado: foi vendida ao governo inglês. Por sua vez, a<br />
Rainha a doou para o Duque de Wellington, que derrotou<br />
Bonaparte em Waterloo. Assim, a estátua de Napoleão<br />
como o deus da guerra foi parar na porta da casa de seu<br />
algoz.<br />
O contraponto na visão brasileira da época sobre<br />
Bonaparte ficou por conta de Caetano Lopes de Moura,<br />
baiano que serviu no exército do Imperador e dizia ter<br />
dois ídolos: D. Pedro II e Napoleão. A admiração foi<br />
tanta que Caetano escreveu uma biografia sobre<br />
Bonaparte. Maria Luísa de Áustria, tia do último<br />
Imperador brasileiro, também era segunda esposa de<br />
Napoleão. E, quando Caetano morreu, D. Pedro II<br />
ordenou a construção de um túmulo em sua homenagem<br />
em Paris.<br />
Se a figura de Napoleão como estadista é<br />
ultrapassada, o mesmo não se pode dizer do Imperador<br />
francês como legislador. Segundo Stoaini, há uma forte<br />
influência dos ideais napoleônicos em nosso Código<br />
Civil, por exemplo. Prova irrefutável de que Napoleão<br />
foi definitivamente deglutido no caldo cultura e político<br />
brasileiro.<br />
a) o rompimento entre a Igreja Católica Romana e o<br />
novo Estado Revolucionário Francês.<br />
b) que Napoleão estava assumindo todas as<br />
responsabilidades do Poder Moderador na França.<br />
c) que Napoleão, símbolo máximo da força da<br />
burguesia, considerava-se mais importante que a<br />
tradição da Igreja.<br />
d) a criação de uma religião de Estado, tendo como<br />
figura central o Imperador, a exemplo do<br />
Anglicanismo inglês.<br />
3. (PUCRJ2012) Surpreendidas pela invasão<br />
napoleônica em 1807, as duas Coroas ibéricas tiveram<br />
desdobramentos políticos diferenciados.<br />
No caso espanhol, a captura do Rei Fernando VII por<br />
Napoleão acelerou a luta pela autonomia nas cidades e<br />
províncias de todo o Império.<br />
No caso português, a transmigração da família real para a<br />
colônia permitiu desdobramentos mais lentos ao Império<br />
luso.<br />
Tendo em vista a conjuntura descrita acima,<br />
a) cite duas medidas tomadas pelo Príncipe Regente D.<br />
João, a partir de 1808, que tenham favorecido a<br />
manutenção do controle português sobre as províncias<br />
brasílicas e seus territórios;<br />
b) identifique uma característica das independências na<br />
América hispânica também encontrada nos movimentos<br />
pela independência ocorridos na América portuguesa.<br />
330
4. (UFU 2012) Texto 1<br />
Depois que o Estado ficou em estado de orfandade<br />
política devido à ausência e prisão de Fernando VII, os<br />
povos reassumiram o poder soberano. Ainda que seja<br />
verdade que a nação havia transmitido esse poder aos<br />
reis, sempre foi com um caráter reversível, não somente<br />
no caso de uma deficiência total, mas também no de uma<br />
deficiência momentânea e parcial.<br />
Fragmento do Regulamento da Divisão de Poderes, Buenos Aires, 1811. Apud<br />
PAMPLONA, Marco A. e MÄDER, Maria Elisa (orgs.). Revoluções de<br />
independências e nacionalismos nas Américas. Região do Prata e do Chile. São<br />
Paulo: Paz e Terra, 2007, p. 251.<br />
Texto2<br />
Para sustentar a escravidão dos povos, não têm outro<br />
recurso que transformar em mérito o orgulho de seus<br />
sequazes e cobri-los de distinções que criam uma<br />
distância imensa entre o infeliz escravo e seu pretendido<br />
senhor.<br />
Essa é a origem dos títulos de condes, marqueses, barões,<br />
etc., que a corte da Espanha prodigalizava para duplicar<br />
o peso de seu cetro de ferro que gravitava sobre a<br />
inocente América.<br />
Longe de nós tão execráveis e odiosas preeminências;<br />
um povo livre não pode ver brilhar o vício diante da<br />
virtude. Estas considerações estimularam a Assembleia a<br />
expedir a seguinte LEI: A Assembleia <strong>Geral</strong> ordena a<br />
extinção de todos os títulos de condes, marqueses e<br />
barões no território das<br />
Províncias Unidas do Rio da Prata.<br />
O redator da Assembleia, n. 9. 29 de maio de 1813. In. PAMPLONA, Marco<br />
Antônio e MÄDER,<br />
Maria Elisa (orgs.). Revoluções de independências e nacionalismos nas<br />
Américas; regiões do Rio da Prata e Chile. São Paulo: Paz e Terra, 2007, p.110.<br />
(Adaptado)<br />
Os textos apontam para ânimos distintos relativos ao<br />
processo de independência na América espanhola.<br />
a) Explique o contexto histórico europeu relacionado ao<br />
início do processo revolucionário na América espanhola.<br />
b) Identifique as mudanças no processo de<br />
independência do Rio da Prata a partir dos documentos<br />
acima apresentados.<br />
pertencente à Inglaterra, ou proveniente de suas fábricas<br />
e de suas colônias é declarada boa presa.<br />
(...)<br />
Artigo 7.º — Nenhuma embarcação vinda diretamente da<br />
Inglaterra ou das colônias inglesas, ou lá tendo estado,<br />
desde a publicação do presente decreto, será recebida em<br />
porto algum.<br />
Artigo 8.º — Qualquer embarcação que, por meio de<br />
uma declaração, transgredir a disposição acima, será<br />
apresada e o navio e sua carga serão confiscados como se<br />
fossem propriedade inglesa.<br />
(Excerto do Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte.<br />
Citado por Kátia M. de Queirós Mattoso.<br />
Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963),<br />
1977.)<br />
Esses artigos do Bloqueio Continental, decretado pelo<br />
Imperador da França em 1806, permitem notar a<br />
disposição francesa de<br />
a) estimular a autonomia das colônias inglesas na<br />
América, que passariam a depender mais de seu<br />
comércio interno.<br />
b) impedir a Inglaterra de negociar com a França uma<br />
nova legislação para o comércio na Europa e nas<br />
áreas coloniais.<br />
c) provocar a transferência da Corte portuguesa para o<br />
Brasil, por meio da ocupação militar da Península<br />
Ibérica.<br />
d) ampliar a ação de corsários ingleses no norte do<br />
Oceano Atlântico e ampliar a hegemonia francesa<br />
nos mares europeus.<br />
e) debilitar economicamente a Inglaterra, então em<br />
processo de industrialização, limitando seu comércio<br />
com o restante da Europa.<br />
6. (Fuvest 2011) A cena retratada no quadro simboliza a<br />
5. (UNESP 2011) Artigo 5.º — O comércio de<br />
mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria<br />
331
a) estupefação diante da destruição e da mortalidade<br />
causadas por um tipo de guerra que<br />
b) começava a ser feita em escala até então inédita.<br />
c) Razão, propalada por filósofos europeus do século<br />
XVIII, e seu triunfo universal sobre o autoritarismo<br />
do Antigo Regime.<br />
d) perseverança da fé católica em momentos de<br />
adversidade, como os trazidos pelo advento das<br />
revoluções burguesas.<br />
e) força do Estado nacional nascente, a impor sua<br />
disciplina civilizatória sobre populações rústicas e<br />
despolitizadas.<br />
f) defesa da indústria bélica, considerada força motriz<br />
do desenvolvimento econômico dos Estados<br />
nacionais do século XIX.<br />
7. (UFMG 2011) Em 21 de novembro de 1806, em<br />
Berlim, Napoleão Bonaparte assinou um decreto, em que<br />
se estabeleciam as bases do que ele próprio denominou<br />
Bloqueio Continental.<br />
Leia este trecho desse decreto:<br />
Considerando [...] Que a Inglaterra considera inimigo<br />
todo indivíduo que pertence a um Estado inimigo e, por<br />
conseguinte, faz prisioneiros de guerra não somente as<br />
equipagens dos navios armados para a guerra, mas ainda<br />
as equipagens das naves de comércio e até mesmo os<br />
negociantes que viajam para os seus negócios; [...]<br />
Decretamos o que segue:<br />
Artigo 1º As Ilhas Britânicas são declaradas em estado<br />
de bloqueio, Artigo 2º Qualquer comércio e qualquer<br />
correspondência com as Ilhas Britânicas ficam<br />
interditados [...]<br />
Artigo 3º Qualquer indivíduo, súdito da Inglaterra,<br />
qualquer que seja sua condição, que for encontrado nos<br />
países ocupados por nossas tropas ou pelas tropas de<br />
nossos aliados, será constituído prisioneiro de guerra.<br />
Artigo4º Qualquer loja, qualquer mercadoria, qualquer<br />
propriedade pertencente a um súdito<br />
da Inglaterra será declarada boa presa.<br />
Artigo 5º O comércio de mercadorias inglesas é proibido,<br />
e qualquer mercadoria pertencente à Inglaterra, ou<br />
proveniente de suas fábricas e de suas colônias é<br />
declarada boa presa.<br />
Campo Imperial de Berlim, 21 de novembro de 1806.<br />
A partir da leitura desse trecho e considerando outros<br />
conhecimento sobre o conflito, explique as diferenças<br />
relacionadas às políticas praticadas pela França e pela<br />
Inglaterra.<br />
8. (Fatec 2010) Considere a foto para responder à<br />
questão.<br />
O Arco do Triunfo foi iniciado por ordem de Napoleão<br />
Bonaparte em 1806, e a Paris dos boulevares (das<br />
avenidas) surgiu a partir da reforma urbana implantada<br />
pelo barão Haussmann, prefeito de Paris entre 1853 e<br />
1870, período em que a França era governada por Luís<br />
Bonaparte.<br />
A foto demonstra o resultado final dessas duas iniciativas<br />
que representam a vitória do projeto<br />
a) socialista de uma cidade em que seus espaços devem<br />
pertencer igualmente a todos os cidadãos.<br />
b) burguês em que o embelezamento da cidade, os<br />
parques, novos edifícios e monumentos devem<br />
atender mais às necessidades da classe burguesa do<br />
que às da população mais pobre.<br />
c) anarquista de uma cidade onde a população não<br />
precisaria de um órgão governamental, pois os<br />
próprios cidadãos a governariam.<br />
d) neoliberal em que a economia da cidade deve ser<br />
gerada não mais pelo investimento do Estado e sim<br />
pelo livre investimento das empresas privadas.<br />
e) comunista de uma cidade moldada nas diretrizes da<br />
Primeira Internacional Comunista.<br />
9. (Fgv 2008) Os soberanos do Antigo Regime<br />
venceram Napoleão, em que eles viam o herdeiro da<br />
Revolução, e a escolha de Viena para a realização do<br />
Congresso, para a sede dos representantes de todos os<br />
Estados europeus, é simbólica, pois Viena era uma das<br />
únicas cidades que não haviam sido sacudidas pela<br />
Revolução e a dinastia dos Habsburgos era o símbolo da<br />
ordem tradicional, da Contra-Reforma, do Antigo<br />
Regime.<br />
(René Remond, "O século XIX: introdução à história do nosso tempo")<br />
332
Acerca do Congresso de Viena (1815), é correto afirmar<br />
que<br />
a) tornou-se a mais importante referência da vitória do<br />
liberalismo na Europa, na medida em que defendia a<br />
legitimidade de todas as dinastias que aceitavam a<br />
limitação dos seus poderes por meio de cartas<br />
constitucionais.<br />
b) países como a Inglaterra, Portugal e a Espanha, os<br />
mais prejudicados com o expansionismo<br />
napoleônico, defendiam que a França deveria tornarse<br />
republicana, com o intuito de evitar novos surtos<br />
revolucionários.<br />
c) foi orientado, entre outros, pelo princípio da<br />
legitimidade - que determinava a volta ao poder das<br />
antigas dinastias reinantes no período prérevolucionário,<br />
além do recebimento de volta dos<br />
territórios que possuíam em 1789.<br />
d) presidido pelo chanceler austríaco Metternich, mas<br />
controlado pelo chanceler francês Talleyrand,<br />
decidiu-se por uma solução conciliatória após o caos<br />
napoleônico: haveria a restauração das dinastias,<br />
mas não a volta das antigas fronteiras.<br />
e) criou, a partir da sugestão do representante da<br />
Prússia, um organismo multinacional, a Santa<br />
Aliança, que detinha a tarefa de incentivar regimes<br />
absolutistas a se modernizarem com o objetivo de<br />
sufocar as lutas populares.<br />
quem se atreverá a duvidar da sábia política do Príncipe<br />
Regente de Portugal, em mudar a sua Corte para o<br />
Brasil? (Adaptado de "Correio Braziliense", 1808. São Paulo: Imprensa<br />
Oficial do Estado/Instituto Uniemp, edição fac-similar, 2000.)<br />
a) O texto acima remete a um acontecimento, decorrente<br />
da política internacional, ocorrido na Península Ibérica<br />
na primeira década do século XIX.<br />
Indique esse acontecimento e seu principal objetivo em<br />
relação a Portugal.<br />
b) A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil pode ser<br />
considerada importante para o processo de<br />
independência do Brasil.<br />
Apresente um argumento que justifique esse ponto de<br />
vista.<br />
12. (FGV 2005) A Revolução Francesa foi marcada por<br />
uma série de reviravoltas políticas. Em novembro de<br />
1799, o general Napoleão Bonaparte liderou um golpe de<br />
Estado que pôs fim ao Diretório, inaugurando uma nova<br />
fase da <strong>História</strong> francesa.<br />
a) Quais eram as características do Código Civil<br />
estabelecido por Napoleão?b) Em que medida o Código<br />
Civil chocava-se com a Declaração dos Direitos do<br />
Homem e do Cidadão de 1789?<br />
10. UFF (2007) A Revolução Francesa de 1789 foi<br />
pródiga em gerar idéias e projetos de reforma social dos<br />
mais diversos e radicais. Um deles, por sua projeção<br />
futura, merece ser destacado: a Conspiração dos Iguais,<br />
cuja crítica à propriedade estava respaldada na crença de<br />
que ela era "odiosa em seus princípios e mortífera nos<br />
seus efeitos". No entanto, a Conspiração dos Iguais não<br />
conseguiu concretizar seu projeto de defesa da abolição<br />
da propriedade privada.<br />
Com base nesta afirmativa:<br />
a) mencione o principal líder da Conspiração dos Iguais;<br />
b) discuta a principal reforma napoleônica em relação à<br />
propriedade e suas repercussões na Europa.<br />
11. (Uerj 2006) Para cúmulo da desgraça foram os<br />
soberanos da Espanha obrigados a renunciar aos seus<br />
direitos, a abdicar de seu trono e a solicitar o seu mesmo<br />
Povo a que faltasse à fé e juramento de fidelidade, que<br />
havia prestado à Real Família Reinante; a pedir por fim<br />
que obedecesse a seus próprios inimigos. Depois disto,<br />
13. (Fuvest 2005) "A mais extravagante idéia que possa<br />
germinar no cérebro de um político é acreditar que basta<br />
a um povo entrar de mão armada num país estrangeiro<br />
para lhe fazer adotar as suas leis e a sua Constituição.<br />
Ninguém estima os missionários armados, e o primeiro<br />
conselho que a natureza e a prudência dão é repeli-los<br />
como inimigos." Robespierre, janeiro de 1792.<br />
a) Por que a ocupação da Espanha pelo exército<br />
napoleônico, em 1808, tornou o texto profético?<br />
b) Há no momento atual alguma situação à qual o texto<br />
pode ser referido? Por quê?<br />
14. (Fuvest 2004) "Os soldados franceses que<br />
guerrearam da Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria<br />
[...] estenderam a universalidade de sua revolução mais<br />
eficazmente do que qualquer outra coisa. E as doutrinas<br />
e instituições que levaram consigo, mesmo sob o<br />
comando de Napoleão, eram doutrinas universais, como<br />
os governos sabiam e como também os próprios povos<br />
logo viriam a saber." Eric Hobsbawm. A era das revoluções - 1789 -<br />
1848.<br />
333
Baseando-se no texto, aponte:<br />
a) As doutrinas e instituições referidas pelo autor.<br />
b) Os desdobramentos dessas guerras para a América<br />
Ibérica.<br />
15. (Ufpr 1995) Em 1806 o imperador Napoleão<br />
Bonaparte decretou o chamado Bloqueio Continental.<br />
Explique<br />
repercussões.<br />
as motivações desse ato e indique suas<br />
334
GABARITO<br />
Resposta da questão 1<br />
a) No leste da Europa, as guerras napoleônicas levaram<br />
os ideais de liberalismo e nacionalismo que auxiliaram<br />
na transformação dos regimes monárquicos existentes<br />
nesta região.b) No continente americano, as guerras<br />
napoleônicas influenciaram em especial a história do<br />
Brasil, que ao receber a corte portuguesa, fugindo das<br />
tropas napoleônicas, vai precipitar a transformação da<br />
vida na colônia, agora elevada à categoria de Reino<br />
Unido de Portugal e Algarves, o que lhe trouxe inúmeros<br />
privilégios que como colônia não conheceria.<br />
Resposta da questão 2:<br />
[C]<br />
O governo de Napoleão representou a continuidade da<br />
Revolução Francesa e da defesa dos interesses<br />
econômicos da burguesia. Apesar de iniciar uma<br />
ditadura, contrariando o princípio de liberdade política,<br />
seu governo preservou os ideais e as instituições sob a<br />
ótica burguesa, eliminando as concepções que<br />
valorizassem as tradições da nobreza ou da Igreja.<br />
Resposta da questão 3:<br />
a) Qualquer ideia de unidade territorial e políticaadministrativa<br />
prévia entre as distintas províncias<br />
brasílicas, sem vínculos entre si, dependia<br />
necessariamente da submissão e obediência direta a<br />
Lisboa. Tal situação viu-se transformada quando, com a<br />
vinda da Corte para o Brasil, a unidade do ponto de vista<br />
político-administrativo foi transferida de Lisboa para a<br />
nova sede da colônia, no Rio de Janeiro.<br />
Assim, o estudante poderá citar quaisquer medidas que<br />
tenham contribuído, direta ou indiretamente, para<br />
fortalecer essa tentativa de manter as províncias e seus<br />
territórios unidos sob o domínio português no Brasil. Por<br />
exemplo:<br />
- a transferência para a nova capital das Secretarias de<br />
Estado (Conselho do Estado, Mesas do Desembargo do<br />
paço e da Consciência e Ordens, Conselho Supremo<br />
Militar e Conselho da Fazenda);<br />
- a abertura dos portos às nações amigas;<br />
- a revogação do Alvará de 1785 que proibia a instalação<br />
de manufaturas no Brasil;<br />
- a criação do banco do Brasil e a instalação da Junta de<br />
Comércio;<br />
- a elevação do Brasil em 1815 à condição de Reino<br />
Unido a Portugal e Algarves;<br />
- a criação da imprensa régia;<br />
- a transformação da cidade do Rio de Janeiro em sede da<br />
Corte; e,<br />
- as práticas de concessão de terras e títulos de nobreza.<br />
Mais diretamente ligados à ideia da expansão territorial,<br />
o candidato poderá citar:<br />
- a invasão de Caiena (Guiana Francesa), em 1809,<br />
mantendo-a sob domínio português até 1815;<br />
- a invasão da região do Rio da Prata, em 1811 pela<br />
primeira vez e depois em 1816, quando foi anexada a<br />
Banda Oriental (atual Uruguai), com o nome de<br />
Província Cisplatina.<br />
b) Ouanto às características comuns entre as<br />
independências da América ibérica, pode-se mencionar:<br />
- o fato de tanto a América espanhola como a portuguesa<br />
partilharem da mesma conjuntura política europeia como<br />
ponto de partida -isto é, o Bloqueio napoleônico e a<br />
guerra e invasão das respectivas metrópoles;<br />
- a intensa luta pela autonomia das províncias,<br />
observadas nos dois casos: com esfacelamento dos vicereinos<br />
hispânicos (iniciado grosso modo em 1810 e<br />
estendendo-se até 1825) e com o a independência<br />
proclamada por D. Pedro no Rio de Janeiro, em 1822; e,<br />
- o importante papel exercido pelos britânicos no auxílio<br />
às guerras para a criação dos novos estados-nação<br />
independentes e, logo, na manutenção e expansão do<br />
comércio com as demais nações europeias.<br />
Resposta da questão 4:<br />
a) O estudante deverá relacionar os processos<br />
revolucionários na América espanhola ao bloqueio<br />
continental determinado pela França sobre a Inglaterra e<br />
às invasões napoleônicas de 1808, que, na Espanha,<br />
levaram à renúncia forçada de Fernando VII, e a um<br />
vazio de poder posteriormente preenchido pelas juntas de<br />
Governo.<br />
b) O estudante deverá avaliar a independência como um<br />
processo construído ao longo dos anos de 1810 a 1816,<br />
quando a independência política das Províncias Unidas<br />
335
do Rio da Prata foi formalmente declarada em 9 de julho<br />
de 1816.<br />
Assim, o estudante deverá identificar as diferenças entre<br />
dois textos citados: o primeiro, moderado, e, o segundo,<br />
radical. O primeiro aponta para a possibilidade da<br />
Província do Rio Prata permanecer como parte integrante<br />
do Império Espanhol. No segundo texto, o estudante<br />
deverá identificar um ataque ao absolutismo com a<br />
dissolução dos títulos de nobreza e o fato da Espanha ser<br />
considerada como inimiga.<br />
Resposta da questão 5:<br />
[E]<br />
A política expansionista francesa tinha como grande<br />
objetivo ampliar seus mercados na Europa, como uma<br />
das bases para sua industrialização e, nesse sentido, após<br />
a derrota na tentativa de invadir a Inglaterra, a política de<br />
Napoleão Bonaparte pretendeu isolar a Inglaterra e<br />
estrangular sua economia.<br />
Resposta da questão 6:<br />
[A]<br />
A famosa obra de Goya retrata o fuzilamento de<br />
populares em Madri, que resistiram à ocupação francesa<br />
promovida por tropas napoleônicas. A invasão francesa<br />
foi responsável por derrubar o absolutismo na Espanha,<br />
mas mesmo assim encontrou forte resistência popular<br />
que se organizou e lutou pela libertação do país.<br />
Resposta da questão 7:<br />
No início do século XIX existiam diferenças políticas e<br />
econômicas entre Inglaterra e França. A Inglaterra era<br />
uma monarquia constitucional e liberal, enquanto que a<br />
França era caracterizada pela ditadura de Napoleão<br />
Bonaparte. Do ponto<br />
de vista econômico, a Inglaterra era um país<br />
industrializado, que havia expandido seus mercados e<br />
promovia forte acumulação de capitais, enquanto a<br />
França desenvolvia uma política industrialista e possuía<br />
poucos mercados, percebendo a concorrência inglesa<br />
como principal obstáculo ao seu desenvolvimento. O<br />
Decreto Napoleônico reforça a política expansionista<br />
francesa, do ponto de vista militar, como elemento de<br />
contenção à política expansionista inglesa, do ponto de<br />
vista econômico.<br />
Resposta da questão 8:<br />
[B]<br />
A resposta da questão reflete a interpretação das análises<br />
mais correntes sobre a reforma urbana implementada em<br />
Paris pelo barão de Haussmann durante o governo de<br />
Luís Bonaparte (Napoleão III) na França, que a associam<br />
a um momento de afirmação política da burguesia.<br />
Porém vale observar que tal reforma procurou também,<br />
eliminar as ruas estreitas da cidade onde foram<br />
construídas as barricadas durante os movimentos de 1848<br />
que dificultaram o deslocamento de tropas oficiais<br />
enviadas para repressão.<br />
Resposta da questão 9:<br />
[D]<br />
Resposta da questão 10:<br />
a) Graco Babeuf.<br />
b) Fazer menção às principais reformas napoleônicas,<br />
destacando o Código Civil de 1804 que garantiu a<br />
liberdade individual, a igualdade perante a lei e o direito<br />
à propriedade<br />
privada. O código civil napoleônico exerceu marcante<br />
influência na institucionalização do direito privado nos<br />
países europeus, principalmente os que foram palco da<br />
expansão<br />
napoleônica. O aluno poderá também destacar que o<br />
código Napoleônico é a pedra angular do direito liberal,<br />
pois foi fonte das diretrizes legais dos países capitalistas.<br />
Ele poderá ainda afirmar que o código civil consagrou os<br />
interesses burgueses, sendo a expressão jurídica da<br />
chamada revolução burguesa.<br />
Resposta da questão 11:<br />
a) Invasão e ocupação da Península Ibérica por tropas<br />
francesas.<br />
Domínio de Portugal para efetiva adesão ao Bloqueio<br />
Continental.<br />
b) Um dentre os argumentos:<br />
O Brasil ve|o a ser elevado à condição de Reino Unido,<br />
transformando-se a antiga colônia em metrópole.<br />
336
- O Rio de Janeiro transformou-se em ponto de atração<br />
das elites, permitindo-lhes a constituição de uma<br />
identidade comum.<br />
- A abertura dos portos às nações amigas possibilitou o<br />
fim do monopólio comercial, estabelecendo uma maior<br />
liberdade de comércio no Brasil.<br />
- A instalação de um aparelho burocrático possibilitou a<br />
ascensão de inúmeros brasileiros aos cargos de<br />
administração, contribuindo para a ideia de autonomia do<br />
Brasil.<br />
Resposta da questão 12:<br />
a) O Código Civil, estabelecido em 1804 por Napoleão<br />
Bonaparte, tinha por finalidade organizar internamente o<br />
Império francês. Por incorporar princípios apontados<br />
como oposição ao Antigo Regime, é considerado uma<br />
obra integrada à Revolução Francesa. Em sua essência,<br />
consagrava os interesses da burguesia ao reconhecer e<br />
privilegiar o direito de propriedade e a liberdade<br />
individual e econômica.<br />
Estabelecia ainda o caráter secular e laico do Estado.<br />
b) Pelo fato de a maioria dos artigos (dois terços)<br />
destinarem- se à defesa da propriedade individual e os<br />
poucos artigos que se referiam ao trabalho à restrições ao<br />
trabalhadores e proteção dos empregadores, além de a<br />
escravidão ser restabelecida nas colônias francesas e o<br />
casamento civil restringir os direitos das mulheres, o<br />
Código Civil não contemplava plenamente o princípio da<br />
igualdade entre os homens, presente na Declaração dos<br />
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.<br />
Resposta da questão 14:<br />
a) Durante as conquistas napoleônicas os soldados<br />
franceses difundiram as doutrinas liberais surgidas<br />
durante o iluminismo e consagradas na Revolução<br />
Francesa de 1789, bem como a defesa de instituições do<br />
governo constitucional e o Código Civil para<br />
salvaguardar o direito à propriedade e a liberdade<br />
econômica.<br />
b) As Guerras Napoleônicas contribuíram para acelerar o<br />
processo de emancipação política das colônias<br />
espanholas na América na medida em que a elite colonial<br />
organizada a partir dos cabildos e das juntas governativas<br />
não reconheceu a intervenção napoleônica na Espanha e<br />
aproveitou-se para proclamar a independência.<br />
Resposta da questão 15:<br />
Napoleão pretendia afetar o comércio inglês na Europa e<br />
promover o comércio francês.<br />
Suas repercussões foram a expansão do comércio<br />
francês, a invasão dos países que desrespeitaram o<br />
Bloqueio, a vinda da família real portuguesa para o<br />
Brasil e novas relações comerciais entre a Inglaterra e as<br />
colônias na América.<br />
Resposta da questão 13:<br />
a) Porque, apesar de as tropas napoleônicas serem<br />
propagadoras dos ideais de liberdade contrários ao<br />
Antigo Regime que ainda vigorava na Espanha, sua<br />
presença no território espanhol desencadeou a revolta da<br />
população, contrária à dominação estrangeira.<br />
b) Sim. O caso da ocupação do Iraque por tropas norteamericanas<br />
e seus aliados, porque apesar destes<br />
justificarem suas ações em nome do estabelecimento da<br />
democracia e da liberdade no país, encontram forte<br />
resistência de grupos iraquianos de orientação<br />
nacionalista ou de orientação fundamentalista associados<br />
a estrangeiros árabes contrários à imposição de valores<br />
ocidentais ao mundo árabe.<br />
337
REVOLUÇÕES LIBERAIS DO SÉCULO XIX<br />
A reação conservadora representada pelas negociações<br />
do Congresso de Viena e pela criação da Santa Aliança,<br />
após a derrota de Napoleão, trouxeram à ordem do dia na<br />
Europa o desejo de retomar a ordem política e social do<br />
Antigo Regime. Em resposta, desde a década de 20 e,<br />
especialmente na década de 40, com a Primavera dos<br />
Povos, movimentos liberais eclodiram em várias regiões<br />
do continente, a fim de frear o recuo conservador.<br />
Como exemplo do retorno da ordem conservadora,<br />
tivemos na Franca a volta dos Bourbons ao poder,<br />
representados por Luís XVIII, iniciando o período<br />
estendido até 1830, chamado Restauração. A França,<br />
principal referência do liberalismo com a Revolução<br />
Francesa do século XVIII, protagonizaria os principais<br />
movimentos liberais do século XIX – Revolução de<br />
1830 e Revolução de 1848 – para conter o retorno<br />
absolutista e sustentar o ideal nacionalista.<br />
1. REVOLUÇÃO DE 1830<br />
A Liberdade Guiando o Povo", por Eugène Delacroix.<br />
Ao longo do reinado de Luís XVIII (1814-1824), três<br />
grupos políticos se destacavam no cenário francês pós<br />
Restauração. Os grupos liberais, reuniam os<br />
bonapartistas e republicanos, defensores dos princípios<br />
elementares e conquistas da Revolução Francesa e do<br />
retorno de Napoleão; de tendência conservadora, eram<br />
os ultrarrealistas, era liderado pelo irmão do monarca, o<br />
Conde de Artois, defensor do retorno pleno da ordem<br />
absolutista, com a garantia dos privilégios da nobreza e<br />
ao clero. O terceiro grupo, representação da alta<br />
burguesia, eram os constitucionalistas, que defendiam o<br />
governo de Luís XVIII e o respeito à Constituição<br />
outorgada, buscando assegurar uma ordem monarquista<br />
liberal. Enquanto Luís XVIII manteve-se no poder, sua<br />
autoridade se sustentava nessa Constituição e era<br />
assessorada por um órgão parlamentar composta de duas<br />
câmaras (a dos Pares e a dos deputados); a primeira,<br />
nomeada diretamente pelo Rei e, os segundos, indicados<br />
por meio do voto censitário.<br />
Com a morte de Luís XVIII em 1824, ascende ao trono<br />
seu irmão, o conde de Artois, coroado com o nome de<br />
Carlos X (1824-1830), apoiado especialmente nos<br />
grandes proprietários de terra e membros do clero. Desde<br />
1827, tentando reverter uma grave crise econômica, o<br />
monarca autorizou uma drástica elevação de impostos,<br />
que desagradava comerciantes e industriais, como<br />
também as classes populares mais seriamente atingidos<br />
pela nova política tributária. Coerente com sua tradição<br />
reacionária e conservadora, o monarca se esforçou em<br />
reforçar sua autoridade, tentando retornar a uma ordem<br />
absolutista, favorecendo a nobreza com o retorno de<br />
privilégios.<br />
Em 1830, as oposições se organizaram e, deram vitória à<br />
oposição na Câmara dos Deputados, Carlos X aprovou as<br />
Ordenações de Julho, um conjunto de medidas arbitrárias<br />
que incluíam a suspensão da liberdade de imprensa, a<br />
dissolução da Câmara recém eleita e a elevação do censo<br />
para o voto. Era o estopim para o retorno das<br />
mobilizações de rua na França, quando rememorando os<br />
movimentos da Revolução Francesa, barricadas e motins<br />
de populares e grupos ligados à burguesia, promoveu-se<br />
os chamados Três Dias Gloriosos, que culminaram com<br />
a ocupação do Palácio de Tolherias e a fuga de Carlos X.<br />
A Revolução de 1830 impediu o retorno da ordem<br />
absolutista na Franca, mas manteve a ordem monárquica,<br />
acentuando-se o seu aspecto liberal. Embora os<br />
populares defendessem a instalação da Republica, grupos<br />
338
ligados à alta burguesia eram temerosos de uma<br />
radicalização semelhante à da segunda fase da Revolução<br />
Francesa e se esforçaram em ter um representante de<br />
seus interesses instalado no poder.<br />
2. O GOVERNO DE LUIS FELIPE DE<br />
ORLEANS<br />
daquele governo com os patrões; assim, sublevações de<br />
ordem operária começavam a surgir no país, sempre<br />
duramente reprimidas pelas forças do governo.<br />
Essa onda de descontentamentos e agravamento das<br />
desigualdades alcançou no seu ápice, na década de 1840,<br />
quando em 1847, a França, como outras regiões da<br />
Europa, foi duramente atingida por um grave crise<br />
agrícola. Essa crise resultou no aumento do desemprego<br />
e subconsumo, que estimularam novos levantes e<br />
mobilizações contra o governo.<br />
Grupos de oposição ao governo, especialmente na<br />
pequena burguesia, forjou lideranças liberais (Ledru<br />
Rolin) e populares (Louis Blanc), para coordenar<br />
mudanças na ordem política. Os encontros eram<br />
realizados em banquetes, que a partir de fevereiro de<br />
1848, foram proibidos pelo ministro Guizot, acusados de<br />
serem encontros subversivos.<br />
2. REVOLUÇÃO DE 1848<br />
Também chamado de “o Rei Burguês”, Luís Felipe de<br />
Orleans reinou sobre a Franca entre 1830 e 1848, na<br />
chamada Monarquia de Julho; esforçou-se pelo<br />
desenvolvimento industrial do país, beneficiando<br />
especialmente os industriais e a classe dos banqueiros,<br />
mas assegurando a ordem liberal.<br />
O governo do Rei Burguês ficou caracterizado pelo<br />
fortalecimento do poder legislativo, pela retomada da<br />
liberdade de imprensa, ampliação do eleitorado a partir<br />
da redução do censo; também buscou-se combater a crise<br />
econômica, direcionando investimentos promovidos pelo<br />
governo ao setor industrial. Assim, a alta burguesia<br />
francesa tornou-se a classe mais beneficiada pelo<br />
governo de Luís Felipe, detendo o controle de ferrovias,<br />
bancos, minas de carvão e ferro etc.<br />
Enquanto a indústria francesa se modernizava, crescia<br />
em número e importância política a classe operária.<br />
Destituída de direitos essenciais e submetida a condições<br />
drásticas de exploração, essa classe não encontrava no<br />
Estado uma representatividade, dado o compromisso<br />
Tal qual aconteceu em 1830, a repressão aos banquetes<br />
ativou a mobilização nas ruas de Paris, retomando as<br />
barricadas e protestos ao ministro Guizot e ao governo de<br />
Luís Felipe de Orleans. A Guarda Nacional, chamada a<br />
conter as movimentações da pequena burguesia e do<br />
proletariado, aderiu ao movimento, o que dificultou a<br />
resistência do governo e levou à abdicação do monarca a<br />
24 de fevereiro de 1848. Esse movimento se destaca por<br />
ter inspiração socialista – não coincidentemente é o ano<br />
da publicação de O Manifesto Comunista – como<br />
também por apresentar a classe operária em sua potência<br />
capacidade transformadora.<br />
Logo após a vitória do movimento, foi instalado um<br />
governo provisório de colaboração entre liberais e<br />
socialistas, que fundaram a Segunda República<br />
Francesa. O novo governo assegurou a anistia aos presos<br />
políticos, como criou as Oficinas Nacionais, destinadas<br />
339
340<br />
a empregar a juventude desempregada francesa,<br />
amenizando a crise econômica.<br />
Para superar a fase transitória, foi convocada uma<br />
Assembleia Constituinte, cuja composição contou com<br />
maioria de representantes da classe burguesa, colocando<br />
em risco as conquistas populares. Os grupos ligados ao<br />
povo buscaram dissolver aquela Assembleia, sendo<br />
duramente reprimidos pelo General Cavaignac, que em<br />
nome da ordem, recebeu autonomia da Assembleia para<br />
promover prisões e deportações dos revoltosos. Após a<br />
contenção das manifestações, eleições foram procedidas,<br />
levando à presidência do país, Luís Napoleão Bonaparte,<br />
sobrinho de Napoleão I.<br />
4. O GOVERNO DE LUÍS NAPOLEÃO<br />
BONAPARTE - 1848 – 1871<br />
Após a contenção da rebelião de 1848, a nova<br />
Constituição francesa determinou eleições diretas para a<br />
escolha do presidente, através das quais se assegurou a<br />
vitória esmagadora de Luís Napoleão Bonaparte,<br />
membro do Partido da Ordem, e composição<br />
essencialmente burguesa. Esse mesmo partido também<br />
alcançou maioria nas eleições para a Assembleia<br />
Legislativa, restringindo as conquistas populares do<br />
governo provisório e afastando as camadas populares do<br />
processo político institucionalizado.<br />
Para coibir as camadas populares, essa Assembleia<br />
aprovou leis que dificultavam a participação política dos<br />
mais pobres, exigindo que precisassem comprovar<br />
residência fixa de três anos, quando era comum a<br />
migração constante dos operários para assegurar a<br />
sobrevivência. Outra lei aumentou drasticamente os<br />
impostos sobre publicações e jornais, elevando o preço<br />
do produto e dificultando a expansão e circulação de<br />
ideias socialistas e a compra desses jornais pelas classes<br />
mais pobres.<br />
O mandato presidencial de Luís Napoleão deveria ser de<br />
quatro anos, ao final do qual deveria deixar o poder, já<br />
que não havia direito à reeleição previsto na<br />
Constituição. Valendo-se do amplo apoio das elites, ás<br />
vésperas de encerrar seu mandato republicano, Luís<br />
Napoleão fechou a Assembleia Legislativa, prendeu<br />
opositores e ampliou drasticamente os seus poderes.<br />
Tratava-se de um golpe de estado, o chamado Segundo<br />
Golpe 18 de Brumário, numa alusão o golpe que levou<br />
o tio Napoleão ao poder após dissolver o Diretório em<br />
1799. Em 1852, por meio de um plebiscito, Luís<br />
Napoleão teve aprovada a anulação da antiga<br />
constituição e a substituição da Republica pelo Segundo<br />
Império Francês, passando a ser chamado Napoleão<br />
III.<br />
Napoleão III encontrou apoio em várias camadas da<br />
sociedade francesa, como a alta burguesia, a Igreja e o<br />
Exército. Se esforçou em promover a aceleração do<br />
desenvolvimento industrial do país, com grandes avanços<br />
nos setores estratégicos de metalurgia, indústria têxtil, na<br />
agricultura e nos transportes, dando continuidade às<br />
políticas iniciadas por Napoleão I e Luís Felipe de<br />
Orleans. Adotou um política externa ofensiva, baseada<br />
na expansão do domínio de territórios nos continentes<br />
africano e asiático, destacando os esforços pela<br />
construção do Canal de Suez. Napoleão também<br />
promoveu o apoio a movimentos nacionalistas, a<br />
exemplo da região dos Balcãs, na Guerra da Crimeia<br />
contra o expansionismo russo.<br />
No entanto, ainda nesse âmbito, o imperador Napoleão<br />
III tomou medidas que foram desastrosas e custariam a<br />
sua própria governabilidade. É o caso por exemplo, da<br />
posição controversa assumida por ocasião da Unificação<br />
Italiana, quando inicialmente apoiou o movimento,<br />
buscando enfraquecer o Império Austríaco, mas<br />
subitamente mudaria de posição, garantindo apoio ao<br />
Papado que se opunha à unificação. Também promovera<br />
uma desastrosa intervenção no México, que objetivava<br />
ampliar a área de influência francesa na América, sem<br />
êxito. E por fim, a intromissão francesa no processo de<br />
sucessão da Coroa Espanhola, usado como justificativa<br />
prussiana para a hostilidade ao Império francês, que
culminou na Guerra Franco Prussiana (1870-1871),<br />
resultando numa vitória esmagadora da Alemanha e<br />
consequente conclusão de seu processo unificador.<br />
A França saiu desse confronto humilhada, com a<br />
coroação de Guilherme I dentro do palácio de Versalhes,<br />
além de submetida ao tratado de Frankfurt, que impôs<br />
pesadas indenizações francesas aos alemães e a perda<br />
territorial da Alsácia e Lorena, riquíssimas em carvão.<br />
Um governo provisório se instalou na Franca, logo após<br />
a derrota na guerra e queda de Napoleão III. Duas<br />
facções estavam em disputa pelo poder: os monarquistas,<br />
a favor da rendição aos prussianos, e os republicanos,<br />
que defendiam a insistência na luta contra os inimigos. A<br />
vitória coube aos monarquistas, acarretando a retirada de<br />
vários canhões da Guarda Nacional, composta<br />
principalmente por trabalhadores descontentes com a<br />
situação política. Não tardaria para que um novo<br />
movimento revolucionário eclodisse no país.<br />
execuções numerosas dos envolvidos na experiência da<br />
Comuna de Paris. Embora de curta duração – pouco<br />
mais de dois meses – a Comuna de Paris é a primeira<br />
experiência de um governo revolucionário na Europa de<br />
base socialista e composição operária.<br />
5. REPERCUSSÕES DOS MOVIMENTOS<br />
LIBERAIS NA EUROPA<br />
A partir dos movimentos liberais ocorridos na França,<br />
várias rebeliões de inspiração nacionalista, de<br />
emancipação ou de combate ao Absolutismo se<br />
multiplicaram pela Europa. Na década de 1830, por<br />
exemplo, a Bélgica, inspirada pelos movimentos de julho<br />
na Franca, alcançaram sua independência em relação a<br />
Holanda, aquém estava atrelada desde o Congresso de<br />
Viena; instituiu-se uma monarquia parlamentar, de<br />
Constituição liberal, buscando garantir as liberdades<br />
individuais, dentro dos moldes do liberalismo político.<br />
Em 1871, ocorria a Comuna de Paris, de ideais<br />
socialistas, que ergueu várias barricadas pela cidade e<br />
chegou a organizar, provisoriamente, um governo<br />
paralelo ao governo francês. Entre as várias medidas<br />
adotadas pela Comuna, estava a separação entre a Igreja<br />
e o estado, a instituição do ensino laico gratuito e<br />
profissional. As industrias passaram a ser dirigidas pelos<br />
operários e constituiu-se forças militares populares. O<br />
teor radical do movimento levou à reação dos<br />
republicanos, que retiram as tropas do front de batalha<br />
para sufocarem o movimento socialista interno,<br />
resultando numa intensa violência com prisões e<br />
Na Península Itálica, nos territórios de Módena, Parma e<br />
Romagna, movimentos de contestação à dominação<br />
austríaca eclodiram, a exemplo da formação do Grupo<br />
jovem Itália, liderado por Giuseppe Mazini. A repressão<br />
das tropas austríacas foi violenta, dado o apoio militar da<br />
Santa Aliança.<br />
Também na Confederação germânica, movimentos<br />
liberais obrigaram os príncipes de Hanover e da Saxônia<br />
a se submeterem a constituições, ainda que outorgadas.<br />
Também nesse caso, as tropas da Santa Aliança foram<br />
eficientes em combater os movimentos e suspender as<br />
constituições. A Polônia também chegou a organizar um<br />
governo nacionalista em Varsóvia, mas as tropas do czar<br />
Nicolau I contornaram a ação rebelde.<br />
Depois da Revolução de 1848, a onda de movimentos<br />
liberais e nacionalistas ganhou novo fôlego, constituindo<br />
a Primavera dos Povos. Na Áustria, um movimento<br />
341
liberal iniciado em Viena, reunindo membros da<br />
burguesia e da classe trabalhadora, conseguiu derrubar o<br />
Ministro Metternich e outorgou uma Constituição, além<br />
de convocar uma Assembleia Constituinte por meio do<br />
sufrágio universal. O temor de uma revolução popular<br />
levou a própria burguesia a defender um governo<br />
centralizado, capaz de manter a ordem, resultando nas<br />
pressões que levaram à abdicação de Fernando I e a<br />
ascensão do monarca Francisco José que restaurou o<br />
Absolutismo e coibiu movimentos nacionalistas de<br />
emancipação na Hungria e na Boemia.<br />
De volta à Península Itálica, movimentos liberais<br />
obrigaram o rei Francisco II, do Reino das Duas Sicílias,<br />
a se submeter a uma Constituição, que após a repressão<br />
comandada pelo rei, acabou anulada. Em Milão e<br />
Veneza, revoltas eclodiam contra o domínio austríaco,<br />
mas também foram duramente reprimidos. Na região da<br />
Toscana e Roma, o líder Giuseppe Mazzini proclamou<br />
breves republicas, que com apoio francês ao Papa foram<br />
extintas, restabelecendo a soberania do Papa nos estados<br />
Pontifícios.<br />
Na confederação Germânica, a partir de Berlim, um<br />
movimento unificador pressionava o rei da Prússia,<br />
Guilherme IV a convocar uma Assembleia Constituinte.<br />
Em pouco tempo, representantes dos vários estados<br />
alemães se reuniram em Frankfurt para eleger a<br />
Assembleia, que previa uma Constituição e um regime<br />
parlamentar, tornando o rei da Prússia imperador da<br />
Confederação. A oposição da Áustria à hegemonia<br />
pressa na área levou ao recuo do processo, fracassando<br />
os esforços unificadores da Primavera dos povos, cujo<br />
sucesso de objetivos só seriam alcançados na segunda<br />
metade do século XIX.<br />
342
IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX<br />
1. LIBERALISMO<br />
<strong>Geral</strong>mente, ao nos depararmos com a expressão<br />
“Liberalismo”, tendemos a estabelecer uma relação<br />
simplificada com a palavra “Liberdade”; embora exista<br />
uma associação entre os dois vocábulos, o Liberalismo<br />
configura-se em um complexo conceito, que passou a ser<br />
construído no século XVIII e, que viria a se tornar a<br />
principal referência teórica da classe burguesa tanto para<br />
a ordem econômica, como para a estrutura política que se<br />
consagraria em oposição ao Antigo Regime.<br />
Ao final da Idade Moderna, especialmente na segunda<br />
metade do século XVIII, as chamadas revoluções<br />
burguesas lançaram as bases do Liberalismo. Tratava-se<br />
de modernizar as instituições políticas e as estruturas<br />
econômicas, inspiradas no ideário iluminista, que<br />
preconizava a garantia de certas liberdades como parte<br />
dos direitos naturais do homem. Em oposição ao Antigo<br />
Regime, sustentado no Absolutismo, o Mercantilismo e o<br />
Colonialismo, forças sociais levantam-se politicamente<br />
contra a cultura e a tradição do período, que restringia<br />
liberdade em vários campos. O sistema político e<br />
econômico estava nas mãos da nobreza, a classe<br />
aristocrática, e seu representante, em cada país, era a<br />
monarquia absolutista; isto é, um rei com poderes<br />
absolutos, de justificação divina, que governava de modo<br />
a garantir os privilégios de sua classe social, a nobreza.<br />
Desde a primeira metade do século XVIII, notadamente<br />
em França e Inglaterra, surgiram novos pensadores que<br />
propuseram uma filosofia revolucionária para o período:<br />
O Iluminismo. Baseado, em síntese, em valores como<br />
Razão e Liberdade, procurava-se denunciar os entraves<br />
que impediam de fato que o período fosse “moderno”,<br />
mantendo-o preso a valores “antigos” (muitos, inclusive,<br />
resíduos medievais).<br />
O desenvolvimento das forças econômicas da Europa,<br />
especialmente a partir da modernização industrial, estão<br />
na base determinante dessa filosofia iluminista; esse<br />
pensamento inovador sobre a realidade daquele contexto,<br />
relacionava-se intimamente à classe burguesa, em<br />
ascensão econômica e buscando ascensão social e<br />
política, justificada nos princípios de defesa da liberdade<br />
e da igualdade.<br />
Fundamentando a crítica ao Antigo Regime, intelectuais<br />
geralmente associados aos interesses da classe burguesa,<br />
cientistas, pensadores políticos desenvolveram um<br />
conjunto de ideais (econômicas, sociais, políticas e<br />
culturais) que passam a nortear os planos e as ações<br />
daquela classe em seu enfrentamento contra a nobreza<br />
situada no poder; estamos falando de uma ideologia que<br />
nasce a partir da “Filosofia das Luzes”: O Liberalismo.<br />
Se na primeira metade do séc. XVIII, surgem o<br />
Iluminismo e o Liberalismo (filosofia e ideologia política<br />
relacionados aos interesses burgueses e seus sistema<br />
socioeconômico, ou seja, o capitalismo), na segunda<br />
metade do mesmo século, vem a ação decorrente. As<br />
chamadas revoluções burguesas (Revolução Industrial, a<br />
Independência dos EUA e a Revolução Francesa),<br />
inspiradas nas ideias iluministas, que aos poucos foram<br />
garantindo a diminuição do papel da nobreza no<br />
comando político dos Estados europeus, enquanto<br />
membros da burguesia ascendia a quadros políticos cada<br />
vez mais importantes.<br />
Assim, o Absolutismo e o Mercantilismo foram sendo<br />
substituídos pelo Liberalismo – político ("a democracia<br />
burguesa") e econômico (a não intervenção do Estado na<br />
economia). (Então, em relação à primeira afirmação<br />
deste texto, a Liberdade do Liberalismo está vinculada a<br />
liberdade da burguesia de também instalar-se no poder<br />
político e aumentar seus ganhos econômicos, contra<br />
quaisquer forças sociais e políticas que lhe venha a se<br />
opor – sejam essas forças ligadas às classes mais<br />
aristocráticas ou populares).<br />
Se no final da Época Moderna o Liberalismo<br />
apresentava-se ao Ocidente como revolucionário, no séc.<br />
XIX, no início da Época Contemporânea, com a<br />
burguesia no poder e o capitalismo como sistema<br />
socioeconômico hegemônico, essa ideologia torna-se<br />
conservadora. Desenvolve-se, como expressão deste<br />
poder de uma classe sobre as camadas populares, que<br />
reafirma a igualdade jurídica mas restringe a<br />
liberdade política ao não se comprometer com uma<br />
democracia de fato inclusiva. O sistema político que<br />
sobre o conceito do liberalismo se define, é baseado em<br />
uma interpretação da democracia, que se apresenta como<br />
representativa (portanto, indireta, diferenciando-se da<br />
democracia ateniense), ao tempo em que limita-se por<br />
critério de renda aqueles que podem eleger e serem<br />
eleitos para essas representatividades<br />
343
Assim, falamos em Liberalismo Político, o que não<br />
implica necessariamente em seguridade da democracia.<br />
Tratava-se de um modelo de gerenciamento do Estado<br />
baseado em uma política de formato liberal<br />
(caracterizado por “voto”, “parlamento” e<br />
“constituição”), mas sem um verdadeiro conteúdo<br />
democrático. O século XIX foi marcado por um tipo de<br />
política em que as classes populares estiveram<br />
completamente afastadas de qualquer vínculo com as<br />
decisões do Estado, e por isso ficavam a mercê de uma<br />
situação econômica muito desfavorável. Era necessário<br />
que novas forças sociais surgissem, propondo novas<br />
ideologias revolucionárias, que orientassem também<br />
novas propostas para a política e, assim, se processar<br />
alterações significativas nas relações econômicas.<br />
2. ROMANTISMO<br />
Apesar de o Romantismo também ter surgido no final do<br />
século XVIII, ele influenciou fortemente a cultura<br />
europeia no início do século XIX. Os românticos eram<br />
conhecidos por discordarem dos iluministas e, ao<br />
contrário de valorizar a razão, como faziam os Ilustrados,<br />
ressaltavam os sentimentos como os principais elementos<br />
para a vida de um homem e, logo, para a sociedade. A<br />
essência do Romantismo foi bem representada na obra de<br />
John Keats, que escreveu: “Oh! Uma vida de sensações<br />
é muito melhor que uma só de pensamentos. “<br />
A fala de Keats também revela outra característica do<br />
Romantismo: a valorização do “eu interior”, elemento<br />
explorado como força primitiva e fonte de inspiração<br />
criativa do homem. Esse “eu interior”, tão admirado pelo<br />
Romantismo, foi reinterpretado posteriormente e<br />
denominado de inconsciente por Sigmund Freud, o pai<br />
da Psicanálise, um dos principais expoentes<br />
influenciados pelo pensamento romântico.<br />
Os regimes fascistas surgidos no século XX também se<br />
basearam na exaltação dos sentimentos e no desprezo<br />
pelo racionalismo para construir sua base de apoio das<br />
massas. Deve-se ressaltar, entretanto, que os românticos<br />
possuíam um enorme respeito pela individualidade<br />
humana, contrariando o nacionalismo exacerbado e racial<br />
do nazismo, por exemplo. Dessa forma, não se pode<br />
dizer que o pensamento romântico foi o responsável pelo<br />
sentimento racista e belicista surgido na Alemanha no<br />
início dos éculo XX.<br />
As divergências entre os Ilustrados e os românticos<br />
também passavam pela interpretação que ambos faziam<br />
sobre a Idade Média. Enquanto os iluministas a<br />
consideravam uma Idade de trevas, mitos, dogmas e<br />
superstições, os romântico a valorizaram, considerando-a<br />
rica em heróis, mistérios e emoções. Para os românticos,<br />
a <strong>História</strong> era dotada de alma e dos sentimentos dos<br />
indivíduos que haviam participado de sua construção.<br />
Assim, cada período histórico, mesmo o Medieval, seria<br />
um momento dotado de mitos e características culturais<br />
próprias, o que o tornaria portador de heranças distintas e<br />
necessárias para a composição do ideário dos homens.<br />
Vale ressaltar, também, que os românticos, assim como<br />
os socialistas, foram importantes críticos do capitalismo<br />
industrial, que, segundo eles apesar de gerar um grande<br />
desenvolvimento tecnológico, acarretava uma<br />
subordinação do indivíduo aos interesses do capital e,<br />
por isso, era um dos piores males do novo século que se<br />
iniciava.<br />
3. NACIONALISMO<br />
O nacionalismo consiste em uma ideologia e movimento<br />
político baseados no desenvolvimento da consciência de<br />
pertencimento a uma Nação (enfatizando signos<br />
identitários, como cultura, tradição, língua, bandeira etc.)<br />
que exprimem a crença na existência de certas<br />
características comuns em uma comunidade, nacional ou<br />
supranacional, e o desejo de modelá-las politicamente.<br />
Com precedentes de origem buscados na Idade Média,<br />
desde a formação dos Estados Nacionais e na<br />
consolidação dos Estados Absolutistas, as identidades<br />
nacionais passaram a ser utilizadas como mecanismo de<br />
sustentação de poder. A partir da Revolução Francesa, o<br />
nacionalismo se instrumentaliza como inspirador de lutas<br />
revolucionárias. Posteriormente, com a expansão<br />
invasora de Napoleão Bonaparte no início do século<br />
XIX, a luta frente a um exército invasor, princípios como<br />
soberania e cidadania se associaram para inspirar<br />
movimentos de emancipação política.<br />
Ainda nesse século, a reação conservadora pós derrota de<br />
Napoleão e as divisões territoriais promovidas na<br />
Europa, especialmente pelo Congresso de Viena,<br />
também alimentaram lutas nacionalistas de emancipação<br />
política, territorial ou econômica, presentes em<br />
movimentos como a Primavera dos Povos, e<br />
materializados com maior êxito na s unificações da<br />
Alemanha e da Itália.<br />
No século XX, o nacionalismo teve dois grandes<br />
momentos: o surgir de ideias nacionalistas de parceria<br />
com teorias racistas, como na Alemanha (nacional-<br />
344
socialismo), na Itália (fascismo) e no Japão; e o<br />
nacionalismo, que surgiu nos países colonizados, após a<br />
II Guerra Mundial, que se liga com o que atualmente se<br />
manifesta no Terceiro Mundo, perante as formas<br />
neocolonialistas de exploração.<br />
5. DOUTRINAS OPERÁRIAS<br />
5.1 Socialismo utópico<br />
O intenso processo de urbanização e de forte<br />
concentração de trabalhadores à volta das grandes<br />
cidades, muitas vezes em condições sub-humanas de<br />
existência, agravando os problemas sociais, despertou<br />
não só a emergência de movimentos de reação operaria,<br />
como também a atenção de intelectuais, cientistas<br />
políticos e instituições responsáveis por formular<br />
doutrinas de contestação ao capitalismo.<br />
Incomodados com o que viam, alguns deles propunham<br />
reformas que instaurassem a justiça social e abrissem<br />
caminho para a formação de uma sociedade mais<br />
humana e igualitária. As doutrinas e os princípios<br />
defendidos por esses reformadores constituíram uma<br />
ideologia que se tornou conhecida como Socialismo. Seu<br />
ponto de partida era a crítica às desigualdades sociais<br />
criadas ou acentuadas pelo sistema capitalista.<br />
Entretanto, havia entre os socialistas muitas diferenças<br />
de opinião, o que originou vários grupos e diversas<br />
ideologias.<br />
Para alguns dos primeiros idealizadores socialistas,<br />
muitos deles associados à classe burguesa, uma<br />
sociedade ideal poderia ser fundamentada no<br />
voluntarismo que geraria acordos entre as classes em<br />
oposição. Argumentavam que só a luta político-eleitoral<br />
e parlamentar das classes trabalhadoras poderia conduzir<br />
a uma reforma da sociedade capitalista e à instauração do<br />
socialismo. Outra corrente de pensadores socialistas<br />
preocupava-se mais em idealizar um novo tipo de<br />
sociedade do que propor uma forma concreta para os<br />
trabalhadores conquistarem o poder. Esses pensadores<br />
ficaram conhecidos depois como socialistas utópicos,<br />
expressão derivada de Utopia, título de um livro famoso<br />
que o inglês Thomas Morus escreveu no século XVI.<br />
Esses pensadores se colocaram em defesa da substituição<br />
das relações de competição típicas do capitalismo para<br />
uma pratica de cooperação e associação entre os<br />
indivíduos. Charles Fourier idealizou a criação dos<br />
Falanstérios, edifício comunitários agro fabril, de cerca<br />
de 400 hectares, a abrigar 1600 trabalhadores,<br />
administradas pelos próprios operários. No falanstério,<br />
evitar-se-ia a divisão das tarefas, em favor da divisão de<br />
setores produtivos, em que cada trabalhador residente<br />
seria aproveitado, segundo a sua vocação e aptidão. A<br />
produção de cada falanstério seria somada à dos demais,<br />
a fim de que pudessem ser negociadas e os lucros<br />
revertidos aos cooperados.<br />
Outro destacado personagem do socialismo chamado<br />
utópico foi o empresário inglês Robert Owen, que<br />
sustentava que as péssimas condições de trabalho<br />
poderiam ser revertidas a partir de um esforço dos<br />
patrões em assegurar melhores condições de trabalho a<br />
seus empregados, que, por sua vez, aprimorariam a<br />
produção, garantindo maiores lucros ao empresário.<br />
Aprendiz de um fabricante de tecidos e diretor de<br />
indústria têxtil, aos 28 anos Owen comprou quatro<br />
fiações de algodão que ficavam na usina de New Lanark,<br />
perto de Glasgow Inglaterra. As fábricas empregavam<br />
1800 operários, dos quais 450 eram crianças. O<br />
socialista, patrão esclarecido, pôs em prática suas ideias:<br />
racionalizou a produção, aumentou os salários e a<br />
produtividade, ampliou os alojamentos dos trabalhadores<br />
e combateu, entre eles, o alcoolismo e o roubo,<br />
dedicando especial atenção à regeneração moral. Além<br />
disso, construiu escolas para os filhos dos operários e<br />
proibiu o trabalho das crianças de pouca idade nas<br />
fiações. Sua experiência foi uma das mais bem-sucedidas<br />
da época, mas boicotada por outros patrões que se<br />
recusaram a seguir seu exemplo, foi incapaz de garantir<br />
preços competitivos, fracassando no que tange aos<br />
possíveis lucros a serem alcançados.<br />
O nobre francês, Saint Simon (1760-1825), propunha<br />
uma sociedade na qual não deveriam haver ociosos e<br />
nem a exploração de um homem sobre o outro. Para<br />
345
tanto, negava a necessidade de classes parasitarias, e<br />
defendia a combinação de produtores associados, sem<br />
comprometer a propriedade privada, mas com<br />
planejamento centralizado, contestando a vigência do<br />
liberalismo recorrente à época.<br />
Os socialistas utópicos de maior destaque foram o inglês<br />
Robert Owen e os franceses Charles Fourier e Claude<br />
Saint-Simon. Suas formulações teóricas foram<br />
importantes, ao preconizar a preocupação intelectual com<br />
a questão do operariado, mas foram incapazes de<br />
apresentar medidas aplicáveis à verdadeira<br />
transformação daquela realidade histórica.<br />
5.2 Socialismo Científico<br />
As ideias socialistas, contudo, tomariam novo rumo com<br />
dois pensadores de origem germânica, que procederiam a<br />
uma crítica radical do capitalismo, procurando criar uma<br />
doutrina que fosse, ao mesmo tempo, científica e<br />
revolucionária. Esses pensadores eram Karl Marx e<br />
Friedrich Engels. Eles fundaram uma corrente de<br />
pensamento à qual deram o nome de socialismo<br />
científico ou comunismo. Em 1848, lançaram o<br />
Manifesto do Partido Comunista, que teve profundas e<br />
duradouras repercussões no movimento operário e<br />
socialista internacional. Para Marx e Engels, o<br />
capitalismo estava condenado à extinção, assim como<br />
haviam desaparecido também o feudalismo e o<br />
escravismo, e o agente dessa extinção seria o<br />
proletariado, classe oposta à burguesia. Para a vitória do<br />
346<br />
proletariado, era necessário organizar os trabalhadores e<br />
promover uma insurreição armada que levasse o Partido<br />
Comunista ao poder e criasse um Estado que destruísse a<br />
principal estrutura da sociedade burguesa: a propriedade<br />
privada dos meios de produção. No seu lugar, seria<br />
instituída a propriedade coletiva de todos os meios de<br />
produção. Esse Estado dos trabalhadores seria o<br />
primeiro estágio sara a formação de uma sociedade sem<br />
classes e sem governo, a sociedade comunista.<br />
Em 1867, a publicação de O Capital, revelaria o<br />
aprofundamento da teoria marxista, sustentada em quatro<br />
elementos fundamentais: a luta de classes, o<br />
materialismo histórico, o materialismo dialético e a<br />
mais-valia. Para os autores, a história da humanidade<br />
seria marcada pela persistente luta entre classes em<br />
oposição, na qual toda experiência de sociedade<br />
organizada encontrou transformações em sua estrutura, a<br />
partir dos conflitos existentes em seu interior. A<br />
condição de uma classe dominada explorada por uma<br />
que domina, conduziria aquela primeira a buscar sair<br />
dessa condição, propiciando as transformações. Na<br />
ordem capitalista, Marx e Engels situam as classes<br />
burguesa e proletária em oposição, cabendo a esta última<br />
o papel de lutarem pela tomada do poder e dos meios de<br />
produção através da revolução proletária.<br />
Fundamentaram ainda uma explicação histórica da<br />
realidade, a partir de sua capacidade de produção<br />
material; assim, todas as estruturas mentais, como<br />
ciência, religião, cultura e política, compunham uma<br />
superestrutura erguida a partir das condições especificas<br />
da infraestrutura material, marcada essencialmente pela<br />
economia e formas de trabalho. Para tanto, criou o<br />
conceito de modo de produção, em que essa<br />
superestrutura e infraestrutura se combinam, ao longo da<br />
história, com destaque para os modos d produção<br />
asiático, escravista, feudal e capitalista, sem situa-los<br />
obrigatoriamente de forma espacial ou temporal linear.<br />
Marx também desenvolveu o princípio dialético de<br />
Hegel, no qual cada realidade traz intrínseca em seu bojo<br />
os princípios de sua própria negação. Para os autores de<br />
O Capital, os próprios mecanismos que permitem o pleno<br />
desenvolvimento de um determinado sistema de<br />
produção, tende a ampliar a exploração de determinados<br />
grupos, alimentando seu ímpeto revolucionário às<br />
transformações que colocarão aquele modelo em xeque.<br />
Esperavam assim, que exatamente nas áreas mais<br />
prósperas da ordem capitalista, o incremento de sua<br />
exploração alimentaria a mobilização proletária para a<br />
revolução socialista.
Finalmente, desenvolveram ainda o conceito de mais<br />
valia, que servia como identificador do mecanismo<br />
fundamental da exploração do trabalhador assalariado na<br />
ordem capitalista. Defendiam que a mais valia seria o<br />
diferencial entre o valor recebido pelo trabalhador como<br />
salario, e a diferença substancial deste com relação ao<br />
valor daquilo que o trabalhador produz. O patrão justifica<br />
essa apropriação da mais valia, na condição de ser o<br />
proprietário da matéria prima e dos instrumentos de<br />
produção, levando Marx e Engels a defenderem,<br />
portanto, que a única maneira de transpor essa<br />
exploração, seria extinguindo a propriedade privada<br />
dos instrumentos produtivos.<br />
Ao se conscientizarem dessa exploração, os<br />
trabalhadores se organizariam para a tomada do poder<br />
por meio da revolução proletária, que derrubaria a<br />
burguesia das estruturas de poder e transferiria a<br />
propriedade privada ao controle do estado, a fim de<br />
transpor a diferença de classes e preparar a sociedade<br />
para o comunismo pleno.<br />
5.3 Anarquismo<br />
Outra corrente ideológica importante entre os operários<br />
do século XIX foi o Anarquismo, que lutava por um<br />
tipo de sociedade sem Estado e sem propriedade<br />
privada. Os mais importantes teóricos anarquistas foram<br />
os russos Mikhail Bakunin e Peter Kropotkin. Bakunin<br />
era partidário da violência revolucionária e aconselhava<br />
seus adeptos a recorrerem até aos atentados individuais<br />
contra a vida dos governantes, enquanto Kropotkin<br />
recomendava a utilização de métodos mais pacíficos.<br />
Tanto os anarquistas quanto os marxistas lutavam por<br />
uma sociedade sem classes e sem Estado. Mas havia<br />
profundas divergências entre eles. Os partidários de<br />
Marx sustentam que para se chegar ao comunismo era<br />
necessário criar primeiro um Estado que esmagasse as<br />
resistências burguesas instaurasse a igualdade entre as<br />
classes.<br />
A forma de governo desse Estado seria a ditadura do<br />
proletariado. Já os anarquistas, conhecidos também como<br />
libertários, opunham-se a todo tipo de governo, inclusive<br />
à ditadura do proletariado, preconizando a liberdade<br />
geral e a supressão imediata do Estado. Uma variante<br />
expressiva do anarquismo foi o anarcossindicalismo, que<br />
defendia a união entre as ideias libertárias e o movimento<br />
sindical. Essa tendência foi particularmente forte na<br />
Espanha. No Brasil, o movimento operário do começo do<br />
século XX seria liderado majoritariamente por adeptos<br />
do anarcossindicalismo.<br />
5.4 Socialismo Cristão<br />
No final do século XIX, a grande mobilização operária<br />
levou a cúpula eclesiástica de Roma a definir-se<br />
oficialmente quanto à sua participação nos novos<br />
problemas sociais. Em 1891, o papa Leão XIII lançou a<br />
encíclica Rerum Novarum, que expunha o pensamento<br />
social católico afirmando que a religião era a única via<br />
possível de transformação da sociedade e do<br />
estabelecimento da justiça social. Por isso condenava as<br />
propostas socialistas de transformação da sociedade<br />
através da luta política. Defendia a conciliação entre<br />
capital e trabalho e o fim da luta de classes. Apelava ao<br />
espírito cristão dos empregadores que respeitassem as<br />
necessidades e a dignidade de seus operários, e a estes<br />
que respeitassem a propriedade privada. Sua ideia central<br />
era que somente a ajuda mútua entre burguesia e<br />
proletariado garantiria o progresso social. Recomendava<br />
também a intervenção do Estado para melhorar as<br />
condições de vida dos trabalhadores nos setores de<br />
habitação e saúde. Após a publicação da encíclica, a<br />
Igreja não mais se desvinculou da questão social e de<br />
suas concepções políticas, caráter reforçado no século<br />
XX, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965).<br />
INTERNACIONALISMO DO PENSAMENTO<br />
MARXISTA – Internacionais Comunistas<br />
A obra teórica de Karl Marx conferiu ao movimento<br />
operário um conteúdo ideológico mais sólido que o de<br />
outras tendências socialistas. O anarquismo imprimiu um<br />
sentido moral e universalista à revolução, que passou a<br />
ser o objetivo político do proletariado e do campesinato<br />
de alguns dos países mais atrasados no processo de<br />
industrialização, como Espanha e Rússia. As duas<br />
tendências, representadas por Marx e Bakunin,<br />
respectivamente, se uniram em 1864 sob a bandeira da<br />
Associação Internacional de Trabalhadores (AIT). Mais<br />
conhecida como Primeira Internacional, a AIT foi<br />
fundada em Londres com o objetivo de fomentar a<br />
solidariedade proletária e promover a conquista do poder<br />
por aquela classe social.<br />
347
Inicialmente, os sindicatos ingleses e franceses<br />
detinham a maior representação na Internacional; a partir<br />
de 1868, porém, foram criadas seções regionais na<br />
Bélgica, Espanha, Suíça, Itália e outros países. A<br />
desagregação da Primeira Internacional ocorreu por<br />
causa da perseguição movida pelos governos aos seus<br />
dirigentes, mas, sobretudo pelas discordâncias entre<br />
Marx e Bakunin. A derrota da Comuna de Paris em<br />
1871, ensaio frustrado de governo socialista que teve a<br />
participação dos internacionalistas, precipitou a<br />
dissolução da organização. Durante o Congresso de 1872<br />
em Haia, as seções bakunistas se separaram da AIT e se<br />
integrou à Aliança Internacional, uma nova organização<br />
anarquista. O fim estava próximo: a Primeira<br />
Internacional acabou em 1876, e a Aliança realizou seu<br />
último congresso no ano seguinte.<br />
Enquanto isso, a expansão do capitalismo e sua<br />
evolução para a etapa imperialista, que se caracterizou<br />
por "exportar" para a periferia as contradições do<br />
sistema, tornaram possível a concessão de benefícios<br />
sociais nos países industrializados. O movimento<br />
operário tendeu a orientar suas atividades no sentido de<br />
criar organizações sindicais consolidadas e partidos<br />
socialdemocratas nacionais. Em 1889 foi fundada a<br />
Segunda Internacional, em que predominava o Partido<br />
Social Democrata Alemão. O principal teórico da revisão<br />
do marxismo foi Eduard Bernstein, que concebeu a ideia<br />
de alcançar o socialismo por um processo de<br />
aperfeiçoamento do capitalismo.<br />
A deflagração da primeira guerra mundial<br />
demonstrou a fragilidade do conteúdo internacionalista<br />
dos partidos socialdemocratas da época, pois cada um<br />
apoiou o governo de seu país em lugar de trabalhar pela<br />
solidariedade operária entre os países em guerra.<br />
Revolução russa e evolução do movimento operário.<br />
Diante do "revisionismo" dos socialistas e<br />
socialdemocratas, os revolucionários russos --<br />
principalmente Lênin -- promoveram a criação de um<br />
partido profissional, que representasse a vanguarda do<br />
proletariado. O sucesso da revolução russa de 1917<br />
alimentou, na classe operária de outros países, a ilusão de<br />
uma rápida vitória do comunismo internacional, e com<br />
isso a Europa viveu, entre 1918 e 1922, um novo período<br />
de explosões revolucionárias. Em 1919 fundou-se em<br />
Moscou a Terceira Internacional, ou Internacional<br />
Comunista. Os partidos socialdemocratas da Hungria, no<br />
poder, combateram a revolução proletária. Nos demais<br />
348<br />
países da Europa, fracassaram as revoltas isoladas dos<br />
novos partidos comunistas.<br />
Em reação ao ativismo comunista, surgiram os<br />
partidos fascista e nazista, que chegaram ao poder na<br />
Itália e na Alemanha, respectivamente. Esses partidos<br />
tinham tendência a incorporar, em seus programas,<br />
elementos do trabalhismo e do sindicalismo.<br />
O movimento comunista se dividiu em 1938, quando<br />
Leon Trotsky fundou a Quarta Internacional, oposta ao<br />
stalinismo. O anarquista perdeu terreno, na primeira<br />
metade do século XX, para a socialdemocracia e para o<br />
comunismo.<br />
Depois de um período de isolamento e decadência, os<br />
partidos comunistas voltaram a crescer na Europa, após a<br />
segunda guerra mundial, principalmente na França e na<br />
Itália. A recuperação econômica do continente fez com<br />
que esses partidos assumissem papéis compatíveis com<br />
os estados capitalistas democráticos. Os grandes<br />
sindicatos socialistas e comunistas da Europa, assim<br />
como os sindicatos americanos, se transformaram em<br />
instituições integradas ao sistema econômico e social<br />
capitalista e chegaram mesmo a colaborar com os<br />
governos nos planos de austeridade adotados em épocas<br />
de crise. A participação operária em alguns escassos<br />
episódios revolucionários, como o de maio de 1968 em<br />
Paris, ocorreu à margem das diretrizes sindicais.<br />
O fenômeno de institucionalização do sindicalismo se<br />
manifestou com maior intensidade dentro dos regimes<br />
comunistas, na União Soviética e nos países do leste<br />
europeu. Os tímidos movimentos populares de oposição<br />
aos regimes centralizadores ganharam expressão no final<br />
da década de 1980. Com a dissolução da União<br />
Soviética, em 1991, os trabalhadores dos antigos países<br />
comunistas passaram a apoiar abertamente o retorno à<br />
economia de mercado. O final do século XX encontrou o<br />
movimento operário europeu dividido e ameaçado por<br />
conflitos nacionalistas, étnicos e religiosos, no leste, e<br />
pelo recrudescimento do nazi-fascismo e do racismo, no<br />
oeste.
EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA AMÉRICA ESPANHOLA<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Na onda dos movimentos liberais que se propagaram da<br />
Europa à América no início do século XIX, os territórios<br />
americanos sob domínio espanhol, inspirados pelos<br />
ideais iluministas de emancipação, protagonizaram sua<br />
vitoriosa guerra de independência contra o colonialismo;<br />
em seguida, consagrariam a organização dos Estados<br />
latino-americanos, sustentados pelo regime<br />
republicano e pela dominação política das elites locais,<br />
representados nos chefes caudilhos e alterando a<br />
dependência econômica da Metrópole Ibérica para os<br />
interesses dos Imperialismo associado ao<br />
desenvolvimento do capitalismo industrial britânico.<br />
2. A CRISE DO SISTEMA COLONIAL<br />
O processo de enfrentamentos entre as elites americanas<br />
e as autoridades metropolitanas, que culminaram na<br />
formação dos Estados Nacionais da América Latina,<br />
integraram o processo de crise do sistema de exploração<br />
colonial e das transformações europeias que colocaram<br />
em xeque a ordem do Antigo Regime na Europa. Desde<br />
o século XVIII, em consequência das transformações<br />
ideológicas, econômicas e políticas produzidas pelo<br />
Iluminismo, pela Revolução Industrial, pela<br />
independência dos Estados Unidos e pela Revolução<br />
Francesa. Tais acontecimentos, em maior ou menor<br />
escala, criaram as condições históricas e espaciais<br />
necessárias ao processo de independência da América<br />
espanhola.<br />
O desenvolvimento econômico das áreas coloniais e o<br />
enriquecimento das elites criollas alimentaram o<br />
interesse desses grupos em um maior autonomia em suas<br />
transações comerciais, o que colocava em xeque os<br />
sistemas de monopólios e o controle exercido pela<br />
Metrópole através dos chapettones. Assim, buscaram no<br />
discurso iluminista a sustentação ideológica para seus<br />
ideais autonomistas. Entendiam que a condição para a<br />
liberdade de comércio estava inevitavelmente atrelada à<br />
luta pela liberdade política, justificada no direito dos<br />
349
povos oprimidos à rebelião contra os governos tirânicos<br />
e a luta pela liberdade econômica na substituição do<br />
monopólio comercial pelo regime de livre<br />
concorrência. Tais princípios haviam sido amplamente<br />
difundidos pelos teóricos iluministas, pelas protagonistas<br />
da Revolução Francesa e, ganhavam eco cada vez maior<br />
em terras americanas após o sucesso da emancipação<br />
política da América Inglesa.<br />
Desde meados do século XVIII e no início do século<br />
XIX, a consolidação da Revolução Industrial Inglesa<br />
acarretara um aumento cada vez maior da oferta de<br />
produtos introduzidas nas redes de comércio. Tal<br />
ampliação da oferta associada à perda das áreas coloniais<br />
na América levaram a Inglaterra a se posicionarem em<br />
favor das autonomias dos territórios da América<br />
Espanhola, o que garantiria a abertura dos mercados<br />
americanos ao livre comércio, até então entravados pelo<br />
exclusivo comercial imposto pela Espanha.<br />
O monopólio comercial, firmado desse o século XVI<br />
constituía-se no principal mecanismo para assegurar os<br />
lucros às Metrópoles, que lucravam duplamente<br />
revendendo os produtos coloniais à Europa e as<br />
manufaturas inglesas às suas colônias. Esta política<br />
monopolista, entretanto, tornava-se incômoda tanto à<br />
burguesia inglesa, quanto às elites residentes nas<br />
colônias, o que permite associar o desenvolvimento do<br />
moderno capitalismo industrial e a aceleração da crise do<br />
antigo sistema colonial mercantilista. Ficava cada vez<br />
mais claro que a ruptura do monopólio colonial e sua<br />
substituição pelo livre comércio só poderia se fazer<br />
através da independência das colônias em relação ao<br />
controle político exercido pelas antigas metrópoles.<br />
Numa realidade mais próxima, o próprio continente<br />
americano guardava o maior exemplo prático a inspirar<br />
as lutas emancipacionistas da América Espanhola. Desde<br />
1776, o esforço vitorioso de autonomia das treze<br />
colônias e a formação dos Estados Unidos,<br />
constituindo a primeira Nação soberana do continente,<br />
acabou por tornar-se o principal exemplo e a fonte de<br />
inspiração para os movimentos latino - americanos que<br />
lutavam pela emancipação política. Maior prova disso é<br />
o enorme fascínio que o ideal republicano estadunidense<br />
exercera sobre as elites criollas, vindo a tornar-se,<br />
posteriormente, o principal orientador político das jovens<br />
nações que viriam s e formar.<br />
Ainda da Europa, veio outra conjuntura especial que<br />
contribuiu à ruptura política na América Espanhola. A<br />
Revolução Francesa e seu ímpeto transformador,<br />
expandiram-se do Velho Mundo à América. A ascensão<br />
350<br />
de Napoleão Bonaparte, a imposição da supremacia<br />
francesa à Europa e o estabelecimento do Bloqueio<br />
Continental contra a Inglaterra desferiram um golpe de<br />
morte no decadente sistema colonial ibero-americano.<br />
A ocupação violenta dos franceses na Península Ibérica<br />
no início do século XIX está entre os principais<br />
determinantes das conjunturas históricas que propiciaram<br />
a independência no Brasil e dos territórios vizinhos. Com<br />
a ocupação da Espanha por Napoleão e a imposição de<br />
José Bonaparte como rei do país desencadearam-se as<br />
reações da elite criollla, empenhadas posteriormente nas<br />
lutas de independência nas colônias da América<br />
espanhola.<br />
3. A CONJUNTURA HISPANO -<br />
AMERICANA<br />
Antes de detalhar os processos de ruptura política, faz se<br />
imprescindível retomar brevemente o processo de<br />
organização política e o funcionamento econômico das<br />
colônias espanholas, a fim de compreender as<br />
contradições existentes que alimentavam os interesses<br />
dos grupos independentistas. Em termos administrativos,<br />
por exemplo, o império colonial espanhol na América<br />
organizava-se em quatro vice-reinados e quatro<br />
capitanias gerais.<br />
Os vice-reinados existentes eram os de Nova Espanha<br />
(atual México e parte do território atualmente integrado<br />
ao sudoeste dos Estados Unidos), Nova Granada (atuais<br />
territórios da Colômbia e Equador), Peru e Prata (que<br />
incluía as regiões da Argentina, Uruguai, parte da<br />
Bolívia e o Paraguai). As capitanias gerais, geralmente<br />
funcionais para fins de defesa militar de áreas<br />
estratégicas, eram as de Cuba, Guatemala, Venezuela e<br />
Chile.<br />
Os principais postos políticos eram os cargos de vice-rei<br />
e capitão-geral, obrigatoriamente exercidos por<br />
representantes enviados pela Coroa, sempre vindos da<br />
Espanha, como o eram igualmente todos os altos postos<br />
da administração colonial, relacionados à aplicação da<br />
justiça, chefias militares, funções eclesiásticas etc. Ao<br />
estabelecer essas determinações das funções públicas,<br />
consagrava-se a dominação e o monopólio do aparelho<br />
político-administrativo, exclusivamente pelos espanhóis<br />
de origem e nascimento.<br />
Do ponto de vista econômico, a Metrópole organizou sua<br />
exploração colonial com base na produção e exportação<br />
de matérias primas do setor primário, agrícolas ou
minerais, essencialmente, voltados à intensa<br />
comercialização no mercado externo europeu e<br />
controlado pelos instrumento dos monopólios<br />
comerciais. A mineração, baseava-se especialmente na<br />
extração de ouro e prata, concentrada especialmente no<br />
México e na Bolívia.<br />
A agricultura tropical, por sua vez, encontrou seu<br />
principal reduto nas áreas da América Central e nas ilhas<br />
antilhanas, moldadas a partir do modelo de plantations,<br />
ou seja, grandes propriedades monoculturas, trabalhadas<br />
por escravos. A pecuária constituiu-se em atividade<br />
complementar das demais áreas, concentradas<br />
principalmente no vice-reinado do Prata. O comércio era<br />
praticado nas grandes cidades portuárias, como Buenos<br />
Aires, Valparaíso, Cartagena e Vera Cruz.<br />
Apesar da diversidade e intensidade dessas atividades<br />
econômicas espalhadas pelas regiões coloniais do<br />
domínio espanhol, a metrópole era capaz de manter um<br />
rígido controle dessas atividades, através de órgãos<br />
instalados na Metrópole e autoridades constituídas na<br />
colônia, que asseguravam a manutenção do exclusivos de<br />
comercio. Esse controle excessivo afetava os interesses<br />
econômicos da elite colonial, obrigada a vender, a baixos<br />
preços, seus produtos à Metrópole e dela comprar, a altos<br />
preços, as manufaturas importadas. O mesmo acontecia<br />
com os comerciantes e industriais ingleses, forçados a<br />
aceitar a intermediação da Espanha e impedidos de<br />
vender diretamente as suas mercadorias à América.<br />
O fim do monopólio comercial interessava, assim, tanto<br />
à elite colonial como à burguesia inglesa, à medida que<br />
ambas aumentariam seus lucros com a adoção do livre<br />
comércio. Esta convergência de interesses foi um fator<br />
decisivo para a vitória do movimento de independência<br />
hispano-americano.<br />
Durante o período colonial, a sociedade que se forjou era<br />
formada por uma população superior a dez milhões de<br />
habitantes, divididos em diversas e sobrepostas<br />
hierarquicamente, classes sociais. Os brancos,<br />
perfazendo mais de três milhões de pessoas,<br />
classificavam-se em chapettones e criollos. Os primeiros,<br />
também chamados de peninsulares, perto de trezentos<br />
mil, eram os espanhóis natos que, monopolizando o<br />
poder político, dominavam os altos cargos da<br />
administração colonial. Os criollos, cerca de três<br />
milhões, constituíam os descendentes de chapettones,<br />
aqui nascidos e que formavam a elite econômica e<br />
intelectual da colônia, à qual pertenciam os mineradores,<br />
latifundiários, comerciantes, pecuaristas, profissionais<br />
liberais e membros do baixo clero.<br />
A contradição que se impôs entre a estrutura econômica,<br />
dominada pelos criollos (partidários do livre comércio), e<br />
a estrutura política, controlada pelos chapettones<br />
(defensores do monopólio metropolitano), tornou-se o<br />
principal fator no processo de independência da América<br />
Espanhola.<br />
As classes populares de fato, correspondiam à maioria<br />
esmagadora dos habitantes do Império Espanhol nas<br />
Américas. Emas constituídos pelos mestiços,<br />
descendentes de espanhóis e índios, cerca de cinco<br />
milhões e dedicados ao pequeno comércio e ao<br />
artesanato, enquanto os índios, mais de dez milhões,<br />
constituíam a mão-de-obra explorada na mineração e na<br />
agricultura. Os negros, perto de oitocentos mil,<br />
concentravam-se principalmente nas Antilhas e<br />
formavam a mão-de-obra escrava utilizada nas<br />
plantations tropicais.<br />
Embora sendo esmagadora minoria, eram os criollos e os<br />
chapettones que dominavam e determinavam a condução<br />
das relações econômicas e políticas das colônias hispanoamericanas<br />
e era especialmente a eles que interessava a<br />
ligação com a metrópole ou o rompimento de laços com<br />
ela. Desse modo, a guerra de independência caracterizouse<br />
por ser uma luta entre os criollos, apoiados pela<br />
Inglaterra, e os chapettones, apoiados pela Espanha, pelo<br />
domínio do aparelho político-administrativo.<br />
3. A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA<br />
4.<br />
351
O processo de independência hispano-americano foi<br />
marcado especialmente, pela longa duração, pelos<br />
avanços e recuos com que se processara e, pela intensa<br />
violência envolvendo grupos populares e lideranças<br />
criollas em oposição às autoridades metropolitanas. Para<br />
melhor compreensão do longo processo, convencionouse<br />
dividi-lo em três fases principais: os movimentos<br />
precursores (1780 - 1810), as rebeliões fracassadas (1810<br />
- 1816) e as rebeliões vitoriosas (1817 - 1824).<br />
Na primeira fase do longo processo de independência,<br />
situam-se os chamados movimentos precursores,<br />
deflagrados prematuramente, e alvo de severa repressão<br />
por parte das autoridades. Embora não tenham alcançado<br />
vitória, assim como os movimentos precursores<br />
independentistas na América Portuguesa (Inconfidência<br />
Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana<br />
de 1817), sinalizaram o enfraquecimento da dominação<br />
colonial, evidenciou as contradições envolvidas naquele<br />
processo histórico e, prepararam o amadurecimento para<br />
as guerras de independência travadas na posteridade. A<br />
mais importante dessas insurreições iniciou-se no<br />
território peruano em 1780 e foi comandada por Tupac<br />
Amaru II, nome indígena assumido por José Gabriel<br />
Condorcanqui.<br />
Essa rebelião indígena mobilizou mais de sessenta mil<br />
índios e, estava associada à opressiva carga tributária<br />
imposta pela metrópole na região, além do desrespeito<br />
aos direitos indígenas e à recusa da Audiência de Lima<br />
em isentar a população nativa da província de Tinta das<br />
obrigações da mita. O auge da revolta culminou com a<br />
execução do corregedor provincial Antonio Arriaga, em<br />
1780, o movimento causou violenta reação por parte das<br />
autoridades metropolitanas, que culminaram na execução<br />
de milhares de índios e na morte violenta de Tupac<br />
Amaru, decapitado e esquartejado na cidade de Cuzco.<br />
Outros movimentos dessa natureza, combinando<br />
lideranças criollas e alguns setores populares, também se<br />
repetiram no Chile e Venezuela, mas todos sufocados<br />
sem maiores dificuldades pelas tropas realistas.<br />
Inspirado no exemplo dos Estados Unidos, o criollo<br />
venezuelano Francisco Miranda liderou, a partir desta<br />
época, vários levantes e se tornou o maior precursor da<br />
independência hispano-americana.<br />
Após a independência americana, a segunda<br />
independência da América foi realizada pelos negros<br />
trabalhadores das plantations que, em 1793, através de<br />
uma insurreição popular contra a elite branca e as<br />
autoridades coloniais libertaram o Haiti da dominação<br />
francesa.<br />
352<br />
No começo do século XIX, com a reestruturação<br />
geopolítica da Europa mediante a expansão napoleônica,<br />
novo ímpeto de libertação colonial forjou-se na América<br />
Espanhola, conduzindo à segunda fase dos processos<br />
separatistas. Em 1808, mediante a ação expansionista<br />
francesa na Península Ibérica, a ascensão de José<br />
Bonaparte ao trono da Espanha iria desencadear forte<br />
estimulo à independência na América espanhola, devido<br />
aos desdobramentos políticos daquela situação.<br />
Em território espanhol europeu, o povo mantinha-se em<br />
resistência à dominação espanhola, através da<br />
famigerada guerra peninsular; na América, os criollos<br />
pronunciaram-se pelo "lealismo" e se colocaram ao lado<br />
de Fernando VII, herdeiro legítimo de Coroa espanhola,<br />
então destituído. Os criollos, organizaram-se em<br />
resistência, transformando os antigos cabildos<br />
(equivalente às Câmaras Municipais da América<br />
Portuguesa e foco da ação política dos criollos) em<br />
Juntas Governativas, que se recusavam a submeter-se à<br />
autoridade dos chapettones leais ao novo monarca<br />
francês, a exemplo do Paraguai em 1811.<br />
O fracasso das rebeliões iniciadas em 1810, foi<br />
consequência, em grande parte, da falta de apoio da<br />
Inglaterra, que empenhada na luta contra a França<br />
Napoleônica, não pôde fornecer ajuda aos movimentos<br />
de independência liderados pela aristocracia criolla.<br />
Também no México, em setembro de 1810, o padre<br />
Miguel Hidalgo lançava o Manifesto conhecido como<br />
Grito de las Dolores, que procurou, embora sem sucesso,<br />
com apoio das populações indígena e mestiça, deflagrar<br />
o movimento separatista. Fuzilado pelas autoridades<br />
espanholas, o padre Hidalgo foi substituído pelo padre<br />
Morelos, que também buscou incentivar a emancipação<br />
combinada às reivindicações populares, mas que também<br />
teria destino trágico como seu antecessor. Derrotado o<br />
movimento no México, somente em 1821, o país<br />
alcançaria o status de nação independente da Espanha.
El grito de Dolores, mural de Juan O' Gorman. [A história do México é<br />
contada por gigantescas pinturas murais. Diego Rivera, Jose Orozco e Juan<br />
O' Gorman são alguns desses muralistas. O' Gorman procurou enfatizar a<br />
importância do movimento liderado pelo padre Hidalgo, em 1810.]<br />
No vice reinado do Prata, milícias coloniais depuseram a<br />
autoridade do vice rei local, como também se<br />
organizavam no Vice Reino de Nova Granada e na<br />
Capitania geral da Venezuela, o Exército dos libertadores<br />
comandado por Simon Bolívar. EM 1812, tentando<br />
conter os movimentos separatistas, a Espanha chegou a<br />
adotar uma legislação de estimulo ao livre comercio para<br />
as colônias, mas que já não se mostravam mais<br />
suficientes para aplacar as lideranças independentistas.<br />
Tais movimentos, entretanto, não conseguiram sustentar<br />
essas primeiras emancipações, pois estava restrito às<br />
elites coloniais, sem respaldo internacional, foram<br />
facilmente sufocados pelas tropas realistas. Nesse<br />
momento, o estado inglês, maior interessado nessas<br />
independências, optava por uma posição de<br />
imparcialidade enquanto estivesse lutando junto ao<br />
Império espanhol no enfrentamento contra Bonaparte na<br />
Europa. .<br />
Com a derrota de Napoleão em 1815, a Espanha, libertase<br />
da ameaça francesa, devolve a Coroa aos Bourbon e<br />
insiste na retomada da lealdade dos criollos aos<br />
chapettones espanhóis. Muitos líderes criollos,<br />
entretanto, tendo experimentado a autonomia política,<br />
recusava-se a aceitar a submissão ao estado espanhol.<br />
Contando com o apoio estratégico dos financiamentos<br />
ingleses e o apoio político dos EUA, as lideranças<br />
independentistas se espalharam, no terceiro e definitivo<br />
ciclo das emancipações, entre 1817 e 1824. Passou a<br />
apoiar efetivamente as rebeliões de independência na<br />
América, que se reiniciaram em 1817 e só terminariam<br />
em 1824 com a derrota dos espanhóis e a emancipação<br />
de suas colônias americanas.<br />
Naquele ano Simon Bolívar desencadeou a campanha<br />
militar que culminaria com a libertação da Venezuela, da<br />
Colômbia e do Equador e, mais ao sul, José de San<br />
Martín promovia a libertação da Argentina, do Chile e do<br />
Peru. Em 1822 os dois libertadores encontraram-se em<br />
Guayaquil, no Equador, onde San Martín entregou a<br />
Bolívar o comando supremo do exército de libertação.<br />
O processo de independência tornou-se irreversível<br />
quando, em 1823, os EUA proclamaram a Doutrina<br />
Monroe, opondo-se a qualquer tentativa de intervenção<br />
militar, imperialista ou colonizadora, da Santa Aliança,<br />
no continente americano. Em 1824, os últimos<br />
remanescentes do exército espanhol foram<br />
definitivamente derrotados pelo general Sucre, lugartenente<br />
de Bolívar, no interior do Peru, na Batalha de<br />
Ayacucho.<br />
Símon Bolívar<br />
Ao norte, a independência do México fora realizada em<br />
1822 pelo general Iturbide, que se sagrou imperador sob<br />
o nome de Agustín I. Um ano depois, foi obrigado a<br />
abdicar e, ao tentar retomar o poder, foi executado,<br />
adotando o país o regime republicano. Em 1825, após a<br />
guerra de independência, apenas as ilhas de Cuba e Porto<br />
Rico permaneceram sob o domínio espanhol.<br />
5. CONSEQUÊNCIAS DA INDEPENDÊNCIA<br />
Com o término do processo separatista efetivado nas<br />
principais regiões da América Espanhola, as lideranças<br />
independentistas foram convidadas a comparecerem ao<br />
Congresso do Panamá, em 1826. No encontro proposto<br />
por Símon Bolívar, o objetivo primordial era propor a<br />
inibição de pretensas atividades recolonizadoras, assim<br />
como firmar interesses das novas nações diante de outras<br />
nações do continente, como EUA e Brasil. O congresso<br />
buscava ainda firmar compromissos de defesa comum,<br />
solução pacifica de conflitos e preservação da<br />
353
354<br />
integridade territorial entre os países recém formados,<br />
além de apoiarem a abolição do tráfico de escravos.<br />
A realização do Congresso do Panamá e a liderança de<br />
Bolívar costuma ser associadas a uma suposta pretensão<br />
de unificação pan-americana. Estudos recentes, no<br />
entanto, demonstram que esse projeto apresentou-se<br />
bastante precário, considerando que a própria base<br />
política e territorial da Gran Colômbia (de onde<br />
supostamente se organizaria a unificação pan-americana)<br />
era incipiente. Ademais, nem todos os territórios<br />
partilhavam desse mesmo interesse, o que ficou<br />
demonstrado na ausência de representantes da Argentina,<br />
Paraguai, Uruguai, Haiti, Estados Unidos e do Brasil,<br />
fragilizando a proposição do pan-americanismo.<br />
Os interesses particulares e regionais das lideranças<br />
políticas locais, a grande dimensão territorial e a<br />
variedade de realidades econômicas, assim como o<br />
desinteresses inglês em um território unificado, também<br />
devem ser considerados para o fracasso de tal projeto.<br />
Outro aspecto importante a ser considerado, é que o<br />
projeto político pretendido por Bolívar, mostrava-se<br />
bastante conservador, pois em discurso de 1819, o<br />
Libertador sinalizava para um governo controlado pelas<br />
“classes decentes” (proprietários de terra e<br />
comerciantes), além da defesa de um Executivo forte e<br />
um Legislativo constituído a partir de critérios<br />
censitários.<br />
Em 1826, Bolívar convocou os representantes dos países<br />
recém-independentes para participarem da Conferência<br />
do Panamá, cujo objetivo era a criação de uma<br />
confederação pan-americana.<br />
O sonho bolivariano no de unidade política chocou-se,<br />
entretanto, com os interesses das oligarquias locais e com<br />
a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, a quem<br />
não interessavam países unidos e fortes. Após o fracasso<br />
da Conferência do Panamá, a América Latina<br />
fragmentou-se politicamente em quase duas dezenas de<br />
pequenos Estados soberanos, governados pelas<br />
aristocracia criolla.<br />
Assim, entre as principais consequências do processo de<br />
emancipação da América espanhola merecem destaque: a<br />
conquista da independência política, a consequente<br />
divisão política e a persistência da dependência<br />
econômica dos novos Estados.<br />
O processo de independência propiciou sobretudo a<br />
emancipação política, ou seja, uma separação da<br />
metrópole através da quebra do pacto colonial. A<br />
independência política não foi acompanhada de uma<br />
revolução social ou econômica: as velhas estruturas<br />
herdadas do passado colonial sobreviveram à guerra de<br />
independência e foram conservadas intactas pelos novos<br />
Estados soberanos.<br />
Assim, a divisão política e a manutenção das estruturas<br />
coloniais contribuíram para perpetuar a secular<br />
dependência econômica latino-americana, agora não<br />
mais em relação à Espanha, mas em relação ao<br />
capitalismo industrial inglês.<br />
As jovens repúblicas latino-americanas, divididas e<br />
enfraquecidas, assumiram novamente o duplo papel de<br />
fontes fornecedoras de matérias-primas essenciais agora<br />
à expansão do industrialismo e de mercados<br />
consumidores para as manufaturas produzidas pelo<br />
capitalismo inglês.<br />
5. O CASO PARTICULAR DO HAITI<br />
O Haiti Faz parte da Ilha de Hispaniola (atual São<br />
Domingos), dividida durante o Período Colonial entre<br />
Espanha (porção oriental) e a Franca (porção ocidental).<br />
Nos domínios franceses, a composição social dividia-se<br />
em uma maioria de negros escravizados, os mulatos e<br />
negros livres (affranchis), que inclusive podiam se tornar<br />
proprietários de escravos e formavam uma classe<br />
intermediaria; e a minoria de brancos (grand blancs),<br />
socialmente privilegiados e responsáveis pela exploração<br />
econômica e administração colonial.<br />
No decorrer da Revolução Francesa, teve início os<br />
esforços de emancipação da principal colônia francesa<br />
nas Américas. Em 1791, sob a liderança do líder
Touissant Louverture, levantaram-se os affranchis em<br />
favor da plena igualdade civil e expansão dos direitos<br />
políticos, encontrando forte resistência dos brancos, leais<br />
ao governo francês. Na fase mais radical da revolução,<br />
quando a Convenção nacional aboliu a escravidão nas<br />
colônias, Touissant incorporou-se ao Exército francês na<br />
luta contra os ingleses, enfrentou a ameaça espanhola de<br />
tomar a ilha inteira para si e combateu os brancos<br />
insatisfeitos com a abolição da escravidão, o que lhe<br />
garantiu preponderância política e prestigio no Haiti,<br />
onde construiu hospitais, parques e estimulou a produção<br />
das lavouras de açúcar, criou escolas e chegou a redigir<br />
um esboço constitucional para o Haiti, que deveria<br />
continuar uma federação ligada à Franca.<br />
A projeção de um líder negro no Haiti e o retorno dos<br />
grupos mais conservadores da burguesia ao poder na<br />
Franca, levaram à intervenção metropolitana no Caribe<br />
em 1802, sob mando de Napoleão Bonaparte. Com a<br />
ocupação de mais de 60 mil homens franceses no<br />
território, a fim de retomar a pratica escravista, Touissant<br />
mobilizou escravos e quilombolas para resistir aos<br />
franceses, mas terminou preso e enviado à Franca, onde<br />
morreria um ano depois.<br />
Apesar da derrota, o movimento prosseguiu no esforço<br />
de emancipação e abolição convergidos, sob a liderança<br />
de Jean Jacques Dessalines, oriundo do exército<br />
quilombola; em 1804, o exército rebelde composto de<br />
africanos e seus descendentes triunfaram sobre os<br />
franceses, proclamando a independência do Haiti e,<br />
promovendo verdadeiro massacre da elite branca, o que<br />
assombrava as elites de toda a América, devido ao tom<br />
radical e popular que aquela emancipação assumira.<br />
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
Vizinhança em ebulição<br />
Em toda a América Latina, o início do século XIX foi<br />
marcado por guerras, revoluções e reviravoltas<br />
políticas... Maria Elisa Mäder 7/1/2008<br />
Guerras, revoluções, novas repúblicas, reviravoltas<br />
políticas. Enquanto o Brasil era governado pelo rei de<br />
Portugal, sua vizinhança foi um barril de pólvora. Em<br />
menos de duas décadas, a América espanhola se<br />
transformou radicalmente, numa sucessão de<br />
independências conquistadas na ponta da espada.<br />
<strong>História</strong>s diferentes, mas com o mesmo ponto de<br />
origem. A invasão napoleônica da Península Ibérica em<br />
1807 provocou mudanças definitivas nos domínios<br />
coloniais de Portugal e Espanha. D. João viu-se forçado a<br />
transferir sua Corte para o Brasil a fim de manter o trono.<br />
Já o rei espanhol, Fernando VII, não teve a mesma sorte<br />
e acabou deposto. Pior: o trono passou para as mãos de<br />
José Bonaparte, irmão de Napoleão. Como consequência,<br />
suas colônias na América enfrentaram uma fase de<br />
intensa experimentação política.<br />
No século anterior, os reinados de Carlos III e Carlos<br />
IV (que em 1808 abdicaria do trono em favor de seu<br />
filho Fernando VII) haviam testemunhado o<br />
desenvolvimento de um pensamento político moderno<br />
iluminista – que enfatizava a liberdade, a igualdade, os<br />
direitos civis, o governo das leis, a representação<br />
constitucional e o liberalismo econômico – entre<br />
pequenos, mas significativos, grupos de espanhóis<br />
peninsulares e espanhóis americanos. Baseados nestas<br />
ideias, os dois monarcas da dinastia Bourbon impuseram<br />
às colônias uma série de reformas políticas e<br />
administrativas, com o objetivo de aumentar a<br />
prosperidade econômica da Espanha e recuperar a<br />
supremacia política perdida. As medidas agravaram o<br />
descontentamento da elite colonial crioula (como eram<br />
chamados os brancos nascidos na América espanhola) ao<br />
afrontar os sentimentos de autonomia e de identidade que<br />
vinham ganhando corpo durante os três séculos de<br />
colonização.<br />
A desarrumação causada pela invasão napoleônica<br />
abriu caminho para que esta elite crioula motivasse um<br />
crescente debate nas colônias sobre soberania,<br />
representação do povo na política, a ideia de nação e a<br />
necessidade de dar uma nova Constituição à monarquia.<br />
A administração do reino sofreu sucessivas<br />
mudanças. A princípio, formaram-se, na Espanha e na<br />
América, juntas de governo locais, que invocavam o<br />
princípio legal hispânico de que a soberania, na ausência<br />
do rei, retornaria aos povos. A iniciativa gerou forte<br />
oposição dos “realistas” na América. Em setembro de<br />
1808, foi criada a Junta Suprema Central e Governativa<br />
do Reino, que, como o nome sugeria, centralizava os<br />
poderes Executivo e Legislativo, como uma tentativa de<br />
solucionar a crise da monarquia. As vitórias francesas de<br />
1809 levaram à dissolução da Junta no ano seguinte. Em<br />
seu lugar designou-se um Conselho de Regência, logo<br />
questionado por algumas províncias da Espanha e vários<br />
vice-reinos da América.<br />
355
A situação demandava uma solução. Em 1812, a<br />
reunião das Cortes em Cádiz, na Espanha, para a<br />
elaboração de uma Constituição, dedicou-se a<br />
encaminhar as preocupações das províncias da Espanha e<br />
de muitas partes do Novo Mundo. O Parlamento<br />
espanhol tentava, assim, prover um meio pacífico aos<br />
autonomistas americanos para a obtenção da ordem<br />
local. Os extensos debates naquele congresso<br />
transformaram o mundo hispânico.<br />
A Constituição promulgada não foi apenas um<br />
documento espanhol, foi igualmente americano. Pode-se<br />
dizer que, sem a participação dos deputados do Novo<br />
Mundo, dificilmente a Carta de 1812 tomaria a forma<br />
que tomou. Foram abolidos as instituições senhoriais, a<br />
Inquisição, o tributo pago pelas comunidades indígenas e<br />
o trabalho forçado – como a mita na região andina.<br />
Também foi criado um estado unitário com leis iguais<br />
para todas as partes da monarquia, restringida a<br />
autoridade do rei e confiado às Cortes o poder de decisão<br />
final. O direito de voto conferido a todos os homens<br />
(com exceção dos de ascendência africana), sem<br />
exigência de renda ou grau de alfabetização, torna a<br />
Constituição de Cádiz superior às dos demais governos<br />
representativos de sua época – como Grã-Bretanha,<br />
Estados Unidos e França –, estendendo direitos políticos<br />
à vasta maioria da população adulta masculina.<br />
Mas os avanços representativos não foram suficientes<br />
para conter as guerras civis que desde 1810 se<br />
desenrolavam na América. Estavam em lados opostos<br />
aqueles que, insistindo na formação de juntas locais, se<br />
recusavam a aceitar o governo na Espanha, e aqueles que<br />
reconheciam a autoridade central da Regência e das<br />
Cortes. As divisões políticas entre os membros das elites<br />
mesclavam-se às antipatias regionais e tensões sociais.<br />
Em 1814 os conflitos se agravaram. Naquele ano,<br />
após a derrota de Napoleão, Fernando VII voltou ao<br />
trono, aboliu as Cortes e a Constituição e restaurou o<br />
absolutismo. Livres das restrições constitucionais, as<br />
autoridades régias no Novo Mundo perseguiram e<br />
sufocaram a maioria dos movimentos que buscavam<br />
autonomia. Somente a região mais isolada do Rio da<br />
Prata permaneceu fora do alcance da repressão<br />
deflagrada pela já enfraquecida monarquia espanhola.<br />
A repressão desencadeou reações decisivas entre os<br />
partidários da independência, ainda em minoria. Em<br />
1817, na Venezuela, os republicanos retomaram a luta<br />
iniciada por Simon Bolívar seis anos antes, quando era<br />
oficial do Exército revolucionário e foi declarada a<br />
independência. Em 1812, os espanhóis haviam retomado<br />
o poder e ele deixara o país. Retornou em 1819, com o<br />
apoio do independente Haiti, para retomar a revolução.<br />
Naquele ano, habitantes da Nova Granada (hoje<br />
Colômbia, Venezuela e Equador) e venezuelanos<br />
derrotaram os realistas em Boyacá, forçando o vice-rei e<br />
outros altos oficiais a deixar Bogotá.<br />
O ritmo e a intensidade das lutas variaram bastante.<br />
Nas regiões no norte da América do Sul, a militarização<br />
e a centralização política foram características marcantes.<br />
Convocado por Bolívar em fevereiro de 1819, o<br />
Congresso de Angostura (hoje chamada Ciudad Bolívar),<br />
na Venezuela, legitimou o seu poder. Em dezembro,<br />
criou-se a República da Colômbia – por vezes chamada<br />
de Grã Colômbia –, incorporando Venezuela, Nova<br />
Granada e Quito. Contrariamente ao espírito da<br />
Constituição de Cádiz, a nova Constituição colombiana<br />
criou um governo extremamente centralizado, com<br />
autoridade excessiva atribuída ao presidente Bolívar.<br />
No sul, o militar José de San Martín, depois de bemsucedida<br />
campanha nos Andes, obteve em fevereiro de<br />
1818 uma vitória decisiva sobre as forças espanholas na<br />
batalha de Chacabuco. No Rio da Prata (hoje Argentina)<br />
e na capitania geral do Chile, os autonomistas ganharam<br />
controle precocemente, depois de poucos conflitos<br />
armados no combate aos realistas. Depois de 1818, os<br />
contingentes militares deixaram essas regiões para<br />
assegurar a independência do Peru, ao norte, mesmo com<br />
as tropas realistas permanecendo no sul.<br />
A aprovação de outra Constituição em 1820 na<br />
Espanha provocou respostas diferentes nas quatro<br />
grandes regiões americanas (Nova Espanha, Prata, Nova<br />
Granada e Peru). Os povos da Nova Espanha (atual<br />
México) e da Guatemala receberam as notícias com<br />
entusiasmo, e nos meses seguintes realizaram eleições<br />
para diferentes ayuntamientos constitucionais,<br />
deputações provinciais e as Cortes. A instabilidade<br />
política da Espanha, que já durava cerca de doze anos,<br />
havia convencido uma parte dos novohispanos que era<br />
mais prudente estabelecer um governo autônomo no<br />
interior da monarquia. Quanto aos autonomistas, os<br />
membros da elite que haviam adquirido poder com os<br />
processos de independência, optaram pela instauração de<br />
uma monarquia constitucional.<br />
Dois cursos de ação foram seguidos. Os deputados da<br />
Nova Espanha junto às Cortes propuseram um projeto<br />
para a autonomia do Novo Mundo que criava três<br />
grandes reinos americanos governados por príncipes<br />
espanhóis e aliados à Península. Mas a maioria espanhola<br />
nas Cortes rejeitou a proposta, temerosa de dar aos<br />
356
americanos a autonomia buscada desde 1808. Ao mesmo<br />
tempo, autonomistas da Nova Espanha se aliaram ao<br />
coronel Agustín de Iturbide, um realista simpático ao<br />
plano de autonomia, que muito se assemelhava ao<br />
proposto às Cortes. A independência do México foi<br />
assegurada em 1821 sem confronto militar, quando<br />
Iturbide e seus seguidores ganharam o apoio da maioria<br />
do exército real. No ano seguinte, Iturbide tornou-se<br />
imperador do México, como Iturbide I.<br />
O episódio desencadeou adesões das províncias da<br />
América Central, que também declararam sua<br />
independência naquele ano, juntando-se ao Império<br />
mexicano. Em 1823, entretanto, com o fim do período<br />
monárquico (Iturbide se indispôs com militares, que o<br />
depuseram), separaram-se do México e passaram a<br />
formar a Federação Centro- Americana.<br />
Na América do Sul, em 1820, as tropas republicanas<br />
no norte deram início à libertação da Venezuela e de<br />
Nova Granada. Em outubro do mesmo ano, Guayaquil<br />
(no atual Equador) tornou-se independente e, formando<br />
uma república, tentou, sem sucesso, libertar as províncias<br />
das terras altas, então pertencentes à jurisdição de Quito.<br />
Uma força mista, composta sobretudo por tropas locais,<br />
reunindo colombianos e homens do exército de San<br />
Martín sob o comando do general Antonio José de Sucre,<br />
acabou derrotando as tropas espanholas em Quito, em<br />
maio de 1822. Bolívar, que chegou do norte em junho<br />
com mais combatentes colombianos, incorporou a nova<br />
região libertada à República da Colômbia. Decretou, a<br />
seguir, lei marcial no antigo reino de Quito, de modo a<br />
poder melhor recrutar homens, confiscar dinheiro,<br />
víveres e suprimentos para continuar a luta contra os<br />
realistas no Peru, o último bastião do poder do rei de<br />
Espanha na América do Sul.<br />
As forças sulinas lideradas por San Martín chegaram<br />
a Lima em agosto de 1820. Seu exército de libertadores<br />
compunha-se de chilenos e rio-platenses. Embora<br />
controlasse o litoral, San Martín não conseguiu derrotar<br />
os realistas no altiplano. Os constitucionalistas espanhóis<br />
quase expulsaram suas tropas do litoral. A vitória haveria<br />
de esperar pela chegada do exército de Bolívar à região,<br />
anos depois. E mesmo com a derrota impingida aos<br />
realistas pelo general Sucre na batalha de Ayacucho, em<br />
dezembro de 1824, a região do Alto Peru continuaria sob<br />
o controle das forças realistas, que só se renderiam em<br />
1826.<br />
Um ano depois do reconhecimento da Independência<br />
do Brasil por Portugal, terminava o processo de<br />
independência das colônias hispano-americanas. O<br />
continente americano saía desse processo radicalmente<br />
transformado. Novos estados politicamente soberanos<br />
vão se afirmar deste lado do Atlântico, sob a forma de<br />
repúblicas modernas, tornando indelével o modelo de<br />
moderno estado-nação que se generalizará em todo o<br />
hemisfério ocidental no início do século XX.<br />
Maria Elisa Mäder é doutora em <strong>História</strong> Social pela<br />
Universidade Federal Fluminense e professora de<br />
<strong>História</strong> da América na PUC-Rio. Organizadora, com<br />
Marco Antonio Pamplona, de Revoluções de<br />
independências e nacionalismos nas Américas (Coleção<br />
Margens, Paz e Terra, 2007).<br />
Saiba Mais: BETHELL, Leslie Ed. (org.). <strong>História</strong> da América Latina. Da<br />
Independência até 1870. Vol. III, São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial do Estado;<br />
Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 2001.FUENTES, Carlos. O Espelho<br />
Enterrado. Reflexões sobre a Espanha e o Novo Mundo. Rio de Janeiro: Rocco,<br />
2001.GUERRA, François-Xavier. “A Nação na América espanhola: a questão das<br />
origens”, Revista Maracanã. Rio de Janeiro: Uerj, 1999/2000, Ano I, nº 1.<br />
CORAÇÕES VALENTES<br />
Restos mortais dos heróis da independência latinoamericana<br />
eram cultuados como objetos de devoção<br />
patriótica<br />
Pablo Rodríguez Jiménez<br />
Panteão na Venezuela em homenagem a Bolívar:<br />
tributo cívico e simbolismo religioso.<br />
357
Quando Simón Bolívar (1783-1830), herói da<br />
libertação da América Hispânica, morreu derrotado pela<br />
tuberculose, na Colômbia, foi homenageado com um<br />
serviço funerário luxuoso. Mas, ao que parece, seus<br />
restos mortais foram separados durante as honras<br />
fúnebres: o corpo foi colocado em um féretro e seu<br />
coração e “algumas vísceras”, em uma pequena urna. Os<br />
documentos não fazem menção a isso, mas assim eles<br />
foram encontrados nove anos depois, abaixo da cúpula<br />
da catedral, perto das grades do presbitério – onde<br />
haviam sido depositados –, após um grande terremoto<br />
que afetou a Catedral de Santa Marta, cidade onde ele<br />
faleceu.<br />
Em 1842, quando o corpo de Bolívar foi exumado e<br />
seus restos mortais levados para a Venezuela, de acordo<br />
com pedido feito em seu testamento, os oficiais,<br />
surpresos, encontraram as duas peças funerárias: o<br />
caixão e a urna. Foi quando o general Joaquim Posada<br />
Gutierrez (1797-1881) solicitou às autoridades<br />
governamentais venezuelanas que dessem de presente a<br />
urna com o coração de Bolívar à República da Colômbia.<br />
O pedido foi aceito, e o coração, em sua urna,<br />
permaneceu na Catedral de Santa Marta.<br />
Mas o “descanso” deste coração não durou muito. No<br />
final de 1860, a Colômbia enfrentou uma nova guerra<br />
civil, desta vez liderada por Tomás Cipriano Mosquera,<br />
contra o governo conservador de Mariano Ospina<br />
Rodrigues. Santa Marta, que tinha sido um fortim<br />
conservador, foi atacada por diferentes lados por<br />
soldados liberais. Pouco a pouco, os conservadores,<br />
liderados por Julio Arboleda, perderam terreno e<br />
encontraram seu último refúgio na catedral da cidade. No<br />
dia 13 de dezembro, quando os ataques contra a catedral<br />
se intensificaram, os ocupantes aproveitaram um<br />
incêndio que havia sido provocado para fugir. Entre as<br />
chamas que consumiram quase toda a catedral estava a<br />
única presença física sobrevivente do libertador na<br />
Colômbia. Assim o coração de Bolívar foi destruído<br />
física e simbolicamente.<br />
Os funerais em homenagem aos libertadores latinoamericanos<br />
– não só de Bolívar – foram determinantes<br />
para a afirmação do espírito republicano. Os eventos não<br />
eram privados e muito menos discretos. Ao contrário,<br />
eram festejos públicos que contavam com a presença de<br />
autoridades, pessoas influentes e diferentes grupos<br />
sociais. O esplendor dessas cerimônias demonstrava<br />
gratidão e reconhecimento aos que fizeram tudo pela<br />
independência do país. Era como se toda a pátria se<br />
reunisse para dar um último adeus aos seus heróis.<br />
358<br />
Finalmente, em frente ao panteão, os oradores<br />
ressaltavam a valentia e o sacrifício do ilustre morto. Os<br />
heróis, então, atingiam a condição de mitos, assumindo<br />
papéis fundamentais na formação das histórias nacionais.<br />
No entanto, um aspecto que tem passado<br />
despercebido na pesquisa histórica é a importância do<br />
coração na simbologia patriótica. A tradição medieval e<br />
colonial de venerar relíquias ou partes do corpo humano<br />
foi recuperada naquela época, não mais com finalidade<br />
exclusivamente religiosa, mas patriótica e republicana.<br />
Em diferentes partes da América Hispânica, a<br />
preservação da memória dos heróis encontrou no coração<br />
seu elemento preferido, tanto por seu forte conteúdo<br />
simbólico como por ser mais fácil conservá-los e<br />
transportá-los. Segundo a tradição, o coração dos<br />
patriotas era depositário das melhores virtudes: bondade,<br />
nobreza, valentia, honra e sacrifício. Assim, tornou-se<br />
frequente embalsamar seus corações e conservá-los para<br />
render-lhes culto e preservar sua memória. Da mesma<br />
forma como ocorria com os corpos, os corações tiveram<br />
cerimônias religiosas solenes e vistosas, e depois foram<br />
depositados em lugares que podiam ser visitados pelo<br />
público. Mas, apesar de todo este esmero, por motivo de<br />
guerra ou de perda da memória patriótica, estes corações<br />
passaram por situações difíceis, terminando em lugares<br />
inesperados ou até mesmo desaparecendo para sempre.<br />
Provavelmente, o coração que recebeu mais<br />
homenagens ainda no século XIX foi o do coronel<br />
Atanásio Girardot (1791-1813), patriota colombiano que<br />
morreu na batalha de Bárbula, em terras venezuelanas,<br />
em 30 de setembro de 1813. Embora os exércitos<br />
patriotas saíssem vencedores desta batalha, a morte de<br />
Girardot deixou de luto todos os que lutavam pela<br />
independência. Bolívar, que recebeu com muita tristeza<br />
esta notícia, escreveu de próprio punho, no acampamento<br />
de Valencia (Venezuela) uma lei de honras pelo patriota<br />
morto. O terceiro item determinava que “seu coração<br />
será levado com triunfo à capital em Caracas, onde se<br />
fará a recepção dos libertadores e será depositado no<br />
mausoléu que será erguido na Catedral metropolitana”.<br />
O traslado do coração de Atanásio Girardot para<br />
Caracas e as cerimônias a ele dedicadas ali foram<br />
registrados amplamente pela Gazeta de Caracas, o<br />
primeiro jornal da Venezuela. O coração foi<br />
embalsamado e depositado em um copo de cristal<br />
hermeticamente fechado, que, por sua vez, foi guardado<br />
em uma urna de madeira de 30 centímetros de altura,<br />
adornada com um tecido negro enfeitado com detalhes<br />
de ouro fino. No dia 10 de outubro, partiu da cidade de
Valencia a comitiva que conduzia a urna, formada por<br />
militares, religiosos e autoridades civis. Em cada<br />
povoado por onde passavam, eram recebidos por padres<br />
com a cruz erguida. O cortejo foi recepcionado na<br />
entrada da cidade pelo governo municipal, pelos clérigos<br />
da catedral, pelas confrarias e por diferentes<br />
personalidades chefiadas por Bolívar. Na pracinha do<br />
asilo dos capuchinhos, enfeitada com arcos de triunfo, a<br />
comitiva fez a entrega da urna que continha o coração de<br />
Girardot. Ali, vários meninos vestidos de anjo tomaram<br />
as rédeas da carruagem para se dirigirem à catedral da<br />
cidade. O cortejo, agora com uma multidão, marchou a<br />
passos lentos, enquanto os religiosos cantavam salmos de<br />
ação de graças. Assim que chegaram à catedral, a urna<br />
foi levada à capela de São Nicolau de Bari, onde<br />
permaneceu iluminada e escoltada por guarda militar.<br />
houvesse nenhum ritual de morte e que o levassem<br />
diretamente para o cemitério. Mas pediu à filha que seu<br />
coração fosse levado para Buenos Aires, sua cidade<br />
natal. Trinta anos depois de sua morte, seus restos<br />
mortais, com seu coração, cumpriram seu destino. Ao<br />
chegarem ao porto, receberam muitas homenagens.<br />
Antes de serem depositados na Catedral de Buenos<br />
Aires, onde ainda hoje repousam, os restos mortais do<br />
general San Martín foram alvo de numerosas<br />
demonstrações de reconhecimento patriótico. E lá estava<br />
mais um coração homenageado.<br />
Pablo Rodríguez Jiménez é professor da UniversidadNacionaldaColombiae autor<br />
de Días de Gloria en la Independencia Hispanoamericana (Universidad del<br />
Rosario, 2011)<br />
O significado simbólico desta cerimônia é evidente.<br />
Não se tratava da sepultura de um corpo, mas sim de um<br />
fragmento, que na cultura cristã tinha uma identificação<br />
precisa. Não é difícil notar que havia uma relação com a<br />
imagem do coração de Jesus, uma devoção que a Igreja<br />
Católica havia difundido ao longo do período colonial. A<br />
própria Companhia de Jesus, uma das ordens mais<br />
influentes, adotou o coração de Jesus coroado como seu<br />
símbolo. Também caberia lembrar que, no período préhispânico,<br />
diferentes sociedades, como a maia e a asteca,<br />
realizavam rituais nos quais ofertavam corações a seus<br />
deuses como oferendas e para pedir favores. O certo é<br />
que em cada casa, rica ou pobre, havia uma escultura ou<br />
uma pintura alusiva ao coração de Jesus. Normalmente<br />
ficava na sala de jantar, onde sua presença velava pela<br />
saúde e pela união da família. Tudo isso explica o fato de<br />
que Caracas prestou homenagem a essa urna em um<br />
momento bastante crucial para a independência da<br />
Venezuela.<br />
Lembrar as honras prestadas aos heróis da<br />
independência permite compreender o peso das tradições<br />
religiosas na formação da cultura republicana. As<br />
grandes cerimônias e festividades religiosas, com suas<br />
procissões fervorosas, tiveram continuidade, sendo<br />
realizadas tanto para agradecer as vitórias conseguidas<br />
nas batalhas como para pedir proteção. Agora, com estas<br />
comemorações, prestava-se homenagem aos heróis,<br />
transformados em mártires da pátria. Outros patriotas se<br />
recusaram a ter seus restos mortais transformados em<br />
“lugares de memória”. No entanto, após suas mortes, eles<br />
receberam, por diferentes motivos, homenagens<br />
luxuosas. Foi o caso de José de San Martín (1778-1850),<br />
libertador argentino, falecido em Boulogne-sur-Mer, na<br />
França. San Martín pediu em seu testamento que não<br />
359
ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX<br />
1. A CONQUISTA DO OESTE<br />
No século XVIII, as antigas Treze Colônias americanas<br />
tornaram-se a primeira Nação americana, após o<br />
enfrentamento com a Inglaterra, que culminou com a sua<br />
independência e a organização da República dos EUA.<br />
No século XIX, os EUA passariam por um impasse de<br />
desenvolvimento industrial, acompanhado de uma<br />
progressiva extensão territorial, contraposta à ameaça<br />
da ruptura de sua unidade territorial, que conduziu à<br />
Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana.<br />
Desde o início desse século, a jovem Nação norte<br />
americana tornou-se um pólo atrativo de uma grande<br />
quantidade de imigrantes europeus vindos das áreas<br />
germânicas (Irlanda, Suécia e Inglaterra) assustados com<br />
os movimentos violentos de ordem liberal, ou prejuízos<br />
da situação econômica excludente que a Europa vivia. O<br />
resultado desse processo foi um considerável<br />
crescimento demográfico - de 1780 a 1850 a população<br />
360<br />
doa Estados Unidos passou de 5 para 23 milhões de<br />
habitantes – o que alimentou o ambicioso desejo de<br />
expansão, resultando na chamada Marcha para o Oeste,<br />
estendendo os domínios estadunidenses até o limite com<br />
o Extremo Oriente, através do Pacifico.<br />
Apesar dos interesses pragmáticos que empurravam os<br />
colonos americanos a transpor as fronteiras dos Montes<br />
Apalaches, uma doutrina de forte apelo ideológico foi<br />
utilizada para justificar o processo expansionista ao<br />
Oeste. Trata-se do "Destino Manifesto", apresentada em<br />
1845, pelo jornalista John O'Sullivan comparou a<br />
expansão dos Estados Unidos em direção às terras do<br />
oeste a um Destino Divino a ser cumprido.<br />
A ideia foi recuperada da crença dos imigrantes<br />
puritanos do século XVII de que a América seria a nova<br />
Terra Prometida, e que seus habitantes seriam o novo<br />
povo eleito por Deus para expandir seu poder na região.<br />
Assim, reafirmava-se a expansão para o Oeste como um
destino traçado pela Providência Divina, justificando a<br />
necessidade de ocupar, ainda que sob o recurso à<br />
violência, as terras que pertenciam aos índios, franceses,<br />
espanhóis e mexicanos. Ele alegava que os<br />
estadunidenses tinham a missão divina de levar a<br />
"civilização" aos povos considerados "bárbaros",<br />
"inferiores". A doutrina do Destino Manifesto foi<br />
largamente empregada pelos meios de comunicação dos<br />
Estados Unidos no século XIX e até hoje está presente<br />
no imaginário de muitos norte-americanos.<br />
As fronteiras definidas pelo Tratado de Versalhes, de<br />
1783, por ocasião da formação dos EUA, limitava o<br />
território do novo país da Costa do Atlântico até o<br />
Mississippi. Em nome da expansão, seja para abrigar o<br />
excedente demográfico, promover a busca por matéria<br />
prima e fonte energética ao desenvolvimento industrial<br />
ou a corrida pelo ouro, diversos subterfúgios foram<br />
mobilizados pelo governo americano, desde as<br />
conquistas através de compras, anexações pós guerra,<br />
ou negociações diplomáticas.<br />
É o caso, por exemplo, do território da Louisiana que foi<br />
vendida por Napoleão Bonaparte para os norteamericanos<br />
por 15 milhões de dólares, em 1803, à época<br />
do conflitos napoleônicos na Europa. A Flórida (1819)<br />
também foi comprada aos espanhóis por 5 milhões de<br />
dólares, em localização estratégica favorável aos<br />
interesses expansionistas de mercado dos estadunidenses<br />
na região caribenha; o Alasca (1867) seria vendido pela<br />
Rússia por 7 milhões de dólares, favorecendo a<br />
exploração do petróleo, fonte energética primordial na<br />
Segunda Revolução Industrial; o Oregon foi cedido pelos<br />
ingleses aos norte-americanos.<br />
Outras anexações ocorreram de maneira menos pacífica,<br />
decorrendo de processos violentos, como é o caso do<br />
conflito envolvendo os EUA e o México. Grande parte<br />
do Sudoeste Americano era de dominação mexicana, e<br />
para garantir ocupação dessas terras os norte-americanos<br />
tiveram que iniciar uma guerra. Desde 1821, o governo<br />
mexicano permitiu a presença de dos norte-americanos<br />
em seu território desde que comprometidos a<br />
preservarem a religião católica.<br />
Com a descoberta de fontes de petróleo no Texas, essa<br />
região passou a se tornar alvo do interesse de dominação<br />
dos EUA. O governo americano passou a apoiar,<br />
informalmente, o esforço dos texanos em se separarem<br />
do México, para constituição de um novo país. Assim<br />
teve início a Guerra do México, que perdurou de 1845 a<br />
1848, e foi nesse período que definitivamente foi<br />
proclamada a independência do Texas em relação ao<br />
México, apara que mais tarde, em poucos anos, estivesse<br />
incorporado aos EUA. O fim da guerra foi marcado pela<br />
assinatura do Tratado de Guadalupe-Hidalgo,<br />
consolidando o Rio Grande como região fronteiriça entre<br />
o México e o Texas. As regiões da Califórnia, Arizona,<br />
Novo México, Nevada, Utah e uma porção de Colorado<br />
foram cedidas aos norte-americanos, mediante irrisória<br />
indenização de 15 milhões de dólares. Após 5 anos, a<br />
metade do território mexicanos estava sob o poder dos<br />
EUA.<br />
O processo de ocupação dessas novas terras recém<br />
incorporadas ao país, obedeceram a interesses<br />
divergentes a partir das realidades históricas precedentes,<br />
que remontavam ao próprio processo de colonização e<br />
que bipolarizava o norte e o sul dos EUA. Para assegurar<br />
a plena ocupação do oeste, em 1862 (em pleno<br />
desdobramento da Guerra de Secessão), o Congresso dos<br />
Estados Unidos promulgou o Homestead Act; por meio<br />
dela, o governo concedia um lote de terra para qualquer<br />
família ou indivíduo maior de 21 anos que estivesse<br />
361
disposto a migrar para o oeste e que se comprometesse a<br />
torná-lo produtivo no prazo de cinco anos. Essa lei deu à<br />
população muitas terras e, com a chegada crescente de<br />
imigrantes, favoreceu o desenvolvimento de um amplo<br />
mercado interno na região.<br />
Na expansão para o Oeste, as fronteiras das ex-colônias<br />
se alargaram seguindo em direção ao Pacífico<br />
promovendo o surgimento de novos Estados, dando<br />
origem a fortes disputas entre o Norte e o Sul que<br />
defendiam respectivamente estados livres e escravistas.<br />
Os nortistas desejavam implantar um regime de pequenas<br />
propriedades que suprisse ao mesmo tempo a demanda<br />
de terras dos imigrantes, a necessidade de produtos<br />
básicos do mercado interno e permitisse o aumento do<br />
mercado consumidor de suas manufaturas. Já o Sul<br />
defendia que as terras tivessem um preço elevado<br />
(permitindo que somente os grandes proprietários<br />
pudessem comprá-las) e que fosse implantado o regime<br />
de trabalho escravo na região<br />
O crescimento territorial, a expansão demográfica e o<br />
desenvolvimento desigual entre o Sul e o Norte<br />
agravou ainda mais as especificidades históricas,<br />
culminando na rivalidade intensificada que gerou uma<br />
guerra civil que quase dividiu o país.<br />
2. GUERRA CIVIL AMERICANA (1861-1865)<br />
2.1 Determinantes<br />
A Guerra Civil Americana, também conhecida como<br />
Guerra de Secessão, foi um dos eventos mais<br />
importantes para o desenvolvimento dos EUA, pois,<br />
apesar de ter deixado um saldo de mais de seiscentos mil<br />
mortos e de ter destruído grande parte da produção de<br />
algodão no Sul, o conflito contribuiu para o avanço das<br />
forças produtivas capitalistas no país. Um conjunto de<br />
362<br />
fatores foram determinantes para o início da Guerra de<br />
Secessão.<br />
A questão alfandegária – Enquanto o Norte defendia a<br />
sua indústria exigindo altas taxas sobre importação de<br />
industrializados europeus, o Sul defendia baixas taxas<br />
que permitissem adquirir produtos manufaturados<br />
ingleses por um preço inferior àqueles praticados pelo<br />
Norte, já que não havia indústrias no Sul; havia ainda o<br />
temor do Sul de que a Europa, em represália, diminuísse<br />
o consumo de seus produtos primários, gerando-lhes<br />
prejuízos econômicos. Também interessava ao Sul a<br />
manutenção da disputa concorrente entre produtos<br />
nortistas e europeus, o que lhes facilitariam escolha por<br />
quem oferecesse preços mais atrativos.<br />
A questão da representatividade política - As disputas<br />
em torno do trabalho livre ou escravo que deveria vigorar<br />
no Oeste acabaram gerando grandes discussões políticas<br />
no Senado e na Câmara. Tradicionalmente existia nos<br />
Estados Unidos uma relativa igualdade de representação<br />
política entre nortistas e sulistas, no entanto, esse<br />
equilíbrio, às vésperas da guerra, estava se desfazendo<br />
em favor do Norte desencadeando a revolta dos membros<br />
do Sul. Isso se dava porque a maioria dos novos estados<br />
recém constituídos, ao deixarem de priorizar a grande<br />
propriedade e a escravidão, forjavam representações<br />
políticas progressistas no Congresso, prejudicando os<br />
interesses conservadores do Sul.<br />
A questão escravista – O Norte visava à expansão do<br />
mercado consumidor interno para os seus produtos e, por<br />
isso, defendia a abolição da escravidão e, logo, a adoção<br />
do trabalho assalariado. Posto que nos estados do Sul a<br />
economia era agroexportadora e a mão de obra<br />
predominante era a escrava negra, os sulistas eram<br />
contrários à abolição, o que caracterizou mais um<br />
conflito de interesse entre o Norte e o Sul.
A questão da receitas - Os Estados do Sul se diziam<br />
preteridos nos investimentos da União, já que a<br />
exportação do algodão sulista era uma das maiores fontes<br />
da receita da União. Os Estados do Sul passaram a<br />
reivindicar que a receita gerada pelos Estado Sulistas<br />
ficasse preferencialmente no Sul, por isso defendiam<br />
uma Confederação na qual as arrecadações locais<br />
ficariam majoritariamente em seus Estados de origem.<br />
2.2 - A guerra (1861-1865) e seus desdobramentos<br />
O início da Guerra se deu com a eleição para presidência<br />
dos Estados Unidos de Abraham Lincoln (representante<br />
dos interesses do Norte), gerando a declaração de<br />
separação da Carolina do Sul do resto da união, seguida<br />
por mais seis estados. Em 1861, reunidos em um<br />
Congresso no Alabama esses Estados formaram um novo<br />
país, os Estados Confederados da América. Em<br />
resposta, os estados nortistas declaram guerra à<br />
Confederação, dando início à Guerra de Secessão.<br />
Em comparação com o Sul, os Estados do Norte<br />
dispunham de maiores recursos econômicos, bélicos e<br />
humanos para conduzir a guerra. No entanto, a estratégia<br />
sulista era obter o apoio da Inglaterra e da França contra<br />
os Yankees nortistas. No Norte, as medidas liberais<br />
decretadas por Lincoln, tais como a abolição da<br />
escravatura e a distribuição de terras no Oeste para<br />
famílias que nelas permanecessem por 5 anos, com<br />
trabalho livre, acirraram ainda mais a reação sulista<br />
contra o governo nacional. Do conflito, o Norte saiu<br />
vencedor e o resultado da violência dos confrontos foi a<br />
morte de cerca 600 mil pessoas e o assassinato do<br />
presidente Lincoln.<br />
Do ponto de vista econômico a guerra significou a vitória<br />
do capitalismo, colocando a economia dos Estados<br />
Unidos no caminho da industrialização moderna e o<br />
modelo nortista de sociedade foi imposto a todo o<br />
território nacional. A partir desse momento, os EUA<br />
alavancaram seu processo de industrialização,<br />
construíram novas ferrovias interligando o país de costa<br />
a costa e organizaram grandes grupos financeiros.<br />
A abolição da escravatura e situação dos libertos - Em<br />
1863, Lincoln decretou o fim da escravidão no país, o<br />
que só ocorreu de fato com o fim da guerra. A Guerra de<br />
Secessão trouxe grandes alterações para a vida<br />
socioeconômica dos Estados Unidos e a hegemonia<br />
política da burguesia industrial. Entretanto, apesar de ter<br />
eliminado a escravidão, essa guerra não resolveu a<br />
questão racial na sociedade norte-americana.<br />
A integração da população negra recém-liberta da<br />
escravidão, no entanto, não se deu plenamente. A<br />
ascensão de milhares de negros à condição de cidadãos<br />
provocou outro tipo de guerra: a guerra racial. Exconfederados<br />
criaram, no Sul, a Ku Klux Klan,<br />
organização racista de brancos que se recusava a<br />
compartilhar direitos constitucionais com os negros, em<br />
plano de igualdade. A KKK matou muitos negros,<br />
espancou e mutilou vários outros, sempre com um<br />
discurso preconceituoso e discriminatório. Agiam na<br />
clandestinidade, mas com a tolerância das autoridades,<br />
uniformizados com um manto e um capuz branco. Suas<br />
vítimas eram, muitas vezes, enforcadas ou mortas na<br />
fogueira, pregadas numa cruz. Com a ilegalidade, a Klan<br />
perdeu sua força, mas seria revigorada após a Primeira<br />
Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.<br />
Em pouco mais de quatro anos de guerra civil, milhares<br />
de pessoas perderam a vida, vítimas dos combates e de<br />
doenças como tifo, febre amarela e varíola. O país saiu<br />
da guerra politicamente unificado, mas as diferenças que<br />
levaram as duas regiões ao conflito permaneceram nas<br />
décadas seguintes. O capitalismo industrial passou a<br />
comandar os Estados Unidos. Os territórios do norte<br />
foram quase que inteiramente preservados na guerra,<br />
pois a maior parte das batalhas foi travada no sul. Era<br />
preciso, no entanto, reorganizar a economia dos estados<br />
do norte, adequá-las aos novos tempos de paz e financiar<br />
a reconstrução do país. O sul, ao contrário, estava<br />
arruinado. Cidades e fazendas foram atacadas, saqueadas<br />
e queimadas. A estrutura econômica do período anterior<br />
deixou de existir no momento em que os estados do sul<br />
foram obrigados a libertar os escravos. Os grandes<br />
363
364<br />
proprietários de terra sofreram perdas drásticas e agora<br />
precisavam se ajustar a um mundo sem escravos.<br />
“Vá para o oeste, jovem, e cresça com o país.”<br />
Essa expressão, criada por Horace Greeley, em 1851,<br />
simboliza a expansão territorial realizada pelos Estados<br />
Unidos ao longo do século XIX.<br />
EXERCÍCIOS<br />
1. (UERJ – 2001) Relacione a marcha para o oeste” com<br />
a doutrina do Destino Manifesto”.<br />
2. (UFRRJ) 1899. Nova lorque<br />
MARK TWAIN PROPÕE MUDAR A BANDEIRA<br />
(...) Em plena euforia imperial, os Estados Unidos<br />
celebram a conquista das ilhas do Havaí, Samoa e as<br />
Filipinas, Cuba, Porto Rico e uma ilhota que se chama,<br />
eloquentemente, dos Ladrões. O oceano Pacífico e o mar<br />
das Antilhas viraram lagos norte-americanos, e está<br />
nascendo a United Fruit Company; mas o escritor Mark<br />
Twain, velho estraga-festas, propõe que se mude a<br />
bandeira nacional: que sejam negras, diz, as listas<br />
brancas, e que umas caveiras com tíbias cruzadas<br />
substituam as estrelas.(...)"<br />
(GALEANO, Eduardo. "As Caras e as Máscaras". Nova Fronteira, Rio, 1985.<br />
p.341.)<br />
Há exatos cem anos, os Estados Unidos da América<br />
estavam inseridos em um processo de dominação<br />
territorial e econômica que afetou, igualmente, as<br />
grandes potências européias e o Japão.<br />
a) Nomeie esse processo e cite uma de suas principais<br />
características econômicas.<br />
b) Explique as razões de Mark Twain para sua proposta.<br />
3. (UFMG) Leia este trecho de documento: Odeio-a<br />
porque impede a nossa República de influenciar o mundo<br />
pelo exemplo da liberdade; oferece possibilidade aos<br />
inimigos das instituições livres de taxar-nos, com razão,<br />
de hipocrisia e faz com que os verdadeiros amigos da<br />
liberdade nos olhem com desconfiança. Mas, sobretudo,<br />
porque obriga tantos entre nós, realmente bons, a uma<br />
guerra aberta contra os princípios da liberdade civil.<br />
Discurso de Abraham Lincoln, em 1859. Nesse trecho de<br />
discurso, Abraham Lincoln, que seria eleito Presidente<br />
dos Estados Unidos no ano seguinte, faz referência<br />
a) à política de segregação racial existente nos estados<br />
do sul dos Estados Unidos, que gerou a formação de<br />
organismos voltados ao extermínio dos negros, à<br />
destruição de suas propriedades e a atentados<br />
constantes contra suas comunidades.<br />
b) à posição dos estados do sul de defesa intransigente<br />
de tarifas protecionistas, o que levava os Estados<br />
Unidos a comprometer a crença na liberdade de<br />
mercado, numa conjuntura de predomínio do<br />
capitalismo liberal.<br />
c) à questão da escravidão, que levou a uma guerra<br />
civil, nos Estados Unidos, entre o Norte,<br />
industrializado, e o Sul, que lutava para preservar a<br />
mão-de-obra escrava nas suas plantações de<br />
produtos para a exportação.<br />
d) à defesa, pelos imigrantes, do extermínio dos índios<br />
nas terras conquistadas a oeste, especialmente após a<br />
edição do "Homestead Act", visando ao<br />
desenvolvimento da agricultura e da pecuária<br />
naquelas áreas.<br />
4. (FUVEST) Entre as mudanças ocorridas nos Estados<br />
Unidos, após a Guerra de Secessão (1861-1865),<br />
destacam-se:<br />
a) a garantia de direitos civis e políticos aos negros -<br />
incluindo o direito ao sufrágio universal - e o<br />
reconhecimento da cidadania dos imigrantes recémchegados.<br />
b) a consolidação da unidade nacional, a chegada de<br />
novas levas de imigrantes, o aumento do mercado<br />
interno e um grande desenvolvimento industrial.<br />
c) graves desentendimentos em relação às fronteiras<br />
com o México, levando a uma nova guerra, na qual<br />
os Estados Unidos ganharam metade do território<br />
mexicano.<br />
d) o incentivo à vinda de imigrantes e a definitiva<br />
ocupação do oeste, cujas fronteiras, em 1865, ainda<br />
estavam nas Montanhas Rochosas.<br />
e) o empobrecimento e a humilhação do Sul, que,<br />
derrotado pelo Norte, foi alijado das esferas do<br />
poder federal e teve sua reconstrução impedida.
5. (Mackenzie) Dentre as razões que determinaram a<br />
elaboração do Dispositivo separatista da Carolina do Sul,<br />
que deu origem à Guerra Civil Americana, destacamos:<br />
a) as leis intoleráveis e a Independência dos Estados<br />
Unidos da América.<br />
b) a adoção de tarifas protecionistas e a eleição de<br />
Abraham Lincoln.<br />
c) a ocupação das terras do Oeste e a Guerra dos Sete<br />
Anos.<br />
d) os interesses dos Estados industriais do sul,<br />
contrários aos latifundiários do norte.<br />
e) a eleição do abolicionista Jefferson Davis, o fim da<br />
escravidão e a Guerra Civil.<br />
6. (UFSM) :"Tinha de haver uma luta (...). Os estados do<br />
sul e os do norte trabalhavam de maneira diferente,<br />
pensavam diferente, viviam diferente. No norte a lavoura<br />
em pequena escala, o transporte por navios, as<br />
manufatura que cresciam, tudo produzido pelo trabalho<br />
branco; no sul havia a monocultura com o trabalho<br />
negro. (...) Essa luta se arrastou por 60 anos, e finalmente<br />
eclodiu com a guerra civil."<br />
(HUBERMANN, Leo. "<strong>História</strong> da Riqueza dos Estados Unidos." Ed. São Paulo:<br />
1983.)<br />
Esse texto remete à Guerra de Secessão Norte-<br />
Americana (1861-1865) que teve como consequência(s):<br />
I. a marginalização do negro que, após a escravidão,<br />
passou a sofrer uma série de pressões, inclusive de<br />
organizações, como Ku-Klux-Klan.<br />
II. a aprovação de tarifas protecionistas que levaram ao<br />
avanço do processo capitalista norte-americano.<br />
III. a vitória da industrialização, a desorganização<br />
econômica do sul escravocrata, o rompimento do<br />
isolacionismo e o início da política imperialista.<br />
Está(ão) correta(s)<br />
a) apenas I.<br />
b) apenas II.<br />
c) apenas III.<br />
d) apenas II e III.<br />
e) I, II e III.<br />
(BRAUDEL, Fernand. "Gramática das civilizações". São Paulo: Martins Fontes,<br />
1989, p. 431.)<br />
Esse quadro delineia-se nos Estados Unidos da América<br />
após a Guerra da Secessão (1861-1865), que colocou em<br />
conflito os estados americanos do Sul e do Norte.<br />
Explique a questão da escravidão como uma das causas<br />
do conflito.<br />
7.1 (Uece) "O que opõe o Norte industrial ao Sul<br />
agrícola é uma divergência mais de ordem econômica: o<br />
primeiro é protecionista, o segundo quer a liberdade de<br />
comércio. Não é, portanto, a questão do escravismo que<br />
pode explicar a origem das hostilidades e de um conflito<br />
que causará a morte de mais de 600 mil americanos".<br />
Fonte: KERSAUDY, François. Estados Unidos: o nascimento de uma nação.<br />
Trad. Ana Montoia. In: "Revista <strong>História</strong> Viva". São Paulo: Duetto, nov. 2003, p.<br />
28. No. 1.<br />
De acordo com o texto, podemos reconhecer como fator<br />
que desencadeou a Guerra de Secessão americana:<br />
a) a pretensão dos nortistas de impedir a expansão do<br />
escravismo nos territórios do Oeste, ainda não<br />
constituídos em estados.<br />
b) o radicalismo anti-escravista de Abraão Lincoln,<br />
eleito presidente da República, ameaçava os direitos<br />
dos proprietários de escravos.<br />
c) a ação da sociedade secreta Ku Klux Klan, que<br />
acabou com a segregação racial ao conceder o igual<br />
direito de voto aos negros.<br />
d) a manutenção do escravismo nos Estados do Sul<br />
propiciava a industrialização nos Estados do Norte,<br />
devido à mão-de-obra barata.<br />
8. (UFV) "Os Estados Confederados podem adquirir<br />
novo território. [...] Em todos esses territórios, a<br />
instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos<br />
Estados Confederados, será reconhecida e protegida pelo<br />
Congresso e pelo governo territorial; e os habitantes dos<br />
vários Estados Confederados e Territórios terão o direito<br />
de levar para esse território quaisquer escravos<br />
legalmente possuídos por eles em quaisquer Estados ou<br />
Territórios dos Estados Confederados [...]."<br />
("Constituição dos Estados Confederados da América", Art. IV, seção 3, 1861.)<br />
7. (UFES) Mil pormenores da vida cotidiana mostrariam<br />
facilmente como as vantagens políticas concedidas aos<br />
negros se revelaram vãs. Os direitos políticos foram<br />
contornados e o negro mantido em seu "lugar inferior".<br />
Tanto assim que ele não deixou o Sul...<br />
O texto acima reflete um dos pontos centrais de discórdia<br />
que geraram a Guerra Civil Americana. Esta guerra civil<br />
foi o resultado:<br />
365
a) da ação imperialista americana que, a partir da<br />
Doutrina Monroe, passou a intervir na América<br />
Latina.<br />
b) da luta entre os colonos e a Metrópole Inglesa, o que<br />
redundaria na independência dos Estados Unidos.<br />
c) da Grande Depressão, intensificando a pobreza e o<br />
desemprego nas grandes cidades americanas.<br />
d) da luta pelos direitos civis, particularmente dos<br />
negros, forçando uma reinterpretação da<br />
Constituição Americana.<br />
e) da oposição dos interesses dos Estados do Sul e do<br />
Norte em torno da questão da escravidão e da<br />
expansão para o Oeste.<br />
9. (Uem) Sobre a história dos Estados Unidos da<br />
América, ao longo do século XIX, assinale a(s)<br />
alternativa(s) correta(s).<br />
01) Em 1823, foi divulgada a Doutrina Monroe, que<br />
estabelecia o direito dos Estados Unidos de intervirem<br />
nos assuntos internos dos outros países. A sedimentação<br />
dessa forma de pensamento deu o substrato ideológico<br />
que legitimou a invasão norteamericana ao Iraque .<br />
02) A partir do início do século XIX, os Estados Unidos<br />
iniciaram a Marcha para o Oeste, comprando ou<br />
anexando territórios e ampliando sua extensão<br />
geográfica. A partir da costa do Atlântico, a expansão<br />
territorial atingiu a costa do Pacífico, dando dimensões<br />
continentais ao novo país.<br />
04) A expansão territorial norte-americana levou a um<br />
enfrentamento com as tribos indígenas, que resultou na<br />
derrota das populações nativas e na ocupação das terras<br />
indígenas pelos colonos.<br />
08) A Guerra de Secessão, conhecida como a Guerra<br />
Civil norte-americana, foi motivada exclusivamente pela<br />
questão da liberdade dos escravos. Enquanto o Norte,<br />
agrícola, era favorável ao fim da escravidão, o Sul, mais<br />
industrializado, lutava pela manutenção dessa relação de<br />
trabalho.<br />
16) Uma significativa parte do atual território dos EUA<br />
foi conquistada como decorrência da Guerra contra o<br />
México. Pelo tratado firmado em 1848, foram anexados<br />
aos EUA Texas, Califórnia, Novo México, Utah, Nevada<br />
e Arizona.<br />
10. (Ufsm) A Guerra de Secessão nos EUA, retratada<br />
também no filme "E o vento levou", ocasionou<br />
366<br />
a) a independência das Treze Colônias da Inglaterra e a<br />
formação dos Estados Unidos da América.<br />
b) o retorno da unidade política norte-americana, com o<br />
domínio da elite do norte sobre a do sul.<br />
c) a iniciativa de expansão ao oeste e ao leste,<br />
conquistando novas terras e anexando áreas da<br />
América do Sul com o fim de torná-las colônias.<br />
d) um levante social na região do México, levando<br />
Morelos e Hidalgo ao poder por mais de 10 anos.<br />
e) a abolição da escravatura nos EUA e a retomada do<br />
poder pelos unitaristas do sul.<br />
11. (PUCRS) Para responder à questão, considere o<br />
texto abaixo, uma análise feita por Euclides da Cunha do<br />
livro O ideal americano, de Theodore Roosevelt,<br />
presidente dos Estados Unidos no começo do século XX.<br />
"O ideal americano não é um livro para os Estados<br />
Unidos, é um livro para o Brasil. Os nossos homens<br />
públicos devem (...) decorar-lhe as linhas mais incisivas,<br />
como os arquitetos decoram as fórmulas empíricas da<br />
resistência dos materiais. É um compêndio de virilidade<br />
social e de honra política incomparável. Traçou-o (...)<br />
um fanático da força, um tenaz propagandista do valor<br />
sobre todos os aspectos (...). Daí a sua utilidade, não nos<br />
iludamos. Na pressão atual da vida contemporânea, a<br />
expansão irresistível das nacionalidades deriva-se, como<br />
a de todas as forças naturais, segundo as linhas de menor<br />
resistência. A absorção de Marrocos ou do Egito, ou de<br />
qualquer uma outra raça incompetente, é (...) um<br />
fenômeno natural, e, diante dele, (...) o falar-se no<br />
Direito é extravagância idêntica a quem procura discutir<br />
(...) sobre a moralidade de um terremoto.(...)<br />
Aprendamos, enquanto é tempo, esta admirável lição de<br />
mestre."<br />
CUNHA, Euclydes da. "Contrastes e confrontos". Rio de Janeiro: Record, 1975,<br />
pp. 170-171.<br />
Considerando-se o contexto intelectual e político do<br />
início do século XX no Brasil, conclui-se que Euclides<br />
da Cunha, a partir de uma perspectiva<br />
a) idealista, pregava a necessidade de o Brasil, por<br />
meio de sua elite política, posicionar-se contra a<br />
dominação de países pobres, a exemplo dos Estados<br />
Unidos de Roosevelt.<br />
b) positivista, defendia o uso do Direito Internacional<br />
como única forma de defesa dos países pobres<br />
contra a agressividade natural dos mais ricos,<br />
expressa no texto de Roosevelt.
c) racista, exaltava a superioridade dos Estados Unidos<br />
de Roosevelt, defendendo que o Direito<br />
Internacional legitimasse juridicamante a<br />
intervenção em países de raças supostamente<br />
inferiores, como o Brasil, o Egito e o Marrocos.<br />
d) cientificista, alertava a elite política brasileira, a<br />
partir do texto de Roosevelt, sobre a necessidade de<br />
o país construir meios de resistência eficazes frente à<br />
realidade do imperialismo.<br />
e) romântica, elogiava o texto de Roosevelt como um<br />
exemplo de defesa dos ideais de honra e virilidade<br />
no mundo contemporâneo, então esquecidos pelas<br />
elites políticas brasileiras.<br />
12. (PUCRS) Responder à questão com base nas<br />
afirmativas abaixo, sobre a expansão territorial dos<br />
Estados Unidos no século XIX.<br />
I. A expansão territorial para o Oeste foi o principal fator<br />
de isolamento político do Sul escravista, pois todos os<br />
novos Estados proibiam a escravidão, seguindo o texto<br />
original da Constituição de 1787.<br />
II. Sob o impulso inicial da iniciativa privada, a<br />
expansão para o Oeste efetivou-se com diferentes<br />
modalidades de participação do Estado, como a<br />
conquista militar e a compra de territórios.<br />
III. A chamada "corrida do ouro" foi o principal fator da<br />
ocupação inicial do extremo Oeste, na primeira metade<br />
do século e, na segunda metade, a expansão ferroviária<br />
foi fundamental para a ocupação efetiva do Centro-<br />
Oeste.<br />
IV. O processo político de incorporação de um novo<br />
Estado à União contrariava o espírito federativo, pois<br />
esses novos Estados tinham suas constituições<br />
outorgadas pelo Congresso, com aprovação da Suprema<br />
Corte e do Presidente da República.<br />
Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente<br />
estão corretas<br />
a) I e II.<br />
b) I e III.<br />
c) II e III.<br />
d) II e IV.<br />
e) III e IV.<br />
13. (UFF) Imbuídos da moral protestante e movidos pelo<br />
sonho de uma nova vida proveniente das transformações<br />
industriais europeias, os pioneiros da marcha para o oeste<br />
iniciaram a grande obra de povoamento do território<br />
norte-americano e de reconhecimento de suas riquezas.<br />
Considerando-se o aspecto histórico do alargamento de<br />
fronteiras nos Estados Unidos, pode-se dizer que a<br />
marcha para o oeste:<br />
a) foi o marco inicial da expansão da economia norteamericana,<br />
uma vez que os pioneiros eram<br />
organizados pelo Estado e deveriam auxiliá-lo na<br />
eliminação dos índios;<br />
b) significou a abertura de um conflito entre os vários<br />
tipos de pioneiros e teve como consequências a<br />
Guerra de Secessão e a autonomia dos Estados da<br />
federação norte-americana;<br />
c) teve como repercussões, apenas, a matança dos<br />
índios e a fabricação de heróis dos filmes de farwest;<br />
d) revelou um território rico que teve condições de ser<br />
ocupado graças à aliança entre os pioneiros e os<br />
índios;<br />
e) constituiu um dos marcos da identidade homemterra<br />
na construção da nação norte-americana,<br />
possibilitando o alargamento do território.<br />
14. (UFG) A Conquista do Oeste, que marcou a história<br />
dos Estados Unidos no século XIX, tema dileto do<br />
cinema hollywoodiano, tem para os norte-americanos o<br />
peso de uma epopeia e constitui elemento da imagem dos<br />
EUA no mundo. A Marcha para o Oeste implicou um<br />
movimento de expansão que<br />
( ) protegeu as populações indígenas, pois estas eram<br />
consideradas pelos pioneiros e pela Federação as<br />
verdadeiras representantes da origem étnica norteamericana.<br />
( ) patrocinou anexações territoriais resolvidas<br />
diplomaticamente como bem exemplificam as<br />
negociações entre os EUA e o México.<br />
( ) foi alimentado pela imigração, pela escassez de<br />
terras no leste e pela demanda por produtos agrícolas e<br />
metais preciosos.<br />
( ) formulou uma imagem negativa dos mexicanos,<br />
vistos como portadores de uma cultura avessa ao<br />
trabalho e à ordem, o que representava um contraponto<br />
ao modelo de identidade norte-americana.<br />
367
15. (Unirio) "... era como se os Estados Unidos tivessem<br />
como objetivo uma missão civilizatória junto aos povos<br />
da América Latina."<br />
(Hervert Croly, "The Promisse of American Life")<br />
A consolidação do capitalismo nos Estados Unidos da<br />
América, ao longo do século XIX, identificou-se em seu<br />
processo de expansão territorial, que se relaciona<br />
corretamente com o (a):<br />
a) Destino Manifesto, que fundamentava a distinção<br />
política e econômica entre os estados sulistas<br />
escravocratas e os nortistas industriais.<br />
b) fim da guerra hispano-americana que acarretou a<br />
incorporação da Flórida, de Cuba e da zona do Canal<br />
do Panamá.<br />
c) vitória no conflito contra o México, que resultou na<br />
anexação dos territórios do Texas, Novo México e<br />
Califórnia.<br />
d) Marcha para o Pacífico, que estendeu o território<br />
americano até a costa oeste, com a invasão e a<br />
ocupação do Alasca e dos territórios do noroeste do<br />
Canadá.<br />
e) Doutrina Monroe, que ratificou a compra dos<br />
territórios franceses e ingleses na América, tais<br />
como a Luisiana e o Oregon.<br />
16. (Uerj) Precisamos manter para sempre o princípio de<br />
que só o povo deste continente tem o direito de decidir o<br />
próprio destino. Se, porventura, uma parte desse povo,<br />
constituindo um estado independente, pretendesse unirse<br />
à nossa Confederação, esta seria uma questão que só a<br />
ele e a nós caberia determinar, sem qualquer<br />
interferência estrangeira.<br />
(Primeira mensagem anual do presidente Polk ao Congresso dos Estados Unidos.)<br />
In: SYRETT, H.C., org. Documentos Históricos dos Estados Unidos, Cultrix,<br />
s/d).<br />
O discurso acima, de 2 de dezembro de 1845, reafirmava<br />
a crença do presidente Polk na expansão do território<br />
americano.<br />
O conjunto de idéias que melhor explicita essa crença é:<br />
a) o New Deal<br />
b) a Doutrina Truman<br />
c) o Destino Manifesto<br />
d) a Política de Boa Vizinhança<br />
368<br />
18. (Mackenzie) A Doutrina Monroe e a política do "Big<br />
Stick" tinham por objetivo:<br />
a) montar uma infraestrutura econômica nos países<br />
latino-americanos, assegurando o desenvolvimento<br />
industrial e autodeterminação dos povos.<br />
b) implementar o papel dos E.U.A. como nação guardiã<br />
da América, com o direito de intervir no continente<br />
americano através do disfarce "missão civilizadora".<br />
c) criar a Liga das Nações para mediar conflitos e<br />
evitar futuros choques entre os países da América,<br />
assegurando à O.E.A. o direito de intervir<br />
militarmente.<br />
d) barrar a penetração das ideias comunistas na<br />
América, reforçando a ligação dessas regiões com o<br />
capitalismo através da Aliança para o Progresso.<br />
e) consolidar a "Doutrina de Segurança Nacional" e<br />
apoiar militares nos governos dos países latinoamericanos<br />
nas décadas de 1960 e 70.<br />
19. (FGV) "Fale macio e use um porrete", dizia o<br />
presidente norte-americano Theodore Roosevelt para<br />
justificar a política externa dos EUA. A respeito da<br />
política conhecida como "Big Stick", podemos afirmar:<br />
a) Significou uma medida pragmática dos norteamericanos<br />
logo após a independência, buscando<br />
superar o isolamento diplomático, ao mesmo tempo<br />
que combatia o exército britânico.<br />
b) Era o lema dos Estados do Norte durante a Guerra<br />
de Secessão, durante a qual os escravos foram<br />
libertados, como forma de enfraquecer as forças<br />
sulistas.<br />
c) Diz respeito à política norte-americana com relação<br />
à América Latina durante a Guerra Fria, quando deu<br />
apoio político e militar a diversas ditaduras<br />
militares, visando impedir o estabelecimento de<br />
regimes comunistas semelhantes ao de Cuba.<br />
d) Foi uma continuidade do expansionismo interno,<br />
marcado pela Marcha para o Oeste e pela Guerra de<br />
Secessão, que implicou nas seguidas intervenções<br />
militares norte-americanas que transformaram o<br />
Caribe em sua área de influência.<br />
e) Foi a orientação dada pelo serviço secreto norteamericano<br />
a seus agentes infiltrados na URSS e nos<br />
países da chamada Cortina de Ferro no Leste<br />
europeu.
20. (UFSM)<br />
As imagens ilustram dois momentos da política externa<br />
dos EUA: em 1903, no governo de Theodore Roosevelt,<br />
os EUA apoiaram o Panamá no rompimento com a<br />
Colômbia; em 2003, George W. Bush decidiu invadir e<br />
ocupar o Iraque. Considerando a política externa norteamericana,<br />
analise as seguintes afirmações:<br />
I. No governo de Theodore Roosevelt (1901-1909), os<br />
EUA assumem o papel de potência policial ocupando<br />
vários Estados-nações do Caribe e da América Central.<br />
II. O isolacionismo e o respeito pela autodeterminação<br />
dos povos marcam a política externa dos EUA desde o<br />
início do século XX.<br />
III. A política do big stick, proposta por Theodore<br />
Roosevelt, baseava-se na ideia de que os EUA estavam<br />
autorizados a impor seu estilo de vida aos países latinoamericanos.<br />
IV. A nova fase da política externa dos<br />
EUA, inaugurada por George W. Bush, baseia-se no<br />
complexo industrial militar e no fundamentalismo<br />
cristão.<br />
Está(ão) correta(s)<br />
dando sinal de ser insaciável na obtenção de vantagens<br />
comerciais e políticas sobre o resto do mundo. Tendo em<br />
vista essa vocação, é CORRETO afirmar:<br />
a) A doutrina Monroe foi a principal peça política<br />
engendrada pelo governo americano para justificar<br />
seu expansionismo a partir da primeira metade do<br />
século XIX.<br />
b) A política do Big Stick, do Governo Franklin<br />
Delano Roosevelt, foi criada para fazer oposição ao<br />
modelo protagonizado pela doutrina Monroe.<br />
c) Os americanos nunca propuseram oficialmente um<br />
imperialismo nas Américas. Somente tentaram<br />
conter os avanços do capitalismo europeu nesse<br />
continente.<br />
d) Semelhante na postura, mas diferente na ação, a<br />
invasão do Iraque hoje é um desdobramento da<br />
doutrina Monroe.<br />
22. (PASUSP) O Canal do Panamá foi construído em<br />
1914 pelos Estados Unidos, que controlaram sua<br />
administração por quase um século e só devolveram a<br />
soberania da área aos panamenhos em 1999. A atual<br />
ampliação do canal visa permitir o tráfego de navios de<br />
maior porte, atualmente utilizados com mais freqüência,<br />
em decorrência do aumento do volume do comércio<br />
internacional nas últimas décadas. Mais de 100 rotas de<br />
transporte marítimo passam pelo Canal do Panamá,<br />
sendo uma das principais aquela que liga o Extremo<br />
Oriente à costa leste dos Estados Unidos.<br />
a) apenas I e II.<br />
b) apenas II e III.<br />
c) apenas I, III e IV.<br />
d) apenas II, III e IV.<br />
e) apenas IV.<br />
21. (PUCMG) A expansão norte-americana não é uma<br />
questão que perturba somente o nosso tempo. Desde o<br />
final do século XIX que a política externa ianque vem<br />
Com base em seus conhecimentos, no mapa e no texto,<br />
indique a alternativa correta:<br />
369
a) O Canal do Panamá reduziu sensivelmente as<br />
distâncias a serem percorridas nas rotas marítimas<br />
entre as costas leste e oeste dos EUA.<br />
b) As rotas mais beneficiadas com a construção do<br />
Canal do Panamá são as que ligam a Europa e a<br />
África Ocidental à costa leste dos EUA.<br />
c) A ampliação do Canal do Panamá não deve<br />
apresentar um aumento significativo no tráfego do<br />
canal, já que os navios de maior porte não são<br />
utilizados intensamente nos dias de hoje.<br />
d) O Canal do Panamá apresenta importância<br />
estratégica e militar para os EUA, apesar da pouca<br />
relevância econômica referente às rotas comerciais<br />
marítimas.<br />
e) O Canal do Panamá não teve um papel significativo<br />
na circulação marítima internacional nem na<br />
estratégia de defesa militar dos EUA.<br />
23. (UERJ-2010)<br />
A caricatura acima, de 1904, e o cartaz publicitário da<br />
Coca-Cola, de 1944, apontam para contextos<br />
diferenciados das relações do governo dos EUA com<br />
países da América Latina.<br />
Cite uma ação da política externa norte-americana para a<br />
América Latina decorrente da política do Big Stick -<br />
“Grande Porrete”. Em seguida, nomeie e explique a nova<br />
orientação diplomática dos EUA para essa região durante<br />
a Segunda Guerra Mundial.<br />
370
GABARITO<br />
01. resposta: Depois de conquistar a independência<br />
em 1776, a nova nação inicou sua expansão territorial<br />
tendo como justificativa a ideologia do Destino<br />
Manifesto, ou seja, a certeza de que o povo norteamericano<br />
fora predestinado por Deus a ocupar e<br />
colonizar as terras que se estendiam até o Pacífico; havia<br />
sido escolhido por Deus para levar seus valores a<br />
territórios sob o poder de outros Estados ou dos “peles<br />
vermelhas”. A maior parte dos primeiros habitantes dos<br />
EUA eram protestantes que viam o lucro e as riquezas<br />
como consequência de uma escolha divina e do trabalho,<br />
e não como um pecado. Essa ética protestante foi um<br />
importante fator cultural que justificou a expansão<br />
territorial norte-americana sendo considerada natural e<br />
benéfica, e não uma agressão aos povos que já habitavam<br />
o território. Na realidade, a doutrina do Destino<br />
Manifesto justificou, no inicio, a conquista de terras até o<br />
limite natural imposto pelo Rio Mississipi (área original<br />
das Treze Colônias inglesas); posteriormente, foram<br />
conquistados novos territórios que se estendem até o<br />
oceano Pacífico. A incorporação de novos territórios fez<br />
parte do período do imperialismo interno, que se iniciou<br />
na independência que a nação americana obteve em<br />
relação à Inglaterra em 1776, e continuou durante o<br />
século XIX, no período conhecido como Marcha para o<br />
Oeste. A fome de terras dos imigrantes e as agressões<br />
cometidas em nome do Destino Manifesto dos EUA<br />
contribuíram para empurrar suas fronteiras desde o rio<br />
Mississípi até a costa oeste.<br />
02.<br />
A) resposta: Imperialismo, cuja principal característica<br />
econômica é utilizar os territórios dominados como<br />
mercado consumidor cativo dos interesses do país<br />
dominante.<br />
B) resposta: Identificava os efeitos nefastos e desumanos<br />
do expansionismo norte-americano para as nações<br />
dominadas.<br />
03. C<br />
04. B<br />
05. B<br />
06. E<br />
07. resposta: A Guerra de Secessão consistiu na luta<br />
entre 11 Estados Confederados do Sul latifundiário,<br />
aristocrata e defensor da escravidão, contra os Estados do<br />
Norte industrializado, onde a escravidão tinha um peso<br />
econômico bem menor do que no Sul. Estas diferenças<br />
estão entre as principais causas da guerra e têm origem<br />
ainda no período colonial: enquanto o desenvolvimento<br />
do Norte estava ligado à necessidade de crescimento do<br />
mercado interno e do estabelecimento de barreiras<br />
protecionistas, o crescimento Sulista era baseado<br />
precisamente no oposto, ou seja: o liberalismo<br />
econômico que abria todo o Mundo às agro-exportações<br />
e com mão-de-obra escrava (de origem africana) como<br />
base da produção.<br />
07.1 - A<br />
08. E<br />
09. 22<br />
10. B<br />
11. D<br />
12. C<br />
13. E<br />
14. FFVV<br />
15. C<br />
16. C<br />
18. B<br />
19. D<br />
20. C<br />
21. A<br />
22. A<br />
23 Resposta:<br />
Uma das ações:<br />
• interferência norte-americana na independência de<br />
Cuba e sua posterior intervenção políticae econômica<br />
nesse país, por meio da Emenda Platt<br />
• apoio norte-americano à independência do Panamá,<br />
viabilizando a conclusão da construção do canal e sua<br />
cessão aos EUA, bem como sua interferência comercial e<br />
financeira na região Política da Boa Vizinhança. Essa<br />
política baseou-se nos princípios da amizade, da<br />
371
cooperação e da reciprocidade como garantia da abertura<br />
de mercados e da diminuição da influência dos países do<br />
Eixo no continente americano.<br />
A expressão Big Stick (Grande Porrete) resultou de uma<br />
frase de efeito dita pelo presidente estadunidense<br />
Theodore Roosevelt para descrever o estilo de<br />
diplomacia norte-americana para a América Latina e é<br />
considerada como corolário da Doutrina Monroe. Ambas<br />
caracterizam a postura imperialista dos Estados Unindo<br />
no continente.<br />
A imposição da Emenda Platt, um dispositivo legal<br />
inserido na Constituição de Cuba, que autorizava os<br />
Estados Unidos da América a intervir naquele país a<br />
qualquer momento em que interesses recíprocos de<br />
ambos os países fossem ameaçados, bem como as<br />
intervenções norte-americanas na Nicarágua visando a<br />
construção de um canal interoceânico, são exemplos da<br />
execução do Big Stick .<br />
A partir do governo Franklin Roosevelt, teve início a<br />
Política da Boa Vizinhança (ou Good Neighbor Policy)<br />
que consistia em investimentos e venda de tecnologia<br />
norte-americana para os países latino-americanos, mas<br />
em troca, estes deviam dar apoio a política norte<br />
americana.<br />
Essa política promoveu o estreitamento das relações<br />
culturais entre os Estados Unidos América Latina.<br />
372
IMPERIALISMO<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
Na segunda metade do século XIX, a expansão da<br />
Segunda Revolução Industrial na Europa redimensionou<br />
a relação desse continente com o resto do mundo a partir<br />
da intensificação de um vasto intercâmbio comercial. Ao<br />
iniciar-se o século XX, como necessidade dessa<br />
expansão, vastas extensões do território do planeta, em<br />
especial a África e a Ásia, encontravam-se apropriadas<br />
pelos países europeus, que impunha-lhes dominação<br />
política, aproveitamento econômico e imposição cultural;<br />
além dos territórios europeus, os EUA e o Japão também<br />
atuavam nessa ação expansionista colonizadora.<br />
Nessa segunda fase da Revolução Industrial, o<br />
surgimento de grandes empresas ou corporações que<br />
dominavam determinados setores produtivos levaram a<br />
um novo processo de imposição de monopólios, que se<br />
diferenciava daquele da Era Mercantilista, por ser<br />
essencialmente de natureza privada e não estatal, como<br />
outrora. Aos Estados, cabia a função de garantir as<br />
condições para o desenvolvimento das grandes empresas<br />
de seu país, garantindo as condições para sua projeção,<br />
retomando o ímpeto colonial e promovendo a literal<br />
partilha de imensas áreas, valendo-se de um discurso<br />
civilizador e, quando necessário, da supremacia militar; o<br />
resultado mais evidente desse processo, foi o início de<br />
uma profunda exploração nas regiões periféricas do<br />
planeta, bem como do acirramento das rivalidades entre<br />
as grandes potencias internacionais.<br />
França e Inglaterra, em razão da precocidade de sua<br />
modernização industrial, foram os primeiros países em<br />
expansão neocolonial. Itália e Alemanha, por decorrência<br />
do processo tardio de unificação política, retardaram seu<br />
processo de conquistas, mas ao manifestarem seu<br />
interesse em ocupar novas áreas, acirraram a rivalidade<br />
com as potências tradicionais, fator que seria um dos<br />
determinantes da Primeira Guerra Mundial, no início do<br />
século XX.<br />
No período entre 1870 e 1873, a Europa viveu uma<br />
gravíssima crise de super produção, associada ao próprio<br />
crescimento da produção industrial e ao acirramento das<br />
ações monopolistas. Esse monopólio ´podia ocorrer de<br />
maneira horizontal, ou vertical, através dos trustes,<br />
holdings e cartéis. Entre os elementos dessa crise,<br />
citamos, a restrição de consumidores, em oposição ao<br />
crescimento exagerado d produção, a diminuição da<br />
oferta de matéria prima e o esgotamento de fontes<br />
energéticas na Europa, a concorrência acirrada entre os<br />
países envolvidos no processo, o crescimento<br />
demográfico e, a necessidade de reinvestir capitais para<br />
garantir a continuidade dos ganhos. Foi nesse contexto,<br />
que a solução apontada para a crise foi a abertura de<br />
novos mercados consumidores, conquista de áreas<br />
fornecedoras de matéria prima, disponíveis para<br />
reserva de excedentes populacionais europeus e com<br />
oferta de mão de obra barata, justificando a<br />
necessidade de uma política imperialista para anexação<br />
de novas colônias na África e Ásia.<br />
Para tornar justificável a submissão política e econômica<br />
de outros povos e nações, intelectuais a serviço de<br />
Estados e interesses europeus, formularam uma<br />
justificação em torno de uma suposta missão<br />
civilizadora, com o objetivo de adequar as populações<br />
africanas e asiáticas ao modelo civilizacional europeu.<br />
Para tanto, valeram-se da adequação da teoria darwinista,<br />
para construir o conceito de darwinismo social, que<br />
naturalizava a dominação de povos inferiores por povos<br />
superiores; tratava-se de uma responsabilidade honrosa e<br />
trabalhosa para os europeus, o chamado “fardo do<br />
homem branco”.<br />
373
TEXTO COMPLEMENTAR<br />
A Revolução Industrial trouxe uma nova realidade<br />
para a política e a economia mundial, ressurgiam as<br />
políticas de exploração colonial iniciadas pelos Estados<br />
Modernos no século XVI. No final do século XIX, dois<br />
terços do mundo estavam sob o controle das potências<br />
industrializadas europeias. Na alegoria abaixo, o escritor<br />
francês ironiza a situação:<br />
“Chegado a uma vasta praça, viu o pórtico de um<br />
palácio em estilo clássico. Enquanto, parado, ele o<br />
admirava com a cabeça tombada para trás, foi abordado<br />
por um homem de aparência modesta que lhe disse em<br />
pinguim:<br />
- Vejo pelo seu traje que o senhor é da Pinguínia.<br />
Conheço a vossa língua sou interprete juramentado. Esse<br />
palácio é o Parlamento. Nesse instante, os deputados<br />
estão a deliberar. Gostaria de assistir à sessão?<br />
Introduzidos em uma galeria, o doutor percorreu com<br />
os olhos a multidão de legisladores (...) O presidente<br />
levantou-se e balbuciou antes que articulou, em meio à<br />
desatenção geral, as Formulas seguintes, que o intérprete<br />
ia traduzindo para o doutor:<br />
- Estando terminada a guerra pela abertura dos<br />
mercados mongóis a contento do Estado, proponho que<br />
as contas sejam submetidas à comissão de finanças...<br />
- Nenhuma objeção?<br />
- Proposta aprovada.<br />
- Estando terminada a guerra pela abertura dos<br />
mercados Terceira Zelândia a contento do Estado,<br />
proponho que as contas sejam submetidas à comissão de<br />
finanças...<br />
- Nenhuma objeção?<br />
- Proposta aprovada<br />
- Terei entendido bem? – perguntou o professor<br />
Obnubile. – O quê! Vós, uma nação industrial, engajada<br />
em todas essas guerras!<br />
- Claro – respondeu o intérprete. – São guerras<br />
industriais. Os povos que não tem comércio nem<br />
indústrias não tem que fazer a guerra; mas um povo de<br />
negócios é obrigado a uma política de conquistas. O<br />
número de nossas guerras aumenta necessariamente com<br />
a nossa atividade produtora. A partir do momento em<br />
que uma indústria não consegue escoar seus produtos, é<br />
preciso uma guerra que lhe abra novos mercados. Assim<br />
374<br />
é que tivemos este ano uma guerra do carvão, uma guerra<br />
do cobre e uma guerra do algodão. Na Terceira Zelândia,<br />
exterminamos dois terços da população para obrigar os<br />
restantes a comprar guarda-chuvas e suspensórios.<br />
Nesse instante, um homem corpulento que estivera<br />
sentado no centro da assembleia subiu à tribuna:<br />
- Requeiro – disse ele – uma guerra contra o governo<br />
da República da Esmeralda que disputa insolentemente<br />
com os nossos porcos a hegemonia dos presuntos e<br />
salsichas em todos os mercados do mundo.<br />
- Quem é aquele legislador? – perguntou o doutor<br />
Obnubile.<br />
- É um negociante de porcos.<br />
- Não há contestação? – perguntou o presidente? –<br />
Ponho a proposta em votação.<br />
A guerra contra a República da Esmeralda foi votada<br />
com mãos levantadas por esmagadora maioria.<br />
- Como? – disse Obnubile ao intérprete – Os senhores<br />
votam uma guerra com tanta rapidez e indiferença?<br />
- Ora, é uma guerra sem importância, que não custará<br />
mais de oito milhões de dólares.<br />
- E homens...”<br />
Visões do imperialismo pelo escritor francês Anatole France no livro: A ilha dos<br />
Pinguins (1907) citação páginas 136-13<br />
2. A PARTILHA DA ÁFRICA
Desde o período das Grandes Navegações, no século<br />
XV, intensificara-se a relação comercial entre a Europa e<br />
a África, que no Medievo esteve bastante restrito às áreas<br />
em torno do Mediterrâneo e Mar Vermelho; na Idade<br />
Moderna, a África se tornou fundamental ao comércio<br />
internacional, especialmente no fornecimento de<br />
especiarias como marfim, pimenta, ouro etc., mas,<br />
principalmente, pelo intenso comércio de escravos que<br />
abastecia a mão de obra das áreas coloniais americanas.<br />
Apesar do intenso contato, poucas áreas do continente<br />
africano foram submetidas à colonização moderna,<br />
especialmente aquelas de dominação portuguesa, ou sob<br />
domínio do Império Turco Otomano ao norte,<br />
preservando-se a autonomia política da maior parte do<br />
território.<br />
A grande oferta de matéria-prima e riquezas naturais, a<br />
enorme densidade demográfica que disponibilizava mãode-obra<br />
barata (o que explica o esforço europeu,<br />
especialmente inglês, em se esforçar para coibir o tráfico<br />
de escravos para a América no século XIX) e a<br />
possibilidade de converter essas populações em um vasto<br />
mercado consumidor, atraiu a atenção dos europeus para<br />
o continente africano, com o objetivo de promover uma<br />
ação imperialista. O marco essencial da dominação<br />
europeia na África, foi a Conferência de Berlim (1885-<br />
87). Convocada pelo chanceler alemão Otto von<br />
Bismarck, essa Conferência visava atenuar a disputa<br />
entre os países europeus pelo aproveitamento das terras<br />
africanas, definindo-se normas para a ocupação<br />
territorial, que resultou numa equivocada e desastrosa<br />
partilha territorial do continente.<br />
Ilustração da Partilha da África pela Conferência de Berlim.<br />
No caso da dominação africana, merece destaque a<br />
disputa pela região da África do Sul, alvo da disputa<br />
entre ingleses e holandeses. As regiões de Orange,<br />
Transvaal e região do Cabo, ricas em pedras preciosas,<br />
tornou-se alvo do interesses expansionista inglês, que<br />
chocou-se com as populações de origem holandesa que<br />
já se faziam presentes na região desde o século XVIII. A<br />
reação anti-inglesa culminou na Guerra dos Bôeres<br />
(1999-1902), que resultou na vitória dos ingleses e na<br />
sua hegemonia no sul da África, resultando na formação<br />
da União Sul africana em 1910 (Cabo, Transvaal, Orange<br />
e Natal).<br />
Nessa mesma região, a noção de superioridade dos<br />
brancos ingleses sobre a população negra local, resultaria<br />
na institucionalização do mais violento processo de<br />
institucionalização do racismo, o apartheid, que<br />
continuou a privilegiar os brancos e excluir a maioria<br />
negra dos sul africanos, mesmo após a descolonização<br />
africana, até finais do século XX.<br />
No norte da África, um momento de choque de interesses<br />
entre potências europeias se manifestou no Egito,<br />
resultante dos interesses envolvendo ingleses e franceses<br />
na construção do Canal de Suez. Desde o governo de<br />
Napoleão III, a França se projetou em seu imperialismo<br />
na região, estabelecendo o controle por áreas como a<br />
Tunísia, Argélia, Senegal e parte do Congo, enquanto<br />
mantinha administração compartilhada do Egito com os<br />
ingleses; construíram, em 1869, o Canal de Suez,<br />
objetivando facilitar o acesso às fontes energéticas e<br />
mercados consumidores no Oriente Médio através da<br />
travessia entre o mediterrâneo ao Mar Vermelho. O<br />
endividamento dos egípcios com a Inglaterra garantiu a<br />
dominação dos ingleses sobre o Canal, e gerou reações<br />
nacionalistas do país africano, que sem sucesso, viria a se<br />
constituir em protetorado inglês em 1882, consolidando a<br />
dominação imperialista na região.<br />
Outro palco de disputas entre as nações europeias no<br />
continente africano foi a região do Marrocos, que<br />
colocou em conflito, especialmente franceses e alemães,<br />
agravando as tensões e rivalidades que estariam na<br />
origem da Primeira Guerra Mundial, posteriormente.<br />
Desde os fins do século XIX, o Marrocos, assim como<br />
todo o restante da África, serviu como palco de várias<br />
disputas imperialistas. Observando esse quadro, grandes<br />
nações europeias envolvidas nessa situação resolveram<br />
estabelecer um acordo sobre o assunto com a realização<br />
da Convenção de Madri, em 1880. Naquele momento,<br />
ficava acordado que franceses, alemães e britânicos<br />
375
teriam direitos iguais na exploração comercial do<br />
território marroquino.<br />
Entretanto, algumas décadas mais tarde, essa definição<br />
foi transgredida quando a França decidiu reconhecer a<br />
hegemonia inglesa no Egito e, em troca, recebeu apoio<br />
para conquistar o território marroquino. Através desse<br />
conchavo, os alemães se sentiram ameaçados e<br />
consideraram que a isonomia da Convenção de Madri<br />
estava sendo desrespeitada. Com isso, em 1905, o kaiser<br />
alemão Guilherme II desembarcou no país defendendo a<br />
independência do estado marroquino.<br />
Através dessa ação, a Alemanha visava abalar a aliança<br />
existente entre a França e o sultão do Marrocos, que<br />
auxiliava os franceses no combate e controle das<br />
lideranças tribais do país. A crise diplomática criada por<br />
esse impasse acabou sendo resolvida na Conferência de<br />
Algeciras (1906), onde os interesses da França e da<br />
Alemanha foram, mais uma vez, igualmente<br />
reconhecidos.<br />
Anos mais tarde outras crises de hegemonia voltaram a<br />
acontecer. Dessa forma, a rivalidade entre franceses e<br />
alemães cresciam em dimensões preocupantes. O<br />
impasse sobre a dominação ao Marrocos só foi resolvida<br />
quando os alemães abriram mão do direito de exploração<br />
em troca das terras do Congo Francês. Apesar da<br />
compensação oferecida, os alemães ainda se sentiram<br />
prejudicados. Assim se dava o fim de uma das várias<br />
rivalidades que antecederam a Primeira Guerra Mundial.<br />
A duradoura dominação europeia nesse continente<br />
acarretou consequências nocivas e bastante evidentes;<br />
destacam-se, principalmente, a destruição das estruturas<br />
tradicionais de organização social e econômica, a criação<br />
de fronteiras artificiais que separou populações e acirrou<br />
rivalidades desdobradas em violentos conflitos étnicos, e<br />
uma profunda dependência política e econômica que<br />
ainda hoje se perpetuam mesmo nos países<br />
independentes pós descolonização.<br />
3. PARTILHA DA ÁSIA<br />
O interesse do imperialismo europeu pelo continente<br />
africano está diretamente relacionado ao potencial<br />
mercado consumidor que as grandes demografias<br />
asiáticas propiciavam. Também como relação aos<br />
asiáticos, o discurso da suposta inferioridade dos grupos<br />
étnicos amarelos, foram utilizados para justificar a<br />
dominação daquele continente, sob a argumentação do<br />
exercício de uma missão civilizadora.<br />
376<br />
3.1 O caso indiano<br />
A Índia tornou-se um dos casos clássicos de dominação<br />
imperialista, tornando-se uma das regiões mais<br />
estratégicas ao poderio da Inglaterra durante a Era<br />
Vitoriana, no século XIX e, na primeira metade do<br />
século XX. O interesse inglês na Índia teve início a partir<br />
do século XVIII< quando o país interessou-se por<br />
participar do comercio de especiarias e produtos exóticos<br />
que tradicionalmente estavam relacionados àquela<br />
região. AS disputa pelo controle econômico da região é<br />
um dos pilares da chamada Guerra dos 07 Anos, que<br />
confrontou franceses e ingleses entre 1756 e 1763. Com<br />
a vitória inglesa no conflito, o comercio indiano com o<br />
Ocidente passou a ser monopolizado pela Companhia de<br />
Comércio das Índias Orientais. A partir de 1858, com a<br />
crise envolvendo os administradores da Companhia, o<br />
Estado Inglês passou a assumir prerrogativas cada vez<br />
maior de controle dos indianos, a fim de garantir a<br />
ampliação de mercado consumidor e complemento à<br />
desenvolvida indústria têxtil inglesa.<br />
O Estado indiano, de maioria religiosa hindu,<br />
mantinha uma intransigente divisão social de explicação<br />
religiosa baseada no sistema de castas e, tinha sua<br />
economia baseada na agricultura e nas pequenas<br />
manufaturas artesanais de tecidos de luxo.<br />
Com a introdução cada vez maior das fábricas inglesas,<br />
explorava-se a mão de obra barata dos indianos,<br />
transferia-se capitais para essa região expandindo essas<br />
fabricas, acomodava-se excedentes de população na<br />
administração do território, mas prejudicava seriamente<br />
as pequenas manufaturas, incapazes de concorrer com as<br />
grandes fábricas, ao tempo que acarretava uma enorme<br />
dependência da população local à exploração dos<br />
interesses ingleses.<br />
A população indiana, entretanto, não permaneceu<br />
completamente impassível a essa situação. Entre 1857 e<br />
1859, deu-se a chamada Revolta dos Sipaios. Essas<br />
tropas eram de composição indiana, treinadas por<br />
franceses e a serviço da Companhia das Índias Orientais,<br />
que se levantou contra a dominação inglesa, insatisfeitos<br />
com a excessiva imposição de costumes ocidentais e<br />
desrespeito às tradições orientais (por exemplo, o<br />
suposto uso de banha de porco e de vaca nos cartuchos<br />
de suas armas, quando a vaca era animal sagrado aos<br />
hindus e imundo aos muçulmanos), até a reclamação por<br />
baixos soldos e mistura de castas entre os soldados.<br />
Os Sipaios lideraram vários atentados violentos contra<br />
autoridades e representações inglesas, exigindo o fim do
domínio inglês na região, mas que seriam duramente<br />
reprimidos por tropas inglesas, apoiadas por grupos<br />
indianos que se beneficiavam de privilégios dados pelos<br />
ingleses, assegurando a dominação completa com a Índia<br />
Transformada em Protetorado Britânico.<br />
Ainda assim, alguns grupos de intelectuais mantiveram<br />
ao longo da dominação inglesa, um movimento de<br />
resistência pacífica, que buscava apropriar-se de alguns<br />
aspectos culturais ingleses em favor do desenvolvimento<br />
da Índia e buscar representação política junto à<br />
Metrópole. Em 1885, seria criado o Partido do<br />
Congresso Nacional, que embora controlado pela Coroa<br />
Britânica, era um partido de representação nativa, que<br />
mais tarde seria um dos principais responsáveis pela<br />
independência da Índia.<br />
3.2 O caso chinês<br />
Charge Ilustrativa da Dominação Europeia na China<br />
Com 400 milhões de habitantes já no século XIX, a<br />
China era o país mais populoso do mundo e, portanto,<br />
com condições de ser um poderoso mercado consumidor,<br />
tão imprescindível às necessidades imperialistas da<br />
Segunda Revolução Industrial. Sob um governo<br />
autoritário e impopular, a China optava por uma política<br />
econômica de isolamento em relação ao Ocidente,<br />
dificultando o consumo dos produtos ocidentais, mas<br />
oferecendo produtos luxuosos como o chá e a porcelana.<br />
A Inglaterra estava entre os principais países interessados<br />
em desbravar o mercado chinês, já que a produção de<br />
ópio na fronteira indiana com Índia, abria o precedente<br />
para o contrabando de bens valiosos como a seda, arroz e<br />
porcelana com os chineses em troca da droga. Os<br />
ingleses, estimulavam cada vez mais o consumo da<br />
droga, levando os chineses a formalizarem reclamações e<br />
protestos ao governo inglês contra a ação devastadora da<br />
droga, que atingia os mais variados estratos sociais da<br />
China.<br />
Não atendidos pela diplomacia inglesa, o governo chinês<br />
autorizou a destruição de um enorme carregamento de<br />
20000 caixas de ópio inglês destinado à China,<br />
fornecendo a desculpa necessária para que os ingleses<br />
promovessem uma intervenção militar que forçasse os<br />
chineses à abertura de seus mercados. Era a Guerra do<br />
Ópio (1840-1842), quando a superioridade bélica inglesa<br />
massacrou a resistência chinesa. A china foi obrigada a<br />
se submeter aos Tratados Desiguais, como o Tratado de<br />
Nanquim, que passou a ilha de Hong Kong à Inglaterra<br />
(mantido até 1997) e abriu pelo menos cinco portos<br />
chineses ao comercio internacional.<br />
Entre os anos de 1856 e 858, a China enfrentaria ainda<br />
Segunda e Terceira Guerras do Ópio, quando dessa vez<br />
ingleses e franceses colaboraram reciprocamente para<br />
enfrentar os chineses. Vitoriosas as potências ocidentais,<br />
impôs –se o Tratado de Pequim (1860), que dividiu o<br />
país em várias áreas de influência econômica entre as<br />
principais nações imperialistas, no chamado break up da<br />
China. Mais tarde, os EUA também reclamariam direitos<br />
sobre aquele mercado, defendendo uma política de portas<br />
abertas na China ao livre comercio; escancara-se assim o<br />
vasto mercado chinês aos interesses imperialistas.<br />
Em consequência da dominação estrangeira, os chineses<br />
desenvolveram uma profunda xenofobia, que orientou os<br />
movimentos de resistência no país. Entre 1851 e 1864,<br />
promoveu-se a chamada Revolução Taiping,<br />
encabeçada por camponeses, de caráter nacionalista, que<br />
defendia o fortalecimento do governo chinês, a não<br />
divisão do território sob influência ocidental e a<br />
distribuição de terras em favor de uma sociedade<br />
igualitária. Foram duramente reprimidos por grupos da<br />
elite chinesa apoiados por forças militares estrangeiras.<br />
Décadas depois, entre 1900-1901, ainda contra a<br />
opressão ocidental, tivemos a Guerra dos Boxers,<br />
quando um grupo de lutadores de artes marciais,<br />
representados na Sociedade dos Punhos Fechados,<br />
promoveu uma série de atentados a diplomatas e<br />
missionários religiosos estrangeiros. Uma forca<br />
multinacional de ingleses, japoneses, americanos,<br />
alemães e franceses sufocaram a mobilização dos<br />
Boxers.<br />
377
Assim como a China, o Japão também buscou uma<br />
política de isolamento em relação ao Ocidente, mantendo<br />
até o século XIX uma estrutura organizacional muito<br />
próxima aos moldes feudais, chamada xogunato. Era<br />
governado por um Imperador, o Micado, que na prática,<br />
exercia função figurativa. Destacava-se os governos<br />
locais, chefiados pelos daimios (nobreza aristocrata), que<br />
exploravam a classe camponesa. Sua autoridade se<br />
sustentava numa classe de guerreiros leais, os samurais.<br />
A abertura econômica japonesa deu-se por iniciativa dos<br />
interesses estadunidenses, quando em 1854 a Esquadra<br />
Perry forcou os japoneses a abrirem seus portos, sob a<br />
ameaça de bombardeio da Baía de Tóquio. A dinastia<br />
Tokugawa, que desde o século XVII governavam o<br />
Japão, foi obrigada a abrir os portos de Shimoda e<br />
Hakodate ao comercio norte-americano.<br />
Em resistência, a população japonesa se mobilizou pela<br />
derrubada do regime de xogunato, promovendo uma<br />
política de centralização de poder com a ascensão do<br />
Imperador Mutsuhito, inaugurando a Dinastia Meiji. Em<br />
nome da modernização do país, a servidão foi abolida, os<br />
samurais destituídos através da reestruturação para um<br />
exército nacional, desenvolveu as comunicações e as<br />
estradas de ferro, instituiu o iene como padrão monetário<br />
e investiu largamente em educação e formação de<br />
quadros intelectuais formados no exterior.<br />
Através de um pesado investimento em desenvolvimento<br />
industrial, controlados por uma rígida ação estatal,<br />
formando grandes conglomerados econômicos, e com<br />
um exército moderno e infraestrutura desenvolvidos, o<br />
Japão sai da condição de área explorada para se<br />
constituir no primeiro país da Ásia a ingressa Segunda<br />
Revolução industrial, tornando-se uma potência<br />
imperialista.<br />
A China, tornou-se também alvo desse imperialismo,<br />
quando o Japão também reivindicou participação no<br />
comercio chinês, além da intenção em se apropriar–se de<br />
territórios estratégicos, que determinou a Guerra Sino-<br />
Japonesa(1894-1895); vitorioso, o Japão obrigou a<br />
China a reconhecer a independência da Coreia, mais<br />
tarde incorporada ao domínio japonês (1910), como<br />
também passou a dominar a ilha de Formosa. Outro<br />
conflito envolvendo os interesses imperialistas japoneses<br />
foi a Guerra Russo-Japonesa, de 1904, quando o<br />
interesses entre as duas nações se chocaram na disputa<br />
pela Manchúria, rica em minério de fero, onde mais uma<br />
378<br />
3.3 Japão<br />
vez, o Japão sagrou-se vitorioso, com apoio<br />
estadunidense, que temia uma expansão russa no Oriente.<br />
4. IMPERIALISMO NA AMÉRICA<br />
A América também foi alvo da dominação imperialista,<br />
tendo os EUA como principal potência a se beneficiar da<br />
dominação indireta sobe os Estados americanos,<br />
especialmente na América Central e Caribe. Desde o<br />
século XVIII, a tendência imperialista dos EUA já se<br />
evidenciava, corporificando-se no século XIX com a<br />
expansão para o Oeste, suprimindo interesses de<br />
populações nativas e dos mexicanos, por exemplo, no<br />
intuito de constituir um país forte e poderoso. Em<br />
paralelo à expansão, desenvolvia-se a Doutrina do<br />
Destino Manifesto, que reafirmava o papel dos EUA<br />
como Nação escolhida por Deus para levar a civilização,<br />
o progresso e a ordem à toda América, constituindo-se<br />
numa adaptação do discurso da Missão Civilizadora<br />
produzido pelos europeus.<br />
Alguns autores situam a Doutrina Monroe (1823),<br />
apresentada pelo presidente James Monroe, como o<br />
marco da ação imperialista estadunidense. Por meio dela<br />
e do slogan “América para os americanos”, os EUA se<br />
dispunham inclusive a utilizara intervenção armada, para<br />
restringir a influência europeia no continente, impedindo<br />
a vinda das tropas da Santa Aliança, que objetivavam<br />
impedir os movimentos de libertação colonial; ademais,<br />
apressou-se em apoiar outros processos de<br />
independência, formalizando o reconhecimento de novos<br />
países, a exemplo do que ocorrera com o Brasil, em<br />
1824.
No começo do século XX, a ação imperialista americana<br />
na América ganha um novo status, quando em 1901, o<br />
presidente republicano Theodore Roosevelt, idealizou a<br />
política chamada de Big Stick, sintetizada no adágio<br />
“Fale macio, mas tenha um porrete à mão”. O conjunto<br />
de medidas reunidos no Corolário Roosevelt,<br />
preconizava e justificou, intervenções armadas e<br />
violentas para assegurar os interesses econômicos dos<br />
EUA, especialmente na América Central e Caribe,<br />
supostamente em nome da ordem e da liberdade. Um<br />
grande exemplo do imperialismo estadunidense ocorreu<br />
em Cuba, um dos últimos países a se livrarem da<br />
dominação colonial espanhola na América. Como<br />
empresas americanas possuíam grandes investimentos<br />
econômicos na região, os americanos se interessavam<br />
pela emancipação da ilha, o que justificou uma guerra<br />
contra a Espanha, a partir de 1898, para justificar o apoio<br />
a ser dado à independência cubana. Derrotada, a Espanha<br />
reconheceu em 1898 a independência de Cuba, além de<br />
ceder os territórios das Filipinas e Porto Rico aos EUA.<br />
Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos EUA a Emenda<br />
Platt, que foi incorporada à Constituição cubana, dando<br />
aos estadunidenses o direito de intervir militarmente em<br />
Cuba, em caso de desordem. A Emenda previa também a<br />
reserva dos recursos naturais cubanos à exploração das<br />
empresas estadunidenses, além do direito de construir<br />
bases militares no país, a exemplo da base de<br />
Guantánamo.<br />
1. (UERJ 2013)<br />
EXERCICÍOS<br />
Na década de 1930, foi publicada a primeira edição da<br />
história em quadrinhos em que o personagem Tintim, um<br />
jovem repórter belga, faz uma expedição ao Congo,<br />
colônia do seu país na época.<br />
Com base nas imagens e nos diálogos apresentados,<br />
nota-se que Tintim simbolizava as práticas de<br />
colonização europeia na África, associadas à política de:<br />
a) integração étnica<br />
b) ação civilizadora<br />
c) cooperação militar<br />
d) proteção ambiental<br />
2. (UFSC 2013) A África é tão pouco uniforme cultural<br />
quanto geograficamente. Os africanos não são uma raça<br />
de pretos primitivos, nem é a África um continente sem<br />
uma velha história, como ainda se pensa geralmente. [...]<br />
São marcantes suas diferenças culturais, étnicas e<br />
linguísticas. Seu passado, embora não raro obscuro, não<br />
é a crônica de um isolamento. Desde o tempo dos<br />
primeiros hominídeos que viveram há um milhão de anos<br />
no desfiladeiro de Olduvai, a África desempenhou<br />
importante papel na história da humanidade [...].<br />
LOMMEL, Andreas. A arte pré-histórica e primitiva. Encyclopedia Britannica do<br />
Brasil Publicações. 7. ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1979. p.140-<br />
141,143, 162. In: FARIA, Ricardo de Moura. Estudos de <strong>História</strong>. v. 1. São<br />
Paulo: FTD, 2010. p. 37.<br />
379
Em relação à história da África e de seu povo, assinale<br />
a(s) proposição(ões) CORRETA(S).<br />
01) Além dos egípcios, vários outros povos habitavam o<br />
continente africano no período correspondente à<br />
chamada Idade Antiga.<br />
02) A expansão marítima europeia dos séculos XV e<br />
XVI transformou a costa africana em espaço<br />
privilegiado para a formação de feitorias e,<br />
consequentemente, em fonte de mão de obra e matériaprima.<br />
04) O neocolonialismo europeu sobre o continente<br />
africano no século XIX estava relacionado à ideia de<br />
“missão civilizadora” e às ideologias de progresso e<br />
superioridade racial branca.<br />
08) Com a expansão islâmica, todo o norte africano foi<br />
dominado pelos árabes através da fundação de diversos<br />
califados; entretanto, durante a Idade Média, o avanço<br />
das cruzadas recuperou definitivamente a região para o<br />
domínio cristão.<br />
16) Mesmo a contragosto das principais potências<br />
europeias, as fronteiras entre os países africanos,<br />
estabelecidas pela Conferência de Berlim (1884-85),<br />
tiveram que respeitar as questões étnicas e culturais por<br />
determinação da Organização das Nações Unidas<br />
(ONU).<br />
32) Os processos de independência na África,<br />
intensificados logo após a década de 1950, ocorreram<br />
através de acordos pacíficos que promoveram o<br />
endividamento e a dependência dos novos países, mas<br />
evitaram a deflagração de conflitos e guerras civis.<br />
3. (Upe 2013) A charge a seguir faz referência ao<br />
capitalista Cecil Rhodes, que investiu no expansionismo<br />
imperialista inglês.<br />
380<br />
Com base na charge e nos conteúdos referentes ao<br />
neocolonialismo, analise as seguintes afirmações:<br />
I. Podemos afirmar que os pés do capitalista estão<br />
assentados obre as duas únicas possessões inglesas na<br />
África: Egito e África do Sul.<br />
II. A projeção do personagem em relação ao continente<br />
expressa também a dimensão do interesse da Inglaterra<br />
pelos territórios africanos.<br />
III. Os países europeus dividiram a África entre si,<br />
respeitando suas especificidades étnicas, religiosas e<br />
linguísticas.<br />
IV. O Canal de Suez pode ser considerado uma<br />
consequência da presença inglesa na África.<br />
V. O preconceito dos ingleses com os africanos foi de tal<br />
monta que deixou marcas até o presente, como o<br />
Apartheid na África do Sul.<br />
Estão CORRETAS<br />
a) I, II e III.<br />
b) I, II e V.<br />
c) II, IV e V.<br />
d) III, IV e V.<br />
e) I, III e IV.<br />
4. (UERJ 2011)<br />
No final do século XIX, os europeus defendiam seus<br />
interesses imperialistas nas regiões africanas e asiáticas,<br />
justificando-os como missão civilizatória.<br />
Uma das ações empreendidas pelos europeus como<br />
missão civilizatória nessas regiões foi:
a) aplicação do livre comércio<br />
b) qualificação da mão de obra<br />
c) padronização da estrutura produtiva<br />
d) modernização dos sistemas de circulação<br />
5. (UFSM 2012) Analise e complete o esquema histórico<br />
correspondente ao mundo do final do século XIX e início<br />
do século XX.<br />
a) Cite duas áreas de influência (colônias ou não) das<br />
potências europeias nas Américas, no referido período, e<br />
identifique as potências que dominavam tais áreas.<br />
b) As elites locais, em sua maioria, também<br />
corroboraram, à época, as ideias de progresso e de<br />
civilização veiculadas pelas potências europeias.<br />
Medidas autoritárias e repressivas foram dirigidas ao<br />
elemento nativo, somadas a políticas de<br />
“branqueamento” de populações, pela via da imigração.<br />
Dê o exemplo de dois países latino-americanos que se<br />
destacaram no período pondo em execução essas práticas<br />
7. (FGVRJ 2013) Entre novembro de 1884 e fevereiro<br />
de 1885, representantes de países europeus, dos Estados<br />
Unidos e do Império Otomano participaram de<br />
negociações sobre o continente africano. O conjunto de<br />
reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de<br />
Berlim, tratou da<br />
Completam o quadro superior e inferior do esquema<br />
histórico, respectivamente, os seguintes conceitos:<br />
a) Mercantilismo e Iluminismo.<br />
b) Imperialismo e Racismo.<br />
c) Colonialismo e Destino Manifesto.<br />
d) Capitalismo e Predestinação.<br />
e) Globalização e Neoliberalismo<br />
a) incorporação da Libéria aos domínios norteamericanos,<br />
em troca do controle da África do Sul<br />
pela Inglaterra e Holanda.<br />
b) independência de Angola e Moçambique e da<br />
incorporação do Congo ao império ultramarino<br />
português.<br />
c) ocupação e do controle do território africano de<br />
acordo com os interesses das diversas potências<br />
representadas.<br />
d) condenação do regime do Apartheid estabelecido na<br />
África do Sul e denunciado pelo governo britânico.<br />
e) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à<br />
transformação do Egito em protetorado da<br />
Alemanha.<br />
8. (Unicamp 2013) As exposições universais do século<br />
XIX, sobretudo as de Londres e Paris, se caracterizavam<br />
6. (PUCRJ 2013) Visões eurocêntricas, a partir das<br />
ideias de superioridade racial e intolerância religiosa,<br />
acompanharam e justificaram a violência da dominação<br />
das potências ocidentais de fins do século XIX.<br />
Considerando os povos colonizados “pouco<br />
desenvolvidos” ou “em estado de barbárie”, os<br />
governantes dessas potências não raramente fizeram uso<br />
de um suposto “sentido de missão” para justificar as<br />
suas práticas de dominação.<br />
a) pelo louvor à superioridade europeia e pela<br />
apresentação otimista da técnica e da ciência.<br />
b) pela crítica à expansão sobre a África, movimento<br />
considerado um freio ao progresso europeu.<br />
c) pela crítica marxista aos princípios burgueses<br />
dominantes nos centros urbanos europeus.<br />
d) pelo elogio das sociedades burguesas associadas às<br />
vanguardas da época, como o Cubismo, o Dadaísmo<br />
e o Surrealismo.<br />
381
9. (UFSM 2011) Analise a charge representada a seguir.<br />
NOSSA GUARDA “IMPERIAL”<br />
Lord B. (Benjamin Disraeli) diz: — Você os tem ajudado<br />
continuamente, Madame.<br />
Índia (soldado indiano) diz: — E, agora, eu venho para<br />
ajudar vocês.<br />
[A Grã-Bretanha não sabe exatamente como a Índia fará isso] Charge de maio de<br />
1878. Disponível em: india.asp>. Acesso em: 26 mar. 2012. [Adaptado].<br />
A charge apresentada ironiza o envio de tropas indianas<br />
pelo governo britânico para garantir a posse da ilha de<br />
Malta, em 1878. Ela expressa um conceito que permeia a<br />
política externa inglesa no período vitoriano.<br />
Considerando-se o exposto,<br />
a) identifique o conceito que sintetiza a ação política<br />
britânica, no período.<br />
b) Explique de que forma a charge faz referência ao<br />
tratamento reservado às populações coloniais.<br />
10. (UEG 2012)<br />
382<br />
As tiras são um importante instrumento linguístico em<br />
que a linguagem verbal e a não verbal combinam-se na<br />
construção de um recurso comunicativo humorístico e, às<br />
vezes, crítico da realidade<br />
Nesse sentido, a tira citada é pertinente para se fazer uma<br />
leitura<br />
a) adequada das lutas dos movimentos negros norteamericanos<br />
dos anos 1970, já que conseguiram<br />
significativos avanços sociais.<br />
b) ingênua da Abolição da escravatura brasileira, já que<br />
persistiu a desigualdade social e econômica entre<br />
negros e brancos.<br />
c) irônica da colonização europeia do continente<br />
africano, justificada ideologicamente pela ideia de<br />
“missão civilizadora”.<br />
d) negativa da democracia sul-africana, uma vez que o<br />
fim do Apartheid não garantiu igualdade econômica<br />
aos negros.<br />
11. (Fuvest 2012) Leia este texto, que se refere à<br />
dominação europeia sobre os povos e terras africanas.<br />
Desde o século XVI, os portugueses e, trezentos anos<br />
mais tarde, os franceses, britânicos e alemães souberam<br />
usar os povos [africanos] mais fracos contra os mais<br />
fortes que desejavam submeter. Aliaram-se àqueles e<br />
somaram os seus grandes números aos contingentes, em<br />
geral pequenos, de militares europeus.<br />
Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro:<br />
Agir, 2008, p. 98.<br />
a) Diferencie a presença europeia na África nos dois<br />
períodos aos quais o texto se refere.<br />
b) Indique uma decorrência, para o continente africano,<br />
dessa política colonial de estimular conflitos internos<br />
12. (UFRN 2012)<br />
No século XIX, na Europa, desenvolveram-se estudos<br />
que, reivindicando bases científicas, valorizavam a raça<br />
branca, considerada superior a todas as demais.<br />
Essas teorias concebiam uma Nação em termos<br />
biológicos e valorizavam a homogeneidade racial. “A<br />
mistura de raças heterogêneas era sempre um erro e<br />
levava à degeneração não só do indivíduo como de toda<br />
a coletividade.”<br />
(SCHWARCZ, Lilia Moritz. Espetáculo da miscigenação. Estudos avançados, v.<br />
8, n. 20, abr. 1994. Disponível em: . Acesso em: abr. 2009.)
Frente a essas concepções, a constatação de que o Brasil<br />
era uma nação mestiça gerou dilemas para os intelectuais<br />
brasileiros no século XIX. Na tentativa de resolver esses<br />
dilemas, alguns intelectuais da época<br />
a) defenderam o progressivo branqueamento da<br />
população, como resultado da miscigenação e da<br />
imigração europeia.<br />
b) rejeitaram as ideias europeias, as quais apoiavam a<br />
constituição de sociedades puras e homogeneizadas<br />
e condenavam as sociedades racialmente híbridas.<br />
c) sustentaram a igual capacidade civilizatória de todos<br />
os grupos étnicos, combatendo a afirmação da<br />
existência de uma “raça degenerada”.<br />
d) ampliaram as concepções europeias, ao propor que a<br />
miscigenação racial favorecia as trocas culturais,<br />
fazendo mais rica a cultura nacional.<br />
c) manteve, com o fim da Segunda Guerra, suas<br />
anexações territoriais, o que lhe permitiu continuar<br />
como uma grande potência.<br />
d) previa a mobilização de recursos das áreas ocupadas<br />
para realimentar o complexo industrial-militar que<br />
se fortalecia internamente.<br />
15. (UDESC - 2012.1) Observe a imagem.<br />
13. (UFPR 2012) Segundo o historiador Edward Said, “o<br />
lucro e a perspectiva de mais lucro foram,<br />
evidentemente, de enorme importância, mas o<br />
imperialismo não é só isso”<br />
(Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 41).<br />
Comente essa afirmação, demonstrando as principais<br />
motivações que impulsionaram o imperialismo europeu<br />
no século XIX.<br />
14. (UFU 2012) As pretensões expansionistas japonesas<br />
na Ásia, a construção da Grande Ásia Oriental, colidiam<br />
com os interesses norte-americanos para a região. Os<br />
imperialistas seguiam as estratégias siberiana e colonial.<br />
A primeira encarregou o Exército de expandir o domínio<br />
Japonês para a China do Norte, Mongólia e Sibéria,<br />
rivalizando com a União Soviética. A estratégia colonial,<br />
delegada à Marinha, visava a conquista de colônias<br />
inglesas, francesas e holandesas na Ásia. O obstáculo<br />
para esse projeto era a força dos Estados Unidos no<br />
Pacífico (Alaska, Ilhas Aleutas, Filipinas e Havaí).<br />
O projeto imperialista japonês<br />
a) buscava contemporizar seus interesses com as forças<br />
chinesas, vistas como um importante apoio na luta<br />
contra o imperialismo norte-americano.<br />
b) ganhou força com o bombardeamento de Pearl<br />
Harbor e a entrada dos EUA na guerra, forçando o<br />
recuo dos movimentos anti-imperialistas nipônicos.<br />
A imagem refere-se a um cartoon, de autoria de W.A.<br />
Rogers, de 1904, e faz referência à política do big stick<br />
(“grande porrete” numa tradução literal) do presidente<br />
norte-americano Theodore Roosevelt (governou os EUA<br />
entre 1901 e 1909).<br />
Assinale a alternativa correta, considerando as<br />
representações no cartoon e a política a qual ele se refere.<br />
a) Refere-se à política de tutela norte-americana na<br />
América do Sul, nas décadas de 1950 a 1970. Tal<br />
política implicava intervenção direta dos EUA nas<br />
questões políticas dos países sulamericanos,<br />
inclusive no que se relaciona à destituição de<br />
governos democráticos e à instituição de ditaduras<br />
civis e militares.<br />
b) Refere-se à política de tutela norte-americana na<br />
América Central, no início do século XX. Tal<br />
política implicava a intervenção direta dos EUA nas<br />
questões políticas e econômicas internas dos países<br />
centro-americanos, protegendo governos aliados e<br />
derrubando os adversários.<br />
383
c) Refere-se à política norte-americana de expansão<br />
territorial, no início do século XX. Tal política<br />
traduz-se pela incorporação de porções territoriais<br />
do México (caso do Texas), bem como Havaí e<br />
Alasca, que foram anexados aos EUA nesse período.<br />
d) Deve ser entendida no contexto da Guerra da<br />
Secessão, no final do século XIX. Tal política<br />
refere-se a incentivos concedidos à indústria<br />
nortista, que passou a apresentar altos índices de<br />
crescimento.<br />
e) Deve ser entendida no contexto da expansão dos<br />
EUA, já a partir do final do século XIX. Tal política<br />
implicou a consolidação das instituições<br />
republicanas e expansão e conquista do Oeste. Com<br />
isso os norte-americanos expandiram seu território,<br />
avançaram sobre as fronteiras do México (por isso<br />
big stick) e industrializaram-se.<br />
16. (Ufg 2012) Leia o texto a seguir.<br />
Por mais que retrocedamos na <strong>História</strong>, acharemos que a<br />
África está sempre fechada no contato com o resto do<br />
mundo, é um país criança envolvido na escuridão da<br />
noite, aquém da luz da história consciente. O negro<br />
representa o homem natural em toda a sua barbárie e<br />
violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas<br />
as representações europeias. Devemos esquecer Deus e<br />
as leis morais.<br />
HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal. Apud HERNANDEZ,<br />
Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo:<br />
Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado].<br />
O fragmento é um indicador da forma predominante<br />
como os europeus observavam o continente africano, no<br />
século XIX. Essa observação relacionava-se a uma<br />
definição sobre a cultura, que se identificava com a ideia<br />
de<br />
a) progresso social, materializado pelas realizações<br />
humanas como forma de se opor à natureza.<br />
b) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato<br />
com o outro, com vistas a manter seus hábitos.<br />
c) autonomia política, expressa na escolha do homem<br />
negro por uma vida apartada da comunidade.<br />
d) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos<br />
padrões éticos europeus.<br />
e) respeito às tradições, associado ao reconhecimento<br />
do valor do passado para as comunidades locais.<br />
384<br />
17. (Unesp 2010) O imperialismo colonial europeu do<br />
final do século XIX e início do século XX mudou a<br />
geopolítica do continente africano, fragmentando-o em<br />
fronteiras representadas pelo aparecimento de novos<br />
espaços linguísticos e novas dinâmicas espaciais e<br />
econômicas.<br />
Analisando o mapa, pode-se afirmar que<br />
a) em 1895, França, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha,<br />
Alemanha e Itália fizeram um acordo de divisão da<br />
totalidade do continente africano.<br />
b) os impérios coloniais, a partir da Conferência de<br />
Berlim, dominaram a África para instalar indústrias,<br />
visto que era algo inexistente na Europa.<br />
c) os países envolvidos nesse processo necessitavam de<br />
mercados exteriores, matérias-primas agrícolas e<br />
minerais para compensar o declínio da<br />
industrialização na Europa.<br />
d) a repartição da África foi um projeto civilizador<br />
europeu, que, para ser estabelecido, exigiu a<br />
destruição social das oligarquias locais.<br />
e) o imperialismo apoiou-se também nas rivalidades<br />
nacionalistas britânica, francesa e alemã, que<br />
originaram novos espaços linguísticos na África.
18. (ENEM 2012) Os chineses não atrelam nenhuma<br />
condição para efetuar investimentos nos países africanos.<br />
Outro ponto interessante é a venda e compra de grandes<br />
somas de áreas, posteriormente cercadas. Por se tratar de<br />
países instáveis e com governos ainda não consolidados,<br />
teme-se que algumas nações da África tornem-se<br />
literalmente protetorados.<br />
BRANCOLI, F. China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou<br />
mudanças na arquitetura global? Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br.<br />
Acesso em: 29 abr. 2010 (adaptado).<br />
A presença econômica da China em vastas áreas do<br />
globo é uma realidade do século XXI. A partir do texto,<br />
como é possível caracterizar a relação econômica da<br />
China com o continente africano?<br />
a) Pela presença de órgãos econômicos internacionais<br />
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o<br />
Banco Mundial, que restringem os investimentos<br />
chineses, uma vez que estes não se preocupam com<br />
a preservação do meio ambiente.<br />
b) Pela ação de ONGs (Organizações Não<br />
Governamentais) que limitam os investimentos<br />
estatais chineses, uma vez que estes se mostram<br />
desinteressados em relação aos problemas sociais<br />
africanos.<br />
c) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos<br />
realizados pelos países ocidentais, promovendo o<br />
crescimento econômico de algumas regiões desse<br />
continente.<br />
d) Pela presença cada vez maior de investimentos<br />
diretos, o que pode representar uma ameaça à<br />
soberania dos países africanos ou manipulação das<br />
ações destes governos em favor dos grandes<br />
projetos.<br />
e) Pela presença de um número cada vez maior de<br />
diplomatas, o que pode levar à formação de um<br />
Mercado Comum Sino-Africano, ameaçando os<br />
interesses ocidentais.<br />
19. (IFCE 2011) A supremacia britânica, na Europa e no<br />
mundo, foi indiscutível no século XIX, atingindo seu<br />
apogeu entre 1850 e 1875. O desenvolvimento<br />
econômico, o progresso social e a estabilidade política<br />
geraram as condições necessárias para a formação de um<br />
vasto império colonial na América, na África e na Ásia,<br />
no qual se dizia que o sol nunca se punha.<br />
O texto acima se refere ao período da história inglesa,<br />
conhecido como<br />
a) Revolução Comercial.<br />
b) Revolução Gloriosa.<br />
c) Era Puritana.<br />
d) Era Vitoriana.<br />
e) República Britânica.<br />
20. (UFSM 2011)<br />
Na pintura de John Gast (Figura 1), Colúmbia, a mulher<br />
angelical, carrega a "luz da civilização" para iluminar os<br />
caminhos e guiar homens e carroças na marcha para o<br />
oeste dos Estados Unidos; enquanto ela avança e<br />
expande os cabos do telégrafo nos caminhos por onde<br />
passa, tanto os indígenas nativos como os animais<br />
selvagens fogem amedrontados.<br />
No centro do cartaz (Figura 2), a mulher com armadura<br />
(uma referência à heroína Joana d'Arc) traz, na mão<br />
direita erguida, um ramo de oliveira, símbolo da<br />
sabedoria universal; a mão esquerda segura o escudo<br />
com as cores da bandeira francesa e o lema "progresso -<br />
civilização - comércio". É a alegoria da França<br />
conquistadora que se expande para a Ásia e África<br />
distantes, levando as luzes do progresso e do comércio<br />
para os povos que, por desconhecerem o majestoso<br />
brilho da civilização europeia, vivem na escuridão.<br />
Essas imagens são alegorias de duas ideologias<br />
imperialistas do século XIX sintetizadas,<br />
respectivamente, nas expressões históricas<br />
a) "ética dos peregrinos" e "luta contra a barbárie".<br />
b) "ideologia do branco anglo-saxão protestante" e<br />
"salvacionismo imperial".<br />
c) "aliança para o progresso" e "processo civilizatório<br />
afro-asiático".<br />
d) "guerra justa" e "ocidentalização do mundo<br />
oriental".<br />
e) "destino manifesto" e "fardo do homem branco".<br />
385
386<br />
GABARITO<br />
01. Resposta da questão 1:[B]<br />
Eixo interdisciplinar: Política, Cidadania e Cultura<br />
Item do programa: Relações internacionais no mundo<br />
contemporâneo<br />
Subitem do programa: Imperialismo e neocolonialismo<br />
Objetivo: Discriminar política associada às práticas<br />
culturais do colonialismo europeu no contexto do<br />
imperialismo no continente africano.<br />
Comentário da questão:<br />
A ação colonizadora de países europeus no continente<br />
africano, no decorrer do século XIX, viabilizou a<br />
formação de impérios territoriais e a conquista de áreas<br />
de influência. A partir de estratégias variadas, fossem as<br />
práticas de exploração direta de recursos naturais e da<br />
mão de obra local, fossem as formas de controle e<br />
subordinação por meio da dependência financeira e da<br />
intervenção política e administrativa, os colonizadores<br />
europeus transformaram as condições de vida e de<br />
trabalho de povos e sociedades africanas. Tais<br />
transformações, em muitos casos, traumáticas e<br />
conflituosas, vieram a ser justificadas pelo argumento de<br />
que os colonizadores europeus realizavam ações<br />
civilizadoras, simbolizadas pelas novas técnicas de<br />
produção e de transporte e também por novos hábitos de<br />
consumo. A imagem do repórter Tintim, nas suas<br />
atitudes e, principalmente, na reação da tribo africana a<br />
elas, denota alguns dos significados das ações<br />
civilizadoras, pela ótica dos colonizadores europeus.<br />
02. resposta da questão 2: 01 + 02 + 04 = 07.<br />
Comentário da questão:<br />
Os atuais países do norte da África professam a fé em<br />
Alá, o que demonstra que o controle muçulmano sobre<br />
aquela região, já a partir do século VII, não foi superado<br />
pelas Cruzadas. Quanto à Conferência de Berlim, na<br />
década de 1880, dela resultou a partilha do continente<br />
africano segundo os interesses das principais potências<br />
europeias, desconsiderando diferenças étnicas e culturais<br />
existentes entre os povos africanos Tal situação<br />
perdurou mesmo após a descolonização, no século XX,<br />
provocando constantes conflitos entre grupos africanos<br />
distintos que disputam o poder em várias regiões<br />
África. Por fim, a descolonização africana não se deu<br />
inteiramente por meios pacíficos, como pode ser<br />
constatado com o caso da Argélia, por exemplo.<br />
03. resposta da questão 3:[C]<br />
Comentário da questão:<br />
O neocolonialismo (século XIX) foi a divisão dos<br />
continentes africano pelas potências europeias após a II<br />
Revolução Industrial. A Conferência de Berlim (1884-5)<br />
definiu critérios para os europeus dominarem o interior<br />
do continente africano, sem levar em consideração<br />
qualquer realidade existente.<br />
Em 1869, interesses econômicos europeus levaram à<br />
abertura do Canal de Suez. Os domínios ingleses<br />
incluíam Nigéria, Rodésia e Sudão.<br />
04. resposta da questão 4:[D]<br />
Eixo interdisciplinar: Política e Cultura<br />
Item do programa: Conflitos políticos no mundo<br />
contemporâneo<br />
Subitem do programa: Imperialismo e neocolonialismo<br />
Objetivo: Identificar ação imperialista europeia<br />
empreendida nas regiões africanas e asiáticas.<br />
Comentário da questão:<br />
A ação imperialista europeia na África e na Ásia, na<br />
segunda metade do século XIX, correspondeu, em linhas<br />
gerais, à expansão dos interesses capitalistas por meio da<br />
exploração de novas fontes de matéria-prima e de novos<br />
mercados e praças para investimentos diversos. As<br />
justificativas para tais interesses e ações foram buscadas,<br />
entre outros, no argumento do valor da modernização de<br />
setores estratégicos, com destaque para as comunicações<br />
telegráficas, transportes ferroviários e navegação a<br />
vapor. Assim, em nome de uma missão civilizatória, o<br />
imperialismo europeu garantiu a ampliação da circulação<br />
de mercadorias e capitais em escala mundial.<br />
05. resposta da questão 5:[B]<br />
Comentário da questão:<br />
O quadro apresenta os elementos de expansão econômica<br />
entre os séculos XIX e XX, quando o modelo capitalista
promove a ampliação de mercados, atingindo<br />
principalmente a África e Ásia, na busca de matériasprimas<br />
industriais, numa dinâmica determinada pela<br />
organização do capitalismo financeiro e monopolista que<br />
caracterizou o imperialismo, justificado por teorias<br />
racistas que enfatizavam a superioridade do homem<br />
branco, este sim, com condições de impulsionar o<br />
desenvolvimento dos outros povos.<br />
06. resposta da questão 6:<br />
a) Dentre os países que podem ser citados e as potências<br />
europeias que foram influentes no período, estão:<br />
Argentina, Chile e Uruguai (grande influência do Reino<br />
Unido); México (influências da Alemanha e França);<br />
Brasil (influências do Reino Unido e França); Guianas<br />
(colônias pertencentes à Holanda, Reino Unido e<br />
França); Cuba (colônia da Espanha até 1898); Jamaica<br />
(colônia da Inglaterra); etc.<br />
b) Exemplos latino-americanos mais recorrentes para se<br />
falar dessa europeização e da repressão às populações<br />
indígenas e de origem africana nesses países: Peru e<br />
Bolívia (onde o índio permanece submetido); Chile e<br />
Argentina (com a promoção de campanhas militares para<br />
extermínio de populações indígenas, na Araucanía<br />
chilena e na Patagônia argentina); Argentina, Brasil e<br />
Uruguai (com massiva importação de migrantes<br />
europeus); América Central, Venezuela, Colômbia,<br />
Brasil (mantendo a repressão à população de origem<br />
africana); etc.<br />
07. resposta da questão 7:[C]<br />
Comentário da questão:<br />
A Conferência de Berlim representou uma ação por parte<br />
das potências imperialistas – sobretudo as europeias –<br />
no sentido de disciplinar e definir parâmetros para o<br />
domínio sobre a África. É importante salientar que seu<br />
objetivo maior era o de legitimar esse domínio perante a<br />
opinião pública, ao mesmo tempo em que procurava<br />
reduzir focos de tensão que já se manifestavam entre<br />
essas potências no tocante à disputa sobre o continente<br />
africano.<br />
08. resposta da questão 8:[A]<br />
Comentário da questão:<br />
A questão aborda as transformações culturais em voga na<br />
Europa do século XIX, momento em que a<br />
"superioridade" europeia e a "infalibilidade" da ciência<br />
eram celebradas como bases do modelo civilizatório<br />
imposto sobre a África e a Ásia. Desta forma, as<br />
exposições atraiam milhares de visitantes, ávidos por<br />
consumir as inovações e, ao mesmo tempo, partilhar de<br />
forma coletiva do otimismo diante de um mundo que se<br />
iluminava pela luz elétrica, ao mesmo tempo em que as<br />
distâncias eram encurtadas pela difusão do motor à<br />
combustão, entre outras inovações da época.<br />
09. resposta da questão 9:<br />
a) O conceito que sintetiza a ação britânica no final do<br />
século XIX foi o imperialismo, também chamado de<br />
neocolonialismo.<br />
b) Quanto ao tratamento reservado às populações<br />
coloniais, a charge alude a duas características<br />
essenciais:<br />
– a incorporação dos povos colonizados à burocracia<br />
imperial britânica: por meio da representação de um<br />
soldado com roupas orientais que integra a guarda<br />
imperial, a charge expressa o fato de que as populações<br />
coloniais eram comumente utilizadas nos corpos<br />
militares britânicos. Entretanto, essa utilização não<br />
garantia um status social equivalente aos cidadãos<br />
britânicos (metropolitanos). Os altos postos, tanto no<br />
exército quanto em outros campos da vida burocrática<br />
colonial, eram predominantemente ocupados pela<br />
população britânica, residente nos territórios sob seu<br />
domínio;<br />
– o preconceito contra a população colonial: o cartunista,<br />
quando utiliza o termo “Imperial” entre aspas, ironiza a<br />
presença de populações coloniais nas tropas britânicas. A<br />
ironia desvela-se no diálogo entre Benjamin Disraeli,<br />
Lorde inglês, e as figuras que representam o Império<br />
Britânico e a Índia, essa última identificada por um<br />
soldado com trajes orientais. Essa ironia reforçava a<br />
desconfiança da opinião pública inglesa em relação à<br />
capacidade de um exército formado por indianos para<br />
garantir as possessões britânicas na ilha de Malta. Esse<br />
preconceito contra as populações coloniais era<br />
justificado pelo suposto atraso e pela inferioridade racial<br />
dos povos orientais em relação ao Ocidente e se refletia<br />
em leis que impunham restrições ao contato e à<br />
socialização entre as populações.<br />
387
10. resposta da questão 10:[C]<br />
Comentário da questão:<br />
O neocolonialismo foi justificado do ponto de vista<br />
ideológico a partir do “darwinismo social”, teoria racista<br />
com caráter pseudocientífico. Procurava justificar a<br />
conquista da África e da Ásia pelos europeus, que se<br />
consideravam superiores aos povos locais. Aos brancos,<br />
cabia o dever de levar a civilização aos outros povos que,<br />
sozinhos, não conseguiriam se desenvolver.<br />
11. resposta da questão 11:<br />
a) No primeiro momento, século XVI, a presença<br />
européia na África se dava pela necessidade de<br />
manutenção da economia mercantilista, que se pautava,<br />
entre outros fatores, na exploração das colônias. No caso<br />
das colônias africanas, serviram para o abastecimento do<br />
tráfico transatlântico de escravos, bem como para a<br />
acumulação de metais preciosos, elemento importante do<br />
mercantilismo.<br />
O segundo momento, século XIX, trata-se do<br />
Neocolonialismo, processo de dominação política que<br />
tinha como objetivo a exploração de matéria-prima, mãode-obra<br />
barata, garantia de mercado consumidor e<br />
opções de investimentos para as nações europeias que<br />
disputavam intensamente territórios da África e Ásia.<br />
b) A política europeia de “dividir para dominar” acabou<br />
conduzindo diversos territórios coloniais a um longo<br />
processo de disputa interna pelo poder entre etnias rivais,<br />
bem como a exploração econômica predatória aplicada<br />
pelos europeus não legaram aos africanos estruturas que<br />
lhes permitissem desenvolver a utilização de seus<br />
recursos naturais. As guerras civis que se seguiram à<br />
evacuação dos exércitos metropolitanos deixaram como<br />
herança a total desestruturação econômica dos países que<br />
as enfrentaram, bem como abriram feridas profundas que<br />
dificultaram a integração cultural e política entre as<br />
diversas etnias em disputa pelo poder. Como resultado,<br />
desde a independência das ex-colônias africanas, o<br />
continente convive com a miséria, a fome e imensos<br />
obstáculos à estabilização econômica e política.<br />
12. resposta da questão 12:[A]<br />
388<br />
Comentário da questão: A política na Europa, no século<br />
XIX, foi levada à África e à Ásia por meio da<br />
construção de um slogan chamado “O Fardo do Homem<br />
Branco”, que tinha como propósito destacar as nações<br />
desenvolvidas das nações subdesenvolvidas. Dessa<br />
maneira, o “branqueamento” da população se tornaria<br />
mais evidente.<br />
13. resposta da questão 13:<br />
O imperialismo implica em um processo de dominação<br />
completa e complexa, promovida por grandes potências<br />
econômicas sobre regiões africanas e asiáticas. A<br />
“perspectiva de lucro” demonstra o principal interesse<br />
econômico das potências que expandiam a<br />
industrialização, no sentido de explorar recursos minerais<br />
e promover investimentos nas áreas dominadas. Ao<br />
mesmo tempo, os países imperialistas promoveram a<br />
dominação militar, usando a força para desestruturar as<br />
economias naturais e as formas tradicionais de<br />
organização social, além de se utilizarem das religiões<br />
cristãs para impor novos valores éticos e morais.<br />
Segundo o líder da independência do Quênia, Jomo<br />
Kenyatta, “Quando os brancos chegaram, nós tínhamos<br />
as terras e eles a bíblia, depois eles nos ensinaram a<br />
rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a bíblia e<br />
eles as terras”.<br />
14. resposta da questão 14:[D]<br />
Comentário da questão:<br />
No início da década de 1940, depois de conquistar<br />
importantes pontos estratégicos no Extremo Oriente, o<br />
imperialismo japonês entrou em choque com interesses<br />
estadunidenses no Pacífico, na região do Havaí.<br />
15. resposta da questão 15:[B]<br />
Comentário da questão: Ao observar a imagem e<br />
relacioná-la com o enunciado da questão, é possível<br />
perceber que a política de intervencionismo do big stick<br />
está relacionada ao início do século XX e com foco na<br />
América Central. Embora os EUA também tenham agido<br />
de forma semelhante na América do Sul entre os anos de<br />
1950 e 1970, o cartoon e o enunciado não estão<br />
abordando este momento histórico. Portanto, a<br />
alternativa [A], apesar de descrever uma verdade do<br />
ponto de vista histórico, não é a resposta adequada para<br />
esta questão.
16. resposta da questão 16:[A]<br />
Comentário da questão: O texto da questão expressa a<br />
visão europeia de dominação com o olhar exótico para as<br />
populações africanas. Para a burguesia europeia do final<br />
do século XIX que vivia um período de grande expansão<br />
do sistema capitalista para todo o planeta, o continente<br />
africano era uma região a ser incorporada e explorada a<br />
partir das necessidades do capitalismo.O pensamento<br />
eurocêntrico apontava a “missão civilizadora” do<br />
europeu no momento do Neocolonialismo e<br />
Imperialismo do século XIX. A África, bem como a<br />
Ásia, deveria ser “civilizada” pelo contato com o<br />
europeu.<br />
17. resposta da questão 17:[E]<br />
Comentário da questão:<br />
A existência de um clima de rivalidade entre potências<br />
europeias repercutiu no processo de partilha da África no<br />
final do século XIX. Ao dominar povos de diversas<br />
origens étnicas e linguísticas, os idiomas das potências<br />
coloniais vieram a ser utilizados como meio de<br />
comunicação entre os diferentes grupos linguísticos<br />
africanos, como, por exemplo, o caso do inglês na<br />
Nigéria ou do francês no Senegal.<br />
Este foi um longo período de prosperidade e paz (Pax<br />
Britannica) para o povo britânico, com os lucros<br />
adquiridos a partir da expansão do Império Britânico no<br />
exterior, bem como o auge e consolidação da Revolução<br />
Industrial e o surgimento de novas invenções. Isso<br />
permitiu que uma grande e educada classe média se<br />
desenvolvesse.<br />
20. resposta da questão 20:[E]<br />
Comentário da questão: Destino Manifesto é o<br />
pensamento que expressa a crença de que o povo dos<br />
Estados Unidos é eleito por Deus para civilizar a<br />
América, e por isso o expansionismo americano é apenas<br />
o cumprimento da vontade Divina.<br />
"The White Man's Burden" ("O Fardo do Homem<br />
Branco") é um poema escrito pelo poeta inglês Rudyard<br />
Kipling. Foi publicado originalmente na revista popular<br />
McClure's em 1899, com o subtítulo The United States<br />
and the Philippine Islands. "The White Man's Burden"<br />
foi escrito a respeito da conquista estadunidense das<br />
Filipinas e outras ex-colônias espanholas. Embora o<br />
poema de Kipling misturasse exortações ao império com<br />
ajuizados alertas sobre os custos envolvidos, os<br />
imperialistas dos Estados Unidos se fixaram na frase<br />
"fardo do homem branco" como uma caracterização para<br />
o imperialismo que justificasse a política como um nobre<br />
empreendimento.<br />
18. resposta da questão 18:[D]<br />
Comentário da questão: No trecho apresentado, não há<br />
menção ao fato de os investimentos chineses na África<br />
estarem sofrendo restrições de órgãos econômicos (como<br />
FMI e Banco Mundial) ou de ONGs. Tampouco os<br />
investimentos dependem de parcerias com potências<br />
ocidentais ou envolvem numeroso contingente de<br />
diplomatas. O texto demonstra apenas uma preocupação:<br />
a de que o capital da China, aplicado no continente<br />
africano, possa ser um tipo de neocolonialismo ou apenas<br />
uma mudança na arquitetura global (conforme a<br />
alternativa D e o subtítulo do texto).<br />
19. resposta da questão 19:[D]<br />
Comentário da questão:<br />
A era vitoriana no Reino Unido foi o período do reinado<br />
da rainha Vitória, em meados do século XIX, de junho<br />
de 1837 a janeiro de 1901.<br />
389
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
I - Alencar, Francisco. <strong>História</strong> da sociedade brasileira 2º grau / Francisco Alencar, Lucia Carpi Ramalho, Marcus Venicio<br />
Toledo Ribeiro. — 2ª ed. - Rio de Janeiro: Ao Livro Tecnico. 1985.<br />
II - Braick, Patrícia Ramos <strong>História</strong> : das cavernas ao terceiro milênio/ Patrícia Ramos Braick, Myriam Becho Mota. - 2.<br />
ed. — São Paulo : Moderna, 2010.<br />
III - <strong>História</strong>: texto e contexto: Ensino Médio, volume Único/ Roberto Catelli Junior: com a colaboração de Maria Soledad<br />
Más Gandini, Renata Lima Aspis. — São Paulo: Sciplone, 2006.<br />
IV - Koshiba, Luiz, 1945 - <strong>História</strong> do Brasil / Luiz Koshiba, Denise Manzi Frayse Pereira, - 7. ed. rev. e atual. — São<br />
Paulo: Atual, 1996<br />
V – Pedro Antonio Historia da civilização Ocidental: ensino Médio: volume único/ Antonio Pedro, Lizanias de Souza<br />
Lima; colaboração especial Yone de carvalho – 2ª ed – São Paulo: FTD, 2005.<br />
VI - Vicentino. Cláudio. <strong>História</strong> geral do Brasil. volume 3 / Claudio Vicentino Gianpaolo Dorigo — São Paulo: Scipione.<br />
2010.<br />
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394<br />
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