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História Geral

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HISTÓRIA GERAL<br />

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Coordenação editorial: Estúdio Conejo, Zênite.<br />

Preparação de texto: Zênite, Joab Costa Cruz.<br />

Coordenação de design e projetos visuais: Pedro Yañez.<br />

Revisão: Geisa Teixeira.<br />

Impressão: Gráfica Brasil.<br />

Organizador: Estúdio Conejo<br />

Obra coletiva concebida, desenvolvida<br />

e produzida pelo estúdio Conejo, Zênite.<br />

Editor Executivo:<br />

Pedro Yañez.<br />

Livro do professor:<br />

JOAB COSTA CRUZ<br />

4


Caros alunos<br />

quero que saibam, que antes de tornar-me autor e organizador desse<br />

material, fui primeiro professor; reforço essa condição para que saibam<br />

que não me ative apenas a recursos historiográficos e concepções<br />

teóricas, mas considerei especialmente as experiências que vocês me<br />

ajudaram a construir em sala de aula; assim, o principal objetivo desse<br />

trabalho é que ele atenda as dúvidas, interesses e necessidades práticas<br />

da apreensão do Ensino de <strong>História</strong>, facilitando os melhores resultados<br />

da relação mediada por seus professores.<br />

Vivemos um tempo em que as mudanças são tão bruscas, que as experiências<br />

se tornam passado e <strong>História</strong> com uma velocidade jamais pensada<br />

por nossos predecessores; assim, sob nenhuma hipótese, considero<br />

que esta seja uma obra final ou impassível à crítica, como também não<br />

posso considerá-la plenamente acabada. Assim como a historiografia<br />

permite modificações do discurso sobre o passado, suas críticas sinceras<br />

e suas necessidades em seu tempo serão o guia para as intervenções<br />

que permitam complemento a esse material, consulta a discursos alternativos<br />

e, porque não, a remodelagem deste trabalho que chega às suas<br />

mãos.<br />

Bom estudo!<br />

;)<br />

5


SUMÁRIO<br />

CIVILIZAÇÃO GREGA ..........................................................................<br />

CIVILIZAÇÃO GREGA – PARTE II* PERÍODO CLÁSSICO (do século<br />

VI ao IV a.C.) .......................................................................................<br />

CULTURA NA GRÉCIA ANTIGA ..........................................................<br />

CIVILIZAÇÃO ROMANA .......................................................................<br />

CIVILIZAÇÃO ROMA – PARTE II .........................................................<br />

IDADE MÉDIA ........................................................................................<br />

BAIXA IDADE MÉDIA SÉC. XI-XV .......................................................<br />

A TRANSIÇÃO DO MEDIEVO À MODERNIDADE E A EXPANSÃO<br />

COMERCIAL E MARÍTIMA EUROPEIA ..............................................<br />

MERCANTILISMO .................................................................................<br />

REFORMA PROTESTANTE ...................................................................<br />

O ESTADO ABSOLUTISTA ...................................................................<br />

CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS .................................................<br />

COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ESPANHOLA .....................................<br />

COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA ...........................................<br />

REVOLUÇÃO INGLESA ........................................................................<br />

ILUMINISMO ..........................................................................................<br />

A INDEPENDÊNCIA DOS EUA ............................................................<br />

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................<br />

REVOLUÇÃO FRANCESA .....................................................................<br />

ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA ............................<br />

REVOLUÇÕES LIBERAIS DO SÉCULO XIX ........................................<br />

IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX ............................................................<br />

EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA AMÉRICA ESPANHOLA ..................<br />

ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX ..................................................<br />

IMPERIALISMO ......................................................................................<br />

REFERENCIAS ........................................................................................<br />

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CIVILIZAÇÃO GREGA<br />

1. ASPECTOS GERAIS<br />

O termo Grécia é a designação que os romanos<br />

utilizaram para descrever a região chamada pelos gregos<br />

de Hélade, especialmente situada em sua fase inicial na<br />

porção sul da Península Balcânica; com a expansão dos<br />

romanos pelo Mediterrâneo Oriental e a conquistas das<br />

regiões da Hélade a partir do século II a.C., a região<br />

passou definitivamente a ser chamada de Grécia.<br />

Do ponto de vista da identificação das áreas ocupadas<br />

pelos gregos desde as suas origens mais remotas ao ápice<br />

de sua expansão, podemos dividi-la em Grécia<br />

Continental ou Peninsular, Grécia Insular, Grécia<br />

Asiática e Magna Grécia. A sua porção continental<br />

incluía a parte meridional dos Balcãs, fixando fronteiras<br />

ao norte com a Ilíria, atuais regiões de Servia,<br />

Montenegro, Croácia, Bósnia e Herzegovina etc., a leste<br />

com o Mar Egeu, oeste com o Mar Jônico e ao sul com o<br />

mar Mediterrâneo. O conjunto de ilhas no mar Egeu,<br />

destacando-se Creta, Rodes e Delos compunham a<br />

Grécia Insular. A extensão das povoações gregas na Ásia<br />

Menor, na costa ocidental da Anatólia constituíam a<br />

Grécia Asiática. E, por fim, a ampliação territorial dos<br />

gregos promovida após a Segunda Diáspora grega, com a<br />

fundação de diversas colônias na orla mediterrânica ao<br />

sul da Península Itálica, daria origem à Magna Grécia.<br />

De um modo geral, por toda a Hélade, o relevo tanto nas<br />

penínsulas e ilhas era marcado pelo aspecto montanhoso,<br />

entrecortado de pequenas e férteis planícies, com<br />

ocorrência de planícies mais extensas apenas na Magna<br />

Grécia, no extremo norte da Grécia Continental e na Ilha<br />

de Creta. As áreas montanhosas facilitaram o relativo<br />

isolamento entre as populações helênicas, influenciando<br />

o caráter autônomo das cidades gregas; por sua vez, a<br />

incidência de um litoral bastante recortado favoreceu as<br />

navegações e a comunicação pelo mar.<br />

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Quanto ao povoamento da região o que se sabe é que<br />

desde o período Neolítico a região será habitada por<br />

populações sedentarizadas de língua não grega, os<br />

pelasgos. A partir dos anos 2000 a.C, tem início uma<br />

onda de migrações e invasões de populações de origem<br />

indo europeia para a região, que em fusão com as<br />

populações autóctones dariam origem ao que se<br />

convencionou chamar de civilização grega; foram eles,<br />

os aqueus, originados das estepes russas, a partir de 1950<br />

a.C., buscando melhores pastagens para seus rebanhos e<br />

que incidiram por quase todo o território original dos<br />

gregos. Em contato com os cretenses dariam origem à<br />

civilização micênica. Os jônios e eólios chegariam por<br />

volta de 1500 a.C., estabelecendo-se na Ática e Ásia<br />

Menor. A última população a chegar ao território seriam<br />

os dórios (1200ª.C), se estabelecido na Península do<br />

Peloponeso e responsáveis pela destruição da civilização<br />

micênica.<br />

2. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA<br />

Para melhor compreensão da trajetória histórica da<br />

civilização grega, os historiadores convencionaram<br />

dividir seu estudo a partir da seguinte periodização:<br />

- Período pré-homérico (2500 a.C. a 1200 a.C.)<br />

corresponde ao período de apogeu das civilizações<br />

(Civilização Cretense e Civil içam Creto-micênica) que<br />

antecederam e serviram de base ao que chamamos<br />

civilização grega, coincidindo também com o período de<br />

recepção das diversas populações indo europeias ao<br />

território da Hélade.<br />

- Período Homérico (Séculos XII ao VIII a.C) –<br />

período de constituição propriamente dita do povo grego,<br />

marcado pela organização dos genos, isto é,<br />

comunidades patriarcais organizadas em clãs). Tal<br />

nomenclatura do período está associado ao poeta<br />

Homero e aos seus relatos na obra Ilíada e Odisseia,<br />

escritas provavelmente no período posterior, o Período<br />

Arcaico.<br />

- Período Arcaico (Séculos VIII ao VI a. C) – período<br />

marcado pela consolidação das polis gregas, intensas<br />

agitações sociais e políticas e pelo expansão do projeto<br />

colonizador grego, denominado Segunda Diáspora.<br />

- Período Clássico (Séculos VI ao IV a.C) – período<br />

marcado pelo auge do desenvolvimento das polis gregas.<br />

Destaque para o acirramento das rivalidades entre<br />

Athenas e Esparta, ocorrência de grandes conflitos<br />

externos, como as Guerras Greco-pérsicas, incremento<br />

da escravidão e desenvolvimento da arquitetura, teatro,<br />

filosofia e democracia ateniense.<br />

- Período Helenístico (Séculos IV ao II a.C) – período<br />

posterior ao enfraquecimento das polis ocorrido no fim<br />

do período clássico, que os vulnerabilizaram ao domínio<br />

macedônico. Esses, apesar da dominação político<br />

territorial sobre os gregos, assimilaram grande parte de<br />

sua cultura e expandiram para um processo de fusão com<br />

elementos diversos da cultura oriental, dando origem à<br />

Cultura helenística. Se encerraria com o domínio romano<br />

no século II a.C.<br />

3. PERÍODO PRÉ-HOMERICO<br />

Nesse período desenvolveu-se a chamada civilização<br />

cretense ou civilização minoica. Configurada a partir da<br />

maior ilha grega no Mar egeu, a ilha de Creta. Sua<br />

povoação se dá desde o final do Neolítico, levando a<br />

constituir uma poderosa civilização insular no Terceiro<br />

Milênio a.C. Organizada a partir da construção de<br />

grandes palácios em Cnossos, Faistos e Mailás, suas<br />

cidades-estados, configurou uma sociedade<br />

especialmente urbana. No segundo milênio a. C, Creta já<br />

havia se tornado o principal centro cultural e comercial<br />

da Europa, graças ao sofisticado comercio de produtos<br />

como vinhos, pedrarias, azeites cerâmicas e tecidos,<br />

favorecida por sua poderosa frota. Isso os colocou em<br />

contato com as civilizações egípcias e do Oriente Médio<br />

e, em posição de concorrência no comercio marítimo<br />

com os antigos fenícios.<br />

Organizaram-se politicamente a partir de uma<br />

talassocracia, com apogeu concentrado na cidade de<br />

Cnossos e sob o governo de seus reis denominados<br />

Minos. Seu imenso poder lhes permitiu dominar os<br />

primitivos habitantes da Grécia, os pelasgos, que sem<br />

conseguir se opor aos cretenses, se submetiam ao<br />

pagamento de tributos e tudo o mais quanto lhes fosse<br />

exigido.<br />

Muitas das características estruturais da cultura cretense<br />

se permeiam de influencias estéticas da Antiguidade<br />

Oriental, fato que provavelmente se deve ao intenso<br />

contato comercial com o Egito e as cidades fenícias.<br />

Suas formas de escrita desenvolveram-se em dois tipos<br />

básicos, a escrita linear A e a Linear B, além de uma<br />

terceira forma, conhecida como pictográfica ou<br />

hieroglífica cretense; as duas primeiras permanecem sem<br />

tradução. Suas cidades, segundo contribuições da<br />

pesquisa arqueológica, apresentam rebuscada arquitetura,<br />

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com grandes palácios e outros edifícios de completo<br />

sistema de saneamento e canalização de agua.<br />

Outro aspecto considerável da cultura cretense é o<br />

singular papel desempenhado pela mulher nessa<br />

sociedade. Representações da mulher em exibições<br />

perigosas e de grande habilidade, assim como nas festas<br />

e expressões religiosas, são muito frequentes em suas<br />

pinturas em cerâmica e em seus afrescos, denotando a<br />

importância peculiar que estas provavelmente assumiram<br />

em Creta. Também na religião há indícios do culto à<br />

Grande Mãe, representação feminina do sagrado gerador<br />

de todas as coisas, com santuários identificados em<br />

cavernas e montanhas ou grandes templos; também há<br />

grande sofisticação de sepultamentos de mortos em<br />

grandes túmulos e mausoléus urbanos. Na arte, a<br />

cerâmica se destacou por apresentar diversidade de<br />

formas e funções, ampla variedade de técnicas e<br />

refinamento e acabamento virtuosos. Nas imagens estão<br />

registros do cotidiano, como plantas e animais<br />

domésticos. Nos afrescos, pinturas com cenas como<br />

casamento, festas, colheitas, cerimonias diversas ficaram<br />

registradas nas ruinas de seus palácios por séculos. Os<br />

seus trabalhos em metal, sobretudo ouro, pedras<br />

preciosas tornaram se notáveis em detalhamento e se<br />

tornaram artigos de exportação bastante desejados. Nas<br />

escavações de Creta foram encontradas muitas imagens<br />

de mulheres, em posições sociais variadas, como<br />

sacerdotisa, dançarinas, esportistas e damas da nobreza,<br />

evidenciando que na sociedade minoica elas possuíam<br />

grande importância n cotidiano das cidades.<br />

A partir do século XV a.C., os aqueus, populações sendo<br />

europeias que desde os anos 1900 a.C haviam migrado<br />

para a Península Balcânica e já haviam fundado<br />

importantes núcleos populacionais como Micenas,<br />

Tirinto e Argos, dominaram os cretenses, assimilando<br />

profundamente a sua cultura e dando origem ao que<br />

chamamos de civilização creto-micênica. Caracterizados<br />

por uma aristocracia de guerreiros, dominaram quase<br />

todos os povos do Mediterrâneo Oriental, transferiram o<br />

centro de poder de Cnossos para Micenas, e foram os<br />

responsáveis pela escrita de importantes documentos no<br />

idioma Linear B. A expansão micênica que destruiu<br />

Cnossos, expandiu-se também pelo Mar egeu m direção<br />

ao mar Negro, onde Troia foi destruída, como conta<br />

Homero na Ilíada. Em seus escritos, a guerra de Troia é<br />

associada ao rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de<br />

Esparta, pelo príncipe troiano Paris. Na verdade, a<br />

destruição de Troia é mais um episódio da expansão<br />

micênica que já havia atingido Cnossos.<br />

Por volta de 1200 a.C. já ocorrendo disputas internas<br />

entre os centros urbanos micênicos, chegou à Grécia o<br />

povo dórico, também ariano, de nível cultural menos<br />

complexo, mas possuidor de armas de ferro e habilidade<br />

guerreira bem superiores aos micênicos. Insurgiram<br />

contra Micenas, destruíram cidade e promoveram a<br />

Primeira Diáspora Grega, em direção à Ásia Menor.<br />

Dentro da Grécia, a população passou a viver<br />

isoladamente em grupos clínicos chamados genos. Tal<br />

fato define o fim do período Pré Homérico e o início do<br />

período Homérico, assim chamado porque muito do que<br />

se sabe desse período é atribuído as obras Ilíada e<br />

Odisseia, cuja autoria e atribuída ao poeta Homero.<br />

4. PERÍODO HOMÈRICO<br />

Situado entre os séculos XII e VIII a.C., o período<br />

homérico corresponde ao intervalo entre o ocaso da<br />

civilização creto-micênica e o surgimento das cidades-<br />

Estado gregas. Com a violência generalizada promovida<br />

pelos invasões e saques das populações dórias, a<br />

organização citadina do período anterior entra em<br />

colapso e, assiste-se a um progressivo quadro de êxodo<br />

urbano que levou a Grécia a regredir para uma<br />

organização social e econômica bastante rudimentar; a<br />

escrita cai em desuso, de modo que o sabemos sobre esse<br />

período provam dos achados arqueológicos e da tradição<br />

oral dos AEDOS e RAPSODOS, artistas que cantavam<br />

ou recitavam as epopeias, tipo de poesia épica de<br />

narrativa curta lendária ou mitológica. Entre as mais<br />

importantes, destacam-se a Ilíada e Odisseia, geralmente<br />

atribuída ao poeta Homero, maior contribuição para a<br />

compreensão da dinâmica desse período.<br />

O processo de ruralização das sociedades gregas após as<br />

invasões dóricas fizeram dos GENOS a forma<br />

predominante de organização social entre os gregos. As<br />

comunidades gentílicas patriarcais se tornariam assim<br />

a unidade econômica, social, política e religiosa daquilo<br />

que podemos chamar de povo grego. O grupo ligava-se<br />

por relações consanguíneas, casamentos entre si e<br />

solidariedade entre seus membros. Colocavam-se sob<br />

autoridade do PATER (patriarca), responsável por<br />

manter os bens de produção (terras, sementes,<br />

instrumentos) e o trabalho sob responsabilidade coletiva<br />

do clã, além de aplicar a justiça costumeira (Direito<br />

consuetudinário) e comandar as milícias dos genos.<br />

Entre os membros do clã não se observava diferenças<br />

econômicas; restringiam-se a hierarquizações de acordo<br />

com maior ou menor proximidade em relação ao pater.<br />

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No final do Período Homérico, entretanto, alterações<br />

internas da própria realidade gentílica seriam<br />

responsáveis pela desintegração da ordem dos genos. O<br />

crescimento da população em descompasso com a<br />

capacidade de crescimento da produção agrícola levou à<br />

escassez de terras férteis para o pleno sustento das<br />

comunidades.<br />

Assim, muitos dos pater optaram pela divisão das terras<br />

coletivas, beneficiando os parentes mais próximos,<br />

passando a serem chamados de eupátridas, apropriando<br />

se das melhores terras (Pédium); os parentes mais<br />

afastados herdariam terras menos férteis, periféricas, de<br />

relevo acidentado e pedregoso (Diácria), constituindo a<br />

classe dos georgois. Por su vez, aqueles que não<br />

obtiveram terras nessa partilha, formariam um grupo<br />

marginalizado, chamado thetas, quase sempre submetido<br />

ao trabalho para as demais classes.<br />

Os eupátridas herdaram além das melhores terras, a<br />

tradição dos paters e o monopólio do poder político,<br />

constituindo-se numa aristocracia de base fundiária.<br />

Esses aristocratas constituíam-se as fratrias, que uma vez<br />

reunidos formavam as tribos, reunidos sobre a autoridade<br />

militar do basileus. A reunião de várias tribos deu origem<br />

aos demos (povoados), que atingidos pela crescente<br />

rivalidades, disputas internas e externas se juntavam<br />

formando pequenos Estados locais ou póleis (cidades-<br />

Estado). Em meados do século X a.C., a Grécia contava<br />

com cerca de 160 cidades independentes, comandadas<br />

por um rei (basileus), cujo poder era limitado pelos<br />

conselho aristocrata de eupátridas. Tentando evitar o<br />

fortalecimento excessivo desses monarcas, os Conselhos<br />

de Aristocratas costumavam indicar magistrados<br />

(Arcontes) para substituírem os reis depostos.<br />

A crise do sistema gentílico decorrente da alteração<br />

interna dos genos e o desenvolvimento da propriedade<br />

privada da terra, do qual decorreu a formação da<br />

aristocracia eupátrida e a formação das primeiras<br />

cidades-estados gregas indicam a transição do período<br />

homérico ao período Arcaico.<br />

5. PERIODO ARCAICO<br />

Período marcado pela consolidação da polis gregas, por<br />

intensas agitações de cunho social e política e pelo<br />

processo de colonização grego denominada Segunda<br />

Diáspora, o período Arcaico corresponde a um dos mais<br />

importantes na trajetória histórica dessa civilização.<br />

12<br />

A privatização das terras e a dissolução da comunidade<br />

gentílica levaram a profundas transformações no interior<br />

das sociedades gregas, com destaque para a concentração<br />

das terras nas mãos de uma elite privilegiada, o<br />

crescimento demográfico, com a diminuição das guerras<br />

e invasões, a escassez de terras férteis, o incremento da<br />

escravidão por dívidas e a concentração da produção<br />

excedente nas propriedades da aristocracia, exigindo<br />

novos mercados para serem comercializados.<br />

Os fatores citados contribuíram para um processo de<br />

êxodo rural dispersão dos gregos para várias partes do<br />

Mediterrâneo, procedendo o chamado Processo de<br />

Colonização Grego ou Segunda Diáspora grega, entre<br />

os séculos VIII e VI a.C. Vários entrepostos comerciais e<br />

colônias seriam fundadas pelos gregos, especialmente no<br />

sul da península Itálica (Magna Grécia), costa norte da<br />

África, Península Ibérica e em torno do mar Negro e<br />

Ásia Menor.<br />

A colonização obedecia a um certo planejamento, que<br />

implicava na escolha do local a ser colonizado, após<br />

consulta ao Oraculo de Apolo em Delfos, a indicação de<br />

comandantes das expedições que conquistariam e<br />

governariam a colônia. Tais colonizadores levavam da<br />

cidade mãe o fogo sagrado e os elementos culturais e<br />

políticos desta, como a língua, o alfabeto e os cultos e<br />

calendário. O comercio entre essas áreas baseava-se na<br />

exportação de azeite, vinho e peças de artesanato gregas<br />

e na importação de artigos como trigo, metais preciosos,<br />

cobre, ferro e madeira das regiões mediterrâneas.<br />

A colonização grega não deve ser entendida em paralelo<br />

idêntico às formas de colonização empreendida pela<br />

Europa na Modernidade ou na Era Contemporânea, uma<br />

vez que a colônia não tinha qualquer tipo de dependência<br />

política e econômica obrigatórias m relação à Metrópole.<br />

Existiam entre elas laços cordiais, sendo chocante a<br />

ocorrência de guerras entre elas e, essas colônias<br />

poderiam fundar outras e, os gregos que se fixassem<br />

nelas permanentemente perdiam a cidadania na cidade de<br />

onde eram originários.<br />

Com o desenvolvimento da colonização, o comercio até<br />

então vista como atividade secundaria em relação à<br />

agricultura preponderante passa a ganhar destaque,<br />

gerando novas configurações sociais que alterariam a<br />

ordem política nas póleis.<br />

O afluxo elevado de cereais das colônias e a importância<br />

da exportação de vinho e azeite das metrópoles levou as<br />

classes mais abastadas a substituírem o cultivo de trigo<br />

pelo de vinho e oliveiras, prejudicando os camponeses


menores, incapazes de concorrer com a produção<br />

colonial e de se transferirem para os novos cultivos, que<br />

necessitavam de mais tempo para a obtenção de<br />

resultados. Endividados, ao parte desses camponeses<br />

passavam a constituir um contingente cada vez maior de<br />

escravos por dividas, enquanto, no lado oposto,<br />

beneficiados pelo comercio, surgia uma classe cada vez<br />

mais poderosa, a dos demiurgos, sedentos por ambições<br />

políticas e buscando se impor na pose das terras por mio<br />

das compras. Preocupados em ficar em segundo plano, a<br />

nobreza entra na corrida pela compra de terras, numa<br />

competição que contribuiu para concentrar ainda mais a<br />

propriedade e empobrecer ainda mais os pequenos<br />

proprietários.<br />

Do ponto de vista físico, as cidades gregas tinhas suas<br />

sedes organizadas da seguinte maneira. Eram formadas<br />

pela ASTEY, a parte urbana da polis; essa, por sua vez,<br />

era constituída pela ACROPOLE, localizada na parte<br />

mais elevada da cidade, onde se erguia o templo de culto<br />

ao deus ou deusa patrono da cidade. A AGORA, era a<br />

parte mais pública da cidade, onde em seu entorno<br />

estavam os mercados e prédios administrativos. A Agora<br />

configurava-se como praça principal da pólis, espaço das<br />

assembleias do povo. A KHORA, correspondia à parte<br />

rural da cidade, onde viviam o camponeses e onde eram<br />

cultivados os alimentos.<br />

5.1 ESPARTA<br />

Fundada no século IX pelos dórios, Esparta ou<br />

Lacedemônia localizava-se na Planície do Peloponeso,<br />

na planície fértil da Lacônia, protegida por cadeias de<br />

montanhas e isolada das regiões vizinhas. No século VII<br />

os dórios dominaram a Messênia e, reafirmaram seu<br />

caráter organizacional de guerreiros e conquistadores,<br />

marcando sua peculiaridade essencial em relação a outras<br />

polis.<br />

Suas terras férteis eram divididas em lotes iguais,<br />

disponibilizados aos cidadãos espartanos. O cultivo<br />

dessas terras cabiam aos hilotas, espécie de servos do<br />

estado destinados a trabalharem a serviço dos<br />

esparciatas. Eram dedicados ao serviço militar e<br />

consideravam o comercio uma atividade indigna, que<br />

ficou restrita aos poucos estrangeiros na cidade e aos<br />

marginalizados sociais denominados periecos. A<br />

constituição da cidade, que regia suas regras e valores de<br />

convivência são atribuídos ao legislador mítico Licurgo,<br />

que segundo os espartanos não deveria ser alterada,<br />

perpetuando a ordem aristocrático-oligárquica na cidade<br />

ao longo dos tempos.<br />

De maneira geral, a sociedade espartana se define por<br />

seu caráter agrário, rural, patriarcal, aristocrática,<br />

estratificada, xenófoba e militarista. Destacavam-se em<br />

primeiro plano, na sua configuração essencial, os<br />

esparciatas, aristocracia espartana originada dos<br />

fundadores dórios, que monopolizavam as instituições<br />

políticas, militares e religiosas, assim como o uso das<br />

melhores terras, sendo os únicos considerados detentores<br />

da cidadania. Os periecos, embora homens livres,<br />

estavam destituídos da cidadania, dedicados<br />

especialmente ao comercio e artesanato, atividades<br />

desprezadas pelos esparciatas, habitando os arredores da<br />

cidade e banidos da possibilidade da formação militar.<br />

Por fim, em maior quantidade, estavam os hilotas,<br />

geralmente considerados escravos, mas mais próximos<br />

da condição de servos do estado, já que estavam presos à<br />

terra que cultivavam e não podiam se transferir, sendo<br />

considerados propriedades do estado; eram mantidos sob<br />

rígido controle da especialização militar dos cidadãos,<br />

obrigado à rígida obediência sob a ameaça do terror da<br />

Kripta, ritual da maioridade utilizado pelos jovens<br />

espartanos que consistia na matança de hilotas como<br />

conclusão de seu processo de formação militar.<br />

A estrutura política dos espartanos manteve se<br />

praticamente inalterável ao longo de sua trajetória<br />

histórica. Marcada por uma rede de privilégios e<br />

orientada pela legislação de Licurgo, organizava-se da<br />

seguinte maneira:<br />

Diarquia – a cidade Estado possuía dois reis, das<br />

famílias mais importantes da polis, transferindo a<br />

posição hereditariamente ao filho primeiro nascido após<br />

consagrar-se rei. Tinham poderes iguais em deliberações<br />

religiosas, politicas, administrativas e judiciarias,<br />

podendo aplicar jurisdição familiar em caso de direito<br />

fundamentado na religião. Nos períodos de guerra, erma<br />

comandantes supremos do exército e do sacerdócio e,<br />

13


enquanto um rei protegia a cidade, o outro ia para o<br />

combate. Seu poder era essencialmente militar, estando<br />

sujeito ao comando executivo e fiscalização de conduta<br />

pelos éforos. Eram também eles quem presidiam a<br />

Gerúsia, tinhas suas discordâncias apaziguadas pelos<br />

éforos, possuíam as melhores terras, territórios nas áreas<br />

dos periecos e recebiam despojos de guerra.<br />

Gerúsia – o Conselho dos Anciãos de Esparta era<br />

constituído por 28 gerontes, com mais de 60 anos, de<br />

cargo vitalício, indicados pela Apela. Possuíam função<br />

legislativa, cabendo-lhes discutir e preparar os projetos<br />

submetidos à aprovação pela Apela, a assembleia dos<br />

cidadãos esparciatas. Também possuíam função<br />

judiciaria e, no caso dos reis serem acusados pelos<br />

éforos, sobre eles recaiam o direito de julgamento sobre<br />

os reis.<br />

Apela – era assembleia dos esparciatas, compota por<br />

todos os cidadãos dessa classe com mais de 30 anos, que<br />

elegiam os membros da Gerúsia e, a quem cabia aprovar<br />

ou rejeitar as leis preparadas pelo Conselho de Anciãos.<br />

Também era a Apela que deliberava sobre a guerra e a<br />

paz e, eram esses aristocratas que elegiam os cinco<br />

éforos para mandatos anuais. Por sua vez, a Gerúsia tinha<br />

poder de veto sobre as decisões da Apela.<br />

Eforato – Conselho executivo formado por cinco éforos<br />

eleitos anualmente, sem reeleição para o papel de fiscais<br />

da vida pública, incluindo a atuação dos reis. Com o<br />

tempo, os éforos passaram a presidir a Gerúsia, se<br />

sobrepondo aos reis em definitivo. Dois éforos<br />

acompanhavam o exército na batalha, podendo prender o<br />

rei em caso de desacordo entre suas ações e o cargo que<br />

ocupavam.<br />

EDUCAÇÃO ESPARTANA<br />

A Agogê: Em seu próprio significado, a palavra que<br />

os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo:<br />

Agogê (agoge), isto é, “adestramento”, “treinamento”.<br />

Viam-na como um recurso para o adestramento dos seus<br />

jovens. O objetivo maior dela era formar soldados<br />

educados no rigor para defender a polis. Assim sendo,<br />

temos que entendê-la como um serviço militar estendido<br />

à infância e à adolescência.<br />

Em termos genéricos, podemos ver que a educação<br />

desenvolvida em Esparta estava intimamente ligada ao<br />

caráter militarista. Desde tenra idade a formação do<br />

indivíduo era reconhecida como uma função a ser<br />

obrigatoriamente assumida pelo próprio Estado. Os<br />

espartanos viam cada novo ser como um soldado em<br />

potencial.<br />

O caráter era eugênico (controle social que podem<br />

melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras<br />

gerações seja física ou mentalmente). Ao nascer, a<br />

criança era minuciosamente observada por um grupo de<br />

anciãos. Caso ela não apresentasse uma boa saúde ou<br />

tivesse algum problema físico, era invariavelmente<br />

lançada do cume do monte Taigeto. Se fosse considerada<br />

saudável, ela poderia ficar com a sua mãe até os sete<br />

anos de idade. Depois disso, passava a ficar sob a tutela<br />

do governo espartano para assim receber todo o<br />

conhecimento necessário à sua vindoura trajetória<br />

militar.<br />

Entre os sete e os doze anos a criança recebia os<br />

conhecimentos fundamentais para que conhecesse a<br />

organização e as tradições de seu povo. Depois disso, era<br />

dado início a um rigoroso treinamento militar onde seria<br />

colocado em uma série de provações e testes que<br />

deveriam aprimorar as habilidades do jovem. Nessa fase,<br />

o aprendiz era solto em um campo onde deveria obter o<br />

seu próprio sustento por meio da coleta, da caça de<br />

animais ou, em alguns casos, por meio do furto.<br />

Nessa mesma época, os aprendizes eram colocados<br />

para realizarem longas marchas e lutarem uns com os<br />

outros. Dessa maneira, aprendiam a combater<br />

eficazmente. Além disso, havia uma grande preocupação<br />

em expor esse soldado a situações provadoras que<br />

atestassem a sua resistência a condições adversas e<br />

obediência aos seus superiores. Cada vez que não<br />

cumprisse uma determinada missão, esse soldado em<br />

treinamento era submetido a terríveis punições físicas.<br />

Quando estavam entre dezesseis e dezessete anos de<br />

idade, o jovem recruta espartano era submetido a um<br />

importante “teste final”: a kriptia. Funcionando como<br />

uma espécie de jogo de esconde-esconde, os jovens<br />

espartanos se escondiam de dia em um campo para, ao<br />

anoitecer, saírem à caça do maior número de hilotas<br />

possível. Quem sobrevivesse a esse processo de seleção<br />

já estaria formado para integrar as fileiras do exército e<br />

teria direito a um lote de terras.<br />

Com relação às mulheres, devemos salientar que essa<br />

mesma tutela exercida pelo Estado também era dirigida a<br />

elas. De acordo com a cultura espartana, somente uma<br />

mulher fisicamente preparada teria condições de gerar<br />

filhos que pudessem lutar bravamente pela defesa de sua<br />

cidade-Estado. Além disso, durante sua vida civil ela<br />

14


poderia adquirir o direto de propriedade e não estava<br />

necessariamente sujeita à autoridade de seu marido.<br />

Quando alcançava os trinta anos de idade, o soldado<br />

espartano poderia galgar a condição de cidadão. A partir<br />

desse momento, ele participava das decisões e leis a<br />

serem discutidas na Ápela, assembleia que poderia vetar<br />

a criação de leis e indicava os indivíduos que comporiam<br />

a classe política dirigente de Esparta. Quando atingia a<br />

idade de sessenta anos, o indivíduo poderia sair do<br />

exército e integrar a Gerúsia, o conselho de anciãos<br />

responsável pela criação das leis espartanas.<br />

5.2 ATENAS<br />

Situada na península Balcânica, na região da Ática, a 5<br />

km do mar Egeu, a polis ateniense apresenta paisagem<br />

montanhosa entremeada de vales férteis – Pédium<br />

(planícies férteis), Diácria (região montanhosa, irregular<br />

e árida) e a Parália (regiões litorâneas); a ocupação<br />

inicial da Ática foi pelos povos aqueus, chegando<br />

posteriormente os eólios e jônios, esses últimos<br />

responsáveis pela fundação de Atenas. A proximidade do<br />

Mar Egeu e a proteção natural das montanhas impediu a<br />

invasão dos dórios e estimulou intensa atividade<br />

comercial marítima.<br />

Fundada no século X, no final do Período Homérico,<br />

Atenas possuía economia essencialmente rural,<br />

complementada por atividades incipientes de artesãos e<br />

pequenos comerciantes. Nesse período, os grupos sociais<br />

predominantes eram os eupátridas, considerados bem<br />

nascidos, filhos das elites e famílias tradicionais,<br />

detentores das melhores terras e que formavam a<br />

aristocracia governante da pólis, detendo a condição de<br />

cidadãos, e a propriedade de terras e escravos; os<br />

georgois, segunda camada social composta por pequenos<br />

proprietários das terras da Diácria, que trabalhavam com<br />

seus familiares e produziam para subsistência. Embora<br />

atenienses, por não pertencerem às famílias tradicionais<br />

não eram considerados cidadãos, estando excluídos da<br />

vida política da pólis; os thetas correspondiam aos<br />

atenienses de camada inferior, destituídos de qualquer<br />

propriedade de terra, geralmente trabalhadores braçais<br />

utilizados nas terras dos demais grupos; por serem<br />

camponeses marginalizados econômica e politicamente,<br />

também não eram considerados cidadãos. Por fim,<br />

tínhamos em menor quantidade nesse período, a<br />

incidência de escravos, que ainda não eram a base<br />

fundamental da produção, predominando o trabalho<br />

familiar e dos thetas; esses poucos escravos eram<br />

oriundos de guerras e dividas.<br />

Em suas origens, a polis ateniense organizou-se<br />

politicamente como uma monarquia, com a sociedade<br />

submetida à chefia de um basileus, assessorado por um<br />

Conselho de Arcontes indicados pela assembleia de<br />

eupátridas. Na transição para o período arcaico, a<br />

aristocracia derruba a autoridade real e o conselho de<br />

nove arcontes passa a designar as funções executivas da<br />

pólis, restringindo a autoridade política aos interesses<br />

aristocratas.<br />

No período arcaico, alterações significativas da realidade<br />

econômica ateniense levaram ao surgimento de novos<br />

grupos sociais e posições políticas conflitantes que<br />

acarretaram importantes mudanças na organização da<br />

polis. A escassez das terras férteis, resultante da<br />

concentração dos melhores espaços nas mãos dos<br />

eupátridas e pelo aumento populacional, impulsionaram<br />

a Segunda Diáspora Grega, que definiu o<br />

estabelecimento de colônias para fins comerciais e<br />

povoamento em pontos variados do Mediterrâneo. Com<br />

o incremento do comercio decorrente desse processo,<br />

muitos georgois e thetas emigraram em expedições<br />

colonizadoras ou se deslocaram das regiões agrarias da<br />

pólis para suas áreas urbanas, se beneficiando da<br />

atividade comercial e configurando novas designações<br />

sociais.<br />

Surgiriam assim os demiurgos, segmento social oriundo<br />

das classes anteriormente citadas, que constituídos em<br />

artesãos e pequenos comerciantes viram-se enriquecidos<br />

e passaram a exigir direitos políticos e sociais,<br />

pressionando o governo aristocrático do Arcontado a<br />

realizar importantes reformas sociais. Outro segmento<br />

social destacado a partir de então seria o dos metecos,<br />

15


formado por estrangeiros marginalizados atraídos pela<br />

rica e dinâmica economia de Atenas, podendo ser gregos<br />

de outras cidades ou não gregos. Esses, embora livres,<br />

dedicavam-se ao artesanato e comercio, pagavam<br />

tributos ao Estado ateniense e, jamais tiveram direitos<br />

políticos em Atenas. Incrementou-se também a mão de<br />

obra escrava, até alcançar o seu auge no Período<br />

Clássico; o incremento desse trabalho esteve associado<br />

ao aumento dos prisioneiros de guerra obtidos no<br />

processo de expansão territorial e, no endividamento de<br />

georgois e thetas mantidos no campo com os eupátridas,<br />

que acabavam se submetendo a escravidão quando<br />

impossibilitados de honrar seus compromisso<br />

financeiros.<br />

As referidas transformações sociais somadas ao governo<br />

da aristocracia eupátrida que apenas protegia e<br />

privilegiava os interesses da aristocracia provocaram o<br />

conflito de interesses, conflitos e impasses que marcaram<br />

o período arcaico em Atenas. O Partido Pediano era<br />

formado pelos eupátridas, de posicionamento<br />

conservador, que se esforçavam por manter o monopólio<br />

da cidadania ateniense; os paralianos eram compostos<br />

pelos demiurgos, de posição moderada que buscavam<br />

equiparação política com os eupátridas; e ainda haviam<br />

os diacrianos, constituídos por georgois ou thetas, que<br />

assumindo posição radical defendiam amplas reformas<br />

de ordem política e econômica. Esses últimos eram<br />

duramente prejudicados pelo aumento do fluxo de<br />

escravos que dificultava o aproveitamento do trabalho<br />

livre e forcava thetas e até mesmo georgois a contrair<br />

dívidas junto aos cidadãos modo que não conseguindo<br />

honrar seus empréstimos acabavam escravizados.<br />

Com o agravamento desse quadro de tensões sociais, o<br />

Arcontado eupátrida se posicionou em favor de assegurar<br />

reformas que pudessem amenizar o clima de<br />

intranquilidade. Algumas mudanças internas<br />

significativas foram garantidas por legisladores que<br />

alcançaram o Arcontado. Os exemplos mais<br />

significativos são da reforma de Drácon (621a.C.), que<br />

estabeleceu uma primeira tentativa de institui um direito<br />

comum a todos, por meio da escrita das leis, já que o<br />

Direito em Atenas se configurava consuetudinário desde<br />

as suas origens. A intenção era que toda a população<br />

pudesse ter conhecimento do código fixo de leis, embora<br />

não tenha sido capaz de apaziguar os ânimos de<br />

exaltação social por mudanças, pois ainda que escritas,<br />

tais leis mantinham inalterados os privilégios dos<br />

eupátridas; as leis de Dragon foram reconhecidas por sua<br />

severidade e, estabeleceu ainda a proibição das vendetas,<br />

vinganças privadas encomendadas e comuns à época.<br />

Outro reformador importante foi Sólon, que tornou-se<br />

arconte em 694 a.C. embora aristocrata, desde cedo<br />

estava envolvido com as atividades de comercio e com as<br />

viagens ao exterior, aproximando-se dos demiurgos. A<br />

ele foi atribuída a importante medida de abolição da<br />

escravidão por dividas (Lei Seisacteia), que buscava<br />

amenizar as reclamações de thetas e georgois<br />

endividados; também promovera a alteração das<br />

condições de cidadania m Atenas, outrora baseado na<br />

origem, por um sistema de base censitária, que dividia<br />

a sociedade a partir de suas rendas anuais, o que igualou<br />

eupátridas e demiurgos no acesso às instituições<br />

políticas. É também dele proposição da criação da Bulé<br />

(conselho composto de 400 membros, cuja função seria<br />

elaborar e propor as leis à assembleia dos cidadãos), a<br />

plena atuação da Eclésia (assembleia dos cidadãos<br />

atenienses maiores de 21 anos e com renda que votavam<br />

as medidas apresentadas pela Bulé) e o Helieu (espécie<br />

de tribunal de justiça aberto a todos os cidadãos).<br />

Apesar da importância das reformas de Sólon, elas não<br />

eram de agrado a todos; os eupátridas se viam<br />

prejudicados com a sua perda de privilégios, enquanto os<br />

setores populares esperavam por mudanças mais<br />

profundas. A aristocracia, por ainda deter o comando das<br />

magistraturas criou serias dificuldades e restrições a<br />

organização e atuação das novas assembleias e, as<br />

severas críticas apresentadas na Agora passaram a ganhar<br />

apoio e aclamação (apoio oral das massas), levando o<br />

governo aristocrático a nomear tais oradores como<br />

governantes de Atenas, dando origem às tiranias de<br />

Atenas. Na Grécia Antiga, as tiranias tinham sentido<br />

diferente do uso atual do termo. Um tirano era alguém<br />

que governava em situações excepcionais, com poder<br />

ilimitado, porem enquanto representassem a vontade<br />

popular. Os mais importantes no fim do período arcaico<br />

em Atenas foram Psístrato e seus filhos, Hiparco e<br />

Hipias.<br />

A queda da tirania abriu caminho para que os dois<br />

partidos tradicionais da cidade, o dos ricos, chefiado por<br />

Iságoras, e o dos populares, liderado por Clístenes,<br />

passassem a disputar o controle de Atenas. Iságoras,<br />

apoiado pelo rei espartano Cleômenes, conseguiu<br />

desterrar Clístenes.<br />

Mas o povo se sublevou e conseguiu trazer o líder de<br />

volta, dando-lhe plenos poderes para elaborar uma nova<br />

constituição. A tirania havia perseguido os partidários da<br />

aristocracia, enfraquecendo a nobreza urbana, criando-se<br />

assim as condições para a implantação de um regime<br />

novo. A monarquia, por sua vez, já fora abolida há<br />

16


muitos séculos e o título de rei (basileus) era mantido<br />

apenas por tradição. O regime oligárquico, por seu lado,<br />

também sucumbira à tirania de Psístrato. Abriam-se as<br />

portas, depois da expulsão do descendente do tirano, para<br />

uma experiência inédita: o regime governado<br />

diretamente pelos cidadãos, a democracia.<br />

Clístenes foi um nobre ateniense que, além de liderar<br />

uma revolta popular, reformou a constituição da antiga<br />

Atenas em 508 a.C., sendo considerado, geralmente, o<br />

pai da democracia, por tê-la implantado, porém convém<br />

lembrar que a instituição do novo modelo político deveuse<br />

ao resgate e ampliação das medidas iniciadas pelo<br />

reformador Sólon.<br />

Uma das primeiras medidas de Clístenes Foi a redivisão<br />

de Atenas em dez demos, em lugar das quatro anteriores.<br />

A divisão era censitária e dessa forma, foi neutralizado o<br />

domínio exclusivo do poder pelos eupátridas.<br />

Reorganizou e ampliou a função dos órgãos públicos<br />

criados por Sólon. A Bulé passou a contar com<br />

quinhentos membros (50 escolhidos em cada demo), os<br />

arcontes passaram de nove para dez (1 escolhido por<br />

cada demo), a Eclésia, assembleia dos cidadãos, teve<br />

seus poderes ampliados, pois, além de votarem as<br />

medidas elaboradas e proposta pela Bulé, passavam a<br />

fiscalizar a atuação das demais instituições políticas de<br />

Atenas. A Eclésia tinha também o poder de votar o<br />

ostracismo (perda temporária de propriedades e direitos<br />

políticos por dez anos) contra todos aqueles que de<br />

alguma maneira colocassem em perigo as instituições<br />

democráticas. Após dez anos o exilado pelo ostracismo<br />

poderia ter restituídos o direito político e os bens<br />

perdidos.<br />

É importante lembrar que a democracia instituída pelas<br />

reformas de Clístenes era um sistema político do qual só<br />

participavam os atenienses adultos (a partir de 21 anos),<br />

filhos de pai e mãe atenienses. Estavam excluídos os<br />

escravos, metecos (estrangeiros) e as mulheres, ou seja, a<br />

maior parte da população. Daí a afirmação “Democracia<br />

escravista”, pois, o cidadão tinha o ócio, tempo<br />

disponível, graças à mão-de-obra escrava.<br />

17


CIVILIZAÇÃO GREGA – PARTE II*<br />

PERÍODO CLÁSSICO (do século VI ao IV a.C.)<br />

1. A DEMOCRACIA ATENIENSE<br />

Durante o período clássico, no conjunto das cidades<br />

gregas, certamente Atenas foi aquela que obteve maior<br />

destaque. Projetou-se economicamente, aprimorou sua<br />

capacidade militar, converteu-se no principal centro<br />

cultural e político do mundo grego.<br />

Entre os aspectos que mais contribuíram para o prestígio<br />

da cidade, destaca-se a sua original forma de governo, a<br />

democracia. Resultado de uma série de alterações na<br />

ordem política, esse sistema garantiu aos cidadãos,<br />

especialmente os direitos de isonomia, isocracia e<br />

isegoria.<br />

• a igualdade perante a lei ou ISONOMIA. A nenhum<br />

cidadão são concebidos privilégios baseados na<br />

riqueza ou no prestígio da sua família.<br />

• a igualdade de acesso aos cargos políticos ou<br />

ISOCRACIA. Todo o cidadão ateniense tinha o<br />

18<br />

direito e o dever de participar no governo da polis.<br />

Todos tinham igual direito de voto.<br />

O igual direito de todos ao uso da palavra ou<br />

ISEGORIA. Nas assembleias, nos tribunais ou no<br />

exército das magistraturas, todos podiam defender<br />

livremente as suas opiniões.<br />

No funcionamento da democracia grega não haviam<br />

representações por meio de partidos políticos, como<br />

conhecemos atualmente, nem havia um corpo<br />

burocrático de juízes ou altos funcionários do Estado<br />

institucionalizados. Cada pessoa com as condições da<br />

cidadania poderia atuar nos cargos que garantiam o pleno<br />

funcionamento do trato dos assuntos relativos à pólis.<br />

Tratava-se, portanto, de uma democracia direta, onde<br />

todos os cidadãos votavam diretamente, na Ágora, as<br />

proposições feitas pela Bulé; todos aqueles que se


desinteressavam pelos assuntos públicos eram malvistos<br />

pela sociedade ateniense.<br />

No processo de decisões sobre a pólis, era marcante a<br />

importância da oratória, defendida pelos filósofos<br />

sofistas, como o instrumento de convencimento essencial<br />

daqueles que exerciam a ação política. A oratória era o<br />

dom da palavra que permitia convencer interesses e todo<br />

o cidadão devia estar preparado para apresentar<br />

propostas e discuti-las na Eclésia. Os oradores brilhantes<br />

desfrutavam de um elevado prestigio, eram os<br />

demagogos.<br />

Para os filósofos Sofistas o discurso era fundamental, ou<br />

seja, o poder da fala e a capacidade para convencer, não<br />

importando a veracidade do que era dito. A verdade dos<br />

discursos não era, necessariamente, o mais importante,<br />

pois o bom discurso, o discurso verdadeiro era aquele<br />

que conseguia convencer o maior número, ou seja, a<br />

capacidade de convencimento das palavras. O mais<br />

importante seria convencer ao público que o adversário<br />

não tinha razão. Ou convencer o próprio adversário.<br />

Assim sendo, esses filósofos eram defensores da forma<br />

de governo democrática.<br />

O modelo democrático ateniense, no entanto, conhecia<br />

seus limites; não era extensivo ao conjunto de toda a<br />

população, estando restrito ainda a privilégios tais,<br />

embora dissociados exclusivamente das condições<br />

aristocráticas de nascimento e de riqueza. No Período<br />

Clássico, a região da Ática teria, uma população de cerca<br />

de 400.000 habitantes. Destes, apenas 40.000 eram tidos<br />

como cidadãos atenienses. Juntamente com as mulheres<br />

e filhos, os atenienses deveriam formar um conjunto de<br />

120 000 pessoas. Mas as mulheres não participavam<br />

politicamente, ou seja, não eram cidadãs. Os metecos<br />

atingiam de 70.000 a 90.000 habitantes. Os metecos por<br />

vezes opinavam na política, mas não eram cidadãos e,<br />

consequentemente não podiam votar. Por fim, em maior<br />

quantidade, 200.000 escravos, despojados de todos os<br />

direitos e até da sua condição de ser humano.<br />

As mulheres dedicavam-se aos trabalhos domésticos<br />

e a educação das crianças. Não lhes era reconhecido o<br />

direito de autonomia ou de administrar os seus bens.<br />

Quando viúvas, ficavam sob a autoridade do filho mais<br />

velho, ou, se não tivessem filhos, do parente mais<br />

próximo. Nas casas abastadas, as mulheres habitavam<br />

numa zona específica, o gineceu (divisão, existente nas<br />

casas da antiga Grécia, reservada às mulheres. Já o<br />

androceu era, na Grécia antiga, onde os guerreiros da<br />

cidade ficavam instalados ou a parte da casa destinada<br />

aos homens), onde acompanhadas pelas escravas<br />

passavam a maior parte da vida. Com exceção das<br />

grandes festas religiosas, em que participavam só muito<br />

raramente, saíam a rua. Não iam sequer ao mercado. As<br />

compras eram tarefa e privilégio masculino. A sua maior<br />

virtude era passarem despercebidas.<br />

Diferenciando-se dos aspectos essenciais da educação<br />

espartana, a educação ateniense era voltada para o<br />

exercício público do poder. Em Atenas, acreditavam na<br />

necessidade de converter os jovens em homens cultos,<br />

corajosos, sensíveis ao belo e empenhados na vida<br />

política da cidade. Até os 7 anos, as crianças eram<br />

educadas pela mãe no gineceu. A partir daí eram<br />

orientadas para os papéis que, mais tarde, deveriam<br />

assumir na sociedade: as moças ficavam em casa, onde<br />

aprendiam todas as tarefas que competiam à mulher. Os<br />

rapazes iam à escola e preparavam-se para serem<br />

cidadãos. O Estado recomendava que aprendessem a<br />

nadar, a ler, a escrever e que praticassem exercícios<br />

físicos. O currículo baseava-se na aprendizagem da<br />

leitura, da escrita e da aritmética.<br />

A educação intelectual, entretanto, não se dissociava da<br />

preparação física, que constituía seu complemento<br />

essencial. Exercitar o corpo era considerado tão<br />

necessário quanto exercitar a mente. O cidadão tinha um<br />

serviço militar a cumprir, e, por isso deveria estar pronto<br />

para defender a sua polis sempre que necessário. A<br />

preparação física continuava, a partir dos 15 anos, em<br />

escolas próprias, os ginásios. Nos ginásios ensinavam-se<br />

também matemática e filosofia.<br />

No decurso do século V. a.C. correspondendo às<br />

necessidades oratórias abertas pela democracia, surgiram<br />

os sofistas, professores itinerantes que andavam de<br />

cidade em cidade, fazendo conferências e dando aulas<br />

remuneradas.<br />

Embora Clístenes seja considerado o pai da democracia<br />

ateniense, no período clássico a figura mais importante<br />

na sustentação desse modelo político foi o estratego<br />

Péricles (495-429 a.C.) que governou Atenas entre 461 e<br />

429 a.C. Foi a maior personalidade política do século V<br />

a.C., caracterizando a Era de Ouro de Atenas, e sua<br />

presença foi tão marcante que o período compreendido<br />

entre o final das Guerras Médicas (448 a.C.) e sua morte<br />

(429 a.C.) é chamado o Século de Péricles.<br />

Nascido numa família da nobreza ateniense, descendeu<br />

do líder reformista Clístenes, responsável pela introdução<br />

19


20<br />

da maioria das instituições democráticas, durante a<br />

revolução de 510 a.C. Eleito e reeleito várias vezes como<br />

estratego-chefe (estrategos-arconte), acumulou a chefia<br />

civil e a liderança militar da cidade, fazendo com que<br />

Atenas alcançasse a maior projeção política, econômica e<br />

cultural de toda a sua história.<br />

Embora fosse aristocrata de nascença, deu maior<br />

amplitude à democracia ateniense, permitindo o ingresso<br />

e a participação política de parcelas da população antes<br />

excluídas. Atenienses de baixa renda, envolvidos no<br />

trabalho constante para garantir a sobrevivência, não<br />

podiam dedicar-se à política. Entre as reformas políticas<br />

estão a instituição do Misthoy, soldo ou remuneração<br />

para os integrantes do exército e também para as funções<br />

e cargos públicos exercidos por cidadãos de baixa renda.<br />

Foi o responsável por muitos dos projetos de construção<br />

que incluem as estruturas sobreviventes da acrópole,<br />

tendo encarregado o escultor ateniense Fídias como o<br />

supervisor do programa de embelezamento da cidade.<br />

Assim, entre as grandes construções realizadas<br />

destacaram-se o PARTENON (templo a deusa Atena), O<br />

ERECTÉION (templo consagrado a Atena, Poseidon e<br />

Erecteu, mítico rei ateniense.) e a reconstrução das<br />

MURALHAS DE ATENAS.<br />

O próprio Péricles persuadiu a cidade a construir<br />

muralhas de mais de 4 milhas até ao porto de Atenas, o<br />

Pireu. Reconstruiu Atenas, que havia sido destruída nas<br />

Guerras Médicas confiscando os recursos da Liga de<br />

Delos. Sua realização menos notável talvez tenha sido a<br />

exploração de outras cidades como forma de subsidiar o<br />

florescimento da democracia ateniense, tal prática<br />

caracterizou o “imperialismo” ou hegemonia<br />

ateniense.<br />

2. Conflitos externos no Período Clássico - AS<br />

GUERRAS MÉDICAS OU GRECO-PERSICAS<br />

(491-449 a.C.)<br />

O florescimento do mundo grego no período clássico<br />

chamou à atenção de povos expansionistas estrangeiros,<br />

o que acirrou as rivalidades e levou à eclosão de uma<br />

série de conflitos externos. Sem dúvida, o mais i<br />

importante e duradouro foi aquele que opôs as<br />

civilizações grega e persa, a que chamamos de Guerras<br />

Médicas, Guerras Pérsicas ou Guerras Greco-Persas.<br />

A principal causa dessas guerras foi a luta pela<br />

independência das cidades jônicas, colônias gregas na<br />

Anatólia (região da atual Turquia), que os persas em sua<br />

expansão territorial passaram a dominar e que se<br />

intensificou a partir do governo do imperador persa<br />

Dario I, comprometendo o comércio grego na região. A<br />

vitória da Grécia garantiu-lhe o controle comercial da<br />

região, imortalizou seus heróis e impôs ao mundo o<br />

modelo ocidental de se fazer a guerra.<br />

A maior parte dos historiadores divide os conflitos em<br />

duas fases: a 1 ª Guerra Médica, em 490 a.C. e a 2 ª<br />

Guerra Médica, entre 480 e 479 a.C. Mas, como as<br />

rivalidades entre gregos e persas só terminaram em 449<br />

a.C., com a Paz de Cálias ou Paz de Címon, alguns<br />

estudiosos falam em uma 3 ª etapa das Guerras Médicas.<br />

Esta região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas<br />

durante a expansão persa em direção ao Ocidente, este<br />

poderoso império conquistou estas diversas colônias<br />

gregas da Ásia Menor, entre elas Mileto. As colônias<br />

lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas,<br />

tentaram sem sucesso libertar-se do domínio persa,<br />

promovendo uma revolta. Estas revoltas levaram o<br />

imperador persa Dario I a lançar seu poderoso exército<br />

sobre a Grécia continental, dando início às Guerras<br />

Médicas. O que estava em jogo era o controle marítimo<br />

comercial na região. Após várias derrotas para os persas,<br />

os gregos conseguiram uma primeira e importante reação<br />

na Batalha de Maratona.<br />

Na batalha de Maratona, ocorrida durante a Primeira<br />

Guerra Médica (490 a.C.), os persas desembarcaram suas<br />

tropas próximo a Atenas, que chegou a solicitar ajuda de<br />

Esparta - mas argumentaram que, por razões de festejos<br />

religiosos, não poderiam fazê-lo antes de seis dias –<br />

levando o comandante Milcíades a se lançar ao ataque<br />

contra os persas com os contingentes que dispunha,<br />

provavelmente, entre 10 e 15 mil atenienses. Apesar da<br />

supremacia numérica dos persas, que tinham entre vinte<br />

e cem mil homens os gregos cercaram-nos, sendo<br />

respondidos com uma chuva de flechas. Mesmo com as<br />

adversidades, os gregos avançaram contra o inimigo e<br />

adotaram uma estratégia que impediu a ação da cavalaria<br />

persa. As tropas persas, derrotadas, regressaram à Ásia,<br />

mas isto não significava que o conflito estava<br />

solucionado, pois logo ocorreria uma nova guerra. O<br />

mensageiro Feidípides, segundo conta a lenda, foi<br />

mandado por Milcíades para mais uma missão, correr os<br />

42 quilômetros que separavam a planície de Maratona da<br />

polis de Atenas para anunciar a vitória grega. Após<br />

anunciá-la com a frase "Alegrai-vos, atenienses, nós<br />

vencemos!", teria caído morto devido ao esforço.<br />

A guerra teria continuidade com os persas liderados por<br />

Xerxes (486/465 a.C.), filho de Dario, que comandou<br />

dez anos depois (480 a.C.) uma invasão à Grécia em


grande escala. Algumas cidades gregas, lideradas por<br />

Atenas e Esparta, formaram uma coalização para<br />

enfrentar o invasor. Outras, como Tebas, submeteram-se<br />

aos persas. Inicialmente, os persas venceram os gregos<br />

na batalha das Termópilas e em Artemision; a seguir,<br />

invadiram e saquearam Atenas. A frota ateniense, porém,<br />

comandada por Temístocles (524 a.C./459 a.C.),<br />

conseguiu destruir a frota persa na batalha de Salamina e<br />

mudou o rumo da guerra. Meses depois, comandada pelo<br />

espartano Pausânias (510/467 a.C.), o exército da<br />

coalização grega venceu o exército persa na batalha de<br />

Platéia e pôs fim à invasão. Os gregos conseguiram,<br />

certamente, impedir a presença dos persas em seu<br />

território. Eles continuaram, porém, influindo no<br />

relacionamento entre as cidades gregas durante todo o<br />

Período Clássico.<br />

Na Batalha das Termópilas - um estreito desfiladeiro<br />

de 15 metros de largura - (480 a.C.) os persas<br />

encontraram uma das mais preparadas forças militares<br />

gregas: as falanges de Esparta. Os espartanos, que se<br />

lamentavam por não terem participado da grandiosa<br />

vitória em Maratona, se comprometeram a defender o<br />

restante das cidades gregas e marcharam ao encontro do<br />

exército persa. Um dos dois reis espartanos, Leônidas,<br />

com sua guarda pessoal composta por 300 homens (os<br />

300 das Termópilas) e com o apoio de mais de 6 mil<br />

gregos, aguardava os persas numa situação geográfica<br />

que lhes dava certa vantagem: no meio do desfiladeiro de<br />

Termópilas o pequeno número de gregos poderia<br />

suportar o imenso exército persa.<br />

Xerxes esperou quatro dias pela chegada da cavalaria e<br />

da infantaria pesada da Pérsia. Nesse meio tempo enviou<br />

um mensageiro para convencer o general Leônidas a<br />

entregar suas armas. A resposta do espartano foi:<br />

"Venham buscá-las".<br />

No quinto ou sexto dia, Xerxes ordenou o ataque.<br />

Acredita-se que 10 mil soldados da Pérsia morreram no<br />

primeiro dia de combate, sem causar danos substanciais<br />

aos gregos. Até que um traidor grego, Efialtes, ensinou<br />

aos persas um caminho através das montanhas que<br />

levaria até o outro lado do desfiladeiro. Informado sobre<br />

essa manobra, Leônidas ordenou que a maior parte dos<br />

gregos voltasse para um lugar seguro, enquanto ele, seus<br />

300 espartanos e mais um grupo selecionado de aliados,<br />

totalizando em torno de 2 mil homens, ficaram para<br />

enfrentar o exército inimigo. Leônidas teria dito antes de<br />

iniciar a batalha final: "Almoçamos aqui, jantaremos no<br />

Hades" (Hades é denominação da divindade e da terra<br />

dos mortos na cultura grega).<br />

A batalha de Termópilas (agosto de 480 a.C.) foi a única<br />

derrota grega durante as Guerras Médicas, que<br />

transformou seus bravos soldados em lenda para toda a<br />

história. Os persas exterminaram até o último grego e<br />

decapitaram Leônidas. Tal resistência dos espartanos<br />

resultou em inúmeros benefícios para a Grécia:<br />

Temístocles, arconte ateniense, mobilizou rapidamente a<br />

marinha grega e ordenou a evacuação de Atenas. Dessa<br />

maneira, apesar da derrota, os gregos intensificaram sua<br />

reação contra os persas.<br />

Batalha de Salamina (480 a.C.): Poucos dias após a<br />

derrota em Termópilas, um vendaval afundou um<br />

número considerável de embarcações persas, o que<br />

possibilitou aos gregos a vitória sobre a marinha inimiga<br />

na batalha de Artemisium (agosto de 480 a.C.). Xerxes<br />

avançou pela Grécia, tomando e incendiando Atenas.<br />

Temístocles estava decidido a tentar uma estratégia para<br />

reconquistar sua pólis: atrair a marinha persa para um<br />

estreito canal, de 2 km de largura, entre a ilha de<br />

Salamina e o continente e, assim poder vencer a armada<br />

inimiga. Os espartanos resistiram em aceitar tal plano,<br />

pois queriam uma fortificação no istmo de Corinto, que<br />

defenderia o Peloponeso (sul da Grécia). Por fim Os<br />

espartanos foram convencidos e as forças de Xerxes<br />

foram atraídas para Salamina.<br />

Estima-se que 360 embarcações gregas enfrentaram mais<br />

de 600 embarcações persas na batalha de Salamina. A<br />

armada persa não tinha espaço para se locomover,<br />

enquanto os gregos manobravam rapidamente suas<br />

trirremes (trata-se de uma embarcação estreita e longa.<br />

Mede cerca de 40 metros de comprimento por 5 metros<br />

de largura. Possui um mastro e uma vela principais,<br />

baixados antes do combate e às vezes substituídos por<br />

um mastro e uma vela menores. Levava uma tripulação<br />

de 200 homens. Cerca de170 remavam, enquanto os<br />

demais ficavam livres para atacar e revezar com os<br />

remadores) e atacavam os persas com seus aríetes (forte<br />

tronco de madeira resistente, com uma testa de ferro ou<br />

de bronze).<br />

Xerxes acreditava que várias embarcações gregas<br />

bateriam em retirada e ordenou que a experiente armada<br />

egípcia esperasse ao longe, o que piorou em muito sua<br />

situação. Depois de oito horas de combate, o mar estava<br />

coberto por destroços de navios e corpos lacerados.<br />

Calcula-se que 40 mil homens, 1/3 dos marinheiros<br />

persas, morreram. Xerxes, que assistiu sua derrota<br />

sentado num trono próximo a água, poucos dias depois<br />

voltou a Pérsia, deixando Mardônio responsável pela<br />

retirada de suas tropas para a Tessália, para ali se<br />

21


eorganizar e tentar nova investida contra os gregos no<br />

ano seguinte. Mardônio se refugiou na Tessália e em<br />

poucos meses marchou novamente em direção ao sul,<br />

acampando em Platéia, na Boécia, com seus 250 mil<br />

homens. Do outro lado, sob a liderança de Pausânias,<br />

general espartano, e Aristides, general ateniense, 70 mil<br />

gregos montaram acampamento próximo aos persas. E<br />

por vários dias esperaram o combate.<br />

Batalha de Platéia (479 a.C.): Dessa vez o território era<br />

aberto e os gregos não poderiam contar com proteções<br />

naturais como tinham feito nas outras batalhas. Mas os<br />

persas também estavam em desvantagem, pois, seus<br />

melhores homens tinham morrido em Salamina e não<br />

poderiam contar com nenhum tipo auxílio, por mar ou<br />

por terra. A batalha de Platéia (julho de 479 a.C.)<br />

iniciou-se quando Mardônio ordenou o ataque, pois<br />

acreditou que uma das falanges gregas estava se<br />

retirando, quando na realidade estava somente fazendo<br />

uma mudança de posição. Pausânias, militar dos mais<br />

brilhantes, comandando o maior contingente militar que<br />

a Grécia reuniu até aquele momento, aniquilou os<br />

inimigos. Os espartanos atacaram impiedosamente os<br />

persas, 50 mil homens do exército persa foram mortos no<br />

local, inclusive o próprio Mardônio, enquanto o restante<br />

bateu em retirada, morrendo outros milhares durante a<br />

fuga.<br />

Logo em seguida navios gregos partiram em direção a<br />

Ásia Menor. Em agosto de 479 a.C., aconteceu a batalha<br />

de Mícale, na qual os gregos destruíram a armada persa e<br />

libertaram as cidades jônicas, pondo fim a ameaça do<br />

Império Persa sobre os gregos. Xerxes desistiu de seus<br />

planos imperialistas sobre o Ocidente. O pequeno<br />

contingente militar grego venceu o imenso exército<br />

formado por vários povos submetidos aos persas. As<br />

Guerras Médicas entraram para a história militar<br />

exatamente por que a vitória grega parecia impossível. A<br />

determinação política e militar deu ao exército grego sua<br />

unidade e seu motivo para o combate. Mas foi a forma<br />

extremamente violenta de os gregos travarem seus<br />

combates que lhes rendeu a vitória final.<br />

Apesar da extrema rivalidade entre as pólis e das muitas<br />

discórdias sobre onde e quando se travariam os<br />

combates, as falanges gregas, quando decididas,<br />

lutavam sob uma voz de comando que unificava todos<br />

os homens numa ação coletiva. No decorrer do conflito<br />

desenvolveram um objetivo muito claro: a manutenção<br />

de sua liberdade, já que durante as Guerras Médicas<br />

eram os persas os invasores do solo helênico.<br />

22<br />

Os soldados gregos contavam com o seu general na<br />

frente de batalha, o que os estimulava a continuar<br />

lutando, enquanto o imperador persa ficava de fora,<br />

observando e punindo os que não correspondiam a suas<br />

expectativas. Era uma vergonha pra um grego fugir do<br />

combate, pois isso significava que ele estaria desistindo<br />

do seu bem mais precioso: a posse de suas terras, sua<br />

independência e liberdade política. Os espartanos,<br />

conhecidos por sua cultura militarista, quando saiam em<br />

suas campanhas militares, ouviam de suas mães e<br />

esposas: "Volte com seu escudo, ou sobre ele", pois os<br />

cadáveres dos gregos tombados em combate eram<br />

devolvidos as suas famílias em cima de seus escudos.<br />

3. A HEGEMONIA ATENIENSE<br />

Uma das principais consequências da guerra entre<br />

helenos e persas foi a hegemonia de Atenas sobre as<br />

demais cidades gregas. Essa preponderância política,<br />

econômica e cultural, aparece, sobretudo, no período em<br />

que Atenas está sob o governo de Péricles. Dois<br />

acontecimentos caracterizam a <strong>História</strong> de Atenas<br />

imediatamente após a guerra com os persas: a<br />

reconstrução da cidade e a criação de seu império<br />

marítimo. A fortificação do porto do Pireu era um sinal<br />

dos novos tempos. O instrumento da expansão marítima<br />

de Atenas foi a Liga ou Confederação de Delos. Esta<br />

surgiu quando as cidades insulares de Quios, Samos e<br />

Lesbos ofereceram aos atenienses o comando de suas<br />

esquadras. Coube a Aristides a organização da liga, em<br />

476 a.C., na qual logo ingressaram numerosas outras<br />

cidades helênicas (principalmente, situadas nas ilhas do<br />

mar Egeu) que se tornaram reféns da proteção de Atenas.<br />

Esparta e suas aliadas do Peloponeso no primeiro<br />

momento entraram na liga, mas depois consideraram que


a ameaça persa havia passado e abandonaram a liga. As<br />

grandes cidades forneceram tropas e navios, enquanto as<br />

menores pagaram uma contribuição provisória, para os<br />

tempos de guerra (phoros = tributos), ao tesouro de<br />

Delos. Depois da vitória contra os persas, Atenas forçou<br />

as cidades-Estado aliadas a continuarem na liga, e<br />

transformou a contribuição provisória em permanente,<br />

além de passar a dominar as principais rotas comerciais<br />

do mar egeu (rotas do trigo, azeite e vinho, que era a<br />

base da alimentação dos gregos).<br />

Como sede da Confederação foi escolhida a pequena ilha<br />

de Delos onde existia um importante santuário de Apolo.<br />

O tesouro da liga, produto da contribuição dos aliados,<br />

seria também guardado em Delos. Na realidade o Pireu<br />

era o verdadeiro centro da Confederação e essa liderança<br />

ateniense foi, durante algum tempo, aceita de boa<br />

vontade pelos aliados.<br />

A liga de Delos obteve uma retumbante vitória sobre a<br />

frota persa na desembocadura do rio Eurimedonte em<br />

468 a.C. A partir de então começa um período da<br />

<strong>História</strong> de Atenas conhecido como: "Imperialismo<br />

Armado" (462-446). Durante esse período Atenas se<br />

lança em guerras de conquista transformando a<br />

Confederação de Delos em um instrumento belicoso de<br />

suas aspirações de domínio político e econômico.<br />

:As pretensões de Atenas levaram à intensificação das<br />

rivalidades com Esparta e suas aliadas. Atenas tentou<br />

ampliar seu domínio fora da Grécia, atacando o domínio<br />

persa no Egito. A derrota ateniense no Delta do Nilo<br />

(456-454) provocou uma grave crise na liga de Delos.<br />

Atenas endurece ainda mais seu domínio e transfere o<br />

tesouro da liga para a Acrópole de Atenas. Em 449,<br />

Calias, governante ateniense. Foi encarregado de firmar<br />

um tratado de paz com o imperador persa Ataxerxes, a<br />

Paz de Cálias, que favoreceu o comércio entre Atenas e o<br />

Oriente. Até navios fenícios traziam mercadorias ao<br />

Pireu onde passam a falar os idiomas: persa e aramaico.<br />

Na época clássica, em circunstâncias particulares, a<br />

Acrópole foi o ponto central de discussões de ordem<br />

financeira. O tesouro da Liga de Delos serviu para<br />

Péricles financiar os trabalhos de reconstrução e de<br />

embelezamento da Acrópole entre 450 e 430 a.C.,<br />

aproximadamente. As cidades sob o domínio ateniense<br />

tinham que pagar tributos cada vez mais elevados,<br />

gerando descontentamentos internos na Liga de Delos e a<br />

oposição das demais polis gregas lideradas por Esparta.<br />

4. Conflitos internos no Período Clássico - A<br />

GUERRA DO PELOPONESO (431-404 a.C.)<br />

A Guerra do Peloponeso foi um conflito armado entre<br />

Atenas (centro político e civilizacional por excelência do<br />

mundo do século V a.C.) e Esparta (cidade de tradição<br />

militarista e costumes austeros), de 431 a 404 a.C. A<br />

história dessas guerras foi detalhadamente registrada<br />

pelos historiadores gregos, da Antiguidade, Tucídides e<br />

Xenofonte. De acordo com eles, a razão fundamental da<br />

guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor<br />

que o mesmo despertava entre os espartanos e seus<br />

aliados. A cidade de Corinto foi especialmente atuante,<br />

pressionando Esparta a fim de que esta declarasse guerra<br />

contra Atenas e a sua Liga de Delos.<br />

Diante da postura hegemônica ateniense, Esparta e outras<br />

cidades gregas decidiram formar outra confederação<br />

militar, conhecida como a Liga do Peloponeso ou Liga<br />

Lacedemônica. Essa divisão criou um contexto de<br />

tensões que logo viria a desembocar na realização de um<br />

conflito maior. A gota d’água se deu quando a colônia da<br />

Córcira, integrante da Liga de Delos, resolveu se voltar<br />

contra a cidade de Corinto, membro da Liga do<br />

Peloponeso.<br />

As cidades de Esparta, Corinto, Tebas e Mégara aliaramse<br />

contra Atenas e sua Liga. Tebas, aliada de Esparta na<br />

Grécia Central, atacou Platéia, antiga aliada de Atenas,<br />

dando início à Guerra do Peloponeso, que durou 27 anos<br />

e envolveu quase todas as cidades-estados gregas,<br />

provocando o enfraquecimento da Grécia.<br />

Em sua primeira etapa, a guerra estendeu-se durante dez<br />

anos e foi marcada por visível equilíbrio entre as forças<br />

lideradas por Atenas e Esparta. No ano de 421 a.C., a<br />

assinatura da Paz de Nícias estipulava uma trégua de<br />

cinquenta anos entre os dois lados do conflito. Contudo,<br />

o acordo só foi cumprido em seus oito primeiros anos,<br />

quando o líder ateniense, Alcebíades, encorajou a<br />

realização de novas investidas militares que tomariam<br />

Siracusa, região controlada pela Liga do Peloponeso.<br />

Nesse retorno, os atenienses foram humilhados com uma<br />

terrível derrota, a qual resultou na prisão e escravização<br />

de 20 mil soldados atenienses. Nos anos seguintes, os<br />

espartanos venceram a grande parte dos conflitos que<br />

deram continuidade à Guerra do Peloponeso. Em 404<br />

a.C., na região de Egos-Pótamos, o general espartano,<br />

Lisandro, impôs a derrota definitiva aos atenienses. A<br />

partir de então, a hegemonia dos espartanos viria a<br />

imperar sobre grande parte das cidades-Estado gregas.<br />

Após a derrota na batalha de Egos-Pótamos, Atenas foi<br />

obrigada a entregar seus navios, demolir suas<br />

fortificações e renunciar ao seu domínio territorial.<br />

23


Inicia-se o período de tentativa de hegemonia espartana<br />

entre 404 e 393 a.C. A hegemonia espartana não se<br />

consolida em virtude da oposição liderada por Tebas.<br />

A cidade de Tebas, localizada no estreito de Corinto<br />

organizou uma oposição armada contra Esparta sob a<br />

liderança dos generais Epaminondas e Pelópidas e foram<br />

vitoriosos na batalha de Leutras, em 371 a.C. A partir de<br />

então é Tebas quem busca estabelecer uma hegemonia<br />

sobre toda a Grécia, gerando novos conflitos.<br />

As disputas entre as principais cidades-Estado<br />

impuseram a consolidação de um grande desgaste em<br />

todo o mundo grego. Naturalmente, o envolvimento em<br />

tantas batalhas acabou promovendo a ruína econômica de<br />

várias cidades outrora consideradas poderosas.<br />

Aproveitando dessa situação, o rei macedônico, Filipe II,<br />

promoveu a organização de um grande exército que<br />

conquistou os territórios gregos ao longo do século IV<br />

a.C.<br />

PERÍODO HELENÍSTICO<br />

(do século IV ao II a.C.)<br />

Foi o período marcado pelo domínio macedônico e pelo<br />

contato entre a cultura helênica (grega) e as culturas<br />

orientais.<br />

O Período helenístico normalmente é entendido como<br />

um momento de transição entre o esplendor da cultura<br />

grega e o desenvolvimento da cultura romana. Tal<br />

concepção está associada a uma visão eurocêntrica de<br />

cultura e portanto torna secundários os elementos de<br />

origem oriental, persa e egípcia, apesar de ter esses<br />

elementos como formadores da cultura helenística. O fim<br />

do período clássico e o início do período helenístico<br />

As constantes guerras que envolveram as cidades gregas<br />

foram responsáveis por grande mortalidade, gastos e<br />

destruição, enfraquecendo o "mundo grego" e<br />

consequentemente, facilitando as invasões estrangeiras.<br />

A conquista do território grego pelos macedônios<br />

combinou a decadência grega e a ascensão do Reino de<br />

Filipe II. Dois anos após a vitória contra os gregos, na<br />

Batalha de Queronéia em 338 a.C., Filipe II foi<br />

assassinado e seu filho, Alexandre III (Alexandre “o<br />

grande”), o sucedeu.<br />

Em 336 a.C., Alexandre “o Grande”, tornou-se rei da<br />

Macedônia e dois anos depois senhor de toda a Grécia.<br />

Durante o seu curto reinado de treze anos (entre 336 e<br />

323 a.C.), Alexandre realizou a conquista de territórios<br />

mais rápida e espetacular da Antiguidade.<br />

Após conquistar a Grécia Alexandre empreendeu<br />

campanhas objetivando a conquista do Império Persa<br />

Aquemênida de Dario III, que na época governava<br />

praticamente todo o Médio Oriente. Em apenas quatro<br />

anos e três batalhas (Granico, Issus e Gaugamela) para<br />

derrotou o Império Persa. Os três anos que se seguiram,<br />

até 327 a.C., foram dedicados à conquista das satrapias<br />

(províncias persas) da Ásia Central. Por volta de 325 a.C.<br />

Alexandre já se achava no Vale do rio Indo, na Índia. Ao<br />

tudo indica, o Alexandre pretendia ir até o território do<br />

rio Ganges, mas seus generais recusaram-se a avançar<br />

mais, e Alexandre foi forçado a ordenar o regresso.<br />

Alexandre buscou associar as antigas classes do Império<br />

Aquemênida à estrutura de governo do seu império.<br />

Pretendia assim criar um grande estado multiétnico, onde<br />

a herança grega e macedônia coexistiria com a herança<br />

persa e asiática. A morte prematura do rei, aos trinta e<br />

três anos, levou à fragmentação do seu vasto Império e a<br />

divisão entre seus principais generais: Cassandro,<br />

Ptolomeu, Lisímaco, Selêuco e Antígono. Os reinos<br />

helenísticos acabaram por ser progressivamente<br />

dominado pelo Império Romano, a partir do século II<br />

a.C.<br />

24


CULTURA NA GRÉCIA ANTIGA*<br />

Os gregos tinham conflitos e diferenças entre si, mas<br />

muitos elementos culturais em comum. Falavam a<br />

mesma língua (apesar dos diferentes dialetos e sotaques)<br />

e tinham religião comum, que se manifestava na crença<br />

nos mesmos deuses. Em função disso, reconheciam-se<br />

como helenos (gregos) e chamavam de bárbaros os<br />

estrangeiros que não falavam sua língua e não tinham<br />

seus costumes, ou seja, os povos que não pertenciam ao<br />

mundo grego (Hélade).<br />

RELIGIÃO<br />

OS TITÃS: São 12 seres sobrenaturais que, segundo a<br />

mitologia, nasceram no início dos tempos. Eles foram os<br />

ancestrais dos futuros deuses olímpicos (como Zeus,<br />

Afrodite, Apolo...) e também dos próprios mortais. Os<br />

titãs nasceram da união entre Urano, que representava o<br />

Céu, e Gaia, que seria a Terra. "Os titãs eram seres<br />

híbridos, nenhum era humano por completo e todos<br />

tinham o poder de se transformar em animais", afirma a<br />

historiadora Renata Cardoso Beleboni, da Universidade<br />

Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em<br />

mitologia. O poeta grego Hesíodo, que viveu no século<br />

VII a.C., foi um dos principais autores da Antiguidade a<br />

narrar o mito do surgimento dos titãs, numa obra clássica<br />

chamada TEOGONIA. Esse e outros textos épicos<br />

contam que tais seres mitológicos ajudaram na formação<br />

do mundo.<br />

Segundo o mito, no início dos tempos, Urano fazia<br />

seguidos filhos em Gaia, mas, como não se afastava dela,<br />

seus descendentes, entre<br />

eles os titãs, permaneciam presos no ventre da mãe.<br />

Insatisfeita com a situação, Gaia incentivou um de seus<br />

filhos, o titã chamado Crono, a decepar os órgãos<br />

genitais de Urano, fazendo com que este se afastasse<br />

dela. Essa metáfora mitológica é uma original maneira de<br />

explicar a separação entre o Céu e a Terra, que teria<br />

permitido o início da vida. Mas não foram só as<br />

iniciativas heróicas que marcaram os titãs. Após mutilar<br />

e derrotar Urano, Crono reinou e tornou-se um pai<br />

terrível para seus filhos. O poder dele e de outros titãs<br />

sobre o mundo só acabou após eles terem sido derrotados<br />

por Zeus, o futuro chefe dos deuses olímpicos, numa<br />

sangrenta guerra chamada TITANOMAQUIA.<br />

O TERRÍVEL CRONO<br />

O mais importante titã, e também o mais jovem,<br />

costumava ser representado com uma foice na mão, com<br />

a qual teria mutilado seu pai, Urano. Crono se uniu a<br />

uma de suas irmãs, Réia, com quem teve vários filhos.<br />

Como tinha medo de que os descendentes desafiassem<br />

seu poder sobre o mundo, ele engolia todos os seus<br />

filhos. Mas um deles, Zeus, contou com a ajuda da mãe<br />

para escapar desse destino trágico. Após crescer e se<br />

tornar forte, Zeus decidiu resgatar seus irmãos, dando<br />

uma poção para o pai que fez este vomitar todos os filhos<br />

engolidos. Com a ajuda dos irmãos, Zeus derrotou Crono<br />

e outros titãs numa grande batalha e passou a ser o<br />

grande chefe de todos os deuses gregos. Crono e seus<br />

aliados foram presos para sempre no TÁRTARO, o<br />

mundo subterrâneo para onde iam os mortos.<br />

Além dos 12 titãs, Urano e Gaia tiveram três filhos<br />

chamados CICLOPES. Eles eram gigantes, com só um<br />

olho na face, que lutaram ao lado de Zeus na guerra<br />

contra Crono. Os relâmpagos usados por Zeus na batalha<br />

foram forjados por eles.<br />

Outro grupo de seres que foi gerado por Urano e Gaia<br />

foram os HECATONQUIROS, seres com 100 braços e<br />

50 cabeças. Os textos épicos divergem. Em alguns, eles<br />

são aliados de Crono; em outros, de Zeus.<br />

OS DEUSES GREGOS<br />

Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão<br />

perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os<br />

primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera,<br />

Hades, Poseidon e Zeus), mas logo os devorou enquanto<br />

nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas<br />

Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu<br />

escapar e travou uma guerra contra seu pai, cujo<br />

vencedor ganharia o trono dos deuses. Ao final, com a<br />

força dos Cíclopes, Zeus venceu e condenou Cronos e os<br />

outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai<br />

a vomitar seus irmãos. Para a mitologia clássica, depois<br />

dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e<br />

deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam<br />

os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze<br />

parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga.<br />

25


Os deuses residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus.<br />

Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que<br />

os gregos adoravam: existiam uma variedade de<br />

divindades rupestres, como o deus-cabra Pã, as ninfas:<br />

Náiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos<br />

das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar).<br />

Sátiros e outras criaturas fantásticas residiam em<br />

florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas,<br />

existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou<br />

Fúrias) que habitavam o submundo e cuja função era<br />

perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar,<br />

heresia ou perjúrio.<br />

Os deuses gregos, embora poderosos e dignos de<br />

homenagem, eram essencialmente humanos, praticavam<br />

violência, tinham ciúme,<br />

coléra, ódio e inveja, ou seja, tinham virtudes e vícios<br />

humanos, embora fossem donos de corpos físicos ideais.<br />

Os deuses da Grécia eram como pessoas, e não<br />

abstrações, idéias ou conceitos, independentemente de<br />

suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas<br />

habilidades fantásticas, sendo as mais importantes eram:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

ter a condição de ser imúne a doenças, feridas e ao<br />

tempo;<br />

ter a capacidade de se tornar invisível;<br />

viajar longas distâncias instantaneamente e falar<br />

através de seres humanos sem estes saberem.<br />

a imortalidade, que era assegurada pela alimentação<br />

constante de ambrosia (era o manjar dos deuses do<br />

Olimpo, era tão poderoso que se um mortal a quem<br />

era vetado, a comesse, ganharia a imortalidade) e<br />

pela ingestão de néctar.<br />

OS PRINCIPAIS DEUSES GREGOS:<br />

Zeus - deus de todos os deuses, senhor do Céu.<br />

Hera - esposa de Zeus era a deusa dos casamentos e da<br />

maternidade.<br />

Afrodite - deusa do amor, sexo e beleza.<br />

Poseidon - deus dos mares.<br />

Hades - deus das almas dos mortos, dos cemitérios e do<br />

subterrâneo.<br />

Apolo - deus da luz e das obras de artes.<br />

Artemis - deusa da caça.<br />

Ares - divindade da guerra.<br />

Atena - deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da<br />

cidade de Atenas.<br />

Cronos - deus da agricultura que também simbolizava o<br />

tempo.<br />

Hermes - divindade que representava o comércio e as<br />

comunicações. Hefestos - divindade do fogo e do<br />

trabalho.<br />

OUTROS SERES MITOLÓGICOS DA<br />

GRÉCIA ANTIGA ERAM:<br />

Heróis: seres mortais, filhos de deuses com seres<br />

humanos. Exemplos: Herácles ou Hércules e Aquiles.<br />

Ninfas: seres femininos que habitavam os campos e<br />

bosques, levando alegria e felicidade.<br />

Sátiros: figura com corpo de homem, chifres e patas de<br />

bode.<br />

Centauros: corpo formado por uma metade de homem e<br />

outra de cavalo.<br />

Sereias: mulheres com metade do corpo de peixe<br />

atraíam os marinheiros com seus cantos sedutores e<br />

irresistíveis.<br />

Górgonas: mulheres, espécies de monstros, com cabelos<br />

de serpentes. Exemplo: Medusa, Quimeras: mistura de<br />

leão e cabra, soltavam fogo pelas ventas.<br />

Hidra: tinha corpo de dragão e nove cabeças de serpente<br />

cujo hálito era venenoso que podiam se regenerar<br />

(algumas versões falam em sete cabeças e outras em<br />

números maiores).<br />

O PARAÍSO E O INFERNO NA MITOLOGIA<br />

GREGA<br />

Na mitologia grega, os Campos Elíseos é o paraíso, um<br />

lugar do mundo dos mortos governado por Hades, oposto<br />

ao Tártaro (lugar de eterno tormento e sofrimento). Nos<br />

Campos Elíseos os homens virtuosos repousavam<br />

dignamente após a morte, rodeados por paisagens verdes<br />

e floridas, dançando e se divertindo. Neste lugar só<br />

entram as almas dos heróis, sacerdotes, poetas e deuses.<br />

As pessoas que residiam nos Campos Elíseos tinham a<br />

oportunidade de regressar ao mundo dos vivos.<br />

Em algumas versões é cercado por um muro gigantesco<br />

para separá-lo do Tártaro. Lá também havia um vale por<br />

onde corria o rio Lete, o rio do esquecimento.<br />

26


O MITO DE PROMETEU<br />

Prometeu (em grego: "antevisão") é um personagem da<br />

mitologia grega, um titã, filho do também titã Jápeto e de<br />

Ásia, também chamada de Clímene. Seu mito foi<br />

mencionado por dois dos principais autores gregos,<br />

Hesíodo e Ésquilo. Pai de Deucalião, foi o titã que criou<br />

os homens, com seu irmão Epimeteu, e que também<br />

roubou o fogo dos deuses para presentear às suas<br />

criações.<br />

Segundo Hesíodo foi dado a Prometeu e a seu irmão<br />

Epimeteu a tarefa de criar os homens e todos os animais.<br />

Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu encarregouse<br />

de supervisioná-la. Na obra, Epimeteu atribuiu a cada<br />

animal os dons variados de coragem, força, rapidez,<br />

sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça<br />

protegendo um terceiro, e assim por diante. Porém,<br />

quando chegou a vez do homem, formou-o do barro. Mas<br />

como Epimeteu gastara todos os recursos nos outros<br />

animais, recorreu a seu irmão Prometeu. Este então<br />

roubou o fogo dos deuses e o deu aos homens. Isto<br />

assegurou a superioridade dos homens sobre os outros<br />

animais. Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Como<br />

castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto (Hefesto ou<br />

Hefaísto foi um deus da mitologia grega, filho de Hera e<br />

Zeus, conhecido como Vulcano na mitologia romana.<br />

Era a divindade do fogo, dos metais e da metalurgia) que<br />

o acorrentasse no cume do monte Cáucaso, onde todos os<br />

dias uma águia (ou corvo) dilacerava seu fígado que,<br />

todos os dias, regenerava-se. Esse castigo devia durar<br />

30.000 anos.<br />

Prometeu foi libertado do seu sofrimento por Hércules<br />

que, havendo concluído os seus doze trabalhos dedicouse<br />

a aventuras. No lugar de Prometeu, o centauro Quíron<br />

deixou-se acorrentar no Cáucaso, pois a substituição de<br />

Prometeu era uma exigência para assegurar a sua<br />

libertação. A história foi teatralizada pela primeira vez<br />

por Ésquilo no século V a.C. com o título de “Prometeus<br />

desmotes” (Prometeu Agrilhoado/Acorrentado).<br />

O MITO DE PANDORA<br />

Na mitologia grega, Pandora (do grego: "a que tudo dá"<br />

ou "a que possui tudo") foi a primeira mulher, criada por<br />

Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã<br />

Prometeu em roubar dos céus o segredo do fogo.<br />

Foi criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os<br />

deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma<br />

qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de<br />

outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a<br />

meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais.<br />

Hermes, porém pôs no seu coração a traição e a mentira.<br />

Feita à semelhança das deusas imortais, Zeus a destinou<br />

para a espécie humana, como punição por terem os<br />

homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada<br />

a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não<br />

recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a<br />

radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito<br />

pelo irmão e a tomou como esposa.<br />

Epimeteu tinha em seu poder uma caixa que outrora lhe<br />

haviam dado os deuses, que continha todos os males.<br />

Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu<br />

à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais<br />

depressa que providenciasse fechá-la, somente conservou<br />

um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os<br />

homens afligidos por todos os males.<br />

ARQUITETURA GREGA<br />

Um dos templos gregos mais conhecidos é a Acrópole<br />

de Atenas, que foi construído no ponto mais alto da<br />

cidade, entre os anos de 447 a 438 a.C. Além das funções<br />

religiosas, o templo era utilizado também como ponto de<br />

observação militar. As colunas deste templo seguiram o<br />

estilo arquitetônico dórico (veja as colunas a seguir).<br />

A arquitetura grega antiga pode ser dividida em três<br />

estilos: 1-Dórico: estilo com poucos detalhes,<br />

transmitindo uma sensação de firmeza.<br />

2-Jônico: este estilo transmitia leveza, em função dos<br />

desenhos apresentados, principalmente nas colunas das<br />

construções. Outra característica deste estilo era o uso de<br />

base circular.<br />

3-Coríntio: pouco utilizado pelos arquitetos gregos,<br />

caracterizava-se pelo excesso de detalhes. Os capitéis das<br />

colunas eram, geralmente, decorados com o formato de<br />

folhas.<br />

Tipos de Capitéis Gregos: Dórico, Jônico e Coríntio.<br />

PINTURA GREGA<br />

A pintura grega também foi muito importante nas artes<br />

da Grécia Antiga. Os pintores gregos representavam<br />

cenas cotidianas, batalhas, religião, mitologias e outros<br />

aspectos da cultura grega. Os vasos, geralmente de cor<br />

preta, eram muito utilizados neste tipo de representação<br />

27


artística. Estes artistas também pintavam em paredes,<br />

principalmente de templos e palácios.<br />

•Miron, autor do Discóbolo - homem arremessando o<br />

disco.<br />

ESCULTURA GREGA<br />

A estatuária grega representa altos padrões. Teve como<br />

principais características: o antropomorfismo (esculturas<br />

de formas humanas); o equilíbrio e perfeição das formas;<br />

o aspecto de movimento.<br />

No Período Arcaico os gregos começaram a esculpir em<br />

mármores, grandes figuras de homens. Primeiramente<br />

aparecem esculturas simétricas, em rigorosa posição<br />

frontal, com o peso do corpo igualmente distribuído<br />

sobre as duas pernas. Esse tipo de estátua é chamado<br />

Kouros (palavra grega: homem jovem).<br />

No Período Clássico passou a procurar movimento nas<br />

estátuas, para isto, se começou a usar o bronze que era<br />

mais resistente do que o mármore, podendo fixar o<br />

movimento sem se quebrar. Surge o nu feminino, pois no<br />

período arcaico, as figuras de mulher eram esculpidas<br />

sempre vestidas.<br />

No Período Helenístico podemos observar o crescente<br />

naturalismo: os seres humanos não eram representados<br />

apenas de acordo com a idade e a personalidade, mas<br />

também segundo as emoções e o estado de espírito de<br />

um momento. O grande desafio e a grande conquista da<br />

escultura do período helenístico foram a representação<br />

não de uma figura apenas, mas de grupos de figuras que<br />

mantivessem a sugestão de mobilidade e fossem bonitos<br />

de todos os ângulos que pudessem ser observados. Os<br />

principais mestres da escultura clássica grega são:<br />

•Praxíteles, celebrado pela graça das suas esculturas, pela<br />

lânguida pose em “S” (Hermes com Dionísio menino),<br />

foi o primeiro artista que esculpiu o nu feminino.<br />

•Policleto, autor de Doríforo - condutor da lança, criou<br />

padrões de beleza e equilíbrio através do tamanho das<br />

estátuas que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho da<br />

cabeça.<br />

•Fídias, talvez o mais famoso de todos, autor de Zeus<br />

Olímpico, sua obra-prima, e Atenéia. Realizou toda a<br />

decoração em baixos relevos do templo Partenon: as<br />

esculturas dos frontões, métopas e frisos.<br />

•Lisipo, representava os homens “tal como se vêem” e<br />

“não como são” (verdadeiros retratos). Foi Lisipo que<br />

introduziu a proporção ideal do corpo humano com a<br />

medida de oito vezes a cabeças.<br />

Arcaico<br />

Arcaico Clássico Helenístico<br />

TEATRO GREGO<br />

Um dos aspectos mais significativos da cultura grega<br />

antiga foi o teatro. Os gregos o desenvolveram de tal<br />

forma que até os dias atuais, artistas, dramaturgos e<br />

demais envolvidos nas artes cênicas sofrem as suas<br />

influências. Diversas peças teatrais criadas na Grécia<br />

Antiga são até hoje encenadas. Tal fato se deve ao<br />

caráter universalista e existencialista dos temas do teatro<br />

grego.<br />

Contexto histórico da origem do teatro grego - O teatro<br />

grego surgiu a partir da evolução das artes e cerimônias<br />

gregas como, por exemplo, a festa em homenagem ao<br />

deus Dionísio (deus do vinho e das festas). Nesta festa,<br />

os jovens dançavam e cantavam dentro do templo deste<br />

deus, oferecendo-lhe vinho. Com o tempo, esta festa<br />

começou a ganhar certa organização, sendo representada<br />

para diversas pessoas.<br />

Aspectos do teatro grego antigo - Durante o período<br />

clássico (século V a.C.) foram estabelecidos os estilos<br />

mais conhecidos de teatro:<br />

a tragédia e a comédia. Ésquilo e Sófocles são os<br />

dramaturgos de maior importância desta época. A ação,<br />

diversos personagens e temas cotidianos foram<br />

representados nos teatros gregos desta época.<br />

Nesta época clássica foram construídos diversos teatros<br />

ao ar livre. Eram aproveitadas montanhas e colinas de<br />

pedra para servirem de suporte para as arquibancadas. A<br />

acústica (propagação do som) era perfeita, de tal forma<br />

que a pessoa sentada na última fileira (parte superior)<br />

28


podia ouvir tão bem a voz dos atores, quanto quem<br />

estivesse sentado na primeira fileira.<br />

Os atores representavam usando máscaras e túnicas de<br />

acordo com o personagem. Muitas vezes, eram montados<br />

cenários bem decorados para dar maior realismo à<br />

encenação. Mulheres não podiam atuar, os homens<br />

representavam os papéis femininos.<br />

Os temas mais representados nas peças teatrais gregas<br />

eram: tragédias relacionadas a fatos cotidianos,<br />

problemas emocionais e psicológicos, lendas e mitos,<br />

homenagem aos deuses gregos, fatos heróicos e críticas<br />

humorísticas aos políticos. Os atores, além das máscaras,<br />

utilizam muito os recursos da mímica. Muitas vezes a<br />

peça era acompanhada por músicas reproduzidas por um<br />

coral.<br />

Ésquilo é reconhecido frequentemente como o pai da<br />

tragédia. e é o mais antigo dos três trágicos gregos (os<br />

outros são Sófocles e Eurípedes). Aumentou o número de<br />

personagens usados nas peças para permitir conflitos<br />

entre eles; anteriormente, os personagens interagiam<br />

apenas com o coro. Apenas sete de um total estimado de<br />

setenta a noventa peças feitas pelo autor sobreviveram à<br />

modernidade; uma destas, Prometeu Acorrentado, é tida<br />

hoje em dia como sendo de autoria de um autor posterior.<br />

Pelo menos uma das obras de Ésquilo foi influenciada<br />

pela invasão persa da Grécia, ocorrida durante sua vida.<br />

Sua peça Os Persas continua sendo uma grande fonte de<br />

informação sobre este período da história grega. A guerra<br />

teve tamanha importância para os gregos e para o próprio<br />

Ésquilo que, na ocasião de sua morte, por volta de 456<br />

a.C., seu epitáfio celebrava sua participação na vitória<br />

grega em Maratona e não seu sucesso como dramaturgo.<br />

Aristófanes, (447 a.C.-385 a.C.) é considerado o maior<br />

representante da Comédia Antiga. Escreveu mais de<br />

quarenta peças, das quais apenas onze são conhecidas.<br />

Conservador, revela hostilidade às inovações sociais e<br />

políticas e aos deuses e homens responsáveis por elas.<br />

Seus heróis defendem o passado de Atenas, os valores<br />

democráticos tradicionais, as virtudes cívicas e a<br />

solidariedade social. Violentamente satírico, critica a<br />

pomposidade, a impostura, os desmandos e a corrupção<br />

na sociedade em que viveu.<br />

FILOSOFIA GREGA<br />

A palavra filosofia é de origem grega e significa amor à<br />

sabedoria. Ela surge desde o momento em que o homem<br />

começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do<br />

universo, buscando uma solução para as grandes<br />

questões da existência humana. Os pensadores, inseridos<br />

num contexto histórico de sua época, buscaram diversos<br />

temas para reflexão. A Grécia Antiga é conhecida como<br />

o berço dos pensadores, sendo que os sophos (sábios em<br />

grego) buscaram formular, no século VI a.C.,<br />

explicações racionais para tudo aquilo que era explicado,<br />

até então, através da mitologia.<br />

Apesar de reconhecermos a importância de sábios que<br />

viveram no século VI a.C., na China (Confúcio e Lao<br />

Tsé), na Índia (o Buda Sidarta Gautama) e na Pérsia<br />

(Zoroastro ou Zaratustra), essas doutrinas têm uma<br />

profunda vinculação com o caráter místico-religioso,<br />

distanciando-se da reflexão racional proposta pela<br />

filosofia grega.<br />

“O milagre grego”: No período arcaico surgem os<br />

primeiros filósofos gregos, entre os séculos VII e VI<br />

a.C.. A passagem da mentalidade mítica para o<br />

pensamento crítico, racional e filosófico, é denominada<br />

por alguns autores como “milagre grego”. Porém, o<br />

desenvolvimento da filosofia grega não é fruto de um<br />

salto do “milagre” realizado por um povo privilegiado,<br />

mas, é a culminação do processo gestado através dos<br />

tempos e que, portanto, tem sua dívida com o passado<br />

mítico.<br />

Algumas novidades do período arcaico ajudam a<br />

transformar a visão que o mito oferecia sobre o mundo e<br />

a existência humana. Essas novidades são a invenção da<br />

escrita e da moeda, a lei escrita, a consolidação das polis,<br />

todas elas como condição para o surgimento do filósofo.<br />

Os Filósofos Pré-Socráticos<br />

Escola de Mileto ou Milesiana: foi a escola de<br />

pensamento iniciada no Século VI a.C. na vila jônia de<br />

Mileto, na costa da Anatólia, e representada,<br />

principalmente, pelos filósofos: Tales de Mileto,<br />

Anaximandro e Anaxímenes. Podemos afirmar que foi a<br />

primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia<br />

Antiga.<br />

Esses pensadores são os fundadores da filosofia no<br />

sentido específico, pois lançaram as bases dos problemas<br />

filosóficos discutidos até hoje no Ocidente: a verdade, a<br />

totalidade, a ética e a política. Os filósofos desta Escola<br />

explicavam o mundo como resultante do<br />

desenvolvimento cíclico de uma natureza comum a tudo<br />

o que existe. Acreditavam na existência de um princípio,<br />

um elemento que é a origem de tudo o que existe. Esse<br />

29


elemento é chamado de arché (seria um princípio que<br />

deveria estar presente em todos os momentos da<br />

existência de todas as coisas; no início, no<br />

desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual<br />

tudo vem a ser).<br />

Tales era considerado "o pai da filosofia" por ser o<br />

primeiro importante pensador grego. Tales queria<br />

descobrir um elemento fisico que fosse constante em<br />

todas as coisas, algo que fosse o princípio unificador de<br />

todos os seres. Tales concluiu que a água é a substância<br />

primordial, a origem única de todas as coisas, para ele<br />

somente a água permanece basicamente a mesma, em<br />

todas as transformações dos corpos, apesar de assumir<br />

diferentes estados como: sólido, líquido e gasoso. O<br />

elemento primordial de todas as coisas segundo<br />

Anaximandro era o "apeiron" ("Apeiron" significa o<br />

"indeterminado" ou "ilimitado", sendo sua origem grega,<br />

pode ser entendido, também, como o "devir" ou vir a<br />

ser). Já para Anaxímenes o elemento primordial era a<br />

"pneuma" (ar). Xenófanes elege a "terra" enquanto<br />

cumpridora deste papel e Heráclito, considerava o fogo.<br />

Advém dessas concepções a idéia de que a matéria é<br />

composta pelos quatro elementos (Água, terra, fogo e ar).<br />

Escola Pitagórica: recebe o nome do fundador, Pitágoras.<br />

Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau,<br />

Arquitas, Alcmeón; a matemática Theano, que foi,<br />

possivelmente, casada com Pitágoras. Esses pensadores<br />

manifestam ao mesmo tempo tendências<br />

místicoreligiosas e tendências científico-racionais.<br />

A escola teve como ponto de partida a cidade de<br />

Crotona, sul da Itália, e difundiu-se vastamente. Trata-se<br />

da escola filosófica grega mais influenciada<br />

exteriormente pelas religiões orientais, e que por isso<br />

mais se aproximou das filosofias dogmáticas regidas pela<br />

idéia de autoridade. O pitagorismo influenciou o futuro<br />

platonismo, o cristianismo e ainda foi invocado por<br />

sociedades secretas que atravessaram o tempo até<br />

alcançarem os dias de hoje. O símbolo da Escola<br />

Pitagórica era o pentagrama, uma estrela de cinco pontas.<br />

Pitagoras ficou conhecido também como o "filósofo<br />

feminista", visto que na escola havia muitas mulheres<br />

discípulas e mestres, tais como Theano.<br />

Suas instruções aos seguidores eram formuladas em duas<br />

grandes divisões: a ciência dos números e a teoria da<br />

grandeza. A ciência dos números incluía dois ramos: a<br />

aritmética e a harmonia musical. A teoria da grandeza<br />

era subdividida também em dois ramos: da grandeza em<br />

repouso - a geometria; da grandeza em movimento - a<br />

astronomia. As mais notáveis peculiaridades das suas<br />

doutrinas estavam relacionadas com as concepções<br />

matemáticas, as idéias numéricas e simbolizações sobre<br />

as quais se apoiava a sua filosofia.<br />

Supunha que os princípios que governavam os Números<br />

eram os princípios de todas as Existências Reais. Dessa<br />

forma, como os Números são os componentes primários<br />

das Grandezas Matemáticas e, ao mesmo tempo,<br />

apresentaram muitas analogias com várias realidades,<br />

deduzia-se que os elementos dos Números eram os<br />

elementos das Realidades.<br />

Heráclito (da Escola Jônia) x Parmênides (Escola<br />

Eliática): Heráclito procura explicar o mundo pelo<br />

desenvolvimento de uma natureza comum a todas as<br />

coisas e em eterno movimento. Ele afirma a estrutura<br />

contraditória e dinâmica do real. Para ele, tudo está em<br />

constante modificação. Daí sua frase "Não nos banhamos<br />

duas vezes no mesmo rio", já que nem o rio nem quem<br />

nele se banha são os mesmos em dois momentos<br />

diferentes da existência. Parmênides, ao contrário, diz<br />

que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não<br />

passa de aparência. Para Parmênides, o ser é ainda<br />

completo, eterno e perfeito.<br />

Os Atomistas e o Atomismo: foi a doutrina filosófica que<br />

considerava toda a realidade como matéria constituída<br />

por uma combinação fortuita de partículas indivisíveis,<br />

chamadas átomos. O atomismo surge na antiga Grécia<br />

com Leucipo e Demócrito.<br />

Esta teoria atômica (átomo vem de "atomon" =<br />

indivisível) foi iniciada por Leucipo em meados do sec.V<br />

e foi desenvolvida mais tarde por Demócrito, cerca de 30<br />

anos depois. Estes dois filósofos eram naturais da Ásia<br />

Menor. Leucipo foi um dos fundadores da Escola de<br />

Eléia. A idéia do atomismo teria surgido como reação às<br />

ideias de Parmênides.<br />

Período Socrático<br />

Os séculos V e IV a.C. (período clássico) na Grécia<br />

Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e<br />

científico. O esplendor de cidades como Atenas, e seu<br />

sistema político democrático, proporcionou o terreno<br />

propício para o desenvolvimento do pensamento. É a<br />

época dos sofistas e do grande pensador Sócrates.<br />

Os Sofistas: foram os primeiros filósofos do período<br />

socrático. Os sofistas se opunham à filosofia présocrática<br />

dizendo que estes ensinavam coisas<br />

contraditórias e repletas de erros que não apresentavam<br />

utilidade para as polis. Dessa forma, substituíram a<br />

30


natureza que antes era o principal objeto de reflexão pela<br />

arte da persuasão e tendo o ser - humano como eixo<br />

principal de análise (caráter antropocêntrico).<br />

Dentre os sofistas, pode-se destacar: Protágoras, Górgias,<br />

Hípias, Isócrates, Pródico, Crítias, Antifonte e<br />

Trasímaco, sendo que destes, Protágoras, Górgias e<br />

Isócrates foram os mais importantes. Estes, assim como<br />

os outros sofistas, prezavam pelo desenvolvimento do<br />

espírito crítico e pela capacidade de expressão. Uma<br />

conseqüência importante que se fez pelos sofistas foi a<br />

abertura da filosofia para todas as pessoas das polis que<br />

antes era somente uma seita intelectual fechada formada<br />

apenas por aristocratas. Protágoras difundiu a frase: “O<br />

homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são,<br />

enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”.<br />

Por meio dela e de outras, foi acusado de ateísta tendo<br />

seus livros queimados em praça pública, o que o fez fugir<br />

de Atenas e refugiar-se na Sicília.<br />

Os sofistas, entre eles Górgias e Leontinos, defendiam<br />

uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de<br />

um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente<br />

para o crescimento da cidade. Os sofistas cobravam por<br />

seus ensinamentos. Dentro desta proposta pedagógica, os<br />

jovens deveriam ser preparados para falar bem (retórica),<br />

pensar e manifestar suas qualidades artísticas. Defendiam<br />

a DEMOCRACIA.<br />

Afirma-se que Sócrates teria se rebelado contra os<br />

sofistas dizendo que desrespeitavam a verdade e o amor<br />

pela sabedoria e de que eram contraditórios ao afirmarem<br />

que não havia verdade absoluta. Os sofistas criaram no<br />

meio filosófico o relativismo e o subjetivismo.<br />

preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber<br />

ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática<br />

ou moral. Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a<br />

preocupação dos filósofos pré-socráticos em explicar a<br />

natureza e se concentrou na problemática do homem. No<br />

entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates opunha-se,<br />

por exemplo, ao relativismo em relação à questão da<br />

moralidade e ao uso da retórica para atingir interesses<br />

particulares. Embora tenha sido, em sua época,<br />

confundido com os sofistas, Sócrates travou uma<br />

polêmica profunda com estes, pois procurava um<br />

fundamento último para as interrogações humanas (O<br />

que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?),<br />

enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir<br />

dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se<br />

preocupar com a investigação de uma essência da<br />

virtude, da justiça, do bem etc., a partir da qual a própria<br />

realidade empírica pudesse ser avaliada.<br />

A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era:<br />

o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que<br />

o homem é a sua alma, entendendo-se "alma", aqui,<br />

como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a<br />

consciência intelectual e a consciência moral, e que,<br />

portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres<br />

da natureza. Por isso, autoconhecimento era um dos<br />

pontos fundamentais da filosofia socrática. "Conhece-te<br />

a ti mesmo", frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a<br />

recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.<br />

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos<br />

com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser<br />

divididos em dois momentos básicos: a IRONIA e a<br />

MAIÊUTICA.<br />

Os Filósofos Socráticos<br />

Nascido em Atenas, Sócrates (469 - 399 a.C.) é<br />

tradicionalmente considerado e um marco divisório da<br />

história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o<br />

antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o<br />

sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates,<br />

porém, não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de<br />

seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de<br />

seus adversários. Conta-se que Sócrates era filho de uma<br />

parteira.<br />

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se,<br />

exteriormente, ao dos sofistas, embora não "vendesse"<br />

seus ensinamentos. Desenvolvia<br />

o saber filosófico em praças públicas, conversando com<br />

os jovens, sempre dando demonstrações de que era<br />

A IRONIA: na linguagem cotidiana, a ironia tem um<br />

significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas<br />

não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia<br />

quer dizer "interrogação". De fato, Sócrates interrogava<br />

seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O<br />

que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a<br />

piedade? São exemplos de algumas perguntas feitas por<br />

ele. No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável<br />

as respostas de seus interlocutores. Com habilidade de<br />

raciocínio, procurava evidenciar as contradições<br />

afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada<br />

resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos,<br />

o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A<br />

primeira virtude do sábio é adquirir consciência da<br />

própria ignorância. "Sei que nada sei", dizia Sócrates. A<br />

ironia socrática tinha um caráter purificador porque<br />

31


levava os discípulos a confessarem suas próprias<br />

contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam<br />

possuir certezas e clarividências. Nesta fase do diálogo, a<br />

intenção fundamental de Sócrates não era propriamente<br />

destruir o conteúdo das respostas dadas pelos<br />

interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda<br />

de suas próprias respostas, das consequências que<br />

poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes<br />

repletas de conceitos vagos e imprecisos.<br />

A MAIÊUTICA: libertos do orgulho e da pretensão de<br />

que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o<br />

caminho da reconstrução de suas próprias idéias.<br />

Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de<br />

questões habilmente colocadas. Nesta segunda fase do<br />

diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos<br />

a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportava<br />

para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe,<br />

Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças<br />

ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático,<br />

destinada à concepção de idéias, era chamada de<br />

maiêutica, termo grego que significa "arte de trazer à<br />

luz".<br />

UM CORRUPTOR DA JUVENTUDE? Sócrates não<br />

dava importância à posição socioeconômica de seus<br />

discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e<br />

escravos. O que importava eram as condições interiores,<br />

psicológicas de cada pessoa, pois essas condições eram<br />

indispensáveis ao processo de autoconhecimento.<br />

Para a democracia ateniense, da qual não participava a<br />

maioria da população, composta de escravos,<br />

estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado<br />

subversivo. Representava uma ameaça social, na medida<br />

em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas<br />

atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe<br />

ou posição social. Interessado tão-somente na prática da<br />

virtude e na busca da verdade contrariava os valores<br />

dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a<br />

acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de<br />

corromper a juventude. No final do processo, por se<br />

recusar a negar suas idéias, foi condenado a beber cicuta<br />

(veneno extraído de uma planta do mesmo nome).<br />

Sócrates buscou pensar e refletir sobre o homem,<br />

buscando entender o funcionamento do Universo dentro<br />

de uma concepção crítica. Para ele, a verdade está ligada<br />

ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou<br />

outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as<br />

32<br />

idéias de Sócrates através dos relatos deixados por seu<br />

discípulo Platão.<br />

Platão: cujo verdadeiro nome era Aristócles, nasceu em<br />

Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347<br />

a.C.. Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de<br />

que o homem está em contato permanente com dois tipos<br />

de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a<br />

realidade imutável, igual a si mesma. A segunda são<br />

todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades<br />

dependentes, mutáveis e são imagens das realidades<br />

inteligíveis.<br />

Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as idéias<br />

formavam o foco do conhecimento intelectual. Os<br />

pensadores teriam a função de entender o mundo da<br />

realidade, separando-o das aparências.<br />

Platão não deixou uma obra filosófica sistemática,<br />

organizada de forma lógica e abstrata. As obras de Platão<br />

foram escritas em forma de diálogo, em que diferentes<br />

personagens discutem acerca de um determinado tema.<br />

Aliás, o diálogo não é apenas a forma como o filósofo se<br />

expressa, mas também o cerne de seu método filosófico<br />

de descoberta da verdade. Para Platão, o conhecimento é<br />

resultado do convívio entre homens que discutem de<br />

forma livre e cordial.<br />

Aristóteles 384 a.C. - 322 a.C.: desenvolveu os estudos<br />

de Platão e Sócrates. Foi Aristóteles quem desenvolveu a<br />

lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao<br />

conhecimento científico. A sistematização e os métodos<br />

devem ser desenvolvidos para se chegar ao<br />

conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos<br />

gerais para os específicos. Foi discipulo de Platão e<br />

professor de Alexandre, o Grande, considerado um dos<br />

maiores pensadores de todos os tempos.<br />

Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas<br />

áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética,<br />

política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia,<br />

retórica, zoologia, biologia, história natural.<br />

Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma<br />

introdução para as ciências e para o conhecimento e<br />

baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente<br />

estruturado que supõe certas premissas colocadas<br />

previamente para que haja uma conclusão necessária. O<br />

silogismo é dedutivo, parte do universal para o<br />

particular; a indução, ao contrário, parte do particular<br />

para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as<br />

premissas, a conclusão, logicamente, também será.


Período Pós-Socrático<br />

Esta época vai do final do período clássico (320 a.C.) até<br />

o começo da Era Cristã, em um contexto histórico que<br />

representa o final da hegemonia política e militar da<br />

Grécia marcada pelo domínio macedônico. É o período<br />

da filosofia helenística. Podemos destacar:<br />

CETICISMO: de acordo com os pensadores céticos, a<br />

dúvida deve estar sempre presente, pois o ser humano<br />

não consegue conhecer nada de forma exata e segura.<br />

Seu principal representante foi Pirro.<br />

EPICURISMO: os epicuristas, seguidores do pensador<br />

Epicuro, defendiam que o bem era originário da prática<br />

da virtude. O corpo e a alma não deveriam sofrer para,<br />

desta forma, chegar-se ao prazer.<br />

Epicuro de Samos, filósofo do século IV a.C., foi<br />

seguido por outros filósofos, chamados epicuristas.<br />

Epicuro acreditava que o maior bem era a procura de<br />

prazeres moderados de forma a atingir um estado de<br />

tranquilidade (ATARAXIA) e de libertação do medo,<br />

assim como a ausência de sofrimento corporal<br />

(APONIA) através do conhecimento do funcionamento<br />

do mundo e da limitação dos desejos. A combinação<br />

desses dois estados constituiria a felicidade na sua forma<br />

mais elevada. Embora o epicurismo seja doutrina muitas<br />

vezes confundida com o HEDONISMO (distorção do<br />

epicurismo que declara o prazer como o único valor<br />

intrínseco), a sua concepção da ausência de dor como o<br />

maior prazer e a sua apologia da vida simples tornam-no<br />

diferente do que vulgarmente se chama “hedonismo”.<br />

A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas<br />

sim prática. Buscava, sobretudo, encontrar a<br />

tranquilidade necessária para uma vida feliz e aprazível,<br />

na qual os temores perante o destino, os deuses ou a<br />

morte estavam definitivamente eliminados. Para isso<br />

fundamentava-se em uma teoria do conhecimento<br />

empirista, em uma física atomista e na ética.<br />

ESTOICISMO: os sábios estóicos como, por exemplo,<br />

Zenon de Citium (334-262 a.C), defendia a razão como<br />

elemento fundamental. Os fenômenos exteriores a vida<br />

deviam ser deixados de lado, como a emoção, o prazer e<br />

o sofrimento. A verdade só seria alcançada por meio da<br />

virtude, do rigor e da disciplina. No pensamento dos<br />

estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o<br />

prazer, a felicidade, mas a virtude; que não é concebida<br />

como necessária condição para alcançar a felicidade, e<br />

sim como sendo ela própria um bem imediato. Com o<br />

desenvolvimento do estoicismo, todavia, a virtude acaba<br />

por se tornar meio para a felicidade da tranqüilidade, da<br />

serenidade, que nasce da virtude negativa da apatia, da<br />

indiferença universal. A felicidade do homem virtuoso é<br />

a libertação de toda perturbação, a tranqüilidade da alma,<br />

a independência interior, a autarquia.<br />

Como o bem absoluto e único é a virtude, assim o mal<br />

único e absoluto é o vício. E não tanto pelo dano que<br />

pode acarretar ao vicioso, quanto pela sua irracionalidade<br />

e desordem intrínseca, ainda que se acabe por repudiá-lo<br />

como perturbador da indiferença, da serenidade, da<br />

autarquia do sábio. Tudo aquilo que não é virtude nem<br />

vício, não é nem bem nem mal, mas apenas indiferença;<br />

pode tornar-se bem se for unido com a virtude, mal se for<br />

ligado ao vício; há o vício quando à indiferença se ajunta<br />

a paixão, isto é, uma emoção, uma tendência irracional,<br />

como geralmente acontece.<br />

A paixão, na filosofia estóica, é sempre e<br />

substancialmente má; pois é movimento irracional,<br />

morbo (mal, doença) e vício da alma - quer se trate de<br />

ódio, quer se trate de piedade. De tal forma, a única<br />

atitude do sábio estóico deve ser o aniquilamento da<br />

paixão, até a apatia. O ideal ético estóico não é o<br />

domínio racional da paixão, mas a sua destruição total,<br />

para dar lugar unicamente à razão: maravilhoso ideal de<br />

homem sem paixão, que anda como um deus entre os<br />

homens. Daí a guerra justificada do estoicismo contra o<br />

sentimento, a emoção, a paixão, donde derivam o desejo,<br />

o vício, a dor, que devem ser aniquilados.<br />

A virtude estóica é, no fundo, a indiferença e a renúncia<br />

a todos os bens do mundo que não dependem de nós, e<br />

cujo curso é fatalmente determinado. Por conseguinte, o<br />

pensamento, a sabedoria, a virtude, constituem os únicos<br />

bens verdadeiros. Assim sendo, prega a indiferença e a<br />

renúncia: à vida e à morte, à saúde e à doença, ao<br />

repouso e à fadiga, à riqueza e à pobreza, às honras e à<br />

obscuridade, numa palavra, ao prazer e ao sofrimento -<br />

pois o prazer é julgado insana vaidade da alma.<br />

O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos<br />

e Crisipo de Solis, sendo levada a Roma no ano 155 a.C.<br />

por Diógenes de Babilônia. Ali seus continuadores foram<br />

Marco Aurélio, Séneca, Epiteto e Lucano.<br />

33


EXERCICÍOS<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 1:<br />

A construção da narrativa histórica é feita não só por<br />

meio de consulta a acervos oficiais, mas também por<br />

depoimentos e interpretações do significado da cultura<br />

produzida na sociedade humana. Nesse sentido, na<br />

Grécia, escrevendo suas narrativas sobre a época,<br />

Heródoto:<br />

a) enfatizou o heroísmo dos atenienses, destacando o<br />

valor da pesquisa como base para o rigor científico,<br />

à semelhança de historiadores positivistas.<br />

b) seguiu o modelo de análise estruturado,<br />

relacionando causas e consequências, como nos<br />

relatos de Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso.<br />

c) preocupou-se em ressaltar o valor da memória na<br />

vida dos povos estudados pela <strong>História</strong>, para evitar o<br />

esquecimento dos seus feitos.<br />

d) afirmou a existência de uma superioridade racial dos<br />

gregos, fortalecendo o etnocentrismo comum na<br />

Antiguidade europeia.<br />

e) aproveitou suas viagens para colher depoimentos<br />

importantes e escrever suas narrativas, preocupado<br />

em focalizar os costumes dos povos.<br />

(UERN) - Universidade do Estado do Rio Grande do<br />

Norte - Questão 2:<br />

ACRÓPOLE. Acrópole significa cidade alta. De modo<br />

geral, toda cidade grega possuía a sua acrópole, isto é, a<br />

parte alta em contraste com a parte baixa. Não era<br />

comum que a acrópole ficasse situada no centro da<br />

cidade, como no caso de Atenas. A posição da acrópole a<br />

transformava no baluarte natural de defesa e,<br />

primitivamente (séculos XVIII-XII a.C.), na sede do<br />

poder político.<br />

Conquistar a acrópole era derrotar a cidade. No século<br />

VI a.C., quando os tiranos tomam o poder, eles o fazem<br />

dominando a acrópole.<br />

ÁGORA. Praça pública das cidades gregas, parte<br />

essencial da polis, sendo ponto convergente de inúmeras<br />

atividades sociais, econômicas, religiosas e culturais. Sua<br />

função dominante, porém, era política, e o lugar,<br />

democrático por excelência. No decorrer da época<br />

arcaica (séculos VIII-VI a.C.), a vida política da cidade<br />

transferiu-se lentamente da acrópole para a ágora que,<br />

rapidamente, se tornou o centro de toda a comunidade.<br />

Na ágora concentravam-se as assembleias, os tribunais e<br />

demais edifícios administrativos e políticos.<br />

Concomitantemente, cresceu sua significação no plano<br />

religioso: ali podiam ser encontrados altares, santuários,<br />

túmulos de heróis. Várias cerimônias populares e cívicas<br />

se desenrolavam também na ágora, como, por exemplo,<br />

as dionisíacas. (AZEVEDO,1990, p. 13 -16).<br />

O deslocamento do poder político da acrópole para a<br />

ágora faz parte, no contexto da evolução dos sistemas<br />

democráticos, da Antiguidade aos dias atuais, da<br />

a) permanência, na Grécia Antiga, de uma sociedade<br />

desigual, dividida em classes, que separava a população<br />

por critérios de cidadania.<br />

b) transferência do modelo da democracia direta da<br />

Grécia Antiga para as sociedades hoje existentes.<br />

c) separação entre interesses políticos e econômicos,<br />

tanto na Grécia Antiga quanto nas sociedades<br />

contemporâneas.<br />

d) defesa da democracia pelos países ricos como<br />

mecanismo para independência econômica das nações<br />

em desenvolvimento.<br />

(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão 3:<br />

Relacione os deuses da mitologia grega, indicados na<br />

Coluna A, às características que os identificam, listadas<br />

na Coluna B.<br />

COLUNA A<br />

1. Afrodite<br />

2. Ártemis<br />

3. Deméter<br />

4. Posseidon<br />

COLUNA B<br />

( ) Deusa da fertilidade, das frutas e<br />

das colheitas.<br />

( ) Deus dos oceanos e das águas.<br />

( ) Deusa da lua e da caça, protetora<br />

dos animais e das crianças.<br />

( ) Deusa da beleza e do amor.<br />

Assinale a alternativa que completa correta e<br />

respectivamente os parênteses, de cima para baixo.<br />

a) 1, 2, 3, 4<br />

b) 3, 4, 2, 1<br />

c) 4, 3, 2, 1<br />

d) 2, 4, 1, 3<br />

e) 3, 4, 1, 2<br />

34


(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />

Grande do Sul - Questão 4:<br />

INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere as<br />

afirmativas abaixo, sobre a cidade-estado (polis), base da<br />

organização sociopolítica da Grécia Antiga.<br />

I. Esparta, que englobava as regiões da Lacônia e da<br />

Messênia, e Atenas, que correspondia a toda a região da<br />

Ática, eram exceções quanto à grande dimensão<br />

territorial, se comparadas à maioria das demais cidadesestado.<br />

II. As cidades-estado consolidaram suas estruturas<br />

fundamentais no chamado período arcaico da história<br />

grega e conheceram sua máxima expressão política e<br />

cultural durante o período clássico.<br />

III. A acrópole, parte alta da zona urbana da polis,<br />

concentrava as atividades econômicas essenciais para o<br />

sustento material da cidade, suplantando a produção<br />

agrícola da zona rural nesse setor.<br />

IV. As cidades-estado formavam unidades politicamente<br />

autônomas e economicamente autossuficientes, não<br />

tendo desenvolvido processos significativos de expansão<br />

territorial por colonização de novas áreas até o período<br />

helenístico.<br />

Estão corretas apenas as afirmativas<br />

a) I e II.<br />

b) II e III.<br />

c) III e IV.<br />

d) I, II e IV.<br />

e) I, III e IV.<br />

(UFRGS) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul -<br />

Questão 5:<br />

Considere o enunciado abaixo e as três propostas para<br />

completá-lo.<br />

Para um grande número de historiadores, a Atenas do<br />

século V a.C. tornou-se um modelo de democracia e de<br />

liberdade. Entretanto, esse modelo de democracia tem<br />

sido questionado, porque, em Atenas,<br />

1 – a sociedade era dividida em três classes distintas:<br />

cidadãos, metecos e escravos.<br />

2 – a democracia e a liberdade eram limitadas a uma<br />

minoria composta por homens adultos nascidos em solo<br />

ateniense.<br />

3 – a ação da Assembleia Popular era limitada pelo<br />

Conselho dos Quinhentos, que preparava os projetos de<br />

lei a serem votados.<br />

Quais propostas estão corretas?<br />

a) Apenas 1.<br />

b) Apenas 2.<br />

c) Apenas 3.<br />

d) Apenas 1 e 2.<br />

e) 1, 2 e 3.<br />

(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina<br />

- Questão 6:<br />

Entre os pobres muitos se dirigem a terras estranhas,<br />

vendidos e cobertos de correntes [...].<br />

Quantos dos que tinham sido vendidos, uns injustamente,<br />

outros com justiça, fiz voltar para Atenas, sua pátria,<br />

fundada pelos deuses [...].<br />

Dei liberdade a outros que, aqui mesmo (em Atenas),<br />

sofriam servidão indigna e tremiam diante do humor dos<br />

patrões.<br />

Eis o que realizei, graças à soberania da lei, fazendo com<br />

que a força e a justiça agissem concordemente.<br />

Sólon, Elegias. Apud HOLANDA, S. Buarque de. <strong>História</strong> da Civilização. 6. ed.<br />

São Paulo: Nacional, 1979. p. 58.<br />

Com base no texto acima e nos seus conhecimentos<br />

sobre a sociedade e a democracia ateniense, assinale a(s)<br />

proposição(ões) CORRETA(S).<br />

1 - Na experiência democrática vivida pelos atenienses<br />

durante o período helenístico, a escravidão foi eliminada<br />

através da legislação elaborada por Sólon, sobrevivendo<br />

apenas a servidão voluntária.<br />

2 - As leis de Sólon, consideradas avançadas para a<br />

época da sua promulgação, admitiam a escravização dos<br />

endividados ou filhos de escravos, pois a perda de<br />

direitos individuais não feria os princípios da democracia<br />

ateniense.<br />

4 - Na sociedade ateniense, as três principais classes<br />

sociais eram representadas por: cidadãos nobres, homens<br />

livres nascidos de pai e mãe ateniense; metecos,<br />

estrangeiros autorizados a viver na Ática; e escravos,<br />

prisioneiros de guerra ou filhos de escravos.<br />

8 - Drácon publicou as primeiras leis escritas em Atenas<br />

e com elas reforçou o direito dos nobres de interpretar as<br />

35


leis segundo as próprias conveniências, dando origem à<br />

tirania e ao adjetivo “draconiano”, que significa severo,<br />

rígido.<br />

16 - As manifestações de descontentamento com as leis<br />

de Drácon fez com que a administração de Atenas fosse<br />

confiada ao arconte Sólon, que realizou importantes<br />

reformas: proibiu a escravização de pessoas endividadas<br />

e perdoou as dívidas dos pequenos lavradores,<br />

devolvendo-lhes as terras perdidas.<br />

32- As reformas implantadas por Sólon foram rechaçadas<br />

pelos tiranos, nobres empobrecidos pelas decisões<br />

democráticas, tomadas em praça pública e com a<br />

participação de toda a população de Atenas.<br />

(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />

Mackenzie - Questão 7:<br />

Frank Miller inspirou-se na verdadeira Batalha de<br />

Termópilas, ocorrida em 438 a.C, na Grécia, para<br />

escrever “Os 300 de Esparta”. A adaptação da história<br />

em quadrinhos de Miller foi levada ao cinema, em 2006,<br />

pelo diretor Zack Snyder, com o título “300”. A respeito<br />

do contexto das Guerras Médicas (500-479 a.C), tema<br />

abordado no filme, assinale a alternativa correta.<br />

a) O domínio e a expansão naval fenícia ameaçavam a<br />

hegemonia da Grécia sobre o mar Egeu, o que<br />

ocasionou a formação de uma aliança defensiva<br />

grega.<br />

b) Desenvolvendo uma política imperialista, Atenas<br />

entrou em conflito com Esparta que, agrária e<br />

oligárquica, permaneceu fechada à expansão<br />

territorial.<br />

c) O expansionismo persa, que já havia dominado<br />

cidades gregas da Ásia Menor e estabelecido o<br />

controle persa sobre rotas comerciais do Oriente,<br />

ameaçava a soberania da Grécia, tornando inevitável<br />

o conflito grego-pérsico.<br />

d) Esparta, por priorizar a formação física e militar,<br />

cultivando no indivíduo o patriotismo incondicional<br />

ao Estado, liderou a ofensiva grega contra os<br />

assírios, que ameaçavam as instituições<br />

democráticas gregas.<br />

e) O forte espírito militarista presente na cultura<br />

helenística e difundido em todas as pólis gregas<br />

permitiu que, no conflito contra os medos, a Grécia<br />

obtivesse a supremacia militar e se sagrasse<br />

vencedora.<br />

36<br />

(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />

8:<br />

Analise o texto abaixo que representa a história dos<br />

deuses gregos Perséfone (Deusa das estações do ano) e<br />

Hades (Dono do mundo subterrâneo ou do inferno).<br />

Mito de Perséfone: Perséfone foi raptada do Olímpo por<br />

Hades. Sua mãe, Demétris (deusa da agricultura),<br />

entristeceu e acabou por se descuidar de suas tarefas,<br />

deixando as terras tornaram-se estéreis. Também<br />

Perséfone recusou-se a ingerir qualquer alimento, em<br />

sinal de sua não aceitação a Hades. Deméter, junto com<br />

Hermes, foram buscá-la do mundo dos mortos. Contudo,<br />

Perséfone havia comido uma romã e daí concluiu-se que<br />

não tinha rejeitado inteiramente Hades. Assim,<br />

estabeleceu-se um acordo: ela passaria metade do ano<br />

junto a seus pais, quando seria a eterna adolescente cheia<br />

de vida, e o restante do ano com Hades, quando se<br />

tornaria a sombria Perséfone. Este mito justifica o ciclo<br />

anual das estações do ano e das colheitas para os antigos<br />

gregos.<br />

(Tradução livre da www.wikipedia.<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pers%C3%A9fone acessada em 30/05/2009).<br />

Por seus conhecimentos e pelo texto acima, é correto<br />

afirmar que, para os gregos, as diferentes estações do ano<br />

significavam épocas em que:<br />

a) às vezes se plantava e colhia com abundância (no<br />

verão quando imperava o casamento de Hades e<br />

Perséfone no fogo do inferno) e às vezes não se fazia<br />

nada (quando Perséfone estava no Olimpo com sua<br />

mãe e a terra vivia o inverno).<br />

b) igualmente se plantava e colhia em todas as<br />

estações. Isto se justifica, porque Perséfone, ao<br />

comer a romã, trouxe fertilidade ao reino de Hades<br />

e, no Olimpo, ela já existia devido à presença de<br />

Demétris, deusa da agricultura.<br />

c) ora existia vida, calor e fertilidade na terra (quando<br />

Perséfone estava junto com sua mãe Demétris), ora<br />

havia tristeza, frio e infertilidade na terra (quando a<br />

mesma deusa ia para o trono de Hades).<br />

d) havia momentos de tristeza e do uso do trabalho<br />

escravo para se plantar na terra (no inverno quando<br />

Perséfone melancólica estava ao lado de sua mãe no<br />

Olimpo) e outra época das pragas e frio na terra<br />

quando Perséfone ia para o reino de Hades e não se<br />

podia plantar nada.


(UEPA) - Universidade do Estado do Pará - Questão 9:<br />

“Atenas era uma cidade extraordinariamente<br />

cosmopolita. Um ateniense poderia observar milhares de<br />

imigrantes temporários e permanentes de outras cidades<br />

gregas ou de terras não gregas trabalhando a sua volta,<br />

muitas vezes fazendo exatamente o mesmo trabalho que<br />

ele, sem, contudo, compartilhar de nenhum de seus<br />

direitos de cidadão. A característica mais marcante da<br />

cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos<br />

limites de sua própria pólis, era imediatamente privado<br />

de seus direitos políticos”.<br />

(JONES, Peter V. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica<br />

ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 156) (Grifo do Autor)<br />

No que se refere à democracia ateniense, é correto<br />

afirmar que:<br />

a) apesar da não inclusão de estrangeiros na cidadania<br />

ateniense, as leis da pólis ateniense eram amplas e<br />

incluíam direitos e deveres dos metecos.<br />

b) o cosmopolitismo ateniense contribuiu para diversos<br />

avanços intelectuais e econômicos da cidade-estado<br />

ateniense, mas não interferiu na constituição de um<br />

sistema político democrático que realmente incluísse<br />

estrangeiros, mulheres e escravos na cidadania.<br />

c) a manutenção da escravidão durante a vigência da<br />

democracia ateniense foi um fator impeditivo e<br />

desestruturante do regime democrático na cidadeestado.<br />

d) a transição da Aristocracia para a Democracia, na<br />

Atenas do período clássico, se baseou nas reformas<br />

de Drácon e Sólon, que pretendiam restringir o<br />

poder dos eupátridas (nobres), em favor da<br />

ampliação dos direitos dos cidadãos: homens,<br />

mulheres, nativos e estrangeiros.<br />

e) a cosmopolita sociedade ateniense do século V a.C.<br />

deu origem à democracia como regime político<br />

derivado da convivência multicultural de nativos<br />

atenienses e estrangeiros, chamados metecos,<br />

oriundos de civilizações mediterrâneas diversas.<br />

(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 10:<br />

O texto abaixo analisa o mundo do trabalho na Grécia<br />

Antiga.<br />

“Ao lidarmos com escravos, não deveríamos permitir<br />

que fossem insolentes para conosco, nem deixá-los<br />

totalmente sem controle. Aqueles que cuja posição está<br />

mais próxima das dos homens livres deveriam ser<br />

tratados com respeito; aqueles que são trabalhadores<br />

deveriam receber mais comida. Já que o consumo de<br />

vinho também torna homens livres insolentes [...], é claro<br />

que o vinho jamais deveria ser dado a escravos, ou só<br />

muito raramente.”<br />

Aristóteles (Século IV a.C.) In: CARDOSO, Ciro Flamarion. O trabalho<br />

compulsório na antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 108.<br />

Sobre esse mundo do trabalho, é correto afirmar que<br />

a) a sociedade grega era extremamente rigorosa no<br />

tratamento com os escravos, embora fossem brandos<br />

quando se tratava daqueles que trabalhassem em<br />

vinícolas.<br />

b) embora a mão de obra escrava fosse predominante<br />

na Grécia Antiga, os trabalhadores livres também<br />

constituíam a força de trabalho.<br />

c) os gregos consideravam que a comida era uma<br />

expressão de respeito ao trabalhador que vendia a<br />

sua força de trabalho.<br />

d) os homens livres eram tidos como sustentáculo da<br />

economia grega, especialmente na cidade-estado de<br />

Esparta.<br />

e) foi à custa do trabalho escravo que a cidade<br />

ateniense se tornou o maior exemplo de teocracia do<br />

mundo antigo.<br />

(IFTO) - Instituto Federal do Tocantins - Questão 11:<br />

Levando-se em consideração os conhecimentos acerca da<br />

historiografia grega na antiguidade, julgue os itens<br />

abaixo colocando V para os itens verdadeiros e F para os<br />

falsos e em seguida assinale a alternativa correta:<br />

1 – A estrutura político-administrativa de Esparta diferia<br />

da estrutura social de Atenas, haja vista que a primeira<br />

estava organizada da seguinte maneira: Diarquia,<br />

Gerúsia, Ápela, Éforos, enquanto na segunda<br />

observamos a divisão em três classes sociais distintas:<br />

Eupátridas, Metecos e Escravos.<br />

2 – A DEMOCRACIA ateniense pode ser classificada<br />

como sendo elitista, patriarcal e escravista. Elitista,<br />

porque só os eupátridas tinham direitos políticos;<br />

patriarcal, porque excluía as mulheres e escravista,<br />

porque eram os escravos que sustentavam a glória dos<br />

senhores.<br />

3 – Quanto à vida econômica na Grécia, de um modo<br />

geral, observa-se para a prática agrícola um solo<br />

desfavorável. Com exceção de algumas planícies férteis,<br />

o solo é pobre, árido e as chuvas são raras.<br />

37


4 – A investigação intelectual e o espírito de curiosidade<br />

foram grandes características da mente grega. Foi assim<br />

que nasceu entre eles a filosofia (do grego filos =<br />

amizade; sofia = sabedoria). É na filosofia grega que<br />

encontramos, por exemplo, figuras como Sócrates,<br />

Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomas de Aquino que<br />

tanto marcaram o pensamento Ocidental;<br />

5 –Na religião grega, podemos destacar duas<br />

características fundamentais: o politeísmo (adoração a<br />

um único deus – Zeus) e o antropomorfismo (os deuses<br />

retratados como figuras de animais que assumiam forma<br />

e comportamento semelhantes aos dos homens).<br />

6 – Traçando um quadro comparativo entre Atenas e<br />

Esparta, observaremos as seguintes distinções:<br />

A) enquanto em Atenas o regime político adotado era a<br />

democracia em Esparta era a oligarquia e, B) Quanto aos<br />

povos fundadores: Atenas foi fundada pelos jônios e<br />

Esparta pelos dórios.<br />

a) 1 – V; 2 – V; 3 – V; 4 – F; 5 – F; 6 - V.<br />

b) 1 – F; 2 – V; 3 – V; 4 – F; 5 – F; 6 - F.<br />

c) 1 – V; 2 – F; 3 – V; 4 – F; 5 – V; 6 – V.<br />

d) 1 – V; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F; 6 - V.<br />

e) 1 – F; 2 – V; 3 – F; 4 – V; 5 – F; 6 – F.<br />

(IFG/GO) - Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia de Goiás - Questão 12:<br />

A Grécia Antiga não conheceu um Estado centralizado.<br />

Organizou-se por meio de cidades-estados, denominadas<br />

pólis. A esse respeito, assinale a alternativa incorreta.<br />

a) A pólis era uma construção social e política<br />

autodeterminada; todavia, a disputa pela hegemonia<br />

na antiga Grécia a movia.<br />

b) Na pólis, não havia espaço para cultos, deuses e<br />

santuários, nem mesmo para consulta aos oráculos<br />

anteriormente à tomada de decisões.<br />

c) A pólis expressava uma cultura e uma identidade<br />

próprias, marcadamente urbanas, denominadas de<br />

ethos.<br />

d) Nas pólis, a norma jurídica (lei), promulgada nos<br />

regimes democráticos ou outorgada nos regimes<br />

aristocráticos, era reconhecida como ato orientado<br />

pela razão e, portanto, humano.<br />

e) A experiencialização social e cultural que o grego<br />

antigo viveu nas pólis permitiu a capacidade de<br />

explicar os problemas da comunidade no âmbito<br />

dela própria, fundamentalmente apartada dos deuses.<br />

38<br />

(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba - Questão<br />

13:<br />

“Uma das principais expressões da arte grega, o teatro,<br />

tem suas origens ligadas às Dionisíacas, festas em<br />

homenagem a Dioniso, deus do vinho.”<br />

(Myriam Mota e Patrícia Braick, <strong>História</strong> das Cavernas ao Terceiro Milênio,<br />

2002. p. 65.)<br />

Dois gêneros clássicos do teatro grego originaram-se<br />

destes festivais, são eles:<br />

a) melodrama e tragédia<br />

b) drama e pantomima<br />

c) tragédia e drama<br />

d) vaudeville e comédia<br />

e) tragédia e comédia<br />

(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba - Questão<br />

14:<br />

No 5ọ século antes de Cristo, Atenas emergiu como uma<br />

proeminente cidade-estado (polis) grega. Marque a única<br />

alternativa que condiz com a organização política e<br />

econômica ateniense.<br />

a) O modelo de democracia ateniense é uma criação da<br />

era moderna. Uma sociedade escravocrata, onde<br />

mulheres nada decidem e só os homens com posses<br />

é que podem votar e ser votados não pode ser<br />

mesmo aceita como democrática.<br />

b) Atenas não conseguiu fazer crescer o comércio<br />

terrestre e marítimo, mesmo tendo desenvolvido seu<br />

sistema político-democrático, já que, ao contrário<br />

das outras cidades-estado gregas, não se situava na<br />

costa.<br />

c) A formação de uma economia escravista contribuiu<br />

para o florescimento da civilização urbanodemocrática<br />

ateniense, pois liberou os cidadãos<br />

livres do trabalho, dando-lhes tempo para se<br />

dedicarem à vida política e social da polis.<br />

d) Ao contrário de todas as outras cidades-estado<br />

gregas, em Atenas se aceitava que estrangeiros<br />

participassem das assembleias que decidiam o<br />

funcionamento da sociedade. Isto a colocava como a<br />

polis mais democrática de toda a Grécia clássica.<br />

e) A existência de clãs e tribos alfabetizados,<br />

independentes econômica e militarmente, pouco<br />

contribuiu para o desenvolvimento da democracia, já<br />

que defendiam formas de governos tiranos ou<br />

autocratas.


(UNCISAL/AL) - Universidade Estadual de Ciências da<br />

Saúde de Alagoas - Questão 15:<br />

No território da Antiga Grécia, existiam dezenas de<br />

cidades-estados, destacando-se Atenas, Tebas, Mégara,<br />

Esparta, Corinto, Mileto e Argos.<br />

Acerca das cidades-estados, é correto afirmar que:<br />

a) compunham um mosaico de experiências e eram<br />

politicamente autônomas.<br />

b) possuíam uma organização econômica solidária.<br />

c) mantinham política e administração comuns.<br />

d) possuíam princípios religiosos antagônicos.<br />

e) estavam unidas na política de organização do<br />

Mediterrâneo.<br />

(URCA/CE) - Universidade Regional do Cariri -<br />

Questão 16:<br />

Canto de guerra espartano composto no século VII a.C.:<br />

“É belo que o homem bravo, combatendo por sua pátria,<br />

tombe na primeira fila; mas o que deserta de sua cidade e<br />

dos seus campos férteis e vai mendigar, errando com sua<br />

querida mãe, seu velho pai e seus filhos, é o mais<br />

miserável dos homens...<br />

Nós, corajosamente, combatemos por esta terra,<br />

morremos por nossos filhos, não poupamos nossa vida.<br />

Ó jovens, combatei, unidos uns aos outros, não temais<br />

senão a vergonha da fuga, estimulai no vosso coração<br />

uma valente e sólida coragem, e não vos inquietais com a<br />

vida lutando contra o inimigo.”<br />

Sobre a vida na sociedade espartana é correto afirmar:<br />

a) Se dava grande valor às artes e ao conhecimento em<br />

geral, apesar do militarismo imperante.<br />

b) As mulheres gozavam de certos direitos, inclusive o<br />

da participação militar no exército.<br />

c) A nobreza tinha o privilégio de ser isenta do serviço<br />

militar, destinado somente aos homens comuns.<br />

d) Os cidadãos eram livres e seu regime democrático<br />

permitia a todos a participação no poder político<br />

independentemente da renda ou origem.<br />

e) Se priorizava a formação física e militar e a vida<br />

familiar estava subordinada ao convívio coletivo.<br />

(UDESC) - Fundação Universidade do Estado de Santa<br />

Catarina - Questão 17:<br />

Na antigüidade clássica greco-romana, os cidadãos<br />

participavam ativamente da vida pública, social, religiosa<br />

e militar, sempre exercendo as funções de comando e<br />

liderança.<br />

Em relação a esse fato, assinale a alternativa incorreta:<br />

a) A era helenística marcou a transição da civilização<br />

grega para a romana.<br />

b) O cristianismo conseguiu se converter em religião<br />

oficial do Estado somente no ano mil.<br />

c) As olimpíadas foram criadas pelos gregos, como<br />

forma de homenagem à sua divindade suprema,<br />

Zeus.<br />

d) Na sociedade espartana, a rigorosa disciplina e a<br />

educação militarizada tinham claros objetivos<br />

políticos.<br />

e) A exemplo do Coliseu, os anfiteatros romanos foram<br />

cenários de festas e espetáculos, vulgarizados na<br />

prática do pão e circo.<br />

(UFGD/MS) Universidade Federal da Grande Dourados<br />

- Questão 18:<br />

Com relação aos regimes sociais e políticos da Grécia<br />

Antiga, é CORRETO afirmar que:<br />

a) os gregos protagonizaram a experiência democrática<br />

mais plena da história, uma vez que a democracia se<br />

estendia para o âmbito econômico, social e religioso.<br />

b) a democracia grega possibilitava às mulheres o<br />

direito ao voto, ao exercício de cargos políticos do<br />

executivo e a participação efetiva nas assembleias<br />

legislativas.<br />

c) na sociedade ateniense, apenas os cidadãos tinham<br />

direitos políticos, e somente era considerado cidadão<br />

o indivíduo do sexo masculino, maior de idade,<br />

nascido em Atenas e filho de pais atenienses.<br />

d) a filosofia grega, sobretudo a de Aristóteles,<br />

defendia a plena igualdade entre todos os indivíduos,<br />

independentemente de classe social, gênero ou etnia.<br />

e) embora somente Atenas tenha desenvolvido em sua<br />

plenitude os ideais democráticos, todas as demais<br />

cidades gregas adotaram instituições e princípios<br />

básicos idênticos aos dos atenienses.<br />

(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />

- Questão 19:<br />

A cultura grega contribuiu diretamente na inauguração<br />

de várias manifestações artísticas, filosóficas e<br />

científicas. Também marcou a origem da Mitologia, que<br />

39


uscava a explicação para as principais questões da<br />

existência humana, da natureza e da sociedade. Sobre a<br />

história política da Grécia, na Antiguidade Clássica,<br />

pode-se dizer que esta se caracterizou:<br />

a) pela alternativa de dinastia hegemônica.<br />

b) por uma federação estável, que era regida de forma<br />

ditatorial.<br />

c) por uma organização imperial.<br />

d) pela existência de cidades-estados que atuavam,<br />

politicamente, como unidades autônomas.<br />

e) por uma organização teocrática.<br />

(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />

Grande do Sul - Questão 20:<br />

Responder à questão com base nas afirmativas abaixo,<br />

sobre a Grécia Antiga no Período Clássico.<br />

I. As Guerras Médicas opuseram o Império Persa em<br />

expansão às cidades-estados gregas, pelo controle da<br />

Ásia Menor e das rotas comerciais nos mares Egeu e<br />

Negro.<br />

II. A vitória das cidades-estados gregas sobre o Império<br />

Persa marca o início da hegemonia ateniense na Grécia e<br />

o apogeu da democracia.<br />

III. O "Século de Péricles" alternou a democracia,<br />

caracterizada pela extensão dos direitos políticos aos<br />

comerciantes estrangeiros e o fim da escravidão, com o<br />

imperialismo ateniense sobre as outras cidades-estados<br />

gregas.<br />

IV. A hegemonia ateniense não encontrou resistência<br />

entre as outras cidades-estados gregas, mas sucumbiu<br />

diante da falta de apoio militar para enfrentar a invasão<br />

da Grécia por Alexandre da Macedônia.<br />

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente são<br />

corretas:<br />

a) I e II<br />

b) I e III<br />

c) II e III<br />

d) II e IV<br />

e) III e IV<br />

(UFRN/RN) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Norte - Questão 21:<br />

O período helenístico foi marcado por grandes<br />

transformações na civilização grega. Entre suas<br />

características, podemos destacar:<br />

40<br />

a) O desenvolvimento de correntes filosóficas que,<br />

diante do esvaziamento das atividades políticas das<br />

cidades-Estado, faziam do problema ético o centro<br />

de suas preocupações visando, principalmente, o<br />

aprimoramento interior do ser humano.<br />

b) Um completo afastamento da cultura grega com<br />

relação às tradições orientais,decorrente, sobretudo,<br />

das rivalidades com os persas e da postura<br />

depreciativa que considerava bárbaros todos os<br />

povos que não falavam o seu idioma.<br />

c) A manutenção da autonomia das cidades-Estado, a<br />

essa altura articuladas primeiro na Liga de Delos,<br />

sob o comando de Atenas e, posteriormente, sob a<br />

Liga do Peloponeso, liderada por Esparta.<br />

d) A difusão da religião islâmica na região da<br />

Macedônia, terra natal de Felipe II, conquistador das<br />

cidades-Estado gregas.<br />

e) O apogeu da cultura helênica representado,<br />

principalmente, pelo florescimento da filosofia e do<br />

teatro e o estabelecimento da democracia ateniense.<br />

(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 22:<br />

"... tendo-se posto à frente do povo no quarto ano após a<br />

queda dos tiranos, sob o arcontado de Iságoras, começou<br />

primeiramente por repartir todos os Atenienses em dez<br />

tribos, em lugar de quatro, querendo misturá-los, a fim<br />

de que mais pessoas participassem na politeia [...].<br />

Depois estabeleceu que a Boulé teria quinhentos<br />

membros, em vez de quatrocentos. [...] Dividiu o<br />

território da cidade em trinta grupos de demos, dez<br />

consagravam os demos urbanos, dez os de Parália, dez os<br />

da Masogeia e deu a estes grupos o nome de trítias."<br />

(ARISTÓTELES, Athenaiôn Politeia XXI. In: MOSSE, C. As instituições gregas.<br />

Lisboa: Edições 70, 1985, p. 38.)<br />

Ao texto podem ser associadas:<br />

a) as reformas arquitetônicas de reconstrução e<br />

embelezamento de Atenas, promovidas por Péricles;<br />

b) as reformas legais de organização e registro, por<br />

escrito, das leis, promovidas por Drácon;<br />

c) as reformas públicas, gerando emprego a thetas e<br />

georgóis descontentes, promovidas por Psístrato;<br />

d) as reformas sociais entre as quais se destacava o fim<br />

da escravidão por dívidas, promovidas por Sólon;<br />

e) as reformas políticas que deram fim à ditadura e<br />

inauguraram a democracia, promovida por Clístenes.


(IFPI) - Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia do Piauí - Questão 23:<br />

Das afirmativas seguintes, indique aquelas que você<br />

considera corretas.<br />

I. Situada na península da Ática, mais interiorana do que<br />

a maioria das cidades gregas, Esparta foi colonizada<br />

pelos dórios, de forte tradição guerreira, e seu modelo de<br />

educação e disciplina militar exerceram, em última<br />

instância, influência em todo o mundo grego.<br />

II. A tradição mítico-religiosa jamais desapareceu na<br />

Grécia, mas coexistiu com um crescente racionalismo,<br />

com a ideia da investigação sistemática, de que o mundo<br />

é regido por leis da natureza, não por deuses cheios de<br />

caprichos, um modelo que duvida de tudo, investigador e<br />

experimental.<br />

III. Ao franquear a Assembleia a todos os cidadãos<br />

homens e ao tirar os cargos do domínio exclusivo dos<br />

grandes proprietários de terra, Licurgo, o legislador<br />

mítico, enfraqueceu os direitos tradicionais da<br />

aristocracia hereditária e deu início às transformações<br />

políticas de Atenas, de uma oligarquia aristocrática em<br />

uma democracia.<br />

IV. A tirania era comum nas cidades-estados gregas. Os<br />

tiranos geralmente apareciam como defensores dos<br />

pobres em sua luta contra os aristocratas. Indício de que<br />

o governo devia levar em consideração as necessidades<br />

de toda a comunidade.<br />

a) II e III<br />

b) I e II<br />

c) II e IV<br />

d) III e IV<br />

e) I e III<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 24:<br />

Assinale (V) se for Verdadeiro e (F) se for Falso.<br />

Na Grécia, durante a chamada Antiguidade Clássica,<br />

houve a formação de culturas diferentes que defendiam<br />

sociedades com práticas políticas, muitas vezes, em<br />

confronto. A cidade de Esparta, uma das mais<br />

importantes, tinha:<br />

a) uma legislação social flexível, preocupada com a<br />

ética e a justiça social.<br />

b) uma estrutura social hierarquizada onde dominavam<br />

práticas militaristas.<br />

c) uma sociedade sem escravos, apesar da presença de<br />

rigidez social.<br />

d) uma aliança política com Atenas, em defesa da<br />

monarquia eletiva.<br />

e) um conselho de anciãos, defensores da democracia<br />

entre os periecos.<br />

(UEM/PR) - Universidade Estadual de Maringá -<br />

Questão 25:<br />

Sobre a civilização grega antiga, assinale o que for<br />

correto.<br />

1 - O Período Arcaico é considerado o momento mais<br />

democrático da <strong>História</strong> Grega, principalmente pela<br />

participação dos eupátridas, que representavam o povo<br />

nos conselhos que escolhiam o rei.<br />

2 - Uma das características da sociedade ateniense era a<br />

forma que dispensava à vida militar. Nela, os jovens<br />

eram preparados militarmente desde os sete anos para se<br />

dedicarem aos ofícios do Estado. Após completarem<br />

trinta anos, podiam casar e participar da Assembleia e, ao<br />

completarem sessenta anos, retiravam-se das atividades<br />

militares e podiam tomar parte do Conselho dos Anciãos<br />

(gerontocracia).<br />

4 - Em Atenas, uma das práticas políticas adotadas pelos<br />

governos tirânicos para se manterem no poder eram as<br />

concessões de benefícios às camadas populares.<br />

8 - O Helenismo, um intenso processo de difusão da<br />

cultura grega no Oriente, caracteriza-se por uma<br />

oposição ao universalismo cultural e uma restrição ao<br />

sincretismo religioso.<br />

16 - A democracia espartana caracterizava-se pela forma<br />

representativa nas decisões políticas. Exceto escravos,<br />

mulheres e estrangeiros, todos os seguimentos sociais<br />

tinham seus representantes nas assembleias.<br />

(UFV/MG) - Universidade Federal de Viçosa - Questão<br />

26:<br />

Sobre a Pólis grega, é INCORRETO afirmar que:<br />

a) possuía instituições e governo próprios, que<br />

expressavam a vontade dos cidadãos.<br />

b) em sua origem, uma das funções da Polis era<br />

conservar a aliança dos cidadãos com as divindades.<br />

c) em Atenas, as reformas de Sólon permitiram o<br />

enfraquecimento da aristocracia e o surgimento da<br />

democracia.<br />

41


d) apesar da tradição guerreira, Esparta tratava os<br />

cidadãos das cidades conquistadas como cidadãos<br />

espartanos.<br />

(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />

Questão 27:<br />

A aspiração máxima do escravo, obtido por guerra, era<br />

alcançar a alforria. Vários textos aconselhavam a<br />

promessa de liberdade como estímulo. A decisão de<br />

libertar o escravo partia do senhor na imensa maioria dos<br />

casos e, com frequência, o candidato à alforria pagava<br />

seu preço ao dono.<br />

(CARDOSO, C. O trabalho compulsório na antiguidade. Adaptado. Rio de<br />

Janeiro: Graal, 2003. p. 57)<br />

Em Atenas, no século V a.C., normalmente quando o<br />

escravo de um particular era libertado, ele passava a ser<br />

considerado:<br />

a) cidadão com plenos direitos.<br />

b) indivíduo que obrigatoriamente participava do<br />

exército da cidade.<br />

c) meteco, estrangeiro livre residente na cidade.<br />

d) escravo do Estado, sujeito a trabalhos forçados.<br />

e) indivíduo que ameaçava a cidade, sendo, portanto,<br />

expulso.<br />

(PUC-RS) - Pontifícia Universidade Católica do Rio<br />

Grande do Sul - Questão 28:<br />

No Período Homérico, da <strong>História</strong> Antiga da Grécia (séc.<br />

XII a.C. – VIII a.C.), já existiam formas precoces de<br />

cidades, comunidades agrárias, coletivistas, como<br />

apontam as pesquisas arqueológicas. Mas foi no Período<br />

Arcaico (séc. VIII a.C. – VI a.C.) que as cidades-estado<br />

gregas, definidas como pólis ou urbes, desenvolveramse.<br />

Essas cidades-estado tinham como características<br />

políticas ___________entre si e governos<br />

_________________, que representavam<br />

_________________.<br />

a) dependência – centralizados – os cidadãos livres e os<br />

monarcas hereditários<br />

b) dependência – centralizados – os deuses e as figuras<br />

mitológicas<br />

c) independência – centralizados – os cidadãos livres<br />

d) independência – centralizados – os monarcas<br />

hereditários e a corte<br />

e) dependência – descentralizados – os nobres, os<br />

sacerdotes e os estrangeiros<br />

42<br />

(UFRN/RN) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Norte - Questão 29:<br />

Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a Grécia. Seu<br />

filho Alexandre, o Grande, consolidou as conquistas do<br />

pai e expandiu o Império em direção à Ásia, chegando<br />

até a Índia.<br />

Na perspectiva histórica, a obra de Alexandre e de seus<br />

sucessores imediatos foi importante porque:<br />

a) substituiu a visão mística do mundo, presente nos<br />

povos orientais, pelo conhecimento intelectual<br />

proveniente da razão e do raciocínio lógico.<br />

b) favoreceu a difusão do modelo político das cidadesestados<br />

da Grécia pelas regiões conquistadas no<br />

Oriente, estimulando um governo fundamentado na<br />

liberdade e na democracia.<br />

c) suplantou o poder despótico predominante nos<br />

grandes impérios orientais, os quais atribuíam aos<br />

governantes uma origem divina.<br />

d) possibilitou o intercâmbio de culturas, difundindo as<br />

tradições gregas nas terras do Oriente, enquanto as<br />

mesopotâmicas, egípcias, hebraicas e persas<br />

expandiam-se para o Ocidente.<br />

(FFFCMPA/RS) Fundação Faculdade Federal de<br />

Ciências Médicas de Porto Alegre - Questão 30:<br />

No período clássico grego (Séc. V–IV a.C) Atenas com<br />

sua ordem democrática, seu desenvolvimento econômico<br />

e sua expansão pelo mar Egeu, destacou-se como a mais<br />

importante entre as cidades-estados da Grécia antiga. O<br />

fortalecimento grego-ateniense apoiado numa forte<br />

política expansionista deflagrou inúmeros conflitos com<br />

o Império Persa, outra potência que disputava com os<br />

Gregos o controle da Jônia (região costeira da Ásia<br />

Menor). Posteriormente, deflagraram-se as guerras entre<br />

as polis gregas contra a hegemonia ateniense, fortalecida<br />

ainda mais após as guerras com os Persas. Dessas lutas<br />

entre cidades-estados, a derrota de Atenas significou o<br />

declínio da sociedade grega clássica.<br />

A quais acontecimentos, respectivamente, se refere o<br />

texto acima?<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Guerras Médicas e Batalha de Pelusa.<br />

b) Guerra do Peloponeso e Batalha de Pelusa.<br />

c) Guerras Púnicas e Guerra do Peloponeso.<br />

d) Guerras Médicas e Guerra do Púnicas.<br />

e) Guerras Médicas e Guerra do Peloponeso.


(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 31:<br />

Sólon, legislador ateniense, iniciou uma reforma que<br />

mediou as lutas sociais, entre os ricos e os pobres, que<br />

eclodiram na Ática, na virada do século VI. Entre as<br />

medidas desse reforma, está a abolição da servidão por<br />

dívidas no campo, o que significou o fim do<br />

a) privilégio da nobreza, que monopolizava os cargos<br />

políticos e controlava a produção do campo e a sua<br />

força de trabalho, no caso, os escravos.<br />

b) mecanismo pelo qual os pequenos camponeses<br />

caiam nas mãos dos grandes proprietários fundiários<br />

e se tornavam seus cultivadores dependentes.<br />

c) conflito entre cidadãos e plebeus, que culminou com<br />

o aumento da produção de cereais, tornando o<br />

campo uma potência nas relações comerciais<br />

atenienses.<br />

d) regime servil, fato que transformou a Ática no maior<br />

exemplo de democracia, na qual todos os habitantes<br />

da região eram considerados cidadãos.<br />

e) crescimento das propriedades dos nobres e o<br />

alargamento das conquistas sociais, o que resultou<br />

numa reforma agrária ampla, geral e irrestrita.<br />

A primeira maratona dos Jogos Olímpicos modernos foi<br />

realizada no ano de 1896. A maratona moderna originouse<br />

da lenda segundo a qual um herói grego sacrificou a<br />

sua vida para percorrer os 40 km entre as cidades de<br />

Maratona e Atenas, na Grécia. O corredor era<br />

Pheidíppides, que correu essa distância para levar a<br />

notícia da vitória grega sobre os persas, na Batalha de<br />

Maratona, no ano de 490 antes de Cristo. Em 1908, nos<br />

Jogos Olímpicos de Londres, o percurso da maratona<br />

sofreu uma alteração. Para que a família real britânica<br />

pudesse assistir ao início da prova do jardim do Castelo<br />

de Windsor, o comitê organizador aferiu a distância total<br />

em 42.195 metros, que continua até hoje. Atualmente o<br />

recorde mundial pertence ao marroquino, naturalizado<br />

americano, Khalid Khannouchi, de 30 anos, que, no dia<br />

14 de abril de 2002, em Londres, estabeleceu o tempo de<br />

2h5min38s, média de 2min57s por quilômetro<br />

(1h2min42s nos 21 km iniciais). O primeiro resultado<br />

oficial de uma mulher a correr uma maratona pertence à<br />

inglesa Violet Piercy, com o tempo de 3h40min22s, no<br />

ano de 1926.<br />

(Disponível em: . Acesso em: 21 ago 2007. Adaptado.)<br />

(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />

Questão 32:<br />

O sistema de pólis caracterizou o mundo grego em seu<br />

período clássico (V – IV a.C.). Sobre a pólis, analise as<br />

afirmativas.<br />

I - Seu regime político era apenas a democracia.<br />

II - Suas instituições políticas eram a Assembléia, o<br />

Conselho e as Magistraturas.<br />

III - Sua cidadania abrangia os homens e as mulheres,<br />

excluídos os estrangeiros e os escravos.<br />

IV - Sua consolidação ocorreu paralelamente à expansão<br />

do uso da mão-de-obra escrava.<br />

Estão corretas as afirmativas<br />

a) II e IV, apenas.<br />

b) I e III, apenas.<br />

c) I, II e III, apenas.<br />

d) II, III e IV, apenas.<br />

e) I, II, III e IV.<br />

(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 33:<br />

SAÚDE E ESPORTE<br />

A Batalha de Maratona foi um episódio importante no<br />

contexto das guerras greco-pérsicas. Em consequência<br />

dessas guerras,<br />

a) Atenas conquistou a liderança e a hegemonia no<br />

mundo grego.<br />

b) a expansão persa foi contida e se iniciou a expansão<br />

da Macedônia.<br />

c) o poder de Esparta saiu fortalecido e o de Micenas<br />

entrou em crise e decadência.<br />

d) a expansão persa foi contida na direção do Norte e<br />

foi direcionada para o Oriente.<br />

e) Esparta e a liga de Delos, por ela liderada, passaram<br />

a ter hegemonia no mundo grego.<br />

(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas - Questão<br />

34:<br />

Muito do que se conhece sobre os primórdios da<br />

civilização grega deve-se à obra literária atribuída a<br />

Homero. Um dos eventos mais marcantes desse período<br />

foi a Guerra de Troia cuja motivação primária:<br />

a) Foi a disputa pelas rotas comerciais entre a<br />

península do Peloponeso e os povos micênicos,<br />

opondo as esquadras de Ulisses e Agamenon.<br />

43


) Deveu-se a invasão troiana nas colônias gregas da<br />

Ásia Menor por Ulisses, provocando a reação de<br />

Aquiles, rei da Tessália.<br />

c) Foi o rapto feito por Páris, filho de Príamo, rei de<br />

Troia, da jovem Helena, esposa de Menelau, rei de<br />

Esparta, motivando a reação deste último.<br />

d) Derivou das disputas pela hegemonia da Grécia<br />

entre as principais cidades-estados, lideradas por<br />

Ulisses, Aquiles e Paris.<br />

e) Foi a constituição de uma aliança militar entre<br />

Esparta e Troia, visando restringir a expansão<br />

Ateniense na região.<br />

(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão 35:<br />

O filme 300, que fez grande sucesso nos cinemas de todo<br />

o mundo em 2007, tematiza uma das batalhas mais<br />

importantes das Guerras Médicas. Tal evento pode ser<br />

caracterizado como um conflito que:<br />

a) foi causado pelo processo de expansão territorial do<br />

império persa, que ambicionava expandir seus<br />

domínios sobre os gregos.<br />

b) enfraqueceu as cidades-Estado gregas e persas,<br />

facilitando o domínio macedônico sobre a região.<br />

c) culminou no domínio dos gregos sobre os persas e<br />

no florescimento cultural de Esparta.<br />

d) marcou o processo de unificação entre medas e<br />

persas, garantindo a sua supremacia econômica na<br />

região da Mesopotâmia.<br />

(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />

Mackenzie - Questão 36:<br />

Verdadeiros fundadores da filosofia, os pensadores “présocráticos”<br />

inauguraram, a partir do século VI a.C., uma<br />

nova atitude mental ante a realidade material,<br />

substituindo progressivamente as elaborações de cunho<br />

mitológico por especulações de caráter científicofilosófico.<br />

A propósito desse importante momento da<br />

história da filosofia, são feitas as seguintes afirmações:<br />

I) Segundo a tradição, Tales de Mileto foi o primeiro<br />

filósofo a tratar a questão da origem e transformação de<br />

todas as coisas. Para ele, “a água era o princípio de<br />

tudo”.<br />

II) Atribui-se a Pitágoras de Samos (e a seus seguidores)<br />

a ideia de que “ todas as coisas são como os números”,<br />

ou seja, de que todo o mundo – inclusive a alma – se<br />

forma segundo uma estrutura harmônica.<br />

44<br />

III) Os atomistas (Leucipo de Mileto e Demócrito de<br />

Abdera) afirmavam ser toda a matéria formada por<br />

átomos, ou seja, pó “partículas minúsculas, eternas e<br />

indivisíveis”, que, em movimento, se chocavam entre si,<br />

provocando assim o nascimento, a mudança e<br />

aniquilamento de todas as coisas.<br />

Assinale:<br />

a) se apenas I é correta.<br />

b) se apenas II é correta.<br />

c) se apenas III é correta.<br />

d) se apenas I e II são corretas.<br />

e) se I, II e III são corretas.<br />

(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />

Mesquita Filho - Questão 37:<br />

É preciso dizer que, com a superioridade excessiva que<br />

proporcionam a força, a riqueza, [...] [os muitos ricos]<br />

não sabem e nem mesmo querem obedecer aos<br />

magistrados [...] Ao contrário, aqueles que vivem em<br />

extrema penúria desses benefícios tornam-se demasiados<br />

humildes e rasteiros. Disso resulta que uns incapazes de<br />

mandar, só sabem mostrar uma obediência servil e que<br />

outros, incapazes de se submeter a qualquer poder<br />

legítimo, só sabem exercer uma autoridade despótica.<br />

(Aristóteles, A Política)<br />

Segundo Aristóteles (384–322 a.C.), que viveu em<br />

Atenas e em outras cidades gregas, o bom exercício do<br />

poder político pressupõe:<br />

a) o confronto social entre ricos e pobres.<br />

b) a coragem e a bondade dos cidadãos.<br />

c) uma eficiente organização militar do Estado.<br />

d) a atenuação das desigualdades entre cidadãos.<br />

e) um pequeno número de habitantes na cidade.<br />

(UTFPR/PR) Universidade Tecnológica Federal do<br />

Paraná - Questão 38:<br />

“Desde o século VII a.C. Atenas conheceu grande<br />

desenvolvimento econômico, ampliando suas relações<br />

comerciais a partir do Porto do Pireu, e a escravidão na<br />

produção agrícola. Como conseqüência, a luta de classes<br />

tornou-se mais acirrada, forçando mudanças políticas,<br />

que determinaram a perda do monopólio, que beneficiou<br />

as camadas populares, mas em especial os mercadores,<br />

pequenos proprietários e artesãos.”<br />

O texto refere-se ao apogeu de Atenas e sobre este<br />

período é correto afirmar que:


a) o conceito de democracia para os antigos atenienses<br />

se restringia a menos de 10% dos habitantes da<br />

polis.<br />

b) o advento da democracia possibilitou a integração de<br />

toda Hélade em torno de um único soberano.<br />

c) a economia de mercado fez com que os atenienses<br />

montassem um gigantesco império comercial, sem<br />

encontrar descontentamentos das outras cidades.<br />

d) na sua evolução, a democracia ateniense acabou<br />

estendendo a participação política às mulheres e aos<br />

estrangeiros.<br />

e) o escravismo foi abolido definitivamente com a<br />

dominação macedônica.<br />

(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 39:<br />

O nome perieco, em grego [perioikos], significava<br />

morador “em torno da casa” e servia para designar uma<br />

classe com várias obrigações de Estado, entre elas a do<br />

serviço militar. Com base nestas obrigações estatais dos<br />

periecos em Esparta antiga, é correto afirmar que estes<br />

homens socialmente eram reconhecidos como:<br />

a) cidadãos espartanos que cumpriam o dever cívico<br />

desde o nascimento, servindo como guerreiros e<br />

sustentando a ordem dentro e fora da militarizada<br />

cidade-Estado de Esparta.<br />

b) homens livres, mas com direitos limitados, estando<br />

politicamente submetidos aos esparciatas, os<br />

cidadãos espartanos, os quais definiam o lugar dos<br />

periecos na guerra.<br />

c) trabalhadores servos, presos à terra e sem direitos<br />

políticos, estando sob a autoridade direta dos hilotas,<br />

os cidadãos espartanos, que os levavam para a<br />

guerra como escravos.<br />

d) escravos de uma categoria superior a dos hilotas. Os<br />

periecos recebiam alforria com mais facilidade e não<br />

podiam ser maltratados por seus senhores, pois<br />

serviam na guerra.<br />

e) pequenos proprietários rurais que ganharam<br />

cidadania espartana depois da guerra do Peloponeso,<br />

quando Esparta teve que convocar mais homens<br />

além dos seus cidadãos.<br />

(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />

Questão 40:<br />

"Ao mesmo tempo conseqüência da crise agrária, para a<br />

qual constituía uma saída e fator de um progresso<br />

econômico diversificado, a colonização grega foi um dos<br />

acontecimentos essenciais dos séculos arcaicos, embora<br />

com ímpeto menor e algumas modificações se<br />

estendessem igualmente aos séculos clássicos (V e IV<br />

a.C.).<br />

(CARDOSOS, C.F. A cidade-estado antiga. São Paulo: Ática, 1990, p.25)<br />

Sobre o tema, assinale o que for correto.<br />

1 - A colônia grega típica, ou apoikia, era uma cidade-<br />

Estado independente, fundada por uma metrópole que<br />

enviava um guia ou fundador (oikistés) e financiava a<br />

expedição; esta, no entanto, podia contar com<br />

contingentes de várias póleis.<br />

2 - A relação dos gregos com os povos nativos era<br />

normalmente pacífica, com tendências ao igualitarismo.<br />

4 - O processo colonizatório grego possibilitou um<br />

prodigioso movimento de multiplicação das póleis<br />

gregas cujo número ultrapassaria 1500.<br />

8 - A criação de colônias no Mediterrâneo Ocidental, no<br />

norte da África, no Mar Negro e outros locais prendia-se,<br />

exclusivamente, a motivos agrários.<br />

16 - A intervenção das autoridades metropolitanas era<br />

clara: não se tratava de migrações espontâneas<br />

organizadas em caráter privado; a penalidade para quem<br />

se negasse a partir era a morte, acompanhada de confisco<br />

de bens.<br />

(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />

Mineiro - Questão 41:<br />

Temos um regime que nada tem a invejar das leis<br />

estrangeiras. Somos, antes, exemplos que imitadores.<br />

Nominalmente, como as coisas não dependem de uma<br />

minoria, mas, ao contrário, da maioria, o regime se<br />

denomina democracia. No entanto, se, em matéria de<br />

divergências particulares, a igualdade de todos diante da<br />

lei é assegurada, cada um, em virtude das honras devidas<br />

à posição ocupada, é julgado naquilo que pode ocasionar<br />

sua distinção: no que se refere à vida pública, as origens<br />

sociais contam menos que o mérito, sem que a pobreza<br />

dificulte a alguém servir à cidade por causa da humildade<br />

de sua posição (...)<br />

Uma pessoa pode, ao mesmo tempo, ocupar-se de seus<br />

assuntos e dos do Estado e a multiplicidade das<br />

ocupações não impede o julgamento dos assuntos<br />

públicos. Somos os únicos a taxar, efetivamente, aqueles<br />

que não fazem parte dos ativos, mas dos inúteis.<br />

Tucídides, <strong>História</strong> da Guerra do Peloponeso.<br />

45


Tratando da democracia ateniense, o autor destaca, nesse<br />

texto:<br />

a) a influência que outros modelos políticos exerceram<br />

sobre Atenas;<br />

b) a importância do princípio da isonomia entre os<br />

cidadãos;<br />

c) seu desprezo por aqueles que se dedicavam à vida<br />

pública;<br />

d) o critério censitário que determinava a participação<br />

política;<br />

e) a exigência de dedicação exclusiva aos assuntos<br />

públicos.<br />

(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />

Questão 42:<br />

Ao povo dei tantos privilégios quantos lhe bastam à sua<br />

honra; nada tirei nem acrescente; mas os que tinham<br />

poder e eram admirados pelas riquezas, também neles<br />

pensei que nada tivessem de infamantes... Entre uma e<br />

outra facção, a nenhuma permitiu vencer injustamente.<br />

(Sólon, século VI a.C.)<br />

No governo de Atenas, o autor procurou:<br />

a) Restringir a participação política de ricos e pobres,<br />

para impedir que suas demandas pusessem em<br />

perigo a realeza.<br />

b) Impedir que o equilíbrio político existente, que<br />

beneficiava a aristocracia, fosse alterado no sentido<br />

da democracia.<br />

c) Permitir a participação dos cidadãos pobres na<br />

política para derrubar o monopólio dos grandes<br />

proprietários de terras.<br />

d) Abolir a escravidão dos cidadãos que se<br />

endividavam, ao mesmo tempo em que mantinha sua<br />

exclusão da vida política.<br />

e) Disfarçar seu poder tirânico com concessões e<br />

encenações que davam aos cidadãos a ilusão de que<br />

participavam da política.<br />

(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 43:<br />

Através da cultura, a sociedade humana constrói seu<br />

conhecimento sobre a natureza e procura decifrar os<br />

mistérios do universo. A produção cultural foi um dos<br />

Destaques da Grécia na Antiguidade. Na época, o teatro<br />

grego:<br />

46<br />

a) conseguiu sintetizar as preocupações religiosas da<br />

sociedade, criticando as concepções mitológicas<br />

dominantes.<br />

b) teve suas encenações ao ar livre bastante admiradas,<br />

com atores do sexo masculino, usando máscaras nas<br />

representações.<br />

c) divertiu o povo com suas comédias cheias de ironia<br />

filosófica, evitando a representação de temas sobre<br />

as angústias humanas.<br />

d) representou a vida confusa dos deuses gregos,<br />

contribuindo para esvaziar o poder dos mitos e da<br />

aristocracia.<br />

e) foi à expressão das preocupações filosóficas do seu<br />

povo, divulgando uma ética democrática sem<br />

ligações com a religião.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 44:<br />

A sociedade grega criou seus mitos e deuses, mas<br />

também elaborou um pensamento filosófico que<br />

expressava sua preocupação com a verdade e a ética.<br />

Além de Aristóteles, Platão e Sócrates, muitos<br />

pensadores merecem ser citados e discutidos, como os<br />

sofistas, que:<br />

a) formularam princípios éticos, revolucionários para a<br />

época e de grande significado para o pensamento de<br />

Platão.<br />

b) defenderam a liberdade de expressão, embora<br />

estivessem ligados à aristocracia ateniense, contrária<br />

à ampliação da cidadania.<br />

c) construíram reflexões sobre o comportamento<br />

humano que serviram de base para Aristóteles<br />

pensar a sua metafísica.<br />

d) criticaram a existência de verdades absolutas,<br />

afirmando ser o homem a medida de todas as coisas.<br />

e) ajudaram a consolidar o pensamento conservador<br />

grego, reafirmando a importância da mitologia.<br />

(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão 45:<br />

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas /<br />

Vivem pros seus maridos, orgulho e raça da Atenas /<br />

Quando amadas, se perfumam / Se banham com leite, se<br />

arrumam / Suas melenas / Quando fustigadas não choram<br />

/ Se ajoelham, pedem, imploram / Mais duras penas /<br />

Cadenas<br />

Buarque, Chico. "Mulheres de Atenas". Disponível em:<br />

www.mundocultural.com.br. Acesso em: 11 set. 2006.


O papel desempenhado pela mulher na <strong>História</strong> foi, por<br />

muito tempo, negligenciado pelos historiadores. Apenas<br />

a partir da segunda metade do século XX, os<br />

historiadores, despertados pelas contestações feministas,<br />

passaram a interessar mais pela atuação da mulher. Sobre<br />

a mulher na antiguidade, analise a validade das<br />

proposições a seguir.<br />

I. A mulher no Egito Antigo teve um status privilegiado<br />

em comparação com outras civilizações antigas, pois<br />

possuía direitos sociais e jurídicos que lhe garantiam<br />

uma significativa liberdade.<br />

II. As mulheres hebraicas possuíam direitos políticos e<br />

sociais equivalentes aos dos homens, derivados dos<br />

preceitos religiosos do Pentateuco, os quais defendiam<br />

que os homens e as mulheres são iguais, pois ambos são<br />

filhos de Deus.<br />

III. A mulher ateniense casada vivia grande parte do seu<br />

tempo confinada ao lar, estando submissa a um regime<br />

de quase reclusão, privada de uma participação efetiva<br />

nas decisões políticas.<br />

IV. A sociedade guerreira espartana privada as mulheres<br />

de qualquer participação no exército e na política,<br />

restringindo suas funções à educação dos seus filhos e de<br />

suas filhas.<br />

a) As proposições I e III são verdadeiras.<br />

b) As proposições I e IV são verdadeiras.<br />

c) As proposições II e III são verdadeiras.<br />

d) As proposições III e IV são verdadeiras.<br />

c) Permitir a participação dos cidadãos pobres na<br />

política para derrubar o monopólio dos grandes<br />

proprietários de terras.<br />

d) Abolir a escravidão dos cidadãos que se<br />

endividavam, ao mesmo tempo em que mantinha sua<br />

exclusão da vida política.<br />

e) Disfarçar seu poder tirânico com concessões e<br />

encenações que davam aos cidadãos a ilusão de que<br />

participavam da política.<br />

(UNICAMP/SP) - Universidade Estadual de Campinas -<br />

Questão 47:<br />

As figuras escavadas em pedra nos mármores de Elgin,<br />

que circundavam o Parthenon, encorajavam as<br />

esperanças dos atenienses. Assim batizadas em honra do<br />

nobre inglês que as levou para Roma no século XIX, elas<br />

podem ser apreciadas hoje no Museu Britânico. Nos<br />

mármores estão esculpidas cenas em honra da fundação<br />

de Atenas e aos seus deuses. Celebrava-se o triunfo da<br />

civilização sobre o barbarismo.<br />

(Adaptado de Richard Sennett, A pedra e a carne. O Corpo e a Cidade na<br />

civilização Ocidental. Rio de Janeiro: Record. 2003. p. 37.)<br />

a) O que significa "bárbaro" na Atenas Clássica?<br />

b) Segundo o texto o que o Parthenon e seus mármores<br />

significavam?<br />

c) Explique por que a apropriação desses mármores pelos<br />

ingleses se dá no século XIX.<br />

(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />

Questão 46:<br />

Ao povo dei tantos privilégios quantos lhe bastam à sua<br />

honra; nada tirei nem acrescente; mas os que tinham<br />

poder e eram admirados pelas riquezas, também neles<br />

pensei que nada tivessem de infamantes... Entre uma e<br />

outra facção, a nenhuma permitiu vencer injustamente.<br />

(Sólon, século VI a.C.)<br />

No governo de Atenas, o autor procurou:<br />

a) Restringir a participação política de ricos e pobres,<br />

para impedir que suas demandas pusessem em<br />

perigo a realeza.<br />

b) Impedir que o equilíbrio político existente, que<br />

beneficiava a aristocracia, fosse alterado no sentido<br />

da democracia.<br />

(UDESC) - Fundação Universidade do Estado de Santa<br />

Catarina - Questão 48:<br />

Na antiguidade clássica greco-romana, os cidadãos<br />

participavam ativamente da vida pública, social, religiosa<br />

e militar, sempre exercendo as funções de comando e<br />

liderança.<br />

Em relação a esse fato, assinale a alternativa incorreta:<br />

a) A era helenística marcou a transição da civilização<br />

grega para a romana.<br />

b) O cristianismo conseguiu se converter em religião<br />

oficial do Estado somente no ano mil.<br />

c) As olimpíadas foram criadas pelos gregos, como<br />

forma de homenagem à sua divindade suprema,<br />

Zeus.<br />

d) Na sociedade espartana, a rigorosa disciplina e a<br />

educação militarizada tinham claros objetivos<br />

políticos.<br />

47


e) A exemplo do Coliseu, os anfiteatros romanos foram<br />

cenários de festas e espetáculos, vulgarizados na<br />

prática do pão e circo.<br />

(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />

Questão 49:<br />

Atenas viveu, após as reformas implementadas por<br />

Clístenes em 508 a.C., sob um regime democrático. As<br />

reformas na distribuição dos cidadãos por tribos,<br />

ampliadas de 4 para 10 e a repartição de cada tribo em<br />

três demos, um na cidade, um no litoral e outro na área<br />

rural, foram as bases para as reformas posteriores. Sobre<br />

o assunto, assinale a afirmativa incorreta:<br />

a) O ostracismo, aplicado pela primeira vez no período<br />

488 – 487 a.C., estabelecia a expulsão do cidadão<br />

denunciado como politicamente perigoso e a<br />

cassação de seus direitos políticos por um prazo de<br />

dez anos.<br />

b) Entre as reformas implementadas por Péricles, a<br />

criação da mistoforia – remuneração ao exercício de<br />

cargos e à participação nas assembléias – permitiu<br />

que os cidadãos mais pobres pudessem participar da<br />

política sem colocar em risco a sua subsistência<br />

material.<br />

c) Todos os habitantes de Atenas, maiores de dezoito<br />

anos, de qualquer gênero, de qualquer procedência,<br />

ou de qualquer classe de riqueza podiam votar na<br />

assembléia popular – Eclésia.<br />

d) Na Atenas do século IV a.C., a Eclésia era o centro<br />

de vida política, englobando entre suas funções as<br />

dimensões legislativa, executiva, judiciária e<br />

eleitoral.<br />

e) Ao longo do século IV a.C., a democracia ateniense<br />

enfrentou dificuldades para manter suas instituições,<br />

dentre elas as advindas do volume de recursos para<br />

sustentar as remunerações dos cidadãos, como a<br />

mistoforia.<br />

(UFG/GO) - Universidade Federal de Goiás - Questão<br />

50:<br />

Leia os trechos do poema de Murilo Mendes:<br />

Eu quis acender o espírito da vida, / Quis refundir meu<br />

próprio molde, / Quis conhecer a verdade dos seres, dos<br />

elementos; / Me rebelei contra Deus. / [...] / Então o<br />

ditador do mundo / Mandou me prender no Pão de<br />

Açúcar: / Vem, esquadrilhas de aviões / Bicar o meu<br />

48<br />

pobre fígado. / Vomito bílis em quantidade, / [...] / Mas<br />

não posso pedir perdão.<br />

Citado por RODRIGUES, Antonio Medina. As utopias gregas. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1988. p. 51-52.<br />

A poesia de Murilo Mendes reatualiza o mito grego,<br />

apresentando uma percepção do mundo contemporâneo.<br />

Identifique e caracterize a narrativa mítica grega a qual o<br />

poema se refere.<br />

(UFC) - Universidade Federal do Ceará - Questão 51:<br />

A tirania foi uma das formas de regime político que<br />

surgiu em algumas cidades gregas, como Atenas, no<br />

século VI a.C., e antecedeu a consolidação da<br />

democracia.<br />

a) Por que a tirania que existiu na Grécia difere do que se<br />

entende, atualmente, por tirania?<br />

b) Por que o mecanismo do ostracismo foi importante<br />

para a manutenção da democracia na Grécia Antiga?<br />

(UECE) - Universidade Estadual do Ceará - Questão 52:<br />

“Atenas (...) mais atenta a alargar o seu império marítimo<br />

do que a usufruí-lo, com um governo político em que os<br />

rendimentos públicos eram distribuídos pelo povo<br />

enquanto os ricos eram oprimidos, nunca chegou a fazer<br />

esse grande comércio que lhe prometiam o trabalho nas<br />

suas minas, a multidão dos seus escravos, o grande<br />

número dos seus homens do mar, a sua autoridade sobre<br />

as cidades gregas e, mais do que tudo isso, as belas<br />

instituições de Sólon,”<br />

Fonte: Montesquieu in O Espírito das Leis. (1748).<br />

Tomando por base o conteúdo apresentado, é correto<br />

afirmar:<br />

a) O interesse ateniense em expandir o seu domínio se<br />

consolidou com a organização da Confederação de<br />

Delos, durante o período helenístico.<br />

b) A expansão do comércio ateniense decorreu do<br />

intercâmbio mantido com os fenícios, que<br />

controlavam o comércio marítimo no Mediterrâneo.<br />

c) A valorização dos direitos do cidadão, que<br />

expressava a base da democracia ateniense, era mais<br />

reconhecida do que as atividades comerciais.<br />

d) O espírito de conquista territorial dos atenienses, no<br />

Mar Egeu, decorreu do fortalecimento de Esparta<br />

como pólo comercial.


(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 53:<br />

Os poemas homéricos são fontes históricas para se<br />

conhecerem os primeiros tempos da cultura e da<br />

sociedade grega. No chamado período homérico:<br />

a) a sociedade grega tinha na religião sua grande base<br />

de poder;<br />

b) os gregos conservaram formas de governo sem<br />

intervenção da religião;<br />

c) essa sociedade viveu as primeiras experiências<br />

democráticas;<br />

d) observa-se uma grande atuação dos principais<br />

filósofos gregos;<br />

e) os gregos valorizaram o pacifismo e o teatro épico<br />

de Aristófanes.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 54:<br />

A Grécia conviveu com formas políticas de governo<br />

variadas que contribuíram para debates significativos<br />

sobre a ética e a cidadania. A experiência política dos<br />

gregos, no período governado por Péricles, em Atenas:<br />

a) reforçou a monarquia eletiva, com a ampliação da<br />

cidadania para os estrangeiros asiáticos, garantindo<br />

um sistema democrático na escolha dos governantes;<br />

b) promoveu a divisão da população da Ática em dez<br />

tribos, contribuindo para o fortalecimento de<br />

práticas democráticas, de acordo com as condições<br />

da época;<br />

c) consolidou o poder da nobreza, influenciando o<br />

surgimento da tirania e do ostracismo e excluindo os<br />

estrangeiros da participação política;<br />

d) trouxe uma maior consolidação da democracia, com<br />

a existência de uma assembléia, onde votavam os<br />

cidadãos atenienses, revelando um grande interesse<br />

pelos debates políticos;<br />

e) garantiu maior poder para os cidadãos,<br />

transformando a Bulé no órgão mais importante do<br />

governo, garantindo novos rumos para as relações<br />

políticas da época, em toda a Grécia, e condenando<br />

o imperialismo dos persas.<br />

(UNEB/BA) - Universidade do Estado da Bahia -<br />

Questão 55:<br />

Os conhecimentos sobre o papel representado pelas<br />

cidades na história do mundo ocidental permitem<br />

afirmar:<br />

a) A cidade-estado grega cresceu a partir do<br />

desenvolvimento das trocas e do artesanato,<br />

tornando-se um centro de exploração do trabalho<br />

escravo e de camponeses pobres, pois também<br />

incluía as terras e os campos vizinhos.<br />

b) As cidades européias, durante a época feudal,<br />

tornaram-se grandes centros culturais e religiosos,<br />

sendo formadas por uma população diversificada,<br />

que incluía intelectuais humanistas e burgueses<br />

envolvidos na atividade comercial, em plena<br />

expansão nesse período.<br />

c) O crescimento urbano, no início da Idade Moderna,<br />

resultou da expansão da ideologia socialista e do<br />

crescimento do proletariado.<br />

d) A industrialização inglesa do século XVIII<br />

intensificou a urbanização, baseada, exclusivamente,<br />

em um proletariado originário das próprias cidades.<br />

e) As cidades coloniais brasileiras nasceram a partir de<br />

um traçado urbano originário da Metrópole,<br />

privilegiando os sistemas de esgotamento sanitário e<br />

de abastecimento de água.<br />

(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul -<br />

Questão 56:<br />

A respeito do desporto na Grécia Antiga, é correto<br />

afirmar que:<br />

a) o desporto grego, apesar de bastante competitivo,<br />

muito raramente era sangrento e mortal, haja vista<br />

que tinha caráter religioso e comemorava a paz entre<br />

Atenas e Esparta;<br />

b) por volta de 500 a.C., os maiores festivais atléticos<br />

estavam em completa decadência, deixando de<br />

conferir prestígio e glória às grandes familias e às<br />

cidades de origem dos atletas;<br />

c) em seus primórdios, as mais antigas competições em<br />

Olímpia tinham um significado meramente<br />

desportivo, ao passo que no século VIII a.C.<br />

passaram a ter um sentido estritamente religioso;<br />

d) os gregos acreditavam no valor do desporto como<br />

treino, sobretudo para a guerra, haja vista que<br />

ambos, guerra e desporto, tinham para eles muito em<br />

comum;<br />

e) nos tempos de Homero, vários atletas adquiriram<br />

grande prestígio e glória em suas cidades natais,<br />

chegando mesmo a serem vistos como deuses, cujas<br />

estátuas podiam fazer milagres e, por esse motivo,<br />

eram cultuadas publicamente.<br />

49


(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 57:<br />

Na construção da sociedade ocidental, há um destaque,<br />

dado por muitos historiadores, aos feitos da civilização<br />

grega, nos setores mais diversos da sua vida. Muitos<br />

feitos culturais dos gregos:<br />

a) permanecem atuantes na contemporaneidade,<br />

contribuindo para o pensamento ocidental, inclusive<br />

na formulação de seus valores éticos e políticos;<br />

b) distanciam-se totalmente dos princípios dos nossos<br />

tempos, não sendo retomados pelos pensadores do<br />

mundo atual;<br />

c) estão restritos aos tempos da Antiguidade Clássica,<br />

onde predominavam os interesses da aristocracia<br />

comercial de Atenas;<br />

d) são diferentes dos feitos dos romanos e dos de<br />

outros povos da Antiguidade, pela universalização<br />

das suas práticas democráticas e estéticas;<br />

e) ficaram restritos às conquistas estéticas da<br />

arquitetura e da escultura, onde se salientava a<br />

harmonia das formas como princípio estético.<br />

(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 58:<br />

A arte grega construiu espaço significativo na história do<br />

mundo ocidental. Sobre esta arte, pode-se afirmar que:<br />

a) privilegiou a pintura e a música, inspirando os<br />

artistas do tempo medieval e do renascimento;<br />

b) teve, na arquitetura, obras de destaque, em que um<br />

dos princípios básicos era a harmonia das formas;<br />

c) se destacou com originalidade, na música da<br />

antigüidade, influenciando depois os grandes artistas<br />

modernistas;<br />

d) se preocupou em seguir os ensinamentos realistas de<br />

Platão – o filósofo maior da cultura grega que se<br />

dedicou ao estudo da estética;<br />

e) não teve penetração na vida cotidiana das grandes<br />

cidades gregas, sendo apenas admirada pelas escolas<br />

elitizadas.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 59:<br />

O teatro trouxe expressões artísticas importantes para a<br />

formação do povo grego, as quais repercutiram<br />

historicamente no mundo ocidental. As tragédias gregas<br />

tinham, assim, notável força dramática e:<br />

50<br />

a) possuíam grande conteúdo ético, embora fossem<br />

distantes das manifestações religiosas;<br />

b) tiveram repercussões na construção da filosofia e na<br />

cultura;<br />

c) se restringiam às grandes ações dos mitos ligados às<br />

elites;<br />

d) expressavam momentos de conflito dos homens com<br />

a sua existência;<br />

e) são iguais às tragédias modernas, explorando a<br />

ironia e o humor.<br />

(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />

Questão 60:<br />

Na sociedade espartana, o hilotismo era elemento<br />

constitutivo de sua organização social. Sobre os hilotas,<br />

assinale o que for correto:<br />

1 - Eram responsáveis pelo comércio e artesanato locais.<br />

2 - Eram respeitados pela classe dominante espartana,<br />

tendo a possibilidade de acumular pequenas fortunas<br />

com as quais comprovam títulos de cidadania.<br />

4 - Eram submetidos aos kriptios, forma de repressão e<br />

extermínio, para impedir o crescimento demográfico e<br />

rebeliões.<br />

8 - Constituíam a camada social subjugada econômica e<br />

politicamente e pertenciam ao Estado.<br />

16 - Eram expropriados através da cobrança de impostos<br />

extorsivos e sofriam violências por parte dos esparciatas.<br />

(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />

Questão 61:<br />

Com o fim do domínio gentílico sobre a terra, os<br />

parentes mais próximos do pater apropriaram-se das<br />

terras mais ricas, passando a ser conhecidos como<br />

eupátridas (os bem nascidos). O restante da terra foi<br />

dividido entre os georgoi (agricultores); os mais<br />

prejudicados por esta divisão foram os thetas<br />

(marginais), excluídos da partilha. Os novos grupos<br />

sociais, a propriedade privada da terra e o surgimento<br />

dos demos marcaram o advento da pólis (cidade-estado)<br />

grega. Sobre a pólis grega, é correto afirmar:<br />

a) Em razão da abundância de terras na pólis, os<br />

excedentes populacionais balcânicos continuaram a<br />

lutar por terras em torno da acrópole.<br />

b) O poder ampliado do pater na administração da<br />

família e da casa enfraqueceu o individualismo, pois


eneficiou igualmente filhos e parentes distantes na<br />

partilha dos bens.<br />

c) Os georgoi produziram grandes riquezas em suas<br />

terras devido às boas colheitas e, com isso,<br />

despertaram a cobiça dos eupátridas.<br />

d) Com a pólis, o urbano constituiu-se como a base da<br />

sociedade e seu elemento de união, e a cidade-estado<br />

passou a ser liberada por um conselho de eupátridas.<br />

e) Os demiurgos tornaram-se o grupo social dominante<br />

em cada pólis, compartilhando o poder político com<br />

os eupátridas.<br />

A lei visava:<br />

a) diminuir a participação dos cidadãos na vida política<br />

da cidade;<br />

b) obrigar os cidadãos a participar da vida política da<br />

cidade;<br />

c) aumentar a segurança dos cidadãos que participavam<br />

da política;<br />

d) deixar aos cidadãos a decisão de participar ou não da<br />

política;<br />

e) impedir que conflitos entre os cidadãos<br />

prejudicassem a cidade.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />

Questão 62:<br />

Os gregos antigos colocaram o Estado acima da religião,<br />

valorizaram os ideais da liberdade humana e glorificaram<br />

o homem como a mais importante criatura do universo.<br />

Analise as afirmações sobre a civilização grega:<br />

I. A vitória dos gregos sobre os persas na batalha do<br />

desfiladeiro das Termópilas deu a Esparta o controle<br />

sobre toda a Grécia.<br />

II. As reformas de Sólon favoreceram o surgimento da<br />

democracia em Atenas.<br />

III. A civilização helenística surgiu do amálgama da<br />

civilização grega com a romana.<br />

IV. A democracia ateniense era direta e não se estendia a<br />

toda população de Atenas.<br />

São afirmações corretas:<br />

a) apenas I e II;<br />

b) apenas II e IV;<br />

c) I, II e III;<br />

d) apenas II e III;<br />

e) II, III e IV.<br />

(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />

Vestibular - Questão 63:<br />

"Vendo Sólon [que] a cidade se dividia pelas disputas<br />

entre facções e que alguns cidadãos, por apatia, estavam<br />

prontos a aceitar qualquer resultado, fez aprovar uma lei<br />

específica contra eles, obrigando-os, se não quisessem<br />

perder seus direitos de cidadãos, a escolher um dos<br />

partidos". Aristóteles, em A Constituição de Atenas.<br />

(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa -<br />

Questão 64:<br />

[...] "Polis" é a palavra grega que traduzimos por<br />

"cidade-estado". É uma tradução, porque a pólis normal<br />

não se assemelhava muito a uma cidade e era muito mais<br />

do que um Estado. Mas a tradução, como a política, é a<br />

arte do possível [...]<br />

(KITTO, 1980, p. 107.).<br />

Sobre a "polis" grega, assinale o que for correto:<br />

1 - A Democracia, invenção grega, possibilitou, desde a<br />

época arcaica, uma tendência à participação eqüânime da<br />

população na propriedade da terra, superando as<br />

barreiras de riqueza e de sangue.<br />

2 - As primeiras poleis, ao que parece, teriam surgido na<br />

Grécia asiática, local de chegada de jônios e eólios<br />

expulsos pelos invasores dórios e que, mediante um<br />

processo de sinecismo topográfico e político, formaram<br />

cidadelas com governos próprios.<br />

4 - As cidades formaram um conjunto de estados<br />

autônomos, que podiam se opor entre si, ou estabelecer<br />

alianças e coligações, mas nunca chegaram a submeterse<br />

a um único governo.<br />

8 - Os poemas, como a "Ilíada" e a "Odisséia", deram aos<br />

gregos o sentimento de que, a despeito das suas<br />

divergências, faziam parte de um conjunto; o sentimento<br />

de uma unidade nacional-espiritual que os opunha aos<br />

bárbaros, àqueles que não compreendiam a língua grega,<br />

embora dividida em dialetos, e que não tinham as<br />

mesmas crenças que eles.<br />

16 - A Guerra do Peloponeso, embora tivesse causado<br />

algumas fraturas entre espartanos e atenienses, serviu<br />

para garantir a hegemonia grega no Mediterrâneo.<br />

51


(UFC) - Universidade Federal do Ceará - Questão 65:<br />

Leia o texto abaixo:<br />

“(...) Os homens comuns desaparecem com a morte, no<br />

terrível esquecimento do Hades tornam-se anônimos,<br />

sem-nome. Somente o indivíduo heróico, aceitando<br />

enfrentar a morte na flor de sua juventude, vê seu nome<br />

perpetuar-se gloriosamente de geração em geração. Sua<br />

figura singular fica para sempre inscrita na vida<br />

comum...”<br />

(VERNANT, Jean Pierre. L’individu, la mort, l’amour: soi-même et l’autre en<br />

Grèce ancienne. Paris: Gallimard, 1989. p. 217.)<br />

Assinale a alternativa correta quanto à construção da<br />

imagem do guerreiro na Grécia Antiga:<br />

a) As epopéias eram narrativas da vida de indivíduos<br />

comuns durante o período homérico.<br />

b) A Ilíada e a Odisséia foram as narrativas que<br />

consolidaram o ideal de guerreiro.<br />

c) A Ilíada é a narrativa que desconstruiu a idealização<br />

do guerreiro.<br />

d) Para os gregos a imortalidade era conquistada<br />

através das ações cotidianas.'<br />

e) A morte dos deuses do Olimpo era uma forma de<br />

perpetuar a imagem dos guerreiros.<br />

(UnB/DF) - Universidade de Brasília - Questão 66:<br />

O mundo greco-romano não se estruturava como os<br />

Estados Nacionais Contemporâneos, mas de modo bem<br />

distinto, como Cidades-Estados. Estas, que conhecemos<br />

pela tradição escrita, pela epigrafia ou pelas fontes<br />

arqueológicas, eram muito diferentes entre si: nas<br />

dimensões territoriais, nas riquezas, em suas histórias<br />

particulares e nas diferentes soluções obtidas, ao longo<br />

dos séculos, para os conflitos de interesses entre seus<br />

componentes. A maioria delas nunca ultrapassou a<br />

dimensão de pequena unidade territorial, abrigando<br />

alguns milhares de habitantes – não mais que cinco mil,<br />

quase todos envolvidos com o meio rural. Outras, de<br />

porte médio, chegaram a congregar vinte mil pessoas.<br />

Algumas poucas, portos comerciais ou centros de<br />

grandes impérios, atingiram a dimensão de verdadeiras<br />

metrópoles, com mais de cem mil habitantes – e, por<br />

vezes, como na Roma imperial, chegaram à escala de um<br />

milhão de habitantes.<br />

(GUARINELLO, Luiz N. Cidades-Estados na Antiguidade clássica. In: PINSKY<br />

Jaime; PINSKY Carla B. (Orgs.). <strong>História</strong> da cidadania. São Paulo: Contexto,<br />

2003. p. 30 [com adaptações]).<br />

52<br />

Julgue os itens seguintes considerando as estruturas<br />

lingüísticas e idéias do texto acima, bem como a<br />

organização das cidades ao longo da <strong>História</strong>, e diga qual<br />

está incorreta:<br />

a) No texto, conhecer "pela epigrafia" significa<br />

conhecer pela grafia de epigramas.<br />

b) sujeito de "eram muito diferentes entre si" é "Estas",<br />

pronome que se refere a "Cidades-Estados".<br />

c) Ao longo dos séculos, a cultura greco-latina<br />

influenciou a literatura brasileira, notadamente no<br />

Arcadismo e no Parnasianismo.<br />

d) Atenas é exemplo típico de Cidade-Estado grega:<br />

pequeno território e reduzida população,<br />

comparativamente às Cidades-Estados da sua época,<br />

não impediram que o comércio nela florescesse e<br />

que, no século V a.C., atingisse a plenitude de seu<br />

desenvolvimento cultural e do exercício da<br />

democracia.<br />

e) Em Esparta, um dos modelos de pólis grega, o<br />

desenvolvimento das instituições políticas foi<br />

prejudicado pelo acentuado militarismo imposto e<br />

conduzido pela classe dominante, razão pela qual<br />

sua experiência democrática ficou aquém da<br />

ateniense.<br />

f) Roma, Cidade-Estado que conheceu uma trajetória<br />

distinta da verificada pelas Cidades-Estados<br />

helênicas, a partir da República, procedeu à<br />

conquista da península italiana e, ao derrotar<br />

Cartago, assumiu o controle do Mediterrâneo, ponto<br />

de partida para a constituição do Império Romano.<br />

g) De forma geral, o panorama europeu da Alta<br />

IdadeMédia, que sucedeu à crise final do Império<br />

Romano, mostrou-se essencialmente ruralizado e,<br />

ainda que convivendo com eventuais impérios,<br />

como foi o caso do império de Carlos Magno,<br />

tendeu à fragmentação do poder político.<br />

h) Na Baixa Idade Média, compondo o cenário de<br />

esgotamento que prenunciou o declínio do<br />

feudalismo, o renascimento da vida urbana indicava,<br />

entre outros aspectos, a retomada da atividade<br />

mercantil em níveis de crescente intensidade.<br />

i) No mundo contemporâneo, algumas cidades se<br />

estendem por grandes regiões, formando as<br />

megalópoles: redes de cidades integradas social e<br />

espacialmente por meios de transporte, sistemas de<br />

comunicações e fluxos de pessoas, mercadorias,<br />

capitais e informações.<br />

j) Nas metrópoles atuais, nota-se um total<br />

desvinculamento com o mundo rural, isto é, as<br />

relações campo – cidade deixaram de existir.


(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />

- Questão 67:<br />

A religião grega era, sobretudo, antropomórfica, desta<br />

forma seus deuses tinham:<br />

a) as fraquezas, as paixões e as virtudes humanas, mas,<br />

apesar de serem eternos e mais felizes do que os<br />

mortais, não fugiam ao fatalismo do destino, por<br />

vezes cruel;<br />

b) as conquistas latinas, as paixões esvoaçantes, e eram<br />

conhecidos como Zeus, Era e Atena;<br />

c) as mortes precoces, os amores prematuros, e eram<br />

Mercúrio, Netuno e Dionísio;<br />

d) as populações com culto de origem oriental, era o<br />

deus do vinho, das águas e celestial;<br />

e) as deusas, os deuses, as festas, a sabedoria.<br />

importantes, os quais eram obrigados a jurar<br />

lealdade à constituição espartana;<br />

c) o Estado espartano regulava estritamente o sistema<br />

educacional dos cidadãos, razão pela qual as<br />

crianças do sexo masculino eram, aos 7 anos de<br />

idade, retiradas do convívio familiar para receberem<br />

uma formação militar coletiva;<br />

d) o conselho espartano (gerúsia) era formado por<br />

trinta membros, cabendo-lhe a tarefa de elaborar os<br />

projetos de lei a serem submetidos à assembléia, e<br />

atuava como a mais alta instância da justiça<br />

criminal;<br />

e) a assembléia espartana (ecclesia), da qual fazia parte<br />

o conjunto da população da Lacedemônia<br />

(espartanos, periecos e hilotas), era soberana<br />

sobrepondo-se à capacidade decisória da gerúsia.<br />

(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul<br />

- Questão 68:<br />

Assinale o principal conflito no qual os gregos se<br />

envolveram contra outro povo:<br />

a) Guerras Púnicas.<br />

b) Confederação de Delos.<br />

c) Liga do Peloponeso.<br />

d) Guerras Médicas.<br />

e) Guerra de Tróia.<br />

(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 69:<br />

O conjunto das reformas políticas que se encontravam na<br />

origem da polis dos lacedemônios estava reunido em um<br />

documento proveniente do oráculo de Delfos<br />

denominado “Grande Retra”, muito provavelmente um<br />

decreto-lei primitivo, anterior ao século VI a.C., sobre o<br />

governo espartano.<br />

De acordo com esse documento:<br />

A respeito da organização política de Esparta no período<br />

clássico (séculos V e IV a.C.), não é correto afirmar que:<br />

a) o corpo cívico era constituído por indivíduos de sexo<br />

masculino, nascidos de pai e mãe espartanos, os<br />

assim denominados homoioi ou “iguais”.<br />

b) a polis era uma oligarquia que, de modo atípico,<br />

conservava a instituição da realeza, representada por<br />

dois reis escolhidos entre as famílias mais<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />

Questão 70:<br />

Denominamos de “civilização helenística” à civilização<br />

que resultou:<br />

a) da unificação cultural do Oriente, após as conquistas<br />

de Ciro I;<br />

b) da fusão de elementos culturais gregos e persas, ao<br />

fim das Guerras Médicas;<br />

c) da fusão de elementos culturais atenienses e<br />

espartanos ao fim da Guerra do Peloponeso;<br />

d) da fusão dos elementos culturais gregos e romanos<br />

nas áreas conquistadas por Roma;<br />

e) da fusão de elementos culturais gregos e orientais<br />

nas regiões conquistadas por Alexandre Magno.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 71:<br />

As conquistas de Alexandre significaram a expansão da<br />

cultura grega a sua influência sobre as regiões<br />

conquistadas. Decorrentes dessa expansão, o incremento<br />

foi provocado:<br />

a) pela criação de bibliotecas nos grandes centros<br />

manufatureiros;<br />

b) pela ruptura das fronteiras nacionais permitindo<br />

maior intercâmbio;<br />

c) pela introdução da trírreme no Mediterrâneo;<br />

d) pela substituição do papiro pelo pergaminho, o que<br />

facilitou a popularização da escrita;<br />

e) por ter sido a língua grega tornada oficial em todo o<br />

Oriente, o que facilitou o intercâmbio entre os<br />

mercadores.<br />

53


(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 72:<br />

Depois de conquistar o Oriente, Alexandre incorporou os<br />

vencidos ao seu exército, promoveu casamentos entre<br />

gregos e persas e adotou cerimônias políticas orientais<br />

com o fim de:<br />

a) empreender a conquista da África;<br />

b) agradar aos chineses conquistados;<br />

c) consolidar seu domínio com as cidades gregas<br />

conquistadas;<br />

d) criar um império de caráter universal integrando<br />

gregos e bárbaros;<br />

e) deter a expansão romana no Oriente.<br />

(VUNESP) - Fundação Vunesp - Questão 73:<br />

Entre os legados dos gregos da Antiguidade Clássica que<br />

se mantêm na vida contemporânea, podemos citar:<br />

a) a concepção de democracia com a participação do<br />

voto universal;<br />

b) a promoção do espírito de confraternização por<br />

intermédio do esporte e de jogos;<br />

c) a idealização e a valorização do trabalho manual em<br />

todas suas dimensões;<br />

d) os valores artísticos como expressão do mundo<br />

religioso e cristão;<br />

e) os planejamentos urbanísticos segundo padrões das<br />

cidades-acrópoles.<br />

(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />

Mesquita Filho - Questão 74:<br />

“A conseqüência mais aparente das invasões foi a<br />

destruição quase integral da civilização micênica. No<br />

espaço de um século, as criações orgulhosas dos<br />

arquitetos aqueus, palácios e cidadelas, não são mais do<br />

que ruínas. Ao mesmo tempo vemos desaparecer a<br />

realeza burocrática, a escrita, que não passava de uma<br />

técnica de administração, e todas as criações artísticas...”<br />

(Pierre Lévèque, A aventura grega.)<br />

O texto refere-se às invasões:<br />

a) persas;<br />

b) germânicas;<br />

c) macedônicas;<br />

d) dóricas;<br />

e) cretenses.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 75:<br />

Para entender a <strong>História</strong>, é importante buscar meios, a<br />

fim de explicá-la e poder compreender melhor as<br />

relações sociais e os mistérios do mundo. Na<br />

Antigüidade, a filosofia grega muito contribuiu para a<br />

reflexão e, mesmo nos dias atuais, sua produção tem<br />

acentuado destaque no pensamento ocidental. Com<br />

relação à contribuição dos filósofos gregos, podemos<br />

afirmar que:<br />

a) as teorias de Platão sedimentaram as bases do<br />

idealismo, pois defendiam o relativismo político e se<br />

contrapunham aos ensinamentos de Sócrates;<br />

b) as reflexões dos sofistas causaram grande impacto<br />

na sociedade da época, com seu relativismo e seus<br />

questionamentos sobre a existência da verdade;<br />

c) a filosofia de Aristóteles sintetizou o pensamento do<br />

mundo antigo, contribuindo para afirmar a<br />

possibilidade do relativismo e a necessidade de<br />

certezas absolutas;<br />

d) as reflexões de Sócrates sobre a ética e a virtude não<br />

foram sistematizadas e eram totalmente contrárias às<br />

reflexões de Aristóteles;<br />

e) a compreensão que os pré-socráticos tinham da<br />

formação do universo pouco significou para o<br />

pensamento filosófico, sobretudo as teorias de<br />

Demócrito e Parmênides.<br />

(UNICAP/PE) - Universidade Católica de Pernambuco -<br />

Questão 76:<br />

A organização socioeconômica e política da Grécia<br />

antiga se evidencia como um conjunto de transformações<br />

originárias do seu processo de colonização, iniciado no<br />

século VII a.C., durando, aproximadamente, dois<br />

séculos. Das alternativas, qual a incorreta?<br />

a) 1 - A intensa colonização tornou várias cidades<br />

dependentes do comércio marítimo, desenvolvendo<br />

o artesanato.<br />

b) 2 - Na agricultura, as transformações levaram<br />

grandes e pequenos proprietários à procução de<br />

oliveira e vinha.<br />

c) 3 - A escravidão diminuiu com os escravos, sendo<br />

usados apenas em trabalhos de construção.<br />

d) 4 - O uso dos escravos no artesanato e na agricultura<br />

prejudicou enormemente o padrão de vida das<br />

populações pobres.<br />

e) 5 - Nas cidades, os comerciantes e artesãos<br />

enriqueceram com a economia monetária, em<br />

detrimento da economia natural.<br />

54


(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />

Campinas - Questão 77:<br />

Na Grécia Antiga, um dos mais importantes<br />

representantes dos sofistas foi Protágoras de Abdera, que<br />

afirmava que "o homem é a medida de todas as coisas."<br />

No contexto histórico que marcou o século V a.C., os<br />

sofistas:<br />

a) forneceram elementos fundamentais para o<br />

desenvolvimento da democracia, por terem<br />

valorizado sobretudo o espírito crítico, a palavra e as<br />

técnicas de argumentação;<br />

b) desempenharam um papel importante na difusão das<br />

obras de Homero, ao reforçarem a importância da<br />

mitologia e dos deuses como elementos unificadores<br />

do povo grego;<br />

c) contribuíram para o fortalecimento do sistema<br />

monárquico, visto que idealizaram um sistema de<br />

leis que beneficiou amplamente a aristocracia rural,<br />

principalmente nas cidades de Tebas e Atenas;<br />

d) foram perseguidos e condenados à morte, uma vez<br />

que pregavam o monoteísmo e questionavam<br />

qualquer tipo de Estado, de lei e de autoridade sobre<br />

os homens;<br />

e) exerceram grande influência sobre os legisladores<br />

gregos, que adotaram medidas drásticas para a<br />

unificação do poder político e para o<br />

desaparecimento das cidades-estado.<br />

(UFSCAR/SP) - Universidade Federal de São Carlos -<br />

Questão 78:<br />

O legado da Grécia à filosofia ocidental é a filosofia<br />

ocidental. (Bernard Williams. In: Finley M. I. O legado da Grécia, 1998.)<br />

A afirmação baseia-se no fato de que:<br />

a) a filosofia moderna ocidental, apesar de ter deixado<br />

o pensamento filosófico grego para trás, recupera<br />

como princípio básico o legado mítico dos helenos;<br />

b) os filósofos gregos foram lidos pelos romanos,<br />

depois negados pela tradição romântica medieval e,<br />

posteriormente, recuperados por iluministas, como<br />

Voltaire e Diderot;<br />

c) os gregos foram os criadores de quase todos os<br />

campos importantes do conhecimento filosófico,<br />

como a metafísica, a lógica, a ética e a filosofia<br />

política;<br />

d) os sofistas, como Sócrates e Platão, responsáveis<br />

pela produção de obras no campo da mitologia,<br />

consolidaram os princípios da filosofia ocidental<br />

moderna;<br />

e) a metafísica de Platão tem estruturado, até hoje, as<br />

bases conceituais e filosóficas do pensamento<br />

científico e tecnológico contemporâneo ocidental.<br />

(UNIFESP/SP) - UFSP - Questão 79:<br />

Quando, a partir do final do último século a. C., Roma<br />

conquistou o Egito, e áreas da Mesopotâmia, encontrou<br />

nesses territórios uma forte presença de elementos<br />

gregos. Isto foi devido:<br />

a) ao recrutamento de soldados gregos pelos monarcas<br />

persas e egípcios;<br />

b) à colonização grega, semelhante à realizada na<br />

Sicília e Magna Grécia;<br />

c) à expansão comercial egípcia no Mediterrâneo<br />

Oriental;<br />

d) à denominação persa na Grécia durante o reinado de<br />

Dario;<br />

e) ao helenismo, resultante das conquistas de<br />

Alexandre o Grande.<br />

(FGV/SP) - Fundação Getúlio Vargas - São Paulo -<br />

Questão 80:<br />

O período helenístico foi marcado por grandes<br />

transformações na civilização grega. Entre suas<br />

características, podemos destacar:<br />

a) O desenvolvimento de correntes filosóficas que,<br />

diante do esvaziamento das atividades políticas das<br />

cidades-Estado, faziam do problema ético o centro<br />

de suas preocupações visando, principalmente, o<br />

aprimoramento interior do ser humano.<br />

b) Um completo afastamento da cultura grega com<br />

relação às tradições orientais, decorrente, sobretudo,<br />

das rivalidades com os persas e da postura<br />

depreciativa que considerava bárbaros todos os<br />

povos que não falavam o seu idioma.<br />

c) A manutenção da autonomia das cidades-Estado, a<br />

essa altura articuladas primeiro na Liga de Delos,<br />

sob o comando de Atenas e, posteriormente, sob a<br />

Liga do Peloponeso, liderada por Esparta.<br />

d) A difusão da religião islâmica na região da<br />

Macedônia, terra natal de Felipe II, conquistador das<br />

cidades-Estado gregas.<br />

e) O apogeu da cultura helênica representado,<br />

principalmente, pelo florescimento da filosofia e do<br />

teatro e o estabelecimento da democracia ateniense.<br />

55


(UNAERP/SP) - Universidade de Ribeirão Preto -<br />

Questão 81:<br />

O solo grego não produzia alimento suficiente para uma<br />

população em crescimento e, cada vez mais, as poucas<br />

terras férteis concentravam-se nas mãos de poucos que,<br />

ao mesmo tempo, usufruíram do poder político. O<br />

camponês pobre recorria ao grande proprietário, para<br />

obter empréstimos, e tinha que dar uma parte do que<br />

produzisse ao rico proprietário. O camponês que pedia<br />

empréstimos era conhecido como:<br />

a) eupátrida;<br />

b) geomore;<br />

c) arconte;<br />

d) hoplita;<br />

e) hiparco.<br />

(USF/SP) - Universidade São Francisco - Questão 82:<br />

A pobreza do solo, a situação geográfica e a<br />

concentração de terras nas mãos das grandes famílias<br />

foram fatores responsáveis, na Grécia Antiga pela:<br />

a) expansão territorial;<br />

b) hegemonia ateniense;<br />

c) guerra do Peloponeso;<br />

d) conquista de Cartago;<br />

e) dominação tebana.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 83:<br />

A Civilização Ocidental tem na Grécia Antiga uma de<br />

suas fontes mais ricas.<br />

Um dos seus legados mais expressivos foi o termo e a<br />

noção de democracia.<br />

A respeito da prática da democracia entre os gregos da<br />

Antiguidade, é correto afirmar:<br />

1 - Na democracia ateniense, participavam com plenos<br />

direitos políticos apenas os cidadãos.<br />

2 - Havia um grande número de indivíduos que não eram<br />

considerados “cidadãos” e, por conseguinte, não tinham<br />

os mesmos direitos que eles.<br />

4 - Entre os que eram atingidos pela restrição dos direitos<br />

políticos figuravam os metecos (estrangeiros) em Atenas.<br />

56<br />

8 - Os escravos, recrutados entre populações livres<br />

endividadas ou tomadas como presas de guerra, não<br />

gozavam de direitos políticos.<br />

16 - Os escravos conseguiram melhores condições de<br />

vida após promoverem constantes revoltas, em particular<br />

aquela liderada por Crixus, Oenomaus e Spartacus em<br />

73-71 a.C.<br />

32 - Muito embora o regime democrático tenha<br />

funcionado com perfeição em Atenas, jamais foi<br />

admitida a participação direta do “cidadão” no governo.<br />

(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina -<br />

Questão 84:<br />

A educação espartana visava ao (à):<br />

a) aprimoramento físico e ao aprimoramento da<br />

conversação;<br />

b) formação de guerreiros hábeis também na prática da<br />

engenharia e administração;<br />

c) formação de soldados, quanto aos rapazes, e de<br />

“boas parideiras” para as moças;<br />

d) formação de um espírito cívico da época;<br />

e) desenvolvimento do corpo e da mente, numa<br />

interação harmô-nica, objetivando o bem coletivo.<br />

(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio de<br />

Mesquita Filho - Questão 85:<br />

Os eupátridas integravam a sociedade ateniense na<br />

condição de:<br />

a) membros da camada dirigente, aristocrática,<br />

possuidora das melhores terras.<br />

b) descendentes de pais estrangeiros e mães atenienses.<br />

c) membros da plebe, sem direitos políticos ou posses.<br />

d) servos dedicados ao trabalho doméstico.<br />

e) escravos na mais completa sujeição econômica.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />

Questão 86:<br />

“Um deus, parece, se ocupou de vós: prevendo o futuro,<br />

implantou duas estirpes gêmeas de reis, em lugar de uma<br />

única (...) introduziu o comedimento do sábio poder<br />

exercido pela velhice na força arrogante que se apoiava<br />

sobre o nascimento, tomando a competência dos vinte e<br />

oito Gerontes igual à dos Reis na votação dos assuntos<br />

mais importantes (...) Constatando que o governo ainda


era cheio de orgulho e desconfiança, impôs-lhe à guisa<br />

de freio a soberania dos Éforos (...)”<br />

Platão, As Leis.<br />

O texto de Platão e o conhecimento da conservadora<br />

organização política da Cidade-Estado ou Pólis<br />

Espartana permite afirmar corretamente:<br />

l. No lugar de uma monarquia existia uma diarquia, ou<br />

seja, dois reis, certamente para evitar a autocracia.<br />

ll. Os componentes do Senado ou Gerúsia eram anciãos,<br />

em número de vinte e oito, com mais de sessenta anos e<br />

competia-lhes fazer as leis.<br />

lll. O texto de Platão omite a existência da Assembléia<br />

do Povo ou Ápela, formada por cidadãos de mais de<br />

trinta anos, que ratificava ou não as decisões da Gerúsia.<br />

Está correta ou estão corretas:<br />

a) apenas l e lll;<br />

b) apenas ll e lll;<br />

c) apenas ll;<br />

d) apenas l;<br />

e) todas.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão 87:<br />

As Cidades-Estados, na Grécia:<br />

a) eram politicamente autônomas.<br />

b) apresentavam organização econômica solidária.<br />

c) estavam unidas na política de colonização do<br />

Mediterrâneo.<br />

d) possuíam princípios religiosos antagônicos.<br />

e) mantiveram política comercial comum.<br />

(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />

Mackenzie - Questão 88:<br />

Atenas e Esparta são referências sempre destacadas<br />

quando a Grécia Antiga é mencionada. A respeito delas é<br />

válido afirmar que:<br />

a) Atenas se destacou pelas práticas militares que em<br />

Esparta tiveram pouca influência.<br />

b) tiveram evolução política semelhante e com ambas a<br />

forma democrática foi a mais adotada.<br />

c) os constantes conflitos entre elas levou à divisão, ao<br />

enfraquecimento e à posterior dominação da Grécia<br />

pelos macedônios.<br />

d) desunidas nas Guerras Médicas, possibilitaram a<br />

vitória e a dominação dos persas sobre o território<br />

grego.<br />

e) a forte união dessas duas Cidades-Estados garantiu a<br />

centralização política grega.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 89:<br />

“Nossa constituição política não segue as leis de outras<br />

cidades, antes lhes serve de exemplo. Nosso governo se<br />

chama democracia, porque a administração serve aos<br />

interesses da maioria e não de uma minoria”<br />

(Trecho do Discurso de Péricles. Citado por AQUINO, R.S. et alli. <strong>História</strong> das<br />

sociedades; das comunidades primitivas às sociedades medievais. R.J., Livro<br />

Técnico, 1980 p. 201).<br />

Identifique as proposições verdadeiras e as falsas sobre<br />

aquele tempo:<br />

1 - O trecho acima refere-se a Atenas, no período da<br />

Grécia Clássica.<br />

2 - Na Grécia daquele tempo, a cidade fazia parte de um<br />

estado mais amplo, administrativamente centralizado.<br />

4 - A citada Democracia se fazia por um governo<br />

participativo de todos os cidadãos.<br />

8 - Na maioria democrática estavam incluídos homens e<br />

mulheres, livres ou escravos.<br />

16 - A estrutura política caracteriza-se pela centralização<br />

teocrática.<br />

(CEFET/PR) - Centro Federal de Educação Tecnológica<br />

do Paraná - Questão 90:<br />

A 1ª Cultura Clássica dos povos da Antiguidade é a<br />

“Cultura Grega”. Ao lado desse classicismo, os<br />

legisladores atenienses sugeriram a melhor forma de<br />

governo para o povo, a Democracia, que chegou até nós.<br />

chamado “Pai da Democracia”:<br />

a) Drácon;<br />

b) Sólon;<br />

c) Péricles;<br />

d) Clístenes;<br />

e) Homero.<br />

57


(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />

Questão 91:<br />

“... na Grécia Arcaica, o aedo (isto é, poeta cantor)<br />

representava o máximo poder da comunicação. Toda<br />

visão do mundo e consciência de sua propria história é,<br />

para os gregos, conservada e transmitida pelo canto do<br />

poeta.”<br />

Dois importantes nomes que correspondem à descrição<br />

de poeta a que o texto se refere são:<br />

a) Tucídides e Heródoto;<br />

b) Platão e Heráclito;<br />

c) Pitágoras e Ulisses;<br />

d) Homero e Hesíodo;<br />

e) Aquiles e Teseu.<br />

(UNIFAE/PR) - Centro Universitário Franciscano do<br />

Paraná - Questão 92:<br />

Os poemas atribuídos a Homero – a Ilíada e a Odisséia –<br />

falam, respectivamente:<br />

a) das histórias de Zeus, rei dos deuses gregos, e do<br />

herói Teseu, que matou o Minotauro;<br />

b) da sociedade ateniense e da sociedade espartana;<br />

c) da Eclésia, o órgão mais importante da democracia<br />

ateniense, e do Areópago,<br />

d) o tribunal mais antigo de Atenas;<br />

e) da guerra de Tróia e da viagem de Ulisses;<br />

f) da Lei das Doze Tábuas e do cavalo de Tróia.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão 93:<br />

Com relação à Grécia Antiga, assinale as afirmações<br />

corretas:<br />

1 - As colônias gregas eram politicamente independentes<br />

das cidades fundadoras.<br />

2 - Eólios, dórios, aqueus e jônios foram tribos gregas<br />

primitivas.<br />

4 - Os gregos antigos descendem do povo semita.<br />

8 - A Ilíada e a Odisséia são poemas atribuídos ao poeta<br />

Homero.<br />

16 - O tema principal da Ilíada é a evolução da<br />

Democracia.<br />

(MACKENZIE/SP) - Universidade Presbiteriana<br />

Mackenzie - Questão 94:<br />

“A partir do século VIII, os gregos viveram um segundo<br />

processo de dispersão, espalhando-se pelo Mediterrâneo<br />

e fundando, no litoral da Itália, França e Espanha,<br />

inúmeras colônias, cidades que mantinham uma série de<br />

laços, principalmente culturais, com os lugares de origem<br />

dos colonizadores.”<br />

O texto diz respeito à fundação de colônias na Grécia<br />

Antiga; o fator determinante para essas migrações foi:<br />

a) o crescimento populacional e a escassez de terras<br />

cultiváveis no território grego;<br />

b) o expansionismo político, defendido pelo regime<br />

democrático das cidades gregas;<br />

c) a invasão dos persas e a conseqüente destruição das<br />

cidades na Grécia Continental;<br />

d) a derrota grega na Guerra de Tróia, responsável pelo<br />

declínio econômico da Grécia;<br />

e) o desenvolvimento da navegação e a busca de<br />

recursos minerais.<br />

(FCMSCSP) - Faculdade de Ciências Médicas Santa<br />

Casa São Paulo - Questão 95:<br />

A vida econômica da Grécia, no Período Homérico<br />

(século XII a VIII a.C.), tinha como um dos seus traços<br />

marcantes o fato de:<br />

a) basear-se fundamentalmente na criação de animais,<br />

especialmente o cavalo, por sua importância militar.<br />

b) explorar o trabalho escravo, por ser o trabalho<br />

considerado uma atividade indigna pelos<br />

proprietários (hipei).<br />

c) dedicar-se ao comércio marítimo, estabelecendo<br />

ligações entre vários pontos do continente europeu.<br />

d) apresentar uma característica doméstica,<br />

concentrando-se quase que exclusivamente no<br />

pastoreio e na agricultura.<br />

e) explorar numerosas colônias, sobretudo na Magna<br />

Grécia, tendo em vista a pobreza do solo continental.<br />

Questão 96:<br />

Com sua impressionante produção intelectual, artística e<br />

religiosa, a civilização grega influenciou de maneira<br />

decisiva todas as civilizações posteriores. Sobre a<br />

civilização grega, assinale as alternativas corretas:<br />

58


1 - A maior contribuição da cultura grega foi o<br />

humanismo, isto é, a valorização do homem como a mais<br />

importante criatura do universo.<br />

2 - Embora divididos politicamente, pois cada cidade-<br />

Estado gozava de total autonomia, os gregos tinham uma<br />

unidade cultural representada pela mesma língua, pela<br />

mesma religião e por muitos costumes semelhantes.<br />

4 - Os gregos eram politeístas. Acreditavam que seus<br />

deuses tinham forma humana<br />

e eram dotados de qualidade e defeitos como os homens.<br />

8 - Havia também os heróis, considerados semideuses,<br />

que realizavam grandes proezas.<br />

16 - De acordo com a mitologia grega, os deuses<br />

moravam no Olimpo, a montanha mais alta da Grécia;<br />

Zeus era o soberano.<br />

04) Médico, é considerado o Pai da Medicina.<br />

05) Sábio grego, ensinava que tudo na natureza derivava<br />

de um elemento básico – a água.<br />

( ) Sócrates<br />

( ) Hipócrates<br />

( ) Tales de Mileto<br />

( ) Tucídides<br />

( ) Demóstenes<br />

a) 3, 5, 2, 1, 4<br />

b) 3, 4, 5, 1, 2<br />

c) 3, 4, 5, 2, 1<br />

d) 5, 4, 3, 1, 2<br />

e) 3, 5, 1, 4, 2<br />

Questão 97:<br />

É bem provável que o médico tenha que utilizá-lo para<br />

vencer a resistência do paciente durante o inquérito e<br />

apressar o diagnóstico. Trata-se de um método no qual se<br />

chega à verdade pela exploração dos erros e contradições<br />

do interrogado. É, em última análise, O MÉTODO<br />

SOCRÁTICO, adotado nos diálogos de Platão.<br />

A “parturição” das verdades encerradas nos espíritos, a<br />

habilidade de interrogar usando a técnica de Sócrates,<br />

são conhecidas como:<br />

a) hermenêutica;<br />

b) propedêutica;<br />

c) maiêutica;<br />

d) prosódia;<br />

e) eudemônica.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná -<br />

Questão 98:<br />

A herança grega constitui uma das bases do pensamento<br />

ocidental. Enumere os parênteses conforme a<br />

correspondência adequada e, depois, aponte a alternativa<br />

que contém a seqüência correta:<br />

01) Historiador, narra a história da Guerra do<br />

Peloponeso.<br />

02) Orador, opôs-se aos planos de Filipe da Macedônia<br />

com relação à Grécia.<br />

03) Filósofo, divulgou a máxima: “Conhece a ti mesmo”.<br />

(UTP/PR) - Universidade Tuiuti do Paraná - Questão<br />

99:<br />

Sobre a religião dos gregos podemos afirmar que:<br />

I. Era uma religião antropomórfica, ou seja, os deuses,<br />

além da forma, tinham direitos e virtudes humanos.<br />

II. Era grande o número de deuses, que mais se<br />

assemelhavam aos heróis lendários.<br />

III. Era uma religião prática, cujos seguidores pediam<br />

ajuda para a atividade e não para a salvação de sua alma.<br />

IV. Não havia dogmas.<br />

a) Todas as afirmativas estão corretas.<br />

b) Somente a alternativa I está correta.<br />

c) As afirmativas I e II estão corretas.<br />

d) As afirmativas II e IV estão corretas.<br />

e) Nda.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />

100:<br />

Escreveram peças para teatro, durante o Século de<br />

Péricles (V a.C.):<br />

a) Homero, Tucídides, Heródoto e Xenofonte;<br />

b) Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes;<br />

c) Sócrates, Protágoras, Platão e Aristófanes;<br />

d) Eratóstenes, Arquimedes, Euclides e Pitágoras;<br />

e) Píndaro, Alceu, Safo e Hesíodo.<br />

59


GABARITO:<br />

Questão 1: C, E<br />

Questão 2: A<br />

Questão 3: B<br />

Questão 4: A<br />

Questão 5: E<br />

Questão 6: 20 (corrigido)<br />

Questão 7: C<br />

Questão 8: C<br />

Questão 9: B<br />

Questão 10: B<br />

Questão 11: A<br />

Questão 12: B<br />

Questão 13: E<br />

Questão 14: C<br />

Questão 15: A<br />

Questão 16: E<br />

Questão 17: B<br />

Questão 18: C<br />

Questão 19: D<br />

Questão 20: A<br />

Questão 21: A<br />

Questão 22: E<br />

Questão 23: C<br />

Questão 24: B<br />

Questão 25: 4<br />

Questão 26: D<br />

Questão 27: C<br />

Questão 28: C<br />

Questão 29: D<br />

Questão 30: E<br />

Questão 31: B<br />

Questão 32: A<br />

Questão 33: A<br />

Questão 34: C<br />

Questão 35: A<br />

Questão 36: E<br />

Questão 37: D<br />

Questão 38: A<br />

Questão 39: B<br />

Questão 40: 21<br />

Questão 41: B<br />

Questão 42: B<br />

Questão 43: B<br />

Questão 44: D<br />

Questão 45: A<br />

Questão 46: B<br />

Questão 47:<br />

a) Para os atenienses, "bárbaro" era todo aquele que não<br />

fosse grego ou aquele que não possuísse a cultura grega.<br />

De modo pejorativo, o termo designava a inferioridade<br />

cultural dos que pertencessem a outros povos, quando<br />

comparados com o termo "helênico" (grego).<br />

b) De acordo com o texto, o Parthenon e seus mármores<br />

simbolizavam a superioridade da cultura helênica em<br />

relação aos demais povos, considerados pelos gregos<br />

como bárbaros.<br />

c) Durante a fase imperialista das potências industriais<br />

no século XIX, as principais potências, em particular<br />

Inglaterra e França, devido ao poder e à pretensa<br />

superioridade cultural em relação aos demais povos, se<br />

apropriaram dos tesouros arqueológicos e artísticos dos<br />

países considerados mais fracos, sobretudo onde se<br />

desenvolveram grandes civilizações na antiguidade.<br />

Fonte: http://mestresdahistoria.blogspot.be/2012/08/saiba-mais-sobre-historia-daarte-grega.html<br />

Questão 48: B<br />

Questão 49: C<br />

Questão 50:<br />

Questão 51:<br />

60


a) O tirano usurpava o poder apoiado por parte dos<br />

setores populares, e impunha limites ao poder exercido<br />

pelos aristocratas. Eles não eram necessariamente<br />

autoritários e, geralmente, faziam importantes obras<br />

públicas em favor do povo.<br />

b) O ostracismo consistia em banir por dez anos da<br />

cidade qualquer pessoa que representasse uma ameaça à<br />

democracia. Os cidadãos depositavam em uma urna o<br />

nome de quem julgavam que deveria ser expulso da<br />

cidade.<br />

Questão 52: C<br />

Questão 53: A<br />

Questão 54: D<br />

Questão 55: A<br />

Questão 56: D<br />

Questão 57: A<br />

Questão 58: B<br />

Questão 59: B, D<br />

Questão 60: 28<br />

Questão 61: D<br />

Questão 62: B<br />

Questão 63: A<br />

Questão 64: 14<br />

Questão 65: B<br />

Questão 66: J<br />

Questão 67: A<br />

Questão 68: D<br />

Questão 69: E<br />

Questão 70: E<br />

Questão 78: C<br />

Questão 79: E<br />

Questão 80: A<br />

Questão 81: B<br />

Questão 82: A<br />

Questão 83: 15<br />

Questão 84: C<br />

Questão 85: A<br />

Questão 86: E<br />

Questão 87: A<br />

Questão 88: C<br />

Questão 89: 5<br />

Questão 90: D<br />

Questão 91: D<br />

Questão 92: D<br />

Questão 93: 11<br />

Questão 94: A<br />

Questão 95: D<br />

Questão 96: 31<br />

Questão 97: C<br />

Questão 98: B<br />

Questão 99: A<br />

Questão 100: B<br />

Questão 71: B<br />

Questão 72: D<br />

Questão 73: B<br />

Questão 74: D<br />

Questão 75: B<br />

Questão 76: C<br />

Questão 77: A<br />

61


CIVILIZAÇÃO ROMANA*<br />

1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E<br />

POVOAMENTO DA PENÍNSULA ITÁLICA<br />

Do ponto de vista geográfico, podemos delimitar a<br />

Península Itálica em quatro regiões principais: ao norte,<br />

uma região montanhosa, entrecortada de rios; a planície<br />

do rio Pó; a região Apenina; e a costa litorânea dos mares<br />

Adriático e Tirreno. O solo dessa península era mais<br />

fértil do que o solo grego, o que tornou possível o<br />

atendimento das necessidades alimentares dos primeiros<br />

romanos dentro da própria Itália.<br />

Em relação ao processo de povoamento da península,<br />

destacamos a sua complexidade, a partir da distinção de<br />

diversas populações que ali se estabeleceram, em<br />

distintos momentos. As populações de origem indoeuropeia,<br />

por sua vez, teriam chegado à Itália por volta<br />

de 2200 a.C., tendo os povos denominados itálicos ou<br />

italiotas ocupado o centro-sul da península, e a Sicília.<br />

Os dois principais subgrupos dos itálicos eram os<br />

samnitas e os latinos.<br />

Os samnitas habitavam a parte sul da Itália, próximo às<br />

colônias fundadas pelos gregos a partir de sua expansão,<br />

entre os séculos VIII e VI a.C.; organizados em clãs<br />

pastoris, que se reuniam em tribos, viviam em constante<br />

luta contra os gregos, na disputa pela riquíssima região<br />

da Campânia. Essas disputas e, consequentemente, os<br />

contatos com o mundo grego, levaram ao<br />

desenvolvimento do seu poderio bélico, à fortificação de<br />

cidades, à conquista de colônias gregas e à expulsão dos<br />

etruscos.<br />

Os latinos habitavam o curso inferior do rio Tibre, região<br />

que jamais foi conquistada pelos etruscos ou pelos<br />

gregos. Nas montanhas habitavam também os équos e<br />

sabinos, tribos que viviam do pastoreio e do saque,<br />

também subgrupos dos itálicos. Já os etruscos, outro<br />

povo que colonizou a Itália, é de origem até hoje<br />

desconhecida. Seu território inicial estava localizado<br />

62


entre o mar Tirreno, a oeste, e os montes Apeninos, a<br />

leste, entre o rio Arno, ao norte, e o Timbre, ao sul.<br />

Já por volta do século VII a.C., os etruscos estavam<br />

organizados em um império que constituía, na prática,<br />

uma liga de várias cidades-estados.<br />

Ocupavam-se da agricultura, do pastoreio, do trabalho<br />

manufaturado e do comércio, que não podia ser separado<br />

da pirataria. Eram comerciantes ativos no mar<br />

Mediterrâneo, aliados à cidade fenícia de Cartago. Seus<br />

produtos metalúrgicos e têxteis chegavam a todo o<br />

Oriente e a todo o Mundo Grego por intermédio dos<br />

cartagineses e dos colonos gregos. O povoamento da<br />

Itália se completou com a chegada dos gauleses, no<br />

início do século IV a.C., que se estabeleceram ao norte,<br />

na Gália Cisalpina.<br />

2. ROMA E SUAS ORIGENS<br />

De acordo com essa tradição lendária, Roma teria sido<br />

fundada em meados do século VIII a.C. por Rômulo,<br />

juntamente com Remo, filhos gêmeos da princesa latina<br />

Réia Sílvia e do deus Marte (Ares para os gregos).<br />

Rômulo teria sido então o iniciador da realeza romana.<br />

As pesquisas arqueológicas têm confirmado alguns<br />

dados apresentados pela tradição, como por exemplo, a<br />

época de fundação da cidade. Em meados do século VIII<br />

a.C. já existia no local da cidade de Roma uma aldeia<br />

latina que não se comparava, entretanto, em brilho e<br />

importância, às cidades etruscas e gregas existentes na<br />

península Itálica, no mesmo período. Os latinos,<br />

habitantes da primitiva Roma, eram basicamente povos<br />

agricultores e pastores, mas que realizavam algumas<br />

trocas com outros povos da região.<br />

A partir do final do século VII a.C., acentuou-se a<br />

urbanização de Roma, com o aparecimento de templos e<br />

edifícios públicos, abertura de ruas mais regulares e<br />

pavimentação rudimentar. Portanto, já teria existido em<br />

Roma um processo de urbanização anterior à dominação<br />

etrusca, que corresponderia ao período lendário dos reis<br />

latinos e sabinos.<br />

A acelerada urbanização dessa aldeia latina se justifica<br />

pela sua posição geográfica estratégica, no baixo vale do<br />

rio Tibre, representando o ponto de confluência de várias<br />

rotas de comunicação com as regiões vizinhas,<br />

particularmente com a Etrúria e a Magna Grécia. A<br />

presença de mercadores etruscos e gregos já era<br />

acentuada no século VI a.C. Foi exatamente sua posição<br />

estratégica que levou os etruscos à conquista de Roma,<br />

em meados do século VI a.C., o que a transformou na<br />

principal cidade da região do Lácio.<br />

Uma das mais importantes versões sobre a fundação de<br />

Roma é aquela atribuída ao poeta romano Virgílio, em<br />

sua obra Eneida. A obra foi escrita no início do Período<br />

Imperial, sob encomenda do Imperador Otávio Augusto<br />

e é considerada, simultaneamente, uma obra de tom<br />

mitológico e histórico: mitológico porque narra a história<br />

do herói Enéias e seus descendentes, utilizando-se de<br />

lendas tradicionais do povo romano; histórico, porque<br />

utiliza este argumento para exaltar Roma e o imperador<br />

Augusto, procurando valorizar tanto os feitos do<br />

imperador quanto os feitos mais remotos do seu povo. É<br />

considerada a epopeia latina por excelência, capaz de<br />

equiparar-se à Ilíada e à Odisseia, consagradas epopeias<br />

homéricas.<br />

3. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA DA<br />

CIVILIZAÇÃO ROMANA<br />

MONARQUIA 753 - 509 a.C.<br />

REPÚBLICA 509 - 27 a.C.<br />

IMPÉRIO 27 a.C.- 476 d.C.<br />

SUBDIVISÃO DO PERÍODO IMPERIAL<br />

ROMANO<br />

ALTO IMPÉRIO OU PRINCIPADO 27 a.C. – 235 d.C.<br />

(séc. I a.C.- III d.C.)<br />

63


BAIXO IMPÉRIO OU DOMINATO 235 - 476 d.C. (séc.<br />

III - V d.C.)<br />

4. A MONARQUIA ROMANA (753 a.C. a 509<br />

a.C.)<br />

Considera-se que a fase da Realeza ou período<br />

monárquico em Roma, coincide com a própria fundação<br />

da cidade e findaria em 509 a. C., quando uma revolta<br />

aristocrática depôs o monarca Tarquínio e estabeleceu a<br />

República, com a ascensão política do Senado.<br />

Enquanto Roma fora uma monarquia, a base essencial de<br />

sua sociedade foi a gens (COMUNIDADES<br />

GENTÍLICAS PATRIARCAIS), definida como uma<br />

comunidade formada por extenso grupo de pessoas<br />

associadas por uma ancestralidade comum, que<br />

pautavam sua vida econômica e social e a produção de<br />

sua sobrevivência em laços de solidariedade e<br />

subsistência. Diferente do que acontecia na gens grega,<br />

não persistiam traços de comunidade igualitária, já que a<br />

propriedade de bens, como escravos, por exemplo,<br />

definiam o caráter aristocrático e hierárquico entre seus<br />

membros.<br />

Um mecanismo era adotado pelos chefes políticos para a<br />

assegurar a preservação de propriedades e fortunas no<br />

interior das gens; tratava-se da definição do direito<br />

paterno, que excluía as mulheres do direito de herança,<br />

de maneira que ao se casarem com outros membros de<br />

outros gens, passavam a integrar o gens do marido sem<br />

transmitir herança a seu novo marido.<br />

A vinculação com uma gens criava laços de<br />

solidariedade obrigatórios. A gens tinha uma sepultura<br />

comum para os seus mortos, cultos particulares aos seus<br />

antepassados míticos (denominados LARES) e o hábito<br />

de reuniões para tomada de decisões coletivas.<br />

A organização em gens era restrita à população nativa da<br />

cidade. Seus membros eram conhecidos como<br />

PATRÍCIOS, denominação derivada da palavra latina<br />

pater, que significa pai ou chefe da família, elemento que<br />

tinha direito de vida e morte sobre os outros membros. A<br />

reunião de dez gens constituía uma cúria, e da reunião de<br />

dez cúrias formava-se uma tribo. Cada cúria tinha suas<br />

práticas religiosas, seus santuários e seus sacerdotes. Das<br />

tribos saía o chefe militar e grande sacerdote. O conjunto<br />

das três tribos formava o POPULUS ROMANUS (povo<br />

romano). Só pertencia ao povo romano o membro de<br />

uma gens, que era, também, a partir desta, membro de<br />

uma cúria e de uma tribo.<br />

Os membros das tribos submetidas pela população<br />

romana nativa não faziam parte das gens e eram<br />

chamados de PLEBEUS. Embora constituíssem homens,<br />

podendo inclusive possuir propriedades, pagavam<br />

impostos e prestavam serviços militares, sem, no entanto,<br />

terem o direito de exercer funções públicas ou partilhar<br />

da repartição das terras conquistadas pelo Estado<br />

Romano. Os plebeus, portanto, não eram cidadãos e sim<br />

súditos de Roma.<br />

Além dos patrícios e plebeus existiam os CLIENTES,<br />

homens livres, mas dependentes de um aristocrata<br />

romano, em virtude de algum favorecimento<br />

(OBSEQUIUM) político ou material concedido por um<br />

patrício (PATRONUS).<br />

Os escravos, embora ainda em quantidade restrita, eram<br />

já nesse período, constituídos, sobretudo por prisioneiros<br />

de guerra e por aqueles que não conseguindo pagar suas<br />

dívidas colocavam sua liberdade a disposição de um<br />

senhor. Se no período monárquico os escravos eram<br />

pouco numerosos, a República garantiu seu aumento<br />

progressivo associado ao expansionismo e guerras de<br />

conquista do período.<br />

4.1DIVISÃO SOCIAL ROMANA NA<br />

MONARQUIA<br />

PATRÍCIOS - grandes proprietários de terras,<br />

rebanhos e escravos. Detentores de direitos políticos e<br />

exercício de altas funções públicas no exército, na<br />

religião, na justiça ou na administração. Eram os<br />

cidadãos romanos.<br />

PLEBEUS -homens e mulheres livres que se<br />

dedicavam ao comércio, ao artesanato e aos trabalhos<br />

agrícolas. Apesar da conotação do nome, em<br />

determinados momentos da história romana, teremos<br />

grande contingente de plebeus enriquecidos.<br />

CLIENTES - homens livres que se associavam aos<br />

patrícios, prestando-lhes diversos serviços pessoais em<br />

64


troca de auxílio econômico e proteção jurídica e social<br />

(obsequium).<br />

ESCRAVOS - Representavam uma propriedade, e,<br />

assim, o senhor tinha o direito de castigá-los, de vendêlos<br />

ou de alugar seus serviços. Nesse período a<br />

escravidão era incipiente; predominava a escravidão por<br />

dívidas (nexum).<br />

4.2.1 INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DA<br />

MONARQUIA ROMANA<br />

REX - O Rei era indicado pelo Senado e aprovado<br />

pela Assembleia Curiata. Acumulava funções legislativa,<br />

militar, judicial e religiosa.<br />

4.2 ESTRUTURA POLITICA DA<br />

MONARQUIA<br />

Quanto à organização política da monarquia romana,<br />

podemos afirmar que Roma era governada por um rei,<br />

que tinha o título de REX SACRORUM. Era ao mesmo<br />

tempo chefe militar, juiz supremo e sumo sacerdote,<br />

sendo escolhido entre os chefes militares e religiosos<br />

saídos das três tribos romanas.<br />

O conselho dos anciãos formava o SENADO, que<br />

prestava assistência ao rei. Seus membros eram<br />

recrutados entre as mais ricas e nobres famílias romanas.<br />

Todos os homens adultos pertencentes ao populus<br />

romanus reuniam-se em assembleias, por cúrias -<br />

COMITIA CURIATA -, onde elegiam os chefes,<br />

declaravam a guerra ou firmavam a paz.<br />

Segundo a tradição, a monarquia romana teve sete reis,<br />

sendo:<br />

• Rômulo (753-716 a.C.);<br />

Quatro de origem latina<br />

• Numa Pompílio (716-673 a.C.);<br />

• Túlio Hostílio (673-641 a.C.);<br />

• Anco Márcio (641-616 a.C.)<br />

Três de origem etrusca<br />

• Tarquínio Prisco (616-578 a.C.);<br />

• Sérvio Túlio (578-534 a.C.);<br />

• Tarquínio “o Soberbo” (534-509 a.C.)<br />

SENADO ROMANO – constituía o Conselho dos<br />

Anciãos romanos, com seus membros retirados apenas<br />

das famílias patrícias, que constituíam a aristocracia<br />

romana. Era função do senado escolher o rex (rei),<br />

discutir as propostas apresentadas pelo monarca e vetálas,<br />

caso violassem as tradições e os interesses dos<br />

patrícios. Seus membros recebiam, provavelmente, a<br />

designação de pater.<br />

ASSEMBLEIA CURIATA (CURIAE) compunhase<br />

de todos os cidadãos em idade militar; também era<br />

dominada pelos patrícios. Cabia à assembleia aprovar o<br />

nome do rex sacrorum escolhido pelo senado, declarar<br />

guerra e firmar paz. Também lhe era creditado o poder<br />

de aprovar e rejeitar leis. Contudo, conforme a tradição,<br />

as decisões do soberano não eram contestadas.<br />

A presença dos reis etruscos em Roma reflete as lutas<br />

entre as cidades-Estado pela hegemonia na Península<br />

Itálica. Durante todo o período de reinado etrusco, estes<br />

reis tentaram limitar o poder dos patrícios, aliando-se aos<br />

comerciantes plebeus, destacando-se as reformas de<br />

Sérvio Túlio.<br />

Sérvio Túlio dividiu a população em cinco classes, de<br />

acordo com a renda de cada indivíduo. Cada classe<br />

deveria contribuir com certo número de soldados para o<br />

exército. As questões militares passaram a ser decididas<br />

nas assembleias das centúrias, que eram divisões do<br />

exército romano em cem homens, comandados pelo<br />

centurião. As centúrias patrícias conseguiam impor sua<br />

posição porque eram em maior número. A reforma<br />

implementada por Sérvio Túlio parece Ter concedido<br />

alguns direitos aos plebeus, entre eles o acesso ao serviço<br />

militar. A partir de então as questões militares passaram<br />

a ser decididas nas ASSEMBLEIAS DAS CENTÚRIAS<br />

65


– (Comitia Centuriata) divisões do exército romano com<br />

cem homens, comandados por um centurião. As<br />

centúrias patrícias conseguiam impor sua vontade porque<br />

eram em maior número.<br />

5. A REPÚBLICA ROMANA (509 a.C. a 31<br />

a.C.)<br />

Ainda em acordo com a tradição lendária, a deposição do<br />

último rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, em 509 a.C.,<br />

daria início à importante fase republicana da trajetória<br />

histórica dos povos romanos. A partir de então, o Senado<br />

assumiria a plenitude do poder, convertendo-se na mais<br />

poderosa força política do mundo conhecido naquele<br />

contexto.<br />

Apesar do novo regime político, mantinha-se se a<br />

estrutura aristocrática nos privilégios de governo, já que<br />

a classe patrícia continuava a ser a classe detentora do<br />

domínio da vida econômica e política da cidade,<br />

reforçando ainda mais a estratificação social, em relação<br />

ao período anterior. Esse período foi marcado por uma<br />

acentuada expansão territorial e um progressivo<br />

endividamento dos pequenos proprietários, levando ao<br />

aumento cada vez maior do número de cativos,<br />

trabalhadores servis e clientes.<br />

O enriquecimento de parte dos plebeus acirrou o conflito<br />

por direitos civis e a disputa política com os patrícios, do<br />

qual decorreu importante alterações em sua ordem social<br />

e política. Deve-se salientar, que nem todos os plebeus<br />

seriam beneficiados, evidenciando uma estratificação<br />

cada vez maior dentro do próprio grupo social: os<br />

plebeus pobres passaram a lutar pela abolição das<br />

dívidas, da servidão por dívidas e pela repartição das<br />

terras, enquanto os plebeus mais ricos preocupavam-se<br />

principalmente com o acesso aos cargos públicos.<br />

Já o processo expansionista ocorreria em duas etapas:<br />

internamente, atingindo a própria Península Itálica,<br />

quando a cidade de Roma, após consolidar sua<br />

hegemonia sobre a liga das cidades do Lácio, passou a<br />

organizar lutas contra seus vizinhos, os volscos, équos e<br />

hérnicos. As lutas tinham inicialmente caráter defensivo,<br />

passando depois a um caráter nitidamente expansionista,<br />

visando o controle de toda a Itália meridional; e,<br />

posteriormente, em caráter externo, quando as<br />

possessões em torno do Mediterrâneo Ocidental e<br />

Oriental passariam ao seu controle.<br />

66<br />

5.1 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DA<br />

REPÚBLICA<br />

Na base primordial da República Romana estava o<br />

Senado, composto por trezentos patrícios, com a<br />

responsabilidade de propor leis. Seus cargos eram<br />

vitalícios, e congregavam ainda as funções de garantir a<br />

integridade da tradição e da religião, supervisionar as<br />

finanças públicas, conduzir a política externa e<br />

administrar as províncias. <strong>Geral</strong>mente o comando do<br />

Senado, a sua presidência, era exercida por aquele que<br />

tinha poder para convoca-lo, geralmente um magistrado<br />

que poderia ser um cônsul, um pretor ou um tribuno.<br />

Até o século III a.C., quando se iniciou a expansão<br />

romana pelo Mediterrâneo Ocidental, a República<br />

possuiu um caráter essencialmente aristocrático, ou seja,<br />

os patrícios mantinham a direção das instituições do<br />

Estado.<br />

Apesar da predominância do Senado, mantinham-se as<br />

assembleias encarregadas de votar as leis sugeridas pelo<br />

órgão máximo. A Assembleia Curiata perdeu muita da<br />

sua importância associada ao período monárquico,<br />

restringindo-se quase exclusivamente às questões de<br />

ordem religiosa durante a República. Por sua vez, a<br />

Assembleia Centuriata, criada durante a reforma serviana<br />

no período final da Monarquia, dada a importância do<br />

exército e das conquistas expansionistas, cresceu cada<br />

vez mais em importância politico administrativa. Eram<br />

formada pelas centúrias<br />

(Divisões políticas e militares compostas por cem<br />

cidadãos), a quem cabia de fato discutir e votar as<br />

propostas. Cada centúria possuía um voto, embora,<br />

apesar dos plebeus poderem participar dessa assembleia,<br />

internamente a hegemonia sob o controle dos patrícios. A<br />

Assembleia Centuriata elegia os Cônsules e votava as<br />

leis. A Assembleia Popular teve sua importância política<br />

aumentada, pois, de simples órgão que registrava os<br />

editos reais, passou a votar as questões que lhe eram<br />

apresentadas pelos cônsules.<br />

O exercício do poder Executivo ficava entregue a um<br />

corpo de MAGISTRADOS, pertencentes, na maioria das<br />

vezes, à classe dos patrícios. Com exceção do censor,<br />

todos os magistrados eram eleitos pela Assembleia<br />

Centuriata para um mandato de um ano. Coletivas, as<br />

magistraturas exigiam a presença de dois ou mais<br />

magistrados para cada cargo.<br />

As principais magistraturas eram as seguintes:


CÔNSULES: certamente era a magistratura que<br />

detinha o maior poder, quase equivalente ao dos reis na<br />

fase monárquica. Eleitos em dupla, com mandatos de um<br />

ano, eram encarregados de comandar o Exército,<br />

convocar o Senado e presidirem os cultos públicos. Em<br />

períodos de crise, a exemplo das guerras, era indicado<br />

um DITADOR, que exercia o poder de forma absoluta<br />

durante o período máximo de seis meses;<br />

PRETORES: esses magistrados exerciam a função<br />

de administrar a justiça, sendo posto privativo dos<br />

patrícios até 337 a.C, quando finalmente os plebeus<br />

puderam ascender ao cargo. Também possuía caráter<br />

vitalício e erma responsáveis por presidirem as<br />

audiências do fórum, tendo sido aumentados ao longo do<br />

tempo, devido às crescentes necessidades administrativas<br />

da República Romana. Havia vários tipos de pretores,<br />

entre eles o "Pretor Urbano", que cuidava da cidade de<br />

Roma, e o "'Pretor Peregrino", que cuidava da zona rural<br />

e da relação com os peregrine (as comunidades sem<br />

cidadania romana). Os "Pretores Provinciais" destinados<br />

a governar os países conquistados e comandar os<br />

exércitos, quando havia vários campos de operação. O<br />

cargo de pretor detinha uma escolta de 6 litores.<br />

Litores cuidavam da segurança eram encarregados de ir a<br />

frente de um magistrado com feixes de varas<br />

denominados fasces, abrindo espaço para que esse<br />

passasse. O seu número variava de acordo com o grau de<br />

importância do magistrado. Eram também encarregados<br />

de convocar o réu, quando fosse solicitado pelo<br />

magistrado, para solução da lide.<br />

CENSORES: eram eleitos em número de dois pela<br />

Assembleia das Centúrias. A função dos censores incluía<br />

o recenseamento dos cidadãos, com base em sua riqueza,<br />

a elaboração do Álbum Senatorial (lista que designava as<br />

pessoas em condições de serem escolhidas para o<br />

Senado), orientação da construção pública e fiscalização<br />

da conduta moral dos cidadãos;<br />

QUESTORES: eram responsáveis pela<br />

administração da fazenda pública, ou seja, controle o<br />

erário do Estado e cobrança dos tributos;<br />

EDIS (EDIL): eram encarregados da preservação da<br />

cidade, do abastecimento, da polícia dos mercados e das<br />

ações penais correlatas, bem como da jurisdição civil<br />

contenciosa nas questões ali ocorridas.<br />

TRIBUNOS DA PLEBE: era o magistrado<br />

PLEBEU que atuava junto ao Senado em defesa dos<br />

direitos e interesses da plebe. (Foi cargo conquistado<br />

pelos plebeus a partir de 494 a.C.).<br />

5.2 A LUTA DE CLASSES ENTRE<br />

PATRICIOS E PLEBEUS<br />

A melhor compreensão da luta de classe entre patrícios e<br />

plebeus na Republica Romana prescinde da compreensão<br />

da estrutura econômica e social predominante e das<br />

mudanças que a expansão territorial geraram naquela<br />

realidade.<br />

Na Realeza, a agricultura era a atividade básica,<br />

predominando a pequena propriedade rural, cultivada<br />

pelo próprio dono, às vezes auxiliado por escravos<br />

obtidos majoritariamente por dividas. Com a expansão<br />

territorial republicana, as terras pertencentes ao Estado –<br />

ager publicus – aumentavam consideravelmente.<br />

Esperava-se que essas terras fossem cedidas aos<br />

membros da comunidade, de modo que os terrenos<br />

desocupados fossem cedidos como pastos, e os terrenos<br />

já ocupados, na época da conquista, estariam sujeitos ao<br />

pagamento de taxas. No entanto, a maior parte das novas<br />

terras incorporadas foram gradativamente sendo ocupada<br />

por particulares, sem o pagamento de qualquer taxa.<br />

Condição em que a aristocracia patrícia sempre levava<br />

vantagem, principalmente porque eram seus membros<br />

que ocupavam os principais cargos públicos. O senado e<br />

a magistratura eram, como dito, monopólio dos patrícios.<br />

Apesar da participação dos plebeus na COMITIA<br />

CENTURIATA (assembleia da centúria), sua posição era<br />

puramente formal, pois a aristocracia detinha o poder de<br />

decisão, uma vez que as centúrias patrícias eram mais<br />

67


numerosas. Os plebeus também não podiam casar com<br />

patrícios nem podiam ser sacerdotes.<br />

À medida que os plebeus passaram a ser a maior<br />

composição nas formações militares, e com crescente<br />

intensificação dessas, muitos desse pequenos<br />

proprietários, que se mantinham por longas temporadas<br />

fora de suas propriedades, ficavam sujeitos à ruína,<br />

enquanto as propriedades dos patrícios eram aumentadas,<br />

progressivamente, com as novas conquistas.<br />

Insatisfeitos com essa condição que os endividavam<br />

drasticamente, no ano de 494 a.C., os plebeus<br />

abandonaram Roma e foram para o Monte Sagrado,<br />

próximo à cidade. Essa retirada significou em<br />

enfraquecimento do exército romano, o que levou os<br />

patrícios a admitirem uma série de concessões aos<br />

plebeus. A principal concessão foi o direito de eles<br />

elegerem um tribuno da plebe, com poder de veto sobre<br />

as decisões dos magistrados, com exceção das decisões<br />

militares. Esses tribunos, inicialmente em número de<br />

dois e mais tarde de dez, gozavam de inviolabilidade<br />

pessoal e residencial, pois suas casas eram consideradas<br />

lugares de “asilo”. Tornaram-se verdadeiros protetores<br />

da plebe, já que, além das atribuições já citadas, podiam<br />

impedir qualquer ação do Estado contra os plebeus,<br />

através da simples oposição a essa medida – intercessio.<br />

As leis romanas eram até aquele momento baseadas na<br />

tradição e interpretadas pelos patrícios. Os plebeus, num<br />

processo semelhante ao ocorrido na Grécia, passaram a<br />

exigir leis escritas, o que levou ao aparecimento, em 450<br />

a.C., do primeiro código de leis escrito da história<br />

romana – a Lei das Doze Tábuas -, redigido por uma<br />

comissão de decuriões composta de patrícios e plebeus.<br />

Uma década depois, por proposta dos tribunos da plebe<br />

Licínio e Séxtio, os plebeus conseguiram conquistar o<br />

direito de um dos cônsules ser de origem plebeia. Mais<br />

tarde, obtiveram também o direito de ocupar o cargo de<br />

ditador.<br />

A aristocracia romana, porém, soube absorver as<br />

conquistas sociais e políticas dos plebeus e manteve o<br />

controle do Estado, fosse através do sistema de votação<br />

na comitia centuriata, que inviabilizava a participação<br />

dos cidadãos mais pobres, fosse através da<br />

arregimentação dos clientes, que foi perdendo seu caráter<br />

de base eleitoral.<br />

Em 445 a.C., foram permitidos os casamentos entre<br />

plebeus e patrícios, o que levou a uma associação entre<br />

as famílias plebeias mais ricas e os patrícios, fazendo<br />

surgir uma nova aristocracia – a nobilitas -, composta de<br />

um número reduzido de famílias que, durante muito<br />

tempo, controlaram o acesso aos mais elevados cargos do<br />

Estado.<br />

Com a expansão militar romana, novas magistraturas<br />

foram criadas: os pretores, que cuidavam dos assuntos<br />

judiciários; os censores, que dividiam os cidadãos<br />

segundo os bens e preparavam a lista dos senadores; os<br />

edis, que cuidavam do abastecimento e da vigilância da<br />

cidade de Roma; os questores, que administravam o<br />

tesouro público. Os plebeus conseguiram ter acesso a<br />

todos esses cargos, porém, cada vez mais se acentuava a<br />

divisão interna da camada plebeia entre pobres e ricos.<br />

5.2.1 QUADRO DAS PRINCIPAIS<br />

CONQUISTAS DOS PLEBEUS<br />

494 a.C. O primeiro passo foi a conquista de um<br />

órgão político de defesa de seus interesses, O<br />

TRIBUNATO DA PLEBE. Essa conquista ocorreu<br />

depois que os plebeus ameaçaram criar, em 494 a. C.,<br />

uma sociedade plebeia separada da dos patrícios, nas<br />

vizinhanças de Roma.<br />

471 a.C. Concilium Plebis ou Comitia Plebis,<br />

assembleia que legislava apenas para os plebeus.<br />

Conquistaram, também, o direito de eleger 10 tribunos<br />

da plebe.<br />

450 a.C. Lex Duo Décima Tabularum ou Lei das<br />

Doze Tábuas, primeiro código de leis escritas em Roma.<br />

445 a.C. Lei Canuléia, permitia o casamento entre<br />

patrícios e plebeus.<br />

367 a.C. Leis Licinias-Sextias, dividiu o Consulado<br />

entre patrícios e plebeus; determinaram a divisão de<br />

terras públicas, o ager publicus; proibiram que o corpo<br />

fosse garantia de dívidas.<br />

326 a.C. Lex Poetelia Papiria, aboliu definitivamente<br />

os escravos por dívidas.<br />

300 a.C. Lei Olgúnia, determinou a igualdade<br />

religiosa, isto é, plebeus seriam eleitos para o cargo de<br />

Pontífice. Pontífice era o magistrado eleito para cuidar<br />

dos cultos públicos romanos, tem mandato de um ano e é<br />

68


parte de um Colégio Pontifício, liderado pelo Pontífice<br />

Máximo.<br />

286 a.C. Lei Hortência, determinou que todas as<br />

resoluções aprovadas pelo plebeus na comitia plebis, o<br />

plebiscito, adquirissem força de lei e, portanto, aplicada a<br />

todos os cidadãos sem requerer a aprovação do Senado<br />

Romano.<br />

6. PROCESSO DE EXPANSÃO ROMANA<br />

Foi durante o período republicano que Roma se<br />

transformou de simples cidade- estado em um grande<br />

domínio territorial, voltando-se inicialmente para a<br />

conquista da Itália e mais tarde de todo o mundo<br />

mediterrâneo. A expansão imperialista provocou<br />

profundas transformações na vida econômica, social e<br />

política de Roma, podemos identificar diferentes fatores<br />

para justificá-la em épocas determinadas da história<br />

romana.<br />

Para simplificar o estudo desses fatores, dividiremos a<br />

expansão em duas fases: a primeira, que se estende até o<br />

século III a.C., identificada com a conquista da Itália; e a<br />

Segunda, que corresponde à formação do poderoso<br />

domínio mediterrâneo.<br />

Na primeira fase, o fator determinante da expansão foi a<br />

necessidade de novas terras cultiváveis, numa sociedade<br />

onde o desenvolvimento das forças produtivas era<br />

limitado e o conflito entre aristocracia e pequenos<br />

proprietários bastante acentuado. A disputa pelas terras<br />

do Estado, que aumentava, ao mesmo tempo em que<br />

encontrava na conquista uma válvula de escape e uma<br />

motivação para a luta, acirrava as lutas internas entre a<br />

aristocracia e a plebe. A aristocracia rural, através da<br />

conquista, ampliava seus domínios territoriais e seu<br />

poder político e militar, estabelecendo alianças com as<br />

aristocracias dos Estados conquistados aumentando os<br />

contingentes de seu exército, uma vez que Roma<br />

integrou, progressivamente, as regiões conquistadas ao<br />

seu sistema político, admitindo seus habitantes como<br />

cidadãos romanos, em graus diferenciados<br />

Na Segunda fase imperialista, quando os latifúndios<br />

escravistas (propriedades aristocráticas, com mão-deobra<br />

escrava e produção especializada, voltada para o<br />

mercado) dominaram a economia romana, o fator<br />

determinante do expansionismo militar passou a ser<br />

recrutamento da mão-de-obra escrava, obtida a partir das<br />

populações vencidas. Estudaremos mais detalhadamente<br />

esse período na transição da República para o Império e<br />

na fase imperial.<br />

6.1 EXPANSÃO INTERNA: CONQUISTA DA<br />

ITÁLIA<br />

No início do século V a.C., o objetivo fundamental da<br />

aristocracia romana era manter sua hegemonia na região<br />

do Lácio, o que preocupava as cidades etruscas.<br />

As populações latinas que viviam próximas à cidade de<br />

Roma sabiam que sem a ajuda romana não poderiam<br />

conter nova dominação etrusca. Formaram, então, uma<br />

liga das cidades latinas, a Liga Latina, sob o comando de<br />

Roma. Em 449 a.C., os sabinos foram derrotados pelos<br />

romanos, que se apoderaram de boa parte do seu<br />

território. Pouco depois, os latinos venceram os volscos,<br />

que queriam isolá-los do mar, e novas colônias romanas<br />

foram instaladas nos territórios ocupados.<br />

Em 395 a.C., os romanos venceram a cidade etrusca de<br />

Veios, numa luta iniciada pelo controle da foz do rio<br />

Tibre. Após essa vitória seguiu-se uma derrota, por volta<br />

de 390 a.C., quando os gauleses que organizavam<br />

expedições de saque às regiões do sul da Etrúria<br />

chegaram ao território romano, saquearam a população e<br />

exigiram o pagamento de resgate, em dinheiro, para a<br />

libertação da cidade.<br />

A invasão dos gauleses levou as cidades latinas a<br />

refazerem a aliança com Roma, que andava bastante<br />

abalada. Até meados do século IV a.C., a expansão<br />

deveu-se à Liga Latina, dissolvida em 340 a.C., quando a<br />

sublevação das cidades latinas levou Roma a submetê-las<br />

totalmente à sua hegemonia. A partir daí, a conquista<br />

passou a ser feita sob o controle absoluto de Roma, mas<br />

as colônias instaladas tinham um caráter latino.<br />

De 327 a 290 a.C., Roma guerreou contra os samnitas<br />

pelo domínio da fértil região da Campânia. A maior parte<br />

dos samnitas acabou se aliando aos romanos.<br />

Posteriormente, Roma submeteu o norte da Etrúria, cujos<br />

domínios compreendiam a Itália central e parte da Itália<br />

setentrional. Quando a supremacia romana se estendeu<br />

ao sul da Itália, algumas cidades gregas, como Nápoles,<br />

aliaram-se a Roma, enquanto outras, como Tarento,<br />

declararam-lhe guerra.<br />

Em 272 a.C., o sul da Itália, inclusive Tarento, se rendeu.<br />

Toda a península Apenina, exceto o vale do Pó, passou<br />

ao domínio romano<br />

69


Ao conquistarem uma região italiana, pelo menos um<br />

terço do território ocupado era apropriado pelo Estado –<br />

ager publicus – e distribuído aos cidadãos romanos, para<br />

várias finalidades: instalação de colônias, distribuição de<br />

lotes individuais ou ocupação pela aristocracia, que tinha<br />

os meios disponíveis para o seu aproveitamento.<br />

6.1 EXPANSÃO EXTERNA: CONQUISTA DO<br />

MEDITERRÂNEO<br />

A expansão fora do território italiano teve início com as<br />

Guerras Púnicas (264-146 a.C.), contra Cartago, antiga<br />

colônia fenícia, localizada ao norte da África, que por<br />

volta do século III a.C. dominava o comércio do<br />

Mediterrâneo possuindo colônias na Sicilia, Sardenha,<br />

Córsega, “Espanha” e em toda a costa setentrional da<br />

África.<br />

Os conflitos entre Roma e Cartago se iniciaram a partir<br />

da expansão romana pela sul da Itália, quando Roma<br />

anexou os portos italianos do sul e os interesses de<br />

Nápoles e Tarento (colônias gregas rivais de Cartago)<br />

que se tornaram interesses romanos, tornando a guerra<br />

inevitável.<br />

Era quase certo que Roma, como líder dos gregos<br />

ocidentais, iria intervir na luta secular entre sicilianos e<br />

cartagineses. A maior parte da ilha da Sicília era habitada<br />

por cartagineses, em luta constante com as colônias<br />

gregas ali existentes. Os romanos intervieram nessa luta<br />

e uma de suas legiões ocupou a cidade de Messina. Os<br />

cartagineses declararam guerra a Roma. As forças das<br />

duas potências eram bastante equilibradas, pois o poderio<br />

de ambas era sustentado por uma comunidade de<br />

cidadãos e um poderoso exército, apoiado por aliados em<br />

caso de guerra.<br />

Nas três Guerras Púnicas (de 264 a.C. a 146 a.C.), os<br />

romanos venceram os cartagineses, impondo seu<br />

domínio na Sicília, Córsega e<br />

Sardenha, além da “Espanha”, que só foi totalmente<br />

integrada ao império romano após a total submissão dos<br />

celtiberos, em 133 a.C. “Portugal’, por sua vez, caiu sob<br />

o domínio romano em 140 a.C., quando os lusitanos,<br />

liderados por Viriato, foram vencidos pelas tropas<br />

romanas. Parte do norte da África também foi dominada<br />

pelos romanos, a partir da queda e destruição de Cartago,<br />

em 146 a.C. Todo o Mediterrâneo Ocidental passou para<br />

o domínio romano (Mare Est Nostrum).<br />

Ao mesmo tempo em que estava envolvida com as<br />

Guerras Púnicas, Roma voltou sua atenção para o<br />

Mediterrâneo Oriental, região dos reinos helenísticos. A<br />

Macedônia, aliada a Cartago na Segunda Guerra Púnica,<br />

foi derrotada em 197 a.C., tornando-se protetorado<br />

romano. Posteriormente, com a revolta dos macedônios,<br />

Roma dominou totalmente a região, transformando-a em<br />

província romana, em 168 a.C.<br />

A Síria foi vencida em 189 a.C., seguindo-se depois a<br />

conquista da Grécia e da Ásia Menor e o estabelecimento<br />

de um protetorado romano no Egito. Com a conquista da<br />

Gália Transalpina, efetivada por Júlio César (51 a.C.), a<br />

Roma republicana transformou-se no maior império da<br />

Antiguidade.<br />

7. CONSEQÜÊNCIAS DA EXPANSÃO<br />

ROMANA<br />

A expansão romana exigiu uma nova forma de<br />

administrar as terras conquistadas e, no plano interno,<br />

trouxe profundas modificações na sociedade.<br />

A partir da conquista de terras fora da península<br />

Apenina, Roma passou a agrupar os territórios anexados<br />

em províncias, cujo sistema de exploração sofreu<br />

profundas transformações. Enquanto na expansão inicial<br />

dava-se ênfase à conquista das terras incorporadas ao<br />

ager publicus, às alianças políticas e ao fornecimento de<br />

soldados, na fase posterior da expansão romana<br />

destacava-se a cobrança de tributos anuais, em espécie<br />

ou moeda, o pagamento de indenizações de guerra, a<br />

exclusividade na exploração das minas e principalmente<br />

o recrutamento de escravos entre a população dominada.<br />

70


Nas regiões dominadas ficavam o exército e os<br />

governadores, que controlavam o poder civil e militar. A<br />

arrecadação dos impostos provinciais era arrendada pelo<br />

Estado romano a particulares - os publicanos - que se<br />

tornaram um poderoso grupo, de grande importância nas<br />

lutas sociais travadas no final do período republicano. A<br />

expansão romana provocou transformações radicais na<br />

vida econômica e social de Roma, sem, no entanto,<br />

alterar sua estrutura política.<br />

Assim, Roma continuava sendo uma Cidade-estado<br />

governada pela aristocracia, através do seu principal<br />

órgão político - o Senado. A camada aristocrática havia<br />

alterado sua composição, com a incorporação dos<br />

plebeus ricos, mas não havia alterado suas concepções<br />

nem seus objetivos de controle exclusivo do poder.<br />

Mesmo essa nova aristocracia - a nobilitas - só muito<br />

lentamente recrutava novos quadros entre as camadas de<br />

maior renda, os équites ou cavaleiros, que passavam a<br />

ser conhecidos como "homens novos", discriminados<br />

pela oligarquia que tradicionalmente controlava o poder.<br />

Por outro lado, os plebeus sofreram profunda<br />

estratificação interna, e os tribunos da plebe,<br />

pertencentes às camadas plebeias ricas, afastavam-se<br />

cada vez mais das camadas populares.<br />

Os pequenos proprietários, devido à mobilização<br />

permanente para a guerra, foram prejudicados e<br />

passaram a ter dificuldades de readaptação na vida<br />

agrícola, o que levou grandes contingentes populacionais<br />

a migrar para as grandes cidades, enquanto outros grupos<br />

de pequenos proprietários arruinados passaram a<br />

trabalhar como camponeses contratados por grandes<br />

proprietários – os coloni.<br />

A concentração de propriedades rurais levou ao<br />

aparecimento do latifúndio. Havia, portanto, em Roma,<br />

capital abundante nas mãos da aristocracia e mão-deobra<br />

disponível, principalmente com o aumento do<br />

número de escravos. A especialização agrícola, com<br />

produção voltada para o mercado, passou a dominar a<br />

vida econômica romana.<br />

Foram essas transformações que geraram tensões,<br />

responsáveis pela crise da República: disputa entre a<br />

aristocracia da cidade de Roma e as elites provinciais;<br />

tensões no interior do exército, que necessitava do<br />

recrutamento dos camponeses, mas cuja ação só<br />

beneficiava os senadores e os équites; tensões de caráter<br />

étnico e cultural, agravadas pela escravização das<br />

populações submetidas.<br />

71


CIVILIZAÇÃO ROMA – PARTE II*<br />

72<br />

1. A CRISE DA REPÚBLICA<br />

Apesar do expansionismo e da projeção alcançados pelo<br />

mundo romano na fase republicano, esses mesmos<br />

fatores revelarem contradições com o modelo político<br />

vigente e com as estruturas sociais no âmbito de uma<br />

nova realidade econômica, que levaram ao colapso do<br />

modelo republicano. Disputas de poder entre os grupos<br />

tradicionais e os grupos sociais em ascensão, revoltas<br />

escravas, e as disputas entre os generais são fatores que<br />

marcaram a transição da República ao Império.<br />

Não seria possível determinar com precisão quando a<br />

sociedade romana passou a ser plenamente escravista,<br />

uma vez que essa pratica era recorrente desde os tempos<br />

monárquicos. O certo, porém, e que o expansionismo<br />

romano transformou a escravidão na base do sistema<br />

produtivo de Roma. A evidencia do predomínio desse<br />

tipo de trabalho trouxe alterações significativas na<br />

estrutura social, seja na substituição dos trabalhadores<br />

clientes no campo pelos escravos, seja pela formação de<br />

uma nova classe de proletários nas cidades, dispensados<br />

do campo e evocando o êxodo rural como meio de<br />

sobrevivência. Também foram persistentes as revoltas<br />

dos escravos, mais explosivas e constantes no meio rural.<br />

Dentre elas destacam-se as ocorridas na Sicília, entre 136<br />

e 133 a.C., onde os escravos chegaram a tomar o poder,<br />

estabelecendo um governo monárquico. Também no<br />

reino de Pérgamo, na Ásia Menor, escravos e cidadãos<br />

pobres, liderados por Aristônico, revoltaram-se contra<br />

Roma, sendo derrotados em 130 a.C. Essas revoltas<br />

preocuparam a aristocracia romana, mas não abalaram o<br />

sistema escravista, que se consolidava cada vez mais. Os<br />

escravos urbanos também participaram das lutas<br />

políticas, particularmente daquelas travadas no final da<br />

República, mas não como uma camada social portadora<br />

de reivindicações e sim como massa de manobra de<br />

grupos políticos.<br />

1.1 A questão da terra e a reforma agrária dos<br />

irmãos Graco<br />

Outro fator de desajuste social nos séculos finais da<br />

República estava relacionado à disputa pelas terras<br />

adquiridas no processo expansionista, envolvendo<br />

especialmente os aristocratas e os pequenos camponeses<br />

empenhados no exército. Durante a primeira metade do<br />

século II a.C., o Senado ainda manteve uma política de<br />

colonização intensa na Gália Cisalpina e na parte Sul da<br />

Itália, mas não na Itália Central, onde já predominavam<br />

os latifúndios escravistas. Mas a distância entre regiões<br />

colonizadas, a pequena extensão dos lotes e os poucos<br />

recursos disponíveis levaram os colonos a abandonar as<br />

zonas de colonização, partindo para as cidades, na<br />

expectativa de melhorar suas condições de vida.<br />

A intensificação do êxodo urbano e a proletarização, ou<br />

seja, constituição de uma plebe urbana despossuída,<br />

ampliou as tensões sociais, exigindo soluções que<br />

poderiam ser alcançadas pela via reformista. Alguns<br />

elementos progressistas da aristocracia romana,<br />

influenciados pela cultura grega, bastante forte nesse<br />

período, pensaram em reformas sociais que pudessem<br />

amenizar esse quadro.<br />

Um exemplo desse esforço reformista foi a ação do<br />

tribuno da plebe Tibério Graco, que preparou, em 133<br />

a.C., um projeto visando melhorar a combatividade do<br />

exército romano, melhorando as condições de vida dos<br />

camponeses, que a essa época constituíam a base do<br />

exército romano. Assim, resolveu conceder terras<br />

àqueles que não às possuíam em quantidade suficiente<br />

para sobreviver.<br />

Como tal proposta só poderia ser aprovada pela<br />

assembleia popular, e só os tribunos podiam apresentar<br />

projetos, ele candidatou-se a esse posto e venceu as<br />

eleições. O projeto de Tibério Graco limitava a<br />

quantidade máxima de terras públicas que uma família<br />

poderia possuir em 500 iugera (uma iugera corresponde a<br />

aproximadamente a 2.500 m2) para o chefe e 250 por<br />

filho (até o máximo de dois). Essas terras se tornariam<br />

propriedade dos seus concessionários, porém aquelas<br />

concedidas aos pobres não se tornariam propriedade<br />

particular, pois não poderiam ser vendidas e estavam<br />

sujeitas ao pagamento de taxas de arrendamento.<br />

No dia da votação do projeto, uma multidão de<br />

camponeses reuniu-se em Roma. Os senadores,<br />

inconformados com a possibilidade de perderem o seu<br />

monopólio sobre as terras, para não perderem a votação<br />

nos comícios populares, recorreram a um antigo recurso<br />

constitucional romano – o veto de um tribuno a qualquer<br />

lei. O veto foi dado por outro Tribuno da plebe. Tibério


ecorreu a um meio inconstitucional e pediu à plebe que<br />

afastasse tal tribuno e aprovasse a lei.<br />

Para a execução da lei era necessário o apoio dos<br />

tribunos, que eram eleitos anualmente. Tibério<br />

candidatou-se novamente para o posto, além de procurar<br />

eleger outros candidatos seus. Como a reeleição de um<br />

tribuno era contrária à tradição romana, a aristocracia<br />

passou a acusá-lo de pretender instalar um governo<br />

tirano. No dia das eleições houve um conflito armado,<br />

onde Tibério e muitos de seus partidários foram mortos.<br />

Com o fracasso da tentativa de reforma agrária de<br />

Tibério, Caio Graco, seu irmão, foi eleito tribuno em<br />

124 a.C., e apresentou um projeto de reformas muito<br />

mais amplo à assembleia. Entre suas propostas, incluíamse<br />

uma lei que estendia a todo o mundo romano as terras<br />

concedidas aos pobres; um programa de obras públicas<br />

para dar ocupação à plebe urbana; uma reforma<br />

judiciária que favorecia camadas intermediárias, tirando<br />

o papel de juiz dos senadores e transferindo-o para os<br />

cavaleiros (comerciantes), que passaram também a<br />

exercer importante papel nas finanças públicas com o<br />

arrendamento da cobrança dos impostos provinciais.<br />

Com a lei frumental, iniciou-se a distribuição de trigo<br />

para a população romana, subvencionada pelo Estado.<br />

Esse hábito assumiu grande importância no século I a.C.,<br />

tornando-se totalmente gratuito a partir do ano de 58 a.C.<br />

Caio Graco, em sua campanha à reeleição, sugeriu que a<br />

Assembleia estendesse os direitos de cidadania a todos<br />

os aliados de Roma, mas o projeto foi derrotado e o<br />

senado ordenou a expulsão de todos aqueles que não<br />

eram cidadãos romanos. Tentando derrubar Caio Graco,<br />

os aristocratas denunciaram-no como sendo inimigo da<br />

religião e da pátria, alegando que ele havia fundado, em<br />

Cartago, uma colônia numa região considerada<br />

amaldiçoada. Caio Graco foi perseguido e seus<br />

partidários foram derrotados pelo senado. Temendo<br />

tornar-se prisioneiro, pediu a um escravo que o matasse.<br />

Frustrava-se assim os esforços de reforma capazes de<br />

atender à população empobrecida de Roma, mantendo-se<br />

portanto, os fatores essenciais da grave crise que atingia<br />

a República.<br />

Os únicos beneficiários das reformas dos Graco foram os<br />

cavaleiros, que há muito pretendiam participar das<br />

estruturas efetivas de poder do Estado. Os camponeses,<br />

porém, continuaram a perder suas terras e os latifúndios<br />

continuaram sua expansão. As tentativas de reforma não<br />

conseguiram restaurar a propriedade camponesa nem a<br />

estrutura do exército, baseada no recrutamento dos<br />

cidadãos. O exército passou, progressivamente, a ser<br />

profissional, composto por mercenários que faziam da<br />

vida militar seu meio de sobrevivência.<br />

1.2 A disputa entre os generais: A guerra civil<br />

entre os generais Mario e Sila<br />

Com a dificuldade de reversão da crise pelas medidas<br />

institucionais e, em um quadro onde o exército ganhava<br />

cada vez mais prestígio associado às guerras de<br />

conquista, muitos generais passaram a ambicionar o<br />

fortalecimento de sua autoridade individual, chegando a<br />

poder e colocando em risco o próprio funcionamento da<br />

República e a autoridade senatorial.<br />

Uma das grandes investidas do exército romano foi sobre<br />

a Numídia, ao norte da África. Mas os generais romanos,<br />

mais preocupados com seus interesses particulares do<br />

que com os do Estado, eram subornados pelo rei daquela<br />

região e a guerra se tornava indefinida. A conquista<br />

definitiva da Numídia aconteceu quando a assembleia<br />

romana elegeu como chefe das tropas africanas o<br />

incorruptível Caio Mário, que foi reeleito cônsul e<br />

general-chefe.<br />

Mário iniciou uma série de reformas no exército, ao<br />

perceber que sua base de recrutamento - os camponeses -<br />

não tinha grande interesse em lutar, o que provocava<br />

indisciplina e deserção. Passou também a convocar a<br />

classe dos proletarii (indivíduos sem bens e com prole<br />

para sustentar), contrariando a tradição romana, que<br />

restringia o recrutamento militar aos proprietários. Os<br />

soldados passaram a ser assalariados, passo decisivo para<br />

a profissionalização militar.<br />

Nessa época, a situação de Roma era dificultada ainda<br />

pela eclosão de revoltas escravas e rebeliões de<br />

populações itálicas que se ressentiam de não serem<br />

portadores de cidadania romana, apesar de serem seus<br />

aliados desde a primeira fase de expansão interna de<br />

Roma.<br />

Os dois principais generais romanos, Mário e Sila, foram<br />

enviados para submeter os revoltosos. A luta durou três<br />

anos, e Roma só pôde vencê-la após uma série de<br />

expedientes para dividir os aliados. Antes do final da<br />

revolta dos itálicos, Roma teve de enfrentar outro<br />

adversário, Mitridates, rei do Ponto, que conseguiu<br />

reunir boa parte do Oriente helenizado e massacrar toda a<br />

população latina da Ásia Menor. Roma preparou-se para<br />

enviar tropas contra Mitridates. Os partidos popular e<br />

aristocrático apresentaram, como candidatos ao comando<br />

das tropas, Mário e Sila, respectivamente. O vencedor foi<br />

Sila, que partiu para o Oriente.<br />

73


Aproveitando-se de sua ausência, Mário e seus<br />

seguidores se apossaram do poder em Roma. No entanto,<br />

no Oriente, Sila fez um acordo com Mitridates e retornou<br />

a Roma, onde derrotou Mário e seus partidários. A partir<br />

daí (82 a.C.) instaurou uma ditadura em Roma, tornandose<br />

ditador vitalício.<br />

Durante essa ditadura, Sila anulou o poder dos tribunos,<br />

limitou os direitos da assembléia popular e entregou o<br />

controle da justiça à aristocracia senatorial. Em 79 a.C.<br />

abdicou, retirando-se para a Sicília.<br />

A presença ditatorial dos militares no comando da<br />

República Romana não significou a retomada da<br />

estabilidade; em contrário, acirrou as rivalidades entre as<br />

diferentes faccoes políticas. É importante notar que essas<br />

lutas eram disputas entre a classe aristocrática romana e<br />

as elites provinciais. Mas, na desorganização provocada<br />

por essas disputas, setores das camadas mais pobres e os<br />

próprios escravos também manifestavam sua<br />

insatisfação.<br />

Foi o que ocorreu, por exemplo, na Campânia, no ano 70<br />

a.C., quando milhares de escravos, liderados por<br />

Espártaco e ajudados pelos proletários rurais da Itália,<br />

se rebelaram. Essa rebelião foi reprimida por Crasso,<br />

homem rico, saído da classe dos cavaleiros.<br />

Também no Oriente, Roma conseguiu se impor a<br />

Mitridates, vencido por Pompeu, que anexou a Síria e a<br />

Palestina. O partido popular, liderado por Júlio César e<br />

financiado por Crasso, voltou a se manifestar em Roma,<br />

para tentar controlar o poder na cidade.<br />

1.3 O primeiro triunvirato<br />

Em 60 a.C., César, Pompeu e Crasso firmaram um pacto<br />

secreto, supostamente em nome da ordem e da<br />

amenização das tensões, para dividir o governo. Esse<br />

acordo denominou-se triunvirato (governo de três<br />

pessoas). Com a ajuda de Pompeu e Crasso, César<br />

conseguiu ser eleito cônsul e tornou-se o elemento<br />

encarregado da execução de medidas propostas pelos<br />

três. Distribuiu terras da Campânia para os soldados de<br />

Pompeu; apoiou os partidários de Crasso na expulsão de<br />

Cícero, senador aristocrático contrário às reformas de<br />

Roma; fez com que as soluções adotadas por Pompeu,<br />

em relação ao Oriente, fossem confirmadas pela<br />

assembléia. Para si, garantiu o governo das Gálias<br />

cisalpina e transalpina. Toda a Gália foi subjugada por<br />

César, o que lhe permitiu conquistar uma reputação<br />

militar e recursos materiais ilimitados, que tornaram<br />

possível comprar a devoção dos seus soldados. Nessa<br />

fase de acirrada disputa política, os soldados mantinhamse<br />

fiéis aos seus generais, em função dos interesses<br />

clientelísticos que estes pudessem lhes garantir.<br />

Durante a campanha da Gália, César procurou manter o<br />

triunvirato. Após a morte de Crasso (53 a.C.),<br />

aumentaram os conflitos entre César e Pompeu. César<br />

não respeitava as limitações constitucionais do seu cargo<br />

e voltava-se contra o senado, que também o temia. Com<br />

a expiração do mandato de César nas Gálias, o senado<br />

propôs-lhe que retornasse a Roma, onde seria candidato a<br />

cônsul, e que dispersasse seu exército, o que ele se<br />

recusou a fazer, pois sabia que isso significava perder<br />

seu poder e ser destruído pelo senado.<br />

César invadiu a Itália e marchou sobre Roma. Os<br />

senadores abandonaram a cidade e Pompeu retirou-se<br />

para a península Balcânica, onde, pouco tempo depois,<br />

foi abatido por César, que também derrotou seus<br />

exércitos na Espanha. O Egito, onde havia uma disputa<br />

pelo poder entre os herdeiros, também foi alvo de César.<br />

Ele colocou a rainha Cleópatra no poder e deixou o Egito<br />

em 47 a.C.<br />

ALEA JACTA EST significa, em português, "Os<br />

dados estão lançados", mas traduzido comumente como<br />

"A sorte está lançada". Foi a frase em latim supostamente<br />

proferida por Júlio César ao tomar a decisão de cruzar<br />

com suas legiões o rio Rubicão, que delimitava a divisa<br />

entre a Gália Cisalpina (Gália ao sul dos Alpes, que hoje<br />

corresponde ao território do norte da Península Itálica) e<br />

o território da Itália. Pela lei romana, não era permitido<br />

às legiões ingressar no território italiano devido a<br />

episódios anteriores em que generais romanos como<br />

Mário e Sila haviam usado seus exércitos para tomar o<br />

poder em Roma. Devido a estes precedentes, era<br />

proibido a um governador provincial, um Proconsul<br />

como César, cruzar com suas legiões a divisa com o<br />

território italiano. O rio Rubicão demarcava esta divisa<br />

entre a Gália, governada por César, e a Itália e ao cruzálo<br />

César declarava um conflito aberto contra o Senado<br />

romano e Pompeu.<br />

VENI, VIDI, VICI, em português: "Vim, vi, venci"<br />

é uma famosa frase latina supostamente proferida pelo<br />

general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C. César<br />

utilizou a frase numa mensagem ao Senado Romano<br />

74


descrevendo sua recente vitória sobre Farnaces II rei do<br />

Ponto (localizado a norte da península da Anatólia, na<br />

atual Turquia) na Batalha de Zela. A frase serviu tanto<br />

para proclamar seu feito, como também alertar aos<br />

senadores de seu poder militar.<br />

1.4 A ditadura de César<br />

Ao retornar a Roma, César tornou-se o chefe do Estado<br />

romano, ocupando, ao mesmo tempo, o cargo de tribuno<br />

e de cônsul. Procurou manter o funcionamento formal<br />

das instituições republicanas, mas submetendo-as<br />

totalmente ao seu controle. Na luta contra o senado,<br />

apoiou-se nas camadas mais baixas da assembléia<br />

popular e nos veteranos do exército das províncias<br />

ocidentais.<br />

César foi assassinado pela facção republicana do Senado,<br />

em 44 a.C., mas seu desaparecimento não restituiu o<br />

poder ao senado, que, representando a oligarquia, era<br />

combatido pelo exército, pela plebe e pelas camadas<br />

ricas, que não partilhavam do poder.<br />

1.5 O segundo triunvirato<br />

Com a morte de César, seus seguidores Marco Antônio e<br />

Lépido controlaram as tropas e impediram qualquer<br />

domínio político por parte do senado, que aceitou o<br />

acordo proposto por Marco Antônio para garantir todos<br />

os atos de César, mas a disputa entre os seguidores deste<br />

e a classe senatorial continuou. Bruto e Cássio, senadores<br />

que lideraram a conspiração contra César, escaparam<br />

para o Oriente, onde controlaram parte do exército<br />

sediado na Macedônia, enfraquecendo a posição de<br />

Antônio.<br />

Na Itália, Otávio, sobrinho de César, exigiu participação<br />

no governo e devolução do dinheiro retirado do espólio<br />

de seu tio. Antônio recusou-se a aceitar as exigências<br />

impostas e os veteranos de guerra de César ficaram com<br />

Otávio, que ofereceu seus serviços ao senado, sendo<br />

aceito. A maior parte dos soldados do senado passou<br />

para o comando de Otávio, que recebeu o título de cônsul<br />

e condenou os assassinos de César.<br />

O esperado choque entre Antônio e Otávio não ocorreu.<br />

Como nenhum deles conseguiria governar sozinho,<br />

acabaram entrando em acordo e formaram, juntamente<br />

com Lépido, o segundo triunvirato. Pelo acordo,<br />

dividiram entre si as principais províncias ocidentais do<br />

império e receberam poder ilimitado, por cinco anos,<br />

para reorganizar o Estado. O acordo foi ratificado pela<br />

assembléia popular.<br />

Para garantir a "reorganização do Estado" instaurou-se o<br />

terror em Roma, com o objetivo de eliminar a oposição e<br />

levantar fundos para o pagamento dos soldados. Antônio<br />

e Otávio dirigiram-se para a Macedônia, onde derrotaram<br />

o exército de Bruto e Cássio. Antônio foi para o oriente e<br />

Otávio retornou à Itália, onde começou a expropriar<br />

terras para doá-las a seus soldados.<br />

O governo autocrático, instaurado por Antônio no<br />

Oriente, reabilitou Otávio junto à população romana,<br />

revoltada com os confiscos de terra. Quando Marco<br />

Antônio começou a doar províncias romanas aos<br />

herdeiros de Cleópatra, sua favorita, Otávio apresentou-o<br />

aos romanos como traidor de seus ideais. O senado<br />

apoiou Otávio, e toda a aristocracia da Itália e das<br />

províncias lhe jurou fidelidade.<br />

Em 31 a.C., na batalha de Áctium, Marco Antônio foi<br />

derrotado pelo exército romano e, após sua morte e o<br />

suicídio de Cleópatra, o Egito transformou-se em<br />

província romana. Começava a nascer a Roma Imperial.<br />

1.6 A transição entre a república e o império - o<br />

principado e a centralização do poder<br />

Durante as guerras civis, acumularam-se grandes<br />

fortunas em Roma. A anarquia nas províncias e a falta de<br />

eficiência do governo central propiciaram o<br />

enriquecimento extraordinário dos generais e<br />

governadores de províncias. Os governadores,<br />

juntamente com os équites, enriquecidos com a<br />

espoliação das províncias, passaram a fazer parte da<br />

classe senatorial.<br />

Roma transformou-se no maior centro comercial e<br />

financeiro do mundo antigo. O envio de riquezas do<br />

Oriente enriqueceu ainda mais a península. Os pequenos<br />

proprietários se arruinavam, pois os cereais eram<br />

importados das províncias a preços ínfimos.<br />

Graças à grande entrada de capitais vindos das<br />

províncias, houve grande desenvolvimento da<br />

manufatura, principalmente após a chegada de escravos<br />

especializados, vindos da Grécia e do Oriente. Ao<br />

mesmo tempo em que Roma florescia, as províncias se<br />

empobreciam, devido à espoliação dos governadores e<br />

dos cavaleiros.<br />

As classes dominantes de Roma, juntamente com os<br />

cidadãos romanos, diante da anarquia gerada pelas<br />

guerras civis, sentiram necessidade de reformas para<br />

integrar efetivamente o enorme território imperial,<br />

75


mantendo uma relativa paz e progresso interno, sem<br />

perder sua situação privilegiada. Otávio expressou e<br />

interpretou esse desejo, estabelecendo um governo<br />

centralizador e autocrático – o principado, isto é, o<br />

governo do primeiro homem do Estado (princeps).<br />

Entre 31 a 27 a.C., Otávio passou a acumular os<br />

principais títulos romanos, entre eles:<br />

• PRINCEPS SENATUS era o líder do Senado<br />

romano. Este cargo era considerado de grande prestígio.<br />

Originalmente era atribuído por períodos de cinco anos<br />

passíveis de renovação, escolhido pelos censores, entre<br />

os senadores patrícios ex-cônsules. Entre as tarefas de<br />

um princeps senatus incluíam: declarar a abertura e<br />

encerramento das sessões do senado; decidir a ordem de<br />

trabalhos e o local do encontro; impor a ordem e demais<br />

regras do senado; representar o senado em reuniões com<br />

embaixadas de outros países; escrever as cartas e os<br />

despachos do senado. Depois da queda da República<br />

Romana, o princeps senatus ou princeps passou a ser um<br />

cargo exclusivo do imperador.<br />

• IMPERATOR era um título conferido a alguns<br />

generais da República Romana, tradicionalmente,<br />

conferidas pelas tropas ao seu general, depois de uma<br />

batalha ou campanha bem sucedida. Esta aclamação<br />

conferia o direito do general pedir a realização de uma<br />

parada triunfal ao Senado, sendo o triunfo uma das<br />

grandes ambições de qualquer político; a história é rica<br />

em exemplos de legiões subornadas para chamar alguém<br />

de imperator. Depois de Otávio estabelecer o Império<br />

Romano, o título imperator ficou restrito à pessoa do<br />

imperador e a membros da sua família.<br />

• PONTIFEX MAXIMUS ou SUMO PONTIFEX<br />

(literalmente "Máximo construtor de pontes" ou<br />

"supremo construtor de pontes") designava o sacerdote<br />

supremo do colégio dos sacerdotes, a mais alta dignidade<br />

na religião romana. Inicialmente somente os patrícios<br />

podiam ocupá-lo, até um plebeu ser designado para o<br />

cargo em 254 a.C.. De posto religioso durante a<br />

República, foi gradualmente politizado até ser<br />

incorporado pelo imperador, a partir de Otávio.<br />

76<br />

• AUGUSTUS tinha o significado de Majestade ou<br />

Venerável. Nesta acepção, o cognome Augusto servia<br />

para identificar a pessoa na qual se concentravam os<br />

vários ramos do poder do imperador, caracterizando<br />

também seu poder como divindade. Com esse título o<br />

Estado romano passa a se caracterizar como uma<br />

teocracia, em virtude da apoteose. A apoteose na Roma<br />

Antiga era um rito funerário da religião romana,<br />

porventura o mais honorífico, e que elevava o falecido à<br />

categoria dos deuses. A apoteose era marcada pelo vôo<br />

de uma águia desde o leito fúnebre até à morada celeste<br />

dos deuses. O morto recebia o qualificativo de divinus<br />

(divino). Otávio foi o primeiro a receber a apoteose<br />

segundo a decisão do Senado romano.<br />

• CAIUS JULIUS CAESAR OTAVIANUS, Otávio<br />

visando absorver a aura de poder e prestígio do nome de<br />

seu tio, incorporou-o ao seu nome.<br />

2. O IMPÉRIO ROMANO (27a.C. a 476 d.C.)<br />

A partir de 27 a.C., Otávio foi acumulando poderes e<br />

títulos, entre eles o de augusto, e o de imperador. Otávio<br />

Augusto tornou-se, na prática, senhor absoluto de Roma.<br />

Mas não assumiu oficialmente o título de rei e permitiu<br />

que as instituições republicanas (Senado, Comício<br />

Centurial e Tribal etc.) continuassem existindo na<br />

aparência.<br />

O Principado é a fase convencionada pelos<br />

historiadores para designar o Império Romano desde 27<br />

a.C., quando o senado investiu Otaviano - o futuro<br />

Augusto - no poder supremo com a denominação de<br />

príncipe ou princeps (primeiro em latim), até 285 d.C.,<br />

quando iniciou-se o dominato por Diocleciano. Durante<br />

esse período, a verdadeira natureza do regime era<br />

escondida atrás de conceitos republicanos e os<br />

imperadores eram muitas vezes relutantes por falsa<br />

modéstia em se assumir como tal.<br />

O principado apresentava dupla faceta em Roma e<br />

nas províncias. Em Roma, era monarquia mitigada, pois<br />

o príncipe era apenas oprimeiro cidadão, que respeita as<br />

instituições políticas da república. Nas províncias<br />

imperiais, era verdadeira monarquia absoluta, porque o<br />

princeps tinha, lá, poderes discricionários.


Em face das peculiaridades que apresenta o<br />

principado, há controvérsia entre os autores sobre a<br />

natureza desse regime. Alguns entendem que ele seja<br />

uma diarquia: de um lado o príncipe, e, do outro, o<br />

senado. Para outros, seria um protetorado, em que o<br />

príncipe é o protetor e o Estado Romano o protegido. Há<br />

ainda aqueles que vêem nele a superposição de um novo<br />

órgão (o princeps) às instituições republicanas.<br />

Sob o principado, o governo autocrático do<br />

imperador era ainda escrupulosamente mascarado por<br />

formas e convenções herdadas do período político da<br />

República Romana, sob o lema Senatus Populesque<br />

Romanus ou SPQR. Inicialmente a teoria implicava que<br />

o "primeiro cidadão" tinha que ganhar sua extraordinária<br />

posição de poder por mérito, no estilo que o próprio<br />

Augusto ganhou a posição de auctoritas (ostenta a<br />

auctoritas aquela personalidade ou instituição, que tem<br />

capacidade moral para emitir uma opinião qualificada<br />

sobre uma decisão). A propaganda imperial desenvolveu<br />

uma ideologia paternalista, apresentando o princeps<br />

como a real encarnação de todas as virtudes atribuídasao<br />

governante ideal, tais como clemência e justiça, e em<br />

troca motivando o princeps a desempenhar o papel<br />

desejado na sociedade romana, tanto na segurança<br />

política como no dever moral. O que era especificamente<br />

desejado do princeps parece ter variado ao longo do<br />

tempo.<br />

Augusto. O século I, em que transcorreu seu governo,<br />

ficou conhecido como “PAX ROMANA”.<br />

Após a morte de Otavio Augusto , o trono romano foi<br />

ocupado por vários imperadores, que pode ser agrupados<br />

em quatro dinastias:<br />

DINASTIA DOS JULIOS-CLAUDIUS (14-68) –<br />

Tibério, Calígula, Claudio e Nero;<br />

DINASTIA DOS FLÁVIOS (69-96) –Vespasiano e<br />

Domiciano;<br />

DINASTIA DOS ANTONINOS (96-192) – Nerva,<br />

Trajano, Adriano, Marco Arélio, Antinino Pio e<br />

Cômodo;<br />

DINASTIA DOS SEVEROS (193-235) – Sétimo,<br />

Severo, Caracala, Macrino, Heliogábalo e Severo<br />

Alexandre<br />

2.1.1 Perseguições religiosas no Alto Império<br />

2.1 ALTO IMPÉRIO ( 27 a.C. - 235 d.C)<br />

Durante o longo governo de Otávio Augusto (27 a.C.-<br />

14 d.C.), uma série de reformas sociais administrativas<br />

foi realizada. Roma ganhou em prosperidade econômica.<br />

Suas primeiras medidas tinham por finalidade<br />

reestruturar a administração do novo Estado Imperial:<br />

restringiu as funções do Senado; criou uma nova<br />

ordem administrativa (as prefeituras); melhorou as<br />

formas de cobranças de impostos; instituiu a guarda<br />

pretoriana com a função de garantir a proteção do<br />

imperador.<br />

Na economia, Otávio incentivou a produção e protegeu<br />

as rotas comerciais. Empreendeu a construção de várias<br />

obras públicas, o que gerou muitos empregos aos<br />

plebeus. Para ganhar popularidade, Otávio adotou a<br />

política do “pão e circo”. A paz, a prosperidade e as<br />

realizações artísticas marcaram o governo de Otávio<br />

Os romanos não eram dados a perseguir as religiões de<br />

outros povos, ao contrário, as absorvia. Porém, como<br />

exceção, perseguiram o judaísmo e o cristianismo.<br />

A perseguição aos Judeus tem início na fase final da<br />

República, em 63 a.C., quando os romanos dominaram a<br />

região de Israel e estabeleceram no reino judeu um<br />

protetorado. Entretanto, a prática da religião hebraica era<br />

constantemente reprimida pelos romanos, que<br />

interferiam na administração do Templo e atacavam e<br />

profanavam os locais de culto.<br />

Durante o domínio romano, o nacionalismo dos hebreus<br />

fortaleceu-se, levando-os a se revoltar contra Roma. No<br />

ano 70 d.C., o imperador romano Tito, sufocou uma<br />

rebelião hebraica e destruiu o segundo templo de<br />

Jerusalém. Os hebreus, então, iniciaram sua dispersão<br />

por várias regiões do mundo. Esse episódio ficou<br />

conhecido como Diáspora.<br />

Adriano foi Imperador romano de 117 a 138 d.C. sua<br />

política encontraria sua maior contestação entre os<br />

judeus. Adriano, por volta de 131 d.C., mandara<br />

77


econstruir Jerusalém (destruída por Tito em 70 d.C.)<br />

como uma cidade grega. Os judeus sentiram que a sua<br />

cidade sagrada estava sendo profanada por estrangeiros.<br />

Diante das rebeliões dos judeus, Adriano determinou que<br />

as legiões localizadas nas províncias vizinhas atacassem<br />

os judeus e os destruíssem. Roma decretou a exclusão<br />

dos judeus de Jerusalém, que foi reconstruída como<br />

cidade grega e passou a chamar-se Aelia Adriana. No<br />

lugar do antigo templo judaico ergueu-se a estátua de<br />

Zeus e junto ao Gólgota (onde foi crucificado Jesus)<br />

ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite. A antiga<br />

província da Judéia passou a chamar-se Palestina - forma<br />

de tentar apagar a memória da presença judaica na região<br />

pela recordação dos filisteus, também antigos inimigos<br />

dos judeus. Tal fato intensificou o processo da diáspora<br />

judaica que havia se iniciado em 70 d.C. Os judeus<br />

dispersaram pelo mundo com a promessa de manterem<br />

as suas tradições e de um dia retornarem à terra do<br />

Monte Sião.<br />

Entre os principais motivos das perseguições dos<br />

romanos aos judeus:<br />

1 – O judaísmo professa o monoteísmo e se recusa a<br />

adorar o imperador romano como divindade;<br />

2 – O judaísmo é mais que uma religião, representa a<br />

própria identidade nacional do povo judeu e é o seu<br />

principal instrumento de resistência em relação aos<br />

seus dominadores.<br />

3 – A resistência dos judeus poderia servir de<br />

exemplo para outros povos sob o domínio romano.<br />

Também os cristãos seriam duramente perseguidos pelos<br />

romanos; tal perseguição encontra explicações tanto de<br />

ordem politica, histórica quanto religiosas. Quando<br />

Jesus Cristo nasceu, por volta do ano 4 a.C, na pequena<br />

cidade de Belém, próxima a Jerusalém, os romanos<br />

dominavam a Palestina. Os judeus viviam sob a<br />

administração de governadores romanos e, por isso,<br />

aspiravam pela chegado do Messias (criam que seria um<br />

grande homem de guerra e que governaria<br />

politicamente), apontado na Toráh como o enviado que<br />

os libertaria da dominação romana.<br />

Até os 30 anos Jesus não tivera expressão e vivia em<br />

Nazaré, cidade situada no norte do atual Israel. Em<br />

pouco tempo, aproximadamente três anos, reuniu<br />

seguidores (os 12 apóstolos) e percorreu a região<br />

pregando sua doutrina e, segundo a crença, fazendo<br />

milagres, como ressuscitar pessoas mortas e curar cegos,<br />

logo tornou-se conhecido de todos e grandes multidões o<br />

seguiam.<br />

78<br />

Mas, para as autoridades religiosas judaicas ele era um<br />

blasfemo, pois autodenominava-se o Messias. Segundo a<br />

elite judaica dos fariseus ele não tinha aparência e poder<br />

para ser o líder que libertaria a região da dominação<br />

romana. Ele apenas pregava paz, amor ao próximo. Para<br />

os romanos, era um agitador popular.<br />

As ações e os ensinamentos de Jesus entraram em<br />

conflito com os interesses da elite judaica. Tal fato levou<br />

a prisão, ao julgamento e a execução de Jesus.<br />

Acompanhado por um grupo de homens armados, Judas<br />

chegou ao jardim enquanto Jesus orava, para prendê-lo.<br />

Ao beijá-lo na face, revelou a identidade de Jesus e este<br />

foi preso. Por parte de seus seguidores houve um<br />

princípio de resistência, mas depois todos se dispersaram<br />

e fugiram.<br />

Os soldados levaram Jesus para a casa do Sumo<br />

Sacerdote Caifás. A lei judaica não permitia que o<br />

Sinédrio, a suprema corte judaica, se reunisse durante o<br />

Pessach. Jesus foi acusado primeiramente de ameaçar<br />

destruir o templo, mas as testemunhas entraram em<br />

desacordo.<br />

Depois, perguntaram a Jesus se ele era o Messias, o Filho<br />

de Deus e rei dos judeus. Jesus respondeu que era, e foi<br />

então acusado de blasfemar ao dizer-se Deus. Após isso,<br />

os líderes judeus levaram Jesus à presença do Pró-Cônsul<br />

Pôncio Pilatos, que então governava a província romana<br />

da Judéia. Acusavam-no de estar traindo Roma ao dizerse<br />

rei dos judeus. Como Jesus era galileu, Pilatos enviouo<br />

a Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, que<br />

governava a Galileia. Segundo o evangelista Lucas,<br />

Herodes zombou de Jesus, recusou-se a julgá-lo,<br />

vestindo-o com um manto real, e devolveu-o a Pilatos.<br />

Era de praxe os governantes romanos libertarem um<br />

prisioneiro judeu por ocasião do Pessach. Pilatos expôs<br />

Jesus e um assassino condenado, de nome Barrabás, na<br />

escadaria do palácio, e pediu à multidão que escolhesse<br />

qual dos dois deveria ser posto em liberdade. A multidão,<br />

manipulada pela elite judaica, escolheu Barrabás. Pilatos<br />

(lavou as mãos para eximir os romanos de qualquer<br />

responsabilidade) entregou então Jesus para morrer na<br />

cruz. A crucificação era uma forma comum de execução<br />

romana, aplicada, em geral, aos criminosos de classes<br />

inferiores. Aqueles que acreditam que Jesus ressuscitou<br />

ao terceiro e que voltará para julgar os vivos e os mortos<br />

deram origem ao CRISTIANISMO.<br />

Com o tempo o cristianismo foi crescendo,<br />

principalmente entre a massa de miseráveis de Roma. O<br />

governo imperial se incomodava com o crescimento e


com os “mistérios” que envolviam os cristãos, que se<br />

negavam a participar das cerimônias religiosas regulares<br />

realizadas pelos romanos, bem como aceitar que o<br />

imperador fosse adorado como um deus.<br />

Entre os principais motivos das perseguições dos<br />

romanos aos Cristãos:<br />

Baixo Império Cristão (306-476) – nesse período,<br />

destacou-se o reinado de Constantino, que através do<br />

Edito de Milão, concedeu liberdade religiosa aos<br />

cristãos. Consciente dos problemas de Roma,<br />

Constantino decidiu mudar a capital do império para a<br />

parte oriental. Para isso remodelou a antiga Bizâncio<br />

(cidade fundada pelos gregos) e fundou Constantinopla,<br />

que significava "cidade de Constantino".<br />

Religiosos: As reuniões dos cristãos despertavam<br />

suspeitas, por isso foram acusados de praticarem atos<br />

imorais e criminosos durante a celebração da Ceia do<br />

Senhor. Eles se reuniam antes do nascer do sol, ou então<br />

à noite, quase sempre em cavernas ou nas catacumbas<br />

subterrâneas. Eram acusados de incesto, de canibalismo e<br />

de práticas desumanas, a ponto de serem acusados de<br />

infanticídio em adoração ao seu Deus. A saudação com o<br />

ósculo santo (beijo) foi transformado em forma de<br />

conduta imoral.<br />

Políticos: Os cristãos rejeitavam a escravidão e a<br />

adoração ao imperador. A adoração ao imperador era<br />

considerada prova de lealdade. Havia estátuas de<br />

imperadores reinantes nos lugares mais visíveis para o<br />

povo adorar. Só que os cristãos não faziam essa<br />

adoração. Pelo fato de cantarem hinos e louvores e<br />

adorarem a “outro Rei, um tal Jesus”, eram considerados<br />

pelo povo como desleais e conspiradores de uma<br />

revolução. Dentro da crença cristã misturavam escravos<br />

com o povo, não havia a divisão: senhor e escravo, os<br />

dois eram tratados de forma igual. Além do mais o<br />

cristianismo tornava-se cada vez mais um fenômeno de<br />

massa que escapava ao controle do Estado Romano.<br />

2.2 BAIXO IMPÉRIO ou DOMINATO (235-<br />

476)<br />

O Baixo império corresponde à fase final do período<br />

imperial. Costuma ser subdividido em:<br />

2.2.1 Crise do Império Romano<br />

O Baixo Império foi sendo corroído por uma longa crise<br />

social, econômica e política. Entre os fatores que<br />

contribuíram para essa crise, destacam-se:<br />

CRISE DO EXPANSIONISMO ROMANO:<br />

• Crise do abastecimento de mão-de-obra escrava;<br />

• Elevados gastos públicos para sustentar a imensa<br />

estrutura administrativa e militar;<br />

• Aumento dos impostos para custear as despesas do<br />

exército e da burocracia administrativa;<br />

• Crise da política de pão e circo;<br />

• Crescimento do número de miseráveis entre a plebe,<br />

os comerciantes e os camponeses;<br />

• Desordens sociais e políticas provocadas por<br />

rebeliões tanto das massas internas quanto dos povos<br />

submetidos.<br />

• Crise da política de acordos com os bárbaros<br />

federados;<br />

• Intensificação das disputas entre os generais<br />

(anarquia militar);<br />

• Enfraquecimento das defesas romanas;<br />

• Ondas ou vagas de invasões bárbaras que se<br />

estenderam do século III ao século X.<br />

Baixo Império Pagão (235-305) – período em que<br />

dominava as religiões não-cristãs. Destacou-se o reinado<br />

de Diocleciano, que dividiu o governo do enorme<br />

império entre quatro imperadores (tetrarquia) para<br />

facilitar a administração. Esse sistema de governo,<br />

entretanto não se consolidou.<br />

No processo de decadência do Império Romano, a partir<br />

do século III, com a diminuição das guerras de conquista,<br />

esgotou-se a principal fonte fornecedora de escravos.<br />

Teve início a crise do escravismo que abalou seriamente<br />

a economia, provocou o ÊXODO URBANO e fez surgir<br />

o COLONATO (relação de trabalho servil que se<br />

79


80<br />

desenvolveu nas vilas, no processo de crise do<br />

escravismo romano). Além disso, houve disputas pelo<br />

poder e as legiões diminuíram. Enfraquecido, o Império<br />

Romano foi dividido em dois e a parte ocidental não<br />

resistiu às invasões dos bárbaros germânicos no século<br />

V, destacamos três imperadores:<br />

2.2.1.1 GOVERNO DE DIOCLECIANO (284-<br />

305)<br />

Imperador romano cujas reformas contribuíram para<br />

adiar o declínio de Roma e criaram as bases do que mais<br />

tarde viria a ser o Império Bizantino. Inicialmente<br />

dividiu o império em dois (285): do Ocidente e do<br />

Oriente, com dois augustos e dois césares, com seu<br />

homem de confiança, Maximiano, a quem entregou a<br />

metade ocidental do Império, enquanto ficava com a<br />

parte oriental. Em seguida, repartiu mais ainda o poder<br />

num sistema chamado TETRARQUIA (governo de<br />

quatro membros), implantado para acabar com as<br />

agitações nas sucessões imperiais (293), porém com<br />

indiscutível predomínio de sua autoridade e uma<br />

progressiva centralização de poder.<br />

Embora tenha sido relativamente bem-sucedido enquanto<br />

esteve em vigor, o sistema tetrárquico de Diocleciano<br />

ruiu logo após sua abdicação. No campo executivo<br />

limitou os poderes do Senado, fortaleceu e ampliou o<br />

exército imperial e promoveu reformas tributárias e<br />

legislativas. No campo judiciário, determinou que se<br />

realizassem duas compilações de leis imperiais, os<br />

códigos gregoriano e hermogeniano. Estabeleceu<br />

EDITO SOBRE OS PREÇOS MÁXIMOS, em 301,<br />

foi a tentativa de controlar a inflação através do controle<br />

de preços. A medida fracassou, pois, as mercadorias<br />

passaram a serem vendidas no mercado paralelo com<br />

ágio. Portanto, tal medida foi malsucedida,<br />

contraproducente e rapidamente ignorado.<br />

No campo religioso, tornou obrigatório o culto a Júpiter,<br />

com quem se identificou, e ordenou uma violenta<br />

perseguição aos cristãos (303), que se estenderia por<br />

mais de dez anos, na Itália, África e no Oriente. Muito<br />

doente, abdicou a 1 de maio (305).<br />

2.2.1.1 GOVERNO DE CONSTANTINO (306 -<br />

337)<br />

Constantino cresceu na corte do imperador Diocleciano e<br />

teve educação esmerada. Em 305, juntou-se ao pai, então<br />

nomeado "césar" do Ocidente, e participou das<br />

campanhas da Britânia (Grã-Bretanha). Em 313, após<br />

muitas batalhas e lutas políticas, Constantino conseguiu<br />

derrotar seus oponentes, passando a dividir o Império<br />

com Licínio. No mesmo ano, foi promulgado o EDITO<br />

DE MILÃO, reconhecendo a legalidade da religião<br />

cristã e estabelecendo a liberdade de culto.<br />

Constantino e Licínio conseguiram revezar-se no poder,<br />

junto com os filhos, até 324, quando entraram em<br />

conflito. Com Licínio derrotado, Constantino tornou-se<br />

chefe único do Império Romano.<br />

Em 325, Constantino convocou o CONCÍLIO<br />

ECUMÊNICO DE NICÉIA, que normatizou os<br />

dogmas cristãos. Foram convocados mais de 300 bispos<br />

ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja<br />

de uma doutrina padrão, pois as divisões, dentro da nova<br />

religião que nascia, ameaçavam sua autoridade e<br />

domínio. Trezentos Bispos se reúnem para decidir se<br />

Cristo era um ser criado (doutrina de Arius) ou não<br />

criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai (doutrina<br />

de Atanásio). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de<br />

que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, e<br />

afirmou que Ele era da mesma "substância" ou<br />

"essência" (isto é, a mesma entidade existente) do Pai.<br />

Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente<br />

um Deus, não dois; a distância entre Pai e Filho está<br />

dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no mesmo<br />

sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são<br />

"de uma substância", e que o Filho é "gerado" ("único<br />

gerado, ou unigênito"), mas "não feito", o Credo Niceno,<br />

estabelece a Divindade do homem da Galiléia, embora<br />

essa conclusão não tenha sido unânime. Os Bispos que<br />

discordaram, foram simplesmente perseguidos e<br />

exilados. Com a subida da Igreja ao poder, discussões<br />

doutrinárias passaram a ser tratadas como questões de<br />

Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um<br />

obstáculo grande à realização da idéia de Constantino de<br />

um Império universal que deveria ser alcançado com a<br />

uniformidade da adoração divina.<br />

Constantino aprovaria com facilidade, tudo aquilo que<br />

fosse do seu interesse. As sessões regulares, no entanto,<br />

começaram somente com a chegada do Imperador. Após<br />

Constantino ter explicitamente ordenado o curso das<br />

negociações, ele confiou o controle dos procedimentos a<br />

uma comissão designada por ele mesmo, consistindo<br />

provavelmente nos participantes mais proeminentes<br />

desse corpo. O<br />

Imperador manipulou, pressionou e ameaçou os<br />

partícipes do Concílio para garantir que votariam no que


ele acreditava, e não em algum consenso a que os bispos<br />

chegassem. Dois dos bispos que votaram a favor de<br />

Arius foram exilados e os escritos de Arius foram<br />

destruídos. Constantino decretou que qualquer um que<br />

fosse apanhado com documentos arianistas estaria sujeito<br />

à pena de morte. Mas a decisão da Assembléia não foi<br />

unânime, e a influência do imperador era claramente<br />

evidente quando diversos bispos de Egito foram expulsos<br />

devido à sua oposição ao credo. Na realidade, as decisões<br />

de Nicéia foram fruto de uma minoria.<br />

Em 326, o imperador iniciou a construção de<br />

Constantinopla (atual Istambul), com o fim de transferir<br />

para lá a sede oficial do governo, que sempre havia sido<br />

Roma. A nova cidade foi inaugurada em 330. Dali,<br />

Constantino governou até a morte, em 337. Constantino<br />

ganhou fama de soldado brilhante, pois nunca perdeu<br />

uma batalha, mas seu feito mais notável foi ter sido o<br />

primeiro imperador a reconhecer e oficializar a fé cristã.<br />

Apesar disso, ele só se deixou batizar no final da vida.<br />

2.2.1.3 GOVERNO DE TEODÓSIO (379 - 395)<br />

O imperador Graciano nomeou Teodósio co-imperador<br />

do Império Romano do Oriente em 378, após a morte do<br />

imperador Valente, morto pelos godos na Batalha de<br />

Adrianópolis (378). Teodósio, após algumas campanhas<br />

inconclusivas, acabou por fazer um tratado pelo qual os<br />

godos preservavam sua independência política no<br />

interior do Império Romano em troca da obrigação de<br />

fornecerem tropas ao exércitoimperial. Este tratado seria<br />

uma das causas do enfraquecimento militar romano que<br />

levaria ao saque de Roma pelos mesmos godos em 410.<br />

Após a morte do filho de Graciano, Valentiniano II em<br />

392, a quem ele tinha apoiado contra várias usurpações,<br />

Teodósio acabou por tomar o Ocidente do império e<br />

governou como imperador único, após derrotar o<br />

usurpador Eugênio em 394, na Batalha do Rio Frigidus.<br />

O edito de Tessalônica, também conhecido como<br />

"Cunctos Populos" ou De Fide Catolica foi decretado por<br />

Teodósio a 27 de fevereiro de 380 pelo qual estabeleceu<br />

que a "religião católica" tornar-se-ia a religião de Estado<br />

exclusiva do Império Romano, abolindo todas as práticas<br />

politeístas dentro do Império e fechando templos pagãos<br />

Teodósio teve dois filhos, Arcádio e Honório. Com a<br />

morte do pai em 395, Arcádio foi o seu herdeiro no<br />

Oriente e Honório no Ocidente. Estava consolidada<br />

definitivamente a divisão do Império Romano. Império<br />

Romano do Ocidente, com sede em Roma e Império<br />

Romano do Oriente, com sede em Constantinopla.<br />

A finalidade dessa divisão era fortalecer cada uma das<br />

partes do império para vencer a ameaça das invasões<br />

Bárbaras. Entretanto, o Império Romano do Ocidente<br />

não teve organização interna para resistir aos sucessivos<br />

ataques dos povos bárbaros.<br />

Os bárbaros tinham exército eficientes, que contavam<br />

com soldados guerreiros, coesão interna das tropas e<br />

boas armas metálicas. Apesar de rudes, os bárbaros<br />

exibiam ideal e vigor. Roma, por sua vez, mostrava-se<br />

corrompida pela discórdia, pela indisciplina no exército e<br />

pela falta de entusiasmo das populações miseráveis. É<br />

por isso que cerca de quinhentos mil bárbaros<br />

conseguiram desestabilizar o um império com mais de<br />

oitenta milhões de pessoas. Em 476, o ultimo imperador<br />

de Roma, Romulo Augusto, foi deposto por Odoacro, rei<br />

do hérulos, um dos povos bárbaros.<br />

Quanto ao Império Romano do Oriente, embora com<br />

transformações, sobreviveu até 1453, ano em que os<br />

turcos conquistaram Constantinopla.<br />

EXERCICÍOS<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 1:<br />

A grandiosidade do Império Romano criava muitos<br />

problemas administrativos e conflitos de poder,<br />

dificultando a ação dos seus governantes. Na arte, os<br />

romanos seguiram soluções práticas para facilitar sua<br />

vida urbana.<br />

A arquitetura romana, por exemplo, foi:<br />

a) marcada pela influência dos etruscos no uso do arco<br />

e da abóbada.<br />

b) definida pelas influências grega e egípcia, o que<br />

resultou em construções grandiosas em homenagem<br />

aos deuses.<br />

c) marcada pela utilização de pedras e tijolos,<br />

utilizados em grandes edifícios públicos.<br />

d) suntuosa nas construções públicas, que eram de<br />

grande originalidade para a época.<br />

e) baseada no uso exclusivo do arco, graças à<br />

influência dos mesopotâmicos.<br />

81


(UFSM/RS) UF de Santa Maria - Questão 2:<br />

Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das<br />

afirmações sobre o desenvolvimento tecnológico das<br />

sociedades da Antiguidade.<br />

1. ( ) A prática da agricultura, além de permitir aumentar<br />

a produção de alimentos, impulsionou inovações em<br />

diversos campos do conhecimento, como os sistemas de<br />

escrita, a matemática e a astronomia, com a utilização de<br />

calendários para organizar a vida social, religiosa e<br />

produtiva nas diversas estações.<br />

2. ( ) As civilizações do Crescente Fértil aprimoraram<br />

conhecimentos para garantir o emprego adequado do<br />

solo, empregaram sistemas de irrigação para melhor<br />

aproveitar as águas dos rios, promoveram o conveniente<br />

armazenamento das safras, além de alcançarem notáveis<br />

avanços na arquitetura e engenharia com a construção de<br />

templos religiosos e funerários monumentais.<br />

3. ( ) Mesmo sem terem desenvolvido grandes<br />

conhecimentos no campo da matemática e das ciências<br />

da natureza – como a biologia, a física e a cosmologia –<br />

as polis ou cidades-estados da Grécia antiga<br />

notabilizaram-se por legarem ao mundo posterior a<br />

filosofia e a democracia, concretizando os princípios de<br />

justiça social, igualdade política e cidadania para todos<br />

seus habitantes, independente de serem estrangeiros,<br />

escravos, mulheres, iletrados ou pobres.<br />

4. ( ) O Império Romano, além de aprimorar a<br />

tecnologia da guerra para expandir suas conquistas<br />

militares, efetivou avanços significativos na arquitetura e<br />

na engenharia com a construção de estradas, portos,<br />

aquedutos, termas, circos, mercados, edifícios públicos e<br />

redes de esgoto e de água para as cidades.<br />

A sequência correta é<br />

a) V - F - V - F.<br />

b) F - F - F - V.<br />

c) V - V - V - V.<br />

d) F - F - V - F.<br />

e) V - V - F - V.<br />

(UEPG/PR) - Universidade Estadual de Ponta Grossa<br />

- Questão 3:<br />

A antiguidade Greco-romana tornou a escravidão<br />

absoluta na forma e dominante na extensão,<br />

convertendo-se maciça e generalizada na Grécia (séculos<br />

V e IV a.C.) e em Roma (entre II a.C. e II d.C.). Nesse<br />

contexto, assinale o que for correto.<br />

1 - A escravidão e a liberdade helênicas eram<br />

indivisíveis, pois uma era a condição estrutural da outra;<br />

uma condição polarizada da perda completa de liberdade<br />

justaposta a uma nova liberdade sem impedimentos.<br />

2 - Embora solidamente enraizado na sociedade clássica<br />

antiga, o sistema escravista foi sendo paulatinamente<br />

abolido no período.<br />

4 - Os escravos conseguiram melhores condições de vida<br />

após promoverem constantes revoltas, como a de<br />

Spartacus (73-71 a.C.), que liderou o último movimento<br />

rebelde contra Roma.<br />

8 - Nesse período assistiu-se ao aparecimento de uma<br />

classe média de proprietários rurais e o desaparecimento<br />

do latifúndio.<br />

16 - Foi na República romana que se efetivou a união<br />

entre a grande propriedade agrícola e a escravidão em<br />

grande escala, ou seja, sua sistematização por uma<br />

aristocracia urbana, cujo resultado foi a instituição rural<br />

do latifúndio escravo extensivo.<br />

(UFPR) – UF do Paraná - Questão 4:<br />

Toda a Gália está dividida em três partes, uma habitada<br />

pelos belgas, outra pelos aquitanos, a terceira por aqueles<br />

que nós chamamos de gauleses (em sua língua, celtas).<br />

Essas nações diferem entre si pela língua, pelos costumes<br />

e pelas leis.<br />

(Júlio César, Guerra das Gálias.)<br />

Esse trecho de Júlio César se refere às conquistas da<br />

Roma Antiga e à maneira como os romanos viam os<br />

povos que conquistavam. Sobre as conquistas romanas, é<br />

correto afirmar:<br />

a) O exército romano era composto somente por<br />

escravos.<br />

b) Os povos conquistados eram considerados incultos e<br />

menosprezados pelos romanos.<br />

c) As estruturas administrativas construídas pelos<br />

romanos foram pouco duráveis, o que limitou a sua<br />

capacidade de expansão.<br />

d) Os romanos não tinham uma política de destruição,<br />

nem de integração cultural dos povos conquistados,<br />

preservando a posição das elites que se aliassem a<br />

eles.<br />

e) Durante as guerras de conquista, houve uma<br />

diminuição do número de escravos capturados pelos<br />

romanos.<br />

82


(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />

Vestibular - Questão 5:<br />

Cesarismo/cesarista são termos utilizados para<br />

caracterizar governantes atuais que, à maneira de Júlio<br />

César (de onde o nome), na antiga Roma, exercem um<br />

poder<br />

a) teocrático.<br />

b) democrático.<br />

c) aristocrático.<br />

d) burocrático.<br />

e) autocrático.<br />

(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />

Mineiro - Questão 6:<br />

Os romanos deram o nome de pax romana ao período de<br />

estabilização das fronteiras. Nesse período, 300 mil<br />

soldados, deslocando-se rapidamente pelas estradas do<br />

Império, defenderam as fronteiras junto aos rios Reno e<br />

Danúbio contra as incursões das tribos germânicas,<br />

contiveram invasões orientais e sufocaram rebeliões<br />

internas. A paz romana foi, antes de tudo, uma “paz<br />

armada”, o maior símbolo do apogeu do Império, que, no<br />

entanto, já carregava em seu interior os sinais de sua<br />

decadência.<br />

(Flavio de Campos e Renan Garcia Miranda, A escrita da <strong>História</strong>).<br />

O fim das conquistas romanas<br />

a) fortaleceu os plebeus, em especial os mais ricos, que<br />

conquistaram a instituição do tribunato da plebe e a<br />

permissão do casamento com os patrícios.<br />

b) provocou a guerra de Roma contra Cartago – as<br />

Guerras Púnicas –, pois os cartagineses colocaram<br />

em risco as conquistas romanas na Sicília e no norte<br />

da África.<br />

c) gerou o término do suprimento de escravos,<br />

decorrendo disso todo um processo de desordem<br />

econômica em Roma, com a fragilização do Exército<br />

e o avanço dos germanos.<br />

d) estabeleceu uma nova condição jurídica para os<br />

plebeus, que não podiam mais ser vítimas da<br />

escravização por dívidas e foram beneficiados com a<br />

distribuição de terras.<br />

e) motivou o crescimento dos espaços urbanos no<br />

Império, com o consequente aumento das atividades<br />

manufatureiras e comerciais, além do crescimento<br />

da população.<br />

(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />

Questão 7:<br />

A partir do século III assiste-se ao longo processo de<br />

crise do Império Romano do Ocidente e ao<br />

desenvolvimento das instituições feudais, que daria<br />

início ao período medieval. Assinale o item que NÃO se<br />

enquadra nesse contexto.<br />

a) A expansão do Império Romano do Ocidente<br />

cessou, levando ao decréscimo da obtenção de<br />

escravos e riquezas.<br />

b) As fronteiras pouco controladas devido à fragilidade<br />

romana possibilitaram a invasão dos povos bárbaros<br />

e a fragmentação territorial do Império.<br />

c) O poder político exercido pelas grandes cidades se<br />

manteve, levando a um crescimento da urbanização<br />

e desenvolvimento das instituições comerciais.<br />

d) Desenvolveu-se o sistema de colonato através do<br />

qual escravos e plebeus empobrecidos passaram a<br />

trabalhar como colonos nas terras dos grandes<br />

proprietários.<br />

e) Iniciaram-se as relações de suserania e vassalagem<br />

baseadas em fidelidade e prestação de serviços dos<br />

vassalos para com os senhores.<br />

(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />

Questão 8:<br />

Nos últimos anos, a indústria hollywoodiana investiu em<br />

filmes sobre a Antiguidade Clássica que se tornaram<br />

grandes sucessos. Heróis como Máximo em “Gladiador”<br />

ou Aquiles em “Troia” não deixam de representar um<br />

estímulo para um conhecimento aprofundado desse<br />

momento histórico. A respeito do referido período você<br />

pode afirmar que:<br />

I. No século V a.C. os gregos consideravam a polis como<br />

o único contexto em que o homem podia realizar as suas<br />

capacidades espirituais, morais e intelectuais, ou seja, a<br />

sua cidadania.<br />

II. O princípio de liberdade política, fundamental à<br />

política grega e estranho à experiência política do<br />

Oriente Próximo, era vital para a conformação do ideal<br />

democrático no Ocidente.<br />

III. A grande realização de Roma foi transcender a<br />

estreita orientação política da cidade-Estado e criar um<br />

Estado universal que unificou as diferentes sociedades do<br />

mundo mediterrâneo.<br />

IV. Entre os resultados do imperialismo romano<br />

sobressaem-se o afluxo de capitais, desenvolvimento de<br />

83


uma economia monetária, a concentração da propriedade<br />

fundiária e o crescimento da mão de obra servil.<br />

Com relação a estas afirmativas, você pode concluir que:<br />

a) Todas as proposições estão corretas;<br />

b) Apenas as proposições II, III e IV estão corretas;<br />

c) Apenas as proposições I, II e IV estão corretas;<br />

d) Apenas as proposições I, II e III estão corretas;<br />

e) Todas as proposições estão erradas.<br />

(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />

Questão 9:<br />

Tal como a história dos gregos, também a dos romanos<br />

começou pelo desenvolvimento de instituições políticas<br />

assentadas na cidade e elaboradas em benefício de uma<br />

comunidade de homens livres – os cidadãos –<br />

proprietários de terras e que reivindicavam a<br />

descendência direta dos fundadores de sua pátria. Em<br />

ambos os casos, estes cidadãos privilegiados<br />

conseguiram, no momento em que a vida urbana<br />

começou ganhar certa amplitude e consistência, eliminar<br />

a monarquia (cuja origem se confudia com a própria<br />

origem da pátria) dando início a instituições capazes de<br />

assegurar o seu domínio.<br />

FLORENZANO, M. B. O Mundo Antigo: economia e sociedade. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1986, p. 56.<br />

O texto aponta que os cidadãos romanos percorreram<br />

uma trajetória política singular.<br />

Sobre as instituições latinas ao longo deste processo<br />

podemos destacar:<br />

I. O Senado, instituição mais importante do período<br />

republicano, que, no plano legislativo, aprovava as leis<br />

votadas nas assembleias, propunha novas leis para serem<br />

submetidas ao voto do povo, além de decidir sobre<br />

medidas excepcionais, como a de atribuir o poder<br />

supremo aos cônsules.<br />

II. A Ditadura ou uma magistratura extraordinária,<br />

dotada de poderes excepcionais, substitutiva do Império,<br />

ao qual se recorria em momentos de particular gravidade.<br />

III. O Tribunato da Plebe, cuja função era defender<br />

indivíduos e propriedades da plebe e administrar os jogos<br />

públicos, sendo o poder dos tribunos derivado do fato de<br />

serem invioláveis.<br />

a) Apenas II é correta.<br />

b) Apenas I é correta.<br />

c) Apenas III é correta.<br />

d) I, II e III são corretas.<br />

e) I, II, e III são incorretas.<br />

(UFAC) - Universidade Federal do Acre - Questão 10:<br />

Um legislador, em 621 a.C., na Grécia Antiga,<br />

selecionou, organizou e registrou na forma escrita leis<br />

que, até então, eram transmitidas pela oralidade e sob o<br />

domínio apenas de alguns. Mesmo produzindo um<br />

Código bastante severo, mantinha privilégios políticos e<br />

sociais para alguns grupos.<br />

Assinale a alternativa correta que indica o nome desse<br />

legislador:<br />

a) Sólon;<br />

b) Péricles;<br />

c) Helieu;<br />

d) Drácon;<br />

e) Demiurgo;<br />

(UNIR/RO) - Fundação Universidade Federal de<br />

Rondônia - Questão 11:<br />

O texto abaixo faz referência à tentativa do tribuno da<br />

plebe Tibério Sempronio Graco de coibir um dos<br />

principais desdobramentos da expansão romana dos<br />

séculos III e II a.C.<br />

Foi, então, quando Tibério Sempronio Graco, cidadão<br />

nobre animado por uma grande ambição [...] pronunciou<br />

[...] um discurso de extrema gravidade para os povos da<br />

Itália; falou de como povos particularmente aptos para a<br />

guerra e vizinhos dos romanos pelo sangue, mas em via<br />

de deslizar pouco a pouco para a miséria [...] Depois de<br />

pronunciar este discurso, pôs em vigor a lei que proibia a<br />

posse de mais de 500 medidas de terras.<br />

(APIANO. Guerras civis, I, 9, 35-36.)<br />

Qual desdobramento intencionou-se coibir?<br />

a) Crescimento de latifúndios<br />

b) Uso de escravos no exército romano<br />

c) Aumento do poder pessoal dos generais romanos<br />

d) Favorecimento econômico aos aliados em<br />

detrimento dos senadores romanos<br />

e) Aumento de impostos para a plebe romana<br />

84


(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />

12:<br />

A partir do texto que se segue e de seus conhecimentos,<br />

assinale qual das alternativas abaixo descreve<br />

corretamente como eram percebidas a escravidão e as<br />

revoltas escravas na Roma antiga.<br />

“Tolere, contudo a desonra das revoltas dos escravos;<br />

embora o destino os faça de joguete, trata-se afinal de<br />

uma espécie de homens de segunda categoria, dos quais<br />

podemos dispor por causa de nossa liberdade”.<br />

(Floro, século III. – retirado de Jaime Pinski. 100 textos de história antiga. São<br />

Paulo: Contexto, 1988, p. 13).<br />

a) No texto, a revolta escrava era algo intolerável para<br />

os senhores romanos, porque estes escravos eram<br />

conhecidos como uma espécie de cidadãos de<br />

segunda categoria, com pouco prestígio ou vontade<br />

própria.<br />

b) O autor entende que as revoltas escravas eram bem<br />

vistas no mundo romano, porque os deuses se<br />

divertiam com elas. Estes deuses sabiam que os<br />

escravos lutavam por uma causa justa: sua liberdade<br />

e que as revoltas escravas eram punições para os<br />

patrícios.<br />

c) O texto comprova que os escravos na Roma antiga<br />

eram cidadãos de segunda categoria e que suas<br />

revoltas eram lutas em vão, porque os Deuses<br />

romanos só atuavam em favor dos cidadãos de elite,<br />

os patrícios.<br />

d) A revolta escrava estava relacionada com a vontade<br />

do Destino. Contudo, os deuses que controlavam o<br />

destino, justificavam a escravidão, já que os<br />

patrícios não podiam viver como cidadãos livres<br />

sem o trabalho de seus escravos.<br />

(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />

Sul - Questão 13:<br />

Sobre a história de Roma, é correto afirmar:<br />

1 - Paralelamente à versão lendária da fundação de Roma<br />

pelos irmãos gêmeos Rômulo e Remo, descobertas<br />

arqueológicas atestam que, antes de 753 a.C., a região do<br />

Lácio já era habitada por povos de diferentes etnias,<br />

organizados em comunidades agrícolas e pastoris, entre<br />

eles os etruscos que, entre os séculos VII e VI a.C.,<br />

expandiram seu território e controlaram a monarquia em<br />

Roma.<br />

2 - O período republicano foi marcado por lutas entre<br />

patrícios e plebeus, as quais resultaram na criação de<br />

magistrados especiais, conhecidos como Tribunos da<br />

Plebe, encarregados de defender os interesses jurídicos,<br />

políticos e sociais da plebe junto ao Senado.<br />

4 - A expansão dos domínios romanos, na Península<br />

Itálica e em torno do Mar Mediterrâneo, acarretou uma<br />

desaceleração do processo de concentração fundiária nas<br />

mãos da aristocracia patrícia, haja vista que o Estado<br />

romano estabeleceu uma série de medidas visando<br />

distribuir terras aos pequenos e médios proprietários e à<br />

plebe urbana empobrecida.<br />

8 - Entre as maiores heranças culturais dos romanos, para<br />

a civilização ocidental, estão o Direito, bem como a<br />

língua latina, que serviu de matriz linguística a inúmeros<br />

idiomas modernos.<br />

16 - Deterioração do exército, crise de suprimento da<br />

mão de obra escrava, inflação, instabilidade política,<br />

instituição do colonato, como novo tipo de relação de<br />

trabalho, foram algumas das características que<br />

marcaram o período da história romana conhecido como<br />

Diarquia, instaurada entre os séculos III e V d.C.<br />

(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />

Questão 14:<br />

Os visigodos, ou seja, aqueles outros aliados e<br />

cultivadores do solo ocupado estavam aterrados como o<br />

haviam estado seus parentes e não sabiam que fazer, por<br />

causa do povo dos Hunos [...] enviaram embaixadores à<br />

România [...] para dizer que se lhes dessem uma parte da<br />

Trácia ou da Mésia a fim de cultivarem, eles se<br />

submeteriam às suas leis e decisões. E para que pudesse<br />

ter maior confiança neles, prometeram tornar-se cristãos<br />

[...] Quando [imperador] Valente ouviu isto, concedeu<br />

alegre e prontamente o que ele próprio havia tencionado<br />

pedir [aliança romana/visigótica].<br />

(JORDANES apud PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. <strong>História</strong> da Idade Média.<br />

Textos e testemunhas. São Paulo: UNESP, 2000.)<br />

Sobre o assunto abordado no texto, assinale a afirmativa<br />

correta.<br />

a) O paganismo ou a heresia ariana professada pelos<br />

invasores germânicos foi um elemento que impediu<br />

qualquer possibilidade de assimilação ou negociação<br />

com os romanos.<br />

b) O Império Romano necessitava de mão de obra, por<br />

isso iniciou uma política de incorporação das tribos<br />

85


germânicas que foram escravizadas para atender aos<br />

interesses dos latifundiários.<br />

c) O avanço dos povos germânicos no Império<br />

Romano aconteceu tanto de modo violento, por meio<br />

da conquista militar, quanto de maneira pacífica, por<br />

intermédio dos pactos de federação.<br />

d) O esgotamento do solo do Império Romano, em<br />

decorrência dos muitos séculos de cultivo intensivo,<br />

tornou a agricultura pouco rentável, o que permitiu<br />

que amplas regiões fossem entregues aos<br />

germânicos em troca de impostos.<br />

e) Os pequenos e médios proprietários romanos não<br />

apoiaram a política do Imperador Valente de<br />

conceder terras aos germânicos, pois significava a<br />

perda de parte de suas propriedades.<br />

(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão<br />

15:<br />

O primeiro Triunvirato foi um sinal inequívoco da crise<br />

vivida pela República romana. Apenas três homens,<br />

Pompeu, César e Crasso, acumularam quase todos os<br />

títulos e cargos importantes. O fim dessa aliança,<br />

marcado pela morte de Crasso em 53 a.C., representou<br />

imediatamente<br />

a) o aumento da rivalidade entre os dois sobreviventes,<br />

César e Pompeu, que resultou em uma violenta<br />

guerra civil.<br />

b) o enfraquecimento da influência de César, em<br />

virtude do fracasso de sua campanha militar na<br />

Gália.<br />

c) o assassinato de César por membros da aristocracia<br />

romana dentro do próprio senado.<br />

d) a formação de um novo triunvirato, constituído por<br />

Otávio, Marco Antônio e Lépido.<br />

(UEG) - Universidade Estadual de Goiás - Questão<br />

16:<br />

O advento do cristianismo representou uma revolução na<br />

história ocidental, ultrapassando a dimensão religiosa.<br />

Ele influenciou de maneira decisiva as estruturas<br />

políticas, sociais, culturais e econômicas do Ocidente.<br />

Tendo sido perseguido de forma implacável durante um<br />

longo período, o cristianismo foi incorporado pelo<br />

Império Romano no governo de Constantino. Ao longo<br />

do processo histórico que propiciou a expansão do<br />

movimento cristão, observa-se que<br />

86<br />

a) a ampliação e consolidação do Império Romano<br />

resultaram essencialmente de sua aliança precoce<br />

com o movimento cristão, sendo que este<br />

representou um instrumento formidável de<br />

sustentação para o governo imperial.<br />

b) o cristianismo proporcionou a dinamização da<br />

economia do Império Romano, acelerando o<br />

processo do colonato que havia sido iniciado na<br />

crise do século III, garantindo a hegemonia de Roma<br />

sobre todo o mundo mediterrâneo.<br />

c) o cristianismo apresentava um caráter herético e<br />

subversivo, na medida em que rompia com os<br />

dogmas judaicos e, ao mesmo tempo, representava<br />

um fator de desestruturação social e política para o<br />

governo de Roma.<br />

d) o Império Romano apresentou uma forte expansão<br />

de suas fronteiras a partir da conquista da Gália e da<br />

Germânia, tendo sido favorecido nesse processo pela<br />

conversão das populações dessas regiões ao<br />

cristianismo.<br />

(UCSAL/BA) - Universidade Católica de Salvador -<br />

Questão 17:<br />

O Império Romano ampliou seus domínios em torno do<br />

Mediterrâneo. Esse fato tornou possível, entre outros<br />

aspectos, a comunicação, as transações comerciais e o<br />

deslocamento de tropas para as diversas regiões romanas.<br />

Sobre a expansão em questão, é correto afirmar que


a) as conquistas propiciaram, pela primeira vez na<br />

Antiguidade, a combinação entre o trabalho escravo<br />

em larga escala e o latifúndio, associação que<br />

constituiu uma alavanca de acumulação econômica<br />

graças às campanhas militares romanas.<br />

b) a conquista de novos territórios desacelerou o<br />

processo de concentração fundiária nas mãos da<br />

aristocracia patrícia, uma vez que o Estado romano<br />

estabeleceu um conjunto de medidas que visava<br />

distribuir terras aos pequenos e médios proprietários<br />

e à plebe urbana empobrecida.<br />

c) apesar da conquista do Mediterrâneo, os romanos<br />

não conseguiram estabelecer a integração das<br />

diversas formações sociais ao sistema escravista<br />

nem tampouco se dispuseram a criar mecanismos de<br />

cooptação social e política dos seus respectivos<br />

grupos dominantes.<br />

d) as conquistas militares acabaram por solucionar o<br />

problema agrário em Roma, colocando em xeque as<br />

medidas defendidas por líderes como os irmãos<br />

Graco, que postulavam a expropriação das terras<br />

particulares dos patrícios e sua repartição entre as<br />

camadas sociais empobrecidas.<br />

e) a expansão militar levou os romanos a empreender<br />

um duro processo de latinização dos territórios<br />

situados a leste, o que se tornou um elemento de<br />

constante instabilidade político-social durante a<br />

República e também à época do Império.<br />

(UFAL) - Universidade Federal de Alagoas - Questão<br />

18:<br />

A fim de controlar as inúmeras revoltas dos escravos e o<br />

descontentamento popular entre os plebeus, o Imperador<br />

romano Otávio Augusto adotou a seguinte medida:<br />

a) A criação do Primeiro Triunvirato e a concessão de<br />

cidadania aos plebeus.<br />

b) Redividiu as terras e criou novas colônias para<br />

acabar com a desocupação da plebe urbana e atraí-la<br />

para o trabalho rural.<br />

c) Determinou que os latifundiários fossem obrigados a<br />

empregar pelo menos um terço dos trabalhadores<br />

livres.<br />

d) Usou uma política chamada pelos romanos de Pão e<br />

Circo, na qual o governo organizava os espetáculos<br />

públicos onde se distribuía porções de trigo à<br />

população.<br />

e) A criação em 493 a.C., do Tribunato da Plebe,<br />

assembleia formada exclusivamente por plebeus.<br />

(UEPB) - Universidade Estadual da Paraíba -<br />

Questão 19:<br />

Dentre os movimentos sociais que marcaram a República<br />

Romana, podemos destacar as lutas entre patrícios e<br />

plebeus.<br />

Sobre estas lutas, é correto afirmar:<br />

a) O casamento entre patrícios e plebeus não foi<br />

permitido, apesar das conquistas do povo romano<br />

nas lutas contra os patrícios.<br />

b) Apesar da marginalização política, não havia<br />

discriminação entre patrícios e plebeus.<br />

c) Os plebeus conquistaram, em 367 a.C, o direito de<br />

participar do consulado com a promulgação da Lei<br />

Licínia, que também regulamentou a exploração das<br />

terras públicas.<br />

d) Quando um patrício tornava-se insolvente, sem<br />

condições de pagar dívidas, tinha de se submeter ao<br />

nexum. Este foi um dos fatores que causou os<br />

conflitos entre plebeus e patrícios.<br />

e) Em 450 a.C, foi publicada a Lei das Doze Tábuas,<br />

um dos fundamentos do Direito Romano, que não<br />

assegurou a igualdade jurídica entre patrícios e<br />

plebeus.<br />

(URCA/CE) - Universidade Regional do Cariri -<br />

Questão 20:<br />

Considerada a área do conhecimento mais aperfeiçoada<br />

pelos romanos na Antiguidade, a área do Direito foi uma<br />

de suas maiores contribuições para a cultura da chamada<br />

“civilização ocidental”. Após longa e complexa<br />

evolução, o Direito atingiu seu apogeu na época do<br />

Principado. No entanto, no período monárquico (753 a.C.<br />

– 509 a.C.) e no início do período republicano, o Direito<br />

Romano era todo oral e baseado nos costumes. Diversos<br />

conflitos entre patrícios e plebeus surgiram por causa<br />

dessa situação.<br />

O Direito Romano passou a ser escrito com:<br />

a) A criação das Leis das XII Tábuas em 450 a. C.<br />

b) A criação da Lei Licínia em 367 a.C.<br />

c) As reformas políticas de Tibério e Caio Graco, em<br />

133 a. C. e 121 a.C.<br />

d) A criação do Principado de Otávio Augusto, a partir<br />

de 30 a.C.<br />

e) A criação do Corpus Júris Civilis, de Justiniano.<br />

87


(UECE) - Universidade Estadual do Ceará - Questão<br />

21:<br />

As fronteiras do grandioso Império Romano foram, aos<br />

poucos, ocupadas. Ao longo dos Rios Reno e Danúbio,<br />

se instalaram grandes massas de Germanos. Sobre as<br />

principais causas dessa ocupação é correto afirmar que<br />

os Germanos<br />

a) almejavam o controle dos itinerários e das rotas<br />

comerciais do mar Mediterrâneo que conduziam à<br />

Ásia.<br />

b) ocuparam as fronteiras do Império Romano, pois<br />

foram derrotados, pressionados e expulsos de suas<br />

terras pelos Partos.<br />

c) eram ambiciosos e tinham aversão e desprezo pelo<br />

modo de vida dos romanos, especialmente sobre<br />

suas práticas políticas corruptas.<br />

d) foram pressionados por povos oriundos da Ásia<br />

central e para fugir da miséria e da guerra<br />

expandiram-se para o Ocidente.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 22:<br />

O poder político dos romanos não foi uma sucessão de<br />

vitória e de crescimento de riquezas sem limites. A<br />

expansão do Império trouxe problemas e dificultou os<br />

governos, trazendo um aumento constante de conflitos<br />

políticos.<br />

Na época de Rômulo Augusto houve:<br />

a) a redução do poder dos sacerdotes e da Igreja<br />

católica.<br />

b) a adoção oficial da religião cristã em todo o Império.<br />

c) a divisão administrativa do Império para fortalecer<br />

sua força militar.<br />

d) a construção de uma aliança política com os<br />

muçulmanos.<br />

e) queda de Roma, em 476, com a invasão dos<br />

chamados bárbaros, fragmentando o Império.<br />

(UFRPE/PE) Universidade Federal Rural de<br />

Pernambuco - Questão 23:<br />

No governo de Otávio Augusto, ocorreu em Roma:<br />

a) um massacre dos povos insubordinados<br />

culturalmente.<br />

b) um aumento majestoso dos gastos militares.<br />

c) negociação entre os povos cristãos e o imperador.<br />

d) a decadência administrativa e a crise militar.<br />

e) um tratamento político mais diplomático com os<br />

povos vencidos.<br />

(UESPI) - Universidade Estadual do Piauí - Questão<br />

24:<br />

A preocupação romana, com as guerras e a manutenção<br />

do império, não evitou que a religião tivesse grande<br />

importância na vida cotidiana. Nas suas crenças<br />

religiosas, os romanos:<br />

a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do<br />

cristianismo.<br />

b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que<br />

lembravam a falta de ética.<br />

c) imitaram os gregos em muitos princípios e na<br />

aceitação das divindades.<br />

d) desprezavam os cultos familiares, considerados<br />

supersticiosos e vazios.<br />

e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta,<br />

com rituais rígidos.<br />

(UEL/PR) - Universidade Estadual de Londrina -<br />

Questão 25:<br />

A expansão imperial romana resultou, a partir do século I<br />

d.C., na utilização do trabalho escravo em grande escala<br />

e no aumento significativo do número de plebeus<br />

desocupados, aos quais se juntaram levas de pequenos<br />

agricultores arruinados. Isso incrementou o êxodo rural e<br />

provocou o inchamento das cidades, especialmente de<br />

Roma. Para amenizar o problema social dessas massas, o<br />

Estado passou a dar-lhes subsídios.<br />

Essa política caracterizou-se pela distribuição de:<br />

a) terras para os desocupados, caracterizando uma<br />

verdadeira reforma agrária, conhecida como a<br />

política agrária, de Licínio.<br />

b) dinheiro para a aquisição de roupas e alimentos,<br />

combatendo a inflação que assolava a República,<br />

provocada pela política de Tucídides.<br />

c) grãos a preços baixos e espetáculos públicos<br />

gratuitos, conhecida como a política do pão e circo,<br />

de Augusto.<br />

d) sementes, instrumentos agrícolas e escravos para o<br />

cultivo de terras na Sicília e no norte da África: a<br />

política de colonização, de Suetônio.<br />

e) escravos para estimular a agricultura da Península<br />

Ibérica, conhecida como a política agrícola, de<br />

Cláudio.<br />

88


(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />

26:<br />

No ano 313 d.C., o Imperador Constantino reconheceu o<br />

cristianismo como religião oficial do Império Romano,<br />

por meio do Édito de Milão. Sobre o cristianismo na<br />

Antiguidade, é INCORRETO afirmar:<br />

a) Os primeiros cristãos sofreram grandes perseguições<br />

por motivos políticos.<br />

b) Por serem politeístas, os romanos inicialmente<br />

resistiram em aceitar o monoteísmo cristão.<br />

c) Durante a Antiguidade, ocorreram conversões ao<br />

cristianismo de muitos povos chamados “bárbaros”.<br />

d) No início de sua formação, a Igreja Cristã baseou<br />

sua estrutura na organização do Império Romano,<br />

reproduzindo também sua divisão de poder.<br />

e) A partir do Édito de Milão, ficou estabelecido que<br />

somente autoridades religiosas poderiam determinar<br />

os rumos da Igreja.<br />

(UESPI) - UE do Piauí - Questão 27:<br />

A preocupação romana, com as guerras e a manutenção<br />

do império, não evitou que a religião tivesse grande<br />

importância na vida cotidiana. Nas suas crenças<br />

religiosas, os romanos:<br />

a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do<br />

cristianismo.<br />

b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que<br />

lembravam a falta de ética.<br />

c) imitaram os gregos em muitos princípios e na<br />

aceitação das divindades.<br />

d) desprezavam os cultos familiares, considerados<br />

supersticiosos e vazios.<br />

e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta,<br />

com rituais rígidos.<br />

(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão<br />

28:<br />

A mais notável contribuição romana à cultura ocidental<br />

ocorreu no campo do Direito. Até hoje, os Códigos de<br />

Leis romanos permanecem entre os fundamentos do<br />

Direito contemporâneo.<br />

Analise a veracidade (V) ou falsidade (F) das<br />

proposições abaixo, com relação ao Direito Romano.<br />

( ) Era um código que tratava apenas da esfera pública,<br />

pois o Direito Privado, tal como entendemos hoje, estava<br />

ausente da preocupação dos juristas romanos.<br />

( ) As leis romanas foram criadas para dar uma solução<br />

prática aos problemas decorrentes das lutas entre os<br />

grupos sociais e pelas guerras de conquista.<br />

( ) Estava dividido em Civil, que regulamentava a vida<br />

dos cidadãos; Estrangeiro, aplicado aos que não eram<br />

cidadãos; e Natural, que regulamentava a vida de todos<br />

os habitantes de Roma.<br />

Assinale a alternativa que preenche corretamente os<br />

parênteses, de cima para baixo.<br />

a) V – V – V<br />

b) V – F – F<br />

c) V – V – F<br />

d) F – F – V<br />

e) F – V – V<br />

(UERN) - Universidade do Estado do Rio Grande do<br />

Norte - Questão 29:<br />

Em Roma havia uma nítida distinção entre o Direito<br />

Público – que regulava as relações entre o cidadão e o<br />

Estado – e o Direito Privado – que tratava das relações<br />

dos cidadãos entre si. Deve-se acrescentar que as<br />

mulheres não eram passíveis de ser julgadas pelos<br />

tribunais públicos. Competia ao pater famílias exercer o<br />

direito de justiças, na sua própria casa, sobre os membros<br />

da família subordinados à sua autoridade.<br />

(AQUINO ET AL, 1980, p. 263).<br />

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a<br />

cultura da Antiguidade Clássica, pode-se afirmar:<br />

a) A nítida distinção entre o Direito Público e o<br />

Privado, transplantada da era romana para o Novo<br />

Mundo, tem sido aplicada no Brasil, desde a<br />

oficialização da colonização e do povoamento.<br />

b) O Direito Público, instituído na Roma Antiga,<br />

permaneceu restrito à normatização das relações<br />

entre cidadãos de procedência patrícia e à categoria<br />

de escravos por dívidas.<br />

c) A diferenciação evidente entre os dois tipos de<br />

direito resultou das exigências dos cristãos que<br />

compuseram os quadros do governo durante a<br />

República Romana.<br />

d) O fato de ser o pater famílias apto a exercer o direito<br />

de justiça sobre os membros da família subordinados<br />

à sua autoridade comprova que a sociedade da Roma<br />

Antiga tinha como suporte a família patriarcal.<br />

89


(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />

Questão 30:<br />

[...] não era a falta de mecanização [na Grécia e em<br />

Roma] que tornava indispensável o recurso à escravidão;<br />

ocorrera exatamente o contrário: a presença maciça da<br />

escravidão determinou a “estagnação tecnológica” grecoromana.<br />

(Aldo Schiavone. Uma história rompida: Roma antiga e ocidente moderno. São<br />

Paulo: Edusp, 2005.)<br />

A escravidão na Grécia e na Roma antigas<br />

a) baseava-se em características raciais dos<br />

trabalhadores.<br />

b) expandia-se nos períodos de conquistas e domínio<br />

de outros povos.<br />

c) dependia da tolerância e da passividade dos<br />

escravos.<br />

d) foi abolida nas cidades democráticas.<br />

e) restringia-se às atividades domésticas e urbanas.<br />

(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />

Questão 31:<br />

Durante sua primeira fase, os romanos assentavam sua<br />

organização política na forma monárquica de poder, mas<br />

já ali existia o Senado, uma das instituições políticas<br />

mais antigas de Roma.Neste momento inicial, o Senado:<br />

a) Era formado pelos centuriões que, nomeados pelo<br />

rei, representavam as 100 mais importantes famílias<br />

patrícias de Roma.<br />

b) Alcançou notável autonomia, limitando<br />

frequentemente o poder régio através do veto, o que<br />

ocorria quando dois terços de seus membros<br />

manifestavam-se contrários as decisões do monarca.<br />

c) Funcionava como uma assembleia aristocrática de<br />

assessoramento às deliberações do Rei e era<br />

constituído pelos mais velhos (seniores), sendo<br />

vedada a presença de plebeus.<br />

d) Composto por representações paritárias de patrícios<br />

e plebeus, restringiu suas funções à prática<br />

legislativa, elaborando o corpus jurídico do estado<br />

romano.<br />

e) Funcionava como uma espécie de Assembleia de<br />

Notáveis que impunha obediência ao monarca e<br />

definia as ações estratégicas do Estado.<br />

(UFTM/MG) Universidade Federal do Triângulo<br />

Mineiro - Questão 32:<br />

“Mesmo para um cidadão romano, seria impossível<br />

dizer, com certeza, se o sistema, em seu conjunto, era<br />

aristocrático, democrático ou monárquico. Com efeito, a<br />

quem fixar a atenção no poder dos cônsules, a<br />

constituição romana parecerá totalmente monárquica; a<br />

quem fixar no Senado parecerá aristocrática, e a quem se<br />

fixar no poder do povo, parecerá claramente<br />

democrática.<br />

(...) cada uma das três partes [do Estado] é capaz, se<br />

desejar, de criar obstáculos ás outras, ou de colaborar<br />

com elas (...) Nenhum dos poderes predomina sobre os<br />

outros nem pode desprezá-los.” (Políbio, <strong>História</strong>, século II a.C.)<br />

De acordo com o historiador grego, Políbio, a<br />

Constituição de Roma, que favorecera as conquistas no<br />

Mediterrâneo, era:<br />

a) baseada no predomínio do Senado sobre a<br />

autoridade dos cônsules e do povo.<br />

b) certamente democrática, por entregar aos plebeus a<br />

maior parte dos poderes.<br />

c) marcada pelo conflito entre os diferentes poderes<br />

que compunham o Estado.<br />

d) claramente aristocrática, por concentrar o poder nas<br />

mãos dos cônsules.<br />

e) caracterizada pelo equilíbrio de poder entre os<br />

cônsules, o Senado e o povo.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />

Paraná - Questão 33:<br />

As lutas por riquezas e territórios sempre estiveram<br />

presentes na <strong>História</strong>. Na Antiguidade, o Mediterrâneo<br />

foi disputado nas Guerras Púnicas por:<br />

a) romanos e cartagineses.<br />

b) gregos e persas.<br />

c) macedônicos e romanos.<br />

d) romanos e germânicos.<br />

e) gregos e romanos.<br />

(UFSC/SC) - Universidade Federal de Santa Catarina<br />

- Questão 34:<br />

“ELEFANTES – Vendo. Para circo ou zoológico.<br />

Usados mas em bom estado. Já domados e com baixa do<br />

exército. Tratar com Aníbal.” (p. 143)<br />

“TORRO TUDO – E toco cítara. Tratar com Nero.”<br />

(p.144)<br />

VERISSIMO, Luis Fernando. O Classificado através da <strong>História</strong>. In: Comédias<br />

para se ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2001.<br />

90


Sobre Roma na Antigüidade, é CORRETO afirmar que:<br />

1 - Aníbal foi um conhecido comandante de Cartago, que<br />

combateu os romanos durante as Guerras Púnicas.<br />

2 - as Guerras Púnicas, que envolveram Cartago e Roma,<br />

aconteceram no contexto da expansão territorial romana.<br />

4 - a expansão territorial acabou se revelando um<br />

fracasso. Isto pode ser percebido pela ausência de<br />

alterações nos hábitos da sociedade romana nos períodos<br />

que se sucederam.<br />

8 - o domínio de Roma no Mediterrâneo favoreceu o fim<br />

da República e a ascensão do Império.<br />

16 - Nero foi um governante de Roma conhecido pelo<br />

apoio que prestou aos cristãos, sendo responsável por<br />

elevar o Cristianismo a religião oficial do Império<br />

Romano.<br />

32 - o período de governo de Nero é conhecido como um<br />

momento de decadência do Império Romano, cujos<br />

motivos estão, entre outros, nos graves problemas sociais<br />

causados pela existência de uma cidadania restrita e<br />

pelos abusos administrativos.<br />

64 - a escravidão, embora presente, nunca foi<br />

economicamente relevante na sociedade romana.<br />

(UEPA) - Universidade do Estado do Pará - Questão<br />

35:<br />

“O Homem e o mundo”.<br />

O homem e o mundo De ciência avançada / O homem e<br />

o mundo Mas também de AIDS / e fome / Que mundo? /<br />

De guerra, de terror./ Onde a paz se faz ausente / Mundo<br />

de pobres / E a violência presente Mundo de ricos / Que<br />

violência? Mundo, imundo, sujo e / Do campo? Onde<br />

morrem poluído. / os lavradores. Enfim ... Homem / Da<br />

cidade? Onde o homem / É este o mundo que tens / sofre<br />

horrores Para nele viver, procriar e /<br />

Mundo de ontem, devagar morrer. / Mundo de hoje,<br />

apressado, De que? / Mundo de nets, sites, e De velhice,<br />

de doença, de / email. fome ou mesmo vítima da /<br />

violência.<br />

Lenora Maria<br />

Dado o questionamento da autora no verso “Que mundo?<br />

De guerra, de terror, onde a paz se faz ausente e a<br />

violência presente” é possível refletir sobre o quadro<br />

político que caracterizou a Roma Antiga, no período<br />

republicano. Neste cenário, a instituição da guerra:<br />

a) representou a luta por conquistas políticas dos<br />

plebeus, a qual resultou nas leis agrárias aprovadas<br />

pelo Senado, no estabelecimento do Tribuno da<br />

Plebe, e na difusão da Pax Romana nos territórios<br />

conquistados.<br />

b) enfraqueceu o desenvolvimento da política do pão e<br />

circo, que atendia aos anseios da plebe romana, o<br />

que provocou ondas de terror e de violência que<br />

resultaram na queda da República e a ascensão do<br />

Principado.<br />

c) contribuiu para a expansão e conquistas territoriais,<br />

aumentando as tensões entre os povos conquistados<br />

e também entre a plebe e o patriciado romano, os<br />

quais reivindicavam maior participação política.<br />

d) favoreceu a criação da Assembléia Centuriata, na<br />

qual se destacava a figura do centurião romano que,<br />

a partir daí, se fortaleceu politicamente, facilitando o<br />

acesso dos chefes legionários às magistraturas<br />

romanas.<br />

e) permitiu a anexação de Reinos do Antigo Oriente,<br />

destacando-se o Egito dos Selêucidas, alcançado<br />

depois das guerras púnicas, quando os romanos<br />

venceram o exército dos cartagineses e dominaram o<br />

Mediterrâneo.<br />

(UFPA) - Univesidade Federal do Pará - Questão 36:<br />

Leia o texto abaixo.<br />

“Todos os caminhos levam a Roma!" O ditado é famoso.<br />

Mas, nos dias de hoje, a que Roma essas palavras<br />

estariam se referindo? À Roma atual, metrópole<br />

cosmopolita, capital da Itália, um dos mais importantes<br />

países da Europa? Ou à Roma antiga, capital de um dos<br />

mais poderosos impérios conhecidos pela humanidade?<br />

Ou, ainda, à Roma cristã, que tem no Vaticano a sede da<br />

Igreja Católica?”.<br />

(Trecho retirado de um site de turismo:<br />

(http://www.ardus.com.br/inf/guia/roma.htm )<br />

Nos dias de hoje, podemos duvidar sobre qual Roma<br />

visitar no final da Idade Antiga, no entanto, quando o<br />

ditado acima transcrito se popularizou, Roma era uma<br />

cidade única. Sobre esta especificidade de Roma antiga,<br />

é correto afirmar que esta cidade era:<br />

a) conhecida como a sede do poder cristão, tendo o<br />

Vaticano e o Papa como ícones máximos do mundo<br />

cristão.<br />

b) na Antiguidade uma “metrópole cosmopolita”, onde<br />

produtos de todas as partes circulavam de forma<br />

capitalista.<br />

91


c) a principal cidade do Império Romano Ocidental,<br />

local central do exercício do poder político e da<br />

efetivação da cidadania romana.<br />

d) a capital da Itália e símbolo da unificação européia<br />

centralizada desde a época Imperial.<br />

e) conhecida por cidade luz, pois abrigava diferentes<br />

tipos de pessoas e nacionalidades que conviviam<br />

democraticamente como cidadãos.<br />

(UNAMA/PA) - Universidade da Amazônia - Questão<br />

37:<br />

“Em Roma a “voz do sangue” falava muito pouco; o que<br />

falava mais alto era a voz do nome de família”.<br />

VEYNE, Paul. <strong>História</strong> da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, v. I, p.<br />

25.<br />

A partir da frase anterior, e de seus estudos históricos, é<br />

correto afirmar que os romanos:<br />

a) escolhiam seus herdeiros em função do<br />

reconhecimento e legitimidade dos filhos, podendo<br />

deixar bens tanto para os filhos de sangue, quanto<br />

para os adotados.<br />

b) distribuíam seus bens de acordo com o nascimento<br />

de seu filho, valorizando o primogênito e<br />

descartando os demais, sobretudo as mulheres;<br />

c) selecionavam seus herdeiros de acordo com a<br />

educação recebida, cabendo aos homens e mulheres,<br />

com melhor desempenho escolar, a herança maior;<br />

d) escolhiam seus herdeiros de acordo com o nome de<br />

família, ou seja, aqueles que eram de linhagem<br />

nobre eram os herdeiros, nada cabendo aos bastardos<br />

e aos adotados.<br />

(UEMS)- Universidade Estadual de Mato Grosso do<br />

Sul - Questão 38:<br />

A Pax Romana, que caracterizou os dois primeiros<br />

séculos da Era Cristã, marca um período de controle das<br />

guerras civis, das revoltas coloniais e dos conflitos<br />

urbanos.<br />

A adoção dessa política ocorreu no governo de:<br />

a) Caio Júlio César;<br />

b) Otávio;<br />

c) Nero;<br />

d) Calígula;<br />

e) Tibério.<br />

(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 39:<br />

O oficial romano Orestes, tendo tomado o comando do<br />

exército, partiu de Roma ao encontro dos inimigos e<br />

chegou a Ravena, onde parou para fazer imperador seu<br />

filho, Rômulo Augusto. [...] Porém, pouco depois de<br />

Rômulo Augusto ter sido estabelecido imperador de<br />

Ravena por seu pai, Odoacro, rei dos turcilingos, tendo<br />

consigo cirus, hérulos e auxiliares de diversas tribos,<br />

ocupou a Itália. Orestes foi morto e seu filho, Rômulo<br />

Augusto, expulso do reino e condenado à pena de exílio<br />

no Castelo Luculano, na Campânia. Assim, o Império do<br />

Ocidente do povo romano, que o primeiro dos augustos –<br />

Otaviano Augusto – tinha começado a dirigir no ano 709<br />

da fundação da cidade de Roma, pereceu com Rômulo<br />

Augusto no ano de 522 do reinado dos seus antecessores<br />

imperadores. Desde aí, Roma e a Itália foram governadas<br />

pelos reis dos godos.<br />

Jordanes, in: PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. <strong>História</strong> da Idade Média. São Paulo:<br />

Editora Unesp, 2000, p. 39-40. Adaptado.<br />

O texto acima, escrito por Jordanes, um autor do século<br />

VI d.C., nos informa sobre os acontecimentos políticos<br />

que marcaram o início e o fim do Império Romano do<br />

Ocidente: a ascensão de Otávio Augusto ao poder e a<br />

deposição de Rômulo Augusto por Odoacro, no contexto<br />

das invasões bárbaras. Tendo em vista essas<br />

considerações, explique<br />

a) a importância da atuação política de Otávio Augusto<br />

para a criação do Império Romano.<br />

b) dois fatores que contribuíram para a desagregação do<br />

Império Romano do Ocidente.<br />

(UFAM) - Universidade Federal do Amazonas -<br />

Questão 40:<br />

A civilização romana conheceu a seguinte evolução<br />

política:<br />

a) Império, Monarquia e República;<br />

b) Monarquia, Império e República;<br />

c) Monarquia, República e Império;<br />

d) Império, República e Monarquia;<br />

e) República, Monarquia e Império.<br />

92


(UEA/AM) Universidade do Estado do Amazonas -<br />

Questão 41:<br />

Na Roma republicana, “o tribunal e a assembléia tribal<br />

foram simplesmente acrescentados às instituições<br />

centrais existentes no Senado, Consulado e Assembléia<br />

centuriada: não significavam uma abolição interna do<br />

complexo oligárquico de poder que guiava a República.”<br />

(Anderson)<br />

Assinale a alternativa correta a respeito da organização e<br />

do processo sociopolítico na Roma Antiga republicana:<br />

a) A luta de classes em Roma foi por vezes violenta e<br />

prolongada, produziu desempenhos heróicos, como<br />

os de Caio e Tibério Graco, e alterações que<br />

beneficiavam a plebe, mas jamais aboliu ou<br />

substituiu a estrutura cívica de poder da nobreza<br />

hereditária.<br />

b) O Senado Romano só teve poder no início da<br />

República e era constituído pelos indivíduos<br />

considerados mais capazes, independentemente de<br />

sua origem familiar.<br />

c) Embora a democracia provenha da Grécia, a escolha<br />

dos magistrados em Roma era feita do modo mais<br />

democrático possível para os padrões da<br />

Antiguidade: eram escolhidos por todos os<br />

habitantes da cidade, em assembléia na praça<br />

pública.<br />

d) Quem governava, na Roma republicana, era o<br />

cônsul, enquanto o Senado se constituía numa<br />

simples representação honorífica de família.<br />

e) A plebe romana representava-se por uma assembléia<br />

tribal, que reunia os representantes das aldeias<br />

estrangeiras dominadas e ainda organizadas em<br />

comunidade primitiva.<br />

(PUC-RS) - PUC do Rio Grande do Sul - Questão 42:<br />

Para responder à questão 5, considere o texto abaixo:<br />

“Depois de meio século de lutas internas, Caio Júlio<br />

César, um general aristocrata que se dizia descendente de<br />

Vênus e Enéias, conquistou em poucos anos a Gália, uma<br />

enorme área que corresponde, mais ou menos, à atual<br />

França, Suíça, Bélgica e parte da Alemanha. Quando o<br />

Senado não lhe quis permitir que continuasse a comandar<br />

as tropas, César recusou-se a obedecer (...) e tornou-se<br />

ditador em seguida”. FUNARI, Pedro P. Grécia e Roma. São Paulo:<br />

Contexto, 2001, p. 89.<br />

Considerando a história política da Roma Antiga, o<br />

contexto refere-se a uma culminância da crise:<br />

a) da Realeza;<br />

b) da República;<br />

c) do Principado;<br />

d) do Alto Império;<br />

e) do Baixo Império.<br />

(UFRGS) - UF do Rio Grande do Sul - Questão 43:<br />

Por cerca de cinco séculos, a Roma Antiga reinou sobre<br />

uma imensa formação imperial. Em relação aos<br />

elementos constitutivos desse Império, assinale com V<br />

(verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo:<br />

( ) O sistema econômico imperial repousava sobretudo<br />

na exploração de tributos impostos ao mundo<br />

conquistado (as províncias) em proveito dos<br />

conquistadores romanos.<br />

( ) O uso do latim na administração e no Exército fez<br />

dessa língua o instrumento oficial de comunicação na<br />

parte ocidental do Império.<br />

( ) A crise final do Império esteve ligada ao aumento<br />

excessivo do trabalho escravo, que arruinou os pequenos<br />

proprietários rurais e os camponeses pobres.<br />

( ) O Édito de Caracala concedeu a cidadania a todos os<br />

homens livres do Império.<br />

( ) Em nome da Pax Romana, os estrangeiros eram<br />

rigorosamente proibidos de entrar na capital do Império.<br />

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de<br />

cima para baixo, é:<br />

a) F – F – V – V – V.<br />

b) V – V – F – F – F.<br />

c) V – V – F – V – F.<br />

d) V – F – V – F – V.<br />

e) F – F – V – F – V.<br />

(UFG/GO) - UF de Goiás - Questão 44:<br />

Leia o texto abaixo:<br />

93


O texto oferece subsídios para a compreensão do<br />

processo de:<br />

a) fixação de colônias romanas nas regiões<br />

conquistadas;<br />

b) cobrança dos tributos em escravos e em espécie para<br />

Roma;<br />

c) expansão romana em direção ao Norte, no final do<br />

período republicano;<br />

d) estabelecimento de alianças políticas de Roma com<br />

os povos vencidos;<br />

e) fortalecimento do poder senatorial romano em<br />

relação ao poder imperial.<br />

(UFSCAR/SP) - UF de São Carlos - Questão 45:<br />

Considere os acontecimentos da história romana.<br />

I. Construção da Muralha de Adriano.<br />

II. Início da República romana.<br />

III. Revolta dos Escravos liderada por Espártaco.<br />

IV. A cidadania romana é concedida a todos os<br />

habitantes do Império.<br />

V. Primeira Guerra Púnica.<br />

Esses acontecimentos, colocados na ordem cronológica<br />

correta, são:<br />

a) I, II, III, IV e V.<br />

b) III, IV, V, II e I.<br />

c) II, V, III, I e IV.<br />

d) V, IV, III, II e I.<br />

e) II, I, IV, V e III.<br />

(UPE) - Universidade de Pernambuco - Questão 46:<br />

Os impérios da Antiguidade conseguiram dominar<br />

extensas áreas territoriais com força militar e<br />

negociações políticas. A grandeza dos romanos é sempre<br />

ressaltada, quando se refere ao domínio de outros povos.<br />

Os romanos:<br />

a) construíram um império baseado apenas na sua<br />

expressiva força militar, decorrente de um numeroso<br />

e combativo exército;<br />

b) dominaram toda península Ibérica, não conseguindo<br />

derrotar povos de outras regiões da Europa;<br />

c) conseguiram construir uma complexa administração<br />

para manter seu império, com feitos administrativos<br />

seguidos pela cultura ocidental;<br />

d) fracassaram na tentativa de dominar os gregos que<br />

resistiram nas lutas realizadas no Mar Mediterrâneo;<br />

e) não se preocuparam com a cultura dos outros povos,<br />

mantendo sua identidade cultural e religiosa,<br />

basicamente ocidental.<br />

(UFPE) - UF de Pernambuco - Questão 47:<br />

Na história política de Roma, durante os governos<br />

monárquicos, os plebeus:<br />

a) possuíam latifúndios, exercendo influência sobre as<br />

relações políticas existentes na época;<br />

b) não eram cidadãos romanos, mas tinham poderes<br />

políticos destacados, inclusive na escolha dos<br />

monarcas;<br />

c) dominavam o núcleo central do poder, obtendo<br />

vitória nas eleições em face dos seus privilégios<br />

políticos;<br />

d) gozavam de privilégios diferentes daqueles<br />

concedidos aos patrícios, pois não eram vistos como<br />

descendentes dos fundadores de Roma;<br />

e) tornaram-se grandes proprietários de terra e<br />

exportadores da produção agrícola de Roma para a<br />

Grécia.<br />

(ACAFE/SC) - Associação Catarinense das<br />

Fundações Educacionais - Questão 48:<br />

O Império Romano constituiu-se como um dos mais<br />

importantes da Antiguidade, tanto pela área de sua<br />

abrangência quanto pelas heranças culturais deixadas<br />

para a posteridade do mundo ocidental, nas áreas de<br />

conhecimento e nos diversos campos de atividades.<br />

Acerca do exposto, todas as alternativas estão corretas,<br />

exceto:<br />

a) Na Palestina, alvo de conflitos interétnicos que estão<br />

na ordem do dia, surgiu o cristianismo, que se<br />

tornou a religião oficial do Império Romano.<br />

b) O Direito Romano dividia-se em dois ramos<br />

fundamentais, o Direito Público e Direito Privado,<br />

classificação ainda usada na atualidade.<br />

c) O termo mecenato, usado até os dias atuais, referiase<br />

à proteção do estado romano para as instituições<br />

de crédito que promoviam obras sociais.<br />

d) Abóbadas, arcos e cúpulas, freqüentemente<br />

utilizados em obras da arquitetura moderna, eram de<br />

uso comum no estilo funcional das construções<br />

romanas.<br />

94


e) As terminologias científicas utilizadas<br />

internacionalmente para a denominação de insetos,<br />

animais, doenças e medicamentos derivam, em<br />

grande parte, do latim.<br />

(ACAFE/SC) - Associação Catarinense das<br />

Fundações Educacionais - Questão 49:<br />

Analise as afirmações a seguir:<br />

I. A Igreja Cristã, perseguida pelos romanos,<br />

transformou-se na instituição religiosa oficial do Império<br />

Romano, a partir do século IV d.C.<br />

II. Inspiradas na cultura grega, a mitologia, a religião e<br />

as artes romanas consagraram uma unidade que<br />

caracterizou o mundo ocidental grecoromano.<br />

III. Controlando um império de proporções gigantescas,<br />

os romanos criaram e mantiveram um exército forte e<br />

bem treinado, além de uma estrutura jurídica ampla e<br />

eficiente.<br />

IV. A República Romana se caracterizou por um<br />

governo centralizado e monárquico em que os<br />

imperadores controlavam toda a política, fechando<br />

instituições como o Senado.<br />

V. A economia romana era totalmente voltada ao<br />

comércio com o Oriente. A agricultura era desenvolvida<br />

nas províncias do Império Romano, sendo que elas<br />

produziam somente o que ele desejasse e determinasse.<br />

A alternativa que contém todas as afirmações corretas é:<br />

a) I – II – IV – V<br />

b) I – II – V<br />

c) II – III – IV<br />

d) III – IV – V<br />

e) I – II – III<br />

(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />

Sul - Questão 50:<br />

Sobre reconhecimento do Cristianismo no contexto da<br />

história do Império Romano, é correto afirmar que:<br />

após ter sido batizado por Paulo III, em 275, o imperador<br />

Constantino I declarou o Cristianismo como religião<br />

oficial do Império Romano;<br />

a) temendo que os cristãos pudessem estimular ainda<br />

mais as rebeliões de escravos e, com isso,<br />

aprofundar a crise do sistema econômico escravista,<br />

o Império reconheceu o Cristianismo como religião<br />

em 330, mas cuidou de transferir seus seguidores<br />

para Constantinopla, recém-fundada capital do<br />

Império Romano do Oriente;<br />

b) como nova religião, o Cristianismo gradualmente<br />

ganhou um caráter universal; a defesa da igualdade e<br />

a promessa de salvação após a morte deram, de<br />

início, um novo sentido à vida de setores populares<br />

urbanos e logo se estenderam aos campos e às<br />

classes de proprietários. Aos poucos, o Cristianismo<br />

adotou uma organização hierárquica, nos moldes do<br />

sistema administrativo imperial, até que, em 313,<br />

pelo Edito de Milão, o Estado romano reconheceu<br />

oficialmente a religião cristã;<br />

c) o caráter público das reuniões mantidas pelos<br />

cristãos, seu apego às categorias sociais e honras<br />

terrenas, sua participação no culto imperial, a<br />

propaganda exaltada em defesa da vida militar e o<br />

apoio à escravidão, tudo isso levou o Cristianismo a<br />

ser reconhecido como a religião oficial do Império<br />

Romano;<br />

d) após a morte de Jesus, rapidamente o Cristianismo<br />

se propagou em Roma, até ser, em 46, declarado<br />

como religião oficial do Império, tendo à frente<br />

Pedro, o pescador da Galiléia, como o primeiro papa<br />

da Igreja Católica Apostólica Romana.<br />

(UFMT) - Universidade Federal de Mato Grosso -<br />

Questão 51:<br />

Intensos conflitos fronteiriços com povos bárbaros,<br />

desvalorização da moeda, vazio de poder, desintegração<br />

do sistema de impostos, revoltas no campo, falta de mãode-obra<br />

escrava, tendência à ruralização,<br />

auto-suficiência dos domínios e insegurança<br />

principalmente nas cidades. O quadro descrito refere-se<br />

ao:<br />

a) declínio do Império Romano e à passagem da<br />

Antigüidade ao feudalismo;<br />

b) processo de transição do feudalismo ao capitalismo;<br />

c) período que marcou o surgimento das cidades e o<br />

ressurgimento do comércio;<br />

d) aparecimento de uma sociedade caracterizada pela<br />

propriedade coletiva da terra e centrada nas cidades;<br />

e) declínio da sociedade urbana na Idade Média e ao<br />

surgimento de comunidades aldeãs.<br />

95


(UNEMAT/MT) - Universidade do Estado de Mato<br />

Grosso - Questão 52:<br />

Leia atentamente um fragmento de Suetônio (1990, p.<br />

51) sobre a história de Júlio César e julgue as<br />

alternativas:<br />

“(...) Não existem distinções que não recebessem<br />

segundo seu capricho e que não concedesse da mesma<br />

maneira. Cônsul pela terceira e quarta vez, se limitou a<br />

ostentar o título, e se contentou em exercer a ditadura<br />

que haviam concedido com os consulados; (...) durante<br />

os quais só reuniu comícios para eleição de tribunos e<br />

éditos do povo. Estabeleceu prefeitos em lugar de<br />

pretores, para administrarem abaixo das suas ordens”.<br />

a) César limita-se aos poderes de ditador e cônsul da<br />

República Romana.<br />

b) César nunca chegou a ser imperador, foi assassinado<br />

antes de receber de Roma essa honra.<br />

c) César, como bem mostra o fragmento, já goza dos<br />

poderes de imperador.<br />

d) O Consulado e a Ditadura são cargos típicos da<br />

República Romana, unificados por César no final da<br />

sua vida.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />

Paraná - Questão 53:<br />

A importância de Otávio Augusto em Roma Antiga<br />

concentra-se principalmente no seu esforço para:<br />

a) solucionar a crise agrícola decorrente da falta de<br />

pequenas propriedades;<br />

b) vencer as guerras púnicas, trazendo paz para a<br />

sociedade romana;<br />

c) estruturar um império com governo centralizado,<br />

apoiado em instituições republicanas;<br />

d) impedir que as reformas introduzidas pelos Gracos<br />

alterassem a estrutura agrária de Roma;<br />

e) favorecer a expansão do cristianismo, conciliando<br />

seus princípios com a filosofia romana.<br />

(UEG) - UEde Goiás - Questão 54:<br />

Desenvolveu-se nos homens primeiro a sede do dinheiro,<br />

em seguida o amor ao poder; tais desejos foram, por<br />

assim dizer, as fontes de todos os males... mais tarde<br />

quando o contágio se propagou como uma epidemia, a<br />

cidade mudou de aspecto; e o seu governo, até esse<br />

momento tão justo e virtuoso, tornou-se cruel e<br />

insuportável.<br />

96<br />

SALÚSTIO. The Conspiracy of Catiline. Baltimore: Penguin Books, 1963. p.<br />

181.<br />

Salústio (86-34 a.C.) escreveu essas palavras<br />

condenando o colapso dos valores e do regime<br />

republicano. As observações do historiador romano<br />

devem ser inseridas no quadro de desorganização geral<br />

da vida social romana. Sobre a decadência do regime<br />

republicano, identifique a alternativa incorreta:<br />

a) Nas longas guerras empreendidas pelos romanos<br />

contra os cartagineses, as pequenas propriedades<br />

rurais foram arruinadas, obrigando seus proprietários<br />

a vendê-las a baixos preços, provocando a formação<br />

de grandes latifúndios.<br />

b) A introdução do trabalho escravo nas plantações<br />

chamadas latifundia provocou um grande êxodo<br />

rural dos pequenos camponeses para Roma,<br />

favorecendo a formação de uma camada urbana<br />

marginalizada e miserável.<br />

c) Em 133 a.C., Tibério Graco, representante da plebe,<br />

foi eleito tribuno. A reforma agrária empreendida<br />

em seu governo, apoiada pela classe senatorial,<br />

conseguiu amenizar durante algum tempo as tensões<br />

no campo.<br />

d) As revoltas dos escravos aumentaram as tensões em<br />

Roma. A mais famosa delas foi liderada pelo<br />

gladiador Espártaco, sendo duramente reprimida.<br />

e) O exército deixou de ser um instrumento da<br />

República para se tornar patrimônio particular dos<br />

generais, cujo poder acabou ameaçando a autoridade<br />

do Senado.<br />

(FTC/BA) - Faculdade de Tecnologia e Ciências -<br />

Questão 55:<br />

(...) no final do Período Imperial, a administração<br />

romana já não tinha condições de impor sua autoridade<br />

em todas as regiões do império. Com o enfraquecimento<br />

do poder central, os grandes proprietários de terra foram<br />

adquirindo crescentes poderes locais. (Cotrim, p. 147.)<br />

A situação descrita no texto favoreceu a instalação:<br />

a) do trabalho assalariado nas atividades comerciais;<br />

b) da mão-de-obra escrava no campo;<br />

c) de práticas clientelistas e do colonato;<br />

d) de manufaturas e das corporações de ofício;<br />

e) de uma administração fortemente centralizada e do<br />

controle político da burguesia.


(UNIFOR/CE) - U de Fortaleza - Questão 56:<br />

Na Antiguidade, o expansionismo romano engendrou<br />

grandes transformações sociais e econômicas e<br />

proporcionou condições para a “grandeza” de Roma, mas<br />

possibilitou, ao mesmo tempo, a eclosão de lutas sociais<br />

que abalaram a República Romana. As origens dessas<br />

lutas sociais estavam relacionadas, entre outras:<br />

a) à ampliação dos mecanismos democráticos de poder,<br />

com a extensão do direito de voto aos estrangeiros,<br />

medida que contrariou os interesses da plebe<br />

romana;<br />

b) à ruína de grande parte dos camponeses, em razão<br />

do processo de concentração da terra nas mãos da<br />

aristocracia e de setores que se enriqueceram com as<br />

guerras;<br />

c) às leis criadas pelos irmãos Tibério e Caio Graco,<br />

que reduziam as possibilidades de acesso das<br />

camadas populares à terra, já que eram<br />

representantes da nobreza latifundiária;<br />

d) às ocupações das terras dos camponeses pelas<br />

famílias dos militares, que almejavam a ascensão<br />

social por meio<br />

e) às insurreições estimuladas por Espártaco, que era<br />

um gladiador que defendia os interesses do exército<br />

e das camadas dominantes do território romano.<br />

(UECE) - UE do Ceará - Questão 57:<br />

Em relação à <strong>História</strong> Romana, assinale a opção<br />

verdadeira:<br />

a) A República Romana possuía um caráter<br />

democrático, em virtude da adoção do voto livre.<br />

b) A vitória de Roma sobre Cartago, nas Guerras<br />

Púnicas, garantiu aos romanos o controle das rotas<br />

do Mediterrâneo.<br />

c) O poder do Senado se sobrepunha ao do Imperador<br />

durante o apogeu do regime imperial.<br />

d) Os plebeus participavam das decisões políticas, na<br />

época da realeza, em virtude do acordo celebrado<br />

com os patrícios.<br />

(UFG/GO) – UF de Goiás - Questão 58:<br />

O governo da República romana estava dividido em três<br />

corpos tão bem equilibrados em termos de direitos que<br />

ninguém, mesmo sendo romano, poderia dizer, com<br />

certeza, se o governo era aristocrático, democrático ou<br />

monárquico. Com efeito, a quem fixar a atenção no<br />

poder dos cônsules a constituição romana parecerá<br />

monárquica; a quem fixá-la no Senado ela mais parecerá<br />

aristocrática e a quem fixar no poder do povo ela<br />

parecerá claramente democrática. (POLÍBIOS. <strong>História</strong>. Brasília:<br />

Ed. da UnB, 1985. Livro VI, 11. p. 333.)<br />

Políbios descreve a estrutura política da República<br />

romana (509-27 a.C.), idealizando o equilíbrio entre os<br />

poderes. Não obstante, a prática política republicana<br />

caracterizou-se pela:<br />

a) organização de uma burocracia nomeada a partir de<br />

critérios censitários, isto é, de acordo com os<br />

rendimentos;<br />

b) manutenção do caráter oligárquico com a ordem<br />

eqüestre dos homens novos assumindo cargos na<br />

administração e no exército;<br />

c) adoção da medida democrática de concessão da<br />

cidadania romana a todos os homens livres das<br />

províncias conquistadas;<br />

d) administração de caráter monárquico com o poder<br />

das assembléias baseado no controle do exército e da<br />

plebe;<br />

e) preservação do caráter aristocrático dos patrícios que<br />

controlaram o Senado, a Assembléia centuriata e as<br />

magistraturas.<br />

(UEG) – UE de Goiás - Questão 59:<br />

A inscrição gravada em honra de Otávio Augusto em um<br />

escudo na Cúria Juliana afirmava a importância do<br />

Princeps: "em consideração pela sua justiça e pela sua<br />

piedade". Em relação ao principado de Augusto, no<br />

início do Império Romano, marque a alternativa<br />

incorreta:<br />

a) Durante o principado, o imperador passou a<br />

acumular todos os poderes, embora continuassem a<br />

existir vários órgãos da República. Otávio conseguiu<br />

reconciliar a monarquia militar com as instituições<br />

republicanas.<br />

b) Foi graças ao poder e à estabilidade iniciada no<br />

principado que Roma pôde desfrutar de um período<br />

de grande prosperidade, constituindo a Pax Romana.<br />

c) Na literatura, o período de governo de Otávio<br />

Augusto ficou conhecido como a época de ouro,<br />

graças a seu ministro Mecenas que, por seu interesse<br />

pelas artes, apoiou escritores como Horácio e<br />

Virgílio, entre outros.<br />

d) Augusto promoveu reformas e melhorias em todo o<br />

império, ampliando a burocratização do Estado e a<br />

organização de um poderoso exército de mais de 300<br />

mil homens.<br />

97


e) O caráter piedoso de Augusto estava associado ao<br />

fim da perseguição aos cristões e ao estabelecimento<br />

de uma era de tolerância religiosa em Roma.<br />

(UFMS) - Universidade Federal de Mato Grosso do<br />

Sul - Questão 60:<br />

Nos séculos III e IV, uma série de crises atingiu o<br />

Império Romano, culminando, no século seguinte, na<br />

queda de seu último imperador. Durante esse período de<br />

crises, desenvolveram-se alguns elementos fundamentais<br />

para a estruturação de uma nova forma de organização da<br />

sociedade europeia, a qual se manteve em vigor durante<br />

vários séculos.<br />

Entre as alternativas abaixo, qual (is) delas<br />

caracteriza(m) corretamente as estruturas dessa nova<br />

sociedade europeia?<br />

1 - A exploração do trabalho plebeu, o retorno da<br />

população para o meio rural e o fortalecimento dos<br />

poderes regionais.<br />

2 - A centralização política e administrativa nos Estados<br />

Nacionais Europeus e o fortalecimento acelerado do<br />

poder da Igreja Católica.<br />

4 - A intensificação da produção e o crescimento das<br />

exportações de manufaturas produzidas nos feudos.<br />

8 - O relacionamento amistoso entre todos os senhores<br />

feudais e o estabelecimento do regime de trabalho<br />

assalariado em vários países da Europa.<br />

16 - A ruralização da sociedade ocidental, ao mesmo<br />

tempo que foi registrado o declínio das atividades<br />

mercantis e artesanais urbanas.<br />

(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />

Vestibular - Questão 61:<br />

A história da Antiguidade Clássica é a história das<br />

cidades, porém, de cidades baseadas na propriedade da<br />

terra e na agricultura.<br />

(K. Marx. Formações econômicas pré-capitalistas.)<br />

Em decorrência da frase de Marx, é correto afirmar que:<br />

a) os comerciantes eram o setor urbano com maior<br />

poder na Antiguidade, mas dependiam da produção<br />

agrícola;<br />

b) o comércio e as manufaturas eram atividades<br />

desconhecidas nas cidades em torno do<br />

Mediterrâneo;<br />

98<br />

c) as populações das cidades greco-romanas<br />

dependiam da agricultura para a acumulação de<br />

riqueza monetária;<br />

d) a sociedade urbana greco-romana se caracteriza pela<br />

ausência de diferenças sociais;<br />

e) os privilégios dos cidadãos das cidades gregas e<br />

romanas se originavam da condição de proprietários<br />

rurais.<br />

(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />

Vestibular - Questão 62:<br />

Ao longo de toda a Idade Média e da Moderna, a Sicília<br />

foi invadida e ocupada por bizantinos, muçulmanos,<br />

normandos e espanhóis. Na Antiguidade, por sua:<br />

a) fertilidade e posição estratégica no Mediterrâneo<br />

Ocidental, a ilha foi disputada e dominada por<br />

gregos, cartagineses e romanos;<br />

b) fertilidade e posição estratégica, a ilha tornou-se o<br />

centro da dominação etrusca no Mediterrâneo<br />

Ocidental;<br />

c) aridez e pobreza, a ilha, apesar de visitada por<br />

gregos, cartagineses e romanos, não foi por estes<br />

dominada;<br />

d) extensão e fertilidade, a ilha foi disputada pelas<br />

cidades gregas até cair sob domínio ateniense depois<br />

da Guerra do Peloponeso;<br />

e) proximidade do continente, aridez e ausência de<br />

riquezas minerais, a ilha foi dominada somente pelos<br />

romanos.<br />

(UNIFESP/SP) - Universidade Federal de São Paulo -<br />

Questão 63:<br />

Durante séculos, o Mar Mediterrâneo foi o centro<br />

comercial do mundo conhecido. Dominá-lo significava<br />

também exercer plena hegemonia política e militar. São<br />

exemplos da busca pelo controle do Mediterrâneo e de<br />

sua importância:<br />

a) as Guerras Púnicas, nos séculos III e II a.C., entre<br />

Roma e Cartago, que determinaram a plena<br />

expansão dos romanos e asseguraram-lhes o<br />

domínio do norte da África;<br />

b) as atividades mercantis, na Alta Idade Média, de<br />

cidades italianas, como Veneza ou Gênova, que se<br />

empenharam no estabelecimento de novas rotas<br />

oceânicas para o Oriente;<br />

c) as colonizações desenvolvidas em território<br />

americano, a partir do século XV, por Portugal e


Espanha, cujo objetivo era ligar a Atlântico ao<br />

Pacífico;<br />

d) as guerras napoleônicas na Península Ibérica no<br />

princípio do século XIX, que ampliaram o comando<br />

francês sobre o norte e o centro do território<br />

africano;<br />

e) as Guerras do Peloponeso, nos séculos V e IV a.C.,<br />

que envolveram as cidades gregas de Atenas e<br />

Esparta, na busca pelo controle total da Península<br />

Balcânica.<br />

(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />

Campinas - Questão 64:<br />

Teodósio estabeleceu que, após a sua morte, ocorrida em<br />

395, o Império, para ser melhor administrado, deveria<br />

ser:<br />

a) fracionado em quatro partes, com dois Imperadores<br />

e dois Césares;<br />

b) dividido em duas partes: Império do Ocidente e o<br />

Império do Oriente;<br />

c) atrelado ao paganismo e direcionar uma operação<br />

para destruir as catacumbas;<br />

d) aliado dos árabes para defendê-los contra os hunos<br />

que se avizinhavam de Roma e de Meca;<br />

e) dividido em áreas denominadas condados e doadas,<br />

em caráter hereditário, a seus sucessores.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />

Paraná - Questão 65:<br />

A grande realização de Roma foi transcender a estreita<br />

orientação política da Cidade-Estado e criar um Estado<br />

Universal que unificou diferentes nações do mundo<br />

mediterrâneo. (Marvin Perry)<br />

Com relação à antiga civilização romana:<br />

I. Os cônsules romanos eram encarregados da<br />

administração da justiça e da cobrança de impostos.<br />

II. A principal herança da civilização romana para o<br />

mundo foi o seu sistema de leis.<br />

III. A civilização helenística surgiu da fusão das<br />

civilizações grega e romana.<br />

IV. Após Otávio ter posto ordem na anarquia, Roma<br />

atingiu a idade de ouro com os imperadores. Por quase<br />

duzentos anos o mundo mediterrâneo desfrutou a "pax<br />

romana", com ordem, eficiência e prosperidade.<br />

São corretas as afirmações:<br />

a) Apenas I e III.<br />

b) Apenas I e IV.<br />

c) I, II e III.<br />

d) I, II e IV.<br />

e) Apenas II e IV.<br />

(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />

Campinas - Questão 66:<br />

Na Roma Antiga, a expressão "até tu Brutus?" foi<br />

atribuída a Julio César que, de acordo com fontes<br />

históricas, a teria proferido no momento de seu<br />

assassinato, em 44 a.C. Nesse contexto da história de<br />

Roma, Julio César tornou-se conhecido porque:<br />

a) iniciou o processo de expansão romana,<br />

desencadeando as chamadas guerras púnicas, por<br />

meio das quais Roma se converteu em potência<br />

marítima;<br />

b) criou o primeiro código escrito, denominado "Leis<br />

das Doze Tábuas", que tratava de assuntos referentes<br />

ao Direito Civil e ao Direito Penal;<br />

c) adquiriu grandes poderes e privilégios especiais,<br />

como os títulos de ditador perpétuo e de censor<br />

vitalício, suscitando lutas políticas pelo poder,<br />

sobretudo no Senado Romano;<br />

d) contribuiu, com as suas leis abolicionistas, para crise<br />

geral do escravismo romano, que abalou as<br />

atividades agrícolas de todo o Império Romano;<br />

e) propôs à Assembléia Romana o seu projeto de<br />

reforma agrária, limitando a ocupação de terras<br />

públicas aos cidadãos romanos.<br />

(FUVEST/SP) - Fundação Universitária para o<br />

Vestibular - Questão 67:<br />

Em verdade é maravilhoso refletir sobre a grandeza que<br />

Atenas alcançou no espaço de cem anos depois de se<br />

livrar da tirania... Mas acima de tudo é ainda mais<br />

maravilhoso observar a grandeza a que Roma chegou<br />

depois de se livrar de seus reis.<br />

(Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio)<br />

Nessa afirmação, o autor:<br />

a) critica a liberdade política e a participação dos<br />

cidadãos no governo;<br />

b) celebra a democracia ateniense e a República<br />

romana;<br />

c) condena as aristocracias ateniense e romana;<br />

99


d) expressa uma concepção populista sobre a<br />

Antiguidade Clássica;<br />

e) defende a pólis grega e o Império Romano.<br />

(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 68:<br />

A importância do Edito de Milão reside no fato de:<br />

a) ter cristianizado o Império Romano, por decisão do<br />

imperador Constantino;<br />

b) ter restaurado o antigo culto no Império Romano;<br />

c) possibilitar uma reação mais consistente ao<br />

movimento iconoclasta;<br />

d) consolidar o cesaropapismo;<br />

e) ter se constituído no ponto alto da reação católica ao<br />

movimento reformista.<br />

Questão 69:<br />

Diocleciano (284-305) e Constantino (312- 337)<br />

destacaram-se na história do Império Romano por terem:<br />

a) conquistado e promovido a romanização da<br />

Lusitânia, incorporando-a ao Império;<br />

b) introduzido costumes religiosos e políticos dos<br />

etruscos na cultura de Roma;<br />

c) concedido à plebe defensores especiais – os tribunos<br />

da plebe, que protegiam seus direitos;<br />

d) consolidado o direito romano na chamada Lex<br />

Duodecim Tabularum;<br />

e) estabelecido medidas, visando a deter a crise que<br />

enfraquecia o Império.<br />

Questão 70:<br />

Teodósio, militar de origem espanhola, elevou o<br />

cristianismo à categoria de religião do Estado. Ao<br />

morrer, seu Império foi dividido entre seus dois filhos,<br />

que se responsabilizaram pelas seguintes áreas<br />

respectivamente:<br />

a) Arcádio com o Oriente e Honório com o Ocidente;<br />

b) Arcádio com o Ocidente e Honório com o Oriente;<br />

c) Arcádio com o Sul e Honório com o Norte;<br />

d) Arcádio com o Norte e Honório com o Sul.<br />

(UP/PR) - Universidade Positivo - Questão 71:<br />

Sobre o imperador Diocleciano (284-305), é correto<br />

afirmar que:<br />

a) deu liberdade de culto aos cristãos;<br />

b) transformou o Império Romano numa Diarquia;<br />

c) procurou frear a onda especulativa através do Edito<br />

Máximo (tabelamento de preços);<br />

d) procurou governar de forma democrática;<br />

e) permitiu que os bárbaros ocupassem a maior parte<br />

do Império.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />

72:<br />

Na Antiguidade, Roma estendeu amplamente seu<br />

território e dominou povos diversos, criando um império<br />

em redor do Mar Mediterrâneo. São marcas dessa<br />

expansão e contatos:<br />

1 - a elaboração do “Jus Gentium” (“direito das gentes”);<br />

2 - a organização de províncias como unidades<br />

administrativas de governo;<br />

4 - a implantação de extensa rede de estradas e difusão<br />

do latim como língua oficial;<br />

8 - a democratização da propriedade da terra;<br />

16 - a concessão de cidadania romana apenas aos que<br />

tivessem pai e mãe romanos.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />

73:<br />

Sobre as invasões dos “bárbaros” na Europa Ocidental,<br />

ocorridas entre os séculos III e IV, é correto afirmar que:<br />

a) foi uma ocupação militar violenta que, causando<br />

destruição e barbárie, acarretou a ruína de todas as<br />

instituições romanas.<br />

b) se, por um lado, causaram destruição e morte; por<br />

outro, contribuíram, decisivamente, para o<br />

nascimento de uma nova civilização, a da Europa<br />

Cristã.<br />

c) apesar dos estragos causados, a Europa conseguiu,<br />

afinal, conter os bárbaros, derrotando-os<br />

militarmente e, sem solução de continuidade,<br />

absorveu e integrou os seus remanescentes.<br />

d) se não fossem elas, o Império Romano não teria<br />

dasaparecido, pois, superada a crise do século III,<br />

passou a dispor de uma estrutura socioeconômica<br />

dinâmica e de uma constituição política centralizada.<br />

e) os godos foram os povos menos importantes, pois<br />

quase não deixaram marcas de sua presença.<br />

100


(UnB/DF) - Universidade de Brasília - Questão 74:<br />

A penetração dos bárbaros no Império Romano:<br />

a) foi realizada sempre através de invasões armadas;<br />

b) realizou-se a partir do século VI, quando o Império<br />

entrou em decadência;<br />

c) verificou-se inicialmente através de invasões<br />

pacíficas e posteriormente através de violência;<br />

d) foi realizada sempre de maneira pacífica;<br />

e) verificou-se principalmente entre os séculos II e III.<br />

(PUC-SP) - Pontifícia Universidade Católica de São<br />

Paulo - Questão 75:<br />

Sobre as invasões dos povos bárbaros, que destruíram a<br />

organização imperial romana no século V, sabemos que:<br />

a) tornaram-se possíveis devido à capacidade de<br />

liderança de Átila, que organizou os governos em<br />

um grande exército conquistador;<br />

b) foram precipitadas pela pressão dos hunos sobre os<br />

bárbaros germanos, obrigando-os a deslocarem-se<br />

em direção ao Império;<br />

c) puderam alcançar seus objetivos de conquista graças<br />

ao fato de os romanos desconhecerem os costumes e<br />

a organização político-militar desses povos;<br />

d) tornaram-se possíveis graças à solidariedade<br />

existente entre as tribos bárbaras, organizadas em<br />

uma federação estável;<br />

e) alcançaram seus objetivos graças à superioridade<br />

cultural e organizacional dos bárbaros frente aos<br />

romanos.<br />

(USP) - Universidade de São Paulo - Questão 77:<br />

“Contemplei a plebe com 300 sestércios por cabeça, em<br />

execução do testamento de meu pai; dei em meu quinto<br />

consulado 400 sestércios; no meu décimo-primeiro<br />

consulado, distribuí doze vezes trigo comprado à minha<br />

custa; no meu décimo-segundo Poder Tribunício dei, por<br />

três vezes, 400 sestércios por cabeça.<br />

Nunca houve menos de 250 000 indivíduos para eu<br />

beneficiar com essas liberalidades.<br />

No ano de meu décimo-oitavo Poder Tribunício e de meu<br />

segundo consulado, dei a cada homem da plebe 60<br />

dinheiros por cabeça. Durante o meu décimo-terceiro<br />

consulado, dei 60 dinheiros aos cidadãos inscritos no<br />

circo para divertir a plebe”.<br />

(Suetônio, Vida dos Doze Césares)<br />

a) O texto demonstra a continuidade da política de pão<br />

e circo na República e no Império Romano.<br />

b) Percebemos, nas somas e quantias distribuídas, o<br />

empenho do príncipe em demonstrar sua caridade<br />

cristã.<br />

c) O Poder Tribunício e o Poder Consular eram<br />

exercidos pela mesma pessoa e esse fato explica o<br />

poder absoluto dos governantes romanos.<br />

d) O importante era somente a distribuição de moedas<br />

ao povo e não o trigo e os espetáculos circenses,<br />

como se diz tradicionalmente.<br />

e) O Imperador faz questão de acentuar o caráter legal<br />

de seu poder, que advém de uma herança deixada<br />

por César.<br />

(UNESP/SP) - Universidade Estadual Paulista Júlio<br />

de Mesquita Filho - Questão 76:<br />

As “invasões” dos povos germânicos destruíram o<br />

Império Romano do Ocidente no século V. d.C.<br />

Entre as causas desses deslocamentos, não podemos<br />

citar:<br />

a) a busca de novas terras para o cultivo e a criação de<br />

gado;<br />

b) as riquezas e atrativos da civilização do Império<br />

Romano;<br />

c) a chegada dos hunos às planícies da Europa Central;<br />

d) a incapacidade de os romanos, nessa época,<br />

guarnecerem todas as fronteiras do Império;<br />

e) a unificação das tribos árabes pelo islamismo e sua<br />

expansão pelo território europeu, influenciadas pelo<br />

princípio da Guerra Santa.<br />

Questão 78:<br />

“Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?<br />

Quanto tempo ainda o teu furor ousará insultar-nos?<br />

Qual o termo onde parará essa audácia desavergonhada”?<br />

O texto refere-se à história de Roma e pode ser<br />

identificado como sendo de:<br />

a) César, atacando seus opositores no Senado Romano;<br />

b) Cícero, denunciando uma conjuração de natureza<br />

social;<br />

c) Demóstenes, advertindo sobre o imperialismo<br />

macedônico;<br />

d) Catão, combatendo a indiferença do povo em<br />

relação às guerras púnicas;<br />

e) Augusto, criticando a arrogância dos membros da<br />

nobreza romana.<br />

101


(PUC/CAMP) - Pontifícia Universidade Católica de<br />

Campinas - Questão 79:<br />

A civilização romana exerceu uma definida influência<br />

sobre as sociedades ulteriores.<br />

Assinale a afirmação correta:<br />

a) A ciência do Direito foi utilizada na Idade Média e<br />

na Época Contemporânea; países europeus<br />

incorporaram parte dela em seus códigos.<br />

b) A arquitetura foi conservada nas igrejas luteranas.<br />

c) A literatura romana influenciou o surgimento do<br />

Iluminismo.<br />

d) A escultura romana do tempo de Péricles foi<br />

lembrada nas estátuas e colunas da Europa<br />

Medieval.<br />

e) Nda.<br />

(USP) - Universidade de São Paulo - Questão 80:<br />

Sobre o Direito Romano, NÃO podemos afirmar que:<br />

a) foi o mais importante legado cultural de Roma;<br />

b) estabeleceu o conceito de jurisprudência;<br />

c) a lei de Roma e de seus cidadãos estava incluída no<br />

“Jus Civile”;<br />

d) o “Jus Civile” somente foi estabelecido durante o<br />

Império;<br />

e) dividia o Direito em três grandes ramos.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />

81:<br />

Nos séculos III d.C. e IV d.C., o Império Romano viveu<br />

uma fase de crise e de profundas transformações.<br />

A respeito disso, é correto afirmar que:<br />

1 - pela dificuldade de se encontrar mão-de-obra escrava,<br />

pois não havia mais guerras de conquistas que<br />

trouxessem escravos;<br />

2 - pela abolição total da escravatura;<br />

4 - pelo fato de a expansão do cristianismo ter gerado a<br />

diminuição do número de escravos – libertados por ato<br />

de piedade cristã – divulgando-se atitudes<br />

antiescravistas;<br />

8 - pela evolução urbana – que fez da cidade o centro da<br />

vida no Império Romano – e o abandono dos campos;<br />

16 - pela subdivisão de muitos latifúndios em pequenas<br />

propriedades, pela dificuldade de manter escravos<br />

numerosos de pouco valor, além das invasões de<br />

bárbaros seguidas de fuga de escravos.<br />

(UFPR) - Universidade Federal do Paraná - Questão<br />

82:<br />

Nos séculos III d.C. e IV d.C., o Império Romano viveu<br />

uma fase de crise e de profundas transformações. A<br />

respeito disso, é correto afirmar que:<br />

1 - as cidades do Ocidente Romano tornaram-se centros<br />

econômicos do Império em florescente processo de<br />

urbanização;<br />

2 - antes religião perseguida, o cristianismo passou a ser<br />

aceito e veio a tornar-se a religião oficial do Império<br />

Romano, em substituição ao paganismo;<br />

4 - os povos bárbaros invadiram o Império e se<br />

estabeleceram em seus territórios, contribuindo para a<br />

crise do mundo romano;<br />

8 - a divisão político-administrativa do Império fez surgir<br />

o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do<br />

Oriente.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />

83:<br />

Várias razões explicam as perseguições sofridas pelos<br />

cristãos no Império Romano, entre elas:<br />

a) a oposição à religião do Estado Romano e a negação<br />

da origem divina do Imperador, pelos cristãos;<br />

b) a publicação do Edito de Milão, que impediu a<br />

legalização do cristianismo e alimentou a repressão;<br />

c) a formação de heresias, como a do Arianismo, de<br />

autoria do bispo Ário, que negava a natureza divina<br />

de Cristo;<br />

d) a organização dos Concílios Ecumênicos, que<br />

visavam promover a definição da doutrina cristã;<br />

e) o fortalecimento do paganismo sob o imperador<br />

Teodósio, que mandou martirizar milhares de<br />

cristãos.<br />

(PUC-PR) - Pontifícia Universidade Católica do<br />

Paraná - Questão 84:<br />

Em 63 a.C., as tropas de Pompeu tomaram Jerusalém,<br />

ficando os judeus sob dominação romana. Na época do<br />

Império, rebeliões dos judeus contra os romanos<br />

acabaram levando à eliminação de Israel e Judá.<br />

102


Neste quadro tivemos:<br />

a) Rebeliões contra Júlio César, que deixa o Egito e<br />

esmaga os revoltosos em 59 a.C.; e contra Otávio,<br />

em 24 d.C.<br />

b) Rebeliões em 70 d.C. e 136 d.C., nos governos de<br />

Vespasiano e Adriano, a última delas levando à<br />

dispersão total dos hebreus.<br />

c) Rebeliões em 167 a.C., e 69 d.C., envolvendo os três<br />

grupos político-religiosos dos fariseus, saduceus e<br />

essênios.<br />

d) Morte de meio milhão de judeus e a venda dos que<br />

escaparam ao massacre, provocando a total<br />

dispersão do que restara de Israel e Judá, em meio a<br />

rebeliões no governo de Teodósio.<br />

e) Revolta contra Ptolomeu, Filopator, representante<br />

romano na Província da Síria, que esmagará<br />

totalmente os hebreus.<br />

Questão 85:<br />

Quanto à <strong>História</strong> de Roma, pode-se considerar que:<br />

a) Roma conheceu apenas duas formas de governo:<br />

República e Império.<br />

b) na passagem da República para o Império, Roma<br />

deixou de ser uma democracia e tornou-se uma<br />

oligarquia.<br />

c) os Irmãos Graco foram dois tribunos da plebe que<br />

lutaram pela redistribuição das terras do Estado<br />

entre os plebeus.<br />

d) no Império Romano, todos os homens livres eram<br />

proprietários de terras.<br />

e) no Império, os romanos viviam com base numa<br />

economia industrial.<br />

(UP/PR) - Universidade Positivo - Questão 86:<br />

– “As casas vacilavam depois de freqüentes e graves<br />

tremores de terra; abaladas em seus alicerces, pareciam<br />

balançar de um lado para outro. Ao ar livre, por outro<br />

lado, temia-se a queda de pedras-pomes, embora fossem<br />

leves e porosas. Foi a isto que todos preferiram depois de<br />

compararem os perigos. Quanto a meu tio, a proposta<br />

mais razoável venceu: quanto aos outros, venceu o medo<br />

maior. Colocando travesseiros sobre a cabeça,<br />

amarraram-nos com fronhas e lençóis: isto servia de<br />

proteção contra tudo que caía do alto.” (Plínio, o Jovem)<br />

O texto se refere à erupção de um vulcão ocorrida em 79<br />

d.C., no Império Romano. Relacionar corretamente: o<br />

nome do vulcão, uma cidade destruída e o Imperador<br />

romano da época:<br />

a) Vesúvio, Herculano e Nero.<br />

b) Etna, Pompéia e Vespasiano.<br />

c) Vesúvio, Pompéia e Tito.<br />

d) Miseno, Somma e Vespasiano.<br />

e) Vesúvio, Pisa e Tito.<br />

Questão 87:<br />

Associe corretamente as colunas e assinale a alternativa<br />

correta:<br />

I. Autoridade máxima da República romana<br />

II. Administravam a justiça em Roma<br />

III. Organizavam jogos e festividades públicas em Roma<br />

IV. Autoridade máxima da Monarquia romana<br />

V. Título de Júlio César<br />

( ) Ditador perpétuo<br />

( ) Senado<br />

( ) Pretores<br />

( ) Edis<br />

( ) Rei<br />

a) V - I - II - III - IV<br />

b) V - II - III - I - IV<br />

c) V - IV - III - II - I<br />

d) I - IV - III - V - II<br />

e) IV - V - I - II - III<br />

(CEFET/PR) - Centro Federal de Educação<br />

Tecnológica do Paraná - Questão 88:<br />

Eram funções básicas dos CÔNSULES, os mais<br />

importantes magistrados durante a República Romana:<br />

a) administrar as finanças públicas;<br />

b) administrar a justiça;<br />

c) comandar o exército, dirigir o Estado e convocar o<br />

Senado;<br />

d) cuidar do recenseamento dos cidadãos e da<br />

vigilância dos costumes;<br />

e) administrar aspectos da vida da cidade de Roma<br />

como: abastecimento, festas públicas, edifícios<br />

públicos, policiamento e outros.<br />

103


(UFES) - Universidade Federal do Espírito Santo -<br />

Questão 89:<br />

Na administração da Roma Antiga, o pretor era<br />

encarregado de:<br />

a) chefiar os exércitos nas campanhas militares;<br />

b) promover o censo qüinqüenal;<br />

c) fiscalizar a execução orçamentária;<br />

d) ministrar justiças;<br />

e) zelar pelo abastecimento.<br />

(FGV/RJ) - Fundação Getúlio Vargas Rio - Questão<br />

90:<br />

A expansão de Roma durante a república, com o<br />

consequente domínio da bacia do Mediterrâneo,<br />

provocou sensíveis transformações sociais e econômicas,<br />

dentre as quais:<br />

a) marcado processo de industrialização, êxodo urbano,<br />

endividamento do Estado.<br />

b) fortalecimento da classe plebeia, expansão da<br />

pequena propriedade, propagação do cristianismo.<br />

c) crescimento da economia agropastoril,<br />

intensificação das exportações e aumento do<br />

trabalho livre.<br />

d) enriquecimento do Estado romano, aparecimento de<br />

uma poderosa classe de comerciantes, aumento do<br />

número de escravos.<br />

e) diminuição da produção nos latifúndios, acentuado<br />

processo inflacionário, escassez de mão-de-obra<br />

escrava.<br />

Questão 91:<br />

Uma das mais importantes contribuições dos romanos<br />

para a posteridade foi o Direito. Sobre a famosa “Lei das<br />

Doze Tábuas”, analise as afirmativas abaixo e, a seguir,<br />

assinale a alternativa correta:<br />

I. Trata-se de lei editada no período de Júlio César.<br />

II. Considera-se a primeira lei escrita e sistematizada do<br />

Direito Romano.<br />

III. Permitia o casamento entre patrícios e plebeus.<br />

IV. Foi elaborada pelos decênviros.<br />

V. Admitia, ainda, a pena de Talião.<br />

Estão corretas as afirmativas:<br />

a) I, III, IV;<br />

b) II, IV, V;<br />

c) I, IV, V;<br />

d) II, III, V;<br />

e) II e III.<br />

(PUC-SP) - Pontifícia Universidade Católica de São<br />

Paulo - Questão 92:<br />

A monarquia romana terminou quando:<br />

a) os bárbaros invadiram Roma, em 476;<br />

b) o Senado atribuiu a Otávio o título de imperador;<br />

c) Teodósio dividiu o império entre seus dois filhos,<br />

em 395 d.C.;<br />

d) Tarquínio o Soberbo foi deposto pelos patrícios;<br />

e) Ocorreu a oficialização do cristianismo, pelo Edito<br />

de Tessalônica.<br />

(ULBRA/RS) - Universidade Luterana do Brasil -<br />

Questão 93:<br />

Em ano de eleição discute-se a importância das<br />

instituições que alicerçam a organização política<br />

brasileira. A república é sempre lembrada como<br />

fundamento de explicação para as características<br />

políticas do nosso país. Na história, a República é<br />

estudada como fazendo parte do desenvolvimento das<br />

relações políticas do mundo romano. Sobre a<br />

organização da República romana, podemos dizer que:<br />

I. o cargo de senador era vitalício, implicando ações<br />

consultivas, legislativas e administrativas, no aspecto<br />

tocante as províncias;<br />

II. inicialmente os plebeus eram discriminados quanto a<br />

participação nas questões do Estado romano, porém com<br />

a ação de revoltas conseguiram o tribunato da plebe, que<br />

lhes garantia o reconhecimento de sua importância<br />

social;<br />

III. o presidente da República era empossado após um<br />

plebiscito, articulado em todas as províncias e<br />

organizado pela Sátrapa que possuísse a maior graduação<br />

da península.<br />

Assinale a alternativa correta:<br />

a) Apenas a proposição I está correta.<br />

b) Apenas as proposições I e II estão corretas.<br />

c) Apenas as proposições I e III estão corretas.<br />

d) Apenas as proposições II e III estão corretas.<br />

e) As proposições I, II e III estão corretas.<br />

104


(UFRGS) - Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul -<br />

Questão 94:<br />

O assunto tratado na revista em quadrinhos Asterix diz<br />

respeito à relação entre romanos e:<br />

a) germanos, no século IV d.C.<br />

b) gauleses, no século I a.C.<br />

c) anglo-saxões, no século II d.C.<br />

d) etruscos, no século IV a.C.<br />

e) gregos, no século I d.C.<br />

(UFBA) - Universidade Federal da Bahia - Questão<br />

95:<br />

Os Romanos mostraram-se extraordinariamente<br />

inventivos no domínio do urbanismo. As "cidades<br />

novas", construídas durante a época imperial, muitas<br />

vezes a partir de acampamentos militares, espalharam a<br />

ordem romana até aos confins do Império. Esta<br />

concepção de cidade planejada, edificada com uma<br />

finalidade muito concreta e, por vezes, quase<br />

simultaneamente em cada uma das suas partes, só a<br />

voltaremos a encontrar no século XX.<br />

(UPJOHN et al., p. 48)<br />

Com base na análise do texto e nos conhecimentos sobre<br />

a arquitetura na Antigüidade Oriental e na Clássica,<br />

pode-se afirmar:<br />

1 - A arquitetura romana concentrou-se na construção de<br />

edifícios com finalidade religiosa, descuidando-se das<br />

obras de infra-estrutura e de atendimento às necessidades<br />

das populações urbanas.<br />

2 - As cidades romanas do Período Imperial obedeciam a<br />

modelos urbanísticos voltados para "finalidade muito<br />

concreta", enquanto as cidades-estado da Grécia e da<br />

Fenícia funcionavam para atender ao conjunto de ações<br />

necessárias ao exercício da vida social.<br />

4 - A sobrevivência, até os dias atuais, de templos e<br />

palácios construídos pelos gregos e pelos egípcios<br />

decorre do uso de materiais resistentes e da aplicação de<br />

princípios arquitetônicos científicos conhecidos na<br />

época, fazendo-os resistir à ação do tempo e dos homens.<br />

8 - A sobrevivência, até os dias atuais, de templos e<br />

palácios construídos pelos gregos e pelos egípcios<br />

decorre do uso de materiais resistentes e da aplicação de<br />

princípios arquitetônicos científicos conhecidos na<br />

época, fazendo-os resistir à ação do tempo e dos homens.<br />

16 - A arquitetura romana expressava o caráter<br />

burocrático e pragmático da cultura dominante, enquanto<br />

a arquitetura grega se voltava para a representação dos<br />

elementos que fundamentavam sua mitologia e sua<br />

concepção de mundo.<br />

32 - As catedrais de Colônia, na Alemanha, e de Notre<br />

Dame, em Paris, representam a arte gótica que<br />

predominou na Europa Medieval e reproduzem os<br />

princípios arquitetônicos construídos pelos gregos e<br />

pelos romanos.<br />

(UFJF/MG) - Universidade Federal de Juiz de Fora -<br />

Questão 96:<br />

Sobre o sistema político de Roma no período<br />

republicano, assinale a alternativa incorreta:<br />

a) A estrutura administrativa inicialmente criada<br />

garantiu aos patrícios o controle sobre os principais<br />

cargos públicos da cidade.<br />

b) A organização de movimentos sociais e de uma série<br />

de leis escritas, a partir do século V a.C., limitaram<br />

fortemente os direitos dos plebeus que constituíam a<br />

maior parte da população.<br />

c) O Senado era a instituição política mais importante<br />

do período, estando entre as suas atribuições<br />

principais: a elaboração de leis, a condução da<br />

política externa e das finanças públicas.<br />

d) O sistema previa a divisão de poderes, como por<br />

exemplo, as magistraturas, que tinham seus<br />

integrantes renovados periodicamente.<br />

e) O século I a.C. foi marcado por uma ampla crise<br />

política, representada pelo esgotamento do sistema<br />

republicano e pelo fortalecimento do poder pessoal,<br />

manifesto nos sucessivos confrontos entre<br />

importantes generais.<br />

(UFPE) - Universidade Federal de Pernambuco -<br />

Questão 97:<br />

Em uma casa romana aristocrática, habitada pelo pai da<br />

família, sua mulher, esposa em justas bodas, filhos,<br />

filhas, escravos e ex-escravos libertos, cada um tinha seu<br />

papel definido. Sobre os costumes das filhas de uma<br />

família aristocrática romana, é correto afirmar que:<br />

105


a) a jovem herdava o orgulho do pai, acrescido da<br />

fortuna que lhe cabia, a qual geralmente não era<br />

transmitida ao marido;<br />

b) em geral, as filhas de um nobre romano não tinham<br />

direitos iguais aos filhos homens que herdavam mais<br />

bens patrimoniais;<br />

c) cabia ás filhas da nobreza romana apenas a clientela<br />

pertencente à sua estirpe;<br />

d) em caso de morte dos pais, as jovens aristocráticas<br />

solteiras não poderiam comandar uma casa romana;<br />

elas só mantinham suas posições de poder através de<br />

casamentos;<br />

e) ligações amorosas ou casamentos com viúvas da<br />

aristocracia romana eram proibidos pela legislação<br />

romana, fundamentada no pátrio poder.<br />

(UERGS) - Universidade Estadual do Rio Grande do<br />

Sul - Questão 98:<br />

No contexto das Guerras Púnicas, Roma sofreu em<br />

Canas a mais sombria das derrotas. A desforra viria<br />

tempos depois, quando Cipião o Africano emprestou seu<br />

gênio às legiões, levando-as à vitória. Aliás, os conflitos<br />

púnicos entre romanos e cartagineses tiveram como<br />

causa principal:<br />

a) a invasão de Roma por Aníbal Barca, depois de<br />

cruzar os Alpes;<br />

b) a disputa pela posse estratégica do Mediterrâneo;<br />

c) o secular ódio que nutriam os romanos pelos povos<br />

semitas;<br />

d) a ameaça que representava para Roma a<br />

concentração de povos guerreiros ao norte;<br />

e) o estímulo cartaginês a rebeliões de escravos<br />

romanos contra os seus senhores.<br />

(UCS/RS) - Universidade de Caxias do Sul - Questão<br />

99:<br />

Após as Guerras Púnicas (264 - 146 a.C.) - Conflito entre<br />

Roma e Cartago pela disputa comercial do Mediterrâneo<br />

-, os romanos abriram caminho para a dominação de<br />

regiões do Mediterrâneo Ocidental (Gália, Península<br />

Ibélica) e Oriental (Macedônia, Grécia, Ásia Menor). O<br />

Mar Mediterrâneo foi inteiramente controlado pelos<br />

romanos, que o chamavam de mare nostrum ("nosso<br />

mar"). A expansão romana foi acompanhada de<br />

importantes transformações econômicas, sociais,<br />

políticas e culturais. Entre elas destacam-se:<br />

a) o fortalecimento do sistema assalariado, o<br />

enfraquecimento dos cavaleiros, a consolidação das<br />

instituições republicanas e a adoção dos deuses<br />

gregos com nomes latinos;<br />

b) o fim do trabalho escravo, a concentração<br />

populacional no campo, o desaparecimento dos<br />

latifúndios e a mudança no estilo de vida romano,<br />

que se tornou mais simples e sóbrio;<br />

c) o crescimento do escravismo, o empobrecimento da<br />

plebe, o desenvolvimento do comércio, o<br />

fortalecimento dos chefes militares e o<br />

enfraquecimento das instituições republicanas;<br />

d) o abandono dos centros urbanos, a adoção do<br />

trabalho servil, a ruralização da produção e o<br />

fortalecimento dos chefes militares e das instituições<br />

republicanas;<br />

e) o aumento do trabalho escravo, a implantação de<br />

minifúndios, a instabilidade política interna, o<br />

fortalecimento da família e o enfraquecimento dos<br />

chefes militares.<br />

(UESC/BA) - Universidade Estadual de Santa Cruz -<br />

Questão 100:<br />

Seja qual for a cidade, o fato fundamental da sociedade<br />

do Império Romano é a convicção de que existe uma<br />

distância social intransponível entre os notáveis "bemnascidos"<br />

e seus inferiores (...) As classes superiores<br />

procuram diferenciar-se das inferiores através de um<br />

estilo de cultura e vida moral cuja mensagem mais<br />

vibrante é que não pode ser partilhado pelos outros.<br />

(Veyne (org.), p. 230)<br />

A distância social referida no texto relaciona-se à<br />

distinção entre:<br />

a) romanos e bárbaros;<br />

b) bárbaros e guerreiros;<br />

c) sacerdotes e guerreiros;<br />

d) cidadãos patrícios e plebeus;<br />

e) tribunos da plebe e sacerdotes.<br />

106


GABARITO:<br />

Questão 1: A, C<br />

Questão 2: E<br />

Questão 3: 17<br />

Questão 4: D<br />

Questão 5: E<br />

Questão 6: C<br />

Questão 7: C<br />

Questão 8: D<br />

Questão 9: B<br />

Questão 10: D<br />

Questão 11: A<br />

Questão 12: D<br />

Questão 13: 11<br />

Questão 14: C<br />

Questão 15: A<br />

Questão 16: C<br />

Questão 17: A<br />

Questão 18: D<br />

Questão 19: C<br />

Questão 20: A<br />

Questão 21: D<br />

Questão 22: E<br />

Questão 23: E<br />

Questão 24: C<br />

Questão 25: C<br />

Questão 26: E<br />

Questão 27: C<br />

Questão 28: E<br />

Questão 29: D<br />

Questão 30: B<br />

Questão 31: C<br />

Questão 32: E<br />

Questão 33: A<br />

Questão 34: 43<br />

Questão 35: C<br />

Questão 36: C<br />

Questão 37: A<br />

Questão 38: B<br />

Questão 39:<br />

Questão 40: C<br />

Questão 41: A<br />

Questão 42: B<br />

Questão 43: C<br />

Questão 44: C<br />

Questão 45: C<br />

Questão 46: C<br />

Questão 47: D<br />

Questão 48: C<br />

Questão 49: E<br />

Questão 50: C<br />

Questão 51: A<br />

Questão 52: A, B<br />

Questão 53: C<br />

Questão 54: C<br />

Questão 55: C<br />

Questão 56: B<br />

Questão 57: B<br />

Questão 58: E<br />

Questão 59: E<br />

Questão 60: 17<br />

Questão 61: E<br />

Questão 62: A<br />

Questão 63: A<br />

Questão 64: B<br />

Questão 65: E<br />

Questão 66: C<br />

Questão 67: B<br />

Questão 68: A<br />

Questão 69: E<br />

Questão 70: A<br />

Questão 71: C<br />

Questão 72: 7<br />

Questão 73: B<br />

Questão 74: C<br />

Questão 75: B<br />

Questão 76: E<br />

Questão 77: E<br />

Questão 78: B<br />

Questão 79: A<br />

Questão 80: D<br />

Questão 81: 5<br />

Questão 82: 14<br />

Questão 83: A<br />

Questão 84: B<br />

Questão 85: C<br />

Questão 86: C<br />

Questão 87: A<br />

Questão 88: C<br />

Questão 89: D<br />

Questão 90: D<br />

Questão 91: B<br />

Questão 92: d<br />

Questão 93: b<br />

Questão 94: b<br />

Questão 95: 30<br />

Questão 96: b<br />

Questão 97: a<br />

Questão 98: b<br />

Questão 99: c<br />

Questão 100: d<br />

107


IDADE MÉDIA<br />

108<br />

1. HISTORIOGRAFIA: CONCEITO E<br />

CRONOLOGIA<br />

O período que se estende entre os séculos V d.C. e XV<br />

d.C. - marcos convencionais da queda do Império<br />

Romano do Ocidente 476 d.C. e tomada de<br />

Constantinopla pelos turco-otomanos 1494 d.C. -<br />

definido como Idade Média ou Medievo, tem sido um<br />

dos mais revisitados pela recente historiografia ocidental;<br />

são repensados os conceitos, classificações e<br />

nomenclaturas relacionadas às dinâmicas históricas das<br />

sociedades ocidentais, especialmente europeias.<br />

<strong>Geral</strong>mente, o estudo sobre esse período histórico<br />

privilegia a compreensão dos processos de formação,<br />

apogeu e crise do chamado sistema feudal.<br />

Embora esta ainda seja a orientação preponderante,<br />

inclusive nesse trabalho, devemos considerar esse<br />

enfoque como resultado de uma tendência eurocêntrica<br />

da <strong>História</strong>, que em muito tem privilegiado as dinâmicas<br />

do Velho Mundo como padrões ao conhecimento de<br />

quase toda a humanidade. Assim, chamamos à atenção<br />

de que embora muito associado à Idade Média, o<br />

Feudalismo não deve ser considerado um processo<br />

ampliado em escala global, mas localizado<br />

temporalmente e espacialmente à Europa Ocidental,<br />

no período supracitado. Desse modo, a compreensão das<br />

demais sociedades nesse período deve perpassar a<br />

observação de dinâmicas bastante divergentes dessa<br />

realidade ocidental, a exemplo das sociedades africanas<br />

medievais, do Império Bizantino e das comunidades<br />

árabes.<br />

Desafio importante dessa nova historiografia é<br />

desvincular o período de uma infinidade de preconceitos<br />

que a ele estiveram quase que naturalmente associados.<br />

A própria caracterização dessa Idade como ‘média’,<br />

revela esse aspecto, ao consagrar sua condição como de<br />

mera intermediária, entre a grandeza da Idade Antiga e a<br />

pujança renovadora da Idade Moderna. Essa<br />

nomenclatura é fruto da própria concepção desses<br />

homens da Modernidade, não sendo por tanto uma<br />

identificação dos homens do Medievo, mas uma<br />

classificação criada a posteriori; esses mesmos homens<br />

modernos, não cuidaram apenas de identificar o período,<br />

mas de adjetivá-lo de forma detratora, associando o<br />

período a termos como “Idade das Trevas”,” Longa<br />

Noite dos Mil Anos”, “Sono Feudal”, enfatizando uma<br />

suposta obscuridade, ignorância e nulidade de padrões<br />

culturais, uma vez que estavam excessivamente<br />

relacionados à intensa religiosidade típica do período.<br />

Hoje em dia, embora a historiografia considere as<br />

dificuldades materiais do período, reconhece sua intensa<br />

produção cultural e rejeita esses arraigados preconceitos<br />

ainda associados ao imaginário comum sobre o Medievo.<br />

Para tanto, enfatiza-se os avanços da ciência no período,<br />

especialmente aqueles associados às inovações trazidas<br />

pelos muçulmanos ou o incremento das técnicas de<br />

produção na Baixa Idade Média; as artes, com o<br />

reconhecimento do valor da arte sacra e da produção<br />

literária descritiva dos valores medievais, bem como da<br />

própria origem medieval do Renascimento Cultural; a<br />

Filosofia, com a preservação e ressignificação do<br />

pensamento clássico a partir das obras, destacando Santo<br />

Agostinho e São Tomás de Aquino; e, em outros<br />

diversos campos tem se revelado a sofisticação das<br />

produções medievais e o respeito às condições<br />

específicas em que foram produzidas, rejeitando juízos<br />

de valor.<br />

No entanto devemos salientar, que nem sempre a<br />

imagem do Período Medieval foi corrompida apenas por<br />

seus detratores. Também tivemos prejuízos de<br />

compreensão criados pela excessiva idealização, como<br />

ocorreu no século XIX, especialmente pelo movimento<br />

artístico do Romantismo, que numa critica às sociedades<br />

industriais, sobrevalorizou o Medievo de forma<br />

exagerada e deturpada, a serviço da construção do<br />

nacionalismo e de identidades europeias em formação<br />

naquele período. No século XX, o próprio regime<br />

nazista, por exemplo, buscaria nas origens medievais do<br />

Estado alemão, a suposta preponderância sobre as<br />

demais populações.<br />

Assim, o grande desafio que se impõe é o de evitar essas<br />

desordenações de sentido e buscar compreensão e<br />

entendimento desse período, revelando suas nuances a<br />

partir de uma conjunção complexa e não simplesmente<br />

detratada ou idealizada a partir de interesses dissociados<br />

de seu próprio tempo.<br />

A extensa cronologia da Idade Média Ocidental de 10<br />

séculos levou os historiadores a convencionarem a<br />

divisão periódica em Alta Idade Média e Baixa Idade<br />

Média, a partir da própria dinâmica das transformações


que ocasionaram a formação e a deterioração do sistema<br />

feudal.<br />

A variedade da formação dos reinos germânicos, as<br />

rivalidades entre as diversas populações, a instabilidade<br />

dos confrontos e disputas territoriais e a inexperiência<br />

desses estrangeiros com a organização centralizada de<br />

poder, impediram a consolidação de formas estáveis e<br />

duradouras de dominação política, exceto na região da<br />

atual França, onde o Reino dos Francos se instalou.<br />

2. ALTA IDADE MÉDIA – A CONSTRUÇÃO<br />

DA ORDEM FEUDAL<br />

Convencionalmente, corresponde aos séculos iniciais do<br />

Período Medieval, estendendo-se do século V ao IX,<br />

associado às condições que forjaram o ápice da ordem<br />

feudal a partir do século X. A este momento vinculamos<br />

a violência das ocupações de povos germânicos na<br />

antiga porção ocidental do Império Romano e a<br />

formação de numerosos reinos “bárbaros”. Os<br />

choques e integrações entre populações romanas e povos<br />

invasores, resultariam numa nova configuração social,<br />

politica e produtiva, que sob a sedimentação ideológica<br />

da Igreja Católica, viriam a constituir aquilo que<br />

chamamos de Feudalismo.<br />

Já desde o século III a grave crise estrutural que se<br />

abateu sobre o Império Romano abriria precedentes à<br />

força das invasões estrangeiras ocorridas a partir do<br />

século V. A desordem e a violência associadas,<br />

determinaram ainda mais a já ocorrente migração dos<br />

espaços urbanos às áreas rurais e a formulação de<br />

vínculos de dependência que resultaria nas formas de<br />

trabalho tipicamente feudais. Esse processo de<br />

ruralização, entretanto, não significou expansão<br />

produtiva, mas uma considerável retração da produção<br />

de alimentos e da circulação de mercadorias,<br />

prejudicando seriamente o comércio e estimulando a<br />

autossuficiência sem fins à produção de excedentes.<br />

2.1 IMPÉRIO CAROLÍNGIO – SEC. V AO IX<br />

Embora se saliente à exaustão o caráter fragmentado das<br />

estruturas politicas das monarquias feudais, e a curta<br />

duração das experiências dos reinos germânicos da Alta<br />

Idade Média, é importante considerar a exceção do<br />

Reino Franco; este conseguiu manter certa estabilidade<br />

ao longo do período e representou um importante<br />

esforço de centralização política medieval.<br />

Os francos ocuparam a região da antiga Gália, atual<br />

França, e constituíram o Reino Franco, que forjou a<br />

partir de sua expansão o Império Carolíngio, com<br />

duração do século V ao IX, quando fragmentou se por<br />

meio do Tratado de Verdun. A maior estabilidade dos<br />

francos está associada à precocidade de sua<br />

centralização política e pela aproximação imediata<br />

com a Igreja Católica. Sob a liderança de Clovis I,<br />

ocorreu a unificação das tribos francas, dando inicio à<br />

dinastia Merovíngia. Esse monarca se tornaria ainda o<br />

primeiro dos soberanos “bárbaros” a se converter à<br />

religião cristã, facilitando a integração às populações da<br />

109


área dominada e recebendo da Igreja Católica importante<br />

contribuição na organização de uma estrutura politica<br />

centralizada.<br />

Iluminura medieval de representação do batismo de Clóvis<br />

A morte de Clovis revelou a inabilidade de seus<br />

sucessores na manutenção de seu legado e no<br />

aprofundamento da estruturação do poder. As disputas<br />

internas e os interesses particulares levaram esses reis<br />

serem identificados como “reis indulgentes” e, abriu<br />

espaço ao fortalecimento do major domus ou prefeito do<br />

Paço, funcionário que de tal modo se destacou na<br />

administração que passou a ter funções hereditárias,<br />

como os próprios monarcas. O mais importante entre<br />

eles, seria Carlos Martel, que liderou a resistência dos<br />

cristãos francos à expansão muçulmana pela Europa<br />

Central, na célebre Batalha de Poitiers de 1732.<br />

Com apoio da Igreja Católica, formar-se-ia uma nova<br />

dinastia, iniciada em 751 com Pepino, o Breve e, que<br />

teve como seu maior expoente, o imperador Carlos<br />

Magno. Seu governo representou o auge da expansão<br />

dos francos, com a retomada de territórios aos<br />

muçulmanos e de outros povos germânicos, com a<br />

evidente intenção de retomar as antigas fronteiras<br />

territoriais do Império Romano do Ocidente. À frente do<br />

agora Império Carolíngio, o imperador Carlos Magno,<br />

além da expansão territorial, promoveu ainda uma<br />

sofisticação das estruturas administrativas, com a criação<br />

das capitulares, leis redigidas em capítulos e validadas<br />

em toda a extensão territorial do Império, cujo<br />

110<br />

cumprimento era fiscalizado pelos funcionários reais, os<br />

missi dominici, geralmente vinculados à Igreja.<br />

A expansão territorial do Império deu-se à custa de<br />

enorme empenho da nobreza franca e sua ação militar,<br />

que em troca recebiam áreas de atuação administrativa<br />

privilegiada, como os condados, ou as marcas (essas<br />

áreas de demarcação fronteiriça, como a Marca da<br />

Espanha, que delimitava o limite com as possessões<br />

islâmicas na Península Ibérica), fortalecendo a nobreza<br />

medieval, criando suas titulações e, enfatizando as<br />

relações de comitatus e beneficium, típicas dos<br />

germânicos e que mais tarde se converteriam nas<br />

recorrentes práticas feudais de suserania e vassalagem.


Representação iconográfica medieval da ritualização típica de suserania e<br />

vassalagem<br />

Do ponto de vista cultural coube a Carlos Magno um<br />

importante fortalecimento da fé católica em seus<br />

territórios, em recompensa ao apoio recebido por essa<br />

instituição aos monarcas carolíngios e à titulação<br />

concedida pelo Papa Leão III ao próprio Carlos, que se<br />

tornara então Imperador Romano do Ocidente, numa<br />

tentativa de reaver os tempos de grandeza do Antigo<br />

Império Romano. Essa aliança rendeu ainda o estímulo a<br />

cultura que se identificou como Renascimento<br />

Carolíngio, no qual as atividades intelectuais nos<br />

mosteiros, a escrita da história dos francos, a preservação<br />

do legado greco-romano e a produção artística foram<br />

bastante estimulados.<br />

A enorme expansão territorial, a diversidade de povos<br />

dominados, a intensão de ampliação de autoridade local<br />

por parte dos nobres, a morte de Carlos Magno, os<br />

enfrentamentos com muçulmanos e uma nova onda de<br />

invasões barbaras no século IX contribuíram para<br />

fragilizar o Império a partir da sucessão de Luís, O<br />

Piedoso, culminando com a disputa dinástica entre seus<br />

filhos, que em 843 teriam dividido entre si o território<br />

carolíngio através do Tratado de Verdun. Essa<br />

fragilidade da autoridade central, as constantes ondas de<br />

ameaças e a pulverização do poder nas mãos da nobreza<br />

dariam o formato final àquilo que se convencionou<br />

chamar de ordem feudal propriamente dita.<br />

Originada na palavra latina feudum, que significa posse<br />

ou domínio, o Feudalismo é a definição do sistema que<br />

se estruturou na Europa a partir do século IX, numa<br />

decorrência do longo processo de fusão de<br />

características germânicas e romanas e da imediata<br />

condição do agravamento da insegurança gerada pela<br />

nova onda de invasões bárbaras e da aceleração do<br />

processo de fragmentação politica decorrente da<br />

fragmentação do Império Carolíngio. A autoridade dos<br />

nobres aumentou a partir da posse de suas terras e da sua<br />

capacidade militar de defesa das mesmas, os<br />

trabalhadores e camponeses colocaram-se sob sua tutela,<br />

numa relação de obediência e prestação de serviços, ao<br />

mesmo tempo em que se consagravam as relações de<br />

dependência e fidelidade no meio aristocrático.<br />

Embora seja possível apresentar certas características<br />

desse sistema, uma conceituação inquestionável e<br />

definitiva do feudalismo não é recomendada entre os<br />

historiadores. Desse modo, nesse trabalho, propõem-se<br />

os conceitos explicativos de Marc Bloch e Jacques Le<br />

Goff.<br />

“Um campesinato mantido em sujeição; uso generalizado<br />

do serviço foreiro (isto é, o feudo) em vez de salario (...);<br />

a supremacia de uma classe de guerreiros especializados;<br />

vínculos de obediência e proteção que ligam homem a<br />

homem e, dentro da classe guerreira, assumem a forma<br />

especifica denominada vassalagem; fragmentação da<br />

autoridade (...).<br />

BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1987<br />

“O feudalismo é o conjunto de laços pessoais que unem<br />

entre si, hierarquicamente, os membros das camadas<br />

dominantes da sociedade. Tais laços apoiam se numa<br />

base real: o benefício que o senhor concede a seus<br />

vassalos em troca de certo número de serviços e de um<br />

juramento de fidelidade. Em sentido estrito, o feudalismo<br />

é a homenagem e o feudo.”<br />

LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005. P.<br />

84<br />

3.1 ESTRUTURA POLÍTICA FEUDAL<br />

3. A EUROPA FEUDAL<br />

No auge do sistema feudal, embora os reis<br />

representassem as monarquias medievais, mantinham sua<br />

autoridade pulverizada na ação crescente da nobreza<br />

proprietária de terra; tal processo iniciou-se com a<br />

própria crise do mundo romano, que desencadeou um<br />

acentuado processo de migração das cidades ao campo,<br />

abrindo precedente ao fortalecimento dos grandes<br />

proprietários; o fracasso da experiência centralizadora do<br />

111


Império Carolíngio e os constantes conflitos com outras<br />

populações impediram o pleno retorno e manutenção da<br />

unidade politica centralizadora do mundo antigo.<br />

A fragilidade de um Estado representativo e o clima<br />

preponderante de tensão e desordem levou os indivíduos<br />

à consagração de vínculos e relações de dependência<br />

pessoal, que entre os camponeses e os aristocratas se<br />

pautou nas relações de temor e sobrevivência e entre os<br />

aristocratas nas relações de fidelidade herdada das<br />

tradições guerreiras germânicas. Entre os germânicos,<br />

identificava se como comitatus o vinculo de fidelidade<br />

que relacionava os guerreiros a um chefe tribal ou<br />

comandante militar, estabelecendo entre eles obrigações<br />

mútuas. Com as vitórias alcançadas, era comum o<br />

estabelecimento do beneficium, isto é, a concessão do<br />

direito ao uso da terra como remuneração a um<br />

determinado serviço.<br />

Tais relações ganhariam afirmação à época do governo<br />

de Carlos Magno e continuariam a ser na ordem feudal o<br />

principal instrumento de transmissão de propriedade<br />

e manutenção da autoridade entre os nobres medievais.<br />

Ressignificada na relação de suserania e vassalagem, os<br />

antigos costumes germânicos citados restringiam-se à<br />

classe nobre, constituindo laços contratuais entre dois<br />

homens livres. O suserano tinha garantida a prestação<br />

leal de serviços militares para conquista de novas terras e<br />

defesa das suas posses, enquanto o vassalo, prestador do<br />

serviço militar, recebia o beneficio das terras, o feudo,<br />

tornando-se um senhor feudal. Tal relação contribuiu<br />

ainda mais para a dissolução da autoridade real e a<br />

consolidação da autoridade local, em que esses senhores,<br />

em suas propriedades podiam aplicar a justiça, segundo<br />

orientação do direito consuetudinário, isto é, baseado<br />

nos costumes e tradições particulares, proteção,<br />

administração e fiscalização das atividades produtivas.<br />

3.2 ECONOMIA FEUDAL<br />

No feudalismo a produção econômica deve ser<br />

caracterizada por um evidente processo de retração e<br />

estagnação. Tanta a atividade agrícola se mostrou<br />

rudimentar, quanto a produção artesanal e o comércio<br />

demonstraram-se bastante restritos. A redução<br />

demográfica resultante das ondas de violência, a<br />

persistência de uma realidade conflituosa e o fechamento<br />

do Mediterrâneo a partir da dominação muçulmana no<br />

norte africano contribuiram para uma produção de<br />

subsistência e brusca diminuição da atividade comercial.<br />

As atividades produtivas estavam majoritariamente<br />

restritas ao campo, decorrência do intenso processo de<br />

ruralização do período.<br />

O feudo, espaço privilegiado das atividades produtivas e<br />

das relações sociais, tinha dimensões territoriais variadas<br />

e eram geralmente propriedades dos nobres ou de<br />

membros do clero. O senhorio tinha seu espaço físico<br />

organizado e dividido de modo a reproduzir em seu uso e<br />

apropriação as próprias hierarquias sociais vigentes.<br />

Representação de um feudo medieval<br />

O manso senhorial correspondente a cerca de um terço<br />

do feudo, encontravam-se as terras de melhor qualidade,<br />

o castelo, residência fortificada do senhor e os espaços<br />

produtivos, como moinhos, fornos, celeiros. A produção<br />

ficava a encargo dos camponeses, que cumpriam a<br />

corveia, trabalho não remunerado nas terras do senhor,<br />

no cultivo e outros serviços como construção,<br />

manutenção e reparos diversos; ao senhor e sustento de<br />

sua família destinava toda a colheita.<br />

O manso servil ou gleba identificava a faixa de terras<br />

dividida em lotes e destinada sob arrendamento para os<br />

camponeses fixarem residências, produzirem sua<br />

subsistência e o pagamento em produtos dos muitos<br />

impostos fixados por seu senhor. O usufruto da terra por<br />

esses camponeses era taxado pelo senhor, que cobrava<br />

lhes a talha, ou seja, percentagem da produção entregue<br />

pelos camponeses ao senhor.<br />

Já o manso comunal correspondia às terras do feudo<br />

onde era garantido o uso compartilhado de senhores e<br />

servos, constituído por bosques, pomares, áreas de<br />

112


pastagens, garantindo o fornecimento de alimentos como<br />

leite e mel, lenha, madeira para construções, lã para<br />

fiação e a exclusividade da caca aos nobres.<br />

A relação contratual entre os senhores e os camponeses<br />

forjou a servidão como forma principal de trabalho do<br />

Medievo ocidental. Originado nas relações de trabalho<br />

do antigo colonato à época da crise do Império Romano,<br />

o servo medieval vinculava-se diretamente à terra, como<br />

propriedade dela, embora devesse cumprir obrigações em<br />

relação ao senhor dessa terra, pela proteção recebida e<br />

direito a nela residir. Além da corveia e talha citados,<br />

destacava-se ainda as banalidades, taxas pelo uso de<br />

moinho, fornos, e outras instalações e instrumentos de<br />

trabalho do senhor, a mão morta, cobrado pela<br />

transferência hereditária para permitir que o filho do<br />

camponês permanecesse na terra, e mais obrigação de<br />

conceder hospedagem ao senhor e fornecer produtos para<br />

custeio de dotes e festividades.<br />

Diferença entre escravidão e servidão<br />

a terra). Os servos são trabalhadores rurais que estão<br />

vinculados à terra, formando a classe social mais baixa<br />

da sociedade feudal. À diferença dos escravos, os servos<br />

não eram propriedade de ninguém e não podiam ser<br />

vendidos, pois não eram como escravos, que eram<br />

propriedade dos donos. A servidão implica o trabalho<br />

forçado dos servos nos campos dos senhores de terras,<br />

em troca de proteção e do direito arrendar terras para<br />

subsistência. Ademais do trabalho na terra, os servos<br />

executavam diversos trabalhos relacionados com<br />

agricultura, como silvicultura, transporte (por terra e por<br />

rio), artesanato e mesmomanufatura.<br />

A servidão evoluiu a partir da estrutura fundiária do<br />

Baixo Império Romano, caracterizada pela existência<br />

delatifúndios nos quais a mão-de-obra era formada por<br />

arrendatários que trabalhavam nos campos do<br />

proprietário e recebiam um lote de terra para a sua<br />

subsistência, mediante aluguel. Com a instabilidade do<br />

Império nos séculos III e IV d.C., diversos pequenos<br />

proprietários passaram a vender suas terras para os<br />

grandes senhores de terras e a empregar-se nos<br />

latifúndios como arrendatários, em troca de proteção.<br />

A servidão disseminou-se na Europa no século X e<br />

tornou-se a forma predominante de organização do<br />

trabalho agrário europeu durante toda a Idade Média.<br />

Sobreviveu na Inglaterra até o século XVII, na França<br />

até a Revolução Francesa (1789) e, na maioria dos países<br />

europeus, até o início do século XIX. Na Rússia, a<br />

servidão durou até1861, tendo sido o último país do<br />

mundo a libertar seus servos.<br />

A servidão praticamente não existiu em Portugal, devido<br />

à existência de terra livre abundante nas regiões<br />

conquistadas aos árabes no sul do país. A fuga dos<br />

camponeses para essas terras — cujos novos senhores,<br />

para atrair trabalhadores, davam boas condições de<br />

trabalho — o<br />

norte, impedindo o desenvolvimento da servidão da<br />

gleba.<br />

Escravidão & Servidão<br />

A servidão é o status legal e econômico dos camponeses<br />

("servos") no feudalismo, especialmente no âmbito do<br />

sistema econômico da "senhoria" (direitos feudais sobre<br />

A escravidão (denominada também escravismo,<br />

escravagismo e escravatura) é a prática social em que um<br />

ser humano assume direitos de propriedade sobre outro<br />

designado por escravo, ao qual é imposta tal condição<br />

por meio da força. Em algumas sociedades, desde os<br />

tempos mais remotos, os escravos eram legalmente<br />

definidos como uma mercadoria. Os preços variavam<br />

conforme as condições físicas, habilidades profissionais,<br />

a idade, a procedência e o destino.<br />

113


O dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou<br />

trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer<br />

qualquer direito e objeção pessoal ou legal, mas isso não<br />

é regra. Não era em todas as sociedades que o escravo<br />

era visto como mercadoria: na Idade Antiga, haja vista<br />

que os escravos de Esparta, os hilotas, não podiam ser<br />

vendidos, trocados ou comprados, isto pois ele eram<br />

propriedade do Estado espartano, que podia conceder a<br />

proprietários o direito de uso de alguns hilotas; mas eles<br />

não eram propriedade particular, não eram pertencentes a<br />

alguém, o Estado que tinha poder sobre eles. A<br />

escravidão da era moderna está baseada num forte<br />

preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico ao qual<br />

pertence o comerciante é considerado superior, embora<br />

já na Antiguidade as diferenças raciais fossem bastante<br />

exaltadas entre os povos escravizadores, principalmente<br />

quando havia fortes disparidades fenotípicas. Na<br />

antiguidade também foi comum a escravização de povos<br />

conquistados em guerras entre nações. Enquanto modo<br />

de produção, a escravidão assenta na exploração do<br />

trabalho forçado da mão-de-obra escrava. Os senhores<br />

alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto<br />

restante do trabalho destes<br />

http://sociologiaeducao.blogspot.com.br/2011/05/escravidao-servidao.html<br />

3.3 SOCIEDADE FEUDAL<br />

Hierarquização e desigualdade se configuraram nas<br />

principais caracterizações da sociedade feudal.<br />

Propriedade da terra, nascimento e ocupações<br />

estabeleceram os privilégios e hierarquias entre os<br />

homens do mundo feudo-medieval. A pouca mobilidade<br />

social e dificuldade de movimentação vertical na<br />

pirâmide social, sustentou-se especialmente na<br />

justificativa ideológica da Igreja Católica, que<br />

consolidou uma visão daquela sociedade, segundo uma<br />

ordem divina, dividida em três ordens ou estamentos<br />

sociais, com funções previamente determinadas pela<br />

vontade do Altíssimo.<br />

“[Deus] fez ordens, que instituiu em vista das diversas<br />

missões a realizar neste mundo. Instituiu uns os clérigos<br />

e monges para que rezassem pelos outros (...). Instituiu<br />

os camponeses para que eles (...) com o seu trabalho,<br />

assegurassem a sua própria subsistência e a dos outros.<br />

A outros, por fim, os guerreiros, instituiu-os para que<br />

(...) defendessem dos inimigos, (...) os que oram e os que<br />

cultivam a terra.” Bispo Eadmer de Canterbury, séc XI<br />

3.3.1 CLERO MEDIEVAL<br />

Idade da Fé, assim ficou também designada a Idade<br />

média. Tal fato definiu-se pela crescente importância que<br />

a Igreja Medieval e os membros do clero assumiram. A<br />

Igreja ofereceu o exemplo de estabilidade e centralização<br />

em meio a uma autoridade e realidade fragmentadas,<br />

exercendo papéis variados que vão desde a ordenação<br />

moral, representação espiritual entre Deus e os homens,<br />

proprietários materiais, preservação e determinação<br />

cultural, ações filantropas e controle de comportamento,<br />

recorrendo inclusive ao uso da violência.<br />

Em meio a tantas diferenças regionais, a fé cristã era o<br />

elemento que formava o pertencimento de uma grande<br />

comunidade supranacional na Europa Medieval. Isso<br />

explica a importância do batismo como marco na<br />

inserção do homem na comunidade dos crentes e a<br />

excomunhão como condição para a perda inclusive de<br />

direitos civis e políticos, além da salvação espiritual.<br />

Foi da responsabilidade da Igreja e de seus mosteiros o<br />

importante papel de preservação do conhecimento da<br />

Antiguidade, bem como da restrição do acesso a esse<br />

conhecimento a seus membros e da ressignificação e<br />

adequação a seus interesses e formas de controle através<br />

de suas autoridades. Prestaram ainda importante auxílio<br />

aos doentes, órfãos e miseráveis de todos os tipos,<br />

através de uma ação filantrópica com eco ainda hoje em<br />

suas atividades. O próprio cotidiano, festividades e<br />

ritmos de trabalho eram definidos a partir dos<br />

calendários litúrgicos e das concepções eclesiásticas de<br />

tempo.<br />

114


3.3.2 A NOBREZA MEDIEVAL<br />

O grupo dos nobres era constituído pelos membros da<br />

aristocracia guerreira e proprietária dos feudos, divididos<br />

em várias titulações hierárquicas como duques,<br />

marqueses e barões, os senhores feudais propriamente<br />

ditos. Vinculava-se a esse grupo uma suposta vocação<br />

guerreira, condição definida por uma suposta função<br />

divina, o que levava esse grupo social a constituição da<br />

importante instituição da cavalaria.<br />

A cavalaria medieval se constituiu como principal<br />

mecanismo de defesa para a proteção dos interesses da<br />

nobreza durante o feudalismo. A cavalaria era<br />

exclusivamente formada por nobres. De acordo com a<br />

sociedade de ordens na Idade Média, a divisão social era<br />

composta pelos que oravam (clero), os que trabalhavam<br />

(servos) e os que guerreavam (nobres).<br />

Segundo estudiosos do feudalismo, os nobres se<br />

ocupavam da guerra permanentemente. Os componentes<br />

de uma cavalaria geralmente eram filhos de nobres que<br />

não tinham o direito há heranças patrimoniais, sobretudo<br />

nas famílias com maior número de pessoas, nas quais o<br />

filho primogênito seria o herdeiro. Essa prática era<br />

denominada primogenitura (quando o filho mais velho<br />

herdava todos os bens da família) e seu principal objetivo<br />

era evitar a divisão dos bens patrimoniais da família.<br />

leal, destemido e generoso (protegiam os fracos e<br />

oprimidos).<br />

A formação de um cavaleiro acontecia durante toda a<br />

sua vida, não era de um momento para outro que alguém<br />

se tornava membro de uma cavalaria. Para conseguir esse<br />

feito, os homens tinham que dedicar suas vidas.<br />

Quando a criança completava 7 anos de idade, estava<br />

começando sua vida de cavaleiro, ou seja, era quando a<br />

criança começava a cavalgar e a ter lições de boas<br />

maneiras. Ao completar 14 anos, ela se tornava escudeira<br />

(sua principal função era levar o escudo do senhor até a<br />

zona de batalha).<br />

Ao completar 18 anos, o aprendiz de cavaleiro se<br />

tornava cavaleiro. Na cerimônia de investidura no cargo<br />

ele recebia a espada, o capacete e o escudo. A partir daí<br />

iniciava-se o ritual de formação do cavaleiro: primeiro<br />

acontecia o jejum de 24 horas, posteriormente tomava<br />

um banho purificador para rezar.<br />

Após o cavaleiro realizar a oração, ele era<br />

vestido de uma túnica e era levado até o sacerdote para<br />

ser abençoado com a sua espada. Finalizando o ritual, o<br />

cavaleiro se ajoelhava escutando as leis da cavalaria e<br />

jurava sobre a Bíblia proteger o rei, defender os cristãos<br />

contra os infiéis (mulçumanos, pagãos), ser leal à Igreja e<br />

ao rei e ter generosidade.<br />

Leandro Carvalho.<br />

Disponivel em: http://www.brasilescola.com/historiag/cavalaria-medieval.htm<br />

Acesso em 03 de novembro de 2014<br />

3.3.3 A CLASSE PRODUTIVA<br />

A Igreja Católica exerceu enormes influências no<br />

processo de composição das cavalarias e designou que as<br />

ações dos cavaleiros seriam efetivadas para defender a<br />

moralidade da religião cristã.<br />

Para que um nobre se tornasse cavaleiro na Idade<br />

Média era realizada uma cerimônia religiosa seguida por<br />

um juramento, em que o cavaleiro se comprometia a<br />

seguir os princípios da fé e da moralidade cristã. O<br />

cavaleiro medieval até hoje está presente em nossa<br />

mentalidade ocidental como a figura de um homem forte,<br />

115


Os trabalhadores medievais na Europa Ocidental feudal<br />

foram essencialmente camponeses, que segundo a<br />

justificativa católica do período, deveriam cumprir a<br />

função produtiva em retribuição à salvação conduzida<br />

pelo clero e à proteção garantida pelos nobres. Eram em<br />

sua maioria servos, explorados diretamente por seus<br />

senhores.<br />

Entretanto, a camada produtiva de trabalhadores<br />

medievais não deve ser restrita apenas àqueles<br />

condicionados à servidão. A escravidão, por exemplo,<br />

embora pouco recorrente, ainda ocorria no ocidente,<br />

especialmente em trabalhos domésticos nos castelos e em<br />

regiões de dominação muçulmana. Outro grupo<br />

destacável é o dos vilões, categoria de trabalhadores<br />

livres, que vagavam pelos feudos oferecendo certos<br />

serviços especializados, que poderiam inclusive adquirir<br />

pequenas propriedades, mas que ainda assim pagavam<br />

banalidades ou dependiam da proteção de grandes<br />

senhores.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

OS TIPOS HUMANOS:<br />

- dos pares ao esquema tri-funcional: o monge, o<br />

cavaleiro, o camponês.<br />

As sociedades esforçam-se por descrever as suas<br />

estruturas com a ajuda de esquemas que satisfaçam duas<br />

condições: corresponder às realidades sociais concretas e<br />

oferecer àqueles que queiram refletir sobre essas<br />

sociedades e/ ou governá-las, meios intelectuais<br />

apropriados.<br />

A sociedade medieval foi, mais do que muitas outras,<br />

uma sociedade de oposições e, se recusou o<br />

maniqueísmo doutrinal, praticou um maniqueísmo de<br />

fato através de oposições de tipo bons/maus, ou então, de<br />

tipo superior/inferior.<br />

A cristandade foi, assim, representada muitas vezes<br />

por esquemas binários, por pares antitéticos, sendo o<br />

mais geral, e o mais importante, a oposição<br />

clérigos/leigos, normal numa sociedade dominada por<br />

uma religião gerida pelo clero. O poder também foi uma<br />

importante linha divisória. Na Alta Idade Média, isso<br />

traduziu-se na oposição potens/pauper, poderoso/pobre,<br />

substituída, a partir do século XIII, pela oposição<br />

rico/pobre, que refletia a evolução da economia<br />

monetária e a promoção da riqueza como fonte ou<br />

consequência do poder.<br />

Todavia, o fato de terem tomado consciência de que a<br />

sociedade se ia tornando mais complexa, levou os<br />

homens da Idade Média a preferirem esquemas mais<br />

articulados do que o simplista sistema binário. Assim<br />

podiam explicar melhor um jogo social mais complexo.<br />

Um dos primeiros esquemas desse tipo foi o que<br />

introduziu, simplesmente, uma classe intermediária, a<br />

classe de quem se situava entre as classes extremas do<br />

grande e dos pequenos: majores, medíocres, minores.<br />

Este esquema foi particularmente válido no inicio do<br />

século XII, quando os burgueses das cidades se<br />

apresentavam como medíocres entre a aristocracia dos<br />

grandes, leigos e eclesiásticos, e a massa dos camponeses<br />

e dos citadinos.<br />

Mas o esquema que mais sucesso teve entre os<br />

clérigos e o que mais sucesso tem, atualmente, entre os<br />

historiadores, é o tri funcional que Georges Dumézil<br />

distinguiu como uma das estruturas fundamentais da<br />

cultura indo-europeia. Esse esquema reconhece a<br />

existência, no espírito e nas instituições das sociedades<br />

que são herdeiras dessa cultura, de três funções<br />

necessárias ao seu bom funcionamento: uma primeira<br />

função, de soberania mágica e jurídica, uma segunda de<br />

força física, e uma terceira, de fecundidade. Ausente na<br />

Bíblia, surge no Ocidente cristão nos séculos IX-X e<br />

impõe-se a partir de um texto do bispo Adalberon de<br />

Laon no seu Poème au Roi Robert (le Pieux), por volta<br />

de 1030. Adalberon distingue três componentes na<br />

sociedade cristã: oratores, bellatores e laboratores, ou<br />

seja, os que rezam, os que combatem e os que trabalham,<br />

o que corresponde ao panorama social a seguir ao ano<br />

mil. Em primeiro lugar, estão os clérigos e, mais em<br />

especial, os monges, cuja função é a oração, que os põe<br />

em ligação com o mundo divino e lhes dá um enorme<br />

poder espiritual na terra; depois, os guerreiros e,<br />

nomeadamente, o novo estrato social dos que combatem<br />

a cavalo e que virá a transformar-se numa nova nobreza,<br />

a cavalaria, que protege pelas armas as outras duas<br />

classes; finalmente, o mundo do trabalho, representado<br />

essencialmente pelos camponeses, cujas condições<br />

jurídico-sociais tendem a unificar-se e que, com o<br />

produto de seu trabalho, possibilitam a vida das outras<br />

duas classes. Sociedade aparentemente harmônica,<br />

complementar, onde os trabalhadores gozam de uma<br />

promoção, se não social, pelos menos ideológica. De<br />

fato, o esquema ideológico não tardará a juntar-se à<br />

realidade social, reforçando-a: a aplicação do esquema<br />

bíblico dos três filhos de Noé ao esquema tri-funcional<br />

permite subordinar a terceira classe às outras duas; tal<br />

como Caim, o mais irreverente nas suas relações com o<br />

116


pai, se tornou escravo dos dois irmãos, Sem e Iafet. O<br />

esquema, aparentemente igualitário, reforça a<br />

desigualdade social existente entre as três classes.<br />

Os monges tinham pretensão à hegemonia social e<br />

uma mentalidade elitista. Apresentam-se como os únicos<br />

herdeiros autênticos da Igreja primitiva e descrevem as<br />

condições de vida dos homens segundo uma hierarquia<br />

de moralidade e de mérito no vértice da qual se colocam<br />

a eles próprios. Vivendo mais sujeito a uma regra do que<br />

como eremita, isolado e independente, o monge encarna<br />

os ideais de obediência e disciplina. Se procura Deus na<br />

oração e na solidão, também procura a tranquilidade e a<br />

paz. Reza pela salvação dos outros homens, mas<br />

pretende adquirir acima de tudo a perfeição e a sua<br />

salvação pessoal. O mosteiro surge-nos como uma ilha,<br />

um oásis e, simultaneamente, uma cidade, uma cidade<br />

santa. O monge tem uma relação tanto com Deus como<br />

com o Diabo, de quem é a presa privilegiada. Perito nas<br />

agressões de Satanás, protege os outros homens do<br />

“antigo inimigo”. É igualmente um especialista da morte,<br />

através das necrologias que existem nos mosteiros e que<br />

constituem cadeias de oração pelos defuntos. É um<br />

conselheiro e um mediador, sobretudo dos grandes. E<br />

também é um homem de cultura, um conservador da<br />

cultura clássica, um perito na leitura e na escrita, graças<br />

ao scriptoium dos mosteiros, à biblioteca e oficina de<br />

cópia e decoração dos manuscritos. Reúne em si o “vigor<br />

intelectual e a exuberância emotiva” e “uma sabedoria da<br />

escrita que sabe exprimir e matizar sensações, desvios,<br />

sutis atenções e segredos”. O mosteiro é a antecâmara do<br />

paraíso e o monge é o mais habilitado para se tornar um<br />

santo.<br />

O cavaleiro vive entre a violência e a paz, o sangue e<br />

Deus, a rapina e a proteção dos pobres. Desde que<br />

aparece, pela primeira vez, na biografia de S. <strong>Geral</strong>do<br />

d´Aurillac, do abade Odon de Cluny, no século X, tende<br />

a transformar-se no miles Christi, no cavaleiro de Cristo.<br />

A “Reconquista” espanhola e as cruzadas abrem um<br />

vasto campo ao seu espírito de aventura, à sua devoção e<br />

ao seu lugar no mundo da fantasia. É ele o herói dos<br />

primeiros grandes textos literários em língua vulgar,<br />

desde a Chanson de Roland ao Mio Cid. Cria - e criamlhe<br />

- uma ética cavaleiresca que oscila entre a coragem<br />

guerreira e a prudência, a sabedoria: “Rolando é bravo,<br />

mas Olivier é prudente”. O cavaleiro desempenha um<br />

papel essencial na descoberta do amor moderno e o seu<br />

comportamento sexual oscila entre a violência obscena e<br />

o requinte da “gioia” de amor, do amor longínquo. É<br />

também o protagonista da promoção dos “jovens”.<br />

Animado por um furor guerreiro e de um impulso<br />

místico, é, simultaneamente “santo e carniceiro”. A<br />

cristianização dos antigos ritos bárbaros da entrega das<br />

armas cria um rito de passagem essencial para o jovem<br />

guerreiro: a investidura. No século XII, S. Bernardo<br />

abençoou o nascimento de uma nova cavalaria: a dos<br />

monges guerreiros das ordens militares. Como o monge,<br />

o cavaleiro é um herói da pugna spiritu-alis, da luta<br />

contra o demônio. Como Parsifal, o cavaleiro torna-se<br />

um místico e a aventura cavaleiresca transforma-se na<br />

busca religiosa do Graal. O imaginário cavaleiresco, que<br />

perdurará até Cristóvão Colombo, conquistador místico,<br />

apoia-se num fundo “mítico-folclórico” e nas miragens<br />

do Oriente.<br />

O imaginário cavaleiresco exprime-se na caça, na<br />

heráldica, nos bestiários e, nos torneios, contra os quais a<br />

Igreja acaba por se revelar sobretudo impotente, após<br />

uma proibição de um século (1215-1316). As instituições<br />

e a cultura cavaleirescas foram um dos principais<br />

motores do “processo de civilização” descrito por Nobert<br />

Elias. O camponês medieval situa-se em duas grandes<br />

vertentes da demografia que, no início do século XIV, vê<br />

duplicar a população do Ocidente do ano mil, reduzida<br />

depois, até meados do século XV, pela peste, pela<br />

carestia e pela guerra. Essas duas vertentes são a<br />

diversidade das paisagens agrárias e dos tipos de habitat,<br />

densos ou disseminados, e a luta contra a natureza, que<br />

se manifestou pelos arroteamentos. (cultivo de terras<br />

antes incultas) e pela criação dos polders (planícies antes<br />

ocupadas pelas águas). Apresenta-se angustiado, à<br />

procura da estabilidade alimentar e preocupado com a<br />

sua autossuficiência, mais inclinado, portanto, para a<br />

multiplicidade das culturas e privilegiando o cultivo dos<br />

cereais. O camponês é, acima de tudo, um produtor de<br />

pão, numa sociedade onde a primeira hierarquia é a da<br />

cor, mais ou menos branca, e da qualidade do pão que<br />

cada um come. É um trabalhador ameaçado pela<br />

fragilidade da agricultura em relação à natureza e pela<br />

escassez dos rendimentos. Pode também ser o homem<br />

das culturas especializadas, ricas ou pobres, da vinha, da<br />

oliveira, da castanha, ou alguém que se dedica à<br />

exploração dos bosques. A camponesa é, sobretudo, uma<br />

trabalhadora têxtil, uma fiandeira. Mal descrito nos<br />

textos, o camponês destacou-se nas espantosas<br />

representações artísticas dos trabalhos dos meses.<br />

Homem que vive de preferencia ao ar livre, no Inverno<br />

mata o porco e come-o, lentamente, à volta da lareira.<br />

Socialmente, o camponês evoluiu entre o senhor e a<br />

comunidade rural. Como afirma Cherubini, por um lado,<br />

é o habitante de uma aldeia desde os tempos antigos e<br />

mesmo pré-históricos; outros, porém, situam apenas no<br />

117


século IX a generalização do reagrupamento em aldeias.<br />

O senhor sobrecarrega-os com as corveias, depois com as<br />

dívidas em dinheiro, com as cobranças feitas o âmbito da<br />

senhoria banal (banalidades) e, em especial, com a<br />

sujeição ao monopólio senhorial do moinho. Oprimido,<br />

os camponeses é alguém que se empenha na luta social,<br />

que, na maioria dos casos, exerce uma resistência<br />

passiva, mas que, por vezes, explode em revoltas<br />

violentas. Entre os homens da Idade Média, o camponês<br />

está na primeira linha da luta contra os animais<br />

selvagens: o lobo, o urso, a raposa. É, sobretudo, através<br />

de fontes judiciárias que conhecemos a sua mentalidade.<br />

As fontes literárias manifestam desprezo e até ódio em<br />

relação ao camponês, analfabeto que, como alguém<br />

sugere, se situa entre o homem e o animal. É ele o<br />

principal praticante dessa religiosidade chamada<br />

“popular” e que a Igreja denominava “superstição”. Não<br />

há qualquer dúvida de que era um adepto das crenças e<br />

dos ritos a que chamamos “mágicos”. Por isso, esta<br />

personagem predominante numa sociedade agarrada à<br />

terra é, para a cultura e para a ideologia dominantes, um<br />

elemento marginal, apesar de ser um frequentador<br />

assíduo da igreja da aldeia. Mas, o desprezo que a<br />

sociedade lhe manifesta é retribuído. Em certos<br />

documentos e a partir de algumas de suas atitudes,<br />

transparece a sua aversão pelos senhores, pelos<br />

burgueses e pelos habitantes das cidades. As jacqueries a<br />

explosão de rancores antigos.<br />

EXERCÍCIOS<br />

01 - (UEL PR) Embora a ideia de transformação seja<br />

uma característica da modernidade, nos períodos<br />

anteriores, na Europa, ocorreram diversas mudanças nos<br />

campos político, econômico, científico e cultural. Podese<br />

afirmar que, com o declínio do Império Romano na<br />

Europa Ocidental, constituíram-se novas relações sociais<br />

entre os habitantes desses territórios, momento que foi<br />

denominado pelos historiadores como Período Medieval<br />

Com relação a esse período, considere as afirmativas a<br />

seguir.<br />

I. Carlos Magno libertou o seu império do poderio papal<br />

por intermédio de alianças militares realizadas com a<br />

nascente nobreza mercantil de Veneza.<br />

118<br />

II. Os camponeses possuíam o direito de deixar as terras<br />

em que trabalhavam e migrar para os burgos pelo acordo<br />

consuetudinário com os suseranos.<br />

III. Os chefes guerreiros comandavam seus seguidores<br />

no Comitatus por meio de juramentos de fidelidade. Os<br />

nobres também realizavam esse pacto entre si.<br />

IV. O grande medo da população era ocasionado pelas<br />

invasões de bárbaros, pelas epidemias e pela fome. A<br />

crença em milagres se propagava rapidamente entre a<br />

população.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.<br />

02 - (UFJF MG) Observe a ilustração e leia a citação<br />

abaixo. Em seguida, responda ao que se pede.<br />

Coroação de Carlos Magno como imperador do Sacro<br />

Império Romano-Germânico, em dezembro de 800 d.C.,<br />

pelo papa Leão III.<br />

Fonte: Disponível em: http://www.suapesquisa.com./historia (Acesso em:8 out.<br />

2011).<br />

Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia aos<br />

poucos preenchendo os vazios deixados por ele até, em<br />

fins do século IV, identificar-se com o Estado, quando o<br />

cristianismo foi reconhecido como religião oficial. (...)


Estreitavam-se, portanto, as relações Estado-Igreja. (...)<br />

No Império Carolíngio, a aliança entre os reis e a Igreja<br />

foi fundamental para a consolidação de ambos os<br />

poderes e, por vezes, a Igreja assumia funções que hoje<br />

consideramos ser do Estado e este por sua vez interferia<br />

nos assuntos religiosos.<br />

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente. São Paulo:<br />

Brasiliense, 2001. p.67,71<br />

Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período<br />

medieval, responda:<br />

a) Qual a importância da Igreja Católica na<br />

administração dos reinos e impérios?<br />

b) De que maneira o poder régio contribuiu para a<br />

expansão da fé cristã?<br />

03 - (UEPG PR) Com relação à Igreja medieval,<br />

assinale o que for correto.<br />

01. A Igreja exerceu um verdadeiro monopólio do saber,<br />

uma vez que controlava o ensino. As escolas existentes<br />

pertenciam às paróquias e os professores, geralmente<br />

clérigos, difundiam uma visão de mundo teocêntrica.<br />

02. Apesar de todo o poder da Igreja medieval, não há<br />

registros sobre a sua interferência nas questões<br />

econômicas daquele período. As questões relacionadas<br />

aos princípios da usura e do lucro, por exemplo, não<br />

fizeram parte das preocupações da Igreja nos séculos<br />

medievais.<br />

trazidas pelos povos germanos para a formação de uma<br />

nova sociedade.<br />

(OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Antiguidade Tardia. São Paulo: Editora Ática,<br />

1990).<br />

Sobre as modificações ocorridas nesse período de<br />

transição, analise as afirmativas a seguir:<br />

I. No século IV, no Ocidente, a Igreja triunfara e se<br />

tornara, na prática, a dirigente das mentalidades no<br />

Império.<br />

II. As manifestações artísticas da época, a presença de<br />

cenas e de figuras ligadas ao cristianismo passam a ser<br />

dominantes.<br />

III. Os germanos destruíram a cultura romana e<br />

adaptaram a sua à nova sociedade, mudando<br />

completamente o cenário.<br />

IV. O surgimento do latim vulgar foi utilizado como<br />

língua franca, principalmente pelos proprietários, pelos<br />

cobradores de impostos e pelos bispos, o qual vai dar<br />

origem às línguas neolatinas.<br />

V. As principais estruturas germânicas que entraram na<br />

composição do feudalismo foram: colonato, vilas<br />

romanas, direito consuetudinário.<br />

Estão CORRETAS<br />

a) I, II e III. b) I, IV e V.<br />

c) I, II e IV. d) II, III e IV.<br />

e) III, IV e V.<br />

04. A Inquisição foi um dos mais poderosos instrumentos<br />

de controle empregados pela Igreja medieval. Forma<br />

extrema de reação contra as heresias que se opunham aos<br />

dogmas católicos, a Inquisição foi uma tentativa da<br />

Igreja em demonstrar força espiritual e material.<br />

08. Além dos assuntos religiosos, a Igreja também<br />

interferia nas chamadas questões mundanas,<br />

estabelecendo mecanismos de coerção para impor a sua<br />

autoridade para além do universo espiritual.<br />

04 - (UPE) Até o início do século XX, os historiadores<br />

davam pouca importância ao período final do chamado<br />

Mundo antigo, ainda deslumbrados com a grandeza<br />

alcançada pela civilização criada pelos gregos e romanos<br />

e entristecidos ante à trágica visão de uma Europa<br />

barbarizada. Pouco se reconhecia das contribuições<br />

05 - (UFBA) A Idade Média, na Europa, foi<br />

caracterizada pelo aparecimento, apogeu e decadência de<br />

um sistema econômico, político e social denominado<br />

“feudalismo”.<br />

Esse sistema começou a se estruturar na Europa, ao final<br />

do Império Romano do Ocidente (século V), atingiu seu<br />

apogeu no século X e registrou-se o seu declínio ao final<br />

do século XV. (MELLO; COSTA, 1994, p. 235).<br />

De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre o<br />

sistema econômico e político-administrativo que<br />

caracterizou o feudalismo na Europa, indique uma<br />

característica do seu apogeu, no século X, e um fator<br />

responsável pelo seu declínio no final do século XV.<br />

•Século X — apogeu:<br />

•Século XV — declínio:<br />

119


06 - (PUC RS) No ano de 800, Carlos Magno foi<br />

coroado imperador, na condição simbólica de sucessor<br />

dos Augustos. Esse ato, representativo da reconstituição<br />

de um sistema imperial no ocidente europeu, consolidava<br />

a aliança tradicional entre o reino dos _________ e a<br />

_________, vínculo fortalecido pelo combate à expansão<br />

_________ naquela região do continente.<br />

a) Francos; seita cristã albigense; bizantina<br />

b) Lombardos; Igreja cristã ortodoxa; islâmica<br />

c) Francos; Igreja cristã romana; islâmica<br />

d) Lombardos; seita cristã albigense; bizantina<br />

e) Francos; Igreja cristã romana; bizantina<br />

07 - (PUC SP) “O modo de produção feudal, tal como<br />

apareceu na Europa ocidental, deixava em geral aos<br />

camponeses apenas o espaço mínimo para aumentarem<br />

o produto de que dispunham dentro das duras limitações<br />

do sistema senhorial.”<br />

Perry Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. Porto: Afrontamento,<br />

1980, p. 208. Adaptado.<br />

O texto caracteriza o modo de produção feudal,<br />

destacando que<br />

a) havia classes distintas e opostas no feudalismo,<br />

embora a luta social fosse atenuada pelas amplas<br />

oportunidades de lucro que os senhores ofereciam<br />

aos camponeses.<br />

b) as relações de suserania e vassalagem e o caráter<br />

rural do feudalismo eliminaram as cidades e<br />

provocaram o declínio do comércio e das atividades<br />

de serviço.<br />

c) a possibilidade de melhoria da condição econômica<br />

dos camponeses era bastante restrita, devido ao<br />

conjunto de obrigações que estes deviam prestar aos<br />

senhores.<br />

d) as longas jornadas de trabalho nas lavouras e a<br />

ampla gama de impostos impediam os camponeses<br />

de ascenderem socialmente e provocavam a ruína<br />

dos senhores de terras.<br />

e) havia oportunidades de transformação social no<br />

feudalismo, embora os camponeses raramente as<br />

aproveitassem, pois preferiam se dedicar<br />

prioritariamente ao trabalho.<br />

08 - (UFTM MG) Identifique a afirmação correta sobre<br />

a Idade Média Ocidental.<br />

a) Os “mendicantes” que circulam pelas cidades e<br />

pelos campos são sempre religiosos que se dedicam<br />

à obtenção de recursos para peregrinações à Terra<br />

Santa.<br />

b) As pessoas que, dada sua origem, ocupam as<br />

posições sociais mais elevadas recebem o nome de<br />

“senhores”, porque as terras que possuem são<br />

designadas “senhorias”.<br />

c) As relações de vassalagem e de servidão ocorrem no<br />

interior da nobreza e definem a submissão<br />

hierárquica dos senhores perante os reis.<br />

d) São vedadas as práticas de escravidão por dívida e<br />

guerra, mas os camponeses podem ser considerados<br />

propriedade dos senhores.<br />

e) Os religiosos são os únicos que têm direito de<br />

receber rendas e tributos pagos pelos camponeses.<br />

09 - (IFGO) Leia a descrição abaixo.<br />

Esses homens não recebiam salário, mas trabalhavam em<br />

troca de moradia e proteção. Eles trabalhavam em terras<br />

que não eram suas, mas de um proprietário que exigia<br />

parte da produção. Ali viviam até a morte, nunca<br />

podendo abandonar seu trabalho. Porém, eles não<br />

poderiam ser negociados ou expulsos da propriedade.<br />

Esse trabalhador descrito identifica-se como<br />

a) um homem que viveu sob o regime de parceria,<br />

trabalho típico da segunda metade do século XIX no<br />

Brasil.<br />

b) um escravo da Antiguidade romana, que não recebia<br />

salário nem terras, vivendo ao lado de seu<br />

proprietário.<br />

c) um servo feudal, preso à terra e às tradições<br />

medievais. Morava no feudo de seu senhor e pagava<br />

pela proteção recebida, a talha e a corveia.<br />

d) um colono que, após 20 anos de trabalho, recebia a<br />

propriedade da terra, através da Lei de Terras de<br />

1850.<br />

e) um vassalo que jurava obediência ao seu senhor, seu<br />

suserano. Além dos serviços agrícolas prestados,<br />

esse vassalo ia à guerra, defendendo os interesses de<br />

seu senhor.<br />

10 - (UFTM MG) As catedrais são imensas mas, acima<br />

de tudo, são altas, para impressionar aquele que as vê e<br />

as visita, e fazer com que sinta uma coisa muito<br />

importante: a altura do lugar reflete a altura de Deus no<br />

céu. As catedrais são dedicadas a ele, são a sua casa. E<br />

120


seu prestígio se estende àquele que o representa na<br />

terra: o bispo. Um outro aspecto mais banal teve<br />

certamente sua importância: as catedrais estão quase<br />

sempre situadas nas cidades, que concorrem entre si<br />

para ver qual delas terá a maior, a mais alta, a mais<br />

bela catedral.<br />

(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007. Adaptado.<br />

Segundo o texto, as catedrais medievais<br />

a) demonstram o poder de Deus na Terra e consolidam,<br />

por meio dos bispos, a supremacia do poder<br />

temporal sobre o poder religioso.<br />

b) revelam a impossibilidade humana de superar<br />

limites e barreiras na adoração a Deus e na<br />

edificação arquitetônica.<br />

c) têm importante caráter simbólico na construção e<br />

manutenção da fé religiosa e nas disputas políticas<br />

entre cidades.<br />

d) manifestam o despojamento e a pobreza sem<br />

ostentação dos líderes religiosos e políticos, pois a<br />

edificação das catedrais é justificada como prova do<br />

amor a Deus.<br />

e) são destituídas de significados religiosos, pois a<br />

principal preocupação de seus edificadores é<br />

confirmar o poder dos bispos e dos líderes políticos<br />

locais.<br />

11 - (UCS RS) O feudalismo substituiu o escravismo<br />

antigo, estabelecendo novas relações de trabalho,<br />

baseadas na mão de obra servil. No sistema feudal, os<br />

servos:<br />

a) poderiam ser vendidos como mercadorias e eram<br />

obrigados a trabalhar o tempo inteiro para o senhor<br />

feudal.<br />

b) estavam subordinados aos senhores feudais, por<br />

meio de obrigações, tais como: a corveia e as<br />

banalidades.<br />

c) eram trabalhadores livres, podendo pedir demissão e<br />

procurar outro emprego sempre que quisessem.<br />

d) eram, na sua maioria, prisioneiros de guerra,<br />

podendo ser trocados e vendidos nos mercados<br />

locais.<br />

e) recebiam salário compatível com o trabalho<br />

executado: quanto mais trabalhassem, mais<br />

ganhavam.<br />

12 - (Fac. Direito de Sorocaba SP) Portanto, a cidade<br />

de Deus, que se crê única, está dividida em três ordens:<br />

alguns rezam, outros combatem, outros trabalham. Estas<br />

três ordens vivem juntas e não suportariam uma<br />

separação. Adalberto, Bispo de Laon. O texto se refere:<br />

a) à República romana, em que sacerdotes pagãos<br />

controlavam a religião, generais comandavam o<br />

exército e escravos trabalhavam na terra.<br />

b) ao final do Império Romano, quando o cristianismo<br />

tornou-se a religião oficial, o exército ganhou<br />

importância e o escravismo atingiu o seu apogeu.<br />

c) à sociedade feudal, em que o clero fazia o serviço<br />

religioso, a nobreza guerreava e os servos<br />

trabalhavam na terra para os seus senhores feudais.<br />

d) ao final da Idade Média, em que a Igreja tinha muito<br />

poder, os exércitos eram constituídos por servos e os<br />

burgueses trabalhavam com o comércio.<br />

e) ao Antigo Regime, no qual o direito divino conferia<br />

legitimidade ao Absolutismo, as guerras eram<br />

religiosas e a nobreza vivia na corte, em torno do rei.<br />

13 - (FUVEST SP) A palavra “feudalismo” carrega<br />

consigo vários sentidos. Dentre eles, podem-se apontar<br />

aqueles ligados a<br />

a) sociedades marcadas por dependências mútuas e<br />

assimétricas entre senhores e vassalos.<br />

b) relações de parentesco determinadas pelo local de<br />

nascimento, sobretudo quando urbano.<br />

c) regimes inteiramente dominados pela fé religiosa,<br />

seja ela cristã ou muçulmana.<br />

d) altas concentrações fundiárias e capitalistas.<br />

e) formas de economias de subsistência pré-agrícolas.<br />

14 - (MACK SP) A <strong>História</strong> nos mostra que as<br />

concepções acerca do trabalho, suas funções e<br />

significações se transformaram ao longo do tempo. A<br />

esse respeito, leia o texto que se segue:<br />

“(...) conforme o esquema trifuncional indo-europeu<br />

estruturado por Georges Dumézil, a partir do século XI,<br />

a sociedade cristã é frequentemente descrita como<br />

composta de homens que oram (oratores, os clérigos), de<br />

homens que guerreiam (bellatores, os guerreiros) e,<br />

enfim, de homens que trabalham (laboratores, na época,<br />

essencialmente camponeses). Mesmo que vários textos<br />

enfatizem que os laboratores são inferiores aos oratores<br />

e bellatores, o surgimento dos trabalhadores no esquema<br />

121


constitutivo da sociedade exprime a promoção do<br />

trabalho e daqueles que o praticam”.<br />

Jacques Le Goff. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, v.II, pp.568-569.<br />

Pela análise do trecho, é incorreto afirmar que<br />

a) a crise do feudalismo, a partir do século XI,<br />

promoveu alterações na mentalidade medieval<br />

acerca do trabalho, uma vez que, mesmo depreciado,<br />

reconhecia-se sua importância para a própria<br />

existência do mundo feudal.<br />

b) mesmo que a Idade Média seja, tradicionalmente,<br />

um período de depreciação do trabalho manual,<br />

houve inegáveis mudanças nesse sentido,<br />

principalmente a partir do século XI, como apontado<br />

no texto.<br />

c) os bellatores, terceira ordem feudal, responsáveis<br />

pela defesa dos camponeses, determinavam todas as<br />

concepções acerca do trabalho, uma vez que eram os<br />

donos das terras e os responsáveis pela produção<br />

agrícola.<br />

d) a divisão tradicional da sociedade medieval em três<br />

ordens revela a importância que o trabalho adquiria<br />

naquele momento, mas também nos mostra a<br />

necessidade de se justificar o domínio sobre os<br />

camponeses.<br />

e) diferentes civilizações, ao longo da <strong>História</strong>,<br />

necessitam de justificativas e de padrões culturais<br />

aceitos pelo conjunto da sociedade, com o intuito de<br />

garantir o domínio, de certas parcelas, sobre o<br />

conjunto da população.<br />

15 - (UNESP SP) (...) o elemento religioso não limitou<br />

os seus efeitos ao fortalecimento, no mundo da<br />

cavalaria, do espírito de corpo; exerceu também uma<br />

ação poderosa sobre a lei moral do grupo. Antes de o<br />

futuro cavaleiro receber a sua espada, no altar, era-lhe<br />

exigido um juramento, que especificava as suas<br />

obrigações. (Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)<br />

O texto mostra que os cavaleiros medievais, entre outros<br />

aspectos de sua formação e conduta.<br />

a) mantinham-se fieis aos comerciantes das cidades, a<br />

quem deviam proteger e defender na vida cotidiana e<br />

em caso de guerra.<br />

b) privilegiavam, na sua formação, os aspectos<br />

religiosos, em detrimento da preparação e dos<br />

exercícios militares.<br />

c) valorizavam os torneios, pois neles mostravam seus<br />

talentos e sua força, ganhando prestígio e poder no<br />

mundo medieval.<br />

d) agiam apenas de forma individual, realizando<br />

constantes disputas e combates entre si.<br />

e) definiam-se como uma ordem particular dentro da<br />

rígida estrutura feudal, mas mantinham vínculos<br />

profundos com a Igreja.<br />

16 - (UECE) Leia com bastante atenção a “Fórmula de<br />

Tours”, relativa ao séc. VIII d.C., que expressa um<br />

juramento pelo qual um homem livre se encomendava a<br />

um senhor.<br />

“Ao magnífico Senhor [...], eu [...]. Sendo bem sabido<br />

por todos quão pouco tenho para me alimentar e vestir,<br />

apelei por esta razão para a vossa piedade, tendo vós<br />

decidido permitir-me que eu me entregue e encomende<br />

ao vosso mundoburdus; o que fiz nas seguintes<br />

condições: devereis ajudar-me e sustentar-me tanto em<br />

víveres como em vestuário, enquanto vos puder servir e<br />

merecer; e eu, enquanto for vivo, deverei prestar-vos<br />

serviço e obediência como um homem livre, sem que me<br />

seja permitido em toda a minha vida, subtrair-me ao<br />

vosso poder e mundoburdus, mas antes deverei<br />

permanecer, para todos os dias da minha vida, sob o<br />

vosso poder e defesa. Logo, fica combinado que, se um<br />

de nós quiser deixar esta convenção, pagará [...] soldos<br />

à outra parte e o acordo permanecerá firme. Parece-nos<br />

pois conveniente que as duas partes interessadas façam<br />

entre si e confirmem dois documentos do mesmo teor, o<br />

que assim fizeram.”<br />

Espinosa, F. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa<br />

Editora, 1972.<br />

Esse juramento era proferido em um ritual que<br />

fundamentava o sistema feudal. Após proferi-lo, um<br />

homem passava a ser<br />

a) senhor feudal.<br />

b) vassalo de um senhor.<br />

c) domínio de um senhorio.<br />

d) suserano de um feudo.<br />

122


17 - (UEMA) Sobre o posicionamento da Igreja Católica<br />

durante o período conhecido como Idade Média (séculos<br />

V a XV), leia as assertivas abaixo.<br />

I. Era contra a ingerência dos leigos nas questões<br />

religiosas e, por isso, com a Reforma Gregoriana, proibiu<br />

essa interferência e exigiu a moralização do clero,<br />

tornando o celibato obrigatório.<br />

II. Foi a principal responsável pelo ensino através da<br />

criação das universidades, onde se aprendiam o trivium<br />

(Gramática, Retórica e Lógica) e o quadrivium<br />

(Aritmética, Geometria, Astronomia e Música).<br />

III. Era contra a venda de dinheiro a juros, usura,<br />

também considerada como a venda do tempo de Deus.<br />

Os que exerciam essa atividade eram aconselhados pelos<br />

clérigos a fazer penitências e doações para evitar o<br />

inferno após a morte.<br />

IV. Justificava a desigualdade social, afirmando que<br />

Deus quis que uns rezassem e outros trabalhassem; os<br />

camponeses só atingiriam a felicidade na outra vida, após<br />

terem sustentado com o seu trabalho os oratores e<br />

bellatores.<br />

V. Aprovava a convivência pacífica entre todas as<br />

religiões: cristã, judaica e muçulmana e, por esse motivo,<br />

condenou as Cruzadas, movimento cristão que também<br />

possuía interesses econômicos e políticos.<br />

Estão corretas as alternativas<br />

a) I, II, III e IV apenas.<br />

b) I, II, III, IV e V.<br />

c) I, II e III apenas.<br />

d) III, IV e V apenas.<br />

e) I, III e V apenas.<br />

18 - (UEM PR) Leia o fragmento seguinte e assinale a(s)<br />

alternativa(s) correta(s) sobre a Crise do Império<br />

Romano e a formação da Europa Medieval.<br />

“A presença romana deixaria marcas indeléveis em toda<br />

a Europa. No leste, porém, o Império Bizantino acabaria<br />

gravitando em torno de problemas asiáticos, ao passo que<br />

no oeste as instituições romanas e germânicas iriam<br />

lentamente se fundir, fornecendo os fundamentos<br />

histórico-culturais do que hoje normalmente designamos<br />

por ‘Europa Ocidental’. E como é sabido, nesse processo<br />

a Igreja Católica cumpriu o papel de agente unificador<br />

fundamental, como que compensando a fragmentação<br />

política e a pulverização da economia existente.”<br />

(MARTIN, A. R. As fronteiras na Idade Média. In:Repensando as fronteiras e<br />

nações. SãoPaulo: Editora Contexto, 1992, p. 30)<br />

01. Com a divisão do Império Romano em duas<br />

entidades políticas autônomas, o Império Oriental adotou<br />

a religião muçulmana como crença oficial.<br />

02. Como uma das mais importantes instituições da<br />

Idade Média, a Igreja Católica Romana legitimava a<br />

estrutura social e econômica da época.<br />

04. Os contatos religiosos e culturais entre a Europa<br />

Ocidental e o Império Bizantino, afastados desde as<br />

invasões germânicas, só foram retomados após a<br />

Conquista de Constantinopla pelos turcos no século XV.<br />

08. Ainda que o território do antigo Império Romano<br />

tivesse se fragmentado em pequenos territórios<br />

politicamente independentes, o cristianismo passou a<br />

atuar como um componente de identidade comum entre<br />

os reinos.<br />

16. Com o desenvolvimento do cristianismo no ocidente,<br />

a Igreja Católica ocidental eliminou tanto a cultura<br />

romana como a germânica.<br />

19 - (UFJF MG) A partir do século III assiste-se ao<br />

longo processo de crise do Império Romano do Ocidente<br />

e ao desenvolvimento das instituições feudais, que daria<br />

início ao período medieval. Assinale o item que NÃO se<br />

enquadra nesse contexto.<br />

a) A expansão do Império Romano do Ocidente<br />

cessou, levando ao decréscimo da obtenção de<br />

escravos riquezas.<br />

b) As fronteiras pouco controladas devido à fragilidade<br />

romana possibilitaram a invasão dos povos bárbaros<br />

e a fragmentação territorial do Império.<br />

c) O poder político exercido pelas grandes cidades se<br />

manteve, levando a um crescimento da urbanização<br />

e desenvolvimento das instituições comerciais.<br />

d) Desenvolveu-se o sistema de colonato através do<br />

qual escravos e plebeus empobrecidos passaram a<br />

trabalhar como colonos nas terras dos grandes<br />

proprietários.<br />

e) Iniciaram-se as relações de suserania e vassalagem<br />

baseadas em fidelidade e prestação de serviços dos<br />

vassalos para com os senhores.<br />

123


20 - (UFG GO) Leia o texto a seguir.<br />

Origens do regime feudal, diz-se. Onde buscá-las?<br />

Alguns responderam em “Roma”. Outros “na<br />

Germânia”. As razões dessas miragens são evidentes<br />

[…]. Das duas partes, sobretudo, eram empregadas<br />

palavras – tais como “benefício” (beneficium) para os<br />

latinos, “feudo” para os germanos – das quais essas<br />

gerações persistiram em se servir, ainda que lhes<br />

conferindo, sem se dar conta, um conteúdo quase<br />

inteiramente novo. Pois, para o grande desespero dos<br />

historiadores, os homens não têm o hábito, a cada vez<br />

que mudam o costume, de mudar de vocabulário. BLOCH,<br />

Marc. Apologia da <strong>História</strong> ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar. p.<br />

58. (Adaptado).<br />

Neste fragmento, Marc Bloch discute de que forma os<br />

historiadores lidam com a questão das origens, indicando<br />

que a<br />

a) origem dos fenômenos históricos deve ser buscada<br />

no encadeamento dos acontecimentos, o que confere<br />

à <strong>História</strong> um sentido de continuidade.<br />

b) origem é o ponto de partida da mudança que<br />

demarca a ruptura com as formas históricas<br />

precedentes.<br />

c) ideia de origem desconsidera a cronologia,<br />

ferramenta metodológica que concede sentido à<br />

explicação histórica.<br />

d) busca da origem dos fenômenos históricos encobre a<br />

relação entre as forças de conservação e de mudança<br />

que compõem a vida social.<br />

e) origem dos fenômenos históricos pode ser<br />

encontrada na permanência dos costumes e do uso<br />

do vocabulário.<br />

21 - (UFTM MG) As origens do sistema feudal podem<br />

ser encontradas na decadência do Império Romano do<br />

Ocidente. A esse respeito, explique:<br />

a) como a crise do escravismo romano está relacionada<br />

com a servidão medieval.<br />

b) como as invasões germânicas contribuíram para a<br />

formação do feudalismo na Europa Ocidental.<br />

22 - (UFRR) Com a decadência do Império Romano, a<br />

Europa se ruralizou. As atividades comerciais estavam<br />

reduzidas e concentradas em algumas regiões. O poder<br />

político estava pulverizado nas mãos de nobres e de<br />

proprietários rurais, que também controlavam os<br />

exércitos locais, as fortificações e os castelos. Na Europa<br />

feudal a vida girava em torno da grande propriedade<br />

rural, o feudo, que tendia para a autossuficiência, tendo<br />

em vista que produzia quase tudo que precisava. Sobre o<br />

Feudalismo é correto afirmar:<br />

a) Na sociedade feudal os servos, como os escravos,<br />

não tinham qualquer direito, viviam presos à terra e<br />

dela não podiam sair.<br />

b) O Feudalismo desenvolveu-se da mesma forma e<br />

com as mesmas características em toda a Europa.<br />

c) Na época feudal, a Igreja era uma instituição fraca,<br />

pois não tinha uma influência significativa nas<br />

relações entre senhores e servos.<br />

d) A sociedade feudal era estamental, ou seja, era<br />

fundamentada na origem e nas funções sociais<br />

exercidas pelas pessoas.<br />

e) Ainda que o poder local fosse controlado pela<br />

nobreza, no sistema feudal a autoridade absoluta era<br />

exercida pelo rei.<br />

23 - (UEM PR) Leia o texto escrito por um religioso<br />

medieval e assinale a alternativa incorreta sobre a Igreja<br />

cristã daquela época. “Deus quis que, entre os homens,<br />

uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que<br />

os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e<br />

que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu<br />

senhor...” (ANGERS, St. Laud de. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e<br />

documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975. Apud VICENTINO, Claudio.<br />

<strong>História</strong> <strong>Geral</strong>, 2002, p.111).<br />

a) O texto mostra uma concepção que prega a<br />

igualdade jurídica entre os homens medievais, pois a<br />

desigualdade é estabelecida por Deus e não pelos<br />

homens.<br />

b) Ao longo da Época Medieval (séculos V ao XV), a<br />

Igreja cristã se transformou em uma sólida e<br />

importante instituição, estabelecendo normas,<br />

orientando comportamentos e disseminando uma<br />

visão teocêntrica do mundo.<br />

c) O trecho acima mostra a concepção do clero cristão<br />

que contribuiu para o fortalecimento do domínio dos<br />

senhores feudais no período medieval.<br />

d) Os mosteiros transformaram-se nos centros culturais<br />

da Idade Média, pois, sem suas bibliotecas, que<br />

reuniam um grande número de obras, muitos textos<br />

escritos na Antiguidade teriam desaparecido.<br />

e) A Igreja teve um papel importante na vida da<br />

sociedade medieval, não somente na condução das<br />

almas para a salvação, mas também no domínio<br />

material, quando se identificou com a própria<br />

sociedade feudal.<br />

124


24 - (UEPG PR) Os trabalhadores medievais<br />

congregavam uma grande diversidade de elementos,<br />

desde camponeses livres até escravos. A forma de<br />

trabalho característica do feudalismo foi a servidão,<br />

condição intermediária entre o escravo e o operário da<br />

era capitalista.<br />

A respeito deste tema, assinale o que for correto.<br />

01. No século XI, setores da Igreja elaboraram uma<br />

concepção tripartite de sociedade (os que oram, os que<br />

guerreiam, os que trabalham), inspirada naquilo que eles<br />

concebiam como sendo a ordenação do universo.<br />

02. Todo camponês, embora dispusesse de instrumentos<br />

de trabalho e do usufruto de uma exploração, se<br />

encontrava ligado a um proprietário, o senhor, por uma<br />

série de compromissos pessoais e de tributos.<br />

04. A servidão teve dupla origem: de um lado, os servi<br />

casati da época carolíngia (escravos que tinham recebido<br />

uma casa e terra para cultivar); de outro, colonos e<br />

demais homens livres submetidos ao poder de grandes<br />

proprietários rurais.<br />

08. A cobrança das banalidades, taxas referentes ao<br />

atendimento exclusivo de uma necessidade pública, era<br />

compreendida e aceita pelos camponeses.<br />

TEXTO: 1 - Comum à questão: 25<br />

Ter Gutenberg escolhido a Bíblia como primeiro livro a<br />

ser divulgado amplamente foi um gesto revolucionário;<br />

foi colocar o sagrado em mãos profanas. Mas vai ser no<br />

século XVIII, com o Iluminismo, aprofundando algumas<br />

questões colocadas pelo Renascimento, que a leitura<br />

avança ainda mais, pois passou a traduzir para as<br />

línguas ocidentais muitas das obras clássicas até então<br />

acessíveis apenas em grego e latim, decorrendo daí uma<br />

maior popularização da tradição cultural do Ocidente e<br />

do Oriente. (Affonso Romano de Sant´Anna. Ler o mundo.<br />

S.Paulo: Global, 2011. p. 144)<br />

25 - (PUC Camp SP) A concepção, expressa no termo<br />

Iluminismo, de que o período em que este movimento<br />

cultural ocorreu corresponderia ao das “luzes”<br />

contrapondo-se à visão preconceituosa da Idade Média<br />

como uma “Idade das Trevas”, considerava que, durante<br />

a época medieval,<br />

a) a Europa havia se tornado subdesenvolvida,<br />

politicamente frágil e empobrecida graças à ação dos<br />

bárbaros, povos que destruíram as civilizações<br />

existentes e exerceram seu poderio por dezenas de<br />

séculos.<br />

b) o processo de ruralização, a predominância do poder<br />

político e cultural da Igreja e o impacto da Peste<br />

Negra teriam sido fenômenos de um período trágico,<br />

com pouca produção cultural e desenvolvimento<br />

científico.<br />

c) a desagregação do feudalismo, que conferia alguma<br />

organização ao mundo medieval, somada à escassez<br />

de universidades, e de centros urbanos comporiam<br />

um cenário de decadência e crise material.<br />

d) a explosão demográfica descontrolada, as rebeliões<br />

camponesas causadas pela servidão e o fracasso das<br />

cruzadas teriam resultado em uma situação “negra”<br />

de convulsão social e profunda instabilidade<br />

política.<br />

e) a falência do poder da Igreja decorrente do<br />

predomínio de ordens mendicantes, o pouco<br />

desenvolvimento tecnológico e a pobreza dos estilos<br />

românico e gótico expressariam um período<br />

medíocre da história da humanidade.<br />

TEXTO: 2 - Comum à questão: 26<br />

Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros,<br />

sonharam com a pan-Europa que, com a inclusão de<br />

mais dez países, se tornou uma realidade irreversível. Os<br />

antecedentes da União Europeia são assim, alguns mais<br />

respeitáveis do que outros. Durante muito tempo depois<br />

da tentativa de Carlos Magno de substituir o império<br />

romano pelo seu, uma identidade europeia se definia<br />

mais pelo que não era do que pelo que era: cristã e não<br />

muçulmana, civilizada em vez de bárbara (e, portanto,<br />

com o direito de subjugar e europeizar os bárbaros –<br />

isto é, o resto do mundo).(Luis Fernando Verissimo.O mundo é<br />

bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008)<br />

26 - (PUC Camp SP) O imperador medieval, a que o<br />

texto de Luis Fernando Veríssimo se refere, estimulou a<br />

criação de escolas em todo o império, provocando uma<br />

intensa renovação cultural, chamada de renascimento<br />

carolíngio. A efervescência cultural dessa época<br />

possibilitou<br />

a) o intercâmbio de ideias, notícias e formas de<br />

comportamento que mudaram a vida política e a<br />

prática religiosa no mundo feudal.<br />

b) o avanço em diversas áreas do conhecimento, como<br />

a invenção de novos métodos para a construção de<br />

canais de irrigação.<br />

125


c) a difusão da cultura letrada, contribuindo assim para<br />

a preservação de diversas obras da antiguidade<br />

greco-romana.<br />

d) a fusão da cultura greco-romana com a cultura<br />

carolíngia, transformando uma e outra em uma nova<br />

forma de cultura: a medieval.<br />

e) a substituição da concepção clássica de que “o<br />

homem é a medida de todas as coisas” pelo<br />

teocentrismo cristão da Igreja Católica.<br />

126


GABARITO:<br />

1) Gab: C<br />

2) Gab:<br />

a) O candidato poderá destacar, dentre outras: que a<br />

Igreja era um poderoso senhor feudal e, nesta condição,<br />

administrava vastos territórios (senhorios e cidades),<br />

exercendo a justiça e cobrando impostos.<br />

b) O candidato poderá destacar, dentre outros elementos:<br />

a formação e envio de religiosos para promover a<br />

conversão de pagãos; a organização e participação no<br />

movimento cruzadístico para combater os infiéis.<br />

3) Gab: 13<br />

4) Gab: C<br />

5) Gab:<br />

Século X – apogeu:<br />

Características:<br />

• vigência das relações de suserania e vassalagem;<br />

• complexa hierarquia feudal, baseada nas relações de<br />

dependência entre os diferentes papéis representados<br />

pela nobreza;<br />

• confirmação do poder figurativo dos reis;<br />

• fortalecimento da sociedade estamental, legitimada pela<br />

ideologia católica expressa na “Cidade de Deus” de<br />

Santo Agostinho.<br />

• fortalecimento do feudalismo como modo de produção:<br />

terra/servidão/economia fechada e autossuficiente.<br />

Século XV – declínio:<br />

Fatores responsáveis:<br />

• crescimento demográfico na Europa Ocidental criando<br />

novas demandas de consumo;<br />

• renascimento das cidades e ocorrência de lutas visando<br />

à autonomia por parte das mais fortes e desenvolvidas;<br />

•revolução comercial na área europeia/mediterrânea,<br />

trazendo novas práticas financeiras e comerciais;<br />

• mudanças na estrutura social com a formação da<br />

burguesia comercial;<br />

• guerra dos Cem Anos;<br />

• peste Negra;<br />

•formação das monarquias nacionais e expansão<br />

marítimo-comercial.<br />

6) Gab: C<br />

7) Gab: C<br />

8) Gab: B<br />

9) Gab: C<br />

10) Gab: C<br />

11) Gab: B<br />

12) Gab: C<br />

13) Gab: A<br />

14) Gab: C<br />

15) Gab: E<br />

16) Gab: B<br />

17) Gab: A<br />

18) Gab: 10<br />

19) Gab: C<br />

20) Gab: D<br />

21) Gab:<br />

a) A partir do momento em que surge em Roma o<br />

sistema de colonato, introduzido pelo imperador<br />

Constantino, como medida salutar que salva–guardaria a<br />

segurança dos plebeus e patrícios nas zonas rurais do<br />

Império, bem como o próprio território do Império,<br />

contra as invasões bárbaras, abriu–se margem para os<br />

laços feudais de servidão. Isto porque ao mesmo tempo<br />

em que patrícios teriam sua sobrevivência, bem como a<br />

sobrevivência do Império assegurada pelo trabalho dos<br />

plebeus nas zonas rurais, estes teriam moradia,<br />

alimentação e proteção assegurada nas propriedades dos<br />

patrícios.<br />

b) As invasões germânicas amedrontavam, aterrorizavam<br />

as populações, que se ruralizaram, se encastelaram<br />

exatamente para se proteger do caos que se instaurava<br />

em Roma. E na medida em que os germânicos<br />

penetravam o Império Romano, se fixavam e fundavam<br />

seus reinos, consolidavam também suas práticas e<br />

127


instituições sócio–políticas, que influenciaram grande<br />

parte do oriente europeu, originando o feudalismo.<br />

22) Gab: D<br />

23) Gab: A<br />

24) Gab: 15<br />

25) Gab: B<br />

26) Gab: C<br />

128


BAIXA IDADE MÉDIA SÉC. XI-XV<br />

1. TRANSFORMAÇÕES INTERNAS –<br />

EXPANSÃO FEUDAL<br />

Se até o século XI, a instabilidade gerada pela<br />

fragmentação do Império Carolíngio e pela onda de<br />

invasões bárbaras do século IX configuraram a plenitude<br />

da ordem feudal, marcada pela produção material<br />

limitada à subsistência majoritariamente rural, com<br />

mínima prática comercial, a partir do século XI, o<br />

sistema feudal incorporará aspectos de uma realidade de<br />

expansão, geradora dos pressupostos de transformação<br />

do próprio feudalismo.<br />

Com o fim das invasões violentas e a incorporação de<br />

melhorias técnicas, a Europa conheceu um quadro de<br />

estabilidade entre os séculos XI e XIII; decorrente de<br />

inovações técnicas, garantiu o aumento da produtividade,<br />

o crescente aumento demográfico e a dinamização das<br />

atividades comerciais e urbanas. Também<br />

desencadearia as condições materiais para a realização<br />

das Cruzadas e alterações de ordem sociais bastante<br />

significativas, como o surgimento da classe burguesa e<br />

os movimentos camponeses de libertação da condição<br />

servil.<br />

Cessadas as invasões dos magiares, vikings e<br />

muçulmanos e, com o próprio esforço católico em<br />

reduzir a violência, com a instituição da Trégua ou Paz<br />

de Deus, a onda de violência agravada nos séculos IX e<br />

X sofre um recuo significativo. O quadro de diminuição<br />

de conflitos permitiu um avanço nas inovações técnicas,<br />

que reduziriam o desgaste do trabalho e ampliaria a<br />

capacidade produtiva, combinando novos instrumentos<br />

de trabalho à ocupação de terras virgens ou ainda não<br />

aproveitadas ao cultivo.<br />

O uso do arado de ferro ou charrua, a difusão dos<br />

moinhos de vento ou hidráulicos e a expansão dos<br />

sistemas de agricultura de três campos, bem como a<br />

incorporação dos campos virgens, pela derrubada de<br />

bosque ou drenagem de pântanos, foram determinantes<br />

para o aumento da oferta de alimento e para a maior<br />

sobrevida de trabalhadores, resultante da redução do<br />

esforço e a diminuição da incidência da fome. A<br />

população europeia de cerca de 20 milhões no século X,<br />

chegaria aos 54 milhões no início do século XIV.<br />

2. REVIGORAMENTO URBANO OMERCIAL<br />

Esse crescimento demográfico definiu um excesso de<br />

camponeses nos limites dos feudos, que dispensados<br />

pelos senhores, recorriam ou às práticas banditistas como<br />

salteadores nos caminhos da Europa medieval, ou fariam<br />

o caminho de retorno às cidades, dedicando-se ao<br />

comércio ou ao artesanato. Até o século XI e XII, as<br />

cidades perderam seu papel de espaço fundamental das<br />

relações sociais, restringindo à condição de cidades<br />

episcopais, sedes de bispados etc., sem deixar, no<br />

entanto, de existirem completamente. A partir desse<br />

momento, passam a ter sua ocupação novamente<br />

estimulada pelo crescimento populacional e abrigo das<br />

atividades comerciais e artesanais, relacionando campo e<br />

cidade numa relação direta de complementaridade<br />

mercantil.<br />

Além da ocupação das cidades já existentes, novos<br />

núcleos urbanos se formariam, combinando a expansão<br />

da atividade produtiva à constituição de um excedente<br />

comercializável, que associara renascimento comercial<br />

e urbano como faces de uma mesma moeda na<br />

renovação do mundo feudal. No auge do feudalismo, as<br />

relações comerciais que nunca cessaram completamente,<br />

geralmente ocorriam em feiras temporárias, de instalação<br />

irregular, garantindo a obtenção de produtos<br />

fundamentais não produzidos no interior dos feudos,<br />

como metais e sal, ou produtos de luxo da aristocracia.<br />

129


Convivendo com o mundo feudal, essas cidades<br />

acelerariam as transformações sociais do período; não<br />

apenas por viabilizar a formação de outros grupos sociais<br />

a partir da diversificação das atividades econômicas, mas<br />

também por terem se tornado um importante atrativo<br />

para a população rural, que fugiam em busca de ascensão<br />

econômico-social; em algumas cidades, um servo fugido<br />

não reclamado no tempo de um ano era plenamente<br />

incorporado como cidadão, submetido às especificidades<br />

daquela cidade, confirmando a máxima do ditado que<br />

dizia “o ar da cidade liberta”.<br />

Ilustração das feiras medievais<br />

Na Baixa Idade Média, o recrudescimento da atividade<br />

comercial levou artesãos e mercadores a fixassem suas<br />

feiras em rotas e entroncamentos comerciais marítimos<br />

ou terrestres, com preferência a instalarem-se próximos a<br />

castelos ou catedrais, de onde negociavam proteção e<br />

segurança à atividade comercial através do pagamento de<br />

tributos aos próprios senhores feudais. Constituíam-se<br />

assim, os burgos e, solidificavam uma classe urbana<br />

cada vez mais vinculada ao comercio identificada como<br />

burguesia.<br />

Ilustração dos Burgos Medievais<br />

A aglomeração desses comerciantes exigiu o<br />

atendimento de profissionais diversos e indispensáveis,<br />

capazes de garantir a plenitude do comércio, como as<br />

casas de câmbio, ou ferradores de cavalos, fabricantes de<br />

rodas e eixos para as carroças, abastecimento de<br />

alimentos, diversificando as atividades e estimulando o<br />

trabalho da mão-de-obra especializada urbana que mais<br />

tarde passaria a ser organizada pelas corporações de<br />

oficio, no caso do artesanato.<br />

130<br />

A expansão econômica dos burgos conduzia sua<br />

população ao natural esforço de desligamento dos<br />

senhores feudais ao qual estavam submetidos. As<br />

comunas eram associações de ricos comerciantes, que<br />

através da negociação de cartas de franquia, buscavam<br />

obter sua liberdade de organização. Em caso de<br />

desinteresse do senhor na negociação das cartas, não era<br />

raro que os comerciantes contratassem mercenários para<br />

o enfrentamento, nas chamadas rebeliões comunais, a<br />

fim de garantirem a própria administração de suas<br />

cidades independentes. Muitos monarcas apoiaram esses<br />

movimentos, no evidente interesse de enfraquecer a<br />

nobreza medieval e garantir o apoio da burguesia ao que<br />

mais tarde viria se configurar na centralização política<br />

dos Estados Nacionais.<br />

Independentes, essas cidades organizam-se de forma<br />

autônoma, com sistemas próprios de medida e pesagem,<br />

sistema monetário particular, assim como os sistemas<br />

judiciais e administrativos. Surgidas especialmente em<br />

função das atividades comerciais e mercantis,<br />

organizaram instituições próprias com o objetivo de<br />

proteger e estimular tais atividades.


Nas corporações de oficio, cada setor artesanal<br />

organizava-se de acordo com sua especialização<br />

(ferreiros, pedreiros, alfaiate, marceneiro etc.),<br />

objetivando evitar a concorrência, fixar preços de<br />

produtos e serviços prestados, salários pagos e controlar<br />

qualidade e quantidade de mercadorias. Organizavam-se<br />

por uma rígida hierarquia, em que se distinguiam os<br />

mestres (donos de oficinas), oficial ou jornaleiro<br />

(trabalhador assalariado que dominava o oficio) e o<br />

aprendiz (este recebia alimento e moradia em troca do<br />

trabalho, enquanto aprendia o oficio); nesse novo tipo de<br />

relação, a mobilidade social definia-se a partir do<br />

aprendizado deum ofício e do acúmulo de recebimento<br />

de salário, evidenciando as origens dos princípios<br />

fundamentais da ordem capitalista.<br />

Os comerciantes também organizaram suas associações,<br />

seja para a obtenção de mercadorias a longa distância,<br />

pela proteção de rotas de comércio, ou mesmo para<br />

definir áreas de atuação; identificadas como guildas ou<br />

hansas, algumas delas se destacam na Europa da Baixa<br />

Idade Média, como a Liga Hanseática, reunindo<br />

comerciantes de varias cidades da região de Flandres,<br />

principal eixo comercial do norte da Europa, e a Liga<br />

Teutônica, englobando cidades da Europa Central, atual<br />

Alemanha.<br />

O revigoramento comercial evidente no interior da<br />

Europa determinou a necessidade de atividades<br />

financeiras capazes de estruturar a ação comercial.<br />

Assim, práticas como a concessão de cartas de crédito, o<br />

surgimento de financiadores de capital a juros, a<br />

instalação de casas de câmbio e a atividade dos<br />

banqueiros garantiram um aumento circunstancial da<br />

monetarização da economia medieval. Toda essa nova<br />

dinâmica comercial, financeira, organizacional, urbana e<br />

social, embora ainda convivessem com práticas<br />

tipicamente feudais, reafirmavam a condição de uma<br />

realidade em transição, que passaria a incompatibilizarse<br />

com a ordem político-social do feudalismo.<br />

3. CRUZADAS<br />

As transformações da Baixa Idade Média coincidiram e<br />

em parte foram determinadas pelo próprio movimento<br />

das Cruzadas. Tratou-se essencialmente de uma intensa<br />

mobilização de liderança católica e composição da<br />

nobreza medieval europeia em direção ao Oriente, no<br />

combate aos infiéis muçulmanos, justificando pela<br />

necessidade afirmada de retomar a Terra Santa<br />

(Jerusalém) aos infiéis.<br />

Apesar da iniciativa católica e da insistência no objetivo<br />

de combate aos infiéis, outros atores e outros interesses<br />

se associaram ao desenvolvimento das Cruzadas. Reis,<br />

nobres e comerciantes enxergaram no empreendimento<br />

direcionado ao Oriente, a possibilidade de ganhos e<br />

atendimento de intenções diversas.<br />

A nobreza, também alvo do crescimento demográfico<br />

decorrente da expansão entre os séculos XI e XIII, viu<br />

tornarem se insuficientes as terras da Europa para<br />

legitimar sua condição privilegiada. Assim, sua atividade<br />

guerreira voltou-se para conflitos internos que<br />

colocavam em xeque a ordem feudal. A Igreja, ao<br />

convocá-los à luta contra os infiéis, desviava o foco<br />

violento da Europa e, buscava assegurar aos nobres a<br />

conquista de terras que poderiam converter se em novos<br />

feudos e herança aos descendentes não primogênitos.<br />

Muitos desses nobres também se motivaram por um forte<br />

compromisso religioso cristão, assim como pela<br />

perspectiva de perdão de dívidas materiais com a Igreja<br />

ou de promessa da salvação.<br />

Aos comerciantes coube o financiamento e patrocínio da<br />

estrutura necessária ao empreendimento e deslocamento<br />

das Cruzadas, interesse definido a partir de objetivos<br />

mercantis; especialmente a classe burguesa viu nesse<br />

projeto a possibilidade de ganhos no comércio das<br />

mercadorias orientais de grande valor no Ocidente e a<br />

possibilidade de restringir a dominação muçulmana nas<br />

áreas de circulação mediterrânea; exemplo notável dessa<br />

perspectiva foi a Quarta Cruzada, que sequer destinou-se<br />

a Jerusalém, mas a Constantinopla, acusada de heresia<br />

pela ruptura do Cisma do Oriente e, que garantiu a<br />

comerciantes venezianos o controle dessa importante<br />

rota mercantil por décadas.<br />

131


A Quarta Cruzada, no entanto, não parou por aí.<br />

Alexis, filho do imperador bizantino Isaac II Ângelo, foi<br />

destronado por ordem de seu tio, Alexis III Ângelo, que<br />

ainda mandou prender seu pai. O príncipe Alexis propôs<br />

então aos latinos outra troca: pagaria a dívida dos<br />

cruzados com Veneza se eles o ajudassem a reaver o<br />

trono e expulsar o usurpador.<br />

Libertar os locais sagrados cristãos ocupados pelos<br />

muçulmanos não foi o único objetivo dessas expedições<br />

Todas as Cruzadas visavam a Terra Santa – FALSO<br />

Olivier Tosseri.<br />

132<br />

Nem todas as oito cruzadas promovidas entre 1095 e<br />

1270 tiveram como objetivo a luta contra os muçulmanos<br />

ou a libertação dos locais sagrados. Em 1198, o papa<br />

Inocêncio III convocou a Quarta Cruzada, mas depois do<br />

fracasso da anterior sua ideia não gerou grande<br />

entusiasmo. O objetivo era conquistar o Egito, que<br />

poderia servir de moeda de troca para recuperar<br />

Jerusalém, reconquistada alguns anos antes por Saladino.<br />

Quem aceitou montar uma frota para transportar 30<br />

mil homens foi a toda-poderosa República de Veneza,<br />

principal potência comercial do Mediterrâneo. Em<br />

meados de 1202, as tropas cruzadas se reuniram sob as<br />

ordens de Bonifácio de Montferrat, mas o contingente<br />

era bem menos numeroso do que o previsto. O doge de<br />

Veneza, Enrico Dandolo, não aceitou que os navios<br />

saíssem do porto sem que a soma fixada pela viagem<br />

fosse paga com antecedência. Endividados, os cruzados<br />

aceitaram o negócio que lhes foi proposto: em troca do<br />

adiamento do pagamento, eles se comprometiam a<br />

conquistar o porto cristão de Zara, na costa da Dalmácia,<br />

e entregá-lo aos venezianos. Apesar do receio provocado<br />

pela ideia de lutar contra outros cristãos, a cidade foi<br />

tomada, o que provocou a excomunhão dos cruzados por<br />

Inocêncio III.<br />

Os venezianos mais do que gostaram da ideia.<br />

Convencidos de que os bizantinos não tinham apoiado o<br />

suficiente a luta contra os muçulmanos e de que<br />

deveriam ser punidos, os cruzados tomaram<br />

Constantinopla de assalto em 1203. Alexis III fugiu e foi<br />

substituído por Alexis IV, nomeado coimperador, com<br />

seu pai, Isaac II. Mas o novo soberano, considerado um<br />

traidor pela população, não conseguiu impor sua<br />

autoridade. Além disso, como seu predecessor havia<br />

esvaziado os cofres antes de fugir às pressas, ele não<br />

tinha como cumprir a promessa feita aos cruzados. Estes,<br />

por sua vez, mantinham relações cada vez mais tensas<br />

com os bizantinos, que suportavam mal sua presença e<br />

cobiça.<br />

A situação culminou com uma conjuração que<br />

derrubou e assassinou Alexis IV. Constantinopla foi<br />

tomada pelos cruzados em 12 de abril de 1204 e<br />

saqueada durante três dias seguidos. O acontecimento, de<br />

uma extrema brutalidade, chocou o mundo cristão e<br />

cristalizou o cisma que desde 1054 opu-nha católicos a<br />

ortodoxos.<br />

Um Império Latino do Oriente foi então fundado,<br />

enquanto os venezianos garantiam o monopólio<br />

comercial do império. Esse novo Estado latino oriental,<br />

porém, não era estável e foi rapidamente reconquistado<br />

pelos gregos. Qual foi o balanço dessa cruzada, em que<br />

os cristãos não enfrentaram um único muçulmano? Uma<br />

cristandade dividida e um Império Bizantino que, apesar<br />

de restabelecido, permaneceria por muito tempo<br />

enfraquecido, frente à ameaça otomana.<br />

Apesar de não ter conseguido assegurar a plena retomada<br />

do Oriente Médio aos cristãos, as Cruzadas<br />

ressignificaram sobre vários aspectos a realidade<br />

medieval. Do ponto de vista cultural, incorporou hábitos<br />

de consumos das mercadorias exóticas do Oriente,<br />

estimulando um comércio internacional com a Europa;<br />

reforçou a rivalidade entre cristãos e muçulmanos, que<br />

até os nossos dias se mantém latente, sob variadas<br />

ressignificações históricas; favoreceu um importante


intercâmbio cultural e dinamização de informações<br />

outrora restritas ao clero, estimulando o Renascimento<br />

Cultural.<br />

Do ponto de vista político, as Cruzadas foram<br />

determinantes no enfraquecimento da aristocracia<br />

feudal, especialmente pelo empobrecimento de parte<br />

dessa classe. Ademais, teve impacto significativo no<br />

progressivo fortalecimento do poder real, tendo alguns<br />

deles se destacado como lideranças das Cruzadas.<br />

Entretanto, do ponto de vista econômico, talvez tenha<br />

revelado sua maior contribuição. O prolongamento<br />

temporal das incursões dos cruzados ao Oriente<br />

desencadearia progressivamente a reabertura do Mar<br />

Mediterrâneo, garantindo uma dinâmica comercial<br />

ampliada. Destacaram-se especialmente as cidades<br />

italianas, cuja burguesia se tornaria a mais privilegiada<br />

da Baixa Idade Média, como grandes intermediários do<br />

comércio de especiarias.<br />

4. CRISE GERAL DO SÉCULO XIV<br />

O processo de expansão registrado entre os séculos XI e<br />

XIII sofreriam um grave revés no século XIV, marcado<br />

por uma situação de crise geral. A combinação de<br />

redução drástica de produção, situações contagiantes<br />

de fome, redução demográfica, expansão da Peste<br />

Negra, situação de conflito generalizado na Guerra dos<br />

Cem Anos e rebeliões camponesas mergulhariam a<br />

Europa numa crise sem precedentes.<br />

A produtividade agrícola esteve seriamente prejudicada<br />

pela ausência de novas terras a serem incorporadas ao<br />

circuito produtivo, combinado a uma série de fatores de<br />

instabilidade climática variados, como geadas ou<br />

estiagens prolongadas, que ao diminuírem a oferta de<br />

alimento geram carestia ou quadros de fome entre os<br />

mais pobres. A menor oferta de alimento não apenas<br />

iniciou a redução demográfica, como fragilizou os<br />

sobreviventes na vulnerabilidade à epidemia da Peste<br />

Negra, que a partir do Leste europeu expandiu-se pelo<br />

continente e responsabilizou-se pela dizimação de mais<br />

de um terço da população europeia.<br />

Drauzio Varella<br />

A PESTE NEGRA<br />

Foi a mais mortal das epidemias. Entre 1347 e 1351,<br />

a peste negra dizimou metade da população europeia.<br />

Embora haja desacordo, as estimativas são de 75 a<br />

200 milhões de mortes. Estudiosos mais conservadores<br />

estimam que a população mundial de 450 milhões teria<br />

caído para 350 a 370 milhões.<br />

A bactéria causadora da epidemia teve origem na<br />

China ou na Ásia Central, de onde viajou pela rota da<br />

seda, nos intestinos das pulgas que infestavam os ratos.<br />

Chegando ao Mediterrâneo, os ratos se encarregaram de<br />

levá-las para os navios, que disseminaram a doença pelos<br />

portos em que atracavam.<br />

Relatos históricos dão conta do sofrimento humano.<br />

O poeta Boccaccio, que viveu em Florença nessa época,<br />

fez a seguinte descrição:<br />

“Em homens e mulheres, ela se manifesta pela<br />

emergência de certos tumores nas virilhas e axilas,<br />

alguns dos quais chegam ao tamanho de uma maçã;<br />

outros, ao de um ovo… Dessas duas regiões do corpo<br />

esses tumores mortais logo começam a propagar-se e a<br />

espalhar-se em todas as direções; depois disso, a<br />

apresentação se modifica, em muitos casos manchas<br />

negras ou lívidas aparecem nos braços, nas coxas e<br />

outras partes, de início poucas e grandes, mais tarde<br />

pequenas e numerosas. Assim como os tumores, as<br />

manchas negras são sinais infalíveis de que a morte se<br />

aproxima daqueles nos quais se manifestam”.<br />

Faltou dizer que a febre atingia 41 graus, os vômitos<br />

eram sanguinolentos, e que alguns desenvolviam<br />

complicações pulmonares, enquanto outros se curavam<br />

espontaneamente. Cerca de 80% iam a óbito em uma<br />

semana, proporção que aumentava para 90% quando<br />

havia comprometimento pulmonar e beirava 100% nos<br />

casos de septicemia.<br />

As explicações para as epidemias de peste que<br />

já afligiam a Europa nos tempos de Justiniano, no século<br />

8, eram imaginativas: conjunção de três planetas que<br />

espalharia pestilência no ar, terremotos, mendigos,<br />

peregrinos, estrangeiros, envenenamento dos poços de<br />

água pelos judeus (sempre eles), suposições que<br />

justificavam massacres sangrentos.<br />

Foi apenas em 1894, quando um grupo de<br />

bacteriologistas visitou Hong Kong, que o agente<br />

etiológico, a Yersinia pestis, foi identificado por<br />

Alexandre Yersin.<br />

Curiosamente, mesmo antes dos antibióticos, os casos<br />

mais recentes de peste não provocavam mortalidade<br />

elevada. As bactérias daqueles tempos seriam mais<br />

virulentas ou as pessoas mais fracas e desnutridas?<br />

133


134<br />

O advento de técnicas modernas de sequenciamento<br />

de DNA tem ajudado a decifrar essa questão. Um grupo<br />

de canadenses e americanos extraiu o DNA encontrado<br />

em dentes e ossos de pessoas enterradas no cemitério de<br />

East Smithfield, em Londres, última morada das vítimas<br />

da peste do século 14.<br />

Em 2011, os resultados publicados na revista Nature<br />

mostraram que a Yersinia pestis daquela época está<br />

extinta, de fato. O genoma desse ancestral, no entanto, é<br />

bastante similar ao da bactéria de hoje.<br />

Trabalhando com amostras antigas e recentes da<br />

bactéria, outros grupos observaram que a peste europeia<br />

foi causada por uma das 11 cepas que já circulavam na<br />

época de Justiniano. Entre os séculos 6 e 8, teria ocorrido<br />

um “big bang” de diversidade entre as yersínias,<br />

surgindo cepas novas dotadas de agressividade variável.<br />

De acordo com esse modelo, deslocamentos humanos<br />

como os das Cruzadas e outras guerras, teriam criado<br />

pressões seletivas para que as bactérias se adaptassem<br />

rapidamente a ambientes estranhos e novos hospedeiros.<br />

Nessa luta pela sobrevivência, teriam levado vantagem<br />

as yersínias mais virulentas.<br />

A partir de 1351, quando a epidemia europeia<br />

arrefeceu, a cepa virulenta que lhe havia dado origem<br />

pôde replicar-se com menos frequência, tornando-se<br />

mais estável, portanto mais semelhante às que circulam<br />

hoje entre seres humanos e roedores.<br />

Estudos como esses têm sido realizados com os<br />

agentes de enfermidades responsáveis pelas mortes em<br />

massa do passado: varíola, tuberculose, hanseníase,<br />

sífilis e até o da praga da batata que matou de fome um<br />

milhão de irlandeses, entre 1845 e 1852.<br />

Na santa ignorância em que viviam, quando nossos<br />

antepassados medievais imaginariam que, séculos mais<br />

tarde, desvendaríamos os segredos mais íntimos dos<br />

germes que lhes tiraram a vida?<br />

A fuga de trabalhadores das áreas infectadas e a redução<br />

drástica da produção instalaria uma quadro de crise geral.<br />

A carência dificultava o comércio, as cidades tomadas<br />

por epidemia se esvaziavam e a nobreza se esforçava por<br />

explorar ainda mais os servos sobreviventes, estimulando<br />

uma onda de frequentes rebeliões camponesas, que na<br />

França foram genericamente conhecidas como jaqueries.<br />

Embora muitas dessas revoltas camponesas tenham sido<br />

derrotadas, como na jaquerie francesa que teve prejuízo<br />

de mais de 20 mil camponeses mortos, estava evidente à<br />

nobreza medieval a dificuldade em manter a ordem<br />

social. Também nessa perspectiva, alguns nobres<br />

recorrerão à liderança monárquica em apoio à projeção<br />

de sua autoridade centralizada, a fim de garantir a<br />

contenção das revoltas populares.<br />

Outro fator de instabilidade nos anos da Baixa Idade<br />

Média foi a eclosão do prolongado conflito da Guerra<br />

dos Cem Anos. Opondo as monarquias feudais das<br />

Inglaterra e Franca, em decorrência especial do<br />

agravamento de tensões sucessórias e disputa pelo<br />

controle da afortunada região de Flandres, gerou sério<br />

prejuízo ao comércio, além de estimular a partir da<br />

formação de exércitos profissionais e do sentimento de<br />

nacionalidade, a crise das autoridades feudais em<br />

detrimento do fortalecimento do monarca.<br />

FRANÇA E INGLATERRA: MAIS DE UM<br />

SÉCULO DE LUTAS<br />

A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) durou, na<br />

verdade, muito mais que o limitado e arbitrário quadro<br />

cronológico de cem anos de lutas, escaramuças e<br />

batalhas entre a França dos Valois e a Inglaterra dos<br />

Plantagenetas.<br />

Durante os séculos XIV e XV, cinco reis franceses se<br />

defrontaram sucessivamente com outros tantos monarcas<br />

ingleses. Três gerações inteiras viveram, se não<br />

guerreando sempre, pelo menos num constante clima de<br />

mobilização geral. A Guerra dos Cem Anos consistiu, de<br />

fato, numa série de conflitos, com um longo intervalo de<br />

35 anos de trégua. Porém, mesmo na trégua, não havia<br />

paz: quando cessavam as batalhas, seguiam-se as<br />

pilhagens, a escassez de alimentos. E até uma terrível<br />

epidemia assolou a Europa – a peste negra.<br />

A França saiu vitoriosa desse duelo secular, que<br />

deixou ambos os países profundamente modificados.<br />

OS DECÊNIOS MAIS NEGROS DA FRANÇA<br />

Ao morrer, em 1314, Filipe, o Belo, deixou três filhos<br />

– Luís X, Filipe V e Carlos IV –, que reinaram<br />

sucessivamente sem deixar herdeiros, extinguindo-se<br />

assim a dinastia capetíngia.


Mas, na realidade, havia ainda uma capetíngia direta,<br />

que não aceitava absolutamente a extinção da dinastia:<br />

era a filha de Filipe, o Belo, que tinha se casado com o<br />

rei da Inglaterra. Eduardo III. Assim, se uma mulher<br />

pudesse transmitir a herança da coroa, esta deveria, sem<br />

dúvida, pertencer ao rei inglês. Mas os franceses,<br />

logicamente, não aceitavam essa possibilidade.<br />

O INÍCIO DA INTERMINÁVEL GUERRA<br />

Para acabar com a pretensão inglesa, os magistrados<br />

franceses invocaram a antiga lei sílica, dos francos, que<br />

excluía as mulheres (e, claro, seus descendentes do trono.<br />

E deram a coroa a um dos sobrinhos de Carlos IV, Filipe<br />

de Valois, que recebeu o nome de Filipe VI e reinou de<br />

1328 a 1350. Nada disso perturbou Eduardo III, que<br />

colocou em seu brasão a flor-de-lis francesa junta-mente<br />

com o leopardo inglês. Quando Filipe VI reto-mau o<br />

ducado de Guiena, Eduardo III iniciou a guerra: era o<br />

ano de 1337.<br />

UM FLAGELO PARA TODOS: A PESTE<br />

Além da guerra, outro flagelo abateu-se não somente<br />

sobre a França, mas sobre toda a Europa: a peste.<br />

Trazida do Oriente pelos navios mercantes e pelos<br />

peregrinos, foi disseminada pelos ratos, alimentada pelas<br />

péssimas condições de higiene das cidades (cada vez<br />

mais populosas), difundindo-se rapidamente a partir de<br />

1347. O contágio era imediato e mortífero, mesmo<br />

porque grande parte da população vivia em condições<br />

miseráveis.<br />

Punha-se a culpa nas conjunções astrológicas<br />

nefastas. Posteriormente, encontraram até um bode<br />

expiatório: os judeus. Nas cidades de Estrasburgo,<br />

Espira, Mogúncia e Worms, acusados de espalhar<br />

deliberadamente o contágio, milhares deles foram<br />

massacrados ou queimados. Outros viam na peste um<br />

castigo divino e propunham a expiação das culpas<br />

através de missas e outros sacramentos. Por volta da<br />

metade do século, assim como surgiu, a peste também<br />

desapareceu, inesperadamente. Ceifou, porém, um terço<br />

da população euro-peia da época.<br />

AS PRIMEIRAS DERROTAS<br />

A desproporção entre os dois países beligerantes era<br />

óbvia. Com uma população acima de 16 milhões de<br />

habitantes, a França era o país mais populoso da Europa.<br />

A Inglaterra contava pouco mais de 4 milhões de<br />

habitantes. Mas Eduardo III levava uma vantagem:<br />

suaorganização estatal e militar era muito mais moderna.<br />

O elemento principal do exército inglês era a infantaria,<br />

recrutada entre os homens mais vigorosos e que mais<br />

bem atiravam. Sua organização era perfeita: os arqueiros<br />

dispunham-se em fileiras cerradas, e atiravam<br />

alternadamente, de modo a provocar uma constante<br />

"chuva de flechas”.<br />

Quando os franceses quiseram assumir o controle da<br />

cidade de Flandres, cuja prosperidade provinha dos<br />

tecidos confeccionados com a lã importada da Inglaterra,<br />

Eduardo III enviou sua frota para interceptar os navi-os<br />

franceses. No encontro de Écluse (1340), a esquadra da<br />

flor-de-lis foi aniquilada. Seis anos mais tarde, o rei<br />

inglês desembarcou na França e venceu o exército inimigo<br />

em Crécy. Meses depois, tomou o porto de Calais,<br />

no canal da Mancha. Em 1356, veio o golpe mais duro: o<br />

exército francês foi destroçado em Poitiers. Quatro anos<br />

depois, sem uma parte de seu território (o sul do Loire,<br />

Calais e o estuário do Sena), a França assina a paz.<br />

UMA REVOLUÇÃO FRUSTRADA<br />

A devastação da guerra e da peste, bem como a<br />

carestia crescente dos gêneros, exasperaram os ânimos.<br />

A França estava à beira de uma revolução.<br />

Em Paris, a burguesia e os plebeus (sob a liderança<br />

de Etienne Marcel, chefe da corporação dos mercadores)<br />

insurgiam-se contra os nobres. Exigiam a abolição dos<br />

privilégios assegurados à nobreza (constituída pelos<br />

donos de terra), o controle sobre os impostos e sobre as<br />

despesas do rei e uma reforma judiciária. Contra o perigo<br />

da revolução aliaram-se a nobreza e a alta burguesia.<br />

O restante da burguesia parisiense também não estava<br />

todo a favor da revolução: afinal, havia a suspeita de que<br />

Étienne Marcel simpatizava com os ingleses. E ele foi<br />

assassinado em 1358.<br />

No campo, a revolta explodiu com violência. Durante<br />

semanas, saques e incêndios de castelos foram comuns<br />

na França. Essa insurreição foi chamada de Jaqueria,<br />

nome tirado de Jacques Bonhomme, apelido dado pelos<br />

nobres aos camponeses.<br />

A França caiu numa espantosa anarquia e o rei era<br />

tachado publicamente de incapaz. Mas a repressão por<br />

parte da nobreza e da alta burguesia veio violentíssima.<br />

A revolução foi derrotada. Assim, quando em 1364<br />

135


136<br />

Carlos V subiu ao trono, a França encontrava-se<br />

exaurida.<br />

O COMEÇO DO FIM<br />

Duas construções podem dar uma idéia da<br />

personalidade do novo soberano, filho e sucessor de João<br />

II – Carlos V, chamado "o Sábio”. A primeira é sua<br />

residência em Paris, o famoso Louvre, construído por<br />

Filipe Augusto para servir de fortaleza. Carlos V<br />

ampliou-a, transformando-a num majestoso palácio. A<br />

segunda é uma fortaleza: a sinistra Bastilha, que ele<br />

construiu para garantir-se contra eventuais revoltas da<br />

própria população.<br />

É significativo que em 1789, no início da Revolução<br />

Francesa, o povo tenha destruído a Bastilha.<br />

A RECONQUISTA FRANCESA<br />

Esse soberano culto, que colecionava manuscritos<br />

raros e obras de arte e gostava do convívio de escritores,<br />

pintores e músicos, foi o artífice da primeira revanche<br />

francesa.<br />

Com um novo imposto sobre o sal (a gabela),<br />

conseguiu dinheiro e restabeleceu as arruinadas finanças<br />

da coroa. Utilizando enérgica ação policial, limpou o<br />

reino dos assaltantes, que o infestaram durante anos.<br />

Com inteligência, reorganizou o exército e suas<br />

lideranças. E ajudado pelo chefe-mor do exército, Du<br />

Guesclin, um notável “general”, renovou a arte militar<br />

francesa. Não mais a “cavalgada” épica dos barões<br />

feudais e os perigosos encontros frontais. Mas uma<br />

milícia moderna, treinada para utilizar uma nova tática:<br />

fazer guerra de escaramuças e, ao mesmo tempo,<br />

guarnecer bem as cidades, tentando isolar as tropas<br />

inglesas e dificultando-lhes o abastecimento e o repouso.<br />

Em poucos meses, o novo exército francês atacou<br />

uma a uma as várias guarnições inglesas, derrotando<br />

praticamente todas. Do início da campanha, em 1369, até<br />

a morte de Du Guesclin, em 1380, a França havia<br />

recuperado quase todo o território perdido. À Inglaterra<br />

restavam Calais, Cherburgo, Brest, Bordéus e Bayonne.<br />

Mas, em 1380, morrem o cérebro e o braço da<br />

reconquista: Carlos V e Du Guesclin.<br />

UMA NOVA INVASÃO<br />

Ao rei "sábio” sucedeu Carlos VI, o “louco”, incapaz,<br />

portanto, de governar. O duque de Borgonha e Luís de<br />

Orléans começam, então, a lutar pelo poder, levando a<br />

França a uma guerra civil. Em junho de 1415,<br />

aproveitando-se do caos interno, o rei da Inglaterra,<br />

Henrique V, desembarca na França. E em quatro meses<br />

recupera tudo e impõe uma dura derrota ao inimigo em<br />

Azincourt. A situação piorou nos anos seguintes. O<br />

poderoso duque de Borgonha aliou-se aos invasores. A<br />

nobreza, desorientada e dividida, não teve condições de<br />

impedir que o rei inglês desposasse Catarina, a filha de<br />

Carlos VI, e fosse reconhecido como herdeiro do trono<br />

pelo Tratado de Troyes, em 1420. E o delfim Carlos,<br />

sucessor designado por Carlos VI, que perdera todo o<br />

poder, foi expulso para Bourges, ao sul do rio Loire.<br />

Mas quando tudo parecia indicar que a França estava<br />

condenada a ser uma possessão inglesa, entra em cena<br />

uma moça, camponesa, chamada Joana d’Arc.<br />

A “DONZELA DE ORLÉANS”<br />

Uma camponesa iletrada, com pouco menos de 18<br />

anos, visionária e fanaticamente religiosa: esse é o retrato<br />

que todos faziam de Joana d’Arc no início de sua<br />

trajetória. Ela afirmava ter tido visões e ouvido vozes do<br />

céu que ordenavam que se dirigisse ao “verdadeiro” rei,<br />

o humilhado Carlos VII, para ajudá-lo a reconquistar o<br />

reino.<br />

A princípio tornaram-na por louca. Mas sua<br />

obstinação levou a melhor. No dia 6 de março de 1429,<br />

conseguiu que o rei a recebesse em Chinon. E, por fim,<br />

chegou convencê-lo a retomar a luta. Sob o comando<br />

dela, evidentemente.<br />

Juntando a ação às suas palavras, Joana vestiu uma<br />

armadura de soldado e conseguiu infundir tanta força<br />

moral aos poucos franceses fiéis a Carlos VII, que eles<br />

realizaram campanhas incríveis e seu número se<br />

multiplicou. Joana d’Arc recebeu o encargo de conduzir<br />

um exército em socorro de Orléans, assediada pelos<br />

ingleses.<br />

A 8 de maio, derrotados, os ingleses não somente<br />

abandonam a cidade, mas todo o vale do Loire. No dia<br />

18 de junho, são novamente derrotados em Patay. Um<br />

mês mais tarde, Carlos VII é solenemente coroado rei da<br />

França, na catedral de Reims.<br />

Joana d’Arc soube incutir nos franceses não apenas<br />

entusiasmo e confiança, mas sobretudo a consciência da


própria França co-mo nação (nacionalismo). O exército,<br />

sob a bandeira da flor-de-lis, consegue libertar Lyon,<br />

Soissons e Campiègne. Mas, nesta última, a 23 de abril<br />

de 1430, a famosa “Donzela de Orléans" é capturada<br />

pelas tropas do duque de Borganha, chefe de um grupo<br />

francês que simpatizava com os ingleses. Encarcerada,<br />

Joana d’Arc é, após longo processo, condenada à<br />

fogueira como herege. Sua execução deu-se' no dia 30 de<br />

maio de 1431, na praça pública de Rouen.<br />

Os ingleses pensaram que sua morte esvaziaria sua<br />

popularidade, mas aconteceu exatamente o contrário.<br />

Transformaram a heroína em mártir. Joana d’Arc se<br />

tornou mais poderosa depois da morte, e guiou os<br />

franceses à vitória.<br />

UM FINAL APAGADO<br />

Firmada uma trégua com o duque de Borgonha, que<br />

se retirava da luta, Carlos VII pôde retornar a Paris em<br />

1436. Treze anos depois, reconquistou a Normandia. Em<br />

1453, os ingleses que haviam se concentrado em Guiena<br />

foram massacrados. A luta continuou até que restou à<br />

Inglaterra só o porto de Calais. E a Guerra dos Cem<br />

Anos foi terminando de maneira quase imperceptível.<br />

Dessa longa luta restaram dois países duramente<br />

castigados. Mas em ambos a antiga nobreza feudal ainda<br />

era poderosa e pouco disposta a obedecer ao soberano.<br />

No entanto, havia um fato novo: a partir da Guerra dos<br />

Cem Anos começava a surgir um forte sentimento<br />

nacional, que tanto na Inglaterra como na França uniria a<br />

burguesia e a plebe em torno da monarquia. Assim, a<br />

consumação desse processo de modernização assinala a<br />

transição da antiga estrutura feudal para o Estado<br />

moderno, com organização administrativa, arrecadação<br />

de impostos e exército permanente.<br />

Em razão do longo período de guerras, da peste negra e<br />

das inúmeras revoltas camponesas, a grave situação da<br />

Europa levou o sistema feudal ao esgotamento. A crise<br />

social da nobreza tornou-se também política, de modo<br />

que com o apoio da burguesia e de parte da nobreza<br />

assustada com os movimentos rebeldes, a autoridade dos<br />

reis fez-se cada vez mais presente, como alternativa à<br />

estabilização do caos. Estava assim, garantido o<br />

precedente à formação das Monarquias Nacionais, golpe<br />

final nas estruturas medievais feudais já tão alteradas ao<br />

longo da Baixa Idade Média.<br />

RENASCIMENTO CULTURAL<br />

Nos séculos finais do Medievo as transformações<br />

econômicas foram responsáveis por uma ampla<br />

modificação da sociedade e pela emergência de valores<br />

renovados, que se materializaram na explosão cultural da<br />

arte e das demais representações renascentistas. A<br />

Península Itálica, com suas cidades e repúblicas, tornarse-ia<br />

o espaço privilegiado para essas inovações,<br />

reunindo uma série de condições econômicas, sociais e<br />

culturais favoráveis.<br />

1. AS ORIGENS DO RENASCIMENTO<br />

CULTURAL<br />

A Itália, por sua localização privilegiada, tornou-se<br />

intenso centro de comércio com a retomada da atividade<br />

mercantil ampliada pela movimentação das Cruzadas e<br />

pela interligação de tradicionais rotas entre o Oriente e o<br />

interior da Europa. Suas cidades reuniam importantes<br />

companhias de comércio e grupos financeiros que<br />

configuravam uma economia cada vez mais dinâmica e<br />

pujante.<br />

A classe burguesa, portanto, encontrava-se em condições<br />

materiais bastante favoráveis, e não hesitou em utilizarse<br />

do capital disponível em favor de sua afirmação<br />

social, junto aos quadros da aristocracia de sangue.<br />

Desse modo, compreendemos a recorrente prática de<br />

financiamento dos artistas propiciada pelos mecenas,<br />

com grandes investimentos em palácios, quadros,<br />

gravuras, afrescos, retratos pessoais etc.<br />

O mecenato é originariamente uma prática de<br />

estímulo à produção cultural e artística, que consiste no<br />

financiamento de artistas e de suas obras. Além disso, os<br />

artistas passavam a viver exclusivamente desse<br />

incentivo, ganhando ainda proteção política e prestígio<br />

social.<br />

A palavra deriva de Caius Mecenas, político romano,<br />

ministro e conselheiro do Imperador Otávio Augusto.<br />

Mecenas era um membro da classe dos cavaleiros e um<br />

rico cidadão romano que foi incumbido pelo imperador a<br />

financiar a produção artística e literária de vários nomes<br />

de vulto da cultura romana, como os poetas Virgílio,<br />

Horácio e Ovídio, bem como o historiador Tito Lívio.<br />

Durante o período das ações de incentivo à produção<br />

cultural de Mecenas e Otávio Augusto, conhecido como<br />

137


138<br />

o “Século de Augusto”, Roma conheceu importantes<br />

mudanças em seu cenário urbano. Templos, teatros,<br />

anfiteatros e esculturas foram construídos na capital do<br />

Império Romano. Otávio teria dito a seguinte frase sobre<br />

essas mudanças: “Orgulho-me de ter encontrado uma<br />

cidade de tijolos e ter deixado uma cidade de mármore”.<br />

A prática de incentivar a produção cultural e sustentar<br />

materialmente os artistas para que se dedicassem<br />

exclusivamente ao desenvolvimento de suas capacidades<br />

entrou em declínio com a Idade Média. Porém, durante o<br />

Renascimento Cultural europeu e com o enriquecimento<br />

de uma parcela dos comerciantes que habitava cidades da<br />

Península Itálica durante esse período, a prática do<br />

mecenato foi reavivada.<br />

Artistas como Leonardo Da Vince, Sandro Boticelli,<br />

Michelangelo Buonarotti, Rafael Sanzio, entre outros,<br />

foram financiados pelos mecenas do Renascimento.<br />

Esses eram homens enriquecidos com as atividades<br />

comerciais ou bancárias e, entre eles, destacaram-se<br />

Lourenço de Médici, Cosme de Médici, Galeazzo Maria<br />

Sforza (duque de Milão) e mesmo Francisco I, rei da<br />

França. A Igreja católica também atuou como importante<br />

mecenas no período, financiando, por exemplo,<br />

Michelangelo para a criação dos afrescos da Capela<br />

Sistina.<br />

Além de incentivar a produção cultural, o mecenato<br />

tem também um objetivo de dar projeção política aos que<br />

destinam recursos financeiros para as produções<br />

culturais. O poder político e econômico seria trabalhado<br />

de forma articulada com o incentivo cultural, dando<br />

projeção social ao mecenas, o que garantia ainda que seu<br />

nome fosse ligado durante muito tempo às belas obras de<br />

arte produzidas.<br />

A partir do século XIX, com as grandes fortunas<br />

proporcionadas pelo capitalismo industrial e financeiro,<br />

novamente o mecenato passou a ser realizado com mais<br />

intensidade pelos grandes burgueses. Nomes como<br />

Guggenheim, Whitney, Rockfeller e Ford investiram<br />

fortunas no incentivo cultural nos Estados Unidos,<br />

criando fundações que existem até os dias atuais.<br />

BRASIL ESCOLA<br />

Outro fator que também estimularia a afirmação<br />

renascentista na Itália, além do confirmado poder<br />

econômico, é a disputa de prestigio entre suas cidades,<br />

que embora tenham conseguido livrar-se da tutela feudal,<br />

não foi capaz de precocemente se organizarem em um<br />

único Estado Nacional, mas em várias cidades-Estados,<br />

ou repúblicas; frequentemente disputavam entre si<br />

hegemonia local e prestígio político, rivalizavam quanto<br />

ao controle do comércio internacional, protagonizavam<br />

disputas militares internas e externas, e, frequentemente,<br />

valeram-se da arte e do estímulo a essa produção para a<br />

garantia de legitimação e a glorificação de seus líderes,<br />

de origem nobre ou burguesa; desse modo, podemos<br />

assegurar que as disputas entre essas cidades,<br />

configuraram-se num importante estímulo às artes na<br />

Itália.<br />

Assim como as citadas condições econômicas e políticas<br />

da Itália favoreceram o Renascimento, consideramos<br />

ainda a sua condição de depositário de uma infinidade<br />

de tradições culturais de inspiração clássica, base da<br />

construção do ideário renascentista. Exemplares da<br />

arquitetura, escultura, templos, monumentos e<br />

manuscritos da arte da Antiguidade encontravam-se ali<br />

preservados e disponíveis à inspiração dos intelectuais e<br />

artistas do renascimento. Esse vigor intelectual seria<br />

reforçado ainda mais pelo afluxo de sábios cultos à<br />

Itália, que desde o início das ameaças dos turcos à<br />

Constantinopla, receberam exílio e proteção para si e<br />

seus documentos.<br />

A partir do século XV, com a difusão da Imprensa no<br />

ocidente, por Gutenberg, a afirmação das Monarquias<br />

Nacionais e a expansão das atividades comerciais<br />

financeiras para outras regiões da Europa, a renovação<br />

artística expandiu-se e ganharam novas identidades em<br />

regiões como os Países Baixos, Península Ibérica, França<br />

e Inglaterra.<br />

2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO<br />

RENASCIMENTO<br />

Os protagonistas do Renascimento Cultural<br />

consideravam-se anunciadores de um novo tempo, que<br />

consideravam renovado e superior com relação à época<br />

imediatamente anterior, identificada com as condições<br />

medievais. Na afirmação de um tempo novo, identificouse<br />

profundamente com as influências do pensamento<br />

antigo e sua produção intelectual e artística,<br />

ressignificando-a à luz das potencialidades da Era<br />

Moderna.<br />

Ao mesmo tempo, o movimento opôs-se profundamente<br />

à Idade Média, questionando a validade e negando a<br />

importância de uma produção cultural considerada<br />

teocêntrica, dogmática e destituída de racionalidade e<br />

valor.


Foram severos críticos do misticismo, coletivismo,<br />

antinaturalismo, teocentrismo e geocentrismo<br />

tipicamente medievais. Em oposição às explicações<br />

místico-religiosas e dogmáticas do pensamento<br />

medieval, afirmaram o racionalismo como única<br />

perspectiva a ser considerada na explicação da realidade.<br />

Daí decorreria a evolução dos métodos experimentais e<br />

a própria observação cientifica, reproduzindo no<br />

conhecimento da natureza a racionalidade já percebida<br />

no pragmatismo burguês das atividades financeiras e<br />

comerciais e na organização político-administrativa<br />

racional dos Estados Nacionais em formação.<br />

O racionalismo estimularia ainda uma crescente postura<br />

crítica que pôs em xeque a rigidez dos dogmas da Igreja<br />

e alimentou a desconfiança em relação ao pensamento<br />

tradicional, gerando alguns conflitos entre o clero e os<br />

pensadores renascentistas.<br />

Já o individualismo contrastou com as identificações<br />

coletivas dos homens do medievo (cavalaria,<br />

comunidade crista, grupo dos servos, grupo da nobreza,<br />

famílias etc.), acentuando de maneira otimista a crença<br />

na própria potencialidade e talentos particulares de cada<br />

homem, independente dos designadores de pertença<br />

coletiva. Esse homem novo da Modernidade se considera<br />

capaz de deter características especifica que o<br />

diferenciava dos demais; exemplo tácito dessa nova<br />

condição é o fato de as obras de arte desses autores<br />

passarem a identificar seus autores e seu talento a partir<br />

de suas assinaturas registradas, ou a busca pessoal de<br />

glória de muitos navegadores nas grandes viagens<br />

marítimas.<br />

Também se identifica com a postura renascentista o<br />

naturalismo, perspectiva de análise, percepção e<br />

descoberta da natureza, com vias à sua dominação<br />

pragmática e de seus fenômenos. Na Idade Média, a<br />

natureza revelou-se como fonte de medo ou do próprio<br />

mistério divino, condicionando a pouca compreensão de<br />

seus aspectos mais essenciais. Em compensação,<br />

elementos sobrenaturais, como o milagre, o castigo, o<br />

Paraíso, os feitiços, a magia, eram bastante identificadas<br />

com a realidade cultural da época. Essa redescoberta da<br />

natureza, atrelada ao estimulo racional de sua<br />

compreensão, faria dos renascentistas grandes<br />

contribuidores do entendimento sobre a natureza do<br />

corpo humano e da própria organização do Universo.<br />

Dentre as maravilhas da Natureza, unanimemente<br />

consideradas como graças divinas, o homem é<br />

considerado como sua obra-prima. Decorre daí o<br />

antropocentrismo, como pressuposto fundamental do<br />

movimento renascentista. O homem é alçado ao centro<br />

das preocupações de estudo, com suas condições físicas,<br />

necessidades sociais, políticas e religiosas e suas<br />

angústias existenciais, além da valorização de suas<br />

múltiplas potencialidades criativas.<br />

Deve-se salientar, entretanto, que a racionalidade<br />

aplicada aos estudos da natureza e valorização dos feitos<br />

humanos não significa que os temas religiosos tenham<br />

sido completamente abandonados pelos artistas<br />

renascentistas, ou que se configuraram ateus; em<br />

contrário, os temas religiosos continuaram valorizados,<br />

mas sob uma nova perspectiva de representação e, todos<br />

os pensadores renascentistas confirmavam a magnânima<br />

natureza criadora de Deus, confirmada na própria<br />

complexidade de funcionamento da natureza.<br />

Rafael Sanzio, Cristo Abençoando, 1506.<br />

A representação das figuras sacras continua a ser um<br />

tema privilegiado, entretanto numa perspectiva<br />

naturalista e antropocêntrica, como evidencia a<br />

imagem e a ênfase na exposição natural do corpo de<br />

Cristo.<br />

139


3. HUMANISMO<br />

intelectual, e a difusão da atividade crítica humanista são<br />

determinantes na projeção das produções renascentistas.<br />

Rafael Sanzio, A Escola de Atenas. A obra revela aspectos técnicos<br />

inovados pela arte renascentista, como as noções de perspectiva e<br />

profundidade; também revela a admiração do homem moderno aos<br />

grandes pensadores clássicos, ao reproduzir a Escola de Atenas e<br />

varias figuras célebres como Aristóteles, Ptolomeu etc.<br />

Se a renovação renascentista nos séculos finais do<br />

Medievo e início da Modernidade se materializou em<br />

importantes obras artísticas, esse movimento fora<br />

precedido por uma significativa renovação filosóficoteológica<br />

do próprio conhecimento. Chamamos de<br />

Humanismo o amplo movimento iniciado na Itália e<br />

expandido pela Europa, que reconsiderou as perspectivas<br />

de compreensão de Deus, da natureza e do próprio<br />

homem.<br />

Os estudos da Humanidade criticaram o predomínio do<br />

pensamento escolástico, hegemônico desde o século XIII<br />

nos meios universitários e retomou a valorização do<br />

platonismo, com ênfase na experiência sensível<br />

criticando o moralismo e o rigor doutrinário e<br />

institucional dos teólogos católicos.<br />

Propôs ainda a modificação dos programas de estudos,<br />

tentando incluir poesia, filosofia, história, matemática e<br />

eloquência no rígido esquema medieval restrito ao<br />

direito, medicina e teologia. O interesse nos estudos<br />

sobre humanidades conduziu esses pensadores à releitura<br />

dos textos de autores da Antiguidade, como Heródoto,<br />

Platão e Homero, permitiu reinterpretações dos estudos<br />

bíblicos e exaltaram o papel do indivíduo, dos feitos<br />

históricos e da capacidade e vontade da ação humana na<br />

determinação da realidade.<br />

O intercâmbio dessas ideias, a troca de conhecimento e<br />

informações, as publicações a partir dessa renovação<br />

4. PRODUÇÃO LITERÁRIA RENASCENTISTA<br />

Dante Alighieri– A Divina Comédia- síntese do<br />

mundo medieval com severa crítica à suas estruturas<br />

mentais e eclesiásticas; escrito no dialeto toscano,<br />

abrindo precedente à afirmação das línguas nacionais;<br />

forma de escrita inspirada nas epopeias antigas, com a<br />

saga de Dante contada em versos.<br />

Francesco Petrarca – Cancioneiro e De África–<br />

considerado o criador da poesia lírica moderna.<br />

Giovanni Bocaccio –De Cameron – obra<br />

construída no gênero novela, ambientado na crise da<br />

Peste Negra no século XIV, revela a hipocrisia medieval<br />

apesar das imposições religiosas de moral nos costumes.<br />

Erasmo de Roterdã – O Elogio da Loucura – o<br />

escritor holandês usa sua obra para apresentar severa<br />

crítica à Igreja, denunciando especialmente a ganância,<br />

imoralidade e formalismo do clero e o comércio de<br />

relíquias e indulgências;<br />

François Rabelais – Gargântua e Pantagruel – o<br />

autor francês sintetizou diversos gêneros narrativos ao<br />

humor popular e satirizou a Filosofia Escolástica e o<br />

ascetismo católico, elogiando prazeres como a comida,<br />

bebida e o sexo.<br />

Michel de Montaigne – Ensaios – Obra marcado<br />

pelo acentuado caráter cético, abalando profundamente<br />

certos dogmas consolidados da fé católica.<br />

Thomas Morus – Utopia – grande nome da<br />

literatura inglesa, imaginou uma sociedade plena, sem<br />

tensões ou conflitos sociais, considerada ideal. O gênero<br />

inspiraria a obra Nova Atlântida de Francis Bacon,<br />

constituindo se num verdadeiro gênero de criação<br />

literária.<br />

William Shakespeare – escreveu especialmente<br />

textos dramatúrgicos, estimulados pela corte elisabetana<br />

e identificado com a burguesia londrina. Enfatizou em<br />

obras como Romeu e Julieta, MacBeth, Sonhos de Uma<br />

Noite de Verão, Hamlet, Henrique IV, as paixões<br />

humanas, a ordem social contra o caos anárquico e<br />

permearam suas obras de elementos místicos da era<br />

medieval, como bruxas, fantasmas etc.<br />

Miguel de Cervantes - o autor espanhol narra às<br />

aventuras do fidalgo Dom Quixote de La Mancha e seu<br />

fiel escudeiro Sancho Pança, satirizando o feudalismo e<br />

os costumes da cavalaria medieval.<br />

140


Luís de Camões – Os Lusíadas – o poema épico<br />

de Camões narra e exalta as façanhas dos portugueses no<br />

empreendimento das Grandes Navegações.<br />

5. O RENASCIMENTO E ARTES PLÁSTICAS<br />

Na Idade Média o estilo românico, o gótico e a arte<br />

bizantina possuíam, numa sociedade majoritariamente<br />

analfabeta, função meramente didática, com forte apelo<br />

visual e predomínio dos temas da salvação. A partir do<br />

século XIII, com as inovações propostas por Giotto,<br />

inovações técnicas e de representação temática dariam o<br />

tom das artes plásticas renascentistas. O apelo à<br />

sensibilidade humana e o apuro naturalista da<br />

representação de objetos, pessoas, interiores e paisagens<br />

desafiavam outros sentidos, além do visual apenas.<br />

Do ponto de vista técnico, novas concepções de espaço, a<br />

partir das noções de perspectiva e profundidade, revelarse-iam<br />

inovadores, especialmente pela racionalidade<br />

matemático-geométrica rigidamente definidos. Domínio<br />

sobre cores, tons, materiais, jogos de luz e sombra,<br />

óptica, conhecimentos de anatomia, fizeram da arte uma<br />

cultura superior, em que elementos artísticos e científicos<br />

se integravam, transformando o pintor numa espécie de<br />

“cientista da arte”. Este artista tornara se ainda um<br />

criador individualizado, cujo prestígio se reconhecera no<br />

apoio dos mecenas e nas distinções e prestígios sociais<br />

que recebe nos meios onde circula.<br />

Fase inicial da produção renascentista, em que se<br />

destacam na literatura as já citadas produções de Dante,<br />

Petrarca e Bocaccio. Nas artes plásticas, a inovação ficou<br />

por conta de Giotto, que em oposição à rigidez da arte<br />

medieval, manteve os temas religiosos de composição,<br />

mas inovou explorando cores, movimentos, profundidade<br />

dos cenários e representações do elemento humano que<br />

privilegiavam a expressividade dos personagens.<br />

Florença é o grande destaque e, ocorreram nesse período<br />

o aperfeiçoamento das técnicas de aprofundamento do<br />

espaço e a incorporação do espaço natural dos campos e<br />

cidades emergindo o elemento essencial da paisagem.<br />

Giovanni Bellini, Anunciação, 1489. O quadro evidencia a novidade dos usos<br />

de projeção de distancia permitidos pela perspectiva.<br />

6. FASES DO RENASCIMENTO ITALIANO<br />

6.1 TRECENTO – Século XIV<br />

6.2 QUATROCENTO – Sec. XV<br />

Embora a temática se mantenha religioso, o uso de cores<br />

e a evidência do movimento precipitam as<br />

transformações técnicas da arte renascentista.<br />

A arte renascentista será fortemente potencializada pelo<br />

estímulo da prática de mecenato, especialmente dos<br />

Médici e dos trabalhos da Escola Florentina. Na pintura,<br />

destaca-se Masaccio, com a obra A Expulsão de Adão e<br />

Eva do Paraíso e pelo desenvolvimento da técnica de<br />

esfumaçamento, em que se garante menor nitidez nas<br />

formas mais distantes na composição da tela. Destaca-se<br />

ainda Lippi, com Adoração e Sandro Botticelli com<br />

Alegoria da Primavera. A crise florentina nos finais<br />

desse século dimensionaria Veneza, como novo centro<br />

de destaque da reprodução da arte renascentista, onde<br />

destacaria a fabulosa obra de Ticiano. Desse momento<br />

também é a incorporação de técnicas estrangeiras, como<br />

o uso de tinta a óleo, gerando maravilhosos efeitos<br />

cromáticos e luminosos, já utilizado por artistas na região<br />

dos Países Baixos.<br />

141


Sandro Botticelli, Alegoria da Primavera.<br />

Também relacionado ao Quatrocento é a pintura de<br />

cavalete, que garantiu a transformação da arte num bem<br />

móvel, de fácil circulação, reduzindo a predominância<br />

dos afrescos; a vocação antropocêntrica também se<br />

manifestou na obsessão pelo registro natural das formas<br />

humanas e pela valorização da nudez reveladora da<br />

perfeição anatômica, mesmo em temas religiosos, como<br />

em O Suplicio de São Sebastião. O costume do retrato e<br />

o registro das cenas domésticas e em família<br />

recrudescem<br />

Rafael Sanzio Retrato de Elizabetta Gonzaga<br />

Batista Dossi, Retrato de Alfonso I D’Este, 1534.<br />

Bartolomeu Maineri, São Sebastião, 1492.<br />

6.3 CINQUECENTO – Século XVI<br />

O último período do Renascimento Italiano, momento de<br />

maior elaboração da arte moderna, coincidiu com a<br />

afirmação de Roma como seu principal centro,<br />

142


fortemente marcado pelo mecenato eclesiástico e pela<br />

crise econômica da Península Itálica, associado ao<br />

expansionismo marítimo ibérico. Desta época<br />

destacamos a construção da Basílica de São Pedro e a<br />

decoração do palácio do Vaticano.<br />

Produziram obra monumental nesse período, Leonardo<br />

da Vinci, que sobrepujou as técnicas de oposição de luz e<br />

sombra, técnica de esfumaçamento e deu, inclusive,<br />

tratamento psicológico às figuras retratadas. A Virgem<br />

dos Rochedos, Monalisa e A Última Ceia revelam bem<br />

esses aspectos e a confirmação das tendências<br />

antropocêntricas do Renascimento.<br />

intumescia das veias revela seu profundo conhecimento<br />

de anatomia e o profundo realismo de suas pinturas e<br />

esculturas, como em Pietá, Davi, Moisés, O Escravo<br />

Acorrentado ou em suas pinturas e afrescos na Capela<br />

Sistina. Rafael Sanzio, com trabalhos mais suaves e<br />

harmoniosos, também se destacou, especialmente por<br />

suas madonas, como a Madona Sistina.<br />

Leonardo da Vinci, A Última Ceia, 1452.<br />

Moisés, Michelangelo Buonarotti<br />

Leda e o Cisne, Leonardo da Vinci<br />

Michelangelo, considerado um dos maiores expoentes da<br />

genialidade humana, foi beneficiado pelo mecenato<br />

papal, tendo sido pintor, escultor, arquiteto, músico etc.<br />

As saliências dos músculos e o enrugamento da pele e<br />

La Pietá, de Michelangelo<br />

143


atmosfera caótica de homens e mulheres bestificados em<br />

situações insólitas.<br />

Davi, de Michelangelo<br />

O olhar mostra segurança. O corpo, uma nudez sem<br />

pudor. A musculatura, relaxada, uma anatomia perfeita.<br />

A figura toda é uma procura de graça e beleza. A estátua<br />

é de um personagem, Davi, o pastor que virou rei de<br />

Israel por volta do ano 1000 a.C. Mas sua forma lembra<br />

antes um jovem deus pagão da mitologia. A beleza é<br />

fortemente idealizada, mas ainda assim<br />

indiscutivelmente humana. Sob a rigidez do mármore, há<br />

palpitação de vida. Diante do Davi de Michelangelo,<br />

esculpido na virada do século XVI, não há dúvida de que<br />

se está contemplando um mundo diferente do da Idade<br />

Média.<br />

Fora da Itália, as artes plásticas encontrariam grandes<br />

expoentes também nos Países Baixos, territórios alemães<br />

e Espanha. A rica burguesia flamenga, de caráter menos<br />

aristocratizante e mais pragmático para a disciplina e o<br />

trabalho, buscou registrar a realidade social, em sua<br />

plena autenticidade, evidenciando o convívio entre<br />

opulência e miséria, oficinas e residências, objetos,<br />

naturezas-mortas e paisagens. Foram bastante profícuos<br />

no desenvolvimento de técnicas inovadoras, como a<br />

pintura a óleo, e na técnica do retrato, especialmente o de<br />

perfil e o retrato conjugal.<br />

O destaque recai sobre os irmãos Jan e Hubert Van Eick,<br />

tendo sido o primeiro, autor da célebre pintura O Casal<br />

Arnolfini; Rogier van der Weiden traria intensa<br />

dramaticidade e reflexões sobre a fragilidade humana,<br />

como na pintura Descida da Cruz. Já Hieronymus Bosch<br />

usaria suas obras O Jardim das Delicias, As tentações de<br />

Santo Antonio e A Carroça de Feno para criar uma<br />

O Casal Arnolfini, de Jan Van Eick<br />

Parte de O Jardim das Delícias, de Bosch<br />

Nos territórios alemães a gravura sobre madeira e metal<br />

teve como destaque Albrecht Durer, que reuniu<br />

elementos do gótico, a cor dos pintores flamengos e as<br />

técnicas geométricas dos italianos, presente em obras<br />

como Adoração dos Reis Magos e Natividade.<br />

144


Adoração dos Reis Magos, de A. Durer.<br />

Na Espanha, El Greco seria a figura mais destacada,<br />

anunciando os elementos que seriam dominantes no<br />

Barroco. Pentecostes e Enterro do Conde Orgaz são suas<br />

obras mais destacadas.<br />

partir da influencia do racionalismo e do exercício da<br />

observação e experimentação.<br />

Uma importante revelação dessa novidade no<br />

conhecimento é a polêmica que se desenvolveu em torno<br />

do dogma medieval da concepção geocêntrica da Terra,<br />

através do qual a Igreja afirmava a centralidade do nosso<br />

planeta no Universo, com a movimentação dos demais<br />

corpos celestes em sua órbita. Nicolau Copérnico e<br />

Galileui Galilei, questionaram a condição fixa da Terra,<br />

afirmando ser essa um corpo móvel com órbita em torno<br />

do Sol, consolidando a defesa da chamada teoria<br />

heliocêntrica.<br />

O custo do questionamento do firme dogma católico,<br />

para Galileu foi a perseguição da Igreja Católica, que<br />

conduziu-o ao julgamento mediante o Tribunal de Santo<br />

Ofício, ameaçando sua própria integridade a fim de que o<br />

cientista retrocedesse em suas convicções. Apenas por<br />

ter afirmado a infinitude do universo e recusar-se a abrir<br />

mão de seus pensamentos, Giordano Bruno havia sido<br />

julgado e morto pela Igreja, o que serviria de exemplo a<br />

Galileu para retratar-se com a Igreja.<br />

Nos estudos de anatomia do corpo humano e da ciência<br />

médica, destaca-se o médico Vesálio e Harvey e Servet<br />

por suas contribuições sobre circulação sanguínea.<br />

Paracelso seria responsável pela codificação de diversas<br />

drogas medicinais e Paré, pela técnica de ligação de<br />

artérias para estancar o sangue.<br />

Enterro do Conde de Orgaz, El Greco.<br />

RENASCIMENTO CIENTÍFICO<br />

As muitas transformações propiciadas pela renovação do<br />

pensamento através do Renascimento acarretariam<br />

mudanças não apenas na produção artística, como<br />

também em outras áreas do conhecimento humano,<br />

abrindo visível precedente ao desenvolvimento daquilo<br />

que chamamos de Ciências Modernas. Esse<br />

Renascimento Científico concentrou seus estudos<br />

especialmente a respeito do funcionamento da natureza,<br />

dos movimentos cósmicos e da condição humana, a<br />

Michelangelo Buonarotti, Juízo Final, Capela Sistina.<br />

145


EXERCÍCIOS<br />

01 - (UFRN) Os historiadores fazem distinção entre o<br />

período medieval e a modernidade na Europa Ocidental.<br />

As imagens a seguir evidenciam essa nova concepção de<br />

mundo, característica da modernidade.<br />

BRUNO, Giordano. Tratado da magia, 1591. Apud JOB, Nelson. Ontologias em<br />

devir: confluências entre magia e ciência. Disponível em:<br />

. Acesso em: 14<br />

nov. 2012.<br />

Tal como demonstra a citação de Giordano Bruno,<br />

sentenciado pela Inquisição à morte na fogueira, a magia<br />

despertava o interesse de pensadores e cientistas que<br />

estudavam as formas de intervir nas forças da natureza,<br />

no período entre os séculos XV e XVI. Com base no<br />

exposto,<br />

a) explique como a citação de Giordano Bruno contraria<br />

os princípios que sustentaram a ação da Inquisição;<br />

b) relacione a citação de Giordano Bruno aos valores<br />

renascentistas sobre o conhecimento humano.<br />

03 - (FPS PE)<br />

146<br />

Essas imagens remetem a aspectos da mentalidade do<br />

mundo moderno, que era caracterizado<br />

a) pela reafirmação da visão aristotélica do universo e<br />

do homem, afirmando um padrão de círculos<br />

perfeitos no movimento dos astros.<br />

b) pela subordinação à visão clerical, que valorizava a<br />

iluminação divina para chegar à verdade sobre o<br />

homem, a mais perfeita realização de Deus.<br />

c) por um esquema do universo baseado no modelo<br />

heliocêntrico e por uma exaltação das capacidades<br />

humanas para chegar à verdade.<br />

d) por um ideal que partia da valorização do homem e,<br />

por consequência, via a Terra como centro do<br />

universo.<br />

02 - (UFG GO) Leia a citação a seguir.<br />

Mago designa um homem que alia o saber ao poder de<br />

agir para a criação de mundos desejáveis.<br />

O Renascimento trouxe mudanças na forma de pensar as<br />

relações sociais e foi importante para redefinir e produzir<br />

a cultura. Houve grande influência da cultura clássica nas<br />

redefinições acontecidas. Na pintura, por exemplo<br />

observa-se:<br />

a) a prevalência do sentimento religioso, com a<br />

manutenção de princípios estéticos que afirmavam o<br />

uso de cores sombrias.<br />

b) a ousadia na temática que divergia das formas<br />

estéticas da Idade Média com uso de histórias da<br />

mitologia grega.<br />

c) a falta de originalidade na produção, apesar das<br />

transformações na aplicação das cores e a relação<br />

com a renovação na forma.<br />

d) a falta de interesse por temas que tivessem<br />

articulação com a religião católica e as crenças dos<br />

tempos medievais.<br />

e) a manutenção de padrões do mundo antigo, com<br />

quadros que ressaltavam a vida dos santos e<br />

glorificavam a burguesia de época.


04 - (UCS RS) Com o renascimento comercial e urbano,<br />

o aparecimento da burguesia, classe ligada ao comércio,<br />

e a formação das monarquias nacionais, a cultura<br />

europeia também sofreu alterações. Essas<br />

transformações culturais aprofundaram-se nos séculos<br />

XIV-XVI, ficando conhecidas como Renascimento.<br />

Representavam os valores da burguesia, classe social em<br />

ascensão. Manifestaram-se na literatura, artes plásticas,<br />

filosofia e ciência.<br />

(MELLO, Leonel I.; COSTA, Luís César. <strong>História</strong> moderna e contemporânea.<br />

São Paulo: Scipione, 1993. p. 31.)<br />

Relacione os artistas renascentistas, apresentados na<br />

COLUNA A, às características que os identificam,<br />

elencadas na COLUNA B.<br />

COLUNA A<br />

1. Leonardo Da Vinci (1452-1519)<br />

2. Michelangelo Buonarotti (1475-1564)<br />

3. Sandro Botticelli (1445-1510)<br />

4. Rafael Sanzio (1483-1520)<br />

COLUNA B<br />

( ) Projetou a cúpula da Basílica de São Pedro e decorou<br />

a Capela Sistina (ambas no Vaticano) com algumas das<br />

mais conhecidas pinturas renascentistas, entre elas “A<br />

Criação de Adão”.<br />

( ) Pintor, arquiteto, botânico, cartógrafo, engenheiro,<br />

escultor, físico, geólogo, químico e inventor, era o típico<br />

humanista. Uma de suas obras mais famosas foi o<br />

“Homem Vitruviano”, retratando a beleza e precisão da<br />

simetria humana.<br />

( )Rompeu com a tradição medieval ao enfatizar a<br />

liberdade de movimentos do corpo, em sintonia com o<br />

dinamismo renascentista. Uma de suas telas mais<br />

famosas é “O Nascimento da Vênus”.<br />

( )Tornou-se o artista mais popular do Cinquecento,<br />

expressando sentimentos religiosos e transferindo para<br />

suas obras equilíbrio, doçura e piedade. Entre suas obras<br />

mais importantes estão “Escola de Atenas” e “Madona<br />

Sistina”.<br />

Assinale a alternativa que preenche corretamente os<br />

parênteses, de cima para baixo.<br />

a) 1 – 3 – 2 – 4<br />

b)2 – 1 – 4 – 3<br />

c) 4 – 2 – 3 – 1<br />

d) 2 – 1 – 3 – 4<br />

e) 3 – 2 – 4 – 1<br />

05 - (UEM PR) Leia o texto a seguir e assinale a(s)<br />

alternativa(s) correta(s).<br />

“No decurso do tempo, a humanidade teve de aguentar,<br />

das mãos da ciência, duas grandes ofensas a seu ingênuo<br />

amor-próprio. A primeira foi quando percebeu que a<br />

Terra não era o centro do universo, mas apenas um<br />

pontinho num sistema de magnitude dificilmente<br />

compreensível. A segunda quando a pesquisa biológica<br />

lhe roubou o privilégio de ter sido criada especialmente,<br />

e relegou o homem a descendente do mundo animal.”<br />

(FREUD, S. O mal-estar na civilização. In:VICENTINO,C; DORIGO, G.<br />

<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e doBrasil. São Paulo:Scipione, 2010, p. 39)<br />

01. O texto faz referência indireta às pesquisas que, no<br />

século XIX, propuseram a teoria da evolução das<br />

espécies, segundo a qual a espécie humana evoluiu ao<br />

longo dos tempos por um processo de seleção natural.<br />

02. Segundo o texto, os estudos científicos contribuíram<br />

para valorizar o papel atribuído a Deus na construção do<br />

Universo.<br />

04. A ideia de que a Terra não é o centro do universo foi<br />

desenvolvida no início da modernidade por pensadores<br />

como Galileo Galilei e Copérnico.<br />

08.O texto reafirma a teoria heliocêntrica, pois mostra<br />

que o Sol é o centro do Universo.<br />

16.Segundo o texto, a diminuição do amor-próprio dos<br />

homens é resultado dos equívocos da ciência e, para<br />

recuperá-lo, faz-se necessária uma reaproximação da<br />

humanidade com Deus.<br />

06 - (UEPG PR) Movimento marcado por grandes<br />

mudanças culturais ocorrido na Europa Ocidental entre<br />

os séculos XIV e XVI, o Renascimento se caracteriza<br />

pela retomada de valores da cultura greco-romana. A<br />

respeito de Leonardo da Vinci, um dos expoentes do<br />

Renascimento, assinale o que for correto.<br />

01. "Monalisa" e "A Última Ceia" figuram entre os<br />

principais quadros pintados por da Vinci.<br />

147


02. Como cientista e inventor, da Vinci foi um dos<br />

primeiros a projetar uma máquina voadora e um<br />

paraquedas.<br />

04. Florença, na Itália, foi a cidade em que mais<br />

Leonardo da Vinci realizou seus trabalhos.<br />

08. Crítico do humanismo, da Vinci evitou ao máximo o<br />

uso de temas humanos em suas telas, optando,<br />

predominantemente, pela exposição e valorização de<br />

figuras celestiais.<br />

16. O talento de Leonardo da Vinci foi reconhecido<br />

apenas no século XX. Em vida, nunca gozou de prestígio<br />

e reconhecimento por parte de artistas e intelectuais.<br />

07 - (Fac. Direito de Sorocaba SP) Sabe-se hoje que a<br />

visão retrospectiva da Europa medieval como uma<br />

“idade das trevas” esteve condicionada por uma<br />

perspectiva racionalista, num momento em que ser<br />

humanista significa colocar em questão os pressupostos<br />

teocêntricos defendidos pelos representantes da Igreja.<br />

(José Rivair Macedo, Repensando a Idade Média no ensino de <strong>História</strong>. In:<br />

Leandro Karnal (org.), <strong>História</strong> na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.<br />

Adaptado)<br />

Essa visão da Idade Média foi elaborada no contexto<br />

a) do século XIX, em que o positivismo afirmou pela<br />

primeira vez a crença na ciência.<br />

b) das Revoluções Burguesas, na tentativa de superar<br />

as heranças da Antiguidade.<br />

c) do Antigo Sistema Colonial, para legitimar o<br />

colonialismo europeu.<br />

d) da Revolução Industrial, como mecanismo de<br />

superação da economia feudal.<br />

e) do Renascimento, como forma de ruptura com a<br />

sociedade medieval.<br />

08 - (UPE) Analise a imagem a seguir:<br />

Disponível em: http://www.infoescola.com/pintura/onascimento-de-venus.<br />

148<br />

O quadro O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, é<br />

uma das grandes realizações da arte renascentista.<br />

Sobre essa obra e seu contexto histórico, assinale a<br />

alternativa CORRETA.<br />

a) A temática pagã da obra, baseada na mitologia<br />

greco-romana, constituiu-se numa ousadia que<br />

destoava do restante da produção artística do<br />

Renascimento.<br />

b) A nudez representada no quadro também aparece em<br />

obras de outros artistas da época, como<br />

Michelangelo.<br />

c) Botticelli, personagem símbolo do ideal humanista,<br />

também foi arquiteto, engenheiro, músico e poeta.<br />

d) O nascimento de Vênus, assim como a Última Ceia<br />

de Da Vinci, é uma pintura de temática bíblica.<br />

e) Botticelli destacou-se por sua produção em<br />

escultura.<br />

09 - (UFPE) Sobre o movimento historicamente<br />

reconhecido como Renascimento, que se difundiu na<br />

Europa a partir do final do século XV, analise as<br />

proposições abaixo.<br />

00. Em contraposição à teoria geocêntrica, de Ptolomeu,<br />

difundida nas universidades medievais, a teoria<br />

heliocêntrica, de Copérnico, representou uma revolução<br />

no conhecimento humano.<br />

01. A expansão marítima europeia do século XV está<br />

diretamente relacionada aos novos conceitos de homem e<br />

de mundo que caracterizam o movimento renascentista.<br />

02. Embora tenha sido um movimento restrito ao campo<br />

das artes plásticas, o Renascimento provocou grandes<br />

mudanças no modo de pensar de homens e mulheres da<br />

Europa.<br />

03. Com o Renascimento, o comércio europeu via<br />

Mediterrâneo foi alargado, propiciando um maior<br />

intercâmbio de mercadorias e ideias entre Oriente e<br />

Ocidente.<br />

04. A visão de mundo renascentista era também<br />

caracterizada pelo antropocentrismo, o que significa que<br />

o homem ocupava uma posição central nas preocupações<br />

humanas.


10 - (UFSC) Sobre o Renascimento, é CORRETO<br />

afirmar que:<br />

03. a aceitação incondicional de crenças religiosas<br />

próprias do Cristianismo, anulando as tradições clássicas<br />

predominantes no mundo das artes.<br />

04. a busca por espaços literários renovadores, com obras<br />

expressivas, como Dom Quixote de La Mancha,<br />

importantes para afirmação das línguas nacionais<br />

europeias.<br />

12 - (UFJF MG) As imagens abaixo ilustram alguns<br />

procedimentos utilizados por um novo modo de conhecer<br />

e explicar a realidade que se estruturou entre os séculos<br />

XVI e XVIII.<br />

Disponível em: . Acesso<br />

em: 31 ago. 2012.<br />

01. uma das características mais importantes do<br />

Renascimento foi a ruptura com a Antiguidade Clássica.<br />

02. os estudos astronômicos desenvolvidos por Nicolau<br />

Copérnico durante o Renascimento permitiram a<br />

conclusão de que os planetas giravam em torno da Terra.<br />

04. os mecenas foram personagens importantes no<br />

Renascimento, pois sua oposição aos artistas fez com que<br />

estes exercessem com mais afinco sua criatividade.<br />

08. Leonardo da Vinci, artista de grande versatilidade e<br />

inúmeros interesses, é um representante do Humanismo.<br />

16. o período renascentista se beneficiou da preservação<br />

de textos antigos pelos monges e da criação de<br />

universidades.<br />

Ilustração do Sistema solar no manuscrito de Copérnico na obra “Das Revoluções<br />

das esferas celestes” Fonte: Disponível em: . Acesso em:<br />

8 out. 2011.<br />

32. as cruzadas, que incrementaram o intercâmbio entre<br />

muçulmanos e cristãos, bem como o domínio mouro na<br />

Península Ibérica, contribuíram para o Renascimento.<br />

11 - (UFPE) O Renascimento – um importante período<br />

na história da vida europeia – trouxe:<br />

00. a ruptura da nobreza com o poder da Igreja,<br />

reforçando o fim do domínio político do papa e o<br />

crescimento das aspirações republicanas, relacionadas<br />

com as reflexões de Maquiavel.<br />

01. as redefinições no mundo das artes, com mudanças<br />

na sensibilidade e na percepção do pensamento e dos<br />

valores da época.<br />

02. o fortalecimento do saber científico, com mudanças<br />

nas concepções da astronomia e da matemática, que<br />

contribuíram para a secularização da cultura.<br />

Ilustração de Andreas Vesalius na obra “Da Organização do Corpo Humano”.<br />

Fonte: Disponível em: . Acesso em: 8 out. 2011.<br />

149


Com base nas informações acima e em seus<br />

conhecimentos, responda ao que se pede:<br />

a) Que processo histórico pode ser identificado pelas<br />

referências acima?<br />

b) Cite e analise uma característica desse novo modo de<br />

conceber o conhecimento.<br />

c) Explique o impacto desse novo modo de conceber o<br />

conhecimento sobre os dogmas religiosos vigentes na<br />

época.<br />

13 - (UNIRG TO) O movimento artístico e cultural que<br />

floresceu na Itália a partir do século XIV é conhecido<br />

como Renascimento ou Renascença. Pode ser<br />

caracterizado como uma tendência cultural laica que se<br />

estendeu até o século XVI. Inspirado na cultura gregoromana,<br />

rejeitava os valores feudais a ponto de<br />

considerar o período medieval a "Idade das Trevas".<br />

Assinale a alternativa que NÃO tem característica(s) do<br />

Renascimento:<br />

a) No período renascentista, valorizava-se o ser<br />

humano como ser racional, isto é, dotado de um dom<br />

quase divino, a razão, e por isso mesmo capaz de<br />

interpretar e conhecer a natureza.<br />

b) No Renascimento a aproximação dos seres humanos<br />

com Deus se fazia por meio da criatividade e da<br />

genialidade, atributos que lhe davam a imagem e a<br />

semelhança do Criador, possibilitando-lhes emergir<br />

das trevas da sujeição escolástica para exercer sua<br />

verdadeira humanidade.<br />

c) O naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo são<br />

características do Renascimento. O naturalismo<br />

prega a volta à natureza; a filosofia hedonista<br />

defende o prazer individual como único bem<br />

possível; e o neoplatonismo, por sua vez, defende<br />

uma elevação espiritual, uma aproximação com<br />

Deus por meio da interiorização, da busca espiritual,<br />

em detrimento de qualquer desejo material.<br />

d) É característica do Renascimento a oposição ao<br />

humanismo, no sentido da valorização do ser<br />

humano, criação privilegiada de Deus. O<br />

Renascimento coadunava também, ao teocentrismo<br />

medieval, que tinha Deus como centro de todas as<br />

coisas e enxergava o ser humano como ser inferior,<br />

corrompido pelo pecado.<br />

14 - (UFTM MG) Leia a definição de renascença.<br />

1. Ato ou efeito de renascer; renascimento 2. Qualquer<br />

movimento caracterizado pela ideia de renovação, de<br />

restauração; retorno 3. Nova vida, nova existência.<br />

(Dicionário Houaiss da língua portuguesa)<br />

O termo renascença é utilizado para caracterizar a arte,<br />

no mundo ocidental, entre os séculos XIV e XVI. A<br />

escolha do termo pode ser explicada<br />

a) pelo fato de a produção artística ocidental nascer, de<br />

fato, neste período.<br />

b) pela revalorização de ideais estéticos vigentes na<br />

Antiguidade Clássica.<br />

c) pela renovação da pintura, fruto da difusão dos<br />

ideais protestantes.<br />

d) pelo contato com a arte africana, descoberta graças<br />

às viagens marítimas.<br />

e) pelo fim da política do mecenato, que financiava a<br />

recuperação das obras de arte.<br />

15 - (Unemat MT) Um momento histórico, surgido<br />

durante o século XV, teve, de início, sentido religioso,<br />

significando a revitalização da alma por meio dos<br />

sacramentos. No século XVI, o termo foi empregado<br />

para se referir às mudanças de consciência e de formas<br />

de expressão artística do período. Seu início é marcado<br />

pelo apogeu das cidades italianas do século XV e pela<br />

renovação das expressões artísticas ligadas às mudanças<br />

de mentalidade do período, com a ascensão da burguesia.<br />

Assinale a alternativa que indica esse momento histórico.<br />

a) Iluminismo<br />

b) Renascimento<br />

c) Absolutismo<br />

d) Liberalismo<br />

e) Relativismo Cultural<br />

16 - (UNESP SP) Os centros artísticos, na verdade,<br />

poderiam ser definidos como lugares caracterizados<br />

pela presença de um número razoável de artistas e de<br />

grupos significativos de consumidores, que por<br />

motivações variadas — glorificação familiar ou<br />

individual, desejo de hegemonia ou ânsia de salvação<br />

eterna — estão dispostos a investir em obras de arte uma<br />

parte das suas riquezas. Este último ponto implica,<br />

evidentemente, que o centro seja um lugar ao qual<br />

afluem quantidades consideráveis de recursos<br />

150


eventualmente destinados à produção artística. Além<br />

disso, poderá ser dotado de instituições de tutela,<br />

formação e promoção de artistas, bem como de<br />

distribuição das obras. Por fim, terá um público muito<br />

mais vasto que o dos consumidores propriamente ditos:<br />

um público não homogêneo, certamente (...).<br />

(The rise of Islam, 1991.)<br />

3. Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp.<br />

(Carlo Ginzburg. A micro-história e outros ensaios, 1991.)<br />

Os “centros artísticos” descritos no texto podem ser<br />

identificados<br />

a) nos mosteiros medievais, onde se valorizava<br />

especialmente a arte sacra.<br />

b) nas cidades modernas, onde floresceu o<br />

Renascimento cultural.<br />

c) nos centros urbanos romanos, onde predominava a<br />

escultura gótica.<br />

d) nas cidades-estados gregas, onde o estilo dórico era<br />

hegemônico.<br />

e) nos castelos senhoriais, onde prevalecia a arquitetura<br />

românica.<br />

17 - (Fac. Santa Marcelina SP) Analise as imagens.<br />

1. Unção de doente por sacerdotes na Idade Média.<br />

(Medieval Life,1997.)<br />

2. Médico muçulmano com paciente na Idade Média.<br />

(Rembrandt, 1632. www.mauritshuis.nl)<br />

A partir das imagens e de seus conhecimentos, é correto<br />

afirmar que<br />

a) a ideia de que o corpo humano era uma obra divina e<br />

intocável predominou tanto no mundo muçulmano<br />

como no cristão, na Idade Média e na Moderna,<br />

como provam as três imagens.<br />

b) os cristãos foram estimulados a estudar o corpo<br />

humano nas universidades medievais, por influência<br />

decisiva dos médicos islâmicos radicados na<br />

península ibérica, como se observa nas imagens 1 e<br />

2.<br />

c) a Igreja católica impediu, com sucesso, o estudo de<br />

ciências médicas na Idade Média e na Moderna, o<br />

que é confirmado nas imagens 1 e 3, ao contrário<br />

dos muçulmanos, que as desenvolveram.<br />

d) a dissecação de cadáveres era proibida na Idade<br />

Média, o que atrapalhou a medicina islâmica; apenas<br />

no Renascimento tal prática teve início, estimulada<br />

pelos católicos, como mostra a imagem 3.<br />

e) a forte religiosidade limitava as ciências na Europa<br />

Medieval, enquanto a medicina alcançou progresso<br />

com os muçulmanos e com os europeus da Idade<br />

Moderna, como aparece nas imagens 2 e 3.<br />

18 - (UNICAMP SP) De uma forma inteiramente<br />

inédita, os humanistas, entre os séculos XV e XVI,<br />

criaram uma nova forma de entender a realidade. Magia<br />

e ciência, poesia e filosofia misturavamse e auxiliavamse,<br />

numa sociedade atravessada por inquietações<br />

religiosas e por exigências práticas de todo gênero.<br />

(Adaptado de Eugenio Garin, Ciência e vida civil no Renascimentoitaliano. São<br />

Paulo: Ed. Unesp, 1994, p. 11.)<br />

151


Sobre o tema, é correto afirmar que:<br />

a) O pensamento humanista implicava a total recusa da<br />

existência de Deus nas artes e na ciência, o que<br />

libertava o homem para conhecer a natureza e a<br />

sociedade.<br />

b) A mistura de conhecimentos das mais diferentes<br />

origens - como a magia e a ciência - levou a uma<br />

instabilidade imprevisível, que lançou a Europa<br />

numa onda de obscurantismo que apenas o<br />

Iluminismo pôde reverter.<br />

c) As transformações artísticas e políticas do<br />

Renascimento incluíram a inspiração nos ideais da<br />

Antiguidade Clássica na pintura, na arquitetura e na<br />

escultura.<br />

d) As inquietações religiosas vividas principalmente ao<br />

longo do século XVI culminaram nas Reformas<br />

Calvinista, Luterana, Anglicana e finalmente no<br />

movimento da Contrarreforma, que defendeu a fé<br />

protestante contra seus inimigos.<br />

19 - (UEL PR) Analise a figura a seguir.<br />

Figura 27: Sandro Botticelli. O Nascimento de Vênus, 1482. Têmpera sobre tela.<br />

172,5 x 278,5 cm. Galeria dos Uffizi, Florença (Itália).<br />

Com base nos conhecimentos sobre a pintura no período<br />

do Renascimento e na obra de Sandro Botticelli (Fig.<br />

27), considere as afirmativas a seguir.<br />

I. Há, nessa obra renascentista, a preocupação com o<br />

naturalismo, a proporção e o efeito de profundidade,<br />

sendo o pintor florentino Sandro Botticelli um dos<br />

principais representantes do Quattrocento.<br />

II. Essa obra marca o início da Arte Moderna na Itália ao<br />

retratar o conflito entre o homem e a natureza, expresso<br />

na ação do vento que afeta os principais elementos da<br />

composição.<br />

III. Essa obra tem como temática um episódio<br />

mitológico que aborda o nascimento de uma deusa,<br />

152<br />

apresentando a movimentação do ar como um importante<br />

elemento para expressar leveza.<br />

IV. O Renascimento é um período histórico<br />

caracterizado pelo teocentrismo e a obra O Nascimento<br />

de Vênus é emblemática por apresentar o sopro divino<br />

como temática da composição.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />

b) Somente as afirmativas I e III são corretas.<br />

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.<br />

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.<br />

20 - (UNIFICADO RJ) O Renascimento foi, de certa<br />

forma, a expressão do movimento humanista nas artes,<br />

letras, filosofia, música e ciência. O estudo do homem e<br />

da natureza conduziu ao Renascimento Científico, nele<br />

enfatizando-se a ciência experimental.<br />

Nesse contexto específico do Renascimento Científico,<br />

se inclui o(a)<br />

a) Antropocentrismo, de Michelângelo<br />

b) Evolucionismo, de Charles Darwin<br />

c) Heliocentrismo, de Nicolau Copérnico<br />

d) Naturalismo, de Alexander Von Humboldt<br />

e) Bacteriologia, de Louis Pasteur<br />

21 - (FUVEST SP) O olho é o senhor da astronomia,<br />

autor da cosmografia, conselheiro e corretor de todas as<br />

artes humanas (...). É o príncipe das matemáticas; suas<br />

disciplinas são intimamente certas; determinou as<br />

altitudes e dimensões das estrelas; descobriu os<br />

elementos e seus níveis; permitiu o anúncio de<br />

acontecimentos futuros, graças ao curso dos astros;<br />

engendrou a arquitetura, a perspectiva, a divina pintura<br />

(...). O engenho humano lhe deve a descoberta do fogo,<br />

que oferece ao olhar o que as trevas haviam roubado.<br />

Leonardo da Vinci, Tratado da pintura.<br />

Considere as afirmações abaixo:<br />

I. O excerto de Leonardo da Vinci é um exemplo do<br />

humanismo renascentista que valoriza o racionalismo<br />

como instrumento de investigação dos fenômenos<br />

naturais e a aplicação da perspectiva em suas<br />

representações pictóricas.


II. Num olho humano com visão perfeita, o cristalino<br />

focaliza exatamente sobre a retina um feixe de luz vindo<br />

de um objeto. Quando o cristalino está em sua forma<br />

mais alongada, é possível focalizar o feixe de luz vindo<br />

de um objeto distante. Quando o cristalino encontra-se<br />

em sua forma mais arredondada, é possível a focalização<br />

de objetos cada vez mais próximos do olho, até uma<br />

distância mínima.<br />

III. Um dos problemas de visão humana é a miopia. No<br />

olho míope, a imagem de um objeto distante formase<br />

depois da retina. Para corrigir tal defeito, utilizase uma<br />

lente divergente.<br />

c) o desejo de renovar a fé cristã mediante a tradução e<br />

circulação dos textos sagrados.<br />

d) a retomada do patrimônio cultural e literário da<br />

Antiguidade Clássica.<br />

e) o otimismo em relação aos avanços humanos no<br />

campo da educação.<br />

23 - (UERJ)<br />

“O casal Arnolfini”<br />

Está correto o que se afirma em:<br />

a) I, apenas.<br />

b) I e II, apenas.<br />

c) I e III, apenas.<br />

d) II e III, apenas.<br />

e) I, II e III.<br />

22 - (PUC RJ) “Meu falecido pai, de memória<br />

abençoada, fez todo esforço para que eu pudesse alcançar<br />

excelência mental e técnica. O fruto dos meus estudos e<br />

trabalhos alcançou o seu desejo mais querido. Mas você<br />

pode perceber que, para a educação, as condições não<br />

eram favoráveis como são hoje. Nem eu tive professores<br />

tão capazes como você.<br />

Nós ainda estávamos na idade das trevas. (...) Agora,<br />

pela graça de Deus, a luz e a dignidade foram restituídas<br />

às letras e eu vivi para vê-lo.<br />

Hoje as antigas ciências estão restauradas (...). As<br />

línguas restituídas: o grego (...); o hebraico e o latim (...).<br />

Hoje o mundo está repleto de homens sábios (...).<br />

Mas lembre-se disso, a sabedoria de nada lhe servirá se<br />

você não amar e temer a deus (...).<br />

Seu pai, Gargantua.”<br />

François Rabelais, Carta de Gargantua a Pantagruel, 1532<br />

São características do humanismo renascentista indicadas<br />

nesse texto, EXCETO:<br />

a) a crítica à Idade Média, percebida como período de<br />

trevas.<br />

b) a valorização de uma educação laica e a abertura das<br />

bibliotecas monásticas.<br />

JAN VAN EYCK (1389-1441) http://upload.wikimedia.org<br />

Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a imagem<br />

que nos vem à mente é a dos grandes artistas e de suas<br />

obras mais famosas. Isso nos coloca a questão: por que<br />

razão o Renascimento implica esse destaque tão grande<br />

dado às artes visuais? De fato, as artes plásticas<br />

acabaram se convertendo num centro de convergência de<br />

todas as principais tendências da cultura renascentista. E<br />

mais do que isso, acabaram espelhando os impulsos mais<br />

marcantes do processo de evolução das relações sociais e<br />

mercantis.<br />

NICOLAU SEVCENKO Adaptado de O Renascimento. São Paulo:<br />

Atual;Campinas: Ed. Unicamp, 1984.<br />

As diversas manifestações da cultura renascentista na<br />

Europa ocidental, entre os séculos XIV e XVI, estiveram<br />

relacionadas à criação de novos valores e práticas sociais<br />

que se confrontaram com aqueles da sociedade medieval.<br />

Cite dois aspectos da cultura renascentista que<br />

justifiquem a sua importância para o início dos Tempos<br />

Modernos.<br />

153


24 - (UCS RS) O Renascimento representou uma ruptura<br />

com o pensamento predominante na Idade Média.<br />

Assinale a alternativa que melhor caracteriza essa<br />

situação.<br />

a) As universidades surgiram com o Renascimento.<br />

Desde o início, elas estiveram envolvidas com a<br />

produção do conhecimento.<br />

b) O latim foi abandonado, sendo substituído pelo<br />

inglês, predominante entre os escritores<br />

renascentistas de toda a Europa.<br />

c) Somente após o movimento renascentista, os<br />

europeus entraram em contato com as obras da<br />

Antiguidade clássica. Inclusive os monges<br />

ignoravam a cultura helênica, restringindo-se à<br />

literatura sacra.<br />

d) Os renascentistas acreditavam que a verdade era<br />

revelada, sendo, portanto, mais uma questão de fé do<br />

que de investigação.<br />

e) Para os renascentistas, o homem deveria ser o centro<br />

de tudo, em oposição ao pensamento medieval, que<br />

privilegiava o teocentrismo.<br />

25 - (UFTM MG) Observe a imagem, que ilustra a capa<br />

de um manuscrito inglês do século XVI.<br />

(www.bridgemanart.com)<br />

É correto relacionar a imagem<br />

a) com práticas em vigor desde a Idade Média, período<br />

no qual se incentivou o estudo do corpo humano por<br />

meio da dissecação.<br />

b) às práticas de bruxaria então em voga, que<br />

garantiam ser possível determinar a localização<br />

exata da alma humana.<br />

154<br />

c) aos processos inquisitoriais e às torturas impostas<br />

aos acusados, que eram considerados possuídos pelo<br />

demônio.<br />

d) à crença na razão e na capacidade humana de<br />

compreender os processos naturais e biológicos,<br />

postura típica do Renascimento.<br />

e) às práticas astrológicas e mágicas, ampliadas nos<br />

séculos XV e XVI, graças ao contato com as<br />

sociedades indígenas das Américas.


GABARITO:<br />

1) Gab: C<br />

2) Gab:<br />

a) Os princípios que sustentaram a ação da Inquisição<br />

eram baseados no combate a toda e qualquer forma de<br />

oposição aos dogmas da Igreja Católica. Esses princípios<br />

eram efetivados por meio de práticas como: vigilância e<br />

controle do comportamento moral dos fiéis e severa<br />

censura às produções culturais e às inovações científicas.<br />

A citação de Giordano Bruno contraria esses princípios<br />

por exaltar o “saber” e o “poder de agir” do homem,<br />

avaliado, então, como ator capaz de dominar a natureza<br />

para criar “mundos desejáveis”. A citação se refere ao<br />

trabalho desenvolvido pelo mago. No período citado,<br />

seus conhecimentos provinham de fontes não aprovadas<br />

pela Igreja, que resultavam em práticas consideradas<br />

ocultas por ameaçarem os dogmas religiosos. Em virtude<br />

dessa compreensão por parte da Igreja, a Inquisição<br />

reservaria aos hereges (dentre eles, os magos) denúncias,<br />

investigações, julgamentos e condenações, com penas<br />

como prisão perpétua e morte na fogueira (o caso de<br />

Giordano Bruno).<br />

b) A citação está associada aos valores renascentistas<br />

porque se refere a um tipo distinto de poder e de saber,<br />

que ultrapassa os limites impostos pelos dogmas da<br />

Igreja Católica, na medida em que essa instituição tem a<br />

revelação divina como fonte única do saber. Três pontos<br />

associam a citação a esses valores: 1) a eleição do<br />

homem como agente; 2) a referência a uma ação<br />

racionalmente elaborada para transformar a realidade, o<br />

que remete à criação de novos mundos; 3) o registro de<br />

que os mundos a serem criados dependeriam da vontade<br />

humana. Assim, os pontos mencionados explicitam os<br />

seguintes valores do Renascimento: o humanismo e o<br />

antropocentrismo (valorização do homem e de seu poder<br />

de ação, o que resultava em colocar o homem no centro<br />

da ação e conferir-lhe vontade e desejo para a<br />

intervenção na natureza); o racionalismo (a valorização<br />

da razão humana).<br />

3) Gab: B<br />

4) Gab: D<br />

5) Gab: 05<br />

6) Gab: 07<br />

7) Gab: E<br />

8) Gab: B<br />

9) Gab: VVFFV<br />

10) Gab: 56<br />

11) Gab: FVVFV<br />

12) Gab:<br />

a) Revolução Científica. Também serão aceitos:<br />

renascimento científico, renascimento da ciência<br />

moderna.<br />

b) O candidato poderá destacar, dentre outras: o<br />

racionalismo, empirismo, o antropocentrismo, a<br />

experimentação, a observação.<br />

c)O candidato poderá destacar, dentre outros: o choque<br />

entre as concepções teocêntricas e da Igreja Católica e as<br />

baseadas no empirismo e no racionalismo. Também será<br />

considerada a identificação das reações que este processo<br />

produziu na Igreja, a exemplo do acirramento das<br />

perseguições aos adeptos desta nova forma de pensar e<br />

da condenação de diversas obras de intelectuais da<br />

época.<br />

13) Gab: D<br />

14) Gab: B<br />

15) Gab: B<br />

16) Gab: B<br />

17) Gab: E<br />

18) Gab: C<br />

19) Gab: B<br />

20) Gab: C<br />

21) Gab: B<br />

22) Gab: B<br />

23) Gab: Dois dos aspectos:<br />

valorização do indivíduo<br />

abandono do teocentrismo<br />

defesa dos ideais humanistas<br />

defesa dos valores burgueses<br />

valorização da liberdade individual<br />

utilização da razão na explicação do mundo visão mais<br />

natural e humanizada da religião<br />

24) Gab: E<br />

25) Gab: D<br />

155


TEXTO COMPLEMENTAR<br />

I. O LADO PROSAICO DAS GRANDES<br />

NAVEGAÇÕES<br />

Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional.<br />

29/8/2007<br />

Quando se fala nos feitos heroicos dos navegadores<br />

portugueses, em geral se omitem, talvez por cortesia, as<br />

condições muito pouco épicas com que esses bravos<br />

homens singravam os mares e descobriam novas terras.<br />

Se as caravelas constituíam, por um lado, prodígios da<br />

tecnologia marítima, cujos segredos eram disputados<br />

pelos espiões das potências europeias, por outro lado<br />

eram , verdadeiros lixões flutuantes, tal a sujeira com que<br />

os navegantes tinham de conviver durante suas longas<br />

viagens.<br />

Os recursos de higiene disponíveis não proporcionavam,<br />

ao contrário do que acontece hoje no interior das<br />

modernas naves espaciais, a possibilidade de se manter<br />

as naus limpas. Os porões eram infestados de ratos e<br />

baratas, que se multiplicavam a cada dia, sendo esses os<br />

locais onde os tripulantes faziam suas necessidades<br />

quando o enjoo marítimo dificultava a subida ao convés.<br />

A comida ruim, às vezes até estragada, e a água salobra<br />

eram racionadas. Padecia-se a bordo de uma moléstia<br />

muito comum entre os marinheiros antigos: o escorbuto,<br />

causado pela carência de vitamina C.<br />

A doença provocava enfraquecimento geral,<br />

hemorragias, hálito fétido, inchaço, sangramento nas<br />

gengivas e finalmente o óbito. A única maneira de<br />

atenuar o cheiro reinante era desinfetar os cómodos à<br />

base de vinagre, o que não eliminava as causas da<br />

imundície. Isso tudo pode soar depreciativo, mas, pelo<br />

contrário, só serve para dignificar ainda mais os<br />

admiráveis jeitos dos navegadores.<br />

II. UMA LUZ SOBRE A NAVEGAÇÃO<br />

Antes do debate a respeito de seu caráter científico, a<br />

Astrologia foi fundamental para a orientação dos<br />

descobridores.<br />

<strong>Geral</strong>do Barbosa Neto. 30/11/2011<br />

156<br />

Os estágios do céu, em manuscrito francês de 1377. A descrição das estrelas foi<br />

referência para as navegações no séculos XV e XVI. No alto, detalhe de Tratado<br />

da esfera, de 1543. (Biblioteca Nacional da França)<br />

Cristóvão Colombo (1451-1506) ficou com a pulga atrás<br />

da orelha. Como era possível, pensou, que em pouco<br />

tempo houvesse tamanha mudança no céu? O genovês<br />

foi tomado por espanto e dúvida ao navegar entre os<br />

hemisférios Sul e Norte. E anotou tudo no diário de sua<br />

terceira viagem para a América, em 1498.<br />

Os portugueses também pouco ou quase nada<br />

entenderam. Enquanto seus barcos se agitavam em altomar,<br />

eles podiam ver tudo, menos um sinal, qualquer<br />

sinal, de terra firme. A Estrela do Norte indicava a<br />

direção do polo setentrional. Mas quando cruzavam o<br />

Atlântico, na altura da linha do equador, não é que ela<br />

baixava cada vez mais na linha do horizonte? Baixava<br />

tanto que desaparecia, deixando os marinheiros sem pai<br />

nem mãe em pleno mar por absoluta falta de alguma<br />

referência que viesse lá de cima.<br />

Enquanto os descobridores singravam os oceanos às<br />

cegas, em busca do novo mundo, o auxílio luxuoso de<br />

um conhecimento milenar foi determinante para as<br />

tripulações terem consciência de onde estavam e, mais<br />

importante, em que direção navegavam. Foi a Astrologia<br />

que apontou o Sol como saída para aquela situação<br />

excepcional. Primeiro, por se tratar do astro mais visível<br />

e luminoso. Depois, pela simplicidade de seu<br />

movimento, que poderia ser organizado no período de<br />

um ano. Finalmente, por poder ser visto nos dois<br />

hemisférios, ao contrário das estrelas.<br />

Quem primeiro descreveu o método de localização solar,<br />

desenvolvido na costa brasileira, foi o cosmógrafo real<br />

João Faras, em 27 de abril de 1500. Ele ancorou na costa<br />

baiana com a frota de Pedro Álvares Cabral. Faras<br />

contou que, junto com dois pilotos, desceu em terra<br />

firme, de onde observou a posição do Sol, munido de um


astrolábio. Ao obter a medição e consultar a tabela de sua<br />

declinação, constatou estar 17 graus afastado da linha do<br />

equador. A técnica foi chamada de “tomar a altura do<br />

Sol”.<br />

Pela mudança da posição solar no céu no decorrer de um<br />

ano – fenômeno conhecido como “declinação do sol” –,<br />

a técnica de tomar sua altura se somava à antecipação do<br />

movimento solar apresentado em tabelas astronômicas.<br />

Essa compreensão foi fundamental para a navegação:<br />

garantiu a precisão na localização das expedições no<br />

ultramar.<br />

Um estudo matemático sobre os movimentos e as<br />

posições dos corpos celestes também muito contribuiu<br />

para o avanço náutico, pois inspirou a construção de<br />

tabelas astronômicas consultadas por cosmógrafos nas<br />

regiões ultramarinas. Trata-se de O Grande Compêndio,<br />

também chamado de Almanaque Perpétuo, lançado em<br />

1478 por Abraão Zacuto, astrólogo castelhano de<br />

ascendência judaica, que trabalhou na corte portuguesa.<br />

Não resta dúvida de que o trabalho de Zacuto não faz<br />

qualquer alusão ao tema navegação. É notório que o<br />

Almanaque sempre esteve muito mais próximo dos<br />

estudos da Astrologia do que propriamente das técnicas<br />

de marinharia. Mas, ao tabular e organizar o movimento<br />

anual do Sol em um calendário que abrangeu o intervalo<br />

entre os anos 1473 e 1476, o autor certamente inspirou<br />

estudiosos portugueses da navegação. Foi com base em<br />

seus cálculos, que permitiram a ordenação do movimento<br />

solar e seu uso em períodos posteriores, que Portugal<br />

avançou significativamente nas questões náuticas. Os<br />

autores dos Guias Náuticos de Munique e de Évora,<br />

obras publicadas aproximadamente entre 1509 e 1516,<br />

beberam na fonte do astrólogo. Na versão castelhana do<br />

Almanaque, Zacuto abriu caminho para as eleições,<br />

prática astrológica que identificava, pela interpretação do<br />

espaço celeste, um período propício para a realização de<br />

algum objetivo.<br />

GERALDO BARBOSA NETO é mestrando do Programa de Pós-Graduação<br />

em <strong>História</strong> da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.<br />

As Grandes Navegações transformaram a economia,<br />

criaram o mundo globalizado e ainda fizeram surgir<br />

uma nova concepção do gênero humano.<br />

Rodrigo Elias 1/9/2012<br />

Mapa de Cantino, como ficou conhecida a primeira carta a representar com<br />

clareza, para os padrões técnicos da época, os resultados dos descobrimentos. Sob<br />

as ordens do duque de Ferrara, Alberto Cantino teria conseguido o mapa em 1502<br />

em Portugal, ao custo de 12 ducados de ouro. (Biblioteca Estense, moderna -<br />

Itália)<br />

Quando o espanhol Rodrigo de Triana, marinheiro a<br />

bordo da caravela Pinta, avistou as Bahamas às duas<br />

horas da manhã do dia 12 de outubro de 1492, estava<br />

dando início àquela que provavelmente foi a maior<br />

transformação já ocorrida no globo. A chegada das<br />

caravelas ao Novo Mundo pôs os europeus em contato<br />

com novos produtos, novos hábitos e novas<br />

necessidades. A incorporação dessas regiões à esfera de<br />

influência da Europa teve grande importância<br />

econômica, política e estratégica.<br />

Não restam dúvidas sobre a dimensão desse impacto do<br />

lado ocidental do Atlântico: as populações nativas<br />

sofreram perdas incalculáveis, a começar pela drástica<br />

redução populacional causada por doenças – os índios<br />

eram vulneráveis a várias das enfermidades do Velho<br />

Mundo – guerras e escravidão. Além disso, passaram por<br />

uma profunda alteração nos seus modos de vida em<br />

consequência de uma nova lógica econômica, religiosa e<br />

política. Mesmo aquelas parcelas ou grupos nativos que<br />

se enquadraram na nova ordem se viram em uma<br />

situação bastante diferente daquela anterior ao final do<br />

século XV. A integração da África e da Ásia a esse<br />

sistema mundial com base no Atlântico, que vai conhecer<br />

seu auge entre os séculos XVII e XVIII, levou essas<br />

alterações, com altíssimo custo humano (aliás,<br />

desumano) às outras partes do planeta.<br />

A Europa, ou parte dela, foi beneficiária no processo – se<br />

levarmos em consideração que suas elites políticas e<br />

157


econômicas, que variaram ao longo de cinco séculos, do<br />

XV ao XIX, estiveram à frente da empreitada colonial.<br />

Os bônus foram variados: a consolidação de Estados<br />

nacionais, de dinastias, de casas e grupos comerciais,<br />

ligados quase sempre a produtos oriundos das colônias,<br />

como o açúcar de cana; de uma nova classe social<br />

vinculada ao início e ao desenvolvimento da<br />

industrialização; e de um sofisticado sistema bancário –<br />

tudo com base nas relações ultramarinas.<br />

Ao lado desse óbvio enriquecimento, como é de se supor,<br />

há também uma generalização da pobreza, não só no<br />

campo, mas, principalmente, nos crescentes centros<br />

urbanos. A multidão inglesa nas grandes cidades da<br />

revolução industrial, entre os séculos XVIII e XIX –<br />

época da incontestável primazia da Grã-Bretanha no<br />

cenário econômico mundial –, é a mais perfeita forma da<br />

miséria humana em todos os tempos. A fome e a<br />

indignidade que atingiram os trabalhadores pobres do<br />

centro do capitalismo formaram o caldo humano que<br />

alimentou as ideologias de esquerda mais ou menos<br />

radicais, e seu gosto amargo não foi totalmente<br />

esquecido nos nossos dias. O legado americano à<br />

Europa, entretanto, não se restringe às riquezas materiais<br />

que estão na base da expansão capitalista. Além do ouro,<br />

da prata e das pedras preciosas, os produtos coloniais<br />

também ganharam espaço naquele continente e alteraram<br />

a vida da cristandade. A começar pelo estômago: para se<br />

ter uma ideia da contribuição americana, dois dos quatro<br />

principais vegetais consumidos no mundo têm suas<br />

origens na região. A batata – injustamente chamada de<br />

“inglesa” – é originária dos Andes peruanos, onde já era<br />

cultivada havia cerca de 7.000 anos para alimentação<br />

humana. Foi levada pelos colonizadores europeus<br />

primeiramente como curiosidade, mas logo se espalhou e<br />

se tornou uma das bases da alimentação mundial. O<br />

milho, por sua vez, era cultivado inicialmente na<br />

América Central, e quando os europeus chegaram, entre<br />

os séculos XV e XVI, já era consumido em todo o<br />

continente americano. Devido à facilidade de adaptação<br />

e às muitas variedades, tornou-se elemento indispensável<br />

na dieta humana.<br />

A sobremesa não poderia ficar de fora: o chocolate,<br />

vedete do paladar do Ocidente ao Oriente, estrela das<br />

mais refinadas gastronomias, personagem principal de<br />

datas especiais nos nossos dias, é igualmente originário<br />

das Américas. Quando os conquistadores espanhóis<br />

chegaram ao México, perceberam que a iguaria era para<br />

poucos: era servida, por exemplo, ao imperador asteca,<br />

Montezuma II (1466-1520). Além disso, o cacau era<br />

158<br />

utilizado em cerimônias religiosas e servia também como<br />

moeda. Entre os séculos XVII e XVIII, virou sensação na<br />

Europa e nunca mais deixou de ser associado à<br />

sofisticação do paladar [ver RHBN no 43].<br />

Outro hábito emprestado dos nativos americanos, e que<br />

acabou sendo considerado civilizado séculos depois, foi<br />

o consumo do tabaco. Introduzido na Península Ibérica<br />

no século XVI, foi levado pelo representante diplomático<br />

francês em Portugal, Jean Nicot, à corte francesa – daí a<br />

homenagem no gênero do arbusto, nicotiana, e no nome<br />

do princípio ativo, a nicotina. Entre os séculos XVIII e<br />

XIX, como toda moda adquirida da nobreza europeia,<br />

fumar virou sinônimo de sofisticação mundana, e os<br />

grandes centros “civilizados” do Velho Mundo<br />

promoveram a difusão do hábito – ou vício – em amplas<br />

camadas da sociedade, principalmente a partir da<br />

industrialização dos cigarros, no final do século XIX.<br />

Até bem entrado o século XX, mesmo com todas as<br />

provas científicas sobre os malefícios dessa toxicomania,<br />

fumar foi considerado um símbolo de modernidade,<br />

independência e civilidade.<br />

Mas o grande impacto dos descobrimentos se deu mesmo<br />

no plano mental: entrar em contato com novas formas de<br />

organização social, estruturas políticas, hábitos<br />

alimentares, religiosidades, enfim, com novas culturas,<br />

trouxe aos europeus a noção de que os homens eram, em<br />

sua natureza, muito moldáveis. Levados para fora da<br />

Europa por um impulso ao mesmo tempo econômico e<br />

religioso, como rescaldo das intolerantes Cruzadas<br />

medievais, esses aventureiros acabaram se dando conta<br />

de que não havia apenas uma forma de se relacionar com<br />

o mundo, com os outros seres humanos e mesmo com as<br />

divindades.<br />

Confrontados com uma diversidade inimaginável, que<br />

incluía canibais nus vivendo em formações tribais<br />

nômades ou vastos impérios territoriais que se<br />

dedicavam à construção de pirâmides e sacrifícios<br />

humanos, todos dotados de complexas cosmogonias,<br />

calendários e efetivas medicinas tradicionais, os oriundos<br />

da Europa cristã logo foram obrigados a reconhecer a<br />

humanidade de seres muito diferentes deles. Teólogos,<br />

filósofos e escritores produziram intensamente, por meio<br />

de debates falados e escritos, reflexões sobre o que seria<br />

a essência da humanidade, abrindo as portas para o que<br />

mais tarde, no século XVIII, seria formulado como<br />

“natureza humana”, rejeitando – ou, pelo menos, se<br />

abrindo à possibilidade para tal – a superioridade dos<br />

cristãos europeus sobre a totalidade dos grupos dispersos<br />

no globo.


Este impacto fica claro na mais famosa obra do inglês<br />

Thomas Morus, Utopia (1516). Trata-se de um relato<br />

ficcional sobre uma ilha recém-descoberta, onde os<br />

habitantes viviam em uma república perfeita, não<br />

conheciam a ideia de propriedade privada, colocavam a<br />

felicidade pública acima da individual, todos<br />

trabalhavam e, portanto, não havia exploração... Enfim,<br />

uma anti-Inglaterra, localizada convenientemente na<br />

América. Se pudesse haver uma forma perfeita de<br />

organização social – em tempos de divisões profundas na<br />

Europa, assolada por conflitos políticos e religiosos,<br />

agravados por por transformações econômicas – isto<br />

seria possível no Novo Mundo.<br />

Se era aceitável a existência de uma formação política<br />

superior (mesmo que utópica) entre homens que não<br />

guardavam quaisquer relações com os do Velho Mundo,<br />

como rejeitar a humanidade dos americanos? O<br />

dominicano espanhol Bartolomeu de las Casas (1474-<br />

1566), bispo de Chiapas, no México, estava convencido<br />

da completa injustiça da escravização dos indígenas.<br />

Defensor de um modelo de colonização bem diverso<br />

daquele praticado pelos seus compatriotas, enfrentou<br />

políticos e teólogos, denunciou as atrocidades cometidas<br />

pelos espanhóis no Novo Mundo e morreu aos 92 anos<br />

como um autêntico humanista, na mais nobre acepção do<br />

termo.<br />

Um humanismo que entrou definitivamente na pauta dos<br />

filósofos europeus pela pena de Michel de Montaigne,<br />

cujos Ensaios (1580-1588) tomavam como certa a<br />

universalidade do homem, e via como construções<br />

artificiais as instituições e os costumes do seu tempo.<br />

Esta visão, a longo prazo, abalaria as estruturas políticas,<br />

religiosas e sociais da Europa. Dele a Rousseau (1712-<br />

1778), passando por todos os livre-pensadores franceses,<br />

os homens começaram a ser vistos como iguais em sua<br />

essência, embora variados em seus valores e modos de<br />

vida.<br />

Os marinheiros de Colombo não sabiam, mas naquela<br />

viagem acabaram descobrindo um elemento até então<br />

incogitado: o homem.<br />

Rodrigo Elias é professor das Faculdades Integradas Simonsen e<br />

pesquisador da Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional.<br />

159


A TRANSIÇÃO DO MEDIEVO À MODERNIDADE E A<br />

EXPANSÃO COMERCIAL E MARÍTIMA EUROPEIA<br />

1. CONDIÇÕES ESTRATÉGICAS DA EUROPA<br />

ENTRE A TRANSICAO MEDIEVAL E A<br />

MODERNIDADE<br />

Após um grave processo de retração identificado com a<br />

crise geral do século XIV, marcado essencialmente pela<br />

incidência das secas, fomes, pestes, revoltas e guerras, a<br />

Europa Medieval retomaria a partir do século XV o ritmo<br />

de crescimento iniciado pelas Cruzadas, que evidenciaria<br />

as contradições típicas de um período de transição e a<br />

necessidade de solução às novas dificuldades impostas à<br />

expansão comercial.<br />

No século XV, a população europeia voltava a crescer,<br />

especialmente nas áreas urbanas; no entanto, a condição<br />

feudal ainda permanente nas áreas rurais impedia a<br />

ampliação da produção, resultando na evidente falta de<br />

alimentos para o pleno abastecimento dos centros<br />

urbanos dinamizados pela atividade comercial e<br />

manufatureira. A produção artesanal urbana, também não<br />

encontrava nas áreas estacionárias rurais o mercado<br />

suficiente para o pleno consumo de sua demanda,<br />

arriscando a paralisação das atividades e reduzindo a<br />

oferta de empregos.<br />

Acrescente-se ainda às dificuldades desse século a<br />

condição do comércio internacional europeu,<br />

concentrado especialmente no comércio dos valiosos<br />

produtos orientais identificados como especiarias, que<br />

se tornaram comuns no mercado europeu especialmente<br />

com o avanço do movimento cruzadista. Comércio feito<br />

a partir de um longo e complexo trajeto até chegar ao<br />

Ocidente, este se via dificultado pelo controle dos árabes<br />

ao norte da África, sociedades em condição de plena<br />

animosidade com os cristãos europeus; também<br />

dificultaria esse trajeto, a tomada de Constantinopla,<br />

importante rota de acesso às especiarias, pelos turcos<br />

otomanos em meados do século XV. Ademais, o<br />

caminho marítimo pelo Mediterrâneo, mais convencional<br />

das rotas comerciais, encontrava-se no controle de<br />

poderosas guildas mercantis das cidades italianas, que ao<br />

exercerem papel intermediário nesse processo, encarecia<br />

de sobremaneira os preços, num momento em que a<br />

classe senhorial, potencial consumidora, contraía-se em<br />

dificuldades econômicas.<br />

160<br />

A natureza e o sentido do comércio das especiarias,<br />

orientando-se em sentido único no qual a Europa<br />

figurava essencialmente como consumidora, concentrou<br />

muitas das reservas de metais preciosos da Europa no<br />

continente asiático. Associado ao esgotamento natural<br />

dessas reservas definiu-se ainda uma grave crise das<br />

moedas, que ainda mais viriam dificultar o<br />

desenvolvimento do comércio e tornavam forçosa a<br />

busca por novos meios de aquisição de metais<br />

preciosos.<br />

Desse modo, urgia à Europa da transição entre o<br />

medievo e a modernidade, buscar soluções a esse<br />

estreitamento de mercado que pudessem garantir a<br />

continuidade da expansão econômica. Daí decorreu a<br />

solução pautada no alargamento do mercado europeu,<br />

procedido por meio da ampliação do comércio através<br />

da expansão marítima, capaz de garantir novos<br />

mercados consumidores de produtos artesanais, áreas<br />

fornecedoras de produtos alimentícios, novas fontes de<br />

metais preciosos para aliviar a falta de moedas ou novas<br />

rotas alternativas às tradicionais de acesso ao mercado<br />

oriental das especiarias, baixando seus preços e<br />

ampliando o consumo em camadas de poder aquisitivo<br />

menor.


1. CONDIÇÕES GERAIS PARA<br />

REALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO<br />

A magnitude do empreendimento das Grandes<br />

Navegações e a importância de seus determinantes deve<br />

ser considerada não apenas como o resultado de um<br />

esforço movido pela curiosidade pelo novo ou pelo<br />

espirito aventureiro de seus empreendedores; uma<br />

conjunção de fatores estruturais tornou possível, naquele<br />

momento e naquela realidade europeia, a execução de<br />

tais feitos.<br />

à busca pelo desconhecido; também se emprenhavam em<br />

encontrar o Jardim do Éden, supostamente localizado em<br />

alguma região em direção ao Oriente Médio e a busca<br />

pelo lendário reino cristão e abundante em riquezas do<br />

Preste João.<br />

Do ponto de vista econômico a expansão marítima<br />

expressou essencialmente os objetivos da classe<br />

mercantil em expansão, sequiosa em garantir a<br />

ampliação de suas margens de lucros. No plano político,<br />

os interesses dessa classe convergiram no apoio ao<br />

processo de centralização do poder do Estado, que<br />

necessitava da ampliação das rendas, garantindo o<br />

armamento e seus exércitos permanentes e o<br />

preenchimento e sustentação de seus quadros<br />

burocráticos.<br />

Entre os pioneiros desse processo, os Estados ibéricos<br />

Portugal e Espanha, não se pode desconsiderar o aspecto<br />

ideológico de conotação religiosa que também os<br />

motivaram; viram-se, naquele momento inicial, como na<br />

continuação da Guerra de Reconquista de espirito<br />

cruzadista que estavam envolvidos, esforçando-se em<br />

combater os muçulmanos na África e expandir ao<br />

Oriente a fé cristã. Mais tarde, tal princípio se efetivaria<br />

como prioridade, no envio de jesuítas à catequese dos<br />

gentios nas áreas expandidas.<br />

Do ponto de vista cultural, é imprescindível pensar a<br />

expansão comercial e marítima como decorrência<br />

também das próprias inovações promovidas pelo<br />

Renascimento, movimento renovador do fim da Idade<br />

Média. Novas concepções sobre o formato da Terra, a<br />

convicção de poder ir a qualquer parte seguindo em linha<br />

reta e as condições técnicas de aprimoramento de<br />

instrumentos de localização e meios de navegação, até a<br />

própria concepção inovadora do homem em sua<br />

individualidade e busca por grandeza, se associaram para<br />

motivar tal empreendimento.<br />

Apesar dos ideais modernos que pareciam apresentar um<br />

novo tempo, elementos do imaginário medieval<br />

estiveram presentes também no maravilhamento que<br />

induziriam aqueles homens às longas viagens. Relatos<br />

como o do navegador veneziano Marco Polo ao Oriente e<br />

suas descrições maravilhosas de mundos e seres<br />

estranhos, abundantemente ricos, norteavam navegadores<br />

Neste mapa-múndi do século XV, o mundo aparece<br />

dividido entre os três filhos de Noé. A Ásia, ao alto,<br />

pertence a Sem; a Europa, a esquerda, a Javé; a África, à<br />

direita, a Cam, o filho maldito. A Ásia fica no alto<br />

porque ali se encontram Jerusalém e o paraíso terrestre.<br />

Apesar do comércio crescente com a Ásia, as<br />

construções cartográficas revelam o quão pouco os<br />

europeus sabiam sobre o Oriente e, quanto suas<br />

convicções estavam impregnadas do pensamento<br />

medieval. Os mapas-múndi representavam o mundo<br />

numa perspectiva cristã, quase sempre figurando<br />

Jerusalém, como o centro do mundo. O Oriente era<br />

apresentado como o espaço do paraíso terrestre, onde<br />

teriam vivido Adão e Eva. Figurava como um paraíso<br />

perdido, repleto de flores, árvores frondosas, rios de leite<br />

e mel, cuja precisão de localização por não ser exata,<br />

presumia se encontrar numa confluência entre os rios<br />

Nilo, Ganges, Eufrates e Tigre. Além da construção<br />

idílica, essas terras eram também idealizadas como muito<br />

ricas. O livro das Maravilhas, de Marco Polo, dava conta<br />

de governantes com mantos de pérolas e pedras<br />

preciosas, luxo, ouro por toda a parte. (...) Para os<br />

europeus, esse ‘outro mundo’ além de abrigar o paraíso e<br />

fontes inesgotáveis de riqueza, era um lugar de sonho,<br />

161


em que os desejos e fantasias de abundância do homem<br />

medieval projetavam a oposição a suas misérias e<br />

doenças de sua própria realidade. Por outro lado, também<br />

era fonte de medos e pesadelos, associados ao fato de<br />

crerem ser um mundo habitado por monstros, homens<br />

sem cabeça, com rabo, olhos e narizes no peito, cabeça<br />

de bode ou de cão, gigantes de um olho só, pigmeus<br />

traiçoeiros e canibais ferozes.<br />

práticas dos muçulmanos outrora residentes na região, ou<br />

do contato com chineses através de comerciantes<br />

genoveses e venezianos e então repassados aos<br />

portugueses. Tais técnicas também foram favorecidas<br />

pelo empenho pessoal do nobre da Casa de Borgonha, o<br />

infante Dom Henrique, que atraiu para Sagres<br />

astrônomos, cartógrafos, pilotos, construtores navais e<br />

toda sorte de gente experimentada na arte de navegar.<br />

Destacamos a difusão do uso da bússola, o<br />

desenvolvimento do quadrante, que permitia calcular<br />

latitudes, e o aperfeiçoamento do astrolábio, instrumento<br />

essencial para medir a altura dos astros em relação ao<br />

horizonte no curso da navegação. Também deve se<br />

destacar o desenvolvimento das embarcações de<br />

navegação oceânica, como as caravelas que permitiam<br />

navegação à vela mesmo em sentido contrário ao vento.<br />

DOS SANTOS, Georgina, FARIA Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge,<br />

VAINFAS, Ronaldo. Conecte <strong>História</strong> 01. São Paulo: Saraiva 2012. P. 140-150.<br />

2. O PIONEIRISMO PORTUGUÊS<br />

Embora Portugal fosse um pequeno país na periferia da<br />

Europa em fins da Idade Média, conseguiu reunir<br />

condições excepcionais para garantir a primazia no<br />

processo de expansão. Poderíamos destacar:<br />

Excelente posicionamento geográfico, a sudoeste da<br />

Europa, voltado para o Oceano Atlântico, com favoráveis<br />

correntes marinhas que tornavam facilitado há algum<br />

tempo o contato com o norte africano; contava ainda com<br />

portos tradicionais de atividade pesqueira e manutenção<br />

de atividades comerciais intensas com o norte da Europa.<br />

O desenvolvimento de importantes técnicas de<br />

navegação e conhecimento náuticos, aprimorados das<br />

A caravela, um tipo de navio desenvolvido pelos portugueses, se constituía numa<br />

adaptação de uma antiga embarcação denominada caravo, já conhecida pelos<br />

árabes. Ela possibilitava a navegação contra o vento, uma vez que se utilizava de<br />

velas latinas, panos triangulares com extremidades rígidas capazes de gerar uma<br />

força propulsora na direção oposta a do vento. Na construção de uma caravela,<br />

eram consumidos cerca de 4 mil troncos de árvores. Uma caravela, tinha cerca de<br />

20 metros de comprimento e pesava, aproximadamente, 20 toneladas. Seu casco<br />

esguio permitia fáceis manobras e possibilitava à embarcação alcançar expressiva<br />

velocidade. Na imagem acima, vê-se uma representação de algumas das caravelas<br />

que compunham a expedição de Pedro Álvares Cabral.<br />

162


considerada como fator de estímulo do Estado<br />

português ao seu pioneirismo nas grandes viagens.<br />

ORIGENS DO ESTADO PORTUGUÊS E A<br />

REVOLUÇÃO DE AVIS<br />

O astrolábio, instrumento astronômico inventado na Antiguidade pelos gregos e<br />

difundido pelos árabes durante a Idade Média, foi aperfeiçoado pelos astrônomos<br />

da “Escola de Sagres”. Esta, na verdade, nunca existiu como um centro de<br />

estudos ou um observatório astronômico localizado no sul de Portugal. Ao<br />

contrario do que muitos pensam na atualidade, essa escola não existiu no sentido<br />

físico. Na realidade, tratava-se de um grupo de pessoas ligadas à arte náutica que<br />

desenvolvia um pensamento em comum, sob a liderança, inicialmente, do infante<br />

D. Henrique, filho de D. João I, primeiro rei da dinastia de Avis. O astrolábio era<br />

o principal instrumento utilizado pelos navegadores para determinar a latitude.<br />

Ressalte-se que ele não funcionava muito bem com os navios em movimento,<br />

provocando erros de até 5º na medição da latitude.<br />

<br />

<br />

<br />

Disponibilidade de capitais, investidos seja pelo<br />

Estado Português, como os fundos monetários da<br />

Ordem de Cristo, ou de mercadores estrangeiros,<br />

como genoveses, ingleses e flamengos instalados em<br />

Portugal e que incialmente apostaram no<br />

empreendimento. Ao longo do século XV, a própria<br />

burguesia lusitana, garantiu o autofinanciamento das<br />

grandes viagens, graças aos lucros auferidos do<br />

intenso comércio praticado no norte e costa atlântica<br />

africana, o que garantiria a própria longevidade das<br />

viagens portuguesas.<br />

A plena centralização política concluída no Reino<br />

de Portugal, que garantiu a aquele Estado vantagem<br />

na capacidade organizacional de um<br />

empreendimento daquela natureza; ainda mais<br />

quando os interesses políticos do Estado<br />

convergiram aos interesses mercantis da classe<br />

burguesa após a Revolução de Avis, com a ascensão<br />

de D. Joao I.<br />

A solução do conflito interno, a completa expulsão<br />

de mouros de seu território e a ausência de<br />

enfrentamentos externos também deve ser<br />

O território que viria a constituir-se em Nação<br />

Portuguesa pertenceu originalmente ao que desde a<br />

Antiguidade se considerava a Lusitânia, antiga província<br />

romana, habitada por iberos e celtas, e que já a essa<br />

altura chamou se de Portus Cale, à sua vila original,<br />

próximo ao Rio Douro.<br />

Na Idade Média, com o esfacelamento do domínio<br />

romano, a região se tornaria alvo da dominação dos<br />

visigodos e, a partir do século VIII, incorporado como<br />

boa parte da Península Ibérica ao domínio muçulmano,<br />

na agora Andaluzia.<br />

As origens do Reino Português, entretanto, remontam às<br />

Guerras de Reconquista, iniciadas no século XI e<br />

estendidas até o século XV e que envolveu pequenos<br />

reinos católicos das Astúrias, ora isoladamente ou em<br />

conjunto, no esforço de expulsão dos muçulmanos da<br />

região.<br />

Como desdobramento desses conflitos, o nobre francês<br />

Henrique de Borgonha prestou serviços militares ao Rei<br />

Afonso I de Leão, aos quais seria recompensado com o<br />

recebimento do Condado de Portucalense, entre o Minho<br />

e o Douro, além da concessão da mão da filha do<br />

monarca em casamento ao nobre. Em 1143, o herdeiro<br />

Afonso Henrique de Borgonha seria responsável pelo<br />

enfrentamento contra o reino do próprio avô,<br />

163


empenhando-se na autonomia do Condado; com o apoio<br />

do papa Alexandre III, Afonso Henriques é coroado rei<br />

de Portugal, iniciando a dinastia de Borgonha, que se<br />

estendeu até 1383. A emancipação do Reino não garantiu<br />

a plena estabilidade do Reino, frequentemente ameaçada<br />

pela ameaça de incorporação pelos vizinhos castelhanos<br />

e pela diversidade de poderes, especialmente entre os<br />

grandes proprietários de terra. Em 1383, com a morte do<br />

monarca D. Fernando, Portugal mergulharia numa grave<br />

guerra civil envolvendo a disputa pelo trono. A viúva,<br />

dona Leonor, favorecia o casamento da herdeira Beatriz<br />

com o monarca de Castela, o que desagradava parte da<br />

burguesia lusitana e os pequenos proprietários, que viam<br />

nessa ação a ameaça à autonomia do Reino Português.<br />

Desse modo, parte substancial da sociedade lusitana,<br />

especialmente a arraia miúda – referência às camadas<br />

populares, a classe mercantil e os pequenos e médios<br />

proprietários de terra, confluíram o apoio ao trono em<br />

torno do Mestre de Avis, irmão bastardo de D. Fernando.<br />

Em 1385, na Batalha de Aljubarrota, a guerra contra<br />

Castela definiu-se em favor do Mestre de Avis, que seria<br />

coroado com D. Joao I. A Revolução de Avis marca o<br />

nascimento do Estado Nacional moderno em Portugal, e<br />

a aproximação do centro de poder aos interesses<br />

mercantis, essencial à expansão territorial e comercial<br />

propiciada através das Grandes Navegações.<br />

DOS SANTOS, Georgina, FARIA Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge,<br />

VAINFAS, Ronaldo. Conecte <strong>História</strong> 01. São Paulo: Saraiva 2012. P. 151<br />

3. ETAPAS DO EXPANSIONISMO<br />

PORTUGUÊS<br />

O marco inicial das viagens portugueses é o ano de<br />

1415, quando uma expedição de mais de 20 mil<br />

soldados, em uma frota de 110 navios e sob comando da<br />

própria casa real portuguesa, de forte inspiração na<br />

164<br />

continuidade da Guerra de Reconquista, atacaram a<br />

cidade de Ceuta, importante polo convergente das rotas<br />

transaarianas de comércio. Ali fundaram uma catedral<br />

em lugar de uma importante mesquita muçulmana e,<br />

objetivava recolher informações sobre regiões africanas<br />

de onde pudessem ser extraídos ouro e metais preciosos,<br />

evidenciando precoces interesses das viagens marítimas,<br />

anteriormente citados.<br />

Nas décadas posteriores seguiram se a essa ação de<br />

conquista uma série de viagens de curta distância pelo<br />

Atlântico, margeando a costa ocidental africana, das<br />

quais se tomou conhecimento das ilhas e arquipélagos<br />

como Madeira (1419), Cabo Verde (1445), Açores (entre<br />

1427 e 1431) e São Tomé; regiões onde seriam<br />

desenvolvidas atividades como produção açucareira, uso<br />

de trabalho escravo africano, produção de trigo para<br />

abastecimento do reino, criação de gado e outras culturas<br />

cereais.<br />

Em 1434, o navegador Gil de Eannes seria o responsável<br />

por outra importante etapa das navegações portuguesas,<br />

que permitiram o contorno do Cabo Bojador. Depois de<br />

15 tentativas sem sucesso, prejudicadas pelos nevoeiros<br />

intensos, ruídos ensurdecedores dos ventos a sudoeste e<br />

ondas de mais de 15 metros nos penhascos, garantia-se a<br />

superação do grande obstáculo em direção ao sul do<br />

continente africano.<br />

Ao longo da década de 1440, os portugueses alcançaram<br />

a região do rio do Ouro e do Rio Senegal, onde passou a<br />

estabelecer feitorias que permitiu proveitoso comercio na<br />

região, envolvendo o ouro sudanês, marfim, pimenta e<br />

escravos geralmente negociados com os chefes africanos<br />

em troca de armas, cobre, cavalos e tecidos.<br />

Durante o reinado de D. João II, ao longo da década de<br />

1480, um novo desafio se impôs, o de contornar o<br />

extremo sul africano, alcançando o Oceano Índico e<br />

garantindo o acesso às Índias e suas especiarias, objetivo<br />

inicial e primordial das viagens, garantindo uma rota<br />

alternativa a essas mercadorias. Diogo Cão alcançaria a<br />

foz do Rio Congo em 1481, avançando nos três anos<br />

seguintes cada vez mais em direção ao sul. Entre 1487 e<br />

1488 era a vez do navegador Bartolomeu Dias alcançar o<br />

Cabo das Tormentas, no extremo sul africano,<br />

renomeado a partir de então Cabo da Boa Esperança e<br />

abrindo definitivamente os caminhos às riquezas<br />

orientais.<br />

Dez anos depois, a conquista de uma rota alternativa para<br />

as Índias através do Atlântico Sul confirmava-se com a<br />

viagem de Vasco da Gama, concluída em Calicute nas


Índias. Convertida num dos maiores feitos da<br />

humanidade, o regresso da expedição do navegador<br />

garantiu lucros de até 6000% no comercio de produtos<br />

trazidos, como pimenta, cravo, gengibre, e noz moscada,<br />

bem como a existência de uma nova rota alternativa aos<br />

caminhos tradicionais, terrestres ou marítimos, ligados<br />

ao Mar Mediterrâneo.<br />

Em 1500, o nobre português Pedro Alvares Cabral<br />

viajaria para as Índias, comandando uma esquadra de<br />

mais de 1500 homens, com a missão de estabelecer<br />

contatos diplomáticos e assegurar possíveis privilégios<br />

comerciais naquela região. Pouco mais de 40 dias depois,<br />

entretanto, a esquadra alcançaria, no Atlântico Sul, o<br />

vasto território que tornaria- se mais tarde o Brasil, de<br />

onde seguiria às Índias, prosseguindo a exploração<br />

comercial iniciada por Vasco da Gama.<br />

Importa destacar que a viagem de Cabral não foi a última<br />

realizada pelos portugueses, tendo esses, posteriormente,<br />

alcançado o sudeste asiático, em 1511, na região de<br />

Malaca; em 1517, chegariam à China, onde em 1555, sob<br />

autorização do imperador chinês, se estabeleceram na<br />

ilha de Lampcaco, rebatizada em 1557, de Macau. No<br />

ano de 1543, os portugueses alcançaram ainda a região<br />

de Tanegashima, no Japão, possibilitando rentáveis<br />

negócios no comercio d prata. As sucessivas viagens que<br />

se prosseguiram ao Oriente abriram caminho para a<br />

lucrativa “Carreira das Índias", viagem anual realizada<br />

de Lisboa a Goa, na Índia, cidade fortificada e controlada<br />

por portugueses e que centralizava boa parte do comércio<br />

entre o Oriente e o Ocidente .<br />

4. AS NAVEGAÇÕES ESPANHOLAS<br />

João II, rei de Portugal, a possibilidade de se chegar às<br />

Índias navegando em linha reta na direção ocidental.<br />

Com a recusa de Portugal, Colombo buscaria apoio na<br />

monarquia espanhola, representada pelos reis católicos<br />

Fernando e Isabel, em início da década de 90 daquele<br />

século.<br />

A iniciativa de Colombo marca o início da participação<br />

espanhola no processo expansionista, processo<br />

coincidente com a consolidação do estado Nacional<br />

Moderno, a partir da unificação dos reinos de Castela e<br />

Aragão no casamento de seus monarcas na década de 60<br />

e, na vitória sobre os mouros na última etapa da Guerra<br />

de Reconquista que os expulsaram da região de Granada.<br />

A acentuada religiosidade dos monarcas espanhóis<br />

também influenciou o sentido cruzadista daquelas<br />

expedições, assim como os interesses econômicos<br />

despertados pelas riquezas adquiridas pelo reino vizinho<br />

em suas viagens já bem adiantadas.<br />

Objetivando alcançar o Oriente pelo Ocidente (el levante<br />

por el poniente), as três embarcações de Colombo<br />

financiadas pelos monarcas espanhóis, alcançaram um<br />

novo continente – constatação posterior – a 12 d outubro<br />

de 1492, ao América ou Novo Mundo. Nas três viagens<br />

subsequentes, mantendo o equívoco da primeira viagem<br />

Colombo imaginava está no Oriente, o que acirrou<br />

conflitos entre as duas potências expansionistas quanto à<br />

divulgação da suposta chegada dos espanhóis às Índias.<br />

O papa Alexandre VI, em 1493, determinou a divisão das<br />

terras descobertas, das rotas marítimas e terras a<br />

descobrir, por meio de um meridiano que passava a 100<br />

léguas a Oeste de Cabo Verde, através da Bula Inter<br />

Coetera. Presumindo o suposto prejuízo de sua rota<br />

oriental, os portugueses resistiram àquela medição, sendo<br />

oficializado em 1494, o Tratado de Tordesilhas, que<br />

deslocaria os limites de exploração para 370 léguas a<br />

oeste de Cabo Verde, ampliando as possessões<br />

portuguesas.<br />

Na década de 80 do século XV, prestes à data em que os<br />

portugueses contornariam o Cabo da Boa Esperança<br />

(1488), em 1484, Cristóvão Colombo teria proposto a D.<br />

165


Considerado uma vitória portuguesa, o Tratado de<br />

Tordesilhas garantiu o controle sobre a rota oriental, o<br />

predomínio português no Atlântico Sul e a posse de<br />

terras que a Coroa Portuguesa suspeitava existirem.<br />

O projeto expansionista espanhol não se restringiu aos<br />

empreendimentos de Colombo, devendo ser considerada,<br />

a viagem de Fernão de Magalhaes, que em 1519 retomou<br />

a rota para o oriente direcionada pelo ocidente, através<br />

da qual o navegador seguiu em direção ao Atlântico Sul,<br />

transpôs o Estreito de Magalhães e em 1521 chegaria às<br />

Filipinas, onde foi morto em conflito com nativos. A<br />

viagem deu prosseguimento e em 1522 a tripulação<br />

sobrevivente retornou a Espanha, concluindo a primeira<br />

viagem de circum-navegação.<br />

dizimação de enorme contingente de populações<br />

autóctones das áreas encontradas, grave prejuízo às<br />

culturas locais e a intersecção de novos padrões<br />

culturais, predominantemente euro-ocidentais; esses<br />

impérios também garantiriam o pleno desenvolvimento<br />

do capitalismo comercial, garantindo grande afluxo de<br />

riqueza que permitiria a acumulação primitiva de<br />

capitais necessária à fase industrial de consolidação do<br />

capitalismo.<br />

ARRUDA, José Jobson. Moderna e Contemporânea, Vol. 1. Bauru: EDUSC,<br />

2006<br />

BRAICK, Patrícia, MOTA, Myriam Brecho. <strong>História</strong> das Cavernas ao Terceiro<br />

Milênio. São Paulo: Editora Moderna, 2013.<br />

CAMPOS, Flávio de, CLARO, Regina. Oficina de <strong>História</strong>. São Paulo: Editora<br />

Leya, 2012<br />

MARQUES, Adhemar. Pelos Caminhos da <strong>História</strong>. Curitiba: Editora Positivo,<br />

2006<br />

VAINFAS, Ronaldo, FARIA, Sheila de Castro, FERREIRA, Jorge, SANTOS<br />

dos, Georgina. Conecte <strong>História</strong> 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.<br />

Revista de <strong>História</strong> da Biblioteca Nacional, Ano 07, Número 84, Setembro de<br />

2012<br />

EXERCÍCIOS<br />

5. PRINCIPAIS EFEITOS DA EXPANSÃO<br />

COMERCIAL<br />

Os resultados dessas navegações seriam determinantes<br />

na afirmação da Modernidade Ocidental, como também<br />

revolucionários em escala global.<br />

Essencialmente, devemos salientar o processo de<br />

mundialização, ou primeira globalização, que definiu<br />

através das terras encontradas por aqueles navegadores,<br />

um impactante processo de integração das partes do<br />

planeta, multidimensionado na mobilização de pessoas,<br />

mercadorias, culturas, contatos e choques entre<br />

populações, que antecipou o fenômeno comunicador de<br />

nossa globalização atual.<br />

Outro elemento fundamental seria a própria<br />

transferência do eixo econômico do Mediterrâneo,<br />

mantido por toda a Antiguidade e Medievo, para o<br />

Atlântico, que se tornaria, por excelência, o oceano<br />

integrador das partes conhecidas da Terra.<br />

Também considerável foi a formação de vastos<br />

impérios coloniais pelos países europeus, resultando na<br />

01 - (FUVEST SP) Deve-se notar que a ênfase dada à<br />

faceta cruzadística da expansão portuguesa não implica,<br />

de modo algum, que os interesses comerciais estivessem<br />

dela ausentes – como tampouco o haviam estado das<br />

cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e<br />

financiadas pela burguesia das repúblicas marítimas da<br />

Itália. Tão mesclados andavam os desejos de dilatar o<br />

território cristão com as aspirações por lucro mercantil<br />

que, na sua oração de obediência ao pontífice romano,<br />

D. João II não hesitava em mencionar entre os serviços<br />

prestados por Portugal à cristandade o trato do ouro da<br />

Mina, “comércio tão santo, tão seguro e tão ativo” que<br />

o nome do Salvador, “nunca antes nem de ouvir dizer<br />

conhecido”, ressoava agora nas plagas africanas…<br />

Luiz Felipe Thomaz, “D. Manuel, a Índia e o Brasil”. Revista de <strong>História</strong> (USP),<br />

161, 2º Semestre de 2009, p.16-17. Adaptado.<br />

Com base na afirmação do autor, pode-se dizer que a<br />

expansão portuguesa dos séculos XV e XVI foi um<br />

empreendimento<br />

a) puramente religioso, bem diferente das cruzadas dos<br />

séculos anteriores, já que essas eram, na realidade,<br />

grandes empresas comerciais financiadas pela<br />

burguesia italiana.<br />

166


) ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era<br />

comum, à época, a concepção de que a expansão da<br />

cristandade servia à expansão econômica e viceversa.<br />

c) por meio do qual os desejos por expansão territorial<br />

portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista de<br />

novos mercados para a economia europeia mostrarse-iam<br />

incompatíveis.<br />

d) militar, assim como as cruzadas dos séculos<br />

anteriores, e no qual objetivos econômicos e<br />

religiosos surgiriam como complemento apenas<br />

ocasional.<br />

e) que visava, exclusivamente, lucrar com o comércio<br />

intercontinental, a despeito de, oficialmente,<br />

autoridades políticas e religiosas afirmarem que seu<br />

único objetivo era a expansão da fé cristã.<br />

Figura 3: Globo Terrestre<br />

(CARRARO, Fernando. Atividades com mapa. São Paulo: FTD, 1996.)<br />

02 - (UERJ) Uma questão acadêmica, mas interessante,<br />

acerca da “descoberta” do Brasil é a seguinte: ela<br />

resultou de um acidente, de um acaso da sorte? Não, ao<br />

que tudo indica. Os defensores da casualidade são hoje<br />

uma corrente minoritária. A célebre carta de Caminha<br />

não refere a ocorrência de calmarias. Além disso, é<br />

difícil aceitar que uma frota com 13 caravelas, bússola e<br />

marinheiros experimentados se perdesse em pleno<br />

oceano Atlântico e viesse bater nas costas da Bahia por<br />

acidente.<br />

Rejeitado o acaso como fonte de explicação no que tange<br />

aos objetivos da “descoberta”, fica de pé a seguinte<br />

pergunta: qual foi, portanto, a finalidade, a intenção da<br />

expedição de Cabral?<br />

Adaptado de LOPEZ, Luiz Roberto. <strong>História</strong> do Brasil colonial.<br />

Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.<br />

Os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI<br />

foram processos importantes para a construção do mundo<br />

moderno. A chegada dos portugueses ao Brasil decorre<br />

dos projetos que levaram diferentes nações europeias às<br />

grandes navegações.<br />

Formule uma resposta à pergunta do autor, ao final do<br />

texto: qual foi a finalidade da expedição de Cabral?<br />

Em seguida, cite dois motivos que justificam as grandes<br />

navegações marítimas nos séculos XV e XVI.<br />

03 - (UEL PR) Observe as figuras 3 e 4 a seguir.<br />

Figura 4: Planisfério<br />

(CARRARO, Fernando. Atividades com mapa. São Paulo: FTD, 1996.)<br />

Oceanos abrigaram, uniram e separaram povos no<br />

decorrer do tempo. Representações artísticas, literárias,<br />

cartográficas e narrativas históricas sobre os oceanos<br />

contribuíram para ampliar a sua compreensão.<br />

Com base no enunciado e nos conhecimentos históricos,<br />

considere as afirmativas a seguir.<br />

I. Grande parte das terras banhadas pelo Mediterrâneo,<br />

denominado Mare Nostrum pelos antigos romanos, foi<br />

por eles colonizada no decorrer do seu Império.<br />

II. Os portugueses, nos séculos XV e XVI, dominaram<br />

oceanos com caravelas e conhecimentos náuticos,<br />

anotando, em suas viagens, as rotas marítimas.<br />

III. As narrativas sobre as criaturas míticas que<br />

habitavam os oceanos apavoraram o homem no período<br />

medieval, retardando as Grandes Navegações.<br />

IV. No período colonial brasileiro, os holandeses, através<br />

de seus empreendimentos de navegação, conquistaram a<br />

capitania do Rio de Janeiro, por meio século.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />

b) Somente as afirmativas II e III são corretas.<br />

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />

e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.<br />

167


04 - (UFSC)<br />

Universalis Cosmographia Secundum Ptholomei Traditionem e Et Americi<br />

Vespucci Aliorum Lustrationes (mapa mundo) – Martin Waldseemüller, 1507.<br />

Disponívelem:www.novomilenio.inf.br/santos/major18.htm> Acesso em: 19 set.<br />

2011.<br />

As grandes navegações foram responsáveis por<br />

transformações importantes, tanto na Europa como nas<br />

Américas.<br />

Sobre as grandes navegações, assinale a(s) proposição<br />

(ões) CORRETA(S).<br />

01. Portugal possui um grande litoral e,<br />

consequentemente, só poderia se dedicar ao comércio<br />

marítimo: o pioneirismo português nas navegações se<br />

deu exclusivamente a uma dádiva natural.<br />

02. Dois importantes concorrentes portugueses nas<br />

grandes navegações foram França e Inglaterra que, assim<br />

como Portugal, foram países favorecidos pela paz<br />

reinante em seus territórios durante os séculos XIV e<br />

XV.<br />

04. São consequências importantes das grandes<br />

navegações o crescimento de operações comerciais e a<br />

diversificação de produtos provenientes das Américas,<br />

como o tabaco, o milho, a batata e o cacau.<br />

08. A conquista espanhola nas Américas ocorreu de<br />

forma pacífica, uma vez que os incas tiveram a liberdade<br />

de exercer suas atividades culturais e econômicas de<br />

modo independente da Espanha.<br />

16. Dentre os habitantes das Américas estavam astecas,<br />

incas e maias. Os maias desenvolveram um sistema<br />

matemático e astronômico bastante apurado.<br />

05 - (PUC RJ) “Historicamente, a incorporação de<br />

novos espaços à economia mundial tem levado à<br />

decadência dos eixos econômicos tradicionais e ao<br />

surgimento de novos polos econômicos e de poder. Até o<br />

século XV o Mediterrâneo era o centro das sociedades<br />

ocidentais, em seguida a hegemonia passou para o eixo<br />

Atlântico, que atualmente está sob a ameaça de um eixo<br />

emergente na bacia do Oceano Pacífico”. Adaptado de PIRES,<br />

M. Cordeiro. O deslocamento do eixo econômico mundial in Revista PUC VIVA,<br />

32, 2008.<br />

Sobre esses processos, NÃO É CORRETO afirmar que:<br />

a) o deslocamento do eixo comercial para o Oceano<br />

Atlântico relacionou-se às<br />

b) Grandes Navegações e à Colonização da América,<br />

pelos europeus.<br />

c) no século XIX, a abertura do Canal de Suez permitiu<br />

um acesso mais rápido ao Pacífico e a emergência<br />

de novos países industrializados, como a Coréia do<br />

Sul e Cingapura, entre outros.<br />

d) entre os séculos XVI e XIX, a navegação atlântica<br />

conectou a África à Europa e à América, permitindo<br />

acesso às riquezas do Oriente e a captura de milhões<br />

de africanos.<br />

e) o crescimento econômico da Coréia do Sul, da<br />

China e Índia colaborou para o incremento de<br />

relações comerciais na Bacia do Pacífico.<br />

f) no século XX, a hegemonia econômica norteamericana<br />

suplantou a hegemonia europeia,<br />

reafirmando o Oceano Atlântico como principal<br />

cenário do comércio mundial.<br />

06 - (PUC SP) “Enquanto as caravelas cruzavam os<br />

mares obedecendo a cálculos precisos, multidões se<br />

deliciavam, na Corte, com os espetáculos de Gil Vicente,<br />

onde se abria espaço às práticas cotidianas do povo<br />

comum, eivadas de magismo e de maravilhoso. Os<br />

processos quinhentistas da Inquisição atestam como era<br />

corriqueiro o recurso a filtros e poções mágicas, e<br />

difundida a crença nos poderes extraordinários do<br />

Demônio.” Laura de Mello e Souza. Inferno atlântico. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1993, p. 21-22<br />

O texto caracteriza a época da expansão marítima<br />

europeia (séculos XV e XVI) e destaca<br />

a) a vitória definitiva do pensamento racional sobre os<br />

valores religiosos e obscurantistas que<br />

caracterizavam a Idade Média.<br />

b) uma cruzada religiosa contra os infiéis e a tentativa<br />

cristã de libertar Jerusalém do domínio islâmico.<br />

c) a convivência entre pensamento racionalista e<br />

diversas formas de crenças no caráter maravilhoso<br />

do mundo.<br />

d) um esforço europeu para impor sua hegemonia<br />

militar, política e comercial sobre a América e o<br />

litoral atlântico da África.<br />

168


e) a ampliação do poder da Igreja, que passava a<br />

controlar as manifestações artísticas populares e<br />

perseguia os hereges.<br />

07 - (ESCS DF) A expansão marítima e comercial<br />

portuguesa foi fruto de um amplo processo de<br />

transformações no continente europeu a partir da crise<br />

final do sistema feudal entre o século XIV e o século<br />

XV. A formação do estado absolutista português através<br />

da Revolução de Avis (século XIV) permitiu as<br />

condições mínimas para a aventura portuguesa sobre os<br />

continentes africano, asiático e americano. Os principais<br />

objetivos da expansão marítima e comercial portuguesa<br />

foram:<br />

a) a necessidade de conquistar mercado consumidor<br />

para os produtos industriais portugueses e pela<br />

exportação de mão de obra excedente de Portugal;<br />

b) a grande quantidade de capitais excedentes em<br />

Portugal, interessados em novos investimentos, e o<br />

avanço dos ideais liberais no país;<br />

c) a necessidade de obter um novo mercado de<br />

matérias-primas e a elevada carga tributária cobrada<br />

pelos turco-otomanos no comércio do mediterrâneo;<br />

d) o interesse da Igreja Luterana, que se consolidou em<br />

Portugal com a Revolução de Avis, e a necessidade<br />

de novas rotas de comércio;<br />

e) o interesse dos portugueses em exportar produtos<br />

agrícolas para novos mercados fora da Europa e a<br />

necessidade de obtenção de mão-de-obra escrava.<br />

08 - (UPE) A conquista e a colonização da América não<br />

estavam unicamente ligadas ao processo de expansão<br />

mercantilista da Europa moderna. Faziam parte, também,<br />

da ação da igreja tridentina no combate ao<br />

protestantismo e na luta em prol da ampliação do número<br />

de fiéis católicos. Nessa perspectiva,<br />

a) a catequese dos povos americanos não teve destaque<br />

na ação das coroas portuguesa e hispânica no Novo<br />

Mundo.<br />

b) a instituição do padroado régio na Espanha e em<br />

Portugal assim como em suas possessões no alémmar<br />

comprova o caráter religioso da conquista da<br />

América.<br />

c) a ação dos jesuítas na catequese dos ameríndios e na<br />

colonização ibérica na América se restringiu aos<br />

territórios hispânicos.<br />

d) a presença massiva de protestantes na América<br />

colonial sob a tutela das monarquias ibéricas ressalta<br />

a pequena atuação da igreja católica na colonização<br />

do Novo Mundo.<br />

e) na América Portuguesa, os jesuítas não tiveram<br />

espaço para a atuação catequética, cabendo essa<br />

ação, nos territórios lusos da América, a outras<br />

ordens, como os franciscanos e beneditinos.<br />

09 - (UNICAMP SP) Referindo-se à expansão marítima<br />

dos séculos XV e XVI, o poeta português Fernando<br />

Pessoa escreveu, em 1922, no poema “Padrão”:<br />

“E ao imenso e possível oceano<br />

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,<br />

Que o mar com fim será grego ou romano:<br />

O mar sem fim é português.”<br />

(Fernando Pessoa, Mensagem – poemas esotéricos. Madri: ALLCA XX, 1997, p.<br />

49.)<br />

Nestes versos identificamos uma comparação entre dois<br />

processos históricos. É válido afirmar que o poema<br />

compara<br />

a) o sistema de colonização da Idade Moderna aos<br />

sistemas de colonização da Antiguidade Clássica: a<br />

navegação oceânica tornou possível aos portugueses<br />

o tráfico de escravos para suas colônias, enquanto<br />

gregos e romanos utilizavam servos presos à terra.<br />

b) o alcance da expansão marítima portuguesa da Idade<br />

Moderna aos processos de colonização da<br />

Antiguidade Clássica: enquanto o domínio grego e<br />

romano se limitava ao mar Mediterrâneo, o domínio<br />

portuguêsexpandiu-se pelos oceanos Atlântico e<br />

Índico.<br />

c) a localização geográfica das possessões coloniais<br />

dos impérios antigos e modernos: as cidades-Estado<br />

gregas e depois o Império Romano se limitaram a<br />

expandir seus domínios pela Europa, ao passo que<br />

Portugal fundou colônias na costa do norte da<br />

África.<br />

d) a duração dos impérios antigos e modernos:<br />

enquanto o domínio de gregos e romanos sobre os<br />

mares teve um fim com as guerras do Peloponeso e<br />

Púnicas, respectivamente, Portugal figurou como a<br />

maior potência marítima até a independência de suas<br />

colônias.<br />

169


10 - (UFT TO) Vendo do mar, o sertão nos pareceu<br />

muito grande, porque, ao estender os olhos, não<br />

podíamos ver senão terras com arvoredos a perder de<br />

vista. Até agora não pudemos saber que haja aqui ouro,<br />

prata, ou alguma coisa de metal ou ferro, nem o vimos.<br />

Porém, a terra em si tem um ótimo clima, frio e<br />

temperado (...) As águas são muitas, infindas. E esta terra<br />

é tão graciosa, que, querendo aproveitá-la, tudo dará, em<br />

razão das águas que tem. Porém, o melhor fruto que se<br />

pode tirar desta terra me parece ser salvar essa gente. E<br />

esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza deve<br />

lançar nesta terra.<br />

AUSTURIANO, P. e MATIAS, R. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Versão<br />

ilustrada em linguagem atual. São Paulo: FTD, 2000, p. 75-77.<br />

Sobre as Grandes Navegações, considere as alternativas<br />

abaixo:<br />

I. As viagens de Colombo provocaram desavenças entre<br />

os reis de Portugal e da Espanha. Ambos afirmavam ter<br />

direitos sobre as terras que fossem descobertas. A<br />

questão foi solucionada com a assinatura do Tratado de<br />

Madri, em 07 de junho de 1494, que dividia o mundo<br />

entre os dois países.<br />

II. Em 1498, o português Vasco da Gama chegou à<br />

Calicute, na Índia. Estava descoberto o caminho para o<br />

Oriente e suas riquezas. Em 1500, a esquadra de Pedro<br />

Álvares Cabral partiu com a missão de chegar<br />

novamente à Índia, comprar grande quantidade de<br />

especiarias e firmar acordos com os comerciantes<br />

indianos.<br />

III. Os descobrimentos iniciados pelos portugueses<br />

provocaram profundas mudanças na visão de mundo dos<br />

europeus. Ampliou-se o conhecimento da Geografia<br />

Física. O contato direto com diversas civilizações,<br />

algumas muito antigas e complexas, como as da China e<br />

da Índia, e com culturas tão diferentes, como as da<br />

América, da África e da Oceania, abriu caminho para o<br />

nascimento de uma ideia mais ampla de humanidade.<br />

IV. A chegada dos portugueses à América não provocou<br />

o mesmo entusiasmo da Viagem de Vasco da Gama às<br />

Índias. Durante as três primeiras décadas do século XVI,<br />

o Brasil, praticamente, serviu ao reino português apenas<br />

como local para abastecimento dos navios em viagem<br />

para as Índias.<br />

V. Após a chegada de Colombo à América, os reis da<br />

Espanha apressaram-se em garantir seus direitos de posse<br />

sobre as novas terras. Para isso pediram a intervenção do<br />

Papa Alexandre VI, que por meio de um documento,<br />

conhecido pelo nome de Tratado de Tordesilhas,<br />

assinado em 04 de maio de 1493, estabeleceu que as<br />

novas terras descobertas seriam divididas entre as coroas<br />

de Portugal e Espanha.<br />

Assinale a alternativa que contém apenas as informações<br />

CORRETAS em relação às Grandes Navegações:<br />

a) II, III e IV<br />

b) II, III, e V<br />

c) I, III e V<br />

d) I, II, e V<br />

e) I, II, e IV<br />

11 - (UEM PR) Leia o fragmento abaixo e assinale a(s)<br />

alternativa(s) correta(s) sobre os Tempos Modernos.<br />

“Os chamados Tempos Modernos que, para os países do<br />

Mediterrâneo Ocidental e da orla atlântica do continente<br />

europeu, nasceram da crise do sistema feudal e da<br />

gestação do capitalismo conheceram o primeiro<br />

momento de expansão transoceânica da história<br />

ocidental. Com o descobrimento dos caminhos<br />

marítimos, para o controle do comércio oriental, e a<br />

colonização da América, formaram-se os impérios<br />

mercantilistas dos séculos XVI, XVII e XVIII.”<br />

(LINHARES, M. Y. Em face do Imperialismo e do Colonialismo. In: SILVA, F.<br />

C. T; CABRAL, R.; MUNHOZ, S. (org.). Impérios na <strong>História</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Elsevier, 2009, p. 235).<br />

01.Com o objetivo de preservar a economia<br />

mercantilista, os monarcas ingleses do século XVII<br />

incentivaram o desenvolvimento de fábricas que<br />

utilizavam a energia a vapor como força motriz.<br />

02.O fortalecimento dos Estados Nacionais vincula-se às<br />

determinações e às práticas mercantilistas estabelecidas<br />

pelos Reis.<br />

04.Ao longo do período de predomínio das ideias e das<br />

práticas mercantilistas, ocorreu, na Inglaterra, um<br />

crescimento da produção e do comércio de produtos<br />

têxteis.<br />

08.Com a exportação de produtos manufaturados para a<br />

Europa, houve uma maior distribuição de renda nas<br />

colônias.<br />

16.As ideias dos iluministas da Revolução Francesa<br />

serviram de base para fundamentar os Estados<br />

Absolutistas e a prática da economia mercantilista.<br />

170


12 - (FUVEST SP) BALANÇAS COMERCIAIS DA<br />

FRANÇA E INGLATERRA NO SÉCULO XVIII<br />

(EM MILHÕES DE LIBRAS)<br />

d) estabeleciam a lei da oferta e da procura para<br />

garantir a livre concorrência e eliminar os entraves<br />

ao desenvolvimento comercial.<br />

e) utilizavam políticas intervencionistas para regular o<br />

funcionamento da economia e obter uma balança<br />

comercial favorável.<br />

14 - (UFGD MS) Assinale a alternativa correta acerca<br />

das relações entre nativos e europeus no que diz respeito<br />

à exploração do Novo Mundo:<br />

Fernand Braudel, Civilização material, economia e capitalismo, Vol. II, Lisboa,<br />

Teorema, 1992, p. 175. Adaptado.<br />

Considerando os dois gráficos acima,<br />

a) defina e explique o significado geral de uma balança<br />

comercial “favorável” ou “desfavorável” para um<br />

determinado país;<br />

b) compare os papéis político-econômicos da França e da<br />

Inglaterra na competição internacional do século XVIII,<br />

bem como a importância desses países para as regiões<br />

coloniais americanas da época.<br />

a) A consolidação de novas relações de dominação não<br />

se deu por meio do aproveitamento de formas de<br />

trabalho compulsórios já existentes no Novo Mundo.<br />

b) Portugueses e espanhóis construíram acerca da<br />

América visões que destacavam a fertilidade e<br />

riqueza da terra e a inocência dos povos nativos.<br />

c) Conflitos e epidemias ocorreram. No entanto, não<br />

explicam a redução demográfica das populações<br />

indígenas.<br />

d) A catequização das populações indígenas, baseada<br />

na ideia da tolerância religiosa, facilitou a<br />

solidificação dos valores europeus, o que explica o<br />

caráter benigno dessa exploração.<br />

e) A construção de acordos bélicos entre nativos e<br />

europeus, possibilitados pelas rivalidades internas,<br />

contribuiu para a conquista do Novo Mundo,<br />

excetuando-se o Brasil, onde não existiam<br />

rivalidades entre populações indígenas.<br />

15 - (UFSC)<br />

13 - (FATEC SP) O Mercantilismo pode ser definido<br />

como um conjunto de práticas e doutrinas econômicas<br />

adotadas pelo Estado absolutista, na Idade Moderna, com<br />

o objetivo de obter e acumular riqueza. Partindo do<br />

princípio de que a riqueza de uma nação era determinada<br />

pela quantidade de metais preciosos mantidos dentro de<br />

seu território, os estados absolutos desse período<br />

a) proibiam as atividades manufatureiras e desviavam<br />

os capitais assim liberados para o desenvolvimento<br />

de frotas comerciais.<br />

b) criavam cooperativas multinacionais para dividir os<br />

custos de empreendimentos, como a colonização de<br />

áreas periféricas.<br />

c) eliminavam a livre iniciativa, submetendo as<br />

atividades econômicas rurais e urbanas ao<br />

monopólio estatal.<br />

“A expansão marítima teve ligações com os<br />

questionamentos e as inovações que acompanharam o<br />

Renascimento e, politicamente, com a formação do<br />

Estado moderno na Europa. Assim, é impossível analisála<br />

sem mencionar as mudanças econômicas, a<br />

intensificação das atividades comerciais, o fascínio pelas<br />

especiarias, a luta da burguesia para consolidar sua<br />

riqueza.”<br />

171


REZENDE, Antônio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da <strong>História</strong>:<br />

<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e do Brasil. São Paulo: Atual, 2001. p. 158. Gravura do sec. XVI,<br />

de Theodore de Bry. p. 157-158.<br />

Sobre a expansão marítima e comercial europeia:<br />

a)Explique (em no máximo 4 linhas) duas razões para o<br />

pioneirismo do reino português.<br />

b)Considerando que o mercantilismo é um conjunto de<br />

práticas econômicas relacionadas ao processo de<br />

expansão marítima, explique (em no máximo 6 linhas)<br />

duas de suas características citadas abaixo:<br />

- Metalismo<br />

- Protecionismo<br />

- Balança Comercial Favorável<br />

- Colonialismo<br />

16 - (PUC RJ) Observe o gráfico das tendências<br />

econômicas de alguns países europeus (1500-1700):<br />

e) o controle dos mares, as grandes reservas de carvão<br />

e o uso de energia a vapor para mecanizar a<br />

produção manufatureira explicam a expansão<br />

constante da economia inglesa entre 1550 e 1700.<br />

17 - (UFMG) Leia este trecho:<br />

Este fluxo de prata é despejado em um país protecionista,<br />

barricado de alfândegas. Nada sai ou entra em Espanha<br />

sem o consentimento de um governo desconfiado, tenaz<br />

em vigiar as entradas e as saídas de metais preciosos. Em<br />

princípio, a enorme fortuna americana vem, portanto,<br />

terminar num vaso fechado. Mas o fecho não é perfeito<br />

[...] Ou dir-se-ia tão comumente que os Reinos de<br />

Espanha são as “Índias dos outros Reinos Estrangeiros”.<br />

BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico à época de<br />

Felipe II. Lisboa: Martins Fontes, 1983-1984, v.1, p. 523-527.<br />

1. IDENTIFIQUE a prática econômica a que se faz<br />

referência nesse texto.<br />

2. CITE o principal objetivo dessa prática.<br />

3. Mas o fecho não é perfeito [...] Ou dir-se-ia tão<br />

comumente que os Reinos de Espanha são as “Índias dos<br />

outros Reinos Estrangeiros”.<br />

EXPLIQUE o sentido histórico dessa frase.<br />

18 - (UCS RS) Sobre a colonização do Brasil por<br />

Portugal, é correto afirmar que<br />

CIPOLLA, Carlo M. <strong>História</strong> econômica da Europa pré-industrial. Lisboa: Ed.<br />

70, 2000, p. 278.<br />

Sobre as causas dessas tendências, é CORRETO afirmar<br />

que:<br />

a) a prata americana deu à Espanha do século XVI um<br />

poder de compra que acabou provocando o<br />

desenvolvimento manufatureiro holandês e inglês no<br />

século seguinte.<br />

b) as guerras religiosas incentivaram a produção de<br />

armas e permitiram o crescimento econômico dos<br />

principados luteranos da Europa central, em meados<br />

do século XVI.<br />

c) o afluxo dos tesouros americanos permitiu à<br />

Espanha ter um período de enriquecimento e<br />

expansão no século XVII.<br />

d) a estreita relação entre comércio externo e setor<br />

manufatureiro e a manutenção da união com a<br />

Espanha foram as bases do “milagre” holandês do<br />

século XVII.<br />

a) mesmo tendo a Metrópole se afastado dos princípios<br />

econômicos do sistema colonial, os seus objetivos<br />

foram plenamente alcançados.<br />

b) a montagem da empresa colonial obedecia aos<br />

princípios do mercantilismo e, nesse sentido, Lisboa<br />

preocupou-se em incentivar, na Colônia, as<br />

atividades complementares à economia<br />

metropolitana.<br />

c) apesar de o Brasil ser uma colônia de exploração, os<br />

princípios mercantilistas não foram aplicados aqui<br />

com rigor, o que possibilitou o desenvolvimento de<br />

atividades que visavam ao crescimento da Colônia.<br />

d) apesar de a colonização atender aos princípios<br />

mercantilistas, estes, em grande parte, não foram<br />

respeitados, uma vez que a economia colonial se<br />

voltou mais para o comércio interno.<br />

e) a metrópole se interessava pelo desenvolvimento<br />

econômico da Colônia e, por isso, preocupava-se em<br />

incentivar toda a atividade que explorasse os<br />

recursos que viessem a beneficiar a terra.<br />

172


19 - (PUC RJ) “Para o progresso do armamento<br />

marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />

proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />

segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />

mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />

ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />

Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />

América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />

pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />

por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />

com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />

poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />

lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />

seus bens e mercadorias [...]”.<br />

Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />

Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.<br />

conflitos marcam o passado e o presente de diversos<br />

povos africanos. [...].<br />

Desde o século XV, a África é subjugada pelos europeus.<br />

Por quatro séculos, Portugal, Espanha e Inglaterra<br />

levaram para o continente americano mão de obra<br />

escrava capturada na África. [...].<br />

Mesmo controlando o tráfico negreiro, os europeus<br />

mantinham presença discreta no continente, limitada a<br />

entrepostos comerciais na região costeira. [...] Porém, no<br />

fim do século XIX, as potências europeias iniciaram uma<br />

corrida imperialista para controlar o continente, em<br />

busca de novas fontes de matérias-primas e de mercados<br />

para seus produtos manufaturados.<br />

Era o auge da II Revolução Industrial. (ÁFRICA..., 2010, p.28).<br />

Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />

inglês:<br />

a) estabelecia que todas as mercadorias<br />

comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />

transportadas por navios ingleses.<br />

b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />

a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />

presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />

c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />

privilegiada de intermediária comercial em nível<br />

mundial.<br />

d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />

expandia o Império, abrindo novos mercados<br />

internacionais ao seu excedente agrícola.<br />

e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />

manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />

dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />

preciosos no Reino inglês.<br />

TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />

Em janeiro, a seleção de Togo seguia de ônibus até a<br />

província de Cabinda, em Angola, onde disputaria a<br />

Copa Africana de Nações. Mas a viagem foi<br />

interrompida por uma dissidência das Forças de<br />

Libertação do Estado de Cabinda (Flec), que metralhou o<br />

ônibus, matando três pessoas da delegação e deixando<br />

jogadores feridos [...].<br />

Se o episódio de Cabinda lançou uma sombra sobre a<br />

Copa da África do Sul, é porque as tensões internas e os<br />

20 - (UNEB BA) A história da África colonial é<br />

marcada por relações econômicas e culturais e, também,<br />

por conflitos internos e/ou relacionados às nações<br />

europeias, podendo-se afirmar que, no<br />

01. processo de libertação colonial, durante a Guerra<br />

Fria, se verificou forte oposição por parte dos Estados<br />

Unidos e da União Soviética, temerosos de que a<br />

fragmentação política do continente fortalecesse o bloco<br />

dos não alinhados.<br />

02. processo de dominação colonial, durante a expansão<br />

imperialista, se incentivaram as guerras entre as diversas<br />

etnias, o que resultou na criação de fronteiras que<br />

respeitavam as divisões culturais e na submissão dos<br />

reinos africanos.<br />

03. processo de expansão mercantilista, os europeus<br />

ocuparam entrepostos na costa africana, enquanto, na<br />

colonização imperialista, ocorreu a dominação e a<br />

submissão do interior do continente, onde se localizavam<br />

os estados africanos.<br />

04. período de exploração do comércio negreiro, os<br />

países que não participavam dessa atividade a acusavam<br />

de ser um empecilho à acumulação primitiva do capital,<br />

contribuindo para o subdesenvolvimento econômico do<br />

continente.<br />

05. processo de colonização mercantilista, assim como<br />

durante a dominação imperialista do século XIX, a<br />

exploração de riquezas agrícolas e de escravos tornaramse<br />

a principal razão da conquista dos povos africanos.<br />

173


GABARITO:<br />

1) Gab: B<br />

2) Gab:<br />

Garantir a posse de terras a oeste do Atlântico que<br />

pertenceriam a Portugal, segundo o Tratado de<br />

Tordesilhas, como estratégia para controle da rota<br />

atlântica que levava às Índias.<br />

Dois dos motivos:<br />

• busca de especiarias<br />

• propagação da fé católica<br />

• busca de metais preciosos<br />

• busca de terras pela nobreza decadente<br />

• busca de matérias-primas rentáveis para o comércio<br />

europeu<br />

• afirmação do poder territorial por parte dos Estados<br />

modernos recém-implantados<br />

3) Gab: D<br />

4) Gab: 20<br />

5) Gab: B<br />

6) Gab: C<br />

7) Gab: C<br />

8) Gab: B<br />

9) Gab: B<br />

10) Gab: A<br />

11) Gab: 06<br />

12) Gab:<br />

a) O termo “balança comercial” refere-se à diferença<br />

entre as exportações e as importações realizadas por um<br />

país. Exportações maiores que as importações indicam<br />

uma balança comercial favorável — o que significava a<br />

entrada de divisas e a possibilidade de um maior<br />

acúmulo de capital e, consequentemente, maior<br />

fortalecimento dos estados nacionais. Dentro dessa<br />

lógica, obter uma balança comercial desfavorável<br />

(importações maiores que as exportações) configurava<br />

uma situação indesejável.<br />

b) Ao longo do século XVIII, as preocupações com a<br />

obtenção de uma balança comercial favorável<br />

dominavam as políticas econômicas europeias, no rastro<br />

de três séculos de mercantilismo. Se, por um lado, o<br />

comércio internacional francês apresentava oscilações, o<br />

inglês, por outro, tendia a ser constantemente alimentado<br />

por um setor manufatureiro em franca expansão. Como<br />

principais potências político-econômicas europeias,<br />

França e Inglaterra mantinham intenso comércio com a<br />

América e sentiram os efeitos da crise do antigo sistema<br />

colonial no final do século.<br />

13) Gab: E<br />

14) Gab: B<br />

15) Gab:<br />

a) Razões para o pioneirismo português na expansão<br />

marítima.<br />

1. Posição geográfica favorável.<br />

2. Paz interna, relativa estabilidade política.<br />

3.Formação/reunião de navegadores, matemáticos,<br />

geógrafos e astrônomos.<br />

4. Tradição marítima: experiência com atividade<br />

pesqueira.<br />

5. Pioneirismo na formação do Estado Nacional<br />

Moderno<br />

b) Características do Mercantilismo<br />

1. Metalismo: acumulação de metais preciosos dentro do<br />

território nacional. Identificação entre a riqueza de um<br />

país e a quantidade de moedas em circulação no seu<br />

território.<br />

2. Protecionismo: direito exclusivo dos governos sobre a<br />

comercialização de certos produtos em todos os seus<br />

domínios, principalmente nas colônias (pacto colonial).<br />

Imposição de barreiras tarifárias aos produtos<br />

estrangeiros.<br />

3. Balança comercial favorável: A balança comercial é<br />

favorável quando se exporta mais que importa. Estímulo<br />

à produção manufatureira e diminuição das importações.<br />

Posse de colônias de exploração como forma de garantir<br />

a balança comercial favorável.<br />

174


4. Colonialismo: Conquista e domínio de territórios<br />

ultramarinos. A colônia como uma economia<br />

complementar à metrópole, com produção totalmente<br />

voltada à exportação.<br />

16) Gab: A<br />

17) Gab:<br />

1. Metalismo, prática dominante do mercantilismo<br />

ibérico.<br />

2. O acúmulo de metais preciosos seria condição básica<br />

para o fortalecimento de poder real por meio da<br />

consolidação do aparato político, burocrático e militar<br />

das monarquias.<br />

3. A citação faz referência aos problemas decorrentes da<br />

política mercantilista ibérica. A prioridade dada à<br />

acumulação de metais para a sustentação de uma<br />

sociedade fortemente aristocrática impediu o<br />

desenvolvimento econômico interno espanhol. Essa<br />

situação exigiu a importação de bens agrícolas e<br />

manufaturados em grande quantidade, provocando o<br />

escoamento das riquezas americanas para outros países.<br />

Neste sentido, a Espanha era as “Índias de outros Reinos<br />

Estrangeiros”.<br />

18) Gab: B<br />

19) Gab: B<br />

20) Gab: 03<br />

175


MERCANTILISMO<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

No decorrer do período Moderno – séculos XV a XVIII<br />

– a economia definiu-se pela fase do capitalismo<br />

comercial, expressão utilizada para designar a troca de<br />

mercadorias e as atividades comerciais como principais<br />

mecanismos da acumulação de capital. A maior<br />

eficiência dessa prática orientou-se a partir da adoção de<br />

uma série de medidas econômicas, variáveis no tempo e<br />

nas realidades específicas daqueles Estados, que no<br />

século XIX seriam designados sob o conceito de<br />

Mercantilismo. Objetivamente, a política mercantilista<br />

buscava em primeiro instante o fortalecimento das<br />

economias nacionais, o que determinava o próprio<br />

fortalecimento do Estado moderno e da autoridade<br />

real; indiretamente, garantiria ainda o enriquecimento<br />

da classe burguesa, classe mediadora da atividade<br />

comercial controlada pela burocracia estatal.<br />

O privilégio das atividades comerciais através do<br />

mercantilismo, embora variável segundo a realidade<br />

específica de cada Nação, reuniu certas elementos<br />

característicos, com o objetivo de proteção e<br />

desenvolvimento do comércio.<br />

À época, considerava-se como senso comum entre os<br />

pensadores da economia, a perspectiva de que as<br />

riquezas seriam estáticas em escala mundial, de modo<br />

que ao considerá-la constante, entendiam que<br />

inevitavelmente, alguém precisaria perder, ou<br />

empobrecer, para que outro ganhasse, ou acumulasse<br />

riqueza. Daí decorre a preocupação em estabelecer a<br />

acumulação metalista, isto é, a garantia da maior<br />

acumulação de moedas dentro do país, o que garantia o<br />

objetivo alcançado do ganho e a maior possibilidade de<br />

estabelecer transações comerciais. O recurso para a<br />

garantia desse acúmulo consistia essencialmente no<br />

esforço de manutenção de uma balança comercial<br />

favorável, alcançado por meio do esforço do Estado em<br />

garantir mercados externos crescentes às exportações e<br />

proteção da economia interna, estabelecendo limites às<br />

importações.<br />

Para tanto, apresentava-se o Estado como essencialmente<br />

interventor na economia, desenvolvendo práticas<br />

monopolistas, uma vez que ao monarca recaía o direito<br />

exclusivo sobre a esse setor, aplicado em privilégios<br />

concedidos na Metrópole ou no controle comercial nas<br />

áreas coloniais. O esforço de assegurar esses<br />

monopólios, esse acúmulo de moedas e a eficiência da<br />

maior exportação em relação à pratica de importação<br />

levou monarca e administradores a empreenderem o<br />

protecionismo sobre o comércio local, através da<br />

elevação de tarifas alfandegárias, medidas fiscais, ou<br />

mesmo militares.<br />

Apesar do conjunto doutrinário de aspectos comuns que<br />

costumamos relacionar ao Mercantilismo,<br />

evidentemente, essas práticas adequaram-se de maneira<br />

variada de país a país, sempre de acordo às condições<br />

locais mais coerentes de utilização dessas práticas. A<br />

forma clássica do Metalismo, ou bulionismo, ou seja, o<br />

acúmulo de metais preciosos, pode ser bem percebida na<br />

experiência dos espanhóis e, posteriormente, dos<br />

portugueses, no século XVIII. Possuidores de um vasto<br />

império colonial, ao qual se descobriu muito cedo a<br />

abundância de metais preciosos, ouro e prata em<br />

especial, os espanhóis viram-se na confortável condição<br />

de importar alimentos e variados artigos manufaturados,<br />

convencidos de que a posse de suas fontes fornecedoras<br />

de metais garantiria a balança comercial sempre<br />

favorável. O enorme afluxo de metais das América<br />

espanhola à Europa desencadeou uma grave crise<br />

inflacionaria nesse continente, que se identificou como<br />

“revolução dos preços” e garantiu ganhos significativos<br />

àquelas nações que se especializaram na diversificada<br />

produção de manufaturas. Em longo prazo, o desestímulo<br />

espanhol à produção agrícola e manufatureira seria<br />

desastroso à economia espanhola, a despeito da redução<br />

da exploração de metais a partir do século XVII.<br />

Mulher pesando ouro, Johannes Vermer. Óleo sobre tela, c 1664.<br />

176


2. O INDUSTRIALISMO OU COLBERTISMO<br />

FRANCÊS<br />

Os embaixadores franceses, de Hans Holbein, 1533. Observe a variedade de<br />

tipos de manufaturas que aparecem representados na obra: tecelagem,<br />

tapeçaria, bordados, joias, mosaicos, marcenaria, alfaiataria, artes em couro<br />

etc.<br />

Na França, a economia ajustou-se ao desenvolvimento de<br />

manufaturas de luxo (perfumes, móveis, tecidos,<br />

porcelanas, cristais e tapetes), bastante estimuladas pela<br />

opulência da Corte Francesa e da propaganda divulgada<br />

como sinal de requinte e bom gosto; no intuito de manter<br />

um alto padrão de qualidade, estabelecia-se uma intensa<br />

regulamentação do Estado sobre essas chamadas<br />

“indústrias de luxo”. Além da especialização em exportar<br />

tais produtos, o ministro Colbert – ministro das Finanças<br />

entre 1661 e 1683, do governo de Luís XIV (1661-1675)<br />

- seria responsável ainda pela adoção de práticas<br />

protecionistas da economia local, através de uma política<br />

fiscal que elevava os impostos de alfândega de produtos<br />

importados, valorizando o consumo de produtos das<br />

manufaturas internas. Outra prática desenvolvida pelos<br />

franceses foi a pirataria e a ação dos corsários,<br />

especialmente na interceptação das riquezas minerais dos<br />

espanhóis e mesmo em pretensões comerciais na costa da<br />

América Portuguesa.<br />

A Inglaterra, tendo desenvolvido a atividade de<br />

navegação e de colonização tardiamente, empenhou-se<br />

na produção de manufaturas diversas e de primeiras<br />

necessidades, diferenciando-se da especificidade do<br />

mercado de luxo dos franceses. Buscava fornecer<br />

mercadorias essenciais, como cereais, tecidos etc.,<br />

alcançando mercados externos europeus e coloniais,<br />

garantindo uma balança comercial favorável. Foi<br />

marcante na realidade desse país, o monopólio exercido<br />

inicialmente por variadas companhias de comércio –<br />

atuantes na Índia, Indonésia, Pérsia, Bombaim, Antilhas<br />

e nas Treze Colônias - e pelo estímulo interno a<br />

produção têxtil através das leis de cercamentos, que<br />

privilegiavam a produção de matéria prima a esse nicho<br />

de produção. As revoluções inglesas do século XVII<br />

extinguiriam esses monopólios internos, mas<br />

conduziriam os ingleses a buscarem vantagens em<br />

monopólios sobre o comércio externo, como os Atos de<br />

Navegação à época de Cromwell - definia a<br />

exclusividade da entrada de mercadorias na Inglaterra<br />

transportadas por navios do próprio país - expondo ao<br />

conflito direto com a Holanda e, a exploração colonial no<br />

norte da América.<br />

Para garantir o vasto comércio em tão longínquas<br />

distancias, essa política expansionista inglesa exigiu<br />

desde cedo um intenso desenvolvimento da marinha<br />

mercante britânica, eficiente tanto no transporte de<br />

mercadorias, quanto na afirmação militar, especialmente<br />

com a vitória inglesa sobre a Invencível Armada<br />

Espanhola.<br />

O processo conhecido como enclausure ou cercamentos<br />

explicitou o processo inglês de transição de uma<br />

agricultura de bases comunitário-feudais para uma<br />

agricultura moderna, para fins empresariais, com a<br />

produção realizando-se cada vez mais em bases<br />

capitalistas modernas. As antigas terras comunais,<br />

essenciais à sobrevivência de milhares de camponeses<br />

passaram a ser cercadas por novos proprietários ou seus<br />

arrendatários, sob estímulo do Estado.<br />

Prestar-se-iam a partir de então, à criação de<br />

ovelhas, cuja lã era vendida às manufaturas têxteis,<br />

demandando um número restrito de trabalhadores,<br />

expulsando milhares de trabalhadores do campo, gerando<br />

problemas sociais de graves proporções, como aumento<br />

da mendicidade, do banditismo etc. Outro efeito desse<br />

processo foi a intensificação da emigração de<br />

camponeses às áreas coloniais inglesas na América<br />

Setentrional como alternativa à miséria no campo inglês.<br />

MARQUES, Adhemar, Pelos Caminhos da <strong>História</strong>.<br />

Editora Positivo: Curitiba, 2006, p. 104<br />

177


3. MERCANTILISMO NA HOLANDA<br />

Embora tenha tardado a consolidar sua condição de<br />

Estado Nacional (processo concluído somente no século<br />

XVII após prolongados enfrentamentos com a Espanha),<br />

entre os holandeses, foi possível desenvolver uma<br />

articulada e desenvolvida atividade mercantil. Mesmo<br />

não possuindo possessões coloniais, os holandeses<br />

lucravam com diversas atividades que tinham relações<br />

diretas com as atividades relacionadas ao<br />

desenvolvimento do mercantilismo, através de uma<br />

promissora burguesia instalada em seus territórios.<br />

Exemplo denotativo dessa prática foi o papel<br />

desempenhado na economia açucareira no Brasil, em que<br />

atuaram realizando a distribuição do produto pela Europa<br />

e fornecendo crédito para que os portugueses<br />

financiassem a construção de engenhos e a formação de<br />

lavouras. Além disso, também tiveram grande destaque<br />

no acabamento de produtos têxteis oriundos da<br />

Inglaterra, no corte de pedras preciosas, fabricação de<br />

instrumentos de navegação e na preparação de bebidas<br />

destiladas e fermentadas.<br />

A garantia da organização e lucro dos holandeses com<br />

tais atividades pautou-se em alguns fatores essenciais<br />

deles. O primeiro, a criação de associações comerciais<br />

importantes, as chamadas Companhias de Comércio,<br />

responsáveis por decisões relacionadas à compra e venda<br />

de produtos, e a futura exploração de seus territórios<br />

coloniais. Logo em seguida, destacamos as ações de<br />

crédito e controle de fluxo monetário promovido pelo<br />

Banco de Amsterdã e, finalmente, a eficiente frota de<br />

navios por eles controlada.<br />

Assim, o mercantilismo holandês pode ser definido como<br />

um mercantilismo comercial e financeiro, que garantiu<br />

aos holandeses que mesmo sem um vasto território<br />

colonial, apostarem na realização de atividades que<br />

mostravam o alto grau de complexidade que o comércio<br />

atingia na Europa. A realização dos transportes e o<br />

processamento final de várias manufaturas podem ser<br />

vistas como a grande prova disso.<br />

4. CAMERALISMO OU MERCANTILISMO<br />

NA ALEMANHA*<br />

Ocorrida na época de transição do feudalismo para o<br />

capitalismo, entre os séculos XVI e XVIII, esta doutrina,<br />

conhecida pelo nome de "cameralismo", é dominada por<br />

uma filosofia e por uma situação política que diferem<br />

daquelas da França, Inglaterra e Espanha, já que<br />

permanecia dividida, sem integração territorial, onde<br />

grande número de principados lutavam entre si para<br />

impor sua soberania, constituindo pequenos Estados<br />

isolados na sua economia e opostos pela sua política.<br />

Como o mercantilismo favorecia a existência de um<br />

governo centralizado forte para garantir a<br />

regulamentação dos negócios, adotou-se essa política<br />

econômica, a fim de promover o rendimento interno do<br />

Estado através do aumento dos tributos, da proibição das<br />

exportações de matéria-prima e da proibição das<br />

importações de manufaturados. Sendo assim,<br />

caracterizou-se pela união dos capitalistas que<br />

desenvolveram atividades ligadas ao comércio marítimo<br />

e às finanças das Câmaras de Comércio.<br />

No século XVII um dos mais importantes cameralistas<br />

foi Ludwig von Seckendorff (1626–1692), partidário de<br />

uma população numerosa, pregava medidas para<br />

aumentar a produtividade da agricultura e das<br />

manufaturas. Insistia na necessidade de leis que<br />

reduzissem as importações dos bens não necessários, e<br />

reservasse a mão-de-obra e as matérias primas às<br />

produções indispensáveis.<br />

Propôs rígidas medidas para lutar contra a ociosidade e<br />

que favorecessem os trabalhadores empenhados nas<br />

atividades mais produtivas, notadamente aqueles que<br />

contribuíam para a exportação, um dos maiores<br />

princípios do mercantilismo.<br />

Johan Joachim Becker (1625-1685) insistia nos<br />

problemas do comércio; condenava a importação e<br />

exportação quando realizadas em proveito dos<br />

particulares, já que estes importam produtos que podem<br />

ser obtidos no próprio país, contribuindo assim para a<br />

"destruição de sua própria comunidade".<br />

É, pois, o Estado que deve tomar conta do comércio<br />

exterior, recomendando a constituição de sociedades<br />

comerciais estatizadas. Os produtos exportados deveriam<br />

ser vendidos pelo menor preço possível, pois via a venda<br />

de produtos manufaturados no estrangeiro uma fonte<br />

abundante de metal precioso.<br />

Tanto na forma como no fundo, a obra dos cameralistas<br />

carece de síntese. É uma análise de casos particulares,<br />

não atingindo a clareza e o alcance de grande número de<br />

Tratados e de Ensaios de mercantilistas ingleses e<br />

franceses. O que não quer dizer, porém, que não tenham<br />

exercido importante influência na solução dos problemas<br />

políticos e econômicos da Alemanha. Ao contrário, as<br />

explicações da doutrina cameralista contribuíram de<br />

maneira decisiva para garantir a evolução estrutural da<br />

178


economia alemã, criando – quando o mercantilismo<br />

deixou de se manifestar e quando, a partir de 1848, se<br />

realizou a unidade política dos Estados da Confederação<br />

Germânica – as condições favoráveis ao progresso rápido<br />

de sua industrialização e, posteriormente o crescimento<br />

do sistema bancário interno e internacional e a formação<br />

de uma sociedade competitiva.<br />

*O texto sobre mercantilismo na Alemanha não é de autoria do Professor Joab<br />

Cruz; encontra-se disponível no site.<br />

http://amigonerd.net/humanas/direito/mercantilismo-2 , em consulta de 12 de<br />

março de 2013.<br />

179


REFORMA PROTESTANTE<br />

Em meio às grandes transformações estruturais da<br />

Europa Ocidental na Idade Moderna, a espiritualidade<br />

não se manteve imune àquelas mudanças. A Reforma<br />

Protestante do século XVI se configuraria na grande<br />

renovação espiritual daquele período, como decorrência<br />

de um acentuado processo de secularização em curso.<br />

Mais do que uma simples reforma, significou a ruptura<br />

da cristandade ocidental e alterou radicalmente a<br />

estrutura eclesiástica convencional e a própria doutrina<br />

da salvação herdadas do período medieval.<br />

Apesar das implicações decorrentes da Reforma serem<br />

mais evidentes no campo da religiosidade, sua eclosão<br />

deve ser associada a outros fatores de ordem econômica,<br />

política e social que lhe foram determinantes.<br />

1. AS CONDIÇÕES ESTRUTURAIS PARA A<br />

REFORMA<br />

Do ponto de vista das relações produtivas, a Idade<br />

Moderna consolidou a transição da ordem feudal para<br />

a ordem capitalista, onde a busca pelo lucro decorrente<br />

das atividades comerciais tornar-se-iam o grande<br />

objetivo de enriquecimento da classe burguesa. A Igreja<br />

Católica, contudo, desde a Idade Média, a partir dos seus<br />

pressupostos de usura e justo preço, condenavam a<br />

inclusão do lucro sobre os preços e criticava as<br />

transações de empréstimos a juros, essenciais à ordem<br />

capitalista.<br />

A classe burguesa prescinde, portanto de uma nova ética<br />

religiosa que fosse capaz de conciliar sua prática de<br />

acumulação com a consciência religiosa tranquila, ainda<br />

que para isso fosse necessário vincular-se a outra<br />

vertente religiosa que estimulasse a obtenção do capital.<br />

No plano político, por sua vez, o processo de formação<br />

das Monarquias Nacionais e a expectativa da<br />

construção de um Estado centralizado forte, encontrava<br />

obstáculos na configuração transnacional da influência<br />

que a Igreja Católica continuava a exercer. Aos reis,<br />

interessava sobrepor sua autoridade nacional acima das<br />

interferências católicas, mantendo suas autoridades sob<br />

sua tutela e, uma convulsão religiosa, dar-lhe-ia ainda a<br />

oportunidade de confisco de muitos de seus bens,<br />

exemplo notado nas condições da Reforma Anglicana<br />

entre os ingleses.<br />

Embora inegável que as condições políticas e<br />

econômicas criaram o ambiente favorável ao<br />

acolhimento das pretensões da Reforma, não são<br />

suficientes para explicarem-se como causa fundamental<br />

do movimento; na verdade, razões espirituais e culturais<br />

daquele período devem ser consideradas como cerne<br />

essencial à ruptura da hegemonia católica ocidental.<br />

No século XVI, a religião marcava presença em quase<br />

todos os aspectos da vida social, desde o ensino à<br />

política, mas era também evidente a incapacidade do<br />

clero de corresponder às expectativas dos fiéis, homens<br />

em pleno processo de transformação. O caráter mundano<br />

do clero com deturpações de comportamento e acúmulo<br />

excessivo de bens materiais geravam críticas particulares<br />

que passaram a ser associadas às próprias doutrinas<br />

oficiais e institucionais da Igreja, abrindo precedente à<br />

ruptura.<br />

Nesse momento, a imagem do Papado estava fortemente<br />

abalada pela corrupção e má reputação, especialmente do<br />

pontificado de Alexandre VI (1492/1503), quando<br />

corrupção, política secular e vida mundana tomaram a<br />

corte papal em Roma. Quadros eclesiásticos compostos<br />

por incapacitados de todos os tipos, negociações dos<br />

cargos eclesiásticos mais bem postos na hierarquia<br />

pelos nobres, cobrança financeira para ministérios dos<br />

sacramentos, comércio de relíquias sagradas,<br />

imoralidade generalizada, prioridade da política secular<br />

entre os papas e o escândalo da venda de indulgências<br />

configuraram em abusos grotescos do clero; tal<br />

combinação minaria a sua unanimidade enquanto guia da<br />

salvação, em meio a uma sociedade na qual a crítica<br />

renascentista e o avanço da consciência religiosa dos<br />

fiéis se mostrava cada vez mais evidente.<br />

Essa nova experiência religiosa dos fiéis deve muito ao<br />

Humanismo, que pautou uma nova perspectiva de fé<br />

baseada na leitura e na interpretação individual da<br />

Bíblia por eruditos laicos; questionavam o monopólio<br />

interpretativo do alto clero católico, permitindo um<br />

análise crítica dos textos sagrados e a liberdade de<br />

pensamento como elementos de aproximação entre o ser<br />

humano e Deus.<br />

Devemos considerar, no entanto, que essa liberdade de<br />

pensamento, em Lutero, não implicou em liberdade de<br />

escolha religiosa, pois não permitia discussão quanto à<br />

180


essência da graça divina, de modo que o ateísmo ou<br />

outras correntes religiosas não cristãs não eram<br />

vislumbrados como caminhos de experiência religiosa a<br />

serem considerados; o que Lutero defende é a liberdade<br />

individual na compreensão da palavra de Deus, por<br />

meio de sua leitura sem intermediários, o que explica sua<br />

crítica aos rituais católicos, ao uso exclusivo do latim e<br />

justifica sua tradução da Bíblia para o alemão em 1522.<br />

Exemplos notáveis dessa experiência crítica são os<br />

escritos de Erasmo de Roterdã, pensador humanista que<br />

foi autor de uma edição nova dos Evangelhos, onde<br />

condenava o clero e sua ignorância e imoralidade, bem<br />

como o aspecto exterior do culto católico e a defesa de<br />

um retorno à simplicidade dos primeiros cristã, ou<br />

mesmo as numerosas edições da Bíblia propagadas e<br />

divulgadas graças ao incremento da imprensa no<br />

Ocidente.<br />

2. EXPERIÊNCIAS PRECURSORAS DA<br />

RUPTURA NA CRISTANDADE OCIDENTAL<br />

Embora a Reforma iniciada por Lutero tenha se<br />

configurado na mais ampla demonstração da<br />

descontinuidade do cristianismo católico, não deve ser<br />

considerada como a única experiência de questionamento<br />

de sua hegemonia. Em outros momentos, na própria<br />

Idade Média, tivemos recorrentes ameaças ao discurso<br />

religioso de Roma. Mais intensas a partir do século XII,<br />

mas com ocorrências anteriores, as heresias medievais,<br />

são um bom exemplo dessas discordâncias. Contestavam<br />

aspectos da doutrina religiosa, assumiram cunho<br />

essencialmente popular em sua composição e<br />

reclamavam as posturas éticas das autoridades católicas.<br />

Destacamos entre as mais conhecidas, a dos cátaros ou<br />

albigenses, os valdenses e os franciscanos.<br />

Questionando os dogmas, sacramentos e autoridade<br />

moral espiritual do clero, os cátaros receberam apoio de<br />

parte da nobreza e exerceu forte influência na região de<br />

Languedoc, ao sul da França, por quase um século. Sua<br />

repressão foi violenta, promovida pelo Papa Inocêncio<br />

(1160-1216), organizador de uma verdadeira cruzada que<br />

massacrou o grupo e entregou a região de sua atuação à<br />

coroa francesa, fiel ao papado e à ortodoxia dos dogmas<br />

católicos.<br />

A crítica à opulência e acumulação de riqueza do clero<br />

sofreu forte oposição de ordens defensoras da pobreza e<br />

do desapego material, do qual o exemplo mais marcante<br />

foi o de São Francisco de Assis e dos fiéis seguidores de<br />

seu exemplo. Os franciscanos enfatizavam a pobreza e a<br />

vida junto à natureza como elementos de renovação<br />

espiritual. Outro grupo, inspirado em São Domingos,<br />

defendia a pregação militante e o despojamento de<br />

qualquer pompa material. Se inicialmente tais grupos<br />

foram considerados heréticos, a partir do século XIII,<br />

quando as transformações econômicas, sociais e políticas<br />

da Baixa Idade Média impunham desafios ao catolicismo<br />

*, às ordens mendicantes** seriam reconhecidas pela<br />

Igreja Católica, pois poderiam representar uma maior<br />

aproximação das camadas populares e uma<br />

demonstração de renovação da fé.<br />

*O crescimento das camadas urbanas decorrente da<br />

intensa reativação comercial, tornavam os habitantes das<br />

cidades mais propensos aos maus costumes, pois teriam<br />

maiores informações do que as populações rurais<br />

isoladas. O aumento da circulação da riqueza urbano<br />

também poderia favorecer o ressurgimento da vida<br />

intelectual fora dos mosteiros e do controle da Igreja.<br />

**Ordem Franciscana (1209) e Ordem Dominicana<br />

(1216) seriam reconhecidas pelo Papado e muito<br />

importantes para criar uma imagem de renovação<br />

espiritual do clero. Os dominicanos foram responsáveis<br />

como principais delegados da Santa Inquisição<br />

No século XIV, John Wicliff, intelectual e professor de<br />

Oxford, na Inglaterra, também colocou em choque a<br />

hegemonia católica; fez a primeira tradução da Bíblia<br />

para a língua inglesa e acusava a organização hierárquica<br />

da Igreja de ser desnecessária, bem como alegou que a<br />

salvação seria obtida apenas através da fé e não da<br />

obrigatoriedade do cumprimento aos sacramentos. Teve<br />

sua produção intelectual destruída e, mesmo depois de<br />

morto, teve o corpo exumado para ser incendiado em<br />

praça pública. Na Boemia, surgiria ainda o movimento<br />

hussita, sob a influência de Jan Huss, também<br />

considerado outro precursor do movimento reformista.<br />

Seu discurso pautou-se especialmente na denúncia a<br />

corrupção do clero, no luxo desmedido de seus ministros,<br />

e na oposição à venda de indulgencias ou negociação do<br />

perdão mediante pagamento material. Também não<br />

escapou à violência da Igreja, tendo sido condenado e<br />

executado em 1415.<br />

Ao considerar esses exemplos precursores de oposição à<br />

Igreja Católica e sua capacidade de serem contornados<br />

pela Instituição, nos damos conta do quanto à<br />

181


confluência do início da Idade moderna, no século XVI e<br />

a própria fragilidade moral institucional de Roma<br />

tornaram aquele momento propício às dimensões que a<br />

Reforma Protestante alcançou.<br />

3. REFORMA LUTERANA<br />

O Sacro Império Romano Germânico, grande complexo<br />

político territorial da Europa Central, se tornaria o espaço<br />

privilegiado da eclosão da Reforma. A ideia de um<br />

grande império cristão com o aval do Papado romano<br />

surgiu em 962, tentando unificar o território romano e<br />

germânico, com o primeiro soberano Oto I; a intenção<br />

original era de unificar a Europa inteira sob um poder<br />

político centralizado e tutelado pela Igreja Católica<br />

Romana.<br />

Entretanto, estabelecera-se um grave conflito em torno<br />

da nomeação das autoridades clericais, gerando a<br />

chamada Querela das Investiduras, entre o monarca<br />

Henrique IV e o Papa Gregório VII. O imperador<br />

julgava-se no direito de nomear bispos, no que era<br />

criticado pela Igreja, acusando esses indicados de falta de<br />

preparo para o exercício da liderança religiosa.<br />

Para a resolução de tal questão, o papa Gregório VII,<br />

promulgou o Dictatus Papae (1075), dando<br />

continuidade à Reforma Gregoriana, iniciada pelo Papa<br />

Leão X, em 1049. Entre os objetivos dessa Reforma<br />

estava à normatização das condutas sociais e religiosas<br />

do clero, a separação entre os atributos do poder político<br />

civil e a autoridade espiritual eclesiástica; reiterou o<br />

direito exclusivo do Papa para nomear, transferir e depor<br />

bispos, fundar abadias, excomungar infiéis, depor<br />

imperadores, reafirmando a infalibilidade da Igreja e a<br />

obrigatoriedade dos fieis de obedecê-la para permanecer<br />

a comunidade cristã. Essa afirmação da supremacia de<br />

Roma sobre os cristãos já havia desagradado os<br />

patriarcas de origem grega, que através do Cisma do<br />

Oriente (1054) haviam fundado a Igreja Ortodoxa, mas<br />

assegurou a proeminência do Papa no ocidente.<br />

No século XVI, a região do Sacro Império Romano<br />

Germânico, especialmente em sua porção hoje<br />

correspondente à Alemanha, mantinha-se ainda, em<br />

contraposição a outras regiões da Europa, marcado por<br />

uma forte fragmentação territorial e política. Apesar da<br />

dinastia Habsburgo, representada por Carlos V, esforçarse<br />

pela centralização do poder, encontrava empecilho na<br />

grande quantidade de príncipes germânicos da nobreza<br />

que exerciam forte autoridade fragmentada em suas<br />

possessões de influência. Os Habsburgo, também<br />

reinantes na Espanha, reino de forte orientação católica,<br />

viam no Papado as condições de uma aliança que<br />

182<br />

pudesse se fortalecer e neutralizar a força política dos<br />

principados.<br />

Em resistência, esses nobres alemães, passaram a<br />

desenvolver uma relação de hostilidade e desconfiança<br />

com a Igreja, interessada em evitar a unificação<br />

centralizadora e em apropriar-se da grande quantidade de<br />

terras e direitos de exploração tributária que a Igreja<br />

concentrava naquela área.<br />

Na segunda década do século XVI, a edificação da<br />

Basílica de São Pedro em Roma, levou o Papa Leão X a<br />

acenar com uma fonte de recursos pautada na<br />

possibilidade de conceder o perdão divino a todos os<br />

pecadores por meio da autorização à venda de<br />

indulgências, fonte considerável de renda ao papado.<br />

Em 1517, o início da cobrança das indulgências em<br />

território germânico, em Wittenberg, colocou em choque<br />

o monge agostiniano Marthinho Lutero e a autoridade<br />

papal, pois este questionou publicamente a validade das<br />

indulgências, os limites da autoridade papal na<br />

questão da salvação e o real significado da absolvição<br />

divina.<br />

O monge era doutor em teologia, profícuo intelectual e<br />

estudioso da Bíblia, de onde retirou as bases para<br />

questionar a doutrina cristã católica, afirmando que a


salvação decorreria exclusivamente da fé no sacrifício<br />

do Cristo e não nas boas obras dos fiéis, preconizadas<br />

pelo catolicismo. Nesse mesmo ano foram afixadas à<br />

porta da catedral de Wittenberg as 95 Teses, em que<br />

Lutero reunia um resumo essencial de suas discordâncias<br />

com a Igreja.<br />

No ano seguinte, as 95 teses foram traduzidas do latim<br />

para o alemão, expandindo se com facilidade através do<br />

uso da imprensa e gerando preocupação das autoridades<br />

religiosas. Já em 1520, Lutero, inicialmente apenas<br />

preocupado com a reforma de alguns pressupostos da<br />

Igreja, com forte apoio e fama entre humanistas, nobres e<br />

príncipes, radicalizava seu pensamento em três pontos<br />

específicos: todo cristão batizado tornava-se seu próprio<br />

sacerdote, esvaziando o poder mediador do clero, a<br />

Bíblia como expressão unânime da palavra de Deus é<br />

considerada infalível, retirando essa adjetivação das<br />

decisões e orientações papais e apontando como caminho<br />

para salvação a própria fé e, não as obras ou as<br />

indulgências negociadas pela Igreja.<br />

Lutero receberia recomendação da Igreja para retroceder<br />

em seus princípios sob pena de ser afastado dos quadros<br />

católicos e submetido à pena máxima da excomunhão.<br />

Convicto, Lutero recusou-se a desconsiderar sua crítica,<br />

sendo excomungado em 1521. Em seguida, sob<br />

influência do Papa, o imperador Carlos V, reuniria a<br />

Dieta de Worms, assembleia constituída pelos<br />

governantes locais do Sacro Império que exigiria a<br />

retratação de Lutero mediante a ameaça do poder secular.<br />

Dali também Lutero mantém se rebelde e foi condenado<br />

a procrastinação, mas protegeu-se sob o exílio do<br />

Príncipe Frederico da Saxônia. No exílio, Lutero daria a<br />

formatação concreta de uma nova doutrina luterana e<br />

traduziria a Bíblia para a língua alemã, facilitando a<br />

consulta individual da palavra pelos fiéis.<br />

4. RELIGIÃO E CRISE SOCIAL<br />

O embate entre os príncipes apoiadores de Lutero e suas<br />

pretensões de ruptura com o clero, enfrentariam a<br />

oposição coordenada do Papado e do Imperador Carlos<br />

V, abrindo caminho para um quadro de desordem e<br />

instabilidade no Sacro Império. Terras e bens da Igreja<br />

foram tomados de assalto por membros da nobreza,<br />

inspirando camponeses miseráveis a também se<br />

mobilizarem a fim de tirar proveito da situação de<br />

conflito que se impôs.<br />

Entre 1522 e 1525, membros da pequena nobreza e<br />

essencialmente camponeses, sentindo-se excluídos pela<br />

grande nobreza das apropriações dos bens eclesiásticos,<br />

promoveram uma série de pequenas revoltas sociais, que<br />

combinavam o discurso religioso inspirado nas ideias<br />

que Lutero inicialmente promoveu. Em 1525, uma<br />

assembleia sintetizou as reivindicações do pensamento<br />

camponês, através de um documento identificado como<br />

Petição dos XII Artigos. Reivindicava o direito à<br />

participação na eleição dos pastores da Igreja Luterana,<br />

abolição dos dízimos e dos impostos feudais, assim como<br />

o direito à caça nas terras comunais e o fim da servidão;<br />

o documento, enviado a Lutero, não obteve seu apoio,<br />

considerando que este se comprometia com a alta<br />

nobreza que lhe favorecera das perseguições do Império<br />

e do Papado. A principal liderança do movimento<br />

camponês foi Thomas Munzer, teólogo radical da<br />

Reforma que rompera com Lutero em 1521.<br />

Para Lutero, “qualquer homem contra o qual se possa<br />

provar sedição está fora da lei de Deus e do Império, de<br />

modo que o primeiro que puder matá-lo e está agindo<br />

acertadamente e bem”. Considerou os grupos rebeldes<br />

camponeses como hordas salteadoras e assassinas e não<br />

aceitava que o espírito igualitário de sua reforma se<br />

183


transformasse em senha para investir contra as<br />

hierarquias sociais estabelecidas.<br />

luteranismo, confirmam ali o princípio da salvação pela<br />

fé, a condição individual do sacerdócio e a dissolução da<br />

hierarquia eclesiástica, o direito à tradução e livre<br />

interpretação da Bíblia, condenação do culto aos santos e<br />

uso de imagens e relíquias, fim do celibato clerical,<br />

restrição dos sacramentos somente ao batismo e<br />

eucaristia, negação do milagre da transubstanciação e<br />

condenação do pressuposto da infalibilidade papal.<br />

Nesse contexto, não tardou para que o conflito aberto de<br />

base religiosa se configurasse, com os protestantes<br />

criando a Liga Smalkade, uma força militar que pudesse<br />

resistir à ameaça violenta das tropas imperiais e papais,<br />

estendendo o conflito entre 1530 e 1555, quando com a<br />

Paz de Augsburgo; nesse acordo em nome da paz, o<br />

imperador reconhecia o direito de cada príncipe de<br />

estabelecer a seus súditos a religião que esse mesmo<br />

professasse em cada região do Sacro Império Romano<br />

Germânico.<br />

5. CALVINISMO<br />

Os anabatistas de Munzer acreditavam que o batismo<br />

devia ocorrer apenas na fase adulta, garantindo que a<br />

adesão religiosa fosse livre e consciente, defendiam<br />

autoridades civis e religiosas de escolha comunitária e<br />

exigiam a separação entre Igreja e Estado, sendo<br />

acusados de heréticos e duramente perseguidos por<br />

católicos e protestantes, nobres e burgueses, como no<br />

episódio da batalha de Frankenhausen, onde pelo menos<br />

cinco mil camponeses foram mortos, inclusive Thomas<br />

Munzer.<br />

184<br />

Garantida a ordem social no combate às agitações<br />

camponesas, fora realizada em 1529 a Dieta de Spira,<br />

quando o imperador propôs a tolerância aos príncipes já<br />

convertidos aos princípios luteranos desde que se<br />

firmasse o compromisso de cessar a divulgação dos<br />

preceitos reformadores. A recusa da maioria dos<br />

príncipes em aceitar essa determinação levou-nos a<br />

protestar contra a medida, dando origem à expressão<br />

protestante, corriqueira para conceituar boa parte dos<br />

cristão não católicos a partir daquele momento.<br />

Em 1530, considerada a amplidão das ideias de Lutero, o<br />

imperador Carlos V convocou a Dieta de Augsburgo,<br />

onde expôs os principais pontos da doutrina luterana. No<br />

ano seguinte, a Confissão de Augsburgo, oficializava o<br />

reconhecimento de uma nova fé e uma nova religião<br />

doutrinaria na Alemanha. Entre os principais pontos do<br />

João Calvino<br />

Outra vertente importante, talvez a que mais tenha se<br />

expandido na Europa, é o calvinismo. Sua origem está<br />

associada ao intelectual humanista João Calvino, de<br />

origem francesa, que desde 1533 iniciou a crítica à Igreja<br />

Católica em seu país. A partir de 1534, com a chegada de<br />

um católico fervoroso ao poder no país, Francisco I, a<br />

França iniciou uma violenta pratica intolerante ao<br />

protestantismo, o que desencadeou o exílio de Calvino<br />

em Genebra, na Suíça. Por ser uma cidade independente<br />

que aderiu ao protestantismo em 1536, Lutero encontrou


ali as condições para a formulação teórica da doutrina<br />

calvinista.<br />

Constituiu uma organização doutrinaria religiosa a partir<br />

das Ordenações Eclesiásticas, a partir de leis bastante<br />

rígidas e radicais. Organizou uma Igreja composta por<br />

fiéis a qual estaria submetido o pastor dirigente do culto,<br />

orientados por um conselho de anciãos, fie idosos que<br />

orientavam a pratica religiosa. Como Lutero, acreditava<br />

nas Escrituras como única fonte de verdade e na salvação<br />

obtida pela fé, mas distanciava se deste ao radicalizar o<br />

pressuposto da predestinação. Acreditava que todos os<br />

seres humanos são pecadores, como decorrência do mal<br />

original de Adão e Eva, mas os “eleitos de Deus”<br />

estariam predestinados à salvação.<br />

De acordo com o calvinismo, Deus concedia alguns<br />

sinais visíveis a seus eleitos, como o trabalho honesto, a<br />

simplicidade e a austeridade, a frequência ao culto, o<br />

cuidado com a família e a vida honrada. O culto seria<br />

ainda amais simplificado, com meras reflexões e<br />

comentários sobre passagens da Bíblia conduzidos por<br />

sacerdotes sem paramentos, em igrejas simples e sem<br />

adornos de imagens. Preservaram apenas o batismo e a<br />

eucaristia como sacramentos e considerava a Igreja útil à<br />

salvação, mas não indispensável.<br />

Entre os calvinistas, a valorização do trabalho e da<br />

acumulação advinda deste, levou a uma forte<br />

identificação desta vertente reformista com a classe<br />

burguesa em expansão, que passou a ser predominante<br />

em seus quadros. Expandiu-se rapidamente pela Europa,<br />

como na Inglaterra, onde identificados como puritanos<br />

sofreram forte oposição anglicana e seria fundamentais<br />

nas revoluções inglesas do século XVII; na Escócia,<br />

foram chamados de presbiterianos e, na França, seriam<br />

os huguenotes, também envolvidos em violentos<br />

conflitos religiosos naquele país. Nos Países baixos, a<br />

expansão do protestantismo também seria o pivô de<br />

intensa perseguição espanhola, motivando às lutas de<br />

emancipação daquele território, que dariam origem os<br />

futuros estados da Bélgica e Holanda.<br />

Em 1531, o clero inglês é conclamado a romper com a<br />

autoridade papal e seguir as instruções do monarca<br />

inglês. Em 1534, o Parlamento inglês aprova o Ato de<br />

Supremacia, através do qual se constituiu a Igreja<br />

Anglicana, combinando elementos da estrutura ritual da<br />

Igreja de Roma a pressupostos teológicos do calvinismo,<br />

chefiados pelo soberano Henrique VIII. Seguiu-se a esse<br />

processo o confisco das propriedades da Igreja em nome<br />

do estado e a apropriação dos impostos outrora<br />

recolhidos pela Santa Sé.<br />

Na Inglaterra, portanto, os desdobramentos que levaram<br />

à reforma são facilmente compreendidos como parte do<br />

esforço para reforçar o poder pessoal dos reis,<br />

culminando na prática da ordem absolutista.<br />

7. CONTRARREFORMA – A REAÇÃO DO<br />

CATOLICISMO<br />

Enfraquecidos do ponto de vista religioso e político, o<br />

papado e a Igreja não ficaram imóveis mediante o<br />

questionamento e a ruptura promovida pela Reforma<br />

Protestante. Entre 1545 a 1563, na cidade de Trento,<br />

realizou-se o Concílio <strong>Geral</strong> da Igreja Católica,<br />

buscando dar soluções à corrupção do clero, retomar os<br />

fiéis perdidos e estancar o avanço protestante.<br />

6. ANGLICANISMO<br />

Na Inglaterra, o pressuposto da afirmação da autoridade<br />

nacional sobre a autoridade eclesiástica configurou-se na<br />

principal causa para a reforma. O monarca Henrique VIII<br />

valeu-se do pretexto da recusa papal em anular seu<br />

casamento com Catarina de Aragão, sob a justificativa de<br />

que esta não havia concedido filhos homens herdeiros do<br />

trono.<br />

Reunião do Concílio de Trento<br />

Muitos abusos do clero foram condenados, sendo<br />

proibida a comercialização de indulgências, definindose<br />

critérios de formação e vocação para os que<br />

desejassem ingressar o clero e a fiscalização do comércio<br />

185


186<br />

das relíquias. No entanto, se tivemos alterações na<br />

organização estrutural do clero católico, suas concepções<br />

dogmáticas de natureza doutrinária, não foram<br />

alteradas, pelo contrário, foram reafirmados.<br />

Mantinha-se, portanto, a validade dos sete sacramentos<br />

(batismo, eucaristia, confirmação, matrimônio,<br />

ordenação do sacerdote, penitencia e unção dos<br />

enfermos), como sinais da graça divina e celebrados pela<br />

Igreja, a manutenção da prática do celibato clerical, o<br />

reforço do culto aos exemplos dos santos e a preservação<br />

de suas imagens nos templos, a reafirmação do dogma da<br />

infalibilidade papal em assuntos religiosos, instituição de<br />

seminários de formação e catecismo etc.<br />

Ainda entre as decisões daquele Concílio, se deu a<br />

instituição da censura de obras consideradas heréticas,<br />

através da nomeação de títulos pelo Index Librorium<br />

Proibitorium, que tornou inacessível aos católicos,<br />

obras de personagens como Dante, Maquiavel e Galileu,<br />

por exemplo, mantida até a metade do século XX.<br />

Reativou o Tribunal de Santo Ofício, que incluiu o<br />

protestantismo entre as outras heresias a serem<br />

denunciadas pelos fiéis e com forte atuação<br />

especialmente em países católicos, como Portugal e<br />

Espanha e, até mesmo, Visitações do S. Ofício nas<br />

colônias espanholas e portuguesa na América.<br />

Ainda nesse contexto, a Igreja católica tornou a<br />

Companhia de Jesus, ordem itinerante inspirada nos<br />

exemplos de Ignácio de Loyola, em seu principal braço<br />

de recuperação de fiéis. Desse modo, os inacianos ou<br />

jesuítas foram remetidas a distantes regiões na África,<br />

Ásia e, especialmente América, onde tiveram papel<br />

primordial na educação e na catequese e conversão de<br />

populações nativas.<br />

EXERCÍCIOS<br />

01 - (FUVEST SP) “O senhor acredita, então”, insistiu<br />

o inquisidor, “que não se saiba qual a melhor lei?”<br />

Menocchio respondeu: “Senhor, eu penso que cada um<br />

acha que sua fé seja a melhor, mas não se sabe qual é a<br />

melhor; mas, porque meu avô, meu pai e os meus são<br />

cristãos, eu quero continuar cristão e acreditar que essa<br />

seja a melhor fé”. Carlo Ginzburg. O queijo e os vermes. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1987, p. 113.<br />

O texto apresenta o diálogo de um inquisidor com um<br />

homem (Menocchio) processado, em 1599, pelo Santo<br />

Ofício. A posição de Menocchio indica<br />

a) uma percepção da variedade de crenças, passíveis de<br />

serem consideradas, pela Igreja Católica, como<br />

heréticas.<br />

b) uma crítica à incapacidade da Igreja Católica de<br />

combater e eliminar suas dissidências internas.<br />

c) um interesse de conhecer outras religiões e formas<br />

de culto, atitude estimulada, à época, pela Igreja<br />

Católica.<br />

d) um apoio às iniciativas reformistas dos protestantes,<br />

que defendiam a completa liberdade de opção<br />

religiosa.<br />

e) uma perspectiva ateísta, baseada na sua experiência<br />

familiar.<br />

02 - (FGV) Leia o fragmento.<br />

Um famoso escândalo político foi o de Antônio Perez,<br />

que em 1571 era secretário de Estado de Felipe II, tendo<br />

alcançado um dos postos mais importantes na<br />

monarquia. Por rivalidades, viu-se envolvido em intrigas<br />

internacionais. Conhecia todos os segredos da coroa,<br />

tendo absoluto controle sobre o Tesouro. Foi acusado de<br />

vender cargos, de suborno e de trair segredos do Estado.<br />

Felipe viu um caminho para atingi-lo: a Inquisição.<br />

Tinha de ser acusado de heresia. Foi difícil encontrar<br />

provas contra seu catolicismo, mas o confessor do rei<br />

conseguiu-as. Mesmo sendo íntimo amigo do inquisidormor<br />

e tendo o apoio da população de Saragoça, Perez foi<br />

acusado de herege. Conseguiu fugir e morreu em Paris,<br />

e, conforme testemunhou o núncio apostólico da região,<br />

sempre viveu como fiel católico.<br />

(Anita Novinsky, A inquisição)<br />

A partir do texto, é correto concluir que a Inquisição<br />

espanhola<br />

a) ampliou as suas prerrogativas nas nações europeias<br />

menos fiéis ao poder do papado, com o intuito de<br />

ampliar o número de seguidores.<br />

b) perdeu parte de suas atribuições e poderes a partir da<br />

Contrarreforma católica, conforme deliberação do<br />

Concílio de Trento.<br />

c) manteve, durante a sua existência secular, vínculos<br />

essenciais com a questão religiosa,<br />

excepcionalmente confundindo-se com a questão<br />

política.<br />

d) resumiu sua atuação a alguns poucos casos<br />

exemplares, com o intuito de evitar a propagação do<br />

islamismo e das igrejas reformadas.<br />

e) apesar de sua fundamentação religiosa, esteve<br />

vinculada ao Estado e serviu aos interesses de<br />

grupos ligados ao poder.


03 - (UDESC SC) Em 1545, o papa convocou uma<br />

reunião entre os membros mais importantes da Igreja<br />

Católica a fim de debater sobre questões doutrinárias e<br />

disciplinares. O Concílio de Trento, como ficou<br />

conhecida esta reunião, durou 18 anos e foi motivado<br />

pelos questionamentos à Igreja Católica os quais se<br />

tornaram cada vez mais frequentes no início do século<br />

XVI, e que levaram à Reforma Protestante.<br />

Analise as proposições em relação ao contexto.<br />

I. A Reforma Protestante difundiu-se em várias regiões<br />

da Europa, entre as quais as regiões que atualmente<br />

compõem a Alemanha, Suíça, Inglaterra e Holanda.<br />

II. Martinho Lutero foi um crítico da Igreja Católica.<br />

Após a publicação das suas críticas, conhecidas como 95<br />

teses, que foram afixadas na porta da Igreja de<br />

Wittenberg, ele foi excomungado pelo Papa Leão X.<br />

III. Entre as novas doutrinas que surgiram com a<br />

Reforma Protestante estão o Luteranismo, o Calvinismo<br />

e o Anglicanismo.<br />

IV. A Reforma Protestante ocorreu juntamente com<br />

outras mudanças, como o aumento do poder dos reis e o<br />

fortalecimento dos Estados Nacionais.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.<br />

b) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.<br />

c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.<br />

d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.<br />

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.<br />

04 - (UFTM MG) Podemos afirmar que um dos<br />

instrumentos da Contrarreforma, no século XVI, foi<br />

a) o estímulo à venda de indulgências.<br />

b) a tradução livre da Bíblia para as línguas nacionais.<br />

c) a supressão do Tribunal do Santo Ofício.<br />

d) a extinção da Companhia de Jesus e de outras ordens<br />

religiosas.<br />

e) a criação de uma lista de livros proibidos.<br />

05 - (UEPG PR) Movimentos antagônicos e, ao mesmo<br />

tempo, complementares, a Reforma Protestante e a<br />

Contrarreforma Católica marcaram profundamente a<br />

história ocidental no século XVI. A respeito desse tema,<br />

assinale o que for correto.<br />

01. O descompasso filosófico e ideológico entre a Igreja<br />

Católica e as mudanças generalizadas ocorridas na<br />

Europa do século XVI, ajudam a entender a deflagração<br />

do movimento da Reforma Protestante.<br />

02. Entre as motivações religiosas que contribuíram para<br />

o processo de ruptura e ocorrência da Reforma<br />

Protestante está a venda de indulgências.<br />

04. A defesa do princípio do preço justo e a condenação<br />

ao lucro excessivo estão entre os princípios que<br />

integraram as teses defendidas pelos promotores da<br />

Reforma Protestante.<br />

08. Uma das principais teses defendidas pela<br />

Contrarreforma era a liberdade de interpretação bíblica.<br />

A capacidade de refletir e criticar por parte dos fiéis<br />

tornou-se uma questão de princípio para os reformistas<br />

católicos.<br />

16. A chamada nova ética protestante, decorrente da<br />

Reforma, se assentava na crítica aos avanços da<br />

burguesia e do capitalismo, vistos pelos protestantes<br />

como elementos nocivos ao desenvolvimento humano.<br />

06 - (Fac. de Ciências da Saúde de Barretos SP) Na<br />

primeira metade do século XVI, os questionamentos<br />

sobre a atuação da Igreja Católica deram origem, na<br />

Europa, aos movimentos conhecidos pelo nome de<br />

Reforma Protestante. Em reação, o catolicismo<br />

desencadeou a Contrarreforma. Entre os princípios dos<br />

reformistas protestantes e dos contrarreformistas,<br />

podemos destacar, respectivamente:<br />

a) são fundados seminários de teologia, para aprimorar<br />

a formação do clero; a Bíblia deve ser interpretada<br />

livremente pelos fiéis.<br />

b) é revogado o celibato clerical; é confirmado o<br />

dogma da transubstanciação, o reconhecimento da<br />

transformação do pão e do vinho em corpo e sangue<br />

de Cristo.<br />

c) o Tribunal do Santo Ofício é reorganizado com o<br />

fim de julgar e punir as heresias; são mantidos<br />

apenas os sacramentos do batismo e da eucaristia.<br />

d) a salvação é consequência das obras, entendidas<br />

como as boas ações orientadas pelas autoridades<br />

eclesiásticas; são mantidos a hierarquia e o celibato<br />

do clero.<br />

e) o papa só pode perdoar as penas que ele tenha<br />

imposto por sua vontade; a fé constitui a única e<br />

verdadeira fonte de salvação.<br />

187


07 - (UPE) No início da Idade Moderna, a Europa<br />

Ocidental experimentou uma profunda mudança na<br />

vivência religiosa do cristianismo. Sobre a Reforma<br />

Religiosa do século XVI, analise as afirmativas<br />

seguintes:<br />

I. O pensamento de Jan Huss influenciou as ideias de<br />

Lutero.<br />

II. Sobre a questão da salvação dos fiéis, Calvino e<br />

Lutero consideravam a teoria da predestinação.<br />

III. Muitos franceses se converteram ao calvinismo,<br />

tornando-se conhecidos como huguenotes.<br />

IV. A reforma anglicana teve início por meio das ações<br />

do monarca britânico Henrique VIII.<br />

V. A Rússia converteu-se ao luteranismo durante o<br />

reinado de Pedro Romanov.<br />

Estão CORRETAS<br />

a) I, III e IV.<br />

b) I, II e V.<br />

c) I, II e III.<br />

d) II, IV e V.<br />

e) III, IV e V.<br />

08 - (UEM PR) No início da modernidade, ao longo do<br />

século XVI, ocorreu uma série de transformações nas<br />

instituições religiosas e na espiritualidade dos cristãos<br />

ocidentais. Tais transformações deram origem à<br />

Reforma. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s)<br />

correta(s).<br />

01. Segundo os estudiosos, a reforma religiosa relacionase<br />

à busca, por parte dos humanistas, de um cristianismo<br />

revigorado e rejuvenescido que fosse ao encontro das<br />

necessidades dos indivíduos.<br />

02. A ética cristã escolástica condenava a usura e o lucro;<br />

sendo assim, havia necessidade de uma nova ética<br />

adequada aos novos tempos de crescimento das<br />

atividades mercantis.<br />

04. A reforma católica, ou contrarreforma, foi uma<br />

tentativa da Igreja Romana de se apropriar dos novos<br />

princípios teológicos estabelecidos por Lutero e por<br />

Calvino.<br />

08. As contradições entre o universalismo da Igreja e os<br />

interesses dos nascentes Estados Nacionais motivaram<br />

um conflito entre o poder temporal e o espiritual; esse<br />

conflito foi um elemento importante para a disseminação<br />

da Reforma.<br />

16. Na Península Ibérica, o “Padroado Régio” se<br />

constituiu no principal braço da Reforma luterana.<br />

09 - (UEPG PR) As Reformas protestante e católica (ou<br />

Contrarreforma) foram movimentos religiosos que<br />

sacudiram a Europa no século XVI. A respeito de tais<br />

movimentos, assinale o que for correto.<br />

01. O Concílio de Trento, onde se iniciou a reação<br />

católica à Reforma protestante, foi um acontecimento<br />

decisivo para a eliminação do Index Librorum<br />

Prohibitorum (índice dos livros proibidos) que, durante o<br />

período medieval, regeu as ações e os princípios<br />

teológicos católicos.<br />

02. A venda de indulgências pela Igreja Católica pode<br />

ser apontada como um dos principais motivos para a<br />

deflagração da Reforma protestante.<br />

04. Ao questionarem práticas adotadas pela Igreja<br />

Católica, John Wycliffe e Jan Huss tornaram-se<br />

precursores da Reforma protestante.<br />

08. A Companhia de Jesus foi instituída pela Igreja<br />

Católica durante o movimento da Contrarreforma com o<br />

objetivo de estabelecer um diálogo com as religiões<br />

protestantes que se originaram a partir do século XVI,<br />

dando início ao princípio do ecumenismo.<br />

10 - (IFGO) No século XVI aconteceu uma série de<br />

movimentos que recebeu o nome de Reforma Religiosa.<br />

Essa rompeu a unidade do cristianismo existente na<br />

Europa com a chamada Reforma Protestante e deu<br />

origem a uma reação da Igreja Católica, que é<br />

comumente chamada de Contrarreforma.<br />

Sobre os acontecimentos que caracterizaram a Reforma<br />

Religiosa, marque a alternativa incorreta.<br />

a) Martinho Lutero (1483-1546) tinha como ideia<br />

central a salvação pela fé. Mas também questionava<br />

a venda de indulgências e a supremacia da Igreja<br />

sobre o Estado.<br />

b) O combate ao lucro e à usura, bases da vida<br />

comercial e financeira que se dinamizava ao final da<br />

Idade Média, mostrava o descompasso da Igreja<br />

Católica em relação às transformações ocorridas na<br />

sociedade.<br />

188


c) Exaltando o trabalho e a poupança na conduta<br />

humana, Calvino consagrava valores morais e<br />

políticos defendidos pela burguesia mercantil.<br />

d) Frente ao avanço do protestantismo, a Igreja<br />

Católica iniciou a Contrarreforma, que propôs uma<br />

reorganização das doutrinas da Igreja com base em<br />

princípios liberais para reconquistar mais fiéis,<br />

sobretudo, no Novo Mundo.<br />

e) O comprometimento de Lutero com o quadro<br />

socioeconômico alemão, que atraia o apoio da<br />

nobreza (príncipes), refletiu poderosamente em suas<br />

pregações.<br />

11 - (Unemat MT) Analise as afirmativas sobre a<br />

Reforma Religiosa.<br />

I. A Igreja Anglicana conservou a estrutura e os dogmas<br />

da Igreja Católica, com pequenas alterações. Não foi<br />

feita uma reforma profunda nos costumes do clero, que<br />

passou a ser visto pela população como um aliado da<br />

Coroa, o que facilitou o surgimento e a disseminação de<br />

uma série de religiões puritanas e protestantes,<br />

normalmente perseguidas pelos reis ingleses.<br />

II. Lutero era um admirador dos escritos de João Huss,<br />

herege queimado pela Igreja em 1415, especialmente de<br />

suas ideias sobre a liberdade da Igreja diante dos papas,<br />

sobre a liberdade de consciência individual diante do<br />

concílio e sobre a necessidade de reconduzir o mundo<br />

cristão à simplicidade apostólica.<br />

III. Um aspecto importante do calvinismo é a<br />

valorização moral do trabalho e da poupança, que resulta<br />

numa situação de bem-estar social e econômico, o que<br />

poderia ser interpretado como sinal favorável de Deus à<br />

salvação do indivíduo.<br />

IV. O Anabatismo e o Puritanismo representam<br />

movimentos religiosos que estavam em convergência<br />

com os poderes locais e proclamavam o princípio da<br />

individualidade, enfatizavam o discurso da propriedade<br />

privada, assemelhando-se ao Calvinismo, que<br />

determinava a desigualdade social, através da teoria da<br />

predestinação.<br />

Assinale a alternativa que indica a (s) afirmativa (s)<br />

correta (s).<br />

a) I<br />

b) II e III<br />

c) I, II e IV<br />

d) I, II e III<br />

e) II e IV<br />

12 - (UEPG PR) Ao pregar as 95 teses que criticavam<br />

aspectos da doutrina católica na porta da igreja de<br />

Wittenberg (Alemanha), em 1521, Martinho Lutero deu<br />

início à chamada Reforma Protestante. A reação da<br />

Igreja Católica não tardou e, assim, teve início à<br />

chamada Reforma Católica (ou Contrarreforma). A<br />

respeito da Reforma Católica, assinale o que for correto.<br />

01. As ações da Reforma Católica foram traçadas a partir<br />

do Concílio de Trento, sendo a catequização de terras<br />

descobertas, a retomada da Inquisição e a criação de um<br />

índice de livros proibidos, as principais medidas<br />

adotadas no Concílio.<br />

02. Juntamente com a Reforma Católica, emergiu na<br />

Europa um forte sentimento de intolerância religiosa, que<br />

resultou conflitos entre católicos e protestantes, sendo a<br />

Noite de São Bartolomeu um dos episódios exemplares<br />

desse cenário.<br />

04. A Companhia de Jesus foi uma ordem criada com o<br />

objetivo de levar o catolicismo para regiões coloniais,<br />

como o caso da América portuguesa e espanhola.<br />

08. A venda de indulgências (perdão parcial ou total de<br />

pecados fora dos sacramentos) foi fartamente estimulada<br />

e praticada pelo clero no contexto da Reforma Católica.<br />

O objetivo era atrair novos fiéis com a promessa do<br />

perdão divino.<br />

16. A reafirmação da autoridade do Papa, que a partir de<br />

então passou a ter a palavra final sobre os dogmas da<br />

Igreja Católica, foi outra decisão tomada pela Reforma<br />

Católica e visava unificar todos os fiéis sob a autoridade<br />

do Pontífice, fortalecendo a identidade e a fé católicas.<br />

13 - (FGV) Luteranismo, anglicanismo e calvinismo são<br />

expressões religiosas ligadas à chamada Reforma<br />

Protestante, iniciada na Europa a partir do século XVI.<br />

a) Aponte uma característica de cada uma dessas<br />

expressões religiosas.<br />

b) Por que luteranismo e calvinismo espalharam-se por<br />

diversas regiões da Europa e o anglicanismo concentrouse<br />

sobretudo na Inglaterra?<br />

c) Quais relações podem ser estabelecidas entre o<br />

calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo?<br />

189


14 - (UFRN) Ao comentar a Reforma Protestante do<br />

século XVI, Márcio Ferrari afirma:<br />

O nascimento do protestantismo teve profundas<br />

implicações sociais, econômicas e políticas. Na<br />

educação, o pensamento de Lutero produziu uma<br />

reforma global do sistema de ensino alemão, que<br />

inaugurou a escola moderna. [...]<br />

A ideia da escola pública e para todos, organizada em<br />

três grandes ciclos (fundamental, médio e superior) e<br />

voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de<br />

Lutero.<br />

FERRARI, Márcio. Martinho Lutero: o criador do conceito de educação útil.<br />

Nova escola. n. 187, nov. 2005. p. 30.<br />

A proposta educacional de Lutero, referida nocomentário<br />

acima, está diretamente relacionada<br />

a) à defesa, por parte dos reformadores, da liberdade de<br />

interpretar a Bíblia, de modo que qualquer fiel<br />

tivesse acesso às fontes da doutrina.<br />

b) ao desejo de facilitar para os fiéis a leitura da<br />

Vulgata, tradução da Bíblia em latim, aceita como<br />

versão oficial da Igreja Luterana.<br />

c) ao projeto de melhoria da instrução do povo para<br />

que este pudesse compreender a doutrina luterana,<br />

cujo ensino era de competência exclusiva dos<br />

sacerdotes.<br />

d) à proposta de difusão da leitura entre o povo, para<br />

que este conhecesse os catecismos produzidos no<br />

Concílio de Trento.<br />

ideias luteranas e pela perseguição de seus<br />

seguidores.<br />

d) Trata-se da decisão tomada pelos monarcas<br />

Habsburgos no sentido de banir os protestantes do<br />

território do império espanhol.<br />

e) Trata-se do massacre de cerca de 30 mil huguenotes,<br />

que intensificou, na França, a animosidade entre<br />

católicos e protestantes.<br />

16 - (UEL PR) A Inquisição Portuguesa, ou Tribunal do<br />

Santo Ofício de Portugal, que esteve nas mãos do poder<br />

real, utilizou-se da coerção para obter a confissão de<br />

culpa. Uma vez condenado, um dos rituais consistia na<br />

execução pública do acusado na fogueira como forma de<br />

purificação.<br />

Sobre esta instituição, é correto afirmar:<br />

a) A Inquisição atuou mais contra os inimigos da<br />

pessoa do Papa do que sobre os inimigos da Igreja.<br />

b) A Inquisição durou em Portugal até meados do<br />

século XX, tendo sido abolida pelo Concílio<br />

Vaticano II.<br />

c) A Inquisição, por intermédio de seu braço papal, o<br />

Tribunal do Santo Ofício, poupava judeus e<br />

muçulmanos da execução.<br />

d) No Brasil, a Inquisição atuou por intermédio das<br />

Visitações detendo judeus, mulheres e sodomitas, os<br />

quais eram julgados em Portugal.<br />

e) O Tribunal do Santo Ofício, após as reformas<br />

religiosas ocorridas no século XIX, transformou-se<br />

na Encíclica Rerum Novarum.<br />

15 - (FGV) Diversas tensões e diversos conflitos<br />

europeus ocorridos nos séculos XVI e XVII foram<br />

motivados ou intensificados por questões de natureza<br />

religiosa. Dentre eles, um dos mais conhecidos episódios<br />

é a “Noite de São Bartolomeu”, de 24 de agosto de 1572.<br />

A esse respeito, é correto afirmar:<br />

a) Trata-se do massacre de judeus, em Amsterdã, por<br />

católicos holandeses, que precedeu o<br />

estabelecimento do Tribunal do Santo Ofício nas<br />

Províncias Unidas.<br />

b) Trata-se da noite de celebração, na França, do<br />

acordo entre protestantes e católicos, que pôs fim a<br />

anos de intensos conflitos entre seguidores das duas<br />

religiões.<br />

c) Trata-se da cerimônia de encerramento do Concílio<br />

de Trento, quando se decidiu pela condenação das<br />

17 - (UEPG PR) A reforma protestante foi iniciada por<br />

Martinho Lutero, monge agostiniano alemão, cujo<br />

pensamento sofreu influência de São Paulo, Santo<br />

Agostinho e do humanista Éramos de Roterdã. A respeito<br />

da reforma protestante, assinale o que for correto.<br />

01. A venda de indulgências por parte do vaticano pode<br />

ser considerada como uma das causas que levaram<br />

Lutero a escrever e a divulgar suas "95 Teses", criticando<br />

a igreja católica e condenando tal procedimento.<br />

02. A disseminação das ideias de Lutero fez com que<br />

outros líderes religiosos também intensificassem a crítica<br />

ao catolicismo e propusessem a criação de novas<br />

religiões. O francês João Calvino aderiu às críticas de<br />

Lutero e dinamizou o movimento reformista com a<br />

criação do calvinismo.<br />

190


04. Na Inglaterra coube ao rei Henrique VIII liderar o<br />

movimento de separação da igreja católica e da criação<br />

da igreja anglicana.<br />

08. É possível afirmar que a reforma protestante<br />

contribuiu para o fortalecimento dos nacionalismos<br />

europeus contra o internacionalismo político do papado.<br />

16. A perseguição a reformadores e a criação de ordens<br />

religiosas com objetivo de catequizar e expandir o<br />

catolicismo pelo mundo foram algumas das atitudes<br />

tomadas pelo papado para tentar conter o avanço<br />

protestante.<br />

18 - (UESPI) A Igreja Católica teve seus poderes<br />

abalados pela Reforma, que provocou mudanças nas<br />

relações de poder na Europa. No entanto, é preciso<br />

ressaltar também que a Reforma foi:<br />

a) importante para algumas políticas da modernidade e<br />

para a renovação de crenças e costumes.<br />

b) decisiva para o fim do domínio do catolicismo em<br />

toda a Europa, com seus ataques ao clero e ao papa.<br />

c) localizada em alguns países, embora não tivesse uma<br />

dimensão internacional; limitou-se a controlar seus<br />

mais fanáticos seguidores.<br />

d) defendida pelos conservadores da nobreza, sem<br />

apoio da burguesia e de outros grupos sociais.<br />

e) destacada por alterar a base do absolutismo na<br />

Inglaterra e livrá-lo da tirania dos reis.<br />

19 - (UFPR) As guerras de religião na França (século<br />

XVI) e a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648) marcaram<br />

profundamente as sensibilidades coletivas e exerceram<br />

uma influência considerável na reflexão política<br />

produzida por católicos e protestantes. Sobre as relações<br />

entre religião e poder político no contexto de<br />

consolidação dos Estados monárquicos modernos, é<br />

correto afirmar:<br />

a) Os conflitos religiosos desencadeados com a<br />

Reforma Protestante estão na origem dos poderes<br />

teocráticos das monarquias modernas.<br />

b) Desde que a tolerância religiosa se consolidou nos<br />

domínios do Sacro Império Romano Germânico, sob<br />

o poder de Carlos V, houve um enfraquecimento do<br />

poder papal, que ficou restringido somente ao<br />

Vaticano.<br />

c) Autores como Maquiavel, Montaigne e Jean Bodin<br />

foram defensores da religião protestante, e seus<br />

escritos constituíram um ataque à monarquia<br />

centralizada.<br />

d) Apesar da violência crescente contra os protestantes,<br />

Lutero e Calvino defenderam a autoridade civil e<br />

condenaram qualquer forma de resistência aos<br />

poderes legitimamente instituídos.<br />

e) As guerras de religião foram desencadeadas pelas<br />

classes populares (artesãos urbanos e camponeses),<br />

em luta contra a nobreza e a monarquia.<br />

TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />

A F-1 começou a perder as características que<br />

encantaram gerações nos anos 1990 quando o salto<br />

tecnológico tornou o piloto quase um coadjuvante no<br />

cockpit. “Os carros de corrida são equipamentos e não<br />

mais automóveis. No volante, há mais de 100 botões. O<br />

condutor virou um operador de máquinas”, reclama Bird<br />

Clemente, 72 anos, primeiro brasileiro a guiar,<br />

profissionalmente, um carro de corrida. No passado, esse<br />

esporte dependia muito mais do talento do piloto para<br />

regular um carro. Hoje, espremido no cockpit como mais<br />

um funcionário de um negócio que movimenta bilhões<br />

de dólares, o piloto cumpre religiosamente as regras do<br />

mercado.<br />

(Adaptado de: CARDOSO, R.; LOES, J., O Esporte Perdeu. Revista Isto É, 4 ago.<br />

2010, ano 34, n. 2125, p. 84-85.)<br />

20 - (UEL PR) A lógica do esporte e da fruição é<br />

englobada pela lógica do mercado. A importância dada<br />

ao negócio (negar o ócio), conforme análise de Max<br />

Weber em sua “Ética Protestante e o Espírito do<br />

Capitalismo”, revela que<br />

I. o trabalho atende às regras do mercado, destacando a<br />

prevalência do negócio, em razão da necessidade de<br />

produção capitalista.<br />

II. a dimensão religiosa, presente nos primórdios do<br />

capitalismo, na figura do protestantismo de orientação<br />

luterana, valoriza o caráter sagrado da atividade fabril,<br />

em detrimento do trabalho braçal.<br />

III. o negócio, quando praticado de acordo com os<br />

preceitos divinos, viabiliza a distribuição igual e<br />

solidária das riquezas produzidas.<br />

IV. o ato de negociar, próprio do comércio, depende da<br />

força produtiva, conectada à divisão social do trabalho<br />

no mundo secularizado.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

191


192<br />

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.<br />

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.<br />

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.<br />

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.<br />

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.


GABARITO:<br />

1) Gab: A<br />

2) Gab: E<br />

3) Gab: E<br />

16) Gab: D<br />

17) Gab: 31<br />

18) Gab: A<br />

19) Gab: D<br />

20) Gab: B<br />

4) Gab: E<br />

5) Gab: 03<br />

6) Gab: B<br />

7) Gab: A<br />

8) Gab: 11<br />

9) Gab: 06<br />

10) Gab: D<br />

11) Gab: D<br />

12) Gab: 23<br />

13) Gab:<br />

a) Luteranismo: salvação da alma por meio da fé e livre<br />

interpretação da Bíblia.<br />

Anglicanismo: reconhecimento do rei como chefe<br />

supremo da Igreja da Inglaterra.<br />

Calvinismo: salvação da alma por meio da predestinação<br />

e adequação do cristianismo ao capitalismo nascente, por<br />

meio da justificação do lucro e da usura.<br />

b) O luteranismo apoiava-se na nobreza de origem feudal<br />

e por isso expandiu-se pela Europa Setentrional, onde<br />

aquela camada ainda possuía grande influência; e o<br />

calvinismo expandiu-se por diversos países porque<br />

encontrou grande receptividade junto à burguesia, à qual<br />

interessava a postura de Calvino favorável às práticas<br />

capitalistas. Já o anglicanismo se concentrou na<br />

Inglaterra porque reconhecia o soberano inglês como<br />

chefe supremo da Igreja Anglicana.<br />

c) Além de justificar o lucro, a usura e considerar a<br />

riqueza um indício de salvação da alma, o calvinismo, ao<br />

valorizar o trabalho, a poupança e a prática de uma moral<br />

rigorosa, criou uma ética que estimulava a acumulação<br />

capitalista.<br />

14) Gab: A<br />

15) Gab: E<br />

193


O ESTADO ABSOLUTISTA<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Entre os séculos XVI e XVIII a Europa Ocidental<br />

concluiu os contornos finais do mundo moderno;<br />

organizou-se a partir de uma lógica econômica baseada<br />

no capitalismo comercial e orientada pelos princípios da<br />

política mercantilista, amplamente beneficiada pela<br />

exploração do sistema colonial. Do ponto de vista<br />

social, a classe nobre foi rearranjada na nova ordem,<br />

mantendo muito dos privilégios feudais, a partir da<br />

participação nas instituições do Estado Moderno,<br />

enquanto a classe burguesa projetava-se economicamente<br />

como a mais rica daqueles Estados. O Clero, por sua vez,<br />

esforçava-se por manter a hegemonia católica,<br />

desencadeando uma prática de intolerância religiosa que<br />

descambou para guerras sangrentas, mas não impediu a<br />

ruptura protestante e a crescente racionalização e<br />

laicização cultural a partir da renovação renascentista.<br />

Essa realidade, teoricamente conceituada na expressão<br />

Antigo Regime, sustentou-se no Estado Absolutista,<br />

seu traço mais marcante e elemento unificador das<br />

estruturas mentais e econômicas do período. Nele, o<br />

Estado corporifica-se na figura do soberano que exerce o<br />

poder de forma autocrática, sustentado em condições<br />

materiais e militares, nas alianças de interesses com os<br />

grupos sociais dominantes e numa tradição mística de<br />

origem do poder que encontra suas raízes na explicação<br />

religiosa e na própria Idade Média.<br />

A absolutização do poder real correspondeu à<br />

culminância de um processo de evolução da autoridade<br />

real, que no medievo não conseguia exercer-se de fato,<br />

em meio à fragmentação da autoridade entre os membros<br />

da nobreza. Entre os séculos XV e XVI, na transição do<br />

Medievo à Modernidade, o monarca com apoio da classe<br />

burguesa esforça-se para sobrepor aos seus vassalos e<br />

centralizar a autoridade, criando instituições como<br />

burocracia administrativa, forças militares, conselhos de<br />

justiça, que determinaram o surgimento dos chamados<br />

Estados Nacionais. Entre os séculos XVI e XVIII, a<br />

racionalização e burocratização do Estado Moderno<br />

alcançam seu apogeu, afirmadas no pleno poder<br />

decisório do monarca, exercido de maneira absoluta.<br />

A França e a Inglaterra tiveram evidente o melhor<br />

acabamento do Estado Absolutista; Espanha e Portugal,<br />

embora precoces no processo de centralização política,<br />

foram menos enfáticos na absolutização da autoridade<br />

real. Na Europa Central, a força política das cidades<br />

independentes italianas impediria a unificação política,<br />

retardada até o século XIX, como também ocorreria com<br />

as possessões alemãs, prejudicadas por lutas religiosas e<br />

rebeliões camponesas. A Holanda tornar-se-ia a grande<br />

exceção europeia, já que uma vez independente da<br />

dominação espanhola no século XVII, constituiu-se<br />

numa República, imune às determinações da forma de<br />

governo monárquica típica da Europa moderna.<br />

Na França, onde o Absolutismo se tornou uma referência<br />

histórica, a crise social da Baixa Idade Média, marcada<br />

especialmente pelas revoltas camponesas – jacqueries –<br />

e urbanas que puseram em xeque a autoridade das classes<br />

dominantes contribuíram para o crescente apoio desses<br />

grupos em torno do fortalecimento e controle definitivo<br />

da autoridade real, capaz de sufocar as rebeliões sociais e<br />

garantir a estabilidade econômica.<br />

2. AS BASES SOCIAIS DO PODER<br />

ABSOLUTO<br />

A compreensão do processo de absolutização da<br />

autoridade real perpassa pelo entendimento da<br />

complexidade do vínculo que os monarcas estabeleceram<br />

com os variados grupos sociais da Idade Moderna,<br />

beneficiando-se da divergência de seus interesses e das<br />

relações conflituosas entre eles, cooptando para si o<br />

benefício da condição de mediador através de sua<br />

governança. Clero, nobreza, burguesia, artesãos e<br />

camponeses formavam um mosaico de arranjos sociais,<br />

que o Rei, a seu modo buscou organizar em favor de seu<br />

pleno poder.<br />

Ao clero católico, fragilizado pela ameaça das rupturas<br />

protestantes, a aproximação com o Rei poderia ser a<br />

garantia de sua oficialidade no Reino e da tutela real.<br />

Tornou-se detentor de privilégios variados, desde a<br />

constituição dos próprios tribunais e assembleias, isenção<br />

de tributos até o direito de cobrança dos dízimos aos fiéis<br />

e, mesmo, cargos de confiança na burocracia estatal.<br />

Desse modo não fica difícil compreender o importante<br />

papel de justificativa ideológica preconizada pelo clero<br />

na justificação do Absolutismo, especialmente na França.<br />

194


Os membros da nobreza, categoria a qual pertencia o<br />

próprio Rei, viram-se destituídos da centralidade do<br />

exercício do poder político com a formação dos Estados<br />

Nacionais. No entanto, não tardariam a perceber que<br />

poderiam obter vantagens na organização da nova ordem<br />

política estabelecida, se fossem capazes de garantir apoio<br />

à legitimação da autoridade real. Desse modo,<br />

mantiveram privilégios sociais, como a isenção de<br />

impostos, julgamentos especiais, cobrança de impostos<br />

aos camponeses e ocupação dos principais postos<br />

burocráticos e militares; poderiam integrar a nobreza<br />

cortesã, donos dos principais postos, sustentados com<br />

pensões do Tesouro Real e residentes em sua órbita, nas<br />

sofisticadas Cortes modernas; os nobres de toga, de<br />

origem burguesa, que recebiam nobilitação mediante<br />

compra ou por algum tipo de compensação real,<br />

ocupando principalmente cargos nas magistraturas de<br />

justiça. Os nobres de sangue ou de província, eram os<br />

tradicionais, com heranças de nobreza dos ascendentes<br />

medievais, proprietários de terra e ainda explorando seus<br />

camponeses com taxas feudais e buscando vantagens<br />

econômicas nos casamentos com membros da classe<br />

burguesa.<br />

A burguesia moderna, por sua importância econômica<br />

crescente, não poderia ser ignorada pelo monarca em seu<br />

esforço de legitimação de autoridade. Especialmente a<br />

alta burguesia, formada pelos industriais e grandes<br />

comerciantes, eram beneficiados pelo monarca através<br />

das concessões de monopólio internas, controle sobre as<br />

corporações de oficio dos artesãos e das vantagens no<br />

comércio da exploração colonial, garantindo seu<br />

enriquecimento e o apoio para a afirmação do poder dos<br />

reis.<br />

Os camponeses e pequenos produtores mantinham-se<br />

prejudicados pela exploração das classes superiores e<br />

pelos mecanismos controladores do Estado. Incapazes de<br />

serem incorporados à rede de privilégios atribuídos às<br />

demais classes, eram postos sob controle e obrigados à<br />

subalternidade pela legitimidade da violência exercida<br />

pelo Estado e por seus representantes.<br />

decisão final era do Rei, o exercício e a delegação de seu<br />

poder ocorriam através de ministros, Conselhos,<br />

assessores, tesoureiros, chefes militares etc.<br />

Ao Rei cabiam ações como baixar leis, organizar a<br />

justiça, proceder a cobrança de impostos, manter<br />

exércitos, nomear funcionários, garantir rendas ao<br />

Estado, tudo em nome da grandeza e estabilidade do<br />

Reino.<br />

3. TEORIAS JUSTIFICADORAS DO PODER<br />

ABSOLUTO DOS REIS<br />

Para a justificação da governabilidade legitima e<br />

inquestionável que deveria ser exercida pelo Rei,<br />

forjaram-se a partir de intelectuais e religiosos da<br />

Modernidade, importantes teorias que deram<br />

sustentação ideológica ao Absolutismo Monárquico.<br />

Entre as figuras mais destacadas estão o pensamento de<br />

Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, Jean Bodin e<br />

Jacques Bossuet.<br />

O florentino Nicolau Maquiavel, sensibilizado pela<br />

fragmentação da Península Itálica e instabilidade<br />

decorrente das ameaças externas e das dissensões<br />

internas, escreveria sob encomenda, o clássico O<br />

Príncipe, uma das principais obras da argumentação do<br />

governo racional absolutista dos reis. Nessa obra,<br />

Maquiavel empenhou-se na definição de conceitos<br />

importantes à governabilidade, rompendo<br />

definitivamente com a orientação da moral cristã ao<br />

bom governo.<br />

A percepção sobre os arranjos estabelecidos pelo Rei a<br />

partir da variação dos interesses dos principais grupos<br />

sociais ajuda a compreender que a manutenção de seu<br />

poder e o exercício de sua ação decisória, portanto, não<br />

ocorria de forma meramente caprichosa de sua vontade,<br />

mas respeitando o equilíbrio entre esses grupos. A<br />

prática política, dado as dimensões dos territórios e a<br />

complexidades das funções de Estado, exigia a formação<br />

de um vasto aparelho burocrático para governar. Se a<br />

Nicolau Maquiavel<br />

195


Por conseguinte, não é necessário que um príncipe<br />

possua todas as qualidades mencionadas, mas convém<br />

que aparente tê-las. Atrever-me-ei a dizer antes que, têlas<br />

e observá-las sempre, é prejudicial e que aparentar têlas<br />

é útil: como parecer piedoso, fiel, humano, íntegro,<br />

religioso, etc., mas ter sempre o ânimo preparado para,<br />

na altura que convenha, tu poderes e saberes fazer o<br />

contrário.<br />

Deve ter-se presente que um príncipe, e sobretudo um<br />

príncipe novo, não pode observar todas aquelas coisas<br />

pelas quais os homens têm fama de bons, tendo mesmo<br />

necessidade, para manter o Estado, de proceder contra a<br />

fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a<br />

religião. E preciso mesmo que tenha o ânimo disposto a<br />

mudar segundo o que lhe mandem os ventos e as<br />

variações da fortuna e, como acima disse, não se separar<br />

do bem podendo fazê-lo, mas saber entrar no mal se for<br />

necessário.<br />

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1999.<br />

Segundo Maquiavel a força militar poderia ser eficiente<br />

na conquista do poder, mas a estabilidade do poder<br />

alcançado só poderia ser assegurada a partir de uma ação<br />

racional eficiente, baseada na astúcia, em que se<br />

passava da violência intimidadora à relação em que os<br />

governados desejem a submissão ao seu domínio.<br />

Definiu o conceito de fortuna, referindo-se à realidade<br />

da governança, em que imprevistos, crises internas,<br />

ameaças externas, sublevações, e todo tipo de imbróglio<br />

não previsível, precisaria de uma ação virtuosa (conceito<br />

de virtú), que corresponde a uma pratica racional,<br />

planejada e eficiente, embora não necessariamente ética,<br />

moral ou pacífica, para garantir a estabilidade; assim, a<br />

ruptura da ética cristã medieval com a ação racional<br />

de governar defendida por Maquiavel, passaria a se<br />

constituir num dos princípios elementares da política<br />

moderna.<br />

Outro Maquiavel<br />

Um pensador da ética<br />

Num dia de dezembro de 1513, um homem escreve a<br />

um amigo. Está no campo, banido. Foi preso e torturado.<br />

Mas não se queixa. Conta que passa o dia com os<br />

camponeses, gritando, jogando. À noite, porém, troca de<br />

roupa. Veste os melhores trajes. Lê os autores antigos e,<br />

espanto!, dialoga com eles. Ouve suas opiniões, suas<br />

ideias. (Essa passagem é sempre citada, quando se quer<br />

explicar a Renascença). Quase no final, informa que<br />

gastou algumas semanas escrevendo um livrinho, De<br />

principatibus Dos principados), "onde me aprofundo<br />

tanto quanto posso nas cogitações desse tema...".<br />

Gastou nisso umas poucas semanas, que definirão<br />

para a posteridade o seu nome – Nicolau Maquiavel ou,<br />

em italiano, Niccolò Machiavelli. A elas Maquiavel<br />

deverá a glória: seu nome gerará um adjetivo que todos<br />

conhecem. De uns trinta grandes filósofos, apenas dois –<br />

ele e Platão – chegaram a tanto. Mesmo quem nunca os<br />

leu tem noção do que é amor platônico ou ação<br />

maquiavélica. Não importa que nós, professores de<br />

filosofia, provemos que os adjetivos convêm mal aos<br />

dois filósofos. Eles pegaram. O renome de Maquiavel é<br />

maior que ele próprio.<br />

Mas é um mau renome, uma má fama, infâmia. O<br />

Príncipe foi lido, bem cedo, como um livro de conselhos<br />

aos governantes, para quem os fins justificariam os<br />

meios (essa frase, aliás, não é de Maquiavel). Ele<br />

defenderia o despotismo e a amoralidade dos príncipes.<br />

Há aqui, porém, um problema. Maquiavel escreveu O<br />

Príncipe de um jato só, enquanto se dedicou vários anos<br />

a outro projeto – os Discursos sobre a primeira década de<br />

Tito Lívio, um longo comentário ao historiador de Roma<br />

antiga.<br />

Ora, os Discursos são uma obra republicana. E, se<br />

Maquiavel foi torturado a mando dos Médici, que<br />

acabavam de retomar Florença, isso se deveu a ter sido<br />

ele um dos líderes da República florentina. O Maquiavel<br />

mais extenso é republicano – e sobre ele temos um livro<br />

notável de Newton Bignotto, Maquiavel republicano<br />

(1991). Mas talvez o autor d’O Príncipe seja o<br />

Maquiavel mais intenso: essas semanas no campo<br />

emancipam a política da moral cristã.<br />

Daí, questões sérias. Rousseau, dois séculos e meio<br />

depois d’O Príncipe (isto é, a meio caminho entre<br />

Maquiavel e nós), sugere: tudo seria uma enorme<br />

paródia. Republicano da gema, nosso autor teria contado<br />

– como a sério – todo o mal que os reis fazem, para<br />

fazer-nos odiá-los. Há um enigma Maquiavel. Ainda<br />

maior, porque O Príncipe é talvez a obra filosófica que<br />

parece mais fácil de ler. Nenhuma dificuldade para<br />

entender cada linha ou página. Só para saber o que,<br />

afinal, ele quis dizer.<br />

196


Maquiavel começa distinguindo repúblicas e<br />

monarquias: falará delas. Dos reinos, uns são antigos e<br />

outros novos: só tratará dos novos. E, destes, uns foram<br />

conquistados por armas próprias e outros, com armas<br />

alheias e graças à fortuna (no sentido de sorte) –<br />

interessam-lhe estes. Como um novo governante, que<br />

não se beneficia da opinião favorável que a idade dá a<br />

um regime, pode conseguir ser aceito por seu povo? eis a<br />

questão. Isto é: como passar da força bruta ou da<br />

violência ao poder, que depende do consentimento dos<br />

dominados.<br />

E com isso Maquiavel é um dos raros pensadores da<br />

política a pensar, não só o exercício, mas a tomada, do<br />

poder – não a continuidade, mas a novidade. Não é<br />

fortuito que o marxista italiano Antonio Gramsci tenha<br />

escrito sobre ele: Maquiavel pode ser revolucionário.<br />

Responderei, contudo, que cada Estado deve ter<br />

costumes próprios, por meio dos quais os populares<br />

possam satisfazer sua ambição, sobretudo nas cidades<br />

onde os assuntos importantes são decididos com a<br />

interveniência do povo.<br />

O desejo que sentem os povos de ser livres raramente<br />

prejudica a liberdade, porque nasce da opressão ou do<br />

temor de ser oprimido.<br />

Sejamos, portanto, avaros de críticas ao governo<br />

romano; atentemos para o fato de que tudo o que de<br />

melhor produziu essa república provém de uma boa<br />

causa. Se os tribunos devem sua origem à desordem, essa<br />

desordem merece elogios, pois o povo, dessa forma,<br />

assegurou participação no governo. E os tribunos foram<br />

os guardiões das liberdades romanas [...].<br />

MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. 3 ed.<br />

Brasília: Editora da UNB, 1994<br />

O inglês Thomas Hobbes, contemporâneo do<br />

conturbado momento político da Revolução Inglesa,<br />

seria o autor de O Leviatã, obra que sustentou no<br />

contratualismo entre a sociedade e o Estado, a<br />

autoridade absoluta a ser exercida pelos monarcas. A<br />

base de seu pensamento é a oposição da condição<br />

humana entre o estado de natureza e o estado de<br />

civilização; essa primeira condição, não situada<br />

historicamente, caracteriza-se pela ausência de um poder<br />

controlador sobre os homens, do qual decorre o caos<br />

social da luta entre os indivíduos pela satisfação de seus<br />

desejos. Assim, somente a partir do estágio do estado de<br />

civilização, os homens definem um contrato social<br />

reabilitador e determinante da própria continuidade da<br />

existência, em que sua liberdade absoluta é suprimida<br />

pela autoridade do Estado como garantia de<br />

sobrevivência. Somente esse Estado civil, monstruoso<br />

como O Leviatã e poderoso em sua vontade absoluta,<br />

poderia garantir a ordem e a estabilidade que impeçam a<br />

autodestruição.<br />

“... durante o tempo em que os homens vivem sem<br />

um poder comum capaz de os manter a todos em<br />

respeito, eles se encontram naquela condição a que se<br />

chama guerra; (...)<br />

Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de<br />

guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o<br />

mesmo é válido também para o tempo durante o qual os<br />

homens vivem sem outra segurança senão a que lhes<br />

pode ser oferecida por sua própria força e sua própria<br />

invenção. Numa tal situação não há lugar para a<br />

indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não<br />

há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das<br />

mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há<br />

construções confortáveis, nem instrumentos para mover e<br />

remover as coisas que precisam de grande força; não há<br />

conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo,<br />

nem letras; não há sociedades; e o que é pior do que<br />

tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a<br />

vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e<br />

curta” (Cap. XIII).<br />

“O fim último, causa final e desígnio dos homens<br />

(que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre<br />

os votos), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos<br />

sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com<br />

a sua própria conservação e com uma vida mais<br />

satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera<br />

condição de guerra que é a consequência necessária<br />

(conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens,<br />

quando não há um poder visível capaz de os manter em<br />

respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao<br />

cumprimento dos seus pactos e ao respeito àquelas leis<br />

de natureza...”<br />

HOBBES, T. das causas, geração e definição de um Estado. In: Leviatã. 2 ed. São<br />

Paulo: Abril Cultural, 1979, p.103<br />

197


Contudo, o mais importante entre todos os teóricos<br />

absolutistas, foi sem dúvida, o abade francês Jacques<br />

Bossuet, autor da obra Política Segundo as Sagradas<br />

Escrituras. Para ele, a autoridade real é sagrada porque<br />

emanaria do próprio Deus, de modo que a discussão de<br />

sua legitimidade deveria constituir em sacrilégio, ou seja,<br />

pecado contra a própria Divindade. Os súditos deveriam<br />

submeter se aos governantes, que por sua vez, devem<br />

atuar com poder incontestável; trata-se da configuração<br />

da teoria do direito divino dos reis.<br />

Ilustração da primeira publicação de O Leviatã<br />

O francês Jean Bodin, em Seis Livros sobre a República,<br />

mergulhou nos estudos da República romana para<br />

justificar a monarquia como opção natural de<br />

governo. Segundo ele, na república imperam os<br />

interesses pessoais e a corrupção, enquanto na<br />

Monarquia, a escolha do governante supremo é natural,<br />

dada a condição da hereditariedade, estando em última<br />

instância sob vontade inteligente da providência divina.<br />

Negou a necessidade do Poder Legislativo, defendendo a<br />

plena autoridade do Rei e a máxima submissão de seus<br />

súditos; afirmava que a autoridade real assemelhava-se a<br />

autoridade do próprio pai no seio da família, sendo por<br />

isso ilimitada. Assegurava que a ordem pública só<br />

poderia ser alcançada com a soberania dos reis em criar<br />

leis, revogá-las e modificá-las.<br />

A expansão das ideias de Bossuet é reveladora da<br />

importância mental que a religião continuava a exercer<br />

no mundo moderno, apesar da crescente laicização do<br />

pensamento. Tanto que se retomou na Idade Moderna a<br />

crença medieval na condição sagrada do rei, capaz de<br />

curar e promover fortuna ao simples toque. Também se<br />

sustentou a tese da crença nos dois corpos do Rei, sendo<br />

um natural, físico e naturalmente passível de morte, dor e<br />

sofrimento como os homens comuns e, o corpo místico<br />

do rei, não sujeito à morte, pois tem sua permanência<br />

garantida na hereditariedade e que nunca erra,<br />

diferenciando-se por isso dos demais.<br />

"Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem<br />

como ministros de Deus e seus representantes na terra.<br />

Consequentemente, o trono real não é o trono de um<br />

homem, mas o trono do próprio Deus. (...) Os reis são<br />

deuses e participam de alguma maneira da independência<br />

divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve<br />

acreditar-se que ele vê melhor."<br />

(Jacques Bossuet, Política tirada das palavras da Sagrada Escritura, 1709.)<br />

Não há necessidade de insistir muito para mostrar que a<br />

monarquia é a melhor, visto que... tem somente um<br />

chefe; e todas as leis da natureza nos guiam para a<br />

monarquia; seja observando um pequeno mundo que é<br />

nosso corpo, no qual existe para todos os membros um só<br />

chefe do qual dependem a vontade, o movimento e o<br />

sentimento; seja observando esse grande mundo, que tem<br />

um soberano Deus; seja observando o céu, que tem um<br />

só Sol.<br />

BODIN, Jean. Los seis libros de La Republica. Madrid: Tecnos, 1992<br />

4. O ABSOLUTISMO NA FRANÇA<br />

Embora a centralização política francesa tenha sido<br />

retardada pela eclosão da Guerra dos Cem Anos e,<br />

posteriormente pela gravidade dos conflitos religiosos<br />

que tomaram o país, em meados do século XVII,<br />

constituiu-se naquele país o mais bem acabado modelo<br />

de absolutismo monárquico, com a ascensão da Dinastia<br />

Bourbon e especial destaque ao reinado de Luís XIV<br />

(1643/1675).<br />

A introdução do protestantismo de orientação calvinista<br />

na França gerou um acentuado quadro de intolerância<br />

198


católica e expandiu ao campo político as disputas<br />

religiosas. Desde o século XVI, o surgimento dos<br />

primeiros reformadores, dividiu a sociedade em grupos<br />

opositores em torno do Partido Papista e do Partido<br />

Huguenote; em torno desse último reuniu-se os<br />

perseguidos religiosos, quadros da burguesia francesa e<br />

parte da nobreza opositora da centralização do poder<br />

real.<br />

Desde o governo de Francisco II (1559-1560), a família<br />

católica dos Guise exercia uma proeminente influência<br />

política, responsabilizando-se pelas primeiras ações<br />

violentas contra protestantes que tentavam atrair o Rei<br />

para a órbita de seu partido. O indisfarçável caráter<br />

político dessas diferenças religiosas tornou a guerra entre<br />

católicos e protestantes inevitável e prolongada, embora<br />

intermitente, mesclando momentos de trégua e de<br />

agravamento do conflito.<br />

Com a chegada de Carlos IX ao poder, ainda criança, a<br />

regência de sua mãe, Catarina de Médici, daria novos<br />

contornos à situação político-religiosa na França. Num<br />

suposto esforço para amenizar a instabilidade francesa,<br />

Catarina concederia em 1562 o Edito de Saint<br />

Germain, que garantia aos protestantes o direito de<br />

celebrarem seus cultos no subúrbio de algumas cidades,<br />

bem como de constituírem praças fortificadas, como a<br />

destacada La Rochelle. Fazia parte da trégua ainda o<br />

casamento entre Margarida de Valois, irmã do monarca e<br />

o príncipe protestante de Navarra, Henrique de Bourbon,<br />

a fim de selar a paz entre os católicos e protestantes e<br />

fortalecer os Valois no poder, contra a crescente<br />

influência dos Guise.<br />

As liberdades concedidas aos protestantes, a presença de<br />

seus militares em Paris e a presença de um Príncipe<br />

protestante na Corte colocaram Catarina de Médici em<br />

desconfiança quanto ao fortalecimento excessivo do<br />

grupo. Desse modo, buscara apoio na figura de Henrique<br />

de Guise, líder do partido papista, para planejar o<br />

assassinato do Almirante de Coligny, principal chefia<br />

militar dos huguenotes. O rei Carlos IX exigiu a<br />

apuração do ocorrido e fora convencido pela mãe da<br />

existência de uma conspiração huguenote a ser reprimida<br />

a todo custo. Em 24 de Agosto de 1572, a Noite de São<br />

Bartolomeu, uma onda de violência católica se abateria<br />

sobre os protestantes, resultando na morte de milhares de<br />

pessoas, fazendo ressurgir a guerra em moldes<br />

extremamente violentos.<br />

Ilustração do Massacre da Noite de São Bartolomeu<br />

Com a morte de Carlos IX dois anos depois, seu irmão<br />

Henrique III chega ao trono, dando início à disputa de<br />

poder chamada Guerra dos Três Henriques. Sequioso<br />

pelo poder, Henrique de Guise fundou a Liga Católica,<br />

exercendo junto com a rainha Catarina de Médici forte<br />

influência sobre Henrique III. Esforçando se para manter<br />

sua soberania, Henrique III autorizou o assassinato de<br />

Henrique de Guise, ocasionando a oposição da Liga<br />

Católica para depô-lo do trono. Essa condição o<br />

aproximaria do cunhado Henrique de Bourbon para o<br />

cerco a Paris, o que não impediu que o herdeiro Valois<br />

também fosse assassinado em 1589. Henrique de<br />

Navarra, feito sucessor por Henrique III, assumiria o<br />

trono como Henrique IV, sob forte pressão da Liga<br />

Católica. A fim de garantir a estabilidade, converteu-se<br />

ao catolicismo , ocasião em que proferira a celebre frase<br />

“Paris bem vale uma missa”, dando início à dinastia<br />

Bourbon.<br />

Embora tenha mantido a religião católica como religião<br />

oficial, Henrique IV promulgou o Edito de Nantes, que<br />

garantia a liberdade religiosa aos huguenotes, tolerância<br />

religiosa que só seria rompida no reinado de Luis XIV.<br />

Seu mandato foi marcado ainda pela crescente<br />

centralização administrativa, estímulo ao comércio e<br />

agricultura e pela concessão de títulos de nobreza aos<br />

grandes comerciantes para garantir recursos ao Estado.<br />

Morreu de forma trágica, assassinado por um fanático<br />

religioso.<br />

Seu sucessor Luís XIII, também chegou ao trono criança,<br />

fortemente influenciado pela regência de sua mãe<br />

Catarina de Médici e pela ação política do Cardeal<br />

Richilieu. As guerras de religião foram retomadas, com<br />

perseguição intensa aos protestantes e a tomada da<br />

fortaleza de La Rochelle, além da restrição dos direitos<br />

políticos desse grupo, mantendo apenas o seu direito de<br />

culto. No plano interno, buscou limitar a autonomia da<br />

nobreza, criando um eficiente corpo de funcionários, os<br />

intendentes, para garantir a centralização do poder.<br />

199


200<br />

Buscou ainda fortalecer a posição hegemônica dos<br />

franceses dentro do continente europeu, mergulhando o<br />

pais na Guerra dos 30 Anos (1630/1648), visando<br />

neutralizar os Habsburgo e promover a projeção dos<br />

Bourbon.<br />

Após a morte de Richilieu em 1642 e de Luís XIII no<br />

ano seguinte, chegaria ao poder o célebre monarca Luís<br />

XIV, também criança e inicialmente influenciado por sua<br />

mãe Ana de Áustria e pelo Cardeal Mazzarino. Os<br />

aumentos dos impostos e acrescente centralização do<br />

poder provocou a reação de grupos da nobreza e da<br />

burguesia contra o Rei, as chamadas frondas, duramente<br />

reprimidas pelo poder real.<br />

Adulto e plenamente posto no trono, Luís XIV deu os<br />

contornos finais do aprimoramento do Absolutismo<br />

francês, marcado pelo aprimoramento da máquina<br />

burocrática e pela criação da portentosa Corte de<br />

Versalhes. Imediatamente após sua posse, acumulou as<br />

funções de Rei e Ministro, esvaziou o Conselho, um dos<br />

principais órgãos burocráticos do governo anterior e se<br />

tornou responsável direto pela nomeação dos principais<br />

cargos administrativos.<br />

A economia francesa foi amplamente beneficiada pelo<br />

aprimoramento no controle dos sistemas de cobranças de<br />

impostos e pelas práticas econômicas empreendidas pelo<br />

ministro Colbert, sustentados nos pressupostos da<br />

política mercantilista. Tal riqueza acumulada permitiu o<br />

oferecimentos de luxo, pensões e a própria construção do<br />

palácio de Versalhes e a disputa com ingleses e<br />

holandeses por áreas caribenhas e no Atlântico Norte,<br />

além do envolvimento na guerra pela sucessão de poder<br />

na Espanha.<br />

Luís XIV – O Rei-Sol<br />

Sua morte em 1715 coincidiu com o fim da própria<br />

supremacia francesa no continente, destacando-se a<br />

Inglaterra e evidenciando as contradições internas que<br />

levariam a derrocada do Absolutismo francês com a<br />

Revolução de 1789.<br />

A Vida na Corte – Etiqueta<br />

Os reis absolutistas franceses, como Luís XIV, viviam<br />

rodeados de numerosos membros da nobreza, os<br />

cortesãos. Para obter o reconhecimento do monarca,<br />

estes deviam frequentar regularmente as residências reais<br />

e respeitar a Etiqueta. Se os súbditos mostrassem uma<br />

disponibilidade total, eram recompensados através de<br />

pensões e gratificações financeiras reais, alojamento no<br />

palácio de Versalhes e convites frequentes para festas e<br />

cerimônias.<br />

“Toda a França estava organizada em torno do Rei". A<br />

grande área de Versalhes acomodava uma numerosa<br />

corte que dependendo das circunstâncias ia de 3000 a<br />

10000 pessoas. Organizava-se segundo uma sociedade<br />

heterogênea e estritamente hierarquizada. Uns estavam lá<br />

por direito de nascença, outros por obrigação social,<br />

outros por interesse, outros por curiosidade, enfim para<br />

ganhar a vida, disputando a atenção e os benefícios reais.<br />

Os cortesãos tinham a obrigação de seguir uma etiqueta<br />

definidas rigorosamente. Essas regras definiam quem e<br />

quando se podia aproximar das pessoas de estatuto mais<br />

elevado da Corte. A linguagem e as atitudes eram<br />

também codificadas e variavam segundo a posição social<br />

e as circunstâncias: o estatuto social traduzia-se tanto na<br />

maneira de se dirigir a uns e outros como no direito de se<br />

sentar numa poltrona, cadeirão, cadeira, ou banquinho.<br />

A Vida na Corte era estritamente regulada pela etiqueta.<br />

Luís XIV definiu regras de etiqueta que incluíam o<br />

seguinte:<br />

1 - As pessoas que queriam falar com o rei não podiam<br />

bater à sua porta. Em vez disso, usando o dedo mindinho<br />

da mão esquerda, tinham que arranhar suavemente a<br />

porta, até que lhes fosse dada permissão para entrar.<br />

Como resultado, muitos cortesãos deixavam crescer mais<br />

as suas unhas.<br />

2 - Uma dama nunca segura as mãos ou abraça um<br />

cavalheiro. Além de ser de mau gosto, esta prática seria<br />

impossível devido às largas saias que as rodeavam. Em<br />

vez disso, punha a mão no cotovelo do cavalheiro<br />

quando passeavam pelos jardins ou salas de Versalhes.


Também era mencionado que as damas só podiam tocar<br />

com as pontas dos dedos nos cavalheiros.<br />

3- Quando um cavalheiro se senta, desliza o seu pé<br />

esquerdo em frente do outro, pousa as mãos dos lados da<br />

cadeira e suavemente desce. Esta prática tinha uma razão<br />

muito simples: se um cavalheiro se sentasse rapidamente,<br />

as suas calças apertadas podiam rasgar.<br />

4- As mulheres e os homens não tinham a permissão de<br />

cruzar as pernas em público.<br />

5- Quando um cavalheiro passava por outro conhecido<br />

na rua, tinha de tirar o chapéu até que a outra pessoa<br />

passasse.<br />

6- Um cavalheiro não tinha de fazer mais nenhum<br />

trabalho a não ser escrever cartas, discursar, praticar<br />

esgrima ou dança. Como desportos podia praticar tiro<br />

com arco, ténis e caça.<br />

intensa perseguição violenta a esse grupo, o que lhe<br />

rendeu a alcunha de Bloody Mary, Maria, a Sanguinária.<br />

Com a morte de Maria, grupos da nobreza anglicana e da<br />

burguesia se empenharam em conduzir ao trono a<br />

herdeira de Henrique VIII e Ana Bolena, a jovem<br />

Elizabeth. O longo governo de Elizabeth que se estendeu<br />

de 1558 a 1603 concluiu a absolutização do poder real.<br />

Reafirmou a oficialidade da Igreja Anglicana, reforçando<br />

seu aspecto calvinista em detrimento de seus aspectos<br />

católicos, reduzindo a importância da nobreza papista e<br />

assegurando o apoio da burguesia reformada. Concentrou<br />

os poderes em torno de si e de um Conselho Privado,<br />

restrito aos conselheiros de sua mais alta confiança,<br />

protelando a convocação do Parlamento estipulado pela<br />

Magna Carta.<br />

http://www.chateauversailles.fr/lhistoire/versailles-au-cours-des-siecles<br />

5. O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA<br />

Na Inglaterra, o território inglês alcançou a ordem<br />

política absolutista com a ascensão dos Tudor ao poder.<br />

Configurou-se num tipo de absolutismo muito particular,<br />

tendo em conta que desde 1215 contava com a Magna<br />

Carta, documento que originou o Parlamento e que<br />

deverias significar restrições ao poderio real. Pouco<br />

convocado entre os séculos XIII e XVI, o Parlamento<br />

precisou ser cooptado pelos reis absolutistas, em favor da<br />

legitimação de sua autoridade.<br />

A guerra dos Cem Anos contra a França e o conflito<br />

interno da Guerra das Duas Rosas dificultou a<br />

precocidade da centralização política; o processo seria<br />

retornado com a Dinastia Tudor, que teve em Henrique<br />

VII o seu primeiro monarca. Com o seu sucessor,<br />

Henrique VIII, a centralização do poder delinearia seus<br />

aspectos absolutistas, a partir da ruptura do Rei com o<br />

Papado, com a criação da Igreja Anglicana; tal medida,<br />

não apenas limitou a influência católica, como garantiu a<br />

apropriação pelo Estado dos bens da Igreja e a chefia do<br />

monarca sobre a nova Igreja reformada.<br />

A morte de Henrique VIII procedeu a um período de<br />

instabilidade na sucessão do poder, marcado pelo curto<br />

reinado de seu filho Eduardo VI, cuja morte precoce fez<br />

ascender ao trono sua meia-irmã Maria. Casada com<br />

Filipe II de Espanha, a rainha retirou privilégios<br />

concedidos aos anglicanos convertidos e promoveu<br />

Elizabeth I também foi eficiente no enfrentamento às<br />

oposições, como ficou claro ao mandar decapitar sua<br />

prima, rainha deposta da Escócia, Maria Stuart, que<br />

apoiada pelo Papa e pelo monarca espanhol Filipe II<br />

objetiva destroná-la. Mais prestigio ainda seria alcançado<br />

pela soberana ao derrotar, em 1588, a Invencível<br />

Armada, poderosa esquadra espanhola de seu cunhado<br />

inimigo, inaugurando uma nova fase no palco das<br />

hegemonias europeias.<br />

Foi ainda responsável por um notável desenvolvimento<br />

econômico, marcado pelo estimulo à exploração da<br />

manufatura de tecidos de lã e da exploração das minas de<br />

201


carvão. Para o sucesso do comercio internacional e das<br />

ações de corsário legitimadas pelo Estado, promoveu<br />

acentuado estimulo à construção naval. Também<br />

desenvolveu companhias de comercio, ingressou na<br />

exploração comercial do trafico de escravos da África<br />

para a América, fixou monopólios a grandes<br />

comerciantes e protegeu a indústria local com a elevação<br />

de tarifas alfandegárias.<br />

Tal prosperidade econômica teve implicações sociais<br />

significativas, como a formação da gentry, estrato da<br />

nobreza que passou a produzir no campo para fins<br />

comerciais e manufatureiros e a aprovação das Leis de<br />

Cercamentos, para beneficiar a disponibilidade de<br />

matéria prima ao setor têxtil. A burguesia mercantil das<br />

cidades passou a ganhar destaque no parlamento, através<br />

da Câmara dos Comuns, e dificuldades sociais<br />

envolvendo os pobres do campo e da cidade tornaram-se<br />

evidentes. De toda sorte, seu reinado antecipou as<br />

condições essenciais para a configuração da Inglaterra<br />

em uma potência econômica.<br />

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

ARRUDA, José Jobson. Moderna e Contemporânrea, Vol. 1. Bauru:EDUSC,<br />

2006.<br />

FANTAGUSI, Alexandre, Absolutismo Módulo 05, Frente AEditora Bernoulli,<br />

2013.<br />

EXERCÍCIOS<br />

“O Estado sou eu”, frase atribuída ao rei francês Luís<br />

XIV, traduzia o grau de centralização de poderes típica<br />

dos Estados absolutistas europeus. Tal forma de<br />

organização política destacava a figura do monarca como<br />

bem caracteriza a imagem acima.<br />

Assinale a alternativa correta que expressa o papel da<br />

monarquia absolutista.<br />

a) O regente, ao aparecer publicamente com trajes<br />

suntuosos, exprimia a união entre o poder temporal e<br />

o espiritual, apoiado publicamente pelo Papa em<br />

cada aparição pública.<br />

b) O monarca, ao se utilizar da pompa e da<br />

suntuosidade, sintetizava os anseios da própria<br />

nação e dos diversos grupos religiosos existentes no<br />

território francês.<br />

c) A exposição pública da figura do monarca<br />

enfraquecia a nobreza e as tradições aristocráticas,<br />

ao mesmo tempo em que fortalecia os interesses<br />

burgueses.<br />

d) O rei, ao simbolizar o próprio Estado francês,<br />

consegue articular o anseio do grupo mercantil em<br />

ascensão, articulando-os com os interesses da<br />

nobreza nacional.<br />

e) Eliminar as revoltas camponesas francesas,<br />

recorrendo ao luxo e majestade configurados na<br />

imagem do monarca, garantia estabilidade a nação.<br />

02 - (Fac. Direito de Franca SP)<br />

01 - (MACK SP)<br />

"A etiqueta foi, nos séculos do seu apogeu (do XV ao<br />

XVIII), minucioso cerimonial regendo a vida em<br />

sociedade: roupas, formas de tratamento, uso da<br />

linguagem, distribuição no espaço, tudo isso esteve<br />

determinado pela lei e pelo costume."<br />

Renato Janine Ribeiro. A etiqueta no Antigo Regime.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 7.<br />

O papel da etiqueta no Antigo Regime pode ser<br />

associado<br />

a) ao esforço da realeza para impedir a exposição<br />

pública da ostentação e da pompa que orientavam<br />

sua vida privada.<br />

b) à dinâmica política do Estado absolutista, em que os<br />

governantes deviam acolher no seu espaço privado<br />

representantes de todas as classes sociais.<br />

c) à disposição, natural na burguesia mercantil<br />

metropolitana, de buscar o luxo e a ostentação.<br />

202


d) à lógica hierarquizadora da sociedade, em que cada<br />

pessoa devia conhecer seu lugar, sua posição e seu<br />

papel social.<br />

e) ao papel regrador da sociedade, exercido pela Igreja<br />

Católica, que determinava o vestuário adequado dos<br />

fiéis.<br />

então intocáveis, de que gozam certas classes,<br />

corporações e indivíduos; e pela falta de uma<br />

fiscalização central dos amplos e heterogêneos corpos de<br />

funcionários.<br />

(Leon Pomer, O surgimento das nações. Apud Adhemar Marques et al,<strong>História</strong><br />

Moderna através de textos)<br />

03 - (UERJ) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser<br />

amado que temido ou temido que amado. Responde-se<br />

que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é<br />

difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que<br />

amado, quando haja de faltar uma das duas. Deve,<br />

todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que, se não<br />

adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito<br />

bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que<br />

sempre conseguirá desde que respeite os bens dos seus<br />

concidadãos e dos seus súditos porque os homens<br />

esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do<br />

patrimônio.<br />

Mas quando um príncipe está com os exércitos e tem<br />

uma multidão de soldados sob o seu comando, então é de<br />

todo necessário que não se importe de passar por cruel;<br />

porque sem esta fama não se mantém um exército unido,<br />

nem disposto a qualquer feito.<br />

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel Adaptado de www.arqnet.pt<br />

Nicolau Maquiavel foi um pensador florentino que viveu<br />

na época do Renascimento. Ele é considerado um dos<br />

fundadores do pensamento político moderno e suas<br />

ideias serviram de base para a constituição do<br />

Absolutismo monárquico.<br />

Identifique no texto duas práticas do Absolutismo<br />

monárquico.<br />

04 - (FGV) Leia o fragmento.<br />

(...) entre os séculos XVII e XVIII ocorreram fatos na<br />

França que é preciso recordar. Entre 1660-1680, os<br />

poderes comunais são desmantelados; as prerrogativas<br />

militares, judiciais e fiscais são revogadas; os privilégios<br />

provinciais reduzidos. Durante a época do Cardeal<br />

Richelieu (1585-1642) aparece a expressão “razão de<br />

Estado”: o Estado tem suas razões próprias, seus<br />

objetivos, seus motivos específicos. A monarquia<br />

francesa é absoluta, ou pretende sê-lo. Sua autoridade<br />

legislativa e executiva e seus poderes impositivos, quase<br />

ilimitados, de uma forma geral são aceitos em todo o<br />

país. No entanto... sempre há um “no entanto”. Na<br />

prática, a monarquia está limitada pelas imunidades,<br />

No contexto apresentado, entre as “imunidades de que<br />

gozam certas classes”, é correto considerar<br />

a) os camponeses e os pequenos proprietários urbanos<br />

eram isentos do pagamento de impostos em épocas<br />

de secas ou de guerras de grande porte.<br />

b) a burguesia ligada às transações financeiras com os<br />

espaços coloniais franceses não estava sujeita ao<br />

controle do Estado francês, pois atuava fora da<br />

Europa.<br />

c) a nobreza das províncias mais distantes de Paris<br />

estava desobrigada de defender militarmente a<br />

França em conflitos fora do território nacional.<br />

d) os grandes banqueiros e comerciantes não<br />

precisavam pagar os impostos devido a uma tradição<br />

relacionada à formação do Estado francês.<br />

e) o privilégio da nobreza que não pagava tributos ao<br />

Estado francês, condição que contribuiu para o<br />

agravamento das finanças do país na segunda<br />

metade do século XVIII.<br />

05 - (FGV) “Essencialmente, o absolutismo era apenas<br />

isto: um aparelho de dominação feudal alargado e<br />

reforçado, destinado a fixar as massas camponesas na sua<br />

posição social tradicional (...) Por outras palavras, o<br />

Estado absolutista nunca foi um árbitro entre a<br />

aristocracia e a burguesia, ainda menos um instrumento<br />

da burguesia nascente contra a aristocracia: ele era a<br />

nova carapaça política de uma nobreza atemorizada (...).”<br />

ANDERSON, Perry, Linhagens do Estado Absolutista. Trad. Porto:<br />

Afrontamento, 1984, pp. 16-17.<br />

a) Na perspectiva de Anderson, o Estado absolutista<br />

significou um rompimento drástico com relação à<br />

fragmentação política característica do período<br />

feudal? Justifique.<br />

b) Na visão de Anderson, qual era o grupo social<br />

dominante nos quadros do Estado absolutista?<br />

Justifique.<br />

c) Além dos elementos apontados no texto, ofereça<br />

mais duas características constitutivas dos chamados<br />

Estados absolutistas.<br />

203


06 - (UEM PR) No século XVII, na Inglaterra, e no<br />

final do século XVIII, na França, ocorreram processos<br />

revolucionários que são conhecidos como revoluções<br />

burguesas. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s)<br />

correta(s).<br />

01. Na França do Antigo Regime, o primeiro e o segundo<br />

estados, clero e nobreza detinham direitos exclusivos,<br />

tais como a isenção de pagamento de impostos.<br />

02.Tanto na Inglaterra quanto na França, era disseminada<br />

a crença no caráter sagrado do poder dos reis.<br />

04. Embora realizada em nome da liberdade e da<br />

igualdade, os revolucionários franceses mantiveram os<br />

privilégios jurídicos da nobreza.<br />

08. A revolução gloriosa, no final do século XVII,<br />

estabeleceu a república na Inglaterra. Somente no início<br />

do século XVIII, a monarquia foi restaurada e se<br />

estabeleceu o parlamentarismo.<br />

16. Na obra O Leviatã, Thomas Hobbes defendeu o<br />

primado da razão sobre a fé, o direito à autodeterminação<br />

dos povos e fez a defesa da república.<br />

07 - (UFPR) Tenho insistido também que a monarquia<br />

deve ser atribuída exclusivamente aos varões, já que a<br />

ginecocracia vai contra a lei natural; esta deu aos homens<br />

a força, a prudência, as armas, o poder. A lei de Deus<br />

ordena explicitamente que a mulher se submeta ao<br />

homem, não só no governo de reinos e impérios, mas<br />

também na família. (...) Também a lei civil proíbe à<br />

mulher os cargos e ofícios próprios ao homem. (...) É<br />

extremamente perigoso que uma mulher ostente a<br />

soberania. (...) No caso de uma rainha que não contraia o<br />

matrimônio – caso de uma verdadeira ginecocracia –, o<br />

Estado está exposto a graves perigos procedentes tanto<br />

dos estrangeiros como dos súditos, pois caso seja um<br />

povo generoso e de bom ânimo suportará mal que uma<br />

mulher exerça o poder.<br />

(Jean Bodin, Los seis libros de la republica. Edição espanhola de 1973, p. 224.)<br />

A citação extraída do livro do jurista francês Jean Bodin<br />

(1530-1596), publicado em 1576, refere-se ao exercício<br />

do poder soberano por mulheres, algo que seria contrário<br />

às leis da natureza, à lei de Deus e às leis civis, de acordo<br />

com o pensamento político da época. Contudo, uma<br />

importante monarca contemporânea a Bodin, Elizabeth<br />

Tudor, exerceu o poder político em condições adversas e<br />

muitas vezes ameaçadoras à sua integridade física, e seu<br />

longo reinado foi considerado pelos historiadores como a<br />

“época dourada” da Inglaterra. Sobre a monarquia e o<br />

exercício do poder soberano, é correto afirmar:<br />

a) Durante o século XVI, o poder soberano das<br />

monarquias europeias foi enfraquecido, devido ao<br />

renascimento dos impérios e do papado.<br />

b) A lei sálica, presente nas constituições de alguns<br />

reinos europeus, permitia que as mulheres<br />

exercessem o poder soberano, e é contra essa lei que<br />

se coloca Jean Bodin.<br />

c) O conceito de poder soberano foi determinante para<br />

o exercício da tirania dos reis absolutistas no século<br />

XVI, que governaram sozinhos ao fechar os<br />

parlamentos.<br />

d) Elizabeth exerceu o poder soberano por tanto tempo<br />

porque aceitou dividi-lo com a Igreja Anglicana.<br />

e) O poder soberano de monarcas como Elizabeth se<br />

fundamentava no princípio de não reconhecer poder<br />

superior ao do rei, a não ser o poder divino.<br />

08 - (UFRN) Entre os teóricos que defenderam o<br />

Absolutismo monárquico estava Jacques Bossuet, que<br />

declarou:<br />

“O trono real não é o trono de um homem, mas o trono<br />

do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de<br />

alguma maneira da independência divina. O rei vê de<br />

mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê<br />

melhor, e deve obedecer-se-lhe sem murmurar, pois o<br />

murmúrio é uma disposição para a sedição.”<br />

Jacques Bossuet, Política tirada da Sagrada Escritura. FREITAS, Gustavo de. 900<br />

textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, [1977]. v. 2, p. 201. [Adaptado]<br />

Analisando os conflitos políticos da Inglaterra no século<br />

XVII, o historiador Christopher Hill escreveu:<br />

“A partir das vitórias militares sobre os Cavaleiros, [os<br />

Cabeças Redondas] conseguiram a rendição do rei em<br />

1646. Entretanto, Carlos I reorganizou seus soldados e<br />

recomeçou a guerra, sendo derrotado definitivamente<br />

pelos Cabeças Redondas de Cromwell. Preso, Carlos I<br />

foi julgado pela Alta Corte de Justiça, a mando do<br />

Parlamento, sendo condenado à morte. Em janeiro de<br />

1649, o rei foi decapitado em frente ao palácio de<br />

Whitehall, em Londres.”<br />

HILL, Christopher. O eleito de Deus. São Paulo:Companhia das Letras, 1988. p.<br />

179.<br />

204


Analisando a afirmação teórica de J. Bossuet e<br />

relacionando-a com os fatos narrados por C. Hill, podese<br />

corretamente afirmar que a execução de Carlos I<br />

assinalou<br />

a) um momento decisivo na história europeia, por ter<br />

posto em xeque um princípio político central do<br />

Estado Moderno e lançado as bases políticas liberais<br />

contemporâneas.<br />

b) uma etapa fundamental na evolução do Parlamento<br />

inglês, pois, a partir daí, os burgueses tiveram acesso<br />

à Câmara dos Comuns.<br />

c) a reação da facção liberal no Parlamento, que,<br />

dominada pelos puritanos, defendia o direito divino<br />

dos reis.<br />

d) a implantação definitiva da monarquia parlamentar<br />

inglesa, pois, daí por diante, a sucessão real seria<br />

decidida pelo Parlamento.<br />

09 - (UEFS BA) O absolutismo que se instalou na<br />

Europa Ocidental, a partir do século XVI, construiu-se<br />

sobre uma base social caracterizada pela<br />

a) desigualdade dos diferentes grupos sociais perante a<br />

lei.<br />

b) divisão da soberania do Estado entre o rei, a Igreja e<br />

a nobreza feudal.<br />

c) confirmação da autonomia do senhor feudal dentro<br />

de suas propriedades.<br />

d) aceitação da liberdade religiosa dos cidadãos,<br />

mesmo em desacordo com a religião do rei.<br />

e) supremacia da autoridade da Igreja sobre as<br />

populações dos reinos europeus ocidentais.<br />

10 - (MACK SP) Na França de Luís XIV, o Estado<br />

dinástico atingiu maturidade e começou a evidenciar<br />

algumas de suas características clássicas: burocracia<br />

centralizada; proteção real para impor fidelidade;<br />

sistema de tributação universal, mas aplicado de<br />

maneira injusta; supressão da oposição política pelo uso<br />

do protecionismo ou, se necessário, da força e cultivo<br />

das artes e ciências como meio de aumentar o poderio e<br />

prestígios nacionais. Essas políticas permitiram à<br />

monarquia francesa alcançar estabilidade política,<br />

implantar um sistema uniforme de leis e canalizar a<br />

riqueza e os recursos nacionais a serviço do Estado<br />

como um todo.<br />

M. Perry, Civilização Ocidental<br />

O texto apresenta características importantes a respeito<br />

do Antigo Regime (XV-XVIII). Dessa forma, é correto<br />

afirmar que tal período foi marcado pela tríade<br />

a) Iluminismo-mercantilismo-sociedade estamental.<br />

b) Absolutismo-liberalismo-sociedade estamental.<br />

c) Absolutismo-mercantilismo-sociedade estamental.<br />

d) Iluminismo-mercantilismo-sociedade sectária.<br />

e) Absolutismo-capitalismo-monopolista-sociedade<br />

estamental.<br />

11 - (UNESP SP) O fim último, causa final e desígnio<br />

dos homens (...), ao introduzir aquela restrição sobre si<br />

mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o<br />

cuidado com sua própria conservação e com uma vida<br />

mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela<br />

mísera condição de guerra que é a consequência<br />

necessária (…) das paixões naturais dos homens,<br />

quando não há um poder visível capaz de os manter em<br />

respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao<br />

cumprimento de seus pactos (...).<br />

(Thomas Hobbes. Leviatã, 1651. In: Os pensadores, 1983.)<br />

De acordo com o texto.<br />

os homens são bons por natureza, mas a sociedade<br />

instiga a disputa e a competição entre eles.<br />

a) as sociedades dependem de pactos internos de<br />

funcionamento que diferenciem os homens bons dos<br />

maus.<br />

b) os castigos permitem que as pessoas aprendam<br />

valores religiosos, necessários para sua convivência.<br />

c) as guerras são consequências dos interesses dos<br />

Estados, preocupados em expandir seus domínios<br />

territoriais.<br />

d) os Estados controlam os homens, permitindo sua<br />

sobrevivência e o convívio social entre eles.<br />

12 - (UFU MG) Leia o texto a seguir.<br />

O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro<br />

e religioso, bastando que aparente possuir tais<br />

qualidades. [...] Um príncipe não pode observar todas as<br />

coisas a que são obrigados os homens considerados bons,<br />

sendo frequentemente forçado, para manter o governo, a<br />

agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião [...].<br />

O príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas<br />

deve estar pronto a fazer o mal, se necessário.<br />

MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1986.<br />

205


Sobre o pensamento político de Maquiavel e o contexto<br />

histórico em que se insere, assinale a alternativa correta.<br />

a) Os reis precisavam de autonomia e não poderiam<br />

estar submetidos a nenhuma instituição para<br />

alcançar a plenitude política.<br />

b) Os princípios da representação popular e dos ideais<br />

democráticos eram amplamente defendidos.<br />

c) A ação violenta por parte dos governantes contra os<br />

seus súditos era censurada.<br />

d) A política estava desvinculada dos princípios<br />

cristãos, mantendo-se a legitimidade dos reis pelos<br />

princípios da representatividade.<br />

13 - (UFJF MG) Acerca do início da Idade Moderna,<br />

leia a afirmação abaixo. Em seguida, com base na citação<br />

e em seus conhecimentos, responda ao que se pede.<br />

Atividades econômicas, estruturas e relações sociais,<br />

formas políticas, ideologias, manifestações culturais,<br />

tudo afinal se modificou em maior ou menor grau,<br />

embora em ritmos e proporções bastante diferenciados<br />

entre si. Tal conjunto permite-nos considerar essa época<br />

o começo de um período distinto do medieval, quaisquer<br />

que tenham sido as permanências e continuidades então<br />

verificadas. Explica-se assim o hábito há muito<br />

difundido entre os historiadores de procurar sintetizar<br />

todas as transformações do período que então se iniciava<br />

utilizando a noção de moderno.<br />

Fonte: FALCON, Francisco;RODRIGUES, Antonio E. A formação do mundo<br />

moderno: a construção do Ocidente dos séculos XIV ao XVIII. 2ed. Rio de<br />

Janeiro: Elsevier, 2006. P.2.<br />

Sobre as diversas modificações ocorridas no período,<br />

marque a alternativa INCORRETA.<br />

a) O movimento conhecido como Renascimento<br />

Cultural tinha como uma de suas características<br />

centrais o antropocentrismo.<br />

b) O desenvolvimento dos Estados Modernos foi<br />

caracterizado pela crescente descentralização dos<br />

poderes, que enfraqueceu o poder dos monarcas.<br />

c) O movimento da Reforma Protestante criticou as<br />

práticas da Igreja Católica e dividiu a Cristandade<br />

Ocidental.<br />

d) Ocorreu a propagação de importantes correntes de<br />

pensamento tais como as teorias de direito divino<br />

dos Reis.<br />

e) O surgimento de avanços tecnológicos como a<br />

bússola e o astrolábio colaborou para a realização<br />

das grandes navegações.<br />

14 - (UEM PR) No início da Idade Moderna, ocorre, na<br />

Europa Ocidental, um processo de centralização política<br />

que deu origem aos atuais Estados nacionais. A respeito<br />

do processo que levou ao surgimento dos Estados<br />

nacionais, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).<br />

01. A expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica<br />

tornou possível a unificação de antigos reinos cristãos de<br />

onde se originou a Espanha, no final do século XV.<br />

02. A unificação da Itália enfrentou a oposição da Igreja<br />

Católica, que só passou a aceitar o Estado italiano<br />

unificado com a celebração do Tratado de Latrão, em<br />

1929, entre o Papa Pio XI e Mussolini.<br />

04. A unificação da Alemanha ocorreu na segunda<br />

metade do século XIX, sob a hegemonia da Prússia.<br />

08. A centralização política de Portugal foi precoce,<br />

quando comparada a outros Estados europeus. Já no<br />

século XIII, o Reino de Portugal se encontrava<br />

politicamente centralizado.<br />

16. Em razão da homogeneidade e identidade cultural<br />

resultante da unificação espanhola, desde o século XVII<br />

não existem mais tensões e conflitos internos de caráter<br />

nacionalista na Espanha.<br />

15 - (UEPG PR) Sobre os Estados Nacionais Modernos,<br />

assinale o que for correto.<br />

01. Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes e Jean Bodin<br />

figuram entre os teóricos que construíram as concepções<br />

gerais nas quais se assentam os Estados Nacionais<br />

Modernos.<br />

02. No caso do Estado inglês, o que mais o caracterizou<br />

durante sua criação foi a negação ao absolutismo e a sua<br />

proximidade com a Igreja Católica.<br />

04. Na França, o Estado Nacional se formou, a partir do<br />

século XII, defendendo a República e combatendo os<br />

princípios monárquicos.<br />

08. A reconquista da Península Ibérica, luta travada<br />

contra os muçulmanos que ocupavam aquela região<br />

desde a Idade Média, favoreceu ao processo de<br />

unificação e de formação do Estado Nacional espanhol.<br />

16. Em termos gerais, a noção de cidadania, a divisão<br />

dos três poderes (executivo, legislativo, judiciário), dos<br />

direitos civis e da representatividade política estão<br />

presentes na gênese dos Estados Nacionais Modernos.<br />

206


16 - (FGV) A denominada Sociedade do Antigo Regime,<br />

tipo de organização social peculiar à maior parte da<br />

Europa, na Idade Moderna, teve como característica<br />

jurídica principal:<br />

a) A tributação exclusiva das camadas mais pobres,<br />

formadas por artesãos, servos e pequenos<br />

proprietários.<br />

b) O desenvolvimento de uma cultura correspondente<br />

aos valores da burguesia, que adaptou o poder, a<br />

arte, a ciência e a filosofia aos ideais de trabalho e<br />

geração de riquezas.<br />

c) O princípio da desigualdade, com o estabelecimento<br />

de direitos e privilégios de acordo com a posição<br />

social de seus membros, definida por nascimento.<br />

d) A monarquia absolutista, consolidada com base no<br />

poder econômico da alta burguesia, a adoção do<br />

parlamentarismo constitucional e a implementação<br />

dos direitos fundamentais do cidadão.<br />

e) A tolerância religiosa e a elaboração de leis que<br />

estabeleceram monarquias laicas que coibiram<br />

perseguições religiosas e políticas.<br />

17 - (UEPB) É difícil imaginar sociedades sem Estado.<br />

Hoje, como ontem, os Estados podem se fundar em<br />

princípios jurídicos, ideológicos ou religiosos e culturais,<br />

com governos eleitos ou ditatoriais. Analise as questões<br />

abaixo e aponte, com F ou V, as falsas e as verdadeiras.<br />

Assinale a alternativa correta:<br />

a) V, V, F, V<br />

b) V, F, V, F<br />

c) F, F, V, V<br />

d) V, F, F, V<br />

e) V, F, V, V<br />

18 - (UNIR RO) “O Estado sou eu”. A célebre frase<br />

atribuída ao rei francês Luís XIV, também conhecido<br />

como Rei-Sol, sintetiza o período absolutista na Europa<br />

moderna. Em relação ao Estado absolutista, assinale a<br />

afirmativa correta<br />

a) A política econômica do absolutismo estava baseada<br />

no livre comércio que era controlado pela burguesia.<br />

b) A nobreza havia perdido seus privilégios políticos e<br />

sociais devido às constantes guerras entre os Estados<br />

absolutistas.<br />

c) Os poderes de governos e a autoridade política<br />

encontravam-se centralizados nas mãos do soberano.<br />

d) A burocracia foi reduzida em decorrência da atuação<br />

burguesa que defendia a diminuição da presença<br />

estatal na vida dos súditos.<br />

e) As diversas revoltas camponesas, ocorridas naquele<br />

momento, conquistaram melhorias nas condições de<br />

trabalho no meio rural.<br />

( ) A ideia de Estado vem do Renascimento, quando se<br />

refletia sobre a relação entre governantes e governados.<br />

Aqui surge a lógica que diz que o Estado não tem que<br />

necessariamente recorrer ao uso da força para ser<br />

respeitado, e que ele legitimasse quando é autorizado<br />

pelo povo para comandar.<br />

19 - (UFV MG) Observe a imagem abaixo:<br />

( ) O Estado é apenas um dos elementos da natureza.<br />

Ele é um instrumento que os homens herdam<br />

naturalmente para que possam resolver seus conflitos e<br />

organizar a vida em comunidade.<br />

( ) Não existe qualquer diferença entre os conceitos de<br />

Estado, administração e governo. O Estado é apenas uma<br />

criação filosófica, já o governo é a única face visível do<br />

poder público.<br />

( ) Uma das principais características do Estado<br />

moderno é possuir o monopólio da violência e ter a<br />

autoridade necessária para fazer cumprir a lei que<br />

garante os direitos e deveres do cidadão.<br />

207


A imagem apresentada no frontispício da edição de 1651<br />

do Leviatã de Thomas Hobbes representa diversos<br />

aspectos da ordem política moderna europeia. A<br />

alternativa que CORRETAMENTE identifica uma das<br />

características representadas pela imagem a respeito do<br />

Estado Moderno europeu é:<br />

a) a natureza divina do poder real, com a consequente<br />

submissão ao poder universal do papado e das<br />

autoridades eclesiásticas.<br />

b) a preponderância das demandas oriundas das<br />

organizações locais urbanas e rurais, subordinando a<br />

autoridade dos reis.<br />

c) o papel de árbitro desempenhado pelo monarca<br />

diante dos diversos corpos e órgãos formadores da<br />

sociedade política.<br />

d) a fragmentação da soberania régia e sua submissão<br />

ao poder e aos interesses da aristocracia encastelada<br />

nas cortes régias.<br />

TEXTO: 1 - Comum à questão: 20<br />

A história do Reino Unido (ex-Império Britânico)<br />

registra o governo de três rainhas – rainha Elisabeth I<br />

(Isabel Tudor) / rainha Vitória / rainha Elisabeth II – em<br />

cujos governos importantes questões de caráter políticoeconômico<br />

foram estabelecidas e cujos desdobramentos<br />

influenciaram não apenas a própria história inglesa,<br />

como também o resto do mundo.<br />

20 - (UEFS BA) No reinado de Elisabeth I, embora<br />

existisse a instituição do Parlamento,<br />

a) o absolutismo monárquico foi fortalecido, como<br />

resultado, em parte, da articulação política entre a<br />

Coroa e a Igreja Anglicana, que foi declarada a<br />

Igreja oficial.<br />

b) o Reino Unido aliou-se à Espanha e à França para<br />

apoderar-se das terras conquistadas por Portugal no<br />

litoral africano.<br />

c) a Inglaterra tornou-se parlamentarista, confirmando<br />

os limites ao poder monárquico no plano político.<br />

d) a burguesia mercantil foi excluída do processo<br />

político, resultando no atraso dos ingleses na<br />

expansão colonial.<br />

e) a nobreza assumiu o controle do Estado, reduzindo o<br />

poder do monarca ao papel figurativo.<br />

208


GABARITO:<br />

1) Gab: D<br />

2) Gab: D<br />

3) Gab:<br />

Duas das práticas:<br />

• monopólio do exercício da força<br />

• formação de um exército regular<br />

• respeito às leis fundamentais do reino<br />

• concentração de poder político nas mãos do soberano<br />

4) Gab: E<br />

5) Gab:<br />

a) Não significou um rompimento drástico, se pensarmos<br />

que, para Perry Anderson, a nobreza mantém-se como<br />

grupo dominante no Absolutismo, que ganha a conotação<br />

de “Estado feudal transformado e ampliado”. Opera-se<br />

uma centralização do poder nas mãos do rei, cuja<br />

significação é garantir a estrutura social, a dominação da<br />

nobreza e sua hegemonia sobre os demais setores,<br />

sobretudo para se opor às ameaças dos camponeses<br />

(rebeliões). Os privilégios estamentais do clero e da<br />

nobreza são mantidos e esses grupos é que participam da<br />

gestão do novo Estado.<br />

- afirmação das línguas nacionais dentro das fronteiras<br />

estabelecidas.<br />

6) Gab: 03<br />

7) Gab: E<br />

8) Gab: A<br />

9) Gab: A<br />

10) Gab: C<br />

11) Gab: E<br />

12) Gab: A<br />

13) Gab: B<br />

14) Gab: 15<br />

15) Gab: 09<br />

16) Gab: C<br />

17) Gab: D<br />

18) Gab: C<br />

19) Gab: C<br />

20) Gab: A<br />

b) O grupo dominante era a nobreza – juntamente com o<br />

clero -, que manteve os privilégios sociais e passou a<br />

exercer o controle da burocracia por meio da ocupação<br />

dos cargos do aparelho de Estado. Garantiu-se, assim, a<br />

submissão de camponeses e burgueses ao poder real<br />

centralizado.<br />

c) São características do Estado Absolutista:<br />

- centralização do poder político nas mãos do rei<br />

absoluto;<br />

- Direito Divino como fundamento do poder real;<br />

- política econômica mercantilista e colonialista;<br />

- manutenção de uma estrutura social estamental;<br />

- unificação de pesos, medidas e tributos;<br />

- formação de exércitos permanentes sob o comando do<br />

rei;<br />

209


CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Em pleno século XXI, sustenta-se ainda a noção de<br />

superioridade cultural de um povo sobre outro,<br />

impregnando práticas e discursos etnocêntricos que<br />

alimentam conflitos de diferentes intensidades.<br />

Frequentemente julgamo-nos superiores e melhores do<br />

que muitos povos ou etnias cujos valores diferem dos<br />

nossos. Acreditamos que o nosso modo de vida,<br />

sustentado no consumo desenfreado, na competição<br />

acirrada, na acumulação de bens, na alta tecnologia deva<br />

ser o padrão para o planeta. Será que não estamos<br />

pensando exatamente como os colonizadores de 500 anos<br />

atrás?<br />

Antecedendo a chegada do homem europeu e do<br />

estabelecimento de suas práticas coloniais no território<br />

que passou a ser chamado de América, conviveram<br />

muitos povos com culturas e organizações diferenciadas.<br />

Esses povos chamados genericamente de précolombianos,<br />

por existirem antes de Colombo aportar em<br />

2.1 Civilização Maia<br />

solo americano, portavam suas próprias organizações<br />

sociais e foram um verdadeiro desafio à compreensão do<br />

conquistador espanhol. Nos relatos dos cronistas que<br />

acompanharam as primeiras décadas da conquista e da<br />

colonização, eles eram retratados de diversas formas:<br />

como inocentes frágeis, como “bestas animais”, como<br />

dissimulados e traidores. Enfim, esses relatos expunham<br />

uma visão heterogênea, mas marcada pelo conceito dos<br />

europeus sobre povos que eram diferentes nos aspectos<br />

mais visíveis como etnia, cultura, língua, religião, forma<br />

de organização social, etc.<br />

Sem dúvida o predomínio militar espanhol e a dizimação<br />

de milhares indígenas constituíram o ponto mais<br />

impactante das conquistas europeias; no entanto, em<br />

paralelo, esses conquistadores incorporaram muitas<br />

características dos povos indígenas e tiveram que se<br />

adaptar às realidades das imensas regiões do “novo”<br />

continente. Por isso, é fundamental estudarmos as<br />

dinâmicas das relações entre os indígenas americanos e<br />

os espanhóis, mas, antes de tudo, devemos recuperar os<br />

processos de formação das antigas civilizações<br />

americanas e identificar suas características, visto que<br />

algumas delas continuam presentes nas atuais sociedades<br />

da América espanhola.<br />

210<br />

Não é fácil o esclarecimento acerca da plenitude de todos<br />

os aspectos relacionados aos povos pré-colombianos, que<br />

ainda são controversos e estimulam um debate contínuo<br />

sobre, por exemplo, o número de habitantes nas<br />

Américas durante a chegada dos europeus, o número de<br />

mortos resultante das lutas com os conquistadores, o que<br />

teria acontecido para que um exército muito menor,<br />

como era o caso dos espanhóis quando dominaram os<br />

astecas, vencesse um poderoso governante etc. Enfim,<br />

estas são questões que alimentam discussões e estudos<br />

sobre as origens desse período histórico. Graças às<br />

pesquisas arqueológicas, aos relatos feitos pelos cronistas<br />

que deixaram registros sobre esse período, aos estudos<br />

dos historiadores, tem-se um número cada vez maior de<br />

informações sobre as antigas civilizações americanas.<br />

2. OS MAIAS, ASTECAS E INCAS.<br />

A antiga civilização Maia floresceu e desenvolveu-se na<br />

península do Iucatã, situada ao sul do México, e<br />

territórios atualmente pertencentes à Guatemala,<br />

Honduras, Belize e El Salvador, entre os séculos III e<br />

XII. Desenvolveram a capacidade de organizar uma<br />

civilização complexa, instaladas em múltiplas cidades<br />

que competiam entre si, nos campos comercial e militar.<br />

Palenque, na selva do Iucatã, por exemplo, era governada<br />

por um chefe que dirigia a política e administrava a<br />

cidade.<br />

Os maias eram um povo essencialmente agrícola, que<br />

cultivava principalmente o milho. Os agricultores<br />

moravam na zona rural, buscando a cidade geralmente


por ocasião dos rituais religiosos e para fazer negócios.<br />

Eram exímios arquitetos, engenheiros, matemáticos e<br />

astrônomos. Desenvolveram sistemas de irrigação que<br />

eram fundamentais para as plantações. Elaboraram<br />

complexos cálculos matemáticos, inclusive com o uso do<br />

zero; conheciam profundamente a Astronomia e<br />

construíram observatórios para melhor estudar o céu,<br />

seus astros e movimentos, além de terem confeccionado<br />

calendários muito sofisticados.<br />

Em suas cidades, havia campos de esportes e majestosas<br />

construções em pedra, como pirâmides, que serviam de<br />

altares para os rituais e sacrifícios religiosos.<br />

Estima-se que a população maia tenha alcançado os 2<br />

milhões de habitantes. No século XVI, quando os<br />

espanhóis chegaram ao território maia, entretanto, essa<br />

civilização estava decadente, à beira do esfacelamento.<br />

Não se sabe com precisão o que levou a essa<br />

desintegração: alguns estudiosos falam de uma grande e<br />

prolongada seca que teria castigado a região, provocando<br />

a ruína de colheitas e a fome, desestruturando a<br />

sociedade. Outros, como o mexicano Frederico<br />

Navarrete, afirmam que os mais foram vítimas de sua<br />

própria grandeza; com elevado crescimento populacional<br />

e limitada produção de alimentos, acirrou-se a rivalidade<br />

entre as regiões e inúmeras disputas ocorreram entre elas,<br />

com a afirmação do domínio de uma área sobre as outras.<br />

À medida que um grupo se consagrava vitorioso havia a<br />

edificação de grandes construções para afirmar o seu<br />

poderio e, com isso reduzia-se a mão-de-obra disponível<br />

para o trabalho na agricultura. Viver nas cidades passara<br />

a ter um custo muito alto: pelos tributos e pelas ameaças<br />

de guerras constantes. Isto levou muitos camponeses a se<br />

refugiarem em áreas mais distantes, onde ficavam livres<br />

de tributos e guerras, podiam se dedicar à agricultura e<br />

migrar em direção ao sul.<br />

2.2 Civilização Asteca<br />

Onde atualmente se ergue a Cidade do México,<br />

permanecem ainda imponentes vestígios da grandiosa<br />

capital do Império asteca, chamada Tenochtitlan,<br />

fundada em 1325. Esses vestígios, como a pirâmide do<br />

Sol e da Lua, até hoje impressionam por sua beleza e<br />

imponência. Quando os espanhóis chegaram, o domínio<br />

asteca estava em seu apogeu, com uma população de<br />

aproximadamente 12 milhões de habitantes, espalhada<br />

por uma área na porção central e sul do México.<br />

Os astecas (também chamados de mexicas),<br />

diferenciando-se dos maias, estabeleceram uma<br />

organização política mais centralizada, que se consagrou<br />

partir de campanhas militares que impuseram seus<br />

sistemas tributários, comerciais e religiosos às<br />

confederações de diferentes povos que eles lideravam.<br />

Os astecas tinham um soberano, o thlatoani, que assumia<br />

as autoridades religiosas, judiciária e militar. A<br />

consolidação desse império aconteceu sob o comando de<br />

Montezuma I (1440-1469) e Montezuma II (1502-1519).<br />

Em seu processo de expansão, dominaram grupos que<br />

habitavam áreas circunvizinhas, cobrando impostos dos<br />

vencidos e usando a força militar para assegurar suas<br />

conquistas. A base econômica do império era a<br />

agricultura, praticada com sistemas de irrigação e<br />

orientada pelo calendário solar, que marcava as épocas<br />

de plantio, conforme as estações, além de estabelecer os<br />

períodos do ano. Plantavam milho, algodão, frutas, entre<br />

outros produtos agrícolas. Desconheciam a propriedade<br />

individual da terra, sendo as áreas agrícolas cultivadas<br />

coletivamente, como também era distribuído o fruto do<br />

trabalho. Praticavam o comércio, com mercados diários<br />

nas grandes cidades e semanais nas menos importantes.<br />

A produção artesanal também era uma das atividades<br />

econômicas destacáveis dos astecas.<br />

A religião asteca era politeísta, destacando-se o deus<br />

Quetzalcóalt, a serpente emplumada, que representava a<br />

força e a sabedoria. Os rituais religiosos, sobretudo os<br />

sacrifícios, eram muito valorizados, pois na concepção<br />

de mundo dos astecas, estes estavam relacionados com as<br />

origens e o funcionamento do Universo. Os astecas<br />

acreditavam que o mundo já havia sido destruído<br />

anteriormente e renascera com os sacrifícios feitos pelos<br />

deuses; por isso era necessário a continuidade de<br />

sacrifícios pelos humanos, para a preservação da vida.<br />

A organização social e política do mundo<br />

mesoamericano era composta pelos senhores<br />

(tlatocayotl) que dominavam diversos calpulli (unidades<br />

territoriais baseadas no parentesco). Na cidade de<br />

Tenochitlan havia mais de 50 calpulli. Em cada calpulli<br />

211


havia divisões entre nobres (pipiltin) e o restante da<br />

população (macehualtin). As pessoas simples, com<br />

dificuldades financeiras, podiam vender a si ou a seus<br />

familiares, tornando-se servos (tlatlacotin). O tlatoani,<br />

como Montezuma, era escolhido por um grupo restrito<br />

dos principais nobres.<br />

A atividade guerreira tinham grande destaque na<br />

sociedade asteca em virtude das guerras de conquista que<br />

praticavam. Os astecas possuíam grandes conhecimentos<br />

de Matemática, Astronomia, Engenharia e Arquitetura,<br />

deixando um legado riquíssimo nessas áreas do<br />

conhecimento. Um aspecto muito importante a ser<br />

observado entre os astecas é que, apesar do aumento de<br />

seu poderio, eles não dominaram toda a Mesoamérica.<br />

Havia rivalidades com outros povos e esse aspecto nos<br />

ajuda a compreender as alianças dos espanhóis com<br />

grupos indígenas que se opunham ao domínio asteca.<br />

2.3 Civilização Inca<br />

Na costa oeste da América, ao longo da cordilheira dos<br />

Andes, desenvolveu-se o Império Inca, que corresponde<br />

à parte dos atuais territórios da Bolívia e Peru, tendo<br />

atingido também o Equador, o Chile e parte da Argentina<br />

andina. Essa grande extensão territorial chegou a abrigar<br />

cerca de 15 milhões de pessoas.<br />

Os primórdios dessa civilização remontam ao século II,<br />

mas somente no século XIII ela se expandiu, a partir da<br />

região de Cuzco, nos Andes peruanos, liderada pelos<br />

imperadores do povo inca ou quíchua.<br />

212<br />

Cuzco, capital, era o centro administrativo e a cidade<br />

sagrada do império. Foi fundada em meados do século<br />

XV e lá habitaram imperadores, nobres, sacerdotes,<br />

funcionários do governo e também artesãos, camponeses,<br />

escravos e soldados. Estima-se que, em 1531, pouco<br />

antes da chegada do colonizador espanhol, a população<br />

que aí vivia era de aproximadamente 100 mil habitantes.<br />

Os incas adoravam vários deuses. Adoravam o Sol, Inti,<br />

e a Lua, Quilla, e o maior de todos eles era Virachocha, o<br />

deus criador do Sol e da Lua.<br />

Essa sociedade também era bastante estratificada, sendo<br />

dirigida por uma elite formada por nobres, sacerdotes,<br />

funcionários do governo que estavam abaixo apenas do<br />

Imperador, poder máximo político e religioso,<br />

considerado o filho do deus Sol. Nas camadas inferiores<br />

estavam os camponeses e, por último, os escravos, que<br />

geralmente eram prisioneiros de guerra.<br />

A base de sua economia também era agrícola, sendo a<br />

batata e o milho seus principais produtos. Não havia<br />

propriedade privada da terra. Mesmo vivendo na<br />

cordilheira dos Andes, com um terreno muito acidentado,<br />

com altas montanhas e picos que atingiam até 6.000<br />

metros de altura, os incas conseguiram superar as<br />

dificuldades de ocupação, construindo uma extensa e<br />

eficiente rede de estradas e pontes sobre profundos vales,<br />

além de criarem um sistema de terraços que permitia o<br />

melhor aproveitamento dos terrenos para a agricultura.<br />

Parte de sua arquitetura foi erguida com pedras<br />

encaixadas uma sobre as outras, sem nenhum tipo de<br />

argamassa para uni-las. Grande parte está até hoje<br />

preservada, como em Cuzco e na cidade de Machu<br />

Pichu, esta última ainda um grande mistério para os<br />

estudiosos. Machu Pichu está localizada no monte<br />

Huayana Pichu, próximo ao rio Urubamba, não muito<br />

distante da antiga capital inca.<br />

Não se sabe com certeza qual a função desse aglomerado<br />

urbano. Acredita-se que fosse um posto avançado de<br />

observação para proteger a cidade sagrada, como<br />

também um local com funções religiosas. Incrustada no<br />

topo da montanha, dava a seus habitantes uma visão de<br />

360º, o que lhes dava grande vantagem sobre os inimigos<br />

que, porventura, estivessem invadindo seu território.<br />

Além disso, sua localização não permite que fosse vista<br />

do sopé das montanhas que a cercam, permanecendo<br />

despercebida por aqueles que estivessem se aproximando<br />

pelo vale do rio Urumbamba. Assim, ao menor sinal de<br />

presença inimiga ao longe, os incas podiam armar suas<br />

defesas e, graças a um intrincado sistema de trilhas e


pontes suspensas que interligavam as duas cidades,<br />

chegavam a Cuzco.<br />

Os incas também sucumbiram perante o invasor espanhol<br />

que ficou maravilhado com as peças de ouro usadas para<br />

adornar os sacerdotes, bem como com as joias, estátuas e<br />

outros objetos. A destruição desse império foi facilitada<br />

por estarem em guerra civil quando da chegada dos<br />

colonizadores.<br />

3. O PROCESSO DA CONQUISTA<br />

ESPANHOLA<br />

Depois de chegarem à América, várias expedições foram<br />

organizadas no século XVI, pela Coroa Espanhola, com<br />

o intuito de reconhecer e tomar posse das terras<br />

americanas. Muitos foram os confrontos com os nativos,<br />

causando mortes e destruição, para dominar os povos que<br />

habitavam a América.<br />

A conquista da América pode ser dividida em duas<br />

etapas: a primeira, desde a chegada de Colombo até os<br />

primeiros anos do século XVI; e a segunda, a partir da<br />

conquista do México, feita por Hernán Cortez, em 1519.<br />

Na primeira etapa da conquista não foram atingidas<br />

grandes porções territoriais, nem houve contato com as<br />

sociedades que possuíam organizações políticas mais<br />

definidas, como foi o caso do segundo período, quando<br />

os espanhóis adentraram em regiões como a<br />

Mesoamérica (vale do México e parte da atual América<br />

Central) e os Andes, onde se localizavam maias, astecas<br />

e incas, respectivamente.<br />

Entre 1492 e 1507, durante os 15 primeiros anos de<br />

presença espanhola na América, a ilha Espanhola,<br />

também conhecida como ilha de São Domingos, foi o<br />

único lugar do Novo Mundo habitado por espanhóis. Ali,<br />

os colonos instituíram governo, conventos, escolas, sede<br />

episcopal e dali saíram expedições para explorar,<br />

conquistar, povoar e evangelizar outras regiões. […]<br />

Com as novas disputas internacionais, a América passava<br />

a interessar cada vez mais aos europeus. Entre os anos de<br />

1517 e 1518, partiram de Cuba duas expedições que<br />

confirmariam a existência de uma região extensa e rica a<br />

oeste da ilha. A primeira delas foi comandada por<br />

Francisco Fernandes de Córdoba e resultou na descoberta<br />

da grande cidade maia Champatón (atualmente cidade de<br />

Campeche), na Península do Iucatã (no México). O<br />

contato com os povos de idioma maia surpreendeu os<br />

espanhóis, pois nunca tinham visto tamanho grau de<br />

organização social e política, mantinham elaboradas<br />

crenças religiosas e anotavam profecias num livro<br />

chamado Chilam Balam. Grandes construções,<br />

verdadeiras cidades, comércio intenso, pirâmides, “lagos<br />

sagrados” (os cenótes) e templos religiosos faziam parte<br />

dessa paisagem. Nos campos, eram cultivados entre<br />

outros, o milho, a batata e o tomate. O consumo do cacau<br />

também era popular. Além disso, os mais detinham<br />

sofisticados conhecimentos matemáticos, tinham a noção<br />

do número zero e observavam os astros. Assim como<br />

outros povos da Mesoamérica, eram fascinados pelos<br />

mistérios do céu e sentiam-se poderosamente<br />

influenciados pelas estrelas. As estações do ano e sua<br />

interferência na agricultura, além da alternância entre o<br />

dia e a noite, a lua e o sol, também faziam com que<br />

muitos desses indígenas acreditassem que o tempo era<br />

cíclico. Achavam que os acontecimentos futuros podiam<br />

ser revelados de antemão e que o que ocorreu um dia iria<br />

se repetir no futuro. Com isso, mediram com enorme<br />

precisão os movimentos aparentes dos corpos celestes.<br />

Apesar das diferenças marcantes quanto aos modos de<br />

expressão entre os habitantes das diversas partes da<br />

península e, às vezes, mesmo de uma cidade para outra,<br />

certa unidade cultural se fez sentir dentro da área central<br />

maia, onde monumentos datados – como as pirâmides –<br />

eram construídos periodicamente. Em 1518, um ano<br />

depois da reveladora expedição de Córdoba, foi<br />

organizada armada para explorar melhor a região maia,<br />

comandada por Diego Velásquez, com cerca de duzentos<br />

espanhóis e quatro navios, sob a responsabilidade de seu<br />

sobrinho, Juan de Grijalva.<br />

[…] A expedição de Velásquez estabeleceu contatos<br />

com os índios, efetuou trocas e adquiriu ouro, objetos de<br />

algodão e plumas coloridas. Além disso, descobriu a ilha<br />

de Cozumel. Ao passar pelo rio Bandeiras, perto de São<br />

João de Ulúa, Grijalva recebeu os mensageiros de um<br />

grande senhor indígena, até então desconhecido dos<br />

espanhóis, chamado Montezuma, poderoso líder de uma<br />

grande cidade que se localizava ainda mais ao interior do<br />

continente. O soldado Bernal Dias de Castilho relatou o<br />

episódio afirmando que naquele dia os espanhóis<br />

estavam sentados debaixo de algumas árvores,<br />

descansando, quando se aproximaram cerca de trinta<br />

índios trazendo-lhes peixes assados, galinhas, frutas e<br />

pão de milho. Os mensageiros colocaram no chão uma<br />

esteira, estenderam sobre ela uma tolha e presentearam<br />

os europeus com joias de ouro e mantas, dando tudo de<br />

bom grado. Antes de partir, disseram que, em direção ao<br />

pôr do sol, ficava Tenochtitlán, um domínio bastante<br />

213


temido e poderoso. Tenochtitlán era, até então, algo<br />

totalmente desconhecido dos conquistadores. O fato de<br />

saberem que um grande senhor dominava uma vasta<br />

região indígena não dissuadiu os espanhóis. Pelo<br />

contrário, como viam o seu monarca e imperador Carlos<br />

V como o único senhor a ser temido, acreditavam que os<br />

indígenas, assim como vários povos da Europa, deveriam<br />

se tornar súditos do rei espanhol e ovelhas da Igreja<br />

Católica. O capitão Juan de Grijalva agradeceu a Deus<br />

pelo contato com os mensageiros de Montezuma, pois<br />

revelava a existência de um grande reino, rico em ouro, a<br />

ser conquistado. Para Montezuma, o “recado” enviado<br />

por ele deveria ter como consequência o fim do avanço<br />

espanhol. Para os europeus, entretanto, era apenas o<br />

começo.<br />

Fonte: MORAIS, Marcos. V. Hernán Cortez: civilizador ou genocida? São<br />

Paulo: Editora Contexto, 2011; p. 37, 43-45.<br />

3.1 A conquista sobre os astecas<br />

Entre as expedições que saíam das ilhas do Caribe em<br />

direção ao continente, uma delas, comanda por Hernán<br />

Cortez, em 1519, saiu de Cuba e desembarcou na<br />

península do Iucatã, no México. Montezuma II, ao<br />

inteirar-se do fato, mandou emissários pedindo que se<br />

retirassem de seus territórios, mas não foi atendido.<br />

O comandante espanhol fez alianças com povos<br />

descontentes com a dominação asteca e seguiu sua<br />

marcha em direção à capital dos astecas. Depois de<br />

alguns meses chegou a Tenochtitlan, prendeu<br />

Montezuma e o obrigou a reconhecer os reis da Espanha<br />

como soberanos do México, portanto, subordinando o<br />

domínio asteca à Coroa Espanhola. Com isso,<br />

Montezuma foi obrigado a abrir sua administração,<br />

inclusive documentos estratégicos e contábeis.<br />

Cortez ausentou-se por um período curto de tempo em<br />

fevereiro de 1520 e seu encarregado promoveu um<br />

grande massacre contra a nobreza asteca: cerca de 2.000<br />

pessoas morreram. A partir daí a guerra foi inevitável.<br />

Valendo-se das armas de fogo, os espanhóis travaram<br />

batalhas sangrentas contra os nativos. Cortés fechou as<br />

entradas e saídas da capital e não mandou retirar os<br />

corpos dos mortos nas batalhas da cidade, o que trouxe<br />

doenças letais aos sobreviventes e contaminou a água.<br />

Essa atitude facilitou-lhe a vitória e, em agosto de 1521,<br />

a capital estava sob controle total dos espanhóis.<br />

214<br />

Cortés imaginara um roteiro pacífico: Montezuma<br />

reconheceria sem combate a suserania do imperador<br />

Carlos e ordenaria que se pagasse tributo a ele; o<br />

conquistador todo-poderoso conseguiria fazer com que<br />

se reconhecesse sua autoridade por todo lugar,<br />

conseguiria impor suas imagens divinas – ou seja, o<br />

cristianismo - e se dedicaria a fazer um levantamento das<br />

riquezas da região. Esta é a história que Cortés deixa<br />

para a posteridade como sendo uma versão autêntica dos<br />

fatos que ele escreve em sua Segunda Carta.<br />

A partir do momento em que se tornou refém dos<br />

conquistadores, Montezuma teria aceito a maioria das<br />

exigências dos invasores. O que aconteceu na realidade?<br />

A situação que prevaleceu durante meses deveu-se<br />

muito, sem dúvida, às incompreensões acumuladas de<br />

ambas as partes. Os espanhóis devem ter interpretado a<br />

atitude de Montezuma no sentido que esperavam, e os<br />

índios devem ter se enganado sobre as exigências de uma<br />

suserania misteriosa sobre a qual desconheciam tudo (…)<br />

A superioridade tecnológica dos europeus era<br />

amplamente compensada pela superioridade numérica<br />

dos indígenas e muitos truques foram inventados para<br />

atrapalhar o deslocamento dos cavalos: os indígenas<br />

acostumaram-se a cavar fossas profundas nas quais<br />

espetavam paus em que as montarias eram empaladas.<br />

Mais tarde, em 1521, canos “encouraçadas” resistiriam<br />

às armas de fogo. A tática indígena evoluiu e adaptou-se<br />

às práticas do adversário: os mexicas, contrariamente ao<br />

costume, armaram ataques noturnos ou em terreno<br />

coberto. Por outro lado, se as epidemias de varíola já<br />

estavam dizimando as tropas de México- Tenochtitlán,<br />

também não poupavam os índios de Tlaxcala ou de<br />

Texcoco, que apoiavam os espanhóis.<br />

Fonte: BERNAND, C; GRUZINSKI, S. <strong>História</strong> do Novo Mundo. São Paulo:<br />

Edusp, 1997; p. 350-351.<br />

3.3 A conquista sobre os incas<br />

Na América andina, o espanhol Francisco Pizarro foi o<br />

grande responsável pelo domínio e conquista do Império<br />

Inca. Fascinados pelo ouro, os espanhóis tentaram<br />

dominar os nativos militarmente por duas vezes, sem<br />

sucesso. Em 1531, o Império Inca passou por disputas<br />

internas pelo seu comando que o enfraqueceram, tendo<br />

se saído vencedor Atahualpa.<br />

Foi nesse mesmo ano que uma grande expedição<br />

comandada por Pizarro dirigiu-se para a região. Quando


o comandante espanhol chegou à capital inca, Cuzco, ela<br />

estava vazia. A ordem de abandoná-la partiu de<br />

Atahualpa. Depois de negociações, o imperador<br />

concordou em encontrar-se com Pizarro.<br />

O invasor exigia que o chefe inca aceitasse a religião<br />

cristã, a supremacia do papa e do rei de Espanha sobre o<br />

território inca. Atahualpa não aceitou, foi preso e os<br />

espanhóis exigiram ouro e prata para libertá-lo.<br />

Os incas conseguiram reunir o que Pizarro exigia, mas de<br />

nada adiantou, pois os espanhóis condenaram Atahualpa<br />

à morte e ele foi executado. Em 1533, os espanhóis<br />

tomaram as cidades de Cuzco e Quito.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

Euro, etno e outros centrismos<br />

A <strong>História</strong> ocidental é bastante etnocêntrica. Revisá-la é<br />

uma forma de enxergar o que negamos e restituir o lugar<br />

da alteridade<br />

Urpi Montoya Uriarte 1/12/2012<br />

Uns fumam, outros bebem álcool, alguns ingerem<br />

infusões. Ao longo da <strong>História</strong>, diversos povos do mundo<br />

inventaram meios variados para atingir o que no<br />

Ocidente se convencionou chamar de “estados alterados<br />

de consciência”. Eles são geralmente vistos como<br />

normais pela sociedade que os provoca: os indianos têm<br />

consumido tradicionalmente a folha da cannabis sem<br />

considerá-la uma droga, assim como os habitantes da<br />

região andina plantaram e consumiram durante milhares<br />

de anos a folha da coca sem que esses atos fossem<br />

tratados como ilegais.<br />

No noroeste peruano, foram encontrados resíduos de<br />

folha de coca mastigada, datados em mais de 8.000 anos.<br />

Esse consumo se reveste de diversos sentidos para o<br />

homem andino – energético, terapêutico, religioso,<br />

identitário. Mas, de repente, o costume milenar se<br />

transforma: de “legal” passa a ser “ilegal”. E o<br />

etnocentrismo é um importante elemento dessa<br />

transformação.<br />

Em 1950, preocupadas com o crescimento, nos países<br />

ocidentais, do consumo de cocaína – um dos<br />

componentes químicos presentes naquela planta –, as<br />

Nações Unidas formaram a chamada “Comissão da<br />

Folha da Coca”, que tinha como meta a elaboração de<br />

um informe sobre a produção e o consumo de coca nos<br />

países andinos. Esse informe criou um consenso com<br />

relação à nocividade da folha da coca, e o ato de<br />

mastigá-la passou a ser enxergado como um vício<br />

indígena que precisava ser extinto. Afinal, provocava<br />

“alterações psíquicas”, “introspecção”, “prostração<br />

moral”, “escassa capacidade de atenção”, e, portanto,<br />

“grande prejuízo econômico”. O documento serviu de<br />

sustentação para a Convenção Única de Estupefacientes,<br />

assinada em 1961, que normatizou, entre os países<br />

assinantes, a erradicação do cultivo da coca e do hábito<br />

de mastigação num prazo de 25 anos.<br />

O etnocentrismo daquela Comissão se manifestou<br />

num pequeno detalhe: a população que fazia uso da<br />

planta havia milênios sequer foi consultada. Todos os<br />

supostos efeitos da coca sobre o corpo e a mente foram<br />

avaliados a partir de uma série de prejulgamentos e<br />

especulações dos membros da Comissão, todos educados<br />

numa cultura alheia aos andinos e distante deles. Sempre<br />

que nos deparamos com costumes diferentes e os<br />

interpretamos a partir da nossa própria cultura, estamos<br />

cometendo um ato etnocêntrico.<br />

O gravíssimo problema do etnocentrismo é que ele<br />

não nos permite enxergar a lógica, as razões ou as<br />

motivações daquele que é diferente de nós, simplesmente<br />

porque não admitimos conceder-lhe a palavra, achando<br />

que bastam a nossa opinião, impressão ou julgamento.<br />

Um exemplo claro é o surgimento do nome Yucatán para<br />

designar a península do México, no século XVI. Os<br />

conquistadores perguntaram aos nativos, em língua<br />

espanhola, como se chamava aquele lugar em que tinham<br />

acabado de desembarcar. Os nativos, em sua própria<br />

língua, responderam algo que os espanhóis entenderam<br />

por “Yucatán”. E assim batizaram o local. Na verdade,<br />

o que os nativos disseram foi: “Não te entendo”. Para os<br />

colonizadores, qualquer resposta serviria, e, graças<br />

àquela incompreensão básica, o nome erroneamente dado<br />

por eles é até hoje um monumento ao etnocentrismo:<br />

“Não te entendo”.<br />

Para o etnocentrismo, tudo o que é diferente se torna<br />

inferior, feio, ridículo, injusto, cruel, selvagem ou<br />

irracional. Ao julgar as distinções de forma negativa, o<br />

etnocêntrico passa a querer modificar os costumes ou<br />

crenças diferentes, em nome da superioridade dos seus<br />

próprios costumes ou crenças. Dito de outra forma: ser<br />

etnocêntrico é acreditar que só existe uma verdade (a<br />

nossa) e uma beleza (a nossa), assim como também só<br />

existem a nossa justiça e a nossa racionalidade. Em O<br />

que é etnocentrismo, o antropólogo Everardo Rocha<br />

escreve: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o<br />

nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e<br />

215


todos os outros são pensados e sentidos através dos<br />

nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que<br />

é a existência”.<br />

Todos os povos do mundo tendem a ser<br />

etnocêntricos. Os cheyenes (índios das planícies norteamericanas)<br />

se autodenominavam “os entes humanos”;<br />

os akuáwas, grupo tupi do sul do Pará, consideram-se “os<br />

homens”; os navajos, grupo indígena norte-americano,<br />

também se intitulavam “o povo”; os xavantes acreditam<br />

que seu território tribal está situado bem no centro do<br />

mundo, tanto quanto os incas dos Andes peruanos<br />

achavam que sua capital, Q’osqo (ou Cuzco, como foi<br />

pronunciada a palavra pelos conquistadores espanhóis),<br />

era o “umbigo do mundo”.<br />

Por que tendemos ao etnocentrismo? Na medida em<br />

que todos os indivíduos são educados em uma cultura, e<br />

que toda cultura distingue o bem do mal, o feio do<br />

bonito, o certo do errado, é natural sermos etnocêntricos<br />

quando deparamos com outros povos. Mas há diversos<br />

graus de etnocentrismo. Alguns povos simplesmente<br />

menosprezam quem é diferente e dele quer se afastar.<br />

Outros, além de menosprezar, acham que têm o dever de<br />

transformá-lo, e chamam isso de “civilizar” ou<br />

“evangelizar”. E há aqueles que vão ainda mais longe:<br />

menosprezam e não acreditam que seja possível<br />

transformar quem é diferente. Ele deve ser eliminado.<br />

Durante a Idade Média – após a queda do Império<br />

Romano e com o fechamento do Mediterrâneo pela<br />

expansão islâmica nos territórios que o margeiam –, a<br />

Europa se encerrou em si mesma, trazendo como<br />

resultado uma nova forma de conceber o Outro. Sem<br />

possibilidades de conhecer esse Outro, os europeus<br />

passam a imaginá-lo, mas sempre de forma deturpada,<br />

“anormal”. Surgem, assim, as imagens dos povos de<br />

gigantes, pigmeus, amazonas, canibais, entre outros.<br />

Com a expansão das navegações nos séculos XV e<br />

XVI, os europeus acabaram se defrontando com um<br />

continente até então desconhecido para eles: a América.<br />

Pensando inicialmente que tinham desembarcado nas<br />

Índias, chamaram os nativos de “índios”. E mesmo tendo<br />

percebido logo que não estavam nas Índias, isso não os<br />

impediu de continuar chamando os que aqui moravam<br />

com esse nome imposto e equivocado, “índios”.<br />

Quanto etnocentrismo por trás de denominações<br />

generalizantes que uns acham que podem impor aos<br />

outros! Tupis, Chibchas, Cheyenes, Astecas, Incas,<br />

Mapuches, Maias, Dakotas, Sioux, Inuits e tantos<br />

milhares de outros povos foram todos colocados numa<br />

216<br />

única categoria porque não interessava ao europeu<br />

conhecer suas particularidades ou singularidades.<br />

Conhecer o Outro não estava entre as prioridades do<br />

europeu conquistador. Ver e tratar alguém como inferior<br />

autorizou os europeus a nomear (mudando os nomes que<br />

os povos davam a si mesmos), excluir, conquistar,<br />

dominar, matar, sempre em nome de sua suposta<br />

superioridade cultural e religiosa.<br />

Ao não se permitirem perguntar, escutar e dialogar,<br />

os etnocêntricos se veem privados de aprender sobre os<br />

povos diferentes, e, assim, aprender sobre si mesmos. Ao<br />

ver no Outro apenas um “índio”, os europeus dos séculos<br />

XVI e XVII não acharam necessário perguntar, por<br />

exemplo, o que era aquela série de canais subterrâneos,<br />

para que servia, como funcionava. Simplesmente<br />

deixaram o assunto pra lá – porque era “coisa de índio” –<br />

, enquanto se enchiam de pó, terra e lama durante<br />

séculos. Hoje, sabemos que esses canais foram<br />

construídos pelos incas com uma altíssima tecnologia<br />

hidráulica, para irrigar locais onde agora há apenas<br />

desertos (a estreita franja litorânea do Peru atual).<br />

Lamentavelmente, não temos mais a quem perguntar<br />

como é que eles conseguiam juntar água (e de onde) para<br />

fazê-la passar por esses canais. O etnocentrismo passado<br />

alimenta nossa ignorância no presente.<br />

Urpi Montoya Uriarteé professora de Antropologia da Universidade Federal da<br />

Bahia e autora de Entre fronteras: convivencia multicultural, Lima, siglo XX.<br />

Sur/Concytec, 2002).<br />

1. (Ufpel)<br />

EXERCÍCIOS


De acordo com o mapa, os povos que viviam nas regiões<br />

identificadas pelas letras "A", "B" e "C", são,<br />

respectivamente,<br />

a) astecas, incas e maias.<br />

b) incas, maias e astecas.<br />

c) astecas, maias e incas.<br />

d) maias, astecas e incas.<br />

e) maias, incas e astecas.<br />

2. (UFES) "Quando as embarcações de Colombo<br />

aportaram na América, de fato não a descobriram , pois<br />

muita gente já vivia em nosso continente. O que de fato<br />

ocorreu foi a integração da América ao continente<br />

europeu, ou, mais exatamente, à sociedade mercantil. Há<br />

quem pense que essa integração foi um favor que os<br />

europeus civilizados prestaram aos indígenas bárbaros.<br />

Isto não é verdade. As sociedades nativas eram<br />

socialmente muito complexas e desenvolvidas e sua<br />

incorporação teve custos humanos imensos, graças a<br />

massacres cruéis perpetrados pelos cristãos civilizados<br />

da Europa."<br />

(PINSKY, J. et al. "<strong>História</strong> da América através de textos". São Paulo: Contexto,<br />

1991, p. 11)<br />

Acerca das "Altas Culturas" pré-colombianas, NÃO é<br />

correto afirmar que<br />

a) os maias e os astecas situavam-se na região<br />

denominada Meso-América (México e América<br />

Central), ao passo que os incas ocupavam a Zona<br />

Andina.<br />

b) a economia era basicamente agrária, com destaque<br />

para a produção do milho, e se utilizavam técnicas<br />

elaboradas de irrigação, a exemplo dos chinampas<br />

astecas e dos canais incas.<br />

c) a utilização da escrita pelos governantes representou<br />

um notável impulso à centralização do poder, como<br />

comprovam as listas reais incaicas, grafadas no<br />

dialeto andino "quipu", e os tratados políticos maias<br />

e astecas.<br />

d) a estrutura social era de tipo classista, com a<br />

existência de uma elite composta por militares,<br />

sacerdotes e altos funcionários, que tributava as<br />

comunidades aldeãs, sob a forma de trabalho<br />

compulsório ou de produtos.<br />

e) a política e a religião se encontravam intimamente<br />

unidas, razão pela qual a monarquia se revestia de<br />

um caráter sagrado, a exemplo da eleição do<br />

Tlatoani asteca, realizada sob inspiração divina, e do<br />

título de Filho do Sol, atribuído ao soberano inca.<br />

3. (Fatec) Considere as afirmações:<br />

I. Os incas constituíam um vasto império, integrado por<br />

povos de diferentes culturas, localizados nas mais<br />

variadas regiões que se estendiam em faixas paralelas à<br />

cordilheira dos Andes.<br />

II. Entre os astecas, a ausência de chuvas combinada<br />

com um clima quente e úmido permitia o<br />

desenvolvimento em grande escala da agricultura.<br />

III. Os monumentos maias eram tão imponentes que<br />

custava a muitos estudiosos acreditar que tivessem sido<br />

obra dos índios americanos.<br />

IV. Uma construção notável dos índios norte-americanos<br />

foi a cidade fortificada de Machu Picchu, a cerca de<br />

600km de Cuzco.<br />

Sobre as asserções anteriores deve-se afirmar que estão<br />

corretas apenas<br />

a) I e II.<br />

b) I e III.<br />

c) II e III.<br />

d) I e IV.<br />

e) III e IV.<br />

4. (Cesgranrio) Os "índios" encontrados pelos espanhóis<br />

ao "descobrirem" a América formavam um contingente<br />

numeroso com características culturais variadas, tais<br />

como:<br />

I - a maioria era constituída de grupos tribais em estágios<br />

diversos de desenvolvimento - nômades ou sedentários;<br />

II - Astecas e Incas constituíam verdadeiras civilizações,<br />

com estruturas políticas e sociais complexas;<br />

III - no caso dos Maias, a sedentarizarão possibilitou a<br />

constituição de uma sociedade agrícola e o surgimento<br />

de cidades;<br />

IV - predominavam as comunidades de guerreiros, que<br />

dividiam com os sacerdotes a posse das melhores terras.<br />

217


Assinale se estão corretas apenas:<br />

a) I e II<br />

b) II e III<br />

c) I e IV<br />

d) I, II e III<br />

e) I, III e IV<br />

5. (Ufscar) Observe as imagens, que pertencem ao<br />

manuscrito de um cronista inca, "Guaman Poma de<br />

Ayala" (1526-1614).<br />

I. Na civilização asteca, a escravização dos prisioneiros<br />

de guerra era comum.<br />

II. Entre os incas, o trabalho dominante baseava-se na<br />

escravidão dos agricultores.<br />

III. Na civilização inca, as atividades mineradoras<br />

constituíram a base da economia.<br />

IV. Entre os astecas, a monarquia teocrática e militar<br />

predominava na organização política.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Somente I é verdadeira.<br />

b) Somente I e II são verdadeiras.<br />

c) Somente II e III são verdadeiras.<br />

d) Somente I e IV são verdadeiras.<br />

e) Somente III e IV são verdadeiras.<br />

7. (UNICAMP)<br />

Leia as afirmações seguintes, a respeito dos incas.<br />

I. Praticavam a agricultura da batata.<br />

II. Utilizavam arado de tração animal.<br />

III. Homens e mulheres trabalhavam nas atividades<br />

agrícolas.<br />

IV. Tinham calendário agrícola, respeitando épocas de<br />

plantar e colher.<br />

V. Tinham uma escrita própria, desenvolvida desde o<br />

século XIV.<br />

Estão corretas as afirmações:<br />

a) I, II e III, apenas.<br />

b) I, III e IV, apenas.<br />

c) II, IV e V, apenas.<br />

d) I, III, IV e V, apenas.<br />

e) I, II, III, IV e V.<br />

6. (UFPI) Quando da chegada do colonizador europeu,<br />

as civilizações ameríndias apresentavam as seguintes<br />

características:<br />

Arquivo: Murais Rivera - Markt em Tlatelolco 3.jpg Tenochtitlán - Mural de<br />

Diego Rivera.<br />

a) A respeito dos Astecas, comente as características<br />

urbanas de Tenochtitlán.<br />

b) Por que foi fundamental para os espanhóis construir a<br />

cidade do México sobre Tenochtitlán?<br />

8. "Os guerreiros constituíam um dos grupos mais<br />

importantes na sociedade asteca. No início, eram<br />

escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e valentes<br />

do povo. Com o tempo, entretanto, a função de guerreiro<br />

começou a ser passada de pai para filho, e apenas<br />

algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o direito de<br />

ter guerreiros entre os seus membros."<br />

(KARNAL, Leandro. A CONQUISTA DO MÉXICO. São Paulo: FTD, 1996. p.<br />

13.)<br />

218


O texto faz referência à sociedade asteca, no século XV,<br />

a qual era:<br />

a) guerreira e sacerdotal, formada de uma elite política<br />

que governava com tirania a massa de trabalhadores<br />

escravos negros.<br />

b) igualitária e guerreira, não reconhecendo outra<br />

autoridade senão a sacerdotal, que também era<br />

guerreira.<br />

c) comunal, com estruturas complexas, sendo dirigida<br />

por um Estado que contava com um aparelho<br />

administrativo, judiciário e militar.<br />

d) hierarquizada e guerreira, visto que o Imperador era,<br />

ao mesmo tempo, o general do exército asteca e o<br />

sumo pontífice sacerdotal.<br />

e) igualitária, guerreira e sacerdotal: todo guerreiro era<br />

um sacerdote e todo sacerdote era um guerreiro.<br />

9. (G1) Leia o trecho abaixo.<br />

Uma das civilizações mais brilhantes que se desenvolveu<br />

na América, anteriormente à conquista espanhola, foi a<br />

dos maias, que floresceu e encontrou seu declínio entre<br />

os séculos IV e XVI. À época da chegada dos espanhóis,<br />

esta civilização já apresentava evidentes sinais de<br />

decadência, tendo sido completamente arrasada no início<br />

do século XVI.<br />

FLÁVIO, Ricardo e Adhemar. <strong>História</strong> e Companhia. p.106<br />

Sobre a civilização maia, é INCORRETO afirmar:<br />

a) Os maias organizavam-se em cidades–Estado como<br />

Palenque e Tical.<br />

b) A chegada dos espanhóis levou a civilização maia à<br />

decadência.<br />

c) A sociedade maia era estamental e rigidamente<br />

estratificada.<br />

d) A civilização maia se desenvolveu na Península<br />

deYucatan.<br />

propriedades do imperador. Na aldeia, o curaca<br />

centralizava poder e riqueza, impondo o trabalho<br />

forçado.<br />

VICENTINO, Cláudio. <strong>História</strong> Integrada – 6ª série, Editora Scipione, São<br />

Paulo,1996, p. 64,65.<br />

Marque a única alternativa CORRETA sobre os incas:<br />

a) O território que compreendia o Império Inca era uma<br />

extensa faixa de terra banhada pelo Oceano<br />

Atlântico.<br />

b) O imperador – o Sapa Inca– tinha poderes limitados,<br />

já que os sacerdotes eram os verdadeiros detentores<br />

do poder.<br />

c) Os curacas eram os escravos que trabalhavam<br />

nosayllus e, nas obras públicas geralmente<br />

prisioneiros de guerra.<br />

d) Os incas foram os únicos entre os povos précolombianos<br />

que praticavam a domesticação e a<br />

criação de animais.<br />

11. (G1) Quando os europeus chegaram à América, as<br />

terras já eram ocupadas por povos que possuíam<br />

diferentes culturas e diversas formas de organização<br />

econômica e social, grande diversidade de língua,<br />

religião e costumes. Entre outros, os astecas, os incas e<br />

os maias: os chamados povos pré-colombianos.<br />

Sobre essas civilizações podemos afirmar:<br />

a) A sociedade inca, além de ser rigidamente<br />

estratificada, possuía um caráter estamental.<br />

b) Diferentemente dos astecas e dos incas, a sociedade<br />

maia não desenvolveu a escravidão.<br />

c) Os incas eram regidos por um conselho hereditário,<br />

formado por imperadores magistrados.<br />

d) A nobreza Inca era constituída por elementos de<br />

confiança do imperador, que exerciam cargos de<br />

governantes, chefes militares, sacerdotes e juízes.<br />

10. (G1) Leia o trecho abaixo.<br />

Foi na região peruana de Cuzco, mais ao sul, que uma<br />

reunião de povos, por volta de 1200, deu início a uma<br />

civilização sob o domínio quíchua ou inca. No Império<br />

Inca estabeleceu-se um poder político em que o<br />

imperador passou a ser considerado um semi deus pelos<br />

súditos (era o “filho do Sol”). (...) Na base da sociedade<br />

estava a aldeia, chamada de ayllu,comandada por um<br />

curaca, encarregado de distribuir as terras, consideradas<br />

12. (UFSM) Analise as afirmações sobre as sociedades<br />

americanas:<br />

I. Os povos americanos, durante milhares de anos antes<br />

da chegada dos europeus, ocuparam a grande variedade<br />

dos ecossistemas do continente, desenvolvendo uma<br />

multiplicidade de culturas com as especificidades<br />

próprias da sua adaptação ao meio ambiente.<br />

II. Astecas e Incas, na medida em que aproveitaram e<br />

aprimoraram o legado das inúmeras culturas que os<br />

219


precederam nos ecossistemas da Mesoamérica e América<br />

Andina, puderam desenvolver civilizações sofisticadas<br />

com alto índice de urbanização.<br />

III. A exploração exaustiva dos recursos naturais, como<br />

a devastação das florestas para a extração da madeira<br />

usada na construção e ampliação dos templos religiosos,<br />

provocou significativas mudanças ambientais que<br />

contribuíram para acelerar o declínio da civilização<br />

Maia.<br />

IV. É possível encontrar, na história da América<br />

portuguesa, registros da ocorrência de alianças entre<br />

índios e negros que resistiram à escravidão e construíram<br />

alternativas à sociedade e à economia coloniais, como os<br />

quilombos, núcleos com ampla adaptação a regiões<br />

isoladas e mais seguras no interior, dotados de uma<br />

produção mais diversificada e uma sociedade mais<br />

horizontal que a da casa grande e da senzala.<br />

Estão corretas<br />

a) apenas I e II.<br />

b) apenas I e III.<br />

c) apenas II e IV.<br />

d) apenas III e IV.<br />

e) I, II, III e IV.<br />

13. (UNESP 2010) Observe o mapa.<br />

220<br />

A região que aparece no mapa corresponde ao território<br />

que os Incas dominaram por alguns séculos antes da<br />

chegada dos espanhóis ao continente americano. Esse<br />

povo ficou conhecido por saber aproveitar todos os<br />

recursos naturais, inclusive de áreas distantes ou de<br />

condições climáticas não muito favoráveis à agricultura.<br />

A forma como esse povo conseguiu lidar com a natureza,<br />

extraindo dela os recursos naturais necessários ao seu<br />

abastecimento está relacionada com<br />

a) o uso de avançados instrumentos de ferro na<br />

agricultura e de animais de tração para auxiliar nas<br />

atividades de plantio e colheita.<br />

b) o conhecimento dos mais variados pisos ecológicos,<br />

onde podiam caçar, pescar e coletar pequenos frutos<br />

silvestres, visto que desconheciam a agricultura.<br />

c) a sabedoria xamânica sobre astronomia, técnicas<br />

hidráulicas e fertilização química de solos, que lhes<br />

permitia alcançar grande produção agrícola.<br />

d) o domínio de irrigação, conhecimento dos solos e da<br />

hibridização de sementes e técnica de construção de<br />

degraus para plantio nas encostas da Cordilheira dos<br />

Andes.<br />

e) a perfeita relação do homem com a natureza, que<br />

permitia a produção abundante de alimentos sem<br />

grande participação de mão de obra humana.<br />

14. (ENEM 2010) O Império Inca, que corresponde<br />

principalmente aos territórios da Bolívia e do Peru,<br />

chegou a englobar enorme contingente populacional.<br />

Cuzco, a cidade sagrada, era o centro administrativo,<br />

com uma sociedade fortemente estratificada e composta<br />

por imperadores, nobres, sacerdotes, funcionários do<br />

governo, artesãos, camponeses, escravos e soldados. A<br />

religião contava com vários deuses, e a base da economia<br />

era a agricultura. principalmente o cultivo da batata e do<br />

milho.<br />

A principal característica da sociedade inca era a<br />

a) ditadura teocrática, que igualava a todos.<br />

b) existência da igualdade social e da coletivização da<br />

terra.<br />

c) estrutura social desigual compensada pela<br />

coletivização de todos os bens.<br />

d) existência de mobilidade social, o que levou à<br />

composição da elite pelo mérito.<br />

e) impossibilidade de se mudar de extrato social e a<br />

existência de uma aristocracia hereditária.


15. (FGV 2009) "(...) a religião desempenhava papel<br />

central nas relações entre o Estado e a sociedade. A<br />

guerra era sagrada, pois através dela se obtinham<br />

escravos para o sacrifício humano, elemento central na<br />

ligação entre a comunidade e o Estado. (...) reinavam<br />

sobre um império aberto a dois oceanos (...) Em 1519<br />

(...), com cerca de 5 milhões de habitantes, era a maior<br />

concentração urbana do mundo".<br />

(Flavio de Campos e Renan Garcia Miranda, Oficina de <strong>História</strong> - <strong>História</strong><br />

integrada)<br />

O texto apresenta características dos:<br />

a) tupis.<br />

b) incas.<br />

c) maias.<br />

d) mexicas<br />

e) araucanos<br />

16. (UEL 2009) Os astecas sacrificavam prisioneiros de<br />

guerra para alimentar seus deuses. O capturado tinha seu<br />

coração arrancado, era decapitado e tinha seu sangue<br />

bebido pelo captor que, depois, levava o corpo para casa,<br />

esfolava-o, comia-o com milho e vestia sua pele.<br />

c) Um grande número de sacrifícios representava um<br />

reforço do abastecimento alimentar, evitando a<br />

carestia<br />

d) O captor do prisioneiro se vingava do inimigo,<br />

comendo suas carnes e vestindo sua pele.<br />

e) Os deuses exigiam oferendas do bem mais precioso<br />

que os homens possuíam, a vida, para que o mundo<br />

fosse preservado.<br />

17. (PITÁGORAS) Leia o trecho, escrito por um<br />

espanhol, que descreve aspectos da vida cotidiana dos<br />

astecas.<br />

[...] "Quando lá chegamos, ficamos atônitos com a<br />

multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim<br />

como a vasta quantidade de mercadorias... Cada espécie<br />

tinha seu lugar particular que era distinguido por um<br />

sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias,<br />

plumas, mantas, chocolate, peles curtidas ou não,<br />

sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta,<br />

grande número de escravos homens e mulheres, muitos<br />

dos quais estavam atados pelo pescoço, com<br />

gargalheiras, a longos paus. O mercado de carne vendia<br />

aves domésticas, caça e cachorros. Vegetais, frutas,<br />

comida preparada, sal, pão, mel e massas doces, feitas de<br />

várias maneiras, eram também lá vendidas. [...] Muitas<br />

mulheres vendiam peixes em pequenos 'pães' feitos de<br />

uma determinada argila especial que eles achavam no<br />

lago e que se assemelhavam ao queijo".<br />

In: PINSKY, Jaime. "<strong>História</strong> da América através de textos". São Paulo,<br />

Contexto. 2004.<br />

Através do documento<br />

É correto afirmar que estes rituais no mundo dos astecas<br />

eram de ordem simbólica, uma vez que:<br />

a) Os vencidos deveriam pagar um tributo de sangue<br />

aos astecas, que viam a si próprios como deuses.<br />

b) Os sacerdotes astecas exigiam oferendas de sangue<br />

para que não faltasse alimento em seus templos.<br />

a) são citadas diversas riquezas coloniais oriundas da<br />

América Central que foram exploradas pela<br />

metrópole portuguesa.<br />

b) é percebida uma das motivações do expansionismo e<br />

da exploração mercantilista ibérica: o metalismo.<br />

c) são indicados diversos produtos que equilibraram a<br />

balança de comércio entre a Coroa espanhola e suas<br />

colônias na América.<br />

d) é constatada a necessidade espanhola de importação<br />

de mão-de-obra escrava para suas manufaturas<br />

frente à concorrência americana.<br />

e) são demonstrados os benefícios gerados pela<br />

administração hispânica na América Central,<br />

iniciada logo após a viagem de Colombo.<br />

221


18. (PITÁGORAS) Observe a imagem a seguir e o texto<br />

que a acompanha abaixo.<br />

Guatemala. O nome de seu soberano Motecuhzoma era<br />

venerado ou temido de uma ponta a outra daquele vasto<br />

território. Seus comerciantes com suas caravanas de<br />

carregadores percorriam o país em todos os sentidos. [...]<br />

Em Tenochtitlán (México), sua capital, a arquitetura e a<br />

escultura haviam alcançado um impulso extraordinário,<br />

enquanto o luxo crescia no vestuário, à mesa, nos jardins<br />

e na ourivesaria."<br />

SOUSTELLE, J. A civilização asteca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987: 7.<br />

São características da civilização asteca, exceto:<br />

222<br />

A chegada dos espanhóis na América. Theodore de Bry, 1594.<br />

www.novahistorianet.<br />

O testemunho de Bartolomeu de las Casas<br />

Hoje temos conhecimento das atrocidades cometidas<br />

pelos espanhóis contra os povos nativos da América<br />

através de relatos como o do frei Bartolomeu de las<br />

Casas (1474-1566):<br />

“Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos,<br />

pela tirania e diabólicas ações dos espanhóis, morreram<br />

injustamente mais de 12 milhões de pessoas, homens,<br />

mulheres e crianças; e verdadeiramente eu creio, e penso<br />

não ser absolutamente exagerado, que morreram mais de<br />

15 milhões...<br />

A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade<br />

de almas foi unicamente não terem outra finalidade<br />

ultima senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo;<br />

enfim, não foi senão pela avareza que causou a perda<br />

desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos<br />

foram tão fáceis de subjugar.”<br />

(LAS CASAS, Bartolomeu de. Brevíssima relação da destruição das Índias: o<br />

paraíso destruído, 1552.)<br />

CITE e EXPLIQUE dois motivos que os Espanhóis<br />

tinham para realizar tantas barbaridades na América<br />

Espanhola.<br />

19. (UFES) "Os astecas (azteca) ou mexicanos (mexica)<br />

dominavam com esplendor a maior parte do México<br />

quando os conquistadores espanhóis ali chegaram, em<br />

1519. Sua língua e sua religião tinham-se imposto sobre<br />

imensas extensões de terra desde o Atlântico até o<br />

Pacífico e das regiões áridas setentrionais até a<br />

a) A unidade social básica era o calpulli, comunidade<br />

residencial com direitos comuns sobre a terra e uma<br />

organização interna de tipo administrativo,<br />

judiciário, militar e fiscal.<br />

b) Tenochtitlán, a capital asteca, segundo a tradição,<br />

fundada em 1325, era o centro de um comércio de<br />

longa distância e pólo de atração para artesãos e<br />

vendedores, tendo-se convertido em uma das<br />

maiores cidades do mundo a expansão do poderio<br />

asteca.<br />

c) A economia era de base agrícola e fundamentada na<br />

cultura do milho e do feijão, sendo o cultivo por<br />

chinampas (pequenas ilhas artificiais construídas<br />

mediante o acúmulo de lama e plantas aquáticas<br />

junto às margens pantanosas dos lagos), a técnica<br />

mais inovadora empregada na agricultura irrigada.<br />

d) A sociedade asteca era dominada por uma dupla<br />

hierarquia: a dos dignitários (indivíduos investidos<br />

de altas funções militares ou civis) e a dos<br />

sacerdotes, sendo que no ápice encontramos o rei<br />

(Huey Tlatoani), cujo cargo era eletivo.<br />

e) A monarquia asteca, embora possuísse origem<br />

divina, era constantemente desafiada pela população<br />

rural por conta da sobrecarga de tributos exigidos,<br />

razão pela qual, quando da chegada de Cortez ao<br />

México, Tenochtitlán era palco de uma violenta<br />

guerra civil liderada por camponeses dos distritos<br />

vizinhos.<br />

20. (UFRJ) A civilização asteca tinha por centro a região<br />

que hoje corresponde:<br />

a) ao México;<br />

b) ao Caribe;<br />

c) ao litoral pacífico dos EUA;<br />

d) ao Peru;<br />

e) à Venezuela.


21. (RICAFONTE) RELACIONE corretamente os<br />

termos apresentados na coluna da direita com os povos<br />

pré-colombianos citados na coluna da esquerda.<br />

(1) Civilização MAIA<br />

(2) Civilização ASTECA<br />

(3) Civilização INCA<br />

( ) A fundação de Tenochtitlán sobre uma das ilhas do<br />

Lago Texcoco deu início a um império que se impôs<br />

militarmente sobre todos os povos que habitavam a<br />

região.<br />

( ) A mita era o recrutamento entre os elementos da<br />

aldeia para trabalho temporário na construção, de obras<br />

como pontes, estradas, templos e canais de irrigação.<br />

( ) Essa civilização desenvolveu, na Matemática, a<br />

criação de um sistema estabelecendo um símbolo para o<br />

zero e elaborou um sistema de escrita que infelizmente<br />

ainda não foi decifrado completamente.<br />

( ) O comércio funcionava através do sistema de<br />

escambo, ou seja, troca de mercadorias e alguns<br />

produtos, por serem mais valorizados como pedras<br />

preciosas ou favas de cacau, podiam ser utilizados como<br />

moedas.<br />

( ) Apesar de não possuírem um sistema de escrita,<br />

criaram um sistema de numeração decimal chamado<br />

quipu, desenvolvido a partir de cordões com diferentes<br />

nós presos a um cordão principal.<br />

A ordem CORRETA é:<br />

a) 2, 3, 1, 2, 3<br />

b) 2, 1, 3, 1, 2<br />

c) 1, 2, 2, 3, 1<br />

23. (RICAFONTE) Leia o texto a seguir.<br />

O sacrifício humano é um dos pilares da religião e da<br />

sociedade asteca. (...) A sua dimensão é verificada pela<br />

existência de diversos templos construídos para sua<br />

prática, e pela estrita regulamentação, que exige<br />

sacerdotes especializados. É preciso poupar as vítimas de<br />

um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />

Entre as modalidades de sacrifício, a mais comum é a<br />

morte florida, quando a vítima, vestida com uma tanga<br />

de papel branco, é pintada com giz, e depois, levada ao<br />

cume do templo, onde lhe arrancam o coração. O mais<br />

espetacular deles, entretanto, é o sacrifício dos<br />

gladiadores (...) O cativo é amarrado a uma corda que<br />

limita seus movimentos. Ele deve se esquivar do golpe<br />

dos guerreiros. Ao primeiro ferimento, é sacrificado.<br />

AUTOR. <strong>História</strong> Viva. Duetto Editorial, nº 6, Abril 2004. p.80<br />

a) COPIE do texto o trecho que mostra que com<br />

sacrifício não era um inimigo que se eliminava, mas um<br />

mensageiro que se enviava aos deuses para alimentá-los.<br />

b) RESPONDA: Por que os astecas promoviam os<br />

sacrifícios humanos?<br />

24. (RICAFONTE) A civilização maia se desenvolveu<br />

na América Central, numa região onde estão hoje o sul<br />

do México, a Guatemala, El Salvador, Belize e Honduras<br />

(veja o mapa). Os maias não formaram um império. A<br />

maioria deles vivia em aldeias nômades independentes.<br />

d) 3, 2, 1, 1, 3<br />

22. (RICAFONTE) Os guerreiros constituíam um dos<br />

grupos mais importantes na sociedade asteca. No início,<br />

eram escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e<br />

valentes do povo. Com o tempo, entretanto, a função de<br />

guerreiro começou a ser passada de pai para filho, e<br />

apenas algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o<br />

direito de ter guerreiros entre os seus membros."<br />

(KARNAL, Leandro. A Conquista do México. São Paulo: FTD, 1996. p. 13)<br />

fonte:http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/0702420.jpg<br />

A partir da leitura do trecho acima, EXPLIQUE a<br />

estrutura da sociedade asteca, no século XV, a qual era:<br />

CARACTERIZE a civilização Maia nos aspectos<br />

econômico, política e cultural.<br />

223


25. (RICAFONTE) A conquista da América<br />

aprofundou as transformações que vinham ocorrendo na<br />

vida européia desde antes de 1492 e gerou novas<br />

mudanças.<br />

EXPLIQUE a afirmativa acima utilizando dois (2)<br />

argumentos históricos.<br />

CITE pelo menos duas (02) semelhanças entre os povos<br />

astecas, incas e maias.<br />

28. (RICAFONTE) Veja o organograma que apresenta a<br />

sociedade INCA:<br />

26. (RICAFONTE) O texto abaixo é um discurso<br />

dirigido a um imperador asteca durante a cerimônia de<br />

sua posse. Leia-o com atenção.<br />

Discurso feito a um imperador asteca<br />

224<br />

Senhor, (...) és tu agora que vais levar o peso, o encargo<br />

deste Estado! Tu vais pôr sobre as tuas costas o pesado<br />

fardo do governo. O nosso deus depõe nos teus ombros,<br />

no teu seio e nos teus braços o cuidado de governar o<br />

povo, que é instável e pronto à cólera. És tu senhor que,<br />

durante alguns anos, vais sustentar este povo e cuidar<br />

dele como uma criança no berço... Pensa, senhor, que a<br />

partir de agora vais caminhar num cume muito alto, num<br />

caminho muito estreito, ladeado à direita e à esquerda<br />

por abismos profundos... Sê moderado no exercício do<br />

teu poder, não mostres os dentes nem as garras... Alegra<br />

e diverte o povo com jogos e passatempos honestos, pois<br />

assim serás célebre e amado... Teu povo está ao abrigo<br />

sob tua sombra, pois tu és como o pochotl ou o<br />

ahuehuetl, que dá uma sombra imensa e redonda, e as<br />

multidões são protegidas pelos teus ramos.<br />

(SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas às vésperas da conquista<br />

espanhola. p. 288. Adaptado)<br />

O GOVERNO ASTECA É TEOCRÁTICO.<br />

a) JUSTIFIQUE com uma passagem do texto a<br />

afirmativa acima.<br />

b) TRANSCREVA a passagem do texto onde é dado um<br />

ensinamento ao imperador.<br />

27. (RICAFONTE) Leia o trecho a seguir:<br />

“Assim como os demais habitantes das Américas na<br />

época do “descobrimento”, os incas, maias e astecas<br />

foram, de forma geral, chamados de índios pelos<br />

europeus. No entanto, apesar de muitas diferenças, havia<br />

semelhanças entre esses povos.”<br />

http://cienciahoje.uol.com.br<br />

A partir do que foi apresentado, elabore um parágrafo<br />

corretamente estruturado sobre essa sociedade,<br />

destacando possíveis semelhanças com a sociedade<br />

brasileira atual.<br />

29. (RICAFONTE) Leia o texto abaixo e responda às<br />

questões.<br />

OS MAIAS NO SÉCULO XXI<br />

Indígenas e camponeses<br />

O idioma dos maias, cujas raízes têm três mil anos, e as<br />

línguas derivadas (quiché, cakchiquel, tztzal, entre<br />

outras), são falados por muitos habitantes do sul do<br />

México, Guatemala, Honduras e Belize. Destacam-se os<br />

habitantes da selva Lacandona em Chiapas e Guatemala,<br />

que conservam as tradições culturais e resistem à<br />

influência do mundo ocidental. Os homens cultivam os<br />

prédios familiares, mantêm as redes comerciais de longa<br />

distância e as mulheres continuam tecendo seus trajes<br />

típicos com elaborados desenhos de brocado, produzindo<br />

utensílios de barro para o uso doméstico e a venda<br />

turística. Os camponeses maias ainda rendem culto às<br />

suas divindades, apesar de que muitos já não são<br />

realizados, ou mudaram. A religiosidade popular<br />

incorpora formas mestiças e elementos provenientes do<br />

cristianismo. A palavra e a oração cotidiana mantêm sua


importância na comunicação com o mundo sobrenatural.<br />

Na sua economia de subsistência, eles respeitam a<br />

natureza e a preservação do meio ambiente e da<br />

biodiversidade. Cada tarefa agrícola é acompanhada de<br />

um ritual, seja o corte de uma árvore até a colheita de<br />

milho. A vida e o trabalho em comunidade continuam<br />

sendo valores centrais dos maias atuais, em vez da<br />

individualidade.<br />

http://www.klepsidra.net/tawantinsuyu.html<br />

tudo isso que é precioso<br />

nada foi levado em conta.<br />

(...)<br />

Chorai, amigos meus,<br />

Compreendei que com estes fatos<br />

perdemos a Nação Mexicatl.<br />

A água azedou, se azedou a comida. (...)<br />

a) GRIFE no texto uma passagem que comprova uma<br />

influência do mundo ocidental na cultura dos maias do<br />

século XXI.<br />

b) COMPROVE, utilizando informações do texto, a<br />

permanência de traços culturais da civilização maia précolombiana<br />

entre os “Maias do século XXI”.<br />

30. (RICAFONTE) O texto abaixo é a reunião de<br />

estrofes de dois poemas astecas do século XVI chamados<br />

por eles de “Cantos tristes”. Os versos descrevem a<br />

cidade de Tenochtitlán, às vésperas de sua rendição, em<br />

agosto de 1521.<br />

(In: Coletânea de documentos de história da América para o 2º grau – 1ª série. 2ª<br />

ed. São Paulo: SE/CENP, 1985. p.7)<br />

A leitura do poema nos permite afirmar que:<br />

a) a destruição da cidade de Tenochtitlán não trouxe<br />

consequências psicológicas para os astecas.<br />

b) a queda da cidade não chegou a afetar a vida da<br />

população ali concentrada.<br />

c) o poema descreve a utilização da escravidão pelos<br />

povos dominadores.<br />

d) o poema é um lamento de guerra, porém, não indica<br />

a derrota da população da cidade dominada.<br />

Os astecas narram a conquista<br />

Pelos caminhos jazem<br />

(flechas) partidas;os cabelos estão espalhados.<br />

As casas estão destelhadas,<br />

seus muros avermelhados.<br />

Germes se espalham por ruas e praças,<br />

e as paredes estão salpicadas de miolos.<br />

As águas estão rubras, tintas [de sangue),<br />

e quando a bebemos,<br />

é como se bebêssemos água salgada.<br />

(...)<br />

Nos puseram preço.<br />

Preço de jovem, de sacerdote,<br />

de criança e de donzela.<br />

(...)<br />

Ouro, jade, ricas mantas,<br />

plumas de quetzal;<br />

225


GABARITO<br />

21.A<br />

1. C<br />

2.C<br />

3. B<br />

4. D<br />

5. B<br />

6.D<br />

7. RESPOSTA:<br />

a) Principal centro urbano-político da cultura asteca,<br />

possuía grandes construções tais como palácios, templos<br />

e uma urbanização bastante evoluída para os padrões da<br />

época (século XVI), chegando a contar com uma grande<br />

concentração populacionais, tendo mais habitantes do<br />

que a principal cidade espanhola nesse período.<br />

b) A intenção era de sobreposição, mostrando-se como<br />

cultura dominante.<br />

8.D<br />

9.B<br />

10.D<br />

11.D<br />

12.E<br />

13.D<br />

14.E<br />

15.D<br />

16.E<br />

17.B<br />

18. Resposta:<br />

Os espanhóis justificaram a exploração colonial da<br />

América com o pretexto de civilizar os povos<br />

americanos, por meio da cultura e da fé cristã. Mas seu<br />

objetivo era a busca de metais e especiarias.<br />

19.E<br />

20.A<br />

22. RESPOSTA:<br />

- A sociedade dos astecas era hierarquizada e guerreira,<br />

visto que o Imperador era, ao mesmo tempo, o general<br />

do exército asteca e o sumo pontífice sacerdotal.<br />

- Sua religião era politeísta.<br />

- Seu comércio era comandado pelos pochtecas.<br />

- Seus sacerdotes se entregavam a penitências e jejuns.<br />

- Dividiam o ano em 18 meses de 20 dias.<br />

23. RESPOSTA:<br />

a) ...exige sacerdotes especializados. É preciso poupar as<br />

vítimas de um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />

b) Para merecer os benefícios divinos.<br />

...exige sacerdotes especializados. É preciso poupar as<br />

vítimas de um sofrimento inútil e ofensivo aos deuses.<br />

b) Para merecer os benefícios divinos.<br />

24. RESPOSTA:<br />

A economia dos Maias baseava-se principalmente no<br />

cultivo de milho, feijão e batata-doce. Eles não<br />

conheciam o uso do ferro, da roda, do arado e do<br />

transporte por animais. A sociedade era dirigida por<br />

poderosos sacerdotes. Construíram grandes templos,<br />

pirâmides e observatórios de astronomia; criaram um<br />

calendário e um sistema de escrita; desenvolveram a<br />

pintura mural e a arte cerâmica.<br />

25. RESPOSTA:<br />

Transformou a sociedade com fortes características<br />

imperialistas, mercantilistas e colonialistas.<br />

26. RESPOSTA:<br />

a) “Nosso deus depõe nos teus ombros, no teu seio e nos<br />

teus braços o cuidado de governar o povo, que é instável<br />

e pronto à cólera.”<br />

b) “Sê moderado no exercício do teu poder, não mostres<br />

os dentes nem as garras... Alegra e diverte o povo com<br />

226


jogos e passatempos honestos, pois assim serás célebre e<br />

amado...”<br />

27. RESPOSTA:<br />

Eram povos que valorizavam o sentimento religioso,<br />

adoravam vários deuses, portanto eram politeístas; a base<br />

da economia era a agricultura.<br />

28. RESPOSTA:<br />

Sociedade escravocrata, os Incas eram povos que<br />

conheciam a desigualdade social. A sociedade Inca pode<br />

ser também caracterizada como elitista, uma vez que a<br />

maioria da população estava subordinada aos interesses<br />

de uma minoria que detinha o controle sobre todos. No<br />

Brasil de hoje, apesar de não termos mais a instituição da<br />

escravidão oficial, também encontramos características<br />

semelhantes: desigualdade social e elitismo.<br />

29. RESPOSTA:<br />

a) “A religiosidade popular incorpora formas mestiças e<br />

elementos provenientes do cristianismo”.<br />

b) Os camponeses maias ainda rendem culto às suas<br />

divindades.<br />

30. C<br />

227


COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ESPANHOLA<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Figura 7 – Divisão administrativa e independência da América luso-espanhola.<br />

ARRUDA, Jose Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2008. p.<br />

22. Mapa original(sem escala; sem identificação de norte geográfico).<br />

Uma vez superada a fase das conquistas militares sobre<br />

as populações nativas da América, deu-se início a um<br />

complexo processo de institucionalização da presença<br />

espanhola na América. As antigas formas estruturais de<br />

organização dos antigos domínios pré-colombianos<br />

começariam a ser densamente alterados pelos espanhóis.<br />

Os desafios associados a esse processo se impuseram não<br />

apenas às populações conquistadas, como também aos<br />

próprios colonizadores espanhóis e às funções que a cada<br />

um recairiam no processo de rearranjo das prioridades<br />

econômicas, relações sociais e estruturas administrativas<br />

que vigorariam na região.<br />

Temporalmente, podemos datar a data de 1521, com a<br />

vitória de Hernán Cortez sobre Montezuma, o processo<br />

institucional da conquista espanhola na América.<br />

228<br />

Inicialmente, a primeira questão a se impor no processo<br />

de elaboração das instituições jurídico-políticas<br />

espanholas, e que se estendeu pelas décadas seguintes do<br />

século XVI, foi a estratégia de garantir a conciliação<br />

entre as recompensas a serem asseguradas aos colonos<br />

para cá transferidos, sem desconsiderar a parte essencial<br />

a ser garantida ao Estado Espanhol.<br />

Devemos considerar que os colonos não vieram para a<br />

América como meros representantes da Coroa, eles eram<br />

portadores de interesses particulares na exploração<br />

dessas novas terras. Era preciso definir que sua<br />

autonomia não deveria se sobrepor ao papel do rei<br />

espanhol, desafiando as autoridades a encontrar um<br />

ponto de equilíbrio entre os interesses dos colonos e da<br />

Coroa.<br />

Entre os primeiros colonos, podemos dividir os membros<br />

das expedições espanholas em dois grupos: os chefes de<br />

expedição e as tropas. Os primeiros eram geralmente<br />

homens de pequena nobreza sem muitas poses em seus<br />

reinos de origem. A esse grupo pertencia os pioneiros<br />

conquistadores, como Hernán Cortés, Pedro de Alvarado<br />

e Pedro de Valdivia. O segundo grupo era formado<br />

geralmente por pequenos camponeses, infantes (peones),<br />

soldados pobres e plebeus de todos os níveis. Eram<br />

integrantes de camadas inferiores da sociedade espanhola<br />

que, estando desocupados desde a guerra da Reconquista,<br />

quando os espanhóis expulsaram os árabes de seus terras,<br />

foram direcionados para as terras descobertas.<br />

Para muitos desses homens, a estadia em terras do Novo<br />

Mundo, poderiam representar uma possibilidade de<br />

tornar-se nobre, dono de terra e de ter vassalos a seu<br />

serviço, o que era portentosamente difícil na Europa. A<br />

aspiração à nobreza somou-se ao gosto pela aventura,<br />

potencializado pelos romances de cavalaria.<br />

Quase sempre, ao considerarmos que busca por terras na<br />

América correspondeu a um projeto estatal, geralmente<br />

pensamos que a “mão forte” do Rei esteve presente<br />

desde as primeiras conquistas, pois os próprios<br />

conquistadores se reportavam à Coroa com a intenção de<br />

transmitir informações sobre o que se passava. Assim,<br />

temos a impressão de que o Rei possuía plena ciência e<br />

controle de todas as ações e reações de seus enviados,<br />

ainda que à longa distância.


Porém, um outro traço pessoal dos conquistadores nos<br />

induz a uma percepção diferente. A cobiça, denunciada<br />

com intensidade pelos religiosos que foram para as áreas<br />

de colonização, revela a prevalência dos interesses dos<br />

conquistadores, que, como vimos, eram pessoas de<br />

poucas posses, em detrimento dos projetos estatais<br />

espanhóis. Por isso havia um conflito de interesses,<br />

sintetizado em uma máxima atribuída aos colonos: “Deus<br />

está no céu, o rei está longe e eu mando aqui”.<br />

2. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA<br />

COLONIAL NA AMÉRICA ESPANHOLA<br />

As divergências de interesses entre a Coroa espanhola e<br />

os colonos tiveram suas origens desde as primeiras<br />

viagens de Colombo, em virtude dos privilégios<br />

concedidos pelo Rei na forma das Capitulações. Estas<br />

eram um instrumento que outorgava o direito de explorar<br />

as terras, colocando os custos sob responsabilidade dos<br />

aventureiros, mas que também concedia autonomia às<br />

iniciativas privadas, com a única restrição aos metais<br />

preciosos encontrados, dos quais um quinto deveria ser<br />

entregue à Coroa. (Regime de adelantatados)<br />

Não tardou para o Estado Espanhol repensar as medidas<br />

iniciais de presença colonial na América, quando já na<br />

segunda viagem de Colombo, essa medida foi repensada<br />

e restringida. Desde o início do século XVI o Estado já<br />

se fazia presente de uma maneira contundente, criando<br />

assim uma máquina administrativa mais organizada e<br />

que colocava as ações sob os olhares atentos das<br />

instituições espanholas, presentes tanto na Metrópole<br />

quanto nas áreas coloniais.<br />

Para a Coroa Espanhola, o desafio que se impunha era o<br />

de como controlar as atividades do nosso lado do<br />

Atlântico e, ao mesmo tempo, garantir certos privilégios<br />

aos colonos, impedindo o desânimo e a desistência do<br />

empreendimento colonizador.<br />

Um dispositivo essencial que regularia as relações entre<br />

colonos e a Espanha foi a encomienda. Ela constituía na<br />

repartição e atribuição de terras e índios a um colono.<br />

Enquanto os nativos forneciam a mão-de-obra e pagavam<br />

um tributo aos encomenderos, estes eram responsáveis<br />

pelos indígenas e tinham o dever de cristianizá-los, o que<br />

justificava a necessidade de um clérigo nas<br />

proximidades.<br />

Ainda antes da metade do século XVI, as encomiendas<br />

foram alvos de intensas críticas por parte dos religiosos e<br />

questionadas pelas autoridades reais. A exploração dos<br />

indígenas era gigantesca e a cristianização, relegada<br />

pelos encomenderos. Os indígenas trabalhavam sem<br />

recebimento de quaisquer remunerações em terras que<br />

originalmente eram suas.<br />

O esforço oposicionista dos clérigos levariam, em 1542 à<br />

instituição das Leis Novas, pelas quais foi decretado o<br />

fim da escravidão indígena e a proibição de concessão<br />

de novas encomiendas Na sequência dessas restrições<br />

surgiu outra instituição espanhola em terras americanas:<br />

o corregimiento. Ele era um desdobramento das<br />

encomiendas, quando estas foram revertidas ao Estado<br />

espanhol, ficando sob a tutela dos corregedores ou<br />

alcaides maiores. Era mais do que um freio às ações<br />

individualistas dos colonos, constituindo-se em uma<br />

sistematização da presença do Estado nas atividades<br />

desenvolvidas na América.<br />

A partir do corregimiento, novas esferas de poder foram<br />

criadas e estenderam, dessa forma, os tentáculos da<br />

Coroa. Por exemplo, verifica-se a criação dos cabildos,<br />

uma espécie de municipalidade que respondia pela<br />

ordem nas vilas, ao estilo do modelo espanhol. Apesar<br />

desses novos poderes não terem plena autonomia, eles<br />

eram responsáveis por todas as questões locais<br />

(propriedades, mercados, cadeias).<br />

A suspensão das encomiendas desagradou aos colonos<br />

espanhóis, que viram restringida a sua autonomia. A<br />

constituição de poderes políticos nos cabildos, que se<br />

reportavam aos vice-reinados, era uma forma de<br />

institucionalizar um modelo administrativo europeu na<br />

América.<br />

Na organização política da Monarquia espanhola havia<br />

ainda a Casa de Contratação, criada em 1503,<br />

responsável pelo controle do comércio com as colônias,<br />

que instituiu o sistema de frotas e a política de porto<br />

único, a fim de coibir o contrabando e a ação frequente<br />

de piratas e corsários inimigos. Já o Conselho de Índias,<br />

de 1524, que exercia funções políticas, como a nomeação<br />

dos vice-reinos e ouras autoridades. Essas duas<br />

instituições eram incumbidas, na Espanha, de administrar<br />

as novas colônias, chamadas inicialmente de Índias,<br />

graças ao equívoco de Colombo.<br />

Na América Espanhola, a principal estrutura os órgãos<br />

mais importantes do governo eram os Vice-Reinados<br />

(inicialmente os de Nova Espanha e do Peru, depois<br />

foram criados os do Rio da Prata e de Nova Granada), as<br />

Audiências (que tinham funções judiciárias e<br />

posteriormente administrativas), e as Capitanias Gerais<br />

229


230<br />

(áreas estratégicas econômicas e militares – Venezuela,<br />

Chile, Cuba e Guatemala).<br />

As regiões coloniais espanholas apresentaram ainda,<br />

duas peculiaridades que a distinguem essencialmente das<br />

áreas coloniais espanholas: a fundação precoce de<br />

universidades, sob o controle de ordens religiosas e que<br />

serviam à instrução dos ibéricos e seus filhos aqui<br />

nascidos e, os tribunais de inquisição, que serviram à<br />

repressão dos movimentos considerados heréticos pela<br />

Igreja no Novo Mundo.<br />

3. IMPACTOS INICIAIS DA COLONIZAÇÃO<br />

As estruturas coloniais introduzidas pelos espanhóis na<br />

América provocaram mudanças significativas no modo<br />

de vida dos indígenas. A violência e a diminuição<br />

populacional, com os “traumas” da conquista, são alguns<br />

dos pontos mais perceptíveis. A alteração do modelo de<br />

urbanização foi outra característica que marcou os<br />

primeiros tempos da colonização espanhola.<br />

3.1 A queda demográfica<br />

Em função dos interesses de exploração econômica e das<br />

necessidades de controle nas áreas americanas tuteladas,<br />

os espanhóis impuseram novas formas de viver que<br />

causou impactos entre as sociedades indígenas. Estes<br />

manifestaram-se nos aspectos físicos quanto psicológicos<br />

naquelas comunidades, revestindo-se de crucial<br />

importância para a compreensão daquilo que os<br />

historiadores consideraram “trauma da conquista”,<br />

bastante perceptível, por exemplo, na conquista do<br />

México.<br />

Um dos pontos mais perceptíveis foi a queda<br />

demográfica da população indígena em curto espaço de<br />

tempo. Existem diversas causas para explicá-la.<br />

A primeira delas decorreu do contato entre índios e<br />

espanhóis, por ocasião das guerras de conquista. Embora<br />

em menor número – mas contando com o auxílio de<br />

outros grupos indígenas, como os tlaxcaltecas – os<br />

espanhóis empreenderam um massacre sobre os<br />

domínios astecas. A força das tropas espanholas consistia<br />

no armamento que era desconhecido dos índios e no<br />

medo causado pelos cavalos. Mesmo que se leve em<br />

consideração o número de mortos, alguns autores<br />

consideram que o impacto primeiro das guerras de<br />

conquista ficou restritas a poucas localidades,<br />

circunscritas ao altiplano central do México. Porém, é<br />

importante ressaltar que, por conta da desorientação em<br />

virtude da presença dos espanhóis, houve diversas<br />

guerras entre as próprias populações indígenas, mesmo<br />

antes da conquista de Tenochititlan, o que resultou em<br />

alguns milhares de mortos.<br />

As formas de exploração do trabalho, que incluíram<br />

variadas utilizações de trabalho forçado e escravidão,<br />

também deram capital contribuição contribuíram para a<br />

diminuição populacional. A cobiça pelo ouro levou<br />

muitos encomenderos a escravizar os índios. As mortes<br />

tornaram-se uma constante no cotidiano, porém a<br />

abundância de mão-de-obra servia de contrapeso às<br />

perdas. Se um índio morria, bastava “capturar” outro.<br />

Essa situação foi denunciada pelos religiosos que, de<br />

alguma forma, participaram das etapas iniciais da<br />

conquista. Bartolomé de Las Casas destacou-se nas<br />

denúncias dos maus tratos aos nativos.<br />

As atividades ligadas ao trabalho forçado tiveram<br />

influências sobre as demais causas. Por exemplo, a<br />

diminuição de filhos por família foi ocasionada por conta<br />

do excesso de trabalho e a falta de tempo para o lar,<br />

justificando a baixa nas taxas de natalidade.<br />

A fome foi outro aspecto relacionado, pois com quase<br />

todo o tempo ocupado em trabalhar nas minas, construir<br />

edifícios, transportar armas e outros materiais, os<br />

indígenas não tinham tempo para se dedicar às atividades<br />

agrícolas. A produção de alimentos para a sobrevivência<br />

viu-se um franco declínio e, juntamente com ela, houve a<br />

queda na qualidade e na quantidade de alimentação.<br />

Existiam outras formas de dizimação da população<br />

ameríndia, e nem todas resultaram de ações diretas dos<br />

espanhóis, tendo sido causadas indiretamente, como a<br />

transmissão de doenças e a propagação de epidemias.<br />

Entre as doenças que tomaram os corpos dos ameríndios<br />

estavam a varíola, a febre amarela, a malária, o sarampo<br />

e a gripe. Os índios eram vulneráveis às doenças<br />

transmitidas pelos europeus. Além de não possuírem<br />

resistência biológica, eles desconheciam as ervas capazes<br />

de curar.<br />

As mortes por epidemias foram uma constante e<br />

constituíram-se um dos principais fatores para se<br />

compreender as baixas demográficas.<br />

3.2 O trauma da conquista<br />

Muito além dos efeitos físicos de redução demográfica e<br />

violência gerados de imediato, a conquista espanhola em<br />

médio prazo também acarretaria uma desestruturação da


visão do mundo indígena. Para o historiador Héctor Bruit<br />

houve uma conquista visível e outra invisível. A visível<br />

configurou-se na conquista militar, na derrubada dos<br />

mundos indígenas, na evangelização, na extirpação das<br />

idolatrias, na luta contra o demônio, na exploração, entre<br />

outros aspectos. A invisível está ligada à destruição dos<br />

referenciais simbólicos, que desnortearam as trajetórias<br />

de vida e distanciaram os indígenas de sua história. Isso<br />

provocou, sobretudo, um colapso nos seus sistemas de<br />

crenças e nas formas de interpretar o mundo, que<br />

deveriam ser substituídos pelos princípios do<br />

catolicismo. Muitos indígenas optaram pelo suicídio,<br />

como forma de resistência.<br />

Em ilustrações editadas por Theodor de Bry, a partir de<br />

1950, para a obra de Bartolomé de Las Casas, são<br />

representados os trabalhos forçados, as perseguições dos<br />

espanhóis montados em seus cavalos e o enforcamento<br />

de indígenas, assim como as queimadas e a destruição<br />

das habitações daquele povo.<br />

4. EXPLORAÇÃO ECONÔMICA NA<br />

AMÉRICA ESPANHOLA<br />

Desde muito cedo, a estrutura econômica da América<br />

Espanhola que tornou necessário o complexo sistema<br />

administrativo aqui instalado, seguiu os princípios<br />

básicos da orientação mercantilista. Desse modo, o ideal<br />

metalista serviu d orientação para as ações econômicas<br />

especialmente voltadas para o desenvolvimento da<br />

mineração, assim como a busca por uma balança<br />

comercial favorável estimulou a grande produção<br />

agrícola antilhana de produtos tropicais para exportação<br />

nas haciendas da América. Internamente, as<br />

necessidades locais de abastecimento às populações para<br />

cá atraídas, foram fundamentais no estímulo ao<br />

desenvolvimentos das estancias de criação de gado,<br />

especialmente na região platina.<br />

4.1 Trabalho e escravidão na América espanhola<br />

O documento mais antigo provando a existência de um<br />

carregamento mercantil de negros africanos introduzidos<br />

na América espanhola como escravos é de 1518. Antes<br />

disso, eles vieram como empregados domésticos dos<br />

amos espanhóis, trazidos clandestinamente, ou pela<br />

própria Coroa. A última data de entrada de negros<br />

escravos, e sobre a qual há provas contundentes, é de<br />

1873 em Cuba, há pouco mais de cem anos.<br />

Quantos negros vieram para o Novo Mundo? Sem muito<br />

rigor, há estimativas de 1. 552.000 negros. Essa cifra é<br />

menor que a calculada para o Caribe britânico<br />

(1.665.000) e Antilhas francesas (1.600.000), e muito<br />

mais baixa que a estimada para o Brasil: 3.646.000.<br />

Outra pergunta interessante: quantos negros, capturados<br />

na África, foram embarcados? Vários autores dão<br />

números diferentes, mas há consenso em que teriam<br />

oscilado em torno de 12 milhões. De qualquer maneira<br />

uma coisa é certa: milhões morrem na travessia do<br />

Atlântico.<br />

Cabe indagar também que tipos de empresas utilizam<br />

mais escravos. Ninguém discute que foram - e isto é<br />

válido para toda América, não só espanhola - em<br />

primeiro lugar, as plantações tropicais. O estudioso<br />

cubano Moreno Fraginals estima que as plantações de<br />

açúcar absorveram 65% dos escravos.<br />

Outras plantações tropicais, mais uns 15%. Isto é, as<br />

plantações teriam absorvido 80% da mão-de-obra<br />

escrava. Pode-se afirmar, então, que a demanda europeia<br />

de açúcar, cacau, tabaco, café, algodão, etc., significou,<br />

para dois continentes uma gigantesca tragédia social e,<br />

adicionalmente, para a África um desastre demográfico.<br />

Além disso, no continente africano, a caça de escravos<br />

desarticulou, desagregou e corrompeu inúmeras<br />

organizações sociais.<br />

Os negros também estiveram presentes na produção de<br />

minérios preciosos, mas como já demonstrado<br />

anteriormente, as plantations exportadoras é que mais<br />

demandaram seu trabalho.<br />

O trabalho nas minas, concentrado especialmente no<br />

altiplano andino e no México, com destaque para a<br />

produção de Prata em Potosí, atual Bolívia,<br />

extremamente duro, consumia rapidamente a mão-deobra,<br />

de modo que os espanhóis preferiam os índios, cuja<br />

morte prematura não lamentavam, pois não pagavam<br />

nada por eles. A base da mão de obra indígena utilizada<br />

na mineração, tanto no Peru quanto no México,<br />

organizou-se através da mita, sistema de trabalho<br />

adaptado dos antigos incas, que se orientava pela<br />

exploração temporária de certo número de cativos, por<br />

meio de um sorteio, quando eram remunerados com<br />

recursos de subsistência.<br />

Frente à terrível mortandade dos índios nas minas de<br />

Potosi, a autoridade sugeriu a introdução massiva de<br />

escravos negros. Em regiões como Nova Granada<br />

(Colômbia) utilizou-se quase que exclusivamente negros<br />

na extração de minérios, pois não havia índios<br />

231


disponíveis. Na área espanhola do Caribe (mas também<br />

nas colônias inglesas, francesas e holandesas) empregouse<br />

a escravidão na agricultura comercial: plantações com<br />

grande inversão de capital, cujo produto era destinado<br />

quase que exclusivamente à exportação. Havia também a<br />

escravidão doméstica, que era um sinal de status social<br />

para o proprietário.<br />

Nas fazendas de criação de gado e, em geral, no trabalho<br />

com o gado, utilizou-se muito menos escravos. Nos<br />

engenhos açucareiros cubanos, os donos permitiam que<br />

os escravos trabalhassem um pedaço de terra para obter<br />

seu alimento; porém, isto era permitido somente quando<br />

a produção se detinha para repor peças gastas das<br />

máquinas, fazer trabalhos de limpeza, etc. Era uma<br />

maneira de evitar a ociosidade ocasional e forçada,<br />

utilizando a mão-de-obra na atividade produtiva. Em São<br />

Domingos, onde o trabalho escravo foi utilizado na<br />

fazenda, a produção de alimentos não era uma tarefa<br />

marginal como o foi na plantação cubana. O escravo<br />

trabalhava para o amo e para si próprio.<br />

O ritmo de reprodução biológica do escravo era muito<br />

lento; em todo caso, menor que as necessidades de<br />

reposição de mão-de-obra. Na América espanhola não<br />

havia nada parecido com os criadores de escravos da<br />

Virgínia e Carolina do Sul (Estados Unidos) destinados à<br />

venda para plantações de algodão localizadas mais ao<br />

sudoeste. Pelo contrário: era notória a alta taxa de<br />

abortos provocados deliberadamente pelas mulheres<br />

escravas, ou então como consequência das duras<br />

condições de trabalho. Além disso, para o proprietário,<br />

uma mulher grávida era mão-de-obra forçada a trabalhar<br />

menos. Assim, para não perder os dias de trabalho, os<br />

amos preferiam que as mulheres abortassem.<br />

No geral, tendeu-se - e não somente nas colônias<br />

espanholas - a importar muito mais homens negros que<br />

mulheres, sendo o homem preferido por razões<br />

produtivas. No que se refere às crianças que nasciam, a<br />

enorme mortalidade existente nas plantações fazia com<br />

que somente 10% delas chegassem à idade adulta.<br />

5. SOCIEDADE NA AMÉRICA ESPANHOLA<br />

Óbvio está que os indígenas e os escravos africanos<br />

compunham a população marginalizada e sujeita à<br />

exploração dos grupos marginalizados na América<br />

Espanhola, enquadrados como força de trabalho para o<br />

enriquecimento da elite que aqui se constituiu.<br />

As estruturas sociais de hierarquização que se<br />

constituíram no território colonial espanhol nas<br />

Américas, reproduziu o domínio econômico vigente<br />

nessas áreas. Dentro dessa hierarquização, em diametral<br />

oposição aos escravos e indígenas, estavam os<br />

chapetones ou peninsulares, expressão usada para<br />

designar os brancos nascidos na Espanha que aqui<br />

ocupavam os principais postos da administração colonial.<br />

Aqueles que desses descendiam, nascidos aqui na<br />

América, constituíram os criollos, que representavam a<br />

elite econômica colonial, proprietários de minas, terras e<br />

escravos, mas destituídos das representações políticas<br />

dos altos postos administrativos. Sua ação política<br />

limitava-se ao exercício do poder local nos cabildos, o<br />

que justifica o papel importante que desempenharam nos<br />

processos posteriores de emancipação na América<br />

Espanhola.<br />

Em posições intermediarias, encontravam-se os<br />

mestiços, em sua maioria, resultantes da integração entre<br />

brancos e índios, atuantes em atividades intermediárias<br />

livres. Apesar da existência dos mestiços, a Coroa<br />

Espanhola empenhou-se densamente em evitar a<br />

miscigenação, adotando rígidas políticas de pureza de<br />

sangue.<br />

6. A CRISTIANIZAÇÃO DA AMÉRICA<br />

Um outro aspecto da ação espanhola que não pode ser<br />

esquecido: a cristianização do Novo Mundo. No contexto<br />

das expulsões de muçulmanos e judeus na Espanha, os<br />

reis Católicos, Isabel e Fernando, possuíam uma visão da<br />

232


unidade cristã. Os ibéricos, que por séculos haviam<br />

lutado contra os “infiéis”, tinham um fé militante, uma<br />

perspectiva guerreira e acreditavam que cumpriam um<br />

desígnio divino. Os espanhóis que vieram para a<br />

América eram marcados pelo desejo de obter bens e<br />

conquistas materiais, mas também tinham a missão de<br />

submeter os povos não-cristãos ao cristianismo.<br />

A Igreja atuou, quase sempre, ao lodo das autoridades<br />

civis e esforçou-se em criar dispositivos que pudessem<br />

garantir a conquista militar. As etapas de conquista e<br />

conversão não foram projetos conflitantes. As<br />

divergências localizavam-se em questões pontuais<br />

quanto ao modelo do projeto, mas não quanto aos<br />

objetivos.<br />

Parte das divergências entre os espanhóis referia-se a<br />

como estava sendo realizado o processo de catequização.<br />

Os colonizadores recebiam a incumbência de doutrinar<br />

os indígenas e fazer a defesa do reino. Muitas vezes esse<br />

processo significou a profunda violência, não apenas<br />

física, mas também interferiu nas crenças e valores dos<br />

grupos nativos. As ações para transformar os nativos em<br />

espanhóis cristãos foram intensas, mas se chocaram com<br />

a resistência por parte dos índios.<br />

No entanto, algumas estratégias de cristianização tiveram<br />

êxito, como, por exemplo, a transformação de um antigo<br />

local de culto a uma deusa asteca em um local cristão,<br />

graças ao culto difundido da Virgem de Guadalupe, a<br />

padroeira do México, que teria aparecido a um índio,<br />

Juan Diego, em 1542. Inicialmente as autoridades<br />

religiosas rejeitaram o episódio, mas posteriormente a<br />

história foi reconhecida pela Igreja e difundida entre os<br />

próprios indígenas, que tinham na Virgem de Guadalupe<br />

a demonstração do reconhecimento de que eles faziam<br />

parte do universo cristão. Os espanhóis também deram<br />

crédito à história, pois viam no episódio um sinal de que<br />

a cristianização estava acontecendo e eles estavam<br />

cumprindo seu papel.<br />

Por diversos caminhos, ibéricos e indígenas produziram<br />

suas próprias formas de convivência no Novo Mundo.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

O trabalho e a religião: questões culturais do mundo<br />

americano Os aspectos culturais indígenas são muito<br />

fortes dentro das sociedades hispano-americanas ainda<br />

hoje. A historiadora Janice Teodoro escreve sobre as<br />

estratégias de sobrevivência dos indígenas, que incluía a<br />

imitação e transformação da cultura. As populações<br />

indígenas da América, trabalhando para os europeus,<br />

procurava obedecer ao ritmo de vida na forma exigida<br />

pelos seus senhores. Nas missões os padres ensinavam as<br />

populações nativas a obedecer ao sino e a acompanhar os<br />

ofícios religiosos. A repetição de gestos em cerimônias<br />

religiosas e o longo processo de catequização favoreciam<br />

o aprendizado de novos costumes (…) Ao erguer novos<br />

palácios, ao construir igrejas, o indígena aprendia a<br />

imitar. Aprendia o ofício, tornava-se um bom artesão,<br />

sobrevivia. Sua conduta deveria sugerir sempre o<br />

abandono de seus ídolos e a crença absoluta em Deus.<br />

(…) Ocorre que para as culturas indígenas da América<br />

era possível incorporar outros deuses ao panteão sem<br />

excluir nada. O resultado desse conflito não é difícil de<br />

imaginar. Ocorreram sobrevivências culturais indígenas<br />

que permanecem encobertas nesse processo aparente de<br />

imitação dos costumes europeus. O indígena, enraizado<br />

em suas tradições politeístas, pode manter parte de seu<br />

patrimônio cultural, ao contrário do europeu, sempre a<br />

exclusão. (…) Contudo, o resultado não foi uma<br />

interação verdadeira, mas a manutenção de diversos<br />

planos sempre capazes de se adaptarem de acordo com as<br />

exigências do momento. (…)<br />

Fonte: THEODORO, J. Descobrimentos e<br />

Renascimento. São Paulo: Contexto, 1996; p. 51-52.<br />

Las Casas e a denúncia da destruição Na brevíssima<br />

Relação de Destruição das Índias, de 1542, o Frei<br />

Bartolomé de Las Casas denunciou a ação destruidora<br />

dos espanhóis. Nesse breve relato, ele responsabiliza o<br />

comandante da expedição à Guatemala. Os indígenas<br />

eram atraídos para os barcos, feitos prisioneiros e,<br />

depois, executados. Os espanhóis exigiam ouro, que os<br />

índios não tinham, já que a região não era área de<br />

extração. Vendo que apesar de se oferecerem como<br />

servos eram vitimados, decidiram enfrentar os espanhóis<br />

com uma defesa precária, sendo por eles derrotados. Eis<br />

o trecho final do relato de Las Casas: Oh, quanto órfãos<br />

foram feitos, quantos [o massacre] tirou de seus filhos,<br />

quantos privou de suas mulheres, quantas mulheres<br />

deixou sem maridos, quantos adultérios, estupros e<br />

violências causou! Quantos privou de sua liberdade, de<br />

quantas angústias e calamidades padeceu tanta gente!<br />

Quantas lágrimas fez derramar, quantos suspiros,<br />

quantos gemidos, quanta solidão nesta vida (…) e quanto<br />

castigo eterno causou na outra vida, não só ao índios, que<br />

foram infinitos, mas de infelizes cristãos de cujo<br />

consórcio se favoreceu de tantos insultos, gravíssimos<br />

pecados e abominações tão execráveis!<br />

Fonte: LAS CASAS, B. Tratados. México: FCE, 1997. v. I, p. 93.<br />

233


EXERCÍCIOS<br />

1. (Uel) A administração colonial hispânica estava<br />

centralizada de forma a permitir o controle da Coroa<br />

sobre seus territórios americanos. O órgão máximo da<br />

política administrativa colonizadora da Monarquia<br />

Espanhola era denominado<br />

a) Casa de Contratação.<br />

b) Audiência.<br />

c) Consulado.<br />

d) "Pueblo".<br />

e) Conselho Real e Supremo das Índias.<br />

(PITÁGORAS) O trecho a seguir é referência para as<br />

questões 2 e 3.<br />

Logo após a “descoberta” da América, o governo da<br />

Espanha começou a conquista para garantir a posse e a<br />

exploração das riquezas da região.<br />

2. (PITÁGORAS) Para garantir a posse de riquezas, o<br />

governo espanhol criou as capitulações.<br />

As capitulações eram:<br />

a) Acordos feitos com particulares para que estes<br />

cuidassem da conquista.<br />

b) Contratos feitos com os conquistados para evitar o<br />

contrabando de ouro.<br />

c) Acordos feitos com países da Europa para evitar o<br />

fim dos monopólios.<br />

d) Contratos entre espanhóis e nativos para<br />

regulamentar a exploração<br />

3. (PITÁGORAS) Para reafirmar a autoridade espanhola<br />

no continente, os espanhóis criaram os adelantados.<br />

Os adelantados eram:<br />

a) Contratos que permitiam uma exploração temporária<br />

no novo continente.<br />

b) Parceria entre governo espanhol e nativos rebelados<br />

contra a Espanha.<br />

c) Conquistadores espanhóis com a missão de dominar<br />

a região em nome da Coroa espanhola.<br />

d) Conquistadores espanhóis com a missão de<br />

fortalecer a escravidão na América espanhola.<br />

234<br />

4. (PITÁGORAS) Leia o trecho na seguir:<br />

POLÍTICA COLONIAL<br />

Nas colônias o poder dos adelantados foi eliminado com<br />

a formação dos Vice-Reinos e posteriormente dos<br />

Capitães gerais. O território colonial foi dividido em<br />

quatro Vice-Reinos -- Nova Espanha, Peru, Rio da Prata,<br />

e Nova Granada -- e posteriormente foi redividido,<br />

surgindo as Capitanias Gerais, áreas consideradas<br />

estratégicas ou não colonizadas. Os Vice-Reis eram<br />

nomeados pelo Conselho das Índias e possuíam amplos<br />

poderes, apesar de estarem sujeitos à fiscalização das<br />

Audiências.<br />

www.mundoeducacao.uol.br<br />

As Audiências eram tribunais superiores que<br />

a) exerciam funções de justiça.<br />

b) exerciam funções militares.<br />

c) exerciam funções fazendárias.<br />

d) regulamentavam o trabalho.<br />

5. (Unirio) A administração colonial na América<br />

Espanhola estava centralizada de forma a permitir o<br />

controle da Coroa sobre seus territórios americanos. O<br />

órgão representante da política administrativa<br />

colonizadora da Coroa Espanhola era a(o):<br />

a) Casa de Contratação.<br />

b) "Audiência".<br />

c) Consulado.<br />

d) "Pueblo".<br />

e) Conselho Real e Supremo das Índias.<br />

6. (Fuvest) "As aldeias de índios estão forçadas a<br />

entregar certa quantidade de seus membros aptos para<br />

realizar trabalhos (...), durante um prazo determinado.<br />

Esses índios são compensados com certa quantidade de<br />

dinheiro e destinados aos mais variados tipos de<br />

serviços."<br />

Esse trecho da obra de Sérgio Bagú, ECONOMIA DA<br />

SOCIEDADE COLONIAL, apresenta as condições de<br />

trabalho compulsório<br />

a) dos diversos grupos indígenas das áreas colonizadas<br />

por espanhóis e portugueses.<br />

b) dos grupos indígenas das áreas espanholas<br />

submetidos à instituição da "mita".


c) dos grupos indígenas das áreas portuguesas<br />

submetidas às regras da "guerra justa".<br />

d) dos grupos indígenas das áreas agrícolas de<br />

colonização espanhola submetidos ao regime de<br />

"encomienda".<br />

e) dos grupos indígenas das áreas portuguesas e<br />

espanholas originários das "missões" dos jesuítas.<br />

7. (Cesgranrio) Na América Colonial Espanhola, no<br />

século XVI, as populações nativas foram utilizadas em<br />

diversas relações de trabalho. Dentre essas, uma das mais<br />

rentáveis para a Coroa foi a que permitia aos espanhóis<br />

cobrarem tributos dos nativos em gêneros ou prestações<br />

de trabalhos nos campos. Essa forma de trabalho era<br />

denominada:<br />

a) "Mita".<br />

b) "Obrajes".<br />

c) "Cabildos".<br />

d) "Encomienda".<br />

e) "Ayuntamientos".<br />

8. (Fatec) "Em trezentos anos, a rica montanha de Potosí<br />

queimou (...) oito milhões de vidas. Os índios eram<br />

arrancados das comunidades agrícolas e empurrados,<br />

junto com suas mulheres e seus filhos, rumo às minas.<br />

De cada dez que iam aos altos páramos gelados, sete<br />

nunca regressavam. Luís Capoche, dono de minas e de<br />

engenhos, escreveu que os caminhos estavam tão<br />

cobertos que parecia que se mudava o reino. Nas<br />

comunidades, os indígenas viram voltar muitas mulheres<br />

aflitas, sem maridos, e muitos órfãos sem seus pais,<br />

sabiam que na mina esperavam mil mortes e desastres.<br />

Os espanhóis percorriam centenas de quilômetros em<br />

busca de mão-de-obra. Muitos dos índios morriam pelo<br />

caminho, antes de chegar a Potosí (...). A conquista<br />

rompeu as bases daquelas civilizações. Piores<br />

consequências do que o sangue e o fogo da guerra teve a<br />

implantação de uma economia mineira."<br />

(Galeano, E. VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA)<br />

De acordo com o texto, a forma de trabalho compulsório<br />

imposta aos indígenas era:<br />

a) "mita".<br />

b) "encomienda".<br />

c) corvéia.<br />

d) sesmarias.<br />

e) capitação.<br />

9. (UFRRJ) "1785 Cidade do México Sobre a Literatura<br />

de Ficção na Época Colonial<br />

O vice-rei do México, Matias de Gálvez, assina um novo<br />

decreto a favor dos trabalhadores índios. Receberão os<br />

índios salário justo; bons alimentos e assistência médica;<br />

e terão duas horas de descanso, ao meio dia, e poderão<br />

mudar de patrão quando quiserem."<br />

(GALEANO, Eduardo. "As Caras e as máscaras." Rio, Nova Fronteira, 1985.<br />

p.107.)<br />

O autor procura ironizar com o título dado ao texto as<br />

práticas desenvolvidas pelos espanhóis na América, já<br />

que<br />

a) os indígenas trabalhavam legalmente como escravos<br />

dos espanhóis sendo falsa a idéia de "salário justo" e<br />

"boas condições de vida e trabalho".<br />

b) apesar das várias legislações sobre o assunto,<br />

ocorria, na prática, uma super exploração do<br />

trabalho indígena sob os regimes da mita ou da<br />

encomienda.<br />

c) a situação dos indígenas americanos era, na época,<br />

bem melhor do que propunha o decreto do vice-rei<br />

do México pela pressão exercida a favor deles pela<br />

Igreja Católica.<br />

d) os indígenas não podiam nunca mudar de patrão pois<br />

este sempre fora o rei da Espanha, que não abria<br />

mão dessas prerrogativas.<br />

e) o decreto não tinha razão de ser, pois os indígenas<br />

mexicanos tinham sido completamente dizimados<br />

pela conquista e pelo trabalho de exploração mineral<br />

no século XVI.<br />

10. (UFMG) Leia estes trechos em que se trata das<br />

relações de trabalho nas colônias espanholas da América:<br />

I. As aldeias eram distribuídas entre os conquistadores,<br />

"que passavam a explorar-lhes o sobretrabalho sem,<br />

contudo, escravizar os índios. [...] podiam exigir tributos<br />

em gêneros [...] ou prestações de trabalho..." Os<br />

colonizadores deveriam, em contrapartida, defender as<br />

aldeias e evangelizar os índios.<br />

II. "Cada comunidade deveria fornecer, periodicamente,<br />

uma quantidade de trabalhadores para as atividades<br />

coloniais [principalmente nas minas]. [...] Pelo trabalho<br />

[...], os índios deveriam receber um salário, parte do qual<br />

obrigatoriamente em moeda (ou metal), a fim de que<br />

pudessem pagar o tributo régio."<br />

235


III. "Na hacienda praticou-se, largamente, o sistema de<br />

endividamento de trabalhadores, a fim de retê-los na<br />

propriedade. [...] o trabalhador recebia como salário um<br />

crédito na tienda de raya (onde retirava alimentos,<br />

roupas, etc.), além de um lote mínimo de subsistência."<br />

VAINFAS, Ronaldo. Economia e sociedade na América Espanhola. Rio de<br />

Janeiro: Graal, 1984. p. 61-4.<br />

Considerando-se as formas de exploração do trabalho<br />

indígena neles descritas, os trechos I, II e III referem-se,<br />

respectivamente, a<br />

a) peonaje, ejidos e plantation.<br />

b) ayllu, plantation e obrajes.<br />

c) encomienda, mita e peonaje.<br />

d) obrajes, ayllu e ejidos.<br />

11. (Uerj) Ao longo dos primeiros duzentos anos de<br />

dominação colonial, os espanhóis desenvolveram um<br />

setor mineiro que permitiu a manutenção da economia<br />

metropolitana (...). Os enclaves necessitavam de grande<br />

quantidade de mão-de-obra indígena que, recrutada por<br />

sorteio, era encaminhada periodicamente às minas,<br />

retornando a seguir às comunidades de origem para ser<br />

substituída por novos contingentes requisitados de igual<br />

maneira.<br />

(PINSKY, Jaime (coord.). <strong>História</strong> da América: através de textos. Campinas:<br />

Editora da Unicamp, 1986.)<br />

O texto acima descreve a seguinte forma de trabalho<br />

nativo utilizada pelos espanhóis na América:<br />

a) hacienda<br />

b) encomienda<br />

c) contratación<br />

d) repartimiento<br />

12. (Unicamp 2007) "Depois da conquista da América<br />

pelos espanhóis, ocorreu uma explosão populacional de<br />

gado, porcos, carneiros e cabras, os quais causaram<br />

grandes danos às plantações de milho indígenas, que não<br />

eram protegidas. As medidas tomadas pela população<br />

indígena eram, muitas vezes, ineficazes. Os<br />

conquistadores preferiam o gado. Bois e carneiros eram<br />

protegidos pela lei, pelos costumes e pelo sentimento<br />

espanhóis. As leis que protegiam a pecuária na Península<br />

Ibérica foram exportadas para o México e permitiam que<br />

o gado pastasse em propriedade alheia. Os animais<br />

236<br />

destruidores eram, afinal, propriedade dos vitoriosos; a<br />

agricultura, dos derrotados."<br />

(Adaptado de Kenneth Maxwell, Morte e sobrevivência. "Folha de S. Paulo",<br />

11/08/2002, Mais! p. 8.)<br />

a) Segundo o texto, por que a agricultura indígena foi<br />

prejudicada após a conquista da América?<br />

b) Indique dois outros efeitos da conquista da América<br />

sobre as populações indígenas.<br />

c) O que foi a "encomienda", utilizada pela colonização<br />

espanhola na América?<br />

13. (UNESP 2007) A conquista sanguinária da América<br />

espanhola é dominada por [uma] paixão frenética. Rio da<br />

Prata, Rio do Ouro, Castela do Ouro, Costa Rica, assim<br />

se batizavam as terras que os conquistadores<br />

desvendavam ao mundo...<br />

(Paulo Prado. Retrato do Brasil. 1928.)<br />

A “paixão frenética” da conquista da América a que se<br />

refere o autor está relacionada<br />

a) à irracionalidade da expansão comercial e marítima<br />

europeia, realizada sem conhecimentos tecnológicos<br />

adequados.<br />

b) às condições de crise econômica das populações<br />

nativas dominadas pelo império dos astecas e dos<br />

incas.<br />

c) à ação da burguesia espanhola que agiu<br />

isoladamente, dado o desinteresse do governo<br />

espanhol pelos territórios americanos.<br />

d) ao acordo entre banqueiros e sábios europeus para<br />

ampliar o conhecimento científico e facilitar a<br />

exploração econômica da região.<br />

e) ao esforço de solucionar a crise da economia<br />

europeia motivada pela escassez do meio circulante.<br />

14. (Puc-rio) A conquista e a colonização européias na<br />

América, entre os séculos XVI e XVIII, condicionaram a<br />

formação de sociedades coloniais diversas e particulares.<br />

Sobre tais sociedades podemos afirmar que:<br />

I - nas áreas de colonização espanhola, explorou-se,<br />

exclusivamente, a força de trabalho das populações<br />

ameríndias, sob a forma de relações servis, como a<br />

"mita" e a "encomienda".


II - nas áreas de colonização portuguesa, particularmente<br />

nas regiões destinadas ao fabrico do açúcar, foi<br />

empregada, em larga escala, a mão-de-obra escrava de<br />

negros africanos e/ou de indígenas locais.<br />

III - ao norte do litoral atlântico norte-americano, área de<br />

colonização inglesa, houve o estabelecimento de<br />

pequenas e médias propriedades, nas quais se utilizou<br />

tanto o trabalho livre quanto a servidão por contrato.<br />

IV - na região do Caribe, em áreas de colonização<br />

inglesa e francesa, assistiu-se à implantação da grande<br />

lavoura, voltada para a exportação e assentada no uso<br />

predominante da mão-de-obra de escravos africanos.<br />

Assinale a alternativa correta.<br />

a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.<br />

b) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.<br />

c) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.<br />

d) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.<br />

e) Todas as afirmativas estão corretas.<br />

15. (Uel 2007) Leia o texto a seguir: "A causa pela qual<br />

os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi<br />

unicamente não terem outra finalidade última senão o<br />

ouro, para enriquecer em pouco tempo, subindo de um<br />

salto a posições que absolutamente não convinham a<br />

suas pessoas; enfim, não foi senão sua avareza que<br />

causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e<br />

tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os<br />

índios acreditaram encontrar algum acolhimento<br />

favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que<br />

animais e como se fossem menos ainda que o<br />

excremento das ruas; e assim morreram, sem Fé e sem<br />

Sacramentos, tantos milhões de pessoas.[...]."<br />

Fonte: LAS CASAS, B. de. "O paraíso destruído". Tradução de Heraldo Barbuy.<br />

Porto Alegre: L & PM, 1985. p. 30.<br />

Com base no texto, é correto afirmar:<br />

a) Bartolomé de Las Casas voltou-se contra a Coroa<br />

Espanhola ao perceber que a conquista da América<br />

sufocaria as possibilidades de evangelização dos<br />

habitantes do novo continente.<br />

b) No episódio da conquista da América, o Frei<br />

Dominicano Bartolomé de Las Casas ficou<br />

conhecido como defensor incondicional dos índios,<br />

ao ressaltar a crueldade dos conquistadores.<br />

c) Os conquistadores da América hispânica e da<br />

portuguesa rechaçaram o discurso do Frei Las Casas<br />

por considerarem que seus pensamentos<br />

representavam os princípios da Igreja Católica,<br />

contrária à expansão territorial.<br />

d) O Frei Dominicano defendeu a dignidade e a<br />

liberdade dos indígenas até sua morte,<br />

transformando-se, assim, em ícone do livre-arbítrio<br />

nas Américas de colonização espanhola, portuguesa<br />

e inglesa.<br />

e) O discurso de Las Casas em defesa dos indígenas<br />

era uma das diversas estratégias de conquista, uma<br />

vez que ele representava nas colônias os interesses<br />

da Coroa Espanhola.<br />

16. (UFPR 2008) "O que podia acontecer a estes<br />

bárbaros mais conveniente ou mais saudável do que<br />

serem submetidos ao domínio daqueles cuja prudência,<br />

virtude e religião os converterão de bárbaros, tais que<br />

mal mereciam o nome de seres humanos, em homens<br />

civilizados o quanto podem ser, de facinorosos em<br />

probos, de ímpios e servos do demônio em cristãos e<br />

cultores da verdadeira religião? [...] E se recusarem o<br />

nosso domínio poderão ser coagidos pelas armas a<br />

aceitá-lo, e esta guerra será, como acima declaramos com<br />

autoridade de grandes filósofos e teólogos, justa pela lei<br />

da natureza, muito mais ainda do que a que fizeram os<br />

romanos para submeter a seu império todas as demais<br />

nações, assim como é melhor e mais certa a religião<br />

cristã do que a antiga dos romanos, sendo maior o que<br />

em engenho, prudência, humanidade, fortaleza de alma e<br />

de corpo e toda virtude os espanhóis fazem a estes<br />

homúnculos do que os antigos romanos faziam às outras<br />

nações."<br />

(As justas causas de guerra contra os índios, segundo o<br />

tratado de Demócrates Alter, de Juan Ginés de<br />

Sepúlveda. In: SUESS, Paul (coord.). "A conquista<br />

espiritual da América Espanhola". Petrópolis: Vozes,<br />

1992, p. 534-535.)<br />

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a<br />

conquista da América, é correto afirmar que Juan Ginés<br />

de Sepúlveda:<br />

a) ficou ao lado de Bartolomé de Las Casas na defesa<br />

dos índios da América, adotando uma posição<br />

fundada na teoria da desigualdade natural dos<br />

homens, que afirmava ser injusto os povos<br />

superiores escravizarem os inferiores.<br />

b) criticou o expansionismo espanhol na América com<br />

base na teologia cristã, que afirmava ser a<br />

escravidão um pequeno preço a pagar diante os<br />

237


enefícios da inserção do indígena na civilização<br />

europeia e, portanto, na comunidade cristã.<br />

c) traçou as diretrizes gerais do Estado espanhol em<br />

relação à política indigenista na América, na medida<br />

em que defendia a ideia de que caberia à igreja<br />

Católica, sob a supervisão da Coroa, promover a<br />

conversão dos conquistados para a religião cristã.<br />

d) defendeu a tese de que a Coroa Espanhola deveria<br />

estabelecer uma política centralizada em relação à<br />

conversão dos indígenas americanos, pois ficou<br />

incomodado com as narrativas das atrocidades<br />

cometidas pelos conquistadores espanhóis em<br />

relação aos incas e astecas.<br />

e) foi um representante do renascimento ibérico, na<br />

medida em que combina em seu pensamento<br />

elementos da teologia cristã e da filosofia da<br />

antiguidade greco-romana, dentre eles a idéia de<br />

guerra justa, justificando assim o domínio espanhol<br />

na América.<br />

17. (UFMG) "Quando, em 1556, os soberanos da<br />

Espanha proibiram o uso das palavras conquista e<br />

conquistadores em relação à América, elas<br />

desapareceram dos atos oficiais, mas ficaram nos fatos".<br />

(Romano, Ruggiero. REVOLUÇÕES. São Paulo. Ed. Três, 1974. v.2. n°16)<br />

Com respeito à colonização espanhola da América,<br />

INDIQUE<br />

a) Dois aspectos relativos à imposição de novas<br />

estruturas políticas nas colônias.<br />

b) Duas estratégias adotadas na organização econômica<br />

das colônias.<br />

c) Uma característica da estrutura religiosa imposta às<br />

colônias.<br />

18. (UFPR) Sobre a sociedade, a economia e a estrutura<br />

político-administrativa da América Espanhola Colonial,<br />

é correto afirmar que:<br />

(01) Entre os séculos XVI e XVIII, a Espanha<br />

estabeleceu um rígido controle da navegação e do<br />

comércio com suas colônias da América, instituindo a<br />

"Casa de Contratação" e os sistemas de "portos únicos" e<br />

de "frotas anuais".<br />

(02) Através da "mita" e da "encomienda", explorava-se<br />

a mão-de-obra indígena.<br />

238<br />

(04) Entre a minoria branca que constituía a população<br />

das colônias, havia os "chapetones" (brancos nascidos na<br />

Espanha) e o "criollos" (brancos nascidos na América).<br />

(08) A máquina burocrática era exclusivamente<br />

controlada pela Igreja.<br />

(16) No início do século XVIII, existiam quatro "Vice-<br />

Reinos" (Nova Espanha, Nova Castela, Nova Granada e<br />

Rio da Prata), sob o comando de Vice-Reis que<br />

concentravam muito poder.<br />

(32) Os "cabildos" ou "ayuntamientos" (câmaras<br />

municipais), de que faziam parte os Regedores,<br />

mantiveram viva a tradição de autogoverno, fator<br />

significativo quando se desencadeou o processo de<br />

independência.<br />

Soma = ( )<br />

19. (Fatec) A colonização espanhola:<br />

a) fundamentou-se na divisão da colônia em vicereinos<br />

diretamente ligados à Espanha, destacando-se<br />

a Casa de Contratação e o Conselho das Índias.<br />

b) utilizou quase que exclusivamente a mão-de-obra<br />

negra, devido ao fato de a população indígena ter<br />

sido dizimada durante a conquista.<br />

c) desenvolveu nas colônias uma produção<br />

diversificada, produzindo-se manufaturas na região<br />

setentrional e algodão na região meridional.<br />

d) baseou-se nas culturas tropicais de exportação, nos<br />

minifúndios e na mão-de-obra servil.<br />

e) criou uma organização administrativa centralizada<br />

com sede em Lima.<br />

20. (UFF) Durante o Renascimento, o Mundo Ibérico<br />

caracterizou-se por sua política de descobrimentos e de<br />

colonização do Novo Mundo. Sobre as relações coloniais<br />

na área de expansão espanhola no Novo Mundo, afirmase:<br />

I) A Casa de Contratación era uma entidade com sede<br />

em Sevilha que se encarregava de organizar o comércio<br />

na América e cobrar a parte real nas transações com<br />

metais preciosos (o quinto).<br />

II) O domínio espanhol sobre Portugal foi parte da<br />

política expansionista de Felipe II. III) A criação dos<br />

vice-reinos teve como um dos objetivos manter os<br />

colonizadores sob a direção metropolitana.


IV) A enorme extensão dos domínios da Espanha na<br />

América e a força dos interesses particulares dos colonos<br />

prejudicaram a política descentralizadora de Castela.<br />

As afirmativas que estão corretas são as indicadas por:<br />

a) I, II e III b) I e III c) I, III e IV<br />

d) I e IV e) II, III e IV<br />

21. (UFMG) Na Hispano-América Colonial, a<br />

administração municipal centralizou-se:<br />

a) nas intendências que, até o século XVIII,<br />

controlavam a vida dos funcionários da Coroa.<br />

b) nos Vice-Reinos, que se localizavam nas áreas de<br />

maior valor econômico.<br />

c) nas Audiências, verdadeiros tribunais judiciários,<br />

onde atuavam os ouvidores.<br />

d) nos Cabildos, que possuíam poderes legislativos e<br />

judiciários.<br />

e) nas Capitanias-Gerais, localizadas em territórios<br />

estrategicamente importantes.<br />

23. (UFPR) A empresa colonial espanhola na América<br />

teve na exploração dos metais preciosos sua principal<br />

base econômica.<br />

Aponte as principais implicações desse fato na prática<br />

econômica da Espanha.<br />

24. (Unesp) "Em uma esquematização levada ao<br />

extremo, pode-se dizer que os primeiros cento e<br />

cinqüenta anos da presença espanhola nas Américas<br />

foram marcados por grandes êxitos econômicos para a<br />

Coroa e para a minoria espanhola que participou<br />

diretamente da conquista, e pela destruição de grande<br />

parte da população indígena preexistente..."<br />

(Celso Furtado, FORMAÇÃO ECONÔMICA DA AMÉRICA LATINA.)<br />

a) A que principal atividade ligam-se "os grandes êxitos<br />

econômicos"?<br />

b) A que se deve "a destruição de grande parte da<br />

população indígena preexistente"?<br />

22. (UNIRIO-2000) “Ao longo dos duzentos primeiros<br />

anos de dominação colonial, os espanhóis desenvolveram<br />

um setor mineiro que permitiu a manutenção da<br />

economia metropolitana e da posição internacional<br />

espanhola em meio às demais nações da Europa<br />

ocidental. As primeiras descobertas ocorreram no<br />

México e no Peru, no curto período de vinte anos (1545-<br />

65). Os enclaves necessitavam de grande quantidade de<br />

mão-de-obra indígena, que, recrutada por sorteio, era<br />

encaminhada periodicamente às minas, retornando a<br />

seguir às comunidades de origem para ser substituída por<br />

novos contingentes requisitados de igual maneira.”<br />

(STANLEY, J. S. e STEIN, B. “A herança colonial na América Latina”. Rio de<br />

Janeiro, Paz e Terra, 1976, p.29-35)<br />

O texto nos remete a uma especificidade da economia<br />

colonial da América Espanhola, qual seja, a utilização<br />

em larga escala do trabalho compulsório indígena. A este<br />

respeito, atenda ao solicitado a seguir.<br />

a) Justifique a utilização, na América Hispânica, da mãode-obra<br />

indígena, preferencialmente, em relação à mãode-obra<br />

negra africana.<br />

b) Cite e explique duas formas de utilização da mão-deobra<br />

indígena na América Espanhola.<br />

25. (Uerj) Na Espanha, o fato de não possuir ascendentes<br />

judeus ou árabes constitui uma espécie de título de<br />

nobreza; na América, a cor da pele (mais ou menos<br />

branca) indica a posição social do indivíduo.<br />

(HUMBOLDT, A. von. "Ensaio político sobre o reino da Nova Espanha". 1807.<br />

Apud S. Stein & B. Stein. A HERANÇA COLONIAL DA AMÉRICA LATINA.<br />

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1 977.)<br />

O trecho acima demonstra que a conquista e a<br />

colonização da América hispânica possibilitaram a<br />

formação de uma sociedade hierarquizada, em que, além<br />

do "pureza de sangue" e da renda, a cor constituía-se em<br />

outro critério básico para o pertencimento à elite social.<br />

Nessa perspectiva, a sociedade do América colonial<br />

hispânica pode ser caracterizada pela:<br />

a) incorporação da nobreza ameríndia à elite peninsular<br />

e criolla<br />

b) proibição legal da miscigenação entre peninsulares e<br />

ameríndios<br />

c) impedimento à ascensão dos criollos aos altos<br />

cargos administrativos<br />

d) importância do clero ameríndio nas principais<br />

cidades mineiras e portuárias<br />

239


26. (Uerj) Uma comparação superficial entre as<br />

sociedades ibéricas e ibero-americanas por volta de 1700<br />

sugere que os ibéricos haviam logrado reproduzir no<br />

México, no altiplano andino e ao longo das costas<br />

brasileiras, uma réplica (pelo menos um simulacro) de<br />

suas próprias sociedades.<br />

(STANLEY, J. S. e STEIN, B. A Herança Colonial na América Latina. Rio de<br />

Janeiro, Paz e Terra, 1979.)<br />

a) Cite duas características da sociedade colonial da<br />

América portuguesa.<br />

b) Estabeleça uma diferença quanto à participação<br />

política dos "chapetones" e "criollos" nas colônias<br />

espanholas da América.<br />

240


GABARITO<br />

01.E<br />

02.A<br />

03.C<br />

04.A<br />

05.B<br />

06.B<br />

07.D<br />

08.A<br />

09.B<br />

10.C<br />

11.D<br />

12. Resposta: a) Segundo o professor Kenneth Maxwell,<br />

a expansão da criação de bois, porcos, carneiros e cabras<br />

acabou por destruir plantações de milho dos indígenas,<br />

<br />

as plantações aos vencidos.<br />

b) Perda da identidade cultural e decréscimo<br />

populacional indígena.<br />

c) Trabalho indígena em troca de proteção e<br />

catequização.<br />

13.E<br />

14. C<br />

15.B<br />

16.E<br />

17. Resposta: a) Divisão da América em vice-reinados e<br />

capitanias gerais e Implantação de audiências e de Casas<br />

de Contratação.<br />

b) Estruturação das colônias no modelo de exploração.<br />

c) Expansão do catolicismo.<br />

18.55<br />

19.A<br />

20.A<br />

21.D<br />

22. Resposta: a) Os espanhóis encontraram nas suas<br />

áreas de colonização na América, uma maior densidade<br />

demográfica com relação às populações indígenas, que já<br />

possuíam toda uma estrutura produtiva de exploração<br />

baseada no trabalho coletivo (a exemplo da mita), que<br />

foi aproveitada pelo colonizador hispânico bastando<br />

apenas sujeitá-la `a dominação e aos moldes das<br />

ambições econômicas da Europa.<br />

b) O colonizador espanhol utilizou-se da Mita e da<br />

Encomienda como forma de estabelecer a exploração dos<br />

nativos. Através da mita o colonizador europeu sujeita o<br />

nativo a uma forma de trabalho compulsório, utilizado<br />

geralmente nas áreas de mineração, e que consistia no<br />

recrutamento por sorteio da mão-de-obra entre as<br />

comunidades indígenas. Pelo fato desse recurso se valer<br />

de uma irrisória remuneração, os nativos muitas vezes,<br />

contraíam dívidas junto ao conquistador, fato este que<br />

determinava o estabelecimento de vínculos definitivos<br />

entre explorado e explorador. Pela encomienda - forma<br />

- onde um dignatário<br />

espanhol (o encomendero) recebia o controle sobre uma<br />

determinada comunidade indígena com a obrigação de<br />

protegê-la militarmente, educá-la e catequizá-la. Em<br />

troca, o encomendero poderia exigir da comunidade o<br />

pagamento de tributos na forma de trabalho ou em<br />

espécie.<br />

23. Resposta: O mercantilismo espanhol que apoiou-se<br />

no metalismo, desenvolveu um senso de prioridade pela<br />

busca e entesouramento de metais. A exploração de<br />

metais preciosos (ouro e prata) em território americano,<br />

permitiu o desenvolvimento de um processo de<br />

favorecimento econômico do Estado espanhol já no<br />

século XVI por conta das grandes quantidades desses<br />

metais extraídos de suas colônias na América. No<br />

entanto, a Espanha não priorizou dinamizar as atividades<br />

manufatureiras e mercantis em seu território colocandose<br />

sob a dependência, sobretudo da Inglaterra, tanto para<br />

o abastecimento metropolitano quanto colonial. As<br />

fragilidades econômicas da Espanha forçaram-na a abrir<br />

concessões feitas aos ingleses que, pelo Tratado de<br />

Utrecht de 1713, deu aos britânicos o direito de vender<br />

mercadorias sem respeitar as taxações aduaneiras - era o<br />

navio de permisso. Os ingleses ainda tiveram condições<br />

de vender , sob forma de monopólio, escravos africanos<br />

que fossem necessários - era o asiento, e através de seu<br />

cumprimento puderam penetrar em portos, estabelecer<br />

feitorias, além de introduzirem ilegalmente outras<br />

mercadorias<br />

24. Resposta: a) Os espanhóis beneficiaram-se da<br />

exploração colonial por conta da primazia e sucesso da<br />

extração de metais.<br />

b) No processo de dominação e conquista da América, os<br />

europeus combinaram vários elementos que<br />

possibilitaram a destruição das estruturas sociais locais.<br />

As armas de fogo (mosquetes, arcabuzes, pistolas e<br />

canhões ) proporcionavam uma vantagem tripla para o<br />

conquistador: permitiam combater à distância,<br />

241


provocavam ferimentos de morte ou inutilização do<br />

adversário, além de causarem terror psicológico<br />

acentuado por conta do espanto que o nativo<br />

demonstrava ao verificar o efeito da utilização desses<br />

instrumentos. O uso do cavalo deu ao conquistador<br />

grande mobilidade nos combates e despertava o temor no<br />

ameríndio já que o animal não era conhecido na<br />

América. Os espanhóis foram favorecidos também pela<br />

existência de lendas, crenças e superstições locais que<br />

chegavam a divinizar a figura dos conquistadores. A<br />

imposição da cristandade e valores europeus<br />

contribuíram para subjugar os nativos que, por serem<br />

considerados inferiores e “sem fé”, tiveram seus valores<br />

desprezados e alterados pelo conquistador. E, por fim, a<br />

proliferação de várias doenças como tifo, sarampo,<br />

varíola, febre, por exemplo, das quais os nativos não<br />

possuíam capacidade imunológica.<br />

25. C<br />

26. Resposta:<br />

a) A sociedade que se estabeleceu na colônia portuguesa<br />

mostrou-se aristocrática e patriarcal, utilizando-se do<br />

trabalho forçado predominantemente negro- africano.<br />

Valores religiosos centrados nas concepções da<br />

cristandade ocidental determinaram a conduta moralreligiosa<br />

da sociedade em questão.<br />

b) Aos chapetones, brancos nascidos no Reino, era<br />

permitido o acesso aos mais importantes cargos<br />

administrativos, militares e eclesiásticos coloniais. Aos<br />

criollos, embora constituíssem as aristocracias regionais<br />

no universo colonial, não lhes eram permitidos tais<br />

cargos. Tinham sua participação política restrita quase<br />

exclusivamente aos cabildos.<br />

242


COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA<br />

iniciaram a colonização da América em meio à expansão<br />

marítima e comercial. Isso não significou, porém, que os<br />

ingleses mostrassem desinteresse pelas terras<br />

americanas. Foi recorrente a atuação de piratas ou<br />

corsários ingleses na exploração de riquezas nas áreas<br />

americanas ibéricas. E tão logo terminaram a Guerra dos<br />

Cem Anos (1453) e a Guerra das Duas Rosas (1485), os<br />

monarcas da dinastia Tudor, cuja ascensão coincidiu com<br />

a implantação do absolutismo e o início da política<br />

econômica mercantilista, estimularam a ida de<br />

expedições à América do Norte.<br />

A tela "Descoberta do Mississipi" (1847), de William<br />

Powell, que está no Capitólio dos EUA, narra um<br />

acontecimento da história americana com uma<br />

perspectiva etnocêntrica.<br />

O retardo da sociedade inglesa em promover o pleno<br />

processo de centralização de seu Estado Nacional<br />

impediu a Inglaterra de empreender uma atividade<br />

ultramarina sistemática quando Portugal e Espanha<br />

Incentivados pelas riquezas orientais, buscaram a<br />

passagem do Noroeste que, ultrapassando o continente<br />

americano, permitisse chegar às Índias. Velejando ao<br />

longo do litoral da América do Norte, embarcações<br />

inglesas atingiram as águas geladas e cheias de icebergs<br />

do oceano Glacial Ártico ou penetraram em baías e rios<br />

americanos buscando uma rota para a Ásia. Atraídos pela<br />

revelação das riquezas encontradas pelos espanhóis,<br />

ingleses ou navegadores italianos, a serviço da Coroa<br />

inglesa, navegaram para a América autorizada a fundar<br />

243


estabelecimentos colonizadores nas terras que<br />

descobrissem.<br />

Com a ascensão da Rainha Elizabeth I ao poder, a<br />

crescente rivalidade com a Espanha de Filipe II,<br />

caracterizou-se pelo impulso dado à construção naval e<br />

ao comércio marítimo, envolvendo também a atividade<br />

corsária. Nesse contexto intensificaram-se as viagens<br />

inglesas ao Novo Mundo, seja para saquear as<br />

embarcações e colônias espanholas ou para em<br />

empreender lucrativo contrabando nas Antilhas, seja para<br />

começar a colonização.<br />

No entanto, a oficialidade de uma presença inglesa na<br />

América coincide com a permissão da rainha para que<br />

Walter Raleigh organizasse três sucessivas expedições à<br />

América do Norte, em 1584, 1585 e 1587. Essas<br />

expedições procuraram colonizar a Virgínia, nome dado<br />

à terra descoberta (Carolina do Norte), e à ilha de<br />

Roanoke, mas seus intentos não foram atingidos, devido,<br />

entre outras coisas, aos ataques dos indígenas aos<br />

colonizadores.<br />

O começo da guerra com a Espanha e a ameaça de<br />

invasão da Inglaterra, em parte afastada pela destruição<br />

da Invencível Armada (1588), paralisaram as atividades<br />

ultramarinas inglesas até ascensão da dinastia Stuart<br />

(1603). O impulso colonizador inglês seria retomado,<br />

portanto, no século XVII.<br />

No século XVII a Inglaterra vivia uma nova conjuntura<br />

favorável a uma ação colonizadora sistemática em<br />

territórios da América do Norte e das Antilhas. O<br />

poderio espanhol fora quebrado e a decadência dos<br />

Habsburgo de Madri contrastava com o desenvolvimento<br />

inglês. A burguesia e a monarquia inglesas dispunham de<br />

uma poderosa frota e abundavam os capitais privados<br />

acumulados, a fim de multiplicar-se mediante novos<br />

investimentos, como o comércio e a colonização em<br />

terras do ultramar.<br />

O primeiro monarca da dinastia Stuart, rei Jaime I<br />

autorizou o funcionamento da Companhia de Londres e<br />

da Companhia de Plymouth, cujos acionistas pertenciam<br />

à burguesia londrina e à de Plymouth. Por carta régia, a<br />

Companhia de Plymouth recebeu o monopólio do<br />

comércio e a colonização das terras localizadas entre a<br />

Flórida (ao sul) e o rio Potamac (ao norte), enquanto a<br />

Companhia de Londres teve direitos idênticos para os<br />

territórios situados entre Fear e Nova Iorque, em uma<br />

região que veio a ser conhecida como Nova Inglaterra.<br />

Tais medidas evidenciam um aspecto bastante peculiar<br />

da colonização inglesa, que se deu através das<br />

concessões de exploração a companhias privadas de<br />

comércio, contrastando com o que ocorreu nas regiões<br />

ibéricas, onde a presença do Estado se impôs de maneira<br />

mais intensa.<br />

A ação colonizadora da Companhia de Londres e da<br />

Companhia de Plymouth foi facilitada pela crise<br />

econômica e social que ocorria na Inglaterra no século<br />

XVII, quando da transição plena da economia feudal<br />

para a economia de mercado tipicamente capitalista. Essa<br />

mudança foi acelerada na zona rural com o cercamento<br />

dos campos (enclousure lands), mediante o qual se<br />

formaram as grandes propriedades individuais<br />

capitalistas; para isso, destruiu-se o modo de produção<br />

feudal mediante a abolição de terras comuns, dos<br />

sistemas parcelário e comunitário de cultivo, da servidão<br />

camponesa, introduzindo-se o trabalho assalariado e a<br />

produção para o mercado. Essas transformações<br />

implicaram a anulação dos preexistentes contratos de<br />

arrendamento para o cultivo da terra pelos camponeses,<br />

sendo estes expulsos dos lotes onde trabalhavam.<br />

Com isso, formava-se numeroso contingente<br />

populacional que, não encontrando trabalho no campo e<br />

nos centros urbanos, poderia ser atraído para a América,<br />

onde haveria facilidades para a obtenção de terras. Afinal<br />

de contas, as terras eram dos indígenas, que, não sendo<br />

cristãos, podiam ser expropriados, sem que isso fosse<br />

considerado pecado ou ilegal pelas leis inglesas.<br />

Entretanto, o grau de miséria dos camponeses era tal que<br />

não dispunham de recursos para o custeio da sua viagem.<br />

Por isso, a fim de viajar juntamente com a sua família,<br />

assinavam um contrato comprometendo-se a trabalhar,<br />

geralmente por sete anos, a fim de resgatar a dívida<br />

assumida com o seu transporte para a América. Era a<br />

chamada servidão por dívidas, que foi bastante<br />

generalizada nas Treze colônias e predominante na Nova<br />

Inglaterra. Segundo alguns autores, cerca de 70% dos<br />

imigrantes para as colônias foram na condição de servos<br />

por contrato.<br />

A servidão branca também ocorreu contra a vontade<br />

dos indivíduos. Nas próprias colônias muitos foram<br />

forçados a se tornar servos para não ser presos por<br />

dívidas ou então porque haviam sido condenados por<br />

delitos, como o furto e o desemprego ilegal. A servidão<br />

involuntária também foi imposta às “vítimas do rapto,<br />

geralmente as crianças de famílias muito pobres, e de<br />

condenados britânicos poupados à morte ou a sentenças<br />

muito longas de prisão (…) durante sete a quatorze anos,<br />

alguns por toda a vida”.<br />

244


Outra justificativa para o fluxo migratório contou ainda<br />

com famílias, geralmente burguesas ou nobres, que<br />

saíram da Inglaterra devido a perseguições movidas pelas<br />

autoridades aos opositores políticos e aos dissidentes<br />

religiosos: puritanos, presbiterianos, quakers, católicos,<br />

etc. Um dos episódios mais conhecidos desse tipo de<br />

colonizador foi o dos peregrinos do Mayflower que, a<br />

bordo do Mayflower, atingiram o litoral de<br />

Massachusetts, onde fundaram New Plymouth (1620):<br />

eram pouco mais de uma centena de puritanos que<br />

haviam partido de Plymouth, após obter uma concessão<br />

da Companhia de Londres. Embora a maioria dos<br />

colonos fosse de origem inglesa, as Treze Colônias<br />

receberam imigrantes irlandeses, escoceses, alemães e<br />

suíços, chegados principalmente no século XVIII. Como<br />

os demais, buscaram a América do Norte devido a<br />

perseguições político-religiosas em suas pátrias ou por<br />

causa de dificuldades econômicas.<br />

A imigração teve outra fonte na própria América: muitos<br />

colonos procederam das Antilhas, onde a consolidação<br />

da grande propriedade resultou na expropriação de<br />

muitos pequenos e médios proprietários, o que os levou a<br />

se deslocar para as Treze Colônias. A massa migratória<br />

foi engrossada ainda pelos escravos negros trazidos,<br />

sobretudo da costa oeste da África, desde o norte de<br />

Senegâmbia até o sul da Angola, os quais se converteram<br />

na mão-de-obra essencial à economia das colônias do<br />

sul.<br />

O crescimento tremendamente rápido da população é<br />

uma característica marcante da <strong>História</strong> Colonial.<br />

Excluindo os índios, havia 2.500 pessoas nas colônias<br />

em 1620; 114.000 em 1670; quase 300.000 em 1720; e<br />

acima de 2.500.000 (com cerca de 500.000 escravos<br />

negros) em 1775. E, nessa última data, cerca de um terço<br />

da população branca não era de origem inglesa.<br />

1. TIPOS DE COLÔNIA<br />

Como apresentado anteriormente, durante os séculos<br />

XVII e XVIII, milhares de ingleses, escoceses,<br />

irlandeses, alemães e holandeses deixaram suas terras<br />

natais e se dirigiram para a costa leste do território que<br />

hoje chamados de Estados Unidos da América,<br />

formando, naquela época, as chamadas Treze Colônias.<br />

Nas colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra,<br />

os colonizadores estabeleceu-se de forma diferenciada,<br />

com relação ao sul dos Estados Unidos e mesmo se<br />

comparados à América espanhola e portuguesa,<br />

prevalecendo à policultura em pequena propriedade<br />

familiar; o uso de mão-de-obra livre e atividades<br />

realizadas por artesãos e comerciantes. Essas colônias<br />

tinham, portanto, sua produção voltada para o mercado<br />

interno, pois dadas suas condições climáticas,<br />

localizavam-se em uma área que dificilmente poderia<br />

oferecer produtos diferentes do que a Inglaterra produzia.<br />

Nas colônias do sul, por outro lado, com clima mais<br />

quente, favorável à agricultura, predominaram as grandes<br />

propriedades monocultoras, com o uso de mão-de-obra<br />

negra escrava, com produção voltada para a exportação,<br />

sobretudo a de tabaco. A vinculação dos produtores das<br />

colônias do sul com a metrópole inglesa fez com que eles<br />

resistissem à ideia de separação política, pois supunham<br />

que deixariam de lucrar se perdessem seu mercado<br />

consumidor, a Inglaterra, que garantia seus lucros. Essa<br />

sociedade do sul dos atuais Estados Unidos caracterizouse<br />

por grandes desigualdades econômicas. Boa parte dos<br />

colonos do Norte fugiu da Europa devido à perseguição<br />

religiosa.<br />

A chegada dos puritanos (protestantes calvinistas) em<br />

1620, na região de Massachusetts, vindos ao navio<br />

Mayflower, é um episódio muito citado para explicar a<br />

importância da religião no processo de colonização<br />

inglês. Os ingleses, recém-chegados, afirmavam estarem<br />

cumprindo um desígnio divino de construir um novo país<br />

(daí o nome de Nova Inglaterra para as colônias do<br />

Norte), pois tinham “sido escolhidos por Deus para criar<br />

uma nova sociedade”. Nessa região, em virtude da<br />

dinâmica do povoamento e da economia que aí se<br />

estabeleceram, as colônias alcançaram maior autonomia<br />

em relação à Inglaterra, além de terem desenvolvido um<br />

importante mercado interno.<br />

Durante aproximadamente 150 anos, colonos e ingleses<br />

conviveram relativamente bem, sem grandes transtornos<br />

245


246<br />

entre colônia e metrópole. As colônias do norte<br />

prosperaram, em parte, pelo desinteresse da própria<br />

metrópole que, no século XVII, enfrentava disputas<br />

políticas internas. Com o passar do tempo, os<br />

descendentes dos imigrantes que se estabeleceram na<br />

América foram incrementando seus negócios, formando<br />

uma elite norte-americana, cujos anseios eram diferentes<br />

daqueles estabelecidos pela dominação colonial inglesa.<br />

Por essa razão, a Coroa adotou um controle mais<br />

rigoroso da colônia do século XVIII.<br />

Com a pacificação interna, a Inglaterra começou<br />

a estabelecer maior presença na colônia, para buscar<br />

mercados e também pela necessidade de demonstrar seu<br />

domínio. A partir de 1760, a Revolução Industrial em<br />

território britânico aumentou a produção industrial, o que<br />

consequentemente gerou a necessidade de maiores<br />

vendas ou, em outras palavras, de ampliação do mercado.<br />

A Inglaterra passou a ver sua colônia com outros olhos,<br />

considerando ser ela rica, já ter um mercado interno<br />

próspero e, portanto, ser um mercado promissor para os<br />

seus produtos, além de ser fornecedora de matériasprimas<br />

para as manufaturas e indústrias que<br />

proliferavam. Quando Londres tentou imitar Lisboa e<br />

Madrid, já era tarde demais, e o resultado foi um levante<br />

que deu origem a Independência das Treze Colônias e a<br />

formação dos Estados Unidos da América.<br />

2. SISTEMA ADMINISTRATIVO<br />

A maneira como se processou a colonização, resultante<br />

muito mais da ação de particulares que empreenderam o<br />

movimento colonizador, sendo mínima a interferência do<br />

Estado, contribuiu para a montagem da máquina políticoadministrativa<br />

mais simples do que a organização nas<br />

áreas coloniais ibéricas da América. Na América<br />

Colonial inglesa todas as colônias possuíam suas<br />

próprias autoridades, que funcionavam independentes<br />

uma das outras e teoricamente subordinadas diretamente<br />

à metrópole.<br />

Durante o período colonial três tipos de colônias se<br />

constituíram:<br />

As colônias de companhias de comércio, cujos<br />

habitantes possuíam seus direitos assegurados por uma<br />

carta real; geralmente atribuíam aos colonos o direito de<br />

escolher seus funcionários e demais autoridades<br />

coloniais; conhecidas também como colônias<br />

corporativas foram das primeiras a ser fundadas: Virginia<br />

e Massachusetts.<br />

As colônias de proprietários eram aquelas dadas<br />

em concessão a um indivíduo da nobreza ou da burguesia<br />

que, hereditariamente, assumia todos os direitos sobre o<br />

território doado e, livre de qualquer taxação,<br />

comprometia-se a organizar a colonização; oito colônias<br />

foram fundadas por proprietários: Maryland, New<br />

Hampshire, Nova Jérsei, Carolina do Norte, Carolina do<br />

Sul, Pensilvânia, Nova Iorque e Geórgia.<br />

“As colônias régias, também chamadas de colônias da<br />

Coroa, foram aquelas em que o rei assumiu o encargo de<br />

prosseguir o processo colonizador por desistência dos<br />

primeiros concessionários: o proprietário ou a companhia<br />

do comercio. A primeira colônia desse tipo foi Virginia.<br />

No século XVII e boa parte do século XVIII constituíram<br />

o tipo menos comum das Treze Colônias. As mudanças<br />

ocorridas na Inglaterra, com a implantação do<br />

parlamentarismo e o aceleramento do avanço do<br />

capitalismo implicaram nova política metropolitana para<br />

as colônias: as colônias da coroa passaram a constituir a<br />

maioria, com exceção de Maryland, Delaware,<br />

Connecticut e Rhode Island.<br />

Em cada colônia havia um governador, que era<br />

nomeado nas colônias da Coroa e nas de proprietários.<br />

Representante dos interesses metropolitanos dispunha de<br />

poderes amplos, inclusive o de vetar leis votadas pelas<br />

assembleias locais. Nas colônias das companhias de<br />

comercio, o governador era eleito pelos próprios colonos,<br />

geralmente com mandato de um ano e sem dispor do<br />

direito de veto. Cada colônia dispunha de um conselho<br />

ou câmara alta, cujos integrantes eram nomeados dentre


os colonos mais influentes ou ricos, a não ser em<br />

Massachusetts, Connecticut e Rhode Island, onde os<br />

conselheiros eram escolhidos por eleição. Funcionava<br />

como órgão assessor do governador para assuntos<br />

coloniais.<br />

As Treze Colônias tinham suas assembleias eleitas pelos<br />

homens livres, ou seja, os colonos que podiam votar ou<br />

ser votados. O critério para tal qualificação variava<br />

bastante: ser proprietário de terras, possuir determinada<br />

renda, pertencer a certa religião. Chamadas de<br />

Legislativa ou Câmara dos Representantes cabia-lhes<br />

elaborar as leis e fixar os impostos cobrados aos<br />

habitantes da colônia. A manutenção dessas atribuições<br />

durante a maior parte do período colonial contribuiu para<br />

reforçar os sentimentos de autogoverno dos colonos.<br />

Já no século XVIII, o abandono da política de<br />

Negligência Salutar pela metrópole implicou a<br />

aprovação de leis no Parlamento que fixaram tributos a<br />

ser cobrado aos colonos, o que provocou violenta reação<br />

das Treze Colônias.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

Comparações incômodas por que os Estados Unidos<br />

são tão ricos e nós não? Essa pergunta já provocou muita<br />

reflexão. Desde o século XIX a explicação dos norteamericanos<br />

para seu “sucesso” diante dos vizinhos da<br />

América hispânica e portuguesa foi clara: havia um<br />

“destino manifesto”, uma vocação dada por Deus a eles,<br />

um caminho claro de êxito em função de ser um “povo<br />

escolhido”. No Brasil sempre houve desconfiança sobre<br />

a ideia de um “destino manifesto que privilegiasse o<br />

governo de Washington”. Porém, muito curiosamente,<br />

criou-se aqui uma explicação tão fantasiosa como aquela.<br />

A riqueza deles e nossas mazelas decorriam de dois<br />

modelos históricos: as colônias de povoamento e as de<br />

exploração. As colônias de exploração seriam as ibéricas.<br />

As áreas colonizadas por Portugal e Espanha existiriam<br />

apenas para enriquecer as metrópoles. Nesse modelo, as<br />

pessoas sairiam da Europa apenas para enriquecer e<br />

retornar ao país de origem. A América ibérica seria um<br />

local para suportar um certo período, extrair o máximo e<br />

retornar à pátria europeia. Da mesma forma que<br />

aventureiros e degredados que enchiam nossas praias, o<br />

Estado ibérico também só tinha o interesse na exploração<br />

do Novo Mundo e obter os maiores lucros no menor<br />

prazo possível. Sobre portugueses e espanhóis corruptos<br />

e ambiciosos pairava um Estado igualmente corrupto e<br />

ambicioso. O escritor Manoel Bonfim consagrou, no<br />

início do século XX, a metáfora desse Estado: a coroa<br />

ibérica seria idêntica a um certo molusco que só possuía<br />

sistema para entrada e saída de alimentos. Estado sem<br />

cérebro, sem método, sem planejamento: apenas com<br />

aparelho digestivo-excretor – essa era a imagem<br />

consagrada do português que nos pariu. O oposto das<br />

colônias de exploração seriam as de povoamento. Para lá<br />

as pessoas iriam para morar definitivamente. A atitude<br />

não era predatória, mas preocupada com o<br />

desenvolvimento local. Isso explicaria o grande<br />

desenvolvimento das áreas anglo-saxônicas como os<br />

EUA. Famílias bem constituídas, pessoas de alto nível<br />

intelectual e sólida base religiosa: tais seriam os colonos<br />

que originaram o povo norte-americano. Há uma ideia<br />

associada a essa que versa sobre a qualidade dos colonos.<br />

Para as colônias de exploração, as metrópoles enviariam<br />

o “refugo”: aventureiros sem valor que chegariam aqui<br />

com olhos fixos no desejo de ascensão. As colônias de<br />

povoamento receberiam o que houvesse de melhor nas<br />

metrópoles, gente de valor que, perseguida na Europa,<br />

viria com seus bens e cultura para o Novo Mundo<br />

trazendo na bagagem apenas a honradez e a Bíblia.<br />

Pronto! A explicação é perfeita! Somos pobres porque<br />

fomos fundados pela escória da Europa! Os Estados<br />

Unidos são ricos porque tiveram o privilégio da<br />

colonização de alto nível da Inglaterra. Adoramos<br />

explicações polares: Deus e o diabo, povoamento e<br />

exploração, preto e branco. Os livros didáticos<br />

consagram isso e o bloco binário povoamentoexploração<br />

penetrou como um amplo e lógico conceito<br />

em muitos corações. Os EUA foram destinados por Deus<br />

ao sucesso e os latinos condenados ao fracasso pelo peso<br />

da origem histórica. Ambos deixavam de serem agentes<br />

históricos para serem submetidos ao peso insuperável da<br />

vontade divina e da carga do passado. (…) Não é,<br />

certamente, nessa explicação simplista de exploração e<br />

povoamento que encontraremos as respostas para as tão<br />

gritantes diferenças na América. Entender a<br />

especificidade das colônias inglesas na América do Norte<br />

significa falar da Inglaterra moderna.<br />

KARNAL, Leandro. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século<br />

XXI<br />

A Educação e a religião nas Treze Colônias<br />

A educação formal escolar adquiriu um caráter todo<br />

especial nas colônias. A existência de muitos<br />

protestantes colaborou para isso. Uma das origens da<br />

Reforma religiosa na Europa tinha sido a defesa da livre<br />

247


interpretação da Bíblia. Tal como Lutero traduzira a<br />

Bíblia para o alemão e os calvinistas para o francês em<br />

Genebra, os ingleses tinham várias versões do texto na<br />

sua língua, especialmente a famosa versão do rei James<br />

desde 1611. Essa preocupação levou a medidas bastante<br />

originais no contexto das colonizações da América. É<br />

certo que em toda a América espanhola houve um grande<br />

esforço em prol da educação formal. A Universidade do<br />

México havia sido fundada em 1553 e havia similares em<br />

Lima e em quase todos os grandes centros coloniais<br />

hispânicos. No entanto, um sistema tão organizado de<br />

escolas primárias e a preocupação de que todos<br />

aprendessem a ler e escrever é algo mais forte nas<br />

colônias protestantes do Norte.<br />

Em 1647, Massachusetts publica uma lei falando da<br />

obrigação de cada povoado com mais de cinquenta<br />

famílias em manter um professor. O texto dessa lei tornase<br />

interessante por suas justificativas:<br />

“Sendo um projeto principal de o Velho Satanás<br />

manter os homens distantes dos conhecimentos das<br />

Escrituras, como em tempos antigos quanto às tinham<br />

numa língua desconhecida (...) se decreta para tanto que<br />

toda municipalidade nesta jurisdição, depois que o<br />

Senhor tenha aumentado sua cifra para cinquenta<br />

famílias, dali em diante designará a um dentre seu povo<br />

para que ensine a todas as crianças que recorram a ele<br />

para ler e escrever, cujo salário será pago pelos pais, seja<br />

pelos amos dos meninos seja pelos habitantes em geral.”<br />

É importante notar que os documentos sobre educação<br />

nas colônias inglesas apresentam um caráter religioso,<br />

mas não clerical. As propostas são, na verdade, leigas. A<br />

educação será feita e paga por membros da comunidade.<br />

Um grupo que se pretendia eleito por Deus deveria<br />

voltar-se também para a educação superior. As<br />

instituições de caráter superior faziam parte dessa<br />

preocupação com a religião, já que se destinavam<br />

notadamente à formação de elementos para a direção<br />

religiosa das colônias. (…) Em todos os documentos<br />

sobre a educação há a mesma preocupação: o<br />

conhecimento das coisas relativas à religião. Do ensino<br />

primário ao superior, o conhecimento da Bíblia parece<br />

ter orientado todo o projeto educacional das colônias<br />

inglesas. (…)<br />

O grande interesse pela educação tornou então as 13<br />

colônias uma das regiões do mundo onde o índice de<br />

analfabetismo era dos mais baixos. Apesar das variações<br />

regionais (o sistema educacional na Nova Inglaterra era<br />

melhor do que em outras áreas) e raciais (poucos negros<br />

eram alfabetizados), as 13 colônias tinham um nível de<br />

educação formal bastante superior à realidade dos<br />

séculos XVII e XVIII, seja na Europa ou no restante da<br />

América. Ainda assim, é inegável que havia mais<br />

alfabetizados brancos homens e ricos do que mulheres,<br />

negros, indígenas e pobres. A situação religiosa da<br />

Inglaterra era marcada pela diversidade quando da<br />

colonização da América do Norte. Essa diversidade<br />

colaborou para o que chamamos de um pensamento mais<br />

“moderno” na Inglaterra e posteriormente, nas 13<br />

colônias. Imagine-se uma cidade no México colonial. Lá<br />

todos são católicos e só encontramos igrejas católicas.<br />

Em toda a colônia a missa é rezada com o mesmo ritual<br />

romano, na mesma língua e por um grupo que, em traços<br />

gerais, teve uma formação semelhante: os padres. Todo o<br />

ensino está nas mãos da Igreja e a noção de Deus é<br />

imposta como igual por toda a colônia. As diversidades<br />

são consideradas crime e heresia, punida com a<br />

Inquisição. Judeus e protestantes são queimados.<br />

O oposto ocorre nas aldeias e cidades das colônias<br />

inglesas. Aqui puritanos, lá batistas, mais adiante<br />

quakers, por vezes também católicos, além de uma<br />

infinidade de pequenas seitas protestantes também de<br />

outras partes da Europa. Unidade? Genericamente, todos<br />

acreditam em Jesus. Daí por diante o caleidoscópio muda<br />

de forma com grande variação. É natural também<br />

imaginar a dificuldade de absolutizar as posições<br />

religiosas desse universo. O confronto permanente com<br />

outras formas de crença obriga o crente ou a radicalizar<br />

suas posições (e, por vezes, isso aconteceu) ou a assumir<br />

de forma mais crítica sua fé. As posições protestantes<br />

têm outro efeito: a leitura individual da Bíblia. Em<br />

permanente processo de reciclagem pessoal das<br />

narrativas bíblicas, o protestante cria uma relação<br />

diferente com o sagrado. O institucional (a igreja<br />

estabelecida) diminui sua importância diante do pessoal.<br />

A importância de ler a Bíblia determina até, como vimos,<br />

um impulso educacional forte nas colônias. A igreja<br />

formal protestante é um apoio à salvação e não o canal<br />

insubstituível como no mundo católico.<br />

KARNAL, Leandro. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, p.<br />

47-51.<br />

248


REVOLUÇÃO INGLESA<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Para a história da Inglaterra, o século XVII é decisivo.<br />

Essa afirmação se relaciona com a ocorrência da<br />

Revolução Inglesa, representação da primeira grande<br />

manifestação de crise do sistema político da época<br />

moderna, identificado com o absolutismo. Como<br />

resultado final dos conflitos que se estenderam ao longo<br />

do século, o poder monárquico, severamente limitado,<br />

cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao Parlamento<br />

e instaurou-se o regime parlamentarista que permanece<br />

até hoje. O processo começou com a Revolução<br />

Puritana de 1640 e terminou com a Revolução<br />

Gloriosa de 1688. As duas fazem parte de um mesmo<br />

processo revolucionário, daí a denominação de<br />

Revolução Inglesa do século XVII e não Revoluções<br />

Inglesas.<br />

Ao final desse processo revolucionário, a Inglaterra criou<br />

as condições indispensáveis para a Revolução<br />

Industrial do século XVIII, reafirmando as condições<br />

necessárias para o avanço do capitalismo. A ascensão de<br />

novos grupos políticos ao poder e os interesses de<br />

emancipação da economia dos privilégios e monopólios<br />

do Estado foram determinantes para as consequências<br />

materiais na Inglaterra do século XVIII. Deve ser<br />

considerada a primeira revolução burguesa da história da<br />

Europa, antecipando em 150 anos a Revolução Francesa.<br />

2. ANTECEDENTES DO PROCESSO<br />

REVOLUCIONÁRIO<br />

A Inglaterra atingiu no século XVII notável<br />

desenvolvimento, favorecido pela monarquia absolutista.<br />

Os governos de Henrique VIII e Elizabeth I foram<br />

importantes na consolidação do processo de<br />

centralização política e no domínio político sobre a<br />

nobreza; afastaram a ingerência papal, ao promoverem a<br />

Reforma Anglicana, através da qual confiscaram bens da<br />

Igreja Católica, além de garantir a hegemonia sobre os<br />

tradicionais inimigos espanhóis.<br />

Tais condições em muito agradaram à burguesia, grande<br />

beneficiada do estímulo do Estado ao desenvolvimento<br />

do comércio, exploração colonial e fortalecimento naval<br />

para o incremento mercantil. A mercantilização das<br />

estruturas agrárias, seja no comércio direto de gêneros<br />

agrícolas, ou na produção da matéria prima à<br />

complementaridade das manufaturas, permitiu a<br />

configuração de novas formações sociais, que aos poucos<br />

evidenciou divergência de interesses com o Estado<br />

absolutista.<br />

A persistente intervenção estatal na economia passava a<br />

tornar-se incômoda, pois grande parte dos recursos do<br />

Estado vinham da negociação de monopólios, como<br />

aqueles instituídos sobre comércio exterior e produção de<br />

sal, sabão, alúmen, arenque e cerveja, que beneficiavam<br />

um pequeno grupo, a burguesia financeira. Prejudicavam<br />

consideravelmente setores em ascensão da burguesia<br />

comercial, desprovidos da liberdade para suas atividades,<br />

e os artesãos, que pagavam caro por alúmen e produtos<br />

indispensáveis a seu trabalho. Ao mesmo tempo, a<br />

garantia de privilégios às corporações de ofício impedia<br />

o aumento da produção industrial, pois eles limitavam a<br />

entrada de novos produtores nas áreas urbanas.<br />

Também no campo, outras questões delicadas de ordem<br />

econômica e social se impunham, agravando o quadro de<br />

tensões que culminaria no processo revolucionário. A<br />

alta de preços, decorrência do grande afluxo de metais<br />

preciosos da América à Europa, estimulou a produção<br />

agrícola e provocou um crescente processo de<br />

especulação sobre os valores da terra; a crescente<br />

expansão do consumo de alimentos e matérias-primas,<br />

como a lã, também contribuíram nesse processo de<br />

valorização das áreas rurais, que passaram a atrair a<br />

cobiça de grandes produtores rurais.<br />

Muitos proprietários foram beneficiados no aumento de<br />

suas posses através dos cercamentos, isto é, o esforço de<br />

transformar em propriedade privada as terras coletivas,<br />

devolutas ou sobre as quais havia uma posse precária, de<br />

usufruto especialmente dos camponeses pobres. . Tais<br />

ações expulsavam posseiros e criavam grandes<br />

propriedades, nas quais se investia capital para aumentar<br />

a produção. A decorrência social desse processo foi<br />

especialmente o processo de assalariamento de<br />

trabalhadores rurais, ou a migração de seus excedentes<br />

empobrecidos às cidades, agravando problemas como a<br />

mendicância, vadiagem e a violência nos centros<br />

urbanos. Quando o Estado se deu conta desses efeitos<br />

devastadores e objetivou preservar o equilíbrio social<br />

restringindo os cercamentos, atraiu contra si dois setores<br />

249


poderosos: a burguesia mercantil e a nobreza progressista<br />

rural, a gentry.<br />

No plano político, havia o conflito entre Rei e<br />

Parlamento. Instituído pela Carta Magna de 1215, o<br />

órgão deveria funcionar como instrumento de restrição à<br />

autoridade real e de representatividades dos grupos<br />

sociais ingleses. Com a ascensão e fortalecimento dos<br />

Tudor no poder, essas representatividades foram<br />

cooptadas pelos monarcas, de modo a garantir aos reis o<br />

pleno exercício de decisão e governo, pouco convocando<br />

o órgão parlamentar. No século XVII, com as novas<br />

configurações de ordem social, novos grupos passaram a<br />

exigir o fortalecimento de suas representatividades por<br />

meio do Parlamento, reclamando o direito dessa<br />

instituição de transpor o poder de direito para o exercício<br />

do poder de fato. O rei, especialmente com a ascensão<br />

dos Stuart, correu a legitimar seu poder, que era de fato,<br />

espelhando-se no modelo francês, que considerava o<br />

poder real de origem divina.<br />

A luta política amalgamou-se ainda ao campo religioso e<br />

os reis procuraram manipular a religião para aumentar<br />

seu poder. No século XVI, os Tudor haviam dado ênfase<br />

ao conteúdo protestante do anglicanismo, isto é, seu lado<br />

calvinista, favorecendo a burguesia comprometida com<br />

os benefícios da Reforma. Agora, a chegada dos Stuart<br />

ao poder permitiu ressaltar as estruturas católicas do<br />

anglicanismo, identificando-se com a aristocracia<br />

tradicional, contra a burguesia; claro, através do<br />

catolicismo era mais fácil justificar a origem divina do<br />

poder real. O Parlamento, dominado pela burguesia<br />

mercantil e a gentry, especialmente na Câmara dos<br />

Comuns, radicalizou suas posições e identificou-se com<br />

o puritanismo (forma mais radical do calvinismo), que<br />

rejeitava o anglicanismo.<br />

A Revolução Puritana foi o resultado da luta entre<br />

burguesia e realeza pelo controle político do país, como<br />

também o resultado de tensões religiosas entre o<br />

anglicanismo oficial e o puritanismo.<br />

1605 (pretendiam explodir Westminster durante um<br />

discurso do rei). Para tanto, constituíram-se os Tribunais<br />

Eclesiásticos, conduzida pelo arcebispo Laud, figura que<br />

se tornou bastante impopular. Muitos descontentes<br />

passaram a recorrer à emigração para a América.<br />

A oposição entre Rei e Parlamento ficou evidente a partir<br />

de 1610, quando o monarca, valendo-se de seus preceitos<br />

absolutistas, aumentou impostos e concedeu monopólios<br />

sobre diversos produtos a seus aliados; também<br />

divergiram quanto à ocupação da Irlanda, na qual o<br />

monarca visava reforçar uma ocupação feudal, que<br />

privilegiasse grupos aristocratas conservadores, enquanto<br />

setores da gentry e da burguesia, eram partidários de uma<br />

ocupação mercantil das terras. A política fiscal<br />

autoritária, repressão religiosa e a política externa de<br />

aproximação com a Espanha católica foram fatores de<br />

permanente desgaste na relação entre o primeiro monarca<br />

Stuart e o Parlamento.<br />

Após a sua morte em 1625, sobe ao trono seu filho<br />

Carlos I, que manteve a política autoritária e os<br />

mecanismos de repressão política e religiosa de seu pai.<br />

Aumentou os gastos com a Corte e buscou atrair a<br />

Câmara dos Pares através da concessão de privilégios<br />

aos nobres, além de impor medidas fiscais excessivas,<br />

como a obrigatoriedade dos súditos de concederem<br />

empréstimos à Coroa e a extensão do ship money,<br />

imposto antes restrito às zonas portuárias e agora<br />

estendido a todo o país. Em 1628, guerras no exterior o<br />

obrigam a convocar um Parlamento hostil, que lhe impõe<br />

a Petição dos Direitos. Os membros da casa exigiam o<br />

controle da política financeira, controle da convocação<br />

do Exército e regularidade na convocação do<br />

Parlamento, já que lhe negaram a aprovação de rendas<br />

fixas. Inicialmente o Rei se submeteu às medidas, mas<br />

logo após alcançar o financiamento necessário, dissolveu<br />

o Parlamento, que só voltaria a reunir-se em 1640, ano<br />

da Revolução.<br />

250<br />

3. DINASTIA STUART E A TENSÃO PRÉ-<br />

REVOLUCIONÁRIA<br />

Com a morte da Rainha Elizabeth em 1603, a ausência<br />

de herdeiros levou ao trono Jaime I, primeiro rei da<br />

Dinastia Stuart. No poder, se esforçou para reforçar seu<br />

poder pessoal e registrou um reforço na orientação<br />

católica da Igreja Anglicana, provocando reações dos<br />

puritanos. Em resposta, perseguiu seitas radicais e até os<br />

católicos, que organizaram a Conspiração da Pólvora em


Carlos I apoiou-se na Câmara Estrelada, tribunal ligado<br />

ao Conselho Privado do Rei. Dentre seus assessores,<br />

destacaram-se o Conde de Strafford e o arcebispo Laud,<br />

de Canterbury, responsáveis pela repressão violenta do<br />

período; cresceu a emigração para a América. Como a<br />

forma de enquadrar os dissidentes era a política religiosa,<br />

Carlos tentou uniformizar o reino, impondo o<br />

anglicanismo aos escoceses, calvinistas presbiterianos,<br />

em sua maioria, que se rebelaram e invadiram o norte<br />

inglês em 1640. O Rei, então, convocou o Parlamento<br />

em abril de 1640, na tentativa de aumentar impostos para<br />

a organização do Exército, para o qual o Parlamento<br />

voltou a exigir uma série de restrições ao poder real,<br />

levando o monarca a dissolvê-lo em seguida.<br />

Em novembro, mediante vexatória derrota das tropas<br />

inglesas para a Escócia, sem opções, o Rei viu-se forçado<br />

a convocar novamente o Parlamento. Foi o Longo<br />

Parlamento, pois se manteve até 1653.<br />

4. REVOLUÇÃO PURITANA 1640 - 1649<br />

O Parlamento aproveitou a ocasião para se impuser<br />

perante o rei. Destruiu a Câmara Estrelada. Strafford foi<br />

executado em 1641 e Laud, em 1645; o rei não poderia<br />

mais ter exército permanente e o Parlamento se reuniria a<br />

cada três anos independentemente de convocação real, a<br />

fim de conduzir a política tributária e religiosa. Acusou o<br />

rei de responsável pelo levante na Irlanda católica em<br />

1641 e lhe dirigiu a Grande Remonstrance<br />

(repreensão). Em janeiro de 1642, com o agravamento<br />

das tensões e críticas, o rei foi ao Parlamento e exigiu a<br />

prisão de cinco líderes oposicionistas, resultando em<br />

reação violenta, sustentada nas milícias urbanas<br />

convocadas em apoio ao Parlamento.<br />

Era o início de uma longa e sangrenta guerra civil, que<br />

opunha partidários do rei e representações do Parlamento<br />

inglês. O rei fez de Oxford seu quartel-general e<br />

convidou o príncipe Rupert para comandar cerca de 20<br />

000 homens do exército de cavaleiros, apoiado por<br />

aristocratas do oeste e norte, bem como burgueses<br />

inquietos com a desordem popular. Do lado oposto, no<br />

exército rebelde, Oliver Cromwell organizou em novo<br />

estilo de milícia do Parlamento, o new model army,<br />

composto, sobretudo por camponeses, com apoio da<br />

burguesia londrina e da gentry: a ascensão se dava não<br />

por nascimento, mas por merecimento, estimulando-se<br />

entre os soldados a participação em comitês que<br />

debatiam os problemas e prioridades da ação militar. Os<br />

cabeças redondas (porque não usavam perucas) foram<br />

decisivos na batalha final de Naseby, em 1645. Carlos I<br />

se refugiou na Escócia, foi preso e vendido pelo<br />

Parlamento escocês ao Parlamento inglês.<br />

O vazio de poder deixado pela vacância do trono inglês<br />

deu início a um longo e complexo conflito entre diversas<br />

facções políticas formadas durante o processo<br />

revolucionário. Criou-se novo problema: setores do<br />

Parlamento, achando oportuno o momento para um<br />

acordo vantajoso com a realeza, passaram a conspirar<br />

com o rei contra o exército, idealizando pôr em marcha a<br />

contrarrevolução. Grupos mais conservadores do<br />

Parlamento desejavam diminuir a influência do Exército,<br />

considerando a necessidade desmobilizá-lo ou enviá-lo<br />

para conter uma rebelião iniciada na Irlanda, de modo a<br />

retomar a ordem institucional.<br />

O Exército parlamentar estava organizado e influenciado<br />

por radicais, como os niveladores, que queriam evitar a<br />

desmobilização e o não pagamento dos salários, como<br />

pretendia o Parlamento. Aprofundou-se a diferença entre<br />

os grandes do exército e suas bases de niveladores, com<br />

projeto avançado para a época (extinção da Câmara dos<br />

Lordes, sufrágio universal masculino, livre comércio, fim<br />

dos monopólios, execução do Rei). Eles tentaram<br />

assumir o controle do exército em 1647 e o rei<br />

aproveitou para fugir de novo. Sob a iniciativa de Oliver<br />

Cromwell, o exército se reunificou, prendeu o rei e<br />

depurou o Parlamento. Foram presos 47 deputados e<br />

excluídos 96: era o Parlamento Coto (Rump). Carlos I foi<br />

decapitado em 30 de janeiro de 1649, a Câmara dos<br />

Lordes abolida e a República proclamada em 19 de maio.<br />

5. A REPÚBLICA DE CROMWELL (1649-<br />

1660)<br />

251


Após a execução do Rei, o comando da Nação recaiu<br />

sobre o líder da facção vitoriosa na guerra Oliver<br />

Cromwell, que submeteu o Parlamento e o próprio<br />

exército a uma nova depuração, tentando eliminar<br />

facções mais radicais como os levellers e diggers. Um<br />

Conselho de Estado, com 41 membros, passou a exercer<br />

o Poder Executivo, embora o poder estivesse de fato nas<br />

mãos e decisão de Cromwell; ele procurou eliminar a<br />

reação realista que, com apoio escocês, tentava pôr no<br />

trono Carlos II, filho de Carlos I; também eliminou os<br />

radicais do exército, com os líderes niveladores sendo<br />

executados; os escavadores, do movimento proletário<br />

rural que pretendia tomar terras do Estado, da nobreza e<br />

do clero anglicano, foram dizimados. Liquidado o<br />

movimento mais democrático dentro da Revolução<br />

Inglesa, os menos favorecidos ficaram sem esperanças e<br />

aderiram a movimentos religiosos radicais, como os<br />

ranters e os seekers.<br />

Em 1653, foi dissolvido o que restava do Longo<br />

Parlamento e uma nova Constituição deu a Cromwell o<br />

título de Lorde Protetor. Tinha poderes tão tirânicos<br />

quanto os da monarquia e, simbolicamente, o Parlamento<br />

oferecera-lhe a coroa, mas ele recusou, embora na prática<br />

governasse como um soberano e podia até fazer o<br />

sucessor.<br />

Deu grande contribuição ao avanço econômico inglês,<br />

quando em disputa com os rivais holandeses, buscou<br />

fortalecer o comércio exterior inglês, baixando o Ato de<br />

Navegação. Por meio dele, as mercadorias inglesas<br />

somente podiam entrar em portos ingleses em navios<br />

ingleses ou nas embarcações dos seus países de origem.<br />

Cromwell governou com rigidez e intolerância; ao<br />

morrer, em 1658, seu filho Richard Cromwell o<br />

substituiu, mas a sua falta de habilidade política<br />

dificultou e impediu sua continuidade no poder. O temos<br />

de novos conflitos pelos grupos conservadores e a<br />

possível emergência de novos grupos radicais gerou as<br />

condições necessárias para o retorno da Dinastia Stuart,<br />

restaurando a monarquia na Inglaterra.<br />

OLIVER CROMWELL, O MAL-AMADO<br />

Cromwell, herói ou tirano? O dicionário Petit Robert,<br />

que cita seu “poder ditatorial” e seu “fanatismo de uma<br />

crueldade particular”, decidiu. A história, contudo, ainda<br />

hesita, posto que o percurso desse puritano para derrubar<br />

a monarquia inglesa ilustra as ambiguidades de todo<br />

processo revolucionário.<br />

Por Bernard Cottret<br />

Na França, conhecemos Oliver Cromwell na escola.<br />

Porém, mais frequentemente durante uma aula de<br />

literatura francesa, e não, como se poderia esperar, em<br />

uma de história, é que se tem toda a dimensão do<br />

personagem. Vitor Hugo não dedicou, em 1827, uma de<br />

suas mais famosas peças de teatro ao revolucionário<br />

inglês do século XVII? Ao mencionar a “união fecunda<br />

do tipo grotesco com o tipo sublime” em seu prefácio, o<br />

dramaturgo francês fornecia elementos de uma longa<br />

meditação sobre o lugar dos grandes homens na história.<br />

Confrontada à queda do Império e à Restauração, a<br />

jovem geração romântica não podia deixar de estabelecer<br />

um paralelo incisivo entre Cromwell e Napoleão. No<br />

entanto, é preciso salientar que o Cromwell de Vitor<br />

Hugo nada mais é que um Napoleão Bonaparte que<br />

nunca se tornaria rei ou imperador. Ou seja, um monarca<br />

republicano.<br />

Em 1642, quando realizou uma revolução, a<br />

Inglaterra achava que se encaminharia para uma reforma<br />

religiosa. Em virtude de qual delírio os “cabeças<br />

redondas” puritanos, alimentados pelo relato bíblico,<br />

puderam confundir a esse ponto o Rio Tâmisa com o rio<br />

Jordão? Como alguns ingleses, contemporâneos de<br />

Cromwell, puderam acreditar que Jesus Cristo desceria<br />

do seu lugar, à direita do Pai, para dar à Grã-Bretanha o<br />

rei de que precisava?<br />

As Ilhas Britânicas conheceram nos anos de 1640<br />

uma terrível crise de crescimento. A Inglaterra, a Escócia<br />

e a Irlanda eram reinos separados. E, sob vários ângulos,<br />

antagônicos. Na falta de promover eficientemente a<br />

unificação dos três reinos, Carlos I tentou impor aos<br />

escoceses, presbiterianos, a conformidade religiosa com<br />

a Igreja anglicana. Mas Edimburgo levantou-se e os<br />

escoceses atravessaram o Rio Tweed, que separa os dois<br />

países. Diante da ameaça, o rei não teve outra saída<br />

senão convocar o Parlamento a contragosto.<br />

Os parlamentares pediam reformas. O rei os mandou<br />

embora uma primeira vez, mas precisou convocá-los<br />

novamente. A revolta dos católicos irlandeses dessa vez<br />

foi o estopim: os parlamentares dirigiram ao rei sua<br />

“Grande Remontrance” [Grande Repreensão] em<br />

novembro de 1641 e, menos de um ano mais tarde, a<br />

guerra civil estourou entre Carlos I e o Parlamento (no<br />

verão de 1642). Ninguém, nem mesmo Cromwell,<br />

pensava ainda em república. A revolução inscreveu-se<br />

252


primeiro na lógica abstrata da necessidade. Cromwell,<br />

em sua psicologia mais íntima, estava atento às<br />

mensagens de sua consciência. No processo<br />

revolucionário – do qual se tornou pouco a pouco um dos<br />

principais protagonistas –, ele decifrou o propósito<br />

providencial de Deus.<br />

Este escolheu Cromwell pelo menos tanto quanto<br />

Cromwell escolheu Deus. Esse Deus, evidentemente, era<br />

o senhor dos exércitos, o eterno Sabaoth. Mas era<br />

permitido perguntar-se se não era também o dos ingleses.<br />

Cromwell estava de acordo com seu tempo e encontrou<br />

na revolução o sentido de sua vocação. Deus o chamou e<br />

lhe concedeu a vitória contra seus inimigos – os<br />

monarquistas, os parlamentares “presbiterianos”, os<br />

escoceses e os irlandeses. O exército era sua única e<br />

verdadeira Igreja.<br />

Nascido em 1599, no leste da Inglaterra,<br />

Cromwell levou uma existência modesta de proprietário<br />

rural desencantado e falido. Lia a Bíblia e se interessava<br />

por cavalos: essa era sua única formação. Porém, o que é<br />

bom para os cavalos também pode ser bom para os<br />

homens. Quando a revolução estourou, ele organizou a<br />

cavalaria, cansado dos debates do Parlamento do qual<br />

participava desde 1640. Era um homem de ação,<br />

briguento, mais à vontade quando se tratava de dar<br />

ordens nos campos de batalha do que quando precisava<br />

discorrer na Câmara dos Comuns. Diferentemente de<br />

Napoleão, Cromwell tinha mais de 40 anos quando se<br />

tornou soldado. Ele queimou as etapas: capitão, coronel,<br />

e finalmente em 1644, tenente-general. Era<br />

oficiosamente o segundo comandante da New Model<br />

Army. Mas era o melhor, e isso começou a se saber.<br />

Como Napoleão, Cromwell se tornaria imperador?<br />

Quem sabe? Até lá, ainda era preciso ganhar muitas<br />

batalhas, fazer o processo do rei, proclamar a república...<br />

Sem esquecer-se de reprimir as cabeças quentes do<br />

exército e da revolução – eram frequentemente as<br />

mesmas – que podiam fazer tudo ir por água abaixo em<br />

razão de seu esquerdismo insensato.<br />

O Senhor Protetor da República<br />

Niveladores e escavadores, levellers e diggers,<br />

desejavam uma representação política mais justa e uma<br />

melhor distribuição das riquezas. Cromwell não estava<br />

de acordo. Como tantos outros, este revolucionário era,<br />

no fundo, um conservador.<br />

Levaram todo mundo. Em janeiro de 1649, Carlos I<br />

foi executado; em maio do mesmo ano, esmagaram os<br />

niveladores. A república seria conservadora, ou não<br />

seria. Aliás, a partir de dezembro de 1653, ela se tornou<br />

Protetorado. O Protetorado era uma ditadura provisória –<br />

como o são, em princípio, todas as ditaduras – mas que<br />

se inventou uma legitimidade dando-se, pela única vez<br />

na história inglesa, uma Constituição escrita. O “Senhor<br />

Protetor da República da Inglaterra, da Escócia e da<br />

Irlanda” não era ninguém mais que Cromwell.<br />

Pois é. Constituíram lhe um título sob medida?<br />

Cromwell tentou dar garantias para a opinião pública:<br />

convocou um primeiro Parlamento do Protetorado,<br />

depois um segundo, sem nunca conseguir chegar a um<br />

entendimento durável com esses homens que discorriam<br />

e o entediavam, clamando pela caça impiedosa aos<br />

blasfemadores, heréticos, alcoólicos e fornicadores com<br />

a mesma sanha.<br />

Era a retórica sem fundo da moral majority, sempre<br />

presente na Inglaterra. Cromwell estava desolado com<br />

tanta maldade e estreiteza de espírito, pretensamente a<br />

serviço do evangelho. Para Cromwell, mais valia<br />

convocar o cardeal franco-italiano Monsenhor Mazarin,<br />

o qual encantava literalmente Sua Alteza o Lorde<br />

Protetor. Este o convidou a tirar férias no país do<br />

pudding se a Fronde (guerra civil francesa, ocorrida entre<br />

1648 e 1653) persistisse e se reascendesse. E pediu como<br />

preço de seus serviços que (o pequeno) Luís XIV se<br />

dignasse a chamá-lo de “Senhor meu irmão”. O rei da<br />

França se limitaria a um pudico “Senhor Protetor”.<br />

Porém, com seu senso de grandeza inato, Luís XIV<br />

guardaria uma excelente imagem do revolucionário<br />

puritano que, revelaria ele, teria desejado “em segredo a<br />

qualidade de rei que recusava em público”. Em todo<br />

caso, a aliança franco-inglesa permitiria rechaçar os<br />

espanhóis. E lhes tomar a cidade de Dunquerque, inglesa<br />

e finalmente francesa em 1662.<br />

Cromwell morreu em setembro de 1658. A revolução<br />

sobreviveu-lhe apenas alguns meses, pois, em 1660, os<br />

Stuart subiram novamente ao trono. O Lorde Protetor foi,<br />

de acordo com o rótulo que lhe conferiu um adversário<br />

monarquista, Lorde Clarendon, um “bravo homem mau”.<br />

Nosso “protetor” tinha o coração mole e não deixava de<br />

derramar algumas lágrimas na companhia de um dos<br />

“entusiastas” que mandara encarcerar. Os quakers o<br />

seduziam e o exasperavam ao mesmo tempo. No fundo,<br />

Cromwell era partidário da tolerância. Muito mais,<br />

considerando-o como um todo, que a maioria de seus<br />

contemporâneos. Mas o homem da ordem se agitava<br />

253


assim que ameaçavam atingir a propriedade ou as<br />

instituições civis. Esse fervoroso cristão nunca admitiu o<br />

zelo daqueles que dividem – mas era de uma notável<br />

abertura teológica com os batistas ou com seus irmãos<br />

“independentes”, adeptos da autogestão das igrejas<br />

contra o sistema presbítero-sinodal dos reformados.<br />

Cromwell era incontestavelmente protestante. Como<br />

alguns outros, tinha muitas dificuldades para se encontrar<br />

em uma igreja; não esqueceu suas convicções quando se<br />

inflamou a favor dos vaudois1ou quando exigiu a<br />

readmissão dos judeus na Inglaterra, de onde foram<br />

expulsos em 1290. Certamente, ele não era tão<br />

compreensivo com os “papistas” irlandeses ou os<br />

anglicanos. O que não era de se espantar nesse século de<br />

ferro e de fogo.<br />

Fazer uma biografia de Cromwell, sem complacência,<br />

sem heroicização póstuma, sem culto aos santos, mesmo<br />

puritanos, é escrever uma historia da fé, muito mais do<br />

que doutrinas políticas e religiosas. É preciso reencontrar<br />

toda a verdade de um homem, de um destino, de uma fé<br />

e de uma época. Que outro objeto atribuir à história<br />

senão essa confluência entre a convicção e a ação?<br />

Bernard Cottret. Professor de história na Universidade de Versailhes - Saint-<br />

Quentin-en-Yvelines. Autor de "Cromwell. Paris: Fayard, 1992" e "Historie de<br />

l'Angleterre. Paris: tallandier, 2011"<br />

6. A RESTAURAÇÃO E A REVOLUÇÃO<br />

GLORIOSA<br />

Com apoio dos grupos conservadores, o Parlamento-<br />

Convenção proclamou Carlos II rei em 1660. Com<br />

poderes limitados, ele se aproximou de Luís XIV da<br />

França, tornando-se suspeito para o Parlamento. Uma<br />

onda contrarrevolucionária sobreveio favorecida por um<br />

Parlamento de Cavaleiros, composto por nobres realistas<br />

e anglicanos em sua maioria. O corpo de Cromwell foi<br />

desenterrado e pendurado na forca. O poeta Milton foi<br />

julgado e condenado. Carlos II baixou novos atos de<br />

navegação em favor do comércio inglês e sua ligação<br />

com Luís XIV levou-o a envolver-se na Guerra da<br />

Holanda. O Parlamento baixou então, em 1673, a Lei do<br />

Teste, pela qual todos os que exercessem função pública<br />

deveriam professar seu antianglicanismo. Surgiram dois<br />

partidos: os whigs, contra o rei e pró-Parlamento; os<br />

tories, defensores das prerrogativas reais.<br />

Com uma postura mais radical que a de seu antecessor,<br />

Jaime II, irmão de Carlos II, subiu ao trono mesmo sendo<br />

católico. Buscou restaurar abertamente o absolutismo e o<br />

catolicismo, punindo os revoltosos, aos quais negava o<br />

habeas-corpus. Indicou católicos para funções<br />

importantes do governo e garantiu privilégios fiscais aos<br />

adeptos dessa religião<br />

A tensão política gerada pela intransigência de Jaime II e<br />

a ameaça de uma nova guerra civil levaram parte da elite<br />

dominante e do clero anglicano a promover um golpe<br />

palaciano. Em 1688, o Parlamento convocou Maria<br />

Stuart, filha de Jaime II e mulher de Guilherme de<br />

Orange, governador das Províncias Unidas, para ocupar<br />

o trono. Foi um movimento pacífico. Jaime II refugiouse<br />

na França e um novo Parlamento proclamou<br />

Guilherme e Maria rei e rainha da Inglaterra. Era a<br />

Revolução Gloriosa.<br />

Os novos soberanos tiveram de aceitar a Declaração dos<br />

Direitos, baixada em 1689, que decretava: o rei não<br />

podia cancelar leis parlamentares e o Parlamento poderia<br />

dar o trono a quem lhe aprouvesse após a morte do rei;<br />

haveria reuniões parlamentares e eleições regulares; o<br />

Parlamento votaria o orçamento anual; inspetores<br />

controlariam as contas reais; católicos foram afastados da<br />

sucessão; a manutenção de um exército em tempo de paz<br />

foi considerada ilegal.<br />

Os ministros passaram a tomar as decisões, sob<br />

autoridade do lorde tesoureiro. Funcionários passaram a<br />

dirigir o Tesouro e, em época de guerra, orientavam a<br />

política interna e externa. Em 1694, formou-se o tripé<br />

fundamental para o desenvolvimento do país, com a<br />

criação do Banco da Inglaterra: o Parlamento, o Tesouro<br />

e o Banco.<br />

Abriam-se as condições para o avanço econômico que<br />

resultaria na Revolução Industrial. De um lado, uma<br />

revolução na agricultura através dos cercamentos que<br />

beneficiou a gentry. De outro, a expansão comercial e<br />

marítima garantida pelos Atos de Navegação, que<br />

atendiam aos interesses da burguesia mercantil. Assim se<br />

fez a Revolução Gloriosa, que assinalou a ascensão da<br />

burguesia ao controle total do Estado.<br />

EXERCÍCIOS<br />

1. (FGVRJ 2013) A Reforma, a despeito de sua<br />

hostilidade à magia, estimulara o espírito de profecia. A<br />

abolição dos intermediários entre o homem e a<br />

divindade, bem como a ênfase na consciência individual,<br />

deixavam Deus falar diretamente a seus eleitos. Era<br />

254


obrigação destes tornar conhecida a Sua mensagem. E<br />

Deus não fazia acepção de pessoas: preferia falar a John<br />

Knox do que à sua rainha, Maria Stuart da Escócia. O<br />

próprio Knox agradeceu a Deus ter-lhe dado o dom de<br />

profetizar, que assim estabelecia que ele era um homem<br />

de boa-fé.<br />

Na Inglaterra, as décadas revolucionárias deram ampla<br />

difusão ao que praticamente constituía uma profissão<br />

nova – a do profeta, quer na qualidade de intérprete dos<br />

astros, ou dos mitos populares tradicionais, ou, ainda, da<br />

Bíblia. HILL, Christopher, O mundo de ponta-cabeça. Ideias radicais durante a<br />

Revolução Inglesa de 1640. Trad. Renato Janine Ribeiro. São Paulo, Companhia<br />

das Letras, 1987, p. 103.<br />

O texto se refere ao ambiente político e religioso da<br />

Inglaterra no século XVII. A esse respeito é CORRETO<br />

afirmar:<br />

a) A insatisfação popular na Inglaterra era decorrente<br />

da perspectiva protestante de manter os sacerdotes<br />

como intermediários entre Deus e os homens.<br />

b) Os revolucionários basearam-se em princípios<br />

estritamente racionais e científicos, em uma nítida<br />

ruptura com as crenças e o profetismo da época.<br />

c) Apesar de todas as disputas religiosas dos séculos<br />

XVI e XVII, os monarcas ingleses mantiveram-se<br />

neutros, o que permitiu a preservação da monarquia.<br />

d) Para os revolucionários ingleses, Deus considerava<br />

apenas os parlamentares como pessoas aptas a<br />

transmitir a doutrina e indicar os caminhos da<br />

salvação.<br />

e) A movimentação revolucionária esteve vinculada<br />

aos conflitos religiosos decorrentes da chamada<br />

Reforma Protestante iniciada no século XVI.<br />

2. (Unesp 2012) A Revolução Puritana (1640) e a<br />

Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra<br />

do século XVII. Sobre o conjunto de suas realizações,<br />

pode-se dizer que<br />

a) determinaram o declínio da hegemonia inglesano<br />

comércio marítimo, pois os conflitos internos<br />

provocaram forte redução da produção e exportação<br />

de manufaturados.<br />

b) resultaram na vitória política dos projetos populares<br />

e radicais dos cavadores e dos niveladores, que<br />

defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos<br />

nobres.<br />

c) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com<br />

as disputas políticas e sociais, desembocaram na<br />

retomada do poder pelos católicos e em<br />

perseguições contra protestantes.<br />

d) geraram um Estado monárquico em que o poder real<br />

devia se submeter aos limites estabelecidos pela<br />

legislação e respeitar as decisões tomadas pelo<br />

Parlamento.<br />

e) precederam as revoluções sociais que, nos dois<br />

séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as<br />

colônias na América, provocando a ascensão política<br />

do proletariado industrial.<br />

3. (UPF 2012) A Revolução Inglesa de fins do século<br />

XVII pode ser considerada como a primeira revolução<br />

burguesa no continente Europeu. Sobre esta revolução é<br />

correto afirmar:<br />

a) O Parlamento e os monarcas tinham a mesma<br />

posição em relação à necessidade de impostos para a<br />

manutenção do Estado e a confiança de que o rei<br />

decidia sobre essa questão.<br />

b) Jaime I e Carlos I reorganizaram o Estado com seu<br />

comando forte e centralizador, deixando o legado da<br />

eficiência para os próximos monarcas.<br />

c) As condições econômicas e políticas estiveram<br />

estáveis durante o período pré-revolucionário.<br />

d) A Carta dos Direitos sagrou-se como documento de<br />

valor constitucional e foi aceita pelo casal<br />

Guilherme e Maria, novos monarcas por declaração<br />

do Parlamento.<br />

e) As divergências entre anglicanos e calvinistas foram<br />

um elemento essencial do processo revolucionário,<br />

que findou com a aceitação da mesma religião por<br />

todos.<br />

4. (Enem 2012) Que é ilegal a faculdade que se atribui à<br />

autoridade real para suspender as leis ou seu<br />

cumprimento.<br />

Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem<br />

o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa,<br />

ou em época e modo diferentes dos designados por ele<br />

próprio.<br />

Que é indispensável convocar com frequência os<br />

Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para<br />

corrigir, afirmar e conservar as leis.<br />

Declaração dos Direitos. Disponível em http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em:<br />

20 dez. 2011 (adaptado).<br />

255


No documento de 1689, identifica-se uma particularidade<br />

da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na<br />

Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime<br />

político que predominavam na Europa continental estão<br />

indicados, respectivamente, em:<br />

a) Redução da influência do papa — Teocracia.<br />

b) Limitação do poder do soberano —Absolutismo.<br />

c) Ampliação da dominação da nobreza —República.<br />

d) Expansão da força do presidente —<br />

Parlamentarismo.<br />

e) Restrição da competência do congresso —<br />

Presidencialismo.<br />

5. (UFU 2012) Entre os eventos que merecem destaque<br />

na consolidação do absolutismo inglês estão o embate<br />

entre os York e os Lancaster, na Guerra das Duas Rosas,<br />

o controle dos nobres por Henrique VII e, finalmente, as<br />

ações de Henrique VIII, que rompeu com o papa e<br />

fundou a Igreja Anglicana, mantida sob sua tutela. Com a<br />

morte de Henrique VIII e a ascensão de Elizabeth I, o<br />

absolutismo inglês conheceu seu período de maturidade.<br />

As ações de Elizabeth I e de seus sucessores, adotando<br />

medidas mercantilistas, criando companhias de<br />

comércio, dissolvendo o Parlamento, exigindo pensão<br />

vitalícia e criando taxas, marcaram acontecimentos que<br />

culminaram, décadas mais tarde, numa página da história<br />

da sociedade inglesa conhecida como Revolução<br />

Gloriosa. Neste cenário,<br />

a) a economia inglesa, diante da instabilidade política,<br />

teve um desenvolvimento irregular no século XIX,<br />

atrasando sua industrialização frente a outros países.<br />

b) a monarquia absolutista inglesa, reconhecendo suas<br />

limitações, tomou a iniciativa na criação do Bill of<br />

Rights, evitando novas guerras civis no país.<br />

c) as medidas absolutistas insuflaram questionamentos<br />

na sociedade inglesa, favorecendo mudanças e<br />

rupturas na estrutura política do país.<br />

d) as características absolutistas da monarquia inglesa a<br />

afastavam do modelo constitucional que, desde o<br />

final da Idade Média, predominava na Europa.<br />

6. (G1 - IFCE 2011) A Revolução Inglesa do século<br />

XVII foi um movimento com características religiosas,<br />

políticas, econômicas e sociais. Do ponto de vista<br />

institucional, ou seja, político, foi uma luta entre<br />

a) a burguesia e a nobreza progressista.<br />

b) o Parlamento e o Estado absolutista.<br />

c) os católicos e os anglicanos.<br />

d) a pequena burguesia mercantil e a alta burguesia<br />

industrial.<br />

e) a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.<br />

7. (UFV 2010) Sobre as Revoluções Inglesas do século<br />

XVII, é CORRETO afirmar que:<br />

a) Oliver Cromwell evitou a centralização do poder<br />

quando se tornou o Lorde Protetor da Inglaterra em<br />

1653, pois repudiava o poder absolutista.<br />

b) após a guerra civil da década de 1640, o rei Carlos I<br />

foi executado e a República na Inglaterra foi<br />

estabelecida temporariamente.<br />

c) Guilherme de Orange, um dos líderes do Exército<br />

Revolucionário que lutou na década de 1640 contra<br />

o poder absolutista do rei Carlos I, foi coroado como<br />

o novo rei inglês.<br />

d) a Revolução Gloriosa (1688) representou a ascensão<br />

ao poder dos grupos sociais mais radicais que<br />

aboliram a propriedade privada.<br />

8. (PUCRJ 2010) “Para o progresso do armamento<br />

marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />

proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />

segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />

mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />

ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />

Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />

América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />

pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />

por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />

com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />

poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />

lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />

seus bens e mercadorias [...]”.<br />

Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />

Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.<br />

Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />

inglês:<br />

a) estabelecia que todas as mercadorias<br />

comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />

transportadas por navios ingleses.<br />

b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />

a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />

presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />

256


c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />

privilegiada de intermediária comercial em nível<br />

mundial.<br />

d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />

expandia o Império, abrindo novos mercados<br />

internacionais ao seu excedente agrícola.<br />

e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />

manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />

dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />

preciosos no Reino inglês.<br />

9. (UECE 2008) Sobre as Revoluções Burguesas, são<br />

feitas as seguintes afirmações:<br />

I. Consolidam o liberalismo e marcam mudanças nas<br />

estruturas econômicas, políticas e sociais de suas<br />

respectivas sociedades.<br />

II. Têm como base a defesa do Antigo Regime e iniciam<br />

a transição do feudalismo para o capitalismo.<br />

III. Seus exemplos mais expressivos são: Revolução<br />

Inglesa (1644), Revolução Americana (1776) e<br />

Revolução Francesa (1789).<br />

Assinale o correto.<br />

a) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.<br />

b) Apenas as afirmações I e III são falsas.<br />

c) Apenas as afirmações II e III são falsas.<br />

d) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.<br />

e) ele representou uma fase de distensão entre a<br />

Inglaterra e as oposições irlandesas e escocesas.<br />

11. (UFSCar) As revoluções contra o poder absolutista<br />

dos reis atravessaram grande parte da história moderna<br />

da Europa. Houve, no entanto, diferenças entre as<br />

revoluções francesa e inglesa. Assinale a alternativa<br />

correta.<br />

a) Na França, a oposição ao absolutismo implicou, ao<br />

contrário do que ocorreu na Inglaterra, o<br />

estabelecimento de um regime republicano, mesmo<br />

que passageiro.<br />

b) A revolução inglesa, diferentemente da francesa,<br />

reivindicou os direitos do Parlamento contra o<br />

arbítrio real, expressos por documentos escritos que<br />

remontavam à Idade Média.<br />

c) A revolução inglesa, ao contrário da francesa,<br />

contou com o apoio popular na luta contra os reis<br />

absolutistas, desvinculando-se de disputas entre<br />

facções religiosas.<br />

d) A luta contra o absolutismo na França distinguiu-se<br />

do processo que se desenvolveu na Inglaterra pela<br />

violência e execução do monarca absolutista.<br />

e) A revolução francesa removeu os obstáculos<br />

impostos à economia pelo antigo regime,<br />

industrializando o país no século XVIII; na<br />

Inglaterra, ao contrário, a revolução conteve o<br />

crescimento econômico.<br />

10. (UFRGS 2008) Ao longo da Revolução Inglesa,<br />

ocorrida no século XVII, emergiu um regime<br />

republicano, que durou cerca de uma década, sob o<br />

comando de Oliver Cromwell, o "Lord Protector" da<br />

Inglaterra.<br />

Sobre esse período republicano, é correto afirmar<br />

a) a Inglaterra, enfraquecida pela transição de regime,<br />

ficou à mercê das demais potências europeias, às<br />

quais foi obrigada a conceder uma série de<br />

vantagens comerciais.<br />

b) Cromwell, no intuito de proteger a economia<br />

interna, elaborou diversas restrições comerciais que<br />

o colocaram em conflito direto com os holandeses.<br />

c) a morosidade com que Cromwell implantou sua<br />

política econômica contribuiu para a curta duração<br />

de seu governo.<br />

d) ele teve como particularidade o retrocesso do<br />

puritanismo religioso, característica marcante nos<br />

tempos do monarca Carlos I.<br />

12. (Mackenzie) A burguesia tinha como projeto político<br />

a defesa da propriedade privada e os camponeses<br />

defendiam a propriedade coletiva. Ambas as classes<br />

combatiam a ordem monárquica absolutista, que lutou<br />

pelos interesses da aristocracia que a sustentava. O<br />

principal ideólogo do pensamento burguês da época foi<br />

John Locke que afirmava: A preservação da propriedade<br />

é o grande e principal objetivo da união dos homens em<br />

comunidade, colocados sob governo.<br />

Assinale a alternativa que corresponde a essa etapa do<br />

processo de consolidação da burguesia.<br />

a) Revolução Francesa.<br />

b) Revolução Inglesa.<br />

c) Revolução Russa.<br />

d) Revolução Americana.<br />

e) Revolução Alemã.<br />

257


13. (UNESP) "... o período entre 1640 e 1660 viu a<br />

destruição de um tipo de Estado e a introdução de uma<br />

nova estrutura política, dentro da qual o capitalismo<br />

podia desenvolver-se livremente."<br />

(Christopher Hill , A Revolução Inglesa de 1640)<br />

O autor do texto está se referindo:<br />

a) à força da marinha inglesa, maior potência naval da<br />

Época Moderna.<br />

b) ao controle pela coroa inglesa de extensas áreas<br />

coloniais.<br />

c) ao fim da monarquia absolutista, com a crescente<br />

supremacia política do parlamento.<br />

d) ao desenvolvimento da indústria têxtil,<br />

especialmente dos produtos de lã.<br />

e) às disputas entre burguesia comercial e agrária, que<br />

caracterizaram o período.<br />

14. (UFMG) Durante a Revolução Inglesa, no século<br />

XVII, foi formado o Exército de Novo Tipo, liderado por<br />

Oliver Cromwell, de que participavam, além da classe<br />

mercantil, da gentry, dos pequenos proprietários<br />

camponeses e de trabalhadores urbanos, segmentos mais<br />

radicais, que defendiam reformas profundas no Estado<br />

inglês.<br />

É CORRETO afirmar que esses segmentos eram<br />

constituídos.<br />

a) pelos tories, que visavam ao fechamento do<br />

Parlamento e à instituição de um governo popular, e<br />

pelos whigs, defensores da abolição da propriedade<br />

privada.<br />

b) pelos levellers, que reivindicavam a democratização,<br />

a extensão do sufrágio e uma maior igualdade<br />

perante a lei, e pelos diggers, defensores da posse<br />

comum das terras.<br />

c) pelos landlords, que buscavam a implantação do<br />

sufrágio universal e a extensão do voto às mulheres,<br />

e pelos warlordists, que pregavam a luta armada do<br />

povo contra o Parlamento.<br />

d) pelos saint-simonistas, que defendiam o fim do<br />

sistema monárquico, e pelos owenistas, defensores<br />

da abolição da Câmara dos Lordes.<br />

15. (UFRRJ) Leia o texto a seguir, sobre algumas das<br />

razões que levaram à chamada Revolução Gloriosa, e<br />

responda à questão a seguir.<br />

Satisfeitos com a política de Carlos II contra a Holanda,<br />

os capitalistas ingleses não se sentiam entretanto<br />

contentes com a sua atitude, e ainda menos com a de<br />

Jaime II, em relação à França, que se transformara na<br />

mais temível concorrente da Inglaterra no comércio e nas<br />

colônias. (...) A luta econômica contra a França, a luta<br />

por uma religião mais adaptada ao espírito capitalista,<br />

provocaram a revolução de 1688.<br />

MOUSNIER, R. "<strong>História</strong> geral das civilizações". Os séculos XVI e XVII. São<br />

Paulo: Difel, 1973. v. 9 p.324.<br />

Sobre a Revolução Gloriosa de 1688/1689, pode‐se<br />

afirmar que ela<br />

a) representou a vitória de setores reacionários no<br />

espectro político inglês e o retorno à<br />

descentralização política típica do mundo medieval.<br />

b) significou, após a afirmação temporária de governos<br />

protestantes, um retorno à tradição britânica de<br />

governos católicos.<br />

c) foi o momento no qual o anglicanismo afirmou‐se<br />

definitivamente como religião de Estado na<br />

Inglaterra.<br />

d) representou uma derrota da teoria do direito divino e<br />

o triunfo da teoria do contrato entre o soberano e o<br />

povo.<br />

e) representou a vitória da teoria da separação dos três<br />

poderes e de um estado democrático baseado no<br />

sufrágio.<br />

16. (FATEC) O Bill of Rights estabeleceu limitações ao<br />

poder real na Inglaterra. Sobre essas limitações é<br />

CORRETO dizer que<br />

a) instituíram um ministério composto pela nobreza<br />

latifundiária e a burguesia urbana.<br />

b) instituíram o anglicanismo como religião oficial da<br />

Inglaterra e a tolerância a todos os cultos, o que foi<br />

confirmado pelo rei, apesar de ele ser católico<br />

extremado.<br />

c) combatiam a liberdade de imprensa, a liberdade<br />

individual e a propriedade privada.<br />

d) dispensavam a aprovação das Câmaras para o<br />

aumento de impostos.<br />

e) configuravam um conjunto de medidas que acabou<br />

por substituir a monarquia absoluta vigente por uma<br />

monarquia constitucional.<br />

258


17. (PUCCAMP) Os conflitos político-sociais do século<br />

XVII foram o meio pelo qual a Inglaterra<br />

a) transformou o Absolutismo de direito em<br />

Absolutismo de fato.<br />

b) promoveu a substituição do Estado liberal -<br />

capitalista pelo Estado Absolutista.<br />

c) organizou o Exército do Parlamento, conferindo<br />

postos de comando segundo o critério de origem<br />

familiar e não pelo merecimento militar.<br />

d) consolidou os interesses da nobreza agrária<br />

tradicional rompendo com os ideais da burguesia.<br />

e) diluiu os obstáculos para o avanço capitalista,<br />

marcando o início da desagregação do Absolutismo<br />

Monárquico.<br />

18. (UNESP 2012) A Revolução Puritana (1640) e a<br />

Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra<br />

do século XVII.<br />

Sobre o conjunto de suas realizações, pode-se dizer que<br />

a) determinaram o declínio da hegemonia inglesa no<br />

comércio marítimo, pois os conflitos internos<br />

provocaram forte redução da produção e exportação<br />

de manufaturados.<br />

b) resultaram na vitória política dos projetos populares<br />

e radicais dos cavadores e dos niveladores, que<br />

defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos<br />

nobres.<br />

c) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com<br />

as disputas políticas e sociais, desembocaram na<br />

retomada do poder pelos católicos e em<br />

perseguições contra protestantes.<br />

d) geraram um Estado monárquico em que o poder real<br />

devia se submeter aos limites estabelecidos pela<br />

legislação e respeitar as decisões tomadas pelo<br />

Parlamento.<br />

e) precederam as revoluções sociais que, nos dois<br />

séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as<br />

colônias na América, provocando a ascensão política<br />

do proletariado industrial.<br />

19. (UNICAMP - 2011) Na Inglaterra, por volta de<br />

1640, a monarquia dos Stuart era incapaz de continuar<br />

governando de maneira tradicional. Entre as forças<br />

sociais que não podiam mais ser contidas no velho<br />

quadro político, estavam aqueles que queriam obter<br />

dinheiro, como também aqueles que queriam adorar a<br />

Deus seguindo apenas suas próprias consciências, o que<br />

os levou a desafiar as instituições de uma sociedade<br />

hierarquicamente estratificada.<br />

(Adaptado de Christopher Hill, “Uma revolução burguesa?”. Revista Brasileira de<br />

<strong>História</strong>, São Paulo, vol. 4, nº 7, 1984, p. 10.)<br />

a) Conforme o texto, que valores se contrapunham à<br />

forma de governo tradicional na Inglaterra do século<br />

XVII?<br />

b) Quais foram as consequências da Revolução Inglesa<br />

para o quadro político do país?<br />

20. (PUC-RJ – 2010) “Para o progresso do armamento<br />

marítimo e da navegação, que sob a boa providência e<br />

proteção divina interessam tanto à prosperidade, à<br />

segurança e ao poderio deste reino [...], nenhuma<br />

mercadoria será importada ou exportada dos países,<br />

ilhas, plantações ou territórios pertencentes à Sua<br />

Majestade, ou em possessão de Sua Majestade, na Ásia,<br />

América e África, noutros navios senão nos que [...]<br />

pertencem a súditos ingleses [...] e que são comandados<br />

por um capitão inglês e tripulados por uma equipagem<br />

com três quartos de ingleses [...], nenhum estrangeiro [...]<br />

poderá exercer o ofício de mercador ou corretor num dos<br />

lugares supracitados, sob pena de confisco de todos os<br />

seus bens e mercadorias [...]”.<br />

(Segundo Ato de Navegação de 1660. In: Pierre Deyon. O mercantilismo. São<br />

Paulo: Perspectiva, 1973, p. 94-95.)<br />

Por meio do Ato de Navegação de 1660, o governo<br />

inglês:<br />

a) estabelecia que todas as mercadorias<br />

comercializadas por qualquer país europeu fossem<br />

transportadas por navios ingleses.<br />

b) monopolizava seu próprio comércio e impulsionava<br />

a indústria naval inglesa, aumentando ainda mais a<br />

presença da Inglaterra nos mares do mundo.<br />

c) enfrentava a poderosa França retirando-lhe a posição<br />

privilegiada de intermediária comercial em nível<br />

mundial.<br />

d) desenvolvia a sua marinha, incentivava a indústria,<br />

expandia o Império, abrindo novos mercados<br />

internacionais ao seu excedente agrícola.<br />

e) protegia os produtos ingleses, matérias-primas e<br />

manufaturados, que deveriam ter sua saída<br />

dificultada, de modo a gerar acúmulo de metais<br />

preciosos no Reino inglês.<br />

259


21. (PITÁGORAS) A caricatura holandesa de 1658,<br />

intitulada O Horrível Homem-Rabo, representa<br />

mercadores holandeses tentando cortar a cauda do Oliver<br />

Cromwell recheada de dinheiro.<br />

A partir da leitura dos elementos da gravura ao lado e da<br />

sua contextualização histórica, assinale a opção que<br />

melhor expressa o espírito da gravura.<br />

a) Diante da débil marinha mercante inglesa, a Holanda<br />

apropriava-se de parte do lucro obtido pela<br />

Inglaterra com o comércio internacional.<br />

b) Os atos ilícitos praticados durante o Protetorado de<br />

Cromwell tornaram o governo inglês refém de<br />

aproveitadores e chantagistas.<br />

c) Os Atos de Navegação promulgados por Cromwell<br />

prejudicaram o comércio holandês, fortalecendo a<br />

economia britânica.<br />

d) A pesada tributação imposta pelo governo britânico<br />

penalizava os comerciantes holandeses que<br />

dominavam o comércio inglês.<br />

22. (VUNESP) <strong>Geral</strong>d Winstanley, líder dos escavadores<br />

da Revolução Puritana na Inglaterra (1640-1660), definiu<br />

a sua época como aquela em que "o velho mundo está<br />

rodopiando como pergaminho no fogo". Embora os<br />

escavadores tenham sido vencidos, a Revolução Inglesa<br />

do século XVII trouxe mudanças significativas, dentre as<br />

quais destacam-se a<br />

a) instituição do sufrágio universal e a ampliação dos<br />

direitos das Assembleias populares.<br />

b) separação entre Estado e religião e a anexação das<br />

propriedades da Igreja Anglicana.<br />

c) liberação das colônias da Inglaterra e a proibição da<br />

exploração da mão-de-obra escrava.<br />

d) abolição dos domínios feudais e a afirmação da<br />

soberania do Parlamento.<br />

e) ampliação das relações internacionais e a concessão<br />

de liberdade à Irlanda.<br />

23. (FEI) A Revolução Gloriosa marca a passagem da<br />

monarquia absoluta para a monarquia limitada. Qual é o<br />

sentido dos adjetivos "gloriosa" para a revolução e<br />

"limitada" para a monarquia?<br />

24. (FGV 2009) A linha mais secular associa-se com os<br />

levellers e os diggers os quais, embora seus programas<br />

diferissem muito, ofereciam soluções políticas e sociais<br />

para os males terrenos.<br />

Tais grupos surgiram dos acalorados debates, realizados<br />

em Putney em 1647, entre oficiais do exército<br />

(favoráveis aos grandes comerciantes e donos das<br />

propriedades rurais) e os “agitadores”, que<br />

representavam as fileiras da tropa.<br />

George Rude, Ideologia e protesto popular. in Adhemar Marques et alli, <strong>História</strong><br />

contemporânea através de textos.<br />

No contexto das revoluções inglesas do século XVII, os<br />

levellers se constituíam em um grupo:<br />

a) moderado, ligados à pequena nobreza rural, e<br />

defensores da articulação entre os interesses do rei<br />

Carlos I e do Parlamento, além de reivindicarem o<br />

poder religioso para os presbiterianos.<br />

b) extremista, com representantes entre os camponeses<br />

sem terra, aliados aos presbiterianos, defensores de<br />

uma sociedade que abolisse a propriedade privada e<br />

o dízimo pago à Igreja Anglicana.<br />

c) moderado, ligados a médios proprietários rurais, e<br />

aliados ao Novo Modelo de Exército liderado por<br />

Oliver Cromwell, defendiam o controle sobre o<br />

poder real e ampliação do poder do Parlamento.<br />

d) radical, pertencentes à pequena burguesia urbana,<br />

que defendiam uma série de transformações sociais,<br />

como a restrição às grandes propriedades e<br />

separação entre Igreja e Estado.<br />

e) conciliador, formado pela grande burguesia urbana,<br />

aliados da gentry e dos independentes, eram<br />

defensores da ampliação do poder do Parlamento e<br />

da liberdade econômica.<br />

25. (ENEM 2012) Que é ilegal a faculdade que se atribui<br />

à autoridade real para suspender as leis ou seu<br />

cumprimento.<br />

Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem<br />

o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa,<br />

ou em época e modo diferentes dos designados por ele<br />

próprio.<br />

Que é indispensável convocar com frequência o<br />

Parlamento para satisfazer os agravos, assim como para<br />

corrigir, afirmar e conservar as leis.<br />

Declaração de Direitos. Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br. Acesso em:<br />

20/12/2011 – Adaptado.<br />

260


No documento de 1689, identifica-se uma particularidade<br />

da Inglaterra diante dos demais Estados europeus na<br />

Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime<br />

político que predominavam na Europa continental estão<br />

indicados, respectivamente, em:<br />

a) Redução da influência do papa – Teocracia.<br />

b) Limitação do poder do soberano – Absolutismo.<br />

c) Ampliação da dominação da nobreza – República.<br />

d) Expansão da força do presidente – Parlamentarismo.<br />

e) Restrição da competência do congresso –<br />

Presidencialismo.<br />

26. (FGV 2008) As idéias expressas nos excertos abaixo<br />

vieram a público na Inglaterra do século XVII,<br />

formuladas num documento fundamental da história do<br />

direito e do pensamento político; após lê-las e analisá-las<br />

atenciosamente, responda aos subitens da Questão.<br />

“Quando um cidadão inglês é preso, deve ele, nas vinte e<br />

quatro horas seguintes, receber a notificação escrita do<br />

delito que lhe é imputado.<br />

À exceção dos atos de alta traição ou de delitos<br />

excepcionalmente graves, qualquer pessoa presa pode<br />

obter sua liberdade provisória, através de fiança.<br />

[...]<br />

Todo oficial de justiça, magistrado ou carcereiro, que<br />

violar de qualquer maneira o “Habeas Corpus” deverá<br />

pagar 500 libras de indenização à parte lesada.”<br />

“Bill do Habeas Corpus” - 1679, in Mosca, Gaetano, “<strong>História</strong> das doutrinas<br />

políticas”<br />

a) Quais os fatos mais marcantes da vida social e política<br />

na Inglaterra no período em que tal documento foi<br />

elaborado?<br />

b) Depois da Guerra Civil (1646-1650), em que o rei<br />

Carlos I foi executado, como podemos caracterizar<br />

politicamente o período de governo do partido puritano<br />

de Oliver Cromwell e as suas relações com o Parlamento<br />

e a burguesia comercial?<br />

c) Explique o que foi a chamada Revolução Gloriosa de<br />

1689 e qual o seu significado para o poder dos reis, para<br />

o Parlamento e para as leis — como a do “Habeas<br />

Corpus” — que estabeleciam garantias individuais na<br />

Inglaterra.<br />

261


262<br />

GABARITO<br />

Resposta da questão 1:[E]<br />

Comentário da questão:<br />

As revoluções inglesas do século XVII ocorreram devido<br />

a uma mistura de interesses políticos e socioeconômicos,<br />

insuflados,em grande medida, pelas questões religiosas<br />

que atingiram a Inglaterra a partir de meados do século<br />

XVI. Em 1640, foram os puritanos (calvinistas ingleses)<br />

que lideraram a luta que levou à queda de Carlos I e à<br />

instalação da República de Cromwell. E em 1688 a<br />

reação à monarquia católica dos Stuart foi decisiva na<br />

aliança que possibilitou a Revolução Gloriosa que pôs<br />

fim ao absolutismo na Inglaterra.<br />

Resposta da questão 2:[D]<br />

Comentário da questão:<br />

As “Revoluções Inglesas”, do século XVII, foram as<br />

primeiras revoluções burguesas de caráter antiabsolutista<br />

na Europa. A Revolução Puritana derrubou a dinastia<br />

Stuart e implantou uma República Parlamentar, depois<br />

ditatorial, sob o comando de Oliver Cromwell, que<br />

reprimiu os movimentos populares e impulsionou o<br />

comércio inglês a partir do Ato de Navegação (1651).<br />

Com a Revolução Gloriosa, a burguesia inglesa se<br />

libertou do Estado absolutista definitivamente, que com<br />

seu permanente intervencionismo era uma barreira para<br />

um mais amplo acúmulo de capital. O novo rei,<br />

Guilherme de Orange se subordinou ao Bill of Rights.<br />

Dessa forma, a burguesia, aliada à aristocracia rural,<br />

passou a exercer diretamente o poder político através do<br />

Parlamento.<br />

Resposta da questão 3:[D]<br />

Comentário da questão:<br />

No século XVII a Inglaterra vivenciou duas revoluções:<br />

a Revolução Puritana, marcada pela Guerra Civil e pela<br />

decapitação do rei, e, no final do século, a Revolução<br />

Gloriosa, que extinguiu a dinastia Stuart e o absolutismo,<br />

sendo que o novo rei, Guilherme de Orange, teve de se<br />

submeter às imposições do Parlamento.<br />

Resposta da questão 4:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

A Declaração dos Direitos ou “Bill of Rights” foi um<br />

documento produzido com o desfecho da Revolução<br />

Gloriosa, que eliminou o absolutismo da Inglaterra e<br />

fortaleceu o papel do Parlamento enquanto instituição de<br />

governo no país.<br />

Resposta da questão 5:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

Depois da Revolução Puritana (1641-1649), as camadas<br />

populares não tiveram suas reivindicações atendidas pela<br />

República de Cromwell, que buscou atender<br />

principalmente reivindicações da burguesia puritana.<br />

Com a ascensão de Carlos II ao trono, em 1685, teve<br />

início uma tentativa de reimplantar no Reino Unido o<br />

absolutismo de fato e de direito. Divididos entre<br />

absolutistas e constitucionalistas, os parlamentares<br />

ingleses temiam uma nova guerra civil, pois sabiam que<br />

nenhum dos dois grupos conseguiria ter a confiança das<br />

camadas populares. A saída encontrada foi a destituição<br />

de Carlos II e a entronação de seu genro, Guilherme de<br />

Orange, mediante a aceitação da Bill of Rights<br />

(Declaração de Direitos), que limitava o poder real e<br />

instaurava na Inglaterra a Monarquia Constitucional<br />

Resposta da questão 6:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

A Revolução Inglesa (Puritana e Gloriosa) representou o<br />

choque entre as tendências absolutistas dos reis Stuart’s e<br />

o Parlamento, no qual havia o predomínio da ideologia<br />

burguesa, que pretendia manter o poder real limitado.<br />

Resposta da questão 7:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

Após um longo período de guerra civil na década de<br />

1640 (Revolução Puritana), foi instalada uma República<br />

na Inglaterra, liderada por Oliver Cromwell que apoiado<br />

pelo exército, se impôs sobre o Conselho de Estado<br />

(poder Executivo) e o Parlamento. Em 1653, sob o título<br />

de Lorde Protetor, transformou-se em ditador vitalício e<br />

hereditário.<br />

Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda<br />

existentes na Inglaterra foram eliminadas. As terras dos<br />

partidários do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas<br />

e vendidas aos produtores rurais. Legalizou-se a<br />

propriedade absoluta da terra e o cercamento dos campos


para produzir para o mercado. O liberalismo econômico<br />

entrava em vigor na prática. Porém, não foram atendidas<br />

reivindicações dos niveladores, segmento popular que<br />

apoiou Cromwell e assim chamado porque, segundo seus<br />

adversários, porque pretendiam nivelar as condições<br />

sociais, exigindo a completa liberdade religiosa e a<br />

igualdade de todos perante a lei.<br />

Resposta da questão 8:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

A afirmativa (A) está incorreta, pois o Ato de Navegação<br />

estabelecia regras para as mercadorias comercializadas<br />

com a Inglaterra;<br />

A afirmativa (C) está incorreta, pois o enfrentamento<br />

militar foi com a Holanda, e não com a França;<br />

A afirmativa (D) está incorreta, pois o Ato de Navegação<br />

promoveu a abertura de mercados aos produtos<br />

manufaturados ingleses;<br />

A afirmativa (E) está incorreta, pois estimulava e não<br />

dificultava a exportação dos manufaturados ingleses.<br />

Resposta da questão 13: [C]<br />

c) Ao fim da monarquia absolutista, com a crescente<br />

supremacia política do parlamento.<br />

Comentário da questão:<br />

O Parlamento passou a uma liderança no governo da<br />

Inglaterra, com a deposição dos Stuarts e a promulgação<br />

do Bill of Rights, que transferiu o poder executivo para o<br />

Parlamento.<br />

Resposta da questão 14: [B]<br />

b) pelos levellers, que reivindicavam a democratização, a<br />

extensão do sufrágio e uma maior igualdade perante a<br />

lei, e pelos diggers, defensores da posse comum das<br />

terras.<br />

Comentário da questão:<br />

Esses movimentos representavam os seguimentos sociais<br />

populares que reivindicavam uma demonstração do<br />

poder tanto político como econômico.<br />

Resposta da questão 9:[D]<br />

Resposta da questão 10:[B]<br />

Resposta da questão 11: [B]<br />

b) A revolução inglesa, diferentemente da francesa,<br />

reivindicou os direitos do Parlamento contra o arbítrio<br />

real, expressos por documentos escritos que remontavam<br />

à Idade Média.<br />

Comentário da questão:<br />

A política e a sociedade inglesa sempre exigiram dos reis<br />

direitos que desde a Baixa Idade Média restringiam seus<br />

poderes. Exemplo dessa situação foi a promulgação da<br />

Magna Carta no século XIII.<br />

Resposta da questão 12: [B]<br />

b) Revolução Inglesa.<br />

Comentário da questão:<br />

A primeira revolução de caráter burguesa ocorreu na<br />

Inglaterra, quando aquela classe decidiu reagir contra as<br />

pretensões absolutistas dos Stuarts.<br />

resposta da questão 15: [D]<br />

d) representou uma derrota da teoria do direito divino e o<br />

triunfo da teoria do contrato entre o soberano e o povo.<br />

Comentário da questão:<br />

A influência da teoria do Contrato Direito Civil de John<br />

Locke foi o referencial para a derrubada do direito divino<br />

dos reis na Inglaterra do século XVII.<br />

Resposta da questão 16: [E]<br />

e) configuravam um conjunto de medidas que acabou por<br />

substituir a monarquia absoluta vigente por uma<br />

monarquia constitucional.<br />

Comentário da questão:<br />

A afirmação caracteriza o significado do documento<br />

emitido para restringir o poder dos reis ao final do século<br />

XVII.<br />

Resposta da questão 17: [E]<br />

e) diluiu os obstáculos para o avanço capitalista,<br />

marcando o início da desagregação do Absolutismo<br />

Monárquico.<br />

263


Comentário da questão:<br />

Esses conflitos enfraqueceram a monarquia absolutista à<br />

mediada que os interesses da sociedade não eram<br />

compatíveis com os interesses dos Stuarts.<br />

sangue: por outro lado, a monarquia é qualificada de<br />

"limitada" porque, ao promulgar o Bill of Rights de<br />

1689, o Parlamento se sobrepôs definitivamente ao poder<br />

real, dando origem à máxima inglesa de que "o rei reina<br />

mas não governa".<br />

Resposta da questão 18:[D]<br />

Comentário da questão:<br />

A Revolução Puritana derrubou a dinastia Stuart e<br />

implantou uma República Parlamentar, depois ditatorial,<br />

sob o comando de Oliver Cromwell, que reprimiu os<br />

movimentos populares e impulsionou o comércio inglês<br />

a partir do Ato de Navegação (1651). Com a Revolução<br />

Gloriosa, a burguesia inglesa se libertava do Estado<br />

absolutista definitivamente, que com seu permanente<br />

intervencionismo era uma barreira para um mais amplo<br />

acúmulo de capital. O novo rei, Guilherme de Orange se<br />

subordinou ao Bill of Rights. Dessa forma a burguesia,<br />

aliada a aristocracia rural, passou a exercer diretamente o<br />

poder político através do Parlamento.<br />

Resposta da questão 19:<br />

a) De acordo com o texto de Christopher Hill, os valores<br />

que inspiravam a oposição à tradicional monarquia<br />

inglesa dos Stuart eram: “a busca por dinheiro”, que<br />

caracterizava as práticas capitalistas da burguesia<br />

mercantil, e a adoração a Deus baseada no<br />

individualismo e na livre interpretação da Bíblia típica,<br />

de alguns grupos protestantes, como os puritanos.<br />

b) A Revolução Inglesa transforma em definitivo a<br />

estrutura política do país, na medida em que converte-o<br />

em uma monarquia parlamentar, em que o poder<br />

legislativo estaria sob controle de representantes eleitos,<br />

fortemente influenciados por interesses da ascendente<br />

burguesia, e as atribuições do monarca e os direitos dos<br />

cidadãos estariam definidos em uma Constituição, a “Bill<br />

of Rights”.<br />

Resposta da questão 20: [B]<br />

Resposta da questão 21:[C]<br />

Resposta da questão 22: [D]<br />

Resposta da questão 23:<br />

A Revolução Gloriosa de 1688 é adjetivada de "gloriosa"<br />

porque, além de depor o último rei absolutista da dinastia<br />

Stuart (Jaime II), não provocou derramamento de<br />

Resposta da questão 24:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

Os chamados levellers ou “niveladores” constituíam um<br />

grupo político revolucionário inglês do século XVII,<br />

formado principalmente por representantes das camadas<br />

médias (médios proprietários de terra e baixa burguesia).<br />

Tinham como principal liderança John Lilburne (tenentecoronel<br />

do exército parlamentar). Participaram da<br />

Revolução Puritana, apoiando o exército de modelo novo<br />

liderado por Oliver Cromwell que, em nome do<br />

Parlamento, enfrentava o absolutismo Stuart.<br />

Reivindicavam o sufrágio universal, a abolição do<br />

dízimo, o fim dos monopólios, as reformas jurídicas, o<br />

fim dos cercamentos e a liberdade religiosa.<br />

Embora algumas de suas lideranças tenham se<br />

posicionado a favor da distribuição de terras, da<br />

igualdade de propriedade e da criação de uma república<br />

de pequenos proprietários (daí o termo “niveladores”), o<br />

movimento leveller adotava uma linha moderada,<br />

opondo-se às idéias coletivistas e à abolição da<br />

propriedade privada, como exigiam os grupos mais<br />

radicais, como os diggers ou true levellers, formados por<br />

pobres sem propriedade.<br />

Deve-se ressaltar que, tradicionalmente, nos materiais de<br />

Ensino Médio, tanto levellers quanto diggers são<br />

apresentados como facções “radicais” no contexto da<br />

Revolução Inglesa, em comparação, principalmente, com<br />

os membros da alta burguesia, gentry etc., o que poderia<br />

confundir o aluno bem preparado quanto à avaliação das<br />

alternativas B e D. Porém, a postura moderada dos<br />

levellers, em relação à dos radicais diggers, pode ser<br />

confirmada pela leitura do texto do historiador George<br />

Rude, Ideologia e protesto popular – Levellers e Diggers<br />

o radicalismo na Revolução Inglesa, cujo trecho serviu<br />

de base para o enunciado da questão e que se encontra na<br />

coletânea “<strong>História</strong> Contemporânea através de Textos”,<br />

de Adhemar Marques, Flávio Berutti e Ricardo Faria.<br />

Observe o texto a seguir:<br />

“Tais grupos surgiram dos acalorados debates, realizados<br />

em Putney em 1647, entre oficiais do exército<br />

(favoráveis aos grandes comerciantes e donos de<br />

264


propriedades rurais) e os “agitadores”, que<br />

representavam as fileiras da tropa. Alguns levellers<br />

pediam, a princípio, a igualdade da propriedade,<br />

merecendo assim o rótulo de leveller (nivelador) a eles<br />

aplicado pelos seus críticos. Mas, com a continuação do<br />

debate, o grupo principal de levellers (inclusive John<br />

Lilbume, seu principal porta-voz) rejeitou as ideias<br />

coletivistas, embora continuasse, em suas petições e<br />

manifestos, a condenar o monopólio, a pedir a abolição<br />

do dízimo (com compensação para os proprietários,<br />

porém) e da prisão por dívidas, e a reivindicar a reforma<br />

jurídica e o fim do cercamento das terras comuns e não<br />

usadas. Tiveram, portanto, uma política social de âmbito<br />

considerável, calculada para granjear o apoio dos<br />

pequenos proprietários, embora ficasse muito aquém da<br />

aspiração mais radical dos pobres sem propriedades - os<br />

criados, os miseráveis, os trabalhadores e os que não<br />

eram economicamente livres.”<br />

b) O governo de Oliver Cromwell marcou a chegada da<br />

burguesia inglesa ao poder do Estado por meio da ação<br />

armada. Demonstrando tratar-se de um representante das<br />

aspirações burguesas, Oliver Cromwell instituiu a<br />

República e suprimiu a Câmara dos Lordes, reduto da<br />

aristocracia tradicional, governando em consonância com<br />

a Câmara dos Comuns, composta sobretudo por<br />

burgueses.<br />

c) Após a restauração da Monarquia dos Stuarts, em<br />

decorrência da morte de Cromwell e da inabilidade<br />

política de seu filho, a Revolução Gloriosa,<br />

essencialmente burguesa, consolidou a Monarquia<br />

Parlamentar como forma política que superou o<br />

Absolutismo. Acompanhando tais transformações<br />

políticas, houve a cristalização da igualdade jurídica e da<br />

noção de direitos dos cidadãos, dentre eles o “Habeas<br />

Corpus”.<br />

George Rude, Ideologia e protesto popular. in Adhemar<br />

Marques et alli, <strong>História</strong> contemporânea através de<br />

textos.<br />

Resposta da questão 25:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

Na Idade Moderna, predominou na Europa Ocidental o<br />

regime político denominado Absolutista, caracterizado<br />

pela isenção de restrições legais ao poder régio. Na<br />

Inglaterra, por sua vez, após a Revolução Gloriosa, os<br />

membros do parlamento obrigaram Guilherme III a<br />

aceitar o Bill Of Rights — ou Declaração de Direitos —<br />

por meio do qual ficaram estabelecidas as bases do que<br />

viria a ser a monarquia constitucional. De acordo com o<br />

documento, ficava estabelecido que o Parlamento,<br />

reunindo-se regularmente, teria poder maior do que o rei,<br />

que não poderia tomar diversas medidas sem a aprovação<br />

do Parlamento.<br />

Resposta da questão 26:<br />

a) O contexto que envolveu a Inglaterra no século XVII<br />

caracteriza-se pela disputa política entre a burguesia<br />

ascendente economicamente e a nobreza tradicional, que<br />

controlava o poder político. Tal disputa evidenciou as<br />

transformações econômicas e sociais que marcaram a<br />

transição da sociedade estamental, que respalda o poder<br />

tradicional dos nobres, para a sociedade de classes<br />

tipicamente burguesa.<br />

265


ILUMINISMO<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Apresentado como o grande movimento de renovação<br />

intelectual do século XVIII, que se expandiu para as<br />

reflexões sobre política, economia e sociedade, expondo<br />

a crise do Antigo Regime, o Iluminismo apresentava<br />

como crença comum entre seus autores, a crença na<br />

possibilidade de empreender uma passagem da<br />

obscuridade à luz, ou das trevas da ignorância à<br />

sabedoria. Para isso, impunha-se como maior desafio,<br />

definir um método que realizasse tal proeza. Este tal<br />

método priorizava a razão e a experiência, e não mais as<br />

verdades reveladas nas Sagradas Escrituras e propagadas<br />

por autoridades religiosas ou pela perpetuação da<br />

tradição.<br />

Deve-se salientar, entretanto, que a concordância entre<br />

esses autores não era uma regra. Os pensadores da época<br />

nunca chegaram a uma doutrina comum, capaz de<br />

abarcar todas as outras em seu interior. Defendiam<br />

diferentes concepções filosófico-políticas. Em resumo,<br />

não houve uma unidade de pensamento no século das<br />

Luzes, mas sim muitas vozes dissonantes. Por isso é que<br />

o Iluminismo não pode ser qualificado como uma<br />

doutrina ou unidade teórica.<br />

A própria palavra “Iluminismo” não existia no século<br />

XVIII. Nas línguas ibéricas, só apareceu no século<br />

seguinte, e a primeira ocorrência em um dicionário na<br />

língua portuguesa é de 1836. Difícil acreditar, já de<br />

saída, que o século XVIII tenha apresentado um conjunto<br />

coeso de ideias, ou uma ideologia unitária que possamos<br />

classificar com o sufixo “ismo”.<br />

Ainda assim, geralmente, o fenômeno do<br />

Esclarecimento é apresentado como um sistema de<br />

valores que deu origem ao mundo contemporâneo,<br />

estando na base das grandes transformações políticas,<br />

econômicas e sociais a partir do século XVIII. As noções<br />

modernas de igualdade, democracia e liberdade são<br />

geralmente apresentadas como invenções dos filósofos<br />

iluministas, que teriam se desdobrado em vários campos<br />

nos séculos posteriores. Segundo o historiador norteamericano<br />

Robert Darnton, o Iluminismo está cada vez<br />

mais em todos os lugares e pode explicar qualquer coisa<br />

em qualquer área de realização humana a partir do século<br />

XVIII – trata-se, portanto, de um conceito tão alargado<br />

que corre o risco de perder completamente seu poder<br />

explicativo.<br />

De toda sorte, podemos considerar algumas<br />

características gerais que norteavam as transformações<br />

vislumbradas por aquela renovação do pensamento na<br />

Europa Moderna. Entre as quais:<br />

• Valorização da razão, considerada o mais importante<br />

instrumento para se alcançar qualquer tipo de<br />

conhecimento;<br />

• Valorização do questionamento, da investigação e da<br />

experiência como forma de conhecimento tanto da<br />

natureza quanto da sociedade, política ou economia;<br />

• Crença nas leis naturais, normas da natureza que regem<br />

todas as transformações que ocorrem no comportamento<br />

humano, nas sociedades e na natureza;<br />

• Crença nos direitos naturais, que todos os indivíduos<br />

possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens<br />

materiais;<br />

• Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos<br />

privilégios da nobreza e do clero;<br />

• Defesa da liberdade política e econômica e da<br />

igualdade de todos perante a lei;<br />

• Crítica à Igreja Católica, embora não se excluísse a<br />

crença em Deus.<br />

A classe burguesa constituiu-se na principal interessada<br />

em promover os princípios dessa filosofia renovada, pois<br />

apesar do evidente poder material adquirido nos<br />

266


primeiros séculos da Era Moderna, encontravam sérias<br />

restrições à prática política nos quadros do Antigo<br />

Regime. Na França do século XVIII, a persistência dos<br />

mecanismos do Antigo Regime estava sustentada no<br />

vigoramento da ordem absolutista, que garantia à figura<br />

real a concentração do poder decisório. Ademais, a<br />

sociedade mantinha-se organizada por rígidas hierarquias<br />

definidas por critérios de nascimento, que regulavam<br />

privilégios e exclusões baseados na tradição e que<br />

passavam a ser duramente questionados pela classe<br />

burguesa. Ainda do ponto de vista econômico, a classe<br />

burguesa insistia em maior autonomia com relação aos<br />

mecanismos de controle impostos pelo Estado, como a<br />

determinação de privilégios a certos grupos, na defesa de<br />

uma economia autorreguladora por leis naturais.<br />

colocará paulatinamente o próprio exercício da razão<br />

como uma prática incompatível com a velha política<br />

tradicional.<br />

2. PRINCIPAIS FILÓSOFOS ILUMINISTAS<br />

Gravura da época da Revolução Francesa critica os poderes tradiconais /<br />

Biblioteca Nacional da França<br />

O teor crítico dessas ideias e dessa nova posturaresvalou<br />

para um constante antagonismo em relação à esfera<br />

política absolutista. A Enciclopédia, que começou a ser<br />

publicada em 1751, sofreu perseguições do Estado<br />

francês em 1752 e 1759. Voltaire teve todos os seus<br />

escritos proibidos, e viajava de um lado para o outro<br />

fugindo das autoridades.<br />

A postura crítica, que valoriza as transformações no<br />

processo do conhecimento e na reestruturação do mundo<br />

Montesquieu - Cartas persas (1721) e Espírito das Leis<br />

(1748) foram às obras de Montesquieu que deram início<br />

ao Iluminismo. A primeira é redigida a partir de dois<br />

protagonistas que vêm de longe, de um contexto não<br />

europeu e, portanto, estranho aos valores, aos costumes e<br />

às instituições do Velho Mundo. Esta é a maneira que o<br />

autor encontra para criticar o seu tempo e apresentar a<br />

sua concepção de um mundo melhor. Escrever na forma<br />

de romance era característica de muitos filósofos daquele<br />

século, inspirados no que Montesquieu havia inaugurado.<br />

É uma maneira de tornar a leitura da filosofia leve,<br />

prazerosa e acessível. Ela penetra nas consciências sem<br />

que o leitor perceba que está se deparando com filosofia<br />

e com as questões áridas que tradicionalmente ela se<br />

propõe a tratar. O filósofo autor de romances tem,<br />

portanto, a esperança de mudar opiniões, atuando<br />

pedagogicamente junto ao leitor e transformando o<br />

267


mundo ao seu redor. Tornar o mundo melhor é, por sinal,<br />

outra ambição comum aos pensadores iluministas.<br />

Montesquieu é partidário de uma concepção de<br />

República muito próxima do modelo dos romanos,<br />

diferente do que entendemos hoje deste conceito. Sua<br />

concepção filosófico-política apresenta a convicção na<br />

forma institucional de se governar, com divisão de<br />

poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo) e respeito<br />

às leis instituídas ou à Constituição do Estado. Mas a<br />

virtude política que sustenta é semelhante àquela que<br />

encontramos nos antigos, como Sócrates, e inclui a<br />

noção de sacrifício, abnegação e autocontenção. A vida<br />

política ou republicana, para este pensador, depende da<br />

capacidade daqueles que desempenham o poder político<br />

de terem a virtude necessária para tanto. Do contrário,<br />

teremos um mau governo. Montesquieu também era um<br />

filósofo deísta, ou seja, mantinha a crença em Deus.<br />

Voltaire (1694-1778) - também um deísta, admirador da<br />

seita religiosa Quaker, que tem origem na Inglaterra e se<br />

propaga nos Estados Unidos. Ao escrever principalmente<br />

na forma de panfletos e de contos, pretende alcançar a<br />

opinião pública em geral, mudá-la, enfim, transformar o<br />

mundo. E ele de fato se tornou um filósofo bastante<br />

influente e popular, interferindo nos acontecimentos de<br />

sua época. A concepção filosófico-política de Voltaire<br />

baseia-se no despotismo esclarecido, em que há a<br />

confiança num monarca que segue a orientação da razão<br />

em suas tomadas de decisão e maneira de governar.<br />

Denis Diderot (1713-1784) - O despotismo esclarecido<br />

também norteia a sua filosofia. A diferença é que este<br />

pensador era materialista e ateu. Escreveu romances,<br />

alguns deles de literatura libertina. Sua principal obra foi<br />

um grande projeto editorial, desenvolvido em parceria<br />

com D’Alembert (1717-1783), ao qual se dedicou por<br />

muitos anos e que o levou à prisão. Trata-se da<br />

Enciclopédia, uma obra inacabada, cujos verbetes foram<br />

escritos por vários autores e que se transformou no<br />

principal símbolo do pensamento do século XVIII.<br />

Na Enciclopédia, o espírito sistemático, o uso da razão e<br />

a dúvida permanentemente posta em ação constituem o<br />

método para alcançar as verdades comprovadas e<br />

demonstráveis. Ao contrário das filosofias do século<br />

XVII, que são doutrinas ou grandes sistemas acabados e<br />

perfeitos, as filosofias do século XVIII seguem o<br />

caminho da investigação constante. São filosofias<br />

capazes de sustentar verdades pontuais sobre este ou<br />

aquele assunto, mas não têm a pretensão de tratar de<br />

todos os domínios já percorridos pelo espírito humano.<br />

268<br />

A Enciclopédia, maior fenômeno editorial do<br />

Esclarecimento, tinha no método, e não no conteúdo de<br />

ideais, a sua essência: o conhecimento parte dos<br />

fenômenos, que são os dados, para as leis. D’Alembert,<br />

que dividiu a organização da obra com Diderot, anunciou<br />

no “Discurso preliminar”, que precedeu o primeiro<br />

volume da obra: “Todos os nossos conhecimentos diretos<br />

reduzem-se aos que recebemos pelos sentidos; de onde<br />

se conclui que é às nossas sensações que devemos todas<br />

as nossas ideias”.<br />

Se há uma novidade filosófica neste princípio – que<br />

norteia a organização da obra – é a sua adoção como<br />

programa em todas as áreas do conhecimento. Da física à<br />

teologia, passando ao mundo da política. Esta atitude<br />

representaria não a enunciação de uma verdade universal<br />

no sentido tradicional, o que seria incongruente com o<br />

próprio clima intelectual do Esclarecimento, mas uma<br />

constatação sobre a impossibilidade de conhecer o<br />

mundo sem experimentá-lo.<br />

No interior da própria Enciclopédia é possível<br />

verificar as diferenças, muitas vezes profundas, que<br />

marcam os autores do período. Em suas contribuições<br />

pontuais, cada qual apresenta distintos posicionamentos<br />

sobre um mesmo assunto. Um importante exemplo desta<br />

divergência entre os autores está no verbete “Genebra”,<br />

redigido por D’Alembert. Nele, o autor elogia o teatro<br />

parisiense e a trupe de comediantes franceses. Ao fazer<br />

isso, critica a república de Genebra por ter proibido a<br />

entrada de atores franceses e a exibição do teatro<br />

parisiense na cidade. Rousseau, em resposta, escreve<br />

“Carta a d’Alembert”, opondo-se a este filósofo e ao<br />

elogio que faz ao teatro parisiense. Rousseau defende a<br />

posição do governo genebrino de censurar este gênero de<br />

espetáculo, argumentando que a exibição que há nele de<br />

vícios e costumes corrompidos, presentes nas grandes<br />

cidades como Paris, a um povo virtuoso e de bons<br />

costumes como o genebrino poderia levá-lo à


degeneração e à decadência moral, estando assim correta<br />

a censura que lhe havia sido imposta.<br />

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) - um dos mais<br />

ilustres representantes do período – talvez o maior deles<br />

– é ainda o filósofo que mais demarca as diferenças do<br />

seu pensamento em relação aos demais. Enquanto<br />

Voltaire e Diderot confiam na razão como a faculdade<br />

humana que, posta em ação, conduz necessariamente ao<br />

progresso, ao bem-estar geral e à felicidade entre os<br />

homens, para Rousseau ocorre o contrário. A razão,<br />

segundo ele, leva os homens a se distanciarem da<br />

natureza e a se corromperem, degenerando-se, inserindose<br />

no vício e caminhando para a infelicidade. Quanto<br />

mais o homem se aperfeiçoa com base na razão, mais ele<br />

decai e degenera. Com isso, Rousseau é quase uma<br />

antítese do seu século, se quisermos insistir em<br />

enquadrá-lo numa definição.<br />

Rousseau não acreditava que o império das leis era o<br />

bastante para que se instaurasse a igualdade. Para ele, a<br />

lei dos homens pode ser um instrumento de dominação<br />

por parte de governantes corruptos: “Tal foi ou deve ter<br />

sido a origem da sociedade e das leis que deram novos<br />

entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruíram<br />

irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para<br />

sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fizeram<br />

de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para<br />

lucro de alguns ambiciosos, daí por diante sujeitaram<br />

todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à<br />

miséria”.<br />

3. DESPOTISMO ESCLARECIDO<br />

O Despotismo Esclarecido foi uma forma reformista de<br />

governar característica da Europa; era apoiada por<br />

princípios iluministas e desenvolveu-se no especialmente<br />

no leste europeu e Península Ibérica, espaços onde a<br />

economia ainda era relativamente atrasada e a burguesia<br />

pouco combativa ou inexistente. O despotismo<br />

esclarecido visava acelerar o processo de modernização<br />

de alguns países e assim aumentar seu poder e prestígio a<br />

fim de enfraquecer a oposição ao seu governo.<br />

Argumentam que governavam em nome da felicidade<br />

dos povos.<br />

Os principais déspotas esclarecidos foram:<br />

Frederico II: foi o principal déspota esclarecido<br />

prussiano onde reformou o sistema penal, aboliu as<br />

torturas praticadas por seu pai, fundou escolas<br />

promovendo a educação, incentivou a produção cultural<br />

comercial e manufatureira, decretou a tolerância<br />

religiosa.<br />

Catarina II: estrangeira da Prússia assumiu a Rússia e<br />

construiu escolas, hospitais, reformou e modernizou<br />

cidades, racionalizou a administração pública e limitou a<br />

ação da igreja.<br />

José II: imperador da Germânia aboliu a servidão e a<br />

tortura, secularizou seus bens, fundou escolas, hospitais e<br />

asilos, concedeu liberdade de culto a toda crença<br />

religiosa, criou impostos para o clero e a nobreza, limitou<br />

feriados e peregrinações, tornou a língua alemã como<br />

obrigatória. Marquês de Pombal: conde português que<br />

iniciou reformas administrativas econômicas e sociais<br />

desenvolveu o comércio colonial, isentou impostos para<br />

exportações, fundou o banco real, expulsou os jesuítas de<br />

Portugal, modernizou o exército.<br />

EXERCÍCIOS<br />

01. A crença liberal no equilíbrio espontâneo do<br />

mercado foi reforçada em 1803 pela "lei de Say".<br />

Formulada pelo francês Jean-Baptiste Say, essa lei<br />

afirmava que toda oferta cria a sua demanda e<br />

inversamente, de tal modo que excluía a possibilidade de<br />

crise de superprodução no capitalismo.<br />

Qual, dentre os seguintes acontecimentos, constitui a<br />

refutação mais importante e direta da "lei de Say"?<br />

a) Revolução Russa de 1917.<br />

269


c) Movimento de independência da América Latina.<br />

d) Unificação da Alemanha.<br />

e) Ascensão dos Estados Unidos depois da Segunda<br />

Grande Guerra.<br />

02. O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela<br />

algumas características de uma determinada corrente de<br />

pensamento.<br />

“Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme<br />

dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e<br />

posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que<br />

abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu<br />

império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer<br />

outro poder?<br />

Ao que é óbvio responder que, embora no estado de<br />

natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito<br />

incerta e está constantemente exposto à invasão de<br />

terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele,<br />

todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco<br />

observadores da eqüidade e da justiça, o proveito da<br />

propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e<br />

muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a<br />

abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de<br />

temores e perigos constantes; e não é sem razão que<br />

procura de boa vontade juntar-se em sociedade com<br />

outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a<br />

mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a<br />

que chamo de propriedade.” (Os Pensadores. São Paulo: Nova<br />

Cultural, 1991).<br />

Do ponto de vista político, podemos considerar o texto<br />

como uma tentativa de justificar:<br />

a) a existência do governo como um poder oriundo da<br />

natureza.<br />

b) a origem do governo como uma propriedade do rei.<br />

c) o absolutismo monárquico como uma imposição da<br />

natureza humana.<br />

d) a origem do governo como uma proteção à vida, aos<br />

bens e aos direitos.<br />

e) o poder dos governantes, colocando a liberdade<br />

individual acima da propriedade.<br />

03. Leia com atenção o texto abaixo, baseado em Das<br />

trevas medievais (...) de Carlo Ginzburg: Em 1965, a<br />

cidade de Nova York mergulhou numa imensa escuridão<br />

devido à pane de uma central hidrelétrica, situada nas<br />

cataratas do Niágara. A cidade foi lançada bruscamente<br />

270<br />

b) Crise de 1929.<br />

nas trevas e os jornais, confeccionados manualmente,<br />

perceberam a extrema vulnerabilidade da sociedade<br />

industrial. Um escritor se inspirou nesse acontecimento e<br />

fez um livro de ficção chamado “Uma nova Idade Média<br />

de amanhã”.<br />

a) Que formas de energia estão envolvidas no processo<br />

de geração numa hidrelétrica?<br />

b) Qual o sistema de pensamento do século XVIII que<br />

fez a associação entre a luz e o progresso científico?<br />

c) Segundo esse sistema de pensamento, quais as<br />

características da Idade Média?<br />

04. Instalada em Nova Iorque em 1886, a Estátua da<br />

Liberdade foi oferecida pelos franceses como um gesto<br />

de amizade republicana para com os Estados Unidos. Por<br />

toda a França, houve subscrição pública para levantar<br />

fundos, considerando-se que a idéia de liberdade dos<br />

filósofos franceses tinha sido exportada para a América e<br />

inspirado a Guerra de Independência. Assim, seria<br />

adequado comemorar o seu centenário com uma estátua<br />

francesa. Com o tempo, associou-se à estátua a imagem<br />

de “mãe dos exilados”.<br />

(Traduzido e adaptado de Marina Warner, Monuments and maidens — the<br />

allegory of the female form. Londres: Vintage, 1996, p. 6-7).<br />

a) Segundo o texto, quais significados foram associados<br />

à Estátua da Liberdade?<br />

b) Identifique três relações que podem ser estabelecidas<br />

entre a Guerra da Independência Americana e a<br />

Revolução Francesa.<br />

05. Marat foi um importante personagem na Revolução<br />

Francesa (1789). Seu assassinato teve várias<br />

representações. Uma delas foi o quadro de David A<br />

Morte de Marat, um símbolo do movimento<br />

revolucionário e de grande importância para a história da<br />

arte.


Em relação a essa obra, é correto afirmar que:<br />

a) David ressaltou características da história pessoal de<br />

Marat, ou seja, um revolucionário de origem<br />

humilde e camponesa.<br />

b) Marat foi retratado como um símbolo dos radicais<br />

girondinos, responsáveis pela expulsão dos<br />

montanheses da Convenção e execução de seus<br />

líderes.<br />

c) David inaugurou a pintura histórica, mítica e<br />

heróica, apresentando a eternidade do personagem.<br />

d) David retratou Marat de uma forma não épica,<br />

diferenciando sua obra do idealismo da arte<br />

acadêmica aristocrática.<br />

e) David transformou Marat em personagem das<br />

tragédias gregas e sua morte em um ato romântico<br />

da revolução.<br />

06. Além do descontentamento com as medidas<br />

adotadas pela Inglaterra, a elite intelectual norteamericana<br />

e muitos colonos eram influenciados pelos<br />

ideais iluministas. Essas pessoas sonhavam com a<br />

formação de um novo país, independente e livre.<br />

José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti.<br />

Na independência das Treze Colônias da América, o<br />

pensamento iluminista serviu como suporte ideológico<br />

para a ruptura entre metrópole e colônia. Sobre o<br />

assunto, é correto afirmar que:<br />

a) todos os pensadores iluministas acreditavam que a<br />

sociedade havia sido precedida de um “estado de<br />

natureza”, onde o indivíduo já nascia com seu<br />

potencial e isso acarretava diferenças sociais.<br />

b) os iluministas eram inimigos da intolerância,<br />

valorizavam a razão e a liberdade do ser humano,<br />

cabendo, ao governo, não exercer a opressão e<br />

garantir os direitos naturais de cada cidadão.<br />

c) apesar de defenderem a igualdade social e buscarem<br />

corrigir as desigualdades sociais, os iluministas<br />

defendiam a permanência da escravidão, já que o<br />

escravo era uma propriedade que deveria ser<br />

protegida.<br />

d) na área econômica, o iluminista Adam Smith<br />

pregava a liberdade de comércio e acreditava que a<br />

verdadeira riqueza de uma nação proviesse da<br />

atividade agrícola, conforme o que havia sido<br />

elaborado em A riqueza das nações.<br />

e) os iluministas prezavam a razão como instrumento<br />

indispensável para o estudo da natureza e da<br />

sociedade e nisto eram auxiliados pela Igreja<br />

católica, que pregava que Deus estava presente em<br />

todos os seres vivos.<br />

07. Leia este trecho, em que se faz referência à<br />

construção do mundo moderno:<br />

... os modernos são os primeiros a demonstrar que o<br />

conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho<br />

interior realizado pela razão, graças a seu próprio<br />

esforço, sem aceitar dogmas religiosos, preconceitos<br />

sociais, censuras políticas e os dados imediatos<br />

fornecidos pelos sentidos.<br />

CHAUÍ, Marilena. Primeira filosofia. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 80.<br />

A partir da leitura desse trecho, é CORRETO afirmar<br />

que a formação do mundo moderno se caracteriza por<br />

a) nova postura com relação ao conhecimento, a qual<br />

transforma o modo de entendimento do mundo e do<br />

próprio homem.<br />

b) ruptura com as concepções antropocêntricas, a qual<br />

modifica as relações hierárquicas senhoriais.<br />

c) ruptura com o mundo antigo, a qual caracteriza um<br />

distanciamento do homem face aos diversos<br />

movimentos religiosos.<br />

d) adaptações do pensamento contemplativo, as quais<br />

reafirmam a primazia do conhecimento da natureza<br />

em relação ao homem.<br />

08. A partir do século XVIII e ao longo do XIX, o<br />

mundo foi percorrido, de fora a fora, por pesquisadores,<br />

oriundos sobretudo do Continente Europeu, que<br />

procuravam mapear e conhecer os mais diferentes<br />

aspectos da natureza e costumes do mundo extraeuropeu.<br />

Considerando-se essas iniciativas, é CORRETO afirmar<br />

que<br />

a) expressaram simultaneamente o desejo europeu de<br />

conhecer, típico do Iluminismo então vigente, e<br />

alguns interesses do sistema capitalista, em<br />

acelerado processo de expansão.<br />

b) foram financiadas por grandes corporações<br />

financeiras desejosas de implantar indústrias em<br />

novas regiões e conquistar novos mercados<br />

consumidores.<br />

c) lançaram os fundamentos de uma nova ordem<br />

mundial, que acabaria resultando em um<br />

entendimento mais harmônico entre os diferentes<br />

grupos étnicos e povos.<br />

271


d) contaram com grande receptividade, principalmente<br />

na África, continente povoado por etnias<br />

interessadas em se tornar conhecidas e em ser<br />

incorporadas ao mundo ocidental.<br />

09. Que os tiranos de todos os países, que todos os<br />

opressores políticos ou sagrados saibam que existe um<br />

lugar no mundo onde se pode escapar aos seus grilhões,<br />

onde a humanidade desonrada reergueu a cabeça; (...);<br />

onde as leis não fazem mais que garantir a felicidade;<br />

onde (...) a consciência deixou de ser escrava (...).<br />

(RAYNAL (abade). A Revolução da América. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,<br />

1993.)<br />

A posição apresentada pelo abade Raynal sintetiza<br />

alguns aspectos da Ilustração política.<br />

A) A partir do texto, indique, com suas próprias palavras,<br />

dois princípios do pensamento iluminista.<br />

B) Para o autor do texto, a independência das treze<br />

colônias inglesas foi um processo revolucionário, razão<br />

pela qual denomina-a de Revolução Americana. Cite e<br />

explique um fator que contribuiu para essa Revolução.<br />

10. As mulheres ricas para as quais o prazer constitui o<br />

maior interesse e a única ocupação, não são as únicas que<br />

consideram a propagação da espécie humana como um<br />

preconceito dos velhos tempos; hoje em dia, os segredos<br />

funestos, desconhecidos de todos os animais exceto do<br />

homem, chegaram aos camponeses; engana-se a natureza<br />

até nas aldeias. (Moheau, 1778.)<br />

O texto, ao revelar a difusão de práticas contraceptivas,<br />

indica o:<br />

a) crescimento da distância que separava o mundo rural<br />

do mundo urbano.<br />

b) aumento da ação do Estado, preocupado com a<br />

explosão demográfica.<br />

c) conformismo com o domínio da nobreza, por parte<br />

dos camponeses.<br />

d) prestígio dos filósofos iluministas que<br />

e) pregavam a igualdade sexual.<br />

f) declínio da dominação da Igreja sobre a sociedade<br />

como um todo.<br />

11. O que queremos dizer com a Revolução? A guerra?<br />

Isso não foi parte da Revolução; foi apenas um efeito e<br />

consequência dela. A Revolução estava nas mentes das<br />

pessoas e foi levada a cabo de 1760 a 1775, no curso de<br />

quinze anos, antes que uma gota de sangue fosse<br />

derramada em Lexington.<br />

(John Adams para Jefferson, 1815.)<br />

O texto:<br />

a) considera que a Independência dos Estados Unidos<br />

se fez sem idéias.<br />

b) confirma que a guerra entre os Estados Unidos e a<br />

Inglaterra foi uma revolução.<br />

c) sustenta que na Independência dos Estados Unidos<br />

não houve ruptura.<br />

d) defende que a criação dos Estados Unidos foi<br />

precedida de uma revolução.<br />

e) demonstra que os norte-americanos não aceitaram as<br />

concessões inglesas.<br />

12. Leia o texto.<br />

O governo arbitrário de um príncipe justo [...] é sempre<br />

mau. Suas virtudes constituem a mais perigosa das<br />

seduções:<br />

habituam o povo a amar, respeitar e servir ao seu<br />

sucessor, qualquer que seja ele. Retira do povo o direito<br />

de deliberar, de querer ou de não querer, de se opor à<br />

vontade do príncipe até mesmo quando ele deseja fazer o<br />

bem. O direito de oposição [...] é sagrado. Uma das<br />

maiores infelicidades que pode advir a uma nação seria a<br />

sucessão de dois ou três reinados de um todo poderoso<br />

justo, doce, [...] mas arbitrário: os povos seriam<br />

conduzidos pela felicidade ao esquecimento completo de<br />

seus privilégios, a mais perfeita escravidão.<br />

(D. Diderot. Refutação de Helvétius, 1774.)<br />

a) Como se denomina a forma de regime monárquico a<br />

que se refere Diderot?<br />

b) O texto apresentou uma concepção de cidadania que<br />

teve reflexos, quase imediatos, nas revoluções do século<br />

XVIII e permaneceu nas experiências democráticas e no<br />

horizonte político dos séculos seguintes. Quais aspectos<br />

de cidadania são defendidos por Diderot ao afirmar que,<br />

sem esses direitos, “os povos seriam conduzidos a mais<br />

perfeita escravidão”?<br />

13. (...) os deputados do povo não são, nem podem ser,<br />

seus representantes; não passam de seus comissários,<br />

nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei<br />

que o povo diretamente não ratificar e, em absoluto, não<br />

é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana,<br />

pois o é somente durante a eleição dos membros do<br />

272


parlamento; logo que estes são eleitos, ele é escravo, não<br />

é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o<br />

uso que dela faz mostra que bem merece perdê-la.<br />

Sobre as ideias e o autor do texto, é correto afirmar que<br />

são:<br />

a) discussões filosóficas renascentistas de Bodin, em<br />

defesa do absolutismo monárquico e contra a<br />

representatividade do povo no parlamento.<br />

b) reflexões sobre a legitimidade de representação do<br />

povo inglês no parlamento, feitas por Locke, durante<br />

a fase mais radical da Revolução Francesa.<br />

c) análise do poder, feita por Maquiavel, defendendo a<br />

constituição de um Estado forte, fundado na relação<br />

de representação direta do povo diante do poder do<br />

príncipe.<br />

d) críticas filosóficas iluministas feitas por Rousseau ao<br />

sistema político de representação, com a defesa da<br />

participação direta do povo nas decisões do Estado.<br />

e) estudo crítico socialista de Marx sobre a importância<br />

da participação direta do proletariado na organização<br />

do sistema político de representação parlamentar<br />

inglês.<br />

14. “ Dois acontecimentos que fizeram época marcam o<br />

inicio e o fim do absolutismo clássico. Seu ponto de<br />

partida foi a guerra civil religiosa. . O Estado moderno<br />

ergue-se desses conflitos religiosos mediante lutas<br />

penosas, e só alcançou sua forma e fisionomia plenas ao<br />

superá-los. Outra guerra civil – a Revolução Francesa –<br />

preparou seu fim brusco.”<br />

Fonte: KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro, Eduerj &<br />

Contraponto, 1999, p. 19.<br />

sociais e econômicas tanto na Europa quanto nas<br />

Américas.<br />

As afirmativas abaixo apresentam algumas dessas<br />

transformações. Examine-as.<br />

I. As treze colônias inglesas da América do Norte<br />

proclamaram-se independentes da Inglaterra, formando<br />

uma república federalista e presidencialista - os Estados<br />

Unidos da América do Norte.<br />

II. Em São Domingos (atual Haiti), em 1794, a<br />

revolução dos negros escravos deu início à “era da<br />

Abolição” nas Américas, que se completaria quase um<br />

século depois com a abolição da escravidão no Brasil.<br />

III. Na França revolucionária de 1789, a Declaração dos<br />

Direitos do Homem e do Cidadão além de proclamar que<br />

“os homens nascem livres e iguais” perante a lei, pondo<br />

fim às hierarquias e privilégios que distinguiam a<br />

sociedade do Antigo Regime, afirmava que a<br />

propriedade privada era um direito natural, sagrado,<br />

inalienável e inviolável.<br />

IV. As conjurações e inconfidências lideradas pelos<br />

colonos, quer na América espanhola quer na América<br />

portuguesa, não se orientaram, em qualquer momento,<br />

pelas ideias e princípios defendidas pelos filósofos<br />

iluministas.<br />

Assinale a alternativa correta:<br />

a) Somente a afirmativa II está correta.<br />

b) Somente as afirmativas I, e IV estão corretas.<br />

c) Somente as afirmativas I, II, e III estão corretas.<br />

d) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.<br />

e) Todas as afirmativas estão corretas.<br />

a) Identifique dois aspectos que caracterizavam o<br />

exercício da autoridade pelo Estado Absolutista.<br />

b) Em 1651, em meio às guerras religiosas que<br />

assolavam a Europa, o filósofo inglês Thomas Hobbes<br />

defendia a necessidade de um Estado forte como forma<br />

de controlar os sentimentos anti-sociais do homem.<br />

Pouco mais de um século depois, o filósofo J.J.<br />

Rousseau, em sua obra Contrato Social (1762),<br />

apresentou uma outra visão sobre o mesmo problema.<br />

Comente uma característica da concepção de Estado<br />

presente em Rousseau.<br />

15. As últimas décadas do século XVIII foram<br />

assinaladas por profundas transformações políticas,<br />

16. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos<br />

grandes expoentes do movimento de idéias que se<br />

forjaram ao longo do século XVIII. Embora recusado por<br />

grande parte dos membros da alta burguesia, seu<br />

pensamento acabou por influenciar tanto os<br />

revolucionários franceses de 1789 quanto os pensadores<br />

clássicos do liberalismo econômico.<br />

Considere os trechos abaixo:<br />

I. Afirmo, pois, que a soberania, não sendo senão o<br />

exercício da vontade geral, jamais pode alienar-se, e que<br />

o soberano, que nada é senão um ser coletivo, só pode<br />

ser representado por si mesmo. O poder pode transmitirse;<br />

não, porém, a vontade. (Do contrato social)<br />

273


274<br />

II. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o<br />

primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de<br />

dizer: Isto é meu!, e encontrou pessoas suficientemente<br />

simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,<br />

assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero<br />

humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o<br />

fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos<br />

de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes<br />

que os frutos são de todos, e que a terra não pertence a<br />

ninguém! (Discurso sobre a desigualdade entre os<br />

homens)<br />

III. Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser<br />

amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que se<br />

desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil reunir<br />

ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles<br />

resultados, é muito mais seguro ser temido que amado,<br />

quando se tenha que falhar numa das duas. (O príncipe)<br />

IV. Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da<br />

companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um<br />

enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de<br />

manter a todos em respeito. Porque cada um pretende<br />

que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele<br />

se atribui a si próprio e, na presença de todos os sinais de<br />

desprezo ou de subestimação, naturalmente se esforça, na<br />

medida em que a tal se atreva (o que, entre os que não<br />

têm um poder comum capaz de os submeter a todos, vai<br />

suficientemente longe para leválos a destruir-se uns aos<br />

outros), por arrancar de seus contendores a atribuição de<br />

maior valor, causando-lhes dano, e dos outros também,<br />

através do exemplo. (Leviatã)<br />

Pertencem a obras desse filósofo:<br />

a) apenas I e II.<br />

b) apenas II e III.<br />

c) apenas I e IV.<br />

d) apenas I, II e IV.<br />

e) I, II, III e IV.<br />

17. Características do Iluminismo, exceto:<br />

a) derrubada dos conceitos tradicionais, apoiada na<br />

ascensão da burguesia, que pretendia a instalação de<br />

uma sociedade de classes.<br />

b) revisão da Teoria do Direito Divino como ilegítima<br />

e irracional.<br />

c) crítica à Igreja, base de sustentação teórica e<br />

material do absolutismo.<br />

d) governo nacional seria o voltado para o povo e para<br />

a satisfação de seus desejos. Envolvimento de<br />

Locke, Voltaire e Rousseau.<br />

e) Teocentrismo, em coincidência com o ideal Barroco.<br />

18. "Quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de<br />

magistrados, o poder legislativo se junta ao executivo,<br />

desaparece a liberdade... Não há liberdade se o poder<br />

judiciário não está separado do legislativo e do<br />

executivo... Se o judiciário se unisse com o executivo, o<br />

juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria<br />

perdido se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres,<br />

de notáveis, ou de populares, exercesse os três poderes: o<br />

de fazer as leis, o de ordenar a execução das resoluções<br />

públicas e o de julgar os crimes e os conflitos dos<br />

cidadãos".<br />

[Montesquieu, DO ESPÍRITO DAS LEIS, 1748]<br />

a) Qual o tema do texto?<br />

b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.<br />

19. "Mesmo se o alvo perseguido não tivesse sido<br />

alcançado, mesmo se a constituição por fim fracassasse,<br />

ou se voltasse progressivamente ao Antigo Regime... tal<br />

acontecimento é por demais imenso, por demais<br />

identificado aos interesses da humanidade, tem<br />

demasiada influência sobre todas as partes do mundo<br />

para que os povos, em outras circunstâncias, dele não se<br />

lembrem e não sejam levados a recomeçar a<br />

experiência."<br />

(Kant, O CONFLITO DAS FACULDADES, 1798).<br />

O texto trata:<br />

a) do iluminismo e do avanço irreversível do<br />

conhecimento filosófico; revelando-se falso nos seus<br />

prognósticos sobre o futuro político- constitucional.<br />

b) do retorno do Antigo Regime, na Europa, depois do<br />

fracasso da Revolução francesa, revelando-se<br />

incapaz de vislumbrar o futuro da história.<br />

c) da Revolução Francesa, dos seus desdobramentos<br />

políticos e constitucionais, revelando a clarividência<br />

do autor sobre sua importância e seu futuro.<br />

d) da Revolução inglesa, do impacto que causou no<br />

mundo, com seus princípios liberais e<br />

constitucionais, revelando-se profético sobre seu<br />

futuro.<br />

e) do despotismo ilustrado, dos seus princípios<br />

filosóficos e constitucionais e de seu impacto na<br />

política européia, revelando caráter premonitório.


20. A respeito do Estado Moderno, o pensador político<br />

inglês John Locke (1632-1704) escreveu:<br />

"Considero poder político o direito de fazer leis para<br />

regular e preservar a propriedade". (Citado por Kazumi Munakata,<br />

A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL, 1984)<br />

a) Explique a função do estado segundo essa tese de<br />

Locke.<br />

b) Como a partir dessa tese se explica a relação do<br />

Estado Moderno com a acumulação de capital?<br />

21. Diferentes concepções teóricas de Estado foram<br />

elaboradas na Inglaterra, em momentos distintos, por<br />

Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704).<br />

Descreva as idéias fundamentais características do<br />

pensamento de Hobbes e Locke, explicando o que<br />

diferencia fundamentalmente as teses dos mencionados<br />

pensadores, com relação à organização do Estado.<br />

22. A Revolução Gloriosa de 1688, na Inglaterra, teve<br />

como desfecho a assinatura da Declaração de Direitos<br />

por Guilherme de Orange. As medidas abaixo fazem<br />

parte do conteúdo da Declaração, com exceção de:<br />

a) a orientação religiosa do rei poderia ser católica ou<br />

protestante;<br />

b) os impostos só poderiam ser aumentados ou criados<br />

com a aprovação do Parlamento;<br />

c) garantia do direito de expressão dos membros do<br />

Parlamento;<br />

d) o rei não poderia impedir que as leis aprovadas pelo<br />

Parlamento entrassem em vigor;<br />

e) ilegalidade da manutenção de um exército<br />

permanente mobilizado em tempo de paz.<br />

23. As idéias "iluministas" atingiram até mesmo alguns<br />

monarcas absolutos, que trataram de empreender<br />

reformas inspiradas pelas Luzes. Dentre os soberanos<br />

apontados abaixo, qual não pode ser considerado um<br />

"déspota esclarecido"?<br />

a) Catarina, a Grande, da Rússia;<br />

b) José II, da Áustria;<br />

c) Frederico II, da Prússia;<br />

d) Gustavo Adolfo, da Suécia;<br />

e) Carlos III, da Espanha.<br />

24. Leia o texto.<br />

"Enriquecendo os cidadãos ingleses, o comércio<br />

contribuiu para torná-los mais livres e, por sua vez, a<br />

liberdade ampliou o comércio. A grandeza do Estado<br />

veio como conseqüência e tornou os ingleses senhores<br />

dos mares." (VOLTAIRE. CARTAS INGLESAS)<br />

Todas as alternativas estão relacionadas com o texto,<br />

EXCETO:<br />

a) Leis dos Cercamentos / Revolução Industrial.<br />

b) Parlamentarismo / Mercantilismo.<br />

c) República de Cromwell / Atos de Navegação.<br />

d) Revolução Gloriosa / Expansão Comercial.<br />

e) Revolução Inglesa / Comercialismo.<br />

25. "(...) A fábrica, na Europa, e o engenho de açúcar,<br />

nas colônias, não foram resultados imediatos de um<br />

desenvolvimento crucial das bases técnicas de produção,<br />

mas, ao contrário, representaram formas peculiares de<br />

organização social do trabalho para a obtenção, sob<br />

garantia absoluta, do lucro capitalista ( . . . ) . " (DE DECCA,<br />

In : CAMPOS, p. 73)<br />

A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre o<br />

tema nele tratado, pode-se afirmar:<br />

(01) As duas formas de organização do trabalho, citadas<br />

no texto, tiveram como característica comum a<br />

concentração de trabalhadores em um determinado<br />

espaço.<br />

(02) O proletariado industrial, ao contrário dos escravos<br />

dos engenhos, detinha a propriedade dos meios de<br />

produção.<br />

(04) A produção em larga escala, obtida nas duas<br />

unidades de produção referidas, atendia a propósitos<br />

mercantis.<br />

(08) O escravo não era remunerado, sendo também<br />

coisificado, como uma mercadoria, enquanto o<br />

trabalhador, no sistema fabril, vendia sua força de<br />

trabalho.<br />

(16) O operariado procurou se organizar, formando,<br />

inclusive, associações e sindicatos, visando reagir à<br />

exploração da burguesia industrial, porém os escravos<br />

não ofereceram qualquer forma de resistência.<br />

(32) O tráfico de escravos foi um fator de acumulação<br />

primitiva de capital, que se constituiu uma das précondições<br />

do pioneirismo inglês na Revolução Industrial.<br />

(64) O capital industrial britânico pressionou o Império<br />

Brasileiro no sentido de manter o tráfico negreiro.<br />

275


26. Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) compara,<br />

nos trechos, as guerras das sociedades Tupinambá com<br />

as chamadas “guerras de religião” dos franceses que, na<br />

segunda metade do século XVI, opunham católicos e<br />

protestantes.<br />

“(…) não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que<br />

dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual<br />

considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. (…)<br />

Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de<br />

crueldade [o canibalismo] mas que o fato de condenar<br />

tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos.<br />

Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do<br />

que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um<br />

homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos<br />

poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de<br />

devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos<br />

ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em<br />

verdade é bem mais grave do que assar e comer um<br />

homem previamente executado. (…) Podemos portanto<br />

qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas<br />

ouvidos à inteligência, mas nunca se compararmos a nós<br />

mesmos, que os excedemos em toda sorte de<br />

barbaridades.” MONTAIGNE, Michel Eyquem de, Ensaios, São Paulo:<br />

Nova Cultural, 1984.<br />

De acordo com o texto, pode-se afirmar que, para<br />

Montaigne,<br />

a) a idéia de relativismo cultural baseia-se na hipótese<br />

da origem única do gênero humano e da sua religião.<br />

b) a diferença de costumes não constitui um critério<br />

válido para julgar as diferentes sociedades.<br />

c) os indígenas são mais bárbaros do que os europeus,<br />

pois não conhecem a virtude cristã da piedade.<br />

d) a barbárie é um comportamento social que<br />

pressupõe a ausência de uma cultura civilizada e<br />

racional.<br />

e) a ingenuidade dos indígenas equivale à<br />

racionalidade dos europeus, o que explica que os<br />

seus costumes são similares.<br />

27.<br />

I – Para o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o<br />

estado de natureza é um estado de guerra universal e<br />

perpétua. Contraposto ao estado de natureza, entendido<br />

como estado de guerra, o estado de paz é a sociedade<br />

civilizada.<br />

Dentre outras tendências que dialogam com as idéias de<br />

Hobbes, destaca-se a definida pelo texto abaixo.<br />

II– Nem todas as guerras são injustas e correlativamente,<br />

nem toda paz é justa, razão pela qual a guerra nem<br />

sempre é um desvalor, e a paz nem sempre um valor.<br />

BOBBIO, N. MATTEUCCI, N PASQUINO, G. Dicionário de Política, 5ª ed.<br />

Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.<br />

Comparando as idéias de Hobbes (texto I) com a<br />

tendência citada no texto II, pode-se afirmar que<br />

a) em ambos, a guerra é entendida como inevitável e<br />

injusta.<br />

b) para Hobbes, a paz é inerente à civilização e,<br />

segundo o texto II, ela não é um valor absoluto.<br />

c) de acordo com Hobbes, a guerra é um valor absoluto<br />

e, segundo o texto II, a paz é sempre melhor que a<br />

guerra.<br />

d) em ambos, a guerra ou a paz são boas quando o fim<br />

é justo.<br />

e) para Hobbes, a paz liga-se à natureza e, de acordo<br />

com o texto II, à civilização.<br />

28. Examinando as mudanças que marcaram a passagem<br />

do século 17 para o 18, o historiador francês Paul Hazard<br />

disse que os novos filósofos tentaram substituir uma<br />

civilização baseada na “ideia de dever” por uma<br />

civilização baseada na “ideia de direito”.<br />

Com base nas afirmações acima, e utilizando seus<br />

conhecimentos de <strong>História</strong>, explique o que o autor quer<br />

dizer com<br />

a) “ideia de dever”?<br />

b) Civilização baseada na “ideia de direito”?<br />

29. Fundado em 1793, no auge da Revolução Francesa,<br />

o museu do Louvre era a materialização da liberdade,<br />

igualdade e fraternidade. O museu foi estabelecido em<br />

um palácio real transformado em palácio do povo; sua<br />

coleção de pinturas, esculturas e desenhos foi confiscada<br />

da Igreja, da Coroa e dos aristocratas exilados e<br />

nacionalizada.<br />

(Traduzido de Andrew McClellan, A Brief History of the Art Museum Public, em<br />

Andrew McClellan (org.), Art and its Publics. Museum Studies at the Millenium.<br />

Oxford: Blackwell Publishing, 2003, p. 5).<br />

a) O que é um museu?<br />

b) Como se pode considerar o confisco mencionado no<br />

texto como um gesto revolucionário?<br />

c) Explique a importância dos museus na construção da<br />

identidade nacional.<br />

276


30. Sendo os homens, conforme (...) dissemos, por<br />

natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém<br />

pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao<br />

poder de outrem sem dar consentimento.<br />

(John Locke, Segundo tratado sobre o governo.)<br />

O patrimônio do pobre reside na força e destreza de suas<br />

mãos, sendo que impedi-lo de utilizar essa força e essa<br />

destreza da maneira que ele considerar adequada, desde<br />

que não lese o próximo, constitui uma violação pura e<br />

simples dessa propriedade sagrada.<br />

(Adam Smith, A riqueza das nações.)<br />

A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que<br />

a) John Locke defende a democracia, isto é, a<br />

igualdade política entre os homens, ao passo que<br />

Adam Smith privilegia o trabalho, portanto a<br />

desigualdade.<br />

b) John Locke funda sua teoria política liberal na<br />

defesa da propriedade privada, em sintonia com a<br />

defesa da livre iniciativa proposta por Adam Smith.<br />

c) o consentimento para evitar o poder centralizado do<br />

rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de<br />

intervenção econômica, segundo Adam Smith.<br />

d) a monarquia absolutista é a base da teoria política de<br />

John Locke, enquanto o Estado não intervencionista<br />

é o suporte da teoria econômica de Adam Smith.<br />

e) para John Locke, o consentimento é garantido pela<br />

divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa<br />

da propriedade coletiva de Adam Smith.<br />

31. Durante o século XVIII, na Europa, constituíram-se<br />

dois pólos dinâmicos: um de dimensão cultural,<br />

representado pela França, e outro de dimensão<br />

econômica, representado pela Inglaterra.<br />

A Leiteira (c.1658-1660), de Johannes Veermer, é uma<br />

das obras-primas da pintura holandesa do século XVII,<br />

que gradativamente define um estilo próprio,<br />

representando com austero realismo cenas familiares,<br />

paisagens urbanas, situações da vida cotidiana e retratos<br />

de pessoas comuns. A vida urbana e comercial é o<br />

cenário dessa nova forma de representação do mundo,<br />

que caracteriza a cristalização de uma cultura burguesa.<br />

Das características abaixo, assinale aquela que NÃO se<br />

aplica à cultura burguesa urbana da era moderna.<br />

a) A estética barroca, caracterizada por uma<br />

representação do mundo saturada de excessos e<br />

movimento.<br />

b) A atribuição de valor moral ao trabalho honesto e<br />

disciplinado, com raízes na religião reformada.<br />

c) O profundo desprezo pelas classes populares,<br />

consideradas como dissolutas e avessas ao trabalho.<br />

d) A vida doméstica centrada na definição de uma<br />

esfera privada restrita à família nuclear.<br />

e) A aversão ao complexo jogo de etiqueta e honra da<br />

sociedade de corte e dos aristocratas em geral.<br />

Descreva aspectos referentes ao<br />

a) primeiro pólo.<br />

b) segundo pólo.<br />

32. Observe a figura abaixo:<br />

33. “Certo gentil-homem francês sempre se assoa com a<br />

mão; coisa muito avessa a nosso costume. Defendendo<br />

seu gesto (e ele era famoso por seus bons achados),<br />

perguntou-me que privilégio tinha esse excremento sujo<br />

para que lhe preparássemos um belo pano delicado a fim<br />

de recebê-lo e depois, o que é mais, o dobrássemos e<br />

guardássemos conosco; (...) e o costume não me permitiu<br />

perceber essa estranheza, a qual, no entanto,<br />

consideramos tão horrível quando nos é relatada sobre<br />

outro país.”<br />

277


(MONTAIGNE, citado por CHARTIER, Roger (Org.) <strong>História</strong> da vida privada 3:<br />

da Renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.<br />

184.)<br />

Essa narrativa de Montaigne, nos seus Ensaios, I, XXIII,<br />

refere-se às transformações nos costumes entre os<br />

séculos XV e XVIII, que se efetuaram na Europa em<br />

ritmos e cronologias variáveis. Sobre esse movimento, é<br />

correto afirmar:<br />

a) As expressões de espontaneidade biológicas,<br />

afetivas e emocionais dos indivíduos permaneceram<br />

livres do controle coletivo e das proibições sociais.<br />

b) Formas de sociabilidade, tal como o ato de comer à<br />

mesa, aceitavam à época comensais com apetites<br />

indiscretos, com seus ruídos e humores sem<br />

controle.<br />

c) A aprendizagem das boas maneiras e das máximas<br />

morais esteve ausente das preocupações e dos<br />

conselhos dos pensadores.<br />

d) Houve uma maior adequação às normas, que<br />

repousavam nas pressões exercidas pelo grupo mais<br />

prestigiado sobre cada indivíduo, mas também, e<br />

cada vez mais, na incorporação das regras sociais<br />

por parte deste.<br />

e) A exigência do decoro foi banida das regras sociais,<br />

e os indivíduos podiam expor publicamente suas<br />

paixões e suas maneiras de agir na intimidade.<br />

278


GABARITO<br />

01. Resposta: B<br />

02. Resposta: D<br />

03. a) Uma usina hidrelétrica gera eletricidade a partir da<br />

transformação de energia potencial mecânica (água) em<br />

energia elétrica.<br />

b) Foi o pensamento Iluminista.<br />

c) Segundo o Iluminismo, a Idade Média teria<br />

correspondido à "Idade das Trevas", época marcada pelo<br />

obscurantismo e superstição.<br />

04.<br />

a) Basicamente, o ideal republicano, a liberdade, o<br />

iluminismo e as idéias de abrigo para os excluídos e de<br />

terra das oportunidades.<br />

b) Crises do Antigo Regime e do Sistema Colonial;<br />

influência da ideologia iluminista (liberalismo);<br />

agravamento da crise financeira francesa (o que acelerou<br />

a eclosão da Revolução de 1789), devido aos gastos com<br />

a ajuda militar da França aos norte-americanos; e, ainda,<br />

o fato de que tanto a independência dos Estados Unidos<br />

como a Revolução Francesa pertencem ao contexto das<br />

Revoluções Burguesas, bem como a presença do ideal<br />

republicano em ambos os processos.<br />

05. Resposta: D<br />

06. Resposta: B<br />

07. Resposta: A<br />

08. Resposta: A<br />

09.<br />

a) Dois dentre os princípios:<br />

tolerância religiosa<br />

liberdade de expressão<br />

condenação à escravidão<br />

liberdade de pensamento<br />

crítica ao governo absoluto<br />

b) Um dentre os fatores e sua respectiva explicação:<br />

Imposição de novos impostos por parte da Inglaterra às<br />

colônias americanas.<br />

Os colonos consideravam que apenas suas assembleias<br />

coloniais tinham de consentir a cobrança de qualquer<br />

novo imposto.<br />

Fim da “negligência salutar”.<br />

A perda de autonomia dos colonos constituiu-se em um<br />

empecilho para a continuação do desenvolvimento das<br />

elites das colônias.<br />

As ideias de liberdade oriundas do pensamento da<br />

Ilustração.<br />

As ideais de liberdade levaram os colonos a questionar a<br />

aplicação do pacto colonial.<br />

Insatisfação dos colonos em relação à Linha da<br />

Proclamação Régia.<br />

Por meio desta a Coroa Inglesa estabelecia o monopólio<br />

sobre as terras obtidas em decorrência do Tratado de<br />

Paris.<br />

10. Resposta: E<br />

11. Resposta: D<br />

12.<br />

a) O texto de Diderot faz referência ao absolutismo<br />

monárquico.<br />

b) Segundo Diderot, o povo seria conduzido à escravidão<br />

caso se visse privado do direito à liberdade, a qual<br />

incluía a possibilidade de escolher os governantes e<br />

substituí-los, com a prática de alternância de<br />

governantes. Tais direitos formariam a base das<br />

democracias liberais nos séculos seguintes.<br />

13. Alternativa: D<br />

14.<br />

a) O Estado ampliou sua autoridade por meio do<br />

monopólio do poder militar e da justiça, da formação de<br />

uma burocracia estatal e da interferência na economia. O<br />

candidato poderá ainda, apoiado na moderna<br />

279


historiografia sobre o assunto, afirmar que o Estado do<br />

Antigo Regime baseava sua autoridade nas contínuas<br />

negociações com os poderes locais (como a aristocracia e<br />

as Comunas Urbanas), e no exercício da justiça como<br />

forma de garantir a ordem social e política.<br />

b) Rousseau considera que o Estado fora criado pelo<br />

homem para preservar sua liberdade, o povo é o<br />

depositário do poder e os governantes constituem apenas<br />

seus funcionários. As leis devem ser aprovadas por<br />

todos, a soberania do povo deve ser absoluta e se<br />

manifestar através da vontade geral, pois a liberdade só<br />

existe quando há igualdade entre os componentes da<br />

sociedade.<br />

15. Alternativa: C<br />

16. Alternativa: A<br />

17. Resposta: E<br />

18. A formação do Estado moderno e da divisão dos<br />

poderes. Este texto está inserido na consolidação do<br />

Estado burguês moderno e mudança do pensamento<br />

político.<br />

19. Resposta: A<br />

20. A função do Estado para Locke é o de preservar os<br />

direitos naturais do homem. Com o Estado defendo a<br />

propriedade privada com leis, ele está garantindo ao<br />

capitalista uma base legal para o acumulo de capital.<br />

21. Hobbes acreditava em um Estado despótico e<br />

centralizador, uma grande entidade pela qual todos os<br />

cidadãos deviam obediência, para ele este tipo de Estado<br />

era necessário para se contrapor ao Estado de natureza<br />

que o homem vivia e que poderia levar ao caos social.<br />

Enquanto que Locke acreditava em um Estado que<br />

deveria preservar os direitos naturais do homem (vida,<br />

liberdade e propriedade) mas sem tornar-se um Estado<br />

autoritário, para ele a sociedade civil estava acima do<br />

Estado.<br />

22. Resposta: A<br />

23. Resposta: D<br />

24. Resposta: A<br />

25. Resposta: 08+32 = 40<br />

26. Resposta: B<br />

27. Resposta: B<br />

28. Resposta: B<br />

29. A "idéia do dever" associa-se à Europa do Antigo<br />

Regime, caracterizada, entre outros aspectos, pela<br />

existência de uma sociedade altamente hierarquizada,<br />

com pouca mobilidade social e a existência de formas<br />

absolutistas de governo com uma significativa<br />

centralização político-administrativa. Nessa sociedade, o<br />

poder político era concentrado na figura do monarca, os<br />

membros da sociedade eram considerados seus súditos e<br />

precisamente lhe "deviam obediência", não podendo<br />

contestar seu poder absoluto.<br />

A civilização baseada na "idéia de direito" corresponde à<br />

época a partir do Iluminismo (séculos XVII e XVIII) no<br />

Ocidente Europeu. No lugar do poder absoluto dos<br />

monarcas, prega-se a existência de formas<br />

representativas de governo sob o preceito do exercício da<br />

"soberania popular", consagrada na fórmula: "Todo<br />

poder emana do povo e em seu nome será exercido".<br />

Propunha-se, desta forma, contestar a idéia da origem<br />

divina do exercício do poder absoluto dos reis. Nesse<br />

contexto, os antigos "súditos" são considerados<br />

cidadãos" de pleno direito, que podem votar e ser<br />

votados, e desta forma escolher seus governantes. Este<br />

novo ordenamento supõe, portanto, a existência de um<br />

"Estado de Direito" com a definição de<br />

responsabilidades, direitos e deveres dos governantes e<br />

dos governados.<br />

30.<br />

a) Local destinado à preservação do passado histórico e<br />

cultural, mediante a organização de um acervo<br />

específico.<br />

b) Porque ele representa uma contestação ao absolutismo<br />

monárquico e aos privilégios da nobreza e do clero – ou<br />

seja, aos elementos que constituíam a base do Antigo<br />

Regime. Outrossim, trata-se de um gesto revolucionário<br />

também em seu intuito de tornar acessíveis ao povo<br />

elementos culturais até então restritos aos grupos<br />

dominantes.<br />

280


c) O museu guarda obras artísticas e objetos que<br />

identificam os momentos da história de uma nação e da<br />

própria evolução do homem.<br />

31. Alternativa: B<br />

32.<br />

a) A França no século XVIII era um centro irradiador de<br />

idéias liberais que condenavam o Antigo Regime e<br />

inspiraram as revoluções burguesas. Essas propostas<br />

revolucionárias integraram a doutrina filosófica<br />

denominada Iluminismo e se expressaram por diversos<br />

meios, como discursos filosóficos, manifestos, obras<br />

literárias, etc.<br />

b) A Inglaterra no século XVIII era o pólo dinâmico do<br />

capitalismo em que se desenvolveu a industrialização.<br />

Tal transformação, além de favorecer avanços<br />

tecnológicos, consolidou o processo de acumulação<br />

capitalista, o que desencadeou inúmeras transformações<br />

no século XIX.<br />

33. Resposta: A<br />

34. Resposta: D<br />

281


A INDEPENDÊNCIA DOS EUA<br />

282<br />

A importância da independência das colônias inglesas na<br />

América, que formariam os Estados Unidos, é<br />

incontestável, pois foi o primeiro grande ato de colônias<br />

contra suas metrópoles. Elas se colocaram contra a<br />

submissão econômica e política dos imigrantes e seus<br />

descendentes, que haviam formado outra sociedade, e<br />

que passaram a ter interesses diferentes dos<br />

representados pelos diversos grupos metropolitanos.<br />

A lógica colonial estava em crise, afetando as relações<br />

entre as metrópoles e suas colônias, que estavam<br />

diretamente ligadas às profundas transformações<br />

estruturais europeias, motivadas pelas ideias e filosofias<br />

iluministas. A independência americana teve<br />

repercussões importantes na própria Europa, inclusive na<br />

Inglaterra, que perdia sua principal área colonial, na<br />

França, que anos depois também teria uma grande<br />

Revolução, e nos territórios coloniais ibéricos do Novo<br />

Mundo.<br />

1. OS CONFLITOS NO PROCESSO<br />

COLONIAL<br />

A mudança de interesses entre colonizadores e<br />

colonizados trouxe então um aumento da tensão entre<br />

eles. A situação se agravou com a Guerra dos Sete Anos<br />

(1756-1763) entre a França e a Inglaterra, pois os<br />

combates também aconteceram em território norteamericano.<br />

Os colonos travaram lutas junto com os<br />

soldados britânicos contra os franceses e os venceram,<br />

tomando territórios que estavam sob domínio francês,<br />

como a Louisiana francesa, localizada as margens do rio<br />

Mississipi. Ao findar a guerra, mesmo a Inglaterra tendo<br />

conseguido tomar extensas áreas dos franceses, sua<br />

situação financeira estava bastante fragilizada em virtude<br />

dos altos custos da guerra. Os ingleses, necessitando de<br />

maiores fontes de recursos, decidiram criar novos<br />

impostos para solucionar seus problemas econômicos.<br />

Em 1764, o parlamento inglês aprovou a primeira de<br />

uma série de leis que taxavam produtos comerciados<br />

pelos norte-americanos: a Lei do Açúcar. Por ela, o<br />

melaço que os norte-americanos consumiam e que<br />

também era um componente importante do rum, usado<br />

como moeda de troca no tráfico negreiro, vindo das<br />

Antilhas, passou a ser pesadamente taxado. Estabelecia<br />

também direitos sobre diversos artigos de luxo, como<br />

vinho, seda, café, entre outros. No ano seguinte, em<br />

1765, foi promulgada a Lei do Selo (Stamp Act) pela<br />

qual os documentos comerciais e jornais deveriam exibir<br />

um selo inglês, comprado na metrópole. A reação de<br />

oposição da elite norte-americana foi imediata e exigiu<br />

uma revisão da Lei. Os colonos norte-americanos<br />

alegaram que não tinham representação no Parlamento<br />

inglês e que não admitiam taxações impostas por<br />

Londres sem sua representação.<br />

Diante da grande pressão vinda da colônia, os ingleses<br />

revogaram a Lei do Selo, mas, em compensação,<br />

impuseram outras em seu lugar, com os mesmos<br />

objetivos, taxando o papel, o vidro, o chumbo e o chá.<br />

Mais uma vez, os colonos se opuseram às medidas<br />

legais; os parlamentares ingleses, com medo que a<br />

rebeldia se espalhasse, recuaram, menos na questão do<br />

chá.<br />

A situação se complicou para valer em 1773, quando foi<br />

concedido à Companhia Inglesa das Índias o monopólio<br />

da venda de chá em todas as colônias inglesas. Essa<br />

medida prejudicava enormemente os norte-americanos<br />

que o compravam em outras áreas. Diante da proibição<br />

de comércio, passaram a contrabandeá-lo. Os dirigentes<br />

da Companhia, então, baixaram o preço do chá, o que<br />

enfureceu ainda mais os colonos. Eles resistiram à<br />

taxação e, em 1773, um grupo disfarçado de índios<br />

abordou um navio ancorado no porto de Boston, jogando<br />

ao mar uma grande quantidade de chá inglês que estava a<br />

bordo. Esse acontecimento ficou conhecido como a<br />

Festa do Chá de Boston.<br />

A reação inglesa foi dura, pois os colonos tinham<br />

cometido um crime, destruindo uma valiosa carga de<br />

chá. Para erradicar esse tipo de ação os ingleses<br />

promulgaram, em 1774, as Leis Intoleráveis<br />

(Intolerable Act). Uma delas fechava o porto de Boston<br />

até que os colonos cobrissem integralmente o prejuízo<br />

causado pelo chá jogado ao mar, como também<br />

substituía autoridades e funcionários eleitos pelos<br />

colonos por novos mandatários e funcionários<br />

designados pela Inglaterra. Os colonos de Massachusetts<br />

(onde Boston está situada) e de outras colônias<br />

entenderam que a atitude inglesa era de tirania. O clima<br />

de revolução pairava no ar.


2. A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA<br />

Em 1774, os representantes das colônias (com exceção<br />

da Geórgia) reuniram-se no Primeiro Congresso<br />

Continental, em Filadélfia. Foi enviada uma petição ao<br />

rei da Inglaterra e aprovada uma Declaração de Direitos<br />

e Agravos. Renovou-se o boicote ao comercio inglês e<br />

formaram-se comitês de inspeção para fiscalizar as<br />

alfândegas e confiscar as importações de comerciantes<br />

que violassem o acordo.<br />

O Primeiro Congresso Continental representou um<br />

ultimato ao poder inglês, para que, através de concessões<br />

mutuas, se encontrasse uma solução. Entretanto, a<br />

Inglaterra não estava disposta a negociar, nem a fazer<br />

alianças.<br />

A intransigência real apressou a mobilização da<br />

resistência anticolonialista. Intensificou-se a campanha<br />

política em favor da independência, devido sobretudo ao<br />

trabalho dos comitês e dos líderes populares. Os<br />

legalistas ou tories eram perseguidos como traidores. Ao<br />

mesmo tempo, os patriotas ou whigs armazenavam<br />

armas e munições, preparando-se para o inevitável<br />

conflito armado. A Guerra de Independência teve início<br />

com os ataques ingleses a Lexington e Concord, em<br />

1775. Embora vitoriosas, as tropas inglesas do general<br />

Thomas Gage sofreram consideráveis perdas humanas,<br />

devido a resistência organizada da população.<br />

Nesse mesmo ano, reuniu-se o Segundo Congresso<br />

Continental de Filadélfia, presidido por John Hancock<br />

e contando com a presença de destacados líderes, como<br />

Samuel Adams, Thomas Jefferson, Benjamim Franklin e<br />

outros. Apesar da situação de guerra aberta, ainda havia<br />

muitos elementos vacilantes que não aceitavam a ideia<br />

de uma separação completa da Inglaterra. Na verdade,<br />

embora declaradas em estado de rebelião pelo rei George<br />

III, as colônias ainda faziam parte do Império Britânico.<br />

Para alguns, o rei estaria acima dos conflitos, sendo a<br />

opressiva política colonial obra dos ministros e do<br />

Parlamento. A estreiteza da visão política de alguns<br />

setores coloniais não lhes permitia enxergar nada além<br />

dos seus limitados interesses imediatos.<br />

Mesmo assim, o Segundo Congresso Continental<br />

conseguiu aprovar uma Declaração das Causas e<br />

Necessidades de Pegar em Armas e nomear George<br />

Washington, grande proprietário rural, como<br />

comandante-em-chefe das tropas norte-americanas. A<br />

obra mais importante do Segundo Congresso de<br />

Filadélfia foi, porém, a Declaração de Independência,<br />

aprovada em 4 de julho de 1776. Redigido em sua maior<br />

parte por Thomas Jefferson, esse documento formalizava<br />

a Independência e tornava possível aos norte-americanos<br />

pedir e receber auxílio estrangeiro. Seu significado<br />

político e, porém, mais amplo e profundo: enunciava<br />

uma filosofia de liberdade (individual), que teve<br />

influência marcante não só na organização da federação<br />

norte-americana, mas também nos movimentos<br />

emancipacionistas das áreas de dominação francesa,<br />

espanhola e portuguesa na América. A guinada que<br />

permitiu ao movimento de resistência colonial passar a<br />

ofensiva decorreu de vários fatores:<br />

A inflexibilidade do governo inglês em<br />

promover qualquer conciliação com os revoltosos;<br />

O trabalho desenvolvido pelas forças<br />

democráticas, através da propaganda (como, por<br />

exemplo, a publicação do Senso comum, de Thomas<br />

Paine) e da formação de governos extralegais nas<br />

colônias.<br />

A situação internacional que opunha a Franca, a<br />

Espanha e a Holanda a Inglaterra, devido a posição<br />

hegemônica desta como potência colonial e comercial.<br />

A verdadeira essência da filosofia política da<br />

Declaração e a ideia democrática da soberania popular.<br />

Inspirada em John Locke (Segundo Tratado do governo<br />

civil), James Harrington e em outros filósofos dos<br />

séculos XVII e XVIII, a Declaração de Independência<br />

assimilou-lhes os conceitos e os ampliou, tornando-se<br />

uma síntese das ideias liberais e democráticas da época,<br />

e, no entanto, profundamente original. Consiste em três<br />

ideias básicas: 1) o ser humano ¡V essencialmente igual<br />

em atributos, necessidades, obrigações e desejos ¡V tem<br />

o direito básico a Vida, a Liberdade e a Busca da<br />

Felicidade; 2) para a obtenção desses direitos, o homem<br />

criou os governos; 3) o governo que não respeita esses<br />

direitos e tirano; tal governo pode e, na verdade, deve ser<br />

alterado ou abolido pelo povo que, então, tem o direito e<br />

o dever de criar a forma de governo que .a seu ver,<br />

pareça-lhe mais adequado a promover sua segurança e<br />

felicidade..<br />

Convém notar que, devido as pressões dos grandes<br />

proprietários rurais da Carolina do Sul e da Geórgia, e de<br />

alguns comerciantes de escravos da Nova Inglaterra, o<br />

trecho da Declaração que denunciava e criticava a<br />

escravidão foi retirado do documento em sua redação<br />

final.<br />

283


3. E O MUNDO VIROU DO AVESSO<br />

A Guerra de Independência durou cerca de seis anos.<br />

Desde 1775, verificaram-se combates entre as tropas<br />

inglesas e norte-americanas. A princípio, os norteamericanos<br />

sofreram sérias derrotas. O objetivo das<br />

forças inglesas era tomar os portos e vias fluviais,<br />

cortando as comunicações entre as colônias e isolandoas.<br />

Assim aconteceu em Nova Iorque em 1776,<br />

obrigando o exército de Washington a retirar-se para<br />

Filadélfia. Às vitórias dos norte-americanos sobre as<br />

tropas inglesas e de mercenários alemães em Trenton e<br />

Princeton (1777) seguiu-se a tomada de Filadélfia pelos<br />

ingleses.<br />

A primeira grande batalha ocorreu no final de 1777, em<br />

Saratoga. A vitória norte-americana deu outro ruma à<br />

guerra, pois significou o apoio da França (1778) e da<br />

Espanha, unidas por Pactos de Família contra a<br />

Inglaterra. A Grã-Bretanha declarou prontamente guerra<br />

à França, e a Guerra de Independência tornou-se guerra<br />

mundial. A Espanha entrou nela como aliada da França<br />

em 1779 e foi de grande utilidade para a causa americana<br />

porque transformou Nova Orleans em base para corsários<br />

e por se haver apoderado dos postos militares ingleses na<br />

Flórida Ocidental. A Holanda, nação à qual tinha valido<br />

uma fortuna considerável sua condição de principal<br />

potência marítima neutra, viu-se obrigada pela Inglaterra<br />

a entrar na guerra em 1780; e Catarina II da Rússia<br />

formou uma Liga da Neutralidade Armada que estorvou<br />

bastante as operações da esquadra inglesa contra os<br />

comerciantes neutros. Se os inimigos da Inglaterra se<br />

houvessem unido, seria impossível a resistência contra<br />

ele; mas somente a França e a América do Norte agiram<br />

de comum acordo, e ainda só a partir de 1780.<br />

A entrada da França na guerra ao lado dos norteamericanos<br />

foi decisiva para a vitória final. A França,<br />

interessada em debilitar o poderio da Inglaterra que,<br />

desde 1763, a desalojara do continente americano, e<br />

também vislumbrando a possibilidade de conquistar<br />

mercados consumidores, colaborou com homens, armas,<br />

dinheiro e navios. Entre os oficiais franceses,<br />

destacaram-se o marquês de Lafayette, Saint-Simon e o<br />

general Rochambeau.<br />

A partir de 1778, o teatro da guerra deslocou-se do Norte<br />

para o Sul, onde os ingleses capturaram o porto de<br />

Charleston, a Geórgia e a Carolina do Sul, em 1780. Nas<br />

lutas para recuperar esses territórios, teve grande<br />

importância a tática da guerra de guerrilhas. Entretanto,<br />

foi o poder naval francês que tornou possível a vitória<br />

norte-americana sobre as tropas do general Cornwallis,<br />

em 1781, em Yorktown, na costa da Virgínia, o que<br />

marcou o fim da resistência militar inglesa. Durante a<br />

rendição, a banda dos soldados ingleses tocou O mundo<br />

virou de cabeça para baixo. Não deixava de ser um<br />

sintoma dos novos tempos, que a vitória dos patriotas<br />

norte-americanos anunciava… Embora os exércitos<br />

britânicos tenham sido capturados, o reconhecimento da<br />

independência norte-americana só se deu em 1783,<br />

quando foi assinado o Tratado de Versalhes entre a<br />

antiga colônia e sua ex-metrópole.<br />

4. A ORGANIZAÇÃO DO NOVO GOVERNO<br />

Em 1787 foi aprovada a Constituição norte-americana,<br />

tendo sido elaborada a partir do republicanismo e do<br />

federalismo, estabelecendo o poder tripartite<br />

independente: executivo, judiciário e legislativo. O texto<br />

da Carta Magna americana é enxuto e prevalece até hoje,<br />

embora tenha sofrido emendas ao longo do tempo.<br />

Alterar a Constituição norte-americana é um processo<br />

moroso e que precisa ser muito bem estudado para o<br />

conseguir. George Washington foi eleito o primeiro<br />

presidente dos Estados Unidos da América em 1789. As<br />

repercussões da Independência<br />

O primeiro país atingido pela Independência dos Estados<br />

Unidos foi a Inglaterra. O rei Jorge III, que vinha<br />

tentando uma maior concentração de poderes, ficou<br />

extremamente desacreditado com a separação das 13<br />

colônias. A derrota inglesa e o Tratado de Versalhes<br />

abalaram momentaneamente a expansão inglesa. A<br />

França absolutista de Luís XVI também foi atingida. Os<br />

soldados franceses que haviam lutado na Independência<br />

voltaram para a Europa com ideias de liberdade e<br />

república. Haviam lutado contra uma tirania na América<br />

e, de volta à pátria, reencontravam um soberano<br />

absoluto. No entanto, só 13 anos depois da<br />

Independência norte-americana esse germe de liberdade<br />

frutificará na França.<br />

As despesas do Estado francês com a guerra no além-mar<br />

foram elevadas, fazendo o já debilitado tesouro francês<br />

sofrer bastante. As vantagens obtidas pelo Tratado de<br />

Versalhes só supriram parte do déficit. Dessa forma<br />

também, a Revolução Americana colaborou para<br />

enfraquecer o poder real e desencadear a Revolução<br />

Francesa. Para o resto da América, os Estados Unidos<br />

serviriam como exemplo. Uma independência concreta e<br />

possível passou a ser o grande modelo para as colônias<br />

ibéricas que desejavam separar-se das metrópoles. Os<br />

princípios iluministas, que também influenciavam a<br />

284


América ibérica, demonstraram ser aplicáveis em termos<br />

concretos. Soberania popular, resistência à tirania, fim do<br />

pacto colonial; tudo isso os Estados Unidos mostravam<br />

às outras colônias com seu feito.<br />

Para os índios, a Independência foi negativa, pois, a<br />

partir dela, aumentou a pressão expansionista dos<br />

brancos sobre os territórios ocupados pelas tribos<br />

indígenas. Para os negros escravos, foi um ato que em si<br />

nada representou. Temos notícia de um grande aumento<br />

do número de fugas durante o período da Guerra de<br />

Independência. Thomas Jefferson declarou que, em<br />

1778, a Virgínia perdeu trinta mil escravos pela fuga. No<br />

entanto, nem à Inglaterra (que dependia do trabalho<br />

escravo em áreas como a Jamaica) nem os colonos – os<br />

sulinos em particular – interessavam que a Guerra de<br />

Independência se transformasse numa guerra social entre<br />

escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu.<br />

Com todas as suas limitações, o movimento de<br />

independência significava um fato histórico novo e<br />

fundamental: a promulgação da soberania “popular”<br />

como elemento suficientemente forte para mudar e<br />

derrubar formas estabelecidas de governo, e da<br />

capacidade, tão inspirada em Locke, de romper o elo<br />

entre governantes e governados quando os primeiros não<br />

garantissem aos cidadãos seus direitos fundamentais.<br />

Existia uma firma esfera da liberdade, a princípio<br />

limitada, mas que se foi estendendo em diversas áreas. Já<br />

nas dez primeiras emendas à Constituição, em 1791, os<br />

direitos e liberdades individuais são esclarecidos e<br />

aprofundados. Essas emendas, chamadas Bill of Rights,<br />

são muitas vezes consideradas mais importantes do que<br />

todo o texto da Constituição.<br />

A primeira emenda proíbe que se estabeleça uma religião<br />

oficial ou se limite o exercício de qualquer religião. A<br />

liberdade de expressão e a de imprensa são declaradas<br />

fundamentais e o povo tem direito de reunir-se<br />

pacificamente e fazer petições contra um ato<br />

governamental que não lhe agrade. A Segunda Emenda<br />

garante o direito de cada cidadão ao porte de armas. A<br />

Terceira trata da proibição de se alojar soldados nas<br />

casas sem consentimento do proprietário. Outras<br />

emendas falam do direito ao júri, do direito a um<br />

julgamento público e rápido, proíbem multas excessivas<br />

e penas cruéis, e – no máximo do cuidado democrático –<br />

a Nona Emenda afirma que todos os direitos garantidos<br />

nas emendas não significam que outros, não escritos, não<br />

sejam válidos também.<br />

Surgia um novo país que, apesar de graves limitações aos<br />

olhos atuais (permanência da escravidão, falta de voto de<br />

pobres e de mulheres), causava admiração por ser uma<br />

das mais avançadas democracias do planeta naquela<br />

ocasião. Essas realidades encantariam um pensador<br />

francês em visita aos Estados Unidos no século XIX,<br />

Alexis de Tocqueville, que, entusiasmado, afirmou: Há<br />

países onde um poder, de certo modo exterior ao corpo<br />

social, age sobre ele e o força a marchar em certa<br />

direção. Outros há em que a força é dividida, estando ao<br />

mesmo tempo situada na sociedade e fora dela. Nada de<br />

semelhante se vê nos Estados Unidos; ali, a sociedade<br />

age sozinha e sobre ela própria […]. O povo reina sobre<br />

o mundo político americano como Deus sobre o<br />

universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas, tudo<br />

sai de seu seio e tudo se absorve nele. Entretanto, o<br />

mesmo Tocqueville, vindo de uma sociedade<br />

aristocrática não deixa de tecer críticas à maneira de ser<br />

da jovem nação. Em passagem venenosa, o autor declara:<br />

Frequentemente observei nos Estados Unidos que não é<br />

fácil fazer uma pessoa compreender que sua presença<br />

pode ser dispensada, e as insinuações nem sempre<br />

bastam para afastá-la. Se contradigo um americano a<br />

cada palavra que diz, para lhe mostrar que sua conversão<br />

me aborrece, ele logo se esforça com redobrado impero<br />

para me convencer; se mantenho um silencio mortal, ele<br />

julga que estou meditando profundamente nas verdades<br />

que prefere; e se por fim fujo de sua companhia, ele<br />

supõe que algum assunto urgente me chama para outro<br />

lugar. Esse homem nunca compreenderá que me cansa<br />

mortalmente, a não ser que eu diga, e, assim, a única<br />

maneira de me ver livre dele é transformá-lo em meu<br />

inimigo pela vida inteira.<br />

Como vemos, a admiração pela política do novo país não<br />

era ampliada para a admiração pela conversa dos novos<br />

cidadãos. Estava mais uma vez registrada a ambiguidade<br />

permanente do mundo com relação aos EUA.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

A Declaração de Independência dos Estados Unidos<br />

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna<br />

necessário um povo dissolver laços políticos que ligavam<br />

a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição<br />

igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza<br />

e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões<br />

dos homens exige que se declarem as causas que os<br />

levam a essa separação. Consideramos estas verdades<br />

como evidentes por si mesmas, que todos os homens<br />

foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de<br />

285


certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a<br />

liberdade e a busca da felicidade. Que a fim de assegurar<br />

esses direitos, governos são instituídos entre os homens,<br />

derivando seus justos poderes do consentimento dos<br />

governados; que, sempre que qualquer forma de governo<br />

se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de<br />

alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o<br />

em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela<br />

forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe<br />

a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência<br />

recomenda que não se mudem os governos instituídos há<br />

muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim<br />

sendo, toda experiência tem mostrado que os homens<br />

estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são<br />

suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a<br />

que se acostumaram. Mas quando uma longa série de<br />

abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o<br />

mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao<br />

despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como<br />

o dever, de abolir tais governos e instituir novos-Guardas<br />

para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento<br />

paciente destas colônias e tal agora a necessidade que as<br />

força a alterar os sistemas anteriores de governo. A<br />

história do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de<br />

repetidos danos e usurpações, tendo todos por objetivo<br />

direto o estabelecimento da tirania absoluta sobre estes<br />

Estados. (…) Nós, por conseguinte, representantes dos<br />

Estados Unidos da América, reunidos em Congresso<br />

<strong>Geral</strong>, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela<br />

retidão de nossas intenções, em nome e por autoridade<br />

do bom povo destas colônias, publicamos e declaramos<br />

solenemente: que estas Colônias unidas são e de direito<br />

tem de ser Estados livres e independentes, que estão<br />

desoneradas de qualquer vassalagem para com a Coroa<br />

Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-<br />

Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que,<br />

como Estados livres e independentes, tem inteiro poder<br />

para declarar guerra, concluir paz, contratar alianças,<br />

estabelecer comércio e praticar todos os atos e ações a<br />

que tem direito os estados independentes. E em apoio<br />

desta declaração, plenos de firme confiança na proteção<br />

da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas<br />

vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra.<br />

Disponível em: http://www.embaixada-americana.org.br Acesso em 15 de<br />

maio de 2006.<br />

Um presente francês…<br />

A Estátua da Liberdade, cujo nome oficial é A<br />

Liberdade Iluminando o Mundo é um monumento<br />

inaugurado em 28 de outubro de 1886, construído em<br />

uma ilha na entrada do Porto de Nova Iorque. O<br />

Monumento comemora o centenário da assinatura da<br />

Declaração da Independência dos Estados Unidos e é um<br />

gesto de amizade da França para com os Estados Unidos.<br />

Projetada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric<br />

Auguste Bartholdi (1834-1904), que baseou-se no<br />

Colosso de Rodes para edificá-la. Para a construção da<br />

estrutura metálica interna da estátua, Bartholdi contou<br />

com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel,<br />

mesmo engenheiro da Torre Eiffel.<br />

A estátua, que tem altura total 92,9m, sendo 46,9m<br />

correspondendo à altura da base e 46m à altura da estátua<br />

propriamente dita, foi um presente dado por Napoleão<br />

III, como uma forma de premiação aos Estados Unidos,<br />

após uma vitória em batalha travada contra a Inglaterra.O<br />

historiador francês Edouard de Laboulayefoi quem<br />

primeiro propôs a ideia do presente, e o povo francês<br />

arrecadou os fundos necessários para que, em 1875, a<br />

equipe do escultor Frédéric Auguste Bartholdi<br />

começasse a trabalhar na estátua de dimensões colossais.<br />

O projeto sofreu vários atrasos porque naquela época não<br />

era conveniente do ponto de vista político que, na França<br />

imperial, se comemorassem as virtudes da ascendente<br />

república norte-americana. Não obstante, com a queda do<br />

Imperador Napoleão III, em 1871, revitalizou-se a ideia<br />

dum presente aos Estados Unidos. Em julho daquele ano,<br />

Bartholdi fez uma viagem aos Estados Unidos e<br />

encontrou o que ele julgava ser o local ideal para a futura<br />

estátua - uma ilhota na baía de Nova Iorque,<br />

posteriormente chamada Ilha da Liberdade (batizada<br />

oficialmente como Liberty Island em 1956). Cheio de<br />

entusiasmo, Bartholdi levou avante seus planos para uma<br />

imponente estátua. Tornou-se patente que ele incorporara<br />

símbolos da Maçonaria em seu projeto - a tocha, o livro<br />

em sua mão esquerda, e o diadema de sete espigões em<br />

torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração<br />

ligada à deusa Sophia, que compõem o monumento<br />

como um todo. Isto, talvez, não era uma grande surpresa,<br />

visto ele ser maçom. Segundo os iluministas, por meio<br />

desta foi dado "sabedoria" nos ideais da Revolução<br />

Francesa. O presente monumental foi, portanto, uma<br />

lembrança do apoio intelectual dado pelos americanos<br />

aos franceses na sua revolução, em 1789. A estátua foi<br />

montada em solo francês e ficou pronta em 1884, sendo<br />

então desmontada e enviada para os Estados Unidos em<br />

navios, para ser remontada em seu lugar definitivo. A<br />

construção do pedestal que serve como base do<br />

monumento ficou a cargo dos norte-americanos. Em 28<br />

de outubro de 1886, milhares de pessoas acompanharam<br />

286


a cerimônia de inauguração do monumento. A estátua<br />

funcionou como farol de 1886 a 1902, tendo sido<br />

pioneiro na utilização elétrica dentre os faróis, tendo em<br />

vista que até então utilizavam-se tochas no lugar de<br />

lâmpadas elétricas. Inicialmente os visitantes podiam<br />

subir por escadas até a tocha da estátua, entretanto em<br />

1916, durante a Primeira Guerra Mundial, houve um ato<br />

de sabotagem coordenado pelo governo alemão que<br />

danificou a tocha e um pedaço do vestido da estátua.<br />

Após o episódio, que ficou conhecido como "explosão<br />

Black Tom", não foi mais permitida a visitação da tocha.<br />

A estátua sofreu uma grande reforma em comemoração<br />

do seu centenário, sendo reinaugurada em 3 de julho de<br />

1986. Essa reforma teve custo de 69,8 milhões de<br />

dólares. Foi feita uma limpeza geral na estátua e na sua<br />

coroa, corroída pelo tempo, foi substituída. A coroa<br />

original está exposta no saguão. Depois do atentado<br />

terrorista contra o World Trade Center, em 11 de<br />

setembro de 2001, que resultou no desabamento das<br />

torres gêmeas, a subida à coroa foi proibida por motivos<br />

de segurança. Porém, em 4 de julho de 2009, a visitação<br />

da coroa foi reaberta, depois de 8 anos fechada ao<br />

público.<br />

Disponível em:<br />

Acessado em 14<br />

de setembro de 2013. Referências: NETO, José A. F.; TASINAFO, Célio R.<br />

<strong>História</strong> <strong>Geral</strong> e do Brasil. São Paulo: Editora Harbra, 2006.; p. 381-385.<br />

KARNAL, Leandro; PURDY, Sean; FERNANDES, Luis E.; MORAIS, Marcus<br />

V. <strong>História</strong> dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Editora<br />

Contexto, 2011; p. 81-82, 94-97. OSCAR, Aquino J. <strong>História</strong> das Sociedades<br />

Americanas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004; p. 181-190.<br />

EXERCÍCIOS<br />

1. (PUCPR) Leia o texto a seguir e extraia a ideia<br />

central:<br />

"São verdades incontestáveis para nós: todos os homens<br />

nascem iguais; o Criador lhes conferiu certos direitos<br />

inalienáveis, entre os quais os de vida, o de liberdade e o<br />

de buscar a felicidade; para assegurar esses direitos se<br />

constituíram homens-governo cujos poderes justos<br />

emanam do consentimento dos governados; sempre que<br />

qualquer forma de governo tenda a destruir esses fins,<br />

assiste ao povo o direito de mudá-la ou aboli-la,<br />

instituindo um novo governo cujos princípios básicos e<br />

organização de poderes obedeçam às normas que lhes<br />

pareçam mais próprias para promover a segurança e a<br />

felicidade gerais." (Trecho da "Declaração de Independência dos Estados<br />

Unidos da América", Ministro das Relações Exteriores, EUA.)<br />

A ideia central do texto é:<br />

a) A forma de governo estabelecida pelo povo deve ser<br />

preservada a qualquer preço.<br />

b) A realização dos direitos naturais independem da<br />

forma, dos princípios e da organização do governo.<br />

c) Cabe ao povo determinar as regras sob as quais será<br />

governado.<br />

d) Todos os homens têm direitos e deveres.<br />

e) Cabe aos homens-governo estabelecer as regras para<br />

o povo.<br />

2. (Cesgranrio) No século XVIII, a revogação da Lei do<br />

Selo causou grande tristeza aos políticos ingleses, o que,<br />

entretanto, contrastava com a alegre movimentação dos<br />

trabalhadores na beira do cais, em decorrência da<br />

reabertura dos armazéns de manufaturados e da partida<br />

para a América de inúmeros navios carregados de<br />

mercadorias.<br />

Assinale a opção que explica corretamente a "tristeza"<br />

dos políticos com a revogação da Lei do Selo.<br />

a) A revogação da Lei do Selo representou um golpe<br />

nas pretensões inglesas de arrecadação, mediante<br />

impostos, nas colônias americanas.<br />

b) A revogação da Lei do Selo significou a vitória dos<br />

norte-americanos que, assim, não mais precisariam<br />

pagar impostos sobre o chá, o ferro e o açúcar.<br />

c) A pressão popular sobre o Parlamento aumentou, já<br />

que, com a revogação da Lei do Selo, do Chá e do<br />

Açúcar, os membros das Câmaras dos Lordes e dos<br />

Comuns voltaram a ficar submetidos ao rei inglês.<br />

d) Em meados do século XVIII, a metrópole inglesa<br />

perdeu cerca da metade de seu mercado consumidor<br />

de manufaturas, face ao crescimento da produção<br />

colonial.<br />

e) As Treze Colônias criaram impedimentos à atuação<br />

inglesa no continente americano, delimitando a ação<br />

da metrópole exclusivamente às áreas de plantation<br />

do sul.<br />

3. (Fatec) A Lei do Açúcar (1764), a Lei do Selo (1765)<br />

e a Lei Townshend (1767) representaram, quando<br />

implementadas, para<br />

a) os EUA, um estopim à declaração de guerra à<br />

França, aliada, incondicionalmente, aos interesses<br />

ingleses.<br />

287


) a França e a Inglaterra, formas de arrecadação e<br />

controle sobre o Quebec e sobre as Treze Colônias.<br />

c) os EUA, uma excepcional oportunidade, pela<br />

cobrança destes impostos, à ampliação de seus<br />

mercados interno e externo.<br />

d) as Treze Colônias, uma medida tributária que<br />

possibilitou a expansão dos negócios da burguesia<br />

de Boston na Europa, marcando, assim, o início da<br />

importância dos EUA no cenário mundial.<br />

e) a Inglaterra, uma alternativa para um maior controle<br />

sobre as Treze Colônias, e, também, uma medida<br />

tributária que permitisse saldar as dívidas contraídas<br />

na guerra com a França.<br />

4. (FGV) Uma forma de arrecadação de imposto e de<br />

censura foi imposta pela metrópole inglesa aos colonos<br />

das Treze Colônias, em 1765, através da(s):<br />

a) leis denominadas, pelos colonos, intoleráveis;<br />

b) Lei do Selo;<br />

c) Lei Townshend;<br />

d) criação de um tribunal metropolitano de averiguação<br />

de preços e documentos na colônia.<br />

e) permissão de circulação exclusiva de jornais<br />

ingleses metropolitanos.<br />

5. (FUVEST) "O puritanismo era uma teoria política<br />

quase tanto quanto uma doutrina religiosa. Por isso, mal<br />

tinham desembarcado naquela costa inóspita, (...) o<br />

primeiro cuidado dos imigrantes (puritanos) foi o de se<br />

organizar em sociedade".<br />

Esta passagem de A DEMOCRACIA NA AMÉRICA, de<br />

A. de Tocqueville, diz respeito à tentativa:<br />

a) malograda dos puritanos franceses de fundarem no<br />

Brasil uma nova sociedade, a chamada França<br />

Antártida.<br />

b) malograda dos puritanos franceses de fundarem uma<br />

nova sociedade no Canadá.<br />

c) bem sucedida dos puritanos ingleses de fundarem<br />

uma nova sociedade no Sul dos Estados Unidos.<br />

d) bem sucedida dos puritanos ingleses de fundarem<br />

uma nova sociedade no Norte dos Estados Unidos,<br />

na chamada Nova Inglaterra.<br />

e) bem sucedida dos puritanos ingleses, responsáveis<br />

pela criação de todas as colônias inglesas na<br />

América.<br />

6. (FUVEST) Pode-se dizer que o ponto de partida do<br />

conflito, entre as colônias inglesas da América do Norte<br />

e a Inglaterra, que levou à criação dos Estados Unidos<br />

em 1776, girou em torno da reivindicação de um<br />

princípio e de uma prática que tinham uma longa<br />

tradição no Parlamento britânico. Trata-se do princípio e<br />

da prática conhecidos como:<br />

a) um homem, um voto (one man, one vote);<br />

b) nenhuma tributação sem representação (no taxation<br />

without representation);<br />

c) Declaração dos Direitos (Bill of Rights);<br />

d) equilíbrio entre os poderes (checks and balances);<br />

e) liberdade de religião e de culto (freedom of religion<br />

and worship).<br />

7. (Mackenzie) Cremos, como verdades evidentes por si<br />

próprias, que todos os homens nasceram iguais e que<br />

receberam do seu Criador alguns direitos inalienáveis<br />

[que seria injusto retirar], como a vida, a liberdade e a<br />

busca da felicidade. Thomas Jefferson<br />

O fragmento de texto acima integra um importante<br />

documento da <strong>História</strong> da humanidade, e inspirou muitos<br />

combates pela liberdade na Europa e nas Américas. Esse<br />

documento é,<br />

a) A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.<br />

b) A Declaração das Nações Unidas.<br />

c) A Doutrina Monroe.<br />

d) A Declaração de Independência dos E.U.A.<br />

e) A Declaração de Libertação dos Escravos.<br />

8. (Mackenzie) Assim como nos governos absolutos o<br />

rei é a lei, nos países livres, a lei deve ser o rei; e não<br />

existirá outro (Thomas Paine).<br />

Considero o povo que constitui a sociedade ou nação<br />

como a fonte de toda autoridade (...) sendo livre para<br />

conduzir seus interesses comuns através de quaisquer<br />

órgãos que julgue adequados (...) (Thomas Jefferson).<br />

A Independência das Treze Colônias Inglesas da<br />

América significou:<br />

a) o primeiro grande indicador histórico da ruína do<br />

Antigo Regime.<br />

b) o fim da Era das Revoluções.<br />

c) a superação do capitalismo monopolista.<br />

d) a consolidação econômica da política mercantilista.<br />

e) o desdobramento natural da Doutrina Monroe e do<br />

Destino Manifesto.<br />

288


9. (PUCCAMP) Primeira colônia americana a se tornar<br />

independente, em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos<br />

assumiram no século XIX<br />

a) uma posição estimulante aos movimentos<br />

revolucionários, contestando as estruturas<br />

tradicionais do poder vigente em grande parte da<br />

Europa.<br />

b) uma intransigente defesa da intervenção do Estado<br />

nas atividades econômicas, visando a controlar os<br />

abusos da burguesia.<br />

c) a identificação do Estado com a religião puritana,<br />

que seria obrigatória a todos os cidadãos.<br />

d) dentro do continente americano, uma política<br />

imperialista, impondo seus interesses econômicos às<br />

demais nações.<br />

e) uma política de expansão colonial em direção à<br />

África e à Oceania.<br />

10. (PUCSP) Sobre a independência dos Estados<br />

Unidos, podemos afirmar que<br />

a) envolveu um conflito armado entre Inglaterra e<br />

França, a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), e<br />

chegou ao fim com a conquista do Oeste, na metade<br />

do século XIX.<br />

b) contou com mobilizações e ações armadas contra a<br />

cobrança de taxas e impostos, como a "Festa do Chá<br />

de Boston" (1773), e completou-se com a<br />

presidência de Abraham Lincoln.<br />

c) iniciou-se sob influência da Revolução Francesa<br />

(1789) e das independências nas Américas<br />

Portuguesa e Espanhola, lideradas, respectivamente,<br />

por D. Pedro I e Simón Bolívar.<br />

d) resultou da união das colônias inglesas nos<br />

Congressos da Filadélfia (1774 e 1775) e da<br />

influência das ideias de Maquiavel e de Hobbes,<br />

defensores do Estado republicano forte.<br />

e) sofreu influência do pensamento iluminista francês e<br />

a declaração de independência (1776), redigida por<br />

Thomas Jefferson, antecedeu a obtenção da<br />

autonomia, conquistada por via militar.<br />

11. (UFES) A Declaração de Independência das 13<br />

Colônias Inglesas da América do Norte, em 4 de julho de<br />

1776, da qual Thomas Jefferson foi relator, consagrou,<br />

em seu texto, o princípio do (a)<br />

a) direito de reação à tirania, inspirado em Locke.<br />

b) negação do contrato social, nos termos expostos por<br />

Rousseau.<br />

c) separação da Igreja do Estado, conforme o<br />

pensamento de Mably.<br />

d) ilustração monárquica, defendido por Diderot.<br />

e) utilitarismo, preconizado por Benthan, Mill e<br />

William James.<br />

12. (UFF) "Consideramos evidentes as seguintes<br />

verdades: que todos os homens foram criados iguais; que<br />

receberam de seu Criador certos direitos inalienáveis;<br />

que entre eles estão os direitos à vida, à liberdade e à<br />

busca da felicidade." (Declaração de Independência dos Estados Unidos<br />

da América, 2 de julho de 1776.)<br />

Esta passagem denota<br />

a) o desejo do Congresso Continental de delegados das<br />

Treze Colônias no sentido de empreender reformas<br />

profundas na sociedade do novo país.<br />

b) a utilização de categorias do Direito Natural<br />

Racional, no contexto das ideias do Iluminismo.<br />

c) que o Congresso Continental, apesar de rebelde à<br />

Inglaterra, permanecia fiel ao ideário do<br />

absolutismo, pois deste emanavam os ideais que<br />

defendia.<br />

d) influência das reformas empreendidas no século<br />

XVIII pelos chamados "déspotas esclarecidos" da<br />

Europa.<br />

e) que os delegados das Treze Colônias tinham uma<br />

concepção ingênua e equivocada das sociedades<br />

humanas.<br />

13. (Uff) Os processos de ocupação do território<br />

americano do Norte simbolizam, para muitos<br />

historiadores, a presença do ideário europeu no Novo<br />

Mundo. Os pioneiros ingleses do Mayflower construíram<br />

uma sociedade baseada na justiça e no cumprimento dos<br />

valores religiosos e morais protestantes. Essa base<br />

fundadora teve papel essencial na formação dos Estados<br />

Unidos da América.<br />

Assinale a opção que contém a relação correta entre a<br />

fundação e a formação dos Estados Unidos.<br />

a) A Revolução Americana de 1776 representou, nos<br />

Estados Unidos, a presença dos valores da<br />

Revolução Francesa, mostrando como os americanos<br />

estavam sintonizados com a Europa e não queriam<br />

se separar da Inglaterra.<br />

289


290<br />

b) A Revolução Americana de 1776 foi o episódio que<br />

representou, de forma mais cabal, a presença da<br />

tradição dos primeiros colonos, através do sentido de<br />

liberdade e da ideia de "destino manifesto".<br />

c) A Revolução Americana de 1776 apresentou valores<br />

que eram oriundos das culturas indígenas da região<br />

americana e por isso garantiu a expressão radical de<br />

liberdade, na revolução.<br />

d) A revolução de 1776 foi um episódio isolado na<br />

história dos Estados Unidos, pois fundamentou-se<br />

em valores de unidade que não foram capazes de<br />

fazer dos Estados Unidos um país americano.<br />

e) A Revolução Americana de 1776 foi apenas um<br />

ensaio do que ocorreria no século XIX nos Estados<br />

Unidos, por isso, podemos pensá-la como um<br />

apêndice da Guerra de Secessão, esta sim, vinculada<br />

à Revolução Francesa.<br />

14. (PUCRS) Ao longo do século XIX, após o processo<br />

das independências políticas, os países latino-americanos<br />

assumem novas funções na economia mundial, as quais<br />

se articulam, externa e internamente, a partir de um novo<br />

"Pacto Colonial" com os países centrais. A estruturação<br />

interna desse novo "Pacto Colonial", de modo geral<br />

NÃO apresentava como característica<br />

a) a importação em larga escala de produtos<br />

industrializados.<br />

b) os "déficits" crônicos na balança comercial.<br />

c) o endividamento do setor público.<br />

d) a adoção planejada de medidas protecionistas para o<br />

setor industrial.<br />

e) as concessões para grupos estrangeiros nos setores<br />

de mineração, transporte e energia.<br />

15. (UFPB) Sobre o processo de Independência dos<br />

Estados Unidos, é correto afirmar que<br />

a) as leis do Parlamento inglês, reforçando o controle<br />

comercial-tributário da metrópole, contribuíram para<br />

convencer os colonos da necessidade de separação.<br />

b) a situação das colônias americanas tornou-se muito<br />

difícil quando a monarquia francesa resolveu dar<br />

apoio militar ao reino inglês.<br />

c) os colonos perceberam a inevitabilidade da<br />

independência logo que realizaram o Primeiro<br />

Congresso Continental de Filadélfia.<br />

d) as ideias liberais de John Locke inspiraram o<br />

pensamento de Jefferson e outros líderes, mas pouco<br />

influenciaram a Declaração da Independência.<br />

e) os colonos encontraram no Iluminismo o suporte<br />

ideológico para defenderem a igualdade social e<br />

recusarem qualquer influência religiosa.<br />

16. (FGV) As disputas entre França e Inglaterra<br />

mantiveram-se fora do continente europeu. A Guerra dos<br />

Sete Anos (1756-1763) é um desses momentos que teve<br />

por origem a(s):<br />

a) áreas na América do Norte, principalmente a leste<br />

do Mississipi.<br />

b) áreas na América do Sul - as Guianas;<br />

c) intolerância religiosa praticada pelos colonos<br />

ingleses;<br />

d) autonomia das Treze Colônias Inglesas não<br />

reconhecida pela França;<br />

e) solução para o impasse do trono irlandês sob tutela<br />

de Elizabeth I desde a morte de Mary Stuart<br />

desaprovada pelo governo francês;<br />

17. (Unifesp) O que queremos dizer com a Revolução?<br />

A guerra? Isso não foi parte da Revolução; foi apenas um<br />

efeito e consequência dela. A Revolução estava nas<br />

mentes das pessoas e foi levada a cabo de 1760 a 1775,<br />

no curso de quinze anos, antes que uma gota de sangue<br />

fosse derramada em Lexington. (John Adams para Jefferson, 1815.)<br />

O texto<br />

a) considera que a Independência dos Estados Unidos<br />

se fez sem ideias.<br />

b) confirma que a guerra entre os Estados Unidos e a<br />

Inglaterra foi uma revolução.<br />

c) sustenta que na Independência dos Estados Unidos<br />

não houve ruptura.<br />

d) defende que a criação dos Estados Unidos foi<br />

precedida de uma revolução.<br />

e) demonstra que os norte-americanos não aceitaram as<br />

concessões inglesas.<br />

18. (Unirio) O processo de independência das 13<br />

colônias da América do Norte, que culminou com a<br />

Declaração de Independência em 1776, relaciona-se à:<br />

a) adoção de uma política liberal pelo Parlamento<br />

Inglês, que favoreceu o desenvolvimento colonial ao<br />

encerrar o monopólio comercial da Companhia das<br />

Índias Orientais sobre a venda do chá (1773).


) intensificação do controle sobre as colônias da<br />

América do Norte, devido à crise econômica inglesa<br />

ao final da Guerra dos Sete Anos (1756-63).<br />

c) proibição da cobrança do "imposto do selo",<br />

decretada pela Inglaterra, o que extinguiu a principal<br />

fonte de renda do governo colonial americano<br />

(1763).<br />

d) sublevação dos colonos, frente às decisões do<br />

Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, que<br />

reforçava o controle político da metrópole inglesa<br />

sobre as 13 colônias (1774).<br />

e) intervenção militar na luta pela independência e ao<br />

auxílio econômico fornecido por outras colônias<br />

americanas, tais como o México e o Canadá, que<br />

expulsaram os ingleses do território americano após<br />

a Declaração de Independência (1776).<br />

América, os criollos rebelaram-se contra:<br />

a) as rivalidades franco-inglesas.<br />

b) a ideologia nacionalista assumida pela burguesia<br />

europeia.<br />

c) o liberalismo econômico.<br />

d) a igualdade de todos perante a lei.<br />

e) as restrições mercantilistas.<br />

19. (FGV) A conquista colonial inglesa resultou no<br />

estabelecimento de três áreas com características<br />

diversas na América do Norte.<br />

a) Com relação às chamadas "colônias do sul" é correto<br />

afirmar:<br />

b) Baseava-se, sobretudo, na economia familiar e<br />

desenvolveu uma ampla rede de relações comerciais<br />

com as colônias do Norte e com o Caribe.<br />

c) Baseava-se numa forma de servidão temporária que<br />

submetia os colonos pobres a um conjunto de<br />

obrigações em relação aos grandes proprietários de<br />

terras.<br />

d) Baseava-se numa economia escravista voltada<br />

principalmente para o mercado externo de produtos,<br />

como o tabaco e o algodão.<br />

e) Consolidou-se como o primeiro grande pólo<br />

industrial da América com a transferência de<br />

diversos produtores de tecidos vindos da região de<br />

Manchester.<br />

f) Caracterizou-se pelo emprego de mão-de-obra<br />

assalariada e pela presença da grande propriedade<br />

agrícola monocultora.<br />

20. (UNESP) As transformações na Europa Ocidental do<br />

Século XVIII produziram e propagaram novas ideias<br />

econômicas, sociais, políticas e culturais. Esse contexto<br />

serviu de pano de fundo para a crise do antigo sistema<br />

colonial. O processo de libertação das Treze Colônias<br />

Inglesas repercutiu como sopro revolucionário. E, no<br />

decurso da desagregação do Império Espanhol na<br />

291


GABARITO<br />

1.C<br />

2.A<br />

3.E<br />

4.B<br />

5.D<br />

6.B<br />

7.D<br />

8.A<br />

9.D<br />

10.E<br />

11.A<br />

12.B<br />

13.B<br />

14.D<br />

15.A<br />

16.A<br />

17.D<br />

18.B<br />

19.C<br />

20.E<br />

292


REVOLUÇÃO INDUSTRIAL<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

custos da produção, ao tempo em que multiplicou a<br />

produção disponível.<br />

A principal fonte de energia utilizada nessa primeira fase<br />

da industrialização foi a energia a vapor, para o qual era<br />

imprescindível o uso do carvão mineral. O ferro, era a<br />

principal matéria prima das primeiras máquinas, uma vez<br />

que ainda não era utilizado o aço. O setor mais<br />

desenvolvido da produção nesse período, foi sem dúvida,<br />

a produção têxtil, que centrada na Inglaterra atendia<br />

consumidores nos demais países europeus e em suas<br />

colônias em África, Ásia e américa.<br />

A expressão Revolução Industrial foi concebida no<br />

século XIX por Karl Marx, que assim se referiu para<br />

definir um conjunto de transformações técnicas e<br />

econômicas no modo de fabricação europeu dos produtos<br />

consumidos pelo homem, que garantiu a consolidação da<br />

ordem capitalista. Situado temporalmente na segunda<br />

metade do século XVIII, na Inglaterra, o processo se<br />

expandiria pela Europa e algumas regiões restritas do<br />

mundo durante o século XIX. O surgimento das fábricas<br />

(em lugar das antigas manufaturas), a produção em série<br />

e o trabalho assalariado, a ampliação dos mercados, a<br />

divisão social e técnica do trabalho e a introdução da<br />

máquina no processo produtivo são as características<br />

mais essenciais dessas transformações. Essa mudança<br />

alterou profundamente as relações sociais e a paisagem<br />

geográfica que passou por um novo desenvolvimento<br />

urbano.<br />

2. FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL<br />

Em sua primeira fase, a Revolução industrial foi a<br />

disseminação do modelo fabril pela Inglaterra durante o<br />

período que abrange aproximadamente os anos entre<br />

1780 a 1840. Esse modelo fabril é constituído pelo uso<br />

conjugado da mão-de-obra humana (assalariada)<br />

associada ao uso de máquinas. A industrialização pode<br />

ser considerada uma etapa mais elaborada da produção<br />

artesanal nas manufaturas, já que a utilização das novas<br />

descobertas tecnológicas como a máquina a vapor,<br />

dinamizaram a velocidade da produção e diminuíram os<br />

Em sua segunda etapa (1860 - 1970), a Revolução<br />

Industrial caracteriza-se pela expansão para outros países<br />

da Europa Central e Oriental, atingindo países como<br />

Bélgica, França, Alemanha, Itália e Rússia. Para além<br />

da Europa, o processo de industrialização alcançaria<br />

também os Estados Unidos e o Japão. Nessa etapa, as<br />

principais inovações técnicas foram a utilização do aço,<br />

superando o ferro; o aproveitamento da energia elétrica<br />

e dos combustíveis petrolíferos passaram a se impor<br />

sobre o uso da energia a vapor, enquanto setores como o<br />

farmacêutico, petroquímico e automobilístico se<br />

desenvolviam para além do tradicional setor têxtil.<br />

Inventos como o motor a combustão, o processo<br />

Bessemer de transformação do ferro em aço e os veículos<br />

automotores, foram destaque nessa nova etapa das<br />

transformações técnicas.<br />

Acompanhando tais mudanças, ocorreu uma<br />

considerável ampliação dos investimentos na indústria,<br />

negociados em escala global a partir de instituições<br />

financeiras como os bancos e bolsas de valores,<br />

consolidando o mercado acionário sobre as grandes<br />

indústrias.<br />

Essas duas fases da Revolução Industrial foram<br />

imprescindíveis na consolidação da ordem capitalista,<br />

iniciada entre a transição do medievo à modernidade. Na<br />

primeira fase, o capitalismo industrial orientou-se pelo<br />

aspecto livre-concorrencial entre as indústrias, enquanto,<br />

na segunda, retorna-se a uma fase monopolista, embora<br />

não preconizada pelos Estados, mas por grandes<br />

conglomerados industriais, através da fusão de várias<br />

empresas, com vistas à dominação dos mercados.<br />

Surgem organizações como os trustes, os cartéis e os<br />

holdings. Nos cartéis, dispensando fusão administrativa,<br />

293


associações de empresa, geralmente concorrentes, se<br />

associam para dominar o mercado através da combinação<br />

de preços. Já nos trustes, empresas geralmente se unem<br />

em fusão para constituir uma ainda maior; os holdings,<br />

constituem empresas criadas para administrar outras<br />

existentes.<br />

3. PIONEIRISMO INGLÊS<br />

Em sua primeira fase, a Revolução Industrial encontrou<br />

na Inglaterra o espaço privilegiado para seu<br />

desenvolvimento pioneiro. Uma combinação de fatores e<br />

condições históricas foram determinantes para que a<br />

Inglaterra estivesse à frente dessas transformações<br />

técnicas. Podemos citar:<br />

* precocemente a Inglaterra foi capaz de constituir uma<br />

burguesia bastante capitalizada, detentora de uma<br />

vasta acumulação de capitais que permitiu os<br />

investimentos na maquinofaturas; tais lucros foram<br />

auferidos com as atividades comerciais da época<br />

mercantilista, seja através dos saques de pirataria a<br />

navios espanhóis e ingleses, como também, pelo<br />

estimulo ao comercialismo, forma bem sucedida de<br />

comercialização de seus produtos em áreas coloniais de<br />

outras Metrópoles europeias. Associado a essa atividade,<br />

tivemos importantes acordos comerciais firmados com as<br />

nações ibéricas, como o monopólio de asiento com a<br />

Espanha, que permitiu ganhos vultosos com a venda de<br />

escravos em suas áreas coloniais, assim como o Tratado<br />

de Metchuen, com Portugal, que permitiu a destinação de<br />

grande afluxo de ouro para o território inglês, garantindo<br />

maior acumulação para o investimento na indústria.<br />

* Favorabilidade política à modernização econômica<br />

– com a Revolução Gloriosa, a Inglaterra passou a contar<br />

294<br />

com um quadro de liberalismo político, que privilegiou o<br />

parlamento em sua capacidade decisória e os interesses<br />

da classe burguesa na composição desse órgão.<br />

Instalados no poder, a burguesia inglesa não poupou<br />

esforços para abolir os entraves mercantilistas, direcionar<br />

investimentos e fomentar posições sociais em favor da<br />

disponibilidade de mão de obra as fábricas recém criadas<br />

* A disponibilidade de matéria prima também<br />

favoreceu a Inglaterra, uma vez que essa possuía grandes<br />

jazidas de carvão e minério de ferro em seu território,<br />

matérias-primas indispensáveis à confecção de máquinas<br />

e geração de energia; também contava com<br />

disponibilidade assegurada de algodão, matéria prima à<br />

indústria têxtil, que continuou a ser disponibilizada da<br />

América do Norte, mesmo após o processo de<br />

independência das Treze Colônias; ainda na indústria<br />

têxtil, a confecção de tecidos pesados era favorecida pela<br />

oferta de lã, estimulada pelo Estado através do<br />

direcionamento das terras comuns â criação de ovelhas<br />

na chamada política de cercamentos.<br />

* concentração abundante de mão-de-obra nas<br />

cidades, resultado do forte êxodo rural verificado na<br />

Idade Moderna. Nesse período, a lã inglesa conquistou<br />

um espaço considerável no mercado europeu e muitas<br />

das antigas propriedades agrícolas comunais<br />

transformaram-se em cercamentos, isto é, áreas cercadas<br />

de criação de ovelhas. Tal atividade, porém, demandava<br />

reduzido número de trabalhadores, expulsando a mão-deobra<br />

excedente, que se dirigia às cidades. A grande oferta<br />

de mão-de-obra provocava seu barateamento e,<br />

consequentemente, reduzia os custos da produção<br />

industrial, ampliando os lucros.<br />

* Um vasto mercado consumidor, também se colocava<br />

à disposição dos ingleses. Como tratava-se do único país<br />

mergulhado nesse processo modernizador, as demais<br />

nações da Europa se constituíam em seus potenciais<br />

consumidores de industrializados, para si e para suas<br />

áreas colônias. A necessidade de expansão desse<br />

mercado, seria na posteridade, justificador do apoio<br />

inglês às emancipações na América, no combate à<br />

escravidão e, de uma política imperialista na África e<br />

Adia no século XIX.<br />

4. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DA<br />

PRODUÇÂO<br />

Visando garantir maiores lucros e lucrar êxito em<br />

produtividade, a indústria considerou diferentes formas<br />

organizacionais de produção.


No início do século XX duas formas de organização de<br />

produção industrial provocaram mudanças significativas<br />

no ambiente fabril: o taylorismo e o fordismo. Esses dois<br />

sistemas visavam à racionalização extrema da produção<br />

e, consequentemente, à maximização da produção e do<br />

lucro.<br />

O engenheiro mecânico americano Frederick Winslow<br />

Taylor (1856 – 1915), propunha um método de separação<br />

entre o trabalho intelectual e o trabalho braçal, visando<br />

evitar a morosidade no trabalho fabril. De acordo com o<br />

taylorismo, o funcionário deveria apenas exercer sua<br />

função/tarefa em um menor tempo possível durante o<br />

processo produtivo, não havendo necessidade de<br />

conhecimento da forma como se chegava ao resultado<br />

final.<br />

Sendo assim, o taylorismo aperfeiçoou o processo de<br />

divisão técnica do trabalho, sendo que o conhecimento<br />

do processo produtivo era de responsabilidade única do<br />

gerente, que também fiscalizava o tempo destinado a<br />

cada etapa da produção. Outra característica foi a<br />

padronização e a realização de atividades simples e<br />

repetitivas.<br />

No início do século XX, outro engenheiro estadunidense<br />

chamado Henry Ford (1863 – 1947), desenvolveu o<br />

sistema de organização do trabalho industrial<br />

denominado fordismo. Buscando aprimorar o taylorismo,<br />

apresentou como principal característica a introdução das<br />

linhas de montagem, na qual cada operário ficava em um<br />

determinado local realizando uma tarefa específica,<br />

enquanto o automóvel (produto fabricado) se deslocava<br />

pelo interior da fábrica em uma espécie de esteira. Com<br />

isso, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho.<br />

O funcionário da fábrica se especializava em apenas uma<br />

etapa do processo produtivo e repetia a mesma atividade<br />

durante toda a jornada de trabalho, fato que provocava<br />

uma alienação física e psicológica nos operários, que não<br />

tinham noção do processo produtivo do automóvel. Essa<br />

racionalização da produção proporcionou a redução dos<br />

custos com a produção, permitiu relativo aumento dos<br />

salários, de modo que os trabalhadores pudessem<br />

adquiri-lo, gerando a popularização do automóvel.<br />

Tanto o taylorismo quanto o fordismo tinham como<br />

objetivos a ampliação da produção em um menor espaço<br />

de tempo e dos lucros dos detentores dos meios de<br />

produção através da exploração da força de trabalho dos<br />

operários. O sucesso desses dois modelos fez com que<br />

várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por<br />

Taylor e Ford, sendo utilizadas até os dias atuais por<br />

algumas indústrias.<br />

Na segunda metade do século XX, um novo processo de<br />

otimização da produção foi apresentado, criticando o<br />

fordismo e visando propor o fim dos estoques e da<br />

padronização, assegurando ainda maiores lucros. Tratase<br />

do Toyotismo, modo de produção caracterizado pela<br />

produção de acordo com a demanda.<br />

Esse modelo industrial foi aplicado inicialmente no<br />

Japão em virtude das limitações territoriais existentes<br />

nesse país, que é extremamente dependente da<br />

importação de matérias-primas e dispõe de pouco espaço<br />

para armazenar os seus produtos.<br />

O Toyotismo é caracterizado por romper com o padrão<br />

fordista de produção em massa, que se destacava pela<br />

estocagem máxima de matérias-primas e de produtos<br />

maquinofaturados. Com esse novo modo de produção, a<br />

fabricação passou a não prezar mais pela quantidade,<br />

mas pela eficiência: produz-se dentro dos padrões para<br />

atender ao mercado consumidor, ou seja, a produção<br />

varia de acordo com a demanda.<br />

Com isso, foi implantado o sistema just-in-time (em<br />

tradução literal: “em cima da hora”). Nesse sistema, a<br />

importação das matérias-primas e a fabricação do<br />

produto acontecem de forma combinada com os pedidos<br />

dos consumidores, com prazo de entrega a ser cumprido.<br />

Dessa forma, a oferta de produtos nunca será maior do<br />

que a demanda, o que acarreta na diminuição dos<br />

produtos em estoque e dos riscos da queda de lucros dos<br />

investidores.<br />

À medida que a implantação do sistema toyotista foi se<br />

ampliando no mundo do mercado industrial, mais notória<br />

foi a desregulamentação das condições e dos direitos<br />

295


trabalhistas. Ao contrário do fordismo, em que um<br />

trabalhador realizava somente uma única função, agora<br />

um mesmo trabalhador é responsável por funções<br />

diversas, executando-as conforme as necessidades da<br />

empresa. Em razão dessa flexibilidade, o toyotismo<br />

passou a ser chamado também de acumulação flexível.<br />

Além disso, observou-se um aumento das terceirizações<br />

no processo de produção, pois se tornou mais barato<br />

pagar outra empresa para fazer um determinado serviço<br />

do que uma única corporação comandar todo o processo<br />

produtivo. Isso ampliou o aumento do desemprego e da<br />

formação do exército de reserva de trabalhadores,<br />

proporcionando a diminuição média dos salários e o<br />

aumento da precarização do trabalho.<br />

1. DESDOBRAMENTOS DA<br />

REVOLUÇÂO INDUSTRIAL<br />

Não apenas na produção técnica, como também na<br />

organização social e espacial, a Europa sofreu sensíveis<br />

repercussões a partir doa Revolução Industrial. Entre as<br />

quais, podemos destacar:<br />

A polarização entre duas classes sociais<br />

principais, a saber, a burguesia industrial, proprietária<br />

dos recursos necessários à produção e, a classe operária.<br />

Esta última, principalmente por ex-camponeses e exartesãos,<br />

não dispõe mais de recursos próprios para<br />

trabalhar, expropriados das suas terras ou incapazes de<br />

competir com seus produtos artesanais contra a produção<br />

das nascentes indústrias; assim, passam a vender sua<br />

força de trabalho em troca de um salário tornando-se<br />

assalariados.<br />

<br />

Urbanização – uma importante alteração na<br />

ordem espacial europeia associada à Revolução<br />

industrial foi a formação de grandes núcleos urbanos,<br />

geralmente constituídas em torno das fabricas recém<br />

criadas. Muitas das moradias dos operários eram<br />

construídas pelas próprias empresas, o que facilitava o<br />

controle dos empresários sobre os trabalhadores. A não<br />

submissão desses trabalhadores a seus patrões, podiam<br />

determinar a perda não só do trabalho, como das próprias<br />

moradias. Eram marcadas por uma enorme<br />

desestruturação organizacional, quanto por um<br />

agravamento de tensões e problemas sociais como a<br />

criminalidade e a prostituição.<br />

Crescimento demográfico – o<br />

desenvolvimento da indústria química e os avanços na<br />

indústria farmacêutica de remédios e vacinas, garantiu a<br />

erradicação de certas epidemias, favorecendo a maior<br />

expectativa e vida. O incremento agrícola, com a<br />

utilização de adubos químicos e maquinas na agricultura,<br />

também garantia a maior disponibilidade na oferta de<br />

alimentos. Assim, entre os anos de 1500 e 1780, apenas<br />

na Inglaterra, houve um aumento populacional de cerca<br />

de 3 milhões de habitantes para 8 milhões. Em 1880, este<br />

índice já estava em mais de 30 milhões.<br />

Surgimento de movimentos e ideologias da<br />

classe operária, em oposição à super exploração das<br />

industrias e ao próprio capitalismo; sim, faziam se<br />

necessários, pois apesar do progresso técnico, as<br />

condições de trabalho eram degradantes, como jornadas<br />

estafantes de trabalho, salários baixos, instalações<br />

insalubres e projeção da exploração do trabalho feminino<br />

e infantil.<br />

296


6. O MOVIMENTO OPERÁRIO EUROPEU<br />

A inevitável contradição entre aprimoramento técnico e<br />

exploração da classe trabalhadora pelos primeiros<br />

industriais, desencadeou uma série de movimentos que<br />

caracterizaram um esforço coletivo dos trabalhadores em<br />

assegurar direitos, ou mesmo alterar a ordem social e<br />

econômica para melhorar as condições de vida da<br />

população. Organizações mais radicais do proletariado e<br />

intelectuais, inspiradas em ideias anarquistas e<br />

comunistas, lideraram historicamente revoluções sociais<br />

cujo objetivo era criar um novo tipo de sociedade.<br />

Na fase inicial do movimento, os trabalhadores<br />

industriais dirigiram toda sua agressividade contra as<br />

máquinas, às quais culpavam pelo desemprego e pela<br />

piora de suas condições de vida. O movimento destruidor<br />

de máquinas chamou-se ludismo e foi duramente<br />

reprimido, inclusive com a imposição de pena de morte<br />

àqueles flagrados envolvidos na destruição das<br />

maquinas.<br />

A própria celebração do dia do Trabalho, que se<br />

comemora em primeiro de maio em quase todos os<br />

países do mundo, rememora um dos episódios mais<br />

violentos da história do movimento operário. Em 1º de<br />

maio de 1889, militantes anarcossindicalistas que se<br />

manifestavam a favor da jornada de trabalho de oito<br />

horas foram executados nas ruas de Chicago. A partir do<br />

ano seguinte, por iniciativa da central sindical conhecida<br />

como Segunda Internacional, instituiu-se esse dia como<br />

data máxima dos trabalhadores organizados.<br />

A luta de trabalhadores contra a exploração já havia se<br />

manifesto em outros grandes movimentos, e em<br />

diferentes momentos históricos, como as rebeliões<br />

camponesas medievais, os esforços escravistas por<br />

libertação, ou as ondas generalizadas de violência<br />

promovidas na franca por camponeses e sans-culottes.<br />

Antes da Revolução Industrial, os movimentos de<br />

protesto de origem urbana ou rural caracterizavam-se<br />

pela escassa coesão ideológica e por seu caráter violento<br />

e efêmero.<br />

Após a Revolução Industrial, as práticas violentas<br />

também foram utilizadas como mecanismo de lutas, mas<br />

ocorreram sistematizações racionais de organização da<br />

luta dos trabalhadores, sob inspiração de ideologias de<br />

oposição ao capitalismo, revelando uma mais apurada<br />

organização a partir de uma consciência de classe.<br />

Estavam na ordem do dia, para aqueles trabalhadores, a<br />

oposição à desumanização do trabalho, provocada pela<br />

introdução das primeiras máquinas, além da exploração<br />

expressa no prolongamento da jornada de trabalho, a<br />

redução dos salários, o emprego de mulheres e crianças<br />

em atividades insalubres, a falta de higiene e de medidas<br />

de segurança nas fábricas e outros problemas.<br />

Tendo sido a Inglaterra a primeira nação industrializada<br />

do mundo, é natural que ali tenham surgido as primeiras<br />

organizações operárias, empenhadas em defender os<br />

trabalhadores das penosas condições em que viviam e<br />

protestar coletivamente contra elas.<br />

Outro importante movimento de organização operaria,<br />

assumindo um caráter mais organizado, foi o cartismo,<br />

também forjado no calor da luta operária. Em 1837, foi<br />

publicada a Carta do povo, entregue ao Parlamento<br />

britânico, em 1838, que reunia uma série de<br />

reivindicações: estas eram de natureza organizacional do<br />

trabalho, como redução de jornada de trabalho, melhorias<br />

salarias, mas também requisitavam conquistas políticas,<br />

que incluíam o sufrágio universal, representação política<br />

dos trabalhadores no parlamento e remuneração a esses<br />

representantes. Assim, podemos considerar que o<br />

cartismo assumiu feição mais organizada e complexa ao<br />

incluir na luta dos trabalhadores alterações estruturais na<br />

organização política inglesa. Tais reivindicações não<br />

seriam consideradas, enfraquecendo o movimento, mas<br />

abriu precedente a maior complexidade de organização<br />

dos trabalhadores a partis dos sindicatos.<br />

Desde 1824, pressionado por esse nascente movimento<br />

operário, o governo inglês garantiu à classe operaria o<br />

direito de greve, além do direito de associação, o que deu<br />

origem às trade unions, criadas pelos trabalhadores para<br />

assegurarem auxilio mutuo, já que não podiam contar<br />

com governos e patrões na garantia de seus direitos.<br />

297


Foram os primórdios dos sindicatos, organizações mais<br />

tradicionais da representação operaria, que se<br />

caracterizaram por unificar reivindicações dos operários<br />

de uma mesma categoria, representando-os juridicamente<br />

e buscando fortalecer o poder de negociação junto aos<br />

patrões a partir de ações organizadas.<br />

Fordlândia: A Derrapada do Ford<br />

O americano Henry Ford popularizou o automóvel e<br />

criou a linha de montagem. Mas se deu mal ao inventar<br />

uma cidade na Amazônia para tentar produzir borracha.<br />

Maria Fernanda Ziegler | 01/09/2008 00h00<br />

Em 1927, o americano Henry Ford era “o” cara. Sua<br />

empresa, a Ford Motors Company, inaugurara um<br />

método inovador para produzir veículos. Os<br />

funcionários, especializados, ficavam em fila e cada um<br />

repetia a mesma tarefa o dia inteiro em diferentes<br />

automóveis, que se locomoviam até eles em esteiras. A<br />

linha de produção passou a ser chamada de “fordismo” e<br />

foi o marco de uma nova era na indústria: os produtos<br />

saíam em grande quantidade, de forma mais veloz e por<br />

preço mais baixo.<br />

Por isso, o Ford T, criado em 1908, vendia uma<br />

beleza. Foram 15007033 automóveis em 19 anos de vida,<br />

marca só superada mais tarde pelo Fusca, fabricado entre<br />

1938 e 2003 (que vendeu 307 unidades a mais). Em<br />

1921, mais da metade dos carros que entravam em<br />

circulação no mundo era da marca Ford.<br />

Os carros da linha de produção do gênio, claro,<br />

exigiam pneus e diversas outras peças feitas de borracha.<br />

Só entre 1920 e 1922, a quantidade de matéria-prima<br />

necessária para fabricação de pneus saltou de 19400 para<br />

67100 toneladas, segundo o livro Grande Capital e<br />

Agricultura na Amazônia – A Experiência Ford no<br />

Tapajós, de Francisco de Assis Costa. A borracha, obtida<br />

do látex extraído de seringueiras plantadas na Ásia, era<br />

monopólio inglês. E Ford tentou driblá-lo. Aproveitou<br />

um estudo feito havia quatro anos pelo governo<br />

americano sobre a possibilidade de obter látex no Brasil,<br />

chamado American Rubber Mission, e resolveu criar um<br />

braço amazônico para sua companhia. A idéia<br />

megalomaníaca incluiu a construção de duas cidades à<br />

beira do rio Tapajós, no Pará. Mas foi marcada por uma<br />

sucessão de erros que culminaram em 18 anos de<br />

trabalho jogados fora e um prejuízo de 9 milhões de<br />

298<br />

dólares da época (ou mais de 130 milhões de reais<br />

atuais).<br />

O fracasso começou na largada, já na obtenção do<br />

terreno. Sabendo do interesse americano por terras<br />

amazônicas, o cafeicultor Jorge Dumont Villares ganhou<br />

do governo do Pará áreas em sete pontos diferentes. Ao<br />

recepcionar a comitiva de funcionários da Ford enviados<br />

ao estado, mostrou apenas seus próprios terrenos ao<br />

longo do rio Tapajós. A concessão de 1 milhão de<br />

hectares (equivalente ao tamanho da cidade de Goiânia)<br />

poderia ter sido obtida gratuitamente direto com o<br />

governo, assim como Villares havia conseguido. Mas<br />

Henry Ford pagou 125 mil dólares ao cafeicultor. A<br />

Fordlândia nascia, dessa forma, de um golpe dado pelo<br />

brasileiro no americano em cima de um terreno<br />

montanhoso – e ainda por cima impróprio para<br />

seringueiras.<br />

Uma cidade foi erguida no meio da floresta<br />

amazônica. Os navios Lake Ormoc e Lake Farge<br />

trouxeram dos Estados Unidos os materiais necessários<br />

para a construção do povoado, como madeira, telhas e as<br />

próprias mudas das seringueiras. Uma das embarcações<br />

foi preparada para suprir temporariamente a aldeia de<br />

energia e servir de hospital. A floresta começou a ser<br />

derrubada em 1928, as casas foram construídas e as<br />

árvores, plantadas. Grande parte da terra foi ocupada<br />

pelos seringais, divididos milimetricamente, segundo<br />

Elaine Lourenço, professora de <strong>História</strong> no Centro<br />

Universitário Nove de Julho e autora da tese Americanos<br />

e Caboclos: Encontros e Desencontros em Fordlândia e<br />

Belterra/PA.<br />

Gente de toda parte foi procurar emprego em<br />

Fordlândia. O alvoroço repercutia no Rio de Janeiro, e o<br />

jornal O País registrou: “Todos são admitidos nas<br />

fábricas, exceto os dementes e loucos”. A verdade era<br />

que o recrutamento de novos trabalhadores já sofria de<br />

um problema que perseguiu a empresa nos 18 anos<br />

seguintes: a falta de mão-de-obra. Os anúncios nos<br />

jornais chamavam gente interessada, fosse especializada<br />

ou não, mas o exame médico barrava metade dos que ali<br />

apareciam por não terem boas condições de saúde.<br />

Mesmo assim, o negócio foi tomando forma. A<br />

cidade tinha um dos melhores hospitais da região e a<br />

Vila Americana, composta pelas casas dos<br />

administradores vindos dos Estados Unidos, era de alto<br />

nível: possuía gramados para golfe, quadras de tênis,<br />

piscina, campos de futebol, clube e cinema. Os<br />

funcionários ficavam em vilas bem mais modestas. O<br />

salário não era de se reclamar: bem maior que o de outras


cidades da região, era pago a cada 15 dias e em dinheiro,<br />

prática pouco comum por aquelas bandas. Se por um<br />

lado o bolso estava cheio, por outro a paciência deles se<br />

esgotava. A cidade americana seguia regras americanas.<br />

Havia relógios de ponto por toda parte. Uma sirene<br />

dividia o dia em turnos e marcava os horários de<br />

descanso. Os caboclos, acostumados a acompanhar o<br />

tempo conforme o ciclo do sol, estranharam. Para<br />

completar, a Fordlândia proibia bebida alcoólica em seus<br />

limites.<br />

A rigidez de costumes fazia com que a cidade<br />

deixasse de ser um lugar interessante para morar. A<br />

rotatividade entre os trabalhadores era, assim, muito<br />

grande. Mas, para os que lá ficavam, havia formas de<br />

diversão às escondidas, como a cachaça contrabandeada<br />

(vinha dentro de melancias pelo rio) e as festinhas<br />

animadas na chamada “ilha dos inocentes”, do outro lado<br />

do Tapajós – que de ilha e de inocente não tinha nada.<br />

Lá, bebida e prazer eram liberados. Para isso, prostitutas<br />

chegavam de Santarém e de Belém.<br />

Eu quero é farinha<br />

E foi ali, no coração da Amazônia e por causa das<br />

diferenças culturais, que ocorreu talvez o único motim<br />

antiespinafre da <strong>História</strong>. Em 1930, explodiu no<br />

refeitório da Companhia Ford Industrial do Brasil uma<br />

rebelião, conhecida como “quebra-panelas”. Os caboclos<br />

se revoltaram contra a obrigatoriedade de comer<br />

espinafre quase que diariamente – queriam peixe, feijão e<br />

farinha. Em meio a gritos de “abaixo o espinafre”,<br />

colocaram os americanos para correr e prometeram fazer<br />

greve. “Em uma noite, os dirigentes da Ford Motor<br />

Company aprenderam mais sociologia que em anos de<br />

universidade”, afirma o escritor e advogado Clodoaldo<br />

Vianna Moog em Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo<br />

entre Duas Culturas.<br />

Na mesma época, a plantação de seringueiras foi<br />

atacada pelo mal-das-folhas, fungo que reduzia a<br />

produção de látex e acabava até por matar a árvore.<br />

Estudos anteriores à implantação de Fordlândia<br />

indicavam que a floresta era capaz de proteger a árvore<br />

dessa praga. Isso porque a distância entre uma<br />

seringueira e outra diminuía a intensidade do ataque.<br />

Mas isso não acontecia no local. “Eles plantaram as<br />

árvores como se fossem eucaliptos, bem diferente da<br />

estrutura de uma floresta”, afirma Marinho Andrade,<br />

produtor do documentário Fordlândia, ainda sem data de<br />

estréia no cinema.<br />

O ritmo da implantação dos seringais também era<br />

baixo. Em 1929, havia 400 hectares de plantação. Em<br />

1931, o volume cresceu apenas para 900. Muito inferior<br />

ao planejamento inicial: 200 mil hectares de seringueiras<br />

e rendimento médio de 1500 quilos de borracha por<br />

hectare. Só em 1932, depois do fracasso da baixa<br />

produtividade, a companhia decidiu contratar um<br />

especialista no cultivo de borracha. Chegou por<br />

lá o botânico James R. Weir, que havia trabalhado na<br />

American Rubber Mission.<br />

Weir sugeriu, em 1936, a troca da área de Fordlândia<br />

por outra em Belterra, a 48 quilômetros de Santarém. Lá,<br />

o terreno era mais bem drenado, com mais vento e menos<br />

umidade – condições desfavoráveis à propagação do<br />

mal-das-folhas. Um outro núcleo urbano foi construído e<br />

alguns erros, reparados. O traçado das plantações ainda<br />

era retilíneo, mas as mudas não eram locais, e sim<br />

trazidas do antigo Ceilão (atual Sri Lanka). O projeto<br />

ganhou novo fôlego. Mesmo assim, a produção era<br />

baixa, os trabalhadores reclamavam da alimentação e da<br />

falta de liberdade. Uma vila vizinha a Belterra fazia as<br />

vezes da “ilha dos inocentes”, e a falta de mão-de-obra<br />

permaneceu.<br />

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muita coisa<br />

havia mudado. O principal – e determinante – fator para<br />

o fim do sonho de Ford no Brasil foi o surgimento da<br />

borracha sintética, que passou a ser largamente<br />

produzida em países como Japão, Alemanha e Rússia e<br />

que tornou a borracha natural menos interessante. Além<br />

disso, a idéia de terceirização surgia e já não era mais<br />

necessário se preocupar com o todo da produção de um<br />

automóvel. Em 1945, Henry Ford, sem nunca ter pisado<br />

em suas terras brasileiras, resolveu deixar de lado a<br />

Amazônia e vendeu por 250 mil dólares as cidades ao<br />

governo brasileiro, com tudo o que restava nelas. Hoje,<br />

Fordlândia está praticamente abandonada, tomada pelo<br />

mato. Belterra, pela proximidade com Santarém, tornouse<br />

um município um tanto maior, com cerca de 17 mil<br />

habitantes.<br />

In:http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/fordlandia-derrapadafor436290.shtml<br />

299


EXERCÍCIOS<br />

1. (UNESP 2013) Todo processo de industrialização é<br />

necessariamente doloroso, porque envolve a erosão de<br />

padrões de vida tradicionais. Contudo, na Grã-Bretanha,<br />

ele ocorreu com uma violência excepcional, e nunca foi<br />

acompanhado por um sentimento de participação<br />

nacional num esforço comum. Sua única ideologia foi a<br />

dos patrões. O que ocorreu, na realidade, foi uma<br />

violência contra a natureza humana. De acordo com uma<br />

certa perspectiva, esta violência pode ser considerada<br />

como o resultado da ânsia pelo lucro, numa época em<br />

que a cobiça dos proprietários dos meios de produção<br />

estava livre das antigas restrições e não tinha ainda sido<br />

limitada pelos novos instrumentos de controle social.<br />

Não foram nem a pobreza, nem a doença os responsáveis<br />

pelas mais negras sombras que cobriram os anos da<br />

Revolução Industrial, mas sim o próprio trabalho.<br />

(Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa, vol. 2, 1987.<br />

Adaptado.)<br />

O texto afirma que a Revolução Industrial<br />

a) aumentou os lucros dos capitalistas e gerou a<br />

convicção de que era desnecessário criar<br />

mecanismos de defesa e proteção dos trabalhadores.<br />

b) provocou forte crescimento da economia britânica e,<br />

devido a isso, contou com esforço e apoio plenos de<br />

todos os segmentos da população.<br />

c) representou mudanças radicais nas condições de<br />

vida e trabalho dos operários e envolveu-os num<br />

duro processo de produção.<br />

d) piorou as condições de vida e de trabalho dos<br />

operários, mas trouxe o benefício de consolidar a<br />

ideia de que o trabalho enobrece o homem.<br />

e) preservou as formas tradicionais de sociabilidade<br />

operária, mas aprofundou a miséria e facilitou o<br />

alastramento de epidemias.<br />

2. (UNESP 2012)<br />

Noite após noite, quando tudo está tranquilo<br />

E a lua se esconde por trás da colina,<br />

Marchamos, marchamos para realizar nosso desejo.<br />

Com machado, lança e fuzil!<br />

Oh! meus valentes cortadores!<br />

Os que com golpes fortes<br />

As máquinas de cortar destroem.<br />

Oh! meus valentes cortadores! (...).<br />

(Canção popular inglesa do início do século XIX. Citada por: Luzia Margareth<br />

Rago e Eduardo F. P. Moreira. O que é Taylorismo, 1986.)<br />

A canção menciona os “quebradores de máquinas”, que<br />

agiram em muitas cidades inglesas nas primeiras décadas<br />

da industrialização. Alguns historiadores os<br />

consideram“rebeldes ingênuos”, enquanto outros os<br />

veem como“revolucionários conscientes”.<br />

Justifique as duas interpretações acerca do movimento.<br />

3. (Unicamp 2011) Na Europa, até o século XVIII, o<br />

passado era o modelo para o presente e para o futuro. O<br />

velho representava a sabedoria, não apenas em termos de<br />

uma longa experiência, mas também da memória de<br />

como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de<br />

como deveriam ser feitas. Atualmente, a experiência<br />

acumulada não é mais considerada tão relevante. Desde o<br />

início da Revolução Industrial, a novidade trazida por<br />

cada geração é muito mais marcante do que sua<br />

semelhança com o que havia antes.<br />

(Adaptado de Eric Hobsbawm, O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade<br />

contemporânea?, em: Sobre <strong>História</strong>. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.<br />

37-38.)<br />

a) Segundo o texto, como a Revolução Industrial<br />

transformou nossa atitude em relação ao passado?<br />

b) De que maneiras a Revolução Industrial dos séculos<br />

XVIII e XIX alterou o sistema de produção?<br />

4. (Unicamp 2006) Um dos mandamentos do século<br />

XIX, na Europa, era o evangelho do trabalho. Para os<br />

ideólogos da classe média, o ideal do trabalho implicava<br />

autodisciplina e sentido atento do dever. Até mesmo os<br />

mais devotos ousavam modificar a palavra de Deus. As<br />

Escrituras haviam considerado o trabalho como castigo<br />

severo imposto por Deus a Adão e Eva. Mas para os<br />

ideólogos burgueses, o trabalho era prevenção contra o<br />

pecado mortal da preguiça. O evangelho do trabalho era<br />

quase exclusivamente um ideal burguês. Em geral, os<br />

nobres não lhe davam valor. O desprezo aristocrático<br />

pelo trabalho era um resquício feudal.<br />

(Adaptado de Peter Gay, O século de Schnitzler. São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 2002, p. 210-1, 214 e 217-8.)<br />

a) Segundo o texto, como o trabalho era visto pela<br />

Bíblia, pela burguesia e pela aristocracia?<br />

b) Como a burguesia buscou disciplinar os trabalhadores<br />

no contexto da Revolução Industrial?<br />

300


6. (Unicamp) No turbilhão da primeira era industrial, o<br />

nacionalismo tornou-se o principal meio pelo qual o<br />

governo podia garantir a unidade da população.<br />

Conforme encorajado pelos Estados Europeus, o<br />

nacionalismo implicava convencer a população de que<br />

ela devia sentir-se agressivamente orgulhosa do país em<br />

que vivia. Da metade do século XIX em diante, a febre<br />

nacionalista infiltrou-se em todas as formas culturais<br />

europeias afetando a educação, as artes e a literatura.<br />

(Traduzido e adaptado de Paul Greenhalgh, Ephemeral Vistas: the Expositions<br />

Universelles, Great Exhibitions and World´s Fairs. Manchester: Manchester<br />

University Press, 1988, p. 112-3).<br />

a) Caracterize a primeira era industrial, iniciada em fins<br />

do século XVIII.<br />

b) A partir do texto, explique quais as características do<br />

nacionalismo?<br />

c) De que forma o sentimento nacional foi expresso na<br />

literatura brasileira do mesmo período?<br />

7. (Unesp 2013) Leia.<br />

Todo processo de industrialização é necessariamente<br />

doloroso, porque envolve a erosão de padrões de vida<br />

tradicionais. Contudo, na Grã-Bretanha, ele ocorreu com<br />

uma violência excepcional, e nunca foi acompanhado<br />

por um sentimento de participação nacional num esforço<br />

comum. Sua única ideologia foi a dos patrões. O que<br />

ocorreu, na realidade, foi uma violência contra a natureza<br />

humana. De acordo com uma certa perspectiva, esta<br />

violência pode ser considerada como o resultado da ânsia<br />

pelo lucro, numa época em que a cobiça dos<br />

proprietários dos meios de produção estava livre das<br />

antigas restrições e não tinha ainda sido limitada pelos<br />

novos instrumentos de controle social. Não foram nem a<br />

pobreza, nem a doença os responsáveis pelas mais negras<br />

sombras que cobriram os anos da Revolução Industrial,<br />

mas sim o próprio trabalho.<br />

(Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa, vol. 2, 1987.<br />

Adaptado.)<br />

O texto afirma que a Revolução Industrial:<br />

a) aumentou os lucros dos capitalistas e gerou a<br />

convicção de que era desnecessário criar<br />

mecanismos de defesa e proteção dos trabalhadores.<br />

b) provocou forte crescimento da economia britânica e,<br />

devido a isso, contou com esforço e apoio plenos de<br />

todos os segmentos da população.<br />

c) representou mudanças radicais nas condições de<br />

vida e trabalho dos operários e envolveu-os num<br />

duro processo de produção.<br />

d) piorou as condições de vida e de trabalho dos<br />

operários, mas trouxe o benefício de consolidar a<br />

ideia de que o trabalho enobrece o homem.<br />

e) preservou as formas tradicionais de sociabilidade<br />

operária, mas aprofundou a miséria e facilitou o<br />

alastramento de epidemias.<br />

8. (Fuvest 2013) Maldito, maldito criador! Por que eu<br />

vivo? Por que não extingui, naquele instante, a centelha<br />

de vida que você tão desumanamente me concedeu? Não<br />

sei! O desespero ainda não se apoderara de mim. Meus<br />

sentimentos eram de raiva e vingança. Quando a noite<br />

caiu, deixei meu abrigo e vagueei pelos bosques. (...) Oh!<br />

Que noite miserável passei eu! Sentia um inferno<br />

devorar-me, e desejava despedaçar as árvores, devastar e<br />

assolar tudo o que me cercava, para depois sentar-me e<br />

contemplar satisfeito a destruição. Declarei uma guerra<br />

sem quartel à espécie humana e, acima de tudo, contra<br />

aquele que me havia criado e me lançara a esta<br />

insuportável desgraça!<br />

Mary Shelley. Frankenstein. 2ª ed. Porto Alegre: LPM, 1985.<br />

O trecho acima, extraído de uma obra literária publicada<br />

pela primeira vez em 1818, pode ser lido corretamente<br />

como uma:<br />

a) apologia à guerra imperialista, incorporando o<br />

desenvolvimento tecnológico do período.<br />

b) crítica à condição humana em uma sociedade<br />

industrializada e de grandes avanços científicos.<br />

c) defesa do clericalismo em meio à crescente<br />

laicização do mundo ocidental.<br />

d) recusa do evolucionismo, bastante em voga no<br />

período.<br />

e) adesão a ideias e formulações humanistas de<br />

igualdade social.<br />

9. (Feevale 2012) A Revolução Industrial, ocorrida na<br />

Inglaterra a partir de meados do século XVIII, pode ser<br />

compreendida como uma revolução sem precedentes,<br />

que resultou em transformações de ordem econômica e<br />

social.<br />

Sobre essa Revolução, são feitas algumas afirmações.<br />

I. Implicou em um processo de mecanização do campo,<br />

alterando costumes e paisagens.<br />

301


II. Implicou em mudanças de grande amplitude, como a<br />

nova organização das relações trabalhistas.<br />

III. Implicou em uma nova concepção de tempo,<br />

vinculada à produção e ao trabalho nas fábricas.<br />

d) Espírito regenerador dos valores cristãos praticados<br />

pela Contra Reforma na Inglaterra.<br />

e) Exaltação da classe operária inglesa e suas<br />

propensões naturais para o socialismo e a revolução.<br />

302<br />

Marque a alternativa correta.<br />

a) Apenas a afirmação I está correta.<br />

b) Apenas a afirmação II está correta.<br />

c) Apenas a afirmação III está correta.<br />

d) Apenas as afirmações II e III estão corretas.<br />

e) Todas as afirmações estão corretas.<br />

10. (PUCRJ 2012) Entre 1837 e 1839, o escritor inglês<br />

Charles Dickens publicou o romance “Oliver Twist”.<br />

Abaixo, estão reproduzidos os primeiros parágrafos<br />

desse texto de Dickens:<br />

“Dentre os vários monumentos públicos que enobrecem<br />

uma cidade de Inglaterra, cujo nome tenho a prudência<br />

de não dizer, e à qual não quero dar um nome<br />

imaginário, um existe comum à maior parte<br />

das cidades grandes ou pequenas: é o asilo da<br />

mendicidade.<br />

Lá em certo dia, cuja data não é necessário indicar, tanto<br />

mais que nenhuma importância tem, nasceu o pequeno<br />

mortal que dá nome a este livro.<br />

Muito tempo depois de ter o cirurgião dos pobres da<br />

paróquia introduzido o pequeno Oliver neste vale de<br />

lágrimas, ainda se duvidava se a pobre criança viveria ou<br />

não; se sucumbisse, é mais que provável que estas<br />

memórias nunca aparecessem, ou então ocupariam<br />

poucas páginas, e deste modo teriam o inapreciável<br />

mérito de ser o modelo de biografia mais curioso e exato<br />

que nenhum país em nenhuma época jamais produziu.”<br />

(Charles Dickens, Oliver Twist, Tradução de Machado de Assis e Ricardo Lísias,<br />

1ª. ed., São Paulo, Hedra, 2002.)<br />

Considerando a passagem acima, assinale a alternativa<br />

que indica corretamente as características do período a<br />

que Dickens se refere.<br />

a) Crescimento urbano e pobreza que acompanharam o<br />

desenvolvimento material da revolução industrial.<br />

b) Revolução comercial, reforma protestante e<br />

surgimento de uma nova ética de trabalho.<br />

c) Crise econômica do feudalismo e ascensão das<br />

ideias científicas do liberalismo.<br />

11. (G1 - IFSP 2011) A Revolução Industrial, ocorrida<br />

na Inglaterra no final do século XVIII e no século XIX<br />

a) trouxe a substituição da maquinofatura pela<br />

manufatura e pelo trabalho artesanal.<br />

b) provocou profundas transformações sociais, pois os<br />

salários masculinos subiram vertiginosamente,<br />

levando as mulheres a voltarem ao seu papel<br />

tradicional de mãe e esposa.<br />

c) rapidamente se espalhou pelo restante da Europa,<br />

sendo a Alemanha o segundo país a se industrializar.<br />

d) mudou substancialmente a vida do homem, que não<br />

mais era dono de seu tempo, como os mestres<br />

artesãos o eram.<br />

e) provocou mudanças políticas ao trazer a substituição<br />

da monarquia absolutista pela monarquia<br />

parlamentarista, regime em vigor até hoje.<br />

12. (UFTM 2011) Leia o texto.<br />

Em 1801, em todo o continente [europeu], não havia<br />

mais de 23 cidades com mais de 100 mil habitantes,<br />

agrupando menos de 2% da população da Europa. Em<br />

meados do século, seu número já se elevava para 42; em<br />

1900 eram 135 e, em 1913, 15% dos europeus moravam<br />

em cidades. Quanto às cidades com mais de 500 mil<br />

habitantes que, na época, pareciam monstros, só existiam<br />

duas no início do século XIX: Londres e Paris. Às<br />

vésperas da Primeira Guerra Mundial, elas já eram 149.<br />

(René Rémond. Introdução à história do nosso tempo – O Século XIX, 1976.)<br />

A situação descrita pode ser explicada pela (o)?<br />

a) pela pressão dos senhores feudais, que substituíram<br />

os antigos servos por trabalhadores livres.<br />

b) pela descoberta dos antibióticos, que contribuiu para<br />

erradicar doenças e aumentar a expectativa média de<br />

vida.<br />

c) pelo crescimento da publicidade, que incentivava o<br />

deslocamento de populações por todo o continente.<br />

d) pelo processo de industrialização, que concentrou a<br />

produção e a mão de obra nos centros urbanos.<br />

e) pela política armamentista, que incentivava o<br />

serviço militar obrigatório e o crescimento do<br />

exército nas áreas urbanas.


13. (ETEC SP 2010) “Desta vala imunda a maior<br />

corrente da indústria humana flui para fertilizar o mundo<br />

todo. Deste esgoto imundo jorra ouro puro. Aqui a<br />

humanidade atinge o seu mais completo<br />

desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a<br />

civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se<br />

quase um selvagem.”<br />

(HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1979.)<br />

Esta observação, feita por Alexis de Tocqueville em<br />

1835, descreve a cidade de Manchester (Inglaterra)<br />

durante a Revolução Industrial.<br />

A leitura do texto permite afirmar que o autor:<br />

a) tinha um ponto de vista teocêntrico, pois a ação<br />

humana era compreendida como um verdadeiro<br />

milagre.<br />

b) exaltava o processo de industrialização, que tornaria<br />

ainda melhores os seres humanos e a natureza ao seu<br />

redor.<br />

c) fazia uma defesa da política mercantilista, que tinha<br />

como prioridades o metalismo e as inovações<br />

tecnológicas.<br />

d) constatava que a industrialização poderia trazer,<br />

como consequência, a degradação socioambiental.<br />

e) defendia que a vida selvagem era melhor que a vida<br />

desenvolvida nas cidades industrializadas.<br />

14. (Vunesp 2003) Tempos difíceis é um romance do<br />

escritor inglês Charles Dickens, publicado em 1854. A<br />

história se passa na cidade de Coketown, em torno de<br />

uma fábrica de tecidos de algodão: Umas tantas centenas<br />

de operários na fábrica, umas tantas centenas de cavalosvapor<br />

de energia (...) O dia clareou e mostrou-se lá fora<br />

(...) As luzes apagaram-se e o trabalho continuou. Lá<br />

fora, nos vastos pátios, os tubos de escapamento do<br />

vapor, os montes de barris e ferro velho, os montículos<br />

de carvão ainda acesos, cinzas, por toda parte,<br />

amortalhavam o véu da chuva e do nevoeiro.<br />

a) Qual a importância do carvão e do ferro na 1ª<br />

Revolução Industrial?<br />

b) Comente as condições de trabalho nas fábricas<br />

inglesas no século XIX, a partir do texto apresentado.<br />

15. (Fuvest) "O fato relevante do período entre 1790 e<br />

1830 é a formação da classe operária". "Os vinte e cinco<br />

anos após 1795 podem ser considerados como os anos da<br />

contra-revolução". [Durante esse período] "o povo foi<br />

submetido, simultaneamente, à intensificação de duas<br />

formas intoleráveis de relação: a exploração econômica e<br />

a opressão política." Essas frases, extraídas de A<br />

FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA do<br />

historiador E. P. Thompson, relacionam-se ao quadro<br />

histórico decisivo na formação do mundo<br />

contemporâneo, no qual se situam<br />

a) a revolução comercial e a reforma protestante.<br />

b) o feudalismo e o liberalismo.<br />

c) a revolução industrial e a revolução francesa.<br />

d) o capitalismo e a contra-reforma.<br />

e) o socialismo e a revolução russa.<br />

16. (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema<br />

fabril na Inglaterra do século XVIII, é correto afirmar<br />

que ela:<br />

a) foi adotada não somente para promover maior<br />

eficácia da produção, como também para realizar a<br />

dominação capitalista, na medida que as máquinas<br />

submeteram os trabalhadores a formas autoritárias<br />

de disciplina e a uma determinada hierarquia.<br />

b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa<br />

tecnológica de ponta, feito pelos industriais que<br />

participaram da Revolução Industrial.<br />

c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas<br />

universidades.<br />

d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários<br />

estimulavam os operários a desenvolver novas<br />

tecnologias.<br />

e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade<br />

de algumas gerações de inventores, tendo sido<br />

adotada pelos industriais que estavam interessados<br />

em aumentar a produção e, por conseguinte, os<br />

lucros.<br />

17. (Fuvest) Ao descrever o crescimento urbano que<br />

acompanhou a Revolução Industrial na Europa, Munford<br />

observou que "os principais elementos do novo<br />

complexo urbano foram a fábrica, a estrada de ferro e o<br />

cortiço. Em si mesmos, eles constituíam a cidade<br />

industrial."<br />

Explique a relação existente entre esses três elementos<br />

que, de um modo geral, caracterizaram o processo de<br />

desenvolvimento das cidades industriais.<br />

303


18. (Unitau) O capitalismo, com base na transformação<br />

técnica, atinge seu processo específico de produção,<br />

caracterizado pela produção em larga escala, onde há<br />

uma radical separação entre o trabalho e o capital. Esta<br />

afirmativa está tratando:<br />

a) da separação entre capitalismo e socialismo.<br />

b) da Revolução Industrial.<br />

c) do advento do Mercantilismo.<br />

d) da Revolução comunista na Rússia.<br />

e) do plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial.<br />

c) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus<br />

capitais e suas ferramentas em oficinas ou<br />

domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos<br />

domésticos de produção.<br />

d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de<br />

financiar a monarquia e ser também, uma instituição<br />

geradora de empregos.<br />

e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas<br />

favorecendo a organização do mercado de trabalho,<br />

de maneira a assegurar emprego a todos os<br />

assalariados.<br />

19. (Fuvest) Identifique, entre as afirmativas a seguir, a<br />

que se refere a consequências da Revolução Industrial:<br />

a) redução do processo de urbanização, aumento da<br />

população dos campos e sensível êxodo urbano.<br />

b) maior divisão técnica do trabalho, utilização<br />

constante de máquinas e afirmação do capitalismo<br />

como modo de produção dominante.<br />

c) declínio do proletariado como classe na nova<br />

estrutura social, valorização das corporações e<br />

manufaturas.<br />

d) formação, nos grandes centros de produção, das<br />

associações de operários denominadas "trade<br />

unions", que promoveram a conciliação entre<br />

patrões e empregados.<br />

e) manutenção da estrutura das grandes propriedades,<br />

com as terras comunais, e da garantia plena dos<br />

direitos dos arrendatários agrícolas.<br />

22. (Cesgranrio) A industrialização acelerada de<br />

diversos países, ao longo do século XIX, alterou o<br />

equilíbrio e a dinâmica das relações internacionais. Com<br />

a Segunda Revolução Industrial emergiu o Imperialismo,<br />

cuja característica marcante foi o (a):<br />

a) substituição das intervenções militares pelo uso da<br />

diplomacia internacional.<br />

b) busca de novos mercados consumidores para as<br />

manufaturas e os capitais excedentes dos países<br />

industrializados.<br />

c) manutenção da autonomia administrativa e dos<br />

governos nativos nas áreas conquistadas.<br />

d) procura de especiarias, ouro e produtos tropicais<br />

inexistentes na Europa.<br />

e) transferência de tecnologia, estimulada por uma<br />

política não intervencionista.<br />

20. (Unicamp) A Revolução Industrial ganhou projeção<br />

a partir do século XIX expressando a evolução<br />

tecnológica, a disponibilidade de capitais e mão-de-obra,<br />

além dos ideais de uma nova classe social.<br />

Comente os principais problemas enfrentados pelos<br />

trabalhadores. Qual o primeiro setor industrializado na<br />

Inglaterra?<br />

23. (Unirio) Na segunda etapa da Revolução Industrial,<br />

iniciada por volta de 1860, caracterizou-se um(a):<br />

a) fortalecimento das corporações de mercadores.<br />

b) aumento da utilização da mão-de-obra servil.<br />

c) supremacia do capitalismo financeiro.<br />

d) intensificação das trocas comerciais através das<br />

feiras.<br />

e) predominância do sistema familiar de produção.<br />

21. (PUCCAMP) Dentre as consequências sociais<br />

forjadas pela Revolução Industrial pode-se mencionar:<br />

a) o desenvolvimento de uma camada social de<br />

trabalhadores, que destituídos dos meios de<br />

produção, passaram a sobreviver apenas da venda de<br />

sua força de trabalho.<br />

b) a melhoria das condições de habitação e<br />

sobrevivência para o operariado, proporcionada pelo<br />

surto de desenvolvimento econômico.<br />

24. (Faap) "A crise do antigo sistema colonial ocorrida<br />

na segunda metade do século XVIII foi provocada por<br />

fatores endógenos, particularmente às contradições do<br />

próprio sistema. Afinal, embora o objetivo da<br />

colonização fosse a exploração econômica da colônia em<br />

benefício da metrópole, era impossível explorar sem<br />

desenvolver." O texto trata da desintegração do antigo<br />

colonialismo que se operou numa conjuntura de crises<br />

mais global, marcada por várias revoluções, como:<br />

304


a) a revolução russa<br />

b) a revolução industrial<br />

c) a revolução praieira<br />

d) a guerra de secessão<br />

e) a revolução puritana<br />

25. (UFPE) Simultaneamente ao processo de<br />

acumulação de capitais, provenientes do comércio de<br />

escravos, pirataria e da descoberta das minas na<br />

América, a Inglaterra reaplicou seus lucros entrando<br />

numa era de grandes transformações que se denominou<br />

de Revolução Industrial. O(s) fator(es) que levou(aram)<br />

às grandes mudanças foi(foram):<br />

( ) A pequena propriedade inglesa, na época dos<br />

cercamentos, transformou-se em latifúndio, que<br />

empregava mão-de-obra assalariada e produzia grandes<br />

quantidades de alimentos;<br />

( ) Do aumento de produção agrícola destacaram-se<br />

alimentos destinados ao mercado externo e o algodão<br />

que atendia às colônias americanas;<br />

( ) o uso das máquinas atraiu às cidades um grande<br />

número de camponeses que, transformados em operários<br />

urbanos, vão participar de uma era de bonança e<br />

melhoria de vida material;<br />

( )a revolução industrial possibilitou a explosão dos<br />

centros urbanos, a concentração do capital, não<br />

modificando, entretanto, a precariedade das condições de<br />

moradia a alimentação do operário urbano;<br />

( )a revolução industrial modifica o cenário das classes<br />

sociais: a aristocracia que estava no topo da pirâmide,<br />

cede o seu lugar à burguesia industrial que agora ocupa o<br />

seu espaço.<br />

26. "Por volta de 1850, a Grã-Bretanha era a primeira<br />

entre as nações industrializadas, tendo evoluído de uma<br />

economia de base agrária para uma predominantemente<br />

industrial. Durante a Segunda Revolução Industrial (a<br />

partir de 1870), continuou em posição de destaque, mas a<br />

Alemanha (...) passou a determinar o ritmo da corrida<br />

pela supremacia industrial."<br />

(Atlas Histórico, FOLHA DE S. PAULO.)<br />

Para que a Grã-Bretanha e a Alemanha ocupassem as<br />

posições descritas pelo texto anterior, concorreram<br />

fenômenos tais como:<br />

a) a prática do chamado comércio triangular,<br />

envolvendo colônias na América, na Índia e na<br />

África, no primeiro caso; e o sucesso dos seguidos<br />

planos quinquenais de desenvolvimento industrial,<br />

praticados pelo Estado desde 1810, no outro caso.<br />

b) a adoção de uma economia de livre mercado com<br />

estímulo à competitividade, no primeiro caso; e a<br />

política de cercamento das terras comunais, gerando<br />

mão-de-obra para a indústria, no outro caso.<br />

c) a atração que o mercado financeiro britânico exercia<br />

sobre os investimentos mundiais, no primeiro caso; e<br />

a moral materialista, fruto da adoção, por parte do<br />

Estado, do anglicanismo como religião oficial, no<br />

outro caso.<br />

d) a tardia estruturação de um Estado-nação que<br />

possibilitou a concentração de capitais nas mãos de<br />

verdadeiros empreendedores, no primeiro caso; e o<br />

apoio financeiro e logístico recebido da França,<br />

arqui-rival da Inglaterra, no outro caso.<br />

e) a intensa atividade mercantil desenvolvida nas<br />

relações coloniais, no primeiro caso; e a unificação<br />

política que consolidou as alianças econômicas já<br />

praticadas entre os estados germânicos, no outro<br />

caso.<br />

27. (PUCSP) "...o produto da atividade humana é<br />

separado de seu produtor e açambarcado por uma<br />

minoria: a substância humana é absorvida pelas coisas<br />

produzidas, em lugar de pertencer ao homem..." A partir<br />

do texto pode-se afirmar que a Revolução Industrial<br />

a) produziu a hegemonia do capitalista na produção<br />

social.<br />

b) tornou a manufatura uma alternativa para o<br />

artesanato.<br />

c) introduziu métodos manuais de trabalho na<br />

produção.<br />

d) tornou o homem mais importante que a máquina.<br />

e) valorizou o produtor autônomo.<br />

28. (UFMG) Leia os textos.<br />

"Se alguém for visto falando com outra pessoa,<br />

assobiando ou cantando, será multado em 6 pence."<br />

(Documentos Humanos da Revolução Industrial).<br />

"O tempo não me pertence por isso amanhã não poderei<br />

ir à sua casa, mas se você puder ir à Praça da Bolsa, entre<br />

duas e duas e meia, nós nos encontraremos como<br />

sombras miseráveis nas bordas do inferno." (um marceneiro<br />

francês em 1848).<br />

305


"Pelo que sei do ofício, acredito que hoje um homem<br />

trabalha quatro vezes mais que antes. A oficina onde<br />

trabalho se assemelha em tudo a uma prisão - o silêncio é<br />

aqui aplicado tal qual numa prisão".<br />

(marceneiro inglês em 1849).<br />

A partir desses textos é possível concluir que a<br />

Revolução Industrial<br />

a) impôs uma rígida disciplina ao trabalhador<br />

assalariado no espaço da fábrica, não interferindo<br />

em seu dia-a-dia.<br />

b) introduziu a divisão do trabalho, buscando maior<br />

eficiência e permitindo que o trabalhador dominasse<br />

o conhecimento das etapas de produção.<br />

c) permitiu a organização do trabalho fabril, buscando<br />

uma maior comunicação entre os operários, cujo<br />

resultado final foi o aumento da eficiência e da<br />

lucratividade.<br />

d) provocou uma transformação social inserindo o<br />

trabalhador em novas formas de trabalho, e não foi<br />

uma mera aceleração do ritmo econômico.<br />

e) simplificou o trabalho ao máximo, reduzindo-o a<br />

simples tarefas manuais, o que diminuiu a<br />

exploração do trabalhador.<br />

com novas invenções, resultaram em transformações<br />

extraordinárias, fazendo surgir a indústria moderna,<br />

alterando as condições de vida, bem como a estrutura da<br />

sociedade. Indique algumas das transformações sociais<br />

ocorridas em países europeus do século XIX, decorrentes<br />

da revolução industrial, em particular aquelas relativas às<br />

condições de vida e de trabalho.<br />

29. (UFMG) Todas as alternativas apresentam mudanças<br />

que caracterizam a Revolução Industrial na Inglaterra do<br />

século XIX, EXCETO:<br />

a) A aplicação sistemática e generalizada do moderno<br />

conhecimento científico ao processo de produção<br />

para o mercado.<br />

b) A consolidação de novas classes sociais e<br />

ocupacionais, determinada pela propriedade de<br />

novos fatores de produção.<br />

c) A especialização da atividade econômica, dirigida<br />

para a produção e para o consumo paroquial e<br />

familiar.<br />

d) A expansão e despersonalização da unidade típica de<br />

produção, até então baseada principalmente nas<br />

corporações de ofício.<br />

e) O redirecionamento da força de trabalho das<br />

atividades relacionadas à produção de bens<br />

primários para a de bens manufa<br />

306<br />

30. (UFPR) A revolução industrial começou na<br />

Inglaterra no século XVIII e atingiu o continente europeu<br />

no século XIX. Novas fontes de energia, combinadas


GABARITO<br />

1:[C]<br />

Comentário da questão:<br />

A questão remete mais uma vez à Revolução Industrial,<br />

exigindo que o candidato leia atentamente o excerto e<br />

interprete a noção de violência que o autor engendra ao<br />

processo capitalista de produção. Bem como a noção de<br />

trabalho degradante durante o período da “formação da<br />

classe operária”. As informações dão conta de que as<br />

jornadas de trabalho durante o período podiam ser de 14<br />

a 16 horas, as fábricas podiam incluir até mesmo<br />

crianças como mão-de-obra e o trabalho era realizado em<br />

locais insalubres, sem existir nenhuma regulação ou<br />

fiscalização por parte das autoridades. O que leva o autor<br />

do trecho a concluir que o processo, na verdade, foi<br />

realizado unicamente sob a “ideologia dos patrões”.<br />

2:<br />

A questão trata dos “luddistas”, que agiram<br />

intermitentemente, na Inglaterra de fins do século XVIII<br />

e início do XIX, atacando instalações fabris e destruindo<br />

máquinas. Eles podem ser avaliados como “rebeldes<br />

ingênuos” se considerarmos a irreversibilidade da<br />

industrialização, absolutamente necessária para a<br />

afirmação do modo de produção capitalista, coroando um<br />

pro cesso iniciado séculos antes, na Baixa Idade Média.<br />

Por outro lado, interpretar os luddistas como<br />

“revolucionários conscientes” implica situá-los como<br />

precursores das lutas sociais do proletariado então em<br />

formação, atribuindo-lhes uma visão prospectiva dos<br />

males do capitalismo – visão essa consolidada pela<br />

análise científica elaborada anos depois por Marx e<br />

Engels.<br />

3:<br />

a) Segundo o texto, desde o início da Revolução<br />

Industrial, a novidade e a criatividade de cada geração é<br />

mais marcante do que os modelos do passado. Assim, o<br />

passado é descartado como memória de como as coisas<br />

deveriam ser feitas.<br />

b) A Revolução Industrial alterou de forma significativa<br />

o sistema de produção. Nesse sentido podemos destacar:<br />

• Antes da Revolução Industrial o trabalhador possuía os<br />

meios de produção. Com a industrialização, ocorre a<br />

separação entre o trabalho e a propriedade dos meios de<br />

produção. Estes passam a pertencer ao empresário<br />

industrial.<br />

• Antes, predominava a utilização de ferramentas<br />

implicando que a produção dependia da disposição,<br />

habilidade e destreza do trabalhador. Com a Revolução<br />

Industrial, é implantado o sistema fabril com a utilização<br />

de máquinas no sistema produtivo. Diferentemente da<br />

ferramenta, a máquina possui uma fonte uniforme de<br />

energia (por exemplo, a energia a vapor) que impõe um<br />

ritmo de produção ao qual o trabalhador deve se<br />

subordinar.<br />

• Antes da Revolução Industrial, a divisão do trabalho<br />

praticamente inexiste. O produtor é o artesão que<br />

confecciona a peça toda, o que requer aquelas qualidades<br />

que apontamos no item anterior para converter a matériaprima<br />

em produto manufaturado. Cada peça é única e a<br />

quantidade produzida é pequena. Era uma produção<br />

limitada, característica das corporações de ofício. Com a<br />

indústria, esse sistema de produção "doméstico" é<br />

destruído e em seu lugar instaura-se o sistema fabril.<br />

Impõe-se a divisão social do trabalho e da produção.<br />

• Com a introdução do sistema fabril, ocorre a<br />

generalização do trabalho assalariado e a consequente<br />

expansão do mercado de consumo, por intermédio da<br />

monetarização da economia.<br />

• A adoção do sistema fabril dá origem a um processo<br />

intenso de inovação tecnológica. Cada inovação<br />

engendra modificações em outros setores da produção e<br />

da própria organização do trabalho e das tarefas<br />

produtivas, o que contrasta significativamente com a<br />

atividade artesanal que até então existia.<br />

5:<br />

a) Essa questão requer capacidade de interpretação do<br />

texto, devendo o candidato apontar os diferentes<br />

significados do trabalho para a Bíblia, a burguesia e a<br />

aristocracia, respectivamente. Assim, na Bíblia, trabalho<br />

era sinônimo de castigo e sacrifício em razão dos<br />

pecados. Para a burguesia e seus ideólogos, o trabalho<br />

era uma atividade positiva, que purificava a alma e<br />

distanciava homens e mulheres do pecado da preguiça. A<br />

aristocracia nutria profundo desprezo pelo trabalho, visto<br />

como atividade destinada exclusivamente às chamadas<br />

“ordens não privilegiadas” da sociedade (burgueses,<br />

camponeses, artesãos etc.).<br />

307


308<br />

b) Espera-se que o candidato reconheça no trabalho<br />

fabril um dos principais mecanismos de disciplinarização<br />

do trabalhador no contexto da Revolução Industrial. A<br />

disciplina podia ser obtida, por exemplo, por meio de<br />

multas, horários fixos e a vigilância dos contramestres. O<br />

candidato também pode se referir à ética protestante do<br />

trabalho.<br />

03 – Comentários<br />

Essa questão aborda um dos temas clássicos do ensino de<br />

história, a Revolução Industrial e o trabalho nas fábricas<br />

e procurou medir, principalmente, a capacidade de leitura<br />

e entendimento de texto dos candidatos. Dividida em 2<br />

itens, a resposta do primeiro estava dada no enunciado,<br />

bastando que o candidato o lesse atentamente para<br />

perceber os diferentes significados do trabalho para a<br />

Bíblia, a burguesia e a aristocracia.<br />

O item b, contudo, exigia do candidato conhecimentos<br />

específicos sobre o período e capacidade de reconhecer<br />

no trabalho fabril um dos principais mecanismos de<br />

disciplinarização do trabalhador no contexto da<br />

Revolução Industrial. Para obter os dois pontos da<br />

questão era preciso citar pelo menos duas formas de se<br />

obter a disciplina fabril, por exemplo, por meio de<br />

multas, horários fixos e vigilância dos contramestres.<br />

Algumas respostas também se referiram às questões<br />

religiosas como a ética protestante do trabalho, a<br />

influência do calvinismo e da reforma.<br />

Dadas as características das questões formuladas nos<br />

dois itens, o resultado foi uma avalanche de notas 3, uma<br />

vez que houve grande acerto nas respostas do item a,<br />

enquanto que no item b verificou-se uma dificuldade por<br />

parte dos candidatos de entender a ideia de disciplina. Na<br />

maioria das vezes a disciplinarização foi confundida com<br />

a descrição das péssimas condições de trabalho dentro<br />

das fábricas - o que acarretou uma pequena margem de<br />

acerto no item e, consequentemente, um índice pouco<br />

expressivo de notas 4 e 5, assim como de notas 1 e 2.<br />

6:<br />

a) O estudante poderia apontar pelo menos três aspectos<br />

centrais como características da primeira era industrial<br />

que se desenvolveu especialmente na Inglaterra: o uso da<br />

tecnologia e a alteração das formas de produção, com a<br />

expansão da indústria têxtil, uso da<br />

energia a vapor, processo de substituição da manufatura;<br />

exploração dos trabalhadores com precárias condições de<br />

trabalho, incluindo a exploração do trabalho infantil; a<br />

busca de mercados consumidores especialmente nas<br />

colônias americanas.<br />

b) Conforme indicado no enunciado, o nacionalismo era<br />

o principal meio para os Estados garantirem a unidade da<br />

população; caracterizava-se pela agressividade e orgulho<br />

pelo país em que se vivia e interferia em aspectos<br />

culturais como a educação, as artes e a literatura.<br />

c) No Brasil, o sentimento nacional na literatura<br />

expressou-se, por exemplo, no romantismo (indianismo),<br />

quando valorizou-se o indígena e a natureza do país.<br />

COMENTÁRIOS<br />

A questão envolvia conteúdos e temporalidades distintas<br />

como a Revolução Industrial, o nacionalismo em suas<br />

caracterizações e sua expressão na literatura brasileira. O<br />

conteúdo, particularmente no item c), envolvia<br />

conhecimentos presentes na <strong>História</strong> e na Literatura.<br />

Todos os temas são presentes nos conteúdos escolares e<br />

as abordagens podiam ser feitas a partir de diversos<br />

referenciais que os estudantes possuem,<br />

contextualizando-os nas especificidades das questões. No<br />

item a, ao abordar as condições da primeira era<br />

industrial, era possível apontar o desenvolvimento<br />

tecnológico e as alterações no mercado de trabalho. A<br />

questão permitiu, além da caracterização das relações<br />

produtivas, o impacto social que elas tiveram no período.<br />

Dessa forma, as condições de trabalho e a exploração dos<br />

trabalhadores eram algumas das alternativas de resposta.<br />

O item b solicitava o conceito de nacionalismo a partir<br />

do texto, exigindo a leitura e o reconhecimento de<br />

características que o nacionalismo adquiriu nos países<br />

europeus. O item c estava associado a uma das<br />

caracterizações do item anterior (a febre nacionalista na<br />

literatura) e a questão foi inovadora por buscar a<br />

aproximação entre a <strong>História</strong> e a Literatura, e sua<br />

identificação do nacionalismo na literatura brasileira,<br />

num momento específico (século XIX). A questão foi<br />

amplamente respondida, o que demonstra que os<br />

vestibulandos obtêm bons resultados com a aproximação<br />

interdisciplinar que tem sido almejada pelas propostas<br />

educacionais mais recentes.<br />

7:[C]<br />

Comentário da questão:<br />

A questão remete mais uma vez à Revolução Industrial,<br />

exigindo que o candidato leia atentamente o excerto e


interprete a noção de violência que o autor engendra ao<br />

processo capitalista de produção. Bem como a noção de<br />

trabalho degradante durante o período da “formação da<br />

classe operária”. As informações dão conta de que as<br />

jornadas de trabalho durante o período podiam ser de 14<br />

a 16 horas, as fábricas podiam incluir até mesmo<br />

crianças como mão-de-obra e o trabalho era realizado em<br />

locais insalubres, sem existir nenhuma regulação ou<br />

fiscalização por parte das autoridades. O que leva o autor<br />

do trecho a concluir que o processo, na verdade, foi<br />

realizado unicamente sob a “ideologia dos patrões”.<br />

8:[B]<br />

A obra Frankenstein de Mary Shelley trata-se de um<br />

clássico da literatura romântica europeia, período<br />

histórico marcado pela disseminação da Revolução<br />

Industrial e pela consolidação do tecnicismo. O romance<br />

destaca como essas novas perspectivas afastavam o<br />

homem de sua plenitude, do desenvolvimento de seus<br />

sentimentos e da vida em meio a uma natureza<br />

idealizada, ameaçada pelo avanço da industrialização.<br />

9: [E]<br />

Comentário da questão:<br />

Todas corretas; no entanto, vale ressaltar que as<br />

transformações no campo são consequências da<br />

Revolução Industrial em médio prazo, pois em um<br />

primeiro momento, as grandes transformações ocorrem<br />

nas cidades. Ao apresentar as mudanças no campo, a<br />

questão tende a confundir o estudante. A partir da<br />

Revolução, consolidou-se o trabalho assalariado e as<br />

relações capitalistas de produção e o trabalhador perdeu<br />

completamente o controle sobre o tempo, determinante<br />

para a ampliação da produção.<br />

10: [A]<br />

Comentário da questão:<br />

(A) Crescimento urbano e pobreza que acompanharam o<br />

desenvolvimento material da revolução industrial.<br />

B) Incorreta. A Revolução comercial é um processo que<br />

antecede o período tratado no texto, além disso o extrato<br />

da obra Oliver Twist que foi selecionado não trata de<br />

aspectos ligados ao comércio.<br />

C) Incorreta. A Inglaterra do século XIX não estava<br />

passando pela crise econômica do feudalismo.<br />

D) Incorreta. No século XIX, a Igreja Anglicana não<br />

estava passando por uma crise religiosa relacionada a<br />

Contra Reforma.<br />

E) Incorreta. O texto não faz referências ao socialismo<br />

ou a movimentos revolucionários. A opção correta é<br />

aquela que relaciona crescimento urbano e pobreza com<br />

o desenvolvimento material da revolução industrial.<br />

Portanto a opção A está correta.<br />

11:[D]<br />

12:[D]<br />

13:[D]<br />

14:<br />

a) O carvão foi uma importante fonte de energia<br />

primária, além de ter sido matéria-prima indispensável<br />

na metalurgia do ferro nos primórdios da Revolução<br />

Industrial. O ferro, por sua vez, foi um dos mais<br />

importantes insumos industriais da primeira Revolução<br />

Industrial, pois era utilizado na construção de máquinas e<br />

bens de consumo duráveis.<br />

b) As condições de trabalho nas fábricas eram precárias.<br />

Podemos destacar, entre outras: longas jornadas, baixos<br />

salários, muitos acidentes de trabalho, poucas condições<br />

de segurança, utilização generalizada do trabalho infantil<br />

e feminino em operações de risco, insegurança quanto à<br />

estabilidade do emprego, repressão a qualquer<br />

possibilidade de discussão sobre as péssimas condições<br />

de trabalho. Dentre essas, são explicitamente<br />

mencionadas no texto a insalubridade das fábricas e as<br />

longas jornadas de trabalho.<br />

15:[C]<br />

16:[A]<br />

17:<br />

Com a Revolução Industrial os principais elementos do<br />

novo complexo urbano foram a fábrica, a estrada de ferro<br />

e o cortiço. Tais aglomerações urbanas podiam expandirse,<br />

e de fato expandiam-se cem vezes, sem adquirir mais<br />

que vestígios das instituições que caracterizam uma<br />

cidade. A fábrica passou a ser o núcleo do novo<br />

organismo urbano. Todos os demais detalhes da vida<br />

ficaram subordinados a ela. Os lugares destinados à<br />

309


moradia eram, muitas vezes, situados dentro dos espaços<br />

que sobravam entre fábricas, galpões e pátios<br />

ferroviários. As casas costumavam ser construídas bem<br />

junto das usinas siderúrgicas, fábricas de tintas,<br />

gasômetros ou cortes ferroviários. Era muito freqüente<br />

serem construídas em terras cheias de cinzas, vidros<br />

quebrados e restos, onde nem mesmo a grama podia<br />

deitar raízes; podiam estar ao pé de uma pirâmide de<br />

detritos ou junto de uma enorme pilha permanente de<br />

carvão e escória; dia após dia, o mau cheiro dos dejetos,<br />

o negro vômito das chaminés e o ruído das máquinas<br />

martelantes ou rechinantes, acompanhavam a rotina<br />

doméstica. Nascia ali o cortiço. Assim, a ferrovia levava<br />

ao coração da cidade não apenas o ruído e a imundície,<br />

mas o que se produzia nas fábricas. O desperdício de<br />

espaço pelos pátios ferroviários no coração da cidade<br />

somente aumentava sua mais rápida expansão fora dela.<br />

Já quanto à própria habitação, as alternativas eram<br />

simples. Nas cidades industriais que cresceram com base<br />

em fundações antigas, os trabalhadores foram<br />

inicialmente acomodados pela transformação das velhas<br />

casas familiares em alojamentos de aluguel. Nessas<br />

casas reconstruídas, cada quarto passava agora a abrigar<br />

toda uma família: o sistema de um quarto para cada<br />

família vigorou por muito tempo. O amontoamento de<br />

camas, com três até oito pessoas de diferentes idades a<br />

dormir no mesmo catre, agravava muitas vezes o<br />

congestionamento dos quartos, nesses chiqueiros<br />

humanos. Assim, as fábricas da Revolução Industrial<br />

chegaram trazendo consigo uma relação estreita com a<br />

estrada de ferro que transportavam os produtos, e os<br />

cortiços sem qualquer estrutura para abrigar um ser<br />

humano.<br />

24:[B]<br />

25:V F F V V<br />

26:[E]<br />

27:[A]<br />

28:[D]<br />

29:[C]<br />

30:<br />

- Surgimento da burguesia industrial;<br />

- Exploração do proletariado urbano;<br />

- Exploração do trabalho feminino e infantil;<br />

- Surgimento dos movimentos de luta operária;<br />

18:[B]<br />

19:[B]<br />

20:<br />

Os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores<br />

eram as horas excessivas e as péssimas condições de<br />

trabalho, falta de assistência médica e etc. O primeiro<br />

setor industrializado na Inglaterra foi a Indústria têxtil.<br />

310<br />

21:[A]<br />

22:[B]<br />

23:[C]


REVOLUÇÃO FRANCESA<br />

1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA FRANÇA<br />

PRÉ – REVOLUCIONÁRIA<br />

1.1 Sociedade<br />

permitiam o controle sobre as terras, as chefias no<br />

exército e os principais cargos administrativos; eram<br />

ainda da beneficiados por isenção fiscal, sustento a partir<br />

de rendas obtidas através do dízimo, exploração dos<br />

direitos servis e recursos do Estado. Ao Terceiro Estado,<br />

por sua vez, recaíam obrigações como o sustento do<br />

Estado, a partir do pagamento de pesados impostos aos<br />

reis ou cumprir as obrigações servis, uma vez que 80%<br />

da população desta ordem vivia no campo. Eram ainda<br />

submetidos a uma justiça diferenciada e desconsiderados<br />

em mérito nas possibilidades de ocupar cargos públicos,<br />

impondo-se a ordem de nascimento e o pertencimento às<br />

estratificações sociais pré-definidas.<br />

1.2 Crise econômico-financeira<br />

Representação do Terceiro Estado sustentando o Primeiro e Segundo<br />

Estados.<br />

Na segunda metade do século XVIII, a marca substancial<br />

da sociedade francesa era a rígida estratificação de sua<br />

população em três ordens principais: Ao Primeiro<br />

Estado, incluíam-se os membros do clero, enquanto no<br />

Segundo Estado, congregava-se os nobres do país. A<br />

maioria esmagadora da população, compostos pela alta<br />

burguesia (banqueiros, grandes comerciantes,<br />

armadores), a pequena burguesia (comerciantes,<br />

pequenos proprietários e profissionais liberais),<br />

trabalhadores urbanos (sans-culottes, - trabalhadores das<br />

manufaturas) e os trabalhadores rurais (arrendatários,<br />

trabalhadores assalariados e camponeses submetidos a<br />

relações próxima à servidão), compunham o Terceiro<br />

Estado, marcado por uma evidente heterogeneidade em<br />

sua composição.<br />

Os dois primeiros estados, apesar de constituírem menos<br />

de 20% da população, contavam com uma gama de<br />

privilégios juridicamente justificados, o que lhe<br />

Com a ascensão da dinastia Bourbon ao longo do século<br />

XVII, e os esforços de estimulo à produção<br />

manufatureira de artigos de luxo, a economia francesa<br />

alcançou um período de relativo crescimento, com o<br />

desenvolvimento do comércio interno e no incremento<br />

do comércio colonial. Entretanto, ainda mediante esse<br />

quadro, permanecia como um país ainda fortemente<br />

sustentado na produção agrícola (o que explica que os<br />

camponeses sejam a maioria esmagadora na composição<br />

de sua sociedade).<br />

Diferente da indústria inglesa em plena expansão, a<br />

incipiente indústria francesa encontrava entraves ao seu<br />

pleno desenvolvimento. Encontravam-se divididas em<br />

grandes Corporações de Ofício, nos moldes medievais,<br />

que impedindo a livre concorrência restringiam a<br />

produção a pequenos grupos, impedindo a ampliação da<br />

produção industrial nos moldes do livre mercado.<br />

Destacavam-se ainda, as Manufaturas Reais, que<br />

exploradas pelo Estado, dedicavam-se à produção de<br />

artigos de luxo para exportação ou para população,<br />

porém com rígido controle sobre preços e direitos de<br />

distribuição entre os comerciantes franceses. Faltava,<br />

portanto, em decorrência do excessivo controle<br />

mercantilista, estimulo à ampliação e modernização da<br />

produção industrial francesa, mantendo a economia ainda<br />

arraigada a padrões de produção bastante arcaicos.<br />

Ademais, o comércio era ainda dificultado pelas<br />

alfândegas internas (pedágios) que impediam a<br />

circulação e a integração entre campo e cidade. Já o<br />

311


comércio externo estava em declínio em virtude de<br />

perdas coloniais (como Antilhas, Canadá e as Índias) que<br />

fez diminuir as matérias primas para as maquinofaturas.<br />

Além da difícil situação econômica do país, a crise<br />

financeira do Estado Francês também contribuía para<br />

criar a atmosfera necessária às insatisfações que<br />

culminariam com o processo revolucionário; desde o<br />

governo de Luís XV, a derrota francesa para a Inglaterra<br />

na Guerra dos 07 Anos, o rei precisou governar com<br />

dificuldades orçamentárias e grave crise financeira até a<br />

sua morte em 1774.<br />

GUERRA DOS 07 ANOS – 1767 -1773<br />

A Guerra dos Sete anos foi um conflito travado entre<br />

diversas monarquias nacionais europeias em torno do<br />

controle de regiões de exploração colonial. Um dos lados<br />

dessa guerra era liderado pela França que, com o apoio<br />

militar dos austríacos, procurava rivalizar contra a<br />

supremacia exercida pelos britânicos nas regiões da<br />

América do Norte e na Índia. Além disso, esse mesmo<br />

conflito também foi marcado pelas disputas hegemônicas<br />

entre os Estados do antigo Sacro-Império Germânico.<br />

Em um primeiro momento desse conflito, os<br />

exércitos prussianos realizaram uma aliança militar com<br />

a Inglaterra, que fazia franca oposição ao apoio que os<br />

austríacos tinham por parte das forças francesas. Ao<br />

mesmo tempo em que esses exércitos se enfrentavam<br />

dentro da Europa, França e Inglaterra promoviam<br />

conflitos paralelos pelo controle de regiões da América<br />

do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mar<br />

Mediterrâneo, Canadá e Caribe.<br />

A fase colonial da guerra teve início com a invasão<br />

francesa à ilha britânica de Minorca, ocorrida em 1756.<br />

As ações tomadas pelos franceses foram contra-atacadas<br />

pelas poderosas tropas inglesas, que realizaram o<br />

bloqueio britânico nas regiões de Toulon e Brest. Depois<br />

de sucessivas vitórias, os ingleses conquistaram as<br />

regiões de Quebec, Montreal, Cabo Bretão e Grandes<br />

Lagos. Na África, conseguiram derrubar o controle<br />

francês em Senegal e Gâmbia.<br />

A derrota dos franceses foi completada com a entrada<br />

da Espanha, que conseguiu tomar a região da Louisiana<br />

do Império Colonial Francês. A vitória britânica nesse<br />

conflito acabou realizando uma grande transformação no<br />

cenário colonial norte-americano. Inicialmente, os<br />

britânicos passaram a enrijecer suas relações com os<br />

colonos norte-americanos com a cobrança de impostos e<br />

a limitação na exploração das terras conquistadas.<br />

Além disso, o acordo empreendido entre as poderosas<br />

nações envolvidas nesse conflito garantiu à Rússia e à<br />

Prússia o controle político sobre algumas regiões do<br />

Velho Continente. Em contrapartida, O Império<br />

Austríaco perdeu sua posição hegemônica entre os<br />

fragmentados Estados Germânicos tendo os prussianos<br />

enquanto concorrentes. Entre todas as nações envolvidas,<br />

a França foi contundentemente afetada com a entrega de<br />

várias áreas coloniais para os ingleses. Com o fim do<br />

conflito, a Inglaterra saiu como grande vitoriosa, mas os<br />

custos gerados pela guerra enfraqueceram a sua<br />

economia. Dessa forma, a Coroa Inglesa decidiu impor<br />

diversos tributos para os colonos norte-americanos com o<br />

claro objetivo de ressarcir o prejuízo econômico<br />

produzido pela guerra. Entretanto, essa medida tencionou<br />

as relações com os colonos norte-americanos que, pouco<br />

tempo depois, lutaram pelo fim da dominação colonial<br />

britânica, dando início às Guerras de Independência dos<br />

EUA.<br />

Por Rainer Sousa - Equipe Brasil Escola<br />

Seu sucessor, Luís XVI, assumiu, portanto, um Estado<br />

falido, seriamente prejudicado pelos gastos com uma<br />

Corte parasitária, além do crescimento vertiginoso de sua<br />

dívida externa, face a empréstimos contraídos junto a<br />

banco estrangeiros. Apesar de ter obtido vantagens<br />

territoriais como decorrência do apoio militar concedido<br />

às Treze Colônias no processo de Independência dos<br />

Estados Unidos, a participação francesa nesse<br />

empreendimento selou a crise financeira do tesouro<br />

nacional.<br />

O Estado, mantendo sua característica intervencionista e<br />

autoritário (não existia liberdade de imprensa e de<br />

comércio ou econômica e o Estado era quem decidia<br />

sobre salários, preços) para tentar superar a crise, dispôsse<br />

a promover reformas, sem pôr em risco sua autoridade<br />

absoluta, que pudessem fortalecer as finanças reais. Em<br />

1787, o governo chegou a propor uma reforma tributária,<br />

a partir da qual os impostos passariam a ser cobrados<br />

também aos nobres e ao clero. A proposição redundou<br />

em fracasso, dada a rígida oposição dos grupos<br />

privilegiados, que se recusaram com veemência a<br />

partilhar os prejuízos da recuperação financeira do<br />

Estado.<br />

312


Diante da recusa dos nobres em se submeter à tributação,<br />

o ministro Jacques Necker sugeriu ao Rei a convocação<br />

da Assembleia dos Estados Gerais, representação das<br />

três ordens sociais – não reunida desde 1614 – a fim de<br />

apresentar proposições à reversão da crise.<br />

1.3 Liderança burguesa e influência iluminista<br />

no desfecho revolucionário<br />

A ação do Estado Absolutista francês na aplicação da<br />

política mercantilista e no estimulo à corrida colonial e<br />

desenvolvimento das manufaturas e o comércio interno e<br />

externo, contribuía para acumular capital nas mãos de<br />

uma parte de sua burguesia. No entanto, em fins do<br />

século XVIII, as restrições e regulamentações<br />

mercantilistas eram indesejadas pela burguesia, que<br />

buscava maior liberdade de ação, buscando limitar a ação<br />

excessiva do Estado. Esta classe social buscava também<br />

acabar com os resquícios feudais dos privilégios do<br />

nascimento da nobreza e criar uma sociedade fundada na<br />

igualdade jurídica.<br />

Para orientar e inspirar a ação da classe burguesa, os<br />

princípios fundamentais do Iluminismo permitiram a esta<br />

classe transformar seus interesses particulares em<br />

interesses universais de toda sociedade francesa, uma vez<br />

que a luta contra o mercantilismo, o absolutismo e os<br />

privilégios do clero e da nobreza passavam a ser<br />

pregados como interesse de toda a sociedade.<br />

2. O Processo Revolucionário<br />

A Tomada da Bastilha<br />

A convocação dos representantes dos Estados Gerais<br />

gerou expectativas diferenciadas nos variados grupos<br />

sociais. Parte da nobreza e do clero buscou organizar-se<br />

e encontrar apoio na alta burguesia, a fim de limitar o<br />

poder real e preservar o privilégio do não pagamento de<br />

impostos, como já havia sido proposto anteriormente. A<br />

classe burguesa interessava-se na composição da<br />

Assembleia para assegurar conquistas de maior<br />

autonomia econômica em relação ao Estado e a<br />

suspensão dos privilégios de ordem fiscal e jurídica<br />

conferidos ao clero e à nobreza; também dotados de<br />

grande esperança de igualdade e alterações da ordem<br />

social excludente estavam os grupos populares, também<br />

situados no Terceiro Estado, a exemplo dos camponeses<br />

super explorados no campo e dos sans-culottes urbanos.<br />

Após grande inquietação, reunia-se a 05 de maio de 1789<br />

a Assembleia dos Estados Gerais, marcada por grande<br />

diversidade e embate de interesses e personagens; alguns<br />

burgueses privilegiados sustentavam seu apoio ao rei e<br />

aos nobres, outros nobres mais esclarecidos se<br />

colocavam em favor das reformas; o alto clero firmava<br />

posições conservadoras, mas parte do baixo clero tendia<br />

em apoiar reformas sociais; o rei insistia na restrição da<br />

Assembleia a tratar de questões meramente econômicofinanceiras.<br />

Após o início das reuniões, a primeira conquista dos<br />

grupos oposicionistas foi o aumento concedido por Luís<br />

XVI, do número de representantes do Terceiro Estado. A<br />

exigência do Terceiro Estado sustentava-se no<br />

tradicional regimento da Assembleia dos Estados Gerais,<br />

que definia as votações por Estado, e não por cabeças;<br />

como o primeiro e segundo estados possuíam interesses<br />

conservadores da ordem convergentes, tenderiam sempre<br />

a serem vitoriosos nas proposições.<br />

Com o novo esquema de votação que considerava o<br />

número de cabeças por deputados representantes, o<br />

Terceiro estado considerava que as dissidências entre a<br />

nobreza liberal e o clero ligado às forças populares,<br />

poderiam assegurar algumas conquistas para o terceiro<br />

estado.<br />

Com o impasse estabelecido, o Rei sinalizava para o<br />

fechamento da Assembleia dos Estados Gerais; em<br />

resposta, os delegados do Terceiro Estado se colocaram<br />

como representantes da Nação, buscando constituir um<br />

poder independente dos demais da França; temerosa, a<br />

aristocracia se reaproximou plenamente do Rei e o<br />

incentiva ao fechamento da Assembleia. Reunidos no<br />

313


314<br />

salão de jogos, os deputados se recusaram a se<br />

desmobilizarem e firmaram um compromisso de só<br />

abandonarem o recinto após elaboração de um<br />

documento constitucional ao país. Era o Juramento da<br />

Sala do Jogo de Péla.<br />

O monarca reafirmava sua posição intransigente em<br />

relação aos acontecimentos e, considerando inaceitável<br />

uma limitação ao seu poder, começou a mobilizar tropas<br />

para o cerco de Paris e Versalhes, alegando a<br />

manutenção da ordem e proteção da Assembleia. Os<br />

deputados do Terceiro Estado radicalizaram suas<br />

posições, buscaram apoio externo de outros setores<br />

sociais e, em 09 de julho, constituíram-se numa<br />

Assembleia Nacional Constituinte, se auto delegando o<br />

direito de decretar as leis que formariam a nova<br />

Constituição.<br />

A repercussão externa da movimentação e o temor de<br />

mergulhar a Franca numa guerra civil, levou o monarca e<br />

a nobreza a moderar suas posições, buscando integrar<br />

suas representações dentro da Assembleia recém<br />

constituída. Nas ruas, entretanto, especialmente entre os<br />

sans-culottes, as tensões sociais chegaram ao seu ápice,<br />

em apoio à Constituinte, quando no dia 14 de julho, a<br />

recém criada milícia burguesa atacou a cadeia da<br />

Bastilha, símbolo do absolutismo francês. Tal episódio se<br />

consagraria no marco inicial da Revolução Francesa.<br />

Os sans-culottes eram artesãos, trabalhadores e até pequenos<br />

proprietários que viviam nos arredores de Paris. Recebiam esse<br />

nome porque não usavam os elegantes calções que a nobreza vestia,<br />

mas uma calça de algodão grosseira.<br />

2.1 1º fase - Assembleia Nacional Constituinte<br />

Com a repercussão urbana da Tomada da Bastilha, as<br />

jornadas populares de mobilização se expandiram para o<br />

campo, onde uma onda de agitações violentas com o<br />

assalto às propriedades, invasão de habitações, saques de<br />

depósitos de alimentos e a destruição de documentos que<br />

comprovavam dividas dos camponeses com senhores<br />

espalharam o terror nas áreas rurais. Era o Grande<br />

Medo, que levou à fuga de milhares de nobres para os<br />

países vizinhos, na expectativa de organizar a<br />

contrarrevolução.<br />

Buscando conter a violência instaurada no campo e<br />

manter o controle político do processo revolucionário, a<br />

burguesia na representação institucional do Terceiro<br />

Estado se apressou em tomar medidas que favorecessem<br />

esse estrato camponês mais radical da revolução. Em 04<br />

de agosto de 1789, aboliu os direitos e privilégios<br />

feudais. Em 26 de agosto, a Assembleia Nacional<br />

Constituinte apresentava aos franceses, a Declaração<br />

dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consagrava<br />

novas conquistas liberais, como a liberdade religiosa, e<br />

de imprensa, além da igualdade civil e jurídica<br />

(extinguindo os estamentos e os tribunais especiais),<br />

assegurando o direito e inviolabilidade da propriedade<br />

privada, a defesa da soberania da lei como expressão da<br />

vontade geral, a igualdade de oportunidades na ocupação<br />

de postos administrativos e outros cargos e a<br />

legitimidade da derrubada de governos considerados<br />

tirânicos.<br />

Outra importante medida tomada pela recém constituída<br />

Assembleia Nacional Constituinte foi o confisco dos<br />

bens da Igreja Católica francesa, que se constituiria ao<br />

longo da revolução em lastro para a emissão de títulos –<br />

os assignats – usados como instrumento de compra em<br />

meio à grave crise financeira. A reação e mobilização do<br />

clero contra tais medidas levou a Assembleia a decretar,<br />

em julho de 1790, a Constituição Civil do Clero, que<br />

institucionalizou a ruptura entre o Estado e a Igreja, e<br />

submeteu seus membros à condição de funcionalismo<br />

público, além de abolir o dízimo eclesiástico e impor a<br />

prisão como pena aos membros rebeldes do clero.<br />

Em meio à desordem e agitação instalada, o monarca<br />

francês comunicou-se como os nobres emigrados à<br />

Prússia e Áustria, na tentativa de conspirar por uma


eação que garantisse a invasão da França e a derrubada<br />

do governo revolucionário, assegurando o retorno da<br />

ordem absolutista. As movimentações em torno da nova<br />

Constituição eram tão restritivas ao Rei, que Luís XVI<br />

via sua ação restringir-se a escolher e demitir ministros,<br />

o que o impulsionara a tentar fugir para a Áustria a fim<br />

de organizar a contrarrevolução; descoberto a meio<br />

caminho por camponeses, em Varennes (fronteira com os<br />

Países Baixos), o rei é escoltado de volta a Paris como<br />

prisioneiro.<br />

Em setembro do ano corrente (1791), finalmente seria<br />

votada e aprovada a Constituição de 1791. Por meio<br />

desta, confirmava-se a abolição dos impostos senhoriais<br />

sobre o campesinato, dos dízimos eclesiásticos, definiase<br />

pela proibição da venda de cargos públicos e<br />

suspendia-se em definitivo os privilégios de isenção<br />

fiscal da nobreza. Tal constituição estabelecia, na França,<br />

a Monarquia Constitucional Parlamentar, ou seja, o Rei<br />

ficaria limitado pela atuação da Constituição e do poder<br />

legislativo (Parlamento - Assembleia Nacional).<br />

2.2 1 fase – Monarquia Constitucional<br />

A composição da Assembleia Nacional, por notificação<br />

da Constituição, era escolhido através do voto<br />

censitário, o que equivalia dizer que o poder continuava<br />

nas mãos de uma minoria masculina, capaz de<br />

comprovar renda ou propriedade, embora incluindo uma<br />

parte privilegiada da burguesia. Resumindo, o que temos<br />

é uma Monarquia Parlamentar dominada pela alta<br />

burguesia e pela aristocracia liberal, com total<br />

afastamento do povo francês, excluindo trabalhadores e<br />

despossuídos, além das mulheres.<br />

A ordem constitucional, entretanto, não significou a<br />

restauração da ordem ou da normalidade; os setores<br />

populares mantinham-se descontentes, porque<br />

continuavam ainda sob o jugo do despotismo, não o da<br />

monarquia absoluta mas o despotismo dos homens do<br />

dinheiro; setores tradicionais da nobreza e do clero<br />

conspiravam, com a anuência do Rei, para tentar<br />

restaurar o Antigo Regime. Aos poucos, as forças<br />

revolucionárias presentes na Assembleia Nacional foram<br />

se dividindo e definindo posições políticas.<br />

Os grupos políticos organizavam-se para definir suas<br />

posições: No recinto da Assembleia, sentava-se à<br />

esquerda o partido liderado por Robespierre, adeptos da<br />

continuidade de implementação de mudanças radicais e<br />

com base de apoio popular: eram os Jacobinos ou<br />

Montanheses (assim chamados por se sentarem nas<br />

partes mais altas da Assembleia); destacavam-se entre as<br />

lideranças dos Jacobinos, nomes como Jean Paul Marat,<br />

Georges Danton, Herbert, Saint Just e outros (alguns<br />

desses personagens, ao se posicionarem em favor da<br />

República e do sufrágio universal masculino, mais<br />

radicais, portanto, eram chamados de Cordeliers); no<br />

lado oposto, à direita, sentavam-se os republicanos<br />

constitucionalistas, defensores da alta burguesia,<br />

identificados como Girondinos, defensores de posições<br />

mais moderadas, temerosos da radicalização da<br />

revolução; na extrema direita, encontram-se alguns<br />

remanescentes da aristocracia que ainda não emigrara,<br />

conhecidos pelo nome de negros ou aristocratas, que<br />

pretendiam a restauração do poder absoluto. Haviam<br />

ainda os Feuillants, monarquistas constitucionais, que<br />

representavam os interesses da burguesia financeira.<br />

A situação externa também gerava preocupação e<br />

apreensão na Franca. Em Agosto de 1791, os governos<br />

da Áustria e da Prússia, motivados pela nobreza francesa<br />

emigrada a seus territórios, anunciavam a intenção de<br />

intervir na França para estancar o processo<br />

revolucionário. Ao Rei, uma declaração de guerra era<br />

necessária por parte da Franca, pois em caso de derrota<br />

de seu país, isso significaria o próprio retorno à ordem<br />

absolutista. Parte da burguesia, especialmente os<br />

girondinos, também se colocavam em favor da guerra,<br />

desfocando os riscos de radicalização da revolução e<br />

buscando obter ganhos e lucros com o conflito. Os<br />

jacobinos, inicialmente desconfiados com o risco de<br />

serem derrotados, entenderem que, somente a expansão<br />

da revolução poderia assegurar as vitórias já<br />

conquistadas.<br />

A Assembleia Legislativa francesa exigiu da Áustria e da<br />

Prússia um compromisso de não invasão e, como não foi<br />

atendida pelas monarquias absolutas, declarou guerra à<br />

20 de abril de 1792. Luís XVI exultava, pois esperava<br />

que os exércitos franceses fossem derrotados para que<br />

ele pudesse voltar ao poder como Rei absoluto; dessa<br />

forma, o Rei e a Rainha, a famosa Maria Antonieta,<br />

entram em contato com os inimigos, contribuindo aos<br />

exércitos inimigos com segredos militares.<br />

De início, sem a disposição das camadas populares para<br />

a luta, a atuação dos exércitos franceses foi um fracasso<br />

no campo de batalha. Enquanto as tropas invasoras<br />

avançavam no território francês, Robespierre denuncia<br />

na Assembleia, de forma exaltada, as suspeitas de traição<br />

do Rei e dos generais ligados a ele, que também estavam<br />

interessados na derrota da França Revolucionaria; o Rei<br />

a família seriam presos em agosto de 1792.<br />

315


Num discurso aos jacobinos, Robespierre dizia:<br />

Não! Eu não me fio nos generais e, fazendo exceções<br />

honrosas, digo que quase todos têm saudades da velha<br />

ordem, dos favores de que dispõe a Corte. Só confio no<br />

povo, unicamente o povo.”<br />

Nas ruas de Paris e das grandes cidades, os sans-culottes<br />

(maneira como os pobres das cidades se identificavam)<br />

se agitavam pedindo a prisão dos responsáveis pelas<br />

derrotas da França diante dos exércitos austríacos e<br />

prussianos. Foi grande a mobilização dos camponeses e<br />

sans-culottes na reação aos exércitos invasores,<br />

motivados pelo discurso das lideranças jacobinas de ser<br />

essa a única condição de preservação de suas conquistas.<br />

A 2 de setembro de 1792, chegou a Paris a notícia de que<br />

Verdun estava sitiada; Verdun era a última fortaleza<br />

entre Paris e a fronteira. Imediatamente, foi lançada uma<br />

proclamação aos cidadãos, “À s armas cidadãos, às<br />

armas! O inimigo está às portas!”, que estimulou<br />

numerosos batalhões populares a se empenharem pela<br />

salvação da revolução. Vários prisioneiros, suspeitos de<br />

ligação com o antigo regime, foram massacrados pela<br />

população e, a 20 de setembro de 1792, na Batalha de<br />

Valmy, consagrou –se a vitória dos exércitos franceses<br />

sobre o exército prussiano. Ainda sob o calor da vitória<br />

militar, foi oficializada a proclamação da República, a<br />

primeira da França. Agora, o órgão que governaria a<br />

França passaria a ser a Convenção, eleita por voto<br />

universal.<br />

girondinos, de tendência mais moderada, queriam mantêlo<br />

vivo, consideravam sua execução excessivamente<br />

radical e bastava-lhe a retirada do poder e a prisão; os<br />

jacobinos, atendendo às inquietações populares que<br />

consideravam o Rei um traidor e, apelando ao discurso<br />

da igualdade jurídica sem privilégios, defendiam a<br />

execução do monarca Luís XVI por crime de traição à<br />

Pátria. A proposta jacobina saiu vencedora e o Rei foi<br />

guilhotinado a 21 e janeiro de 1793, enquanto em<br />

outubro do mesmo ano seria a vez de sua esposa. Os<br />

jacobinos tornavam-se cada vez mais populares,<br />

ampliavam seu prestígio e eram apoiados pelos sansculottes.<br />

HINRICHTUNG LUDWIG SEC XVI. Execução de Luís XVI<br />

2.3 Segunda Fase – República – Convenção<br />

Nacional<br />

Com o monarca preso e acusado de traição, instituiu-se a<br />

Primeira República Francesa, representada pela<br />

Convenção, eleita pelo sufrágio universal, inicialmente<br />

com maioria girondina. Nessa segunda fase, a situação<br />

dos “partidos” políticos ficou mais nítida no interior da<br />

nova Assembleia. À direita, o grupo dos girondinos<br />

defendendo os interesses da burguesia, que nesse<br />

momento estava dominando a Convenção. No centro, o<br />

grupo da planície (ou pântano), defendendo os<br />

interesses da burguesia financeira, mas tendo uma atitude<br />

oportunista, em que oscilavam suas posições à esquerda<br />

ou à direita a partir de seus interesses específicos. À<br />

esquerda e no alto, a montanha (jacobinos), defensores<br />

dos interesses da pequena burguesia e dos populares.<br />

A primeira questão que se impôs à recém constituída<br />

Convenção dizia respeito ao que fazer com o Rei? Os<br />

O novo governo revolucionário francês fez reformas de<br />

vários níveis, mas todas elas extremamente moderadas,<br />

de tal forma que não questionassem o poder dos<br />

girondinos. As notícias da execução do Rei e as<br />

pretensões dos exércitos franceses em expandir os ideais<br />

revolucionários levaram os exércitos estrangeiros a se<br />

reorganizarem na Primeira Coligação contra a Franca,<br />

reavivando o conflito armado externo. Os girondinos no<br />

poder viam na guerra uma forma de aumentarem suas<br />

fortunas e, recorriam à especulação nos preços dos<br />

produtos (alimentos, roupas), ampliando seus ganhos. Na<br />

verdade, eram eles que os vendiam e quem os comprava<br />

era o povo que, em sua extrema pobreza, não podia<br />

comprar mercadorias caras. Assim explica-se parte da<br />

impopularidade dos girondinos.<br />

Enquanto isso, nas ruas os sans-culottes, nas bradavam<br />

por reformas, controle dos preços, mercadorias mais<br />

baratas e melhorias salariais. Nesse momento, os<br />

316


jacobinos (montanheses) começam a liderar as<br />

reivindicações e conseguem que se forme a Comissão de<br />

Salvação Publica, tendo por objetivo inicial controlar os<br />

preços e denunciar os abusos feitos pelos altos<br />

comerciantes girondinos.<br />

Agravando ainda mais a instabilidade interna, eclodiu em<br />

Março de 1793 a Revolta da Vendeia, levante camponês<br />

estimulado por padres refratários, no qual trabalhadores<br />

do campo se erguiam contra o recrutamento militar<br />

forçado contra a ação dos países absolutistas; os<br />

jacobinos acusaram o movimento de ser uma ameaça<br />

contrarrevolucionaria interna e valeu-se dessa<br />

instabilidade para declararem a necessidade de endurecer<br />

o regime, instalando o despotismo da liberdade, cujo<br />

maior objetivo seria conter a crise econômica e combater<br />

os inimigos internos e externos da revolução.<br />

REVOLTA DA VENDEIA<br />

Vendeia: revolução contra revolução<br />

Numa província no interior da França, camponeses,<br />

monarquistas e religiosos, tentaram deter a revolução<br />

republicana. Mais de 250 mil deles acabaram mortos,<br />

num dos maiores massacres da história contemporânea<br />

José Francisco Botelho | 01/04/2005 00h00<br />

Nos primeiros meses de 1793, quatro anos após o<br />

início da Revolução Francesa, a região da Vendeia, no<br />

oeste do país, encontrava-se em estado de alerta. Por<br />

todos os lados, circulava a notícia de que o governo da<br />

República (estabelecida após a queda da monarquia, em<br />

1792) acabava de ordenar o recrutamento de 300 mil<br />

homens. Em cada cidade e aldeia, os combatentes seriam<br />

sorteados entre os solteiros de 16 a 40 anos – e os<br />

recrutadores teriam a ajuda da Guarda Nacional para<br />

garantir que suas ordens fossem cumpridas. O motivo<br />

para essas medidas era bem claro: a França estava sendo<br />

atacada por uma poderosa coalizão de países europeus,<br />

que pretendiam, entre outras coisas, derrubar a República<br />

e restabelecer a monarquia no país. Essas razões, no<br />

entanto, pouco importavam para os artesãos e<br />

camponeses da Vendeia. Gente simples, trabalhadora e<br />

profundamente religiosa, os vendeanos sabiam que quem<br />

partisse para aquela guerra tinha pouquíssimas chances<br />

de voltar com vida. Murmúrios de descontentamento<br />

espalharam-se como um incêndio, tomando conta dos<br />

bosques, fazendas e vilarejos da província. Em 10 de<br />

março de 1793, dia marcado para o recrutamento, a<br />

insatisfação se transformou em violência. Armados de<br />

foices, facas e porretes, 3 mil camponeses reuniram-se ao<br />

toque dos sinos, invadiram as vilas de Machecoul e<br />

Saint-Florent-le-Viel e massacraram centenas de<br />

soldados republicanos. Em menos de uma semana a<br />

insurreição se espalhou por quase toda a província e<br />

várias regiões vizinhas, como Maine-et-Loire e Deux-<br />

Sèvres. Agora, não havia como voltar atrás: a Vendeia<br />

tornara-se o inimigo número um dos partidários da<br />

Revolução. O que começara como um levante de<br />

camponeses descontentes em breve se transformaria na<br />

mais sangrenta guerra civil que a França já vira.<br />

Até hoje, a revolta da Vendeia permanece um dos<br />

episódios mais obscuros e polêmicos da Revolução.<br />

Afinal de contas, como se explica um levante popular tão<br />

vasto e violento contra uma Revolução que acabou com<br />

as instituições feudais e extinguiu os privilégios da<br />

nobreza? Durante mais de um século, os defensores do<br />

governo revolucionário torceram o nariz diante desse<br />

dilema. A opinião do escritor Jules Michelet, autor de<br />

<strong>História</strong> da Revolução Francesa, é um bom exemplo<br />

desse desconforto: para ele, a revolta da Vendeia não<br />

passou de “um monstruoso mal-entendido, um incrível<br />

fenômeno de ingratidão, absurdidade e injustiça”.<br />

A verdade é que o recrutamento forçado serviu apenas<br />

como estopim da insurreição: as principais causas para o<br />

levante da “inexplicável Vendeia”, como foi apelidada<br />

pelos republicanos, eram muito mais profundas e<br />

complexas. Para os habitantes das zonas rurais, os<br />

primeiros meses da Revolução haviam representado a<br />

promessa de um mundo mais justo e de uma vida menos<br />

árdua. No entanto, as reformas de 1789 foram dominadas<br />

pela burguesia das grandes cidades – e quem mais lucrou<br />

com elas foram os proprietários e comerciantes urbanos.<br />

“A República não estava resolvendo os problemas<br />

imediatos da população rural. Pelo contrário, estava<br />

agravando-os”, diz a historiadora Beatriz Franzen, da<br />

Universidade do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.<br />

“Os impostos continuavam a subir e as pessoas<br />

continuavam passando fome. Por isso, os camponeses<br />

sentiam que a Revolução os havia deixado de lado.” Em<br />

1790, o descontentamento político aliou-se à indignação<br />

religiosa. Com o intuito de diminuir a influência da<br />

Igreja Católica sobre a população, o governo decretou<br />

que todos os padres deveriam jurar fidelidade à<br />

Constituição da República. Aqueles que se recusassem<br />

seriam expulsos de suas paróquias e proibidos de rezar a<br />

missa. A medida foi condenada pelo papa Pio VI e o<br />

governo revolucionário passou a ser tachado de inimigo<br />

317


da religião. Para os camponeses da Vendeia, católicos<br />

fervorosos, essa foi a gota d’água. “Nas zonas rurais, a<br />

Igreja exercia um papel de assistência social”, diz<br />

Beatriz. “Quando o estado e a Igreja se desentenderam, o<br />

povo sentiu-se abandonado e desprotegido.” A tensão<br />

cresceu sem parar durante os dois anos seguintes, até<br />

estourar de uma vez por todas em março de 1793. Como<br />

fariam os seguidores de Antônio Conselheiro durante a<br />

Guerra de Canudos, quase um século depois, os rebeldes<br />

vendeanos estavam dispostos a matar e morrer em nome<br />

de Deus.<br />

Para o governo da República – e para vários<br />

historiadores – a revolta da Vendeia representou uma<br />

cruzada da velha França, atrasada e reacionária, contra os<br />

valores dos novos tempos. Mas há quem discorde.<br />

“Embora se colocassem a favor do sistema monárquico,<br />

os camponeses não estavam simplesmente defendendo a<br />

velha ordem das coisas”, diz Alain Gérard, diretor do<br />

Centro Vendeano de Pesquisas Históricas. “Eles lutavam<br />

pelos mesmos valores que os revolucionários: igualdade,<br />

liberdade e fraternidade. O fato é que a Revolução havia<br />

se mostrado infiel a esses princípios, deixando de lado as<br />

aspirações da população rural e dando mostras de<br />

autoritarismo e brutalidade. Em vez de se manterem ao<br />

lado de uma revolução que os havia decepcionado, os<br />

camponeses resolveram lutar contra ela.”<br />

In:http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/vendeia-revolucaorevolucao-434168.shtml<br />

Entre maio e junho de 1793, o povo se levanta em Paris,<br />

cerca o prédio da Convenção e exige a prisão dos<br />

Deputados traidores, isto é, dos girondinos. Os jacobinos<br />

(montanheses) aproveitaram as manifestações de apoio<br />

dos sans-culottes e depuseram os girondinos, instaurando<br />

um novo governo.<br />

2.4. A fase do terror - a ditadura dos jacobinos<br />

Em busca do apoio do campesinato, os jacobinos recém<br />

alçados ao poder previram o loteamento de terras dos<br />

nobres emigrados e facilidades para que os camponeses<br />

pudessem adquiri-las, surgindo condições para o<br />

aparecimento de três milhões de pequenas propriedades<br />

na França. Para obter o apoio das camadas urbanas,<br />

foram votadas leis rigorosas contra especulação do trigo<br />

e os preços dos gêneros de primeira necessidade foram<br />

tabelados, a partir da Lei do Máximo.<br />

318<br />

No plano político, acresceram à Declaração dos Direitos<br />

do Homem e do Cidadão, o direito à insurreição, além de<br />

confirmar o regime republicano, através da nova<br />

Constituição de junho de 1793, que reafirmou o sufrágio<br />

universal e foi referendada por milhões de votos por<br />

meio de plebiscito. Essa Constituição estabeleceu a<br />

obrigatoriedade do ensino público gratuito e, até mesmo<br />

a imposição de um novo calendário, de caráter<br />

anticlerical.<br />

CALENDÁRIO REVOLUCIONÁRIO FRANCÊS<br />

Com a instauração da República através da formação<br />

da Convenção Nacional em 20 de setembro de 1792 e,<br />

principalmente, depois da chegada dos jacobinos ao<br />

poder, em 2 de julho de 1793, a Revolução Francesa se<br />

radicalizou, buscando transformar completamente a<br />

sociedade francesa. Uma das medidas usadas para<br />

empreender essa transformação profunda foi a criação de<br />

um novo calendário, diferente do calendário gregoriano,<br />

símbolo do cristianismo e do Antigo Regime<br />

Monárquico que havia sido extinto. Ele foi adotado a<br />

partir de 1793, mas seu início marcaria a data de 22 de<br />

setembro de 1792, dia da instauração da República.<br />

O objetivo era iniciar a marcação de uma nova era de<br />

ruptura com as tradições cristãs e mais próxima ao<br />

racionalismo burguês. O ano I, iniciado em 1792, era o<br />

ano da adoção da Constituição que havia instituído o<br />

sufrágio universal, a democratização.<br />

A elaboração do calendário foi obra do matemático<br />

Gilbert Romme, que manteve a divisão do ano em 12<br />

meses, mas com profundas alterações nas demais<br />

marcações. Os meses seriam compostos por trinta dias,<br />

divididos em semanas de 10 dias, que foram chamadas<br />

de decêndios. Os dias eram numerados de um a dez,<br />

recebendo os seguintes nomes: primidi, duodi, tridi,<br />

quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e décadi.<br />

Posteriormente, cada dia receberia um nome específico,<br />

retirado de elementos da natureza como plantas, animais,<br />

pedras etc. A quantidade de dias dentro desses meses<br />

somava 360 dias. E havia ainda a defasagem entre o<br />

tempo do calendário e o tempo dos movimentos da terra<br />

e dos demais astros celestes. Para isso instituiu-se cinco<br />

dias de feriados, os dias dos sans-culottes, mantendo<br />

ainda a utilização do dia bissexto a cada quatro anos.<br />

A marcação do tempo dentro de um dia também foi<br />

alterada com o estabelecimento do dia de 10 horas,<br />

contando cada hora com 100 minutos e cada minuto com


100 segundos. Pode-se perceber que a base do cálculo<br />

era a numeração decimal.<br />

Para a denominação dos meses, os revolucionários<br />

pediram que o poeta Fabre d’Eglantine criasse uma nova<br />

denominação para cada um deles. Sua inspiração foi<br />

encontrada na referência às estações do ano, ficando da<br />

seguinte forma o calendário:<br />

Outono<br />

Vindimiário (vendémiaire, remetendo à colheita da<br />

uva): 22 de setembro a 21 de outubro;<br />

Brumário (brumaire, remetendo às brumas, aos<br />

nevoeiros): 22 de outubro a 20 de novembro;<br />

Frimário (frimaire, remetendo às geadas): 21 de<br />

novembro a 20 de dezembro.<br />

Inverno<br />

Nivoso (nivôse, remetendo à neve): 21 de dezembro a<br />

19 de janeiro;<br />

Pluvioso (pluviôse, remetendo às chuvas): 20 de<br />

janeiro a 18 de fevereiro;<br />

Ventoso (ventôse, remetendo aos ventos): 19 de<br />

fevereiro a 20 de março.<br />

Primavera<br />

Germinal (germinal, remetendo à germinação): 21 de<br />

março a 19 de abril;<br />

Florial (floréal, remetendo às flores): 20 de abril a 19<br />

de maio;<br />

Prairial (prairial, remetendo aos prados): 20 de maio<br />

a 18 de junho.<br />

Verão<br />

Messidor (messidor, remetendo às colheitas): 19 de<br />

junho a 18 de julho;<br />

Termidor (thermidor, remetendo ao calor): 19 de<br />

julho a 17 de agosto;<br />

Frutidor (fructidor, remetendo ao fruto, à<br />

frutificação.): 18 de agosto a 20 de setembro.<br />

Os dias dos sans-culottes seriam entre 17 de setembro<br />

e 21 de setembro.<br />

Este calendário eliminou ainda os feriados religiosos,<br />

bem como os domingos utilizados pelos cristãos como<br />

dia de adoração a Deus. O resultado foi a oposição da<br />

população ao calendário, já que a sua maioria era cristã.<br />

Com a chegada de Napoleão ao poder, foram ordenados<br />

o fim da utilização do calendário revolucionário e a volta<br />

do calendário gregoriano a partir de 31 de dezembro de<br />

1805. O calendário revolucionário francês seria<br />

reutilizado somente nos dois meses de vigência da<br />

Comuna de Paris, em 1871.<br />

In:http://www.mundoeducacao.com/historiageral/calendario-revolucionariofrances.htm<br />

Os jacobinos, nos entanto, divergiam entre si, dividindose<br />

em facções discordantes quanto ao enfrentamento das<br />

oposições externas e as reformas internas. O grupo mais<br />

radical era comandada por Jean Paul Marat, chamados de<br />

enraivecidos; em oposição, defendendo maior moderação<br />

no enfrentamento dos opositores, estavam os indulgentes<br />

liderados por Danton. No centro, bastante interessado na<br />

manutenção do poder, estava o grupo liderado por<br />

Robespierre, à frente do Tribunal revolucionário, que se<br />

opôs aos demais grupos rivais.<br />

No dia 13 de julho de 1793, o ídolo popular Marat é<br />

assassinado por uma mulher membro do partido<br />

girondino. A popularidade do líder causou enorme<br />

comoção popular e, serviu de justificativa ao<br />

fortalecimento de Robespierre, que passou a empreender<br />

uma pratica violenta, que permitiu chamar o período de<br />

Fase do terror. Através da Lei de Suspeitos e da ação do<br />

Tribunal Revolucionário, milhares de pessoas foram<br />

conduzidas à morte, acusadas de contrarrevolução:<br />

nobres, camponeses, intelectuais, girondinos, membros<br />

do clero e, até mesmo, lideres jacobinos, como Danton.<br />

"Marat assassinato" di Jacques-Louis David<br />

A fúria da guilhotina sob o comando do líder<br />

Robespierre conduziu a revolução a um momento de<br />

fúria autodestrutiva, que grou um clima de profunda<br />

insegurança e desgaste do governo jacobino mesmo entre<br />

seus partidários e representações mais leais. Apesar de a<br />

319


ditadura dos jacobinos ter conseguido uma série de<br />

êxitos, como liquidar a contrarrevolução da Vendeia e<br />

obter várias vitórias contra os inimigos externos da<br />

revolução (entre esses inimigos, contava-se não só a<br />

Prússia e a Áustria, mas também a poderosa Inglaterra),<br />

isolou-se politicamente e tornou-se alvo da ação os<br />

grupos burgueses ligados à planície.<br />

A alta burguesia financeira, que na sua posição<br />

oportunista dentro do partido da planície, conseguiu<br />

sobreviver ao período do terror, conspirava contra o<br />

governo jacobino. Robespierre apela para os sansculottes,<br />

a fim de salvar seu governo. Mas onde estavam<br />

os líderes que podiam mobilizá-los? Todos executados.<br />

O governo jacobino estava só.<br />

No dia 27 de julho de 1794 (9 do Termidor, pelo novo<br />

calendário revolucionário), ao iniciar-se mais uma<br />

reunião da Convenção, Robespierre e seus partidários<br />

foram impedidos de falar, e contra eles foi<br />

imediatamente decretada a prisão. Seus partidários ainda<br />

fizeram uma desesperada tentativa de salvá-los,<br />

conclamando os sans-culottes para se manifestarem<br />

publicamente e pegarem em armas contra o golpe de<br />

Estado que estava sendo dado. Mas poucos atenderam<br />

aos seus apelos. No dia seguinte, Robespierre seria<br />

guilhotinado com mais 19 partidários, seguidos de mais<br />

71 lideres jacobinos nos dias seguintes, impondo-se o<br />

que foi chamado de Terror Branco e pondo fim à fase<br />

mais radical da Revolução Francesa, enquanto a<br />

burguesia mais conservadora reassumia o controle da<br />

Revolução.<br />

Maximilien de Robespierre<br />

320<br />

O novo governo apressa-se em tomar uma série de<br />

medidas para salvaguardar seus interesses: restaura a<br />

escravidão nas colônias (havia sido abolida<br />

anteriormente), acaba com a Lei do Máximo, que<br />

regulava os preços das mercadorias, (agora, poder-se-ia<br />

vender as mercadorias a preços os mais altos possíveis),<br />

e proíbe que se cante nas ruas a Marselhesa, o hino da<br />

revolução.<br />

2.5 Terceira Fase - O Diretório<br />

Em setembro de 1795, prepara-se a nova Constituição. A<br />

Convenção Revolucionaria desaparecia e cedia lugar a<br />

um tipo de governo exercido por um Diretório, composto<br />

por cinco membros representando o poder executivo, e<br />

duas Câmaras; uma delas era o Conselho dos Anciãos, e<br />

a outra, o Conselho dos Quinhentos, ambos<br />

representando o poder legislativo. O governo do<br />

Diretório suprimiu o voto universal, implementado pela<br />

Convenção e restabeleceu o voto censitário. Isto significa<br />

que todos os esforços feitos pela maioria do povo francês<br />

foram aproveitados pelas novas classes ricas.<br />

Internamente, a política do Diretório era totalmente<br />

voltada às novas classes ricas. O comércio ficou<br />

totalmente liberado e sem restrições, significando que os<br />

setores pobres da população arcavam com a alta dos<br />

preços e com a inflação. A corrupção havia se tornado<br />

quase oficial. A alta burguesia jogava desenfreadamente<br />

na bolsa para auferir lucros cada vez maiores.<br />

Alguns antigos militantes jacobinos, liderados por Graco<br />

Babeuf, exprimiam suas insatisfações no jornal A<br />

Tribuna do Povo, de propriedade do líder. Esse jornal<br />

clamava pela volta da Constituição de 1793 e pelo fim<br />

dos privilégios. Pedia também que o que fora proposto<br />

na Declaração dos Direitos do Homem não continuasse<br />

só no papel, como até então. Babeuf começa a conspirar<br />

e a organizar uma grande rebelião popular para tomar o<br />

poder e estabelecer uma sociedade mais justa e sem<br />

privilégios.<br />

Mas, um dos seus agentes militares denunciou a<br />

Conjuração dos Iguais (movimento assim conhecido).<br />

No dia l0 de maio de 1796, imediatamente, Babeuf e seu<br />

companheiro Buonarotti foram presos. Depois de um<br />

ano, Babeuf foi condenado à morte pela guilhotina. Esta<br />

tentativa de estabelecer um governo popular na França<br />

foi violentamente reprimida pelas altas classes<br />

enriquecidas.


TEXTO COMPLEMENTAR<br />

Revolução francesa e feminina<br />

Mulheres lutaram ao lado dos homens pelos ideais<br />

revolucionários, enfrentando também o preconceito.<br />

Tania Machado Morin 8/12/2010<br />

Mulheres combatem ao lado de homens durante<br />

o período revolucionário, em 1793. Arquivos franceses<br />

registram dados biográficos de oitenta dessas guerreiras.<br />

Graco Babeuf<br />

A política externa do Diretório, por sua vez, política<br />

pautava-se pela tentativa de vencer os inimigos da<br />

França e, se possível, aumentar os domínios franceses na<br />

Europa, numa tentativa de anexação dos territórios<br />

conquistados, principalmente a leste (pedaços da atual<br />

Alemanha até o Rio Reno) e ao sul (a anexação de uma<br />

região chamada Lombardia, ao norte da Itália). O militar<br />

encarregado dessas anexações foi o jovem e habilidoso<br />

General Napoleão Bonaparte, que cumpriu perfeitamente<br />

a missão expansionista, já delineada nessa nova fase do<br />

capitalismo. Napoleão garantiu todos esses territórios ao<br />

governo do Diretório assinando um tratado com a<br />

Áustria, na cidade de Campo Fórmio, no qual esta<br />

reconhecia o direito da França de se apossar dessas<br />

regiões em troca de outras concessões.<br />

A situação era extremamente grave. A burguesia, em<br />

geral, apavorada com a instabilidade, esquecia seus<br />

ideais de liberdade, pregados alguns anos antes, e<br />

pensava num governo forte, numa ditadura, se fosse<br />

preciso, para restaurar a lei e a ordem, para restabelecer<br />

as condições de se ganhar dinheiro de uma forma segura.<br />

Todos sabiam que a única pessoa que poderia exercer um<br />

governo desse tipo deveria ser um elemento de prestigio<br />

popular e ao mesmo tempo forte o suficiente para manter<br />

com mão de ferro a estabilidade exigida pela burguesia.<br />

Nesse momento, quem reunia essas condições era o<br />

jovem general que tantas glórias já havia trazido para a<br />

França (e outras mais ainda estavam por ser<br />

conseguidas): Napoleão Bonaparte. No dia 10 de<br />

novembro de 1799 (18 de Brumário, pelo calendário<br />

revolucionário), Napoleão retorna do Egito, e, com o<br />

apoio de dois outros políticos, dissolvem o Diretório e<br />

estabelecem um governo conhecido pelo nome de O<br />

Consulado.<br />

“Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra<br />

como um bravo!”, declarou Marie-Henriette Xaintrailles<br />

em carta ao imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821).<br />

Indignada por lhe recusarem pensão de ex-combatente do<br />

Exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando<br />

fez sete campanhas do Reno como ajudante de campo, o<br />

que importava era o cumprimento do dever, e não o sexo<br />

de quem o desempenhava.<br />

Madame Xaintrailles não foi um caso isolado.<br />

Em 1792, quando a França declarou guerra à Áustria,<br />

voluntárias se alistaram no Exército para lutar ao lado<br />

dos homens contra as forças da coalizão austro-prussiana<br />

que ameaçavam invadir o país. Muitas se apresentaram<br />

com identidades falsas e disfarçadas de homem. Além de<br />

conseguirem se alistar, protegiam-se do risco da<br />

violência sexual. Quem eram as mulheres-soldados e por<br />

que se engajaram no conflito armado? E quais foram os<br />

motivos de sua relativa aceitação por parte de líderes<br />

revolucionários e companheiros de armas?<br />

Não se conhece o número exato de mulheressoldados<br />

durante o período revolucionário francês (1789-<br />

1799). Há oitenta casos registrados nos arquivos<br />

parlamentares, militares e policiais, e informações<br />

biográficas esparsas sobre apenas quarenta e quatro.<br />

Entretanto, existem muitas referências em imagens e<br />

testemunhos da época. O deputado Grégoire (1750-1831)<br />

as elogiou oficialmente: “E vós, generosas cidadãs que<br />

participaram da sorte dos combates”. Essas constatações<br />

nos permitem supor que elas eram mais numerosas e bem<br />

integradas à vida militar do que pode parecer. Quase<br />

todas vinham de meios sociais modestos. Eram filhas de<br />

pequenos camponeses e artesãos, e tinham apelidos<br />

como Felicité Vai-de-bom-coração ou Maria Cabeça-depau.<br />

A maioria era muito jovem, como Ana Quatrovinténs,<br />

que se alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na<br />

artilharia montada.<br />

As irmãs Fernig, com 17 e 22 anos, foram<br />

exceções: eram nobres, e combateram vestidas de<br />

321


homem no Exército do general Dumouriez (1739-1823),<br />

na fronteira da atual Bélgica. Fora da batalha, passeavam<br />

com roupas de mulher e carabina ao ombro. Tornaram-se<br />

heroínas nacionais. Quando sua casa foi arrasada pelos<br />

“ferozes austríacos”, o governo da Convenção Nacional<br />

(1792-1795) propôs que a reconstrução ficasse por conta<br />

da República.<br />

Antes da Revolução, os oficiais da nobreza<br />

desprezavam os soldados. Já os líderes revolucionários<br />

valorizaram o serviço militar como a forma mais elevada<br />

de compromisso do cidadão com o Estado. O discurso da<br />

defesa dos homens livres contra os tiranos da Europa<br />

atraiu as cidadãs mais destemidas que aliavam o<br />

sentimento patriótico ao gosto pela aventura. Era<br />

também uma forma de integração oficiosa à cidadania.<br />

Reine Chapuy, de 17 anos, declarou que se alistara pelo<br />

desejo ardente de combater os tiranos e compartilhar da<br />

glória de fulminá-los. Outras foram à guerra para<br />

acompanhar os maridos, amantes e irmãos, e acabaram<br />

lutando ao lado deles, unindo o sacrifício pela pátria ao<br />

devotamento conjugal e familiar. Algumas haviam<br />

“nascido na caserna”, e a carreira militar era seu caminho<br />

natural. As circunstâncias da Revolução tiveram também<br />

um aspecto de liberação. Quando tudo estava em jogo, as<br />

mulheres puderam inventar novos papéis para si<br />

próprias.<br />

Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados<br />

por parte dos companheiros de armas. O capitão Dubois<br />

e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhão de Paris.<br />

Ao ser ferido, sua esposa foi designada vice-capitã pelos<br />

outros soldados. Aos 19 anos, Liberté Barreau serviu<br />

com o marido no Regimento dos Pirineus Ocidentais. Foi<br />

intrépida na batalha: perseguiu os inimigos até sua<br />

debandada, e depois voltou para transportar o marido<br />

ferido para o hospital militar com a ajuda dos<br />

companheiros. Liberté impressionou pela coragem e pela<br />

devoção ao esposo. Rose Bouillon não foi menos<br />

heroica: continuou lutando na batalha mesmo após a<br />

morte do marido. Depois pediu dispensa do Exército para<br />

cuidar dos filhos do mesmo modo como havia se<br />

dedicado ao marido e à pátria. A Convenção Nacional<br />

lhe concedeu uma pensão de 300 libras e mais 150 para<br />

cada um de seus filhos em agosto de 1793.<br />

Mas havia vozes discordantes: alguns cidadãos<br />

se queixavam abertamente das mulheres promovidas a<br />

oficial, alegando que os soldados tinham vergonha de<br />

receber suas ordens. Diminuindo o mérito das<br />

combatentes, explicavam aquela coragem como exceção,<br />

atribuindo-a ao milagre da Liberdade. Apesar de seus<br />

serviços, as soldadas foram incluídas em decreto<br />

governamental que dispensava e excluía do Exército<br />

todas as “mulheres inúteis” ao esforço de guerra, isto é,<br />

todas que não eram cantineiras nem lavadeiras. Lazare<br />

Carnot (1753-1823), membro da Convenção Nacional<br />

que organizou o recrutamento em massa de 1793,<br />

lamentava o flagelo que destruía os exércitos<br />

revolucionários: as mulheres que acompanhavam as<br />

tropas. Elas atrapalhavam a marcha dos batalhões,<br />

consumiam uma parte necessária dos alimentos,<br />

quebravam a disciplina e eram fonte da dissolução dos<br />

costumes de todos os militares.<br />

O decreto nunca foi cumprido: as esposas e<br />

companheiras dos soldados continuaram seguindo as<br />

tropas, e a maioria das combatentes permaneceu no<br />

Exército como se nada tivesse acontecido. O capitão da<br />

sra. Fartier, canhoneira no 10º batalhão dos Federados<br />

Nacionais de Paris, autorizou-a por escrito a continuar<br />

servindo na companhia em junho de 1793, após a<br />

promulgação da lei. Em 26 de fevereiro de 1794, Ana<br />

Quatro-vinténs foi aplaudida no Clube dos Jacobinos,<br />

que fizeram uma coleta em seu favor. O Conselho<br />

Militar não viu razões para excluir do Exército a cidadã<br />

Felicité Vai-de-bom-coração, devido ao seu<br />

comportamento irrepreensível. Houve mulheres-soldados<br />

até nas guerras napoleônicas (1799-1815). Um exemplo<br />

desse período foi Madame Xaintrailles, que se tornou<br />

ajudante de campo do general Menou (1750-1810) com a<br />

recomendação do próprio Lazare Carnot em 1795, dois<br />

anos depois da lei de exclusão.<br />

O número expressivo de prêmios e aplausos às<br />

soldadas atesta a boa vontade dos chefes militares e até<br />

dos governantes em Paris. Mesmo levando-se em conta<br />

que elas transgrediam as normas de comportamento<br />

feminino, apropriando-se de atributos inerentemente<br />

masculinos como as armas e o serviço militar. As<br />

mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque<br />

tinham moral elevada, dignidade e bons costumes; eram<br />

combatentes, e não libertinas. Embora a violência não<br />

seja normalmente associada à mulher, na guerra elas<br />

matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um<br />

serviço à nação. Eram discretas, e muitas vezes seu sexo<br />

só era descoberto quando feridas na batalha. Essas<br />

qualidades eram importantes numa época em que o<br />

presidente do Comitê de Segurança Pública declarou que<br />

“sem moral não há República” (outubro de 1793)<br />

Muitas das guerreiras protagonizaram episódios<br />

de coragem incomum, como Marie-Angélique<br />

Duchemin-Brulon (1772-1859). Sargento do 42º<br />

322


egimento de Infantaria na Córsega, salvou o Forte<br />

Gesco sitiado pelos inimigos conseguindo um<br />

suprimento de pólvora no meio da noite, em maio de<br />

1794. Em agosto de 1851, aos 79 anos de idade, foi a<br />

primeira mulher a receber a Legião de Honra e a<br />

Medalha de Santa Helena do futuro Napoleão III.<br />

Chamam atenção as descrições sempre exaltadas dos<br />

feitos marciais das soldadas. A impressão é que elas<br />

foram mitificadas para figurar no panteão dos exemplos<br />

patrióticos de que a Revolução tanto precisava no<br />

dramático ano II – no calendário revolucionário,<br />

setembro de 1793 a setembro de 1794. Nesse período<br />

marcado pela radicalização política do terror, a nação<br />

também enfrentava a guerra externa, guerra civil,<br />

inflação, penúria e revoltas urbanas. O exemplo das<br />

guerreiras podia inspirar os cidadãos.<br />

De todo modo, as soldadas encarnavam as virtudes<br />

republicanas. Não era pouco. Por essa razão, Liberté<br />

Barreau e Rose Bouillon figuravam na Coletânea de<br />

Ações Heroicas e Cívicas dos Republicanos Franceses,<br />

publicada em 30 de dezembro de 1793. Enfrentando a<br />

morte, também deram a vida, dedicaram-se com amor<br />

aos maridos e filhos. Cuidaram de doentes e feridos com<br />

a doçura e o altruísmo associados à imagem feminina.<br />

Sacrificaram-se pela pátria sem esquecer as virtudes de<br />

seu sexo. Eis aí o grande mérito. Numa República<br />

marcada por apelos à moral, as mulheres-soldados<br />

contribuíram com um modelo de comportamento<br />

feminino positivo.<br />

Tania Machado Morin é autora da dissertação “Práticas e Representações das<br />

Mulheres na Revolução Francesa – 1789-1795” (USP, 2009).<br />

Saiba Mais - Bibliografia<br />

MARAND-FOUQUET, Catherine. A mulher no tempo da revolução. Lisboa:<br />

Inquérito 1993.<br />

BERTAUD, Jean-Paul, « Les femmes et les armées » IN La vie quotidienne des<br />

soldats de la Révolution, Paris Hachette, 1985.<br />

GODINEAU, Dominique, Citoyennes Tricoteuses – Les femmes du peuple à<br />

Paris pendant la Révolution Française, Paris, Editions Alinea, Perrin, 2004.<br />

Saiba Mais - Internet<br />

MARTIN, J.C., « Travestissements, impostures et la communauté historienne. A<br />

propos des femmes soldats de la révolution et de l’Empire », Politix 2006/2, no.<br />

74, p. 31-48. www.cairn.info/article.php?ID<br />

323


ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA<br />

324<br />

1. Introdução<br />

Nos anos finais do século XVII, o continente europeu<br />

passava por uma profunda instabilidade, marcada<br />

especialmente pelos desdobramentos violentos do<br />

processo revolucionário francês. Colocavam-se em lados<br />

opostos, a burguesia sequiosa por mudanças de ordem<br />

liberal e as ameaças conservadoras de grupos<br />

monarquistas; no entanto, radicalizações jacobinas de<br />

representações populares, ampliavam ainda mais a<br />

intranquilidade daquele período. Se na França o<br />

movimento se consagrava, as monarquias tradicionais<br />

europeias, temerosas do avanço dos ideais<br />

revolucionários em seus países, aliaram-se para lutar<br />

contra o expansionismo francês.<br />

Com o golpe de 18 Brumário (10 de novembro de<br />

1799) que marcou o final do processo revolucionário<br />

francês, iniciou-se um novo e destacado período<br />

identificado como a Era Napoleônica. Após derrubar o<br />

governo do Diretório, Napoleão Bonaparte tornou-se a<br />

figura central da organização política francesa,<br />

governando por um período de aproximadamente 15<br />

anos, quando estendeu sua influência por boa parte do<br />

território europeu e acarretou modificações inclusive do<br />

outro lado do Atlântico.<br />

O período de governo de Napoleão Bonaparte pode ser<br />

dividido em: Consulado (1799 - 1804), Império (1804 -<br />

1815) e Governo dos Cem Dias.<br />

Vejamos os principais acontecimentos que marcaram<br />

cada uma dessas etapas.<br />

2. Consulado<br />

Após a derrubada do Diretório, a República Francesa<br />

passou a ser administrada pelo Consulado, constituído<br />

por três cônsules (Napoleão, Roger Ducos e Sieyès), que<br />

deveriam ocupar mandato temporário de 05 anos.<br />

Porém, ao final de 1799, foi votada uma Constituição,<br />

que elevou Napoleão ao status de primeiro-cônsul da<br />

República, estendendo seu mandato para dez anos e<br />

dando-lhe poder efetivo de decisão, enquanto aos outros


ecaía apenas funções consultivas. Teve início, então,<br />

uma verdadeira ditadura militar, disfarçada pelas<br />

instituições aparentemente democráticas criadas pela<br />

Constituição (Senado, Tribunal, Corpo Legislativo e<br />

Conselho de Estado).<br />

Durante o governo do Consulado, a alta burguesia<br />

consolidou-se como classe dirigente da França.<br />

Atendendo aos interesses dos grupos privilegiados da<br />

burguesia, Napoleão combateu internamente os projetos<br />

de radicalização popular, coibindo as reuniões e<br />

associações de trabalhadores e buscando diminuir as<br />

insatisfações das classes empobrecidas urbanas por meio<br />

da oferta de empregos e dos trabalhadores rurais por<br />

meio de financiamentos para a produção agrícola. Por<br />

meio de uma severa censura à imprensa e da ação<br />

violenta dos órgãos policiais, as oposições políticas do<br />

governo foram aniquiladas.<br />

Ainda nessa fase, em paralelo ao fortalecimento de sua<br />

autoridade, Napoleão tomou medidas para promover a<br />

recuperação econômica da França e pela sua<br />

reorganização jurídica e administrativa. Destacamos a<br />

centralização da cobrança dos impostos, a criação do<br />

Banco da França para direcionar os investimentos em<br />

áreas estratégicas e a adoção do franco como novo<br />

padrão monetário. Buscando modernizar a estrutura<br />

produtiva, Napoleão criou a Sociedade de Fomento à<br />

Industria, que tinha como objetivo estimular o<br />

desenvolvimento industrial do país. Por meio dela e de<br />

uma vasta reforma educacional, Napoleão estimulou<br />

concursos de invenções e formações técnicas em seus<br />

liceus, criando um corpo de funcionários competentes às<br />

funções públicas e à modernização industrial do país.<br />

Também nesse período, Napoleão retomou a relação com<br />

o Papado, ao promover a Concordata com a Igreja que<br />

reconheceu o catolicismo como religião oficial e colocou<br />

as ordens religiosas sob proteção do Estado. Na<br />

restruturação jurídico administrativa, foi aprovado o<br />

Código Civil Napoleônico; tratou-se do principal<br />

instrumento de afirmação dos interesses burgueses no<br />

novo governo francês, reafirmando princípios liberais<br />

como a garantia das liberdades individuais e da<br />

igualdade jurídica, a supremacia de um Estado secular,<br />

proteção à propriedade privada, instituição do casamento<br />

civil e a proibição de greves e organização de<br />

associações de trabalhadores.<br />

Os sucessos do governo de Napoleão entusiasmavam as<br />

classes dominantes francesas, levando Napoleão a se<br />

esforçar por mais um mecanismo de centralização<br />

política em 1802, quando tornou-se cônsul vitalício e<br />

ganhou o direito de indicar seu sucessor. Na prática,<br />

essa medida representava a instituição de um regime<br />

monárquico, o que veio a ser confirmado em 1804,<br />

quando por plebiscito, a população francesa votou pela<br />

nomeação do general como Imperador.<br />

3. Império<br />

Sagração do Imperador Napoleão I<br />

Com o sucesso inicial de seu governo, Napoleão<br />

mobilizou a opinião pública para a implantação<br />

definitiva do Império. Em 1804, foi realizado um<br />

plebiscito, pelo qual quase 60% dos votantes<br />

confirmaram o estabelecimento da monarquia e a<br />

indicação de Napoleão para Imperador. Imediatamente,<br />

Napoleão conferiu títulos de nobreza a seus familiares,<br />

nomeando-os para os mais altos cargos do império,<br />

constituindo uma nova aristocracia ligada ao Imperador,<br />

acompanhado de um aumento circunstancial da censura e<br />

repressão. Formou-se uma nova Corte com membros da<br />

elite militar, alta burguesia e antiga nobreza. Como<br />

símbolo do poder do Império Napoleônico, construíramse<br />

grandes obras, como o Arco do Triunfo (inspirado na<br />

arquitetura clássica romana).<br />

Além da crescente centralização imperial, valendo-se do<br />

enorme prestigio entre os militares, Napoleão como<br />

imperador e comandante supremo das forças armadas,<br />

moveu uma série de guerras para expandir o domínio da<br />

França em outras regiões, sob a desculpa de divulgar os<br />

ideais liberais da Revolução Francesa.<br />

O exército francês foi fortalecido em armas e em<br />

soldados, tornando-se o mais poderoso da Europa<br />

Continental. Já desde o final do século XVIII, os países<br />

europeus de orientação política absolutista formaram<br />

325


coligações para resistir à difusão das ideias<br />

revolucionarias. Agora, no começo do século XIX, era<br />

necessário resistir também ao expansionismo<br />

napoleônico. Desse modo, Áustria, Prússia e Rússia,<br />

lideradas pela Inglaterra, formaram várias coligações<br />

para conter o império, francês.<br />

O envolvimento da Inglaterra no combate às pretensões<br />

expansionistas da franca não estava relacionado aos<br />

interesses liberais que eram propagados, mas na disputa<br />

entre as duas nações pelo mercado de industrializados,<br />

realçando as históricas rivalidades entre ingleses e<br />

franceses.<br />

Em outubro de 1805, Napoleão tentou empreender uma<br />

derrota militar contra a Inglaterra, mas a marinha<br />

francesa foi derrotada pelos ingleses, comandados pelo<br />

almirante Nelson, na Batalha de Trafalgar.<br />

Recuperando-se rapidamente dessa derrota marítima,<br />

Napoleão direcionou-se para o centro e leste da Europa,<br />

onde conseguiu brilhantes vitórias sobre a Áustria<br />

(dezembro de 1805), e sobre os exércitos prussianos<br />

(1806) e russos (1807).<br />

Inconformado com a derrota para os ingleses, Napoleão<br />

procurou outros meios para enfraquecer a Inglaterra. Em<br />

1806, decretou o Bloqueio Continental à Inglaterra,<br />

determinando que todos os países do continente europeu<br />

fechassem seus portos ao comércio inglês. A ordem<br />

napoleônica, de modo geral, foi acatada, pois boa parte<br />

da Europa estava sob domínio ou influência da França. O<br />

objetivo de Napoleão era arruinar economicamente a<br />

Inglaterra, provocando uma crise em seu comércio e sua<br />

indústria, ao mesmo tempo que abria um novo mercado à<br />

indústria francesa em gestação.<br />

Assinando com a França a Paz de Tilsit (julho de 1807),<br />

o czar russo Alexandre também aderiu ao Bloqueio.<br />

Portugal, depois de muita indefinição, não aderiu ao<br />

Bloqueio Continental, o que levou as tropas francesas,<br />

comandadas pelo general Junot, a invadirem a capital do<br />

país, obrigando D. João a fugir para o Brasil.<br />

Por volta de 1812, o Império Napoleônico atingiria sua<br />

máxima extensão, dominando quase toda a Europa<br />

Ocidental. Compreendia cerca de 150 departamentos<br />

administrativos, com uma população global estimada em<br />

50 milhões de habitantes (toda a Europa possuía,<br />

aproximadamente, 175 milhões de habitantes).<br />

Apesar da incontestável supremacia militar de Napoleão<br />

nos embates por terra, e do sucesso de sua ação<br />

expansionista, devemos considerar que ela jamais<br />

ocorreu sem contestação, que se fortaleceu especialmente<br />

a partir de 1810 nas áreas dominadas. Até mesmo na<br />

França, a população lamentava os milhares de soldados<br />

sacrificados nos campos de batalha, enquanto a reação<br />

nacionalista dos povos conquistados se mantinha, a<br />

exemplo da Guerra Peninsular na Península Ibérica.<br />

No plano econômico, o Bloqueio Continental imposto à<br />

Inglaterra não surtiu todos os efeitos desejados. A<br />

indústria francesa não estava em condições plenas de<br />

abastecer todos os mercados da Europa, levando grande<br />

parte dos países a envolver-se no contrabando dos<br />

produtos com a Inglaterra<br />

Melhor exemplo do desgaste do Bloqueio, ocorreu com a<br />

Rússia, país basicamente agrícola, foi obrigada a<br />

abandoná-lo em dezembro de 1810. Enfrentando grave<br />

crise econômica, precisava negociar sua produção de<br />

cereais por produtos industriais ingleses, enfrentando as<br />

imposições francesas e proibição do comercio. Em<br />

1812, Napoleão decidiu invadir a Rússia, organizando,<br />

para isso, um poderoso exército composto de<br />

aproximadamente 600 mil homens e 180 mil cavalos.<br />

Mapa ilustrativo do Bloqueio Continental de 1806<br />

Napoleão chegou a atingir a cidade de Moscou e ocupou<br />

o Kremlin (palácio do czar), porém suas tropas, mal<br />

alimentadas e extremamente cansadas, começaram a ser<br />

vitimadas pelo rigoroso inverno russo. O desgaste das<br />

tropas francesas com o prolongamento inesperado da<br />

ofensiva na Rússia e prejudicados pela destruição de<br />

abrigos e fontes de alimentos e agua pelas tropas russas,<br />

levaram ao recuo do território russo. Teve início à<br />

dramática retirada do exército de Napoleão, mas a<br />

maioria dos soldados morreu na viagem de volta. Dos<br />

600 mil soldados que partiram para a Rússia, apenas 30<br />

326


mil conseguiram regressar, famintos e esfarrapados, à<br />

capital francesa.<br />

A desastrosa campanha do exército francês na Rússia<br />

estimulou outros países europeus a reagirem contra a<br />

dominação napoleônica. Com a fragilidade dessas<br />

tropas, os franceses seriam derrotados na famosa<br />

Batalha das Nações, em Leipzig pelos exércitos<br />

combinados da Áustria, Rússia, Prússia e Suécia. A<br />

ofensiva continuou em perseguição às tropas em retirada,<br />

levando os inimigos a avançarem até a tomada de Paris,<br />

em 6 de abril de 1814, um grande exército composto por<br />

ingleses, russos, austríacos e prussianos invadiu Paris.<br />

Napoleão foi derrubado do poder. O trono francês foi<br />

assumido por Luís XVIII, irmão de Luís XVI, que fora<br />

guilhotinado durante a Revolução Francesa. Obrigado a<br />

abdicar, Napoleão perdeu controle sobre regiões como<br />

Bélgica, Holanda, Suíça e Espanha, e foi exilado na ilha<br />

de Elba, onde viveria com pensão garantida pelo Estado<br />

francês.<br />

forjada por uma coligação de forças internacionais, que<br />

rapidamente se reorganizou e marchou contra a França,<br />

conseguindo derrotar definitivamente Napoleão, na<br />

Batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Preso<br />

pelos ingleses, Napoleão foi exilado na ilha de Santa<br />

Helena, no Atlântico Sul, onde permaneceu até a morte<br />

(1821). Luís XVIII foi reconduzido ao trono francês,<br />

ainda em 1815.<br />

5.Reação conservadora - Congresso de Viena<br />

Charge ilustrativa do Congresso de Viena<br />

Imagem ilustrativa da derrota das tropas napoleônicas em sua retirada da Rússia<br />

4. Governo dos Cem Dias<br />

Em março de 1815, contando com o apoio de boa parte<br />

dos oficiais, Napoleão Bonaparte fugiu da ilha de Elba<br />

decidiu regressar à França, prometendo reformas<br />

democráticas. O rei era impopular e as tropas enviadas<br />

para prender Napoleão acabaram unindo-se a ele aos<br />

gritos de Viva o Imperador!<br />

Chegando a Paris como herói, Napoleão instalou-se no<br />

poder, em março de 1815, expulsando Luís XVIII e<br />

iniciando o “Governo dos Cem Dias”. Sua curta<br />

permanência no poder foi decorrência de uma reação<br />

Após a derrota de Napoleão Bonaparte, os dirigentes dos<br />

países vencedores organizaram o Congresso de Viena<br />

(1814-1815). Embora fossem muitos os países<br />

representados, cinco potencias estiveram à frente daquele<br />

encontro diplomático (França, Inglaterra, Áustria, Rússia<br />

e Prússia). O objetivo básico do Congresso era propor<br />

medidas para restabelecer o equilíbrio político do<br />

continente europeu, tendo em vista os interesses das<br />

monarquias conservadoras. Derrotada, a França teve que<br />

se submeter a uma série de imposições. Por exemplo:<br />

pagar uma indenização de 700 milhões de francos aos<br />

vencedores, em razão dos prejuízos da guerra, além de<br />

perder os territórios do Sarre, Sabéia e Tobago<br />

Entre as principais propostas firmadas no Congresso de<br />

Viena, destacam-se:<br />

327


Restauração - retorno à situação política europeia que<br />

prevalecia no Antigo Regime, objetivando retomar a<br />

ordem absolutista e os privilégios do clero e nobreza.<br />

Essa medida reflete o espírito conservador que marcou o<br />

Congresso de Viena;<br />

Legitimidade - devolução do governo de cada país<br />

aos herdeiros das antigas monarquias absolutistas. Por<br />

isso, Luís XVIII, da dinastia dos Bourbon, reassumiu o<br />

trono francês; também na Espanha, os Bourbons<br />

retornaram ao poder e, garantia-se o direito dos Braganca<br />

em Portugal.<br />

Equilíbrio – O Congresso elaborou um novo mapa<br />

europeu, baseado em princípios de compensações, em<br />

nome de um suposto equilíbrio a ser assegurado na<br />

Europa. A Prússia anexou a Saxônia, West falia, parte da<br />

Polônia e a região do Rio Reno, retirada da Franca.<br />

A Áustria incorporou regiões da península Balcânica,<br />

mas perdeu a Bélgica, incorporada a Holanda formando<br />

o reino dos Países Baixos e, foi obrigada a aceitar a<br />

Confederação Germânica, conjunto de 38 estados<br />

independentes que mais tarde se uniria à Prússia na<br />

formação da Alemanha. À Rússia, coube parte da<br />

Bessarábia, e territórios da Polônia e Finlândia. A<br />

Inglaterra, visando uma projeção mais ampla em regiões<br />

estratégicas do globo, adquiriram a ilha de Malta, no<br />

mediterrâneo, a colônia de Cabo, no extremo sul africano<br />

e o Ceilão, no Indico.<br />

Solidariedade - aliança político-militar entre as<br />

tradicionais monarquias europeias, com o objetivo de<br />

reprimir a onda liberal e democrática lançada pela<br />

Revolução Francesa.<br />

Para garantir, em termos práticos, a aplicação das<br />

medidas conservadoras do Congresso de Viena, o czar<br />

Alexandre I propôs, em 1815, a criação da Santa<br />

Aliança. A Santa Aliança era formada por países<br />

cristãos, que se comprometiam a se defender<br />

mutuamente e a combater movimentos liberais<br />

revolucionários. Sua base política e ideológica era a<br />

aliança entre duas forças tradicionais: o trono e o altar,<br />

isto é, a monarquia e a Igreja. Os monarcas da Áustria,<br />

da Rússia, da Prússia e de algumas outras nações<br />

europeias aderiram à Santa Aliança, assumindo o direito<br />

de intervir em qualquer país onde surgisse um<br />

movimento revolucionário inspirado no liberalismo<br />

democrático.<br />

328<br />

O objetivo da Santa Aliança era conter, a qualquer<br />

preço, os movimentos nacionalistas que despontavam<br />

em várias regiões da Europa e os movimentos<br />

emancipacionistas nas colônias da América.<br />

A Inglaterra negou-se a participar da Santa Aliança<br />

porque apoiava os movimentos de independência na<br />

América Latina, pois visava mercados para seus produtos<br />

industriais. Desenvolvendo a economia industrial, a<br />

Inglaterra era defensora do liberalismo e contrária às<br />

intervenções militares propostas pelos conservadores da<br />

Santa Aliança.<br />

Napoleão<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

Retratado de muitas formas, ele já foi Cristo e o<br />

Diabo. Conheça sua iconografia. Adriano Belizário<br />

26/4/2010<br />

Garoto-propaganda de maionese, baixinho careca,<br />

nome para peça de fuscas e galã conquistador. Napoleão<br />

já foi retratado de muitas maneiras. Em meio a esta<br />

diversidade, a historiadora da USP Raquel Stoiani<br />

apresentou imagens do Imperador, discutindo o contexto<br />

político que influenciou as representações. Já Lúcia<br />

Maria Bastos, pesquisadora da Universidade Estadual do<br />

Rio de Janeiro, tratou das biografias escritas sobre<br />

Bonaparte, no debate de abril do projeto Biblioteca<br />

Fazendo <strong>História</strong>.<br />

Stoiani contou que seu interesse em pesquisar a<br />

iconografia de Napoleão surgiu quando ela conheceu<br />

“General Bonaparte na Ponte de Arcole”, quadro do<br />

artista francês Antoine-Jean Gros que retrata o<br />

comandante de modo pouco usual. “Não conseguia<br />

imaginar como esse rapaz esbelto e cheio de energia<br />

fosse também aquele retratador por Jacques-Louis<br />

David”, disse.<br />

A imagem de Napoleão em seu gabinete com a mão<br />

dentro do casaco se tornou um paradigma para a<br />

representação de outros grandes estadistas, como Stálin e<br />

D. Pedro II, que possuem quadros com “poses<br />

napoleônicas”. “Há quem diga que ele sofria de úlceras e<br />

a mão poderia estar como que aliviando as dores, mas<br />

não existe nada categórico afirmando isto”, explica a<br />

historiadora.


Ele aparece tocando vítimas da peste, enquanto um<br />

de seus oficiais parece recomendar que ele se afaste.<br />

Depois de anos de revolução, Napoleão aparece como o<br />

imperador taumaturgo. Não é mais o homem que mata, é<br />

aquele que toca, que vem curar”, analisou Stoiani.<br />

Como não poderia deixar de ser, uma das questões<br />

levantadas pela plateia para as especialistas tentava<br />

descobrir qual foi afinal a posição em que Napoleão<br />

perdeu a guerra. Raquel Stoaini apresentou duas<br />

anedotas sobre o assunto que são conhecidas na <strong>História</strong>.<br />

“A primeira conta que muitos soldados franceses<br />

morreram congelados e caiam duros com o bumbum para<br />

cima. Já outra diz que Napoleão teve um desarranjo<br />

intestinal durante a batalha de Waterloo”, disse. Ao que<br />

Lúcia relembrou de um episódio semelhante em nossa<br />

história: “Também dizem que D. Pedro também teve um<br />

problema parecido e, por isso, foi ao rio Ipiranga. Será<br />

que ele estava imitando Napoleão até nisso?”, brincou.<br />

Outro quadro de Gros destacado por Stoaini foi o<br />

"Bonaparte visitando as vítimas da peste de Jaffa". A<br />

obra retrata um episódio polêmico da vida de Napoleão.<br />

Em 1799, o estrategista ordenou a morte de milhares de<br />

soldados otomanos que haviam se rendido em troca da<br />

garantia de continuarem vivos. O massacre durou três<br />

dias e se tornou uma das maiores manchas na biografia<br />

de Bonaparte.<br />

Cinco anos depois, Napoleão solicitou a Gros um<br />

quadro sobre sua passagem por Jaffa. Mas o que se vê<br />

nele está longe de ser o general impiedoso descrito nos<br />

livros de <strong>História</strong>. “Gros se inspirou nas pinturas<br />

renascentistas de Lázaro e mostra Napoleão como um<br />

Jesus Cristo.<br />

Já no Brasil, a imagem de Napoleão no Brasil não era<br />

nada cristã. Segundo Maria Bastos, existem cerca de<br />

cinco mil escritos da época que circularam no Rio de<br />

Janeiro mencionando o Imperador. Nas críticas, havia de<br />

tudo. “Dizia-se que ele era demônio vomitado pelo<br />

inferno, um castigo de Deus contra os homens por<br />

estarem se afastando da Igreja Católica. Existiam até<br />

receitas para se fazer Napoleão com ingredientes como<br />

unha de tigre, calda de pavão e etc.”, relata a<br />

historiadora.<br />

Mesmo no caso de obras sob encomenda, nem<br />

sempre o resultado era o ideal. A escultura de Napoleão<br />

como “Marte Pacificador”, do artista italiano Antonio<br />

Canova, por exemplo, não agradou o Imperador, que<br />

rejeitou a obra depois de pronta. A proposta por trás do<br />

título da obra é clara: demonstrar Bonaparte como um<br />

estrategista que usa a guerra para instaurar a paz, uma<br />

retórica viva até hoje entre as grandes potências.<br />

Canova levou a sério a inspiração em Marte e<br />

esculpiu Napoleão nu, quase como um deus grego.<br />

“Bonaparte ficou horrorizado com aquela idealização<br />

física. Depois falam que Photoshop é coisa de hoje em<br />

dia. Napoleão já tinha uma barriguinha e não tinha nada<br />

daquele porte da estátua”, comentou Raquel Stoaini.<br />

329


EXERCÍCIOS<br />

1. (Fuvest 2013) As guerras napoleônicas, entre o final<br />

do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX,<br />

tiveram consequências diretas muito importantes para<br />

diversas regiões do mundo.<br />

Mencione e explique uma delas, relativa<br />

a) ao leste da Europa;<br />

b) ao continente americano.<br />

2. (UEG 2012) Em 1804, Napoleão Bonaparte recebeu o<br />

título de Imperador, mediante um plebiscito. Durante sua<br />

cerimônia de coroação, ele retirou do Papa a coroa e<br />

colocou-a em sua cabeça com as próprias mãos.<br />

Esse gesto ousado representou<br />

O que não se sabe é se isto teria sido intencional, para<br />

“alfinetar” o Imperador, uma vez que Canova se<br />

ressentia pela espoliação artística de Napoleão durante a<br />

conquista da Itália. Tanto que, após a queda do militar, o<br />

artista foi encarregado pelo Papa de repatriar as obras.<br />

“Napoleão como Marte Pacificador” teve um destino<br />

inusitado: foi vendida ao governo inglês. Por sua vez, a<br />

Rainha a doou para o Duque de Wellington, que derrotou<br />

Bonaparte em Waterloo. Assim, a estátua de Napoleão<br />

como o deus da guerra foi parar na porta da casa de seu<br />

algoz.<br />

O contraponto na visão brasileira da época sobre<br />

Bonaparte ficou por conta de Caetano Lopes de Moura,<br />

baiano que serviu no exército do Imperador e dizia ter<br />

dois ídolos: D. Pedro II e Napoleão. A admiração foi<br />

tanta que Caetano escreveu uma biografia sobre<br />

Bonaparte. Maria Luísa de Áustria, tia do último<br />

Imperador brasileiro, também era segunda esposa de<br />

Napoleão. E, quando Caetano morreu, D. Pedro II<br />

ordenou a construção de um túmulo em sua homenagem<br />

em Paris.<br />

Se a figura de Napoleão como estadista é<br />

ultrapassada, o mesmo não se pode dizer do Imperador<br />

francês como legislador. Segundo Stoaini, há uma forte<br />

influência dos ideais napoleônicos em nosso Código<br />

Civil, por exemplo. Prova irrefutável de que Napoleão<br />

foi definitivamente deglutido no caldo cultura e político<br />

brasileiro.<br />

a) o rompimento entre a Igreja Católica Romana e o<br />

novo Estado Revolucionário Francês.<br />

b) que Napoleão estava assumindo todas as<br />

responsabilidades do Poder Moderador na França.<br />

c) que Napoleão, símbolo máximo da força da<br />

burguesia, considerava-se mais importante que a<br />

tradição da Igreja.<br />

d) a criação de uma religião de Estado, tendo como<br />

figura central o Imperador, a exemplo do<br />

Anglicanismo inglês.<br />

3. (PUCRJ2012) Surpreendidas pela invasão<br />

napoleônica em 1807, as duas Coroas ibéricas tiveram<br />

desdobramentos políticos diferenciados.<br />

No caso espanhol, a captura do Rei Fernando VII por<br />

Napoleão acelerou a luta pela autonomia nas cidades e<br />

províncias de todo o Império.<br />

No caso português, a transmigração da família real para a<br />

colônia permitiu desdobramentos mais lentos ao Império<br />

luso.<br />

Tendo em vista a conjuntura descrita acima,<br />

a) cite duas medidas tomadas pelo Príncipe Regente D.<br />

João, a partir de 1808, que tenham favorecido a<br />

manutenção do controle português sobre as províncias<br />

brasílicas e seus territórios;<br />

b) identifique uma característica das independências na<br />

América hispânica também encontrada nos movimentos<br />

pela independência ocorridos na América portuguesa.<br />

330


4. (UFU 2012) Texto 1<br />

Depois que o Estado ficou em estado de orfandade<br />

política devido à ausência e prisão de Fernando VII, os<br />

povos reassumiram o poder soberano. Ainda que seja<br />

verdade que a nação havia transmitido esse poder aos<br />

reis, sempre foi com um caráter reversível, não somente<br />

no caso de uma deficiência total, mas também no de uma<br />

deficiência momentânea e parcial.<br />

Fragmento do Regulamento da Divisão de Poderes, Buenos Aires, 1811. Apud<br />

PAMPLONA, Marco A. e MÄDER, Maria Elisa (orgs.). Revoluções de<br />

independências e nacionalismos nas Américas. Região do Prata e do Chile. São<br />

Paulo: Paz e Terra, 2007, p. 251.<br />

Texto2<br />

Para sustentar a escravidão dos povos, não têm outro<br />

recurso que transformar em mérito o orgulho de seus<br />

sequazes e cobri-los de distinções que criam uma<br />

distância imensa entre o infeliz escravo e seu pretendido<br />

senhor.<br />

Essa é a origem dos títulos de condes, marqueses, barões,<br />

etc., que a corte da Espanha prodigalizava para duplicar<br />

o peso de seu cetro de ferro que gravitava sobre a<br />

inocente América.<br />

Longe de nós tão execráveis e odiosas preeminências;<br />

um povo livre não pode ver brilhar o vício diante da<br />

virtude. Estas considerações estimularam a Assembleia a<br />

expedir a seguinte LEI: A Assembleia <strong>Geral</strong> ordena a<br />

extinção de todos os títulos de condes, marqueses e<br />

barões no território das<br />

Províncias Unidas do Rio da Prata.<br />

O redator da Assembleia, n. 9. 29 de maio de 1813. In. PAMPLONA, Marco<br />

Antônio e MÄDER,<br />

Maria Elisa (orgs.). Revoluções de independências e nacionalismos nas<br />

Américas; regiões do Rio da Prata e Chile. São Paulo: Paz e Terra, 2007, p.110.<br />

(Adaptado)<br />

Os textos apontam para ânimos distintos relativos ao<br />

processo de independência na América espanhola.<br />

a) Explique o contexto histórico europeu relacionado ao<br />

início do processo revolucionário na América espanhola.<br />

b) Identifique as mudanças no processo de<br />

independência do Rio da Prata a partir dos documentos<br />

acima apresentados.<br />

pertencente à Inglaterra, ou proveniente de suas fábricas<br />

e de suas colônias é declarada boa presa.<br />

(...)<br />

Artigo 7.º — Nenhuma embarcação vinda diretamente da<br />

Inglaterra ou das colônias inglesas, ou lá tendo estado,<br />

desde a publicação do presente decreto, será recebida em<br />

porto algum.<br />

Artigo 8.º — Qualquer embarcação que, por meio de<br />

uma declaração, transgredir a disposição acima, será<br />

apresada e o navio e sua carga serão confiscados como se<br />

fossem propriedade inglesa.<br />

(Excerto do Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte.<br />

Citado por Kátia M. de Queirós Mattoso.<br />

Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963),<br />

1977.)<br />

Esses artigos do Bloqueio Continental, decretado pelo<br />

Imperador da França em 1806, permitem notar a<br />

disposição francesa de<br />

a) estimular a autonomia das colônias inglesas na<br />

América, que passariam a depender mais de seu<br />

comércio interno.<br />

b) impedir a Inglaterra de negociar com a França uma<br />

nova legislação para o comércio na Europa e nas<br />

áreas coloniais.<br />

c) provocar a transferência da Corte portuguesa para o<br />

Brasil, por meio da ocupação militar da Península<br />

Ibérica.<br />

d) ampliar a ação de corsários ingleses no norte do<br />

Oceano Atlântico e ampliar a hegemonia francesa<br />

nos mares europeus.<br />

e) debilitar economicamente a Inglaterra, então em<br />

processo de industrialização, limitando seu comércio<br />

com o restante da Europa.<br />

6. (Fuvest 2011) A cena retratada no quadro simboliza a<br />

5. (UNESP 2011) Artigo 5.º — O comércio de<br />

mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria<br />

331


a) estupefação diante da destruição e da mortalidade<br />

causadas por um tipo de guerra que<br />

b) começava a ser feita em escala até então inédita.<br />

c) Razão, propalada por filósofos europeus do século<br />

XVIII, e seu triunfo universal sobre o autoritarismo<br />

do Antigo Regime.<br />

d) perseverança da fé católica em momentos de<br />

adversidade, como os trazidos pelo advento das<br />

revoluções burguesas.<br />

e) força do Estado nacional nascente, a impor sua<br />

disciplina civilizatória sobre populações rústicas e<br />

despolitizadas.<br />

f) defesa da indústria bélica, considerada força motriz<br />

do desenvolvimento econômico dos Estados<br />

nacionais do século XIX.<br />

7. (UFMG 2011) Em 21 de novembro de 1806, em<br />

Berlim, Napoleão Bonaparte assinou um decreto, em que<br />

se estabeleciam as bases do que ele próprio denominou<br />

Bloqueio Continental.<br />

Leia este trecho desse decreto:<br />

Considerando [...] Que a Inglaterra considera inimigo<br />

todo indivíduo que pertence a um Estado inimigo e, por<br />

conseguinte, faz prisioneiros de guerra não somente as<br />

equipagens dos navios armados para a guerra, mas ainda<br />

as equipagens das naves de comércio e até mesmo os<br />

negociantes que viajam para os seus negócios; [...]<br />

Decretamos o que segue:<br />

Artigo 1º As Ilhas Britânicas são declaradas em estado<br />

de bloqueio, Artigo 2º Qualquer comércio e qualquer<br />

correspondência com as Ilhas Britânicas ficam<br />

interditados [...]<br />

Artigo 3º Qualquer indivíduo, súdito da Inglaterra,<br />

qualquer que seja sua condição, que for encontrado nos<br />

países ocupados por nossas tropas ou pelas tropas de<br />

nossos aliados, será constituído prisioneiro de guerra.<br />

Artigo4º Qualquer loja, qualquer mercadoria, qualquer<br />

propriedade pertencente a um súdito<br />

da Inglaterra será declarada boa presa.<br />

Artigo 5º O comércio de mercadorias inglesas é proibido,<br />

e qualquer mercadoria pertencente à Inglaterra, ou<br />

proveniente de suas fábricas e de suas colônias é<br />

declarada boa presa.<br />

Campo Imperial de Berlim, 21 de novembro de 1806.<br />

A partir da leitura desse trecho e considerando outros<br />

conhecimento sobre o conflito, explique as diferenças<br />

relacionadas às políticas praticadas pela França e pela<br />

Inglaterra.<br />

8. (Fatec 2010) Considere a foto para responder à<br />

questão.<br />

O Arco do Triunfo foi iniciado por ordem de Napoleão<br />

Bonaparte em 1806, e a Paris dos boulevares (das<br />

avenidas) surgiu a partir da reforma urbana implantada<br />

pelo barão Haussmann, prefeito de Paris entre 1853 e<br />

1870, período em que a França era governada por Luís<br />

Bonaparte.<br />

A foto demonstra o resultado final dessas duas iniciativas<br />

que representam a vitória do projeto<br />

a) socialista de uma cidade em que seus espaços devem<br />

pertencer igualmente a todos os cidadãos.<br />

b) burguês em que o embelezamento da cidade, os<br />

parques, novos edifícios e monumentos devem<br />

atender mais às necessidades da classe burguesa do<br />

que às da população mais pobre.<br />

c) anarquista de uma cidade onde a população não<br />

precisaria de um órgão governamental, pois os<br />

próprios cidadãos a governariam.<br />

d) neoliberal em que a economia da cidade deve ser<br />

gerada não mais pelo investimento do Estado e sim<br />

pelo livre investimento das empresas privadas.<br />

e) comunista de uma cidade moldada nas diretrizes da<br />

Primeira Internacional Comunista.<br />

9. (Fgv 2008) Os soberanos do Antigo Regime<br />

venceram Napoleão, em que eles viam o herdeiro da<br />

Revolução, e a escolha de Viena para a realização do<br />

Congresso, para a sede dos representantes de todos os<br />

Estados europeus, é simbólica, pois Viena era uma das<br />

únicas cidades que não haviam sido sacudidas pela<br />

Revolução e a dinastia dos Habsburgos era o símbolo da<br />

ordem tradicional, da Contra-Reforma, do Antigo<br />

Regime.<br />

(René Remond, "O século XIX: introdução à história do nosso tempo")<br />

332


Acerca do Congresso de Viena (1815), é correto afirmar<br />

que<br />

a) tornou-se a mais importante referência da vitória do<br />

liberalismo na Europa, na medida em que defendia a<br />

legitimidade de todas as dinastias que aceitavam a<br />

limitação dos seus poderes por meio de cartas<br />

constitucionais.<br />

b) países como a Inglaterra, Portugal e a Espanha, os<br />

mais prejudicados com o expansionismo<br />

napoleônico, defendiam que a França deveria tornarse<br />

republicana, com o intuito de evitar novos surtos<br />

revolucionários.<br />

c) foi orientado, entre outros, pelo princípio da<br />

legitimidade - que determinava a volta ao poder das<br />

antigas dinastias reinantes no período prérevolucionário,<br />

além do recebimento de volta dos<br />

territórios que possuíam em 1789.<br />

d) presidido pelo chanceler austríaco Metternich, mas<br />

controlado pelo chanceler francês Talleyrand,<br />

decidiu-se por uma solução conciliatória após o caos<br />

napoleônico: haveria a restauração das dinastias,<br />

mas não a volta das antigas fronteiras.<br />

e) criou, a partir da sugestão do representante da<br />

Prússia, um organismo multinacional, a Santa<br />

Aliança, que detinha a tarefa de incentivar regimes<br />

absolutistas a se modernizarem com o objetivo de<br />

sufocar as lutas populares.<br />

quem se atreverá a duvidar da sábia política do Príncipe<br />

Regente de Portugal, em mudar a sua Corte para o<br />

Brasil? (Adaptado de "Correio Braziliense", 1808. São Paulo: Imprensa<br />

Oficial do Estado/Instituto Uniemp, edição fac-similar, 2000.)<br />

a) O texto acima remete a um acontecimento, decorrente<br />

da política internacional, ocorrido na Península Ibérica<br />

na primeira década do século XIX.<br />

Indique esse acontecimento e seu principal objetivo em<br />

relação a Portugal.<br />

b) A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil pode ser<br />

considerada importante para o processo de<br />

independência do Brasil.<br />

Apresente um argumento que justifique esse ponto de<br />

vista.<br />

12. (FGV 2005) A Revolução Francesa foi marcada por<br />

uma série de reviravoltas políticas. Em novembro de<br />

1799, o general Napoleão Bonaparte liderou um golpe de<br />

Estado que pôs fim ao Diretório, inaugurando uma nova<br />

fase da <strong>História</strong> francesa.<br />

a) Quais eram as características do Código Civil<br />

estabelecido por Napoleão?b) Em que medida o Código<br />

Civil chocava-se com a Declaração dos Direitos do<br />

Homem e do Cidadão de 1789?<br />

10. UFF (2007) A Revolução Francesa de 1789 foi<br />

pródiga em gerar idéias e projetos de reforma social dos<br />

mais diversos e radicais. Um deles, por sua projeção<br />

futura, merece ser destacado: a Conspiração dos Iguais,<br />

cuja crítica à propriedade estava respaldada na crença de<br />

que ela era "odiosa em seus princípios e mortífera nos<br />

seus efeitos". No entanto, a Conspiração dos Iguais não<br />

conseguiu concretizar seu projeto de defesa da abolição<br />

da propriedade privada.<br />

Com base nesta afirmativa:<br />

a) mencione o principal líder da Conspiração dos Iguais;<br />

b) discuta a principal reforma napoleônica em relação à<br />

propriedade e suas repercussões na Europa.<br />

11. (Uerj 2006) Para cúmulo da desgraça foram os<br />

soberanos da Espanha obrigados a renunciar aos seus<br />

direitos, a abdicar de seu trono e a solicitar o seu mesmo<br />

Povo a que faltasse à fé e juramento de fidelidade, que<br />

havia prestado à Real Família Reinante; a pedir por fim<br />

que obedecesse a seus próprios inimigos. Depois disto,<br />

13. (Fuvest 2005) "A mais extravagante idéia que possa<br />

germinar no cérebro de um político é acreditar que basta<br />

a um povo entrar de mão armada num país estrangeiro<br />

para lhe fazer adotar as suas leis e a sua Constituição.<br />

Ninguém estima os missionários armados, e o primeiro<br />

conselho que a natureza e a prudência dão é repeli-los<br />

como inimigos." Robespierre, janeiro de 1792.<br />

a) Por que a ocupação da Espanha pelo exército<br />

napoleônico, em 1808, tornou o texto profético?<br />

b) Há no momento atual alguma situação à qual o texto<br />

pode ser referido? Por quê?<br />

14. (Fuvest 2004) "Os soldados franceses que<br />

guerrearam da Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria<br />

[...] estenderam a universalidade de sua revolução mais<br />

eficazmente do que qualquer outra coisa. E as doutrinas<br />

e instituições que levaram consigo, mesmo sob o<br />

comando de Napoleão, eram doutrinas universais, como<br />

os governos sabiam e como também os próprios povos<br />

logo viriam a saber." Eric Hobsbawm. A era das revoluções - 1789 -<br />

1848.<br />

333


Baseando-se no texto, aponte:<br />

a) As doutrinas e instituições referidas pelo autor.<br />

b) Os desdobramentos dessas guerras para a América<br />

Ibérica.<br />

15. (Ufpr 1995) Em 1806 o imperador Napoleão<br />

Bonaparte decretou o chamado Bloqueio Continental.<br />

Explique<br />

repercussões.<br />

as motivações desse ato e indique suas<br />

334


GABARITO<br />

Resposta da questão 1<br />

a) No leste da Europa, as guerras napoleônicas levaram<br />

os ideais de liberalismo e nacionalismo que auxiliaram<br />

na transformação dos regimes monárquicos existentes<br />

nesta região.b) No continente americano, as guerras<br />

napoleônicas influenciaram em especial a história do<br />

Brasil, que ao receber a corte portuguesa, fugindo das<br />

tropas napoleônicas, vai precipitar a transformação da<br />

vida na colônia, agora elevada à categoria de Reino<br />

Unido de Portugal e Algarves, o que lhe trouxe inúmeros<br />

privilégios que como colônia não conheceria.<br />

Resposta da questão 2:<br />

[C]<br />

O governo de Napoleão representou a continuidade da<br />

Revolução Francesa e da defesa dos interesses<br />

econômicos da burguesia. Apesar de iniciar uma<br />

ditadura, contrariando o princípio de liberdade política,<br />

seu governo preservou os ideais e as instituições sob a<br />

ótica burguesa, eliminando as concepções que<br />

valorizassem as tradições da nobreza ou da Igreja.<br />

Resposta da questão 3:<br />

a) Qualquer ideia de unidade territorial e políticaadministrativa<br />

prévia entre as distintas províncias<br />

brasílicas, sem vínculos entre si, dependia<br />

necessariamente da submissão e obediência direta a<br />

Lisboa. Tal situação viu-se transformada quando, com a<br />

vinda da Corte para o Brasil, a unidade do ponto de vista<br />

político-administrativo foi transferida de Lisboa para a<br />

nova sede da colônia, no Rio de Janeiro.<br />

Assim, o estudante poderá citar quaisquer medidas que<br />

tenham contribuído, direta ou indiretamente, para<br />

fortalecer essa tentativa de manter as províncias e seus<br />

territórios unidos sob o domínio português no Brasil. Por<br />

exemplo:<br />

- a transferência para a nova capital das Secretarias de<br />

Estado (Conselho do Estado, Mesas do Desembargo do<br />

paço e da Consciência e Ordens, Conselho Supremo<br />

Militar e Conselho da Fazenda);<br />

- a abertura dos portos às nações amigas;<br />

- a revogação do Alvará de 1785 que proibia a instalação<br />

de manufaturas no Brasil;<br />

- a criação do banco do Brasil e a instalação da Junta de<br />

Comércio;<br />

- a elevação do Brasil em 1815 à condição de Reino<br />

Unido a Portugal e Algarves;<br />

- a criação da imprensa régia;<br />

- a transformação da cidade do Rio de Janeiro em sede da<br />

Corte; e,<br />

- as práticas de concessão de terras e títulos de nobreza.<br />

Mais diretamente ligados à ideia da expansão territorial,<br />

o candidato poderá citar:<br />

- a invasão de Caiena (Guiana Francesa), em 1809,<br />

mantendo-a sob domínio português até 1815;<br />

- a invasão da região do Rio da Prata, em 1811 pela<br />

primeira vez e depois em 1816, quando foi anexada a<br />

Banda Oriental (atual Uruguai), com o nome de<br />

Província Cisplatina.<br />

b) Ouanto às características comuns entre as<br />

independências da América ibérica, pode-se mencionar:<br />

- o fato de tanto a América espanhola como a portuguesa<br />

partilharem da mesma conjuntura política europeia como<br />

ponto de partida -isto é, o Bloqueio napoleônico e a<br />

guerra e invasão das respectivas metrópoles;<br />

- a intensa luta pela autonomia das províncias,<br />

observadas nos dois casos: com esfacelamento dos vicereinos<br />

hispânicos (iniciado grosso modo em 1810 e<br />

estendendo-se até 1825) e com o a independência<br />

proclamada por D. Pedro no Rio de Janeiro, em 1822; e,<br />

- o importante papel exercido pelos britânicos no auxílio<br />

às guerras para a criação dos novos estados-nação<br />

independentes e, logo, na manutenção e expansão do<br />

comércio com as demais nações europeias.<br />

Resposta da questão 4:<br />

a) O estudante deverá relacionar os processos<br />

revolucionários na América espanhola ao bloqueio<br />

continental determinado pela França sobre a Inglaterra e<br />

às invasões napoleônicas de 1808, que, na Espanha,<br />

levaram à renúncia forçada de Fernando VII, e a um<br />

vazio de poder posteriormente preenchido pelas juntas de<br />

Governo.<br />

b) O estudante deverá avaliar a independência como um<br />

processo construído ao longo dos anos de 1810 a 1816,<br />

quando a independência política das Províncias Unidas<br />

335


do Rio da Prata foi formalmente declarada em 9 de julho<br />

de 1816.<br />

Assim, o estudante deverá identificar as diferenças entre<br />

dois textos citados: o primeiro, moderado, e, o segundo,<br />

radical. O primeiro aponta para a possibilidade da<br />

Província do Rio Prata permanecer como parte integrante<br />

do Império Espanhol. No segundo texto, o estudante<br />

deverá identificar um ataque ao absolutismo com a<br />

dissolução dos títulos de nobreza e o fato da Espanha ser<br />

considerada como inimiga.<br />

Resposta da questão 5:<br />

[E]<br />

A política expansionista francesa tinha como grande<br />

objetivo ampliar seus mercados na Europa, como uma<br />

das bases para sua industrialização e, nesse sentido, após<br />

a derrota na tentativa de invadir a Inglaterra, a política de<br />

Napoleão Bonaparte pretendeu isolar a Inglaterra e<br />

estrangular sua economia.<br />

Resposta da questão 6:<br />

[A]<br />

A famosa obra de Goya retrata o fuzilamento de<br />

populares em Madri, que resistiram à ocupação francesa<br />

promovida por tropas napoleônicas. A invasão francesa<br />

foi responsável por derrubar o absolutismo na Espanha,<br />

mas mesmo assim encontrou forte resistência popular<br />

que se organizou e lutou pela libertação do país.<br />

Resposta da questão 7:<br />

No início do século XIX existiam diferenças políticas e<br />

econômicas entre Inglaterra e França. A Inglaterra era<br />

uma monarquia constitucional e liberal, enquanto que a<br />

França era caracterizada pela ditadura de Napoleão<br />

Bonaparte. Do ponto<br />

de vista econômico, a Inglaterra era um país<br />

industrializado, que havia expandido seus mercados e<br />

promovia forte acumulação de capitais, enquanto a<br />

França desenvolvia uma política industrialista e possuía<br />

poucos mercados, percebendo a concorrência inglesa<br />

como principal obstáculo ao seu desenvolvimento. O<br />

Decreto Napoleônico reforça a política expansionista<br />

francesa, do ponto de vista militar, como elemento de<br />

contenção à política expansionista inglesa, do ponto de<br />

vista econômico.<br />

Resposta da questão 8:<br />

[B]<br />

A resposta da questão reflete a interpretação das análises<br />

mais correntes sobre a reforma urbana implementada em<br />

Paris pelo barão de Haussmann durante o governo de<br />

Luís Bonaparte (Napoleão III) na França, que a associam<br />

a um momento de afirmação política da burguesia.<br />

Porém vale observar que tal reforma procurou também,<br />

eliminar as ruas estreitas da cidade onde foram<br />

construídas as barricadas durante os movimentos de 1848<br />

que dificultaram o deslocamento de tropas oficiais<br />

enviadas para repressão.<br />

Resposta da questão 9:<br />

[D]<br />

Resposta da questão 10:<br />

a) Graco Babeuf.<br />

b) Fazer menção às principais reformas napoleônicas,<br />

destacando o Código Civil de 1804 que garantiu a<br />

liberdade individual, a igualdade perante a lei e o direito<br />

à propriedade<br />

privada. O código civil napoleônico exerceu marcante<br />

influência na institucionalização do direito privado nos<br />

países europeus, principalmente os que foram palco da<br />

expansão<br />

napoleônica. O aluno poderá também destacar que o<br />

código Napoleônico é a pedra angular do direito liberal,<br />

pois foi fonte das diretrizes legais dos países capitalistas.<br />

Ele poderá ainda afirmar que o código civil consagrou os<br />

interesses burgueses, sendo a expressão jurídica da<br />

chamada revolução burguesa.<br />

Resposta da questão 11:<br />

a) Invasão e ocupação da Península Ibérica por tropas<br />

francesas.<br />

Domínio de Portugal para efetiva adesão ao Bloqueio<br />

Continental.<br />

b) Um dentre os argumentos:<br />

O Brasil ve|o a ser elevado à condição de Reino Unido,<br />

transformando-se a antiga colônia em metrópole.<br />

336


- O Rio de Janeiro transformou-se em ponto de atração<br />

das elites, permitindo-lhes a constituição de uma<br />

identidade comum.<br />

- A abertura dos portos às nações amigas possibilitou o<br />

fim do monopólio comercial, estabelecendo uma maior<br />

liberdade de comércio no Brasil.<br />

- A instalação de um aparelho burocrático possibilitou a<br />

ascensão de inúmeros brasileiros aos cargos de<br />

administração, contribuindo para a ideia de autonomia do<br />

Brasil.<br />

Resposta da questão 12:<br />

a) O Código Civil, estabelecido em 1804 por Napoleão<br />

Bonaparte, tinha por finalidade organizar internamente o<br />

Império francês. Por incorporar princípios apontados<br />

como oposição ao Antigo Regime, é considerado uma<br />

obra integrada à Revolução Francesa. Em sua essência,<br />

consagrava os interesses da burguesia ao reconhecer e<br />

privilegiar o direito de propriedade e a liberdade<br />

individual e econômica.<br />

Estabelecia ainda o caráter secular e laico do Estado.<br />

b) Pelo fato de a maioria dos artigos (dois terços)<br />

destinarem- se à defesa da propriedade individual e os<br />

poucos artigos que se referiam ao trabalho à restrições ao<br />

trabalhadores e proteção dos empregadores, além de a<br />

escravidão ser restabelecida nas colônias francesas e o<br />

casamento civil restringir os direitos das mulheres, o<br />

Código Civil não contemplava plenamente o princípio da<br />

igualdade entre os homens, presente na Declaração dos<br />

Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.<br />

Resposta da questão 14:<br />

a) Durante as conquistas napoleônicas os soldados<br />

franceses difundiram as doutrinas liberais surgidas<br />

durante o iluminismo e consagradas na Revolução<br />

Francesa de 1789, bem como a defesa de instituições do<br />

governo constitucional e o Código Civil para<br />

salvaguardar o direito à propriedade e a liberdade<br />

econômica.<br />

b) As Guerras Napoleônicas contribuíram para acelerar o<br />

processo de emancipação política das colônias<br />

espanholas na América na medida em que a elite colonial<br />

organizada a partir dos cabildos e das juntas governativas<br />

não reconheceu a intervenção napoleônica na Espanha e<br />

aproveitou-se para proclamar a independência.<br />

Resposta da questão 15:<br />

Napoleão pretendia afetar o comércio inglês na Europa e<br />

promover o comércio francês.<br />

Suas repercussões foram a expansão do comércio<br />

francês, a invasão dos países que desrespeitaram o<br />

Bloqueio, a vinda da família real portuguesa para o<br />

Brasil e novas relações comerciais entre a Inglaterra e as<br />

colônias na América.<br />

Resposta da questão 13:<br />

a) Porque, apesar de as tropas napoleônicas serem<br />

propagadoras dos ideais de liberdade contrários ao<br />

Antigo Regime que ainda vigorava na Espanha, sua<br />

presença no território espanhol desencadeou a revolta da<br />

população, contrária à dominação estrangeira.<br />

b) Sim. O caso da ocupação do Iraque por tropas norteamericanas<br />

e seus aliados, porque apesar destes<br />

justificarem suas ações em nome do estabelecimento da<br />

democracia e da liberdade no país, encontram forte<br />

resistência de grupos iraquianos de orientação<br />

nacionalista ou de orientação fundamentalista associados<br />

a estrangeiros árabes contrários à imposição de valores<br />

ocidentais ao mundo árabe.<br />

337


REVOLUÇÕES LIBERAIS DO SÉCULO XIX<br />

A reação conservadora representada pelas negociações<br />

do Congresso de Viena e pela criação da Santa Aliança,<br />

após a derrota de Napoleão, trouxeram à ordem do dia na<br />

Europa o desejo de retomar a ordem política e social do<br />

Antigo Regime. Em resposta, desde a década de 20 e,<br />

especialmente na década de 40, com a Primavera dos<br />

Povos, movimentos liberais eclodiram em várias regiões<br />

do continente, a fim de frear o recuo conservador.<br />

Como exemplo do retorno da ordem conservadora,<br />

tivemos na Franca a volta dos Bourbons ao poder,<br />

representados por Luís XVIII, iniciando o período<br />

estendido até 1830, chamado Restauração. A França,<br />

principal referência do liberalismo com a Revolução<br />

Francesa do século XVIII, protagonizaria os principais<br />

movimentos liberais do século XIX – Revolução de<br />

1830 e Revolução de 1848 – para conter o retorno<br />

absolutista e sustentar o ideal nacionalista.<br />

1. REVOLUÇÃO DE 1830<br />

A Liberdade Guiando o Povo", por Eugène Delacroix.<br />

Ao longo do reinado de Luís XVIII (1814-1824), três<br />

grupos políticos se destacavam no cenário francês pós<br />

Restauração. Os grupos liberais, reuniam os<br />

bonapartistas e republicanos, defensores dos princípios<br />

elementares e conquistas da Revolução Francesa e do<br />

retorno de Napoleão; de tendência conservadora, eram<br />

os ultrarrealistas, era liderado pelo irmão do monarca, o<br />

Conde de Artois, defensor do retorno pleno da ordem<br />

absolutista, com a garantia dos privilégios da nobreza e<br />

ao clero. O terceiro grupo, representação da alta<br />

burguesia, eram os constitucionalistas, que defendiam o<br />

governo de Luís XVIII e o respeito à Constituição<br />

outorgada, buscando assegurar uma ordem monarquista<br />

liberal. Enquanto Luís XVIII manteve-se no poder, sua<br />

autoridade se sustentava nessa Constituição e era<br />

assessorada por um órgão parlamentar composta de duas<br />

câmaras (a dos Pares e a dos deputados); a primeira,<br />

nomeada diretamente pelo Rei e, os segundos, indicados<br />

por meio do voto censitário.<br />

Com a morte de Luís XVIII em 1824, ascende ao trono<br />

seu irmão, o conde de Artois, coroado com o nome de<br />

Carlos X (1824-1830), apoiado especialmente nos<br />

grandes proprietários de terra e membros do clero. Desde<br />

1827, tentando reverter uma grave crise econômica, o<br />

monarca autorizou uma drástica elevação de impostos,<br />

que desagradava comerciantes e industriais, como<br />

também as classes populares mais seriamente atingidos<br />

pela nova política tributária. Coerente com sua tradição<br />

reacionária e conservadora, o monarca se esforçou em<br />

reforçar sua autoridade, tentando retornar a uma ordem<br />

absolutista, favorecendo a nobreza com o retorno de<br />

privilégios.<br />

Em 1830, as oposições se organizaram e, deram vitória à<br />

oposição na Câmara dos Deputados, Carlos X aprovou as<br />

Ordenações de Julho, um conjunto de medidas arbitrárias<br />

que incluíam a suspensão da liberdade de imprensa, a<br />

dissolução da Câmara recém eleita e a elevação do censo<br />

para o voto. Era o estopim para o retorno das<br />

mobilizações de rua na França, quando rememorando os<br />

movimentos da Revolução Francesa, barricadas e motins<br />

de populares e grupos ligados à burguesia, promoveu-se<br />

os chamados Três Dias Gloriosos, que culminaram com<br />

a ocupação do Palácio de Tolherias e a fuga de Carlos X.<br />

A Revolução de 1830 impediu o retorno da ordem<br />

absolutista na Franca, mas manteve a ordem monárquica,<br />

acentuando-se o seu aspecto liberal. Embora os<br />

populares defendessem a instalação da Republica, grupos<br />

338


ligados à alta burguesia eram temerosos de uma<br />

radicalização semelhante à da segunda fase da Revolução<br />

Francesa e se esforçaram em ter um representante de<br />

seus interesses instalado no poder.<br />

2. O GOVERNO DE LUIS FELIPE DE<br />

ORLEANS<br />

daquele governo com os patrões; assim, sublevações de<br />

ordem operária começavam a surgir no país, sempre<br />

duramente reprimidas pelas forças do governo.<br />

Essa onda de descontentamentos e agravamento das<br />

desigualdades alcançou no seu ápice, na década de 1840,<br />

quando em 1847, a França, como outras regiões da<br />

Europa, foi duramente atingida por um grave crise<br />

agrícola. Essa crise resultou no aumento do desemprego<br />

e subconsumo, que estimularam novos levantes e<br />

mobilizações contra o governo.<br />

Grupos de oposição ao governo, especialmente na<br />

pequena burguesia, forjou lideranças liberais (Ledru<br />

Rolin) e populares (Louis Blanc), para coordenar<br />

mudanças na ordem política. Os encontros eram<br />

realizados em banquetes, que a partir de fevereiro de<br />

1848, foram proibidos pelo ministro Guizot, acusados de<br />

serem encontros subversivos.<br />

2. REVOLUÇÃO DE 1848<br />

Também chamado de “o Rei Burguês”, Luís Felipe de<br />

Orleans reinou sobre a Franca entre 1830 e 1848, na<br />

chamada Monarquia de Julho; esforçou-se pelo<br />

desenvolvimento industrial do país, beneficiando<br />

especialmente os industriais e a classe dos banqueiros,<br />

mas assegurando a ordem liberal.<br />

O governo do Rei Burguês ficou caracterizado pelo<br />

fortalecimento do poder legislativo, pela retomada da<br />

liberdade de imprensa, ampliação do eleitorado a partir<br />

da redução do censo; também buscou-se combater a crise<br />

econômica, direcionando investimentos promovidos pelo<br />

governo ao setor industrial. Assim, a alta burguesia<br />

francesa tornou-se a classe mais beneficiada pelo<br />

governo de Luís Felipe, detendo o controle de ferrovias,<br />

bancos, minas de carvão e ferro etc.<br />

Enquanto a indústria francesa se modernizava, crescia<br />

em número e importância política a classe operária.<br />

Destituída de direitos essenciais e submetida a condições<br />

drásticas de exploração, essa classe não encontrava no<br />

Estado uma representatividade, dado o compromisso<br />

Tal qual aconteceu em 1830, a repressão aos banquetes<br />

ativou a mobilização nas ruas de Paris, retomando as<br />

barricadas e protestos ao ministro Guizot e ao governo de<br />

Luís Felipe de Orleans. A Guarda Nacional, chamada a<br />

conter as movimentações da pequena burguesia e do<br />

proletariado, aderiu ao movimento, o que dificultou a<br />

resistência do governo e levou à abdicação do monarca a<br />

24 de fevereiro de 1848. Esse movimento se destaca por<br />

ter inspiração socialista – não coincidentemente é o ano<br />

da publicação de O Manifesto Comunista – como<br />

também por apresentar a classe operária em sua potência<br />

capacidade transformadora.<br />

Logo após a vitória do movimento, foi instalado um<br />

governo provisório de colaboração entre liberais e<br />

socialistas, que fundaram a Segunda República<br />

Francesa. O novo governo assegurou a anistia aos presos<br />

políticos, como criou as Oficinas Nacionais, destinadas<br />

339


340<br />

a empregar a juventude desempregada francesa,<br />

amenizando a crise econômica.<br />

Para superar a fase transitória, foi convocada uma<br />

Assembleia Constituinte, cuja composição contou com<br />

maioria de representantes da classe burguesa, colocando<br />

em risco as conquistas populares. Os grupos ligados ao<br />

povo buscaram dissolver aquela Assembleia, sendo<br />

duramente reprimidos pelo General Cavaignac, que em<br />

nome da ordem, recebeu autonomia da Assembleia para<br />

promover prisões e deportações dos revoltosos. Após a<br />

contenção das manifestações, eleições foram procedidas,<br />

levando à presidência do país, Luís Napoleão Bonaparte,<br />

sobrinho de Napoleão I.<br />

4. O GOVERNO DE LUÍS NAPOLEÃO<br />

BONAPARTE - 1848 – 1871<br />

Após a contenção da rebelião de 1848, a nova<br />

Constituição francesa determinou eleições diretas para a<br />

escolha do presidente, através das quais se assegurou a<br />

vitória esmagadora de Luís Napoleão Bonaparte,<br />

membro do Partido da Ordem, e composição<br />

essencialmente burguesa. Esse mesmo partido também<br />

alcançou maioria nas eleições para a Assembleia<br />

Legislativa, restringindo as conquistas populares do<br />

governo provisório e afastando as camadas populares do<br />

processo político institucionalizado.<br />

Para coibir as camadas populares, essa Assembleia<br />

aprovou leis que dificultavam a participação política dos<br />

mais pobres, exigindo que precisassem comprovar<br />

residência fixa de três anos, quando era comum a<br />

migração constante dos operários para assegurar a<br />

sobrevivência. Outra lei aumentou drasticamente os<br />

impostos sobre publicações e jornais, elevando o preço<br />

do produto e dificultando a expansão e circulação de<br />

ideias socialistas e a compra desses jornais pelas classes<br />

mais pobres.<br />

O mandato presidencial de Luís Napoleão deveria ser de<br />

quatro anos, ao final do qual deveria deixar o poder, já<br />

que não havia direito à reeleição previsto na<br />

Constituição. Valendo-se do amplo apoio das elites, ás<br />

vésperas de encerrar seu mandato republicano, Luís<br />

Napoleão fechou a Assembleia Legislativa, prendeu<br />

opositores e ampliou drasticamente os seus poderes.<br />

Tratava-se de um golpe de estado, o chamado Segundo<br />

Golpe 18 de Brumário, numa alusão o golpe que levou<br />

o tio Napoleão ao poder após dissolver o Diretório em<br />

1799. Em 1852, por meio de um plebiscito, Luís<br />

Napoleão teve aprovada a anulação da antiga<br />

constituição e a substituição da Republica pelo Segundo<br />

Império Francês, passando a ser chamado Napoleão<br />

III.<br />

Napoleão III encontrou apoio em várias camadas da<br />

sociedade francesa, como a alta burguesia, a Igreja e o<br />

Exército. Se esforçou em promover a aceleração do<br />

desenvolvimento industrial do país, com grandes avanços<br />

nos setores estratégicos de metalurgia, indústria têxtil, na<br />

agricultura e nos transportes, dando continuidade às<br />

políticas iniciadas por Napoleão I e Luís Felipe de<br />

Orleans. Adotou um política externa ofensiva, baseada<br />

na expansão do domínio de territórios nos continentes<br />

africano e asiático, destacando os esforços pela<br />

construção do Canal de Suez. Napoleão também<br />

promoveu o apoio a movimentos nacionalistas, a<br />

exemplo da região dos Balcãs, na Guerra da Crimeia<br />

contra o expansionismo russo.<br />

No entanto, ainda nesse âmbito, o imperador Napoleão<br />

III tomou medidas que foram desastrosas e custariam a<br />

sua própria governabilidade. É o caso por exemplo, da<br />

posição controversa assumida por ocasião da Unificação<br />

Italiana, quando inicialmente apoiou o movimento,<br />

buscando enfraquecer o Império Austríaco, mas<br />

subitamente mudaria de posição, garantindo apoio ao<br />

Papado que se opunha à unificação. Também promovera<br />

uma desastrosa intervenção no México, que objetivava<br />

ampliar a área de influência francesa na América, sem<br />

êxito. E por fim, a intromissão francesa no processo de<br />

sucessão da Coroa Espanhola, usado como justificativa<br />

prussiana para a hostilidade ao Império francês, que


culminou na Guerra Franco Prussiana (1870-1871),<br />

resultando numa vitória esmagadora da Alemanha e<br />

consequente conclusão de seu processo unificador.<br />

A França saiu desse confronto humilhada, com a<br />

coroação de Guilherme I dentro do palácio de Versalhes,<br />

além de submetida ao tratado de Frankfurt, que impôs<br />

pesadas indenizações francesas aos alemães e a perda<br />

territorial da Alsácia e Lorena, riquíssimas em carvão.<br />

Um governo provisório se instalou na Franca, logo após<br />

a derrota na guerra e queda de Napoleão III. Duas<br />

facções estavam em disputa pelo poder: os monarquistas,<br />

a favor da rendição aos prussianos, e os republicanos,<br />

que defendiam a insistência na luta contra os inimigos. A<br />

vitória coube aos monarquistas, acarretando a retirada de<br />

vários canhões da Guarda Nacional, composta<br />

principalmente por trabalhadores descontentes com a<br />

situação política. Não tardaria para que um novo<br />

movimento revolucionário eclodisse no país.<br />

execuções numerosas dos envolvidos na experiência da<br />

Comuna de Paris. Embora de curta duração – pouco<br />

mais de dois meses – a Comuna de Paris é a primeira<br />

experiência de um governo revolucionário na Europa de<br />

base socialista e composição operária.<br />

5. REPERCUSSÕES DOS MOVIMENTOS<br />

LIBERAIS NA EUROPA<br />

A partir dos movimentos liberais ocorridos na França,<br />

várias rebeliões de inspiração nacionalista, de<br />

emancipação ou de combate ao Absolutismo se<br />

multiplicaram pela Europa. Na década de 1830, por<br />

exemplo, a Bélgica, inspirada pelos movimentos de julho<br />

na Franca, alcançaram sua independência em relação a<br />

Holanda, aquém estava atrelada desde o Congresso de<br />

Viena; instituiu-se uma monarquia parlamentar, de<br />

Constituição liberal, buscando garantir as liberdades<br />

individuais, dentro dos moldes do liberalismo político.<br />

Em 1871, ocorria a Comuna de Paris, de ideais<br />

socialistas, que ergueu várias barricadas pela cidade e<br />

chegou a organizar, provisoriamente, um governo<br />

paralelo ao governo francês. Entre as várias medidas<br />

adotadas pela Comuna, estava a separação entre a Igreja<br />

e o estado, a instituição do ensino laico gratuito e<br />

profissional. As industrias passaram a ser dirigidas pelos<br />

operários e constituiu-se forças militares populares. O<br />

teor radical do movimento levou à reação dos<br />

republicanos, que retiram as tropas do front de batalha<br />

para sufocarem o movimento socialista interno,<br />

resultando numa intensa violência com prisões e<br />

Na Península Itálica, nos territórios de Módena, Parma e<br />

Romagna, movimentos de contestação à dominação<br />

austríaca eclodiram, a exemplo da formação do Grupo<br />

jovem Itália, liderado por Giuseppe Mazini. A repressão<br />

das tropas austríacas foi violenta, dado o apoio militar da<br />

Santa Aliança.<br />

Também na Confederação germânica, movimentos<br />

liberais obrigaram os príncipes de Hanover e da Saxônia<br />

a se submeterem a constituições, ainda que outorgadas.<br />

Também nesse caso, as tropas da Santa Aliança foram<br />

eficientes em combater os movimentos e suspender as<br />

constituições. A Polônia também chegou a organizar um<br />

governo nacionalista em Varsóvia, mas as tropas do czar<br />

Nicolau I contornaram a ação rebelde.<br />

Depois da Revolução de 1848, a onda de movimentos<br />

liberais e nacionalistas ganhou novo fôlego, constituindo<br />

a Primavera dos Povos. Na Áustria, um movimento<br />

341


liberal iniciado em Viena, reunindo membros da<br />

burguesia e da classe trabalhadora, conseguiu derrubar o<br />

Ministro Metternich e outorgou uma Constituição, além<br />

de convocar uma Assembleia Constituinte por meio do<br />

sufrágio universal. O temor de uma revolução popular<br />

levou a própria burguesia a defender um governo<br />

centralizado, capaz de manter a ordem, resultando nas<br />

pressões que levaram à abdicação de Fernando I e a<br />

ascensão do monarca Francisco José que restaurou o<br />

Absolutismo e coibiu movimentos nacionalistas de<br />

emancipação na Hungria e na Boemia.<br />

De volta à Península Itálica, movimentos liberais<br />

obrigaram o rei Francisco II, do Reino das Duas Sicílias,<br />

a se submeter a uma Constituição, que após a repressão<br />

comandada pelo rei, acabou anulada. Em Milão e<br />

Veneza, revoltas eclodiam contra o domínio austríaco,<br />

mas também foram duramente reprimidos. Na região da<br />

Toscana e Roma, o líder Giuseppe Mazzini proclamou<br />

breves republicas, que com apoio francês ao Papa foram<br />

extintas, restabelecendo a soberania do Papa nos estados<br />

Pontifícios.<br />

Na confederação Germânica, a partir de Berlim, um<br />

movimento unificador pressionava o rei da Prússia,<br />

Guilherme IV a convocar uma Assembleia Constituinte.<br />

Em pouco tempo, representantes dos vários estados<br />

alemães se reuniram em Frankfurt para eleger a<br />

Assembleia, que previa uma Constituição e um regime<br />

parlamentar, tornando o rei da Prússia imperador da<br />

Confederação. A oposição da Áustria à hegemonia<br />

pressa na área levou ao recuo do processo, fracassando<br />

os esforços unificadores da Primavera dos povos, cujo<br />

sucesso de objetivos só seriam alcançados na segunda<br />

metade do século XIX.<br />

342


IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX<br />

1. LIBERALISMO<br />

<strong>Geral</strong>mente, ao nos depararmos com a expressão<br />

“Liberalismo”, tendemos a estabelecer uma relação<br />

simplificada com a palavra “Liberdade”; embora exista<br />

uma associação entre os dois vocábulos, o Liberalismo<br />

configura-se em um complexo conceito, que passou a ser<br />

construído no século XVIII e, que viria a se tornar a<br />

principal referência teórica da classe burguesa tanto para<br />

a ordem econômica, como para a estrutura política que se<br />

consagraria em oposição ao Antigo Regime.<br />

Ao final da Idade Moderna, especialmente na segunda<br />

metade do século XVIII, as chamadas revoluções<br />

burguesas lançaram as bases do Liberalismo. Tratava-se<br />

de modernizar as instituições políticas e as estruturas<br />

econômicas, inspiradas no ideário iluminista, que<br />

preconizava a garantia de certas liberdades como parte<br />

dos direitos naturais do homem. Em oposição ao Antigo<br />

Regime, sustentado no Absolutismo, o Mercantilismo e o<br />

Colonialismo, forças sociais levantam-se politicamente<br />

contra a cultura e a tradição do período, que restringia<br />

liberdade em vários campos. O sistema político e<br />

econômico estava nas mãos da nobreza, a classe<br />

aristocrática, e seu representante, em cada país, era a<br />

monarquia absolutista; isto é, um rei com poderes<br />

absolutos, de justificação divina, que governava de modo<br />

a garantir os privilégios de sua classe social, a nobreza.<br />

Desde a primeira metade do século XVIII, notadamente<br />

em França e Inglaterra, surgiram novos pensadores que<br />

propuseram uma filosofia revolucionária para o período:<br />

O Iluminismo. Baseado, em síntese, em valores como<br />

Razão e Liberdade, procurava-se denunciar os entraves<br />

que impediam de fato que o período fosse “moderno”,<br />

mantendo-o preso a valores “antigos” (muitos, inclusive,<br />

resíduos medievais).<br />

O desenvolvimento das forças econômicas da Europa,<br />

especialmente a partir da modernização industrial, estão<br />

na base determinante dessa filosofia iluminista; esse<br />

pensamento inovador sobre a realidade daquele contexto,<br />

relacionava-se intimamente à classe burguesa, em<br />

ascensão econômica e buscando ascensão social e<br />

política, justificada nos princípios de defesa da liberdade<br />

e da igualdade.<br />

Fundamentando a crítica ao Antigo Regime, intelectuais<br />

geralmente associados aos interesses da classe burguesa,<br />

cientistas, pensadores políticos desenvolveram um<br />

conjunto de ideais (econômicas, sociais, políticas e<br />

culturais) que passam a nortear os planos e as ações<br />

daquela classe em seu enfrentamento contra a nobreza<br />

situada no poder; estamos falando de uma ideologia que<br />

nasce a partir da “Filosofia das Luzes”: O Liberalismo.<br />

Se na primeira metade do séc. XVIII, surgem o<br />

Iluminismo e o Liberalismo (filosofia e ideologia política<br />

relacionados aos interesses burgueses e seus sistema<br />

socioeconômico, ou seja, o capitalismo), na segunda<br />

metade do mesmo século, vem a ação decorrente. As<br />

chamadas revoluções burguesas (Revolução Industrial, a<br />

Independência dos EUA e a Revolução Francesa),<br />

inspiradas nas ideias iluministas, que aos poucos foram<br />

garantindo a diminuição do papel da nobreza no<br />

comando político dos Estados europeus, enquanto<br />

membros da burguesia ascendia a quadros políticos cada<br />

vez mais importantes.<br />

Assim, o Absolutismo e o Mercantilismo foram sendo<br />

substituídos pelo Liberalismo – político ("a democracia<br />

burguesa") e econômico (a não intervenção do Estado na<br />

economia). (Então, em relação à primeira afirmação<br />

deste texto, a Liberdade do Liberalismo está vinculada a<br />

liberdade da burguesia de também instalar-se no poder<br />

político e aumentar seus ganhos econômicos, contra<br />

quaisquer forças sociais e políticas que lhe venha a se<br />

opor – sejam essas forças ligadas às classes mais<br />

aristocráticas ou populares).<br />

Se no final da Época Moderna o Liberalismo<br />

apresentava-se ao Ocidente como revolucionário, no séc.<br />

XIX, no início da Época Contemporânea, com a<br />

burguesia no poder e o capitalismo como sistema<br />

socioeconômico hegemônico, essa ideologia torna-se<br />

conservadora. Desenvolve-se, como expressão deste<br />

poder de uma classe sobre as camadas populares, que<br />

reafirma a igualdade jurídica mas restringe a<br />

liberdade política ao não se comprometer com uma<br />

democracia de fato inclusiva. O sistema político que<br />

sobre o conceito do liberalismo se define, é baseado em<br />

uma interpretação da democracia, que se apresenta como<br />

representativa (portanto, indireta, diferenciando-se da<br />

democracia ateniense), ao tempo em que limita-se por<br />

critério de renda aqueles que podem eleger e serem<br />

eleitos para essas representatividades<br />

343


Assim, falamos em Liberalismo Político, o que não<br />

implica necessariamente em seguridade da democracia.<br />

Tratava-se de um modelo de gerenciamento do Estado<br />

baseado em uma política de formato liberal<br />

(caracterizado por “voto”, “parlamento” e<br />

“constituição”), mas sem um verdadeiro conteúdo<br />

democrático. O século XIX foi marcado por um tipo de<br />

política em que as classes populares estiveram<br />

completamente afastadas de qualquer vínculo com as<br />

decisões do Estado, e por isso ficavam a mercê de uma<br />

situação econômica muito desfavorável. Era necessário<br />

que novas forças sociais surgissem, propondo novas<br />

ideologias revolucionárias, que orientassem também<br />

novas propostas para a política e, assim, se processar<br />

alterações significativas nas relações econômicas.<br />

2. ROMANTISMO<br />

Apesar de o Romantismo também ter surgido no final do<br />

século XVIII, ele influenciou fortemente a cultura<br />

europeia no início do século XIX. Os românticos eram<br />

conhecidos por discordarem dos iluministas e, ao<br />

contrário de valorizar a razão, como faziam os Ilustrados,<br />

ressaltavam os sentimentos como os principais elementos<br />

para a vida de um homem e, logo, para a sociedade. A<br />

essência do Romantismo foi bem representada na obra de<br />

John Keats, que escreveu: “Oh! Uma vida de sensações<br />

é muito melhor que uma só de pensamentos. “<br />

A fala de Keats também revela outra característica do<br />

Romantismo: a valorização do “eu interior”, elemento<br />

explorado como força primitiva e fonte de inspiração<br />

criativa do homem. Esse “eu interior”, tão admirado pelo<br />

Romantismo, foi reinterpretado posteriormente e<br />

denominado de inconsciente por Sigmund Freud, o pai<br />

da Psicanálise, um dos principais expoentes<br />

influenciados pelo pensamento romântico.<br />

Os regimes fascistas surgidos no século XX também se<br />

basearam na exaltação dos sentimentos e no desprezo<br />

pelo racionalismo para construir sua base de apoio das<br />

massas. Deve-se ressaltar, entretanto, que os românticos<br />

possuíam um enorme respeito pela individualidade<br />

humana, contrariando o nacionalismo exacerbado e racial<br />

do nazismo, por exemplo. Dessa forma, não se pode<br />

dizer que o pensamento romântico foi o responsável pelo<br />

sentimento racista e belicista surgido na Alemanha no<br />

início dos éculo XX.<br />

As divergências entre os Ilustrados e os românticos<br />

também passavam pela interpretação que ambos faziam<br />

sobre a Idade Média. Enquanto os iluministas a<br />

consideravam uma Idade de trevas, mitos, dogmas e<br />

superstições, os romântico a valorizaram, considerando-a<br />

rica em heróis, mistérios e emoções. Para os românticos,<br />

a <strong>História</strong> era dotada de alma e dos sentimentos dos<br />

indivíduos que haviam participado de sua construção.<br />

Assim, cada período histórico, mesmo o Medieval, seria<br />

um momento dotado de mitos e características culturais<br />

próprias, o que o tornaria portador de heranças distintas e<br />

necessárias para a composição do ideário dos homens.<br />

Vale ressaltar, também, que os românticos, assim como<br />

os socialistas, foram importantes críticos do capitalismo<br />

industrial, que, segundo eles apesar de gerar um grande<br />

desenvolvimento tecnológico, acarretava uma<br />

subordinação do indivíduo aos interesses do capital e,<br />

por isso, era um dos piores males do novo século que se<br />

iniciava.<br />

3. NACIONALISMO<br />

O nacionalismo consiste em uma ideologia e movimento<br />

político baseados no desenvolvimento da consciência de<br />

pertencimento a uma Nação (enfatizando signos<br />

identitários, como cultura, tradição, língua, bandeira etc.)<br />

que exprimem a crença na existência de certas<br />

características comuns em uma comunidade, nacional ou<br />

supranacional, e o desejo de modelá-las politicamente.<br />

Com precedentes de origem buscados na Idade Média,<br />

desde a formação dos Estados Nacionais e na<br />

consolidação dos Estados Absolutistas, as identidades<br />

nacionais passaram a ser utilizadas como mecanismo de<br />

sustentação de poder. A partir da Revolução Francesa, o<br />

nacionalismo se instrumentaliza como inspirador de lutas<br />

revolucionárias. Posteriormente, com a expansão<br />

invasora de Napoleão Bonaparte no início do século<br />

XIX, a luta frente a um exército invasor, princípios como<br />

soberania e cidadania se associaram para inspirar<br />

movimentos de emancipação política.<br />

Ainda nesse século, a reação conservadora pós derrota de<br />

Napoleão e as divisões territoriais promovidas na<br />

Europa, especialmente pelo Congresso de Viena,<br />

também alimentaram lutas nacionalistas de emancipação<br />

política, territorial ou econômica, presentes em<br />

movimentos como a Primavera dos Povos, e<br />

materializados com maior êxito na s unificações da<br />

Alemanha e da Itália.<br />

No século XX, o nacionalismo teve dois grandes<br />

momentos: o surgir de ideias nacionalistas de parceria<br />

com teorias racistas, como na Alemanha (nacional-<br />

344


socialismo), na Itália (fascismo) e no Japão; e o<br />

nacionalismo, que surgiu nos países colonizados, após a<br />

II Guerra Mundial, que se liga com o que atualmente se<br />

manifesta no Terceiro Mundo, perante as formas<br />

neocolonialistas de exploração.<br />

5. DOUTRINAS OPERÁRIAS<br />

5.1 Socialismo utópico<br />

O intenso processo de urbanização e de forte<br />

concentração de trabalhadores à volta das grandes<br />

cidades, muitas vezes em condições sub-humanas de<br />

existência, agravando os problemas sociais, despertou<br />

não só a emergência de movimentos de reação operaria,<br />

como também a atenção de intelectuais, cientistas<br />

políticos e instituições responsáveis por formular<br />

doutrinas de contestação ao capitalismo.<br />

Incomodados com o que viam, alguns deles propunham<br />

reformas que instaurassem a justiça social e abrissem<br />

caminho para a formação de uma sociedade mais<br />

humana e igualitária. As doutrinas e os princípios<br />

defendidos por esses reformadores constituíram uma<br />

ideologia que se tornou conhecida como Socialismo. Seu<br />

ponto de partida era a crítica às desigualdades sociais<br />

criadas ou acentuadas pelo sistema capitalista.<br />

Entretanto, havia entre os socialistas muitas diferenças<br />

de opinião, o que originou vários grupos e diversas<br />

ideologias.<br />

Para alguns dos primeiros idealizadores socialistas,<br />

muitos deles associados à classe burguesa, uma<br />

sociedade ideal poderia ser fundamentada no<br />

voluntarismo que geraria acordos entre as classes em<br />

oposição. Argumentavam que só a luta político-eleitoral<br />

e parlamentar das classes trabalhadoras poderia conduzir<br />

a uma reforma da sociedade capitalista e à instauração do<br />

socialismo. Outra corrente de pensadores socialistas<br />

preocupava-se mais em idealizar um novo tipo de<br />

sociedade do que propor uma forma concreta para os<br />

trabalhadores conquistarem o poder. Esses pensadores<br />

ficaram conhecidos depois como socialistas utópicos,<br />

expressão derivada de Utopia, título de um livro famoso<br />

que o inglês Thomas Morus escreveu no século XVI.<br />

Esses pensadores se colocaram em defesa da substituição<br />

das relações de competição típicas do capitalismo para<br />

uma pratica de cooperação e associação entre os<br />

indivíduos. Charles Fourier idealizou a criação dos<br />

Falanstérios, edifício comunitários agro fabril, de cerca<br />

de 400 hectares, a abrigar 1600 trabalhadores,<br />

administradas pelos próprios operários. No falanstério,<br />

evitar-se-ia a divisão das tarefas, em favor da divisão de<br />

setores produtivos, em que cada trabalhador residente<br />

seria aproveitado, segundo a sua vocação e aptidão. A<br />

produção de cada falanstério seria somada à dos demais,<br />

a fim de que pudessem ser negociadas e os lucros<br />

revertidos aos cooperados.<br />

Outro destacado personagem do socialismo chamado<br />

utópico foi o empresário inglês Robert Owen, que<br />

sustentava que as péssimas condições de trabalho<br />

poderiam ser revertidas a partir de um esforço dos<br />

patrões em assegurar melhores condições de trabalho a<br />

seus empregados, que, por sua vez, aprimorariam a<br />

produção, garantindo maiores lucros ao empresário.<br />

Aprendiz de um fabricante de tecidos e diretor de<br />

indústria têxtil, aos 28 anos Owen comprou quatro<br />

fiações de algodão que ficavam na usina de New Lanark,<br />

perto de Glasgow Inglaterra. As fábricas empregavam<br />

1800 operários, dos quais 450 eram crianças. O<br />

socialista, patrão esclarecido, pôs em prática suas ideias:<br />

racionalizou a produção, aumentou os salários e a<br />

produtividade, ampliou os alojamentos dos trabalhadores<br />

e combateu, entre eles, o alcoolismo e o roubo,<br />

dedicando especial atenção à regeneração moral. Além<br />

disso, construiu escolas para os filhos dos operários e<br />

proibiu o trabalho das crianças de pouca idade nas<br />

fiações. Sua experiência foi uma das mais bem-sucedidas<br />

da época, mas boicotada por outros patrões que se<br />

recusaram a seguir seu exemplo, foi incapaz de garantir<br />

preços competitivos, fracassando no que tange aos<br />

possíveis lucros a serem alcançados.<br />

O nobre francês, Saint Simon (1760-1825), propunha<br />

uma sociedade na qual não deveriam haver ociosos e<br />

nem a exploração de um homem sobre o outro. Para<br />

345


tanto, negava a necessidade de classes parasitarias, e<br />

defendia a combinação de produtores associados, sem<br />

comprometer a propriedade privada, mas com<br />

planejamento centralizado, contestando a vigência do<br />

liberalismo recorrente à época.<br />

Os socialistas utópicos de maior destaque foram o inglês<br />

Robert Owen e os franceses Charles Fourier e Claude<br />

Saint-Simon. Suas formulações teóricas foram<br />

importantes, ao preconizar a preocupação intelectual com<br />

a questão do operariado, mas foram incapazes de<br />

apresentar medidas aplicáveis à verdadeira<br />

transformação daquela realidade histórica.<br />

5.2 Socialismo Científico<br />

As ideias socialistas, contudo, tomariam novo rumo com<br />

dois pensadores de origem germânica, que procederiam a<br />

uma crítica radical do capitalismo, procurando criar uma<br />

doutrina que fosse, ao mesmo tempo, científica e<br />

revolucionária. Esses pensadores eram Karl Marx e<br />

Friedrich Engels. Eles fundaram uma corrente de<br />

pensamento à qual deram o nome de socialismo<br />

científico ou comunismo. Em 1848, lançaram o<br />

Manifesto do Partido Comunista, que teve profundas e<br />

duradouras repercussões no movimento operário e<br />

socialista internacional. Para Marx e Engels, o<br />

capitalismo estava condenado à extinção, assim como<br />

haviam desaparecido também o feudalismo e o<br />

escravismo, e o agente dessa extinção seria o<br />

proletariado, classe oposta à burguesia. Para a vitória do<br />

346<br />

proletariado, era necessário organizar os trabalhadores e<br />

promover uma insurreição armada que levasse o Partido<br />

Comunista ao poder e criasse um Estado que destruísse a<br />

principal estrutura da sociedade burguesa: a propriedade<br />

privada dos meios de produção. No seu lugar, seria<br />

instituída a propriedade coletiva de todos os meios de<br />

produção. Esse Estado dos trabalhadores seria o<br />

primeiro estágio sara a formação de uma sociedade sem<br />

classes e sem governo, a sociedade comunista.<br />

Em 1867, a publicação de O Capital, revelaria o<br />

aprofundamento da teoria marxista, sustentada em quatro<br />

elementos fundamentais: a luta de classes, o<br />

materialismo histórico, o materialismo dialético e a<br />

mais-valia. Para os autores, a história da humanidade<br />

seria marcada pela persistente luta entre classes em<br />

oposição, na qual toda experiência de sociedade<br />

organizada encontrou transformações em sua estrutura, a<br />

partir dos conflitos existentes em seu interior. A<br />

condição de uma classe dominada explorada por uma<br />

que domina, conduziria aquela primeira a buscar sair<br />

dessa condição, propiciando as transformações. Na<br />

ordem capitalista, Marx e Engels situam as classes<br />

burguesa e proletária em oposição, cabendo a esta última<br />

o papel de lutarem pela tomada do poder e dos meios de<br />

produção através da revolução proletária.<br />

Fundamentaram ainda uma explicação histórica da<br />

realidade, a partir de sua capacidade de produção<br />

material; assim, todas as estruturas mentais, como<br />

ciência, religião, cultura e política, compunham uma<br />

superestrutura erguida a partir das condições especificas<br />

da infraestrutura material, marcada essencialmente pela<br />

economia e formas de trabalho. Para tanto, criou o<br />

conceito de modo de produção, em que essa<br />

superestrutura e infraestrutura se combinam, ao longo da<br />

história, com destaque para os modos d produção<br />

asiático, escravista, feudal e capitalista, sem situa-los<br />

obrigatoriamente de forma espacial ou temporal linear.<br />

Marx também desenvolveu o princípio dialético de<br />

Hegel, no qual cada realidade traz intrínseca em seu bojo<br />

os princípios de sua própria negação. Para os autores de<br />

O Capital, os próprios mecanismos que permitem o pleno<br />

desenvolvimento de um determinado sistema de<br />

produção, tende a ampliar a exploração de determinados<br />

grupos, alimentando seu ímpeto revolucionário às<br />

transformações que colocarão aquele modelo em xeque.<br />

Esperavam assim, que exatamente nas áreas mais<br />

prósperas da ordem capitalista, o incremento de sua<br />

exploração alimentaria a mobilização proletária para a<br />

revolução socialista.


Finalmente, desenvolveram ainda o conceito de mais<br />

valia, que servia como identificador do mecanismo<br />

fundamental da exploração do trabalhador assalariado na<br />

ordem capitalista. Defendiam que a mais valia seria o<br />

diferencial entre o valor recebido pelo trabalhador como<br />

salario, e a diferença substancial deste com relação ao<br />

valor daquilo que o trabalhador produz. O patrão justifica<br />

essa apropriação da mais valia, na condição de ser o<br />

proprietário da matéria prima e dos instrumentos de<br />

produção, levando Marx e Engels a defenderem,<br />

portanto, que a única maneira de transpor essa<br />

exploração, seria extinguindo a propriedade privada<br />

dos instrumentos produtivos.<br />

Ao se conscientizarem dessa exploração, os<br />

trabalhadores se organizariam para a tomada do poder<br />

por meio da revolução proletária, que derrubaria a<br />

burguesia das estruturas de poder e transferiria a<br />

propriedade privada ao controle do estado, a fim de<br />

transpor a diferença de classes e preparar a sociedade<br />

para o comunismo pleno.<br />

5.3 Anarquismo<br />

Outra corrente ideológica importante entre os operários<br />

do século XIX foi o Anarquismo, que lutava por um<br />

tipo de sociedade sem Estado e sem propriedade<br />

privada. Os mais importantes teóricos anarquistas foram<br />

os russos Mikhail Bakunin e Peter Kropotkin. Bakunin<br />

era partidário da violência revolucionária e aconselhava<br />

seus adeptos a recorrerem até aos atentados individuais<br />

contra a vida dos governantes, enquanto Kropotkin<br />

recomendava a utilização de métodos mais pacíficos.<br />

Tanto os anarquistas quanto os marxistas lutavam por<br />

uma sociedade sem classes e sem Estado. Mas havia<br />

profundas divergências entre eles. Os partidários de<br />

Marx sustentam que para se chegar ao comunismo era<br />

necessário criar primeiro um Estado que esmagasse as<br />

resistências burguesas instaurasse a igualdade entre as<br />

classes.<br />

A forma de governo desse Estado seria a ditadura do<br />

proletariado. Já os anarquistas, conhecidos também como<br />

libertários, opunham-se a todo tipo de governo, inclusive<br />

à ditadura do proletariado, preconizando a liberdade<br />

geral e a supressão imediata do Estado. Uma variante<br />

expressiva do anarquismo foi o anarcossindicalismo, que<br />

defendia a união entre as ideias libertárias e o movimento<br />

sindical. Essa tendência foi particularmente forte na<br />

Espanha. No Brasil, o movimento operário do começo do<br />

século XX seria liderado majoritariamente por adeptos<br />

do anarcossindicalismo.<br />

5.4 Socialismo Cristão<br />

No final do século XIX, a grande mobilização operária<br />

levou a cúpula eclesiástica de Roma a definir-se<br />

oficialmente quanto à sua participação nos novos<br />

problemas sociais. Em 1891, o papa Leão XIII lançou a<br />

encíclica Rerum Novarum, que expunha o pensamento<br />

social católico afirmando que a religião era a única via<br />

possível de transformação da sociedade e do<br />

estabelecimento da justiça social. Por isso condenava as<br />

propostas socialistas de transformação da sociedade<br />

através da luta política. Defendia a conciliação entre<br />

capital e trabalho e o fim da luta de classes. Apelava ao<br />

espírito cristão dos empregadores que respeitassem as<br />

necessidades e a dignidade de seus operários, e a estes<br />

que respeitassem a propriedade privada. Sua ideia central<br />

era que somente a ajuda mútua entre burguesia e<br />

proletariado garantiria o progresso social. Recomendava<br />

também a intervenção do Estado para melhorar as<br />

condições de vida dos trabalhadores nos setores de<br />

habitação e saúde. Após a publicação da encíclica, a<br />

Igreja não mais se desvinculou da questão social e de<br />

suas concepções políticas, caráter reforçado no século<br />

XX, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965).<br />

INTERNACIONALISMO DO PENSAMENTO<br />

MARXISTA – Internacionais Comunistas<br />

A obra teórica de Karl Marx conferiu ao movimento<br />

operário um conteúdo ideológico mais sólido que o de<br />

outras tendências socialistas. O anarquismo imprimiu um<br />

sentido moral e universalista à revolução, que passou a<br />

ser o objetivo político do proletariado e do campesinato<br />

de alguns dos países mais atrasados no processo de<br />

industrialização, como Espanha e Rússia. As duas<br />

tendências, representadas por Marx e Bakunin,<br />

respectivamente, se uniram em 1864 sob a bandeira da<br />

Associação Internacional de Trabalhadores (AIT). Mais<br />

conhecida como Primeira Internacional, a AIT foi<br />

fundada em Londres com o objetivo de fomentar a<br />

solidariedade proletária e promover a conquista do poder<br />

por aquela classe social.<br />

347


Inicialmente, os sindicatos ingleses e franceses<br />

detinham a maior representação na Internacional; a partir<br />

de 1868, porém, foram criadas seções regionais na<br />

Bélgica, Espanha, Suíça, Itália e outros países. A<br />

desagregação da Primeira Internacional ocorreu por<br />

causa da perseguição movida pelos governos aos seus<br />

dirigentes, mas, sobretudo pelas discordâncias entre<br />

Marx e Bakunin. A derrota da Comuna de Paris em<br />

1871, ensaio frustrado de governo socialista que teve a<br />

participação dos internacionalistas, precipitou a<br />

dissolução da organização. Durante o Congresso de 1872<br />

em Haia, as seções bakunistas se separaram da AIT e se<br />

integrou à Aliança Internacional, uma nova organização<br />

anarquista. O fim estava próximo: a Primeira<br />

Internacional acabou em 1876, e a Aliança realizou seu<br />

último congresso no ano seguinte.<br />

Enquanto isso, a expansão do capitalismo e sua<br />

evolução para a etapa imperialista, que se caracterizou<br />

por "exportar" para a periferia as contradições do<br />

sistema, tornaram possível a concessão de benefícios<br />

sociais nos países industrializados. O movimento<br />

operário tendeu a orientar suas atividades no sentido de<br />

criar organizações sindicais consolidadas e partidos<br />

socialdemocratas nacionais. Em 1889 foi fundada a<br />

Segunda Internacional, em que predominava o Partido<br />

Social Democrata Alemão. O principal teórico da revisão<br />

do marxismo foi Eduard Bernstein, que concebeu a ideia<br />

de alcançar o socialismo por um processo de<br />

aperfeiçoamento do capitalismo.<br />

A deflagração da primeira guerra mundial<br />

demonstrou a fragilidade do conteúdo internacionalista<br />

dos partidos socialdemocratas da época, pois cada um<br />

apoiou o governo de seu país em lugar de trabalhar pela<br />

solidariedade operária entre os países em guerra.<br />

Revolução russa e evolução do movimento operário.<br />

Diante do "revisionismo" dos socialistas e<br />

socialdemocratas, os revolucionários russos --<br />

principalmente Lênin -- promoveram a criação de um<br />

partido profissional, que representasse a vanguarda do<br />

proletariado. O sucesso da revolução russa de 1917<br />

alimentou, na classe operária de outros países, a ilusão de<br />

uma rápida vitória do comunismo internacional, e com<br />

isso a Europa viveu, entre 1918 e 1922, um novo período<br />

de explosões revolucionárias. Em 1919 fundou-se em<br />

Moscou a Terceira Internacional, ou Internacional<br />

Comunista. Os partidos socialdemocratas da Hungria, no<br />

poder, combateram a revolução proletária. Nos demais<br />

348<br />

países da Europa, fracassaram as revoltas isoladas dos<br />

novos partidos comunistas.<br />

Em reação ao ativismo comunista, surgiram os<br />

partidos fascista e nazista, que chegaram ao poder na<br />

Itália e na Alemanha, respectivamente. Esses partidos<br />

tinham tendência a incorporar, em seus programas,<br />

elementos do trabalhismo e do sindicalismo.<br />

O movimento comunista se dividiu em 1938, quando<br />

Leon Trotsky fundou a Quarta Internacional, oposta ao<br />

stalinismo. O anarquista perdeu terreno, na primeira<br />

metade do século XX, para a socialdemocracia e para o<br />

comunismo.<br />

Depois de um período de isolamento e decadência, os<br />

partidos comunistas voltaram a crescer na Europa, após a<br />

segunda guerra mundial, principalmente na França e na<br />

Itália. A recuperação econômica do continente fez com<br />

que esses partidos assumissem papéis compatíveis com<br />

os estados capitalistas democráticos. Os grandes<br />

sindicatos socialistas e comunistas da Europa, assim<br />

como os sindicatos americanos, se transformaram em<br />

instituições integradas ao sistema econômico e social<br />

capitalista e chegaram mesmo a colaborar com os<br />

governos nos planos de austeridade adotados em épocas<br />

de crise. A participação operária em alguns escassos<br />

episódios revolucionários, como o de maio de 1968 em<br />

Paris, ocorreu à margem das diretrizes sindicais.<br />

O fenômeno de institucionalização do sindicalismo se<br />

manifestou com maior intensidade dentro dos regimes<br />

comunistas, na União Soviética e nos países do leste<br />

europeu. Os tímidos movimentos populares de oposição<br />

aos regimes centralizadores ganharam expressão no final<br />

da década de 1980. Com a dissolução da União<br />

Soviética, em 1991, os trabalhadores dos antigos países<br />

comunistas passaram a apoiar abertamente o retorno à<br />

economia de mercado. O final do século XX encontrou o<br />

movimento operário europeu dividido e ameaçado por<br />

conflitos nacionalistas, étnicos e religiosos, no leste, e<br />

pelo recrudescimento do nazi-fascismo e do racismo, no<br />

oeste.


EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA AMÉRICA ESPANHOLA<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Na onda dos movimentos liberais que se propagaram da<br />

Europa à América no início do século XIX, os territórios<br />

americanos sob domínio espanhol, inspirados pelos<br />

ideais iluministas de emancipação, protagonizaram sua<br />

vitoriosa guerra de independência contra o colonialismo;<br />

em seguida, consagrariam a organização dos Estados<br />

latino-americanos, sustentados pelo regime<br />

republicano e pela dominação política das elites locais,<br />

representados nos chefes caudilhos e alterando a<br />

dependência econômica da Metrópole Ibérica para os<br />

interesses dos Imperialismo associado ao<br />

desenvolvimento do capitalismo industrial britânico.<br />

2. A CRISE DO SISTEMA COLONIAL<br />

O processo de enfrentamentos entre as elites americanas<br />

e as autoridades metropolitanas, que culminaram na<br />

formação dos Estados Nacionais da América Latina,<br />

integraram o processo de crise do sistema de exploração<br />

colonial e das transformações europeias que colocaram<br />

em xeque a ordem do Antigo Regime na Europa. Desde<br />

o século XVIII, em consequência das transformações<br />

ideológicas, econômicas e políticas produzidas pelo<br />

Iluminismo, pela Revolução Industrial, pela<br />

independência dos Estados Unidos e pela Revolução<br />

Francesa. Tais acontecimentos, em maior ou menor<br />

escala, criaram as condições históricas e espaciais<br />

necessárias ao processo de independência da América<br />

espanhola.<br />

O desenvolvimento econômico das áreas coloniais e o<br />

enriquecimento das elites criollas alimentaram o<br />

interesse desses grupos em um maior autonomia em suas<br />

transações comerciais, o que colocava em xeque os<br />

sistemas de monopólios e o controle exercido pela<br />

Metrópole através dos chapettones. Assim, buscaram no<br />

discurso iluminista a sustentação ideológica para seus<br />

ideais autonomistas. Entendiam que a condição para a<br />

liberdade de comércio estava inevitavelmente atrelada à<br />

luta pela liberdade política, justificada no direito dos<br />

349


povos oprimidos à rebelião contra os governos tirânicos<br />

e a luta pela liberdade econômica na substituição do<br />

monopólio comercial pelo regime de livre<br />

concorrência. Tais princípios haviam sido amplamente<br />

difundidos pelos teóricos iluministas, pelas protagonistas<br />

da Revolução Francesa e, ganhavam eco cada vez maior<br />

em terras americanas após o sucesso da emancipação<br />

política da América Inglesa.<br />

Desde meados do século XVIII e no início do século<br />

XIX, a consolidação da Revolução Industrial Inglesa<br />

acarretara um aumento cada vez maior da oferta de<br />

produtos introduzidas nas redes de comércio. Tal<br />

ampliação da oferta associada à perda das áreas coloniais<br />

na América levaram a Inglaterra a se posicionarem em<br />

favor das autonomias dos territórios da América<br />

Espanhola, o que garantiria a abertura dos mercados<br />

americanos ao livre comércio, até então entravados pelo<br />

exclusivo comercial imposto pela Espanha.<br />

O monopólio comercial, firmado desse o século XVI<br />

constituía-se no principal mecanismo para assegurar os<br />

lucros às Metrópoles, que lucravam duplamente<br />

revendendo os produtos coloniais à Europa e as<br />

manufaturas inglesas às suas colônias. Esta política<br />

monopolista, entretanto, tornava-se incômoda tanto à<br />

burguesia inglesa, quanto às elites residentes nas<br />

colônias, o que permite associar o desenvolvimento do<br />

moderno capitalismo industrial e a aceleração da crise do<br />

antigo sistema colonial mercantilista. Ficava cada vez<br />

mais claro que a ruptura do monopólio colonial e sua<br />

substituição pelo livre comércio só poderia se fazer<br />

através da independência das colônias em relação ao<br />

controle político exercido pelas antigas metrópoles.<br />

Numa realidade mais próxima, o próprio continente<br />

americano guardava o maior exemplo prático a inspirar<br />

as lutas emancipacionistas da América Espanhola. Desde<br />

1776, o esforço vitorioso de autonomia das treze<br />

colônias e a formação dos Estados Unidos,<br />

constituindo a primeira Nação soberana do continente,<br />

acabou por tornar-se o principal exemplo e a fonte de<br />

inspiração para os movimentos latino - americanos que<br />

lutavam pela emancipação política. Maior prova disso é<br />

o enorme fascínio que o ideal republicano estadunidense<br />

exercera sobre as elites criollas, vindo a tornar-se,<br />

posteriormente, o principal orientador político das jovens<br />

nações que viriam s e formar.<br />

Ainda da Europa, veio outra conjuntura especial que<br />

contribuiu à ruptura política na América Espanhola. A<br />

Revolução Francesa e seu ímpeto transformador,<br />

expandiram-se do Velho Mundo à América. A ascensão<br />

350<br />

de Napoleão Bonaparte, a imposição da supremacia<br />

francesa à Europa e o estabelecimento do Bloqueio<br />

Continental contra a Inglaterra desferiram um golpe de<br />

morte no decadente sistema colonial ibero-americano.<br />

A ocupação violenta dos franceses na Península Ibérica<br />

no início do século XIX está entre os principais<br />

determinantes das conjunturas históricas que propiciaram<br />

a independência no Brasil e dos territórios vizinhos. Com<br />

a ocupação da Espanha por Napoleão e a imposição de<br />

José Bonaparte como rei do país desencadearam-se as<br />

reações da elite criollla, empenhadas posteriormente nas<br />

lutas de independência nas colônias da América<br />

espanhola.<br />

3. A CONJUNTURA HISPANO -<br />

AMERICANA<br />

Antes de detalhar os processos de ruptura política, faz se<br />

imprescindível retomar brevemente o processo de<br />

organização política e o funcionamento econômico das<br />

colônias espanholas, a fim de compreender as<br />

contradições existentes que alimentavam os interesses<br />

dos grupos independentistas. Em termos administrativos,<br />

por exemplo, o império colonial espanhol na América<br />

organizava-se em quatro vice-reinados e quatro<br />

capitanias gerais.<br />

Os vice-reinados existentes eram os de Nova Espanha<br />

(atual México e parte do território atualmente integrado<br />

ao sudoeste dos Estados Unidos), Nova Granada (atuais<br />

territórios da Colômbia e Equador), Peru e Prata (que<br />

incluía as regiões da Argentina, Uruguai, parte da<br />

Bolívia e o Paraguai). As capitanias gerais, geralmente<br />

funcionais para fins de defesa militar de áreas<br />

estratégicas, eram as de Cuba, Guatemala, Venezuela e<br />

Chile.<br />

Os principais postos políticos eram os cargos de vice-rei<br />

e capitão-geral, obrigatoriamente exercidos por<br />

representantes enviados pela Coroa, sempre vindos da<br />

Espanha, como o eram igualmente todos os altos postos<br />

da administração colonial, relacionados à aplicação da<br />

justiça, chefias militares, funções eclesiásticas etc. Ao<br />

estabelecer essas determinações das funções públicas,<br />

consagrava-se a dominação e o monopólio do aparelho<br />

político-administrativo, exclusivamente pelos espanhóis<br />

de origem e nascimento.<br />

Do ponto de vista econômico, a Metrópole organizou sua<br />

exploração colonial com base na produção e exportação<br />

de matérias primas do setor primário, agrícolas ou


minerais, essencialmente, voltados à intensa<br />

comercialização no mercado externo europeu e<br />

controlado pelos instrumento dos monopólios<br />

comerciais. A mineração, baseava-se especialmente na<br />

extração de ouro e prata, concentrada especialmente no<br />

México e na Bolívia.<br />

A agricultura tropical, por sua vez, encontrou seu<br />

principal reduto nas áreas da América Central e nas ilhas<br />

antilhanas, moldadas a partir do modelo de plantations,<br />

ou seja, grandes propriedades monoculturas, trabalhadas<br />

por escravos. A pecuária constituiu-se em atividade<br />

complementar das demais áreas, concentradas<br />

principalmente no vice-reinado do Prata. O comércio era<br />

praticado nas grandes cidades portuárias, como Buenos<br />

Aires, Valparaíso, Cartagena e Vera Cruz.<br />

Apesar da diversidade e intensidade dessas atividades<br />

econômicas espalhadas pelas regiões coloniais do<br />

domínio espanhol, a metrópole era capaz de manter um<br />

rígido controle dessas atividades, através de órgãos<br />

instalados na Metrópole e autoridades constituídas na<br />

colônia, que asseguravam a manutenção do exclusivos de<br />

comercio. Esse controle excessivo afetava os interesses<br />

econômicos da elite colonial, obrigada a vender, a baixos<br />

preços, seus produtos à Metrópole e dela comprar, a altos<br />

preços, as manufaturas importadas. O mesmo acontecia<br />

com os comerciantes e industriais ingleses, forçados a<br />

aceitar a intermediação da Espanha e impedidos de<br />

vender diretamente as suas mercadorias à América.<br />

O fim do monopólio comercial interessava, assim, tanto<br />

à elite colonial como à burguesia inglesa, à medida que<br />

ambas aumentariam seus lucros com a adoção do livre<br />

comércio. Esta convergência de interesses foi um fator<br />

decisivo para a vitória do movimento de independência<br />

hispano-americano.<br />

Durante o período colonial, a sociedade que se forjou era<br />

formada por uma população superior a dez milhões de<br />

habitantes, divididos em diversas e sobrepostas<br />

hierarquicamente, classes sociais. Os brancos,<br />

perfazendo mais de três milhões de pessoas,<br />

classificavam-se em chapettones e criollos. Os primeiros,<br />

também chamados de peninsulares, perto de trezentos<br />

mil, eram os espanhóis natos que, monopolizando o<br />

poder político, dominavam os altos cargos da<br />

administração colonial. Os criollos, cerca de três<br />

milhões, constituíam os descendentes de chapettones,<br />

aqui nascidos e que formavam a elite econômica e<br />

intelectual da colônia, à qual pertenciam os mineradores,<br />

latifundiários, comerciantes, pecuaristas, profissionais<br />

liberais e membros do baixo clero.<br />

A contradição que se impôs entre a estrutura econômica,<br />

dominada pelos criollos (partidários do livre comércio), e<br />

a estrutura política, controlada pelos chapettones<br />

(defensores do monopólio metropolitano), tornou-se o<br />

principal fator no processo de independência da América<br />

Espanhola.<br />

As classes populares de fato, correspondiam à maioria<br />

esmagadora dos habitantes do Império Espanhol nas<br />

Américas. Emas constituídos pelos mestiços,<br />

descendentes de espanhóis e índios, cerca de cinco<br />

milhões e dedicados ao pequeno comércio e ao<br />

artesanato, enquanto os índios, mais de dez milhões,<br />

constituíam a mão-de-obra explorada na mineração e na<br />

agricultura. Os negros, perto de oitocentos mil,<br />

concentravam-se principalmente nas Antilhas e<br />

formavam a mão-de-obra escrava utilizada nas<br />

plantations tropicais.<br />

Embora sendo esmagadora minoria, eram os criollos e os<br />

chapettones que dominavam e determinavam a condução<br />

das relações econômicas e políticas das colônias hispanoamericanas<br />

e era especialmente a eles que interessava a<br />

ligação com a metrópole ou o rompimento de laços com<br />

ela. Desse modo, a guerra de independência caracterizouse<br />

por ser uma luta entre os criollos, apoiados pela<br />

Inglaterra, e os chapettones, apoiados pela Espanha, pelo<br />

domínio do aparelho político-administrativo.<br />

3. A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA<br />

4.<br />

351


O processo de independência hispano-americano foi<br />

marcado especialmente, pela longa duração, pelos<br />

avanços e recuos com que se processara e, pela intensa<br />

violência envolvendo grupos populares e lideranças<br />

criollas em oposição às autoridades metropolitanas. Para<br />

melhor compreensão do longo processo, convencionouse<br />

dividi-lo em três fases principais: os movimentos<br />

precursores (1780 - 1810), as rebeliões fracassadas (1810<br />

- 1816) e as rebeliões vitoriosas (1817 - 1824).<br />

Na primeira fase do longo processo de independência,<br />

situam-se os chamados movimentos precursores,<br />

deflagrados prematuramente, e alvo de severa repressão<br />

por parte das autoridades. Embora não tenham alcançado<br />

vitória, assim como os movimentos precursores<br />

independentistas na América Portuguesa (Inconfidência<br />

Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana<br />

de 1817), sinalizaram o enfraquecimento da dominação<br />

colonial, evidenciou as contradições envolvidas naquele<br />

processo histórico e, prepararam o amadurecimento para<br />

as guerras de independência travadas na posteridade. A<br />

mais importante dessas insurreições iniciou-se no<br />

território peruano em 1780 e foi comandada por Tupac<br />

Amaru II, nome indígena assumido por José Gabriel<br />

Condorcanqui.<br />

Essa rebelião indígena mobilizou mais de sessenta mil<br />

índios e, estava associada à opressiva carga tributária<br />

imposta pela metrópole na região, além do desrespeito<br />

aos direitos indígenas e à recusa da Audiência de Lima<br />

em isentar a população nativa da província de Tinta das<br />

obrigações da mita. O auge da revolta culminou com a<br />

execução do corregedor provincial Antonio Arriaga, em<br />

1780, o movimento causou violenta reação por parte das<br />

autoridades metropolitanas, que culminaram na execução<br />

de milhares de índios e na morte violenta de Tupac<br />

Amaru, decapitado e esquartejado na cidade de Cuzco.<br />

Outros movimentos dessa natureza, combinando<br />

lideranças criollas e alguns setores populares, também se<br />

repetiram no Chile e Venezuela, mas todos sufocados<br />

sem maiores dificuldades pelas tropas realistas.<br />

Inspirado no exemplo dos Estados Unidos, o criollo<br />

venezuelano Francisco Miranda liderou, a partir desta<br />

época, vários levantes e se tornou o maior precursor da<br />

independência hispano-americana.<br />

Após a independência americana, a segunda<br />

independência da América foi realizada pelos negros<br />

trabalhadores das plantations que, em 1793, através de<br />

uma insurreição popular contra a elite branca e as<br />

autoridades coloniais libertaram o Haiti da dominação<br />

francesa.<br />

352<br />

No começo do século XIX, com a reestruturação<br />

geopolítica da Europa mediante a expansão napoleônica,<br />

novo ímpeto de libertação colonial forjou-se na América<br />

Espanhola, conduzindo à segunda fase dos processos<br />

separatistas. Em 1808, mediante a ação expansionista<br />

francesa na Península Ibérica, a ascensão de José<br />

Bonaparte ao trono da Espanha iria desencadear forte<br />

estimulo à independência na América espanhola, devido<br />

aos desdobramentos políticos daquela situação.<br />

Em território espanhol europeu, o povo mantinha-se em<br />

resistência à dominação espanhola, através da<br />

famigerada guerra peninsular; na América, os criollos<br />

pronunciaram-se pelo "lealismo" e se colocaram ao lado<br />

de Fernando VII, herdeiro legítimo de Coroa espanhola,<br />

então destituído. Os criollos, organizaram-se em<br />

resistência, transformando os antigos cabildos<br />

(equivalente às Câmaras Municipais da América<br />

Portuguesa e foco da ação política dos criollos) em<br />

Juntas Governativas, que se recusavam a submeter-se à<br />

autoridade dos chapettones leais ao novo monarca<br />

francês, a exemplo do Paraguai em 1811.<br />

O fracasso das rebeliões iniciadas em 1810, foi<br />

consequência, em grande parte, da falta de apoio da<br />

Inglaterra, que empenhada na luta contra a França<br />

Napoleônica, não pôde fornecer ajuda aos movimentos<br />

de independência liderados pela aristocracia criolla.<br />

Também no México, em setembro de 1810, o padre<br />

Miguel Hidalgo lançava o Manifesto conhecido como<br />

Grito de las Dolores, que procurou, embora sem sucesso,<br />

com apoio das populações indígena e mestiça, deflagrar<br />

o movimento separatista. Fuzilado pelas autoridades<br />

espanholas, o padre Hidalgo foi substituído pelo padre<br />

Morelos, que também buscou incentivar a emancipação<br />

combinada às reivindicações populares, mas que também<br />

teria destino trágico como seu antecessor. Derrotado o<br />

movimento no México, somente em 1821, o país<br />

alcançaria o status de nação independente da Espanha.


El grito de Dolores, mural de Juan O' Gorman. [A história do México é<br />

contada por gigantescas pinturas murais. Diego Rivera, Jose Orozco e Juan<br />

O' Gorman são alguns desses muralistas. O' Gorman procurou enfatizar a<br />

importância do movimento liderado pelo padre Hidalgo, em 1810.]<br />

No vice reinado do Prata, milícias coloniais depuseram a<br />

autoridade do vice rei local, como também se<br />

organizavam no Vice Reino de Nova Granada e na<br />

Capitania geral da Venezuela, o Exército dos libertadores<br />

comandado por Simon Bolívar. EM 1812, tentando<br />

conter os movimentos separatistas, a Espanha chegou a<br />

adotar uma legislação de estimulo ao livre comercio para<br />

as colônias, mas que já não se mostravam mais<br />

suficientes para aplacar as lideranças independentistas.<br />

Tais movimentos, entretanto, não conseguiram sustentar<br />

essas primeiras emancipações, pois estava restrito às<br />

elites coloniais, sem respaldo internacional, foram<br />

facilmente sufocados pelas tropas realistas. Nesse<br />

momento, o estado inglês, maior interessado nessas<br />

independências, optava por uma posição de<br />

imparcialidade enquanto estivesse lutando junto ao<br />

Império espanhol no enfrentamento contra Bonaparte na<br />

Europa. .<br />

Com a derrota de Napoleão em 1815, a Espanha, libertase<br />

da ameaça francesa, devolve a Coroa aos Bourbon e<br />

insiste na retomada da lealdade dos criollos aos<br />

chapettones espanhóis. Muitos líderes criollos,<br />

entretanto, tendo experimentado a autonomia política,<br />

recusava-se a aceitar a submissão ao estado espanhol.<br />

Contando com o apoio estratégico dos financiamentos<br />

ingleses e o apoio político dos EUA, as lideranças<br />

independentistas se espalharam, no terceiro e definitivo<br />

ciclo das emancipações, entre 1817 e 1824. Passou a<br />

apoiar efetivamente as rebeliões de independência na<br />

América, que se reiniciaram em 1817 e só terminariam<br />

em 1824 com a derrota dos espanhóis e a emancipação<br />

de suas colônias americanas.<br />

Naquele ano Simon Bolívar desencadeou a campanha<br />

militar que culminaria com a libertação da Venezuela, da<br />

Colômbia e do Equador e, mais ao sul, José de San<br />

Martín promovia a libertação da Argentina, do Chile e do<br />

Peru. Em 1822 os dois libertadores encontraram-se em<br />

Guayaquil, no Equador, onde San Martín entregou a<br />

Bolívar o comando supremo do exército de libertação.<br />

O processo de independência tornou-se irreversível<br />

quando, em 1823, os EUA proclamaram a Doutrina<br />

Monroe, opondo-se a qualquer tentativa de intervenção<br />

militar, imperialista ou colonizadora, da Santa Aliança,<br />

no continente americano. Em 1824, os últimos<br />

remanescentes do exército espanhol foram<br />

definitivamente derrotados pelo general Sucre, lugartenente<br />

de Bolívar, no interior do Peru, na Batalha de<br />

Ayacucho.<br />

Símon Bolívar<br />

Ao norte, a independência do México fora realizada em<br />

1822 pelo general Iturbide, que se sagrou imperador sob<br />

o nome de Agustín I. Um ano depois, foi obrigado a<br />

abdicar e, ao tentar retomar o poder, foi executado,<br />

adotando o país o regime republicano. Em 1825, após a<br />

guerra de independência, apenas as ilhas de Cuba e Porto<br />

Rico permaneceram sob o domínio espanhol.<br />

5. CONSEQUÊNCIAS DA INDEPENDÊNCIA<br />

Com o término do processo separatista efetivado nas<br />

principais regiões da América Espanhola, as lideranças<br />

independentistas foram convidadas a comparecerem ao<br />

Congresso do Panamá, em 1826. No encontro proposto<br />

por Símon Bolívar, o objetivo primordial era propor a<br />

inibição de pretensas atividades recolonizadoras, assim<br />

como firmar interesses das novas nações diante de outras<br />

nações do continente, como EUA e Brasil. O congresso<br />

buscava ainda firmar compromissos de defesa comum,<br />

solução pacifica de conflitos e preservação da<br />

353


354<br />

integridade territorial entre os países recém formados,<br />

além de apoiarem a abolição do tráfico de escravos.<br />

A realização do Congresso do Panamá e a liderança de<br />

Bolívar costuma ser associadas a uma suposta pretensão<br />

de unificação pan-americana. Estudos recentes, no<br />

entanto, demonstram que esse projeto apresentou-se<br />

bastante precário, considerando que a própria base<br />

política e territorial da Gran Colômbia (de onde<br />

supostamente se organizaria a unificação pan-americana)<br />

era incipiente. Ademais, nem todos os territórios<br />

partilhavam desse mesmo interesse, o que ficou<br />

demonstrado na ausência de representantes da Argentina,<br />

Paraguai, Uruguai, Haiti, Estados Unidos e do Brasil,<br />

fragilizando a proposição do pan-americanismo.<br />

Os interesses particulares e regionais das lideranças<br />

políticas locais, a grande dimensão territorial e a<br />

variedade de realidades econômicas, assim como o<br />

desinteresses inglês em um território unificado, também<br />

devem ser considerados para o fracasso de tal projeto.<br />

Outro aspecto importante a ser considerado, é que o<br />

projeto político pretendido por Bolívar, mostrava-se<br />

bastante conservador, pois em discurso de 1819, o<br />

Libertador sinalizava para um governo controlado pelas<br />

“classes decentes” (proprietários de terra e<br />

comerciantes), além da defesa de um Executivo forte e<br />

um Legislativo constituído a partir de critérios<br />

censitários.<br />

Em 1826, Bolívar convocou os representantes dos países<br />

recém-independentes para participarem da Conferência<br />

do Panamá, cujo objetivo era a criação de uma<br />

confederação pan-americana.<br />

O sonho bolivariano no de unidade política chocou-se,<br />

entretanto, com os interesses das oligarquias locais e com<br />

a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, a quem<br />

não interessavam países unidos e fortes. Após o fracasso<br />

da Conferência do Panamá, a América Latina<br />

fragmentou-se politicamente em quase duas dezenas de<br />

pequenos Estados soberanos, governados pelas<br />

aristocracia criolla.<br />

Assim, entre as principais consequências do processo de<br />

emancipação da América espanhola merecem destaque: a<br />

conquista da independência política, a consequente<br />

divisão política e a persistência da dependência<br />

econômica dos novos Estados.<br />

O processo de independência propiciou sobretudo a<br />

emancipação política, ou seja, uma separação da<br />

metrópole através da quebra do pacto colonial. A<br />

independência política não foi acompanhada de uma<br />

revolução social ou econômica: as velhas estruturas<br />

herdadas do passado colonial sobreviveram à guerra de<br />

independência e foram conservadas intactas pelos novos<br />

Estados soberanos.<br />

Assim, a divisão política e a manutenção das estruturas<br />

coloniais contribuíram para perpetuar a secular<br />

dependência econômica latino-americana, agora não<br />

mais em relação à Espanha, mas em relação ao<br />

capitalismo industrial inglês.<br />

As jovens repúblicas latino-americanas, divididas e<br />

enfraquecidas, assumiram novamente o duplo papel de<br />

fontes fornecedoras de matérias-primas essenciais agora<br />

à expansão do industrialismo e de mercados<br />

consumidores para as manufaturas produzidas pelo<br />

capitalismo inglês.<br />

5. O CASO PARTICULAR DO HAITI<br />

O Haiti Faz parte da Ilha de Hispaniola (atual São<br />

Domingos), dividida durante o Período Colonial entre<br />

Espanha (porção oriental) e a Franca (porção ocidental).<br />

Nos domínios franceses, a composição social dividia-se<br />

em uma maioria de negros escravizados, os mulatos e<br />

negros livres (affranchis), que inclusive podiam se tornar<br />

proprietários de escravos e formavam uma classe<br />

intermediaria; e a minoria de brancos (grand blancs),<br />

socialmente privilegiados e responsáveis pela exploração<br />

econômica e administração colonial.<br />

No decorrer da Revolução Francesa, teve início os<br />

esforços de emancipação da principal colônia francesa<br />

nas Américas. Em 1791, sob a liderança do líder


Touissant Louverture, levantaram-se os affranchis em<br />

favor da plena igualdade civil e expansão dos direitos<br />

políticos, encontrando forte resistência dos brancos, leais<br />

ao governo francês. Na fase mais radical da revolução,<br />

quando a Convenção nacional aboliu a escravidão nas<br />

colônias, Touissant incorporou-se ao Exército francês na<br />

luta contra os ingleses, enfrentou a ameaça espanhola de<br />

tomar a ilha inteira para si e combateu os brancos<br />

insatisfeitos com a abolição da escravidão, o que lhe<br />

garantiu preponderância política e prestigio no Haiti,<br />

onde construiu hospitais, parques e estimulou a produção<br />

das lavouras de açúcar, criou escolas e chegou a redigir<br />

um esboço constitucional para o Haiti, que deveria<br />

continuar uma federação ligada à Franca.<br />

A projeção de um líder negro no Haiti e o retorno dos<br />

grupos mais conservadores da burguesia ao poder na<br />

Franca, levaram à intervenção metropolitana no Caribe<br />

em 1802, sob mando de Napoleão Bonaparte. Com a<br />

ocupação de mais de 60 mil homens franceses no<br />

território, a fim de retomar a pratica escravista, Touissant<br />

mobilizou escravos e quilombolas para resistir aos<br />

franceses, mas terminou preso e enviado à Franca, onde<br />

morreria um ano depois.<br />

Apesar da derrota, o movimento prosseguiu no esforço<br />

de emancipação e abolição convergidos, sob a liderança<br />

de Jean Jacques Dessalines, oriundo do exército<br />

quilombola; em 1804, o exército rebelde composto de<br />

africanos e seus descendentes triunfaram sobre os<br />

franceses, proclamando a independência do Haiti e,<br />

promovendo verdadeiro massacre da elite branca, o que<br />

assombrava as elites de toda a América, devido ao tom<br />

radical e popular que aquela emancipação assumira.<br />

TEXTO COMPLEMENTAR<br />

Vizinhança em ebulição<br />

Em toda a América Latina, o início do século XIX foi<br />

marcado por guerras, revoluções e reviravoltas<br />

políticas... Maria Elisa Mäder 7/1/2008<br />

Guerras, revoluções, novas repúblicas, reviravoltas<br />

políticas. Enquanto o Brasil era governado pelo rei de<br />

Portugal, sua vizinhança foi um barril de pólvora. Em<br />

menos de duas décadas, a América espanhola se<br />

transformou radicalmente, numa sucessão de<br />

independências conquistadas na ponta da espada.<br />

<strong>História</strong>s diferentes, mas com o mesmo ponto de<br />

origem. A invasão napoleônica da Península Ibérica em<br />

1807 provocou mudanças definitivas nos domínios<br />

coloniais de Portugal e Espanha. D. João viu-se forçado a<br />

transferir sua Corte para o Brasil a fim de manter o trono.<br />

Já o rei espanhol, Fernando VII, não teve a mesma sorte<br />

e acabou deposto. Pior: o trono passou para as mãos de<br />

José Bonaparte, irmão de Napoleão. Como consequência,<br />

suas colônias na América enfrentaram uma fase de<br />

intensa experimentação política.<br />

No século anterior, os reinados de Carlos III e Carlos<br />

IV (que em 1808 abdicaria do trono em favor de seu<br />

filho Fernando VII) haviam testemunhado o<br />

desenvolvimento de um pensamento político moderno<br />

iluminista – que enfatizava a liberdade, a igualdade, os<br />

direitos civis, o governo das leis, a representação<br />

constitucional e o liberalismo econômico – entre<br />

pequenos, mas significativos, grupos de espanhóis<br />

peninsulares e espanhóis americanos. Baseados nestas<br />

ideias, os dois monarcas da dinastia Bourbon impuseram<br />

às colônias uma série de reformas políticas e<br />

administrativas, com o objetivo de aumentar a<br />

prosperidade econômica da Espanha e recuperar a<br />

supremacia política perdida. As medidas agravaram o<br />

descontentamento da elite colonial crioula (como eram<br />

chamados os brancos nascidos na América espanhola) ao<br />

afrontar os sentimentos de autonomia e de identidade que<br />

vinham ganhando corpo durante os três séculos de<br />

colonização.<br />

A desarrumação causada pela invasão napoleônica<br />

abriu caminho para que esta elite crioula motivasse um<br />

crescente debate nas colônias sobre soberania,<br />

representação do povo na política, a ideia de nação e a<br />

necessidade de dar uma nova Constituição à monarquia.<br />

A administração do reino sofreu sucessivas<br />

mudanças. A princípio, formaram-se, na Espanha e na<br />

América, juntas de governo locais, que invocavam o<br />

princípio legal hispânico de que a soberania, na ausência<br />

do rei, retornaria aos povos. A iniciativa gerou forte<br />

oposição dos “realistas” na América. Em setembro de<br />

1808, foi criada a Junta Suprema Central e Governativa<br />

do Reino, que, como o nome sugeria, centralizava os<br />

poderes Executivo e Legislativo, como uma tentativa de<br />

solucionar a crise da monarquia. As vitórias francesas de<br />

1809 levaram à dissolução da Junta no ano seguinte. Em<br />

seu lugar designou-se um Conselho de Regência, logo<br />

questionado por algumas províncias da Espanha e vários<br />

vice-reinos da América.<br />

355


A situação demandava uma solução. Em 1812, a<br />

reunião das Cortes em Cádiz, na Espanha, para a<br />

elaboração de uma Constituição, dedicou-se a<br />

encaminhar as preocupações das províncias da Espanha e<br />

de muitas partes do Novo Mundo. O Parlamento<br />

espanhol tentava, assim, prover um meio pacífico aos<br />

autonomistas americanos para a obtenção da ordem<br />

local. Os extensos debates naquele congresso<br />

transformaram o mundo hispânico.<br />

A Constituição promulgada não foi apenas um<br />

documento espanhol, foi igualmente americano. Pode-se<br />

dizer que, sem a participação dos deputados do Novo<br />

Mundo, dificilmente a Carta de 1812 tomaria a forma<br />

que tomou. Foram abolidos as instituições senhoriais, a<br />

Inquisição, o tributo pago pelas comunidades indígenas e<br />

o trabalho forçado – como a mita na região andina.<br />

Também foi criado um estado unitário com leis iguais<br />

para todas as partes da monarquia, restringida a<br />

autoridade do rei e confiado às Cortes o poder de decisão<br />

final. O direito de voto conferido a todos os homens<br />

(com exceção dos de ascendência africana), sem<br />

exigência de renda ou grau de alfabetização, torna a<br />

Constituição de Cádiz superior às dos demais governos<br />

representativos de sua época – como Grã-Bretanha,<br />

Estados Unidos e França –, estendendo direitos políticos<br />

à vasta maioria da população adulta masculina.<br />

Mas os avanços representativos não foram suficientes<br />

para conter as guerras civis que desde 1810 se<br />

desenrolavam na América. Estavam em lados opostos<br />

aqueles que, insistindo na formação de juntas locais, se<br />

recusavam a aceitar o governo na Espanha, e aqueles que<br />

reconheciam a autoridade central da Regência e das<br />

Cortes. As divisões políticas entre os membros das elites<br />

mesclavam-se às antipatias regionais e tensões sociais.<br />

Em 1814 os conflitos se agravaram. Naquele ano,<br />

após a derrota de Napoleão, Fernando VII voltou ao<br />

trono, aboliu as Cortes e a Constituição e restaurou o<br />

absolutismo. Livres das restrições constitucionais, as<br />

autoridades régias no Novo Mundo perseguiram e<br />

sufocaram a maioria dos movimentos que buscavam<br />

autonomia. Somente a região mais isolada do Rio da<br />

Prata permaneceu fora do alcance da repressão<br />

deflagrada pela já enfraquecida monarquia espanhola.<br />

A repressão desencadeou reações decisivas entre os<br />

partidários da independência, ainda em minoria. Em<br />

1817, na Venezuela, os republicanos retomaram a luta<br />

iniciada por Simon Bolívar seis anos antes, quando era<br />

oficial do Exército revolucionário e foi declarada a<br />

independência. Em 1812, os espanhóis haviam retomado<br />

o poder e ele deixara o país. Retornou em 1819, com o<br />

apoio do independente Haiti, para retomar a revolução.<br />

Naquele ano, habitantes da Nova Granada (hoje<br />

Colômbia, Venezuela e Equador) e venezuelanos<br />

derrotaram os realistas em Boyacá, forçando o vice-rei e<br />

outros altos oficiais a deixar Bogotá.<br />

O ritmo e a intensidade das lutas variaram bastante.<br />

Nas regiões no norte da América do Sul, a militarização<br />

e a centralização política foram características marcantes.<br />

Convocado por Bolívar em fevereiro de 1819, o<br />

Congresso de Angostura (hoje chamada Ciudad Bolívar),<br />

na Venezuela, legitimou o seu poder. Em dezembro,<br />

criou-se a República da Colômbia – por vezes chamada<br />

de Grã Colômbia –, incorporando Venezuela, Nova<br />

Granada e Quito. Contrariamente ao espírito da<br />

Constituição de Cádiz, a nova Constituição colombiana<br />

criou um governo extremamente centralizado, com<br />

autoridade excessiva atribuída ao presidente Bolívar.<br />

No sul, o militar José de San Martín, depois de bemsucedida<br />

campanha nos Andes, obteve em fevereiro de<br />

1818 uma vitória decisiva sobre as forças espanholas na<br />

batalha de Chacabuco. No Rio da Prata (hoje Argentina)<br />

e na capitania geral do Chile, os autonomistas ganharam<br />

controle precocemente, depois de poucos conflitos<br />

armados no combate aos realistas. Depois de 1818, os<br />

contingentes militares deixaram essas regiões para<br />

assegurar a independência do Peru, ao norte, mesmo com<br />

as tropas realistas permanecendo no sul.<br />

A aprovação de outra Constituição em 1820 na<br />

Espanha provocou respostas diferentes nas quatro<br />

grandes regiões americanas (Nova Espanha, Prata, Nova<br />

Granada e Peru). Os povos da Nova Espanha (atual<br />

México) e da Guatemala receberam as notícias com<br />

entusiasmo, e nos meses seguintes realizaram eleições<br />

para diferentes ayuntamientos constitucionais,<br />

deputações provinciais e as Cortes. A instabilidade<br />

política da Espanha, que já durava cerca de doze anos,<br />

havia convencido uma parte dos novohispanos que era<br />

mais prudente estabelecer um governo autônomo no<br />

interior da monarquia. Quanto aos autonomistas, os<br />

membros da elite que haviam adquirido poder com os<br />

processos de independência, optaram pela instauração de<br />

uma monarquia constitucional.<br />

Dois cursos de ação foram seguidos. Os deputados da<br />

Nova Espanha junto às Cortes propuseram um projeto<br />

para a autonomia do Novo Mundo que criava três<br />

grandes reinos americanos governados por príncipes<br />

espanhóis e aliados à Península. Mas a maioria espanhola<br />

nas Cortes rejeitou a proposta, temerosa de dar aos<br />

356


americanos a autonomia buscada desde 1808. Ao mesmo<br />

tempo, autonomistas da Nova Espanha se aliaram ao<br />

coronel Agustín de Iturbide, um realista simpático ao<br />

plano de autonomia, que muito se assemelhava ao<br />

proposto às Cortes. A independência do México foi<br />

assegurada em 1821 sem confronto militar, quando<br />

Iturbide e seus seguidores ganharam o apoio da maioria<br />

do exército real. No ano seguinte, Iturbide tornou-se<br />

imperador do México, como Iturbide I.<br />

O episódio desencadeou adesões das províncias da<br />

América Central, que também declararam sua<br />

independência naquele ano, juntando-se ao Império<br />

mexicano. Em 1823, entretanto, com o fim do período<br />

monárquico (Iturbide se indispôs com militares, que o<br />

depuseram), separaram-se do México e passaram a<br />

formar a Federação Centro- Americana.<br />

Na América do Sul, em 1820, as tropas republicanas<br />

no norte deram início à libertação da Venezuela e de<br />

Nova Granada. Em outubro do mesmo ano, Guayaquil<br />

(no atual Equador) tornou-se independente e, formando<br />

uma república, tentou, sem sucesso, libertar as províncias<br />

das terras altas, então pertencentes à jurisdição de Quito.<br />

Uma força mista, composta sobretudo por tropas locais,<br />

reunindo colombianos e homens do exército de San<br />

Martín sob o comando do general Antonio José de Sucre,<br />

acabou derrotando as tropas espanholas em Quito, em<br />

maio de 1822. Bolívar, que chegou do norte em junho<br />

com mais combatentes colombianos, incorporou a nova<br />

região libertada à República da Colômbia. Decretou, a<br />

seguir, lei marcial no antigo reino de Quito, de modo a<br />

poder melhor recrutar homens, confiscar dinheiro,<br />

víveres e suprimentos para continuar a luta contra os<br />

realistas no Peru, o último bastião do poder do rei de<br />

Espanha na América do Sul.<br />

As forças sulinas lideradas por San Martín chegaram<br />

a Lima em agosto de 1820. Seu exército de libertadores<br />

compunha-se de chilenos e rio-platenses. Embora<br />

controlasse o litoral, San Martín não conseguiu derrotar<br />

os realistas no altiplano. Os constitucionalistas espanhóis<br />

quase expulsaram suas tropas do litoral. A vitória haveria<br />

de esperar pela chegada do exército de Bolívar à região,<br />

anos depois. E mesmo com a derrota impingida aos<br />

realistas pelo general Sucre na batalha de Ayacucho, em<br />

dezembro de 1824, a região do Alto Peru continuaria sob<br />

o controle das forças realistas, que só se renderiam em<br />

1826.<br />

Um ano depois do reconhecimento da Independência<br />

do Brasil por Portugal, terminava o processo de<br />

independência das colônias hispano-americanas. O<br />

continente americano saía desse processo radicalmente<br />

transformado. Novos estados politicamente soberanos<br />

vão se afirmar deste lado do Atlântico, sob a forma de<br />

repúblicas modernas, tornando indelével o modelo de<br />

moderno estado-nação que se generalizará em todo o<br />

hemisfério ocidental no início do século XX.<br />

Maria Elisa Mäder é doutora em <strong>História</strong> Social pela<br />

Universidade Federal Fluminense e professora de<br />

<strong>História</strong> da América na PUC-Rio. Organizadora, com<br />

Marco Antonio Pamplona, de Revoluções de<br />

independências e nacionalismos nas Américas (Coleção<br />

Margens, Paz e Terra, 2007).<br />

Saiba Mais: BETHELL, Leslie Ed. (org.). <strong>História</strong> da América Latina. Da<br />

Independência até 1870. Vol. III, São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial do Estado;<br />

Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 2001.FUENTES, Carlos. O Espelho<br />

Enterrado. Reflexões sobre a Espanha e o Novo Mundo. Rio de Janeiro: Rocco,<br />

2001.GUERRA, François-Xavier. “A Nação na América espanhola: a questão das<br />

origens”, Revista Maracanã. Rio de Janeiro: Uerj, 1999/2000, Ano I, nº 1.<br />

CORAÇÕES VALENTES<br />

Restos mortais dos heróis da independência latinoamericana<br />

eram cultuados como objetos de devoção<br />

patriótica<br />

Pablo Rodríguez Jiménez<br />

Panteão na Venezuela em homenagem a Bolívar:<br />

tributo cívico e simbolismo religioso.<br />

357


Quando Simón Bolívar (1783-1830), herói da<br />

libertação da América Hispânica, morreu derrotado pela<br />

tuberculose, na Colômbia, foi homenageado com um<br />

serviço funerário luxuoso. Mas, ao que parece, seus<br />

restos mortais foram separados durante as honras<br />

fúnebres: o corpo foi colocado em um féretro e seu<br />

coração e “algumas vísceras”, em uma pequena urna. Os<br />

documentos não fazem menção a isso, mas assim eles<br />

foram encontrados nove anos depois, abaixo da cúpula<br />

da catedral, perto das grades do presbitério – onde<br />

haviam sido depositados –, após um grande terremoto<br />

que afetou a Catedral de Santa Marta, cidade onde ele<br />

faleceu.<br />

Em 1842, quando o corpo de Bolívar foi exumado e<br />

seus restos mortais levados para a Venezuela, de acordo<br />

com pedido feito em seu testamento, os oficiais,<br />

surpresos, encontraram as duas peças funerárias: o<br />

caixão e a urna. Foi quando o general Joaquim Posada<br />

Gutierrez (1797-1881) solicitou às autoridades<br />

governamentais venezuelanas que dessem de presente a<br />

urna com o coração de Bolívar à República da Colômbia.<br />

O pedido foi aceito, e o coração, em sua urna,<br />

permaneceu na Catedral de Santa Marta.<br />

Mas o “descanso” deste coração não durou muito. No<br />

final de 1860, a Colômbia enfrentou uma nova guerra<br />

civil, desta vez liderada por Tomás Cipriano Mosquera,<br />

contra o governo conservador de Mariano Ospina<br />

Rodrigues. Santa Marta, que tinha sido um fortim<br />

conservador, foi atacada por diferentes lados por<br />

soldados liberais. Pouco a pouco, os conservadores,<br />

liderados por Julio Arboleda, perderam terreno e<br />

encontraram seu último refúgio na catedral da cidade. No<br />

dia 13 de dezembro, quando os ataques contra a catedral<br />

se intensificaram, os ocupantes aproveitaram um<br />

incêndio que havia sido provocado para fugir. Entre as<br />

chamas que consumiram quase toda a catedral estava a<br />

única presença física sobrevivente do libertador na<br />

Colômbia. Assim o coração de Bolívar foi destruído<br />

física e simbolicamente.<br />

Os funerais em homenagem aos libertadores latinoamericanos<br />

– não só de Bolívar – foram determinantes<br />

para a afirmação do espírito republicano. Os eventos não<br />

eram privados e muito menos discretos. Ao contrário,<br />

eram festejos públicos que contavam com a presença de<br />

autoridades, pessoas influentes e diferentes grupos<br />

sociais. O esplendor dessas cerimônias demonstrava<br />

gratidão e reconhecimento aos que fizeram tudo pela<br />

independência do país. Era como se toda a pátria se<br />

reunisse para dar um último adeus aos seus heróis.<br />

358<br />

Finalmente, em frente ao panteão, os oradores<br />

ressaltavam a valentia e o sacrifício do ilustre morto. Os<br />

heróis, então, atingiam a condição de mitos, assumindo<br />

papéis fundamentais na formação das histórias nacionais.<br />

No entanto, um aspecto que tem passado<br />

despercebido na pesquisa histórica é a importância do<br />

coração na simbologia patriótica. A tradição medieval e<br />

colonial de venerar relíquias ou partes do corpo humano<br />

foi recuperada naquela época, não mais com finalidade<br />

exclusivamente religiosa, mas patriótica e republicana.<br />

Em diferentes partes da América Hispânica, a<br />

preservação da memória dos heróis encontrou no coração<br />

seu elemento preferido, tanto por seu forte conteúdo<br />

simbólico como por ser mais fácil conservá-los e<br />

transportá-los. Segundo a tradição, o coração dos<br />

patriotas era depositário das melhores virtudes: bondade,<br />

nobreza, valentia, honra e sacrifício. Assim, tornou-se<br />

frequente embalsamar seus corações e conservá-los para<br />

render-lhes culto e preservar sua memória. Da mesma<br />

forma como ocorria com os corpos, os corações tiveram<br />

cerimônias religiosas solenes e vistosas, e depois foram<br />

depositados em lugares que podiam ser visitados pelo<br />

público. Mas, apesar de todo este esmero, por motivo de<br />

guerra ou de perda da memória patriótica, estes corações<br />

passaram por situações difíceis, terminando em lugares<br />

inesperados ou até mesmo desaparecendo para sempre.<br />

Provavelmente, o coração que recebeu mais<br />

homenagens ainda no século XIX foi o do coronel<br />

Atanásio Girardot (1791-1813), patriota colombiano que<br />

morreu na batalha de Bárbula, em terras venezuelanas,<br />

em 30 de setembro de 1813. Embora os exércitos<br />

patriotas saíssem vencedores desta batalha, a morte de<br />

Girardot deixou de luto todos os que lutavam pela<br />

independência. Bolívar, que recebeu com muita tristeza<br />

esta notícia, escreveu de próprio punho, no acampamento<br />

de Valencia (Venezuela) uma lei de honras pelo patriota<br />

morto. O terceiro item determinava que “seu coração<br />

será levado com triunfo à capital em Caracas, onde se<br />

fará a recepção dos libertadores e será depositado no<br />

mausoléu que será erguido na Catedral metropolitana”.<br />

O traslado do coração de Atanásio Girardot para<br />

Caracas e as cerimônias a ele dedicadas ali foram<br />

registrados amplamente pela Gazeta de Caracas, o<br />

primeiro jornal da Venezuela. O coração foi<br />

embalsamado e depositado em um copo de cristal<br />

hermeticamente fechado, que, por sua vez, foi guardado<br />

em uma urna de madeira de 30 centímetros de altura,<br />

adornada com um tecido negro enfeitado com detalhes<br />

de ouro fino. No dia 10 de outubro, partiu da cidade de


Valencia a comitiva que conduzia a urna, formada por<br />

militares, religiosos e autoridades civis. Em cada<br />

povoado por onde passavam, eram recebidos por padres<br />

com a cruz erguida. O cortejo foi recepcionado na<br />

entrada da cidade pelo governo municipal, pelos clérigos<br />

da catedral, pelas confrarias e por diferentes<br />

personalidades chefiadas por Bolívar. Na pracinha do<br />

asilo dos capuchinhos, enfeitada com arcos de triunfo, a<br />

comitiva fez a entrega da urna que continha o coração de<br />

Girardot. Ali, vários meninos vestidos de anjo tomaram<br />

as rédeas da carruagem para se dirigirem à catedral da<br />

cidade. O cortejo, agora com uma multidão, marchou a<br />

passos lentos, enquanto os religiosos cantavam salmos de<br />

ação de graças. Assim que chegaram à catedral, a urna<br />

foi levada à capela de São Nicolau de Bari, onde<br />

permaneceu iluminada e escoltada por guarda militar.<br />

houvesse nenhum ritual de morte e que o levassem<br />

diretamente para o cemitério. Mas pediu à filha que seu<br />

coração fosse levado para Buenos Aires, sua cidade<br />

natal. Trinta anos depois de sua morte, seus restos<br />

mortais, com seu coração, cumpriram seu destino. Ao<br />

chegarem ao porto, receberam muitas homenagens.<br />

Antes de serem depositados na Catedral de Buenos<br />

Aires, onde ainda hoje repousam, os restos mortais do<br />

general San Martín foram alvo de numerosas<br />

demonstrações de reconhecimento patriótico. E lá estava<br />

mais um coração homenageado.<br />

Pablo Rodríguez Jiménez é professor da UniversidadNacionaldaColombiae autor<br />

de Días de Gloria en la Independencia Hispanoamericana (Universidad del<br />

Rosario, 2011)<br />

O significado simbólico desta cerimônia é evidente.<br />

Não se tratava da sepultura de um corpo, mas sim de um<br />

fragmento, que na cultura cristã tinha uma identificação<br />

precisa. Não é difícil notar que havia uma relação com a<br />

imagem do coração de Jesus, uma devoção que a Igreja<br />

Católica havia difundido ao longo do período colonial. A<br />

própria Companhia de Jesus, uma das ordens mais<br />

influentes, adotou o coração de Jesus coroado como seu<br />

símbolo. Também caberia lembrar que, no período préhispânico,<br />

diferentes sociedades, como a maia e a asteca,<br />

realizavam rituais nos quais ofertavam corações a seus<br />

deuses como oferendas e para pedir favores. O certo é<br />

que em cada casa, rica ou pobre, havia uma escultura ou<br />

uma pintura alusiva ao coração de Jesus. Normalmente<br />

ficava na sala de jantar, onde sua presença velava pela<br />

saúde e pela união da família. Tudo isso explica o fato de<br />

que Caracas prestou homenagem a essa urna em um<br />

momento bastante crucial para a independência da<br />

Venezuela.<br />

Lembrar as honras prestadas aos heróis da<br />

independência permite compreender o peso das tradições<br />

religiosas na formação da cultura republicana. As<br />

grandes cerimônias e festividades religiosas, com suas<br />

procissões fervorosas, tiveram continuidade, sendo<br />

realizadas tanto para agradecer as vitórias conseguidas<br />

nas batalhas como para pedir proteção. Agora, com estas<br />

comemorações, prestava-se homenagem aos heróis,<br />

transformados em mártires da pátria. Outros patriotas se<br />

recusaram a ter seus restos mortais transformados em<br />

“lugares de memória”. No entanto, após suas mortes, eles<br />

receberam, por diferentes motivos, homenagens<br />

luxuosas. Foi o caso de José de San Martín (1778-1850),<br />

libertador argentino, falecido em Boulogne-sur-Mer, na<br />

França. San Martín pediu em seu testamento que não<br />

359


ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX<br />

1. A CONQUISTA DO OESTE<br />

No século XVIII, as antigas Treze Colônias americanas<br />

tornaram-se a primeira Nação americana, após o<br />

enfrentamento com a Inglaterra, que culminou com a sua<br />

independência e a organização da República dos EUA.<br />

No século XIX, os EUA passariam por um impasse de<br />

desenvolvimento industrial, acompanhado de uma<br />

progressiva extensão territorial, contraposta à ameaça<br />

da ruptura de sua unidade territorial, que conduziu à<br />

Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana.<br />

Desde o início desse século, a jovem Nação norte<br />

americana tornou-se um pólo atrativo de uma grande<br />

quantidade de imigrantes europeus vindos das áreas<br />

germânicas (Irlanda, Suécia e Inglaterra) assustados com<br />

os movimentos violentos de ordem liberal, ou prejuízos<br />

da situação econômica excludente que a Europa vivia. O<br />

resultado desse processo foi um considerável<br />

crescimento demográfico - de 1780 a 1850 a população<br />

360<br />

doa Estados Unidos passou de 5 para 23 milhões de<br />

habitantes – o que alimentou o ambicioso desejo de<br />

expansão, resultando na chamada Marcha para o Oeste,<br />

estendendo os domínios estadunidenses até o limite com<br />

o Extremo Oriente, através do Pacifico.<br />

Apesar dos interesses pragmáticos que empurravam os<br />

colonos americanos a transpor as fronteiras dos Montes<br />

Apalaches, uma doutrina de forte apelo ideológico foi<br />

utilizada para justificar o processo expansionista ao<br />

Oeste. Trata-se do "Destino Manifesto", apresentada em<br />

1845, pelo jornalista John O'Sullivan comparou a<br />

expansão dos Estados Unidos em direção às terras do<br />

oeste a um Destino Divino a ser cumprido.<br />

A ideia foi recuperada da crença dos imigrantes<br />

puritanos do século XVII de que a América seria a nova<br />

Terra Prometida, e que seus habitantes seriam o novo<br />

povo eleito por Deus para expandir seu poder na região.<br />

Assim, reafirmava-se a expansão para o Oeste como um


destino traçado pela Providência Divina, justificando a<br />

necessidade de ocupar, ainda que sob o recurso à<br />

violência, as terras que pertenciam aos índios, franceses,<br />

espanhóis e mexicanos. Ele alegava que os<br />

estadunidenses tinham a missão divina de levar a<br />

"civilização" aos povos considerados "bárbaros",<br />

"inferiores". A doutrina do Destino Manifesto foi<br />

largamente empregada pelos meios de comunicação dos<br />

Estados Unidos no século XIX e até hoje está presente<br />

no imaginário de muitos norte-americanos.<br />

As fronteiras definidas pelo Tratado de Versalhes, de<br />

1783, por ocasião da formação dos EUA, limitava o<br />

território do novo país da Costa do Atlântico até o<br />

Mississippi. Em nome da expansão, seja para abrigar o<br />

excedente demográfico, promover a busca por matéria<br />

prima e fonte energética ao desenvolvimento industrial<br />

ou a corrida pelo ouro, diversos subterfúgios foram<br />

mobilizados pelo governo americano, desde as<br />

conquistas através de compras, anexações pós guerra,<br />

ou negociações diplomáticas.<br />

É o caso, por exemplo, do território da Louisiana que foi<br />

vendida por Napoleão Bonaparte para os norteamericanos<br />

por 15 milhões de dólares, em 1803, à época<br />

do conflitos napoleônicos na Europa. A Flórida (1819)<br />

também foi comprada aos espanhóis por 5 milhões de<br />

dólares, em localização estratégica favorável aos<br />

interesses expansionistas de mercado dos estadunidenses<br />

na região caribenha; o Alasca (1867) seria vendido pela<br />

Rússia por 7 milhões de dólares, favorecendo a<br />

exploração do petróleo, fonte energética primordial na<br />

Segunda Revolução Industrial; o Oregon foi cedido pelos<br />

ingleses aos norte-americanos.<br />

Outras anexações ocorreram de maneira menos pacífica,<br />

decorrendo de processos violentos, como é o caso do<br />

conflito envolvendo os EUA e o México. Grande parte<br />

do Sudoeste Americano era de dominação mexicana, e<br />

para garantir ocupação dessas terras os norte-americanos<br />

tiveram que iniciar uma guerra. Desde 1821, o governo<br />

mexicano permitiu a presença de dos norte-americanos<br />

em seu território desde que comprometidos a<br />

preservarem a religião católica.<br />

Com a descoberta de fontes de petróleo no Texas, essa<br />

região passou a se tornar alvo do interesse de dominação<br />

dos EUA. O governo americano passou a apoiar,<br />

informalmente, o esforço dos texanos em se separarem<br />

do México, para constituição de um novo país. Assim<br />

teve início a Guerra do México, que perdurou de 1845 a<br />

1848, e foi nesse período que definitivamente foi<br />

proclamada a independência do Texas em relação ao<br />

México, apara que mais tarde, em poucos anos, estivesse<br />

incorporado aos EUA. O fim da guerra foi marcado pela<br />

assinatura do Tratado de Guadalupe-Hidalgo,<br />

consolidando o Rio Grande como região fronteiriça entre<br />

o México e o Texas. As regiões da Califórnia, Arizona,<br />

Novo México, Nevada, Utah e uma porção de Colorado<br />

foram cedidas aos norte-americanos, mediante irrisória<br />

indenização de 15 milhões de dólares. Após 5 anos, a<br />

metade do território mexicanos estava sob o poder dos<br />

EUA.<br />

O processo de ocupação dessas novas terras recém<br />

incorporadas ao país, obedeceram a interesses<br />

divergentes a partir das realidades históricas precedentes,<br />

que remontavam ao próprio processo de colonização e<br />

que bipolarizava o norte e o sul dos EUA. Para assegurar<br />

a plena ocupação do oeste, em 1862 (em pleno<br />

desdobramento da Guerra de Secessão), o Congresso dos<br />

Estados Unidos promulgou o Homestead Act; por meio<br />

dela, o governo concedia um lote de terra para qualquer<br />

família ou indivíduo maior de 21 anos que estivesse<br />

361


disposto a migrar para o oeste e que se comprometesse a<br />

torná-lo produtivo no prazo de cinco anos. Essa lei deu à<br />

população muitas terras e, com a chegada crescente de<br />

imigrantes, favoreceu o desenvolvimento de um amplo<br />

mercado interno na região.<br />

Na expansão para o Oeste, as fronteiras das ex-colônias<br />

se alargaram seguindo em direção ao Pacífico<br />

promovendo o surgimento de novos Estados, dando<br />

origem a fortes disputas entre o Norte e o Sul que<br />

defendiam respectivamente estados livres e escravistas.<br />

Os nortistas desejavam implantar um regime de pequenas<br />

propriedades que suprisse ao mesmo tempo a demanda<br />

de terras dos imigrantes, a necessidade de produtos<br />

básicos do mercado interno e permitisse o aumento do<br />

mercado consumidor de suas manufaturas. Já o Sul<br />

defendia que as terras tivessem um preço elevado<br />

(permitindo que somente os grandes proprietários<br />

pudessem comprá-las) e que fosse implantado o regime<br />

de trabalho escravo na região<br />

O crescimento territorial, a expansão demográfica e o<br />

desenvolvimento desigual entre o Sul e o Norte<br />

agravou ainda mais as especificidades históricas,<br />

culminando na rivalidade intensificada que gerou uma<br />

guerra civil que quase dividiu o país.<br />

2. GUERRA CIVIL AMERICANA (1861-1865)<br />

2.1 Determinantes<br />

A Guerra Civil Americana, também conhecida como<br />

Guerra de Secessão, foi um dos eventos mais<br />

importantes para o desenvolvimento dos EUA, pois,<br />

apesar de ter deixado um saldo de mais de seiscentos mil<br />

mortos e de ter destruído grande parte da produção de<br />

algodão no Sul, o conflito contribuiu para o avanço das<br />

forças produtivas capitalistas no país. Um conjunto de<br />

362<br />

fatores foram determinantes para o início da Guerra de<br />

Secessão.<br />

A questão alfandegária – Enquanto o Norte defendia a<br />

sua indústria exigindo altas taxas sobre importação de<br />

industrializados europeus, o Sul defendia baixas taxas<br />

que permitissem adquirir produtos manufaturados<br />

ingleses por um preço inferior àqueles praticados pelo<br />

Norte, já que não havia indústrias no Sul; havia ainda o<br />

temor do Sul de que a Europa, em represália, diminuísse<br />

o consumo de seus produtos primários, gerando-lhes<br />

prejuízos econômicos. Também interessava ao Sul a<br />

manutenção da disputa concorrente entre produtos<br />

nortistas e europeus, o que lhes facilitariam escolha por<br />

quem oferecesse preços mais atrativos.<br />

A questão da representatividade política - As disputas<br />

em torno do trabalho livre ou escravo que deveria vigorar<br />

no Oeste acabaram gerando grandes discussões políticas<br />

no Senado e na Câmara. Tradicionalmente existia nos<br />

Estados Unidos uma relativa igualdade de representação<br />

política entre nortistas e sulistas, no entanto, esse<br />

equilíbrio, às vésperas da guerra, estava se desfazendo<br />

em favor do Norte desencadeando a revolta dos membros<br />

do Sul. Isso se dava porque a maioria dos novos estados<br />

recém constituídos, ao deixarem de priorizar a grande<br />

propriedade e a escravidão, forjavam representações<br />

políticas progressistas no Congresso, prejudicando os<br />

interesses conservadores do Sul.<br />

A questão escravista – O Norte visava à expansão do<br />

mercado consumidor interno para os seus produtos e, por<br />

isso, defendia a abolição da escravidão e, logo, a adoção<br />

do trabalho assalariado. Posto que nos estados do Sul a<br />

economia era agroexportadora e a mão de obra<br />

predominante era a escrava negra, os sulistas eram<br />

contrários à abolição, o que caracterizou mais um<br />

conflito de interesse entre o Norte e o Sul.


A questão da receitas - Os Estados do Sul se diziam<br />

preteridos nos investimentos da União, já que a<br />

exportação do algodão sulista era uma das maiores fontes<br />

da receita da União. Os Estados do Sul passaram a<br />

reivindicar que a receita gerada pelos Estado Sulistas<br />

ficasse preferencialmente no Sul, por isso defendiam<br />

uma Confederação na qual as arrecadações locais<br />

ficariam majoritariamente em seus Estados de origem.<br />

2.2 - A guerra (1861-1865) e seus desdobramentos<br />

O início da Guerra se deu com a eleição para presidência<br />

dos Estados Unidos de Abraham Lincoln (representante<br />

dos interesses do Norte), gerando a declaração de<br />

separação da Carolina do Sul do resto da união, seguida<br />

por mais seis estados. Em 1861, reunidos em um<br />

Congresso no Alabama esses Estados formaram um novo<br />

país, os Estados Confederados da América. Em<br />

resposta, os estados nortistas declaram guerra à<br />

Confederação, dando início à Guerra de Secessão.<br />

Em comparação com o Sul, os Estados do Norte<br />

dispunham de maiores recursos econômicos, bélicos e<br />

humanos para conduzir a guerra. No entanto, a estratégia<br />

sulista era obter o apoio da Inglaterra e da França contra<br />

os Yankees nortistas. No Norte, as medidas liberais<br />

decretadas por Lincoln, tais como a abolição da<br />

escravatura e a distribuição de terras no Oeste para<br />

famílias que nelas permanecessem por 5 anos, com<br />

trabalho livre, acirraram ainda mais a reação sulista<br />

contra o governo nacional. Do conflito, o Norte saiu<br />

vencedor e o resultado da violência dos confrontos foi a<br />

morte de cerca 600 mil pessoas e o assassinato do<br />

presidente Lincoln.<br />

Do ponto de vista econômico a guerra significou a vitória<br />

do capitalismo, colocando a economia dos Estados<br />

Unidos no caminho da industrialização moderna e o<br />

modelo nortista de sociedade foi imposto a todo o<br />

território nacional. A partir desse momento, os EUA<br />

alavancaram seu processo de industrialização,<br />

construíram novas ferrovias interligando o país de costa<br />

a costa e organizaram grandes grupos financeiros.<br />

A abolição da escravatura e situação dos libertos - Em<br />

1863, Lincoln decretou o fim da escravidão no país, o<br />

que só ocorreu de fato com o fim da guerra. A Guerra de<br />

Secessão trouxe grandes alterações para a vida<br />

socioeconômica dos Estados Unidos e a hegemonia<br />

política da burguesia industrial. Entretanto, apesar de ter<br />

eliminado a escravidão, essa guerra não resolveu a<br />

questão racial na sociedade norte-americana.<br />

A integração da população negra recém-liberta da<br />

escravidão, no entanto, não se deu plenamente. A<br />

ascensão de milhares de negros à condição de cidadãos<br />

provocou outro tipo de guerra: a guerra racial. Exconfederados<br />

criaram, no Sul, a Ku Klux Klan,<br />

organização racista de brancos que se recusava a<br />

compartilhar direitos constitucionais com os negros, em<br />

plano de igualdade. A KKK matou muitos negros,<br />

espancou e mutilou vários outros, sempre com um<br />

discurso preconceituoso e discriminatório. Agiam na<br />

clandestinidade, mas com a tolerância das autoridades,<br />

uniformizados com um manto e um capuz branco. Suas<br />

vítimas eram, muitas vezes, enforcadas ou mortas na<br />

fogueira, pregadas numa cruz. Com a ilegalidade, a Klan<br />

perdeu sua força, mas seria revigorada após a Primeira<br />

Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.<br />

Em pouco mais de quatro anos de guerra civil, milhares<br />

de pessoas perderam a vida, vítimas dos combates e de<br />

doenças como tifo, febre amarela e varíola. O país saiu<br />

da guerra politicamente unificado, mas as diferenças que<br />

levaram as duas regiões ao conflito permaneceram nas<br />

décadas seguintes. O capitalismo industrial passou a<br />

comandar os Estados Unidos. Os territórios do norte<br />

foram quase que inteiramente preservados na guerra,<br />

pois a maior parte das batalhas foi travada no sul. Era<br />

preciso, no entanto, reorganizar a economia dos estados<br />

do norte, adequá-las aos novos tempos de paz e financiar<br />

a reconstrução do país. O sul, ao contrário, estava<br />

arruinado. Cidades e fazendas foram atacadas, saqueadas<br />

e queimadas. A estrutura econômica do período anterior<br />

deixou de existir no momento em que os estados do sul<br />

foram obrigados a libertar os escravos. Os grandes<br />

363


364<br />

proprietários de terra sofreram perdas drásticas e agora<br />

precisavam se ajustar a um mundo sem escravos.<br />

“Vá para o oeste, jovem, e cresça com o país.”<br />

Essa expressão, criada por Horace Greeley, em 1851,<br />

simboliza a expansão territorial realizada pelos Estados<br />

Unidos ao longo do século XIX.<br />

EXERCÍCIOS<br />

1. (UERJ – 2001) Relacione a marcha para o oeste” com<br />

a doutrina do Destino Manifesto”.<br />

2. (UFRRJ) 1899. Nova lorque<br />

MARK TWAIN PROPÕE MUDAR A BANDEIRA<br />

(...) Em plena euforia imperial, os Estados Unidos<br />

celebram a conquista das ilhas do Havaí, Samoa e as<br />

Filipinas, Cuba, Porto Rico e uma ilhota que se chama,<br />

eloquentemente, dos Ladrões. O oceano Pacífico e o mar<br />

das Antilhas viraram lagos norte-americanos, e está<br />

nascendo a United Fruit Company; mas o escritor Mark<br />

Twain, velho estraga-festas, propõe que se mude a<br />

bandeira nacional: que sejam negras, diz, as listas<br />

brancas, e que umas caveiras com tíbias cruzadas<br />

substituam as estrelas.(...)"<br />

(GALEANO, Eduardo. "As Caras e as Máscaras". Nova Fronteira, Rio, 1985.<br />

p.341.)<br />

Há exatos cem anos, os Estados Unidos da América<br />

estavam inseridos em um processo de dominação<br />

territorial e econômica que afetou, igualmente, as<br />

grandes potências européias e o Japão.<br />

a) Nomeie esse processo e cite uma de suas principais<br />

características econômicas.<br />

b) Explique as razões de Mark Twain para sua proposta.<br />

3. (UFMG) Leia este trecho de documento: Odeio-a<br />

porque impede a nossa República de influenciar o mundo<br />

pelo exemplo da liberdade; oferece possibilidade aos<br />

inimigos das instituições livres de taxar-nos, com razão,<br />

de hipocrisia e faz com que os verdadeiros amigos da<br />

liberdade nos olhem com desconfiança. Mas, sobretudo,<br />

porque obriga tantos entre nós, realmente bons, a uma<br />

guerra aberta contra os princípios da liberdade civil.<br />

Discurso de Abraham Lincoln, em 1859. Nesse trecho de<br />

discurso, Abraham Lincoln, que seria eleito Presidente<br />

dos Estados Unidos no ano seguinte, faz referência<br />

a) à política de segregação racial existente nos estados<br />

do sul dos Estados Unidos, que gerou a formação de<br />

organismos voltados ao extermínio dos negros, à<br />

destruição de suas propriedades e a atentados<br />

constantes contra suas comunidades.<br />

b) à posição dos estados do sul de defesa intransigente<br />

de tarifas protecionistas, o que levava os Estados<br />

Unidos a comprometer a crença na liberdade de<br />

mercado, numa conjuntura de predomínio do<br />

capitalismo liberal.<br />

c) à questão da escravidão, que levou a uma guerra<br />

civil, nos Estados Unidos, entre o Norte,<br />

industrializado, e o Sul, que lutava para preservar a<br />

mão-de-obra escrava nas suas plantações de<br />

produtos para a exportação.<br />

d) à defesa, pelos imigrantes, do extermínio dos índios<br />

nas terras conquistadas a oeste, especialmente após a<br />

edição do "Homestead Act", visando ao<br />

desenvolvimento da agricultura e da pecuária<br />

naquelas áreas.<br />

4. (FUVEST) Entre as mudanças ocorridas nos Estados<br />

Unidos, após a Guerra de Secessão (1861-1865),<br />

destacam-se:<br />

a) a garantia de direitos civis e políticos aos negros -<br />

incluindo o direito ao sufrágio universal - e o<br />

reconhecimento da cidadania dos imigrantes recémchegados.<br />

b) a consolidação da unidade nacional, a chegada de<br />

novas levas de imigrantes, o aumento do mercado<br />

interno e um grande desenvolvimento industrial.<br />

c) graves desentendimentos em relação às fronteiras<br />

com o México, levando a uma nova guerra, na qual<br />

os Estados Unidos ganharam metade do território<br />

mexicano.<br />

d) o incentivo à vinda de imigrantes e a definitiva<br />

ocupação do oeste, cujas fronteiras, em 1865, ainda<br />

estavam nas Montanhas Rochosas.<br />

e) o empobrecimento e a humilhação do Sul, que,<br />

derrotado pelo Norte, foi alijado das esferas do<br />

poder federal e teve sua reconstrução impedida.


5. (Mackenzie) Dentre as razões que determinaram a<br />

elaboração do Dispositivo separatista da Carolina do Sul,<br />

que deu origem à Guerra Civil Americana, destacamos:<br />

a) as leis intoleráveis e a Independência dos Estados<br />

Unidos da América.<br />

b) a adoção de tarifas protecionistas e a eleição de<br />

Abraham Lincoln.<br />

c) a ocupação das terras do Oeste e a Guerra dos Sete<br />

Anos.<br />

d) os interesses dos Estados industriais do sul,<br />

contrários aos latifundiários do norte.<br />

e) a eleição do abolicionista Jefferson Davis, o fim da<br />

escravidão e a Guerra Civil.<br />

6. (UFSM) :"Tinha de haver uma luta (...). Os estados do<br />

sul e os do norte trabalhavam de maneira diferente,<br />

pensavam diferente, viviam diferente. No norte a lavoura<br />

em pequena escala, o transporte por navios, as<br />

manufatura que cresciam, tudo produzido pelo trabalho<br />

branco; no sul havia a monocultura com o trabalho<br />

negro. (...) Essa luta se arrastou por 60 anos, e finalmente<br />

eclodiu com a guerra civil."<br />

(HUBERMANN, Leo. "<strong>História</strong> da Riqueza dos Estados Unidos." Ed. São Paulo:<br />

1983.)<br />

Esse texto remete à Guerra de Secessão Norte-<br />

Americana (1861-1865) que teve como consequência(s):<br />

I. a marginalização do negro que, após a escravidão,<br />

passou a sofrer uma série de pressões, inclusive de<br />

organizações, como Ku-Klux-Klan.<br />

II. a aprovação de tarifas protecionistas que levaram ao<br />

avanço do processo capitalista norte-americano.<br />

III. a vitória da industrialização, a desorganização<br />

econômica do sul escravocrata, o rompimento do<br />

isolacionismo e o início da política imperialista.<br />

Está(ão) correta(s)<br />

a) apenas I.<br />

b) apenas II.<br />

c) apenas III.<br />

d) apenas II e III.<br />

e) I, II e III.<br />

(BRAUDEL, Fernand. "Gramática das civilizações". São Paulo: Martins Fontes,<br />

1989, p. 431.)<br />

Esse quadro delineia-se nos Estados Unidos da América<br />

após a Guerra da Secessão (1861-1865), que colocou em<br />

conflito os estados americanos do Sul e do Norte.<br />

Explique a questão da escravidão como uma das causas<br />

do conflito.<br />

7.1 (Uece) "O que opõe o Norte industrial ao Sul<br />

agrícola é uma divergência mais de ordem econômica: o<br />

primeiro é protecionista, o segundo quer a liberdade de<br />

comércio. Não é, portanto, a questão do escravismo que<br />

pode explicar a origem das hostilidades e de um conflito<br />

que causará a morte de mais de 600 mil americanos".<br />

Fonte: KERSAUDY, François. Estados Unidos: o nascimento de uma nação.<br />

Trad. Ana Montoia. In: "Revista <strong>História</strong> Viva". São Paulo: Duetto, nov. 2003, p.<br />

28. No. 1.<br />

De acordo com o texto, podemos reconhecer como fator<br />

que desencadeou a Guerra de Secessão americana:<br />

a) a pretensão dos nortistas de impedir a expansão do<br />

escravismo nos territórios do Oeste, ainda não<br />

constituídos em estados.<br />

b) o radicalismo anti-escravista de Abraão Lincoln,<br />

eleito presidente da República, ameaçava os direitos<br />

dos proprietários de escravos.<br />

c) a ação da sociedade secreta Ku Klux Klan, que<br />

acabou com a segregação racial ao conceder o igual<br />

direito de voto aos negros.<br />

d) a manutenção do escravismo nos Estados do Sul<br />

propiciava a industrialização nos Estados do Norte,<br />

devido à mão-de-obra barata.<br />

8. (UFV) "Os Estados Confederados podem adquirir<br />

novo território. [...] Em todos esses territórios, a<br />

instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos<br />

Estados Confederados, será reconhecida e protegida pelo<br />

Congresso e pelo governo territorial; e os habitantes dos<br />

vários Estados Confederados e Territórios terão o direito<br />

de levar para esse território quaisquer escravos<br />

legalmente possuídos por eles em quaisquer Estados ou<br />

Territórios dos Estados Confederados [...]."<br />

("Constituição dos Estados Confederados da América", Art. IV, seção 3, 1861.)<br />

7. (UFES) Mil pormenores da vida cotidiana mostrariam<br />

facilmente como as vantagens políticas concedidas aos<br />

negros se revelaram vãs. Os direitos políticos foram<br />

contornados e o negro mantido em seu "lugar inferior".<br />

Tanto assim que ele não deixou o Sul...<br />

O texto acima reflete um dos pontos centrais de discórdia<br />

que geraram a Guerra Civil Americana. Esta guerra civil<br />

foi o resultado:<br />

365


a) da ação imperialista americana que, a partir da<br />

Doutrina Monroe, passou a intervir na América<br />

Latina.<br />

b) da luta entre os colonos e a Metrópole Inglesa, o que<br />

redundaria na independência dos Estados Unidos.<br />

c) da Grande Depressão, intensificando a pobreza e o<br />

desemprego nas grandes cidades americanas.<br />

d) da luta pelos direitos civis, particularmente dos<br />

negros, forçando uma reinterpretação da<br />

Constituição Americana.<br />

e) da oposição dos interesses dos Estados do Sul e do<br />

Norte em torno da questão da escravidão e da<br />

expansão para o Oeste.<br />

9. (Uem) Sobre a história dos Estados Unidos da<br />

América, ao longo do século XIX, assinale a(s)<br />

alternativa(s) correta(s).<br />

01) Em 1823, foi divulgada a Doutrina Monroe, que<br />

estabelecia o direito dos Estados Unidos de intervirem<br />

nos assuntos internos dos outros países. A sedimentação<br />

dessa forma de pensamento deu o substrato ideológico<br />

que legitimou a invasão norteamericana ao Iraque .<br />

02) A partir do início do século XIX, os Estados Unidos<br />

iniciaram a Marcha para o Oeste, comprando ou<br />

anexando territórios e ampliando sua extensão<br />

geográfica. A partir da costa do Atlântico, a expansão<br />

territorial atingiu a costa do Pacífico, dando dimensões<br />

continentais ao novo país.<br />

04) A expansão territorial norte-americana levou a um<br />

enfrentamento com as tribos indígenas, que resultou na<br />

derrota das populações nativas e na ocupação das terras<br />

indígenas pelos colonos.<br />

08) A Guerra de Secessão, conhecida como a Guerra<br />

Civil norte-americana, foi motivada exclusivamente pela<br />

questão da liberdade dos escravos. Enquanto o Norte,<br />

agrícola, era favorável ao fim da escravidão, o Sul, mais<br />

industrializado, lutava pela manutenção dessa relação de<br />

trabalho.<br />

16) Uma significativa parte do atual território dos EUA<br />

foi conquistada como decorrência da Guerra contra o<br />

México. Pelo tratado firmado em 1848, foram anexados<br />

aos EUA Texas, Califórnia, Novo México, Utah, Nevada<br />

e Arizona.<br />

10. (Ufsm) A Guerra de Secessão nos EUA, retratada<br />

também no filme "E o vento levou", ocasionou<br />

366<br />

a) a independência das Treze Colônias da Inglaterra e a<br />

formação dos Estados Unidos da América.<br />

b) o retorno da unidade política norte-americana, com o<br />

domínio da elite do norte sobre a do sul.<br />

c) a iniciativa de expansão ao oeste e ao leste,<br />

conquistando novas terras e anexando áreas da<br />

América do Sul com o fim de torná-las colônias.<br />

d) um levante social na região do México, levando<br />

Morelos e Hidalgo ao poder por mais de 10 anos.<br />

e) a abolição da escravatura nos EUA e a retomada do<br />

poder pelos unitaristas do sul.<br />

11. (PUCRS) Para responder à questão, considere o<br />

texto abaixo, uma análise feita por Euclides da Cunha do<br />

livro O ideal americano, de Theodore Roosevelt,<br />

presidente dos Estados Unidos no começo do século XX.<br />

"O ideal americano não é um livro para os Estados<br />

Unidos, é um livro para o Brasil. Os nossos homens<br />

públicos devem (...) decorar-lhe as linhas mais incisivas,<br />

como os arquitetos decoram as fórmulas empíricas da<br />

resistência dos materiais. É um compêndio de virilidade<br />

social e de honra política incomparável. Traçou-o (...)<br />

um fanático da força, um tenaz propagandista do valor<br />

sobre todos os aspectos (...). Daí a sua utilidade, não nos<br />

iludamos. Na pressão atual da vida contemporânea, a<br />

expansão irresistível das nacionalidades deriva-se, como<br />

a de todas as forças naturais, segundo as linhas de menor<br />

resistência. A absorção de Marrocos ou do Egito, ou de<br />

qualquer uma outra raça incompetente, é (...) um<br />

fenômeno natural, e, diante dele, (...) o falar-se no<br />

Direito é extravagância idêntica a quem procura discutir<br />

(...) sobre a moralidade de um terremoto.(...)<br />

Aprendamos, enquanto é tempo, esta admirável lição de<br />

mestre."<br />

CUNHA, Euclydes da. "Contrastes e confrontos". Rio de Janeiro: Record, 1975,<br />

pp. 170-171.<br />

Considerando-se o contexto intelectual e político do<br />

início do século XX no Brasil, conclui-se que Euclides<br />

da Cunha, a partir de uma perspectiva<br />

a) idealista, pregava a necessidade de o Brasil, por<br />

meio de sua elite política, posicionar-se contra a<br />

dominação de países pobres, a exemplo dos Estados<br />

Unidos de Roosevelt.<br />

b) positivista, defendia o uso do Direito Internacional<br />

como única forma de defesa dos países pobres<br />

contra a agressividade natural dos mais ricos,<br />

expressa no texto de Roosevelt.


c) racista, exaltava a superioridade dos Estados Unidos<br />

de Roosevelt, defendendo que o Direito<br />

Internacional legitimasse juridicamante a<br />

intervenção em países de raças supostamente<br />

inferiores, como o Brasil, o Egito e o Marrocos.<br />

d) cientificista, alertava a elite política brasileira, a<br />

partir do texto de Roosevelt, sobre a necessidade de<br />

o país construir meios de resistência eficazes frente à<br />

realidade do imperialismo.<br />

e) romântica, elogiava o texto de Roosevelt como um<br />

exemplo de defesa dos ideais de honra e virilidade<br />

no mundo contemporâneo, então esquecidos pelas<br />

elites políticas brasileiras.<br />

12. (PUCRS) Responder à questão com base nas<br />

afirmativas abaixo, sobre a expansão territorial dos<br />

Estados Unidos no século XIX.<br />

I. A expansão territorial para o Oeste foi o principal fator<br />

de isolamento político do Sul escravista, pois todos os<br />

novos Estados proibiam a escravidão, seguindo o texto<br />

original da Constituição de 1787.<br />

II. Sob o impulso inicial da iniciativa privada, a<br />

expansão para o Oeste efetivou-se com diferentes<br />

modalidades de participação do Estado, como a<br />

conquista militar e a compra de territórios.<br />

III. A chamada "corrida do ouro" foi o principal fator da<br />

ocupação inicial do extremo Oeste, na primeira metade<br />

do século e, na segunda metade, a expansão ferroviária<br />

foi fundamental para a ocupação efetiva do Centro-<br />

Oeste.<br />

IV. O processo político de incorporação de um novo<br />

Estado à União contrariava o espírito federativo, pois<br />

esses novos Estados tinham suas constituições<br />

outorgadas pelo Congresso, com aprovação da Suprema<br />

Corte e do Presidente da República.<br />

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente<br />

estão corretas<br />

a) I e II.<br />

b) I e III.<br />

c) II e III.<br />

d) II e IV.<br />

e) III e IV.<br />

13. (UFF) Imbuídos da moral protestante e movidos pelo<br />

sonho de uma nova vida proveniente das transformações<br />

industriais europeias, os pioneiros da marcha para o oeste<br />

iniciaram a grande obra de povoamento do território<br />

norte-americano e de reconhecimento de suas riquezas.<br />

Considerando-se o aspecto histórico do alargamento de<br />

fronteiras nos Estados Unidos, pode-se dizer que a<br />

marcha para o oeste:<br />

a) foi o marco inicial da expansão da economia norteamericana,<br />

uma vez que os pioneiros eram<br />

organizados pelo Estado e deveriam auxiliá-lo na<br />

eliminação dos índios;<br />

b) significou a abertura de um conflito entre os vários<br />

tipos de pioneiros e teve como consequências a<br />

Guerra de Secessão e a autonomia dos Estados da<br />

federação norte-americana;<br />

c) teve como repercussões, apenas, a matança dos<br />

índios e a fabricação de heróis dos filmes de farwest;<br />

d) revelou um território rico que teve condições de ser<br />

ocupado graças à aliança entre os pioneiros e os<br />

índios;<br />

e) constituiu um dos marcos da identidade homemterra<br />

na construção da nação norte-americana,<br />

possibilitando o alargamento do território.<br />

14. (UFG) A Conquista do Oeste, que marcou a história<br />

dos Estados Unidos no século XIX, tema dileto do<br />

cinema hollywoodiano, tem para os norte-americanos o<br />

peso de uma epopeia e constitui elemento da imagem dos<br />

EUA no mundo. A Marcha para o Oeste implicou um<br />

movimento de expansão que<br />

( ) protegeu as populações indígenas, pois estas eram<br />

consideradas pelos pioneiros e pela Federação as<br />

verdadeiras representantes da origem étnica norteamericana.<br />

( ) patrocinou anexações territoriais resolvidas<br />

diplomaticamente como bem exemplificam as<br />

negociações entre os EUA e o México.<br />

( ) foi alimentado pela imigração, pela escassez de<br />

terras no leste e pela demanda por produtos agrícolas e<br />

metais preciosos.<br />

( ) formulou uma imagem negativa dos mexicanos,<br />

vistos como portadores de uma cultura avessa ao<br />

trabalho e à ordem, o que representava um contraponto<br />

ao modelo de identidade norte-americana.<br />

367


15. (Unirio) "... era como se os Estados Unidos tivessem<br />

como objetivo uma missão civilizatória junto aos povos<br />

da América Latina."<br />

(Hervert Croly, "The Promisse of American Life")<br />

A consolidação do capitalismo nos Estados Unidos da<br />

América, ao longo do século XIX, identificou-se em seu<br />

processo de expansão territorial, que se relaciona<br />

corretamente com o (a):<br />

a) Destino Manifesto, que fundamentava a distinção<br />

política e econômica entre os estados sulistas<br />

escravocratas e os nortistas industriais.<br />

b) fim da guerra hispano-americana que acarretou a<br />

incorporação da Flórida, de Cuba e da zona do Canal<br />

do Panamá.<br />

c) vitória no conflito contra o México, que resultou na<br />

anexação dos territórios do Texas, Novo México e<br />

Califórnia.<br />

d) Marcha para o Pacífico, que estendeu o território<br />

americano até a costa oeste, com a invasão e a<br />

ocupação do Alasca e dos territórios do noroeste do<br />

Canadá.<br />

e) Doutrina Monroe, que ratificou a compra dos<br />

territórios franceses e ingleses na América, tais<br />

como a Luisiana e o Oregon.<br />

16. (Uerj) Precisamos manter para sempre o princípio de<br />

que só o povo deste continente tem o direito de decidir o<br />

próprio destino. Se, porventura, uma parte desse povo,<br />

constituindo um estado independente, pretendesse unirse<br />

à nossa Confederação, esta seria uma questão que só a<br />

ele e a nós caberia determinar, sem qualquer<br />

interferência estrangeira.<br />

(Primeira mensagem anual do presidente Polk ao Congresso dos Estados Unidos.)<br />

In: SYRETT, H.C., org. Documentos Históricos dos Estados Unidos, Cultrix,<br />

s/d).<br />

O discurso acima, de 2 de dezembro de 1845, reafirmava<br />

a crença do presidente Polk na expansão do território<br />

americano.<br />

O conjunto de idéias que melhor explicita essa crença é:<br />

a) o New Deal<br />

b) a Doutrina Truman<br />

c) o Destino Manifesto<br />

d) a Política de Boa Vizinhança<br />

368<br />

18. (Mackenzie) A Doutrina Monroe e a política do "Big<br />

Stick" tinham por objetivo:<br />

a) montar uma infraestrutura econômica nos países<br />

latino-americanos, assegurando o desenvolvimento<br />

industrial e autodeterminação dos povos.<br />

b) implementar o papel dos E.U.A. como nação guardiã<br />

da América, com o direito de intervir no continente<br />

americano através do disfarce "missão civilizadora".<br />

c) criar a Liga das Nações para mediar conflitos e<br />

evitar futuros choques entre os países da América,<br />

assegurando à O.E.A. o direito de intervir<br />

militarmente.<br />

d) barrar a penetração das ideias comunistas na<br />

América, reforçando a ligação dessas regiões com o<br />

capitalismo através da Aliança para o Progresso.<br />

e) consolidar a "Doutrina de Segurança Nacional" e<br />

apoiar militares nos governos dos países latinoamericanos<br />

nas décadas de 1960 e 70.<br />

19. (FGV) "Fale macio e use um porrete", dizia o<br />

presidente norte-americano Theodore Roosevelt para<br />

justificar a política externa dos EUA. A respeito da<br />

política conhecida como "Big Stick", podemos afirmar:<br />

a) Significou uma medida pragmática dos norteamericanos<br />

logo após a independência, buscando<br />

superar o isolamento diplomático, ao mesmo tempo<br />

que combatia o exército britânico.<br />

b) Era o lema dos Estados do Norte durante a Guerra<br />

de Secessão, durante a qual os escravos foram<br />

libertados, como forma de enfraquecer as forças<br />

sulistas.<br />

c) Diz respeito à política norte-americana com relação<br />

à América Latina durante a Guerra Fria, quando deu<br />

apoio político e militar a diversas ditaduras<br />

militares, visando impedir o estabelecimento de<br />

regimes comunistas semelhantes ao de Cuba.<br />

d) Foi uma continuidade do expansionismo interno,<br />

marcado pela Marcha para o Oeste e pela Guerra de<br />

Secessão, que implicou nas seguidas intervenções<br />

militares norte-americanas que transformaram o<br />

Caribe em sua área de influência.<br />

e) Foi a orientação dada pelo serviço secreto norteamericano<br />

a seus agentes infiltrados na URSS e nos<br />

países da chamada Cortina de Ferro no Leste<br />

europeu.


20. (UFSM)<br />

As imagens ilustram dois momentos da política externa<br />

dos EUA: em 1903, no governo de Theodore Roosevelt,<br />

os EUA apoiaram o Panamá no rompimento com a<br />

Colômbia; em 2003, George W. Bush decidiu invadir e<br />

ocupar o Iraque. Considerando a política externa norteamericana,<br />

analise as seguintes afirmações:<br />

I. No governo de Theodore Roosevelt (1901-1909), os<br />

EUA assumem o papel de potência policial ocupando<br />

vários Estados-nações do Caribe e da América Central.<br />

II. O isolacionismo e o respeito pela autodeterminação<br />

dos povos marcam a política externa dos EUA desde o<br />

início do século XX.<br />

III. A política do big stick, proposta por Theodore<br />

Roosevelt, baseava-se na ideia de que os EUA estavam<br />

autorizados a impor seu estilo de vida aos países latinoamericanos.<br />

IV. A nova fase da política externa dos<br />

EUA, inaugurada por George W. Bush, baseia-se no<br />

complexo industrial militar e no fundamentalismo<br />

cristão.<br />

Está(ão) correta(s)<br />

dando sinal de ser insaciável na obtenção de vantagens<br />

comerciais e políticas sobre o resto do mundo. Tendo em<br />

vista essa vocação, é CORRETO afirmar:<br />

a) A doutrina Monroe foi a principal peça política<br />

engendrada pelo governo americano para justificar<br />

seu expansionismo a partir da primeira metade do<br />

século XIX.<br />

b) A política do Big Stick, do Governo Franklin<br />

Delano Roosevelt, foi criada para fazer oposição ao<br />

modelo protagonizado pela doutrina Monroe.<br />

c) Os americanos nunca propuseram oficialmente um<br />

imperialismo nas Américas. Somente tentaram<br />

conter os avanços do capitalismo europeu nesse<br />

continente.<br />

d) Semelhante na postura, mas diferente na ação, a<br />

invasão do Iraque hoje é um desdobramento da<br />

doutrina Monroe.<br />

22. (PASUSP) O Canal do Panamá foi construído em<br />

1914 pelos Estados Unidos, que controlaram sua<br />

administração por quase um século e só devolveram a<br />

soberania da área aos panamenhos em 1999. A atual<br />

ampliação do canal visa permitir o tráfego de navios de<br />

maior porte, atualmente utilizados com mais freqüência,<br />

em decorrência do aumento do volume do comércio<br />

internacional nas últimas décadas. Mais de 100 rotas de<br />

transporte marítimo passam pelo Canal do Panamá,<br />

sendo uma das principais aquela que liga o Extremo<br />

Oriente à costa leste dos Estados Unidos.<br />

a) apenas I e II.<br />

b) apenas II e III.<br />

c) apenas I, III e IV.<br />

d) apenas II, III e IV.<br />

e) apenas IV.<br />

21. (PUCMG) A expansão norte-americana não é uma<br />

questão que perturba somente o nosso tempo. Desde o<br />

final do século XIX que a política externa ianque vem<br />

Com base em seus conhecimentos, no mapa e no texto,<br />

indique a alternativa correta:<br />

369


a) O Canal do Panamá reduziu sensivelmente as<br />

distâncias a serem percorridas nas rotas marítimas<br />

entre as costas leste e oeste dos EUA.<br />

b) As rotas mais beneficiadas com a construção do<br />

Canal do Panamá são as que ligam a Europa e a<br />

África Ocidental à costa leste dos EUA.<br />

c) A ampliação do Canal do Panamá não deve<br />

apresentar um aumento significativo no tráfego do<br />

canal, já que os navios de maior porte não são<br />

utilizados intensamente nos dias de hoje.<br />

d) O Canal do Panamá apresenta importância<br />

estratégica e militar para os EUA, apesar da pouca<br />

relevância econômica referente às rotas comerciais<br />

marítimas.<br />

e) O Canal do Panamá não teve um papel significativo<br />

na circulação marítima internacional nem na<br />

estratégia de defesa militar dos EUA.<br />

23. (UERJ-2010)<br />

A caricatura acima, de 1904, e o cartaz publicitário da<br />

Coca-Cola, de 1944, apontam para contextos<br />

diferenciados das relações do governo dos EUA com<br />

países da América Latina.<br />

Cite uma ação da política externa norte-americana para a<br />

América Latina decorrente da política do Big Stick -<br />

“Grande Porrete”. Em seguida, nomeie e explique a nova<br />

orientação diplomática dos EUA para essa região durante<br />

a Segunda Guerra Mundial.<br />

370


GABARITO<br />

01. resposta: Depois de conquistar a independência<br />

em 1776, a nova nação inicou sua expansão territorial<br />

tendo como justificativa a ideologia do Destino<br />

Manifesto, ou seja, a certeza de que o povo norteamericano<br />

fora predestinado por Deus a ocupar e<br />

colonizar as terras que se estendiam até o Pacífico; havia<br />

sido escolhido por Deus para levar seus valores a<br />

territórios sob o poder de outros Estados ou dos “peles<br />

vermelhas”. A maior parte dos primeiros habitantes dos<br />

EUA eram protestantes que viam o lucro e as riquezas<br />

como consequência de uma escolha divina e do trabalho,<br />

e não como um pecado. Essa ética protestante foi um<br />

importante fator cultural que justificou a expansão<br />

territorial norte-americana sendo considerada natural e<br />

benéfica, e não uma agressão aos povos que já habitavam<br />

o território. Na realidade, a doutrina do Destino<br />

Manifesto justificou, no inicio, a conquista de terras até o<br />

limite natural imposto pelo Rio Mississipi (área original<br />

das Treze Colônias inglesas); posteriormente, foram<br />

conquistados novos territórios que se estendem até o<br />

oceano Pacífico. A incorporação de novos territórios fez<br />

parte do período do imperialismo interno, que se iniciou<br />

na independência que a nação americana obteve em<br />

relação à Inglaterra em 1776, e continuou durante o<br />

século XIX, no período conhecido como Marcha para o<br />

Oeste. A fome de terras dos imigrantes e as agressões<br />

cometidas em nome do Destino Manifesto dos EUA<br />

contribuíram para empurrar suas fronteiras desde o rio<br />

Mississípi até a costa oeste.<br />

02.<br />

A) resposta: Imperialismo, cuja principal característica<br />

econômica é utilizar os territórios dominados como<br />

mercado consumidor cativo dos interesses do país<br />

dominante.<br />

B) resposta: Identificava os efeitos nefastos e desumanos<br />

do expansionismo norte-americano para as nações<br />

dominadas.<br />

03. C<br />

04. B<br />

05. B<br />

06. E<br />

07. resposta: A Guerra de Secessão consistiu na luta<br />

entre 11 Estados Confederados do Sul latifundiário,<br />

aristocrata e defensor da escravidão, contra os Estados do<br />

Norte industrializado, onde a escravidão tinha um peso<br />

econômico bem menor do que no Sul. Estas diferenças<br />

estão entre as principais causas da guerra e têm origem<br />

ainda no período colonial: enquanto o desenvolvimento<br />

do Norte estava ligado à necessidade de crescimento do<br />

mercado interno e do estabelecimento de barreiras<br />

protecionistas, o crescimento Sulista era baseado<br />

precisamente no oposto, ou seja: o liberalismo<br />

econômico que abria todo o Mundo às agro-exportações<br />

e com mão-de-obra escrava (de origem africana) como<br />

base da produção.<br />

07.1 - A<br />

08. E<br />

09. 22<br />

10. B<br />

11. D<br />

12. C<br />

13. E<br />

14. FFVV<br />

15. C<br />

16. C<br />

18. B<br />

19. D<br />

20. C<br />

21. A<br />

22. A<br />

23 Resposta:<br />

Uma das ações:<br />

• interferência norte-americana na independência de<br />

Cuba e sua posterior intervenção políticae econômica<br />

nesse país, por meio da Emenda Platt<br />

• apoio norte-americano à independência do Panamá,<br />

viabilizando a conclusão da construção do canal e sua<br />

cessão aos EUA, bem como sua interferência comercial e<br />

financeira na região Política da Boa Vizinhança. Essa<br />

política baseou-se nos princípios da amizade, da<br />

371


cooperação e da reciprocidade como garantia da abertura<br />

de mercados e da diminuição da influência dos países do<br />

Eixo no continente americano.<br />

A expressão Big Stick (Grande Porrete) resultou de uma<br />

frase de efeito dita pelo presidente estadunidense<br />

Theodore Roosevelt para descrever o estilo de<br />

diplomacia norte-americana para a América Latina e é<br />

considerada como corolário da Doutrina Monroe. Ambas<br />

caracterizam a postura imperialista dos Estados Unindo<br />

no continente.<br />

A imposição da Emenda Platt, um dispositivo legal<br />

inserido na Constituição de Cuba, que autorizava os<br />

Estados Unidos da América a intervir naquele país a<br />

qualquer momento em que interesses recíprocos de<br />

ambos os países fossem ameaçados, bem como as<br />

intervenções norte-americanas na Nicarágua visando a<br />

construção de um canal interoceânico, são exemplos da<br />

execução do Big Stick .<br />

A partir do governo Franklin Roosevelt, teve início a<br />

Política da Boa Vizinhança (ou Good Neighbor Policy)<br />

que consistia em investimentos e venda de tecnologia<br />

norte-americana para os países latino-americanos, mas<br />

em troca, estes deviam dar apoio a política norte<br />

americana.<br />

Essa política promoveu o estreitamento das relações<br />

culturais entre os Estados Unidos América Latina.<br />

372


IMPERIALISMO<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Na segunda metade do século XIX, a expansão da<br />

Segunda Revolução Industrial na Europa redimensionou<br />

a relação desse continente com o resto do mundo a partir<br />

da intensificação de um vasto intercâmbio comercial. Ao<br />

iniciar-se o século XX, como necessidade dessa<br />

expansão, vastas extensões do território do planeta, em<br />

especial a África e a Ásia, encontravam-se apropriadas<br />

pelos países europeus, que impunha-lhes dominação<br />

política, aproveitamento econômico e imposição cultural;<br />

além dos territórios europeus, os EUA e o Japão também<br />

atuavam nessa ação expansionista colonizadora.<br />

Nessa segunda fase da Revolução Industrial, o<br />

surgimento de grandes empresas ou corporações que<br />

dominavam determinados setores produtivos levaram a<br />

um novo processo de imposição de monopólios, que se<br />

diferenciava daquele da Era Mercantilista, por ser<br />

essencialmente de natureza privada e não estatal, como<br />

outrora. Aos Estados, cabia a função de garantir as<br />

condições para o desenvolvimento das grandes empresas<br />

de seu país, garantindo as condições para sua projeção,<br />

retomando o ímpeto colonial e promovendo a literal<br />

partilha de imensas áreas, valendo-se de um discurso<br />

civilizador e, quando necessário, da supremacia militar; o<br />

resultado mais evidente desse processo, foi o início de<br />

uma profunda exploração nas regiões periféricas do<br />

planeta, bem como do acirramento das rivalidades entre<br />

as grandes potencias internacionais.<br />

França e Inglaterra, em razão da precocidade de sua<br />

modernização industrial, foram os primeiros países em<br />

expansão neocolonial. Itália e Alemanha, por decorrência<br />

do processo tardio de unificação política, retardaram seu<br />

processo de conquistas, mas ao manifestarem seu<br />

interesse em ocupar novas áreas, acirraram a rivalidade<br />

com as potências tradicionais, fator que seria um dos<br />

determinantes da Primeira Guerra Mundial, no início do<br />

século XX.<br />

No período entre 1870 e 1873, a Europa viveu uma<br />

gravíssima crise de super produção, associada ao próprio<br />

crescimento da produção industrial e ao acirramento das<br />

ações monopolistas. Esse monopólio ´podia ocorrer de<br />

maneira horizontal, ou vertical, através dos trustes,<br />

holdings e cartéis. Entre os elementos dessa crise,<br />

citamos, a restrição de consumidores, em oposição ao<br />

crescimento exagerado d produção, a diminuição da<br />

oferta de matéria prima e o esgotamento de fontes<br />

energéticas na Europa, a concorrência acirrada entre os<br />

países envolvidos no processo, o crescimento<br />

demográfico e, a necessidade de reinvestir capitais para<br />

garantir a continuidade dos ganhos. Foi nesse contexto,<br />

que a solução apontada para a crise foi a abertura de<br />

novos mercados consumidores, conquista de áreas<br />

fornecedoras de matéria prima, disponíveis para<br />

reserva de excedentes populacionais europeus e com<br />

oferta de mão de obra barata, justificando a<br />

necessidade de uma política imperialista para anexação<br />

de novas colônias na África e Ásia.<br />

Para tornar justificável a submissão política e econômica<br />

de outros povos e nações, intelectuais a serviço de<br />

Estados e interesses europeus, formularam uma<br />

justificação em torno de uma suposta missão<br />

civilizadora, com o objetivo de adequar as populações<br />

africanas e asiáticas ao modelo civilizacional europeu.<br />

Para tanto, valeram-se da adequação da teoria darwinista,<br />

para construir o conceito de darwinismo social, que<br />

naturalizava a dominação de povos inferiores por povos<br />

superiores; tratava-se de uma responsabilidade honrosa e<br />

trabalhosa para os europeus, o chamado “fardo do<br />

homem branco”.<br />

373


TEXTO COMPLEMENTAR<br />

A Revolução Industrial trouxe uma nova realidade<br />

para a política e a economia mundial, ressurgiam as<br />

políticas de exploração colonial iniciadas pelos Estados<br />

Modernos no século XVI. No final do século XIX, dois<br />

terços do mundo estavam sob o controle das potências<br />

industrializadas europeias. Na alegoria abaixo, o escritor<br />

francês ironiza a situação:<br />

“Chegado a uma vasta praça, viu o pórtico de um<br />

palácio em estilo clássico. Enquanto, parado, ele o<br />

admirava com a cabeça tombada para trás, foi abordado<br />

por um homem de aparência modesta que lhe disse em<br />

pinguim:<br />

- Vejo pelo seu traje que o senhor é da Pinguínia.<br />

Conheço a vossa língua sou interprete juramentado. Esse<br />

palácio é o Parlamento. Nesse instante, os deputados<br />

estão a deliberar. Gostaria de assistir à sessão?<br />

Introduzidos em uma galeria, o doutor percorreu com<br />

os olhos a multidão de legisladores (...) O presidente<br />

levantou-se e balbuciou antes que articulou, em meio à<br />

desatenção geral, as Formulas seguintes, que o intérprete<br />

ia traduzindo para o doutor:<br />

- Estando terminada a guerra pela abertura dos<br />

mercados mongóis a contento do Estado, proponho que<br />

as contas sejam submetidas à comissão de finanças...<br />

- Nenhuma objeção?<br />

- Proposta aprovada.<br />

- Estando terminada a guerra pela abertura dos<br />

mercados Terceira Zelândia a contento do Estado,<br />

proponho que as contas sejam submetidas à comissão de<br />

finanças...<br />

- Nenhuma objeção?<br />

- Proposta aprovada<br />

- Terei entendido bem? – perguntou o professor<br />

Obnubile. – O quê! Vós, uma nação industrial, engajada<br />

em todas essas guerras!<br />

- Claro – respondeu o intérprete. – São guerras<br />

industriais. Os povos que não tem comércio nem<br />

indústrias não tem que fazer a guerra; mas um povo de<br />

negócios é obrigado a uma política de conquistas. O<br />

número de nossas guerras aumenta necessariamente com<br />

a nossa atividade produtora. A partir do momento em<br />

que uma indústria não consegue escoar seus produtos, é<br />

preciso uma guerra que lhe abra novos mercados. Assim<br />

374<br />

é que tivemos este ano uma guerra do carvão, uma guerra<br />

do cobre e uma guerra do algodão. Na Terceira Zelândia,<br />

exterminamos dois terços da população para obrigar os<br />

restantes a comprar guarda-chuvas e suspensórios.<br />

Nesse instante, um homem corpulento que estivera<br />

sentado no centro da assembleia subiu à tribuna:<br />

- Requeiro – disse ele – uma guerra contra o governo<br />

da República da Esmeralda que disputa insolentemente<br />

com os nossos porcos a hegemonia dos presuntos e<br />

salsichas em todos os mercados do mundo.<br />

- Quem é aquele legislador? – perguntou o doutor<br />

Obnubile.<br />

- É um negociante de porcos.<br />

- Não há contestação? – perguntou o presidente? –<br />

Ponho a proposta em votação.<br />

A guerra contra a República da Esmeralda foi votada<br />

com mãos levantadas por esmagadora maioria.<br />

- Como? – disse Obnubile ao intérprete – Os senhores<br />

votam uma guerra com tanta rapidez e indiferença?<br />

- Ora, é uma guerra sem importância, que não custará<br />

mais de oito milhões de dólares.<br />

- E homens...”<br />

Visões do imperialismo pelo escritor francês Anatole France no livro: A ilha dos<br />

Pinguins (1907) citação páginas 136-13<br />

2. A PARTILHA DA ÁFRICA


Desde o período das Grandes Navegações, no século<br />

XV, intensificara-se a relação comercial entre a Europa e<br />

a África, que no Medievo esteve bastante restrito às áreas<br />

em torno do Mediterrâneo e Mar Vermelho; na Idade<br />

Moderna, a África se tornou fundamental ao comércio<br />

internacional, especialmente no fornecimento de<br />

especiarias como marfim, pimenta, ouro etc., mas,<br />

principalmente, pelo intenso comércio de escravos que<br />

abastecia a mão de obra das áreas coloniais americanas.<br />

Apesar do intenso contato, poucas áreas do continente<br />

africano foram submetidas à colonização moderna,<br />

especialmente aquelas de dominação portuguesa, ou sob<br />

domínio do Império Turco Otomano ao norte,<br />

preservando-se a autonomia política da maior parte do<br />

território.<br />

A grande oferta de matéria-prima e riquezas naturais, a<br />

enorme densidade demográfica que disponibilizava mãode-obra<br />

barata (o que explica o esforço europeu,<br />

especialmente inglês, em se esforçar para coibir o tráfico<br />

de escravos para a América no século XIX) e a<br />

possibilidade de converter essas populações em um vasto<br />

mercado consumidor, atraiu a atenção dos europeus para<br />

o continente africano, com o objetivo de promover uma<br />

ação imperialista. O marco essencial da dominação<br />

europeia na África, foi a Conferência de Berlim (1885-<br />

87). Convocada pelo chanceler alemão Otto von<br />

Bismarck, essa Conferência visava atenuar a disputa<br />

entre os países europeus pelo aproveitamento das terras<br />

africanas, definindo-se normas para a ocupação<br />

territorial, que resultou numa equivocada e desastrosa<br />

partilha territorial do continente.<br />

Ilustração da Partilha da África pela Conferência de Berlim.<br />

No caso da dominação africana, merece destaque a<br />

disputa pela região da África do Sul, alvo da disputa<br />

entre ingleses e holandeses. As regiões de Orange,<br />

Transvaal e região do Cabo, ricas em pedras preciosas,<br />

tornou-se alvo do interesses expansionista inglês, que<br />

chocou-se com as populações de origem holandesa que<br />

já se faziam presentes na região desde o século XVIII. A<br />

reação anti-inglesa culminou na Guerra dos Bôeres<br />

(1999-1902), que resultou na vitória dos ingleses e na<br />

sua hegemonia no sul da África, resultando na formação<br />

da União Sul africana em 1910 (Cabo, Transvaal, Orange<br />

e Natal).<br />

Nessa mesma região, a noção de superioridade dos<br />

brancos ingleses sobre a população negra local, resultaria<br />

na institucionalização do mais violento processo de<br />

institucionalização do racismo, o apartheid, que<br />

continuou a privilegiar os brancos e excluir a maioria<br />

negra dos sul africanos, mesmo após a descolonização<br />

africana, até finais do século XX.<br />

No norte da África, um momento de choque de interesses<br />

entre potências europeias se manifestou no Egito,<br />

resultante dos interesses envolvendo ingleses e franceses<br />

na construção do Canal de Suez. Desde o governo de<br />

Napoleão III, a França se projetou em seu imperialismo<br />

na região, estabelecendo o controle por áreas como a<br />

Tunísia, Argélia, Senegal e parte do Congo, enquanto<br />

mantinha administração compartilhada do Egito com os<br />

ingleses; construíram, em 1869, o Canal de Suez,<br />

objetivando facilitar o acesso às fontes energéticas e<br />

mercados consumidores no Oriente Médio através da<br />

travessia entre o mediterrâneo ao Mar Vermelho. O<br />

endividamento dos egípcios com a Inglaterra garantiu a<br />

dominação dos ingleses sobre o Canal, e gerou reações<br />

nacionalistas do país africano, que sem sucesso, viria a se<br />

constituir em protetorado inglês em 1882, consolidando a<br />

dominação imperialista na região.<br />

Outro palco de disputas entre as nações europeias no<br />

continente africano foi a região do Marrocos, que<br />

colocou em conflito, especialmente franceses e alemães,<br />

agravando as tensões e rivalidades que estariam na<br />

origem da Primeira Guerra Mundial, posteriormente.<br />

Desde os fins do século XIX, o Marrocos, assim como<br />

todo o restante da África, serviu como palco de várias<br />

disputas imperialistas. Observando esse quadro, grandes<br />

nações europeias envolvidas nessa situação resolveram<br />

estabelecer um acordo sobre o assunto com a realização<br />

da Convenção de Madri, em 1880. Naquele momento,<br />

ficava acordado que franceses, alemães e britânicos<br />

375


teriam direitos iguais na exploração comercial do<br />

território marroquino.<br />

Entretanto, algumas décadas mais tarde, essa definição<br />

foi transgredida quando a França decidiu reconhecer a<br />

hegemonia inglesa no Egito e, em troca, recebeu apoio<br />

para conquistar o território marroquino. Através desse<br />

conchavo, os alemães se sentiram ameaçados e<br />

consideraram que a isonomia da Convenção de Madri<br />

estava sendo desrespeitada. Com isso, em 1905, o kaiser<br />

alemão Guilherme II desembarcou no país defendendo a<br />

independência do estado marroquino.<br />

Através dessa ação, a Alemanha visava abalar a aliança<br />

existente entre a França e o sultão do Marrocos, que<br />

auxiliava os franceses no combate e controle das<br />

lideranças tribais do país. A crise diplomática criada por<br />

esse impasse acabou sendo resolvida na Conferência de<br />

Algeciras (1906), onde os interesses da França e da<br />

Alemanha foram, mais uma vez, igualmente<br />

reconhecidos.<br />

Anos mais tarde outras crises de hegemonia voltaram a<br />

acontecer. Dessa forma, a rivalidade entre franceses e<br />

alemães cresciam em dimensões preocupantes. O<br />

impasse sobre a dominação ao Marrocos só foi resolvida<br />

quando os alemães abriram mão do direito de exploração<br />

em troca das terras do Congo Francês. Apesar da<br />

compensação oferecida, os alemães ainda se sentiram<br />

prejudicados. Assim se dava o fim de uma das várias<br />

rivalidades que antecederam a Primeira Guerra Mundial.<br />

A duradoura dominação europeia nesse continente<br />

acarretou consequências nocivas e bastante evidentes;<br />

destacam-se, principalmente, a destruição das estruturas<br />

tradicionais de organização social e econômica, a criação<br />

de fronteiras artificiais que separou populações e acirrou<br />

rivalidades desdobradas em violentos conflitos étnicos, e<br />

uma profunda dependência política e econômica que<br />

ainda hoje se perpetuam mesmo nos países<br />

independentes pós descolonização.<br />

3. PARTILHA DA ÁSIA<br />

O interesse do imperialismo europeu pelo continente<br />

africano está diretamente relacionado ao potencial<br />

mercado consumidor que as grandes demografias<br />

asiáticas propiciavam. Também como relação aos<br />

asiáticos, o discurso da suposta inferioridade dos grupos<br />

étnicos amarelos, foram utilizados para justificar a<br />

dominação daquele continente, sob a argumentação do<br />

exercício de uma missão civilizadora.<br />

376<br />

3.1 O caso indiano<br />

A Índia tornou-se um dos casos clássicos de dominação<br />

imperialista, tornando-se uma das regiões mais<br />

estratégicas ao poderio da Inglaterra durante a Era<br />

Vitoriana, no século XIX e, na primeira metade do<br />

século XX. O interesse inglês na Índia teve início a partir<br />

do século XVIII< quando o país interessou-se por<br />

participar do comercio de especiarias e produtos exóticos<br />

que tradicionalmente estavam relacionados àquela<br />

região. AS disputa pelo controle econômico da região é<br />

um dos pilares da chamada Guerra dos 07 Anos, que<br />

confrontou franceses e ingleses entre 1756 e 1763. Com<br />

a vitória inglesa no conflito, o comercio indiano com o<br />

Ocidente passou a ser monopolizado pela Companhia de<br />

Comércio das Índias Orientais. A partir de 1858, com a<br />

crise envolvendo os administradores da Companhia, o<br />

Estado Inglês passou a assumir prerrogativas cada vez<br />

maior de controle dos indianos, a fim de garantir a<br />

ampliação de mercado consumidor e complemento à<br />

desenvolvida indústria têxtil inglesa.<br />

O Estado indiano, de maioria religiosa hindu,<br />

mantinha uma intransigente divisão social de explicação<br />

religiosa baseada no sistema de castas e, tinha sua<br />

economia baseada na agricultura e nas pequenas<br />

manufaturas artesanais de tecidos de luxo.<br />

Com a introdução cada vez maior das fábricas inglesas,<br />

explorava-se a mão de obra barata dos indianos,<br />

transferia-se capitais para essa região expandindo essas<br />

fabricas, acomodava-se excedentes de população na<br />

administração do território, mas prejudicava seriamente<br />

as pequenas manufaturas, incapazes de concorrer com as<br />

grandes fábricas, ao tempo que acarretava uma enorme<br />

dependência da população local à exploração dos<br />

interesses ingleses.<br />

A população indiana, entretanto, não permaneceu<br />

completamente impassível a essa situação. Entre 1857 e<br />

1859, deu-se a chamada Revolta dos Sipaios. Essas<br />

tropas eram de composição indiana, treinadas por<br />

franceses e a serviço da Companhia das Índias Orientais,<br />

que se levantou contra a dominação inglesa, insatisfeitos<br />

com a excessiva imposição de costumes ocidentais e<br />

desrespeito às tradições orientais (por exemplo, o<br />

suposto uso de banha de porco e de vaca nos cartuchos<br />

de suas armas, quando a vaca era animal sagrado aos<br />

hindus e imundo aos muçulmanos), até a reclamação por<br />

baixos soldos e mistura de castas entre os soldados.<br />

Os Sipaios lideraram vários atentados violentos contra<br />

autoridades e representações inglesas, exigindo o fim do


domínio inglês na região, mas que seriam duramente<br />

reprimidos por tropas inglesas, apoiadas por grupos<br />

indianos que se beneficiavam de privilégios dados pelos<br />

ingleses, assegurando a dominação completa com a Índia<br />

Transformada em Protetorado Britânico.<br />

Ainda assim, alguns grupos de intelectuais mantiveram<br />

ao longo da dominação inglesa, um movimento de<br />

resistência pacífica, que buscava apropriar-se de alguns<br />

aspectos culturais ingleses em favor do desenvolvimento<br />

da Índia e buscar representação política junto à<br />

Metrópole. Em 1885, seria criado o Partido do<br />

Congresso Nacional, que embora controlado pela Coroa<br />

Britânica, era um partido de representação nativa, que<br />

mais tarde seria um dos principais responsáveis pela<br />

independência da Índia.<br />

3.2 O caso chinês<br />

Charge Ilustrativa da Dominação Europeia na China<br />

Com 400 milhões de habitantes já no século XIX, a<br />

China era o país mais populoso do mundo e, portanto,<br />

com condições de ser um poderoso mercado consumidor,<br />

tão imprescindível às necessidades imperialistas da<br />

Segunda Revolução Industrial. Sob um governo<br />

autoritário e impopular, a China optava por uma política<br />

econômica de isolamento em relação ao Ocidente,<br />

dificultando o consumo dos produtos ocidentais, mas<br />

oferecendo produtos luxuosos como o chá e a porcelana.<br />

A Inglaterra estava entre os principais países interessados<br />

em desbravar o mercado chinês, já que a produção de<br />

ópio na fronteira indiana com Índia, abria o precedente<br />

para o contrabando de bens valiosos como a seda, arroz e<br />

porcelana com os chineses em troca da droga. Os<br />

ingleses, estimulavam cada vez mais o consumo da<br />

droga, levando os chineses a formalizarem reclamações e<br />

protestos ao governo inglês contra a ação devastadora da<br />

droga, que atingia os mais variados estratos sociais da<br />

China.<br />

Não atendidos pela diplomacia inglesa, o governo chinês<br />

autorizou a destruição de um enorme carregamento de<br />

20000 caixas de ópio inglês destinado à China,<br />

fornecendo a desculpa necessária para que os ingleses<br />

promovessem uma intervenção militar que forçasse os<br />

chineses à abertura de seus mercados. Era a Guerra do<br />

Ópio (1840-1842), quando a superioridade bélica inglesa<br />

massacrou a resistência chinesa. A china foi obrigada a<br />

se submeter aos Tratados Desiguais, como o Tratado de<br />

Nanquim, que passou a ilha de Hong Kong à Inglaterra<br />

(mantido até 1997) e abriu pelo menos cinco portos<br />

chineses ao comercio internacional.<br />

Entre os anos de 1856 e 858, a China enfrentaria ainda<br />

Segunda e Terceira Guerras do Ópio, quando dessa vez<br />

ingleses e franceses colaboraram reciprocamente para<br />

enfrentar os chineses. Vitoriosas as potências ocidentais,<br />

impôs –se o Tratado de Pequim (1860), que dividiu o<br />

país em várias áreas de influência econômica entre as<br />

principais nações imperialistas, no chamado break up da<br />

China. Mais tarde, os EUA também reclamariam direitos<br />

sobre aquele mercado, defendendo uma política de portas<br />

abertas na China ao livre comercio; escancara-se assim o<br />

vasto mercado chinês aos interesses imperialistas.<br />

Em consequência da dominação estrangeira, os chineses<br />

desenvolveram uma profunda xenofobia, que orientou os<br />

movimentos de resistência no país. Entre 1851 e 1864,<br />

promoveu-se a chamada Revolução Taiping,<br />

encabeçada por camponeses, de caráter nacionalista, que<br />

defendia o fortalecimento do governo chinês, a não<br />

divisão do território sob influência ocidental e a<br />

distribuição de terras em favor de uma sociedade<br />

igualitária. Foram duramente reprimidos por grupos da<br />

elite chinesa apoiados por forças militares estrangeiras.<br />

Décadas depois, entre 1900-1901, ainda contra a<br />

opressão ocidental, tivemos a Guerra dos Boxers,<br />

quando um grupo de lutadores de artes marciais,<br />

representados na Sociedade dos Punhos Fechados,<br />

promoveu uma série de atentados a diplomatas e<br />

missionários religiosos estrangeiros. Uma forca<br />

multinacional de ingleses, japoneses, americanos,<br />

alemães e franceses sufocaram a mobilização dos<br />

Boxers.<br />

377


Assim como a China, o Japão também buscou uma<br />

política de isolamento em relação ao Ocidente, mantendo<br />

até o século XIX uma estrutura organizacional muito<br />

próxima aos moldes feudais, chamada xogunato. Era<br />

governado por um Imperador, o Micado, que na prática,<br />

exercia função figurativa. Destacava-se os governos<br />

locais, chefiados pelos daimios (nobreza aristocrata), que<br />

exploravam a classe camponesa. Sua autoridade se<br />

sustentava numa classe de guerreiros leais, os samurais.<br />

A abertura econômica japonesa deu-se por iniciativa dos<br />

interesses estadunidenses, quando em 1854 a Esquadra<br />

Perry forcou os japoneses a abrirem seus portos, sob a<br />

ameaça de bombardeio da Baía de Tóquio. A dinastia<br />

Tokugawa, que desde o século XVII governavam o<br />

Japão, foi obrigada a abrir os portos de Shimoda e<br />

Hakodate ao comercio norte-americano.<br />

Em resistência, a população japonesa se mobilizou pela<br />

derrubada do regime de xogunato, promovendo uma<br />

política de centralização de poder com a ascensão do<br />

Imperador Mutsuhito, inaugurando a Dinastia Meiji. Em<br />

nome da modernização do país, a servidão foi abolida, os<br />

samurais destituídos através da reestruturação para um<br />

exército nacional, desenvolveu as comunicações e as<br />

estradas de ferro, instituiu o iene como padrão monetário<br />

e investiu largamente em educação e formação de<br />

quadros intelectuais formados no exterior.<br />

Através de um pesado investimento em desenvolvimento<br />

industrial, controlados por uma rígida ação estatal,<br />

formando grandes conglomerados econômicos, e com<br />

um exército moderno e infraestrutura desenvolvidos, o<br />

Japão sai da condição de área explorada para se<br />

constituir no primeiro país da Ásia a ingressa Segunda<br />

Revolução industrial, tornando-se uma potência<br />

imperialista.<br />

A China, tornou-se também alvo desse imperialismo,<br />

quando o Japão também reivindicou participação no<br />

comercio chinês, além da intenção em se apropriar–se de<br />

territórios estratégicos, que determinou a Guerra Sino-<br />

Japonesa(1894-1895); vitorioso, o Japão obrigou a<br />

China a reconhecer a independência da Coreia, mais<br />

tarde incorporada ao domínio japonês (1910), como<br />

também passou a dominar a ilha de Formosa. Outro<br />

conflito envolvendo os interesses imperialistas japoneses<br />

foi a Guerra Russo-Japonesa, de 1904, quando o<br />

interesses entre as duas nações se chocaram na disputa<br />

pela Manchúria, rica em minério de fero, onde mais uma<br />

378<br />

3.3 Japão<br />

vez, o Japão sagrou-se vitorioso, com apoio<br />

estadunidense, que temia uma expansão russa no Oriente.<br />

4. IMPERIALISMO NA AMÉRICA<br />

A América também foi alvo da dominação imperialista,<br />

tendo os EUA como principal potência a se beneficiar da<br />

dominação indireta sobe os Estados americanos,<br />

especialmente na América Central e Caribe. Desde o<br />

século XVIII, a tendência imperialista dos EUA já se<br />

evidenciava, corporificando-se no século XIX com a<br />

expansão para o Oeste, suprimindo interesses de<br />

populações nativas e dos mexicanos, por exemplo, no<br />

intuito de constituir um país forte e poderoso. Em<br />

paralelo à expansão, desenvolvia-se a Doutrina do<br />

Destino Manifesto, que reafirmava o papel dos EUA<br />

como Nação escolhida por Deus para levar a civilização,<br />

o progresso e a ordem à toda América, constituindo-se<br />

numa adaptação do discurso da Missão Civilizadora<br />

produzido pelos europeus.<br />

Alguns autores situam a Doutrina Monroe (1823),<br />

apresentada pelo presidente James Monroe, como o<br />

marco da ação imperialista estadunidense. Por meio dela<br />

e do slogan “América para os americanos”, os EUA se<br />

dispunham inclusive a utilizara intervenção armada, para<br />

restringir a influência europeia no continente, impedindo<br />

a vinda das tropas da Santa Aliança, que objetivavam<br />

impedir os movimentos de libertação colonial; ademais,<br />

apressou-se em apoiar outros processos de<br />

independência, formalizando o reconhecimento de novos<br />

países, a exemplo do que ocorrera com o Brasil, em<br />

1824.


No começo do século XX, a ação imperialista americana<br />

na América ganha um novo status, quando em 1901, o<br />

presidente republicano Theodore Roosevelt, idealizou a<br />

política chamada de Big Stick, sintetizada no adágio<br />

“Fale macio, mas tenha um porrete à mão”. O conjunto<br />

de medidas reunidos no Corolário Roosevelt,<br />

preconizava e justificou, intervenções armadas e<br />

violentas para assegurar os interesses econômicos dos<br />

EUA, especialmente na América Central e Caribe,<br />

supostamente em nome da ordem e da liberdade. Um<br />

grande exemplo do imperialismo estadunidense ocorreu<br />

em Cuba, um dos últimos países a se livrarem da<br />

dominação colonial espanhola na América. Como<br />

empresas americanas possuíam grandes investimentos<br />

econômicos na região, os americanos se interessavam<br />

pela emancipação da ilha, o que justificou uma guerra<br />

contra a Espanha, a partir de 1898, para justificar o apoio<br />

a ser dado à independência cubana. Derrotada, a Espanha<br />

reconheceu em 1898 a independência de Cuba, além de<br />

ceder os territórios das Filipinas e Porto Rico aos EUA.<br />

Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos EUA a Emenda<br />

Platt, que foi incorporada à Constituição cubana, dando<br />

aos estadunidenses o direito de intervir militarmente em<br />

Cuba, em caso de desordem. A Emenda previa também a<br />

reserva dos recursos naturais cubanos à exploração das<br />

empresas estadunidenses, além do direito de construir<br />

bases militares no país, a exemplo da base de<br />

Guantánamo.<br />

1. (UERJ 2013)<br />

EXERCICÍOS<br />

Na década de 1930, foi publicada a primeira edição da<br />

história em quadrinhos em que o personagem Tintim, um<br />

jovem repórter belga, faz uma expedição ao Congo,<br />

colônia do seu país na época.<br />

Com base nas imagens e nos diálogos apresentados,<br />

nota-se que Tintim simbolizava as práticas de<br />

colonização europeia na África, associadas à política de:<br />

a) integração étnica<br />

b) ação civilizadora<br />

c) cooperação militar<br />

d) proteção ambiental<br />

2. (UFSC 2013) A África é tão pouco uniforme cultural<br />

quanto geograficamente. Os africanos não são uma raça<br />

de pretos primitivos, nem é a África um continente sem<br />

uma velha história, como ainda se pensa geralmente. [...]<br />

São marcantes suas diferenças culturais, étnicas e<br />

linguísticas. Seu passado, embora não raro obscuro, não<br />

é a crônica de um isolamento. Desde o tempo dos<br />

primeiros hominídeos que viveram há um milhão de anos<br />

no desfiladeiro de Olduvai, a África desempenhou<br />

importante papel na história da humanidade [...].<br />

LOMMEL, Andreas. A arte pré-histórica e primitiva. Encyclopedia Britannica do<br />

Brasil Publicações. 7. ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1979. p.140-<br />

141,143, 162. In: FARIA, Ricardo de Moura. Estudos de <strong>História</strong>. v. 1. São<br />

Paulo: FTD, 2010. p. 37.<br />

379


Em relação à história da África e de seu povo, assinale<br />

a(s) proposição(ões) CORRETA(S).<br />

01) Além dos egípcios, vários outros povos habitavam o<br />

continente africano no período correspondente à<br />

chamada Idade Antiga.<br />

02) A expansão marítima europeia dos séculos XV e<br />

XVI transformou a costa africana em espaço<br />

privilegiado para a formação de feitorias e,<br />

consequentemente, em fonte de mão de obra e matériaprima.<br />

04) O neocolonialismo europeu sobre o continente<br />

africano no século XIX estava relacionado à ideia de<br />

“missão civilizadora” e às ideologias de progresso e<br />

superioridade racial branca.<br />

08) Com a expansão islâmica, todo o norte africano foi<br />

dominado pelos árabes através da fundação de diversos<br />

califados; entretanto, durante a Idade Média, o avanço<br />

das cruzadas recuperou definitivamente a região para o<br />

domínio cristão.<br />

16) Mesmo a contragosto das principais potências<br />

europeias, as fronteiras entre os países africanos,<br />

estabelecidas pela Conferência de Berlim (1884-85),<br />

tiveram que respeitar as questões étnicas e culturais por<br />

determinação da Organização das Nações Unidas<br />

(ONU).<br />

32) Os processos de independência na África,<br />

intensificados logo após a década de 1950, ocorreram<br />

através de acordos pacíficos que promoveram o<br />

endividamento e a dependência dos novos países, mas<br />

evitaram a deflagração de conflitos e guerras civis.<br />

3. (Upe 2013) A charge a seguir faz referência ao<br />

capitalista Cecil Rhodes, que investiu no expansionismo<br />

imperialista inglês.<br />

380<br />

Com base na charge e nos conteúdos referentes ao<br />

neocolonialismo, analise as seguintes afirmações:<br />

I. Podemos afirmar que os pés do capitalista estão<br />

assentados obre as duas únicas possessões inglesas na<br />

África: Egito e África do Sul.<br />

II. A projeção do personagem em relação ao continente<br />

expressa também a dimensão do interesse da Inglaterra<br />

pelos territórios africanos.<br />

III. Os países europeus dividiram a África entre si,<br />

respeitando suas especificidades étnicas, religiosas e<br />

linguísticas.<br />

IV. O Canal de Suez pode ser considerado uma<br />

consequência da presença inglesa na África.<br />

V. O preconceito dos ingleses com os africanos foi de tal<br />

monta que deixou marcas até o presente, como o<br />

Apartheid na África do Sul.<br />

Estão CORRETAS<br />

a) I, II e III.<br />

b) I, II e V.<br />

c) II, IV e V.<br />

d) III, IV e V.<br />

e) I, III e IV.<br />

4. (UERJ 2011)<br />

No final do século XIX, os europeus defendiam seus<br />

interesses imperialistas nas regiões africanas e asiáticas,<br />

justificando-os como missão civilizatória.<br />

Uma das ações empreendidas pelos europeus como<br />

missão civilizatória nessas regiões foi:


a) aplicação do livre comércio<br />

b) qualificação da mão de obra<br />

c) padronização da estrutura produtiva<br />

d) modernização dos sistemas de circulação<br />

5. (UFSM 2012) Analise e complete o esquema histórico<br />

correspondente ao mundo do final do século XIX e início<br />

do século XX.<br />

a) Cite duas áreas de influência (colônias ou não) das<br />

potências europeias nas Américas, no referido período, e<br />

identifique as potências que dominavam tais áreas.<br />

b) As elites locais, em sua maioria, também<br />

corroboraram, à época, as ideias de progresso e de<br />

civilização veiculadas pelas potências europeias.<br />

Medidas autoritárias e repressivas foram dirigidas ao<br />

elemento nativo, somadas a políticas de<br />

“branqueamento” de populações, pela via da imigração.<br />

Dê o exemplo de dois países latino-americanos que se<br />

destacaram no período pondo em execução essas práticas<br />

7. (FGVRJ 2013) Entre novembro de 1884 e fevereiro<br />

de 1885, representantes de países europeus, dos Estados<br />

Unidos e do Império Otomano participaram de<br />

negociações sobre o continente africano. O conjunto de<br />

reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de<br />

Berlim, tratou da<br />

Completam o quadro superior e inferior do esquema<br />

histórico, respectivamente, os seguintes conceitos:<br />

a) Mercantilismo e Iluminismo.<br />

b) Imperialismo e Racismo.<br />

c) Colonialismo e Destino Manifesto.<br />

d) Capitalismo e Predestinação.<br />

e) Globalização e Neoliberalismo<br />

a) incorporação da Libéria aos domínios norteamericanos,<br />

em troca do controle da África do Sul<br />

pela Inglaterra e Holanda.<br />

b) independência de Angola e Moçambique e da<br />

incorporação do Congo ao império ultramarino<br />

português.<br />

c) ocupação e do controle do território africano de<br />

acordo com os interesses das diversas potências<br />

representadas.<br />

d) condenação do regime do Apartheid estabelecido na<br />

África do Sul e denunciado pelo governo britânico.<br />

e) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à<br />

transformação do Egito em protetorado da<br />

Alemanha.<br />

8. (Unicamp 2013) As exposições universais do século<br />

XIX, sobretudo as de Londres e Paris, se caracterizavam<br />

6. (PUCRJ 2013) Visões eurocêntricas, a partir das<br />

ideias de superioridade racial e intolerância religiosa,<br />

acompanharam e justificaram a violência da dominação<br />

das potências ocidentais de fins do século XIX.<br />

Considerando os povos colonizados “pouco<br />

desenvolvidos” ou “em estado de barbárie”, os<br />

governantes dessas potências não raramente fizeram uso<br />

de um suposto “sentido de missão” para justificar as<br />

suas práticas de dominação.<br />

a) pelo louvor à superioridade europeia e pela<br />

apresentação otimista da técnica e da ciência.<br />

b) pela crítica à expansão sobre a África, movimento<br />

considerado um freio ao progresso europeu.<br />

c) pela crítica marxista aos princípios burgueses<br />

dominantes nos centros urbanos europeus.<br />

d) pelo elogio das sociedades burguesas associadas às<br />

vanguardas da época, como o Cubismo, o Dadaísmo<br />

e o Surrealismo.<br />

381


9. (UFSM 2011) Analise a charge representada a seguir.<br />

NOSSA GUARDA “IMPERIAL”<br />

Lord B. (Benjamin Disraeli) diz: — Você os tem ajudado<br />

continuamente, Madame.<br />

Índia (soldado indiano) diz: — E, agora, eu venho para<br />

ajudar vocês.<br />

[A Grã-Bretanha não sabe exatamente como a Índia fará isso] Charge de maio de<br />

1878. Disponível em: india.asp>. Acesso em: 26 mar. 2012. [Adaptado].<br />

A charge apresentada ironiza o envio de tropas indianas<br />

pelo governo britânico para garantir a posse da ilha de<br />

Malta, em 1878. Ela expressa um conceito que permeia a<br />

política externa inglesa no período vitoriano.<br />

Considerando-se o exposto,<br />

a) identifique o conceito que sintetiza a ação política<br />

britânica, no período.<br />

b) Explique de que forma a charge faz referência ao<br />

tratamento reservado às populações coloniais.<br />

10. (UEG 2012)<br />

382<br />

As tiras são um importante instrumento linguístico em<br />

que a linguagem verbal e a não verbal combinam-se na<br />

construção de um recurso comunicativo humorístico e, às<br />

vezes, crítico da realidade<br />

Nesse sentido, a tira citada é pertinente para se fazer uma<br />

leitura<br />

a) adequada das lutas dos movimentos negros norteamericanos<br />

dos anos 1970, já que conseguiram<br />

significativos avanços sociais.<br />

b) ingênua da Abolição da escravatura brasileira, já que<br />

persistiu a desigualdade social e econômica entre<br />

negros e brancos.<br />

c) irônica da colonização europeia do continente<br />

africano, justificada ideologicamente pela ideia de<br />

“missão civilizadora”.<br />

d) negativa da democracia sul-africana, uma vez que o<br />

fim do Apartheid não garantiu igualdade econômica<br />

aos negros.<br />

11. (Fuvest 2012) Leia este texto, que se refere à<br />

dominação europeia sobre os povos e terras africanas.<br />

Desde o século XVI, os portugueses e, trezentos anos<br />

mais tarde, os franceses, britânicos e alemães souberam<br />

usar os povos [africanos] mais fracos contra os mais<br />

fortes que desejavam submeter. Aliaram-se àqueles e<br />

somaram os seus grandes números aos contingentes, em<br />

geral pequenos, de militares europeus.<br />

Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro:<br />

Agir, 2008, p. 98.<br />

a) Diferencie a presença europeia na África nos dois<br />

períodos aos quais o texto se refere.<br />

b) Indique uma decorrência, para o continente africano,<br />

dessa política colonial de estimular conflitos internos<br />

12. (UFRN 2012)<br />

No século XIX, na Europa, desenvolveram-se estudos<br />

que, reivindicando bases científicas, valorizavam a raça<br />

branca, considerada superior a todas as demais.<br />

Essas teorias concebiam uma Nação em termos<br />

biológicos e valorizavam a homogeneidade racial. “A<br />

mistura de raças heterogêneas era sempre um erro e<br />

levava à degeneração não só do indivíduo como de toda<br />

a coletividade.”<br />

(SCHWARCZ, Lilia Moritz. Espetáculo da miscigenação. Estudos avançados, v.<br />

8, n. 20, abr. 1994. Disponível em: . Acesso em: abr. 2009.)


Frente a essas concepções, a constatação de que o Brasil<br />

era uma nação mestiça gerou dilemas para os intelectuais<br />

brasileiros no século XIX. Na tentativa de resolver esses<br />

dilemas, alguns intelectuais da época<br />

a) defenderam o progressivo branqueamento da<br />

população, como resultado da miscigenação e da<br />

imigração europeia.<br />

b) rejeitaram as ideias europeias, as quais apoiavam a<br />

constituição de sociedades puras e homogeneizadas<br />

e condenavam as sociedades racialmente híbridas.<br />

c) sustentaram a igual capacidade civilizatória de todos<br />

os grupos étnicos, combatendo a afirmação da<br />

existência de uma “raça degenerada”.<br />

d) ampliaram as concepções europeias, ao propor que a<br />

miscigenação racial favorecia as trocas culturais,<br />

fazendo mais rica a cultura nacional.<br />

c) manteve, com o fim da Segunda Guerra, suas<br />

anexações territoriais, o que lhe permitiu continuar<br />

como uma grande potência.<br />

d) previa a mobilização de recursos das áreas ocupadas<br />

para realimentar o complexo industrial-militar que<br />

se fortalecia internamente.<br />

15. (UDESC - 2012.1) Observe a imagem.<br />

13. (UFPR 2012) Segundo o historiador Edward Said, “o<br />

lucro e a perspectiva de mais lucro foram,<br />

evidentemente, de enorme importância, mas o<br />

imperialismo não é só isso”<br />

(Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 41).<br />

Comente essa afirmação, demonstrando as principais<br />

motivações que impulsionaram o imperialismo europeu<br />

no século XIX.<br />

14. (UFU 2012) As pretensões expansionistas japonesas<br />

na Ásia, a construção da Grande Ásia Oriental, colidiam<br />

com os interesses norte-americanos para a região. Os<br />

imperialistas seguiam as estratégias siberiana e colonial.<br />

A primeira encarregou o Exército de expandir o domínio<br />

Japonês para a China do Norte, Mongólia e Sibéria,<br />

rivalizando com a União Soviética. A estratégia colonial,<br />

delegada à Marinha, visava a conquista de colônias<br />

inglesas, francesas e holandesas na Ásia. O obstáculo<br />

para esse projeto era a força dos Estados Unidos no<br />

Pacífico (Alaska, Ilhas Aleutas, Filipinas e Havaí).<br />

O projeto imperialista japonês<br />

a) buscava contemporizar seus interesses com as forças<br />

chinesas, vistas como um importante apoio na luta<br />

contra o imperialismo norte-americano.<br />

b) ganhou força com o bombardeamento de Pearl<br />

Harbor e a entrada dos EUA na guerra, forçando o<br />

recuo dos movimentos anti-imperialistas nipônicos.<br />

A imagem refere-se a um cartoon, de autoria de W.A.<br />

Rogers, de 1904, e faz referência à política do big stick<br />

(“grande porrete” numa tradução literal) do presidente<br />

norte-americano Theodore Roosevelt (governou os EUA<br />

entre 1901 e 1909).<br />

Assinale a alternativa correta, considerando as<br />

representações no cartoon e a política a qual ele se refere.<br />

a) Refere-se à política de tutela norte-americana na<br />

América do Sul, nas décadas de 1950 a 1970. Tal<br />

política implicava intervenção direta dos EUA nas<br />

questões políticas dos países sulamericanos,<br />

inclusive no que se relaciona à destituição de<br />

governos democráticos e à instituição de ditaduras<br />

civis e militares.<br />

b) Refere-se à política de tutela norte-americana na<br />

América Central, no início do século XX. Tal<br />

política implicava a intervenção direta dos EUA nas<br />

questões políticas e econômicas internas dos países<br />

centro-americanos, protegendo governos aliados e<br />

derrubando os adversários.<br />

383


c) Refere-se à política norte-americana de expansão<br />

territorial, no início do século XX. Tal política<br />

traduz-se pela incorporação de porções territoriais<br />

do México (caso do Texas), bem como Havaí e<br />

Alasca, que foram anexados aos EUA nesse período.<br />

d) Deve ser entendida no contexto da Guerra da<br />

Secessão, no final do século XIX. Tal política<br />

refere-se a incentivos concedidos à indústria<br />

nortista, que passou a apresentar altos índices de<br />

crescimento.<br />

e) Deve ser entendida no contexto da expansão dos<br />

EUA, já a partir do final do século XIX. Tal política<br />

implicou a consolidação das instituições<br />

republicanas e expansão e conquista do Oeste. Com<br />

isso os norte-americanos expandiram seu território,<br />

avançaram sobre as fronteiras do México (por isso<br />

big stick) e industrializaram-se.<br />

16. (Ufg 2012) Leia o texto a seguir.<br />

Por mais que retrocedamos na <strong>História</strong>, acharemos que a<br />

África está sempre fechada no contato com o resto do<br />

mundo, é um país criança envolvido na escuridão da<br />

noite, aquém da luz da história consciente. O negro<br />

representa o homem natural em toda a sua barbárie e<br />

violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas<br />

as representações europeias. Devemos esquecer Deus e<br />

as leis morais.<br />

HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal. Apud HERNANDEZ,<br />

Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo:<br />

Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado].<br />

O fragmento é um indicador da forma predominante<br />

como os europeus observavam o continente africano, no<br />

século XIX. Essa observação relacionava-se a uma<br />

definição sobre a cultura, que se identificava com a ideia<br />

de<br />

a) progresso social, materializado pelas realizações<br />

humanas como forma de se opor à natureza.<br />

b) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato<br />

com o outro, com vistas a manter seus hábitos.<br />

c) autonomia política, expressa na escolha do homem<br />

negro por uma vida apartada da comunidade.<br />

d) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos<br />

padrões éticos europeus.<br />

e) respeito às tradições, associado ao reconhecimento<br />

do valor do passado para as comunidades locais.<br />

384<br />

17. (Unesp 2010) O imperialismo colonial europeu do<br />

final do século XIX e início do século XX mudou a<br />

geopolítica do continente africano, fragmentando-o em<br />

fronteiras representadas pelo aparecimento de novos<br />

espaços linguísticos e novas dinâmicas espaciais e<br />

econômicas.<br />

Analisando o mapa, pode-se afirmar que<br />

a) em 1895, França, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha,<br />

Alemanha e Itália fizeram um acordo de divisão da<br />

totalidade do continente africano.<br />

b) os impérios coloniais, a partir da Conferência de<br />

Berlim, dominaram a África para instalar indústrias,<br />

visto que era algo inexistente na Europa.<br />

c) os países envolvidos nesse processo necessitavam de<br />

mercados exteriores, matérias-primas agrícolas e<br />

minerais para compensar o declínio da<br />

industrialização na Europa.<br />

d) a repartição da África foi um projeto civilizador<br />

europeu, que, para ser estabelecido, exigiu a<br />

destruição social das oligarquias locais.<br />

e) o imperialismo apoiou-se também nas rivalidades<br />

nacionalistas britânica, francesa e alemã, que<br />

originaram novos espaços linguísticos na África.


18. (ENEM 2012) Os chineses não atrelam nenhuma<br />

condição para efetuar investimentos nos países africanos.<br />

Outro ponto interessante é a venda e compra de grandes<br />

somas de áreas, posteriormente cercadas. Por se tratar de<br />

países instáveis e com governos ainda não consolidados,<br />

teme-se que algumas nações da África tornem-se<br />

literalmente protetorados.<br />

BRANCOLI, F. China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou<br />

mudanças na arquitetura global? Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br.<br />

Acesso em: 29 abr. 2010 (adaptado).<br />

A presença econômica da China em vastas áreas do<br />

globo é uma realidade do século XXI. A partir do texto,<br />

como é possível caracterizar a relação econômica da<br />

China com o continente africano?<br />

a) Pela presença de órgãos econômicos internacionais<br />

como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o<br />

Banco Mundial, que restringem os investimentos<br />

chineses, uma vez que estes não se preocupam com<br />

a preservação do meio ambiente.<br />

b) Pela ação de ONGs (Organizações Não<br />

Governamentais) que limitam os investimentos<br />

estatais chineses, uma vez que estes se mostram<br />

desinteressados em relação aos problemas sociais<br />

africanos.<br />

c) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos<br />

realizados pelos países ocidentais, promovendo o<br />

crescimento econômico de algumas regiões desse<br />

continente.<br />

d) Pela presença cada vez maior de investimentos<br />

diretos, o que pode representar uma ameaça à<br />

soberania dos países africanos ou manipulação das<br />

ações destes governos em favor dos grandes<br />

projetos.<br />

e) Pela presença de um número cada vez maior de<br />

diplomatas, o que pode levar à formação de um<br />

Mercado Comum Sino-Africano, ameaçando os<br />

interesses ocidentais.<br />

19. (IFCE 2011) A supremacia britânica, na Europa e no<br />

mundo, foi indiscutível no século XIX, atingindo seu<br />

apogeu entre 1850 e 1875. O desenvolvimento<br />

econômico, o progresso social e a estabilidade política<br />

geraram as condições necessárias para a formação de um<br />

vasto império colonial na América, na África e na Ásia,<br />

no qual se dizia que o sol nunca se punha.<br />

O texto acima se refere ao período da história inglesa,<br />

conhecido como<br />

a) Revolução Comercial.<br />

b) Revolução Gloriosa.<br />

c) Era Puritana.<br />

d) Era Vitoriana.<br />

e) República Britânica.<br />

20. (UFSM 2011)<br />

Na pintura de John Gast (Figura 1), Colúmbia, a mulher<br />

angelical, carrega a "luz da civilização" para iluminar os<br />

caminhos e guiar homens e carroças na marcha para o<br />

oeste dos Estados Unidos; enquanto ela avança e<br />

expande os cabos do telégrafo nos caminhos por onde<br />

passa, tanto os indígenas nativos como os animais<br />

selvagens fogem amedrontados.<br />

No centro do cartaz (Figura 2), a mulher com armadura<br />

(uma referência à heroína Joana d'Arc) traz, na mão<br />

direita erguida, um ramo de oliveira, símbolo da<br />

sabedoria universal; a mão esquerda segura o escudo<br />

com as cores da bandeira francesa e o lema "progresso -<br />

civilização - comércio". É a alegoria da França<br />

conquistadora que se expande para a Ásia e África<br />

distantes, levando as luzes do progresso e do comércio<br />

para os povos que, por desconhecerem o majestoso<br />

brilho da civilização europeia, vivem na escuridão.<br />

Essas imagens são alegorias de duas ideologias<br />

imperialistas do século XIX sintetizadas,<br />

respectivamente, nas expressões históricas<br />

a) "ética dos peregrinos" e "luta contra a barbárie".<br />

b) "ideologia do branco anglo-saxão protestante" e<br />

"salvacionismo imperial".<br />

c) "aliança para o progresso" e "processo civilizatório<br />

afro-asiático".<br />

d) "guerra justa" e "ocidentalização do mundo<br />

oriental".<br />

e) "destino manifesto" e "fardo do homem branco".<br />

385


386<br />

GABARITO<br />

01. Resposta da questão 1:[B]<br />

Eixo interdisciplinar: Política, Cidadania e Cultura<br />

Item do programa: Relações internacionais no mundo<br />

contemporâneo<br />

Subitem do programa: Imperialismo e neocolonialismo<br />

Objetivo: Discriminar política associada às práticas<br />

culturais do colonialismo europeu no contexto do<br />

imperialismo no continente africano.<br />

Comentário da questão:<br />

A ação colonizadora de países europeus no continente<br />

africano, no decorrer do século XIX, viabilizou a<br />

formação de impérios territoriais e a conquista de áreas<br />

de influência. A partir de estratégias variadas, fossem as<br />

práticas de exploração direta de recursos naturais e da<br />

mão de obra local, fossem as formas de controle e<br />

subordinação por meio da dependência financeira e da<br />

intervenção política e administrativa, os colonizadores<br />

europeus transformaram as condições de vida e de<br />

trabalho de povos e sociedades africanas. Tais<br />

transformações, em muitos casos, traumáticas e<br />

conflituosas, vieram a ser justificadas pelo argumento de<br />

que os colonizadores europeus realizavam ações<br />

civilizadoras, simbolizadas pelas novas técnicas de<br />

produção e de transporte e também por novos hábitos de<br />

consumo. A imagem do repórter Tintim, nas suas<br />

atitudes e, principalmente, na reação da tribo africana a<br />

elas, denota alguns dos significados das ações<br />

civilizadoras, pela ótica dos colonizadores europeus.<br />

02. resposta da questão 2: 01 + 02 + 04 = 07.<br />

Comentário da questão:<br />

Os atuais países do norte da África professam a fé em<br />

Alá, o que demonstra que o controle muçulmano sobre<br />

aquela região, já a partir do século VII, não foi superado<br />

pelas Cruzadas. Quanto à Conferência de Berlim, na<br />

década de 1880, dela resultou a partilha do continente<br />

africano segundo os interesses das principais potências<br />

europeias, desconsiderando diferenças étnicas e culturais<br />

existentes entre os povos africanos Tal situação<br />

perdurou mesmo após a descolonização, no século XX,<br />

provocando constantes conflitos entre grupos africanos<br />

distintos que disputam o poder em várias regiões<br />

África. Por fim, a descolonização africana não se deu<br />

inteiramente por meios pacíficos, como pode ser<br />

constatado com o caso da Argélia, por exemplo.<br />

03. resposta da questão 3:[C]<br />

Comentário da questão:<br />

O neocolonialismo (século XIX) foi a divisão dos<br />

continentes africano pelas potências europeias após a II<br />

Revolução Industrial. A Conferência de Berlim (1884-5)<br />

definiu critérios para os europeus dominarem o interior<br />

do continente africano, sem levar em consideração<br />

qualquer realidade existente.<br />

Em 1869, interesses econômicos europeus levaram à<br />

abertura do Canal de Suez. Os domínios ingleses<br />

incluíam Nigéria, Rodésia e Sudão.<br />

04. resposta da questão 4:[D]<br />

Eixo interdisciplinar: Política e Cultura<br />

Item do programa: Conflitos políticos no mundo<br />

contemporâneo<br />

Subitem do programa: Imperialismo e neocolonialismo<br />

Objetivo: Identificar ação imperialista europeia<br />

empreendida nas regiões africanas e asiáticas.<br />

Comentário da questão:<br />

A ação imperialista europeia na África e na Ásia, na<br />

segunda metade do século XIX, correspondeu, em linhas<br />

gerais, à expansão dos interesses capitalistas por meio da<br />

exploração de novas fontes de matéria-prima e de novos<br />

mercados e praças para investimentos diversos. As<br />

justificativas para tais interesses e ações foram buscadas,<br />

entre outros, no argumento do valor da modernização de<br />

setores estratégicos, com destaque para as comunicações<br />

telegráficas, transportes ferroviários e navegação a<br />

vapor. Assim, em nome de uma missão civilizatória, o<br />

imperialismo europeu garantiu a ampliação da circulação<br />

de mercadorias e capitais em escala mundial.<br />

05. resposta da questão 5:[B]<br />

Comentário da questão:<br />

O quadro apresenta os elementos de expansão econômica<br />

entre os séculos XIX e XX, quando o modelo capitalista


promove a ampliação de mercados, atingindo<br />

principalmente a África e Ásia, na busca de matériasprimas<br />

industriais, numa dinâmica determinada pela<br />

organização do capitalismo financeiro e monopolista que<br />

caracterizou o imperialismo, justificado por teorias<br />

racistas que enfatizavam a superioridade do homem<br />

branco, este sim, com condições de impulsionar o<br />

desenvolvimento dos outros povos.<br />

06. resposta da questão 6:<br />

a) Dentre os países que podem ser citados e as potências<br />

europeias que foram influentes no período, estão:<br />

Argentina, Chile e Uruguai (grande influência do Reino<br />

Unido); México (influências da Alemanha e França);<br />

Brasil (influências do Reino Unido e França); Guianas<br />

(colônias pertencentes à Holanda, Reino Unido e<br />

França); Cuba (colônia da Espanha até 1898); Jamaica<br />

(colônia da Inglaterra); etc.<br />

b) Exemplos latino-americanos mais recorrentes para se<br />

falar dessa europeização e da repressão às populações<br />

indígenas e de origem africana nesses países: Peru e<br />

Bolívia (onde o índio permanece submetido); Chile e<br />

Argentina (com a promoção de campanhas militares para<br />

extermínio de populações indígenas, na Araucanía<br />

chilena e na Patagônia argentina); Argentina, Brasil e<br />

Uruguai (com massiva importação de migrantes<br />

europeus); América Central, Venezuela, Colômbia,<br />

Brasil (mantendo a repressão à população de origem<br />

africana); etc.<br />

07. resposta da questão 7:[C]<br />

Comentário da questão:<br />

A Conferência de Berlim representou uma ação por parte<br />

das potências imperialistas – sobretudo as europeias –<br />

no sentido de disciplinar e definir parâmetros para o<br />

domínio sobre a África. É importante salientar que seu<br />

objetivo maior era o de legitimar esse domínio perante a<br />

opinião pública, ao mesmo tempo em que procurava<br />

reduzir focos de tensão que já se manifestavam entre<br />

essas potências no tocante à disputa sobre o continente<br />

africano.<br />

08. resposta da questão 8:[A]<br />

Comentário da questão:<br />

A questão aborda as transformações culturais em voga na<br />

Europa do século XIX, momento em que a<br />

"superioridade" europeia e a "infalibilidade" da ciência<br />

eram celebradas como bases do modelo civilizatório<br />

imposto sobre a África e a Ásia. Desta forma, as<br />

exposições atraiam milhares de visitantes, ávidos por<br />

consumir as inovações e, ao mesmo tempo, partilhar de<br />

forma coletiva do otimismo diante de um mundo que se<br />

iluminava pela luz elétrica, ao mesmo tempo em que as<br />

distâncias eram encurtadas pela difusão do motor à<br />

combustão, entre outras inovações da época.<br />

09. resposta da questão 9:<br />

a) O conceito que sintetiza a ação britânica no final do<br />

século XIX foi o imperialismo, também chamado de<br />

neocolonialismo.<br />

b) Quanto ao tratamento reservado às populações<br />

coloniais, a charge alude a duas características<br />

essenciais:<br />

– a incorporação dos povos colonizados à burocracia<br />

imperial britânica: por meio da representação de um<br />

soldado com roupas orientais que integra a guarda<br />

imperial, a charge expressa o fato de que as populações<br />

coloniais eram comumente utilizadas nos corpos<br />

militares britânicos. Entretanto, essa utilização não<br />

garantia um status social equivalente aos cidadãos<br />

britânicos (metropolitanos). Os altos postos, tanto no<br />

exército quanto em outros campos da vida burocrática<br />

colonial, eram predominantemente ocupados pela<br />

população britânica, residente nos territórios sob seu<br />

domínio;<br />

– o preconceito contra a população colonial: o cartunista,<br />

quando utiliza o termo “Imperial” entre aspas, ironiza a<br />

presença de populações coloniais nas tropas britânicas. A<br />

ironia desvela-se no diálogo entre Benjamin Disraeli,<br />

Lorde inglês, e as figuras que representam o Império<br />

Britânico e a Índia, essa última identificada por um<br />

soldado com trajes orientais. Essa ironia reforçava a<br />

desconfiança da opinião pública inglesa em relação à<br />

capacidade de um exército formado por indianos para<br />

garantir as possessões britânicas na ilha de Malta. Esse<br />

preconceito contra as populações coloniais era<br />

justificado pelo suposto atraso e pela inferioridade racial<br />

dos povos orientais em relação ao Ocidente e se refletia<br />

em leis que impunham restrições ao contato e à<br />

socialização entre as populações.<br />

387


10. resposta da questão 10:[C]<br />

Comentário da questão:<br />

O neocolonialismo foi justificado do ponto de vista<br />

ideológico a partir do “darwinismo social”, teoria racista<br />

com caráter pseudocientífico. Procurava justificar a<br />

conquista da África e da Ásia pelos europeus, que se<br />

consideravam superiores aos povos locais. Aos brancos,<br />

cabia o dever de levar a civilização aos outros povos que,<br />

sozinhos, não conseguiriam se desenvolver.<br />

11. resposta da questão 11:<br />

a) No primeiro momento, século XVI, a presença<br />

européia na África se dava pela necessidade de<br />

manutenção da economia mercantilista, que se pautava,<br />

entre outros fatores, na exploração das colônias. No caso<br />

das colônias africanas, serviram para o abastecimento do<br />

tráfico transatlântico de escravos, bem como para a<br />

acumulação de metais preciosos, elemento importante do<br />

mercantilismo.<br />

O segundo momento, século XIX, trata-se do<br />

Neocolonialismo, processo de dominação política que<br />

tinha como objetivo a exploração de matéria-prima, mãode-obra<br />

barata, garantia de mercado consumidor e<br />

opções de investimentos para as nações europeias que<br />

disputavam intensamente territórios da África e Ásia.<br />

b) A política europeia de “dividir para dominar” acabou<br />

conduzindo diversos territórios coloniais a um longo<br />

processo de disputa interna pelo poder entre etnias rivais,<br />

bem como a exploração econômica predatória aplicada<br />

pelos europeus não legaram aos africanos estruturas que<br />

lhes permitissem desenvolver a utilização de seus<br />

recursos naturais. As guerras civis que se seguiram à<br />

evacuação dos exércitos metropolitanos deixaram como<br />

herança a total desestruturação econômica dos países que<br />

as enfrentaram, bem como abriram feridas profundas que<br />

dificultaram a integração cultural e política entre as<br />

diversas etnias em disputa pelo poder. Como resultado,<br />

desde a independência das ex-colônias africanas, o<br />

continente convive com a miséria, a fome e imensos<br />

obstáculos à estabilização econômica e política.<br />

12. resposta da questão 12:[A]<br />

388<br />

Comentário da questão: A política na Europa, no século<br />

XIX, foi levada à África e à Ásia por meio da<br />

construção de um slogan chamado “O Fardo do Homem<br />

Branco”, que tinha como propósito destacar as nações<br />

desenvolvidas das nações subdesenvolvidas. Dessa<br />

maneira, o “branqueamento” da população se tornaria<br />

mais evidente.<br />

13. resposta da questão 13:<br />

O imperialismo implica em um processo de dominação<br />

completa e complexa, promovida por grandes potências<br />

econômicas sobre regiões africanas e asiáticas. A<br />

“perspectiva de lucro” demonstra o principal interesse<br />

econômico das potências que expandiam a<br />

industrialização, no sentido de explorar recursos minerais<br />

e promover investimentos nas áreas dominadas. Ao<br />

mesmo tempo, os países imperialistas promoveram a<br />

dominação militar, usando a força para desestruturar as<br />

economias naturais e as formas tradicionais de<br />

organização social, além de se utilizarem das religiões<br />

cristãs para impor novos valores éticos e morais.<br />

Segundo o líder da independência do Quênia, Jomo<br />

Kenyatta, “Quando os brancos chegaram, nós tínhamos<br />

as terras e eles a bíblia, depois eles nos ensinaram a<br />

rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a bíblia e<br />

eles as terras”.<br />

14. resposta da questão 14:[D]<br />

Comentário da questão:<br />

No início da década de 1940, depois de conquistar<br />

importantes pontos estratégicos no Extremo Oriente, o<br />

imperialismo japonês entrou em choque com interesses<br />

estadunidenses no Pacífico, na região do Havaí.<br />

15. resposta da questão 15:[B]<br />

Comentário da questão: Ao observar a imagem e<br />

relacioná-la com o enunciado da questão, é possível<br />

perceber que a política de intervencionismo do big stick<br />

está relacionada ao início do século XX e com foco na<br />

América Central. Embora os EUA também tenham agido<br />

de forma semelhante na América do Sul entre os anos de<br />

1950 e 1970, o cartoon e o enunciado não estão<br />

abordando este momento histórico. Portanto, a<br />

alternativa [A], apesar de descrever uma verdade do<br />

ponto de vista histórico, não é a resposta adequada para<br />

esta questão.


16. resposta da questão 16:[A]<br />

Comentário da questão: O texto da questão expressa a<br />

visão europeia de dominação com o olhar exótico para as<br />

populações africanas. Para a burguesia europeia do final<br />

do século XIX que vivia um período de grande expansão<br />

do sistema capitalista para todo o planeta, o continente<br />

africano era uma região a ser incorporada e explorada a<br />

partir das necessidades do capitalismo.O pensamento<br />

eurocêntrico apontava a “missão civilizadora” do<br />

europeu no momento do Neocolonialismo e<br />

Imperialismo do século XIX. A África, bem como a<br />

Ásia, deveria ser “civilizada” pelo contato com o<br />

europeu.<br />

17. resposta da questão 17:[E]<br />

Comentário da questão:<br />

A existência de um clima de rivalidade entre potências<br />

europeias repercutiu no processo de partilha da África no<br />

final do século XIX. Ao dominar povos de diversas<br />

origens étnicas e linguísticas, os idiomas das potências<br />

coloniais vieram a ser utilizados como meio de<br />

comunicação entre os diferentes grupos linguísticos<br />

africanos, como, por exemplo, o caso do inglês na<br />

Nigéria ou do francês no Senegal.<br />

Este foi um longo período de prosperidade e paz (Pax<br />

Britannica) para o povo britânico, com os lucros<br />

adquiridos a partir da expansão do Império Britânico no<br />

exterior, bem como o auge e consolidação da Revolução<br />

Industrial e o surgimento de novas invenções. Isso<br />

permitiu que uma grande e educada classe média se<br />

desenvolvesse.<br />

20. resposta da questão 20:[E]<br />

Comentário da questão: Destino Manifesto é o<br />

pensamento que expressa a crença de que o povo dos<br />

Estados Unidos é eleito por Deus para civilizar a<br />

América, e por isso o expansionismo americano é apenas<br />

o cumprimento da vontade Divina.<br />

"The White Man's Burden" ("O Fardo do Homem<br />

Branco") é um poema escrito pelo poeta inglês Rudyard<br />

Kipling. Foi publicado originalmente na revista popular<br />

McClure's em 1899, com o subtítulo The United States<br />

and the Philippine Islands. "The White Man's Burden"<br />

foi escrito a respeito da conquista estadunidense das<br />

Filipinas e outras ex-colônias espanholas. Embora o<br />

poema de Kipling misturasse exortações ao império com<br />

ajuizados alertas sobre os custos envolvidos, os<br />

imperialistas dos Estados Unidos se fixaram na frase<br />

"fardo do homem branco" como uma caracterização para<br />

o imperialismo que justificasse a política como um nobre<br />

empreendimento.<br />

18. resposta da questão 18:[D]<br />

Comentário da questão: No trecho apresentado, não há<br />

menção ao fato de os investimentos chineses na África<br />

estarem sofrendo restrições de órgãos econômicos (como<br />

FMI e Banco Mundial) ou de ONGs. Tampouco os<br />

investimentos dependem de parcerias com potências<br />

ocidentais ou envolvem numeroso contingente de<br />

diplomatas. O texto demonstra apenas uma preocupação:<br />

a de que o capital da China, aplicado no continente<br />

africano, possa ser um tipo de neocolonialismo ou apenas<br />

uma mudança na arquitetura global (conforme a<br />

alternativa D e o subtítulo do texto).<br />

19. resposta da questão 19:[D]<br />

Comentário da questão:<br />

A era vitoriana no Reino Unido foi o período do reinado<br />

da rainha Vitória, em meados do século XIX, de junho<br />

de 1837 a janeiro de 1901.<br />

389


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

I - Alencar, Francisco. <strong>História</strong> da sociedade brasileira 2º grau / Francisco Alencar, Lucia Carpi Ramalho, Marcus Venicio<br />

Toledo Ribeiro. — 2ª ed. - Rio de Janeiro: Ao Livro Tecnico. 1985.<br />

II - Braick, Patrícia Ramos <strong>História</strong> : das cavernas ao terceiro milênio/ Patrícia Ramos Braick, Myriam Becho Mota. - 2.<br />

ed. — São Paulo : Moderna, 2010.<br />

III - <strong>História</strong>: texto e contexto: Ensino Médio, volume Único/ Roberto Catelli Junior: com a colaboração de Maria Soledad<br />

Más Gandini, Renata Lima Aspis. — São Paulo: Sciplone, 2006.<br />

IV - Koshiba, Luiz, 1945 - <strong>História</strong> do Brasil / Luiz Koshiba, Denise Manzi Frayse Pereira, - 7. ed. rev. e atual. — São<br />

Paulo: Atual, 1996<br />

V – Pedro Antonio Historia da civilização Ocidental: ensino Médio: volume único/ Antonio Pedro, Lizanias de Souza<br />

Lima; colaboração especial Yone de carvalho – 2ª ed – São Paulo: FTD, 2005.<br />

VI - Vicentino. Cláudio. <strong>História</strong> geral do Brasil. volume 3 / Claudio Vicentino Gianpaolo Dorigo — São Paulo: Scipione.<br />

2010.<br />

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