Filosofia e Sociologia
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Observe que entre nós é comum o entendimento da<br />
fortuna como sinônimo de sorte. É bom destacar que<br />
para Aristóteles e Sêneca o conceito de fortuna e acaso<br />
são distintos e claro que também para os demais<br />
filósofos, sobretudo os modernos e contemporâneos.<br />
O outro conceito que precisamos esclarecer é o de<br />
versatilidade. Observe que no texto de Sêneca possui um<br />
caráter negativo, ao passo que para nós a versatilidade é<br />
algo positivo. Cada vez mais se defende a necessidade de<br />
sermos versáteis. No caso do texto de Sêneca podemos<br />
substituir o termo versátil por volúvel e assim nos<br />
aproximarmos mais da ideia que Sêneca quer nos passar.<br />
Você pôde observar que a recomendação chave de<br />
Sêneca está em “ceder de boa vontade a pressão das<br />
circunstâncias e não temer mudar”. É interessante que<br />
Sêneca pressupõe a tranquilidade diante do mundo que<br />
nos cerca. É preciso para isso nem cair em obstinação,<br />
nem em leviandade.<br />
É preciso lembrar que o momento histórico em que viveu<br />
Sêneca foi um momento de ruína do Império Romano. O<br />
Império Romano estava em decadência e cada dia mais<br />
isso era perceptível aos olhos daqueles que viviam<br />
aquele momento, sobretudo os pensadores da época. É<br />
nesse contexto de ruína, decadência, que a proposição de<br />
Sêneca, uma ética individualista, ou seja, centrada no<br />
indivíduo pode ser entendida e explicada.<br />
O que é comum ocorrer com as pessoas em momentos de<br />
crises profundas? É a dúvida em relação ao que fazer<br />
para sobreviver a ela. E diante de tal dúvida é comum o<br />
isolamento e a falta de um ponto de referência que seja<br />
claro e que garanta tranquilidade. É comum também as<br />
pessoas se angustiarem e passarem a ser atacadas de<br />
sentimentos de medo e insegurança. Então o que Sêneca<br />
está procurando oferecer aos seus contemporâneos nada<br />
mais é que uma forma de encararem a realidade que os<br />
cerca, ou seja, a decadência que ameaça o mundo em que<br />
habitam e diante da qual não possuem mais nenhuma<br />
certeza.<br />
Os séculos I e II da Era Cristã marcam o momento da<br />
consolidação e apogeu do Império Romano. É o<br />
momento da Pax Romana, ou seja, quando a expansão<br />
está encerrada e detêm-se todos os esforços pela<br />
manutenção das fronteiras.<br />
É bom lembrar que no momento de expansão Roma<br />
invadiu e dominou territórios e povos. E agora lhes cobra<br />
lealdade e defesa de ataques por estas fronteiras em que<br />
vivem em troca da paz com os romanos.<br />
Porém, ao mesmo tempo em que é o auge do Império<br />
Romano é o momento em que se vive crises intensas em<br />
função da vivência de novos valores em virtude da<br />
riqueza e das facilidades que são próprias de momentos<br />
de apogeu.<br />
É diferente de Aristóteles, pois no momento histórico em<br />
que viveu Aristóteles, era um tempo de confiança, de<br />
crescimento e avanço da democracia ateniense, que neste<br />
momento exigia novas discussões e reelaboração de<br />
ideias e princípios referentes a vida na pólis.<br />
Para entender um pouco o momento histórico de<br />
Aristóteles, vamos retornar um pouco no tempo, até<br />
Sócrates (470-399 a.C.), que é a época denominada o<br />
“Século de Ouro de Atenas”, período do governo de<br />
Péricles (461-429 a.C.), e quando a democracia ateniense<br />
atingiu a sua plenitude pelo fato de estabelecer alguns<br />
princípios que passarama reger a vida de todos os<br />
habitantes da cidade de Atenas.<br />
Os princípios estabelecidos foram a Isonomia – que é a<br />
igualdade de todos perante a lei; a Isegoria – que é a<br />
igualdade de direito ao acesso à palavra na assembleia e<br />
o de Isocracia – que é a igualdade de participação no<br />
poder.<br />
Ora, todas essas mudanças estão ocorrendo em Atenas e<br />
sendo formuladas, discutidas e analisadas pelos filósofos<br />
que vivem em Atenas naquele momento. É por isso que a<br />
questão da pólis é tão importante para a obra de<br />
Aristóteles, aliás, já desde Sócrates a discussão passa a<br />
focar o homem e a busca do como viver na pólis.<br />
Aristóteles vive justamente o momento de conflito de<br />
projetos políticos entre as cidades gregas, que buscam<br />
liderar as demais. Há uma disputa bastante acirrada entre<br />
Atenas e Esparta. Pode-se afirmar que os filósofos, entre<br />
eles Aristóteles, percebem que é preciso que as cidades<br />
gregas sejam unidas por um projeto político e que as<br />
disputas sejam pacíficas, pois o risco que correm é o de<br />
divisão e, portanto, o enfraquecimento diante dos<br />
impérios vizinhos que estão em expansão, mas que não<br />
querem enfrentar uma Grécia unida.<br />
No entanto, o que ocorreu foi, já na época de Aristóteles,<br />
as disputas entre Esparta e Atenas resultaram no<br />
enfraquecimento e derrota dos gregos frente aos<br />
macedônios, em 338 a.C., na batalha de Quironeia.<br />
Ao lermos as obras de Aristóteles é bom que tenhamos<br />
em mente as disputas existentes e as lutas internas da<br />
própria sociedade ateniense, para que possamos entender