Filosofia e Sociologia
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D o p ar t icu lar ao ger al: 1 º m ov im en t o d o<br />
en t en d im en t o<br />
Numa obra chamada “Física” Aristóteles esclarece o<br />
passo do conheci- mento: “o percurso naturalmente vai<br />
desde o mais cognoscível e mais claro para nós em<br />
direção ao mais claro e mais cognoscível por natureza...”<br />
(Física I,184a16-17)<br />
Não é difícil entender o que Aristóteles está dizendo. Se<br />
você é um especialista em teoria da relatividade e foi<br />
chamado para uma palestra a um público que não<br />
entende coisa alguma de física, será melhor iniciar sua<br />
fala por alguns exemplos triviais do cotidiano para<br />
cativar o público e só então arriscar conceitos mais<br />
técnicos ou fórmulas. Em outras palavras, você fará um<br />
caminho que vai do “particular” (o que faz parte da<br />
experiência do público) ao “geral” (a visão de conjunto,<br />
mais técnica e elaborada, sobre a qual você vai falar). A<br />
marcha do nosso entendimento vai do simples ao<br />
complexo. Isso significa que compreendemos melhor um<br />
assunto quando podemos fazer a passagem daquilo que<br />
conhecemos para aquilo que desconhecemos. Observe<br />
como os grandes oradores começam seus discursos por<br />
analogias ou casos que a plateia logo se identifica. No<br />
texto da “Física” Aristóteles dá o exemplo da criança<br />
para ilustrar sua tese: inicialmente ela chama qualquer<br />
homem ou mulher de pai e mãe. Só mais tarde aprenderá<br />
a identificar quem é pai e mãe, e com o tempo formará<br />
um conceito de paternidade e maternidade. Há aqui um<br />
curso do entendimento que vai do particular ao universal,<br />
fazendo com que o conhecimento amplie-se. Aristóteles,<br />
que era considerado um professor brilhante, já dominava<br />
em seu tempo noções de psicologia e pedagogia para<br />
saber que ser humano algum adquire conhecimento se<br />
não puder partir daquilo que já sabe.<br />
D o u n iv er sal ao p ar t icu lar : 2 º m ov im en t o d o<br />
en t en d im en t o<br />
Atenção: a regra anterior é absoluta no que toca ao<br />
aprendizado, mas ela não diz tudo. O texto da Física<br />
também indica que o “claro” para nós é, frequentemente,<br />
um dado muito geral e simplista. O conhecimento só é<br />
efetivo quando puder descer às minúcias. É isso que<br />
Aristóteles quer dizer com “(...) mais claro e mais<br />
cognoscível para nós em direção ao mais claro e mais<br />
cognoscível por natureza”. A marcha é do que nós<br />
sabemos em direção ao que as coisas são de fato. Procure<br />
não fazer confusão sobre esse ponto. Essa é a razão pela<br />
qual os melhores alunos na escola são aqueles que<br />
desenvolvem o hábito de acompanhar os pontos<br />
principais do conteúdo. A regra de ouro é: compreenda<br />
os conceitos principais, mais gerais, só então se dedique<br />
ao estudo dos pontos particulares. Muitas vezes esses<br />
alunos são toma- dos por “inteligentes”, mas não é nada<br />
disso. Adquirir conhecimento é uma questão de saber<br />
como procede o aprendizado. Muitos que tiram os<br />
primeiros lugares nos vestibulares não dedicam mais do<br />
que 4 horas de estudo por dia no período de preparação,<br />
o que escandaliza os demais que no mesmo período<br />
chegam a estudar 10 horas por dia e não alcançam os<br />
mesmos resultados.<br />
O P r ob lem a É t ico<br />
Por Djaci Pereira Leal – Professor na cidade de Nova Londrina no Estado do<br />
Paraná<br />
É t ica e Felicid ad e<br />
Partindo de um conceito básico de ética como “saberviver,<br />
ou a arte de viver” (SAVATER, 2002), pode-se<br />
dizer que os homens tudo fazem para viver e viver bem.<br />
É preciso esclarecer um outro conceito muito importante<br />
para a ética – a felicidade.<br />
Pode-se afirmar que, para Aristóteles, a felicidade é o<br />
resultado do saber viver. Entendendo a ética como a arte<br />
de viver, o resultado desse viver será a felicidade. Ao<br />
discutir o que é felicidade é possível perceber que não há<br />
um único conceito e entendimento, mas vários. Assim,<br />
vamos buscar entender o que na Antiguidade orientavam<br />
os filósofos Aristóteles e Sêneca aos seus<br />
contemporâneos: o que fazerem para atingir a virtude, e,<br />
portanto, serem felizes.<br />
A virtude, que segundo Aristóteles, é o que vai garantir<br />
ao homem a felicidade, é “o hábito que torna o homem<br />
bom e lhe permite cumprir bem a sua tarefa”, a virtude é<br />
“racional, conforme e constante”. (ARISTÓTELES,<br />
2001)<br />
Para o Estoicismo, escola filosófica da qual participa<br />
Sêneca, a felicidade consiste em viver segundo a razão –<br />
o Logos. Viver segundo a natureza, pois o homem é de<br />
natureza racional. Portanto, entendem os estoicos que ser<br />
virtuoso é viver segundo a razão.<br />
A felicidade não é a mesma e única para todos os<br />
filósofos e momentos históricos. No entanto, vamos<br />
trabalhar aqui com apenas dois filósofos da Antiguidade,<br />
com concepções e momentos históricos bem diferentes, e<br />
teremos como norte das discussões a virtude, ou seja, o<br />
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