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Filosofia e Sociologia

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M<br />

caminho, isto é, o começo do conhecimento e ele queria<br />

saber mais. Sócrates proclama que ele não sabe nada, e<br />

esta é sua maneira de trazer à luz o que ele sabe e o que<br />

já sabiam as pessoas honestas à sua volta, (hora pessoas<br />

honestas, acreditam saber tudo e é preciso ironizar um<br />

pouco delas para confrontá-las entre si e ensinar-lhes que<br />

elas só tinham opiniões contraditórias, cuja verdade<br />

devia extrair-se do que tivesse verdade!).<br />

“Sócrates, por meio de sua atividade, mostra-nos que o<br />

exercício do filosofar é, essencialmente, o exercício do<br />

questionamento, da interrogação sobre o sentido do<br />

homem e do mundo. A partir dessa atividade Sócrates<br />

enfrentou problemas, foi julgado e condenado à morte.<br />

Na história, a filosofia questionadora incomoda o poder<br />

instituído, porque põe em discussão relações e situações<br />

que são tidas como verdadeiras. A filosofia procura a<br />

verdade para além das aparências”. (LEFEBVRE, 1969,<br />

p. 14)<br />

ele que, se eu lograr absolvição, logo todos os vossos<br />

filhos, pondo em prática os ensinamentos de Sócrates,<br />

estarão inteiramente corrompidos; mesmo que, apesar<br />

disso, me dissésseis: ‘Sócrates, por ora não atenderemos<br />

a Ânito e te deixamos ir, mas com a condição de<br />

abandonares essa investigação e a filosofia; se fores<br />

apanhado de novo nessa prática, morrerás’; mesmo,<br />

repito, que me dispensásseis com essa condição, eu vos<br />

responderia: ‘Atenienses, eu vos sou reconhecido e vos<br />

quero bem, mas obedecerei antes ao deus que a vós;<br />

enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de<br />

filosofar, de vos dirigir exortações, de ministrar<br />

ensinamentos em toda ocasião àquele de vós que eu<br />

deparar, dizendo-lhe o que costumo: ‘Meu caro, tu, um<br />

ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por<br />

sua cultura e poderio, não te pejas de cuidares de adquirir<br />

o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te<br />

importares nem cogitares da razão, da verdade e de<br />

melhorar quanto mais a tua alma?’ E se alguém de vós<br />

redargüir que se importa, não me irei embora deixandoo,<br />

mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, se me<br />

parecer que afirma ter adquirido a virtude e não a<br />

adquiriu, hei de repreendê-lo por estimar menos o que<br />

vale mais e mais o que vale menos. É o que hei de fazer a<br />

quem eu encontrar, moço ou velho, forasteiro ou<br />

cidadão, principalmente aos cidadãos, porque me estais<br />

mais próximos no sangue. Tais são as ordens que o deus<br />

me deu, ficai certos. E eu acredito que jamais aconteceu<br />

à cidade maior bem que minha obediência ao deus”.<br />

(PLATÃO, 1972, p. 21)<br />

A m<br />

issã o d e Só cr at es segu n d o P lat ã o<br />

“A ignorância mais condenável não é essa de supor saber<br />

o que não sabe? É talvez nesse ponto, senhores, que<br />

difiro do comum dos homens; se nalguma coisa me<br />

posso dizer mais sábio que alguém, é nisto de, não<br />

sabendo o bastante sobre o Hades1, não pensar que o<br />

saiba. Sei, porém, que é mau e vergonhoso praticar o<br />

mal, desobedecer a um melhor do que eu, seja deus, seja<br />

homem; por isso, na alternativa com males que conheço<br />

como tais, jamais fugirei de medo do que não sei se será<br />

um bem.<br />

“Portanto, mesmo que agora me dispensásseis,<br />

desatendendo ao parecer de Ânito, segundo o qual, antes<br />

do mais, ou eu não devia ter vindo aqui, ou, já que vim, é<br />

impossível deixar de condenar-me à morte, asseverando<br />

aiê u t ica e I r on ia<br />

A ironia é uma forma de tratar o saber e aparece na<br />

história também como reação ao dogmatismo, isto é,<br />

quando existem verdades impostas pelas crenças ou pela<br />

autoridade, impedindo as pessoas de pensar e manifestar<br />

suas opiniões. Conforme Merleau-Ponty, (...) a vida e a<br />

morte de Sócrates são a história das difíceis relações que<br />

o filósofo, que não é protegido pela imunidade literária,<br />

mantém com os deuses da cidade, isto é, com os outros<br />

homens e com o absoluto imobilizado cuja imagem lhe<br />

apresentam(...) ( MERLEAU-PONTY, s/d., p. 46).<br />

A ironia socrática interroga para buscar um sentido<br />

oculto e desconhecido pelo homem, ancorado em crenças<br />

e dogmas. A ironia moderna descobre o duplo sentido e,<br />

com ele, a relatividade da verdade, a fragmentação e a<br />

fraqueza do pensamento que não consegue consolidarse<br />

em sistema. Ambos se aproximam na prática do duvidar<br />

e interrogar, no valor que atribuem ao homem, na sua<br />

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