Recursos Humanos na Atenção Básica, Estratégias de Qualificação ...

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18.11.2012 Views

CA d e r n o s d e At e n ç ã o Bá s i C A – es t U d o s AvA l i At i v o s - 4 A reflexão sobre os argumentos e princípios expostos acima evidencia, logo de início, muitas questões e desafios com que a viabilização da estratégia se defronta. Embora o referencial que orienta o PSF não seja novo, a perspectiva de um trabalho de atenção à saúde que tenha por referência o conceito de saúde como qualidade de vida, que integre cuidados de assistência médica individual e ações voltadas para o cuidado da saúde coletiva numa abordagem bio-psico-social, familiar e comunitária, vem colocar problemas e questões cuja possibilidade de compreensão e de resolução ultrapassa o âmbito das fórmulas e instrumentos de trabalho já conhecidos de cada um dos cuidados específicos mencionados e operados no interior de cada um deles, isoladamente. Além disso, uma tal integração traz em si a necessidade de extensão de ambos os tipos de cuidados para a população, o que implica, portanto, não apenas questões de qualidade dos serviços prestados, mas também questões de ampliação quantitativa desses mesmos serviços. Trata-se, então, da proposição e realização de novas estruturas e modelos funcionais de práticas de saúde, com importantes reflexos e demandas para as atuais estruturas, os modelos, as práticas e, principalmente, para a atuação – competências, perfis – dos profissionais e da equipe de saúde. A organização da Atenção Básica Após a implantação do Piso de Atenção Básica (PAB), o Ministério da Saúde (MS) estabeleceu as orientações para a organização da Atenção Básica pela Portaria nº 3.925/GM, de 13 de novembro de 1998 (Brasil, Ministério da Saúde, 1999). Nessa normativa, o Ministério conceitua a Atenção Básica e explicita o que seja responsabilidade, ações, atividades, resultados e impactos esperados. Por este documento, procura contribuir na reorientação do modelo e na busca da integralidade das ações, reafirmando princípios e diretrizes do SUS como: saúde como direito, integralidade da assistência, universalidade, eqüidade, resolutividade, intersetorialidade, humanização do atendimento e participação. Nesse sentido, define Atenção Básica como “um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situado no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde e voltado para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação”, considerando que “a ampliação desse conceito se torna necessária para avançar na criação de um sistema de saúde centrado na qualidade de vida das pessoas e no seu meio ambiente” (Brasil, Ministério da Saúde, 1999). 26 Co n s ó r C i o mediCinA UsP

AvAliAção do ProgrAmA de exPAnsão e ConsolidAção dA sA ú d e d A FAmíliA – ProesF A At e n ç ã o Bá s i C A à sA ú d e e o Pr o g r A m A sA ú d e d A FAmíliA A instituição do Piso de Atenção Básica (PAB), a implantação da Norma Operacional Básica 01/96, a eleição da Atenção Básica como prioridade na agenda política nacional e a concepção do PSF como estratégia para a consolidação do SUS possibilitaram o desenvolvimento desse programa. A missão do PSF seria contribuir para a reorganização dos serviços municipais de saúde, visando à integração das ações entre os diversos profissionais e sua articulação com as reais demandas e necessidades da comunidade. Nele, a atenção centra-se na família, entendida, percebida e situada a partir de seu ambiente físico e social, com suas crenças e valores identificados, favorecendo a compreensão ampliada do processo saúde/doença, no contexto de um território definido geográfica e administrativamente (Souza e Sampaio, 2002). Os pressupostos de atuação das equipes do Programa Saúde da Família encerram um universo de possibilidades que, certamente, são compreendidas e executadas de modo distinto pelas muitas equipes que o compõem. As diferenças de atuação advêm das particularidades de cada equipe em diferentes realidades do país, e dependem do modelo de gestão, considerando desigualdades sociais, traços culturais, densidade populacional, características de saneamento, produção de bens e serviços, delimitação de áreas de risco, política de saúde instituída, proporção da população atendida pelo programa, estruturação da atenção secundária, referência e contrareferência e perfil dos recursos humanos. Assim, a implantação do Programa Saúde da Família nos municípios exige, para seu êxito, um conjunto de variáveis favoráveis, além do esforço de todos os atores e setores envolvidos. Segundo Paim (1999b): O PACS e o PSF, enquanto programas especiais do Ministério da Saúde, já se afiguram, presentemente, como modelos de atenção hegemônicos voltados para necessidades de saúde e não apenas para a demanda espontânea ou para a oferta. No entanto, tais programas poderão constituir uma das “estratégias” de reorientação do sistema de saúde [...] na medida em que venham a se aproximar dos processos de distritalização e do modelo de intervenção da “vigilância da saúde”. A análise da expansão do PSF demonstra uma tendência inicial de cobertura de áreas menos assistidas, representadas por pequenos municípios, distantes dos aglomerados urbanos, e por cidades de médio porte. Essa tendência não ocorreu somente pela lógica natural de ampliar a cobertura em áreas sem assistência. Houve, por parte do governo federal, uma indução para priorização de municípios com indicadores de saúde em situação crítica, em sinergia com outros programas de governo, como o Comunidade Solidária (depois Comunidade Ativa), Redução da Mortalidade na Infância, Intensificação 27

CA d e r n o s d e At e n ç ã o Bá s i C A – es t U d o s AvA l i At i v o s - 4<br />

A reflexão sobre os argumentos e princípios expostos acima evi<strong>de</strong>ncia,<br />

logo <strong>de</strong> início, muitas questões e <strong>de</strong>safios com que a viabilização da estratégia<br />

se <strong>de</strong>fronta.<br />

Embora o referencial que orienta o PSF não seja novo, a perspectiva<br />

<strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> que tenha por referência o conceito<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, que integre cuidados <strong>de</strong> assistência<br />

médica individual e ações voltadas para o cuidado da saú<strong>de</strong> coletiva<br />

numa abordagem bio-psico-social, familiar e comunitária, vem colocar<br />

problemas e questões cuja possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão e <strong>de</strong> resolução<br />

ultrapassa o âmbito das fórmulas e instrumentos <strong>de</strong> trabalho já conhecidos<br />

<strong>de</strong> cada um dos cuidados específicos mencio<strong>na</strong>dos e operados no interior<br />

<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, isoladamente. Além disso, uma tal integração traz<br />

em si a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> ambos os tipos <strong>de</strong> cuidados para a<br />

população, o que implica, portanto, não ape<strong>na</strong>s questões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

dos serviços prestados, mas também questões <strong>de</strong> ampliação quantitativa<br />

<strong>de</strong>sses mesmos serviços.<br />

Trata-se, então, da proposição e realização <strong>de</strong> novas estruturas<br />

e mo<strong>de</strong>los funcio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com importantes reflexos<br />

e <strong>de</strong>mandas para as atuais estruturas, os mo<strong>de</strong>los, as práticas e,<br />

principalmente, para a atuação – competências, perfis – dos profissio<strong>na</strong>is<br />

e da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A organização da <strong>Atenção</strong> <strong>Básica</strong><br />

Após a implantação do Piso <strong>de</strong> <strong>Atenção</strong> <strong>Básica</strong> (PAB), o Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong> (MS) estabeleceu as orientações para a organização da <strong>Atenção</strong> <strong>Básica</strong><br />

pela Portaria nº 3.925/GM, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1998 (Brasil, Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>, 1999). Nessa normativa, o Ministério conceitua a <strong>Atenção</strong> <strong>Básica</strong><br />

e explicita o que seja responsabilida<strong>de</strong>, ações, ativida<strong>de</strong>s, resultados e<br />

impactos esperados. Por este documento, procura contribuir <strong>na</strong> reorientação<br />

do mo<strong>de</strong>lo e <strong>na</strong> busca da integralida<strong>de</strong> das ações, reafirmando princípios e<br />

diretrizes do SUS como: saú<strong>de</strong> como direito, integralida<strong>de</strong> da assistência,<br />

universalida<strong>de</strong>, eqüida<strong>de</strong>, resolutivida<strong>de</strong>, intersetorialida<strong>de</strong>, humanização<br />

do atendimento e participação. Nesse sentido, <strong>de</strong>fine <strong>Atenção</strong> <strong>Básica</strong> como<br />

“um conjunto <strong>de</strong> ações, <strong>de</strong> caráter individual ou coletivo, situado no primeiro<br />

nível <strong>de</strong> atenção dos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e voltado para a promoção da saú<strong>de</strong>,<br />

a prevenção <strong>de</strong> agravos, o tratamento e a reabilitação”, consi<strong>de</strong>rando que<br />

“a ampliação <strong>de</strong>sse conceito se tor<strong>na</strong> necessária para avançar <strong>na</strong> criação <strong>de</strong><br />

um sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> centrado <strong>na</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das pessoas e no seu<br />

meio ambiente” (Brasil, Ministério da Saú<strong>de</strong>, 1999).<br />

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