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Princ´ıpio de Joule

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Capítulo 1<br />

Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

1.1 Introdução<br />

Fenômenos térmicos<br />

Os fenômenos térmicos são eventos que ocorrem à nossa volta diariamente e<br />

por isso fazem parte <strong>de</strong> nossa experiência comum. Sentimos as alterações da<br />

temperatura ambiente ao longo do dia e percebemos as mudanças climáticas,<br />

causadas pelas variações <strong>de</strong> pressão e temperatura atmosféricas. Reparamos<br />

que o fogo é a manifestação mais notável dos processos térmicos cotidianos.<br />

Apren<strong>de</strong>mos que ele po<strong>de</strong> ser usado para esquentar a água e fazê-la entrar<br />

em ebulição e <strong>de</strong>scobrimos sua enorme potencialida<strong>de</strong> para gerar movimento<br />

e trabalho útil.<br />

Na ausência do fogo, a água escaldante se esfria espontaneamente acabando<br />

por atingir a temperatura ambiente. Nesse processo <strong>de</strong> resfriamento<br />

espontâneo, constatamos que a energia acaba se dissipando irreversivelmente<br />

na forma <strong>de</strong> calor cedido ao ambiente. Entretanto, é possível evitar<br />

a dissipação se o calor gerado pelo fogo, ou por outro meio, for utilizado<br />

para a obtenção <strong>de</strong> trabalho útil. De fato, isso po<strong>de</strong> ser conseguido por<br />

meio da máquina térmica, que transforma parte do calor em trabalho que<br />

po<strong>de</strong> ser utilizado diretamente ou convertido em outra forma <strong>de</strong> energia.<br />

Constatamos também que um corpo não se esfria espontaneamente, a<br />

menos que seja colocado em contato com outro mais frio. No contato,<br />

o mais quente se esfria porque ce<strong>de</strong> calor espontaneamente ao mais frio.<br />

Entretanto, é possível fazer um corpo se esfriar na ausência <strong>de</strong> outro mais<br />

frio. De fato, isso po<strong>de</strong> ser alcançado por meio do aparelho refrigerador,<br />

1


2 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

que faz o oposto do processo espontâneo, isto é, retira calor <strong>de</strong> um corpo<br />

mais frio pelo consumo <strong>de</strong> trabalho ce<strong>de</strong>ndo calor a um outro mais quente.<br />

Os princípios do funcionamento tanto das máquinas térmicas quanto<br />

dos refrigeradores estão diretamente relacionados com as leis fundamentais<br />

da termodinâmica, que são leis que regem o modo como o calor se transforma<br />

em trabalho e vice-versa. Essas leis fundamentais também regem o<br />

comportamento térmico dos corpos como a dilatação térmica, o <strong>de</strong>créscimo<br />

do volume por compressão, o aumento da temperatura pela absorção <strong>de</strong><br />

calor, etc.<br />

Em geral, os corpos se dilatam quando aquecidos, como acontece com<br />

uma haste <strong>de</strong> ferro ou com o mercúrio no interior <strong>de</strong> um termômetro. Alguns<br />

materiais, ao contrário, se contraem quando aquecidos, como acontece<br />

com a borracha. Citamos ainda o comportamento peculiar da água quando<br />

aquecida, que se dilata se estiver acima <strong>de</strong> quatro graus Celsius e se contrai<br />

se estiver abaixo <strong>de</strong>ssa temperatura. Os corpos também se contraem pelo<br />

aumento da pressão exercida sobre eles. Alguns corpos po<strong>de</strong>m ser comprimidos<br />

mais facilmente do que outros. Em geral, os gases têm gran<strong>de</strong>s<br />

variações <strong>de</strong> volume quando comprimidos, contrariamente ao que acontece<br />

com os líquidos e sólidos, que têm pequena diminuição do volume.<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor que os corpos po<strong>de</strong>m receber é uma proprieda<strong>de</strong><br />

termodinâmica fundamental. Alguns corpos po<strong>de</strong>m receber muito calor e<br />

ter um acréscimo pequeno na temperatura. A variação <strong>de</strong> temperatura<br />

também po<strong>de</strong> ser nula, como acontece com um sistema composto por duas<br />

ou mais fases termodinâmicas em coexistência. Um exemplo trivial é o<br />

sistema constituído pela água em coexistência com o gelo. Se esse sistema<br />

receber calor, uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gelo irá <strong>de</strong>rreter passando para o<br />

estado líquido, mas a temperatura permanecerá inalterada.<br />

Objeto <strong>de</strong> estudo<br />

Adotamos o ponto <strong>de</strong> vista segundo o qual a ciência da termodinâmica<br />

diz respeito ao estudo das proprieda<strong>de</strong>s macroscópicas dos corpos a partir<br />

<strong>de</strong> leis fundamentais também macroscópicas. Isso não significa que as leis<br />

da termodinâmica não possam ser obtidas a partir <strong>de</strong> leis que regem o<br />

movimento microscópico da matéria. Enten<strong>de</strong>mos apenas que essa tarefa<br />

está fora do objetivo da termodinâmica e pertence ao domínio da mecânica<br />

estatística.


1.1 Introdução 3<br />

De acordo com nosso ponto <strong>de</strong> vista, as leis e proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas<br />

prescin<strong>de</strong>m <strong>de</strong> referência à constituição microscópica da matéria. Entretanto,<br />

elas adquirem maior compreensão se pu<strong>de</strong>rmos recorrer à constituição<br />

atômica da matéria. Afinal, o gran<strong>de</strong> avanço no estudo dos fenômenos<br />

térmicos, que <strong>de</strong>u origem à ciência da termodinâmica, <strong>de</strong>ve-se ao entendimento<br />

do calor como a agitação da matéria ao nível microscópico.<br />

Neste capítulo e nos próximos, consi<strong>de</strong>raremos sistemas mecânicos, que<br />

envolvem apenas calor e trabalho mecânico, constituídos por um fluido isotrópico,<br />

que po<strong>de</strong> ser tanto um gás quanto um líquido isotrópico. Em outros<br />

capítulos examinaremos outros sistemas termodinâmicos, que envolvem o<br />

calor e outros tipos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Equilíbrio termodinâmico<br />

Neste livro estudamos sistemas que estejam em equilíbrio termodinâmico.<br />

Os estados <strong>de</strong> equilíbrio termodinâmico são caracterizados por não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem<br />

da maneira como são atingidos e sua existência constitui um postulado<br />

fundamental da termodinâmica. Além disso, eles são <strong>de</strong>scritos por<br />

um número pequeno <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas físicas. As proprieda<strong>de</strong>s que são funções<br />

do estado <strong>de</strong> equilíbrio termodinâmico não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m portanto da maneira<br />

como o equilíbrio é atingido.<br />

O equilíbrio termodinâmico <strong>de</strong> um sistema abrange o equilíbrio térmico<br />

e outras formas <strong>de</strong> equilíbrio, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tipo <strong>de</strong> sistema termodinâmico<br />

em estudo. Um sistema mecânico em equilíbrio termodinâmico<br />

encontra-se em equilíbrio térmico e em equilíbrio mecânico.<br />

Quando um corpo quente é colocado em contato com um corpo frio,<br />

estabelece-se um fluxo <strong>de</strong> calor do primeiro para o segundo até o instante<br />

em que eles atingem uma situação em que o fluxo cessa. A partir <strong>de</strong>sse<br />

instante os dois corpos estão em equilíbrio térmico. O equilíbrio térmico<br />

po<strong>de</strong> ser verificado por meio da medida da temperatura dos corpos. Se<br />

os dois corpos tiverem a mesma temperatura então eles se encontram em<br />

equilíbrio térmico. Se diversos corpos estiverem em contato térmico entre si,<br />

eles estarão em equilíbrio térmico se todos tiverem a mesma temperatura.<br />

Devemos consi<strong>de</strong>rar também o equilíbrio térmico interno <strong>de</strong> um sistema<br />

termodinâmico. Nesse caso é útil enten<strong>de</strong>r o sistema como sendo constituído<br />

<strong>de</strong> várias partes que compõem um conjunto <strong>de</strong> vários corpos em contato.<br />

O equilíbrio interno significa que não há fluxos <strong>de</strong> calor entre as diversas<br />

partes do sistema <strong>de</strong> modo que todas elas <strong>de</strong>vem ter a mesma temperatura.


4 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

Em resumo, todas as partes <strong>de</strong> um sistema em equilíbrio térmico têm a<br />

mesma temperatura.<br />

Se o objeto <strong>de</strong> estudo for um sistema mecânico, o equilíbrio termodinâmico<br />

compreen<strong>de</strong>rá também o equilíbrio mecânico. Por exemplo, dois<br />

gases encerrados num recipiente e separados por uma pare<strong>de</strong> móvel estarão<br />

em equilíbrio mecânico se a pare<strong>de</strong> estiver em repouso. Nessa situação, a<br />

pressão será a mesma em ambos os lados da pare<strong>de</strong>. De forma genérica,<br />

o equilíbrio mecânico <strong>de</strong> um fluido, na ausência <strong>de</strong> forças externas, requer<br />

a inexistência <strong>de</strong> gradientes <strong>de</strong> pressão no interior do fluido. Assim, todas<br />

as partes <strong>de</strong> um sistema em equilíbrio mecânico possuem a mesma pressão,<br />

na ausência <strong>de</strong> forças externas.<br />

Processo termodinâmico<br />

Um gás po<strong>de</strong> ter seu estado termodinâmico modificado <strong>de</strong> diversas maneiras<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> que <strong>de</strong>limita o recipiente que encerra o<br />

gás. Se as pare<strong>de</strong>s forem rígidas mas permitirem a troca <strong>de</strong> calor, pare<strong>de</strong>s<br />

diatérmicas, o estado do gás po<strong>de</strong>rá ser modificado simplesmente pelo contato<br />

do recipiente, por exemplo, com um corpo mais quente. Nesse caso,<br />

o gás recebe calor e sua pressão aumenta enquanto o volume permanece<br />

inalterado. Se, por outro lado, as pare<strong>de</strong>s do recipiente não permitirem<br />

a troca <strong>de</strong> calor, pare<strong>de</strong>s adiabáticas, mas forem móveis, o estado po<strong>de</strong>rá<br />

ser modificado pelo movimento das pare<strong>de</strong>s. Uma compressão diminuirá o<br />

volume do gás aumentado a sua pressão. Se as pare<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> rígidas,<br />

forem adiabáticas, então o gás estará totalmente isolado do exterior e seu<br />

estado não será modificado.<br />

Se um sistema tem seu estado termodinâmico modificado, dizemos que<br />

ele sofre um processo termodinâmico. No estudo da termodinâmica <strong>de</strong><br />

equilíbrio nos interessa particularmente os processos cujos estados inicial e<br />

final sejam estados <strong>de</strong> equilíbrio termodinâmico. Os estados intermediários<br />

não po<strong>de</strong>m ser todos <strong>de</strong> equilíbrio pois é necessário retirar o sistema <strong>de</strong> seu<br />

estado <strong>de</strong> equilíbrio inicial para que o processo se realize. É possível acontecer<br />

que todos os estados intermediários sejam estados fora <strong>de</strong> equilíbrio,<br />

como ocorre com a expansão livre <strong>de</strong> um gás, que po<strong>de</strong> ser realizado da<br />

seguinte maneira. Num recipiente com dois compartimentos, um gás ocupa<br />

um dos dois compartimentos enquanto o outro está vazio. Num certo instante<br />

a pare<strong>de</strong> que separa os compartimentos é removida, o gás se expan<strong>de</strong><br />

livremente e após um certo tempo o equilíbrio é restabelecido num estado


1.2 Trabalho 5<br />

em que o gás ocupa todo o recipiente.<br />

Po<strong>de</strong>mos imaginar também que o estado final <strong>de</strong> equilíbrio seja alcançado<br />

por um processo termodinâmico constituído por uma sucessão<br />

<strong>de</strong> estados <strong>de</strong> equilíbrio, intercalados entre o estado inicial e final. Para<br />

isso, aplicamos pequenas perturbações no sistema a intervalos regulares <strong>de</strong><br />

tempo. O intervalo entre duas perturbações <strong>de</strong>ve ser suficientemente gran<strong>de</strong><br />

para que o sistema possa relaxar para um novo estado <strong>de</strong> equilíbrio antes<br />

que seja perturbado novamente.<br />

Se imaginarmos agora que a perturbação seja muito pequena então o<br />

estado <strong>de</strong> equilíbrio logo após cada perturbação será muito próximo do estado<br />

perturbado <strong>de</strong> modo que o intervalo <strong>de</strong> tempo entre duas perturbações<br />

po<strong>de</strong>rá ser reduzido. No limite em que as perturbações sejam arbitrariamente<br />

pequenas e o número <strong>de</strong>las infinitamente gran<strong>de</strong>, os estados <strong>de</strong><br />

equilíbrio sucessivos formarão uma sequência contínua o que <strong>de</strong>fine um processo<br />

termodinâmico quase-estático. Assim como os estados <strong>de</strong> equilíbrio,<br />

os processos quase-estáticos têm um papel fundamental na termodinâmica<br />

<strong>de</strong> equilíbrio.<br />

1.2 Trabalho<br />

Representação dos processos quase-estáticos<br />

Consi<strong>de</strong>re uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gás confinado num recipiente. Movimentando<br />

as pare<strong>de</strong>s do recipiente, po<strong>de</strong>mos ajustar o volume V do gás no<br />

valor que <strong>de</strong>sejarmos. Introduzindo ou retirando calor, po<strong>de</strong>mos fazer a<br />

pressão p do gás variar até que ela atinja o valor que <strong>de</strong>sejarmos. Estando<br />

o gás em equilíbrio seu estado é caracterizado pelo volume V e pela pressão<br />

p e, portanto, po<strong>de</strong>rá ser representado por um ponto no diagrama pressão<br />

versus volume, <strong>de</strong>nominado diagrama <strong>de</strong> Clapeyron.<br />

Imagine que o gás sofra um processo quase-estático que o leve <strong>de</strong> um<br />

estado <strong>de</strong> equilíbrio inicial A até um estado <strong>de</strong> equilíbrio final B. Esses<br />

dois estados são representados por dois pontos no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron.<br />

Os estados intermediários do processo também são estados <strong>de</strong> equilíbrio<br />

e, portanto, possuem representação no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron. Logo, o<br />

processo quase-estático correspon<strong>de</strong> a uma sucessão <strong>de</strong> pontos no diagrama<br />

<strong>de</strong> Clapeyron, formando uma trajetória contínua que liga os pontos A e B,<br />

como po<strong>de</strong> ser visto na figura 1.1.


6 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

p<br />

A<br />

B<br />

V A V B V<br />

Figura 1.1: Representação <strong>de</strong> um processo quase-estático ligando os estado A e<br />

B, no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron. A área sob a curva entre os pontos A e B é igual<br />

ao trabalho realizado.<br />

É importante observar que processos fora <strong>de</strong> equilíbrio, isto é, tais que<br />

o gás não se encontra em equilíbrio, não têm representação no diagrama <strong>de</strong><br />

Clapeyron. Suponha, por exemplo, que um gás sofra uma expansão livre.<br />

Antes da expansão, o gás está em equilíbrio e seu estado será representado<br />

por um ponto no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron. Depois da expansão e assim que<br />

entrar novamente em equilíbrio, o estado do gás será representado por um<br />

outro ponto, distinto do primeiro. Entretanto, esses dois pontos não estarão<br />

conectados por uma trajetória pois a expansão livre, que é um processo fora<br />

<strong>de</strong> equilíbrio, não possui representação no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron, embora<br />

os estados inicial e final o possuam.<br />

Processos isocórico e isobárico<br />

O processo quase-estático mais simples <strong>de</strong> ser realizado é aquele em que o<br />

volume do gás permanece inalterado, <strong>de</strong>nominado processo isocórico. A trajetória<br />

correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>nomina-se isocórica, que no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron<br />

é simplesmente um segmento <strong>de</strong> reta paralelo ao eixo-p. Introduzindo<br />

calor no gás lentamente enquanto as pare<strong>de</strong>s do recipiente são mantidas<br />

inalteradas, estaremos diante <strong>de</strong> um processo isocórico.<br />

O processo quase-estático em que a pressão permanece inalterada é<br />

<strong>de</strong>nominado processo isobárico. A trajetória correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>nomina-se<br />

isobárica, que no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron é simplesmente um segmento <strong>de</strong>


1.2 Trabalho 7<br />

reta paralelo ao eixo-V . Imagine que o gás esteja confinado num recipiente<br />

cilíndrico cuja base e pare<strong>de</strong>s laterais são rígidas e cujo tampo po<strong>de</strong> se<br />

mover livremente. Sobre o tampo existe um bloco e o sistema composto<br />

pelo recipiente, gás e bloco encontra-se em equilíbrio mecânico. Suponha<br />

que a partir <strong>de</strong> um certo instante o gás seja submetido a um fluxo contínuo<br />

<strong>de</strong> calor, por exemplo, através da base do recipiente. Suponha ainda que a<br />

transferência <strong>de</strong> calor seja suficientemente lenta para que o sistema possa<br />

ser consi<strong>de</strong>rado em equilíbrio mecânico a cada instante. Devido ao fluxo<br />

contínuo <strong>de</strong> calor, o gás se expan<strong>de</strong> e o bloco se eleva. Tendo em vista que<br />

o bloco possui um peso fixo, a pressão do gás permanecerá constante ao<br />

longo da expansão e estaremos diante <strong>de</strong> um processo isobárico.<br />

Trabalho mecânico<br />

Consi<strong>de</strong>re o processo isobárico que acabamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver. Se <strong>de</strong>notarmos<br />

por A a área do tampo, então a força exercida pelo gás sobre o bloco será<br />

F = pA. Se o tampo se elevar <strong>de</strong> uma altura l 1 para uma altura l 2 então o<br />

trabalho W realizado pelo gás no processo isobárico será W = F(l 2 −l 1 ) =<br />

pA(l 2 − l 1 ) ou seja<br />

W = p(V 2 − V 1 ), (1.1)<br />

em que V 1 = Al 1 é o volume inicial e V 2 = Al 2 é o volume final. O trabalho<br />

realizado pelo gás é representado no diagrama <strong>de</strong> Clapeyron pela área sob<br />

o segmento <strong>de</strong> reta que representa o processo isobárico.<br />

Vamos imaginar em seguida um processo quase-estático qualquer ligando<br />

os estados A e B, como aquele mostrado na figura 1.1. Tal processo po<strong>de</strong><br />

ser realizado alterando <strong>de</strong> forma conveniente a massa do bloco que repousa<br />

sobre o tampo do recipiente assim como o fluxo <strong>de</strong> calor. Em seguida<br />

aproximamos o processo por uma sucessão <strong>de</strong> subprocessos isobáricos tais<br />

que a variação do volume em cada um <strong>de</strong>les seja ∆V . Denotando por<br />

p i a pressão correspon<strong>de</strong>nte ao ponto inicial <strong>de</strong> cada subprocesso, então o<br />

trabalho realizado é dado pela soma dos trabalhos correspon<strong>de</strong>ntes a cada<br />

subprocesso isobárico,<br />

W = ∑ i<br />

p i ∆V. (1.2)<br />

No limite em que o número <strong>de</strong> subprocessos aumenta sem limites, ∆V → 0


8 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

e o trabalho se torna igual à integral<br />

∫<br />

W =<br />

pdV. (1.3)<br />

A área sob a trajetória é igual ao trabalho realizado pelo gás. Quando<br />

um gás realiza trabalho, aumentando o seu volume, W é positivo pois a<br />

pressão dos gás é positiva. Quando um gás consome trabalho, diminuindo<br />

o seu volume, W é negativo. Notar que num processo isocórico, o trabalho<br />

realizado pelo gás é nulo.<br />

Como exemplo do cálculo do trabalho, suponha que um gás sofra um<br />

processo tal que sua pressão seja inversamente proporcional ao volume, ou<br />

seja,<br />

p = B (1.4)<br />

V<br />

ao longo da trajetória, em que B é constante. O trabalho realizado por<br />

esse gás quando ele se expan<strong>de</strong> <strong>de</strong> um volume V 1 até um volume V 2 será<br />

∫ V2<br />

∫ V2<br />

1<br />

W = pdV = B<br />

V 1<br />

V 1<br />

V dV = B ln V 2<br />

. (1.5)<br />

V 1<br />

Como segundo exemplo, suponha um outro processo tal que a pressão<br />

do gás varia <strong>de</strong> acordo com a equação<br />

p = A V γ , (1.6)<br />

em que A é constante e γ é uma constante numérica maior do que um. Se<br />

o gás se expan<strong>de</strong> <strong>de</strong> um volume inicial V 1 até um volume final V 2 , então o<br />

trabalho realizado pelo gás será<br />

W =<br />

∫ V2<br />

V 1<br />

pdV = A<br />

∫ V2<br />

V −γ dV = A −γ+1<br />

{V2 − V −γ+1<br />

1 }. (1.7)<br />

V 1<br />

−γ + 1<br />

Usando a notação p 1 = AV −γ<br />

1 e p 2 = AV −γ<br />

2 , então<br />

W = 1<br />

γ − 1 (p 1V 1 − p 2 V 2 ). (1.8)<br />

No Sistema Internacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s, o volume é medido em m 3 e<br />

a pressão em pascal (Pa), <strong>de</strong>finido como igual a um newton por metro<br />

quadrado. Outra unida<strong>de</strong> muito usual para a pressão, mas não pertencente<br />

ao Sistema Internacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s é a atmosfera (atm), <strong>de</strong>finida como<br />

101325 Pa. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho no Sistema Internacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s é<br />

o joule (J), <strong>de</strong>finido como igual a um newton-metro.


1.3 Calor 9<br />

1.3 Calor<br />

Medida do calor<br />

Se colocarmos um corpo em contato com um outro mais quente, haverá<br />

a transferência <strong>de</strong> calor do segundo para o primeiro. Entretanto, nesse<br />

procedimento não saberemos quanto calor é transferido <strong>de</strong> um corpo ao<br />

outro. Para transferir uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor a um sistema<br />

proce<strong>de</strong>mos como no seguinte exemplo.<br />

Um sistema constituído por um fluido confinado num recipiente <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

adiabáticas possui no seu interior uma hélice em cujo eixo encontra-se<br />

enrolado um fio inextensível. Esse fio passa por uma pequena roldana e<br />

em sua extremida<strong>de</strong> está preso um bloco <strong>de</strong> massa m. Inicialmente o bloco<br />

encontra-se em repouso e a hélice imóvel. Em seguida o bloco é liberado e<br />

<strong>de</strong>sce lentamente com velocida<strong>de</strong> constante v <strong>de</strong>vido ao atrito da hélice com<br />

o fluido. Como a velocida<strong>de</strong> é constante a potência dissipada pela hélice é<br />

igual ao trabalho realizado pela força da gravida<strong>de</strong> por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo<br />

mgv, em que g é a aceleração da gravida<strong>de</strong>. Num intervalo <strong>de</strong> tempo ∆t<br />

o fluido recebe uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor Q = mgv∆t. Tal procedimento,<br />

em que uma quantida<strong>de</strong> mensurável <strong>de</strong> calor é introduzida num sistema,<br />

<strong>de</strong>nominamos procedimento <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>.<br />

Uma outra forma <strong>de</strong> realizar o procedimento <strong>de</strong> <strong>Joule</strong> é colocar no<br />

interior do sistema um resistor elétrico ligado a uma bateria. Se o circuito<br />

for fechado por um intervalo <strong>de</strong> tempo ∆t, o calor recebido pelo sistema<br />

será igual a Q = (E 2 /R)∆t, em que R é a resistência do resistor e E é a<br />

força eletromotriz da bateria.<br />

Se um sistema for levado <strong>de</strong> um estado A a um estado B, através <strong>de</strong> um<br />

processo quase-estático qualquer em que recebe calor, o procedimento <strong>de</strong><br />

<strong>Joule</strong> permite a <strong>de</strong>terminação direta da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor recebido pelo<br />

sistema. Se por outro lado, o sistema sofrer um processo quase-estático<br />

<strong>de</strong> um estado C a um estado D, em que ele ce<strong>de</strong> calor, o procedimento<br />

<strong>de</strong> <strong>Joule</strong> não po<strong>de</strong> ser aplicado diretamente pois tal procedimento só po<strong>de</strong><br />

ser usado para transferir calor ao sistema. Notamos, entretanto, que no<br />

processo inverso o sistema recebe calor e que esse calor po<strong>de</strong> ser medido<br />

pelo procedimento <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>. O calor cedido pelo sistema no processo direto<br />

CD é o mesmo que o calor recebido no processo inverso DC.<br />

Convencionamos que o calor recebido pelo sistema em consi<strong>de</strong>ração seja<br />

positivo e que o calor cedido pelo sistema seja negativo. Denotando por


10 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

Q AB o calor trocado no processo AB, então <strong>de</strong> acordo com essa convenção<br />

Q AB > 0. Analogamente, Q CD < 0, Q DC > 0 e, além disso, Q CD = −Q DC .<br />

Caloria<br />

O calor possui a mesma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida que o trabalho. No Sistema<br />

Internacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s ambos são medidos em joules (J). Outra unida<strong>de</strong><br />

para o calor muito usada, mas não pertencente ao Sistema Internacional <strong>de</strong><br />

Unida<strong>de</strong>s, é a caloria (cal), <strong>de</strong>finida como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor necessário<br />

para elevar a temperatura <strong>de</strong> um grama <strong>de</strong> água <strong>de</strong> um grau Celsius. Essa<br />

<strong>de</strong>finição está diretamente relacionada com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> calor específico.<br />

Entretanto, o calor específico da água não é constante, mas varia com a<br />

temperatura, o que torna a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caloria imprecisa, a menos que<br />

se <strong>de</strong>clare qual temperatura, ou qual intervalo <strong>de</strong> temperaturas, tomamos<br />

como referência. Assim, várias calorias po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas, tais como<br />

a caloria termoquímica, equivalente a 4,184 J; a caloria IT, equivalente<br />

a 4,1868 J; a caloria média, equivalente a 4,1900 J; a caloria a 15 ◦ C,<br />

equivalente a 4,1858 J; e a caloria a 20 ◦ C, equivalente a 4,1819 J.<br />

A origem da caloria como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor ocorreu antes do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da termodinâmica, quando as medidas <strong>de</strong> calor não eram relacionadas<br />

com as medidas <strong>de</strong> trabalho. O método mais comum para medir o<br />

calor <strong>de</strong>senvolvido num processo é compará-lo com aquele necessário para<br />

elevar <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temperatura uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

água. Outro método para medir calor é aquele utilizado por Lavoisier e<br />

Laplace, em que o calor <strong>de</strong>senvolvido num sistema é <strong>de</strong>terminado pela quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gelo que tal calor po<strong>de</strong> <strong>de</strong>rreter. Vale mencionar que o primeiro<br />

método está ligado ao calor específico da água e o segundo, ao calor latente<br />

<strong>de</strong> fusão do gelo.<br />

Os primeiros valores para a caloria encontram-se nas experiências <strong>de</strong><br />

<strong>Joule</strong>, sobre a <strong>de</strong>terminação do equivalente mecânico do calor, isto é, do trabalho<br />

necessário para elevar <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temperatura uma unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> água. <strong>Joule</strong> mostrou que o calor necessário para elevar <strong>de</strong><br />

um grau Fahrenheit a temperatura <strong>de</strong> uma libra <strong>de</strong> água é equivalente ao<br />

trabalho <strong>de</strong>senvolvido pela queda <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> 772 libras <strong>de</strong> uma altura<br />

<strong>de</strong> um pé. No Sistema Internacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s isso equivale a 4,16 J.<br />

Esse valor obtido por <strong>Joule</strong> para o equivalente mecânico do calor e, portanto,<br />

da caloria está muito próximo dos valores atuais da caloria. Antes<br />

<strong>de</strong> <strong>Joule</strong>, o equivalente mecânico do calor foi obtido por Mayer. De acordo


1.4 Conservação da energia 11<br />

com Mayer, o aquecimento <strong>de</strong> uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água <strong>de</strong> um 1 ◦ C<br />

correspon<strong>de</strong> à queda da mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água <strong>de</strong> uma altura <strong>de</strong> 365<br />

m. Esse resultado equivale a 3,58 J.<br />

Processo quase-estático adiabático<br />

Consi<strong>de</strong>re um gás confinado num recipiente cilíndrico <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s adiabáticas,<br />

<strong>de</strong> modo que não há troca <strong>de</strong> calor entre o ambiente e o sistema. Em seguida<br />

imagine que o tampo seja elevado lentamente, acarretando a expansão do<br />

gás. Isso po<strong>de</strong> ser feito imaginando que inicialmente o tampo contenha<br />

uma certa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> areia. A areia é então removida lentamente, <strong>de</strong><br />

modo que o processo será quase-estático. O gás sofre então um processo<br />

quase-estático em que não há troca <strong>de</strong> calor com o ambiente, ou seja, um<br />

processo quase-estático adiabático. A trajetória correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>nominase<br />

adiabática.<br />

1.4 Conservação da energia<br />

Energia interna<br />

Para <strong>de</strong>finir a energia interna <strong>de</strong> um gás, usamos como referência um ponto<br />

qualquer do diagrama <strong>de</strong> Clapeyron, rotulando-o por O = (V 0 , p 0 ), e associamos<br />

arbitrariamente a esse ponto uma energia U 0 . Para <strong>de</strong>terminar a<br />

energia U A <strong>de</strong> um ponto A = (V A , p A ) qualquer, escolhemos um processo<br />

composto por uma adiabática seguida por uma isocórica, como mostrado<br />

na figura 1.2. A adiabática liga o ponto O a um ponto intermediário<br />

B = (V B , p B ) enquanto a isocórica liga o ponto B ao ponto final A. Se<br />

<strong>de</strong>notarmos por W 0B o trabalho realizado pelo gás no processo adiabático<br />

e por Q BA o calor recebido pelo gás no processo isocórico, então a energia<br />

U A é <strong>de</strong>finida por<br />

U A = U 0 − W 0B + Q BA , (1.9)<br />

em que o trabalho é <strong>de</strong>terminado pela fórmula (1.3) enquanto o calor é<br />

medido pelo procedimento <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>. Po<strong>de</strong> acontecer, entretanto, que Q BA<br />

seja negativo, acarretando a impossibilida<strong>de</strong> do uso do procedimento <strong>de</strong><br />

<strong>Joule</strong>. Nesse caso, utilizamos o processo inverso e <strong>de</strong>terminamos U A por<br />

meio <strong>de</strong><br />

U 0 = U A − W B0 + Q AB , (1.10)


12 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

p<br />

C<br />

O<br />

A<br />

B<br />

Figura 1.2: O ponto A está ligado ao ponto <strong>de</strong> referência O por dois caminhos.<br />

O primeiro é composto por uma adiabática (OB) seguida por uma isocórica (BA).<br />

O segundo é composto por uma isocórica (OC) seguida por uma adiabática (CA).<br />

V<br />

pois Q AB = −Q BA > 0. Como quaisquer dois estados po<strong>de</strong>m ser ligados por<br />

uma adiabática seguida <strong>de</strong> uma isocórica, então a energia interna do gás<br />

está <strong>de</strong>finida para qualquer estado.<br />

Princípio da conservação da energia<br />

Suponha que escolhamos um outro caminho para atingir o ponto A a partir<br />

do ponto O. Por exemplo, o caminho OCA, mostrado na figura 1.2, composto<br />

por uma isocórica seguida por uma adiabática. Nesse caso, o trabalho<br />

e o calor são diferentes do caso anterior. Entretanto, o princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>,<br />

ou princípio da conservação da energia, afirma que a energia <strong>de</strong> um estado<br />

<strong>de</strong> equilíbrio in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do processo utilizado para atingi-lo. Assim a energia<br />

do ponto A será a mesma, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do caminho usado para<br />

atingir o ponto A a partir do ponto <strong>de</strong> referência O. Escrevemos então, para<br />

qualquer caminho,<br />

U A = U 0 + Q − W, (1.11)<br />

em que Q é o calor trocado e W é o trabalho realizado pelo sistema ao<br />

longo do caminho escolhido.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora dois pontos quaisquer A e B. A diferença <strong>de</strong> energia<br />

∆U = U B − U A entre esses dois pontos será então<br />

∆U = Q − W, (1.12)


1.4 Conservação da energia 13<br />

em que Q é o calor trocado e W é o trabalho realizado pelo sistema ao<br />

longo <strong>de</strong> um caminho qualquer entre A e B. Lembrar que o calor trocado<br />

é positivo quando recebido pelo sistema e é negativo quando cedido pelo<br />

sistema; o trabalho efetivamente realizado pelo sistema é positivo enquanto<br />

o trabalho consumido é negativo.<br />

Primeira lei da termodinâmica<br />

O princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong>, ou princípio da conservação da energia, constitui a<br />

primeira lei da termodinâmica. Ela foi estabelecida por vários cientistas,<br />

mas principalmente por Mayer e <strong>Joule</strong>, que admitiram que as diversas formas<br />

<strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong>riam ser convertidas uma nas outras e que, além disso,<br />

todas elas po<strong>de</strong>riam ser dissipadas na forma <strong>de</strong> calor. Embora pareça bastante<br />

evi<strong>de</strong>nte que o trabalho se transforme em calor, por exemplo, por<br />

atrito, não se po<strong>de</strong> concluir que o trabalho dissipado produza sempre a<br />

mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor. É necessário verificar experimentalmente tal<br />

lei, que se resume na <strong>de</strong>terminação do equivalente mecânico do calor. Isso<br />

<strong>de</strong> fato foi feito por Mayer e <strong>de</strong> forma exaustiva por <strong>Joule</strong> por meio <strong>de</strong><br />

inúmeras experiências. Admitindo, portanto, que uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho sempre se transforme numa mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor,<br />

eles estavam adotando a conservação da energia.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista microscópico, o princípio da conservação da energia<br />

foi elaborado por Helmholtz. Supondo a constituição atômica da matéria,<br />

Helmholtz esten<strong>de</strong>u o teorema da conservação da energia mecânica ao movimento<br />

microscópico dos átomos. Ou seja, admitiu que a soma da energia<br />

cinética e da energia potencial dos átomos é constante e constitui, portanto,<br />

a energia interna <strong>de</strong> um corpo. Quando trabalho <strong>de</strong> qualquer forma se dissipa<br />

em calor, isso significa, do ponto <strong>de</strong> vista microscópico, que os átomos<br />

ganham energia. Portanto, <strong>de</strong> acordo com Helmholtz e outros cientistas<br />

que estabeleceram a teoria cinética da matéria, o calor está associado ao<br />

movimento microscópico dos átomos.<br />

Exercícios<br />

1. Um gás sofre um processo quase-estático e se expan<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> um<br />

estado A caracterizado por um volume V 0 e uma pressão p 0 até um estado<br />

B correspon<strong>de</strong>nte a um volume V 1 . Nessa expansão a pressão varia com


14 1 Princípio <strong>de</strong> <strong>Joule</strong><br />

o volume <strong>de</strong> acordo com p = p 0 V 5/3<br />

0 V −5/3 . Determine a pressão p 1 correspon<strong>de</strong>nte<br />

ao estado B. Calcule o trabalho realizado pelo gás quando ele<br />

se expan<strong>de</strong> do estado A até o estado B. Supondo que essa expansão seja<br />

adiabática, qual é a variação da energia interna? O gás teve sua energia<br />

aumentada ou diminuída?<br />

2. Um gás percorre o processo <strong>de</strong>scrito no exercício anterior e em seguida<br />

sofre uma compressão isocórica até um estado final C cuja pressão é p 0 , a<br />

mesma do estado A. Nesse processo ele recebe uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor Q.<br />

Suponha agora que o gás sofra um processo isobárico <strong>de</strong> A até C. Qual a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor recebida nesse processo?<br />

3. Para um <strong>de</strong>terminado gás a energia interna U <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do volume e da<br />

pressão <strong>de</strong> acordo com U = (3/2)pV . Determine o trabalho realizado pelo<br />

gás quando ele é expandido <strong>de</strong> um estado A até um estado B, sendo que A<br />

e B pertencem a uma mesma adiabática. Determine o calor recebido pelo<br />

gás quando ele sofre um processo isocórico do estado B até um estado C<br />

tal que C tenha a mesma energia que A. Suponha agora que o gás sofra um<br />

processo que o leve <strong>de</strong> A até C por um processo quase-estático a energia<br />

constante. Determine o trabalho e o calor ao longo <strong>de</strong>sse processo. Dados:<br />

V A , p A e V B , p B .<br />

4. Suponha que o mesmo gás do problema anterior sofra uma expansão<br />

quase-estática adiabática a partir <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> referência (V 0 , p 0 ) do<br />

diagrama <strong>de</strong> Clapeyron. Ao longo da adiabática o calor trocado é nulo, <strong>de</strong><br />

modo que o trabalho W realizado pelo gás até um ponto genérico (V, p) é<br />

igual a variação da energia ∆U, ou seja,<br />

∫ V<br />

− pdV = 3<br />

V 0<br />

2 pV − 3 2 p 0V 0 .<br />

Use essa equação para <strong>de</strong>terminar a equação da curva adiabática que passa<br />

pelo ponto <strong>de</strong> referência. Sugestão: <strong>de</strong>rive ambos os membros <strong>de</strong>ssa equação<br />

com relação a V para encontrar uma equação diferencial para p(V ).<br />

5. Para um <strong>de</strong>terminado gás a equação da adiabática que passa por um<br />

ponto <strong>de</strong> referência (V 0 , p 0 ) é pV 5/3 = p 0 V 5/3<br />

0 . Além disso, o calor introduzido<br />

<strong>de</strong> forma quase-estática, a volume constante, entre os pontos (V, p 1 )<br />

e (V, p) é Q v = (3/2)(p − p 1 )V . Determine a energia interna como função<br />

<strong>de</strong> V e p.

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