03.07.2015 Views

Cap´ıtulo 6 Gás de elétrons livres

Cap´ıtulo 6 Gás de elétrons livres

Cap´ıtulo 6 Gás de elétrons livres

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo 6<br />

<strong>Gás</strong> <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong><br />

8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

1 Estados eletrônicos<br />

Metais<br />

Os metais possuem proprieda<strong>de</strong>s singulares quando comparados com outros<br />

tipos <strong>de</strong> sólidos. Possuem ductibilida<strong>de</strong>, maleabilida<strong>de</strong> e apresentam o característico<br />

brilho metálico. Entretanto, o que nos interessa particularmente<br />

é que eles são excelentes condutores <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> e calor. A condução<br />

elétrica em metais se <strong>de</strong>ve aos <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong> condução, os quais também são<br />

responsáveis por gran<strong>de</strong> parte da condução térmica. Se imaginarmos átomos<br />

sendo agrupados para a formar um sólido metálico, vemos que os <strong>elétrons</strong><br />

<strong>de</strong> valência se <strong>de</strong>sligam dos átomos e adquirem a mobilida<strong>de</strong> para percorrer<br />

todo o sólido e por isso são <strong>de</strong>nominados <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong> condução. Surpreen<strong>de</strong>ntemente,<br />

a gran<strong>de</strong> maioria dos sólidos simples, compostos por um único tipo<br />

<strong>de</strong> átomo, apresentem caráter metálico. Alguns sólidos metálicos simples<br />

contribuem com um elétron <strong>de</strong> condução por átomo, como acontece com os<br />

alcalinos (Li, Na, Rb, Cs), o cobre, a prata e o ouro. Outros contribuem com<br />

dois, como os alcalinos-terrosos (Be, Mg, Ca, Sr, Ba), o ferro, o manganês,<br />

o zinco, o cádmio e o mercúrio no estado sólido. O alumínio e o gálio contribuem<br />

com três, o estanho e o chumbo com quatro e o bismuto e estanho<br />

com cinco.<br />

Um sólido metálico po<strong>de</strong> ser visto como constituído por íons positivos<br />

localizados nos sítios <strong>de</strong> uma estrutura espacial e por <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong> condução<br />

não localizados. Os íons não se encontram em repouso absoluto mas vibram<br />

1


em torno <strong>de</strong> suas posições <strong>de</strong> equilíbrio. A quantização dos modos normais<br />

<strong>de</strong> vibração dos átomos dão origem aos fônons. Dessa forma po<strong>de</strong>mos imaginar<br />

um sólido metálico como um sistema formado por fônons e <strong>elétrons</strong><br />

<strong>de</strong> condução. Quatro tipos <strong>de</strong> interações <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados: (a) entre<br />

<strong>elétrons</strong> e fônons, (b) entre fônons e fônons, (c) entre <strong>elétrons</strong> e <strong>elétrons</strong>, e<br />

(d) entre <strong>elétrons</strong> e os íons estáticos.<br />

Um mo<strong>de</strong>lo simples para um sólido metálico consiste em <strong>de</strong>sprezar a interação<br />

entre <strong>elétrons</strong> e fônons. De acordo com esse mo<strong>de</strong>lo, o sólido metálico<br />

se torna equivalente a dois sistemas fracamente interagentes, um <strong>de</strong>les constituído<br />

apenas por fônons e outro apenas por <strong>elétrons</strong>. Dessa forma, a capacida<strong>de</strong><br />

térmica, por exemplo, se torna a soma da capacida<strong>de</strong> térmica dos<br />

fônons, ou da re<strong>de</strong> cristalina, e a dos <strong>elétrons</strong>. A termodinâmica dos fônons<br />

já foi objeto <strong>de</strong> estudo em capítulo anterior. Aqui vamos consi<strong>de</strong>rar apenas<br />

a termodinâmica dos <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong> condução e em particular <strong>de</strong>terminar sua<br />

capacida<strong>de</strong> térmica.<br />

A parte eletrônica é tratada consi<strong>de</strong>rando a como um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> não<br />

interagentes, isto é, <strong>de</strong>sprezando as colisões entre <strong>elétrons</strong>. Isso se justifica<br />

pois as colisões entre <strong>elétrons</strong> num metal ocorrem com pouca frequência embora<br />

a distância entre eles seja da mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za da distância<br />

interatômica. Essa incrível proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser explicada basicamente a<br />

partir do princípio <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> Pauli. Após a colisão os <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong>vem<br />

ocupar orbitais que, pelo princípio <strong>de</strong> exclusão, não estejam ocupados. Essa<br />

restrição em conjunto com a conservação <strong>de</strong> energia reduzem drasticamente<br />

as possibilida<strong>de</strong>s da ocorrência <strong>de</strong> orbitais não ocupados que permitam a<br />

colisão.<br />

Densida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orbitais<br />

O mo<strong>de</strong>lo que adotamos para o estudo da parte eletrônica consiste <strong>de</strong> uma<br />

coleção <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> não interagentes mas sujeitos a um potencial <strong>de</strong>vido aos<br />

íons, consi<strong>de</strong>rados imóveis em suas posições <strong>de</strong> equilíbrio. Tendo em vista a<br />

ausência <strong>de</strong> interação, os orbitais, isto é, os possíveis estados eletrônicos, são<br />

<strong>de</strong>terminados consi<strong>de</strong>rando apenas um elétron sujeito ao potencial <strong>de</strong>vido aos<br />

íons. Num metal cristalino esse potencial é periódico e os estados eletrônicos<br />

correspon<strong>de</strong>m a ondas planas moduladas por funções periódicas e <strong>de</strong>scritas<br />

pelo vetor <strong>de</strong> onda ⃗ k. Inicialmente estudamos um mo<strong>de</strong>lo em que o potencial<br />

<strong>de</strong>vido aos íons é constante. Dessa forma a única energia a ser consi<strong>de</strong>rada<br />

é a energia cinética dos <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong>.<br />

2


Para <strong>de</strong>terminar os orbitais dos <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> <strong>de</strong>vemos resolver a equação<br />

<strong>de</strong> Schrödinger in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo relativa a um único életron confinado<br />

numa <strong>de</strong>terminada região que consi<strong>de</strong>ramos ser uma região cúbica <strong>de</strong> lado<br />

L e volume V = L 3 . O elétron possui apenas energia cinética <strong>de</strong> modo que<br />

equação <strong>de</strong> Schrödinger in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tempo para a função <strong>de</strong> onda ψ do<br />

elétron é dada por<br />

− ¯h2<br />

2m ∇2 ψ = ǫψ, (1)<br />

em que m é a massa do elétron, ¯h = h/2π sendo h a constante <strong>de</strong> Planck e ǫ<br />

é o autovalor da energia do elétron. As autofunções são dadas por<br />

e os autovalores por<br />

ψ(x, y, z) = 1 √<br />

V<br />

e i(kxx+kyy+kzz) (2)<br />

ǫ ⃗k = ¯h2 k 2<br />

2m , (3)<br />

que é também chamada relação <strong>de</strong> dispersão.<br />

Os possíveis valores do vetor <strong>de</strong> onda ⃗ k = (k x , k y , k z ) são <strong>de</strong>terminados<br />

pelas condições <strong>de</strong> contorno que adotamos como sendo periódicas. Para<br />

satisfazer essas condições <strong>de</strong>vemos impor que ψ(x + L, y, z) = ψ(x, y, z),<br />

ψ(x, y + L, z) = ψ(x, y, z) e ψ(x, y, z + L) = ψ(x, y, z), que resulta em<br />

e ikxL = 1, e ikyL = 1, e ikzL = 1, (4)<br />

que são satisfeitas se os componentes cartesianos ⃗ k forem da forma<br />

k x = 2π L n 1, k y = 2π L n 2, k z = 2π L n 3, (5)<br />

com n 1 , n 2 , n 3 = 0, ±1, ±2, . . .. Levando em conta ainda o momento angular<br />

intrínseco, ou spin, um orbital eletrônico s = ( ⃗ k, α) fica <strong>de</strong>finido pelo vetor <strong>de</strong><br />

onda ⃗ k, que toma os valores acima, e pela variável α, que toma dois valores<br />

associados às duas possíveis projeções do spin do elétron ao longo <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada direção.<br />

O número <strong>de</strong> orbitais N(ǫ) entre zero e ǫ é <strong>de</strong>terminado calculando o<br />

número <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> onda ⃗ k tais que<br />

ǫ ⃗k = ¯h2<br />

2m (k2 x + k 2 y + k 2 z) ≤ ǫ (6)<br />

3


e multiplicando o resultado por 2 pois a cada vetor <strong>de</strong> onda correspon<strong>de</strong> dois<br />

orbitais. Se associarmos a cada possível vetor um ponto no espaço (k x , k y , k z ),<br />

então o número <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong> onda que satisfazem (6) é igual ao número <strong>de</strong><br />

cubos elementares <strong>de</strong> volume (2π/L) 3 = 8π 3 /V <strong>de</strong>ntro da esfera <strong>de</strong> raio<br />

√<br />

2mǫ/¯h 2 e portanto<br />

4<br />

N(ǫ) = 2<br />

π ( ) 3/2<br />

2mε<br />

3 ¯h 2<br />

8π 3<br />

V<br />

= V<br />

3π 2 ( 2m<br />

¯h 2 ) 3/2<br />

ǫ 3/2 . (7)<br />

Desse resultado obtemos a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orbitais D(ǫ) = dN(ǫ)/dǫ, dada por<br />

D(ǫ) = V<br />

2π 2 ( 2m<br />

¯h 2 ) 3/2<br />

ε 1/2 . (8)<br />

2 Proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas<br />

Distribuição <strong>de</strong> Fermi-Dirac<br />

Para <strong>de</strong>terminar as proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong><br />

consi<strong>de</strong>ramos que essas partículas estejam confinadas numa região <strong>de</strong> volume<br />

V à temperatura T em contato com um reservatório <strong>de</strong> partículas que fixa o<br />

potencial químico µ dos <strong>elétrons</strong>. Tendo em vista que os <strong>elétrons</strong> são férmions<br />

o número <strong>de</strong> ocupação médio 〈n s 〉 <strong>de</strong> um orbital s é dado pela distribuição<br />

<strong>de</strong> Fermi-Dirac<br />

1<br />

〈n s 〉 =<br />

e β(ǫs−µ) + 1 = f(ǫ s), (9)<br />

em que ǫ s é a energia do orbital s. O gran<strong>de</strong> potencial termodinâmico<br />

Φ(T, V, µ) é dado por<br />

Φ = −k B T ∑ s<br />

ln(1 + f(ǫ s )). (10)<br />

A energia U e o número médio <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> N são dados, respectivamente por<br />

e<br />

U = ∑ s<br />

N = ∑ s<br />

ǫ s f(ǫ) (11)<br />

f(ǫ). (12)<br />

4


f<br />

1<br />

1/2<br />

0<br />

0 µ<br />

ε<br />

Figura 1: Distribuição <strong>de</strong> Fermi-Dirac f como função da energia ǫ, que é a<br />

ocupação média <strong>de</strong> um orbital fermiônico com energia ǫ. A linha contínua<br />

representa a distribuição correspon<strong>de</strong>nte a uma temperatura finita e a linha<br />

tracejada, à temperatura nula. Quando ǫ = µ, f = 1/2.<br />

O gran<strong>de</strong> potencial termodinâmico Φ, a energia U e o número médio <strong>de</strong><br />

<strong>elétrons</strong> po<strong>de</strong>m ser obtidos por meio <strong>de</strong><br />

e<br />

Φ = k B T<br />

U =<br />

N =<br />

∫ ∞<br />

0<br />

∫ ∞<br />

0<br />

∫ ∞<br />

0<br />

ln(1 − f(ǫ))D(ǫ)dǫ, (13)<br />

ǫf(ǫ)D(ǫ)dǫ (14)<br />

f(ǫ)D(ǫ)dǫ (15)<br />

em que f(ǫ) é a distribuição <strong>de</strong> Fermi-Dirac, dada por (9). Integrando por<br />

partes, a integral (13) se transforma em<br />

Φ = −<br />

∫ ∞<br />

0<br />

f(ǫ)N(ǫ)dǫ. (16)<br />

Usando a relação N(ǫ) = (2/3)ǫD(ǫ) entre o número e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orbitais,<br />

alcançamos o resultado<br />

∫ ∞<br />

Φ = − 2 ǫf(ǫ)D(ǫ)dǫ = − 2 U. (17)<br />

3 0<br />

3<br />

Tendo em vista que Φ = −pV , concluímos que que a pressão eletrônica se<br />

relaciona com U por meio <strong>de</strong><br />

pV = 2 U. (18)<br />

3<br />

5


<strong>Gás</strong> <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> a temperatura nula<br />

À temperatura zero, a função <strong>de</strong> Fermi vale<br />

⎧<br />

⎪⎨ 1, ǫ < µ,<br />

f(ǫ) = 1/2, ǫ = µ,<br />

⎪⎩<br />

0, ǫ > µ,<br />

(19)<br />

que equivale a dizer que os orbitais com energia menores do que µ estão<br />

ocupados e equeles com energia maiores do que µ estão vazios. Substituindo<br />

esse resultado em (15), vemos que o número <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> N é dado por<br />

N =<br />

∫ µ<br />

0<br />

D(ǫ)dǫ. = N(µ), (20)<br />

e portanto igual ao número <strong>de</strong> orbitais menores do que µ. Utilizando a<br />

expressão (7) para N(ǫ), obtemos<br />

N = V<br />

3π 2 ( 2m<br />

¯h 2 ) 3/2<br />

µ 3/2 . (21)<br />

A energia U é obtida substituindo (19) em (14),<br />

U =<br />

∫ µ<br />

Utilizando (8) e efetuando a integral,<br />

0<br />

ǫD(ǫ)dǫ. (22)<br />

U = V<br />

5π 2 ( 2m<br />

¯h 2 ) 3/2<br />

µ 5/2 . (23)<br />

Um papel relevante na presente teoria é representado pela energia <strong>de</strong><br />

Fermi ǫ F , <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> tal forma que todos os orbitais com energias menores<br />

do que ǫ F estão ocupados. A energia <strong>de</strong> Fermi coinci<strong>de</strong> portanto com o<br />

potencial químico a temperatura zero e é dado implicitamente por<br />

N = V<br />

3π 2 ( 2m<br />

¯h 2 ) 3/2<br />

ǫ 3/2<br />

F , (24)<br />

ou expliditamente por<br />

(<br />

ǫ F = ¯h2 3π 2N ) 2/3<br />

, (25)<br />

2m V<br />

6


e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas do número <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volume N/V . A<br />

temperatura <strong>de</strong> Fermi T F é <strong>de</strong>finida por T F = ǫ F /k B .<br />

A razão entre U, dada por (23), e N, dada por (21), fornece o resultado<br />

U/N = (3/5)µ ou, tendo em vista que o potencial químico se i<strong>de</strong>ntifica com<br />

a energia <strong>de</strong> Fermi,<br />

U<br />

N = 3 5 ǫ F. (26)<br />

À temperatura zero, a energia média por elétron é igual a três quintos da<br />

energia <strong>de</strong> Fermi.<br />

Resumindo, à temperatura zero, o potencial químico, a energia e a pressão<br />

<strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong>, como funções <strong>de</strong> N e V , são dados por<br />

µ = ǫ F , U = 3 5 Nǫ F, pV = 2 5 Nǫ F. (27)<br />

O último resultado foi obtido usando pV = (2/3)U e nos revela que a pressão<br />

<strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> a temperatura zero é não nula.<br />

Expansão <strong>de</strong> Sommerfeld<br />

Para <strong>de</strong>terminar as proprieda<strong>de</strong>s termodinâmicas tais como a energia e o<br />

número médio <strong>de</strong> partículas, dadas pelas expressões (14) e (15), <strong>de</strong>vemos<br />

efetuar integrais do tipo<br />

I(T) =<br />

∫ ∞<br />

0<br />

g(ǫ)f(ǫ)dǫ =<br />

∫ ∞<br />

0<br />

g(ǫ)<br />

dǫ, (28)<br />

e β(ǫ−µ) + 1<br />

em que g(ǫ) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> T nem <strong>de</strong> µ. Para baixas temperaturas <strong>de</strong>sejamos<br />

mostrar a seguinte expansão assintótica<br />

I(T) =<br />

∫ µ<br />

0<br />

g(ǫ)dǫ + π2<br />

6 g′ (µ)(k B T) 2 , (29)<br />

<strong>de</strong>nominada expansão <strong>de</strong> Sommerfeld, válida até termos quadráticos em<br />

k B T/µ.<br />

Inicialmente vemos que<br />

I(0) =<br />

∫ µ<br />

0<br />

g(ǫ)dǫ, (30)<br />

que subtraído <strong>de</strong> (28) resulta numa expressão que po<strong>de</strong> ser escrita como<br />

I(T) − I(0) =<br />

∫ µ<br />

0<br />

∫<br />

g(ǫ)<br />

∞<br />

e β(ǫ−µ) + 1 dǫ + µ<br />

7<br />

∫<br />

g(ǫ)<br />

µ<br />

e β(ǫ−µ) + 1 dǫ − 0<br />

g(ǫ)dǫ, (31)


gf<br />

B<br />

0<br />

0<br />

A<br />

µ ε<br />

Figura 2: Integrando g(ǫ)f(ǫ) da integral (28) versus ǫ. A linha contínua<br />

representa gf a uma temperatura finita e a linha tracejada, à temperatura<br />

nula.<br />

ou<br />

I(T) − I(0) = I A − I B , (32)<br />

em que<br />

∫ ∞ g(ǫ)<br />

I A =<br />

dǫ, (33)<br />

µ e β(ǫ−µ) + 1<br />

que é igual à a área da região A da figura 2, e<br />

I B =<br />

∫ µ<br />

0<br />

g(ǫ)dǫ −<br />

∫ µ<br />

0<br />

∫<br />

g(ǫ)<br />

µ<br />

e β(ǫ−µ) + 1 dǫ = g(ǫ)<br />

0 1 + e−β(ǫ−µ)dǫ (34)<br />

que é igual à área da região B da figura 2. Vale notar que as áreas das regiões<br />

A e B não são iguais. A área <strong>de</strong> A é ligeiramente maior do que a área <strong>de</strong> B.<br />

Em seguida efetuamos as seguintes mudanças <strong>de</strong> variáveis. Na integral<br />

I A fazemos a mudança ξ = β(ǫ − µ), <strong>de</strong> modo que ǫ = µ + k B Tξ, para obter<br />

I A =<br />

∫ ∞<br />

µ<br />

∫<br />

g(ǫ)<br />

∞<br />

e β(ǫ−µ) + 1 dǫ = k BT<br />

0<br />

g(µ + k B Tξ)<br />

dξ. (35)<br />

e ξ + 1<br />

Na integral I B fazemos a mudança ξ = −β(ǫ−µ), <strong>de</strong> modo que ǫ = µ−k B Tξ,<br />

para obter<br />

∫ µ<br />

∫<br />

g(ǫ)<br />

βµ<br />

I B =<br />

0 1 + e −β(ǫ−µ)dǫ = k g(µ − k B Tξ)<br />

BT<br />

dξ. (36)<br />

0 1 + e ξ<br />

8


Como estamos interessados numa expansão <strong>de</strong> baixas temperaturas po<strong>de</strong>mos<br />

esten<strong>de</strong>r o limite superior da integral I B até o infinito e assim obter<br />

a seguinte expressão para a diferença entre as áreas das regiões A e B,<br />

I A − I B = k B T<br />

∫ ∞<br />

0<br />

g(µ + k B Tξ) − g(µ − k B Tξ)<br />

dξ. (37)<br />

e ξ + 1<br />

A expressão no numerador po<strong>de</strong> ser expandida em série <strong>de</strong> potências <strong>de</strong> ξ.<br />

A expansão até termos lineares em ξ vale<br />

g(µ + k B Tξ) − g(µ + k B Tξ) = 2g ′ (µ)k B Tξ, (38)<br />

que nos leva ao seguinte resultado<br />

I A − I B = 2g ′ (µ)(k B T) 2 ∫ ∞<br />

0<br />

ξ π2<br />

dξ =<br />

e ξ + 1 6 g′ (µ)(k B T) 2 , (39)<br />

em que levamos em conta que a integral vale π 2 /12. Como I(T) − I(0) =<br />

I A − I B , obtemos finalmente<br />

I(T) = I(0) + π2<br />

6 g′ (µ)(k B T) 2 , (40)<br />

que é equivalente à expressão <strong>de</strong>sejada (29) tendo em vista o resultado (30)<br />

para I(0).<br />

Capacida<strong>de</strong> térmica eletrônica<br />

Em seguida <strong>de</strong>terminamos a capacida<strong>de</strong> térmica <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong><br />

no regime <strong>de</strong> baixas temperaturas, isto é, a temperaturas muito menores do<br />

que a temperatura <strong>de</strong> Fermi. Nesse regime o gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> é <strong>de</strong>nominado<br />

gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong>generados. Para obter as expansões assintóticas <strong>de</strong> (14) e<br />

(15), válidas para baixas temperaturas, usamos a expansão <strong>de</strong> Sommerfeld<br />

(29). Para a expansão assintótica <strong>de</strong> U utilizamos g(ǫ) = ǫD(ǫ) para obter<br />

⎧<br />

U = V ( ) 2m 3/2<br />

( ) ⎫<br />

⎨ 2<br />

5π 2 ¯h 2 µ 5/2 ⎩ 1 + 15π2 kB T ⎬<br />

24 µ ⎭ , (41)<br />

e para a expansão assintótica <strong>de</strong> N utilizamos g(ǫ) = D(ǫ) para obter<br />

⎧<br />

N = V ( ) 2m 3/2<br />

( ) ⎫<br />

⎨ 2<br />

3π 2 ¯h 2 µ 3/2 ⎩ 1 + 3π2 kB T ⎬<br />

24 µ ⎭ , (42)<br />

9


válidas para k B T


Tabela 1: Energia <strong>de</strong> Fermi ǫ F calculada por (25), temperatura <strong>de</strong> Fermi<br />

T F = ǫ/k B e razão entre o coeficiente do calor específico eletrônico observado<br />

experimentalmente γ ∗ e o coeficiente γ dado por (52), para vários metais.<br />

Kittel, 1971.<br />

metal val. ǫ F T F γ ∗ /γ<br />

eV 10 3 K<br />

Li 1 4,72 54,8 2,18<br />

Na 1 3,23 37,5 1,26<br />

K 1 2,12 24,6 1,25<br />

Rb 1 1,85 21,5 1,26<br />

Cs 1 1,58 18,3 1,43<br />

Cu 1 7,00 81,2 1,38<br />

Ag 1 5.48 63,6 1,00<br />

Au 1 5,51 63,9 1,14<br />

Be 2 14,14 164,1 0,34<br />

Mg 2 7,13 82,7 1,30<br />

metal val. ǫ F T F γ ∗ /γ<br />

eV 10 3 K<br />

Ca 2 4,68 54,3 1,9<br />

Sr 2 3,95 45,8 2,0<br />

Ba 2 3,65 42,4 1,4<br />

Zn 2 9,39 109,0 0,85<br />

Cd 2 7,46 86,6 0,73<br />

Al 3 11,63 134,9 1,48<br />

Ga 3 10,35 120,1 0,58<br />

In 3 8,60 99,8 1,37<br />

Pb 4 9,37 108,7 1,97<br />

Sn 4 10,03 116,4 1,26<br />

que é a expressão <strong>de</strong>sejada para U. Vale a pena notar que a pressão dos<br />

<strong>elétrons</strong> é dada por pV = 2U/3, isto é,<br />

pV = 2 ( )<br />

5 ǫ F {1 + 5π2 T 2<br />

}. (48)<br />

12 T F<br />

Para <strong>de</strong>terminar a capacida<strong>de</strong> térmica C v basta efetuar a <strong>de</strong>rivada C v =<br />

(∂U/∂T) V,N . Derivando U relativamente à temperatura,<br />

C v = π2<br />

2 Nk T<br />

B . (49)<br />

T F<br />

Esse resultado nos diz que a capacida<strong>de</strong> térmica <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> <strong>de</strong>generados<br />

possui comportamento linear com a temperatura. A medida da capacida<strong>de</strong><br />

térmica eletrônica nos permite obter a temperatura <strong>de</strong> Fermi.<br />

Calor específico <strong>de</strong> metais<br />

A capacida<strong>de</strong> térmica <strong>de</strong> metais inclui não apenas a capacida<strong>de</strong> térmica<br />

eletrônica mas também a capacida<strong>de</strong> témica da re<strong>de</strong> cristalina. Estamos supondo<br />

que as contribuições para a capacida<strong>de</strong> térmica <strong>de</strong>vidas às interações<br />

11


entre <strong>elétrons</strong> e fônons sejam <strong>de</strong>sprezíveis. Somando a capacida<strong>de</strong> térmica<br />

eletrônica, dada por (49), com a capacida<strong>de</strong> térmica da re<strong>de</strong>, calculado <strong>de</strong><br />

acordo com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Debye, vista no capítulo 4, obtemos o seguinte<br />

resultado para o calor específico c v <strong>de</strong> metais a baixas temperaturas<br />

em que<br />

e<br />

c v = γT + αT 3 , (50)<br />

α = 12π4<br />

5<br />

k B<br />

TD<br />

3<br />

(51)<br />

γ = π2<br />

2 z k B<br />

T F<br />

, (52)<br />

sendo z é o número <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> por átomo. O calor específico é <strong>de</strong>finido<br />

como a capacida<strong>de</strong> térmica a volume constante dividido pelo número <strong>de</strong><br />

átomos.<br />

Um gráfico dos dados experimentais <strong>de</strong> c v /T como função <strong>de</strong> T 2 <strong>de</strong>ve<br />

ser linear. O coeficiente linear <strong>de</strong>termina α e a intersecção com a or<strong>de</strong>nada<br />

<strong>de</strong>termina γ. O resultados experimentais para gamma, que <strong>de</strong>notamos por<br />

γ ∗ , diferem <strong>de</strong> γ dado por (52), embora sejam da mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za.<br />

Como a temperatura <strong>de</strong> Fermi é inversamente proporcional à massa m do<br />

elétron, o coeficiente γ é proporcional m. A discrepância po<strong>de</strong> ser explicada<br />

admitindo que os <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong> condução possuem massa efetiva m ∗ , que po<strong>de</strong><br />

ser distinta <strong>de</strong> m e <strong>de</strong>finida por<br />

m ∗ = γ∗<br />

m. (53)<br />

γ<br />

A tabela 1 mostra a razão γ ∗ /γ para vários metais. O <strong>de</strong>svio da unida<strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>ve a vários fatores que não foram levados em consi<strong>de</strong>ração na teoria<br />

<strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong>: (a) a interação com o potencial periódico dos íons, (b)<br />

interação elétron-eletron, (c) interação elétron-fônon.<br />

Exercícios<br />

1. A relação <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> ultra-relativíticos é<br />

dada por<br />

ǫ ⃗k = c¯h √ k 2 x + k2 y + k2 z .<br />

12


Determine o número e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orbitais. Mostre que a pressão p se<br />

relaciona com a energia U por meio <strong>de</strong> pV = U/3. Determine a energia U no<br />

regime <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> <strong>de</strong>generados e mostre que a a capacida<strong>de</strong> térmica<br />

vale<br />

C v = π 2 Nk B<br />

T<br />

T F<br />

.<br />

2. Mostre que o potencial químido <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> <strong>de</strong>generados<br />

é dado por<br />

µ = ǫ F − π2 D ′ (ǫ F )<br />

6 D(ǫ F ) (k BT) 2 .<br />

A partir <strong>de</strong>ssa expressão obtenha o resultado (44).<br />

3. Use a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> termodinâmica<br />

( ) ( )<br />

∂U ∂U<br />

=<br />

∂T ∂T<br />

N<br />

µ<br />

−<br />

( ) ∂U<br />

∂µ<br />

T<br />

(∂N/∂T) µ<br />

(∂N/∂µ) T<br />

para mostrar que a capacida<strong>de</strong> térmica a volume constante C v <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong><br />

<strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> <strong>de</strong>generados vale<br />

C v = π2<br />

3 D(ǫ F)k 2 B T.<br />

A partir <strong>de</strong>ssa expressão obtenha o resultado (49).<br />

4. Determine a compressibilida<strong>de</strong> isotérmica κ T = −(1/V )(∂V/∂p) T e o<br />

coeficiente <strong>de</strong> expansão térmica α = (1/V )(∂V/∂T) p <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong><br />

<strong>livres</strong> <strong>de</strong>generados. A partir <strong>de</strong>sses resultados ache a capacida<strong>de</strong> térmica a<br />

pressão constante C p = C v + TV α 2 /κ T e <strong>de</strong>termine a razão C p /C v .<br />

5. Determine a energia livre <strong>de</strong> Helholtz F <strong>de</strong> um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>de</strong>generados.<br />

A partir <strong>de</strong>la ache a entropia S = −∂F/∂T.<br />

6. Mostre que para um gás <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> <strong>livres</strong> a razão S/N entre a entropia<br />

e o número <strong>de</strong> <strong>elétrons</strong> só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da razão µ/T entre o potencial químico<br />

e a temperatura. A partir <strong>de</strong>sse resultado mostre que pV 5/3 é constante ao<br />

longo <strong>de</strong> uma adiabática.<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!