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Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

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De acordo com a análise realizada pela psicóloga Maria<br />

Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes,<br />

A m<strong>em</strong>ória dos filhos, então crianças, na época da prisão e/<br />

ou assassinato dos pais, é atravessada pela impossibilidade de<br />

compreensão dos fatos, já que eram apenas filhos de pais iguais a<br />

tantos outros pais e que de repente foram roubados de sua frente,<br />

assassinados diante de seus olhos, apresentados disformes pela<br />

tortura, inchados pelos ed<strong>em</strong>as do espancamento, tingidos de sangue.<br />

[...] São l<strong>em</strong>branças de pais “s<strong>em</strong> profissão”, porque clandestinos,<br />

s<strong>em</strong> família com avós, tios ou primos. L<strong>em</strong>branças de conversas que<br />

não podiam ser explicadas. Sussurros e corre-corre à noite, cheiro de<br />

papel queimado – textos e documentos sendo destruídos –, armários<br />

trancafiados e s<strong>em</strong> chave, escondendo o que não podia ser visto.<br />

Este mistério que envolveu os filhos dos militantes políticos t<strong>em</strong> o<br />

peso de algo que era segredo, pesado e improcessável. 10<br />

Os depoimentos de Denise e Telma Lucena, que presenciaram,<br />

junto ao restante da família, o assassinato do pai, evidenciam as<br />

consequências psicológicas decorrentes do episódio.<br />

A família Lucena vivia na clandestinidade desde 1969. O filho<br />

mais velho do casal, Ariston, foi preso no ano seguinte e, posteriormente,<br />

condenado à morte pela Justiça Militar, pena que foi comutada <strong>em</strong> prisão<br />

perpétua e, depois, <strong>em</strong> 30 anos de cadeia, pela participação na morte do<br />

tenente Alberto Mendes Junior, da Polícia Militar de São Paulo, nos<br />

episódios da guerrilha do Vale do Ribeira. 11 Ariston seria solto após oito<br />

anos de prisão, permanecendo <strong>em</strong> liberdade condicional por mais 16 anos. 12<br />

Na tarde do dia 20 de fevereiro de 1970, o sítio onde a família<br />

vivia <strong>em</strong> Atibaia, no interior de São Paulo, foi invadido por policiais que<br />

10 ARANTES, op. cit., p. 82-83.<br />

11 BRASIL, op. cit., p. 118.<br />

12 ARANTES, op. cit., p. 79.<br />

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