Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive
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julga os nomes. Se a gente esperar que o governo, a esquerda, a direita<br />
indiqu<strong>em</strong> pessoas que vão apurar a verdade, nós sair<strong>em</strong>os perdendo.<br />
Porque, como eu disse, não é uma questão de indivíduos. Nós t<strong>em</strong>os<br />
indivíduos, como já tiv<strong>em</strong>os na Comissão de Mortos e Desaparecidos,<br />
na Comissão da Lei 9.140, pessoas muito boas, com passado bom. Mas<br />
se o processo político não for aberto, livre, d<strong>em</strong>ocrático, essas pessoas<br />
ficam presas a distorções e instrumentos que persist<strong>em</strong>.<br />
Essa elaboração da m<strong>em</strong>ória, esse trauma, essas l<strong>em</strong>branças<br />
desses momentos são um negócio muito complicado. Eu diria o seguinte:<br />
primeiro, no meu caso, um dos pontos importantes para que isso<br />
ocorresse foi a família. Minha família, como ficou claro, trata o assunto<br />
abertamente, desde o dia <strong>em</strong> que a minha tia foi nos buscar na casa do<br />
delegado. Então, se eles s<strong>em</strong>pre falaram abertamente isso comigo, eu<br />
também tive a oportunidade de perguntar, tirar dúvidas sobre l<strong>em</strong>branças<br />
que eu tenho. Enfim, esse foi e é um momento importante, pois, até hoje,<br />
conversamos sobre isso. A minha irmã falou no vídeo. Eu pergunto para<br />
ela e depois eu esqueço e volto lá e pergunto de novo. T<strong>em</strong> muitos anos<br />
de terapia também. Isso é fundamental. Não que eu faça s<strong>em</strong>pre terapia,<br />
mesmo porque eu não aguento trafegar s<strong>em</strong>pre nestas m<strong>em</strong>órias. Faço<br />
um t<strong>em</strong>po, paro, depois, quando acontece um evento e l<strong>em</strong>bro de alguma<br />
coisa, volto. Isso é algo que o Estado brasileiro não propiciou para essas<br />
pessoas. Há pouco t<strong>em</strong>po, eu falei com a primeira psicóloga que eu tive.<br />
Eu tinha seis anos de idade. Foi lá na PUC de São Paulo, eles tinham<br />
um serviço gratuito de terapia, a minha mãe nos levou e eu passei por<br />
uma triag<strong>em</strong>. Essa psicóloga era estagiária na época, ela fez uma triag<strong>em</strong>.<br />
Vira e mexe, o t<strong>em</strong>a v<strong>em</strong> à mídia e ela ouviu falar do nosso caso, do<br />
processo Ustra, procurou na internet, achou o meu e-mail, mandou uma<br />
mensag<strong>em</strong> e nós nos encontramos. Quando ela ouviu falar da história, ela<br />
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