03.07.2015 Views

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma pequena janela vitrô. No beliche, eu dormia <strong>em</strong> cima e minha irmã<br />

<strong>em</strong>baixo. Apagavam-se as luzes, a gente escutava os meninos conversando<br />

com os pais. Pela manhã, eles abriam a porta um pouquinho depois do<br />

horário que as crianças iam para a escola. Nós ficávamos no quintal e não<br />

podíamos sair. Ali nós ficamos por quase seis meses e o único passeio<br />

que fiz<strong>em</strong>os foi, por duas vezes, sermos levados, segundo o delegado, ao<br />

“zoológico”. Ele nos levava à delegacia de polícia onde ele trabalhava e<br />

apresentava nas celas os presos, dizendo “isso é uma cobra”, “isso é um<br />

porco”, “isso é não sei o quê”. Esse era o “zoológico” do “passeio”.<br />

Depois de alguns meses, a minha tia, Criméia, foi ao nosso<br />

encontro. Ela teve um filho no quartel do Exército <strong>em</strong> Brasília. A Anistia<br />

Internacional ficou sabendo e o caso teve repercussão fora do país.<br />

Isso fez com que o caso dela se tornasse público. De qualquer forma,<br />

os guerrilheiros, os poucos sobreviventes da Guerrilha do Araguaia, não<br />

foram processados. Nenhum guerrilheiro do Araguaia foi oficialmente<br />

preso, não havia nenhuma condenação e nenhum processo. E devido à<br />

publicidade que se deu ao nascimento do filho, ela acabou sendo solta,<br />

depois de cinco meses, mesmo s<strong>em</strong> nunca ter sido oficialmente presa. Foi<br />

atrás de nós <strong>em</strong> Belo Horizonte, mas o delegado não queria nos entregar.<br />

Deixou, uma primeira vez, ela sair até uma praça próxima conosco. Foi<br />

quando soub<strong>em</strong>os que nossos pais não haviam nos abandonado, porque<br />

era isso que imaginávamos. Nós achávamos que eles - essa foi a versão<br />

que o delegado nos passou-, não nos queriam mais como filhos. Então a<br />

Criméia contou toda a história, toda na medida do possível, nas condições<br />

que nós tínhamos na época, nos devolveu e se preparou melhor para voltar<br />

e nos levar. Ele tinha muito medo dos tais dos “terroristas” e acabou nos<br />

entregando para a Criméia. Nós fomos para o Rio de Janeiro, na casa<br />

dos meus avós maternos, que tinham ido morar na Baixada Fluminense,<br />

76

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!